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Unidade 1 INTRODUÇÃO

Ecologia é o ramo da biologia que estuda as interações dos organismos vivos entre si e com
o meio ambiente. Podemos entender por “meio ambiente” o conjunto de fatores abióticos (água,
luminosidade, etc.) que exercem determinada influência sobre os seres vivos de um local. O
termo Ecologia foi cunhado por Ernst Haeckel (1834-1919), em 1866, e é derivado da
combinação de duas palavras gregas: oikos, que significa casa, e logos, que significa estudo.
Assim sendo, ecologia significa o "estudo da casa" ou o "estudo do habitat dos seres vivos".
Haeckel, inclusive, contribuiu para a divulgação dos trabalhos de Charles Darwin (1809-1882),
e suas pesquisas geraram conhecimento em diversas áreas além da ecologia como a zoologia e a
filogenia.

ECOLOGIA DE
ECOSSISTEMAS

INTRODUÇÃO

Ecologia é o ramo da biologia que


estuda as interações dos organismos
vivos entre si e com o meio ambiente.
Podemos entender por “meio ambiente”
o conjunto de fatores abióticos (água,
luminosidade, etc.) que exercem
determinada influência sobre os seres
vivos de um local.

REFLETINDO SOBRE
Você sabia? Uma hipótese, criada por Haeckel, considerou que o primeiro
homem foi o Pithecanthropus alalus, ser não falante e bastante primitivo. Ele rastreou e
trabalhou para mostrar o desenvolvimento das diferentes espécies que surgiram até o
homem moderno. Para apresentar o estudo, ele criou a filogenia das espécies modernas,
isto é ele traçou a história evolutiva do homem. Busque mais informações e fique por
dentro
A Ecologia é uma ciência ampla, cujo foco é a compreensão do funcionamento de
toda a natureza, o que a torna complexa, tendo em vista as muitas variáveis que podem
influenciar no funcionamento de um ecossistema. Como muitos outros campos de
estudo da biologia, não é uma ciência isolada. Para compreendê-la, é necessário
lançarmos mão de fundamentos de diversas áreas de conhecimento. Evolução, genética
e bioquímica, por exemplo, são essenciais para que se compreenda a inter –relação da
natureza com os seres vivos que nela estão inseridos.

Figura 2: Fatores bióticos e abióticos em um ecossistema


Fonte: todamateria.com.br
Nas últimas décadas, temos percebido o aumento de estudos e discussões que envolvem a
forma como temos utilizado os recursos naturais e o impacto danoso que a má gestão desses
recursos tem gerado na vida, na organização e no equilíbrio do planeta. A preocupação com a
aceleração do efeito estufa, a intensa emissão de gases poluentes, nos últimos duzentos anos, e o
aumento do número de espécies extintas ou em risco de extinção foram determinantes para o
surgimento das conferências mundiais sobre o meio ambiente. Essas conferências têm como
objetivo o debate sobre consciência ecológica e a implementação de ações que intencionem
reverter ou minimizar o processo de desgaste natural e desequilíbrio ambiental que enfrentamos,
além de evitar que os recurso naturais entrem em colapso. Para tanto, o avanço dos estudos
ecológicos e a difusão desse conhecimento são peças-chaves para que, além do entendimento,
os estudos discutam estratégias efetivas de um desenvolvimento social baseado na
sustentabilidade.
Os diferentes tipos de ecossistemas serão estudados, nos capítulos seguintes desta
disciplina, porém para entendê-los com profundidade, faz-se necessário o conhecimento de
alguns conceitos básicos dentro da Ecologia.

CONCEITOS – ECOLOGIA: (fonte: embrapa.br)


Biomassa = Toda a matéria orgânica de que o corpo dos organismos vivos é composto.

Biosfera = Todas as regiões do planeta onde existem seres vivos ou onde algum ser vivo
seja capaz de viver.

Biótopo = Área ou espaço geográfico onde uma comunidade vive.

Cadeia alimentar = Representa como, de onde e para onde ocorre a transferência de


matéria e energia. Sempre se inicia por um organismo produtor (fotossintetizante) e termina em
um decompositor (fungos e bactérias). O fluxo ocorre sempre de forma unidirecional.

Ciclo biogeoquímico = Conjunto de processos químicos, físicos e biológicos que permite


aos elementos circularem entre os seres vivos e os componentes abióticos como a atmosfera,
hidrosfera e litosfera.

Comunidade = Conjunto de populações de espécies diferentes que vive em uma mesma


área geográfica.

Consumidores = Seres que não são capazes de produzir seu próprio alimento e precisam
alimentar-se de outro ser vivo, parte dele ou produtos por ele produzidos para obter sua energia.
São os seres heterotróficos.

Decompositores = Seres que obtêm nutrientes e energia, a partir da decomposição da


matéria orgânica. São as bactérias e fungos.

Ecossistema = Local geográfico onde ocorre interação entre seres vivos (fatores bióticos) e
os diversos fatores físicos e químicos que influenciam, de alguma forma, os seres vivos (fatores
abióticos).

Espécie = Organismos semelhantes (fisiológica e anatomicamente) capazes de reproduzir-


se e produzir descendentes férteis.

Habitat = Local em que determinada espécie vive.

Nicho ecológico = Características ecológicas de uma espécie dentro da comunidade.


Envolve seus hábitos alimentares, sua reprodução, suas relações com as outras espécies etc.
Refere-se ao comportamento natural de uma espécie.

Nível trófico = Posição que uma espécie ocupa em uma cadeia alimentar.

Pirâmide ecológica = Representação gráfica do fluxo de energia e matéria em um


ecossistema.
População = Conjunto de seres vivos da mesma espécie que vive em determinado local.

Produtores = Seres vivos capazes de produzir seu próprio alimento. São os seres
autotróficos.

Teia alimentar = Duas ou mais cadeias alimentares interligadas.


Estudaremos, na disciplina de Ecologia de Ecossistemas, as várias organizações naturais de
diferentes espécies em cada área e como as interações com o meio ambiente possibilitam,
limitam ou até impedem que as formas de vida ocorram e como diferentes grupos de seres vivos
podem viver em determinados locais. Esses ecossistemas podem ser divididos em: terrestres
- florestas, desertos, dunas, tundras, montanhas, pradarias e pastagens e aquáticos – lagos,
lagoas, rios e oceanos.

Neste capítulo, os seguintes objetivos deverão ser atingidos:

1. Entender como a Ecologia começou a ser estudada e como esses estudos avançaram;
2. Conhecer as bases conceituais da Ecologia;
3. Caracterizar os diferentes biomas brasileiros e como eles têm sido degradados pelo
homem, ao longo dos anos.

