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Giselle Medeiros da Costa One

(Org.)

MEIO
AMBIENTE:
Tecnologia, trabalho e
pesquisa
1

IMEA / JOÃO PESSOA- PB / 2024

2
Instituto Medeiros de Educação
Avançada - IMEA
Editor Chefe
Giselle Medeiros da Costa One

Corpo Editorial
Giselle Medeiros da Costa One
Maria Luiza Souto Porto
Roseanne da Cunha Uchôa
Iara Medeiros de Araújo

Revisão Final
Ednice Fideles Cavalcante Anízio

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
One, Giselle Medeiros da Costa.
O59m Meio ambiente: tecnologia, trabalho e pesquisa 1 / Organizador:
Giselle Medeiros da Costa One. IMEA. 20224.
570 fls. PDF

ISBN: 978-65-89069-54-6(on-line)
Modelo de acesso: Word Wibe Web
<http://www.cinasama.com.br>

Instituto Medeiros de Educação Avançada – IMEA – João


Pessoa - PB

1. Saúde e Meio ambiente 2. Planejamento e Gestão ambiental 3.


Sustentabilidade 4. Meio ambiente e desenvolvimento I. Giselle
Medeiros da Costa One II. Meio ambiente: tecnologia, trabalho e
pesquisa 1
CDU: 577

Laureno Marques Sales, Bibliotecário especialista. CRB -15/121

Direitos desta Edição reservados ao Instituto Medeiros de Educação Avançada –


IMEA
Impresso no Brasil / Printed in Brazil

3
IMEA
Instituto Medeiros de Educação
Avançada
Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer
meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico,
gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições
aplicam-se também às características gráficas e/ou
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(Código Penal art. 184 e §§; Lei 9.895/80), com
busca e apreensão e indenizações diversas (Lei
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Todas as opiniões e textos presentes


neste livro são de inteira responsabilidade
de seus autores, ficando o organizador
isento dos crimes de plágios e
informações enganosas.

IMEA

Instituto Medeiros de Educação Avançada

Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;


João Pessoa - PB
58032-100
Impresso no Brasil
2024

4
Aos participantes do CINASAMA pela
dedicação que executam suas atividades e
pelo amor que escrevem os capítulos que
compõem esse livro.

5
Bons alunos aprendem a matemática numérica,
alunos fascinantes vão além, aprendem a
matemática da emoção, que não tem conta
exata e que rompe a regra da lógica. Nessa
matemática você só aprende a multiplicar
quando aprende a dividir, só consegue ganhar
quando aprende a perder, só consegue receber,
quando aprende a se doar.
Augusto Cury
6
PREFÁCIO

O CINASAMA é um evento que tem como objetivo proporcionar


subsídios para que os participantes tenham acesso às novas exigências
do mercado e da educação. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito
Educacional, Biológico, na Saúde, Nutricional e Ambiental de direcionar
todos que formam a Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana
e Educação socioambiental para a Vida.

O livro “Meio ambiente: Tecnologia, trabalho e pesquisa 1” tem


conteúdo interdisciplinar, contribuindo para o aprendizado e
compreensão de várias temáticas dentro da área em estudo. Os eixos
temáticos abordados como Saúde e meio ambiente, Planejamento e
Gestão ambiental, Meio ambiente e desenvolvimento
e Sustentabilidade garantem uma ampla discussão, incentivando,
promovendo e apoiando a pesquisa.
Esta obra é uma coletânea de pesquisas de campo e
bibliográficas, fruto dos trabalhos apresentados no Congresso
Internacional de Saúde e Meio Ambiente realizado em Dezembro de
2023. O organizador objetivou incentivar, promover, e apoiar a
pesquisa em geral para que os leitores aproveitem cada capítulo como
uma leitura prazerosa e com a competência, eficiência e profissionalismo
da equipe de autores que muito se dedicaram a escrever trabalhos de
excelente qualidade direcionados a um público vasto.
Esta publicação pode ser destinada aos diversos leitores que se
interessem pelos temas debatidos.
Aproveitem a oportunidade e boa leitura.

7
SUMÁRIO
MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO _________________________ 13

CAPÍTULO 1 _________________________________________________ 14
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA. ___________ 14
CAPÍTULO 2 _________________________________________________ 33
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA NATURAL:
OLHO D’ÁGUA ______________________________________________ 33
CAPÍTULO 3 _________________________________________________ 50
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS:
ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA ________________________________________________ 50
CAPÍTULO 4 _________________________________________________ 69
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS (ÍNDICE DE
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL) ___________________________ 69
CAPÍTULO 5 _________________________________________________ 90
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO ATINGIDA
NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA, BRASIL: ESTUDO
EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO___________________________________ 90
CAPÍTULO 6 ________________________________________________ 116
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA _______ 116
8
CAPÍTULO 7 ________________________________________________ 132
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA PROMOÇÃO
DA SEGURANÇA LABORATORIAL _______________________________ 132
CAPÍTULO 8 ________________________________________________ 151
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA. _______________________________________ 151
CAPÍTULO 9 ________________________________________________ 167
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE CORANTES
TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA __________________________ 167

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL ________________________ 188

CAPÍTULO 10 _______________________________________________ 189


ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE _____________ 189
ACOMPANHAMENTO DA LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE
COMBUSTÍVEIS SITUADA NO PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO
MARANHÃO _______________________________________________ 189
CAPÍTULO 11 _______________________________________________ 207
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA ____ 207
CAPÍTULO 12 _______________________________________________ 223
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM SÃO
BORJA/RS _________________________________________________ 223
CAPÍTULO 13 _______________________________________________ 241

9
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA) ________ 241
CAPÍTULO 14 _______________________________________________ 262
MAPEAMENTO DE USO E COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO DO RIO
JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E GESTÃO
AMBIENTAL _______________________________________________ 262
CAPÍTULO 15 _______________________________________________ 279
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO _____________________ 279

SAÚDE E MEIO AMBIENTE ____________________________________ 297

CAPÍTULO 16 _______________________________________________ 298


A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O COMPORTAMENTO
ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-ESCOLAR _______________ 298
CAPÍTULO 17 _______________________________________________ 316
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO DE
2018 A 2022 _______________________________________________ 316
CAPÍTULO 18 _______________________________________________ 340
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DESTINADAS AO
CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE HUMANA: CASO DE
ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ ____________________ 340
CAPÍTULO 19 _______________________________________________ 358

10
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA: UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS
__________________________________________________________ 358
CAPÍTULO 20 _______________________________________________ 376
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA._________________________________ 376
CAPÍTULO 21 _______________________________________________ 398
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS ________ 398
CAPÍTULO 22 _______________________________________________ 416
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E SAÚDE
DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA ____________ 416
CAPÍTULO 23 _______________________________________________ 433
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA ______________________________________ 433
CAPÍTULO 24 _______________________________________________ 453
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE,
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA DO IMPACTO DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS ________ 453
CAPÍTULO 25 _______________________________________________ 471
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO LUÍS,
MARANHÃO, BRASIL ________________________________________ 471
CAPÍTULO 26 _______________________________________________ 493
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS BRASILEIRAS NA
PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021 __________________ 493
CAPÍTULO 27 _______________________________________________ 512

11
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL ____________________________________________ 512

SUSTENTABILIDADE _________________________________________ 532

CAPÍTULO 28 _______________________________________________ 533


EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES SEM
PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ____ 533
CAPÍTULO 29 _______________________________________________ 553
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA NO
MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN ___________________ 553

12
MEIO AMBIENTE E
DESENVOLVIMENTO

13
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

CAPÍTULO 1

CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE


FRAGMENTADA.
Michelle Cristina Varela dos Santos1
1
Doutoranda do PRODEMA/UFPB.
michellle_biologia@hotmail.com

RESUMO: Diante do atual cenário de crise ambiental, num


contexto não apenas local, mas, mundial, estudos e ações
voltados à preservação e conservação dos ecossistemas
tornam-se cruciais para a tomada de decisões e sensibilização
de governantes e população, quanto a eminente necessidade
de mudanças de hábitos. Deste modo, o objetivo do presente
trabalho consiste em apresentar os fatores que ocasionam o
desmatamento do Bioma Caatinga, provocando sua
fragmentação e ameaçando a biodversidade existente em umas
das federações brasileiras, o estado do Rio Grande do Norte –
RN. Estudo realizado através de levantamento bibliográfico e
visitações em algumas áreas pontuais, pertencentes ao bioma
Caatinga da referida federação. Após análise criteriosa dos
dados fornecidos pelo material pesquisado, foi possível fazer
uma leitura holística das problemáticas que tangem o bioma
Caatinga no estado do Rio Grande do Norte e fatores
relacionados à fragmentação desse bioma no estado. Ademais,
torna-se urgente a quebra de paradigmas que qualificam
erroneamente o bioma Caatinga como pobre e pouco
biodiverso e a adoção de políticas públicas, econômicas,
sociais e de manejo, visando a conservação das áreas naturais
e recuperação das áreas desmatadas. Afim de mitigar os
impactos antrópicos, diminuir o processo de desertificação,
interromper os fatores que contribuem para as mudanças
climáticas e possibilitar a utilização adequada do bioma,

14
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

culminando inclusive, na melhora da qualidade de vida da


população residente no bioma.

Palavras-chave: Caatinga. Desmatamento. Preservação.


Conservação. Biodiversidade.

INTRODUÇÃO
O estado do Rio Grande do Norte é uma das 27
federações do Brasil, localizado na região Nordeste do país,
tendo como limites, a leste e norte o Oceano Atlântico, a oeste
o estado do Ceará e ao sul o estado da Paraíba, possui
atualmente 167 municípios distribuídos em uma área territorial
de 52.811,11km2. Com uma população aproximada de
3.302.406 habitantes (IBGE, 2022). Ao longo de décadas o
estado passou por inúmeras subdivisões regionais, a fim de
agrupar os municípios de acordo com suas características,
favorecendo assim o planejamento de políticas públicas e
tomada de decisões político-administrativas.
De acordo com o MDA (2005, p. 11),

Um espaço físico, geograficamente definido,


geralmente contínuo, compreendendo cidades e
campos caracterizados por critérios
multidimensionais, tais como o ambiente, a economia,
a sociedade, a cultura, a política e as instituições, e
uma população com grupos sociais relativamente
distintos, que se relacionam interna e externamente
por meio de processos específicos, onde se pode
distinguir um ou mais elementos que indicam
identidade e coesão social, cultural e territorial.

De forma genérica, o estado é dividido com base em


seus aspectos naturais, no que tange às faixas climáticas: Zona
da Mata, Agreste, Sertão e Meio Norte. Nesse contexto, existem
as mesorregiões: Leste Potiguar, Agreste Potiguar, Central

15
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

Potiguar e Oeste Potiguar. Desde os anos 70 são consideradas


as zonas continentais, como base para outras regionalizações,
ações e planejamentos de médio e longo prazo (Litoral Oriental,
Mossoroense, Alto do Apodi, Agreste, Caicó, Currais Novos,
Litoral Norte e Serras Centrais) (BARBOSA; PAZ; DANTAS,
2017; MARQUES, 2020).
Apesar de seu território relativamente diminuto quando
comparado com outros estados da federação, devido a sua
localização geográfica, próximo à linha do equador e com uma
extensa faixa litorânea, o Rio Grande do Norte apresenta uma
considerável variedade de paisagens e aspectos naturais.
Tendo como predominância, no entanto, aspectos relacionados
ao semiárido brasileiro (DANTAS; FERREIRA, 2010).
Geologicamente o território potiguar é formado
basicamente por rochas cristalinas, pertencentes a terrenos
antigos que datam do período Pré-cambriano, sendo cerca de
60% do território, o que abrange todo o Centro-oeste e parte do
Sul. Já as áreas do Centro-norte e Litoral, apresentam rochas e
terras sedimentares com formação mais recente, datadas das
eras Mesozoica e Cenozoica (DANTAS; FERREIRA, 2010).
O relevo é marcado por: Planície Costeira, Planícies
Fluviais, Tabuleiros Costeiros, Depressões e
Planaltos/Chapadas. A Planície Costeira se estende pelo
Litoral, com terrenos planos que podem ser alterados pelos
movimentos constantes das dunas. As Planícies Fluviais estão
situadas às margens dos rios, em sua maioria intermitentes ou
temporários (geralmente localizados nas áreas semiáridas),
mas com uma grande representatividade de rios perenes
(geralmente localizados na zona da mata). Os Tabuleiros
Costeiros são marcantes, associados à Planície Costeira,
quase que continuamente ao longo de todo o território litorâneo
(DANTAS; FERREIRA, 2010).

16
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

As depressões correspondem à Depressão Sublitorânia,


localizada entre os terrenos de maior altitude do estado, o
Tabuleiro Costeiro e o Planalto da Borborema, e a Depressão
Sertaneja, comum em outros estados do Nordeste, no RN está
localizada entre o Planalto da Borborema e a Chapada do Apodi
(MORAES NETO e ALKMIN, 2001; DANTAS; FERREIRA,
2010).
Correspondendo às áreas de altas altitudes, encontra-se
o Planalto da Borborema, constituído por terrenos de formação
geológica antiga, datadas do Pré-cambriano, onde estão
presentes os picos mais elevados do estado, influenciando de
forma marcante os aspectos climáticos da região. Além dele,
existem a Chapada de Serra Verde, na região setentrional,
circunvalada pelos tabuleiros costeiros e parte da depressão
sertaneja, e a Chapada do Apodi, situada a noroeste do estado,
onde ocorrem os vales dos Rios Apodi-Mossoró, Piranhas-Assú
(MORAES NETO e ALKMIN, 2001; DANTAS; FERREIRA,
2010).
Sobre a formação pedológica, os tipos de solos
existentes no RN podem apresentar uma variedade
significativa, no tocante às características naturais. Dentre os
mais comuns, os Pedregosos (solos Litólicos Eutróficos, Bruno
não Calcário), Arenosos (Areia Quartzosa, Latossolo Vermelho-
Amarela, Latossol), Argilosos (Podzólico Vermelho-Amarelo,
Vertisol), Sedimentos (Cambisol Eutrófico), Salinos (Solonchak
Solonétzico, Solontz Solodizado, Planosol Solódico), Calcáreos
(Rendzina), Várzea (solos Aluviais Eutróficos), Mangue (Solos
Aluviais Eutróficos) (EMBRAPA, 2001; DANTAS; FERREIRA,
2010).
O estado pode apresentar Clima úmido na parte sul
litorânea, estendendo-se dos municípios de Nísia Floresta a
Baía Formosa, aproximadamente 5%. Clima sub-úmido na faixa

17
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

localizada na Zona da Mata e Sudoeste Potiguar, semiúmido ou


sub-úmido seco em parte do Agreste e Oeste, esses
corresponde a cerca de 25% do território estadual. Mas grande
parte do território potiguar apresenta clima semiárido,
englobando a parte central do estado, numa faixa praticamente
contínua, do oeste ao Agreste, do Sul ao Litoral setentrional,
abrangendo 57% das terras potiguares, com algumas
ocorrências de clima semiárido rigoroso. Agrupando essas duas
ocorrências de clima semiárido, totaliza-se mais de 70% do
território (DINIZ; ARAÚJO; MEDEIROS, 2014).
Quanto à hidrografia do estado, esta se assemelha as
demais referentes ao semiárido brasileiro. Com a presença de
poucos cursos de fluviais perenes, sendo mais comuns os rios
intermitentes ou temporários. Os recursos hídricos mais
volumosos localizam-se nas áreas litorâneas e Agreste
Potiguar, no entanto, existem outros rios de grande relevância
localizados no interior. Os principais recursos fluviáteis
estaduais são: Piranhas-Açu ou Piranhas e Açu, Apodi-Mossoró
ou Apodi e Mossoró, Potengi, Ceará-Mirim, Trairi, Jacu,
Curimataú e Seridó (DINIZ; ARAÚJO; MEDEIROS, 2014).
O Rio Piranhas-Açu é considerado o mais importante do
estado em termos econômicos e sociais, possuindo o maior
volume em metros cúbicos, é o maior reservatório, represado e
utilizado para o abastecimento de uma grande parte da
população residente no oeste do estado, além de irrigação e
manutenção das práticas agropecuárias relevantes para
economia local, como o cultivo de frutas tropicais, para
consumo interno e exportação. O Rio Apodi-Mossoró é o
segundo maior rio do estado, apresentando grande relevância
para o município de Mossoró e cultura salineira do estado
(DINIZ; ARAÚJO; MEDEIROS, 2014).

18
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

O Rio Potengi, como o Apodi Mossoró, possui nascente


na Serra de Santana em Cerro Corá/RN, a jusante segue
cortando os municípios de São Tomé, São Paulo do Potengi,
Ielmo Marinho, Macaíba, São Gonçalo do Amarante, recebendo
seus afluentes, até chegar à capital do estado, Natal, onde
desemboca no oceano atlântico formando o porto do estado.
Os rios Ceará-Mirim e Trairi também possuem suas
nascentes em terras potiguares e apresentam grande
importância para agricultura e pecuária, principalmente da
região agreste do estado. Já os rios Jacu, Curimataú e Seridó
possuem nascentes no estado da Paraíba e seguem banhando
vários municípios do Seridó a Zona da Mata, com grande
relevância para atividades agropecuárias, sobretudo no interior
do estado (o Rio Seridó, que desagua no Rio Piranhas-Assú),
além de atividades pesqueiras no litoral Sul (Rios Jacu e
Curimataú) (DINIZ; ARAÚJO; MEDEIROS, 2014).
Por fim, o conjunto e interação desses, dentre outros
aspectos físicos resultam na formação das paisagens naturais
do estado, compondo a biodiversidade da flora e fauna locais.
Decorrente dos aspectos físicos supracitados, a
vegetação do RN pode ser bastante diversificada. Possuindo de
modo geral oito formações vegetais: Caatinga, Mata Atlântica,
Cerrado, Floresta Subcaducifólia, Floresta das Serras, Floresta
Ciliar de Carnaúba, Vegetação das Praias e Dunas e os
Manguezais (DEMARTELAERE, 2022).
Alvo de uma grande pressão antrópica, os recursos
florestais do RN sempre sofreram com a exploração predatória,
o que levou à supressão de sua formação nativa original, o que
existe hoje trata-se de uma sucessão vegetal secundária
inferior a existente anteriormente (SFB, 2018).
No RN, a Caatinga é predominante, abrangendo o
território quase por completo, com aproximadamente 90% de

19
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

cobertura. Contendo uma formação característica para o bioma,


pode ser classificada no estado em: caatinga hipoxerófila ou
arbustiva arbórea e caatinga hiperxerófila ou arbustiva (SFB,
2018).
Situadas na Caatinga, é possível encontrar no interior do
estado as florestas serranas, também conhecidas como os
Brejos de Altitude, locais de mata densa e de grande porte,
formando verdadeiras ilhas com espécimes típicas de florestas
temperadas. Além das florestas ciliares de Carnaúba,
distribuídas às margens de rios nas regiões oeste e setentrional
(SFB, 2018).
A Mata Atlântica está localizada na Zona da mata e
próxima ao Litoral Leste e Sul, sendo a segunda vegetação
mais predominante no estado, apesar de sua pouca extensão.
Encontra-se associada com mais quatro formações vegetais,
Floresta caducifólia, Cerrado, Manguezal e vegetação de praias
e dunas. Margeando a Mata Atlântica no sentido oeste, numa
posição de transição com a Caatinga está uma pequena faixa
de floresta caducifólia (SFB, 2018).
O Cerrado ocupa pequenos espaços nos extremo norte
e sul da Mata Atlântica. Já os manguezais adentram a Mata
Atlântica, margeando a foz dos principais rios que desaguam
nessas áreas. Por fim, nesse complexo de paisagens, está a
vegetação de praias e dunas (restinga), localizada em toda
extensão territorial do estado (DANTAS; FERREIRA, 2010;
SFB, 2018).
Em outras tipologias, O Inventário Florestal Nacional
(IFN) considerou as seguintes formações florestais no estado
do RN: Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional
Semidecidual, Savana-Estépica Arborizada (Caatinga),
Savana-Estépica Florestada (Caatinga), Savana Arborizada
(Cerrado), Savana (Cerrado), Manguezal, Palmeiral, Restinga

20
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

Arbórea (SFB, 2018). A flora do estado é composta por uma rica


variedade de espécies, em todas as formações vegetais,
sobretudo na Caatinga (bioma abordado neste trabalho).
O Rio grande do Norte possui papel relevante no cenário
nacional, ao que tange a produção e exportação de frutas,
produção salineira, pesqueira e principalmente turismo. A maior
parte dessas atividades está concentrada na faixa litorânea,
adentrando pelo agreste, no entanto as regiões do estado
cobertas pelo bioma Caatinga, são indispensáveis para a
economia, sociedade e principalmente manutenção dos
serviços ecossistêmicos.
Junto ao seu papel ecológico e manutenção dos serviços
ecossistêmicos, a Caatinga potiguar apresenta papel
imprescindível na formação social, cultural e econômica do
estado. Como ocorre nos demais estados do Nordeste. A
participação econômica se dá em diversos setores, sobretudo,
no energético, onde a extração de lenha e produção de carvão
é responsável por cerca de 30% da matriz enérgica (BEN/EPE,
2019). Ademais os produtos não madeireiros, como sementes,
frutos, plantas medicinais, fibras naturais, espécies forrageiras,
mel, entre outros (SBF, 2018).
Apesar da relevância e potencial do Bioma Caatinga,
para o país, Região Nordeste e em especial para o RN, fato
discutido ao longo desse trabalho. A exploração predatória, com
práticas inadequadas e desmatamento, tem agravado o
processo de desertificação do estado. Fazendo com que um
dos núcleos de desertificação do semiárido estejam inseridos
na região do Seridó potiguar.
No estado, as principais causas de agravamento e
processo de degradação são “o desmatamento, as práticas
agrícolas e pastoris inadequadas, as queimadas, a extração
ilegal de madeira, o uso de lenha não manejada que abastece

21
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

as carvoarias, cerâmicas, olarias e polos gesseiros” (ANA,


2020).
Esses fatores antrópicos associados às características
climáticas típicas da região (precipitação pluviométrica irregular,
baixa umidade e altas temperatura), além dos fatores físicos,
como: relevo, cobertura vegetal, tipos de solos e área de
drenagem, intensificam o processo de desertificação.
Considerando a importância da Caatinga, entidades
públicas como o Serviço Florestal Brasileiro - SFB e
organizações não governamentais vêm fomentando iniciativas
de conservação dos recursos naturais do bioma. Neste
contexto, o manejo florestal se apresenta como uma estratégia
de uso sustentável da floresta e de geração de renda para as
famílias que vivem no semiárido.
Diante do pressuposto, o objetivo do presente trabalho
consiste em apresentar os fatores que ocasionam o
desmatamento do Bioma Caatinga, provocando sua
fragmentação e ameaçando a biodversidade existente em umas
das federações brasileiras, o estado do Rio Grande do Norte –
RN.

MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa,
através de levantamento bibliográfico e documental, além de
estudo de campo realizado através de visitação e observação,
em algumas áreas do estado do Rio Grande do Norte.
De acordo com Sousa et al (2021), qualquer trabalho
científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, a qual
permite ao pesquisador conhecer e melhorar seu repertório
sobre aquilo que já se estudou sobre o assunto. Nesse
contexto, a pesquisa bibliográfica constitui uma etapa primordial

22
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

na realização de qualquer pesquisa, independente dos métodos


utilizados.
Na tabela 1 estão contidos os métodos de realização,
referentes a este trabalho.

Tabela 1: Etapas e fontes metodológicas.


Etapas: Fontes:
Levantamento Artigos, Livros, sites oficiais, Dados do CAR
bibliografico. (Cadastro Ambiental Rural), dados do IBGE,
dados do Inventário Florestal, dados do
MapBiomas.
Estudo de Alguns municípios das Microrregiões do
campo Agreste Potiguar e Borborema Potiguar
(visitação e
observação).

De acordo com Brito et al, (2021), a pesquisa bibliográfica


auxilia o pesquisador no processo de estudo e produção
científica, uma vez que possibilita a organização dos
conhecimentos e fornece uma visão holística e ampla dos
temas pesquisados.
Desse modo, após leitura sistemática de diversas obras
(livros, artigos científicos, teses, monografias, sites e
plataformas digitais), foi possível obter uma visão holística dos
dados fornecidos pelos meios supracitados e produzir um texto
com dados embasados na problemática abordada.
Quanto a etapa de observação, as visitações ocorreram
entre o período de 2019 a 2022, em municípios das
Microrregiões Agreste Potiguar e Borborema Potiguar,
pertencentes ao território Potengi. Nessa etapa da pesquisa de
campo foram realizadas trilhas em regiões com mata nativa do

23
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

Bioma Caatinga, registrados no SICAR como Áreas de Reserva


Legal (ARL). Para auxílio, fora utilizado apenas aparelho de
Smartphone, o qual serviu como ferramenta de localização das
áreas de conservação e mecanismo de captura das imagens. O
presente estudo contitui um recorte de um dos capítulos da
Tese em Produção da Autora deste trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O desmatamento consiste, atualmente, em um dos
maiores desafios na preservação da Caatinga. Apesar de sua
importância, o bioma tem sofrido supressão desde a época
colonial, fator comum a todos os biomas brasileiros. No entanto,
as caractéristicas naturais da Caatinga, intensificam o processo
de devastação, levando à aceleração de sua fragmentação e
ameça a sua capacidade de recuperação, com o surgimento de
áreas suceptíveis à desertificação.
De acordo com dados do Relatório Anual de
Desmatamento (RAD) do MapBiomas, referente ao de 2022, a
Caatinga aparece em terceiro lugar como bioma mais
desmatado, com 18,4% dos alertas e 140.637 (ha) de área
desmatada (6,8% da área total do bioma), ficando atrás apenas
da Amazônia e do Cerrado, dado que tem se repetido nos
últimos anos. (tabela 2).
Vale salientar, que durante muitos anos, estudos e dados
assertivos referentes ao bioma Caatinga foram negligenciados,
levando a uma lacuna de dados quanto a cobertura nativa e
supressão das áreas referentes ao bioma. Fato que justifica um
baixo índice de desmatamento da Caatinga ao longo dos anos
em alguns estudos e levantamentos referenciais. O que não
transparece o grau de devastação da Caatinga em todo
território nacional.

24
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

Tabela 2: Percentual da área (ha) total desmatada dos


principais biomas brasileiros, nos últimos quatro anos. (%)
Biomas 2019 2020 2021 2022
brasileiros
Amazônia 63,2 60,9 59 58
Caatinga 1 4,4 7 6.8
Cerrado 33,5 31,2 30,2 32,1
Mata Atlântica 0,9 1,7 1,8 1,5
Pampa 0,1 0,1 0,1 0,2
Pantanal 1,4 1,7 1,7 1,5
Fonte: RADMapBiomas

Outro fator atenuante para a discrepância entre os dados


referenciais e a realidade existente, é a falta de fiscalização e
notificação de infrações ambientais, relativas ao desmatamento
e crimes ambientais acometidos à Caatinga. Restrigindo-se à
fiscalização apenas nas áreas de conservação, as quais
sempre representaram um território diminuto do bioma.
Atuamente menos de 2% das Unidades de Conservação
(UCs) da Caatinga são destinadas à preservação integral.
Apesar do avanço nos últimos anos, todas as UCs do bioma,
equivalem a menos de 8%, quantitativo muito aquém da
dimensão territórial e importância ecossistêmica e social da
Caatinga (tabela 3) (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO –
SFB, 2019).
No estado do Rio Grande do Norte existem 27 UCs, o
que equivale a uma área de 238 hectares, totalizando 4,5 % do
território estadual. Dessas, apenas 7 contemplam o bioma
Caatinga, sem envolver biomas costeiros, o que representa
menos 0,1% do território estadual (SERVIÇO FLORESTAL
BRASILEIRO – SFB, 2019).

25
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

Tabela 3: Quantitativo dos principais biomas brasileiros.


Biomas Área total Área Área de Área de
(ha) total Unidades de Unidades de
(%) Conservação Conservação
Federal e Federal e
Estadual (ha) Estadual (%)
Amazônia 419.694.300 49,3* 120.275.000 28,5
Caatinga 84.445.300 9,9* 7.452.900 7,7
Cerrado 203.644.800 23,9* 17.773.700 28,5
Mata Atlântica 111.018.200 13,0* 11.553.700 10,4
Pampa 17.649.600 2,1* 506.700 2,9
Pantanal 15.035.500 1,8* 689.100 4,6
Total 851.487.700 100* 158.251.100 *
Fonte: SFB (2019).* Com base na área total do Brasil.

No estado do RN a Caatinga abrange quase totalidade


da cobertura vegetal existente, incluindo as zonas de transição.
Sendo assim, um bioma de extrema relevância e vitalidade, no
que cerne aos aspectos naturais (manutenção climática,
biodiversidade, regime de chuvas), econômicos (agropecuária,
turismo) e culturais (literatura, música, dança, artesanto).
Nessa perspectiva, dentre as principais atividades que
contribuem para supressão da Caatinga no Rio Grande do
Norte, segundo dados do RAD (2022), são:
• As práticas agropecuárias, que sem o manejo adequado
dos recursos naturais (solos, recursos hídricos e vegetação),
representaram 31,1 % dos principais vetores de desmatamento
no ano de 2022.
• Outros fatores corresponderam a 64,7% dos vetores de
desmatameno, os quais abrangem as olarias (atividade antiga
que causa supressão da Caatinga e vulnerabilidade ambiental
do bioma); a exploração ostensiva dos recursos naturais
(extração de areia, caça predatória e retirada de madeira);
atualmente, a instalação de grandes empreendimentos em
áreas de conservação do bioma (parques eólicos e solares).

26
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

• Além da Expansão urbana, que correspondeu em 2022, a


2,3% de causas de desmatamento.

Figura 1: Algumas atividades que intensificam o desmatamento


da Caatinga no Rio Grande do Norte (São Pedro, São Tomé,
Santa Maria, Ruy Barbosa e Ielmo Marinho).

Fonte: Acervo da autora (2021)

Tais ações associadas à desinformação da população,


quanto a importância de preservação do bioma, ocasionam e
intensificam os desmatamentos nas regiões que abrigam os
remanescentes de áreas nativas do bioma no estado.
Em consonância com o pressuposto, comparando os
dados referentes a ação antrópica no bioma Caatinga,
localizado no Rio Grande do Norte, é possível obter um
panorama do desmatamento ocorrido no bioma nos últimos
quatro anos. (figura 2).

27
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

Figura 2: Gráfico com percentual da área da Caatinga


desmatada e número de alertas entre os anos de 2019 a 2022.

100
Área desmatada
90
80 Alertas com ações
70
60
50
(%)

40
30
20
10
0
2019 2020 2021 2022
Fonte: RAD – MapBiomas (2022).

*Dados consolidados dos alertas de


desmatamento validados pelo MapBiomas nos
estados e no Brasil entre 2019 e 2022 que cruzam
com ações de fiscalização dos órgãos federais
(Ibama e ICMBio) e/ou estaduais, realizadas até
Maio de 2023.

Apesar dos dados de desmatamento, emitidos pelo RAD


- MapBiomas, apontar uma diminuição significativa de quase
70% no desmatamento, entre os anos de 2019 a 2022, o
percentual de floresta desmatada permanece preocupante.
Uma vez que esse desmatamento está diretamente relacionado
ao agravamento das mudanças climáticas, que acometem a
biosfera em sua totalidade.
O dematamento florestal causado por ações antrópicas,
provoca o agravamento do aquecimento climático,
Intensificando o efeito estufa e consequentemente o aumento
das temperaturas, de forma mais nociva aos ambientes

28
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

terrestres do que os eventos ocorridos de forma natural. Esse


fenômeno afeta o Planeta de forma global (SCOTT et al, 2018).
Com base nos dados do RAD – MapBiomas (2022), a
maior parte dos municípios do estado, apresentaram em 2022
algum alerta para desmatamentos, com uma maior incidência
nos municípios de Apodi, Açu, Mossoró, Serra do Mel e
Baraúna (fig. 3). É oportuno ressaltar, que esses dados
referem-se apenas aos casos notificados e com ações
implementadas. Podendo na realidade, representar um
quantitativo superior, já que ações de desmatamento e
supressão de flora ainda são banalizadas e relalizadas de forma
ampla em todo estado.

Figura 3. Quantitativo das ocorrências de desmatamento nos


municípios potiguares em 2022.

Fonte: RAD – MapBiomas (2022).

Outro dado relevante apresentado pelo RAD (2022),


refere-se a área de desmatamento mensal no estado (ha/mês).
De acordo com esses dados, os meses com maior incidência

29
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

de desmatamento são julho, setembro, dezembro e fevereiro


(este com maior número).
Relacionando esses resultados às características
naturais/ambientais e sociais/culturais do estado, é possível
ratificá-los, já que os meses de julho a dezembro são os mais
quentes do estado, inclusive com grande número de focos de
incêndio e no mês de fevereiro, com a estação chuvosa
chegando, ocorre o preparo do solo para as práticas agrícolas,
o que gera intensificação na supressão vegetal.
Desse modo, o estigma de bioma pobre em recursos e
biodiversidade, precisa ser superado e adotada uma nova
visão, ajustada e consciente quanto as particularidades naturais
da Caatinga e seu potencial ecossistêmico, ecológico,
econômico e social, para que assim hajam ações e atitudes
voltadas a sua preservação.

Figura 4: Algumas paisagens da Caatinga no Estado do Rio


Grande do Norte (Riachuelo, Barcelona, São Tomé, Ruy
Barbosa e São Paulo do Potengi).

Fonte: Acervo da autora (2021).

30
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

CONCLUSÕES
Diante do exposto, os fatores tradicionais e atuais
operam comumente, na supressão da vegetação nativa da
Caatinga, causando a fragmentação desse bioma e
ocasionando a perda da biodiversidade.
Não obstante, as ações antrópicas que afetam os demais
biomas brasileiros ao longo da história, tem afetado de forma
pontual o bioma caatinga, devido às particularidades naturais
desse bioma. O qual sempre despontou como um dos biomas
mais ameaçados e menos protegidos do país, persistindo tal
problemática até os dias atuais.
Desse modo, a necessidade de medidas imediatas e
incisivas para mitigação e reversão, mesmo que incipiente,
tornam-se urgentes. Uma vez que, os problemas climáticos
estão ligados diretamente ao desmatamento das florestas e
vegetações naturais.

AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador por toda confiança e paciência e às
minhas queridas filhas pela ajuda e compreensão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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sustentável da água. Água e Floresta: uso sustentável da Caatinga.
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31
CAATINGA POTIGUAR: BIODVERSIDADE FRAGMENTADA.

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<https://doi.org/10.34117/bjdv8n11-144>. Acesso em: 25 de novembro de
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SOUSA, A. S.; OLIVEIRA, S. O.; ALVES, L H. A Pesquisa Bibliográfica:
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32
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
CAPÍTULO 2

ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E
ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA NATURAL:
OLHO D’ÁGUA
Girleide Ferreira da SILVA 1
Joyce dos Santos FARIAS 1
Antônio Cícero de SOUSA 2
Gesivaldo Jesus Alves FIGUEIRÊDO 3
1
Graduandas do curso de Licenciatura em Química, IFPB; 2 Professor do Curso de
Licenciatura em Química no IFPB; 3 Orientador/Professor do Curso de Licenciatura em
Química no IFPB.
girleide.ferreira@academico.ifpb.edu.br.

RESUMO: A água constitui 75% do corpo humano, tornando-


se imprescindível à vida. Dessa forma, as nascentes naturais
em comunidades rurais assumem um papel crucial ao fornecer
água para moradores circunjacentes, visto que são fontes
naturais essenciais para atender às necessidades básicas
desses povoados. Sendo assim, é imperativo analisar
minuciosamente essas fontes hídricas para avaliar não apenas
a disponibilidade imediata de água, mas também a qualidade e
a segurança do abastecimento. O presente trabalho tem como
objetivo realizar a caracterização , preservação e avaliar a
qualidade da água do Olho d'água no sítio Cana Brava, situado
em Timbaúba-PE. Este estudo visa realizar análises detalhadas
dos parâmetros físicos e químicos por meio de amostras de
água coletadas nesta fonte, a fim de identificar a potabilidade
da água e, por conseguinte, garantir a saúde e o bem-estar da
comunidade local. Nesse contexto, foram realizadas sete
análises, incluindo pH, turbidez, cor, cloro, cloretos, dureza e
condutividade. Os resultados foram, em sua maioria,
satisfatórios, indicando uma água adequada para consumo. No
entanto, observou-se a necessidade de uma atenção adicional

33
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
aos níveis de cloro e condutividade dessa água. Além disso,
para avaliar completamente a qualidade da água, seria
necessário incluir análises de parâmetros microbiológicos, que
são essenciais para identificar a possível presença de
patógenos que poderiam representar riscos à saúde humana.
Palavras-chave: Nascentes Naturais. Olho d’água.
Abastecimento.

INTRODUÇÃO
A água é um recurso essencial para a vida e o
desenvolvimento humano. Entretanto, como salientado por
Nascimento et al. (2019), nas áreas rurais, a obtenção de água
potável permanece uma realidade distante em diversas
localidades, devido a uma series de desafios que abrangem
desde a ausência de infraestrutura apropriada até questões
vinculadas à gestão sustentável dos recursos hídricos.
Nesse contexto, as nascentes se destacam como
elementos essenciais para a formação de corpos hídricos,
desempenhando um papel crucial na garantia da
disponibilidade de água (Santana et al., 2016). Essas fontes
naturais alimentam riachos, rios e aquíferos, além de
desempenharem uma importante contribuição ao fornecer água
potável para as comunidades rurais, sendo a base para a
subsistência e o desenvolvimento sustentável dessas regiões.
Diante disso, conforme Pieroni et al. (2019), as
nascentes são pontos onde a água brota naturalmente do solo,
marcando o início de cursos d'água. Essas fontes são
alimentadas pela água subterrânea que emerge até a
superfície, frequentemente resultando em um fluxo contínuo de
água fresca. Além disso, esse processo contribui
significativamente para a estabilidade dos ecossistemas locais,

34
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
fornecendo um ambiente propício para uma diversidade de
formas de vida.
Sob esse viés, a água proveniente das nascentes é
frequentemente considerada potável e consumida sem análises
aprofundadas (Profirio, 2020). No entanto, é essencial
compreender e analisar as características específicas dessas
fontes para avaliar sua qualidade e segurança hídrica. Portanto,
a mera suposição de que todas as nascentes fornecem água
potável pode resultar em riscos para a saúde, considerando que
diversos fatores podem influenciar a pureza e a potabilidade
desse recurso.
Dessa forma, segundo Oliveira et al. (2020), é crucial
adotar abordagens mais informadas e sistemáticas na gestão
dessas fontes de água, pois a análise das características
químicas, físicas e biológicas da água das nascentes
proporciona informações valiosas sobre as condições
ambientais locais e eventuais impactos antrópicos. Sendo
assim, esse conhecimento aprimora a compreensão da
qualidade da água e orienta a implementação de medidas
preventivas e corretivas, se necessário, para garantir a
preservação dessas fontes.
Dentro dessa perspectiva, a fonte natural denominada
"Olho d'água" desempenha um papel vital ao fornecer água
para numerosas moradias rurais, tornando-se imperativo
realizar análises para avaliar parâmetros essenciais para o
consumo humano, garantindo a qualidade da água das
comunidades que dependem dessas fontes para suas
necessidades.
Considerando que a qualidade da água é
intrinsecamente moldada pelas relações dinâmicas entre o
ambiente natural e as ações antrópicas (Calado. 2020), é
crucial reconhecer que o "Olho d'água" não está imune aos

35
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
impactos dessas interações. A inter-relação abrange uma
diversidade de fatores, incluindo características geológicas,
climáticas e biológicas, que exercem influência direta sobre a
composição química e física da água proveniente dessa fonte.
Nesse contexto, a atenção às atividades humanas é
fundamental, uma vez que estas desempenham um papel
preponderante na modificação dessas características, podendo
resultar em impactos significativos na qualidade dos corpos
hídricos. Desse modo, o desenvolvimento sustentável dessas
áreas depende, portanto, da implementação de práticas
responsáveis e da conscientização sobre a importância da
preservação ambiental.
Portanto, o objetivo central deste trabalho é direcionado
para a condução de um estudo abrangente de caracterização e
preservação, incluindo a análise dos parâmetros físicos e
químicos da fonte de água denominada "Olho d'água",
responsável pelo abastecimento da comunidade do sítio Cana
Brava, localizada no município de Timbaúba. E diante dos
resultados obtidos a partir desta caracterização, serão
considerados pontos de discussões e considerações
contributivos para a manutenção e preservação do “Olho
d’água” em estudo.

MATERIAIS E MÉTODO
A área de pesquisa está situada no Sítio Cana Brava, na
cidade de Timbaúba, Pernambuco. Suas regiões geográficas
são aproximadamente 7°35' 54"S de latitude e 35°19' 06"W de
longitude, com uma altitude de 169 metros acima do nível do
mar.
A Figura 1 apresenta uma visão aérea da região,
destacando o olho d'água e a comunidade circundante,
abrangendo aproximadamente 394.262,24m². Para o

36
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
georreferenciamento, utilizou-se a plataforma Google Earth,
garantindo uma identificação precisa da localização da área de
estudo.

Figura 1: Imagem de satélite da área de estudo

Fonte: Autoria própria (2023).

A identificação do Olho d’água nessa imagem aérea nos


leva a compreender que existe uma distância considerada entre
a nascente d’água e a comunidade, naturalmente isso é
favorável a preservação desta fonte. E com a finalidade de
prover água às residências do sítio Cana Brava, esta nascente
passou por um revestimento com cimento (Figura 2A),
permitindo o abastecimento domiciliar por meio de
encanamento e assegurando o acesso à água para todos os
moradores. Importante mencionar que, além do revestimento, a

37
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
fonte é coberta para reduzir o risco de contaminação (Figura
2B).

Figura 2: Fonte de olho d’ água

Fonte: Autoria própria (2023).

Para a realização dos ensaios analíticos foram coletadas


duas amostras de água na referida fonte, correspondente a 2,5L
aproximadamente. Posteriormente, as investigações foram
conduzidas no Laboratório de Química e Controle Ambiental do
Instituto Federal da Paraíba, Campus João Pessoa, pelo grupo
de pesquisadores envolvidos no presente estudo. Os
procedimentos de coleta, preservação, preparação e análises
dos parâmetros contemplados no estudo encontram-se
descritos no “Standard Methods for the Examination of Water
and Wastewater”, 21ª ed. APHA, 2005.
Com o objetivo de garantir a precisão, todas as análises
foram realizadas em duplicata. Essa abordagem envolve a
realização de duas análises independentes da mesma amostra

38
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
de água. Com base nisso, a tabela 1 apresenta os parâmetros
investigados com base nessa abordagem.

Tabela 1: Parâmetros investigados no estudo


Parâmetros Objetivos

Avaliar a quantidade de partículas


Turbidez sólidas em suspensão

Verificar a acidez ou alcalinidade


pH

Determinar a concentração do Íon


Cloro cloro para garantir a ausência de
microrganismos

Cor Determinar a presença de


substâncias dissolvidas na água.

Identificar a capacidade de conduzir


Condutividade corrente elétrica.

Dureza Determinar a concentração de íons


de cálcio e magnésio

Cloreto Medir a concentração de íons cloreto


na água
Fonte: Autoria própria (2023).

Os valores para cada dado paramétrico obtido, foram


interpretados de acordo com os padrões de potabilidade de
água estabelecidos pela Legislação Vigente, Portaria nº 888, de
04 de Maio de 2021, a qual define e fornece subsídios para os
limites específicos de cada parâmetro. Notadamente, essa
Portaria foi publicado pelo órgão, Gabinete do
Ministro/Ministério da Saúde, e dispõe sobre os procedimentos

39
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

ANÁLISE DOS PARÂMETROS INVESTIGADOS


A determinação da qualidade da água envolveu a análise
dos parâmetros físicos e químicos, visando avaliar sua
potabilidade. Os resultados detalhados dessas análises estão
apresentados na Tabela 2, destacando informações essenciais
para compreender a condição do recurso hídrico em questão.

Tabela 2: Resultados da análise da água da nascente


Parâmetros físicos e Amostra 1 Amostra 2
químicos
Turbidez 0,28 NTU 0,33 NTU
pH 6,27 6,28
Cloro 0,03 mg/L 0,05 mg/L
Cor 0,48 uH 0,27 uH
Condutividade 341, 8 µS/cm 329,6 µS/cm
Dureza 29,12 mg/L 30,38 mg/L
Cloreto 69 mg/L 69,5 mg/L
Fonte: Própria
A obtenção desses resultados apresentados na Tabela 2
envolveu uma abordagem meticulosa, utilizando quatro
dispositivos especializados: um turbidímetro para avaliação da
turbidez(Figura 3A), um pHmetro para medição do pH(Figura
3B), um colorímetro para medir a cor da água (Figura 3C) e um
medidor de cloro para avaliar e determinar a concentração de
cloro nas amostras (Figura 3D) Os valores qualitativos e
quantitativos obtidos nesta investigação foram correlacionados
com a vigente Portaria GM/MS nº 888/2021. A Figura 3, ilustra

40
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
os respectivos instrumentos utilizados para analisar a qualidade
da água em estudo.

Figura 3: Os instrumentos utilizados para análise

Fonte: Própria(2023)
Na determinação do atributo dureza, a amostra de água
passou por análise de volumetria, daí foi conduzida uma
titulação precisa seguindo o método titulométrico com EDTA
(etilenodiamino tetra-acético). Inicialmente, 100 mL da amostra
foram transferidos para um erlenmeyer, ao qual foi adicionada
uma pequena quantidade de indicador negro de eriocromo.
Subsequentemente, 1 mL de uma solução tampão (NH 3/NH4Cl)
com pH 10 foi introduzido na solução. Após essa etapa, o pH
da solução foi medido utilizando papel indicador, revelando um
meio alcalino (pH 8). Em seguida, a solução foi titulada com

41
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
EDTA a uma concentração de 0,01266 mol/L até a mudança de
coloração do vermelho para azul violeta, conforme ilustrado na
Figura 4.

Figura 4: Determinação da dureza na amostra de água.

Fonte: Própria (2023)

Nesse contexto, é viável calcular a Dureza Total (Dt) da


amostra por meio da seguinte equação:
Equação 1: Dureza total
Dt = V(gasto) x C(EDTA) x 100.000 / V(amostra)
Em que, V(gasto) representa o volume gasto durante a
titulação, C(EDTA) é a concentração do titulante EDTA, e V(amostra)
corresponde ao volume da amostra empregado no processo. A
aplicação desta equação permitiu a determinação da Dureza
Total para ambas as amostras de água, sendo essencial
considerar a precisão e os valores obtidos durante a titulação.
Além disso, procedeu-se a uma titulação para determinar
o teor de íons cloreto na amostra. Inicialmente, foi transferido
100 mL da amostra para um erlenmeyer, ao qual adicionou-se

42
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
1 mL do indicador cromato de potássio (K2CrO4).
Posteriormente, esta alíquota da amostra de água foi titulada
com a solução de Nitrato de Prata (AgNO3) na concentração de
0,01 mol/L até ocorrer a mudança de coloração, do amarelo
para o vermelho tijolo, conforme ilustrado na Figura 5.

Figura 5: Titulação para Determinação do Teor de Íons Cloreto


na Amostra de Água.

Fonte: Própria (2023)

Nesse cenário, é possível calcular a quantidade de íons


cloreto na amostra utilizando a seguinte equação:
Equação 2:

Cl− = V(gasto) × 500 / V(amostra)

Em que, V(gasto) representa o volume utilizado durante a


titulação, e V(amostra) corresponde ao volume da amostra
utilizado no processo. Dessa forma, essa equação permite
determinar e identificar a quantidade de íons cloreto presente
na amostra de água, contribuindo fundamentalmente para a
análise precisa da composição química da água estudada.

43
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA

COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS COM A PORTARIA


GM/MS nº 888/2021
A turbidez da água refere-se à medida da quantidade de
partículas sólidas em suspensão na água ou em outro fluido,
que causam a opacidade ou a turvação do meio. Essas
partículas podem incluir sedimentos, argila, algas,
microrganismos e outros materiais em suspensão (Silva Júnior;
Pereira, 2021). Assim, de acordo com a Portaria nº 888/2021,
que estabelece o Valor Máximo Permitido (VMP) de turbidez em
5 NTU, as duas amostras analisadas, com variação entre 0,28
a 0,33 NTU, encontram-se significativamente abaixo do limite
estabelecido. Esses resultados indicam que a qualidade da
água em termos de turbidez está em conformidade com as
normas estabelecidas pela legislação vigente.
O pH indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de
uma solução aquosa, desempenhando um papel crucial na
qualidade da água (Rocha et al., 2016). Segundo os padrões de
potabilidade da água estabelecidos pelo Ministério da Saúde, o
pH ideal deve situar-se entre 6,0 e 9,0. E esta faixa de pH
garante as condições adequadas de água para o consumo
humano (Brasil, 2021).
Com base nos resultados obtidos, as amostras
analisadas apresentam valores de pH entre 6,27 e 6,28,
encontrando-se, portanto, em conformidade com as diretrizes
estabelecidas pela Portaria nº 888/2021. Essa faixa de pH
dentro dos limites estabelecidos indica que a água está em uma
condição aceitável para o consumo humano, proporcionando
não apenas a segurança sanitária, mas também garantindo que
a água atenda aos requisitos de qualidade estabelecidos pelos
órgãos reguladores.

44
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
A presença de cloro na água desempenha um papel
fundamental na garantia de sua potabilidade, uma vez que ele
é amplamente utilizado como desinfetante para eliminar
microrganismos patogênicos. Conforme estabelecido pela
Portaria nº 888/2021, que define os padrões de potabilidade da
água, a faixa permitida para a concentração de cloro livre é de
0,2 a 2,0 mg/L.
No entanto, é relevante observar que, em águas de
nascentes, a presença de cloro muitas vezes é naturalmente
inferior a esse limite. Os valores das amostras é 0,03 a 0,04
mg/L de cloro, dessa maneira, embora os valores de cloro nas
amostras de águas de nascentes estejam abaixo do limite
mínimo estabelecido pela Portaria nº 888/2021, é importante
considerar que a presença natural de cloro nestes ambientes
pode variar. E como se trata de uma fonte de água natural já
era esperado a “ausência” de cloro, pois este parâmetro é
adicionado a partir de um tratamento da água para garantir a
eliminação e/ou proliferação de agentes patogênicos.
O parâmetro "cor da água" refere-se à coloração
aparente da água. Entretanto, esse parâmetro não se refere
apenas à cor visual percebida, mas também pode indicar a
presença de substâncias que afetam a transparência da água
(Souza, 2023). Com base nos valores obtidos nas amostras de
0,48 uH e 0,27 uH para a cor da água, conforme estabelecido
pela Portaria MS N° 888/2, podemos concluir que as amostras
estão em conformidade com as diretrizes regulatórias. A vigente
Portaria estabelece um limite de 15 uH para a cor e os valores
obtidos nas amostras estão significativamente abaixo desse
limite.
A condutividade da água é uma medida crucial da sua
capacidade de conduzir corrente elétrica, sendo influenciada
pela presença de íons dissolvidos, tanto positivamente quanto

45
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
negativamente carregados. Embora as legislações vigentes não
estabeleçam um valor orientador específico para esse
parâmetro, estudos conduzidos pela Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo (CETESB) em 2017 indicam que níveis
desse parâmetro maiores a 100 µS/cm podem ser indicativos
de impactos negativos na água.
Nessa perspectiva, os valores obtidos nas amostras,
registrando 341,8 µS/cm e 329,6 µS/cm, apontam para uma
condutividade consideravelmente acima do limite sugerido.
Essa elevada condutividade pode indicar a presença de íons
em concentrações superiores ao normal, sugerindo a
possibilidade de impactos ambientais no tocante a qualidade da
água destinada ao consumo humano.
A dureza da água, medida pela concentração de íons de
cálcio e magnésio dissolvidos, é uma característica que pode
variar de acordo com a quantidade desses minerais presentes
na água. A classificação da água em termos de dureza pode ser
feita com base na quantidade desses íons, dividindo-se em
categorias como mole, dureza moderada, dura e muito dura
(Merville, 2022).
Com base nos resultados das análises, em que os
valores de dureza foram registrados em 29,12 mg/L e 30,38
mg/L, verifica-se que ambos estão significativamente abaixo do
limite estabelecido pela Portaria GM/MS nº 888/2021 para água
potável, que é de 300 mg/L em termos de Carbonato de Cálcio
(CaCO3). Esses resultados indicam que a água analisada está
em conformidade com as normas regulatórias em relação à
dureza total. A baixa concentração de íons de cálcio e magnésio
dissolvidos nessas amostras sugere que a água é considerada
"mole" de acordo com as classificações usuais de dureza.
Os cloretos em água são representados pelos íons
cloretos (Cl-), que desempenham um papel crucial na avaliação

46
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
da qualidade hídrica, refletindo tanto processos naturais quanto
atividades humanas. O monitoramento dos níveis de cloretos é
imperativo para determinar a adequação da água para diversos
usos, uma vez que concentrações elevadas podem
desencadear a corrosão de infraestruturas metálicas e
influenciar negativamente o sabor e odor da água.
Nesse contexto, o Ministério da Saúde estabeleceu um
padrão de 250 mg/L de cloretos em água. Ao analisar as
amostras, que apresentaram valores de 69 mg/L e 69,5 mg/L,
observa-se que ambas estão abaixo do limite estabelecido,
indicando a conformidade com as diretrizes de qualidade da
água.

CONCLUSÕES
Dessa forma, este estudo proporcionou uma avaliação
detalhada e abrangente da potabilidade da água proveniente do
olho d'água do sítio Cana Brava. E observou-se que os
parâmetros de turbidez, cor, pH, dureza e cloretos estão em
conformidade com as diretrizes do Ministério da Saúde,
indicando uma qualidade adequada para o consumo humano.
No entanto, é crucial ressaltar que a condutividade demonstra
valores elevados, sugerindo a presença de substâncias
dissolvidas na água. Além disso, os níveis de cloro estão abaixo
do ideal, apontando a necessidade de correção para garantir a
ausência de ações microbianas e, para tanto, faz-se necessário
uma atenção preventiva e mais cuidadosa a partir da introdução
de cloro livre dentro do limite estabelecido pela Portaria GM/MS
nº 888/2021, na água disponível ao abastecimento da
comunidade rural do sítio Cana Brava.
Ressalta-se que, para análises mais abrangentes e
cautelosas, seria necessário incluir a avaliação dos parâmetros
microbiológicos. Essa medida adicional permitiria uma

47
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
compreensão mais completa da potabilidade e segurança
sanitária da água, garantindo a proteção efetiva da saúde da
comunidade que faz uso desse recurso hídrico. Porém, diante
da dificuldade de efetuar a coleta e realizar as análises em um
tempo limitado (tempo de duas horas entre a coleta e análise)
os parâmetros microbiológicos foram retirados do estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Examination of Water and Wasterwater. 21ª Ed, 2005.
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de maio de 2021. Altera o Anexo XX da Portaria de Consolidação GM/MS
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controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu
padrão de potabilidade. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, ed.
85, p. 127, 07 maio. 2021. Disponível em:
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48
ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DA FONTE DE ÁGUA
NATURAL: OLHO D’ÁGUA
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2023.

49
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

CAPÍTULO 3

EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL


E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS:
ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM
QUÍMICA PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA
Kyedja Sandy Guimarães MELO1
Joyce dos Santos FARIAS1
Girleide Ferreira da SILVA 1
José Cauã Klaiwert Assis da SILVA 1
Alessandra Marcone Tavares Alves de FIGUEIRÊDO 2
1
Graduandos do curso de Licenciatura em Química, IFPB; Orientadora/Professora do IFPB 2.
kyedja.sandy@academico.ifpb.edu.br.

RESUMO: A inclusão de Pessoas Com Deficiência (PcD) no


ensino é um desafio, principalmente, na área das ciências da
natureza, que frequentemente carecem de abordagens
socioambientais. Nesse sentido, a utilização de metodologias
ativas, como a contextualização e a ludicidade, pode ser uma
estratégia eficaz para superar esses desafios. A ação
pedagógica buscou estimular a compreensão dos estudantes
em relação às questões socioambientais, proporcionando uma
aprendizagem dinâmica, envolvente e crítica, especialmente
adaptada às necessidades desses discentes. Logo, este
trabalho propôs uma atividade de ensino lúdica e inclusiva,
intitulada “Show da Química Inclusivo” (SQI), com o tema
“Aquecimento global e impactos nas mudanças climáticas”. A
atividade foi desenvolvida pelos integrantes do Programa de
Educação Tutorial (PET) Química do curso de Licenciatura em
Química do Instituto Federal da Paraíba - IFPB, Campus João
Pessoa, desenvolvendo a atividade prática na Fundação Centro

50
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência (FUNAD). Para
o desenvolvimento e a elaboração da proposta, foi aplicada
uma abordagem metodológica qualitativa e participante. A
atividade consistiu em dois momentos: I) Apresentação teatral;
II) Aplicação de um Instrumento Lúdico Avaliativo (ILA). Os
resultados do estudo destacaram a eficácia da atividade na
promoção de uma educação inclusiva e na facilitação de uma
aprendizagem significativa para as PcD, em comparação com
métodos tradicionais, evidenciando que a atividade possibilitou
uma experiência de aprendizado efetiva.
Palavras-chave: Educação Inclusiva. Mudanças climáticas.
Aquecimento global. Ensino lúdico.

INTRODUÇÃO
A utilização dos conceitos da Educação Inclusiva para
alunos com deficiência suscita debates em várias áreas do
conhecimento. O processo de inclusão do público mencionado
ainda enfrenta desafios significativos, especialmente devido ao
histórico de repressão e segregação que esse grupo sofreu
(Carlos, 2020).
Diante desse contexto, torna-se imperativo compreender
e valorizar a diversidade humana como um alicerce essencial
para uma educação inclusiva e responsável. É crucial
reconhecer que a deficiência não deve ser encarada como um
obstáculo, mas uma característica enriquecedora para a
comunidade escolar (Batista; Cardoso, 2020).
Essa perspectiva supera barreiras, ao fomentar uma
cultura de respeito, aceitação e colaboração, elementos
fundamentais para a construção de um ambiente educacional
que celebra a singularidade de cada indivíduo. Dessa forma,
essa abordagem fortalece o tecido social da escola, além de
preparar os alunos para compreenderem e respeitarem a

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EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
diversidade ao longo de suas vidas, contribuindo para uma
sociedade mais inclusiva e equitativa (Souza et al., 2023).
No entanto, o ensino de Química inúmeras vezes, adota
uma abordagem tradicional, centrada na transmissão de
conteúdos e fórmulas de maneira descontextualizada. Esse
método torna a disciplina algo temido por muitos, especialmente
por alunos com deficiência, em que limita-se a capacidade de
observação necessária para compreender os princípios
químicos no nosso cotidiano. Tal fato é um desafio relevante,
uma vez que a Química é fortemente baseada na observação
dos fenômenos e, dessa forma, a utilização dessa abordagem
tradicionalista pode gerar desinteresse entre os estudantes e
dificuldades em estabelecer conexões entre o que é estudado
em sala de aula e sua aplicação no cotidiano (Souza et al.,
2019).
A dificuldade associada ao ensino e aprendizado de
Química é multifacetada e pode impactar o interesse dos
alunos. Embora a Química esteja profundamente enraizada em
nosso cotidiano, muitos estudantes enfrentam desafios ao
compreender seus conceitos e aplicá-los de maneira
significativa (Araújo et al., 2019).
Com isso, a ludicidade torna-se bastante útil para uma
aprendizagem significativa e atrativa. Da Silva; Ferreira; Da
Silva (2020) discorre que a ludicidade:

Pode ser pensada na educação para potencializar


tanto na formação de professores quanto no
desenvolvimento de estratégias e recursos
didáticos que aprimorem o ensino na busca de
uma aprendizagem de qualidade (Silva, 2020, p.
39).

52
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Dessa forma, a ludicidade é incorporada para uma
experiência envolvente e atrativa. O uso de meios divertidos de
ensino não torna apenas o aprendizado mais prazeroso, mas
também estimula a criatividade, a socialização e o
desenvolvimento de habilidades cognitivas. Além de empregar
práticas pedagógicas inovadoras, que visam promover
ativamente a educação inclusiva, nutre a curiosidade e contribui
para a formação integral dos participantes.
Sendo assim, Oliveira e colaboradores (2020) abordam
que contextualizar é fundamental porque permite aos alunos
relacionar os conceitos teóricos com situações reais e práticas
do cotidiano. Ao incorporar a contextualização, os educadores
não apenas possibilitam tornar o ensino mais acessível,
relevante e significativo, mas fomentam a interação entre novas
informações e os conhecimentos prévios do estudante,
contribuindo para um aprendizado mais profundo e duradouro.
Ademais, o teatro científico é uma forma de arte que
combina elementos da ciência com a dramaturgia. Nesse
sentido, é uma ferramenta poderosa para a educação, pois
pode ajudar a tornar a ciência mais acessível e interessante
para o público. Desse modo, as peças de teatro científico
geralmente contam histórias que envolvem conceitos
científicos. Os atores usam mímica, interpretação, mudanças
de vozes e outros recursos teatrais para trazer esses conceitos
à vida. As peças também podem usar adereços e cenários para
criar um ambiente visual atraente. (Ventura et al., 2018).
É importante ressaltar que o teatro científico não é
apenas uma forma de entretenimento. Ele também tem um
propósito educativo. As peças são cuidadosamente escritas
para garantir que os conceitos científicos sejam apresentados
de forma correta e atual. Com isso, unindo arte e ciência, o

53
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
teatro científico pode instigar os alunos pela ciência. As
apresentações teatrais podem auxiliar os alunos na
compreensão de conceitos científicos complexos de uma forma
lúdica e cativante.
A ausência de abordagens socioambientais no ensino
pode levar à desinformação sobre questões como as mudanças
climáticas, o derretimento das geleiras, o aumento do nível do
mar, as chuvas intensas e as secas prolongadas. Esses
fenômenos são, na maioria das vezes, causados por atividades
humanas, e é importante que as pessoas sejam conscientes de
seus impactos.
Conforme dispõe a Constituição Federal de 1988, Artigo
225 (BRASIL, 1988), em seu parágrafo VI: “Promover a
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.
No entanto, o contexto urbano e a forma como as escolas estão
configuradas dificultam a concretização desse direito. Isso
ocorre porque o meio urbano é cada vez mais artificial,
afastando as crianças e adolescentes da natureza. Portanto, é
necessário que a educação ambiental seja trabalhada de forma
transversal, em todas as disciplinas, e que as escolas
promovam atividades que aproximem os alunos da natureza.
Nesta conjuntura, a degradação ambiental é um
problema global que precisa ser enfrentado com urgência, pois
o aquecimento global já está causando impactos na vida das
pessoas, como aumento da temperatura média global, aumento
do nível do mar, mudanças nos padrões de precipitação e
intensificação de eventos climáticos extremos. Vale salientar
que as mudanças climáticas são as alterações nos padrões
climáticos da Terra. Desse modo, elas são causadas pelo

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EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
aquecimento global, mas também por outros fatores, como as
variações naturais do clima e as atividades humanas.
Dessa maneira, a educação ambiental é uma ferramenta
importante para conscientizar as pessoas sobre a importância
da preservação do meio ambiente. Ela ajuda as pessoas a
entender o que é aquecimento global e mudanças climáticas, e
como esses fenômenos podem afetar suas vidas (Pereira;
Pedrini; Fontoura, 2019).
Portanto, o foco deste trabalho foi superar os desafios
mencionados por meio de uma atividade lúdica e
contextualizada, destinada à pessoas com deficiência com o
tema o “Aquecimento global e impactos nas mudanças
climáticas”. Nessa perspectiva, o objetivo desse trabalho é
estimular a compreensão dos estudantes em relação à
questões socioambientais, proporcionando uma aprendizagem
dinâmica, envolvente e crítica.

MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, orientada
para aprofundar a compreensão e interpretar os conceitos
abordados, possibilitando a exploração das experiências,
percepções e significados subjacentes aos temas investigados
(Bedin et al., 2020). Além disso, uma abordagem participante
também foi utilizada, acrescentando um valor significativo à
pesquisa, pois os participantes não foram meramente
observados, mas ativamente engajados no processo de coleta
e análise de dados (Latini et al., 2018).
Desse modo, foi desenvolvida uma atividade
extensionista denominada “Show da Química Inclusivo”, que
consistiu em uma apresentação teatral que contextualizou a
temática “Aquecimento global e impactos nas mudanças

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EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
climáticas”. Por intermédio da exploração do ciclo do carbono,
das propriedades dos gases e sustentabilidade. Assim, a
atividade elucidou desafios, mas também inspirou reflexão
sobre soluções práticas e a importância da ciência na busca por
um futuro mais sustentável. Tal atividade foi realizada pelos
integrantes do Programa de Educação Tutorial (PET) Química
do curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal da
Paraíba (IFPB), Campus João Pessoa, que conduziram uma
notável apresentação de 20 minutos.
A aplicação da atividade ocorreu em dois momentos
(Tabela 1) na Escola Estadual de Educação Especializada Ana
Paula Ribeiro Barbosa Lira, uma unidade educacional vinculada
à Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de
Deficiência (FUNAD). O público-alvo totalizou 28 (vinte e oito)
alunos que enfrentavam deficiências intelectuais leves ou
algum tipo de transtorno. A faixa etária desses participantes
situou-se entre 18 (dezoito) e 43 (quarenta e três) anos.

Tabela 1: Explanação dos momentos da aplicação da atividade.


Momento 1 Momento 2
A apresentação teatral envolveu a Ao término da apresentação, foi
contextualização do aquecimento entregue aos estudantes um breve
global e das mudanças climáticas, Instrumento Lúdico Avaliativo (ILA),
destacando sua relevância social e composto por perguntas simples e
ambiental, juntamente com a ilustrativas sobre o aquecimento
exploração dos conceitos químicos global e as mudanças climáticas e
relacionados. sua relação com os conceitos
químicos abordados.
Fonte: Os autores (2023).

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EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Momento 1: Apresentação Teatral


A inserção da apresentação teatral no processo de
ensino e aprendizagem emerge como uma ferramenta eficaz,
transcendendo os limites tradicionais da educação em Química.
Ao explorar os conceitos químicos por meio de uma narrativa
envolvente e relevante para o cotidiano, a abordagem teatral
torna o conteúdo mais memorável e confere significado prático
aos temas abordados. Segundo Costiche e colaboradores
(2019), a peça teatral é indispensável no contexto educacional,
pois integra habilmente os conhecimentos teóricos com o
imaginário, proporcionando uma experiência holística de
aprendizagem.
No primeiro momento, ocorreu a apresentação teatral
centrada no aquecimento global e nas mudanças climáticas, em
que os personagens foram divididos em: sol, vento, gelo, chuva,
neve, trovão, sabiá natureza, o doutor poluição, três alunos e
uma professora (Figura 1). Cada personagem representou
elementos ambientais e questões relacionadas à preservação,
promovendo conscientização sobre a importância da
sustentabilidade, além de corroborar para destacar a
interconexão entre a natureza e as ações humanas.

Figura 1: Personagens da peça teatral durante a apresentação


referente ao primeiro momento.

57
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Fonte: Os autores (2023).

Nesse contexto, os membros do PET Química


desempenharam papéis caracterizados, transmitindo uma
mensagem de conscientização e abordando as consequências
enfrentadas de cada fenômeno climático, além de destacar
suas contribuições para o equilíbrio do planeta (Tabela 2).

Tabela 2: Mensagens dos personagens durante a Peça Teatral.


Personagem Mensagem
Destacou a importância da energia
Sol solar e a necessidade de fontes
renováveis para a sustentabilidade do
planeta.

Enfatizou o papel das energias eólicas


Vento na redução da pegada de carbono e na
preservação do meio ambiente.

Gelo Abordou as preocupações


relacionadas ao derretimento das
calotas polares e os impactos das
mudanças climáticas.

58
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Destacou a relevância da água e os
Chuva efeitos das mudanças climáticas nos
padrões de chuva e na escassez
hídrica.

Enfatizou a importância da cobertura


Neve de neve para o equilíbrio climático e a
preservação dos ecossistemas.

Alertou sobre os eventos climáticos


extremos e a necessidade de
Trovão preparação e mitigação diante das
mudanças climáticas.

Celebrou a biodiversidade, destacando


a importância da preservação da fauna
Sábia natureza e flora como parte fundamental do
equilíbrio ambiental.

Conscientizou sobre os impactos


negativos da poluição, instigando a
Doutor poluição reflexão sobre práticas sustentáveis no
cotidiano e a necessidade de reduzir a
pegada ambiental.

Representaram a juventude,
enfatizando a responsabilidade das
Três alunos novas gerações na busca por soluções
sustentáveis e ações que contribuam
para a preservação do planeta.

Orientou sobre a importância da


educação ambiental e do papel
Professora fundamental dos educadores na
formação de cidadãos conscientes e
comprometidos com o meio ambiente,
incentivando a disseminação do
conhecimento adquirido.
Fonte: Os autores (2023).

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EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Por intermédio da encenação, a peça contextualizou as
transformações químicas com as consequências das atividades
poluentes, a necessidade de práticas sustentáveis e a
responsabilidade coletiva na proteção do meio ambiente,
proporcionando uma reflexão inspiradora sobre as escolhas
individuais e seu impacto no equilíbrio ecológico global. Dessa
forma, destaca-se que o teatro científico desempenha um papel
fundamental ao facilitar a contextualização e a assimilação de
conceitos (Martins; Fernandes, 2020).
Dessa maneira, foi observada uma interação dinâmica
entre os alunos PcD e os personagens durante a apresentação,
revelando o entusiasmo e o aprendizado por essa atividade
inovadora e estimulante. Após a apresentação do teatro, uma
aluna com síndrome de Down fez o seguinte comentário: “Meu
primo tem uma atitude errada, ele joga o lixo no chão, o lugar
certo do lixo é na lixeira, para não poluir o meio ambiente”. Tal
comentário vislumbra o quão importante é a realização de
atividades como essa, demonstrando que a peça teatral
conseguiu reforçar e/ou despertar a conscientização ambiental
nessa aluna.
Sendo assim, outros alunos se aproximaram dos
apresentadores para compartilhar suas reflexões, enfatizando
que jogar lixo na rua é uma prática inadequada e prejudicial ao
meio ambiente. Esse feedback evidencia o poder transformador
da abordagem teatral na educação ambiental, pois não apenas
informou, mas também inspirou uma mudança de atitude entre
os espectadores.
Assim, o teatro proporcionou diferentes perspectivas,
apresentando-se como uma ferramenta de ensino notável e
possibilitando a compreensão de maneira criativa e fantasiosa,

60
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
enriquecendo assim, o desenvolvimento cognitivo (Campanini,
2018).
Portanto, o teatro científico pode ser uma ferramenta
valiosa para promover a aprendizagem de conteúdos científicos
em alunos com deficiência. Ao proporcionar diferentes
perspectivas e experiências, o teatro pode ajudar os alunos a
aprenderem de forma mais significativa e prazerosa.

Momento 2: Aplicação do Instrumento Lúdico Avaliativo


(ILA)
No segundo momento da atividade, os alunos foram
orientados a responder o ILA, objetivando não apenas avaliar a
compreensão, mas também verificar a apreciação dos alunos
em relação à metodologia empregada, para possibilitar
aprimoramentos na atividade em momentos futuros.
Conforme ressaltado por Souza e Cardoso (2019), um
instrumento que utiliza a ludicidade se diferencia das
abordagens tradicionais, ao incorporar elementos lúdicos e
interativos, proporcionando aos alunos uma experiência de
avaliação mais envolvente e motivadora. Nesse sentido, a
ferramenta avaliativa consistiu em 4 (quatro) questões, cada
uma delas acompanhada por ilustrações coloridas, despertando
a curiosidade e, consequentemente, a participação do público.
Neste contexto, o estímulo visual é primordial no processo de
aprendizagem, sendo particularmente positivo para alunos com
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou dificuldades de
aprendizagem, como evidenciado por Oliveira e colaboradores
(2020).
O primeiro questionamento do ILA indagava: "Você já teve
contato com informações sobre práticas de conservação do
meio ambiente como medida para prevenir as mudanças

61
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
climáticas antes dessa peça teatral?". Tal indagação tinha como
finalidade verificar se os participantes possuíam algum
conhecimento sobre o tema, antes da apresentação teatral.
Como ilustra a Figura 2, 67,9%% dos respondentes indicaram
não ter conhecimento prévio sobre esse tema.

Figura 2: Resultados dos conhecimentos prévios sobre o tema


antes da peça teatral.

Fonte: Os autores (2023)

Tais feedbacks enfatizam que, previamente à atividade


interativa, os estudantes apresentavam uma falta de informação
e familiaridade com a temática. A lacuna de conhecimento
sobre medidas preventivas no que tange ao aquecimento global
e às mudanças climáticas é preocupante, uma vez que a falta
de conscientização pode resultar em escolhas individuais e
comportamentos cotidianos pouco sustentáveis (Blank, 2015).
Nesse viés, é imprescindível a implementação de ações
pedagógicas que fomentem uma conscientização abrangente
sobre a importância da conservação ambiental, para

62
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
desenvolver conhecimentos e habilidades essenciais para
promover o desenvolvimento sustentável (Silva, 2023).
Em relação ao segundo questionamento: "Circule os
elementos essenciais que compõem o clima em nosso planeta
e marque com um “x” aqueles que não fazem parte." Este
incluía 3 objetos ilustrativos (garrafa, caixa de papelão e papel
higiênico) e 3 relacionados às mudanças climáticas (chuva, sol
e flocos de neve) (Figura 3). Os dados obtidos revelaram que
60,14% dos participantes responderam corretamente.
Esse dado sugere que a atividade teatral desempenhou
um papel significativo, especialmente considerando que uma
parcela considerável dos envolvidos inicialmente não possuía
conhecimento prévio sobre o tema. A aplicação da peça teatral
não apenas abordou lacunas de entendimento, mas também
promoveu a construção e consolidação de conhecimento de
maneira envolvente e atrativa, demonstrando a eficácia dessa
abordagem pedagógica em despertar o interesse e facilitar a
aprendizagem sobre questões climáticas.

Figura 3: Imagem do segundo questionamento

Fonte: Os autores (2023)

63
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Na abordagem do terceiro questionamento: “Escreva a letra
inicial dos conceitos estudados durante a apresentação”. Esta
questão/pergunta estava acompanhada de imagens ilustrativas
para facilitar a compreensão (Figura 4A). Nesse contexto, todos
os discentes reagiram positivamente à atividade, como
exemplificado pelo aluno 1 (Figura 4B).

Figura 4: Terceiro questionamento da atividade. (A) Modelo da


atividade. (B) Exemplo de resposta de um participante.

Fonte: Os autores (2023).

Este resultado indica uma participação engajada e


demonstra que os estudantes absorveram os conceitos
apresentados e conseguiram associar visualmente as imagens
às letras iniciais correspondentes. A resposta favorável dos
participantes sugere que a atividade teatral despertou o
interesse, mas também facilitou uma aprendizagem efetiva e
memorável dos conceitos abordados durante a apresentação,
ilustrando assim o impacto positivo dessa abordagem na
assimilação do conhecimento.

64
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Por fim, o quarto questionamento discorria: “Na escala
abaixo, marque com um “x” a alternativa que corresponde a sua
avaliação quanto à metodologia utilizada na atividade “Show da
Química Inclusivo". Para enriquecer ainda mais a
compreensão, optou-se por incluir emojis, tornando a seleção
das respostas mais acessíveis e visualmente atraentes (Figura
4).

Figura 4: Escala de satisfação acerca da metodologia utilizada


na atividade “Show da Química Inclusivo”.

Fonte: Os autores (2023).

Nesse contexto, todos os alunos consideraram a


abordagem inclusiva adotada como promissora. Como afirma
Costa e Magalhães (2022), as peças teatrais revelam-se como
uma ferramenta eficaz na divulgação do conhecimento
científico, contribuindo para uma aprendizagem significativa.
Portanto, a intervenção pedagógica inclusiva foi
satisfatória não apenas para o público PcD, mas para todos os
bolsistas do PET Química. Isso se deve ao fato de que se
ampliaram os conhecimentos de cada integrante no tocante à
inclusão e às questões socioambientais. Logo, a atividade
ofereceu uma oportunidade de crescimento pessoal, como
também validou a eficácia da metodologia lúdica inclusiva
aplicada.

65
EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
CONCLUSÕES
Diante do exposto, a educação inclusiva é um modelo de
ensino que busca garantir a participação e o desenvolvimento
de todos os alunos, independentemente de suas características
individuais. Dessa forma, foi demonstrado que a ludicidade é
uma estratégia pedagógica eficaz para promover o aprendizado
significativo e a inclusão de pessoas com deficiência, pois
desperta a curiosidade, estimula a criatividade e a socialização,
e contribui para o desenvolvimento de habilidades
cognitivas.Dessa maneira, a atividade lúdica desenvolvida
neste trabalho foi adaptada às necessidades dos participantes
e buscou estimular a compreensão deles em relação ao
aquecimento global e aos impactos nas mudanças climáticas.A
utilização de atividades lúdicas facilitou o desenvolvimento
cognitivo e o acesso ao conhecimento abordado na disciplina
de Química por alunos com deficiência. Desse modo, foi
possível explorar as competências e habilidades desses alunos,
promovendo uma construção efetiva da aprendizagem.

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CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
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EXPLORANDO O AQUECIMENTO GLOBAL E AS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS: ESTRATÉGIAS EDUCACIONAIS EM QUÍMICA PARA
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
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VENTURA, B. et al. Teatro no Ensino de Química: relato de experiência.
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68
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)

CAPÍTULO 4

MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL –


DEFINIÇÕES, ASPECTOS, DIMENSÕES,
INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE
O IMUS (ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA
SUSTENTÁVEL)
Tiago Dantas Sebastião da SILVA 1
Marília Regina Costa Castro LYRA 2
Rogéria Mendes do NASCIMENTO 3
1
Mestrando do Programa Pós Graduação em Gestão Ambienta, IFPE;
2, 3
Orientadora/Professora do Mestrado Profissional em Gestão Ambiental / IFPE.
tdss1@discente.ifpe.edu.br

RESUMO: O desenvolvimento econômico, ambiental e social


desejado globalmente, especialmente no que diz respeito à
mobilidade urbana e sustentabilidade, exige uma análise mais
aprofundada. Este fenômeno é crucial nas discussões
contemporâneas sobre questões ambientais ligadas à escassez
de recursos naturais finitos, essenciais para a vida e que
demandam cuidado extremo e preservação máxima. Este
esforço coletivo é vital para garantir qualidade de vida às atuais
e futuras gerações, exigindo colaboração entre sociedade, o
governo e o setor privado na formulação de soluções e modelos
socioambientais para promover práticas ideais de mobilidade
urbana sustentável. Devido ao crescimento populacional e à
ocupação constante dos centros urbanos, é fundamental a
criação e implementação efetiva de políticas públicas
respaldadas por legislações nacionais, estaduais e municipais.
Métodos e estratégias devem ser aplicados para efetivar ações
adequadas que possam melhorar a mobilidade urbana de forma
mais eficaz, promovendo o desenvolvimento de espaços

69
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
urbanos inteligentes. Essas ações devem potencializar a
viabilidade e a vitalidade das soluções sustentáveis, levando
em consideração os indicadores de Mobilidade Urbana
Sustentável, que abrangem a preservação da vida, do meio
ambiente e o exercício da cidadania. Este estudo ressalta a
importância da Mobilidade Urbana Sustentável como estratégia
de transformação social, destacando sua natureza
multidisciplinar e a amplitude para exploração em diversas
áreas.
Palavras-chave: Mobilidade Urbana. Dimensões. Indicadores.
Estratégias.

INTRODUÇÃO
Certamente a Mobilidade Urbana tem papel fundamental
para o desenvolvimento das cidades e da qualidade de vida da
população, com isso, a mesma precisa ser pensada numa
perspectiva mais ampla, a saber nos seus aspectos de
sustentabilidade. O principal desafio é encontrar as estratégias
mais realistas, capazes de conscientizar, sensibilizar e serem
aplicadas de forma efetiva no contexto desejado, buscando
elencar os principais pressupostos que devem nortear uma
formação progressiva. O referido trabalho está estruturado em
três partes: a primeira apresenta as definições e aspectos sobre
Mobilidade Urbana segundo o Ministério das Cidades, Gentil
(2018), e outros autores, com destaque aos dois princípios
preconizados por Gibson (2005), norteadores para a
implementação das Política Nacional de Mobilidade Urbana
(PNMU), discorrendo sobre sua representatividade e seus
benefícios na sociedade nos programas e ações
governamentais existentes; a segunda parte, mostra os
conceitos e parâmetros da sustentabilidade nas considerações
de Lima e Fontgalland (2022), interconectado aos Objetivos de

70
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
Desenvolvimento Sustentável (ODS), as metas mundiais em
caráter socioambiental, com destaque para duas delas
correlacionadas a temática; e a terceira parte apresenta as três
dimensões para o desenvolvimento sustentável aliadas aos
Indicadores de Mobilidade Urbana Sustentável (IMUS) em sua
estrutura hierárquica, como metodologia e técnica aplicada para
práticas que orientam o processo informativo dentro desse
contexto, bem como uma ferramenta estratégica no auxílio do
desenvolvimento de políticas públicas, com ações e projetos
atrelados ao Plano Diretor (PD) dos municípios e demais
programas governamentais.

MATERIAIS E MÉTODO
O estudo proposto consiste em uma análise bibliográfica
que explora o processo de investigação, enfatizando a
importância de examinar, unir e interpretar informações
provenientes de diferentes fontes de conhecimento, como
periódicos científicos, livros, resumos e artigos. A pesquisa
valida os argumentos de vários pesquisadores e estudiosos,
reforçando suas contribuições para evidenciar a relevância do
estudo conduzido.
Utilizando uma abordagem narrativa mais convencional,
que oferece flexibilidade em seu desenvolvimento, mas com
uma escolha teórica subjetiva e potencial viés do autor, o texto
se baseia em argumentos sólidos e fundamentados
cientificamente. Seu foco é a influência significativa da
percepção subjetiva na busca por resultados objetivos,
destacando a importância da Mobilidade Urbana Sustentável
para o desenvolvimento socioambiental das atuais e futuras
gerações.

71
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
Valida-se de uma perspectiva interdisciplinar ao unir e
integrar uma variedade de conhecimentos, estabelecendo uma
conexão lógica para esclarecer um tema específico. Isso é feito
através da utilização de múltiplas bases teóricas e saberes,
analisando uma premissa particular e suas implicações. O
objetivo é conectar esses diversos conhecimentos para
proporcionar coesão, clareza e sensibilização sobre a
importância do assunto abordado. Reconhecendo as
contribuições individuais de cada campo de conhecimento, o
método procura equacionar essas informações para serem
aplicáveis em diferentes áreas. Ele se fundamenta em
abordagens específicas, reconhecendo e valorizando os
conhecimentos relativos ao objeto de pesquisa, empregando
métodos holísticos e integrativos que combinam vários
elementos para formular alternativas ou hipóteses mais
inovadoras e apropriadas.
Finalmente, trata-se de uma compilação de citações que
explora a relevância da Mobilidade Urbana Sustentável na
teoria moderna, buscando entender a união e convergência
desse assunto, que se tornou evidente e crucial no cenário
atual. Isso se torna essencial na busca pela harmonia entre
seres humanos e o ambiente, visando a preservação e
qualidade da vida interligadas a conservação dos recursos
naturais existentes. É notável que o primeiro não pode existir
sem a realização do segundo, porém, sendo ambos igualmente
prioritários.

72
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Mobilidade Urbana: Definições e Aspectos


Fortes modificações desde o século passado alteraram o
padrão populacional e consequentemente a mobilidade urbana
brasileira, reflexo intensificado e acelerado pelo processo de
industrialização, onde o Brasil rapidamente deixou de ser rural
e caminhou para se tornar predominantemente urbano. Estima-
se que até 2050, aproximadamente 70% da população esteja
habitando em áreas urbanas, dialogar sobre a temática
mobilidade urbana envolve discursar e correlacionar diversas
abordagens em caráter filosófico com argumentação do direito
e dever quanto a questões de ética, de justiça e cidadania no
planejamento das cidades, bem como a oferta de bens e
serviços disponíveis e compatíveis às demandas populacionais,
com ações pontuais ou generalizadas com estabilidade e
regularidade. Gentil (2018) destaca que “a forma urbana pode
ser definida como a delimitação física da cidade, espaço onde
ocorre a vida social e que está em constante transformação”,
nesse processo de transformação a mobilidade, termo
etimológico que vem do Latim “Mobilis”, e significa “o que pode
ser movido, deslocado, em movimento”, ou seja, movimento e
urbano que diz respeito à cidade e contempla noções de
circulação; nessa perspectiva a equação dessas duas palavras
(Urbano e Mobilidade) traz um significado importante à
sociedade, pois sua aplicabilidade em caráter cientifico-
acadêmico vem sendo discutida em áreas diversas de
conhecimento, por sua relevância e abrangente influência na
sociedade, na economia, questões ambientais e qualidade de
vida das pessoas. Segundo Silva (2021) “a mobilidade urbana
consiste nas condições de deslocamento da população e de

73
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
cargas no espaço geográfico das metrópoles, onde os
principais usuários, as pessoas, tem significativa relevância”.
Ainda conforme o Ministério das Cidades (2004)
podemos definir como um conjunto de políticas de transporte e
circulação que visam proporcionar o acesso amplo e
democrático ao espaço urbano, através da priorização dos
modos de transporte coletivo.., de maneira efetiva, socialmente
inclusiva e ecologicamente sustentável. Ou seja, baseado nas
pessoas e não nos veículos.
Nesse contexto, uma vez apresentado a definição de
urbano e mobilidade, busca-se destacar as diversas variáveis e
série de elementos, relacionados à forma urbana, aos
elementos de transporte e à circulação das pessoas, para
questões socioeconômicas, pois há uma diversidade única
entre as cidades, já que cada uma é singular e se distingue das
demais, devido à variedade de fatores que influenciam sua
estrutura, que vão desde a geografia local até as convicções de
quem nelas reside. (Cantalice, 2012 citado por Gentil, 2018).
Silva (2021) destaca a Política Nacional de Mobilidade Urbana
(PNMU), pelo Governo Federal, o instrumento legislativo,
concebido na Lei de número 12.587/2012 (Brasil, 2012)
deliberando sobre as condições de circulação na cidade,
como um ponto essência para a gestão das cidades
brasileiras, uma vez que possui o objetivo de instituir
diretrizes para aperfeiçoamento da mobilidade nas cidades,
onde esta, propõe vários programas e ações de mobilidade nas
premissas voltadas para a educação, segurança, saúde, lazer,
acesso a melhores condições de trabalho no deslocamento com
qualidade e comodidade, com diretrizes para aplicabilidade de
uma mobilidade eficiente e sustentável, contudo, “para ter sua

74
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
representatividade, deve ser compreendido como uma prática
que tem a possibilidade de criar condições do exercício da
cidadania na construção de uma sociedade democrática” e
bem como descobrindo novas abordagens que permitam a
construção e evolução, ambiental e tecnológica, nos princípios
da sustentabilidade preconizado por Gibson et al. (2005), de
“Equidade Intrageracional, garantindo que suficiência e
oportunidade de escolha estejam sendo buscadas para todos,
de modo a reduzir lacunas entre ricos e pobres” e “Equidade
Intergeracional, favorecendo ações no presente que sejam mais
passíveis de manter ou aumentar as oportunidades e
capacidades das gerações futuras a viver sustentavelmente”
Assim sendo, destaca-se a importância dos agentes
ativos e passivos, na esferas políticas e as normativas
existentes, num contexto de afirmação crescente do atual e
contínuo paradigma da “Sustentabilidade”, a reflexão sobre o
modelo de desenvolvimento dos espaços metropolitanos
precisa considerar a melhor participação e repartição das
atividades e das pessoas nesse processo. A adição do conceito
de “Sustentabilidade” ao de mobilidade urbana, será explicado
com mais detalhes, para entendermos o uso racional dos
recursos naturais para eficiência da gestão das cidades,
essenciais às necessidades humanas e, indo mais além, ou
seja, envolvendo uma mudança de cultura, por isso o conceito
passou a integrar a mobilidade urbana.

2. Mobilidade Urbana Sustentável


Podemos encontrar diversos parâmetros e conceitos de
sustentabilidade para se aplicar aos elementos dos sistemas de
mobilidade urbana. Partindo da máxima que o entendimento da
economia do bem-estar no espaço urbano, na cidade, deve

75
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
proporcionar em bens públicos para as pessoas, discutindo
algumas políticas públicas que poderiam ser adotadas no país
para se atingir o objetivo de melhoria das condições de
mobilidade da população.

