Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ecologia geral
Ecologia Geral 13
plina, o ambiente tem papel fundamental nesses processos adaptativos que
impulsionaram os sistemas ecológicos ao longo do tempo. Nesse capítulo,
veremos porque a vida depende do ambiente físico, como se dá a interação
entre os organismos - e com os hábitats que os abrigam - e como a Ecologia
contribui para entendermos os níveis organizacionais que compõem a bio-
diversidade atual de nosso planeta.
14 Licenciatura em Biologia
As contribuições mais importantes para o estabelecimento da eco-
logia moderna aconteceram somente ao final do século XVIII e durante a
primeira metade do século XIX. Malthus (1798) determinou que as po-
pulações podem crescer em ritmo exponencial (i.e., 2, 4, 8, 16, 32, 64...)
enquanto os recursos de que necessitam crescem em ritmo aritmético (i.e.,
2, 4, 6, 8, 10, ...). Verhulst (1838) derivou a curva logística de crescimento
populacional (modelo densidade-dependente). Farr (1843) descobriu a re-
lação existente entre taxa de mortalidade e densidade de uma população.
Ecologia Geral 15
comunidade. A partir de seus trabalhos, a ecologia desenvol-
veu-se como ciência própria. Finalmente, Tansley (1935)
propôs o ecossistema como unidade básica de estudo da eco-
logia (PINTO-COELHO, 2000).
Para Refletir
Fonte: ODUM, E. P. 1988. Ecologia. Ed. Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, RJ.
16 Licenciatura em Biologia
Desta forma, dado o pouco conhecimento acumulado nos
maiores níveis de integrações biológicas (populações, comuni-
dades e ecossistemas), não é de se estranhar que as leis ou os
princípios universais já existentes em outras ciências (física,
química) ainda inexistem em ecologia. Isto é típico das chama-
das soft science, que podem ser definidas como as ciências ainda
sem corpo teórico rigidamente determinado, tais como a física,
a matemática ou a química. O estágio atual da ecologia pode,
talvez, ser comparável ao da química no século XVIII (PINTO-
-COELHO, 2000).
Ecologia Geral 17
As Definições Modernas de Ecologia
18 Licenciatura em Biologia
Os ecólogos proporcionam essa compreensão através de estudos de
controle populacional de predadores, da influência da fertilidade do solo no
crescimento das plantas, das respostas evolutivas de micróbios aos contami-
nantes ambientais, da dispersão de organismos sobre a superfície da Terra
e de uma multiplicidade de questões semelhantes. O manejo de recursos
bióticos (i.e., vivos) numa forma que sustente uma razoável qualidade de
vida humana depende do uso inteligente dos princípios ecológicos para re-
solver ou prevenir problemas ambientais, e para suprir o nosso pensamento
e práticas econômicas, políticas e sociais (RICKLEFS, 2003).
Ecologia Geral 19
a um excessivo distanciamento da realidade. Independentemente do enfo-
que, a questão central em ecologia é determinar as causas da distribuição
e da abundância de organismos. Isso pode ser avaliado tanto em nível da
comunidade quanto em nível das populações (PINTO-COELHO, 2000).
20 Licenciatura em Biologia
valiosas são aquelas realizadas tendo-se em mente um problema em especial
ou “uma necessidade de compreensão”.
Ecologia Geral 21
ENERGÉTICA
EVOLUÇÃO COMPORTAMENTO
DESENVOLVIMENTO DIVERSIDADE
REGULAÇÃO INTEGRAÇÃO
22 Licenciatura em Biologia
ou um sistema de duas espécies de organismos mutuamente ligados (como
o binômio fungo-alga, que constitui o líquen) são níveis intermediários en-
tre população e comunidade.
Ecologia Geral 23
energia assimilados devem equilibrar sua decomposição metabólica. Para a
população, os ganhos e as perdas são nascimentos e mortes. A diversidade
de uma comunidade biológica diminuirá quando uma espécie se torna extin-
ta, e aumenta quando novas espécies invadem o habitat da comunidade. Os
ecossistemas e a biosfera propriamente dita não podem existir sem a energia
recebida do Sol, embora este ganho seja equilibrado por energia térmica
irradiada em ondas infravermelhas de volta para o espaço. Como os estados
estacionários dos sistemas são mantidos e regulados é uma das mais impor-
tantes questões colocadas pelos ecólogos.
24 Licenciatura em Biologia
Biosfera
Parte da Terra
que contém
os ecossistemas
Ecossistema
Comunidades
e os componentes
não-vivos de
seu entorno
Comunidade
Populações
(de diferentes espécies)
que vivem juntas
em uma área definida
População
Grupo de organismos
de um tipo que vive
na mesma área
Organismo
Indivíduo vivo
de Células
Tecidos, órgãos
Grupo
ou sistemas
de órgãos
Células
A menor unidade
funcional da vida
Grupos de átomos;
Moléculas
a menor unidade
dos componentes
químicos
Ecologia Geral 25
A teoria hierárquica fornece um arcabouço conveniente para sub-
dividir e tratar de situações complexas ou gradientes externos. Como será
visto mais adiante, o estado organizado da vida é mantido por um fluxo de
energia contínuo, porém com trajeto em forma de escada. Assim, a divisão
de uma série graduada (i.e., hierárquica) em componentes é muitas vezes
arbitrária, mas, em alguns casos, as subdivisões podem basear-se em des-
continuidades naturais. Uma vez que cada nível no espectro biossistêmico
está “integrado” ou interdependente com os outros níveis, não pode haver
linhas divisórias abruptas e rupturas num sentido funcional, nem mesmo
entre organismo e população.
26 Licenciatura em Biologia
do nível em questão, pois, como já foi assinalado, alguns atributos são previ-
síveis a partir das partes (propriedades coletivas), enquanto outros não o são.
Fonte:
ODUM, E. P. 1988. Ecologia. Ed. Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, RJ.
Ecologia Geral 27
A abordagem reducionista que denomina a ciência e a tecnologia
desde a época de Isaac Newton tem proporcionado boas contribuições.
Por exemplo, a pesquisa no nível celular e molecular está estabelecendo
uma base sólida para uma futura cura e prevenção do câncer, no nível de
organismo. Contudo, a ciência em nível de célula contribuirá muito para
o bem-estar ou a sobrevivência da civilização humana se continuarmos a
entender tão mal os níveis superiores de organização que não conseguirmos
encontrar qualquer solução para o crescimento excessivo da população, a
desordem social, a poluição e outras formas de câncer social e ambiental.
Deve-se, portanto, atribuir igual valor ao holismo e ao reducionismo, simul-
taneamente, não alternadamente. A ecologia, ciência emergente, procura a
síntese e não a separação. O ressurgimento das disciplinas holísticas pode
ter a sua origem, pelo menos em parte, na insatisfação do público com o
cientista especializado que não sabe responder aos problemas de grande es-
cala que precisam de atenção urgente (ODUM, 1988).
28 Licenciatura em Biologia
O ambiente de um organismo se consiste, pois, de um conjunto
de influências externas exercidas sobre ele, as quais são representadas
tanto por fatores quanto por fenômenos. Tais fatores podem ser físicos
e químicos (i.e., abióticos) ou mesmo outros organismos (i.e., bióticos).
O ambiente, portanto, conserva aqui a posição central concedida por
Haeckel em sua definição. Já a definição de Krebs (1972) tem o mérito
de localizar o tema central da ecologia: a distribuição e abundância dos
organismos – onde os organismos ocorrem, quantos ocorrem em um de-
terminado local e por que.
Assim, evitemos falar do vivo e do não vivo como opostos, pois eles
não existem isoladamente um do outro, pois a vida depende do mundo fí-
sico (ver Figura 3).
Ecologia Geral 29
COMPONENTES BIÓTICOS
Produtores
COMPONENTES ABIÓTICOS
Nutrientes
Consumidores
Gases
Calor
Carnívoros Herbívoros
Água
Fungos Bactérias
energia de calor
liberada em cada fase
30 Licenciatura em Biologia
Dois “E”s importantes da Biologia: Ecologia & Evolução
Fonte:
RICKLEFS, R. 2003. A economia da Natureza. 5ª ed. Rio de Janeiro: Gua-
nabara-Koogan. 503p.
Ecologia Geral 31
Uma meta importante da Ecologia como ciência é compreender
como os sistemas ecológicos vieram a existir e como funcionam nas suas
configurações ambientais. As flutuações do clima, sejam locais ou afetando
a maior parte do globo, são uma manifestação das mudanças no ambiente
terrestre. Boa parte destas variações pode ser atribuída a mudanças na ra-
diação do Sol incidente ou a padrões espaciais estabelecidos pelas formas e
posições das bacias oceânicas, continentes e cadeias montanhosas da Terra.
Além dessas variáveis previsíveis, os próprios processos físicos e biológicos
estabelecem novos padrões de variação como resultado das interações im-
previsíveis entre seus componentes. Os ecólogos lutam para compreender
tanto a origem da variação no clima quanto suas consequências para os sis-
temas ecológicos.
32 Licenciatura em Biologia
1.4.1 Respostas dos Indivíduos A Fatores Ambientais
• Temperatura
O ambiente térmico proporciona diversas vias de ganho e perda
de calor.
Ecologia Geral 33
processa rapidamente com a temperatura do que o crescimento, de forma
que, para uma gama muito ampla de organismos, o tamanho final tende a
decrescer com a elevação da temperatura: “regra do tamanho-temperatura”.
Atkinson et al. (2003), por exemplo, demonstraram em para protistas uni-
celulares (72 conjuntos de dados de hábitats marinhos, salobro e de água
doce) que para cada 1ºC de aumento da temperatura, o volume celular final
decresce em cerca de 2,5%.
