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RESUMO DOS TEXTOS DE PENAL (AULAS 05 E 06)

TEXTO 1
SISTEMA E ESTRUTURAS DO DELITO
1 SISTEMA JURÍDICO-PENAL
1.1 Sistema Aberto e Sistema Fechado
Esse texto aborda a teoria do delito dentro do contexto do sistema jurídico-penal, destacando a distinção
entre sistema aberto e sistema fechado.
No sistema jurídico-penal, a teoria do delito desempenha um papel fundamental ao definir os pressupostos
para a imposição da pena. Seu objetivo é fornecer conceitos abstratos que sirvam como ferramentas práticas
de decisão, tornando previsível e seguro o processo de qualificação de comportamentos como puníveis. Isso
implica em harmonizar a diversidade de situações sob preceitos comuns e facilitar a interpretação jurídica
dos casos, a fim de permitir uma resposta sancionatória correta, adequada e proporcional.
Ao longo do tempo, a teoria do delito passou por constantes reestruturações, refletindo mudanças tanto nos
elementos formadores do delito quanto nas relações entre eles. O modelo clássico inicial definia o delito
como uma ação típica, antijurídica e culpável. No entanto, esses elementos e suas relações têm sido objeto
de revisão e adaptação, considerando as necessidades sociais e os fins da pena.
O texto destaca a importância de um sistema jurídico-penal aberto, que seja capaz de incorporar os limites
construídos a partir dos fins sociais do Direito penal e da missão da pena. Isso implica em uma abertura
cognitiva que permita uma interação dinâmica entre os conhecimentos sociais e a teoria do delito, evitando
uma abordagem meramente formal e fechada.
Por outro lado, um sistema fechado, caracterizado pela rigidez e falta de flexibilidade, não permite uma
revisão extra-sistemática de suas decisões, o que pode levar à perda de segurança jurídica e à falta de
adequação às demandas sociais.
Em resumo, o texto defende a necessidade de um sistema jurídico-penal aberto, que seja capaz de incorporar
os valores sociais e os fins da pena na definição dos elementos do delito, garantindo assim uma resposta
justa e adequada aos comportamentos considerados puníveis.
4 ESTRUTURAS DO DELITO
4.1 Teoria do Delito como Pressuposto de Punibilidade
Neste trecho, é discutido o papel da teoria do delito como pressuposto para a punibilidade de um
comportamento. A teoria do delito não apenas reconhece fatos ocorridos, mas também os interpreta e os
define como delitos, fornecendo assim uma estrutura conceitual para a imposição da pena.
É destacado que os conceitos jurídicos, incluindo o conceito de delito, são convencionais e mudam ao longo
do tempo, refletindo interesses e conflitos sociais. A teoria do delito é fundamentalmente uma teoria de
interpretação de fatos humanos, estabelecendo regras para atribuir significado a determinados
comportamentos.
Um mesmo comportamento pode ser interpretado de diferentes maneiras de acordo com os critérios
adotados. Por exemplo, crimes de baixo valor econômico podem ser considerados insignificantes e
excluídos do âmbito penal, enquanto que em outros casos podem ser puníveis. Essas interpretações variam
de acordo com os critérios aplicados.
Além disso, o texto ressalta que há uma dimensão política por trás da definição de comportamentos como
criminosos, como evidenciado nos casos de anistia e na aplicação do princípio da insignificância penal. Os
critérios da teoria do delito são responsáveis pela existência do crime e pela atribuição de responsabilidade
jurídico-penal, possibilitando a imposição da pena.
A teoria do delito, portanto, atua como uma estrutura de mediação entre a ocorrência do comportamento e a
imposição da pena, definindo quais comportamentos sujeitam seus autores à sanção penal. É fundamental
que essa teoria esteja alinhada com as finalidades da pena, de modo a garantir que a pena não seja apenas
uma consequência do delito, mas sim a razão pela qual um comportamento é considerado criminoso.
Nesse sentido, a teoria do delito deve ser capaz de construir um conceito material de delito que esteja
comprometido em realizar os fins da pena, utilizando critérios normativos que introduzam as valorações
político-criminais necessárias. Os elementos da teoria do delito, como merecimento e necessidade de pena,
se tornam pressupostos para a imposição da pena, e o delito é definido como um fato merecedor e
necessitado de pena.
TEXTO 2
I. O OBJETIVO DA TEORIA DO DELITO
O texto aborda os objetivos da teoria do delito, destacando duas perspectivas: uma visão tradicional,
representada por Welzel, e uma visão mais crítica.