1.1 A ECOLOGIA NA HISTÓRIA

Como já mencionado na introdução, a Ecologia teve o seu termo cunhado pelo biólogo
alemão Ernst Haeckel, no século XIX, porém a percepção de que a interação entre os seres
vivos e os outros componentes da natureza é intensa e de grande importância, data de
milhares de anos, como pode ser visto, desde textos bíblicos. No livro de Gênesis, o primeiro
capítulo discorre:

“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o


criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes
disse: frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e
dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo
o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho
dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra;
e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para
mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a
todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será
para mantimento; e assim foi”.

Já na Idade Média, o pensamento a respeito da natureza estava ligado, ainda, à criação por
parte do divino, mas influenciado por ideias gregas e orientais. Nesse entendimento, começaram
a se estabelecer ideias que consideravam a natureza através do seu funcionamento lógico e
racional. Por volta do século XV, e até meados do século XIX, praticamente não existiam
políticas públicas e/ou legislação rígida que estivessem voltadas à preservação e ao uso
sustentável dos recursos naturais, ou seja, a natureza era vista como fonte de renda e exploração,
isso fez com que os impactos ambientais crescessem, sobretudo, depois da revolução industrial,
em países capitalistas, ou em ascensão econômica, pois a possibilidade de extração,
transformação e comercialização dos recursos naturais aumentaram em grande escala.

Vale destacar que todas as sociedades foram construídas a partir da transformação da


natureza e, consequentemente, do espaço geográfico onde elas estão inseridas. Cada grupo, do
menor até o maior, em diferentes épocas e lugares, criou uma base conceitual própria a respeito
da natureza e do meio ambiente, isto é, a sua própria forma de enxergar o mundo natural e seus
recursos. Adotaremos o termo natureza, como sendo o mundo físico, o conjunto das coisas que
existem realmente, que é natural (CASTRO, 2007).

Há milhares de anos, os primeiros grupos humanos viviam como nômades, mudando


constantemente de lugar em busca de alimentos e condições mais favoráveis de sobrevivência.
Nessa época, o contato com a natureza era constante e fundamental para a sobrevivência da
espécie.

Os nômades tinham uma relação muito próxima com a natureza, já que dependiam dela
para sobreviver. Eles viviam em harmonia com o meio ambiente, coletando frutas e raízes,
caçando animais e pescando nos rios. Eles aprendiam a identificar as plantas e animais que
podiam utilizar como fonte de alimento e conheciam as melhores épocas para coleta ou caça.

Além da caça e da coleta, os nômades também praticavam a agricultura itinerante,


plantando em locais onde encontravam terra fértil e depois deixando o solo descansar por alguns
anos, até que pudesse ser utilizado novamente.

Esses seres humanos reverenciavam a natureza e o ambiente em que viviam. Sabiam que
esta poderia ser útil e produtiva, mas também poderia ser hostil. Baseados na observação
cotidiana, eles tinham conhecimento sobre as condições climáticas, o solo e a biodiversidade
local e de como tratar com atenção os eventos da natureza com tempestades, por exemplo.

Um dos principais reflexos dessa relação era a preocupação com a preservação dos recursos
naturais. Compreendendo a importância de manter o equilíbrio ecológico, muitas tribos
nômades criaram rituais e mitos que enfatizavam a necessidade de respeitar a natureza e evitar o
desperdício.

Com o tempo, a sedentarização transformou muitos aspectos dessa relação entre ser
humano e natureza. Ao passo que o comportamento nômade foi sendo ultrapassado pelo
domínio de técnicas de cultivo da terra, fabricação e manipulação de ferramentas, o trabalho
coletivo se tornou, cada vez mais, necessário e efetivo. Isso possibilitou que as primeiras
sociedades aparecessem de fato, cada uma com a sua complexidade e o seu entendimento a
respeito da natureza.

É válido mencionar que muitas sociedades, em especial, as indígenas e/ou tribais, sempre
possuíram um comportamento assentado na preservação da natureza, mesmo em memórias
primordiais. O modo como muitas populações vivem está intimamente relacionado à forte
dependência dos recursos naturais à sua volta. Estas populações entendem as atividades
produtivas tão somente como necessárias para suas subsistências. Isso permite que a natureza
molde os seus modos de vida em diversos níveis: alimentação, cultura, crenças, etc.

Com o passar dos anos, as sociedades conquistaram muitos avanços, principalmente


tecnológicos. As transformações dos espaços naturais acompanharam os avanços tecnológicos,
o que favoreceu não só uma maior capacidade de construção, como também a capacidade de
destruição através da exploração da natureza. Segundo dados da ONU (Organização das Nações
Unidas), desde a década de 1970, mais do que triplicou a quantidade da extração de alguns
recursos naturais, como muitos minerais. Essa realidade instigou a necessidade da concepção de
uma “consciência ecológica”. O termo Consciência Ecológica foi criado a partir do trabalho e
militância do ambientalista Francisco Alves Mendes Filho (1944-1988), o Chico Mendes, nas
décadas de 1970 e 1980, que lutou, incansavelmente, pela preservação da floresta amazônica, e
foi assassinado por fazendeiros da região. Em sua homenagem, no dia 22 de dezembro, é
celebrado com o dia da consciência ecológica e foi incorporado ao nosso calendário como um
tributo a data da sua morte.

Um pequeno trecho da biografia de Chico Mendes: (fonte ebiografia.com)

“Francisco Alves Mendes Filho, conhecido como Chico Mendes, nasceu em Xapuri, Acre,
em 15 de dezembro de 1944. Ele descendia de seringueiros, trabalhando, desde a infância, na
extração de látex e acompanhando a luta dos pais por melhores condições de trabalho e direitos
trabalhistas.

Chico Mendes se tornou a voz dos seringueiros, liderando uma luta pelo desenvolvimento
sustentável da Amazônia, para que se respeitasse os direitos dos povos tradicionais e o meio
ambiente. Ele acreditava que uma gestão responsável da floresta poderia garantir trabalho e
renda às comunidades locais, sem prejudicar a preservação da biodiversidade e dos recursos
naturais.
Com o passar dos anos, Chico Mendes se tornou um líder emblemático, referência na luta
pelos direitos dos pobres e pela defesa das florestas e seus povos. Ele fundou o Conselho
Nacional dos Seringueiros, uma organização que defendia os direitos dos trabalhadores da
seringa, e ajudou a criar a Reserva Extrativista Chico Mendes, que homenageia o legado
histórico do ambientalista e inclui mais de 1,3 milhão de hectares de florestas e comunidades no
Acre.

Ao longo de sua vida, ele enfrentou inúmeras adversidades, incluindo ameaças constantes
de morte, prisões injustas e conflitos com madeireiros e proprietários de terras. Em 22 de
dezembro de 1988, ele foi assassinado com um tiro, na frente de sua casa, por dois pistoleiros
contratados por madeireiros locais.

