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CONSELHO EUROPEU
SEPARATISMO NA ESPANHA
E A QUESTÃO DA CATALUNHA
ABACOONU 2018
Índice
Guia de Estudos CE 2
1.Apresentação e objetivo do comitê
Estimados Delegados,
Portanto, durante dos três dias de debate o Conselho Europeu tem por objetivo mostrar
todas as questões acerca do separatismo, analisando os impactos de uma separação
na Espanha e os papéis da comunidade internacional na mediação do conflito, dando
ênfase ao processo de construção de paz na região da Catalunha e abordando,
também, o reconhecimento ou não do novo país pelas demais nações e discutindo
sobre medidas a serem tomadas no caso da independência, mas não se restringindo
a esse aspecto da situação, que se mostra ampla e muito complicada. Assim, espera-se
que a proposta de resolução apresente ao menos os seguintes pontos: Como a comunidade
internacional agirá caso ocorra uma declaração de independência? Como será construída a
paz na região, sem privar a Catalunha de democracia? Como a Catalunha pode retornar a
um estado de legalidade, almejando ou não uma separação?
Guia de Estudos CE 3
A discussão acerca do tema pode ser embasada em diversos casos de separatismo
existentes, sempre levando em consideração a liberdade dos povos. Por fim, esperamos que
os senhores estejam dispostos a realizarem uma boa simulação, com muita dedicação e em-
penho para que o problema apresentado por este comitê seja solucionado.
Atenciosamente,
Mesa diretora do Conselho Europeu
2. Conselho Europeu
Em dezembro de 1974, na Cimeira de Paris, foi criado o Conselho Europeu (CE), com
a finalidade de proporcionar um ambiente de debate aos Chefes de Estado dos países-mem-
bros. No ano de 1992, com o Tratado de Maastricht, a comunidade foi oficialmente denomi-
nada União Europeia (UE), destacando-se como o único exemplo atual de união econômica
e monetária no planeta, bem como extensa área de irrestrita circulação de seus cidadãos -
com exceção da Irlanda e do Reino Unido, ausentes na firma de tal resolução (Acordo de
Schengen, em vigor a partir do ano de 1995).
O CE não adota legislações e nem negocia acordos, de modo que não é considerado
um órgão legislativo. Contudo, as agendas e objetivos determinados pelo mesmo têm de ser
devidamente seguidos pelos países, para futuras negociações de tratados, legislações, etc.
Assim, o Conselho pode trabalhar conjuntamente com o Parlamento Europeu, órgão legisla-
tivo da UE e cujo número de representantes por país é proporcional ao seu tamanho. O Con-
selho também é responsável pela coordenação das políticas das nações em domínios espe-
cíficos, tais como políticas econômicas orçamentais, educacionais, referentes à cultura,
juventude e à política de emprego.
Guia de Estudos CE 4
todos os acordos da União, depois de serem passados pelos parlamentos e autenticados
previamente pelos países.
Palco de duas Guerras Mundiais, o continente europeu conta, atualmente, com uma
luta interna. Porém, o inimigo não é mais um exército como outrora. Na atual conjuntura,
enfrenta-se um sentimento. Sentimento este que gerou guerras catastróficas e está inserido
na cultura européia: o Nacionalismo. Além do nacionalismo, há outras razões, como por
exemplo motivos econômicos, para iniciar-se um movimento de independência para com o
Governo Central de cada Estado.
Segundo James Landale, correspondente da BBC, "Em terceiro lugar, e mais impor-
tante, a União Européia é fundamentalmente oposta a movimentos separatistas em princí-
pio. Eles são vistos como uma ameaça para o que ainda é um clube de Nações Soberanas."
Ou seja, movimentos de Independência tratam-se de uma ruptura não somente com o Gov-
erno Central, mas também com a ideologia do status quo. Esta ruptura interna pode desen-
cadear uma ruptura externa. Além disso, a União Européia vê-se como o elo econômico,
1
http://bambinoides.com/pt/a-map-of-europes-separatist-movements/
2
Status quo: expressão latina que significa “o estado da coisa”, ou seja,
deixar as coisas como elas sempre foram, sem alterá-las.
Guia de Estudos CE 5
estrutural e cultural, e essa iniciativa claramente causa tremores no bloco.