Na visão tradicional, a teoria do delito busca determinar o conteúdo das normas proibitivas e mandamentais,
visando ao máximo desenvolvimento de seus elementos e à compreensão de seu alcance.
Por outro lado, na visão mais crítica, a teoria do delito só terá significado se estabelecer critérios que possam
delimitar o poder punitivo do Estado, analisando os elementos das normas criminalizadoras em função da
proteção ao sujeito.
É ressaltado que a teoria do delito não é uma reprodução do que se formula no sistema penal, mas busca
estabelecer parâmetros para delimitar o poder de intervenção do Estado, garantindo os fundamentos do
Estado Democrático de Direito. Dessa forma, ela não é construída pela jurisprudência, mas por reflexões
científicas sobre os elementos caracterizadores da conduta criminosa.
A teoria do delito exerce um importante papel como instrumento controlador da jurisdição, evitando que as
decisões judiciais ultrapassem os limites expressos na Constituição. Ela também tem o efeito prático de
constituir elementos de orientação de conduta para as pessoas.
Além disso, o texto destaca a importância da relação entre norma penal e norma constitucional na
legitimação do poder de punir. Uma teoria crítica do delito deve se ocupar de várias tarefas, incluindo a
verificação dos pontos de intersecção entre norma penal e norma constitucional, a identificação do objeto da
lesão jurídica, o confronto dos elementos normativos com a realidade empírica e a definição dos
fundamentos para a exclusão de fatos penalmente irrelevantes.
Em suma, uma teoria do delito verdadeiramente democrática deve ser proposta com base em parâmetros que
garantam a proteção da liberdade individual e a conformidade com os princípios constitucionais.
TEXTO 3
PRESSUPOSTOS ESTRUTURAIS DA TEORIA DO DELITO – AS PRETENSÕES DE VALIDADE
DA NORMA PENAL
1. O DELITO
O texto aborda os pressupostos estruturais da teoria do delito, centrando-se no conceito de delito como
objeto central do estudo jurídico-penal. O delito pode ser abordado de várias formas: como um fenômeno
social, uma questão criminológica ou sob uma perspectiva jurídica. Cada uma dessas abordagens oferece
uma compreensão diferente do fenômeno criminal, e todas elas contribuem para enriquecer a concepção
geral.
Ele ressalta a importância de não considerar nenhuma dessas perspectivas de forma isolada, mas sim integrá-
las para obter uma compreensão mais completa do delito. Mesmo ao adotar uma abordagem dogmática, que
se concentra na estrutura normativa do fenômeno criminal, é essencial não negligenciar as contribuições de
outras áreas de estudo.
A teoria do delito é apresentada como um instrumento ou conjunto de regras destinado a facilitar a
compreensão do que constitui um delito e das consequências decorrentes dessa definição. Sua função é
fornecer uma estrutura conceitual para analisar e interpretar o fenômeno criminal, com o objetivo utópico de
buscar a realização da justiça.
2. A INSTRUMENTALIDADE DA TEORIA DO DELITO
O texto destaca a instrumentalidade da teoria do delito como uma composição de um veículo normativo que
serve de interface entre o fenômeno criminal e as instituições estatais. Ele ressalta que a organização social,
incluindo o Estado, depende de normas para sua sobrevivência, e o Estado edita normas que diferem apenas
pelo grau de formalização. A formalidade, porém, não é inerente à norma, mas sim uma característica do
modelo de Estado em que vivemos.
É destacado que as estruturas normativas das organizações sociais são sempre dirigidas a objetos ou
situações específicas e visam a determinados objetivos. Assim, a organização das teorias do delito visa a
compor uma rede de conceitos que forneça diretrizes de atuação perante o fenômeno criminal, com o crime
como objeto central.
Além disso, o texto menciona que diversos objetivos de Estado, sociais, de grupos de poder e influências
políticas são refletidos na composição da teoria do delito, demonstrando como ela é influenciada pela
tendência histórico-social de cada momento e local.
Por fim, é enfatizado que a teoria do delito é uma rede de conceitos instrumentalizada para identificar o
crime como fenômeno, e essa instrumentalidade é evidenciada pelo fato de que seria possível organizar uma
estrutura de regras para identificar o crime em uma organização social emergente, mesmo sem o uso do
linguajar técnico-jurídico.
3. UMA TEORIA DO DELITO SEM TERMINOLOGIA TÉCNICA
O texto discute a estrutura da teoria do delito, que é uma área do direito penal que se concentra em entender
e definir o que é considerado crime. Ele começa explicando que o direito penal é uma forma de controle
social, ou seja, uma maneira que a sociedade tem de garantir que as pessoas sigam regras e comportamentos
aceitáveis.
