Você está na página 1de 4

ATIVIDADE DE EPISTEMOLOGIA PARTE I: O QUE É CONHECIMENTO E QUAL A

IMPORTANCIA DO CETICISMO PARA A TEORIA DO CONHECIMENTO?

DOUTORANDO: LUCIO PIRES DOCENTE: PROF. DR. MARCELO CRUBELLATE

Nós, os pesquisadores da área do conhecimento, desconhecemos o mundo assim como


nos desconhecemos mutuamente. Mas nunca nos perdemos, para assim nos procurarmos, diriam
os sacerdotes. Por outro lado, para Nietzsche (1882), nunca nos procuramos, como haveríamos de
nos encontrar algum dia? Com razão foi dito: “onde estiver vosso tesouro, aí está vosso coração.
Nosso tesouro está hoje como que nas colmeias do conhecimento. Para essas colmeias nos
dirigimos, como laboriosas abelhas que levam o mel do espirito, e de coração só nos propomos
‘levar’ alguma coisa.” (NIETZSCHE, 2017, p. 7). O alimento, viscoso e açucarado, regurgitado e
processado nas relações das enzimas o qual depositamos nossas crenças, justificadas na
racionalidade desse corpo humano, o fruto edênico proibido, é o nosso conhecimento.

O conhecimento é fruto de uma produção, que estabelece a partir das relações


epistemológicas, as quais conduzem nossos corpos a uma superioridade e racionalidade referente
ao que conhecemos, o que diverge de opiniões e/ou dogmas, independentemente de suas noções e
proximidades com as percepções naturais e individuais. Ou seja, apenas adivinharmos algo, ou
percebermos um acontecimento com o corpo, é diferente de termos conhecimento sobre como
ocorre determinada referência.

Para nós, pesquisadores da área do conhecimento, não queremos uma crença apenas pela
virtude, ou pela conjectura que deu certo; mas sim uma crença verdadeira fundamentada em
evidencias adequadas, para evitarmos as vicissitudes de uma crença sem fundamento, mas que
seja uma representação verídica e justificada (MOSER, 2008), devendo ser, segundo Platão,
amparada pela razão. O conhecimento, segundo o filosofo idealista, pode ser facilmente
explicado ou justificado. Entretanto, racionalistas como Descartes, e empiristas como Hume,
defenderam suas teses em concorrências sobre como nos conhecemos, e também discordaram em
relação ao o que podemos conhecer.

Descartes afirma que, “uma crença é conhecimento somente quando prova contra toda
dúvida, até mesmo a mais hiperbólica”, portanto, para o filosofo, o que se vê não pode ser dado
concreto em inferências a fim de justificação do conhecimento. Todavia, para Nietzsche (1882), o
que entenderia os povos por conhecimento, se não seria o instinto do medo que nos faz conhecer
e o desejo de descobrir, no meio de todas as cosias estranhas, inabituais e incertas. Para tal deve
haver um ser próprio de sua liberdade de sentimento totalmente meridional para nos precavermos
contra a confiança absoluta e conservar no último reduto do coração um ceticismo em relação a
todos, fosse ele Deus, homem ou ideia.

O ceticismo foi e continua a ser a preocupação central para a produção do conhecimento,


logo “se os céticos não existissem, o epistemólogo precisaria inventá-los.” (WILLIANS, 2008)
Um cético é alguém com uma atitude cética, que questiona as coisas (opiniões recebidas, fossem
de Deus, homem ou ideais) e pratica a suspensão do juízo.

E o que esperar de nós, os pesquisadores da área do conhecimento? Se espera um


ceticismo prático, orientando nossas produções epistemológicas a partir de um elemento de
fragilidade. Ao buscarmos o alimento doce de nossos corpos, o conhecimento, devemos oferecer
justificações que dialogam entre o ceticismo e a verdade (dogmas e pressupostos) para
construirmos uma teoria do conhecimento (epistemologia).