Finalmente, vale lembrar que outro fator de grande importância é que muito além de
todos os pontos aqui já levantados, revela-se o medo Europeu. Tal medo é notado em
qualquer outro continente ou nação que enfrenta algum tipo de secessão; o medo transcorre
do fato de uma única emancipação tornar-se um ótimo exemplo para novos movimentos. Ou
seja, ao ver que determinado movimento alcançou independência, outros líderes irão usá-lo
como exemplo e os ânimos aumentarão exponencialmente.
Agora, vale pensar sobre algumas questões: A Catalunha possui um grande potencial
à emancipação. Deve-se bloqueá-la para que amanhã a Europa não se fragmente?Ou todas
as vozes devem ser ouvidas? O "Clube de Nações Soberanas" não deve intervir, já que os
movimentos de independência são assuntos internos de cada Estado, ou barreiras devem
ser quebradas ?
Podemos dizer que o conceito de Estado advém desde as primeiras divisões sociais
criadas pela humanidade. Dessa maneira, nos apoiamos no texto de Dalmo Dalari que apre-
senta quatro tipos de visões diferentes para a origem do Estado. Essas são origem familiar
ou patriarcal; origem em atos de força de violência ou de conquista; origem em causas
econômicas ou patrimoniais e origem no desenvolvimento interno da sociedade.
A primeira teoria é sustentada principalmente por Robert Filmer, o qual propõe que cada
família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado. A segunda visão estabelece que a
superioridade de força de um grupo social permite controlar o grupo mais fraco, nascendo
assim um Estado composto de dominantes e dominados. Entre os adeptos dessa teoria está
Oppenheimer, que propõe o Estado com função de regular essa relação entre vencedores e
vencidos, tendo por finalidade a exploração econômica do vencido pelo vencedor. A terceira
visão aborda o seguinte raciocínio seguido por Heller: a posse de terra gerou o poder e a pro-
priedade gerou o Estado, aliando-se ao pensamento de Preuss que sustentava que a carac-
terística fundamental do Estado é a soberania territorial. Além disso, temos a visão de Engels
e Marx exposta no livro “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado” no qual,
além de negar que o Estado havia nascido com a sociedade, propõe que a necessidade de
assegurar as riquezas individuais, a propriedade privada, a acumulação de capital, a divisão
da sociedade em classes e o domínio de uma sobre outra fez surgir uma instituição para
Guia de Estudos CE 6
tal - o Estado.
Finalmente, a quarta teoria tem como principal representante Robert Lowie e consiste
em adotar o Estado como um germe, ou seja, uma potencialidade em todas as sociedades
humanas e que floresce a partir do desenvolvimento e aumento do grau de complexidade da
sociedade.
Além disso, cabe lembrar que as bases para a criação do conceito de Estado remon-
tam ao tratado de Paz de Vestfália de 1648, que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos, o qual
introduz os conceitos de estado-nação e soberania. Dessa maneira, temos que a soberania
estatal, legitimada pelo tratado, seria pautada pela delimitação territorial, fazendo assim com
que fosse indispensável a existência de um território para delimitar um Estado. Além disso,
a inserção do termo nação fez com que grupos com interesses comuns tenham a oportuni-
dade de se tornarem soberanos e de poder criar seu próprio Estado.
Em cada estado-nação ou estado nacional existe uma nação ou uma sociedade civil, um estado,
e um território. (…) A nação é a sociedade que compartilha um destino comum e logra ou tem
condições de dotar-se de um estado tendo como principais objetivos a segurança ou autonomia
nacional e o desenvolvimento econômico; já a sociedade civil é a sociedade politicamente organ-
izada que se motiva principalmente pela garantia dos direitos civis e dos direitos sociais. O
estado, por sua vez, é o sistema constitucional-legal e a organização que o garante, é a organ-
ização ou aparelho formado de políticos e burocratas e militares que tem o poder de legislar e
tributar, e a própria ordem jurídica que é fruto dessa atividade. Finalmente, o estado-nação é a
unidade político-territorial soberana formada por uma nação, um estado e um território. 5
Além disso, cabe adicionar à definição de Bresser que mesmo que o estado conte com
o aparelho que o capacite governar, ou seja, o poder de legislar e tributar, ainda se faz impor-
tante o reconhecimento do estado por sua nação. Como exemplo usarei o caso da revolução
francesa: durante o tempo de queda da bastilha até a efetiva retirada da nobreza do poder
criou um vácuo de poder em que a sociedade não reconhecia o poder do rei, mas não estava
essa dotada da estrutura governamental para exercer a política. Dessa maneira, cabe lem-
brar a importância da legitimidade interna do estado com sua população, quanto a legitimi-
dade internacional que, pela definição do Tratado de Montevideo em 1933, um Estado possui
quatro características: território, população, governo e capacidade de ter relações com
5.
