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Roseanne da Cunha Uchôa


Giselle Medeiros da Costa One
(Organizadores)

ODONTOLOGIA:
os desafios da
pesquisa na
atualidade

IMEA
JOÃO PESSOA-PB
2021
Instituto Medeiros de Educação
Avançada - IMEA
Editor Chefe
Giselle Medeiros da Costa One

Corpo Editorial
Giselle Medeiros da Costa One
Bárbara Lima Rocha
Maria Luiza Souto Porto
Roseanne da Cunha Uchôa
Iara Medeiros de Araújo

Revisão Final
Ednice Fideles Cavalcante Anízio

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
One, Giselle Medeiros da Costa.
O59o Odontologia: os desafios da pesquisa na atualidade, 2 /
Organizadores: Roseanne da Cunha Uchôa. Giselle Medeiros da Costa
One, IMEA. 2020.
793 fls.
Prefixo editorial: 53005
ISBN: 978-65-89069-12-6 (on-line)
Modelo de acesso: Word Wibe Web
<http://www.cinasama.com.br>

Instituto Medeiros de Educação Avançada – IMEA – João


Pessoa - PB

1. Odontologia Preventiva Social 2 Odontologia Hospitalar 3.


Odontopediatria. 4. Estomatologia e patologia oral. I Roseanne da
Cunha Uchôa II Giselle Medeiros da Costa One III Odontologia:
os desafios da pesquisa na atualidade, 2
CDU: 616.31

Laureno Marques Sales, Bibliotecário especialista. CRB -15/121

Direitos desta Edição reservados ao Instituto Medeiros de Educação Avançada – IMEA


Impresso no Brasil / Printed in Brazil
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Todas as opiniões e textos presentes


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de seus autores, ficando o organizador
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João Pessoa - PB
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2021
Aos participantes do CINASAMA pela
dedicação que executam suas atividades e pelo
amor que escrevem os capítulos que compõem esse
livro.
“Procure a sabedoria e aprenda a escrever
os capítulos mais importantes de sua
história nos momentos mais difíceis de sua
vida”.
Augusto Cury
PREFÁCIO

O CINASAMA é um evento que tem como objetivo


proporcionar subsídios para que os participantes tenham
acesso às novas exigências do mercado e da educação. E ao
mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico, na
Saúde, Nutricional e Ambiental de direcionar todos que
formam a Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana
e Educação socioambiental para a Vida.
Os livros “ODONTOLOGIA: os desafios da pesquisa
na atualidade 1 e 2” têm conteúdo interdisciplinar,
contribuindo para o aprendizado e compreensão de varias
temáticas dentro da área em estudo. Esta obra é uma
coletânea de pesquisas de campo e bibliográfica, fruto dos
trabalhos apresentados no Congresso Internacional de Saúde
e Meio Ambiente realizado entre os dias 28 e 29 de Novembro
de 2020. No ano de 2020 devido a pandemia causada pelo
COVID – 19 o evento foi realizado em sua I Edição On-line.
Os eixos temáticos abordados no Congresso
Internacional de Saúde e Meio Ambiente e nos livros
garantem uma ampla discussão, incentivando, promovendo
e apoiando a pesquisa. Os organizadores objetivaram
incentivar, promover, e apoiar a pesquisa em geral para que
os leitores aproveitem cada capítulo como uma leitura
prazerosa e com a competência, eficiência e profissionalismo
da equipe de autores que muito se dedicaram a escrever
trabalhos de excelente qualidade direcionados a um público
vasto.
O livro ODONTOLOGIA: os desafios da pesquisa
na atualidade 1” apresenta interdisciplinaridade entre as
áreas da saúde concentrando em títulos com temas que
relatam experiências profissionais e revisões bibliográficas
nas áreas de Biossegurança, Odontologia Legal e Preventiva,
Saúde Coletiva, Estomatologia, Patologia Oral, Radiologia e
Cirurgia.
O livro ODONTOLOGIA: os desafios da pesquisa
na atualidade 2” apresenta interdisciplinaridade entre a as
áreas da saúde concentrando em títulos com temas que
relatam experiências profissionais e revisões bibliográficas
nas áreas de Harmonização Orofacial, Periodontia,
Endodontia, Dentistica, Odontopediatria, Ortodontia, Prótese
e Oclusão, Implantodontia e Odontogeriatria. Esta publicação
pode ser destinada aos diversos leitores que se interessem
pelos temas debatidos.
Espera-se que este trabalho desperte novas ações,
estimule novas percepções e desenvolva novos humanos
cidadãos.
Aproveitem a oportunidade e boa leitura.
SUMÁRIO

HARMONIZAÇÃO OROFACIAL _________________________________ 15

CAPÍTULO 1 ________________________________________________ 16
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR ___________________________ 16
CAPÍTULO 2 ________________________________________________ 32
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA _______________ 32
CAPÍTULO 3 ________________________________________________ 48
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA BOTULÍNICA
TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA ___________________ 48
CAPÍTULO 4 ________________________________________________ 67
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA __________________________ 67
CAPÍTULO 5 ________________________________________________ 83
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO GENGIVAL:
UMA REVISÃO DE LITERATURA _________________________________ 83

PERIODONTIA _____________________________________________ 100

CAPÍTULO 6 _______________________________________________ 101


ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA GENGIVECTOMIA CONVENCIONAL
E COM LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA CORREÇÃO DE SORRISO GENGIVAL
DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA ALTERADA: RELATO DE CASO ___ 101
CAPÍTULO 7 _______________________________________________ 124
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL / OBESIDADE E
DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA LITERATURA ___________ 124
CAPÍTULO 8 _______________________________________________ 145
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-DENTISTAS
E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA PERIODONTAL E O
DIABETES MELLITUS ________________________________________ 145
CAPÍTULO 9 _______________________________________________ 167
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS PERIODONTAIS
_________________________________________________________ 167
CAPÍTULO 10 ______________________________________________ 183
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE LITERATURA 183
CAPÍTULO 11 ______________________________________________ 204
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL ____ 204
CAPÍTULO 12 ______________________________________________ 221
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO ___________________________ 221
CAPÍTULO 13 ______________________________________________ 241
RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE EM RETRAÇÕES GENGIVAIS
MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM RELATO
DE CASO __________________________________________________ 241
CAPÍTULO 14 ______________________________________________ 263
TRATAMENTO PERIODONTAL EM PACIENTES EM HEMODIÁLISE: UMA
REVISÃO DE LITERATURA ____________________________________ 263

ENDODONTIA _____________________________________________ 281

CAPÍTULO 15 ______________________________________________ 282


UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO QUÍMICO-
MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO PERIAPICAL __ 282
CAPÍTULO 16 ______________________________________________ 301
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL ____ 301
CAPÍTULO 17 ______________________________________________ 317
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO ___ 317
CAPÍTULO 18 ______________________________________________ 338
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO ____________________________________________ 338

DENTÍSTICA _______________________________________________ 358

CAPÍTULO 19 ______________________________________________ 359


AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES CLASSE
II COM RESINAS COMPOSTAS _________________________________ 359
CAPÍTULO 20 ______________________________________________ 377
A HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA NO PANORAMA ATUAL: REVISÃO DE
LITERATURA_______________________________________________ 377
CAPÍTULO 21 ______________________________________________ 399
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO ATUAL:
UMA REVISÃO DE LITERATURA ________________________________ 399
CAPÍTULO 22 ______________________________________________ 423
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA ____________________________ 423
CAPÍTULO 23 ______________________________________________ 446
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA: ORIENTAÇÃO E
EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS PARA PACIENTES
COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS ________________________________ 446
CAPÍTULO 24 ______________________________________________ 464
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO CLAREAMENTO DE DENTES
VITALIZADOS ______________________________________________ 464
CAPÍTULO 25 ______________________________________________ 484
INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO TERAPÊUTICA PARA LESÃO DE
CÁRIE PROXIMAL NÃO CAVITADA – REVISÃO DE LITERATURA _______ 484

ODONTOPEDIATRIA ________________________________________ 509

CAPÍTULO 26 ______________________________________________ 510


UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA DECÍDUA
E SINTOMATOLOGIA ________________________________________ 510
CAPÍTULO 27 ______________________________________________ 528
HIPOMINERALIZAÇÃO MOLAR-INCISIVO E CÁRIE DENTÁRIA EM
PACIENTES PEDIÁTRICOS ONCOLÓGICOS ________________________ 528
CAPÍTULO 28 ______________________________________________ 547
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMIA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA_____________________ 547
CAPÍTULO 29 ______________________________________________ 566
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA ____________________ 566
CAPÍTULO 30 ______________________________________________ 581
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM CÂNCER - VISÃO DE
CUIDADORES E EQUIPE DE ENFERMAGEM. ______________________ 581
CAPÍTULO 31 ______________________________________________ 590
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU POTENCIAL
EROSIVO - UMA REVISÃO DE LITERATURA _______________________ 590

ORTODONTIA _____________________________________________ 609

CAPÍTULO 32 ______________________________________________ 610


ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE HÁBITOS
BUCAIS DELETÉRIOS ________________________________________ 610
CAPÍTULO 33 ______________________________________________ 629
FATORES QUE MOTIVAM PACIENTES ADULTOS A BUSCAREM
TRATAMENTO ORTODÔNTICO ________________________________ 629
CAPÍTULO 34 ______________________________________________ 650
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE DISPOSITIVOS
DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO _____________ 650

PRÓTESE E OCLUSÃO _______________________________________ 669

CAPÍTULO 35 ______________________________________________ 670


TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL ________________________________________ 670
CAPÍTULO 36 ______________________________________________ 689
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL 689
CAPÍTULO 37 ______________________________________________ 708
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM PACIENTES
IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA ___________________________ 708
CAPÍTULO 38 ______________________________________________ 731
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA _________________________________________ 731

IMPLANDONTIA ___________________________________________ 751

CAPÍTULO 39 ______________________________________________ 752


IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE DOS
IMPLANTES DENTÁRIOS _____________________________________ 752

ODONTOGERIATRIA ________________________________________ 775

CAPÍTULO 40 ______________________________________________ 776


AVALIAÇÃO DA FORÇA DE MORDIDA EM PESSOAS COM DOENÇA DE
PARKINSON: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA _________ 776
HARMONIZAÇÃO
OROFACIAL

15
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

CAPÍTULO 1

EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA


TIPO A NO TRATAMENTO DA DISFUNÇÃO
TEMPOROMANDIBULAR
Thays Matias RIBEIRO1
Maryana Fernanda Rocha BONIFÁCIO1
Rayssa Lucena WANDERLEY1
Renata Coelho NAVARRO2
Roseanne da Cunha UCHÔA³
1 Graduandas do curso de Odontologia, UFPB; 2 Professora da ETS/UFPB;
³ Orientadora/Professora do DOR/UFPB.
thaysmribeiro1@gmail.com

RESUMO: A toxina botulínica tipo A (BTX-A) apresenta uma


vasta indicação terapêutica, incluindo o tratamento da
Disfunção Temporomandibular (DTM). A DTM é uma síndrome
dolorosa, com etiologia complexa e multifatorial, cujos sintomas
são cefaléia, otalgia, odontalgia, dor na face e zumbido. Pode
causar alterações emocionais e mudanças de comportamento,
considerada um distúrbio biopsicossocial. O objetivo foi realizar
uma revisão da literatura sobre as evidências científicas acerca
da utilização da BTX-A como tratamento complementar para
DTM. Realizou-se busca de artigos publicados nos últimos 5
anos nas bases de dados: PubMed, Portal de Periódicos
CAPES, Scielo e Google Acadêmico, utilizando como
descritores: Toxinas Botulínicas Tipo A, Transtornos da
Articulação Temporomandibular e Dor Miofacial. As evidências
científicas demonstraram avanços no tratamento das DTMs
através da aplicação da BTX-A. Após correto diagnóstico e
plano de tratamento, a aplicação da toxina em pontos
específicos, é realizada com facilidade, porém é necessário
16
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

conhecimento anatômico da região e rigoroso protocolo técnico.


A literatura também reportou a ação da toxina sobre
neurotransmissores comprometidos na transmissão da dor
(glutamato, substância P e calcitonina), que apresentam
importante função na inflamação neurogênica. Concluiu-se que
o uso da BTX-A para casos de DTM é uma alternativa de
tratamento complementar segura, rápida e eficaz, promovendo
melhoria na qualidade de vida do paciente, entretanto
apresenta a desvantagem de ser temporária.
Palavras-chave: Toxinas Botulínicas Tipo A. Transtornos da
Articulação Temporomandibular. Dor miofacial.

INTRODUÇÃO

Ao passar dos anos, diversos termos foram utilizados


para nomear os distúrbios do sistema mastigatório. No ano de
1934, surge o termo síndrome de Costen, anos depois, o termo
síndrome da articulação temporomandibular tornou-se comum
e foi introduzido por Shore, já no ano de 1959, como síndrome
da disfunção da articulação temporomandibular. Ramjford e
Ash, anos mais tarde, chamou aquilo de distúrbios funcionais
da articulação temporomandibular (OKESON, 2008).
Alguns desses termos descreviam fatores etiológicos e
outros descreviam a dor. Pelo fato dos sintomas não estarem
obrigatoriamente isolados na ATM, acreditava-se que os termos
anteriores não estavam sendo bem empregados, com isso,
surge Bell, que descreve o termo desordens
temporomandibulares (DTM), incluindo assim todos os
distúrbios associados às funções do sistema mastigatório. Após
anos de estudos, a American Dental Association considerou
aceitável o termo desordens temporomandibulares, incluindo

17
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

todos os distúrbios funcionais do sistema mastigatório


(OKESON, 2008).
A DTM é uma síndrome dolorosa, com etiologia
complexa e multifatorial, que reúne um grupo de doenças
envolvendo músculos mastigatórios, articulação
temporomandibular e estruturas adjacentes, seu diagnóstico é
realizado pela anamnese detalhada, com a identificação dos
fatores predisponentes (predispõem o paciente ao risco ou de
desenvolvimento da dor orofacial), desencadeantes (causam o
início do distúrbio) e perpetuantes (interferem no tratamento e
no controle do distúrbio, prolongam a dor) e pelo exame físico,
que consiste em palpação, verificação da movimentação ativa
e dos ruídos articulares (OKESON, 2008; FERNANDES NETO,
NEVES, SIMAMOTO JUNIOR, 2013; NAKED et al., 2017).
Segundo a literatura, os pacientes suscetíveis a DTM
podem relatar problemas clínicos que envolvem regiões como
as ATM’s, musculatura mastigatória e estruturas associadas.
Os sinais e sintomas mais comuns são a dor nas ATM’s, dor de
cabeça (cefaléia), dor de ouvido (otalgia), dor nos dentes
(odontalgia), dor na face (músculos mastigatórios), dor no
pescoço, além disso, limitação e falta de coordenação dos
movimentos mandibulares, alteração dos mecanismos
mandibulares e ruídos nas articulações com o movimento
(FERNANDES NETO, NEVES, SIMAMOTO JUNIOR, 2013;
MOR, TANG E BLITZER, 2015).
Essa disfunção pode gerar no paciente alterações
emocionais, dificuldades para dormir, relaxar, se alimentar,
podendo levar a uma mudança de comportamento, afetando
tanto o lado físico como psicológico, interferindo assim, na sua

18
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

qualidade de vida. Por isso a DTM é considerada um distúrbio


biopsicossocial (OKESON, 2008).
Dentre os tratamentos para a DTM estão a terapia para
os fatores oclusais (oclusal reversível, terapia oclusal
irreversível); terapia para o estresse emocional
(conscientização do paciente, uso restrito da função, abstenção
voluntária, terapia de relaxamento); terapia de suporte: terapia
farmacológica (analgésicos, antiinflamatórios, ansiolíticos,
antidepressivos, relaxantes musculares, anestésicos locais),
fisioterapia, acupuntura, laserterapia, condicionamento
muscular e o treinamento postural (OKESON, 2008).
Meassi e colaboradores (2014), também afirmam que
existe uma vasta gama de artifícios utilizados para o tratamento
de pacientes com DTM, que incluem desde aconselhamentos
sobre hábitos de vida, psicoterapia, terapia comportamental
cognitiva, contenção da mandíbula, manobras musculares,
ultrassom, placas miorrelaxantes, terapias medicamentosas,
até cirurgia da articulação temporomandibular, em casos
extremos, como medida irreversível.
Com isso, a terapia definitiva tem por objetivo a
eliminação ou a alteração dos fatores etiológicos responsáveis
pela desordem. Por ser direcionado para a etiologia, é essencial
um diagnóstico preciso, pois, quando inadequado, leva à
seleção inapropriada do tratamento. Com a intenção de se
apresentar uma alternativa terapêutica, a toxina botulínica tipo
A (BTX-A) vem sendo estudada como método de tratamento
coadjuvante para pacientes que sofrem desta patologia
(OKESON, 2008).
A toxina botulínica tipo A, tem seu principal efeito na
junção neuromuscular, atuando na inibição da acetilcolina,
19
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

causando paralisia muscular e consequentemente, o


relaxamento da musculatura (AYRES E SANDOVAL, 2016;
BARBOSA E BARBOSA, 2017).
A primeira indicação de que a toxina botulínica poderia
ser útil no tratamento da dor foi observada em relatos informais
de pacientes tratados para linhas faciais hiperfuncionais, os
quais relataram redução da frequência e gravidade da cefaléia.
Em seguida, o efeito analgésico da toxina botulínica foi relatado
durante o tratamento de distonia oromandibular e distonia
cervical. Atualmente, a toxina botulínica é usada para o alívio
da dor em várias condições, incluindo cefaléia tensional,
enxaqueca, neuralgia pós-herpética e DTM miofacial (MOR;
TANG; BLITZER, 2015).
Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi
sintetizar, por meio de uma revisão de literatura, os principais
achados sobre efetividade da Toxina Botulínica Tipo A no
tratamento de disfunções temporomandibulares (DTM).