A Mobilidade Urbana Sustentável tem como conceito


mais simples e objetivo: “a promoção do equilíbrio entre a
satisfação das necessidades humanas com a proteção do
ambiente natural” (Carvalho, 2016). Ainda segundo a Ifood News
(2021), a mobilidade urbana sustentável prioriza os meios de
transporte que reduzam os impactos no meio ambiente, como a alta
produção de poluentes do ar, e que, também, sejam
economicamente viáveis para as pessoas, independente da sua
condição social. Dessa forma, preserva-se o planeta enquanto se
torna os espaços geográficos mais acessíveis para todos.
Para Lima e Fontgalland (2022) a Mobilidade Urbana
Sustentável considera que o efeito gerado pela participação de
múltiplos intervenientes na evolução dos processos urbanos
das cidades implica levar em conta todos os aspectos
interconectados, formando uma rede complexa. Esses
elementos estão interligados de maneira intrincada, criando
uma interação social que se alimenta mutuamente, aplicando
uma abordagem da economia complexa para uma
compreensão mais aprofundada desse fenômeno.
A Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) em
2015, definiu metas mundiais em caráter socioambiental em
abrangência global, com foco em quatro principais dimensões:
social, ambiental, econômica e institucional, os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) conclamam que é
necessário levar o mundo a um caminho sustentável com ações
efetivas e realistas transformadoras, nessa convenção foram

76
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
definidos 169 metas globais dentro 17 objetivos
interconectadas, a serem alcançados até 2030, essa reunião
ficou conhecida como “Agenda 2030”. Inter-relacionado a esse
panorama sobre Mobilidade Urbana Sustentável, estaremos
evidenciando o ODS 11 - Cidades e Comunidades
Sustentáveis, que tem como objetivo tornar as cidades e os
assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e
sustentáveis, com destaque para a meta:

11.2 - Nações Unidas: Até 2030,


proporcionar o acesso a sistemas de
transporte seguros, acessíveis, sustentáveis
e a preço acessível para todos, melhorando a
segurança rodoviária por meio da expansão
dos transportes públicos, com especial
atenção para as necessidades das pessoas
em situação de vulnerabilidade, mulheres,
crianças, pessoas com deficiência e idosos;
Brasil: Até 2030, melhorar a segurança viária
e o acesso à cidade por meio de sistemas de
mobilidade urbana mais sustentáveis,
inclusivos, eficientes e justos, priorizando o
transporte público de massa e o transporte
ativo, com especial atenção para as
necessidades das pessoas em situação de
vulnerabilidade, como aquelas com
deficiência e com mobilidade reduzida,
mulheres, crianças e pessoas idosas. (Ipea,
2019)

Nessa perspectiva, temos a justificativa de adequação


seguindo as diretrizes abaixo, para atuarem harmonicamente e
com uniformidade em todo território nacional para os objetivos
básicos fixados tenham plenitude em toda sua efetividade e
eficiência, são elas:

77
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
(a) Foi incluída na redação da meta a
priorização de modos de transporte não
motorizados e coletivo de massa, seguindo-se
as diretrizes da Política Nacional de
Mobilidade Urbana; (b) A nova redação da
meta visa deixar mais explícita a relevância da
promoção do transporte ativo para promoção
de sistema de transporte inclusivos e
sustentáveis, o que já é reconhecido pelos
documentos oficiais do Ministério das Cidades
e por órgãos internacionais como e a
Organização Mundial de Saúde e UN Habitat;
(c) Optou-se por incluir na redação da meta a
ideia de "acesso à cidade por meio de
sistemas de mobilidade". É uma inclusão
ambiciosa, uma vez que amplia o escopo da
meta original. Por outro lado, a inclusão está
alinhada com a política da Secretaria de
Mobilidade do Ministério. Essa inclusão
ressalta que os investimentos e serviços de
transporte urbano não são um fim em si
mesmo, mas servem como meio para ampliar
o acesso da população a oportunidades e
atividades nas cidades; (d) Sugeriu-se
explicitar a expressão "preços acessíveis"
pois o termo "socialmente inclusivo" não seria
suficiente. Acessibilidade inclui acesso físico,
tarifário, informação para planejar a viagem.
Foi acatado incluir "acessível e justo", para
dar oportunidades a todos e dado o peso que
o gasto com transporte possui no orçamento
das famílias brasileiras; (e) Retirada do
"ampliar": entendeu-se que "proporcionar o
acesso a sistemas" está de acordo com o
objetivo da Política Nacional de Mobilidade
Urbana de garantir o acesso universal à
cidade e com o texto original em inglês
(provide access). Ao proporcionar o acesso a
quem não tem, ou proporcionar o acesso em

78
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
determinadas condições adequadas, a
ampliação da oferta está implícita, sendo
desnecessário seu uso; (f) Retirou-se a
duplicidade da palavra "economicamente"
porque é possível reescrever a frase evitando
a duplicidade, sem prejuízos para o
entendimento do "tripé da sustentabilidade"
social, econômica e ambiental. (Ipea, 2019)

Diante dos objetivos, metas e justificativas de adequação


acima citada, pode-se afirmar que as políticas de mobilidade
urbana sustentável devem estar articuladas a outras políticas
públicas na esfera dos três poderes, Executivo, Legislativo e
Judiciário, com esforços de convergência de mecanismos de
participação social centrada na participação popular e meio
ambiente em cada etapa do planejamento, tendo o fator
humano como elemento mais estratégico, pois em todas as
etapas temos sua presença e importância, pois toda iniciativa
de planejamento dependem fortemente do desempenho do
elemento humano e uma série de fatores interligados.
Leite (2016) enfatiza a Constituição da República de
1988, em seu artigo 225:
Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-
lo para as presentes e futuras gerações.
(Brasil, 2015)

Considerando o referido artigo na condição de dispositivo


legal mais importante para o Direito Ambiental Brasileiro, ainda
conforme Leite (2016) “o seu conteúdo irradia uma força jurídica
de ordem estrutural para todo plano normativo, com impacto

79
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
imediato nas ações do poder público e da coletividade
relacionadas à proteção dos recursos naturais”. Vale destacar
os dois protagonistas nessa máxima, compartilhando o
conhecimento e experiências que são a base de toda
transformação, se reinventando por meio da cidadania ativa
para um bem comum e maior, pois ter a coletividade
participando diretamente da vida da cidade em harmonia com o
Poder Público e sendo ambos parte de um todo na solução,
compartilhando e acumulando conhecimento sobre os desafios
urbanos e sobre o meio ambiente, isso sim, promove mais um
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, o ODS 16: Paz,
Justiça e Instituições Eficazes - Promover sociedades pacificas
e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar
o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes,
responsáveis e inclusivas em todos os níveis.

3. As Dimensões e Indicadores da Mobilidade Urbana


Sustentável
Visando uma compreensão e integração do
desenvolvimento sustentável na perspectiva da mobilidade
urbana, buscou-se identificar as dimensões de sustentabilidade
abordadas na literatura amplamente, todavia, estaremos nos
validando especificamente da contribuição de Carvalho (2016),
que apresenta as três dimensões: ambiental, econômica e
social, entendendo nestas, existirem fatores e atributos à
complexidade dos fenômenos naturais inerentes ao processo
como pressupostos básicos da mobilidade urbana, pois quando
à exploração desse conhecimento obtido, de maneiras a
analisar e observar os espaços urbanos, os quais a proteção
ambiental, a sustentabilidade econômica e a justiça social se
tornam condicionantes primordiais no processo de

80
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
planejamento estratégico de políticas públicas e transformação
social.
(a) Dimensão Ambiental: a gestão, operação e planejamento
dos sistemas de transporte requerem a consideração não
apenas da eficiência e eficácia, mas também da efetividade,
garantindo a capacidade de transportar demandas ao
menor custo financeiro, enquanto respeita o meio ambiente.
Isso implica a busca por tecnologias menos poluentes e
adequadas à demanda prevista, e a adoção de veículos que
minimizem os impactos em áreas sensíveis, como usar
veículos de menor capacidade em locais históricos de
proteção(Carvalho, 2016, p. 18).

(b) Dimensão Econômica: É crucial que os serviços de


transporte público, em particular, mantenham um equilíbrio
financeiro sólido, pois, caso contrário, correm o risco de se
deteriorarem ao longo do tempo e em diferentes
localidades. Por isso, é fundamental que o governo adeque
devidamente os custos dos serviços, implementando
políticas transparentes de financiamento e cobertura dos
gastos (Carvalho, 2016, p. 20). Com o intuito de cumprir o
princípio de manter tarifas razoáveis, é viável planejar
fontes de receita além das tarifas usuais para custear
despesas, mantendo simultaneamente a equidade social da
ação (Carvalho, 2016, p. 22).

(c) Dimensão Social: aborda principalmente os princípios que


envolvem acesso para todos, equidade no deslocamento e
tarifas acessíveis. A acessibilidade para todos implica que
os serviços de transporte devem ser acessíveis a toda a
população, garantindo o direito de usufruir das

81
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
oportunidades e instalações das cidades. Isso requer um
planejamento abrangente do sistema de transporte,
considerando os grupos minoritários com dificuldades de
locomoção e os menos favorecidos financeiramente, que
têm dificuldades para pagar pelos serviços (Carvalho, 2016,
p. 23).
Aliados as dimensões temos os indicadores de
mobilidade urbana sustentável, sendo estes selecionados e
definidos de modo a medir o progresso em direção a um
objetivo no contexto urbano, permitindo extrair elementos
fundamentais para estruturação de ideias básicas para o
planeamento urbano estratégico e para a gestão sustentável de
uma cidade nas diretrizes das três dimensões nas
características qualitativas e quantitativas, segundo Silva
(2021): O método qualitativo se concentra em identificar a
existência de um atributo ou objeto no fenômeno observado por
meio de padrões de comportamento baseados em fatos
observáveis. Enquanto isso, o método quantitativo busca medir
a presença ou intensidade desse atributo, estabelecendo
padrões de comportamento que podem ser quantificados
numericamente.
Cada tópico identificado é vinculado a três dimensões -
social, econômica e ambiental - da sustentabilidade, de modo a
analisar os efeitos que cada ação pode provocar em cada uma
dessas esferas, assim temos o início do processo de
construção do Índice de Mobilidade Urbana Sustentável
(IMUS), e estruturação dos critérios nos níveis hierárquicos
(Figura 1).

82
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
Figura 1. Níveis hierárquicos de critérios do IMUS

Fonte: Costa (2008, p. 73)

Os indicadores são utilizados adaptando-se as


dimensões nos critérios atenuantes aos elementos desejados,
porém, devem seguir metodologias preconizadas e métodos de
cálculo que dependam das ferramentas de informações
disponíveis para celeridade nas interpretações e resultados.
A estrutura hierárquica dos IMUS (Índices de Mobilidade
Urbana Sustentável) destacada por Litman (2009) e citado por
Assunção e Sarratini (2011), é um conjunto de indicadores,
desenvolvido cuidadosamente selecionando elementos
genéricos nas perspectivas da mobilidade para refletir diversos
impactos, com indicadores de cálculo direto baseados em
dados relativamente fáceis de obter, apresentam-se
organizados qualitativamente e quantitativamente conforme a
estrutura apresentada a seguir:
• DOMÍNIO (Domínio), conforme estrutura do IMUS;
• TEMA (Tema), conforme estrutura do IMUS;
• INDICADOR (ID), identificação do indicador.

a. Definição: descrição do indicador; b. Unidade de medida:


unidade de apresentação do indicador; c. Referências:

83
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
sistemas nacionais e internacionais de referência para
desenvolvimento do indicador, fontes de informação
complementares e exemplos de aplicação; d. Relevância:
contextualização e importância do indicador para a avaliação
da Mobilidade Urbana Sustentável; e. Contribuição: a
contribuição do indicador para a avaliação da Mobilidade
Urbana Sustentável é identificada conforme as seguintes
possibilidades:
• Maior/Melhor = (+);
• Sim/Melhor = (+);
• Menor/Melhor = (–);
• Não/Melhor = (–).
O objetivo da codificação supracitada é identificar no
valor do indicador o que contribui de forma positiva ou negativa,
em consequência, os IMUS. Desta forma, como exemplo, “o
indicador Acessibilidade ao Transporte Público, que é dado por
uma variável quantitativa ou discreta (porcentagem), quanto
maior o valor da porcentagem, melhor para o indicador
(Maior/Melhor = (+))”. (Litman, 2009 citado por Assunção e
Sarratini, 2011)
f. Pesos: pesos para os critérios obtidos segundo a avaliação
de um painel de especialistas. Tais pesos são combinados
de forma a evidenciar a contribuição (global e setorial) do
indicador para o resultado do IMUS. Os pesos global e
setorial são assim calculados:
• Peso global: agregação do peso do indicador, do
peso do tema e do peso do domínio; • Peso setorial
da dimensão Social (S): agregação do peso do
indicador, do peso do Tema, do peso para a
dimensão social e do peso do domínio; • Peso

84
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
setorial da dimensão Econômica (E): agregação
do peso do Indicador, do peso do tema, do peso para
a dimensão econômica e do peso do domínio; • Peso
setorial da dimensão Ambiental (A): agregação do
peso do indicador, do peso do tema, do peso para a
dimensão ambiental e do peso do domínio.
g. Dados de base: dados e informações necessárias para
cálculo do indicador e suas respectivas definições e unidades
de medida; h. Fonte de dados: indicação da provável fonte
de dados necessária para o desenvolvimento do indicador.
Identificação de sistemas nacionais, estaduais e municipais,
agências, instituições, órgãos de pesquisa, entre outros,
responsáveis pela coleta e divulgação de dados estatísticos
e demais informações utilizadas na construção do indicador;
i. Método de cálculo: instruções para desenvolvimento do
indicador, incluindo fórmulas matemáticas, ferramentas de
apoio e instruções para o tratamento dos dados, sempre que
necessário. Incluem procedimentos para avaliação
qualitativa, conforme tipologia do indicador; j. Normalização
e avaliação: é apresentada a Escala de Avaliação para o
Indicador, com os respectivos valores de referência.
A boa integração viabiliza e aumenta à fluidez do
sistema, ajudando a construir soluções específicas e a
transformá-las em política pública integradas, contemplando
todos os aspectos da mobilidade urbana sustentável, nas
características do sistema e dos elementos analisados, com a
maior fidelidade possível, compreendendo o conceito, as
dimensões e indicadores, é possível implementar
eficientemente ações de caráter estratégico no contexto

85
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
contemporâneo, favorecendo uma aplicação mais racional,
eficiente e realistas de recursos (Qaudro 1).

Quadro 1. Estrutura hierárquica do IMUS com Domínio, Temas


e Indicadores, e seus respectivos pesos (exemplo com apenas
um Domínio).

Fonte: Adaptado de Costa (2008, p. 157) citado por Furraer (2017, p. 48)

CONCLUSÕES
Conclui-se com o levantamento teórico desta pesquisa
que foi possível, analisar relevância da Mobilidade Urbana
Sustentável para a atualidade e questões futuras,
compreendendo as definições e conceitos, identificando suas
características, bem como os efeitos na sociedade, pois os
desafios são constantes sobre a temática, requerendo
entendimento dos elementos, pessoas e processos envolvidos,
nos critérios que rege a legislação especifica sobre o assunto,
as normativas e programas existentes, em caráter continuo de
preservação e adaptação ao meio ambiente à garantir maior
qualidade de vida.
Considera-se imprescindível e imperativa a
sobrevivência do planeta, por consequência a humanidade,
tornar as cidades mais sustentáveis e justas, valendo-se de

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MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
ações planejadas e coordenadas pelo órgãos componentes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas
diretrizes dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), especificamente no ODS 11, por tratar em profundidade
a vida urbana, para uma sistematização com políticas de
mobilidade urbana sustentável articuladas, de participação
social, a serem destacados vários fatores ao cumprimento da
legislação ambiental pertinente, políticas de transporte, trânsito
e acessibilidade, e a integração destas nas diversas
modalidades na promoção do acesso democrático, segura,
inclusivo e sustentável, nos parâmetros do ODS 16.
Ressalta-se a importância estratégica do IMUS (Índice
de Mobilidade Urbana Sustentável) como complemento e
ferramenta para agregar valor nos aspectos técnico-científico
(instrução), ao possibilitar as interconexões existentes nas
dimensões social, econômica e ambiental, capaz de mensurar
os impactos e medidas da mobilidade sustentável nas
condições atuais de forma clara e de fácil compreensão, nota-
se que temos uma ferramenta idônea para uso, mas uma
deficiência, ouso dizer, descaso dos órgãos competentes na
aplicabilidade desta, talvez por exigir despesas extraordinárias
dos cofres públicos. O acompanhamento da mobilidade
sustentável pelo IMUS, traz fortes e positivos impactos para
maior qualidade de vida urbana e gestão da mobilidade pelos
responsáveis, ao proporcionar no primeiro instante a avaliação
do progresso alcançado, e em segunda instante, a correção de
trajetórias delineando iniciativas mais concretas e
contemporâneas.
Mais que um tema de pesquisa, a tenacidade da
Mobilidade Urbana Sustentável, desde sua estrutura em si
como também em importância, busca perpetuar padrões

87
MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
sistêmicos, que tendem a crescer, com metas estabelecidas
para resultados a nível nacional e mundial. Em suma a
aplicabilidade bem-sucedida pode resultar em soluções
oportunas, concretas, adaptáveis, econômica e ecologicamente
correta e confiável, a conceder maior qualidade de vida a
população, pela mobilidade urbana nos fundamentos da
sustentabilidade.

AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha esposa, as professoras orientadoras e
ao Mestrado Profissional em Gestão Ambiental (MPGA) do
IFPE, por todo apoio incondicional de sempre.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Análise de Indicadores de Mobilidade Urbana: Caso de Uberlândia,
MG. XXVI Congresso Nacional de Pesquisa e Ensino em Transporte.
Joinville-SC, 2011.
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federal. São Paulo: Saraiva, 2015.
*CARVALHO, Carlos Henrique Ribeiro. Texto para Discussão. Mobilidade
Urbana Sustentável: Conceitos, Tendências e Reflexões. Brasília:
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 2016.
*COSTA, Marcelo da Silva. Um índice de mobilidade urbana
Sustentável. 2008. 248 f. Tese (Doutorado – Programa de Pós-Graduação
em Engennharia Civil) - Escola de Engenharia São Carlos, Univesidade de
São Paulo, São Paulo, 2008.
*FURRAER, Igor Leonardo Loeblein. Avaliação parcial do índice de
mobilidade urbana sustentável do município de alegrete - RS.
Orientador: Maurício Silveira dos Santos. 2017, 132 f. TCC (Graduação) -
Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal do Pampa, Alegrete,
2017.
*GENTIL, Caroline Duarte Alves. Influência da forma urbana na
construção de um padrão de mobilidade urbana sustentável. In: 8º
Congresso Luso-Brasileiro para o Planeamento Urbano, Regional,
Integrado e Sustentável. 2018.
*GIBSON. R. B. et al. Sustainability Assessment: Criteria, Processes
and Applications. London: Earthscan, 2005, p. 254.

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MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – DEFINIÇÕES, ASPECTOS,
DIMENSÕES, INDICADORES E CONSIDERAÇÕES SOBRE O IMUS
(ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL)
*IFOOD NEWS. Mobilidade Urbana Sustentável: O que é, importância e
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*LEITE, Luciano. Direito Ambiental - Comentários ao Artigo 225 da
Constituição Federal. Green Legis, 2016. Disponível em:
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*LIMA, L. V. A.; FONTGALLAND, I. L. Mobilidade Urbana Sustentável para
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SANTOS, Nilcemara de Souza França; NOIA, Angye Cássia.
MOBILIDADE URBANA E POLÍTICA PÚBLICA: uma análise das ações
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Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC Ilhéus – Bahia, 2015.
*SILVA, T. D. S. da. Segurança no trânsito: direito e responsabilidade
coletiva. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e
Educação, [S. l.], v. 7, n. 12, p. 587–601, 2021. DOI:
10.51891/rease.v7i12.3482. Disponível em:
https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/3482. Acesso em: 19 dez.
2022.

89
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
CAPÍTULO 5

PERCEPÇÃO DOS DESASTRES


HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU,
EXTREMO SUL DA BAHIA, BRASIL:
ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
Adriano Frederico DONATTI1
Emerson Machado de CARVALHO3
João Batista Lopes da SILVA2
Luanna Chácara PIRES2
Talia Silva RIBEIRO1
1
Mestrando (a) do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Biodiversidade
(PPGSAB) da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB); 2 Docente do PPGSAB/UFSB
3
Orientador/Docente do PPGSAB/UFSB
af.donatti@gmail.com.br

RESUMO: Os desastres hidrológicos, como inundações,


enchentes, alagamentos e enxurradas, têm causado grandes
prejuízos econômicos e sociais, além de perdas de vidas
humanas. Esses desastres representam um dos riscos
ambientais mais perigosos do nosso tempo, em especial para
as comunidades em vulnerabilidade social, onde as pressões
da pobreza forçam as pessoas a se instalarem em áreas de
perigo. O objetivo deste estudo exploratório descritivo é avaliar
a percepção de risco de inundação, o apego ao local e o
comportamento preventivo de munícipes de Itamarajú, Bahia,
atingidos pelas enchentes de 2021. Foram entrevistados 50
indivíduos porta a porta através de questionário pré-estruturado
utilizando escala Likert. Os resultados indicaram
vulnerabilidade social da população, principalmente em função
da renda abaixo de três salários mínimos, baixa escolaridade e
por já terem vivenciado outras enchentes no local onde

90
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
residem. Também foi observado elevado apego ao local,
juntamente à percepção limitada dos riscos e do
comportamento preventivo. Conclui-se que apesar da
população amostrada perceber os riscos, o sentimento de
apego ao local, aliado a falta de campanhas educativas de
prevenção de riscos, parecem comprometer a adoção de
comportamentos preventivos. Esses resultados, concomitantes
à vulnerabilidade socioeconômica constatada, aumentam as
chances da materialização dos riscos decorrentes dos
desastres hidrológicos, visto que limita a capacidade das
pessoas de responderem aos impactos.
Palavras-chave: Inundações. Comportamento pró-ambiental.
Apego ao objeto. Riscos Ambientais. Mudança Climática.

INTRODUÇÃO
O aquecimento global tem entrado na agenda de várias
corporações em função da elevada influência na mudança do
clima e sua interdependência com os mais diversos setores. As
mudanças climáticas provocam variações em escalas regionais
e globais (DE DOMINICIS et al., 2015; KHAN et al., 2019;
PINOS; QUESADA-ROMÁN, 2022), com significativas perdas
econômicas para o agronegócio, turismo, saúde pública,
biodiversidade e demais setores. É indiscutível que as
atividades humanas estão causando as mudanças no clima,
tornando os eventos climáticos extremos, incluindo ondas de
calor, chuvas e secas intensas, mais frequentes e severas
(MCMICHAEL, 2013).
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), órgão de maior autoridade do mundo em ciência do
clima (MCLOUGHLIN, 2021), publicou em 2021 o relatório “The
Physical Science Basis of Climate Change” (MASSON-
DELMOTTE et al., 2021). Esse relatório apontou que os
desastres hidrológicos ocorreram com maior frequência em

91
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
todo o mundo, em decorrência do aquecimento global médio de
apenas 1,1°C (LI et al., 2022). Com aquecimento global acima
de 2°C a magnitude das mudanças aumenta consideravelmente
os desastres hidrológicos (MCMICHAEL, 2013).
Para fins de entendimento do termo “desastres
hidrológicos” utilizado neste trabalho, buscamos sua
delimitação conceitual em Parizzi (2022), o qual faz parte do
grupo de eventos catastróficos relacionados às inundações,
enchentes, alagamentos e enxurradas.
A percepção dos desastres hidrológicos é um tema de
grande relevância para a sociedade, pois esses eventos têm se
tornado cada vez mais frequentes nas discussões ao redor do
Planeta (KUHLICKE et al., 2011; GUILLARD; NAVARRO;
FLEURY-BAHI, 2019; GREER et al., 2020; LEE; LIN, 2022) e
despendido recursos econômicos elevados para seu controle e
manutenção. Enchentes, deslizamentos de terra, secas e
outros eventos relacionados com a água têm causado grandes
prejuízos econômicos e sociais, além de perdas de vidas
humanas e representam um dos riscos ambientais mais
perigosos do nosso tempo (MICELI; SOTGIU; SETTANNI,
2008; SANTIAGO; FLORES; HONG, 2020). A percepção
desses eventos pode variar de acordo com as características
socioeconômicas e culturais das comunidades, bem como da
sua vivência e exposição aos riscos (LECHOWSKA, 2018).
Campanhas educativas e participativas, por exemplo,
são fatores chave na percepção dos riscos e na capacidade de
compreender as medidas de prevenção e resposta aos
desastres hidrológicos (GROTHMANN; REUSSWIG, 2006),
que é comumente negligenciada à uma porção significativa da
sociedade. Em comunidades em vulnerabilidade social, onde as
pressões da pobreza, o crescimento populacional urbano

92
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
desordenado, e o direito desigual da terra, as pessoas são
forçadas a se instalarem em áreas de perigo, como encostas
íngremes e desprotegidas e em margens de rios (ALVES;
KUHNEN; CRUZ, 2019; ARAUJO et al., 2020; FRAGOSO;
SILVA, 2019).
Apesar dos estudos mostrarem a influência de uma
variedade de fatores na percepção das mudanças climáticas e
seus riscos, ainda existem comunidades desprovidas de
informações em relação aos desastres provocados pelas
enchentes (DE DOMINICIS et al., 2015; DIAKAKIS;
SKORDOULIS; SAVVIDOU, 2021). As consequências podem
adquirir proporções de catástrofes exatamente sobre aqueles
que menos têm acesso aos bens materiais básicos e
principalmente autonomia emancipatória (LICCO; MAC
DOWELL, 2015).
Kuhlicke et al. (2011), defendem a divisão da percepção
dos desastres hidrológicos em três aspectos principais:
percepção dos riscos, percepção da vulnerabilidade e
percepção das capacidades de resposta. De acordo com os
autores, a percepção dos riscos está relacionada com a
identificação e avaliação dos perigos, ou seja, a capacidade de
identificar a ocorrência de eventos hidrológicos extremos e
avaliar seus impactos; a percepção da vulnerabilidade está
relacionada com a compreensão das condições
socioeconômicas e culturais que tornam as comunidades mais
ou menos vulneráveis aos desastres hidrológicos; por fim, a
percepção das capacidades de resposta está relacionada com
as habilidades e recursos necessários para responder aos
eventos hidrológicos extremos, incluindo medidas de
prevenção, preparação e resposta.

93
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
O sentimento de apego ao local é um conceito também
explorado na relação com desastres hidrológicos. O apego ao
local é definido como um conceito multidimensional que
engloba a pessoa (o ator), seu processo psicológico (afeto,
cognição, comportamento) e as dimensões físicas do lugar
relacionadas (características e características do lugar)
(SCANNELL; GIFFORD, 2010). Esse componente afetivo pode
funcionar ora positivamente, como um impulso, ora
negativamente como uma barreira para vários comportamentos
relacionados ao lugar, de acordo com situações específicas
vivenciadas no lugar (KNEZ, 2005; TWIGGER-ROSS; UZZELL,
1996).
Apesar das experiências vivenciadas em desastres
provocados pelas inundações, muitas dessas comunidades em
vulnerabilidade social possuem apego ao local onde vivem
(BONAIUTO et al., 2016). Essa ligação emocional das pessoas
com o local onde moram podem variar significativamente entre
as culturas (LEE; LIN, 2022). Pesquisas realizadas por De
Dominicis et al. (2015) e Diakakis et al. (2021), apontam que
pessoas altamente engajadas em suas comunidades são
relutantes em serem deslocadas, mesmo em situações de risco
causadas por inundações.
No entanto, a relação do apego ao lugar com o
enfrentamento do risco também não é clara. Bonaiuto (2016)
verificou que as pessoas com pontuação alta no apego à
vizinhança mostraram maiores intenções e comportamentos de
enfrentamento em termos de coleta e armazenamento de itens
úteis para lidar com o risco de inundação, mas apenas para
aqueles que vivem em áreas de baixo risco. Outro estudo
realizado na Índia pontuou que o apego ao local e econômico
se correlaciona positivamente com a preparação para

94
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
inundações. Esses poucos exemplos, entre outros, mostram
como a relação direta entre o apego ao lugar e o enfrentamento
do risco não é clara, seja positiva, ausente ou negativa (DE
DOMINICIS et al., 2015).
Outro aspecto relevante em planos de mitigação dos
riscos atrelados às enchentes são as medidas preventivas.
Para sua mitigação, principalmente no âmbito do poder público,
a atuação e fiscalização dos órgãos responsáveis no que tange
ao uso e ocupação da terra, à utilização dos recursos hídricos
e ao cumprimento da legislação são fundamentais enquanto
medidas preventivas (SMITH; SILVA; BIAGIONI, 2019). No
atual contexto local da gestão ambiental de recursos hídricos, e
dos riscos de desastres ambientais, os processos participativos
e descentralizados devem ser priorizados e incorporados à
sociedade civil (BERTONE; MELLO, 2004; CARNEIRO;
CARDOSO; AZEVEDO, 2008; KRAMBECK; CARLOS, 2019;
SMITH; SILVA; BIAGIONI, 2019). No entanto, qualquer trabalho
ou ação envolvendo a mitigação dos riscos que as enchentes
devem considerar o apoio e a participação incondicional da
sociedade civil como garantia do sucesso e efetividade do
mesmo.
A percepção dos desastres hidrológicos também é
influenciada pela comunicação e pelo acesso à informação.
Segundo McIvor e Paton (2014), a comunicação clara e efetiva
dos riscos e das medidas de prevenção e resposta aos
desastres hidrológicos é essencial para aumentar a percepção
e a compreensão dos eventos. Além disso, o acesso à
informação sobre o clima, as condições hidrológicas e as
medidas de prevenção e resposta aos desastres podem
contribuir para uma melhor percepção dos riscos e para uma
maior capacidade de resposta.

95
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
Diante do exposto, torna-se emergente ampliar os
estudos da relação de apego ao lugar e o risco percebido em
diferentes regiões e diferentes culturas com o propósito de
traçar planos de mitigação dos impactos causados pelas
mudanças climáticas, que serão cada vez mais frequentes. O
objetivo para este estudo é descrever as percepções dos
munícipes de Itamaraju atingidos pela enchente de dezembro
de 2021 a março de 2022 quanto ao conhecimento do risco,
apego ao local e ao comportamento preventivo. Vale ressaltar
que a cidade de Itamaraju foi severamente atingida. Por essa
razão, o Governo do estado da Bahia decretou situação de
emergência no dia 09 de dezembro de 2021 (BAHIA, 2021) .
Tais fatos foram noticiados nas mais diversas mídias socias e
em muitas coberturas jornalísticas. Para esta cidade, O Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
(Cemaden) registrou no mês de dezembro de 2021 o acúmulo
de 769,8 mm de chuva. Pelos motivos expostos, o município de
Itamaraju tornou-se foco desse trabalho.

MATERIAIS E MÉTODO
O presente estudo é classificado como pesquisa
descritiva exploratória através da obtenção de dados
qualitativos/quantitativos por meio de questionários pré-
estruturados. Baseado nos números de habitantes referentes
ao censo demográfico de 2022, foram empregados cálculos
amostrais no território de identidade do Extremo Sul da Bahia,
especificamente no município de Itamaraju, conforme tabela 1.

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
Tabela 1. Dados populacionais e de amostragem.
Local Pe I Dd II At III Pa IV Ai V Ac VI

Itamaraju 59.603 25,25 2.360,58 20.886 32 50

Fonte:
I
População estimada: IBGE (2022), em número de habitantes.
II
Densidade demográfica: IBGE, (2022), em número de habitantes por
Km².
III
Área Territorial: IBGE, (2022), em Km².
IV
População atingida pelos desastres naturais hidrológicos: dados da
Defesa Civil do Estado da Bahia. 2022, em número de habitantes.
V
Amostragem ideal mínima: utilizando 90% de confiabilidade e 10% de
erro, com distribuição da população mais heterogênea (50/50).
VI
Amostragem coletada.

O município de Itamaraju está localizado numa região


que apresenta naturalmente grande fragilidade ambiental, a
qual está diretamente ligada a fatores naturais como: a
cobertura sedimentar de origem terciária e quaternária; os
grandes índices pluviométricos; e as baixas declividades.
Juntamente com a ocupação humana das áreas de risco, tais
fatores intensificaram a ação das enchentes (AMORIM;
OLIVEIRA, 2007) .
A partir da aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Sul da Bahia
através do CAAE: 57814322.0.0000.8467, o estudo foi
conduzido no período de agosto a outubro de 2022, na zona
urbana do município, em bairros escolhidos por terem sido
diretamente atingidos pelos desastres hidrológicos ocorridos
entre os meses de dezembro de 2021 a março de 2022 (Figura
1).

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
Figura 1. Identificação das áreas pesquisadas.

Fonte: Google Satélite.


As entrevistas foram realizadas de porta-a-porta, através
da aplicação de questionário estruturado com 42 questões
objetivas, adaptadas de De Dominicis (2015), e Lee e Lin
(2022). As primeiras nove questões investigam características
sociodemográficas do entrevistado, como gênero, idade,
escolaridade, tempo de moradia, renda e tipo de residência. As
demais questões foram estruturas em 33 expressões indutoras,
medidas em uma escala Likert de 5 pontos (discordo
totalmente; discordo; não concordo e nem discordo; concordo;
concordo totalmente). As expressões indutoras 10 a 27
avaliaram as percepções de risco de inundação; 28 a 33
avaliaram a percepção de apego ao local; 34 a 42 avaliaram a
percepção de comportamento preventivo. Portanto, criou-se
uma escala de máximos e mínimos para cada uma das três
variáveis analisadas (Tabela 2).

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
Tabela 2. Pontuações mínimas e máximas estabelecidas para
o grupo de variáveis analisadas.
Variáveis Questões Mínima Máxima
Percepção de Risco 18 18 90
Apego ao Local 6 6 30
Comportamento Preventivo 9 9 45
Fonte: Dados da pesquisa. 2022.

Análise dos dados

Os dados sociodemográficos foram organizados em


tabelas de distribuição das frequências relativa e absoluta. Os
dados de percepção de risco, apego ao local e comportamento
preventivo foram analisados por descrição simples em gráfico
percentual de barras. Para tal, agrupou-se essas três variáveis
e verificou-se a tendência central, como a média, mediana e
moda, bem como medidas de dispersão, como o desvio padrão,
amplitude e coeficiente de variação. As análises estatísticas
foram realizadas utilizando o software estatístico R (R CORE
TEAM, 2020).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados devem ser apresentados de forma escrita,
tabelas, gráficos e fotos seguindo a formatação orientada
acima. Os resultados devem ser discutidos e sempre que
possivel comparados com o que tem na literatura ja publicada.

Perfil Sociodemográfico

O perfil sociodemográfico dos entrevistados atingidos


pelos desastres hidrológicos ocorridos na cidade de Itamaraju,
extremo sul da Bahia, foi representado por 77% dos

99
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
entrevistados na faixa etária entre 18 e 65 anos; o gênero de
identificação dos entrevistados foi equitativo entre masculino e
feminino; em sua maioria foi representado por escolaridade
fundamental incompleta e com renda familiar mensal entre um
e dois salários mínimos (Tabela 3).
Tabela 3. Frequência absoluta (fi) e frequência relativa (fri) dos
aspectos sociodemográficos, escolaridade e renda.
Classe fi fri Classe fi fri

Faixa etário dos entrevistados

18 -- 26 anos 9 18% 58 -- 66 anos 13 26%

26 -- 34 anos 5 10% 66 -- 74 anos 3 6%

34 -- 42 anos 5 10% 74 -- 82 anos 1 2%

42 -- 50 anos 5 10% 82 -- 90 anos 1 2%

50 -- 58 anos 8 16% Total 50 100%

Sexo atribuído pelos entrevistados

Masculino 26 52% Outro 0 0%

Feminino 24 48% Total 50 100%

Escolaridade atribuída pelos entrevistados

Fundamental incompleto 33 66% Médio completo 13 26%

Fundamental completo 2 4% Superior incompleto 0 0%

Médio incompleto 2 4% Superior completo 0 0%

Total 50 100%

Renda familiar mensal atribuída pelos entrevistados (Salário Mínimo)

Menos que 1 4 8% Entre 3 e 10 0 0%

Entre 1 e 2 44 88% Mais que 10 0 0%

Entre 2 e 3 2 4% Total 50 100%

Fonte: dados da pesquisa

100
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO

Em relação ao tempo de moradia dos entrevistados, 64%


estavam de 15 a 39 anos na residência atual, enquanto que os
demais residiam entre 1 e 14 anos e 40 e 54 anos; o número de
adultos por residência foi representado por 88% entre 1 e 4
indivíduos, com maior representatividade para 2 indivíduos
(36%), enquanto que 56% das residências não apresentou
nenhuma criança; 84% das residências era própria e 50% dos
entrevistados já presenciaram mais de 5 desastres hidrológicos
(Tabela 4).

Tabela 4. Frequência absoluta (fi) e frequência relativa (fri) dos


aspectos sociodemográficos e de moradia.
Classe fi fri Classe fi fri
Tempo de moradia na residência atual
1 |-- 5 anos 4 8% 30 |-- 35 anos 7 14%
5 |-- 10 anos 3 6% 35 |-- 40 anos 7 14%
10 |-- 15 anos 2 4% 40 |-- 45 anos 4 8%
15 |-- 20 anos 7 14% 45 |-- 50 anos 3 6%
20 |-- 25 anos 5 10% 50 |-- 55 anos 2 4%
25 |-- 30 anos 6 12% Total 50 100%
Número de adultos por residência
1 indivíduos 9 18% 4 indivíduos 7 14%
2 indivíduos 18 36% 5 indivíduos 4 8%
3 indivíduos 10 20% 6 indivíduos 2 4%
Total 50 100%
Número de crianças por residência
0 indivíduo 28 56% 3 indivíduos 6 12%
1 indivíduo 13 26% 4 indivíduos 3 6%
2 indivíduos 0 0% Total 50 100%
Tipo da moradia
Própria 42 84% Cedida 4 8%

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Alugada 4 8% Total 50 100%
Número de enchentes vivenciadas pelo entrevistado
1 enchente 5 10% 4 enchentes 1 2%
2 enchentes 7 14% ≥ 5 enchentes 25 50%
3 enchentes 12 24% Total 50 100%

Fonte: dados da pesquisa

Percepção dos desastres hidrológicos

Na Figura 2 estão representadas as 33 afirmações


indutoras construídas para incitar a percepção da população
sobre os desastres hidrológicos. As afirmações relacionadas à
“percepção de risco” destacam-se por receber entre 82 e 94%
de concordância na escala Likert (concordo e concordo
totalmente). Ou seja, existe uma elevada concordância da
população entrevistada que os riscos de desastres hidrológicos
estão relacionados às mudanças climáticas, à falta de
infraestrutura do local, ao assoreamento dos rios e ao acúmulo
de lixo nas ruas, bueiros e recursos hídricos, além de que as
enchentes são os tipos mais graves de desastres locais. No
entanto, foi observado um conflito conceitual ao verificar que na
questão 10 a população concorda da necessidade de estar
preparada para deixar a residência assim que a água começar
a subir, o que pode ser considerado correto a se fazer. Por outro
lado, na questão 9, a população assume que deve esperar a
água baixar em sua própria residência, o que se constitui em
uma atitude inadequada.
No intervalo de 44 a 80% de concordância foi observado
alternância entre as afirmações relacionadas à “apego ao local”
e “percepção de risco”. Na primeira categoria a população
manifesta a intenção de continuar no local onde reside por ter

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
familiares, apego à vizinhança e às lembranças, e por não ter
outra opção de deslocamento. Na segunda categoria a
população atribui como responsáveis pelos desastres
hidrológicos a insuficiência de redes de galeria, a pavimentação
de ruas e construção de calçadas. Além disso, os entrevistados
manifestam ter ciência do que fazer e como fazer em caso de
desastre hidrológico, bem como ter controle dos riscos para si
e os outros.
Analisando por outro ângulo, 54 a 76% de discordância
(discordo totalmente e discordo) foram atribuídos para a
categoria “comportamento preventivo”. Foi observado que a
população apresenta discordância nas afirmações indutoras
que coloca a população do entorno como responsáveis ou
(co)responsáveis pelos desastres hidrológicos, como: eu ou as
pessoas do local onde moro retiram árvores, descartam lixo e
fazem construções e calçadas diminuindo a permeabilidade do
solo. Também fizeram parte deste cenário de discordância à
possível existência de campanhas de limpeza de ruas e
terrenos baldios, plantio de árvores nas encostas e margens de
rios e prevenção de enchentes.
As questões relacionadas à existência de informações
prestadas sobre riscos, tanto pelo poder público como outros
setores, estavam divididas entre aqueles que concordavam e
discordavam do serviço prestado (questões 11, 12, 17, 18 e 23).
Por outro lado, sobre a existência de campanhas educacionais
preventivas foi verificada uma elevada tendência de
discordância sobre sua ocorrência (questões 31, 32 e 33).

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
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Figura 2. Representação das respostas atribuídas pelos
entrevistados de acordo com a escala Likert.

Fonte: dados da pesquisa. P_R = Percepção de Risco, A_L = Apego ao local,


e C_P = Comportamento Preventivo.

O extremo sul da Bahia agrega fatores naturais e


antrópicos que propiciam os desastres do tipo hidrológico, como
inundações, enxurradas e alagamentos. Fatores naturais, como
hidrografia, chuvas intensas, aumento da vazão dos rios,
eventos climáticos (La Niña e depressão subtropical), somados
aos fatores antrópicos, como falta de planejamento urbano,
ocupação irregular e desordenada próximo à margem de rios,
vulnerabilidade social e aquecimento climático tendem a
intensificar e materializar os riscos de perdas humanas e

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
materiais. A pesquisa realizada na cidade de Itamarajú
evidencia tais fatores, onde a vulnerabilidade social dos
munícipes atingidos pelas enchentes e a falta de infraestrutura
de drenagem e escoamento aumentam consideravelmente o
risco diante das chuvas intensas. Dados do Atlas Brasileiro de
Desastres Naturais (1991 a 2012) para o estado da Bahia
mostraram para as mesorregiões Centro Sul Baiano e Sul
Baiano maior incidência de desastres hidrológicos , com
destaque de maior quantidade de eventos registrados para o
município de Itamaraju, 07 ocorrências (CEPED/UFSC, 2013).
Para descrever a vulnerabilidade social da população
amostral focamos principalmente na renda familiar, índice de
escolaridade e quantidade de desastres hidrológicos
vivenciados no local onde residem. Utilizamos como suporte
conceitual as premissas de Alves (2013), Carmo e Guizardi
(2018), e Barbosa, Gonçalves e Santana (2019), que
caracterizam vulnerabilidade social por meio de dados de
coexistência, privação social e de situações de exposição aos
riscos ambientais, onde estão presentes três elementos:
exposição ao risco, incapacidade de reação e dificuldade em
adaptar-se face à materialização do risco.
O público amostral apresentou renda familiar mensal
abaixo de três salários mínimos, a maioria com escolaridade
fundamental incompleta e, pelo menos a metade destes já
vivenciaram de cinco à mais enchentes onde residem.
Levantamento sociodemográfico do IBGE (2009a, 2009b; 2010)
para o estado da Bahia corrobora com nossos resultados,
indicando renda familiar mensal extremamente baixa, composta
por 94,90% das famílias recebendo até 3 salários mínimos e
escolaridade indicando 22,90% de analfabetos, 14,80% de

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
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analfabetos funcionais, ou seja, pessoas com até 3 anos de
estudos e 22,10% baixa escolaridade.
Estudos em diferentes regiões brasileiras demonstraram
que a vulnerabilidade social representa um dos principais
gargalos para o enfrentamento e manejo de riscos de desastres
hidrológicos. Santiago, Flores, Hong (2020), argumentam que o
risco das inundações no local de estudo foi socialmente
construído, decorrendo da urbanização sem planejamento em
cuja base está o padrão socioeconômico, político e ambiental
em que a população está inserida. Araújo et al. (2020) reforça
a vulnerabilidade social em seu estudo como consequência do
reduzido acesso a dados oficiais sobre chuvas e níveis do rio e
a baixa inserção no sistema local de governança de risco de
inundação.
Para compreender melhor aspectos da vulnerabilidade
social em relação aos desastres hidrológicos buscamos estudar
a percepção dos entrevistados sob três elementos: percepção
de risco, apego ao local e comportamento preventivo. Segundo
os estudos de Bernardo (2013) e Bonaiuto et al. (2016), foi
observada uma relação positiva entre a percepção de risco e o
apego ao lugar, ou seja, quanto mais os indivíduos estão
ligados à sua cidade, mais eles percebem o risco de inundação.
Além disso, no estudo de Ruiz, Hernández (2014), os desastres
naturais afetaram o nível de apego ao lugar. Para Shen (2009),
até mesmo o fato de experimentar uma inundação por si só
aumenta a consciência de uma pessoa e, consequentemente ,
o seu comportamento preventivo. Estes resultados da literatura,
juntamente com os levantamentos de De Dominicis et al. (2015)
e Lee, Lin (2022) foram fundamentais para nortear nossa
pesquisa. Portanto, nos parece interessante estudar se os
desastres hidrológicos locais poderiam alterar a relação entre o

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
apego ao lugar, a percepção de risco e o comportamento
preventivo.
A percepção da população investigada sobre os riscos
de desastres hidrológicos está relacionada a fenômenos globais
(mudanças climáticas), bem como às questões locais (falta de
infraestrutura, assoreamento dos rios e acumulo de lixo nas
ruas, bueiros e rios). Guillard, Navarro, Fleury-Bahi (2019),
também observaram que os indivíduos do seu estudo
perceberam que as mudanças climáticas estavam relacionadas
ao risco de inundação, tornando ambos fenômenos mais
próximos deles. O risco de desastres hidrológicos não está
sendo mais encarado como um conceito abstrato relacionado
às mudanças climáticas, mas sim como problemas reais que
afetam diretamente suas vidas (SANTIAGO; FLORES; HONG,
2020). A avaliação da percepção do risco é atualmente
considerada um aspecto crucial no contexto de manejo de risco
de inundação, sendo considerada como uma avaliação da
probabilidade percebida do perigo e da probabilidade percebida
dos resultados, geralmente consequências negativas
(LECHOWSKA, 2018).
A nossa população estudada também indicou que as
enchentes são os tipos mais graves de desastres locais e,
dessa forma, fazem parte constante da realidade local. Lindell
e Hwang (2008) e Bradford et al. (2012), mostraram
empiricamente que a consciência aumenta junto com a
experiência da enchente. Portanto, parece óbvio que o
compartilhamento de informações e a educação da sociedade
aumentam a conscientização (KING, 2000; RAAIJMAKERS;
KRYWKOW; VAN DER VEEN, 2008). Fator este, criticamente
observado em nossos resultados, uma vez que a população
indicou não existir campanhas educacionais preventivas para a

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
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BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
comunidade que vivenciou inúmeras vezes desastres
hidrológicos no local onde residem. Bradford et al. (2012) e
Kraus, Slovic (1988) , afirmam que a conscientização dos riscos
de desastres hidrológicos entre os habitantes que vivenciaram
tais eventos se torna um fator facilitador de prevenção.
Nossos resultados reforçam que a experiência da
população com situações de desastre hidrológico pode
aumentar a consciência dos riscos, porém jamais deverá ser
suprimida a necessidade de campanhas educativas de
prevenção de riscos. Isto é fato quando constatamos que nossa
população de estudo é contraditória ao concordar que deve
estar preparada para deixar a residência assim que a água
começar a subir da mesma forma que assume que deve esperar
a água baixar em sua residência. A primeira situação é
extremamente recomendada para prevenir possíveis riscos à
saúde, enquanto que na segunda situação os riscos se
intensificam. Segundo Shen (2009), a consciência do risco
diminui quando há pouca informação fornecida, mesmo já tendo
vivenciado as situações de risco. Além disso, o acesso à
informação influencia significativamente a consciência de viver
em uma área de risco.
Outro resultado importante em nossa pesquisa refere-se
ao longo tempo que a população residia no mesmo local, a
maioria residência própria do indivíduo, em contraste com o
longo tempo em que os mesmos vivenciam situações de
desastres hidrológicos. É possível que tal resultado ajude a
explicar a relação de apego ao local, mesmo que de forma
subjetiva. As questões que norteiam o sentimento de apego ao
local sugerem que a presença de familiares, o apego à
vizinhança e às lembranças, bem como a falta de opção de
deslocamento são os principais indicativos de permanecer no

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
local, mesmo após terem vivenciado desastres hidrológicos.
Tais observações são fundamentais para elaborar planos de
manejo de risco de inundação e, quando possível, o
reassentamento humano.
O apego ao local ganhou atenção considerável nos
estudos de desastres, embora haja pouco consenso sobre
como conceituar ou medir essa construção em ambientes pós-
desastre (GREER et al., 2020). Também não é possível
identificar um consenso teórico relacionado às relações entre
apego ao lugar (GREER et al., 2020; GUILLARD; NAVARRO;
FLEURY-BAHI, 2019; LEE; LIN, 2022; MISHRA; MAZUMDAR;
SUAR, 2010). Alguns estudos mostram uma associação entre
elevado apego ao lugar com baixa percepção de risco (BILLIG,
2006), enquanto outros sugerem uma associação entre elevado
apego ao lugar com elevado percepção de risco (BONAIUTO et
al., 2016).
Dando continuidade aos desdobramentos sobre o apego
ao lugar, de acordo com os achados de Lewicka (2011), tal
apego refere-se ao vínculo emocional das pessoas com um
lugar, geralmente incluindo parte de sua identidade individual e
coletiva. O apego ao lugar, entretanto, pode promover ou
dificultar o comportamento relacionado ao lugar (BONAIUTO et
al., 2016; DE DOMINICIS et al., 2015; HAGGETT, 2016). Da
mesma forma como ocorreu com nossos resultados, o apego
ao lugar também requer uma avaliação subjetiva no campo
derivado da psicologia ambiental, que vai muito além de
considerar fatores estatísticos como única explicação dos
fenômenos encontrados. Tem havido uma tendência na
literatura de confiar na racionalidade instrumental para entender
as razões das ações das pessoas (MICELI; SOTGIU;
SETTANNI, 2008; MISHRA; MAZUMDAR; SUAR, 2010).

109
PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
Em suma, os resultados desta pesquisa contribuíram
para demonstrar que apesar da população amostrada perceber
o risco, o sentimento de apego ao local, mesmo depois de
terem vivenciado repetidos episódios de desastres hidrológicos,
e a falta de campanhas educativas de prevenção à esses riscos,
parecem comprometer a adoção de comportamentos
preventivos. A soma desses fatores, juntamente com os baixos
índices socioeconômicos da população , reforçam ainda mais a
situação de vulnerabilidade social, visto que limita a capacidade
das pessoas de responderem aos impactos provocados pelos
desastres hidrológicos.
Para além dos resultados encontrados desta pesquisa,
sugerimos em trabalhos futuros a realização da análise de
tendência com objetivo de identificar possíveis padrões no
comportamento da população em relação aos desastres
hidrológicos ao longo do tempo.

CONCLUSÕES
A partir da observação dos dados descritos, nota-se que
os entrevistados apresentam a condição de vulnerabilidade
social, devido principalmente aos baixos índices de renda
familiar, de escolaridade e pela elevada frequência em que
vivenciaram eventos de inundações e enchentes. A
vulnerabilidade social representa um dos principais gargalos
para o enfrentamento e manejo de riscos de desastres naturais.
Quanto à percepção de risco, a população compreende
os desastres hidrológicos tanto como um fenômeno global
(mudanças climáticas), quanto um evento local relacionado à
falta de infraestrutura, assoreamentos dos corpos hídricos,
acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e rios.

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PERCEPÇÃO DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS PELA POPULAÇÃO
ATINGIDA NO MUNICÍPIO DE ITAMARAJU, EXTREMO SUL DA BAHIA,
BRASIL: ESTUDO EXPLORATÓRIO-DESCRITIVO
As relações de apego ao local sugerem que a presença
de familiares, boa vizinhança, lembranças nostálgicas e a falta
de opção de deslocamento são os principais indicativos da
permanência dos pesquisados no local, mesmo após terem
passado por outros eventos de inundação e enchente. Tais
relações afetivas observadas em nossos resultados podem
dificultar a adoção de medidas preventivas e paliativas de
enfrentamento aos desastres hidrológicos. Entretanto, tais
resultados sugerem estudos futuros, de forma a adotar análises
para medir a distância psicológica do apego ao local em relação
à inundação e outras variáveis sociodemográficas e de
percepção.
Diante do contexto apresentado, fica claro que para o
processo de elaboração, reelaboração e implementação de
medidas de manejo e enfrentamento, é sumariamente
necessário considerar as tendências de comportamento das
populações afetadas, para que sejam alcançados resultados
mais efetivos na mitigação e adaptação aos efeitos dos
desastres hidrológicos.

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PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
CAPÍTULO 6

PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E
BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA
MANDIOCA CAMANDUCAIA
Francilene Cardoso Alves FORTES 1
Danielle de Carvalho DIAS 2
1
Orientadora/Professora Dra. em Agronomia e Esp. Licenciamento Ambiental da Escola
Técnica de Tangara da Serra/MT; 2 Estudantes do Curso Técnico em Agropecuárias da
Escola Técnica de Tangará da Serra / ETE SECITEC;.
lene_fortes@yahoo.com.br; danielledecarvalhodias@gmail.com

RESUMO: O manejo correto da adubação é um dos requisitos


para obter uma mandioca produtiva. foi produzir um
biofertilizante anaeróbico, com esterco bovino, ingá rico em
nitrogênio, embaúba rico fósforo e folhas de bananeira rico em
potássio, contribuindo na destinação adequada de dejetos,
reduzindo o impacto ambiental de baixo custo ao produtor rural.
O experimento foi conduzido município de Tangará da
Serra/MT, o espaçamento utilizado para a cultura foi de 1m x
1m entre plantas e entre linhas, o local de implantação possui
um perímetro 11,5 x 6,0 tendo início em setembro de 2023.
Embora os biofertilizantes apresenta várias vantagens do ponto
de vista ambiental, sustentável, econômico, ainda existe uma
falta de conhecimento sobre biofertilizantes e defensivos
agrícolas orgânicos que podem ser feito com plantas nativas,
assim, foi escolhido o manejo alternativo para a aplicação dos
produtos alternativos na cultura da Manihot esculenta Crantz
(mandioca camanducaia). T1 cresceu suficientemente bem,
porém constatou-se que houve a falta de N através da
observação das folhas. No T2 com 25% de aumento do
Biofetilizante curiosamente desenvolveu bem até em o mês de
outubro sendo danifificado pela praga mosca-do-broto
diminuindo sua capacidade de crescimento e área foliar.

116
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Conclui-se que o biofertilizante obteve uma ótima porcentagem
de resultado porém somente ela não é o suficiente para uma
planta totalmente fortalecida nescessitando também ser
estudados outros fatores com os Micronutrientes.
Palavras-chave: Biofertilizante. Mandioca, Pragas.

INTRODUÇÃO
Nas visitas técnicas in loco ocorridas no decorrer do
curso em propriedades rurais em Tangará da Serra/MT, viu-se
que o controle de pragas em sistemas orgânicos de produção é
uma das principais dificuldades enfrentadas pelos produtores
na região. Além disso, as práticas utilizadas em sistemas
orgânicos não têm sua eficiência comprovada, o que tem levado
o produtor a agir equivocadamente.
Embora apresenta várias vantagens do ponto de vista
ambiental, sustentável, econômico, ainda existe uma falta de
conhecimento sobre biofertilizantes e defensivos agrícolas
orgânicos que podem ser feito com plantas nativas, assim, foi
escolhido o manejo alternativo para a aplicação dos produtos
alternativos da mandioca camanducaia (Manihot esculenta).
De fácil adaptação, a mandioca (Manihot esculenta
Crantz) é cultivada em todos os estados brasileiros, situando-
se entre o sexto em valor de produção. De modo geral, 40% das
raízes é destinada à produção de farinha, 20% para produção
de amido e o restante, destinado a usos como mandioca de
mesa e alimentação animal (NUNES, 2020).
O mandarová da mandioca Erinnyis ello L. (Lepidoptera:
Sphingidae), também conhecido como “gervão”, é uma das
pragas mais perigosas na cultura da mandioca. Sendo as principais
causadores de prejuízos devido à sua alta capacidade de
consumo foliar, causando completo desfolhamento e redução
na produção (ROMULO 2015).

117
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Contudo, diversos métodos são utilizados no controle do
mandarová, tais como, químico, cultural ou biológico, todavia, o
manejo integrado de pragas - MIP, é a prática que vem
demonstrando os melhores resultados, tanto em termos
biológicos, socioeconômicos como ambientais (EMPAER,
2018).
E o uso continuado de biofertilizantes em aplicações
foliares confere aos cultivos uma maior resistência aos
patógenos e amplia a possibilidade de absorção de elementos
essenciais para a nutrição das plantas. Por outro lado, o uso em
solo pode favorecer a maior riqueza de microorganismos e
promover melhor disponibilidade de nutrientes para as raízes
(FINATTO et al., 2020).
Inclusive o uso de defensivo biológico está cada vez mais
ganhando adeptos, que visam reduzir o consumo de defensivos
quimicos. É um mercado que não para de crescer, de acordo
com a associação que representa as fabricantes do setor
ABCBio (Assiciação Brasileira das Empresas de Controle
Biológicos) e nos últimos 10 anos foram registrados cerca de
240 produtos biológicos para uso agrícola no Brasil
(CIORNANICOS, 2019).
Neste sentido, os biofertilizantes e as caldas protetoras
têm surgido como alternativas na produção orgânica não
somente para complementar a nutrição das plantas, mas
também com a finalidade de reduzir as populações de pragas
nas culturas. Diante disso, surgiu a motivação para esse estudo
ao buscar alternativas para contribuir com a sustentabilidade do
agroecossistema e com a elevação da consciência ambiental
dos produtores e técnicos, por meio da utilização de medidas
de controle menos agressivas ao ambiente.
O estudo visou na produção de alternativas biológicas
aos produtores de mandioca Camanducaia no município de

118
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Tangará da Serra/MT, de modo a cooperar com a difusão do
uso de produtos naturais no controle de pragas agrícola, a partir
da compilação de receitas extraídas de publicações de diversos
autores literários. Contudo, ainda existe uma carência de
conhecimento tanto do agricultor, como dos trabalhadores, isso
afeta na ampliação de área de aplicação.
Diante disso, o objetivo geral foi produzir um
biofertilizante anaeróbico, com esterco bovino, ingá rico em
nitrogênio, embaúba rico fósforo e folhas de bananeira rico em
potássio, contribuindo na destinação adequada de dejetos,
reduzindo o impacto ambiental de baixo custo ao produtor rural.
Para alcançar tais resultados, os objetivos específicos
foram avaliar a produção da Mandioca camanducaia utilizando
Biofertilizantes; controlar as principais pragas com uso de
defensivo orgânico; e pontuar as principais melhorias
observadas pelo produtor.

MATERIAIS E MÉTODO
O experimento foi conduzido na rua 56 A, s/n, bairro
Monte Líbano em Tangará da Serra/MT, o espaçamento
utilizado para a cultura foi de 1m x 1m entre plantas e entre
linhas, o local de implantação possui um perímetro 11,5 x 6,0
tendo início em setembro de 2023.
As manivas foram provenientes de plantas adultas e
cortadas com 15 cm cada com 6 gemas aproximadamente,
após cortadas teve o intervalo de 3 dias sendo armazenadas
em um ambiente coberto e seco, em 2 de setembro de 2023
foram plantadas 2 manivas por cova com 15 cm de
profundidade (figura 1).

119
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Figura 1: local do experimento 02/09/2023 em Tangará.

Fonte: Autores. 2023.

Foram coletadas amostras de solo nas camadas de 0-20


cm, resultando em solo argiloso com teor de argila de 56,70.
CTC 15,09 cdmol/m³, V% 81,78, K 5,17 e Al 0,0 e Acidez baixa
PH Cacl 6,50.
O delineamento experimental foi distribuído em quatro
partes, sendo, T1= aplicação de defensivos orgânicos para as
principais pragas que são o Mandarová em sua primeira fase, e
depois o neen na segunda fase da cultura e juntamente com o
biofertilizante em sua indicação pela Embrapa, T2= aplicação
do biofertilizante adicionando 25% a fim de testar se será
susceptível á pragas mesmo fortalecendo as planta, T3=
aplicação do biofertilizante na sua capacidade elevada a 50%
do que o recomendado e T4= testemunha.
Cada unidade experimental continha 15 plantas,
constatado nascimento no dia 15 de setembro de 2023 com 1,0
a 2,5 de altura, como a cultura exige a área sempre limpa no
preimeiros meses até formar a copa da planta, foi realizadas
duas limpezas nos 4 tratamentos, sendo, a primeira no dia 01

120
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
de outubro de 2023 e a outra limpeza no dia 02 de novembro
de 2023.A avaliação do crescimento da cultura foi realizada
através das medidas de altura, procedendo-se à medição do
colo ao ápice da planta.
Quanto ao controle de pragas, foi realizado o estudo dos
biofertilizantes e defensivos naturais na cultura da Manihot
esculenta Crantz (mandioca Camanducaia). Nesse controle
biológico foi utilizado principalmente o vírus Baculovírus que
vem sendo aplicado com sucesso para controle do mandarová,
sendo eficiente somente contra lagartas pequenas.
Sendo assim, a primeira receita elaborada foi utilizando
a própria lagarta Mandarová, as lagartas devem ser lavadas em
água corrente, pegar de 2 a 6 lagartas mortas. Esmague elas
com um pouco de água (5 ml), filtre este líquido com auxílio de
um tecido, visando obter uma calda sem resíduo do inseto,
utilizar 2 colheres de sopa desse líquido para pulverizar 1
hectare (ROMULO et al., 2015).

Foi gasto aproximadamente 200


litros de água em pulverizador do tipo costal
manual. Espalhou muito bem o produto nas
plantas, o resto do líquido que não for
utilizado foi colocado em um saco plástico,
amarrado e guardado no congelador da
geladeira. Esse extrato tem validade de 5
anos. Assim que surgir infestações pode ser
usado (ESTRELA et al., 2007).

Dando continuidade, realizou-se a coleta de 5 lagarta


do mandarová no dia 21 de maio de 2023 , para a retirada do
Baculovirus, deixando-as uma semana em observação para
chegar em uma maturação ideal (Figura 2).

121
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Figura 2: Coleta do Mandarová, 21/05/2023 em Tangará.

Fonte: Autores. 2023.

Logo, armazenado na geladeira para ser usado


posteriormente na aparição da lagarta do Mandarova. No dia
12 de novembro de 2023 sucedeu a diluição na fórmula
reduzida para 100 litros de água e 5 ml ( uma colher de sopa)
do Baculovirús no periodo da manhã para aplicação.
Na segunda receita o grupo de autores do estudo
adequou o biofertilizante anaeróbico, utilizado a mistura de
esterco bovino preferencialmente fresco, folhas trituradas de
ingá rico em nitrogênio, folhas trituradas de embaúba rico em
fósforo e folhas trituradas de bananeira rico em potássio.
A fim de avaliar produção da Mandioca camanducaia
utilizou Biofertilizantes, e fez-se a coleta das folhas de ingá,
bananeira e embaúba, assim, triturando em um liquidificador
com um pouco de aguá para facilitar o processo ( Figura 3).

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PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Figura 3: A - Folha de emdaúba triturada no experimento; B-
Mistura das folhas junto com esterco bovino e armazenamento
do Biofertilizante.

A B

Fonte: Autores (2023).

Depois de todas as folhas trituradas separadamente


com a quantidade de 3,2 litros cada, figura 4 (B), foram
colocadas num recepiente maior todos juntos para a mistura
com o esterco bovino também ja na quantidade separada de 3,2
litros. Depois de todos homogeniezados foram colocados no
tambor através de um funil e completado com 17,2 litros de
água. A fim de, formar a fermentação anaeróbica foi usado um
tambor fechado de 50 litros, ficando com um espeçamento de
40% para a fermentação.
Por fim, a terceira receita foi utilizado a calda a base do
neem para eliminação da mosca-do-broto, está praga ataca o
meristema apical da planta danificando o crescimento e as
raizes. Foi coletada 500g da fruto do neen para fazer a calda.
Foram retirados a casca e a polpa separando a semente,
passado por esse processo de limpeza e remoção da casca,
postriomente é triturada, misturada com água e coado para a
retirada da calda.

123
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a adubação foliar usando a biofertilzante a base do
NPK, ocorreu o início no dia 15 de outubro de 2023, assim,
verificando o crescimento conforme feito o sorteio de uma
planta a cada linha, totalizando 3 a cada Tratamento analisados
a seguir: T1; 1,7,12 / T2; 4, 5,14/ T3; 5,8,12/ T4; 3,7,11,
conforme quadro 1.

Quadro 1: Crescimento conforme sorteio de uma planta a cada


linha.

Fonte: Autores. 2023.

Assim, fez-se no início a etapa medidas no dia foi no dia


30 de setembro de 2023 com plantas em solo firme em sistema
sequeiro, cujas, viveram o tempo todo a luz solar sem nenhum
tipo de sombreamento, nessecitando de capina manual.
Durante o período experimental com duração de 83 dias
foram realizadas 3 mediçoes ao final de cada mês sendo
30/09/2023, 29/10/2023 e 21/11/2023. utilizando para

124
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
organização das medidas planilhas elaboradas em Excel. Após
obter todas as medidas, utilizou a média aritmética para
apresentar os comparativos de desenvolvimento entre campo
controle e os campos com aplicação de adubação (Quadro 1).
Com isso, seguindo o intervalo de 7 dias para uma nova
aplicação, sendo á próxima realizada no dia 22 e 29 de
outubro/2023, 5 e 12 de outubro/2023. Realizadas essa 5
aplicações pode constatar que no T1 cresceu suficientemente
bem, porém constatou-se que houve a falta de N através da
observação das folhas.
No T2 com 25% de aumento do Biofetilizante
curiosamente desenvolveu bem até em o mês de outubro sendo
danifificado pela praga mosca-do-broto diminuindo sua
capacidade de crescimento e área foliar impedindo sua
capacidade de fotossintese.
Já no T3 verificou-se um crescimento da área foliar maior
aos outros tratamento mas com pouca difenrença no
crescimento da planta, ou seja, seria viável para cultura da
mandioca somente para fabricação de feno ou silagem pela
grande capacidade de proteína bruta na folhas para consumo
animal, porém para o crescimento das raizes e acumulação de
amido nos tuberculos não seria viável, porque, as folhas já
teriam consumido uma porcentagem superior de
Macronutrientes. Por fim, no T4 que é a testemunha o
crescimento foi bem menor comparado aos outros e muito
afetada pela mosca-do-broto.
Com estes resultados, concorda-se com Brasil (2020)
que com o uso continuado de biofertilizantes em aplicações
foliares, principalmente com nem, o qual confere aos cultivos
uma maior resistência aos patógenos e amplia a possibilidade
de absorção de elementos essenciais para a nutrição das
plantas.

125
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Diante disso, na figura 4, pode-se observar o
crescimento mensal das plantas, na média geral de cada planta
em comparação aos Tratamentos 1, 2, 3 foram bem divergentes
ao Tratamento 4 (testemunha). Pois onde houve o ataque da
mosca do broto decaiu bruscamente como podemos observar
no T2.

Figura 4 : Crescimento Mensal da Planta nos tratamentos.

T1 T2 T3 T4

SET OUT NOV MÉDIA P/ PLANTA TOTAL

Fonte: Autores. 2023.

No manejo e controle das pragas, constatou na área


pulpas vazias do mandarová no dia 11 de novembro de 2023,
assim, realizado a aplicação de do bioinseticida do Baculovirus
no dia seguinte. Após 7 dias constatou-se a motalidade da
lagarta, encontrando 2 lagartas mortas no T1 onde foi aplicado
o biofertilizante.
Referente a mosca-do-broto, é uma inseto de difícil
controle, quando detectada na cultura, geralmente já está
presente em 25% sendo 4 plantas, como foi encontrado no T2

126
PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
que teve biofertilizante aplicado, apesar disso, superou o
crescimento da planta em comparação com o T4 que teve 80%
sendo 12 plantas infectadas no meristema apical, nessecitando
o corte dessa parte aérea da planta e aplicando a calda do
neem diluindo 100 ml para 10 litros de água.

Quando se almeja a eliminação de larvas,


é recomendada a pulverização de 10 ml do óleo
dissolvido em 1,0 litro de água na planta.Para
efeito repelente dessa praga, dilui-se 10 ml do óleo
de neem em 1,0 litro de água e realiza-se a
pulverização de toda a planta, inclusive embaixo
das folhas a cada 10 dias. Quando se almeja a
eliminação de larvas, é recomendada a
pulverização de 10 ml do óleo dissolvido em 1,0
litro de água na planta (BRASIL, 2020).

Por isso, foi feita a inserção no nosso produto da "calda


de neem", está proporcionando excelentes resultados no
controle de pragas em folhosas, sendo um inseticida totalmente
natural, que não polui, não é nocivo à saúde humana e é
eficiente no combate a mais de 500 espécies de insetos e
ácaros (BRASIL, 2020).
Nesse ano de 2023 em questão da mudança de climática
causadas pelo fenômeno el nino levando chuvas prolongadas
para o Sul do Brasil e secas intensas para o Norte e Nordeste,
acaba afetando o Centro-Oeste com altas temperaturas, assim,
foi detectado a mosca-do-broto antecipadamente na cultura
(figura 5), visto que a praga gosta de temperaturas altas e clims
seco, como as chuvas foram tardias foi aplicada o bioinseticada
com emergência para que não haja o enfraquecimento total ou
até morte, minimizando o intervalo de aplicação para 7 dias.

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PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Figura 5: Incidência da mosca do broto Meristema, 08/11/2023.

Fonte: Autores (2023).

Sendo assim, foram feitas duas aplicações da calda do


neem uma no dia 8 e 15 de novembro de 2023, apresentando
a diminuíção de plantas infectadas por ciclo e melhora de 70%
no T2.
Visto que, no T3 obteve 90% das plantas sadias com
apenas 2 planta com a mosta do broto, porém ao final do
experimento foi detectada também a mosca branca (figura 6)
nas plantas mais altas, nesse tratamento no foi aplicado
nenhum tipo de inseticida orgânico, medindo apenas a sua
altura que foi superior á todos os outtros Tratamentos.

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PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
Figura 6: Incidência de mosca branca, 19/11/2023.

Fonte: Autores. 2023

Por fim, no T4 não obteve resultados qualificados tendo


80% das plantas atingidas pela mosca-do-broto, tendo desfolha
e murchamento da parte ápical e caule, impedindo seu
crescimento, causando várias ramificações no meristmea o que
significa prejudicial para os tubérculos se desenvolvrem com
melhor qualidade.
Dessa forma, para se reduzir a incidência da praga são
recomendados a destruição e queima de brotos atacados, o
plantio antecipado à época das chuvas e o plantio intercalado
com outras culturas não hospedeiras, como milho, feijão e
abóbora, conforme pontuado pela Empaer (2018).

CONCLUSÕES
Na região de Tangará da Serra-MT as pragas
esporádicas que atacam a mandioca de mesa são detectadas
rapidamente assim que há mudanças de clima. Mas com o
atraso de uma dessas mundanças climaticas elas começam a

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PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
se atencipar, visto que, em outros anos iniciou o ataque de
pragas aos 4 meses após o plantio, no esperimento realizado
foi de 3 meses a incidência das pragas.
Assim, referente ao biofertilizante obteve uma ótima
porcentagem de resultado, mostrando que em períodos secas
prolongadas a planta adquire uma alta resistência á estiagem.
Vindo a se recuperar com facilidade após as primeiras chuvas.
O produtor deve encontrar-se sempre preparado para um
manejo e incidência antecipadamnete para minimizar os
prejuízos da sua lavoura. Apesar da Mandioca Camanducaia
ser suceptivel as pragas, é uma ótima escolha de cultura para
o mercado comercial por ser bem aceita ao paladar da região.
Apesar desse estudo, muitos estudos ainda são
necessários para conhecer melhor a biologia e a dinâmica de
atuação dessa praga, visando estabelecer níveis de dano e
desenvolver e recomendar métodos de controle viáveis aos
produtores de mandioca de todo o País.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, N. Neem no controle de pragas das folhosas, 2020. Disponível
em: <https://www.nimbrasil.com.br/neem-no-controle-de-pragas-das-
folhosas/>. Acesso em: 21 nov. 2023.
CIORGANICOS. Uso de Defensivo Biológico Cresce no Brasil. 2019.
Disponível em:<https://ciorganico.com.br/sustentabilidade/uso-de-
defensivo-biologico-cresce-no-brasil/>. Acesso em: 19 ago. 2023.
ESTRELA, J. L. V.; SANTIAGO, A. C. C.; FROTA, F. S.; FAZOLIN, M. Sete
passos para controlar o Mandarová da Mandioca. Documentos 108. Rio
Branco p. 1-17, 2007. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibp
cajpcglclefindmkaj/https://ainfo.cnpcnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/
117351/1/17289.pdf. Acesso em: 19 ago. 2023.
FINATTO, J; ALTMAYER, T; MARTINI, M. C; RODRIGUES, M.
Classificação de adubos orgânicos. In: A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO
DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA NA AGRICULTURA. [S. l.], 14 jul. 2022.
Disponível em: https://agriconline.com.br/portal/artigo/importancia-da-
utilizacao-da-adubacao-organica-naagricultura/. Acesso em: 3 set. 2023.

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PRODUÇÃO DE DEFENSIVOS E BIOFERTILIZANTES COMO MANEJO
ALTERNATIVO NA CULTURA DA MANDIOCA CAMANDUCAIA
EMPAER. Empaer realiza dia de campo sobre o cultivo de mandioca
irrigada em Acorizal. Acorizal MT: Página Rural 20 anos, 28 fev. 2018.
Disponível em: https://www.paginarural.com.br/noticia/253401/empaer-
realiza-dia-de-ceo-sobre-o-cultivo-de-mandioca-irrigada-em-acorizal.
Acesso em: 24 out. 2023.
NUNES, Jose luiz da Silva. Mandarová. In: Mandarová. Disponível em:
https://www.agrolink.com.br/cultura/mandioca/inforformacoes-da-cultura
/fitossanidade/mandarová_438409.html>. Acesso em: 20 nov. 2023.
PEREIRA, E.F.; NEUBERT, E.O.; MORETO, A.L.; PERUCH, L.A.M.;
BACK, A. Comportamento no campo de diferentes genótipos de aipim
(Manihot esculenta, Crantz) ao ataque da mosca-do-broto. In: Congresso
Brasileiro de Mandioca. Salvador: SBM, 2013. p.498-502.
ROMULO. et al. Controle biológico do mandarová da mandioca
Erinnyis ello. 2015. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/
digital/bitstream/item/134733/1/Cartitilha267-24-Mandarova-Romulo-03-12-
2015.pdf>. Acesso em: 28 nov. 2023.
SNA. Mercado de defensivo agrícola biológico tem excelentes
perspectivas no Brasil. 2019. Disponível em: <https://ciorganicos.com.
br/noticia/mercado-de-defensivo-agricola-biologico-tem-excelentes-
perspectivas-no-brasil/>. Acesso em: 22 nov. 2023.

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
CAPÍTULO 7

SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM
APLICATIVO PARA PROMOÇÃO DA
SEGURANÇA LABORATORIAL
Gabriel Arruda Tamiozzo Araújo 1
Igor Lisboa Fernandes 1
Anderson da Silva Paula 2
Sandro Pereira Ribeiro 3
Marco Antônio Pereira Araújo 3
1
Graduandos do curso de Engenharia de Software, Universidade de Vassouras; 2
Aluno do Mestrado Profissional em Ciências Ambientais da Universidade de Vassouras; 3
Professor do Mestrado Profissional em Ciências Ambientais da Universidade de Vassouras.
tamiozzo98@gmail.com

RESUMO: A segurança laboratorial se refere às práticas e


medidas que visam garantir a segurança dos trabalhadores,
proteger o meio ambiente e prevenir acidentes em ambientes
de laboratório, onde são realizados experimentos e testes
científicos. Nesse sentido, o treinamento dos profissionais, a
avaliação de riscos, a gestão de resíduos e a manutenção de
equipamentos são indispensáveis, além, evidentemente, dos
procedimentos de resposta a emergências, incluindo a
evacuação do laboratório em caso de incêndio, derramamentos
químicos ou outros incidentes bem como a realização de
avaliações de riscos para identificar e mitigar os perigos
associados a experimentos específicos. É justamente, nesse
esteio que o SecureLab representa uma inovação significativa
no âmbito da segurança laboratorial. Este aplicativo foi
desenvolvido para consolidar informações essenciais sobre
produtos químicos, rótulos e protocolos de segurança, incluindo
equipamentos de proteção individual (EPI) e coletiva (EPC),
assim como normas de prevenção contra incêndios. Além de
ser uma ferramenta de referência prática para profissionais e
acadêmicos, o software oferece um módulo de quiz interativo,

132
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
visando reforçar e testar o conhecimento dos usuários sobre
práticas seguras em laboratório. Este artigo destaca o processo
de desenvolvimento do aplicativo, suas principais
características e discute o potencial impacto na promoção da
cultura de segurança em ambientes laboratoriais, sejam eles
acadêmicos ou industriais.
Palavras-chave: Segurança Laboratorial. Produtos Químicos.
Equipamentos de Proteção. Aplicativo.

INTRODUÇÃO
A Revolução Industrial, que começou no final do século
XVIII na Grã-Bretanha e se espalhou pelo mundo ao longo dos
séculos XIX e XX, teve um impacto significativo no meio
ambiente. À medida que a industrialização avançava, várias
mudanças ocorreram, e os impactos no meio ambiente se
tornaram cada vez mais evidentes: poluição do ar e das águas;
desmatamento e degradação do solo; mudanças climáticas;
urbanização e degradação do habitat; poluição química e
escassez de recursos naturais (MORIN, 2021).
No século XXI, a conscientização sobre os impactos
ambientais e da própria segurança dos trabalhadores da
Revolução Industrial levou a esforços para mitigar esses
problemas. Iniciativas de conservação, regulamentações
ambientais mais rigorosas e avanços tecnológicos buscam
reduzir a poluição, promover a eficiência energética e incentivar
práticas sustentáveis na indústria. No entanto, os desafios
ambientais ainda são uma preocupação significativa à medida
que a industrialização global continua a avançar, e a
sustentabilidade tornou-se uma prioridade para muitos
governos, empresas e organizações em todo o mundo.
A segurança laboratorial, nesse esteio, é uma vertente
crítica da prática científica e industrial moderna, formando a
espinha dorsal da proteção dos profissionais envolvidos, do

133
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
meio ambiente e do próprio conhecimento científico gerado.
Historicamente, a evolução das normas de segurança
laboratorial tem sido uma resposta direta aos acidentes,
incidentes e percepções crescentes sobre riscos ocupacionais
e ambientais (MORIN, 2021). Desde o trágico episódio no
laboratório de Madame Curie, que desencadeou um
reconhecimento sem precedentes dos perigos da radiação, até
os recentes incidentes com materiais químicos e biológicos, a
comunidade global tem testemunhado os impactos
devastadores de uma gestão de segurança inadequada.
A aderência rigorosa às normas de segurança
laboratorial não é apenas uma questão de conformidade
regulatória, mas um imperativo ético e prático. O
descumprimento dessas normas pode resultar em
consequências catastróficas, incluindo danos físicos aos
trabalhadores, contaminação ambiental, perda de dados
científicos valiosos e danos à reputação das instituições. Dessa
forma, é essencial implementar medidas de segurança fortes e
fornecer educação constante para os trabalhadores dos
laboratórios visando prevenir acidentes e manter um ambiente
produtivo seguro.
Em linhas gerais, a Segurança laboratorial é um conjunto
de práticas, políticas e procedimentos destinados a garantir um
ambiente de trabalho seguro em laboratórios e instalações de
pesquisa, onde são conduzidos experimentos, manipulados
produtos químicos, realizadas análises e desenvolvidos
processos científicos ou industriais.
O projeto, com isso, visa apresentar como o SecureLab
pode otimizar a gestão de informações sobre produtos
químicos, rótulos e práticas seguras, avaliando o potencial
educativo do aplicativo e a influência positiva que pode exercer
na adoção de práticas de segurança laboratorial mais robustas.

134
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
MATERIAIS E MÉTODO
Diante deste panorama, o SecureLab apresenta-se
como uma solução funcional e prática. Através da consolidação
de informações críticas e da disponibilização de recursos
didáticos interativos, o aplicativo visa reforçar a importância das
práticas de segurança laboratorial, contribuindo
significativamente para uma cultura de prevenção e
responsabilidade.
A ideia do aplicativo emergiu da constatação de uma
lacuna significativa no mercado: a ausência de uma solução
integrada capaz de centralizar todas as informações vitais
relacionadas à segurança laboratorial. A necessidade de tal
ferramenta tornou-se cada vez mais evidente diante da
complexidade e do volume crescente de dados associados à
segurança em ambientes laboratoriais.
Ao destacar a importância das normas de segurança, o
SecureLab se posiciona como uma ferramenta de auxílio na
promoção de um ambiente laboratorial seguro, protegendo
tanto os trabalhadores quanto o meio ambiente de riscos
potenciais.
Com o aumento dos regulamentos de segurança e a
diversificação dos processos laboratoriais, tornou-se imperativo
dispor de um sistema que não apenas armazenasse dados,
mas também facilitasse a interpretação e aplicação eficaz das
normas de segurança.
Diante deste cenário, identificou-se a necessidade de
preencher esse vazio, desenvolvendo uma plataforma que
integra informações de segurança de diversas fontes, padroniza
procedimentos e facilita a disseminação de práticas de
segurança. Este aplicativo visa não apenas simplificar a gestão
da segurança laboratorial, mas também fortalecer a cultura de

135
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
segurança, promovendo um ambiente onde a prevenção de
acidentes e a proteção à vida são prioritárias.
O SecureLab foi desenvolvido aderindo às práticas da
engenharia de software, com cada fase do seu
desenvolvimento estrategicamente planejada para atender a
padrões de qualidade e integridade. Desde os esboços iniciais
de sua arquitetura até a sua realização como um produto
completo.
Além disso, todo o desenvolvimento foi guiado por uma
abordagem ágil, focando na colaboração, flexibilidade e
melhorias constantes. Essa metodologia permitiu responder de
forma rápida e eficaz às necessidades dos stakeholders.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O SecureLab atingiu sucesso na centralização de
informações de segurança laboratorial, proporcionando uma
ferramenta valiosa para os profissionais que atuam em
ambientes laboratoriais. Para começar a aproveitar os recursos
oferecidos pelo APP, o usuário deve inicialmente baixar o
aplicativo na Google Play Store. Após a instalação bem-
sucedida, ao abrir o aplicativo, o usuário será apresentado a
uma tela de apresentação.
Na figura 1 pode-se observar o resultado da tela de
introdução da aplicação. Essa seção contém um guia detalhado
que oferece uma visão geral de todas as funcionalidades e
informações disponíveis no aplicativo. Este guia é projetado
para auxiliar os usuários a navegar pelo aplicativo com
facilidade, e a entender como acessar e utilizar todas as
ferramentas e informações disponíveis para garantir a
segurança no ambiente laboratorial.

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
1. Tela de Introdução da Aplicação.

Fonte: Própria

Conforme pode ser observado na Figura 2, temos uma


área que apresenta a lista com os nomes dos produtos
químicos, e também possui uma caixa de busca na qual o
usuário pode escrever o nome de qualquer produto. O sistema
carrega os produtos correspondentes em tempo real, e, quando
o usuário encontra o produto que deseja, ele pode clicar sobre
ele para abrir uma tela de detalhes do produto.

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
Figura 2. Lista com os Nomes dos Produtos Químicos.

Fonte: Própria

Conforme ilustrado na Figura 3, a tela de detalhes do


produto apresenta informações cruciais sobre o produto
químico selecionado. As informações exibidas incluem o nome
do produto, classe, número ONU (Organização das Nações
Unidas), fórmula molecular, Número de Risco, família química
e sinônimos. Além dessas informações básicas, há também um
link que direciona o usuário para a página de detalhes de
produtos químicos da CETESB (Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo), onde é possível encontrar informações
mais completas e detalhadas sobre o produto químico em
questão. Esta tela de detalhes é projetada para oferecer ao

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
usuário uma visão rápida e clara das características essenciais
do produto químico, ao mesmo tempo que proporciona um
acesso fácil a informações mais aprofundadas através do link
para a CETESB.

Figura 3. Lista com os Nomes dos Produtos Químicos.

Fonte: Própria
Como ilustrado na Figura 4, a aba Lista de Rótulos
oferece uma interface organizada onde os usuários podem
visualizar os rótulos químicos, acompanhados de informações
relevantes sobre a classe e subclasse a que cada um pertence.
Cada entrada na lista apresenta uma imagem clara do rótulo
químico, permitindo uma identificação visual rápida. Adjacente
à imagem do rótulo, estão as informações da classe e subclasse

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
do produto químico, proporcionando uma compreensão
imediata dos riscos e categorizações associadas. Esta aba é
projetada para oferecer uma referência visual e informativa
rápida, facilitando a gestão e identificação segura dos produtos
químicos no ambiente laboratorial. A disposição clara e a
inclusão de imagens visuais tornam esta seção uma ferramenta
valiosa para os profissionais que necessitam de informações de
segurança acessíveis e facilmente compreensíveis durante o
manuseio de produtos químicos.

Figura 4. Rótulo dos Produtos Químicos.

Fonte: Própria
Na Figura 5, a seção Detalhe Rótulo é apresentada,
oferecendo uma análise mais detalhada do rótulo químico
selecionado. Esta seção exibe a imagem do rótulo, a classe e
subclasse, além de uma descrição do mesmo. Também é

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
indicado o nível de perigo associado e os cuidados necessários
para a manipulação segura. Esta seção serve como um recurso
informativo crucial, proporcionando aos usuários um
entendimento claro dos riscos e precauções associados,
contribuindo assim para uma gestão mais segura no ambiente
laboratorial.

Figura 5. Detalhes dos Rótulos.

Fonte: Própria

Na Figura 6, é apresentada a aba Segurança, que


compila informações cruciais para a promoção de um ambiente
laboratorial seguro. Esta aba é subdividida em quatro seções
principais: Normas Básicas de Segurança Laboratorial, Regras
Básicas em Caso de Incêndio no Laboratório, Equipamentos de
Proteção Individual (EPI) e Equipamento de Proteção Coletiva
(EPC). Cada seção é dedicada a fornecer orientações e

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
informações pertinentes para garantir a segurança dos
indivíduos e do ambiente laboratorial como um todo. Esta
organização facilita o acesso rápido e compreensível a
diretrizes de segurança essenciais, contribuindo para a
conscientização e a prática de medidas de segurança eficazes
no ambiente laboratorial.

Figura 6. Aba de Segurança.

Fonte: Própria

Na Figura 7, é apresentada a tela "Normas Básicas de


Segurança Laboratorial" que discorre sobre as normas
essenciais para manter a segurança em laboratórios de
química, conforme documentado em "Regras Básicas de
Segurança Em Laboratórios de Química" pelo CBPF (Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas). A tela oferece um resumo
informativo dessas normas, facilitando a compreensão e

142
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
aplicação das mesmas pelos profissionais que atuam em
ambientes laboratoriais.

Figura 7. Normas Básica de Segurança.

Fonte: Própria

Na Figura 8, é exibida a tela "Regras Básicas em Caso


de Incêndio no Laboratório", que fornece orientações críticas
sobre como proceder em situações de incêndio dentro de um
ambiente laboratorial. As instruções são baseadas na Norma
Regulamentadora No. 23 (NR-23) do Ministério do Trabalho e
Emprego, garantindo que as recomendações estejam alinhadas
com as regulamentações oficiais.
A tela orienta primeiramente a manter a calma, seguido
de instruções sobre como iniciar o combate ao fogo com os

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
extintores adequados e afastar materiais inflamáveis. Se o fogo
fugir do controle, a orientação é para evacuar o local
imediatamente. Além disso, há instruções sobre como acionar
o alarme, desligar a chave geral da eletricidade, e como e
quando acionar o Corpo de Bombeiros através do número 193.

Figura 8. Regras em Caso de Incêndio.

Fonte: Própria

Em relação à Figura 9, a tela intitulada EPI aborda o tema


dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), que são
essenciais para minimizar os riscos de acidentes no ambiente
laboratorial. Os EPIs são apresentados como recursos cruciais
para assegurar a segurança individual dos profissionais ao
manusear substâncias químicas ou ao realizar procedimentos

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
que possam apresentar algum risco. Entre os EPIs mais
comumente utilizados, são destacados óculos, máscaras,
luvas, aventais e gorros.

Figura 9. EPI.

Fonte: Própria

Referente à Figura 10, a tela denominada EPC,


Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) discute a
importância e a função dos EPCs no ambiente laboratorial. Os
Equipamentos de Proteção Coletiva são destacados como
ferramentas essenciais para proteger tanto o ambiente como a
saúde e integridade dos laboratoristas. Eles são utilizados tanto
em procedimentos rotineiros quanto em situações de
emergência decorrentes de acidentes maiores.

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
Figura 10. EPC.

Fonte: Própria

Relativo à Figura 11, a tela intitulada Quizzes apresenta


uma lista de quizzes que proporcionam aos usuários uma
oportunidade de testar e reforçar seu conhecimento sobre
segurança laboratorial. Esta seção é desenhada de maneira
interativa, incentivando os usuários a engajarem-se ativamente
na avaliação e aprimoramento de seu entendimento sobre as
práticas seguras no ambiente laboratorial.
Os quizzes abordam uma variedade de temas
pertinentes à segurança laboratorial, permitindo que os
usuários explorem diferentes aspectos e situações que podem
encontrar em sua rotina de trabalho. Além de ser uma

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
ferramenta educacional valiosa, os quizzes podem servir como
uma forma de avaliação contínua, ajudando os profissionais do
laboratório a identificar áreas que podem necessitar de mais
atenção ou estudo adicional.

Figura 11. Quizzes.

Fonte: Própria

Por sua parte, a figura 12 é exibe a tela de um quiz


específico selecionado pelo usuário. Nesta tela, é apresentado
o tema do quiz, a quantidade total de perguntas, e a primeira
pergunta acompanhada de quatro opções de resposta, das
quais apenas uma é a correta. O layout é intuitivo e organizado,
facilitando a interação do usuário e a compreensão das
questões apresentadas.

147
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
Conforme o usuário avança respondendo às perguntas,
ele é guiado através do quiz de maneira sequencial. Após
responder a todas as perguntas, é exibida uma mensagem
indicando a quantidade de acertos que o usuário obteve. Esse
feedback imediato permite que o usuário avalie seu
desempenho e compreensão sobre o tema abordado no quiz.

Figura 12. Quiz Selecionado pelo Usuário.