Radiação procedente
da atmosfera
Ra
dia
çã
Ra
os
dia
Poeira no ar ola
rr
ção
efl
eti
sol
da
ar
dir
Intercâmbio por
eta
convecção Evaporação
Convecção
Metabolismo
34 Licenciatura em Biologia
apenas poucos graus acima do ótimo metabólico. Isso é em grande parte
uma consequência inevitável das propriedades físico-químicas da maioria
das enzimas (WHARTON, 2002). Temperaturas altas podem ser perigosas
porque elas levam à inatividade ou mesmo à desnaturação de enzimas,
mas elas podem também ter efeitos danosos indiretos como consequên-
cia da desidratação.
A maioria das espécies vegetais que vivem em ambientes muito quentes so-
fre de escassez de água e, por isso, são incapazes de usar o calor latente de
evaporação da água para manter baixas as temperaturas foliares. Em especial,
esse é o caso de suculentas do deserto, em que a perda de água é minimizada
por uma baixa razão superfície/volume e uma baixa densidade de estômatos.
Em tais plantas, o risco de superaquecimento pode ser reduzido por espinhos
(que proporcionam sombra à superfície de um cacto) ou tricomas ou ceras
(que refletem uma grande parte da radiação incidente). Apesar disso, tais
espécies experimentam e toleram em seus tecidos temperaturas superiores
a 60ºC, quando a temperatura do ar está acima de 40ºC (SMITH et al., 1984).
Ecologia Geral 35
Fonte:
BERRY, J. A. & BJÖRKMAN, O. 1998. Photosynthetic response and adaptation
to temperature in higher plants.Annual Review of Plant Physiology, 31, 491-543.
36 Licenciatura em Biologia
crescimento e inflamabilidade permite que as gramíneas compitam com árvo-
res e arbusto, mantendo um dossel aberto típico de savanas em áreas onde,
sem a ação do fogo, as florestas provavelmente dominariam (BOND & KEE-
LEY, 2005). Diversas adaptações ao fogo são as características mais peculiares
à flora endêmica do Cerrado (GOTTSBERGER, G. & SILBERBAUER-GOTTS-
BERGER, 2006) e as adaptações fisiológicas e morfológicas em sua maioria
estão ausentes na flora de biomas adjacentes onde o fogo tem sido menos
importantes nas escalas de tempo evolutivo (PENNINGTON et al., 2006).
Referências:
BOND, W. J.; KEELEY, J. E. Fire as a global “herbivore”: the ecology and evolu-
tion of flammable ecosystems. Trends in Ecology & Evolution, v. 20, n. 7,
p. 387-394, 2005.
Ecologia Geral 37
Falamos um pouco de organismos adaptados a altas temperaturas,
mas como se dá a tolerância ao frio? Mesmo dentro de uma espécie obser-
vam-se, com frequência, diferenças nas respostas à temperatura entre po-
pulações de locais distintos. Muitas vezes, constata-se que tais diferenças
não são atribuídas exclusivamente à aclimatação, mas resultam de diferenças
genéticas. Um estudo com o cacto Opuntia fragilis proporcionou uma forte
evidência de que a tolerância ao frio varia entre raças geográficas de uma
espécie. Em geral, os cactos são espécies de habitats quentes e secos, mas
O. fragilis atinge até 56ºC e em um determinado local foi registrada a uma
temperatura mínima extrema de -49,4ºC. De localidades diferentes no nor-
te dos EUA e do Canadá, amostraram-se vinte populações, que foram testa-
das quanto à tolerância à congelação e à capacidade de se aclimatar ao frio.
Os indivíduos da população mais tolerante à congelação toleraram -49ºC
em testes de laboratório e se aclimataram a 19,9ºC, e indivíduos de uma
população no clima mais suave de Hornby Island toleraram apenas -19ºC e
se aclimataram a somente 12,1º (LOIK & NOBEL, 1993).
Atividade
• pH do solo e da água
O pH do solo, em ambientes terrestres, ou da água, em ambientes
aquáticos, é uma condição que pode exercer uma poderosa influência sobre
a distribuição e a abundância de organismos. O protoplasma das células das
raízes da maioria das plantas aquáticas é danificado como resultado direto
de concentrações tóxicas de íons de H+ ou OH- em solos com pH abaixo
de 3 ou acima de 9, respectivamente. Além disso, ocorrem efeitos indiretos,
pois o pH do solo influencia a disponibilidade de nutrientes e/ou a con-
centração de toxinas. A acidez elevada (pH baixo) pode atuar de três ma-
neiras: (i) diretamente, pela perturbação da osmorregulação, da atividade
enzimática ou das trocas gasosas através das superfícies respiratórias, (ii)
indiretamente, aumentando a concentração de metais pesados tóxicos – em
particular alumínio (Al3+), mas também manganês (Mn2+) e ferro (Fe3+) -,
que são nutrientes vegetais essenciais sob valores de pH mais altos e (iii)
indiretamente, pela redução da qualidade e amplitude de fontes alimenta-
res disponíveis aos animais (e.g., o crescimento fúngico é reduzido sob pH
38 Licenciatura em Biologia
baixo em riachos (HILDREW et al., 1984) e a flora aquática muitas vezes
inexiste ou exibe menos diversidade). Os limites de tolerância para pH va-
riam entre as espécies vegetais, mas apenas uma minoria é capaz de crescer
e reproduzir-se sob um pH abaixo de 4,5.
Saiba Mais
Muitas características podem variar de uma única espécie. Por exemplo, a planta
hortência (Hydrangea macrophylla) pode ter “flores” rosas — elas são na verdade
folhas modificadas — ou “flores” azuis. Mas isso não significa que nós podemos
classificar as duas formas como espécies diferentes. Na verdade, você pode fazer
com que uma planta de “flor” azul se torne uma planta de “flor” rosa apenas
trocando o pH do solo e a quantidade de alumínio absorvido pela planta.
• Salinidade
Para as plantas terrestres, a concentração de sais na água do solo ofe-
rece resistência osmótica à absorção de água. As concentrações salinas mais
extremas ocorrem em zonas áridas, cujo movimento predominante da água
no solo é em direção à superfície, onde se acumula sal cristalino. Isso ocorre
especialmente quando as plantas de lavoura são cultivadas sob irrigação em
regiões áridas; desenvolvem-se, então, salinas, e o solo se torna inutilizado
Ecologia Geral 39
para a agricultura. O principal efeito da salinidade é provocar o mesmo tipo de
problemas osmorregulatórios constatados na seca e no congelamento, e mui-
tos dos problemas são registrados da mesma maneira. Por exemplo, muitas
das plantas superiores que vivem em ambientes salinos acumulam eletrólitos
em seus vacúolos, mas mantêm uma concentração baixa no citoplasma e nas
organelas (ROBINSON et al., 1983). Tais plantas mantêm pressões osmóti-
cas altas e, assim, permanecem túrgidas, sendo protegidas da ação prejudicial
dos eletrólitos acumulados por polióis e protetores de membrana.
40 Licenciatura em Biologia
das ondas. As algas marinhas fixadas sobre rochas sobrevivem às repetidas
trações e pressões da ação das ondas por meio de uma combinação da po-
derosa aderência de estruturas especializadas (apreensórios) e da extrema
flexibilidade dos seus talos. Os animais que vivem nesse ambiente se mo-
vem com a massa de água ou, como as algas, contam com mecanismos refi-
nados de aderência, como as substâncias orgânicas viscosas das cracas e os
pés musculosos das lapas. Uma diversidade comparável de especializações
morfológicas é encontrada entre os invertebrados que toleram os perigos
das turbulentas correntes de água doce.
Ecologia Geral 41
Outra propriedade curiosa e vantajosa da água é que, enquanto a
maioria das substâncias se torna mais densa em temperaturas mais baixas,
a água se torna menos densa à medida que resfria abaixo de 4ºC. A água
também se expande e se torna até mesmo menos densa sob congelamento.
Consequentemente, o gelo flutua, o que impede que o fundo dos mares e
oceanos congele e permite que plantas e animais aquáticos ali encontre re-
fúgio no inverno (RICKLEFS, 2003).
Aqueles que assistiram ao filme Titanic irão lembrar a terrível perda de vida
humana causada por congelamento nas águas geladas do Ártico. Alguém po-
deria ficar imaginando como o sangue e os tecidos do corpo poderiam ficar
congelados e sólidos em água totalmente líquida. A resposta é que as subs-
tâncias dissolvidas reduzem a temperatura de congelamento da água e de
outros líquidos. Enquanto a água pura congela a 0ºC, água do mar, que contém
aproximadamente 3,5% de sais dissolvidos, congela a quase -1,9ºC mais frio.
O sangue e os tecidos do corpo da maioria dos vertebrados, incluindo os hu-
manos, contêm menos da metade do teor de sal da água do mar e, portanto,
congelam a uma temperatura mais alta do que o ponto de congelamento do
oceano. Esse foi um problema terrível para as vítimas do desastre do Titanic. E
é também um problema para os peixes que vivem nos mares polares.
Assim, duas questões nos vêm à cabeça: 1) Por que os peixes polares não têm níveis
de sal tão altos nos seus sangue e tecidos? 2) Como esses peixes sobrevivem em
temperaturas tão baixas? Os peixes polares não usam os sais para impedir que os
seus fluidos corpóreos congelem porque os sais interferem em muitos processos
bioquímicos.A manutenção de um ambiente interno com baixo teor de sal permi-
42 Licenciatura em Biologia
te metabolismo e movimentos mais rápidos e eficientes. Em vez disso, os peixes
antárticos contornaram sua suscetibilidade ao congelamento aumentando os níveis
no seu sangue e tecido de compostos como o glicerol – a glicerina comum nas
farmácias – que reduz a temperatura de congelamento dos seus fluídos corpóreos,
mas não perturba severamente o funcionamento. À medida que olharmos para
estas e outras questões semelhantes nesse capítulo, iremos ver que, embora as
propriedades físicas do ambiente e dos materiais biológicos restrinjam a vida, elas
também oferecem soluções para muitos de seus problemas.
Fonte:
RICKLEFS, R. 2003. A economia da Natureza. 5ª ed. Rio de Janeiro: Gua-
nabara-Koogan. 503p.
