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OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA FILOSOFIA

A. Filosofia Antiga (do século VI a.C. ao século VI d.C.)

• Período pré-socrático (final do séc. VII ao final do séc. V a.C.): também


denominado de cosmológico e tem como preocupação fundamental a origem
do mundo e as causas das transformações da natureza.
Os principais filósofos pré-socráticos:
a) Escola Jônica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de
Mileto e Heráclito de Éfeso.
b) Escola Italiana: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de
Tarento.
c) Escola Eleática: Parmênides de Eléia e Zenão de Eléia.
d) Escola Atomista: Empédocles de Agrigento, Anáxagoras de Clazômenas,
Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.

● Período socrático (final do séc. V e todo o séc. IV a.C.): também


denominado de antropológico, tem como tema central a investigação sobre
as questões humanas procurando entender o lugar do homem no mundo.
Principais pensadores deste período:
a) Os sofistas: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de
Atenas.
b) Sócrates e Platão.

● Período sistemático (final do séc. IV ao final do séc. III a.C): a busca de


reunir e sistematizar tudo o que foi pensado em termos de cosmologia,
ética, técnica e política. Desenvolvimento da metafísica propriamente dita.
Principal filósofo:
a) Aristóteles.

● Período helenístico (final do séc. III a.C. até o séc. VI d.C.): preocupação
com a ética, com o conhecimento humano e com as relações entre o
homem e a natureza e de ambos com Deus.
Principais teorias filosóficas:
a) Estoicismo, epicurismo, ceticismo e neoplatonismo.
B. Filosofia Patrística (do século I ao século VII d.C.)

• Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o evangelho de São João e termina


com o início da Filosofia Medieval;
• Estabeleceu uma tentativa de conciliar o cristianismo com o pensamento
filosófico greco-romano;
• Liga-se à tarefa religiosa da evangelização e à defesa da religião cristã contra
os ataques dos “pagãos” e contra as heresias;
• Divide-se em Patrística Grega (Igreja de Bizâncio) e Patrística Latina (Igreja
Romana);
• Introduziu-se as ideias de criação do mundo a partir do nada, do pecado
original do homem, de Deus como trindade Uma, da encarnação da morte de
Deus e ressurreição dos mortos;
• Precisou explicar a origem do mal, visto que tudo tem origem em Deus que é
bondade pura;
• Transformou as ideias cristãs em verdades reveladas por Deus e, por serem
decretos divinos, em dogmas;
• Tinha como temática principal a possibilidade ou não de conciliar razão e fé,
representadas pelas seguintes posições principais:
⎫ São inconciliáveis e a Fé é superior à Razão – “creio porque é absurdo.”
⎫ São conciliáveis, mas subordinava-se a Razão à Fé – “creio para
compreender.”
⎫ São inconciliáveis e cada uma deve ocupar o seu campo próprio de
conhecimento e não devem misturar-se.

C. Filosofia Medieval (do século VII d.C ao século XIV d.C.)

• É o período também conhecido como Escolástica e tem como principal


influência o pensamento de Platão, de Aristóteles e de Santo Agostinho;
• Conservava e mantinha a mesma ordem de problemas que a Patrística, mas
acrescentando o problema dos Universais;
• Corresponde ao surgimento da Filosofia Cristã propriamente dita – a Teologia;
• Temas principais:
ϖ Provas da existência de Deus;
ϖ Imortalidade da alma;
ϖ Demonstrações racionais da existência o infinito criador e do espírito
humano imortal;
ϖ Utilização do método conhecido como Disputa; subordinação ao princípio de
autoridade.

D. Filosofia da Renascença (do século XIV d.C ao século XVI d.C.)


• É a valorização do Humanismo, isto é, do homem como centro do universo.
As suas linhas de pensamento predominantes:
⎫ Derivada de Platão (obras Banquete, Fédon e Fedro), do Neoplatonismo e do
Hermetismo (“Filosofia Oriental”) – concebia-se a natureza com um ser vivo,
dotada de uma alma universal e o homem como um microcosmo, parte da
natureza, que pode conhecê-la e pode alterá-la. Predomínio da magia natural,
d alquimia e da astrologia;
⎫ Influência dos pensadores florentinos com a valorização da vida política e a
defesa dos interesses políticos e econômicos das cidades-estados italianas
contra o poder do Império Romano-Germânico. Propuseram um retorno aos
ideais políticos da antiguidade;
⎫ Aquela que propunha o ideal do homem como artífice de seu próprio destino,
quer seja através do conhecimento, da política, das artes ou das técnicas.