A morte de Chico Mendes chocou o mundo e se tornou um símbolo da luta pelos direitos
ambientais e sociais. Sua memória inspira gerações de ativistas que lutam pela preservação das
florestas, pela justiça social e por um modelo de desenvolvimento sustentável.

Chico Mendes foi um herói, um homem que lutou pelos seus direitos e pelos direitos de seu
povo. Ele sempre defendeu a Amazônia e seus recursos naturais, e mostrou ao mundo a
importância da luta em prol do meio ambiente e da sustentabilidade. Suas conquistas e sua vida
foram interrompidas de maneira brutal e injusta, mas seu legado fica como um exemplo de
coragem, dignidade e mobilização social”.

Figura 5: Chico Mendes


Do ponto de vista ambiental, a preservação e o uso sustentável dos recursos são temas
urgentes e não opcionais. De acordo com cientistas e ambientalistas, as modificações causadas
pelo homem estão, cada vez mais, aceleradas e têm provocado danos desastrosos às
populações de seres vivos com risco de extinção de diversas espécies e um desequilíbrio em
todo o ecossistema terrestre. Um dos trabalhos científicos que trata desse tema com
profundidade é o conjunto de observações e experimentos que geraram a Hipótese de Gaia.
Essa Teoria foi desenvolvida, na década de 1970, por James Lovelock, um biólogo britânico
que entendeu o planeta Terra como um sistema vivo onde todos os seres possuem a sua parcela
de contribuição para o funcionamento deste e que, através desse conjunto de relações, o
equilíbrio era mantido (ou não) entre todos os seres vivos e todo o restante do planeta. Ela foi
considerada uma das mais belas teorias das ciências naturais do século XX e é criticada e
estudada até os dias atuais.

1.2 ECOLOGIA COMO CIÊNCIA

Alexander von Humboldt (1769 -1859), considerado, por muitos, como o pai da Ecologia,
foi o primeiro cientista que se dedicou ao estudo das relações que os organismos estabelecem
entre si e com o meio ambiente, firmando algumas bases que relacionaram os seres vivos e o
fluxo de energia na natureza. Ele considerava suicídio fazer mal uso dos recursos naturais.
Embora as contribuições de Von Humboldt tenham sido essenciais, enquanto ciência, a Ecologia
não possui uma data definida como início de seu marco. Foi através dos trabalhos do
economista inglês Thomas Malthus, no início do século XIX, que as questões ligadas ao
crescimento populacional e à capacidade da Terra de produzir alimentos vieram à tona no meio
científico. Outros pesquisadores, como Raymond Pearl (1920), A. J. Lotka (1925) também
desenvolveram trabalhos que ajudaram a explicar como as populações mantinham as suas
diversas interações, tanto com outros seres vivos, como com o meio ambiente. Já em meados do
século XX, americanos e europeus já estudavam a distribuição dos biomas, a partir de sucessões
(ecológicas). Em 1920, o biólogo alemão August Thienemann estudou o fluxo de energia, no
meio ambiente, a partir dos conceitos de níveis tróficos, em que a transferência de energia entre
os organismos vivos ocorre iniciando nos produtores (seres autótrofos) e finalizando nos
decompositores (bactérias e fungos responsáveis pela ciclagem dos nutrientes).

Figura 6: Exemplos de níveis tróficos.


Enquanto os estudos a respeito do meio ambiente avançavam, a Ecologia enquanto matéria
científica tomava corpo. Os trabalhos de dois pesquisadores americanos, Eugene e Howard
Odum, foram de grande importância para a Ecologia e para o entendimento do que acontece em
um determinado local por um longo período pôde ser estudado. Quando o termo Ecologia foi
apresentado por Haeckel, que definiu ecologia como "o estudo do ambiente natural, inclusive
das relações dos organismos entre si e com seus arredores" (Odum & Eugene, 2006),
praticamente não existiam ferramentas para se monitorar as mudanças ambientais no longo
prazo.

Figura 5: Eugene P. Odum

A ecologia é fundamental, na atualidade, pois estamos enfrentando uma crise ambiental,


com a degradação dos ecossistemas, a perda da biodiversidade, a mudança climática, a poluição
e a escassez de recursos naturais. A ecologia é a ciência que estuda as relações dos organismos
com o meio ambiente, considerando as interações sociais, biológicas e ambientais que
acontecem entre as espécies e os ecossistemas.

Estudar ecologia é imprescindível para que possamos organizar um modelo de


desenvolvimento sustentável, que concilie a produção econômica com a preservação ambiental
e que tenha como pilar a justiça social. A ecologia também nos ajuda a compreender como as
nossas ações afetam o meio ambiente e como podemos promover mudanças a fim de minimizar
problemas ambientais e garantir um futuro mais saudável e equilibrado para as próximas
gerações.

Para a compreensão das mudanças climáticas -tema que tem ganhado destaque nos últimos
anos- a ecologia pode ser considerada peça chave. As mudanças climáticas são resultado das
ações humanas, sobretudo, da intensificação das atividades produtivas e da queima de
combustíveis fósseis. Tais mudanças têm consequências preocupantes do ponto de vista
ambiental, como o aumento da temperatura global, a elevação do nível do mar, a intensificação
de eventos climáticos extremos e a redução dos recursos naturais disponíveis.

A ecologia fornece informações e subsídios para a tomada de decisões e a para formulação


de políticas públicas capazes de reduzir os impactos ambientais. Dessa forma, torna-se
necessário promover ações que valorizem a ecologia, como a inclusão da disciplina, na grade
curricular das escolas e universidades, o incentivo às pesquisas científicas e ao desenvolvimento
de projetos de preservação ambiental.

Por fim, é importante destacar que a ecologia é substancial para a construção de uma
sociedade mais justa, saudável e equilibrada, que seja capaz de satisfazer as necessidades
humanas sem comprometer as próximas gerações. É necessário, portanto, que a ecologia seja
entendida como uma ciência relevante e que ocupe espaço na discussão política e social, a fim
de construir um futuro mais sustentável e consciente.

OBS: Apesar de os termos ecólogo e ecologista possuírem significados iguais no


dicionário, eles, na prática, não são a mesma coisa. O ecólogo é especialista em ecologia, já
o ecologista (ambientalista) é o ativista.

1.3 BASES CONCEITUAIS DA ECOLOGIA

A ecologia é um ramo científico, relativamente novo, pois até meados do século XX, não
existiam bases conceituais sólidas. Na atualidade, a ecologia já firmou conceitos,
principalmente, em torno do seu objeto de estudo mais elementar: o ecossistema -que é
a unidade básica da Ecologia- e sua principal função que é realçar e enfatizar a obrigatoriedade,
interdependência e causalidade das relações contidas entre os produtores, consumidores,
decompositores e os fatores abióticos do ambiente (Odum & Eugene, 2006). A integração dos
seres vivos com os fatores não vivos nas mesmas perspectivas de estudo, somado ao somado ao
tempo cronológico de observação e análise, torna o estudo da ecologia complexo.