Ecologia Geral 43
movimentos rápidos, como os de asas batendo 300 vezes por segundo; nós
humanos não conseguimos sequer distinguir quadros individuais de filmes
passando a uma velocidade de 30 vezes por segundo. Desse modo, diferentes
organismos usam a informação visual disponível em diferentes medidas.
Alguns animais que são ativos à noite, quando os níveis de luz visível
são baixos demais para serem usados eficientemente, dependem de outros
tipos de radiação. Entre os órgãos sensoriais mais incomuns estão as fossetas
loreais dos viperídeos, encontradas em um grupo de répteis que inclui as
cascavéis. As fossetas loreais, localizadas em cada um dos lados da cabeça
em frente aos olhos (Figura 6), detectam a radiação infravermelha que po-
dem detectar pequenos roedores a poucos metros de distância em menos
de um segundo. Além disso, por serem sensíveis à percepção das direções,
essas serpentes podem localizar objetos aquecidos com precisão suficiente
para atacá-los. Até mesmo as plantas fazem uso dos estímulos de luz para
medir o comprimento do dia como um sinal para as mudanças sazonais que
regulam a floração ou iniciam a dormência.
Narina
Fosseta
loreal
44 Licenciatura em Biologia
limitando o alcance da detecção. Não obstante, o som pode alertar sobre
a aproximação de um predador, a despeito da direção de onde ele venha.
Alguns predadores noturnos podem perceber a direção de uma fonte sono-
ra pelos diferentes tempos de chegada das ondas sonoras pelos diferentes
tempos de chegada das ondas sonoras pelos diferentes tempos de chegada
das ondas sonoras em cada orelha. Quando a fonte de um som está exata-
mente na frente, os pulsos de pressão do som chegam a cada orelha simul-
taneamente. Quando a cabeça está virada em relação ao ponto de origem
de um som, os picos e vales da pressão alcançam as orelhas em momentos
diferentes, parcialmente cancelando ao invés de reforçar um ao outro. A sen-
sibilidade direcional da audição é maior quando a distância entre as orelhas
é aproximadamente a mesma que a distância entre as ondas sonoras. Sons
muito agudos possuem comprimentos de onda mais curtos e, portanto, são
fontes de informações mais úteis para animais menores.
Saiba Mais
Ecologia Geral 45
Onda refletida (eco)
Onda emitida
distância (r)
Esquema da ecolocalização em morcego
46 Licenciatura em Biologia
mover perseguindo-o na direção do fluxo para localizar a fonte das mo-
léculas odoríferas. Esta é a base para uma ampla gama de comunicações
químicas, incluindo a produção de substâncias voláteis para atração de
parceiros por muitos insetos e as fragrâncias que muitas plantas utilizam
para atrair polinizadores. Alguns predadores seguem trilhas de químicos
voláteis para localizar presas potenciais e outras fontes de alimentos. As
serpentes percebem os químicos projetando suas línguas na direção do
chão à medida que se movimentam e transferindo os químicos que ade-
rem à língua para os órgãos sensitivos do olfato, localizados no teto da
boca. As línguas bifurcadas das serpentes e de outros répteis permitem a
eles testar, simultaneamente, odores à esquerda e à direita para determinar
a direção correta do movimento.
Ecologia Geral 47
Percebendo o contato físico – Em contraste com os magníficos
sentidos de muitos organismos, outros percebem seu entorno apenas
de modo vago e contam com a possibilidade de esbarrar nas coisas. Nos
rios onde a visibilidade é pobre, as espécies que habitam o fundo, como
o bagre, utilizam barbatanas e barbelas alongadas em volta da boca
como receptores sensoriais do tato e do paladar. Mesmo com barbelas e
cerdas longas, o sentido do tato possui um alcance muito pequeno. Não
obstante, o tato pode fornecer uma tremenda quantidade de informação
não disponível através de outros sentidos por causa da riqueza textural
e estrutural do ambiente.
48 Licenciatura em Biologia
Saiba Mais
Fonte:
BEGON, M., Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2007. Ecologia: de indivíduos a
ecossistemas. 4ª edição. Porto Alegre. Artmed.
Ecologia Geral 49
1.4.4 As Variações no Espaço Físico
50 Licenciatura em Biologia
montanhosa. À medida que o ar desce as encostas a sotavento (lado para onde
o vento vai, ou o lado protegido do vento) e viaja através das terras baixas além,
ele retira umidade e cria ambientes áridos denominados sombras de chuva. Os
desertos da Grande Bacia do oeste dos Estados Unidos e o Deserto de Gobi da
Ásia situam-se em sobre de chuva de extensas cadeias montanhosas.
Primavera
Dia com Noite com
24 h dentro do 24 h dentro do
Círculo Antártico Círculo Antártico
Figura 9. Orientação do eixo da Terra em relação ao Sol muda entre o inverno e o verão,
causando variação sazonal do clima.
Ecologia Geral 51
Sul e Austrália tropical. Secas e altas temperaturas na Austrália reduziram as
populações de cangurus vermelhos para menos da metade de seus níveis
antes do El Niño. Fora dos trópicos e dos subtrópicos, os eventos El Niño
tendem a aumentar ainda mais do que diminuir a precipitação, elevando a
produção de sistemas naturais e agrícolas, mas também causando enchentes.
O El Niño mais recente, em 1997-98, foi culpado por 23 mil mortes – a maior
parte por fome – e 33 bilhões de dólares em danos às colheitas e proprieda-
des em todo o mundo.
A corrente do Peru é uma massa de água fria que flui para o norte ao longo da
costa oeste da América do Sul e, finalmente, se desvia para longe da costa no
Equador, em direção ao arquipélago de Galápagos. A norte deste ponto, águas
costeiras tropicais e contracorrente quente, fenômeno conhecido como El
Niño (“o menino”, em espanhol, um nome que se refere ao menino Jesus,
porque este fenômeno surge por volta da época do Natal), se move para o
sul ao longo da costa na direção do Peru. Em alguns anos, a contracorrente
flui com força e extensão suficiente para forçar a fria Corrente do Peru a se
desviar da costa, levando com ela o suprimento alimentar de milhões de aves.
Alguns dos efeitos mais impressionantes dos eventos El Niño são evidentes
no arquipélago de Galápagos, cujas ilhas se distribuem pelo Equador a cerca
de 1.000 km de distância da costa oeste do Equador (país). O clima de Ga-
lápagos é fortemente influenciado pela Corrente do Peru, que traz água fria
e períodos de extrema seca às ilhas. Quando a Corrente do Peru falha du-
rante o El Niño, a água quente invade o arquipélago, disparando uma drástica
deterioração dos estoques pesqueiros de água fria locais e trazendo extra-
ordinárias quantidades de precipitação (i.e., chuvas). Assim, o El Niño leva ao
colapso das populações de aves marinhas e leões-marinhos que dependem
da abundância de peixes. Em terra, as fortes chuvas resultam no crescimento
luxuriante da vegetação e na abundância de insetos e sementes para as popu-
lações de aves e répteis que dependem desses alimentos. Esta gangorra entre
escassez e abundância possui consequências importantes para a dinâmica po-
pulacional e evolução dos organismos no arquipélago de Galápagos.
52 Licenciatura em Biologia
A aventura de Nemo nas correntes oceânicas
As condições físicas dos oceanos, assim como as da atmosfera, são complexas.A variação nas condições
marinhas é causada pelos ventos, que impulsionam as grandes correntes de superfície dos oceanos, e
pela topografia subjacente da bacia oceânica. Além disso, as correntes profundas são estabelecidas por
diferenças na densidade da água dos oceanos causadas por variações na temperatura e na salinidade. Em
grandes bacias oceânicas, a água fria circula na direção dos trópicos ao longo das costas ocidentais dos
continentes, e a água quente circula na direção das latitudes temperadas ao longo das costas orientais
dos continentes (Figura 10) – Para quem já assistiu ao filme Procurando Nemo, deve se lembrar da
‘carona’ que ele pega para chegar à Austrália com as tartarugas marinhas – que usam essas correntes
marítimas para migrarem grandes distâncias. Para quem não viu ou não lembra (e para quem viu, relem-
brar), eis o link desta passagem no filme: http://www.youtube.com/watch?v=uQfdiWJRF1Y
Corrente do
Golfo
Corrente Corrente
Equatorial Norte Equatorial
Norte
Contracorrente
Equatorial
Contracorrente Equatorial
Corrente
Corrente Equatorial Sul Equatorial Corrente Equatorial
Sul Sul
Corrente de
Corrente do Peru Benguel
Ecologia Geral 53
montanhosas, a inclinação da Terra e sua exposição ao Sol influenciam a
temperatura e o teor de umidade do solo. Os solos em encostas íngremes
têm boa drenagem, frequentemente causando estresse de seca para a vegeta-
ção da encosta ao mesmo tempo em que a água satura o solo nas terras baixas
vizinhas. Em regiões áridas, os córregos das terras baixas e os leitos de rio sa-
zonais podem sustentar florestas ripárias (i.e., formação vegetal localizada nas
margens dos rios, córregos, lagos, represas e nascentes) bem desenvolvidas, o
que acentua a contrastante desolação do deserto circundante. No Hemisfério
Norte, as encostas voltadas para o sul encaram diretamente o Sol, cujo calor e
poder de ressecamento limitam a vegetação a formas arbustivas e resistentes à
seca (xerófilas). As encostas adjacentes voltadas para o norte permanecem re-
lativamente frias e úmidas e abrigam a vegetação que exige umidade (mésica).
Ecólogos no campo
A resposta, pelo menos para uma área no nordeste da Hungria, vem de uma
amostra de sedimentos tirada do pequeno e raso lago Kis-Mohos Tó, pela
ecóloga britânica Kathy Willis. Os sedimentos do lago preservam um registro
das condições locais ao longo do tempo. Os grãos de pólen ficam aprisiona-
dos nos sedimentos (Figura 11) da mesma maneira que os minerais trans-
portados dos solos no entorno do lago pela drenagem da água. O pólen e os
minerais contam a história da mudança na vegetação e nos solos.