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma pesquisa de base


secundária, do tipo revisão de literatura, que visa um
levantamento de dados sobre a efetividade da toxina botulínica
tipo A no tratamento da disfunção temporomandibular.
Para a pesquisa documental realizada, foram utilizados
bancos de dados online como: PubMed, Portal de Periódicos
CAPES, Scielo e Google Acadêmico, compreendendo o
período dos últimos 5 anos, com os descritores: “Toxinas
botulínicas tipo A”, “Transtornos da Articulação

20
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Temporomandibular” e “Dor Miofacial”, combinados com os


operadores booleanos “e/ou”, em português, inglês e espanhol.
Inicialmente o material bibliográfico foi selecionado de
acordo com o título, em seguida, os resumos foram analisados
e apenas os considerados potencialmente elegíveis foram
selecionados. De posse do material bibliográfico levantado, foi
realizada a leitura e releitura dos estudos, elaborando,
posteriormente, a revisão de literatura com base nos achados e
apresentando o que havia de mais relevante para o tema em
questão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Lima (2020), a desordem temporomandibular


(DTM) é um termo utilizado para designar uma série de
problemas clínicos envolvendo os músculos mastigatórios, a
articulação temporomandibular, estruturas associadas, ou
todos esses fatores. Esta, por sua vez, é caracterizada por dor
na região da ATM e músculos mastigatórios, limitação ou desvio
na movimentação mandibular e sons da ATM durante a função
da mandíbula.
Mor, Tang e Blitzer (2015), afirmam que a DTM é uma
causa comum de dor facial crônica e interfere nas relações
pessoais, nos deveres profissionais e na qualidade de vida em
geral.
Sua prevalência varia de acordo com os estudos, mas
cerca de 33% da população apresenta pelo menos um sintoma
característico de DTM. Elas podem ser infecciosas,
traumáticas, estruturais, inflamatórias, causas parafuncionais
ou genéticas, entre outras. As disfunções podem ser divididas
21
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

em articular e muscular. As articulares associadas a intra ou


extra articular, distúrbios nas estruturas internas das
articulações ou na articulação, cápsula e em suas estruturas
adjacentes (LIMA, 2020).
A literatura evidencia que a prevalência da DTM
muscular é consideravelmente superior à da DTM relacionada
apenas à articulação. Muitas das queixas relacionadas à dor
perto da ATM estão associadas à musculatura mastigatória e
não para a própria articulação. Portanto, é extremamente
importante que o dentista saiba os critérios diagnósticos para
esta disfunção, permitindo assim, que identifiquem o distúrbio e
iniciem um plano terapêutico eficaz (MOR; TANG; BLITZER,
2015; LIMA, 2020).
De acordo com os estudos de Sikora e colaboradores
(2020), é necessário um diagnóstico minucioso da etiologia da
dor, para que com isso, possamos realizar uma melhor ação
terapêutica. Injeções de toxina botulínica intramusculares no
músculo masseter resultou na redução bastante significativa na
intensidade e incidência da dor, refletindo também na redução
do uso de analgésicos pelos pacientes.
Devido a sua etiologia indefinida, o caráter auto
limitante e a altíssima eficácia recomendam a utilização inicial
de terapias não invasivas, reversíveis e conservadoras para os
pacientes que sofrem de DTM (HUAMANI et al., 2017;
PETROLLI et al., 2018).
Segundo Bicalho, Delgado e Borini (2015), o
profissional deve estabelecer um tratamento que esteja dentro
de suas expectativas, que seja individualizado e interdisciplinar,
já que a etiologia é multifatorial. Associadas ao tratamento
podem estar as áreas da fisioterapia, psicologia e
22
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

fonoaudiologia, já que, não só com aplicações estéticas,


também nos tratamentos de enfermidades na odontologia,
como no tratamento de disfunções e dores na articulação
temporomandibular e nas dores de cabeça de origem dentárias
que tem sido utilizada.
Para Rizzati-Barbosa, Albergaria-Barbosa e Oliveira
(2017), a toxina botulínica pode ser utilizada na odontologia,
uma vez que a legislação atual estabelecida pelo Conselho
Federal de Odontologia permitiu que a classe odontológica faça
uso deste fármaco, tanto com função terapêutica quanto como
elemento complementar na harmonização orofacial.
Uma opção viável para esses pacientes, especialmente
aqueles com DTM muscular, é a aplicação de toxina botulínica
tipo A. Esta neurotoxina tem proporcionado alívio de longo
prazo, reduzindo a intensidade, frequência e duração dos
episódios recorrentes, provando ser muito eficaz na melhoria da
qualidade de vida dos pacientes e, por isso, seu uso está se
difundindo (MOR; TANG; BLITZER, 2015; LIMA, 2020).
O efeito da toxina botulínica é a promoção do
relaxamento dos músculos que estão associados à mastigação,
ocorrendo deste modo, a diminuição da dor e propiciando a
função (PETROLLI, 2018).
A toxina botulínica é uma exotoxina de 150 quilodaltons
sintetizada pelo Clostridium botulinum (bactéria anaeróbia gram
positiva), que atua mediada pela clivagem de proteínas docking,
as quais são responsáveis pela fusão da membrana das
vesículas pré-sinápticas. A toxina botulínica do tipo A (BTX-A)
age clivando a proteína associada à membrana "proteína 25
associada ao sinaptossoma" (SNAP-25), que é um membro do
grupo "N” solúvel proteína receptora de proteína de fixação de
23
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

fator sensível a etilmaleimida, chamada SNARE (MOR; TANG;


BLITZER, 2015; SANJUAN-SANJUAN et al., 2019; LIMA,
2020).
A toxina botulínica do tipo B (BTX-B) cliva a
sinaptobrevina, que faz parte da proteína de membrana
associada à vesícula, ou VAMP. A clivagem dessas proteínas
de acoplamento leva ao enfraquecimento do músculo pela
inibição da liberação de acetilcolina (Ach) que acontece na
junção neuromuscular. Além de bloquear a atividade dos
músculos, a toxina botulínica é conhecida por realizar a inibição
da liberação de mediadores de várias glândulas secretoras,
incluindo glândulas salivares, glândulas sudoríparas e mucosa
nasal (MOR; TANG; BLITZER, 2015).
A literatura também reportou a ação da toxina sobre
neurotransmissores comprometidos na transmissão da dor,
como glutamato, substância P e gene relacionado com peptídeo
da calcitonina (GRPC), que apresentam importante função na
inflamação neurogênica. Por isso, a BTX-A é eficaz na redução
das dores musculares e alguns tipos de dores de cabeça
(HUAMANI et al., 2017).
Dentre os 7 tipos de toxina botulínica, o tipo A é o mais
utilizado por médicos e cirurgiões-dentistas. Seu efeito clínico é
notado a partir do 2º até 10º dia após a injeção e o efeito
máximo após o 14º dia de aplicação (LIMA, 2020).
As disfunções temporomandibulares são a causa mais
comum de dor orofacial, depois da dor dentária. Na sua
epidemiologia, pode afetar aproximadamente 70-80% da
população adulta entre 20 e 45 anos, o que o torna um problema
de saúde pública (BOGUCKI; KOWNACKA, 2016). Estudos
ainda relatam que a incidência das DTMs vem aumentando
24
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

entre o sexo feminino, principalmente entre mulheres de meia


idade (PETROLLI, 2018).
Para Mor, Tang e Blitzer (2015), os músculos mais
comumente afetados são o músculo temporal, o masseter e os
pterigóideos laterais. O músculo temporal e o músculo masseter
estão quase sempre envolvidos e geralmente se manifestam
como dor muscular direta. Já o envolvimento lateral dos
pterigóideos geralmente se manifesta como dor bucal, desvio
lateral da mandíbula ou bruxismo.
Kahn e colaboradores (2018) realizaram um estudo no
qual foram aplicadas injeções de toxina botulínica nos quatro
músculos mastigatórios principais: os dois músculos
masseteres e os dois músculos temporais. Foram injetados
regularmente, independentemente de os sintomas serem
unilaterais ou bilaterais. Segundo a técnica escolhida, a dose
total de 10U foi injetada com 100 μL em 10 locais: 3 locais por
masseter e 2 por músculos temporais. Resultou no aumento da
dose para 150U no caso de resposta insuficiente após muitas
injeções, ou reduzida para 50U para pacientes que
experimentaram alívio da dor.
Ainda no que diz respeito ao tratamento, no estudo
realizado por Huamani et al. (2017), foi injetado 25U no músculo
temporal e 50U no músculo masseter bilateralmente na região
de maior massa muscular. Foi avaliado, com base na escala de
dor, que a paciente relatou dor de maior intensidade (10) e após
5 dias da aplicação da toxina houve uma leve melhora relatada
(8). Com 30 dias da aplicação, houve uma melhora significativa
da dor (4), e a ausência de dor (0), foi relatada após 60 e 90
dias.

25
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Para Chen e colaboradores (2015), o BOTOX ® é


utilizado em doses de 100U a 150U para cada músculo. A
injeção é sempre intramuscular em 2 a 4 locais em cada
músculo. As injeções foram aplicadas bilateralmente para evitar
desequilíbrio muscular, o que poderia piorar os sintomas. A
eficácia da dose injetada depende da massa muscular e da
gravidade dos sintomas, e não há consenso sobre a dosagem
ideal.
No estudo feito por Mor, Tang e Blitzer (2015), foram
realizadas injeções sob a orientação de eletromiografia (EMG)
nos músculos temporal e masseter. Utilizou-se uma
concentração de 2,5U a 5U por 0,1 mL de Botox com uma dose
inicial de 10U a 25U para cada músculo temporal, 25U a 50U
para os músculos masseter e 7,5U a 10U para os pterigóideos
laterais. As doses seguintes foram individualizadas e baseadas
na resposta do paciente, além de levar em consideração a
difusão em cerca de 1 cm em cada local de injeção. Para evitar
uma resposta incompleta, os autores preconizaram o uso de
concentrações mais baixas em vários locais com volumes de
injeção maiores.
De forma consensual, pôde-se observar que o número
de unidades aplicadas de toxina botulínica tipo A é determinado
pela indicação, o tamanho do músculo e a severidade da
disfunção (LIMA, 2020).
É importante notar que a resposta de um paciente
individual à toxina pode mudar ao longo do tempo, o que reforça
ainda mais a importância da dosagem direcionada ao paciente.
Embora a duração típica da eficácia seja de 12 semanas,
observa-se uma variabilidade entre os pacientes com relação à
frequência de dosagem ideal. Alguns desses experimentam um
26
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

alívio muito além da duração farmacocinética prevista do


medicamento, apoiando a possibilidade de que a toxina
botulínica não atue estritamente na periferia e possa estar
envolvida na neuromodulação ao nível do sistema nervoso
central (MOR; TANG; BLITZER, 2015).
Nos aspectos gerais, as marcas comerciais de toxina
botulínica não são todas armazenadas da mesma forma. A
maioria delas, como Botox®, Dysport® e Prosigne®, em sua
embalagem intacta, devem ser conservadas em freezer com
temperatura de - 5ºC ou inferior, ou em geladeira com
temperatura entre 2º e 8º C, como recomenda o fabricante
(BOTOX®, 2015; DYSPORT®, 2015; PROSIGNE®, 2017). Já
o produto da marca Xeomin® pode ser conservado antes da
reconstituição em temperatura ambiente entre 15ºC e 30ºC, de
acordo com o fabricante (XEOMIN®, 2013). Após a
reconstituição do produto, todos os fabricantes recomendam a
conservação do produto sob refrigeração entre 2ºC e 8ºC
(BOTOX®, 2015; DYSPORT®, 2015; PROSIGNE®, 2017;
XEOMIN®, 2013).
O efeito analgésico da toxina botulínica, além do alívio
do estresse para a musculatura, tem efeito diretamente sobre
os nociceptores e o sistema nervoso parassimpático, afetando
desse modo o processamento da dor (MOR; TANG; BLITZER,
2015).
Sobre as falhas e efeitos adversos, foi observado que a
injeção de toxina botulínica para DTM é administrada em doses
relativamente pequenas e muito abaixo da dose letal estimada
de aproximadamente 3.000 unidades. Devido a este perfil de
dosagem relativamente baixo, os efeitos adversos são
geralmente incomuns e leves. O efeito adverso mais comum é
27
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

a dificuldade de mastigar, que resulta da fraqueza muscular


local e geralmente depende da dose. A atrofia é outro risco do
procedimento que pode resultar em alterações estéticas (MOR;
TANG; BLITZER, 2015; LIMA, 2020).
Um volume mais alto de toxina botulínica aumenta o
risco de difusão da toxina para áreas próximas, o que pode
causar ptose da sobrancelha, blefaroptose ou diplopia se o
músculo temporal for injetado muito próximo à órbita. A
assimetria facial pode ocorrer se o músculo masseter for
injetado muito próximo ao zigomático maior. Portanto,
recomendamos direcionar a agulha lateralmente ao injetar para
minimizar este efeito de difusão. Pode ocorrer boca seca se a
toxina botulínica for injetada na glândula parótida. Síndromes
semelhantes à gripe raramente ocorrem e geralmente são de
curta duração. Além disso, com qualquer injeção, há um risco
inerente associado à punção com agulha, como hematomas e
sensibilidade local (MOR; TANG; BLITZER, 2015).
Para Lima e colaboradores (2020), dor no local da
aplicação, hematomas, edema, náuseas, prurido, síndrome
semelhante à gripe, problemas ao articular as palavras,
infecção, disfagia, disfonia, ptose, assimetria do sorriso entre
outros, são considerados efeitos adversos da toxina botulínica.
No entanto, para evitar tais efeitos, é necessário planejamento
eficaz e atenção do cirurgião-dentista no que antecede e
durante o procedimento, é também de grande importância que
ele, enquanto especialista, aconselhe o paciente sobre a
possibilidade de ocorrer tais efeitos adversos.
Conhecer a dosagem, ter precisão na técnica e saber a
localização correta da injeção é fundamental (LIMA, 2020).

28
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Os efeitos adversos das injeções de toxina botulínica


são incomuns, leves e transitórios, tornando-a uma opção
atraente na terapia adjuvante para DTM miofascial em
pacientes que falharam na terapia conservadora inicial e na
farmacoterapia sistêmica (MOR; TANG; BLITZER, 2015).
Existe algumas contra-indicações para o uso da toxina
botulínica, são elas: aplicação durante a gravidez e/ou período
de lactação; inflamação ou infecção no local da injeção;
pacientes alérgicos à albumina humana, solução salina ou à
própria toxina botulínica; algumas doenças autoimunes;
distúrbios de transmissão; problemas neuromusculares;
pacientes recém imunizados contra o tétano; pessoas que
utilizam medicamentos que interferem na transmissão
neuromuscular (bloqueadores dos canais de cálcio e
aminoglicosídeos) (LIMA, 2020).
Segundo Sunil e colaboradores (2015), a toxina
botulínica tem se mostrado eficaz no tratamento da dor orofacial
decorrente de distúrbios musculoesqueléticos.

CONCLUSÕES

Pode-se concluir que o cirurgião-dentista deve possuir


conhecimento sobre as estruturas de cabeça e pescoço, é de
sua responsabilidade tratar patologias da face e cavidade oral
de forma conservadora e segura com a aplicação da toxina
botulínica, desde que possua treinamento específico e
conhecimento sobre sua utilização.
Ante o exposto, foi observado na literatura, o uso da
toxina botulínica tipo A para casos de disfunção
temporomandibular é uma alternativa de tratamento
29
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

complementar segura, rápida e eficaz, proporcionando aos


pacientes a redução da sensação dolorosa, bem como a
melhoria da sua qualidade de vida. Porém, o seu alto custo e
duração temporária, exigindo reaplicações, são desvantagens
apresentadas.
Sugere-se que mais estudos acerca deste tema sejam
realizados, analisando variáveis como amostra, tempo e
avaliação da dor. Sobretudo, o planejamento individual na
terapêutica do paciente é inteiramente relevante no quesito do
êxito dos resultados da terapia com a toxina botulínica.

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prático de técnicas e produtos. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan
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30
EFETIVIDADE DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO TRATAMENTO DA
DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

alternativa de tratamento. Revista Associação Brasileira de Odontologia, 2014.


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SUNIL, S. M. et al. Toxina botulínica para o tratamento de linhas hiperfuncionais da
testa. J Int Soc Prev Community Dent. v.5, n.4, p.276-82, 2015.

