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SESSÃO DE TUTORIA Nº4: Direito Europeu e a sua vida nos

tribunais + Mercado Interno

Sumariamente:

Esta sessão vai incidir, de forma sintética (visto que apenas temos uma hora de sessão),
numa primeira fase, na relação entre tribunais nacionais e TJUE, onde vamos discutir o
princípio da cooperação judiciária, da efetividade e da equivalência. Além disso, vamos
olhar ao mecanismo do reenvio prejudicial (art.267.º TFUE), de forma um pouco mais
detalhada.
Numa segunda fase, vamos falar do mercado interno. Quais os seus benefícios e como
é que este se concretizou? Ainda as 4 liberdades fundamentais – liberdade de
circulação de mercadorias, pessoas, serviços e capitais.

Relação entre tribunal nacional e TJUE:

A União Europeia assenta num sistema judicial de federalismo cooperativo: todos os


tribunais nacionais estão legitimados e obrigados a aplicar o Direito Europeu1.
O sistema europeu é diferente do americano (federalismo puro): neste, apenas os
tribunais federais têm jurisdição sobre os litígios federais.
Os tribunais nacionais têm o dever de aplicar todo o direito europeu (que goze de efeito
direto), de adotar todas as medidas necessárias à execução das obrigações do Tratado
e devem abster-se de adotar medidas que coloquem em perigo a realização dos
objetivos do Tratado – nisto consiste o princípio da cooperação leal, de onde se retira o
princípio da cooperação judiciária (+ o art.267.º TFUE).
A relação entre tribunais nacionais é, em teoria pelo menos, de “cooperação”, ou seja,
não há uma relação de hierarquia entre TJUE e tribunal nacional, em termos técnico-
jurídicos.
A ideia que, de forma mais simples, exprime a relação entre estes dois tribunais, é esta:
o Tribunal nacional deve recorrer ao TJUE em determinadas situações, para que este o
auxilie (quais as situações em específico? Vamos ver mais à frente).
Acordao Foto-Frost
Embora o tribunal nacional tenha de recorrer ao TJUE em determinadas situações, este
reconhece que são os próprios tribunais nacionais que implementam o Direito Europeu

1
O Acórdão Simmenthal clarificou que o dever de aplicar o Direito Europeu se aplica a todos os tribunais
no caso concreto. É neste sentido que se diz que os tribunais nacionais têm autonomia
processual para implementar Direito Europeu.
Ou seja, o mecanismo judicial de aplicação do Direito Europeu é descentralizado (são os
tribunais nacionais que aplicam o Direito Europeu, e não o TJUE).
Contudo, esta arquitetura judicial tem um perigo eminente: o sujeito X pode ter o
direito Y (conferido pelo ato da união europeia Z), mas pode não ter o “remédio judicial”
para fazer valer o seu direito (ou seja, pode não ter o meio processual para fazer valer o
seu direito substantivo).
Por essa razão, a autonomia processual do tribunal nacional nunca pode ser absoluta!
Desde cedo que o Tribunal de Justiça percebeu isso e, por isso, impôs três limitações:
Tem autonomia
para decidir como 1) Princípio da equivalência; Não pode haver discriminação do direito europeu face ao nacional.
O DUE conferido a cada particular não pode ser
é que cada litigo 2) Princípio da efetividade; virtualmente impossível de ser conferido num tribunal
corre, contudo há
3 principios que
3) Princípio da responsabilidade do Estado (este surgiu posteriormente, pela mão
limitam: do Ac. Francovich). Em situações em que a norma de DUE não tem efeito direto é possível uma indeminização
se for percetivel qual é o direito que a norma queria atribuir. Certas diretivas que ainda não
foram transpostas mas que podem servir para responsabilizar o Estado

Mercado Interno

O mercado interno é um espaço de prosperidade e liberdade que proporciona o acesso


a bens, a serviços e a empregos, assim como a oportunidades empresariais e à riqueza
cultural. Para garantir um maior aprofundamento do mercado único é necessário
envidar continuamente esforços suscetíveis de gerarem vantagens consideráveis para
os consumidores e as empresas da União Europeia.