54 Licenciatura em Biologia
Figura 11. Grãos de pólens de diferentes tipos de plantas têm padrões de superfície
distintos que lhes permitem serem reconhecidos em sedimentos de lagos. Estas
micrografias eletrônicas de varredura mostram grãos de pólen com um aumento
de cerca de 500 vezes.
Os registros de pólen nos conta que a floresta local mudou de coníferas para
decíduas em poucos séculos. Na Figura 12 é possível ver que árvores como
o pinheiro, a bétula, árvores típicas de floresta boreal, desapareceram abrup-
tamente da região há cerca de 9.500 anos, e foram rapidamente substituídas
por uma floresta decídua de carvalho.
Carvão
Ocorrência relativa de elementos
Cálcio
Fósforo
e carvão
Manganês
Ferro
Bário
Estrôncio
Carvalho
Ocorr
Bário
Estrôncio
Hornbeam
Samambaia
Bétula
Pinheiro
Espruce
56 Licenciatura em Biologia
2.1 Características dos Ecossistemas Ecológicos
Compartimento
COMUNIDADE geográfico
Figura 13. Ilustração dos principais aspectos que determinam uma comunidade. Adaptada
de Begon et al. 2007.
Ecologia Geral 57
Como uma comunidade é composta por indivíduos e populações,
é possível identificar e estudar propriedades coletivas diretas, como diver-
sidade de espécies e biomassa da comunidade. Entretanto, organismos da
mesma espécie ou de espécies diferentes interagem entre si em processos de
mutualismo, parasitismo, predação e competição. A natureza da comunida-
de é obviamente mais do que a soma de suas espécies constituintes. Assim
como nos casos em que estamos interessados no comportamento de mis-
turas complexas, existem propriedades emergentes que aparecem quando
a comunidade é o foco de atenção. Por exemplo, um bolo possui caracterís-
ticas emergentes de textura e sabor que não são aparentes nos ingredientes.
No caso de ecologia de comunidades, os limites de similaridade entre espé-
cies competidoras e a estabilidade de teias alimentares frente à perturbação
são exemplos de propriedades emergentes.
58 Licenciatura em Biologia
BIOMA CERRADO NA AMÉRICA DO SUL
Comunidade de invertebrados,
Grupos de de formigas, cupins, lagartos,
Nos galhos das árvores.
Figura 14. Podemos identificar uma hierarquia de hábitats, aninhados um dentro do outro: um bioma de vegetação
como a do Cerrado, uma mata com ipês ou pequizeiros; ou o intestino de um mamífero. Em qualquer uma das
escalas, existem comunidades e compete ao ecólogo escolher qual delas estudar.
Ecologia Geral 59
2.2 Composição e Estrutura das Comunidades
60 Licenciatura em Biologia
riqueza de espécies, é o índice de diversidade de Simpson (Ds), pois não
somente considera o número de espécies (s) e o total de números de
indivíduos (N), mas também a proporção do total de ocorrência de
cada espécie. A dominância de Simpson calcula a probabilidade de 2 in-
divíduos sorteados de uma comunidade pertencerem à mesma espécie é
estimada através da seguinte equação:
Ds = 1-
∑ n s (n s -1)
N (N - 1)
Saiba Mais
Fonte:
BEGON, M., Townsend, C. R. & Harper, J. L. 2007. Ecologia: de indivíduos a
ecossistemas. 4ª edição. Porto Alegre. Artmed.
Ecologia Geral 61
2.3 A Energia nos Sistemas Ecológicos
A fonte e a qualidade de energia disponível determinam, a um grau maior ou menor, os tipos e a abundân-
cia dos organismos, o padrão dos processos funcionais e de desenvolvimento e o estilo de vida dos seres
humanos. Já que a energia é um denominador comum e a função motriz final em todos os ecossistemas,
sejam antropogênicos ou naturais, ela fornece uma base lógica para uma classificação de “primeira ordem”:
1) Ecossistemas naturais que dependem da energia solar, sem outros subsídios – Exemplos: oceanos
abertos, florestas de altitude. Estes sistemas constituem o módulo básico de sustentação da vida na
nave espacial Terra – Fluxo energético anual (nível de potência – kcal/m2) 1.000-10.000 (2.000)
2) Ecossistemas naturais que dependem da energia solar, com subsídios de outras fontes naturais de energia
– Exemplos: estuário de marés, algumas florestas úmidas. São estes os sistemas naturalmente produtivos da na-
tureza que, além de apresentarem uma grande capacidade para a sustentação da vida, produzem um excedente
de matéria orgânica, que pode ser exportado a outros sistemas ou armazenado. – 10-000-40.000 (20.000)
3) Ecossistemas que dependem de energia solar, com subsídios antropogênicos – Exemplos: agri-
cultura, aquacultura. Estes são sistemas produtores de alimentos e fibras, sustentados por com-
bustível auxiliar ou por outras formas de energia fornecida pelo homem – 10.000-40.000 (20.000)
4) Sistemas urbano-industriais, movidos a combustíveis (fósseis, orgânicos ou nucleares) – Exemplos:
cidades, bairros residenciais, zonas industriais. Estes são os nossos sistemas geradores de riqueza (e
de poluição), em que o combustível substitui o Sol como a principal fonte de energia. São dependen-
tes (i.e., parasitas) das classes 1-3 para a manutenção da vida e para alimentos e combustíveis.
62 Licenciatura em Biologia
A Barcos, redes, mãos-de-obra
$
MARÉS
Vendas de peixes
Plantas e cadeias
SOL alimentar Peixe Pesca
Vendas de peixes
Combustíveis
Conversão
fósseis,
tecnológica
urânio
Economia
mundial
Ecossistemas
domésticos
(agricultura,
silvicultura)
ENERGIA
SOLAR
Ecossistemas
naturais
Figura 15.A. Na economia convencional, o dinheiro não está envolvido antes de os peixes serem pescados; o trabalho do
estuário em produzir os peixes não recebe qualquer valor. O valor total do estuário, em termos de trabalho útil em prol
do homem, é de pelo menos dez vezes o valor dos produtos colhidos (setas cheias representam fluxos de energia; setas
tracejadas representam fluxos de dinheiro). B. Sistema de sustentação energética para os seres humanos. Fluxos de dinhei-
ro ($) acompanham os fluxos de energia de ecossistemas artificiais e domesticados, mas não de ecossistemas naturais.
Modificada de Odum et al. 1988.
Fonte:
ODUM, E. P. 1988. Ecologia. Ed. Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, RJ.
Ecologia Geral 63
Os organismos, os ecossistemas e a biosfera inteira possuem a carac-
terística termodinâmica essencial: eles conseguem criar e manter um alto
grau de ordem interna, ou uma condição de baixa entropia (pequena quan-
tidade de desordem ou de energia não disponível num sistema). Alcança-se
uma baixa entropia através de uma contínua e eficiente dissipação de ener-
gia de alta utilidade (e.g., luz ou alimento) para dar energia de baixa utilida-
de (e.g., calor). No ecossistema, a “ordem” de uma estrutura complexa de
biomassa é mantida pela respiração total da comunidade que “expulsa” con-
tinuamente a desordem. Desta forma, os ecossistemas e os organismos são
sistemas termodinâmicos abertos, fora do ponto de equilíbrio, que trocam
continuamente energia e matéria com o ambiente para diminuir a entropia
interna, à medida que aumenta a entropia externa (obedecendo assim às
leias termodinâmicas).
Sol
b Calor, 98 unidades
Forma muito diluída
(dispersada) de energia
Figura 16. Ilustração das duas leis da termodinâmica – conversão de energia solar em ener-
gia alimentar (açúcares) pela fotossíntese. A = B + C (primeira lei); C é sempre menor que
A, por causa da dissipação durante a conversão (segunda lei). Modificada de Odum et al. 1988.
64 Licenciatura em Biologia
lei da termodinâmica). A energia que chega à superfície terrestre sob forma
de luz é equilibrada pela energia que sai da superfície sob forma de radiação
térmica. A essência da vida reside na progressão de tais mudanças como o
crescimento, a autoduplicação e a síntese de relações complexas de matéria.
Sem as transferências de energia, que acompanham todas essas mudanças,
não poderiam existir nem a vida e nem sistemas ecológicos. A civilização
é apenas uma das extraordinárias proliferações naturais que dependem do
influxo constante da energia concentrada. Se a civilização se tornasse um
sistema fechado pela sua incapacidade de obter e armazenar uma quantida-
de suficiente de energia de alta utilidade, ela logo se tornaria desordenada,
conforme dita a segunda lei.
Ecologia Geral 65
Uma das questões teóricas que está sendo debatida é se a natureza maximi-
za a razão entre estrutura e metabolismo de manutenção ou se é o próprio
fluxo energético que é maximizado
Fonte:
Fonte: ODUM, E. P. 1988. Ecologia. Ed. Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, RJ.
66 Licenciatura em Biologia
LUZ SOLAR Energia perdida
Energia perdida
e indisponível
para os consumidores
Fotossíntese
Respiração
Assimilação total
Produção
primaria bruta
Ecologia Geral 67
podem ser invertidas (ou parcialmente), ou seja, a base pode ser menor que
uma ou mais das camadas superiores, se os organismos produtores indivi-
duais forem maiores, em média, que os consumidores individuais. Por outro
lado, a pirâmide de energia deve ter sempre uma forma piramidal reta, não
invertida, desde que se considerem todas as fontes de energia alimentar do
sistema (ODUM, 1988).
Carnívoro Secundário
Carnívoro Primario
Herbívoro
Planta
Figura 18. Uma pirâmide ecológica de energia. A largura de cada barra representa a produtivida-
de líquida de um nível trófico no ecossistema. Para esse sistema particular, as eficiências são 20%,
15% e 10% entre os níveis tróficos, mas estes valores variam muito em diferentes comunidades.
Modificada de Ricklefs et al. 2003.