Luiz Carlos Bresser-Pereira, Nação, Estado e Estado-Nação, p.3
Guia de Estudos CE 7
outros Estados.
Com tudo isso em mente, cabe agora entender qual o entendimento atual para a
criação de um novo Estado e quais são as brechas que podem ser preenchidas para trazer
segurança para nações insurgentes.
Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força
contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra
ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.7
Embora tenha sido concebida inicialmente com o intuito de garantir a paz e evitar a
violação da soberania nacional de um país, o princípio acaba por quebrar outra soberania, a
dos povos, para assim proteger o Estado já existente uma vez que protege sua integridade
territorial. Cabe lembrar que essa cláusula já foi evocada repetidas vezes em documentos e
artigos, incluindo aqueles que tratam de secessões.
“Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar, necessárias às relações pacificas e
amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da auto-
determinação dos povos (…)”
6
Nações Unidas, Carta das Nações Unidas artigo 1º
7
Nações Unidas, Carta das Nações Unidas artigo 2º
Guia de Estudos CE 8
Dessa maneira, esses princípios mostram-se conflitantes pois apresentam pesos muito
semelhantes perante o direito internacional e deixam a discussão aberta para diversas inter-
pretações, uma vez que diferentes situações evocaram diferentes precedentes.
Dessa maneira, esses princípios mostram-se conflitantes pois apresentam pesos muito
semelhantes perante o direito internacional e deixam a discussão aberta para diversas inter-
pretações, uma vez que diferentes situações evocaram diferentes precedentes.
O conceito de autodeterminação dos povos nem sempre foi o mesmo durante a história.
Originalmente, autodeterminação dos povos referia-se ao direito de cada nação soberana de
administrar suas relações e determinar seu próprio governo, sem interferência externa.
Quando usado pela Carta das Nações Unidas, o termo “povos” foi entendido como a respec-
tiva população dos estados-membros e não grupos individuais. Seguindo essa interpretação,
não haveria qualquer conflito entre integridade territorial e autodeterminação dos povos, uma
vez que um complementa o outro nesse caso. Entretanto, após o período da segunda guerra
mundial, o movimento de descolonização resultou em uma abrangência na interpretação do
princípio de autodeterminação levando a uma compreensão diferente do significado de
povos. Com isso, o conceito ampliado de povos foi finalmente aplicado na Declaração sobre
a Concessão de Independência aos Países e Povos Coloniais como podemos observar em
sua segunda cláusula:
Todos os povos têm o direito à autodeterminação; em virtude deste direito podem determinar
livremente o seu estatuto político e prosseguir livremente o seu desenvolvimento econômico,
social e cultural 8
No entanto, a ONU adotou a partir de então a “salt water theory of colonialism” (Teoria da
água salgada do colonialismo). Essa teoria definia o seguinte: “A inclusão de nacionalidades
não desejadas foi ilegítimas apenas se o Estado e sua colônia fossem separados geografica-
mente .” 9
8
Nações Unidas, Declaração sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos
Coloniais
9
Lea Brilmayer, Secession and Self-Determination: A Territorial Interpretation p.182
Guia de Estudos CE 9
Com isso, conseguimos resolver a situação de descontentamento dos povos presentes
na África e Ásia com os seus antigos colonos europeus. Entretanto, abriu-se uma nova prob-
lemática pois tivemos o continente africano dividido em regiões totalmente arbitrárias pelos
países europeus, o que dificultaria a saída diplomática e pacífica para estabelecimento de
estados no continente e o famoso caso tibetano de não reconhecimento do governo chinês,
entretanto sendo empurrado por essa decisão a ceder às forças chinesas uma vez que esta-
vam geograficamente unidos. Essa medida parecia querer colocar um ponto de parada para
a ordem global, evitando mudanças bruscas.
Agora, devemos ver como essas decisões são tomadas na prática para garantir o dire-
ito de um povo e evitar que interpretações mal feitas do direito de autodeterminação dos
povos culmine na legalização da opressão de um povo sobre outro. Dessa maneira,
tomamos o caso do Quebec como estudo.
