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Possibilidade Prof.

Luís Martins
11º Ano
Duas posições radicais:

Dogmatismo
O conhecimento é
Ceticismo evidente, não
Não é possível levantando qualquer
conhecer. tipo de problemas, e,
por isso, não admite a
possibilidade de não
haver conhecimento.
Dogmatismo
Dogmatismo:
• Dogmatismo – O conhecimento é possível
e não faz sentido defender a sua
impossibilidade.

• Há contacto entre sujeito e objeto e o


conhecimento que o sujeito forma do
objeto corresponde à verdade.
• Assim, o dogmatismo defende que o
ser humano tem a possibilidade de
apreender a realidade tal como ela é.

• A confiança depositada no
conhecimento deve-se ao facto dos
dogmáticos acreditarem na
capacidade racional do ser humano.
• Embora os dogmáticos admitam a existência de
uma relação entre sujeito e objeto, no ato de
conhecer, parece inaceitável poder concordar com
os termos da relação tal como são apresentados
pelo dogmatismo.

• Uma vez que o sujeito e o objeto são entidades


separadas [transcendentes], nada nos garante que
o sujeito consiga captar rigorosamente todas as
características dos objetos, ou seja, o sujeito nunca
se apodera do objeto.
• O dogmatismo ingénuo não percebe este
carácter relacional porque considera que
os objetos são simplesmente dados
[apresentados].

• No ato de conhecer usamos os sentidos e


a razão [capacidade racional ou
intelectual] dependendo de vários fatores
como, por exemplo, o objeto de
conhecimento, o nível de conhecimento
pretendido ou o tipo de conhecimento.
• Os dogmáticos defendem que os objetos nos são dados diretamente, aos
nossos sentidos.

• No entanto, podemos contra-argumentar


defendendo que não é possível que os
objetos que apreendemos através da
nossa sensibilidade correspondam de
facto à realidade ou, dito de outra forma,
a nossa sensibilidade não apreende os
objetos tal como eles são realmente.
• Torna-se mais evidente a dificuldade em aceitar a atitude dogmática quando falamos do
universo dos valores. A relatividade dos valores [abordada no 10º ano] mostra que estes
não são compreendidos da mesma forma por todas as culturas, ou seja, cada cultura tem
os seus valores, a sua hierarquia de valores própria e defende-os de forma diferente.
• Aceitar o dogmatismo de forma absoluta implicaria, então, que todos os valores fossem
conhecidos e aceites da mesma forma por todas as comunidades humanas [todas as
culturas].

• Ora, na prática, a experiência tem-nos


mostrado que se verifica precisamente o
contrário.
• Na realidade, para um defensor do
dogmatismo ingénuo não existe consciência
avaliadora no ser humano, dado que todos
depreendemos o mesmo de todas as
realidades.

• No fundo, o dogmático ignora a função ativa


do sujeito no ato de conhecer.

• Para ele, o papel do sujeito limita-se a uma


pura receção passiva da realidade, que lhe é
revelada de forma evidente.
• Atualmente, a generalidade
dos filósofos não aceita a
postura do dogmatismo
ingénuo.

• Há certas dimensões da existência humana que partem de dogmas como,


por exemplo, a religião.
• No entanto, aceitar que o conhecimento em
geral é dogmático constitui uma confiança
inabalável nas capacidades racionais do ser
humano.

• Ainda que esta atitude tenha sido


compreensível em determinados momentos
da história, ela foi também duramente
criticada, por exemplo, na idade moderna.
• Houve muitos filósofos identificados com o
dogmatismo embora, muitos deles, apenas em
algumas áreas do conhecimento humano [ex.:
Parménides, Platão, Aristóteles e Kant].

• Por exemplo, em relação à metafísica houve


filósofos que defenderam a evidência do
conhecimento de Deus pela via intelectual ou
via da razão [ex.: Santo Anselmo].
• Metafísica – É a disciplina filosófica que estuda
as primeiras causas e os primeiros princípios.
Fazem parte do objeto de estudo da metafísica,
por exemplo:
• A substância primeira;

• Deus;

• E a Alma, de entre outros.

Refere-se àquilo que está para além da física.


• Podemos identificar algum dogmatismo ao
nível ético, religioso, teórico ou metafísico.

• No entanto, este dogmatismo não se


estende a todas as áreas de conhecimento.

• Atualmente, a atitude filosófica é, por


princípio, incompatível com o dogmatismo
ingénuo.
• Contrariamente ao dogmatismo, a maioria dos pensadores defende que
as capacidades humanas são limitadas e que, por isso, não devemos
assumir uma postura dogmática em relação ao conhecimento.
Ceticismo
Ceticismo:
• Ceticismo – Defende que o
conhecimento humano não é possível,
ou seja, não acreditam na
possibilidade de conhecer a verdade
absoluta.

