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Questões de Exame Nacional

Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano 5


Questões de Exame Nacional
Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva
[Filosofia do Conhecimento]

Outras questões

1. Leia o texto seguinte.

«Ser objeto do conhecimento não significa que algo pertence ao mundo exterior, como erroneamente
se supõe na linguagem vulgar, quando se opõe “mundo objetivo” a “mundo subjetivo”. Uma ideia pode
ser objeto de conhecimento, como esta mesa; uma dor e um sonho podem ser, por exemplo, objetos
de conhecimento, sem, com isso, necessitarem de pertencer ao mundo exterior. “Objetivo” diz respeito
ao objeto e não implica existência no mundo exterior.»
Delfim Santos, «Da Filosofia», in Obras Completas I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1982.

1.1. Esclareça o sentido da frase «Ser objeto do conhecimento não significa que algo pertence ao mundo
exterior».

A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.


– Esclarecimento de que «objeto de conhecimento» não se refere necessariamente ao mundo exterior ou
material;
– Definição do objeto de conhecimento como representação mental, ou imagem;
– Articulação do conceito de «objeto de conhecimento» com o conceito de «sujeito de conhecimento»,
identificando o objeto de conhecimento pela possibilidade de ser conhecido por um sujeito.

2. Considere o texto seguinte.

«Para sabermos alguma coisa, não basta adivinharmos, mesmo que acertemos, por maior que seja a
confiança que depositemos no nosso palpite. Então, além da crença verdadeira, que mais é necessário
para termos conhecimento? Não será ter provas? Isto é, para termos conhecimento, não será
necessário estarmos ligados à verdade daquilo em que acreditamos por razões ou provas que temos
para acreditar? E essas razões ou provas não terão de ser adequadas para justificarem a nossa
crença?»
Daniel Kolak e Raymond Martin, Sabedoria sem Respostas: Uma Breve lntrodução à Filosofia, Lisboa, Temas & Debates, 2004, p. 51

2.1. Qual é a definição de conhecimento discutida no texto?


A definição discutida no texto é a de conhecimento como crença verdadeira justificada.

2.2. «Então, além da crença verdadeira, que mais é necessário para termos conhecimento?», pergunta o
autor.
Responda a esta pergunta, apoiando a resposta em um ou mais exemplos.
– Para haver conhecimento, além de termos crenças verdadeiras, temos de ser capazes de justificá-las.
– Podemos ter crenças verdadeiras sobre algo, sem conseguirmos justificar tais crenças; por exemplo,
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quando jogamos às cartas, podemos acreditar que nos vai sair o ás de trunfo e isso acontecer de facto.
– Nesse caso, temos uma crença verdadeira, mas não sabemos realmente que nos vai sair o ás de trunfo.
– Porém, podemos saber que nos vai sair o ás de trunfo por termos viciado as cartas nesse sentido;
neste caso, a nossa crença, além de verdadeira, é justificada.

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Nuno Fadigas, Orlanda


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3. Algumas crianças estão convencidas de que o Pai Natal existe e viaja num trenó puxado porEQT11DP © Porto Editora
renas. Isso acontece, entre outras razões, porque os adultos lhes dizem que as prendas foram
deixadas pelo Pai Natal, e porque veem filmes e leem livros sobre o Pai Natal.
Será que essas crianças sabem que o Pai Natal existe? Porquê?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
– as crianças não sabem que o Pai Natal existe.
Justificação:
– as crianças têm justificação/razões para acreditar na existência do Pai Natal, mas não basta ter justificação
para se saber que o Pai Natal existe;
– além de justificação/razões, também é preciso que aquilo em que se acredita seja verdadeiro, o que não se
verifica, uma vez que o Pai Natal não existe.

4. Será correto afirmar que, no passado, as pessoas sabiam que o Sol girava em torno da Terra?
Justifique a sua resposta, tendo em conta a definição tradicional de conhecimento.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da resposta à questão:
– não é correto afirmar que, no passado, as pessoas sabiam que o Sol girava em torno da Terra.
Justificação:
– no passado, as pessoas não sabiam que o Sol girava em torno da Terra, embora tivessem uma crença
justificada de que o Sol girava em torno da Terra;
– as pessoas não sabiam que o Sol girava em torno da Terra, porque não é verdade que o Sol girasse em
torno da Terra;
– ainda que as crenças falsas tenham justificações consideradas boas, isso não faz delas crenças verdadeiras;
– para saber, é preciso ter crenças verdadeiras justificadas, não bastando ter crenças justificadas.

5. O facto de termos justificação para uma crença faz dela conhecimento? Porquê?
Ilustre a sua resposta com um exemplo adequado.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Indicação de que o facto de termos justificação para uma crença não faz dela conhecimento.
Justificação:
– a justificação de uma proposição/tese/teoria/crença apenas fornece razões para se acreditar nela, mas não
determina a sua verdade, ou seja, essa proposição/tese/teoria/crença pode ser falsa, não constituindo,
nesse caso, conhecimento;
– as verdades são factos independentes das razões que temos para acreditar neles OU podemos ter razões
para acreditar em falsidades, mas isso não torna essas falsidades conhecimento;
– por exemplo, alguém pode acreditar que o Sol gira em torno da Terra, porque vê o Sol em movimento (em
relação ao ponto da Terra em que se encontra), mas esta observação/justificação não torna conhecimento
a proposição/tese/teoria/crença de que o Sol gira em torno da Terra.

6. Para haver conhecimento, a crença verdadeira é suficiente.


Será esta afirmação verdadeira? Justifique a sua resposta, recorrendo a um exemplo.
– Não, porque, para haver conhecimento, além da crença verdadeira, é necessária uma justificação.
– Imagine-se um espectador de uma prova de ciclismo. Quando o pelotão passa por esse espectador a
grande velocidade, ele não consegue ver quem vai na frente. Retrospetivamente, especulando sobre as
diversas possibilidades, ele adquire a convicção de que, em primeiro lugar, passou o seu ciclista favorito, e
pode acertar por acaso (ele não o viu, mas foi exatamente aquele ciclista quem passou em primeiro lugar).
Mas a sua crença verdadeira só seria conhecimento se ele tivesse realmente visto o seu ciclista favorito
passar em primeiro lugar, ou seja, se a sua crença, além de verdadeira, fosse justificada.

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7. Explique por que razão a crença não é conhecimento.
– Nem toda a crença é conhecimento, pois podemos acreditar em algo que é falso: alguém que acredita que
o Sol gira em torno da Terra não sabe que o Sol gira em torno da Terra, porque isso é falso.
OU
– A crença é uma condição necessária, mas não suficiente, para o conhecimento: acreditar não implica
conhecer, pois podemos acreditar em algo que é falso.

8. Atente no diálogo seguinte.

Manuela – Sabes, Eurico, quanto dá 356 euros a dividir por quatro pessoas?
Eurico – Eu não sei, mas tenho aqui uma pequena calculadora de bolso que sabe. Deixa ver: dá 89 euros.
Manuela – E confias nessa calculadora?
Eurico – Claro que sim. O resultado dado pela calculadora está justificado, porque é uma máquina
programada por matemáticos competentes.

No diálogo anterior, o Eurico afirma que a calculadora sabe quanto dá 356 euros a dividir por quatro
pessoas.
Será que a calculadora o sabe? Justifique a sua resposta, tendo em conta a análise tradicional do
conhecimento.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da resposta à questão formulada:
– não, a calculadora não sabe quanto dá 356 euros a dividir por quatro pessoas.
Justificação da resposta:
– de acordo com a análise tradicional do conhecimento (proposicional), crença, verdade e justificação são
condições necessárias do conhecimento (proposicional);
– o resultado apresentado pela calculadora (embora seja correto e esteja adequadamente justificado, pois
a calculadora aplica um programa concebido por matemáticos competentes) não é conhecimento, porque
a calculadora não tem crenças (nomeadamente, não tem a crença de que 356 euros a dividir por quatro
pessoas dá 89 euros a cada uma, pois a calculadora não tem estados mentais).

9. A experiência é o fundamento de todo o conhecimento.


Concorda com esta afirmação? Justifique a sua resposta.
Orientações:
– enquadre a sua resposta no âmbito de uma teoria estudada;
– apresente inequivocamente a sua posição;
– argumente a favor da sua posição.
A resolução depende do percurso de cada examinando. Apresentam-se exemplos de percursos possíveis.
– Se a resposta for positiva, o examinando poderá defender uma das formas de empirismo: radical ou
moderado. O empirismo radical sustenta que todo o conhecimento tem como fundamento as impressões
dos sentidos, procurando mostrar que sem elas nada poderíamos saber. O empirismo moderado admite
que há conhecimentos que não têm como fundamento os sentidos, procurando mostrar que esses
conhecimentos não têm um carácter substancial (são meramente explicativos, ou formais).
– Se a resposta for negativa, o examinando pode defender o racionalismo, procurando mostrar que há
conhecimentos que não têm origem nos sentidos e que são o fundamento do nosso conhecimento da
realidade.
– Poderá ainda defender o coerentismo ou outras formas de não fundacionismo, sustentando que o
conhecimento não tem (ou não precisa de) qualquer fundamento, procurando mostrar que os nossos
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10. Leia o texto seguinte. EQT11DP © Porto Editora

«Suponhamos então que a mente seja, como se diz, uma folha em branco, sem quaisquer caracteres,
sem quaisquer ideias. Como é que a mente recebe as ideias? […] De onde tira todos os materiais da
razão e do conhecimento? A isto respondo com uma só palavra: da EXPERIÊNCIA.»
John Locke, Ensaio sobre o Entendimento Humano, Vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2014, p. 106
(adaptado).

Concorda com a posição expressa no texto?


