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Ecologia Aplicada

Material Teórico
A Vida e o Ambiente

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero
Revisão Técnica:
Prof. Me. Camila Moreno de Lima Silva
a

Revisão Textual:
Prof. Me. Cláudio Brites
A Vida e o Ambiente

• Ecologia: conceitos e definições;


• Ecossistema e elementos do ambiente físico;
• Diversidade biológica;
• Biodiversidade do Brasil.

·· Apresentar a Ecologia enquanto uma ciência interdisciplinar;


·· Relacionar o conhecimento de Ecologia com as características do ambiente físico
e da biodiversidade;
·· Apresentar as características da biodiversidade, assim como a sua importância e
os seus respectivos valores;
·· Apresentar as características do ambiente físico assim como os seus principais
componentes.

Nesta Unidade, serão apresentadas as características gerais dos componentes da Terra, as


relações desses componentes com os seres vivos, a biodiversidade e a sua importância para
os ecossistemas.
Recomendamos que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo aqui apresentado,
consulte ainda, os materiais complementares e o vídeo sugerido. Recomenda-se também, que
você utilize a internet e busque outras fontes que possam contribuir com o seu aprendizado.
Conhecimento é a única riqueza que não pode ser roubada!
Estude Sempre. Leia mais!

“O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.


Immanuel Kant

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Unidade: A Vida e o Ambiente

Contextualização

A vida está presente em todo o nosso planeta. Muitas são as questões que buscam compre-
ender a sua origem aqui na Terra. Todos nós, em algum momento de nossas vidas, no depa-
ramos com pensamentos questionadores sobre a nossa história e nossa origem, bem como a
origem da natureza. Diversos são os questionamentos e encontrar e aprofundar as respostas
tem sido cada vez mais um desafio para as ciências, como a Ecologia.
Quais as condições necessárias para a existência de vida? Como os seres vivos interagem
com o ambiente? Quais as características vitais deste meio para a nossa existência?
Para responder essas perguntas, devemos conhecer melhor sobre os seres vivos que habitam
o globo terrestre e compreender a relação que possuem com o ambiente em que vivem. Para
isso, utilizaremos os conhecimentos da Ecologia e iremos descobrir que naturalmente trazemos
ao longo da história natural do homem uma grande bagagem de conhecimento ecológico.
Portanto, nesta Unidade, você conhecerá as principais características do ambiente onde
ocorre a vida, como os seres vivos interagem com o ambiente a qual pertencem e qual o papel
da biodiversidade na manutenção das relações ecológicas que estruturam todos os ecossistemas
do nosso planeta.

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Ecologia: conceitos e definições

Todos nós, em diversos instantes de nossas vidas, paramos para olhar o mundo a nossa volta.
Apreciamos um belo nascer ou pôr do Sol. Inspiramo-nos com as paisagens, com os morros
e as florestas pulsantes de tanta vida. Buscamos estar em meio a natureza visitando lagos,
rios e cachoeiras para descansar e respirar o ar puro. Encantamo-nos com a grandiosidade
do universo olhando as estrelas e nos percebemos pequenos seres perante tamanha beleza
do mundo o qual habitamos. Momentos como esse estão relacionados com a nossa história
natural de vida, onde originalmente interagíamos harmoniosamente com o meio.
Essa interação que existe entre nós e o ambiente em que vivemos ocorre também com cada
ser vivo durante toda a sua vida. Quando respiramos, bebemos e comemos para nos manter
hidratados e nutridos, estamos consumindo recursos que estão sendo ofertados pelo ambiente
em que vivemos e pelas demais espécies que consumimos.
No início da nossa história, vivíamos em grupos nômades nos alimentando basicamente da
caça rudimentar e da coleta de frutos e vegetais disponíveis a nossa volta. Com o passar do
tempo houve, a partir da observação do mundo e de experiências práticas do dia a dia, um
acúmulo de conhecimento sobre a natureza. Uma das maiores descobertas que significou um
momento de grande mudança para a humanidade foi a capacidade de produzir e manipular
o fogo. A manipulação do fogo nos possibilitou aumentar a capacidade de modificar o nosso
ambiente, conferindo melhores condições de sobrevivência e de domínio de território.
O constante convívio com as forças da natureza, com o passar do tempo, possibilitou aos
pequenos grupos de homens que viviam como nômades em busca de comida a se fixarem
em determinados lugares por períodos prolongados. Esse fato foi possível quando obtivemos
o conhecimento necessário para domesticar animais e cultivar plantas. A partir de então, a
pecuária e a agricultura de subsistência passaram a ser praticadas, essas comunidades nômades
começaram a se configurar como as primeiras sociedades primitivas. Além da agricultura e da
pecuária, os homens foram descobrindo substâncias extraídas de plantas que trouxeram a cura
para diversas doenças e enfermidades.
Após uma longa trajetória histórica onde os humanos puderam experimentar e aprender
na prática sobre os sistemas ecológicos que governam a natureza, surge na Grécia Antiga
obras importantes, como as de Hipócrates e Aristóteles, com textos que continham certo
aprofundamento do conhecimento na área da Ecologia. Mesmo que não houvesse ainda
naquela época a existência desse termo, o conceito ecológico já estava presente na mente
das pessoas.

A palavra ecologia (Ökologie) foi mencionada, pela primeira


Importante!
vez, pelo zoólogo alemão Ernest Haeckel no ano de 1869.
O prefixo “eco” seguido pelo sufixo “logia” originam-se
respectivamente das palavras gregas “oikos”, que significa
ambiente ou casa, e “logos”, ciência (BEGON et al., 2007)
– compreende-se, portanto, a ecologia como a área do
conhecimento que objetiva a estudar o ambiente.

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Unidade: A Vida e o Ambiente

Sabemos que em nosso planeta há diversos tipos de ambientes e de elementos que os


compõem – florestas, lagos, desertos, oceanos, solos, rios, rochas, cavernas, entre tantos
outros –, que possuem peculiaridades em sua composição biológica, química e física. Cada
um deles possui seu sistema ecológico próprio, estabelecido a partir da interação da variedade
de elementos que o compõem, por exemplo: o clima, o relevo, o tipo de solo de uma
região, e interagindo com as espécies de flora e fauna que ali convivem. Pode-se ainda citar
outros pequenos sistemas ecológicos, como o intestino e a boca de insetos e animais onde
respectivamente vivem vermes e se proliferam bactérias.
Dessa forma, podemos visualizar a enorme variedade de fatores que compõem os
ambientes, e a Ecologia se torna obrigatoriamente uma ciência interdisciplinar, a qual envolve
conhecimentos de Biologia, Geografia, Meteorologia, Genética, Química, Física, entre outras
disciplinas de interesse direto ou indireto no meio ambiente e nos seres vivos.
Tendo por base o ponto de vista ecológico, o nosso planeta é estruturado por sistemas
estabelecidos ao longo do tempo e do espaço entre os seres vivos e o meio ambiente em que
convivem. O conjunto dessas interações ecológicas compõem os ecossistemas. Como esse
conjunto de interações ocorre tanto entre os organismos vivos como entre os organismos e o
ambiente, os ecossistemas são estruturados por dois tipos de componentes (Figura 1).
• Componentes abióticos (não vivos): condições físicas e químicas do ambiente. Ex.:
quantidade de luz, temperatura, água, nutrientes, potencial de hidrogênio, pressão
atmosférica, etc.;
• Componentes bióticos (seres vivos). Ex.: animais, plantas, vírus, bactérias, fungos;

Figura 1 - Exemplo de componentes bióticos e abióticos integrantes de um ecossistema


Fonte: Ricklefs (2012)

Nos ecossistemas, ou seja, em todo o mundo a nossa volta, os componentes abióticos e


bióticos interagem de forma interdependente ao longo do tempo e do espaço geográfico.
Para melhor compreender cada componente do ecossistema e como ocorrem as interações
ecológicas, é necessário aprendermos alguns conceitos.
Primeiramente, devemos ter em mente que a Ecologia subdivide o seu objeto de estudo,
que é a natureza, em cinco partes hierárquicas da organização biológica. O primeiro e menor
sistema ecológico é o organismo que, sendo considerado como o sistema ecológico elementar,
ao longo de sua vida adquire nutrientes provenientes do meio em que vive, transformando-os
em energia e processando em matéria para continuar desenvolvendo suas atividades vitais.
Ao fazer isso, o organismo acaba modificando as condições do ambiente e a disponibilidade
de recursos para outros organismos (RICKLEFS, 2012). Dessa forma, ocorre por meio do
processo de vida natural um fluxo de matéria e energia decorrentes dessa interação.

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Certamente você já ouviu falar em espécie. Para os ecólogos, entende-se como espécie o
conjunto desses organismos semelhantes (em sua forma, função ecossistêmica e bioquímica)
que se reproduzem naturalmente, originando descendentes férteis. Como exemplo de espécie
temos os Homo sapiens, a espécie humana, que pode ser encontrada em todos os continentes
do planeta, ou os Pyrhurra pfrimeri, uma espécie de periquito ameaçado de extinção que vive
nas matas secas do Brasil Central (Figura 2).

Figura 2 - Indivíduos de Pyrrhura pfrimeri em um pé de


Amoreira-branca das matas secas do sudeste do Tocantins
Foto tirada por: Filipe Pesquero. Fazenda Asa-branca, Aurora do Tocantins – TO

O segundo nível hierárquico de organização biológica que a Ecologia estuda é a população.


Qualquer conjunto de indivíduos de uma mesma espécie compartilhando recursos do mesmo
ambiente ao longo do tempo pode ser considerado como população. No Brasil, temos milhares
de populações, e podemos usar de exemplo a belíssima população de Boto-cor-de-rosa que
habita as águas do rio Araguaia, no estado do Tocantins, ou uma população de ratos que
habita as tubulações subterrâneas da cidade do Rio de Janeiro, ou ainda uma população de
bactérias encontradas na boca de uma cobra Jiboia.

O terceiro nível é o conjunto de populações das diferentes espécies que compartilham


recursos de um mesmo ambiente. Por esse conjunto compreende-se a comunidade. Para
exemplificar uma comunidade, podemos citar as populações de animais e vegetais que habitam
algum ambiente, com as florestas ou as águas de um rio, de um lago, até mesmo de uma poça
d’água em brejo, ou ainda os insetos e plantas de um jardim residencial são exemplos de
comunidades biológicas.

Dentro das comunidades, as diferentes populações (componentes bióticos) interagem entre


si e com o ambiente físico-químico (componentes abióticos) formando uma grande e complexa
teia de interações ecológicas. Essa complexa teia de interações ecológicas estabelecidas ao
longo do tempo entre todos os componentes das comunidades é conhecida como ecossistema.
Os sistemas ecológicos, ou ecossistemas, podem ser tão pequenos quanto um organismo ou
tão grandes quanto o nosso planeta. O único fator que delimita a dimensão de um ecossistema
é a escala de observação.

Se formos considerar todas as interações existentes no globo terrestre com todos os


ambientes do nosso planeta, estaremos lidando com a biosfera. Na biosfera, estão incluídas
todas as porções terrestres e aquáticas do globo, como todos os continentes e todos os rios,
lagos, mares e oceanos, além da atmosfera (Figura 3).

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Unidade: A Vida e o Ambiente

Figura 3 - Natureza hierárquica dos sistemas ecológicos, do organismo à biosfera


Fonte: Ricklefs (2012)

Em nosso planeta há uma grande variedade de espécies, e muitas delas sequer foram
observadas pelo homem. Isso ocorre, em grande parte, porque cada uma delas possui o seu
próprio habitat e nicho dentro do ecossistema, ou seja, o lugar específico do globo terrestre
onde essa espécie desempenha as suas funções ecológicas, como se fossem respectivamente
o seu “endereço” e “profissão” na natureza.
Devemos sempre levar em consideração que no habitat de uma espécie está representado,
além da área geográfica em que vive, todos os demais fatores ambientais necessários para suprir
as exigências ecológicas que possui. Como exemplo podemos citar os pinguins: em geral, seu
habitat é localizado em ambientes litorâneos onde o clima é frio, ideal para desempenharem
suas atividades metabólicas – além de áreas litorâneas com baixas temperaturas –, para que
sobrevivam, contudo, eles necessitam de outras condições do ambiente. É indispensável que
haja disponibilidade de pequenos peixes para compor a sua base alimentar e também locais
protegidos que servirão tanto de refúgio contra predadores como para reprodução.
Desse modo, podemos afirmar que o nicho fundamental para a sobrevivência dos pinguins
é dado pelo conjunto dessas condições ambientais somado às demais espécies que de alguma
forma interagem com eles.

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Ecossistema e elementos do ambiente físico

Em toda a biosfera ocorre deslocamento de energia e de matéria por meio dos processos
ecossistêmicos desempenhados pelos seres vivos e pelos elementos físico-químicos do ambiente.
Desse modo, diferentes tipos de organismos representam diferentes papéis no funcionamento
dos ecossistemas.
Como exemplo, a transformação da energia da luz do Sol em energia química armazenada
é produto da fotossíntese realizada pelas plantas, algas e algumas bactérias. Essa energia
armazenada em forma biológica é consumida pelos animais e protozoários. É quem
desempenha a importante função de decompor todo esse material biológico e reciclá-lo em
forma de nutrientes no ecossistema são os fungos. Outros processos bioquimicamente mais
específicos, como a assimilação de nitrogênio e o uso de sulfeto de hidrogênio como fonte de
energia, são realizados por algumas espécies de bactérias.
Para que a integridade dos ecossistemas seja mantida, a energia tem de estar fluindo
constantemente entre todos os organismos vivos. Com isso, todos os organismos devem arcar
com esse gasto repondo a energia e a matéria perdida naturalmente através dos processos
ecológicos.
Bom, mas para isso tudo acontecer, é importante que você tenha em mente que há alguns
elementos facilitadores no ambiente que são indispensáveis para a manutenção da vida na
Terra. O principal elemento para tal, bastante abundante sobre a maior parte da superfície do
planeta, é a água.

A água
A água é considerada um meio ideal para os sistemas vivos, sendo que no estado líquido
possui enorme capacidade de atuar como solvente universal.
Suas propriedades permitem rápida condução de calor e resistência a mudanças de
temperatura e de estado físico. Em comparação com o ar, a água é mais densa e proporciona
maior capacidade de flutuação, porém sua viscosidade é maior e, portanto, oferece mais
resistência contra deslocamentos de corpos.
Em todas as águas naturais encontradas no globo terrestre há substâncias dissolvidas que
foram coletadas tanto da atmosfera como dos solos e das rochas através dos quais ela flui. Na
água também ocorre diferentes concentrações de íons de hidrogênio (H+). A variação dessas
concentrações é o fator determinante para indicar a acidez da água, sendo que essa acidez é
expressada em termos de pH (potencial de Hidrogênio). Em geral, águas de rios, cachoeiras e
lagos naturais possuem valores de pH entre 6 (ligeiramente ácida) e 9 (ligeiramente alcalina).
Dentro das funções ecossistêmicas, os seres vivos constantemente interagem com a água.
As plantas, por exemplo, extraem por osmose a água dos solos através das células de suas
raízes. Como a água é um solvente, as plantas mantêm altas concentrações de soluto em suas
células radiculares gerando potenciais osmóticos bem altos. Já os animais tendem a reduzir o
uso de água, para isso eles eliminam o excesso de sais através da urina e de glândulas de sal.

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Unidade: A Vida e o Ambiente

A radiação solar e os ventos são responsáveis pela evaporação e circulação de vapor de água
na atmosfera e assim pelos padrões globais e sazonais de precipitação. Em escala marinha, as
condições de precipitação são estabelecidas numa escala global através de correntes oceânicas
conduzidas pela ação dos ventos. Essas correntes de ar se deslocam e distribuem o calor
sobre a superfície da Terra, isso acaba exercendo grande força moduladora sobre climas em
nosso planeta. As correntes de ressurgência, causadas pela soma das forças dos ventos, pela
topografia da bacia oceânica e pelas diferenças de densidade da água, estão diretamente
relacionadas com a temperatura e a salinidade das águas marinhas e são elas as responsáveis
em trazer águas frias e ricas em nutrientes para a superfície do mar em determinadas áreas.
A sazonalidade, ou seja, os períodos de chuva nos ambientes terrestres, é causada pela
inclinação do eixo de rotação da Terra em relação ao Sol. Nos trópicos, ocorrem movimentos
de massas de chuva para norte e sul do globo terrestre que, seguindo o movimento solar, acaba
por resultar em estações definidamente chuvosas e secas. Já nas regiões de altas latitudes, as
estações são principalmente expressadas com ciclos anuais de temperatura.
Outros fatores relacionados ao clima e à precipitação levam em consideração as condições
topográficas e geológicas, onde a sobreposição dessas condições provoca variação local nas
condições ambientais. Por exemplo, em uma região montanhosa, onde há grandes elevações
terrestres, as massas de chuva são interceptadas, provocando condensação da água seguida
de precipitação.
Há ainda outras variações climáticas que estão relacionadas com as diferentes quantidades
de luz solar que incidem nas encostas. Além disso, a temperatura também sofre influência
da elevação em relação ao nível do mar, diminuindo cerca de 6 °C para cada 1000 metros
de elevação.

O solo
Você já se perguntou qual importância tem o solo para os sistemas ecológicos da Terra?
Pois bem, os solos são o grande cofre de reserva de nutrientes do nosso planeta, embora suas
características ao longo do espaço geográfico sejam variadas.
A princípio você deve saber que as características do solo são influenciadas pela soma
do material do qual se originou, com o clima e a vegetação que ocorre em sua área. A
intemperização da rocha matriz através de processos naturais como chuvas e ventos resulta
na decomposição de alguns de seus minerais. Esses minerais decompostos da rocha matriz
são incorporados em partículas de argila, que serão misturadas aos detritos orgânicos. Em
seguida, tais detritos penetram no solo a partir do contato direto com a sua superfície. Esses
processos ocorrem em uma escala de tempo muito maior do que a de nossas vidas. Ao longo
de milhares de anos, tais processos de decomposição de rochas e penetração de nutrientes
no solo resultam em horizontes de solo distintos, formando camadas de solo com diferentes
composições e colorações (Figura 4).

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Figura 4 - Perfil de solo identificando a posição dos horizontes.
Fonte: Ferreira (2012)

Você já se perguntou o que faz os solos serem mais ou menos férteis? Essa é uma pergunta
fundamental para compreendermos a relação da fertilidade do solo com a existência de vida
vegetal e as suas respectivas interações ecológicas.
O solo é composto por minúsculas partículas que possuem cargas magnéticas. Essas cargas
são negativas nas regiões de superfície do solo. A carga negativa possui a capacidade de
reter cátions que possivelmente entram em contato com as superfícies através da presença de
seres vegetais. É justamente essa capacidade de troca catiônica de um solo que determina a
sua fertilidade.

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Unidade: A Vida e o Ambiente

Diversidade biológica

A Diversidade Biológica, ou Biodiversidade, é compreendida como toda a variedade de


vida existente no planeta Terra. Devemos ter em mente toda a variedade de espécies vegetais,
animais, de microrganismos, como também as funções ecológicas que cada organismo
desempenha naturalmente estruturando os ecossistemas. Dessa forma, entende-se como
Biodiversidade tanto o número (riqueza) de espécies presentes em uma área, quanto a
abundância dos seus indivíduos nessa mesma região. Sabe-se que nos ecossistemas há grande
variedade de espécies.
Portanto, os ecólogos classificam a diversidade biológica em três tipos, de acordo com
o ponto de vista ecossistêmico: quando observamos um único ecossistema em nível local,
temos a diversidade alfa; ao compararmos a diversidade entre dois ecossistemas, as espécies
diferentes entre um e outro são consideradas como a diversidade beta; e, por último, quando
se observa a variação da diversidade entre grandes paisagens, estamos focando a variabilidade
biológica em termos de diversidade gama.
Portanto, a Biodiversidade inclui a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e dos recursos
genéticos. Por isso, ela é uma das propriedades fundamentais para a existência da natureza,
sendo responsável tanto pelo equilíbrio quanto pela estabilidade dos ecossistemas. Além disso,
a biodiversidade subsidia imenso potencial de uso econômico através da exploração humana.
Não é difícil notarmos que as atividades agrícolas, pecuárias, pesqueiras e florestais são
todas embasadas na exploração da biodiversidade terrestre. Ainda, é na biodiversidade que
se baseiam as estratégias industriais da biotecnologia. Mas não é apenas isso, a diversidade
biológica possui, além de seu valor intrínseco, diversos outros valores relacionados à presença
da humanidade no planeta Terra. São inúmeros exemplos, mas podemos citar os principais
valores, sendo eles de importância ecológica, medicinal, genética, científica, social, educacional,
cultural, religiosa, artística, recreativa, estética e principalmente econômica.
Não deve ser segredo para você que preservar a biodiversidade é a condição básica para
se manter um meio ambiente sadio no planeta. Todos os seres vivos que aqui estão são
interdependentes, conectam-se ecologicamente participando de cadeias alimentares ou
reprodutivas. Quanto maior for a diversidade de espécies numa região, mais cadeias alimentares
e reprodutivas serão estabelecidas nos ecossistemas e mais complexos serão esses sistemas
ecológicos. São justamente esses ecossistemas que contêm grande biodiversidade, e os mais
duráveis e capazes de se adaptarem às possíveis mudanças ambientais.
Em todo o planeta Terra, a humanidade já catalogou quase 1,2 milhão de espécies.
Parece muito? Mas não é! Cientistas biólogos calculam que o número total de
organismos vivos na Terra pode chegar até 8,7 milhões (MORA et al., 2011)!

Mas nem tudo são flores para os seres vivos do globo terrestre. Lamentavelmente, a cada
ano, milhares de espécies são exterminadas para sempre. É uma proporção de extinção tão
elevada que pode atingir 30% das espécies totais do planeta em apenas três décadas. Isso
ocorrerá em breve caso não seja tomada providência drástica alguma visando frear o ritmo
absurdamente alto de queimadas e desmatamentos das florestas tropicais (as mais ricas em
biodiversidade), assim como da poluição das águas e do ar.

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Estamos à beira de uma catástrofe, pois essas espécies resultam de milhões de anos de
evolução no planeta. Perdendo-as, a biosfera ficará drasticamente empobrecida em termos de
diversidade biológica – o que é extremamente perigoso para o sistema de vida como um todo,
pois acabará afetando as relações ecológicas que estruturam a organização da vida na Terra.
Portanto, você não pode esquecer a importância que cada espécie exerce para o planeta.
A nossa própria alimentação, por exemplo, no que diz respeito a espécies selvagens de frutos,
grãos e hortaliças, poderá ser comprometida com a extinção.
Você pode estar pensando que com o uso da tecnologia e da engenharia genética poderemos
reverter essa situação. É aí que você se engana, pois o processo de criar novas variedades
de espécies utilizando cruzamentos ou manipulação genética produz plantas híbridas que são
mais frágeis que as nativas e, dessa forma, são mais suscetíveis a doenças ou ao ataque de
predadores. Por isso, precisamos ter a maior diversidade possível, principalmente das plantas
selvagens ou nativas, pois são elas que fornecerão esse material genético resistente e com
características mais saudáveis para a população.
Além disso, os organismos constituem a fonte original dos princípios ativos contidos em
remédios, mesmo que esses posteriormente sejam produzidos artificialmente em laboratórios.
Um exemplo clássico é o dos antibióticos: esses foram descobertos a partir de fungos que vivem
em matéria orgânica em decomposição. Outro exemplo é a aspirina, que veio originalmente
do chá de uma casca de árvore da Inglaterra.
É por isso que atualmente há grande interesse na biodiversidade. Diversas pesquisas
continuam sendo realizadas dentro das florestas tropicais que ainda existem, ou dos oceanos,
dos quais são realizados mapeamentos genéticos de organismos presentes nesses ambientes.
É nesse ponto que a comunidade científica que estuda o meio ambiente adquire a esperança
de que haja um novo tipo de desenvolvimento.
Ao invés de urbanizar, devastar as áreas florestais e poluir o meio ambiente, como ocorre em
nosso modelo atual de desenvolvimento econômico, devemos preservar os recursos naturais
que ainda não foram extintos. Com isso, poderemos utilizar a biotecnologia para produzir
novas fontes limpas e renováveis de energia, como também poderemos produzir alimentos
em massa a partir de algas marinhas e remédios eficazes contra doenças que matam milhões
de pessoas em todo o mundo a cada ano.
A biodiversidade, desse modo, é também uma fonte potencial de imensas riquezas. Porém,
um grande problema que se coloca é o da conciliação entre os países com a biodiversidade
totalmente devastada, mas que acumulam capital e tecnologia, com os países não totalmente
devastados, mas desprovidos de estrutura tecnológica – como o Brasil, que apesar de todo o
descaso da política ambiental do país, ainda detém grandes reservas de biodiversidade.
A melhor forma de resolvermos essa situação, apesar de estarmos longe disso, seriam as
parcerias entre esses dois tipos de países, onde compartilhando por igual as descobertas e os
benefícios, todos obteriam ganho considerável.

Os países desenvolvidos têm um trunfo na mão: a tecnologia. Por outro lado, alguns
países subdesenvolvidos têm grandes reservas de biodiversidade, que representam
Reflita matéria-prima para o processo de valorização no mundo todo. Imagine que as
autoridades políticas do nosso país não tivessem competência para tomar as corretas
decisões e consultasse você para administrar nossos recursos naturais reflita sobre
quais seriam as principais medidas a tomar, visando a otimizar a exploração da
biodiversidade brasileira sem extinguir essa nossa riqueza biológica.

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Unidade: A Vida e o Ambiente

Biodiversidade do Brasil

Você já deve ter ouvido falar que o Brasil é o maior dos países que possuem o que chamamos
de megadiversidade. No território brasileiro, contamos com uma estimativa entre 10 e 20% do
número total de espécies do planeta. Somos o país com a flora mais diversa do mundo, sendo
mais de 55.000 espécies vegetais descritas no Brasil – o que representa 22% do total mundial
de espécies vegetais.
Além disso, no território brasileiro se concentra a maior riqueza de espécies de palmeiras
(390 espécies) e de orquídeas (2.300 espécies). Outras diversas espécies de plantas que
possuem relevância econômica mundialmente também são originárias do Brasil – entre elas
destacam-se o abacaxi, o amendoim, a castanha - do - pará, a mandioca, o caju e a carnaúba.
Mas não é apenas em relação a flora que possuímos elevada biodiversidade, os animais
vertebrados são também amplamente diversificados na fauna brasileira. Foram registradas até
hoje no país mais de 524 espécies de mamíferos, 1.677 espécies de aves, 468 espécies de
répteis, 517 espécies de anfíbios e 2.807 espécies de peixes (LEWINSOHN; PRADO, 2002).
Além de toda essa riqueza biológica, o Brasil ainda possui a maior diversidade de espécies de
primatas do planeta: ao todo somam 55 espécies, sendo que dessas, 19 são endêmicas, ou
seja, vivem exclusivamente aqui no Brasil.
A biodiversidade brasileira não é totalmente conhecida e provavelmente nunca conheceremos
com precisão toda a sua complexidade, entretanto, pesquisas realizadas por cientistas
biólogos afirmam que existem mais de dois milhões de diferentes espécies de plantas, animais
e microrganismos no território brasileiro. Além disso, os cientistas ainda são incapazes de
calcular toda a diversidade genética e ecológica existentes no Brasil, devido ao nosso território
possuir dimensões continentais, considerando ainda a imensidão da plataforma marinha
que possuímos.

Biodiversidade da Amazônia
Apesar de ser bastante conhecida, a biodiversidade na Amazônia ainda necessita de
informações mais precisas. Os pressupostos dessa riqueza são, no entanto, válidos, tendo
em vista o processo evolutivo das plantas e dos animais amazônicos. As árvores dominam a
paisagem e a estrutura física da floresta, mas não são os organismos com a maior contribuição
à biodiversidade da região. A biodiversidade não representa apenas os extremos exóticos
da diversificação evolucionária e da variedade excepcional de espécies aproveitadas pelo
ser humano.
A existência de um ecossistema depende da interação entre as plantas e animais que
polinizam as flores e propagam as sementes, por exemplo. Muitas dessas interações são
extremamente específicas e a perda de apenas uma espécie, que é um agente de polinização ou
uma condição obrigatória para a reprodução, pode afetar muitas outras espécies indiretamente.
Essa complexidade tem implicações para o desenvolvimento da região amazônica.

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Como a biodiversidade é explorada pelo Brasil
Geralmente não paramos para refletir sobre a importância econômica dessa riqueza
biológica que possuímos enquanto nação. Para você ter uma ideia, o Brasil obtém cerca de
40% do seu PIB por meio do setor agroindustrial, 4% do PIB do setor florestal e 1% do PIB
vem do setor pesqueiro. Em relação ao total de produtos que exportamos, 31% é oriundo da
biodiversidade, especialmente de espécies vegetais como o café, a soja e a laranja. Além disso,
somente através das atividades de extrativismo florestal e pesqueiro, três milhões de pessoas
são empregadas.
De alguma forma em toda a sua vida você já deve ter se beneficiado com o imenso
potencial medicinal que nossa biodiversidade disponibiliza para grande parte da população
brasileira. Seja através do uso direto de espécies vegetais, de onde provém chás para vários
tipos de problemas de saúde, ou através de substâncias extraídas de espécies vegetais onde
se manipulam remédios. É muito grande a parte da população brasileira que utiliza de plantas
medicinais na solução de problemas corriqueiros de saúde.
Enquanto consumidor dos recursos naturais, todo cidadão deve ser instruído corretamente
sobre a utilização sustentável da Biodiversidade, de modo que não se deixe extinguir esses
recursos, vindo a comprometer a própria vida humana na Terra. Com o desenvolvimento de
pesquisas e avanço de tecnologias, e com a disponibilidade de matéria prima que temos em
nosso país, ou seja, as fontes de recursos naturais, podemos realizar grandes avanços nos
setores de desenvolvimento farmacológico oriundos da Biodiversidade brasileira. Porém, não
conseguimos ainda sair da fase inicial pois no modelo de desenvolvimento capitalista, o lucro
descaradamente acaba falando mais alto do que as alternativas mais inteligentes e eficazes
para a população.
Apesar de toda a riqueza de espécies nativas que possuímos no território brasileiro, as
nossas atividades econômicas estão baseadas principalmente nas espécies exóticas, ou seja,
aquelas trazidas de outros países – como exemplo é possível citar a agricultura, que está
baseada na cana-de-açúcar proveniente da Nova Guiné, no café da Etiópia, no arroz das
Filipinas, na soja e na laranja da China, no cacau do México, no trigo da Ásia Menor, e por aí
segue a lista. Além disso, a nossa silvicultura, que são as atividades provenientes de florestas de
uma única espécie de árvore artificialmente plantada pelo homem, depende de eucaliptos da
Austrália e de pinheiros vindos de países da América Central. A pecuária, uma das principais
atividades econômicas do país e a que mais provoca degradação ambiental e extinção de
espécies, depende principalmente de espécies de capins vindas da África, de bovinos da Índia,
de equinos da Ásia Central.

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Unidade: A Vida e o Ambiente

Material Complementar

Livro:
PRIMACK, R. B; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: editora
Planta, 2001.

Site:

http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Ecologia

Vídeo:
Discovery na Escola - Elementos de Biologia, Ecossistemas
https://www.youtube.com/watch?v=5WVhItCdm-o

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Referências

BEGON, M. TOWNSEND, C.R.; HARPER, J.L. Ecologia: de indivíduos a ecossistemas. 4. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2007.

FERREIRA, W.J. Fotos e texto sobre erosão e intemperismo. Professor Wladimir –


Geografia [online]. 2012. Disponível em: http://profwladimir.blogspot.com.br/2012/02/
texto-sobre-erosao.html. Acesso em: 20 fev. 2015.

LEWINSOHN, T.M.; PRADO, P.I. Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do


conhecimento. São Paulo: Contexto, 2002.

MORA, C.; TITTENSOR, D.P.; ADL, S.; SIMPSON, A.G.B.; WORM, B. How Many Species
Are There on Earth and in the Ocean? PLoS Biology, v. 9, n. 8, p. 1-8, 2011.

RICKLEFS, R.E. A economia da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

19
Unidade: A Vida e o Ambiente

Anotações

20
Ecologia Aplicada
Material Teórico
Ecologia de populações

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero
Revisão Técnica:
Prof.a Me. Camila Moreno de Lima Silva
Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Ecologia de populações

• Conceitos de Ecologia de populações


• Atributos demográficos de uma população
• Dinâmica populacional
• Estruturas populacionais
• Extinções de populações
• Interações ecológicas
• Tipos de interações específicas

·
·Possibilitar a compreensão dos componentes envolvidos nas estruturas de populações naturais;
·
·Identificar os atributos demográficos intrínsecos às populações;
·
·Ensinar método de estimativa populacional;
·
·Apresentar os motivos que explicam as distribuições populacionais pelo globo terrestre;
·
·Explicar o que são e como funcionam os ciclos biogeoquímicos;
·
·Introduzir o conceito de capacidade suporte;
·
·Apresentar os diferentes tipos de interações ecológicas existentes nos ecossistemas naturais.

Nesta Unidade apresentaremos os componentes estruturadores populacionais de forma


bastante aplicada, desde os fatores que influenciam no tamanho das populações, como
também na distribuição geográfica dessas pelo planeta Terra. Você conhecerá métodos
que estimam tamanho populacional, motivos que levam ao crescimento das populações e
as respectivas consequências quando a população cresce mais do que o ambiente suporta.
Por fim, apresentaremos os principais tipos de interações ecológicas inerentes aos processos
naturais que englobam as populações.
Recomendo que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo desta Unidade,
consulte os materiais complementares e assista aos vídeos relacionados ao tema. Utilize a
internet, além de outros meios de pesquisa, para buscar outras fontes que venham contribuir
com o seu aprendizado.
Não se esqueça, o conhecimento é a única riqueza que não pode ser roubada!
Observe a população que você está inserido e aplique o conteúdo apresentado ao
seu dia a dia.

5
Unidade: Ecologia de populações

Contextualização

Que as populações estão presentes em todo lugar do planeta Terra e são constituídas por
uma enorme diversidade de espécies não é mais novidade para você, não é mesmo? Com isso,
o conteúdo presente abordará o que de fato estrutura as populações em termos demográficos
e o que promove a distribuição dessas populações pelo nosso globo terrestre. Você já imaginou
no que o conhecimento sobre as populações pode contribuir para uma pessoa que pretende
gerir ambientalmente uma determinada área? Informações a esse respeito, bem como os
detalhes que estão relacionados com os processos de crescimento e declínio populacional
aguardam por você nesta Unidade.
Além do conteúdo teórico, dois vídeos irão permitir que se familiarize com a Ecologia de
populações e aprofunde seu conhecimento sobre esta entidade ecológica tão comum em
nosso dia a dia.

Interações Ecológicas (resumo) - Ecologia de Populações-CESAD/UFS:


https://www.youtube.com/watch?v=PMw20is8D14

Como os lobos mudam os rios (legendado):


https://youtu.be/nW5ztScNCYk

6
Conceitos de Ecologia de populações

Você aprendeu que população é um dos conceitos da Ecologia. Agora responda


mentalmente para si a seguinte pergunta: o que é uma população?
A partir de sua resposta, reflita sobre os motivos que levam cientistas a produzirem milhares
de pesquisas que são frutos de intensos esforços intelectuais sobre o que chamamos de
Ecologia de populações.
Para direcioná-lo, para direcioná-lo à leitura deste conteúdo, gostaríamos que você
internaliza-se a definição de população como sendo nada mais do que um conjunto de
organismos da mesma espécie convivendo em um determinado ambiente, onde todos os
indivíduos compartilham uma determinada função em comum dentro do ecossistema.
Estudar a Ecologia das populações pode nos trazer importantes conhecimentos sobre
como ocorrem as formas de interação entre os seres vivos e o ambiente, e o que subsidia o
conhecimento sobre a utilização de recursos naturais por diferentes populações de diferentes
espécies. Podemos compreender desde populações de formigas até populações humanas por
meio do conhecimento sobre Ecologia de populações.
Possuir informações sobre Ecologia de populações é primordial para que se saiba como
realizar a conservação da própria espécie que se estuda – inclusive, entre as espécies estudadas,
encontra-se a Homo sapiens, mais conhecida como a atual espécie humana. Vejamos a seguir
alguns dos principais atributos de populações.

7
Unidade: Ecologia de populações

Atributos demográficos de uma população

Natalidade
Você já deve ter ouvido esta palavra naturalmente em sua vida. Natalidade é um termo
que expressa a quantidade de novos indivíduos de uma população em um dado período de
tempo. A produção desses novos indivíduos ocorre por meio de processos naturais como
nascimentos, postura de ovos ou fissão celular.

Fertilidade
No estudo de Ecologia de populações, entende-se por fertilidade a produção real de uma
população, sendo essa resultante do número de nascimentos bem sucedidos. Naturalmente
essas estimativas irão resultar em diferentes taxas de acordo com o organismo avaliado. Por
exemplo, uma ostra pode produzir de 55 a 114 milhões de ovos durante toda sua vida; os
peixes produzem milhares de ovos; anfíbios podem produzir centenas de novos indivíduos;
as aves botam de 1 a 20 ovos; e, por fim, dentro do grupo dos mamíferos, há fêmeas que
produzem de 1 a 10 indivíduos por ciclo reprodutivo.

Mortalidade
Primeiramente você deve saber que nem todo indivíduo chega ao fim de sua vida de forma
senescente, ou seja, nem todos morrem por processo natural de envelhecimento e morte.
Portanto, entende-se como mortalidade o número de indivíduos que morrem em um dado
período de tempo. Para tal, devemos considerar as mortes por predação, doenças e até mesmo
catástrofes naturais. É importante saber que uma simples área alagada por empreendimento
hidrelétrico pode aniquilar de uma só vez populações inteiras de diversas espécies.

Na reportagem a seguir, uma matéria elucida o impacto causado em uma população


de aproximadamente 1600 pessoas de Jaci Paraná, Rondônia, que viviam e
mantinham suas tradições às margens do Rio da Madeira.
http://pt.globalvoicesonline.org/2013/04/16/brasil-ribeirinhos-removidos-pela-usina-de-jirau-lutam-para-ganhar-a-vida/

Estudos realizados sobre a população humana indicam grandes variações nas expectativas
de vida. Analisando a idade média que as mulheres atingem em suas respectivas populações,
a variação é bastante considerada. Por exemplo, as mulheres da Roma antiga morriam com
aproximadamente 21 anos, enquanto as da Inglaterra no final do século XVIII não passavam
de 39 anos; já as mulheres norte americanas, da década de sessenta, viviam em média até
os 73 anos.

8
Imigração e Emigração
Outros fatores diretamente relacionados com o tamanho populacional também devem ser
considerados. Dentre eles, você deve se lembrar das taxas de imigração e emigração que
exercem influência direta sobre o tamanho da população. Por imigração entende-se a taxa
daqueles indivíduos que foram acrescidos à população, ou seja, indivíduos que vieram de outras
populações. Já por emigração, entende-se a taxa daqueles indivíduos que estão deixando a
população de origem.

Densidade
Um fator importante e que diz muito sobre a relação entre a quantidade de indivíduos e a
área de vida do ambiente que irá suportar a população é a densidade. A densidade nada mais
é do que o número total de indivíduos por unidade de área. O Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) disponibiliza dados sobre a densidade demográfica da população brasileira
entre os anos de 1872 a 2010.

Confira o link e tenha acesso à pesquisa: Densidade demográfica segundo as Grandes


Regiões e as Unidades da Federação – De 1872 à 2010, disponibilizada pelo IBGE:
http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=10&uf=00

9
Unidade: Ecologia de populações

Dinâmica populacional

De acordo com os conceitos inerentes à Ecologia de populações, você pode perceber que
existem inúmeros fatores relacionado às dinâmicas populacionais. Dentre esses fatores, a
distribuição dos indivíduos em um dado espaço geográfico possui destaque nas investigações
científicas.

Você até aqui aprendeu que o conjunto de indivíduos de uma mesma espécie em uma
mesma área geográfica forma uma população, a qual faz dessa área o seu habitat adequado. O
tamanho dessa população varia principalmente de acordo com a disponibilidade de alimento,
presença e quantidade de predadores e disponibilidade de recursos reprodutivos.

Observando as paisagens e buscando por diferentes populações, vemos que seus respectivos
habitats estão distribuídos como mosaicos. Podemos visualizar ambientes mais abertos, outros
com matas mais fechadas e maior umidade do ar, ambientes alagados entre tantos outros.
Cada um desses habitats na paisagem está distribuído em forma de mancha, onde nelas estão
contidas as populações. Para exemplificar, imagine como
se você estivesse navegando pelo Google Earth visualizando
todo o território brasileiro, deslizando o navegador você
poderá encontrar diversas manchas urbanas na paisagem,
representadas pelas cidades, ou seja, populações humanas.
Da mesma forma ocorre com as populações das demais
espécies, onde cada uma se distribui na paisagem naqueles
locais que de alguma forma subsidiam recursos alimentares
e reprodutivos para seus indivíduos.
Reprodução Google Earth

Sendo assim, evidencia-se que a distribuição de áreas geográficas abundantes em


recursos que servirão como habitat para as populações é o que influencia a distribuição
geográfica também das próprias populações. Em outras palavras, a distribuição nada
mais é do que a abrangência geográfica de uma população que foi determinada pela
presença de um habitat adequado.

Porém, por outro lado, quando um habitat sofre degradação, a população pode chegar
a desocupar tal área da paisagem em busca de uma nova área mais promissora. A seguir, a
Figura 1 mostra a distribuição geográfica de um periquito - de - cauda -longa ameaçado de
extinção, que é endêmico das matas secas da bacia do rio Paranã, no Brasil Central. Repare
que de todo o território mundial, somente uma pequena porção de área distribuída em algumas
cidades de Goiás e Tocantins é adequada para ser ocupada por essa espécie.

10
Figura 1. Distribuição geográfica de populações de Tiriba – de Pfrimer (Pyrrhura pfrimeri) no Brasil Central.

Fonte: Foto do site loromania.com e mapa de distribuição contido na dissertação de mestrado de Marcos Filipe Pesquero.

É importante que você saiba que para delimitar a distribuição geográfica de uma população,
deve-se considerar todas as áreas que são utilizadas pelos seus indivíduos. Na natureza, as
populações estão distribuídas de acordo com três tipos: distribuição agrupada, distribuição
aleatória e distribuição homogênea (Figura 2).

Figura 2. Padrões de distribuição populacional. No exemplo, três diferentes populações de pinheiros.

Agrupadas Aleatória Homogêneas

11
Unidade: Ecologia de populações

Método para estimar tamanho populacional


Você deve saber que para levantar dados sobre os tamanhos populacionais, na maioria
dos casos, não é possível contar um por um todos os indivíduos de uma população. Isso
ocorre tanto pelo fato de muitas vezes essa contagem significar um trabalho extremamente
exaustivo e pouco eficaz – uma vez que, ao contar animais, por exemplo, esses deslocam-se
pela área durante a contagem – e, além disso, por conta das populações serem muito grandes
e demandarem um enorme esforço coletivo, até certo ponto irreal.
Sendo assim, estimativas são realizadas através da coleta de amostras representativas da
população que se deseja contabilizar os indivíduos. Veja a seguir detalhadamente como isso
funciona no caso da estimativa populacional de animais.

Método de captura e recaptura


Esse método é bem simples e útil para estimar o tamanho populacional de uma única
espécie de animal. Como dito anteriormente, precisamos coletar amostras da população em
seu habitat natural. Portanto, seleciona-se dentro do habitat da espécie uma área onde
serão procurados os indivíduos e, quando encontrados, esses serão capturados, marcados
para que possam ser identificados posteriormente e devolvidos ao local de origem. Após
um determinado período, volta-se ao habitat da espécie e uma segunda amostra é tomada
da população. Como os indivíduos coletados na primeira amostra foram marcados, deve-se
contabilizar na segunda amostra o número de recapturados que possuem as marcações.
Através desses dados será possível obter a proporção de indivíduos recapturados em relação
ao total da segunda amostra. Essa proporção é a mesma que existe entre o conjunto dos
indivíduos marcados na primeira amostra e a população inteira que se deseja quantificar. Desse
modo, pode-se construir uma regra de proporcionalidade:

nº total ind. marcados nº ind. recapturados


total da população = total 2ª amostra

Sendo que o total da população é o dado que se deseja conhecer.


Você pode estar se perguntando neste momento sobre como é realizada essa marcação nos
indivíduos. Para marcá-los, para marcá-los, existem vários métodos, sendo que eles são propostos
de acordo com a espécie animal que se deseja quantificar a população. Essas podem ser feitas com
tintas não tóxicas, pequenas placas coladas no corpo do indivíduo ou até mesmo colares.

As marcações devem levar em consideração que se trata de uma vida e, portanto,


não devem alterar em nada o comportamento dos indivíduos marcados. Caso
a marcação não seja adequadamente realizada, o indivíduo marcado pode ser
predado ou não conseguir capturar uma presa por chamar demais atenção e
Atenção! atrapalhar sua camuflagem, ou até mesmo ser rejeitado do grupo por falta de
identificação entre seus semelhantes.

12
Estruturas populacionais

Para que se compreenda a estrutura de uma população, faz-se necessário levar em


consideração as taxas de crescimento populacional, entender como a população varia seu
tamanho ao longo do tempo e, por fim, identificar todas as demais espécies que de alguma
forma interagem com a população estudada.
Alguns pressupostos são tomados no momento em que se pretende estudar a dinâmica
populacional de uma espécie. Entre eles, assumir que as probabilidades de nascimento e morte
dos indivíduos da população é constante e que o crescimento da população é limitado pela
capacidade de suporte do ambiente, ou seja, pela quantidade de indivíduos que o ambiente
suporta em termos de recursos disponíveis.
Ao analisarmos o crescimento da população mundial humana, podemos perceber que o
número de pessoas que se mantinha no mundo era menor do que um bilhão. A partir da
Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII, começa a ocorrer um acelerado
aumento no número de pessoas, promovendo um fenômeno conhecido na Ecologia de
populações como crescimento exponencial.
O número de habitantes que havia na Terra até meados de 1860 começa a crescer
disparadamente, aumentando a população para 7 bilhões de pessoas em apenas 150 anos. O
gráfico da Figura 3 ilustra perfeitamente as extremas proporções em que os humanos têm se
multiplicado no planeta. De acordo com os conhecimentos de Ecologia de populações, esse
acelerado crescimento tende a diminuir em poucos anos, quando começar a faltar recursos no
ambiente para as pessoas do mundo viverem.
Figura 3. Gráfico de crescimento da população mundial.
11
10
9
8
Bilhões de pessoas

7
6
II Guerra Mundial
Revolução Agrícola 5
Revolução Medicina 4
Revolução Transportes
Revolução Industrial 3
Surgimento Mercantilismo 2
Queda Surgimento Início das
de Roma do islamismo Cruzadas Peste bubônica
1
0
Ano 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000

13
Unidade: Ecologia de populações

Extinções de populações

Você certamente já deve ter ouvido falar em extinção. Ela ocorre quando uma população
reduz muito o seu número de indivíduos, entrando em um estado de susceptibilidade a deixar
de existir. Portanto, é possível saber se uma população está ou não em processo de extinção
antes que ela de fato seja extinta. Para que possamos prever extinções naturais de populações,
ou seja, sem levar em consideração catástrofes ambientais, devemos obter dados ecológicos
referentes ao número de indivíduos dessas populações.
Além disso, é bastante importante que se conheça a proporção de machos e fêmeas e a
disponibilidade de recursos tanto alimentares quanto reprodutivos. Em geral, a taxa de extinção
é influenciada diretamente pelo número de indivíduos e pela disponibilidade desses recursos
ao longo do habitat. Em nosso planeta, muitas espécies foram perdendo aos poucos suas
populações e acabaram extintas do globo terrestre.

14
Interações ecológicas

Desde a primeira Unidade, foi comentado com você o papel das interações ecológicas
para o funcionamento dos ecossistemas. Agora chegou o momento de aprofundarmos mais
esse conceito. Iremos começar com a definição. Entende-se por interação ecológica a
situação onde um organismo qualquer, em um dado momento, faz parte da vida do outro.

Quando os organismos com quem se interage pertencem à mesma espécie, o


tipo de interação que ocorre é intraespecífica. Já quando um organismo interage
com organismos de outras espécies, o tipo de interação é interespecífica.

Basicamente, o que faz os organismos interagirem uns com os outros é a própria necessidade
de manterem-se vivos. Assim como de alguma forma nós, humanos, disputamos espaço para
nos inserirmos no aclamado mercado de trabalho, o que depois nos possibilitará comprar os
recursos essenciais para a nossa vida, os demais organismos também disputam diretamente
tais recursos, que devem suprir suas exigências alimentares e reprodutivas.
Por sua vez, todos os recursos em geral podem ser classificados em dois tipos: recursos
renováveis e não renováveis. Os recursos renováveis são aqueles que realizam seu ciclo
de composição e decomposição em curto espaço de tempo. Já os recursos não renováveis
são aqueles que demandam um longo prazo de tempo, em escalas superiores a milhares de
anos, para completarem seus ciclos.
Na Figura 4, exemplificamos duas situações contrastantes e divergentes. Ambas as fotos
representam interações ecológicas entre duas espécies, portanto, relações interespecíficas. Na
foto (A), um indivíduo da espécie de periquito (Pyrrhura pfrimeri) ameaçada de extinção se
alimenta de frutos disponibilizados por um indivíduo de outra espécie conhecida popularmente
como mangueira (Mangifera indica), fazendo um uso sustentável desse recurso. Por outro lado,
a foto (B) representa interações entre seres humanos e tubarões. Uma prática insustentável
que vem ameaçando essa espécie de extinção.
Figura 4. Comparação entre interação sustentável e insustentável. (A) Indivíduo de Pyrrhura pfrimeri se alimentando de manga.
(B) Barbatanas de tubarão cortadas para alimentação humana.

Fonte: foto (A) tirada por Marcos Filipe Pesquero (arquivo pessoal) e foto (B) por Creative Commons.

Leia a matéria a seguir, disponível no site G1, intitulada “Pescadores retiram


barbatanas de tubarões e descartam o resto do peixe”, e entenda mais sobre uso
sustentável e insustentável dos recursos ambientais.
https://goo.gl/Ddu9nD

15
Unidade: Ecologia de populações

Tipos de interações interespecíficas

Como mostrado na figura anterior, é possível perceber que existem diferentes tipos de
interações ecológicas. A seguir, iremos abordar cada um deles e explicar como ocorrem dentro
dos ecossistemas.

Predação
Entende-se por predação o ato pelo qual um indivíduo mata e se alimenta de outro indivíduo,
no caso, a presa. Os predadores têm um papel fundamental no equilíbrio de populações.
São considerados peças-chave para o controle populacional, evitando que haja desequilíbrios
causados por espécies que venham crescer exorbitantemente em número de indivíduos.

Para isso, predadores em geral dispõem de uma ágil mobilidade e sentidos aguçados
de audição, olfato e visão. Além disso, possuem fortes a afiados dentes, garras, ou bicos,
adaptados à caça.

Um exemplo fácil sobre o papel de regulação populacional promovido por predadores seria
o caso dos ratos que vivem nos esgotos das cidades. Em seu habitat natural, nas matas, muitas
espécies de gaviões, felinos, caninos e répteis são predadores naturais dos ratos (Figura 5).
Como nas áreas urbanas dificilmente se encontra essas espécies predadoras, as populações de
ratos crescem e tomam proporções extremas.
Figura 5. Coruja-das-torres (Tyto alba) predando um rato.

Fonte: iStock/Getty Images

Como existe uma relação direta entre tamanho populacional de presas e de predadores, um
modelo que explica essa relação foi desenvolvido para facilitar a compreensão das flutuações
populacionais. O modelo é denominado Lotka-Volterra, como forma de homenagear os
cientistas que o desenvolveram. Ele prevê oscilações populacionais, bem como taxas de
crescimentos entre presa e predador. Ao observarmos a Figura 6, percebemos que quando
o número de predadores é elevado, o de presas tende a cair; e de forma inversa, quando o
número de predadores é baixo, o número de presas tende a aumentar.

16
Figura 6. Ilustração do modelo de Lotka-Volterra. Flutuações inversamente proporcional entre tamanho populacional de presa e predador.

• Predador
• Presa

Tamanho
Populacional

tempo

A partir dessa relação predador-presa, podemos visualizar que existe um nível mínimo
capaz de suportar o crescimento populacional das espécies de predadores e que existe um teto
limite para o número de predadores que a população de presas pode sustentar.

Mutualismo
O termo mutualismo advém do conceito da palavra mútua, e significa uma interação entre
duas espécies onde ambas se beneficiam. As relações mutualísticas ocorrem naturalmente
e assumem diversas formas, mas, de forma geral, os indivíduos envolvidos em interações
mutualísticas tendem a suprir aqueles recursos ou serviços complementares de forma mútua.
Para exemplificar essa interação, existem vários exemplos: imagine os insetos que polinizam
as plantas e em troca consomem o néctar ou o pólen ofertado pelas flores; ou então, lembre
das bactérias que vivem nas raízes das plantas, proporcionando o nitrogênio em troca de
moléculas de carbono; ainda, lembre dos mamíferos ruminantes, como os bovinos, esses
mantêm bactérias em regiões específicas de seus estômagos, as quais promovem a digestão
da celulose contida no capim que eles não são capazes de digerir. Outra interação mutualística
envolvendo os bovinos, é a interação com a conhecida Garça-vaqueira (Bubulcus ibis), a qual
se alimenta e protege o gado contra os carrapatos parasitas (Figura 7).
Figura 7. Interação mutualística entre indivíduo de Garça-vaqueira (Bubulcus ibis), interessada em carrapatos de uma vaca a pastar.

Foto: acervo pessoal Marcos Filipe Pesquero.

17
Unidade: Ecologia de populações

Parasitismo
Como no exemplo anterior, já foi citado os carrapatos como parasitas do gado, você já deve
ter percebido que esse tipo de interação ocorre quando um indivíduo de uma espécie consome
do indivíduo da espécie hospedeira aquele recurso necessário para sua vida.

Todo parasita tende a consumir seu recurso do hospedeiro


de forma a não sugá-lo totalmente a ponto de causar sua
morte. Caso assim o fizesse, com a morte do hospedeiro, o
Importante! parasita tenderia a morrer junto, uma vez que lhe faltará os
recursos que o hospedeiro possui.