Em geral, o ceticismo é o movimento oposto ao dogmatismo, pois se não há justificativa


em uma crença, não há conhecimento. Portanto, ao compreendemos o dogmatismo como a
aderência cega a um conjunto fixo de crenças, não objetivamos refutarmos os céticos, mas
construirmos uma ciência analítica de evidência, demonstrando como o conhecimento é possível,
posto que possível através da melhor explicação para um determinado fenômeno atual. Afinal, é
papel dos epistemólogos identificarem e explicarem os erros, pois não existe ciência sem um grau
de ceticismo, sobre as possibilidades do conhecimento.

Para tanto, talvez o conhecimento não esteja em uma categoria ontológica para a qual seja
possível uma definição real; ninguém procuraria uma definição real de planta grande, de comida,
assim como de doce ou salgado. Todavia, fazermos perguntas, assim como darmos respostas, são
atividades humanas que nascem de uma variedade de necessidades humanas. E para aqueles que
procuram o conhecimento: examinem, portanto, desse ponto de vista, seus princípios e suas
soluções aos enigmas do mundo! Quando voltam a encontrar nas coisas, entra as coisas, atrás das
coisas, qualquer coisa que infelizmente conhecemos demais, como por exemplo, nossa tabuada
de multiplicar, nossa lógica, nossas vontades ou nossos desejos, “que gritos de alegria não
soltam!” (NIETZSCHE, 2008, p .223) De fato, o que é conhecido é reconhecido. (NIETZSCHE,
1881)

Possivelmente o conhecimento seja um “estado altamente valorizado no qual se encontra


uma pessoa em contato cognitivo com a realidade” (GREGO, 2008, p. 153). E “o que é
conhecido é o que há de mais habitual e o habitual é o que há de mais difícil a considerar como
problema, a ver por seu lado estranho distante, exterior a nós próprios” (NIETZSCHE, 2008, p.
223). Uma relação entre o sujeito consciente e a realidade direta ou indiretamente relacionada ao
que se conhece.

Esta relação necessita de um assentimento, de uma virtude que define um verdadeiro, a


partir de uma comunidade que lhe anteceda, ou seja, de um coletivo, portanto o conhecimento,
segundo Zagzebski (2008), não é alcançado através de um simples ato, mas pela combinação dos
próprios atos, e também através dos atos dos outros e das circunstâncias cooperativas, logo, é
composto por um fundo social ético

Destarte, estabelecemos o conceito de conhecimento como o contato cognitivo com a


realidade coletiva resultante dos atos de virtude intelectual condicionado a uma crença
justificada. E qual sentido de instruirmos esse movimento? Está na justificação que nós
produzimos, pois, a ciência é produto da construção de uma crença que dialoga com os céticos e
justifica a teoria do conhecimento. Ao nos questionarmos o que conhecemos, o que sabemos, ou
como conhecemos o que sabemos, disponibilizamos nossos corpos em direção as colmeias do
conhecimento.

REFERENCIAS

AUDI, Robert. Epitemology: A contemporary introduction to the Theory of Knowledge, ed. 3,


Touthledge Taylor and Francis Group, New York – NY, 1998, 2003

GRECO, John. SOSA, Ernet (ORGs). Compêndio de epistemologia. Ed. Loyola, 2 edição, 2008
NIETZSCHE, F. Aurora: reflexões sobre os preconceitos morais. Morgenrothe, tradução Antonio
Carlos Braga, ed. Escala, São Paulo -SP, 1881, 2007

NIETZSCHE, F. Gaia Ciência, tradução Antonio Carlos Braga, ed. 2 Escala, São Paulo -SP,
1882, 2008

NIETZSCHE, F. A genealogia da Moral, tradução Antonio Carlos Braga, ed. La fonte, São
Paulo, 2017

NIETZSCHE, F. 1844-1900. Assim Falou Zaratrusta, tradução Carlos Duate e Anna Duarte, ed.
Martin Claret, São Paulo -SP, 1883, 2012

Você também pode gostar