Base jurídica e objetivos:

Artigos 4.º, n.º 2, alínea a), 26.º, 27.º, 114.º e 115.º do Tratado sobre o Funcionamento
da União Europeia (TFUE).
O mercado comum, criado pelo Tratado de Roma em 1958, tinha por objetivo a
liberalização das trocas comerciais entre os Estados-Membros com o objetivo de
aumentar a prosperidade económica e contribuir para «uma união cada vez mais
estreita entre os povos da Europa».
O Ato Único Europeu, de 1986, incluiu o objetivo de criar o mercado interno no Tratado
que institui a Comunidade Económica Europeia (CEE), definindo-o como «um espaço
sem fronteiras internas no qual a livre circulação das mercadorias, das pessoas, dos
serviços e dos capitais é assegurada».
Historicamente:

1. O mercado comum de 1958

O mercado comum, o principal objetivo do Tratado de Roma, viu-se concretizado


através da união aduaneira, da abolição das quotas e da livre circulação de cidadãos e
trabalhadores, alcançados em 1968, e de um determinado grau de harmonização fiscal
com a introdução generalizada do imposto sobre o valor acrescentado (IVA) em 1970.

2. Lançamento do mercado interno na década de 1980 e Ato Único Europeu

O facto de ter havido poucos progressos na consecução do mercado comum foi


atribuído, em grande medida, à regra da unanimidade exigida para a adoção de decisões
no Conselho.

O Ato Único Europeu, que entrou em vigor em 1 de julho de 1987, fixava como data
precisa para a concretização do mercado interno o dia 31 de dezembro de 1992.
Também reforçou os mecanismos de tomada de decisão do mercado interno
introduzindo a votação por maioria qualificada relativamente às pautas aduaneiras
comuns, à livre prestação de serviços, à liberalização dos movimentos de capitais e à
aproximação das legislações nacionais. Quando o prazo expirou, mais de 90% dos atos
legislativos previstos no Livro Branco de 1985 tinham sido aprovados, em grande parte
ao abrigo da regra da maioria qualificada.

3. Rumo a uma responsabilidade partilhada para a concretização do mercado


interno

O contributo do mercado interno para a prosperidade e a integração da economia da


UE tem sido considerável. No período compreendido entre 2003 a 2010, a nova
estratégia do mercado interno colocou a tónica na necessidade de facilitar a livre
circulação de mercadorias, de integrar os mercados de serviços, de reduzir o impacto
das barreiras fiscais e de simplificar o enquadramento regulamentar. Nessa altura
alcançaram-se progressos significativos no que respeita à abertura dos mercados dos
transportes, das telecomunicações, da eletricidade, do gás e dos serviços postais.

4. Continuação do mercado interno


Em outubro de 2012, a Comissão apresentou o Ato para o Mercado Único II
(COM(2012)0573) com vista a aprofundar o mercado único e libertar o seu potencial
inexplorado enquanto motor de crescimento.

Este Ato continha 12 ações fundamentais que as instituições da UE deviam aprovar sem
demora. Estas ações centravam-se nos quatro principais motores do crescimento, do
emprego e da confiança:

• redes integradas;
• mobilidade dos cidadãos e das empresas além-fronteiras;
• economia digital e;
• ações suscetíveis de reforçarem a coesão e os benefícios para os consumidores.

O Ato para o Mercado Único II surge no seguimento de um conjunto inicial de medidas


apresentadas pela Comissão, o Ato para o Mercado Único I, incluindo, além disso, as
ações seguidamente enumeradas que visam um mercado único mais aprofundado e
melhor integrado:

• Mobilidade das empresas (nomeadamente introduzindo disposições que


tenham por objetivo mobilizar investimentos a longo prazo, modernizar os
procedimentos de insolvência e apoiar a criação de um ambiente suscetível de
proporcionar uma segunda oportunidade a empresários em falência);
• Economia digital (para alcançar progressos na conclusão do mercado único
digital até 2015, a Comissão tinha proposto que se promovesse o comércio
eletrónico na UE simplificando os serviços de pagamento, reforçando a sua
fiabilidade e tornando-os mais competitivos. Por outro lado, também se
salientou a necessidade de abordar as principais causas da falta de investimentos
em ligações de banda larga de elevado débito assim como a normalização da
faturação eletrónica nos procedimentos de adjudicação de contratos públicos);
• Confiança dos consumidores (introduzindo, por exemplo, medidas que
asseguram um acesso generalizado a contas bancárias, assim como comissões
associadas às contas transparentes e comparáveis e uma maior facilidade na
mudança de conta bancária).