68 Licenciatura em Biologia
a Armazenamento b
o
çã
cre
Ex
Produção
Ingestão Crescimento
Assimilação
Respiração
Biomassa
Figura 19. Modelo universal de E. P. Odum do fluxo de energia ecológico. (a) Um único nível trófi-
co. (b) Representação de uma cadeia alimentar.A produção líquida de um nível se torna a energia
assimilada do próximo nível mais alto. Modificada de Ricklefs et al. 2003.
Uma das perguntas que mais despertam interesse dos ecólogos é sa-
ber o que determinado animal come em seu hábitat natural. O estudo das
interações tróficas é essencial para o entendimento dos mecanismos que
controlam o funcionamento de todo o ecossistema. Este tipo de estudo de-
monstra o grau de inter-relações existente entre os organismos e aponta os
principais elementos da manutenção da estrutura do ecossistema. Uma das
formas mais tradicionais de se estudar a ecológica trófica está na identifica-
ção das rotas alimentares dentro dos ecossistemas.
Ecologia Geral 69
2) Detritos: Os pastadores (grazers) são relativamente incapazes de
consumir a biomassa vegetal viva, que possui em geral elevados teores
de celulose ou de lignina. Nesse caso, a principal rota trófica está liga-
da ao consumo de restos vegetais mortos pelos detritívoros. Exemplos
deste tipo de cadeia seriam: macrófitas —▶ detritos —▶ detritívoros
(insetos, moluscos, fungos, etc.); árvores —▶litter —▶ organismos do
solo (colêmbolos, ácaros, anelídeos, nematoides, coleópteros, etc.).
70 Licenciatura em Biologia
d) Predador de topo: espécie que não é predada por nenhum predador na
rede onde se alimenta;
e) Espécies basais: organismos que não se alimentam de nenhuma outra es-
pécie – geralmente são produtores primários;
f) Ciclos tróficos: ocorrem quando um organismo A alimenta-se do organis-
mo B, que, por sua vez, alimenta-se do organismo C, que se alimenta de A;
g) Conectância: número de interações tróficas realizadas, dividido pelo nú-
mero de interações tróficas possíveis;
h) Nível trófico: número de ligações tróficas entre uma dada espécie na rede
e a espécie basal a ela associada, podendo haver uma espécie que ocupe si-
multaneamente mais de um nível trófico;
i) Onívoro: organismo que se alimenta em dois ou mais níveis tróficos diferentes;
j) Compartimentos: ocorre quando existe um grupo com fortes interações
tróficas, podendo haver, em uma dada rede, certo paralelismo trófico, ou seja,
a existência de vários compartimentos relativamente independentes entre si.
Ecologia Geral 71
A A A B B B C C C
Peixes PeixesPeixes Truta Truta Truta LagartosLagartos
Lagartos
grandesgrandes
grandes marrommarrommarrom
Filhotes Filhotes
Filhotes AranhasAranhas
Aranhas
Insetos Insetos
Insetos
de peixesde peixes
de peixes fiandeiras
fiandeiras
fiandeiras
predadores
predadores predadores
e insetose insetos
e insetos
predadores
predadores
predadores
Insetos Insetos
Insetos Artrópodes
Artrópodes
Artrópodes
Insetos Insetos
Insetos herbívoros
herbívoros
herbívoros
herbivoros
herbivoros herbivoros
quironomídeos
quironomídeos
quironomídeos
Figura 20. Ilustração de teia alimentar com vários tipos de organismos. Nos exemplos a, b e c
podemos resumir teias alimentares hipotéticos com 4 níveis tróficos: (a) ausência de onivoria
(alimentação em mais de um nível trófico) nesta comunidade de curso d’água indica que
ela funciona como um sistema com quatro níveis tróficos. Por outro lado, a teia (b) de uma
comunidade de riacho e a teia (c) de uma comunidade terrestre funcionam com três níveis
tróficos. Isto se deve aos fortes efeitos diretos dos predadores de topo onívoros sobre os
herbívoros e seus efeitos menos importantes sobre os predadores intermediários.
Fonte:
PINTO-COELHO, R. M. 2000. Fundamentos em Ecologia. Porto Alegre, RS.
Artmed Editora.
72 Licenciatura em Biologia
complexo, aumenta a proporção da produção bruta que deve ser respirada pela
comunidade para sustentá-la e diminuir a proporção que pode ser dedicada ao
crescimento. No momento do equilíbrio entre estas entradas e saídas, o tama-
nho não pode aumentar mais. A quantidade de biomassa que pode ser susten-
tada sob estas condições denomina-se a capacidade máxima de suporte. As
evidências indicam cada vez mais que a capacidade ótima de suporte, susten-
tável durante muito tempo frente às incertezas ambientais, é mais baixa, talvez
50% mais baixa que a capacidade teórica máxima de suporte (ODUM, 1988).
Ecologia Geral 73
2.4 Eficiências Ecológicas
I = ingestão
A = assimilação
F = fezes
R = metabolismo basal
CS = crescimento somático
R RP = reprodução
P = produção sedundária
A P = CS + RP
CS
P
RP
Figura 21. Relações entre ingestão, assimilação, produção de excretas, respiração e produ-
ção secundária. Modificada de Pinto-Coelho et al. 2000.
74 Licenciatura em Biologia
2.5 A Ciclagem de Nutrientes: Ciclos Biogeoquímicos
Ecologia Geral 75
ATMOSFERA Aumento de
emissões para
a atmosfera
Precipitação
absorção gasosa
e de aerossóis Remoção da
vegetação, silvicultura
agricultura
Atividades
humanas Colheita
Aumento da
COMUNIDADES CICLAGEM concentração
TERRESTRES INTERNA na água
COMUNIDADES CICLAGEM
Respiração, emissão AQUÁTICAS INTERNA
gasosa e de aerossóis
Absorção
biótica Escoamento
Intemperismo
ROCHA
Elevação geológica
criando novas terras
Figura 22. Principais rotas globais de nutrientes entre as “reservas” abióticas da atmosfera, da água (hidrosfera), da
rocha e de sedimentos (litosfera) e as “reservas” bióticas constituídas pelas comunidades terrestres e aquáticas. As
atividades humanas (em laranja) afetam, direta e indiretamente, os fluxos de nutrientes das comunidades terres-
tres e aquáticas por meio de seus efeitos sobre os ciclos biogeoquímicos globais, bem como pela liberação adicional
de nutrientes para a atmosfera e para a água. Modificada de Begon et al. 2007.
Tipos de ciclos
76 Licenciatura em Biologia
• Ciclos gasosos
Possuem o compartimento abiótico na atmosfera. Graças à grande
dinâmica desse meio, têm mecanismos eficazes de autorregulação. Exem-
plos: ciclo do nitrogênio e ciclo do oxigênio.
• Ciclos sedimentares
O compartimento abiótico está na crosta terrestre em rochas. Esses
são mais vulneráveis a perturbações externas pelo fato de esse comparti-
mento ter um tempo muito elevado de recirculação. Exemplos: ciclo do cál-
cio e ciclo do fósforo.
Ecologia Geral 77
causa da grande capacidade de se ajustarem às mudanças. Entretanto, exis-
tem limites definidos à capacidade de ajuste, mesmo de um reservatório tão
grande quanto à atmosfera (ODUM, 1988).
• Ciclo da Água
Segundo Leonardo da Vinci, “a água é o condutor da natureza”. A
biosfera pode ser definida em termos de disponibilidade de água: é a região
do planeta onde há suprimento de energia externa e água no estado líqui-
do. O ciclo da água é caracterizado por um depósito atmosférico pequeno,
porém extremamente dinâmico, sendo, inclusive, responsável pela caracte-
rização dos diversos climas terrestres. O volume total de água da biosfera é
78 Licenciatura em Biologia
de cerca de 1,5 bilhões de quilômetros cúbicos. A água está distribuída de
modo muito desigual pela superfície da Terra (512 milhões de quilômetros
quadrados). A maior parte da água está no mar (97%, BERNER & BER-
NER, 1987). Os 3% restantes são constituídos por água doce (a maior par-
te em geleiras, 2,06%). O depósito de águas subterrâneas (0,67%) é muito
maior do que o de águas superficiais. Rios e lagos contribuem muito pouco
(~0,01%) para o total de água doce existente, mas eles são essenciais para a
renovação do ciclo, já que o tempo de renovação médio das águas superfi-
ciais é pequeno (ao redor de um ano).
Atmosfera (0,0013)
Transporte de Vapor 0,037
Evaporação
Precipitação 0,037
0,110 Gelo (29)
Água subterrânea
Oceano (1.370)
(9,5)
Figura 23. Ciclo hidrológico, mostrando os fluxos e tamanhos dos compartimentos (x 106 km³). Os valores entre
parênteses representam o tamanho dos diferentes compartimentos (segundo Berner & Berner, 1987).
Ecologia Geral 79
eletrolítica. A água ainda apresenta grande capacidade em dissolver gases,
tais como o oxigênio e o gás carbônico. Essa capacidade é, no entanto, muito
influenciável pela temperatura, pressão e tipo do gás. Outra característica
da molécula da água de grande importância para a manutenção da vida nos
ecossistemas aquáticos refere-se ao seu comportamento anômalo em rela-
ção à densidade. Expande quando é resfriada de 4ºC a 0ºC. A densidade da
água a 4ºC é 1,0 e a 0ºC é de 0,92. Assim, a água congela-se de cima para
baixo. Esse fato explica por que é possível a vida aquática (aliás, intensa) nas
zonas polares (PINTO-COELHO, 2000).
• Ciclo do Carbono
O ciclo do carbono tem uma renovação mais lenta e um tempo de
residência maior que o ciclo da água. A maior parte do carbono da bios-
fera encontra-se sob a forma de carbonatos dissolvidos na água dos mares
profundos (Figura 24). Assim, para entender o funcionamento do ciclo
do carbono é necessário conhecer as principais vias desse ciclo nos ocea-
nos. Além dos carbonatos dissolvidos, o carbono pode estar estocado em
grandes quantidades nos sedimentos marinhos que formam os precurso-
res do petróleo (querogênio). Existem, ainda, consideráveis quantidades de
carbono orgânico e particulado nas águas dos mares. Todo esse carbono é
continuamente reciclado dentro da cadeia planctônica (fitoplâncton, zoo-
plâncton) e o nécton (peixes) que o devolve ao compartimento inorgânico
via respiração. Os carbonatos também podem ser direcionados à atmosfera
e vice-versa.