O texto então passa a descrever os elementos essenciais que compõem um crime. Primeiro, destaca que toda
ação ou omissão que resulte em algo prejudicial é fundamental para que um crime ocorra. Isso significa que
a pessoa precisa fazer algo errado ou deixar de fazer algo que deveria ser feito. Além disso, essa ação ou
omissão precisa causar algum tipo de dano ou perigo a algo que a sociedade considera importante, como a
vida, a propriedade ou a segurança das pessoas.
Outro ponto importante abordado é que o que é considerado crime precisa estar previamente definido em lei.
Ou seja, uma conduta só pode ser considerada criminosa se já estiver descrita como tal em alguma lei
existente antes dela ser realizada. Isso é importante para garantir que as pessoas saibam o que é certo e o que
é errado, evitando que sejam punidas por algo que não sabiam ser proibido.
Além disso, o texto discute a responsabilidade das pessoas pelos crimes que cometem. Isso envolve questões
como se a pessoa sabia que estava agindo de forma ilegal, se agiu de propósito ou por descuido, se estava
em uma situação excepcional, entre outros fatores. Também considera se a pessoa agiu sozinha ou em
conjunto com outras, e como isso pode afetar sua responsabilidade.
Por fim, o texto enfatiza que a teoria do delito está em constante evolução, sendo influenciada por diferentes
ideias filosóficas, sociais, políticas e históricas. Isso significa que a forma como entendemos e lidamos com
o crime pode mudar ao longo do tempo, à medida que a sociedade muda e evolui. O objetivo final é garantir
que as leis penais sejam justas e adequadas para cada contexto social e histórico.
TEXTO 4
CONCEITO E FUNÇÃO DA CONDUTA
l. O direito penal não altera o conceito de conduta
190. Ato de vontade e ato de conhecimento
Esse trecho discute a distinção entre atos de vontade e atos de conhecimento. Os atos de vontade são aqueles
em que uma pessoa direciona sua intenção para alterar o objeto em questão, como escrever uma carta, dar
um presente, construir ou demolir um edifício. Em todos esses exemplos, o objeto é modificado de alguma
forma pela ação da pessoa.
Por outro lado, os atos de conhecimento são aqueles em que a pessoa não altera o objeto, mas apenas obtém
informações sobre ele. Por exemplo, quando um estudante estuda o Código Penal, ele está adquirindo
conhecimento sobre ele, mas não está modificando o próprio Código Penal.
Essa distinção é discutida dentro de uma teoria realista do conhecimento, que parte do pressuposto de que os
objetos existem independentemente de nossa percepção ou conhecimento sobre eles. Ou seja, os objetos
existem "fora de nós" e antes de nosso conhecimento sobre eles.
Por outro lado, em uma teoria idealista do conhecimento, a distinção entre atos de vontade e atos de
conhecimento pode não fazer sentido. Para o idealismo, o que é primário e real são as ideias, e o
conhecimento não apenas toca o objeto, mas também o cria. No entanto, o texto indica que o autor adota a
posição realista, que reconhece a existência dos objetos independentemente de nossa percepção ou
conhecimento sobre eles.

TEXTO 5
TEM FUTURO O DIREITO PENAL?
I. Introdução
O texto levanta a questão sobre o futuro do direito penal, questionando se esta área do direito continuará a
existir e se merece ser preservada. Começa reconhecendo a importância do direito penal na sociedade como
uma instituição que garante a paz e uma distribuição mínima de justiça, permitindo o livre desenvolvimento
da personalidade dos indivíduos. No entanto, diferencia-se de outras áreas culturais, como literatura, artes e
ciências, que são valorizadas por si mesmas, enquanto o direito penal é visto como um mal necessário.
O autor argumenta que o sistema de justiça criminal envolve medidas extremamente graves e que nem
sempre são justas, submetendo cidadãos, muitas vezes inocentes, a perseguições sociais e psicológicas.
Além disso, destaca que a punição leva à estigmatização e exclusão social do condenado, o que é contrário
aos objetivos de um Estado de Direito, que busca integração e redução de discriminações.
O texto sugere que seria preferível obter os benefícios atribuídos ao direito penal de maneira menos onerosa
socialmente. Propõe-se então a enxergar o direito penal como uma instituição historicamente fundamentada,
porém superável em sociedades mais desenvolvidas. Argumenta-se que o direito penal poderia evoluir para
um sistema mais focado na ressocialização e proteção, que seria mais inteligente e humano.