18
Material Complementar

Aumente seus conhecimentos. A sabedoria é a mais nobre das riquezas!


Livros:
PRIMACK, R. B; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: editora Planta,
2001.
BEGON, M., M. MORTIMER e D.J. THOMPSON. Population ecology. 3. ed. Oxford:
Blackwell, 1996.

Sites:
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia16.php
https://biomania.com.br/

“Aprender exige o esforço de não sentir-se acomodado.”

19
Unidade: Ecologia de populações

Referências

BEGON, M. C. R.; TOWNSEND, J. L. H. Ecologia de Indivíduos a Ecossistemas. 4. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2007.

RICKLEFS, R. E. Ecology. 3. ed. W.H. Freeman, 1990.

RICKLEFS, R.E. A Economia da Natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara


Koogan, 2010.

PRIMACK, R. B. E. R. Biologia da Conservação. Londrina: Ed. Planta, 2006.

20
Anotações

21
Ecologia Aplicada
Material Teórico
Ecologia, Sociedade e Conservação

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero
Revisão Técnica:
Profª. Me. Camila Moreno de Lima Silva

Revisão Textual:
Prof. Me. Selma Aparecida Cesarin
a
Ecologia, Sociedade e Conservação

• Conservação de Ecossistemas;
• Desenvolvimento Sustentável;
• Século XX: Integração entre Economistas, Políticos, Cientistas,
Naturalistas e Organizações Civis;
• Ecologia Humana.

Os objetivos desta Unidade são:


»» Possibilitar a compreensão das ações que envolvem a conservação de ecossistemas;
»» Identificar os atributos do conceito de biogeografia de ilhas aplicados à
fragmentação de habitats;
»» Propor o desenvolvimento sustentável como medida de conservação atrelada
às questões socioeconômicas da Humanidade;
»» Apresentar as principais características da sustentabilidade;
»» Explicar o que é e como se estabelece na prática social a ecologia humana;
»» Englobar a ecologia humana como um dos principais aspectos da gestão ambiental.

Nesta Unidade, serão apresentados os atributos sociopolíticos que envolvem a efetivação


de medidas de conservação dos ecossistemas. Desde o resultado de encontros internacionais
que discutem os aspectos da sustentabilidade, como também as ações públicas, privadas e
independentes que convergem para ações efetivas de estabelecimento da política sustentável
de desenvolver os países sobre a ótica do contexto de gestão ambiental.

Recomendo que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo desta Unidade,
consulte ainda, os materiais complementares e assista também a vídeos relacionados ao
tema. Recomenda-se também, que você utilize a internet e outros meios de pesquisa para
buscar novas fontes que venham a contribuir com o seu aprendizado.

5
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

Contextualização

A conservação da natureza é um assunto bastante pertinente à área de gestão ambiental. São


os gestores os grandes responsáveis por aplicarem o conhecimento ecológico na manutenção
dos serviços ecossistêmicos, que estruturam as organizações sociopolíticas globais.
Estamos preocupados com a duração da nossa existência no Planeta, assim como com a
manutenção de uma qualidade de vida saudável. Porém, os caminhos atuais nos levam para
um futuro totalmente oposto. O caos ambiental compromete não apenas a saúde humana e a
nossa existência, como também a saúde do Planeta.
Além do conteúdo teórico, dois vídeos irão permitir que se familiarize com este contexto
global atual de forma a aprofundar seu conhecimento sobre ações que convertam este futuro
sombrio em uma sociedade saudável e duradoura:
» A ilha das flores: https://youtu.be/e7sD6mdXUyg;
» A história das coisas: https://youtu.be/MWUHurprTVA.

6
Conservação de Ecossistemas
Aprendemos durante o curso que a vida no Planeta pode ser classificada em diferentes
níveis de organização biológica. Os ecossistemas são sistemas complexos que devem ser
analisados em grande escala geográfica (regional, continental e global) via transferência de
matéria e energia entre os elementos biológicos (populações e comunidades) sob as influências
dos elementos físicos (clima, relevo, solo, etc.). Portanto, conhecer e entender a estrutura e
organização dos ecossistemas é fundamental para a sua conservação, conservação do Planeta
e sobrevivência da própria Humanidade.
Antes de discutirmos as teorias da conservação, falaremos das alterações ambientais
resultantes das ações antrópicas e suas principais consequências para a biodiversidade. Assim
como para qualquer espécie, o ambiente impõe um limite ao crescimento da população,
conhecido como capacidade limite ou suporte do ambiente (k) (Figura 1).
De modo geral, o crescimento da população tem se comportado como se estivesse abaixo
desse limiar k, prevendo um longo crescimento para o futuro (Figura 2).
Atualmente, somos mais de sete bilhões de habitantes e deveremos atingir a casa dos nove
bilhões e seiscentos milhões em 2050 (ONUBR, 2013).
Figura 1. Crescimento populacional logístico dependente da densidade. Figura 2. Flutuação do tamanho da população humana ao longo do tempo.
Número de indivíduos

Curva do potencial
biótico da espécie
Capacidade

Limite do meio

Curva S

Tempo
Resistência do ambiente

Fonte: Adaptado Mundo Vestibular (2007).

A crescente demanda por alimento tem transformado os ecossistemas naturais do mundo


em sistemas de cultivos de larga escala geográfica, os latifúndios.
No Brasil, as regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste juntas já desmataram 46% da sua vegetação
nativa (BRASIL, 2007). Tomando o bioma Cerrado como exemplo, 49,11% já foram dizimados e
a maior parte da vegetação nativa restante encontra-se alterada (17,45%) ou fortemente alterada
(16,72%), e apenas 16,77% de Cerrado inalterado (MACHADO et al., 2004).
Além da redução e fragmentação dos ecossistemas, a emissão de gases de efeito estufa,
principalmente o CO2, tem provocado mudanças climáticas em todo o Planeta, com graves
consequências sobre a biodiversidade e a própria Humanidade.

7
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

O site do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) aborda de forma


interativa e clara os aspectos atmosféricos relacionados à mudança climática que
estamos vivendo em nosso Planeta. Explore o site e entenda melhor a situação do
nosso clima atualmente: http://mag.ccst.inpe.br/abertura.html

E há de se falar ainda nos resíduos tóxicos, tais como os despejos propositados de muitas
indústrias e os grandes vazamentos acidentais de óleo e radiação que contaminam o ar, os
solos, as águas continentais e marinhas e dizimam populações e espécies.
Segundo Dirzo et al. (2014), a Terra passa pelo 6° período de extinção em massa de animais,
sendo que 322 espécies de vertebrados tornaram-se extintas desde 1500 e 25% das espécies
restantes encontram-se em declínio populacional. Não discutiremos aqui o polêmico assunto
do controle de natalidade, como já vem sendo adotado por algumas nações, mas falaremos das
teorias que embasam os métodos de conservação das populações, comunidades e ecossistemas.
Os estudos sobre biogeografia de Ilhas de MacArthur e Wilson (1967) representaram um
grande avanço na Biologia da Conservação, pois teorizavam sobre os processos que mantêm
a riqueza de espécies dentro das comunidades.
Levins (1969) utilizou as mesmas premissas para modelar a dinâmica metapopulacional em
ambiente continental. Esse modelo prevê um estado dinâmico de equilíbrio para as populações
que vivem em ecossistemas fragmentados, em que os processos básicos considerados são a
colonização e a extinção locais (Figura 3).

Figura 3. Esquema de uma metapopulação indicando as colonizações


por meio das setas e as extinções populacionais pelas cruzes vermelhas.

A

A

A
A


A

A letra A indica a presença da espécie de estudo naquele fragmento de ecossistema.


A dinâmica metapopulacional é determinada pelo balanço entre os “nascimentos e mortes”
das populações (Equação 1).

8
Equação 1

dp
= bp(1 − p) − ep
dt
Onde dp/dt é a variação do tamanho da metapopulação num intervalo de tempo, b é
a taxa de dispersão da espécie, e é a taxa de extinção da espécie e p é a proporção de
fragmentos ocupados pela espécie.

Esse modelo é bastante simples, pois não considera:

O efeito da distância quanto maior a distância entre os fragmentos de ecossistemas,


menor deverá ser a taxa de colonização;

O efeito do tamanho quanto menor o fragmento, menor o tamanho da população e


maior será a probabilidade de extinção;

O efeito de borda fragmentos com grande relação entre perímetro e área estão mais
susceptíveis às influências dos ambientes externos adjacentes. Esse é
um modelo bastante simples, mas à medida que as variáveis distância,
tamanho e forma dos fragmentos de ecossistemas são consideradas,
os modelos se tornam mais realistas (Figura 4).

Figura 4. Efeitos da fragmentação de ecossistemas.

Fonte: Primack; Rodrigues. Biologia da conservação.

9
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

Abordagens mais amplas da conservação, envolvendo não apenas uma ou poucas espécies,
mas todo o ecossistema ou grande parte dele, exigem vontade política e conscientização dos
proprietários rurais.

O governo federal tem utilizado algumas ferramentas a favor desse objetivo, tais como a
criação de Unidades de Conservação nos diferentes biomas brasileiros e a adoção de políticas
públicas de incentivo à agricultura familiar (BRASIL, 2013).

Segundo Primack e Rodrigues:

As principais questões de manejo de ecossistemas compreendem:

1. Buscar as conexões entre todos os níveis e escalas da hierarquia do ecossistema,


Por exemplo, de um indivíduo à espécie, à comunidade, até do ecossistema;

2. Manejar na escala apropriada, não apenas em conformidade com as


fronteiras políticas artificiais e com as prioridades administrativas estabelecidas
pelos governos. O objetivo do manejo regional deve ser o de assegurar
populações viáveis de todas as espécies, exemplos representativos de todas
as comunidades biológicas e dos estágios de sucessão e das funções de um
ecossistema saudável,

3. Monitorar os componentes significativos do ecossistema (números de


espécimes de espécies significativas, cobertura vegetal, qualidade da água,
etc.), reunir os dados necessários e então usar os resultados para ajustar as
práticas de manejo de uma forma adequada,

4. Alterar as rígidas políticas e práticas dos órgãos responsáveis pelo manejo


de áreas que, muitas vezes, resultam em uma abordagem fragmentada. Ao
invés disso, a integração e a cooperação inter-órgãos nos níveis local, regional,
nacional e internacional e a cooperação entre órgãos públicos e organizações
privadas devem ser incentivadas,

5. Reconhecer que o ser humano faz parte dos ecossistemas e que os valores
humanos influenciam os objetivos relativos a manejo (PRIMACK; RODRIGUES,
2001, p.249).

Desenvolvimento Sustentável
Em decorrência da crise ambiental oriunda do modelo agrícola implantado mundialmente
após o ano de 1950, diversos pesquisadores, entidades não governamentais e governamentais,
além de grande parcela da população conscientizada e informada se mobilizaram objetivamente
para buscar novas formas de desenvolvimento dos países.

10
Esta grande parcela da população mundial está interessada em preservar os recursos
naturais e recuperar de forma gradativa e racional as áreas naturais degradadas. O foco desta
nova postura socioeconômica é tornar sustentável, mais saudável e duradoura a vida humana
em nosso Planeta.
É importante que você saiba que essa nova postura proposta está preocupada, além da
preservação dos recursos naturais, com um modelo de produção durável em longo prazo,
mantendo as características socioeconômicas populacionais. Portanto, sabendo que a
compreensão sobre a disponibilidade dos recursos naturais é dada por meio do conhecimento
sobre os processos cíclicos de energia e matéria, é imprescindível absorvermos o conhecimento
sobre ecologia dos ecossistemas, nos quais as informações sobre a produtividade ecológica
irão nortear este novo modelo de desenvolvimento (Figura 5).

Figura 5. Esquema ilustrativo da sustentabilidade integrando


simultaneamente sociedade, economia e ecologia.

Ecológico

Suportável Viável

Sustentável

Social Economia
Equitativo

Fonte: Instituto Ethos

Com a Figura 5, evidencia-se que desenvolvimento sustentável é uma relação direta entre
Sociedade, Economia e Ecologia. Mas o que você deve ter em mente é que a união destes três
setores é fundamentada nos critérios de evolução da vida humana, em que haja desenvolvimento
cultural sem que os efeitos das atividades humanas excedam os limites ecossistêmicos.
Além disso, esta interação entre o sistema financeiro, social e ecológico preza tanto pela
manutenção da biodiversidade quanto pela conservação da complexidade ecológica dos
ambientes terrestres.
Mesmo havendo, desde a década de 50, alguma clareza sobre esta relação Sociedade,
Economia e Ecologia, foi a partir de 1980 que a ideia de sustentabilidade foi divulgada
globalmente em um documento de grande alcance intitulado “World Conservation Strategy”.
Em 1987, houve ainda divulgação do Relatório Brundtland, por meio do qual todo o
mundo, inclusive o Brasil, adotou posicionamento favorável às definições de estratégias
objetivadas em promover a sustentabilidade.

11
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

Estas estratégias são elaboradas para que alcancemos, como sociedade, a sustentabilidade,
confrontando diretamente com a instabilidade ecológica do mundo atual, oriunda dos modelos
governamentais ainda desatualizados perante tais questões. Deste modo, diversas organizações
independentes e não governamentais (ONGs) têm contribuído ao promover além de campanhas
de conscientização da população, a tomada de atitudes práticas visando à minimização de
impactos ambientais.

Além disso, estas ONGs e outras organizações sociais independentes de gestões


governamentais, produzem materiais teóricos que propõem em seus conteúdos a preservação
e o desenvolvimento cultural e artístico da população.

Tais atitudes tendem a reforçar a existência de uma real e orgânica integração entre cada
cidadão com a sua comunidade, bem como com o seu próprio meio ambiente ecológico.

A seguir, conheça algumas destas ONGs brasileiras que vêm desenvolvendo


e financiando pesquisas, ações de conscientização, preservação e educação
ambiental (Figura 6). Acesse o link e analise o trabalho que tem sido feito pela
sustentabilidade em nosso país por intermédio destas ONGs brasileiras:
» https://goo.gl/zjuvWu

Figura 6. Logos de algumas ONGs brasileiras que desenvolvem atividades voltadas ao desenvolvimento sustentável em nosso Planeta.

12
Século XX: Integração entre Economistas, Políticos, Cientistas,
Naturalistas e Organizações Civis
Diversos foram os momentos nos quais reuniões, conferências, acordos e tratados foram
realizados na história mundial com a finalidade de discutir a sustentabilidade como um modelo
de desenvolvimento a ser adotado pelos países. Para que você tenha conhecimento, a seguir
estão os principais encontros mundiais:

» 1968 – Clube de Roma: foi caracterizado por um encontro entre políticos, economistas
e cientistas. Resultou em um livro intitulado “Limites do Crescimento” (MEADOWS
et al., 1972) que trata de assuntos relacionados aos temas de energia, poluição,
saneamento, saúde, ambiente, tecnologia e crescimento populacional;
» 1972 – Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente (Estocolmo/ONU): esta
conferência foi promovida pela Organização das Nações Unidas e aconteceu em
Estocolmo, na Suécia. Os temas discutidos foram poluição do ar e sustentabilidade;
» 1987 – Relatório Brundtland (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento/ONU): esta
comissão produziu relatório tratando de assuntos relacionados a limitar o crescimento
populacional para garantir a alimentação da população mundial em longo prazo,
preservar a biodiversidade e os ecossistemas, diminuir o consumo de energia e
promover fontes renováveis, controlar a urbanização selvagem promovendo integração
entre campo e cidades menores.

A partir de 1987, um ciclo de Conferências Mundiais sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento, promovido pela ONU, começa a ocorrer com maior frequência de realizações.
Em 1988, aconteceu a edição do Canadá; 1990, na Suécia; em 1992, foi a vez de o Brasil
sediar a última conferência antes do estabelecimento do Protocolo de Quioto, no Japão, no
ano de 1997. O compromisso principal deste Protocolo de Quioto era redução da emissão de
gases de efeito estufa até o ano 2012.
Portanto, um novo encontro aconteceu em 2012, na cidade do Rio de Janeiro, conhecido
como Rio+20. Nesta edição brasileira, o foco era a renovação do compromisso com o
desenvolvimento sustentável para o século XXI, por meio do estabelecimento de uma agenda
global intitulada Agenda 21.
Nesta Agenda 21, foi definido que o papel da Ciência passa a ser o de produzir
conhecimento que fundamente a formulação das políticas de desenvolvimento sustentável.
Para isto, definiram-se medidas de ampliação da pesquisa científica nas áreas de meio ambiente
e desenvolvimento e o aumento da cooperação entre cientistas por meio da promoção de
atividades e programas interdisciplinares de pesquisa.
Vale lembrar que a conferência do Rio, em 1992, apontou claramente a grande relevância
que os ecossistemas e os ambientes possuem em relação aos anseios inteligentes de uso dos
recursos naturais. Foi após esta conferência no Rio que a percepção sobre as diversas variáveis
relacionadas à sustentabilidade obteve maior alcance de público. Após esta houve também a
Conferência do Cairo, em 1994, na qual se tratou de assuntos especialmente demográficos
no que diz respeito à disponibilidade e uso dos recursos naturais em relação ao número de
habitantes no Planeta.
13
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

Para que você possa ter claro na mente, é importante saber que as discussões em torno
da sustentabilidade, por abranger diversos aspectos da sociedade, são bastante complexas e
profundas. Porém, a mensagem principal é que a nossa atual realidade social está ameaçada
pela desarmônica relação entre sociedade e natureza.
O ponto chave para mudarmos o rumo da população mundial é sempre fazermos uma
análise crítica entre a produção e o consumo. Não aceitar que sejamos manipulados pelo
sistema a nos tornar meros consumidores que abrem mão da qualidade de vida para ter o
poder de compra garantindo o lucro de poucos grandes empresários.

Ecologia Humana
Em resposta ao conflito existente entre a atitude humana e a preservação dos recursos
naturais, conceitos foram elaborados com o objetivo de incentivar as pessoas na busca pela
harmonia entre a atividade humana e a natureza. Neste contexto é que surge a Ecologia
Humana, com a função de gerir os recursos naturais, visando a manutenção dos ecossistemas
e com isso a permanência da vida humana na Terra (Figura 7).

Figura 7. O papel da Ecologia Humana simbolizado pelo


trabalho conjunto das pessoas sustentando o Planeta Terra.

Fonte: iStock/Getty Images

A ecologia humana é representada na sociedade, na prática, pela área de Gestão Ambiental.


Normalmente, esta gestão ambiental ocorre por meio de procedimentos e ações realizadas por
meio de instituições, tanto privadas quanto públicas ou ainda pelo terceiro setor organizado.
No que diz respeito às instituições públicas, a gestão ambiental realiza diversos e importantes
papéis para promover o desenvolvimento sustentável.

14
Para exemplificar as ações e medidas tomadas exclusivamente pela gestão ambiental pública,
temos: o planejamento territorial, que se preocupa com as unidades de conservação; o
zoneamento econômico ecológico, que delimita áreas geográficas de importância ambiental
e econômica; questões relacionadas à legislação ambiental, que elabora e fiscaliza leis e
normas ambientais, além de implementar políticas públicas ambientais.

No âmbito das empresas privadas, a gestão ambiental se incumbe de: elaborar e implementar
Sistemas de Gestão Ambiental (SGA); adequar normas e procedimentos de certificação
empresarial, como, por exemplo, dar selos de ISO, FSC, BSA, etc.; realizar ações diretas para
a sociedade, como promover a postura de responsabilidade socioambiental por meio de ações
de educação ambiental.

Por fim, o terceiro setor abrange um leque extremamente amplo que varia desde a
execução de projetos de gestão ambiental para empresas, até a criação e gestão de unidades
de conservação.

Podemos concluir, pelas áreas de atuação, que a gestão ambiental é incumbida por gerir
o ambiente, administrando o uso e a exploração de áreas geográficas e de recursos naturais.
Molina et al. definem a gestão ambiental resumidamente como sendo a:

[...] gestão dos ecossistemas naturais e sociais em que se insere o


homem, individual e socialmente, num processo de interação entre as
atividades que exerce, buscando a preservação dos recursos naturais
e das características essenciais do entorno de acordo com padrões
de qualidade. O objetivo último é estabelecer, recuperar ou manter o
equilíbrio entre natureza e homem (MOLINA et al., 2007).

Há grande relevância da gestão ambiental que ocorre em escala local, independente


do governo e de instituições formais. A gestão ambiental que é exercida por posturas
de vida tomadas pelo indivíduo, por grupos familiares, ou comunitários, mas que de
alguma forma age diretamente na gestão do ambiente de maneira prática, imediata e
cotidiana. Um exemplo bastante difundido e que trata da questão do lixo é a adoção
Você sabia? da composta doméstica (Figura 8). Com ela, tanto o lixo reciclável se torna lixo seco
e apropriado à reciclagem, como o lixo orgânico é destinado à adubagem de jardins
e hortas. Para saber mais sobre como lidar com o lixo doméstico, acesse o link:
https://goo.gl/7E9Roj

15
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

Figura 8. Incentivo à separação do lixo doméstico por meio do método fácil e prático de compostagem doméstica.

Fonte: voluntariosonline.org

Devemos evidenciar este tipo de abrangência mais pontual, em escala local na sociedade,
que olha para a postura de cada indivíduo. Este papel desempenhado por pessoas e grupos
familiares em nível local é a base de uma sociedade sustentável. Mas é claro que deve haver
incentivo partindo das gestões governamentais e educacionais, de forma a orientar e formar
cidadãos cada vez mais cientes da necessidade da sustentabilidade.

Nesse contexto, entra o conhecimento da Ecologia Aplicada voltada para as relações


ecológicas humanas. Diversos são os referenciais teóricos e metodológicos oriundos dos
estudos ecológicos que se aplicam à área de gestão ambiental. Ou seja, as teorias e métodos
de Ecologia aplicados aos ecossistemas em que a Humanidade se relaciona diretamente se
tornam extremamente relevantes para adotar ações de gestão ambiental.

Cabe lembrar que as recíprocas interações entre o ambiente e a sociedade são responsáveis
pela conformação dos ecossistemas por meio das alterações promovidas na paisagem. Deste
modo, ao compreender o papel da Humanidade nos processos ecológicos, a ecologia humana
subsidia informações que auxiliam a compreensão dos níveis mais complexos de alterações da
paisagem causadas pelo nosso sistema de organização social.

Um exemplo de trabalho realizado cautelosamente atrelando princípios de ecologia


humana às atividades de gestão ambiental é a obra da Arena Pernambuco, construída
para sediar os jogos da Copa do Mundo de Futebol, em 2014. Este estádio possui
infraestrutura que permite fazer o reaproveitamento de água da chuva, usar materiais
de baixo impacto ambiental e ainda conta com a instalação de uma usina de energia
solar (Figura 9).

16
Figura 9. Modificação da paisagem natural pela ocupação por atividades humanas.
Complexo esportivo Arena Pernambuco, no município de São Lourenço da Mata.

Fonte: Portal da Copa/Wikimedia Commons

17
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

Material Complementar

Vídeos:
A ilha das flores: https://www.youtube.com/watch?v=e7sD6mdXUyg;
A história das coisas: https://www.youtube.com/watch?v=MWUHurprTVA.

Livros:
BATES, D. G.; TUCKER, J. Human Ecology. Contemporary Research and Practice. Local:
Springer, 2010.

Sites:
http://www.portaleducacao.com.br/biologia/artigos/7493/conservacao-dos-ecossistemas;
http://www.brasilescola.com/brasil/unidades-conservacao-brasileiras.htm.

Aumente seus conhecimentos. A sabedoria é a mais nobre das riquezas!


“A economia não sabe aonde ela quer chegar. Enquanto isso, os bilionários a usam como
poder para controlar o futuro da população mundial.”

18
Referências

BARROS, R. P.; CARVALHO, M.; FRANCO, S.; MENDONÇA, R. A queda recente da


desigualdade de renda no Brasil. Brasília: Ipea, 2007.

BRASIL, MMA. Agenda 21 Global. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/


responsabilidade-socioambiental/agenda-21/agenda-21-global>. Acesso em: 22 ago. 2014.

BRASIL. IBGE. Censo Agropecuário. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. Disponível em: <http://
seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?no=1&op=0&vcodigo=AGRO03&t=utilizacao-
terras-ha>. Acesso em: 26 mar. 2015.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Políticas públicas para agricultura


familiar. Brasília: MDA, 2013.

DIRZO, R.; YOUNG, H. S.; GALETTI, M.; CEBALLOS, G.; ISAAC, N. J. B.; COLLEN, B.
Defaunation in the Anthropocene. Science, 345: 401-406, 2014.

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FIALHO, F. A. P. et al. Empreendedorismo na era do conhecimento. Florianópolis: Visual


Books, 2007.

KEATING et al. Global wealth report 2013. Zurich: Credit Suisse Ag. Disponível em:
<https://publications.credit-suisse.com/tasks/render/file/?fileID=BCDB1364-A105-0560-
1332EC9100FF5C83>.. Acesso em: 22 ago. 2014.

LEVINS, R. Some demographic and genetic consequences of environmental heterogeneity for


biological control. Bulletin of the Entomological Society of America, 15: 237-240, 1969.

MACARTHUR, R. H.; WILSON, E. O. The theory of island biogeography. Princeton:


Princeton Univ. Press, 1967.

MACHADO, R. B.; RAMOS NETO, M. B.; PEREIRA, P. G. P. et al. Estimativas de


perda da área do Cerrado brasileiro. Relatório técnico não publicado. Conservação
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MEADOWS, D. H.; MEADOWS, D. L.; RANDERS, J.; BEHRENS III, W. W. Os limites do


crescimento. 1972.

METZGER, J. P. O que é ecologia de paisagens? Biota Neotropica v.1 <http://www.


biotaneotropica.org.br/v1n12/pt/abstract?thematic-review+BN00701122001>.

19
Unidade: Ecologia, Sociedade e Conservação

MILLER, J. G. Living Systems: basic concepts. Behavioral Science, 10: 193-237, 1965.

MOLINA, S. M. G.; LUI, G. H. SILVA, M. P. A ecologia humana como referencial teórico e


metodológico para a gestão ambiental. Olam ciência e tecnologia. Ano VII. 2007.

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ONUBR. Nações Unidas no Brasil. População mundial deve atingir 9,6 bilhões em
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PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: Planta, 2001.

SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond,


2002.

SALAMONI, G. Produção familiar: possibilidades e restrições para o desenvolvimento


sustentável – O exemplo de Santa Silvana – Pelotas – RS. Tese de doutorado. Rio Claro:
UNESP, 2000.

WMO. The Dublin Statement and Report of the Conference. In: Annals of International
Conference on Water and the Environment: Development Issues for the 21st Century.
26-31 January 1992. Dublin, Ireland.

20
Anotações

21
Ecologia Aplicada
Material Teórico
Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero
Revisão Técnica:
Prof. Me. Camila Moreno de Lima Silva
a

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Energia e Ciclos biogeoquímicos
nos ambientes

• Energia nos ecossistemas;


• As Leis da Termodinâmica;
• Energia;
• Os ecossistemas e os tipos de energia;
• Fontes de Energia;
• Os Ciclos Biogeoquímicos;
• Teoria de Gaia.

Os objetivos desta unidade são:


»» Possibilitar a compreensão do papel da Energia para o funcionamento dos
ecossistemas;
»» Apresentar o Sol como a principal fonte energética para os seres vivos do
planeta Terra;
»» Apresentar noções básicas sobre transferência de energia nos ecossistemas;
»» Explicar o que são e como funcionam os ciclos biogeoquímicos;
»» Introduzir a importância do conhecimento sobre os ciclos biogeoquímicos
para a organização da sociedade;
»» Apresentar a Teoria de Gaia como uma forma respeitosa e harmônica de
vida no planeta.

Nesta Unidade, serão apresentados os ciclos biogeoquímicos e apresentar informações


sobre como ocorre o sistema cíclico de elementos vitais para a sobrevivência na Terra e como
a energia está envolvida nos ciclos biogeoquímicos através dos processos ecossistêmicos de
interações entre os seres vivos e o ambiente; como esses processos ecossistêmicos ocorrem
em todo o globo terrestre. Além disso, trataremos da Teoria Gaia e de suas especificidades.
Recomendamos que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo consulte, ainda,
os materiais complementares e assista aos vídeos sugeridos. Recomenda-se também, que
utilize a internet e busque outras fontes que possam contribuir com o seu aprendizado.

5
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Contextualização
Sabemos que para o funcionamento do ecossistema acontecer vários elementos vivos e não
vivos estão envolvidos por um conjunto de interações ecológicas. Esta Unidade te apresentará
quais os principais elementos não vivos e, além disso, como ocorre o ciclo desses elementos
enquanto as interações ecológicas acontecem.
Fora isso, a visão que integra todos os elementos da biosfera como sendo um único
organismo vivo está à sua espera. Nela, você poderá perceber como cada atividade realizada
no planeta interfere de alguma forma no seu funcionamento como um todo. Uma espécie de
“efeito borboleta” fará você perceber que cada elemento está de alguma forma interligado
dentro deste grande organismo vivo chamado planeta Terra.
Atualmente vivenciamos graves problemas ambientais e o que mais tem repercutido é a falta de
água em algumas regiões do país, que é considerado um dos maiores riscos à nossa subsistência.
A seguir, seguem dois links: uma reportagem e um vídeo que tratam do assunto da água.

Navios-tanque traficam água de rios da Amazônia:


http://www.ecoagencia.com.br/?open=noticias&id=VZlSXRFWwJlUspFUjdEeXJ1aKVVVB1TP

Tecnologia do Futuro! “Chega de usar água para transportar fezes”:


https://youtu.be/RfAy45B8k2k

6
Energia nos ecossistemas

Por meio dos princípios ecológicos você pode compreender que o ecossistema vincula as
relações existentes entre os animais e vegetais aos fatores físicos e químicos do ambiente – tais
como clima, luminosidade, temperatura, umidade, pressão atmosférica, salinidade, pH, entre
outros. Dessa forma, cada organismo inserido no seu contexto ecológico desempenha função
ecossistêmica (Figura 1).

Figura 1. Representação esquemática do fluxo de energia através dos componentes do ecossistema.

Fonte: ib.usp.br

Por exemplo, imagine que uma população de indivíduos de uma espécie qualquer foi
dizimada do ambiente em que estava inserida. As funções ecológicas que eram executadas
pelos indivíduos dessa população deixam de existir. Consequentemente, o ecossistema entra
em desequilíbrio funcional e busca se reordenar de modo a repassar as funções perdidas para
novos organismos. Esses novos organismos surgem para desempenhar as funções ecológicas
antes realizadas pela população que foi extinta, de forma a manter o equilíbrio das demandas
de energia e matéria que fazem funcionar todo o conjunto ecossistêmico. Portanto, para que
se mantenha uma função ecológica, necessita-se da permanência do fluxo de energia entrando
e saindo do ecossistema.

7
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Transformações de Energia
Em nosso planeta podemos dividir a energia em três principais tipos:

Energia térmica: energia em forma de calor;


energia em forma de deslocamento de corpos através de força – como a
Energia mecânica: energia gravitacional;
Energia química: energia obtida através da quebra de ligações moleculares.

Todos esses três tipos de energia existentes em nosso planeta possuem comportamento
regido pelas Leis da física.

As Leis da Termodinâmica

A física diz que o fluxo de energia é sempre um processo unidirecional. A energia entra
no planeta Terra a partir do Sol, que emite energia luminosa através dos raios solares. O Sol
é considerado a fonte de maior produção de calor do nosso planeta, a qual é considerada
indispensável como fonte de energia para existência de vida. Portanto, para que você entenda
como se dá a relação entre a vida e a energia nos processos ecossistêmicos, é importante que
conheça quais as características da energia segundo as Leis da física.

A 1ª Lei da Termodinâmica diz que a energia pode ser convertida de uma forma a outra,
mas em hipótese nenhuma a energia pode ser criada ou destruída – daí vem a célebre frase:
“Nada se cria, tudo se transforma ou se modifica.” Seguindo com os princípios da física, na 2ª
Lei da Termodinâmica, é dito que as transformações de energia sempre resultam em alguma
dissipação de energia, ou seja: sempre quando há transferência de energia de um corpo para o
outro, uma porcentagem dessa energia é liberada para o ambiente. Dessa forma, para manter
a ordem de funcionamento dos ecossistemas, a energia deverá constantemente ser adicionada
ao sistema para compensar a perda de energia resultante das interações ecológicas.

Você deve ter em mente que a energia nos ecossistemas é constante, e dessa forma ela
não é criada e nem destruída por nenhum ser vivo. Porém, as interações ecológicas
são responsáveis pelo fluxo dessa energia entre os mais diversos organismos vivos
Reflita do nosso planeta.

8
Energia
Todos os dias você pode observar que a superfície terrestre recebe radiação solar e em
consequência dela ocorre um fluxo de calor conhecido como radiação térmica. Esses dois
tipos de radiação – a solar e a térmica – contribuem diretamente para a formação do clima. É
importante que você saiba que apenas uma parte da radiação solar que adentra na atmosfera
é captada pelas plantas e algas fotossintetizantes e convertidas em energia potencial biológica.
A luz solar que atinge a Terra pode ter a sua intensidade medida através do aparelho pireliômetro
ou solarímetro. Em dias com condições climáticas favoráveis, a intensidade dessa luz corresponde a
apenas 67% do total que sai do Sol. Conforme os raios solares entram na atmosfera terrestre, eles
têm de atravessar as nuvens, os gases, vapores d’água e as partículas presentes no ar, além da própria
vegetação. Com isso, a distribuição dos raios solares é alterada fazendo com que haja variação do
fluxo de incidência da radiação solar nos diversos ecossistemas.

Essa variação de incidência de luz solar influencia diretamente na distribuição


dos organismos sobre a superfície terrestre, uma vez que será a responsável pela
Importante! estruturação do clima.

Como dito anteriormente, a radiação solar, ao penetrar na atmosfera, é atenuada por


vários fatores, sendo que a camada de ozônio é a responsável por “filtrar” grande parte dos
raios ultravioletas nocivos aos seres vivos. As partículas presentes na atmosfera ainda reduzem
bastante a luz visível e a radiação infravermelha de forma que a energia que chega à superfície
compreende apenas 10% do total de raios ultravioletas emitidos pelo Sol. É importante saber
que dentre todas as radiações, a que menos sofre redução ao entrar na atmosfera terrestre é a
luz visível. Tal fato possibilita que ocorra fotossíntese até mesmo em dias nublados ou embaixo
d’água – até uma determinada profundidade.
Você já deve ter sentido o prazer de estar debaixo de uma sombra fresca, dessas localizadas
em florestas. A boa sensação provocada por essas sombras decorre da absorção da radiação
visível e dos raios infravermelhos através das folhagens presentes nas copas das árvores. A
clorofila absorve feixes de luz, enquanto a água presente nas folhas é responsável por absorver
a energia térmica dos raios infravermelhos. Por isso, um clima fresco e ameno é certamente
percebido pelos nossos sentidos.

Vale ressaltar que o calor que entra na atmosfera é essencial para que haja
as condições favoráveis à vida na Terra. Você já pensou o que seria dos
ecossistemas e da vida em nosso planeta caso a luz do Sol deixasse de chegar
Reflita até nós?

O fluxo de radiação térmica, ou seja, de energia em forma de calor, incide direta e


indiretamente a todo o instante e por todas as direções na superfície terrestre. Já a radiação
solar é direcional e está presente somente no período do dia que faz Sol. É bastante relevante
que você saiba que a radiação térmica é facilmente absorvida pela biomassa, ou seja, pelos
corpos vivos; mas os organismos assimilam apenas a radiação solar.

9
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Para se ter uma ideia do total de energia solar que adentra a biosfera, apenas 0,8% é
utilizado pelas plantas para realizar a fotossíntese e converter energia luminosa em energia
bioquímica. Dos 99,2% restantes, 23,2% são dissipados por processos naturais de evaporação,
precipitação, correntes de vento e das ondas do mar, 46% dessa energia é diretamente
convertida em calor e os 30% restantes são simplesmente refletidos para fora da atmosfera.
Mesmo sendo ínfima a porção de luz solar que é assimilada pela fotossíntese e convertida
em energia em forma de alimento pelas plantas, os demais processos são extremamente
relevantes para gerar condições favoráveis à vida nos mais variados ambientes da Terra como,
por exemplo, o controle da temperatura e dos climas globais interferindo diretamente no ciclo
da água e nos fenômenos meteorológicos.

Os ecossistemas e os tipos de energia


Além de haver algumas variações entre os ecossistemas naturais e em como eles obtêm
energia do ambiente para funcionarem, surge em nosso planeta, em decorrência da
industrialização, novos sistemas que funcionam através de fontes alternativas de energia, os
quais têm provocado grandes transformações ambientais. A seguir estão exemplificados os
ecossistemas naturais e artificiais encontrados na biosfera de hoje em dia:

» Ecossistemas naturais dependentes exclusivamente da energia solar. Por exemplo: os


oceanos abertos e as florestas de altitude;
» Ecossistemas naturais dependentes de energia solar e subsídios ambientais. Por
exemplo: os estuários de marés e algumas florestas úmidas;
» Ecossistemas artificiais dependentes da energia solar e de subsídios antropogênicos.
Por exemplo: agricultura e aquicultura;
» Sistemas urbano-industriais dependentes de combustível. Por exemplo: as cidades, os
bairros e as zonas industriais.

Pirâmide de Energia
A pirâmide de energia expressa a quantidade de energia acumulada em cada nível da cadeia
alimentar. O fluxo decrescente de energia da cadeia alimentar justifica o fato de a pirâmide
apresentar o vértice voltado para cima. O comprimento do retângulo (tamanho das palavras)
indica o conteúdo energético presente em cada elo da cadeia (Figura 2).

Figura 2. Pirâmide energética indicando três níveis tróficos representando os produtores, consumidores primários e secundários.

Criança 8,3 kcal


Bezerro 1.190 kcal
Alfafa 14.900 kcal

10
As estimativas científicas apontam que cada nível trófico transfere apenas 10% da energia
que possui para o nível trófico seguinte. Consequentemente, a pirâmide de energia quase
nunca apresentará mais do que cinco níveis tróficos. Para exemplificar, imagine uma plantação
de milho capaz de alimentar 100 pessoas durante um ano. Caso essa mesma plantação seja
destruída e transformada em pasto, o qual servirá somente para engorda de bovinos de corte, o
número de gado que a área poderá suportar será tão pequeno que não será possível alimentar
mais do que cinco pessoas durante o mesmo período de um ano.
Dessa forma, podemos compreender que a quantidade de energia que se perdeu de um nível
trófico para outro foi muito grande. Ou seja, numa mesma área onde tínhamos seres vivos
produtores de energia, como a plantação de milho, teremos uma enorme perda energética
após a substituição por gado, onde poderemos contemplar apenas uma ínfima parte da
população humana a alimentando com carne. Assim, podemos concluir que os produtores
possuem muito mais carga energética que os demais níveis tróficos da pirâmide de energia.
Infelizmente é muito grande o território brasileiro onde se pratica a pecuária, que inclusive
exporta enormes quantidades de carne, enquanto se poderia potencializar a capacidade de
alimentar mais pessoas incentivando a agricultura.

Recursos energéticos
Assim como nos ecossistemas naturais, nós seres humanos, também necessitamos de
energia para desenvolver nossas atividades vitais. Nossa alimentação é a essencial fonte de
energia para que nossos sistemas respiratórios, circulatórios, digestivos, entre outros continuem
funcionando normalmente e assim permaneçamos vivos. Mas acontece que a sociedade criou
uma série de atividades industriais e domiciliares que demandam muito mais energia do que
de fato precisamos para viver.
Essa demanda de energia que a sociedade precisa para desenvolver suas atividades
é suprida por meio da exploração dos Recursos Energéticos oferecidos pelo nosso
planeta. Os recursos energéticos são o conjunto de meios com que os países do mundo
exploram para atender às suas demandas na cadeia produtiva de bens de consumo materiais.
São diversas as fontes energéticas exploradas pelo homem, mas as mais utilizadas são:
petróleo, gás natural e carvão.
Você pode observar que a quantidade de veículos tem aumentado drasticamente nas cidades.
Dessa forma, o petróleo cru e o gás natural são encontrados em quantidades comerciais em
mais de 50 países de todos os continentes do planeta. As maiores e mais da metade das jazidas
de petróleo se encontram no Oriente e quase um terço das reservas já descobertas de gás
natural também estão lá.
O carvão é um termo genérico que se refere a uma grande variedade de materiais sólidos
que possuem alto conteúdo de carbono. Esses materiais são queimados em centrais térmicas
que geram vapor d’água destinado a impulsionar geradores de energia. O grande problema
desse combustível é a queima excessiva de madeira, a falta de fiscalização favorece grandes
desmatamentos de áreas naturais, sem contar com a imensa quantidade de gás carbônico que
é lançada na atmosfera.

11
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Por outro lado, a energia solar não é apenas uma tecnologia energética, mas também um termo
que se aplica a diversas tecnologias de energias renováveis. Sua característica comum é que, ao
contrário de quase todas as demais, é inesgotável, totalmente limpa e segura. No Brasil, infelizmente,
falta percepção do Governo para as potencialidades dessa fonte inesgotável que não prejudica o
meio ambiente e nem impõe riscos de contaminação ou de doenças para os humanos.

Fontes de Energia

Atualmente, as pesquisas científicas estão preocupadas em desenvolver novas fontes de


energia, as quais possam substituir os combustíveis não renováveis e poluidores do meio
ambiente – como o petróleo e o carvão mineral. Vamos conhecer um pouco mais sobre as
fontes de energia.

Energia hidrelétrica
É a energia gerada pela força da água. Provoca-se represamento de grande área alagada
através de uma interrupção com barragem no curso de um rio. A água irá cair para um nível
inferior da barragem, provocando assim a movimentação de turbinas geradoras de energia.
Essa energia provoca impacto ambiental principalmente na construção dessas barragens, pois
grandes áreas naturais acabam sendo alagadas. O rio perde o seu potencial turístico ou de
lazer e as populações ribeirinhas são desabrigadas.

Álcool
O álcool vem sendo usado em substituição à gasolina e outros combustíveis derivados
do petróleo. No Brasil, a cana-de-açúcar tornou-se a principal fonte de produção de álcool
hidratado. Para tanto, muitas usinas foram implantadas em vários estados brasileiros.

A principal vantagem do uso do álcool como combustível é a redução de consumo do


petróleo pela população. No entanto, a utilização desse combustível traz também algumas
desvantagens: grandes áreas, antes reservadas à produção de alimentos e de preservação da
biodiversidade, estão agora sendo convertidas em enormes latifúndios de cana-de-açúcar.

Além disso, a produção de álcool causa drásticos desequilíbrios nos ecossistemas, interferindo
na qualidade dos rios e demais corpos d’água. Grandes quantidades de resíduos altamente
tóxicos, como o vinhoto, são pulverizados nas plantações de cana, e esses elementos químicos
acabam contaminando mais do que o solo, mas também os rios, lagos e inclusive o lençol
freático, tornando a água altamente cancerígena para o consumo a longo prazo.

12
Energia nuclear
É a energia liberada durante a fissão ou fusão de núcleos atômicos. Uma fonte inesgotável
de energia, onde enormes quantidades podem ser obtidas mediante processos nucleares de
alguns átomos específicos. A energia nuclear supera em muito as demais fontes de energia,
e uma vez que se tenha total controle sobre a manipulação dessa fonte, ela é considerada
totalmente eficaz e limpa.

Energia solar
Energia inesgotável produzida pelo Sol. Os raios solares chegam à atmosfera terrestre
através dos fótons, os quais interagem com a atmosfera e a superfície terrestre.
Na atmosfera, nos oceanos e nas plantas ocorre a absorção natural de energia solar, mas a
energia solar pode ser obtida artificialmente através de dispositivos denominados de coletores
solares. A energia solar, uma vez absorvida, pode ser convertida em energia elétrica sem
nenhum dispositivo mecânico intermediário.

Os Ciclos Biogeoquímicos

Os ciclos biogeoquímicos são processos naturais que, por diversas formas, promovem reciclagem
de importantes elementos ou de compostos químicos do meio ambiente para os organismos, e
vice-versa. Ou seja, é através dos ciclos biogeoquímicos que ocorre o fluxo cíclico dos elementos
químicos importantes tanto para a vida quanto para os ecossistemas existentes na biosfera. Portanto,
elementos como a água, o carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e cálcio percorrem esses ciclos,
unindo todos os componentes vivos e não vivos da Terra.
Você já deve ter em mente que a Terra é um sistema dinâmico que está constantemente
em evolução, portanto, qualquer alteração dos ciclos biogeoquímicos acaba afetando todos os
demais processos físicos e biológicos.

Os elementos químicos da natureza são constantemente transformados durante os


processos de composição e decomposição da matéria orgânica, sendo que todos eles
Importante! estarão sempre contidos na biosfera sendo, portanto, recicláveis.

Para que fique claro, os ciclos biogeoquímicos que acontecem a todo instante em nosso dia
a dia podem ser entendidos como o movimento ou o percurso de um determinado elemento
ou molécula química através de um ou vários meios como a atmosfera, a hidrosfera e a litosfera
da Terra. Desse modo, os ciclos estão intimamente relacionados com processos geológicos,
hidrológicos e biológicos.

13
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

O estudo desses ciclos se torna cada vez mais importante, como, por exemplo, para avaliar
o impacto ecossistêmico que a exploração de um recurso natural possa vir a causar no meio
ambiente e nos seres vivos que dependem direta ou indiretamente desse meio para garantir a
sua sobrevivência.
Um triste exemplo tem sido a falta de água na região metropolitana de São Paulo. Tanto a
população humana quanto a fauna e flora têm sofrido com a escassez desse recurso nessa região.
Uma vez que os rios e lagos estão sendo poluídos e altamente consumidos principalmente por
indústrias e plantações agrícolas, os rios e os demais mananciais de água potável tem sido
contaminados pelo despejo de resíduos cancerígenos (metais pesados) e superexplorados por
conta da irrigação de latifúndios de cana-de-açúcar.

Em síntese:
Como dito anteriormente, qualquer matéria pode ser constantemente reaproveitada
na natureza. Por exemplo, quando uma planta ou um animal morre, as bactérias e
os fungos existentes no solo dão início à decomposição da matéria que compunha
seus corpos. É justamente através da decomposição que se devolve ao solo os sais
minerais, a água e os demais elementos – como sódio (Na), potássio (K), fósforo
(P) e nitrogênio (N). A partir da decomposição desses elementos, eles estarão
novamente disponíveis no solo, no ar ou na água, onde o processo todo se reinicia
como se fosse uma grande engrenagem do mundo natural.
Algumas atividades cíclicas ligadas aos elementos biogeoquímicos podem ser
exemplificadas. O nitrogênio, por exemplo, que naturalmente é encontrado no ar
que respiramos, é absorvido por algumas bactérias que vivem aglomeradas nas raízes
de algumas plantas (Figura 3). Já o fósforo que está presente no solo é novamente
incorporado pelos seres vivos a partir das plantas para compor os fosfolipídios.

Figura 3. Raízes de leguminosas com nódulos contendo bactérias fixadoras de nitrogênio.

Fonte: Xavier et al. (2015)

14
O ciclo da água
Você já deve saber que a água pode ser encontrada naturalmente em três estados físicos:
sólido, líquido e gasoso. Nos oceanos e mares temos aproximadamente 97% de toda a água
do nosso planeta. Dos 3% restantes, 2,25% está em forma de gelo nas geleiras e nos polos
norte e sul, e apenas 0,75% está presente nos rios, lagos e lençóis freáticos que a população
humana tem de dividir com os demais animais terrestres.
A quantidade de água na forma de vapor que se encontra na atmosfera é extremamente inferior
quando comparada às grandes quantidades de água encontradas nos demais estados físicos. Porém,
apesar dessa quantidade ser ínfima, a presença de vapor de água no ar é vital para os seres vivos e
fundamental para que se estabeleça as condições climáticas do nosso planeta.
Esse vapor de água que se encontra na atmosfera é proveniente da evapotranspiração que
ocorre de forma natural na biosfera. A evapotranspiração nada mais é do que a própria
transpiração realizada pelos seres vivos e a evaporação da água líquida por conta do aquecimento
pelo Sol. Portanto, você já deve ter imaginado que a evapotranspiração exige certa quantidade
de energia para ser realizada. A água gasosa evaporada para atmosfera pela radiação térmica
solar se condensa na atmosfera por perda de calor e se precipita em forma de chuva (líquida),
ou por um resfriamento excessivo na forma sólida (neve ou granizo).
Como a maior parte da água em nosso planeta se concentra nos oceanos, a quantidade de
evapotranspiração é bem maior do que a precipitação nas áreas oceânicas. Por outro lado,
nos continentes e nas ilhas ocorre o inverso: a água evapora em menor quantidade e chove
em maior proporção. Essa inversão possibilita nos continentes a formação de rios, lagos e
lençóis freáticos.
Então, como a chuva ocorre de forma mais pronunciada nos continentes do que nos
oceanos, poderemos pensar que a tendência do nível de água nos oceanos seria diminuir ao
longo do tempo. Entretanto, vemos que isso não tem acontecido. Você sabe por quê? Bom,
esse processo dos oceanos secarem não ocorre devido ao acúmulo de água dos continentes
ser transportado de volta aos mares e oceanos através dos rios.
Figura 4. Esquema ilustrativo do ciclo da água.
É muito importante que você observe
que todo o movimento realizado pela
água em nosso planeta acontece de forma
cíclica. Desse modo, a água evaporada
pelo Sol e transpirada pelos animais
percorre seu trajeto, seja ele na terra
ou na atmosfera, cumprindo todas suas
funções, até que ocorra a precipitação,
quando ela voltará a estar disponível para
recomeçar o seu ciclo na natureza. Veja o
ciclo completo na Figura 4 (ao lado).
Fonte: ga.water.usgs.gov

15
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Teoria de Gaia

Olhando o ecossistema como um todo, podemos observar que a população é extremamente


ampla e ainda em constante crescimento. Além disso, observamos vários pontos negativos
para a qualidade do ambiente, como a degradação das áreas de matas, o esgotamento dos
recursos naturais, o acúmulo de resíduos de todos os tipos de lixo transformados em poluição
de rios, solo e ar, além da mudança climática e a destruição da biodiversidade em todas as suas
formas. Todas essas situações provocadas pela humanidade constituem juntas uma ameaça
ao bem-estar do próprio ser humano – ameaça essa que até então era desconhecida pelas
gerações anteriores.

Dessa forma, é extremamente fácil perceber que precisamos restabelecer o equilíbrio em


nosso planeta, e isso depende essencialmente do ser humano voltar a respeitar a natureza da
forma como ela merece. É nesse contexto que surge a Teoria de Gaia, a qual foi proposta para
mostrar à humanidade o que temos feito com nosso planeta, e que a necessidade de equilibrar
o meio ambiente é urgente, tendo em vista que a existência de vida está comprometida pelo
nosso grande descaso.

Analisando a Terra do seu interior, cientistas descobriram que ela é quase totalmente
constituída de rocha fundida e metal. Sendo a Terra um planeta do universo que pulsa vida por
toda a sua porção externa, a Teoria de Gaia considera, portanto, que o nosso planeta funciona
como um imenso sistema fisiológico dinâmico, o qual se tornou apto para a vida há mais
de três bilhões de anos. Dessa forma, Gaia pode ser entendida como um sistema fisiológico
“vivo” que regula as condições climáticas e químicas para que sejam ideais para a vida.

O cerne dos problemas que afligem Gaia está na falta de controle populacional humano,
onde atualmente o número de habitantes ultrapassa as sete bilhões de pessoas e torna
insustentável a vida nos próximos anos. Com o atual modelo de desenvolvimento capitalista,
onde a superexploração dos recursos naturais provoca a destruição maciça de ecossistemas,
polui o globo terrestre e ameaça o clima, o nosso compromisso agora é controlar o crescimento
populacional de modo a sermos condizentes em número de pessoas com aquilo que a
capacidade de Gaia suporta para alimentar-nos a longo prazo.

Para que isso ocorra, é nosso dever para com o planeta alterarmos a ordem dos nossos
valores enquanto sociedade, dando prioridade para o controle populacional, à limpeza das
águas, proteção do solo e ao cuidado com as árvores e animais.

Como dito anteriormente, a própria Gaia é quem regula sua temperatura de modo a ser
ideal para qualquer tipo de vida que a esteja habitando, contudo, a emissão de gases de efeito
estufa, como o CO2, faz com que a nossa atmosfera aqueça o bastante a ponto de derreter
imensos blocos de gelo da Groenlândia e de parte da Antártida ocidental (Figura 5). Aos
nossos oceanos será então acrescentada água suficiente para que os níveis do mar se elevem
e ocasionem êxodo do litoral para as regiões interioranas e mais altas dos continentes.

16
Figura 5. Imagem de satélite do iceberg B-15A de 160 Km de comprimento
O aquecimento da atmosfera, em termos de na Antártida desprendido por causa do aquecimento global.
Gaia, em pouco tempo será excessivo para a flora,
fauna e muitas outras formas microbianas de vida.
Esse impacto climático é provocado pela nossa civi-
lização industrial, a qual vem aquecendo Gaia mais
rapidamente do que os processos naturais. Sabe-
mos que Gaia já sobreviveu com sucesso a enormes
catástrofes em seus primeiros milhões de anos de
vida (Figura 6) mas, contudo, caso continuemos a
deixar as coisas como estão, nossa espécie poderá
nunca mais desfrutar deste planeta repleto de vida Fonte: www.apolo11.com

– assim como já perdemos inúmeras belezas naturais verdejantes e cênicas, que existiam há
pouco mais de cinquenta anos e hoje já não existem mais.

Figura 6. O estabelecimento da vida na Terra e sua relação com as chuvas meteoríticas esterilizantes.