31
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

CAPÍTULO 2

INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA


BOTULÍNICA
Amanda de Oliveira Pereira1
Amanda de Araujo Barros1
Lucila Tavares Beserra de Vasconcelos Lira1
Maria Laura Pimentel Andrade da Rocha1
Roseanne da Cunha Uchoa2
1 Graduandos do curso de Odontologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do
DOR/UFPB.
roseanneuchoa@gmail.com.br

RESUMO: A toxina botulínica é produzida pelo Clostridium


botulinum, bactéria anaeróbia gram-positiva, que sintetiza sete
sorotipos distintos, identificados de A a G. O sorotipo A é o mais
potente e atua inibindo a exocitose da acetilcolina nos terminais
nervosos motores levando ao bloqueio da contração muscular.
Sua indicação inclui o uso terapêutico e cosmético, como
redução das rítides faciais dinâmicas. Embora apresente alta
margem de segurança, a injeção de toxina botulínica tipo A
(TBo A) na região da face pode levar a efeitos adversos. O
objetivo desse trabalho foi verificar as intercorrências
relacionadas ao uso da toxina botulínica tipo A na região da
face, através de revisão de literatura. A pesquisa foi realizada
nas bases de dados Scielo, Medline e Pubmed, utilizando os
descritores “toxinas botulínicas tipo A”, “efeitos adversos”,
“ptose palpebral”, “efeito adverso no local de injeção” e
“estética”. Foram selecionados artigos dos últimos cinco anos
que relatassem intercorrências relacionadas ao uso da toxina
botulínica tipo A em face. O presente trabalho permitiu concluir
que os eventos adversos associados ao uso da TBo A na região
da face incluem dor, hematoma, edema, eritema, blefaroptose,
32
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

miopia, dispnéia, estrabismo e assimetria, dentre os quais


foram mais freqüentes dor, hematoma e edema. Complicações
graves são raras; e é de suma importância que o profissional
esteja apto a evitar e tratar possíveis intercorrências.
Palavras-chave: Toxinas botulínicas tipo A. Efeitos adversos.
Ptose palpebral. Efeito adverso no local de injeção. Estética.

INTRODUÇÃO

A história da toxina botulínica originou-se em 1817,


quando Justinus Kerner foi responsável por relatarcasos
clínicos de envenenamento por salsichas contaminadas,
descrevendo os sinais e sintomas do que hoje seria identificado
como botulismo. Nesse contexto, durante bastante tempo o
botulismo ficou conhecido por Doença de Kerner. Ele concluiu
que o veneno agia por meio da excitabilidade do sistema
nervoso motor e autonômico (BARBOSA; BARBOSA, 2017).
As hipóteses de Kerner relacionadas à “toxina da
salsicha”, dizem que a toxina se desenvolve em salsichas
deterioradas, sob condições anaeróbicas, agindo sobre os
nervos motores e sistema nervoso autônomo. Além disso, que
a toxina é letal mesmo em pequenas doses. Por meio desse
raciocínio, baseado no mecanismo de ação da toxina,
desenvolveu-se a hipótese de utilizar a toxina para fins
terapêuticos (BARBOSA; BARBOSA, 2017).
As toxinas produzidas porClostridium botulinum
possuem cerca de sete sorotipos diferentes, denominadas por
letras: A, B, C, D, E, F e G. Apesar da semelhança estrutural,
os sítios de ação dos sorotipos são diferentes, resultando em
efeitos diversos. No Brasil, apenas o tipo A é liberado para uso
clínico (FILHO; SILVA; ALMEIDA, 2016).

33
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

Em 1989, após vários trabalhos clínicos e laboratoriais,


aTBoA, foi aprovada pela Food andDrugAdministration (FDA)
dos EUA como um agente terapêutico no tratamento de
pacientes com estrabismo, blefarospasmo e outros distúrbios
do nervo facial, incluindo o espasmo hemifacial (AYRES;
SANDOVAL, 2016).
A toxina botulínica tipo A também é utilizada no
tratamento de rugas dinâmicas ou funcionais, resultantes de
expressões faciais repetitivas e padrões musculares. É efetiva
no rejuvenescimento facial, atuando de forma invasiva, porém
não cirúrgica. As intercorrências de seu uso, em sua maioria,
ocorrem por erro na dosagem e podem ser evitadas com a
aplicação correta e conhecimento minucioso da anatomia
muscular da face (SANTOS; MATTOS e FULCO, 2015).
Os efeitos da Toxina Botulínica podem ser sentidos por
volta do quarto dia após aplicação, com efeito máximo no
décimo quarto dia e duram em torno de 3 a 4 meses. Contudo,
a aplicação pode gerar alguns efeitos adversos e complicações
decorrentes da injeção ou do produto. A maioria destas
adversidades são consideradas leves e transitórias, porém,
causam desconforto e inquietação no paciente(SPOSITO,
2004).
As complicações relativas são evitáveis ou facilmente
revertidas e as raras têm incidência muito baixa. A formação de
anticorpos causa efeito altamente indesejável, e com isso,
requer cuidados especiais. As complicações descritas,
normalmente, estão relacionados ao pouco conhecimento da
região anatômica ou ao erro de técnica, tanto na avaliação
clínica e funcional do paciente quanto no erro de dose ou de
diluição (SPOSITO, 2004).

34
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

Essa revisão de literatura teve por objetivo apresentar


as principais intercorrências associadas ao uso da toxina
botulínica tipo A na região da face.

MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo é uma revisão de literatura obtida a partir


de pesquisa bibliográfica nas bases de dados Scielo, Pubmed
e medline. Foram utilizados os descritores “toxinas botulínicas
tipo A”, “efeitos adversos”, “ptose palpebral”, “efeito adverso no
local de injeção” e “estética”,com o objetivo de encontrar artigos
relacionados ao uso estético da toxina botulínica que
contivessem efeitos adversos ou intercorrências relatados.
Foram incluídos neste trabalho artigos em inglês,
português ou espanhol,dos últimos cinco anos, buscando uma
literatura mais atualizada a respeito do tema. Os artigos foram
analisados através da leitura dos resumos, selecionando-se
apenas aqueles que tratassem de forma completa alguma das
intercorrências que buscávamos no estudo. Foram excluídos os
artigos que não apresentassem a versão completa disponível
na web,que tratassem do uso de TBo A em animais e que não
apresentassem fundamentação consistente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O uso da toxina botulínica para fins estéticos tornou-se


cada vez mais popular devido a sua eficácia e ao número baixo
de intercorrências. Apesar de ser um tratamento invasivo, a
aplicação de TBo A apresenta, normalmente, sintomatologia
muito bem tolerada pelos pacientes. Apesar disto, é necessário

35
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

que o profissional que realiza a aplicação tenha plenos


conhecimentos de anatomia facial, manipulação do fármaco e
segurança na realização do procedimento.
Alguns fatores referentes ao tratamento com TBo A
escapam da habilidade do profissional e podem interferir no
prognostico do tratamento. Reações alérgicas, posturas
inadequadas do paciente após a aplicação, massagens na
região, bem como a existência de variações anatômicas podem
acarretar em efeitos indesejáveis para o paciente. Dessa forma,
se faz necessário conhecimentos acerca das possíveis
intercorrências relacionadas à TBo A, para que o profissional
seja capaz de oferecer ao paciente o melhor tratamento
possível nestes casos.
As complicações prováveis decorrentes do uso da
toxina botulínica podem ser divididas, conforme Sposito (2004),
entre relativas, raras e descritas (Quadro 1).
Quadro 1. Complicações no uso de Toxina Botulínica Tipo A
Dor Hematoma Sensação de Edema Sintomas Sintomas
Risco
perda de discreto gripais Gastro
relativo
força Intestinais
Alergia - Formaç
Diplopia,
erupção de ão de -
dificuldade de Sudoraçã
Raras pele difusa Atrofia focal anticorp
acomodação o alterada
(anafilaxia os (3-
visual
não descrita) 5%)
Disfagia Alteração da Assimet Fraqueza
Ptose de expressão ou ria muscular
Descri Alteração
pálpebra e de face intensa ou
Tas funcional
sobrancelhas paralisada generalizada
(máscara)
Fonte: Sposito, 2004.

O objetivo desejável no tratamentro com a neurotoxina


é a modulação da atividade muscular, apesar do entendimento
original ser para paralisia dos músculos alvo (SUNDARAM; et

36
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

al. 2016). É considerado um tratamento relativamente seguro,


mas requer plenos conhecimentos de anatomia da face,
manipulação do produto e habilidade do profissional.
Eventualmente, a sua aplicação pode causar efeitos adversos
e complicações, que, na maioria das vezes, são considerados
leves e transitórios, regredindo na primeira hora após a
aplicação. No entanto, podem gerar desconforto e preocupação
ao paciente (SANTOS; MATTOS e FULCO, 2015).
A região anatômica da face inclui a pele, tecido
subcutâneo, camada musculoaponeurótica, artérias,
veias,vasos linfáticos e nervos. A toxina botulínica atua na
contração da camada muscular, e a anatomia deve ser
compreendida e respeitada de forma a evitar que esta toxina
invada outras estruturas. O uso da toxina nos diversos
músculos da face é capaz de atenuar as rugas dinâmicas
(PARK, 2019).
Os principais músculos em que se realiza a aplicação
de toxina são: músculo occipto frontal, em seu ventre frontal,
responsável por formar as rugas horizontais na região da testa;
músculo orbicular do olho, para atenuar rugas nos cantos dos
olhos; músculo orbicular da boca, para atenuar enrrugamento
dos lábios; prócero e corrugador do supercílio, para rugas na
região da glabela; músculo nasal e depressor do septo nasal,
para empinar o nariz; levantador do lábio superior, na correção
do sorriso gengival; zigomático maior, para correção de sorriso
assimétrico. É imprescindível que o profissional que irá aplicar
a toxina para esses procedimentos compreenda as relações
espaciais desses músculos, bem como de vasos e nervos
envolvidos, para garantir o melhor prognóstico possível ao
tratamento (PARK, 2019).

37
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

Existem tipos de intercorrências na aplicação da toxina


botulínica tipo A, dentre as quais destacam-seedema, dor,
hematoma, equimose, náusea, cefaleias, assimetria, dispineia,
estrabismo e anafilaxia (SANTOS; MATTOS e FULCO, 2015).
Edema, Dor e Eritema
O edema caracteriza-se como o acúmulo de líquido no
tecido e tende a ser proporcional à quantidade de diluições da
toxina botulínica aplicada. De forma geral, não é necessário
realizar tratamento, pois regride espontaneamente na
primeirahora após a aplicação (SANTOS; MATTOS e FULCO,
2015).
Como descrito por Nascimento (2016) e Santos, Mattos
e Fulco (2015), a dor é um sintoma normal e regride após as
primeiras horas da aplicação. Ela decorre do trauma da injeção,
podendo o mesmo causar também edema e eritema. Eritema
é a vermelhidão da pele, devido à vasodilatação dos capilares
cutâneos, e em pacientes com flacidez associada, um edema
vespertino pode ocorrer, cedendo com o decorrer do dia. Para
que a dor seja minimizada, podem ser utilizadas agulhas de
calibres menores e para peles mais sensíveis um anestésico
tópico antes da aplicação.
De acordo com o estudo realizado por Chang et al.
(2015), o edema de pálpebra após injeção com a toxina
botulínica pode ser causado pelo comprometimento do retorno
venoso e linfático contra a gravidade devido diminuição do
tônus muscular da pálpebra. Além disso, a aplicação de
compressa quente, automassagem da área e movimentação
frequente da pálpebra com o ato de piscar foram suficientes
para haver a remissão dos sintomas (CHANG; et al. 2015).

38
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

Hematoma e Equimose
De acordo com Sorensen e Urman (2015), algumas
áreas da face são ricamente vascularizadas e devido a isso
podem favorecer complicações, como a equimose. A equimose
decorre de lesões nos vasos sanguíneos por meio de injeções,
e devido a isso podem provocar hematomas.Na ocorrência de
lesão vascular, a compressão da área por alguns minutos é útil
para auxiliar a hemostasia. A região periorbitária é área com
maior risco de equimose, pois possui pele fina e os vasos
sanguíneos são calibrosos e superficiais.
O uso de anticoagulantes, antiinflamatórios não
esteroidais, suplementos de óleo de peixe e outros fatores
capazes de aumentar as equimoses após os procedimentos,
devem ser evitados, mas não são contra-indicados.Aplicações
de compressas frias ou gelo na região tratada após a injeção
podem ajudar a minimizar o inchaço e hematomas
(SUNDARAM; et al. 2016).
Conforme Ayres e Sandoval (2016), o uso de
anticoagulantes orais, ginkgo biloba (planta medicinal) e ácido
acetilsalicílico não representa contraindicação absoluta ao uso
da toxina, sendo importante informar ao paciente sobre maior
risco de formação de equimoses ou hematomas nos locais de
aplicação. Outros medicamentos que também poderiam
aumentar esse risco seriam os antiinflamatóriosnão hormonais
e o alfatocoferol (forma mais ativa da vitamina E).
Náusea e cefaleias
Nascimento (2016) e Santos, Mattos e Fulco (2015),
explicam que alguns pacientes podem relatar náuses e dores
decabeça após aaplicação da toxina botulínica, que regride
algumas horas após a aplicação. Alguns pacientes podem

39
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

sentir dores mais intensas que podem durar dias, fazendo-se


necessário a prescrição medicamentosa.
Ayres e Sandoval (2016), discorrem que apesar de
pouco descrita, a cefaleia pode ser induzida pela aplicação da
TBA. Se apresenta normalmente na região frontal, com etiologia
ainda desconhecida. Alguns autores acreditam que pode ser
decorrente do trauma da aplicação, podendo durar de 1 a 4
semanas, sendo muitas vezes necessário o uso de analgésicos
para seu controle. Concluem ainda que a dor de cabeça esteja
relacionada com uma reação de idiossincrasia à injeção da TBo
A. No entanto, a TBo A vem sendo usada de forma
terapêuticano tratamento de enxaquecas e cefaleia migratória
com muito sucesso, reduzindo o número e a intensidade das
crises.
Paralisia ou enfraquecimento dos músculos
adjacentes
A toxina botulínica é um material que tem facilidade em
se difundir através de tecidos. Dessa forma, aplicações em
excesso, em locais inadequados, massagens após o
procedimento e até mesmo posturas que o paciente se
mantenha podem difundir a toxina para músculos adjacentes,
causando enfraquecimento ou paralisia dos mesmos. Também
pode ocorrer o mesmo efeito quando um músculo antagonista
ao que foi aplicada a toxina reage, se tornando hipercinético.
Por essa razão, não é recomendado aplicar toxina em apenas
um ponto da face, de forma a se evitar o aparecimento de rugas
compensatórias (AYRES; SANDOVAL, 2016).
Ptose labial
A ptose labial com assimetria do sorriso pode ocorrer
devido à difusão da toxina aplicada em região lateral do

40
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

músculo orbicular do olho ou pelo tratamento lateral do músculo


nasal para o músculo levantador do lábio superior ou músculo
zigomático maior. O acometimento impossibilita elevar o lábio
superior ou abrir a boca gerando assimetria do sorriso. O lábio
inferior também pode ser acometido com assimetria após o
tratamento do músculo abaixador do ângulo da boca, difundindo
para o músculo abaixador do lábio, relaxando-o (AYRES e
SANDOVAL, 2016).
Assimetrias
As assimetrias faciais podem ocorrer devido pontos de
aplicação ou quantidade de toxina botulínica desproporcionais.
Apesar de pequenas assimetrias fisiológicas serem
consideradas normais, após 30 dias do procedimento, pode-se
realizar o retoque da aplicação para correção da complicação
(SANTOS; MATTOS e FULCO, 2015).
A toxina botulínica quando aplicada na região perioral
pode afetar a função de esfíncter do músculo orbicular da boca,
dificultando tarefas como assoviar, apitar, pronunciar o “p” e o
“b”, cuspir, comer com colher, tocar instrumentos de sopro, por
exemplo. Em alguns casos extremos pode ocorrer fraqueza do
músculo orbicular, gerando assimetria e incapacidade de reter
a saliva, levando o paciente a babar sem controle (AYRES e
SANDOVAL, 2016).
Deformidades
De acordo com Chen, et al. (2019) a ocorrência
incomum de ruga horizontal durante o sorriso em lábio superior
após aplicação da toxina botulínica tipo A, pode ser explicada
de acordo com a dinâmica fisiológica no processo do sorriso.
Os músculos envolvidos na dinâmica (levantador do lábio
superir e asa do nariz, levantador do lábio superior, zigomático

41
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

maior, menor e o risório), atuam puxando o lábio superior em


diferentes direções. No caso descrito pelos autores, os
músculos levantadordor do lábio superior e asa do nariz e o
levantador do lábio superior estavam paralisados e dessa forma
falharam em tracionar a parte superior do lábio superior para
cima, resultando em uma redundância de tecido labial nesta
parte durante o sorriso. Já os músculos zigomático maior e
menor estavam ativos após a aplicação, gerando puxão lateral
do lábio superior, que resultou em um afinamento da metade
inferior do lábio superior. Dessa forma, a diferença de
espessura foi responsável por causar a ruga horizontal no
paciente durante o sorriso.
Ptose palpebral
A ptose palpebral ocorre quando há difusão excessiva
da toxina na região do músculo frontal, ocorrendo devido a
interferência na função do músculo levantador da pálpebra
superior. Deve-se evitar altas doses da substância, injetar
lentamente e pressionar firmemente o globo ocular prevenindo
a difusão para a região orbital. Geralmente aparece no segundo
dia após o procedimento e utiliza-se como terapia
medicamentosa um colírio a base de apraclonidina provocando
midríase e estimulação do músculo de Muller na pálpebra
superior (PERO; LANERE e FICO, 2018).
Estrabismo e Diplopia
A toxina botulínica é utilizada nos músculos periorbitais
para reduzir linhas de expressão, correção da altura das
sobrancelhas e tratar blefaroespasmos. Essa área de aplicação
pode gerar efeitos colaterais indesejáveis como o estrabismo e
diplopia. Para o tratamento da região microdoses são mais
eficazes e seguras devido o grande índice de complicações