E. Filosofia Moderna (do século XVII d.C. a meados do século XVIII d.C.)

• É o período conhecido como o grande Racionalismo Clássico;


• Caracterizado pelo ceticismo oriundo do pessimismo teórico que duvida da
capacidade humana para conhecer a realidade exterior e o homem;
• É também a tentativa de superação do ceticismo pela proposição das
seguintes principais mudanças teóricas:
⎫ Inversão do ponto de partida para a reflexão filosófica que deve ter como
ponto de partida o conhecimento do próprio sujeito em lugar de começar pela
investigação da natureza e de Deus. É o surgimento da teoria do conhecimento
ou Epistemologia com os seus problemas fundamentais como se é possível o
conhecimento de si mesmo e do mundo.
⎫ A concepção em torno do objeto do conhecimento que passa a ser
representado por um conceito ou ideia clara e distinta, isto é, o mundo é
conhecido quando pode ser representado intelectualmente;
⎫ A compreensão da natureza como um sistema ordenado de causas e efeitos
necessários que pode ser descrito matematicamente. Tais causalidades são
físicas-matemáticas são perfeitas e plenamente conhecíveis pela razão, é o
nascimento da Mecânica.

F. Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao


começo do século XIX)

• Este período também crê nos poderes da razão, também denominada de “As
luzes”, é a etapa de afirmação do ideário burguês de sociedade e da crença na
maioridade humana por meio do uso da razão;
• Principais afirmações do Iluminismo:
⎫ Pela razão, o homem pode conquistar a liberdade e felicidade social e
política;
⎫ A razão é capaz de aperfeiçoamento e progresso, e o homem é um ser
perfectível, na medida em que consegue se liberar dos preconceitos religiosos,
sociais e morais por meio do avanço das ciências, das artes e da moral laica;
⎫ O aperfeiçoamento da razão se realiza pelo progresso das civilizações, que
vão das mais atrasadas às mais avançadas;
⎫ Há a diferença entre a natureza e a civilização, sendo a primeira o reino do
necessário e a segunda o reino da liberdade.

Fonte:
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª ed. 1ª impr. São Paulo: Ática, 2003.

Filosofia e felicidade: O que é ser feliz segundo os grandes filósofos do


passado e do presente

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Antonio Carlos Olivieri
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

O que é felicidade? Provavelmente, cada pessoa que resolver responder a esta


pergunta apresentará uma resposta própria, pois a felicidade, num certo
sentido, é algo individual, pessoal e intransferível. Por outro lado, há uma ideia
de felicidade que pertence ao senso comum e é compartilhada pela
esmagadora maioria das pessoas: felicidade é ter saúde, amor, dinheiro
suficiente, etc. Além disso, a ideia de felicidade não é uma coisa recente. Com
certeza, ela acompanha o ser humano há muito tempo e faz parte de sua
história.
Sendo assim, é possível traçar a evolução histórica dessa ideia, se nos
debruçarmos sobre a disciplina que sempre se dedicou a investigar nossas
ideias, de modo a defini-las e esclarecê-las: a filosofia. Na verdade, a ideia de
felicidade tem grande importância para a origem da filosofia. Ela faz parte das
primeiras reflexões filosóficas sobre ética, que foram elaboradas na Grécia
antiga. Vamos, então, acompanhar a evolução histórica dessa ideia fazendo
uma viagem pela história da filosofia.

A referência filosófica mais antiga de que se dispõe sobre o tema é um


fragmento de um texto de Tales de Mileto, que viveu entre as últimas décadas
do século 7 a.C. e a primeira metade do século 6 a.C. Segundo ele, é feliz
“quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. Vale atentar para
a expressão “boa sorte”, pois disso dependia a felicidade na visão dos gregos
mais antigos.