Fonte: Damineli e Damineli (2007)

Neste momento, você deve estar pensando que é muito difícil tomarmos medidas de ação
em prol de nosso planeta e de nós mesmos, mas é mais simples do que se imagina. Basta
rompermos com a economia que enriquece poucos e manter a maior parte da população
mundial com pouco dinheiro, transformaremos toda essa situação que antecede o caos apenas
tornando a nossa economia ecológica.
Para isso, nossa matriz energética, por exemplo, deverá se basear em fontes renováveis já
descobertas, tais como a energia eólica e a solar (Tabela 1). Ainda, poderemos substituir os
combustíveis fósseis poluidores, como o carvão mineral e o petróleo, por aqueles de origem
vegetal, como o etanol e o biodiesel. Outra fonte energética seria a proveniente de energia
nuclear que, apesar de ser defendida por diversos intelectuais de gestão ambiental como a

17
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

solução de crises ambientais, tem sido repensada pela sociedade atual após alguns acidentes –
embora tenhamos tecnologia suficiente para manter níveis seguros de uso dessa fonte.
Tabela 1. Empreendimentos de geração de energia em ação no Brasil em 2014.
Tipo Quantidade Potência Outorgada (kW) %
CGH 469 288.349 0,22
EOL 178 3.847.529 2,89
PCH 467 4.713.134 3,57
UFV 164 16.287 0,01
UHE 197 86.625.945 63,17
UTE 1.866 39.325.279 28,61
UTN 2 1.990.000 1,52
Total 3.343 136.806.523 100
Fonte: http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm

Este assunto acaba entrando no âmbito da sustentabilidade, a qual representa ações


economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas (FIALHO et al.,
2007). Esse conceito vem crescendo e atingindo mais pessoas graças a ações individuais
e de organizações civis não governamentais que possuem visão holística da natureza e da
economia, que perceberam os problemas socioambientais relacionados ao mau planejamento
de governar a população mundial.
Quanto mais conhecimento obtemos, mais clara fica a percepção que Gaia foi e está sendo
bruscamente alterada em razão do desenvolvimento da vida humana sobre ela. À medida
que ocupamos áreas verdes transformando-as em áreas urbanas, alteramos a composição do
ambiente – como a sua temperatura, natureza química e toda a estrutura de vida na superfície da
Terra. O que vêm ocorrendo é que Gaia está em luta contra todas as perturbações provocadas
pela humanidade em função da manutenção de suas formas de vida. Entretanto, os seres
humanos tentam governar a Terra para seu próprio conforto e conveniência. Como resposta,
em analogia aos cuidados maternos, o grande ecossistema Gaia age como uma mãe que
acalenta seus filhos quando esses lhe dão o devido respeito, mas, por outro lado, pune os que
a desrespeitam, sendo que o castigo pode muitas vezes significar a impossibilidade de vida até
mesmo dos que a respeitam.
Com isso, para evitarmos que todos paguem pelo mau comportamento de uma grande
parcela da população, precisamos divulgar o que acontece de verdade com nosso planeta
para todas as pessoas, pois há riscos para todos, tanto para nossas vidas quanto às gerações
futuras. Apenas educando as pessoas de como viver de um modo sustentável, a população se
mobilizará de forma espontânea e generosa com os ecossistemas, adotando uma postura de
vida em harmonia com Gaia.
Comumente, cada um de nós prioriza uma vida boa pensando em um futuro imediato. Por conta
disso, preferimos então protelar a solução dos problemas esquecendo os pensamentos desagradáveis
que uma possível catástrofe provocará no futuro. Dessa forma, nós, seres humanos, nunca nos
responsabilizamos por nossos atos de desrespeito ao planeta, uma vez que as consequências ocorrem
a longo prazo e caem sobre as costas das gerações futuras.

18
Material Complementar

Vídeos:
Discovery na Escola - Elementos de Biologia, Ecossistemas
https://youtu.be/5WVhItCdm-o

Biologia - ciclos biogeoquímicos


https://goo.gl/9GtFU7

Teoria gaia de James Lovelock


https://youtu.be/GzhidMRxBuQ

Livros:
PRIMACK, R. B; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: editora Planta. 2001.

ROSA, R. S.; MESSIAS, R. A.; AMBROZINI, B. Importância da compreensão dos ciclos biogeoquímicos
para o desenvolvimento sustentável. Coord. Maria Olímpia de O. Rezende. Instituto de Química de
São Carlos, Universidade de São Paulo. 2003.

Sites:
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia26.php
https://www.biologiatotal.com.br/areas-da-biologia/ecologia/
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/bio_ecologia/ecologia6.php

19
Unidade: Energia e Ciclos biogeoquímicos nos ambientes

Referências

DAMINELI, A.; DAMINELI, D.S.C. Origens da vida. Estudos Avançados, 21 (59): 263-
284, 2007.

FIALHO, F.A.P. et al. Empreendedorismo na era do conhecimento. Florianópolis: Visual


Books, 2007.

LOVELOCK, J. A Vingança de Gaia. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2006. Tradução Ivo Korytowski.

XAVIER, G.R.; RUMJANEK, N.G.; GUEDES, R.E. Fixação Biológica de Nitrogênio.


Embrapa. Agência Embrapa de Informação Tecnológica - Ageitec. Disponível em: http://www.
agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/feijao-caupi/arvore/CONTAG01_24_510200683536.
html. Acesso em: 10 mar. 2015.

USGS. Water cycle. Departhment of the interior. United States Geological Surveys. 2015.
Disponível em: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercyle.html. Acesso em 23 mar. 2015.

USGS. Water cycle. Departhment of the interior. United States Geological Surveys. 2015.
Disponível em: http://ga.water.usgs.gov/edu/watercyle.html. Acesso em 23/03/2015.

20
Anotações

21
Planejamento
Energético
Material Teórico
Energia e Sociedade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Pedro Henrique Cacique Braga

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Energia e Sociedade

·· Introdução
·· Planeamento de Sistemas Elétricos
·· Políticas Energéticas
·· Energia e Crescimento Econômico
·· Perfil de Consumo Energético
·· Conclusões

··Serão discutidas as relações entre energia e crescimento econômico,


observando os recursos e a demanda energética.
··Por fim, trabalharemos com a caracterização do perfil de consumo
energético nos setores residencial, comercial, industrial, de transportes,
rural e de serviços públicos.

Nesta Unidade, vamos estudar as relações entre Energia e Sociedade; abordaremos os


tópicos necessários para a compreensão do planejamento energético e traçaremos o perfil
do consumo energético nos setores residencial, comercial, industrial, de transportes, rural e
de serviços públicos.
Não se esqueça de acessar o ambiente virtual para participar dos fóruns de discussão e
realizar as atividades propostas.
Não hesite em contatar o seu tutor sempre que necessário.

5
Unidade: Energia e Sociedade

Contextualização

A produção e distribuição de energia são uma grande tarefa de uma nação. Garantir que
a sua população tenha o necessário para o consumo diário e ainda que as fontes de recursos
naturais permaneçam em estados utilizáveis requer planejamento bem específico e detalhado.
Uma política energética nacional que garanta o fornecimento nacional, a inserção do país
no mercado internacional e ainda contenha práticas de redução da emissão de poluentes deve
ser estabelecida.
Todo governo possui os seus órgãos de regulamentação para criação e cumprimento das
leis estabelecidas pela política nacional. Para criar tal política, é preciso levar em consideração
alguns tópicos como: quantidade de recursos presente no território nacional, distribuição das
reservas e demanda por região, classe e setor.
Além de garantir o bom uso dos recursos, é preciso investir em pesquisa e desenvolvimento
de novas tecnologias de conversão do insumo primário em energia.

Para Pensar

Para esta Unidade, convido você a refletir sobre as políticas energéticas atuais, determinadas na Lei
9478, de 6 de agosto de 1997, que pode ser consultada em: <http://goo.gl/L9fGYi>.

6
Introdução

O domínio sobre os recursos naturais para a geração de Energia foi uma conquista marcante
na história da Humanidade. Ao ser analisada a trajetória do ser humano, percebe-se que sua
evolução em sociedade sempre foi acompanhada pelo avanço da tecnologia. Seja na produção
do fogo, na construção de ferramentas, fabricação de bens duráveis ou nas telecomunicações,
entre outras grandes inovações.
A corrida incessante pela otimização de tarefas simples ou complexas é seguida de perto pela
busca por novas tecnologias capazes de realizar em segundos o que antes era feito em horas,
dias ou mesmo semanas. A capacidade humana de realizar suas tarefas passa a ser dependente
de novas formas de energia.
“Energia é aquilo que permite uma mudança na configuração de um sistema, em oposição
a uma força que resiste à esta mudança” (VIANA et al., 2012, p.14).
A definição proposta por Maxwell, em 1872, permanece válida na atualidade e serve como
base para os estudos aqui apresentados. Observe que quando tratada como algo que permite
uma mudança na configuração de um sistema, a Energia pode ser entendida como algo que
não pode ser criado, mas transformado.
“A energia se apresenta de diversas formas, que podem ser convertidas entre si. É importante
observar ainda que apenas nos processos de conversão se identifica a existência de energia”
(VIANA et al., 2012, p.15).
Com base em tais afirmativas, seguem-se os estudos na tecnologia associada à conversão de
energia e sua utilização em sociedade.

Planeamento de Sistemas Elétricos

O Setor Elétrico brasileiro está em constante evolução. Baseado na geração, transmissão


e consumo de energia elétrica, este setor deve ser constantemente avaliado e submetido a
políticas e regras que garantam seu melhor funcionamento.
A fim de garantir a estabilidade, é necessário equilibrar oferta e demanda de energia
nacional. Isso não é feito apenas aumentando a oferta desenfreadamente, seguindo o aumento
da demanda.
Se assim fosse, as reservas de recursos naturais não suportariam o grande consumo de um
país com proporções continentais. É preciso uma tecnologia capaz de utilizar a menor quantidade
dos recursos visando à maior produção e menor emissão de poluentes.
O planejamento energético do país requer o estudo da demanda e das possibilidades
diversas de produção de energia. Sendo assim, foram instituídas entidades para a realização
destes planos.

7
Unidade: Energia e Sociedade

No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME) foi criado para auxiliar o exercício do
Poder Executivo, criando normas, acompanhando e avaliando programas federais e implantando
políticas para o setor energético.
Alguns órgãos relacionados ao MME são:

• ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica – tem a finalidade de regular e fiscalizar a


produção, transmissão e comercialização de energia elétrica, de acordo com as políticas e
diretrizes do governo nacional;

• ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – é o órgão regulador


das atividades das indústrias de petróleo, gás natural e biocombustíveis. Responsável pela
execução das políticas nacionais para o setor;

• DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral – sua principal atribuição é planejar


e fornecer o fomento da exploração mineral e dos recursos geológicos do território nacional;

• ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico – é uma entidade sem fins lucrativos com
finalidade de gerenciar e controlar as instalações de geração e transmissão de energia
elétrica em todo o país.

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve propor ao Presidente da


República políticas nacionais e medidas para o setor. Já as Secretarias de Planejamento
e Desenvolvimento Energético, de Energia Elétrica, de Petróleo, Gás Natural e
Combustíveis Renováveis e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) devem prestar
serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético.
O trabalho em conjunto destas entidades garante o planejamento e a execução de políticas
nacionais para o melhor atendimento à população.

Figura 1. Paradigma de produção e consumo de energia.

8
A Figura 1 relata um paradigma que deve ser observado no planejamento energético: a
relação entre demanda, consumo e manutenção dos recursos naturais minimizando a poluição
do Planeta.
A demanda por energia cresce proporcionalmente ao crescimento da população mundial.
A energia é a base para a realização de tarefas simples e diárias individuais e também para a
produção de bens duráveis e não duráveis, consumidos pela população.
Conforme dito anteriormente, a geração da energia é baseada nos recursos naturais
do Planeta. Seu uso desenfreado causaria um esgotamento das fontes de insumos primários
para produção.
Como consequência da extração dos recursos e dos processos de geração de energia, surgem
problemas ambientais relacionados à poluição, como chuva ácida, efeito estufa e muitos outros.
É necessário que o planejamento energético garanta o equilíbrio entre estes três pontos, para
que a população tenha sua demanda suprida e, ao mesmo tempo, sejam preservadas as fontes
naturais para as gerações futuras.

Figura 2. Recursos naturais renováveis e não-renováveis.

Água
Ar
Renováveis
Biomassa
Vento
Recursos
Minerais não-energéticos
(Fósforo, Cálcio, etc)
Não-Renováveis
Minerais energéticos
(Combustíveis fósseis, Urânio)

Os recursos naturais podem ser classificados em renováveis e não renováveis. Os primeiros,


como o próprio nome diz, são aqueles que se renovam após sua utilização, como água, ar,
biomassa e vento, por exemplo.
De forma análoga, os não-renováveis são aqueles que, uma vez consumidos, tornam-se
inutilizáveis. Neste grupo, encontram-se os minerais não-energéticos, como Fósforo e Cálcio,
por exemplo, e os minerais energéticos, como os combustíveis fósseis e o urânio.
Para que a utilização seja ótima, é preciso estabelecer uma proporção adequada para cada
tipo de recurso, sem que estes se esgotem.

9
Unidade: Energia e Sociedade

Políticas Energéticas

O conjunto de normas e políticas, estabelecidas pelos órgãos responsáveis de um país são


conhecidas como Políticas Energéticas. No Brasil, o MME estabeleceu, em agosto de 1997, a Lei
nº 9.478, art. 1º, que contém toda a política nacional.

Figura 3. Política Energética Nacional.

A Figura 3 apresenta os principais tópicos da Política Energética Nacional brasileira. O


principal motivador da lei é garantir o interesse nacional por meio de três pilares: o Mercado
Internacional, o consumidor e o meio ambiente. Toda a política foi escrita a fim de garantir o
equilíbrio dos três pontos principais.

Explore
Veja a Lei nº 9.478, de 1997, art. 1º, na íntegra em: <http://goo.gl/L9fGYi>.

Pensando no Mercado Internacional, a política visa a garantir a livre concorrência das


concessionárias de energia, de forma a atrair investimentos internacionais.
A pesquisa e o desenvolvimento são fomentados para que novas tecnologias sejam
desenvolvidas para melhorar a qualidade do serviço e colocar o Brasil entre os grandes nomes
no mercado.
O consumidor tem grande foco na lei, pois o fornecimento de energia deve ser garantido a ele por
diferentes meios. No Brasil, foi estabelecido que as fontes principais de geração para fornecimento
direto ao consumidor são: petróleo, gás natural, biocombustível e também fontes alternativas.
Por fim, a lei pretende estabelecer ações para preservação do meio ambiente, estimulando a
pesquisa em tecnologias para conservação da energia e redução da emissão de gases poluentes.

10
Energia e Crescimento Econômico

O crescimento econômico de uma nação envolve muitos fatores, como saúde, educação,
comércio exterior, geração, venda e consumo de energia, entre muitos outros. Todos eles
possuem indicadores sociais e numéricos capazes de sintetizar o crescimento por área.
Uma das organizações sob coordenação do MME é a Empresa de Pesquisas Energéticas
(EPE), que publica todo ano um documento chamado Anuário Estatístico de Energia Elétrica.

Explore
Acesse <http://www.epe.gov.br> para conhecer todos os dados da empresa e do
planejamento energético nacional

A observação dos dados presentes no anuário nos permite verificar o perfil da geração e do
consumo de energia de diversas formas, separadas por setores, regiões geográficas, classes de
consumo, entre outros.
Além de verificar o que aconteceu durante o ano que passou, é possível determinar os
planos energéticos para o próximo período e tomar decisões para mudanças de cursos, caso
seja necessário, ou ainda a intensificação do curso existente, caso o ocorrido esteja conforme
o planejado.
Vamos analisar alguns dados do Anuário de Energia Elétrica de 2014 (com referência ao ano
de 2013). Esta versão foi liberada em forma de planilha eletrônica com todos os dados ou em
formato de texto para publicação.
Ambos podem ser acessados em <http://www.epe.gov.br/AnuarioEstatisticodeEnergiaEletrica/
Forms/Anurio.aspx>.
Uma primeira análise a ser feita é sobre a capacidade instalada de geração elétrica no
panorama mundial. Observe a Tabela 1.

Tabela 1. Capacidade instalada de geração elétrica por Região do Mundo.

∆% Part. %
2007 2008 2009 2010 2011
(2011/2010) (2011)

Mundo 4,362.5 4,529.5 4,727.7 4,964.5 5,204.7 4.8 100.0


Ásia & Oceania 1,502.7 1,606.5 1,720.8 1,855.3 2,013.8 8.5 38.7
América do Norte 1,156.6 1,173.5 1,198.3 1,216.1 1,230.8 1.2 23.6
Europa 845.0 868.5 895.7 940.6 978.5 4.0 18.8

11
Unidade: Energia e Sociedade

Eurásia 347.7 346.9 348.3 353.5 357.3 1.1 6.9

América do Sul e
231.6 238.6 248.4 259.2 269.9 4.1 5.2
Central

Oriente Médio 161.6 173.5 187.7 206.6 218.5 5.8 4.2


África 117.2 122.0 128.5 133.2 135.8 1.9 2.6
Antártida 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 60.0 0.0
Fonte: EPE.

Perceba que o dado mais importante para a nossa análise, neste momento, é a coluna Δ%,
que indica a variação em porcentagem da capacidade de cada região.
Observe que, no mundo inteiro, tivemos uma variação de quase 5% em crescimento da
capacidade de geração elétrica. A região com maior crescimento percentual foi a que compreende
Ásia e Oceania, seguida pelo Oriente Médio e América do Sul e Central.
Esta análise nos permite dizer que a nossa região teve aumento significativo da produção em
relação ao crescimento mundial. Em relação à participação no mercado mundial, América do
Sul e central ocupam a quinta posição, com 5.2% no ano de 2011.
Uma vez que é conhecida a participação da região no âmbito mundial, pode-se traçar o
perfil de geração do país em suas regiões e estados da federação. Observe a tabela 2 para
comparações.

Tabela 2. Capacidade instalada por região e unidade da federação (MW).

2013 Part. % (2013)

Brasil 126,743 100.0


Norte 16,869 13.3
Rondônia 2,165 12.8
Acre 189 1.1
Amazonas 2,475 14.7
Roraima 99 0.6
Pará 9,136 54.2
Amapá 361 2.1
Tocantins 2,444 14.5

12
Nordeste 22,137 17.5

Maranhão 2,366 10.7


Piauí 199 0.9
Ceará 2,607 11.8

Rio Grande do
930 4.2
Norte

Paraíba 641 2.9


Pernambuco 2,655 12.0
Alagoas 4,028 18.2
Sergipe 1,703 7.7
Bahia 7,006 31.6

Sudeste 42,204 33.3

São Paulo 18,149 43.0


Minas Gerais 14,254 33.8
Espírito Santo 1,558 3.7
Rio de Janeiro 8,243 19.5
Sul 29,610 23.4
Paraná 17,230 58.2
Santa Catarina 5,377 18.2
Rio Grande do Sul 7,003 23.7

Centro-Oeste 15,923 12.6

Mato Grosso
5,412 34.0
do Sul

Mato Grosso 2,728 17.1


Goiás 7,736 48.6
Distrito Federal 47.0 0.3

Ao observar a participação das cinco regiões do país, percebe-se a distribuição apresentada


no Gráfico 1. Pode-se dizer que, juntas, as regiões sul e sudeste produzem mais da metade de
toda a energia elétrica do país.

13
Unidade: Energia e Sociedade

Gráfico 1. Capacidade instalada por região do Brasil.

Fonte: EPE.

Além de verificar a produção por região, ao desenvolver um perfil energético do país, precisa-
se averiguar a geração por fonte. Observe o Gráfico 2, criado com os dados fornecidos pelo
Anuário de 2014.

Gráfico 2. Geração Elétrica por fonte no Brasil (GWh).

Fonte: EPE.

14
Notas
I) Inclui autoprodução;
II) Derivados de petróleo: óleo diesel e óleo combustível;
III) Biomassa: lenha, bagaço de cana e lixívia;
IV) Outras: recuperações, gás de coqueria e outros secundários.

Como já deve ser de seu conhecimento, o Brasil possui a maior capacidade de geração de
energia elétrica por fontes hidráulicas. São quase 70% de toda a capacidade nacional. Em
seguida, tem-se a geração por gás natural e biomassa (lenha, bagaço de cana e lixívia).
Graças ao bom potencial hidráulico brasileiro, podemos gerar nossa energia de forma mais
limpa, reduzindo os riscos ambientais. É interessante perceber que ainda assim são utilizadas
outras fontes para suprir regiões com poucos rios grandes, o suficiente para criação de usinas
hidrelétricas e ainda para possíveis falhas do sistema, causadas por grandes secas, por exemplo.
Uma vez observada a geração, deve-se analisar também o consumo, para determinar se uma
região é auto-sustentável ou se é preciso que a distribuição de outra região se estenda para ela.
A Tabela 3 apresenta o consumo nacional por região.

Tabela 3. Consumo por região geográfica (GWh).

∆% Part. %
2009 2010 2011 2012 2013
(2013/2012) (2013)

Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0

Norte 24,083 26,237 27,777 29,115 30,196 3.7 6.5

Nordeste 65,244 71,197 71,914 75,610 79,907 5.7 17.2

Sudeste 204,555 222,005 230,668 235,237 240,084 2.1 51.8

Sul 65,528 69,934 74,470 77,491 80,392 3.7 17.4

Centro-
24,896 26,310 28,205 30,718 32,756 6.6 7.1
Oeste
Fonte: EPE

A fim de entender melhor os dados apresentados nas tabelas 2 e 3, criamos um gráfico que
apresenta os dados de geração e consumo das regiões brasileiras. Observe o Gráfico 3 para a
comparação dos dados.

15
Unidade: Energia e Sociedade

Gráfico 3. Comparação da geração e do consumo de energia por região do Brasil.

Com a análise do gráfico, pode-se observar que a geração esteve acima do consumo em
quase todas as regiões, com exceção da região Sudeste, que teve um consumo maior do que
a própria geração, e da Região nordeste, que teve praticamente o mesmo consumo que a
capacidade gerada.
Contudo, a geração total ainda foi superior à demanda nacional. Este excedente pode ser
vendido a países vizinhos, por exemplo, o que acontece com frequência por intermédio da
Usina Binacional de ITAIPU.
Esta usina hidrelétrica pertence ao Brasil e ao Paraguai. Parte da energia gerada por um pode
ser destinada ao outro em caso de excesso ou necessidade.
Até então, foram analisados apenas dados de geração e consumo.
Mas como isso afeta o bolso do consumidor?
Vejamos a evolução da tarifa cobrada pela energia no país. Observe a tabela 4.

Tabela 4. Tarifa média por região (R$/MWh).

∆% Part. %
2009 2010 2011 2012 2013
(2013/2012) (2013)

Média
259.55 264.58 278.47 292.85 254.17 -13.2% -2.1%
Brasil

Norte 287.95 261.68 294.96 321.17 276.68 -13.9% -3.9%

Nordeste 255.87 262.96 278.79 297.09 250.26 -15.8% -2.2%

16
Sudeste 269.87 273.70 281.90 294.78 259.76 -11.9% -3.7%

Sul 233.74 248.50 266.68 277.23 235.15 -15.2% 0.6%

Centro-
248.84 253.89 274.37 290.41 257.81 -11.2% 3.6%
Oeste
Fonte: EPE.

Comparando os dados das tabelas anteriores, percebe-se que mesmo que algumas
regiões tenham um crescimento na geração e consumo de energia, a tarifa não segue uma
proporção igualitária.
Observe que a região que teve a maior queda na tarifa foi também a que apresentou menor
consumo e uma das de menor geração: a região Norte.
Em compensação, a região sudeste, maior produtora e consumidora teve a segunda maior
queda de tarifa. Ou seja, não é possível determinar a tarifa apenas pelos fatores oferta e
demanda. Deve-se levar em consideração ainda todos os gastos com fornecimento, proporção
dos sistemas alternativos e outros fatores para o cálculo da tarifa regional.

Perfil de Consumo Energético

Outra análise relevante é feita a fim de traçar o perfil de consumo energético por classe, isto
é, residencial, comercial, industrial etc.

Tabela 5. Consumo por classe (GWh).

∆% Part. %
2009 2010 2011 2012 2013
(2013/2012) (2013)

Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0

Residencial 100,776 107,215 111,971 117,646 124,896 6.2 27.0

Industrial 161,799 179,478 183,576 183,475 184,609 0.6 39.8

Comercial 65,255 69,170 73,482 79,226 83,695 5.6 18.1

Rural 17,304 18,906 21,027 22,952 23,797 3.7 5.1

17
Unidade: Energia e Sociedade

Poder
12,176 12,817 13,222 14,077 14,608 3.8 3.2
público
Iluminação
11,782 12,051 12,478 12,916 13,512 4.6 2.9
pública
Serviço
12,898 13,589 13,983 14,525 14,847 2.2 3.2
público

Próprio 2,319 2,456 3,295 3,354 3,372 0.5 0.7

Fonte: EPE.

A Tabela 5 nos permite dizer que ao longo dos últimos cinco anos a classe que obteve maior
variação no consumo foi a Residencial. Observe que em 2009 ela consumia cerca de 101GWh
enquanto que em 2013 o consumo chega a 125 GWh, uma variação de 6,2%.
Apesar dos valores da classe Industrial serem sempre muito elevados, sua variação
foi relativamente pouca, com o valor de 0,6%. O setor comercial teve também um grande
crescimento de 5,6%, o que deixa o terceiro lugar para a iluminação pública, com 4,6%.

Gráfico 4. Consumo livre por classe em 2013 (GWh).

Fonte: EPE.

O Gráfico 4 apresenta, então, a distribuição do consumo por classes, em 2013. É fácil


perceber a grande participação das classes industrial e residencial no consumo total. De um total
de 463,335GWh consumidos no país, juntos consumiram 309,505, equivalentes a quase 67%.
A tarifa também deve ser diferenciada para cada classe. Observe a Tabela 6, que apresenta
os valores por setor.

18
Tabela 6. Tarifas médias por classes de consumo (R$/MWh).

∆% Part. %
2009 2010 2011 2012 2013
(2013/2012) (2013)

Residencial 293.33 300.56 315.64 333.44 285.00 -14.5% -2.8%

Industrial 228.35 231.89 245.54 257.34 222.88 -13.4% -2.4%

Comercial 279.79 284.82 295.16 307.52 269.29 -12.4% -3.8%

Rural 188.87 198.29 211.62 219.83 193.89 -11.8% 2.7%

Poder
299.82 300.22 315.87 329.72 286.09 -13.2% -4.6%
Público
Iluminação
163.65 166.39 174.64 182.54 161.27 -11.7% -1.5%
Pública
Serviço
202.96 198.69 209.39 219.20 192.91 -12.0% -5.0%
Público
Consumo
294.37 284.42 309.73 322.51 282.76 -12.3% -3.9%
Próprio
Fonte: EPE

Observa-se pela Tabela 6 que a maior tarifa em 2013 foi para o Poder Público, enquanto a
menor foi para a Iluminação Pública, com uma diferença entre elas de R$124,82 para cada MWh.
Se fizermos as contas de consumo pela tarifa, observaremos que a classe Industrial, maior
consumidora, gastou pouco mais de 41 bilhões de reais, enquanto a classe residencial gastou
cerca de 35 bilhões.

Conclusões

Apresentamos nesta Unidade as principais análises sobre o perfil consumidor nacional, as


políticas energéticas e tarifas dos últimos anos. O planejamento energético nacional, normalmente
pensado para 3 a 5 anos, deve levar todos estes fatores em consideração.
É importante que estes dados estejam sempre atualizados; por isso, faz-se necessária a
existência dos órgãos de pesquisa e manutenção dos dados, como a Empresa de Pesquisa
Energética, por exemplo.

19
Unidade: Energia e Sociedade

Garantir que a energia chegue ao consumidor final com o menor custo possível, requer um
planejamento detalhado de como ela deve ser gerada e transmitida, distribuindo a carga entre
as diferentes usinas instaladas no país.
Esta pode não ser uma tarefa fácil, em vista das muitas variáveis, mas, certamente, se bem
feita, garantirá a menor tarifa possível e a maior qualidade do serviço prestado.

Para Pensar
Com base na análise dos dados que foram apresentados sobre os setores e classes com maior
consumo, as regiões que mais produzem energia elétrica e as tarifas pagas por ela, você consegue
pensar em uma estratégia para a melhoria do sistema? Essa melhoria pode ser desde a redução das
tarifas até o melhor fornecimento de energia em âmbito nacional.

20
Material Complementar

Como material complementar a esta Unidade, sugere-se a leitura do primeiro capítulo do


livro Planejamento Integrado de Recursos Energéticos, de Gilberto de Martino Jannuzzi, que
aborda questões sobre o que deve conter um documento de planejamento.
“Planejamento Integrado de Recursos Energéticos”, Gilberto de Martino Jannuzzi,
Ed. Autores Associados, 1ª ed.

21
Unidade: Energia e Sociedade

Referências

ANEEL – Agência Nacional De Energia Elétrica (BRASIL). Atlas de energia Elétrica do


Brasil/Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília: Aneel, 2008.

EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de


Janeiro: EPE, 2014.

VIANA, A. N. C.; et al. Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. Campinas: UNIFEI,


2012.

22
Anotações

23
Planejamento
Energético
Material Teórico
Fontes não-renováveis de Energia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Pedro Henrique Cacique Braga

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Fontes não-renováveis de Energia

• Introdução
• Recursos Naturais
• Processos de Produção
• Petróleo
• Gás Natural
• Energia Nuclear
• Carvão
• Xisto
• Conclusões

• Nesta Unidade, começaremos a estudar os recursos existentes no Planeta


Terra para geração de Energia Elétrica – ou transformação por meio de
outras formas de energia.
• Abordaremos os principais recursos não renováveis, fazendo uma análise
sobre os aspectos econômicos, sociais e ambientais que envolvem a
utilização deles.
• Serão analisados, ainda, os perfis dos consumidores específicos de tais
recursos e faremos uma abordagem dos custos para a implantação de
centros de geração, bem como para a manutenção de tais centros.

Esta Unidade foi desenvolvida com o intuito de conhecermos as fontes não renováveis
de energia elétrica. Vamos estudar os diferentes tipos de geração que faz uso dos recursos
passíveis de esgotamento.
Estudaremos as formas de geração de energia e sua distribuição pelo nosso Planeta. Ao
mesmo tempo, realizaremos um estudo sobre sua utilização, determinando o perfil do
consumidor para estas fontes e tentaremos, ainda, estabelecer comparações entre estes
métodos, levantando questões sobre seu custo de implantação e benefícios/prejuízos para a
sociedade e para o Planeta.
Fique atento ao ambiente virtual para possíveis fóruns de discussão e para a realização de
suas tarefas nas datas estipuladas.
Contate o seu tutor sempre que houver alguma dúvida.

5
Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

Contextualização

No mundo em que vivemos, a utilização de eletrodomésticos, computadores, smartphones


e outros dispositivos eletrônicos tornou-se essencial para a maior parte da população. Muitos
consideram impossível viver sem estas comodidades.
A utilização destes bens só é possível graças à energia elétrica que nos é fornecida. O mundo
atual sem energia elétrica precisaria ser completamente reformulado. Imagine escolas, hospitais
ou até mesmo a sua casa sem energia. Quando experimentamos uma interrupção do serviço,
imediatamente nos vemos sem o que fazer, não é mesmo?
Quando pensamos na energia elétrica, devemos saber que ela é obtida pela transformação de
outras formas de energia, como a energia mecânica, por exemplo, gerada pela movimentação
de turbinas por meio da combustão de minerais.
Mas e o que aconteceria se um dia os recursos para conversão de energia se acabassem?
Como geraríamos energia elétrica se todo o carvão mineral, o xisto, urânio, petróleo e todos
as outras fontes se esgotarem?
Esta Unidade aborda as formas de geração de energia elétrica por meio de fontes não-
renováveis, ou seja, aquelas que podem se esgotar em algum momento.

6
Introdução

O que você faria se toda a energia elétrica do mundo acabasse e não houvesse mais maneiras
de gerar energia? Provavelmente entraria em pânico no começo, não é mesmo? Esse cenário
apocalíptico bem explorado em filmes e séries televisivas não é uma simples ficção, sem uma
boa base teórica.

O mundo vive atualmente uma fase de completa dependência da energia elétrica. Claro que
existem vilas e comunidades que optam por não utilizar esta “facilidade” do mundo moderno,
mas a grande maioria da população depende deste serviço para realizar suas tarefas diárias.

Desde um banho com água quente, luz nos períodos noturnos, uso de bens de entretenimento,
como a televisão, ou rádio, até mesmo o acesso à educação a distância, os afazeres cotidianos
só podem ser executados por meio da energia elétrica.

Imagine como seriam as práticas hospitalares sem os equipamentos eletrônicos de hoje.


Sem uma máquina de tomografia computadorizada, muitas pessoas não sobreviveriam a
enfermidades que sequer seriam diagnosticadas. Ou ainda um respirador eletrônico não poderia
manter vivos pacientes terminais.

Como seriam as negociações financeiras entre países sem o uso de telefones, ou da rede
mundial de computadores? O transporte entre regiões distantes ainda seria feito por meio de
navios ou trens vapor.

Sem dúvidas, o avanço tecnológico só é possível hoje graças a esta forma de energia. Sem
ela, provavelmente, estaríamos estagnados no tempo, vivendo as mesmas práticas antigas e
nem sempre eficazes.

“Sabemos que as principais fontes de energia em uso atualmente: movimento das


águas e do ar, o calor produzido por reações químicas ou nucleares e a luz solar
são toda conversíveis por meio de dispositivos adequados em energia elétrica. Esta
por sua vez, depois de servir como ‘intermediária’ até os locais de consumo, é
convertida em outras ‘formas’ desejadas.” (BUCUSSI, 2007)

Os processos de geração, assim, são baseados na conversão de energia mecânica em elétrica.


Para produção da primeira etapa, geralmente é usada a combustão de minerais energéticos,
fissão nuclear e queima de outros insumos.

Observe que, para todos os meios, é necessário o consumo de uma substância única,
conhecida como insumo primário. Tal substância pode ser algo renovável ou não, isto é, pode
ser reposta naturalmente pelo Planeta após o seu uso ou não.

Esta unidade abordará os meios de geração de energia através dos recursos não-renováveis.

7
Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

Recursos Naturais

Com o avanço tecnológico o homem tornou-se capaz de gerar energia elétrica por meio de
diferentes métodos. Independente de como o processo é realizado, ele começa por meio da
transformação de um recurso natural.
Pode-se classificar os recursos naturais em duas grandes categorias: Renováveis, que estão
constantemente sendo repostos pelo planeta; e Não-renováveis, que aos poucos vão se esgotando.
Dentre os recursos não renováveis a Figura 1 destaca alguns que caracterizam as principais
fontes geradoras mundiais, como petróleo, gás natural, carvão, xisto e urânio.

Figura 1 - Principais fontes não-renováveis

Renováveis

Recursos
Petróleo
Gás Natural
Não-Renováveis Carvão
Xisto
Urânio

Pensando pelo lado ambiental, seria sempre mais adequado utilizar recursos naturais
renováveis, como água e vento, por exemplo, de modo que toda a geração seria sustentável e
não acabaríamos com nenhum recurso do Planeta.
Na prática, veremos que essa prática nem sempre é possível. Seja por motivos econômicos, ou
por baixo potencial renovável de uma nação ou outra, ou ainda pela eficiência de determinado
método, as fontes não renováveis ainda assumem um grande papel na geração mundial.
Estudaremos os principais métodos e criaremos alguns comparativos sobre eles para
caracterizarmos os perfis consumidores.

Processos de Produção

Para entendermos o funcionamento das usinas de geração de energia elétrica, precisamos


conhecer alguns processos da termodinâmica que formam a base de tais indústrias.

Ciclo de Rankine
Um dos modelos da termodinâmica que explicam a geração de energia por meio de calor é
o Ciclo de Rankine. Este modelo é a base para as usinas térmicas de vapor.

8
“Os ciclos térmicos de potência são uma sequência de processos termodinâmicos
(mudanças de estados). Em particular, os ciclos de potência são utilizados para
converter energia térmica em trabalho, empregando usualmente como fluídos
gases e água, sendo que no último caso os ciclos são denominados ciclos a vapor,
ou ciclo Rankine. Este tipo de sistema de potência permite converter a energia de
combustíveis de baixo custo em eletricidade.” (ELETROBRÁS/PROCEL)

O ciclo de Rankine foi proposto por William J. Macquorne Rankine e é tido como o primeiro
ciclo termodinâmico que permite efetivamente obter trabalho do vapor. Este ciclo é composto
pelos elementos:
• caldeira de vapor;
• turbina a vapor;
• condensador;
• aquecedores de água de alimentação;
• bombas necessárias para a circulação da água.

O processo consiste na movimentação de um líquido (normalmente água), que sai do


condensador e é pressurizado por uma bomba para que entre na caldeira. O calor da caldeira
(obtido pela queima de algum combustível) faz com que a água evapore, movimentando a
turbina, produzindo assim energia mecânica.
A turbina é conectada a um conversor que transforma a energia mecânica em elétrica. O
líquido segue seu fluxo pelo condensador, recomeçando o processo.

Figura 2 - Esquema de uma usina a vapor simples que opera segundo o ciclo de Rankine

3
qint Turbina

G
Caldeira 4
Condensador

2
Bomba qout
1

Fonte: (ROCHA et. al., 2012)

Segundo ROCHA et. al., os processos que compõem o ciclo de Rankine são:
• 1-2: Processo de bombeamento adiabático reversível na bomba.
• 2-3: Transferência de Calor a pressão constante na caldeira.
• 3-4: Expansão adiabática reversível na turbina.
• 4-1: Transferência de calor a pressão constante no condensador.

9
Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

O rendimento do ciclo (parcela de calor convertida em energia elétrica) depende, assim,


diretamente da condição do vapor que chega à turbina. Quanto mais elevadas a temperatura e
a pressão, maior a eficiência do processo.

Petróleo
“O petróleo é um óleo inflamável, formado a partir da decom- posição, durante
milhões de anos, de matéria orgânica como plantas, animais marinhos e vegetação
típica das regiões alagadiças, e encontrado apenas em terreno sedimentar. A
base de sua composição é o hidrocarboneto, substância composta por carbono
e hidrogênio, à qual podem se juntar átomos de oxigênio, nitrogênio e enxofre,
além de íons metálicos, principalmente de níquel e vanádio.” (ANEEL, 2008)

Os óleos derivados do petróleo são, atualmente, os principais insumos primários de geração


de energia elétrica em todo o planeta. Observe na Figura 3 a distribuição de suas reservas
pelo mundo.
É fácil perceber a grande influência dessas localizações na politica e economia de muitos países.
A briga pela sua exploração é um dos grandes fatores das guerras existentes no Oriente Médio,
mas também representa o grande poder das maiores nações. O Brasil mantém uma boa posição
no ranking dos maiores produtores, tendo a Petrobrás como empresa nacional de exploração.

Figura 3 - Reservas provadas de petróleo em 2007 (milhões de toneladas).

Fonte: (ANEEL, 2008)

O processo de produção de energia por meio de derivados do petróleo é semelhante ao ciclo


de Rankine, exposto anteriormente. Observe na Figura 4 um esquema de como é montada uma
planta de geração por meio da combustão de derivados do petróleo.
A identificação dos elementos do Ciclo de Rankine é simples e direta. Tem-se a caldeira
no começo da imagem, que é ligada à bomba de água. A turbina se localiza à direita da
chaminé e está conectada ao gerador de energia. A água que passa pela turbina é submetida ao
condensador para que volte ao ciclo.

10
Observe ainda que o gerador de energia elétrica por meio da energia mecânica está conectado
aos transformadores, que garantem a tensão de saída desejada, passando pelos disjuntores, que
mantém a segurança da instalação e, em seguida, seguem as linhas de distribuição.

Figura 4 - Perfil esquemático do processo de produção de energia elétrica a partir do petróleo.

Fonte: (ANEEL, 2008)

Como todo processo de queima, estas usinas liberam gases poluentes na atmosferas. Quanto
mais denso o combustível utilizado, maior o potencial de emissões. Por este motivo, ambientalistas
tendem a rejeitar a produção através da queima de óleos combustíveis, diesel e ultraviscoso.
Nos últimos anos, os investimentos em pesquisa para que a emissão de poluentes seja
reduzida tem aumentado, a fim de estabelecer um processo menos nocivo ao meio ambiente.
Segundo dados estatísticos lançados pela BP em seu Relatório Estatístico de 2014 (referente ao
ano de 2013), no Brasil houve queda na produção de petróleo (-1.7%). O Brasil foi responsável
por 2,7% do total de petróleo produzido no mundo em 2013.

Figura 5 - Geração Térmica a Derivados de Petróleo no Mundo em 2011 - 10 maiores(%).


Fonte: EPE, 2014

A Figura 5 apresenta os principais países geradores de energia por derivados do petróleo


em 2011.

11
Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

Gás Natural

Pode-se dividir os processos de geração de energia por gás natural em duas categorias:
geração exclusiva e co-geração (quando utiliza-se também o calor e o vapor utilizado em
processos industriais.
O primeiro passo do processo consiste em misturar ar comprimido com o gás natural, a fim
de se obter combustão, o que resulta na emissão de gases em alta temperatura. Tal processo
movimenta um turbina. A partir de então, o processo é semelhante às demais formas de geração:
a energia mecânica é convertida em elétrica.
A Figura 6 apresenta o perfil de uma usina elétrica com base em gás natural. Observe que a
entrada do gás natural é combinada com a entrada de ar comprimido nas câmaras de combustão.
A turbina é movimentada pelo resultado do processo térmico. Por estar conectada a um gerador,
transforma energia mecânica em elétrica que é transformada para a tensão de distribuição.

Figura 6 - Perfil esquemático do processo de produção de energia elétrica a partir do


gás-natural.

Fonte: (ANEEL, 2008)

O que é feito com o gás após a movimentação da turbina determina se é um processo simples
(aberto) ou combinado (fechado). No ciclo aberto, mais comum, os gases são resfriados e liberados
na atmosfera. Já no ciclo fechado, os gases ainda em alta temperatura são transformados em
vapor, movimentando novamente as turbinas. Assim, as termelétricas de ciclo fechado operam
tanto com o processo movimentação pelo gás quanto pela movimentação por vapor.
O processo combinado aumenta a eficiência energética da usina, mas requer um investimento
maior. No ciclo simples, o grau de eficiência é de aproximadamente 39%, enquanto o
combinado chega a aproximadamente 50%. Trata-se de um processo relativamente novo no
Brasil (década de 80).
A co-geração é feita com o uso de qualquer outro combustível viável para termelétricas (óleo,
biomassa, carvão, etc). A queima do combustível gera os gases que passam por todo o processo
descrito acima, permitindo simultaneamente a geração térmica e por vapor.

12
São pontos favoráveis para a co-geração:
• utilização de energia normalmente descartada em processos térmicos;
• independência em relação ao combustível utilizado, fornecido por terceiros;
• redução do volume de gases liberados na atmosfera.

No período de 2009 a 2013 a geração por gás natural teve um crescimento de 47,6%, o
que garantiu no ano de 2013 uma participação de 12,1% na geração total de energia no país.
Observe os dados das demais fontes na Tabela 1

Tabela 1 - Geração elétrica por fonte no Brasil (GWh). Fonte: Balanço Energético Nacional
- BEN 2014; Elaboração: EPE.

∆%
2009 2010 2011 2012 2013 Part. %
(2013/2012)

Total 466,158 515,799 531,758 552,498 570,025 3.2 (2013)

Gás Natural 13,332 36,476 25,095 46,760 69,003 47.6 100.0

Hidráulica (i) 390,988 403,290 428,333 415,342 390,992 -5.9 12.1

Derivados de
12,724 14,216 12,239 16,214 22,090 36.2 68.6
Petróleo (ii)

Carvão 5,429 6,992 6,485 8,422 14,801 75.7 3.9

Nuclear 12,957 14,523 15,659 16,038 14,640 -8.7 2.6

Biomassa (iii) 21,851 31,209 31,633 34,662 39,679 14.5 2.6

Eólica 1,238 2,177 2,705 5,050 6,576 30.2 7.0

Outras (iv) 7,640 6,916 9,609 10,010 12,244 22.3 1.2

Notas:
i) Inclui autoprodução
ii) Derivados de petróleo: óleo diesel e óleo combustível
iii) Biomassa: lenha, bagaço de cana e lixívia
iV) Outras: recuperações, gás de coqueria e outros secundários

Quanto as reservas mundiais de gás natural, observe a Figura 7. Percebe-se que os grandes
reservas se encontram na Ásia, seguida pela Oceania e América do Norte, principalmente. Um
dos motivos de a geração por gás natural não ter uma significância maior no Brasil é o fato de
não termos maiores reservas.

13
Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

Figura 7 - Reservas de Gás Natural no mundo em trilhões de m3.

Fonte: (ANEEL, 2008)

Energia Nuclear

De forma simplificada, a geração de energia por meio de fontes nucleares se dá pela fissão
de um átomo. Neste processo de divisão atômica, o átomo libera energia, que quando liberada
lentamente produz calor e quando liberada rapidamente, produz luz.
É muito importante ressaltar que trata-se de um procedimento de alto risco e que a toda
cautela durante sua execução é pouca. Quando o Urânio (U235) é bombardeado por um feixe
de nêutron, é gerado um isótopo seu, o Urânio (U236). Este, quando bombardeado novamente,
desintegra-se em Bário (Ba141) e Criptônio (Kr92), liberando energia e mais nêutrons.
Se este processo é descontrolado, uma sequência de reações é desencadeadas, podendo
gerar uma carga enorme de energia, que não é suportada pela usina. Uma bomba atômica
então é produzida.
O processo de geração então é semelhante aos anteriores que levam o ciclo de Rankine. O
calor gerado pela fissão nuclear aquece a água, que por sua vez se torna vapor, movimentando
as turbinas. A Figura 8 apresenta o perfil esquemático de uma usina nuclear.

Figura 8 - Perfil esquemático de uma


usina nuclear.

Ainda observando os dados da Tabela 1, percebe-


se que de 2009 a 2013, a geração nuclear teve uma
queda de 8,7%, representando uma participação de
2,6% apenas na geração total de energia no Brasil. O
maior consumo de energia nuclear ainda se encontra na
Ásia e América do Norte.

Fonte: (ANEEL, 2008)

14
Carvão

O processo de geração por carvão é semelhante aos demais que se baseiam no ciclo de
Rankine. A queima do carvão é a base para a geração do vapor que movimenta a turbina. A
Figura 9 apresenta o perfil esquemático de uma usina de geração por carvão natural.

Figura 9 - Perfil esquemático do processo de geração de energia elétrico por meio do carvão
mineral.

Fonte: (ANEEL, 2008)

O interessante da geração por carvão natural é a co-geração, que pode aproveitar o calor
gerado e a emissão dos gases para movimentação das turbinas. Atualmente existem muitas
pesquisas afim de aumentar o poder calorífico do carvão, para aumentar a eficiência energética
do processo.
A queima do carvão foi uma das primeiras formas de geração dominadas pelo homem. Ao
longo do tempo perdeu espaço para outras fontes, como petróleo ou gás natural, mas ainda
ocupa uma boa parcela na geração. No Brasil, por exemplo, teve um crescimento de 75,7% de
2009 a 2013, mas apesar disso é responsável por apenas 2,6% da geração total. (Vide Tabela 1)

Figura 10 - Tipos de carvão, reservas e uso.

Fonte: (ANEEL, 2008)

15
Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

Conforme apresentado na Figura 10, 53% do das reservas mundiais são de carvão com alto
teor de carbono. O carbono utilizado para geração energética se encontra nos 47% restantes.
Destes, o linhito (17%) é usado na geração local e o sub-betuminoso (30%) tem maior valor
térmico e, por isso, mais comercializado.

Figura 11 - Reservas mundiais de carvão mineral - 2007 (em milhões de toneladas).

Fonte: (ANEEL, 2008)

Observe na Figura 11 onde se encontram as maiores reservas de carvão no mundo e qual a


participação do Brasil.

Xisto

Xisto é o nome dado a vários tipos de rochas metamórficas (apresentadas em muitas formas).
São facilmente identificadas por serem laminadas. O Xisto betuminoso é uma excelente forma de
combustível. Quando submetido a altas temperaturas produz um óleo semelhante ao petróleo.
Deste óleo se extraem nafta, óleo combustível, gás liquefeito, óleo diesel e gasolina. A queima
de tais produtos movimenta as usinas geradoras de energia.
O gás de xisto, presente no interior destas rochas sedimentares porosas é uma outra fonte de
energia a ser explorada. O processo de obtenção do gás é polêmico, pois envolve o chamado
fraturamento hidráulico, que consiste em introduzir água, areia e outros produtos químicos
(tóxicos) nas reservas, o que permite que o gás flua e seja capturado para a geração.
Os Estados Unidos vem utilizando este processo, o que tem causado uma verdadeira revolução
energética no país, que visa sua autossuficiência até 2030. O gás de xisto por lá tem se mostrado
bem barato, perdendo apenas para o carvão.

16
Entre os riscos de exploração do gás de xisto estão:
• contaminação da água
• tremores de terra
• mortandade animal
• emissão fugitiva de metano

Desde junho de 2013 as reservas de xisto no Brasil estão em constante atenção no mercado
mundial. Até então não existe uma legislação para seu uso no país e não se sabe ao certo como
devem acontecer as explorações.

Acompanhe a reportagem da Revista Exame sobre os leilões de 2013:


• http://exame.abril.com.br/economia/noticias/gas-de-xisto-uma-revolucao-
energetica-que-pode-custar-caro

Conclusões

Muitas conclusões podem ser tomadas a respeito das fontes não renováveis de energia.
Pelo ponto de vista ambiental, são fontes que devem ser evitadas, já que apresentam reservas
finitas de insumos primários. Também são alarmantes os níveis de poluição causados pelos
processos de extração e geração atuais. Como a combustão é o principal método, muitos gases
são liberados diariamente na atmosfera.
Do ponto de vista econômico, algumas delas são as melhores fontes, pois possuem insumos
mais baratos. Entretanto, os métodos de geração podem ser encarecidos quando usada a co-
geração. Qualquer alteração nos investimentos reflete em acréscimo na tarifa repassada ao
consumidor.
Quando analisado por olhos políticos, vários problemas são encontrados, como a disputa
pelo controle de reservas, por exemplo. O Oriente Médio, por exemplo, apresenta grandes
reservas de fontes não-renováveis, o que atrai a cobiça das grandes nações pelo controle da
região que, por este e outros motivos está em constante guerra.
O planejamento energético de uma nação, torna-se tão complicado quanto os processos de
geração. Contrabalancear todos os pontos levantados não é tarefa fácil, mas é a base para a
sobrevivência energética de um país.

17
Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

Material Complementar

Para esta Unidade, sugerimos o vídeo Opera Mundi, da TV Unesp, que apresenta uma aula
pública com o professor Leonam Guimarães, especialista em energia.

Explore

Na aula, o professor responde à pergunta:


- O petróleo continuará sendo a principal fonte de energia do mundo?
Acesse o vídeo no perfil do Opera Mundi do youtube: <http://youtu.be/bDSMeVUbrq8>.

18
Referências

ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA (BRASIL). Atlas de energia


Elétrica do Brasil/Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília: Aneel, 2008.

BP. Relatório Estatístico da BP 2014. Brasil em 2013. Disponível em: <http://www.bp.com/


content/dam/bp-country/pt_br/PDFs/Statistical Review_Brazil_POR.pdf>. Acesso em: 9 mar. 2015.

BUCUSSI, A. A. Introdução ao Conceito de Energia. Porto Alegre: UFRGS, Instituto de


Física, Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física, 2007.

ELETROBRÁS/PROCEL – Centrais Elétricas Brasileiras, Fupai/Efficientia; Eficiência Energética


no Uso de Vapor. Rio de Janeiro: Eletrobrás, 2005.

EPE - Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de


Janeiro: EPE, 2014

ROCHA, G. ; SILVA, A. L. ; SILVA, F. N. Simulação de uma Usina com Ciclo Simples a


Vapor (Ciclo Rankine). Revista Conexão (AEMS), v. 9, p. 598, 2012.

VIANA, A. N. C. et al. Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. Campinas: UNIFEI,


2012.

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Unidade: Fontes não-renováveis de Energia

Anotações

20
Planejamento
Energético
Material Teórico
Fontes Renováveis de Energia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Pedro Henrique Cacique Braga

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Fontes Renováveis de Energia

·· Introdução
·· Hidrelétrica
·· Biomassa
·· Eólica
·· Solar
·· Geotérmica
·· Maremotriz
·· Conclusões

Nesta Unidade, descreveremos os sistemas de energia baseados em fontes


renováveis e buscaremos estabelecer um quadro comparativo entre eles,
determinando o perfil consumidor e os custos para implantação.
Prezamos, também, pelo pensamento crítico sobre a utilização de tais
sistemas em substituição das fontes não-renováveis.

Estudaremos sobre as fontes renováveis de geração de energia. Sabemos o quão importante


é a energia elétrica e temos consciência de que sua produção é um processo que deve ser
observado sobre três pilares: o mercado internacional, o consumidor local e a preservação
do meio ambiente.
Observaremos neste texto as particularidades de cada fonte, sempre observando o que é
bom para o consumidor, para o país e para o meio ambiente.
Exploraremos as principais fontes renováveis e faremos sempre uma correlação com os
métodos não-renováveis.
Fique atento ao ambiente virtual para possíveis fóruns de discussão e para a realização de
suas tarefas nas datas estipuladas.

5
Unidade: Fontes Renováveis de Energia

Contextualização

Pensando na importância da energia elétrica no cotidiano da sociedade, nós nos deparamos


com uma grande questão: o que vai acontecer quando as fontes não-renováveis se esgotarem?
Esta questão nos leva a muitas outras, como:
- as fontes se esgotarão na nossa geração?;
- Nossos filhos poderão usar a eletricidade assim como nós usamos?;
- Existe alguma solução para este problema?

Tais questões já estão sendo feitas há algumas décadas e ambientalistas, engenheiros e


administradores de todo o mundo estão trabalhando incessantemente em novas estratégias
para o planejamento energético mundial.
Algumas medidas já vêm sendo tomadas, como o crescimento do uso de fontes renováveis
e alternativas de geração. A utilização destas fontes pode prolongar a existência das reservas de
insumos não-renováveis. O cuidado com o Planeta vai ainda além, e busca reduzir as emissões
de poluentes no meio ambiente.
Nosso contexto, então, é a procura pela geração de energia mais limpa e eficiente com o foco
nos recursos renováveis.