42
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

com a aplicação nos pontos tradicionais (OLIVEIRA; ROSSI e


MOREIRA, 2016).
A injeção próxima à borda inferior da pálpebra pode
causar ectrópio e outras complicações relacionadas com o
tratamento dos músculos orbiculares dos olhos,como o
estrabismo e diplopia, quando a toxina botulínica migra para a
musculatura ocular extrínseca; também existe o risco de ptose
da pálpebra superior, devido à proximidade com o músculo que
eleva essa estrutura (AYRES; SANDOVAL, 2016).
Infecção
O uso de material perfurante em pele traz consigo o
risco de levar contaminantes para dentro do corpo. De acordo
com Lima (2015), não é comum o relato de infecções
associadas ao uso de toxina botulínica. No entanto, ele relata
um caso que corresponde a este diagnóstico. A paciente
apresentou nódulos eritematosos, edemaciados, quentes e
sensíveis nos pontos correspondentes à aplicação da toxina
botuçínica. Ao exame de punção, foi encontrado infiltrado
inflamatório epitelióide granulomatoso e tecido purulento.
A contaminação do procedimento pode ocorrer em
diversas etapas: na contaminação do anti-séptico usado na pele
antes do procedimento, no uso de agulhas não estéreis, na
água utilizada para diluição da toxina ou em produtos usados
pelo paciente após a aplicação. Dessa forma. é imprescindível
que o profissional se atente a todos os protocolos de segurança
recomendados pelo fabricante, de forma a evitar a ocorrência
de infecções (SAEB-LIMA, 2015).
Cuidados como remoção de toda a maquiagem,
higienização meticulosa da pele antes, durante e após a injeção
e técnica de injeção estéril, procurando evitar regiões ricas em

43
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

bactérias, como folículos capilares, são recomendados para


minimizar a contaminação evitável (SUNDARAM, 2016).
Alguns protocolos podem minimizar a ocorrência de
efeitos adversos, são estes: conhecimento anatômico da face;
fotografar no dia da aplicação e após o resultado; recomendar
que o paciente não massageie a região nem permaneça
deitado; realizar diluição de acordo com o preconizado pela
marca; não realizar aplicação muito próximo a borda orbitária;
em casos de aplicações na ária orbital, considerar a aplicação
de microdoses (OLIVEIRA; ROSSI; MOREIRA, 2016)
(SANTOS; MATTOS; FULCO, 2015).
Prurido
Conforme Ayres e Sandoval (2016), o primeiro caso de
prurido relatado, localizado em dorso e pescoço após injeção
da toxina botulínica por uso terapêuticoem dor neuromuscular,
foi publicado recentemente por Ho e Jagdeoet al. (2015). No
artigo, o paciente apresentou prurido significativo nos 5 dias
após receber 100 U de toxina onabotulínica A (ONA, Botox®)
reconstituída em 5 ml de solução salina, aplicada no pescoço e
na metade superior do dorso. Ainda que o paciente fizesse uso
de outras medicações orais cotidianamente, o diagnóstico foi
conferido à injeção de TBA devido ao tempo entre a aplicação
e o início dos sintomas.
Anafilaxia
Ayres e Sandoval (2016), relatam que trabalhos
realizados comonabotulínica A (ONA, Botox®) e abobotulínica
A (ABO, Dysport®) associados à lidocaína e à epinefrina
mostraram manutenção do efeito clínico com redução da dor.
Contudo, consideram imprescindível discorrer que o uso de
lidocaína associada a toxina botulínica pode aumentar a

44
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

possibilidade de reação anafilática. Na literatura há um caso


fatal de anafilaxia após a injeção de uma mistura de ONA e
lidocaína, não sendo possível estabelecer qual fármaco foi o
responsável pela reação. Outro estudo citado por Ayres e
Sandoval (2016), do tipoduplocego randomizado avaliou a
reconstituição da ONA com bupivacaína a 0,75%; relatando a
redução precoce da força muscular, sem alteraçãona eficácia e
duração dos efeitos, entretando com menos dor ao
procedimento. A ação mais rápida foi atribuída a um provável
efeito sinérgico, induzindo miotoxicidade.

Tabela 1. Efeitos adversos relatados no uso de Toxina


Botulínica Tipo A
Equimo Anafil
Edema, Assimetria e
Estrabismo se ou axia
Autor dor e Brefaroptose deformidad
ou diplopia hemato
eritema e
ma
LACORDIA,
X X
(2014)
FERREIRA;
X X X X X
MACIEL (2019) X
OLIVEIRA;
ROSSI;
X X X X
MOREIRA,
(2016)
CHANG, (2015) X
CHEN,(2019) X
SANTOS,
MATTOS E X X X X
FULCO, (2015)
NASCIMENTO
X X X X
(2016)
SORENSEN e
X X X X
URMAN (2015)
AYRES;
SANDOVAL X X X X
(2016)
Fonte: Autores

45
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

A melhor forma de evitar possíveis intercorrências é o


cumprimento dos protocolos de aplicação, uso de toxinas de
confiança de acordo com a recomendação do fabricante e
repassar instruções precisas após o procedimento. É
necessário ainda que o paciente seja informado dos possíveis
efeitos adversos antes de realizar o tratamento.

CONCLUSÕES

Esse estudo possibilitou concluir que as intercorrências


relacionadas à utilização de toxina botulínica tipo A na região
da face são dor, edema, eritema, hematoma, equimose,
náusea, cefaléia, ptose labial, assimetrias, deformidade, ptose
palpebral, estrabismo, diplopia, infecção, prurido e anafilaxia. É
imprescindível que o profissional possua habilidade e
capacitação para utilização de TBo A, conhecimentominuncioso
da região anatômica, realize um bom diagnóstico e
planejamentoinduvidualizado, e esclareça ao paciente todas as
recomendações após o procedimento, a fim de minimizar a
ocorrência de eventos adversos.

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46
INTERCORRÊNCIAS NO USO DE TOXINA BOTULÍNICA

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47
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

CAPÍTULO 3

TRATAMENTO DA NEURALGIA
TRIGEMINAL COM TOXINA BOTULÍNICA
TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA
LITERATURA
Auxilandia Albuquerque dos SANTOS1
Bárbara Rachelli Farias TEIXEIRA1
Iasmim Lima MARQUES1
Karla Veruska Marques Cavalcanti da COSTA2
Roseanne da Cunha UCHOA3
1
Graduandas do curso de Odontologia, UFPB; 2 Professora do DFP/UFPB;
3
Orientadora/Professora do DOR/UFPB
estudoauxi@gmail.com

RESUMO: A neuralgia do nervo trigêmeo (NT) é umas das


neuropatias mais comuns, caracterizada por dores agudas e
intensas que envolvem a região orofacial. Muitas modalidades
terapêuticas utilizadas no controle e tratamento da neuralgia do
trigêmeo incluem a terapia medicamentosa, intervenções
cirúrgicas e bloqueios de nervos. A Toxina Botulínica tipo A
(TBo A) é uma neurotoxina que bloqueia a liberação de
acetilcolina e neuropeptídeos nociceptivos locais, inibindo
neurogênicos da inflamação e sensibilização periférica. Esse
estudo teve por objetivo revisar a literatura científica sobre a
utilização da toxina botulínica tipo A em casos de neuralgias do
nervo trigêmeo. Utilizaram-se as bases de dados Pubmed,
Scielo, Google Scholar e BVS para busca das referências, a
partir dos descritores “Toxina botulínica tipo A”, “Botulinum toxin
type A”, “neuralgia”, “nervo trigêmeo” e “Trigeminal nerve”, com
limite temporal de 2015 a 2020. Identificaram-se 348

48
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

referências científicas, dentre as quais 23 viabilizaram a


composição desse estudo. Foram reportadas considerações
clínicas, conduta terapêutica, dosagem, técnica, solvente para
diluição, efeitos adversos na utilização da TBo A em caos de
neuralgia trigeminal. Concluiu-se que o uso da toxina botulínica
tipo A em pessoas com neuralgia do nervo trigêmeo mostrou
eficácia, promovendo benefícios como o alívio da dor e melhoria
da qualidade de vida dos pacientes.
Palavras-chave: Toxina botulínica tipo A. Neuralgia. Nervo
trigêmeo.

INTRODUÇÃO

A toxina botulínica é um produto advindo da


fermentação realizada pela bactéria anaeróbia gram-positiva
Clostridium botulinum e é considerada uma das neurotoxinas
mais potentes. O envenenamento causado por meio da
ingestão de alimentos contaminados com a toxina botulínica,
até mesmo em pequenas doses, provoca uma doença
conhecida por Botulismo, que é potencialmente letal e foi
responsável por diversas mortes ao longo da história (WU et al.,
2017).
A partir da observação de surtos de botulismo (1793) e
através da condução de experimentos clínicos (1817-1822) pelo
médico alemão Justinus Kerner, foi possível estabelecer
hipóteses sobre a fisiopatologia relacionada a esse processo de
intoxicação. Esse pesquisador tornou-se o fundador intelectual
da terapia moderna de utilização da toxina botulínica, através
da análise da interrupção na sinalização dos sistemas nervosos
autônomo e somático e a possibilidade de uso em bloqueio de
hipersecreção (POSSO, PALMEIRA, VIEIRA, 2016).
49
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

A descoberta do agente bacteriano Clostridium


botulinum e seu mecanismo de ação responsável pela
toxicidade referente ao botulismo (1897) foi atribuída ao
professor Emile Van Ermengen (DALL'MAGRO et al., 2015).
A toxina exerce seu efeito a partir da ligação aos
receptores terminais encontrados nos nervos motores da
estrutura muscular e o bloqueio da liberação de acetilcolina na
fenda sináptica, não permitindo a despolarização do terminal
pós-sináptico e, assim, bloqueando a contração da musculatura
(POSSO, PALMEIRA, VIEIRA, 2016).
No contexto atual, a toxina botulínica é classificada em
oito tipos sorológicos, sendo sete neurotoxinas conhecidas
(tipos A, B, C, D, E, F e G) que se apresentam estruturalmente
semelhantes, mas com a sorologia e o padrão antigênico
diferentes. Os tipos A, B, E e F são conhecidos como
causadores do botulismo humano e os tipos C e D causadores
da toxicidade animal (BARBOSA, BARBOSA, 2017; POSSO,
PALMEIRA, VIEIRA, 2016).
Dessa forma, os sorotipos A e B da toxina botulínica
foram aprovados para uso pela Food and Drug Administration
(FDA - Agência Federal do Departamento de Saúde e Serviços
Humanos dos Estados Unidos) (SCHLOSSER et al., 2016). No
Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
regulamentou a aprovação de utilização apenas da toxina
botulínica tipo A (COSTA, XAVIER, CARDOSO, 2017).
Segundo Zhang et al. (2017), o emprego da TBo A está
indicado em condições que envolvem distonias cervicais,
estrabismo, blefaroespasmo, espasmos hemifaciais,
hiperatividade do músculo detrusor e em rugas faciais.

50
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Crescentes investimentos em estudos subsequentes


tem sido empregados para análise e definição sobre a eficácia
dessa neurotoxina proteica no tratamento de pacientes que
sofrem de dores crônicas e os benefícios atrelados a essa
conduta clínica (BORU, 2017; POSSO, PALMEIRA, VIEIRA,
2016).
Pesquisas demostraram que a aplicação de TBo
A, por meio de injeções locais intradérmicas ou submucosas,
ocasionou alteração sobre o tônus muscular com resposta
eficaz e segura no alívio dessa sintomatologia dolorosa (LIU et
al., 2017; WU et al., 2017).
Esse estudo teve por objetivo revisar a literatura
científica sobre a utilização da toxina botulínica tipo A em casos
de neuralgias do nervo trigêmeo.

MATERIAIS E MÉTODO

Realizou-se uma revisão integrativa da literatura com


caráter descritivo exploratório, utilizando coleta de informações
para a avaliação crítica e síntese de evidências disponíveis
sobre a temática.
A revisão integrativa como ampla abordagem
metodológica referente às revisões, permite incorporar estudos
que envolvem conceitos, teorias, evidências e análise de
problemas metodológicos para gerar um arcabouço
compreensível de definições, teorias ou problemas de saúde
relevantes.
Para o levantamento desses estudos, foram realizadas
as etapas de elaboração da pergunta norteadora, busca na
literatura, coleta de dados, análise crítica dos estudos incluídos,
51
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa


(SOUSA et al., 2017). À vista disso, foi delineada a questão
norteadora: “Qual a eficácia encontrada em tratamentos
utilizando a toxina botulínica tipo A para a neuralgia
trigeminal?”.
A busca na literatura ocorreu durante o mês de
setembro de 2020 nas seguintes bases de dados: PubMed
(U.S. National Library of Medicine), Scielo (Biblioteca Eletrônica
Científica Online), Google Scholar e BVS (Biblioteca Virtual em
Saúde). Os descritores utilizados na pesquisa foram: “Toxina
botulínica tipo A”, “Botulinum toxin type A”, “neuralgia”, “nervo
trigêmeo” e “Trigeminal nerve” associados ao operador boleano
AND. Como critérios de inclusão: estudos publicados nas bases
de dados referenciadas, limite temporal de 2015-2020, texto
disponível integralmente, idiomas inglês, português e/ou
espanhol e cujo título ou resumo fizessem referência à temática.
Dois artigos que não estão no intervalo de tempo foram
contemplados em razão da relevância de seus achados. Foram
excluídos: artigos repetidos em bases de dados, estudos
realizado em organismos não humanos, teses, dissertações e
abordagens que não contemplem a área de estudo da
odontologia.
A pesquisa realizada nas bases de dados identificou
348 artigos científicos e que, após a aplicação dos critérios de
inclusão e exclusão, bem como a leitura dos títulos e resumos,
chegou ao quantitativo de 23 estudos (Figura 1).
Posteriormente, uma análise criteriosa dos estudos
selecionados, através da leitura exploratória e extração de
evidências relacionadas à temática, viabilizou a síntese e

52
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

montagem de argumentação teórica advinda das fontes


selecionadas.

Figura 1. Estratégia de inclusão e exclusão dos artigos


científicos para revisão integrativa da literatura.

Fonte: Autores próprios, 2020.

53
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A dor neuropática foi conceituada pela Associação


Internacional para o Estudo da Dor (IASP), em 2011, por meio
de seu comitê de taxonomia como uma dor induzida por lesão
ou doença que afeta diretamente o sistema somatossensorial
(MIRANDA, JUNIOR, PELLOSO, 2016).
A neuralgia do trigêmeo é umas das neuropatias mais
comuns que envolvem a região orofacial, acometendo
principalmente as divisões maxilar e mandibular do nervo
trigêmeo e raramente a divisão oftálmica (LIU et al., 2018).
A neuralgia trigeminal (NT) é caracterizada por ataques
de dor facial paroxística, manifestando-se como crises de
choque ou queimação em intervalos não definidos. A
fisiopatologia da NT envolve diversos mecanismos
neurofisiológicos, tanto na periferia quanto no sistema nervoso
central, no entanto, esses mecanismos não estão
completamente elucidados, necessitando de outros estudos
que abordem a neurobiologia, eletrofisiologia e os aspectos
moleculares desta patologia (BURMEISTER et al., 2016).
A investigação da compressão do nervo trigêmeo na
saída da ponte e outras comorbidades associadas também é
necessária uma vez que também podem ter relação
etiopatogênica com estabelecimento e manutenção do quadro
(COSTA, LEITE, 2015).
A Classificação Internacional de Cefaleias categorizou
dois tipos principais de NT assim como suas derivações que
podem ser visualizadas na Figura 2.

54
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Figura 2: Classificação da neuralgia do trigêmeo, segundo a


Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD-III).

Fonte: Costa, Leite, 2015.

Nesse sentido, os dados de prevalência e incidência


possuem grande heterogeneidade. No estudo de Posso,
Palmeira e Vieira (2016), a NT foi descrita com uma prevalência
anual de 4,3 pessoas por 100.000 habitantes, sendo as
mulheres mais afetadas que os homens. Quando se analisa
essa prevalência para pessoas com idade mais avançada,
pode-se observar uma média de 11 casos de NT para cada
100.000 pessoas com idade superior a 75 anos.

55
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Considerações clínicas
Implicações clínicas como dores agudas e intensas,
semelhante a choque elétrico, queimação ou corte, de início
espontâneo ou desencadeadas por vento frio ou água no rosto
por frações de segundos e duração de até 2 minutos são uma
das características citadas para qualificar a NT. As frequências
dessas dores são variadas podendo ir de centenas por dia ou
anos de remissão (COSTA,LEITE, 2015; BABILONI, KAPOS,
NIXDORF, 2016).
Diante disso, alguns pacientes relataram que as dores
podem ser pioradas durante atividades simples do dia a dia
como no momento da alimentação, escovação dos dentes e
atividade física (BABILONI, KAPOS, NIXDORF, 2016;
CANALES et al., 2020). As implicações clínicas da NT podem
afetar diretamente a qualidade de vida desses pacientes e
consequentemente o rendimentos de suas atividades diárias.

Conduta terapêutica
Muitas modalidades terapêuticas utilizadas no controle
e tratamento da neuralgia do trigêmeo incluem a terapia
medicamentosa, intervenções cirúrgicas e bloqueios de nervos
(LIU et al., 2018).
A terapia com agentes farmacológicos oral ou tópica é
frequentemente a primeira opção de tratamento para NT (KHAN
et al., 2017). Dentre esses medicamentos, algumas classes são
comumente prescritas como anticonvulsivantes,
antidepressivos tricíclicos, inibidores da receptação de
serotonina e norepinefrina e opióides (MORENO-HAY et al.,
2019; CANALES et al., 2020). A carbamazepina, gabapentina,
pregabalina, oxcarbazepina e amitriptilina são alguns dos
56
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

fármacos mais utilizados (LIU et al., 2018; MORENO-HAY et al.,


2019; CANALES et al., 2020; BABILONI, KAPOS, NIXDORF,
2016; WU et al., 2017).
No entanto, alguns pacientes relataram uma redução
não satisfatória da dor e a presença de efeitos adversos como
taquicardia, tontura, sonolência e ondas de calor (CANALES et
al., 2020; BABILONI, KAPOS, NIXDORF, 2016). As
intervenções cirúrgicas por outro lado, são terapias mais
invasivas e com potencial risco de complicações tornando-se
uma opção menos desejada por profissionais e pacientes (LIU
et al., 2018).
Assim, dentro da opção de bloqueio dos nervos, se
enquadra a utilização da toxina botulínica tipo A (TBo A) que
vem sendo estudada e mostra-se como uma terapia promissora
entres os estudos clínicos e relatos de caso.