Na sua resposta,
– identifique e esclareça o problema filosófico a que o texto responde;
– apresente inequivocamente a sua posição;
– argumente a favor da sua posição.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação e esclarecimento do problema filosófico a que o texto responde:
– o problema da fonte (origem) do conhecimento;
– o problema consiste em determinar se o conhecimento provém fundamentalmente dos sentidos (é a
posteriori) ou antes da razão (é a priori).
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
– no caso de o examinando concordar com a posição expressa no texto e defender que a experiência é a
fonte de todo o conhecimento:
• se, por exemplo, uma pessoa não dispuser do sentido da visão, não poderá formar impressões da cor
dos objetos nem, por consequência, poderá formar as ideias correspondentes;
• é a experiência que fornece os materiais mais básicos do conhecimento do mundo, ou impressões (todas as
ideias derivam das impressões dos sentidos; por exemplo, a ideia de maçã deriva da impressão de maçã);
• por conseguinte, o conhecimento do mundo natural (conhecimento substancial) não é possível sem
recurso à experiência (o conhecimento do mundo natural é a posteriori) (a atividade dos sentidos é
indispensável ao processo de conhecimento do mundo natural);
• é possível obter conhecimento matemático (por exemplo, que três vezes cinco é igual a metade de trinta) ou
conhecimento conceptual (por exemplo, que todas as esferas têm superfície curva) sem recurso à
experiência (apenas pelo pensamento), isto é, a priori, mas o conhecimento a priori, tratando-se de
conhecimento meramente conceptual ou meramente linguístico, não pode ser considerado conhecimento
substancial;
• o conhecimento científico (com exceção da matemática) depende da observação e da
experiência: o teste das teorias depende sempre de dados fornecidos pela experiência
(experimentais), e não apenas do raciocínio.
– no caso de o examinando não concordar com a posição expressa no texto e defender que a
experiência não é a fonte de todo o conhecimento:
• algum conhecimento do mundo, e não apenas o conhecimento meramente conceptual ou
linguístico, é obtido recorrendo exclusivamente ao pensamento, isto é, a priori;
• há factos básicos que são conhecidos a priori, não dependendo o conhecimento desses factos das
impressões dos sentidos; por exemplo, o conhecimento da nossa existência (o cogito) é um caso de
conhecimento a priori que não é meramente conceptual nem linguístico, tratando-se de conhecimento
substancial;
• o conhecimento matemático, pela certeza que oferece (por ser infalível, tal como o cogito), é o modelo de
conhecimento; ora, este conhecimento é a priori;
• além da certeza que proporciona, o conhecimento matemático tem aplicação no mundo, como mostram as
ciências naturais, que recorrem à matemática para formularem as suas teorias; por ter aplicação no mundo,
o conhecimento matemático é substancial;
• os sentidos (e a experiência) não podem ser a fonte de todo o conhecimento, porque os sentidos são
enganadores; por exemplo, nós sabemos que o Sol é maior do que a Terra, mas os sentidos indicam
exatamente o contrário.
Nota – Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não esgotando

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o espectro de respostas adequadas possíveis.

11. Descartes sustenta que os céticos falham na demonstração da impossibilidade do conhecimento.


Explique as razões de Descartes.
– Há, pelo menos, um conhecimento que resiste a todas as dúvidas, mesmo às mais radicais.
– Esse conhecimento, ou seja, o conhecimento da verdade «Penso, logo existo.», é justificado pelo próprio
ato de duvidar:
• quando duvidamos, estamos a pensar e, se pensamos, somos necessariamente alguma coisa (somos,
pelo menos, alguma coisa que pensa);
• assim, é indubitável que somos uma coisa que pensa, e este é um conhecimento que nenhum cético
consegue abalar;
• demonstra-se, assim, que o conhecimento é possível, pelo que os céticos falham na demonstração da
impossibilidade do conhecimento.

12. Considere o texto seguinte.

«Agora, que resolvi dedicar-me apenas à descoberta da verdade, pensei que era necessário rejeitar
como completamente falso tudo o que pudesse suscitar a menor dúvida, para ver se, depois disso, algo
permaneceria nas minhas opiniões que fosse inteiramente indubitável.
Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, decidi supor que nos enganam
sempre. E, porque há pessoas que se enganam ao raciocinar, até nos temas mais simples de
geometria, fazendo raciocínios incorretos, rejeitei como falsas, visto estar sujeito a enganar-me, como
qualquer outra pessoa, todas as razões que até então me pareceram aceitáveis. Finalmente,
considerando que os pensamentos que temos quando acordados nos podem ocorrer também quando
dormimos, sem que, neste caso, qualquer um deles seja verdadeiro, resolvi supor que tudo o que até
então tinha encontrado acolhimento na minha mente não era mais verdadeiro do que as ilusões dos
meus sonhos. Mas, logo em seguida, notei que, enquanto queria pensar que tudo era falso, eu, que
assim o pensava, necessariamente era alguma coisa. E, notando que esta verdade, eu penso, logo
existo, era tão firme e tão certa que todas as extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes
para a abalar, julguei que a poderia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que
procurava.»
René Descartes, Discurso do Método, vol. IV, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1988, pp. 27-28 (adaptado).

12.1. Qual é a posição acerca da possibilidade do conhecimento defendida no texto?


No texto é defendida a posição segundo a qual o conhecimento é possível.

12.2. Exponha as razões que levaram Descartes a rejeitar as crenças baseadas nos nossos sentidos.
– Para decidirmos quais as crenças que podemos aceitar como verdadeiras, temos de rejeitar como
falso tudo o que não seja indubitável.
– Se os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, não é inconcebível que nos enganem sempre.
– Verificamos que os nossos sentidos nos enganam algumas vezes.
– Logo, as crenças baseadas nos sentidos devem ser todas rejeitadas.

12.3. Explique por que razão «todas as extravagantes suposições dos céticos seriam impotentes» para
abalar a certeza da nossa existência como seres pensantes.
– Há um conhecimento que resiste a todas as dúvidas, mesmo às mais radicais.
– Esse conhecimento, ou seja, o conhecimento da verdade «Penso, logo existo.», é justificado pelo
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próprio ato de duvidar:
• ao duvidarmos, estamos a pensar e, se pensamos, somos necessariamente alguma coisa (somos,
pelo menos, alguma coisa que pensa);
• assim, é indubitável que somos alguma coisa, e este é um conhecimento que nenhum cético
consegue abalar.

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13. Leia o texto seguinte. EQT11DP © Porto Editora

«Devo tomar todo o cuidado em não me enganar nos juízos. Ora, o erro principal e mais frequente que
se pode descobrir neles consiste em eu afirmar que as ideias que estão em mim são semelhantes ou
conformes a certas coisas que estão fora de mim. […]
Assim, por exemplo, descubro em mim duas ideias diversas do Sol. Uma, como que tirada dos
sentidos, […] deixa que o Sol me apareça muito pequeno; porém, a outra é tirada dos raciocínios da
Astronomia […] e por ela o Sol mostra-se um certo número de vezes maior do que a Terra. Ambas não
podem, certamente, ser semelhantes ao […] Sol existente fora de mim, e a razão persuade-me de que
a ideia que parece emanar mais diretamente do próprio Sol não tem qualquer semelhança com ele.»
René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, pp. 140-144
(adaptado).

Explicite o modo como, no texto anterior, o empirismo é posto em causa.


A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicitação do modo como, no texto, se põe em causa o empirismo:

• fazemos juízos errados acerca das coisas exteriores a nós, e o erro mais importante nos nossos juízos
é o de afirmarmos que as ideias provenientes dos sentidos representam adequadamente as coisas
exteriores a nós;
• se confrontarmos, por exemplo, duas ideias diferentes acerca do Sol, uma proveniente dos sentidos,
que o representa como muito pequeno, e outra proveniente dos raciocínios dos astrónomos, que o
representa como um corpo maior do que a Terra, a razão persuade-nos de que seria errado afirmar
que a ideia acerca do Sol proveniente dos sentidos é aquela que representa adequadamente o Sol.

14. Leia o texto seguinte.

«Recorrer à veracidade do Ser supremo para demonstrar a veracidade dos nossos sentidos é, sem dúvida,
realizar um percurso muito inesperado. Se a veracidade do Ser supremo estivesse realmente implicada na
veracidade dos sentidos, estes seriam totalmente infalíveis, porque não é possível que Ele nos possa
enganar.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Edições 70, 1985, p. 146

No texto anterior, encontra-se uma crítica que se aplica a Descartes. Explicite essa crítica.
Na sua resposta, comece por apresentar o aspeto do pensamento cartesiano ao qual a crítica se aplica.
Explicitação da crítica de Hume, apresentada no texto, que se aplica a Descartes:
– Descartes defendeu que (porque os seus sentidos o enganam algumas vezes) as crenças decorrentes da
experiência dos sentidos eram duvidosas;
– porém, a certeza da existência de Deus permitiu-lhe recuperar a confiança nas suas faculdades, devido ao
facto de Deus não ser enganador e, por isso, não o ter criado de tal forma que se enganasse ao aplicar
prudentemente as suas faculdades (atribui, assim, os erros dos sentidos (e de raciocínio) a juízos
precipitados/pouco ponderados);
– Hume considera que, se a confiança nos sentidos fosse justificada pelo facto de termos sido criados por
um Ser não enganador, então os sentidos nunca nos poderiam enganar, pois um Ser perfeito e não
enganador não permitiria que, ainda que por precipitação nossa, por vezes os nossos sentidos nos
enganassem.

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15. Leia o texto seguinte.

«Desde há muito notara eu que, no tocante aos costumes, é necessário às vezes seguir, como se
fossem indubitáveis, opiniões que sabemos serem muito incertas […]. Mas, porque agora desejava
dedicar-me apenas à procura da verdade, pensei que era forçoso que eu fizesse exatamente ao
contrário e rejeitasse, como absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida
[...].»
René Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 2000, p. 73

Descartes decide rejeitar «tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida». Partindo do
texto, exponha as razões que justificam esta decisão.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Exposição, a partir do texto, das razões que justificam a decisão de Descartes de rejeitar «como
absolutamente falso, tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida»:
– no que respeita às questões práticas da vida – «no tocante aos costumes» –, Descartes defende ser
necessário aceitar como certo o que é duvidoso, pois a dúvida apenas conduziria à indecisão; porém, no
que respeita «à procura da verdade», justifica-se rejeitar (completamente) o que ofereça a menor dúvida;
– Descartes pretende «agora» descobrir verdades que sirvam de fundamento ao edifício do conhecimento;
– para poderem fundar o conhecimento, essas verdades, ou primeiros princípios (ou fundamentos), têm de
ser indubitáveis (absolutamente certas).