6
Introdução

Uma das grandes questões que precisam ser respondidas há algumas décadas é: até quando
teremos recursos naturais para geração de energia elétrica?
Este problema levanta, ainda, muitos outros questionamentos, como:
• Se continuarmos no ritmo de exploração que estamos vivendo, nossas gerações futuras
terão acesso à eletricidade de forma irrestrita como temos hoje?;
• Até quando o Planeta sobreviverá com tamanha exploração?;
• O que é preciso fazer para minimizar este consumo?

Questionamentos como estes baseiam as teorias sobre fontes renováveis de energia. A busca
por formas de geração que não prejudiquem o Planeta, ou que minimizem os danos, é uma
tarefa iniciada há algum tempo e deve ser revista a cada geração, adaptada de acordo com os
dados estatísticos de geração e consumo.
Uma das grandes soluções, apresentadas pelos ambientalistas, engenheiros e administradores
é a redução do uso de fontes não-renováveis e, consequentemente, o aumento do uso das
fontes renováveis.
Fontes renováveis de energia podem ser entendidas como aquelas que têm como insumo
primário elementos que são repostos naturalmente pelo Planeta. São elementos que podem ser
reutilizados após a geração e não são consumidos definitivamente.
No Brasil, segundo dados da ANEEL, no ano de 2013, a participação destas fontes foi
de quase 80% no total gerado pelo país. Esta é uma boa proporção, que somente é possível
graças ao grande potencial hídrico do país. As fontes hidrelétricas somam 68,1% de toda a
carga instalada.

Glossário
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica.
EPE – Empresa de Pesquisa Energética.

Nesta Unidade, discutiremos sobre algumas fontes renováveis, a fim de estabelecermos


comparações sobre a real situação no Brasil e no mundo e quais as possíveis ações a serem
tomadas em um planejamento energético.

7
Unidade: Fontes Renováveis de Energia

Hidrelétrica

A eletricidade obtida por fontes hidráulicas, conhecida como energia hidrelétrica, só é possível
graças à combinação da vazão de rios, à quantidade de água disponível em certos períodos do
ano e aos desníveis do relevo (que podem ser naturais ou artificiais).
Assim como a maioria das fontes de energia, a hidrelétrica transforma a energia mecânica em
elétrica. O perfil de uma usina é relativamente simples. Uma barragem é criada para garantir o
maior armazenamento das águas de um rio. Cria-se, assim, uma represa a favor da usina.
Além de criar um reservatório que estoca a água para a geração, a barreira cria o desnível
necessário para o processo. Algumas usinas hidroelétricas utilizam suas turbinas no mesmo nível
do rio e são conhecidas como usinas “a fio d’água”. Estas reduzem a área alagada para a sua
construção, mas nem sempre têm o mínimo para uma boa produção.
Os vertedouros são comportas nas barreiras que servem para regular o nível de água. Quando
abertos, retornam uma determinada quantidade de água ao curso natural do rio, para que haja
o equilíbrio entre o que é preciso e o que deve ser “descartado”.
Observe que as usinas “a fio d’água” se aproveitam apenas da velocidade do rio e, por não
contarem com um reservatório, não permitem o armazenamento de água para períodos de seca.
Por fim, as usinas contam com as casas de força, que abrigam suas turbinas. Observe o perfil
esquemático de uma usina hidroelétrica na Figura 1. A água estocada no reservatório, quando
aberto o canal específico, passa por um duto e é conduzida à casa de força. Uma formação
conhecida como caixa espiral é responsável por conduzir a água para movimentação do rotor
no pré-distribuidor.
A água captada no lago formado pela barragem é conduzida até a casa de força por meio de
canais, túneis e/ou condutos metálicos. Após passar pela turbina hidráulica, na casa de força, a
água é restituída ao leito natural do rio, pelo canal de fuga. Dessa forma, a potência hidráulica
é transformada em potência mecânica quando a água passa pela turbina, fazendo com que esta
gire e, no gerador – que também gira acoplado mecanicamente à turbina, a potência mecânica
é transformada em potência elétrica.

Figura 1. Perfil esquemático de uma Usina Hidroelétrica.

Fonte: ANEEL, 2008.

8
Existem muitos tipos de turbinas, cada uma feita para uma altura e tipo de vazão específicos.
A turbina tipo Bulbo é usada nas usinas fio d’água por ser indicada para baixas quedas e altas
vazões, não exigindo grandes reservatórios.
A Figura 2 apresenta o perfil de uma unidade geradora da Usina Hidrelétrica Binacional de
Itaipu. A UHE conta com 20 unidades, sendo que a última foi instalada em 2007. Cada uma
delas tem capacidade para gerar 700 megawatts (MW).
Cada unidade geradora de Itaipu é capaz de abastecer uma cidade com 1,5 milhão de
habitantes. Para abastecer os três estados da região sul do país, por exemplo, seriam necessárias
apenas 12, das 20 unidades. Para todo o estado do Rio de Janeiro bastariam 7 unidades
(ITAIPU, 2015).

Glossário
UHE – Usina Hidroelétrica.

Figura 2. Componentes da unidade geradora do tipo Francis, de ITAIPU.

Fonte: ITAIPU, 2015.

A água é o recurso natural mais abundante na Terra: com um volume estimado de 1,36 bilhão
de quilômetros cúbicos (km3) recobre 2/3 da superfície do Planeta sob a forma de oceanos,
calotas polares, rios e lagos. Além disso, pode ser encontrada em aquíferos subterrâneos, como
o Guarani, no Sudeste brasileiro (ANEEL, 2008).

9
Unidade: Fontes Renováveis de Energia

A Figura 3 apresenta o gráfico com a participação mundial na geração de energia hidroelétrica.


Observe que a América do Sul e Central (boa parte no Brasil) é responsável por 21,8% de toda
a produção, ficando atrás apenas da Oceania, que produz 27,6%.
Figura 3. Geração Hidrelétrica por regiões do mundo (%)

No Brasil, segundo os dados da


Empresa de Pesquisa Energética, em 2014,
a geração hidráulica teve participação
de 68,8% no total. Isso se deve ao vasto
potencial hídrico nacional. São inúmeros
rios que comportam represas para UHEs.
A implantação de uma UHE tem custos
elevados e nem sempre é possível ser feita,
pois implica o desmatamento de grandes
áreas, muitas vezes em desapropriação de Fonte: EPE, 2014.

pequenas cidades e mudanças de cursos


de rios.

Biomassa

A biomassa é uma das fontes de produção de energia elétrica com maior potencial de
crescimento no mundo. Além de reduzir o uso de combustíveis fósseis, ela reaproveita outros
materiais como insumo primário. Além disso, dela é possível extrair outros biocombustíveis,
como o etanol, por exemplo.

Figura 4. Geração de energia mundial por fonte.

Fonte: ANEEL 2008.

10
Qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em energia mecânica, térmica ou
elétrica é classificada como biomassa. De acordo com a sua origem, pode ser: florestal (madeira,
principalmente), agrícola (soja, arroz e cana-de-açúcar, entre outras) e rejeitos urbanos e industriais
(sólidos ou líquidos, como o lixo). Os derivados obtidos dependem tanto da matéria-prima utilizada
(cujo potencial energético varia de tipo para tipo) quanto da tecnologia de processamento para
obtenção dos energéticos (ANEEL, 2008).

Observe, na Figura 4 que, no mundo, a biomassa ocupa uma parcela de apenas 1,7% da
geração. Apesar de ser atrativa, ainda não detém uma boa parcela na geração mundial.
As formas de geração de energia pela biomassa são várias, mas podem ser destacadas:
• Ciclo a vapor com turbinas de compressão;
• Ciclo a vapor com turbinas de condensação e extração;
• Ciclo combinado integrado à gaseificação da biomassa.

Apesar de ainda não ser muito utilizada diretamente na produção de energia, a biomassa tem
se estabelecido na produção de combustível.
Observe na Figura 5 a evolução da produção de etanol.

Figura 5. Produção de Etanol.

Fonte: ANEEL 2008.

11
Unidade: Fontes Renováveis de Energia

Eólica

A energia eólica é aquela que aproveita a força dos ventos para a movimentação das
pás de uma turbina. Trata-se de uma forma renovável, perene, de grande disponibilidade e
independente de importações e custo zero para obtenção de suprimentos (completamente
oposto dos combustíveis fósseis).
Ainda no gráfico da Figura 4, observe que a Energia Eólica ocupa 2,1% na geração total. O
potencial dos ventos no Brasil é muito bom, cerca de duas vezes mais que a média mundial, o
que dá maior previsibilidade do volume a ser produzido.
Como a previsão nem sempre é possível, muitos países ainda não utilizam esta fonte com
uma parcela maior na produção. Os maiores produtores são Estados Unidos, Alemanha e China.
O Brasil tem apenas 39 usinas eólicas em todo o território nacional.
Entre os benefícios deste métodos, podemos destacar que não são emitidos gases estufa e
pode ser usado em áreas remotas. Em compensação, sua implantação tem alto custo, pois o
potencial de geração depende de fatores geográficos e climáticos.
Observe, na Figura 6, o funcionamento dos aerogeradores.

Figura 6 - Funcionamento dos aerogeradores.

Fonte: Último Segundo, 2015.

12
Solar

A energia solar, assim como as outras fontes alternativas, não possui participação expressiva
nas matrizes energéticas nacional e mundial. Ela chega à Terra em forma térmica e luminosa.
Sua irradiação por ano na superfície da Terra seria suficiente para atender toda a demanda por
milhares de anos.
A radiação solar não chega a todas as partes do Planeta da mesma forma, pois depende
muito de condições geográficas e atmosféricas, o que varia muito de região para região e de
acordo com as estações do ano.
Quando atinge a atmosfera, a radiação pode ser interceptada em forma de calor ou luz
e pode ser convertida por meio de processos químicos para energia térmica ou elétrica. Os
equipamentos usados na captação determinam qual o tipo produzido.
Ao usar uma superfície escura para captação, converte-se a radiação em energia térmica,
que é aplicada em uma usina térmica comum que segue o ciclo de Rankine com base. Quando
usadas células fotovoltaicas, o resultado é a eletricidade.
A Figura 7 apresenta as taxas médias de crescimento anual da capacidade de energia renovável.
Observe que a energia solar por células fotovoltaicas é a que teve maior taxa de crescimento.

Figura 7. Taxas médias de crescimento anual da capacidade de energia renovável.

Fonte: ANEEL 2008.

O processo de produção heliovoltaico converte a radiação solar em calor, usado nas usinas
termelétricas. O processo compreende quatro etapas:
1. Coleta da irradiação;
2. Conversão em calor;
3. Transporte e Armazenamento;
4. Conversão em eletricidade.
Para utilização deste processo, é necessário instalar as usinas em locais com baixo índice
pluviométrico e pouca intensidade de nuvens, como o semiárido brasileiro, por exemplo.

13
Unidade: Fontes Renováveis de Energia

O sistema fotovoltaico transforma a radiação solar em eletricidade direta. Utiliza-se, para


tanto, um painel feito de material semicondutor, geralmente o silício que, quando estimulado,
permite o fluxo eletrônico. O sistema fotovoltaico não precisa do brilho do Sol para produzir
energia, o que permite sua operação em dias nublados.
A Figura 8 apresenta a variação da radiação solar no Brasil, mostrando as principais regiões
propensas à criação de usinas solares.

Figura 8. Variação da radiação solar no Brasil.

Fonte: ANEEL, 2008.

Geotérmica

A energia geotérmica é produzida por meio do calor existente no interior da Terra. Os


principais recursos são os gêiseres e o calor existente no interior das rochas.

Glossário
Gêiser – fonte de vapor no interior da Terra que apresenta erupções periódicas.

Existem duas possibilidades para o uso do vapor: em uma usina térmica comum e o vapor
quente seco, usado para movimentação de turbinas.
A Figura 9 apresenta o esquema de uma usina geotérmica.

14
Figura 9. Reservatório geotérmico de alta temperatura.

No Brasil, não há nenhuma unidade em operação, nem mesmo sob a forma experimental.
Apenas Islândia e Estados Unidos apresentam um crescimento significativo no campo geotérmico.

Maremotriz

A geração de energia pela força do mar inclui as fontes: marés, correntes marítimas, ondas,
energia térmica e gradientes de salinidade. A energia pode ser obtida, por exemplo, por meio
da energia cinética, na qual as ondas movimentam as pás de uma turbina, ou pela diferença de
nível do mar nas marés.
A Figura 10 ilustra o funcionamento de uma usina maremotriz.

Figura 10. Geração de energia em usina maremotriz.

Fonte: ANEEL, 2008.

15
Unidade: Fontes Renováveis de Energia

Apesar do bom potencial de geração, esta forma não entra em competição com as principais
fontes, pois sua geração não supera o necessário em boa parte das usinas e os custos de
implantação são altos, o que as torna inviáveis.
Os principais locais para aproveitamento das marés são Argentina, Austrália, Canadá, Índia,
Coréia do Sul, México, Reino Unido, Estados Unidos e Rússia.

Conclusões

As fontes renováveis de energia são consideradas, em sua grande maioria, fontes limpas, ou
seja, não emitem ou emitem menores quantidades de poluentes no meio ambiente.
Apesar de usarem recursos renováveis, grande parte delas requer custo alto de implantação e
manutenção e dependem de condições geográficas e climáticas muito específicas, que dificultam
sua implantação.
As usinas renováveis têm sido implantadas com uma boa taxa de crescimento, mas ainda
não competem igualmente com fontes não-renováveis. A energia hidrelétrica é a que tem maior
participação mundial e, no Brasil, ocupa o cargo de maior fonte geradora.
O planejamento energético deve levar em consideração a utilização equilibrada das fontes
disponíveis, para que haja uma renovação dos recursos, balanceando o uso dos não renováveis.

16
Material Complementar

O site Último Segundo, do portal IG, apresenta uma série de infográficos sobre assuntos
diversos. Entre os assuntos relacionados à Ciência, temos um material muito interessante e
interativo, que compara os métodos de geração de energia por meio de fontes alternativas
de energia.
A maior parte das fontes abordadas é renovável e se enquadra no que está sendo estudado.

Explore
Acesse o site para conhecer um pouco mais sobre cada fonte:
• http://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/as+alternativas+da+energia/n1237597605585.html.

17
Unidade: Fontes Renováveis de Energia

Referências

BUCUSSI, A. A. Introdução ao Conceito de Energia. Porto Alegre: UFRGS, Instituto de


Física/Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física, 2007.

ELETROBRÁS/PROCEL – Centrais Elétricas Brasileiras, Fupai/Efficientia; Eficiência


Energética no Uso de Vapor. Rio de Janeiro: Eletrobrás, 2005.

ROCHA, G.; SILVA, A. L.; SILVA, F. N. Simulação de uma usina com ciclo simples a
vapor (Ciclo Rankine). Revista Conexão (AEMS), v. 9, p. 598, 2012.

VIANA, A. N. C. et al. Eficiência Energética: Fundamentos e Aplicações. Campinas: UNIFEI,


2012.

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Atlas de energia Elétrica do Brasil/
Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília : Aneel, 2008.

EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de


Janeiro: EPE, 2014

BP. Relatório Estatístico da BP 2014. Brasil em 2013. Disponível em: <http://www.bp.com/


content/dam/bp-country/pt_br/PDFs/Statistical Review_Brazil_POR.pdf>. Acesso em: 9 mar.
2015.

ITAIPU. Unidades Geradoras. Disponível em <https://www.itaipu.gov.br/energia/unidades-


geradoras>. Acesso em: 15 mar. 2015.

ÚLTIMO Segundo. As alternativas de energia. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.


br/ciencia/as+alternativas+da+energia/n1237597605585.html>. Acesso em: 15 mar. 2015.

18
Anotações

19
Gestão de Projetos
Ambientais
Material Teórico
O Ciclo de Vida de Projetos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Raisa Pereira Abdalla

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
O Ciclo de Vida de Projetos

• Introdução
• O Ciclo de Vida de Projetos
• O Escopo e sua importância no gerenciamento de projetos
• Gerente de Projetos
• Considerações Finais

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir o ciclo de vida de projetos, principalmente as dificuldades
desse processo no gerenciamento de projetos ambientais. Também
será discutida a função do gerente de projetos.
· Entender como o gerente de projetos pode facilitar as etapas do ciclo
de vida do projeto bem como a elaboração do escopo, que é uma
etapa decisiva no gerenciamento de projetos.

ORIENTAÇÕES
Iniciaremos esta unidade retomando as definições de escopo já discutidas
na Unidade I, com enfoque no modo como ele pode ser elaborado pelas
organizações bem como na sua importância para o atendimento às metas e
aos resultados.

Também será discutido o ciclo de vida de projetos, caracterizado por diferentes


fases e pelo fato de delimitar o início e o fim dos processos. Veremos como
este processo é importante na prática de gerenciamento de projetos nas
empresas. Além disso, será definida a função e a participação do gerente de
projetos nessas etapas e sua ação como facilitador desses processos.
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Contextualização
Os projetos são realizados com diversas etapas que abrangem viabilidade, análise
de custos, riscos, impactos ambientais, etc. Quando essas etapas são elaboradas
de maneira incorreta ou equivocada, os projetos podem apresentar problemas,
aumentando os custos e seu tempo de execução.

Para contextualizar a prática de gestão de projetos, segue um caso em que as


etapas dos processos não foram estabelecidas de maneira correta.

Caso Eurotunnel

Elaboração e Análise de Projetos


Explor

Disponível em: http://goo.gl/lOMVDQ

Quando finalmente o projeto Eurotunnel entrou em construção, muitos


comemoraram, pois, após décadas de concepção técnica e política, tudo o que era
ficção começou a virar realidade. Mas poucos sabiam que, durante as comemorações
do lançamento de sua construção, o projeto estava mais de um ano atrasado, com
orçamento batendo a casa dos US$ 15 bilhões, o que significava ser quase o dobro
do previsto inicialmente. O Eurotunnel hoje liga a França com a Grã-Bretanha e
foi considerado o projeto do século passado, tamanhos seus desafios, marco da
engenharia e audácia do homem.

A ideia de ligar a França com a Grã-Bretanha é antiga. Em 1751, a Academia


Amiens, na França, lançou uma competição para descobrir quais a melhores
maneiras de atravessar o canal até a Inglaterra. Várias propostas surgiram, desde
as mais bizarras até algumas factíveis. Em 1974, ingleses e franceses deram início a
uma discussão formal sobre a construção de um túnel. Em 1983 cinco banqueiros
e fornecedores franceses e cinco banqueiros e fornecedores ingleses propuseram
um esquema para o túnel. Em 1986, foi assinado um tratado entre os dois
países e contratada uma empresa para gerenciar e entregar o projeto, chamada
Transmanche Link - TML, também proprietária por 50 anos desta concessão. Em
1990, o serviço no túnel, para ambos os lados da via, estabeleceu-se. Em 1991,
o túnel norte estava completo e, em junho, o túnel sul. Em 1993, o primeiro trem
atravessou a via. Em dezembro de 1993, a TML entregou a construção e começou
a operar a concessão.

O projeto Eurotunnel, desde o seu início, foi marcado por inúmeros problemas
que, se estudados sem paixões, tornam-se um excelente meio de conhecimento
para os gerentes de projetos de privatizações, projetos internacionais, identificação

6
e avaliação de claims (reclamações com direito a recebimento), análise de
interessados, entre outros. As características do projeto eram específicas: os dois
acessos do túnel têm 7,6 m de diâmetro interno; área para serviços no túnel tem
4,8 m de diâmetro interno; os túneis estão a 38 km de distância, ligados por 150
passagens de 3,3 m de diâmetro para cruzamento de equipamentos; o projeto
necessitou de 11 máquinas de brocar túneis; a estrutura do túnel é feita por anéis
de concreto, fundidos no lugar, em ambos os lados da via; os franceses usaram o
método mini-mount baker para seu lado do túnel; os britânicos usaram um novo
método de construção austríaco; 15.000 trabalhadores foram empregados no
projeto; escopo também incluiu terminais em cada lado da via e a criação do
parque Shakespeare Cliff no lado britânico; a viagem dura três horas de Paris para
Londres e o custo da passagem foi alterado de $ 325 para $ 465.

Principais problemas do projeto: lições aprendidas


Num projeto desta natureza, como o Eurotunnel, muitos fatos não previstos
ocorrem e, quando analisados, podem-se extrair lições em termos de gerenciamento
de projetos. Os problemas ocorridos e sua forma de solução trazem, para o
pesquisador e estudante da área de gerenciamento de projetos, questões bastante
interessantes que contribuem, definitivamente, para seu aprendizado. Neste
aspecto, vale a pena examinar os problemas enfrentados pelo gerente de projeto e,
com eles, aprimorar os conceitos, aprender sobre as técnicas, entender as questões
políticas e efetivamente fazer uso do aprendizado nos empreendimentos reais.
Vários foram os problemas enfrentados pelo gerente de projeto do Eurotunnel.
Tecnicamente, talvez o maior problema identificado tenha sido o de escavação.
Segundo relatos da época, a máquina utilizada para escavar o túnel, com um
sofisticado controle computadorizado, foi projetada para trabalhar em solos
macios bem como o sistema de alinhamento do túnel. Num determinado momento
do trajeto, o solo encontrado, mais duro, gerou infiltração de água no sistema
eletrônico. Dois problemas surgiram, um no manuseio da máquina e outro no
encaixe dos segmentos de concreto pré-moldados. Para resolver isso, foi necessário
injetar uma massa especial solidificadora, não prevista no escopo do projeto.

Outro problema verificado foi a formação hierárquica do projeto, que, no final,


significaria definir o gerente de projeto - um francês ou um inglês? Desenhar a
organização do projeto bem como identificar os interessados foi fundamental
para evitar atritos e problemas de responsabilidades. Saber sobre os envolvidos e
interessados não foi uma tarefa simples, pois significava entender as necessidades
dos banqueiros franceses e ingleses, das empresas fornecedoras de máquinas e
equipamentos, das empresas de engenharia, dos governos francês e inglês, entre
tantas outras. Das dificuldades de estabelecimento de responsabilidades e poder
decorrem, por exemplo, as implicações técnicas que, no caso, foram distintas,
ou seja, enquanto, na parte inglesa, foram utilizados métodos de engenharia
australiana, na parte francesa, foram adotadas as técnicas denominadas mini-
mount Baker, americanas.

7
7
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

As implicações dos problemas técnicos em projetos, por outro lado, certamente


geram problemas financeiros. No caso do Eurotunnel, o fato mais conhecido foi
o da alocação das máquinas perfuradoras, que gerou o maior claim do século,
segundo ironia de alguns analistas. O que ocorreu em relação aos claims foi
que, segundo um consenso geral, o equipamento fixo do projeto deveria ter sido
contratado por preço global e não o foi. Assim, conforme os prazos foram sendo
vencidos, foi necessário solicitar pagamentos adicionais. O acréscimo do custo foi
provocado pela grande interferência e desaceleração do ritmo do projeto causado
pelo Eurotunnel. Tecnicamente, o contrato deveria ser feito no modelo turn key,
ou seja, por preço fechado. O contrato, por fim, resultou no claim de US$ 2,25
bilhões contra o Eurotunnel pela organização contratante.

Os aspectos políticos foram os problemas, talvez, mais difíceis de serem


tratados. Num projeto desta envergadura, criam-se comitês visando minimizar as
interferências de várias entidades ambientais de segurança, saúde, normas técnicas,
entre outras. Neste aspecto, cabe lembrar a necessidade de adequar às medidas,
que nos dois países são diferentes. As normas técnicas foram necessárias, para
todas as engenharias envolvidas serem tratadas. Uma comissão (Intergovernmental
Commission - IGC), formada por servidores civis da França e Inglaterra, foi criada
para tratar dos assuntos sobre normas técnicas. Ela definiu que, onde houvesse
diferenças entre as normas dos dois países, a comissão decidiria o que iria
prevalecer. Na teoria, isso poderia ser uma grande ideia, mas os subcontratados
não conseguiam interpretar facilmente as diferenças relacionadas a inúmeros
itens, como, por exemplo, concentração de grãos em concretos, bitolas de ferros,
usinagem do material de trilho e tubos, entre outros.

Considerando o porte deste projeto, conflitos e interferências externas seriam


inevitáveis. A capacidade de resolver conflitos, portanto, é um dos aspectos mais
interessantes a serem explorados pelo gerente de projetos que quer aprender com
as lições deste caso. No entanto, cabe lembrar que, além das técnicas de resolução
de conflitos, as técnicas e ferramentas de gerenciamento de projetos foram criadas
justamente para serem desenvolvidas e, assim, minimizarem os impactos adversos
sobre o projeto.

8
Introdução
O ciclo de vida de projetos é caracterizado por diferentes fases e delimita o
início e o fim dos projetos. Nesta unidade, iremos discutir a importância de cada
uma dessas fases na implementação da prática do gerenciamento de projetos nas
organizações. Além disso, será definida a função e a participação do gerente de
projetos ao longo desse gerenciamento.

O Ciclo de Vida de Projetos


A abordagem de ciclo de vida em projetos teve seu início na segunda metade
do século XX, em que foram estabelecidas etapas de um projeto para contabilizar
o uso de energia e prever o fornecimento no futuro. A partir daí, indústrias, como
de petróleo, mineradoras entre outras, aderiram ao ciclo de vida de projetos,
auxiliando no gerenciamento dos mesmos. Essas etapas não incluíam gerenciamento
ambiental, mas, com novos estudos e o início da visão ambiental, o ciclo de vida
tornou-se mais completo, com identificação de diversos aspectos ambientais.

O ciclo de vida de um projeto define o início e o fim do projeto bem como


divide-o em etapas para auxiliar no seu controle. Coletivamente, essas fases são
conhecidas como ciclo de vida do projeto. Essas fases representam a transição
de uma etapa para outra dentro do ciclo, e cada etapa passa por um processo de
entrega ou transferência técnica, que deve ser aprovada para que a próxima etapa
seja realizada (PMBok, 2008).

As fases do ciclo de vida do projeto são:


Iniciação
Esta fase possui as seguintes demandas: realizar estudo de viabilidade, identificar
e alinhar as expectativas dos “stakeholders” com os resultados dos projetos,
apresentar a definição do gerente de projetos, a definição de escopo e a aprovação
de patrocinadores e/ou direção.

Planejamento
Fase de elaboração do Plano de Gestão de Projetos, que será detalhado ao longo
da execução do projeto; isso porque este pode apresentar pequenas mudanças e
adaptações.

Execução
Os processos são executados para atender ao Plano de Gestão de Projetos.
Nesta fase, podem surgir riscos e custos não previstos, afetando o orçamento e o
planejamento já elaborado.

9
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UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Monitoramento e Controle
Nesta etapa, é realizada a revisão das entregas e do progresso do projeto, são
identificadas as áreas que foram alteradas e são controlados os riscos. Esta fase
ocorre concomitante com o planejamento e a execução.

Encerramento
Nesta etapa são documentados os impactos dos projetos e as lições aprendidas,
encerradas as aquisições e, principalmente, dada a aprovação do cliente/patrocinador
do produto/serviço.

A estrutura de fases permite que o projeto seja desmembrado em subconjuntos


para facilitar o gerenciamento, o planejamento e o controle. Não existe uma única
forma para se determinar um ciclo de vida. São as organizações que definem como
este será elaborado, dependendo do grau, tamanho e complexidade do projeto.
Os projetos podem possuir um único ciclo de vida de projeto (Figura 1), quando
o produto é elaborado em apenas uma fase, ou ser formado por várias fases,
quando as atividades de iniciação, planejamento, monitoramento e encerramento
são reexecutadas em cada fase (Figura 2).

Figura 1: Modelo de ciclo de vida de projeto único


Fonte: Guia PMBOK 2008

Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase n


Processos de Processos de Processos de Processos de
Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle

Processos de Processos de Processos de Processos de


Planejamento Planejamento Planejamento Planejamento

Processos Processos de Processos Processos de Processos Processos de Processos Processos de


de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento

Processos Processos Processos Processos


de Execução de Execução de Execução de Execução

Figura 2: Modelo de ciclo de vida com várias fases


Fonte: https://felipelirarocha.wordpress.com/

Além disso, as descrições do ciclo de vida podem ser genéricas ou detalhadas.


Quando detalhadas, podem ser expressas por meio de gráficos, cronogramas,
formulários, entre outros. Nessas descrições, é possível definir as técnicas que
serão utilizadas em cada etapa (por exemplo, em qual fase devem ser contratados

10
os serviços de arquitetura), o que será gerado em cada entrega de etapa e como a
mesma será validada, quais os envolvidos em cada fase e suas funções (por exemplo,
arquitetos, engenheiros, auditores).

A Figura 3 exemplifica a sequência do ciclo de vida de um projeto como um


todo. A primeira etapa (inicial) acontece a partir de uma ideia que foi avaliada pelo
estudo de viabilidade e aprovada.

É importante compreender que o


estudo de viabilidade e a aprovação
da direção e/ou patrocínio que dará
início ao ciclo de vida do projeto.

Idéia
Entradas Equipe de gerenciamento de projetos

Fases INICIAL INTERMEDIÁRIA FINAL

Saídas do Termo de Plano Aceitação


gerenciamento abertura
Linha Aprovação
de projetos Declaração de Base
do escopo Progresso Entrega
Entrega Produto
do projeto
Figura 3: Modelo sequencial das fases de um projeto (PMBok, 2008)
Fonte: Guia PMBOK 2008

A fase inicial também é marcada pela avaliação dos custos e riscos (Figura 4).
Esta tarefa é difícil, pois estes são estimados inicialmente e só serão confirmados
ao longo da execução do projeto. Como exemplificado na Figura 4, os riscos são
altos no início do projeto e diminuem ao longo da execução do projeto. Enquanto
isso, os custos iniciais são baixos e aumentam conforme as fases vão se alterando.

High Stakeholder influence, risk, and uncertainty


Degree

Cost of changes
Low
Project Time

Figura 4: Custos e riscos ao longo do desenvolvimento de Projetos


Fonte: Guia PMBOK 2008

11
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UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Integrando o ciclo de vida apresentado com o gerenciamento dos projetos,


a Figura 5 retrata os processos ao longo do tempo em relação ao seu nível de
atividade. As linhas horizontais representam os processos de iniciação, planejamento,
execução, controle e encerramento. Já as linhas verticais representam a integração,
escopo, tempo, custo, qualidade, pessoal, comunicação e suprimentos citados
anteriormente.

O processo de iniciação envolve, principalmente, a etapa de escopo e objetivos.


Em seguida, o projeto passa pela fase de planejamento para avaliar a interação
de todos os planos. Se escopo, tempo, custo, qualidade, comunicação, riscos
e suprimentos forem otimizados, a chance de sucesso na execução do projeto
aumenta. Nesta fase, também são adicionadas as análises dos “stakeholders” e a
equipe que será formada bem como as responsabilidades e funções de cada um.

A etapa de execução envolve coordenar e supervisionar todos os outros


processos, etapa realizada pelo gerente de projetos. Faz-se necessário retornar aos
planos e comparar com os progressos desenvolvidos, projetar tendências, avaliar
impactos a fim de tomar ações corretivas. As atividades envolvidas neste processo
são análise, negociação, decisão. Esta etapa é a mais longa de todo o processo e
é compatível com a etapa “intermediária” do ciclo de vida de projeto (Figura 3).

Juntamente com a etapa de execução, tem-se a etapa de controle monitorando


dos processos e, caso necessário, ações corretivas são disparadas.

Por fim, a fase de encerramento é essencial para assegurar o cumprimento do


escopo e avaliar se o desempenho dos processos do projeto foi satisfatório assim
como o atendimento das metas e indicadores.

Processos de
Execução

Processos de
Nível de Planejamento
Atividade Processos Processos de
de Iniciação Encerramento
Processos de Controle

Início Tempo Término


da Fase da Fase

Figura 5: Sobreposição dos processos de gerenciamento de projetos (PMBok, 2008)


Guia PMBOK 2008

É importante distinguir, também, o ciclo de vida do projeto do ciclo de vida do


produto. Por exemplo, quando uma empresa estuda a necessidade de inserir um
novo software para o mercado, este aspecto está voltado para o ciclo de vida do

12
produto e nada mais é do que o plano de negócios. A partir do plano de negócios,
a ideia se insere no ciclo de vida do projeto com várias fases. Geralmente, as
organizações que desenvolvem o produto inserem o ciclo de vida de projeto como
parte do ciclo de vida do produto. Isso porque projetos adicionais podem ser
estabelecidos para atualizarem o desempenho do produto. A Figura 5 ilustra o
ciclo de vida do produto e o ciclo de vida de projetos.

Atualização
Ciclo de vida Plano de

Operações

Venda
do produto negócios
Produto
IDÉIA

Ciclo de vida
do projeto INICIAL INTERMEDIÁRIA FINAL

Figura 6: Relação entre o produto e o ciclo de vida do projeto (PMBoK, 2008)


Guia PMBOK 2008

Para os projetos ambientais, o ciclo de vida deve ser analisado, gerando a análise
do ciclo de vida (ACV), ou seja, é preciso avaliar os impactos ambientais ao longo
da execução dos produtos que serão desenvolvidos. Os produtos/serviços geram
impactos ambientais, como emissão de poluentes, geração de resíduos além do
consumo de recursos naturais. Qualquer produto, para ser produzido, necessita de
matéria-prima, que será processada e gerará resíduo.

A ACV identifica, quantifica e classifica os impactos ambientais através de


metodologias que avaliam as fases do ciclo de vida dos projetos. A análise mais
utilizada é a chamada de “berço ao túmulo” (“cradle to grave”), que identifica
os processos e os impactos ambientais de cada um deles bem como evita
que os impactos se transfiram para outros processos. Além disso, a empresa
pode se tornar ambientalmente responsável, demonstrando superioridade em
relação a outras empresas, conquistando mais consumidores e crescendo no
mercado econômico.

A ACV também identifica a degradação ambiental além dos limites da empresa.


Por exemplo, muitas indústrias não estabelecem controles sobre a aquisição de
matéria-prima, o transporte e a destinação de resíduos devido ao fato de essas
atividades serem efetuadas por outros fornecedores. No entanto esses impactos
também devem ser considerados no ciclo de vida do projeto.

A ACV pode ser integrada a outras ferramentas de gestão ambiental, como o


Relatório de Impactos Ambientais, necessário para a obtenção de licenças ambientais,
para rotulagem ambiental, análise de consumo de água e energia, entre outros.

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13
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

A Figura 6 abrange o ciclo de vida de um produto hipotético desde a extração


da matéria-prima até o descarte. Após definido o escopo e seus limites, esta análise
é mais complexa do que a demonstrada e demanda grande quantidade de dados.

Dados de Entrada Dados de Saída


Extração de
Matérias-primas Emissões:
Água
Insumos Ar
Solo

Fabricação

Produtos
Matéria-
Coprodutos
-prima
Resíduos
Utilização

Outros
Entradas
Aspectos
Auxiliares
Ambientais
Disposição Final

Fronteira do Sistema

Figura 7: Exemplo de sistema de produto (US EPA, 2006)

A qualidade das fases do ciclo de projetos depende diretamente desses limites


estabelecidos (fronteiras do sistema). Isso porque ela define todas as entradas e saídas
ambientais elaboradas com base no escopo. Vários dados devem ser quantificados,
como consumo de energia e água, quantidade de matéria-prima a ser processada,
produtos, resíduos que serão gerados, emissões atmosféricas, efluentes, etc.

Para isso o processo de entradas e saídas deve ser estabelecido para cada processo.
Aplicação de questionários para os funcionários, análise do ACV de outras empresas,
dados históricos internos e levantamento dos aspectos ambientais da empresa podem
ser ferramentas para que todas as entradas e saídas sejam identificadas. Além disso,
saídas como emissões atmosféricas devem ser estimadas por tipo de poluente e
devem ser descritos a forma como e o local onde esse dado foi obtido.

Aspecto ambiental: Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização


Explor

que pode interagir com o meio ambiente.

Importante! Importante!

Para a quantificação das entradas e saídas, deve-se considerar os aspectos ambientais


significativos, ou seja, aqueles que possuem dano ambiental significativo. Por exemplo,
uma indústria emite muito mais gases em comparação com uma pequena construtora.
Dessa forma, a análise da indústria em relação ao aspecto ambiental “emissões
atmosféricas” será “significativo”, ao passo que, na construtora, esse aspecto pode ser
classificado como “desprezível”.

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A ACV traz muitos benefícios para a realização de projetos ambientais, no
entanto existem algumas barreiras que impedem a inserção da prática. Uma dessas
barreiras é a ausência de guias práticos para orientação. O PMBok não integra
parâmetros ambientais, e não foram criados outros guias para que essa carência
seja suprida. A definição de impactos ambientais em áreas específicas, temas e grau
de severidade exigem tempo, custo e pessoas, além de os resultados gerados serem
subjetivos, tornando-os de baixa confiabilidade. De qualquer forma, muitos projetos
conseguem abranger todos os processos e etapas, alcançando o sucesso final do
produto/serviço. Para exemplificar todas essas etapas, segue, abaixo, um modelo
de caso hipotético resumido, descrito pela Fundap (Fundação do Desenvolvimento
Administrativo), órgão público do Estado de SP.

No início, o gerente recebe o projeto e prepara o pré-plano de ação - que é


submetido à aprovação - para testar o entendimento do demandado e iniciar as
articulações que viabilizarão sua execução. Então são traçadas as diretrizes básicas
para elaborar os objetivos, natureza, limites do projeto, entradas e saídas, bem
como os aspectos ambientais (descarte de resíduos da construção civil, emissões
atmosféricas de caminhões e máquinas, consumo de recursos naturais, etc.). No
caso deste projeto, a ideia principal é: “instalar uma unidade da USP, na zona
leste da Capital, visando a atender prioritariamente a população local”. (Modelo de
Projeto Ambiental (Fundap, 2006))

São traçadas, também, as especificações básicas, como capacidade de alunos


(1.020 alunos); 4.080 alunos nos 4 anos de curso; capacidade de dez cursos
simultâneos; área construída de 6.070 m²; refeitório provisório para 1.500
refeições diárias.

As entregas são distribuídas ao longo das fases dos projetos. A fase 1 terá
entrega da construção de prédios do núcleo didático, centro de apoio técnico,
guarita, posto de vigilância e restaurante. A fase 2 terá a contratação de RH,
transferência dos docentes e pessoal, aquisição de equipamentos, licitação,
contratação e aceite e instalação dos equipamentos. Fase 3 será marcada pelo
processo seletivo, contratação de empresas, acompanhamento da seleção e
recepção dos alunos. Essas fases são distribuídas ao longo de um cronograma
básico que será o Gráfico de Gantt.

O planejamento é iniciado com a análise de riscos, como assinatura de contrato


com o BID, aprovação da Assembleia Legislativa (nova lei), apoio das prefeituras
envolvidas (convênios) etc., desvalorização do real ante o dólar (aquisição de
equipamentos importados), mudança de governo (outra ideologia), disposição
de resíduos, quantificação de consumo de água e energia durante a execução do
projeto, metas ambientais e de prazo e custo etc.

O escopo é elaborado com “Cronograma Detalhado”, em que cada tarefa tem


uma duração e um responsável, e é dividido pelas entregas já estipuladas, divididas
em tarefas. Nesta etapa, os componentes da equipe são definidos e listados, o que
é oficializado em contrato.

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15
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Na fase de execução, reuniões de acompanhamento são executadas para


legitimar o programa e obter comprometimento dos envolvidos. Essas reuniões
geram relatórios para indicar a situação de cada etapa. Indicadores do andamento
do projeto, indicadores financeiros, indicadores ambientais, controle de pendências,
entre outros assuntos, devem ser abordados nessas reuniões.

O encerramento do projeto, por definição, tem data estipulada e, portanto, deve


ser cumprido. No entanto, muitos projetos apresentam atrasos. No final, as equipes
são desfeitas, e algumas providências devem ser tomadas, como desmobilização,
relatório final, aceite da área operacional.

O Escopo e sua importância no


gerenciamento de projetos
Como discutido na Unidade I, a definição do escopo é um dos principais processos
integrantes para implementação de projetos nas empresas. Para que o ciclo de
vida seja eficaz, o escopo deve ser elaborado com todas as suas características
necessárias. O escopo deve ser definido com a descrição do produto ou serviço que
será fornecido e também deve ser detalhado, ou seja, deve especificar as normas
técnicas, o histórico, uma estrutura analítica das ações e tarefas que compõem
tal produto/serviço, sustentando os outros gerenciamentos, como custo, prazo,
riscos, etc. Essa estrutura analítica pode ser realizada de várias maneiras, e uma
delas é a chamada Work Breakdown Structure (WBS).

Importante! Importante!

A estrutura analítica integra todos os elementos do escopo, e o que não estiver


especificado, consequentemente, não estará dentro do escopo.

O WBS assegura que todos os itens envolvidos no projeto sejam acompanhados,


tornando-se, assim, a base da orientação para elaboração do projeto e ajudando a
estabelecer responsáveis e funções para cada item listado além de reduzir os riscos.

A Figura 7 exemplifica um método para elaboração do escopo muito utilizado


em projetos pequenos. No caso deste projeto, a ideia principal é o acontecimento
de um show de rock. A partir desse objetivo, temos as fases de iniciação (pré-show)

16
com a identificação do local, definição das bandas que irão se apresentar, busca de
patrocinadores para colaborarem com os custos e início da venda dos ingressos.
Após a fase de iniciação, temos a fase de execução, ou seja, aquela em que o
show acontece. Nesta etapa, faz-se necessário controlar as pessoas na entrada
do evento, controlar a iluminação e executar as músicas. Na fase de conclusão
(pós-show), libera-se o palco, e os equipamentos são retirados. Este pequeno projeto
estabeleceu, no escopo, todas as fases de cada processo do ciclo de vida, auxiliando na
organização do evento.

Figura 8: Exemplo de WBS em diagrama de blocos


Fonte: elirodrigues.com

Para escopo em projetos ambientais, os fatores que envolvam o meio ambiente


devem ser identificados na fase de iniciação, como legislações e normas aplicáveis,
identificação da área (se aplicável), riscos ambientais, estimativa de custos de
licenciamento e/ou alvarás, estudo de impacto ambiental (se aplicável). Na fase
de execução, ocorre o monitoramento da validade dos documentos legais bem
como suas atualizações, elaboração de contratos com fornecedores, realização de
treinamentos, fiscalização da coleta seletiva, aplicando ferramentas como logística
reversa ou política dos 5rs (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar). As saídas
do projeto ambiental, geralmente, são acordos cumpridos, plano de resíduos
concluído, gerenciamento ambiental definido, etc.

A Figura 8 exemplifica um projeto ambiental para reflorestamento de uma


área. Deve ser realizado um levantamento das espécies de árvores presentes
na área e estabelecidas quais serão retiradas e quais possuem uma taxa de

17
17
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

sobrevivência alta para aquela região (fase inicial). Espécies serão retiradas e
outras serão replantadas (execução) e, na fase final, será realizada a manutenção
e o acompanhamento da área.

1. Projeto de Reflorestamento

1.4 Monitorar o
1.3
1.1 Supressão 1.2 Mudas desenvolvimento
Replantio
das plantas

1.1.1 1.1.2 1.4.2


1.1.3 1.2.1 1.3.1 1.4.1
1.2.2 Avaliação e
Catalogação Remoção Verificação
Destinação Desenvolvi- Locação e da
programação
de todas as das Compra de
à madeira mento de demarcação sobrevivência
das etapas de
espécies espécies mudas manutenção e
extraída mudas das covas das mudas
exóticas exóticas reflorestamento

1.2.1.1 1.2.2.1 1.3.1.1


Escolha de Escolha Abertura e
mudas das mudas preenchimento
desenvolvidas compradas das covas

1.3.1.1
Plantio do
gramado

Figura 9: Estrutura analítica de Projeto de Reflorestamento (Reis, 2013).

Como citado anteriormente, essas ferramentas tornam-se extremamente


importantes para auxiliar a visão geral do projeto, diminuindo os riscos e tornando-se
um check list de verificação de etapas e processos do projeto. Um WBS mal elaborado
pode desencadear problemas e riscos e também inviabilizar um projeto.

Para que este tipo de trabalho seja realizado com sucesso, os envolvidos devem
ter o conhecimento pleno do projeto e também coordenar todos os processos. Por
essa razão, as organizações têm nomeado responsáveis específicos para a área de
projetos, conhecidos como gerente de projetos. Então, vamos conhecer um pouco
mais sobre esses profissionais.

Gerente de Projetos
Por ser uma área relativamente nova na cultura empresarial, ainda não se tem
estabelecido se o gerenciamento de projetos é uma profissão em específico, por
se tratar de um gerenciamento em geral. Além disso, a área de gerenciamento de
projetos não é uma disciplina específica nas instituições de ensino, sendo destacada
somente na área da pesquisa. Dessa forma, a maioria dos profissionais envolvidos
nesta área não possui um certificado profissional viabilizado através de uma longa
preparação, e mesmo assim eles são contratados para tal função, o que ocasiona
erros graves no projeto, pois o profissional necessita de um conhecimento especial
e habilidades para alcançar o desempenho exigido pela função.

18
Apesar das dificuldades, muitos profissionais destacam-se dentro das organizações
e tornam-se gerentes de projetos competentes e eficientes. Mas o que exatamente
esses profissionais fazem?

O gerente de projetos é o líder que planeja as etapas do projeto integrando diversas


áreas da empresa entre si e com o cliente, de modo a atender a um objetivo em
comum. Para isso, esta profissão exige liderança de profissionais variados, atenção,
gerenciamento, comunicação, etc. Além disso, o profissional deve compreender o
projeto, promover um ambiente interpessoal com os envolvidos, motivar a equipe,
demonstrar comprometimento e ser capaz de tomar decisões acerca do projeto.

Para a administração da empresa, o gerente de projetos é um elemento


imprescindível, pois representa o retorno do capital, garantindo à empresa
competitividade no mercado econômico. Isso porque o profissional representa um
estrategista, que filtra as informações de diversas partes e facilita os processos,
atribuindo responsabilidades e trilhando os caminhos já pré-definidos. A Figura 9
mostra o papel de facilitador e filtrador de informações do gerente de projetos.
Clientes

Gerente
de
Projetos

Marketing Financeiro
Diretoria Engenharia
Qualidade Produção
Compras Planejamento

Figura 10: O Gerente de Projetos

O gerente de projetos também precisa compreender exatamente o que o cliente


quer. Para isso, a comunicação entre cliente e empresa deve ser realizada com
o intuito de esclarecer dúvidas, estipular prazos, custos, entre outros aspectos.
A partir daí, o gerente deve passar os pedidos dos clientes para as outras áreas
envolvidas, certificando-se de que os envolvidos realmente entenderam o propósito
do produto/serviço. Esta etapa de definição é muito importante para que o cliente
fique satisfeito com a entrega do projeto.

19
19
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Para exemplificar esta prática, segue a Figura 10, retratando o diálogo entre
cliente e áreas envolvidas no projeto. Neste caso, o gerente de projetos e as partes
envolvidas não compreenderam exatamente o pedido do cliente.

Figura 11: Comunicação nas organizações


Fonte: flavioaf.wordpress.com

Sendo assim, o gerente também deve apresentar habilidades para interagir com
a área técnica, deve conhecer bem sobre o produto/serviço e saber expor os riscos
e os processos envolvidos para o cliente. Da mesma forma, as metas, os objetivos e
o ciclo de vida de todo do projeto também devem ser reportados para a alta direção
da empresa. Um plano de gerenciamento de projetos pode ser criado para facilitar
a comunicação entre os envolvidos.
Além do gerente de projetos, é importante salientar outras partes interessadas
no projeto. Pessoas e organizações podem ser afetadas diretamente pelos projetos
e também exercem influência sobre os mesmos. A determinação dessas partes
interessadas também deve ser identificada e deve ser descrita a participação de
cada um no processo de gerenciamento dos projetos. A Figura 11 identifica a
interação das partes interessadas do projeto.
As responsabilidades e funções de cada parte devem ser estabelecidas, mas
elas podem ser alteradas ao longo da execução do projeto. As suas contribuições
também podem ser pontuais ou acontecer ao longo de todo projeto, como acontece
no caso de patrocínios.

Importante! Importante!

É importante que as partes interessadas sejam identificadas para que problemas


futuros sejam evitados. Por exemplo, inserir a participação do departamento jurídico
tardiamente na elaboração de um projeto de software pode causar impacto no projeto,
pois muitas leis e documentações estão envolvidas nesse tipo de projeto.

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Projeto
Patrocinador
do projeto

Gerente de
projetos

Equipe de
gerenciamento
de projetos

Equipe do projeto

Partes interessadas
no projeto

Figura 12: Partes interessadas do projeto (PMBok, 2008)


Fonte: Guia PMBOK 2008

As partes interessadas também podem exercer influências positivas ou negativas


no projeto. As partes interessadas positivas geralmente se beneficiam dos resultados
do projeto. Por exemplo, a comunidade próxima à construção de uma indústria
pode receber benefícios culturais exigidos pelo licenciamento. As partes interessadas
negativas são, por exemplo, os ambientalistas, que consideram que o projeto da
indústria acarretará danos ambientais. Muitas organizações não identificam partes
interessadas negativas, o que ocasiona imprevistos na execução do projeto.

Considerações Finais
A partir do estudo de viabilidade, dos impactos ambientais e dos objetivos,
o escopo é elaborado com o detalhamento necessário e, então, inicia-se a fase
do planejamento, com a definição de equipe, cronogramas, custos, entre outros.
A fase de execução é a etapa seguinte, mais longa e que abrange muitos outros
processos e partes interessadas. Após a execução, o projeto passa pela análise de
metas e indicadores e é encerrado. Todas essas etapas fazem parte do ciclo de vida
de projeto, que é integrante do ciclo de vida do produto. O escopo possui todas
as etapas necessárias para que o projeto seja elaborado, com suas características e
funcionalidades.

O gerente de projeto está por trás de todo esse processo descrito acima, participando
da elaboração do projeto juntamente com o cliente bem como com as partes envolvidas
dentro das organizações. Este profissional necessita de habilidades como liderança,
comunicação adequada, organização para que o projeto atinja o sucesso.

21
21
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Material Complementar
Material Complementar

 Vídeos
Usina de Itaipu se torna referência na gestão de projetos sustentáveis
https://youtu.be/duolQYq0-Z8

 Livros
Revista Produção
RUSSO, R. 2005. Liderança e influência nas fases da gestão de projetos. v.15-3,
p.362-375.

Resolução SMA nº14, de 13 de março de 2008


SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE - SMA. Dispõe sobre os
procedimentos para supressão de vegetação nativa para parcelamento do solo ou
qualquer edificação em área urbana. São Paulo, março de 2008.

  Sites
Resolução n° 04, de 15 de dezembro de 2010
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Conselho
Nacional de Meteorologia, Normalização e Qualidade Industrial – CONMETRO.
Dispõe sobre a Aprovação do Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida e dá
outras providências.
Disponível em: www.inmetro.gov.br/legislacao Acesso em 03/07/2015.

22
Referências
FUNDAP. 2006. Fundação de Desenvolvimento Administrativo. Planejamento
e gerenciamento de projetos. Educação continuada Gestão de Programas e
projetos governamentais.

REIS, M. 2013. Estudo sobre gerenciamento do escopo e dos stakeholders em


um projeto de reflorestamento no âmbito das boas práticas de gerenciamento
de projetos propostas pelo Project Management Institute (PMI). Disponível
em: file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/P26_Palestra_1709_1930---
Marcos_Paulo_S.Reis_Artigo[PMISP]%20(2).pdf. Acesso em: 05/07/15.

PROJECT Management Institute. 2008. Practice standard for work breakdown


structures. Disponível em: http://www.pmi.org/ Acesso em: 02 de julho de 2015.

US EPA. 2006. United States Environmental Protection Agency, Life Cycle


Assessment: Principles and Practice. National Risk Management Research
Laboratory Office of Research and Development, Cincinnati.

23
23
Gestão de Projetos
Ambientais
Material Teórico
Processos de Gerenciamento de Projetos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Raisa Pereira

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Processos de Gerenciamento de Projetos

• Introdução
• Gerenciamento de Tempo
• Gerenciamento de Custos
• Gerenciamento da Qualidade

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir a participação do gerenciamento de prazo, custo e qualidade
ao longo da execução do projeto.
· Compreender como deve ser elaborado um projeto, bem como as
entradas e saídas de cada etapa e as ferramentas que podem ser
utilizadas no monitoramento desses processos.

ORIENTAÇÕES
A partir do momento que se aprova um projeto, é necessário aplicar o
gerenciamento das várias áreas de estudos discutidas nas Unidades anteriores.

As principais áreas de estudos que impactam diretamente o projeto são:


gerenciamento do tempo, que estipula data de início e término dos projetos;
gerenciamento de custo, que elabora um orçamento baseado em vários fatores
e é monitorado ao longo de toda a execução do projeto; e gerenciamento da
qualidade, que verifica e inspeciona todas as etapas do projeto para que este
seja finalizado com sucesso e atenda as expectativas de todos os envolvidos.

Dessa forma, iremos analisar e discutir as entradas, ferramentas técnicas e


saídas desses três processos descritos.
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Contextualização
A gestão de projetos requer o gerenciamento de custos, prazos e qualidade para
que ele alcance o sucesso planejado.

Dessa forma, os projetos ambientais necessitam ainda de uma maior atenção


nestes processos.

Relacionando o processo de gerenciamento de projetos ambientais com os custos


e prazo, a seguir um link no qual se pode encontrar uma reportagem realizada pela
Folha de São Paulo sobre a Usina de Belo Monte, que está sendo construída pelo
governo Federal.
Explor

http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2013/12/16/belo-monte/

6
Introdução
O gerenciamento do tempo, custo e qualidade são processos fundamentais para
o gerenciamento de todo o projeto.

A gestão do tempo envolve o cumprimento de prazos estipulados no planejamento.

A gestão de custos envolve cumprir o orçamento determinado, atendendo os


requisitos de suprimentos.

E a gestão da qualidade envolve atender os requisitos dos clientes e das partes


interessadas, de modo a entregar o produto/serviço final de maneira adequada.

Todos estes processos serão descritos nesta Unidade, destacando as etapas de


cada processo e as ferramentas para que se alcance sucesso nos projetos ambientais.

Gerenciamento de Tempo
O gerenciamento do tempo do projeto inclui os processos necessários para
gerenciar o término pontual do projeto. Este gerenciamento é formado por seis
processos distintos (Figura 1), sendo precedido por um trabalho de planejamento
pela equipe de gerenciamento.