Eficácia da TBo A na neuralgia do trigêmeo


A toxina botulínica pode inibir a liberação de
neuropeptídeos nociceptivos locais, como a substância P,
peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) e
glutamato, bem como a expressão do potencial receptor
transitório vaniloide 1 (TRPV1), inibindo neurogênicos da
inflamação e sensibilização periférica. Vários relatos de caso
sugeriram que a toxina botulínica injetada no tecido
hiperalgésico pode ser útil na redução da dor (BABILONI,
KAPOS, NIXDORF, 2016).
A maioria dos estudos divergiram principalmente
quanto a metodologia adotada, doses adiministradas, técnicas
escolhidas, solvente utilizado para diluir Tbo A e se usou ou não
terapia farmacológica adicional durante os experimentos. No
57
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

entanto, todos os artigos analisados evidenciaram por meios de


seus resultados que a toxina botulínica tipo A mostrou-se uma
ferramenta terapêutica eficaz, diminuindo a intensidade da dor
na maioria dos casos de pacientes com neuralgia do trigêmeo
(LIU et al., 2018; RITTER et al., 2016).
Um estudo clínico realizado com 27 pessoas
diagnosticados com NT clássica acompanhou por 6 meses
estes pacientes após aplicação de TBo A nas proximidades das
raízes dos nervos maxilar e/ou mandibular e sem tratamento
farmacológico associado. Os achados mostraram uma
diminuição de 70% da dor na pontuação média da escala visual
analógica (VAS) no sexto mês. Destes 27, 12 estavam sem dor
ao final do 6º mês e 15 apresentaram recorrência após um
período médio de 9 a 97 dias, no entanto, eram submetidos a
repetição da dose. Ainda no mesmo estudo 1 paciente recebeu
3 injeções durante um período de 6 meses e não apresentou
qualquer alteração da intensidade e frequência da dor (BORU
et al., 2017).
Xia et al., (2016) em estudo com 87 pacientes com NT
clássica e média de histórico da doença de aproximadamente
74,93 meses, mostrou diminuição significativa dos escores de
dor na escala visual analógica em uma semana após a
aplicação da TBo A e essa diminuição continuou até o final do
estudo que foi de 8 semanas, além de obterem melhoria da
ansiedade, depressão e distúrbios do sono, aumentando a
qualidade de vida desses pacientes.
Semelhantemente, Liu et al. (2018) avaliou a eficácia
terapêutica e a segurança da TBo A no tratamento de pacientes
com NT cuja amostras foram separadas em dois grupos com
diferentes faixas etárias. A mediana dos escores da (VAS) após
58
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

1 mês de tratamento em ambos os grupos foram


significativamente menores do que os valores iniciais
correspondentes, não havendo diferença estatística entre os
grupos.
Adicionalmente, um relato de caso incluindo um
paciente com NT pós traumática mostrou redução significativa
na escala VAS para sensibilidade ao toque, frio e picada de
agulha até o 3º mês de acompanhamento após injeções com
TBo A (CANALES et al., 2020).
Da mesma forma, em um outro estudo, um paciente
relatou uma redução da intensidade da dor de 5/10 para 2/10
que se manteve por aproximadamente dois meses.
Posteriormente, repetiu-se as doses após 3 e 6 meses da
primeira intervenção e no 9º mês o paciente relatou estar sem
dor por aproximadamente 3 meses, mantendo o mesmo
protocolo de tratamento (BABILONI, KAPOS, NIXDORF, 2016).

Doses utilizadas
As doses utilizadas divergiram muito nos estudos
encontrados, assim como os intervalos de tempo para
administração de novas doses da toxina, não houve ainda um
protocolo padrão para tratamento. Nos artigos analisados essas
doses variaram até 200U, não ultrapassando este valor,
podendo serem aplicadas em diferentes áreas, por mais de uma
sessão ou em intervalos de tempos distintos (LIU et al., 2018).
A toxina botulínica quando aplicada em doses mínimas
bloqueia a ação de neurotransmissores no sistema nervoso. As
doses são específicas para cada produto comercializado e não
podem ser generalizadas. Fabricantes como a Allergan
(Botox®) e a Ipsen (Dysport®) têm formulações diferentes e não
59
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

podem ser utilizados na mesma proporção, pois 1 U de Botox®


(Allergan) equivale de 3U a 5U de Dysport® (Ipsen)
(DRESSLER, BENECK, 2007; BARBOSA, BARBOSA, 2017).
No estudo realizado por Zhang et al., (2017) para saber
se a dosagem repetida de toxina botulínica teria vantagem
sobre a dosagem única para alívio da dor na neuralgia do
trigêmeo, dividiu-se a amostra em dois grupos, um grupo teria
a dosagem ajustada para cada paciente, recebendo uma única
aplicação de Botox com doses variando entre 70-100U no local
da dor. O segundo grupo de pacientes recebeu doses repetidas,
de 50-70U no tratamento inicial e outra injeção 2 semanas
depois, com mais 50 - 70 U, totalizando 100 – 140U. Assim, o
estudo concluiu que a dose repetida de TBo A não demonstrou
mais eficácia em relação a dose única no alívio da dor causada
pela neuralgia do trigêmeo.

Técnicas
Vários fatores podem interferir na passagem dos
fármacos através das membranas até o seu local de ação. A
administração da toxina botulínica pode ser por injeção vias
intramuscular, intradérmica, intraparenquimatosa, submucosa,
e transepidérmica. (AYRES, SANDOVAL, 2016).
As técnicas escolhidas pelos estudos selecionados
foram elencadas no quadro 1.

60
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Quadro 1: Técnicas de aplicação da toxina botulínica nos


estudos selecionados
TÉCNICAS DE APLICAÇÃO DA TOXINA BOTULÍNICA
ARTIGO TÉCNICA
Foi utilizada nova técnica, na raiz do nervo
maxilar acima do arco zigomático na região que equivale
Börü et al. a metade de uma reta entre a orelha externa e a borda
(2017) orbital numa profundidade de 50 mm, para o nervo
mandibular no gânglio pterigopalatino abaixo do arco
zigomático
Burmeister Receberam injeções subcutâneas de toxina
et al. (2015) botulínica tipo A nos locais de injeção do ramo trigeminal
afetado
Canales et Receberam injeções submucosas de toxina
al. (2020) onabotulínica A na região dolorida
Babiloni;
Kapos e Nixdorf Receberam injeções submucosas
(2016)
Liu et al. Injeção submucosa por meio de seringa
(2018)
Ritter et al. Todos os pacientes receberam injeção
(2016) subcutânea de abobotulintoxina A

Inicialmente receberam injeção na mucosa


Wu et al. oral da área gengival do lado afetado./ afetada. Em
(2017) seguida, mudamos para um protocolo de
injeção intramuscular no masseter
Xia et al. Injeção instracutânea em múltiplos locais da
(2015) área da dor e local do gatilho
As injeções foram administradas por via
Zhang et intradérmica, submucosa ou
al. (2017) ambas, no local da dor, por meio de seringa
de 1 mL com agulha de 0,45 ×
16 mm
Fonte: Autores próprio, 2020.

61
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

A maioria dos estudos empregou como via de


administração medicamentosa a injeção por vias subcutânea,
submucosa e intramuscular, no local acometido pela dor ou nos
pontos de gatilho. Alguns estudos utilizaram mais de uma
técnica associada.
As vias subcutâneas e intramuscular são as mais
amplamente utilizadas. Essas vias de aplicação estão
diretamente relacionadas com suas indicações, com seu alvo
de tratamento e seu mecanismo de ação, que no caso da toxina
botulínica buscam os locais de fusão e especificidade para o
bloqueio neuromuscular (AYRES, SANDOVAL, 2016).

Solvente utilizado
A toxina botulínica apresenta-se na forma de pó
liofilizado estéril, em frascos, preenchidos a vácuo e que precisa
ser diluída em solução aquosa também estéril e armazenada
em temperatura de 2º a 8º C. A manipulação da toxina botulínica
deve ser feita por profissional capacitado, nas proporções
recomendadas, sendo este um fator fundamental para a
obtenção do resultado final proposto (BARBOSA, BARBOSA,
2017).
Conforme protocolo adotados por Boru et al. (2017) e
Xia et al. (2016) nos artigos estudados, 100U da toxina
botulínica liofilizada foi diluída com 2 ml de solução injetável de
cloreto de sódio a 0,9% e aplicadas nos locais da área de dor.
Diferentemente da maioria dos estudos analisados, Babiloni et
al., (2016) em um relato de 2 casos clínicos diluíram 100U de
toxina onabotulínica (BOTOX) em 0,3 mL e 0,2 mL de lidocaína
à 2% sem vasoconstrictor. No entanto, o estudo não comparou
a eficácia quanto à diferentes soluções para diluição.
62
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

De acordo com Sposito (2004) a solução salina à 0,9


estéril deve ser utilizada, pois o uso de água destilada ou de
solução salina em concentrações mais altas torna a injeção
muito dolorosa. Ainda menciona que durante a diluição, deve-
se evitar o borbulhamento pois a agitação do líquido poderá
eventualmente quebrar a toxina e desativá-la, uma vez que o
segmento pesado se separa do leve.
Sobre a importância de se respeitar as boas práticas de
manipulação e as proporções recomendadas, Barbosa e
Bárbosa (2017) relata que quanto mais diluída a solução de TBo
A, maior será a sua difusão pelos tecidos, aumentando as
chances de toxicidade, além de diminuir a eficácia dos
resultados.

Efeitos adversos
Entre os 9 estudos selecionados para o quadro 1, em 3
(33,33%) os pacientes apresentaram algum efeito adverso ou
colateral. No estudo de Xia et al. (2015), 9 pacientes (n=87)
apresentaram efeitos colaterais leves como edema e
relaxamento muscular, desaparecendo em algumas semanas.
No estudo de Liu et al. (2018), 2 (n=14) pacientes com idades
igual ou maior à 80 anos sentiram, leve ptose no olho esquerdo
e leve desvio oral, um relatou não controlar a salivação e outro
desconforto em todo o corpo. Enquanto que 2 pacientes mais
jovens (n=29), com idade menor que 60 anos relataram
paralisia facial leve e moderada. No entanto, as incidências de
efeitos colaterais nesses dois grupos não diferiram
significativamente e todos os eventos se resolveram
espontaneamente em aproximadamente 3 semanas.

63
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

Nos estudos de Babiloni, Kapos e Nixdorf (2016), em


que as injeções foram aplicadas de forma intraoral, os efeitos
colaterais relatados pelo paciente incluíram secura na área das
injeções, com consequente impacto na comida e um rosto
assimétrico, que gerou queda do sorriso no lado ipsilateral das
injeções. Enquanto nos estudos de Zhang et al. (2017), as
reações adversas dos pacientes nos 2 grupos foram de leves a
moderadas e, portanto, os perfis de segurança de ambos os
protocolos foram considerados satisfatórios.
A utilização da TBo A é considerada um procedimento
seguro, porém efeitos adversos podem ocorrer especialmente
quando usado com finalidade terapêutica. Na maioria dos casos
os efeitos adversos são leves como edema, eritema e dor, que
regridem nas primeiras horas ou algumas semanas após a
aplicação (YIANNAKOPOULOU, 2015). Como observado nos
estudos citados, apenas alguns pacientes desenvolveram
efeitos adversos leves e nenhum efeito adverso grave foi
encontado.

CONCLUSÕES

O uso da toxina botulínica tipo A em pacientes com


neuralgia do trigêmeo se mostrou efetivo, trazendo benefício
como alívio da dor. Apesar de ser considerado um
procedimento seguro e eficaz, alguns pacientes apresentaram
efeitos adversos leves, que desapareceram espontaneamente.
A realização de mais estudos clínicos se faz necessária, de
modo a contribuir para um melhor entendimento da ação e
formulação de protocolos para uso terapêutico da TBo A.

64
TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
BOTULÍNICA TIPO A: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

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TRATAMENTO DA NEURALGIA TRIGEMINAL COM TOXINA
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66
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 4

USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO


BRUXISMO E NA DOR MIOFASCIAL:
REVISÃO DE LITERATURA
Otacilio José de Araújo Neto 1
Eduarda Gomes Onofre de Araújo 1
Sammara Fabyane Vieira Bastos 1
Ednara Mercia Fernandes de Andrade 2
Roseanne da Cunha Uchôa 3
1Graduandosdo curso de Odontologia, UFPB; 2Professora do
DCOS/UFPB; 3Orientadora/Professora do DOR/ UFPB.
otacilioan92@gmail.com

RESUMO: A toxina botulínica tipo A (TBo A) é uma neurotoxina


produzida pela bactéria Clostridium botulinum, capaz de levar
ao relaxamento muscular da área a ser tratada, com indicação
para tratamento estético e terapêutico, que inclui casos de
desordens orofaciais dolorosas e/ou desarmônicas. Essas
desordens apresentam etiologia multifatorial e combinação de
procedimentos terapêuticos podem resultar em grandes
benefícios para o paciente. O objetivo deste estudo consistiu
em revisar a literatura quanto à aplicabilidade e eficácia da TBo
A como alternativa terapêutica para bruxismo e dor miofascial.
Adotou-se uma estratégia de busca nas bases de dados
‘’Google Acadêmico’’ e ‘’PubMed’’, utilizando as palavras-chave
“Toxina botulínica tipo A”, “Dor miofascial” e “Bruxismo”. Foram
priorizados os estudos dos últimos 5 anos e/ou com grande
relevância científica, em inglês ou português, que atendessem
aos critérios de inclusão e exclusão adotados. A pesquisa nas
bases de dados forneceu 550 artigos científicos, dos quais
foram utilizados 17 para discussão deste trabalho. O estudo da
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

literatura científica reportou que utilização de TBo A, em casos


de dor miofascial, proporciona redução da dor subjetiva, e, em
pacientes portadores de bruxismo, diminuição da intensidade e
força desses eventos, permitindo concluir que a TBo A pode ser
considerada um recurso terapêutico importante associada aos
tratamentos convencionais.
Palavras-chave: Toxina Botulínica Tipo A. Dor miofascial.
Bruxismo.

INTRODUÇÃO

A toxina botulínica é uma neurotoxina produzida pela


bactéria Clostridium botulinum, que sintetiza sete sorotipos
diferentes, denominados de A a G, havendo um oitavo sorotipo
em estudo, todos com características e massas moleculares
diferentes. Essa substância consiste de uma cadeia pesada e
outra leve que age bloqueando de forma temporária os
receptores de acetilcolina pela liberação mediada por íons
Ca+². O bloqueio é feito pela toxina através da ligação
irreversível aos receptores da membrana na fenda sináptica. Os
efeitos de hipoatividade muscular já são observados no
segundo dia após a aplicação e aumentam gradativamente até
o 14º dia, já o tempo de duração depende do metabolismo do
paciente, músculo de aplicação, dosagem e, além disso, ao
resultado que se deseja obter com essa terapêutica
(BARBOSA, 2017; OLIVEIRA; VALADÃO, 2018).
Apesar de existirem vários sorotipos, utiliza-se para fins
estéticos e/ou terapêuticos, a toxina botulínica tipo A (TBo A) e
B, que conquistou fama pelo mundo dos cosméticos, levando
em consideração a sua aplicabilidade estética. É utilizada
através de injeção intramuscular nas regiões a serem tratadas.
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