Fonte: Própria

CONCLUSÕES
Num cenário laboratorial impulsionado pela
tecnologia, o SecureLab apresenta-se como uma solução
inovadora, atendendo às necessidades de segurança e

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SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
educação para profissionais em laboratórios químicos. Ao
alinhar tecnologia e prática, o aplicativo simplifica o acesso a
informações sobre produtos químicos, rótulos e normas de
segurança, enquanto reforça a importância da segurança e da
formação contínua.
Os stakeholders envolvidos no projeto, que
tiveram acesso prévio ao aplicativo, relataram uma experiência
positiva, destacando a objetividade das informações e a
interface intuitiva que atende às necessidades que foram
especificadas no início do projeto. Esses depoimentos
sinalizam um futuro para a aplicação, indicando que sua adoção
pode ajudar profissionais em laboratórios químicos,
proporcionando um ambiente mais seguro, eficiente e adaptado
às demandas do século XXI.
Com a aceitação favorável já evidenciada pelos
stakeholders, planeja-se conduzir pesquisas adicionais com
outros usuários no futuro, buscando feedback adicional para
aprimorar continuamente o SecureLab.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CISZ, Cleiton Rodrigo. Conscientização do uso de EPIs, quanto à
segurança pessoal e coletiva. Monografia do Curso de Especialização em
Engenharia de Segurança do Trabalho. Universidade Tecnológica Federal
do Paraná-UTFP, Curitiba, 2021.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. 10. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil; 2021.
SANTOS, R. S. Trabalho, saúde e ergonomia: segurança no trabalho. Feira
de Santana: FTC, 2020.
GARCIA, Kristine Joy Q. et al. Virtual chemistry laboratory for methods of
separating mixtures: A design, development, and evaluation of a mobile
application. Journal of Innovations in Teaching and Learning, v. 2, n. 1,
p. 18-23, 2022.
AMERI, Arefeh et al. LabSafety, the pharmaceutical laboratory android
application, for improving the knowledge of pharmacy students.
Biochemistry and Molecular Biology Education, v. 48, n. 1, p. 44-53,
2020.

149
SECURELAB: DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO PARA
PROMOÇÃO DA SEGURANÇA LABORATORIAL
Regras Básicas de Segurança Em Laboratórios de Química. Disponível
em:<https://www.gov.br/cbpf/pt-br/acesso-a-
informacao/Regras_Seg_Quim_CBPF.pdf>. Acesso em: 02/11/2023.
Norma Regulamentadora No. 23 (NR-23). Disponível em:
<https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-
informacao/participacao-social/conselhos-e-orgaos-colegiados/comissao-
tripartite-partitaria-permanente/normas-regulamentadora/normas-
regulamentadoras-vigentes/norma-regulamentadora-no-23-nr-23>. Acesso
em: 02/11/2023.

150
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
CAPÍTULO 8

TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM


MICROORGANISMO NA CULTURA DA
RÚCULA.
Francilene Cardoso Alves FORTES 1
Josefa Jaresdene de LIMA 2
Danielly Rodrigues Teixeira da SILVA 3
1 1
Orientadora/Professora Dra. em Agronomia e Esp. Licenciamento Ambiental da Escola
Técnica de Tangara da Serra/MT; 2 Estudantes do Curso Técnico em Agropecuárias da
Escola Técnica de Tangará da Serra / ETE SECITEC; 3 Coorientadora MSc. em Agronomia
pela Universidade Federal de Roraima e Bióloga.
josilima2233@gmail.com; lene_fortes@yahoo.com.br

RESUMO: Buscando alternativas ao processo de adubação


convencional, tendo em vista potenciais riscos ao meio
ambiente, foram estudados o esterco equino como fontes de
nutrientes. Já que a maior demanda de adubações gera um
maior custo, o que incentiva a realização de pesquisas com
materiais alternativos à adubação mineral extraída
químicamente. À vista disso, este trabalho teve como objetivo
avaliar o aceleramento de compostagem do esterco da cama-
de-equino utilizando o E.M (Microrganismos Eficientes). Isso foi
pensado em trazer ao agricultor uma forma de adubação com
baixo custo, comparado aos demais adubos (químicos e
orgânicos), proporcionando assim, um solo rico em nitrogênio,
fósforo e potássio (NPK). Espera-se que o trabalho tenha maior
visibilidade junto aos produtores rurais e órgãos competentes,
bem como maior divulgação do assunto, já que poucas
informações a respeito da sua utilização na produção das
culturas são encontradas nas literaturas.
Palavras-chave: Microrganismo eficiente. Adubação. Equino.

151
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.

INTRODUÇÃO
Este trabalho visa acelerar o processo de compostagem
da cama de equino como parte da construção da unidade
curricular O Projeto Integrador II realizada como acadêmico do
curso em Agropecuária da ETE Tangará da Serra. Pois
segundo Pesquisa da Pecuária Municipal - PPM, realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2020), o
rebanho equino do Brasil cresceu 1,9% em 2020, comparado
com os dados do ano anterior, somando 5.962.126 milhões de
cabeças de cavalos. E o estado do Mato Grosso, teve um
crescimento expressivo, saltando da 5° para a 2° posição.
Justifica-se que esse trabalho visa contribuir com o
fortalecimento da agricultura familiar em Tangará da Serra/MT,
também pensou em tornar as práticas agrícolas cada vez mais
técnicas e eficientes, otimizando insumos e proporcionando
desta forma, com que o produtor rural tenha condição
econômica e social de se manter dignamente no campo com
uma atividade lucrativa e rentável.
Por isso, é de extrema importância o estudo de
substratos alternativos e recipientes adequados, visando
baratear os custos de produção e atividade acessível a todos
os produtores rurais, interessados em recompor suas área.
Devido às poucas opções no mercado, é crescente a busca dos
produtores por substratos alternativos, sendo um produto
diferenciado e lucrativo.
Para se obter mudas de qualidade, é necessária a
utilização de técnicas adequadas de formação e, dentre os
fatores importantes, destacam-se as propriedades do substrato,
nível de nutrição e disponibilidade de água às mudas. Deve ser
uniforme em sua composição, ter baixa densidade, ser poroso,
apresentar adequada capacidade de retenção de água,

152
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
capacidade de troca de cátions – CTC, ser isento de pragas, de
organismos patogênicos e de sementes de plantas daninhas
(SANTOS at al., 2016).
Pensando nisso, buscou-se por estratégias em utilizar o
EM, pois ele contribui com o fortalecimento natural do solo,
reduz impactos ambientais e possibilita a manutenção de
sistemas limpos, a produção de alimentos saudáveis, assim
como, equilibrados nutricionalmente e livres de resíduos
químicos. A tecnologia social EM contribuir com a qualidade de
vida. É tecnologia social e sustentável. Justificando ainda mais
este estudo.
Com base neste estudo pretende-se reduzir gastos com
compras de insumos, possibilitando maior autonomia dos
produtores devido especialmente à mineralização a longo prazo
da matéria orgânica. Além da escassez de informação por parte
da literatura sobre o assunto, e a falta de conhecimento dos
produtores para reutilizar a cama de equino para o
aceleramento do processo ainda é incipiente. Justifica-se ainda
mais este estudo.
Este projeto tem como objetivo geral acelerar a
decomposição da cama de equino reduzindo o tempo de
compostagem, por meio dos microrganismos eficientes, a fim
de melhorar produção de mudas com qualidade nas hortaliças,
em especial a rúcula. Bem como os objetivos específicos serão
verificadas o crescimento rúcula, avaliar o crescimento radicular
da cultura e acelerar o processo de compostagem.
MATERIAIS E MÉTODO
Foi realizado a limpeza da área experimental na Escola
Técnica Secitec – ETE Tangará da Serra/MT, localizada na Rua
São Paulo nº 801, Vila Goiânia.

153
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
A pesquisa foi bibliográfica, descritiva, qualitativa,
quantitativa e pesquisa de campo, com aplicação de
questionário com perguntas fechadas.
Para dar início no experimento foi adquirido o esterco
equino será obtido na CTN - Centro de Tradições Nordestinas,
onde material consistirá na mistura de esterco equino com
serragem, onde será retirado das baias dos cavalos e
encontrava-se já curtido.
Antes de acelerar o processo de compostagem da cama
de equino, foi utilizada a metodologia de Kiehl (2014) com
adição microrganismos eficientes. Assim, foi reproduzir os
microrganismos eficientes, com aproximadamente 700 gramas
de arroz; colocando-o em um recipiente plástico, figura 1 (A);
coberto com uma tela; em seguida foi levado até uma
serrapilheira de 10 à 15 dias figura 1 (B); após foi retirado da
serapilheira e adicionado açúcar mascavo, deixando-o repousar
até passar o prazo de fermentação figura 1 (C); passado o
tempo de fermentação foi adicionado na compostagem da
cama de equino.

Figura 1: A- Arroz; B - serrapilheira ; C- Captura do E.M

A B C

Fonte: Josefa. 2023

154
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Depois que reproduziu o E.M, foi feita a maturação
utilizando o microrganismo eficiente. Separando uma
quantidade de 300 kg de cama de equino para essa
compostagem utilizou-se o modelo de ( regra) que é um pra um
1000 kg de matéria prima nesse caso o esterco 100 litros de
água e 1 litro de solução (E.M).
E seguindo essas medidas foram adicionado 300 kg de
cama de equino, 30 litros de água e 30ml de (E.M) sobre uma
lona, deu início a compostagem essa composteira era
revolvida a cada 3 dias sempre medindo a temperatura a cada
revolvida, cuja temperatura variava entre 38 a 45 graus.
Outro cuidado foi com a lona evitando entrada de ar para
não atrasar o processo, com 15 dias de compostagem foi
umedecido com a mesma solução E.M nesse caso foi
umedecido somente duas vezes uma no início outra na metade
do processo.
Durante o processo de maturação do E.M, foram
coletadas as amostras do esterco verificando os índices de
germinação de plantas daninhas, chegando em um resultado
de maturação em 30 dias para concluir o ciclo de maturação,
sendo assim inserido nos canteiros sucos ou berço das
culturas.
E para coleta de dadados foi analisado o
desenvolvimento e o crescimento radicular da rúcula.
- Primeira contagem (PC): computando-se o percentual
de plântulas normais germinadas, aos 5 dias após semeadura,
sendo consideradas plântulas normais aquelas que
apresentaram potencial para continuar seu desenvolvimento e
dar origem a plantas normais, utilizando-se, como critério, a
emissão de parte aérea e sistema radicular desenvolvido
(DRESCH et al, 2013).

155
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
- Germinação (G): após a geminação das sementes,
avaliou-se a 10 contagem do número de plântulas germinadas.
- Comprimento de plântulas: com medição de toda a
extensão das plântulas (sistema radicular e parte aérea), por
meio de uma régua graduada, a partir de 6 plântulas escolhidas
aleatoriamente, provenientes do teste de germinação. Unidade:
centímetros.
Já no testes de emergência, foram construídos nove
canteiros medindo 1,10 por 1,40 metros quadrados, sendo feito
três repetições com EM e um controle. As primeiras avaliações
do ensaio foram realizadas coletas após a semeadura, sendo
retiradas cinco plantas de cada bloco para amostragem, com
base nos seguintes parâmetros: altura da planta, diâmetro do
caule, número de folhas, área foliar, caule e raízes.
E para identificar as pragas encontradas no experimento,
foi realizada a revisão de literatura para identificação das
principais pragas na rúcula, e posteriormente, uma vez
identificadas as pragas na horta, será feito o uso dos defensivos
alternativos para minimizar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre as diversidade de espécies produzidas em
Tangará da Serra/MT, questionou os feirantes e produtores
rurais, quais eram as hortaliças mais consumidas pelos
consumidores, e pode-se observar na tabela 1, que a cultura da
rúcula está entre elas, com 30 produtores porduzindo esta
cultura. Pode-se dizer que além do ciclo ser curto, outro ponto,
pode ser a busca por alimentos saudáveis e que previne
doenças, dietas e comidas mais saborosas.

156
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Tabela 1. Número de produtores por espécie de hortaliça
produzida, Tangará da Serra-MT, 2020.
Hortaliças No de produtores
Rúcula 30
Alface 35
Cheiro verde 32
Couve 28
Agrião 5
Pimenta de cheiro 6
Fonte: Autores (2023).

E pensado em contribuir o fortalecimento da agricultura


familiar em Tangará da Serra/MT, com práticas agrícolas mais
técnicas e eficientes, otimizando insumos e proporcionando
uma atividade lucrativa e rentável.
No entanto, uma pergunta que não pode-se deixar de
lado, já que há várias diversidades na hortaliças produzidas,
porque só foi plantado rúcula? Então, foi plantado outras
espécies como alface, porém a mesma não desenvolveu, foi
feito 2 (dois) replantio e não ocorreu germinação, pode ter sido
devido às altas temperaturas ocorridas na região.
Continando o experimento, fez-se no decorrer do
processo o aceleramento da compostagem da cama de equino,
onde observou que o processo de maturação utilizando
somente água sem nenhum tipo de acelerador de composteira
levou 45 dias para maturação, e após ser utilizadas na cultura.
No entanto, com a adição do E.M utilizando o mesmo processo,
observou que o processo de maturação foram obtido em 30
dias.

157
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Espera-se com esse projeto trazer ao conhecimento dos
produtores rurais como uma forma econômica e sustentável ao
meio ambiente a utilização dessa matéria orgânica, como
forma de adubo e reconstrução do solo.
E para verificar o crescimento das hortaliças e do sistema
radicular da cultura da rúcula no decorrer do experimento, na
figura 2 (A), no “controle” pode ser observar as falhas na
germinação da cultura, e também observou com dez dias de
germinação, onde em 5 plântulas, escolhidas aleatoriamente,
obteve-se os seguintes resultados: um comprimento da folha (3
cm), largura de folhas (2 cm), tamanho da plântula (11 cm).

Figura 2: A – Controle com 10 dias; B - Canteiro com E.M - 10


dias.

A B

Fonte: Josefa. 2023

Enquanto na figura 2 (B) canteiro utilizando o “esterco


com o microrganismo eficiente”, observou-se uma germinação
adequada, sem falhas, obteve-se um comprimento da folha (5
cm), largura de folhas (2 cm), tamanho da plântula (12 cm).

158
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Após 10 dias de germinação, ao comparar os resultados
do “controle” e da cama de esquino com E.M, observa-se que
não há uma diferança tão significativa nas análises
comparativas. Porém, ao continuar observando no “controle”
nota-se ainda falhas na germinação. E na cama de equino
observa-se uma melhor uniformidade das plantas, e melhor
desenvolvimento em comparação ao controle.
Entretanto com 15 dias de germinação no “controle”,
figura 3 (A), obteve-se os seguintes resultados um comprimento
da folha (11 cm), largura de folhas (3 cm), tamanho da plântula
(17 cm). Já na figura 3 (B) pode-se observar uma planta com
raiz radicular pequena e com poucas ramificações, onde pode-
se dizer há uma carência de adubação, e consequentemente
haverá necessidade de correção de nutrientes ausentes.
Já no canteiro da cama de equino com quinze dias,
obteve-se os seguintes resultados um comprimento da folha (25
cm), largura de folhas (8 cm), tamanho da plântula (32 cm). Ja
pode-se observar o inverso do “controle” , onde há um
crescimento melhor da planta, percebe-se o vigor nas folhas e
tambem nas raizes, identificando assim um solo adubado.
No entanto com vinte dias de germinação no “controle”,
observou-se um enchimento das folhas, mesmo assim ainda
continuou com falhas no canteiro e obteve o surgimento de
plantas daninhas no controle. E obteve-se os seguintes
resultados: comprimento de folhas (16 cm) largura das folhas (5
cm) tamanho da plântula (25 cm).
Enquanto com vinte dias no canteiro com E. M,
observou-se um melhor enchimento das folhas, sem falhas,
folhas vistosas e bem esverdeadas. E obteve-se os seguintes
resultados: comprimento de folhas (20 cm) largura da folhas (8
cm) tamanho da plântula (28cm).

159
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Já com 38 dias de germinação no “controle”, figura 3
(A), observou-se raizes alongadas, folhas endurecidas e menor
quantidade de folha por plantulas e com tonalidade verde
opaco. Já na figura 3 (B) obteve-se os seguintes resultados:
comprimento de folhas (21cm) largura das folhas (6 cm)
tamanho da plântula (30cm).

Figura 3: A- 38 dias germinação no “controle”; B – Medição


com 38 dias
A B

Fonte: Josefa. 2023

Já com trinta e oito dias de germinação no canteiro cama


de equino com E.M, figura 4 (A), observou folhas largas e
vistosas, enchimento de folhas por plantulas, raizes com melhor
formação de risosfera e apresentava a folhagem mais tenrras.
e na figura 8 (B) obteve-se os seguintes resultados:
comprimento de folhas (27cm) largura das folhas (8 cm)
tamanho da plântula (35cm).

160
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Figura 4: A- Canteiro cama de equino com E.M 38 dias; B -
Medição com E.M 38 dias.

A B

Fonte: Josefa. 2023

Os resultados aqui encontrados concordam com Casali


(2020) que nas plantas ativa o crescimento radicular; aumenta
a germinação, reduz os danos causados por insetos, dentre
outros. E também segundo Cooper et al. (2010) , o esterco
equino apresenta altos valores de carbono/nitrogênio (C/N),
fósforo (P) e matéria orgânica, responsáveis pelo aumento da
atividade microbiana do composto, facilitando no seu processo
de compostagem.
Além disso, Itapema (2011) pontua muito bem que o
esterco equino quando bem compostado transformam-se em
adubo orgânico de alta qualidade, capazes de enriquecer
naturalmente o solo, auxiliando no crescimento de plantas e
com alta produtividade.
Conforme todas as informações obtidas por meio da
literatura e pelo os resultados deste trabalho, foram feito

161
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
perguntas para alguns agricultores na região da Linha Doze e
do Vale do Sol em Tangará da Serra-MT.
Ao todo, doze agricultores foram entrevistados. Na
entrevista, perguntou na figura 9, “Vocês conhecem a cama de
equino como forma de esterco ou adubo orgânico?”, onde dos
doze entrevistados, somente um agricultor conhecia no Vale do
Sol, e dois conheciam da Linha 12. Os demais não sabia dessa
forma de adubação.

Figura 5: Conhecem a cama de equino como forma de esterco.

Vale do Sol Linha 12

10
12
10 11
8 2
6
4
1
2
0
conhecia não conhecia

Fonte: Autores. 2023

Outra pergunta feita foi, na figuar 10, “fazem o uso do


E.M como forma de adubação ou como acelerador foliar?”
nenhum dos agricultores entrevistados conhecia o E.M.
Concluiu-se ao ouvir o relato desses agricultores que falta muito
conhecimento e indagação sobre o assunto.

162
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Figura 6: Fazem o uso do E.M em sua propriedade.

12 12
10 12
8
6
0
4
0
2
0 Vale do Sol Linha 12
Faço uso.
Não uso, pois
não conheço.

Fonte: Autores. 2023

Na figura 3, dos 12 agricultores entrevistados no Vale do


Sol, 10 responderam não recebem assiatência técnica, já
tiveram 2 vezes por técnico do Senar, onde no momento foram
orientados, porém, não voltaram no local.

Gráfico 3: Tipo de assistência técnica por parte de alguma


instituição.

Vale do Sol Linha 12


10
6
10
8 2
6
2 0
4
0 0 0
2
0
Tenho, duas Tive, 2 vezes Tenho, 1 vez ao Não teho.
vezes pelo por acadêmico mês
Senar

Fonte: Autores. 2023

163
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Quanto os da Linha 12, dois acadêmicos já visitaram
suas propriedades duas vezes, um para dar suporte em reforma
de pastagem, outro para monitorar uma compostagem que o
mesmo faz com folhas e sobras de hortaliças, legumes e frutas.
Já os demais não tem nenhuma assitência por parte de
técnicos, e nunca receberam nenhum tipo de suporte.
Sendo assim, é necessário mais divulgação e prestação
de serviço para os pequenos agricutores. E na entrevista
questionou aos agricultores se eles tinham algum tipo de
assistência técnica por parte de alguma instituição.
Diante disso, com estes resultados encontrados aqui,
espera-se os vários produtores tangaraenses usem o EM nas
suas culturas como fonte de alternativa para geração de renda
em suas propriedades atendendo as demandas dos mercados,
inclusive o nacional, que vem crescendo gradativamente, em
virtude das informações disponibilizadas por estudo e também
com este aqui apresentado.
Além disso, espera-se permitir a redução dos fertilizantes
químicos, e com os resultados obtidos aqui evidenciam ainda
que a adição de compostos orgânicos com E.M trará muitos
benefícios como redução de ervas daninhas, baixo custo,
preparados a partir do material disponível nas propriedades
rurais, resultam em benefícios à qualidade consequentemente,
numa alternativa rentável para pequenos produtores.
Quanto às pragas no experimento realizou-se um
rigoroso monitoramento a cada 3 dias, baseando - se no grau
de dano causado na rúcula, porém até o presente momento não
houve surgimento de pragas. Além disso, tais resultados
concordam com Casali (2020) pois a presença dos
microrganismos eficientes torna o solo saudável e acelera o
processo de compostagem de resíduos; diminui ou elimina

164
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
doenças e patógenos do solo; permite a redução dos
fertilizantes químicos ou dispensa a aplicação, entre outros.
Porém também pode ter ocorrido uma ação preventiva e
quebra do ciclo das pragas e doenças devido a inserção da
cápsula artesanal biodegradável de um experimento realizado
anteriormente pela aluna Keli Daiane. E também o uso da
irrigação por gotejamento através de garrafas pets pode ter
contribuído para minimizar tais problemas.

CONCLUSÕES
E assim fortalecer a participação de produtores mato
grossense com o uso do EM, trazendo para a comunidade
acadêmica e extensionistas, informações técnicas existentes
sobre sistema produtivo destas culturas;
A compostagem da cama de equinos pode ser uma ótima
alternativa quando se fala em adubação orgânica, pois ela é rica
em nutrientes, que são responsáveis pelo alto índice de
produtividade e qualidade das plantas.
Do ponto de vista agronômico, este processo tem grande
importância, pois uma quantidade considerável de nutrientes
retornará ao solo na forma mineral e orgânica, proporcionando
melhorias químicas, físicas e biológicas ao mesmo.
Sem falar que o aceleramento da cama de equino pode
ser uma técnica que auxilia na redução de volumes e peso dos
dejetos originados das baias dos equinos, facilitando assim o
seu armazenamento e posterior uso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASALI, V. W. D. CADERNO DOS MICRORGANISMOS EFICIENTES
(E.M.), Departamento de Fitotecnia Campus da Universidade Federal de
Viçosa. 3ª Ed. 2020.
COOPER, M.; ZANON, A. R.; REIA, M. Y.; MORATO, R. W. Compostagem
e Reaproveitamento de Resíduos Orgânicos Agroindustriais: Teórico e

165
TRATAMENTO DA CAMA DE EQUINO COM MICROORGANISMO NA
CULTURA DA RÚCULA.
Prático. ESALQ Piracicaba, 35 p. 2010. Disponível em: <
http://bdpi.usp.br/single.php?_id=002172783>. Acesso em: 15 de ago.
2023.
DRESCH, D. M.; SCALON, S. P. Q.; MASETTO, T. E.; VIEIRA, M. C.
Germinação e vigor de sementes. Pesquisa Agropecuária Tropical,
Brasília,v. 43, n. 3, p. 262-271, 2013.
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Levantamento sistemático da produção agrícola: abril/2020. Disponível em:
https://censos.ibge.gov.br/
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ITAPEMA, H. A importância de uma boa cama para seu cavalo. Agosto,
2011. Disponível em: < www.mundodoscavalos.com.br>. Acesso em: 15 de
março 2023.
KIEHL. E.J. Manual da Compostagem: Maturação e Qualidade do
Composto. 4. ed. Piracicaba. 2014. 173p.
SANTOS, Marcelo Roberto Gomes dos. Produção de substratos e
fertilizantes orgânicos a partir da compostagem de cama de cavalo.
Seropédica/RJ, 2016. 48f. (Dissertação, Mestrado Profissional em
Agricultura Orgânica). Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, Seropédica-RJ, 2016.

166
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
CAPÍTULO 9

UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA


DESCOLORAÇÃO DE CORANTES TÊXTEIS:
UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Joice Ferreira Andrade SANTOS 1
Lucas Vitor Pereira da Costa SILVA 2
Davi Bezerra MELQUIADES 3
Leonor Alves de Oliveira da SILVA 4
1
Graduanda do curso de Ciências Biológicas, UFPB; 2 Graduando do curso de Biomedicina,
UFPB; 3 Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, UFPB; 4 Orientadora/Professora
do DBM/ UFPB.
joice.santos@academico.ufpb.br

RESUMO: Águas residuais provenientes da indústria têxtil


representam riscos para o ambiente e para a saúde humana,
pois contem resíduos de corantes sintéticos que são tóxicos e
potencialmente carcinogênicos. O tratamento desses efluentes
é um processo a ser aprimorado, pois os métodos
convencionais não conseguem remover todos os tipos de
corantes, geram intermediários tóxicos e podem ser
dispendiosos. Novos métodos vem sendo desenvolvidos com
microrganismos, principalmente fungos e bactérias, capazes de
degradar moléculas recalcitrantes. As lacases são exemplos de
enzimas produzidas por microrganismos que ganham destaque
na biodegradação de compostos e podem ser usadas na
remediação dos efluentes. O presente estudo objetiva realizar
uma revisão sistemética da literatura sobre a utilização destas
enzimas na descoloração de efluentes têxteis. A busca por
artigos científicos foi realizada na plataforma Scopus a partir
dos termos em inglês textile dye e laccase publicados entre
2020 e 2023. A seleção dos artigos foi feita com base na
utilização de lacase produzida por microrganismos na
metodologia. A quantidade de artigos encontrada foi bastante
significativa e foi possível identificar diferentes metodologias e

167
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
espécies nos estudos. Lacase imobilizada foi a metodologia
mais utilizada e o fungo Trametes versicolor, a espécie
predominante nos estudos. A quantidade de trabalhos e
citações revelam o interesse no desenvolvimento de
tecnologias mais efetivas e sustentáveis para a remediação de
efluentes têxteis.
Palavras-chave: Descoloração. Lacase. Efluentes têxteis.
Corantes sintéticos.

INTRODUÇÃO
A atividade têxtil é de grande importância para a
humanidade desde a Pré-História, quando o ser humano
começou a fazer fios a partir de fibras vegetais e confeccionar
itens como cestos e redes de pesca. A agricultura possibilitou a
confecção de tecidos de lã e linho, e a produção das primeiras
roupas. Durante a Idade Média, a atividade têxtil impulsionou a
troca de mercadorias e o desenvolvimento da economia
(Postrel, 2020; Ardila-Leal et al., 2021).
Com a Revolução Industrial, teve início uma produção
em larga escala sem precedentes, mas que provocou inúmeros
danos para o meio ambiente. Atualmente, a indústria têxtil é
uma das que mais poluem o planeta, sobretudo os
ecossistemas aquáticos, onde são despejados os efluentes
contendo corantes e outras substâncias poluentes (Bharti et al.,
2023; Postrel, 2020; Sharma, Sharma, Soni, 2021).
A produção de uma peça de roupa envolve várias etapas,
desde a produção, limpeza e branqueamento da fibra têxtil, até
os processos finais de tingimento, estamparia e acabamento
(Moyo, Makhanya, Zwane, 2022). No processo de tingimento, a
peça passa por sucessivas lavagens para retirada de corante
que não aderiu à fibra. Consequentemente, resíduos de
corantes de diferentes classes e naturezas químicas são
liberados nas águas residuais. Estima-se que 15% da

168
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
quantidade de corante aplicado à fibra seja perdido durante as
lavagens industriais, produzindo efluentes contaminados e
bastante heterogêneos (Ardila-Leal et al., 2021; Bento et al.,
2020; Yadav et al., 2021).
Corantes são substâncias cuja molécula possui um
grupo cromóforo capaz de absorver a luz no espectro visível e
a porção de luz refletida confere a sua cor. Os corantes podem
ser naturais ou sintéticos, sendo estes os mais utilizados pela
indústria devido a sua estabilidade química, resistência a
degradação e lavagem, baixo custo, além da variedade de
cores que podem ser produzidas (Ardila-Leal et al., 2021;
Sharma, Sharma, Soni, 2021).
Os corantes sintéticos são diversos e apresentam
estrutura química complexa, com ligações duplas conjugadas,
cadeias carbônicas longas, anéis aromáticos e alta estabilidade
molecular. São moléculas recalcitrantes, resistentes à
degradação e que podem persistir por muito tempo na natureza
(Sharma, Sharma, Soni, 2021).
O aumento de compostos orgânicos nos ecossistemas
aquáticos causa diminuição da concentração de oxigênio
dissolvido, aumenta a demanda bioquímica de oxigênio, altera
o pH e pode desencadear um processo de eutrofização. A
presença de substância colorida na superfície interfere na
passagem da luz, afetando a atividade fotossintética dos
organismos produtores e causando desequilíbrios na cadeia
trófica (Ardila-Leal et al., 2021; Birhanli et al., 2022; Rawat et
al., 2022).
Além disso, os corantes são tóxicos para vários
organismos, como algas, plantas e crustáceos, e representam
riscos à saúde humana que vão desde irritações na pele e
alergias a náuseas e problemas respiratórios. A maioria dos
corantes apresenta potencial cancerígeno devido a presença de

169
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
agentes mutagênicos em sua composição (Sharma, Sharma,
Soni, 2021; Moyo, Makhanya, Zwane, 2022).
O tratamento dos efluentes visa remover ou diminuir a
concentração desses compostos antes do descarte na
natureza, mas a característica recalcitrante dos corantes
dificulta a completa remoção (Sharma, Sharma, Soni, 2021). Os
métodos empregados no tratamento podem ser de natureza
física, química ou biológica. Em geral, os métodos físico-
químico são bastante eficientes, mas muitos necessitam
manutenção constante, geram lama residual, tem altos custos
de operação ou alto consumo de energia, entre outras
desvantagens (Ardila-Leal et al., 2021; Navada, Kulal, 2020;
Yuan et al., 2020).
Os métodos de natureza biológica consistem na
utilização de organismos biológicos, vivos ou mortos, na
remediação dos efluentes. Se mostram promissores porque, em
geral, apresentam custo e manutenção mais baixos e geram
menos subprodutos (Ardila-Leal et al., 2021). Muitos
microrganismos, em especial fungos e bactérias, produzem
enzimas que degradam moléculas complexas e a partir desse
processo obtém energia. Esse processo natural é a base para
uma das estratégias biológicas mais utilizadas, que é a
biodegradação.
A remediação por biodegradação consiste na
degradação enzimática dos poluentes, que servem como fonte
de energia para o microrganismo. Assim, as enzimas
produzidas pelos microrganismos catalisam a descoloração dos
efluentes (Amin et al., 2020). A lacase é um dos
biocatalisadores mais conhecidos e utilizados com esse
potencial.
As lacases são enzimas multicobre oxidases que
catalisam a oxidação de diferentes substratos com a redução

170
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
do oxigênio a água (Joshi et al., 2020; Kumar et al., 2022; Liu et
al., 2023). A utilização de lacases produzidas por fungos dos
gêneros Trametes e Aspergillus, por exemplo, é bastante
difundada e apresenta bons resultados de descoloração para
diferentes tipos de corantes (Ardila-Leal et al., 2021).
Entretanto, a biodegradação apresenta alguns desafios,
como a produção de biomassa residual e lentidão para os
parâmetros industriais. Ademais, a degradação dos compostos
pode gerar fragmentos tóxicos. Nesse sentido, o grande
objetivo das pesquisas nessa área atualmente se concentra na
otimização desse método a partir da seleção de organismos
produtores de lacases e outras oxidases, e o desenvolvimento
de mediadores que possam acelerar e potencializar as técnicas
(Moyo, Makhanya, Zwane, 2022).
O presente estudo tem como objetivo realizar uma
revisão sistemática da literatura de trabalhos publicados nos
últimos quatro anos que utilizaram lacases produzidas por
microrganismos como mecanismo para a descoloração de
efluentes têxteis. Pretende-se também destacar as espécies
mais estudadas e os procedimentos aplicados.

MATERIAIS E MÉTODOS
A busca por artigos foi realizada no banco de dados
Scopus, pois é uma plataforma utilizada em todo o mundo, de
simples acesso, atualizada e alimentada com frequência. Os
critérios para seleção dos artigos foram:
• Ano: publicações feitas no período de 2020 a
2023;
• Tipo de produção: artigo científico;
• Metodologia: utilização de lacase produzida por
microrganismos na descoloração de corantes
têxteis.

171
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
As palavras usadas para busca foram os termos em
inglês “textile dye” (corante têxtil) e “laccase” (lacase) juntos. As
palavras textile e dye foram colocadas entre aspas, constituindo
um termo, e entre cada termo foi adicionada a palavra “and”
para a plataforma encontrar artigos contendo os dois termos
inseridos. Em seguida, a busca foi refinada adicionando os
filtros de artigo científico e dos anos 2020, 2021, 2022 e 2023.
Desse modo, a plataforma deixa de lado trabalhos como teses,
revisões, e outros tipos que não são artigos científicos, assim
como os trabalhos publicados antes de 2020.
Para cada ano, foram selecionados 8 artigos, totalizando
32 artigos científicos. A seleção dos artigos foi feita por ordem
de maior número de citações encontradas pela base de dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, a busca por “textile dye” AND laccase
encontrou 118 resultados, dentre vários tipos de publicações
como artigos de revisão, artigos científicos e capítulos de livro
entre 2020 e 2023. O refinamento da busca para artigos
científicos resultou em 99 publicações em 20 áreas temáticas
diferentes. Por ordem de maior número de resultados, as dez
principais foram: Ciências Ambientais; Bioquímica, Genética e
Biologia Molcelular; Engenharia Química; Ciências Biológicas e
Agrárias; Química; Imunologia e Microbiologia; Medicina;
Ciências dos Materiais; Energia; Engenharia.
Por ano, a quantidade de artigos encontrados foi de 29
em 2020, 22 em 2021, 26 em 2022 e 22 em 2023. A quantidade
de publicações variou bastante no período de 2020 a 2023,
sendo 2020 o ano com mais publicações no período
considerado (Figura 1).
Apesar da busca ter sido realizada com a entrada da
palavra “and” entre os termos, a plataforma incluiu alguns

172
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
artigos cuja metodologia não descrevia o uso de corantes
têxteis e portanto foram desconsiderados durante a seleção dos
oito artigos (Tabela 1). Os artigos cujas metodologias não
mencionavam o microrganismo produtor da lacase, ou que
utilizaram lacase de plantas, ou ainda catalisadores químicos
semelhantes a lacase, também foram desconsiderados.

Figura 1. Quantidade de artigos científicos publicados por ano


no período de 2020 a 2023 a partir da busca por “textile dye”
AND laccase na plataforma Scopus.

Fonte: O autor (2023).

Tabela 1. Artigos científicos publicados por ano de 2020 a 2023


sobre pesquisas utilizando lacase produzida por
microrganismos para descoloração enzimática de corantes
têxteis, selecionados pelo critério de número de citações.
Corantes e
Título Referência Microrganismo descoloração Citações
máxima
Electrospun
poly(methyl Trametes Remazol
Jankowska
methacrylate)/poly versicolor Brilliant Blue R 71
et al. 2020
aniline fibres as a (fungo) 87%
support for laccase

173
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
imobilisation and
use in dye
decolourisation
Enhanced
decolourization
efficiency of textile
dye Reactive Blue
19 in a horizontal
rotating reactor
Trametes Reactive Blue
using strips of Yuan et al.
versicolor 19 64
BNC-immobilized 2020
(fungo) 88,2%
laccase:
Optimization of
conditions and
comparison of
decolourization
efficiency
Laccase-
conjugated
thiolated chitosin-
Reactive Blue
Fe3O4 hybrid Ulu et al. Trametes trogii
171 55
composite for 2020 (fungo)
79%
biocatalytic
degradation of
organic dyes
Improvements in
the enzymatic
Trametes
degradation of Bento et al. Índigo carmim
versicolor 49
textile dyes using 2020 93%
(fungo)
ionic-liquid-based
surfactants
Decolorization and
biodegradation of
Pseudomonas
textile di-azo dye Joshi et al. Acid Blue 113
stutzeri 32
Acid Blue 113 by 2020 86,2%
(bactéria)
Pseudomonas
stutzeri AK6
Laccase activity of
the ascomycete Índigo carmim,
fungus Nectriella Remazol
pironii and Góralczyk- Brilliant Blue R,
Nectriella
innovative Binkowska Reactive 27
pironii (fungo)
strategies for its et al. 2020 Orange 16,
production on leaf Acid Red 27
litter of an urban >80%
park
Degradation and Amin et al. Bacillus sp. Direct Red 81
23
Toxicity Analysis of 2020 (bactéria) 97%

174
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
a Reactive Textile
Diazo Dye-Direct
Red 81 by Newly
Isolated Bacillus
sp. DMS2
Decolorization of
Reactive Blue-19
textile dye by Tuncay, Reactive Blue
Boletus edulis
Boletus edulis Yagar 19 22
(fungo)
laccase 2020 91%
immobilized onto
rice husks
Immobilization of
Pleurotus
nebrodensis WC
850 laccase on
glutaraldehyde Pleurotus Foron
Aslam et al.
cross-linked nebrodensis Turquoise 45
2021
chitosan beads for (fungo) 90%
enhanced
biocalatytic
degradation of
textile dyes
Decolourisation of
textile dye by
laccase: Process
Yadav et al. Arthrographis Remazol
evaluation and 28
2021 kalrae (fungo) Brilliant Blue R
assessment of its
97,18%
degradation
bioproducts
Synthetic dyes
degradation using
lignolytic enzymes
Chauhan, Halopiger Alaranjado de
produced from
Choudhurty aswanensis metila 26
Halopiger
2021 (arquea) 53,87%
aswanensis strain
ABC_II TR by Solid
State Fermentation
Selection of a pH-
and temperature-
stable laccase from
Ganoderma Si et al. Ganoderma Acid Black 172
18
australe and its 2021 australe (fungo) 96%
application for
bioremediation of
textile dyes

175
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Immobilization of
yeast cell walls with
Amido Black
surface displayed
10B, Reactive
laccase from Streptomyces
Popović et Black 5, Evans
Streptomyces cyaneus 18
al. 2021 Blue, Remazol
cyaneus within (bactéria)
Brilliant Blue
dopamine-alginate
100%
beads for dye
decolorization
Stabilizing
Enzymes within Trametes Indigo
Dinu et al.
Polymersomes by versicolor 75% 17
2021
Coencapsulation of (fungo)
Trehalose
Optimization of
spore laccase
production of
Bacillus
amyloliquefaciens Bacillus
El-Bendary Direct Red 81
isolated from amyloliquefacie 17
et al. 2021 79%
wastewater and its ns (bactéria)
potential in green
biodecolorization of
synthetic textile
dyes
Chemically induced
oxidative stress
improved bacterial Bacillus
Liu et al. Crystal Violet
laccase-mediated pumilus 16
2021 54,05%
degradation and (bactéria)
detoxification of the
synthetic dyes
Design of laccase-
metal-organic
framework hybrid Reactive Blue
Birhanli et Trametes trogii
constructs for 171 35
al. 2022 (fungo)
biocatalytic 78%
removal of textile
dyes
Poly(vinyl Alcohol)-
Alginate
Immobilized
Trametes Trametes
Noreen et Rhodamine B
versicolor IBL-04 versicolor 9
al. 2022 100%
Laccase as Eco- (fungo)
friendly Biocatalyst
for Dyes
Degradation

176
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Immobilization of
laccase from
Bacillus subtilis DS
on chitosan beads Kumar et al. Bacillus subtilis Índigo carmim
9
and standardization 2022 (bactéria) 95,24%
of process for
biodegradation of
textile dyes
Fabrication and
Catalytic
Characterization of
Laccase-Loaded Drimaren red,
Calcium-Alginate Aslam et al. Pleurotus Drimaren
8
Beads for 2022 sapidus (fungo) Turquoise
Enhanced 91%
Degradation of
Dye-Contaminated
Aqueous Solutions
Bioremediation of
Industrial Pollutants
Clark et al. Trametes trogii Índigo carmim
by Insects 8
2022 (fungo) >90%
Expressing Fungal
Laccase
Plasma
polymerized
functional
supermagnetic
Fe3O4
nanostructured Trametes
Rawat et al. Acid Blue 193
templates for versicolor 5
2022 >95%
laccase (fungo)
immobilization: A
robust catalytic
system for bio-
inspired dye
degradation
Thiolation of Myco-
Synthesized
Fe3O4-NPs: A
Novel Promising
Tool for Penicillium
Penicillium Alaranjado de
expansium El-Shora et
expansium metila 4
Laccase al. 2022
(fungo) 80%
Immobilization to
Decolorize Textile
Dyes and as
Application for
Anticancer Agent

177
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
A novel
basydiomycete
isolated from Espécie da
Jutinico- Remazol
mangrove swamps família
Shubach et Brilliant Blue R 4
in the Colombian Cyphellaceae
al. 2022 95,64%
Caribbean shows (fungo)
promise in dye
bioremediation
Understanding the
biodegradation
pathways of azo
dyes by
immobilized white-
rot fungus,
Alam et al. Trametes Acid Blue 113
Trametes hirsuta 11
2023 hirsuta (fungo) 97%
D7, using UPLC-
PDA-FTICR MS
supported by in
silico simulations
and toxicity
assessment
Deciphering the
alcaline stable
mechanism of
bacterial laccase
from Bacillus
Bacillus Remazol
pumilus by Liu et al.
pumilus Brilliant Blue R 6
molecular 2023
(bactéria) 94,38%
dynamics
simulation can
improve the
decolorization of
textile dyes
A Novel Approach,
Based on the
Combined Action of
Chitosan Hydrogel Bromophenol
Sannino et Aspergillus spp.
and Laccases, for Blue 5
al. 2023 (fungo)
the Removal of 65%
Dyes from Textile
Indsutry
Wastewaters
Evaluation of
Congo red dye
decolorization and Colletotrichum Vermelho
Bharti et al.
degradation gloeosporioides Congo 3
2023
potential of na (fungo) 82%
endophyte
Colletotrichum

178
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
gloeosporioides
isolated from
Thevetia peruviana
(Pers.) K. Schum
Tailor-made novel
electrospun
polycaprolactone/p
olyehtyleneimine
fiber membranes Trametes trogii
for laccase Kolak et al. Trametes Orange II
3
immobilization: An 2023 versicolor 86%
all-in-one material (fungos)
to biodegrade
textile dyes and
phenolic
compounds
Acrylic modified
kraft lignina
microspheres as
novel support for
immobilization of
Lanaset® violet
laccase from M.
Myceliophthora B, Lanaset®
thermophila Salih et al.
thermophila blue 2R, Acid 3
expressed in A. 2023
(fungo) Green 40
oryzae (Novozym®
>80%
51003) and
application in
degradation of
anthraquinone
textile dyes
Immobilization of
Trametes trogii
laccase on
Remazol
polyvinylpyrrolidon
Bakar et al. Trametes trogii Brilliant Blue R,
e-coated magnetic 2
2023 (fungo) Índigo Carmim
nanoparticles for
78%, 76%
biocatalytic
degradation of
textile dyes
Binding interaction
of laccases from
Bacillus Subtilis
Kumar,
after industrial dyes
Mishra, Bacillus subtilis Alaranjado de
exposure: 1
Kulshreshth (bactéria) metila
Molecular docking
a et al. 2023
and molecular
dynamics
simulation studies
Fonte: o autor (2023)

179
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Os procedimentos variaram bastante, assim como as


espécies e os corantes avaliados. A maioria dos trabalhos
realiza a técnica de imobilização do microrganismo ou da
enzima antes de iniciar os ensaios de descoloração. A
imobilização consiste no crescimento das culturas ou fixação
das enzimas de interesse em uma matriz sólida, o que facilita a
posterior separação do extrato enzimático líquido e a cultura
celular, aumenta a estabilidade e reduz a sensibilidade das
enzimas às condições dos ensaios (Alam et al., 2023; Maghraby
et al., 2023). Também permite a reutilização do material para
crescer novas culturas posteriormente e o controle do
crescimento (Aslam et al., 2021; Alam et al., 2023).
A imobilização pode ser alcançada a partir de diferentes
matrizes. Para a imobilização da lacase, os principais métodos
são adsorção, ligação covalente, encapsulamento, ligação
cruzada e confinamento (Maghraby et al., 2023). Adsorção,
ligação cruzada e confinamento foram os mais aplicados nos
estudos avaliados. Argila expandida (LECA, light expanded clay
aggregate), grânulos de quitosana, alginato de cálcio,
nanopartículas de magnetita e óxido de ferro foram os principais
materiais utilizados na construção da matriz (Jankowska et al.,
2020; Tuncay, Yagar, 2020; Ulu et al., 2020; Yuan et al., 2020;
Aslam et al., 2021; Dinu et al., 2021; Popović et al., 2021; Aslam
et al., 2022; Birhanli et al., 2022; El-Shora et al., 2022; Kumar et
al., 2022; Noreen et al., 2022; Rawat et al., 2022; Si et al., 2021;
Alam et al., 2023; Salih et al., 2023; Bakar et al., 2023; Kolak et
al., 2023; Sannino et al., 2023).
O extrato enzimático da lacase, obtido a partir da cultura em
meio líquido ou por fermentação em meio sólido, também é uma
estratégia bastante difundida e foi o método utilizado em 7 dos
trabalhos analisados (Bento et al., 2020; Góralczyk-Binkoeska

180
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
et al., 2020; Chauhan, Choudhury, 2021; El-Bendary et al.,
2021; Liu et al., 2021; Yadav et al., 2021; Liu et al., 2023).
Alguns trabalhos realizaram o ensaio de descoloração com
a cultura de células bacterianas (Joshi et al., 2020; Amin et al.,
2020) ou discos de micélio (Jutinico-Shubach et al., 2020; Bharti
et al., 2023).
As três estratégias apresentam resultados satisfatórios de
descoloração, chegando a 100%, mas as enzimas imobilizadas
e a adição de mediadores moleculares podem alcançar altos
percentuais de descoloração em questão de horas, enquanto
que o extrato puro ou amostras do próprio micorganismo vivo
costuma levar mais de um dia.
Os mediadores são moléculas que podem auxiliar a
interação entre a enzima e o substrato, facilitando a oxidação e
ampliando a atividade para grupos não fenólicos (Yuan et al.,
2020; El-Bendary et al., 2021). Hidroxibenzotriazol, álcool
veratrol, ácido 2-2’-azino-bis (3-etilbenzotiazolina-6-sulfônico)
(ABTS) e siringaldazina foram os principais mediadores usados
(Yuan et al., 2020; El-Bendary et al., 2021; El-Shora et al., 2022;
Liu et al., 2023). Em Yadav et al. (2021), foi realizado um estudo
comparativo da descoloração com mediadores e sem
mediadores com lacase produzida pelo fungo Arthrographis
kalrae, revelando percentuais semelhantes entre a
descoloração sem mediador e com adição de siringaldazina
como mediador. O maior percentual foi atingido sem a adição
de mediador pelo mesmo período de tempo, sugerindo que a
adição de mediadores pode não ser necessária em alguns
casos, a depender das condições, do corante e do
microrganismo produtor da lacase.
Em Bento et al. (2020), também não houve adição de
medidores e obteve-se 93% de descoloração do corante índigo
carmim com lacase produzida pelo fungo Trametes versicolor.

181
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Em um trabalho, a avaliação da degradação foi feita in
silico, o que é relevante para melhor entender as interações
entre a lacase e as moléculas de corante a nível molecular
(Kumar, Mihsra, Kulshreshtha, 2023). Em Clark et al. (2022), a
remedicação foi realizada com a mosca Drosophila
melanogaster expressando o gene da lacase isolado do fungo
Trametes trogii. O trabalho sugere uma biorremediação in situ
pelo inseto e a possibilidade de liofilização da mosca
transgênica para obtenção de um pó rico em lacase, que no
trabalho foi capaz de descolorir 90% da solução de índigo
carmim em 48 horas.
Na maioria dos trabalhos, a lacase é proveniente de fungos,
totalizando 23 trabalhos e 14 espécies diferentes. Lacases
produzidas por bactérias apareceram em 8 trabalhos,
provenientes de 8 espécies diferentes. Um trabalho utilizou
lacase produzida por uma espécie de arquea, a Halopiger
aswanensis. As enzimas resistiram à condições de pH,
salinidade e tempertatura elevados e foram eficientes na
degradação dos corantes testados (Chauhan, Choudhury,
2021).
O fungo Trametes versicolor foi o mais utilizado nas
pesquisas para produção de lacase na descoloração de
corantes têxteis, presente em 7 dos 32 trabalhos considerados.
O gênero Trametes se destaca, presente em 12 trabalhos
diferentes em 3 espécies (T. versicolor, T. trogii, T. hirsuta)
(Jankowska et al., 2020; Yuan et al., 2020; Ulu et al., 2020;
Bento et al., 2020; Dinu et al., 2021; Birhanli et al., 2022; Noreen
et al., 2022; Clark et al., 2022; Rawat et al., 2022; Alam et al.,
2023; Kolak et al., 2023).
Espécies do gênero Bacillus foram as mais utilizadas nos
estudos com bactérias (Amin et al., 2020; El-Bendary et al.,
2021; Liu et al., 2021; Kumar et al., 2022; Liu et al., 2023;

182
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Kumar, Mihsra, Kulshreshtha, 2023). Em geral, lacases
produzidas por fungos tem demonstrado maior potencial de
redução como vantagem, enquanto lacases produzidas por
bactérias apresentam maior resistência a condições extremas
(Liu et al., 2023; Coria-Oriundo, Battaglini, Wirth, 2021).
Dentre os corantes testados, os que apresentaram as
maiores taxas de descoloração foram o índigo carmim e o
Remazol Brilliant Blue R (RBBR). O índigo carmim é um corante
indigoide formado por anéis aromáticos e resíduos de enxofre
muito utilizado para tingir peças jeans (Bento et al., 2020). Já o
RBBR pertence à classe das antraquinonas, de estrutura similar
a compostos policíclicos aromáticos e são bastante tóxicos
(Yadav et al., 2021). Ambos são corantes largamente usados
não só na indústria têxtil como também nos setores alimentício
e farmacêutico, portanto o desenvolvimento de métodos
eficientes para a remediação destes compostos tem grande
relevância.
Nenhum trabalho utilizou efluente têxtil como substrato, o
que seria interessante por ser mais próximo da realidade da
indústria.
Dos trabalhos que realizaram testes de toxicidade após o
tratamento, todos demonstraram que os produtos gerados da
degradação foram não tóxicos ou menos tóxicos que a solução
de corante não tratada para os organismos testados (Amin et
al., 2020; Bento et al., 2020; Yuan et al., 2020; El-Bendary et
al., 2021; Liu et al., 2021; Yadav et al., 2021; Alam et al., 2023;
Bharti et al., 2023).

CONCLUSÕES
A quantidade de artigos científicos encontrados a partir
da busca por “textile dye” and laccase e publicados entre 2020
e 2023 foi bastante significativa, com um total de 99 artigos

183
UTILIZAÇÃO DE ENZIMAS LACASES NA DESCOLORAÇÃO DE
CORANTES TÊXTEIS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
científicos. Todos os trabalhos atingiram índices satisfatórios de
descoloração para os corantes testados, variando entre 54 e
100% de descoloração.
O emprego de lacase na degradação de corantes têxteis
se mostra bastante difundido, sendo os fungos os organismos
mais utilizados para a produção destas enzimas. O gênero
Trametes se destaca, pois aparece com frequência nos
trabalhos e apresenta potencial para descolorir efluentes
têxteis, com percentuais de descoloração acima de 70% em
todos os trabalhos testados para corantes de diferentes
classes.
Os corantes índigo carmim e Remazol Brilliant Blue R
foram os mais utilizados nas pesquisas. As técnicas aplicadas
para descoloração foram diversas, mas o uso de enzimas
imobilizadas se destaca. Maior estabilidade enzimática e
possiblidade de reutilização de material são algumas das
vantagens da imobilização.
A utilização unicamente das enzimas ou de cultura
celular pode não ser suficiente para obtenção de altos índices
de descoloração em pouco tempo para aplicação industrial,
portanto a adição de mediadores ou da técnica de imobilização
são soluções interessantes para uma biorremediação
enzimática mais eficiente dos efluentes coloridos.
A utilização de microrganismos e enzimas produzidas
por estes se mostra uma alternativa promissora e sustentável
para a degradação de corantes e remediação de efluentes
industriais.

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187
PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL

188
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
CAPÍTULO 10

ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E


DAS AÇÕES DE
ACOMPANHAMENTO DA LICENÇA
OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE
COMBUSTÍVEIS SITUADA NO PORTO DO
ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
Andressa Cristina Machado da SILVA 1
Ana Kassia Costa LIMA 1
Camylla Rachelle Aguiar ARAUJO 2
1
Graduandas do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFMA;
2
Professora do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária CCET/UFMA.
machado.andressa@discente.ufma.br

RESUMO:O presente artigo explora o papel fundamental do


Plano de Controle Ambiental (PCA) na concessão da licença
operacional para o empreendimento em estudo, diante da
complexidade das operações marítimas e dos impactos
ambientais associados. Nesse viés, este trabalho tem o objetivo
de analisar o processo de implantação de empreendimento no
Porto do Itaqui e como este atende aos requisitos normativos
do licenciamento ambiental. No caso do Porto do Itaqui, as
atividades de movimentação de cargas, operações portuárias e
a interação com o ecossistema costeiro exigem uma avaliação
criteriosa dos efeitos possíveis. A definição e o cumprimento
das condicionantes ambientais são fundamentais para mitigar
os impactos previstos e garantir a operação sustentável do
porto. Além disso, destaca-se que as atividades de fiscalização
e monitoramento constantes são cruciais para garantir a
implementação eficaz das medidas propostas no processo de
licença operacional. Conclui-se que, no caso específico do
Porto do Itaqui, a realização de um PCA abrangente e a

189
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
aderência estrita às condicionantes das licenças operacionais
são vitais para garantir a sustentabilidade das atividades
portuárias. Sendo assim, o licenciamento ambiental em áreas
portuárias é um processo complexo, mas, essencial para
garantir a coexistência entre o desenvolvimento econômico e a
preservação ambiental, além de assegurar a segurança e o
bem-estar das comunidades envolvidas.
Palavras-chave: Gestão ambiental. Licenciamento ambiental.
Condicionantes. Porto do Itaqui.

INTRODUÇÃO
O licenciamento ambiental visa a proteção do meio
ambiente, evitando que ocorram danos. É, ainda, caracterizado
como uma ferramenta de suma importância para o Estado
autorizar e fiscalizar as atividades e empreendimentos
potencialmente poluidores (SOUZA, 2018). Assim, é de
extrema importância entender o conceito de meio ambiente
para, posteriormente, compreender a magnitude da existência
do referido instrumento.
O dano ambiental pode ocorrer por fatores naturais, tais
como os desastres ecológicos; provenientes das próprias forças
da natureza, como os furacões, enchentes e terremotos; ou por
fatores artificiais, entendidos como os provocados pela ação do
homem. A devastação do meio ambiente pelo ser humano vem
ocorrendo há milhares de anos, desde os primórdios da nossa
história. Segundo Maltez (2019) os desastres passaram a
assumir características, feições e magnitudes diferenciadas
com o advento da sociedade pós-industrial, levando à
necessidade de estabelecer instrumentos jurídicos de
prevenção e mitigação de seus efeitos.
Uma das principais relações entre os danos ambientais
e a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), está no fato de
que a política busca evitar e minimizar os danos causados ao

190
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
meio ambiente. As licenças ambientais, conforme definido pela
Resolução CONAMA nº 237/1997, são o ato administrativo pelo
qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições,
restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser
obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para
localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou
atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas
efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob
qualquer forma, possam causar degradação ambiental. Os
programas ambientais são específicos para cada tipo de
licença.
O sistema portuário brasileiro é estruturado em
diferentes categorias de portos, com administrações distintas e
focos específicos. Atualmente, a organização se baseia em:
Portos Públicos e Portos Privados. Os portos públicos estão
estruturados em portos organizados - que estão sob
administração pública, ou seja, são portos organizados pela
União, responsáveis por movimentar a maioria das cargas e
passageiros e submetidos à Agência Nacional de Transportes
Aquaviários - ANTAQ, além de possuírem regulamentação
específica. E, em portos de pequeno porte - portos sob gestão
pública municipal ou estadual, geralmente destinados a
atividades mais locais, com menor movimentação de cargas e
passageiros. Já os Portos Privados, também conhecidos como
Terminais de Uso Privado - TUPs, são instalações portuárias
privadas destinadas a movimentar cargas próprias, sem caráter
público, que também operam sob autorização da ANTAQ.
O Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto do
Itaqui (2019) nos revela que o Porto do Itaqui passou por um
processo de estadualização e é administrado pela Empresa
Maranhense de Administração Portuária - EMAP desde 2001.
O empreendimento opera sob certificação ISO 14001/2015 e se

191
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
destaca no Indicador de Desempenho Ambiental da ANTAQ. A
EMAP também é signatária do Pacto Global desde 2016.
Próximo ao Porto, existem unidades de conservação,
destacando a influência do empreendimento nessas áreas.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação
(SNUC), regulamentado pela Lei nº 9.985/2000, é relevante nas
proximidades do Porto do Itaqui, onde se analisa como o
empreendimento atende aos requisitos normativos do
licenciamento ambiental (BRASIL, 2000c). O plano de controle
ambiental implementado no Porto do Itaqui visa mitigar os
impactos ambientais, considerando os diferentes
empreendimentos (EMAP, 2019).
Esse plano engloba medidas específicas para cada
etapa do licenciamento, abordando desde a instalação até a
operação do porto. Ele inclui programas ambientais adaptados
para cada tipo de licença, garantindo o controle dos impactos
da obra e das atividades operacionais. A empresa sediada no
Porto do Itaqui segue um processo de licenciamento rigoroso,
acompanhando e cumprindo as condicionantes nas licenças
operacionais. Silva et al. (2018) evidencia que a análise das
ações de acompanhamento às condicionantes e a coerência
entre os impactos previstos e as medidas propostas são
essenciais para garantir a conformidade do empreendimento
com as normativas ambientais.
Segundo Brandão (2019), as condições ambientais têm
por objetivo obrigar o empreendedor a fazer compensações ou
executar ações que protejam o meio ambiente, previnam ou
mitiguem possíveis externalidades negativas e potencializem os
impactos positivos, além dos impactos ambientais, incluem-se
nesse caso outros danos que possam ser atribuídos direta ou
indiretamente ao empreendimento.

192
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
Desta forma, esse trabalho tem o objetivo de analisar o
processo de implantação de empreendimento no Porto do Itaqui
e como este atende aos requisitos normativos do licenciamento
ambiental. Bem como, identificar o processo de licenciamento
da companhia sediada no Porto do Itaqui, analisar as ações de
acompanhamento às condicionantes da licença operacional e
analisar a coerência entre os impactos previstos diante das
ações de acompanhamento propostas.

MATERIAIS E MÉTODO
Este trabalho teve como embasamento metodológico a
análise conceitual, pesquisa e levantamento de dados oficiais
sobre as competências e detalhamento do processo de
licenciamento ambiental de empreendimento situado no Porto
do Itaqui. A atividade portuária escolhida foi um Terminal
Logístico Privativo, localizado no complexo do Porto do Itaqui,
em São Luís/MA.
Caracterizado como um Porto de águas profundas,
situado no Nordeste do Brasil, O porto do Itaqui possui um
posicionamento geográfico estratégico e privilegiado,
atendendo à demanda logística não somente do Nordeste do
País, mas também do Norte e do Centro-Oeste e está localizado
no município de São Luís, no estado do Maranhão, mais
especificamente na Baía de São Marcos, dista 11 km do Centro
da cidade. O Porto apresenta importância econômica para o
estado e para o Brasil, e vem se estruturando para permitir um
crescimento sustentável na tentativa de possibilitar a expansão
da atividade econômica, visando respeito às diretrizes
socioambientais.
O terminal tem como foco movimentar - por vias
marítima, ferroviária e rodoviária – o comércio atacadista de
álcool carburante, biodiesel, gasolina e demais derivados de

193
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
petróleo. O empreendimento atualmente está em fase
operacional e, além das condicionantes da Licença de
Operação, foram analisados nessa pesquisa os pareceres
técnicos do Plano de Controle Ambiental, protocolado durante
o processo de licenciamento do empreendimento.
Foi realizada uma análise documental dos pareceres
técnicos do Plano de Controle Ambiental (PCA) e das
condicionantes da Licença Operacional (LO) do
empreendimento em estudo, uma vez que, essa coleta de
dados e informações visa examinar os impactos ambientais,
programas e medidas estabelecidos no PCA, tal como examinar
as condicionantes estabelecidas na licença operacional do
empreendimento a fim de identificar e categorizar as ações de
acompanhamento em relação aos impactos previstos.
Utilizando como base a identificação dos impactos delineados
no PCA e as ações de acompanhamento detalhadas tanto no
próprio PCA quanto nas condicionantes estabelecidas, as
informações foram submetidas a uma minuciosa categorização
e análise por meio da metodologia de análise de conteúdo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO
Conforme as diretrizes estabelecidas pela Resolução
Conama Nº 237/97, o órgão ambiental competente é
responsável por avaliar a previsão de empreendimentos por
meio de estudos ambientais, tendo autoridade para conceder
licenças ambientais. Essas licenças podem ser emitidas de
forma isolada ou sequencial, de acordo com a natureza,
particularidades e etapas do empreendimento ou atividade.
Os órgãos ambientais estaduais e municipais, em
conjunto com o Ibama, estabelecem critérios próprios para

194
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
classificar as atividades ou empreendimentos com base em
seus possíveis impactos ambientais. A partir das informações
preliminares fornecidas pelo empreendedor, o órgão ambiental
identifica os potenciais impactos ambientais relacionados à
atividade ou empreendimento, bem como seus principais
aspectos ambientais associados, que são relevantes de
avaliação.
Em seguida, são estabelecidos critérios e requisitos
mínimos para a realização do estudo ambiental, os quais são
compilados em um documento denominado Termo de
Referência (TR) e orientado ao empreendedor. O fluxo do
processo de licenciamento ambiental de empreendimentos é
delineado por meio de um procedimento estruturado, conforme
ilustrado na imagem fornecida (Figura 1). Esse fluxo abrange
desde a fase inicial de apresentação das informações
preliminares até a emissão da licença ambiental, passando por
etapas como a realização do estudo ambiental, a análise
técnica pelos órgãos competentes e a audiência pública,
quando aplicável.

195
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
Figura 1: Fluxograma do Processo de Licenciamento
Ambiental

Fonte: elaborado pelos autores.

Ao expedir uma licença, o órgão ambiental verifica a


viabilidade ambiental (por meio da Licença Prévia - LP),
autoriza a instalação (Licença de Instalação) ou operação
(Licença de Operação) do empreendimento e estabelece
condicionantes que o empreendedor deve cumprir. Tanto na
Licença Prévia (LP) quanto na Licença de Instalação (LI), o
órgão ambiental pode estabelecer critérios gerais e específicos
para as diferentes fases do empreendimento, com o objetivo de
prevenir, reduzir ou corrigir possíveis impactos sociais e
ambientais durante as obras.
As condicionantes da Licença de Operação requerem
que o empreendedor implemente medidas de controle
ambiental para conduzir a atividade, sob pena de suspensão

196
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
ou cancelamento da licença pelo órgão regulador. A
transparência no processo de licenciamento ambiental é crucial,
e o sigilo das informações é uma exceção. Além da divulgação
do processo, certos procedimentos devem ser publicados em
jornais oficiais ou outros meios, em conformidade com o
previsto na legislação.

AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO ÀS CONDICIONANTES


O cumprimento das condicionantes ambientais deve
seguir as especificações das licenças ambientais, incluindo os
prazos estabelecidos. É responsabilidade do empreendedor
seguir as diretrizes definidas e comprová-las ao órgão
ambiental por meio de relatórios. De acordo com a Lei de
Crimes Ambientais (Lei 9.605/1995) e o Decreto Nº 6.514/2008,
além das legislações estaduais e municipais aplicáveis, o
descumprimento de qualquer condicionante exigida nas
licenças ambientais pode resultar em autuações, multas,
embargos, cancelamento da licença e, se for o caso, em
processo penal instaurado pelo Ministério Público. Assim, o
gerenciamento adequado e o cumprimento das condicionantes,
além de ir ao encontro da proteção ambiental, evitam a
aplicação de penalidades ao empreendimento ou atividade.
Durante a análise documental, foram identificados vinte
impactos no Plano de Controle Ambiental (PCA), divididos em
três grupos: meio antrópico/socioeconômico, meio biótico e
meio físico. Para os meios físicos e bióticos, define-se a área
de influência indireta (AII) como a área da bacia hidrográfica do
Itaqui. Para o meio antrópico, que possui impactos mais
amplos, a AII foi definida como a área do município de São Luís.
Os critérios da avaliação de impacto ambiental adotados
para o PCA foram delimitados a fim de evidenciar se os
impactos: ocorreriam no meio físico, biótico ou antrópico; se

197
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
seriam positivos ou negativos; diretos ou indiretos; temporários,
permanentes ou cíclicos; se ocorreriam de forma imediata, de
médio ou longo prazo; se seriam reversíveis ou irreversíveis; se
seriam de abrangência local, regional ou estratégica; se teriam
grau de incidência de um impacto sobre o fator ambiental, em
relação ao universo desse fator ambiental, delimitando, então,
sua magnitude e ao grau de interferência do impacto ambiental
sobre diferentes fatores ambientais, estando relacionada
estritamente com a relevância da perda ambiental, por exemplo,
se houver extinção de uma espécie ou perda de um solo raro,
embora de pouca extensão essa interferência pode ser
pequena, média ou grande na medida em que tenha maior ou
menor influência sobre o conjunto da qualidade ambiental local.

OS IMPACTOS PREVISTOS DIANTE DAS AÇÕES DE


ACOMPANHAMENTO PROPOSTAS
Cada impacto ambiental identificado foi descrito
individualmente, levando em consideração os diferentes meios
(antrópico/socioeconômico, biótico e físico) e as fases de
implantação e operação de seus agentes causadores,
atividades transformadoras e/ou outros impactos. Dentre os
critérios de avaliação adotadas, é interessante evidenciar a
classificação dos impactos quanto a sua natureza, uma vez que
o impacto positivo (ou favorável) – é quando a ação resulta na
melhoria da qualidade de um fator ou parâmetro ambiental; e o
impacto negativo (ou adverso) - quando a ação resulta em um
dano à qualidade de um fator ou parâmetro ambiental.
Desta forma, dos impactos identificados no meio
antrópico/socioeconômico, quatro dos sete listados são
negativos. Todos os quatro impactos ambientais previstos no
PCA relacionados ao meio biótico são negativos, demonstrando
a interferência negativa da atividade portuária nesse meio. O

198
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
meio físico foi o que teve a maior quantidade de impactos
relatados, aproximadamente 45%, todos de natureza negativa,
evidenciando a interferência negativa das atividades portuárias
neste meio.
Os impactos que possuíam maior nível de detalhamento
eram aqueles relacionados ao meio biótico e físico. No meio
biótico, a descrição dos impactos relaciona não só o impacto,
mas também o aspecto ambiental que daria origem a ele. Um
exemplo é a descrição do impacto “Perturbação e
afugentamento da fauna”, apresentando em sua descrição que
“Trata-se, portanto de um impacto sobre o meio biótico de
natureza negativa, indireto, permanente, imediato, provável,
irreversível e local.” pois “como consequência da alteração e
perda de habitat, promovido pela instalação do
empreendimento, as comunidades biológicas terrestres e
aquáticas poderão sofrer afugentamento do local e
mortalidade.” uma vez que “as espécies de fauna terrestre
registradas na área, em sua maioria, são relativamente comuns
e têm baixa especificidade de hábitat, apresentando, portanto,
um baixo grau de vulnerabilidade à extinção.”
No meio físico, a descrição dos impactos não destacava
só os impactos, mas também os aspectos operacionais que
dariam origem aos impactos neste meio. Um exemplo que
temos é o impacto intitulado como “Alteração da qualidade das
águas superficiais”. O mesmo aponta que “durante a fase de
obras, podem desencadear a formação de sedimentos que
poderão ser carreados para os cursos d’água nas proximidades
através das águas pluviais.”
Percebe-se, então, que alguns impactos foram
elaborados com um maior grau de detalhamento, resultando,
portanto, na falta de uniformidade na denominação dos demais
impactos, especialmente no âmbito biótico e físico.

199
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
Após a caracterização dos impactos, a seção 10 do PCA
trata das “medidas mitigadoras e compensatórias” propostas
aos impactos identificados no estudo. Entretanto, foram
acordadas apenas vinte medidas mitigadoras que remetem a
apenas dezesseis dos vinte impactos listados no PCA e
nenhuma medida compensatória, o que indica uma incoerência
entre o título e as ações previstas no documento. A discordância
identificada na quantidade de medidas mitigadoras em relação
aos impactos, juntamente com a ausência de medidas
compensatórias, destaca a necessidade de uma revisão
criteriosa e coerente do PCA. Tal revisão deve visar não apenas
a correção de inconsistências, mas também a garantia de que
o plano atenda efetivamente aos princípios de mitigação e
compensação ambiental, contribuindo eficazmente para a
promoção da sustentabilidade e preservação dos recursos
naturais afetados pelo empreendimento.
É ponderoso citar que todas as medidas mitigadoras
apresentadas no PCA tiveram bom detalhamento da forma em
que o empreendedor precisará executá-las. O Quadro 01 a
seguir apresenta os programas descritos no PCA do
empreendimento e quantas medidas mitigadoras cada um deles
possui. A ideia é que os impactos negativos sejam
compensados por ações que resultem em benefícios
ambientais equivalentes ou superiores, posto isto, os
programas são concebidos para garantir que, mesmo diante
dos impactos ambientais inevitáveis durante a instalação e
operação do empreendimento, haja uma contrapartida positiva
para a conservação e preservação do meio ambiente.

200
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
Quadro 1: Programas e medidas ambientais previstas no
PCA

Fonte: elaborado pelos autores

Todos os programas relacionados na tabela foram


especulados a fazer parte de um plano maior, denominado de
Plano de Gestão Ambiental do empreendimento,
compreendendo as fases de construção e de operação. A
eficácia dos programas de compensação ambiental está
diretamente relacionada à qualidade do PCA elaborado,
incluindo uma análise ambiental detalhada e um plano de ação
consistente. Além disso, é importante que haja um
monitoramento contínuo para garantir a implementação
adequada das medidas compensatórias ao longo do tempo,
para isso.

201
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
A L.O. lista dezenove condições específicas de
exigências relativas ao controle de aspectos ambientais
agrupadas em sete blocos de exigências relativas; duas
condições específicas agrupadas no bloco de
automonitoramento ambiental e duas condições específicas
relativas agrupadas no bloco de renovação da licença de
operação. Para analisar a coerência entre os impactos previstos
e suas ações de acompanhamento foi necessário elaborar uma
matriz de compatibilidade entre os impactos previstos e as
ações de acompanhamento das condicionantes da licença
operacional, tal matriz é apresentada na figura a seguir.

Figura 2: Matriz de compatibilidade entre os impactos


previstos e as ações de acompanhamento

Fonte: elaborado pelos autores

202
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
Ao confrontar os impactos mencionados no Plano de
Controle Ambiental (PCA) com as medidas de
acompanhamento, constatou-se que todas as repercussões
apresentavam protocolos, tanto advindos dos programas e
medidas delineadas no PCA quanto das condicionantes
estipuladas na Licença Operacional, coerentes. Santana Filho
(2019), ao estudar o Complexo Eólico Morrinhos localizado em
Campo Formoso, também constatou uma conexão entre as
medidas mitigadoras e as ações solicitadas na licença.

CONCLUSÃO
O licenciamento ambiental é crucial para efetivação da
Política Nacional do Meio Ambiente, uma vez que este delimita
o processo de instalação e operação de atividades
potencialmente poluidoras. No que tange às atividades
realizadas no Porto do Itaqui, notou-se que a ausência de
coerência identificada no detalhamento dos impactos
ambientais descritos no PCA pode comprometer
significativamente a compreensão das propostas de
acompanhamento, o que prejudica a implementação efetiva das
ações durante a gestão dos impactos. Ademais, em relação às
medidas de acompanhamento sugeridas nos programas,
observou-se carência de detalhamento no PCA, especialmente
no que diz respeito a certas ações a serem adotadas ao longo
da operação do empreendimento. Tal problemática gera
ambiguidades e dificulta a efetiva execução das ações
necessárias para mitigar os impactos ambientais identificados.
Para uma gestão eficaz dos impactos, é crucial que as diretrizes
e procedimentos de acompanhamento estejam detalhadamente
delineados, proporcionando uma compreensão abrangente e
consistente a todas as partes envolvidas.
Portanto, recomenda-se uma revisão mais aprofundada

203
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
do PCA e ampliação do detalhamento dos impactos previstos e
dos programas de compensação. A abordagem mais detalhada
e transparente no PCA é crucial para assegurar uma gestão
ambiental responsável e a conformidade com as normativas
ambientais estabelecidas, uma vez que o licenciamento
ambiental bem executado garante não apenas a conformidade
legal, mas também promove a preservação ambiental e a
sustentabilidade das operações portuárias, o que ajuda a
fortalecer a reputação das empresas, contribui para a
segurança ambiental e cria uma relação mais positiva com as
comunidades locais.

AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por ter me guardado diante as adversidades
dos últimos anos e isso ter me permitido chegar até aqui. Ao
meu pai, Osian Santos, meu maior encorajador e alimentador
dos meus sonhos. Às minhas mães, França e Natália, por
serem minhas guias e meu maior exemplo de respeito. Às
minhas irmãs, Amanda, Andreyna e Aylla, por serem minhas
melhores companhias e por toda nossa conexão. Às minhas
tias Aurélia, Oziane e Gleuce por terem dividido o espaço de
seus filhos comigo para que eu, enquanto criança, pudesse
sonhar com o que tenho vivido hoje. Ao meu fiel companheiro,
Shiro, por ser meu combustível e por me acompanhar nas
madrugadas de estudo. Às minhas amigas Ana Kassia Lima,
Graziele Teixeira, Lara Teixeira e Mariana Muniz por todo o
companheirismo, dedicação e troca durante as atividades
pertinentes à graduação e vida pessoal. À professora Camylla
Rachelle Aguiar, por ter sido minha orientadora e ter
desempenhado tal função com dedicação e amizade. Aos meus
amigos de curso, cоm quem convivi intensamente durante os
últimos anos. À Thaine Brito, advogada e técnica em meio

204
ANÁLISE DOS IMPACTOS PREVISTOS E DAS AÇÕES DE ACOMPANHAMENTO DA
LICENÇA OPERACIONAL DE DISTRIBUIDORA DE COMBUSTÍVEIS SITUADA NO
PORTO DO ITAQUI NO ESTADO DO MARANHÃO
ambiente, que me ajudou neste trabalho e que tanto me inspira
diante do profissionalismo que carregas. A todos da EMAP,
SEMA e BION pelo fornecimento de dados e materiais que
foram fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa que
possibilitou a realização deste trabalho. À instituição de ensino
UFMA e aos meus professores, essenciais no meu processo de
formação profissional e por tudo o que aprendi ao longo dos
anos do curso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
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206
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA

CAPÍTULO 11

ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA


DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA
ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES
INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
Vinicius Carvalho Moreira 1
Camylla Rachelle Aguiar Araújo2
1
Graduando do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFMA; 2 Orientadora/Professora
do CCCT/UFMA.
viniciuscarvalhomoreira1998@gmail.com

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo apresentar a


análise dos indicadores de uma estação de tratamento de
efluentes industriais (ETEI), observar suas incongruências e
adversidades e, assim, propor um sistema de gestão de
descartes corretos para a redução da Carga Orgânica
apresentada no Reator UASB, conseguindo assim trazer
sustentabilidade para todo o ecossistema da fábrica
Palavras-chave: ETEI. Cervejaria. Efluente.

INTRODUÇÃO
De acordo com uma pesquisa da CupomValido (2021), a
cerveja é hoje a bebida alcóolica mais consumida do mundo,
tendo o Brasil como um dos principais consumidores, estando
em terceiro lugar.
A produção de cerveja tem um volume de águas
residuais e resíduos sólidos, que necessitam ser tratados de
forma a não impactar muito significativamente no financeiro,

207
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
conseguindo assim obedecer às normas vigentes ou atingir
parâmetros seguros para a reutilização (SIMATE, 2012)
Dentre os resíduos gerados durante o processo de
fabricação se encontram as águas residuais com agentes
contaminantes, rejeitos de malte, lúpulo, levedura, resíduos
provenientes da etapa de filtração e envasamento (KUNZE,
2006).
O processo de crescimento da cervejaria, com o
aumento do número de linhas (consequentemente, de volume)
provocou transformações intensas na Estação de Tratamento
de Efluentes Industriais (ETEI). Essas mudanças
desencadearam o aumento de efluente recebido, gerando uma
necessidade de adequação da gestão de recebimentos. Os
efluentes que são gerados pela indústria cervejeira podem ser
caracterizados a partir do estudo do tipo de processo produtivo
e produtos utilizados, e determinações analíticas. Por
possuírem características como: altas quantidades de
açúcares, pH 12 alcalino e elevada carga de origem orgânica,
requerem um tratamento mais complexo, podendo chegar a
etapas terciárias antes de serem lançados nos corpos
receptores (FILHO et al., 2013).
Von Sperling (2005) diz que há grande preocupação com
os impactos que o efluente pode causar caso chegue de
maneira inadequada às estações, podendo causar riscos de
transbordos e caracterizar crime ambiental. Com isso, através
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais
(SEMA - MA), é estabelecido uma série de condicionantes para
que uma ETEI possa ter seu funcionamento liberado.
Diante do exposto, o presente artigo propõe analisar os
indicadores fora de faixa da Estação de Tratamento de
Efluentes Industriais de uma cervejaria e propor um sistema de
gestão de descartes para que todos os parâmetros analisados

208
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
sejam enquadrados na sua faixa de qualidade impostos pela
empresa e pelas normas ambientais, conseguindo assim
reduzir o índice de carga orgânica na estação.

JUSTIFICATIVA
A indústria cervejeira desempenha um papel significativo no
cenário econômico e social de São Luís, MA, confiante para o
crescimento regional e a geração de empregos. No entanto,
juntamente com o aumento da produção, surgem desafios
relacionados ao tratamento adequado dos efluentes gerados
durante o processo de fabricação.
Os efluentes industriais da indústria cervejeira geralmente
apresentam alta carga orgânica, composta por substâncias
como açúcares, amidos, proteínas e outros compostos
orgânicos. Esses componentes podem ter impactos ambientais
se descartados sem o devido tratamento. A carga orgânica em
excesso pode levar à diminuição do oxigênio na água,
causando a eutrofização e comprometendo a vida dos corpos
hídricos receptores.
Além dos danos ambientais, o descumprimento dos
padrões de qualidade alcançados pela própria empresa e pelas
normas ambientais pode acarretar reforços legais, multas e
danos à imagem corporativa. Portanto, uma análise do
índice de carga orgânica em uma estação de tratamento de
efluentes de uma indústria cervejeira é de extrema importância
para identificar possíveis problemas e propor soluções eficazes.
Através dessa análise, é possível identificar quais
parâmetros estão fora da faixa de qualidade desejada e
compreender os motivos por trás dessas ocorrências. Isso
permitirá o desenvolvimento de um sistema de gestão de
descartes que seja capaz de controlar e monitorar os efluentes

209
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
gerados, garantindo que todos os parâmetros analisados
estejam dentro dos padrões.
Ao propor um sistema de gerenciamento eficiente, é
possível reduzir a carga orgânica garantindo a preservação
ambiental e o cumprimento das normas ambientais. Dessa
forma, esse trabalho também pode trazer benefícios financeiros
para a indústria cervejeira, como redução de custos com multas
e melhorias na eficiência operacional.

OBJETIVOS

Objetivos Gerais
Analisar o índice de carga orgânica em uma ETEI de uma
cervejaria localizada em São Luís, MA, identificando os
indicadores fora de faixa e suas causas, visando propor um
sistema de gestão de descartes para redução da carga orgânica
e o cumprimento dos padrões de qualidade exigidos pelas
normas ambientais.

Objetivos Específicos
• Realizar levantamento bibliográfico sobre os processos
de produção de cerveja e os impactos ambientais decorrentes
do tratamento inadequado de efluentes industriais;
• Coletar dados e amostras dos efluentes da ETEI da
cervejaria em estudo;
• Realizar análise laboratorial dos indicadores de carga
orgânica presentes nos efluentes;
• Identificar e analisar os parâmetros que estão fora das
faixas de qualidade protegidas pela empresa e pelas normas
ambientais;

210
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
• Investigar as possíveis causas para a presença de
indicadores fora de faixa, considerando aspectos operacionais,
tecnológicos e de gestão;
• Propor um sistema de gestão de descartes que seja
capaz de controlar e monitorar os efluentes, visando a redução
da carga orgânica e o cumprimento dos padrões de qualidade
exigidos;

METODOLOGIA
A metodologia adotada neste estudo busca atender aos
objetivos específicos propostos, para alcançar os objetivos,
será realizado um levantamento bibliográfico abrangente sobre
os processos de produção de cerveja e os impactos ambientais
decorrentes do tratamento inadequado de efluentes industriais.
Esse levantamento bibliográfico permitirá uma visão
aprofundada dos aspectos técnicos, operacionais e ambientais
relacionados à indústria cervejeira, identificando as principais
fontes de recursos orgânicos e os desafios enfrentados na
gestão dos efluentes.
A coleta de dados e amostra dos efluentes da ETEI da
cervejaria constitui outro passo fundamental da metodologia.
Por meio dessa coleta, pode-se obter informações concretas
sobre a composição dos efluentes e seus níveis de carga
orgânica. Esses dados fornecerão as informações para a
análise dos indicadores fora de faixa e identificação das
possíveis causas dessas ocorrências.
A análise laboratorial dos indicadores de carga orgânica
presentes nos efluentes permitirá quantificar e avaliar a
extensão dos desvios em relação aos parâmetros de qualidade
que se deve atingir. Com base nos resultados dessa análise,
será possível identificar os indicadores específicos que estão
fora das faixas desejadas.

211
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
A partir da identificação dos indicadores fora de faixa e
de uma compreensão aprofundada das causas dessas
ocorrências, pode-se propor um sistema de gestão de
descartes que seja capaz de controlar e monitorar os efluentes
gerados pela cervejaria. Esse sistema de gerenciamento de
descartes terá como objetivo reduzir a carga orgânica na
estação de tratamento de efluentes, garantindo que todos os
parâmetros analisados se enquadrem nas faixas de qualidade
impostas pelas normas ambientais.
Por meio dessa metodologia, espera-se obter insights
que contribuam para a mitigação dos impactos ambientais
causados pelos efluentes industriais da cervejaria em São Luís,
MA. Ao propor um sistema de gestão de descartes eficiente,
pode-se auxiliar a indústria cervejeira a adotar práticas mais
ecológicas e promovendo a preservação dos recursos naturais.

Caracterização da Área
A indústria objeto deste trabalho está localizada na
cidade de São Luís, capital do estado do Maranhão, Brasil.
Situada no Km 16,5 da rodovia federal BR-135, essa indústria
possui uma localização estratégica, facilitando o acesso aos
seus produtos e serviços.
A localização geográfica da indústria está ilustrada na
Figura 1.

212
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
Figura 1. Localização da Unidade Fabril

Fonte: Google Maps (2023).

São Luís é uma cidade portuária e possui uma


localização privilegiada na região nordeste do Brasil, sendo
banhada pelo Oceano Atlântico. Com uma população
significativa e uma economia diversificada, a cidade é um
importante centro industrial, comercial e turístico da região.
A área onde a indústria está situada é caracterizada por
uma combinação de áreas urbanas e rurais. A região próxima à
rodovia BR-135 apresenta um desenvolvimento urbano mais
pronunciado, com a presença de diversas indústrias, comércios
e serviços. Já as áreas mais distantes da rodovia são
predominantemente rurais, com atividades agrícolas e
pecuárias. A topografia da área é geralmente plana, com
pequenas variações no relevo. A região é caracterizada por um
clima tropical, com temperaturas elevadas durante a maior

213
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
parte do ano e uma estação chuvosa bem definida.
Em termos de aspectos ambientais, a região abriga uma
diversidade de ecossistemas, incluindo áreas de vegetação
nativa, rios e lagoas. A preservação desses ecossistemas é de
suma importância para a manutenção da biodiversidade local e
para a sustentabilidade ambiental da região.
Nesse contexto, a indústria em estudo exerce um papel
importante na economia local, gerando empregos para o
desenvolvimento regional. No entanto, é crucial que a empresa
esteja atenta aos aspectos ambientais relacionados ao
tratamento de efluentes industriais, a fim de minimizar os
impactos negativos no meio ambiente e garantir a conformidade
com as normas ambientais.
Essa caracterização da área de estudo fornece um
panorama geral do contexto geográfico e ambiental em que a
indústria está inserida, servindo como base para a
compreensão dos desafios e oportunidades relacionadas ao
tratamento de efluentes nesse cenário específico.
Nessa etapa do estudo, de caráter prático, serão
realizadas análises distintas nas dependências da unidade
fabril. Essas análises têm como objetivo obter informações
sobre a qualidade dos efluentes líquidos gerados pela indústria.
As análises a serem realizadas podem ser visualizadas na
Tabela 1.

Tabela 1. Parâmetros e os padrões estabelecidos.


Parâmetros Padrões Estabelecidos
pH 5,5 – 7,0
Turbidez < 30 NTU
Produção de Permeado > 200m3
Aviso de Descartes à ETEI > 80%
Fonte: Autor (2023)

214
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA

• pH: um indicador da acidez ou alcalinidade de uma


solução. O monitoramento do pH é importante para garantir que
os efluentes estejam dentro da faixa adequada, evitando
problemas como a aderência de equipamentos e efeitos
negativos nos processos de tratamento.

Figura 2. Gráfico de pH durante testes semanais

Fonte: Autor (2023)

• Turbidez: uma medida da quantidade de partículas


sólidas em suspensão na água. Esse parâmetro é usado para
avaliar a clareza da água e é relevante no contexto do
tratamento de efluentes, pois altos níveis de turbidez podem
indicar a presença de sólido em suspensão que podem dificultar
o tratamento ou causar impactos ambientais.
• Produção de permeado: se dá pela capacidade do
sistema terciário da estação, através de osmose reversa e
ultrafiltração, de produzir volume para que a água tratada seja
usada reuso em torres de resfriamento, limpeza e nas esteiras
da área de envase. Esse parâmetro é importante para avaliar a
eficiência do tratamento e a capacidade da estação de
tratamento de fornecer água tratada com qualidade.

215
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
• Aviso de descartes enviados para ETEI: a comunicação
de informações específicas sobre o descarte de produtos
químicos à ETEI, como a natureza dos produtos químicos, o
volume e a concentração, é fundamental para que a estação
possa realizar cálculos precisos de viabilidade e duração do
tratamento. Isso garante que o lodo no reator UASB não seja
prejudicado e que o tratamento seja adequado para receber os
efluentes provenientes de diferentes áreas da cervejaria,
considerando as características específicas de cada produto
químico descartado.

Figura 3. Gráfico de taxa de descartes para a Estação de


Efluentes Industriais

Fonte: Autor (2023)

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para a realização do presente artigo, observou-se
previamente como a Estação se comportou durante os 3 meses
prévios a atividade, para que assim fosse possível comparar a
situação prévia X a situação pós realização do projeto. Com
isso, observou-se que todos os 4 parâmetros estavam com uma
variação muito alta entre os resultados e, muitas vezes, fora dos
padrões estabelecidos.

216
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
Tabela 2. Parâmetros mês a mês (média)
pH Turbidez Permeado Avisos
Abril 5,9 14,6 27m3 42%
Maio 6,3 18,7 38m3 37%
Junho 6,2 15,8 34m3 40%
Fonte: Autor (2023)

Munido dessas informações, decidiu-se criar um plano


de ação para estabilização desses parâmetros, identificando as
causas e propondo soluções.
Para o parâmetro pH, verificou-se que a causa raiz, em
conversas com a operação da Cervejaria e de técnicas visuais,
era o elevado número de despejo para a ETEI de materiais não
adequados, principalmente da área de Fabricação Cervejeira,
como terra infusória, bagaço e soda.
Para o parâmetro Turbidez, observou-se que, com a
falha de comunicação ocorrendo entre Cervejaria – ETEI,
muitos sólidos chegavam na estação, afetando o tratamento do
efluente e, consequentemente, prejudicando a sua qualidade
final.
Já para o parâmetro Permeado, identificou-se que as
membranas do equipamento da osmose reversa, no sistema
terciário da Estação já estavam bem prejudicadas, o que
impactou diretamente na eficiência de produção.
Com as causas raízes encontradas, desenvolveu-se um
método onde toda a Cervejaria pudesse ajudar para a
estabilização dos índices. De início, os responsáveis do setor
de Meio Ambiente da fábrica foram de área em área para
dialogar com os colaboradores da fábrica sobre a importância
de informar corretamente o descarte dos efluentes lançados a
ETEI. Sendo assim, o indicador de Aviso de Descartes foi
dialogado, expondo a sua baixa adesão e firmando o

217
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
compromisso que, com o apoio de toda a Cervejaria, esse
indicador iria subir, já que o mesmo é base para a correção de
todos os outros.
No sistema terciário, realizou-se a troca de membranas
no equipamento de osmose reversa, o que impactou
diretamente na produção de permeado, com a obtenção de um
índice diário próximo aos 300m3 nos meses seguintes, com dias
chegando a 600m3.
Sendo cobrado em reuniões semanalmente, o aviso de
descartes passou para, aproximadamente, 82% após
conscientização da fábrica quanto a importância do bom
tratamento do efluentes gerados. Com isso, o pH da do efluente
na estação estabilizou-se em 6,87, enquanto a turbidez do
efluente final na estação obteve índices excelentes, sempre
próximo a 1 NTU.