Esse planejamento faz parte do processo “Desenvolver o plano de gerenciamento


do projeto”, que produz um sistema de gerenciamento do cronograma que seleciona
uma metodologia e uma ferramenta de elaboração de cronograma, assim como
estabelece os critérios para desenvolvimento e controle de cronograma.

Estimar os
Definir Sequenciar
recursos das
atividades atividades
atividades

Estimar a
Desenvolver Controlar o
duração das
cronograma cronograma
atividades

Figura 1. Processos do gerenciamento do tempo.

7
7
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Os projetos ambientais costumam ser bastante radicais quanto aos seus prazos.
Isso só ocorre porque, muitas vezes, esses prazos são definidos dentro de um
“Termo de Ajustamento de Conduta” e de outros compromissos firmados em
conjunto com os órgãos ambientais ou com o Ministério Público.

Para isso, os processos de gerenciamento de tempo devem ser monitorados.


Abordaremos as entradas, ferramentas técnicas e saídas de cada gerenciamento.

Entradas: documentos ou itens documentáveis que influenciarão o processo.


Ferramentas técnicas: mecanismos aplicados às entradas para criar as saídas.
Saídas: documentos ou itens documentáveis resultantes do processo.

Definir as atividades
É o processo de identificação das ações específicas a serem realizadas para
produzir as entregas do projeto. Os pacotes de trabalho (do processo Criar a EAP –
Estrutura Analítica do Projeto ou WBS no gerenciamento do escopo) são tipicamente
decompostos em componentes menores chamados atividades, que representam o
trabalho necessário para completar o pacote de trabalho. Isso ocorre para definir
os detalhes, e assim atingir as metas.

Para isso, as entradas dessa etapa são as linhas de base do escopo que são
formadas por entregas de projetos; restrições, ou seja, fatores que limitarão as
opções da equipe de gerência de projeto; e as premissas, que foram estabelecidas
no planejamento e serão confirmadas como verdadeiras ou falsas. Também são
considerados os fatores ambientais da empresa, como sistema de informações do
gerenciamento de projetos; fatores externos de interesse dos projetos; relações
com o meio ambiente etc.

Principalmente nos processos ambientais, as atividades devem ser definidas


considerando os ativos de processos organizacionais, por exemplo, políticas,
procedimentos e diretrizes existentes (metodologia) e base de conhecimento de
lições aprendidas contendo informações históricas.

As ferramentas técnicas que são utilizadas nessa etapa são a de decomposição,


ou seja, subdivisão dos pacotes de trabalho do projeto em componentes menores,
mais gerenciáveis, chamados atividades.

Essas atividades representam o esforço necessário para completar um pacote


de trabalho. O envolvimento de membros da equipe na decomposição pode gerar
resultados melhores e mais precisos.

8
Importante! Importante!

A diferença entre decomposição aqui descrita e a do Detalhamento do Escopo


já visto é que nesta as saídas são descritas como atividades (ações) em vez de
subprodutos (itens tangíveis).

Outra ferramenta é o planejamento em ondas sucessivas, em que uma forma


de planejamento é realizado com elaboração progressiva, na qual o trabalho a
ser executado num futuro próximo é planejado em detalhes e o trabalho futuro é
planejado nos níveis mais altos da EAP.

Uma lista padrão das atividades ou uma parte da lista das atividades de um
projeto anterior é frequentemente utilizada como modelo para um projeto novo.
Também podem ser usados para identificar os marcos típicos dos cronogramas.

As saídas dessa etapa geralmente são listas de atividades que abrangem todas as
atividades necessárias do projeto, bem como a descrição de cada atividade.

Sequenciar as atividades
O sequenciamento das atividades é o processo de identificação e documentação
dos relacionamentos entre as atividades do projeto. Esses são sequenciais usando
relações lógicas.O uso de tempo de antecipação ou de espera pode ser necessário
entre as atividades para dar suporte a um cronograma de projeto realista e executável.

As saídas do processo de definição das atividades, visto anteriormente, são as


entradas desse processo, como a lista de atividades, lista de marcos, declaração do
escopo etc.

As ferramentas técnicas que são utilizadas nessa etapa é o Método do diagrama


de precedência (MDP) (Figura 2).

O MDP é um método usado no Método do Caminho Crítico (MCC), que utiliza


quadrados ou retângulos, chamados de nós, para representar as atividades e
conectá-las com flechas que indicam as relações lógicas que existem entre elas.

Vale lembrar que as atividades ambientais referentes aos processos também devem
ser identificadas. Este método inclui 4 tipos de dependências ou relações lógicas:
· Término para início (TI): a iniciação da atividade sucessora depende do
término da atividade predecessora;
· Término para término (TT): o término da atividade sucessora depende
do término da atividade predecessora;

9
9
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

·· Início para início (II): a iniciação da atividade sucessora depende da


iniciação da atividade predecessora;
·· Início para término (IT): a término da atividade sucessora depende da
iniciação da atividade predecessora.

A B

C D E

Início H F G Fim

I J

K L

Figura 2. Modelo de MDP.

Modelos de diagrama de rede de cronograma também podem ser utilizados para


agilizar a preparação de redes de atividades do projeto.

Nessa etapa, também há a determinação de dependência, que são divididas em


obrigatórias (hard logic), que são aquelas exigidas contratualmente ou inerentes
à natureza do trabalho; arbitrárias (soft logic), que são aquelas estabelecidas com
base no conhecimento das melhores práticas numa área de aplicação específica ou
em algum aspecto singular do projeto onde uma sequência específica é desejada.

A dependência externa envolve uma relação entre as atividades do projeto e as


não pertencentes ao projeto. Normalmente, não estão sob o controle da equipe
do projeto.

As saídas desse processo são diagramas com esquemas das atividades do


cronograma e as relações lógicas entre elas, bem como a atualização dos documentos
já citados, como lista de atividades, atributos das atividades e registro de riscos.

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Estimar os recursos das atividades
É o processo de estimativa dos tipos e quantidades de material, pessoas,
equipamentos ou suprimentos que serão necessários para realizar cada atividade. É
estreitamente coordenado junto com o processo “Estimar custos”.

As entradas desse processo são: lista de atividade, atributos das atividades,


calendários de recursos, fatores ambientais da empresa e ativos de processos
ambientais, como políticas, procedimentos, aluguel, compras de suprimentos etc.

As ferramentas técnicas para auxiliar a etapa é a utilização de opinião especializada,


análise das alternativas (muitas atividades do projeto possuem alternativas de
realização); dados publicados para auxílio a estimativas (várias empresas publicam
valores de produção e custos realizados durante o projeto); estimativas de bottom
up, que se refere a quando uma atividade do cronograma não pode ser estimada
com um nível razoável de confiança e o trabalho dentro da atividade do cronograma
é decomposto em mais detalhes; softwares de gerenciamento de projetos.

As saídas desta etapa são requisitos de recursos das atividades (identifica os tipos
e as quantidades de recursos necessários para cada atividade do pacote de trabalho);
estrutura analítica dos recursos (estrutura hierárquica dos recursos identificados,
organizada por categoria e tipo de recursos) e atualizações dos documentos do
projeto, como lista das atividades, atributos das atividades e calendário de recursos.

Estimar a duração das atividades


É o processo de estimativa do número de períodos de trabalho que serão
necessários para terminar as atividades específicas com os recursos estimados,
sendo elaborada de acordo com o progresso das atividades do projeto.

A estimativa da duração das atividades utiliza informações sobre as atividades do


escopo do projeto, tipo de recursos necessários, quantidades estimadas de recursos
e calendário de recursos.

A partir daí, são utilizadas as ferramentas e técnicas que podem ser por meio de
opinião especializada; estimativa análoga que usa parâmetros tais como duração,
orçamento, tamanho, peso e complexidade do projeto anterior ou similar como
base para a estimativa dos mesmos parâmetros ou medidas para um projeto futuro;
estimativa paramétrica, que utiliza uma relação estatística entre dados históricos
e outras variáveis para calcular uma estimativa para parâmetros da atividade, tais
como custo, orçamento e duração; estimativa de três pontos com a técnica de
revisão e avaliação de programa.
Explor

Técnica de revisão e avaliação de programa: http://goo.gl/yulsGV

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11
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

As saídas desse processo são análises de reservas, que incluem reservas para
contingências no cronograma geral do projeto para considerar as incertezas do
cronograma, também chamadas de reservas de tempo ou buffers.

Outra saída são as estimativas de duração das atividades e as atualizações dos


documentos do projeto, como, por exemplo, atributos das atividades e premissas
feitas no desenvolvimento da estimativa da duração da atividade.

Desenvolver o cronograma
É o processo de análise de sequências das atividades, suas durações, recursos
necessários e restrições do cronograma visando a criar o cronograma do projeto.

A entrada das atividades, durações e recursos na ferramenta de elaboração


de cronograma gera um cronograma com datas planejadas para completar as
atividades do projeto. O desenvolvimento de um cronograma de projeto aceitável
é frequentemente um processo iterativo. Determina as datas planejadas de início e
término para as atividades e marcos do projeto.

As entradas dessa etapa são todas as saídas das etapas descritas anteriormente,
como lista de atividades, atributos das atividades, diagrama de rede de cronograma,
calendário de recursos, estimativa de duração das atividades, declaração do
escopo, fatores ambientais da empresas etc. Isso porque esta etapa refere-se à
elaboração do cronograma.

As ferramentas para desenvolver os cronogramas são bastante variadas. Pode ser


análise de rede do cronograma, que é uma análise técnica que gera o cronograma
do projeto. Utilização de várias técnicas analíticas, tais como o método do caminho
crítico, o método da corrente crítica, análise “e-se” e o nivelamento de recursos
pra calcular as datas de início e término mais cedo e mais tarde para as atividades
do projeto. A flexibilidade do cronograma pode ser medida pela diferença positiva
entre as datas mais tarde e mais cedo, e é chamado de “folga total”.

O Método da corrente crítica é uma técnica de análise de rede do cronograma


que modifica o cronograma do projeto para que se leve em conta a limitação de
recursos, também conhecido como caminho crítico restrito por recursos.

Adiciona buffers de duração que são atividades sem trabalho no cronograma para
gerenciar as incertezas. O buffer do projeto é inserido no final da corrente crítica,
enquanto o buffer de alimentação é inserido em cadeias de tarefas dependentes
que alimentam ou convergem para a corrente crítica.

O nivelamento dos recursos é uma técnica de análise de rede do cronograma


aplicada a um cronograma que já foi analisado pelo método do caminho crítico.
Frequentemente pode causar a mudança no caminho crítico original.

12
Já a análise do cenário “E-se” é uma análise da pergunta “E se a situação
representada pelo cenário X acontecer?”. Pode ser usada para avaliar se o cronograma
do projeto é praticável sob condições adversas para preparar planos de contingência
e de resposta para superar ou mitigar o impacto de situações inesperadas.

As aplicações de antecipações e esperas são refinamentos aplicados durante


a análise de rede para produzir um cronograma viável. Outra ferramenta é a
compressão de cronograma em que as compensações entre custo e cronograma
são analisadas para determinar como obter a maior quantidade de compressão
com o mínimo incremento de custo.

As saídas são cronogramas do projeto, incluindo pelo menos uma data de


início e de término planejadas para cada atividade. Pode ser apresentado num
formato resumido (cronograma mestre ou cronograma de marcos) ou apresentado
detalhadamente. Embora possa ser apresentado em formato tabular, é com mais
frequência apresentado graficamente nos formatos: gráfico de marcos, gráfico de
barras ou diagramas de rede de cronograma de projeto.

A linha de base do cronograma também é uma versão específica do cronograma


do projeto desenvolvido a partir de análise de sua rede. É aceita e aprovada
pela equipe de gerenciamento como a linha de base do cronograma. Os dados
do cronograma incluem pelo menos os marcos, as atividades, os atributos das
atividades e a documentação de todas as premissas e restrições identificadas.

Controlar o Cronograma
O controle do cronograma está relacionado à determinação do andamento
atual do cronograma do projeto; ao controle dos fatores que criam mudanças
no cronograma; à determinação de que o cronograma do projeto mudou e ao
gerenciamento das mudanças conforme elas efetivamente ocorrem.

As entradas do controle de cronograma são: plano de gerenciamento do projeto;


cronograma do projeto; informações sobre desempenho do trabalho; ativos de
processos organizacionais.

As ferramentas e técnicas são análise de desempenho que medem, comparam


e analisam o desempenho do cronograma como as datas reais de início e término,
porcentagem completa e duração restante para o trabalho em andamento.

Uma parte importante é decidir se a variação do cronograma requer ação


corretiva. A análise de variação que realiza medições de desempenho do
cronograma (VPR, IDP) são usadas para avaliar a magnitude de variação à linha
de base do cronograma.

A variação de folga total também é um componente essencial de planejamento


para avaliar o desempenho de tempo do projeto.

13
13
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Software de gerenciamento de projetos; nivelamento de recursos; análise do


cenário “E-se”; ajuste de antecipações e esperas; compressão de cronograma são
outras ferramentas para o desenvolvimento do cronograma.

As saídas são medições de desempenho do trabalho, ou seja, os valores de VPR


e do ID calculados para os componentes da EAP são documentados e comunicados
às partes interessadas.

Atualizações dos ativos de processos organizacionais, que são causas das


diferenças, ação corretiva escolhida e as razões e outros tipos de lições aprendidas.
Solicitações de mudança, caso seja necessário, e atualizações do plano de
gerenciamento de projetos comdados do cronograma e dados do projeto.

Dessa forma, com todos esses processos realizados e monitorados


conjuntamente, o prazo estabelecido é alcançado e, consequentemente, o sucesso
do projeto também.

Gerenciamento de Custos
Sabe-se que 40% das empresas têm problemas com o cumprimento do
orçamento. O custo é definido como medidas monetárias adotadas para
o funcionamento de uma organização por meio do pagamento de tributos,
investimentos e ações para o atingimento das metas.

O gerenciamento do custo é o conjunto de processos como planejar, estimar


e monitorar para garantir que o projeto seja executado dentro de um orçamento
previsto e pré-aprovado.

Gerenciar bem os custos é uma das atribuições do gestor de projetos de qualquer


organização, independente do segmento de atuação.

Custos diretos
Custos relacionados diretamente com as entregas dos produtos e serviços oferecidos.
Exemplo: papelaria para formação e aplicação em sala de aula, salário da sede e
mediadores, laboratórios e periféricos.
Custos indiretos
Custos relacionados ao apoio na elaboração e monitoramento dos projetos.
Independentemente da quantidade de projeto o custo de mantém estável. Exemplo:
salário matriz, administração da matriz.

E então, como devemos gerenciar os custos? Estimando custos, elaborando


o orçamento e controlando os gastos. Dessa forma, criamos um plano de
gerenciamento de custos.

14
Importante! Importante!

Plano de gerenciamento de custos


Um plano auxiliar ao plano de gerenciamento do projeto que varia de acordo com
as necessidades do projeto. Pode estabelecer: nível de precisão, unidade de medida,
ligações entre procedimentos organizacionais, limites de controle, regras de valor
agregado, formato dos relatórios, descrição dos processos.

Estimativa de custos
A estimativa de custo é o desenvolvimento de uma aproximação dos custos dos
recursos necessários para terminar cada atividade do cronograma. Na aproximação
dos custos, consideram-se as possíveis causas da variação das estimativas dos custos,
inclusive os riscos. Em geral, as estimativas de custos são expressas em unidades de
moeda para facilitar as comparações dentro de projetos e entre eles. A exatidão de
uma estimativa de um projeto aumenta conforme o projeto se desenvolve. Fontes
de informação da entrada aparecem na forma de saídas dos processos de diversas
outras áreas do conhecimento.

As entradas dessa etapa são fatores ambientais da empresa; ativos de processos


organizacionais; informações históricas; arquivos dos projetos, conhecimento da
equipe do projeto; lições aprendidas; declaração do escopo do projeto; Estrutura
Analítica do Projeto (EAP); dicionário da EAP; plano de gerenciamento de projeto,
com plano de gerenciamento do cronograma, plano de gerenciamento de pessoal,
registro de riscos.

As ferramentas e técnicas são estimativa análoga, que utiliza o custo real


dos projetos anteriores como base. Determinar os valores de custo de recursos,
também pode ser realizado, conhecendo valores de custo unitário, a fim de estimar
os custos das atividades do cronograma. A estimativa paramétrica utiliza uma
relação estatística entre dados históricos e outras variáveis, com níveis mais altos
de exatidão, dependendo da sofisticação e da quantidade de recursos e dos dados
de custos subjacentes incorporados ao modelo.

Pode ser utilizado software de gerenciamento de projetos, análise de proposta


de fornecedor, análise das reservas: provisões para contingências, considerando
que não se deve exagerar no potencial do problema; e custo da qualidade.

As saídas dessa fase são as estimativas de custos (avaliação quantitativa dos


custos prováveis para terminar o projeto); detalhes que dão suporte à estimativa
de custos da atividade (um documento que fornece de forma clara, profissional e
completa do que originou a estimativa de custo); mudanças solicitadas (mudanças
que podem afetar o plano de gerenciamento de custos, recursos e qualquer outra
informação descrita no plano); plano de gerenciamento de custos com a atualização
das mudanças aprovadas.

15
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UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Orçamentação
A orçamentação dos custos envolve alocar as estimativas dos custos globais aos
itens individuais de trabalho com a finalidade de estabelecer uma baseline de custo
para medir o desempenho do projeto (Figura 3).

Valores Fluxo de
Acumulados Caixa
Esperado

Baseline da
Performance
do Custo

Tempo
Figura 3. Apresentação ilustrativa de baseline do custo.

As entradas desse processo são o escopo, que fornece as restrições dos recursos;
a estrutura analítica do projeto que fornece as relações entre as entregas e seus
componentes; estimativas de custos das atividades; detalhes que dão suporte as
estimativas de custos; cronograma de projeto, incluindo as datas, marcos, pacotes
de trabalho; calendário de recursos, utilizado para informar os custos durante o
projeto; e o plano de gerenciamento de custos.

As ferramentas utilizadas nessa etapa são agregação de custos, em que as


estimativas de custos da atividade do cronograma são agregadas por pacotes de
trabalho de acordo com a EAP; análise de reservas, que estabelece as reservas
para contingências, como a reserva para contingências de gerenciamento, que são
provisões para mudanças não planejadas, mas potencialmente necessários (escopo
e custos); estimativa paramétrica; e reconciliação dos limites de financiamento,
que envolve ajustes nos cronogramas do trabalho para nivelar ou regular variações
indesejáveis nos gastos.

As saídas são: linha de base dos custos (orçamento dividido em fases); plano de
gerenciamento de custos; mudanças solicitadas.

Controle de custos
O controle dos custos está associado a influenciar os fatores que criam as
mudanças na meta de custo de forma a garantir que estas mudanças sejam benéficas;
determinar que a meta de custo foi alterada e gerenciar as mudanças reais quando
e da forma que elas surgirem.

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Para isso, faz-se necessário registrar exatamente as mudanças, como controlar
fatores, monitorar, garantir acordo e limites; estabelecer limites nos custos;
monitorar o desempenho e informar as partes interessadas.

As entradas dessa etapa são as saídas da orçamentação, relatórios de


desempenho, informações sobre desempenho do trabalho (são coletadas
informações sobre o desempenho do trabalho relativas ao andamento e aos custos
das atividades do projeto que estão sendo realizadas, como: entregas terminadas
e ainda não terminadas; custos autorizados e incorridos; estimativas para terminar
as atividades do cronograma; percentual fisicamente terminado das atividades do
cronograma); solicitações de mudanças aprovadas(controle integrado de mudanças
podem incluir modificações nas cláusulas relativas a custos do contrato, no escopo
do projeto, na linha de base dos custos ou no plano de gerenciamento de custos).

As ferramentas e técnicas que podem ser utilizadas são sistema de controle de


mudanças nos custos (procedimentos que autorizam as alterações na linha de base
dos custos; formulários e documentações); análise de medição de desempenho
(técnicas para avaliar e determinar a extensão das variações que podem ocorrer,
como variações de custos, variações de prazos); análise do desempenho do projeto
(marcos esperados e marcos atingidos; avaliam as atividades do cronograma,
pacote de trabalho ou situação e progresso da cota do custo; análise de variação,
análise de tendências e técnica do valor agregado); gerenciamento das variações,
ou seja, como a variação dos custos será gerenciada de acordo com o plano de
gerenciamento de custos.

Importante! Importante!

As maiores variações permitidas no início do projeto podem diminuir conforme o


projeto se aproxima do término.

As saídas da etapa são estimativas de custos; linha de base de custos; medições


de desempenho; previsão do término; ações corretivas recomendadas; ativos de
processos organizacionais; plano de gerenciamento de projetos (estimativas de custos
das atividades do cronograma, linha de base de custos, plano de gerenciamento de
custos e do orçamento do projeto).

Todas as solicitações de mudança aprovadas que afetam esses documentos são


incorporadas como atualizações desses documentos.

Dessa forma, no fim do projeto, é realizado um balanço dos custos, para


verificar se as medidas tomadas ao longo da execução foram suficientes para que
o orçamento fosse atendido.

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UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Gerenciamento da Qualidade
A qualidade é percebida de forma diferente pelas seguintes partes interessadas:
organizações, profissionais e clientes.

E como ela é realizada nos projetos?

Alguns dados estatísticos demonstram que 28% dos projetos são abortados;
46% dos projetos extrapolam prazos e custos e somente 26% dos projetos são
bem sucedidos.

O sucesso de um projeto está intimamente ligado à qualidade que ele apresenta


e pode ser avaliado de diferentes perspectivas, como, por exemplo, pelos clientes,
que indicam sua satisfação pelo preço e o cumprimento do prazo de entrega; pelos
sócios que analisam o retorno do investimento e do lucro; a equipe do projeto
que participa e tem sua realização pessoal no sucesso do projeto; a sociedade
que participa do projeto pela geração de empregos; e os fornecedores que são
parceiros do projeto.

A equipe de gerência do projeto deve estar atenta para monitorar a satisfação


do cliente, entendendo e gerenciando as necessidades e expectativas do cliente;
inspecionar a qualidade que foi projetada e incorporada; garantir a participação de
todos os membros da equipe; e garantir a melhoria contínua do projeto.

Para isso, deve-se planejar o gerenciamento da qualidade, realizar a garantia e


controlar a qualidade.

Planejar o gerenciamento da qualidade


Planejar o gerenciamento da qualidade é o processo de identificação dos
requisitos e/ou padrões da qualidade do projeto e suas entregas, além da
documentação de como o projeto demonstrará a conformidade com os requisitos
e/ou padrões de qualidade.

As entradas dessa etapa são política da qualidade, em que as intenções globais


e o direcionamento de uma organização referente à qualidade são especificadas;
declaração do escopo que descreve os principais subprodutos; descrição dos
produtos; legislações aplicáveis e padrões.

As ferramentas técnicas utilizadas nessa etapa podem ser análise de custo/


benefício, levando em consideração maior produtividade e satisfação do cliente,
com menos custos; fluxogramas em que as atividades e processos são interligados;
projeto de experimentos, em que a técnica analítica auxilia a identificar que variáveis
têm uma influência maior no resultado geral.

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A técnica é aplicada, frequentemente, mais às questões do produto do projeto
(por exemplo, os projetistas do setor automotivo podem desejar determinar quais
combinações de suspensão e pneus produzirão as mais proveitosas características
de transporte a um custo razoável).

As saídas desse processo são o plano de gerência da qualidade, que deve


descrever como a equipe de gerência de projeto irá implementar sua política de
qualidade; definições operacionais, que descreve, de forma bastante específica, o
que significa cada elemento e como ele será medido no processo de controle da
qualidade; checklist, usualmente destinada à indústria ou a atividades específicas,
utilizada para verificar se um conjunto de passos necessários estão sendo efetuados.

Garantia da Qualidade
Consiste em que todas as atividades planejadas são implementadas no sistema,
assegurando que o projeto irá atender os padrões de qualidade.

As entradas para garantir a qualidade são plano de gerência da qualidade;


resultados das medições do controle de qualidade, que são registros ou testes
para comparações ou análises. A ferramenta técnica é auditoria da qualidade,
em que o objetivo principal é identificar as lições aprendidas que melhorem o
desempenho deste projeto ou de outros projetos posteriores. As saídas dessa etapa
estão relacionadas à melhoria do sistema de qualidade, com tomada de ações para
aumentar a eficiência do projeto.

Controle de Qualidade
Controlar a qualidade é o processo de monitoramento e registro dos resultados
da execução das atividades de qualidade para avaliar o desempenho e recomendar
as mudanças necessárias.

As entradas para essa etapa são resultados dos trabalhos, ou seja, resultados
dos processos quanto aos resultados do produto; plano de gerência de qualidade;
definições operacionais; e checklist de verificação.

As ferramentas técnicas que auxiliam nessa etapa são inspeções; gráficos de


controle que apresentam resultados do processo ao longo do tempo; amostragem
estatística, inspecionando uma parte dos processos; análises de tendência para
elaboração de futuras previsões baseadas na utilização dos resultados históricos.

As saídas do processo de qualidade são melhoria da qualidade; decisões de


aceitação; checklist concluídos; ajuste nos processos com ações corretivas ou
preventivas imediatas.

Estes processos interagem mutuamente bem como com os processos de outras


áreas de conhecimento. Cada processo pode envolver o esforço de um ou mais
indivíduos ou grupos de indivíduos, dependendo das necessidades do projeto.

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UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Considerações Finais
Como visto ao longo dessa aula, o gerenciamento de prazo, risco e qualidade
caminham juntos no desenvolvimento do projeto.

O prazo estabelece o início e o fim do projeto, distribuindo as atividades do


escopo ao longo desse tempo.

Já o custo estabelece um orçamento, que deve ser cumprido ao final do projeto.

A qualidade influencia em todos os processos do projeto, principalmente


nesses dois itens, prazo e custo, pois a satisfação dos clientes, bem como dos
investidores, está envolvida no cumprimento das metas estabelecidas para que
alcance sucesso no projeto.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Para aprofundar seus conhecimentos, consulte:

Livros
HELDMAN, K. Gerência de Projetos: Guia para o exame do PMI. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009;
MENEZES, L. C. M. Gestão de Projetos. São Paulo: Atlas; 2009;
VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 1998;
VARGAS, R. V. Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais competitivos. Rio de Janeiro:
Brasport, 2005.

21
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UNIDADE

Referências
KERZNER, Harold. Gestão de Projetos: as melhores práticas. Porto Alegre:
Bookman, 2002.

PROJECT Management Institute. Practice standard for work breakdown


structures. 2008. Disponível em: http://www.pmi.org. Acesso em: 27 de jul. 2015.

VARGAS, Ricardo. Plano de Projeto. 3.ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2007.

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Gestão de Projetos
Ambientais
Material Teórico
O Ciclo de Vida de Projetos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Raisa Pereira Abdalla

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
O Ciclo de Vida de Projetos

• Introdução
• O Ciclo de Vida de Projetos
• O Escopo e sua importância no gerenciamento de projetos
• Gerente de Projetos
• Considerações Finais

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir o ciclo de vida de projetos, principalmente as dificuldades
desse processo no gerenciamento de projetos ambientais. Também
será discutida a função do gerente de projetos.
· Entender como o gerente de projetos pode facilitar as etapas do ciclo
de vida do projeto bem como a elaboração do escopo, que é uma
etapa decisiva no gerenciamento de projetos.

ORIENTAÇÕES
Iniciaremos esta unidade retomando as definições de escopo já discutidas
na Unidade I, com enfoque no modo como ele pode ser elaborado pelas
organizações bem como na sua importância para o atendimento às metas e
aos resultados.

Também será discutido o ciclo de vida de projetos, caracterizado por diferentes


fases e pelo fato de delimitar o início e o fim dos processos. Veremos como
este processo é importante na prática de gerenciamento de projetos nas
empresas. Além disso, será definida a função e a participação do gerente de
projetos nessas etapas e sua ação como facilitador desses processos.
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Contextualização
Os projetos são realizados com diversas etapas que abrangem viabilidade, análise
de custos, riscos, impactos ambientais, etc. Quando essas etapas são elaboradas
de maneira incorreta ou equivocada, os projetos podem apresentar problemas,
aumentando os custos e seu tempo de execução.

Para contextualizar a prática de gestão de projetos, segue um caso em que as


etapas dos processos não foram estabelecidas de maneira correta.

Caso Eurotunnel

Elaboração e Análise de Projetos


Explor

Disponível em: http://goo.gl/lOMVDQ

Quando finalmente o projeto Eurotunnel entrou em construção, muitos


comemoraram, pois, após décadas de concepção técnica e política, tudo o que era
ficção começou a virar realidade. Mas poucos sabiam que, durante as comemorações
do lançamento de sua construção, o projeto estava mais de um ano atrasado, com
orçamento batendo a casa dos US$ 15 bilhões, o que significava ser quase o dobro
do previsto inicialmente. O Eurotunnel hoje liga a França com a Grã-Bretanha e
foi considerado o projeto do século passado, tamanhos seus desafios, marco da
engenharia e audácia do homem.

A ideia de ligar a França com a Grã-Bretanha é antiga. Em 1751, a Academia


Amiens, na França, lançou uma competição para descobrir quais a melhores
maneiras de atravessar o canal até a Inglaterra. Várias propostas surgiram, desde
as mais bizarras até algumas factíveis. Em 1974, ingleses e franceses deram início a
uma discussão formal sobre a construção de um túnel. Em 1983 cinco banqueiros
e fornecedores franceses e cinco banqueiros e fornecedores ingleses propuseram
um esquema para o túnel. Em 1986, foi assinado um tratado entre os dois
países e contratada uma empresa para gerenciar e entregar o projeto, chamada
Transmanche Link - TML, também proprietária por 50 anos desta concessão. Em
1990, o serviço no túnel, para ambos os lados da via, estabeleceu-se. Em 1991,
o túnel norte estava completo e, em junho, o túnel sul. Em 1993, o primeiro trem
atravessou a via. Em dezembro de 1993, a TML entregou a construção e começou
a operar a concessão.

O projeto Eurotunnel, desde o seu início, foi marcado por inúmeros problemas
que, se estudados sem paixões, tornam-se um excelente meio de conhecimento
para os gerentes de projetos de privatizações, projetos internacionais, identificação

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e avaliação de claims (reclamações com direito a recebimento), análise de
interessados, entre outros. As características do projeto eram específicas: os dois
acessos do túnel têm 7,6 m de diâmetro interno; área para serviços no túnel tem
4,8 m de diâmetro interno; os túneis estão a 38 km de distância, ligados por 150
passagens de 3,3 m de diâmetro para cruzamento de equipamentos; o projeto
necessitou de 11 máquinas de brocar túneis; a estrutura do túnel é feita por anéis
de concreto, fundidos no lugar, em ambos os lados da via; os franceses usaram o
método mini-mount baker para seu lado do túnel; os britânicos usaram um novo
método de construção austríaco; 15.000 trabalhadores foram empregados no
projeto; escopo também incluiu terminais em cada lado da via e a criação do
parque Shakespeare Cliff no lado britânico; a viagem dura três horas de Paris para
Londres e o custo da passagem foi alterado de $ 325 para $ 465.

Principais problemas do projeto: lições aprendidas


Num projeto desta natureza, como o Eurotunnel, muitos fatos não previstos
ocorrem e, quando analisados, podem-se extrair lições em termos de gerenciamento
de projetos. Os problemas ocorridos e sua forma de solução trazem, para o
pesquisador e estudante da área de gerenciamento de projetos, questões bastante
interessantes que contribuem, definitivamente, para seu aprendizado. Neste
aspecto, vale a pena examinar os problemas enfrentados pelo gerente de projeto e,
com eles, aprimorar os conceitos, aprender sobre as técnicas, entender as questões
políticas e efetivamente fazer uso do aprendizado nos empreendimentos reais.
Vários foram os problemas enfrentados pelo gerente de projeto do Eurotunnel.
Tecnicamente, talvez o maior problema identificado tenha sido o de escavação.
Segundo relatos da época, a máquina utilizada para escavar o túnel, com um
sofisticado controle computadorizado, foi projetada para trabalhar em solos
macios bem como o sistema de alinhamento do túnel. Num determinado momento
do trajeto, o solo encontrado, mais duro, gerou infiltração de água no sistema
eletrônico. Dois problemas surgiram, um no manuseio da máquina e outro no
encaixe dos segmentos de concreto pré-moldados. Para resolver isso, foi necessário
injetar uma massa especial solidificadora, não prevista no escopo do projeto.

Outro problema verificado foi a formação hierárquica do projeto, que, no final,


significaria definir o gerente de projeto - um francês ou um inglês? Desenhar a
organização do projeto bem como identificar os interessados foi fundamental
para evitar atritos e problemas de responsabilidades. Saber sobre os envolvidos e
interessados não foi uma tarefa simples, pois significava entender as necessidades
dos banqueiros franceses e ingleses, das empresas fornecedoras de máquinas e
equipamentos, das empresas de engenharia, dos governos francês e inglês, entre
tantas outras. Das dificuldades de estabelecimento de responsabilidades e poder
decorrem, por exemplo, as implicações técnicas que, no caso, foram distintas,
ou seja, enquanto, na parte inglesa, foram utilizados métodos de engenharia
australiana, na parte francesa, foram adotadas as técnicas denominadas mini-
mount Baker, americanas.

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UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

As implicações dos problemas técnicos em projetos, por outro lado, certamente


geram problemas financeiros. No caso do Eurotunnel, o fato mais conhecido foi
o da alocação das máquinas perfuradoras, que gerou o maior claim do século,
segundo ironia de alguns analistas. O que ocorreu em relação aos claims foi
que, segundo um consenso geral, o equipamento fixo do projeto deveria ter sido
contratado por preço global e não o foi. Assim, conforme os prazos foram sendo
vencidos, foi necessário solicitar pagamentos adicionais. O acréscimo do custo foi
provocado pela grande interferência e desaceleração do ritmo do projeto causado
pelo Eurotunnel. Tecnicamente, o contrato deveria ser feito no modelo turn key,
ou seja, por preço fechado. O contrato, por fim, resultou no claim de US$ 2,25
bilhões contra o Eurotunnel pela organização contratante.

Os aspectos políticos foram os problemas, talvez, mais difíceis de serem


tratados. Num projeto desta envergadura, criam-se comitês visando minimizar as
interferências de várias entidades ambientais de segurança, saúde, normas técnicas,
entre outras. Neste aspecto, cabe lembrar a necessidade de adequar às medidas,
que nos dois países são diferentes. As normas técnicas foram necessárias, para
todas as engenharias envolvidas serem tratadas. Uma comissão (Intergovernmental
Commission - IGC), formada por servidores civis da França e Inglaterra, foi criada
para tratar dos assuntos sobre normas técnicas. Ela definiu que, onde houvesse
diferenças entre as normas dos dois países, a comissão decidiria o que iria
prevalecer. Na teoria, isso poderia ser uma grande ideia, mas os subcontratados
não conseguiam interpretar facilmente as diferenças relacionadas a inúmeros
itens, como, por exemplo, concentração de grãos em concretos, bitolas de ferros,
usinagem do material de trilho e tubos, entre outros.

Considerando o porte deste projeto, conflitos e interferências externas seriam


inevitáveis. A capacidade de resolver conflitos, portanto, é um dos aspectos mais
interessantes a serem explorados pelo gerente de projetos que quer aprender com
as lições deste caso. No entanto, cabe lembrar que, além das técnicas de resolução
de conflitos, as técnicas e ferramentas de gerenciamento de projetos foram criadas
justamente para serem desenvolvidas e, assim, minimizarem os impactos adversos
sobre o projeto.

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Introdução
O ciclo de vida de projetos é caracterizado por diferentes fases e delimita o
início e o fim dos projetos. Nesta unidade, iremos discutir a importância de cada
uma dessas fases na implementação da prática do gerenciamento de projetos nas
organizações. Além disso, será definida a função e a participação do gerente de
projetos ao longo desse gerenciamento.

O Ciclo de Vida de Projetos


A abordagem de ciclo de vida em projetos teve seu início na segunda metade
do século XX, em que foram estabelecidas etapas de um projeto para contabilizar
o uso de energia e prever o fornecimento no futuro. A partir daí, indústrias, como
de petróleo, mineradoras entre outras, aderiram ao ciclo de vida de projetos,
auxiliando no gerenciamento dos mesmos. Essas etapas não incluíam gerenciamento
ambiental, mas, com novos estudos e o início da visão ambiental, o ciclo de vida
tornou-se mais completo, com identificação de diversos aspectos ambientais.

O ciclo de vida de um projeto define o início e o fim do projeto bem como


divide-o em etapas para auxiliar no seu controle. Coletivamente, essas fases são
conhecidas como ciclo de vida do projeto. Essas fases representam a transição
de uma etapa para outra dentro do ciclo, e cada etapa passa por um processo de
entrega ou transferência técnica, que deve ser aprovada para que a próxima etapa
seja realizada (PMBok, 2008).

As fases do ciclo de vida do projeto são:


Iniciação
Esta fase possui as seguintes demandas: realizar estudo de viabilidade, identificar
e alinhar as expectativas dos “stakeholders” com os resultados dos projetos,
apresentar a definição do gerente de projetos, a definição de escopo e a aprovação
de patrocinadores e/ou direção.

Planejamento
Fase de elaboração do Plano de Gestão de Projetos, que será detalhado ao longo
da execução do projeto; isso porque este pode apresentar pequenas mudanças e
adaptações.

Execução
Os processos são executados para atender ao Plano de Gestão de Projetos.
Nesta fase, podem surgir riscos e custos não previstos, afetando o orçamento e o
planejamento já elaborado.

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UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Monitoramento e Controle
Nesta etapa, é realizada a revisão das entregas e do progresso do projeto, são
identificadas as áreas que foram alteradas e são controlados os riscos. Esta fase
ocorre concomitante com o planejamento e a execução.

Encerramento
Nesta etapa são documentados os impactos dos projetos e as lições aprendidas,
encerradas as aquisições e, principalmente, dada a aprovação do cliente/patrocinador
do produto/serviço.

A estrutura de fases permite que o projeto seja desmembrado em subconjuntos


para facilitar o gerenciamento, o planejamento e o controle. Não existe uma única
forma para se determinar um ciclo de vida. São as organizações que definem como
este será elaborado, dependendo do grau, tamanho e complexidade do projeto.
Os projetos podem possuir um único ciclo de vida de projeto (Figura 1), quando
o produto é elaborado em apenas uma fase, ou ser formado por várias fases,
quando as atividades de iniciação, planejamento, monitoramento e encerramento
são reexecutadas em cada fase (Figura 2).

Figura 1: Modelo de ciclo de vida de projeto único


Fonte: Guia PMBOK 2008

Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase n


Processos de Processos de Processos de Processos de
Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle

Processos de Processos de Processos de Processos de


Planejamento Planejamento Planejamento Planejamento

Processos Processos de Processos Processos de Processos Processos de Processos Processos de


de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento

Processos Processos Processos Processos


de Execução de Execução de Execução de Execução

Figura 2: Modelo de ciclo de vida com várias fases


Fonte: https://felipelirarocha.wordpress.com/

Além disso, as descrições do ciclo de vida podem ser genéricas ou detalhadas.


Quando detalhadas, podem ser expressas por meio de gráficos, cronogramas,
formulários, entre outros. Nessas descrições, é possível definir as técnicas que
serão utilizadas em cada etapa (por exemplo, em qual fase devem ser contratados

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os serviços de arquitetura), o que será gerado em cada entrega de etapa e como a
mesma será validada, quais os envolvidos em cada fase e suas funções (por exemplo,
arquitetos, engenheiros, auditores).

A Figura 3 exemplifica a sequência do ciclo de vida de um projeto como um


todo. A primeira etapa (inicial) acontece a partir de uma ideia que foi avaliada pelo
estudo de viabilidade e aprovada.

É importante compreender que o


estudo de viabilidade e a aprovação
da direção e/ou patrocínio que dará
início ao ciclo de vida do projeto.

Idéia
Entradas Equipe de gerenciamento de projetos

Fases INICIAL INTERMEDIÁRIA FINAL

Saídas do Termo de Plano Aceitação


gerenciamento abertura
Linha Aprovação
de projetos Declaração de Base
do escopo Progresso Entrega
Entrega Produto
do projeto
Figura 3: Modelo sequencial das fases de um projeto (PMBok, 2008)
Fonte: Guia PMBOK 2008

A fase inicial também é marcada pela avaliação dos custos e riscos (Figura 4).
Esta tarefa é difícil, pois estes são estimados inicialmente e só serão confirmados
ao longo da execução do projeto. Como exemplificado na Figura 4, os riscos são
altos no início do projeto e diminuem ao longo da execução do projeto. Enquanto
isso, os custos iniciais são baixos e aumentam conforme as fases vão se alterando.

High Stakeholder influence, risk, and uncertainty


Degree

Cost of changes
Low
Project Time

Figura 4: Custos e riscos ao longo do desenvolvimento de Projetos


Fonte: Guia PMBOK 2008

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UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Integrando o ciclo de vida apresentado com o gerenciamento dos projetos,


a Figura 5 retrata os processos ao longo do tempo em relação ao seu nível de
atividade. As linhas horizontais representam os processos de iniciação, planejamento,
execução, controle e encerramento. Já as linhas verticais representam a integração,
escopo, tempo, custo, qualidade, pessoal, comunicação e suprimentos citados
anteriormente.

O processo de iniciação envolve, principalmente, a etapa de escopo e objetivos.


Em seguida, o projeto passa pela fase de planejamento para avaliar a interação
de todos os planos. Se escopo, tempo, custo, qualidade, comunicação, riscos
e suprimentos forem otimizados, a chance de sucesso na execução do projeto
aumenta. Nesta fase, também são adicionadas as análises dos “stakeholders” e a
equipe que será formada bem como as responsabilidades e funções de cada um.

A etapa de execução envolve coordenar e supervisionar todos os outros


processos, etapa realizada pelo gerente de projetos. Faz-se necessário retornar aos
planos e comparar com os progressos desenvolvidos, projetar tendências, avaliar
impactos a fim de tomar ações corretivas. As atividades envolvidas neste processo
são análise, negociação, decisão. Esta etapa é a mais longa de todo o processo e
é compatível com a etapa “intermediária” do ciclo de vida de projeto (Figura 3).

Juntamente com a etapa de execução, tem-se a etapa de controle monitorando


dos processos e, caso necessário, ações corretivas são disparadas.

Por fim, a fase de encerramento é essencial para assegurar o cumprimento do


escopo e avaliar se o desempenho dos processos do projeto foi satisfatório assim
como o atendimento das metas e indicadores.

Processos de
Execução

Processos de
Nível de Planejamento
Atividade Processos Processos de
de Iniciação Encerramento
Processos de Controle

Início Tempo Término


da Fase da Fase

Figura 5: Sobreposição dos processos de gerenciamento de projetos (PMBok, 2008)


Guia PMBOK 2008

É importante distinguir, também, o ciclo de vida do projeto do ciclo de vida do


produto. Por exemplo, quando uma empresa estuda a necessidade de inserir um
novo software para o mercado, este aspecto está voltado para o ciclo de vida do

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produto e nada mais é do que o plano de negócios. A partir do plano de negócios,
a ideia se insere no ciclo de vida do projeto com várias fases. Geralmente, as
organizações que desenvolvem o produto inserem o ciclo de vida de projeto como
parte do ciclo de vida do produto. Isso porque projetos adicionais podem ser
estabelecidos para atualizarem o desempenho do produto. A Figura 5 ilustra o
ciclo de vida do produto e o ciclo de vida de projetos.

Atualização
Ciclo de vida Plano de

Operações

Venda
do produto negócios
Produto
IDÉIA

Ciclo de vida
do projeto INICIAL INTERMEDIÁRIA FINAL

Figura 6: Relação entre o produto e o ciclo de vida do projeto (PMBoK, 2008)


Guia PMBOK 2008

Para os projetos ambientais, o ciclo de vida deve ser analisado, gerando a análise
do ciclo de vida (ACV), ou seja, é preciso avaliar os impactos ambientais ao longo
da execução dos produtos que serão desenvolvidos. Os produtos/serviços geram
impactos ambientais, como emissão de poluentes, geração de resíduos além do
consumo de recursos naturais. Qualquer produto, para ser produzido, necessita de
matéria-prima, que será processada e gerará resíduo.

A ACV identifica, quantifica e classifica os impactos ambientais através de


metodologias que avaliam as fases do ciclo de vida dos projetos. A análise mais
utilizada é a chamada de “berço ao túmulo” (“cradle to grave”), que identifica
os processos e os impactos ambientais de cada um deles bem como evita
que os impactos se transfiram para outros processos. Além disso, a empresa
pode se tornar ambientalmente responsável, demonstrando superioridade em
relação a outras empresas, conquistando mais consumidores e crescendo no
mercado econômico.

A ACV também identifica a degradação ambiental além dos limites da empresa.


Por exemplo, muitas indústrias não estabelecem controles sobre a aquisição de
matéria-prima, o transporte e a destinação de resíduos devido ao fato de essas
atividades serem efetuadas por outros fornecedores. No entanto esses impactos
também devem ser considerados no ciclo de vida do projeto.

A ACV pode ser integrada a outras ferramentas de gestão ambiental, como o


Relatório de Impactos Ambientais, necessário para a obtenção de licenças ambientais,
para rotulagem ambiental, análise de consumo de água e energia, entre outros.

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UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

A Figura 6 abrange o ciclo de vida de um produto hipotético desde a extração


da matéria-prima até o descarte. Após definido o escopo e seus limites, esta análise
é mais complexa do que a demonstrada e demanda grande quantidade de dados.

Dados de Entrada Dados de Saída


Extração de
Matérias-primas Emissões:
Água
Insumos Ar
Solo

Fabricação

Produtos
Matéria-
Coprodutos
-prima
Resíduos
Utilização

Outros
Entradas
Aspectos
Auxiliares
Ambientais
Disposição Final

Fronteira do Sistema

Figura 7: Exemplo de sistema de produto (US EPA, 2006)

A qualidade das fases do ciclo de projetos depende diretamente desses limites


estabelecidos (fronteiras do sistema). Isso porque ela define todas as entradas e saídas
ambientais elaboradas com base no escopo. Vários dados devem ser quantificados,
como consumo de energia e água, quantidade de matéria-prima a ser processada,
produtos, resíduos que serão gerados, emissões atmosféricas, efluentes, etc.

Para isso o processo de entradas e saídas deve ser estabelecido para cada processo.
Aplicação de questionários para os funcionários, análise do ACV de outras empresas,
dados históricos internos e levantamento dos aspectos ambientais da empresa podem
ser ferramentas para que todas as entradas e saídas sejam identificadas. Além disso,
saídas como emissões atmosféricas devem ser estimadas por tipo de poluente e
devem ser descritos a forma como e o local onde esse dado foi obtido.

Aspecto ambiental: Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização


Explor

que pode interagir com o meio ambiente.

Importante! Importante!

Para a quantificação das entradas e saídas, deve-se considerar os aspectos ambientais


significativos, ou seja, aqueles que possuem dano ambiental significativo. Por exemplo,
uma indústria emite muito mais gases em comparação com uma pequena construtora.
Dessa forma, a análise da indústria em relação ao aspecto ambiental “emissões
atmosféricas” será “significativo”, ao passo que, na construtora, esse aspecto pode ser
classificado como “desprezível”.

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A ACV traz muitos benefícios para a realização de projetos ambientais, no
entanto existem algumas barreiras que impedem a inserção da prática. Uma dessas
barreiras é a ausência de guias práticos para orientação. O PMBok não integra
parâmetros ambientais, e não foram criados outros guias para que essa carência
seja suprida. A definição de impactos ambientais em áreas específicas, temas e grau
de severidade exigem tempo, custo e pessoas, além de os resultados gerados serem
subjetivos, tornando-os de baixa confiabilidade. De qualquer forma, muitos projetos
conseguem abranger todos os processos e etapas, alcançando o sucesso final do
produto/serviço. Para exemplificar todas essas etapas, segue, abaixo, um modelo
de caso hipotético resumido, descrito pela Fundap (Fundação do Desenvolvimento
Administrativo), órgão público do Estado de SP.

No início, o gerente recebe o projeto e prepara o pré-plano de ação - que é


submetido à aprovação - para testar o entendimento do demandado e iniciar as
articulações que viabilizarão sua execução. Então são traçadas as diretrizes básicas
para elaborar os objetivos, natureza, limites do projeto, entradas e saídas, bem
como os aspectos ambientais (descarte de resíduos da construção civil, emissões
atmosféricas de caminhões e máquinas, consumo de recursos naturais, etc.). No
caso deste projeto, a ideia principal é: “instalar uma unidade da USP, na zona
leste da Capital, visando a atender prioritariamente a população local”. (Modelo de
Projeto Ambiental (Fundap, 2006))

São traçadas, também, as especificações básicas, como capacidade de alunos


(1.020 alunos); 4.080 alunos nos 4 anos de curso; capacidade de dez cursos
simultâneos; área construída de 6.070 m²; refeitório provisório para 1.500
refeições diárias.

As entregas são distribuídas ao longo das fases dos projetos. A fase 1 terá
entrega da construção de prédios do núcleo didático, centro de apoio técnico,
guarita, posto de vigilância e restaurante. A fase 2 terá a contratação de RH,
transferência dos docentes e pessoal, aquisição de equipamentos, licitação,
contratação e aceite e instalação dos equipamentos. Fase 3 será marcada pelo
processo seletivo, contratação de empresas, acompanhamento da seleção e
recepção dos alunos. Essas fases são distribuídas ao longo de um cronograma
básico que será o Gráfico de Gantt.

O planejamento é iniciado com a análise de riscos, como assinatura de contrato


com o BID, aprovação da Assembleia Legislativa (nova lei), apoio das prefeituras
envolvidas (convênios) etc., desvalorização do real ante o dólar (aquisição de
equipamentos importados), mudança de governo (outra ideologia), disposição
de resíduos, quantificação de consumo de água e energia durante a execução do
projeto, metas ambientais e de prazo e custo etc.

O escopo é elaborado com “Cronograma Detalhado”, em que cada tarefa tem


uma duração e um responsável, e é dividido pelas entregas já estipuladas, divididas
em tarefas. Nesta etapa, os componentes da equipe são definidos e listados, o que
é oficializado em contrato.

15
15
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Na fase de execução, reuniões de acompanhamento são executadas para


legitimar o programa e obter comprometimento dos envolvidos. Essas reuniões
geram relatórios para indicar a situação de cada etapa. Indicadores do andamento
do projeto, indicadores financeiros, indicadores ambientais, controle de pendências,
entre outros assuntos, devem ser abordados nessas reuniões.

O encerramento do projeto, por definição, tem data estipulada e, portanto, deve


ser cumprido. No entanto, muitos projetos apresentam atrasos. No final, as equipes
são desfeitas, e algumas providências devem ser tomadas, como desmobilização,
relatório final, aceite da área operacional.

O Escopo e sua importância no


gerenciamento de projetos
Como discutido na Unidade I, a definição do escopo é um dos principais processos
integrantes para implementação de projetos nas empresas. Para que o ciclo de
vida seja eficaz, o escopo deve ser elaborado com todas as suas características
necessárias. O escopo deve ser definido com a descrição do produto ou serviço que
será fornecido e também deve ser detalhado, ou seja, deve especificar as normas
técnicas, o histórico, uma estrutura analítica das ações e tarefas que compõem
tal produto/serviço, sustentando os outros gerenciamentos, como custo, prazo,
riscos, etc. Essa estrutura analítica pode ser realizada de várias maneiras, e uma
delas é a chamada Work Breakdown Structure (WBS).

Importante! Importante!

A estrutura analítica integra todos os elementos do escopo, e o que não estiver


especificado, consequentemente, não estará dentro do escopo.

O WBS assegura que todos os itens envolvidos no projeto sejam acompanhados,


tornando-se, assim, a base da orientação para elaboração do projeto e ajudando a
estabelecer responsáveis e funções para cada item listado além de reduzir os riscos.

A Figura 7 exemplifica um método para elaboração do escopo muito utilizado


em projetos pequenos. No caso deste projeto, a ideia principal é o acontecimento
de um show de rock. A partir desse objetivo, temos as fases de iniciação (pré-show)

16
com a identificação do local, definição das bandas que irão se apresentar, busca de
patrocinadores para colaborarem com os custos e início da venda dos ingressos.
Após a fase de iniciação, temos a fase de execução, ou seja, aquela em que o
show acontece. Nesta etapa, faz-se necessário controlar as pessoas na entrada
do evento, controlar a iluminação e executar as músicas. Na fase de conclusão
(pós-show), libera-se o palco, e os equipamentos são retirados. Este pequeno projeto
estabeleceu, no escopo, todas as fases de cada processo do ciclo de vida, auxiliando na
organização do evento.

Figura 8: Exemplo de WBS em diagrama de blocos


Fonte: elirodrigues.com

Para escopo em projetos ambientais, os fatores que envolvam o meio ambiente


devem ser identificados na fase de iniciação, como legislações e normas aplicáveis,
identificação da área (se aplicável), riscos ambientais, estimativa de custos de
licenciamento e/ou alvarás, estudo de impacto ambiental (se aplicável). Na fase
de execução, ocorre o monitoramento da validade dos documentos legais bem
como suas atualizações, elaboração de contratos com fornecedores, realização de
treinamentos, fiscalização da coleta seletiva, aplicando ferramentas como logística
reversa ou política dos 5rs (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar). As saídas
do projeto ambiental, geralmente, são acordos cumpridos, plano de resíduos
concluído, gerenciamento ambiental definido, etc.

A Figura 8 exemplifica um projeto ambiental para reflorestamento de uma


área. Deve ser realizado um levantamento das espécies de árvores presentes
na área e estabelecidas quais serão retiradas e quais possuem uma taxa de

17
17
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

sobrevivência alta para aquela região (fase inicial). Espécies serão retiradas e
outras serão replantadas (execução) e, na fase final, será realizada a manutenção
e o acompanhamento da área.