Nos ecossistemas, o fluxo de energia é constante, devido à ciclagem da matéria orgânica. A


manutenção desse processo depende de uma série de relações que ocorrem numa cadeia
alimentar pequena ou mesmo numa teia alimentar muito grande, que pode conter inúmeros seres
envolvidos em uma determinada comunidade natural.
Cada cadeia alimentar possui sua complexidade e mesmo as cadeias bem pequenas são
entrecruzadas por outras de maneiras diversas sempre sob a influência de muitos fatores. Os
ecossistemas apresentam níveis de maturidade de acordo com o tempo que passam sem grandes
perturbações que podem ser:

· Naturais: quaisquer fenômenos naturais;

· Antrópicos: fenômenos, diretamente, ligados à intervenção humana;

sempre saindo de um estado menos complexo para um mais complexo, também chamado
de comunidade clímax. Esse decurso se dá de forma natural, fazendo com que todo ecossistema
mantenha uma relação entre o passado e o futuro do local onde se encontra. Tal processo é
chamado de sucessão ecológica. A população é reconhecida como sendo a unidade funcional de
um ecossistema.

A ecologia é baseada em princípios fundamentais que são essenciais para a compreensão


desta abordagem científica. Para além dos ecossistemas, a ecologia pode explicar e prever
mudanças nos sistemas naturais. Outro princípio importante da ecologia é a abordagem
sistêmica. Esta abordagem vê os sistemas naturais como um todo complexo, onde a interação
ecológica ocorre em diferentes níveis hierárquicos, desde o nível molecular até a escala global.

A ecologia de sistemas nos permite entender as muitas relações que existem, nos sistemas
naturais, e compreender como as mudanças em um componente podem afetar todo o sistema.
A ecologia também se baseia na teoria da evolução, que reconhece a história da vida na Terra e
as adaptações que os organismos desenvolveram para sobreviver em seu ambiente. A ecologia
evolutiva enfoca as interações entre os seres vivos e o meio físico, ao longo do tempo, levando
em consideração o estudo das adaptações comportamentais, fisiológicas e morfológicas que
possibilitaram a biodiversidade da Terra.

Finalmente, a ecologia usa uma abordagem interdisciplinar que combina conhecimentos


de diferentes áreas, como biologia, geologia, física, química e matemática. A ecologia incentiva
a colaboração entre especialistas em diferentes áreas para ampliar a compreensão dos
ecossistemas, promovendo a solução de problemas ambientais complexos e o
desenvolvimento sustentável do nosso planeta.

Em resumo, a ecologia é uma disciplina baseada em conceitos-chave como o estudo dos


ecossistemas, uma abordagem de sistemas, teoria da evolução e uma abordagem
interdisciplinar. Esses fundamentos conceituais nos permitem explorar a complexidade dos
sistemas naturais, entender as interações entre os seres vivos e o ambiente físico e buscar a
sustentabilidade para a vida futura na Terra.

1.3.1 SUCESSÃO ECOLÓGICA

Podemos definir sucessão ecológica como um processo gradual e progressivo de mudanças,


em uma comunidade de um ecossistema, até que se estabeleça uma comunidade clímax. A
sucessão pode ocorrer em um local nunca antes habitado por nenhum ser vivo, após uma
perturbação ou surgimento de um novo ambiente. Quando a sucessão não é afetada por fatores
externos, segue um fluxo direcional e bastante previsível (Odum, 2007).
Toda sucessão ecológica acontece de forma sequencial:

tendo o ecossistema ocupado, também sequencialmente por:

Para que, de fato, uma sucessão ecológica ocorra, faz-se necessário que o processo como
um todo passe por três características básicas:

1 - Continuidade ao logo do tempo;

2 – Respostas -imediatas ou não- às modificações provocadas por outros seres vivos;

3 - Tendência à autorregulação, após os ajustes ou distúrbios.

a) Sucessão ecológica primária

Colonização dos primeiros seres vivos após uma grande perturbação ambiental. Ocorre em
ambientes que nunca tinham sido ocupados por outros organismos, isto é, em áreas sem vida
como, por exemplo, em superfícies arenosas expostas ao sol constante, afloramentos rochosos
ou porções de lava vulcânica solidificada.
Esse tipo de sucessão, geralmente, acontece em lugares de condições severas e de difícil
estabelecimento de organismos. Os organismos, que mesmo nessas condições, conseguem se
desenvolver, são chamadas de espécies pioneiras. Os líquens, por exemplo, são espécies
pioneiras formadas pela associação simbiótica de fungos e cianobactérias e que têm a
capacidade de se estabelecer em rochas. A partir de então, pode haver o desenvolvimento de
novos seres e, consequentemente, novas comunidades.

Figura 7: Crescimento vegetal sobre lava vulcânica

REFLETINDO SOBRE
Vale registrar! Krakatoa: a erupção, há 137 anos, que foi sentida no planeta
inteiro. Essa erupção praticamente extinguiu toda a vida na ilha de mesmo nome.
Isso proporcionou a possibilidade de se estudar a sucessão ecológica no local
atingido. Você sabe onde fica Krakatoa? Como está o vulcão hoje? Vamos
pesquisar!

b) Sucessão ecológica secundária

Acontece quando uma comunidade original, já colonizada, passa por uma perturbação que a
destruiu.

A sucessão secundária é muito comum, em áreas desmatadas, regiões atingidas por


enchentes, furacões ou onde foram abertas clareiras.

Considerando que os organismos não foram extintos por completo dessas áreas (ainda
restam sementes, raízes, colônias de fungos e outros micro-organismos, etc.), esse tipo de
sucessão inicia de maneira rápida. As espécies que são encontradas, na ocorrência dessa
sucessão, podem ser divididas em:

· Secundárias Iniciais: crescimento rápido e ciclo relativamente curto;

· Secundárias Tardias: crescimento médio e ciclo longo;

Figura 8: Área desmatada – propícia à ocorrência da sucessão ecológica


secundária
c) Comunidade pioneira

Formada pelos organismos que se instalam primeiro em um local, depois de uma


perturbação ou distúrbio. Normalmente, são espécies que se dispersam facilmente e possuem
um rápido crescimento e amadurecimento. Essas espécies, costumeiramente, não toleram viver
em sombras e seu ciclo de vida é bem curto. São exemplos: liquens, musgos vários tipos de
brotos.