16. Leia o texto seguinte.

«Agora, vou considerar com mais exatidão se não encontrarei em mim outros conhecimentos de que
porventura não me tenha apercebido. Estou certo de que sou uma coisa que pensa. Mas não saberei
também o que se requer para que eu tenha a certeza de alguma coisa? Neste primeiro conhecimento
[sou uma coisa que pensa] nada mais se encontra além de uma perceção clara e distinta daquilo que
conheço; a qual seguramente não seria suficiente para me dar a certeza da verdade dessa coisa, se
pudesse alguma vez revelar-se falsa uma coisa que eu compreendesse assim tão clara e distintamente.
E, por consequência, parece-me que já posso estabelecer, como regra geral, que é verdadeiro tudo
aquilo que compreendemos tão claramente e tão distintamente.»
René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Almedina, 1985, p. 136 (adaptado).

Reconstitua o argumento de Descartes apresentado no texto.


A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros igualmente relevantes.
Reconstituição do argumento de Descartes apresentado no texto:
– Descartes está certo de que é uma coisa que pensa;
– nesse conhecimento (sou uma coisa que pensa) há uma compreensão clara e distinta do que é afirmado;
– se o que é compreendido com clareza e distinção pudesse (alguma vez) ser falso, Descartes não estaria
certo de que é uma coisa que pensa; mas isso não é possível;
– por consequência, Descartes estabelece como regra geral que tudo o que é compreendido clara e
distintamente é verdadeiro.

17. Descartes afirma ter começado por rejeitar todas as crenças que foi acumulando desde a
infância.
Por que razão procedeu de modo tão drástico?
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A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da razão pela qual Descartes começou por rejeitar todas as suas crenças:
– Descartes reconheceu ter aceitado como verdadeiras muitas opiniões falsas que recebeu ao longo da sua
educação;
– dada a dificuldade de separar as crenças falsas das outras crenças, Descartes considerou que a melhor
maneira de se proteger do erro seria rejeitar provisoriamente todas as suas crenças, como se todas fossem
falsas e incertas.

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18. Leia o texto seguinte. EQT11DP © Porto Editora

«Voltando a examinar a ideia que eu tinha de um ser perfeito, descobria que a existência estava nela
contida, do mesmo modo, ou mais evidentemente ainda, que na de um triângulo está compreendido
que os seus três ângulos são iguais a dois retos […]; e que, por conseguinte, é pelo menos tão certo
como o pode ser qualquer demonstração de geometria que Deus, que é o ser perfeito, é ou existe.»
René Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 1993, pp. 78-
79.

No texto, Descartes apresenta um argumento a favor da existência de Deus. Considera-o um


bom argumento?
Na sua resposta, deve:
− explicar o argumento de Descartes;
− apresentar inequivocamente a sua posição pessoal;
− argumentar a favor da sua posição.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do argumento de Descartes:
– o argumento (ontológico) baseia-se na análise da ideia de Deus ou de ser perfeito;
– a ideia de algo perfeito implica a sua existência, pois a existência é uma perfeição.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
– no caso de o examinando considerar que o argumento de Descartes é bom:
• o que existe apenas no pensamento é menos perfeito do que aquilo que existe também na realidade/
não existir na realidade é uma imperfeição;
• um ser perfeito que não existe não seria perfeito e, por isso, a ideia de um ser perfeito que não existe
é uma contradição.
– no caso de o examinando considerar que o argumento de Descartes não é bom:
• a ideia de algo perfeito não implica a sua existência;
• por exemplo, é possível conceber uma ilha perfeita sem que essa ilha exista.

19. Leia o texto seguinte.

«Dado que nascemos crianças e que formulámos vários juízos acerca das coisas sensíveis antes que
tivéssemos o completo uso da nossa razão, somos desviados do conhecimento da verdade por muitos
preconceitos, dos quais parece não nos podermos libertar a não ser que, uma vez na vida, nos
esforcemos por duvidar de todos aqueles em que encontremos a mínima suspeita de incerteza.
Será mesmo útil considerar também como falsas aquelas coisas de que duvidamos, para que assim
encontremos mais claramente o que é certíssimo e facílimo de conhecer.»
René Descartes, Princípios da Filosofia, Lisboa, Presença, 1995
(adaptado).

A partir do texto, esclareça o papel da dúvida cartesiana no «conhecimento da verdade».


Na sua resposta, integre, de forma pertinente, informação do texto.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
– Explicação do carácter metódico da dúvida cartesiana.
– Apresentação do critério cartesiano de verdade: a evidência como clareza e distinção das ideias.
– Explicação do carácter radical ou hiperbólico da dúvida cartesiana.
– Explicitação das razões para duvidar: os erros dos sentidos; a dificuldade em distinguir claramente o sonho
da vigília; a hipótese do génio maligno.
– Identificação do cogito como primeiro princípio indubitável e fundamento do saber.

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20. Depois de ter superado o teste da dúvida, Descartes restabelece a confiança nos sentidos. No
texto seguinte, Descartes esclarece em que circunstâncias se justifica confiar nos sentidos.

«No que se refere ao bem do corpo, os sentidos indicam muito mais frequentemente a verdade do que
a falsidade. E posso quase sempre utilizar mais do que um sentido para examinar a mesma coisa; e,
além disso, posso utilizar tanto a minha memória, que associa as experiências presentes às passadas,
como o meu intelecto, que já examinou todas as causas de erro. Por isso, não devo continuar a temer
que seja falso o que os sentidos me dizem habitualmente; pelo contrário, as dúvidas exageradas dos
últimos dias devem ser abandonadas como risíveis. […] E não devo ter sequer a menor dúvida da sua
verdade se, depois de apelar a todos os sentidos, assim como à minha memória e ao meu intelecto,
para examinar as indicações que receber de qualquer destas fontes, não houver conflito entre elas.»
René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Almedina, 1976, pp. 224-225
(adaptado).

Explique, recorrendo ao texto, em que circunstâncias a informação proveniente dos sentidos


não deve ser aceite.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação das circunstâncias em que a informação proveniente dos sentidos não deve ser aceite:
– Descartes afirma que geralmente não se justifica «temer que seja falso o que os sentidos» indicam;
– se «não houver conflito» entre o que os sentidos indicam e o que a memória e o intelecto indicam (nem
entre as indicações provenientes dos diferentes sentidos), então a informação proveniente dos sentidos
deve ser aceite e não há lugar para «a menor dúvida da sua verdade»;
– assim, a informação proveniente dos sentidos só não deve ser aceite quando, depois de examinada pela
memória e pelo intelecto (razão), entrar em conflito com as indicações recebidas destas faculdades.

21. Leia o texto seguinte.

«Se perguntar a mim próprio “Estou a beber?” ou “Está ele a pensar?”, a resposta pode ser “Sim”,
“Não” ou “Talvez”. Mas se perguntar a mim próprio “Estou a pensar?”, a resposta apenas pode ser
“Sim”. Fazer essa pergunta a mim próprio é o mesmo que eu pensar. Seria autorrefutante perguntar a
mim próprio “Estou a pensar?” e responder “Não”.»
Timothy Chappell, The Inescapable Self – An introduction to Western philosophy, Londres, Weidenfeld & Nicolson, 2005, pp. 28-29 (adap-
tado).

21.1. Justifique, a partir do texto, que o cogito é uma certeza irrefutável.


A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Justificação da irrefutabilidade do cogito:
– Descartes submete todas as suas crenças a uma dúvida metódica, para determinar se alguma é
indubitável;
– é impossível duvidar de que existimos (como seres pensantes) enquanto estamos a pensar, pois isso
não seria coerente;
– há uma crença que resiste à dúvida: o cogito.

21.2. Explique o argumento de Descartes para duvidar dos seus raciocínios matemáticos mais evidentes.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação do argumento de Descartes:
– o argumento de Descartes para duvidar dos seus raciocínios matemáticos mais evidentes é o do
génio maligno;
– o argumento do génio maligno levanta a hipótese de uma entidade externa controlar a nossa mente,
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fazendo-nos acreditar, por exemplo, que 2 + 2 = 4;
– o argumento do génio maligno, diferentemente dos outros (argumentos das ilusões dos sentidos e
do sonho), põe também em causa as crenças que não dependem dos sentidos/a priori.

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Questões de Exame Nacional
Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano 5
22. Leia o texto seguinte. EQT11DP © Porto Editora

«Mas, porque a razão me persuade logo que não devo menos cuidadosamente coibir-me de dar o meu
assentimento às coisas que não são plenamente certas e indubitáveis do que às abertamente falsas,
para rejeitá-las todas basta que se me depare numa delas qualquer razão de dúvida. Para isso, não
tenho de percorrê-las cada uma em particular, trabalho que seria sem fim: porque uma vez minados os
fundamentos, cai por si tudo o que está sobre eles edificado, atacarei imediatamente aqueles princípios
em que se apoiava tudo o que anteriormente acreditei.»
René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Almedina, 1976, pp. 106-107
(adaptado).

A partir do texto, estabeleça a relação entre dúvida e verdade no pensamento de Descartes.