De forma geral, é apresentada em unidades (U) e deve ser


diluída em soro fisiológico e aplicada com agulha de insulina,
seguindo as instruções do fabricante. Após sua aplicação,
existem recomendações que são inerentes ao tipo de uso: o
paciente não deve se deitar em decúbito ventral ou dorsal, não
manipular a região, não ingerir bebidas alcoólicas, não praticar
exercícios, evitar atividades que demandem desgastes físicos
ou emocionais e não se expor ao sol. A TBo A é uma alternativa
terapêutica promissora no universo odontológico, devido a sua
utilização de forma minimamente invasiva e aos resultados
próximos ao imediato, tendo possibilidades de correção e
reversibilidade, estudos são promissores para o tratamento de
neuralgias, bruxismo e dor miofascial (OLIVEIRA; VALADÃO,
2018; BISPO, 2019).
Segundo a Academia Americana de Dor Orofacial
(AAOP), a disfunção temporomandibular (DTM) é definida como
um conjunto de distúrbios que envolvem os músculos
mastigatórios ou/e a articulação temporomandibular (ATM) e
estruturas associadas. É considerada a maior causa de dor com
origem não odontogênica na região orofacial (DE LEEUW,
2018). Através de diversos estudos científicos, determinou-se
que a DTM não é causada apenas por um único fator, sendo
considerada como uma desordem complexa que possui
comorbidades sobrepostas, alterações físicas e psicológicas. A
etiologia multifatorial e a difusão do modelo biopsicossocial são
justificadas pela manifestação de sinais e sintomas da DTM em
circunstâncias de estresse emocional (SKÁRMETA et al.,
2019).
O tratamento das DTM pode ser tão complexo quanto o
seu diagnóstico. Evidências científicas demonstraram que as
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

terapias são divididas em tratamentos definitivos e de suporte,


como aconselhamento e orientações de autocuidado,
farmacoterapia, fisioterapia, fonoterapia, psicoterapia,
laserterapia, placas oclusais e procedimentos cirúrgicos
(OKESON, 2019).
Classificada como DTM do tipo muscular, a dor
miofascial é um estado de dor musculoesquelética crônica e
regional podendo ou não envolver limitação de abertura bucal,
instalada após tensão muscular, alteração do comportamento
psíquico e estresse. Caracteriza-se pela presença de pontos de
gatilho que são pequenas nodulações localizadas em regiões
mais tensas entre os músculos, tendões ou fáscia, com
sintomatologia dolorosa referida à palpação, fora do local onde
a dor está instalada, por exemplo, um paciente com ponto de
gatilho presente no feixe profundo do músculo masseter pode
referir otalgia. Um feixe superficial desse mesmo músculo pode
referir dor nos elementos dentários posteriores, que facilmente
pode ser confundida com uma odontalgia, quando essa não é a
fonte da dor (KHALIFEH et al., 2016; OKESON, 2019).
O tratamento da dor miofascial é realizado com
psicoterapias, fisioterapia, infiltração com agulhas (a seco com
acupuntura ou solução anestésica), laserterapia e terapia
farmacológica. Mesmo apresentando considerável sucesso, há
pacientes que desenvolvem uma sensibilização central do
quadro de dor crônica, fazendo com que algumas vezes a
terapia conservadora não seja eficaz, esses são considerados
refratários ao tratamento (OKESON, 2019).
O bruxismo é um hábito parafuncional com etiologia
multifatorial que pode causar desordens funcionais. Além disso,
é especificado como uma atividade muscular ocasionada pela
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

repetição de movimentos mastigatórios, que têm como


característica principal o apertamento ou ranger dos dentes
(FERNÁNDEZ, 2019). Anteriormente, eram compreendidos
dois tipos de bruxismo através de atividades musculares
mastigatórias que ocorriam durante o ciclo circadiano em
indivíduos saudáveis, o bruxismo do sono e em vigília. Porém,
essas definições foram refutadas pelo fato de que o bruxismo
nem sempre pode ser prejudicial. De forma a compreender
melhor e diminuir a confusão acerca das definições passadas,
foram propostas novos conceitos: normo-bruxismo (bruxismo
normal), associado à homeostase normal com ausência de
sinais e sintomas; e patho-bruxismo (bruxismo patológico),
quando está relacionado à qualquer tipo de consequência
patológica (LOBBEZOO et al., 2018; OKESON, 2019;
SVENSSON; LAVIGNE, 2020).
Algumas terapias são indicadas para o tratamento do
bruxismo, a depender do tipo de bruxismo e perfil psicossocial
do paciente, além dos riscos e benefícios de cada
procedimento. As terapias são: comportamental, utilização de
placa estabilizadora, técnicas de relaxamento e medicação que
é utilizada principalmente em casos associados a ansiedade
(CARVALHO et al., 2020).
O objetivo desse estudo foi revisar a literatura científica
quanto à aplicabilidade da TBo A como alternativa terapêutica
em pacientes portadores de dor miofascial e bruxismo.

MATERIAIS E MÉTODO

Realizou-se uma revisão de literatura com pretensão de


analisar o atual uso da TBo A no bruxismo e na dor miofascial
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

através da técnica de documentação direta, sendo classificado


como pesquisa bibliográfica (LAKATOS; MARCONI, 2017).
Para tal, foi efetuada uma investigação detalhada de
artigos científicos nas bases de dados ‘’PubMed’’ e ‘’Google
Acadêmico’’, com os descritores “Toxina botulínica tipo A”, “Dor
miofascial” e “Bruxismo” no período de agosto a outubro de
2020, seguindo uma estratégia de busca (Tabela 1). Foram
selecionados artigos em língua inglesa e portuguesa dos
últimos 5 anos e/ou com grande relevância científica.
Aplicaram-se os critérios de inclusão (artigos de meta-
análise, revisão sistemática e ensaios clínicos randomizados
que abordem o uso da TBo A no bruxismo ou na dor miofascial)
e exclusão (aqueles que fogem do tema pesquisado) nos
resultados encontrados. Foram selecionados os artigos de
acordo com o título e o resumo para, por fim, analisar
criticamente todo o conteúdo do artigo. A realização de uma
avaliação criteriosa possibilitou a relação do tratamento de
pacientes portadores de dor miofascial e bruxismo com o uso
da TBo A, mediante uma abordagem qualitativa. De todos os
artigos encontrados, foram utilizados 6 estudos relacionados ao
bruxismo e 11 estudos relacionados à dor miofascial, para que
os objetivos do trabalho fossem alcançados.
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

Tabela 1. Estratégia de busca utilizada. João Pessoa, PB,


2020.
ESTRATÉGIA DE BUSCA

BASE TERMOS MeSH FILTRO DE RESULTADO


DEDADOS BUSCA

PUBMED (type a resumo 11 estudos


botulinum toxins disponível,
AND myofascial ensaios clínicos
pain) randomizado, 9 estudos
meta-análises e
(type a revisões
botulinum toxins sistemáticas dos 1 estudo
AND bruxism) últimos 5 anos.

type a
botulinum toxins
AND bruxism AND
myofascial pain

GOOGLE type a botulinum últimos 5 anos 529


ACADÊMICO toxins AND bruxism resultados
AND myofascial pain
Fonte: Autores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Existem discussões sobre o uso da TBo A e sua


possível indicação no tratamento de pacientes acometidos por
bruxismo do sono (CARVALHO et al., 2020). CANALES et al.
(2017) em sua revisão sistemática avaliou cinco estudos
clínicos com o objetivo de entender o uso da TBo A no bruxismo
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

do sono. Em seu trabalho, não foi encontrado evidência


científica relevante que suporte o uso de TBo A em pacientes
com bruxismo em vigília. Esse estudo observou que a TBo A
apresenta uma redução subjetiva da dor, com a diminuição da
contratura muscular, fazendo com que os pacientes tenham
menos força durante os eventos de bruxismo, entretanto, ela
não tem ação na gênese dos eventos de bruxismo, que é um
evento centralmente mediado. Sua ação é periférica na
diminuição da força e contração muscular que é exercido
durante o evento de bruxismo. Esse estudo concluiu que o uso
da TBo A não dispensa um tratamento conservador com placa
oclusal, pois, ainda há contato dentário, não existindo na
literatura evidência que suporte o seu uso de primeira escolha,
em detrimento de outros tratamentos já consolidados.
Um ensaio clínico randomizado duplo-cego avaliou 23
pacientes com bruxismo do sono, separando grupo placebo e
grupo de tratamento. O grupo de tratamento recebeu a
aplicação de TBo A, sendo 60U aplicadas em dois pontos do
músculo masseter e 40U em três pontos do músculo temporal
bilateralmente, totalizando 200U. A avaliação foi feita antes do
tratamento e em 4 a 8 semanas após o tratamento com a escala
clínica global e a escala visual de dor, além de outros
parâmetros complementares como polissonografia e
eletromiografia. O estudo demonstrou que a TBo A tem efeito e
é segura para o bruxismo do sono, entretanto, ficou evidente
que não há diminuição relevante na quantidade dos eventos de
bruxismo quando comparado ao grupo placebo. Dois
participantes do grupo de tratamento reportaram mudança no
sorriso após a aplicação de TBo A (ONDO et al., 2018).
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

SHIM et al. (2020) em seu ensaio clínico duplo-cego


randomizado avaliou 23 pacientes com intuito de identificar a
eficácia da TBo A para o bruxismo do sono. Ocorreram
avaliações antes da aplicação, após 4 semanas de aplicação e
após 12 semanas com o exame de polissonografia. Utilizou-se
25U de TBo A em dois pontos do músculo masseter. Os
achados do estudo confirmaram que a TBo A reduz a
intensidade e força das contrações rítmicas mastigatórias no
bruxismo do sono, entretanto, não diminui a quantidade desses
episódios, por não agir na gênese desse evento. Esse efeito
ocorreu durante as 12 semanas de acompanhamento no grupo
de tratamento.
Diante do exposto, a revisão sistemática de CANALES
et al. (2017) ainda se mantém atual, visto que os recentes
ensaios clínicos de ONDO et al. (2018) e SHIM et al. (2020) em
suas conclusões demonstraram a diminuição na força e
intensidade da contratura muscular, mas não na quantidade de
eventos de bruxismo. Alterações no sorriso dos pacientes
submetidos ao estudo de ONDO et al. (2018) podem ser
explicados por erros na reprodução da técnica de aplicação da
TBo A ou nas orientações ao paciente.
É necessário destacar que SHIM et al. (2020) em sua
conclusão apresentou a TBo A como uma opção viável para
controlar a intensidade e força durante eventos de bruxismo,
sendo uma alternativa para proteção de forças excessivas nas
estruturas dentais. O estudo de MIJIRITSKY et al., (2016)
observou a eficácia na aplicação da TBo A em músculos
mastigatórios antes da realização da cirurgia de implantes
dentários, com o objetivo de diminuir a intensidade e reduzir as
forças nos eventos de bruxismo, protegendo e auxiliando o
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

processo de osseointegração do implante imediato. Esse


trabalho concluiu que a TBo A pode auxiliar no controle da
contração muscular patológica, facilitando a reabilitação por
meio de implantes dentários em pacientes portadores de
bruxismo.
Para entender o uso da TBo A na dor miofascial, o
estudo de KHALIFEH et al. (2016) de revisão sistemática e
meta-análise avaliou qualitativamente 13 estudos clínicos
randomizados duplo-cego placebo-controlado e 11 desses
foram avaliados quantitativamente na meta-análise. Os
resultados dessa meta-análise mostraram não haver relevância
estatística na diminuição da intensidade de dor pós-tratamento
com TBo A comparado a um grupo placebo em quatro a seis
semanas após aplicação. Quando comparado de dois a seis
meses após aplicação, a TBo A se mostra mais eficaz do que o
placebo.
GUARDA-NARDINI et al. (2012) avaliou 30 pacientes
com diagnóstico de dor miofascial com ou sem limitação de
abertura por um período de seis meses. Os pacientes foram
randomizados em dois grupos, o grupo de tratamento recebeu
150U de TBo A em pontos do músculo masseter e temporal e o
outro grupo recebeu sessões de fisioterapia na musculatura
facial, após três meses, comparou-se os grupos. Os dois
apresentaram diminuição na escala visual de dor, sendo o
grupo tratado com fisioterapia o que mais demonstrou uma
diminuição da dor subjetiva, de forma maior e mais eficaz. O
estudo concluiu que a terapia conservadora é considerada a
melhor opção quando avaliado o risco-benefício do tratamento,
visto que a eficácia foi parecida nos dois grupos de tratamento
durante o período avaliado.
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

Outro estudo comparou a terapia de TBo A com a


laserterapia em 15 pacientes, um grupo recebeu a terapia de
laser enquanto o outro foi aplicada 45U de TBo A em duas
sessões. A redução da dor foi avaliada pela escala visual de dor
e quando comparado os dois grupos não houve uma diferença
estatisticamente significante entre os tratamentos, apesar do
laser ter demonstrado que consegue diminuir a dor em um
menor tempo (DE CARLI et al., 2016). É importante entender
que a laserterapia apresenta um efeito mais rápido do que a
TBo A, isso devido ao tempo de ativação da toxina que é de até
14 dias (BARBOSA., 2017).
Um trabalho mais amplo comparou três diferentes
doses de TBo A, solução salina e placa oclusal em 100
pacientes do sexo feminino com diagnóstico de dor miofascial.
As pacientes foram randomizadas em cinco grupos iguais, o
primeiro foi tratado com solução salina (placebo), outro foi
tratado com placa oclusal e outros três receberam as doses de
TBo A de 10U, 20U e 25U no m.temporal e 30U, 50U e 75U no
m.masseter respectivamente. Os parâmetros analisados pelo
estudo foram a escala visual de dor, limiar de dor a pressão,
eletromiografia, performance mastigatória, imagem ultrassônica
e tomografia computadorizada da região. Esse estudo concluiu
que a TBo A não é mais efetiva que a placa oclusal, sendo o
tratamento conservador sempre a primeira opção para
pacientes portadores de dor miofascial. As doses mais baixas
da TBo A já foram capazes de reduzir a escala visual de dor e
aumentar o limiar de dor a pressão, sendo as mais indicadas no
uso em pacientes refratários, aqueles que não respondem bem
à terapia conservadora (CANALES et al., 2020).
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

Alguns estudos sugerem que a diminuição de dor


subjetiva ocasionada pela TBo A pode acontecer devido ao
efeito secundário de diminuição da hipernocicepção
inflamatória. Acredita-se que o mecanismo de ação da TBo A
atinge a exocitose de substâncias neurovasoativas e
neurotransmissores nas terminações nervosas livres como o
glutamato, o GRPC (gene relacionado ao peptídeo da
calcitonina) e a substância P que são mediadores importantes
na sinalização da dor (CUI et al., 2004; LORA et al., 2019).
O uso da TBo A em pacientes portadores de dor
miofascial nem sempre está ligado ao seu efeito muscular, o
efeito secundário visto por CUI et al. (2004) e LORA et al. (2019)
torna essa escolha terapêutica interessante em detrimento de
outras devido ao seu mecanismo e maior período de ação.
Deve-se levar em conta também o custo do tratamento que já é
mais elevado, os resultados encontrados por CANALES et al.
(2020) evidenciaram que baixas doses já são suficientes para
promover tais efeitos nos pacientes que não respondem ao
tratamento convencional, garantindo um tratamento com menor
custo, visto que a TBo A é vendida por unidades.
A aplicação da TBo A e a infiltração com solução
anestésica podem ser utilizadas para o tratamento da dor
miofascial sendo injetadas nos pontos de gatilho, AHMED et al.
(2019), através da revisão de literatura e meta-análise, analisou
33 estudos comparando o efeito da injeção da TBo A e da
solução anestésica. Na análise qualitativa, ambos se
apresentaram com eficácia inconsistente na diminuição da dor.
Porém, na meta-análise, as injeções de anestésico local em
múltiplas sessões favoreceram a redução da intensidade de
dor.
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

Ainda comparando a TBo A com outras formas de


tratamento, KÜTÜK el at. (2019) realizou um estudo
randomizado com 40 pacientes com dor miofascial, avaliando a
dor subjetiva e protrusão. O primeiro grupo recebeu injeções da
TBo A e o segundo grupo métodos de agulhamento a seco. O
alívio da dor e melhoria funcional pôde ser observado em
ambos os grupos. Após seis semanas, o grupo tratado com
agulhamento a seco apresentou resultados mais eficazes para
a diminuição da dor em repouso e nos ângulos de protrusão.
O estudo de MACHADO et al. (2020) revisou a literatura
e realizou meta-análise de 12 ensaios clínicos randomizados
que compararam o uso da TBo A e outras intervenções no
tratamento das DTM. A TBo A apresentou, em relação ao
placebo, maior efetividade na redução da dor no intervalo de
tempo de um mês, porém, não obteve diferença significante do
terceiro ao sexto mês. Em relação aos tratamentos
convencionais e laserterapia de baixa intensidade, a TBo A foi
mais eficaz para redução da dor no primeiro, sexto e décimo
segundo mês após aplicação. O tratamento a partir da
fisioterapia apresentou-se superior à toxina no terceiro mês.
Ainda com os resultados apresentados, as evidências
científicas que comprovam o uso da TBo A não são suficientes
para estimar a confiança no efeito.
Estudos revelam que a TBo A possui efeito terapêutico
no manejo das dores miofasciais. Apesar disso, a maioria das
pesquisas relatou pequenos efeitos adversos que foram
solucionados espontaneamente, como assimetria facial de
curto prazo, e apenas dois estudos relataram efeitos adversos
graves, como parestesia transitória do ramo bucal do nervo
facial. Ademais, é válido ressaltar que esses estudos não
USO DA TOXINA BOTULÍNICA TIPO A NO BRUXISMO E NA DOR
MIOFASCIAL: REVISÃO DE LITERATURA

tinham o objetivo de avaliar os efeitos adversos, e sim a


aplicabilidade da TBo A no manejo das dores miofasciais, esta
que foi bem tolerada (CANALES et al., 2019).
Outrossim, foi observada uma inconsistência na
quantidade de unidades (U) de TBo A nos músculos tratados,
isso se deve ao fato de que o efeito neuromuscular da TBo A é
dependente da dose e do volume muscular, o que dificulta o
estabelecimento de um protocolo clínico de aplicação.

CONCLUSÕES

A TBo A pode ser utilizada de forma complementar aos


tratamentos convencionais de indivíduos que possuem
desordens orofaciais, como a DTM, e em alguns casos de
bruxismo. A aplicação da TBo A compactua-se como eficaz
devido a sua ação no relaxamento da atividade muscular,
entretanto, no bruxismo não diminui a frequência de tais
eventos. Na dor miofascial, a sua ação secundária produz
efeitos positivos na diminuição subjetiva da dor. A avaliação do
caso e o acompanhamento pelo cirurgião-dentista designa-se
fundamental para análise dos efeitos e eleição do melhor
tratamento. Mais estudos precisam ser desenvolvidos para
analisar a utilidade e eficácia da TBo A como alternativa
terapêutica em casos de DTM e bruxismo.