Finalmente, o autor questiona se, em um Estado de Direito, o direito penal conseguirá se manter e se merece
ser preservado. Essa reflexão sugere uma avaliação crítica do papel e da eficácia do direito penal na
sociedade contemporânea, levantando dúvidas sobre sua utilidade e sua adequação aos princípios de justiça
e integração social.
II. Pode o direito penal ser abolido?
1. Conciliar, ao invés de julgar: correntes abolicionistas
O texto explora a perspectiva abolicionista em relação ao direito penal, que questiona se as desvantagens do
sistema penal estatal superam seus benefícios. Os abolicionistas argumentam que é possível alcançar os
mesmos resultados, ou até melhores, combatendo as causas sociais da criminalidade e implementando
medidas conciliatórias fora do âmbito estatal, como indenizações reparatórias.
No entanto, o autor expressa ceticismo em relação a essa visão, considerando-a excessivamente idealista e
romântica. Ele argumenta que uma sociedade livre do direito penal exigiria condições utópicas, como
controle de natalidade, mercados comuns e utilização racional dos recursos, para eliminar as causas do
crime. Além disso, ele aponta que o aumento do bem-estar econômico não necessariamente se traduz em
uma redução da criminalidade, como demonstrado pelo aumento da criminalidade na Alemanha, apesar do
crescimento econômico.
O autor também sugere que a criminalidade é uma característica inevitável da condição humana e que as
circunstâncias sociais determinam o tipo de crimes cometidos. Ele questiona a eficácia de medidas
puramente sociais na redução da criminalidade e argumenta que transferir o controle do crime para
instituições independentes do Estado pode resultar em abusos e discriminação social.
Por fim, o autor conclui que o abolicionismo não é uma solução viável para o futuro do direito penal, mesmo
em um Estado de Direito. Ele destaca a importância do direito penal estatal na manutenção da ordem social
e na resposta a crimes que afetam a coletividade, como crimes ambientais e econômicos.
2. Prevenir, ao invés de punir: controle mais intensivo do crime pelo Estado
Nesta seção, o autor explora outra abordagem para lidar com o problema da criminalidade, sugerindo que o
Estado poderia intensificar seu controle sobre os cidadãos como uma forma de prevenção mais eficaz do
crime. Ele menciona que sociedades liberais e democráticas tendem a ter uma taxa de criminalidade mais
alta do que ditaduras, mas também observa que países com forte controle social, como o Japão, tendem a ter
menos criminalidade.
A ideia central é que um aumento na vigilância estatal poderia dissuadir os indivíduos de cometer crimes,
tornando o direito penal uma rede de segurança apenas para casos em que a prevenção falhe. Isso envolveria
medidas como vigilância por vídeo, escutas telefônicas, armazenamento de dados e rastreamento eletrônico,
que já são utilizados em diferentes graus por muitos estados democráticos.
No entanto, o autor reconhece que essa abordagem tem limitações. Por um lado, existem crimes que não
podem ser evitados por meio de vigilância intensiva, como crimes passionais e econômicos. Além disso, há
preocupações com relação aos direitos individuais e à privacidade, especialmente quando se trata de
vigilância em espaços privados.
Apesar disso, o autor argumenta que a vigilância intensiva em locais públicos e a divulgação de informações
financeiras para as autoridades fiscais poderiam ser medidas eficazes na prevenção e combate à
criminalidade. Ele sugere que essas abordagens podem ser integradas ao sistema legal existente como parte
do direito penal do futuro.
Em resumo, o autor conclui que, embora a vigilância intensiva não torne o direito penal totalmente
desnecessário, ela pode ser uma ferramenta eficaz dentro dos limites do que é possível e permitido
legalmente.
3. Curar, ao invés de punir: a substituição do direito penal por um sistema de medidas de segurança
Nesta seção, o autor discute a possibilidade de substituir o direito penal por um sistema de medidas de
segurança, com foco na terapia e tratamento dos infratores, em vez de simplesmente puni-los. Essa
abordagem baseia-se na ideia de que muitos criminosos são, na verdade, doentes psíquicos ou sociais que
precisam de tratamento em vez de punição.
O autor reconhece que uma parte significativa dos condenados, especialmente aqueles envolvidos em crimes
como roubo, fraude e delitos sexuais, pode se beneficiar de terapias eficazes. Ele sugere que, à medida que
métodos terapêuticos mais eficazes são desenvolvidos, é provável que essas medidas se tornem mais comuns
e até mesmo substituam parcialmente as penas tradicionais.