Figura 4. Taxa de Descartes para a ETEI após melhorias

Fonte: Autor (2023)

O ICO é um indicador importante para a área de meio


ambiente, pois fornece informações cruciais sobre a eficiência
da ETEI da cervejaria. O ICO está diretamente relacionado ao
fluxo de descartes da cervejaria, especialmente em relação aos
resíduos que podem gerar um aumento significativo na carga
orgânica, como a terra infusória. Um aumento na carga

218
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
orgânica pode atingir a qualidade do lodo presente no
tratamento de efluentes.
O volume de efluente bruto gerado refere-se à
quantidade total de efluente produzido pela cervejaria,
enquanto a produção líquida representa o volume de cerveja
produzida. Ao calcular o ICO, pode-se avaliar a relação entre a
quantidade de efluente gerado e a produção líquida, o que
permite entender a carga orgânica relativa do efluente em
relação à quantidade de produto fabricado.
O ICO desempenha um papel crucial no monitoramento
da eficiência do tratamento de efluentes e na gestão adequada
da carga orgânica, pois valores elevados de ICO indicam uma
maior carga orgânica no efluente, o que pode afetar a eficiência
do tratamento e a qualidade do efluente final. Portanto, o
acompanhamento e controle do ICO são essenciais para
garantir o funcionamento adequado da ETEI e minimizar os
impactos ambientais associados à carga orgânica.
Com o exposto, o Índice de Carga Orgânica também foi
altamente reduzido, saindo de 1,8 para 1,2 em 3 meses. Isso
deve-se ao aumento do lodo no reator UASB, impactando
diretamente no tratamento do efluente já que as impurezas no
reator foram diminuídas exponencialmente com a gestão
aplicada na Cervejaria quanto ao descarte correto dos
efluentes. Com isso, o lodo garantiu que fosse possível se
alimentar de toda a carga orgânica vindo da fábrica de forma
saudável, já que anteriormente, com vários itens indevidos que
passavam pela Estação, o lodo não tinha uma performance
boa, o que deixava a ETEI com um índice alto de Carga
Orgânica.
O índice de uso de água da Cervejaria, que é balizado
pela produção líquida do envase e água captada da ETA
(Estação de Tratamento de água) teve seu índice reduzido

219
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
também, já que, com a ajuda do permeado vindo do sistema
terciário, a economia de água foi feita na lavagem de pisos, uso
de torneiras e descargas, com a utilização da água de reuso
durante esse período.

Tabela 3. Parâmetros mês a mês após ações (média)


pH Turbidez Permeado Avisos
3
Julho 6,8 1,9 269m 78%
3
Agosto 6,5 1,5 312m 81%
3
Setembro 6,9 1,4 321m 82%

CONCLUSÕES
Os resultados esperados deste estudo abrangem tanto a
identificação de desvios e problemas existentes na ETEI da
cervejeira quanto a proposição de ações corretivas e
estratégias de gestão eficiente.
Esperava-se identificar quais indicadores, como pH,
turbidez, produção de permeado, aviso de descartes enviados
à ETEI, índice de consumo de água e índice de carga orgânica,
estavam apresentando valores fora das faixas. Essa análise
permitiu compreender quais parâmetros precisavam ser
melhorados e quais problemas estavam impactando o
desempenho da estação de tratamento de efluentes industriais
da Cervjearia em São Luís – MA.
Em suma, os resultados esperados deste estudo
contribuiram para a melhoria do desempenho ambiental e
operacional da ETEI da cervejeira. Através da identificação de
desvios, análise de causas, proposição de soluções e
desenvolvimento de recomendações, promoveu-se a
sustentabilidade, reduziu-se o impacto ambiental e auxiliou a

220
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
indústria cervejeira na adoção de práticas mais responsáveis e
eficientes em relação ao tratamento de efluentes.
A operação da Cervejaria também foi altamente
impactada, já que os mesmos, através de debates e reuniões
de conscientização entenderam seu papel para a redução de
todos esses indíces

AGRADECIMENTOS
A minha família, principalmente aos meus pais Francisco
Moreira e Marisangela Carvalho, por me possibilitarem estudar
sempre nos melhores colégios e não me deixar faltar nada,
fazendo com que eu obtivesse êxito na minha entrada na
faculdade
Aos meus professores, em especial a professora Camylla
Rachelle, que está comigo desde sempre no TCC e não me
deixou desistir.
Aos meus amigos, de todos os lugares que já passei, por
sempre me apoiarem na caminhada universitária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Laura Araújo Agapito. Caracterização e análise do processo
de tratamento de efluente de cervejaria para potencial reuso –
Comparação entre uma indústria de grande porte e uma cervejaria
artesanal. Belo Horizonte, 2019.
CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ministério do Meio
Ambiente, Departamento de Apoio ao Conselho Nacional do Meio
Ambiente – DCONAMA. Brasília – DF. Disponível em: <
http://www2.mma.gov.br/port/conama/>.Acesso em: 08 jul. 2023.
DA CUNHA, Letícia Carolina. Análise de efluente bruto e análise de
estação de tratamento de efluentes em indústria cervejeira do Vale do
Taquari. Lajeado, 2019.
DE MELO, Déborah Freitas. Estudo da influência da quantidade de lodo
na produção de biogás em reator UASB tratando esgoto doméstico.
Belo Horizonte, 2015.

221
ANÁLISE DOS INDICADORES E PROPOSTA DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE
DESCARTES PARA REDUÇÃO DA CARGA ORGÂNICA EM UMA ESTAÇÃO DE
TRATAMENTO DE EFLUENTES INDUSTRIAIS DE UMA CERVEJARIA
DEBATIN, A. H; IBSCH, R, B, M. Otimização do processo de tratamento
de efluentes de uma indústria de alimentos para melhoria de
eficiência e produtividade. 2018
FILHO, J. A. S. et al. Tratamento de efluentes da indústria de bebidas
em reator anaeróbio de circulação interna (IC). Revista Internacional de
Ciências, v. 3, n.1, 2013.
KUNZE, W. Tecnología para cerveceros y malteros. Alemanha: VLB
Berlin, 2006.
ROCHA, Paulo Sérgio Gonçalves. Análise da influência de turbidez em
resultados de amostra de água subterrânea. São Paulo, 2019.
SIMATE, G. S. et al. The treatment of brewery wastewater for reuse:
State of the art. Desalination. Elsevier, 2011.
SPERLING, M. V. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de
esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental. UFMG, 2005.

222
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
CAPÍTULO 12

ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS


NO BAIRRO DO CENTRO EM SÃO
BORJA/RS
Junia Vitoria de Andrade MARTINS 1
Darryel Soares VALLE 2
Ricardo de Vargas KILCA 3
1
Discente do Curso de Bacharelado em Gestão Ambiental, UERGS, Brasil. 2 Discente do
Curso de Bacharelado em Gestão Ambiental, UERGS, Brasil. 3 Docente/Orientador do Curso
de Bacharelado em Gestão Ambiental, UERGS, Brasil.
juvitoria139@gmail.com

RESUMO: A arborização urbana apresenta uma importância


reconhecida mundialmente por seus serviços relacionados com
a preservação da biodiversidade, manutenção do conforto
térmico nas cidades, absorção de carbono e poluentes da
atmosfera e o bem estar da saúde dos moradores. Para realizar
um bom gerenciamento deste recurso natural é importante
realizar o diagnóstico das árvores existentes no meio urbano.
Este estudo apresentou os dados preliminares do inventário do
tipo censo da arborização urbana no bairro do centro de São
Borja onde foram amostrados todas as árvores e arbustos
presentes nas calçadas de nove ruas e num total de 102
quadras amostradas, a metade de toda a área do bairro. No
total foram avaliados 13 critérios de cada árvore. Foram
amostradas um total de 1.392 indivíduos arbóreos, sendo 144
arbustos, e 1.248 árvores (86 mudas, 198 jovens e 964 adultas).
A maioria das espécies e indivíduos plantados foi de origem
exótica (66% espécies) e o restante de nativas (34% espécies).
A espécie exótica mais comum foi Ligustrum lucidum W. T.
Aiton (Oleacaceae). A grande maioria das árvores (94%) estão
plantadas em calçadas que possui larguras consideradas
suficientes, possuem condições fitossanitárias boas e não
atrapalham a infraestrutura urbana. No entanto, existem
223
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
diversas árvores que devem passar por atividades de manejo,
pois estão em desconformidade com as normas existentes.
Este estudo é um dos poucos existentes no estado do Rio
Grande do Sul, inédito para o município e cumpriu com uma
exigência legal do município desde 2001.
Palavras-chave: Gestão Ambiental. Áreas Verdes. Vias
Públicas. Tipos de Manejo.

INTRODUÇÃO
A urbanização segue crescente rapidamente
(principalmente nas cidades de porte médio) e até 2025, 70%
da população global viverão em cidades. Desta forma, cresce o
interesse em promover o desenvolvimento de cidades
sustentáveis para assegurar uma melhor qualidade de vida com
menos impacto possível ao meio ambiente (FAO, 2016).
Segundo a Organização das Nações Unidas, as florestas
urbanas podem ser definidas como redes ou sistemas que
compreendem todas as florestas, grupos de árvores e árvores
individuais localizadas em áreas urbanas e peri-urbanas;
incluem, portanto, florestas, árvores de rua, árvores em parques
e jardins e árvores em esquinas abandonadas. As florestas
urbanas são a espinha dorsal da infraestrutura verde, unindo
áreas rurais e urbanas e melhorando a pegada ambiental de
uma cidade (FAO, 2016).
O Fórum Mundial e Florestas Urbanas (WFUF,2018)
reconheceu que as cidades precisam de árvores e florestas e
as pessoas precisam de áreas verdes. Quando uma cidade
investe em florestas peri-urbanas, parques urbanos, corredores
verdes e azuis, árvores nas ruas e praças públicas, jardins
privados, pátios e outros espaços verdes com árvores, telhados
verdes e prédios verdes, a infraestrutura verde resultante
melhora a qualidade da paisagem. As árvores urbanas são
excelentes filtros para poluentes urbanos e partículas finas.
224
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
Uma árvore pode contribuir no sequestro de carbono
atmosférico e absorver até 150 Kg de CO2/ano. As árvores
colocadas adequadamente em torno dos edifícios podem
reduzir as necessidades de ar condicionado em 30% e
economizar energia usada para aquecimento em 20 a 50%. As
árvores podem diminuir a temperatura local entre 2°C a 8°C,
também podem fornecer alimentos, como frutas, nozes e folhas.
Passar o tempo perto das árvores melhora a saúde física e
mental, aumentando o nível de energia e a velocidade de
recuperação, enquanto diminui a pressão arterial e o estresse.
As árvores fornecem habitat, comida e proteção a animais,
aumentando a biodiversidade urbana (GIC, 2015; FAO, 2016).
Diversas estratégias têm sido realizadas para divulgar
métodos de gestão de florestas urbanas, como: comunicação e
conscientização; envolvimento da comunidade; o
desenvolvimento de alianças e parcerias; e a identificação de
necessidades de pesquisa e perspectivas (FAO, 2016). O uso
de manuais de gestão de florestas urbanas (FAO, 2016) e uso
de novas tecnologias vêm assessorar o desenvolvimento os
planos de gestão de arborização urbana em todo o mundo. Um
exemplo clássico de tecnologia reconhecido no mundo para
avaliar a importância econômica e ecológica da arborização
urbana foi o Programa i-Tree (www.itreetools.org) desenvolvido
pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos. O programa
determina os valores a partir da referência cruzada dos dados
sobre a estrutura de um dado sistema de árvores com a
poluição atmosférica local horária e informações
meteorológicas. Os usuários só precisam coletar e inserir
informações padrão sobre as árvores (como espécies,
diâmetro, condição de saúde) e o programa fornecerá
estimativas (por composição de espécies, classe de tamanho e
/ ou uso da terra) sobre os benefícios e valor monetário
225
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
relacionado que eles fornecem e continuarão a fornecer no
futuro em termos de remoção de poluição do ar (e benefícios
associados para saúde humana), armazenamento e sequestro
de carbono, economia de energia, interceptação de
escoamento (FAO, 2018).
Desta forma, é esperado que os administradores
públicos vejam suas florestas urbanas como uma infraestrutura
crucial, proporcionando benefícios tangíveis e valores que
melhoram a qualidade de vida, a segurança e a saúde pública.
Na verdade, o retorno sobre o investimento em florestas
urbanas excede em muito o custo de instalação e manutenção
comparação com a infraestrutura cinza e deve ser considerado
um "acordo inteligente" para tomadores de decisão,
administradores e cidadãos (FAO, 2016). Assim, um plano de
manejo florestal urbano é um plano de ação que fornece às
agências de obras públicas informações detalhadas,
recomendações e recursos necessários para gerenciar de
forma efetiva e proativa as árvores públicas.
No Brasil, o conceito de arborização urbana é muito
similar. A vegetação urbana é representada por conjuntos
arbóreos de diferentes origens e que desempenham diferentes
papéis sendo, as florestas urbanas, a soma de toda a
vegetação lenhosa que circunda e envolve os aglomerados
urbanos desde pequenas comunidades rurais até grandes
regiões metropolitanas (Miller, 1997). Embora as árvores
possam ser encontradas em vários ambientes urbanos, a rua é
o local tradicional da arborização urbana, onde as árvores são
plantadas enfileiradas nas calçadas, geralmente, dispensando
planejamento prévio e manutenção adequada e legislação
específica escassa (Almeida e Rondon Neto, 2010).
De acordo com o Ministério Público do Paraná (MPPR,
2018), o Plano de Arborização Urbana é um documento oficial
226
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
do município que legitima e descrevem as ações referentes à
gestão, implantação, plantio, manutenção e monitoramento das
árvores urbanas. Embora o principal objetivo de um bom PDAU
seja abranger o manejo das árvores de ruas, parques, praças,
cemitérios, bosques urbanos, cinturões verdes e outras áreas
públicas, a maioria dos existentes tem como objetivo o manejo
das árvores de rua, plantadas em calçadas entre o meio-fio e
as propriedades privadas e nos canteiros centrais (SVMA,
2015; CREA-PR, 2016; MPPR, 2018).
A arborização urbana, como parte integrante do meio
ambiente, é um bem jurídico, e, portanto, destinatária de
proteção do direito, sendo tutelada pela Constituição Federal
(arts. 23, 24, 30, 182, 216 e 225) (Brasil, 1988), Lei nº.
10.257/2001 (Estatuto da Cidade; Brasil, 2001), Lei nº.
6.938/1981 (Brasil, 1981), Lei da Ação Civil Pública (Lei nº.
7.347/1985, art. 1º, I e III; Brasil, 1985), Lei nº. 4.717/1965 (ação
popular, art. 1º, parágrafo 1º; Brasil, 1965), Lei nº. 9.605/1998
(Brasil, 1998), Código Florestal (Lei nº. 12.651/2012, Brasil,
2012), entre outros, de forma geral, e de forma mais específica,
pelas normas municipais como o Plano Diretor de Arborização
Urbana, o Plano de Arborização Urbana ou outra normativa que
disciplinam o plantio, corte e poda de árvores.
No contexto atual, as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) voltadas para a área do meio ambiente
possuem diversas ferramentas que apoiam a estruturação e a
organização dos dados e informações, possibilitando o
armazenamento, processamento, acesso em tempo real e/ou
remoto e compartilhamento dos mesmos, seja pelos diversos
profissionais envolvidos na assistência, bem como, pelo próprio
usuário em geral. Um aplicativo para gestão da arborização
urbana tem como objetivo, além de possibilitar a divulgação do
estado atual das árvores das calçadas do bairro do centro, pode
227
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
apoiar a tomada de decisão de manejo correta destas plantas
por parte do poder público com a orientações/condutas
adequada a partir da elaboração de um plano de manejo da
arborização urbana.
Estas novas tecnologias digitais, notebook, aparelho
celular, tablet e outras, são consideradas como ferramentas
digitais e devem ser vistas como parte do processo ensino
aprendizagem (Shuler, 2009). Assim, a funcionalidade deste
aplicativo de arborização urbana servirá de ferramenta para
atividades de educação ambiental promovidas pelas escolas do
município de São Borja. Neste sentido, ressalta-se a
funcionalidade do aplicativo para o Projeto Transformar:
Cuidando para o Futuro no eixo temático Educação Ambiental.
O município de São Borja ainda não possui um Plano de
Arborização Urbana como citado anteriormente, no entanto, o
Plano Diretor de São Borja (São Borja, 1997) traz alguns
assuntos específicos à arborização urbana. Porém, o
documento mais importante sobre esse assunto é a Lei
Complementar n 24, de 20 de dezembro de 2001, que trata da
sua política ambiental com relação à conservação, recuperação
e licenciamento ambiental (São Borja, 2001). Essa lei aborda
diversos aspectos relacionados à arborização urbana entre elas
a obrigação de realizar um Plano Diretor de Arborização
Urbana, implantação de hortos florestais para, entre outros
objetivos, fornecer mudas para promover à arborização urbana
e a realização dos inventários periódicos da arborização
urbana.
São Borja ainda não cumpriu nenhuma dessas ações
propostas e o objetivo deste estudo foi apresentar o inventário
parcial da arborização no bairro do Centro. O inventário
realizado foi do tipo censo, onde todas as árvores foram
contabilizadas e avaliados 32 atributos quali e quantitativos
228
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
relacionados com a sua localização, ambiente de inserção,
condições morfométricas e sanitárias da raiz, caule e copa,
situações de conflitos com infraestrutura entre outras
características.
O objetivo deste diagnóstico da arborização no bairro do
Centro em São Borja é fornecer orientações técnicas sobre as
características atuais e detalhadas das árvores (elencando
fatores positivos e negativos) existentes nas calçadas do bairro
do centro, implementar com dados inéditos o Manual de
Arborização Urbana de São Borja desenvolvido pela Secretaria
de Agricultura e Meio Ambiente e, por fim, contribuir para uma
futura elaboração de um Plano Diretor da Arborização Urbana
para o município.

229
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
MATERIAIS E MÉTODOS

Localização e características do município


São Borja é um dos municípios mais antigos do Rio
Grande do Sul e sua localização compreende a região oeste do
estado do Rio Grande do Sul, na fronteira com a Argentina, está
entre os paralelos 28°20’00’’ e 29°04’34’’ de latitude sul e entre
os meridianos 55°18’25’’ e 56°19’38’’ de longitude oeste.
O clima é do tipo subtropical úmido, com a temperatura
média anual de 20,0°C e o regime pluviométrico varia de 1.537
a 1.659 mm. A cidade está assentada sobre um compartimento
geológico composto por rochas basálticas e a geomorfologia
predominante é de colinas (coxilhas) extensas e com baixa
declividade, caracterizando um relevo de planícies com a uma
altitude de 74 metros (PMGIRS, 2015). As fitofisionomias
predominantes no município são do tipo Savana-Estépica
Gramíneo-Lenhosa (predominante), Formação Pioneira com
influência fluvial e/ou lacustre (bastante comum) e a Floresta
Estacional Decidual Submontana (raramente encontrada),
todas pertencente ao bioma Pampa.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2018), o município conta com uma população de 61.671
habitantes distribuídos em uma área de 3.616,035 km2. O índice
de desenvolvimento humano (IDH) é de 0,798, o produto interno
bruto (PIB) do município é de R$ 701.205.163,00 e o PIB per
capita é de R$ 10.552,37. A economia local deriva
principalmente das atividades do setor primário, incluindo o
parque de beneficiamento de grãos, com destaque para a
produção e o beneficiamento de arroz.
Segundo o censo de 2010 (IBGE, 2019), o Bairro do
Centro apresenta uma população total de aproximadamente
8.245 habitantes. O bairro possui seus limites em sentido
230
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
Norte/Sul da Rua Bompland, até a Rua dos Andradas, e no
sentido Oeste/Leste da Rua Borges do Canto até a Rua
Engenheiro Manuel Luís Fagundes. Estimou-se essa área um
total de 167 hectares, onde cortam 21 ruas, compostas por 202
quadras. O presente estudo amostrou as ruas Bompland (9
quadras), General Marques, Cândido Falcão, Olinto Arami
Silva/Félix da Cunha e General Serafim Dornelles Vargas
(todas com 11 quadras), Bento Martins, Riachuelo e Dos
Andradas (todas com 12 quadras) e General João Manoel (13
quadras). No total, esse estudo inventariou 102 quadras, a
metade da área total do bairro do centro.

Realização do diagnóstico a campo


A equipe de campo foi formada por cinco acadêmicos do
curso de gestão ambiental, que atuaram no preenchimento das
fichas de campo. Os materiais utilizados em campo foram:
pranchetas, canetas, fitas métricas e smartphones para
fotografar as plantas. A coleta de dados foi iniciada no dia 13 de
Abril de 2019, tendo o término da coleta de dados das nove vias
públicas do estudo, no dia 20 de Agosto de 2019 (Kilca; Valle,
2020).

Processo de amostragem da vegetação


A metodologia empregada consistiu na realização de um
inventário de todos os indivíduos arbóreos, que se encontraram
presentes nas calçadas de passeio (calçadas) das nove vias
públicas indicadas anteriormente. Além do preenchimento da
ficha de campo. Todos os indivíduos amostrados foram
identificados em seu nível taxonômico. O método de
amostragem detalhado foi descrito em Kilca e Valle (2020).
Para o estudo, foram consideradas apenas as espécies
arbóreas (arbustivo a arbóreo), não sendo registradas as

231
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
herbáceas presentes nas vias públicas. As espécies arbóreas
localizadas em vielas sem calçadas, praças, canteiros de
avenidas ou rótulas, não foram consideradas nesta pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Quantidade de indivíduos arbóreos


Foram amostradas um total de 1.392 indivíduos
arbóreos, sendo 144 arbustos, e 1.248 árvores (86 mudas, 198
jovens e 964 adultas). A maioria das espécies e indivíduos
plantados foi de origem exótica (66% espécies) e o restante de
nativas (34% espécies) (Tabela 1). A espécie exótica mais
comum foi Ligustrum lucidum W.T.Aiton (Oleacaceae). Cerca
de 737 indivíduos amostrados (53% do total) apresentaram
suas raízes inseridas em covas tradicionais (com ou sem
mureta), 168 indivíduos (12%) foram plantados em manilha, 161
indivíduos (12%) apresentaram suas raízes pavimentadas, e
326 (23%) foram registradas com duas opções.

Tabela 1. Número de indivíduos arbóreos diagnósticados.


Planta Porcentagem Árvores Porcentagem
Arvores 89,6% Muda 6%
Arbustos 10,3% Jovem 14%
Nativos 34% Adulta 68%
Exóticos 66% Morta 2%
Inserção Largura das
calçadas
Manilha 23% < 1,5metros 1%
Pavimentada 20% 1,5 a 2 metros 5%
Cova 57% > 2 metros 94%
Fonte: Kilca e Valle (2020).

232
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
Os dados demonstram que 608 indivíduos arbóreos
(44% do total geral) possuíram suas alturas iniciais da copa
(AIC), menores do que 1,5 metros, 428 indivíduos. 31%
possuíram suas AIC entre 1,5 metros a 2 metros, 286
indivíduos. 20% possuíram suas AIC superior a 2 metros, sendo
que 70 (5%) indivíduos arbóreos não foram identificados com
folhas em suas copas (Tabela 2).
Quanto à análise das alturas totais da copa (ATC), 391
indivíduos (28% do total geral) possuíram suas ATC menores
do que 2 metros, 494 indivíduos (35%) possuíram a ATC entre
2 metros a 5 metros, 233 indivíduos (17%) possuíram a ATC
entre 5 a 8 metros, 53 indivíduos (4%) possuíram a ATC entre
8 metros a 10 metros, 151 (11%) possuíram a ATC superior a
10 metros e, por fim, 70 (5%) indivíduos arbóreos não foram
identificados com folhas em suas copas (Tabela 2).
A grande maioria dos indivíduos amostrados (952
indivíduos ou 68% do total) apresentaram suas copas não
podadas durante o período de inventário. Por outro lado, 440
indivíduos (32%) apresentaram suas copas podadas.
Dentre aqueles indivíduos classificados como podados
(440 indivíduos ou 32% do total), pode-se afirmar que 173
indivíduos (41%) apresentaram poda correta, 131 indivíduos
(31%) apresentaram poda do tipo brusca (retirada total das
folhas ou a maioria dos caules), 105 indivíduos (25%) foram
registrados com uma poda total da copa (destopo), e 15
indivíduos (3%) foram registrados com a poda tipo rabo-de-leão
(Tabela 2).

Tabela 2. Percentuais de indivíduos arbóreos em diferentes


classes de alturas iniciais da copa em calçadas de nove ruas do
bairro do Centro, São Borja – RS.

233
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
Copa Classes de altura Porcentagem
Alturas iniciais < 1,5 metros 44%
1,5 a 2 metros 31%
> 2 metros 20%
Sem copa 5%
Alturas totais < 2 metros 28%
2 a 5 metros 35%
5 a 8 metros 17%
8 a 10 metros 4%
> 10 metros 11%
Sem copa 4%
Tipos de Poda
Correta 41%
Brusca 34%
Destopo 25%
Conflitos
Nenhum 39%
Estacionamento 18%
Pedestres 5%
Fios 5%
Iluminação 0,3%
Poste 1%
Dois conj. 25%
Três conj. 8%
Quatro conj. 1%
Cinco conj. 0,1%
Fonte: Kilca e Valle (2020).
Problemas da copa nos serviços públicos urbanos
As copas das árvores/arbustos plantadas nas calçadas
do bairro do Centro não apresentaram qualquer limitação para
os serviços e funções públicas para 538 (39%) indivíduos
inventariados. Os problemas causados pela intervenção da
copa no estacionamento de veículos foram registrados para 245
indivíduos (18%), 65 indivíduos (5%) atrapalham o trânsito de
pedestres na calçada, 11 indivíduos (1%) possuem copas muito

234
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
próximas à postes ou placas de sinalização, 74 indivíduos (5%)
apresentaram copas que causam problemas na fiação das vias
públicas e apenas um indivíduo arbóreo interfere diretamente
sua copa na iluminação pública. No entanto, observou-se um
significativo percentual de árvores (32%) cujas copas podem
estar em conflito com mais de um serviço/função pública.
Assim, 319 indivíduos (23%) causaram conflito com dois
serviços simultâneos, 113 indivíduos (8%) apresentaram
conflito com três serviços simultâneos, 19 indivíduos (1%) em
conflito com quatro serviços simultâneos e sete indivíduos em
conflito com todos os serviços avaliados.

Condição do ambiente de inserção das raízes das


plantas
A grande maioria das plantas, 940 indivíduos (68%),
apresentaram raízes que não estiveram expostas e que não
apresentam qualquer problema para o trânsito de pedestres ou
de veículos. Apenas 104 (7%) indivíduos apresentaram raízes
expostas, mas que não prejudicaram as calçadas, seguindo
com 115 (8%) raízes que levantam as calçadas sem estarem
expostas, e por fim, 233 (17%) indivíduos apresentaram suas
raízes expostas e que levantam as calçadas (Tabela 3).

Problemas das raízes na via pública


As plantas cujas raízes não atrapalharam nenhum
serviço/função urbana foram registradas para 1.315 (94%)
indivíduos amostrados. Apenas 5 plantas apresentaram
conflitos de suas raízes com a estrutura ou função urbana,
como problemas para o estacionamento, 55 indivíduos (4%)
apresentaram raízes em conflito com pedestres e 17 indivíduos
(1%) apresentaram raízes em conflito com pedestres e
estacionamentos (Tabela 3).

235
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS

Tabela 3. Conflitos das raízes das árvores com as


estruturas/funções urbanas.
Conflitos raízes Porc. Condições da raiz Porc.
Estacionamento 0,9% Exposta e não levanta a 7%
calçada
Pedestres 4% Não exposta, mas levanta a 8%
calçada
Sem conflito 94% Exposta e levanta a calçada 17%
Dois conj. 1% Não exposta e não levanta a 68%
calçada
Fonte: Kilca e Valle (2020).

Os resultados indicaram que 691 (50%) indivíduos


arbóreos possuíram caules classificados como saudáveis, 61
(4%) indivíduos como caules doentes, 484 (35%) indivíduos
como caules avariados, e 156 (11%) indivíduos foram
registrados com a presença de dois problemas fitossanitários
(Figura 1).

236
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
Figura 1. Percentuais de indivíduos arbóreos com problemas
fitossanitários nos caules em calçadas de nove ruas do bairro
do Centro, São Borja - RS.

DOIS… 11%
AVARIA 35%
DOENTE 4%
SAUDÁVEL 50%
0% 20% 40% 60%
SAUDÁVEL DOENTE

AVARIA DOIS PROBLEMAS

Fonte: Kilca e Valle (2020).

O inventário indicou que 1.056 indivíduos amostrados


(76% do total geral) foram diagnosticados com as copas
saudáveis, 56 indivíduos (4%) foram classificados com copas
doentes, 210 (15%) foram classificados com avaria nas copas
e, 70 indivíduos (5%) não apresentaram as folhas em suas
copas, sendo classificados como não identificado (Figura 2).

237
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
Figura 2. Percentuais dos indivíduos arbóreos em seus
estados fitossanitários da copa, das nove ruas do bairro do
Centro, São Borja – RS.

NÃO… 5%
AVARIA 15%
DOENTE 4%
SAUDÁVEL 76%
0% 50% 100%

SAUDÁVEL
DOENTE
AVARIA
NÃO IDENTIFICADO (SEM COPA)
Fonte: Kilca e Valle (2020).

CONCLUSÕES
Este inventário avaliou 13 indicadores para cada árvore
existente nas calçadas de nove vias públicas que compõe o
bairro do centro de São Borja. Os resultados demonstraram que
em grande parte as árvores foram plantadas em local
adequado, estão bem sob ponto de vista sanitário
demonstrando que seguiram algum critério de manejo e que
estão em boas condições. No entanto, a quantidade elevada de
espécies exóticas o que não condiz com a lei complementar
municipal n. 24 de 2001 e os 15% das árvores existentes
passaram de 8 metros de altura o que requer maior intervenção
de manejo no meio urbano, principalmente quanto aos cuidados
da fiação elétrica. Além disso, destaca-se o elevado percentual
de árvores com poda realizada de maneira errada e com
inconformidade das normas (59% das plantas). O estudo foi
pioneiro para a cidade e um dos poucos censos de arborização
238
ARBORIZAÇÃO URBANA NAS CALÇADAS NO BAIRRO DO CENTRO EM
SÃO BORJA/RS
urbana realizados no estado. O censo final já foi realizado e
estamos finalizando os tratamentos dos dados.
AGRADECIMENTOS
Ao Ex-Secretário e a Assessora Dr. Da Secretaria
Municipal da Agricultura e Meio Ambiente de São Borja

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://www.wfuf2018.com/public/file/call_for_action_V2.pdf. Acesso em 10
de 05 de 2019.

240
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
CAPÍTULO 13

DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E


COBERTURA DA TERRA E ADEQUAÇÃO
AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA
(BA)
Prudence Secchin de Sousa Vaz Sampaio RIBEIRO 1
Vanessa Souto PAULO 2
Danusa Oliveira CAMPOS 3
1
Mestranda em Ciências e Tecnologias Ambientais – PPGCTA – Instituto Federal da Bahia -
IFBA e Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB; 2 Mestranda em Saúde, Ambiente e
Biodiversidade – PPG-SAB – Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB; 3
Orientadora/Professora Dra do CFCAF/ UFSB.
prudencesecchin@gfe.ufsb.edu.br

RESUMO: Ao atender às demandas crescentes da população


mundial as intervenções antrópicas têm resultado em intensa
exploração dos recursos naturais. As florestas, em especial as
matas ciliares, emergem como um dos recursos mais
ameaçados e suscetíveis à degradação O presente estudo
objetivou analisar a dinâmica do uso e ocupação da terra do
município de Itabuna, considerando as Áreas de Preservação
Permanente das matas ciliares e seus impactos nos corpos
hídricos. Para tanto, foram analisados os usos e cobertura do
solo de Itabuna do período de 1985 e 2022 obtidos do
Mapbiomas (2023). Os dados demonstram que no período
analisado houve diminuição de 26% da área de mata
transformados em pasto (41,5 km2) e em mosaico de usos (41,1
km2). O mosaico de usos cresceu 1,5%, 77,8 Km2 de área de
Cabruca 1,9 km2 foi convertida para mosaico de uso. A
pastagem quase triplicou, cresceu 297%, e junto com ele o
efetivo bovino de 18.147 (2006) para 29.431 (2022). As Áreas
de Preservação Permanente de mata ciliar também tiveram
redução significativa de 62 % da área convertidas em área de
pasto, infraestrutura e mosaico de usos. Neste período, o

241
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
município apresentou impacto expressivo ocasionado pela
conversão do uso e cobertura da terra, 49,9 Km2 de Áreas de
Preservação Permanente apresentam conflito em seu uso e,
portanto, deverão ser reflorestados.
Palavras-chave: Uso da terra. Mata Ciliar. Água.

INTRODUÇÃO
O rápido crescimento da população global e o aumento
da expectativa de vida vem demandando esforços em todo o
mundo para repensar na gestão dos recursos naturais. Atender
às demandas de produção de alimentos, matérias primas,
energia e água tem resultado em intensa exploração dos
recursos naturais (UNESCO, 2020). Ainda, o consumo
desenfreado, alta taxa de desperdício e o descarte inadequado
de resíduos vem comprometendo a qualidade dos ambientes,
que por sua vez, colocam em risco a sobrevivência das futuras
gerações (Lima; Maia 2021).
A conversão do uso da terra para atividades agrícolas,
frequentemente leva à remoção da cobertura vegetal nativa e
desencadeia processos de erosão acelerada do solo (Pinto;
Lombardo, 2021). Estes são intensificados pela erosão hídrica,
onde pelas chuvas removem as camadas superficiais do solo
levando ao empobrecimento desse recurso e,
consequentemente, ao assoreamento dos rios.
Os rios tiveram papel crucial na ocupação do Brasil,
facilitando a penetração para o interior. Deste modo, as
florestas, em especial aquelas localizadas nas áreas próximas
aos cursos d'água, as matas ciliares, emergem como um dos
recursos mais ameaçados e suscetíveis à degradação. As
matas ciliares, assim como outras áreas importantes para
recarga de água nas paisagens estão resguardadas pelo
Código Florestal Brasileiro (Brasil, Lei 4.771 de 1965 e Lei

242
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
12.651 de 2012) como Áreas de Preservação Permanente. O
conceito de Áreas de Preservação Permanente (APPs) no
Código Florestal brasileiro resulta da compreensão da
importância de manter a vegetação em áreas de recarga de
águas; estes espaços têm a função ambiental de preservar
recursos hídricos, paisagem, estabilidade geológica,
biodiversidade, fluxo gênico de fauna e flora, proteção do solo
e garantia do bem-estar das populações humanas (Santos;
Piroli; Gouveia, 2021).
De acordo com as informações fornecidas por Lima e
Maia (2021), o Brasil, assim como outros países em
desenvolvimento, enfrenta frequentemente desafios
relacionados aos processos de urbanização e obras de
drenagens urbanas construídas sem planejamento adequado.
Estas são agravadas pelo descarte inadequado de efluentes
líquidos e resíduos sólidos, provenientes das residências que
ocupam as APPs, resultando em sérios problemas ambientais
como inundações, com impactos significativos sobre os
recursos hídricos e repercussão na saúde da população. No
Brasil, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT/CGE, 2021), as inundações causam bilhões de dólares
em prejuízos a cada ano, principalmente devido à ocupação
indiscriminada das margens dos rios e à infiltração do solo nas
bacias hidrográficas.
A bacia hidrográfica do Rio Cachoeira, localizada na
região Sul da Bahia, se ressente com todos os problemas
supracitados. Seu principal afluente, rio Cachoeira, possui
dimensões regionais, se forma da confluência do rio Salgado e
Colônia atravessando as cidades de Itapé, Itabuna e
desaguando no Oceano Atlântico, em Ilhéus. Este rio está
inserido na região de Mata Atlântica, onde se estendem
paisagens que abrangem áreas urbanizadas coexistindo com

243
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
trechos de vegetação natural e área produtiva, em um percurso
que se estende por aproximadamente 50 quilômetros,
atendendo a demanda de mais de 500.000 habitantes (IBGE,
2021).
A ocupação e o uso das terras na região Sul da Bahia
nos últimos dois séculos foram em grande parte voltados para
a produção de cacau (Theobroma cacao), cultivado por meio do
sistema agroflorestal Cabruca, onde o plantio de árvores de
cacau é sombreado com espécies arbóreas nativas da Mata
Atlântica (SANTOS, 2021). As mudanças nas atividades
econômicas ocorridas após a crise da produção de cacau, teve
seu auge no final da década de 1980 onde a região passou a
priorizar setores como a agropecuária e serviços (NEVES,
2018). Este redirecionamento econômico resultou na redução
significativa da presença da floresta ao longo das margens dos
rios com ampla remoção das matas ciliares da área rural e
urbana.
O município de Itabuna, um dos principais centros
econômicos da região Sul da Bahia, testemunhou este
processo de ocupação das áreas adjacentes ao rio Cachoeira
com conversão das matas em pastagens, instalações de
atividades industriais e aglomerações urbanas (Santos, 2021).
A cidade de Itabuna desenvolveu-se às margens do Rio
Cachoeira com um rico histórico de inundações que estão
aumentando e se tornando mais frequentes, causando muitos
danos ambientais. Compreender e monitorar o uso e a
ocupação do solo em determinado território é essencial para
uma gestão ambiental eficiente. De acordo com Troian (2020),
utilizando informações referentes à cobertura vegetal é viável
conduzir análises e adquirir uma compreensão mais
aprofundada da configuração física do território, uma vez que a
vegetação de uma região reflete os padrões climáticos e as

244
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
características do solo, estabelecendo conexões intrínsecas
com os demais elementos do cenário. Essa abordagem permite
identificar padrões e a organização do espaço, sendo
fundamental para analisar os impactos negativos causados por
práticas inadequadas de uso do solo (Jesus et al, 2021). Diante
do exposto, este estudo objetivou analisar a dinâmica do uso e
ocupação da terra do município de Itabuna, considerando as
Áreas de Preservação Permanente das matas ciliares e seus
impactos nos corpos hídricos.

MATERIAIS E MÉTODO
O município de Itabuna é composto por quarenta e
quatro bairros, cinquenta e sete loteamentos e dois distritos
localizados na zona rural. Está localizado a 429 km de Salvador,
na mesorregião econômica do Litoral Sul da Bahia, numa
extensão territorial de 444 km². Limita-se ao Norte com os
municípios de Barro Preto e Itajuípe, a Sul com Jussari e
Buerarema, a Leste com Ilhéus e a Oeste com Itapé e Ibicaraí
(Figura 1). Segundo a classificação de Köppen, Itabuna está
sob a influência do clima de Tropical Úmido (Af) e de Monção
(Am). O clima de Tropical Úmido é caracterizado como
superúmido com precipitação do mês mais seco superior a 60
mm e com média anual de 1813 mm, com precipitação do mês
mais seco superior a 60 mm e com temperatura média do mês
mais frio superior a 18°C.

245
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
Figura 1. Localização do município de Itabuna e Rua
Bananeira.

Fonte: Autoria Própria.

Para analisar a dinâmica do uso e cobertura da terra foi


empregado o Sistema de Informação Geográfica ArcGis 10.5 e
seus módulos utilizando a projeção cartográfica Universal
Transversa de Mercator e datum SIRGAS 2000. Os usos e
cobertura do solo de 1985 e 2020 foram obtidos do Mapbiomas
(2023). Os dados gerados de imagens do satélite Sentinel-2
com resolução espacial de 30 metros foram classificados e
obtiveram os seguintes dados de cobertura e uso da terra para
o município de Itabuna: formação florestal (Floresta Ombrófila
Densa e Floresta Estacional Decidual), pastagem, mosaico de
usos (agricultura e pastagem), área urbana, área aberta e
corpos d'água (rios e lagos).

246
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
Os afluentes foram gerados por meio do Modelo Digital
de Elevação resultante de processos realizados na imagem
ALOS PALSAR-FBS. Esta imagem possui resolução espacial
de 12,5 m sendo adquirida no sistema Alaska Satellite Facility
operado e distribuído pelo Earth Data/National Aeronautics and
Space Administration - NASA (ESA, 2020). Posteriormente
foram mapeadas as Áreas de Preservação Permanente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso e cobertura do solo de Itabuna durante o período
de 1985 a 2021 passou por alterações que impactaram na
dinâmica ambiental local (Tabela 1 e Figura 2), houve
diminuição de 26% da área de mata, os impactos ambientais
negativos causados por desmatamento podem ocasionar perda
de biodiversidade, equilíbrio dos ecossistemas, redução do
tempo no ciclo da água e alterações climáticas locais. Em 1985
o município apresentou 72,6% da sua área coberta por
formações florestais, contudo parte deste uso era composto
pelos cacaueiros sombreados por espécies nativas da Mata
Atlântica, a crise da lavoura cacaueira acabou reconfigurando o
uso da terra do município, 41,5 km2 desta formação florestal foi
convertida em pasto e 41,1 km2 em mosaico de usos.

247
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
Tabela 1. Uso e cobertura da terra do município de Itororó no
período entre 1985 e 2021.

Mata
Município Mata Ciliar Município
Ciliar
Classe 1985 1985 2021 2021
km km
km2 % 2 % km2 % 2 %
Formação 72, 53, 28,
289,9 4,5 47,4 214,6 2,8
Florestal 6 7 3
24, 36,
Pastagem 33,0 8,3 1,3 13,7 98,0 3,6
5 4
Mosaico de 15, 16, 30,
61,4 3,2 33,7 67,7 3,0
usos 4 9 3
Infraestrutura
14,8 3,7 0,5 5,3 18,7 4,7 0,5 5,1
Urbana
Fonte: Mapbiomas (2023).

248
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
Figura 2. Mapa de uso e cobertura da terra dos anos de 1985
e 2021

Fonte: Mapbiomas (2023).

O mosaico de usos teve um aumento de 1,5% da área,


atualmente ele é composto por produtos da lavoura permanente
como a banana, café, laranja, limão, goiaba, jaca, graviola, açaí,
acerola, borracha, coco-da-baía e o cacau, que ainda
permanece como principal produto do município; também
podem ser encontradas na lavoura temporária produtos como a
cana-de-açúcar, feijão, mandioca, abacaxi, abóbora e
amendoim (IBGE, 2023). O Mapbiomas (2020) mapeou o SAF
Cabruca no Sul da Bahia, Itabuna possui 77,8 Km2 de área de
cabruca. Comparando estes dados com uso e cobertura da
terra do ano de 2022, observou-se que 1,9 km2 de Cabruca foi
convertido para mosaico de usos. A pastagem quase triplicou,

249
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
cresceu 297%, dados dos censos agropecuários de 2006 e de
2017 mostram que houve aumento do efetivo bovino de 18.147
(2006) para 22.624 (2017), dados de 29.431 (2022) cabeças de
gado comprovam o crescimento da pastagem.
Neste período houve aumento de 3,9% da área
infraestrutura resultante do êxodo rural ocasionado pela crise
da lavoura cacaueira. Este município obteve crescimento de
mais de 104% da população nos últimos 10 anos gerando mais
lixo e esgoto descartados de forma inadequada afetando a
qualidade do Rio Cachoeira, tornando-o inadequado para o
consumo e recreação (Nunes, 2022).
As APPs de mata ciliar também tiveram redução
significativa de 62 % da área, no período analisado, foram
convertidas em área de pasto, infraestrutura e mosaico de usos,
por tanto, 49,9 Km2 devem ser reflorestados. A supressão da
mata ciliar pode provocar desequilíbrios ambientais e
alterações significativas na disponibilidade do recurso hídrico,
isso ocorre devido ao papel crucial desempenhado pela
vegetação na modulação do curso d’água (Pessoa, 2023). Em
Itabuna a redução dos corpos hídricos chegou a 68%, em 1985
existiam 148 ha, caiu para 47 ha em 2021 (Mapbiomas, 2023).
Apesar do relevante papel desempenhado pelas matas ciliares
e de sua proteção legal, essas formações vegetais têm sido
progressivamente impactadas pelas ações antrópicas, em face
dos interesses conflitantes relacionados ao uso e ocupação do
solo, resultando na supressão gradual dessas áreas ao longo
dos cursos d’água.
A ausência de vegetação nativa em regiões designadas
como APPs é um fenômeno denominado “uso conflitante”. As
Áreas de Preservação Ambiental são componentes essenciais
na estrutura de conservação ambiental dos recursos naturais,
como rios, lagos, encostas e outras áreas sensíveis. No

250
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
contexto da legislação ambiental brasileira, o termo uso
conflitante se refere ao desafio enfrentado quando atividades
humanas entram em conflito com as restrições legais
destinadas a proteger essas áreas (Santos; Santos, 2020).
Impactos na qualidade da água também são observados,
na medida que ocorre a poluição das fontes de água que
atravessam a APP, comprometendo o abastecimento de água
potável. Outro ponto a ressaltar são os riscos para a população,
já que a ocupação de APPs oferece riscos à segurança das
comunidades residentes nessas áreas, especialmente durante
eventos climáticos extremos, como inundações (Conserva,
2019).
Diversas soluções e estratégias de mitigação podem ser
adotadas no enfrentamento do uso conflitante em Apps. É
fundamental promover a conscientização sobre a importância
das Apps e os riscos associados ao seu uso inadequado,
envolvendo tanto a população quanto os setores produtivos,
bem como o reforço da fiscalização ambiental já que o
cumprimento das leis ambientais e a aplicação de sanções
desencorajam as ocupações ilegais. A regularização fundiária é
outra questão importante, à medida que propõe políticas que
conciliam a ocupação existente com a conservação ambiental.
A implementação de zoneamento ambiental pode auxiliar na
identificação de áreas adequadas para atividades econômicas
e outras que devem ser preservadas como APPs e, por último,
o planejamento territorial sustentável através do
desenvolvimento de planos diretores municipais que integram a
conservação de Áreas de Preservação Permanentes ao
planejamento urbano, evitando o uso conflitante (Henrique,
2018).
Gomes (2020), traz uma discussão abordando as
principais alterações introduzidas pelo novo Código Florestal

251
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
Brasileiro, ressaltando a urgente necessidade de uma revisão
legislativa, uma vez que as disposições do novo código são
percebidas como contrárias ao princípio da proibição
insuficiente, ao deixarem de estabelecer parâmetros mínimos
adequados para assegurar a proteção do direito fundamental a
um ambiente equilibrado ecologicamente. Contudo, quando se
trata da conformidade com a legislação ambiental,
particularmente no que se refere à salvaguarda das áreas de
cursos d'água em conformidade com os princípios consagrados
na Lei Florestal, constata-se que o município de Itabuna, Bahia,
apresenta uma realidade discrepante em relação ao arcabouço
normativo. Além da imperativa obrigação de preservação da
vegetação nativa em torno das nascentes, ao longo dos corpos
d'água e nas encostas, verifica-se uma falta de observância das
normativas (Silva, 2019).
Conforme relato da Prefeitura Municipal de Itabuna (PMI,
2002), a introdução das rodovias BR-101 e BA-262, bem como
vias vicinais que interconectam a cidade com outros municípios
da região, resultou na desativação de antigas rotas e trilhas
utilizadas por tropeiros. Esse desenvolvimento acarretou o
surgimento de áreas de ocupação informal ao longo das
margens do rio Cachoeira, devido à chegada de migrantes
oriundos da zona rural, exemplificadas por comunidades
subnormais como a Bananeira (Nogueira, 2011).
A ocupação desorganizada das margens do rio
apresenta, durante períodos de inundação, um quadro de
desastre público caracterizado por deslocamentos de
moradores, desabamento de residências, acúmulo de resíduos
e detritos, além do aumento nos casos de doenças de
veiculação hídrica. Esse ciclo se repete, já que após a
inundação, quando a água retorna aos níveis normais, a
população desalojada retorna às áreas previamente ocupadas,

252
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
ficando suscetível ao próximo evento de inundação. Nesse
contexto, o risco ambiental é iminente, mas não parece ser um
fator de impedimento para a permanência da população no local
(Júnior, 2021). Portanto torna-se premente a necessidade de
planejamento institucional para a gestão do espaço de risco,
incluindo o reconhecimento das áreas afetadas e a avaliação
dos impactos ambientais e sociais de desastres ambientais, a
exemplo das inundações. Um outro aspecto crucial nesse
processo é a regulamentação das áreas sujeitas a inundações,
com definições de zonas de risco por meio de representações
gráficas e o mapeamento torna-se um instrumento
indispensável no controle e na prevenção de desastres
ambientais (Travassos, 2019).
Sangali (2021) sustenta que a urbanização desordenada
dá origem a um dos principais desafios no contexto urbano
brasileiro: a exclusão urbanística. A população de baixa renda,
devido à especulação imobiliária e à falta de alternativas
viáveis, é compelida a buscar moradia em áreas menos
valorizadas pelos especuladores ou em regiões
ambientalmente sensíveis, onde o mercado imobiliário não
exerce influência. Um dos desdobramentos mais notórios desse
processo é a disseminação de moradias subnormais e
irregulares, juntamente com a ocupação de áreas classificadas
como de proteção permanente acarretando a escassez de
serviços de infraestrutura básica, aumento de desemprego e o
agravamento da violência nas áreas afetadas (Mello, 2022).
Uma nomenclatura frequentemente adotada para se referir a
esses assentamentos informais é aquela estabelecida na
metodologia do censo de 1991, conhecida como aglomerado
subnormal:
[...] é um conjunto constituído por unidades
habitacionais (barracos, casa...), ocupando ou

253
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
tendo ocupado até período recente, terrenos ou
propriedades alheias (pública ou particular)
dispostos, em geral, de forma desordenada e
densa e carente, em sua maioria, de serviços
públicos essenciais. O que caracteriza um
aglomerado subnormal é a ocupação
desordenada e que, quando da sua
implementação, não houvesse posse da terra ou
título de propriedade (IBGE, Censo, 1991).

As Comunidades ribeirinhas de Itabuna apresentam


variadas complexidades urbanas que afetam diretamente a
qualidade de vida de seus residentes. Entre os desafios,
destacam-se as recorrentes inundações e alagamentos
provocados pelas enchentes do rio Cachoeira, resultando em
impactos negativos, tanto ambientais quanto sociais, com o
aumento da incidência de doenças infecciosas zoonóticas e,
além disso, a ausência de pavimentação nas vias locais
contribui para a propagação de poeira, prejudicando o ambiente
urbano e a saúde dos moradores. Outra questão diz respeito à
gestão de resíduos sólidos, que enfrenta deficiências na coleta,
processamento e descarte adequado, resultando em acúmulo
de lixo em locais impróprios e a céu aberto que, em épocas de
inundações, são espalhados pela água por toda extensão do
bairro (Carvalho, 2020). No caso em estudo, verificou-se um
vasto histórico de eventos de inundações, com relatos desde o
início do século passado, dentre os quais destaca-se a cheia de
1967, considerada a mais destrutiva na região, gerando
grandes perdas econômicas para a cidade de Itabuna
A comunidade da Bananeira que está localizada no
bairro Jaçanã, do município de Itabuna (Figura 3). Essa
comunidade recebeu esse nome devido à larga presença de
árvores produtoras de bananas na região, que foram plantadas

254
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
na época em que a cidade era um importante polo produtor da
fruta. A comunidade é um dos espaços de ocupação mais
antigos da cidade de Itabuna, onde a presença humana é
identificada desde a segunda metade do século XIX. A
Bananeira está situada às margens do Rio Cachoeira,
localizada na antiga estrada de tropeiros que conectava o
arraial de Tabocas e Ferradas (Nogueira, 2011).

Figura 3. Localização da Comunidade da Bananeira.

Fonte: Autoria própria.

A ocupação do local onde a Comunidade da Bananeira


se encontra, ocorreu inicialmente para atender às necessidades
do transporte da produção cacaueira. As tropas precisavam de
locais seguros para o descanso dos tropeiros e de seus
animais. Assim, às margens do rio Cachoeira, surgiram várias

255
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
construções que atendiam às necessidades da lavoura, como
bodegas, estrebarias e armazéns (Santos; Santos, 2020). Com
o passar dos anos, a Comunidade da Bananeira experimentou
um contínuo crescimento urbanístico, tanto populacional como
em número de moradias, tornando-se uma importante área
residencial da cidade. A construção de novas casas e a
chegada de novas famílias contribuíram para o crescimento do
bairro, que hoje conta com uma população diversificada e ativa.
Segundo Nogueira (2011) os moradores recebem visitas
periódicas de agentes de saúde do município, que realizam
acompanhamento em suas residências. As principais
enfermidades identificadas estão associadas à sua proximidade
com o rio Cachoeira, incluindo doenças de pele,
esquistossomose, leptospirose, esquistossomose, alergias,
bem como dengue, zika, chikungunya e carências nutricionais.
Uma irregularidade notável é que as famílias cadastradas,
especialmente as mais carentes, não receberam as moradias,
demonstrando que a seleção de beneficiários não seguiu
critérios técnicos claros, e, segundo relatos, as moradias foram
entregues sem condições adequadas de habitação e com obras
inacabadas.
A regularização fundiária é outra questão importante, à
medida que propõe políticas que conciliam a ocupação
existente com a conservação ambiental. A implementação de
zoneamento ambiental pode auxiliar na identificação de áreas
adequadas para atividades econômicas e outras que devem ser
preservadas como APPs e, por último, o planejamento territorial
sustentável através do desenvolvimento de planos diretores
municipais que integram a conservação de Áreas de
Preservação Permanentes ao planejamento urbano, evitando o
uso conflitante (Henrique, 2018).

256
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
O mapeamento e a avaliação dos eventos de inundações
na área em questão permitiram identificar que o risco de
ocorrência de inundações está diretamente relacionado à
ocupação irregular e informal, resultante da expansão urbana
descontrolada, caracterizada pela inobservância e desrespeito
às normas urbanísticas de planejamento. Nesse aspecto é
importante ressaltar que a população de baixa renda é a mais
afetada, uma vez que ocupa as áreas de riscos a inundação em
períodos de estiagem e seca por falta de alternativas mais
seguras, decorrentes do planejamento deficiente e falta de
fiscalização urbana dos órgãos competentes.
As inundações ocorridas na área estudada têm gerado
situações de extrema calamidade, obrigando a saída da
população de suas residências, com importantes perdas
materiais e até mesmo humanas. Desse modo, sugere-se a
remoção dos moradores das áreas de maior risco, minimizando
a exposição à ação das águas. Além disso, é necessário
preservar a mata ciliar como área de proteção permanente,
evitando novas ocupações informais e irregulares nas margens
do rio Cachoeira, proporcionando maior segurança e melhor
qualidade de vida para a população local.

CONCLUSÕES
A análise dos usos e cobertura do solo de Itabuna do
período de 1985 e 2022 demonstrou que houve intensa
alteração diminuição de 26% da área de mata transformada em
pasto (41,5 km2) e em mosaico de usos (41,1 km2). O mosaico
de usos cresceu 1,5%, 77,8 Km2 de área de Cabruca 1,9 km2
foi convertida para mosaico de uso. A pastagem quase triplicou,
cresceu 297%, e junto com ele o efetivo bovino de 18.147
(2006) para 29.431 (2022). As Áreas de Preservação
Permanente de mata ciliar também tiveram redução significativa

257
DINÂMICA DA MUDANÇA DE USO E COBERTURA DA TERRA E
ADEQUAÇÃO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE ITABUNA (BA)
de 62 % da área convertidas em área de pasto, infraestrutura e
mosaico de usos. Neste período, o município apresentou
impacto expressivo ocasionado pela conversão do uso e
cobertura da terra, 49,9 Km2 de Áreas de Preservação
Permanente apresentam conflito em seu uso e, portanto,
deverão ser reflorestados.

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261
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
CAPÍTULO 14

MAPEAMENTO DE USO E COBERTURA DA


TERRA EM UM TRECHO DO RIO
JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL
Tomaz Alexandre da SILVA NETO 1
Joyce Shantala Fernandes de Oliveira SOUSA 1
Luzia Suerlange Araújo dos Santos MENDES 1
1
Doutorandos do Programa de Pós-graduação em Geologia, UFC;
tomaz.neto@alu.ufc.br

RESUMO: A identificação e classificação dos tipos de uso e


cobertura da Terra é um tema que tem recebido bastante
atenção nos últimos anos. Conhecer a distribuição espacial
dos tipos de uso em uma cidade é importante para o
planejamento e gestão adequados dos recursos naturais. Este
estudo tem como objetivo utilizara análise de imagens de
satélite por geoprocessamento associado a um algoritmo de
aprendizado de máquina para detecção e classificação do tipos
de uso e cobertura da terra em um trecho do Rio Jaguaribe,
localizado no município de Russas-CE. Para realizar essa
classificação utilizou-se o algoritmo Random Forest (RF). Cinco
classes de uso do solo foram utilizadas nesse estudo: Corpo
hídricos, Ocupação antrópica, Solo exposto, Área agrícola e
Vegetação. O classificador RF apresentou bons resultados de
classificação quando comparados com dados pré-existente do
projeto MapBiomas. De acordo com a classificação a região
estudada dapresenta aproximadamente 50% da sua área
classificada como vegetação. São aquelas áreas que ainda
estão parcialmente preservada e merecem uma maior atenção
quanto ao seu uso. Esses dados servem como ferramenta para
uma melhor gestão do território. Desta forma é possível priorizar
áreas que devem ser preservadas e evitar que se desenvolvam
atividades que posso causar sua degradação. A preservação

262
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
dessas áreas é de extrema importância para a manutenção dos
recursos hídricos da região.
Palavras-chave: Processamento em nuvem. Machine
Learning. Águas Superficiais.

INTRODUÇÃO
As ocupações nas proximidades de corpos hídricos
sempre foram uma constante ao longo da história,
principalmente em virtude da necessidade do uso da água tanto
para o consumo humano quanto para as mais diversas
atividades (agricultura, pecuária e a indústria).
Tucci e Bertoni (2003) aprofundam essa perspectiva,
destacando que os regimes de inundação remontam a eras
anteriores à presença do ser humano na Terra. Na verdade, as
primeiras comunidades, em tempos remotos, viam a
necessidade de estabelecerem-se nas proximidades de rios de
porte médio, aproveitando as áreas periodicamente inundadas
para diversos fins. Essa relação intrínseca entre o
desenvolvimento humano e a escolha estratégica de
assentamentos junto a cursos d'água revela a profunda
interdependência entre as civilizações e os fenômenos naturais,
evidenciando a capacidade adaptativa das sociedades ao longo
da história.
A relação entre os tipos de uso e cobertura da terra e a
manutenção dos recursos hídricos é extremamente importante
para a preservação dos recursos naturais. O solo, a vegetação
e a forma como o solo é utilizado desempenham um importante
papel na regulação do ciclo da água e na qualidade desses
recursos. A cobertura do solo (florestas, vegetação nativa e
práticas agrícolas sustentáveis) promove a infiltração da água
no solo evitando o escoamento superficial excessivo,

263
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
permitindo que a água penetre de forma gradual no solo,
recarregando os aquíferos subterrâneos.
O uso inadequado da terra, como desmatamento ou
práticas agrícolas intensivas, pode levar à erosão do solo. Isso
resulta na perda de camadas férteis do solo e no carreamento
de sedimentos para os cursos d’água, o que pode prejudicar a
qualidade da água. Geralmente essas atividades se
desenvolvem próximo a corpos hídricos nas chamadas áreas
de inundação.
A ocupação das áreas inundáveis deve ser orientada de
acordo com a legislação brasileira vigente, dentre elas as Leis
Federais nº 12.651/12 (Código Florestal) e nº 6.766/79
(Parcelamento do solo Urbano). De acordo com o Código
Florestal, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural
perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da
calha do leito regular são consideradas como Áreas de
Preservação Permanente (APP’s) (BRASIL, 2012).
Ao ocupar essas áreas junto às margens dos rios, o
homem enfrenta sérios problemas por conta do regime fluvial
dos corpos hídricos. A ocupação dessas zonas de acumulação
sazonal, que servem para o extravasamento natural das cheias,
se manifesta pela incorporação de terrenos das APP’s, gerando
impactos como desmatamento da mata ciliar, assoreamento
dos rios e contaminação das águas superficiais e subterrâneas.
Esses impactos são observados principalmente nos
núcleos urbanos predispostos a enchentes, acarretando
prejuízos sociais e danos materiais (ALMEIDA et al., 2020). A
ampliação das áreas urbanizadas, devido à construção de
regiões impermeabilizadas, repercute na capacidade de
infiltração das águas no solo, favorecendo o escoamento

264
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
superficial, a concentração das enxurradas e a ocorrência de
ondas de cheia.
O mapeamento de áreas inundáveis serve como base
para a tomada de decisões do poder público e têm o potencial
de minimizar os danos decorrentes deste fenômeno através de
medidas de ordem não-estruturais (modelagem, mapeamentos,
previsão e planejamento) e estruturais (obras hidráulicas). As
medidas não-estruturais são compostas por ações que visam
reduzir os efeitos das inundações e adaptar os habitantes das
áreas atingidas para uma melhor convivência com a ocorrência
periódica desses fenômenos. As ações de ordem estrutural têm
como objetivo minimizar o transbordamento dos cursos d’água
para que as atividades desenvolvidas na região não sejam
comprometidas diminuindo a magnitude dos episódios.
De acordo com IPT (2007), o gerenciamento dessas
áreas pode ser visto sob três enfoques:
a) Eliminação e/ou redução dos riscos: Tem como
objetivo reduzir o risco agindo sobre o próprio processo através
da implementação de medidas estruturais;
b) Evitar a formação das áreas de risco: Tem como
objetivo evitar o crescimento de áreas de risco através de um
controle efetivo da forma de uso do solo. Esse controle se dá
através de fiscalização e diretrizes técnicas que possibilitem a
ocupação de forma adequada;
c) Conviver com os problemas: Objetiva a convivência
com os riscos presentes através da elaboração e operação de
planos preventivos de defesa civil, envolvendo um conjunto de
ações coordenadas.
Desta forma, justifica-se a importância do mapeamento
das regiões onde ainda não há ocupação urbana significativa e
seus demais usos, mas que estão próximas de centros urbanos

265
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
em expansão. Diversas técnicas estão sendo utilizadas para
realizar esses estudos. Uma delas é através do uso de imagens
de satélite.
O avanço das técnicas de Sensoriamento Remoto e
Geoprocessamento, em conjunto com a evolução das técnicas
computacionais de processamento de imagens, abre uma nova
possibilidade para a identificação dos tipos de uso do solo com
a aquisição de dados periódicos dos locais mais inacessíveis.
Dentro do vasto conjunto de possibilidades
proporcionado pelas imagens de sensoriamento remoto
(incluindo índices e análises temporais), as técnicas de
geoprocessamento emergem como uma ferramenta robusta no
processamento de dados relacionados a aspectos
geomorfológicos, pedológicos, hidroclimatológicos e
meteorológicos. Essas técnicas desempenham um papel
crucial na análise de uma determinada área, validando estudos
e facilitando atividades como zoneamento agroecológico,
ecológico econômico e elaboração de cartas de
geopotencialidade (CREPANI, et al., 2001).
Este estudo tem como objetivo mapear e identificar as
diferentes categorias de uso da terra, como as áreas urbanas,
agrícolas, florestais e aquáticas, ao longo do trecho do Rio
Jaguaribe gerando informações cartográficas e dados que
possam ser utilizados como subsídios para o planejamento
territorial e o desenvolvimento de polítcias públicas voltadas
para a gestão sustentável da área estudada.

MATERIAIS E MÉTODO
A área de estudo encontra-se na sub-bacia do Baixo
Jaguaribe (Figura 1), precisamente no canal esquerdo do rio
Jaguaribe, bifurcação esquerda do rio, no Município de Russas.

266
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
Essa sub-bacia corresponde a uma extensa planície aluvial que
compreende uma área de 6.875 km². É responsável por um
escoamento médio anual de 42,89 hm³.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

O Rio Jaguaribe localiza-se na região leste do estado do


Ceará e representa a maior e mais importante reserva hídrica
cearense. Juntamente com seus tributários, os rios Banabuiú e
Salgado, formam as bacias do Alto, Médio e Baixo Jaguaribe.
Sua bacia hidrográfica abrange aproximadamente 80.000 km² e
compreende praticamente a metade da área do Estado. A bacia
do Baixo Jaguaribe tem aproximadamente 207 açudes, dentre
os quais destaca-se o açude Santo Antônio de Russas que é
monitorado pela COGERH.

267
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
O clima da região é classificado como tropical quente
semiárido, com pluviosidade média de 870 mm ao ano e
temperatura entre 26º C e 28º C. O bioma característico é a
caatinga e apresenta vegetações do tipo Floresta Mista Dicotilo-
Palmaceae, Caatinga arbustiva densa, Caatinga Arbustiva
aberta, Complexo Vegetacional da Zona Litorânea e Floresta
caducifólia espinhosa (IPECE, 2022).
Um vale de largura e extensão consideráveis é a
principal característica da área, que está situada no nível de 30
m de altitude, circuncidada por relevos mais elevados nas duas
margens. Uma vertente com inclinação bastante variável
separa o nível da planície fluvial com o front da cuesta da
chapada do Apodi. A área se encontra sobre uma planície com
relevo bastante plano na zona dos aluviões. A margem direita
do rio é limitada pelas rochas do grupo Apodi pertencentes as
formações Açu e Jandaíra. A margem esquerda do rio é limitada
pelos aluviões da Formação Faceira do Grupo Barreiras. Os
depósitos aluvionares constituem a maior parte do Baixo
Jaguaribe e são representados por sedimentos areno-argilosos
do Quaternário.
Marcada por um intenso processo de deposição sobre o
embasamento cristalino, a planície fluvial do rio Jaguaribe foi
formada pela interação dos processos geomorfológicos e
climáticos que ocorreram a partir do desgaste das rochas do
embasamento e pela ação das mudanças climáticas ocorridas
a partir do Cenozoico. O rio possui margens limitadas por baixos
níveis de terraços fluviais que são compostos por seixos de
composição quartzosa. Acima do terraço encontram-se as
várzeas que são regiões onde o uso agrícola é bastante intenso
no período chuvoso (IPECE, 2022).

268
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
Segundo Souza (2002), a semiaridez do Baixo Jaguaribe
conduziu ao desenvolvimento de uma vasta superfície de
aplainamento dada a partir de processos de morfogênese
responsáveis pela elaboração da depressão periférica do
Estado do Ceará.
O escoamento das águas é influenciado diretamente
pela contextualização climática da região, marcada por estar
inserida no domínio do clima semiárido. A principal
característica do domínio semiárido é a existência de dois
períodos definidos: um seco e longo, em média com oito meses
de duração e um chuvoso que é curto, irregular e distribui-se de
forma desigual no tempo e no espaço. A estação chuvosa
ocorre geralmente entre os meses de março a maio e a estação
seca é observada de setembro a dezembro (MENDES et al.,
2021).
Por se tratar de uma área de deposição, os aluviões do
Baixo Jaguaribe funcionam como bons reservatórios, drenando
a água, favorecendo maior armazenamento e menos
escoamento dado à boa porosidade e suficiente
permeabilidade. Sua recarga hídrica é assegurada pelas
precipitações pluviométricas e pela contribuição da rede de
drenagem no período de cheias. Portanto, predomina a
presença de água subterrânea em toda sua extensão.
O mosaico de solos que compõem o recorte espacial em
destaque pode ser definido pelos cambissolos, na chapada do
Apodi (Bacia Potiguar), solos aluviais e vertissolos na planície
fluvial que margeia as rochas cretáceas do grupo Apodi,
neossolos litólicos no limite entre o baixo e o médio Jaguaribe
e nos rebordos e patamares da bacia Potiguar.
A classificação foi realizada utilizando uma imagem do
satélite Sentinel-2 do dia 23/05/2021 (Figura 2), usando o

269
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
algoritmo Random Forest através da plataforma Google Earth
Engine.

Figura 2. Imagem Sentinel-2 do dia 23/05/2021 com as coletas


amostrais dos diferentes tipos de classe.

Fonte: Elaborado pelo autor.

As imagens Sentinel-2 fazer parte da constelação de


satélites do programa Copernicus, liderado pela Agência
Espacial Europeia (ESA). Esses satélites fornecem dados de
observações da Terra em alta resolução espacial (10 metros) e
temporal. Os satélites são equipados com sensores
multiespectrais que capturam imagens em várias bandas e tem
uma taxa de revisita muito alta. Essa imagens estão disponíveis
de forma gratuita facilitando a sua utilização em projetos de
pesquisa, monitoramento ambiental e desenvolvimento de
aplicativos.

270
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
A plataforma do Google Earth Engine (GEE) é uma
plataforma avançada de geoprocessamento espacial em
nuvem, que vem sendo bastante utilizada em trabalhos de
sensoriamento remoto em virtude da economia de tempo e de
recursos. O uso dessa ferramenta proporciona acesso a uma
vasta coleção de imagens de satélite de diversas partes do
mundo, sem custos, com atualização e expansão diária. Esta
capacidade de processamento instantâneo de milhares de
imagens permite o desenvolvimento de trabalhos de
observação da Terra (AMANI et. al, 2020).
Após a aquisição das imagens, elas foram pré-
processadas. Em seguida foram selecionadas áreas que
representassem as classes de interesse. Foi aplicado o
algoritmo Random Forest ao conjunto de treinamento. Ele é um
algoritmo de aprendizado de máquina que utiliza uma coleção
de árvores de decisão para realizar a classificação. Após a
classificação foi realizada a interpretação dos resultados

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O mapa de uso e cobertura do solo é uma ferramenta
essencial para o ordenamento do território que é uma das bases
do planejamento e da gestão ambiental, pois permite identificar
áreas de vegetação natural, que possuem maior capacidade de
absorção e retenção de água, assim como as áreas urbanas,
que apresentam menor capacidade de infiltração e maior
escoamento superficial, além de permitir o zoneamento de
áreas que devem ser preservadas.
A partir da Figura 3 e da Tabela 1, pode-se observar que
na área em questão existe o predomínio da classe vegetação
(regiões que ainda não foram utilizadas para agricultura ou

271
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
ocupação urbana). Essa classe foi a que apresentou maior
percentual representando quase 50% da área total.

Figura 3. Mapa de uso e cobertura da Terra da área de estudo.

Fonte: Elaborado pelo autor.

As regiões identificadas como áreas agrícolas


correspondem a 17,26% da área. Esse setor consome bastante
água, além de gerar outras formas de degradação dos recursos
hídricos, como o uso intensivo do solo, aliado a um manejo
inadequado, potencializando processo de erosão e

272
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
assoreamento dos cursos d’água, além do uso de agrotóxicos
de maneira irregular.

Tabela 1. Classes de uso e cobertura do solo e suas


respectivas áreas.
Uso Área (ha) Área (%)
Corpo hídricos 131,09 7,43
Ocupação antrópica 226,30 12,82
Solo exposto 237,81 13,47
Área agrícola 304,53 17,26
Vegetação 864,94 49,02
Total 1.764,50 100,00
Fonte: Elaborado pelo autor.

Observa-se que essa área é predominantemente rural,


pois as áreas urbanas não ocupam mais que 13% de toda
superfície. Apesar disso, percebe-se uma tendência à
expansão dessas áreas urbanas principalmente na margem
direita do rio Jaguaribe, no qual existe uma mancha urbana em
crescimento. Esse crescimento está associado à substituição
de ambientes naturais por ambientes construídos, onde realiza-
se o direcionamento das águas pluviais e dos esgotos para os
corpos hídricos adjacentes. Essa substituição diminui a
capacidade de infiltração dos solos, aumentando o escoamento
superficial, além disso, os corpos d’água tornam-se receptores
de grandes cargas de poluentes, o que compromete sua
qualidade.
É importante ressaltar que os tipos de uso do solo podem
influenciar diretamente na qualidade e na quantidade dos
recursos hídricos, seja pelo alto consumo de água associado às

273
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
culturas agrícolas, seja pela possível diminuição da precipitação
anual média ou até mesmo pela expansão da malha urbana
gerando a impermeabilização dos solos, a geração de efluentes
domésticos e sua descarga nos recursos hídricos.
Um dos problemas socioambientais de maior relevância
na área de estudo está relacionado à degradação e aos usos
irregulares das APP’s e das áreas inundáveis do rio Jaguaribe.
As formas de uso e cobertura do solo vêm
comprometendo de forma intensa a integridade das áreas de
APP’s, especialmente nas regiões dentro ou próximas a
ocupação antrópica, onde ficam evidentes os conflitos
existentes em relação a aplicação dos limites e preservação
dessas áreas. Esse problema decorre principalmente das
intervenções antrópicas e a falta de fiscalização ambiental.
Desta forma é importante o uso consciente dessas áreas para
que não comprometa ainda mais os recursos hídricos.
Após identificar os tipos de uso foi realizada uma
classificação para a definição do melhor tipo de gerenciamento
a ser adotado pelos órgãos responsáveis. Para os tipos de uso
Recursos Hídricos e Área Agrícola o tipo de gerenciamento a
ser adotado é o de Eliminação e/ou redução dos riscos. Dentro
desse tipo de uso são realizadas atividades econômicas
(aquicultura e cultivo) que geram impactos ambientais e
necessitam de fiscalização.
Para os usos solo exposto e vegetação, o ideal é evitar
a formação de novas áreas de risco. É necessária uma
fiscalização para evitar a extração ilegal e excessiva de areia
do leito do rio e o desmatamento da mata ciliar.
Por fim, para a classe Ocupação Antrópica é necessário
desenvolver a convivência com os riscos presentes através da

274
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
elaboração e operação de planos preventivos de defesa civil,
envolvendo um conjunto de ações coordenadas.
De acordo com Silva Neto et. al (2023) o uso de imagens
de satélite ajuda na análise do comportamento dos alvos ao
longo do tempo permitindo o monitoramento da dinâmica
sazonal e sua relação com os ecossistemas vizinhos. Além de
ser uma medida mitigadora permitindo o desenvolvimento de
ações que visem restaurar e conservar esses ambientes.

CONCLUSÕES
O mapa de uso e cobertura do solo é uma ferramenta
essencial para o planejamento e gestão ambiental, pois permite
identificar áreas de vegetação natural, que possuem maior
capacidade de absorção e retenção de água, assim como as
áreas urbanas, que apresentam menor capacidade de
infiltração e maior escoamento superficial.
A partir dessas informações é possível elaborar
estratégias de gestão territorial que visam minimizar os riscos
de ocorrência de eventos extremos, como ações de
conservação de áreas naturais, zoneamento urbano adequado,
instalação de sistema de drenagem e monitoramento das áreas
de risco.
A definição das áreas mais suscetíveis aos impactos teve
em vista a análise conjunta da classificação de uso e cobertura
do solo, análise visual das imagens Sentinel-2 e o levantamento
pontual de impactos ambientais identificados in loco.
Considerou-se como críticas as áreas degradadas adjacentes e
correspondentes a APP, onde a classificação digital apontou
conflitos com a legislação ambiental (Código Florestal): solo
exposto, ocupação antrópica, atividades de carcinicultura e
agricultura, onde deveria estar presente a mata ciliar.

275
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
Os principais impactos negativos de origem antrópica
identificados nas áreas de APP na área de estudo foram:
disposição de resíduos sólidos diversos (plásticos,
pneus, resíduos da construção civil e de demolição, latas de
tintas, papéis), presença de bovinos/equinos, lançamento de
efluentes domésticos e industriais, ausência de dissipadores
fluviais, assoreamento do rio e pesca.
A utilização da constelação Sentinel-2, que disponibiliza
dados de alta resolução temporal e espacial, permitiu uma
análise detalhada e abrangente das áreas inundáveis na região
do Baixo Jaguaribe. A integração dessa tecnologia com a
plataforma Google Earth Engine facilitou o processamento
eficiente das imagens, proporcionando uma visualização
dinâmica e interativa das áreas sujeitas a inundações. Esse
enfoque inovador não apenas otimizou o tempo de análise, mas
também permitiu atingir o objetivo proposto nesta pesquisa,
sem a utilização de um equipamento robusto.
Para além de seu papel crucial na elaboração de
políticas públicas, as técnicas de geoprocessamento podem
desempenhar um papel multifacetado ao possibilitar não
apenas a identificação de áreas prioritárias para a
implementação de práticas de conservação do solo e
recuperação de áreas degradadas, mas também ao se tornar
um instrumento estratégico para a gestão sustentável dos
recursos hídricos na região do Rio Jaguaribe.
Com a identificação precisa dos tipos de uso e cobertura,
é possível tomar medidas preventivas e de mitigação, como a
construção de infraestrutura para o controle de cheias, o
desenvolvimento de planos de evacuação e implementação de
programas de gestão integrada de recursos hídricos.

276
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
Além de contribuir na elaboração de políticas públicas
que visem por exemplo, uma identificação de áreas prioritárias
para a implementação de práticas de conservação do solo e de
recuperação de áreas degradadas pode ajudar a reduzir o
impacto das inundações e melhorar a qualidade da água do Rio
Jaguaribe.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Departamento de Geologia, o
Laboratório de Geoprocessamento do Ceará (GEOCE) e ao
Programa de Pós-Graduação em Geologia da Universidade
Federal do Ceará pela estrutura fornecida para a realização
deste trabalho, além do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMANI, M.; GHORBANIAN, A.; AHMADI, S. A. Google Earth Engine Cloud
Computing Platform for Remote Sensing Big Data Applications: A
Comprehensive Review. IEEE Journal of Selected Topics in Applied
Earth Observations and Remote Sensing, v. 13, p. 5326–5350, 2020.
ALMEIDA, L.S., COTA, A.L.S., RODRIGUES, D.F., 2020. Saneamento,
Arboviroses e Determinantes Ambientais: impactos na saúde urbana.
Revista Ciência & Saúde Coletiva 25(10). 3857-3868.
BRASIL. Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Institui o novo código
florestal brasileiro.
BRASIL. Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de Rios.
Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi
Ogura, organizadores – Brasília: Ministério das Cidades; Instituto de
Pesquisas Tecnológicas – IPT, 2007.BRASIL.
CREPANI, E., et al. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento
Aplicados ao Zoneamento Ecológico-Econômico e ao Ordenamento
Territorial. Instituto Espacial de Pesquisas Espaciais, São José dos
Campos, 2001. Disponível:
http://www.dsr.inpe.br/laf/sap/artigos/CrepaneEtAl.pdf. Acesso em
13/07/2023

277
MAPEAMENTO DE USO DE COBERTURA DA TERRA EM UM TRECHO
DO RIO JAGUARIBE-CE COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO E
GESTÃO AMBIENTAL
IPECE – Instituto de Pesquisa e Estratégia do Estado do Ceará. Perfil
básico municipal de Russas. 2017. Site: <www.ipece.gov.ce.br>. Acesso
em 12/07/2022
MENDES, L. S. A. S. et al. Diagnóstico da oferta hídrica do município de
Russas (CE): Uma análise descritiva como subsídio à gestão sustentável
dos recursos hídricos. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 14, n. 3,
p. 1612, 20 jul. 2021.
SILVA NETO, T. A. et al. Análise Preliminar da dinâmica das águas
superficiais na região do Baixo Jaguaribe a partir de séries temporais de
RADAR Sentinel-1. Anais XX Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
Remoto, Florianópolis, Brasil, 02-04 abril 2023, INPE, p. 1151-1154.
SOUZA, M. J. N., OLIVEIRA, V. P.V., GRANJEIRO, C. M. M. Análise
Geoambiental do Baixo Jaguaribe. In: O novo espaço da produção
globalizada. Org: Elias, D. Funece, Fortaleza – Ceará. 2002.
TUCCI, C.E.M.; BERTONI, J.C. (ORG). Inundações Urbanas da América
do Sul. Porto Alegre. Associação Brasileira de Recursos Hídricos, 2003.

278
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
CAPÍTULO 15

RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS


INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE
ENSINO
Luan Rodrigo Rocha de Oliveira 1
Dayana Melo Torres 2
1
Pós-graduandos do Mestrado de Uso Sustentável de Recursos Naturais (PPGUSRN), IFRN;
2
Orientadora/Professora do IFRN.
luan.roroo@gmail.com.br

RESUMO:A complexidade da gestão operacional de


abastecimento de água e esgotamento sanitário é notória em
instituições de grande porte e que não tiveram um planejamento
para a expansão desses serviços. O IFRN é uma instituição
pública federal de ensino fundada em 1967, sendo referência
em educação no Brasil. Dessa forma, objetiva-se avaliar
fragilidades e adequações, além de propor melhorias no
Sistema Predial de Esgotamento Sanitário (SPES) do campus
Natal-Central do IFRN (CNAT). Metodologicamente esta
pesquisa compreendeu inspeções in loco no SPES do campus,
sendo vistoriados ao todo 79 banheiros e dois coletores
prediais. Para orientação das inspeções, realizou-se um check-
list baseado na norma brasileira NBR 8160/1999. Percebeu-se
que o CNAT apresentou as seguintes fragilidades: ausência de
sifão e caixa sifonada; além da ausência de fecho hídrico dos
desconectores; e do sistema de ventilação, fatores esses que
provocam odores nas instalações. Outrossim, foi verificada a
ausência de grelhas nas caixas sifonadas e ralos; e a execução
de caixas de inspeção em terreno arenoso. Esses fatores
provocam o carregamento de objetos inapropriados para a rede
de esgotos, podendo causar assim obstruções no SPES.

279
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
Apesar de não ter sido detectado vazamentos significativos de
água, percebeu-se a ausência de pias automáticas. A
adequação desse aparelho sanitário reduziria o consumo e
desperdício de água, propiciando assim uma economia para os
gastos da instituição.
Palavras-chave: Instituições de Ensino. Instalações Sanitárias.
Gestão.

INTRODUÇÃO
O desenvolvimento econômico do último século
degradou e poluiu muito o meio ambiente e, com isso, ocorreu
uma utilização abusiva de recursos naturais, de forma
desenfreada. Em virtude dessas escolhas, é possível identificar
diversas consequências que este modelo de desenvolvimento
trouxe, se refletindo em graves problemas ambientais (Serafini;
Moura, 2020).
Dessa forma, o termo “desenvolvimento sustentável”
vem ganhando cada vez mais força nas últimas décadas para
coibir os impactos ambientais provenientes do desenvolvimento
desordenado, sendo tal temática abordada desde a
Conferência de Estocolmo em 1972; na Rio-92; e mais
recentemente na Agenda 2030 dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações
Unidas (ONU).
Nesse contexto da sustentabilidade, no ano de 2012,
tornou-se obrigatória para todos os órgãos públicos e entidades
da Administração Pública Federal (diretas, autárquicas,
fundacionais e empresas estatais dependentes) a implantação
do Plano de Gestão de Logística Sustentável (PLS). Entende-
se que esse plano objetiva reduzir impactos socioambientais
negativos, através de uma ferramenta de planejamento que os
órgãos e entidades devem elaborar para implantação de

280
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
práticas que incorporem a sustentabilidade e a racionalização
dos gastos públicos (Brasil, 2012).
A Instrução Normativa nº 10/2012 do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão prevê que as práticas de
sustentabilidade e racionalização do uso de materiais e serviços
deverão contemplar, minimamente, os temas; (a) material de
consumo compreendendo, pelo menos, papel para impressão,
copos descartáveis e cartuchos para impressão; (b) energia
elétrica; (c) água e esgoto; (d) coleta seletiva; (e) qualidade de
vida no ambiente de trabalho; (f) compras e contratações
sustentáveis compreendendo, pelo menos, obras,
equipamentos, serviços de vigilância, de limpeza, de telefonia,
de processamento de dados, de apoio administrativo e de
manutenção predial; e (g) deslocamento de pessoal,
considerando todos os meios de transporte, com foco na
redução de gastos e de emissões de substâncias poluentes
(Brasil, 2012).
Sabe-se que a adequação e a ampliação de ações
práticas sustentáveis são consideradas muito importantes em
todas as organizações públicas e, destacadamente, nas
instituições de ensino, cuja principal atenção concentra-se na
formação de pessoas que, ao apropriar-se de iniciativas
sustentáveis, podem disseminá-las em atividades rotineiras e
na sociedade (Dotto et al., 2019).
De acordo com Beuron et al. (2020), estudos sobre a
sustentabilidade nas universidades vêm sendo desenvolvidos
há décadas; porém no Brasil, este ainda é um processo recente,
tanto de estudos como de casos de universidades verdes,
inclusive considerando que este conceito é incipiente e ainda
não está bem consolidado.
Destaca-se, portanto, que pelo papel que desempenha,
as universidades têm a missão de fomentar o pensamento

281
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
crítico, incluindo a disseminação da consciência sustentável
nas suas atividades de ensino, pesquisa e extensão, bem como
na sua própria gestão operacional (Serafini; Moura, 2020).
Diante desse cenário, é possível identificar que é
complexa a gestão operacional do abastecimento de água e do
esgotamento sanitário em instituições de grande porte e que
não tiveram um planejamento para a expansão desses serviços
conforme as demandas estruturais foram sendo ampliadas.
Além disso, os custos com abastecimento e esgotamento
sanitário, devido ao grande número de consumidores, acabam
sendo bem onerosos e comprometem boa parte dos recursos
financeiros dessas instituições de ensino. Os custos com
abastecimento de água acabam sendo ainda maiores em
ambientes com grandes áreas irrigáveis.
Essa problemática está presente no Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN)
- Campus Natal-Central, o maior do estado em termos de
circulação de pessoas, pois possui o maior número de alunos e
de cursos ofertados, além de sua estrutura física ser a mais
antiga, inaugurada em 1967 (IFRN, 2021).
Numa instituição escolar, principalmente de grande
porte, é comum que haja reformas ou modificações, para tanto
é relevante que os projetos sejam mantidos atualizados e
verificada a necessidade de redimensionamento. Contudo, para
a prática destas ações é imprescindível que exista um corpo
técnico atuante, munido de informações minuciosas e
atualizadas, a fim de executar e/ou gerenciar os projetos,
construção, operação e manutenção dos sistemas
hidrossanitários (Nóbrega, 2021).

282
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
OBJETIVO
Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar fragilidades,
potencialidades e adequações nas instalações sanitárias do
campus Natal-Central do IFRN de acordo com normas técnicas
e legislações vigentes, conforme preconiza o ODS 09 -
Indústria, Inovação e Infraestrutura; além de indicar alternativas
operacionais visando o alcance da eficiência e sustentabilidade
das instalações sanitárias do campus, corroborando assim com
o ODS 03 - Boa Saúde e Bem-estar.

RELATO DA AÇÃO
O procedimento metodológico compreendeu um estudo
de caso no Campus-Central do IFRN (CNAT). A pesquisa
compreendeu inspeções in loco das instalações sanitárias do
campus. Essa etapa visou propor melhorias nas instalações
com base nas legislações e normas vigentes, a fim de garantir
a eficiência dessas instalações no campus.
Estas inspeções foram realizadas entre os dias 29/06 ao
dia 21/07 do ano de 2023, sendo vistoriados um total de 79
banheiros, entre eles masculinos, femininos e unissex; além da
inspeção dos dois ramais de esgoto existentes no campus, um
direcionado para a Avenida Salgado Filho e o outro lançando
seus efluentes na rede pública de esgotos da Avenida Nevaldo
Rocha. Tais visitas ocorreram primordialmente no final do turno
vespertino, o qual apresenta maior concentração populacional,
e o início do turno noturno, sendo vistoriados no horário de
maior pico e consequentemente maior uso e demanda das
instalações sanitárias.
Para orientação das visitas in loco, foi realizado um
check-list, baseado nas prerrogativas da norma vigente NBR
8160 - Sistemas prediais de esgoto sanitário - Projeto e
execução (ABNT, 1999).

283
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO

REFLEXÃO SOBRE A EXPERIÊNCIA


Nas inspeções de vistoria de campo, verificou-se a
existência de vazamentos de água e obstruções de esgoto; bem
como se havia ligação clandestina de água de chuva nos
banheiros. Assim, conforme Tabela 1 não foram verificados
vazamentos significativos de água (94%), nem obstruções de
esgoto (95%). Além disso, em quase totalidade das instalações
(97%) não se verificou ligação clandestina de água de chuva;
nem tampouco detectou-se contaminação direta de água
potável por meio de retrossifonagem ou conexão cruzada.

Tabela 1. Vazamentos, obstruções e água de chuva no SPES

Questionamento SIM NÃO

Há vazamento de água?
06% 94%
Há obstrução de esgoto?
05% 95%
Há presença de água de chuva
adentrando no sistema de esgotos nos 03% 97%
banheiros?
Fonte: Elaboração Própria (2023

Outro ponto observado durante a pesquisa foi a pressão


da água dos locais vistoriados. Constatou-se que em 90% dos
banheiros a pressão da água foi considerada boa; 8% regular;
e 2% ruim, fato este que impossibilitava o uso do ambiente,
conforme Figura 1.
Investigou-se também qual o estado de higienização dos
recintos e constatou-se que, conforme Figura 2, 75% dos
ambientes vistoriados foi considerado com “bom” estado de
higienização; enquanto 21% apresentaram “regular”
higienização e apenas 4% com estado de higienização
considerado “ruim”.

284
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO

Figura 1. Pressão da água nos aparelhos sanitários

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Figura 2. Estado de higienização dos banheiros

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Um ponto importante observado durante a pesquisa,


conforme norma NBR 8160 - Sistemas prediais de esgoto
sanitário - Projeto e execução (ABNT, 1999), é o comprimento
máximo dos ramais de descarga e de esgoto, caixas sifonadas
e caixas de esgoto, cuja distância máxima é de 10 metros. Essa
metragem deve ser adotada, uma vez que comprimentos

285
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
maiores podem dificultar a desobstrução das tubulações, bem
como dificultar e manutenção, em virtude da maior possibilidade
de acúmulo de sólidos grosseiros, os quais dificultam o fluxo
contínuo dos efluentes nas canalizações.
Dessa maneira, a Figura 3 mostra que 73% das
instalações sanitárias dos banheiros são inferiores a 10m; e que
27% delas apresentam canalizações superiores a 10m, o que
indica a necessidade da execução de caixas intermediárias
para facilitar a manutenção e inspeção dessas tubulações.

Figura 3. Comprimento dos ramais de descarga

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Das instalações vistoriadas, verificou-se a presença de


torneiras automáticas. Esses acessórios são de grande
importância na redução do consumo de água, uma vez que
limita o tempo de uso dos equipamentos e consequentemente
o seu desperdício.
Portanto, como mostra a Figura 4, constatou-se que 66%
dos banheiros vistoriados não apresentam torneiras/pias
automáticas; e 15% apresentam parcialmente, ou seja, nesses
ambientes, nem todas as pias são automatizadas, o que totaliza
81% dos banheiros sem torneiras automáticas.

286
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
Figura 4. Percentagem da automação das pias dos banheiros

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Nessa pesquisa analisou-se também o estado de


conservação do banheiro bem como seus aparelhos sanitários.
Adotou-se um estado de conservação “bom” quando o banheiro
e suas peças sanitárias estavam em bom estado de
conservação e garantiam a sua funcionalidade. Já o estado de
conservação “regular” foi considerado quando o banheiro ou
alguma peça sanitária estava danificada ou quebrada, mas
ainda assim garantiam a sua funcionalidade.
Já o estado de conservação foi considerado “ruim”
quando o banheiro ou as peças sanitárias estavam quebradas
e não garantiam a funcionalidade, impossibilitando assim seu
uso. Logo, a Figura 5 representa que 72% das instalações dos
banheiros são consideradas “boas”, enquanto 17% e 11%
apresentam, respectivamente, um estado de conservação
regular e ruim.