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USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 5

USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA


CORREÇÃO DO SORRISO GENGIVAL: UMA
REVISÃO DE LITERATURA
Luana Laureano GALDINO1
Aline de Azevedo OLIVEIRA1
Andreza Mirelly de QUEIROZ1
Nívea Maria Nery GREGÓRIO1
Ítalo de Macedo BERNARDINO2
1 Graduandas em Odontologia na Universidade Estadual da Paraíba;
2 Professor do curso de Odontologia do Centro Universitário UNIFACISA.
luuanalaureano@gmail.com

RESUMO: A odontologia além de promover saúde, busca


também a excelência estética do sorriso, pois tem relação direta
com a autoestima do paciente. O sorriso gengival é a exposição
de mais de 3mm de gengiva e uma das opções terapêuticas é
o uso da toxina botulínica. Dessa forma, o objetivo do presente
estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre as evidências
científicas atuais acerca da correção do sorriso gengival com a
toxina botulínica tipo A. Para tanto, realizou-se uma busca dos
principais artigos publicados nos últimos 5 anos nas bases de
dados: PubMed, SciELO, LILACS e Google Acadêmico,
utilizando como descritores: “Sorriso”, “Gengiva” e “Toxinas
Botulínicas Tipo A”, combinados com os operados booleanos
“e/ou”, em português e em inglês. Baseado nas evidências
científicas o tratamento do sorriso gengival devido à
hiperatividade do lábio superior apresenta como melhor técnica
para a correção a toxina botulínica tipo A, por ser mais simples,
conservadora, apresentar baixo índice de complicações e um
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

resultado satisfatório. No entanto, a principal desvantagem


consiste no efeito temporário, com duração média de 4 a 6
meses, necessitando de reaplicações com o passar do tempo.
Portanto, pode-se concluir que o uso desta toxina para a
redução do sorriso gengival é uma opção de procedimento
seguro, rápido, eficaz e menos invasivo para pacientes que não
desejam ser submetidos à cirurgia. Além disso, contribuir para
melhorar a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, a autoestima
dos pacientes.
Palavras- chave: Sorriso. Gengiva. Toxinas Botulínicas Tipo A.

INTRODUÇÂO

Atualmente, muitos procedimentos na área de saúde


são norteados pelo princípio de promoção de saúde e esta
tornou-se também meta almejada no âmbito da Odontologia. A
busca pela excelência estética tem sido um dos principais
objetivos dos pacientes, que cada vez mais exigem resultados
estéticos, funcionais e satisfatórios. Nesse contexto, deve-se
levar em consideração que o conceito de beleza depende de
cada indivíduo, a qual é influenciada por variáveis psicológica,
sociocultural e econômica. A opinião e as expectativas do
paciente devem ser respeitadas e analisadas (DURUEL;
ATAMAN-DURUEL; BERKER; TÖZÜM, 2019).
O sorriso faz parte da estética facial que interfere
positivamente ou negativamente na formação da autoestima e
reflete efeitos na vida afetiva e profissional. Desta forma, as
alterações na textura, coloração, contorno e exposição gengival
podem influenciar diretamente no sorriso e torná-lo menos
agradável ao indivíduo (PEDROZO; ANTONIAZZI; PEREIRA-
CENCI; BALBINOT; SKUPIEN, 2018).
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

O sorriso gengival, conceitualmente, caracteriza-se por


uma quantidade excessiva de gengiva visível enquanto o
indivíduo sorri. A etiologia dessa condição é bastante variada e
o tratamento pode ser mais conservador ou mais invasivo
dependendo dela. Os procedimentos consistem em
gengivoplastia, reposicionamento labial, cirurgia ortognática,
tratamento ortodôntico ou aplicação de toxina botulínica. O
paciente, ao se encontrar incomodado esteticamente pelo
sorriso gengival pode procurar ajuda profissional. A partir disso,
ao ser diagnosticado com hiperfunção muscular como etiologia
do sorriso gengival, possui como alternativa de tratamento a
aplicação da toxina botulínica tipo A como alternativa
minimamente invasiva, eficaz e simples (PAULO; OLIVEIRA;
DEFREITAS; OLIVEIRA, 2018).
A toxina botulínica do tipo A (BTX-A), comercialmente
conhecida como botox, é um agente biológico e caracteriza-se
por ser uma substância produzida por uma bactéria anaeróbica
gram-positiva e obtida em laboratório. A BTX-A vem sendo
amplamente usado, que uma vez sendo aplicado por
profissionais especializados atinge resultados satisfatórios ao
paciente (IKEDA; OLIVEIRA; OLIVEIRA; FREITAS, 2019).
A toxina botulínica não causa vício e não é um
procedimento irreversível, sendo segura sua aplicação dentro
dos protocolos. Diante disso a sua aplicação pode ser feita em
humanos apenas por médicos e cirurgiões-dentistas, não sendo
aconselhado o uso em gestantes ou durante a fase que esteja
amamentado. Além disso, não deve ser administrado em altas
doses devido à toxicidade, sendo importante destacar que deve
ser manipulado e apenas aplicado por um profissional
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

capacitado e regulamentado (ROCHA; SEIBEL; NOGUEIRA;


ROCHA, 2019).
Diante dessas considerações, esta revisão objetiva
sintetizar os estudos presentes na literatura científica referente
à correção do sorriso gengival com botox, causado por
hiperfunção dos músculos responsáveis pela elevação do lábio
superior durante o sorriso, bem como evidenciar o mecanismo
de ação da toxina botulínica, sua indicação, contraindicações e
a aplicação.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho trata-se de um estudo de revisão


da literatura recente sobre a correção do sorriso gengival com
botox, que foi desenvolvido a partir de uma revisão integrativa
de trabalhos publicados em bibliotecas virtuais durante os anos
de 2015 e 2020.
A pesquisa foi realizada a partir da busca em
quatro bases de dados principais: PubMed, SciELO, LILACS e
Google Acadêmico. Os termos de busca utilizado em títulos e
resumos foram os seguintes: “Sorriso”, “Gengiva” e “Toxinas
botulínicas Tipo A”, combinados por meio dos operados
boleados “e/ou”, em português e inglês.
Os textos foram selecionados por sua relevância,
através de leituras exploratórias dos resumos e realizada
análise detalhada em artigos científicos, principalmente de
estudos clínicos. Foram excluídos os artigos que não se
referiram estritamente ao tema. Dessa forma contribuindo para
o processo de síntese e análise dos resultados de vários
estudos, criando um corpo de literatura compreensível.
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O sorriso estético apresenta uma correlação entre os


princípios biológicos, mecânicos e estéticos. Com isso, a forma
e a cor dos elementos dentários, lábios e gengiva precisam
possuir proporcionalidades e posicionamentos harmônicos com
a face e a linha média, assim como respeitar a simetria facial.
Dessa forma, faz-se necessário que o cirurgião-dentista tenha
o conhecimento da morfologia, simetria, tonalidade e
proporcionalidade, ou seja, todos os princípios para a
realização do planejamento, o qual parte da análise facial e
queixa principal do paciente, levando em conta que será ele que
irá expressar o sorriso (NOGUEIRA; GONÇALVES, 2019).
A percepção de cirurgiões-dentistas e leigos em
odontologia pode divergir em relação ao conceito de estética,
resultando em dificuldade em propor que essas alterações
estéticas devam ou não ser corrigidas. Existem situações em
que o paciente possui o sorriso gengival sem comprometimento
funcional e não o considera “não estético”. Nesse caso, mesmo
que o cirurgião-dentista tenha uma percepção diferente deve
respeitar a opinião do paciente, não sendo necessário realizar
nenhuma correção dessa exposição gengival (CAVALCANTI;
VALENTIM; GUERRA; ROSETTI, 2018).
Um sorriso esteticamente agradável é importante para
a qualidade de vida e a autoestima do paciente. Os critérios são:
a borda do lábio superior deve estar posicionada
simetricamente sobre até 3mm da gengiva e a linha da gengiva
deve seguir o contorno da exposição do lábio superior. No
entanto, a exposição de mais de 3mm da gengiva durante o
sorriso é conhecido como sorriso gengival ou sorriso
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

gomoso (CHAGAS; ALMEIDA; LISBOA; FERREIRA; MATTOS;


MUCHA, 2018).

1. Sorriso Gengival
O sorriso gengival, conceitualmente, é a exposição de
mais de 3mm de tecido periodontal durante o sorriso. Essa
exposição é frequentemente encontrada com predominância
pelo gênero feminino, que pode ser explicado pelo fato do
gênero masculino possuir um sorriso geralmente mais baixo
(CENGIZ; GOYMEN; AKCALI, 2020).
Durante o sorriso, o lábio normalmente move-se de 6 a
8mm em direção superior. Em contrapartida, o indivíduo que
apresenta hiperatividade do lábio superior como causa do
sorriso gengival possui uma distância que pode variar de 1,5 a
2 vezes maior que essa proporcionalidade. Os músculos
envolvidos no sorriso são o elevador da asa do nariz, elevador
do lábio superior, zigomático maior e menor, orbicular da boca,
depressor do septo nasal e fibras superiores do músculo
bucinador (SENISE; MARSON; SARAMPROGIANTE; SILVA,
2015).
Existem diversas etiologias propostas na literatura
sobre o sorriso gengival, como o excesso vertical da maxila,
comprimento reduzido da coroa clínica dos dentes, que podem
ocorrer de forma individual ou generalizada, influenciando no
tratamento a ser proposto, e a hiperfunção muscular dos
músculos envolvidos no sorriso. Dessa maneira, cada causa
possui uma abordagem terapêutica diferente, que pode variar
da forma mais conservadora a uma mais invasiva com
abordagem cirúrgica, assim como os efeitos que podem ser
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

reversíveis ou não (PAULO; OLIVEIRA; DEFREITAS;


OLIVEIRA, 2018).
Os procedimentos mais utilizados para o tratamento do
sorriso gengival com etiologia de hiperatividade do lábio
superior são a técnica do reposicionamento labial clássica (sem
miotomia), reposicionamento labial modificada (com miotomia)
e o uso da toxina botulínica (MOSTAFA, 2018).

2. Diagnóstico do sorriso gengival


A avaliação do sorriso gengival possui alguns critérios
essenciais para o diagnóstico que vão interferir diretamente na
escolha do tratamento, a saber: a distância interlabial em
repouso, a exposição dos incisivos superiores, o arco do sorriso
e a proporção da largura e do comprimento dos incisivos
superiores (SENISE; MARSON; PROGIANTE; SILVA, 2015).

2.1 Distância interlabial em repouso


Inicialmente, deve ser feita uma fotografia do paciente
com os lábios em repouso para analisar a distância interlabial.
Observa-se os lábios entre abertos, terço incisal dos incisivos
superiores à mostra e um leve afastamento dos dentes em
pacientes com sorriso gengival. Esse aumento interlabial é mais
comum no sexo feminino e geralmente o indivíduo possui lábio
curto, protusão mandibular com mordida aberta ou excesso
maxilar vertical. Vale ressaltar que o envelhecimento também
influencia, pois a redução no tônus da musculatura perioral
também pode gerar alterações no posicionamento dos lábios
com o passar do tempo (PEDRON, 2015).
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

2.2 Exposição dos incisivos superiores


A exposição dos incisivos superiores varia entre
gêneros, geralmente em mulheres é entre 2 a 4,5 mm e no sexo
masculino é de 1 a 3 mm. Esses valores mudam ao longo da
vida, reduzindo por causa da maturação e o envelhecimento
dos tecidos. Para definir a quantidade de exposição pode-se
usar a radiografia cefalométrica, medir em milímetros a
distância entre a borda incisal do incisivo central superior e o
contorno inferior do lábio superior. O profissional deve guiar o
paciente a falar frases com fonemas que mostrem maior
exposição dos incisivos. A maior exposição desses dentes pode
estar relacionada com um excesso vertical, o lábio superior
curto, extrusão dos dentes anteriores e o padrão dolicocefálico
(SENISE; MARSON; PROGIANTE; SILVA, 2015).

2.3 Arco do sorriso


Deve existir uma harmonia entre a curvatura da borda
incisal dos dentes anteriores superiores com a curvatura da
borda do lábio inferior durante o sorriso voluntário. De acordo
com a literatura a curvatura ideal é que as incisais fiquem
paralelas em relação ao lábio inferior e a borda incisal
ligeiramente afastada ou levemente tocando o lábio. Quando
possui essa curvatura diferente pode ter um arranjo
desagradável do sorriso (ROCHA; SEIBEL; NOGUEIRA;
ROCHA, 2019).

2.4 Proporção largura e comprimento dos incisivos


superiores
O tamanho dos dentes possui importância na
harmonização do sorriso com a face. Segundo alguns autores,
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

a proporção da largura do dente tem que ser 80% da altura, com


variação aceita de 65% e 85%, e os incisivos laterais superiores
em torno de 70%. Os dentes mal posicionados, a largura da
arcada e os dentes com extrusão interferem na exposição. Em
relação à vista sagital, as inclinações dos incisivos são as que
mais influenciam esteticamente o sorriso (SENISE; MARSON;
PROGIANTE; SILVA, 2015).

3. Toxina botulínica

3.1 História
As bactérias anaeróbicas do tipo Clostridium botulinum
são as responsáveis pela produção da toxina botulínica, sendo
uma das toxinas mais potentes e tóxicas. Elas possuem
elevada toxicidade, porém, no uso das ciências médicas com
dosagens corretas apresentam muitas aplicações (IKEDA;
OLIVEIRA; OLIVEIRA; FREITAS, 2019).
Durante muitos anos, as neurotoxinas botulínicas
(NBT) foram utilizadas como armas biológicas pelos japoneses,
através do Biological Warfare Group - Unit 731, que conduziu
vários estudos em prisioneiros de guerra para descobrir a
letalidade da ingestão. Porém, os Estados Unidos que foram
pioneiros a produzir a Toxina botulínica do tipo A durante a II
Guerra Mundial e o desenvolvimento das NBT como
medicamento iniciou-se em 1981, com a descrição da injeção
em músculos dos olhos para o tratamento do estrabismo. A
partir de 1989, após muitos estudos laboratoriais e clínicos,
baseados na ação farmacológica, é que foram propostos os
mecanismos de ação e o seu uso foi rapidamente expandido
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

(PEDROZO; ANTONIAZZI; PEREIRA-CENCI; BALBINOT;


SKUPIEN, 2018).
No ano de 1981, Alan Scott em um dos seus estudos
relatou a experiência que obteve com o uso da toxina botulínica
tipo A (BTX-A) mostrando sua composição, fabricação,
características às quais foram resultados alcançados com
aplicação em macacos e seres humanos nos músculos
extraoculares, tendo bons resultados para tratamentos. Dessa
forma, a BTX-A foi ganhando espaço na medicina estética com
a finalidade de diminuir os sinais de envelhecimento. Ela foi
aprovada pela ANVISA no Brasil em 2000, pela sua importância
devido às suas propriedades terapêuticas (ROCHA; SEIBEL;
NOGUEIRA; ROCHA, 2019).

3.2 Toxina Botulínica Tipo A


A escolha e o grande uso da toxina tipo A dentro dos
sete sorotipos de toxina (A, B, C1, D, E, F e G) é devido ao fato
de ser mais eficiente e possuir um menor custo. Essas toxinas
são altamente perigosas quando ligadas a mecanismos de ação
específicos. Mas ainda são muito úteis para a ciência médica
quando utilizada com protocolo adequado, sendo um
tratamento não invasivo e seguro, substituindo procedimentos
cirúrgicos e tendo bons resultados (MOREIRA; POSSIDÔNIO;
SOUZA; KINOSHITA; SILVEIRA, 2019).
A toxina botulínica é produzida através da fermentação
da bactéria anaeróbica Clostridium botulinum. Esta bactéria
produz setes toxinas diferente, sendo que o tipo A recebe o
nome botox como comercial. A toxina é apresentada em frasco-
ampola contendo 100 unidades em pó na forma liofilizada. No
período de aplicação se faz a diluição em solução salina 0,9%
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

estéril sem conservante. O uso do BTX-A vem sendo bastante


usado na área odontológica e tem alcançado sucesso nos
tratamentos para redução de rugas, expressões faciais e na
hiperatividade do lábio superior por um determinado tempo,
precisando ser aplicado novamente após o efeito (SENISE;
MARSON; PROGIANTE; SILVA, 2015).
A comercialização da toxina botulínica na forma de
vácuo é bastante segura, sendo recomendado não usar as que
não estejam em frascos a vácuo. Porém, por estarem ao vácuo
é necessário o cuidado durante a diluição, fazendo com que a
diluição na solução salina não aconteça de forma rápida, pois
pode causar a agitação e ter como consequência a quebra das
moléculas. O uso após a preparação deve ser feito em menor
período de tempo e armazenado na geladeira por até quatro
horas, entre 2 °C e 8 °C. Em contrapartida, armazenar o produto
já pronto, diluído, faz com que haja a perca da eficácia da toxina
ao longo do tempo e recongelar a solução por mais duas
semanas tem como resultado a redução da eficácia em 70%
(MOREIRA; POSSIDÔNIO; SOUZA; KINOSHITA; SILVEIRA,
2019).

3.3 Mecanismo de ação


A toxina botulínica (TB) tipo A atua inibindo a liberação
da acetilcolina nos terminais nervosos motores, tendo como
consequência a redução localizada da contração muscular.
Com isso, a injeção de pequenas quantidades de toxina
botulínica tipo A em músculos hiperativos tem como resultado
a diminuição da atividade muscular. Detalhadamente, a TB
consegue esse efeito pela sua atividade de endopeptidase
contra a proteína 25 que está associada a sinaptossoma que
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

são proteínas que possuem a função de liberação de


acetilcolina no interior das vesículas que se encontram ao longo
das terminações nervosas e são fundamentais para o encaixe
da vesícula de acetilcolina na membrana pré-sináptica. Assim,
a libertação de acetilcolina é inibida, impedindo a contração
muscular. Portanto, o músculo é enfraquecido por um período
de 3 a 6 meses, retornando gradativamente à sua função
(FUJITA; HURTADO, 2018).