Na sua resposta deve referir:
• o que Descartes entende por conhecimento verdadeiro;
• a natureza, alcance e utilidade da dúvida.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
Caracterização do conhecimento verdadeiro. É verdadeiro o conhecimento evidente, isto é, claro e distinto, e,
como tal, indubitável.
Explicação da natureza da dúvida:
– é metódica, porque a sua aplicação está associada à regra da evidência;
– é deliberadamente hiperbólica, porque se considera falso tudo aquilo de que se possa duvidar.
Explicitação do alcance da dúvida:
– é radical, porque põe em causa os princípios ou fundamentos em que se baseavam as proposições do
conhecimento tradicional;
– é provisória, porque tem em vista uma nova fundamentação.
Justificação da utilidade da dúvida:
– permite que o espírito descubra uma verdade indubitável, modelo e critério de verdade – o cogito;
– liberta a razão da dependência em relação a autoridades externas e em relação aos sentidos.

23. Leia o texto seguinte.

«Assim, rejeitando todas aquelas coisas de que podemos duvidar de algum modo, e até mesmo
imaginando que são falsas, facilmente supomos que não existe nenhum Deus, nenhum céu, nenhuns
corpos; e que nós mesmos não temos mãos, nem pés, nem de resto corpo algum; mas não assim que
nada somos, nós que tais coisas pensamos: pois repugna que se admita que aquele que pensa, no
próprio momento em que pensa, não exista.»
René Descartes, Princípios da Filosofia, Lisboa, Presença,1995 (adaptado).

23.1. Indique o primeiro princípio indubitável aceite por Descartes.


O primeiro princípio indubitável aceite por Descartes é o cogito [ergo, sum].

23.2. Explicite, a partir do texto, duas das características da dúvida cartesiana.


A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
Explicitação de duas das seguintes características, integrando a informação do texto:
– voluntária (duvidar é uma decisão intelectual, é um ato de vontade livre);
– provisória (duvidar tem por finalidade alcançar uma verdade que resista à dúvida – cogito);
– hiperbólica ou excessiva (duvidar consiste em rejeitar como falso tudo o que possa suscitar a mínima
dúvida, chegando-se a atingir, neste processo, a crença natural na existência da realidade exterior).

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5 Questões de Exame Nacional
Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano

24. Leia o texto seguinte.

«E notando que esta verdade “eu penso, logo existo” era tão firme e tão certa que todas as
extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de a abalar, julguei que a podia aceitar, sem
escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que procurava.»
René Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 2000, p.
74.

24.1. Descartes refere as «extravagantes suposições dos céticos».


Apresente um argumento cético que possa justificar tais suposições.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação de um argumento cético (usado pelos céticos anteriores a Descartes ou seus
contemporâneos, ou mobilizado ou avançado por Descartes):
– os sentidos enganam-nos muitas vezes;
– por essa razão, todas as nossas crenças empíricas podem ser falsas.
OU
– enganamo-nos muitas vezes ao raciocinar;
– por essa razão, todos os nossos raciocínios podem ser errados / todas as nossas conclusões
podem ser falsas.
OU
– acreditamos, por vezes, que estendemos um braço;
– quando sonhamos, por vezes, também acreditamos que estendemos um braço;
– não dispomos de um modo seguro de distinguir as crenças que temos quando acordados das
crenças que temos quando sonhamos;
– ora, quando num sonho acreditamos que estendemos um braço, essa crença é falsa;
– logo, a crença de que, num certo momento, estendemos um braço pode sempre ser falsa.

OU
– acreditamos que 2 + 2 = 4 ou que um quadrado tem quatro lados;
– estejamos acordados ou a dormir, as crenças referidas são verdadeiras;
– imaginemos, no entanto, que um génio maligno extremamente poderoso e astuto tem o poder de
causar ilusões na nossa faculdade de raciocínio;
– assim, mesmo as proposições de que 2 + 2 = 4 ou de que um quadrado tem quatro lados podem ser
falsas;
– logo, podemos acreditar em proposições que nos parecem inteiramente evidentes e essas
proposições serem falsas.
OU
– para serem justificadas, as nossas crenças apoiam-se noutras crenças, e assim sucessivamente, o
que nos conduz a uma regressão infinita;
– nesse caso, nenhuma crença está justificada.

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Questões de Exame Nacional
Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano 5
24.2. Em sua opinião, o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um fundamento sólido do EQT11DP © Porto Editora

conhecimento?
Justifique.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida:
– no caso de o examinando considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes é um
fundamento sólido do conhecimento:
• se se duvida, e duvidar é uma forma de pensamento, então não se pode, consistentemente,
negar que se existe;
• o cogito resiste a todos os argumentos céticos (designadamente, ao argumento do génio
maligno);
• sendo o cogito uma certeza inabalável, pode servir de fundamento ao conhecimento.
– no caso de o examinando considerar que o «primeiro princípio» da filosofia de Descartes não é um
fundamento sólido do conhecimento:
• do facto de haver pensamentos que expressam dúvidas não se segue a existência de um ser
pensante que é a sede desses pensamentos;
• Descartes apenas poderia ter concluído que «se há estados de dúvida, há pensamentos», e
nada mais;
• nada garante a existência de um eu que duvida ou pensa.
OU
• embora o cogito, em si mesmo, possa ser considerado uma certeza inabalável, não é um
fundamento sólido, pois não serve de base a nenhuma outra crença;
• caso alcançássemos o cogito após o método da dúvida sugerido por Descartes, teríamos de
confiar nas nossas faculdades de raciocínio para progredir além do cogito;
• ora, o método da dúvida que nos levou ao cogito (particularmente, a hipótese do génio
maligno ou do Deus enganador que se comprazesse em enganar-nos) pôs em causa as
nossas faculdades.
Nota ‒ Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não
esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.

25. Leia o texto seguinte.

«Quantas vezes me acontece que, durante o repouso noturno, me deixo persuadir de coisas tão habituais
como que estou aqui, com o roupão vestido, sentado à lareira, quando, todavia, estou estendido na
cama e despido! Mas, agora, observo este papel seguramente com os olhos abertos, esta cabeça que
movo não está a dormir, voluntária e conscientemente estendo esta mão e sinto-a: o que acontece
quando se dorme não parece tão distinto. Como se não me recordasse já de ter sido enganado por
pensamentos semelhantes!»
René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, p.

25.1. São apresentadas no texto as premissas do argumento do sonho.


A que conclusão chegou Descartes a partir delas?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros equivalentes.
Apresentação da conclusão do argumento do sonho:
– não é possível distinguir o sonho da vigília / Descartes (assim como qualquer pessoa) poderia estar a
sonhar quando pensava estar acordado / as nossas perceções podem levar-nos a crer em falsidades.

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26. De acordo com Descartes, a ciência teria de se basear em princípios irrefutáveis, que seriam
verdades evidentes conhecidas a priori, por intuição intelectual. Essas verdades incluem os
factos básicos da realidade física.
Concorda com esta perspetiva de Descartes?
Na sua resposta, deve:
− clarificar o problema da justificação do conhecimento;
− apresentar inequivocamente a sua posição;
− argumentar a favor da sua posição, recorrendo a aspetos que considerar relevantes da teoria empirista ou
da teoria racionalista do conhecimento, ou de perspetivas sobre a evolução e a objetividade da ciência.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Clarificação do problema:
– uma das condições do conhecimento é a justificação, e a justificação pode basear-se na experiência /
pode ser a posteriori, ou pode basear-se apenas na razão/pode ser a priori;
– há quem considere que a justificação última do conhecimento só poderá proporcionar certeza se for
irrefutável e que, por isso, terá de ser a priori, e há quem considere que, pelo facto de se apoiarem na
experiência, mesmo as justificações mais básicas podem ser postas em causa/refutadas.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Justificação da posição defendida – cenários de resposta:
– no caso de o examinando concordar com a perspetiva de Descartes:
• o cogito é conhecido a priori, isto é, por intuição intelectual, e também a existência de Deus pode
ser conhecida pelo recurso a argumentos a priori (que, partindo da análise da ideia de ser perfeito,
concluem que Deus existe);
• as verdades básicas da matemática e, em especial, as verdades da geometria, que são conhecidas
a priori, contribuem para o conhecimento dos factos básicos da realidade física e são irrefutáveis;
• como é atestado pelos erros da física e da astronomia ‒ por exemplo, pelos erros da teoria
geocêntrica ‒, a ciência torna-se mais falível se o conhecimento dos factos básicos da realidade
física depender inteiramente dos dados fornecidos pela experiência;
• é plausível considerar que, caso seja a priori, o conhecimento dos factos básicos da realidade
física seja irrefutável.
– no caso de o examinando não concordar com a perspetiva de Descartes:
• só o conhecimento de relações de ideias pode ser produzido apenas pelo recurso à razão, isto é, a
priori;
• contudo, o conhecimento de relações de ideias não tem qualquer relevância para o conhecimento
dos factos básicos da realidade física;
• todo o conhecimento substancial, que inclui o conhecimento dos factos básicos da realidade
física, depende da experiência;
• dadas as grandes mudanças científicas já ocorridas ao longo da história da ciência, mesmo teorias
aparentemente infalíveis, como as que dizem respeito aos factos básicos da realidade física,
podem ser refutadas pela experiência.
Nota ‒ Os aspetos constantes nos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não
esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.

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27. Qual é a posição de David Hume acerca da possibilidade do conhecimento? Justifique a sua EQT11DP © Porto Editora

resposta.
– David Hume defende uma forma de ceticismo moderado.
– Por um lado, argumenta que a vivacidade das impressões sensíveis (as quais são anteriores ao uso da razão)
nos impede de rejeitar a nossa crença natural no mundo exterior, demarcando-se de um tipo de ceticismo
extremo.
– Por outro lado, argumenta que a análise racional das nossas crenças mostra que muitas delas são
injustificadas (por exemplo, a crença de que as impressões dos sentidos são causadas por objetos
exteriores não está justificada, pois a nossa mente «não tem maneira de conseguir qualquer
experiência da conexão das perceções com os objetos»), pelo que o nosso conhecimento é muito
mais limitado do que habitualmente supomos.
– Assim, Hume é cético quanto à possibilidade de encontrarmos um fundamento para o conhecimento que
esteja ao abrigo de toda a dúvida, mas o seu ceticismo não é universal.