287
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
Figura 5. Percentagem do estado de conservação das peças
sanitárias

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Um outro ponto importante da pesquisa foi a detecção de


odor nos ambientes sanitários. Foi observado odor em 15% dos
ambientes, enquanto 85% deles não apresentaram mau cheiro,
com base na Figura 6. A constatação de odores está
diretamente ligada aos ramais de ventilação e aos
desconectores, elementos esses indispensáveis para o bom
funcionamento dos sistemas hidrossanitários.

Figura 6. Detecção de odor no SPES

Fonte: Pesquisa direta. 2023

288
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
Para conhecimento da origem do problema dos odores,
foram verificados a existência de caixas sifonadas e de sifões
no SPES. Conforme Figura 7, verificou-se que 72% dos
banheiros apresentam sifão e caixa sifonada; no entanto, 28%
das instalações ou apresentam apenas sifão (16%), ou apenas
caixa sifonada (8%), ou nem um nem outro (4%), fatores esses
que comprometem a funcionalidade dos desconectores.
Apesar da pesquisa ter apontado que 72% dos
ambientes apresentaram sifão e caixa sifonada, deve-se atentar
a existência do fecho hídrico para que assim as peças sanitárias
garantam sua funcionalidade. Dessa forma, constatou-se, como
mostra a Figura 8, que 52% dos ambientes não apresentaram
fecho hídrico recomendado por norma, que é de 5 cm; e que
7% das instalações apresentaram parcialmente, ou seja, nem
todas as peças sanitárias estavam em conformidade com a
norma.

Figura 7. Percentagem de aparelhos sem desconectores

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Com base no Uniform Plumbing Code (UPC, 2023) dos


Estados Unidos e do National Plumbing Code of Canada 2020
(NPC, 2019), preponderam nos respectivos países o uso do
sifão tubular rígido do tipo “P”, peça única, e de diâmetro

289
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
nominal (DN) de 50 mm. Além disso, nessas normativas
também existem alguns desconectores que têm seu uso
proibido nesses países, como o sifão do tipo S; Sifão Sino; e
Sifão com Coroa Ventilada.
Nesse cenário, recomenda-se a construção de um sifão
com peças e conexões disponíveis no Brasil, unidas por
adesivo de PVC para garantir resistência mecânica e vedação.
Esse sifão é autolimpante, portanto, a acessibilidade deve ser
garantida apenas para a passagem de cabos desentupidores
em uma eventual necessidade de desobstrução do sistema.
Solução semelhante já é frequentemente adotada em ramais de
descarga de máquinas de lavar roupa (Carvalho Júnior, 2019;
apud Moura; Piske; 2023).

Figura 8. Percentagem de ausência de fecho hídrico

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Com base em Moura e Piske (2023), no Brasil ainda são


elevados os registros de manifestações patológicas nas
construções, com destaque para o problema de vedação da
passagem de gases provenientes do sistema predial de esgoto
sanitário. Um desconector pode prevenir esse tipo de problema
patológico com potencial danoso para a saúde dos usuários.
Durante as visitas, observou-se também a existência de
grelhas nas caixas sifonadas destinadas para área de lavagem.

290
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
Verificou-se, então, que 19% das áreas vistoriadas ou não
tinham caixas sifonadas ou apresentavam suas grelhas
danificadas ou inexistentes (Figura 9), fato esse que facilita a
entrada de objetos estranhos dentro das tubulações e que
podem vir a causar obstruções no sistema.

Figura 9. Percentagem de presença de grelhas nas caixas


sifonadas

Fonte: Pesquisa direta. 2023

Outro dado analisado foi a presença de caixa sifonada


exclusiva para mictórios. Do total vistoriado, 83% dos banheiros
não apresentaram caixa sifonada para os mictórios, conforme
Figura 10.

Figura 10. Presença de caixa sifonada só para mictório

291
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
Fonte: Pesquisa direta. 2023

Por fim, outro ponto abordado na pesquisa foi com


relação a acessibilidade dos banheiros. Dos setores
analisados, a Figura 11 aponta que 54% deles não
apresentavam um ambiente totalmente acessível, com a
presença de corrimãos, bacias e peças sanitárias adaptadas e
portas com largura adequada conforme normativas vigentes
quanto à temática.

Figura 11. Acessibilidade nos banheiros

Fonte: Pesquisa direta. 2023

CONCLUSÕES
O prédio atual do IFRN foi construído em 1967, ano este
bem anterior ao da norma NBR 8160/1999 vigente. A partir de
então a instituição foi ampliando seus espaços físicos, todavia,
com a ausência de planejamentos e projetos de engenharia.
Por esse motivo, a visita in loco relatada neste trabalho
apresentou dificuldades, uma vez que a maioria das instalações
sanitárias são enterradas ou embutidas sob forros falsos, ou
seja, de difícil visualização, somadas com a ausência de
projetos hidrossanitários, fatores estes que limitam um
diagnóstico mais preciso e eficiente das instalações.

292
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
Destarte, recomenda-se a atualização das (poucas)
plantas gerais de água e esgoto existentes a no máximo 6
meses, e que elas sejam impressas e afixadas em locais de fácil
visualização e sinalização de modificações, para assim
posteriormente tais atualizações sejam repassadas ao arquivo
de desenho editável.
Percebeu-se com esta pesquisa que o campus Natal-
Central do IFRN apresentou os seguintes pontos fortes: não
apresentou vazamentos significativos de água, bem como
obstruções severas no sistema de esgoto; além de não
apresentar conexão cruzada direta. Também apresentou boa
pressão de água, o que propiciou a ausência de
retrossifonagem (conexão cruzada indireta).
Contudo, apesar de não ter sido detectado vazamento de
água, percebeu-se a ausência de pias automáticas nos
ambientes vistoriados. A instalação e substituição desse
aparelho sanitário com esse dispositivo reduziria o consumo e
desperdício de água, propiciando assim uma economia para os
gastos da instituição. Além disso, outro ponto que pode gerar
desperdício de água são os aparelhos sanitários desgastados
ou danificados.
Detectou-se também algumas fragilidades e pontos de
adequações, sendo eles os principais: ausência de sifão e caixa
sifonada nas instalações; além da ausência de fecho hídrico
dos desconectores; e do sistema de ventilação, fatores esses
que provocam odores nas instalações. Outrossim, foi verificada
a ausência de grelhas nas caixas sifonadas e ralos; e a
execução de caixas de inspeção em terreno arenoso. Esses
fatores provocam o carregamento de objetos inapropriados
para a rede de esgotos, como papel higiênico e areia, podendo
causar assim obstruções no sistema. Outro ponto detectado

293
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
durante a pesquisa foi a ausência parcial ou total de
acessibilidade.
Por fim, os pontos de fragilidades e adequações
encontrados no SPES foram aqueles que tiveram maior
destaque para a elaboração do Manual de Gestão Sustentável,
o qual foi pensado com uma linguagem clara, didática e objetiva
para atingir seu público-alvo, sendo eles os setores de
manutenção e engenharia do Campus Natal-Central do IFRN.
A elaboração desse Manual, juntamente com o Plano de Ação,
buscou selecionar medidas visando o alcance da eficiência e
sustentabilidade das instalações sanitárias da instituição.
A NBR 8160 - (Sistemas prediais de esgoto sanitário -
Projeto e execução) é uma norma brasileira criada no ano de
1999, ou seja, há mais de 20 anos. Assim como a NBR 5626 -
Sistemas prediais de água fria e água quente — Projeto,
execução, operação e manutenção (ABNT, 2020) foi atualizada
em 2020, a atualização da norma de esgotamento sanitário é
iminente. No entanto, a NBR 8160 é a norma brasileira vigente
quanto à temática de Sistemas Prediais de Esgotamento
Sanitário. Dessa forma, a atualização do Manual faz-se
necessária sempre que surgir uma nova atualização de
normativas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Sistemas prediais de esgoto sanitário - Projeto e execução) – Referências
– Elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 1999.
__________, NBR 5626: Sistemas prediais de água fria e água quente —
Projeto, execução, operação e manutenção – Referências – Elaboração.
Rio de Janeiro: ABNT, 2020.
BEURON, Thiago Antônio et al. Estratégias Sustentáveis nas
Universidades: um estudo de caso. 2020. 20 f. Curso de Administração,
Universidade Federal de Roraima, Roraima, 2020. Disponível em:
https://www.proquest.com/docview/2537718595. Acesso em: 19 jan. 2023.

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CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
BRASIL. (2012). Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação. Instrução Normativa
nº 10, de 12 de novembro de 2012. Estabelece regras para elaboração
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https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788521212164. Acesso
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DOTTO, Dalva Maria Righi; FELTRIN, Thiago Schirmer Feltrin;
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sustentabilidade ambiental na universidade federal do rio grande
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295
RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS INSTALAÇÕES SANITÁRIAS: ESTUDO DE
CASO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO
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Disponível em: https://epubs.iapmo.org/2024/UPC/Acesso em: 26 maio
2023.

296
SAÚDE E MEIO
AMBIENTE

297
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
CAPÍTULO 16

A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS


VERDES E O COMPORTAMENTO
ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
Joana Maria Soares dos SANTOS 1
Vanessa Souto PAULO 1
Ita de Oliveira e SILVA 2
Vanner Boere SOUZA 3
Amanda Ribeiro SANTOS 4
1
Mestranda em Saúde, Ambiente e Biodiversidade pela Universidade Federal do Sul da Bahia
-UFSB; 2 Doutora em Biologia Animal pela Universidade de Brasília – Brasil, Professora
Associada da UFSB; 3 Doutor em Neurociências e comportamento pela Universidade de São
Paulo, Professor Associado da UFSB; 4 Graduanda do Bacharelado Interdisciplinar em
Humanidades da UFSB.
joanamaria.fono@gmail.com

RESUMO: A dificuldade alimentar é uma terminologia ampla,


abrangendo condições orgânicas e questões comportamentais
para conceituar distúrbios alimentares pediátricos sob a ótica
de quatro domínios: médico, nutricional, psicossocial e de
habilidades alimentares. As influências ambientais e os serviços
ecossistêmicos estão relacionados com resultados positivos a
saúde e ao bem-estar humano e a interação entre esses
elementos evidencia os benefícios do contato das crianças com
a natureza. É fundamental explorar a conexão entre a infância
e o direito à natureza, já que a saúde das crianças depende de
ambientes saudáveis, tanto em casa quanto em espaços
públicos. A Saúde Única propõe uma abordagem
transdisciplinar onde, ao preservar os ecossistemas, é possível
promover o bem-estar de todos os seres vivos e buscar solução
para problemas multicausais. Sendo assim, este artigo busca
investigar através de uma revisão sistemática da literatura se a
exposição às áreas verdes oferece repercussão no
comportamento alimentar de crianças em idade pré-escolar. As

298
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
buscas nas bases de dados identificaram 367 estudos, dos
quais três tratavam de aspectos da nutrição infantil e
habilidades neuropsicológicas relacionados às áreas verdes. A
literatura sobre a relação entre espaços verdes e o
comportamento alimentar infantil é escassa. Os achados desta
revisão sistemática sugerem que esse é um problema
multifatorial, influenciado por condições geográficas, culturais,
sanitárias, socioeconômicas, estilo de vida e comportamentos
humanos nos ecossistemas.
Palavras-chave: Áreas verdes. Comportamento alimentar.
Desenvolvimento infantil. Saúde única.

INTRODUÇÃO
A dificuldade alimentar refere-se a qualquer obstáculo
que prejudique a capacidade dos pais ou cuidadores de
fornecer alimentos às crianças. É uma terminologia ampla, que
abrange condições orgânicas e questões comportamentais
para conceituar uma série de distúrbios alimentares pediátricos
e podem variar em gravidade, afetar o estado nutricional da
criança, o relacionamento entre pais e filhos e a interação social
com outros sujeitos (KERZNER et al., 2015; SHARP et al.,
2022).
Embora as dificuldades alimentares sejam uma
preocupação frequentemente expressa pelos pais, a falta de
consenso entre os especialistas quanto à nomenclatura e aos
instrumentos para diagnóstico prejudica a real compreensão da
dimensão do problema (KERZNER et al., 2015). Para
esclarecer a etiologia, as consequências, a epidemiologia,
estabelecer o tratamento adequado e promover o avanço da
pesquisa e da política de saúde para os distúrbios alimentares
pediátricos, estudiosos propõem uma conceituação abrangente
e multidisciplinar, que caracteriza a criança sob a ótica de
quatro domínios: médico, nutricional, psicossocial e de

299
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
habilidades alimentares (GODAY et al., 2019; SHARP et al.,
2022).
Quanto à saúde das crianças é imprescindível repensar
os modelos conceituais centrados na dicotomia saúde-doença,
uma vez que entender a causa do adoecimento sob o olhar
tradicional da medicina já não é suficiente para enfrentar os
desafios contemporâneos. As evidências científicas reforçam
que a alimentação, por exemplo, compreende muito mais que
aspectos nutricionais. Os significados e os valores simbólicos
conferidos pelos indivíduos aos alimentos e ao ato de comer
são socialmente construídos ao longo do desenvolvimento
infantil, resultado da interação entre fatores genéticos,
ambientais, culturais, de gênero, socioeconômicos e relacionais
(DANTAS; DA SILVA, 2019; BARROS, 2019).
As influências ambientais e os serviços ecossistêmicos
estão relacionados com resultados positivos para a saúde e o
bem-estar humano. Diversos estudos apontam que os
benefícios do contato das crianças com a natureza envolvem
desenvolvimento cognitivo, neuropsicomotor, emocional, social
e educacional, além de melhorar a força motora, o equilíbrio e
a coordenação e proporcionar interações sociais (COLLADO;
STAATS, 2016; BARROS, 2019).
Os espaços verdes desempenham um papel ecológico,
ao proporcionar atividades ao ar livre que beneficiam a saúde
física e mental. No entanto, devido à intensa urbanização, as
crianças estão enfrentando restrições no acesso a espaços
verdes como parques, jardins e florestas, o que limita suas
oportunidades de aprendizado e recreação. Nesse cenário,
observa-se aumento no risco de desenvolver doenças crônicas
e desencadear problemas de saúde relacionados ao
sedentarismo, baixa motricidade e doenças respiratórias. Esse

300
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
impacto é particularmente acentuado em crianças de famílias
com condições socioeconômicas desfavoráveis, pois elas têm
maior probabilidade de não ter acesso adequado a esses
ambientes naturais (GEMMELL et al., 2023; ISLAM;
JOHNSTON; SLY, 2020).
A Saúde Única surge como uma abordagem
transdisciplinar que reconhece a interconexão e a
interdependência entre a saúde humana, animal, vegetal e
ambiental. Sob essa perspectiva, a Saúde Única defende que
ao preservar os ecossistemas, é possível prevenir doenças,
promover o bem-estar de todos os seres vivos e buscar solução
para problemas multicausais (FAO et al., 2022). Isso inclui
considerar, na discussão dos processos de adoecimento, os
elementos sociais, comportamentais e pessoais que impactam
a saúde humana (DAVIS; SHARP, 2020).
Ao privar as crianças de contato com áreas verdes a
urbanização provoca efeitos adversos à saúde. A adoção do
termo não-médico “transtorno de déficit de natureza” surgiu
para alertar sobre os riscos associados a esse distanciamento
para a saúde e o desenvolvimento infantil (LOUV, 2016). É
vasta a literatura científica que examina os efeitos do contato
com a natureza sobre a saúde infantil, no entanto a provável
relação entre áreas verdes e comportamento alimentar de
crianças ainda é pouco explorada. Sendo assim, o objetivo
deste artigo é investigar se a exposição a áreas verdes oferece
repercussão no comportamento alimentar de crianças em idade
pré-escolar.

MATERIAIS E MÉTODO
Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, de
acordo com as diretrizes do Protocolo PRISMA (Preferred

301
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses).
Foi avaliada a pertinência de efetuar esta revisão sistemática
(RS) na base de dados Prospectve Register of Systematic
Reviews (PROSPERO), tendo sido obtidos zero resultados.
A pergunta norteadora da investigação foi: existe influência das
áreas verdes no comportamento alimentar de crianças em
idade pré-escolar?
A questão de investigação foi formulada usando a
ferramenta PICO. Assim, este estudo tem como população
crianças em idade pré-escolar; com exposição a áreas verdes,
avaliada através do índice de vegetação por diferença
normalizada (Normalized Difference Vegetation Index/ NDVI); e,
como desfecho, foi considerado o comportamento alimentar,
desde que associado a um dos quatro domínios dos transtornos
alimentares pediátricos (médico, nutricional, habilidade
alimentar, psicossocial).
A busca dos artigos que integraram esta revisão ocorreu
em setembro de 2023 nas seguintes bases de dados: Portal
Periódicos, Pubmed, Biblioteca Virtual em Saúde e
Sciencedirect. A estratégia de busca empregada foi o uso do
operador booleano “AND” e “OR” associados aos descritores
“Normalized difference vegetation index”, “Child health” e “Child
nutrition or feeding behavior”. A sequência utilizada nas bases
de dados foi (Normalized difference vegetation index) AND
(Child health) AND (Child nutrition or feeding behavior).
Como critérios de inclusão foram considerados trabalhos
originais, disponíveis na íntegra, em idioma inglês e português,
sem limite temporal, que abordem ao menos um dos quatro
domínios dos transtornos alimentares pediátricos (médico,
nutrição, habilidade alimentar, psicossocial) e estudos que
abordem o impacto das áreas verdes no desenvolvimento

302
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
infantil. Foram excluídos artigos de revisão de literatura, teses
e dissertações, resumos, editoriais, cartas ao editor, informes
técnicos, notas prévias, artigos repetidos, estudos cuja
população estudada fosse maior que 5 anos e 11 meses,
estudos que não tenham qualquer relação com áreas verdes e
estudos indisponíveis no formato online.
As etapas de seleção dos estudos foram realizadas por
dois pesquisadores (JMSS e VSP), de forma independente,
havendo ainda um terceiro pesquisador (IOS) para resolver os
eventuais casos discordantes.
Na etapa de identificação, foram encontrados 367
artigos, sendo a maior parte da base de dados Sciencedirect
(328), seguido por Portal Periódicos (19), Pubmed (17) e BVS
(6). Após a remoção dos artigos duplicados foram aplicados os
seguintes filtros nas bases de dados: pré-escolar, texto
completo disponível, artigo de revisão e idiomas em inglês ou
português. Optou-se por não adicionar o filtro de ano de
publicação, a fim de alcançar o maior número possível de
estudos.
Restaram então 35 estudos, nessa etapa foi feita uma
triagem primeiramente pelos títulos e resumos, sendo excluídos
aqueles que não mencionavam nutrição infantil, habilidades
neuropsicológicas e áreas verdes (32).
Ao final da seleção foram incluídos três estudos: dois da
Sciencedirect e um do Portal Periódicos. Após a leitura
completa deles, cada um foi avaliado na busca por informações
sobre os desfechos de interesse (influência das áreas verdes
no comportamento alimentar infantil) e os dados relevantes
para esta revisão sistemática foram sintetizados de forma
descritiva em uma tabela, contendo as seguintes informações:

303
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
autoria e ano de publicação, desenho do estudo, região do
estudo, população e resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na etapa de identificação, foram encontrados 367
artigos, restando 340 artigos após a remoção de duplicatas. 305
foram excluídos por não obedecerem aos critérios de
elegibilidade, após a aplicação dos filtros. Dos 35 estudos
restantes a triagem por título e resumo identificou 3 estudos
elegíveis, que foram incluídos e tabulados (Figura 1).

Dos três estudos incluídos nesta revisão sistemática, um


tratava de aspectos de nutrição infantil associados a provisão
de alimentos e mudanças climáticas em Bangladesh. Enquanto
os outros dois estudos tiveram como variáveis em comum, além
das áreas verdes, indicadores de poluição do ar, sendo o
desfecho do estudo realizado na Holanda sobrepeso e o
alteração nas habilidades neuropsicológicas no estudo
realizado na Espanha (Tabela 1).

304
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
FIGURA 1. Fluxograma do Preferred Reporting Items for
Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA).

FONTE: os autores.

305
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR

Tabela 1. Sistematização dos dados encontrados nos estudos


Desenho e
Referência região do População Resultados
estudo
Arnout van Coorte 4333 A medida que o NDVI
Soesbergen retrospectivo, crianças aumenta a probabilidade
et al, 2017. realizado em menores de de baixa estatura e
Bangladesh 5 anos que sofrimento por desnutrição
(Delta do fizeram parte diminuem. Resultados
GBM). do Inquérito sugerem que o NDVI pode
de Saúde ser considerado indicativo
Demográfica de variabilidade climática e
de períodos de baixa
Bangladesh. produção de alimentos,
mas é parcialmente eficaz
como indicador dos
impactos relacionados ao
clima na nutrição infantil no
delta do GBM.
Lizan D. Coorte 3680 A chance de sobrepeso
Bloemsma retrospectivo, participantes aumentou com o aumento
et al, 2019 realizado na da coorte da exposição ao NO2 e
Holanda holandesa diminuiu com o aumento
de da exposição ao espaço
nascimentos verde em uma graduação
PIAMA. A de 3000 m. Após a
amostra para regulação do NO2, as
a faixa etária associações de sobrepeso
de interesse com o espaço verde
para essa enfraqueceram. O ruído do
RS (2,5 - 3,5 trânsito não teve relação
anos) foi de com o excesso de peso ao
2735 longo da infância. Em
crianças. crianças residentes em
área urbana, morar mais
longe de um parque foi
associado a uma menor
chance de excesso de
peso.
Lucía Estudo 473 pares Observou-se associação
Iglésia- transversal, mãe-filho, da entre exposição pré-natal

306
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
Vázquez et realizado na província de à poluição do ar e função
al, 2022. Espanha. Tarragona, motora aos 40 dias de
de 2013 a vida. Encontrou-se uma
2017. tendência de associação
positiva entre exposição
pré-natal à poluição do ar e
função de linguagem.
Nenhuma associação foi
encontrada com a função
cognitiva aos 40 dias de
idade.
FONTE: elaboração dos autores.
LEGENDAS: GBM = Ganges Brahmaputra Meghna; NDVI = índice de
diferença normalizada; PIAMA = Prevention and Incidence of Asthma and
Mite Allergy; RS = REVISÃO SISTEMÁTICA.

O Índice de Diferença Normalizada (Normalized


Difference Vegetation Index - NDVI), um instrumento de
sensoriamento remoto, é empregado no mapeamento da
vegetação e do estresse vegetativo. Ao mensurar as mudanças
no uso e cobertura da terra, permite a compreensão dos
desdobramentos relacionados à perda e fragmentação de
ambientes naturais sobre a biodiversidade e os serviços
ecossistêmicos, tendo sido amplamente utilizado para avaliar
desfechos associados à saúde e a qualidade de vida (SANTOS;
HACON; NEVES, 2023). Os três estudos incluídos nesta
revisão relacionam aspectos da saúde infantil com áreas
verdes, avaliadas segundo o NDVI. Os valores de NDVI
variaram de −1 a +1, sendo que os valores aumentam de 0 para
1 à medida que a vegetação aumenta, enquanto os valores
negativos ou nulos indicam ausência de vegetação.
O único estudo desenvolvido fora do continente europeu,
de Arnout van Soesbergen e colaboradores (2017), usou o
NDVI como um indicador dos impactos da variabilidade
climática na disponibilidade de alimentos, especificamente para

307
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
mapear a produção de arroz, cultura básica em Bangladesh,
que responde por quase 70% da ingestão calórica diária em
relação às outras fontes. Esse estudo não tratava, portanto, da
frequência e do uso de espaços verdes. No entanto, não foi
excluído da seleção por oferecer informações sobre a saúde
infantil através de dois indicadores de desnutrição
extensamente utilizados nessa população: baixa estatura e
perda de peso.
Os resultados encontrados por van Soesbergen e
colaboradores (2017) destacam a importância de examinar a
vulnerabilidade e suscetibilidade das sociedades humanas em
relação às diversas formas de interação com os ecossistemas.
A produção de alimentos e as cadeias de abastecimento
equivalem a cerca de um terço das emissões de gases do efeito
estufa, consomem 70% da água doce e contribuem para a
degradação da biodiversidade. Essa cadeia se retroalimenta,
tendo em vista que a sazonalidade, os eventos climáticos
extremos e as mudanças climáticas podem perturbar a
produção de alimentos, com efeitos sobre a segurança
alimentar (NISSAN; SIMMONS; DOWNS, 2022).
Estudo realizado no condado de Kilifi, no Quênia, que
descreveu o efeito das mudanças climáticas que levam à seca
na região e as experiências das comunidades sobre a seca na
disponibilidade de alimentos, também encontrou altas taxas de
desnutrição infantil, além da falta de variedade de alimentos,
falha nos projetos de mitigação da seca e aumento dos níveis
de pobreza (CHERUIYOT et al., 2022).
Autores apontam que é pouco provável que somente as
intervenções nutricionais sejam capazes de melhorar a baixa
estatura e a desnutrição infantil. Como sugerido pela
abordagem da Saúde Única, as intervenções para enfrentar os

308
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
crescentes desafios globais de saúde devem ser multisetoriais
e multidisciplinares, visando a pobreza, a educação, a proteção
ambiental, as estratégias econômicas e políticas como etiologia
das iniquidades de saúde, a agricultura, os diversos contextos
sociais e culturais que perpassam a saúde e, por fim, a
associação das informações sobre as mudanças climáticas e
seus efeitos na provisão de alimentos em programas de
nutrição (DAVIS; SHARP, 2020; NISSAN; SIMMONS; DOWNS,
2022; TSCHIDA et al., 2021).
Os outros dois estudos incluídos nesta revisão
sistemática tiveram como variáveis comuns, além das áreas
verdes, indicadores de poluição do ar. Índices de NDVI mais
baixos foram relacionados à maior poluição atmosférica. Para
Bloemsma e colaboradores (2019), a chance de sobrepeso
aumentou com o aumento da exposição ao NO2 (dióxido de
nitrogênio) e houve uma tendência a diminuir com o aumento
da exposição aos espaços verdes em gradientes de até 3000
m. O estudo não apontou dados sobre se, como e com qual
frequência a população estudada utilizava as áreas verdes
localizadas ao redor das residências, mas os autores
hipotetizaram que a exposição aos espaços verdes poderia
estar associada ao peso das crianças por aumentar os níveis
de atividade física. Nesse sentido, um achado inesperado do
estudo foi de que a maior distância da residência das crianças
até o parque, definido como espaços verdes públicos mais
próximo à residência associou-se com uma chance
significativamente menor de excesso de peso (obesidade) em
crianças que residem em área urbana.
O sobrepeso ou a obesidade em crianças está associado
à interação entre fatores genéticos, comportamentais, de estilos
de vida e de exposições ambientais, além de colaborar com o

309
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
maior risco de comorbidades na idade adulta. Diferentes
estudos encontraram associação positiva entre área verde e
menor índice de massa corporal, enquanto os poluentes
atmosféricos podem mediar parcialmente a obesidade em
crianças (BAO et al., 2021; YANG et al., 2020). Outros autores,
ao avaliarem o papel mediador dos poluentes atmosféricos
relacionados ao tráfego rodoviário, na associação entre
exposição a espaços verdes e neurodesenvolvimento na
primeira infância, destacam que a exposição a altos níveis de
poluição do ar possui associação positiva com prejuízos no
desenvolvimento neuropsicomotor (LIAO et al., 2019).
Por fim, o terceiro estudo incluído nesta revisão,
desenvolvido por Vázquez e colaboradores (2022), também se
debruçou sobre os efeitos dos poluentes atmosféricos no
desenvolvimento neuropsicológico da criança. Os autores
encontraram que em áreas mais verdes os níveis de poluentes
do ar tendem a ser mais baixos. Mas, ainda que a exposição
pré-natal à poluição do ar seja baixa, a função motora de uma
criança pode ser afetada já ao nascimento, devido aos efeitos
neurotóxicos, estresse oxidativo e mudanças na expressão
gênica. Assim como nos demais artigos, não foi quantificado o
acesso ou o uso às áreas verdes, apenas os impactos
relacionados à sua redução frente à urbanização,
industrialização, aumento do tráfego e as altas concentrações
de poluentes no ar.
As evidências científicas concentram-se em sua maior
parte nos efeitos da qualidade do ar sobre a saúde humana. No
entanto, o risco tóxico da poluição do ar encontra fundamenta-
se na abordagem da Saúde Única, onde não é possível ignorar
os impactos gerados de forma indiscriminada, afetando a
disseminação de microrganismos, a produção agrícola, os

310
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
animais (não humanos e humanos) e os ecossistemas
(DESTOUMIEUX-GARZÓN et al., 2018; VON
SCHNEIDEMESSER et al., 2020).
Os efeitos prejudiciais dos contaminantes envolvem
alteração na fisiologia, nas respostas imunológicas e
endócrinas dos organismos, manifestando-se na forma de
doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade. A
investigação sobre como os seres humanos respondem aos
diversos fatores de estresse, como os poluentes atmosféricos,
juntamente com a compreensão dos mecanismos genéticos e
epigenéticos que sustentam sua capacidade de adaptação,
constitui uma área de pesquisa prioritária, de modo a prevenir
potenciais crises sanitárias que possam moldar o curso
evolutivo das espécies (DESTOUMIEUX-GARZÓN et al.,
2018).
Contudo, é possível atenuar esses impactos na saúde
humana, animal e ambiental mediante a regulamentação
rigorosa da emissão de poluentes atmosféricos e gases de
efeito estufa, associados às mudanças no uso da terra e, a
colaboração entre medicina humana, veterinária, ecologia,
evolução e as ciências ambientais (DESTOUMIEUX-GARZÓN
et al., 2018; VON SCHNEIDEMESSER et al., 2020).
As evidências científicas apontam para os benefícios dos
espaços verdes na saúde das crianças. No entanto, o
comportamento alimentar não é um campo explorado de forma
direta. Essa revisão sistemática revelou que os efeitos no
comportamento alimentar, em decorrência da ausência ou da
pouca interação com áreas verdes, podem ser identificados
através de prejuízos em outros domínios do desenvolvimento
integral das crianças, como as questões neuropsicomotoras.
As associações encontradas entre o desenvolvimento

311
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
infantil e variáveis como qualidade do ar, proximidade às áreas
verdes ou produção agrícola evidenciam a necessidade de um
debate integrativo e inclusivo para solucionar questões
complexas, que possuem etiologia multivariada. Os desfechos
de saúde evidenciados por essa revisão sistemática sugerem
que os processos de saúde e adoecimento em crianças em
idade pré-escolar são multifacetados, já que essa população
está inserida em ambientes diversos, e não obedecem apenas
a modelos biomédicos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as
crianças são particularmente vulneráveis aos riscos ambientais
específicos, incluindo poluição do ar, acesso à água,
saneamento e higiene inadequados, substâncias químicas e
resíduos perigosos, radiação e mudanças climáticas. Uma
estratégia global, que reflete o consenso de que um ambiente
saudável é essencial para o pleno exercício dos direitos
humanos fundamentais, é a Agenda 2030 das Nações Unidas.
Ao abordar as principais dimensões sociais, econômicas e
ambientais que afligem a sociedade, através dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), busca-se alcançar um
mundo mais sustentável, equânime e inclusivo, com a
erradicação da pobreza, preservação do meio ambiente e do
clima, para além da segurança para todas as formas de vida
(ONU, 2015).
Nesse sentido, os dados sistematizados para este artigo
indicam que a exposição às áreas verdes e a interação com a
natureza podem ter um impacto significativo na saúde e no
bem-estar das crianças, em consonância com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030. Nota-se a
escassez de estudos que abordam os benefícios
proporcionados pelos espaços verdes no desenvolvimento de

312
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
comportamentos alimentares saudáveis, não somente de forma
qualitativa, mas, principalmente, quantitativamente. Tais dados
são essenciais nas estratégias preventivas para diferentes
problemas de saúde que estão acometendo hoje crianças e
adolescentes.

CONCLUSÕES
As condições geográficas, culturais, sanitárias e
socioeconômicas determinam as experiências e exposições de
crianças nos variados ambientes urbanos, observando-se
ameaças à saúde, ao bem-estar e ao desenvolvimento dessa
população.
Variáveis como acesso aos espaços verdes, exposição
aos poluentes atmosféricos, variações climáticas e eventos
extremos atuando sobre a produção agrícola e provisão de
alimentos, para além da alta densidade populacional e do
tráfego rodoviário afetam de forma desproporcional crianças de
famílias de baixa renda e comunidades vulneráveis. A conexão
entre o processo de urbanização e o desenvolvimento infantil
requer ênfase especial. É fundamental explorar a conexão entre
a infância e o direito à natureza, uma vez que a saúde das
crianças depende de ambientes saudáveis, tanto em casa
quanto em espaços públicos.
Uma compreensão mais aprofundada das origens e
efeitos de determinadas atividades, estilos de vida e
comportamentos humanos nos ecossistemas é essencial para
uma interpretação precisa dos processos de saúde-doença.
Pesquisas na área podem orientar o desenvolvimento de
políticas públicas, bem como proporcionar prevenção de
problemas crônicos que afetam crianças em idade pré-escolar.

313
A RELAÇÃO ENTRE SAÚDE ÚNICA, ÁREAS VERDES E O
COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
ESCOLAR
É escassa a literatura sobre a relação de espaços verdes
sobre o comportamento alimentar das crianças. Os achados
desta revisão sistemática sugerem que esse é um problema
multifatorial: a saúde humana sofre com os efeitos das
atividades antropogênicas sobre a natureza e, portanto, a
compreensão dos processos de adoecimento deve ser
fortalecida com a abordagem proposta pela Saúde Única,
debatendo-se de forma mais abrangente os aspectos da saúde
humana, animal e ambiental, que são integrados e
indissociáveis.

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COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-
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315
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
CAPÍTULO 17

ANÁLISE DOS INCIDENTES


CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Gregório Neto Batista de SOUSA 1
Luanna Chácara PIRES 2
1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Biodiversidade da
Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Centro de Formação em Ciência da Saúde,
Campus em Teixeira de Freitas-BA,
gregsousabatista@gmail.com;
2
Zootecnista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Mestre em Zootecnia pela UFV e
Doutora em Zootecnia UFV. Professora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB),
luanna@ufsb.edu.br .

RESUMO: A compreensão dos impactos dos desastres


naturais é essencial para a eficaz gestão de riscos. No Brasil, a
base para as notificações de desastres realizadas pelos órgãos
é a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres.
Objetivou-se com este estudo realizar uma investigação dos
desastres e danos ambientais ocorridos na Bahia entre 2018 e
2022, analisando a incidência dos tipos mais comuns, a
extensão dos danos ambientais e os impactos
socioeconômicos. Trata-se de estudo que adota uma
abordagem observacional transversal, utilizando dados
secundários do Sistema Integrado de Informações sobre
Desastres. Os dados coletados foram organizados e
armazenados em planilhas eletrônicas. A análise descritiva dos
dados envolveu a extração das frequências para variáveis
qualitativas, enquanto para variáveis quantitativas foram
calculadas as medidas de tendência central e variabilidade. O
gerenciamento e as análises dos dados foram conduzidos por
meio dos softwares SAS Studio (SAS® University Edition) e R
(interface RStudio), adotando um nível de significância de 5%.
A ocorrência de desastres na Bahia no período, registrou uma

316
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
amostra total de 3.609 ocorrências de desastres nos
municípios. Os resultados mostram que os desastres naturais
do grupo climatológico lideram as ocorrências de desastres com
1.723 casos (47,74 %) no estado, que conclui o perfil do clima
seco na Bahia. A compreensão aprofundada dos fenômenos
climáticos e desastres naturais específicos à realidade do
Estado da Bahia é fundamental para o êxito de políticas de
redução de riscos.
Palavras-chave: Desastres naturais. Defesa civil. Gestão de
riscos

INTRODUÇÃO
A compreensão dos impactos dos desastres naturais é
essencial para a eficaz gestão de riscos e promoção da
resiliência das comunidades, visto que a apreensão abrangente
dos efeitos desencadeados por esses desastres emerge como
um fator crucial nesse processo. No Brasil, um país de vasta
extensão territorial e diversidade geográfica, os desastres
naturais têm se revelado como uma preocupação significativa.
Na análise da situação dos desastres naturais no Brasil e seus
riscos para a saúde, o "Atlas Brasileiro dos Desastres Naturais
1991-2012", publicado pelo Centro Universitário de Estudos e
Pesquisas Sobre Desastres da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC, 2013), emerge como um pilar crucial nesse
empreendimento.
Ao examinar à dimensão global, torna-se patente que
desastres naturais, oriundos de diversas gêneses, intensificam-
se tanto em frequência quanto em magnitude. Estes eventos
transpõem barreiras geográficas, revelando riscos marcantes
em todas as regiões do globo. Terremotos, ciclones tropicais,
tornados, vendavais, inundações, alagamentos, secas e
mesmo erupções vulcânicas perfilam-se como exemplos
concretos destes eventos que podem incutir ameaças de

317
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
proporções substanciais (Marcelino et al., 2006). A conjunção
destes fatores oferece uma visão multifacetada da interseção
complexa entre elementos naturais e componentes sociais que
forjam o cenário dos desastres no Brasil.
No período compreendido entre 1995 e 2019, o Brasil
experimentou um impacto econômico substancial causado por
desastres, totalizando um prejuízo avaliado em R$333,36
bilhões. A Região Nordeste se destacou nesse cenário,
registrando perdas no valor de R$140,6 bilhões, o que
corresponde a 42,2% do total (BRASIL, 2021). Dentro dos
limites territoriais dos 417 municípios do estado,
surpreendentes 392 municípios testemunharam algum tipo de
evento desastroso, conforme documentado no levantamento
realizado pela UFSC (2013). Os números elucidam uma
realidade complexa, onde 78% dos registros estão associados
a prolongadas estiagens e secas, enquanto 17% correspondem
a desastres hidrológicos, tais como enxurradas e inundações.
Outros 2% estão relacionados a alagamentos, 2% a incêndios
e 1% a diversas categorias de ocorrências.
Avaliar a importância relativa das variáveis climáticas é
particularmente importante do ponto de vista político, uma vez
que os extremos climáticos têm efeitos adversos sobre a saúde
da população e podem ser mitigados por intervenções de
políticas públicas. A identificação de áreas vulneráveis ao clima
pode ajudar a melhorar as ações de mitigação, como crédito
subsidiado para áreas dependentes de agricultura não irrigada
e maiores transferências para municípios em áreas sem
infraestrutura robusta para o clima (Andrade et al., 2021).
No Brasil, eventos climáticos extremos têm se
manifestado como um fenômeno recorrente, acarretando
perdas econômicas e sociais consideráveis. Ao longo da última
década (2010-2019), o país foi impactado por desastres

318
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
naturais notáveis associados a episódios extremos de chuvas.
Por exemplo, destacam-se as secas severas na Amazônia em
2010 e durante o período de 2010-2015, assim como no
Nordeste entre 2012-2017(Medeiros et al., 2022).
No Brasil, a base para as notificações de desastres
realizadas pelos órgãos de Proteção e Defesa Civil é a
Classificação e Codificação Brasileira de Desastres
(COBRADE). Originada a partir dos padrões estabelecidos pela
Organização das Nações Unidas, essa classificação adota uma
abordagem numérica para identificar os diferentes tipos de
desastres, aprimorando assim a comunicação referente aos
eventos ocorridos no país. A Cobrade efetua a categorização
dos desastres em duas grandes classes - desastres naturais e
desastres tecnológicos - sendo cada uma destas subdividida
em cinco grupos. Estes grupos são detalhados em subgrupos,
tipos e subtipos, com códigos específicos que permitem o
registro minucioso das informações acerca das ocorrências e a
possibilidade de solicitar recursos direcionados ao
enfrentamento dessas situações (BRASIL, 2020).
Segundo informações obtidas através de recursos
eletrônicos (S2ID, s.d.), o Sistema Integrado de Informações
sobre Desastres foi concebido em 2011 por meio da
colaboração entre a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil (SEDEC) – atualmente parte do Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR) – e o Centro Universitário de
Estudos e Pesquisas sobre Desastres da Universidade Federal
de Santa Catarina (CEPED/UFSC). O objetivo primordial dessa
iniciativa foi a disponibilização dos dados relativos aos
desastres, os quais são coletados e tratados. Ademais, esse
sistema desempenha um papel crucial como ferramenta
propícia para a produção de estudos abordando a temática da
gestão do risco.

319
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Dessa maneira, sustenta-se a hipótese de que uma
apreensão abrangente dos riscos em questão se origina da
identificação das regiões mais suscetíveis aos impactos
negativos dos eventos naturais. A confluência de fatores sociais
torna-se evidente na vulnerabilidade das comunidades, refletida
na fragilidade de várias localidades na Bahia. Ao mesmo tempo,
os fatores naturais manifestam-se por meio da emergente
fragilidade ambiental urbana, delimitada no contexto do sítio
urbano.
O propósito deste estudo foi realizar uma investigação
dos desastres e danos ambientais ocorridos na Bahia entre
2018 e 2022, analisando a incidência dos tipos mais comuns, a
extensão dos danos ambientais e os impactos
socioeconômicos. Buscou-se, assim, proporcionar uma
compreensão aprofundada da dinâmica dos desastres na
região e obter percepções para aprimorar estratégias futuras de
prevenção, preparação e resposta a emergências.

MATERIAIS E MÉTODOS

Tipo de Estudo
Este estudo adota uma abordagem observacional
transversal, utilizando dados secundários do Sistema Integrado
de Informações sobre Desastres para analisar o perfil das
notificações de desastres e danos ambientais ocorridos no
estado da Bahia, Brasil, no período de 2018 a 2022.

Área de Estudo
O Brasil compreende 5.570 municípios, abrigando uma
população estimada em 203.062.512 pessoas, de acordo com
o mais recente censo demográfico realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022.

320
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Localizada no nordeste brasileiro, a Bahia se destaca por seus
27 territórios de identidade e um total de 417 municípios.
Segundo o último censo demográfico do IBGE, também
realizado em 2022, esse estado conta com aproximadamente
14.136.417 habitantes, sendo o 4º maior estado do país (IBGE,
2022). Além disso, o Estado da Bahia, situado ao sul da região
Nordeste do Brasil, abrange uma extensão territorial de
564.760,429 km² e é subdividido em sete mesorregiões:
Nordeste Baiano (60 municípios), Centro Norte Baiano (80
municípios), Centro Sul Baiano (118 municípios), Vale São-
Franciscano da Bahia (27 municípios), Extremo Oeste Baiano
(24 municípios), Sul Baiano (70 municípios) e Metropolitana de
Salvador (38 municípios) (BAHIA, 2020).
Segundo a classificação climática de Thornthwaite para
o Estado da Bahia, o clima predominante no território é o
Semiárido, caracterizado por irregularidade na distribuição
pluviométrica ao longo do ano, com média pluviométrica anual
local entre 400 a 650 mm. As chuvas ocorrem de maneira
concentrada e irregular em 2 a 3 meses do ano, podendo
apresentar eventos intensos (120 a 130 mm). A temperatura
média anual é em torno de 24,0ºC, com máxima de 29,2ºC e
mínima de 20,2ºC, e o déficit hídrico varia entre -20 a -40%. O
período seco predomina, estendendo-se por cerca de 6 a 8
meses, podendo atingir até 11 meses nas áreas mais áridas
(EMBRAPA, 2021).

Fonte de Dados
Os dados utilizados nesta pesquisa foram obtidos por
meio da plataforma online (S2ID, s.d), que consolida registros
de desastres nos municípios do Estado da Bahia no período de
2018 a 2022. Esses dados, provenientes da referida plataforma,
são de domínio público e consistem em registros anônimos que

321
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
foram coletados e processados. Portanto, o estudo foi
conduzido no estado da Bahia, envolvendo a análise de dados
relativos a desastres e danos registrados nos municípios. As
variáveis utilizadas para caracterização incluíram, para cada
município, informações referentes ao ano, tipo de desastre
(categorizado de acordo com a classificação da COBRADE em
seis grupos: geológicos, hidrológicos, meteorológicos,
climatológicos, biológicos e tecnológicos), bem como os
desfechos humanos e materiais associados, além dos danos
ambientais.

Métodos
Os dados coletados foram organizados e armazenados
em planilhas eletrônicas. A análise descritiva dos dados
envolveu a extração das frequências para variáveis qualitativas,
enquanto para variáveis quantitativas foram calculadas as
medidas de tendência central e variabilidade. A investigação da
frequência de notificações de desastres na Bahia por ano
incluiu a análise da taxa de crescimento dessas ocorrências ao
longo do período estudado.
Quanto aos testes de associação, empregou-se o teste
de Qui-quadrado de Pearson (Х2) ou o teste exato de Fisher
(p<0,05) nos casos em que os valores esperados nas células
da tabela eram inferiores a cinco ou quando a soma do valor da
coluna era menor que vinte. Foram examinadas associações
entre o tipo de ocorrência de desastres por grupos e o ano
avaliado (2018-2022), assim como entre as classes dos danos
ambientais (poluição ou contaminação da água e do ar,
poluição ou contaminação do solo e diminuição ou exaurimento
hídrico) e a ocorrência dos principais desastres naturais
registrados no Estado da Bahia. Além disso, foi conduzida uma
análise de regressão linear simples para avaliar a tendência

322
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
entre desastres climatológicos e meteorológicos e o período
analisado. O gerenciamento e as análises dos dados foram
conduzidos por meio dos softwares SAS Studio (SAS®
University Edition) e R (interface RStudio), adotando um nível
de significância de 5%.
Esta pesquisa atende aos critérios e normas éticas,
dispensando integralmente a necessidade de aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Isso ocorre porque a
construção deste estudo envolve exclusivamente o uso de
dados secundários de domínio público.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme evidenciado na Tabela 1, a incidência de
desastres no Estado da Bahia, durante o período de 2018 a
2022, categorizados segundo a COBRADE por grupos,
alcançou um total de 3.609 ocorrências nos municípios baianos.
O ano de 2020 destacou-se significativamente, registrando
33,53% dos casos (1.210), seguido por 2021 com 28,46%
(1.027 casos), 2018 com 14,71% (531 casos), 2019 com
13,36% (482 casos) e, por fim, o ano de 2022 com 9,95% (359
casos).
Na análise dos grupos de ocorrência de desastres,
constatou-se que os desastres do grupo climatológico
apresentaram a maior incidência, representando 47,74% (1.723
casos), com uma média de 344,60±125,79 e uma dispersão
relativa de 36,50%. É relevante observar que os anos de 2018
e 2019 registraram as maiores ocorrências dentro desse grupo.
Em segundo lugar, os desastres do grupo biológico
representaram 35,69% (1.288 casos) do total de ocorrências,
com um valor médio de 257,60±379,96. Destaca-se que os
anos de 2020 e 2021 contribuíram de maneira significativa para

323
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
esse grupo, totalizando, respectivamente, 64,76% (847 casos)
e 34,01% (438 casos) desse montante.
A identificação dos grupos climatológico e biológico
como os mais incidentes destaca a complexidade dos desastres
na Bahia, demandando intervenções específicas para cada
categoria. Isso inclui o estímulo à resiliência comunitária e a
implementação de políticas de adaptação eficazes. Em
consonância com os resultados encontrados neste estudo,
Freitas et al. (2023) também observaram um ligeiro aumento
nas ocorrências de desastres no Brasil de 2013 a 2019. No
entanto, um aumento expressivo no número de desastres
naturais ocorreu em 2020 e 2021, possivelmente relacionado
ao elevado número de casos de Covid-19 notificados no Brasil
durante a pandemia, considerado um desastre biológico. Este
resultado está alinhado com a incidência apresentada na
Tabela 1 do estudo. A correlação entre eventos climatológicos
e biológicos, conforme evidenciado nesta pesquisa, destaca a
necessidade de estratégias de gestão integradas para lidar com
a complexidade desses desafios emergentes.
Estes resultados confirmam as descobertas de Freitas et
al. (2023), os quais destacaram que os desastres climatológicos
sobressaíram-se como os mais frequentes entre todos os
desastres naturais no Brasil, seguidos pelos de natureza
biológica, meteorológica e hidrológica. A análise do território
nacional revelou diferenças significativas nos tipos de desastres
entre as regiões geográficas. Nesse contexto, os desastres
meteorológicos e hidrológicos, quando considerados em
conjunto, apresentaram maior incidência nas regiões Sul e
Sudeste. Por outro lado, os desastres climatológicos
predominaram na Região Nordeste.

324
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Tabela 1. Distribuição dos Desastres Naturais na Bahia por
Grupos (2018-2022) conforme a Classificação da COBRADE
Variável Geológicos Hidrológicos Meteorológicos Climatológico Biológico Tecnológico Total p-value*

Ano n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)

2018 5 (17,24) 22 (22,45) 13 (2,94) 490 (28,44) 1 (0,08) 0 (0,00) 531 (14,17%) <0.0001

2019 4 (13,79) 9 (9,18) 8 (1,81) 438 (25,42) 0 (0,00) 23 (79,31) 482 (13,36)

2020 6 (20,69) 10 (10,20) 36 (8,14) 311 (18,05) 847 (65,76) 0 (0,00) 1210 (33,53)

2021 6 (20,69) 37 (37,76) 224 (50,68) 317 (18,4) 438 (34,01) 5 (17,24) 1027 (28,46)

2022 8 (27,59) 20 (20,41) 161 (36,43) 167 (9,69) 2 (0,16) 1 (3,45) 359 (9,95)

Total 29 (0,80) 98 (2,72) 442 (12,25) 1723 (47,74) 1288 (35,69) 29 (0,80) 3609 (100,00)

*Teste Exato de Fisher, n (amostra)


Fonte: Elaboração pelos autores com base nos dados obtidos no (S2ID)
Sistema Integrado de Informações sobre Desastres

Conforme destacado por Andrade et al. (2021), a menor


disponibilidade hídrica no Nordeste do Brasil, especialmente no
semiárido, está sujeita a variações perceptíveis nas
precipitações de ano para ano, oscilando entre períodos
extremamente secos e chuvosos. A presença recorrente de
secas faz parte da variabilidade climática natural da região,
impactando a população, principalmente os habitantes mais
vulneráveis em áreas semiáridas. A constante escassez hídrica
tem repercussões negativas no setor agrícola, aumentando os
riscos de insegurança alimentar e agravando as condições
socioeconômicas, dada a alta dependência da região em
relação à agricultura familiar. No período de 2012 a 2016, a
região experimentou sua mais severa seca das últimas cinco
décadas, afetando 83% das cidades. Essas constatações
corroboram com os resultados desta pesquisa, uma vez que
observa-se que a seca se manifesta de maneira persistente em
diversos períodos ao longo do ano, aumentando a incidência de
desastres.

325
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Na abordagem das secas, o desastre emerge da
diminuição dos índices pluviométricos. Contudo, a
transformação desse fenômeno natural em uma ameaça para a
população não está unicamente atrelada ao evento em si, mas
sim a um contexto específico, onde há uma população exposta,
em situação de vulnerabilidade, e com uma capacidade de
resposta insuficiente (por exemplo, ausência de políticas
públicas específicas e direcionadas) diante desses eventos
(Freitas, 2021). A definição de termos como seca e estiagem
apresenta divergências e convergências, muitas vezes gerando
confusão. As estiagens surgem da redução das precipitações
pluviométricas, do atraso nos períodos chuvosos ou da
ausência de chuvas previstas por 15 dias ou mais, resultando
na perda de umidade do solo superior à sua reposição (Binda;
Verdum, 2020).
No entanto, é fundamental ressaltar que, para
compreender plenamente o impacto destes eventos, é
necessário considerar não apenas os aspectos meteorológicos,
mas também os contextos sociais, econômicos e políticos que
contribuem para a vulnerabilidade das comunidades frente às
secas e estiagens. A falta de políticas públicas específicas e a
limitada capacidade de resposta exacerbam os efeitos desses
eventos climáticos, evidenciando a necessidade de abordagens
integradas para mitigar os impactos adversos.
Ao longo de todo o período analisado (Figura 1), foi
observada uma taxa de crescimento negativa de 32,39% no
número de casos de desastres no estado da Bahia. Na análise
da taxa de crescimento ao longo dos anos, verificou-se um
aumento significativo de 151,04% entre 2019 e 2020, seguido
por declínios nos períodos de 2020-2021 (-15,12%) e 2021-
2022 (-65,04%). Essa significativa variação ao longo do
intervalo de tempo em questão pode ser atribuída a diversos

326
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
fatores que influenciaram a tendência observada, evidenciando
a complexidade e dinâmica dos padrões de ocorrência de
desastres naturais no estado da Bahia. No período pandêmico
(2020 a 2022), observou-se que 71,93% dos desastres
ocorreram, apresentando algumas variações intrigantes. Entre
2019 e 2020, notou-se um acentuado aumento na taxa de
crescimento, atingindo 151,04%. No entanto, ocorreram quedas
subsequentes, como já mencionado. A taxa de crescimento
durante o período pandêmico, em comparação com o não
pandêmico, foi de 156,27%.
A Figura 2 evidenciou o expressivo número de registros
de desastres naturais do grupo climatológico anualmente,
apresentando valores consideráveis em todos os anos. As
linhas de tendência incorporadas na figura ilustram e destacam
a consistência das trajetórias dos desastres climatológicos e
meteorológicos de 2018 a 2022 na Bahia.

Figura 1. Taxa de crescimento (%) na ocorrência dos Principais


Desastres Naturais Registrados no Estado da Bahia (2018-
2022).

Fonte: Elaboração pelos autores com base nos dados obtidos no (S2ID)
Sistema Integrado de Informações sobre Desastres

327
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Figura 2. Ocorrência Anual de Principais Desastres Naturais
Registrados no Estado da Bahia, (2018-2022)

Fonte: Elaboração pelos autores com base nos dados obtidos no (S2ID)
Sistema Integrado de Informações sobre Desastres

A análise de regressão linear simples para desastres


climatológicos revela um padrão notável na evolução do
número de casos ao longo do tempo (Figura 2). A equação de
regressão apresenta um coeficiente de inclinação de -76,70,
indicando uma tendência decrescente consistente a partir de
2020. O coeficiente de determinação (R²) desse modelo foi de
0,9294, o que significa que 93% da variação no número de
casos pode ser explicada pelo ano de ocorrência. Esse valor de
R² destaca a robustez do modelo na descrição e previsão da
evolução dos casos. A trajetória decrescente observada reflete
a eficácia das medidas e estratégias implementadas, sugerindo
uma contribuição substancial para a redução da desastres
climatológicos. Esses resultados fornecem insights valiosos
para orientar políticas de segurança pública e programas de
controle de desastres, enfatizando a importância de manter e
aprimorar as estratégias eficazes ao longo do tempo.

328
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
A análise de regressão linear simples para desastres
meteorológicos revela um padrão distinto do mencionado
anteriormente na evolução do número de casos ao longo do
tempo (Figura 2). A equação de regressão apresenta um
coeficiente de inclinação de 51,20, indicando uma tendência
crescente consistente em todo o período avaliado. O coeficiente
de determinação (R²) desse modelo foi de 0,68, o que significa
que 68% da variação no número de casos pode ser explicada
pelo ano de ocorrência. A trajetória ascendente observada
ressalta a importância de implementar medidas e estratégias
eficazes para reduzir os desastres meteorológicos,
aprimorando assim as estratégias ao longo do tempo.
É crucial notar que, de acordo com algumas projeções
de emissões futuras de gases de efeito estufa, a probabilidade
de eventos complexos pode aumentar. O tipo e o caráter dos
desastres naturais podem mudar, por exemplo, inundações e
secas que ocorrem na mesma região, exigindo que a população
esteja preparada para eventos extremos complexos
(Grigorieva; Livenets, 2022). Essa perspectiva destaca a
necessidade urgente de adaptação e inovação nas estratégias
de gestão de desastres, considerando a crescente
complexidade e interconexão dos eventos
A seca não se configura como um desastre apenas
devido a questões relacionadas à pluviometria, mas também
em função de diversos processos sociais, econômicos e
políticos associados às condições de vulnerabilidade social e
ambiental do território. Essa compreensão ampliada dos fatores
desencadeantes ressalta a complexidade da relação entre
eventos climáticos e seus impactos sobre as comunidades. No
âmbito da saúde pública, destaca-se a importância de analisar
os riscos decorrentes da exposição das pessoas às secas e
estiagens, considerando seus potenciais impactos (Freitas,

329
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
2021). Essa abordagem mais abrangente reconhece que os
desdobramentos de eventos climáticos extremos vão além das
variáveis meteorológicas, permeando aspectos cruciais como
saúde, segurança alimentar e bem-estar social. Dessa forma,
estratégias de gestão de desastres devem integrar medidas
específicas para enfrentar os desafios multifacetados
apresentados por eventos prolongados de seca, visando mitigar
os impactos sobre as comunidades vulneráveis.
De acordo com o perfil dos desfechos epidemiológicos
humanos e materiais dos desastres ocorridos nos municípios
da Bahia no período de 2018 a 2022, a análise estatística
descritiva, considerando um intervalo de cinco anos para os
desfechos humanos, atingiu o máximo de 2.676.606 de
desfechos humanos por outros afetados. O termo "outros"
abrange aquelas vitimadas devido à exposição a algum
desastre (Tabela 2). Observa-se que o presente trabalho
destaca uma quantidade significativa de desfechos humanos
relacionados a eventos adversos na Bahia durante o período
analisado. Essa abordagem estatística permite uma
compreensão mais aprofundada do impacto sobre a população,
fornecendo dados valiosos para a implementação de medidas
preventivas e estratégias de gestão de riscos na região.
O desfecho humano "mortos" atingiu o valor máximo de
208, com uma média de 0,1±3,68. Conclui-se que os valores de
mortos não estão simetricamente distribuídos, evidenciado pelo
alto coeficiente de variação, indicando uma notável dispersão
dos valores. Outro dado evidenciado pela Tabela 2 refere-se
aos desfechos materiais, com destaque para as unidades
habitacionais danificadas, atingindo o valor máximo de 10.890.
Esses números inferem os impactos econômicos provocados
pelos desastres naturais do grupo meteorológico.

330
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Resultados alarmantes também foram encontrados no
estudo conduzido por Freitas et al. (2023), que analisaram os
valores absolutos dos desfechos de saúde da população
brasileira devido à exposição a desastres no período de 2013 a
2021. Os desastres naturais emergiram como causadores de
danos humanos mais significativos do que os tecnológicos, uma
situação esperada dada a elevada incidência de desastres
naturais no Brasil. Notavelmente, os desastres biológicos se
destacaram, apresentando os maiores números de mortes
(321.111), feridos (208.720) e doentes (7.041.099). Este grupo
foi seguido pelos desastres climatológicos em relação ao
número de mortos (28.408), feridos (14.967) e doentes
(469.133). Foi possível observar que os desastres naturais do
grupo hidrológico resultaram nos maiores números de
desabrigados (410.849) e deslocados (1.562.852). Por fim, os
maiores números para os demais afetados (216.163.965) estão
associados aos desastres naturais do grupo climatológico.
Os achados destacam a importância crucial da análise
de dados dos desfechos causados pelos desastres, com
especial ênfase nos números significativos de desabrigados e
desalojados. A prevalência dos danos causados por desastres
naturais, em particular pelos desastres biológicos e
climatológicos, ressalta a necessidade urgente de estratégias
de prevenção, preparação e resposta a emergências. Essa
análise fornece uma base sólida para o desenvolvimento de
políticas públicas eficazes e direcionadas, visando enfrentar os
desafios apresentados pelos desastres naturais no contexto
brasileiro.

331
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Tabela 2. Perfil dos Desfechos epidemiológicos humanos e
materiais dos 3.609 desastres informados dos municípios da
Bahia, período 2018-2022
Variável Média Máximo Desvio-Padrão CV

DH_Mortos 0,10 208 3,68 3510,05


DH_Feridos 0,27 236 5,03 1890,15
DH_Enfermos 16,06 9.200 242,70 1511,47
DH_Desabrigados 19,96 5.000 180,19 902,55
DH_Desalojados 69,56 11.728 531,43 763,98
DH_Desaparecidos 0,38 954 16,95 4414,85
DH_Outros Afetados 13.139,36 2.676.606 111.253,60 846,72
DH (desfecho humanos).
Fonte: Elaboração pelos autores com base nos dados obtidos no (S2ID)
Sistema Integrado de Informações sobre Desastres

Os danos ambientais estão intrinsicamente ligados ao


processo de degradação da natureza, podendo variar entre
reversíveis e irreversíveis. Uma avaliação criteriosa do
percentual da população afetada pelos danos ambientais, tais
como contaminação da água, solo e ar, provenientes de
desastres, se mostra essencial numa escala que varia de 0 a
5%, 5 a 10%, 10 a 20% e acima de 20%. No tocante aos danos
ambientais (DA) resultantes da poluição ou contaminação da
água no Estado da Bahia no período de 2018 a 2022 (conforme
detalhado na Tabela 3), observou-se que, dos 307 casos
registrados, 53,09% atingiram uma escala de mais de 20% de
danos, seguido pela faixa de 10% a 20% (23,78%),
caracterizando um Estado de Calamidade Pública (ECP).
Entre os grupos de danos ambientais relacionados à
poluição ou contaminação da água na Bahia, a maior incidência
ocorreu para danos acima de 20%, destacando-se
principalmente nos desastres meteorológicos, que

332
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
representaram 35,18% do total de registros de danos
ambientais. O ano de 2021 se destacou com 108 casos de
danos ambientais com mais de 20%.

Tabela 3. Danos Ambientais por poluição ou contaminação da


água e do ar, na ocorrência dos principais desastres naturais
registrados no Estado da Bahia (2018-2022)
Classes de DA n(%) p-value* n(%) p-value*
DA-1 DA-2
de 0% a 5% 46 (14,98) <0,0001 17 (44,74) 0,0023
de 5% a 10% 25 (8,14) 9 (23,68)
de 10% a 20% 73 (23,78) 5 (13,16)
mais de 20% 163 (53,09) 7 (18,42)
Total 307 38
DA: Danos Ambientais; DA-1: Danos Ambientais por poluição ou
contaminação da água; DA-2: Danos Ambientais por Poluição ou
contaminação do ar
*teste Exato de Fisher para verificar associações entre DA e os grupos de
desastres
Fonte: Elaboração pelos autores com base nos dados obtidos no (S2ID)
Sistema Integrado de Informações sobre Desastres
Estes achados refletem a significativa extensão dos
danos ambientais associados à poluição e contaminação da
água na Bahia, indicando a gravidade das consequências para
o meio ambiente. O elevado percentual de casos classificados
como ECP destaca a urgência de medidas preventivas e
corretivas, bem como a necessidade de políticas ambientais
mais robustas. A análise dos dados disponíveis proporciona
uma visão detalhada dos impactos ambientais, oferecendo
subsídios para o desenvolvimento de estratégias eficazes de
gestão ambiental e resposta a desastres, contribuindo assim
para a promoção da sustentabilidade e resiliência ambiental na
região.

333
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
O Ministério da Integração Nacional, através do Sistema
Integrado de Informações de Desastres (S2ID), mantém
registros dos municípios reconhecidos como "em situação de
emergência" ou "em estado de calamidade pública". É notável
que a maioria desses reconhecimentos é atribuída a eventos
relacionados à seca e estiagem. As chuvas, que englobam
inundações, deslizamentos, enxurradas, trombas-d'água e
granizo, também apresentam um número expressivo de
reconhecimentos. Além disso, há registros de eventos como
doenças infecciosas, infestações e erosões costeiras e fluviais
(Freitas, 2018). Vale destacar que, para solicitar auxílio
financeiro do governo federal, os municípios e/ou estados
devem emitir um decreto local indicando Situação de
Emergência ou Estado de Calamidade Pública. Em seguida, é
necessário acessar o S2ID e anexar documentos como o
decreto local, o Formulário de Informações do Desastre (FIDE),
a Declaração Municipal de Atuação Emergencial (DMATE) ou a
Declaração Estadual de Atuação Emergencial (DEATE), o
Parecer Técnico do Órgão Municipal ou do Distrito Federal,
Relatórios Fotográficos, e outros documentos pertinentes
(Gonçalves; Sampaio, 2022).
Essa estrutura e procedimento para a solicitação de
ajuda financeira do governo federal evidenciam a burocracia
envolvida no processo de resposta a desastres no Brasil. A
necessidade de emissão de decretos locais e a apresentação
de diversos documentos refletem a importância de formalizar a
gravidade da situação. Contudo, a complexidade do processo
pode resultar em atrasos na assistência, ressaltando a
importância de uma revisão constante desses procedimentos
para garantir respostas rápidas e eficientes diante de desastres
naturais.

334
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
Tabela 4. Danos Ambientais por poluição ou contaminação do
solo e da diminuição ou exaurimento hídrico, na ocorrência dos
principais desastres naturais registrados no Estado da Bahia
(2018-2022)
Classes de DA n(%) p-value* n(%) p-value*
DA-3 DA-4
de 0% a 5% 33 (27,50) <0,0001 18 (1,12) <0,0001
de 5% a 10% 25 (20,83) 39 (2,42)
de 10% a 20% 42 (35,00) 126 (7,81)
mais de 20% 20 (16,67) 1431 (88,66)
Total 120 1614
DA: Danos Ambientais; DA-3: Danos Ambientais por poluição ou
contaminação da água; DA-4: Danos Ambientais por Diminuição ou
exaurimento hídrico
Fonte: Elaboração pelos autores com base nos dados obtidos no (S2ID)
Sistema Integrado de Informações sobre Desastres

Entre os grupos de danos ambientais por poluição ou


contaminação do solo e da diminuição ou exaurimento hídrico
na Bahia, a maior incidência ocorreu para danos acima de 20%,
destacando-se principalmente nos desastres meteorológicos,
que representaram 88,66% do total de registros de danos
ambientais.
Os resultados desta pesquisa revelam uma lacuna
significativa nas informações disponíveis no Sistema Integrado
de Informações de Desastres (S2iD), especialmente no que diz
respeito à caracterização dos indivíduos afetados. A ausência
de dados demográficos essenciais, como sexo e idade, limita a
compreensão do perfil das vítimas em termos de
vulnerabilidades específicas. A falta de detalhes sobre os
afetados compromete a capacidade de desenvolver estratégias
de resposta e mitigação direcionadas a grupos específicos,
como crianças, idosos ou populações mais vulneráveis. A

335
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
contextualização demográfica é crucial para identificar
disparidades nos impactos dos desastres e orientar políticas
públicas mais eficazes.
Adicionalmente, a desconexão entre os dados do S2iD e
as informações clínicas relacionadas às vítimas de desastres,
notificadas ao Ministério da Saúde, destaca a importância da
integração dessas fontes de dados. A análise dos dados
clínicos em conjunto com as ocorrências de desastres
proporcionaria uma compreensão mais abrangente dos
impactos na saúde humana, permitindo uma resposta mais
eficaz e personalizada. Portanto, instamos a necessidade de
aprimoramentos no S2iD, visando a inclusão de dados
demográficos detalhados e a integração efetiva com registros
de saúde. Essas melhorias são cruciais para fortalecer a
capacidade do sistema em informar políticas de gestão de
desastres mais eficazes, considerando as características
específicas das populações afetadas.

CONCLUSÕES
A análise dos incidentes de desastres na Bahia, no
período de 2018 a 2022, destaca a prevalência significativa de
ocorrências naturais, com destaque para o grupo climatológico,
que apresentou consistentemente um elevado número de casos
ao longo desses anos. Os desastres relacionados à seca e
estiagem, caracterizados pela abrangência territorial extensa,
impactaram diversos municípios simultaneamente, ressaltando
a complexidade desses fenômenos climáticos.
A compreensão aprofundada dos fenômenos climáticos
e desastres naturais específicos à realidade do Estado da Bahia
é fundamental para o êxito de políticas de redução de riscos,
alinhadas com os objetivos da Política Nacional de Proteção e
Defesa Civil. Nesse contexto, é crucial avançar na construção

336
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
de estratégias que incentivem os municípios a reportarem
sistematicamente os desastres à Defesa Civil, enriquecendo o
banco de dados com informações detalhadas e atualizadas. O
enriquecimento do banco de dados proporcionará subsídios
valiosos para o planejamento eficiente em gestão de riscos e
redução de desastres. Ao analisar os territórios municipais, será
possível identificar padrões de frequência, períodos de maior
ocorrência e, assim, direcionar intervenções e recursos de
forma mais precisa.
Os resultados deste estudo não apenas contribuem para
o entendimento dos desafios enfrentados pelo estado, mas
também têm implicações práticas para os gestores públicos. O
conhecimento adquirido permite uma melhor preparação para
situações de emergência, auxiliando na alocação eficaz de
serviços e insumos necessários para prestar assistência
durante e após desastres. Este estudo, portanto, serve como
base sólida para o desenvolvimento de políticas e práticas que
visem a resiliência e segurança da população diante dos
desafios climáticos na Bahia.

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338
ANÁLISE DOS INCIDENTES CATASTRÓFICOS NA BAHIA: UM ESTUDO
DE 2018 A 2022
UFSC-UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro
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desastres naturais: 1991 a 2012 /. 2. ed. rev. ampl. – Florianópolis:
CEPED UFSC, 2013. Volume Bahia. 136 p.: il. color.; 22 cm. Disponível
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339
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
CAPÍTULO 18

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS DESTINADAS AO
CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES
NA SAÚDE HUMANA: CASO DE ESTUDO
NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
Joyce Shantala Fernandes de Oliveira SOUSA 1
Luzia Suerlange Araújo dos Santos MENDES 1
Tomaz Alexandre da SILVA NETO 1
Cláudio Ângelo da SILVA NETO 1
1
Doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Geologia, UFC.
joyceshantala@gmail.com

RESUMO: Os mananciais subterrâneos são utilizados como


alternativa para abastecimento no estado do Ceará, desse
modo, é fundamental avaliar a qualidade de água para atenuar
riscos à saúde humana. O trabalho visa analisar a potabilidade
das águas destinadas ao consumo humano e os impactos na
saúde humana no município de Aracati, Ceará. Realizou-se a
coleta de amostras de águas subterrâneas. A interpretação das
analises de água foram realizadas a partir do diagrama de
Schoeller & Berkaloff. As águas apresentaram três parâmetros
fora do padrão de potabilidade (sódio-potássio, cloreto e
nitrato), sendo classificada em passáveis (2), medíocres (2), má
(1), momentâneas (2) e não potáveis (8); apenas 4 amostras
são boas. O aumento da concentração desses parâmetros pode
ocorrer devido a ocupação antrópica desordenada nas margens
do rio Jaguaribe, no município, a partir da infiltração de carga
contaminante proveniente de efluentes domésticos e
industriais, atividades agrícolas e aquicultura. A salinidade
causada pela presença de íons como sódio e cloreto, além da
presença de nitrato nas águas de consumo podem trazer efeitos

340
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
adversos a saúde humana a exemplo da hipertensão. Portanto,
o entendimento da qualidade das águas subterrâneas da região
aponta a necessidade de monitoramento, principalmente de
metais pesados, a fim de planejar um tratamento adequado das
águas e assegurar a qualidade de vida da população local.
Palavras-chave: Potabilidade. Poços. Schoeller & Berkaloff.
Cloreto. Nitrato.

INTRODUÇÃO
Naturalmente as águas subterrâneas recebem menores
taxas de contaminantes em relação as águas superficiais, no
entanto, as intensas atividades antrópicas podem prejudicar a
qualidade desses recursos hídricos subterrâneos, e
consequentemente, riscos à saúde humana e a integridade de
ecossistemas (HASKELL et al., 2022; PHOK et al., 2021). A
caracterização química e o controle de qualidade das águas são
de suma importância, pois asseguram a potabilidade dentro dos
padrões exigidos para consumo humano a fim de garantir o bem
estar da população (ARRUDA, 2020).
As águas subterrâneas desempenham um papel
fundamental mundialmente, com a capacidade de suprir às
demandas da população em situações de oferta hídrica
superficial efêmera, principalmente em períodos de seca. Essa
realidade é vivenciada no semiárido brasileiro, caracterizado
por forte insolação e irregularidades de chuvas no segundo
semestre do ano (MENDES et al., 2021). O estado do Ceará,
por exemplo, tem mais de 90% da área na região do semiárido
brasileiro (IBGE, 2022).
A Sub-Bacia Hidrográfica do Baixo Jaguaribe, localizada
no estado do Ceará, abrange o rio Jaguaribe como principal
drenagem, o qual é fundamental para o estado em termos de
abastecimento e manutenção do ecossistema (BRAGA;

341
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
MATUSHIMA, 2021). Existem estudos na região do Baixo
Jaguaribe que abordaram a hidroquímica e a qualidade das
águas subterrâneas em diferentes aquíferos presentes na
região, como Silva (2021), em Itaiçaba, e Sousa et al. (2021),
em Russas, avaliaram a potabilidade das águas subterrâneas
de abastecimento urbano. No entanto, ainda carece de estudos
que envolvem a questão de saúde humana e o consumo da
água não tratada.
O Baixo Jaguaribe é uma região de baixo curso,
possuindo áreas planas que naturalmente recebem maior
infiltração de água e consequentemente apresenta maior risco
de contaminação do aquífero (SILVA NETO et al., 2023). Ao
longo dos anos, a ocupação urbana desordenada junto a
carência de investimentos no saneamento básico acarretou em
mudanças significativas na região, como a produção excessiva
de lixo, falta de tratamento de resíduos sólidos (BORGES,
2017; OLIVEIRA, 2018; CHOWDHURY; MUKHOPADHYAY;
BERA, 2022).
Nos municípios costeiros da Região do Baixo Jaguaribe,
que incluem Fortim, Aracati e Icapuí, as águas subterrâneas
comumente são salinizadas por intrusão marinha, no entanto,
podem existir outras fontes naturais e antrópicos contribuam na
salinização, como a superexplotação das águas subterrâneas,
transpiração pela vegetação, dissolução de minerais
secundários, infiltração de efluentes urbanos e industriais,
atividades de agricultura e carcinicultura. A salinização das
águas pode torna-las impróprias para consumo humano
(OLIVEIRA, 2018; GOPINATH et al., 2018; KEESARI; DAUJI,
2020; SOUSA et al., 2022a, SOUSA et al., 2022b).
Neste contexto, o trabalho tem por objetivo a avaliação
da qualidade de águas subterrâneas destinadas ao consumo

342
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
humano e discutir os principais impactos na saúde da
população no município de Aracati, Ceará.

MATERIAIS E MÉTODO
A área de estudo está localizada no município de Aracati
e abrange poços inseridos na planície aluvionar, Figura 1. O
município de Aracati está situado na região litorânea do estado
do Ceará e limita-se pelo Oceano Atlântico; pelos municípios de
Fortim, Jaguaruana, Icapuí, Beberibe, Palhano, Itaiçaba; e
estado do Rio Grande do Norte (IPECE, 2022).

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo com a


distribuição dos pontos de amostras coletadas.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Aracati é marcado pelo tropical semiárido com


temperatura média de 26º a 28 ºC e com período chuvoso curto,

343
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
entre janeiro e abril, apresentando 935,9 mm de pluviosidade
média anual. O município está totalmente inserido na Sub-Bacia
Hidrográfica do Baixo Jaguaribe, tendo como principal
drenagem o rio Jaguaribe (IPECE, 2022).
Ao longo da história, o crescimento das cidades sempre
este conectado a presença de corpos hídricos. O rio Jaguaribe,
por exemplo, foi utilizado como via de acesso à colonização
cearense, que teve inicio em 1603 com a conquista do porto
natural de Aracati. O rio Jaguaribe é um recurso natural de
grande importância para o município em estudo, pois é fonte de
para população local, bem como proporciona lazer à
comunidade e serve de atrativo turístico. Apesar disso, desde o
término da década de 1980, o ecossistema manguezal tem
passado por consequências socioambientais adversas devido a
ocupação antrópica acelerada. Dentre as atividades que se
desenvolveram localmente ao longo dos anos, a que ganhou
destaque foi a carcinicultura (VERAS, 2010).
Em campo, foi realizado o levantamento das
características dos poços presentes na área de estudo, os quais
foram obtidas por meio de conversas com a população local e
por meio de registros fotográficos. Foram, ainda, coletadas
amostras de águas subterrâneas, realizada em outubro de
2021, correspondente ao período seco, em poços tubulares
destinados ao consumo humano.
Ao todo foi coletado 19 amostras de águas dos poços
para avaliação da potabilidade das águas de abastecimento. As
amostras foram acondicionadas em recipientes devidamente
rotulados, armazenados em caixa térmica e conduzidas ao
Laboratório de Geoquímica Ambiental (LGA), setor do
Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará
(UFC).

344
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
Os parâmetros analisados são aqueles definidos para
potabilidade a partir do diagrama de Schoeller & Berkaloff, que
incluem cálcio, sódio, magnésio, cloreto, sulfatos e resíduo
seco. O diagrama é constituído de linhas que representam as
concentrações de cátions e ânions nas amostras (em meq/L),
as quais permitem a interpretação da potabilidade das águas
baseado em suas características físico-químicas. Com base na
representação gráfica, é possível classificar a água em boa,
passável, medíocre, ruim, momentânea e não potável
(SZIKSZAY, 1993).
Foi realizado o levantamento de dados de saúde na
plataforma do Departamento de Informática do Sistema Único
de Saúde do Brasil (DATASUS), no período de 2000 a 2020, de
modo a proporcionar informações que possam ser discutidas a
respeito dos efeitos da ingestão de água com qualidade
comprometida na saúde humana.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O resultado da avaliação da qualidade das águas para
as 19 amostras está ilustrado na Figura 2, em que evidencia,
dentro do ponto de vista físico-químico, os parâmetros cloreto e
nitrato como principais restritores da potabilidade a partir do
diagrama de Schoeller & Berkaloff. Tamém pode-se verificar a
tendencia Cloretada Sódica das águas subterrâneas na área de
estudo.

345
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
Figura 2. Avaliação da potabilidade das águas subterrâneas do
município de Aracati – CE a partir do Diagrama de Schoeller &
Berkaloff.

Fonte: elaborado pelos autores.

A análise das amostras apontou que 3 (16%) amostras


apresentaram apenas o cloreto como parâmetro restritor, sendo
classificadas como momentânea, medíocre e não potável

346
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
respectivamente. Outras 3 (16%) amostras apresentaram
sódio-potássio e cloreto como restritores e estão classificadas
como má, medíocre e passável. Duas (10%) amostras
apresentaram apenas o sódio-potássio como restritores,
classificados como momentâneo e passável. Há 6 (32%)
amostras que apresentaram sódio-potássio e cloreto dentro da
classe de águas passáveis, contudo, os valores de nitrato
encontram-se fora do padrão de potabilidade, tornando-as não
potáveis. Além disso, uma (5%) amostra apresentou nitrato
como único parâmetro restritor, classificando a água como não
potável. Em suma, apenas 4 (21%) amostras estão na classe
que considera a potabilidade boa.
A contaminação das águas ocorre devido as substâncias
contaminantes ultrapassarem os Valores Máximos Permitidos
(VMP) pela legislação vigente do país, podendo gerar risco à
saúde humana (ARRUDA, 2020). A intoxicação no ser humano
pode ocorrer pela ingestão contínua de água contaminada, ou
ainda, de maneira indireta com consumo de alimentos que
absorveram e concentraram substâncias químicas (HASAN,
2021).
No Brasil, os padrões de qualidade de água destinadas
ao consumo humano é a Portaria nº 888/2021 do Ministério da
Saúde, que orienta quais os procedimentos de controle e de
vigilância da qualidade e padrão de potabilidade devem ser
adotados (BRASIL, 2021c).
No diagrama, foi observado que as amostras de água
avaliadas estão entre as classes passável e não potáveis, em
que os parâmetros sódio e potássio, encontra-se acima de 200
mg/L; e o cloreto, acima de 250 mg/L. Outra observação está
nas amostras, cujos valores de nitrato estão acima de 45 mg/L
(equivalente à 10 mg/L de N-Nitrato), nessa situação a água é

347
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
classificada como não potável. De acordo com a Portaria nº
888/2021, esses valores são os VMP em água para o consumo
humano.
O diagrama é construído de forma simplificada,
limitando-se a um número reduzido de parâmetros para
avaliação da qualidade da água. Essa concepção sugere
possível presença de substâncias que inviabilizam o consumo
da água sem tratamento prévio, a exemplo dos metais pesados.
Essa situação sugere a necessidade do monitoramento da
qualidade da água.
A escolha da área está ligada diretamente ao constituinte
geológico, que são os sedimentos arenosos aluviais que
margeiam o rio Jaguaribe. A partir do levantamento de
informações na etapa de campo, percebe-se que existem poços
que captam água nos aquíferos aluvionares. A vulnerabilidade
natural dos aquíferos porosos à contaminação é alta devido às
porpiedades físicas dos sedimentos de permitirem facilmente a
infiltração e percolação de fluidos. Essa condição natural
associada a presença de carga contaminante favorece a
contaminação das águas subterrâneas.
Ainda em campo, foram visitados 40 poços tubulares, e
26 destes estavam sendo utilizados, os demais poços
encontravam-se em diferentes situações, incluindo 11 poços
desativados e 3 abandonados. Os 26 poços ativos são
destinados para diversos usos, como irrigação, recreação,
abastecimento industrial e abastecimento urbano; e dentre
esses, 21 são destinados ao consumo humano, e foi possível
fazer a analise da potabilidade de 19 destes que estão
dispostos ao longo da área de estudo.
Existem poços comunitários em situação precária, cuja
boca do poço estava danificada e desprotegida; ou ainda, o

348
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
poço encontrava-se abandonado, obstruído; além da ausência
de limpeza das caixas d’água (Figura 3). Esse cenário, aliada a
presença de fontes contaminantes, favorece a contaminação
das águas subterrâneas e pode trazer riscos à saúde humana.

Figura 3. Poços tubulares comunitários encontrados na área de


estudo. A) poço obstruído; B) poço a trado manual; C) poço
temporariamente desativado; D) poço desativado.
A B

C D

Fonte: Registro fotográfico dos autores.

349
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
A proveniência de elementos químicos e compostos nos
recursos hídricos podem ocorrer por meio de materiais e
processos geológicos, porém existe o fator antropogênico que
contribui na presença dessas substâncias poluentes em água.
A concentração dessas substâncias, seja por excesso ou
carência, causa impacto na saúde dos seres vivos e no
ecossistemas (HASAN, 2021).
As fontes contaminantes em águas subterrâneas são
provenientes comumente em resíduos domésticos e industriais,
usos agrícolas, lixiviados de aterros sanitários, e, também, em
construção inadequada de poços que permite a entrada de
águas superficiais poluídas (LI et al., 2021).
No município de Aracati, existe fatores que podem
apontar o aumento da concentração de sódio e cloreto nas
águas subterrâneas, a exemplo da intrusão salina e da
infiltração de águas dos tanques de carcinicultura. Essa
infiltração ocorre devido a ausência de impermeabilização dos
viveiros. Na visita a área de estudo, foi observado que os
reservatórios são construídos a partir da remobilização do solo.
As fotografias do entorno dos tanques de carcinicultura
revela que a vegetação encontra-se sem vida, e o solo
aparenta-se esbranquiçado, ou seja, há uma camada fina de sal
sobreposta (Figura 4). Além disso, foi observado despejos de
efluentes ao longo do rio Jaguaribe, percepitível pela coloração
esverdeada.
Estudos já realizados no município revelam a salinização
das águas subterrâneas, em especial pelas atividades de
carcinicultura, (SOUSA et al., 2022a, SOUSA et al., 2022b). A
salinização das águas é um dos principais motivos para a
desativação do poço ou ainda o abandono devido a
inviabilização do uso da água.

350
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
O cloreto é persistente em águas, em especial nos
baixos cursos de bacias hidrográficas e em aquíferos costeiros;
o sódio encontra-se associado ao cloreto e também é
responsável pela salinização das águas costeiras do ponto de
vista catiônico (HAMZAOUI-AZAZA et al., 2020; BIONDIĆ et al.,
2022). Ambos os elementos alteram o sabor da água, tornando-
a desagradável de consumir (HASKELL et al., 2022).

Figura 4. Mosaico fotográfico dos tanques de carcinicultura


observados na área de estudo.

Fonte: Registro fotográfico dos autores.

O consumo de água salinizada pode trazer efeitos


adversos na saúde humana como, diarreia, hipertensão, AVC e
infarto (SHAMMI et al., 2019; HAMZAOUI-AZAZA et al., 2020).
O município de Aracati apresenta um aumento significativo ao

351
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
longo dos anos dessas doenças, sobretudo hipertensão, infarto
e insuficiência cardíaca (Figura 5).

Figura 5. Série histórica do número de óbitos por ano por


hipertensão, infarto e insuficiência cardíaca entre 2000 e 2020.

I21 Infarto agudo do miocárdio I10 Hipertensão essencial


I50 Insuficiência cardíaca
35

30

25

20

15

10

0
2005

2009

2016

2020
2000
2001
2002
2003
2004

2006
2007
2008

2010
2011
2012
2013
2014
2015

2017
2018
2019

Fonte: Ministério da Saúde – DATASUS (BRASIL, 2021b), com


adaptações.

Outro cenário que impacta diretamente na qualidade das


águas subterrâneas do município é o saneamento básico
precário, em que mais de 80% das pessoas não tem coleta de
esgoto (BRASIL, 2021a). Essa fonte de contaminação explica
as concentrações elevadas de nitrato nas águas subterrâneas

352
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
HASKELL et al. (2022). No corpo humano, o nitrato causa
danos neurológicos permanentes e dificulta a respiração,
metemoglobinemia ou síndrome do bebê azul, existem estudos
que apontam o desenvolvimento de hipertensão (NAWALE et
al., 2021).

CONCLUSÕES
Sabendo-se da possibilidade de doenças causadas por
veiculação hídrica, a visita a campo junto a análise das águas
coletadas permitiu levantar discussões acerca de possíveis
consequências da ingestão prolongada de águas com
concentrações elevadas em substâncias químicas
contaminantes.
O município de Aracati utiliza as águas subterrâneas
como uma das alternativas de abastecimento urbano, no
entanto existe uma carência de monitoramento e tratamento
adequado das águas. Essa situação é preocupante, visto que a
qualidade das águas analisadas aponta salinização e
contaminação por nitrato, podendo provocar efeitos negativos
na saúde da população local.
A utilização do Diagrama de Schoeller & Berkaloff
permitiu visualizar o padrão da qualidade das águas
subterrâneas destinadas ao consumo humano, no entanto, não
abrange os demais parâmetros restritores da potabilidade,
principalmente para metais pesados.
Percebeu-se que tanto processos naturais, como os
fatores antrópicos, principalmente a presença de tanques de
carcinicultura, exercem influencia nas características físico-
quimicas das águas levando a impactos negativos
significativos. Essa contribuição pode variar sazonalmente, e
em períodos de seca, a concentração de íons nos mananciais

353
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
subterrâneos pode aumentar devido a carência de precipitação
nesses períodos.
Portanto, é de suma importância a avaliação da
qualidade das águas periódica e completa, especialmente na
região estudada, onde existe crescente atividades de
carcinicultura que podem estar impactando na qualidade das
águas. Além disso, o monitoramento dos fatores físico-químicos
e biológicos possibilita a proteção da qualidade das águas
subterrâneas e, consequentemente, garantir a qualidade de
vida da população.
A avaliação periódica da qualidade da água também
possibilita a tomada de decisões no que diz respeito ao
tratamento adequado das águas, a exemplo do processo de
destilação que remove excesso de sal e outras substâncias da
água, a fim de garantir a qualidade de vida da população.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Departamento de Geologia, ao
Laboratório de Hidrogeologia (LABHI), e ao Programa de Pós-
Graduação em Geologia da Universidade Federal do Ceará
pela estrutura fornecida para a realização deste trabalho, além
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
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HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
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356
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
DESTINADAS AO CONSUMO HUMANO E AS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE
HUMANA: CASO DE ESTUDO NO MUNICÍPIO DE ARACATI, CEARÁ
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357
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS

CAPÍTULO 19

BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE


JOÃO PESSOA: UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE
RESISTÊNCIA A ANTIMICROBIANOS
Davi Bezerra MELQUIADES 1
Joice Ferreira Andrade SANTOS 2
Leonor Alves de Oliveira da SILVA 3
1
Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, UFPB; 2 Graduanda do curso de Ciências
Biológicas, UFPB; 3 Orientadora/professora no DBM/UFPB.
melquiadesdavi0810@gmail.com

RESUMO: Com o aumento de cepas bacterianas


multirresistentes a antibióticos, tornou-se necessário a
investigação em ambientes que possuem um potencial de
disseminação de gene de resistência. A Praia da Penha é
influenciada por diversas atividades antrópicas e assim é
necessária uma investigação sobre a diversidade bacteriana.
Portanto o trabalho busca avaliar e caracterizar o perfil de
sensibilidade a antimicrobianos de cepas bacterianas presentes
na água próximo as desembocaduras e avaliar os possíveis
genes presentes na região. Para isso serão coletadas amostras
de água na praia da Penha, em João Pessoa, Paraíba, serão
encaminhadas para análises físico-químicas e microbiológicas
para posteriormente serem identificadas e realizada o teste de
sensibilidade a diferentes antibióticos. Cepas com resistência
serão analisadas com MALDI-TOF e PCR para análises
moleculares e dos genes de resistência. Existe 4 mecanismos
principais de resistência aos antimicrobianos em bactérias, por
degradação enzimática, modificação do alvo do fármaco,
permeabilidade reduzida e exportação ativa do fármaco. Tais

358
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
mecanismos podem ser transmitidas para outras cepas por
transferência horizontal direta ou através da incorporação de
genes no ambiente. Assim, a presença de antibióticos no meio
ambiente pode favorecer a seleção e disseminação de cepas
multirresistentes. Por muitas vezes o ambiente marinho recebe
grandes cargas de efluentes urbanos através de rios, como o
que ocorre na Praia da Penha, servindo de alerta para
investigação de possíveis genes ou cepas presentes no
ambiente que possam contaminar humanos ou outros animais
por alimentação ou contato direto. O trabalho busca alertar
pesquisas na área e dados sobre potencial de disseminação.
Palavras-chave: Antibiótico. Gram-negativas. One Health.