Em grego, felicidade se diz “eudaimonia”, palavra que é composta do prefixo


“eu”, que significa “bom”, e de “daimon”, “demônio”, que, para os gregos, é uma
espécie de semi-deus ou de gênio, que acompanhava os seres humanos. Ser
feliz era dispor de um “bom demônio”, o que estava relacionado à sorte de
cada um. Quem tivesse um “mau demônio” era fatalmente infeliz.

Não há dúvida de que, entre os séculos 10 a.C. e 5. a.C, o pensamento grego


tende a considerar os maus demônios mais frequentes do que os bons e
apresentar uma visão pessimista da existência humana. Não é por acaso que
os gregos inventaram a tragédia. Uma expressão radical desse pessimismo
nos é fornecido por um velho provérbio grego, segundo o qual “a melhor de
todas as coisas é não nascer”.

Foi a filosofia que rompeu com essa visão pessimista e procurou estabelecer
orientações para que o homem procurasse a felicidade. Demócrito de
Abderam(aprox. 460 a.C./370 a.C.) julgava que a felicidade era “a medida do
prazer e a proporção da vida”. Para atingi-la, o homem precisava deixar de lado
as ilusões e os desejos e alcançar a serenidade. A filosofia era o instrumento
que possibilitava esse processo.

Sócrates (469 a.C./399 a.C.) deu novo rumo à compreensão da ideia de


felicidade, postulando que ela não se relacionava apenas à satisfação dos
desejos e necessidades do corpo, pois, para ele, o homem não era só o corpo,
mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade era o bem da alma que só
podia ser atingido por meio de uma conduta virtuosa e justa.

Para Sócrates, sofrer uma injustiça era melhor do que praticá-la e, por isso,
certo de estar sendo justo, não se intimidou nem diante da condenação à morte
por um tribunal ateniense. Cercado pelos discípulos, bebeu a taça de veneno
que lhe foi imposta e parecia feliz a todos os que o assistiram em seus últimos
momentos.

Entre os discípulos de Sócrates, Antístenes (445 a.C./365 a.C.) acrescentou


um toque pessoal à ideia de felicidade de seu mestre, considerando que o
homem feliz é o homem autossuficiente. A ideia de autossuficiência (que, em
grego, se diz “autarquia”,) continuará diretamente vinculada à de felicidade nos
setecentos anos seguintes.

Mas o maior discípulo de Sócrates, que efetivamente levou a especulação


filosófica adiante de onde a deixara seu mestre, foi Platão (427 a.C./347 a.C.),
o qual considerava que todas as coisas têm sua função. Assim, como a função
do olho é ver e a do ouvido, ouvir, a função da alma é ser virtuosa e justa, de
modo que, exercendo a virtude e a justiça, ela obtem a felicidade.

É importante deixar claro que noções como virtude e justiça integram uma
vertente do pensamento filosófico chamada Ética, que se dedica à investigação
dos costumes, visando a identificar os bons e os maus. Para Platão, a ética
não estava limitada aos negócios privados, devendo ser posta em prática
também nos negócios públicos. Desse modo, o filósofo entendia que a função
do Estado era tornar os homens bons e felizes.

A ligação entre ética e política estará ainda mais definida na obra do mais
importante discípulo de Platão, Aristóteles (384 a.C./322 a.C.), o qual dedicou
todo um livro à questão da felicidade: a “Ética a Nicômaco” (que é o nome de
seu filho, para quem o livro foi escrito). Amigo de Platão, mas, em suas
próprias palavras, “mais amigo da verdade”, Aristóteles criticou o idealismo do
mestre, reconhecendo a necessidade de elementos básicos, como a boa
saúde, a liberdade (em vez da escravidão) e uma boa situação socioeconômica
para alguém ser feliz.

Por outro lado, a partir de uma série de raciocínios que têm como base o fato
de o homem ser um animal racional, Aristóteles conclui que a maior virtude de
nossa “alma racional” é o exercício do pensamento, pelo quê, segundo ele, a
felicidade chega a se identificar com a atividade pensante do filósofo, a qual,
inclusive, aproxima o ser humano da divindade.