• Há vários tipos e níveis de ceticismo:


• Ceticismo radical;
• Ceticismo sistámico;
• Ceticismo metódico.
Comparativamente com o dogmatismo ingénuo,

que ignorava as características e limitações do

sujeito, o ceticismo ignora o objeto.


• O ceticismo é a conceção segundo a qual o

conhecimento do real é impossível à razão

humana.

• Portanto, o homem deve renunciar à

certeza, suspender o seu juízo sobre as

coisas e submeter toda afirmação a uma

dúvida constante.
• O ceticismo radical dirige a sua atenção
exclusivamente para as características
subjetivas do conhecimento e para as
limitações dos meios para conhecer.

• O ceticismo radical recusa que seja possível ao


sujeito apreender qualquer objeto.
• O ceticismo sistemático é uma posição
cética radical que defende, por sistema,
que o ser humano não pode conhecer a
realidade.

• O ceticismo sistemático inviabiliza


qualquer possibilidade de conhecer,
coincidindo, portanto, com a postura
radical.
• O ceticismo metódico é uma forma especial de

ceticismo na medida em que defende a descrença

provisória no conhecimento como forma de

certificação e como correção do erro.


• O ceticismo metódico, como o próprio nome
indica, trata-se de uma atitude cética inicial como
forma para construir um conhecimento seguro.

• O ceticismo metódico distingue-se, assim, do


ceticismo radical uma vez que não se trata de
uma descrença total na possibilidade de conhecer.

• A descrença no conhecimento é utilizada


simplesmente como método para permitir maior
segurança no nosso conhecimento.
• Pirro de Élis foi considerado o primeiro filósofo cético [ceticismo radical]
afirmando que o ser humano nunca consegue chegar a um verdadeiro
contacto com o objeto de conhecimento.

• Para Pirro o conhecimento não é possível.


Pirro de Élis
[360 a.C. – 270 a.C.]
foi um filósofo grego,
• Nunca é possível ao ser humano justificar as suas crenças. Assim sendo, nascido na cidade de
Élis, considerado o
como nunca é possível a justificação de qualquer juízo, simplesmente se primeiro filósofo
cético e fundador da
deveria deixar de julgar, ou seja, o ser humano deveria abster-se de
escola que veio a ser
formular juízos sobre a realidade e, consequentemente, abandonar a conhecida como
pirronismo [ceticismo
tentativa de conhecer. radical].
• Os céticos radicais defendem que o facto dos seres humanos sustentarem
frequentemente posições e opiniões contraditórias entre si, que se revelaram
inconciliáveis ao longo da história, mostra que o ser humano não é capaz de
conhecer.

• Se houvesse possibilidade de conhecer, então, já se teria chegado a acordo em


relação a muitos assuntos controversos. No entanto, o que se verifica é que nunca foi
possível pôr todas as pessoas de acordo.
• O ceticismo radical é vítima de
si mesmo. Se não é possível
saber com rigor nenhuma coisa,
então, também não é possível o
ceticismo radical saber que não
é possível conhecer.

• O ceticismo radical adota uma


postura que se contradiz e que
contraria a nossa perceção
cognitiva da realidade.
• O ceticismo moderado ou
ceticismo mitigado defende
que não podemos ter um
conhecimento rigoroso mas
isso não implica que não exista
conhecimento.
• Na modernidade, o ceticismo absoluto foi considerado
insustentável pela generalidade do pensamento
filosófico.

• Alguns filósofos céticos modernos defenderam que


determinados objetos de conhecimento são
incognoscíveis, mas que o conhecimento humano é
possível.

• Compreender os limites do conhecimento humano foi


essencial na história da Filosofia.
Esta forma de ceticismo especial, que

afirma, por exemplo, que não é possível

conhecer conceitos como Deus, alma,

espírito, de entre outros, acabou por

assumir um papel importante no

desenvolvimento crítico e no

estabelecimento dos limites do

conhecimento humano.
• Esta postura designou-se por

ceticismo metafísico e foi

central para a construção de um

conhecimento mais seguro.


• O caminho até ele foi compreendido por

filósofos que partiram do método crítico de

não tomarem por adquiridos os

conhecimentos iniciais e decidiram consolidar

o seu conhecimento partindo de um ceticismo

provisório.
Possibilidade de conhecimento

Dogmatismo Ceticismo

Crença no conhecimento Descrença no conhecimento

● Descrença quanto à possibilidade de se atingir


● Crença na possibilidade de se conhecer a
um conhecimento absolutamente certo e
verdade absoluta e de uma forma evidente.
evidente.
● Confiança na razão para atingir um
● Desconfiança nas capacidades cognitivas do
conhecimento credível.
sujeito em termos de conhecimento absoluto.

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