INTRODUÇÃO

Com o surgimento e disseminação de microrganismos


resistentes a medicamentos e tratamentos, emergiu uma crise
global significativa na saúde humana e animal em todos os
países que acarretou ao aumento de mortalidade, morbidade e
custos em saúde. Caso não ocorra uma superação eficaz para
inibir a resistência aos medicamentos, estima-se que 300
milhões de pessoas morrerão em tratamentos ineficazes ou
complicações causadas por esses microrganismos.
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta
sobre agravamentos de infecções por bactérias resistentes ou
complicações em outros tratamentos, que causam mais de 700
000 mortes anuais de pessoas em todo o mundo (Koulenti et
al., 2019; De Carvalho et al., 2021).
As bactérias são microrganismos encontrados em
abundância no planeta, são responsáveis por diversos serviços
ecossistêmicos, metabolismos simbióticos em animais e
ciclagem de nutrientes. Porém algumas espécies são

359
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
patógenas, causando doenças em plantas, animais e humanos
(Teixeira et al, 2019).
O surgimento de mutações no gene que podem
ocasionar a resistência bacteriana é um processo evolutivo
natural, porém essa pressão seletiva se expandiu rapidamente
como consequência do uso exagerado e descontrolado de
antibióticos. Indivíduos que possuem mutações genéticas ou
genes de resistência adquiridos têm uma vantagem na
sobrevivência e podem se proliferar na presença de antibióticos
(Ribeiro; Santos; De Sousa, 2023). O uso de antibióticos vai
além de ambientes hospitalares e clínicas, são utilizados na
agricultura, pecuária, aquicultura e em outros animais. No
entanto, muitas vezes são escoados ou descartados em corpos
d’águas com desembocadura no ambiente marinho. Alguns
fatores podem favorecer o crescimento e disseminação de
bactérias resistentes, como águas residuais ricas em nutrientes,
metais pesados e substâncias antibióticas dissolvidas (Pereira
et al., 2020).
O ambiente marinho apresenta vasta biodiversidade,
abrange oceanos, regiões costeiras e zonas de transições,
como mangues e estuários, são importantes reservatórios de
microbiomas, devido à alta conectividade, podem atuar como
potencializadores na disseminação de bactérias entre
ambientes ou espécies (Melo; Azevedo, 2008; Trevathan-
Tackett et al., 2019; Pereira et al., 2020).
Ambientes costeiros são procurados diariamente para a
realização de atividades recreativas, sendo o turismo e a
pescas as principais fontes de renda de diversas famílias que
moram em municípios litorâneos que podem ser expostos aos
patógenos, tornando crucial o reconhecimento e avaliação da
dinâmica dos agentes patológicos presentes nesses ambientes,

360
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
pois podem acometer banhistas e pescadores que os
frequentam, os quais podem desenvolver infecções ou outros
problemas potenciais na saúde (Barbosa et al., 2022).
As bactérias mais importantes atualmente no contexto de
resistência aos antimicrobianos, patogênicas ou não
patogênicas, incluem Klebsiella pneumoniae, Enterococcus
faecium, Mycobacterium tuberculosis, Acinetobacter
baumannii, Pseudomonas spp., Escherichia coli, Shigella ssp.,
Neisseria gonorrhoeae, Salmonella spp. (Hernandez et al.,
2019; Cherak et al., 2021).
A praia da Penha, está localizada no município de João
Pessoa, capital da Paraíba e é utilizada como área de
recreação e pesca. Possui desembocadura direta do rio do
Cabelo, cuja nascente se localiza em área urbana e sofre com
a poluição do início (nascente) ao final (desembocadura), o qual
as principais fontes de poluição são comunidades ao seu
entorno sem saneamento básico, efluentes de produtos
químicos de fábricas instaladas próximas ao rio, resíduos
sólidos e esgoto doméstico (LIMA et al., 2023).
Critérios de balneabilidade impostos pelo Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) da resolução nº 274, de
29 de novembro de 2000 publicada no DOU nº 18 e realizado
pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente da
Paraíba (SUDEMA), inclui a análise microbiológica para alguns
gêneros de bactérias gram-negativas (Escherichia e
Enterococcus) que avalia os critérios da água como próprias ou
impróprias, porém não engloba o teste de susceptibilidade aos
antimicrobianos. Portanto, a formulação da proposta desse
trabalho atentou-se para um estudo elaborado sobre
identificação e perfis de bactérias que podem demonstrar
resistências a medicamentos provenientes da Praia da Penha

361
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
devido à escassez de trabalhos que abordam o tema na região
marinha de João Pessoa.
Dentre os 17 objetivos principais do Desenvolvimento
Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das
Nações Unidas (ONU) em 2015, a presente proposta do projeto
envolve principalmente os objetivos 03 e 14, pois preocupa-se
com a saúde e bem-estar das pessoas que utilizam a praia de
forma direta ou indireta e com a saúde da biodiversidade
macroscópica e microscópica do ambiente marinho.

OBJETIVOS

Apresentar os parâmetros físico-químicos das amostras


de água; Identificar e caracterizar a biodiversidade de cepas
bacterianas isoladas, avaliar o perfil de resistência através da
realização do teste de sensibilidade aos antimicrobianos;
Investigar os possíveis genes de resistência na praia da Penha,
João Pessoa e potenciais reservatórios no ambiente marinho
de genes de resistência de importância na saúde humana.

MATERIAIS E MÉTODO

• Seleção da área de estudo:


O local de estudo para esta pesquisa será a Praia da
Penha, localizada em João Pessoa, Paraíba, Brasil, sendo um
estudo que aborda avaliações quantitativa e qualitativas será
necessário a colaboração com a Superintendência de
Administração do Meio Ambiente da Paraíba (SUDEMA)
vinculado ao Programa Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). As análises

362
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
microbiológicas serão realizadas em colaboração com o
Laboratório de Biologia de Microrganismos
(BIOMICRO/DBM/CCEN/UFPB) e os experimentos de Biologia
Molecular serão realizados associado a outros laboratórios.
• Coleta da amostra:
Serão coletadas amostras de água da zona de
rebentação (aproximadamente 15 cm da superfície e 1,0 m da
profundidade) de 5 pontos distintos ao longo da praia a cada
trimestre por um ano (Figura 1). P1: ponto ao norte da foz do rio
do cabelo (UTM 25M, 301868 m E, 9208193 m S); P2: ponto da
foz do rio do cabelo (UTM 25M, 301761 m E, 9207704 m S); P3:
ponto ao sul da foz do rio do cabelo (UTM 25M, 301731 m E,
9207205 m S); P4: ponto ao norte da foz do rio Aratu (UTM 25M,
301704 m E, 9206705 m S); P5: ponto da foz do rio Aratu (UTM
25M, 301727.00 m E, 9206202.00 m S).
Em cada ponto de amostragem, serão coletados
aproximadamente 500 mL a 1 L de água, garantindo um volume
suficiente para análises posteriores, utilizando frascos estéreis
padronizados, a coleta será realizada de acordo com a
metodologia descrita por Parron; Muniz; Pereira, (2011), com a
remoção da tampa, seguido da inversão da base e
mergulhando o frasco com a boca para baixo 15 cm da
superfície, posteriormente direcionando o frasco em sentido
contrário à corrente de água e fechando o frasco para manter
sob refrigeração (10º C) durante o transporte e
armazenamento. As amostras coletadas serão devidamente
rotuladas com identificadores exclusivos, incluindo
coordenadas, data e hora da coleta, tabua de maré, entre
outros, para garantir documentação e rastreabilidade precisas.

363
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
Figura 1. Pontos de coleta na zona costeira da Praia da Penha,
João Pessoa, PB.

Fonte: Google Earth PRO, 2023.

• Análises físico-químicas e microbiológicas:


Será realizado parâmetros como temperatura, turbidez,
pH, oxigênio dissolvido (OD), sólidos totais dissolvidos e
presença de metais, de acordo com os critérios de
balneabilidade adotados pela SUDEMA e seguindo a
Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
n° 274/00. A contagem bacteriana é um método quantitativo que
será avaliado pela técnica de membrana filtrante e seguindo a
resolução CONAMA nº 357/05.
• Identificação microbiana:

364
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
Serão utilizadas alíquotas de 100mL das amostras para
filtração em filtros mistos de ésteres de celulose de tamanho de
0,22 μm/poro (Millipore, EUA), descrita em Han et al., 2022,
para amostras da água do mar e serão cultivadas em placas
contendo Ágar MacConkey com e sem adição de
antimicrobianos, incubados a 35±2° C por 24h. Posteriormente,
para a identificação das bactérias, será utilizado o método de
provas bioquímicas segundo os protocolos de Silva et al., 2022.
• Testes do perfil antimicrobiano das bactérias
isoladas:
Para a avaliação da sensibilidade aos antimicrobianos,
as cepas isoladas e identificadas serão repicadas e incubadas
a 37° C por 24 horas para serem submetidas ao método de
difusão de discos (MDD) de Kirby-Bauer, o qual discos com
diversos antibióticos comerciais normalmente utilizados, como
por exemplo: ampicilina (AMP, 10 μg), gentamicina (GEN, 10
μg), cefalotina (CFL, 20 μg) e tetraciclina (TET, 30 μg) serão
distribuídos com auxílio de pinças esterilizadas e seguindo os
padrões estabelecidos pelo Comitê Brasileiro de Teste de
Suscetibilidade Antimicrobiana (BrCAST) (Silva et al., 2022) e
então as placas serão incubadas em estufas a 37° C por 24h.
Os dados obtidos da leitura dos testes serão avaliados
estatisticamente e descritos. As bactérias multirresistentes
apresentadas no teste, serão identificadas precisamente em
espectrometria de massa com a técnica Ionização por
Dessorção a Laser Assistida por Matriz com analisador por
tempo de voo (MALDI-TOF) e por técnicas de Reação em
Cadeia da Polimerase (PCR) para detecção de genes de
resistência e analisados com estudos moleculares
epidemiológicos.

365
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os rios urbanos que recebem efluentes de indústrias,


hospitais, esgotos domésticos, agropecuários e dejetos de
animais, desaguam por muitas vezes em ambientes marinhos,
esses ambientes também comportam atividades recreativas e
comerciais que podem apresentar genes bacterianos ou
bactérias com resistência a fármacos.
Estudos demonstram que bactérias resistentes estão em
diversos ambientes, inclusive em ambientes marinhos,
portanto, é necessário compreender a diversidade de bactérias
resistente a antibióticos nesses ambientes para avaliar os riscos
ecológicos e na saúde humana. Por meio da pesquisa proposta,
descrever as bactérias que apresentam resistência a
antibióticos e o gene de resistência e assim demonstrar o
impacto que as atividades antrópicas causam na praia da
Penha.
A resistência antimicrobiana emergiu na saúde pública
como um alerta mundial, necessitando de investigações
abrangentes sobre o perfil microbiológico e análise de
microrganismos resistentes em diversos ambientes. A
administração inadequada e excessiva de medicamentos para
tratar infecções microbianas impulsionou à seleção e
disseminação de microrganismos resistentes a tratamentos,
principalmente em hospitais e clínicas (Freires; Junior, 2022; Do
Nascimento et al., 2022). Como exemplo de uso incorreto dos
medicamentos, destaca-se a utilização de antibióticos que
impulsionaram através da variação genética e pressão seletiva
o surgimento e propagação das bactérias resistentes a
antibióticos (BRA) (Dadgostar, 2019). As BRA não se limitam
somente em setores clínicos, mas estão presentes em

366
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
ambientes aquáticos, no solo ou em outros animais que atuam
como reservatórios microbianos de resistência microbioma
(Despotovic et al., 2023).
Existem 4 tipos principais de mecanismos de resistências
em bactérias para antibióticos, 1: degradação ou inativação
enzimática do fármaco, as bactérias produzem principalmente
a enzima β-lactamase que hidrolisa anéis β-lactâmicos de
antibióticos que o possuem, como as penicilinas e das
cefalosporinas; 2: modificação do alvo do fármaco, quando a
bactéria modifica o sitio ativo no ribossomo, as moléculas alvo
não são reconhecidas pelos antibióticos; 3: permeabilidade
reduzida do fármaco, ocorre quando a bactéria altera canais
proteicos, como modificações nas porinas, que diminui o fluxo
de antibióticos para dentro das células, bactérias gram-
negativas são relativamente mais resistentes devido a
membrana externa que modificadas, evitam a passagem de
antibióticos para o periplasma da célula; 4: exportação ativa do
fármaco, algumas proteínas de bactérias gram-negativas, que
estão na membrana plasmática, utilizam a bomba de efluxo que
importam prótons e expelem outras moléculas e assim
impedindo a concentração efetiva de moléculas do fármaco
para a degradação da bactéria. Os genes de resistência são
adquiridos através de mutações mediados a partir de
cromossomos, plasmídeos ou transposons, esses genes
podem ser transmitidos para outros indivíduos através do
mecanismo de transferência horizontal de genes (Tortora;
Funke; Case, 2017; Mobarki; Almerabi; Hattan, 2019).
As informações genéticas podem ser transmitidas para
outras bactérias de três formas: transformação, o qual bactérias
incorporam na sua estrutura, genes de resistência presentes no
ambiente deixados por bactérias que sofreram morte celular,

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BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
por transdução que é a incorporação do gene de resistência de
uma bactéria à outra por bacteriófagos e por conjugação, o qual
ocorre recombinação de cromossomos de uma célula à outra
resultando em novos genes que poderão ser compartilhados
com células-filhas (Tortora; Funke; Case, 2017; Scaldaferri et
al., 2020).
Outro mecanismo de resistência comumente visto em
bactérias gram-negativas, é a resposta ao estresse do meio,
com a produção de biofilme, uma substância polimérica
excretada no meio que possuem polissacarídeos, DNA
extracelular, lipídios, surfactantes, flagelos, proteínas e pili que
serve de proteção e dificulta a penetração de antibióticos e
favorece o crescimento das colônias de bactérias (Abrantes;
Nogueira, 2022).
Alguns antibióticos possuem uso exclusivo humano,
porém a maioria das classes antimicrobianas são utilizadas na
agricultura, indústria, veterinária e medicina, com práticas de
usos semelhantes, seja para tratamentos ou profilaxia. O
cenário atual retrata o conceito de “One Health” que representa
a abordagem multidisciplinar visando a interconexão da saúde
humana com a saúde animal e ambiental e enfatiza a
colaboração para evitar a difusão de BRA e genes de
resistências entre ambientes de nível local ou global (Hernando-
Amado et al., 2019; Miller; Ferreira; Lejeun, 2022).
Os ecossistemas aquáticos estão expostos a diversas
atividades antrópicas e recebem escoamentos agrícolas e
urbanos que podem conter resíduos de antibióticos e BRA
proveniente de indústrias ou efluentes de águas residuais,
tornando-os vias de disseminação para outros ecossistemas
(Mutuku; Gazdag; Melegh, 2022). As cepas resistentes são
favorecidas em águas residuais por possuírem metais pesados,

368
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
matéria orgânica que serve de nutrientes para o crescimento
bacteriano e substâncias antibióticas que atuam na seleção das
cepas presentes no ambiente (Pereira et al., 2020).
Os rios urbanos são prejudicados com o aumento da
população, recebendo diariamente diversos poluentes, e
mesmo com o tratamento de águas residuais em alguns rios,
seu processo pode não ser completamente eficiente na
inativação ou remoção de organismos infecciosos. Em cidades
litorâneas, a transição para o ambiente marinho é quase
inevitável, pois diversos corpos d’água possuem
desembocadura direta ou indireta ao mar, favorecendo o
transporte de BRA para estuários e praias (WANG et al., 2020;
Miller; Ferreira; Lejeun, 2022).
Os ambientes marinhos possuem uma vasta
biodiversidade microbiológica e é influenciada por diversos
fatores, parâmetros físicos e químicos, pH, salinidade,
disponibilidade de nutrientes, intensidade de luz e atividades
antrópicas. São conectados com ambientes de água doce
denominados de estuários, que possuem produtividade maior
que os ambientes que conecta (Melo; Azevedo, 2008). Esses
ambientes tornam-se uma potente fonte de disseminação de
BRA e genes de resistência, que podem infectar diretamente os
seres humanos por meio de atividade recreativa ou consumo de
alimentos contaminados provenientes do mar (Melo; Azevedo,
2008; Barbosa et al., 2022). Em ecossistemas marinhos, a
concentração de substâncias com potencial antibiótico é baixa,
mas devido a degradação e diluição dessas, podem atuar como
seleção natural para a resistência de cepas bacterianas
(Pereira et al., 2020).
A contaminação humana por bactérias resistentes em
ambientes marinhos pode ocorrer através do consumo de

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BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
produtos diretos, como pescados, ou com o contato direto no
ambiente, através da água ou sedimentação em rochas (De
Aguiar; Da Silva, 2023).
Diversas bactérias resistentes e relevantes para a saúde
humana foram relatadas em águas costeiras no Brasil, alguns
gêneros considerados patogênicos como, Vibrio e da família
Enterobacteriaceae (Melo; Azevedo, 2008; Pereira et al., 2020;
Silva et al., 2022). Shewanella
Espécies do gênero Vibrio são bactérias gram-negativas
com formas de bastonete autóctone, são encontradas em
ambientes aquáticos estuarinos, ambientes de água salinas e
em animais marinhos. As espécies Vibrio cholerae, Vibrio
alginolyticus, Vibrio vulnificus e Vibrio parahaemolyticus são
consideradas patogênicas e estão associados a infecções
humanas graves como septicemia e infecções gastrointestinais,
devido ao consumo de frutos do mar sem tratamento ou
cozimento e por contato direto através de atividades de
recreação. Cepas resistentes de V. vulnificus foram
encontradas em peixes marinhos no sul brasileiro, assim como
cepas resistentes e virulentas de V. parahaemolyticus em
águas salinas no sudeste (Silveira et al., 2019; Canellas et al.,
2021; Sony et al., 2021).
Ambientes costeiros sofrem diversas influências
antrópicas, seja através do solo ou de rios urbanos, assim,
recebem grandes quantidades de microrganismos proveniente
de alimentos, efluentes de esgoto ou contaminação fecal (Silva
et al., 2022). A família Enterobacteriaceae representa um grupo
de bactérias gram-negativas fermentadoras, oxidase-negativas
e anaeróbias facultativas, comumente representado como
coliformes fecais e com relevantes patógenos humanos
podendo causar infecções gastrointestinais e extra intestinais,

370
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
são encontrados em diversos ambientes contaminados e
animais (Pereira et al., 2020).
Diversos estudos relatam a presença de cepas
multirresistentes de E. coli em ambientes marinhos, mas além
dessa espécie, foram encontrados do mesmo gênero cepas de
E. fergussonii e E. hermanii em águas marinhas no Nordeste
brasileiro (Silva et al., 2022). Outras espécies consideradas
patogênicas também são relatadas como Klebsiella
pneumoniae, Enterobacter sp., Citrobacter sp. (Cherak et al.,
2021).
O gênero Salmonella spp. da família de
Enterobacteriaceae possui relevância devido a sua virulência
que causa infecções em humanos e outros animais,
principalmente a salmonelose. A principal fonte de transmissão
é através de alimentos contaminados, pois animais podem
excretar Salmonella e através de fezes contaminadas pode
disseminar em ambientes aquáticos, solo ou em outros animais
(Jeamsripong et al., 2022; Porto et al., 2022). Cepas
multirresistentes de S. enterides foram relatadas em águas
costeiras na região Nordeste do Brasil, mostrando assim que há
riscos de contaminação através de alimentos ou de contato
direto em atividades recreativas (Silva et al., 2022).
A cidade de João Pessoa é uma capital litorânea com
crescimento populacional constante e com diversos atrativos
naturais para turistas, refletido nos dados dos Centros de
Atendimento ao Turista (CATs), da Secretaria de Turismo
(Setur-JP) da Prefeitura de João Pessoa que registraram um
aumento de 30% no turismo nos meses iniciais de 2023, sendo
as praias os destinos mais procurados. A Praia da Penha, em
João Pessoa, Paraíba, está localizada entre a Praia do Seixas
(norte) e a Praia do Arraial (sul) com desembocadura do rio do

371
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
Cabelo (norte) e próxima à desembocadura do rio Aratu (Sul).
Possui atrativos naturais, religiosos e comerciais, mas se
destaca por ter atividade pesqueira e recreativa devido a
formação de piscinas naturais.
Devido as suas características, a região apresenta um
provável foco de disseminação e contaminação de cepas
multirresistentes e potencial reservatório de genes de
resistência antimicrobiana. A exposição humana e de outros
animais apresenta riscos à saúde pública e assim não devem
ser negligenciados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com os resultados obtidos sobre a presença das


bactérias isoladas e seu perfil de resistência, espera-se a
conscientização da comunidade cientifica sobre a área, pois o
projeto apresenta inovações da temática em um ambiente
crucial para economia e saúde. O trabalho poderá
complementar dados de outras áreas e assim demonstrar a
importância do microbioma para o funcionamento do ambiente,
além de alertar sobre a qualidade do ambiente para visitantes e
usuários da praia da Penha. Os resultados apresentam,
também, a conexão “One Health” na qual a preservação dos
ambientes aquáticos influencia diretamente na saúde humana,
animal e ambiental. Com os dados gerados, a divulgação
através de palestras, políticas públicas, seminários e redes
sociais conscientize não só a população local, mas também
nacional e internacional, sobre os riscos e consequências de
ambientes poluídos. Além disso, os resultados gerados
contribuem para dados epidemiológicos sobre bactérias gram-

372
BACTÉRIAS DE UMA PRAIA URBANA DE JOÃO PESSOA UM DESENHO
METODOLÓGICO PARA ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A
ANTIMICROBIANOS
negativas nos ambientes aquáticos, assim como potencial
ambiente de “pool” de genes de resistência bacteriano.

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375
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
CAPÍTULO 20

CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS –


MA: UMA FONTE DE ABASTECIMENTO E
HISTÓRIA.
Clara da Penha MARTE ¹
Abigail de Cassia Rodrigues LAGO ¹
Thomas Wendell Fernandes dos SANTOS ¹
Juliana de Faria Lima SANTOS²

1 Graduandos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFMA; 2 Orientadora


/Docente do DCEAS/UFMA.
e-mail:clara.penha@discente.ufma.br

RESUMO: o artigo aborda a história dos chafarizes em São Luís


do Maranhão, enfatizando sua chegada como o pioneiro
sistema mecânico de captação e distribuição de água no século
XIX. Esses monumentos simbolizaram a modernização do
abastecimento hídrico na capital ludovicense por meio da
Companhia de Águas do Anil, seguindo o modelo europeu.
Desta forma, este estudo procurou identificar e caracterizar os
chafarizes de água históricos da capital maranhense, do ponto
de vista ambiental e sanitário, dado a sua importância histórica
e cultural. O presente trabalho foi realizado em três etapas: i)
Identificação dos Chafarizes de Abastecimento de Água;
ii)Revisão de literatura e ainda; iii) o diagnóstico in loco da
situação socioambiental e sanitária dos chafarizes estudados
para verificação dos usos preponderantes na atualidade. Foram
identificados quatro deles que resistiram ao tempo, mas apenas
o Chafariz Mãe d'água conserva seu valor arquitetônico e
paisagístico, integrando-se à vida cotidiana e turística de São
Luís. Entretanto, alguns desses chafarizes enfrentam
problemas, como deterioração e proteção por muros,
destacando-se a importância de preservar esses locais como
parte da memória afetiva e turística da cidade. O estudo busca

376
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
sensibilizar a sociedade para a relevância histórica desses
monumentos, testemunhas de transformações urbanas e
elementos intrínsecos à identidade de São Luís.
PALAVRA-CHAVE: Chafariz. Abastecimento de água. São
Luís.

INTRODUÇÃO
Os chafarizes históricos são testemunhas vivas de um
passado distante e desempenham um papel crucial na história
e no abastecimento de água em muitas cidades ao redor do
mundo. Essas estruturas icônicas têm uma dupla importância,
pois não apenas forneceram água potável à população, mas
também desempenharam um papel significativo no
desenvolvimento urbano e na preservação da memória coletiva.

Os primeiros registros de construções como poços,


chafarizes, barragens e aquedutos remontam às civilizações
antigas do Egito, Mesopotâmia e Grécia. Os mesopotâmios já
empregavam sistemas de irrigação por volta de 4.000 a.C.,
enquanto na Índia, estruturas como a galeria de esgotos em
Nipur e os sistemas de água e drenagem no Vale dos Hindus
datam de cerca de 3.200 a.C. Os sumérios, entre 5.000 e 4.000
a.C., atribuíam um valor divino à água e construíam uma
variedade de estruturas, incluindo canais de irrigação, galerias,
sistemas de bombeamento, cisternas, reservatórios, poços,
túneis e aquedutos (RESENDE; HELLER, 2002).
Logo, é possível perceber que desde os tempos antigos,
os chafarizes históricos foram construídos como uma resposta
à necessidade básica e fundamental de acesso à água, pois
eles surgem quando começam a ser estabelecidas as primeiras
infraestruturas de captação, condução e distribuição de água
nas cidades, utilizando diferentes fontes de abastecimento
hídrico. Com o tempo, esses locais se transformam em pontos

377
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
de encontro, convívio e até mesmo de negócios. Muitas das
áreas urbanas organizavam suas praças em torno do chafariz,
conferindo-lhes uma distinção especial como o "centro" da
comunidade. Devido à importância que esses locais assumiam
na sociedade, sua construção frequentemente envolvia um
aspecto artístico mais expressivo (TEIXEIRA, 2011).
Os chafarizes representaram uma das formas mais
comuns de abastecimento no Brasil e mundo, agora
considerados como uma ligação com o passado. O Brasil, de
acordo com o Ministério da Cultura, possui uma riqueza
incontável em termos naturais e culturais, algumas
reconhecidas internacionalmente por seu valor incalculável
para a humanidade. A Unesco, Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, identifica e lista
esses locais de interesse com o propósito de protegê-los e
preservá-los para as futuras gerações. Esses locais, chamados
de Patrimônios Mundiais, podem incluir edifícios, monumentos,
paisagens ou cidades inteiras. No momento, o Brasil abriga 23
desses locais, incluindo cidades históricas famosas como Ouro
Preto, Salvador, São Luís, entre outras (BRASIL, 2022).
Esses espaços têm sido frequentemente objeto de
estudos sob a ótica histórica e arquitetônica. No entanto, são
escassos os trabalhos que abordam os equipamentos urbanos
como fontes e chafarizes, sob uma perspectiva sanitária e
socioambiental.
Desta forma, estudo se dedicou a identificar e a
caracterizar os chafarizes de água históricos da capital
maranhense, do ponto de vista ambiental e sanitário, dado a
sua importância histórica e cultural.

378
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
MATERIAL E MÉTODOS

Local de estudo
A capital maranhense, têm seu centro histórico protegido
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN) desde 1974, destacando-se pela preservação da sua
estrutura urbana, integrando-se harmoniosamente ao entorno.
Dentro do perímetro designado como patrimônio federal, que
abrange cerca de mil construções, encontram-se propriedades
de considerável valor histórico e arquitetônico, principalmente
construções civis do período colonial e imperial, com
características singulares nas soluções arquitetônicas de
tipologia, revestimento de fachadas e layout interno (IPHAN,
s.d.).
Reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural
Mundial em 1997, por representar uma tradição cultural vasta e
diversificada, além de ser um exemplo notável de arquitetura
colonial portuguesa, mantendo seu traçado original e conjunto
arquitetônico representativo. São Luís, por ser uma cidade
histórica ativa e, ao mesmo tempo, uma capital em
desenvolvimento, expandiu-se preservando a malha urbana do
século XVII e seu conjunto arquitetônico original. Existem cerca
de quatro mil imóveis tombados, incluindo solares, sobrados,
casas térreas e edificações de até quatro pavimentos em toda
a cidade (IPHAN, s.d.).

Procedimentos metodológicos
O presente trabalho foi realizado em três etapas:
i) Identificação dos Chafarizes de Abastecimento de Água;
ii) Revisão de literatura sobre os chafarizes e;

379
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
iii) Diagnóstico in loco socioambiental e sanitário dos
chafarizes estudados para verificação dos usos
preponderantes na atualidade.
Para a etapa I e II
Para a realização da pesquisa, foi de fundamental
importância o acesso ao acervo bibliográfico de locais que
poderiam acrescentar maiores informações sobre os chafarizes
existentes atualmente e que existiram no passado. Para cada
um dos locais visitados, elencados abaixo, foi necessário o
envio de um ofício informando o objetivo da pesquisa e
palavras-chave para a separação de obras literárias que
atendesse ao trabalho.
Assim foi visitado, inicialmente a sede do IPHAN,
localizada no Centro Histórico de São Luís, no tradicional Solar
da Baronesa de Anajatuba, esta visita proporcionou acesso a
uma vasta gama de materiais e documentos relevantes,
incluindo livros, periódicos, arquivos e registros relacionados à
história e patrimônio cultural do município. Essa abordagem
permitiu a coleta de informações fundamentais para o
embasamento teórico e a contextualização das fontes históricas
utilizadas neste estudo, como observado na figura 1.

380
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
Figura 1: Dados sobre as obras do restauro do chafariz da
Praça da Misericórdia, São Luís, MA, Brasil.

Fonte: autores (2023).

Outros locais visitados que permitiram acesso às


bibliografias com informações históricas, foram: a Biblioteca
Pública Benedito Leite, ao Arquivo Público do Estado do
Maranhão (APEM), ao Museu Histórico e Artístico do Maranhão
(MHAM), ao Convento das Mercês e o Palácio Cristo Rei. Esta
análise documental foi crucial para obter informações
essenciais que embasaram teoricamente e contextualizaram os
chafarizes estudados.
Para o levantamento bibliográfico foram consultadas
ainda bases de dados tais como o Google Acadêmico
(https://scholar.google.com.br) e a Scientific Electronic Library
Online (http://www.scielo.org/php/index.php), empregando
palavras-chave como "chafarizes históricos", "abastecimento" e
"abastecimento na cidade de São Luís". A seleção dos
trabalhos baseou-se no ano de publicação, preferindo trabalhos
dos últimos 13 anos, na aderência ao tema de pesquisa e no
idioma português, totalizando 25 trabalhos encontrados, sendo
16 utilizados.

381
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.

Para a etapa III


Foram realizadas também a pesquisa de campo que
envolveu visitas aos chafarizes e compreensão de como estes
equipamentos urbanos estão inseridos no contexto social e
afetivo da cidade de São Luís, seu estado de preservação, e
seus usos preponderantes, para isto foram utilizadas
ferramentas metodológicas como: a observação participante, as
anotações em diários de campo e entrevistas com atores
sociais que convivem nesses espaços, conforme orientam
Bernard (1988), Fonseca (2002), Gil (2002), e Verdejo (2010)
para estes tipos de pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Entre 1862 e 1867, São Luís testemunhou a
implementação de oito chafarizes. Os primeiros seis estão
intimamente ligados à história da Companhia Anil, a pioneira no
abastecimento de água no Maranhão, fundada em 1856. Sua
missão inicial foi fornecer água potável dos mananciais do Rio
Anil para atender às necessidades da população ludovicense
(LIMA, 2002). Tendo à frente o espírito empreendedor do
engenheiro maranhense Raimundo Teixeira Mendes, a
Companhia deu início às suas atividades em 1862, introduzindo
seis belos chafarizes importados da Inglaterra. Esses foram
instalados em locais estratégicos, tais como o Largo do Quartel
(atual Praça Deodoro), o Largo de Santo Antônio, o Largo do
Carmo, as praças do Comércio (Praia Grande) e da Alegria,
além do espaço próximo ao Mercado (localizado à margem da
Avenida Magalhães de Almeida, mais tarde inaugurada, e

382
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
próximo à sede do IPEM - Instituto de Previdência do Estado do
Maranhão) (LIMA, 2002).
Noutros pontos da cidade, entretanto, sabe-se que foram
instalados outros dois chafarizes como no Largo de São João e
Praça da Saudade (em frente ao cemitério do Gavião), estes
instalados pela segunda Companhia de Abastecimento, após
1867, desconhece-se a data exata de quando foram colocados
neste local, assim como em que época e sob qual pretexto os
removeram (LIMA, 2002).
Foi realizado ainda o registro de um nono chafariz em
São Luís, este instalado, cerca de 100 anos depois dos
primeiros, no início da década de 1950 que possui uma
conotação paisagística, artística, turística e afetiva na
atualidade, localizada na Praça Pedro II, conhecido como o
chafariz Mãe d’Água Amazônica (IPHAN, 2018).
Um aspecto crucial na história da instalação desses seis
chafarizes ingleses é sua intenção de servir a um público
bastante específico na época, a aristocracia maranhense.
Conforme destaca Pinheiro (2017), a distribuição geográfica
dos chafarizes tinha uma conotação social, priorizando os locais
onde residiam um maior número de famílias abastadas e
negociantes de médio porte. O sistema de água encanada do
rio Anil estava destinado a atender às necessidades das elites
que residiam nos arredores dos chafarizes.
Em Porto Alegre, de acordo com Gibrowski (2014), os
chafarizes também foram instalados para abastecimento
humano, no entanto, diferentemente de São Luís eles foram
implantados por volta de 1866, para que atendesse aos
parâmetros químicos da época, pois a cidade passava por uma
epidemia de cólera.
Já em Diamantina, a existência dos chafarizes possuía
especial relevância, pois era esse um dos requisitos que

383
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
justificariam a conquista de elevar um arraial à vila (FONSECA,
2004 apud VIEIRA, 2019). Em certos casos, a presença de um
chafariz público indicava a capacidade da população de se
reunir, enquanto em outros, sua ausência justificava a elevação
do arraial em questão, pois com a elevação teriam condições
financeiras para arcar com tal item urbano. Nos dois casos,
apesar de contraditórios, percebemos que esse era uma
estrutura almejada pela população e que representava
importância para o saneamento e a infraestrutura da local.
Em São Luís não foi diferente, pois antes da instalação
dos seis chafarizes ingleses mencionados, a provisão de água
inicialmente contava com fontes públicas de acesso gratuito,
tais como: Gavião, Ribeirão, Pedras, Mamoim, Marajá, do
Bispo, Apicum, Açougue, Telha e Salina. Embora as fontes
fossem numerosas, a qualidade de suas águas não é
claramente documentada (PINHEIRO, 2017).
As fontes públicas encontravam-se em estado de
negligência, o que, somado às mudanças pelas quais a cidade
passava, refletia a intenção de modernização, estabelecendo
um diálogo entre o progresso e a saúde. Conforme Pinheiro
(2017), destaca havia a necessidade de um projeto de
modernização que integrasse o tripé do saneamento básico,
visando implementar o fornecimento de água potável
canalizada para estabelecer condições sanitárias adequadas
para os habitantes de São Luís. O engenheiro Teixeira Mendes
foi o idealizador desse projeto, que propunha a captação,
canalização e distribuição das águas do rio Anil para o centro
da capital, seguindo os parâmetros de modernidade adotados
na França do século XIX, buscando reduzir as doenças
associadas à água proveniente das fontes públicas e privadas
que abasteciam a população (PINHEIRO, 2017, p.13).

384
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
No entanto, a implementação dos seis chafarizes para
abastecer a cidade pela Companhia Anil, não foi bem recebida
por uma parte da sociedade envolvida no comércio tradicional
de água, conduzido pela figura dos aguadeiros, muitos deles
escravizados a serviço de seus proprietários, como a famosa
figura de Donana Jansen. Isso desencadeou disputas
registradas nos jornais da época, visto que o novo sistema
confrontava as práticas antigas de distribuição de água em
locais públicos.
Mal os chafarizes entraram em funcionamento, teve
início, contra eles, uma insidiosa campanha pela imprensa. E
um dia as águas amanheceram infectas e putrefatas, conforme
narra Carlo de Lima em seu livro Caminhos de São Luís. A
população voltou a consumir a água vendida por D. Ana
Jansen, que, alta noite, mandara colocar animais mortos no
reservatório da região do campo de Ourique, de onde a água
era distribuída para os chafarizes.
Na transição do século XIX para o XX, as fontes e
chafarizes de Salvador, também eram importantes no
abastecimento público, como em São Luís, e gradativamente
perderam sua utilidade em função da predominância do sistema
subterrâneo de distribuição de água antecipado pelo sistema de
penas d’água. Na atualidade, a maioria das fontes permanece,
no entanto, poucos são os chafarizes que resistiram. Embora
tenham perdido sua função central na cidade, fontes e
chafarizes continuam ativos, com muitos moradores ainda
utilizando suas águas, apesar da contaminação e impróprias
para o consumo na capital baiana (DANNEMANN, 2018).
Neste sentido Gibrowski (2014), estudando os
deslocamentos espaciais de um chafariz, localizado em Porto
Alegre, menciona que o chafariz estudado passou por vários
deslocamentos ao longo do tempo, semelhante ao ocorrido em

385
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
São Luís e ainda salienta que de acordo com suas análises
documentais que parte deste equipamento desapareceu sem
vestígios.
Dos seis chafarizes vindos da Inglaterra para São Luís,
foram encontrados apenas três, que foram deslocados para
outros locais, permanecendo no mesmo local apenas o chafariz
Mãe d´Água Amazônica na Praça Pedro II, dos outros não há
paradeiro e assim a capital maranhense perdeu os belos
chafarizes que a ornamentaram, restando hoje:
i) Chafariz da Praça da Misericórdia;
ii) Chafariz da Avenida Silva Maia que deslocaram
para o pátio do Museu Histórico e Artístico do
Maranhão (MHAM) e;
iii) Chafariz do Palácio Cristo Rei, pertencente
atualmente pela Universidade Federal do
Maranhão.

Apresentam-se abaixo àqueles que resistiram ao tempo


juntamente com as informações levantadas sobre eles.

CHAFARIZ PALACIO CRISTO REI - N° 01


Endereço: rua dos Remédios em frente à Praça Gonçalves
Dias, 351 - Centro, São Luís – MA.
Localização UTM: 2°31'28"S 44°17'45"W
Situação Atual: está em bom estado de conservação,
localizado no centro do jardim do Palácio Cristo Rei, um belo
exemplar de arquitetura barroca do século XIX, como mostra a
figura 2, servindo como elemento decorativo paisagístico e
ainda mantendo o fluxo de água por suas bicas, que serve
apenas para o embelezamento já que este não possui a
utilidade de abastecimento. Não foram observadas pessoas nas
proximidades, possivelmente devido ao seu status como parte

386
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
do acervo histórico privado do palácio, o que condiciona o
acesso aos visitantes somente em horários de visitação.
Características Físicas: material em ferro fundido Pinheiro
(2017, p.54), com 4 carrancas que o circundam e uma bacia de
ferro.
Apoio Legal: edificação tombada pelo Decreto Estadual n°
11.594, de 12/10/1990, publicado no Diário Oficial de
24/10/1990.
Dados Históricos: o chafariz, uma relíquia de origem inglesa,
fazia parte de um conjunto de seis fontes destinadas ao
abastecimento de São Luís no século XIX. Em meio a disputas
entre Dona Ana Jansen, senhora de escravos, e os
proprietários da Companhia de Águas do Rio Anil, o chafariz foi
desativado. Posteriormente, após um processo de restauração,
foi transferido para o Palácio Cristo Rei em meados do século
XX, conforme relata (PORTELA, 2011). De acordo com
informações do Memorial Cristo Rei, o chafariz foi adquirido
para embelezar o jardim do edifício durante a gestão do reitor e
escrito Josué Montelo. A peça, anteriormente armazenada em
um depósito estadual, foi requisitada pelo professor da
Universidade Federal do Maranhão, Clidenor Pedrosa, com a
autorização da então primeira dama, D. Eney de Santana.
Tanto o chafariz quanto o prédio foram reinaugurados em 1973.

387
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
Figura 2: a) Fachada do Palácio Cristo Rei; b) Chafariz; c)
Carranca Chafariz, São Luís - MA

a) b) c)
Fonte: Autores (2023)

CHAFARIZ MUSEU HISTÓRICO E ARTISTICO DO


MARANHÃO (MHAM)- N° 02
Instalação original: Praça Gomes de Castro, atualmente o
endereço do chafariz é rua do Sol, 302 - Centro, São Luís – MA.
Localização UTM: 2°31'44"S 44°18'02"W
Situação Atual: localizado no jardim do MHAM, o belo chafariz
exibe pequenos sinais de deterioração. As bicas não jorram
água como mostra a figura 3, e embora o local receba visitantes
frequentes, o chafariz parece ser mais uma peça decorativa do
ambiente do que um elemento histórico do abastecimento da
cidade. Há poucas informações disponíveis sobre ele no
museu, e hoje sua utilidade prática não é mais evidente,
servindo apenas como ornamento.
Características Físicas: composto por carrancas, arabescos,
frisos, escultura de anjo e bacia de ferro.
Apoio Legal: edificação tombada pelo Decreto Estadual n°
11.597. Inscrição n° 56, folha n° 11, em 30/11/1990.
Dados Históricos: o local original de instalação do Chafariz
Fonte d'Art, que pertencia à Companhia Anil, segundo
informações do MHAM era a Praça Gomes de Castro. Após seu
desmonte, em 1973, esteve por um tempo em local

388
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
desconhecido. Posteriormente, o governo do Estado do
Maranhão, adquiriu e instalou nos jardins do Museu Histórico e
Artístico do Maranhão, no Solar dos Gomes de Sousa
construído em 1863, este imóvel pertenceu à família de
Raimundo Brito Gomes de Sousa, que foi gerente e o principal
acionista da Companhia Anil (PINHEIRO, 2017).

Figura 3: a) Chafariz do Museu Histórico e Artístico do


Maranhão – MHAM; b) Carranca do Chafariz, São Luís – MA.

a) b)
Fonte: Autores (2023)

CHAFARIZ PRAÇA DA MISERICORDIA- N° 03


Endereço: rua de Santa Rita - Centro, São Luís - MA, 65010-
210
Localização UTM: 2°32'03"S 44°17'49"W
Situação Atual: está em mau estado de conservação, com
sinais de ferrugem na sua bacia de ferro como mostra a figura
4. Ele serve como elemento decorativo na praça, mas não
possui saída de água pelas bicas e permanece seco. Foi
observado que há uma conexão de água até o ornamento, no
entanto, não foi possível verificar o fluxo de água.
Características Físicas: de acordo com Figueredo (2019, p.
14), é um chafariz com um fosso circular em azul, centralizado

389
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
por uma base circular que sustenta uma bacia côncava e
convexa.
A bacia é ornamentada por frisos lisos e friso em meio
arco invertido; a parte superior possui reentrâncias e saliências
formando gomos, com base contornada por friso em meio arco.
A parte interna é côncava, contendo quatro orifícios, enquanto
ao centro há uma base octogonal cinza com uma coluna
hexagonal em caneluras. A parte frontal exibe uma placa de
inscrição e uma estátua de figura feminina, de pé e com o corpo
em torção para o lado esquerdo, rosto voltado para baixo e
braços fletidos elevados segurando os cabelos com as mãos. O
corpo é semi-desnudo, com um pano envolvendo a parte
inferior, atado à frente em nó caindo em dobras verticais, e com
a perna direita fletida e a esquerda como apoio. As dimensões
aproximadas são: Altura: 100cm (provavelmente apenas da
escultura), Largura: 20cm, Altura: 420cm (provavelmente do
grupo todo), Diâmetro: 220cm.
Apoio Legal: tombado Decreto Estadual n° 10.089. Inscrição
n° 37, em 06/03/1986.
Características Estilísticas: estatueta de ferro fundido com
um marcado caráter alegórico, realizada em conformidade com
os padrões da escultura clássica, apresentando um corpo
semidespido com anatomia bem definida e vestimenta contida.
(FIGUEREDO, 2019, p. 14).
Dados Históricos: a localização original do chafariz da Praça
da Misericórdia é incerta devido a divergências nas fontes
consultadas. Lacroix (2020), indica que este é o único
conservado em seu local original. Já Pinheiro (2017, p.132),
menciona que o chafariz esteve originalmente no Largo de São
João na década de 1860, sendo transferido mais tarde para a
Praça da Alegria e, em 1912, na gestão do governador Mariano

390
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
Martins Lisboa Neto, foi levado para a Praça da Misericórdia,
onde permanece até hoje.

Figura 4: Chafariz da Praça Misericórdia, São Luís – MA.

Fontes: Autores (2023)

Dos três chafarizes apresentados atribuem-se valor


histórico, estético, patrimonial e turístico a estes equipamentos
públicos, mas, a situação em que se encontram, corroboram
com a reflexão de Brandi (2005), o que se vê expressa o
contrário, desatenção, esquecimento e invisibilidade. Desta
forma, o estudo desses locais pode resgatar sua “unidade
potencial” e trazer elementos memoriais e também
estruturantes da cidade. Por outro lado, como Dannemann
(2018), observa que o processo de abandono provoca uma
invisibilidade desses chafarizes, sendo está uma etapa
preliminar do seu desaparecimento por completo.

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CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
CHAFARIZ MÃE D’ÁGUA - N° 04
Endereço: Praça Dom Pedro ll, 140 - Centro, São Luís - MA
Localização UTM: 2°31'40"S 44°18'17"W
Situação Atual: exibe um bom estado de conservação,
atuando como elemento decorativo nesse espaço público. As
bicas do chafariz ainda vertem água como mostra a figura 5, e
sua localização privilegiada atrai uma considerável quantidade
de visitantes, destacando-o como um ponto focal. Entretanto,
uma observação notável foi o uso das águas desses chafarizes
para atividades como lavagem de veículos e de roupas, além
de serem utilizadas para banhos por flanelinhas e pessoas em
situação de rua.
Características Físicas: a escultura da Mãe d’Água, embora
apresente uma postura e tema românticos, é uma figura
emblemática do folclore popular. Assentada sobre uma vitória-
régia de bronze, feita do mesmo material que a estátua, possui
o corpo de mulher e extremidades de peixe. Adorna seu
pescoço com um amuleto com um muiraquitã. Quando
iluminada, revela sua beleza e elegância, seus contornos e
volumes ressaltam sua grandiosidade. Sua face serena e altiva
parece imortalizada pelo tempo, evidenciando seu apreço por
aquele local (GARRIDO, 2021).
Dados Históricos: na década de 1950, a escultura "Mãe
d’Água Amazônica" foi instalada na área, batizada como Praça
da Mãe d’Água. Criada pelo escultor maranhense Newton Sá,
a obra foi premiada com a medalha de prata no Salão Nacional
de Belas-Artes em 1940, tornando-se o último trabalho do
artista, que faleceu no mesmo ano. Em 2015, a escultura foi
removida da praça, permanecendo no Museu Histórico e
Artístico até 2018, quando retornou para embelezar novamente
a paisagem da praça, conforme registros (IPHAN, 2018).
Apoio Legal: IPHAN.

392
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.

Figura 5: a) Chafariz Mãe d´ água na Praça Dom Pedro


II; b) Bacia do Chafariz; c) Roupas secando próximo ao chafariz,
São Luís – MA.

a) b) c)
Fonte: Autores (2023)

Os chafarizes, outrora vitais para o abastecimento


urbano, hoje em sua maioria são meras peças decorativas em
museus, deixando de lado sua utilidade original. Durante visitas
aos quatro chafarizes, observou-se que aqueles localizados no
Museu Histórico e Artístico do Maranhão e no Palácio Cristo
Rei, são os de acesso mais restrito à população, por estarem
em locais privados, ao passo que o Chafariz Mãe d'Água e o da
Praça da Misericórdia estão em espaços públicos. Conversas
com atores sociais revelaram pouco conhecimento sobre a
história desses monumentos.
No entanto, o Chafariz Mãe d'Água é o único atualmente
em operação, suas águas sendo usadas por pessoas em
situação de vulnerabilidade social para lavagem e higienização
de carros em frente à Catedral da Sé (SANTOS, 2011). Além
disso, é um destino popular entre turistas e moradores, com
eventos culturais acontecendo nas proximidades, abertos ao
público. Já o chafariz da Praça da Misericórdia, que outrora
fornecia água e atendia a uma população específica já não
possui o uso e nem mesmo funciona. Mesmo nessas

393
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
condições, a praça onde está localizado é frequentada por
moradores para conversas ao entardecer ou encontros de
jovens casais e grupos de estudantes.
Essa invisibilidade dos monumentos não é exclusiva de
São Luís: Dannemann (2018), em sua tese: “Arquitetura da
água em salvador: legibilidade na preservação de fontes e
chafarizes públicos” relata o esquecimento de fontes e
chafarizes na Bahia, atendendo a grupos mais vulneráveis, com
relatos de pessoas bebendo dessas águas, mesmo em
condições precárias. Lavadores de carro e pessoas que fazem
o uso de drogas também usam esses locais.

CONCLUSÃO
A investigação dos chafarizes históricos de São Luís
revela não apenas a riqueza cultural e histórica desses
monumentos, mas também a interligação entre a preservação
do patrimônio e a dinâmica social contemporânea. Ao longo
deste estudo, foi possível observar não apenas a importância
desses chafarizes como elementos arquitetônicos, mas
também como testemunhas do desenvolvimento urbano e do
abastecimento de água na cidade.
A história desses chafarizes remonta a um tempo onde a água
era um recurso escasso e o acesso a ela refletia, muitas vezes,
a segregação social. A instalação desses monumentos, em sua
maioria vindos da Inglaterra, refletia não apenas a busca por
abastecimento, mas também a tentativa de modernização e
higienização das cidades, seguindo padrões europeus da
época.
No entanto, o estado atual desses chafarizes históricos
revela um desafio significativo: a necessidade de preservação.
Enquanto alguns se encontram em bom estado de
conservação, outros sofrem com a negligência e a falta de

394
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
cuidado. A utilização inadequada, seja para lavagem de roupas,
veículos ou mesmo para banhos, reflete não apenas a falta de
manutenção, mas também a necessidade de uma nova
consciência coletiva sobre a importância desses monumentos
para a identidade da cidade
A preservação desses chafarizes não é apenas uma
questão de manter estruturas físicas, mas também de manter
viva a memória e a identidade cultural de São Luís. É
necessário um esforço conjunto e urgente entre autoridades,
comunidade local e instituições de preservação para garantir
não apenas a conservação física desses monumentos, mas
também a sua valorização enquanto elementos históricos e
culturais.
Esse estudo nos leva a refletir sobre o papel dos
chafarizes históricos não apenas como fontes de abastecimento
de água, mas como símbolos de uma época, testemunhas de
transformações urbanas e elementos intrínsecos à identidade
de São Luís.

REFERÊNCIAS
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Park (EUA):Sage, 1988.
BRANDI, Cesare. Teoria da restauração. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005.
BRASIL.Ministério do Turismo. Conheça 23 Patrimônios da Humanidade
que ficam no Brasil. gov.br. 2022. Disponível em:
https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/noticias/patrimonios-da-
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Acesso em: 4 dez. 2023.
DANNEMANN, João Carlos Silveira. Arquitetura da água em salvador:
legibilidade na preservação de fontes e chafarizes públicos. 2018. 371
f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2018.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC,
2002. Apostila.

395
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
FIGUEIREDO, Tayana do Nascimento Santana Campos. Relatório
Técnico referente ao Projeto de restauração do Chafariz da Praça da
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Projetos Especiais – Sempe, 2019. 51 p.
GARRIDO, Rosilan Mota. As artes e a arquitetura na praça pedro ii
signos e significados. 2021. 462 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Arquitetura, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2021.
GIBROWSKI, Cristina. A trajetória de um monumento na paisagem
urbana de Porto Alegre (1866-2013): de Chafariz Imperador para
Afluentes do Guaíba. 2014. 125 f. Dissertação (Doutorado) - Curso de
Memória Social e Bens Culturais, Centro Universitário Unilasalle, Canoas,
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GIL, A. C. Como classificar as pesquisas. In: Gil A. C. Como elaborar
projetos de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas, p. 41-57, 2002.
LACROIX , Maria de Lourdes Lauande. São Luís do Maranhão, Corpo e
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21-8.
LIMA, Carlos de. Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios
históricos. São Paulo: Siciliano, 2002.

NOTÍCIA: São Luís (MA) comemora aniversário com a primeira praça


da capital totalmente revitalizada – IPHAN(2018) - Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/4806/sao-luis-ma-comemora-
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Acesso em: 23 nov. 2023.
PINHEIRO, Luiz Antonio. A modernização dos serviços urbanos de
abastecimento d’água na são luís oitocentista, advinda das viagens
de estudos de jovens maranhenses para a europa: caso da
Companhia Anil. 2017. 134 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de –
Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, Pós-Graduação,
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PORTELA, Lauralice. Jardim do Palácio Cristo Rei encanta visitantes.
2011. Revisão: Késia Andrade. Disponível em:
https://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/noticias/noticia.jsf?id=10949.
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SANTOS, Emílio Ribeiro Martins dos. A inserção do mobiliário urbano
contemporâneo no centro histórico de são luís/ma - praça d. Pedro ii.

396
CHAFARIZES HISTÓRICOS DE SÃO LUIS – MA: UMA FONTE DE
ABASTECIMENTO E HISTÓRIA.
2011. 113 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura, Universidade
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VERDEJO. Miguel E. Diagnóstico rural participativo: guia prático DRP.
Brasília: MDA / Secretaria da Agricultura Familiar, 2010. 62 p.
VIEIRA, Bárbara de Castro. A água e a constituição de lugares e da
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diamantina, mg. 2019. 108 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências
Humanas, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri,
Diamantina, 2019.

397
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

CAPÍTULO 21

DELLAS AROMAS: inseticida natural de


materiais orgânicas
Thais de Souza GOULART 2
Francilene Cardoso Alves FORTES1
1
Orientadora/Professora Dra em Agronomia da Escola Técnica Estadual de Tangará da
Serra/MT; 2 Estudantes da Escola Técnica Estadual de Tangará da Serra/MTdo Curso
Técnico em Agronegócio
lene_fortes@yahoo.com.br; thaisgoulart05@gmail.com

RESUMO: A motivação para esse estudo surgiu quando se


percebeu que havia um grande desperdício da casca da laranja,
que não era utilizado pelos moradores de sítio, fazenda, entre
outros. Assim pensou em produzir velas não apenas reproduzir
aromas tradicionais, mas sim proporcionar experiências
inspiradoras e assim surgiu a nossa empresa Dellas Aromas. O
presente trabalho tem como objetivo reaproveitar as matérias
orgânicas para desenvolver um coproduto (velas) produzidos
por composto natural para repelir mosquitos, barata e mosca.
Assim a metodologia foi pensada para lugares que tem muitos
insetos, e assim resolveu fazer algo barato, fácil e rápido,
usando a casca de laranja, alecrim, cravo, canela, óleo de
eucalipto, citronela, e de capim limão ou a própria casca do
limão e álcool 70º. A importância do material foi para amenizar
a presença dos insetos em casa, evitando mosca, barata e
entre outros, gastando pouco e sendo eficiente para a
população de classe baixa e média. Espera-se que a vela e o
repelente possam solucionar problemas com os insetos,
matando e controlando os mesmos. Pois é um produto orgânico
que não prejudica a natureza e toda dona de casa tem os
ingredientes para fazer.
Palavras-chave: Orgânico. Velas. Inseticidas, Aromáticas.

398
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

INTRODUÇÃO
Em estações mais quentes os pernilongos invadem
nossas casas e atormentam a pele das nossas crianças, e com
aqueles zumbidos acabam com a boa noite de sono, nos
deixando muitas vezes estressados. Além disso, os perigos dos
pernilongos vão além das reações alérgicas, mas também a
transmissão de doenças como a dengue, a zika (nerio et al.,
2010).
Contudo o perfil dos repelentes químicos, que apesar de
garantirem alta ação contra insetos, não garantem total
segurança à saúde humana acarretando riscos para a pele e
para o sistema nervoso. Tais problemas intensificam a busca
por compostos naturais com ação repelente, que sejam seguros
e sustentáveis (Soonwera e Phasomkusolsil, 2017).
Recentemente, produtos repelentes comerciais que
contêm ingredientes à base de plantas, vem ganhando
popularidade crescente entre os consumidores, por contém um
risco menor ao ambiente e à saúde humana Kweka et al. (2008).
Pensando nesta problemática e alinhando ao reaproveitamento
de resíduos desperdiçados como sementes, cascas de frutas e
outros que chegam aos aterros, mas podem ser reaproveitados
ainda na casa dos usuários.
Segundo Kweka et al. (2008) a atividade inseticida nas
plantas é referida à presença de substâncias bioativas, que em
resposta ofensiva, acionam as diferentes estruturas químicas
com diversas atividades contra insetos. Diante disso, surgiu a
motivação deste estudo ao perceber que havia um grande
desperdício dos resíduos orgânicos como casca da laranja,
limão, cravo da índia entre outros que não era utilizado pelos
moradores de sítio, residências, fazenda em Tangará da
Serra/MT. Assim se pensou em produzir velas não apenas para

399
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

reproduzir aromas tradicionais, mas sim espantar os mosquitos


e pernilongos, e mediante a isso criou a Dellas Aromas.
Justifica-se este estudo pois compostos derivados de
plantas mostram ser uma boa solução, não apenas como novas
ferramentas eficazes na gestão de políticas voltadas ao controle
de vetores, mas, também, como agentes ambientalmente mais
seguros. Soonwera e Phasomkusolsil (2017) comentam sobre
a utilização de plantas como uma alternativa inseticida, por
possuírem uma fonte rica de produtos químicos bioativos.
Pesquisas realizadas vem mostrando que os inseticidas
sintéticos vêm sendo implamente utilizados devido a crescente
densidade populacional de mosquitos vetores de doenças,
como o Aedes aegypti, transmissor de arboviroses, que se
manifesta através de várias formas de doenças, como, dengue,
chikungunya, zika, dengue hemorrágica e febre amarela, por
isso a grande preocupação em busca de novas alternativas de
substâncias com efeitos larvicida e inseticida para o controle de
Aedes no Brasil (Nerio et al., 2010).
Além disso, o combate destes mosquitos são o uso de
inseticidas sintéticos, compostos com organofosforados e
piretróides, sendo altamente tóxicos a saúde. E com consumo
frequente, intensivo e em doses cada vez maiores, vem
acarretando sérios problemas como, populações de mosquitos
resistentes aos produtos, alteração do ciclo do mosquito e
podendo atingir os inimigos naturais que colaboram com o
equilíbrio ambiental, trazendo efeitos adversos (Luna et al.,
2013; OMS, 2022).
Há um aumento pela procura de repelentes naturais já
que estes são correlacionados e até mais eficazes que os
sintéticos, porém repelentes de óleos essenciais tendem a ser
de curta duração e sua eficácia depende das suas propriedades
químicas (Nerio et al., 2010). E segundo Tajuddin et al. (2014),

400
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

os óleos essenciais que possuem os melhores resultados como


repelentes são: citronela, frutas cítricas, cravo, verbena, cedro,
lavanda, pinho, canela, alecrim, manjericão, pimenta e pimenta
da jamaica. Justificando ainda mais a criação da Dellas Aromas.
Diante do exposto o objetivo foi reaproveitar as matérias
orgânicas para desenvolver um coproduto (velas) produzidos
por composto natural para repelir moscas, borrachudos,
mutucas, pernilongos, entre outros. Com foco no crescimento,
rentabilidade e responsabilidade socioambeintal.
E os objetivos específicos foram realizar o levantamento
bibliográfico das plantas estão sendo estudadas quanto ao seu
potencial de utilização na produção de repelentes contra o
mosquito Aedes aegypti; produzir velas como inseticida natural
a partir dos compostos orgânicos (casca, e frutos) contra o
mosquito Aedes aegypti; e avaliar a satisfação das pessoas
com uso do produto confecionado pelo autores do estudo.

MATERIAIS E MÉTODO
O trabalho foi realizado no sitio Araputanga no município
de Tangará da Serra/ MT.
A pesquisa teve caráter bibliográfica, descritiva, quali-
quantitativa, e de campo.
Este trabalho buscou analisar a problemática referente à
utilização de substâncias de origem natural como repelentes de
insetos. Para tal, foi realizada uma revisão bibliográfica e
encontrou trabalhos relacionados a utilização de substâncias de
origem vegetal para aplicação na composição de repelentes
naturais, mostrando satisfatória os repelentes naturais para
plantas estudadas, pincipalmente contra Aedes Aegypti. Diante
disso, iniciou com o levantamento das plantas
Para começar a confecção do produto fez-se pesquisa
na internet, youtube e revistas, artigos científicos. Não

401
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

satisfeitas com os resulatdos encontrados, pesquisou-se no


instagram onde encontrou-se um empresário de Tangará da
Serra/MT que fazia velas para banho e aromas de lares. Assim
realizou-se contato com o mesmo para nos forneceder melhor
entendimento sobre o assunto, onde teve-se um minicurso
sobre todos os ingredientes a ser usado da forma correta. Após
todos as orientações, o mesmo produziu uma vela e da seguinte
forma:
Para cada 1kilo de vela é usado:
✓ 500g de parafina de soja (orgânica);
✓ 500g de gordura vegetal;
✓ 100 á 200ml de óleo;
✓ Para um pote de 120 a 150 ml ( pavio médio, pois ao
queimar a vela, se for um pavio pequeno, não queima o ideal é
disperdisado o material).
Depois desse conhecimento, e afim de identificar e
caracterizar os insumos vegetais usados na remediação do
controle do A. aegypti foram realizadas busca na literatura
utilizando os descritores: A. aegypti, dengue, larvicida, óleo
essential e repelente. Os documentos buscam responder às
questões: qual a planta estudada? qual a ação encontrada?
qual o tipo de insumo utilizado?
Para a confecção dos produtos todos os insumos foram
desidratados para o preparo adequado do repelente, e para
cada 1 kilo de vela foi usado:
✓ 500g de parafina de soja;
✓ 500g de gordura vegetal;
✓ 150g de alecrim;
✓ 150g de canela;
✓ 150g de cravo;
✓ 150g de louro;
✓ 100 a 200ml de óleo de lavanda, eucalipto e capim

402
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

limão.
✓ Para um pote de 120 a 150 ml.
Sendo assim, confeccionado a vela, figura 1 (A) e
também o spray, figura 1 (B).

Figura 1: A - Velas inseticidas artesanais produzidas pelo


autores; B – Sprays produzidos pelos autores deste estudo.

A B

Fonte: Autores (2023).

Para verificar a satisfação dos consumidores fez-se uma


pesquisa com questões fechadas, afim de melhor divulgação do
produtos. Bem como foi apresentado em Amostra Científica na
Escola Seciteci e na Semana Tecnologia - MECTI 2023 em
Cuiabá/MT.
Com o aumento no número de casos de dengue em
Tangará da Serra/MT, ações têm sido tomadas a fim de
combater o avanço da doença, e entre elas, tem ocorrido entre
a população a intensificação no uso de repelentes.
Recentemente, produtos repelentes comerciais que contêm
ingredientes à base de plantas, vem ganhando popularidade
crescente entre os consumidores, por contém um risco menor
ao ambiente e à saúde humana.

403
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

Diante disso, esta pesquisa, teve como interesse


desenvolver velas repelentes que, além de proteger contra os
pernilongos, podem ser usadas pois as substâncias presentes
nelas, são extraídos de plantas naturais (como folhas, casca ou
fruto) e não oferecem risco toxicológico ao ser humano.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo Kweka et al., (2008) a atividade inseticida nas
plantas é referida à presença de substâncias bioativas, que em
resposta ofensiva, acionam as diferentes estruturas químicas
com diversas atividades contra insetos. E além disso, há uma
grande diversidade botânica em prospecção, com inúmeras
plantas detentoras de atividade inseticida para controle
integrado de pragas.
Então, se há uma solução que não agride a natureza ou
a nossa saúde, porque não testar, além de garantir um cheiro
maravilhoso dentro e fora de casa, as velas inseticidas
perfumadas também podem trazer grandes benefícios para a
saúde física e mental. E segundo Tajuddin et al., (2014), os
óleos essenciais que possuem os melhores resultados como
repelentes são: citronela, cravo da india, verbena, cedro, pinho,
canela, alecrim, manjericão, pimenta e pimenta da jamaica.
Neste contexo, serão apresentados os resultados
referentes a análise detalhada realizada após a pesquisa
bibliográfica a respeito do potencial repelente das plantas
selecionadas:
A citronela (Cymbopogon winterianus) é uma planta
totalmente natural, não agride a saúde, há a vela repelente de
citronela, tem o mesmo efeito dos inseticidas, outro ponto
positivo é o aroma extremamente agradável que perfuma o
cômodo, não irritando as células olfativas (Oliveira, 2012;
Veloso et al., 2015).

404
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

Além disso, cresce cada vez mais a procura por velas


artesanais de citronela devido à sua prioridade como repelente,
pois seu óleo possui cerca de 40% de citronelal, e um artigos
realizaram teste de repelência, apresentando resultados
positivos (Carneiro, 2016; ECYCLE, 2023).
Já o Cravo-da-índia (Syzygium Aromaticum), é um
eficiente repelente natural contra pernilongos, inclusive contra
o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, chikungunya
e zika vírus. Isto porque o principal componente do óleo
essencial do cravo-da-índia é o eugenol que possui grande
atividade biológica, principalmente contra bactérias, fungos e
mosquitos, além de moscas e formigas. E os resultados de
repelncia resultados foram positivos (Nascimento, 2012).
Quanto aos trabalhos sobre o alecrim (Rosmarinus
officinalis), o eucaliptol e o βcariofileno foram apontados como
repelentes, três artigos apresentaram o teste de repelência e
todos apontaram resultados positivos (Haralambos et al., 2005).
Estes testes com repelentes caseiros a base do mesmo
composto, feitos no Brasil, mostraram que este confere 63% de
proteção contra picadas do mosquito Aedes aegypti (Affonso et
al., 2018).
Tambem no trabalho de Bueno e Andrade (2010), onde
o teste foi realizado nos dedos das mãos dos autores, os
resultados mostraram que o óleo de alecrim foi capaz de repelir
84,1% dos mosquitos, sendo apenas menos eficaz que a
citronela que apresentou 99% de proteção.
Já o óleo essencial de eucalipto (Eucalyptus fastigata) já
foi utilizado em estudos referentes ao seu efeito inseticida e até
antimicrobiano (Auysawasdi et al., 2016), e na pesquisa
realizada por Lucia et al., (2012a) para testar a atividades
larvicida de 13 óleos essenciais de eucalipto em A. aegypti,
foram obtidos resultados positivos, no qual o óleo essencial de

405
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

E. fastigata foi o mais eficaz com uma mortalidade larval de


92,85 %.
Estudo sobre a familia Lauraceae, a qual perentece a
canela (Cinnamomum verum), conhecida como canela da india,
foram realizadas e detectaram que o principal composto, o
eugenol, presente em diversar espécies desta familia, possui
ação larvicida contra A. Aegypti (Fernandez et al., 2014).
Leão, Ferreira e Jardim (2007) fizeram um levantamento
sobre as plantas de uso terapêutico no estado do Pará, e dentre
as plantas encontradas, constataram que a população em
estudo utiliza a alfazema (Lavanda officinalis Chaix & Kitt.) no
controle da dengue.Também artigos apresentaram informações
sobre a planta alfazema indicaram que o seu principal
componente repelente é o linalol, inclusive um artigo utilizou
apenas este composto para a realização do teste de repelência
e trouxe resultados positivos (Assis, 2014).
Assim como as frutas cítricas (família Rutaceae) como a
laranja (Citrus sinensis) , limão (Citrus limon) ou tangerina
possui ácido cítrico, um odor desagradável para os insetos. Ao
aquecer a casca dessas frutas o ácido cítrico é liberado no
ambiente, espantando os mosquitos e pernilongos (Hafeez et al
(2011, p. 56). Estudos já provam que o óleo essencial da casca
da Laranja e limão, apresenta não apenas o poder repelente,
como também, inseticida, antioxidante, antimicrobiana e
anticâncer (Farhat et al., 2011).
No entanto, Furtado et al., (2005) reportaram em seu
estudo ação larvicida de óleos essenciais contento limomeno,
linalol, eugenol frente ao mosquito Aedes aegypti. O limoneno
e o linalol são inseticidas de contato, tendo também espectro
fumigante, onde a super estimulação do sistema motor leva a
uma rápida paralisia corporal. Esses produtos tem sido
combinado em caldas contendo sabão para o controle de

406
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

pulgões, cochonilhas, pulgas, piolhos, carrapatos e ácaros


(Farhat et al., 2011).
Em relação ao louro (Laurus nobilis Linn), a repelência já
fora registrada no estudo de Machado et al., (2015), os quais
observaram que os compostos voláteis dessa planta são
repelentes. Kahan et al., (2008) também comentam sobre efeito
repelente do louro, segundo este apresenta uma grande
quantidade de substâncias químicas bioativas como terpenos e
taninos que interferem na atividade biológica de insetos.
Diante disso, percebe-se a importância deste estudo,
pois no decorrer das pesquisas literárias observou autores que
abordavam de algumas destas plantas utilizadas na pesquisa
de forma isolada, nota-se que há comprovações científicas de
suas ações repelentes e inseticidas, porém não há trabalhos
literários com a junção destas plantas e concentrações proposta
pela Dellas Aromas, principalmente no que se refere a velas
inseticidas, tornando a ideia diferenciada e inovadora.
A partir do estudo literários a respeito das substâncias de
origem vegetal com potencial repelente, fez-se questionário aos
alunos durante Amostra Científica – Secitec e aos visitantes da
MECTI 2023, onde na figura 2, perguntou o vocês acham da
vela inseticida natural Dellas Aromas, onde 20 alunos, e 50
visitantes responderam achou interessante e diferente, 06
alunos e 10 visitantes conhece velas com citronela; 33 alunos e
42 visitantes não sabia que uma vela podia ter vários produtos;
34 alunos e 33 alunos só conhecia vela tradicional.

407
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

Figura 2. Sabiam que estas plantas apresentadas pelo


autores são repelentes contra o A. Aegypti.

Não sabia, cravo da índia (ação inseticida);

Sabia, cravo da índia (ação inseticida);

Não sabia, eucalipto, canela, casca limão…

Sabia, eucalipto, canela, casca limão e…

Não sabia, que a citronela era repelente

Sabia, que a citronela era repelente

Não sabia, que a alfazema, louro alecrim…

Sabia, alfazema, louro alecrim são…

0 2 4 6 8 10 12
Técnico ADM 3º M da E 13 de Maio 2º D da E 13 de Maio 1º C da E 13 de Maio

Fonte: Autores. 2023

Diante disso, confeccionou velas inseticidas repelentes


Dellas Aromas que, além de proteger contra os pernilongos,
podem ser usadas pois as substâncias presentes nelas, são
extraídos de plantas naturais (como folhas, casca) e não
oferecem risco tóxico.
E assim, na figura 3, perguntou o que vocês acham da
vela inseticida natural Dellas Aromas? Onde 48 dos
entrevistados responderam achou interessante e diferente; 26
alunos somente conheciam vela tradicional; 04 conhecim velas
com citronelas; 7 alunos não sabiam que uma vela podia ter
vários produtos.

408
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

Figura 3: O que vocês acham da vela inseticida natural Dellas


Aromas?

14
15 1º C - E 13 de Maio 2º D - E 13 de Maio
12 12
3º M - E 13 de Maio Técnico ADM - Secitec
10
10 8
7
6
5
5 3
2
1 1 1 1 1 1
0 0 0 0
0
Achei ideia Somente Somente Não sabia Tenho receio
super conhecia conheço a que podia ter de adquirir
interessante velas com vela vários os produtos,
e citronela. tradicional produtos e ele não
diferenciada numa vela. funcionar.

Fonte: Autores. 2023

Com estes resultados, espera-se que a Dellas Aromas


crie raízes em Tangará da Serra/MT e que venda dos produtos
com propriedades inseticidas tenham hábitos de crescimento,
com qualidade e com boa aceitação a população local.
Devido aos grandes males causados pela utilização em
larga escala inseticidas sintéticos, e impulsionou ainda mais a
busca destes visitantes pela confecção de velas inseticidas
artesanais Dellas Aromas, cuja missão visa em contribuir com
produtos alternativos que não agridam a saúde e nem o meio
ambiente. Diante disso, perguntou na figura 4, aos
entrevistados “você recomendaria estes produtos a um amigo
ou conhecido?”
Então 46 alunos disseram que comprariam devido o
cheiro ser agradável e a ideia diferenciada; já 14 alunos
disseram talvez, pois necessita adquirir os produtos para testá-

409
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

los, e outros 6 disseram que talvez, se os produtos estivessem


no mercado.

Figura 4: Você recomendaria estes produtos a um amigo ou


conhecido?

14 1º C - E 13 de Maio
15
12 2º D - E 13 de Maio
11
9 3º M - E 13 de Maio
10
5 5
4
5
2 2 2
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
0
Sim, cheiro Não, porque Talvez, pois Talvez, se os Não, porque
agradável e os produtos necessito produtos acho que
ideia são de adquirir os estivessem não
diferenciada. péssima produtos no mercado. funciona.
qualidade para testá-
los.

Fonte: Autores. 2023

Mesmo que a grande maioria dos entrevistados


recomendem os produtos, percebe-se o quão relevante se torna
a divulgação dos produtos Dellas Aromas tanto no município de
Tangará da Serra/MT, quanto regionalmente, seja por meio de
ações preventivas, ou com orientações aos moradores, seja em
visitas domiciliares, redes socias, material informativo e
educativo, televisão ou até mesmo boca a boca foram
estratégias usadas para melhor disseminação deste estudo
aqui realizado.
Vendo a satisfação e os interesse dos entrevistados pelo
nossos produtos, na figura 5, perguntou se eles comprariam as
velas vendida por R$25,00 (120 ml) e R$10,00 (30 ml) o
repelente líquido?

410
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

Figura 5: Você compraria nossos produtos pelo valor


informado?

10
1º C - E 13 de Maio
8 2º D - E 13 de Maio
3º M - E 13 de Maio
6

0
Sim, gostaria de Sim, cheiro é Talvez, Não, é um Não compraria,
experimentar agradável e necessito testar produto que achei caro.
em casa embalagem primeiro. não tenho
bonita certeza se é
eficaz
Fonte: Autores. 2023

Por fim, as velas inseticidas Dellas Aromas, teve boa


aceitação pelos entrevistados, foram vendidas nos dois eventos
aproximadamente 2 velas, totalizando R$50,00 e 02 sprays,
totalizando R$ 14,00, num total de R$ 64,00. Além disso, a vela
aqui apresentada pode servir de decoração para ambientes
internos, como os quartos e sala de estar, além de servir de
inspiração para presentear alguém, e/ou deixá-la sob castiçais,
candelabros e lanternas, tudo para dar a harmonia no ambiente.
Mesmo com o crescente interesse por produtos naturais,
bem como a conscientização dos consumidores levando-os a
atitudes ecologicamente corretas. Todos estes aspectos
impulsionou ainda mais a divulgação das velas inseticidas
Dellas Aromas.
Os resultados foram extremamente positivos, foi
apresentado na Mostra Científica da Escola Técnica de

411
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

Tangará da Serra em 2023, figura 6 (A), depois aprovado para


apresentação no MECTI 2023, figura 6 (B), onde o trabalho
ficou em primeiro lugar na MECTI na categoria Ciências,
conforme pode ser observado na figura 6 (C).

Figura 6: A – Mostra Científica; B- Divulgação - MECTI 2023;

A B

Fonte: Autores. 2023

Mesmo que os produtos com propriedades inseticidas,


tenham tido boa aceitação da população local, e que a grande
maioria dos visitantes na Mostra Científica da Escola Técnica
de Tangará da Serra em 2023 tenham comprado os produtos
pelos preços vendidos durante o evento.

412
DELLAS AROMAS: INSETICIDA NATURAL DE MATERIAIS ORGÂNICAS.

Espera-se que as velas inseticidas Dellas Aromas


tenham crescimento regional, contudo faz-se necessário
maiores estudos envolvendo espécies vegetais buscando
oferecer maior segurança, e aplicabilidade dos produtos. Diante
disso, em uma próxima etapa, espera-se verificar se o teste de
repelência do produto será eficaz, dando assim melhor
visibilidade e confiabilidade da velas inseticidas Dellas Aromas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do projeto observou-se que os discentes
participantes do estudo, além de tímidos superaram todas as
barreiras com as atividades inerentes ao projeto e vieram a
validar e melhorar o projeto.
Nas etapas da confecção e montagem das velas e
sprays percebeu-se uma maior interação entre eles, e
validaram o experimento em suas casas, por meio dos
familiares, filhos e vizinhos. Mostrando assim a seriedade da
pesquisa.
Mesmo assim, faz-se necessários novos estudos
envolvendo análise do teste de repelência do produto
verificando sua eficácia, e consequetemente sua inserção no
mercado.

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https://editoraverde.org/gvaa.com.br/revista/index.php/rads/article/view/332
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415
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
CAPÍTULO 22

EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE


AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E SAÚDE
DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA
QUALIDADE DE VIDA
Vanessa Souto PAULO 1
Joana Maria Soares dos SANTOS 2
Gilvia Queiroz SANTOS 3
Vanner Boere SOUZA 4
Ita de Oliveira e SILVA 5
1
Mestranda em Saúde, Ambiente e Biodiversidade pela Universidade Federal do Sul da Bahia
-UFSB; 2 Mestranda em Saúde, Ambiente e Biodiversidade pela Universidade Federal do Sul
da Bahia -UFSB; 3 Graduanda em bacharelado interdisciplinar em artes pela Universidade
Federal do Sul da Bahia -UFSB; 4 Doutor em Neurociências e comportamento pela
Universidade de São Paulo Professor Associado da Universidade Federal do Sul da Bahia; 5
Professora orientadora Doutora em Biologia Animal pela Universidade de Brasília - Brasil
Professora Associada da Universidade Federal do Sul da Bahia - UFSB.
nessagrapi@gmail.com

RESUMO: A habitabilidade representa a base da qualidade da


moradia, abrange aspectos como acesso à água potável,
saneamento adequado, ventilação e iluminação, fundamentais
para o bem-estar dos moradores. Um ambiente transcende as
paredes da habitação, considerando a área externa, acesso a
serviços públicos e áreas de lazer, influenciando a qualidade de
vida e integração social. A saúde da moradia engloba a
qualidade do ar, água, alimentação e condições sanitárias,
sendo vital para prevenir riscos à saúde. A interação desses
elementos é essencial na avaliação da qualidade de vida, indo
além de aspectos físicos para abranger o bem-estar psicológico
e social. Esta revisão sistemática apresenta e explora a relação
entre habitabilidade, ambiência e saúde da moradia na
avaliação da qualidade de vida em conjuntos habitacionais. A
pesquisa buscou evidenciar a importância de considerar esses
componentes interdependentes na promoção de comunidades

416
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
saudáveis e harmoniosas. A análise dos resultados revelou a
necessidade de políticas habitacionais sensíveis às
particularidades locais, com adaptação às diferentes
experiências habitacionais. Investir em habitação saudável e
ambientes projetados para a saúde é fundamental não apenas
para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, mas também
para promover a saúde pública e reduzir disparidades na saúde
da população como um todo. A escassez de estudos nesse
campo ressalta a urgência de uma maior produção científica
para informar políticas e práticas concretas.
Palavras-chave: Ambiência. Habitabilidade. Saúde da moradia
e qualidade de vida.

INTRODUÇÃO
A qualidade da moradia é um fator crítico na vida das
pessoas, influenciando não apenas o seu bem-estar, mas
também a sua saúde física e mental. Nesse contexto, três
elementos desempenham papéis fundamentais na avaliação da
qualidade da habitação em conjuntos habitacionais:
habitabilidade, ambiência e saúde. Esses aspectos
interconectados estão intrinsecamente ligados à capacidade de
proporcionar condições de vida dignas e saudáveis para os
residentes. Neste artigo, exploraremos a importância desses
três componentes na concepção de moradias habitacionais
adequadas e saudáveis (Cohen et al, 2007).
A habitabilidade é o alicerce da qualidade da moradia.
Consiste nas condições internas de uma residência que
garantem o conforto, a segurança e a funcionalidade
necessárias para a vida cotidiana. Aspectos como o acesso à
água potável, saneamento adequado, ventilação, iluminação,
isolamento térmico e acústico são elementos-chave da
habitabilidade. Garantir que as residências atendam a essas

417
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
normas é essencial para a saúde e o bem-estar dos moradores
(Bender, 2019).
A ambiência, por sua vez, transcende as paredes da
habitação. Ela considera o ambiente externo ao domicílio,
abrangendo a vizinhança, o acesso aos serviços públicos,
áreas de lazer e mobilidade. Uma ambiência adequada
contribui para a integração social, o senso de comunidade e a
qualidade de vida dos residentes. Oferecer um ambiente seguro
e acessível em torno das moradias é fundamental para garantir
que os habitantes desfrutem de uma vida plena e conectada
com a sociedade (Cohen, 2020).
A saúde é outro fator crucial na avaliação da qualidade
da moradia. Engloba a qualidade do ar, da água e da
alimentação, bem como as condições sanitárias do imóvel. A
falta de saneamento adequado, a exposição a ambientes
insalubres e a escassez de recursos hídricos limpos podem
representar sérios riscos à saúde dos moradores. Portanto, é
vital que as habitações em conjuntos habitacionais atendam a
padrões de qualidade que promovam a saúde e previnam
problemas relacionados à moradia insalubre (Cohen et al,
2007).
Dentro do escopo dos aglomerados subnormais, é
preciso entender melhor a questão fundamental referente à
saúde não só dos indivíduos, mas também da própria habitação
onde vivem, além da segurança habitacional relativa ao espaço
geográfico onde esses domicílios estão alocados. No conceito
ampliado de saúde, definido pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), as condições de vida e de trabalho das pessoas
influenciam sua situação de saúde, seja atuando diretamente
sobre a ocorrência de problemas de saúde ou indiretamente,
como fatores de risco ou limitantes do acesso a bens e serviços

418
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
essenciais como habitação, saneamento e políticas públicas
(Carvalho et al, 2021).
A relação entre habitabilidade, ambiência e saúde não se
limita apenas à melhoria das condições de vida em si, mas está
intrinsecamente ligada à avaliação da qualidade de vida dos
residentes. A qualidade de vida é um conceito multidimensional
que abrange não apenas as condições materiais, mas também
o bem-estar psicológico, social e emocional das pessoas. Desta
forma, uma habitação de qualidade não só proporciona conforto
e segurança, mas também contribui para um ambiente propício
ao desenvolvimento de laços sociais, ao convívio comunitário e
ao fortalecimento da identidade e pertencimento (Araújo et al,
2020).
A ambiência é fundamental na formação da moradia
adequada, tanto na sua dimensão objetiva quanto na subjetiva.
Isso significa que a qualidade do espaço em si é importante
(acessibilidade, segurança, infraestrutura, entre outros), mas
também é necessário considerar a perspectiva emocional e
subjetiva dos moradores, suas experiências, sentimentos e
vínculos com o lugar. A ambiência adequada é um fator
relevante para a qualidade de vida e bem-estar das pessoas,
especialmente das mais vulneráveis. Estudos têm mostrado
que aspectos como iluminação adequada, espaço limpo,
qualidade do ar, acessibilidade e segurança aumentam o nível
de atividade física, de participação social em comunidade,
proporcionando maior agradabilidade e influenciando
positivamente na saúde individual e coletiva (Menezes, 2020).
A influência da moradia na qualidade de vida é
particularmente evidente quando se considera a saúde. Uma
habitação precária ou insalubre pode resultar em sérios
problemas de saúde para os moradores, incluindo doenças
respiratórias, infecciosas e transtornos mentais. Por outro lado,

419
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
moradias adequadas promovem uma melhor saúde física e
mental, reduzindo o risco de doenças e melhorando a qualidade
de vida. Além disso, a ambiência externa, como o acesso a
espaços verdes, áreas de lazer e infraestrutura de transporte,
desempenha um papel fundamental na promoção de estilos de
vida ativos e saudáveis (Carvalho, 2021).
As condições de vida e saúde melhoraram de forma
contínua e sustentada na maioria dos países, graças aos
progressos políticos, econômicos, sociais, ambientais e aos
avanços na saúde pública e na medicina, mesmo com esses
avanços, ainda existem desafios importantes relacionados às
desigualdades sociais e sanitárias que afetam a saúde e
qualidade de vida das populações, principalmente no que tange
a moradia e qualidade de suas residências, a análise da relação
entre habitação e saúde se dá por agrupamentos de
necessidades habitacionais (Almeida et al, 2020).
A avaliação da qualidade de vida nas moradias em
conjuntos habitacionais é, portanto, um processo complexo que
vai além de simples quantitativas. Ela requer uma análise
holística que considere a habitabilidade, a ambiência e a saúde,
levando em conta não apenas os aspectos físicos, mas também
as experiências subjetivas dos moradores. Compreender a
interconexão desses elementos é essencial para desenvolver
políticas habitacionais mais eficazes, que visem proporcionar
não apenas abrigos, mas ambientes onde as pessoas possam
prosperar, desfrutar de uma vida saudável e melhorar sua
qualidade de vida. Neste contexto, este artigo busca explorar a
complexa relação entre a moradia e a qualidade de vida,
destacando a importância de abordar a habitabilidade, a
ambiência e a saúde como componentes interdependentes na
busca por comunidades mais saudáveis e com maior qualidade
de vida (Almeida et al, 2020).

420
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
Espaços saudáveis são tendências e utilizam técnicas e
a metodologia de habitação saudável, que visa desenvolver
planos de ação para a construção de políticas públicas
saudáveis no âmbito habitacional, levando em consideração
múltiplas dimensões como cultural, econômica, ecológica,
sociológica e de saúde humana. Esse processo envolve
diagnóstico diferenciado, levantamento de indicadores e
construção de matrizes para cada comunidade, considerando
variáveis como infraestrutura de serviços, participação social,
soluções para o espaço e muito mais (Cohen, 2020).
A disseminação dessa metodologia busca implementar
políticas públicas saudáveis dentro da moradia, sensibilizando
para a preservação e proteção do habitação saudável, busca
ainda, formar recursos humanos dentro da unidade residencial
para identificação e gerenciamento de vulnerabilidades e riscos
no ambiente construído e no seu entorno, contribuindo com a
implementação de projetos para a conquista do
desenvolvimento sustentável (Cohen, 2020).
A presente revisão tem como objetivos, explorar a
relação entre ambiência, habitabilidade e saúde da moradia na
avaliação da qualidade de vida de indivíduos que vivem em
diferentes tipos de ambientes habitacionais, busca identificar os
principais fatores que influenciam a percepção dos indivíduos
em relação à ambiência, habitabilidade e saúde da sua moradia
e por fim, visa avaliar o impacto das condições de moradia na
vivência de cada indivíduo dentro de sua realidade.

MATERIAIS E MÉTODO
A questão de investigação foi formulada usando a
ferramenta PICO. Assim, este estudo versa sobre indivíduos
que habitam residências de diversos tipos de ambientes
urbanos em comunidades no Brasil e compara a relação entre

421
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
os conceitos de habitação e habitabilidade com a qualidade de
vida e saúde de suas habitações. A seguinte pergunta
norteadora foi formulada: Qual a ligação entre ambiência,
habitabilidade e saúde da moradia e como isso impacta na
qualidade de vida dos indivíduos em diferentes tipos de
ambientes habitacionais? Foi avaliada a pertinência de efetuar
esta revisão sistemática (RS) na base de dados Prospectve
Register of Systematic Reviews (PROSPERO), tendo sido
obtidos zero resultados.
As buscas dos artigos que integraram esta revisão
ocorreu em setembro de 2023 nas seguintes bases de dados:
Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE),
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). A
estratégia de busca empregada foi o uso do operador booleano
“AND” entre os descritores habitability and ambience and health
of the home.
Como critérios de inclusão foram considerados trabalhos
originais, disponíveis na íntegra, de forma gratuita, em idioma
inglês, espanhol e português, no limite temporal dos últimos 20
anos e estudos realizados em comunidades dentro do Brasil.
Foram excluídos revisão de literatura, teses de doutorado e
dissertações, resumos simples e expandido, editoriais, cartas
ao editor, informes técnicos, notas prévias, artigos repetidos e
que não estivessem em consonância com o objetivo direto do
presente estudo.
A etapa de seleção dos estudos para análise foi realizada
por dois pesquisadores (VSP e JMSS), de forma independente,
havendo ainda um terceiro pesquisador (GQS) para resolver os
eventuais casos discordantes. Os resultados encontrados nas
buscas foram inseridos no aplicativo web Rayyan, desenvolvido

422
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI), para auxiliar
na organização, separação, leitura e seleção dos artigos.
Após a seleção dos artigos, foram extraídos e
sintetizados os dados relevantes de cada estudo e para a
apresentação dos resultados, os eles foram analisados de
forma descritiva e através de uma tabela, contendo as
seguintes informações: autoria, ano de publicação, desenho do
estudo, região do estudo, amostra e cenário, fonte dos dados,
período de tempo e principais resultados, essa tabela é parte
componente e importante dos resultados da presente revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na etapa de identificação, foram encontrados 259 artigos
(Lilacs-58; Medline-199; Scielo-2;). Na etapa de seleção, 74
artigos foram excluídos por estarem duplicados, 11 devido ao
tipo de estudo (excluídos revisão de literatura, teses e
dissertações, resumos, editoriais, cartas ao editor, informes
técnicos, notas prévias), 45 pela amostra ser incorreta, serem
estudos realizados fora do Brasil, 122 por não atenderem ao
objetivo deste artigo. Na etapa de elegibilidade, os títulos
restantes (7) foram lidos na íntegra e 3 foram excluídos, 1 por
tratar de residências de pacientes com problemas pulmonares
e 1 foi excluído por tratar de segurança na moradia e 1 por se
tratar de uma revisão de literatura. Na etapa de inclusão, os 4
artigos selecionados foram incluídos e tabulados conforme
segue apresentado na Figura 1.

423
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
Figura 1. Fluxograma de seleção dos artigos conforme base de
dados.

Fonte: Autoria própria.

Esta revisão foi constituída por 4 estudos, 1 do tipo


transversal, 1 observacional, 1 qualitativo e 1 estudo ecológico
de série temporal. A amostra total foi composta pelos dados de
4 áreas distintas do Brasil, com casas e condomínios de
variadas rendas. Apenas um dos estudos, Prócópio et al (2022),
apresenta as características da amostra, que foi composta de

424
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
220 famílias residentes no Residencial Tiradentes, em Marabá,
Pará, Brasil.
Quanto às variáveis analisadas, todos os estudos trazem
que (100%) analisaram as seguintes variáveis: Ambiência,
habitação (habitabilidade) e saúde da moradia. No que
concerne à distribuição geográfica, apresenta 3 macrorregiões
geográficas do Brasil (Norte, Nordeste, e Sul).

Tabela 1. Sistematização dos dados encontrados nos estudos.