Com essas considerações, podemos seguir quatro critérios que fortalecem a legitimi-
dade de uma secessão em uma corte internacional. Esses são: o grupo separatista deve
ser um diferente povo com identidade diferente e apresentar clara maioria na região;
violação dos direitos humanos e desmedida violência deve ser apresentada na região;
não há maneiras do povo se defender do abuso de violência praticado; e a negociação
entre os dois lados já foi totalmente utilizada. 12 Esse caso de medida de secessão é
apresentado em alguns exemplos recentes como Kosovo em 2008, a separação de Bangla-
desh do Paquistão e a separação da Eritreia da Etiópia.
10
Nações Unidas, Resolução 2625 da Assembleia Geral Disponível no link: http://www.un-doc-
uments.net/a25r2625.htm Acesso em 3 de Janeiro de 2018
11
Reference re Secession of Quebec Para. 126
12
Ieva Vezbergaité, Remedial Secession as an Exercise of the Right to Self-Determination of
Peoples p.44
Guia de Estudos CE 10
todeterminação interna que é a existência de um povo em um território compartilhado por
outro povo, mas sob um Estado democrático e que respeita o direito de todos os povos em
seu território, fazendo assim com que haja liberdade e coexistência pacífica e democrática
entre os povos. Um desses casos pode ser exemplificado pela província de Quebec no
Canadá. 13
Entretanto, mesmo que o povo catalão se configure como uma nação diferente da
espanhola, esse fato não justifica uma secessão uma vez que o governo espanhol não
oprime o povo catalão e dá liberdade para o exercício da autodeterminação do povo em seu
Estado. Contudo, há discordâncias sobre o status de representatividade do povo catalão no
governo espanhol de fato.
Nesse sentido, a Catalunha serve como um caso de estudo para o limite da legitimidade
de uma secessão. Por exemplo, deveria a comunidade internacional estipular que governo
centrais não podem impedir plebiscitos que ameaçam o seu poder? Qual o mecanismo para
consagrar uma votação separatista como legítima? Um povo pode decidir por se unir a um
Estado votando por sua constituição e posteriormente decidir por sair? Se sim, existe algum
tempo limite para que isso ocorra?
Mesmo que a independência fosse concedida para a Catalunha, ela enfrentaria sérias
dificuldades para integrar organizações supranacionais. Tomando o caso escocês como
exemplo, a Espanha já declarou que votará contra a entrada imediata do país na União Euro-
peia caso ela se separe do Reino Unido.
13
Josep Costa, Does Catalonia Have the Right to Self-Determination? p.3-4
Guia de Estudos CE 11
E não é somente uma visão de Madrid: o ex diretor do Conselho Europeu, Jean Claude Piris,
já afirmou que a União Europeia não irá aceitar pedidos de adesão por países com pedidos
ilegais de independência, referindo-se à Catalunha.
Além disso, um dos principais problemas para o povo catalão é a grande probabilidade
de enfrentar obstáculos para aderir à ONU também. O último Secretário Geral das Nações
Unidas, Ban Ki Moon, apontou em 2015 que a Catalunha ainda não era um território não
autônomo, uma afirmação que historicamente é requerida para a garantia política da ONU
de autodeterminação do povo. Além disso, Ban Ki Moon elogiou o respeito do governo cen-
tral da Espanha pelas diversidades culturais, linguísticas e tradicionais da região. O que o
último Secretário Geral da ONU esperava era um diálogo entre os líderes para se atingir uma
solução consensual respeitando as diferenças entre os povos.14
5. Espanha
O governo revisou em alta no dia 20 de abril sua previsão de crescimento para 2017 a
2,7% devido aos bons resultados dos três primeiros meses do ano na quarta economia da
zona do euro. De qualquer forma, o crescimento será mais lento em comparação com 2016,
quando alcançou 3,2%, impulsionado pela recuperação do consumo após a queda de
desemprego, pelo dinamismo das exportações e pelos bons números do turismo, em um
contexto no qual os níveis dos preços de petróleo e das taxas de juros estavam baixos.
14
UN chief says Catalonia call for independence from Spain is illegitimate RT News Disponív-
el em: https://www.rt.com/news/320294-catalonia-independence-ban-un/ Acesso em 6 de Jan
eiro de 2018
15
Em volume, segundo o PIB de 2016
Guia de Estudos CE 12
Em 2016, o PIB da Catalunha equivalia a 212.000 milhões de euros, que seria 19% do
PIB espanhol. Somente Madrid, País Basco e Navarra ultrapassam o PIB per capita da
região. Esse dado coloca a Catalunha entre as quinze principais economias da UE.
