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Exmº Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Seropédica - RJ

Processo nº 0012636-58.2020.8.19.0077

TJRJ SER C2VAR 202115893608 24/08/21 17:00:17138555 PROGER-VIRTUAL


O MUNICÍPIO DE SEROPÉDICA, pessoa jurídica de
direito público interno inscrita no CNPJ sob o nº 01.604.139/0001 -
07, com sede administr ativa na Rua Maria Lourenço, nº 18, Centro,
Seropédica, RJ, vem, por seus procuradores, nos autos da AÇÃO
ORDINÁRIA que lhe move MARCOS AURÉLIO DE CASTRO ALVES,
apresentar a presente

CONTESTAÇÃO

Pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

SÍNTESE DOS FATOS

Narra o autor que possuía cargo de Conselheiro Tutelar, no


Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Seropédica -
CMDCA e, que, respondeu o processo administrativo nº 12.866/2017, para
apurar denúncias a ele impostas de “aliciamento de menor com objetivos
sexuais” do menor Gabriel de Abreu Machado.

Diante das denúncias apuradas pela comissão nomeada, o chefe do


executivo decidiu pela exoneração do autor do Cargo de Conselheiro Tutelar.

Das Alegações

O autor irresignado fala meias verdades.

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Percebe-se em sua exordial que o autor se prende ao fato ter


ocorrido no ano de 2014 e, somente no ano de 2016 a mãe do menor se
manifestou pelos fatos ocorridos.

Em momento algum manifestou o interesse em ouvir o menor, seja


na esfera administrativa ou judicial.

As informações apuradas no procedimento administrativo,


inclusive, informadas ao Ministério Público Estadual, o que, aliás, manteve-se o
autor mais uma vez, em silêncio na sua inicial, não deixam dúvidas da realidade
do ocorrido.

O envolvimento do nome do autor no escândalo e na gravidade dos


fatos, por si só, já seria o suficiente para o afastamento do cargo ocupado de
Conselheiro Tutelar.

Voltemos a alegação do tempo ocorrido.

Inúmeras são as vítimas que tem coragem de expor suas


intimidades ao público, por razões compreensivas. Submetê-las ao vexame
público é agravar os traumas que na maioria das vezes não são superadas,
causadas por sujeitos doentes que usam do silêncio de suas vítimas para
prosseguir com seus abusos.

A tentativa do autor em alegar o tempo decorrido não o faz


inocente. Até porque, as provas acostadas ao processo administrativo
comprovam a sua tentativa de pedofilia e aliciamento, conforme preceitua o
Estatuto da Criança e do Adolescente:

“Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou


constranger, por qualquer meio de
comunicação, criança, com o fim de com ela
praticar ato libidinoso: (Incluído pela Lei nº
11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e


multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008) ”

Na oportunidade cita-se o Código de Direito Canônico, que a Igreja


Católica, diante de centenas de casos de pedofilia e sendo obrigada a tomar uma
atitude por contas dos casos dos últimos anos, foi compelida a assim prescrever:

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Primeira Parte

NORMAS SUBSTANCIAIS

Art. 7

§ 1. Salvaguardando o direito da Congregação para a


Doutrina da Fé de derrogar à prescrição para cada
um dos casos, a acção criminal relativa aos delitos
reservados à Congregação para a Doutrina da
Fé extingue-se por prescrição em vinte anos.

§ 2. A prescrição decorre segundo o cân. 1362 §2 do


Código de Direito Canónico e do cân. 1152 §3 do
Código dos Cânones das Igrejas Orientais. Mas no
delito a que se refere o art. 6 §1 n. 1, a prescrição
começa a decorrer a partir do dia em que o menor
completou dezoito anos.

O crime é tão grave que a prescrição de 20 (vinte) anos começa a


decorrer quando o menor completar 18 (dezoito) anos de idade.

A desculpa dada pelo autor é típica daqueles que se aproveitam da


vulnerabilidade da vítima, sempre se apresentam como bons moços.

Os fatos imputados ao autor são incompatíveis com o cargo


exercido.

Na mesma esteira de entendimento temos em nosso Código Penal:

“Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em


julgado a sentença final, começa a correr: (

I - do dia em que o crime se consumou; (Redação


dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a


atividade criminosa; (Redação dada pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)

III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou


a permanência; (

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IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou


alteração de assentamento do registro civil, da data
em que o fato se tornou conhecido. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças


e adolescentes, previstos neste Código ou em
legislação especial, da data em que a vítima
completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já
houver sido proposta a ação penal. (Redação
dada pela Lei nº 12.650, de 2012) (Grifo é nosso)”

Do Procedimento Administrativo

Da decisão

Na definição do Mestre Hely Lopes Meirelles: " é o meio de


apuração e punição de faltas graves dos servidores públicos e demais pessoas
sujeitas ao regime funcional de determinados estabelecimentos da
Administração".

Quando instaurado o procedimento administrativo solicitado pelo


Ofício nº 591/2017, do próprio Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente em face do autor, fora respeitado o direito da ampla defesa e do
contraditório (due process of law), usando-se o bom senso com a suas devidas
proporcionalidades.