5. Mais recentemente, em 2020:

Durante a pandemia de COVID-19, na sua comunicação intitulada «A Hora da Europa:


Reparar os Danos e Preparar o Futuro para a Próxima Geração» (COM(2020)0456), a
Comissão anunciou que a digitalização do mercado único seria um pilar essencial da
recuperação da crise. Vai basear-se em quatro elementos:

Ø investimento em conectividade melhor,


Ø uma presença industrial e tecnológica mais forte em elementos estratégicos da
cadeia de abastecimento (por exemplo, IA, cibersegurança, infraestrutura de
computação em nuvem, 5G),
Ø uma verdadeira economia dos dados e espaços comuns europeus de dados e
Ø um ambiente empresarial mais justo e mais simples.

Conclusão: o mercado interno está praticamente alcançado, o que se faz neste


momento é procurar formas para o aperfeiçoar

4 liberdades fundamentais

1º - Liberdade de circulação de mercadorias (ou bens)

Sumariamente: A livre circulação de mercadorias é garantida através da eliminação


dos direitos aduaneiros e das restrições quantitativas, além da proibição de medidas
de efeito equivalente.
Base jurídica: arts.26.º e 28.º a 37.º TFUE.
Podemos olhar para a promoção desta liberdade de 5 perspetivas:

1 - Proibição dos encargos de efeito equivalente a direitos aduaneiros: artigo 28.º, n.º
1, e artigo 30.º do TFUE

Na ausência de uma definição do supramencionado conceito no Tratado, a


jurisprudência foi obrigada a defini-lo.

O Tribunal de Justiça da União Europeia considera que qualquer imposição,


independentemente da sua designação ou meio de aplicação, «que, incindindo
especificamente sobre o produto importado de um país membro e não sobre o produto
nacional similar, tenha como resultado, ao alterar o seu preço, ter sobre a livre
circulação de produtos a mesma incidência que um direito aduaneiro», pode ser
considerada um encargo de efeito equivalente, independentemente da sua forma ou
natureza2.

2 - Proibição das medidas de efeito equivalente a restrições quantitativas: artigos


34.º e 35.º do TFUE

No seu acórdão Dassonville, o Tribunal de Justiça da União Europeia considera que


qualquer regulamentação comercial aplicada pelos Estados-Membros que seja

2
Ex: Ac. Van Gend en Loos Ureia formaldeído
acordao comissão v. frança
suscetível de entravar, direta ou indiretamente, efetiva ou potencialmente, o comércio
intracomunitário deve ser considerada uma medida de efeito equivalente a uma
restrição quantitativa.

A argumentação do Tribunal de Justiça foi mais desenvolvida no acórdão Cassis de Dijon,


que estabelece o princípio segundo o qual qualquer produto legalmente fabricado e
comercializado num Estado-Membro, em observância das suas normas justas e
tradicionalmente aceites, e dos processos de fabrico desse país, deve ser admitido no
mercado de qualquer outro Estado-Membro.

Esta foi a argumentação fundamental subjacente ao debate sobre a definição do


princípio de reconhecimento mútuo, aplicável na ausência de harmonização. Em
consequência, e mesmo na ausência de medidas de harmonização europeias (direito
derivado da UE), os Estados-Membros são obrigados a permitir que mercadorias que
são legalmente produzidas e comercializadas num Estado-Membro circulem e sejam
colocadas nos seus mercados.

3 - Derrogações à proibição de medidas de efeito equivalente a restrições


quantitativas

O artigo 36.º do TFUE permite aos Estados-Membros adotar medidas de efeito


equivalente a restrições quantitativas quando essas medidas são justificadas por um
interesse geral não-económico (por exemplo moralidade pública, ordem pública ou
segurança pública). Tais derrogações ao princípio geral devem ser estritamente
interpretadas, e as medidas nacionais não podem constituir um meio de discriminação
arbitrária ou uma restrição dissimulada ao comércio entre Estados-Membros. Por
último, as medidas devem ter um efeito direto no interesse geral que visam proteger, e
não podem exceder o nível necessário (princípio de proporcionalidade).

Além disso, o Tribunal de Justiça reconheceu, no seu acórdão Cassis de Dijon, que os
Estados-Membros podem adotar derrogações à proibição de medidas de efeito
equivalente com base em exigências imperativas (atinentes, designadamente, à eficácia
dos controlos fiscais, à proteção da saúde pública, à lealdade das transações comerciais
e à defesa dos consumidores). Os Estados-Membros devem notificar a Comissão das
medidas derrogatórias nacionais.