Em 1700, o rei Habsburgo da Espanha, Carlos II, falece sem deixar herdeiros diretos,
provocando uma disputa pela coroa. Os candidatos eram Felipe V de Bourbon, neto do rei
da França, com isso os Boubouns teriam uma hegemonia continental, e o arquiduque Carlos
da Áustria, Habsburgo, que contava com o apoio da Inglaterra, Holanda e Dinamarca. O prin-
cipado da Catalunha, por ser mais mercantil no início apoiava Felipe V e com isso receberam
um porto “livre” em Barcelona. Porém, invasões de manufaturas francesas fizeram com que
os catalães passassem a apoiar os austríacos.
Uma guerra internacional se estendeu durante 1702 a 1714. A Guerra de Sucessão não
foi somente uma guerra de monarquias, mas também entre o livre-comércio anglo-holandês
e a burguesia mercantil contra o protecionismo francês e as aristocracias agrícolas. A guerra
proporcionou certa revolução econômica em algumas regiões da Espanha, entre elas a
Catalunha. Porém, o final da guerra causou a perda da autonomia política da Catalunha e de
Galícia. A Espanha perdeu seu poder militar, provocando a redução de seu poder hegemôni-
co. O País basco conservava suas leis tradicionais e sua autonomia, porém com a Rev-
olução Francesa a parte basca localizada na França tem suas leis modificadas.
Guia de Estudos CE 13
Durante o século XIX a Catalunha era a força industrial da Espanha, as indústrias têx-
teis e o comércio impulsionaram a Revolução Industrial na região, porém o governo central
impediu a competitividade catalã com outros países europeus, isso enfureceu a burguesia
local que percebe que sem um Estado próprio não conseguiriam valer suas reivindicações.
Em 1840 surge no território de Galícia o provincialismo, movimento que defendia a integri-
dade regional a partir da cultura e da política. Pois, com a morte do rei Fernando VII o terri-
tório estava sujeito a uma divisão em províncias e os galícios almejavam que a região fosse
uma província só e não quatro como sugerido na proposta.
Com o fim da Guerra Civil Espanhola surge o governo do general Franco, partidos políti-
cos foram proibidos, a língua e a cultura catalã foram reprimidas. Os intelectuais e líderes
políticos bascos foram presos e torturados, muitos se refugiaram na França, Argentina,
Chile, Estados Unidos e Brasil. Era proibido falar a língua local e a cultura basca foi censura-
da, os movimentos nacionalistas sofriam um retrocesso. Porém os bascos decidiram lutar e
estabeleceram um movimento nacionalista denominado Euzkadi Ta Askatasuna (ETA), que
significa Pátria Basca e Liberdade. No início o grupo tinha como objetivo lutar contra a dita-
dura e garantir a independência dos bascos, contudo com o passar dos anos ele foi ganhan-
do um caráter violento e começou a perder o apoio do popular. Em Galícia a repressão não
foi diferente e os galegos formaram a Aliança Nacional Galega, que defendiam a restauração
Guia de Estudos CE 14
da república espanhola.
A volta da Espanha para uma democracia foi a maior conquista dos povos, pois com a
nova constituição surgem as Comunidades Autônomas. Entretanto, os bascos não ficaram
satisfeitos com isso e o ETA intensificou sua luta, outras organizações surgem para combater
o grupo.
14
16
https://www.resumoescolar.com.br/geografia/a-questao-basca/
Guia de Estudos CE 15
17
A identidade galega, basca, catalã, valenciana e das Ilhas Canárias mostra como as
fronteiras da Espanha não tem estabilidade proporcionando o fortalecimento do
nacionalismo e das identidades regionais.
Como região mais rica da Espanha, a Catalunha produz 19% do PIB nacional e
possui 16% da população. Além disso, é líder disparada nas exportações (25% dos produ-
tos e serviços que saem do país são catalães) e como destino turístico, atraindo mais de
18% dos visitantes para suas cidades, principalmente a capital, Barcelona.
17
https://mundoestranho.abril.com.br/geografia/quais-sao-os-movimentos-separatistas-da-espanha/
18
Grande parte do material aqui reunido é um compilado de notícias dos jornais El País e Nexo,
podendo ser acessados em seus portais. Como o guia foi elaborado durante o processo de
votações, aqui só consta os resultados e movimentos políticos realizados até o fechamento desse
material, no início de fevereiro de 2018,
Guia de Estudos CE 16
rente da espanhola que inclui idioma, costumes, arquitetura, crenças, gastronomia e
narrativas, além de todos os outros elementos que compõem a identidade particular
de um povo.