No entanto, o autor também aponta algumas limitações dessa abordagem. Por um lado, nem todos os
infratores responderão ao tratamento, e alguns podem até recusar-se a participar. Em tais casos, a pena penal
ainda seria necessária. Além disso, muitos criminosos, como aqueles envolvidos em crimes econômicos ou
ambientais, podem não ser considerados doentes psíquicos e, portanto, não seriam adequados para
tratamento terapêutico.
Além disso, o autor destaca que as medidas de segurança podem ser mais intrusivas na liberdade individual
do que as penas tradicionais, já que não estão limitadas pelo princípio da culpabilidade. Portanto, em muitos
casos, a pena penal pode ser mais adequada do que uma medida de segurança, especialmente se a execução
da pena incluir elementos de tratamento.
Em resumo, o autor conclui que, embora as medidas de segurança possam ser estendidas no futuro, a
substituição completa do direito penal por um sistema de medidas terapêuticas não é possível nem desejável
em muitos casos.
III. Poder-se-á, futuramente, evitar sanções penais de modo considerável através da descriminaliza
ção e da diversificação?
O autor sugere que esses dois instrumentos político-sociais estão relacionados e podem ser utilizados de
forma complementar. A descriminalização é considerada quando se busca eliminar certas condutas do
escopo criminal, o que pode ser feito se houver consenso de que essas condutas não merecem punição penal.
Por exemplo, em alguns países, a posse de pequenas quantidades de certas drogas foi descriminalizada,
tratando o uso como um problema de saúde pública em vez de um crime.
Por outro lado, a diversificação envolve a aplicação de medidas diferentes da pena criminal tradicional,
como penas alternativas, programas de reabilitação, trabalho comunitário, entre outros. Essas medidas são
destinadas a abordar as causas subjacentes do comportamento criminoso e a promover a reintegração do
infrator à sociedade.
1. Descriminalização
A descriminalização é discutida em dois contextos: primeiro, como a eliminação de dispositivos penais que
não são essenciais para manter a paz social; e segundo, com base no princípio da subsidiariedade, que
argumenta que o direito penal deve ser a última opção da política social, e só deve ser aplicado quando
meios extrajudiciais menos graves falham em prevenir distúrbios sociais.
No primeiro sentido, a descriminalização envolve a remoção de comportamentos do âmbito criminal que
não infringem diretamente os direitos de terceiros ou não representam uma ameaça significativa à ordem
social. Comportamentos que apenas violem normas morais, religiosas ou de politicamente correto, ou que
representem apenas um risco mínimo para o próprio indivíduo, não devem ser alvo de punição pelo sistema
penal de um estado de direito.
O segundo campo de descriminalização surge do princípio da subsidiariedade, que estabelece que o direito
penal só deve ser aplicado quando outros meios extrapenais não conseguem resolver os problemas sociais de
forma menos severa. Um exemplo disso é a criação de infrações administrativas, como as infrações de
contra-ordenação na legislação alemã. Nesse caso, distúrbios sociais de baixa gravidade, como infrações de
trânsito ou perturbações à comunidade, não são mais punidos com penas criminais, mas sim com sanções
administrativas, como multas.
Essa abordagem de descriminalização, tanto no sentido de eliminar dispositivos penais desnecessários
quanto no sentido de aplicar o princípio da subsidiariedade, oferece um amplo campo para reformas no
sistema jurídico, especialmente no que diz respeito às leis menos relevantes ou excessivamente punitivas.
Isso pode contribuir para um sistema legal mais justo e eficaz, concentrando-se nos comportamentos que
representam uma ameaça real à sociedade e promovendo uma abordagem mais equilibrada e proporcional à
justiça criminal.
2. Diversificação
Na diversificação, quando a descriminalização não é uma opção viável, busca-se evitar as desvantagens da
criminalização por meio de alternativas à condenação formal por um juiz. Na Alemanha, por exemplo, tanto
o juiz quanto o Ministério Público têm a prerrogativa de arquivar processos em casos de delitos de menor
gravidade ou quando não há mais interesse público em sua persecução. Esse arquivamento pode ocorrer até
mesmo em casos de criminalidade média, se o acusado prestar serviços à comunidade ou compensar o dano
causado.