Existe uma relação direta do desenvolvimento das comunidades pioneiras com o das
comunidades que as sucederão, que são as intermediárias. Normalmente, as comunidades
pioneiras ajudam no desenvolvimento das espécies que vão se instalar depois na localidade,
sendo responsáveis por aumentar a biomassa local, fertilizar o solo, dentre outros fatores que
facilitarão o desenvolvimento das próximas comunidades. Porém a presença de algumas
espécies inibem o crescimento de outras, fazendo com que colonização seja direcionada
dependendo de quem chegou na localidade de forma prévia ou mais rápida.

d) Comunidade intermediária

Essa comunidade depende de como e por quais organismos a colonização inicial foi
realizada. Como um aumento na diversidade biológica já pode ser observado, mas o auge ainda
não foi atingido, ela é chamada de comunidade de transição. Diz-se que o ambiente está em fase
de SERAL e é muito comum a presença de vegetação de pequeno porte, arbustiva e herbácea.
Nessa fase, o ambiente não suporta grandes perturbações, pois a comunidade ecológica ainda
não está completamente instalada.

e) Comunidade clímax

Nela, já podem ser percebidos uma maior diversidade biológica, bem como uma maior
biomassa. Pode-se dizer que o auge foi atingido ou está muito próximo. Espécies não antes
encontradas, no local, podem ser vistas, fazendo com que teias alimentares mais complexas
ocorram. Essa localidade suporta uma perturbação ambiental maior do que as que ainda
possuem comunidades intermediárias ou pioneiras. Essa comunidade pode ser definida
como: uma comunidade ecológica, na qual, as proporções entre as diferentes espécies se
conservam, através dos tempos, a reciclagem dos elementos funciona com regularidade e a
massa total do sistema permanece constante.

Figura 9: Percepção da ocupação vegetal em um lugar

1.3.2 NÍVEIS HIERÁRQUICOS EM ECOLOGIA

No estudo geral da biologia, a divisão em níveis facilita a compreensão e trata,


hierarquicamente, os conteúdos, desde o estudo a nível molecular e celular até o nível da
biosfera. Na ecologia, a unidade fundamental de estudo é o indivíduo, sempre levando em
consideração a população na qual ele está inserido. O indivíduo é o organismo individual e está
para a ecologia, assim como a célula está para a biologia.
Em ecologia, é considerada uma população um grupo de indivíduos da mesma espécie que
ocupam um determinado espaço geográfico, em um determinado momento do tempo, e que
cruzam entre si.

Entender e imaginar o que é uma população é relativamente simples, porém as populações


não são heterogêneas, pois os indivíduos de uma determinada população possuem
características e funções reprodutivas diferentes, ou seja, alguns indivíduos possuem maiores
chances de cruzamento do que outros (população genética). Além disso, não podem não ser
limitados a uma área geográfica apenas, sendo assim, é difícil definir a sua abrangência
espacial. Por isso, por vezes, os critérios que delimitam uma população dependem do
pesquisador em questão.

Considerando que nenhuma população biológica vive isolada naturalmente, o conjunto


delas forma uma comunidade. A definição de comunidade: os organismos que habitam uma
determinada área, em um determinado tempo. Todas as populações de uma região.

Já um ecossistema pode ser considerado como sendo o conjunto das interações entre os
seres vivos de uma região (todas as comunidades) e os componentes abióticos (os elementos
químicos e físicos) da mesma localidade. É um sistema natural que inclui o solo, o ar, a água e a
luz solar. Todos os componentes do ecossistema estão interconectados e dependem uns dos
outros para sobrevivência e para manter um equilíbrio natural.

Existem diferentes tipos de ecossistemas, como florestas, oceanos, desertos, lagos, rios e
pradarias. Cada um deles possui características específicas que abrigam diferentes espécies de
seres vivos e interações distintas entre eles.
Os ecossistemas são importantes, porque fornecem serviços ambientais essenciais, como
purificação do ar e da água, decomposição de resíduos, polinização de plantas, entre outros. A
preservação e a conservação desses sistemas são fundamentais para a manutenção da
biodiversidade, proteção da vida selvagem e garantia do equilíbrio ecológico.

Quando tratamos de biosfera, estamos considerando o termo cunhado e introduzido, nas


ciências naturais, pelo geólogo austríaco Eduard Suess (1831-1914), na segunda metade do
século XIX, em que tratava de todos os lugares do planeta onde há vida ou a possibilidade de
ela existir de forma natural, ou seja, a biosfera reúne todos os ecossistemas da Terra.

A biosfera é a parte da Terra onde os seres vivos existem. Ela abrange a superfície terrestre,
a água e a atmosfera, sendo formada por todos os ecossistemas do planeta. A biosfera é
composta, portanto, por todos os organismos vivos e suas interações com o meio ambiente
físico.

A biosfera é uma das quatro esferas da Terra, juntamente com a atmosfera (camada de ar
que envolve o planeta), hidrosfera (água na superfície e subsolo) e a geosfera (rochas e solos).
Juntas, essas esferas compõem o sistema Terra, que é um sistema interligado de processos
físicos, químicos e biológicos responsáveis pela manutenção da vida.

A biosfera é extremamente
importante, pois é nela que se
desenvolve toda a vida conhecida.
Ela é composta por diversos
ecossistemas que se inter-relacionam
e interagem de diversas formas,
formando complexas redes
ecológicas de seres vivos. Através
dessas interações, os organismos são
capazes de se adaptar ao ambiente
em que vivem e evoluir, ao longo do
tempo, garantindo a perpetuação da
vida na Terra.

Figura 10: Níveis de organização


biológica.
1.3.3 ESTRESSE, DISTÚRBIOS E
PERTURBAÇÃO AMBIENTAL

Os pesquisadores divergem
quanto ao conceito de estresse e
distúrbio ambiental, mas, no geral,
existe um consenso no sentido de que
o estresse está relacionado a fatores
limitantes de crescimento e reprodução dos indivíduos de uma população (escassez hídrica,
tempestades de vento ou água, alteração de fatores físico-químicos como temperatura,
salinidade, ph etc.), o que não envolve diretamente a mortalidade dos mesmos. Já um distúrbio
promove o rompimento da estrutura de um ecossistema, comunidade ou população,
modificando, de forma drástica, a disponibilidade de recursos no ambiente.
O termo perturbação, no entanto, trata dos efeitos de um distúrbio ou estresse, ou seja,
como o sistema ecológico responde quando submetido aos processos citados acima. Um estresse
ou distúrbio pode ser

· Natural: eventos naturais como raios, erupções vulcânicas, incêndios em tempos de


baixa precipitação, etc.

· Antrópicas: eventos oriundos da ação humana como poluição, pressão demográfica,


exploração excessiva de recursos naturais

1.3.4 INDICADORES ECOLÓGICOS

Os indicadores ecológicos são variáveis, com as quais, podemos analisar as condições


atuais de ecossistema, prever tendências e direcionar o modo como as ações acontecerão com o
passar do tempo. Essas variáveis precisam ser identificáveis, de fácil análise e coleta de dados e
perfeitamente diferenciáveis.