4 - Harmonização da legislação nacional

A adoção de legislação de harmonização possibilitou a eliminação de obstáculos (por


exemplo, tornando inaplicáveis as disposições nacionais) e o estabelecimento de regras
comuns destinadas a garantir quer a livre circulação de mercadorias e produtos, quer o
respeito pelos outros objetivos do Tratado UE, nomeadamente a proteção do ambiente
e dos consumidores, ou a concorrência.
A harmonização foi ainda facilitada pela introdução da regra de maioria qualificada, que
se aplica à maior parte das diretivas relativas à realização do mercado único (artigo 95.º
do Tratado CE, alterado pelo Tratado de Maastricht), e pela adoção de uma nova
abordagem, proposta num Livro Branco da Comissão (White Paper – 1985), destinada a
evitar uma harmonização onerosa e pormenorizada.

A harmonização deve ser limitada aos requisitos essenciais, e justifica-se quando as


regras nacionais não podem ser consideradas equivalentes e criam restrições. As
diretivas adotadas segundo esta nova abordagem têm a dupla finalidade de assegurar a
livre circulação de mercadorias, através da harmonização técnica de setores inteiros, e
de garantir um elevado nível de proteção dos objetivos de interesse público referidos
no artigo 114.º, n.º 3, do TFUE (por exemplo, brinquedos, materiais de construção,
máquinas, aparelhos a gás e equipamentos terminais de telecomunicações).

5 - Realização do mercado interno

A criação do mercado único implicava a supressão de todos os obstáculos subsistentes


à livre circulação de mercadorias. O White Paper (1985) recenseou os obstáculos físicos
e técnicos e as medidas a adotar pela Comunidade para os eliminar. A maior parte destas
medidas já foram adotadas. No entanto, o mercado único ainda tem necessidade de
reformas substanciais para poder enfrentar os desafios do progresso tecnológico.

2º - Liberdade de circulação de pessoas

Sumariamente: A liberdade de circulação e de residência das pessoas na União Europeia


constitui a pedra angular da cidadania da União, estabelecida pelo Tratado de
Maastricht em 1992. A supressão gradual das fronteiras internas nos termos dos
acordos de Schengen foi seguida da adoção da Diretiva 2004/38/CE relativa ao direito
de os cidadãos da União Europeia e os membros das suas famílias poderem circular e
residir livremente na União Europeia.

Base jurídica: Art.3.º(2) do TUE; Artigo 21.º do TFUE; Artigo 45.º CDFUE3.

Esta liberdade foi concretizada através de, essencialmente, duas formas: 1) Espaço
Schengen e 2) Livre circulação de cidadãos da UE e dos membros das suas famílias.

1. Espaço Schengen;

3
Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia
Nem todos os que são da União participam no Espaço Schengen (ex: Irlanda) e nem
todos os que participam do Espaço Schengen são da União Europeia (ex: Suíça e
Noruega).

3 aspetos principais deste espaço:

A. Abolição dos controlos nas fronteiras internas para todas as pessoas;

B. as medidas destinadas a reforçar e harmonizar os controlos nas fronteiras


externas: todos os cidadãos da UE só têm de apresentar o bilhete de identidade
ou o passaporte para entrar no espaço Schengen;

C. uma política comum em matéria de vistos para estadias de curta duração: os


cidadãos de países terceiros incluídos na lista comum de países não membros
cujos cidadãos necessitam de um visto de entrada podem obter um visto único,
válido para todo o espaço Schengen;

2. Livre circulação de cidadãos da UE e dos membros das suas famílias;

Neste sentido, o principal instrumento jurídico que foi adotado é a Diretiva 2004/38/CE

A diretiva destina-se a incentivar os cidadãos da União a exercer o direito à livre


circulação e residência nos Estados-Membros, a reduzir ao estritamente necessário as
formalidades administrativas, a definir melhor o estatuto dos membros da família e a
circunscrever a possibilidade de recusar a entrada ou pôr termo ao direito de residência.

Alguns pontos mais relevantes dessa diretiva:

• Para estadias com uma duração inferior a três meses: o único requisito para os
cidadãos da União é serem titulares de um documento de identidade ou
passaporte válido. O Estado-Membro de acolhimento pode exigir à pessoa em
questão que registe a sua presença no país.
• Para estadias com uma duração superior a três meses: os cidadãos da UE e os
membros da respetiva família — caso não exerçam uma atividade profissional —
têm de possuir recursos suficientes e seguro de saúde, de modo a assegurar que
não se tornem num peso para os serviços sociais do Estado-Membro de
acolhimento durante a sua estada. Os cidadãos da União não necessitam de
autorização de residência, mas os Estados-Membros podem exigir que se
registem junto das autoridades competentes.
• Direito de residência permanente: os cidadãos da União adquirem este direito
depois de um período de cinco anos consecutivos com o estatuto de residente
legal, desde que não tenham sido objeto de uma decisão de expulsão. Este
direito deixou de estar sujeito a quaisquer condições. A mesma regra é aplicável
aos membros da família que não tenham a nacionalidade de um Estado-Membro
e que tenham residido com um cidadão da União durante um período de cinco
anos.
3º - Liberdade de circulação de serviços