Esses métodos de diversificação são amplamente utilizados na Alemanha, aplicados em quase metade de
todos os casos, o que tem contribuído significativamente para a redução da quantidade de punições. Apesar
de algumas críticas em relação à falta de determinação dos critérios para essa diversificação e ao
deslocamento da competência decisória para o Ministério Público, essa forma de reação a delitos deve ser
considerada um elemento essencial do direito penal do futuro. Ficou demonstrado que tanto o início de um
processo penal quanto as medidas alternativas à pena têm uma eficácia preventiva contra autores não
habituais de delitos de menor gravidade, tornando desnecessária a aplicação de uma pena formal. A
diversificação é considerada um meio mais humano de combater o crime do que a pena, e por isso deve ser
preferida sempre que possível, dentro dos limites estabelecidos e sob a supervisão do Estado.
Em suma, a descriminalização e a diversificação não eliminam a necessidade da pena, mas têm o potencial
de reduzir as punições a um núcleo essencial de comportamentos que realmente precisam ser punidos. Essas
medidas representam uma abordagem mais equilibrada e proporcional à justiça criminal, buscando preservar
os direitos individuais e promover a reintegração dos infratores à sociedade.
IV. A quantidade de dispositivos penais e de violações contra eles cometidas diminuirá ou aumentará?
De acordo com as análises apresentadas, é possível prever um aumento tanto na quantidade de dispositivos
penais quanto no número de violações contra eles cometidas no futuro. Esse aumento não se deve apenas às
regulamentações que serão trazidas pela União Europeia, mas principalmente ao fato de que as estruturas
sociais estão se tornando cada vez mais complexas.
Nas sociedades simples, regras básicas como os dez mandamentos costumam ser suficientes. No entanto,
nas modernas sociedades massificadas, o controle social requer regulamentações abrangentes. Além disso,
novos desenvolvimentos tecnológicos e ameaças ambientais frequentemente exigem a criação de novos
dispositivos legais para lidar com eles. Por exemplo, o direito penal relacionado à tecnologia da informação
está em constante evolução para lidar com o abuso de novas tecnologias.
O mesmo acontece com a quantidade de delitos, que tende a aumentar devido a fatores como a criminalidade
internacional, facilitada pela abertura das fronteiras, e o crescimento do consumo de drogas. Mesmo delitos
tradicionais, como furto, podem aumentar devido a mudanças sociais, técnicas e econômicas. Por exemplo,
em uma sociedade de alta densidade populacional e anonimato, o furto pode ser mais fácil de ser cometido
do que em comunidades menores.
Portanto, a taxa de criminalidade, que já vem aumentando há décadas, provavelmente continuará a crescer
no futuro, embora talvez em menor medida do que nas últimas décadas, uma vez que muitos dos fatores que
contribuem para o crime ainda estarão presentes.
V. O direito penal do futuro será mais suave ou mais severo?
Apesar do aumento previsto na criminalidade, é esperado que as penas se tornem mais suaves no futuro.
Embora possa parecer paradoxal à primeira vista, isso reflete uma tendência de longo prazo em direção à
suavização das penas no sistema jurídico.
A moda político-criminal dos últimos anos tem sido de endurecimento das leis penais, muitas vezes em
resposta ao medo da criminalidade e à demanda por medidas mais duras por parte da população. No entanto,
essa tendência é vista como uma oscilação cíclica, e a longo prazo, espera-se uma suavização das penas.
Uma das razões para essa suavização é a crescente dificuldade de lidar com o aumento da criminalidade por
meio de penas privativas de liberdade. As instituições prisionais e os recursos financeiros necessários para
sua manutenção são insuficientes para lidar com um grande número de infratores. Além disso, a privação de
liberdade muitas vezes não leva à ressocialização, especialmente para delitos de menor gravidade.
Em vez disso, há uma tendência crescente para o uso de penas alternativas, como multas, que são mais
eficazes na ressocialização e têm um impacto menos desocializador do que a privação de liberdade. Na
Alemanha, por exemplo, o uso de penas privativas de liberdade tem diminuído ao longo dos anos em favor
das multas e outras medidas alternativas.
Portanto, a diversificação e o uso de penas mais suaves são considerados mais humanos, econômicos e
eficazes na prevenção do crime, representando uma tendência clara de suavização do direito penal.
VI. Como será o sistema de sanções no direito penal do futuro?
1. Novas penas ou medidas de segurança?
No futuro, é provável que haja uma necessidade de desenvolver uma variedade de novas sanções ou medidas
de segurança para lidar com diferentes tipos de crimes e infratores. Embora a pena de multa tenha crescido
em importância, ela não é adequada para todos os casos, especialmente para aqueles que não possuem
recursos financeiros. Portanto, novas formas de sanções serão necessárias para complementar as penas
existentes.