Sem perder de vista a aplicação prática de suas ideias, Aristóteles considera a


política como uma extensão da ética e, nesse sentido, para ele também é uma
função do Estado criar condições para o cidadão ser feliz. O Estado que o
filósofo tinha em mente, porém, era a “polis” grega, que, naquele momento,
estava deixando de existir, com o surgimento do império de Alexandre o
Grande.

Depois de Alexandre, no mundo grego ou helênico, desenvolveram-se três


escolas filosóficas que vão se estender até o fim do Império romano, as
chamadas filosofias helenísticas. Todas elas, por caminhos diferentes, chegam
a conclusão de que, para ser feliz, o homem deve ser não só autossuficiente,
mas desenvolver uma atitude de indiferença, e impassibilidade, em relação a
tudo ao seu redor. A felicidade, para eles, era a “apatia”, palavra que, naquela
época, não tinha o sentido patológico que tem hoje.

Entre os filósofos do mundo helênico, pode-se citar Epicuro (341 a.C./271


a.C.), para deixar claro que essa ideia de “apatia” não significa abdicar ao
prazer. O prazer era essencial à felicidade para Epicuro, cuja filosofia também
é conhecida pelo nome de hedonismo (em grego “hedone” quer dizer “prazer”).
Mas ele deixa claro, numa carta a um discípulo, que não se refere ao prazer
“dos dissolutos e dos crápulas” e sim ao da impassibilidade que liberta de
desejos e necessidades.

Com o fim do mundo helênico e o advento da Idade Média, a felicidade


desapareceu do horizonte da filosofia. Estando relacionada à vida do homem
neste mundo, ela não interessou aos filósofos cristãos como Agostinho de
Hipona (354 d.C./430 d.C.), Anselmo de Canterbury (1033/1109) ou Tomás de
Aquino(1225/1274), todos santos da Igreja católica. Para a filosofia cristã, mais
do que a felicidade, o que conta é a salvação da alma.

Os filósofos voltaram a se debruçar sobre o tema na Idade Moderna. John


Locke(1632/1704) e Leibniz (1646/1716), na virada dos séculos 17 e 18,
identificaram a felicidade com o prazer, um “prazer duradouro”. Alguns décadas
depois, o filósofo iluminista Immanuel Kant (1724/1804), na obra “Crítica da
razão prática” definiu a felicidade como “a condição do ser racional no mundo,
para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com o seu desejo e
vontade”.

No entanto, para Kant, como a felicidade se coloca no âmbito do prazer e do


desejo, ela nada tem a ver com a Ética e, portanto, não é um tema que
interesse à investigação filosófica. Sua argumentação foi tão convincente que,
a partir dele, a felicidade desapareceu da obra das escolas filosóficas que o
sucederam.

Mesmo assim, não se pode deixar de mencionar que, no mundo de língua


inglesa, na mesma época de Kant, a ideia de felicidade ganhou lugar de
destaque no pensamento político e buscá-la passou a ser considerada um
“direito do homem”, como está consignado na Constituição dos Estados Unidos
da América, que data de 1787 e foi redigida sob a influência do Iluminismo.

É também no âmbito da filosofia anglo-saxônica, no século 20, que se encontra


uma nova reflexão sobre nosso assunto. O inglês Bertrand Russell (1872/1970)
dedicou a ele a obra “A conquista da felicidade”, usando o método da
investigação lógica para concluir que é necessário alimentar uma multiplicidade
de interesses e de relações com as coisas e com os outros homens para ser
feliz. Para ele, em síntese, a felicidade é a eliminação do egocentrismo.

Mais recentemente, em 1989, o filósofo espanhol Julián Marías também


dedicou ao tema um livro notável, “A felicidade humana”, em que estuda a
história dessa ideia, da Antiguidade aos nossos dias, ressaltando que a
ausência da reflexão filosófica sobre a felicidade no mundo contemporâneo
talvez seja um sintoma de como esse mesmo mundo anda muito infeliz.

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