Autoria, Desenho Amostra/ Viés e limitação. Principais
Ano de do estudo cenário resultados
Publicação e região do
estudo
PROCÓPI O estudo é 220 famílias O estudo Os resultados
O, Gabriel do tipo residentes apresenta principais do
Brito et al, transversal no algumas estudo indicaram
2022. . Residencial limitações, que a percepção
Tiradentes. sendo uma dos moradores do
delas a Residencial
Residencia variabilidade Tiradentes em
l dos fatores relação às
Tiradentes, avaliados, que condições de
em estão sujeitos a habitação,
Marabá, condições ambiência e
Pará, temporais. Outra saúde foi positiva
Brasil. limitação é que para a estética da
a percepção moradia,
individual pode privacidade e vida
variar familiar, luz e
dependendo das iluminação,
dinâmicas facilidade de
sociais, manutenção de
culturais, execução das
políticas na atividades
moradia que domésticas,
podem provocar ambiente, vida
insatisfações. comunitária no
residencial e
segurança contra
fogo e
inundações.

425
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
COHEN, Discute a Não há Não há viés O artigo
Simone Habitação limitação de e/ou limitação. apresenta a
Cynamon Saudável amostra. Habitação
et al, 2007. como um Saudável como
campo um campo de
potencial intervenção
de essencial na
conhecime estratégia de
ntos e Promoção da
práticas a Saúde. Os
serem autores defendem
aplicados que a Habitação
na Saudável deve
estratégia ser vista como um
de instrumento para
Promoção uma discussão
da Saúde. mais ampla dos
problemas de
Diversas saúde e de
regiões. qualidade de vida,
e as políticas
neste domínio
devem ser
desenvolvidas em
conjunto com
iniciativas
destinadas a criar
ambientes
saudáveis.
LIRA, Estudo do A amostra O estudo foi Nos resultados, a
Anneliese tipo do estudo limitado pelo qualidade de vida
Heyden observacio incluiu tamanho da urbana em
Cabral de nal, utiliza condomínios amostra, que condomínios
et al, 2017. o Índice de horizontais incluiu apenas horizontais de alta
Qualidade de alta três renda está
de Vida renda. condomínios, e diretamente
Urbana de Foram também pela associada às
João selecionados baixa taxa de características
Pessoa três resposta dos locacionais e que
(IQVUJP). empreendim questionários as áreas
entos: entregues aos consideradas
João Condomínio moradores. distantes não
Pessoa/PB Cabo Branco apresentam
. Residence necessariamente
Privé maior qualidade
(CBRP), de vida urbana. É
Condomínio importante
Villas do destacar, no
Farol e entanto, que os

426
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
Condomínio resultados são
Alphaville limitados à
Fazenda amostra utilizada
Boi. na pesquisa e não
podem ser
generalizados
para todas as
condições de vida
nos condomínios
horizontais em
João Pessoa.
SZÜCS, Estudo O estudo O artigo De acordo com o
Carolina qualitativo. não menciona as artigo, os
Palermo et especifica o seguintes resultados
al, 2018. Conjunto tamanho da limitações: a principais da
Habitacion amostra. abordagem pesquisa indicam
al Bela qualitativa da a inadequação ou
Vista, pesquisa exige ausência de
localizado muito tempo certos elementos
em para coletar específicos no
Barreiros, dados de projeto original
Município múltiplos casos, das unidades
de São tornando o habitacionais,
José, na processo de bem como a
região coleta de dados forma como os
metropolita demorado e moradores
na de trabalhoso; o buscam suprir
Florianópol estudo baseia- suas
is, Brasil. se num único necessidades e
local, o Conjunto anseios por meio
Habitacional de instruções no
Bela Vista, lote e/ou nas
limitando a edificações. As
generalização condições
dos resultados precárias de
para outras habitabilidade
áreas; e assim encontradas em
como em outros muitas das
estudos unidades
qualitativos, os comprometem a
resultados qualidade de vida
podem dos moradores. O
depender das objetivo central da
interpretações pesquisa é tecer
dos recomendações e
pesquisadores. traçar alternativas
projetuais que
garantam maior
habitabilidade e

427
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
flexibilidade às
unidades
direcionadas à
população de
baixa renda.
Fonte: Autoria própria

Os principais resultados encontrados mostram que a


habitação saudável deve ser vista como um instrumento para
uma discussão mais ampla dos problemas de saúde e de
qualidade de vida, e que as políticas neste domínio devem ser
desenvolvidas em conjunto com iniciativas destinadas a criar
ambientes saudáveis. De acordo com Procópio et al (2022), foi
necessário a criação de um Indicador de Habitabilidade,
Ambiência e Saúde (IHAS) que tem como objetivo avaliar
conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV), segundo a percepção dos moradores. O IHAS é
formado pela média em quatro dimensões: Prestação de
Serviços (PS), Condições Externas do Domicílio (CED),
Condições Sociais e Comunitárias (CSC) e Condições Internas
do Domicílio, sendo que essas dimensões foram criadas a partir
da análise fatorial exploratória de Componentes Principais e
foram testadas e validadas estatisticamente, garantindo assim
sua confiabilidade.
Os estudos incluídos nesta revisão sistemática destacam
que a qualidade da moradia e as condições ambientais
influenciam um papel crucial na qualidade de vida das pessoas.
A presença de fatores como boa estética da moradia,
privacidade, iluminação adequada, segurança contra riscos
(como fogo e inundações), bem como facilidade na manutenção
doméstica, são fatores que melhoram para uma percepção
positiva da qualidade de vida dos moradores (Lirio, 2020).
Esses resultados salientam a importância de abordar a

428
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
habitabilidade e a ambiência das moradias como componentes
essenciais na promoção da qualidade de vida.
No entanto, os estudos também apontam visões e
limitações específicas à pesquisa nesse campo. A variabilidade
dos fatores avaliados e a subjetividade das percepções
individuais podem complicar a análise e a interpretação dos
resultados. Além disso, a generalização dos achados é
frequentemente dificultada pela natureza específica dos
contextos habitacionais e das dinâmicas sociais, culturais e
políticas que afetam as experiências dos moradores (Bender,
2019).
Esses estudos sugerem que a pesquisa e a promoção de
ambientes habitacionais saudáveis e habitáveis devem ser
contextualizadas e sensíveis às experiências individuais e às
condições locais. Além disso, a interseção entre habitabilidade,
ambiência e saúde da moradia deve ser considerada em
políticas habitacionais e de saúde pública, buscando criar
ambientes saudáveis e promover uma melhor qualidade de vida
para todos (Cohen et al, 2007).
Vale ainda ressaltar a escassez de estudos referente a
essa realidade, como observado nos resultados dessa revisão,
o que, por sua vez, evidencia a importância de maiores
pesquisas e discussões sobre essa temática. Portanto, na
contemporaneidade, deve-se atentar para esse tema, visto o
interesse de melhorias na qualidade de vida e moradia,
demonstrando que é necessário existir estratégias efetivas para
combater os desafios impostos neste cenário.

CONCLUSÕES
Considerando os resultados apresentados neste artigo,
é inegável que a qualidade da moradia, a habitabilidade e a
ambiência desempenham um papel crucial na avaliação da

429
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
qualidade de vida dos moradores. A pesquisa revelou que
esses fatores não podem ser negligenciados e devem ser
considerados como elementos essenciais na promoção do
bem-estar das comunidades. A evidência apresentada na
pesquisa destaca a necessidade urgente de estratégias efetivas
para a promoção de ambientes habitacionais de alta qualidade
e habitáveis. Essas estratégias devem ser sensíveis às
particularidades locais, acompanhando as experiências
habitacionais que variam significativamente em diferentes
contextos geográficos, sociais e culturais. Portanto, abordagens
de política pública que visam melhorar a qualidade da moradia
e a ambiência devem ser adaptadas a essas nuances locais.
Os benefícios de investir em habitação saudável e
ambientes projetados para a saúde são substanciais e vão além
da melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. Essas ações
impactam diretamente na promoção da saúde pública,
diminuindo as disparidades e melhorando a saúde da
população como um todo. Portanto, é imperativo que tais temas
sejam incorporados em políticas públicas habitacionais e de
saúde, criando condições de vida dignas e saudáveis para
todos os residentes.
Por fim, a escassez de estudos referentes a essa
realidade, conforme observados nos resultados desta revisão,
ressalta a urgência de uma maior produção científica nesse
campo. A pesquisa e o recolhimento de evidências são
fundamentais para informar políticas eficazes e estratégias de
intervenção que abordam as interações entre ambiência,
habitabilidade, saúde da moradia e qualidade de vida. Em
última análise, esta pesquisa reforça a ideia de que a moradia
é um determinante crucial da saúde e da qualidade de vida. O
entendimento aprofundado dessa relação e a implementação
de políticas e práticas concretas são passos fundamentais na

430
EXPLORANDO A RELAÇÃO ENTRE AMBIÊNCIA, HABITABILIDADE E
SAÚDE DA MORADIA NA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
direção de comunidades mais saudáveis, habitáveis e com uma
qualidade de vida melhor para todos os seus moradores.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus por toda honra e sabedoria para
chegarmos até aqui, a todas as pessoas que contribuíram de
forma direta ou indireta para a escrita desse trabalho e em
especial a comunidade do Gogó da Ema, localizada no
município de Itabuna, por ter despertados em nós a
necessidade de pesquisar e falar sobre saúde da moradia em
comunidades.

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XIMENES, Fabiola MFF. Afetividade e ambiência de trabalho em saúde
mental: uma leitura dos CAPSs gerais de Fortaleza mediada pelos mapas
afetivos. Editora Dialética, 2021.

432
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
CAPÍTULO 23

OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA


SAÚDE DA MULHER: UMA REVISÃO
INTEGRATIVA
Karla Jarlita de Moura Silva 1
Maria do Carmo Pinto Lima 2
1
Engenheira ambiental, mestranda em Gestão do Recursos Naturais/UFCG; 2 Fisioterapeuta,
professora visitante do programa de pós graduação de engenharia e gestão de recursos
naturais/UFCG.1 karla_jarlita@hotmail.com. 2 carminhapin@gmail.com.

RESUMO: A exposição a pesticidas tem sido associada a


vários efeitos adversos na saúde das mulheres, incluindo
impactos no sistema reprodutivo. O objetivo desse estudo foi
analisar as evidências acerca dos principais pesticidas e suas
influências na saúde da mulher. Foram incluídos estudos
experimentais e observacionais, publicados em português,
inglês ou espanhol, de 2002 a 2023. Os dados foram coletados
em Agosto de 2023, seguindo o fluxograma Prisma. Foram
identificados 38 artigos, sendo 22 excluídos por não se
adequarem aos critérios de elegibilidade e dez por não
abordarem a temática. Os resultados ressaltaram associações
entre exposição a inseticidas, pessoal ou no trabalho, e o
desenvolvimento de leucemia linfocítica crônica/linfoma
linfocítico pequeno (LLC/LLP), linfoma difuso de grandes
células B (LDGCB), artrite reumatoide (AR) e lúpus eritematoso
sistêmico (LES) em mulheres. Além disso, herbicidas e o
fungicida metalaxil foram associados ao risco de infarto do
miocárdio (IM). Ademais, o local de residência (explorações
agrícolas, áreas rurais e de pastagem), também demonstrou
associação com o desenvolvimento de linfoma não Hodgkin
(LNH), LLC e LLP nesse grupo. Há necessidade de
investigações mais abrangentes sobre o impacto dos pesticidas
na saúde das mulheres, pois esta revisão apontou uma possível

433
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
associação entre o uso de pesticidas e doenças (câncer, AR,
IM e LES) nessa população, especialmente nas que vivem em
áreas rurais ou trabalham na agricultura.
Palavras-chave: Pesticidas. Exposição. Risco à saúde
humana. Saúde da mulher.

INTRODUÇÃO
Segundo a Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO), um pesticida é definido como
qualquer substância, ou mistura de substâncias, destinada a
prevenir, destruir ou controlar qualquer praga, incluindo vetores
de doenças humanas ou animais e espécies indesejadas de
plantas ou animais, que causam danos ou interferem na
produção, processamento, armazenamento, transporte ou
comercialização de alimentos, commodities agrícolas, madeira
e produtos de madeira ou alimentos para animais, ou
substâncias que possam ser administradas a animais para o
controle de insetos, aracnídeos ou outras pragas em seus
corpos (FAO, 2010).
Adilson Paschoal, em entrevista ao jornalista Rikardy
Tooge, afirmou que os termos pesticides (francês e inglês) e
plaguicida (espanhol) não são adequados para a língua
portuguesa. De acordo com esse autor, pesticida significa “o
que mata a peste", e peste se refere à doença, por isso o
vocábulo não pode ser usado com sentido geral, englobando
pragas, patógenos e plantas invasoras (TOOGE, 2019).
Mesmo ao se referir a doenças, a expressão se mostra
inapropriada, uma vez que não se mata a doença em si, mas
sim seus agentes causadores, os patógenos. Portanto, o termo
mais adequado, cujo uso genérico abrangeria pragas,
patógenos e plantas invasoras, seria "agrotóxicos". Entretanto,
por se tratar de um estudo de revisão que incluiu artigos

434
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
publicados em outros idiomas, além do português, utilizou-se o
termo pesticida.
Os pesticidas incluem uma ampla gama de pesticidas
convencionais, herbicidas, inseticidas, raticidas, reguladores de
crescimento de plantas, acaricidas, nematicidas, fungicidas,
fumigantes e antimicrobianos. A exposição a esses produtos
pode ocorrer no ambiente de trabalho, por meio do consumo de
água e alimentos e atividades agrícolas ou hortícolas,
(LANGLEY E MORT, 2012; MOSTAFALOU E ABDOLLAHI,
2017; EPA, 2020; MAIA et al., 2018).
A intoxicação por pesticidas é um problema de saúde
pública, principalmente nos países em desenvolvimento. Ela é
uma das principais causas de intoxicação humana no Brasil,
perdendo apenas para àquelas por medicamentos e produtos
de limpeza doméstica. De acordo com o Ministério da saúde
(2018), em 2018 foram registrados 796 casos de intoxicação em
mulheres no Brasil. (BRASIL, 2018; MEDEIROS; ACAYABA;
MONTAGNER, 2021).
Alguns autores têm citado como efeitos da exposição
ocupacional ou acidental à pesticidas no sistema reprodutivo
feminino, o câncer, patologias neurológicas, eventos
cardiovasculares, doenças pulmonares, redução do desejo e
potência na relação sexual, distúrbios menstruais, menopausa
precoce, menarca tardia, disfunção ovariana, redução da
fertilidade e resultado adverso gravidez (KUMAR, SHARMA E
KSHETRIMAYUM (2019); MARTIN-REINA ET AL., (2021)).
Um estudo de coorte desenvolvido por Martin-Reina et
al. (2021), com 39 mulheres em idade fértil, em Marinaleda
(Sevilha, Espanha), mostrou que as mulheres que trabalhavam
na agricultura relataram uma variedade de sintomas
neurológicos, como dor de cabeça (25%) e tontura (25%), além
de sintomas gastrointestinais (35%) e respiratórios (35%). Kato

435
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
et al. (2004) apresentaram em seu estudo que mulheres que
trabalharam por mais de dez anos em uma fazenda com uso de
pesticidas, tiveram 2,12 vezes mais chances de linfoma não-
Hodgkin (LNH) quando comparadas às mulheres que nunca
foram expostas a esse tipo de trabalho.
Considerando o aumento do uso de pesticidas nos
últimos anos e a influência desses produtos na saúde da
mulher, se faz necessário o desenvolvimento de estudos sobre
essa temática, que corroborem a prevenção e o tratamento
desses agravos nessa população. Ademais, revisões
integrativas podem facilitar a síntese das evidências atuais e a
identificação de lacunas na área, contribuindo com o
desenvolvimento de novos estudos e com a elaboração de
políticas públicas ambientais efetivas.
Dessa forma, o objetivo desse estudo foi analisar as
evidências existentes acerca dos principais pesticidas e suas
influências na saúde da mulher.

MATERIAIS E MÉTODO
O estudo é uma revisão integrativa da literatura,
descritiva e exploratória, com abordagem quantitativa, cujas
etapas foram realizadas de forma independente, sendo iniciada
por uma busca sistematizada dos descritores em ciências da
Saúde/Medical Subject Headings (DECS/MESH) (Souza et al.,
2010).
Em seguida, foi efetuada pesquisa dos artigos na base
de dados da Livraria Nacional de Medicina (PubMed),
utilizando-se os seguintes descritores: “pesticidas e saúde da
mulher” e sua versão em inglês “pesticides and women's
health”.
Como critérios de elegibilidade foram incluídos estudos
experimentais (ensaios clínicos randomizados, agrupados ou

436
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
individuais e ensaios controlados não randomizados) e
observacionais (corte transversal, coortes prospectivas ou
retrospectivas e caso-controle), publicados na língua
portuguesa, inglesa ou espanhola, com textos completos e
gratuitos, no período de 2002 a 2023.
Os critérios de exclusão foram estudos do tipo relatos de
caso ou série de casos, opiniões, editoriais, revisões da
literatura, cartas e resumos de conferências, com abordagem
qualitativa, incompletos e aqueles que não estiveram de acordo
com a proposta.
A coleta de dados pelas buscas de referências ocorreu
em 21 de agosto de 2023 e o estudo foi realizado nas seguintes
etapas:
I- Elaboração do tema de estudo e questão
norteadora: quais os principais pesticidas e sua influência na
saúde da mulher?
II- Levantamento bibliométrico na base de dados
PubMed;
III- Avaliação inicial dos critérios de inclusão para
seleção da amostra;
IV- Leitura dos títulos, resumos e, em seguida, dos
artigos na íntegra selecionados;
V- Organização dos dados em tabela;
VI- Interpretação e avaliação dos resultados: os
dados foram estudados e analisados, a ponto de estabelecer
uma discussão científica que levasse a alcançar o objetivo do
presente estudo.
Por meio dos passos descritos anteriormente e com a
implementação do fluxograma Prisma – Preferred Reporting
Items for Sistematic Reviews and Meta Analyses (MOHER et
al., 2009), foi obtida a amostra de materiais científicos elegíveis
para avaliação. Nesse ínterim, e para facilitar a exposição dos

437
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
artigos, foi construído o quadro bibliométrico, contendo as
informações: ano, autor/es, título, objetivo geral, tipo de estudo,
número de mulheres incluídas na pesquisa e os resultados
(principais pesticidas e suas influências na saúde da mulher).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca na base de dados identificou 31 artigos. Desses,
seis foram excluídos por não estarem publicados nos idiomas
inglês, português e espanhol, 17 por não se tratarem de estudos
experimentais ou observacionais e um por não estar
relacionado ao tema em questão. Dos sete artigos restantes, foi
realizada uma análise de todos os estudos semelhantes
indicados na base de dados, sendo selecionados mais sete
manuscritos.
No final, foram lidos 14 estudos, na íntegra, e incluídos
apenas seis, por responderem à questão norteadora
inicialmente proposta. A Fig. 1 apresenta o processo de seleção
seguindo o PRISMA Flow Diagram.
No Quadro 1, são apresentados os artigos que foram
incluídos nesta revisão integrativa. Neste quadro, foram
destacadas informações que forneceram uma visão geral dos
estudos selecionados e suas características relevantes para a
revisão.

438
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
Figura 1. Fluxograma da seleção de artigos para a revisão
integrativa 2023, elaborado a partir da recomendação PRISMA,
2020.

Fonte: Autores (2023)

439
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
Tabela 1. Caracterização dos estudos incluídos na revisão
integrativa intitulada: Os pesticidas e suas influências na saúde
da mulher, Campina Grande/PB (2023).
AUTORIA/ TÍTULO OBJETIVO TIPO n PRINCIPAIS
ANO DE PESTICIDAS E
ESTU SUAS
DO INFLUÊNCIAS
NA SAÚDE DA
MULHER
INOUE- Atrazina em Avaliar se os coorte 13.0 Os níveis de
CHOI, abastecime níveis de 41 Atrazina não
Maki. et al., nto público atrazina no foram associados
2016 de água e
abastecimen ao risco de câncer
risco de
câncer de to público de de ovário (p-
ovário entre água tendência=0,50 e
mulheres estavam 0,81,
na pós- associados respectivamente).
menopausa ao câncer de
no Iowa ovário pós-
Women’s
menopausa
Health
Study. para nitrato e
trihalometan
os totais
(TTHM).
SCHINASI, Exposição à Investigar coorte 76.4 Trabalhadoras de
Leah H. et inseticidas associações 93 uma fazenda
al., 2015 e histórico de risco de tiveram 1,12
agrícola em
câncer de vezes mais risco
relação ao
risco de linfo de LNH (IC de
linfomas e hematopoiéti 95%=0,95-1,32)
leucemias ca (LH) com em comparação
no estudo histórico de GC. Mulheres em
de coorte agricultura e entorno imediato
observacion uso de de aplicação de
al da
inseticida em inseticida tiveram
iniciativa da
saúde da casa e/ou no risco 65% maior
mulher trabalho de LLC/LLP
usando (IC95%=1,15-
dados do 2,38). Mulheres
estudo com menos de 65
observacion anos, que
al da aplicaram

440
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
iniciativa da inseticidas,
saúde da tiveram risco 87%
mulher maior de LDGCB
(IC95%=1,13-
3,09).
PARKS, Uso de Testar a coorte 93.6 O uso pessoal de
Christine G. inseticida e hipótese de 76 inseticidas foi
et al., 2011 risco de que o uso de associado ao
artrite
inseticida aumento do risco
reumatoide
(AR) e pode de AR/LES, com
lúpus aumentar o tendências
eritematoso risco de significativas para
sistêmico artrite maior frequência
(LES) no reumatoide (HR 2,04, IC 95%
estudo (AR) usando 1,17-3,56 para ≥6
observacion
dados do vezes/ano) e
al da
iniciativa de estudo duração (HR 1,97,
saúde da observacion 95 % CI 1,20-3,23
mulher al da para ≥20 anos),
iniciativa de também em longo
saúde da prazo (HR 1,85,
mulher. 95% CI 1,07-3,20
para ≥20 anos).
DAYTON, Uso de Avaliar a coorte 52.3 Apenas clorpirifós
Shile B. et pesticidas e relação entre 95 OR=2,1;
al.; 2010 incidência uso de IC95%=1,2;3,7),
de infarto
pesticidas cumafos
do
miocárdio infarto do (OR=3,2,95%IC=
entre miocárdio 1,5, 7,0) e
mulheres (IM) entre carbofurano
agricultoras mulheres (OR=2,5;IC95%=
no estudo agricultoras. 1,3, 5,0);
de saúde herbicidas
agrícola
pendimetalina
(OR=2,5;
IC95%=1,2;4,9) e
trifluralina
(OR=1,8;IC
95%=1,0;3,1); e o
fungicida metalaxil
(OR=2,4;IC95%=
1,1;5,3) foram

441
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
assoaciados ao
risco de IM.
JONES, Residência Atualizar a coorte 37.0 O risco de LMA foi
Rena R. et agrícola e análise do 99 maior entre as
al.; 2014 cânceres local de mulheres que
linfo
residência e viviam em
hematopoié
ticos estudo do câncer explorações
de saúde linfático e agrícolas
feminina de hematopoiéti (HR=2,23, IC95%:
Iowa co com 1,25-3,99) ou em
acompanha áreas rurais (HR
mento até 31 =1,95, IC95%:
de dezembro 0,89-4,29) em
de 2009, comparação com
avaliar mulheres que
subtipos de vivem em cidades
mieloma com >10.000
múltiplo e habitantes. Não
linfoma não- houve associação
Hodgkin entre residência
(LNH). agrícola ou rural e
Também LNH geral ou para
avaliar a área subtipos principais
cultivada ou mieloma
perto das múltiplo. O risco
casas como de LLC/LLP foi
um substituto significativamente
para a elevado entre
exposição a mulheres com
pesticidas área de pastagem
agrícolas e a 750 m de sua
sua relação casa (HR para
com tercis
cânceres crescentes=1,8,
linfo 1,8 e 1.
hematopoiéti
cos.
CALLE, E. Organoclor Analisar os caso- * A evidência não
E. et al.; ados e risco impactos dos control apoia uma
2002 de câncer compostos e associação.
de mama
organoclorad
os

442
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
diclorodifenil-
tricloroetano
(DDT) e
bifenilos
policlorados
(PCBs) na
saúde
humana,
com um foco
específico na
possível
relação entre
a exposição
desses
compostos
ao câncer de
mama.
Legenda: NO3-N - nitrato-nitrogênio; TTHM - níveis estimados de trihalometanos
totais; LH - linfo-hematopoiética; LNH - linfoma não-Hodgkin; LLC/LLP - leucemia
linfocítica crônica/linfoma linfocítico pequeno; LDGCB – linfoma difuso de grandes
células B; AR – artrite reumatoide; LES - lúpus eritematoso sistêmico; IM - infarto
do miocárdio; LMA - leucemia mieloide aguda; DDT - diclorodifenil-tricloroetano;
PCB - bifenilos policlorados. (*) o estudo em questão não apresenta o tamanho da
amostra.
Fonte: elaborado pelos autores, 2023.

Inoue-Choi et al., (2016) demonstraram que a atrazina,


contaminante comum de suprimentos de água em áreas
agrícolas, é um fator de risco hipotético para cânceres
relacionados a hormônios. Porém, segundo esses autores, os
níveis de atrazina no sistema de abastecimento de água não
foram associados ao risco de câncer de ovário após o ajuste
para os níveis de nitrato e nitrato e trihalametanos totais
(TTHM).
Contradizendo o estudo anterior, o estudo de Pereira,
Zacarin e Severi-Aguiar (2008) apontou que as mulheres com
exposição ocupacional à atrazina tinham três vezes mais
probabilidade de desenvolver câncer de ovário. O câncer de
ovário é uma das formas mais letais de câncer do sistema

443
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
reprodutor feminino, representando um desafio significativo
para a saúde das mulheres (INCA, 2011).
Ainda que seja uma doença com alta taxa de
mortalidade, sua etiologia permanece pouco compreendida.
Entre os fatores de risco conhecidos, destaca-se a relação com
a duração ou níveis de estrogênio endógeno, como a ausência
de gravidez (nuliparidade) e a menopausa tardia, que sugere
influência do ambiente hormonal no desenvolvimento do câncer
de ovário (INCA, 2011; CABRAL et al., 2020; RODRIGUES et
al., 2021).É crucial que as pesquisas continuem a buscar novos
conhecimentos e evidências para identificar fatores de risco
modificáveis, como a relação entre o câncer de ovário e a
atrazina na água, e, assim, desenvolver estratégias eficazes de
prevenção e detecção precoce.
Apesar da ausência de evidências da associação entre a
atrazina e o câncer de ovário, outros pesticidas vêm sendo
relacionados ao desenvolvimento de tumores mais agressivos
e de pior prognóstico, de acordo com Parada et al., (2016). Em
consonância com esses autores, estudo conduzido por Schinasi
et al., (2015) apontou possíveis associações entre a exposição
a pesticidas e o aumento do risco no desenvolvimento de certos
tipos de linfomas em mulheres.
Ao analisar a população que viveu ou trabalhou em
fazendas, os pesquisadores observaram que essas mulheres
apresentaram um risco maior de linfoma não-Hodgkin (LNH) em
comparação com aquelas sem a exposição. O estudo também
destacou uma associação significativa entre a aplicação de
inseticidas nas proximidades de residências ou locais de
trabalho e o risco de desenvolvimento de linfoma linfocítico
crônico/linfoma linfocítico pequeno (LLC/LLP). Mulheres que
relataram aplicação de inseticidas nas imediações do seu
trabalho tiveram um risco maior de desenvolver esse tipo de

444
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
linfoma. Os resultados sugeriram, ainda, que a aplicação direta
de inseticidas por mulheres com menos de 65 anos pode estar
associada a um risco maior de linfoma difuso de grandes células
B (LDGCB).
Alguns autores explicaram que os pesticidas promovem
alterações, especialmente, nos mecanismos ligados à
fisiopatologia do câncer que envolve danos ao DNA e
modificação da expressão de genes relacionados à proliferação
celular (ALLEVA et al., 2017; CALAF, ECHIBURU-CHAU e
ROY, 2009). Friedrich (2013) também afirmou que os pesticidas
são conhecidos por sua ação como desregulador imuno
endócrino, podendo colaborar para o desenvolvimento tumoral.
Em consonância com as evidências supracitadas, Jones
et al., (2014) verificaram, em seu estudo, que o risco de
leucemia mieloide aguda (LMA) era maior entre as mulheres
que viviam em explorações agrícolas ou em áreas rurais em
comparação com mulheres que moravam em cidades com
mais 10.000 habitantes. Nesse estudo, não foram observadas
associação entre residência agrícola ou rural e LNH ou mieloma
múltiplo, nem associação entre pastagens ou áreas cultivadas
em fileiras dentro de 750 m das residências e o risco de
leucemia em geral ou para o subtipo de LMA. Entretanto, o risco
de LLC e LLP foi significativamente elevado entre mulheres com
área de pastagem a 750 m de sua casa.
Do contrário dos estudos anteriores, Calle et al., (2002)
relataram em sua pesquisa não existir evidências da
associação entre organoclorados e risco de câncer de mama.
Acredita-se que o papel dos pesticidas na evolução clinico-
patológica do câncer de mama ainda é pouco compreendido,
tornando-se altamente relevante o desenvolvimento de estudos
que enfatizem a relação entre a exposição crônica e continuada

445
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
a pesticidas em atividade agrícola ocupacional e o
desenvolvimento de câncer de mama em mulheres.
Entretanto, Cet et al., (2002) afirmaram em sua pesquisa
que há uma considerável base de evidências epidemiológicas
acerca do potencial relação entre a presença de
organoclorados no sangue e no tecido adiposo e o risco de
câncer de mama. Apesar disso, a análise dessas evidências
não respalda tal associação. Esse veredicto é particularmente
aplicável ao estudo do DDT e seu principal metabolito, o DDE,
bem como à totalidade dos PCB combinados. É importante
ressaltar que essas conclusões são válidas mesmo quando se
considera os níveis de exposição experimentados pelas
populações gerais de mulheres na América do Norte e na
Europa.
Embora as evidências epidemiológicas possam levantar
preocupações iniciais, é fundamental interpretar os resultados
de forma cuidadosa e confiável. Neste caso, a ausência de
apoio para a associação entre organoclorados e câncer de
mama, mesmo em níveis de exposição comuns, ressalta a
complexidade da pesquisa em saúde e a necessidade de
análises detalhadas para chegar a conclusões sólidas sobre as
relações de causa e efeito em questões de saúde pública.
É importante destacar, no entanto, que estudos
adicionais são necessários para confirmar esses achados. A
replicação dos resultados em outras populações é uma etapa
essencial no processo de pesquisa científica, pois ajuda a
verificar a consistência e a generalização dessas associações.
Além das relações entre a exposição a pesticidas e o
risco aumentado do desenvolvimento de câncer, estudo
realizado por Parks et al., (2011) ofereceu indícios valiosos
sobre uma possível associação entre a exposição a inseticidas

446
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
no ambiente, residencial e de trabalho, e o risco de doenças
reumáticas autoimunes em mulheres na pós-menopausa.
As doenças reumáticas autoimunes representam um
grupo complexo de condições de saúde e entender suas causas
é essencial para implementar medidas preventivas e de
tratamento adequadas. A exposição a pesticidas é apenas um
dos muitos fatores ambientais e genéticos que podem estar
envolvidos na etiologia dessas doenças. Portanto, é essencial
conduzir mais estudos abrangentes e longitudinais para
entender melhor essas associações e as possíveis vias
biológicas envolvidas.
Enquanto aguardam-se novas pesquisas e evidências, é
prudente que sejam implementadas medidas de precaução
para minimizar a exposição a pesticidas e outros produtos
químicos potencialmente nocivos no ambiente residencial e de
trabalho. A conscientização dos riscos associados e a adoção
de práticas agrícolas e ambientais sustentáveis podem ajudar a
proteger a saúde das mulheres, especialmente de grupos de
maior vulnerabilidade, como as menopausas. Além disso, a
contínua vigilância epidemiológica e a pesquisa são essenciais
para expandir nosso conhecimento e contribuir para a saúde e
o bem-estar dessa população.
Outra condição clínica associada à exposição a
pesticidas é o infarto do miocárdio (IM). Estudo conduzido por
Dayton et al., (2010) apresentou evidências importantes sobre
a possível relação entre o uso de pesticidas e o risco de infarto
não fatal em camponesas. Os resultados revelaram que seis
dos 27 pesticidas individuais avaliados indicaram uma
associação significativa com infarto não fatal. Esses pesticidas
incluem clorpirifós, cumafos, carbofurano, metalaxil,
pendimetalina e trifluralina.

447
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
É relevante observar que esses pesticidas foram
utilizados em menos de dez por cento dos casos, e seu uso
correlacionado dificulta a atribuição precisa do risco elevado a
um pesticida específico. A complexidade dessas associações
entre múltiplos pesticidas torna a identificação de fatores
causais mais desafiadora.
Os resultados desse estudo têm implicações
significativas para a saúde das camponesas e destacaram a
necessidade de considerar cuidadosamente os riscos
associados ao uso de pesticidas na agricultura. Embora a
exposição a esses produtos químicos seja essencial para o
controle de pragas e doenças nas lavouras, é imprescindível
adotar práticas agrícolas sustentáveis e medidas de segurança
para proteger a saúde dos trabalhadores rurais e minimizar os
possíveis riscos à saúde.
É necessário que a comunidade científica, órgãos
reguladores e sociedade estejam cientes da possibilidade
dessas relações, a fim de promover medidas preventivas e
políticas de proteção à saúde dos trabalhadores rurais e da
população em geral exposta a pesticidas e outros agentes
químicos. Ações de controle da exposição, monitoramento da
saúde e incentivo a práticas agrícolas sustentáveis podem ser
fundamentais para mitigar os possíveis riscos associados a
essas substâncias e proteger a saúde das mulheres e da
população em geral.

CONCLUSÕES
Os resultados mostraram associação entre a exposição a
inseticidas, pessoal ou em trabalho, com LNH, leucemia
linfocítica crônica/linfoma linfocítico pequeno (LLC/LLP) e
linfoma difuso de grandes células B (LDGCB), além de artrite
reumatoide (AR) e lúpus eritematoso sistêmico (LES) em

448
OS PESTICIDAS E SUAS INFLUÊNCIAS NA SAÚDE DA MULHER: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA
mulheres. Pesticidas específicos (clorpirifós, cumafos e
carbofurano), herbicidas (pendimetalina e trifluralina) e
fungicida (metalaxil) também foram relacionados a infarto do
miocárdio (IM) nessa população. O local de habitação
(explorações agrícolas, áreas rurais e área de pastagem)
também demonstrou associação com LNH, LLC e LLP nesse
gênero.

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SOUZA, D. A. Efeitos da exposição pré e pós-natal de malathion
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em Ciências da Saúde para obtenção do título de Mestre em
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https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/3056/1/Disserta
%c3%a7%c3%a3o%20Ci%c3%aancias%20da%20Sa%c3%bade-
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SOUZA, M.T.D; SILVA, M.D.D; CARVALHO, R.D; (2010). Revisão
integrativa: o que é e como fazer. Einstein, 8, 102-106.
TOOGE, R. Quem criou o termo 'agrotóxico' e por que não 'pesticida' ou
'defensivo agrícola'. 2019. Disponível em:
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criou-o-termo-agrotoxico-e-por-que-nao-pesticida-ou-defensivo-
agricola.ghtml. Acesso em: 08 jul. 2023.
VENKIDASAMY, Baskar et al. Organopesticides and fertility: where does
the link lead to?. Environmental Science And Pollution Research, [S.L.], v.
28, n. 6, p. 6289-6301, 2 jan. 2021. Springer Science and Business Media
LLC. http://dx.doi.org/10.1007/s11356-020-12155-3. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33387319/. Acesso em: 16 out. 2023.
WAHLAN, B. Exposição a poluentes orgânicos persistentes: impacto na
saúde da mulher. Críticas sobre Saúde Ambiental, v. 33, n. 4, pág. 331-
348, 2018. http://dx.doi.org/10.1515/reveh-2018-0018. Disponível em:
https://www.degruyter.com/document/doi/10.1515/reveh-2018-0018/html.
Acesso em: 09 jul. 2023.

452
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
CAPÍTULO 24

TENDÊNCIAS EMERGENTES NA
INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE,
SAÚDE E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA DO IMPACTO DAS
PRODUÇÕES ACADÊMICAS
Pã da Silva Lôpo 1
Vanessa Souto Paulo 2
Prudence Secchin de Sousa Vaz Sampaio Ribeiro 3
Vanner Boere de Souza 4
1
Mestrando do programa de pós graduação em ciências e sustentabilidade – PPGCS – Pela
Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB; 2 Mestranda do PPG-SAB – Saúde ambiente e
biodiversidade - UFSB; 3 Mestranda do PPGCTA - UFSB ; 3 Orientador Professor Doutor do
PPGCS/PPGCTA/UFSB.
Pa.lopo@gfe.ufsb.edu.br

RESUMO: Na esfera da saúde e do meio ambiente, a


sustentabilidade implica alcançar um equilíbrio entre o
progresso econômico e a preservação ambiental. O presente
artigo é uma revisão sistemática que analisa a relação entre
sustentabilidade e saúde sob a perspectiva da produção
acadêmica brasileira. A pesquisa foi orientada pela ferramenta
PICO e realizada a pesquisa em periódicos da CAPES. Os
resultados encontrados nas buscas foram inseridos no
aplicativo web Rayyan, tendo sido selecionados quatro estudos
que abordam o tema. Os dados sobre produção acadêmica
evidenciam a crescente conscientização sobre as
interconexões entre o ambiente, a sociedade e a saúde
humana, sendo explorados desde a influência do ambiente
urbano na qualidade de vida até a promoção de estilos de vida
saudáveis em comunidades sustentáveis. A pesquisa
acadêmica nesse campo muitas vezes aborda questões
urgentes relacionadas à saúde pública e ao meio ambiente no

453
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
contexto brasileiro, contribuindo para o desenvolvimento de
políticas públicas mais eficazes. A publicação dessas pesquisas
em revistas científicas brasileiras desempenha um papel
fundamental na disseminação do conhecimento e na promoção
de discussões relevantes. A revisão destaca a necessidade de
novas investigações sobre o tema.
Palavras-chave: Desenvolvimento e sustentabilidade. Saúde
ambiental. Estudos contemporâneos.

INTRODUÇÃO
O conceito de sustentabilidade se apoia em três pilares
(ambiente, social e econômico) que são representados pelo
clássico diagrama da intersecção dos três círculos (Sánchez et
al, 2021). Embora esses três campos separadamente já vinham
sendo discutidos na academia, foi em 1987 que Edward B.
Barbier, um pesquisador do International Institute for
Environmental Development, Londres, apresenta o diagrama e
conceitua os três domínios da “sustentabilidade” (Ferreira,
2021).
De acordo com Leonardo Boff (2017), a dimensão
econômica é o equilíbrio entre a produção de bens e serviços e
a distribuição da riqueza, então a sustentabilidade tem o poder
de modificar ou criar uma nova economia, fazendo novos
comportamentos com uma visão a longo prazo de asseverar a
finitude dos recursos naturais procurando a preservação para
que haja esse equilíbrio entre produção e natureza afim de
garantir condições ideais para a sobrevivência desta geração e
das futuras, a dimensão social da sustentabilidade, pode ser
analisada como atora da proteção da diversidade cultural,
coletiva e garantidora dos direitos humanos e a dimensão social
tem como finalidade construir uma civilização mais igualitária,
onde economia e os direitos sociais estejam no mesmo patamar

454
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
de uma forma mais homogeneizada, com qualidade de vida e
igualdade nos acessos aos recursos e serviços sociais
(Lanquito et al, 2018).
O conceito se consolida como uma diretriz global, a partir
de reuniões da Organização das Nações Unidas (ONU) em
meados da década de 70 no século passado, quando surgiu a
necessidade de impor limites acerca do modelo/sistema que é
praticado por todas as sociedades mundiais. O filósofo
brasileiro Leonardo Boff (2017), traz de forma clara e objetiva o
conceito de sustentabilidade, como sendo um termo ecológico
para definir tudo aquilo que fazemos para que um ecossistema
não decaia ou se arruíne, desta forma criando mecanismo de
freios e contrapesos até mesmo meios de prevenção para evitar
colaterais maiores, fazendo com que o ecossistema se
mantenha vivo e que tenham capacidade de manter seus ciclos
naturais.
A ONU elaborou uma agenda global chamada de
Agenda 2030 que contém 17 objetivos de desenvolvimento
sustentável (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS),
os quais estão em uma lista com 169 metas, todas norteadas
para uma visão universal e integrada para a população global.
Para que a agenda seja implementada de forma efetiva, faz-se
necessário que haja mobilização de recursos financeiros, para
que sejam implementadas soluções multidimensionais (Brasil,
2017). Na Agenda 2030 pactuada entre quase todos os países
do globo, está evidente que as metas devem ser atingidas em
bases sustentáveis. Portanto, a sustentabilidade é um percurso
paradigmático de conquista coletiva para o bem-estar
ambiental, econômico e social do planeta.
O Brasil como um dos países membros da ONU está
engajado com as metas da agenda para isso a mobilização da
sociedade civil e setor privado é fundamental para criar ações

455
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
integradas de educação, erradicação da fome e mitigação da
insegurança alimentar, desenvolvimento econômico, igualdade
de gênero, promoção da saúde e sustentabilidade. (Brasil,
2017). A promoção da saúde serve para que o ser humano
possa atingir estabilidade plena orgânica, psíquica, intelectual,
laboral, econômica, social e ecológica (Ferreira, 2021).
Contudo, a plenitude dessas conquistas na saúde da população
somente pode se dar em bases sustentáveis, desde que deve
se pensar o ser humano holisticamente, fazendo parte das
cadeias tróficas no meio ambiente, vivendo em sociedades
harmônicas e com práticas econômicas justas (Boff, 2017).
Apesar dos objetivos da sustentabilidade, a construção
das bases sociais e econômicas no mundo, principalmente nos
últimos dois séculos, foi baseada em uma lógica espoliativa,
tanto dos seres humanos como dos recursos naturais (Ferreira,
2021). Um planeta onde a população em meio século dobrou
de tamanho, mais do que em toda a sua história, tem uma alta
demanda de recursos. O consumo não se baseou em políticas
e estratégias racionais de longo prazo, ao contrário, foram
muitos os erros de organização e execução das economias
mundiais. Um dos sustentáculos de uma sociedade capitalista
industrial é o consumo, que tem sido muito além das
capacidades de produção, reciclagem, reaproveitamento e
redução do consumo de bens (Yergin, 2023).
Em tempos de esgotamento dos recursos naturais, de
mudanças climáticas rápidas e de um aumento das
disparidades sociais, o bem-estar da população somente pode
ser assegurado em bases sustentáveis (Boff, 2017). Assim, o
custo futuro pode ser menor se no presente foram
desenvolvidos métodos, processos, insumos, tecnologia e
gestão social e econômica em bases sustentáveis.

456
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
Se por um lado a ciência apoiou práticas não
sustentáveis, por outro houve um despertar para que esses
modelos espoliativos, social e economicamente injustos,
fossem cessados ou modificados (Christensen et al., 1996).
Desde a década de 70 do século passado vem se promovendo
debates e pesquisas para que o mundo seja mais sustentável
(Paim et al, 2023). A sustentabilidade tem sido objeto de
estudos nas últimas décadas, principalmente no meio
acadêmico, em laboratórios e programas de pós-graduação no
Brasil.
Estima-se a geração anual de 1,4 bilhão de toneladas de
Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e deve chegar em 3,4 bilhões
em 2050 (ISWA, 2023). Desse total, a Organização das Nações
Unidas (ONU) estima que 253 mil toneladas de resíduos
hospitalares, de clínicas e de laboratórios são produzidos a
cada ano, a maior parte sem poder ser reciclado (ISWA, 2023)
. Não se inclui nessa estimativa, os resíduos gerados por
indústrias farmacêuticas e serviços de apoio à saúde. Há ainda,
resíduos gerados pelas cadeias de produção e serviços podem
gerar subprodutos nocivos para o meio ambiente, toxinas, e
patógenos (Dermindo, 2019). O setor da saúde é
particularmente sensível quanto à sustentabilidade, porque há
um limite tênue entre vida e morte e muitos dos resíduos não
podem ser reciclados, destinando-se à incineração. Por isso, há
uma crescente demanda por métodos, processos,
gerenciamento, estratégias, produtos e insumos que sejam
sustentáveis em saúde.
A temática da sustentabilidade em saúde tem se tornado
cada vez mais relevante, de formas que o meio acadêmico
concentra a maior parte da pesquisa (Lopes et al, 2020). Muitas
instituições de ensino criaram e continuam criando programas
de pós-graduação tanto lato sensu (especializações) quanto

457
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
stricto sensu (mestrado e doutorado), a fim de formarem
profissionais voltados para um mundo onde a economia tenha
bases sustentáveis. Dados do Ministério da Educação (MEC)
apontam um total de 22 instituições com programas de
especialização, mestrado e doutorado com os termos
Sustentabilidade, Ciências e Sustentabilidade (MEC, 2022).
Contudo, ainda não há estimativas e delineamento de perfis da
pesquisa acadêmica sobre saúde e sustentabilidade no Brasil.
Por isso, no presente artigo, o objetivo é delinear um panorama
da produção acadêmica de pesquisadores brasileiros nos
últimos cinco anos.

MATERIAIS E MÉTODO
A questão de investigação foi formulada usando a
ferramenta PICO. Assim, este estudo versa sobre estudos
acadêmicos publicados nos últimos cinco anos envolvendo
temáticas relacionadas à saúde e sustentabilidade. A seguinte
pergunta norteadora foi formulada: Qual é a relação entre a
produção acadêmica brasileira com foco em 'sustentabilidade e
saúde' e a produção acadêmica apresentada em revistas e
livros científicos no Brasil? Foi avaliada a pertinência de efetuar
esta revisão sistemática (RS) na base de dados Prospectve
Register of Systematic Reviews (PROSPERO), tendo sido
obtidos zero resultados.
A busca dos artigos que integraram esta revisão ocorreu
em outubro de 2023 na base de dados dos periódicos da
CAPES. A estratégia de busca empregada foi o uso dos
operadores booleanos “AND” entre os descritores
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, com
combinações com os termos, sustentabilidade and saúde e
saúde and desenvolvimento sustentável.

458
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
Como critérios de inclusão foram considerados trabalhos
originais, disponíveis na íntegra, estudos acadêmicos, artigos,
teses e dissertações disponibilizadas nos periódicos da
CAPES, produções que abordam diretamente os temas de
sustentabilidade, saúde, desenvolvimento sustentável e artigos
publicados nos últimos cinco anos para garantir a relevância
das informações atuais. Como critérios de exclusão, foram
retirados estudos que não pertencem diretamente aos temas,
estudos não disponíveis na íntegra, relatórios não acadêmicos,
como relatórios governamentais ou materiais de divulgação,
estudos que não apresentam uma abordagem metodológica
clara ou não atendem aos critérios de qualidade da pesquisa e
artigos com mais de cinco anos.
A etapa de seleção dos estudos para análise foi realizada
por dois pesquisadores (VSP e PSL), de forma independente,
havendo ainda um terceiro pesquisador (PSSVSR) para arbitrar
os eventuais casos discordantes. Os resultados encontrados
nas buscas foram inseridos no aplicativo web Rayyan,
desenvolvido pelo Qatar Computing Research Institute (QCRI),
para auxiliar na organização e seleção dos artigos.
Após a seleção dos artigos, foram extraídos os dados
relevantes de cada estudo e para a apresentação dos
resultados, os dados foram sintetizados de forma descritiva e
através de uma tabela, contendo as seguintes informações:
título, ano de produção, sexo dos membros envolvidos em
autorias, Universidade vinculada, cidade, região política, região
de interesse, local de publicação e ano de publicação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na etapa de identificação, foram encontrados 100 artigos
(todos incluídos nos periódicos da CAPES). Na etapa de
seleção, 27 artigos foram excluídos por estarem duplicados, 11

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TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
devido ao tipo de estudo (excluídos editoriais, cartas ao editor,
informes técnicos, notas prévias), 45 pela amostra ser incorreta,
serem estudos realizados para fora do Brasil, 10 por não
atenderem ao objetivo deste artigo. Na etapa de elegibilidade,
os títulos restantes, sete foram lidos na íntegra e três foram
excluídos pelos seguintes critérios: o primeiro por tratar de
residências de empreendedorismo de profissionais da
enfermagem; o segundo foi excluído por tratar de artigo
contendo apenas um resumo simples; e terceiro por se tratar de
um índice de território saudável em municípios. Na etapa de
inclusão, os quatro artigos selecionados foram incluídos e
tabulados (Figura 1).
Esta revisão foi constituída por quatro estudos, todos do
tipo de revisão de literatura. A amostra total foi composta pelos
dados da região sul e por áreas do Brasil como um todo. Quanto
às variáveis analisadas, os estudos trazem que analisaram as
seguintes variáveis: saúde, sustentabilidade e desenvolvimento
sustentável. No que concerne à distribuição geográfica,
apresenta uma macrorregião geográfica do Brasil (Sul) e
apresenta o Brasil como um todo como interesse em comum na
análise da sustentabilidade e saúde.

460
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
Figura 1. Fluxograma de seleção dos artigos conforme base de
dados.

Fonte: Autoria própria.

461
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS

Tabela 1. Sistematização dos dados encontrados nos estudos.


Autoria e Universidade Cidade Local de Ano de
Sexo da associada ao e região publicação. Publica
autoria estudo política ção

Revista 2019
Márcia
Não se Metropolitan
Cristina Universidade Federal
aplica / a de
Gomes do ABC
Brasil Governança
Molina / F
Corporativa

Instituto de Estudos 2020


Não se Revista
José Eli da Avançados da
aplica / Estudos
Veiga / M Universidade de São
Brasil Avançados
Paulo

Gláucia Florianó Revista de 2019


Oliveira de Universidade Aberta polis / Gestão
Carvalho / do Brasil Região Social e
F Sul Ambiental

Programa de Pós- 2023


Bruna Graduação em Revista de
Não se
Pereira Desenvolvimento estudos
aplica /
Alves da Regional e de interdisciplin
Brasil
Silva / F Sistemas Produtivos ares.
(PPGDRS) da UEMS
Fonte: Autoria própria

A análise dos dados fornecidos revela várias


características relacionadas aos estudos referenciados,
permitindo uma discussão abrangente sobre diversos aspectos,
observamos que os artigos foram publicados em diferentes
anos: 2019, 2020 e 2023. Essa distribuição temporal pode
indicar uma produção acadêmica interrompida, em parte
possivelmente pelas políticas de redução de investimento em
ciências, agravada pela pandemia COVID-19 entre os anos

462
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
2021 e 2022, que afetou produção acadêmica no Brasil (Hallal,
2021).
A produção acadêmica com a temática pesquisada
sugere uma predominância do sexo feminino como primeiro
autor, em convergência ao aumento da participação feminina
na pesquisa cientifica no Brasil, nas últimas décadas (Barros,
Mourão, 2018). Contudo, apenas quatro artigos não são
suficientes para consolidar essa interpretação.
Os estudos foram conduzidos em diferentes
universidades brasileiras, incluindo a Universidade Federal do
ABC, o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São
Paulo, a Universidade Aberta do Brasil e o Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Regional e de
Sistemas Produtivos (PPGDRS) da UEMS. Em geral, a
produção científica brasileira está concentrada na região
Sudeste, onde há mais recursos e universidades (Bezerra et al.,
2020). Essa diversidade de instituições sugere uma ampla
colaboração e compartilhamento de conhecimento entre
diferentes ambientes acadêmicos.
Os artigos foram publicados em revistas estão no
sistema Qualis da Capes, como a "Revista Metropolitana de
Governança Corporativa", "Revista Estudos Avançados" e
"Revista de Gestão Social e Ambiental", “Revista de Gestão
Social e Ambiental” e “Revista de estudos interdisciplinares”,
estão no estrato qualificado A1 e A3, A3 e A3, respectivamente.
A escolha desses veículos sugere uma busca por visibilidade e
reconhecimento acadêmico que é correspondido pela aceitação
em publicar pelas revistas citadas.
Em resumo, a diversidade observada nos dados, seja em
termos de gênero dos autores, universidades envolvidas, locais
de estudo, ou veículos de publicação, contribui para uma
abordagem ampla e enriquecedora nos estudos acadêmicos.

463
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
Essa diversidade é essencial para a construção de um
conhecimento robusto e representativo, incorporando
diferentes perspectivas e experiências.
O artigo "Sustentabilidade e Desenvolvimento
Sustentável: Uma Visão Contemporânea" (Molina, 2019)
apresenta como objetivo principal o entendimento do processo
de desenvolvimento sustentável, bem como a sustentabilidade,
de forma ampla, através da metodologia de pesquisa
bibliográfica em que foram consultados livros e artigos
científicos, resultando em uma análise dos diferentes conceitos
e formações que envolvem o tema. No artigo é enfatizado, que
tanto o desenvolvimento sustentável quanto a sustentabilidade
constituem parâmetros que ultrapassam a ideia ecológica e
ambiental, fazendo parte de outras vertentes, como o meio
social e seus aspectos econômicos, culturais, políticos e
históricos.
Os subcampos abordados pelo artigo são diversos e
interdisciplinares. Em termos econômicos, é discutido o
desenvolvimento sustentável como um processo que
corresponde à igualdade social nos seus mais variados
aspectos, assim como ao uso consciente de recursos naturais.
Em termos sociais, o desenvolvimento sustentável é visto como
uma forma de homogeneidade social, distribuição justa de
renda, geração de empregos e melhor qualidade de vida. No
campo ambiental, o desenvolvimento sustentável é uma forma
de promover a sustentação dos ecossistemas e contar com
tecnologias capazes de promover sistemas resilientes. Além
disso, o artigo também aborda o tema dos direitos humanos e
da justiça social.
A importância da publicação fica evidenciada na
discussão da conexão entre sustentabilidade e
desenvolvimento sustentável, ressaltando a necessidade de

464
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
entender o desenvolvimento sustentável como um tipo de
paradigma para a sociedade contemporânea. Nesse sentido, o
desenvolvimento sustentável deve levar em consideração o
meio social e seus aspectos econômicos, culturais, políticos e
históricos, indo além da ideia ecológica e ambiental. É
importante destacar que o artigo apresenta uma visão crítica
que aponta a necessidade da diminuição da relação predatória
da humanidade com a natureza, apontando que para o alcance
da sustentabilidade se faz necessário que as atividades
econômicas realizadas no meio ambiente promovam uma
relação de reciprocidade entre o ser humano e o seu meio
exterior.
O documento ressalta uma visão contemporânea da
temática, explorando os conceitos e suas inter-relações,
indicando o entrelaçamento entre os termos, uma vez que a
sustentabilidade é o objetivo do desenvolvimento sustentável
que, além de ser voltado para aspectos ecológicos, é
importante para o equilíbrio ambiental, sendo um fator
preponderante para a sustentação da existência com padrões
mínimos de qualidade de vida para todos os seres humanos.
Por outro lado, a sustentabilidade deve garantir o suporte dos
ecossistemas, direitos humanos e justiça social, assegurando
as condições ecológicas necessárias para a sustentação da
vida humana sem prejudicar as gerações futuras.
No texto "Saúde e sustentabilidade" (Veiga, 2020), há
discussão sobre a abordagem do binômio saúde e
sustentabilidade em algumas áreas da saúde pública: a saúde
ambiental, a saúde coletiva e a saúde planetária, a saúde
ambiental é definida como um campo da saúde pública que
avalia e controla os fatores físicos, químicos e biológicos
externos a uma pessoa que pode afetar sua saúde. Embora a
saúde ambiental seja um campo novo na saúde pública, ela não

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TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
é suficiente para abordar todos os fatores que afetam a saúde
humana.
No artigo “sustentabilidade e desenvolvimento
sustentável: Uma visão conteporânea, (Carvalho, 2019), é
discutida a relação entre saúde e sustentabilidade trazendo
que, a sustentabilidade tem um papel fundamental na promoção
da saúde humana e na prevenção de doenças, especialmente
aquelas relacionadas à qualidade do ar, água e alimentos.
Dessa forma, a abordagem do binômio saúde e
sustentabilidade é realizada no subcampo da sustentabilidade
ambiental, envolvendo os aspectos econômicos, políticos e
culturais, além do meio ambiente.
Os autores concluem que, para alcançar a
sustentabilidade e promover a saúde humana, é necessário
investir em estratégias que levem em conta a prevenção e o
gerenciamento adequado de resíduos, água e meio ambiente
em geral, ainda ressaltam que essas estratégias devem ser
desenvolvidas em conjunto com políticas públicas que
promovam a justiça social e a equidade, a distribuição igualitária
de recursos naturais e a formação de valores e de uma cultura
voltada para a sustentabilidade.
Por fim, de acordo com o artigo "Desenvolvimento e
Saúde: a Sustentabilidade em Foco" (Silva, 2022), o binômio
saúde e sustentabilidade é realizada dentro da temática do
desenvolvimento sustentável. Mais especificamente, a conexão
da saúde com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS). Os aspectos sociais, políticos, culturais e ambientais
foram inseridos em diferentes propostas conceituais de
correntes distintas de pensamento permitindo uma
compreensão sistêmica da termo sustentabilidade.
De acordo com Veiga (2020), examinar a conexão entre
a saúde e o desenvolvimento sustentável na perspectiva dos

466
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda
2030, além de refletir sobre a inclusão da saúde em propostas
teóricas de desenvolvimento apresenta uma literatura
exploratória, que incluiu diferentes correntes de pensamento,
permitindo uma compreensão mais aprofundada e sistêmica da
temática da sustentabilidade.
Como resultado da revisão sistemática, observamos
uma ampla gama de disciplinas envolvidas na produção de
conhecimento nessa área, tais como medicina, enfermagem,
agricultura, sociologia, economia e ética. Os pesquisadores
investigam questões que vão desde a influência do ambiente
urbano na qualidade de vida até a promoção de estilos de vida
saudáveis em comunidades sustentáveis. A revisão destaca
que a promoção da saúde e sustentabilidade está diretamente
ligada à adoção de práticas integradoras e sustentáveis nos
diversos setores da sociedade.

CONCLUSÕES
A pesquisa realizada identifica a produção acadêmica
brasileira sobre sustentabilidade e saúde como um campo de
pesquisa crucial, refletindo a crescente conscientização sobre
as interconexões entre o ambiente, a sociedade e a saúde
humana. Há um destaque para o papel das revistas científicas
brasileiras na disseminação do conhecimento e na promoção
de discussões relevantes na comunidade acadêmica. Ainda
assim, há uma escassez de publicações sobre o tema no âmbito
nacional, indicando a necessidade de mais estudos para
aprimorar o conhecimento nessa área. Ressalta-se a
importância da abordagem ampla e interdisciplinar que
considera tanto os aspectos biológicos, quanto sociais e
culturais da sustentabilidade. Reflete que é necessária a
colaboração entre pesquisadores de diferentes instituições e

467
TENDÊNCIAS EMERGENTES NA INTERSEÇÃO ENTRE SUSTENTABILIDADE, SAÚDE E
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DO IMPACTO
DAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS
regiões do país, fortalecendo a abordagem colaborativa
necessária para enfrentar desafios complexos que envolvem
sustentabilidade, saúde e desenvolvimento sustentável.
Entre os pontos negativos identificados, destaca-se a
necessidade de reduzir a relação cada vez mais predatória com
a natureza e a visão capitalista de produção, uma vez que isso
pode levar a um cenário de desastre ambiental provocado pelo
próprio ser humano. Além disso, a pesquisa evidencia que
ainda há uma necessidade de conscientização e mudança de
comportamento por parte da sociedade em relação às questões
ambientais e de uso de recursos naturais, não só para
publicações mas também para a conscientização da população
como um todo.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao professor Doutor Vanner como nosso
orientador e pesquisador pela paciência empregada e pelo
tempo disposto para nossa orientação, agradecemos também
aos programas de pós-graduação da UFSB, PPGCS, PPG-SAB
e PPGCTA.

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470
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
CAPÍTULO 25

UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS


ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO LUÍS,
MARANHÃO, BRASIL

Abigail de Cássia Rodrigues LAGO 1


Clara da Penha MARTE 1
Thomas Wendell Fernandes dos SANTOS 1
Juliana de Faria Lima SANTOS 2
1 Graduandos do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, UFMA; 2
Orientadora/Professora do DCEAS/UFMA.
e-mail:abigail.rodrigues@discente.ufma.br

RESUMO: O artigo explora a relação entre as fontes de água


históricas e o abastecimento urbano em São Luís, capital do
Maranhão, ao longo dos séculos. Além de representarem
marcos históricos e culturais, essas fontes desempenharam um
papel crucial na modernização do abastecimento de água. O
estudo tem como objetivo analisar a qualidade da água para
parâmetros microbiológicos, em fontes históricas, com enfoque
nas que resistiram ao tempo, como as Fonte do Ribeirão, Fonte
das Pedras e Fonte do Bispo, investigando ainda os seus
aspectos sanitários e seus usos contemporâneos. A
metodologia empregada inclui pesquisa bibliográfica e de
campo e análise microbiológica da água. A avaliação da
qualidade da água revela a presença de Escherichia coli em
ambas as fontes examinadas (Bispo e Ribeirão), que é
considerado o principal e melhor parâmetro de contaminação
fecal, e, portanto, a não conformidade com os padrões de
potabilidade para consumo humano, de acordo com a Portaria
GM/MS nº 888, de 4 de maio de 2021. A proximidade das
tubulações de esgoto, bem como a falta de manutenção das
fontes pode ser um fator contribuinte para essa contaminação.
Essa abordagem abrangente abarcou não apenas a

471
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
preservação desses locais como patrimônio cultural e artístico,
mas também a promoção de medidas que visem a conservação
e melhoria da qualidade da água dessas fontes.
Palavras-chave: Abastecimento de água. Fontes de água
históricas. São Luís.

INTRODUÇÃO
São Luís, capital do estado do Maranhão, é um local
onde os vestígios do passado e as demandas do presente se
entrelaçam de forma fascinante. Nessa cidade que respira
história, as fontes de água representam uma ponte viva entre o
passado e o presente, não apenas como marcos históricos e
culturais, mas também como testemunhas da evolução do
abastecimento de água na cidade ao longo dos séculos.
Desde os primórdios, quando poços e aquedutos
representavam as principais fontes de abastecimento de água,
até a adoção de sistemas de fornecimento modernos, a
infraestrutura hídrica das cidades experimentou transformações
significativas, acompanhando a constante necessidade de
atender às crescentes demandas da população urbana.
Durante os períodos coloniais e parte do período imperial, rios,
riachos, nascentes e poços desempenharam um papel central
como as principais fontes de água para as necessidades
cotidianas da população (PINHEIRO; FEITOSA, 2017, p. 253).
As fontes públicas eram estruturas construídas com o
propósito de prover água à população de uma cidade. Com o
crescimento e o desenvolvimento urbano, essas construções
desempenharam um papel fundamental no progresso das
cidades, marcando o início do abastecimento de água nas
áreas urbanas (BARBOSA; MARQUES, 2007).
Em São Luís, as primeiras fontes foram edificadas por
volta do século XVII refletindo uma das primeiras preocupações

472
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
para os desafios relacionados ao abastecimento de água
urbano e saneamento na cidade (BARBOSA; MARQUES,
2007). Inicialmente, as fontes eram de propriedade exclusiva
das famílias mais abastadas economicamente, que mantinham
fontes e poços em seus próprios quintais, porém, com o tempo,
elas foram adquiridas pelo poder público, facilitando o acesso à
população mais vulnerável da cidade.
Essas fontes desempenhavam um papel essencial no
fornecimento de água para a população urbana e, ao mesmo
tempo, serviam como locais propícios para interações sociais.
Escravizados frequentemente buscavam água ou
transportavam barris na cabeça, formando aglomerações
diárias ao redor das fontes. (PINHEIRO, 2017).
As fontes, no entanto, estavam situadas em locais
distantes, o que exigia que a água fosse coletada e
transportada até as residências para uso doméstico. Contudo,
esse transporte, além de ser demorado, representava um
desafio à higiene, uma vez que era executado por escravizados,
que, após descartarem os tonéis contendo resíduos
domésticos, retornavam com a água a ser consumida
(MACHADO, 2015).
Neste contexto histórico, surge a necessidade de uma
análise da qualidade da água das fontes históricas de São Luís.
Como elo entre o passado e o presente, essas fontes têm muito
a revelar sobre a evolução do abastecimento de água na cidade
e seu impacto na saúde pública. Vale ressaltar que, apesar de
as fontes históricas de água em São Luís serem
frequentemente estudadas no âmbito histórico e arquitetônico,
nota-se uma escassez considerável de abordagens sanitárias e
socioambientais.
Diante disso, este trabalho se propõe a analisar a
qualidade das águas nas fontes históricas da cidade, com

473
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
enfoque especial nas que resistiram ao tempo como as Fontes
do Ribeirão, das Pedras e do Bispo, explorando seus aspectos
sanitários, microbiológicos e usos atuais. E ainda a trajetória
das fontes públicas de São Luís, desde suas origens até o
presente, abordando as mudanças na infraestrutura hídrica,
com vistas a preservação desses espaços como forma de
manter a identidade cultural da cidade e para a promoção da
qualidade de vida de seus habitantes.

MATERIAIS E MÉTODO
Área de Estudo
As fontes mencionadas na pesquisa estão localizadas na
região central da cidade, que abrange o centro histórico de São
Luís. Esse núcleo, devido à sua significativa importância
histórica nos séculos XVIII e XIX para o progresso do país,
possui um valioso acervo arquitetônico colonial português
adaptado às condições climáticas locais. Em reconhecimento a
essa relevância, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1974 e,
posteriormente, recebeu a distinção de Patrimônio Cultural
Mundial pela Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1997.

Procedimentos Metodológicos
A metodologia adotada para o trabalho consistiu-se em
pesquisa qualitativa exploratória para análise documental,
ambiental e sanitária, complementada por pesquisa quantitativa
na quantificação de patógenos nas águas coletadas. O
processo de coleta de dados incluiu revisão bibliográfica,
pesquisa de campo com técnicas como observações
participantes, registros em diários de campo, entrevistas e
diagnóstico rápido participativo (DRP), conforme preconizado

474
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
por Bernard (1988), Fonseca (2002), Gil (2002) e Verdejo
(2010). Dessa forma, o estudo ocorreu em três etapas:
I. Identificação das fontes de abastecimento de
água;
II. Diagnóstico participativo in loco socioambiental e
sanitário das fontes estudadas;
III. Coleta e análise da qualidade da água para
parâmetros microbiológicos.
Etapa I
Na etapa inicial foi realizado um levantamento
bibliográfico utilizando recursos online, incluindo o Google
Acadêmico (https://scholar.google.com.br) e a Scientific
Electronic Library Online (http://www.scielo.org/php/index.php).
A seleção dos materiais foi feita com base em critérios como o
ano de publicação, a abrangência com o tema de pesquisa e o
idioma português.
Posteriormente, para efetivar a pesquisa, foram feitas
visitas a acervos locais em São Luís, como o IPHAN, a
Biblioteca Pública Benedito Leite e o Arquivo Público do Estado
do Maranhão. Essas visitas proporcionaram acesso a materiais
relacionados à história e ao patrimônio cultural da cidade,
contribuindo para a base teórica do estudo, que também se
baseou em obras de diversos autores, como Raimundo
Palhano, Aucimai Tourinho, César Marques, Maria Lacroix,
incluindo a obra "São Luís Maranhão Corpo e Alma" e José
Lopes com a obra "São Luís, Ilha do Maranhão e Alcântara:
Guia de Arquitetura e Paisagem".
Etapa II
Por meio da pesquisa bibliográfica realizada, foram
identificadas 11 fontes de abastecimento de água. Dessas,
apenas 3 resistiram ao tempo e assim serão abordadas neste
trabalho.

475
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
A figura 1 abaixo apresenta um mapa da localização das
fontes catalogadas, conforme descrito por Marques (1870). Em
alguns casos, não foi possível determinar a localização exata,
uma vez que as informações de seus endereços eram
desconhecidas ou o que constava nas fontes bibliográficas
revelaram-se insuficientes.

Figura 1: Localização das fontes de abastecimento de água em


São Luís, MA, Brasil.

Fonte: ANDRÉS, 1998, p.37 apud BARBOSA & MARQUES, 2007


Legenda: 3.1 Fonte das Pedras, 3.2 Fonte da Olaria, 3.3 Fonte da Salina
(não localizado), 3.4 Fonte do Gavião, 3.5 Fonte da Telha, 3.6 Fonte do
Açougue, 3.7 Fonte do Apicum, 3.8 Fonte do Bispo, 3.9 Fonte do Mamoim,
3.10 Fonte do Marajá e 3.11 Fonte do Ribeirão.

Após a identificação das fontes históricas, realizou-se a


identificação das fontes atuais, realizou-se um diagnóstico
participativo com os atores sociais que transitam nesses
espaços. Durante esta etapa, foram avaliados elementos
arquitetônicos, estruturais e o estado de conservação das
fontes. Também foi analisada a vazão da água das bicas e
verificada a presença de resíduos sólidos nas proximidades. O
objetivo foi coletar informações sobre o uso atual da água, as

476
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
medidas de vigilância e manutenção pelas autoridades e, por
fim, cada fonte foi documentada por meio de fotografias
detalhadas.
Etapa III
Nesta etapa, as amostras de água das fontes históricas
de abastecimento foram coletadas para análise microbiológica
em laboratório. Os pesquisadores utilizaram bolsas de coleta
esterilizadas de 100 mL, conforme as diretrizes preconizadas
pela FUNASA (2013). As amostras foram transportadas sob
refrigeração até o laboratório, onde a análise bacteriológica foi
realizada por meio do teste Compact Dry EC, destinado à
enumeração direta de E. coli e coliformes totais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

HISTÓRICO DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM SÃO LUÍS


Nos séculos XVII e XVIII, o abastecimento de água
representou um desafio global, mesmo nas cidades mais ricas
da Europa, onde a qualidade e disponibilidade da água eram
insatisfatórias (BRAUDEL, 1995 apud KLAUCK; KLUG, 2017).
Em São Luís, assim como em diversas outras cidades
brasileiras, a situação não era diferente, e a utilização de fontes
era parte integrante do sistema inicial de fornecimento de água.
A Ilha de São Luís, banhada pelos rios Bacanga e Anil,
oferecia condições propícias para o afloramento de nascentes,
promovendo a construção de fontes. Marques (1870) menciona
a existência de 11 fontes datadas do século XVII ao XIX, como
Gavião, Salina, Telha, Olaria, Açougue, Apicum, do Bispo,
Marajá, Mamoim, Pedras e Ribeirão. Estas fontes, distribuídas
por vários bairros da cidade, desempenhavam um papel crucial
no abastecimento de água, público, atendendo tanto às famílias

477
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
abastadas quanto às mais carentes, e se tornaram elementos
essenciais na história urbana de São Luís.
Antes da implementação das primeiras companhias de
canalização de água, o abastecimento em São Luís ocorria de
duas maneiras principais: pela população, que obtinha água
diretamente de fontes, poços e nascentes; e pela venda livre,
através de "negociantes" ou "aguadeiros" que comercializavam
água. Estas fontes não apenas forneciam água, mas também
eram espaços importantes para a socialização da população,
como destacado por Lacroix (2020, p. 171).
No entanto, o uso dessas fontes tornou-se um problema
sanitário nas cidades, representando riscos à saúde devido à
contaminação da água. Ferreira (1993 apud KLAUCK; KLUG,
2017) destaca que não era incomum as pessoas tomarem
banho nessas fontes e, em seguida, coletarem água para uso
doméstico, o que contribuía para a propagação de doenças.
As condições sanitárias precárias na capital do
Maranhão, marcadas pela escassez de água potável, ausência
de sistemas de esgoto, ineficácia na remoção de resíduos e
inadequada higienização, resultavam em crises endêmicas e
surtos epidêmicos frequentes.
Segundo Palhano (2017), apesar das epidemias e da
grave escassez de serviços urbanos afetarem a vida dos
ludovicenses desde a segunda metade do século XIX, somente
em 1902 o poder público começou a se preocupar com medidas
mais efetivas de saneamento.
Essas ações incluíram abastecimento de água,
saneamento e higienização, reconhecendo-as como condições
fundamentais para enfrentar eficazmente a questão sanitária
evidenciada pelas péssimas condições de salubridade
oferecidas à população.

478
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
Segundo Palhano (2017), São Luís viu a primeira
iniciativa do poder público para regulamentar o fornecimento de
água potável encanada em 1850, através da Lei Provincial nº
287, de 4 de dezembro de 1850. Durante esse período, foram
realizadas as primeiras canalizações e a instalação de seis
chafarizes na região central da cidade, o que marcou o primeiro
passo em direção as melhorias nas condições sanitárias da
cidade.

ASPECTOS HISTÓRICOS E SITUACIONAL DAS FONTES


A pesquisa histórica relacionada às fontes abrangeu uma
extensa revisão bibliográfica sobre a história da cidade e seu
sistema de abastecimento. Desta forma são apresentadas as
três fontes que resistiram ao tempo na capital maranhense: a
Fonte das Pedras, a Fonte do Bispo e a Fonte do Ribeirão.

FONTE DAS PEDRAS


Endereço: rua Antônio Rayol, entre as ruas da Inveja e
do Mocambo, com o prédio da antiga Fábrica Santa Amélia ao
fundo.
Localização UTM: 2°31’57”S 44°18’00”
Dados históricos: foi a primeira a ser erguida na cidade.
Embora não haja dados precisos para sua construção, alguns
historiadores sugerem que ela foi construída durante o período
em que os holandeses ocuparam a cidade, por volta de 1641 a
1643, devido ao fato de os invasores terem se abastecido no
manancial (LACROIX, 2020, p.167).
Características físicas: composta por um frontispício
que possui quatro pilastras sustentando um frontão triangular,
cujos contornos são ondulados e destacado por um coruchéu
central. Cinco carrancas esculpidas em cantaria de lioz
adornam a estrutura. Situada em um jardim arborizado, a fonte

479
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
é cercada por bancos de madeira e protegida por um muro que
conta com um portão de ferro decorado com brasão e armas
portuguesas (BUENO, 2015, p. 44).
Além disso, há uma rede de galerias subterrâneas que
capta água de várias nascentes, conduzindo-a por carrancas
até um tanque revestido de pedras. Essas galerias interligadas,
originadas das torres próximas à antiga Fábrica Santa Amélia e
sob a fachada do chafariz, formam uma estrutura em "T". A
extensão das galerias vai além das cavidades onde a água
jorra, chegando aos diques laterais e aos nichos por meio de
ladrões, de onde a água flui para os canos das cinco carrancas
(LOPES, 2008, p. 399).
Situação atual: apesar da recente reforma, que
assegura um bom estado de conservação, a fonte exibe
manchas de umidade e fungos na pintura, com áreas
descascadas. Das cinco carrancas existentes, apenas uma não
possui mais saída de água, e o volume das bicas em
funcionamento é reduzido. A bacia de coleta abriga peixes
introduzidos pela prefeitura para embelezar o ambiente,
conforme figura 2, mas sua presença resulta em um forte odor
característico de peixe.
A área arborizada está bem preservada, com bancos e
estruturas em bom estado, devido à vigilância diária da Guarda
Municipal estabelecida durante a última reforma. Lixeiras estão
espalhadas pelo jardim, e a limpeza é realizada periodicamente
pelo Instituto Municipal da Paisagem Urbana (Impur), sob
responsabilidade da prefeitura. Atualmente, o local é
cotidianamente frequentado por moradores, a fonte fica muito
próxima ao Mercado Central e terminais de integração, fazendo
parte do cotidiano afetivo da população que frequenta esta
região. Comumente os frequentadores levam seus filhos e
muitas histórias são relembradas nesse espaço. Há alguns

480
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
anos era muito comum a presença de moradores em situação
de rua nos seus jardins.

Figura 2: a) Fachada da Fonte das Pedras, São Luís, MA,


Brasil; b) Bacia de recolhimento da Fonte das Pedras, São Luís,
MA, Brasil.

a) b)
Fonte: Autores, 2023

Apoio legal: A Fonte das Pedras foi oficialmente


tombada pelo IPHAN no ano de 1963, sendo registrada sob a
numeração 17.08.61 no Livro do Tombo das Belas Artes
(PACHECO, 2014, p. 61).

FONTE DO BISPO
Endereço: situada na Rua Fonte do Bispo
(anteriormente conhecida como Rua das Crioulas), ex-Largo do
Santiago, no bairro de Madre Deus, a cerca de 250 metros do
cemitério Gavião.
Localização UTM: 2°32'20"S 44°17'56"W
Dados históricos: sua construção remonta ao século
XVII e era formada por dois poços com poucos centímetros de
profundidade, nos quais as águas se misturavam com a água
salgada durante a maré cheia, tornando-a uma das fontes mais
simples da região. Além disso, era um local agradável muito
apreciado pelas lavadeiras devido à vegetação rasteira que

481
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
servia como espaço para estender suas roupas (LACROIX,
2015). Localizada no tradicional bairro da Madre Deus, esta
área foi uma das primeiras a abrigar as pioneiras fábricas de
São Luís.
Segundo Lopes (2008), a denominação "Fonte do Bispo"
originou-se de um acontecimento marcante. Nas imediações
desta fonte encontrava-se a residência de Frei Dom Timóteo do
Sacramento, que, ao excomungar todas as autoridades locais
e até mesmo a própria cidade, foi condenado ao confinamento
em seu palácio situado no Largo de São Tiago, com a restrição
de não sair ou receber visitas. Após alguns dias, diante da
escassez de alimentos e água, ele decidiu romper o isolamento
e dirigir-se à fonte em busca de água, conferindo-lhe o nome
pelo qual é conhecido até os dias atuais.
Características físicas: a estrutura original era
adornada com peças de pedra de cantaria lavrada, além de
possuir um frontão de alvenaria centrado por uma placa de
mesmo material com inscrição ilegível e uma porta, hoje já não
mais existentes. Conforme relata Moraes (1980), as peças
originais da fonte foram supostamente desviadas para o Rio de
Janeiro por um político corrupto. Segundo os moradores da
região, a placa em questão encontra-se sob domínio da
Prefeitura.
Atualmente, a fonte está reduzida a uma pequena
cacimba formada por dois poços, com poucos centímetros de
profundidade, de formato retangular, cercada por uma pequena
parede em alvenaria. (BUENO, 2015, p. 46). Apresenta ainda
uma cobertura em estrutura de metal e placa de zinco, a qual
foi adiciona pelos moradores locais. No entanto, com nenhuma
porta ou proteção que sirva como barreira sanitária para
preservar esse recurso, conforme figura 3.

482
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
Figura 3: Estrutura da Fonte do Bispo, São Luís, MA, Brasil.

Fonte: Autores, 2023

Situação atual: devido ao crescimento desordenado da


região, a fonte acabou sufocada entre casas e ruas estreitas do
bairro encontrando-se descaracterizada e em estado regular de
conservação. Observa-se a presença de fissuras, vegetação de
pequeno porte, manchas de umidade e peixes os quais não se
sabe a origem, conforme indicado na figura 4.
Lacroix (2020) destaca que o estado atual deteriorado da
fonte é resultado do avanço urbano, da construção do Anel
Viário e do Aterro do Bacanga. O progresso e intervenções
urbanas desempenharam papel significativo na transformação
da paisagem, contribuindo para sua condição precária.

483
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
Figura 4: a) Presença de peixes na Fonte do Bispo, São Luís,
MA, Brasil e; b) Vista interna.

a) b)
Fonte: Autores, 2023.

A fonte do bispo, pouco conhecida em São Luís e


desprovida de ornamentos, não atrai visitantes como as demais
fontes. No entanto, é utilizada por moradores locais durante
períodos de escassez de água, para suas atividades diárias.
Os moradores manifestam um profundo apego pela fonte
e expressam o desejo de que as autoridades públicas a
preservem, dedicando a devida atenção aos cuidados e à
manutenção, possibilitando assim sua inclusão nos itinerários
turísticos oficiais da cidade. Hoje em dia existe um passeio
cultural realizado pelo historiador Flaviomiro Mendonça, que
resgata as histórias e monumentos do tradicional bairro da
Madre Deus.
Apoio legal: A Fonte do Bispo encontra-se totalmente
desprotegida juridicamente, sem nenhum suporte legal e
supervisionado pelas autoridades competentes.

FONTE DO RIBEIRÃO
Endereço: localizada entre as ruas dos Afogados, das
Barrocas e do Ribeirão

484
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
Localização UTM: 2°31’51”S 44°18’07”W
Dados históricos: construída em 1796 a mando do
Tenente-Coronel D. Fernando Antônio de Noronha, que
governou o Maranhão entre 1792 a 1798. A construção visava
atender à necessidade de saneamento no sítio do Ribeirão e
melhorar as condições de uso da água na localidade. Ao longo
das décadas, essa fonte beneficiou a população do Ribeirão e
seus arredores. (MARQUES, 1970, p.280, apud MARQUES;
BARBOSA, 2007)
A história em torno da Fonte é permeada por
especulações e narrativas fictícias entrelaçadas com a trajetória
da cidade. De acordo com Bueno (2015, p.48), há relatos que
sugerem que as galerias funcionavam como túneis conectando
as principais igrejas, facilitando a locomoção dos frades entre
elas. Outros afirmam que essas galerias eram utilizadas para o
contrabando de escravizados quando o tráfico negreiro foi
proibido. Contudo, a lenda mais difundida pela população
ludovicense é a de que as galerias abrigam uma serpente
encantada, cuja cabeça encontra-se na Fonte do Ribeirão e a
cauda na Igreja de São Pantaleão. Diz-se que essa serpente
cresce sem parar, e no dia que sua cauda encontrar com a
cabeça, ela acordará, afundando toda Ilha.
Características físicas: possui um pátio revestido com
pedras de cantaria, protegido por paredões de alvenaria. Sua
fachada inclui duas pilastras que sustentam um entablamento
com frontão decorado com símbolos pagãos e cristãos. Três
janelas com grades de ferro dão acesso às galerias
subterrâneas, e cinco carrancas com biqueiras de bronze
despejam água em um tanque que cobre o pátio, que flui em
direção à antiga Praia do Caju (MARQUES; BARBOSA, 2007,
p. 12-13).

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UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
Além das construções destinadas a captar as águas das
nascentes, a Fonte do Ribeirão proporciona acesso a um
sistema de galerias para o escoamento de águas pluviais que
percorre todo o centro antigo e remonta ao final do século XVII.
(LOPES, 2008, p. 401)
Situação atual: é a fonte mais visitada da capital
maranhense, sua gestão está sob responsabilidade da
Prefeitura de São Luís, que realizou sua última reforma no ano
de 2021. Durante esse processo, foram implementadas
melhorias, como a instalação de iluminação artística e a
restauração da pintura. Contudo, mesmo após essa intervenção
recente, a fonte apresenta indícios de desgaste, visíveis por
meio de manchas de umidade, desbotamento da pintura e até
mesmo pichações no frontão, conforme ilustrado na figura 5.
Além disso, a iluminação artística instalada na última reforma já
não está mais em funcionamento.

Figura 5: Fachada da Fonte do Ribeirão, São Luís, MA, Brasil,


desgastada.

Fonte: Autores, 2023.

Das cinco carrancas, uma já não tem fluxo de água,


enquanto as outras têm um volume mínimo. A limpeza periódica

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UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
é realizada pelo Instituto Municipal da Paisagem Urbana
(Impur), que está sob responsabilidade da prefeitura, e também
pelos moradores do entorno.
Atualmente, a fonte se tornou um ponto de encontro,
servindo de turismo e relaxamento para a comunidade, além de
palco para manifestações culturais em épocas carnavalescas e
realização de projetos como o "Samba na Fonte". No entanto,
as atividades foram suspensas após a instalação do Ministério
Público nas proximidades. Quanto ao uso da água, pessoas em
situação de rua a utilizam para higiene pessoal e consumo,
enquanto lavadores de carros locais também recorrem à fonte
para lavagem.
Apoio legal: tombada pelo IPHAN, em 14 de julho de
1950, sendo inscrita no Livro do Tombo das Belas Artes.
(PACHECO, 2014, p. 75).

ANÁLISE DE ÁGUA
A avaliação da qualidade da água abrange diversos
parâmetros que indicam suas propriedades físicas, químicas e
biológicas. A ausência de impurezas, especialmente
contaminação fecal, é crucial para prevenir riscos à saúde
humana devido a patógenos. A concentração de coliformes é
um indicador relevante, conforme estabelecido pela Portaria
GM/MS Nº 888 de maio de 2021, que exige a ausência de
coliformes totais e Escherichia coli em 100 mL de água.
Os resultados da análise da água coletada nas Fontes
do Bispo e do Ribeirão estão apresentados na Quadro 1 abaixo.
A coleta da Fonte das Pedras não pôde ser realizada devido ao
volume elevado de água no tanque, que cobria as bicas de
saída, impossibilitando assim a coleta da amostra.

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UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
Quadro 1: Resultados dos parâmetros bacteriológicos frente as
amostras de água coletada nas fontes do Ribeirão e Bispo, MA,
Brasil.
Fontes
Parâmetros Valor Máximo
Pedras Bispo Ribeirão
Não Ausência em
Eschericia coli Presente Presente
Analisada 100mL
Não Ausência em
Coliformes Totais Presente Presente
Analisada 100mL
Fonte: Autores, 2023.

Como pode ser observado, ambas as fontes examinadas


revelaram resultados positivos para a presença de Escherichia
coli e coliformes totais. Esta bactéria é comumente encontrada
em quantidades elevadas nas fezes de humanos, mamíferos e
aves, sendo raramente detectada em água ou solo não
contaminados por resíduos fecais (WACHINSK, 2013). Dessa
forma, conclui-se que ambas as fontes não atendem aos
padrões de potabilidade.
O resultado positivo para a presença de Escherichia coli
na Fonte do Bispo pode ser influenciado pela proximidade da
fonte com as tubulações do sistema de esgotamento sanitário
do bairro, favorecendo a liberação de resíduos que
comprometem o lençol freático. Ayach et al. (2009) respaldam
essa hipótese ao afirmar que a contaminação das águas
subterrâneas em fontes urbanas pode resultar do despejo de
esgoto em áreas não conectadas às redes coletoras ou de
vazamentos nos sistemas de esgoto municipais. Outro fator de
risco observado, foi a ausência de barreira sanitária, permitindo
o acesso livre de animais e outras fontes que podem contaminar
a água.
Este cenário também pode ser associado ao resultado
positivo na Fonte do Ribeirão, uma vez que o sistema de esgoto

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UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
na região do Centro Histórico de São Luís é antigo e utiliza as
galerias para passagem das tubulações. Além disso, é possível
que contenha a presença de animais, como ratos, que transitam
pelas galerias, contribuindo para outros tipos de contaminação.
Estudos conduzidos por Gomes (2019) corroboram essa
constatação, ao afirmar que a ausência de limpeza e
manutenção em reservatórios de água propicia o contato com
animais, a decomposição de matéria orgânica e,
consequentemente, a contaminação da água.
A presença desses microrganismos sugere que a
população, ao usar a água das fontes, tanto do Bispo quanto do
Ribeirão, em suas atividades, enfrenta uma probabilidade alta
em contrair doenças transmitidas pela água, com sintomas
gastrointestinais relacionados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
São Luís, preserva em suas fontes históricas, uma
narrativa rica da evolução do abastecimento de água da cidade.
Ao longo dos séculos, as fontes foram cruciais para o
suprimento de água na cidade, mas as condições sanitárias
precárias e a falta de intervenções adequadas afetaram seu
estado atual.
A pesquisa realizada revelou que, a Fonte das Pedras,
protegida e tombada pelo IPHAN, enfrenta desafios de
conservação, enquanto a Fonte do Bispo, desprotegida
legalmente, reflete o impacto do crescimento urbano
desordenado. Já a Fonte do Ribeirão, tombada e recentemente
revitalizada, ainda requer cuidados para preservar suas
condições ideais.
A análise microbiológica revelou preocupações com a
qualidade da água. Ambas as fontes examinadas,
apresentaram presença de Escherichia coli, indicando

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UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA E AS ÁGUAS DAS FONTES DE SÃO
LUÍS, MARANHÃO, BRASIL
contaminação fecal, representando sérios riscos à saúde dos
consumidores. Esse cenário, aliado à falta de barreiras
sanitárias e manutenção da estrutura das fontes, ressalta os
desafios para manter a qualidade da água e garantir a saúde
pública.
Apesar desses obstáculos, as fontes continuam
desempenhando papéis importantes na vida contemporânea. A
Fonte das Pedras e do Ribeirão tornaram-se pontos turísticos
importantes na cidade, atraindo visitantes de todos os lugares.
No entanto, a Fonte do Bispo, encontra-se descaracterizada e
negligenciada pelas autoridades, embora ocasionalmente seja
utilizada pelos residentes locais.
Diante disso, a preservação das fontes históricas de São
Luís exige esforços multidisciplinares que vão além da
restauração física. O envolvimento das autoridades, medidas
de conservação e conscientização da população são essenciais
para garantir a preservação desses recursos hídricos e a
identidade cultural de São Luís. A pesquisa contribui não
apenas para a compreensão da história local, mas também para
a formulação de estratégias sustentáveis para o futuro desses
importantes monumentos na cidade.

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2013.