A liberdade de estabelecimento e a liberdade de prestação de serviços garantem a


mobilidade de empresas e profissionais na União Europeia. As expetativas geradas pela
Diretiva Serviços (Diretiva 2006/123/CE) são elevadas, uma vez que esta diretiva se
reveste de extrema importância para a conclusão do mercado interno.
Base jurídica relevante: Artigo 26.º (mercado interno), artigos 49.º a 55.º (direito de
estabelecimento) e artigos 56.º a 62.º (serviços) do TFUE.
O que se pretende?
Pretende-se que os trabalhadores independentes e os profissionais ou as pessoas
coletivas, na aceção do artigo 54.º do TFUE, que operem legalmente num Estado-
Membro, podem: (i) exercer uma atividade económica estável e contínua noutro
Estado-Membro (liberdade de estabelecimento: Artigo 49.º do TFUE); ou (ii) oferecer e
prestar os seus serviços noutros Estados-Membros, a título temporário, permanecendo
no seu país de origem (liberdade de prestação de serviços: artigo 56.º do TFUE).
Derrogação:
Em conformidade com o TFUE, as disposições relativas à liberdade de estabelecimento
e de prestação de serviços não são aplicáveis às atividades que estejam ligadas ao
exercício da autoridade pública (artigo 51.º do TFUE).
Também é possível ter um regime especial para os estrangeiros, que se fundamente em
razões de ordem pública, segurança pública e saúde pública (olá covid) (art.52.º/1
TFUE).

Além do supra referido, também é relevante a livre circulação de trabalhadores


(art.3.º(2) TUE + art.4.º(2)a), art.20.º, 26.º e 45.º a 48.º TFUE).
Estas disposições, em termos resumidos, preveem a abolição de qualquer discriminação
em razão da nacionalidade no que diz respeito ao emprego, à remuneração e demais
condições de trabalho. Este artigo estabelece ainda que um trabalhador da União tem o
direito de responder a ofertas de emprego efetivamente feitas, de se deslocar
livremente no território dos EM’s, de residir num deles para aí exercer uma atividade
laboral e de nele permanecer depois de ter exercido uma atividade laboral em
determinadas condições.
4.º - Liberdade de circulação de capitais

A livre circulação de capitais é uma das quatro liberdades fundamentais do mercado


único da União Europeia. É não só a mais recente como também, pela singularidade de
incluir países terceiros, a mais ampla de todas as liberdades previstas no Tratado. A
liberalização dos fluxos de capitais progrediu gradualmente.
Base jurídica relevante: arts.63.º a 66.º do TFUE.

O que se pretende?

R: Suprimir todas as restrições aos movimentos de capitais entre os Estados-Membros


e entre os Estados-Membros e os países terceiros, salvo algumas exceções.

A livre circulação de capitais está subjacente ao mercado único e complementa as outras


três liberdades. Contribui também para o crescimento económico, ao permitir que o
capital seja investido de forma eficiente, e promove a utilização do euro como moeda
internacional, contribuindo desse modo para o papel da UE enquanto interveniente
mundial.

Regime jurídico:

O Tratado de Maastricht estabeleceu a livre circulação de capitais como liberdade


consagrada no Tratado. Hoje, o artigo 63.º do TFUE proíbe qualquer restrição à
circulação de capitais e aos pagamentos entre os Estados-Membros, bem como entre os
Estados-Membros e os países terceiros. Incumbe ao Tribunal de Justiça da União
Europeia interpretar as disposições relativas à livre circulação de capitais, existindo
vasta jurisprudência neste domínio. No caso de os Estados-Membros limitarem a
liberdade de circulação de capitais de uma forma injustificada, é aplicável o processo
por infração habitual previsto nos artigos 258.ºa 260.º do TFUE.

As exceções estão limitadas essencialmente aos movimentos de capitais relacionados


com os países terceiros (artigo 64.º do TFUE).

O art.65.º TFUE também prevê restrições que podem ser invocadas no seio da União
Europeia (Grécia e Chipre fizeram-no na crise das dívidas soberanas).

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