28. De acordo com Hume, é possível ter conhecimento a priori de questões de facto? Justifique.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da resposta:
–Não. De acordo com Hume, não é possível ter conhecimento a priori de questões de facto.
Justificação da resposta:
– ter conhecimento a priori de questões de facto seria ter conhecimento de factos, recorrendo apenas ao
pensamento;
– Hume afirma que, se recorrermos apenas ao pensamento, conseguiremos apreender relações de ideias,
mas não factos;
– assim, recorrendo apenas ao pensamento, podemos saber, por exemplo, que um corpo completamente
preto não pode ser completamente vermelho, pois estaremos simplesmente a relacionar as ideias de corpo
preto e de corpo vermelho, mas o facto de os corvos serem pretos só pode ser conhecido por meio da
experiência de observar corvos.

29. Apresente uma proposição que, de acordo com Hume, não possa ser refutada por meio da
experiência. Justifique.
Na sua resposta, indique se a proposição apresentada é uma relação de ideias ou uma questão de facto.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação de uma proposição:
– O triângulo tem três lados.
Justificação da resposta apresentada:
– a proposição apresentada é uma relação de ideias;
– uma relação de ideias (é uma verdade necessária que) resulta da mera análise das ideias envolvidas (é a
priori), e é verdadeira ou falsa dependendo apenas dessas ideias, e não dos factos (do mundo);
– assim, a proposição “o triângulo tem três lados” é verdadeira apenas em virtude das ideias envolvidas, quer
existam triângulos no mundo, quer não; logo, como a verdade de uma relação de ideias não depende de factos,
aos quais teríamos acesso por meio da experiência, a proposição não pode ser refutada pela experiência.

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30. Leia o texto seguinte.

«O senhor Hume tem defendido que só temos esta noção de causa: algo que é anterior ao efeito e que,
de acordo com a experiência, foi seguido constantemente pelo efeito. [...]
Seguir-se-ia desta definição de causa que a noite é a causa do dia e o dia a causa da noite. Pois, desde
o começo do mundo, não houve coisas que se tenham sucedido mais constantemente. [...]
Seguir-se-ia [também] desta definição que tudo o que seja singular na sua natureza, ou que seja a
primeira coisa do seu género, não pode ter uma causa.»
Thomas Reid, Essays on the Active Powers of Man, Edimburgo, Edinburgh University Press, 2010, pp. 249-
250.

30.1. Neste texto, apresenta-se e critica-se a noção de causa considerada por Hume.
Explique as falhas apontadas no texto a essa noção de causa.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação das falhas apontadas no texto à noção de causa considerada por Hume:
– no texto, defende-se que a noção de causa de Hume é a de algo ser seguido constantemente pelo
efeito (em que tomamos como causa o primeiro acontecimento e como efeito o acontecimento que
lhe sucede);
– ora, é falso que essa noção de causa seja aquela que de facto temos:
• há acontecimentos que se sucedem constantemente (que constantemente são seguidos um
do outro), mas que ninguém considera serem a causa ou o efeito um do outro; por exemplo, o
dia e a noite sucedem-se constantemente, mas ninguém pensa que são causa ou efeito um do
outro;
• há acontecimentos singulares, que geralmente aceitamos serem causados, relativamente aos
quais não temos experiência de qualquer conjunção constante; é o caso, por exemplo, do
acontecimento em que o mundo começou a existir, que ocorreu uma única vez, mas que,
ainda assim, julgamos ser causado.

30.2. De acordo com Hume, a observação de conjunções constantes de acontecimentos não justifica
racionalmente a crença de que há relações causais na natureza. Porquê?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação de que a observação de conjunções constantes não justifica racionalmente a crença de
que há relações causais na natureza:
– para haver relações causais na natureza, teria de haver conexão necessária entre os
acontecimentos;
– a observação de conjunções constantes de acontecimentos não mostra que um acontecimento
tenha de acontecer caso outro também aconteça (a observação/a experiência não mostra que
existem conexões necessárias entre os acontecimentos);
– a ideia de conexão necessária é apenas um hábito, que consiste numa mera disposição mental, não
estando racionalmente justificada.

31. Considere a questão seguinte, levantada por Hume.

«Se se dissesse que experimentámos que o mesmo poder continua unido ao mesmo objeto e que
objetos idênticos são dotados de idênticos poderes, renovaria a minha pergunta: “por que razão, a
partir desta experiência, tiramos uma conclusão que ultrapassa os casos passados de que tivemos
experiência?”»
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Identifique o problema filosófico que é formulado.


A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação do problema formulado:
– problema da indução;

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– problema da justificação da indução;


OU
– problema de haver ou não bons argumentos que justifiquem a indução.

32. De acordo com a análise tradicional do conhecimento, o conhecimento é crença verdadeira


justificada.
Será que as conclusões dos argumentos indutivos fortes são conhecimento?
Na sua resposta, deve:
– clarificar o problema apresentado;
– apresentar inequivocamente a posição que defende;
– argumentar a favor da posição que defende.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Clarificação do problema apresentado:
– as conclusões dos argumentos indutivos fortes apoiam-se no conhecimento de casos particulares;
– por exemplo: a partir da observação de numerosas auroras, nas quais a luminosidade inicial do céu
precedeu o aparecimento do Sol, inferimos que em todas as auroras a luminosidade do céu precede o
aparecimento do Sol (e não, por exemplo, um novo período de escuridão);
– o problema está em saber se tais inferências estão (adequadamente) justificadas.
Apresentação inequívoca da posição defendida.
Argumentação a favor da posição defendida:
– no caso de o examinando defender que as conclusões dos argumentos indutivos fortes são
conhecimento:
• muito do nosso conhecimento do mundo é a posteriori/depende da experiência;
• apenas podemos ter experiência direta de casos particulares e, a partir desses casos, podemos
chegar a conclusões gerais;
• caso nos apoiemos num número suficiente de casos conhecidos (que constituam uma amostra
representativa) (e caso não sejam conhecidos casos contrários ou contraexemplos), o argumento
é forte (ou indutivamente válido, ou bom), e a nossa conclusão está adequadamente justificada;
• é certo que as conclusões de um argumento indutivo são meramente prováveis;
• mas a experiência é a mais razoável fonte de informação acerca do funcionamento do mundo.
– no caso de o examinando defender que as conclusões dos argumentos indutivos fortes não são
conhecimento:
• muitas das nossas crenças acerca do mundo são a posteriori/dependem da experiência;
• mas essas crenças, embora psicologicamente irresistíveis, não são conhecimento, pois, ainda que
sejam verdadeiras, não estão adequadamente justificadas;
• temos uma propensão natural para fazer inferências acerca do curso dos acontecimentos futuros
partindo da experiência de acontecimentos passados;
• como nada impede que o futuro seja diferente do passado, essas inferências não estão
justificadas;
• caso tentemos justificar que o futuro será igual ao passado, considerando que a natureza opera
uniformemente, incorremos numa petição de princípio (pois a crença na operação uniforme da
natureza resulta de uma inferência indutiva).
Nota – Os aspetos constantes dos cenários de resposta apresentados são apenas ilustrativos, não
esgotando o espectro de respostas adequadas possíveis.

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33. Leia o texto seguinte.

«Quando pensamos numa montanha de ouro, estamos apenas a juntar duas ideias consistentes, a de
ouro e a de montanha, as quais já conhecíamos anteriormente. Podemos conceber um cavalo virtuoso
porque, a partir dos nossos próprios sentimentos, podemos conceber a virtude, e podemos uni-la à
forma e à figura de um cavalo, animal que nos é familiar. […]
A ideia de Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso, deriva da reflexão
sobre as operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites aquelas qualidades de bondade
e sabedoria.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002, p. 35

Hume dá uma explicação empirista da origem de todas as ideias.


Partindo do texto, justifique a afirmação anterior.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Justificação, a partir do texto, da afirmação segundo a qual Hume dá uma explicação empirista da origem de
todas as ideias:
− Hume defende a perspetiva empirista segundo a qual todos os materiais do pensamento são fornecidos
pela experiência (seja a experiência externa, seja a experiência interna);
− as ideias, mesmo as mais fantasiosas ou distantes da experiência, são produzidas pelo pensamento a partir
de materiais fornecidos pela experiência (externa ou interna);
− por exemplo, a ideia de Deus – de «um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso» – deriva das
impressões internas das «operações da nossa própria mente», nomeadamente da ampliação das nossas
«qualidades de bondade e sabedoria».

34. Leia o texto seguinte.

«Todos os objetos da razão ou da investigação humanas podem ser naturalmente divididos em dois
tipos, a saber, as relações de ideias e as questões de facto. [...]
O contrário de toda e qualquer questão de facto continua a ser possível, porque não pode jamais
implicar contradição, e a mente concebe-o com a mesma facilidade e nitidez, como se fosse
perfeitamente conforme à realidade. Que o Sol não vai nascer amanhã não é uma proposição menos
inteligível nem implica maior contradição do que a afirmação de que ele vai nascer.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002, pp. 41-42
(adaptado).

34.1. Distinga as questões de facto das relações de ideias.


A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Distinção entre as questões de facto e as relações de ideias:
– as verdades acerca das relações de ideias são verdades intuitiva ou demonstrativamente certas (OU
que podem ser descobertas pela razão); (em contrapartida,) as questões de facto apenas podem ser
decididas recorrendo à experiência;
– o contrário de uma verdade acerca de relações de ideias implica uma contradição e, portanto, é
logicamente impossível; (ao invés,) o contrário de uma verdade acerca de questões de facto não
implica uma contradição e, portanto, é logicamente possível.