Os indicadores ecológicos também são chamados de indicadores ambientais e podem


estar ligados a um grande número de situações, a depender do que se queira analisar.
Exemplo: qualidade do solo; qualidade da água represada ou não; a proteção à biodiversidade;
às mudanças climáticas locais ou globais; e ao desmatamento etc.

Os indicadores mais utilizados, na atualidade, são os que possuem a capacidade de


diferenciar as variações naturais, como as ligadas à sazonalidade (chuvas excessivas, secas,
ciclos termais etc.) e os estresses e distúrbios provocados pelo ser humano (antrópicos). Esses
indicadores podem ser organismos vivos presentes, naturalmente, no ambiente e/ou introduzidos
ou ferramentas de aferição científica criadas e manipuladas por pessoal com técnica
especializada para isso. Alguns organismos são conhecidos, há bastante tempo, por sua
capacidade de revelar a saúde do ambiente em que vivem. O nível trófico do organismo
bioindicador é característica fundamental para definir a sua importância como indicador
biológico, pois quanto próximo aos produtores mais, ele pode servir de alimento para outros
organismos dentro de uma cadeia ou teia alimentar. Liquens como indicadores da qualidade do
ar, algas da qualidade da água e anelídeos e moluscos da qualidade do solo são exemplos muito
utilizados.

As ferramentas científicas como indicadoras podem aferir tanto os efeitos positivos quanto
os negativos de uma intervenção, no ambiente terrestre, aquático ou do ar. Essas aferições
geram conhecimento com capacidade de benefícios ambientais e sociais. Algumas dessas
ferramentas são: análise de enzimas do solo, biomassa microbiana, fauna do solo, banco de
plântulas, entre outros. A partir dessas análises, ações podem ser tomadas, dentre elas:
· Aproveitamento de resíduos orgânicos.
· Diversificação de sistemas de produção.
· Inoculantes e insumos biológicos.
· Sistema de produção de grãos.
· Culturas energéticas.
· Pastagens.
· Recuperação de áreas degradadas.

Os principais organismos conhecidos como bioindicadores são:


1. Borboletas e abelhas - são indicadores da qualidade do ar e da presença
de poluentes, pois possuem sensibilidade aos gases presentes na
atmosfera.
2. Árvores e plantas - a alteração no crescimento, desenvolvimento e morte
desses organismos é um indicativo da qualidade do solo e do ar.
3. Anfíbios - a alteração em seu comportamento, saúde e populações é um
indicativo de mudanças nos ecossistemas aquáticos e terrestres.
4. Peixes - a morte de peixes, assim como a sua diminuição, em
determinada área, é um indicativo de poluição em rios, lagos e oceanos.
5. Moluscos e crustáceos - são indicadores da qualidade da água, pois sua
saúde e desenvolvimento estão diretamente relacionados ao equilíbrio da
qualidade da água.
6. Aves - são um ótimo indicador da qualidade ambiental e da
biodiversidade, pois são um dos grupos mais dinâmicos e diversificados
da fauna.
7. Microrganismos - nos solos, a presença de microrganismos indica
qualidade de fertilidade e saúde do solo.
Esses são apenas alguns dos exemplos de organismos bioindicadores conhecidos, existem
muitos outros que são utilizados na avaliação da qualidade ambiental.

Figura 11: Líquen Lobaria pulmonária, sensível à poluição do ar


Imagine que todas as plantas do planeta
Terra desapareceram (junto com outros fotossintetizantes como as algas e bactérias).
Quais as consequências disso? Reflita!

1.3.5 FLUXO DE ENERGIA E RELAÇÕES TRÓFICAS

Todo ecossistema é em essência um sistema aberto, ou seja, existem entradas e saídas de


energia. Essa energia que flui entre os seres vivos que compõem a comunidade de cada
ecossistema é de suma importância para a manutenção deste, pois sem ela, a vida deixaria de
existir nele.

O Sol é a principal fonte de energia de um ecossistema e vale destacar que ele também é a
única fonte de entrada dessa energia. O fluxo de energia sempre ocorre de forma unidirecional
através dos níveis tróficos.

OBS: O nível trófico refere-se à posição que um ser vivo ocupa em uma cadeia ou teia
alimentar, podendo ser um Produtor, Consumidor ou Decompositor. Ver figura 13.

Para que haja equilíbrio em um ecossistema, o fluxo de energia deve ocorrer entre todos os
organismos de uma comunidade, desde os seres fotossintetizantes (realizam a transformação da
energia luminosa – inorgânica – em matéria orgânica), passando pelos consumidores (podem ser
de primeira, segunda, terceira ordem etc.) e chegando até aos decompositores (fungos e
bactérias) que realizam a ciclagem da matéria.
Figura 12: Fluxo de energia em um ecossistema
A energia solar pode ser transformada em energia química e, consequentemente, em energia
utilizável pelos seres vivos para a manutenção e funcionamento de seus corpos, contudo nem
todos os seres possuem essa capacidade. Os organismos fotossintetizantes são classificados
como autótrofos (produzem o seu próprio alimento) e, sem eles, não existiria cadeia alimentar
ou fluxo de energia em um ecossistema, pois os outros seres não conseguiriam aproveitar a luz
solar para a sua alimentação.

No processo de fotossíntese, o dióxido de carbono, presente no ar atmosférico, é quebrado e


o carbono presente, nessa molécula, é utilizado na composição da síntese da matéria orgânica
dos seres fotossintetizantes. É assim que as plantas se alimentam.
Figura 13: Esquema simplificado de fotossíntese
Além da síntese de matéria orgânica, a partir da inorgânica, a fotossíntese contribui para a
produção do oxigênio atmosférico. Além da luz solar, os organismos fotossintetizantes
necessitam de água e sais minerais que são retirados do solo, podendo ir até a copa das árvores e
passando pelo caule, galhos e folhas como seiva. Essa é a seiva bruta.

A luz do sol é captada pelas folhas das plantas, através do pigmento clorofila, que é
responsável também pela coloração verde delas. A clorofila capta a luz do sol que, por sua vez,
quebra o dióxido de carbono (CO2) e, com a água (H20) absorvida do solo, sintetiza a molécula
de glicose (C6H1206), liberando oxigênio (O2). A glicose é a base de outra seiva (seiva elaborada)
que fornece à planta energia para crescer, aumentar a sua biomassa e se manter através da
respiração celular, podendo também disponibilizar essa energia para os organismos que se
alimentarem dessa planta, iniciando o fluxo de energia em uma cadeia alimentar.

Por possuírem essa capacidade de produzir o seu próprio alimento, os organismos


fotossintetizantes são chamados de produtores em uma cadeia ou teia alimentar. É necessário
citar que não apenas as plantas possuem a capacidade de realizar fotossíntese, mas também as
cianobactérias e as algas.