No entanto, é improvável que surjam novas penas no sentido tradicional, ou seja, medidas coativas
prejudiciais impostas pelo Estado. Em vez disso, é mais provável que se desenvolvam formas mais suaves
de restrição da liberdade, como a prisão domiciliar, que pode ser monitorada eficientemente com os
modernos sistemas de segurança eletrônicos. Essa sanção é vantajosa por não ter custos adicionais para o
Estado, reduzir os riscos de infecção criminal e oferecer uma forma mais humanizada de privação de
liberdade.
Outra possível nova pena é a proibição de dirigir, que poderia ser aplicada como uma sanção penal para uma
variedade de crimes, não apenas os relacionados ao trânsito. Dado o papel significativo que o carro
desempenha na vida cotidiana das pessoas, essa restrição de liberdade pode ser uma medida preventiva
eficaz, que não teria custos para o Estado, seria menos prejudicial para o infrator do que a prisão e também
seria benéfica para o meio ambiente.
Além disso, é recomendável a introdução ou conclusão de instituições sociais-terapêuticas, como
mencionado anteriormente. Essas medidas terapêuticas podem ser uma forma eficaz de lidar com criminosos
que apresentam problemas psíquicos ou sociais subjacentes, oferecendo uma abordagem mais humanizada e
voltada para a ressocialização.
Portanto, é esperado que novas penas ou medidas de segurança, como a prisão domiciliar, a proibição de
dirigir e as medidas social-terapêuticas, desempenhem um papel cada vez mais importante no sistema
jurídico penal do futuro.
2. Sanções orientadas pela voluntariedade
a) O trabalho de utilidade comum
O trabalho de utilidade comum refere-se à prestação de serviços em hospitais, lares de assistência e
instituições estatais diversos. Esses serviços podem variar desde transporte de documentos até tarefas de
conserto, limpeza e jardinagem em espaços públicos. A ideia por trás do trabalho de utilidade comum é
oferecer uma alternativa à pena de multa, permitindo que o infrator se ofereça voluntariamente para realizar
essas atividades.
Esta forma de sanção apresenta várias vantagens. Em primeiro lugar, o trabalho de utilidade comum é
construtivo e requer maior envolvimento pessoal por parte do infrator, em comparação com penas privativas
de liberdade ou multas financeiras, que o infrator apenas precisa pagar. Além disso, ao ser voluntário, o
trabalho de utilidade comum promove um sentimento de utilidade e contribuição para a sociedade, o que
pode ser mais eficaz para a ressocialização do infrator do que as penas tradicionais.
No entanto, há algumas críticas em relação a essa forma de sanção. Algumas pessoas argumentam que seria
difícil organizar e administrar o trabalho de utilidade comum, e que isso poderia resultar em uma carga
adicional para a sociedade. Também há preocupações de que isso poderia levar à perda de empregos para
outros trabalhadores.
No entanto, essas críticas não são consideradas convincentes. A organização do trabalho de utilidade comum
já foi amplamente comprovada, especialmente através de iniciativas como o serviço substitutivo civil
praticado por aqueles que se recusam a prestar serviço militar. Além disso, a ideia de que isso aumentaria o
desemprego não corresponde à realidade, já que essas atividades seriam realizadas em períodos de férias e
fins de semana, quando há uma escassez de mão de obra para tais serviços menos qualificados.
Portanto, o trabalho de utilidade comum emerge como uma possível alternativa viável para certos tipos de
sanções penais, oferecendo benefícios tanto para os infratores quanto para a sociedade em geral.
b) A reparação voluntária
A reparação voluntária emerge como uma perspectiva promissora no campo do direito penal, representando
uma segunda sanção orientada pela voluntariedade do infrator. Esta abordagem vai além das instituições
tradicionais que exigem indenização por danos causados, como o modelo francês da action civile, e propõe
uma nova maneira de integrar a reparação do dano no sistema de sanções penais.
A ideia central é que a reparação voluntária prestada pelo infrator antes do início do procedimento principal
possa resultar em uma redução obrigatória da pena. Em casos favoráveis, essa reparação pode até mesmo
levar à suspensão condicional da pena ou, excepcionalmente em delitos menos graves, à dispensa da pena,
mantendo-se, no entanto, a condenação.
Essa abordagem traz várias vantagens. Primeiramente, fornece um forte estímulo ao infrator para reparar o
dano causado, enquanto oferece à vítima uma reparação rápida e não burocrática. Além disso, contribui para
uma justiça penal orientada para a vítima, fortalecendo a vitimologia e proporcionando uma resolução mais
satisfatória para as partes envolvidas.