1. Projeto de Reflorestamento

1.4 Monitorar o
1.3
1.1 Supressão 1.2 Mudas desenvolvimento
Replantio
das plantas

1.1.1 1.1.2 1.4.2


1.1.3 1.2.1 1.3.1 1.4.1
1.2.2 Avaliação e
Catalogação Remoção Verificação
Destinação Desenvolvi- Locação e da
programação
de todas as das Compra de
à madeira mento de demarcação sobrevivência
das etapas de
espécies espécies mudas manutenção e
extraída mudas das covas das mudas
exóticas exóticas reflorestamento

1.2.1.1 1.2.2.1 1.3.1.1


Escolha de Escolha Abertura e
mudas das mudas preenchimento
desenvolvidas compradas das covas

1.3.1.1
Plantio do
gramado

Figura 9: Estrutura analítica de Projeto de Reflorestamento (Reis, 2013).

Como citado anteriormente, essas ferramentas tornam-se extremamente


importantes para auxiliar a visão geral do projeto, diminuindo os riscos e tornando-se
um check list de verificação de etapas e processos do projeto. Um WBS mal elaborado
pode desencadear problemas e riscos e também inviabilizar um projeto.

Para que este tipo de trabalho seja realizado com sucesso, os envolvidos devem
ter o conhecimento pleno do projeto e também coordenar todos os processos. Por
essa razão, as organizações têm nomeado responsáveis específicos para a área de
projetos, conhecidos como gerente de projetos. Então, vamos conhecer um pouco
mais sobre esses profissionais.

Gerente de Projetos
Por ser uma área relativamente nova na cultura empresarial, ainda não se tem
estabelecido se o gerenciamento de projetos é uma profissão em específico, por
se tratar de um gerenciamento em geral. Além disso, a área de gerenciamento de
projetos não é uma disciplina específica nas instituições de ensino, sendo destacada
somente na área da pesquisa. Dessa forma, a maioria dos profissionais envolvidos
nesta área não possui um certificado profissional viabilizado através de uma longa
preparação, e mesmo assim eles são contratados para tal função, o que ocasiona
erros graves no projeto, pois o profissional necessita de um conhecimento especial
e habilidades para alcançar o desempenho exigido pela função.

18
Apesar das dificuldades, muitos profissionais destacam-se dentro das organizações
e tornam-se gerentes de projetos competentes e eficientes. Mas o que exatamente
esses profissionais fazem?

O gerente de projetos é o líder que planeja as etapas do projeto integrando diversas


áreas da empresa entre si e com o cliente, de modo a atender a um objetivo em
comum. Para isso, esta profissão exige liderança de profissionais variados, atenção,
gerenciamento, comunicação, etc. Além disso, o profissional deve compreender o
projeto, promover um ambiente interpessoal com os envolvidos, motivar a equipe,
demonstrar comprometimento e ser capaz de tomar decisões acerca do projeto.

Para a administração da empresa, o gerente de projetos é um elemento


imprescindível, pois representa o retorno do capital, garantindo à empresa
competitividade no mercado econômico. Isso porque o profissional representa um
estrategista, que filtra as informações de diversas partes e facilita os processos,
atribuindo responsabilidades e trilhando os caminhos já pré-definidos. A Figura 9
mostra o papel de facilitador e filtrador de informações do gerente de projetos.
Clientes

Gerente
de
Projetos

Marketing Financeiro
Diretoria Engenharia
Qualidade Produção
Compras Planejamento

Figura 10: O Gerente de Projetos

O gerente de projetos também precisa compreender exatamente o que o cliente


quer. Para isso, a comunicação entre cliente e empresa deve ser realizada com
o intuito de esclarecer dúvidas, estipular prazos, custos, entre outros aspectos.
A partir daí, o gerente deve passar os pedidos dos clientes para as outras áreas
envolvidas, certificando-se de que os envolvidos realmente entenderam o propósito
do produto/serviço. Esta etapa de definição é muito importante para que o cliente
fique satisfeito com a entrega do projeto.

19
19
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Para exemplificar esta prática, segue a Figura 10, retratando o diálogo entre
cliente e áreas envolvidas no projeto. Neste caso, o gerente de projetos e as partes
envolvidas não compreenderam exatamente o pedido do cliente.

Figura 11: Comunicação nas organizações


Fonte: flavioaf.wordpress.com

Sendo assim, o gerente também deve apresentar habilidades para interagir com
a área técnica, deve conhecer bem sobre o produto/serviço e saber expor os riscos
e os processos envolvidos para o cliente. Da mesma forma, as metas, os objetivos e
o ciclo de vida de todo do projeto também devem ser reportados para a alta direção
da empresa. Um plano de gerenciamento de projetos pode ser criado para facilitar
a comunicação entre os envolvidos.
Além do gerente de projetos, é importante salientar outras partes interessadas
no projeto. Pessoas e organizações podem ser afetadas diretamente pelos projetos
e também exercem influência sobre os mesmos. A determinação dessas partes
interessadas também deve ser identificada e deve ser descrita a participação de
cada um no processo de gerenciamento dos projetos. A Figura 11 identifica a
interação das partes interessadas do projeto.
As responsabilidades e funções de cada parte devem ser estabelecidas, mas
elas podem ser alteradas ao longo da execução do projeto. As suas contribuições
também podem ser pontuais ou acontecer ao longo de todo projeto, como acontece
no caso de patrocínios.

Importante! Importante!

É importante que as partes interessadas sejam identificadas para que problemas


futuros sejam evitados. Por exemplo, inserir a participação do departamento jurídico
tardiamente na elaboração de um projeto de software pode causar impacto no projeto,
pois muitas leis e documentações estão envolvidas nesse tipo de projeto.

20
Projeto
Patrocinador
do projeto

Gerente de
projetos

Equipe de
gerenciamento
de projetos

Equipe do projeto

Partes interessadas
no projeto

Figura 12: Partes interessadas do projeto (PMBok, 2008)


Fonte: Guia PMBOK 2008

As partes interessadas também podem exercer influências positivas ou negativas


no projeto. As partes interessadas positivas geralmente se beneficiam dos resultados
do projeto. Por exemplo, a comunidade próxima à construção de uma indústria
pode receber benefícios culturais exigidos pelo licenciamento. As partes interessadas
negativas são, por exemplo, os ambientalistas, que consideram que o projeto da
indústria acarretará danos ambientais. Muitas organizações não identificam partes
interessadas negativas, o que ocasiona imprevistos na execução do projeto.

Considerações Finais
A partir do estudo de viabilidade, dos impactos ambientais e dos objetivos,
o escopo é elaborado com o detalhamento necessário e, então, inicia-se a fase
do planejamento, com a definição de equipe, cronogramas, custos, entre outros.
A fase de execução é a etapa seguinte, mais longa e que abrange muitos outros
processos e partes interessadas. Após a execução, o projeto passa pela análise de
metas e indicadores e é encerrado. Todas essas etapas fazem parte do ciclo de vida
de projeto, que é integrante do ciclo de vida do produto. O escopo possui todas
as etapas necessárias para que o projeto seja elaborado, com suas características e
funcionalidades.

O gerente de projeto está por trás de todo esse processo descrito acima, participando
da elaboração do projeto juntamente com o cliente bem como com as partes envolvidas
dentro das organizações. Este profissional necessita de habilidades como liderança,
comunicação adequada, organização para que o projeto atinja o sucesso.

21
21
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Material Complementar
Material Complementar

 Vídeos
Usina de Itaipu se torna referência na gestão de projetos sustentáveis
https://youtu.be/duolQYq0-Z8

 Livros
Revista Produção
RUSSO, R. 2005. Liderança e influência nas fases da gestão de projetos. v.15-3,
p.362-375.

Resolução SMA nº14, de 13 de março de 2008


SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE - SMA. Dispõe sobre os
procedimentos para supressão de vegetação nativa para parcelamento do solo ou
qualquer edificação em área urbana. São Paulo, março de 2008.

  Sites
Resolução n° 04, de 15 de dezembro de 2010
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Conselho
Nacional de Meteorologia, Normalização e Qualidade Industrial – CONMETRO.
Dispõe sobre a Aprovação do Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida e dá
outras providências.
Disponível em: www.inmetro.gov.br/legislacao Acesso em 03/07/2015.

22
Referências
FUNDAP. 2006. Fundação de Desenvolvimento Administrativo. Planejamento
e gerenciamento de projetos. Educação continuada Gestão de Programas e
projetos governamentais.

REIS, M. 2013. Estudo sobre gerenciamento do escopo e dos stakeholders em


um projeto de reflorestamento no âmbito das boas práticas de gerenciamento
de projetos propostas pelo Project Management Institute (PMI). Disponível
em: file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/P26_Palestra_1709_1930---
Marcos_Paulo_S.Reis_Artigo[PMISP]%20(2).pdf. Acesso em: 05/07/15.

PROJECT Management Institute. 2008. Practice standard for work breakdown


structures. Disponível em: http://www.pmi.org/ Acesso em: 02 de julho de 2015.

US EPA. 2006. United States Environmental Protection Agency, Life Cycle


Assessment: Principles and Practice. National Risk Management Research
Laboratory Office of Research and Development, Cincinnati.

23
23
Gestão de Projetos
Ambientais
Material Teórico
Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Raisa Pereira

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Instrumentos Ambientais para
Gestão de Projetos

• Contextualização
• Introdução
• Dados Históricos
• ISO 14001
• Considerações finais
• Referências

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta Unidade, discutiremos o uso de instrumentos ambientais
aplicados ao gerenciamento de projetos.
· Cada um desses instrumentos pode ser aplicado e auxilia a com-
preensão da importância da gestão ambiental em projetos.

ORIENTAÇÕES
Para implementar todos os processos ambientais em projetos, são necessárias
ferramentas eficientes para que a preservação e a conscientização ambiental seja
implementada.

Algumas dessas formas, como atendimento a requisitos legais e aplicação de


requisitos normativos, podem auxiliar nessa problemática.
UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

Contextualização
A gestão de projetos ambientais necessita de instrumentos que facilitem
o planejamento e a execução da preservação do Meio Ambiente, bem como a
conscientização ambiental dos setores envolvidos.

Um desses instrumentos é a norma ISO 14001, que está relacionada à


certificação ambiental das empresas.

Para compreender um pouco mais sobre esta norma, a seguir o link de um vídeo que explica
Explor

a importância da norma e como deve ser aplicada nas organizações:


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V2Xys4_ipCI&hd=1

6
Introdução
Algumas ferramentas podem auxiliar o processo de gerenciamento de projetos
ambientais, como legislações aplicáveis e normas que relacionam a importância do
meio ambiente à rotina empresarial.

Dessa forma, discutiremos como essas ferramentas podem ser utilizadas e qual
a importância delas na execução do projeto.

Dados Históricos
Com o aumento da degradação ambiental, a população começou a se preocupar
com o meio ambiente e com a qualidade de vida.

Assim, as empresas e entidades que focavam apenas o aspecto econômico e


financeiro, visando ao lucro, começam a entender a importância do Meio Ambiente.

O consumidor consciente passou a exigir a preservação ambiental e, dessa forma,


as empresas foram forçadas a desenvolver produtos com diferenciais tecnológicos,
inserindo produtos ecologicamente corretos no mercado, que minimizassem os
impactos no meio ambiente.

Para se adequar a esse novo mercado, as empresas começaram a investir


em tecnologia, substituindo os equipamentos ultrapassados por equipamentos
modernos e menos poluentes, atendendo às necessidades dos clientes.

Dessa forma, os processos de produção se tornaram mais eficientes e eficazes,


além de terem trazido benefícios para o Meio Ambiente.

No entanto, essas mudanças dentro das organizações em relação ao Meio


Ambiente começaram a ser expostas como marketing ambiental para os clientes.

Isso acarretou que a variável ambiental se tornasse um diferencial competitivo


entre as empresas, fazendo com que a preservação do Meio Ambiente se tornasse
uma preocupação dentro das empresas.

As organizações de todos os ramos estão progressivamente se preocupando


em demonstrar e alcançar o melhor desempenho ambiental possível, por meio
dos controles de impactos ambientais de suas atividades e processos, bem como
minimizando os danos causados pelos seus produtos e serviços, levando em conta
suas políticas e objetivos ambientais.

7
7
UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

A Figura 1 demonstra o número de certificações na norma ambiental ao longo


dos anos, em várias áreas do mundo.

Figura 1. Número de certificados na norma ambiental pelo mundo.


Fonte: totalqualidade.com.br

No contexto de uma legislação progressivamente mais restritiva e exigente,


no que se refere a medidas para promover a prevenção ambiental e para o
desenvolvimento de políticas econômicas sustentáveis e o aumento da pressão das
partes interessadas a respeito dos assuntos ambientais, surge uma organização
atuante em todo o mundo que dispõe de padrões e diretrizes para o funcionamento
dos empreendimentos, a ISO (International Organization for Standardization).

As organizações começaram a utilizar auditorias e análises críticas para avaliarem


seu desempenho ambiental.

Entretanto, essas ações em específico podem não ser suficientes para que a
organização tenha a garantia de que irá atingir seus objetivos, mas também
continuará atendendo às exigências legais e de sua própria política.

As empresas estão passando por um processo crescente de cobrança por uma


postura responsável e de comprometimento com o meio ambiente.

Esta cobrança tem influenciado vários ramos de atividades, como a Ciência, a


Legislação, a Política, e as formas de gestão e planejamento, sob pressão crescente
dos órgãos fiscalizadores, das organizações não governamentais e, principalmente, do
próprio mercado, incluindo as entidades financiadoras, como Bancos e Seguradoras.

A Figura 2 demonstra a preocupação das empresas em diversos países em atender


as regulamentações e aprimorar o seu relacionamento com o Meio Ambiente.

Figura 2. Países que mais cresceram em certificações ambientai.


Fonte: totalqualidade.com.br

8
As questões ambientais sensibilizaram o mercado consumidor, o que contribuiu
para que os gestores compreendessem a importância do que representa a variável
ambiental no mercado competitivo e sujeito a mudanças pelas perspectivas dos
clientes e da sociedade.

O cumprimento dos requisitos legais, as pressões exercidas pelos órgãos


regulamentadores e o sistema de normas sendo inserido nas organizações
caracterizam um novo modelo de gerenciamento, que visa a melhorar o desempenho
ambiental continuamente, estabelecendo estratégias na busca pela qualidade em
seus produtos e serviços.

No entanto, o estabelecimento e a operação do sistema de gestão ambiental não


serão totalmente eficientes para que a redução dos impactos ambientais adversos
seja relevante.

Em consequência disso, a necessidade de se aplicar uma metodologia que avalie


o desenvolvimento dos processos, a sua manutenção e a melhoria dos programas
de gestão ambiental foram implementados nas organizações.

O cenário até aqui exposto demonstra que podem existir diversas razões para que
as empresas invistam em auditorias, programas de gestão e outras vias e ferramentas
para a diminuição do impacto ambiental e em novas tecnologias para seus produtos
e serviços, visando à eficiência do Sistema de Gestão Ambiental – SGA.

ISO 14001
A Constituição Federal de 1988 garante a defesa e a preservação do meio ambiente
para todos. Este pensamento retrata a clara intenção do legislador em promover
medidas preventivas a fim de garantir a qualidade do meio ambiente no futuro.
Art.225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988).

O direto ambiental é um conjunto de leis, princípios e políticas públicas que


regem a interação do homem com o meio ambiente para assegurar, por meio de
processo participativo, a manutenção de um equilíbrio da natureza, um ambiente
ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações (Brasil, 1988).

Dessa forma, o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) surge para atender à politica
ambiental estabelecida, e para gerenciar os aspectos ambientais do processo produtivo.

Assim, faz-se necessário abordar a política ambiental estabelecida, bem como


atender esta política, por meio dos objetivos, metas e programas ambientais.

A política ambiental deve expressar com o que a empresa quer se comprometer


em relação ao Meio Ambiente.

9
9
UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

A alta administração deverá definir e disseminar para todos os funcionários e


toda a organização sobre sua política, como também divulgá-la para as partes
interessadas, clientes, fornecedores etc.

A ABNT NBR ISO 14001:2004 define política ambiental como sendo: “intenções
e princípios gerais de uma empresa, corporação, firma, empreendimento, autoridade
ou instituição, ou parte ou uma combinação desses, incorporada ou não, pública
ou privada, que tenha funções e administração próprias, em relação aos seus
resultados mensuráveis de gestão sobre seus elementos das atividades, produtos
ou serviços que possam interagir com o meio ambiente, conforme formalmente
expresso pela Alta Administração”.

A política ambiental da organização deve ser definida pela Alta Administração


e deve assegurar que ela esteja definida conforme sua natureza, escala e impactos
ambientais de suas atividades, produtos e serviços; inclua o comprometimento
com a melhoria contínua e com a prevenção de poluição; inclua um
comprometimento em atender aos requisitos legais aplicáveis e outros requisitos
subscritos pela organização que se relacionem a seus aspectos ambientais;
forneça uma estrutura para o estabelecimento e análise dos objetivos e metas
ambientais; seja documentada, implementada e mantida; seja comunicada
a todos que trabalhem na organização ou que atuem em seu nome; e esteja
disponível para o público (ISO, 2004).

Para compreender melhor a norma ISO 14001, segue o link para acesso.
Explor

http://www.oet.pt/downloads/legislacao/NP%20EN%20ISO%2014001%202004.pdf.

Segue um modelo de política ambiental da empresa Embratel. Nota-se que a prevenção


Explor

da poluição, bem como ações de conscientização, são importantes em projetos ambientais.

Fonte: slideplayer.com.br

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As empresas estão se adaptando ao modelo de gestão ambiental trazendo um
fator de sucesso nos mais diversos ramos das atividades que formam diferentes
objetivos de várias áreas, tais como, ramos da indústria, do comércio, de prestação
de serviços complementares e essenciais, independente de sua vocação ao lucro ou
à satisfação dos usuários e clientes.

O gerenciamento ambiental se faz na forma de um conjunto ordenado de rotinas


e procedimentos que permite a uma organização administrar adequadamente as
relações entre suas atividades e o Meio Ambiente que as abriga, atentando para as
expectativas das partes interessadas.

Para auxiliar as empresas a instalar o SGA, a Auditoria Ambiental surge como


um meio antecipado de diagnosticar e apresentar as soluções para as alterações
significativas que poderão afetar a imagem da empresa de uma forma negativa,
sobretudo a questões relacionadas ao mau andamento do desempenho, como
objetivos e metas do Sistema de Gestão Ambiental.

Dessa forma, a Auditoria Ambiental representa um papel importante no processo


de checagem do SGA, pois o auxílio em verificar os processos e a imagem da
empresa com antecedência evita que possíveis danos e imprevistos possam ser
causados ao Meio Ambiente e ao mercado consumidor.

A auditoria ambiental bem elaborada influencia a minimização dos impactos


ambientais, e age a favor da diminuição dos índices de poluição.

A execução da auditoria envolve decisões de diversas áreas e partes interessadas,


pois envolve desprendimento financeiro, como, por exemplo, no caso de áreas
com presença de passivos ambientais, que possuem sua resolução em longo prazo
e com alto custo.

A auditoria ambiental não é somente uma verificação de requisitos legais


aplicáveis ou de uma abordagem técnica, mas sim da junção de diversos fatores que
envolvem as perspectivas ambientais, visando à busca por melhores alternativas
para os produtos que sejam menos agressivos ao meio ambiente.

A maior vantagem da aplicação de auditorias ambientais em empresas é que


permite que elas tenham um cuidado maior com o processo de produção, identificando
os riscos e os impactos, as vantagens e as desvantagens e procurando melhorias.

Nesse sentido, as auditorias induzem ao uso de tecnologias limpas, à utilização


de recursos menos agressivos ao meio ambiente (matéria prima), lixo industrial e
a identificação de perigos e riscos potenciais, ou seja, buscar uma harmonização
entre Natureza e Meio Ambiente.

Para implementar esse tipo de projeto nas empresas, foi criado o sistema de
PDCA (Figura 3), que tem por objetivo tornar mais claros e ágeis os processos
envolvidos na execução da gestão, como, por exemplo, na gestão da qualidade
ambiental, dividindo-a em quatro principais passos.

11
11
UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

O ciclo começa pelo planejamento, em seguida a ação ou conjunto de ações


planejadas, checa-se o que foi feito, se estava de acordo com o planejado, constante
e repetidamente (ciclicamente) e toma-se uma ação para eliminar ou mitigar defeitos
do produto ou da execução (ISO, 2004).

• Ação corretiva • Localizar


no insucesso problemas
• Padronizar • Estabelecer
e treinar planos
no sucesso Action Plan de ação
Agir Planejar

• Verificar Check Do • Execução


atingimento Checar Fazer do plano
de meta • Colocar
• Acompanhar plano em
indicadores prática

Figura 3

Segue um modelo de PDCA aplicado à prática do emagrecimento para


compreender melhor cada etapa.

A Agir corretivamente
1 Se o peso não apresentar redução,
aumentar a carga dos exercícios físicos
2 Se o peso aumentar procurar
nutricionista redução de pelo menos
3kg, ter supervisão cuidadosa durante
o Natal e Ano Novo
Metas
Redução de 22 kg em 12 meses
Período 01/01/10 até 24/12/11
Peso atual = 92 kg atingir 70 kg
Plano de Ação
1 Emagrecer 500gr por semana
P
2 Reduzir o consumo de carboidratos e refrigerantes
3 Caminhar/correr 3 vezes por semana 40min
Como será feito o Controle
1 Medição do peso todo sábado pela manhã
2 Marcar a cada caminhada/corrida realizada
3 Supervisionar a redução do consumo de carboidratos e refr.

Controlar Praticar a Ação


1 Medir semanalmente o peso. Ou seja, comer e beber menos

C D
2 medir semanalmente a quantidade e praticar exercícios
de vezes que foram feitas
caminhadas/corridas

Figura 4
Fonte: paisfilhoseescola.com.br

12
A etapa de planejamento refere-se à análise do ciclo de vida do projeto, já
discutido anteriormente. O ciclo de vida faz parte da gestão ambiental de um
bem ou serviço, ou seja, desde a origem dos recursos no Meio Ambiente até a
disposição final dos resíduos dos materiais e energia após o uso, tendo suas etapas
intermediárias, como transporte, estocagem etc.

Todas estas etapas possuem aspectos ambientais que devem ser identificados e
controlados ao longo da execução do produto.

Partindo-se do planejamento, os itens serão executados de acordo com cada


controle estabelecido para cada aspecto. Caso um novo aspecto ambiental seja
identificado durante a execução do produto/serviço, devem ser tomadas as medidas
de controle necessárias e identificados os novos aspectos.

A fase de verificação é composta pela análise do desempenho ambiental com o


acompanhamento dos indicadores e metas ambientais, visando à melhoria contínua
previstos pela política ambiental.

A Avaliação do Desempenho Ambiental é um processo permanente que coleta


e analisa os dados e as informações para verificar a situação atual dos parâmetros
ambientais relacionados à organização e também para prever as tendências futuras,
com base nos indicadores previamente estabelecidos.

Nessa etapa, identifica-se a necessidade de iniciar um dos processos mais


importantes e, atualmente, mais discutidos para uma organização: o processo de
Melhoria Contínua.

Obtendo os seus padrões de excelência, a organização deve seguir com as


mudanças, a fim de aprimorá-las cada vez mais, evidenciando que o processo de
melhoria contínua está sendo aplicado e aumentando a competitividade associado
aos padrões do mercado consumidor.

O processo de Melhoria Contínua, bem como o ciclo PDCA, fazem parte do


corpo da Norma ISO 9000 (Qualidade) e foram aprimorados na ISO 14001.

A melhoria contínua é a busca de melhores resultados e níveis de desempenho


dos processos, produtos e atividades da empresa. Ela deve ser objetivo da empresa e
desenvolvida como cultura da empresa, consistindo em um modelo de organização
pautado em critérios de qualidade.

Com os critérios específicos estabelecidos sobre o desempenho ambiental, a


própria norma relata que o sistema de gestão ambiental permite que a organização
desenvolva e implemente a sua política, bem como os objetivos que atendam
os requisitos legais aplicáveis à atividade da organização e os requisitos por ela
subscritos relacionados aos aspectos ambientais.

Esta norma terá aplicação na organização ao estabelecer, implementar, manter


e aprimorar um sistema de gestão ambiental; assegurar a conformidade com sua
política ambiental definida; demonstrar conformidade com esta norma ao fazer uma
autoavaliação ou autodeclaração, ou buscar confirmação de sua conformidade por

13
13
UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

partes que tenham interesse na organização como os clientes, ou buscar confirmação


de sua autodeclaração por meio de uma organização externa, ou buscar certificação/
registro de seu sistema da gestão ambiental por uma organização externa (ISO, 2004).

Para que a organização alcance as condições citadas, a norma especifica que é


necessário: estabelecer uma política ambiental clara e apropriada para a atividade
da organização; identificar os aspectos e impactos ambientais relacionados a cada
atividade de produção e processo; identificar os requisitos legais aplicáveis e outros
requisitos subscritos pela organização ou partes interessadas; estabelecer objetivos
e metas alcançáveis e relevantes; implementar programas de gestão que auxiliem o
cumprimento das metas ambientais; fornecer estrutura que facilite as atividades de
planejamento, controle, monitoramento, ação preventiva e corretiva, auditoria e
análise, de forma a assegurar que a política seja cumprida e que o sistema da gestão
ambiental permaneça implementado e apropriado, sendo capaz de se adaptar às
mudanças de acordo com as circunstâncias.

Alguns dos aspectos ambientais que podem ser identificados são: emissões atmosféricas;
Explor

lançamentos em corpos de água; lançamento no solo; uso de matérias-primas e recursos


naturais; uso da energia; energia emitida, por exemplo, calor, radiação, vibração; resíduos
e subprodutos; atributos físicos, por exemplo, tamanho, forma, cor e aparência. Também
devem ser considerados aspectos relacionados às atividades, produtos e serviços da
organização, tais como: projeto e desenvolvimento; processos de fabricação; embalagem
e transporte; desempenho ambiental e práticas de prestadores de serviços e fornecedores;
gerenciamento de resíduo; extração e distribuição de matérias-primas e recursos naturais;
distribuição, uso e fim de vida de produtos e vida selvagem e biodiversidade.

Os requisitos legais aplicáveis devem ser identificados e essa etapa é uma


necessidade da organização para estabelecer quais requisitos são aplicáveis a sua
atividade e seus aspectos ambientais, levando em consideração as legislações
nacionais, internacionais, estaduais, municipais, departamentais etc.

Outros requisitos relacionados à organização podem ser acordos estabelecidos


com autoridades públicas, contratos de clientes, princípios voluntários,
compromissos na administração do produto, requisitos de associação de classe,
acordos com grupos comunitários, requisitos corporativos da empresa etc.

Seguindo a ideia da melhoria contínua, a próxima etapa é a implementação e


operação dos processos, que tem grande importância para que a gestão ambiental
seja implementada com sucesso.

Duas etapas que são primordiais nesse processo são: comunicação interna e
organização da documentação.

A comunicação interna é importante para assegurar a eficaz implementação


do sistema de gestão ambiental. Os métodos de comunicação interna devem ser
documentados por meio de procedimentos, descrevendo as formas de recebimento,
documentação e respostas a estas comunicações, podendo ser por boletins

14
informativos, quadros de aviso, internet, e-mails etc. Já a comunicação externa deve
considerar as informações e pontos levantados pelas partes interessadas, como, por
exemplo, reclamação de vizinho de indústrias ou obras da construção civil.

O documento que descreve as formas de comunicação deve ser detalhado e


documentado, podendo ser integrado com outros sistemas da organização.

A estrutura da empresa, como, por exemplo, o tamanho, número de funcionários,


localização, atividades, produtos e serviços, interfere na extensão da documentação
elaborada, pois a complexidade e o número de pessoas envolvidas na comunicação
aumenta, sendo necessária interação e competência pessoal para identificar os
documentos que devem ser listados.

Esses documentos podem incluir: declarações das políticas, objetivos e metas;


informações sobre os aspectos ambientais significativos; procedimentos; informações
de processo; organogramas; normas internas e externas; planos locais de emergência
e registros em geral.

A etapa seguinte é a verificação, em que se responderá sobre a eficiência do


sistema de gestão ambiental.

As etapas de monitoramento e medição, avaliação do atendimento a requisitos


legais e outros; não conformidade, ação corretiva e preventiva; controle de registros
e auditoria interna são ferramentas que serão analisadas para verificar o nível de
adesão do sistema implementado com a norma.

Para finalizar a melhoria contínua, existe o processo de análise crítica pela


alta direção, em que vários elementos do sistema de gestão são discutidos, e esse
processo pode ser estendido por certo período de tempo.

A NBR ISO 14001 estabelece requisitos para o gerenciamento de sistemas de


gestão ambiental (SGAs) sem definir a forma e o grau que eles devem ter ou alcançar,
permitindo, portanto, que as empresas desenvolvam suas próprias soluções para o
atendimento das exigências da norma.

Isto lhe confere um caráter universal, pois, dessa forma, podem ser adaptados
por empresas de qualquer região e de todos os portes.

A empresa deve introduzir um Sistema de Gestão Ambiental em sinergia


com os demais sistemas de gestão já implantados, ou que venha a ser no futuro,
fortalecendo, assim, as bases da competividade.

Tal fato possibilita que a empresa melhore o preço de venda dos produtos e
serviços que utilizam no seu marketing a imagem ambiental como fator de valorização
e, principalmente, que os custos de produção sejam reduzidos, como, por exemplo,
pela gestão correta dos insumos e das matérias-primas por meio de programas de
conservação de energia, reuso de agua e redução de geração de resíduos (ISO, 2004).

Os empresários de todo o mundo estão sob pressão em relação às políticas ambientais


e como incorporá-las no processo de planejamento e execução em sua rotina.

15
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UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

Quando a empresa implementa o sistema de gestão ambiental, os requisitos da


norma podem ser avaliados por uma terceira parte, verificando as suas conformidades
e conseguindo a certificação ambiental.

A organização auditada só consegue a certificação ambiental se o sistema de gestão


estiver de acordo com o sistema de gestão ambiental e os critérios estabelecidos na
norma técnica.

A verificação dos processos é periódica e faz parte das auditorias de gestão,


estabelecidas na própria norma técnica.

A ISO 14001 é uma referência para a certificação das organizações preocupadas


com o meio ambiente. É formada por um grupo de normas técnicas que garantem
que um determinado produtor de bens ou serviços se utilize de processos gerenciais
para que diminuam os danos ambientais decorrentes daquele processo.

A procura por ferramentas e formas de gestão para atender aos objetivos estipulados
para diminuição e controle da poluição, redução da taxa de efluentes, minimizando os
impactos ambientais e também diminuindo a utilização de recursos naturais (consumo de
água, energia, matéria prima) tem sido cada vez mais intensificada pelas organizações.

Uma das formas de gerenciamento ambiental mais utilizada pelas empresas


tem sido a implementação de um sistema de gestão ambiental, segundo as normas
internacionais Série ISO 14000, visando à obtenção de uma certificação e sua
incorporação na ISO 14001 demandou em verificações nos serviços de fornecedores,
de modo a compreender a participação desse processo dentro da organização, e
também para ter o ciclo de minimização da poluição totalmente controlado.

A necessidade de ter um fornecedor que atende ao requisito legal e possui


conscientização ambiental passou a ser propósito das organizações.

Com o apoio da ISO 14000, os fabricantes precisam reformular seus produtos


e fornecer informações sobre os impactos ambientais nos rótulos e em publicidade
por meio de planos de marketing, a fim de garantir que os consumidores conheçam
seus produtos e entendam que eles cumprem as normas exigidas de consumo verde.
Assim, o fabricante passa a desenvolver novas tecnologias para cumprir tal exigência.

No passado, a busca pela certificação ISO 14001 era mínima e visava basicamente
ao compromisso da organização com o atendimento da legislação aplicável.

Agora, as empresas agem de forma pró-ativa e levam em consideração os fatores


de prevenção de poluição e de melhoria contínua do desempenho ambiental, além
dos aspectos legais. As empresas vêm integrando seus sistemas de gestão de meio
ambiente, qualidade, segurança e saúde e responsabilidade social (ISO, 2004).

A ISO 14001 é a referência normativa baseada na qual são feitas as certificações


de sistemas de gestão ambiental das organizações. Porém, a certificação não é
concedida pela ISO, que é uma entidade normalizadora internacional, mas sim por
uma entidade de terceira parte devidamente credenciada.

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Independentemente de a certificação ser feita dentro ou fora do Sistema
brasileiro de Avaliação da Conformidade, quando realizada por organismo
credenciado pelo INMETRO, ela é conduzida com base nos mesmos requisitos e
metodologia (ISO, 2004).

As instituições credenciadas pelo INMETRO poderão atestar que um sistema,


processo, produto ou serviço atende aos requisitos especificados pelas normas
pertinentes. Contudo, ressalta-se que a norma NBR ISO 14001 não foi aceita com
o mesmo entusiasmo que a NBR ISO 9001, vez que compromissos ambientais
não parecem oferecer incentivos suficientemente convincentes para o aumento das
vendas, quer em nível nacional, quer em internacional.

Por outro lado, os autores mencionam que, embora o mercado internacional


continue a considerar o preço e a qualidade como os fatores determinantes na
seleção de fornecedores, apresentar um sistema de gestão ambiental é uma
característica importante, frequentemente levada em consideração.

Alguns fatores influenciam a opção da empresa em certificar ou não seu sistema


de gestão ambiental, sendo eles: o tamanho do estabelecimento e seus recursos, as
pressões externas e a participação no comércio internacional (ISO, 2004).

A implementação da NBR ISO 14001 traz benefícios no desempenho ambiental


e, sendo certificada, essas empresas demonstram destaque em relação as não
certificadas. Isso porque as empresas certificadas compreendem o atendimento
aos requisitos legais, identificando todos os aspectos, prevenindo a poluição, bem
como possíveis multas ou paralizações.

Os benefícios internos, tais como melhoria do controle de custos e redução


de desperdícios, entre outros, estão relacionados ao desempenho financeiro e
a produtividade.

Os benefícios externos, que demonstram o comprometimento com a gestão


ambiental, estão relacionados aos stakeholders, a pessoa ou entidade que está
interessada no desempenho da organização.

A certificação ambiental para uma organização demanda muito empenho de


equipe, investimento, tempo e frequência de monitoramento.

Depois de conquistada, é necessário mantê-la, o que ensejará esforços de


mesma intensidade. Após este padrão tornar-se parte da rotina da empresa,manter
a certificação ambiental, no caso do estudo a ISO 14001, irá se tornar uma
diferencial para a empresa.

O marketing ambiental é levado em consideração pela maioria dos consumidores


e a ISO 14001 é o ápice da sustentabilidade ambiental, tornando, assim, o produto
um diferencial muito elevado em relação aos outros.

Com isso, o produto irá se tornar a escolha do consumidor, fazendo com que a
empresa atinja seu objetivo que, além de lucrar, vai satisfazer o consumidor.

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UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

Considerações finais
A sociedade cobra, o mercado globalizado exige, e ter a certificação ISO pode
ser significado de bons negócios e vantagem em relação aos concorrentes.

As empresas começam a implantar o SGA, que são acompanhados da auditoria


ambiental, que é uma ferramenta imprescindível para êxito do referido sistema.

O resultado de tudo isso é a satisfação do cliente em saber que a organização se


compromete com o Meio Ambiente, pois a ISO 14001 é conhecida mundialmente
e é um diferencial potencial para a empresa que é certificada.

18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
BRASIL.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm
Acesso em: 5 ago. 2015;

Livros
ABNT. NBR ISO 14001.
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas. 2004. Sistema da gestão ambiental –
Requisitos com orientações para uso – Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2004, 27p.;
Auditoria ambiental: aspectos jurídicos.
SALES, Rodrigo. São Paulo: Ltr, 2001.

Leitura
Documento de Contribuição Brasileira à Conferência Rio+20.
MINISTÉRIO do Meio Ambiente.
http://www.mma.gov.br/estruturas/182/_arquivos/rio20_propostabr_182.pdf
Acesso em: 5 ago. 2015;

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UNIDADE Instrumentos Ambientais para Gestão de Projetos

Referências
ABNT. Sistema de gestão ambiental – ABNT NBR ISSO 14001. Disponível em:
http://www.abnt.org.br/m3.asp?cod_pagina=1006 Acesso em: 12 ago. 2015.

BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos.


2.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. 159p. v.1.

A EVOLUÇÃO da norma ISO 14001 e o fortalecimento da sustentabilidade


empresarial. Revista Meio Ambiente Industrial. 2011. Disponível em: <http://rmai.
com.br/v4>. Acesso em: 5 ago. 2015.

INMETRO.Considerações sobre a certificação ambiental no Brasil. 2011.


Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/gestao14001/ptexto.asp?Chamador
=INMETRO14>. Acesso em: 12 de ago. 2015.

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Planejamento
Energético
Material Teórico
Mercado de Energia no Brasil

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Pedro Henrique Cacique Braga

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Mercado de Energia no Brasil

·· Introdução
·· Setor Elétrico
·· Geração Nacional
·· Projeção De Demanda
·· Conclusões

Serão abordados os seguintes temas:


··Demografia;
··Macroeconomia;
··Grandes Consumidores Industriais;
··Autoprodução;
··Eficiência Energética.
Ao fim, esperamos poder planejar os nossos recursos de acordo com o que
cada região tem a oferecer, a fim de suprir todas as exigências nacionais.

Esta Unidade aborda as premissas para o entendimento do mercado energético nacional.


Abordaremos questões como dados demográficos, perfil industrial, macroeconomia e até
mesmo a composição das tarifas cobradas do consumidor.
Em toda a Unidade, faremos comparativos sobre as cinco regiões do Brasil, tentando
estabelecer um perfil para cada uma delas e, assim, um perfil para o país como um todo.
É importante que você faça anotações sobre cada ponto, pois serão muitos dados
apresentados. Uma sugestão é criar um quadro comparativo que tenha em um dos eixos as
premissas básicas para o planejamento e no outro a separação por regiões.
Ao final, você terá um bom material que apresenta os dados concretos sobre geração e
consumo de energia no Brasil.

5
Unidade: Mercado de Energia no Brasil

Contextualização

Elaborar a matriz energética de uma nação, ou mesmo de uma região do país, é uma tarefa
que requer diversos conhecimentos prévios. Estes não se limitam ao potencial energético de
cada região ou quais as fontes de geração mais viáveis. Este conhecimento é fundamental, é
claro, mas não é a única preocupação para o planejamento.
É preciso conhecer também o mercado em que estamos inseridos. Precisamos conhecer como
a população se comporta quando nos referimos à energia elétrica. O crescimento populacional
traz consigo um forte aumento na demanda energética.
Além disso, é preciso conhecer o perfil do maior consumidor: a indústria. Poderia ela
ser autossuficiente na geração da energia que requer? Ou ela precisa de maior atenção dos
planos nacionais?
Toda a análise qualitativa e quantitativa do mercado energético deve ser bem elaborada
antes de realizar uma projeção do que será preciso enfrentar no novo planejamento.
Convido você a refletir sobre a região a sua volta:
- Quais são as usinas de energia que existem no seu estado?;
- Qual a tarifa que você, como cidadão, paga pela energia?;
- Você sabe como ela é calculada?
E mais:
- A população da sua cidade tem aumentado?;
- Será que a oferta de energia disponível hoje é capaz de suprir este crescimento?

6
Introdução

O mercado de energia no Brasil pode ser definido pela relação entre a produção e o consumo
energético em toda a sua extensão territorial.
Para definir as características deste mercado, deve-se conhecer alguns dados nacionais, como:
··Capacidade instalada por fonte em cada região;
··Perfil dos consumidores por classes (residencial, comercial, industrial, setor público etc.);
··Eficiência energética de cada parque elétrico instalado;
··Relação entre oferta e procura;
··Autoprodução de setores sociais;
··Demografia;
··Macroeconomia mundial.
Estes são alguns dos tópicos que definem o mercado energético. Nesta Unidade, abordaremos
algumas estratégias para traçar este modelo e preparar uma projeção energética no país.
As principais estratégias abordadas foram estabelecidas pelas normas de pesquisa e
planejamento energético da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) é empresa pública instituída nos
termos da Lei n° 10.847, de 15 de março de 2004, e do Decreto n° 5.184, de 16
de agosto de 2004, vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), tem por
finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinados a subsidiar
o planejamento do setor energético, tais como energia elétrica, petróleo e
gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e
eficiência energética, dentre outras (EPE, 2012).

Nesta Unidade, faremos, também, uma análise dos diferentes perfis de consumo de energia
elétrica no Brasil e acompanharemos as estratégias da EPE para projeção da demanda energética
para um longo período, o que nos permite conhecer o mercado nacional e ao mesmo tempo
planejar a matriz energética com base na perspectiva da procura pelo serviço.

Setor Elétrico

Vamos começar nossa análise com alguns dados sobre o perfil consumidor no Brasil. Neste
ponto, já conhecemos as formas de geração de energia por meio de fontes renováveis e não-
renováveis. Sabemos, ainda, quais são os requisitos físicos e geográficos de cada uma delas.
Assim, podemos analisar os dados de acordo com a realidade brasileira.

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Unidade: Mercado de Energia no Brasil

O setor energético no nosso país é dirigido por diferentes órgãos. A parte política é de
responsabilidade do Congresso Nacional e a Presidência da República, representada pelo
Ministério de Minas e Energia e o Conselho Nacional de Política Energética. Todas as leis e
normas são criadas por estas instituições.
A regulação e a fiscalização ficam por conta da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
todas as demais agências sob sua responsabilidade, como a Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP) e os Conselhos de Consumidores, por exemplo.
O mercado é gerido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e o
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Fechando o quadro de instituições, tem-se as agências institucionais, que são empresas
escaladas para diferentes funções, como a EPE e o Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), por exemplo.

Figura 1. Estrutura Institucional do Setor Elétrico.

Fonte: ANEEL, 2008.

A Figura 1 apresenta o diagrama esquemático das instituições que compõem o setor


elétrico brasileiro.
Observe que mesmo que de forma indireta, a população tem acesso a todos os órgãos citados.
Você pode encontrar, nas páginas web de cada uma delas, todas as suas informações e muitos
documentos sobre o setor elétrico. Em especial, damos atenção aos sites da ANEEL e da EPE,
que são duas das principais referências deste material. Atualize-se periodicamente com os dados
de seus boletins e informativos.

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Geração Nacional

Subsistemas elétricos
O primeiro passo para podermos criar a projeção de demanda de energia é conhecer o que
já temos de oferta no país. Este conhecimento é de suma importância para podermos verificar
qual a porcentagem de crescimento esperado para cada região.
Segundo o ONS, os subsistemas do setor elétrico são:
··Sudeste/Centro-Oeste – abrangendo os estados das regiões Sudeste e Centro-oeste mais
Rondônia e Acre;
··Sul – toda a região Sul;
··Nordeste – toda a região Nordeste, com exceção do Maranhão;
··Norte – Amapá, Pará, Tocantins, Maranhão e Amazonas;
··Sistemas isolados.
A operação dos subsistemas deve ser monitorada e balanceada para que, se necessário, uma
supra a outra em eventos especiais e/ou periódicos.
Com tamanho e características que permitem considerá-lo único em âmbito
mundial, o sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é
um sistema hidrotérmico de grande porte, com forte predominância de usinas
hidrelétricas e com múltiplos proprietários.
O Sistema Interligado Nacional é formado pelas empresas das regiões Sul,
Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte. Apenas 1,7% da
energia requerida pelo país encontra-se fora do SIN, em pequenos sistemas
isolados localizados principalmente na região amazônica (ONS, 2015).

Figura 2. Integração Eletroenergética 2014 set. – horizonte 2015.

Fonte: ONS, 2015.

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Unidade: Mercado de Energia no Brasil

A Figura 2 apresenta o mapa de integração eletroenergética entre os subsistemas. Apresenta


as principais bacias hidrográficas e, em linhas sólidas, os sistemas que já estão implantados; e os
sistemas representados por linhas tracejadas estão em desenvolvimento.
Figura 3. Mapa do Sistema de Transmissão – horizonte 2015.

Fonte: ONS, 2015.

A Figura 3 apresenta o sistema de transmissão de energia nacional. Quando sobrepostas as


Figuras 2 e 3, pode-se perceber que os subsistemas estão bem abastecidos e transmitem energia
a quase todo o país (regiões populadas).

Explore
Acesse a página do ONS para obter mapas detalhados dos subsistemas elétricos:
http://www.ons.org.br/conheca_sistema/mapas_sin.aspx

Dados de geração
A Empresa de Pesquisa Energética apresenta anualmente um balanço dos dados de geração
e consumo nacionais. Segundo os dados do último relatório (até a produção deste material),
sobre o ano de 2013, as regiões com maior geração de energia foram Sul e Sudeste (o que é
perfeitamente justificável, segundo a distribuição de sistemas).
Conforme visto na Figura 4, as regiões Sul e Sudeste, além de terem a maior geração, tiveram
também maior capacidade de autoprodução energética.

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Figura 4. Geração Regional.

Fonte: ANEEL, 2014.

É importante ressaltar que os valores apresentados na Figura 4 foram projetados anteriormente


e constatados após um ano de produção. Esta participação pode ser melhor visualizada como
participação percentual de toda a geração, na Figura 5.

Figura 5. Participação Regional na Geração.

Fonte: ANEEL, 2014.

Além da participação, pode-se acompanhar a evolução dos sistemas por meio da análise das
perdas por subsistema. Uma análise rápida sobre o gráfico da Figura 6 nos permite dizer que
os subsistemas têm mantido certa constância nas perdas nos últimos anos. Os sistemas isolados
apresentam um crescimento nas perdas, ao contrário dos demais que se mantém entre 1% e 20%.

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Unidade: Mercado de Energia no Brasil

Figura 6. Carga de Energia. Evolução das perdas anuais relativas (%) por subsistemas elétricos.

Fonte: ANEEL, 2014.

Dados de consumo
Agora que conhecemos os sistemas de geração, podemos fazer um comparativo com o que
foi consumido no mesmo período.
As Tabelas 1 e 2 apresentam os dados de consumo separados por região e por classes,
respectivamente. Todos os dados em GWh.

Tabela 1. Consumo de energia por regiões (GWh).

∆% Part. %
2009 2010 2011 2012 2013
(2013/2012) (2013)
Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0
Norte 24,083 26,237 27,777 29,115 30,196 3.7 6.5
Nordeste 65,244 71,197 71,914 75,610 79,907 5.7 17.2
Sudeste 204,555 222,005 230,668 235,237 240,084 2.1 51.8
Sul 65,528 69,934 74,470 77,491 80,392 3.7 17.4
Centro-
24,896 26,310 28,205 30,718 32,756 6.6 7.1
Oeste
Fonte: ANEEL, 2014.

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Tabela 2. Consumo de energia por Classes (GWh).

∆% Part. %
2009 2010 2011 2012 2013
(2013/2012) (2013)
Brasil 384,306 415,683 433,034 448,171 463,335 3.4 100.0
Residencial 100,776 107,215 111,971 117,646 124,896 6.2 27.0
Industrial 161,799 179,478 183,576 183,475 184,609 0.6 39.8
Comercial 65,255 69,170 73,482 79,226 83,695 5.6 18.1
Rural 17,304 18,906 21,027 22,952 23,797 3.7 5.1
Poder
12,176 12,817 13,222 14,077 14,608 3.8 3.2
público
Iluminação
11,782 12,051 12,478 12,916 13,512 4.6 2.9
pública
Serviço
12,898 13,589 13,983 14,525 14,847 2.2 3.2
público
Próprio 2,319 2,456 3,295 3,354 3,372 0.5 0.7
Fonte: ANEEL, 2014.

Comparando os dados de geração e consumo, pode-se perceber que o consumo interno teve
um total de 463.335 GWh no ano de 2013, para uma geração de 570.025 GWh, o que nos dá
uma relação de consumo de 81,28% da energia produzida. Os outros quase 20% puderam ser
armazenados e/ou vendidos para os países vizinhos.

Tarifas
Um ponto importante da nossa análise quantitativa e qualitativa do setor é a evolução da
tarifa cobrada em todo o país. A forma como ela é calculada envolve três partes:
1. Custos com geração da energia;
2. Transporte de energia até as casas (transmissão + distribuição);
3. Encargos e tributos.
Cada parte possui seu peso no cálculo, mas o importante, neste ponto, é saber que a tarifa é
calculada de acordo com estes gastos e precisa ser repassada ao consumidor para a manutenção
do sistema como um todo.
Até o ano de 1993, os consumidores de todas as regiões pagavam uma tarifa única. O
que significa que um consumidor do Paraná pagaria uma mesma quantia por KWh (quilowatt-
hora) que outro em Pernambuco, por exemplo. Isso garantia a remuneração das concessionárias
independente de sua eficiência energética.
A partir de então, as tarifas são determinadas pela Concessionária, de acordo com as suas
características. Para que não houvesse um desequilíbrio nos preços, em 1995, foi aprovada a
Lei 8.987, que garante o equilíbrio entre eles.

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Unidade: Mercado de Energia no Brasil

As tarifas são cobradas agora por área de concessão, podendo coincidir com os estados da
federação, ou não.
Assim, em um mesmo estado, pode-se ter uma ou mais tarifas. Observe as áreas na Figura 7.

Figura 7. Áreas de concessão tarifária.

Fonte: ANEEL, 2014.

Projeção De Demanda

Uma vez que conhecemos toda a capacidade do Setor Elétrico, como ele é organizado e qual
o histórico de consumo, passamos para a projeção da demanda energética, que nos ajuda não
somente a conhecer o mercado atual, mas estimar a sua participação em um futuro próximo.
O método adotado para esta Unidade é o que vem sendo utilizado pela Empresa de Pesquisa
Energética para a projeção estatística. Vale lembrar que ela faz parte do quadro institucional do
setor elétrico brasileiro, o que torna o seu método e os seus dados oficiais.
Periodicamente a EPE gera alguns estudos sobre energia. Entre eles, destacam-se o Plano
Decenal de Expansão de Energia (PDE) e o Plano Nacional de Energia de Longo Prazo (PNE),
que servem de base para a elaboração do documento conhecido como Plano Anual da Operação
Energética (PEN), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Segundo os relatórios da EPE, a projeção deve ser feita com base nas seguintes premissas básicas:
··Demografia – dados estatísticos de crescimento populacional por região;
··Macroeconomia – como anda o mercado internacional e os possíveis compradores
de energia;
··Grandes Consumidores Industriais – as classes que se mostram como maiores
consumidores à parte do residencial;

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··Autoprodução – como cada classe pode se autossustentar de alguma forma, sobretudo
os grandes consumidores (indústria);
··Eficiência Energética – qual a relação entre oferta, procura e perdas de cada fonte de energia.
Por meio da análise de tais premissas, pode-se estabelecer uma relação entre o consumo e a
qualidade da classe residencial e também da industrial que, por sua vez, tem relação não apenas
com o país, mas com o mercado internacional.

Demografia
O perfil da população brasileira tem passado por significativas transformações nas últimas
décadas, quando nos referimos à faixa etária, distribuição geográfica e processos de urbanização.
O último censo do IBGE mostra que a população continua crescendo, mas em um ritmo
menor e também está envelhecendo, o que pode nos dizer muito sobre o consumo.
Por exemplo, os horários de pico de energia têm se mostrado diferentes de algumas décadas
atrás por causa da estrutura etária da população e seus novos ritmos diários.
Tabela 3. Brasil. Projeção da População, 2012-2022.

Ano 103 hab. Variação % ao ano


2012 194.684 -
2017 201.521 0,7
2022 207.216 0,6

Nota: População em 31 de dezembro3.


Fonte: EPE, 2012.

Observa-se na Tabela 3 que a população aumenta em um ritmo pequeno, com variação


prevista de 0,7% ao ano até o ano 2017 e de 0,6% até 2022.
Além da taxa de crescimento, precisamos conhecer como a população se organiza em seus
domicílios. Observe na Tabela 4 a projeção para o número de domicílios no país e onde eles
se concentram.

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Unidade: Mercado de Energia no Brasil

Tabela 4. Brasil e regiões. Projeção do número de domicílios (mil), 2012-2020.


Brasil e regiões. Projeção do número de Domicílios (mil), 2012-2022

Centro-
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Brasil
Oeste
2012 4.582 15.679 27.984 4.816 62.928
2017 5.176 17.366 31.137 11.029 5.429 70.137
2022 5.768 19.090 34.365 12.211 6.022 77.456
Variação (% ao ano)
2012-2017 2,5 2,1 2,2 2,2 2,4 2,2
2017-2022 2,2 1,9 2,0 2,1 2,1 2,0
2012-2022 2,3 2,0 2,1 2,2 2,3 2,1
Estrutura de Participação (%)
2012 7,3 24,9 44,5 15,7 7,7 100,0
2017 7,4 24,8 44,4 15,7 7,7 100,0
2022 7,4 24,6 44,4 15,8 7,8 100,0

Nota: Domicílios em 31 de dezembro.


Fonte: EPE, 2012.

Para cada domicílio, devemos projetar também o número de seus habitantes. Com este
número, podemos dizer, por exemplo, que a região Sudeste tem pouco menos da metade de
domicílios do total nacional, sendo que cada um deles tem em média 2,5 habitantes (vide
Tabela 5), o que pode representar um consumo maior que a região Nordeste, com quase um
quarto do número de domicílios e média de 3 habitantes em cada um.
Tabela 5. Brasil e regiões. Número de habitantes por domicílio, 2012-2020.

Centro-
Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Brasil
Oeste
2012 3,6 3,5 2,9 2,8 3,0 3,1
2017 3,3 3,2 2,7 2,6 2,8 2,9
2022 3,1 3,0 2,5 2,4 2,6 2,7
Fonte: EPE, 2012.

Macroeconomia
Já conhecemos o perfil de consumo da população por meio dos dados demográficos, agora
precisamos entender como anda o mercado internacional. Um cenário de crise mundial pode
influenciar a compra e venda de insumos e serviços relacionados à energia.
Nos últimos anos, o cenário global apresentou algumas atividades de crise em diferentes
países de grande influência na atividade mundial, como os Estados Unidos, por exemplo. Esta
crise reflete nas relações entre todos os países, sendo representada pelo Produto Interno Bruto.

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Tabela 6. Taxas de crescimento do nível de atividade (médias no período).
Taxas de crescimento do nível de atividade (médias no período)

Histórico Projeção
Indicadores Econômicos
2002-2006 2007-2011 2013-2017 2018-2022
PIB Mundial (% a.a.) 4,2 3,5 3,9 4,0
PIB Nacional (% a.a.) 3,3 4,2 4,5 5,0
Fontes: IBGE e FMI (dados históricos) e EPE (projeções).
Fonte: EPE, 2012.