Sua origem como unidade territorial e como identidade nacional remonta à Idade Média,
quando os carolíngios do reino Franco estabeleceram os municípios da Marca da Gócia e da
Marca Hispânica como vassalos para barrar o avanço mouro na região. Todos os municípios
orientais a eles foram então tornados vassalos do franco Conde de Barcelona, e essa região
foi então chamada de Catalunha, que se tornou um principado. Mais tarde, o principado se
uniu ao reino de Aragão, um dos reinos que originou a Espanha, porém sempre manteve sua
identidade cultural própria, independente do governo no controle.
Desde o seu princípio, a região foi culturalmente independente e sempre manteve fortes
suas origens e tradições. Analisando sua história, é possível encontrar diversos momentos
em que o nacionalismo catalão se postou contra regimes centrais para reafirmar sua inde-
pendência e contestar dominação.
Contudo, após a Guerra Civil Espanhola, a ditadura franquista decretou medidas repres-
sivas, aboliu as instituições locais e proibiu novamente o uso da língua catalã. Com a
Guia de Estudos CE 17
redemocratização espanhola (1975-1982), a região havia recuperado um alto grau de
autonomia e era uma das comunidades mais prósperas da Espanha. O Estatuto de Autono-
mia da Catalunha, de 1979, assim como o atual, estabelecia que "a Catalunha, enquanto
nacionalidade, exerce o seu autogoverno constituído como Comunidade Autónoma, em con-
formidade com a Constituição e o Estatuto de Autonomia da Catalunha, sua lei institucional
básica".
Guia de Estudos CE 18
Após séculos de luta e, mais recentemente, anos de movimento separatista, os catalães se
reuniram em 1 de outubro de 2017 para responder à seguinte pergunta num referendo:
“Você quer que a Catalunha seja um país independente sob a forma de uma Repúbli-
ca?” 19. Durante as votações, as forças policiais espanholas reprimiram forte e violen-
tamente protestantes e cidadãos catalães, gerando revolta entre os independentistas
e no Generalitat.
19
Pergunta respondida no referendo.
20
Resultado divulgado pela Generalitat através do porta voz Jordi Turull.
Guia de Estudos CE 19
população catalã se encontrava dividida entre aqueles que apoiavam e aqueles contrários à
separação. Desse modo, a declaração de independência não contava com bases fortes o
suficientes para se estabelecer. Desde as votações do dia primeiro, os catalães tentavam
uma intermediação internacional para o trâmite com a Espanha, já que essa considerou o
procedimento ilegal. Porém, como a ideia não foi acolhida, a declaração de independência
ocorreu. Além disso, a declaração foi considerada ambígua, e o governo central chegou a
pedir esclarecimentos ao presidente catalão.
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Em 30 de outubro, Puigdemont e outros ministros viajam para Bruxelas em busca de
refúgios horas depois de serem acusados judicialmente de sedição, rebelião e desvio de din-
heiro público. Dois dias depois é decretada a prisão de oito ex-secretários da Generalitat em
função dos crimes de sedição, rebelião e desvio de dinheiro público. A juíza que tomou a
decisão justificou a ação pelo perigo de fuga dos acusados, fazendo referência ao grupo em
Bruxelas. Além disso, o Ministério Público espanhol pediu uma ordem de captura internac-
ional para os ex-parlamentares refugiados na Bélgica, e o país de asilo se manifestou dizen-
do que faria valer a justiça se houvesse um mandato. O mandato de prisão é emitido, mas,
em 05 de novembro, o ex-presidente se entrega voluntariamente em Bruxelas. A decisão que
cabe a Puigdemont e seus ex-conselheiros é ser julgado na Bélgica ou na Espanha, tendo
em vista as diferentes implicações.
Na Catalunha, o começo da resolução desta crise não se vive do mesmo modo que no
restante da Espanha. A intervenção nas instituições autônomas pela via do 155 desconten-
tou muitos dos cidadãos dessa comunidade, que em sua maioria (69%) diferem do resto de
seus compatriotas e desaprovam a gestão de Rajoy. Se são maioria os espanhóis que
apoiam a forma como está sendo posto em prática esse método de autodefesa previsto na
Constituição (61%), na Catalunha a percepção é oposta: 63% desaprovam a maneira como
está sendo aplicando o artigo 155.