Do ponto de vista da reintegração do infrator na sociedade, a introdução da reparação voluntária no sistema
de sanções oferece novos impulsos. Ao se envolver ativamente na reparação do dano, o infrator é levado a
refletir sobre seu comportamento e sua relação com a vítima, contribuindo para sua ressocialização.
Além disso, a reparação voluntária tem efeitos positivos em termos de prevenção geral, pois ajuda a
restaurar o status quo ante e a eliminar a perturbação social causada pelo delito. Estudos empíricos sugerem
que a população em geral vê com bons olhos a ideia de reduzir ou até mesmo dispensar a pena nos casos de
reparação voluntária, especialmente em crimes menores e médios.
Embora não haja espaço aqui para desenvolver detalhadamente a eficácia da reparação voluntária, é
importante ressaltar que essa abordagem representa uma perspectiva de futuro significativa, potencialmente
aproximando o direito civil do direito penal e promovendo uma resolução mais construtiva e justa dos
conflitos criminais.
Em resumo, as sanções orientadas pela voluntariedade, como o trabalho de utilidade comum e a reparação
do dano voluntária, têm o potencial de complementar e, em parte, substituir a pena no futuro. Devido aos
seus efeitos socialmente construtivos, essas abordagens devem ser preferidas sempre que possível em
relação à pena privativa de liberdade.
3. Sanções a pessoas jurídicas
As sanções aplicadas a pessoas jurídicas representam uma novidade no campo do direito penal, divergindo
do princípio tradicional de responsabilização baseada na culpa individual. Embora inicialmente estranhas ao
espírito do direito penal europeu, essas sanções devem desempenhar um papel significativo no futuro,
especialmente no combate à criminalidade econômica e ambiental originada por grandes empresas.
A criminalidade cometida por empresas muitas vezes envolve danos sociais consideráveis, como a
degradação do meio ambiente ou a venda de produtos prejudiciais à saúde. Nestes casos, identificar e
responsabilizar individualmente os culpados dentro da empresa pode ser extremamente difícil, devido à
distribuição da responsabilidade entre várias pessoas e à dificuldade em provar a culpabilidade individual.
Nesse contexto, as sanções aplicadas às pessoas jurídicas, que se baseiam em falhas organizacionais e
independem da identificação do culpado individual, podem ter efeitos preventivos significativos. Essas
sanções podem variar desde multas substanciais até o fechamento da empresa, dependendo da gravidade da
infração.
É importante ressaltar que essas sanções não são verdadeiras penas no sentido tradicional, pois as penas
pressupõem uma ação e culpabilidade imputáveis a uma pessoa individual. No entanto, as pessoas jurídicas
podem ser responsabilizadas de forma análoga, através de uma construção jurídica que requer o
desenvolvimento de regras especiais de imputação.
Em resumo, as sanções aplicadas a pessoas jurídicas, em paralelo à punição dos autores individuais, devem
desempenhar um papel significativo no futuro, especialmente no combate à criminalidade cometida por
empresas. Essa abordagem reflete a necessidade de adaptar o direito penal às complexidades da sociedade
moderna e garantir uma resposta eficaz à criminalidade corporativa.
VII. Resultado
O texto conclui afirmando que o direito penal tem um futuro promissor, apesar das críticas e desafios
enfrentados. Argumenta-se que o abolicionismo, que propõe a substituição do direito penal por conciliações
sem a intervenção do Estado, não é uma solução viável. Da mesma forma, medidas de segurança e vigilância
intensa dos cidadãos não conseguem tornar o direito penal supérfluo.
No entanto, há espaço para a descriminalização em casos onde o direito penal ultrapassa suas funções
político-criminais. A diversificação também pode substituir a punição concreta em casos menos graves,
arquivando-se o processo sob certas condições.
Apesar do aumento previsto no número de dispositivos penais e infrações, o texto argumenta que o direito
penal do futuro será mais suave, com a substituição da pena privativa de liberdade por multas e a utilização
de novas sanções menos limitadoras de liberdade, como a prisão domiciliar ou a proibição de dirigir. Além
disso, as sanções a pessoas jurídicas desempenharão um papel importante no combate à macrocriminalidade
econômica e ambiental.
Em suma, o direito penal do futuro será um instrumento de direcionamento social, buscando uma síntese
entre garantia da paz, sustento da existência e defesa dos direitos do cidadão. Ele utilizará uma variedade de
elementos de direcionamento diferenciadores e flexíveis, que possuem uma natureza similar à pena, mas não
são idênticos a ela.

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