34.2. Tendo em conta que «o Sol não vai nascer amanhã não é uma proposição menos inteligível nem
implica maior contradição do que a afirmação de que ele vai nascer», como explica Hume que
estejamos convencidos de que o Sol vai nascer amanhã?
EQT11DP © Porto Editora A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Apresentação da explicação de Hume:
– a propensão da mente para acreditar que o Sol nascerá amanhã é um efeito do «hábito» ou do «costume»;
– essa propensão é formada a partir da experiência da conjunção constante de dois objetos (ou
acontecimentos) distintos: o fim do período noturno e o nascimento do Sol;
– o «hábito» inevitavelmente leva a que, na presença de um objeto (ou acontecimento), esperemos que
o outro ocorra.

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35. Leia o texto seguinte.
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«Todas as ideias são copiadas de impressões ou de sentimentos precedentes e, onde não pudermos
encontrar impressão alguma, podemos ter a certeza de que não há qualquer ideia. Em todos os
exemplos singulares das operações de corpos ou mentes, não há nada que produza qualquer
impressão e, consequentemente, nada que possa sugerir qualquer ideia de poder ou conexão
necessária. Mas quando aparecem muitos casos uniformes, e o mesmo objeto é sempre seguido pelo
mesmo evento, começamos a ter a noção de causa e de conexão.»
David Hume, Tratados Filosóficos I, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002
(adaptado).

A partir do texto, exponha a tese empirista de Hume sobre a origem da ideia de conexão causal.
Na sua resposta, integre, de forma pertinente, informação do texto.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
– Apresentação da perspetiva empirista de David Hume: o conhecimento do mundo está limitado àquilo de
que temos experiência.
– Esclarecimento da ideia de conexão causal: perante dois acontecimentos sucessivos, o primeiro dá origem
ao segundo, ou o segundo ocorre porque o primeiro existiu anteriormente.
– Apresentação das razões pelas quais a ideia de conexão causal não pode ser adequadamente justificada
pela experiência: a experiência apenas pode revelar a sucessão e a conjunção constante de
acontecimentos, mas não nos dá a ideia de conexão necessária entre acontecimentos.
– Explicitação do fundamento da ideia de conexão causal: é o peso do hábito que nos leva a crer que dois
acontecimentos que se sucedem ou que acontecem conjuntamente têm uma relação causal entre si.

36. Leia o texto seguinte.

«Da primeira vez que um homem viu a comunicação de movimento por impulso, ou pelo choque de
duas bolas de bilhar, ele não poderia afirmar que um evento estava conectado, mas apenas que estava
conjugado com o outro. Depois de ter observado vários casos desta natureza, passa a declarar que
eles estão conectados.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002, p.
89.

Como é que Hume explica que tenhamos a ideia de conexão necessária entre acontecimentos?
Na sua resposta, integre adequadamente a informação do texto.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicação de Hume para o facto de termos a ideia de conexão necessária entre acontecimentos:
– a observação (pela «primeira vez») não mostra que há uma conexão necessária entre o choque (de
uma bola com a outra) e o movimento (adquirido pela bola que se encontrava imóvel), mas apenas que
esses dois acontecimentos se seguiram um ao outro/ocorreram conjugados;
– a observação repetida da sucessão/conjunção/conjugação desses dois acontecimentos (ainda que não
mostre que há uma conexão necessária entre esses dois acontecimentos) leva-nos a «declarar que eles
estão conectados», porque, irresistivelmente, associamos a ideia de colisão (de bolas) à ideia de início do
movimento (da bola imóvel);
– esta transição (costumeira/habitual) de uma ideia para a outra leva-nos a formar a ideia de que os dois
acontecimentos estão conectados/de que há uma conexão necessária entre os dois acontecimentos
OU é no hábito que reside a explicação para o facto de termos a ideia de conexão necessária entre
acontecimentos que, repetidamente, se seguiram um ao outro/ocorreram conjugados.

José Ferreira Borges, Marta Paiva, Nuno Fadigas, Orlanda


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37. Atente nos textos seguintes.

«Tendo refletido sobre aquilo de que duvidava, e que, por consequência, o meu ser não era inteiramente
perfeito, pois via claramente que conhecer é uma maior perfeição do que duvidar, lembrei-me de
procurar de onde me teria vindo o pensamento de alguma coisa de mais perfeito do que eu; e conheci,
com evidência, que se devia a alguma natureza que fosse, efetivamente, mais perfeita. […] Para
conhecer a natureza de Deus, tanto quanto disso a minha [natureza] é capaz, bastava-me considerar,
acerca de todas as coisas de que em mim encontrava alguma ideia, se era, ou não, perfeição possuí-
las.»
René Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 2003, pp. 76-77

«Ao analisarmos os nossos pensamentos ou ideias, por mais compostas e sublimes que sejam, sempre
descobrimos que elas se resolvem em ideias tão simples como se fossem copiadas de uma sensação
ou sentimento precedente. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem afastadas desta origem,
descobre-
-se, após um escrutínio mais minucioso, serem dela derivadas. A ideia de Deus, enquanto significa um
Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, provém da reflexão sobre as operações da nossa própria
mente, e eleva sem limite essas qualidades de bondade e sabedoria.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Edições 70, 1985, p. 25

37.1. Compare as perspetivas de Descartes e de Hume acerca da origem da ideia de Deus.


Na sua resposta, integre adequadamente a informação dos textos.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das perspetivas de Descartes e de Hume acerca da origem da ideia de Deus:
– Descartes afirma que «o pensamento de alguma coisa de mais perfeito do que eu […] se devia a
alguma natureza que fosse, efetivamente, mais perfeita», ou seja, que a ideia de perfeição não pode
ter tido origem num ser imperfeito como ele (porque duvidar é uma imperfeição, e ele duvida);
– Hume, em contrapartida, afirma que as ideias, «por mais compostas e sublimes que sejam», são
copiadas «de uma sensação ou sentimento precedente», ou seja, que a ideia de Deus é uma ideia
composta, formada pela associação e pela ampliação de ideias simples provenientes da observação
das operações da nossa mente;
– segundo Descartes, a ideia de Deus não tem origem empírica/é inata;
– em contrapartida, Hume considera que a ideia de Deus tem origem empírica.

38. Leia o texto seguinte.

«Os empiristas aceitam que algumas verdades podem ser conhecidas a priori, mas essas verdades
são consideradas […] não-instrutivas […]. Ao tomarmos conhecimento de que os solteiros são homens
não-casados, não aprendemos nada de substancial acerca do mundo […].»
Dan O’Brien, Introdução à Teoria do Conhecimento, Lisboa, Gradiva, 2013, p.
62.

Compare as posições de Descartes e de Hume acerca da importância do conhecimento a priori.


Na sua resposta, integre a informação do texto.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Comparação das posições de Descartes e de Hume sobre a importância do conhecimento a priori:
– Hume defende que o conhecimento a priori estabelece relações de ideias (ou relações entre conceitos), ao
passo que Descartes defende que algum conhecimento a priori é acerca do mundo;
EQT11DP © Porto Editora – Hume considera que o conhecimento a priori não tem importância como meio para descobrir o mundo –
com esse tipo de conhecimento, «não aprendemos nada de substancial acerca do mundo» –, ao passo que
Descartes defende que o conhecimento do mundo mais importante é a priori;
– os empiristas, como Hume, consideram que as verdades conhecidas a priori são «não-instrutivas», ou seja,
não são informativas (ou não têm conteúdo factual), ao passo que os racionalistas, como Descartes,
consideram que as verdades conhecidas a priori são certas (ou evidentes, ou claras e distintas), são
aspetos fundamentais do mundo e delas se deduzem outras verdades acerca do mundo.

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Tavares
Questões de Exame Nacional
Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano 5
39. Leia o texto seguinte.

«Existe uma espécie de ceticismo, anterior a qualquer estudo ou filosofia, muito recomendado por
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Descartes e outros como sendo a soberana salvaguarda contra os erros e os juízos precipitados. Este
ceticismo recomenda uma dúvida universal, não apenas quanto aos nossos princípios e opiniões
anteriores, mas também quanto às nossas próprias faculdades, de cuja veracidade, diz ele, nos devemos
assegurar por meio de uma cadeia argumentativa deduzida de algum princípio original que seja
totalmente impossível tornar-se enganador ou falacioso. Mas nem existe qualquer princípio original como
esse, […] nem, se existisse, poderíamos avançar um passo além dele, a não ser pelo uso daquelas
mesmas faculdades das quais se supõe que já suspeitamos.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002, pp. 161-162
(adaptado).

39.1. Explicite a crítica de Hume, apresentada no texto, ao ceticismo «recomendado por Descartes».
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicitação da crítica de Hume ao ceticismo de Descartes:
– a dúvida universal de Descartes também se aplica às nossas faculdades, impedindo-nos de confiar
nelas;
– mas a dúvida universal só pode ser ultrapassada usando precisamente essas faculdades em que
deixámos de confiar;
– assim, uma vez estabelecida, a dúvida universal não poderia ser ultrapassada (nem permitiria
alcançar um princípio original indubitável que fosse o fundamento de todo o conhecimento).

39.2. Distinga, no que respeita à fundamentação do conhecimento, a perspetiva racionalista de Descartes


da perspetiva empirista de Hume.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Distinção entre a perspetiva racionalista de Descartes e a perspetiva empirista de Hume, no que
respeita à fundamentação do conhecimento:
– para Descartes, o conhecimento fundamenta-se em verdades conhecidas a priori;
– para Hume, o conhecimento fundamenta-se em verdades conhecidas a posteriori;
– as verdades a priori (por exemplo, a verdade de que eu sou uma coisa que pensa ou a verdade de que
Deus existe) são, para Descartes, os primeiros princípios de todo o conhecimento;
– o raciocínio pelo qual são descobertos os primeiros princípios de todo o conhecimento segue o
modelo da matemática e assegura a certeza que, segundo Descartes, a fundamentação do
conhecimento requer;
– algumas verdades a posteriori (por exemplo, a verdade de ter sentido frio ao tocar um pedaço de
gelo) são, para Hume, os dados empíricos básicos requeridos para o conhecimento do mundo;
– os dados empíricos básicos resultam de impressões simples fornecidas pela experiência.