80 Licenciatura em Biologia
Luz do Sol
Respiração das
plantas
Fotossíntese
Emissão das
fábricas
Respiração dos
animais
Carbono Respiração
Orgânico das Raízes
Ecologia Geral 81
faixa tropical, têm gerado um impacto adicional nessa emissão de gás car-
bônico. Muitas vezes, no entanto, os países situados nessa região têm sido
injustamente acusados pelas comunidades dos países industrializados como
os maiores responsáveis pela crescente emissão de CO2.
• Ciclo do Nitrogênio
É um ciclo tipicamente gasoso. O depósito abiótico encontra-se sob
a forma de nitrogênio gasoso N2. A quantidade desse gás na atmosfera ter-
restre é bem superior à quantidade de nitrogênio gasoso existente na atmos-
fera dos planetas vizinhos. O modo usual de incorporação do nitrogênio
pelas plantas é sob a forma de nitrato ou de amônia. Na biomassa, o nitro-
gênio desempenha um papel fundamental como elemento estrutural de
82 Licenciatura em Biologia
praticamente todas as classes de compostos bioquímicos (proteínas, ácidos
nucleicos, lipídeos, etc.). O nitrogênio volta ao pool abiótico via excreção de
ureia, amônia ou ácido úrico ou, então, por decomposição bacteriana e fún-
gica de cadáveres. Por ação bacteriana, é rapidamente oxidado de nitrogênio
albuminoide a amônia, nitrito e nitrato (Figura 25).
Mais reduzido Amonificação Fixação denitrogênio por
Nitrogênio
Amônia Rhizobium, Azotobacter,
orgânico
Nitrificação por cianobactérias
Nitrosomona,
Nitrosococcus
Nitrogênio molecular (N2)
Figura 25. Diagrama esquemático das transformações de compostos no ciclo do nitrogênio. Modificada de Odu-
met al. 1988.
Ecologia Geral 83
reservatório e a válvula de escape do sistema. O nitrogênio entra continuamente
na atmosfera pela ação das bactérias desnitrificantes, e continuamente retorna
ao ciclo pela ação das bactérias ou algas fixadoras de nitrogênio (biofixação), por
meio da radiação e por outras formas de fixação física.
Ácido
Orgânico
Figura 26. Os fungos ectomicorrízicos associados a raízes de árvores podem mobilizar fósforo, potássio, cálcio e magnésio
provenientes de substratos minerais sólidos, mediante secreção orgânica ácida. Esses nutrientes tornam-se depois disponí-
veis a planta hospedeira por meio de um componente fúngico denominado micélio. Modificada de Begon et al. 2007.
84 Licenciatura em Biologia
nitrato), e.g., obtêm energia da decomposição química, enquanto que as
bactérias desnitrificantes e fixadoras de nitrogênio precisam de energia de
outras fontes para realizarem as suas respectivas transformações.
• Ciclo do Fósforo
É um ciclo tipicamente sedimentar (Figura 27). O fósforo inorgâni-
co é absorvido pelos vegetais sob a forma de ortofosfato (PO43-). Na maioria
dos ecossistemas, as quantidades disponíveis de ortofosfato, seja no solo ou
na água, são muito baixas e esse elemento é o fator limitante da produção
biológica. A eutrofização de corpos d’água, caracteriza por aumento dese-
quilibrado da produção primária, é muitas vezes causada pelo aporte exter-
no de fósforo. Dessa maneira, o entendimento dos mecanismos que contri-
buem para aumentar a taxa de circulação do fósforo entre o pool inorgânico
e a biomassa é fundamental em ecologia.
Ecologia Geral 85
CHUVA
Decomposição das
rochase liberação
de fosfato Rochas ficam
descobertas
Plantas
Sedimentação = formação
Decompositores de novas rochas
86 Licenciatura em Biologia
Nitzschia palea e Botryococcus braunni são duas algas que necessitam de
18 a 90 ug/l de fósforo para crescer em condições ótimas, respectivamente.
• Ciclo do Enxofre
É um ciclo misto. O componente sedimentar é representado pelas rochas
pirita e calcopirita. No meio aquoso, as formas do enxofre vão depender do es-
tado de oxidação do meio. Em condições oxidantes (meio aeróbico), o enxofre
encontra-se sob a forma de sulfatos (SO4) e em condições redutoras sob a forma
de sulfetos (S2). A ciclagem do enxofre é muito influenciada pela ação bacteriana
(Figura 28). Muitas vezes certos processos que ocorrem em um ciclo podem in-
fluenciar a ciclagem de outro elemento. Em condições redutoras (meio anaeróbi-
co), o enxofre apresenta-se normalmente sob a forma de H2S. Em tais condições,
o sulfeto normalmente se combina com o ferro liberando o fósforo:
Através da queima de
As chuvas ácidas aumentam
combustíveis fósseis
a meteorização das rochas
o Homem libera
mas também afetam a Biosfera
ácido sulfúrico
As plantas absorvem
compostos com enxofre
Ecologia Geral 87
H2S <—> 2 H+ + S-2
88 Licenciatura em Biologia
manter os elementos em contínua circulação é retê-los o maior tempo pos-
sível na biomassa, seja ela vegetal ou animal (PINTO-COELHO, 2000).
Erosão, queima
de combustíveis
Assimilação, Respiração desassimilação fósseis
fotossíntese e excreção, lixiviação
FORMAS INORGÂNICAS
Intemperização
Solo
Compostos inorgânicos
Atmosfera Água Erosão indiretamente disponíveis
(calcário, vários minerais)
Formação de
rocha
Sedimentos
sedimentar
Figura 29. Um modelo geral de compartimento do ciclo dos elementos nos ecossistemas.
Em cada compartimento, podemos reconhecer subcompartimentos; por exemplo, o com-
partimento que representa as formas orgânicas disponíveis de nutrientes é ainda mais sub-
dividido em compartimentos ocupados por autótrofos, animais, detritos e microrganismos.
Modificada de Ricklefs et al. 2003.
Ecologia Geral 89
2.6 Sucessão Ecológica: Desenvolvimento e Evolução
dos Ecossistemas
Figura 30. Na visão organísmica, as comunidades de plantas (espécies ilustrada pelas letras minúscu-
las) formam unidades discretas, com limites definidos. Na visão individualista proposta por Gleason,
as populações respondem de modo independente a gradientes ambientais, a tal ponto que as comu-
nidades se sobreponham numa série contínua, dificultando o reconhecimento de unidades discretas.
90 Licenciatura em Biologia
2.6.1 Primeiros Estudos em Sucessão
Figura 31. Dunas do Lago Michigan, que por meio de suas observações estimulou Cowles
a desenvolver as bases da teoria sobre sucessão ecológica.
Ecologia Geral 91
2.6.2 Algumas Definições em Sucessão
líquens - briófitas - plantas herbáceas - plantas arbustivas - árvores (pioneiras, secundárias e clímax)
92 Licenciatura em Biologia
As primeiras espécies a colonizarem uma nova área são chamadas de
pioneiras. Estas espécies são adaptadas a habitats perturbados e facilitam a
colonização por novas espécies, chamadas de secundárias. Estas espécies
secundárias serão sucessivamente substituídas por outras até que a comu-
nidade atinja sua estrutura e composição originais, chamada de clímax –
último estágio de um processo sucessional, onde a comunidade estaria em
equilíbrio, até que fosse atingida por um novo distúrbio. Um exemplo se
sucessão secundária e suas seres são ilustrados na figura 33.
1 2 3 4
5 6 7 8
Figura 33. Exemplo de sucessão secundária com distúrbio originado pelo fogo. Note que em
(1) temos uma floresta em equilíbrio clímax, após sua destruição pelo fogo o solo fica nu (4),
mas logo se inicia a colonização pelas pioneiras (5) e secundárias (6,7), até que o clímax
seja atingido novamente (8).
Ecologia Geral 93
grandes mudanças climáticas ou físicas, não irá existir a substituição por
outras espécies diferentes daquelas do clímax.
• Teoria Monoclímax
Defendida por Clements (1916), também conhecida como clímax
climático, propõe que a comunidade se desenvolva para um único estágio
final em certa região influenciado pelo padrão climático regional, ou seja,
independente do solo e do distúrbio, o clima da região é o que realmente
determinaria a composição de espécies presentes no clímax.
• Teoria Policlímax
Na visão de outro pesquisador Arthur Tansley (1935) em seu reno-
mado trabalho The use and abuse of vegetational concepts and terms, o clímax
não seria determinado apenas pelo clima (clímax climático), mas também
pela combinação de outros fatores que influenciam na sucessão, como topo-
grafia, nutrientes e fatores abióticos (p.ex. pastejo de animais). Assim, essa
teoria reconhece a validade de vários tipos de vegetação como sendo co-
munidades clímax, dependendo das condições locais. Tansley ainda propôs
que a sucessão seria um processo contínuo, podendo ser interrompida por
catástrofes, assumindo um caráter progressivo ou regressivo.
• Clímax Padrão
Proposto por Whittaker (1953), a comunidade se adaptaria a totalida-
de de fatores, uma área com padrão climático definido poderia conter diver-
sas comunidades clímax, de acordo com gradientes de condições ambientais.
Desta forma, dentro de um determinado padrão regional de comunidades
clímax, a composição em qualquer localidade dependeria das condições am-
bientais particulares naquele ponto, criando um continuum de clímax.
O clímax existe?