‘Art.5º-Todos são iguais perante a lei, sem distinção


de qual quer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e a os estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...)

•LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus


bens sem o devido processo legal;

•LV- aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são

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assegurados o contraditório e ampla defesa, com os


meios e recursos a ela inerentes; ”

Todas as garantias constitucionais foram respeitadas


e a decisão foi tomada em consideração as provas que, infelizmente, não
deixaram dúvidas quanto ao comportamento do autor.

Não ventilam nos autos qualquer ato de nulidade.

Destaca-se ainda, que a decisão administrativa foi


dentro dos limites legais exercidos na discricionariedade.

Diante dos fatos narrados e apurados no


procedimento administrativo e, tendo em vista a gravidade relacionadas ao
cargo ocupado, não teve outra alternativa ao gestor público, senão a exoneração
do autor, para não comprometer um serviço de tamanha relevância no
Município.

Apenas para ilustrar, segue acórdão:

CRIME CONTRA OS COSTUMES - ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR -


VIOLÊNCIA PRESUMIDA - VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS - ALEGAÇÃO DE
PRECARIEDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO A RESPALDAR A
CONDENAÇÃO DO RÉU - INOCORRÊNCIA - NARRATIVA INCISIVA DA
OFENDIDA INTEIRAMENTE CORROBORADA PELOS DEMAIS ELEMENTOS
DE PROVA ANGARIADOS NO DECORRER DA INSTRUÇÃO CRIMINAL,
ESPECIALMENTE O DEPOIMENTO PRESTADO PELA CORRESPONDENTE
AVÓ, QUE SURPREENDEU O AGENTE DURANTE A PRÁTICA LIBIDINOSA -
MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS DEVIDAMENTE DELINEADAS
NOS AUTOS - TESE DEFENSIVA SUSTENTANDO QUE A PRÁTICA SEXUAL
TERIA DECORRIDO DE INSINUAÇÕES DA PRÓPRIA VÍTIMA,
REMETENDO-SE, AINDA, À SUA PRÉVIA EXPERIÊNCIA E
DISCERNIMENTO NA SEARA SEXUAL - IMPROCEDÊNCIA -
IMATURIDADE DA MENOR PRESUMIDA POR LEI, SENDO CERTO QUE
MESMO EVENTUAL ANUÊNCIA DESTA AFIGURAR-SE-IA DESTITUÍDA DE
VALIDADE - TUTELA ESTATAL DA INTEGRIDADE SEXUAL DE CRIANÇAS
E ADOLESCENTES - AUSÊNCIA DE QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA
EXCEPCIONAL QUE AUTORIZASSE O AFASTAMENTO DO INSTITUTO DA
VIOLÊNCIA FICTA - PRETENSAO DE REFORMA DA DOSIMETRIA DA
PENA, MITIGANDO-SE A CARGA PENAL AO PATAMAR MÍNIMO
COMINADO NO TIPO PENAL - INVIABILIDADE - CONSEQÜÊNCIAS DO

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DELITO SOPESADAS ADVERSAMENTE AO SENTENCIADO - EXISTÊNCIA


DE LAUDO TÉCNICO ATESTANDO OS DANOS PSICOLÓGICOS ADVINDOS À
ADOLESCENTE DA PRÁTICA CRIMINOSA - SENTENÇA MANTIDA -
RECURSO NÃO PROVIDO.
1. "Nos crimes sexuais, a palavra da vítima, especialmente quando
corroboradas por outros elementos de convicção, tem grande validade como
prova, porque, na maior parte dos casos, esses delitos, por sua própria
natureza, não contam com testemunhas e sequer deixam vestígios." (STJ - 5ª
Turma - HC 59.746/RJ, Rel. Min. GILSON DIPP, Julg: 17.10.2006, DJ:
13.11.2006, p. 280).
2. "No atentado violento ao pudor com violência presumida, a norma impõe
um dever geral de abstenção de ato libidinoso diverso da conjunção carnal
com jovens que não sejam maiores de 14 anos. O consentimento da vítima ou
sua experiência em relação ao sexo, no caso, não tem relevância jurídico-penal
(Precedentes do STF e do STJ)." (STJ - 5ª Turma - R.Esp. 762.044/SP, Rel.
Min. FELIX FISCHER, Julg: 21.02.2006, DJ: 02.05.2006, p. 380).

O PEDIDO

Pelo exposto, requer o Município de Seropédica sejam julgados


improcedentes os pedidos ora contestados, com as cominações legais.

O réu protesta pela produção de todas as provas em direito


admitidas, mormente, o depoimento pessoal do autor e do menor Gabriel de
Abreu Machado, representado por sua genitora.

Requer, ainda, se digne intimar o ilustre representante do


Ministério Público, para ciência da ação proposta.

É o requerido.

Seropédica, 24 de agosto de 2021.

Mário Mozart Martins Nóbrega

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Subprocurador Geral do Município de Seropédica

Matrícula nº 17.432

OAB/RJ 74.311

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