40. Leia o texto seguinte.

«Em suma, todos os materiais do pensamento são derivados do nosso sentimento externo e interno.
Apenas a mistura e a composição destes materiais competem à mente e à vontade. Ou, para me
expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias ou perceções mais fracas são cópias das
nossas impressões, ou perceções mais vívidas.
[...] Se acontecer, devido a algum defeito orgânico, que uma pessoa seja incapaz de experimentar alguma
espécie de sensação, verificamos sempre que ela é igualmente incapaz de conceber as ideias
correspondentes. Um cego não pode ter a noção das cores, nem um surdo dos sons. Restitua-se a
qualquer um deles aquele sentido em que é deficiente e, ao abrir-se essa nova entrada para as suas
sensações, abrir-se-á também uma entrada para as ideias, e ele deixará de ter qualquer dificuldade em
conceber esses objetos.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002, pp. 35-36

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Tavares
5 Questões de Exame Nacional
Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano

40.1. Explicite as razões usadas no texto para defender que a origem de todas as nossas ideias reside nas
impressões dos sentidos.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Explicitação das razões usadas no texto:
– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, os cegos e os surdos seriam capazes de
formar ideias das cores e dos sons, respetivamente;
– os cegos e os surdos são incapazes de formar ideias das cores e dos sons, respetivamente.
OU
– se as ideias não derivassem das impressões dos sentidos, as pessoas com uma incapacidade que
as priva de um certo tipo de sensações poderiam, ainda assim, ter as ideias correspondentes;
– as pessoas com uma incapacidade que as priva de um certo tipo de sensações não podem ter as
ideias correspondentes.

40.2. Concordaria Descartes com a tese segundo a qual «todas as nossas ideias […] são cópias das nossas
impressões»? Justifique.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação da posição de Descartes:
– Descartes não concordaria com a tese apresentada.
Justificação:
– temos ideias que não poderiam ter tido origem nos sentidos, como o cogito/«eu penso», cuja origem
é a priori/só pode ser o próprio ato de pensar;
– temos ideias inatas (como a ideia de Deus) que possuímos desde que nascemos, sem qualquer
intervenção dos sentidos.

41. Leia o texto seguinte.

«Descartes defendeu que o pensamento era a essência da mente; não este ou aquele pensamento,
mas o pensamento em geral. Isto parece ser absolutamente ininteligível, uma vez que tudo o que existe
é particular e, portanto, devem ser as nossas perceções particulares que compõem a mente. Digo,
compõem a mente, não pertencem à mente. A mente não é uma substância, à qual as perceções
sejam inerentes. Esta noção é tão ininteligível como a noção cartesiana segundo a qual o pensamento,
ou a perceção em geral, é a essência da mente. Não temos noção alguma de substância de qualquer
espécie, uma vez que só temos ideia do que deriva de alguma impressão e não temos impressão de
substância alguma, seja material ou espiritual. Não conhecemos nada a não ser qualidades e
perceções particulares.»
David Hume, «A Letter from a Gentleman to his Friend...» in An Enquiry Concerning Human Understanding. Indianapolis/Cambridge,
Hackett Publishing Company, 1993, p. 135.

41.1. Hume defende a tese de que «só temos ideia do que deriva de alguma impressão».
Redija um texto argumentativo em que discuta a tese acima enunciada, a partir das posições de
Descartes e de Hume.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados.
– Apresentação e confronto das teses acerca da origem das ideias defendidas pelos dois autores:
• formulação do problema da origem do conhecimento: a relação entre as ideias e a experiência;
• apresentação da tese de Descartes relativamente à existência de ideias inatas, única fonte segura
do conhecimento. As ideias inatas são verdades universais necessárias, uma vez que são as
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únicas indubitáveis (claras e distintas);
• referência ao carácter duvidoso atribuído por Descartes às ideias adventícias que têm origem nos
sentidos – que já nos enganaram algumas vezes –, o que as torna falíveis e sujeitas a erro;
• apresentação da tese de David Hume sobre a origem empírica das ideias. As ideias são o
resultado de impressões (sentimento exterior) enfraquecidas, ou a consequência da reflexão da
mente sobre as impressões recebidas (sentimento interior);

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Tavares
Questões de Exame Nacional
Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano 5
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• referência à perspetiva de David Hume sobre a impossibilidade de um conhecimento não
fundamentado na experiência. A mente, na origem, nada transporta consigo. Todas as ideias
são resultado de operações sobre as impressões, meras perceções particulares.
– Avaliação das teses em confronto: apresentação e reflexão crítica sobre o antagonismo
racionalismo-empirismo.

42. Leia o texto seguinte.

«[…] Embora vejamos o Sol muito claramente, não devemos por isso julgar que ele só tem a grandeza
que vemos; e podemos à vontade imaginar distintamente uma cabeça de leão unida ao corpo de uma
cabra, sem que tenhamos de concluir que no mundo existem quimeras: porque a razão não garante
que seja verdadeiro o que assim vemos ou imaginamos. Mas sugere-se que todas as nossas ideias ou
noções devem ter algum fundamento de verdade; porque não seria possível que Deus, que é
inteiramente perfeito e completamente verdadeiro, as tivesse posto em nós sem isso.»
René Descartes, Discurso do Método, Lisboa, Edições 70, 2000.

42.1. Identifique os três tipos de ideias segundo Descartes, presentes no texto.


A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– identificação dos três tipos de ideias, segundo Descartes, presentes no texto: ideias adventícias,
ideias factícias e ideias inatas.

42.2. Explique a origem das ideias que conduzem ao conhecimento, segundo a filosofia de Descartes e
segundo a filosofia de Hume.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– identificação das ideias que conduzem ao conhecimento como tendo origem na razão humana,
na filosofia de Descartes, e como tendo origem nas impressões, na filosofia de Hume;
– explicação das ideias inatas, que têm origem na razão e se caracterizam pela universalidade e pela
necessidade, segundo a filosofia de Descartes;
– explicação do conhecimento, na filosofia de Descartes, a partir dos princípios da razão, que, em
última análise, têm origem em Deus, fundamento do conhecimento;
– explicação da relação entre impressões e ideias e entre ideias simples e ideias complexas, na
filosofia de Hume;
– explicação, segundo a filosofia de Hume, da necessidade de as ideias que conduzem ao
conhecimento terem correspondência com uma impressão.

43. Confronte o inatismo cartesiano com a filosofia empirista de Hume.


Na sua resposta, deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes aspetos:
− origem das ideias;
− limites do conhecimento.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– distinção entre o inatismo cartesiano, segundo o qual existem na razão ideias que não têm origem nos
sentidos, e o empirismo de Hume, segundo o qual todas as ideias têm origem nas impressões;
– caracterização das ideias inatas, no âmbito do racionalismo de Descartes, como ideias que proporcionam
um conhecimento claro e distinto;
– distinção entre impressões e ideias (simples e complexas), no âmbito do empirismo de Hume;
– oposição entre a crença cartesiana na certeza inabalável e no conhecimento universal (fundamentado na
existência de Deus) e as impressões como limite ao conhecimento na filosofia de Hume.

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44. Leia o texto seguinte.

«Há uma questão que, na evolução do pensamento filosófico ao longo dos séculos, sempre
desempenhou um papel importante: Que conhecimento pode ser alcançado pelo pensamento puro,
independente da perceção sensorial? Existirá um tal conhecimento? […] A estas perguntas […] os
filósofos tentaram dar uma resposta, suscitando um quase interminável confronto de opiniões filosóficas.
É patente, no entanto, neste processo […], uma tendência […] que podemos definir como uma
crescente desconfiança a respeito da possibilidade de, através do pensamento puro, descobrirmos algo
acerca do mundo objetivo.»
Albert Einstein, Como Vejo a Ciência, a Religião e o Mundo, Lisboa, Relógio D’Água, 2005, p. 163 (adaptado).

44.1. Será que tanto Descartes como Hume contribuíram para a «crescente desconfiança» referida no texto?
Justifique a sua resposta.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Indicação de que é falso que ambos tenham contribuído para a desconfiança referida no texto
(desconfiança a respeito de haver conhecimento substancial a priori)
OU
de que apenas Hume contribuiu para a desconfiança referida no texto
OU
de que Descartes não contribuiu para a desconfiança referida no texto.
Justificação:
– Hume defendeu que podemos descobrir a priori relações de ideias; todavia, os raciocínios pelos
quais descobrimos relações de ideias não permitem conhecer questões de facto (conhecimento
substancial); por exemplo, saber a priori que nenhum solteiro é casado não fornece qualquer
indicação acerca do estado civil de quem quer que seja, o qual só pode ser conhecido a
posteriori/recorrendo à experiência;
– Descartes defendeu que «pelo pensamento puro»/de modo «independente da perceção
sensorial»/a priori podemos ter conhecimento substancial, e não apenas de relações de ideias;
por exemplo, podemos conhecer a priori que existimos enquanto coisas pensantes ou que Deus
existe (ou que a extensão é uma propriedade do mundo físico).