MERECE DESTAQUE: O primeiro cientista que conseguiu observar fatos importantes


sobre a fotossíntese foi o químico inglês Joseph Priestley em 1771. Em um de seus
experimentos, foi possível perceber que uma vela dentro de um recipiente fechado se apagava
já que não havia combustão. Ele testou e viu que ramos de menta acondicionados por 10 dias,
neste recipiente, poderiam fazer a chama acender. Poucos anos depois do experimento de
Priestley, em 1779, o médico holandês Jan Ingenhousz demonstrou que, para restaurar o
oxigênio, no recipiente, a planta deveria ser exposta à luz. Foi Ingenhousz quem descobriu
também que, para que o procedimento desse certo, era indispensável que a planta no recipiente
estivesse com suas partes verdes, ou seja, as folhas.
Um ecossistema, por mais eficiente que seja, não consegue aproveitar todo o aporte de
energia que é disponível pela radiação solar. Cerca da metade da energia solar emitida, não
chega nem à superfície da Terra, pois ela é refletida por nuvens e poeira, na atmosfera, ou por
porções de água ou solo na superfície. Boa parte dessa luz também é transformada em calor.

Na fotossíntese é utilizada apenas uma pequena parcela da luz solar que chega à Terra
(cerca de 2% dependendo da localidade). Essa luz gera energia e esta não pode ser destruída
assim como afirma a primeira lei fundamental da termodinâmica: “A energia não pode ser
criada nem destruída e sim transformada”.

Outro fato relevante a respeito da energia num ecossistema é que ela não fica disponível na
mesma quantidade quando passa de um nível trófico para outro. A cada nível trófico, menos
energia é passada para o organismo seguinte.

Figura 14: Fluxo de energia


Na prática, quando um organismo se alimenta de outro, a energia disponibilizada pelo
organismo comido é bem menor do que a absorvida por ele, pois cerca de apenas 10%, em
média, dessa energia é disponibilizada nível trófico acima. Isso pode ser explicado, pois cada
organismo precisa gastar energia para a manutenção do funcionamento do seu próprio corpo,
sendo assim, a cada nível trófico acima a perda de energia disponível diminui até chegar aos
decompositores. Dizemos que o fluxo de energia em um ecossistema é unidirecional, pois os
seres não conseguem reaproveitar a energia gasta.

Em um estudo em Silver Springs, Flórida, do ano de 2020, em um ecossistema aquático,


constatou-se que a eficiência de transferência de um nível trófico para outro foi de 14,5%.
Figura 15: exemplo de pirâmide ecológica

REFLETINDO SOBRE
O PULMÃO DO MUNDO

Até pouco tempo, acreditava-se que a região amazônica era a grande responsável
pela manutenção dos níveis de oxigênio da terra, sendo popularmente chamada de
‘pulmão da terra’. Porém, recentes pesquisas descobriram a existência de um novo
“pulmão”: as algas marinhas. Apesar de se apresentar nas cores verdes, azuis, marrons,
amarelas e vermelhas, todas as algas possuem clorofila e fazem fotossíntese. Como são
muito numerosas ainda liberam mais oxigênio do que precisam consumir, se atribui à
sua fotossíntese a maior parte de oxigênio existente no planeta.

Consumidores - Por não conseguirem produzir o seu próprio alimento, isto é, sintetizar a
matéria orgânica a partir da inorgânica, os animais são classificados como heterótrofos.

Para se alimentar, os organismos heterótrofos precisam obter energia vinda de outros seres
vivos. Quando um ser se alimenta de um produtor, ele é chamado de consumidor primário.
Consumidores secundários são aqueles que se alimentam dos consumidores primários e assim
por diante. Os produtores estão no 1º nível trófico, os consumidores primários no 2° nível, os
secundários no 3° nível e assim sucessivamente.
Figura 16: exemplo de níveis tróficos
Uma observação importante é que uma mesma espécie pode ocupar diferentes níveis
tróficos, dependendo da cadeia ou teia alimentar considerada . Por exemplo: se considerarmos
um homem que comeu uma fruta. Nessa ocasião, ele estaria classificado como consumidor
primário, mas quando considerarmos o mesmo homem comendo carne de vaca, ele estaria agora
classificado como consumidor secundário. Quando um organismo se alimenta de produtor, na
verdade está ingerindo a energia química acumulada por ele e produzida na fotossíntese. Uma
parte dessa energia é perdida (liberada) em forma de calor e outra parte fica estocada em seu
corpo, podendo ser utilizada ou mesmo disponibilizada para um consumidor secundário. Um
consumidor secundário pode servir de alimento para um terciário e assim por diante.

Decompositores - são responsáveis pela ciclagem da matéria orgânica, ou mesmo a


decomposição. São organismos, extremamente, importantes para a manutenção do equilíbrio de
um ecossistema, pois devolvem os nutrientes (sais minerais e outros elementos) para o meio,
podendo ser aproveitados por outros organismos, o que permite a alternância de gerações.

Como estão no nível onde ocorre a transferência de energia de volta para o meio, os
decompositores atuam em quaisquer parte de uma cadeia alimentar, decompondo a matéria de
todos os organismos mortos. Normalmente, eles são representados ao fim de uma cadeia
alimentar, mas devem estar em paralelo aos demais.

Como supracitado, a quantidade de energia diminui, ao longo da cadeia alimentar, com isso
cada nível trófico terá acesso a uma menor quantidade de energia se comparado ao nível abaixo.
Isso pode ser exemplificado pela diferença entre a produtividade primaria bruta (PPB) e a
produtividade primária líquida (PPL) em um local em determinado tempo. A PPB refere-se ao
total da biomassa dos produtores, a partir da fotossíntese numa área em um dado tempo. Já a
PPL pode ser entendida como a energia disponível dos produtores para os consumidores
primários. Assim sendo, a PPL é a diferença entre a PPB e os gastos com a respiração dos
produtores.
OBS: a ação dos decompositores pode ser vista no vídeo do link a seguir. Vale a pena
conferir! https://www.youtube.com/watch?v=ykBFTiYLwnU

Cadeia e teia alimentar – relações tróficas entre produtores, consumidores e


decompositores em um ecossistema. A cadeia alimentar tem caráter linear e única, mas não
existe de fato na natureza, pois não existe em situação natural uma cadeia que não seja
influenciada por outra. A teia alimentar pode ser entendia como o conjunto de cadeias
alimentares que se entrecruzam e reflete muito mais o que acontece na natureza.

Uma cadeia alimentar é uma sequência de organismos em um ecossistema que se


alimentam uns dos outros. É assim que a energia flui de um organismo para outro na natureza.

Em geral, a cadeia alimentar começa com as plantas, que são produtores primários e são
capazes de produzir seu próprio alimento, por meio da fotossíntese. Herbívoros, que comem
plantas, são consumidores primários e carnívoros, que comem herbívoros, são consumidores
secundários. E assim por diante até chegar aos principais predadores no topo da cadeia
alimentar.