Apesar de várias teorias terem sido propostas para explicar os caminhos que po-
dem levar uma comunidade ao clímax, uma pergunta colocaria em dúvida toda
uma teoria ecológica: existiria realmente um estágio de clímax? Proposta em 1969
por Lewontin, a Teoria Alternativa dos Estados Estáveis, investiga a possibili-
dade de ambientes existirem em mais de um estado configurável de equilíbrio, ou
94 Licenciatura em Biologia
seja, em termos sucessionais, existiria diferentes clímax em resposta a diferentes
condições ambientais. Assim, não existiria um ponto final na sucessão, mas muitos
estados de transição ao longo do tempo ecológico.
Ecologia Geral 95
Sucessão e a perícia criminal
96 Licenciatura em Biologia
7) Por último, quando restam apenas resquícios de músculos e pele aderidos
aos ossos, entram em ação os coleópteros Ptinus e Tenebrio.
Ecologia Geral 97
caírem no solo se encontram prontas para germinarem. Um exemplo de es-
pécie secundária é o cedro (Cedrela fissilis), cujo fruto possui uma pequena
“asa” que facilita sua dispersão pelo vento (Figura 34).
Figura 34. Principais diferenças quanto ao tamanho e dispersão de cada tipo de semente. Note
que o dente-de-leão possui sementes leves dispersas pelo vento, característico de espécies se-
cundárias. O cedro, espécie secundária, e suas sementes aladas que facilitam a dispersão tam-
bém pelo vento. Abaixo, sementes e frutos de guanandi (Calophyllum brasiliense), e castanha-
-do-pará (Bertholletia excelsa) espécies clímax, note o tamanho e volume de suas sementes.
98 Licenciatura em Biologia
Viabilidade da semente Longa, latente no solo Curta
Tabela 1. Características gerais das plantas durantes os estágios iniciais e finais da sucessão.
Fonte: Economia da Natureza (Ricklefs,1996).
Ecologia Geral 99
• Modelo da inibição: as espécies dificultam a ocupação progressiva
por outras espécies, inibindo através da liberação de substâncias ale-
lopáticas ou outro meio inibidor, como o sombreamento. A compe-
tição por espaço e nutrientes faz com que, após o estabelecimento de
espécies mais avançadas sucessionalmente, ocorra a morte das que
precediam a colonização.
• Modelo da tolerância: as espécies se estabelecem independente-
mente da presença ou ausência de outras. A espécie com maior su-
cesso competitivo predomina no clímax.
Dinâmica de clareiras
Por isso que o conceito de clímax tem sido tão discutido, assumindo
mais um caráter dinâmico do que estático. Uma floresta que chegou ao está-
gio clímax não é um sistema uniforme e imutável (Figura 36). É um conjun-
to heterogêneo de parcelas de idades diferentes, decorrentes da formação de
clareiras, em resposta a algum distúrbio.
S
S
S S
S S
P S
P P
P P
P
P
Figura 36. Ao se observar o dossel de uma floresta tropical aparentemente toda ela se
encontra em clímax. Contudo, devemos considerar uma floresta como um ambiente hete-
rogêneo, com manchas de espécies pioneiras, secundárias e clímax, devido à formação de
clareiras que constantemente estão surgindo em pontos distintos da floresta (Imagem ao
lado, P: pioneiras, S: secundárias). Imagem floresta. Fonte: http://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Amazon_Manaus_forest.jpg. Autor: Phil P Harris
Questões de aprendizado:
3. ECOLOGIA DE COMUNIDADES
Em todo lugar na Terra, desde uma simples poça d’água até uma flo-
resta tropical, existem muitos organismos que coexistem e compartilham dos
mesmos recursos. Estes organismos interagem entre si por meio de suas ca-
deias alimentares e outras ações comportamentais, constituindo a comunida-
de biológica de um determinado hábitat. Esta comunidade é composta por
plantas, animais e microorganismos, que participam dos processos de fluxo de
energia e ciclagem de nutrientes dentro dos ecossistemas. Neste capítulo, ve-
remos como a inter-relação entre os diversos organismos de uma comunidade
pode influenciar nos processos populacionais, determinando o tamanho de
uma dada população. Por último, veremos como a comunidade seleciona os
genótipos e, por isso, influenciam a evolução de espécies coexistentes.
C E
B D
A
Gradiente Ambiental
Visão Individualista
ABUNDÂNCIA
B D
A E
Gradiente Ambiental
Figura 37. Na visão organísmica, as comunidades de plantas (espécies ilustrada pelas letras minúscu-
las), formam unidades discretas, com limites definidos. Na visão individualista, proposta por Gleason,
as populações respondem de modo independente a gradientes ambientais, a tal ponto que as comu-
nidades se sobreponham numa série contínua, dificultando o reconhecimento de unidades discretas.
Para se estudar como está estruturada uma comunidade, alguns dados são
necessários para tentarmos entender como esta comunidade funciona. Den-
tre os vários parâmetros que podemos utilizar nos estudos de comunidade
se destaca a riqueza de espécies, que é expressa pelo número de espécies
presente em um determinado ambiente, conhecida também como biodi-
versidade. Os valores de riqueza são amplamente utilizados, pois permitem
comparações entre diferentes ecossistemas. Não confundam riqueza com
densidade, enquanto a primeira se refere ao número de espécies, a densidade
contabiliza o número de indivíduos de uma dada população por uma unidade
de área. A abundância relativa é utilizada na ecologia para determinar o
tamanho da população de uma espécie em um determinado habitat em re-
lação as outras populações. A frequência de uma espécie é a proporção de
amostras em que a espécie ocorre. Em estudos de comunidades vegetais al-
guns parâmetros são de maior interesse. A dominância de uma espécie tem
a ver com o volume físico que ela ocupa no espaço. Geralmente se utiliza o
valor da área basal para se calcular a dominância, este valor é representado
pela área que o tronco da árvore ocupa no espaço, ou seja, seu perímetro.
Sendo assim, espécies mais dominantes são aquelas que ocupam uma maior
área no ambiente. Outro índice muito utilizado para plantas é o de valor de
importância (VI), que é obtido através da soma dos valores de densidade,
frequência e dominância para cada espécie. Por meio deste índice podemos
ver qual espécie é a mais representativa em uma comunidade vegetal.
A B
Eixo 2
Eixo 1
C
Eixo 3
Eixo 1
o2
Eix
Figura 38. O nicho multidimensional pode ser definido como um espaço imaginário com
muitas dimensões, no qual cada dimensão ou eixo representam a faixa de alguma condição
ambiental ou biótica na qual a espécie possa sobreviver, crescer e se reproduzir. Neste exem-
plo, definimos um nicho com três eixos para melhor visualizarmos. Contudo, um nicho real
resulta da interação de n fatores (Figura retirada de Townsend et al, 2006).
Temperatura
Tamanho
da presa
Figura 39. Ao considerarmos três dimensões para este eixo (salinidade, temperatura e ta-
manho da presa), conseguimos delimitar no espaço o seu nicho. A área em amarelo seria o
nicho fundamental, que reúne condições necessárias para o organismo viver e se reproduzir.
A área em vermelho corresponde ao nicho realizado, note que ele é menor, pois aqui consi-
deramos as interações como a competição. Por último, em verde, seria a área que reuniria
as condições ótimas para o organismo, onde ele teria o seu melhor fitness (desempenho
do indivíduo para a manutenção da espécie, ou seja, melhor taxa reprodutiva e número de
descendentes férteis).
Figura 40. Diferenças quanto à largura de nichos. Nichos mais estreitos geralmente são representados por espécies
especialistas, pois são mais exigentes e eficientes em relação aos recursos e são espécies topo de cadeia alimentar, os
grandes predadores. Por outro lado, as espécies generalistas são responsáveis por nichos ecológicos mais largos, pois
são espécies pouco exigentes com hábitos alimentares variados, além de terem uma alta dispersão e taxa reprodutiva.
A B
DISTÂNCIA ENTRE
PICOS DE NICHO
UTILIZAÇÃO DE RECURSOS
espécies i espécies j
Sobreposição
de nicho
Dimensão do nicho
Figura 41. Em (a) temos a representação da sobreposição do nicho de duas espécies que coexistem. (B) duas espécies
ocupam nichos não sobrepostos. Quando os nichos se sobrepõem, há o aumento da competição e necessidade de
ocupação de novas dimensões do nicho, como indicado pelas setas.
Interações interespecíficas
Tabela 2. Principais relações entre espécies diferentes viventes em uma mesma comunidade.
O sinal (-) indica prejuízo para uma espécie, o sinal (+) designa vantagem, e o sinal (0)
quando nenhuma das espécies é afetada.Tabela modificada de Odum & Barret, 2007.
3.2.1 Competição
Maré alta
média
Balanus
Maré média
Maré baixa
Figura 42. Distribuição de duas espécies de cracas em costões rochosos. A espécie Balanus
é maior e resiste menos à dessecação, por isso ocupa a faixa inferior do costão. A espécie
menor Chthamalus, como resiste mais a dessecação e perde competitivamente para Bala-
nus, restringiu sua distribuição à parte superior do costão. Note que na faixa de maré alta
média, é a zona de maior competição entre as cracas, região de sobreposição dos nichos.
Modificada de Odum & Barret at al. 2007.
Figura 43. A predação é a relação em que o predador se alimenta de sua presa. Os carní-
voros são considerados predadores verdadeiros, pois matam e comem as suas presas. Por
outro lado, os herbívoros são chamados de pastejadores, pois estes não necessariamente
matam suas presas para se alimentarem.
REDUZ POPULAÇÃO
PREDAÇÃO
PRESAS
AUMENTA RECURSOS
E REPRODUÇÃO
Figura 44. Esquema demonstrando o efeito compensatório da predação, na relação presa x predador.
PRESA
Abundância
PREDADOR
Tempo
Figura 45. Flutuações das populações de presa x predador de acordo com o modelo de Lotka-Volterra.
Um aumento na população de predador implica na diminuição do tamanho da população de presas.