É provável, entretanto, que se tenha conseguido reduzir a tensão vivida nos últimos
meses graças, em parte, ao efeito de alívio produzido pela única medida apoiada tanto pela
maioria dos catalães como pela maior parte dos demais espanhóis: a convocação imediata
de eleições, que reduz drasticamente as incertezas que uma intervenção na comunidade
autônoma que se prolongasse no tempo despertaria. Segundo a pesquisa, 76% dos espan-
hóis aplaudem a decisão, que ajuda a limpar o horizonte imediato, e esse respaldo está clar-
amente estendido entre todos os votantes dos principais partidos, sem exceção. Na Cata-
lunha, uma cifra um pouco menor que no restante da Espanha, mas também muito elevada
(69%), reflete a satisfação com a ideia de que as urnas resolvam o quanto antes a situação.
Guia de Estudos CE 21
catalão. Impuseram, assim, uma derrota ao Governo do primeiro-ministro Mariano Rajoy,
que no final de outubro dissolveu toda a cúpula de poder da Catalunha e convocou novas
eleições como resposta à realização de um referendo separatista.
Deste modo, alguns países não almejam encerrar suas relações diplomáticas com a
Espanha e outros acreditam que a situação deverá ser resolvida conforme a constituição
espanhola para que a integridade territorial não continue sendo violada. Esses países seriam
a Alemanha, França, Reino Unido, Itália, entre outros.
Por outro lado, a Bélgica não reconhece e nem rejeita a independência e por esse
motivo abrigou o líder catalão exilado, Carles Puigdemont. O presidente deposto acredita
que na Belgica ele conseguirá falar livremente e governar possivelmente a Catalunha.
Além disso, países como a Rússia vêm se envolvendo em polêmicas associadas à inter-
venção no processo eleitoral a favor dos independentistas catalães.
Guia de Estudos CE 22
6. Documento de Posição Oficial
Por fim, é importante conter possíveis soluções para resolver, ou ao menos amenizar,
o assunto abordado. Deste modo, constará um exemplo básico nesse guia, lembrando que
o mesmo pode sofrer alterações de formatação, lembrando que no formato básico foi posta
algumas idéias centrais que devem conter no DPO; o que consta em cada parágrafo são
direcionamentos, não dogmas. Futuramente, a Mesa enviará para todos os delegados um
exemplo atualizado de DPO, constando todas as normas exigidas pela X edição do ABA-
COONU, assim como sua formatação.
Guia de Estudos CE 23
Delegação: Reino Unido
Comitê: Conselho de Segurança das Nações Unidas
Delegado(a): Bartolomeu da Silva
A busca da paz é o objetivo do Reino Unido, isso significa que deve-se evitar qualquer
tipo de guerra e conflito. O assunto abordado é a crise da Criméia envolvendo, principal-
mente, Rússia e Ucrânia. Deve-se achar uma solução que agregará ambas as opiniões.
O conflito começou há tempos, embora, recentemente veio à tona mais rápido que o
previsto e diminuiu a estabilidade européia e global. Não apenas porque é uma área impor-
tante, mas também há uma disputa entre Rússia e Europa. A chamada 'Orange Revolution'
traz grandes danos a Ucrânia, logo, a melhor alternativa para melhorar a crise econômica é
romper a relação com a União Européia.
O Reino Unido pensa que deve-se olhar para os cidadãos da região, os quais estão sof-
rendo e estão em grave perigo. Partindo desse pressuposto, é importante que as partes
envolvidas retirem suas tropas da região e procurem resolver o conflito pelo modo mais
democrático possível.
Finalmente, a delegação crê que um plebiscito deve ser levado em conta para que possa
ouvir os cidadãos (assim como está acontecendo na Escócia). Apesar de os Estados Unidos
e alguns países europeus aplicarem sanções, o Reino Unido não o pode realizar; a aplicação
só será cogitada caso a situação agrave de forma incontrolável.
Guia de Estudos CE 24
Referências
Milhares de pessoas exigem que a Galiza seja proclamada nação, Público. Disponível em
<http://www.publico.pt/Mundo/milhares-de-pessoas-exigi-
ram-que-galiza-seja-proclamada-nacao_1448663>, publicada em 25 de julho de 2010,
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