As cadeias alimentares, quando conectadas, formam teias alimentares, que retratam a


complexidade das relações entre os organismos e como esses organismos compartilham matéria
e energia em um determinado ambiente.

Uma teia alimentar é uma representação complexa das interações entre organismos em um
ecossistema. Eles mostram como os organismos dependem uns dos outros e como se alimentam
uns dos outros, formando redes de transferência de energia.

Ao contrário das cadeias alimentares lineares, as teias alimentares são mais dinâmicas e
podem ilustrar melhor as conexões entre os diferentes níveis tróficos. A teia alimentar não é
uma cadeia única, mas possui várias cadeias alimentares inter-relacionadas, formando múltiplas
camadas de relacionamentos complexos.

Em uma teia alimentar, cada organismo é considerado um elo que pode ser consumido por
outros organismos em diferentes níveis tróficos. Por exemplo, plantas podem ser comidas por
herbívoros (consumidores primários), que por sua vez podem ser comidos por predadores
(consumidores secundários). Além disso, cada organismo pode ter diferentes presas e
predadores, levando à complexidade da teia alimentar.

As teias alimentares são importantes porque regulam as populações de organismos em um


ecossistema. Quando um componente de uma teia alimentar é reduzido, ele afeta muitas outras
espécies. Por exemplo, se os predadores desaparecerem, os herbívoros irão proliferar
descontroladamente, levando à degradação ambiental e ao desequilíbrio da cadeia alimentar.

Portanto, as teias alimentares são fundamentais para manter a biodiversidade e entender


como os organismos interagem em um determinado ambiente. Compreender e respeitar as
cadeias alimentares pode ajudar a controlar a degradação ambiental e manter a resiliência do
ecossistema.
Exemplo de teia alimentar terrestre
Figura 18: exemplo de teia alimentar aquática
1.3.6 BIOMAS BRASILEIROS

Podem ser encontrados, no Brasil, seis biomas diferentes: Amazônia, Caatinga,


Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Cada um desses biomas possui
características peculiares. A vegetação é o componente mais importante de um bioma,
pois ela (juntamente com a sua extensão e preservação) define a existência ou não de
habitats para outras espécies, onde existam recursos para a manutenção de uma
comunidade biológica.

OBS: não confunda bioma com ecossistema. Apesar desses termos serem utilizados
como sinônimos, significam coisas bem diferentes. Um bioma é um agrupamento de
vegetações que por ser de grande dimensão pode ser identificado a nível regional.
Ecossistema, no entanto, se refere ao conjunto de interações dos organismos vivos com o
meio ambiente.

Amazônia – ocupando quase metade do território nacional, a Amazônia é um bioma de


suma importância para a manutenção do equilíbrio ecológico tanto do Brasil como do mundo.
Possui a maior floresta tropical do mundo e contém cerca de 20% da água disponível para
consumo mundial, bem como de reservas minerais. Devido a ações antrópicas, o seu equilíbrio
tem sido posto em risco, principalmente, nas últimas décadas, quando se chegou a 16% de
devastação total de seu território.

Figura 19: desmatamento na floresta amazônica


A enorme biodiversidade faz da Amazônia um bioma único. A sua floresta, batizada com o
mesmo nome, é perene, permanecendo verde o ano todo. Devido à reunião de muitos
ecossistemas reúne milhares de espécies animais e vegetais, o que deriva disso um alto potencial
medicinal e científico. O Rio Amazonas nasce no Peru e se estende até o norte do Brasil,
desaguando junto ao Rio Tocantins. É o segundo maior Rio do mundo, sendo menor apenas do
que o Nilo. Ele possui a maior diversidade aquática do mundo, onde podem ser encontrados
desde o peixe-boi, o boto-cor-de-rosa, até a sucuri (cobra gigante que pode medir até nove
metro e pesar mais de cento e trinta quilos). Ele divide-se em três partes: tanto no Peru como
nos outros países andinos, o Rio Amazonas é chamado de Rio Marañón, mas quando passa a
entrar no Brasil, ele é chamado de Solimões e somente quando começa a receber as águas do
Rio Negro que passa a ser chamado de Rio Amazonas.

Muitas tribos indígenas vivem na Amazônia e são considerados como guardiões da floresta
e dos rios. Podem ser citadas as tribos: Guarani, Xerente e Amawáka.

QUERO SABER MAIS


A Amazônia é recheada de lendas e muitas delas ajudam a explicam como é olhar
indígena a respeito da floresta e como ela é importante. Acesse o link abaixo e leia sobre as
principais lendas amazônicas.

Figura 20: visão aérea do Rio Amazonas.


Caatinga

O bioma Caatinga possui predominância de ocorrência no Nordeste brasileiro,


ocupando cerca de 70% dessa região, em seus nove estados e uma pequena faixa do
norte de Minas Gerais. 11% do território nacional são ocupados por esse bioma. Seu
nome tem origem indígena tupi-guarani e significa “floresta branca” devido à imagem
formada pela queda das folhas da vegetação no período de seca.
Figura 21: caatinga – floresta branca
Sendo um bioma único no mundo, a Caatinga possui peculiaridades e especificidades,
principalmente, a forma como as espécies vegetais e animais estão adaptadas a ele. Devido ao
clima semiárido e aos baixos índices pluviométricos os períodos de seca são comuns e, por
vezes, extremos com altas temperaturas médias. Todas essas características desenvolveram
adaptações de sobrevivência na fauna e flora, que são bastante diversificadas tanto em número
de espécies quanto ao em comportamento/fisiologia.

A vegetação da Caatinga está distribuída por três estratos principais:

· arbóreo: com espécies que variam entre 8 e 12 metros de altura;


· arbustivo: com espécies que variam entre 2 e 5 metros de altura;
· herbáceo: com espécies com altura abaixo de 2 metros.

Muitas espécies são endêmicas, cerca de 33%, e dentre algumas caraterísticas adaptativas
ao clima, podemos citar: queda das folhas de forma sazonal, presença de folhas modificadas em
espinhos, caules suculentos para o armazenamento de água, cutículas muito impermeáveis e um
sistema de raízes bem desenvolvido, o que permite captar e armazenar água por longos
períodos. É importante mencionar que algumas espécies de plantas, presentes na Caatinga,
conseguem realizar sua fotossíntese, através de outras partes de corpo que não as folhas. Isso
pode ocorrer pela presença de clorofila em células do caule, garantindo, assim, a sobrevivência
alimentar da planta nos períodos de queda das folhas.
Dentre os exemplares mais conhecidos de sua flora estão: Aroeira,
Umbuzeiro, Juazeiro, Macambira, Coroa-de-frade, xique-xique, maniçoba e
Carnaúba.

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