Poderíamos imaginar que a vida de uma presa sem o seu predador seria muito mais
tranquila não tendo que sempre estar alerta para se defender de um ataque. Na
savana africana, presas como zebras, gnus e cervos vivem sob constante ameaça de
seus predadores, como leões e chitas. Porém, a falta de um predador pode causar
prejuízo a suas presas. Se retirássemos todos os predadores da savana a população
das presas iria aumentar consideravelmente, aumentando a herbivoria a ponto de
diminuir o alimento disponível para pastejo.A diminuição do alimento seria o fator
limitante para os herbívoros, resultando assim na diminuição da população. Apesar
de ser agressiva uma caçada de um leão a uma zebra, temos que levar em conside-
ração que este ato é para o bem coletivo de toda a população de presas.
Figura 46. Pisaster ochraceus, considerada uma espécie-chave por controlar a di-
versidade da comunidade por meio da predação. Fonte: http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Starfish,_Oregon_coast.jpg. Autor: Steven Pavlov.
3.3.3 Parasitismo
Uma boa parte das espécies vive dentro ou sobre os corpos de ou-
tros organismos. Enquanto o predador mata a sua presa para comê-la, os
parasitas retiram recursos de seu hospedeiro, mas não o matam, pelo me-
nos a curto prazo. Geralmente, os parasitas são mais especializados que os
predadores, eles se instalam em uma ou poucas espécies, por outro lado os
predadores possuem uma gama maior de presas. Assim como os predado-
res, os parasitas ajudam a manter os seus hospedeiros em baixas densidades,
assim eles não destroem seus próprios suprimentos de alimentos e habitat.
Figura 47. Os parasitas podem ser classificados de acordo com a região do corpo que para-
sitam. A sanguessuga é um exemplo de ectoparasita, pois parasita a pele do hospedeiro. Ao
contrário, os endoparasitas irão se alojar no interior do corpo de seus hospedeiros.
Ácaros são parasitas que podem também se instalar na pele dos seres humanos, levan-
do a caso de escabiose, as famosas sarnas (Sarcoptes scabiei). Esta infecção pode ocorrer
por contato direto com a área infectada de animais ou outras pessoas. Os ectoparasitas
que vivem se alimentando do sangue ou de restos de pele morta, desencadeiam graves
quadros de irritação decorrentes de coceiras. Crianças com infestações de piolhos po-
dem ter irritações decorrentes de noites mal dormidas e baixo rendimento escolar de-
vido à coceira intensa.A infestação em aves pode levar a baixa produtividade em granjas,
pois a irritação causada por piolhos tornam as aves inquietas assim elas não comem ou
digerem o alimento corretamente, causando prejuízos econômicos.
Figura 49. Sapo com deposição de ovos de mosca-varejeira (Lucilia) em suas costas. Inicial-
mente as larvas se alimentam de detritos junto à pele ou de feridas e depois se penetram
no tecido vivo de onde começam a se alimentar, frequentemente matando o hospedeiro ou
tornando-o mais suscetível à morte. As larvas continuam a consumir o corpo morto até que
incubem para se tornar uma mosca adulta.
Na internet:
Além das próprias plantas agindo como parasitas, as plantas podem ser parasi-
tadas por outros organismos, como os fungos no caso da ferrugem. As galhas
são respostas a uma invasão por parasitas (vírus, bactérias, fungos, nematóides,
ácaros ou insetos) que desenvolvem uma hiperplasia ou hipertrofia do tecido
como maneira de isolar a área infectada. No caso dos vermes nematóides, no
estágio juvenil eles entram no corpo da planta e alimentam-se das células vivas,
produzindo as galhas ou causando a morte tecidual. A reprodução ocorre den-
tro do hospedeiro, e uma nova geração de juvenis migra para outras plantas.
3.3.4 Amensalismo
16 metros 16 metros
Figura 52. Comensalismo entre tubarão e rêmora. Apesar de o tubarão não levar vantagem e
nem desvantagem nesta relação, ele permite à rêmora que se fixe ao seu corpo por ventosas, fa-
cilitando assim seu transporte e se alimentando de restos alimentares consumidos pelo tubarão.
Figura 54. Associação mutualística entre algas e fungos. Neste tipo de associação a interde-
pendência não permite que sobrevivam separados.
Para refletir:
3.4 Coevolução
Figura 56. Capivara exercendo pressão seletiva sobre a pastagem. Neste processo, todos os
envolvidos evoluem em conjunto na tentativa de aumentarem a sua sobrevivência.
Questões de Aprendizado:
Platô
NÚMERO DE AMOSTRAS
Comunidade A Comunidade B
Espécie 1 10 15
Espécie 2 15 90
Espécie 3 09 11
Espécie 4 12 05
Espécie 5 18 04
Espécie 6 11 10
Espécie 7 17 09
Espécie 8 15 14
Espécie 9 16 12
Espécie 10 10 05
Onde:
H’: índice de Shannon-Weaver
S: número total de espécies
pi: abundância relativa de cada espécie, que é expressa pela fórmula
N: número total de todos os organismos
ni: número dos indivíduos em cada espécie; a abundância de cada espécie
3.5.1.1Competição
3.5.1.2 Predação
Figura 58. Ao compararmos uma floresta com uma região desértica fica fácil entender a
maior riqueza encontrada no ecossistema florestal. A heterogeneidade espacial permite
uma fonte maior de micro-habitats, proporcionando maior número de espécies. A região
desértica possui um ambiente mais constante ao longo do seu território, refletindo em
uma menor riqueza.
3.5.1.7 Distúrbios
P+S
P C
TEMPO
Figura 59. Gráfico ilustrando a hipótese do distúrbio intermediário (Connel 1978). A riqueza
é baixa mediante distúrbio frequentes, pois só temos espécies pioneiras (P). Em níveis in-
termediários de distúrbios, a comunidade consegue avançar sucessionalmente, aumentando
a riqueza, pelo incremento de espécies secundárias (S) e a chegada das clímax (C). Se a
comunidade se mantiver muito tempo sem distúrbio, ela se estabelece com as espécies
clímax. Neste estágio, a riqueza diminui, pois aumenta a competição entre os organismos.
Taxa de extinção
Ilha próxima e grande
Ilha pequena
Riqueza Riqueza
Figura 60.Teoria do equilíbrio da biogeografia de MacArhur & Wilson (1976). (a) A taxa de
imigração é maior para ilhas próximas as áreas fontes e maiores, isto favorece a chegada
de novos indivíduos e aumenta a riqueza. (b) A taxa de extinção é maior em ilhas pequenas
do que grandes, pois a extinção aumenta como consequência da exclusão competitiva.
Modificado de Townsend et al, 2006.
Figura 61. As setas indicam o aumento da riqueza em direção à linha do equador. Uma das
explicações para o aumento da riqueza em baixas latitudes é a alta incidência de luz solar,
que eleva a fotossíntese, a produtividade primária e, consequentemente, a riqueza.
Quanto mais alto e profundo for um ambiente menor será sua ri-
queza, devido às condições mais adversas destas regiões. Topos de monta-
nha, além de terem uma menor área, ainda contam com baixas temperatu-
ras, maior intensidade dos ventos e menos oxigênio dissolvido. Por outro
lado, altas profundidades, levam à escassez de oxigênio e baixa luminosida-
de. Desta forma, os organismos fotossintetizantes não sobrevivem, residin-
do somente os adaptados a condições anóxicas.
ALLAN, D. J. The phylosophy of Aristotle. 2nd ed. Inglaterra: Oxford Univ. Press.
Oxford, 1970.
BERNER, E. K. & BERNER, R. A. The global water cycle: geochemistry and envi-
ronment. Englewood Cliffs: Pretice-Hall, 1987.
BRITO, L.G.; ROCHA, R.B.; SILVA-NETO, F.G.; BARBIERI, F.S.; OLIVEIRA, M.C.S.;
GONÇALVES, M.A.R. & CARVALHO, G.L.O. 2010. Eficácia de carrapacitidas em
gados leiteiros de Rondônia-RO. Circular técnica, n 113, EMBRAPA.
CONNEL, J.H. Diversity in tropical rainforest and coral reefs. Science, 199, 1302-
1310, 1978.
EHRLICH, P.R. & RAVEN, P.H. Butterflies and plants: a study of coevolution. Evolu-
tion 18:586-608, 1964.
FARR, W. 1843. Causes of mortality in town districts. Fifth Annual rept. Reg.
Gen. of Births, Deaths and Marriages in England. 2nd ed. p. 406-435.
FORBES, S. A. The lake as a microcosm. Reprinted in Bull. Illinois Nat. hist. Surv.,
15:537-550 (1925), 1887.
HODGKINSON, K. C. Water relations and growth of shrubs before and after fire in
a semi-arid woodland. Oecologia, 90, 467-473, 1992.
______. Circular causal systems in ecology. Ann. N.Y. Acad. Sci. 50:221-246, 1948.
LAWTON, J. H. Food webs. In: CHERRET, J. M. (ed.). Ecological concepts – the con-
tribution of Ecology to an understanding of the natural world. 29th Symposium of
British Ecological Society. Inglaterra: Blackwell Scientific Publications, Oxford, 1988.
LIKENS, G. E. The ecosystem approach: its use and abuse. Excellence in Ecology,
Book 3. Ecology Institute. Oldendorf-Luhe, Germany, 1992.
LOIK, M. E. & NOBEL, P. S. Freezing tolerance and water relations of Opuntia fragilis
from Canada and the United States. Ecology, 74, 1722-1732, 1993.
MACARTHUR, R.H. & WILSON, E.O. The theory of Island Biogeography. Prin-
centon: Princenton University Press, 1967.
MASSEY, A. B. Antagonism of the walnuts (Juglans nigra L. and J. cinerea L.) in certain
plant associations. Phytopathology 15:773-784, 1925.
ODUM, E.P. & BARRETT, G.W. Fundamentos de ecologia. São Paulo: Thomson
Learning, 2007.
RUPPERT, E.E. & BARNES, R.D. Zoologia dos invertebrados. 6. ed. São Paulo:
Roca, 1996. 1179 p
TANSLEY, A. G. The use and abuse of vegetational concepts and terms. Ecology,
16:284-307, 1935.