Veja, na Tabela 6, que o PIB nacional teve um histórico de decrescimento de 2002 a 2011, mas
a projeção é de um aumento pequeno para os anos de 2013 a 2022.
O PIB nacional, entretanto, teve um crescimento de 0,9% no período de 2002 a 2011 e se espera
que tenha um crescimento um pouco mais modesto nos próximos anos.
Estas variações refletem no poder de compra e venda do país e devem ser observados de perto
com menor intervalo possível para que o mercado nacional esteja coerente com o cenário mundial.

Grandes Consumidores
“Há um conjunto de segmentos industriais que respondem por importante parcela do
consumo industrial de eletricidade, aqui denominados grandes consumidores industriais de
energia elétrica” (EPE, 2012).
Estas indústrias consomem uma parcela significativa da energia. Em 2013, foi cerca de 40%,
conforme a Tabela 2. Ao mesmo tempo, eles podem gerar energia para consumo próprio,
aliviando um pouco a carga dos subsistemas.
Figura 8. Indústrias eletrointensivas: expansão da produção física, 2012-2022.

Fonte: EPE, 2012.

17
Unidade: Mercado de Energia no Brasil

Observe na Figura 8 algumas das principais indústrias e suas relações de produção e seus
componentes de exportação. Veja que Aluminia, Bauxita, Siderúrgica (Aço Bruto), Pelotização
e Celulose são setores com forte componente de exportação e por isso podem trazer grande
benefício ao país. Deve-se a elas, então, uma atenção especial quanto ao suprimento de energia.
Segundo os dados históricos, as grandes indústrias tem registrado um aumento do consumo
na rede elétrica nacional, mas, ao mesmo tempo, a autoprodução tem aumentado, como pode
ser visto na Figura 9.
Figura 9. Grandes consumidores industriais: consumo de eletricidade (TWh).

Fonte: EPE, 2012.

Autoprodução
Seguindo o fluxo da nossa análise, precisamos determinar qual o índice de autoprodução
de energia de cada setor. Lembre-se que estamos tratando dos grande consumidores, que são
capazes de gerar parte de sua energia.
A autoprodução significa que eles têm a habilidade de produzir parte significativa da energia
consumida, a fim de minimizar o consumo pela rede.
A autoprodução mais forte se concentra nos segmentos siderurgia, papel e celulose e
petroquímica.
Figura 10. Autoprodução de eletricidade, 2012-2022.

Fonte: EPE, 2012.

18
A Figura 10 nos mostra que a autoprodução esperada em 2022 pelos grandes consumidores
é de 43,7TWh e pelos demais segmentos é de 71,3%.

Eficiência energética
A última premissa, mas não menos importante, é a eficiência energética, isto é, qual a relação
entre o que foi produzido e o que realmente foi consumido, levando-se em considerações as perdas.
Ainda sobre os dados da EPE, espera-se que a eficiência em 2016 represente um total de
redução do consumo de 3,4% e avance de tal forma que em 2022 tenhamos um total de 5,8%
na redução do consumo.
Analise a Tabela 7 para conhecer os dados previstos por classe.
Tabela 7. Eficiência. Percentual de redução do consumo por classe (%).

Classe 2017 2022


Residencial 5,3% 9,2%
Industrial 3,0% 4,9%
Comercial 2,8% 4,7%
Outras 2,5% 4,1%
Total 3,4% 5,8%

Para que haja essa redução no consumo, é preciso que haja um ganho na eficiência energética
em cada classe. Espera-se que a classe industrial tenha o maior ganho de eficiência, levando em
consideração os dados de consumo e autoprodução apresentados.
Todos juntos significam, em 2017, 22,2TWh e, em 2022, um total de 48TWh (5,8% da
demanda final de eletricidade).
Figura 11. Ganhos de Eficiência (TWh).

Fonte: EPE, 2012.

19
Unidade: Mercado de Energia no Brasil

Conclusões

O Planejamento Energético deve ser feito periodicamente com base nos dados estatísticos
históricos e projetados. A eficiência energética tende a aumentar nos próximos anos, para que
acompanhe o crescimento populacional e sua demanda pelo serviço.
Caso a projeção de demanda realizada pela EPE se concretize, o Brasil estará em boa
situação energética em 2022, mas para isso é necessário que cada classe da sociedade tenha
sua participação controlada.
A Projeção da demanda é um documento caracterizador do mercado energético nacional e
mundial, sendo de grande importância para o planejamento das políticas nacionais.

20
Material Complementar

Separamos alguns materiais que podem ajudar a compreender melhor o mercado de energia
brasileiro. Alguns são dados estatísticos, outros são vídeos ou reportagens sobre o assunto.
Explore-os com o objetivo de aprender mais sobre o assunto e conhecer as projeções para os
próximos anos:

Explore
·· Projeção da Demanda de energia Elétrica para os próximos 10 anos (2014
- 2023) – EPE: <http://www.epe.gov.br/mercado/Documents/Série Estudos de
Energia/20140203_1.pdf>;

·· A Demanda Energética em 2025: <https://www.youtube.com/


watch?v=3pikInBQKd0> (vídeo em espanhol; ative as legendas em português
no ícone localizado no canto inferior esquerdo do vídeo):

·· Notícia: Energia eólica pode abastecer quase três vezes a demanda do Brasil
(Fonte: uol.com.br – 22/01/2015): <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/
ultimas-noticias/2015/01/22/energia-eolica-pode-abastecer-quase-tres-vezes-a-
demanda-do-brasil.htm>;

·· Notícia: As usinas termoelétricas e o bolso dos consumidores (Fonte: Diário


da Manhã – 16/03/2015):<http://www.dm.com.br/opiniao/2015/03/as-usinas-
termoeletricas-e-o-bolso-dos-consumidores.html>.

21
Unidade: Mercado de Energia no Brasil

Referências

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica (Brasil). Atlas de energia Elétrica do Brasil/
Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília: Aneel, 2008.

BP. Relatório Estatístico da BP 2014. Brasil em 2013. Disponível em: <http://www.bp.com/


content/dam/bp-country/pt_br/PDFs/Statistical Review_Brazil_POR.pdf>. Acesso em:
9 mar. 2015.

EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Anuário Estatístico de Energia Elétrica. Rio de


Janeiro: EPE, 2014

EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Projeção da demanda de energia elétrica para os


próximos 10 anos (2013-2022). Rio de Janeiro: EPE, 2012.

ONS. O que é o SIN – Sistema Interligado Nacional. Disponível em: <http://www.ons.


org.br/conheca_sistema/o_que_e_sin.aspx>. Acesso em: 19 mar. 2015.

22
Anotações

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Gestão de Projetos
Ambientais
Material Teórico
O Ciclo de Vida de Projetos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Raisa Pereira Abdalla

Revisão Textual:
Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni
O Ciclo de Vida de Projetos

• Introdução
• O Ciclo de Vida de Projetos
• O Escopo e sua importância no gerenciamento de projetos
• Gerente de Projetos
• Considerações Finais

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir o ciclo de vida de projetos, principalmente as dificuldades
desse processo no gerenciamento de projetos ambientais. Também
será discutida a função do gerente de projetos.
· Entender como o gerente de projetos pode facilitar as etapas do ciclo
de vida do projeto bem como a elaboração do escopo, que é uma
etapa decisiva no gerenciamento de projetos.

ORIENTAÇÕES
Iniciaremos esta unidade retomando as definições de escopo já discutidas
na Unidade I, com enfoque no modo como ele pode ser elaborado pelas
organizações bem como na sua importância para o atendimento às metas e
aos resultados.

Também será discutido o ciclo de vida de projetos, caracterizado por diferentes


fases e pelo fato de delimitar o início e o fim dos processos. Veremos como
este processo é importante na prática de gerenciamento de projetos nas
empresas. Além disso, será definida a função e a participação do gerente de
projetos nessas etapas e sua ação como facilitador desses processos.
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Contextualização
Os projetos são realizados com diversas etapas que abrangem viabilidade, análise
de custos, riscos, impactos ambientais, etc. Quando essas etapas são elaboradas
de maneira incorreta ou equivocada, os projetos podem apresentar problemas,
aumentando os custos e seu tempo de execução.

Para contextualizar a prática de gestão de projetos, segue um caso em que as


etapas dos processos não foram estabelecidas de maneira correta.

Caso Eurotunnel

Elaboração e Análise de Projetos


Explor

Disponível em: http://goo.gl/lOMVDQ

Quando finalmente o projeto Eurotunnel entrou em construção, muitos


comemoraram, pois, após décadas de concepção técnica e política, tudo o que era
ficção começou a virar realidade. Mas poucos sabiam que, durante as comemorações
do lançamento de sua construção, o projeto estava mais de um ano atrasado, com
orçamento batendo a casa dos US$ 15 bilhões, o que significava ser quase o dobro
do previsto inicialmente. O Eurotunnel hoje liga a França com a Grã-Bretanha e
foi considerado o projeto do século passado, tamanhos seus desafios, marco da
engenharia e audácia do homem.

A ideia de ligar a França com a Grã-Bretanha é antiga. Em 1751, a Academia


Amiens, na França, lançou uma competição para descobrir quais a melhores
maneiras de atravessar o canal até a Inglaterra. Várias propostas surgiram, desde
as mais bizarras até algumas factíveis. Em 1974, ingleses e franceses deram início a
uma discussão formal sobre a construção de um túnel. Em 1983 cinco banqueiros
e fornecedores franceses e cinco banqueiros e fornecedores ingleses propuseram
um esquema para o túnel. Em 1986, foi assinado um tratado entre os dois
países e contratada uma empresa para gerenciar e entregar o projeto, chamada
Transmanche Link - TML, também proprietária por 50 anos desta concessão. Em
1990, o serviço no túnel, para ambos os lados da via, estabeleceu-se. Em 1991,
o túnel norte estava completo e, em junho, o túnel sul. Em 1993, o primeiro trem
atravessou a via. Em dezembro de 1993, a TML entregou a construção e começou
a operar a concessão.

O projeto Eurotunnel, desde o seu início, foi marcado por inúmeros problemas
que, se estudados sem paixões, tornam-se um excelente meio de conhecimento
para os gerentes de projetos de privatizações, projetos internacionais, identificação

6
e avaliação de claims (reclamações com direito a recebimento), análise de
interessados, entre outros. As características do projeto eram específicas: os dois
acessos do túnel têm 7,6 m de diâmetro interno; área para serviços no túnel tem
4,8 m de diâmetro interno; os túneis estão a 38 km de distância, ligados por 150
passagens de 3,3 m de diâmetro para cruzamento de equipamentos; o projeto
necessitou de 11 máquinas de brocar túneis; a estrutura do túnel é feita por anéis
de concreto, fundidos no lugar, em ambos os lados da via; os franceses usaram o
método mini-mount baker para seu lado do túnel; os britânicos usaram um novo
método de construção austríaco; 15.000 trabalhadores foram empregados no
projeto; escopo também incluiu terminais em cada lado da via e a criação do
parque Shakespeare Cliff no lado britânico; a viagem dura três horas de Paris para
Londres e o custo da passagem foi alterado de $ 325 para $ 465.

Principais problemas do projeto: lições aprendidas


Num projeto desta natureza, como o Eurotunnel, muitos fatos não previstos
ocorrem e, quando analisados, podem-se extrair lições em termos de gerenciamento
de projetos. Os problemas ocorridos e sua forma de solução trazem, para o
pesquisador e estudante da área de gerenciamento de projetos, questões bastante
interessantes que contribuem, definitivamente, para seu aprendizado. Neste
aspecto, vale a pena examinar os problemas enfrentados pelo gerente de projeto e,
com eles, aprimorar os conceitos, aprender sobre as técnicas, entender as questões
políticas e efetivamente fazer uso do aprendizado nos empreendimentos reais.
Vários foram os problemas enfrentados pelo gerente de projeto do Eurotunnel.
Tecnicamente, talvez o maior problema identificado tenha sido o de escavação.
Segundo relatos da época, a máquina utilizada para escavar o túnel, com um
sofisticado controle computadorizado, foi projetada para trabalhar em solos
macios bem como o sistema de alinhamento do túnel. Num determinado momento
do trajeto, o solo encontrado, mais duro, gerou infiltração de água no sistema
eletrônico. Dois problemas surgiram, um no manuseio da máquina e outro no
encaixe dos segmentos de concreto pré-moldados. Para resolver isso, foi necessário
injetar uma massa especial solidificadora, não prevista no escopo do projeto.

Outro problema verificado foi a formação hierárquica do projeto, que, no final,


significaria definir o gerente de projeto - um francês ou um inglês? Desenhar a
organização do projeto bem como identificar os interessados foi fundamental
para evitar atritos e problemas de responsabilidades. Saber sobre os envolvidos e
interessados não foi uma tarefa simples, pois significava entender as necessidades
dos banqueiros franceses e ingleses, das empresas fornecedoras de máquinas e
equipamentos, das empresas de engenharia, dos governos francês e inglês, entre
tantas outras. Das dificuldades de estabelecimento de responsabilidades e poder
decorrem, por exemplo, as implicações técnicas que, no caso, foram distintas,
ou seja, enquanto, na parte inglesa, foram utilizados métodos de engenharia
australiana, na parte francesa, foram adotadas as técnicas denominadas mini-
mount Baker, americanas.

7
7
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

As implicações dos problemas técnicos em projetos, por outro lado, certamente


geram problemas financeiros. No caso do Eurotunnel, o fato mais conhecido foi
o da alocação das máquinas perfuradoras, que gerou o maior claim do século,
segundo ironia de alguns analistas. O que ocorreu em relação aos claims foi
que, segundo um consenso geral, o equipamento fixo do projeto deveria ter sido
contratado por preço global e não o foi. Assim, conforme os prazos foram sendo
vencidos, foi necessário solicitar pagamentos adicionais. O acréscimo do custo foi
provocado pela grande interferência e desaceleração do ritmo do projeto causado
pelo Eurotunnel. Tecnicamente, o contrato deveria ser feito no modelo turn key,
ou seja, por preço fechado. O contrato, por fim, resultou no claim de US$ 2,25
bilhões contra o Eurotunnel pela organização contratante.

Os aspectos políticos foram os problemas, talvez, mais difíceis de serem


tratados. Num projeto desta envergadura, criam-se comitês visando minimizar as
interferências de várias entidades ambientais de segurança, saúde, normas técnicas,
entre outras. Neste aspecto, cabe lembrar a necessidade de adequar às medidas,
que nos dois países são diferentes. As normas técnicas foram necessárias, para
todas as engenharias envolvidas serem tratadas. Uma comissão (Intergovernmental
Commission - IGC), formada por servidores civis da França e Inglaterra, foi criada
para tratar dos assuntos sobre normas técnicas. Ela definiu que, onde houvesse
diferenças entre as normas dos dois países, a comissão decidiria o que iria
prevalecer. Na teoria, isso poderia ser uma grande ideia, mas os subcontratados
não conseguiam interpretar facilmente as diferenças relacionadas a inúmeros
itens, como, por exemplo, concentração de grãos em concretos, bitolas de ferros,
usinagem do material de trilho e tubos, entre outros.

Considerando o porte deste projeto, conflitos e interferências externas seriam


inevitáveis. A capacidade de resolver conflitos, portanto, é um dos aspectos mais
interessantes a serem explorados pelo gerente de projetos que quer aprender com
as lições deste caso. No entanto, cabe lembrar que, além das técnicas de resolução
de conflitos, as técnicas e ferramentas de gerenciamento de projetos foram criadas
justamente para serem desenvolvidas e, assim, minimizarem os impactos adversos
sobre o projeto.

8
Introdução
O ciclo de vida de projetos é caracterizado por diferentes fases e delimita o
início e o fim dos projetos. Nesta unidade, iremos discutir a importância de cada
uma dessas fases na implementação da prática do gerenciamento de projetos nas
organizações. Além disso, será definida a função e a participação do gerente de
projetos ao longo desse gerenciamento.

O Ciclo de Vida de Projetos


A abordagem de ciclo de vida em projetos teve seu início na segunda metade
do século XX, em que foram estabelecidas etapas de um projeto para contabilizar
o uso de energia e prever o fornecimento no futuro. A partir daí, indústrias, como
de petróleo, mineradoras entre outras, aderiram ao ciclo de vida de projetos,
auxiliando no gerenciamento dos mesmos. Essas etapas não incluíam gerenciamento
ambiental, mas, com novos estudos e o início da visão ambiental, o ciclo de vida
tornou-se mais completo, com identificação de diversos aspectos ambientais.

O ciclo de vida de um projeto define o início e o fim do projeto bem como


divide-o em etapas para auxiliar no seu controle. Coletivamente, essas fases são
conhecidas como ciclo de vida do projeto. Essas fases representam a transição
de uma etapa para outra dentro do ciclo, e cada etapa passa por um processo de
entrega ou transferência técnica, que deve ser aprovada para que a próxima etapa
seja realizada (PMBok, 2008).

As fases do ciclo de vida do projeto são:


Iniciação
Esta fase possui as seguintes demandas: realizar estudo de viabilidade, identificar
e alinhar as expectativas dos “stakeholders” com os resultados dos projetos,
apresentar a definição do gerente de projetos, a definição de escopo e a aprovação
de patrocinadores e/ou direção.

Planejamento
Fase de elaboração do Plano de Gestão de Projetos, que será detalhado ao longo
da execução do projeto; isso porque este pode apresentar pequenas mudanças e
adaptações.

Execução
Os processos são executados para atender ao Plano de Gestão de Projetos.
Nesta fase, podem surgir riscos e custos não previstos, afetando o orçamento e o
planejamento já elaborado.

9
9
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Monitoramento e Controle
Nesta etapa, é realizada a revisão das entregas e do progresso do projeto, são
identificadas as áreas que foram alteradas e são controlados os riscos. Esta fase
ocorre concomitante com o planejamento e a execução.

Encerramento
Nesta etapa são documentados os impactos dos projetos e as lições aprendidas,
encerradas as aquisições e, principalmente, dada a aprovação do cliente/patrocinador
do produto/serviço.

A estrutura de fases permite que o projeto seja desmembrado em subconjuntos


para facilitar o gerenciamento, o planejamento e o controle. Não existe uma única
forma para se determinar um ciclo de vida. São as organizações que definem como
este será elaborado, dependendo do grau, tamanho e complexidade do projeto.
Os projetos podem possuir um único ciclo de vida de projeto (Figura 1), quando
o produto é elaborado em apenas uma fase, ou ser formado por várias fases,
quando as atividades de iniciação, planejamento, monitoramento e encerramento
são reexecutadas em cada fase (Figura 2).

Figura 1: Modelo de ciclo de vida de projeto único


Fonte: Guia PMBOK 2008

Fase 1 Fase 2 Fase 3 Fase n


Processos de Processos de Processos de Processos de
Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle Monitoramento e Controle

Processos de Processos de Processos de Processos de


Planejamento Planejamento Planejamento Planejamento

Processos Processos de Processos Processos de Processos Processos de Processos Processos de


de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento de Iniciação Encerramento

Processos Processos Processos Processos


de Execução de Execução de Execução de Execução

Figura 2: Modelo de ciclo de vida com várias fases


Fonte: https://felipelirarocha.wordpress.com/

Além disso, as descrições do ciclo de vida podem ser genéricas ou detalhadas.


Quando detalhadas, podem ser expressas por meio de gráficos, cronogramas,
formulários, entre outros. Nessas descrições, é possível definir as técnicas que
serão utilizadas em cada etapa (por exemplo, em qual fase devem ser contratados

10
os serviços de arquitetura), o que será gerado em cada entrega de etapa e como a
mesma será validada, quais os envolvidos em cada fase e suas funções (por exemplo,
arquitetos, engenheiros, auditores).

A Figura 3 exemplifica a sequência do ciclo de vida de um projeto como um


todo. A primeira etapa (inicial) acontece a partir de uma ideia que foi avaliada pelo
estudo de viabilidade e aprovada.

É importante compreender que o


estudo de viabilidade e a aprovação
da direção e/ou patrocínio que dará
início ao ciclo de vida do projeto.

Idéia
Entradas Equipe de gerenciamento de projetos

Fases INICIAL INTERMEDIÁRIA FINAL

Saídas do Termo de Plano Aceitação


gerenciamento abertura
Linha Aprovação
de projetos Declaração de Base
do escopo Progresso Entrega
Entrega Produto
do projeto
Figura 3: Modelo sequencial das fases de um projeto (PMBok, 2008)
Fonte: Guia PMBOK 2008

A fase inicial também é marcada pela avaliação dos custos e riscos (Figura 4).
Esta tarefa é difícil, pois estes são estimados inicialmente e só serão confirmados
ao longo da execução do projeto. Como exemplificado na Figura 4, os riscos são
altos no início do projeto e diminuem ao longo da execução do projeto. Enquanto
isso, os custos iniciais são baixos e aumentam conforme as fases vão se alterando.

High Stakeholder influence, risk, and uncertainty


Degree

Cost of changes
Low
Project Time

Figura 4: Custos e riscos ao longo do desenvolvimento de Projetos


Fonte: Guia PMBOK 2008

11
11
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Integrando o ciclo de vida apresentado com o gerenciamento dos projetos,


a Figura 5 retrata os processos ao longo do tempo em relação ao seu nível de
atividade. As linhas horizontais representam os processos de iniciação, planejamento,
execução, controle e encerramento. Já as linhas verticais representam a integração,
escopo, tempo, custo, qualidade, pessoal, comunicação e suprimentos citados
anteriormente.

O processo de iniciação envolve, principalmente, a etapa de escopo e objetivos.


Em seguida, o projeto passa pela fase de planejamento para avaliar a interação
de todos os planos. Se escopo, tempo, custo, qualidade, comunicação, riscos
e suprimentos forem otimizados, a chance de sucesso na execução do projeto
aumenta. Nesta fase, também são adicionadas as análises dos “stakeholders” e a
equipe que será formada bem como as responsabilidades e funções de cada um.

A etapa de execução envolve coordenar e supervisionar todos os outros


processos, etapa realizada pelo gerente de projetos. Faz-se necessário retornar aos
planos e comparar com os progressos desenvolvidos, projetar tendências, avaliar
impactos a fim de tomar ações corretivas. As atividades envolvidas neste processo
são análise, negociação, decisão. Esta etapa é a mais longa de todo o processo e
é compatível com a etapa “intermediária” do ciclo de vida de projeto (Figura 3).

Juntamente com a etapa de execução, tem-se a etapa de controle monitorando


dos processos e, caso necessário, ações corretivas são disparadas.

Por fim, a fase de encerramento é essencial para assegurar o cumprimento do


escopo e avaliar se o desempenho dos processos do projeto foi satisfatório assim
como o atendimento das metas e indicadores.

Processos de
Execução

Processos de
Nível de Planejamento
Atividade Processos Processos de
de Iniciação Encerramento
Processos de Controle

Início Tempo Término


da Fase da Fase

Figura 5: Sobreposição dos processos de gerenciamento de projetos (PMBok, 2008)


Guia PMBOK 2008

É importante distinguir, também, o ciclo de vida do projeto do ciclo de vida do


produto. Por exemplo, quando uma empresa estuda a necessidade de inserir um
novo software para o mercado, este aspecto está voltado para o ciclo de vida do

12
produto e nada mais é do que o plano de negócios. A partir do plano de negócios,
a ideia se insere no ciclo de vida do projeto com várias fases. Geralmente, as
organizações que desenvolvem o produto inserem o ciclo de vida de projeto como
parte do ciclo de vida do produto. Isso porque projetos adicionais podem ser
estabelecidos para atualizarem o desempenho do produto. A Figura 5 ilustra o
ciclo de vida do produto e o ciclo de vida de projetos.

Atualização
Ciclo de vida Plano de

Operações

Venda
do produto negócios
Produto
IDÉIA

Ciclo de vida
do projeto INICIAL INTERMEDIÁRIA FINAL

Figura 6: Relação entre o produto e o ciclo de vida do projeto (PMBoK, 2008)


Guia PMBOK 2008

Para os projetos ambientais, o ciclo de vida deve ser analisado, gerando a análise
do ciclo de vida (ACV), ou seja, é preciso avaliar os impactos ambientais ao longo
da execução dos produtos que serão desenvolvidos. Os produtos/serviços geram
impactos ambientais, como emissão de poluentes, geração de resíduos além do
consumo de recursos naturais. Qualquer produto, para ser produzido, necessita de
matéria-prima, que será processada e gerará resíduo.

A ACV identifica, quantifica e classifica os impactos ambientais através de


metodologias que avaliam as fases do ciclo de vida dos projetos. A análise mais
utilizada é a chamada de “berço ao túmulo” (“cradle to grave”), que identifica
os processos e os impactos ambientais de cada um deles bem como evita
que os impactos se transfiram para outros processos. Além disso, a empresa
pode se tornar ambientalmente responsável, demonstrando superioridade em
relação a outras empresas, conquistando mais consumidores e crescendo no
mercado econômico.

A ACV também identifica a degradação ambiental além dos limites da empresa.


Por exemplo, muitas indústrias não estabelecem controles sobre a aquisição de
matéria-prima, o transporte e a destinação de resíduos devido ao fato de essas
atividades serem efetuadas por outros fornecedores. No entanto esses impactos
também devem ser considerados no ciclo de vida do projeto.

A ACV pode ser integrada a outras ferramentas de gestão ambiental, como o


Relatório de Impactos Ambientais, necessário para a obtenção de licenças ambientais,
para rotulagem ambiental, análise de consumo de água e energia, entre outros.

13
13
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

A Figura 6 abrange o ciclo de vida de um produto hipotético desde a extração


da matéria-prima até o descarte. Após definido o escopo e seus limites, esta análise
é mais complexa do que a demonstrada e demanda grande quantidade de dados.

Dados de Entrada Dados de Saída


Extração de
Matérias-primas Emissões:
Água
Insumos Ar
Solo

Fabricação

Produtos
Matéria-
Coprodutos
-prima
Resíduos
Utilização

Outros
Entradas
Aspectos
Auxiliares
Ambientais
Disposição Final

Fronteira do Sistema

Figura 7: Exemplo de sistema de produto (US EPA, 2006)

A qualidade das fases do ciclo de projetos depende diretamente desses limites


estabelecidos (fronteiras do sistema). Isso porque ela define todas as entradas e saídas
ambientais elaboradas com base no escopo. Vários dados devem ser quantificados,
como consumo de energia e água, quantidade de matéria-prima a ser processada,
produtos, resíduos que serão gerados, emissões atmosféricas, efluentes, etc.

Para isso o processo de entradas e saídas deve ser estabelecido para cada processo.
Aplicação de questionários para os funcionários, análise do ACV de outras empresas,
dados históricos internos e levantamento dos aspectos ambientais da empresa podem
ser ferramentas para que todas as entradas e saídas sejam identificadas. Além disso,
saídas como emissões atmosféricas devem ser estimadas por tipo de poluente e
devem ser descritos a forma como e o local onde esse dado foi obtido.

Aspecto ambiental: Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização


Explor

que pode interagir com o meio ambiente.

Importante! Importante!

Para a quantificação das entradas e saídas, deve-se considerar os aspectos ambientais


significativos, ou seja, aqueles que possuem dano ambiental significativo. Por exemplo,
uma indústria emite muito mais gases em comparação com uma pequena construtora.
Dessa forma, a análise da indústria em relação ao aspecto ambiental “emissões
atmosféricas” será “significativo”, ao passo que, na construtora, esse aspecto pode ser
classificado como “desprezível”.

14
A ACV traz muitos benefícios para a realização de projetos ambientais, no
entanto existem algumas barreiras que impedem a inserção da prática. Uma dessas
barreiras é a ausência de guias práticos para orientação. O PMBok não integra
parâmetros ambientais, e não foram criados outros guias para que essa carência
seja suprida. A definição de impactos ambientais em áreas específicas, temas e grau
de severidade exigem tempo, custo e pessoas, além de os resultados gerados serem
subjetivos, tornando-os de baixa confiabilidade. De qualquer forma, muitos projetos
conseguem abranger todos os processos e etapas, alcançando o sucesso final do
produto/serviço. Para exemplificar todas essas etapas, segue, abaixo, um modelo
de caso hipotético resumido, descrito pela Fundap (Fundação do Desenvolvimento
Administrativo), órgão público do Estado de SP.

No início, o gerente recebe o projeto e prepara o pré-plano de ação - que é


submetido à aprovação - para testar o entendimento do demandado e iniciar as
articulações que viabilizarão sua execução. Então são traçadas as diretrizes básicas
para elaborar os objetivos, natureza, limites do projeto, entradas e saídas, bem
como os aspectos ambientais (descarte de resíduos da construção civil, emissões
atmosféricas de caminhões e máquinas, consumo de recursos naturais, etc.). No
caso deste projeto, a ideia principal é: “instalar uma unidade da USP, na zona
leste da Capital, visando a atender prioritariamente a população local”. (Modelo de
Projeto Ambiental (Fundap, 2006))

São traçadas, também, as especificações básicas, como capacidade de alunos


(1.020 alunos); 4.080 alunos nos 4 anos de curso; capacidade de dez cursos
simultâneos; área construída de 6.070 m²; refeitório provisório para 1.500
refeições diárias.

As entregas são distribuídas ao longo das fases dos projetos. A fase 1 terá
entrega da construção de prédios do núcleo didático, centro de apoio técnico,
guarita, posto de vigilância e restaurante. A fase 2 terá a contratação de RH,
transferência dos docentes e pessoal, aquisição de equipamentos, licitação,
contratação e aceite e instalação dos equipamentos. Fase 3 será marcada pelo
processo seletivo, contratação de empresas, acompanhamento da seleção e
recepção dos alunos. Essas fases são distribuídas ao longo de um cronograma
básico que será o Gráfico de Gantt.

O planejamento é iniciado com a análise de riscos, como assinatura de contrato


com o BID, aprovação da Assembleia Legislativa (nova lei), apoio das prefeituras
envolvidas (convênios) etc., desvalorização do real ante o dólar (aquisição de
equipamentos importados), mudança de governo (outra ideologia), disposição
de resíduos, quantificação de consumo de água e energia durante a execução do
projeto, metas ambientais e de prazo e custo etc.

O escopo é elaborado com “Cronograma Detalhado”, em que cada tarefa tem


uma duração e um responsável, e é dividido pelas entregas já estipuladas, divididas
em tarefas. Nesta etapa, os componentes da equipe são definidos e listados, o que
é oficializado em contrato.

15
15
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Na fase de execução, reuniões de acompanhamento são executadas para


legitimar o programa e obter comprometimento dos envolvidos. Essas reuniões
geram relatórios para indicar a situação de cada etapa. Indicadores do andamento
do projeto, indicadores financeiros, indicadores ambientais, controle de pendências,
entre outros assuntos, devem ser abordados nessas reuniões.

O encerramento do projeto, por definição, tem data estipulada e, portanto, deve


ser cumprido. No entanto, muitos projetos apresentam atrasos. No final, as equipes
são desfeitas, e algumas providências devem ser tomadas, como desmobilização,
relatório final, aceite da área operacional.

O Escopo e sua importância no


gerenciamento de projetos
Como discutido na Unidade I, a definição do escopo é um dos principais processos
integrantes para implementação de projetos nas empresas. Para que o ciclo de
vida seja eficaz, o escopo deve ser elaborado com todas as suas características
necessárias. O escopo deve ser definido com a descrição do produto ou serviço que
será fornecido e também deve ser detalhado, ou seja, deve especificar as normas
técnicas, o histórico, uma estrutura analítica das ações e tarefas que compõem
tal produto/serviço, sustentando os outros gerenciamentos, como custo, prazo,
riscos, etc. Essa estrutura analítica pode ser realizada de várias maneiras, e uma
delas é a chamada Work Breakdown Structure (WBS).

Importante! Importante!

A estrutura analítica integra todos os elementos do escopo, e o que não estiver


especificado, consequentemente, não estará dentro do escopo.

O WBS assegura que todos os itens envolvidos no projeto sejam acompanhados,


tornando-se, assim, a base da orientação para elaboração do projeto e ajudando a
estabelecer responsáveis e funções para cada item listado além de reduzir os riscos.

A Figura 7 exemplifica um método para elaboração do escopo muito utilizado


em projetos pequenos. No caso deste projeto, a ideia principal é o acontecimento
de um show de rock. A partir desse objetivo, temos as fases de iniciação (pré-show)

16
com a identificação do local, definição das bandas que irão se apresentar, busca de
patrocinadores para colaborarem com os custos e início da venda dos ingressos.
Após a fase de iniciação, temos a fase de execução, ou seja, aquela em que o
show acontece. Nesta etapa, faz-se necessário controlar as pessoas na entrada
do evento, controlar a iluminação e executar as músicas. Na fase de conclusão
(pós-show), libera-se o palco, e os equipamentos são retirados. Este pequeno projeto
estabeleceu, no escopo, todas as fases de cada processo do ciclo de vida, auxiliando na
organização do evento.

Figura 8: Exemplo de WBS em diagrama de blocos


Fonte: elirodrigues.com

Para escopo em projetos ambientais, os fatores que envolvam o meio ambiente


devem ser identificados na fase de iniciação, como legislações e normas aplicáveis,
identificação da área (se aplicável), riscos ambientais, estimativa de custos de
licenciamento e/ou alvarás, estudo de impacto ambiental (se aplicável). Na fase
de execução, ocorre o monitoramento da validade dos documentos legais bem
como suas atualizações, elaboração de contratos com fornecedores, realização de
treinamentos, fiscalização da coleta seletiva, aplicando ferramentas como logística
reversa ou política dos 5rs (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar). As saídas
do projeto ambiental, geralmente, são acordos cumpridos, plano de resíduos
concluído, gerenciamento ambiental definido, etc.

A Figura 8 exemplifica um projeto ambiental para reflorestamento de uma


área. Deve ser realizado um levantamento das espécies de árvores presentes
na área e estabelecidas quais serão retiradas e quais possuem uma taxa de

17
17
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

sobrevivência alta para aquela região (fase inicial). Espécies serão retiradas e
outras serão replantadas (execução) e, na fase final, será realizada a manutenção
e o acompanhamento da área.

1. Projeto de Reflorestamento

1.4 Monitorar o
1.3
1.1 Supressão 1.2 Mudas desenvolvimento
Replantio
das plantas

1.1.1 1.1.2 1.4.2


1.1.3 1.2.1 1.3.1 1.4.1
1.2.2 Avaliação e
Catalogação Remoção Verificação
Destinação Desenvolvi- Locação e da
programação
de todas as das Compra de
à madeira mento de demarcação sobrevivência
das etapas de
espécies espécies mudas manutenção e
extraída mudas das covas das mudas
exóticas exóticas reflorestamento

1.2.1.1 1.2.2.1 1.3.1.1


Escolha de Escolha Abertura e
mudas das mudas preenchimento
desenvolvidas compradas das covas

1.3.1.1
Plantio do
gramado

Figura 9: Estrutura analítica de Projeto de Reflorestamento (Reis, 2013).

Como citado anteriormente, essas ferramentas tornam-se extremamente


importantes para auxiliar a visão geral do projeto, diminuindo os riscos e tornando-se
um check list de verificação de etapas e processos do projeto. Um WBS mal elaborado
pode desencadear problemas e riscos e também inviabilizar um projeto.

Para que este tipo de trabalho seja realizado com sucesso, os envolvidos devem
ter o conhecimento pleno do projeto e também coordenar todos os processos. Por
essa razão, as organizações têm nomeado responsáveis específicos para a área de
projetos, conhecidos como gerente de projetos. Então, vamos conhecer um pouco
mais sobre esses profissionais.

Gerente de Projetos
Por ser uma área relativamente nova na cultura empresarial, ainda não se tem
estabelecido se o gerenciamento de projetos é uma profissão em específico, por
se tratar de um gerenciamento em geral. Além disso, a área de gerenciamento de
projetos não é uma disciplina específica nas instituições de ensino, sendo destacada
somente na área da pesquisa. Dessa forma, a maioria dos profissionais envolvidos
nesta área não possui um certificado profissional viabilizado através de uma longa
preparação, e mesmo assim eles são contratados para tal função, o que ocasiona
erros graves no projeto, pois o profissional necessita de um conhecimento especial
e habilidades para alcançar o desempenho exigido pela função.

18
Apesar das dificuldades, muitos profissionais destacam-se dentro das organizações
e tornam-se gerentes de projetos competentes e eficientes. Mas o que exatamente
esses profissionais fazem?

O gerente de projetos é o líder que planeja as etapas do projeto integrando diversas


áreas da empresa entre si e com o cliente, de modo a atender a um objetivo em
comum. Para isso, esta profissão exige liderança de profissionais variados, atenção,
gerenciamento, comunicação, etc. Além disso, o profissional deve compreender o
projeto, promover um ambiente interpessoal com os envolvidos, motivar a equipe,
demonstrar comprometimento e ser capaz de tomar decisões acerca do projeto.

Para a administração da empresa, o gerente de projetos é um elemento


imprescindível, pois representa o retorno do capital, garantindo à empresa
competitividade no mercado econômico. Isso porque o profissional representa um
estrategista, que filtra as informações de diversas partes e facilita os processos,
atribuindo responsabilidades e trilhando os caminhos já pré-definidos. A Figura 9
mostra o papel de facilitador e filtrador de informações do gerente de projetos.
Clientes

Gerente
de
Projetos

Marketing Financeiro
Diretoria Engenharia
Qualidade Produção
Compras Planejamento

Figura 10: O Gerente de Projetos

O gerente de projetos também precisa compreender exatamente o que o cliente


quer. Para isso, a comunicação entre cliente e empresa deve ser realizada com
o intuito de esclarecer dúvidas, estipular prazos, custos, entre outros aspectos.
A partir daí, o gerente deve passar os pedidos dos clientes para as outras áreas
envolvidas, certificando-se de que os envolvidos realmente entenderam o propósito
do produto/serviço. Esta etapa de definição é muito importante para que o cliente
fique satisfeito com a entrega do projeto.

19
19
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Para exemplificar esta prática, segue a Figura 10, retratando o diálogo entre
cliente e áreas envolvidas no projeto. Neste caso, o gerente de projetos e as partes
envolvidas não compreenderam exatamente o pedido do cliente.

Figura 11: Comunicação nas organizações


Fonte: flavioaf.wordpress.com

Sendo assim, o gerente também deve apresentar habilidades para interagir com
a área técnica, deve conhecer bem sobre o produto/serviço e saber expor os riscos
e os processos envolvidos para o cliente. Da mesma forma, as metas, os objetivos e
o ciclo de vida de todo do projeto também devem ser reportados para a alta direção
da empresa. Um plano de gerenciamento de projetos pode ser criado para facilitar
a comunicação entre os envolvidos.
Além do gerente de projetos, é importante salientar outras partes interessadas
no projeto. Pessoas e organizações podem ser afetadas diretamente pelos projetos
e também exercem influência sobre os mesmos. A determinação dessas partes
interessadas também deve ser identificada e deve ser descrita a participação de
cada um no processo de gerenciamento dos projetos. A Figura 11 identifica a
interação das partes interessadas do projeto.
As responsabilidades e funções de cada parte devem ser estabelecidas, mas
elas podem ser alteradas ao longo da execução do projeto. As suas contribuições
também podem ser pontuais ou acontecer ao longo de todo projeto, como acontece
no caso de patrocínios.

Importante! Importante!

É importante que as partes interessadas sejam identificadas para que problemas


futuros sejam evitados. Por exemplo, inserir a participação do departamento jurídico
tardiamente na elaboração de um projeto de software pode causar impacto no projeto,
pois muitas leis e documentações estão envolvidas nesse tipo de projeto.

20
Projeto
Patrocinador
do projeto

Gerente de
projetos

Equipe de
gerenciamento
de projetos

Equipe do projeto

Partes interessadas
no projeto

Figura 12: Partes interessadas do projeto (PMBok, 2008)


Fonte: Guia PMBOK 2008

As partes interessadas também podem exercer influências positivas ou negativas


no projeto. As partes interessadas positivas geralmente se beneficiam dos resultados
do projeto. Por exemplo, a comunidade próxima à construção de uma indústria
pode receber benefícios culturais exigidos pelo licenciamento. As partes interessadas
negativas são, por exemplo, os ambientalistas, que consideram que o projeto da
indústria acarretará danos ambientais. Muitas organizações não identificam partes
interessadas negativas, o que ocasiona imprevistos na execução do projeto.

Considerações Finais
A partir do estudo de viabilidade, dos impactos ambientais e dos objetivos,
o escopo é elaborado com o detalhamento necessário e, então, inicia-se a fase
do planejamento, com a definição de equipe, cronogramas, custos, entre outros.
A fase de execução é a etapa seguinte, mais longa e que abrange muitos outros
processos e partes interessadas. Após a execução, o projeto passa pela análise de
metas e indicadores e é encerrado. Todas essas etapas fazem parte do ciclo de vida
de projeto, que é integrante do ciclo de vida do produto. O escopo possui todas
as etapas necessárias para que o projeto seja elaborado, com suas características e
funcionalidades.

O gerente de projeto está por trás de todo esse processo descrito acima, participando
da elaboração do projeto juntamente com o cliente bem como com as partes envolvidas
dentro das organizações. Este profissional necessita de habilidades como liderança,
comunicação adequada, organização para que o projeto atinja o sucesso.

21
21
UNIDADE O Ciclo de Vida de Projetos

Material Complementar
Material Complementar

 Vídeos
Usina de Itaipu se torna referência na gestão de projetos sustentáveis
https://youtu.be/duolQYq0-Z8

 Livros
Revista Produção
RUSSO, R. 2005. Liderança e influência nas fases da gestão de projetos. v.15-3,
p.362-375.

Resolução SMA nº14, de 13 de março de 2008


SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE - SMA. Dispõe sobre os
procedimentos para supressão de vegetação nativa para parcelamento do solo ou
qualquer edificação em área urbana. São Paulo, março de 2008.

  Sites
Resolução n° 04, de 15 de dezembro de 2010
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Conselho
Nacional de Meteorologia, Normalização e Qualidade Industrial – CONMETRO.
Dispõe sobre a Aprovação do Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida e dá
outras providências.
Disponível em: www.inmetro.gov.br/legislacao Acesso em 03/07/2015.

22
Referências
FUNDAP. 2006. Fundação de Desenvolvimento Administrativo. Planejamento
e gerenciamento de projetos. Educação continuada Gestão de Programas e
projetos governamentais.

REIS, M. 2013. Estudo sobre gerenciamento do escopo e dos stakeholders em


um projeto de reflorestamento no âmbito das boas práticas de gerenciamento
de projetos propostas pelo Project Management Institute (PMI). Disponível
em: file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/P26_Palestra_1709_1930---
Marcos_Paulo_S.Reis_Artigo[PMISP]%20(2).pdf. Acesso em: 05/07/15.

PROJECT Management Institute. 2008. Practice standard for work breakdown


structures. Disponível em: http://www.pmi.org/ Acesso em: 02 de julho de 2015.

US EPA. 2006. United States Environmental Protection Agency, Life Cycle


Assessment: Principles and Practice. National Risk Management Research
Laboratory Office of Research and Development, Cincinnati.

23
23
Gestão de Projetos
Ambientais
Material Teórico
Processos de Gerenciamento de Projetos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Raisa Pereira

Revisão Textual:
Profa. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Processos de Gerenciamento de Projetos

• Introdução
• Gerenciamento de Tempo
• Gerenciamento de Custos
• Gerenciamento da Qualidade

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir a participação do gerenciamento de prazo, custo e qualidade
ao longo da execução do projeto.
· Compreender como deve ser elaborado um projeto, bem como as
entradas e saídas de cada etapa e as ferramentas que podem ser
utilizadas no monitoramento desses processos.

ORIENTAÇÕES
A partir do momento que se aprova um projeto, é necessário aplicar o
gerenciamento das várias áreas de estudos discutidas nas Unidades anteriores.

As principais áreas de estudos que impactam diretamente o projeto são:


gerenciamento do tempo, que estipula data de início e término dos projetos;
gerenciamento de custo, que elabora um orçamento baseado em vários fatores
e é monitorado ao longo de toda a execução do projeto; e gerenciamento da
qualidade, que verifica e inspeciona todas as etapas do projeto para que este
seja finalizado com sucesso e atenda as expectativas de todos os envolvidos.

Dessa forma, iremos analisar e discutir as entradas, ferramentas técnicas e


saídas desses três processos descritos.
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Contextualização
A gestão de projetos requer o gerenciamento de custos, prazos e qualidade para
que ele alcance o sucesso planejado.

Dessa forma, os projetos ambientais necessitam ainda de uma maior atenção


nestes processos.

Relacionando o processo de gerenciamento de projetos ambientais com os custos


e prazo, a seguir um link no qual se pode encontrar uma reportagem realizada pela
Folha de São Paulo sobre a Usina de Belo Monte, que está sendo construída pelo
governo Federal.
Explor

http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2013/12/16/belo-monte/

6
Introdução
O gerenciamento do tempo, custo e qualidade são processos fundamentais para
o gerenciamento de todo o projeto.

A gestão do tempo envolve o cumprimento de prazos estipulados no planejamento.

A gestão de custos envolve cumprir o orçamento determinado, atendendo os


requisitos de suprimentos.

E a gestão da qualidade envolve atender os requisitos dos clientes e das partes


interessadas, de modo a entregar o produto/serviço final de maneira adequada.

Todos estes processos serão descritos nesta Unidade, destacando as etapas de


cada processo e as ferramentas para que se alcance sucesso nos projetos ambientais.

Gerenciamento de Tempo
O gerenciamento do tempo do projeto inclui os processos necessários para
gerenciar o término pontual do projeto. Este gerenciamento é formado por seis
processos distintos (Figura 1), sendo precedido por um trabalho de planejamento
pela equipe de gerenciamento.

Esse planejamento faz parte do processo “Desenvolver o plano de gerenciamento


do projeto”, que produz um sistema de gerenciamento do cronograma que seleciona
uma metodologia e uma ferramenta de elaboração de cronograma, assim como
estabelece os critérios para desenvolvimento e controle de cronograma.

Estimar os
Definir Sequenciar
recursos das
atividades atividades
atividades

Estimar a
Desenvolver Controlar o
duração das
cronograma cronograma
atividades

Figura 1. Processos do gerenciamento do tempo.

7
7
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Os projetos ambientais costumam ser bastante radicais quanto aos seus prazos.
Isso só ocorre porque, muitas vezes, esses prazos são definidos dentro de um
“Termo de Ajustamento de Conduta” e de outros compromissos firmados em
conjunto com os órgãos ambientais ou com o Ministério Público.

Para isso, os processos de gerenciamento de tempo devem ser monitorados.


Abordaremos as entradas, ferramentas técnicas e saídas de cada gerenciamento.

Entradas: documentos ou itens documentáveis que influenciarão o processo.


Ferramentas técnicas: mecanismos aplicados às entradas para criar as saídas.
Saídas: documentos ou itens documentáveis resultantes do processo.

Definir as atividades
É o processo de identificação das ações específicas a serem realizadas para
produzir as entregas do projeto. Os pacotes de trabalho (do processo Criar a EAP –
Estrutura Analítica do Projeto ou WBS no gerenciamento do escopo) são tipicamente
decompostos em componentes menores chamados atividades, que representam o
trabalho necessário para completar o pacote de trabalho. Isso ocorre para definir
os detalhes, e assim atingir as metas.

Para isso, as entradas dessa etapa são as linhas de base do escopo que são
formadas por entregas de projetos; restrições, ou seja, fatores que limitarão as
opções da equipe de gerência de projeto; e as premissas, que foram estabelecidas
no planejamento e serão confirmadas como verdadeiras ou falsas. Também são
considerados os fatores ambientais da empresa, como sistema de informações do
gerenciamento de projetos; fatores externos de interesse dos projetos; relações
com o meio ambiente etc.

Principalmente nos processos ambientais, as atividades devem ser definidas


considerando os ativos de processos organizacionais, por exemplo, políticas,
procedimentos e diretrizes existentes (metodologia) e base de conhecimento de
lições aprendidas contendo informações históricas.

As ferramentas técnicas que são utilizadas nessa etapa são a de decomposição,


ou seja, subdivisão dos pacotes de trabalho do projeto em componentes menores,
mais gerenciáveis, chamados atividades.

Essas atividades representam o esforço necessário para completar um pacote


de trabalho. O envolvimento de membros da equipe na decomposição pode gerar
resultados melhores e mais precisos.

8
Importante! Importante!

A diferença entre decomposição aqui descrita e a do Detalhamento do Escopo


já visto é que nesta as saídas são descritas como atividades (ações) em vez de
subprodutos (itens tangíveis).

Outra ferramenta é o planejamento em ondas sucessivas, em que uma forma


de planejamento é realizado com elaboração progressiva, na qual o trabalho a
ser executado num futuro próximo é planejado em detalhes e o trabalho futuro é
planejado nos níveis mais altos da EAP.

Uma lista padrão das atividades ou uma parte da lista das atividades de um
projeto anterior é frequentemente utilizada como modelo para um projeto novo.
Também podem ser usados para identificar os marcos típicos dos cronogramas.

As saídas dessa etapa geralmente são listas de atividades que abrangem todas as
atividades necessárias do projeto, bem como a descrição de cada atividade.

Sequenciar as atividades
O sequenciamento das atividades é o processo de identificação e documentação
dos relacionamentos entre as atividades do projeto. Esses são sequenciais usando
relações lógicas.O uso de tempo de antecipação ou de espera pode ser necessário
entre as atividades para dar suporte a um cronograma de projeto realista e executável.

As saídas do processo de definição das atividades, visto anteriormente, são as


entradas desse processo, como a lista de atividades, lista de marcos, declaração do
escopo etc.

As ferramentas técnicas que são utilizadas nessa etapa é o Método do diagrama


de precedência (MDP) (Figura 2).

O MDP é um método usado no Método do Caminho Crítico (MCC), que utiliza


quadrados ou retângulos, chamados de nós, para representar as atividades e
conectá-las com flechas que indicam as relações lógicas que existem entre elas.

Vale lembrar que as atividades ambientais referentes aos processos também devem
ser identificadas. Este método inclui 4 tipos de dependências ou relações lógicas:
· Término para início (TI): a iniciação da atividade sucessora depende do
término da atividade predecessora;
· Término para término (TT): o término da atividade sucessora depende
do término da atividade predecessora;

9
9
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

·· Início para início (II): a iniciação da atividade sucessora depende da


iniciação da atividade predecessora;
·· Início para término (IT): a término da atividade sucessora depende da
iniciação da atividade predecessora.

A B

C D E

Início H F G Fim

I J

K L

Figura 2. Modelo de MDP.

Modelos de diagrama de rede de cronograma também podem ser utilizados para


agilizar a preparação de redes de atividades do projeto.

Nessa etapa, também há a determinação de dependência, que são divididas em


obrigatórias (hard logic), que são aquelas exigidas contratualmente ou inerentes
à natureza do trabalho; arbitrárias (soft logic), que são aquelas estabelecidas com
base no conhecimento das melhores práticas numa área de aplicação específica ou
em algum aspecto singular do projeto onde uma sequência específica é desejada.

A dependência externa envolve uma relação entre as atividades do projeto e as


não pertencentes ao projeto. Normalmente, não estão sob o controle da equipe
do projeto.

As saídas desse processo são diagramas com esquemas das atividades do


cronograma e as relações lógicas entre elas, bem como a atualização dos documentos
já citados, como lista de atividades, atributos das atividades e registro de riscos.

10
Estimar os recursos das atividades
É o processo de estimativa dos tipos e quantidades de material, pessoas,
equipamentos ou suprimentos que serão necessários para realizar cada atividade. É
estreitamente coordenado junto com o processo “Estimar custos”.

As entradas desse processo são: lista de atividade, atributos das atividades,


calendários de recursos, fatores ambientais da empresa e ativos de processos
ambientais, como políticas, procedimentos, aluguel, compras de suprimentos etc.

As ferramentas técnicas para auxiliar a etapa é a utilização de opinião especializada,


análise das alternativas (muitas atividades do projeto possuem alternativas de
realização); dados publicados para auxílio a estimativas (várias empresas publicam
valores de produção e custos realizados durante o projeto); estimativas de bottom
up, que se refere a quando uma atividade do cronograma não pode ser estimada
com um nível razoável de confiança e o trabalho dentro da atividade do cronograma
é decomposto em mais detalhes; softwares de gerenciamento de projetos.

As saídas desta etapa são requisitos de recursos das atividades (identifica os tipos
e as quantidades de recursos necessários para cada atividade do pacote de trabalho);
estrutura analítica dos recursos (estrutura hierárquica dos recursos identificados,
organizada por categoria e tipo de recursos) e atualizações dos documentos do
projeto, como lista das atividades, atributos das atividades e calendário de recursos.

Estimar a duração das atividades


É o processo de estimativa do número de períodos de trabalho que serão
necessários para terminar as atividades específicas com os recursos estimados,
sendo elaborada de acordo com o progresso das atividades do projeto.

A estimativa da duração das atividades utiliza informações sobre as atividades do


escopo do projeto, tipo de recursos necessários, quantidades estimadas de recursos
e calendário de recursos.

A partir daí, são utilizadas as ferramentas e técnicas que podem ser por meio de
opinião especializada; estimativa análoga que usa parâmetros tais como duração,
orçamento, tamanho, peso e complexidade do projeto anterior ou similar como
base para a estimativa dos mesmos parâmetros ou medidas para um projeto futuro;
estimativa paramétrica, que utiliza uma relação estatística entre dados históricos
e outras variáveis para calcular uma estimativa para parâmetros da atividade, tais
como custo, orçamento e duração; estimativa de três pontos com a técnica de
revisão e avaliação de programa.
Explor

Técnica de revisão e avaliação de programa: http://goo.gl/yulsGV

11
11
UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

As saídas desse processo são análises de reservas, que incluem reservas para
contingências no cronograma geral do projeto para considerar as incertezas do
cronograma, também chamadas de reservas de tempo ou buffers.

Outra saída são as estimativas de duração das atividades e as atualizações dos


documentos do projeto, como, por exemplo, atributos das atividades e premissas
feitas no desenvolvimento da estimativa da duração da atividade.

Desenvolver o cronograma
É o processo de análise de sequências das atividades, suas durações, recursos
necessários e restrições do cronograma visando a criar o cronograma do projeto.