45. De acordo com Hume, a suposição de que a natureza é uniforme está implicitamente contida nas
inferências indutivas. Porquê?
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Justificação de que a suposição de que a natureza é uniforme está implicitamente contida nas inferências indutivas:
– quando fazemos inferências indutivas, chegamos a conclusões acerca de factos não observados a partir
de premissas que descrevem factos observados;
– a nossa confiança nas conclusões obtidas indutivamente pressupõe que a natureza funciona do mesmo
modo tanto nos casos observados como nos casos ainda não observados (e isso significa que as inferências
indutivas assentam na suposição de que a natureza é uniforme).
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Questões de Exame Nacional
Dossiê do Professor, Em Questão, Filosofia 11.° ano 5
46. Leia o texto seguinte. EQT11DP © Porto Editora

«Quando lanço um pedaço de madeira seca numa lareira, o meu espírito é imediatamente levado a
conceber que ele vai aumentar as chamas, não que as vai extinguir. Esta transição de pensamento da
causa para o efeito não procede da razão […]. E como parte inicialmente de um objeto presente aos
sentidos, ela torna a ideia ou conceção da chama mais forte e viva do que o faria qualquer devaneio solto
e flutuante da imaginação.»
David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano», in Tratados Filosóficos I, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda,

46.1. Explicite, a partir do exemplo do texto, em que se baseia a ideia da relação de causa e efeito,
segundo Hume.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– afirmação de que a relação de causalidade em Hume se baseia unicamente na expectativa e no
hábito ou costume, como inferência a partir da experiência;
– caracterização da relação de causa e efeito, segundo Hume, como ligação entre fenómenos que se
sucedem temporalmente, de forma regular e constante, e não como conexão necessária;
– aplicação da ideia de relação causa e efeito ao exemplo, explicando que a relação entre a
madeira seca (considerada causa) e o atear das chamas na lareira (considerado efeito) não pode
ser logicamente deduzida (não é necessária), mas procede unicamente da experiência anterior
repetida, que gera a expectativa.

46.2. Compare as posições de Hume e de Descartes relativamente à origem do conhecimento humano.


Na sua resposta deve integrar, pela ordem que entender, os seguintes conceitos:
− razão;
− sentidos;
− ideias.
A resposta integra os seguintes aspetos ou outros considerados relevantes para a comparação entre
os dois autores.
– Identificação da teoria racionalista, em Descartes, e da teoria empirista, em Hume, como respostas
ao problema filosófico da origem do conhecimento.
– Formulação da tese racionalista da afirmação da razão como origem e critério de todo o
conhecimento verdadeiro e da tese empirista da afirmação dos sentidos como origem e
critério do conhecimento acerca da realidade.
– Explicação da teoria racionalista de Descartes, segundo a qual existem ideias inatas, com origem na
razão, constituindo os princípios de todo o conhecimento; explicação da teoria empirista de Hume,
que rejeita o inatismo e considera que não é possível extrair da razão um conhecimento fundado,
defendendo que o conhecimento da realidade só é possível a partir de uma base empírica – as
impressões sensíveis.
– Caracterização da evidência racional das ideias, na teoria racionalista de Descartes, como garantia da
certeza do conhecimento; caracterização, na teoria empirista de Hume, da experiência – impressões
sensíveis – como garantia da adequação entre as ideias e a realidade, de modo que qualquer ideia –
simples ou complexa – tem de poder ser reconduzida a uma impressão sensível, à experiência.
– Caracterização do papel da razão e dos sentidos no conhecimento da realidade, de acordo com a
filosofia cartesiana: as operações da razão – intuição e dedução – são a base do método racional
através do qual se pode alcançar e progredir no conhecimento da realidade; as ideias com origem
nos dados dos sentidos (ideias adventícias) são incertas e confusas, não podendo a experiência
servir de ponto de partida para o conhecimento. Caracterização do papel da razão e dos sentidos no
conhecimento da realidade, de acordo com a filosofia de Hume, segundo a qual a razão sem os
sentidos não pode ajuizar ou fazer inferências sobre a realidade.

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47. Leia os textos seguintes.

«A geometria ajuda-nos a aplicar leis do movimento, oferecendo-nos as dimensões corretas de todas


as partes e grandezas que podem participar em qualquer espécie de máquina, mas apesar disso a
descoberta das próprias leis continua a dever-se simplesmente à experiência […]. Quando
raciocinamos a priori, considerando um objeto ou causa apenas tal como aparece à mente,
independentemente de qualquer observação, ele jamais poderá sugerir-nos a ideia de qualquer objeto
distinto, tal como o seu efeito, e muito menos mostrar-nos a conexão inseparável e inviolável que existe
entre eles.»
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2002, pp. 46-47

«As coisas corpóreas podem não existir de um modo que corresponda exatamente ao que delas
percebo pelos sentidos, porque, em muitos casos, a perceção dos sentidos é muito obscura e confusa;
mas, pelo menos, existem nelas todas as propriedades que entendo clara e distintamente, isto é, todas
aquelas que, vistas em termos gerais, estão compreendidas no objeto da matemática pura.»
René Descartes, Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1985, p. 210 (adaptado).

47.1. Haverá conhecimento a priori do mundo?


Confronte as respostas de Hume e de Descartes a esta questão.
Na sua resposta, integre adequadamente a informação dos textos.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Confronto entre as respostas de Hume e de Descartes à questão de haver conhecimento a priori do mundo:
– Hume considera que a geometria, que é a priori, apenas «nos ajuda a aplicar as leis do movimento» e
que estas só podem ser descobertas pela experiência, pois, quando consideramos «um objeto […] tal
como aparece à mente […], ele jamais poderá sugerir-nos […] o seu efeito»;
– Descartes, em contrapartida, considera que só é seguro que existam nas coisas as propriedades que
«entende clara e distintamente», descobertas pela matemática pura (que inclui a geometria), e não
aquelas que são percebidas pelos sentidos, pois «a perceção dos sentidos é muito obscura e confusa»;
– de acordo com Hume, não há conhecimento a priori do mundo (a importância do conhecimento a
priori é, assim, minimizada);
– em contrapartida, de acordo com Descartes, há conhecimento a priori do mundo, e esse conhecimento
é conhecimento fundamental (a importância do conhecimento a priori é, assim, salientada).

48. Leia o texto seguinte.

«Estabelecemos [...] que todos os corpos […] são compostos de uma mesma matéria, indefinidamente
divisível em muitas partes [...], as quais se movem em direções diferentes […]; além disso,
estabelecemos [...] que continua a haver a mesma quantidade de movimentos no mundo. No entanto,
não podemos determinar apenas pela razão o tamanho dos pedaços de matéria, ou a que velocidade
se movem […]. Uma vez que há inumeráveis configurações diferentes de matéria, […] apenas a
experiência pode ensinar-nos que configurações realmente existem.»
René Descartes, «Les principes de la philosophie», in Oeuvres de Descartes IX, Paris, Vrin, 1996, p. 124
(adaptado).

48.1. Identifique os factos referidos no texto que, de acordo com Descartes, são determinados a priori e os
que são determinados a posteriori.
A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Identificação dos factos que, de acordo com Descartes, são determinados a priori:
− todos os corpos são compostos de uma mesma matéria, indefinidamente divisível em partes, as
EQT11DP © Porto Editora
quais se movem em direções diferentes;
− a mesma quantidade de movimentos mantém-se no mundo.
Identificação dos factos que, de acordo com Descartes, são determinados a posteriori:
− as configurações de matéria que realmente existem;
− o tamanho e a velocidade dos pedaços de matéria.

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48.2. Colocando-se na perspetiva de Hume, como avaliaria a distinção exposta no texto por Descartes?
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Na sua resposta, considere os factos referidos no texto.


A resposta integra os aspetos seguintes, ou outros igualmente relevantes.
Avaliação da distinção exposta no texto por Descartes à luz da perspetiva de Hume:
− Descartes afirma corretamente que tanto o tamanho e a velocidade dos pedaços de matéria como
as configurações de matéria que realmente existem se determinam pelo recurso à experiência;
− no entanto, está errado ao afirmar que apenas pela razão se pode determinar que os corpos sejam
compostos de uma mesma matéria, indefinidamente divisível em partes que se movem em direções
diferentes, e que a mesma quantidade de movimentos se mantém no mundo (pois estes factos
também só podem ser determinados pelo recurso à experiência);
− estas são questões de facto, e não relações de ideias (pelo que não podem ser determinadas
apenas pela razão).

49. Leia o texto seguinte.

«[…] Quando analisamos os nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou sublimes que
possam ser, sempre constatamos que eles se decompõem em ideias simples copiadas de alguma
sensação ou sentimento precedente. Mesmo quanto àquelas ideias que, à primeira vista, parecem mais
distantes dessa origem, constata-se, após um exame mais apurado, que dela são derivadas. A ideia de
Deus, no sentido de um Ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso, deriva da reflexão sobre as
operações da nossa própria mente e de aumentar sem limites aquelas qualidades de bondade e de
sabedoria.»
David Hume, «Investigação sobre o Entendimento Humano», in Tratados Filosóficos I, Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda,

49.1. Nomeie os tipos de perceção da mente, segundo Hume.


Os dois tipos de perceções da mente, segundo Hume, são as impressões e as ideias.

49.2. Explicite, a partir do texto, a origem da ideia de Deus na filosofia de Hume.


A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros considerados relevantes e adequados:
– relação entre as impressões e as ideias e entre as ideias simples e as ideias complexas;
– identificação da ideia de Deus como ideia complexa que tem por base ideias simples que a mente
e a vontade compõem e potenciam.

49.3. Confronte as ideias expressas no texto de Hume com o racionalismo de Descartes.


Na sua resposta, deve abordar, pela ordem que entender, os seguintes aspetos:
− inatismo;
− valor da ideia de Deus.
A resposta integra os seguintes aspetos, ou outros igualmente relevantes:
– distinção entre o empirismo de Hume, segundo o qual o conhecimento tem origem nas impressões, e
o racionalismo inatista de Descartes, que reconhece um papel fulcral às ideias inatas consideradas
como princípio do conhecimento;
– referência à relação entre ideias simples e ideias complexas, na filosofia empirista de Hume;
– caracterização das ideias inatas, no racionalismo de Descartes, como ideias provenientes da razão,
claras e distintas, garantindo a certeza e a universalidade do conhecimento, e das ideias
provenientes dos sentidos como ideias falíveis, incertas e confusas, que não conduzem ao
conhecimento;
– comparação entre o valor da ideia de Deus, na filosofia de Hume, e o valor da ideia de Deus, na
filosofia de Descartes;
– caracterização da ideia de Deus, na filosofia de Hume, como ideia a que nenhum objeto da
experiência sensível corresponde;
– caracterização da ideia de Deus, ideia inata do ser perfeito e infinito, como garantia do valor do
conhecimento, fundamento da verdade, na filosofia de Descartes.

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