492
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
CAPÍTULO 26

UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS


SUCROENERGÉTICAS BRASILEIRAS NA
PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E
2021

Valdério Freire de MORAES JÚNIOR 1


1
Professor do DFC/UFPB
valderiofreire@yahoo.com.br

RESUMO: O presente estudo pretende analisar como as


entidades sucroenergéticas estão atendendo a demanda por
álcool para combater o vírus da Covid-19. A metodologia
adotada, a partir de uma pesquisa quali-quantitativa, foi levantar
as principais ações, através do Google, pela ferramenta Trends
na busca das palavras: usina + cana-de-açúcar + álcool + covid.
Deve-se destacar que, a produção foi acelerada do álcool,
principalmente o 70%, pois segundo o Instituto Nacional de
Pesos e Medidas (INPM), foi o produto, no momento, mais
requisitado para se proteger do vírus. Assim, um mercado
particularmente afetado foi o de açúcar; assim, com a queda do
petróleo, usinas de cana no Brasil, maior produtor e exportador
global de açúcar, se preparam para produzir muito mais
adoçante do que antes. Assim, as mais de cem usinas
localizadas em pelo menos cinco diferentes Estados brasileiros
se prepararam para iniciar à safra de cana-de-açúcar
2020/2021, em abril. Por fim, a busca pelos termos de interesse,
através do Google Trends, detectou um valor de 67,25% ao
longo do ano 2020 e de 59,65 (primeiro semestre de 2021);
assim, as produtoras de etanol se reinventaram associadas a
União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Única); produzindo
álcool hidratado 70º INPM e sua produção foi acima do

493
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
programado, devido a realidade vivida no mundo, de 2020 a
2023.
Palavras-chaves: Sucroenergéticas; Coronavírus; Álcool 70%
INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma produção expressiva de cana-de-
açúcar, comparada ao do mundo, por causa da sua extensão
territorial e de terras adequadas para a produção desse
produto. Além de ser o principal produtor de açúcar, o etanol
também possui uma boa comercialização, no país, além da
energia proveniente do bagaço da cana. Portanto, as maiores
empresas brasileiras, nesse ramo, atuam em mais de uma
região do país, fazendo com que elas se mantenham em um
mercado que nem sempre é favorável aos pequenos
produtores. Fato é que às vezes são os menores que fornecem
matéria-prima para manter a produção dos grandes produtores
(PORTAL DO AGRONEGÓCIO, 2020).
Nos anos 2020, os estragos causados pela pandemia do
coronavírus nas economias globais atingiram as commodities
(mercadorias). Assim, a opção de adiar a safra ou reduzir o nível
de moagem, conforme Toledo (2020), também pode ser
problemática, pois significa deixar de gerar caixa e perder
produtividade. Será menos complicado para grupos que têm
flexibilidade no mix de investimentos e os que fixaram uma boa
estratégia de hedge (proteção).
Portanto, um mercado particularmente afetado é o de
açúcar, pois o colapso dos preços dos combustíveis leva ao
aumento da oferta. Por isso, com a queda do petróleo, as usinas
de cana no Brasil, maior produtor e exportador global de açúcar,
se preparam para produzir muito mais adoçante do que antes
(PORTAL DO AGRONEGÓCIO, 2020).
De forma específica a Covid, houve a transmissão de um
novo coronavírus (SARS-CoV-2), em Wuhan na China em

494
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
dezembro de 2019, causando a COVID-19, e em seguida
disseminada e transmitida de pessoa a pessoa (BRASIL, 2020).
Conforme Portal do Agronegócio (2020), a partir de tendências
de mercado, principalmente pela procura de um determinado
produto, no caso do álcool Etílico Hidratado 70% (em um
primeiro momento em gel, depois houve a autorização do
líquido), por exemplo, pode-se fazer um panorama de como
esse produto foi relevante para o combate na transmissão do
coronavírus.
Fato é que as empresas canavieiras então
acrescentaram em seus portfólios de produtos, como consta na
contabilidade delas, para atender um mercado com uma
demanda pelo álcool 70%, possibilitando assim a expansão de
seus negócios. Todavia, conforme Silveira (2020), para sua
possível comercialização, determinados padrões e parâmetros
acabam sendo exigidos por órgãos como a ANVISA, para
assegurar a sua eficácia e garantir que não ocorram problemas
à saúde do consumidor.
O presente estudo tem como objetivo analisar o interesse
das entidades sucroenergéticas na fabricação do álcool 70%
para combater o vírus do Covid-19 em dois momentos distintos
(ano de 2020 e o primeiro semestre de 2021). Percebe-se,
então, a relevância em se estudar o comportamento da
produção das entidades canavieiras. Já o problema: De que
forma ocorre o interesse das entidades sucroenergéticas
na fabricação do álcool 70% para combater o vírus do
Covid-19? Esse trabalho está dividido nos seguintes tópicos:
essa introdução, referencial teórico, metodologia,
considerações finais e referências.

495
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
REFERENCIAL TEÓRICO
Esse tópico é sub-dividido em três: produção de álcool
pelas empresas sucroenergéticas; sucroenergéticas na
pandemia da covid-19 (ou coronavírus) e ferramenta Google
Trends.

Produção de álcool pelas empresas sucroenergéticas


O álcool representa um dos principais produtos da cana-
de-açúcar, pelo menos é o mais lucrativo, tendo uma produção
mundial em larga escala, sendo o Brasil um dos maiores
produtores mundiais, principalmente pela extensa área de
cultivo. Para diferenciar entre o álcool da bebida, o dos carros
e para higienizar as mãos, leva-se em consideração
o percentual de concentração do álcool e nas substâncias
presentes nas versões em gel e combustível, além daquele
para consumo humano. Segundo Veras (2020), a cerveja tem
em torno de 5% de álcool, o álcool gel tem 70% contra o
COVID-19, por sua vez, o combustível tem 94%. As novas
tecnologias na produção de cana-de-açúcar justificam a
expansão da cultura e na melhoria da produtividade (OLIVEIRA;
VASCONCELOS, 2006).
Portanto, o Brasil tem o desafio de aumentar sua oferta
de álcool combustível, buscando saídas, como novas
variedades de cana, com a inclusão de plantas transgênicas ou
expandindo áreas agrícolas, como também inovações na linha
de produção (Oliveira; Vasconcelos, 2006). Fato é que o etanol
voltou a ser procurado, passando a ter destaque no cenário
energético brasileiro e em outros países. Pode-se dizer que os
carros bicombustíveis, que podem ser abastecidos com
gasolina ou álcool, são responsáveis por essa retomada no
mercado.

496
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
A Resolução CIMA Nº 37, de 27/06/2007, trata
justamente da proporção do álcool na mistura da gasolina, que
chegou a ser de 25%. Assim, segundo Nova Cana (2016),
observa-se que essa mistura sofre alterações, de forma
contínua, pelo governo, chegando a diminuir ou aumentar essa
medida, uma forma de diluir a gasolina.
O estudo de Melo e Sampaio (2012) relaciona os
mercados de açúcar, etanol e gasolina. Nesse trabalho, o
açúcar brasileiro se apresentou mais consolidado no mercado
internacional, assim como o etanol, por causa dos
veículos flex, formando um trade-off (conflito) entre a produção
de etanol e açúcar, em relação aos preços das commodities e
da gasolina. Como resultado dessa pesquisa, o produtor reage
mais fortemente a uma mudança no preço do açúcar do que do
etanol, demonstrando a preferência em produzir açúcar.
Em março de 2020, o Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada (Cepea) verificou que o etanol hidratado
fechou em 13,97% a menos que na semana anterior, refletindo
a demanda em função das medidas restritivas relacionadas ao
coronavírus. Outro fator de pressão sobre o etanol é o petróleo,
que devido ao mercado internacional, teve forte baixa por conta
da pandemia e da disputa entre Rússia e Arábia Saudita.
Ainda segundo Cepea (2020), as mais de cem usinas
localizadas em pelo menos cinco diferentes estados brasileiros
se prepararam para iniciar a safra de cana-de-açúcar
2020/2021, em abril. Porém, veio a crise devido a pandemia do
coronavírus, e as produtoras de etanol se reinventaram,
associadas com a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar
(Única), e tiveram autorização da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), no intuito de doar aos órgãos
públicos de saúde, para produzir álcool hidratado 70º INPM.

497
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
Sucroenergéticas na pandemia da covid-19 (ou
coronavírus)
O produto principal álcool, para uso doméstico, passou a
ser considerado o saneante mais buscado pelas pessoas
durante a pandemia. Para tanto, as empresas canavieiras (ou
sucroenergéticas) tiveram que mudar seu foco, durante o ano
de 2020, passando também por dificuldades na sua produção.
O governo brasileiro, segundo Guerra (2020), adotou
medidas de proteção para combater a pandemia, porém o
etanol teve uma queda imediata nos níveis de consumo tendo
impacto negativo nas cotações de etanol, por causa das baixas
ocorridas no preço da gasolina. Guerra (2020) afirma que, por
não ter planos de adiar o início da safra, as usinas vão ter o
ritmo da moagem mais lento, por questões de segurança,
evitando aglomeração de pessoas.
Assim, ainda conforme Guerra (2020), optar adiar a safra
ou reduzir o nível de moagem também pode ser um desafio, por
não gerar caixa e obter produtividade negativa, o que seria
menos complicado para grupos canavieiros com flexibilidade no
mix e àqueles com estratégia de hedge (proteção nos preços).
Para tanto, o protocolo sanitário diz respeito a cuidados
desde o transporte até o refeitório, em um setor, que é
mecanizado passando por esterilização de equipamentos,
desinfecção de máquinas em trocas de turnos e de ambientes.
Pois, como é sabido, para a desinfecção de microorganismos
(vírus e bactérias) somente é recomendado o uso
de álcool 70% para higienização das mãos. Portanto, medidas
de saúde foram tomadas, faltam medidas econômicas; das 213
unidades que entraram em operação, 80 são apenas
destilarias, produzindo unicamente etanol e a venda está
ocorrendo a preços inferiores ao de custo (TOLEDO, 2020).

498
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
Fato é que o etanol, um dos produtos mais impactados
pela crise, tem sido vendido abaixo de seu valor de custo e, se
isso continuar, usinas serão obrigadas a interromper a safra que
mal começou, com efeitos impensáveis para uma cadeia que
envolve produtores de cana, fornecedores de máquinas e
insumos, cooperativas e colaboradores, fato é que o setor já
viveu isso quando governos anteriores quase aniquilaram essa
cadeia. Assim, o Governo Federal reconhece o problema e
busca soluções; as medidas sejam implementadas
urgentemente, sob pena de não dar mais tempo (ÚNICA, 2020).
Órgãos como a União da Indústria de Cana-de-Açúcar
(UNICA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), o Ministério de Minas e Energia, o Ministério da Saúde,
a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as
secretarias estaduais de saúde viabilizam a doação, para
fabricar gel e álcool 70% para ser usados na área pública de
saúde, contendo a disseminação do Covid-19 (REIS, 2020).
Assim, a Câmara dos deputados aprovou uma portaria da
Anvisa que restringia a comercialização de álcool 70% (líquido),
alternativa ao álcool gel, utilizado para a higienização e em falta
no mercado em função da crise da COVID-19 (REIS, 2020).
Especificamente, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária – ANVISA não recomenda fazer o produto em casa
trabalhando no combate a produtos clandestinos, dentro do
Controle de Qualidade, pois todo produto deve ser produzido de
acordo com as Boas Práticas de manipulação e fabricação
(Veras, 2020). Considerando que, o álcool gel caseiro
geralmente não é eficaz, sendo sua simples mistura de
produtos não garante sua eficácia, já que a eficiência desses
produtos na desinfecção depende de um processo de produção
certificado em mais de uma etapa, e a ter um código oficial

499
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
farmacêutico com os critérios mínimos para o desenvolvimento
dessas substâncias.
Além dessa preocupação com produtos falsos, o setor
sucroenergético passou por crise no ano de 2020, precisando
da ajuda do governo. Conforme Única (2020), entre as medidas
emergenciais que, se adotadas em conjunto, permitirão a
sobrevivência estão:
a) a instituição de um programa de warrantagem (uso de
produto como garantia em empréstimo),
b) a isenção temporária da carga tributária federal aplicada ao
etanol hidratado – PIS/COFINS, e
c) a restituição da competitividade do etanol, também
temporariamente, via incremento da CIDE.
O setor sucroenergético foi diretamente atingido pela
pandemia do coronavírus agravando a situação das perdas de
40% no preço do biocombustível, sendo o impacto maior para
o etanol do que para o açúcar, com vendas equivalentes ao ano
passado (UDOP, 2020).
Ainda segundo o UDOP (2020), o país deve exportar de
28 a 30 milhões de toneladas de açúcar, equivalente a 50% da
demanda global da commodity, não somente pelo aumento da
produção e da exportação, mas também pela safra da
Tailândia, com seca que castiga o país, segundo maior produtor
mundial. Assim, as usinas da região sudeste mudaram o "mix"
de produção, mas ainda encontram limitação para atender à
demanda; o início da safra coincidiu com a chegada do vírus,
não dando tempo para adaptação das indústrias.
Além de queda na demanda no consumo de etanol, o
isolamento tem provocado problemas pontuais em usinas de
cana-de-açúcar no centro-sul do país, como dificuldade em
alguns pontos isolados para efetuar a colheita manual e
equipamentos a serem reformados com atraso na entrega.

500
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
Portanto, as distribuidoras acreditam em 20% a 30% de queda
na demanda (TOLEDO, 2020).
Essa queda na demanda por combustível faz com que as
usinas brasileiras em operação possam correr o risco de fechar
as portas até o fim de 2020. Por causa do coronavírus, as
estimativas dos especialistas é que um quarto de todas as
empresas do setor encerre suas atividades, sem ter como pagar
as contas de curto prazo, sem capital de giro agravado e pelo
fato da cotação do etanol ter como parâmetro a gasolina
(ESTADÃO CONTEÚDO, 2020).
Segundo ainda o site acima, cerca de 350 usinas
sucroalcooleiras em operação passaram de R$ 2 para R$ 1,30
o litro e a procura declinou em mais de 50%, nas cotações do
álcool. O armazenamento por sucroenergéticas mais
capitalizadas é possível, mudando o mix da indústria,
produzindo mais açúcar, até passar o momento mais crítico da
crise.
Por causa da pandemia do Coronavírus (Covid-19),
casos de pessoas infectadas aumentam, e tanto o Ministério da
Saúde e quanto Secretarias de Saúde dos Estados, além de
empresas dos mais variados segmentos e também do
agronegócio, se reorganizaram em relação aos seus
colaboradores, para via home-office continuar suas funções de
casa. Para RPA News (2020), colher e processar cana via
home-office é impossível, portanto, as usinas sucroenergéticas
deram continuidade as suas atividades e nem o setor
administrativo das unidades fizeram suas atividades de casa.
As usinas eliminaram eventos, reuniões presenciais, conforme
recomendações do Ministério da Saúde.
A pandemia do novo coronavírus no país criou um
desafio para o setor no campo: garantir a saúde dos
profissionais para não perder a lavoura e obter lucro em um

501
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
período de menor consumo. O Brasil está em uma safra recorde
de cana-de-açúcar, sendo um trabalho gigantesco, que
movimenta usinas, fazendas agricultores e milhares de
trabalhadores rurais. O país é o maior produtor e exportador de
açúcar do mundo, sendo também o principal fornecedor global
de etanol de cana. A expectativa é que, de abril até novembro,
devem ser colhidas 600 milhões de toneladas de cana-de-
açúcar (BRASIL AGRO, 2020).
Segundo Rodrigues e Soares (2020), os setores de
biocombustível apresentam uma série de particularidades que
agravam os efeitos da crise. Para tanto, os problemas nesse
mercado não são apenas domésticos e é importante analisar a
situação internacional para verificar possíveis lições e
implicações para o Brasil.
É importante mencionar que a crise da Covid-19 rompe
com uma trajetória de expectativas quanto à evolução dos
biocombustíveis. Mesmo assim, a safra de 2019/2020 obteve
bom resultado da produção de cana, cerca de 642 milhões de
toneladas, e recorde na produção de etanol (35 bilhões de
litros).
Uma solução para essa questão são vacinas baseadas
em mRNA (ácido ribonucléico) que provocam respostas mais
eficientes e não precisam ser purificadas em laboratório, um
processo moroso. Portanto, uma única molécula de mRNA
pode dar origem a cópias da proteína, sendo mais fácil, rápido
e barato de produzir em laboratório do que as proteínas. Em
última análise, a fabricação de vacinas em grande escala é
facilitada. Segundo Fio Cruz (2020), a tecnologia de
fermentação da Amyris, que substitui o esqualeno derivado do
tubarão por um provindo da cana-de-açúcar de baixo custo,
sendo capaz de fornecer maior disponibilidade com acesso
mais fácil para boa parte da população.

502
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
Ferramenta Google Trends
O Google Trends é um serviço baseado em big data
(interpretação de grandes volumes de dados) que mostra a
frequência de pesquisas globais em tempo real, sendo um
índice de interesse individual, usado em vários campos de
pesquisa. O estudo de Park et al (2018), por exemplo, estima a
relação entre o consumo doméstico de eletricidade e o
interesse das pessoas em energia com base nos dados do
Google Trends; em particular, do ponto de vista das energias
renováveis, comparou-se a relação entre consumo de
eletricidade e a palavra-chave "renovável" e “consumo de
eletricidade”.
Desse modo, Park et al (2018) construíram um modelo
para examinar o efeito no consumo das famílias de substituir a
eletricidade, por energia renovável. Conclui-se que o consumo
de eletricidade das famílias diminuiu em 16,017 milhões de
kWh, para cada aumento de uma unidade em busca da palavra-
chave “renovável”. Portanto, este estudo ilustra que o Google
Trends permite estimar fatores determinantes difíceis de
descobrir ao analisar com indicadores econômicos.
O recente surgimento de um novo coronavírus (COVID-
19) ganhou grande cobertura na mídia e em notícias em todo o
mundo. O vírus causou uma pneumonia viral em milhares de
pessoas em Wuhan, uma cidade central da China. O artigo de
Strzelecki e Rizun (2020) fornece um relato sobre como a
demanda por informações sobre essa nova epidemia é relatada
pelo Google Trends, no período de 31 de dezembro de 2019 a
20 de março de 2020. Já os autores tiram conclusões sobre os
dados infodemiológicos atuais sobre o COVID-19, usando três
palavras-chave principais de pesquisa: coronavírus, SARS e
MERS

503
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
Strzelecki e Rizun (2020) chegaram em duas
abordagens: a primeira é a perspectiva mundial, a segunda por
sua vez revela que, na China, essa doença nos primeiros dias
era mais frequentemente referida à SARS do que aos
coronavírus em geral, enquanto que em todo o mundo, desde
o início, é mais frequentemente referida aos coronavírus.
MATERIAIS E MÉTODO
A análise descritiva sobre a temática da COVID-19 foi o
ponto de partida nas usinas sucroenergéticas, a partir de um
levantamento de dados, com informações secundárias, ou seja,
aquelas disponíveis na internet e que se tornaram públicas,
facilitando o acesso às informações.
Foram analisados dois períodos distintos: o primeiro
durante todo o ano de 2020 e o segundo momento o primeiro
semestre de 2021 (considerados os momentos mais críticos,
apesar da pandemia ter sido encerrada oficialmente em maio
de 2023).
Para tanto, utilizou-se do Google como fonte de buscas,
através da ferramenta Google Trends utilizando-se das
palavras-chaves usina + cana-de-açúcar +álcool 70% + covid,
já que o tema coronavírus é recente (descoberto em dezembro
de 2019) e de interesse pelos pesquisadores das áreas mais
variadas possíveis. Não sendo diferente na área rural, no que
diz respeito a importância das usinas sucroenergéticas,
produtoras de um item essencial como o álcool.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O uso do Google Trends, utilizando-se das palavras-
chaves usina + cana-de-açúcar + álcool 70% + covid, foi
realizado para se obter o gráfico das tendências.

504
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
Gráfico 1: Buscas pelas palavras-chaves em cada mês

Buscas (%)
120
100
80
60
40 Buscas (%)
20
0

ago/20

nov/20
dez/20
jan/20

mar/20

set/20
mai/20

out/20
jun/20
fev/20

abr/20

jul/20

Fonte: Elaboração Própria (2023)


. Observou-se, nas sucroenergéticas brasileiras, em um
primeiro momento, que o interesse por esses termos foi ínfimo
entre os meses de janeiro, fevereiro e até o início de março (em
torno de 4%).
O gráfico 1 fez o levantamento para captar o possível
momento em que houve uma maior busca pelas palavras-
chaves pesquisadas nesse trabalho: usina +cana-de-açúcar +
álcool 70% + covid. O período selecionado foi de Janeiro/20 a
Dezembro/20, ou seja, 12 meses, sendo o mês de maio/20
(100% de buscas) o que obteve maior número de buscas.
A partir do mês de março, conforme pode ser constatado
houve uma busca mais acentuada (79%), coincidindo com o
aumento das pessoas infectadas e da primeira morte por
coronavírus ocorrida em 16 de março de 2020, no Brasil, e que
chegando quase no meio do ano, as palavras-chaves foram
mais pesquisadas em sua totalidade. Observa-se, conforme
gráfico 2, que depois vai havendo uma diminuição gradativa:
julho (93%), agosto (74%), setembro (52%) e outubro (47%),
uma redução de 50%, coincidindo com a queda de casos e de
mortes no país.

505
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
Gráfico 2: Buscas pelas palavras-chaves em cada mês

Buscas
100
80
60
40
20
0 Buscas %

Fonte: Elaboração Própria (2023)


A redução dessa procura se deve a falta de interesse
pelo tema, mesmo com a presença do vírus ser evidente e
ocorrer a abertura, por parte dos governos federal, estadual e
municipal, do comércio e serviços, a partir de julho/2020 (gráfico
2). Foi também chamada primeira onda da doença no Brasil e
o relaxamento dos cuidados (isolamento, uso de máscara e
álcool), por parte da população.
Entretanto, em novembro/2020 já houve o retorno das
buscas pelas palavras-chaves em 69%, chegando a meados de
dezembro/2020 em 90%. Isso ocorreu por voltar o aumento dos
casos e das mortes por coronavírus no Brasil, sendo o possível
início da segunda onda da doença no país. A média das buscas
foi de 67,75, porém o valor não foi uniforme em todos os meses,
haja vista o fato de não existir interesse nos primeiros meses do
ano (janeiro e fevereiro). Fato é que no país o tema covid-19 só
passou a ser relevante quando o número de casos aumentou e
as mortes passaram a ser uma realidade, a partir de meados de
março/20.
No ano de 2021, conforme gráfico 2, foi feita uma análise
do primeiro semestre de 2021, para analisar o mesmo interesse

506
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
pelas palavras: usina +cana-de-açúcar + álcool 70% + covid,
sendo a média de 59,65%. Percebe-se que houve uma
mudança do cenário, talvez pela vacinação no Brasil, mesmo
ainda considerada lenta. Outro fator que faz com que o
interesse tenha caído é pela queda, mesmo que ainda não a
esperada, da disseminação da doença no país. O mês de
março/2021 foi o de maior busca (91,75%), já o mês de menor
interesse foi o de junho/2021 (46%).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho teve como objetivo analisar como as
entidades sucroenergéticas estão atendendo a demanda por
álcool para combater o vírus do Covid-19, em dois momentos
distintos em 2020 (ano inteiro) e 2021 (primeiro semestre). Para
responder à pergunta de pesquisa que foi de que forma ocorreu
o interesse das entidades sucroenergéticas em se
programaram para atender a demanda por álcool para
combater o vírus do Covid-19, assim, pode-se dizer que as
entidades atenderam, de alguma forma, a necessidade do
momento que foi de fabricar em alta escala o Álcool 70%.
Em um primeiro momento, houve o sumiço do produto
nas prateleiras, até que ocorreu uma produção mais acelerada
que conseguiu fazer com que o produto voltasse a ser ofertado
no mercado, principalmente com a liberação do álcool 70%
líquido. As empresas sucroenergéticas tiveram que adaptar sua
produção para atender a demanda do álcool líquido, produto
que tornou essencial para a população. No ano de 2020, a
média das buscas foi de 67,75, já no primeiro semestre de 2021
foi de 59,65%, ou seja, menor que a média durante o ano
anterior. As usinas tiveram um papel ímpar pela produção do
Álcool 70% que se tornou uma das armas eficazes para a
limpeza das mãos enquanto o usuário não tem como passar

507
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE AS SUCROENERGÉTICAS
BRASILEIRAS NA PRODUÇÃO DO ÁLCOOL 70º ENTRE 2020 E 2021
água e sabão. Essa produção teve que ser acelerada, para
atender a demanda, fazendo com que logo de início da
pandemia no país (em março de 2020), esse produto tornasse
isento nas prateleiras do mercado.
Esse estudo abordou o assunto Covid-19 que foi entre
2020 e 2023, por isso a limitação, mesmo tendo as entidades
sucroenergéticas na linha de frente, por fabricar um produto
eficiente na limpeza das mãos, que, ao estarem sujas, são
transmissoras do coronavírus aos olhos e boca, fazendo com
que contraiam as pessoas o vírus.
Sugere-se aos futuros trabalhos que haja uma
observação em cima da produção do álcool 70º, de 2020 até
2023, por ser um produto de alto risco, quando não usado da
forma correta, pelo seu poder de espalhar chamas, apesar do
governo federal ter liberado o uso para fins domésticos no
período da pandemia que durou 40 longos meses.

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Acesso em: 5 nov 2020.
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evitar colapso. ÚNICA, 2020. Disponível em:
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%A3os. Acesso em: 10 nov. 2020.

511
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

CAPÍTULO 27

ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO
ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL
Glauciane Andrade da, SILVA 1
Patricianny Barreto de Góis, SANTOS 1
Juan Carlos Ramos, GONÇALVES 2
Laís Campos Teixeira de, CARVALHO-GONÇALVES 3
1
Graduanda do curso de Farmácia, UFPB; 2Orientador/Professor do DCF/UFPB.
3
Orientadora/Professora do DTS/UFPB.
lais.goncalves@academico.ufpb.br

RESUMO: O biomonitoramento é uma ferramenta importante


para avaliar os riscos à saúde da população decorrentes da
exposição a agentes químicos que podem danificar o material
genético. Além disso, a identificação precoce da exposição a
determinadas substâncias genotóxicas podem ter um impacto
significativo na redução da ocorrência de efeitos adversos na
saúde de indivíduos que estão expostos a essas substâncias
genotóxicas. Ademais, o ensaio cometa é um biomarcador
fundamental utilizado para aferir danos ao DNA e mudanças
estruturais nos cromossomos, mas que precisa ser padronizado
para garantir uma melhor aceitação e confiabilidade em estudos
populacionais, bem como para pesquisas e aplicações de
diagnóstico clínico. Sendo assim, o presente estudo teve como
finalidade aperfeiçoar e padronizar um novo protocolo com as
técnicas do ensaio cometa para avaliar sua efetividade na
detecção de danos genotóxicos, alterações celulares e danos
ao DNA em amostras de células da mucosa oral. A
padronização foi feita a partir de diferentes metodologias
descritas na literatura. Desse modo, os resultados obtidos no
presente estudo sugerem que o modelo de ensaio cometa
proposto, utilizando células da mucosa oral, foi eficaz na

512
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

detecção de danos ao DNA e pode ser utilizado para avaliar


danos ao DNA de indivíduos expostos à agentes genotóxicos.
Palavras-chave: Genotoxicidade. Mutagenicidade. Cometa.
DNA.

INTRODUÇÃO

Com o decorrer dos avanços tecnológicos a comunidade


científica vem utilizando vários métodos para a detecção de
danos ao material genéticos e mutações, alguns desses
métodos são: quebras de cadeia de DNA, mutações pontuais,
translocações cromossômicas, perdas cromossômicas como
também danos nos sistemas de reparo de DNA (SOUZA, 2019).
O biomonitoramento é considerado um desses métodos, que é
uma ferramenta importante para avaliar os riscos à saúde
associados à exposição a produtos químicos entre a população
em geral (VIEGAS, 2020). Além disso, o biomonitoramento se
envolve com a medição de biomarcadores em fluidos e tecidos
corporais para estimar a exposição a substâncias tóxicas em
organismos vivos. Os dados de obtidos com o
biomonitoramento podem ser usados para avaliar potenciais
riscos e perigos à saúde humana, fornecer tendências na
exposição e ser combinados, além de ser particularmente útil
na identificação de populações expostas a pesticidas químicos
e na avaliação do risco em ambientes ocupacionais
(DHANANJAYAN, 2022).
Detectar precocemente a exposição a certas substâncias
genotóxicas pode reduzir significativamente a incidência de
efeitos adversos à saúde (NDAW, 2023). Isso ocorre porque as
informações obtidas através da avaliação da exposição
permitem a implementação de medidas preventivas e de
controle dos agentes responsáveis. Já que a genotoxicidade é

513
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

uma preocupação crescente na avaliação de riscos para a


saúde da população e para o meio ambiente.
Genotoxicidade refere-se à capacidade de vários fatores
causarem danos ao material genético dentro de uma célula,
potencialmente levando a mutações (D’COSTA, 2019). As
substâncias genotóxicas, incluindo substâncias químicas, como
também a radiação, são responsáveis por induzir a
genotoxicidade. Essas substâncias são capazes de induzir ou
causar dano ao DNA que pode ser reparado pelo sistema de
reparo celular (PEDROSO, 2021). Mas em casos onde esse
dano ao material genético não for reparado isso pode acarretar
à malignidade, e em casos de danos nas células germinativas
podem resultar em mutações hereditárias e defeitos congênitos
(PATRA, 2019). E em células somáticas os principais efeitos na
saúde humana decorrentes da exposição às a substâncias
genotóxicas são, câncer, doenças cardiovasculares e
envelhecimento (CHOUDHURI, 2021).
Os testes de genotoxicidade são importantes, e bastante
utilizados na indústria farmacêutica, de cosméticos, como
também na indústria de agroquímicos, e são utilizados na
identificação de possíveis efeitos perigosos que aquele produto
possa possuir (CHOUDHURI, 2021). Ademais, testes de
genotoxicidade, como o ensaio de cometas, são ferramentas
importantes na avaliação dos efeitos genotóxicos em cenários
ambientais e ocupacionais (METRUCCIO, 2018). Esses testes
podem detectar efeitos precoces resultantes da interação entre
indivíduos e o meio ambiente, fornecendo informações
importantes para a prevenção de doenças, particularmente o
câncer (LADEIRA, 2017).
O Comet Assay (ensaio cometa) é um biomarcador
importante em estudos de genotoxicologia e ecotoxicologia,

514
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

pois pode avaliar a capacidade dos compostos químicos de


induzir danos ao DNA e mudanças estruturais nos
cromossomos. É uma metodologia aceita pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e incluída na lista de testes padrão de
curto prazo para triagem genotoxicológica de células humanas,
animais ou vegetais (VELICKOVA, 2019).
O ensaio cometa é amplamente utilizado em estudos de
biomonitoramento para avaliar os efeitos genotóxicos de vários
fatores ambientais, como exposição a poluentes ou riscos
ocupacionais. O ensaio do cometa mede os danos ao DNA
visualizando a migração do DNA fragmentado em um campo
elétrico (D’COSTA, 2019). Ao medir os danos ao DNA em nível
celular individual, o ensaio cometa fornece informações
valiosas sobre os riscos e impactos potenciais desses fatores
na saúde humana e no meio ambiente (VELICKOVA, 2019). É
um método que pode ajudar na compreensão dos efeitos
genotóxicos de compostos químicos e auxilia no
desenvolvimento de medidas preventivas. Além disso, o ensaio
cometa é um método muito adaptável, que pode ser utilizado
em diferentes tecidos, tipos de células e em espécies distintas
(JIANG, 2023).
As células bucais são uma biomatriz atraente para
avaliação da genotoxicidade devido à sua coleta não invasiva e
ao contato direto com xenobióticos e indutores de danos
endógenos (SÁNCHEZ-ALARCÓN, 2016). Devido a isso,
diferentes técnicas têm sido utilizadas na coleta e
processamento de amostras de células bucais, o que
consequentemente pode levar à variações nos resultados do
ensaio. Portanto, a padronização é necessária para o protocolo,
os parâmetros analisados e os valores definidores do dano
espontâneo ao DNA nas células bucais. Ademais, a

515
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

padronização do protocolo de ensaio de cometas para células


bucais é crucial para garantir ampla aceitação e credibilidade
em estudos na população, como também para garantir um
biomonitoramento confiável dos níveis de danos ao DNA nas
células bucais para estudos, como também para aplicações de
diagnóstico clínico. O ensaio cometa, portanto, fornece
bastante flexibilidade para pesquisadores decorrente de ser um
método rápido e sensível, todos esses fatores tornam esse
método eficiente para pesquisas que visem analisar danos ao
DNA de indivíduos expostos à agentes genotóxicos de maneira
rápida e prática.
Dessa forma, este estudo teve como objetivo aperfeiçoar
e padronizar um novo protocolo com as técnicas do ensaio
cometa para avaliar sua efetividade na detecção de danos
genotóxicos, alterações celulares e danos ao DNA em amostras
de células da mucosa oral.

MATERIAIS E MÉTODO

Local de estudo
As amostras foram processadas e analisadas no
Laboratório de Tecnologia Sucroalcooleira do Centro de
Tecnologia e Desenvolvimento Regional da UFPB.

Coleta das amostras biológicas


As amostras foram coletadas em duplicata, por
esfregaço no interior da bochecha com uma escova tipo
cytobrush. As células foram coletadas em tubos contendo
fixador (metanol/ácido acético glacial 3:1, respectivamente),
conforme descrito por Thomas et al. (2009), e destinadas ao
Laboratório de Tecnologia Sucroalcooleira (CTDR-UFPB) em

516
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

uma caixa térmica contendo gelo para preservar as


características celulares. Ademais, as amostras foram
armazenadas em um refrigerador, a aproximadamente 8 ºC, até
a preparação das lâminas citológicas. Todos os procedimentos
descritos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa
da UFPB, CEP-UFPB (CAAE - 38382120.0.0000.5188).

Ensaio do cometa
A técnica fundamenta-se no princípio de que a carga
negativa do DNA contido no núcleo celular, se estiver danificado
por ruptura cromossomal (clastogênese), este migra para fora
do núcleo, sendo atraído para o anodo da eletroforese ficando
com a aparência de um cometa ou cauda após a passagem de
uma corrente elétrica. O DNA que não estiver rompido ou
quebrado fica armazenado no núcleo, sendo muito grande ou
pesado para migrar (LOPES, 2018). O resultado pode ser
visualizado no microscópio conforme a Figura 1.

517
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

Figura 1 - Escala de danos ao DNA de (0-4) avaliada no estudo.


Sendo quatro níveis de danos ao DNA, na qual a “cabeça” do
cometa representa o núcleo original e a “cauda”, os fragmentos
de DNA.

Fonte: Autoria própria, 2023

O protocolo adotado para a execução do ensaio cometa


foi elaborado de acordo com ajustes das metodologias descritas
por Salehi (2020) e Kruszewski et al. (2012). A seguir, uma
descrição mais detalhada do procedimento:
a) O material coletado foi mantido em solução fixadora
(etanol/ácido acético 3:1) e, em seguida, foi submetido à
centrifugação a 400 x G por 5 minutos, descartando o
sobrenadante da solução fixadora.
Simultaneamente, as lâminas higienizadas foram
imersas em gel de agarose normal (0,5g – Agarose, 50mL em
TAE) e refrigeradas durante 20 minutos para solidificação

518
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

completa do gel. (TAE: TRIS BASE 2,422 g; EDTA 0,186 g;


ÁCIDO ACÉTICO 0,605 mL; pH 8,3).
b) O material celular anteriormente centrifugado foi
ressuspenso em solução de PBS (30μL) (NaCl 8g, KCl 0,2 g,
Na2HPO4 1,44 g, KH2PO4 0,245 g, pH 7,4) e combinado com
1% de agarose de baixo ponto de fusão (em uma proporção de
1:1), o que resultou em 30μL das células ressuspendidas e 30
μL de agarose baixo ponto de fusão. (agarose 0,02g diluído em
TAE 2,0 mL).
c) 30 μL da amostra foram gotejadas no centro de cada
lâmina preparada anteriormente (duas para cada indivíduo) e
imediatamente foram cobertas com lamínula. Em seguida as
lâminas foram novamente refrigeradas por 30 minutos para
solidificação.
d) Após o período de descanso, as lâminas foram
imersas em uma solução de lise durante 24 horas (EDTA 9,306
g, TRIS BASE 0,3035, NaCl 36,525, 0,08 mL de Triton X, pH
10).
e) Após 24 horas, as lamínulas foram retiradas e
colocadas em tampão de desnaturação (EDTA 0,1861 g, NaOH
4g, pH 13), sendo deixadas em repouso por 30 minutos.
f) A eletroforese transcorreu nas lâminas em tampão de
desnaturação a 20V, 300mA e 15W, com duração de 30
minutos.
g) Em seguida foram lavadas em solução de
neutralização (TRIS BASE 24,228, pH 7,5) por 5 minutos.
h) Para a preparação do marcador, foi realizado o
seguinte procedimento: 45μL de SYBR Green foram diluídos
em 450 μL de TAE (para 4 lâminas).
i) Para a análise, as lâminas foram marcadas com 100μL
do corante SYBR Green, sob proteção da luz, por 20 minutos e

519
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

lavadas em TAE por 2 minutos. Todo o processo de descanso


das lâminas e eletroforese foi realizado a 4° C.
j) Após uma secagem cuidadosa, as lâminas foram
submetidas à análise em um microscópio de fluorescência.

Análise das lâminas


As imagens foram capturadas utilizando uma objetiva de
aumento de 20x em um microscópio de fluorescência, modelo
Leica DM1000, Software LASX, sendo aplicado o filtro L5 para
otimizar a detecção de fluorescência.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As células orais formam a primeira barreira à inalação ou


ingestão e podem metabolizar carcinógenos próximos em
produtos reativos. Aproximadamente 92% dos cânceres
humanos surgem do epitélio extrínseco e intrínseco: pele,
epitélio brônquico e epitélio do revestimento do trato digestivo.
Portanto, pode-se dizer que as células epiteliais orais são um
local alvo prioritário para eventos genotóxicos iniciais causados
por carcinógenos que entram no corpo por inalação e ingestão
(SÁNCHEZ-ALARCÓN, 2016).
Os primeiros estudos na década de 1980 usaram células
isoladas da mucosa oral com análise de micronúcleos (MN)
para avaliar os efeitos genotóxicos, o que leva em consideração
uma variedade de fatores, incluindo exposições ambientais e
ocupacionais, radioterapia, quimioterapia, ensaios de
suplementação vitamínica, estilo de vida e câncer.
A mucosa oral permite a coleta de um grande número de células
isoladas viáveis para análise, cuja aquisição é um procedimento
simples, bem tolerado em humanos e útil para o

520
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

biomonitoramento de populações humanas expostas a


produtos químicos e genotóxicos. Desta forma, as células
retiradas da mucosa oral podem ser recolhidas e analisadas
para ajudar a diagnosticar indivíduos de uma forma mais
simples (JIMÉNEZ, 2019) (SÁNCHEZ-ALARCÓN, 2016).
Ostling e Johansson (1984) foram os primeiros a
mensurar os danos no DNA em células individuais de
mamíferos após irradiação, usando uma técnica de eletroforese
em microgel conhecida como “ensaio de eletroforese em gel de
célula única”, mais tarde conhecido como ensaio do cometa. As
condições neutras detectam quebras de DNA de fita simples e
dupla, mas são menos sensíveis que a versão alcalina. Então,
Singh et al. (1988). Ao realizar a análise sob condições
alcalinas, permitiu a detecção de sítios alcalinos, além de
quebras de fita dupla e simples. Segundo alguns estudiosos,
Singh et al. (1988) é inquestionavelmente a fonte do ensaio
cometa alcalino “original”. A extensão do movimento do DNA
em uma célula individual foi determinada usando
fotomicrografias. O termo “cometa” foi inicialmente usado para
caracterizar a forma do DNA nos géis de agarose. (JIANG,
2023)
Dessa forma, o ensaio cometa é uma técnica que pode
ser aplicada a uma ampla variedade de tecidos ou a qualquer
tipo de célula especial, de fácil adaptação, rápido, confiável e
sensível para medir o nível de danos primários ao DNA, além
de ser necessário uma pequena quantidade de amostra. Em
suas diversas modificações (alcalino, neutro e com enzimas
específicas de lesão para detectar tipos específicos de danos
ao DNA), em comparação com outros métodos, possui
resultados mais eficazes. (SÁNCHEZ-ALARCÓN, 2016).

521
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

Uma revisão inicial do ensaio cometa publicada em 1993


incluiu vários métodos do teste e destacou os diferentes usos
do mesmo. Desde então, a diversidade de metodologias de
teste e a variação nos níveis de danos no DNA interlaboratoriais
têm sido um desafio, especialmente em ensaios de
biomonitoramento. É difícil desenvolver métodos de teste
padronizados para minimizar diferenças entre laboratórios. O
primeiro uso documentado de testes cometa em estudos de
exposição ocupacional (ou seja, exposição ao estireno em
trabalhadores de laminadores) e ambiental (ou seja, poluição
do ar) ocorreu em meados da década de 1990. Durante o
mesmo período, foi relatado que a exposição à luz solar e
exercícios vigorosos aumentaram o número de quebras na
cadeia de DNA detectadas em ensaios cometas (JIANG, 2023).
A revisão sistemática realizada por Jiang (2023) revisou
de forma abrangente diversas pesquisas que adotaram o
ensaio cometa com adaptações específicas para as amostras
utilizadas, focalizando na avaliação do impacto de genotoxinas
em ambientes aquáticos. A revisão engloba especificamente
estudos in vivo e in situ realizados em animais aquáticos,
englobando tanto invertebrados quanto vertebrados, como
mexilhões, ostras, moluscos e diversas espécies de peixes,
tanto de água doce quanto marinhos.
Os resultados dessa revisão revelaram que, devido à sua
adaptabilidade, o ensaio cometa é considerado pelos
toxicologistas uma metodologia sensível para avaliar danos ao
DNA. Essa sensibilidade foi constatada pela diversidade de
espécies, tecidos e tipos celulares que foram analisados, o que
proporcionou uma compreensão abrangente da genotoxicidade
em organismos aquáticos vertebrados e invertebrados.

522
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

A conclusão do estudo salienta o potencial do ensaio


cometa em mensurar a exposição ambiental a genotoxinas em
uma múltipla quantidade de organismos aquáticos. Essa
versatilidade do teste não apenas enriquece a compreensão
acerca dos efeitos genotóxicos em diferentes níveis tróficos,
mas também reforça a sua aplicabilidade como uma ferramenta
valiosa para avaliação ambiental em diversos ecossistemas
aquáticos.
Outros estudos têm investigado os danos ao material
genético dos espermatozoides por meio da técnica do ensaio
cometa, incluindo a análise feita por Albert em seu trabalho de
2018. Nessa pesquisa, revelou as vantagens apontadas pelo
autor em relação ao uso do ensaio cometa na avaliação de
danos em espermatozoides, bem como sua aplicabilidade em
clínicas de fertilização, conforme evidenciado em uma revisão
sistemática abrangente.
O estudo de Albert reconhece a utilidade indiscutível da
metodologia do ensaio cometa na detecção de danos ao DNA
dos espermatozoides. Entretanto, ressalta também a
necessidade de uma investigação mais aprofundada para
ampliar o entendimento acerca da aplicabilidade da
metodologia. Além disso, o autor sugere a implementação de
medidas para superar a falta de estudos humanos comparáveis
que utilizem o ensaio cometa.
O uso de células da mucosa bucal pelo ensaio cometa
com intuito de detectar os níveis de dano ao DNA demonstra a
possibilidade de obter amostras de forma segura e não invasiva
para a realização de estudos in vivo. O que torna esse tipo de
amostra uma biomatriz extremamente atraente para avaliação
individual de genotoxicidade (SÁNCHEZ-ALARCÓN, 2016).
Uma pesquisa feita por Mohanapriya (2019) avaliou o dano ao

523
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

DNA em células bucais humanas associadas ao tabaco usando


também o ensaio cometa como biomarcador. O estudo
envolveu a participação de 75 indivíduos, os quais foram
distribuídos em três grupos com base no seu histórico de
tabagismo. O Grupo I incluiu 25 participantes sem antecedentes
de consumo de tabaco, o Grupo II consistiu em 25 indivíduos
que usavam tabaco, mas não apresentavam lesões orais,
enquanto o Grupo III foi composto por 25 indivíduos que tinham
lesões orais associadas ao tabaco. Amostras de esfregaços
citológicos coletadas desses participantes foram utilizadas para
avaliar os danos no DNA relacionados ao consumo de tabaco,
por meio da medição do comprimento da cauda utilizando o
método do ensaio cometa. O comprimento médio da cauda
varia, sendo de 1,46 µm em mucosa normal, 2,86 µm em
indivíduos que faziam uso de tabaco sem apresentar lesões
orais, 3,86 µm nas áreas lesionadas de fumantes e 3,67 µm nas
áreas não lesionadas desses mesmos indivíduos. Além disso,
fatores como idade, sexo, duração e diferentes formas de hábito
de fumar demonstraram ter impactos distintos na saúde da
mucosa oral. A pesquisa conclui que o ensaio cometa ajuda a
avaliar as alterações genéticas subclínicas da mucosa oral
antes mesmo do aparecimento das manifestações clínicas das
lesões pré-cancerosas devido ao uso do tabaco.
Contudo, uma desvantagem do ensaio cometa é que ele
só consegue identificar rupturas de fita como um sinal de dano
ao DNA. Como a oxidação de bases e a formação de adutos de
DNA não são detectáveis, a variante alcalina (pH > 13) do teste
avalia unicamente danos diretos ao DNA ou manchas
alcalilabeis. Enzimas específicas da lesão devem ser usadas
para a identificação de forma precisa e mais sensível dessas
lesões (JIANG, 2023).

524
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

Em conjunto, esses estudos evidenciam a versatilidade


do ensaio cometa em diferentes contextos de pesquisa, desde
a avaliação ambiental aquática até a análise de danos
genéticos específicos em células humanas. Apesar das
limitações, sua sensibilidade e aplicabilidade em diferentes
cenários reforçam sua posição como uma ferramenta valiosa na
investigação de danos ao DNA. No entanto, a busca contínua
por aprimoramentos e aprofundamento nas investigações são
necessários para melhorar seu potencial e sanar lacunas de
conhecimento.

Padronização do ensaio do cometa


Ao analisar alguns estudos na literatura científica
existente, constatou-se uma grande ausência de estudos que
incorporam células esfoliativas da mucosa bucal como amostra.
Essa observação levantou uma reflexão acerca dos benefícios
intrínsecos, associados ao uso dessa biomatriz em particular
para análises laboratoriais. Salienta sobretudo, o caráter menos
invasivo da coleta desses tipos de células, o que proporciona
uma abordagem mais confortável para os participantes da
pesquisa. Além do mais, o custo-benefício favorável em relação
a coleta e o armazenamento torna a escolha dessa biomatriz
mais acessível em comparação com outros modelos
disponíveis. Estas considerações são muito importantes
quando se reflete não só a eficiência do método, mas também
a sua viabilidade prática em termos de disponibilidade de
recursos.
Considerando estes cenários, há uma necessidade
urgente de estabelecer padrões para análise de cometas
utilizando células esfoliativas da mucosa bucal. Essa
normalização não só promoverá a consistência e a

525
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

comparabilidade dos resultados de diferentes estudos, mas


também reforçará a utilidade e a integridade desta biomatriz
específica como um recurso valioso para a investigação
científica, relacionada com danos ao DNA e outros fenómenos
relacionados.
Para validar a consistência e eficácia do protocolo em
questão, foi conduzido um teste piloto, nesse experimento, duas
amostras de células esfoliativas da mucosa bucal não
submetidas à exposição à luz ultravioleta (UV) foram
comparadas a outras duas amostras que foram expostas à luz
UV por 1 hora em cabine biológica.
Os raios ultravioleta (UVA), conforme é conhecido, têm a
capacidade de causar danos às moléculas de DNA tanto por
meio de sua ação direta quanto por intermédio de substâncias
geradas nas células como resultado da exposição a essa
radiação. Este procedimento foi fundamental para verificar a
padronização do protocolo, considerando os potenciais efeitos
da luz UV nas amostras celulares. Os mesmos podem ser
subdivididos em duas classes, UVA-1, que tem alta capacidade
de penetrar na pele e tem alto risco de causar alterações no
DNA que levam ao desenvolvimento de câncer de pele, e UVA-
2, que é semelhante ao UVB, devido a sua superexposição,
pode causar eritema, câncer de pele e comprometer o sistema
imunológico (OLIVEIRA et al., 2021).
Os resultados derivados da padronização do método do
cometa, oferecem uma visualização clara da presença de
diversas categorias de danos (indicadas por setas brancas),
conforme evidenciado na Figura 02. Essa observação é
diretamente atribuída à existência de núcleos danificados, o que
fornece uma evidência incontestável da fragmentação do DNA.

526
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

É notável que esse fenômeno tenha ocorrido


especificamente no grupo de células expostas à luz UV,
confirmando as expectativas experimentais e comprovando a
eficácia do protocolo estabelecido. A singularidade da resposta
genotóxica em face da exposição controlada à luz UV não
apenas ressalta a sensibilidade atribuída ao método do cometa,
mas também evidencia sua habilidade singular em identificar os
danos ao DNA. Os resultados fornecem uma base sólida para
confiar no protocolo, mostrando sua eficácia e evidenciando sua
utilidade específica na investigação de danos genéticos. A
consistência desses resultados fortalece a aplicabilidade do
protocolo, sugerindo a capacidade de ser uma ferramenta
valiosa e aplicável em contextos específicos para pesquisa
genotóxica.

527
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

Figura 2 - Teste do cometa em amostras controle e expostas à


luz UV por 1h. Setas brancas mostram cometas nas imagens.
Microscopia de fluorescência, 200x.

Fonte: autoria própria, 2023

CONCLUSÕES
Em conclusão, os resultados deste estudo sugerem que
o protocolo do ensaio do cometa utilizado demonstrou ser uma
ferramenta eficaz na avaliação de danos ao DNA. No entanto,
para avaliar de forma mais abrangente a sua eficácia e
viabilidade prática, é necessário considerar potenciais
limitações metodológicas e realizar pesquisas adicionais.
Estudos futuros poderão fornecer informações valiosas para

528
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

testar a utilidade e aplicabilidade destes modelos analíticos em


situações específicas de monitoramento biológico.

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Public Health, vol. 17(16), 5884, 2020.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Universidade Federal da Paraíba (UFPB)


pelo apoio físico e financeiro. Ademais, estendemos nossos
agradecimentos ao Prof. Dr. Juan Gonçalves e à Prof. Dra. Laís

530
ADAPTAÇÃO E PADRONIZAÇÃO DO ENSAIO COMETA EM CÉLULAS DA
MUCOSA BUCAL

Carvalho-Gonçalves por sua orientação dedicada e


contribuições significativas para o desenvolvimento deste
projeto. A colaboração e apoio da instituição e profissionais
foram fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa.

531
SUSTENTABILIDADE

532
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
CAPÍTULO 28

EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO
PROJETO DE EXTENSÃO MARES SEM
PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Antonio Marcos Nunes DOS SANTOS 1
André Luiz Ventura de MEDEIROS 1
Gabrielle Andrade MOTA 2
Izaura de Souza Tavares MEDEIROS 3
Cláudia de Oliveira CUNHA 3,4
1
Graduando do curso de Engenharia Ambiental, UFPB; 1 Engenheiro Ambiental,
Uninassau Recife; 2 Graduanda do curso de Farmácia, UFPB; 3 Nutricionista, UFPE 4
Orientadora/Professora do DQ/UFPB.
antonio.nunes@academico.ufpb.br

RESUMO: Os oceanos recobrem cerca de 70% do globo


terrestre, desempenhando importante papel no controle das
condições climáticas, produção de oxigênio e manutenção da
biodiversidade, além de possibilitar atividades econômicas e
sociais que contribuem para a subsistência da população.
Pensando nisto o projeto Mares sem Plástico desde 2019
promove a cultura da ciência oceânica em escolas públicas e
privadas. No ano de 2022 o projeto, com a autorização da
Secretaria de Educação de João Pessoa, adotou a Escola
Municipal Frei Albino e desde então realiza um trabalho
periódico, através do seu acervo pedagógico-científico. O
trabalho foi realizado com 513 crianças matriculadas no ensino
infantil e fundamental I utilizando as ferramentas da coleção de
lixo marinho, lixo estrangeiro, coleta de lixo, lixo no lixo e caixas
sensoriais tem por sua vez o desenvolvimento das habilidades
cognitivas igualmente a divulgação científica e a sensibilização
acerca da geração, produção, descarte e o processos de
degradação de resíduos com destaque aos plásticos. Perante

533
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
o trabalho desenvolvido, ficou evidente a importância e a
necessidade da disseminação da ciência oceânica e da
educação socioambiental na formação acadêmica e civil das
crianças, para que assim elas se tornem cidadãos autônomos
e de pensamento crítico.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Ciência. Meio
Ambiente. Cultura Oceânica. Alimentação Saudável.

INTRODUÇÃO
Os oceanos recobrem cerca de 70% do globo terrestre,
desempenhando importante papel no controle das condições
climáticas, produção de oxigênio e manutenção da
biodiversidade, além de possibilitar atividades econômicas e
sociais que contribuem para a subsistência da população
(CIRJAK, 2019, PENDLETON et al, 2020). Nessa perspectiva,
a preservação dos oceanos figura entre um dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável - ODS da Agenda 2030,
elaborada pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2022).
Considerando a importância do trabalho educacional no
descarte e impacto do plástico em ambientes costeiros, o Mares
sem Plástico, projeto institucional da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB) coordenado pela Prof.ª Dr.ª Cláudia de Oliveira
Cunha desde 2019 atua como na divulgação cientifica da
ciência oceânica, como também oferece oficinas com o projeto
parceiro Guardiões do Mares que realiza ações voltadas para o
público infantil e colabora na criação de atividades e
ferramentas cientifico-pedagógicas.
Os projetos Mares sem Plástico e Guardiões do Mar
possuem metas alinhadas com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), em destaque o ODS-4
(educação de qualidade para todos) e 14 (vida na água). A
Década do Oceano desenvolvida pela ONU (Organização das

534
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Nações Unidas) prevê trabalhar na década de 2021 a 2030 na
divulgação da cultura e da ciência oceânica afim da
preservação dos ambientes marinhos e costeiro.
A proposta deste capítulo é apresentar a atuação dos
projetos Mares sem Plástico e Guardiões do Mar na Escola
Municipal Frei Albino, para o desenvolvimento de atividades e
acompanhamento das crianças na disseminação da ciência
oceânica e a preservação do meio ambiente.

OBJETIVO
O referido trabalho tem como objetivo apresentar um
relato de experiencia, através da atuação na Escola Municipal
Frei Albino e das atividades desenvolvidas, essas que por sua
vez tem como objetivos o desenvolvimento de habilidades
socioambientais, de cuidado e preservação do meio ambiente,
melhor qualidade de vida e da saúde, e desenvolvimento da
autonomia e do pensamento crítico nas crianças.

RELATO DE EXPERIÊNCIA
O Mares sem Plástico vem desde 2019 promovendo a
cultura da ciência oceânica em escolas públicas e privadas com
aulas de campo, oficinas, palestras e cursos com o objetivo de
apresentar para as crianças do ensino infantil e fundamental a
influência do oceano em nós e a nossa influência no oceano,
levando assim aos jovens o desenvolvimento do pensamento
críticos e autônomos sobre a preservação e a manutenção dos
ecossistemas marinhos e de toda natureza.
Em parceria com a Secretaria de Educação de João
Pessoa (SEDEC), o projeto adotou a Escola Municipal Frei
Albino desde 2022 e desde então realiza atividades periódicas
através do seu acervo de ferramentas didático-pedagógicas

535
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
atendendo todas as turmas da escola como forma de transmitir
para as crianças o conhecimento científico de forma acessível,
levando para elas a ciência cidadã.
A escola está localizada no bairro do Intermares em João
Pessoa capital paraibana, e conta com aproximadamente 513
alunos matriculados. A Figura 1 mostra a estrutura da escola e
registra a parceria entre a coordenadora do Mares sem plástico
e gestora da escola.

Figura 1. Entrega do quadro de adoção da Escola Frei Albino.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023

A proposta deste relato é apresentar as atividades e


ferramentas educativas realizadas na escola pelo projeto de
extensão escola. Valendo salientar que o relato de experiência
não é, necessariamente, um relato de pesquisa acadêmica, ele
apresenta o registro de experiências vivenciadas (LUDKE;
CRUZ, 2010), no qual podem ser oriundas de pesquisas,
ensino, projetos de extensão universitária, dentre outras
(MUSSI et al 2021).

536
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Segundo SILVA (2015) o uso ferramentas desperta no
aluno conhecimentos éticos e formadores, tornando-os sujeito
consciente no exercício de sua cidadania, almejando a
transformação da sociedade em que vive. Com isto o uso das
ferramentas e atividades descritos e explorados neste relato
seguem a mesma idealização de resultados qualitativos.
O resultado empregado a este relato de experiência é de
cunho qualitativo. Segundo GIL (2002) a natureza qualitativa é
realizada de caráter exploratório-descritivo, pois adota
preferencialmente técnicas qualitativas e uma atitude positiva
de escuta e de empatia.

• COLIMAR
O Projeto Mares sem Plástico utilizou o acervo da
Coleção Didático-Científica de Lixo Marinho (COLIMAR) que
faz parte de uma rede nacional da RE-Colixo e foi montada no
Laboratório de Estudos em Química Ambiental, localizada no
Departamento de Química – CCEN – UFPB.
A COLIMAR tem como objetivo ser aplicada como
ferramenta de educação ambiental, marinha e costeira.
Podendo ser utilizada por instituições escolares e durante
ações de educação ambiental para a conscientização de
demais figuras sociais.
A Figura 2 mostra a apresentação da coleção para as
crianças e interação com o acervo.

537
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Figura 2. Aprsentação da COLIMAR e interação das crianças
com o acervo.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

Na Frei Albino a COLIMAR vou exposta e trabalhada em


diversas turmas dos primeiros anos do ensino Fundamental,
salientando que o projeto compreende a importância da
educação socioambiental, desenvolvendo assim um repositório
para que de maneira lúdico-científica traga as crianças o seu
dia a dia, de forma que possa explorar os recursos didáticos e
agregar a conscientização da problemática oceânica e da
consequência das ações humanas.
As coleções são um importante instrumento de
transmissão de conhecimento por facilitar e padronizar
métodos de coleta, classificação e catalogação dos diversos
itens em exposição e estudo; e por expor às pessoas
interessadas os problemas e impactos associados à presença
de lixo nos rios, mares e oceanos.

538
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA

• Identificação de Lixo Estrangeiro


O acervo da COLIMAR possui uma categoria que trata
acerca do lixo estrangeiro advindos de outras regiões do globo
terrestre. Esse material foi enumerado e classificado de acordo
com o seu país, e com o auxílio do globo foi desenvolvida uma
atividade para identificação da origem do lixo estrangeiro.
A Figura 3 apresenta o funcionamento desta atividade.

Figura 3. Identificação do lixo estrangeiro por alunos.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

A identificação de lixo estrangeiro é uma atividade que


desperta muita curiosidade. O acervo possui aproximadamente
30 itens de países diferentes que foram encontrados nas praias
da Paraíba, como por exemplo, África, Estados Unidos, China,
Filipinas, Turquia, Austrália, entre outros.

539
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
A atividade de identificação do lixo estrangeiro permite
as crianças tomarem conhecimento espacial, no qual as ações
antrópicas como o descarte incorreto do lixo não afetam apenas
regionalmente, mas sim em escala global. Além da criação do
pensamento crítico das interações de causas e consequências
do homem com a natureza e da problemática do plástico nos
oceanos.

• Caixas Sensoriais
As caixas sensoriais é uma ferramenta na qual o projeto
leva para as crianças, uma experiencia tátil sobre o a
degradação do plástico. Na qual através das caixas é possível
sentir e correlacionar a degradação em escala temporal com a
perda de tamanho até a formação dos microplásticos e toda a
sua problemática.
Esta atividade permite trabalhar de forma lúdica e
científica a problemática dos resíduos plásticos nos
ecossistemas marinhos e no meio ambiente em geral, e sua
rede sistemática de degradação na qual levam centenas de
anos para se decompor.
A Figura 4 apresenta o funcionamento da dinâmica com
os alunos do ensino fundamental I.

540
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Figura 4. Uso das caixas sensoriais em aula de campo.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

• Plantio de Árvores
O projeto Mares sem Plástico desenvolveu com os
estudantes da escola Frei Albino o plantio de mudas de árvores
em praça pública no Parque Parahyba II. Com essa atividade
as crianças puderam ter a experiencia do contato com a terra e
acompanhar a planta crescendo no trajeto indo para escola,
trazendo assim o sentimento de pertencimento da natureza com
valor ambiental para criança e para os demais atores
participantes.
A Figura 5 mostra as crianças com suas mudas para
realização do plantio.

541
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Figura 5. Plantio de mudas pelos alunos no Parque Parahyba
II.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

• Construção de Horta

A prática do plantio foi estendida para a escola com a


construção de uma horta com o objetivo de trazer para crianças
o contato com a natureza e todos os benefícios socioambientais
que esse momento pode gerar. Também foi trabalhado nessa
atividade o incentivo da alimentação saudável e a problemática
dos agrotóxicos ao meio ambiente.
O canteiro da horta foi revitalizado como apoio da escola
e de seus colaboradores (Figura 6), ao mesmo tempo em que
as crianças realizaram o plantio de sementes de algumas
hortaliças como pimentão e salsa em caixa de ovo na sala de
aula (Figura 7).

542
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Figura 6. Preparo do canteiro Figura 7. Plantio de
para horta. sementes de hortaliças.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

A realização da atividade teve o intuito de trazer novas


experiencias para as crianças, além do desenvolvimento de
práticas saudáveis desde o contato com a natureza até uma
alimentação mais natural e com alimentos de qualidade.

• Leitura de Histórias
Entre as diversas atividades e ferramentas que o Projeto
Mares sem Plástico utilizou na Escola Frei Albino, está a leitura
de histórias. Esta atividade conta com leitura de livros com
história ambientais que divulgam a cultura oceânica e a
preservação dos ecossistemas marinhos.
Dentre algumas histórias trabalhadas estão: 1) Grude-
Grude que conta a história de um polvo faminto que adora se
camuflar, com texto de Bia Hetzel e ilustrações de Mariana
Massarani; 2) Será o Mar o Meu Lugar, livro escrito por Sarah
Roberts com objetivo de despertar a consciência ecológica nos
pequenos a partir da história de Tomé personagem principal
que é uma sacola plástica; 3) Cachalote - A Baleia com a Cauda
Plástica, escrito por Luciana Vampré, que conta a história de

543
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
uma baleia que engole o plástico para não ver o mar sujo; entre
outras histórias.
Além da leitura dos livros, o projeto doou para escola
alguns exemplares de alguns livros adquiridos através do
Instituto Coral Vivo, projeto parceiro do Mares sem plástico. Na
Figura 8 pode-se observar o olhar atento de um dos alunos da
escola para os novos livros na estante da biblioteca da escola.

Figura 8. Biblioteca da Escola Frei Albino.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

• Coleta de Lixo na Praia


A coleta de lixo em praias é uma das principais ações
desenvolvidas pelo projeto Mares sem Plástico, que busca
através dos seus mutirões de limpeza levar conscientização
para a sociedade da problemática do descarte e da geração de
resíduos de forma inadequada. Esta atividade quando
desenvolvidas com crianças, como no caso da Frei Albino, são
utilizadas ferramentas didáticas-cientificas voltada à ciência do
mar que visam estimular o brincar.

544
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Nesta ação foram utilizados os recursos: jogo da
memória; pescaria e jogo “lixo no lixo”. A Figura 9 mostra o
registro dos alunos da Frei Albino desenvolvendo a coleta de
resíduos na praia do Bessa-PB. Para a execução desta
atividade eles recebem um colete do projeto, baldes, peneira e
pás.

Figura 9. Ação de coleta de lixo na praia.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

Consideramos que ao brincar as crianças estão


adquirindo habilidades que serão necessárias para a vida
adulta.

• Visita ao Museu e Piquenique


No Museu Casa da Cultura Hermano José – MCCHJ foi
realizado uma visita e um piquenique com os estudantes da
escola Frei Albino. O objetivo desta atividade foi permitir que os

545
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
alunos tivessem contato com a natureza na observação do
oceano e suas belezas, e consequentemente, despertar o a
preservação deste ecossistema tão importante para a
manutenção de vida na Terra.
Além do desenvolvimento socioambiental o piquenique
tem o intuito de incentivar o consumo de frutas, de uma
alimentação mais balanceada, ajudando não apenas o meio
ambiente, mas o desenvolvimento saudável das crianças
(Figura 10).

Figura 10. Piquenique no MCCHJ, localizado na praia do


Bessa.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

• Gincana
Com o acompanhamento realizado na escola foi
observado a quantidade de lixo descarta de forma incorreta no
pátio da escola. A partir desta observação foi visto a

546
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
necessidade de criar uma atividade, com o objetivo de educar
de forma lúdica para que as crianças desenvolvessem de forma
autônoma o pensamento crítico do descarte correto, criando a
identidade de pertencimento no qual a escola e o planeta
pertencem a eles e devem sem preservados.
Neste sentido, foi instalado um coletor de resíduos e um
calendário no pátio para as crianças colocarem seu lixo no local
correto (Figura 11). O calendário fixado na parede marcava o
dia que as crianças deixavam o pátio e a cantina da escola
limpa, e como recompensa para o descarte correto foi planejada
uma aula de campo na praia.
Além de criar o hábito do descarte correto, a atividade
permitiu abordar temas como alimentação saudável,
incentivando que as crianças não tragam de casa produtos
industrializados e consumam o alimento oferecido pela própria
escola.

Figura 11. Cesto da atividade lixo no lixo na Escola Frei Albino.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

547
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
• Jogo da Velha
O Mares sem Plástico fez a doação de jogos da velha
para a escola Frei Albino, o jogo foi desenvolvido pelos
membros do projeto no qual tem a temática oceânica nas peças
confeccionadas em madeira em um saquinho de algodão
bordado.
O desenvolvimento do jogo tem por sua vez o objetivo de
desenvolver as capacidades cognitivas da criança e
correlacionar com outras atividades desenvolvias pelo projeto
na escola abordando o cunho socioambiental e de preservação
do meio ambiente. A Figura 12 mostra alunos utilizando o jogo
da velha no espaço da biblioteca da Escola Frei Albino.

Figura 12. Alunos do Frei Albino utilizando o jogo da velha.

Fonte: Acervo do Mares sem Plástico, 2023.

REFLEXÃO SOBRE A EXPERIÊNCIA


O trabalho desenvolvido na Escola Municipal Frei Albino
mostra a necessidade de levar para as escolas o conhecimento
socioambiental para formação de cidadãos autônomos e de

548
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
pensamento crítico, tendo como objetivo minimizar os impactos
antrópicos que o homem causa ao meio ambiente e suas
consequências à natureza, à saúde e à economia.
A educação por sua vez deve concentrar seus esforços
na formação de posições e significados ambientais que
estimulem a participação cidadã no desenvolvimento
sustentável (DA SILVA, 2021). Assim as atividades de estímulo
e de educação ambiental desenvolvidas com os estudantes têm
papel fundamental na formação deles para o desenvolvimento
social e econômico e para a manutenção dos recursos naturais.
A partir das ações realizadas com a COLIMAR, lixo
estrangeiro, coleta de resíduos, jogo da memória, pescaria, lixo
no lixo e caixas sensoriais foi possível abordar o
desenvolvimento das habilidades cognitivas e sensibilizar
quanto à geração, à produção, o descarte e os processos de
degradação de resíduos plásticos.
Com o plantio de mudas e sementes, e piquenique no
MCCHJ foi possível criar laços entre as crianças e a natureza
para criação do senso de pertencimento e preservação do meio
ambiente e de seus recursos, e consequentemente, o incentivo
a alimentação saudável e hábitos sustentáveis.
Já a utilização do jogo da velha e a leitura de livros
permitiu a divulgação da cultura oceânica e da educação
ambiental, sendo interligadas com o conteúdo letivo e o
desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e a
interdisciplinaridade entre os alunos e demais membros da
comunidade.
Ainda assim a Educação Ambiental tem o intuído de
incorporar a emergência climática em sua pauta, fazer perceber
a simplicidade da Terra e a complexidade do mundo e das
sociedades (SATO; SANTOS; SÁNCHEZ, 2020), como também

549
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
agregar os valores da diversidade cultural, dos limites e
potenciais da natureza, da equidade e da democracia (LEFF,
2010).
Portanto a experiencia relatada é de enriquecimento
pessoal e profissional. Integrando a interdisciplinaridade com os
diversos conceitos trabalhados foi possível verificar as
dificuldades na transmissão de conhecimentos ambientais que
tangem a educação ambiental, e a aceitação das crianças e
demais membros da comunidade escolar.

CONCLUSÕES
Ações desenvolvidas pelo projeto Mares sem Plástico na
Escola Municipal Frei Albino atendeu cerca de 513 crianças
com suas diversas atividades e ferramentas pedagógico-
científicas. Ficou evidente a importância e a necessidade da
disseminação da ciência oceânica e da educação ambiental e
socioambiental na formação acadêmica e civil das crianças,
para que assim elas se tornem cidadãos autônomos e de
pensamento crítico.
Logo o acompanhamento contínuo da escola mostrou
que as crianças e os demais membros da comunidade escolar
criaram um laço de maior pertencimento com a escola, como
também com o meio ambiente, sendo possível observar o
desenvolvimento do senso comum de preservação e cuidado
com a natureza diversos aspectos.
Por fim em os objetivos do referido trabalho foram
alcançados e
REFERÊNCIAS trouxeram bons resultados para a
sociedade e o meio ambiente, esperando-se obter futuros
adultos com conhecimento e habilidades socioambientais na

550
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
realização da multiplicação da preservação e dos valores
culturais da ciência oceânica.

AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus familiares e corpo docente da Escola
Municipal Frei Albino, a minha orientadora Prof.ª Dr.ª Cláudia
Cunha e aos membros do projeto Mares sem Plástico e
Guardiões do Mar por toda ajuda e suporte durante este
período.

BIBLIOGRÁFICAS
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551
EDUCAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DO PROJETO DE EXTENSÃO MARES
SEM PLÁSTICO NA ESCOLA FREI ALBINO: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIA
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the 2030 agenda for sustainable development. 2022.

552
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
CAPÍTULO 29

ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE


UMA USINA FOTOVOLTAICA NO
MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO
BORGES-RN
Francisco Jeyckson Pereira1
Rômulo Wilker Neri de Andrade2
1
Discente do curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, IFRN; 2
Orientador/Professor do curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental, IFRN/Campus
Avançado Natal – Zona Leste.
jeyckson.p@academico.ifrn.edu.br
romulo_wilker@hotmail.com

RESUMO: A energia solar emerge como protagonista na matriz


energética global, impulsionada por sua crescente importância
econômica, ambiental e social. No contexto brasileiro, a
expansão do setor solar destaca-se devido ao vasto potencial
de irradiação solar no país. Diante do exposto, este estudo se
propôs a apresentar, por meio de um estudo de caso, a Usina
Fotovoltaica Cabral I, uma instalação de pequeno porte situada
na zona rural do município de Olho d'Água do Borges, Rio
Grande do Norte. Destacando os desafios e as vantagens
inerentes à implementação e operação de uma usina solar. A
metodologia desse estudo de caso, de caráter qualitativo,
abrangeu a revisão bibliográfica, visitas in loco e entrevista com
um dos proprietários, proporcionando uma compreensão
abrangente da infraestrutura, operação e perspectivas futuras
da usina. Os resultados revelam que a usina não apenas
contribui significativamente para a criação de empregos e o
desenvolvimento econômico, mas também exerce um papel
crucial na redução das emissões de gases de efeito estufa,
promovendo sustentabilidade ambiental. Socialmente, sua
influência se reflete na geração distribuída e autonomia
energética. Sendo assim, conclui-se que a Usina Fotovoltaica
Cabral I é um paradigma da expansão da energia solar no

553
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
Brasil, consolidando-se como um modelo para futuras
iniciativas sustentáveis.
Palavras-chave: Energia Renovável. Energia Solar. Sistema
on-grid. Sistema Fotovoltaico.

INTRODUÇÃO
Com o crescimento populacional mundial, aliado ao
desenvolvimento industrial e tecnológico, tem exacerbado a
demanda por energia elétrica de maneira exponencial. Esse
cenário impõe não apenas desafios à disponibilidade de
recursos energéticos, mas também suscita preocupações
ambientais diante dos impactos decorrentes do uso intensivo de
fontes não renováveis.
Com o intuito de mitigar a dependência desses recursos
e contrapor os efeitos extensivos provocados pelas mudanças
climáticas, predominantemente atribuídos ao uso de
combustíveis fósseis na produção de energia, instâncias
governamentais, Organizações Não Governamentais (ONGs),
a sociedade civil e outros agentes em âmbito global estão
comprometidos em promover o desenvolvimento sustentável
por meio da adoção de fontes de energia renováveis.
Conforme destacado por Araújo et al. (2022) e
corroborado por Marques et al. (2022), as fontes de energia
renováveis são caracterizadas pela capacidade de renovação
em uma escala temporal compatível com a observação
humana, ou seja, mediante gestão apropriada, permanecem
ininterruptamente disponíveis para utilização. Dentre essas
fontes, estão: a energia solar, a energia eólica, a energia
hídrica, a biomassa, a energia geotérmica, a energia
maremotriz e a energia ondomotriz.
O Brasil se destaca como uma das nações líderes
globalmente na utilização de fontes convencionais de energia

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
renovável, notadamente a energia hidrelétrica. Ao longo das
últimas duas décadas, o país manteve uma estabilidade
notável, registrando percentuais superiores a 40% de fontes
renováveis em sua matriz energética. Em 2021, esse índice
atingiu a marca de 45%, refletindo a contínua ascensão das
fontes limpas, conforme evidenciado pela trajetória de
crescimento (EPE, 2022).
Tais percentuais permanecem elevados em virtude do
Brasil apresentar um notável potencial para a exploração de
outras fontes renováveis. Conforme apresentado por por
Mauad, Ferreira e Trindade (2017) e respaldado pela Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel, 2008), a região Nordeste
evidencia o mais expressivo potencial tanto na produção de
energia eólica, quanto na geração de energia solar,
particularmente em regiões cujos índices de radiação solar as
equiparam aos melhores do mundo, destacando-se, mais
precisamente, nos estados do Rio Grande do Norte (RN) e da
Paraíba (PB). Segundo Tiba et al. (2000), esses dois estados
apresentam uma média anual de radiação solar global diária de
20 MJ/m².dia, superior ao restante do território brasileiro.
Segundo Rebollar e Rodrigues (2011, p. 8), energia solar
“é o nome dado a qualquer tipo de captação de energia
luminosa originada pelo sol”. Contudo, existem duas formas
para aproveitá-la: Energia Solar Térmica – destinada à
conversão da energia solar em calor para aquecimento de
água; e Energia Solar Fotovoltaica, que, por meio de módulos
solares, realiza a transformação da luz solar em energia
elétrica. Sendo que este último tipo pode ser subdividido em
sistemas on-grid, conectados à rede, e off-grid, isolados e com
uso de baterias (EPE, 2022).
Diante do exposto, este estudo se propôs a apresentar,
por meio de um estudo de caso, a Usina Fotovoltaica Cabral I,

555
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
uma instalação de pequeno porte situada na zona rural do
município de Olho d'Água do Borges-RN, destacando os
desafios e as vantagens inerentes à implementação e operação
de uma usina solar.
Vale ressaltar que uma usina fotovoltaica, também
denominada como parque solar ou complexo solar, constitui
uma central de geração de energia, com a finalidade de
converter a energia luminosa em elétrica, que poderá ser
vendida. Para tal processo de transformação, um sistema é
implementado no local da usina, sendo, principalmente, as
placas fotovoltaicas e os inversores os principais componentes
encarregados, sobretudo, pela captação e conversão da
corrente contínua em corrente alternativa, respectivamente
(Sousa, 2021).

MATERIAIS E MÉTODO
Este estudo de caso, de abordagem qualitativa,
enquadra-se como uma pesquisa exploratória em termos de
seu objetivo. Conforme Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa
exploratória se caracteriza por um planejamento flexível, o que
permite ao(s) pesquisador(es) obter informações de diversos
ângulos e aspectos. Além disso, esse tipo de pesquisa pode
compreender algumas etapas, como: o levantamento
bibliográfico, a análise de exemplos que fomentam a
compreensão, e a utilização de instrumentos de pesquisa, como
entrevistas.
A condução do estudo foi delineada em três fases
distintas: levantamento bibliográfico, visitas in loco e análise e
discussão dos dados obtidos. A primeira etapa envolveu a
pesquisa em portais e plataformas de publicações científicas e
acadêmicas, tais como o Google Acadêmico e a SciELO, com
o intuito de buscar trabalhos relacionados ao tema central.

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
O segundo momento compreendeu as visitas à usina,
realizadas em março e novembro de 2023, visando a
documentação fotográfica, a coleta de informações e a
condução de uma entrevista com um dos proprietários. Por fim,
procedeu-se ao tratamento e análise dos dados/informações
obtidos durante as visitas, seguido pela discussão desses
resultados à luz de contribuições de outros autores.
No tocante à área de estudo, a implementação da Usina
Cabral I na zona rural do município de Olho d’Água do Borges
teve início em 2019, e na atualidade, conta com 66 módulos
solares distribuídos em uma área aproximada de 600 m² (Figura
1). A capacidade de geração da usina atinge aproximadamente
5.060 Watts (W) nos dias ensolarados, com radiação efetiva,
enquanto registra cerca de 30% dessa capacidade em períodos
chuvosos.
Olho d'Água do Borges, situado a uma altitude média de
164 metros em relação ao nível do mar, encontra-se na
mesorregião Oeste Potiguar do RN, a aproximadamente 330
km de Natal. Além disso, o município abrangendo uma área
territorial de 141,170 km² (0,27% da superfície estadual),
apresenta uma população de 3.905 habitantes e uma
densidade demográfica de 27,66 habitantes por km² (IBGE,
2022).
Do ponto de vista aos aspectos ambientais, destaca-se
que o solo é do tipo neossolo, caracterizado como rochoso e
pouco desenvolvido. A vegetação é predominantemente do
bioma Caatinga, enquanto o clima é classificado como
semiárido, com temperaturas médias oscilando entre 39,8ºC e
19,6ºC. Ademais, as chuvas se concentram principalmente
entre os meses de janeiro e maio (EMPARN, 2022).

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
Figura 1. Localização da Usina Fotovoltaica Cabral I, em Olho
d’Água do Borges-RN, no ano de 2023.

Fonte: Autoria (2023)

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Uma usina solar fotovoltaica representa um
empreendimento de vastas proporções que se distingue do
sistema residencial, uma vez que sua geração está
primordialmente orientada para a comercialização e não para o

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
autoconsumo. Devido à expressiva quantidade de módulos
fotovoltaicos empregados, as usinas solares têm a capacidade
de gerar uma quantidade substancial de energia (Sousa, 2021).
Conforme relato de um dos proprietários da Usina
Fotovoltaica Cabral I, o interesse na construção de uma usina
na região emergiu em consonância com a promoção e incentivo
crescentes que os sistemas fotovoltaicos vêm recebendo nos
últimos anos. Ainda segundo ele, após estabelecer uma
parceria para o empreendimento, procedeu-se à avaliação
criteriosa de um local propício para a instalação da usina,
priorizando áreas com elevada incidência de radiação solar e a
capacidade do terreno para acomodar as estruturas
necessárias.
Com a determinação da localização, na zona rural de Olho
d’Água do Borges, que apresenta ótima incidência de irradiação
solar ao longo do ano (Tabela 1), procedeu-se à elaboração de
um projeto do sistema, contemplando elementos como o tipo do
sistema, a necessidade energética, a quantidade de painéis
solares, a tipologia do inversor, dentre outros, com vistas à
apresentação aos órgãos competentes para a obtenção das
licenças. Conforme destacado por Sousa (2021), a instalação
de uma usina solar constitui um processo que demanda um
planejamento meticuloso e a expertise de profissionais
capacitados.

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
Tabela 1. Irradiação solar diária média mensal, no plano
horizontal, no município de Olho d’Água do Borges-RN.
Mês Irradiação solar (kWh/m2/dia)
Janeiro 6,09
Fevereiro 6,12
Março 6,16
Abril 5,86
Maio 5,41
Junho 5,07
Julho 5,39
Agosto 6,04
Setembro 6,47
Outubro 6,63
Novembro 6,65
Dezembro 6,15
Média anual 6,00
Fonte: CRESESB (2017)

Esses dados são cruciais para avaliar a viabilidade e eficiência


de sistemas de geração de energia solar no local, uma vez que
a quantidade de irradiação solar é um fator determinante para
o rendimento desses sistemas (CRESESB, 2017). Além disso,
a média anual de 6,00 kWh/m²/dia indica que Olho d'Água do
Borges possui um potencial solar significativo, favorecendo a
implantação e operação de usinas solares na região.
Por se tratar de uma usina, o sistema fotovoltaico
selecionado foi o on-grid (Figura 2). Conforme definido por
Rebollar e Rodrigues (2011), esse sistema fotovoltaico está
conectado à rede, proporcionando a capacidade de injetar
diretamente na rede elétrica a energia elétrica gerada pelos
módulos fotovoltaicos, o que viabiliza a dispensa do
armazenamento de energia em baterias. A configuração desse

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
sistema compreende, principalmente, os seguintes
componentes: painéis solares, inversor e medidor bidirecional.

Figura 2. Estrutura do sistema fotovoltaico on-grid da Usina


Cabral I, em Olho d’Água do Borges-RN, no ano de 2023.

Fonte: Autoria (2023)

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
A energia gerada pelos módulos fotovoltaicos percorre
um processo subsequente ao inversor, o qual efetua a
conversão da eletricidade originada pelos painéis solares de
tensão/corrente contínua (CC) para tensão/corrente alternada
(CA) (Rebollar; Rodrigues, 2011). Posteriormente, o fluxo
energético passa pelo medidor bidirecional, cuja função é
mensurar tanto o consumo quanto a geração de energia.
Somente então, o fluxo de eletricidade alcança a rede de
distribuição de eletricidade do RN, sob a gestão da Companhia
Energética do Rio Grande do Norte (COSERN), uma subsidiária
do grupo Neoenergia.
Conforme relato de um dos proprietários, não houve
necessidade de recorrer a financiamento para a aquisição dos
componentes da usina, uma vez que dispunham de capital de
investimento. Essa condição também se estendeu à obtenção
do terreno, que já pertencia a um deles, assim como, aos
demais dispêndios associados ao projeto, tais como mão de
obra especializada e estrutura básica, incluindo postes e
caixilhos.
No que concerne à manutenção e monitoramento, o
proprietário entrevistado afirmou que há um plano de
manutenção regular previamente estabelecido. Além disso, um
para-raios foi instalado, e um sistema de monitoramento
inteligente é empregado para assegurar que a usina esteja
gerando a quantidade apropriada de energia, entre outras
funções essenciais. Esses elementos revelam-se cruciais para
o eficiente funcionamento da usina, corroborando a importância
do planejamento e controle da manutenção em usinas
fotovoltaicas, como evidenciado por Sousa (2021) em seu
estudo sobre essa temática.
De acordo com NeoSolar (2023), uma empresa
especializada em geração de energia fotovoltaica, por meio de

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
sua "calculadora solar", o investimento estimado para a
aquisição dos componentes do sistema on-grid instalados na
Usina Fotovoltaica Cabral I, considerando a irradiação solar no
município de Olho d'Água do Borges, varia aproximadamente
entre R$ 69.127,56 e R$ 103.691,35. Essa estimativa ignora os
valores de aquisição do terreno e da infraestrutura básica.
Embora as usinas fotovoltaicas ofereçam benefícios
significativos em termos de sustentabilidade e redução de
emissões, é importante considerar cuidadosamente os desafios
associados à sua implementação, incluindo os aspectos
financeiros, técnicos e ambientais, que devem ser considerados
antes de iniciar o projeto.
Ao ponderar os autores estudados e que foram
apresentados no texto, assim como as informações prestadas
por um dos sócios do empreendimento e a experiência dos
pesquisadores, vale destacar algumas vantagens relacionadas
à implantação da Usina Fotovoltaica Cabral I.
▪ A principal vantagem é que a energia solar é uma fonte
renovável e praticamente inesgotável, proporcionando
uma opção sustentável para a geração de eletricidade;
▪ A geração de energia fotovoltaica contribui para a
redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE),
auxiliando na mitigação das mudanças climáticas;
▪ Após a instalação inicial, os custos operacionais e de
manutenção de uma usina fotovoltaica são relativamente
baixos em comparação com outras fontes de energia;
▪ A utilização da energia solar reduz a dependência de
fontes de energia não renováveis, contribuindo para a
segurança energética de uma região;
▪ A implementação de uma usina fotovoltaica proporciona
a geração de empregos para profissionais de diversas

563
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
áreas, contribuindo para o desenvolvimento econômico
e a promoção da sustentabilidade;
▪ A comercialização da energia excedente gerada pela
usina, configura-se como uma fonte adicional de renda,
agregando valor financeiro ao empreendimento. A
energia elétrica gerada na usina é vendida à parceiros
do município de Mossoró-RN.

Considerando a configuração de produção da Usina


Cabral I, de acordo com a calculadora solar da NeoSolar (2023),
a avaliação ambiental indica uma diminuição de 425.103 kg de
CO2 na atmosfera, correspondente a 3.036 árvores plantadas
ou a uma distância percorrida de 3.876.441 km em carro.
Adicionalmente às vantagens, empreendimentos como
este podem acarretar algumas desvantagens. É relevante
ressaltar que as mesmas considerações mencionadas no
contexto das vantagens são igualmente aplicáveis nesta
análise.
▪ A produção de eletricidade por meio de painéis solares é
influenciada pela disponibilidade de luz solar, o que pode
variar devido a condições climáticas, estações do ano e
localização geográfica. O que não é um problema da
Usina Cabral I;
▪ A fabricação de painéis solares envolve processos que
demandam energia e podem gerar resíduos tóxicos,
embora esforços estejam sendo feitos para reduzir esses
impactos;
▪ A presença extensiva de placas solares pode suscitar
questões relacionadas à poluição visual, impactando a
estética do ambiente circundante (Figura 3A);
▪ A necessidade constante de manutenção dos
equipamentos, como limpeza das placas, e do espaço

564
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
ocupado pela usina, como retirada da vegetação, pode
representar um desafio operacional e financeiro (Figura
3B);
▪ A implementação de usinas fotovoltaicas pode exigir o
uso de grandes áreas de terra, que precisam ser
desmatadas (Figura 3C) e, consequentimente, impactar
o solo;
▪ Problemas com a rede elétrica pode ocorrer e
desconectar a usina, especialmente se a rede não
estiver equipada para lidar com a energia solar.

Além das desvantagens apresentadas, ainda vale


destacar que a implantação de uma usina fotovoltaica demanda
um investimento inicial substancial, constituindo-se como um
desafio financeiro considerável. É imperativo reconhecer que,
ao longo do tempo, houve uma tendência de redução nos
custos associados a essa tecnologia, porém, o custo inicial
ainda representa uma barreira para sua adoção generalizada
desse tipo de energia renovável.
Este aspecto ressalta a necessidade de estratégias e
políticas que busquem facilitar o acesso a recursos financeiros
e fomentar a implementação de projetos fotovoltaicos,
promovendo, assim, a transição para fontes de energia mais
sustentáveis.
Ao analisar a implementação de uma usina fotovoltaica
conectada à rede elétrica em um supermercado, Alvarenga
(2017) realizou um cálculo conciso, demonstrando que, em um
período de 10 anos, seria factível amortizar o investimento
inicial e obter retornos positivos por meio da energia gerada.
Essa constatação reforça a viabilidade econômica associada à
adoção de sistemas fotovoltaicos, ressaltando, no entanto, a

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ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
necessidade de capital para investimento como um fator
limitante ao acesso generalizado a essa tecnologia.

Figura 3. Desvantagens e impactos identificados na Usina


Fotovoltaica Cabral I, no município de Olho d’Água do Borges-
RN. A) Perspectiva aérea da Usina Cabral I; B) Registro
fotográfico dos módulos entre a vegetação; C) Área preparada
para a instalação das placas solares.

Fonte: Autoria (2023)

566
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
Em síntese, é crucial ressaltar que grande parte dos desafios e
desvantagens discutidos podem ser atenuados mediante uma
cuidadosa planificação e uma gestão eficaz do projeto de uma
usina solar fotovoltaica.
A implementação de estratégias bem delineadas pode não
apenas mitigar as adversidades inerentes, mas também
potencializar os benefícios em longo prazo. Entre esses
benefícios destacam-se a significativa redução nos custos de
energia e a mitigação da pegada de carbono, o que ressalta a
importância estratégica e sustentável da adoção de fontes
renováveis, como a energia solar fotovoltaica, no panorama
energético contemporâneo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fenômeno do crescimento exponencial da energia
solar no Brasil se manifesta de maneira concreta na Usina
Fotovoltaica Cabral I, localizada no município de Olho d'Água
do Borges-RN. Essa instalação não apenas simboliza, mas
também contribui de forma tangível para os benefícios já
mencionados associados à energia solar.
Ao se considerar a Usina Cabral I, os impactos
econômicos se fazem evidentes. A implementação dessa usina
não só estimula a economia do município, mas também
fortalece a cadeia produtiva da indústria solar. Desde a
fabricação até a operação e manutenção dos sistemas, a usina
proporciona oportunidades econômicas, alinhando-se aos
benefícios econômicos da energia solar no país.
Em termos ambientais, a Usina Cabral I desempenha um
papel crucial na redução da pegada de carbono da região. A
geração de energia limpa e renovável contribui diretamente
para o compromisso global de combate às mudanças
climáticas, refletindo a natureza sustentável e de baixo impacto

567
ESTUDO DE CASO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA FOTOVOLTAICA
NO MUNICÍPIO DE OLHO D’ÁGUA DO BORGES-RN
ambiental da energia solar. No entanto, é fundamental que os
impactos negativos sejam mitigados desde o início da
implantação da usina.
Ademais, por meio da projeção de expansão da usina em
futuras etapas, torna-se viável a criação de oportunidades de
emprego na comunidade local. Nesse contexto, a usina não
apenas se posiciona como um gerador de empregos, mas
também desempenha um papel ativo na promoção da transição
para fontes de energia mais sustentáveis.
Dessa forma, ao situar a Usina Fotovoltaica Cabral I no
contexto do município de Olho d'Água do Borges, percebe-se
não apenas a materialização do potencial solar da região, mas
também os benefícios tangíveis que essa instalação
proporciona. Ela se destaca como um exemplo concreto para a
construção de um futuro mais sustentável e acessível para a
região.

AGRADECIMENTOS
Gostaríamos agradecer aos proprietários da Usina
Fotovoltaica Cabral I pela generosidade e colaboração que
demonstraram ao abrir as portas de seu empreendimento para
a realização deste estudo.

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