A entrada das atividades, durações e recursos na ferramenta de elaboração


de cronograma gera um cronograma com datas planejadas para completar as
atividades do projeto. O desenvolvimento de um cronograma de projeto aceitável
é frequentemente um processo iterativo. Determina as datas planejadas de início e
término para as atividades e marcos do projeto.

As entradas dessa etapa são todas as saídas das etapas descritas anteriormente,
como lista de atividades, atributos das atividades, diagrama de rede de cronograma,
calendário de recursos, estimativa de duração das atividades, declaração do
escopo, fatores ambientais da empresas etc. Isso porque esta etapa refere-se à
elaboração do cronograma.

As ferramentas para desenvolver os cronogramas são bastante variadas. Pode ser


análise de rede do cronograma, que é uma análise técnica que gera o cronograma
do projeto. Utilização de várias técnicas analíticas, tais como o método do caminho
crítico, o método da corrente crítica, análise “e-se” e o nivelamento de recursos
pra calcular as datas de início e término mais cedo e mais tarde para as atividades
do projeto. A flexibilidade do cronograma pode ser medida pela diferença positiva
entre as datas mais tarde e mais cedo, e é chamado de “folga total”.

O Método da corrente crítica é uma técnica de análise de rede do cronograma


que modifica o cronograma do projeto para que se leve em conta a limitação de
recursos, também conhecido como caminho crítico restrito por recursos.

Adiciona buffers de duração que são atividades sem trabalho no cronograma para
gerenciar as incertezas. O buffer do projeto é inserido no final da corrente crítica,
enquanto o buffer de alimentação é inserido em cadeias de tarefas dependentes
que alimentam ou convergem para a corrente crítica.

O nivelamento dos recursos é uma técnica de análise de rede do cronograma


aplicada a um cronograma que já foi analisado pelo método do caminho crítico.
Frequentemente pode causar a mudança no caminho crítico original.

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Já a análise do cenário “E-se” é uma análise da pergunta “E se a situação
representada pelo cenário X acontecer?”. Pode ser usada para avaliar se o cronograma
do projeto é praticável sob condições adversas para preparar planos de contingência
e de resposta para superar ou mitigar o impacto de situações inesperadas.

As aplicações de antecipações e esperas são refinamentos aplicados durante


a análise de rede para produzir um cronograma viável. Outra ferramenta é a
compressão de cronograma em que as compensações entre custo e cronograma
são analisadas para determinar como obter a maior quantidade de compressão
com o mínimo incremento de custo.

As saídas são cronogramas do projeto, incluindo pelo menos uma data de


início e de término planejadas para cada atividade. Pode ser apresentado num
formato resumido (cronograma mestre ou cronograma de marcos) ou apresentado
detalhadamente. Embora possa ser apresentado em formato tabular, é com mais
frequência apresentado graficamente nos formatos: gráfico de marcos, gráfico de
barras ou diagramas de rede de cronograma de projeto.

A linha de base do cronograma também é uma versão específica do cronograma


do projeto desenvolvido a partir de análise de sua rede. É aceita e aprovada
pela equipe de gerenciamento como a linha de base do cronograma. Os dados
do cronograma incluem pelo menos os marcos, as atividades, os atributos das
atividades e a documentação de todas as premissas e restrições identificadas.

Controlar o Cronograma
O controle do cronograma está relacionado à determinação do andamento
atual do cronograma do projeto; ao controle dos fatores que criam mudanças
no cronograma; à determinação de que o cronograma do projeto mudou e ao
gerenciamento das mudanças conforme elas efetivamente ocorrem.

As entradas do controle de cronograma são: plano de gerenciamento do projeto;


cronograma do projeto; informações sobre desempenho do trabalho; ativos de
processos organizacionais.

As ferramentas e técnicas são análise de desempenho que medem, comparam


e analisam o desempenho do cronograma como as datas reais de início e término,
porcentagem completa e duração restante para o trabalho em andamento.

Uma parte importante é decidir se a variação do cronograma requer ação


corretiva. A análise de variação que realiza medições de desempenho do
cronograma (VPR, IDP) são usadas para avaliar a magnitude de variação à linha
de base do cronograma.

A variação de folga total também é um componente essencial de planejamento


para avaliar o desempenho de tempo do projeto.

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UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Software de gerenciamento de projetos; nivelamento de recursos; análise do


cenário “E-se”; ajuste de antecipações e esperas; compressão de cronograma são
outras ferramentas para o desenvolvimento do cronograma.

As saídas são medições de desempenho do trabalho, ou seja, os valores de VPR


e do ID calculados para os componentes da EAP são documentados e comunicados
às partes interessadas.

Atualizações dos ativos de processos organizacionais, que são causas das


diferenças, ação corretiva escolhida e as razões e outros tipos de lições aprendidas.
Solicitações de mudança, caso seja necessário, e atualizações do plano de
gerenciamento de projetos comdados do cronograma e dados do projeto.

Dessa forma, com todos esses processos realizados e monitorados


conjuntamente, o prazo estabelecido é alcançado e, consequentemente, o sucesso
do projeto também.

Gerenciamento de Custos
Sabe-se que 40% das empresas têm problemas com o cumprimento do
orçamento. O custo é definido como medidas monetárias adotadas para
o funcionamento de uma organização por meio do pagamento de tributos,
investimentos e ações para o atingimento das metas.

O gerenciamento do custo é o conjunto de processos como planejar, estimar


e monitorar para garantir que o projeto seja executado dentro de um orçamento
previsto e pré-aprovado.

Gerenciar bem os custos é uma das atribuições do gestor de projetos de qualquer


organização, independente do segmento de atuação.

Custos diretos
Custos relacionados diretamente com as entregas dos produtos e serviços oferecidos.
Exemplo: papelaria para formação e aplicação em sala de aula, salário da sede e
mediadores, laboratórios e periféricos.
Custos indiretos
Custos relacionados ao apoio na elaboração e monitoramento dos projetos.
Independentemente da quantidade de projeto o custo de mantém estável. Exemplo:
salário matriz, administração da matriz.

E então, como devemos gerenciar os custos? Estimando custos, elaborando


o orçamento e controlando os gastos. Dessa forma, criamos um plano de
gerenciamento de custos.

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Importante! Importante!

Plano de gerenciamento de custos


Um plano auxiliar ao plano de gerenciamento do projeto que varia de acordo com
as necessidades do projeto. Pode estabelecer: nível de precisão, unidade de medida,
ligações entre procedimentos organizacionais, limites de controle, regras de valor
agregado, formato dos relatórios, descrição dos processos.

Estimativa de custos
A estimativa de custo é o desenvolvimento de uma aproximação dos custos dos
recursos necessários para terminar cada atividade do cronograma. Na aproximação
dos custos, consideram-se as possíveis causas da variação das estimativas dos custos,
inclusive os riscos. Em geral, as estimativas de custos são expressas em unidades de
moeda para facilitar as comparações dentro de projetos e entre eles. A exatidão de
uma estimativa de um projeto aumenta conforme o projeto se desenvolve. Fontes
de informação da entrada aparecem na forma de saídas dos processos de diversas
outras áreas do conhecimento.

As entradas dessa etapa são fatores ambientais da empresa; ativos de processos


organizacionais; informações históricas; arquivos dos projetos, conhecimento da
equipe do projeto; lições aprendidas; declaração do escopo do projeto; Estrutura
Analítica do Projeto (EAP); dicionário da EAP; plano de gerenciamento de projeto,
com plano de gerenciamento do cronograma, plano de gerenciamento de pessoal,
registro de riscos.

As ferramentas e técnicas são estimativa análoga, que utiliza o custo real


dos projetos anteriores como base. Determinar os valores de custo de recursos,
também pode ser realizado, conhecendo valores de custo unitário, a fim de estimar
os custos das atividades do cronograma. A estimativa paramétrica utiliza uma
relação estatística entre dados históricos e outras variáveis, com níveis mais altos
de exatidão, dependendo da sofisticação e da quantidade de recursos e dos dados
de custos subjacentes incorporados ao modelo.

Pode ser utilizado software de gerenciamento de projetos, análise de proposta


de fornecedor, análise das reservas: provisões para contingências, considerando
que não se deve exagerar no potencial do problema; e custo da qualidade.

As saídas dessa fase são as estimativas de custos (avaliação quantitativa dos


custos prováveis para terminar o projeto); detalhes que dão suporte à estimativa
de custos da atividade (um documento que fornece de forma clara, profissional e
completa do que originou a estimativa de custo); mudanças solicitadas (mudanças
que podem afetar o plano de gerenciamento de custos, recursos e qualquer outra
informação descrita no plano); plano de gerenciamento de custos com a atualização
das mudanças aprovadas.

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UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Orçamentação
A orçamentação dos custos envolve alocar as estimativas dos custos globais aos
itens individuais de trabalho com a finalidade de estabelecer uma baseline de custo
para medir o desempenho do projeto (Figura 3).

Valores Fluxo de
Acumulados Caixa
Esperado

Baseline da
Performance
do Custo

Tempo
Figura 3. Apresentação ilustrativa de baseline do custo.

As entradas desse processo são o escopo, que fornece as restrições dos recursos;
a estrutura analítica do projeto que fornece as relações entre as entregas e seus
componentes; estimativas de custos das atividades; detalhes que dão suporte as
estimativas de custos; cronograma de projeto, incluindo as datas, marcos, pacotes
de trabalho; calendário de recursos, utilizado para informar os custos durante o
projeto; e o plano de gerenciamento de custos.

As ferramentas utilizadas nessa etapa são agregação de custos, em que as


estimativas de custos da atividade do cronograma são agregadas por pacotes de
trabalho de acordo com a EAP; análise de reservas, que estabelece as reservas
para contingências, como a reserva para contingências de gerenciamento, que são
provisões para mudanças não planejadas, mas potencialmente necessários (escopo
e custos); estimativa paramétrica; e reconciliação dos limites de financiamento,
que envolve ajustes nos cronogramas do trabalho para nivelar ou regular variações
indesejáveis nos gastos.

As saídas são: linha de base dos custos (orçamento dividido em fases); plano de
gerenciamento de custos; mudanças solicitadas.

Controle de custos
O controle dos custos está associado a influenciar os fatores que criam as
mudanças na meta de custo de forma a garantir que estas mudanças sejam benéficas;
determinar que a meta de custo foi alterada e gerenciar as mudanças reais quando
e da forma que elas surgirem.

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Para isso, faz-se necessário registrar exatamente as mudanças, como controlar
fatores, monitorar, garantir acordo e limites; estabelecer limites nos custos;
monitorar o desempenho e informar as partes interessadas.

As entradas dessa etapa são as saídas da orçamentação, relatórios de


desempenho, informações sobre desempenho do trabalho (são coletadas
informações sobre o desempenho do trabalho relativas ao andamento e aos custos
das atividades do projeto que estão sendo realizadas, como: entregas terminadas
e ainda não terminadas; custos autorizados e incorridos; estimativas para terminar
as atividades do cronograma; percentual fisicamente terminado das atividades do
cronograma); solicitações de mudanças aprovadas(controle integrado de mudanças
podem incluir modificações nas cláusulas relativas a custos do contrato, no escopo
do projeto, na linha de base dos custos ou no plano de gerenciamento de custos).

As ferramentas e técnicas que podem ser utilizadas são sistema de controle de


mudanças nos custos (procedimentos que autorizam as alterações na linha de base
dos custos; formulários e documentações); análise de medição de desempenho
(técnicas para avaliar e determinar a extensão das variações que podem ocorrer,
como variações de custos, variações de prazos); análise do desempenho do projeto
(marcos esperados e marcos atingidos; avaliam as atividades do cronograma,
pacote de trabalho ou situação e progresso da cota do custo; análise de variação,
análise de tendências e técnica do valor agregado); gerenciamento das variações,
ou seja, como a variação dos custos será gerenciada de acordo com o plano de
gerenciamento de custos.

Importante! Importante!

As maiores variações permitidas no início do projeto podem diminuir conforme o


projeto se aproxima do término.

As saídas da etapa são estimativas de custos; linha de base de custos; medições


de desempenho; previsão do término; ações corretivas recomendadas; ativos de
processos organizacionais; plano de gerenciamento de projetos (estimativas de custos
das atividades do cronograma, linha de base de custos, plano de gerenciamento de
custos e do orçamento do projeto).

Todas as solicitações de mudança aprovadas que afetam esses documentos são


incorporadas como atualizações desses documentos.

Dessa forma, no fim do projeto, é realizado um balanço dos custos, para


verificar se as medidas tomadas ao longo da execução foram suficientes para que
o orçamento fosse atendido.

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UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Gerenciamento da Qualidade
A qualidade é percebida de forma diferente pelas seguintes partes interessadas:
organizações, profissionais e clientes.

E como ela é realizada nos projetos?

Alguns dados estatísticos demonstram que 28% dos projetos são abortados;
46% dos projetos extrapolam prazos e custos e somente 26% dos projetos são
bem sucedidos.

O sucesso de um projeto está intimamente ligado à qualidade que ele apresenta


e pode ser avaliado de diferentes perspectivas, como, por exemplo, pelos clientes,
que indicam sua satisfação pelo preço e o cumprimento do prazo de entrega; pelos
sócios que analisam o retorno do investimento e do lucro; a equipe do projeto
que participa e tem sua realização pessoal no sucesso do projeto; a sociedade
que participa do projeto pela geração de empregos; e os fornecedores que são
parceiros do projeto.

A equipe de gerência do projeto deve estar atenta para monitorar a satisfação


do cliente, entendendo e gerenciando as necessidades e expectativas do cliente;
inspecionar a qualidade que foi projetada e incorporada; garantir a participação de
todos os membros da equipe; e garantir a melhoria contínua do projeto.

Para isso, deve-se planejar o gerenciamento da qualidade, realizar a garantia e


controlar a qualidade.

Planejar o gerenciamento da qualidade


Planejar o gerenciamento da qualidade é o processo de identificação dos
requisitos e/ou padrões da qualidade do projeto e suas entregas, além da
documentação de como o projeto demonstrará a conformidade com os requisitos
e/ou padrões de qualidade.

As entradas dessa etapa são política da qualidade, em que as intenções globais


e o direcionamento de uma organização referente à qualidade são especificadas;
declaração do escopo que descreve os principais subprodutos; descrição dos
produtos; legislações aplicáveis e padrões.

As ferramentas técnicas utilizadas nessa etapa podem ser análise de custo/


benefício, levando em consideração maior produtividade e satisfação do cliente,
com menos custos; fluxogramas em que as atividades e processos são interligados;
projeto de experimentos, em que a técnica analítica auxilia a identificar que variáveis
têm uma influência maior no resultado geral.

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A técnica é aplicada, frequentemente, mais às questões do produto do projeto
(por exemplo, os projetistas do setor automotivo podem desejar determinar quais
combinações de suspensão e pneus produzirão as mais proveitosas características
de transporte a um custo razoável).

As saídas desse processo são o plano de gerência da qualidade, que deve


descrever como a equipe de gerência de projeto irá implementar sua política de
qualidade; definições operacionais, que descreve, de forma bastante específica, o
que significa cada elemento e como ele será medido no processo de controle da
qualidade; checklist, usualmente destinada à indústria ou a atividades específicas,
utilizada para verificar se um conjunto de passos necessários estão sendo efetuados.

Garantia da Qualidade
Consiste em que todas as atividades planejadas são implementadas no sistema,
assegurando que o projeto irá atender os padrões de qualidade.

As entradas para garantir a qualidade são plano de gerência da qualidade;


resultados das medições do controle de qualidade, que são registros ou testes
para comparações ou análises. A ferramenta técnica é auditoria da qualidade,
em que o objetivo principal é identificar as lições aprendidas que melhorem o
desempenho deste projeto ou de outros projetos posteriores. As saídas dessa etapa
estão relacionadas à melhoria do sistema de qualidade, com tomada de ações para
aumentar a eficiência do projeto.

Controle de Qualidade
Controlar a qualidade é o processo de monitoramento e registro dos resultados
da execução das atividades de qualidade para avaliar o desempenho e recomendar
as mudanças necessárias.

As entradas para essa etapa são resultados dos trabalhos, ou seja, resultados
dos processos quanto aos resultados do produto; plano de gerência de qualidade;
definições operacionais; e checklist de verificação.

As ferramentas técnicas que auxiliam nessa etapa são inspeções; gráficos de


controle que apresentam resultados do processo ao longo do tempo; amostragem
estatística, inspecionando uma parte dos processos; análises de tendência para
elaboração de futuras previsões baseadas na utilização dos resultados históricos.

As saídas do processo de qualidade são melhoria da qualidade; decisões de


aceitação; checklist concluídos; ajuste nos processos com ações corretivas ou
preventivas imediatas.

Estes processos interagem mutuamente bem como com os processos de outras


áreas de conhecimento. Cada processo pode envolver o esforço de um ou mais
indivíduos ou grupos de indivíduos, dependendo das necessidades do projeto.

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UNIDADE Processos de Gerenciamento de Projetos

Considerações Finais
Como visto ao longo dessa aula, o gerenciamento de prazo, risco e qualidade
caminham juntos no desenvolvimento do projeto.

O prazo estabelece o início e o fim do projeto, distribuindo as atividades do


escopo ao longo desse tempo.

Já o custo estabelece um orçamento, que deve ser cumprido ao final do projeto.

A qualidade influencia em todos os processos do projeto, principalmente


nesses dois itens, prazo e custo, pois a satisfação dos clientes, bem como dos
investidores, está envolvida no cumprimento das metas estabelecidas para que
alcance sucesso no projeto.

20
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Para aprofundar seus conhecimentos, consulte:

Livros
HELDMAN, K. Gerência de Projetos: Guia para o exame do PMI. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009;
MENEZES, L. C. M. Gestão de Projetos. São Paulo: Atlas; 2009;
VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo: Atlas, 1998;
VARGAS, R. V. Gerenciamento de projetos: estabelecendo diferenciais competitivos. Rio de Janeiro:
Brasport, 2005.

21
21
UNIDADE

Referências
KERZNER, Harold. Gestão de Projetos: as melhores práticas. Porto Alegre:
Bookman, 2002.

PROJECT Management Institute. Practice standard for work breakdown


structures. 2008. Disponível em: http://www.pmi.org. Acesso em: 27 de jul. 2015.

VARGAS, Ricardo. Plano de Projeto. 3.ed. Rio de Janeiro: Brasport, 2007.

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Ecologia Aplicada
Material Teórico
Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Marcos Filipe Pesquero
Revisão Técnica:
Prof. Me. Camila Moreno de Lima Silva
a

Revisão Textual:
Prof. Me. Selma Aparecida Cesarin
a
Valores da Vida Natural e os Impactos
da Humanidade

• Valores Econômicos Diretos e Indiretos da Biodiversidade;


• Produtividade Ecossistêmica;
• Depuração de Dejetos;
• Recreação e Ecoturismo;
• Valor de Existência;
• Pegada Ecológica;
• Pegada Hídrica.

Os objetivos desta Unidade são:


»» Possibilitar a compreensão sobre os valores diretos e indiretos
da biodiversidade;
»» Identificar as formas de lidar racionalmente com a natureza para
que os serviços ecossistêmicos continuem atuantes;
»» Ensinar formas de minimizar impactos ecológicos;
»» Apresentar os motivos que conferem maior durabilidade da vida
humana no Planeta ao se prever alterações nos paradigmas de
desenvolvimento atual.

Nesta Unidade, serão apresentados os diversos tipos de valores atribuídos à vida


natural das espécies em nosso Planeta. Entre os processos ecológicos, falaremos sobre os
serviços ecossistêmicos que a natureza presta gratuitamente para a vida na Terra, inclusive
beneficiando a humanidade. Você verá ainda neste conteúdo, como a nossa sociedade
impacta o planeta Terra ao fazer uso do solo, da água, do ar, das espécies e dos elementos
químicos e físicos disponíveis em nosso ambiente. Será relacionado o estilo de vida que
você leva com a marca que deixa no planeta.

Recomendo que você, além de fazer uma leitura tranquila do conteúdo desta Unidade,
consulte ainda, os materiais complementares e, assista também, a vídeos relacionados ao
tema. Recomenda-se ainda, que você utilize a internet, além de outros meios de pesquisa
para buscar novas fontes de informação que venham a contribuir com o seu aprendizado.

Não se esqueça, o conhecimento é a única riqueza que não pode ser roubada!

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Contextualização
Diversos são os valores atribuídos à biodiversidade no contexto atual da Humanidade.
Desempenham importante papel no comércio internacional, nacional e inclusive local. Mas
não é apenas econômico o valor que a biodiversidade possui. Diversos serviços ecossistêmicos
são desempenhados gratuitamente a todo instante, sem que sequer precisemos desembolsar
dinheiro para custeá-los. Mas o fato de não pagarmos por este serviço, não quer dizer que
ele não possua um valor. Se fôssemos calcular todos os benefícios que a biodiversidade nos
proporciona, nossa dívida para com o Planeta estaria ainda mais elevada.
Com isso, o presente conteúdo irá abordar a quê de fato atribuímos valor e o que deixamos
de valorizar no que se refere à biodiversidade.
Você já imaginou que o conhecimento sobre estes valores poderá nos fazer repensarmos
muitas de nossas atitudes? Pois bem, informações a este respeito serão providenciais para a sua
vida pessoal e para a sua profissão.
Além do conteúdo teórico, vídeos e matérias escritas irão permitir que se familiarize com os
valores da vida natural e os impactos causados pela Humanidade:
» Meio Ambiente por Inteiro - Pagamento por Serviços Ambientais (28/09/13): https://youtu.be/dLU_wbd6NTU;
» O que são serviços ambientais: http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28158-o-que-sao-servicos-ambientais;
» Políticas Ambientais e Serviços Ecossistêmicos no Brasil: http://iptv.usp.br/portal/video.action?idItem=26670.

6
Valores Econômicos Diretos e Indiretos da Biodiversidade

Você certamente já está bastante familiarizado com a expressão recurso natural. Não
só apenas pelas disciplinas relacionadas às ciências ambientais, mas também pelas próprias
questões elementares da sua vida, é impossível o contato com os recursos naturais passar
despercebido. Mas o que você talvez ainda não saiba é que grande variedade destes recursos,
como o ar puro, a água limpa, o solo saudável, as espécies raras e até mesmo as paisagens são
considerados recursos de propriedade comum e pertencem a toda a sociedade.

Contudo, estes recursos são muitas vezes utilizados e danificados por pessoas, governo e
indústrias que simplesmente não pagam nada por isso ou, quando pagam, nada mais é do que
um valor mínimo, quase simbólico.

Esta falta de decoro para com nossos recursos e desrespeito para com os demais cidadãos
da Sociedade já foram colocados em evidência no passado e hoje têm sido cada vez mais
denunciado pela população.

No ano de 1968, Hardin G. publicou um artigo na revista Science, cujo título tratava este
tipo de atitude desrespeitosa para com os recursos naturais como a tragédia dos comuns.

Como os problemas ligados aos recursos naturais estão relacionados ao uso irresponsável
e à respectiva degradação destes recursos,uma vez que os custos são baixíssimos, quando as
pessoas, órgão governamentais e empresas efetivamente estiverem pagando o preço justo em
função do estrago que têm feito, certamente o ambiente deixará de ser danificado, recebendo
tratamentos mais cautelosos.

Se os reais valores fossem embutidos nos custos do impacto ambiental causado, por exemplo,
pelos produtos derivados de combustíveis fósseis, implementação e uso ineficaz de energia,
poluição e irresponsabilidade com o lixo, as taxas a serem pagas seriam extremamente mais
elevadas e as indústrias tomariam mais cuidado com o nosso mundo natural.

Desta forma, a economia ambiental surge com o objetivo de agregar valores aos componentes
da biodiversidade. Esta é uma medida tão justa quanto nos responsabilizarmos pelo próprio
lixo que geramos diariamente em nossas casas, não é mesmo?

Como primeiro passo para agregar tais valores aos recursos biológicos, um pesquisador chamado
McNeely, em 1988, desenvolveu algumas abordagens visando atribuir valores econômicos
aos recursos naturais, como a variabilidade genética, as espécies, as comunidades e, por fim,
os ecossistemas. Nesta obra, McNeely dividiu economicamente a biodiversidade em valores
econômicos diretos e indiretos. Vejamos a seguir cada um deles de forma exemplificada.

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Valores Econômicos Diretos


Os valores econômicos diretos foram atribuídos àqueles recursos naturais que são retirados
da natureza e consumidos diretamente pelas pessoas. Desta forma, atribui-se a tais recursos
dois valores principais.
O valor de consumo se refere aos recursos extraídos da natureza e consumidos
internamente pela população direto das mãos de quem os retirou do ambiente e o valor
produtivo se refere aos recursos naturais transformados em mercadoria, que são vendidas
em supermercados. Veja alguns exemplos a seguir.

Valor de Consumo
Este tipo de valor pode ser atribuído aos recursos naturais como a lenha, animais oriundos
de caça, frutos e vegetais colhidos direto das matas e consumidos pelas populações locais, sem
chegar a ser vendidos em estabelecimentos comerciais.
Esse tipo de consumo acontece muito nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, que ainda
possuem áreas preservadas nas quais as pessoas extraem tais recursos e os consomem sem
visar o lucro, apenas para subsistência da comunidade local. Desta forma, o PIB nacional não
os leva em consideração.
Um dado bastante interessante a respeito do valor de consumo a ser considerado em
nossos recursos naturais é que aproximadamente 80% da população mundial ainda consome
medicamentos oriundos de plantas e animais como a principal forma de tratamento médico
(FARNSWORTH, 1988). Somente na região amazônica, aproximadamente 2000 espécies de
animais e plantas subsidiam recursos para tratamentos medicinais.
Nossos recursos possuem muito valor agregado e o consumo ainda é maior do que podemos
imaginar. Então, como atribuir valor a estes recursos de modo a evitar o consumo degradante
e insustentável?
Uma forma é considerar a quantidade de pessoas que os consomem e que assim teriam de
pagar por tal produto caso as fontes se esgotassem e tivessem de começar a comprá-los em
supermercados.

Valor Produtivo
Como mencionado anteriormente, o valor produtivo é considerado o valor direto dado
àqueles recursos que foram extraídos da natureza e conduzidos a supermercados para serem
vendidos nacional e internacionalmente.
Diferente do valor de consumo, o valor produtivo é estabelecido pelo preço pago no
primeiro ponto de venda, ao invés do seu custo final no varejo. Desta forma, os padrões
econômicos aplicados a estes recursos naturais são camuflados, dando a impressão inicial
de menor importância a produtos que logo depois podem ser industrializados agregando
valores bem maiores.

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Para exemplificar, a castanha-do-pará rende inicialmente aos catadores do Norte do
país cerca de 50 centavos por quilo. Ao ser industrializada e ir parar nas prateleiras dos
supermercados da Região Sudeste, o valor produtivo desta mesma castanha passar ser cerca
de 18 reais o quilo.
É muito importante que você tenha noção a respeito da enorme quantidade de produtos
brasileiros que são extraídos de forma ilegal da natureza e muitas vezes quase escravagista
devido à exploração de mão de obra.
Esses extrativistas retiram ilegalmente os recursos ambientais e são ainda por cima muito
mal pagos, sendo que os produtos irão posteriormente ser vendidos a preços bem mais
elevados no mercado.
Os produtos mais explorados são a madeira, proveniente de desmatamentos ilegais, sendo utilizada
para construção civil e produção de móveis, os peixes, tanto de água doce como de água salgada,
muitos animais silvestres dos quais se utilizam tanto a carne como a pele para confecção de roupas
de grife, além de diversas espécies de plantas medicinais, frutas e vegetais.

Um dos recursos naturais mais explorados ilegalmente no mundo cujo cenário


no Brasil é drasticamente impactante é a madeira e sua extração ilegal. A seguir,
um matéria publicada em O Eco, em janeiro de 2015, alerta a população para o
desmatamento ilegal que acontece diariamente há muitos anos no Brasil, abrindo
Você sabia? a público o quanto estamos atrasados e não demonstramos preocupações efetivas
para combater esta situação. Ainda na mesma reportagem, denunciam o aumento
de até 467% de áreas desmatadas: https://goo.gl/iZETYP.

A grande parte da floresta desmatada ilegalmente, além de render muito lucro para o
mercado madeireiro, no qual uma única árvore de mogno chega a ser vendida por 10 mil
reais, as áreas devastadas darão lugar para pastagens para gado de corte a ser exportado para
países europeus e norte-americanos. Ou seja, estamos perdendo um enorme bem de valor,
que são as florestas e, ainda por cima, lucrando com a criação de gado que sequer alimentará
famílias brasileiras. Um crime atrás de outro, ilustrados na Figura 1.
Figura 1. Desmatamento ilegal e queimada criminosa da Amazônia.

Fonte: iStock/Getty Images

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Valores Econômicos Indiretos


O que diferencia os valores econômicos indiretos dos diretamente relacionados aos
recursos naturais é a ausência de um produto e a presença de um serviço ecossistêmico
promovido por processos ambientais, que de alguma forma rendem benefícios econômicos
sem que haja extração ou destruição da natureza durante o uso.
Em outras palavras, se não houver mais biodiversidade, os serviços ecossistêmicos
responsáveis por controlar erosões, promover manutenção de água potável, purificar o ar e
subsidiar locais de lazer deverão ser feitos artificialmente por tecnologias que sequer existem
em longa escala. Portanto, as consequências do desmatamento e a extinção dos recursos
naturais causadas pelo nosso uso inconsequente, além de significar uma afronta contra a
existência de vida saudável, forçam a sociedade a desenvolver tecnologias extremamente caras
e inacessíveis a toda a população.
Entre os valores econômicos indiretos, existem dois diferentes tipos: valor não consumista e
valor de existência.

Valor não consumista


Entende-se por valor econômico não consumista todo um enorme conjunto de serviços ambientais
que os ecossistemas prestam gratuitamente para a vida em nosso Planeta e, consequentemente,
para a sociedade. Como um grande exemplo destes serviços nos quais facilmente se pode calcular
o valor monetário, temos os trabalhos de polinização promovidos pelos insetos por exemplo.
Existem milhares de plantações das mais diversas espécies, como o abacate, o maracujá,
o figo, entre outras, que dependem de insetos para produzirem seus frutos. Para calcular
estes valores, simplesmente fazemos as contas de quanto um destes produtores gastaria, por
exemplo, se tivesse de pagar aluguel aos apicultores para disponibilizarem suas colmeias de
abelhas que promoverão a polinização das flores de sua agricultura.
Além destes tipos de benefícios, diversos outros serviços prestados pela biodiversidade estão
muito presentes em nossas vidas, sem que sequer percebamos estes serviços, até mesmo pela
falta de interesse da mídia, dos governos e de grandes corporações que controlam nossa
Economia mundial. A seguir, você irá ver detalhadamente cada um deles.

Produtividade Ecossistêmica
Este serviço se refere à atividade natural na qual as plantas e as algas convertem a energia
luminosa proveniente do Sol em energia fixada nos tecidos vivos que os compõem. Uma
porção significativa desta energia armazenada pelos vegetais os seres humanos consomem
diretamente, utilizando-as para a alimentação, e das plantas de porte arbóreo, utilizando a
madeira como lenha a ser queimada para produzir calor.

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Você deve saber que se não fosse a atividade natural das plantas e algas que realizam
fotossíntese, a energia solar não seria convertida em tecidos vivos e, desta forma, esta energia
seria impossível para alimentar os animais e fungos decompositores. Resumidamente,
Importante! estes seres produtores de energia são quem sustentam toda a demanda energética exigida
por cada ser vivo que estrutura o funcionamento dos ecossistemas.

Proteção da Água e do Solo


São também os seres vivos, ao compor a biodiversidade presente nas matas ciliares, que
promovem a proteção de bacias hidrográficas, controlando os ecossistemas em ocasiões de
enchentes ou secas e ainda garantindo a boa qualidade da água para que esta seja consumida
pelos seres vivos.

Mas não é somente pela água que a biodiversidade é importante, também existem diversos
benefícios gratuitamente fornecidos para o solo pelas áreas preservadas ambientalmente.
Impedindo que o solo seja atingido diretamente pela queda da água da chuva, as plantas, com
suas folhagens, inclusive as folhas mortas caídas, promovem proteção contra este atrito que
compacta o solo e o torna duro demais para que ocorra o crescimento de vegetação.

Ainda, as raízes e os organismos como formigas, cupins e minhocas, que vivem


subterraneamente, promovem a aeração do solo, facilitando a entrada de água e ar. Deste
modo, com a facilidade da água de penetrar o solo, ela fica retida nele após intensos períodos de
chuva, impedindo que haja inundações catastróficas, tão comuns em grandes centros urbanos,
nos quais as áreas verdes foram desmatadas e o solo impermeabilizado pelo concreto e asfalto.
Além disso, o desmatamento provoca condições favoráveis para formação de erosões e até
mesmo grandes deslizamentos em áreas de encosta (Figura 2).

Figura 2. Fotografias de enchente (à esquerda) e deslizamento de terra (à direita), provocados pelo desmatamento e impermeabilização do solo.

Fonte: iStock/Getty Images

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

A seguir, segue link para você explorar mais sobre os assuntos não divulgados pelos
principais veículos de comunicação. O link noticia sobre acidentes provocados
pelo desmatamento e a intensa prática de agricultura criminosa no oeste da Bahia,
onde toda a área do topo da Serra Geral foi desmatada e tem desprendido enormes
quantidades de pedra e terra, que deslizam para os estados que fazem divisa, Goiás
e Tocantins, causando enorme impacto ambiental:;
» https://goo.gl/i68HcD.

Controle do Clima
A presença da biodiversidade é extremamente importante na modelagem dos climas em
nível local, regional e até mesmo global. A presença de árvores promove diversos benefícios
gratuitos apenas por estarem vivas. Os benefícios são incalculáveis como, por exemplo,
a diminuição da temperatura por meio do sombreamento realizado pela vegetação, pela
respiração foliar, as plantas e árvores liberam oxigênio, que é vital para nós, e também
vapor de água, aumentando a umidade do ar e promovendo a sensação de frescor. E, pelo
crescimento, os indivíduos vegetais, principalmente as árvores, resgatam da atmosfera o
gás carbono que contribui para o superaquecimento global e o armazenam em seus troncos
compondo sua própria estrutura. Portanto, os benefícios de áreas verdes são inúmeros e
atingem positivamente todos os seres vivos (Figura 3).

Figura 3. Mulher realizando leitura tranquila em sombra de árvores no parque do Ibirapuera.

Fonte: iStock/Getty Images

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Depuração de Dejetos
Você já imaginou que a própria diversidade biológica por si só é capaz de degradar poluentes
e reter metais pesados nocivos à saúde humana? Pois saiba que este é mais um dos muitos
benefícios desempenhados pela nossa biodiversidade.

Agentes cancerígenos, como metais pesados presentes em agrotóxicos e esgoto industrial


são imobilizados pela ação de fungos e bactérias que vivem em áreas preservadas, ambiental-
mente falando. Quando ocorre a degradação dos ecossistemas, estes organismos deixam de
agir e então, para que haja o controle deste tipo de poluição, mecanismos caríssimos são uti-
lizados para substituí-los.

O caso do rio Tietê é um exemplo infelizmente escancarado à população, e irei citá-lo para
que possamos entender como funciona este processo ecossistêmico de despoluição natural.
Atualmente, o rio Tietê é um esgoto a céu aberto na região metropolitana da maior cidade
brasileira. Este rio, que nasce na cidade de Salesópolis, a 100 quilômetros de São Paulo,
possui um total de 1150 quilômetros de extensão, cortando exatamente ao meio todo o
estado paulista (Figura 4).
Figura 4. Região poluída do rio Tietê. Somente na região da capital do estado,
em um segundo de tempo, aproximadamente
30 mil litros de esgoto e mais 7 mil litros
de resíduos diversos são despejados no que
antes era o rio Tietê. Essa enorme carga de
poluição reduz a zero a taxa de oxigênio e
com isso elimina qualquer possibilidade de
vida, até mesmo das resistentes bactérias e
fungos que promovem a depuração natural
da água. Porém, seguindo o curso do rio
Fonte: iStock/Getty Images
Tietê, distanciando aproximadamente
200 quilômetros da cidade de São Paulo,
a quantidade de oxigênio na água volta a ser razoável possibilitando a vida destes agentes
naturais que realizam a despoluição gratuita deste recurso destruído pela população humana.

Para que você tenha uma ideia do quanto se gasta para despoluir os recursos hídricos, o
governo do estado de São Paulo investiu há anos aproximadamente 900 milhões de dólares
no tratamento de esgoto. É claro que quem paga essa conta são os contribuintes, ou seja, este
gasto exorbitante é oriundo do dinheiro público.

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Recreação e Ecoturismo

Diversas são as opções de lazer quando se trata de ecossistemas naturais. E um dos lados
mais positivos desta opção de lazer é dispensar a economia opressora e exploratória, e se
dispor de uma forma de prazer não consumista. Ou seja, você já deve ter aproveitado
momentos únicos da sua vida, onde o contato com a natureza foi a sua principal fonte de
satisfação pessoal. Seja por meio de um banho de cachoeira, de rio ou de lago, ou ainda uma
ida ao litoral para curtir a praia, o mar e o luar. Dispomos destas opções, que muitas vezes são
gratuitas ou, se não, custa apenas uma contribuição para manutenção e preservação.

Fazer trilhas em áreas naturais preservadas; desfrutar de momentos de inspiração e planos


de vida ao contemplar uma bela paisagem; mergulhar, correr, escalar, nadar, compor, meditar,
pintar, escrever, filmar, ouvir e consumir ar e água livres de poluição são prazeres únicos e que
têm sido cada vez mais difícil de acessar.

Além disso, momentos na natureza, não importa qual seja a atividade, estão contempladas
pelo direito do livre arbítrio que cada um de nós possui. Porém, a degradação destes ambientes
naturais ocorre devido à falta de interesse não só do governo, mas também de grande parte da
sociedade que mantém ideologias consumistas e não reconhecem os ecossistemas como vital
não só para sobrevivência, mas, como também, para a saúde do corpo e da mente.

Assim, cabe iniciarmos um processo educacional, uma desconstrução de valores consumistas


e uma construção individual de pensamento em longo prazo, tornando possível a existência
de sociedades humanas saudáveis na Terra por meio de uma relação sustentável sem destruir
os ecossistemas.

Além destes poucos exemplos de valores ecossistêmicos apresentados aqui, tantos outros
ainda serão percebidos pela Humanidade. Cabe a nós reconhecermos em nosso dia a dia o
quanto a ciência e a educação estão repletas de livros, documentários, programas de televisão
e filmes com fins educacionais se amparando nos recursos e processos dos ecossistemas.
Além disto, inúmeras publicações em revistas científicas têm apresentado riquíssimo
conhecimento sobre o complexo funcionamento dos ecossistemas. Tais informações são
oriundas de criteriosas pesquisas realizadas diariamente por profissionais do mundo todo.
Um exemplo bastante prático é podermos avaliar a qualidade ambiental utilizando como
controle de qualidade a presença ou ausência de espécies que são comprovadamente
consideradas bioindicadoras ambientais.

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Valor de Existência

O valor de existência é um valor natural advindo do direito de cada ser vivo em viver. Em
outras palavras, toda espécie tem direito de existir, simplesmente por que existem. As vidas
representam mais que uma possibilidade de a Humanidade obter recursos naturais delas. Elas
estão presentes em nosso Planeta há milhares de anos e desempenham função ecossistêmica,
realizando processos naturais ecológicos pelos quais estruturam todo o funcionamento e
permanência da vida na Terra.
Todas as espécies têm direito de existir, mas, infelizmente, nem todas possuem capacidade
de reivindicar sua própria existência em decorrência da super exploração da vida, realizada em
detrimento de avanço econômico muito insustentável. Contudo, podemos ainda utilizar como
exemplo os países desenvolvidos, que gastam milhões ou até mesmo bilhões de dólares por
ano em projetos de conservação de espécies, consequentemente, preservando os processos
ecossistêmicos por elas desempenhados garantem à Humanidade a possibilidade de continuar
dispondo daqueles recursos naturais oriundos destes ecossistemas preservados.
Cabem, portanto, investirmos na manutenção da integridade de área naturais, evitando
assim que espécies sejam extintas e ecossistemas sejam degradados. Caso contrário, teremos,
num futuro próximo, de correr atrás para tentar recuperar todos os prejuízos, sendo que não
será possível recuperar o ecossistema tornando-o idêntico ao que era originalmente antes de
ser degradado.

Pegada Ecológica

Em 1990, os cientistas canadenses Mathis Wackernagel e William Rees criaram o termo


pegada ecológica. Atualmente, este termo é reconhecido no mundo todo e inclusive está
sendo utilizado como método para se calcular o quanto a Humanidade consome dos recursos
naturais do planeta Terra.
O contexto atual sociopolítico de exploração do nosso ecossistema apresenta enorme
desgaste ambiental e ecológico. A permanência desta exacerbada exploração representa um
colapso em escala global em um futuro próximo.
Com a população crescendo exorbitantemente, os recursos tendem a ficar cada vez mais
escassos. Além disso, vivemos em um regime capitalista no qual as pessoas recebem milhares
de propagandas por dia e são induzidas a adotarem uma visão de mundo consumista. Desta
forma, a vida de cada pessoa passa a se resumir em doar as horas do seu dia trabalhando como
empregado do sistema de consumo para, no final das contas, conquistar aumento em seu
poder de compra, alimentando ainda mais o consumo de bens materiais e, consequentemente,
dos recursos naturais.

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

O objetivo de vida de cada cidadão, então, passa a se basear no acúmulo de bens materiais
causando um fenômeno de competitividade social entre os indivíduos.

O ritmo de vida acelera e se torna cada vez mais dedicado em função do trabalho. Com isso,
as pessoas dormem menos e possuem menos tempo para cuidar da alimentação. Alimentos
industrializados ganham cada vez mais espaço na dieta da população e o tempo para cuidar
da saúde se restringe a remediar ao invés de prevenir.

Todo este contexto vem causando estresses desnecessários que prejudicam a própria saúde
da população. Muitas vezes o conjunto de todos estes fatores inerentes ao cotidiano de uma
pessoa diminui a sua autoestima e causa sentimento de incompetência perante o mercado de
trabalho, podendo desencadear até mesmo quadros de depressão.

Preocupada com a saúde humana e ambiental, a Pegada Ecológica (Figura 5) visa a


reduzir o impacto humano na Terra e se relaciona intimamente ao modelo de desenvolvimento
que leva a Humanidade ao resgate do pensar coletivo.

Este pensamento sugere um estilo de vida mais duradouro, que leve à união das pessoas e
não estimule a disputa, mas sim, estimule o cooperativismo no uso racional e socialmente justo
dos recursos naturais disponíveis em nosso Planeta.

Figura 5. Representação da pegada ecológica, simbolizada pela marca de uma pisada humana impactando o planeta Terra.

Fonte: iStock/Getty Images

Deste modo, a pegada ecológica calcula o impacto de todas as atividades que realizamos,
como indivíduo e em termos de sociedade. Inúmeras são as atividades calculadas, como por
exemplo, o valor de áreas que ocupamos ao construirmos prédios, casas, indústrias, rodovias,
usinas, shoppings, lavouras agrícolas, entre outros.

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É importante que você saiba, também, que o cálculo da pegada inclui o desgaste e a poluição
da água, do solo, do ar, bem como também de todos os demais componentes bióticos e
abióticos presentes nos ecossistemas da Terra.

Os dados obtidos ao se calcular a pegada ecológica nos dão informações sobre o estilo
de vida e os hábitos de consumo utilizados por um indivíduo ou pela população de
uma cidade ou país. Com estas informações, é possível comparar a utilização dos
recursos naturais com a capacidade natural do planeta em regenerá-los. Infelizmente,
Você sabia? os dados recentes têm apontado que estamos consumindo em média 50% a mais
do que a capacidade que o planeta possui de reposição. Conclui-se, então, que para
mantermos nossos padrões de vida atual precisamos de um Planeta e meio.

Como minimizar a pegada?


Sabemos que precisamos repensar e readequar nossos hábitos, tanto individual como
socialmente. No entanto, apesar das dificuldades, isso é possível de se realizar. Necessitamos
que cada indivíduo pense no contexto global e não se coloque como sendo o centro do Universo.
Precisamos agir e pensar coletivamente e, além disso, principalmente, exigir readequação de
postura política dos nossos governantes e das empresas privadas.
Para que você possa compreender algumas importantes medidas a serem tomadas, seguem
algumas sugestões que levam a minimizar o nosso impacto no Planeta, ou seja, a nossa
pegada ecológica.

Hábitos Consumistas
Uma medida de melhora bastante eficiente é evitar hábitos consumistas. As mercadorias
surgem no mercado com a intenção de desgastarem rapidamente ou serem ultrapassadas
tecnologicamente, justamente para que se mantenha a venda. Esta estratégia dos empresários
é denominada obsolescência programada.
Deste modo, diversos modelos de equipamentos eletrônicos como, por exemplo, os celulares
e laptops são lançados no mercado com muita frequência. Esses produtos tecnológicos
demandam enormes quantidades de recursos naturais que não são renováveis, gastam muita
energia para sua produção e liberam rejeitos tóxicos, como os cancerígenos metais pesados.
Uma alternativa de redução seria avaliar seus objetivos de compra e adquirir tais produtos
somente em caso de real necessidade.

Uma música que trata sobre o assunto da obsolescência programada foi composta
pelo artista Humberto Gessinger, do grupo musical Engenheiros do Hawaii. Ouça a
música e acompanhe a letra no link a seguir:
» https://youtu.be/LeE3NtDUnN4

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Reduzir. Reutilizar. Reciclar.


Para reverter a situação de superexploração do Planeta, diminuir a quantidade de lixo se
torna uma atitude extremamente fundamental. E, além de diminuir o consumo, cooperar
com a reciclagem separando o lixo orgânico do lixo seco é uma iniciativa que incentiva tanto
os catadores como facilita o processo de dar uma nova utilidade aos objetos ao invés de
simplesmente enterrá-los ou lançá-los aos terrenos baldios, em áreas verdes, rios e oceanos.
Adote uma postura de vida sustentável, organizando-se junto aos moradores ao seu redor,
exigindo da prefeitura a coleta seletiva e o incentivo para instalações de usinas de reciclagem,
como previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos (ver link: http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica-
de-res%C3%ADduos-s%C3%B3lidos).

Antes de descartar um plástico, uma embalagem, ou qualquer outro objeto que você tenha
comprado, admita sua responsabilidade sobre o seu lixo nesse processo, reduzindo o consumo,
reutilizando o que for possível e destine à reciclagem, ao invés de mandar para lixões ou
aterros sanitários. Assim, você estará diminuindo sua conivência com o mal do lixo no Planeta.

ENERGIA LIMPA
Você precisa ter em mente que no mundo todo vivenciamos a realidade energética do
petróleo. O interesse de poucos grupos empresariais se sobressai imperativamente sobre as
novas alternativas energéticas sustentáveis e economicamente viáveis para toda a população
mundial que soma hoje mais de sete bilhões de pessoas.
Precisamos exigir de nossos governantes a elaboração e consolidação de matrizes
energéticas limpas e renováveis, sem agredir o nosso meio ambiente. Estas alternativas
energéticas já existem como, por exemplo, a energia eólica (energia dos ventos), a energia
eletrovoltaica (energia solar), a energia biodigestora (oriunda da decomposição de dejetos de
animais domésticos, restos agrícolas, esgoto doméstico) e a maré-motriz (força motriz presente
no movimento das marés).

O petróleo, além de provocar guerras entre países pelo mundo, já poluiu


acidentalmente bilhões e bilhões de litros de água potável. Recentemente, um caso
pouco divulgado aconteceu na capital do estado de Goiás, na cidade de Goiânia,
onde um vazamento contaminou o principal rio que corta o município. Veja matéria
no link a seguir
» https://goo.gl/4Juc54

Calculadora Pegada Ecológica


Calcule a sua pegada ecológica no link a seguir e descubra o tamanho do impacto
que você causa no Planeta em decorrência do estilo de vida que leva:
» https://goo.gl/F9XktA.

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Pegada Hídrica

Como você pode perceber, no nosso dia a dia, utilizamos elevado volume de água. Seja
para nossa hidratação vital, como também para tomar banho, despejar urina, fezes e demais
excreções fisiológicas. Além disso, por meio das atividades domésticas de cozinhar e lavar,
consumimos diariamente um excessivo volume de água.
A Tabela a seguir é bastante interessante para que você se informe melhor sobre a utilização
de água intrínseca à produção de produtos diariamente consumidos pela população (Tabela 1).

Tabela 1. Volume de água, em litros, necessários para a produção de itens consumidos diariamente pela população.

Quantidade de água necessária para a produção (litros)


1 quilo batatas fritas 1000
1 quilo de macarrão 1800
1 quilo de leite em pó 4750
1 quilo de açúcar 1800
1 barra de chocolate (100g) 1700
1 quilo de carne de galinha 4300
1 quilo de carne bovina 15.400
1 quilo de carne de porco 6.000
1 litro de etanol (combustível) 2100
1 camisa de algodão 2500
1 calça jeans 8000
1 quilo de couro bovino 17000

Mas não é somente o consumo individual de água que tem afetado a disponibilidade deste
recurso. A produção de alimentos, de celulose para fazer papel, de algodão para confecção
de roupas, entre outros demais processos industriais, pecuários e agrícolas são os que mais
consomem água em nosso Planeta.
Portanto, obrigatoriamente, a pegada hídrica serve como indicador do consumo da
água que considera a utilização direta e a indireta, ou seja, tanto os consumidores quanto os
produtores. (Figura 6).

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Figura 6. Foto aérea mostrando o elevado uso de água para irrigação de grandes lavouras de monocultura.

Fonte: iStock/Getty Images

Para que você internalize o conceito e a relevância imprescindível deste assunto para a
Humanidade, define-se pegada hídrica como sendo o volume total de água doce que foi
utilizada na produção de bens materiais e nos demais serviços consumidos pelo indivíduo ou
pela comunidade, além do gasto total utilizado na produção das indústrias e no quanto de água
elas poluem liberando seus rejeitos nos rios e córregos próximos a elas.
O conceito da pegada hídrica foi proposto pelo professor Arjen Y. Hoeskstra. Este
homem percebeu os impactos humanos sobre os sistemas de água doce do nosso Planeta,
que tem levado à escassez e à poluição destes recursos. Ele aponta que os problemas da água
estão intimamente relacionados às cadeias de produção e à estrutura da Economia global.
Diversos países que já extrapolaram significativamente suas pegadas hídricas aqui na Terra,
agora importam, inclusive ilegalmente, quantidades imensas de água doce de outros países.
Este fato pressiona os países exportadores (muitas vezes doadores ilegais), subvertendo os
mecanismos racionais de governar e conservar os recursos hídricos.
A Amazônia, bioma abundante em água, tem sofrido com o tráfico de água doce. Lá, vários
navios petroleiros reabastecem seus reservatórios no Rio Amazonas antes de deixarem as águas
nacionais. Este caso de hidropirataria, inclusive, tem tido avanços tecnológicos nos quais se utilizam
enormes bolsões com capacidade bem superior a dos navios superpetroleiros ( Figura 7).

Figura 7. Navio transatlântico puxando imenso bolsão de água doce.

Fonte: iStock/Getty Images

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Para concluir, é importante que você saiba que cabe não somente aos nossos governos, mas
também aos consumidores, as empresas e as comunidades da sociedade civil, desempenharem
atitudes visando melhorar a gestão dos recursos hídricos.

Calculadora Pegada Hídrica


Calcule a sua pegada hídrica no link a seguir e descubra o volume de água que você
consome em decorrência do estilo de vida que leva:
» https://goo.gl/vuCvsD

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Material Complementar
Vídeos:
Políticas Ambientais e Serviços Ecossistêmicos no Brasil: http://iptv.usp.br/portal/video.action?idItem=26670;
Meio Ambiente por Inteiro – Pagamento por Serviços Ambientais (28/09/13): https://youtu.be/dLU_wbd6NTU.

Livros:
PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina: Planta, 2001.
ANDRADE, D. C.; ROMEIRO, A. R. Serviços ecossistêmicos e sua importância para o sistema
econômico e o bem-estar humano. Texto para Discussão. IE/UNICAMP, Campinas, n. 155, fev. 2009.

Sites:

http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28158-o-que-sao-servicos-ambientais

Aumente seus conhecimentos. A sabedoria é a mais nobre das riquezas!


“Não se acomodar com o que incomoda.”
O teatro mágico.

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Referências

FARNSWORTH, N. R. Screening plants for new medicines. In: E. O. Wilson; PETER, F. M.


(eds.). Biodiversity. National Academic Press, Washington, USA, 1988.

HARDIN, G. The tragedy of the commons. Science 162: 1243-1248, 1968.

HOEKSTRA, A. Y., CHAPAGAIN, A. K., ALDAYA, M. M.; MEKONNEN, M. M. Manual de


Avaliação da Pegada Hídrica Globalização da Água. Londres: Earthscan, 2011.

INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Cartilha Pegada Ecológica. Disponível em:
<http://www.inpe.br/noticias/arquivos/pdf/Cartilha%20-%20Pegada%20Ecologica%20
-%20web.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2015.

JACOBI, P. R.; EMPINOTTI, V. Pegada hídrica: inovação, corresponsabilização e os


desafios de sua aplicação. São Paulo: Anna Blume, 2013.

MCNEELY, J. A. Economics and biological diversity: developing a using economic


incentives to conserve biological resources. Gland: IUCN, 1988.

PEGADA Hídrica. Water Footprint. Disponível em: <http://www.pegadahidrica.


org/?page=files/home>. Acesso em: 13 abr. 2015.

PRIMACK, R. B.; Rodrigues E. Biologia da Conservação. Londrina: Planta, 2001

REES, W. E. Ecological footprints and appropriated carrying capacity: what urban economics
leaves out. Environment and Urbanization 4 (2): 121–130, 1992.

WACKERNAGEL, M.. Ecological Footprint and Appropriated Carrying Capacity: A


Tool for Planning Toward Sustainability. PhD thesis. Vancouver, Canada: School of
Community and Regional Planning. The University of British Columbia. 1994.

WACKERNAGEL, M.; REES, W. E. Our Ecological Footprint. Local: New Society


Press,1996

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Unidade: Valores da Vida Natural e os Impactos da Humanidade

Anotações

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