3.4 Aplicação
Cada músculo que é responsável pela elevação do
lábio superior possuem funções específicas durante o sorriso.
O sorriso gengival possui uma classificação, podendo ser
anterior, posterior, misto e assimétrico, envolvendo diferentes
grupos musculares. Diante disso, cada classificação possui
uma forma de intervenção. O sorriso gengival anterior é tratado
pela técnica convencional, pela aplicação lateral à asa do nariz.
No sorriso gengival posterior, o uso deve ser feito no ponto
convencional com metade da dose e o segundo ponto 2 cm de
distância ao lado do primeiro ponto de aplicação, ao nível da
linha do trago. No sorriso misto, tanto anterior como posterior,
a aplicação deve ser associando os dois anteriores. Entretanto,
a dose precisa ser reduzida para 50% na lateral à asa do nariz.
Nos casos de assimetria labial, existem diferenças na atividade
muscular e a aplicação tem que ser feita com doses diferentes
em ambos os lados (PEDRON; MANGANO, 2018).
As marcações dos pontos de punção são feitas com um
lápis dermatográfico. No momento da aplicação os músculos
devem estar em repouso e a dosagem recomendada é de 2U a
3U por ponto para pacientes com 3 a 5mm de exposição
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

gengival. A quantidade do botox deve ser dividida igualmente


para ambos os lados e aplicado por meio de uma agulha 4mm
em uma direção oblíqua à superfície da pele. De acordo com a
literatura a injeção do produto deve ser de forma delicada com
uma leve pressão sobre o êmbolo (ROCHA; SEIBEL;
NOGUEIRA; ROCHA, 2019).

3.5 Pós-operatório
Cabe ao cirurgião-dentista explicar ao paciente que os
efeitos da toxina botulínica tipo A se iniciarão em 48 a 72 horas,
podendo levar até 15 dias para o efeito final, assim como alertar
sobre os possíveis efeitos colaterais. O acompanhamento é
essencial, recomendando o retorno à clínica após 10 a 15 dias
para monitorar os resultados, sendo importante os registros
fotográficos. Vale ressaltar que a ação do efeito sobre a
hiperatividade do lábio superior pode durar em média de 3 a 6
meses, quando poderá retornar para nova aplicação. Além
disso, o paciente precisa se sentir seguro quanto ao
procedimento realizado, sendo esta uma responsabilidade do
profissional que realizou a técnica. As recomendações do pós-
operatório é não fazer uso de antiinflamátorios não esteroides,
evitar qualquer manipulação da área tratada durante as
primeiras horas, assim como evitar viagens aéreas, devido à
possibilidade de flutuações na pressão ambiente poderia
promover a difusão da toxina (PEDRON; MANGANO, 2018).

3.6 Vantagens e desvantagens


A aplicação de BTX-A na correção do sorriso gengival
oferece como vantagens um tratamento não invasivo, na
maioria dos casos indolor, resultados satisfatórios, custo
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

acessível e procedimento reversível. As desvantagens são que


os efeitos clínicos se apresentam em 2 a 10 dias após o
procedimento, não apresentando efeito total imediato, além de
ter duração limitada por aproximadamente 3 a 6 meses,
necessitando de uma nova aplicação (NASR; JABBOUR;
SIDAOUI; HABER; KECHICHIAN, 2015).
O efeito da toxina botulínica sofre redução
gradativamente após a aplicação. Com isso, os resultados
diminuem com o tempo até voltar à função normal dos
músculos, apesar de manterem os resultados satisfatórios e
não voltarem a estarem como antes nas primeiras 12 semanas
(CHAGAS; ALMEIDA; LISBOA; FERREIRA; MATTOS;
MUCHA, 2018).

3.7 Contraindicações
As contraindicações do uso da toxina botulínica (TB)
são para pacientes com hipersensibilidade à própria toxina
botulínica; a gestantes; mães que estão amamentando;
portadores de doenças musculares e neurodegenerativas como
miastenia gravis e doença de Charcot; e o uso simultâneo de
antibiótico amino glicosídico, que pode resultar na
potencialização da ação da TB (PEDRON, 2015).

3.8 Complicações
A aplicação da toxina botulínica pode resultar em
complicações e efeitos adversos, devido à falha durante a
injeção, à negligência do protocolo ou à qualidade do produto.
No entanto, a maioria das complicações são transitórias e
consideradas leves, apesar de causar desconforto e aflição
tanto ao paciente como ao cirurgião-dentista (DURUEL;
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

ATAMAN-DURUEL; BERKER; TÖZÜM, 2019). As


complicações mais relatadas na literatura são:
● Edema, eritema e dor que são reações no local
da injeção, provenientes da aplicação e do volume de líquido. A
regressão acontece com poucas horas após o procedimento. A
dor pode ser minimizada ou evitada com o uso de pomada
anestésica tópica na região e com agulhas de menos calibre
(FUJITA; HURTADO, 2018).
● Há relato de muitos pacientes sobre cefaleia e
náuseas após a aplicação da TB e a regressão é espontânea,
só em casos raros que a cefaleia pode incomodar por mais de
um dia (MOSTAFA, 2018).
● Equimose e hematoma são consequências de
lesões de vasos sanguíneos, uma vez que são abundantes na
região da face (PEDRON, 2015).
● O efeito de assimetria é proveniente de pontos
assimétricos preexistentes na face que não foram detectados
na hora da análise fácil e por marcação (FUJITA; HURTADO,
2018).
● Ptose do lábio superior é resultado da paresia
(perda parcial de motricidade) ou paralisia do músculo
levantador do lábio superior e/ou zigomático maior, sendo uma
das principais causa a injeção de grandes doses de TB (NASR;
JABBOUR; SIDAOUI; HABER; KECHICHIAN, 2015).

CONCLUSÃO

Mediante a revisão de literatura, fica evidente que a


toxina botulínica tipo A mesmo sendo uma prática recente na
odontologia, demonstra ser uma ferramenta poderosa e de
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO
SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

grande relevância nos tratamentos de sorriso gengival, uma vez


que a mesma é uma alternativa menos invasiva, rápida, segura,
eficaz e que produz resultados satisfatórios quando aplicada em
músculos alvos como o elevador do lábio superior, asa do nariz
e zigomáticos maior e menor. No entanto, possui efeito
temporário.
Portanto, é necessário que se faça um diagnóstico
preciso, completo, e adequação da técnica para o sucesso do
tratamento. Além disso, o cirurgião-dentista deve respeitar o
protocolo de aplicação e a dose apropriada, tendo como
conhecimento o mecanismo de ação, suas indicações,
contraindicações e as complicações que podem surgir após o
procedimento, individualizando os protocolos conforme as
necessidades de cada paciente.

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SORRISO GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

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PERIODONTIA
ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA GENGIVECTOMIA
CONVENCIONAL E COM LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA CORREÇÃO
DE SORRISO GENGIVAL DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA
ALTERADA: RELATO DE CASO

CAPÍTULO 6

ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA


GENGIVECTOMIA CONVENCIONAL E COM
LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA
CORREÇÃO DE SORRISO GENGIVAL
DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA
ALTERADA: RELATO DE CASO

Luzia Lara Coura Carvalho LEITE 1


Diego Filipe Bezerra SILVA 2
Isabella Jardelino DIAS 2
Pedro José Targino RIBEIRO 3
Daliana Queiroga de Castro GOMES 4
1 Graduanda do curso de Odontologia, UEPB; 2 Doutorandos em
Odontologia, PpGO/ UEPB;
3 Mestre em Odontologia pelo PpGO/ UEPB e professor da FASP e FSM;
4 Orientadora/Professora doutora da UEPB.

luzialaracoura@gmail.com

RESUMO: O sorriso gengival (SG) é uma desordem estética


causada pela exposição gengival excessiva. Tal condição afeta
negativamente o psicológico de alguns pacientes, além de criar
um grande obstáculo em suas interações sociais. O objetivo
deste relato de caso foi comparar a eficácia entre as técnicas
cirúrgicas de gengivectomia com Laser de Alta Potência (LAP)
e gengivectomia convencional para correção de SG decorrente
de erupção passiva alterada, mediante a análise do nível de
ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA GENGIVECTOMIA
CONVENCIONAL E COM LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA CORREÇÃO
DE SORRISO GENGIVAL DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA
ALTERADA: RELATO DE CASO

sangramento intraoperatório, dor pós-operatória e grau de


reparação e inflamação tecidual. A paciente do sexo feminino,
26 anos, não branca, compareceu à clínica não satisfeita com
a estética do seu sorriso. Foi realizado um exame clínico para
o diagnóstico do SG associado à erupção passiva alterada.
Para o tratamento, utilizou-se a gengivectomia convencional
nos dentes 11, 12 e 13 à direita e, no lado esquerdo, a
gengivectomia com laser de diodo (808 nm, 2 W, modo
contínuo), nos dentes 21, 22 e 23. Constatou-se, por meio da
análise termográfica, que as duas técnicas promoveram nível
de inflamação tecidual semelhante. Ademais, a gengivectomia
com LAP foi mais eficaz no que diz respeito à ausência de
sangramento intraoperatório, todavia, a técnica convencional
promoveu uma melhor reparação tecidual após 14 dias da
realização dos procedimentos cirúrgicos. A paciente não relatou
qualquer dor pós-operatória com as duas técnicas.
Palavras-chave: Crescimento excessivo da gengiva.
Gengivectomia. Lasers

INTRODUÇÃO

A estética do sorriso é mensurada pela relação entre a


gengiva, os dentes e os lábios e, idealmente, deve revelar uma
leve exposição gengival, o que confere uma aparência jovem
ao sorriso. O desequilíbrio da relação entre esses componentes
causa uma estética facial desfavorável (NARAYANAN et al.,
2015; OBEROI et al., 2017). Nesse sentido, o sorriso gengival
(SG) é uma desordem estética causada pela exposição
gengival excessiva (CHAGAS et al., 2018). Contudo, pode
haver ressalvas nesse conceito, ao se considerar aspectos
ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA GENGIVECTOMIA
CONVENCIONAL E COM LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA CORREÇÃO
DE SORRISO GENGIVAL DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA
ALTERADA: RELATO DE CASO

étnicos, sociais e culturais (YUN et al., 2019). Tal condição afeta


negativamente o psicológico de alguns pacientes, além de criar
um grande obstáculo nas interações sociais dos mesmos
(FARISTA et al., 2017; PEDRON, MANGANO, 2018).
O SG é uma das alterações mais comuns na
população, com prevalência de 10,5% a 29%, com predomínio
no sexo feminino (MOSTAFA, 2018; PEDRON, MANGANO,
2018). Essa condição resulta de etiologias variadas, podendo
ter causas extraorais, como excesso vertical maxilar,
hipermobilidade muscular labial e lábio superior curto, ou
causas intraorais, como erupção compensatória, erupção
passiva alterada, as quais podem ocorrer separadamente ou
em conjunto. (ABDULLAH et al., 2014; FARISTA et al., 2017;
PEDRON, MANGANO, 2018). A erupção passiva alterada
divide-se em dois tipos, tipo I e tipo II (COSLET, VANARSDALL,
WEISGOLD, 1977), e esses dois tipos dividem-se em dois
subtipos, subtipo A e subtipo B (EVIAN, CUTLER,
ROSENBERG, SHAH, 1993; YADAV, MADAAN, KINI,
PADHYE, 2015). A correção do SG decorrente da erupção
passiva alterada é realizada de acordo com seu tipo. Para os
casos do tipo 1A, é indicada a gengivectomia, enquanto nos
casos do tipo 2A, indica-se a realização de retalho posicionado
apicalmente e, para os casos dos tipos 1B e 2B, deve ser
realizado o aumento de coroa clínica (gengivectomia e cirurgia
óssea) (FERNANDES, SHEIKH, 2017; MELE et al., 2018).
Dentre os métodos cirúrgicos para o tratamento do SG,
pode-se destacar a gengivectomia, que é caracterizada como
um procedimento ressectivo, o qual diminui a quantidade da
ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA GENGIVECTOMIA
CONVENCIONAL E COM LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA CORREÇÃO
DE SORRISO GENGIVAL DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA
ALTERADA: RELATO DE CASO

gengiva inserida, removendo tecido mole (SOBOUTI et al.,


2014). Essa terapia pode ser executada pela técnica
convencional com bisturi, eletrocirurgia, quimiocirurgia e laser
de alta potência (LAP), sendo a cirurgia convencional o método
mais comum (ÖNCÜ, ERBEYOĞLU, ALAN, 2017), podendo ser
realizada com uso de gengivótomos (Kirkland e Orbans) ou
lâminas cirúrgicas (KOHALE, AGRAWAL, RAUT, 2018).
A técnica convencional possui manejo facilitado, pois
permite incisão precisa sem causar danos aos tecidos
adjacentes (AKRAM et al., 2017). Todavia, apresenta
sangramento excessivo durante a cirurgia e provoca acentuado
desconforto ao paciente no período pós-operatório (ÖNCÜ,
ERBEYOĞLU, ALAN, 2017). Outro aspecto importante a ser
avaliado é a cicatrização dos tecidos, pois, devido à contração
das margens, pode produzir resultados funcionais e estéticos
insatisfatórios após a formação do tecido cicatricial, além disso,
requer um período considerável para que ocorra uma reparação
tecidual satisfatória (SANT’ANNA et al., 2017).
Já a cirurgia utilizando o LAP, mais recente e menos
utilizada, é muito promissora. Seu uso fornece hemostasia
adequada, reduz o risco de infecção e previne danos aos
dentes e ossos. Além disso, o contorno estético da gengiva com
o uso do LAP é um procedimento minimamente invasivo que
pode produzir resultados imediatos e é facilmente aceitável pelo
paciente. O seu uso permite controle completo sobre o
procedimento, pois possibilita a realização de contornos
repetidos, melhor visão do campo operatório, a fim de obter
excelentes resultados em termos de altura, contorno e simetria
ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA GENGIVECTOMIA
CONVENCIONAL E COM LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA CORREÇÃO
DE SORRISO GENGIVAL DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA
ALTERADA: RELATO DE CASO

da gengiva, além de possibilitar o surgimento de menor edema


e cicatrização mais rápida, quando se trata do gerenciamento
de tecidos moles (SOBOUTI et al., 2014; NARAYANAN et al.,
2015).
Nesse sentido, o objetivo desse relato de caso foi
comparar a eficácia entre as técnicas cirúrgicas de
gengivectomia com LAP e gengivectomia convencional para
correção de SG decorrente de erupção passiva alterada,
mediante a análise do nível de sangramento intraoperatório, dor
pós-operatória, grau de reparação e inflamação tecidual por
meio do exame termográfico infravermelho.

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, 26 anos de idade, não


branca, compareceu na Clínica Escola do Departamento de
Odontologia da Universidade Estadual da Paraíba - Campus I,
localizado na cidade de Campina Grande - PB, não satisfeita
com a estética do seu sorriso. Após exame clínico e
radiográfico, foi constatado que a paciente possuía SG
decorrente de erupção passiva alterada. Foi realizado exame
físico intrabucal antes do tratamento para o diagnóstico do SG
associado à erupção passiva alterada (COSLET et al., 1977).
Além disso, foram realizadas fotografias extra (Figura 1) e
intraorais da paciente sorrindo, as quais foram analisadas por
uma periodontista.
Previamente aos procedimentos cirúrgicos, foram
avaliados os seguintes parâmetros: comprimento da coroa
ANÁLISE CLÍNICA E TERMOGRÁFICA DA GENGIVECTOMIA
CONVENCIONAL E COM LASER DE ALTA POTÊNCIA PARA CORREÇÃO
DE SORRISO GENGIVAL DECORRENTE DE ERUPÇÃO PASSIVA
ALTERADA: RELATO DE CASO

clínica, que foi determinado utilizando-se uma sonda


milimetrada UNC (HU-FRIEDY Mfg, Co., LLC, Chicago, EUA),
sendo a medição realizada da borda incisal à margem gengival
(SONG et al., 2017); profundidade de sondagem, cuja medida
foi mensurada da margem gengival até a base do sulco
gengival, introduzindo-se uma sonda milimetrada no sulco
gengival no sítio periodontal médio-vestibular, sendo medida
em milímetros (DOS SANTOS et al., 2014) (Figura 2).

Figura 1. Fotografia extraoral da paciente.

Fonte: Pesquisa direta. 2020

Outrossim, foi realizada a avaliação da largura da


gengiva ceratinizada, medida da margem gengival livre à junção
mucogengival, também utilizando-se a sonda milimetrada
(CLOSS et al., 2007). Além disso, foram coletados dados
referentes ao biótipo/ fenótipo gengival da paciente de acordo
com a classificação proposta por de Rouck et al. (2009).
Ademais, foram realizadas três radiografias periapicais
digitais nas regiões dos dentes 12 e 13, 11 e 21 e 22 e 23
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(Figura 3), logo após o exame clínico inicial, como auxílio


diagnóstico. Foram determinados o comprimento da coroa
anatômica e a distância entre a junção amelocementária e a
crista óssea dos dentes referidos anteriormente. A coleta dos
dados clínicos, em conjunto com os dados radiográficos,
fecharam o diagnóstico de erupção passiva alterada.

Figura 2. Avaliação da profundidade de sondagem utilizando


uma sonda milimetrada.

Fonte: Pesquisa direta. 2020

Após coleta dos dados sociodemográficos e da


avaliação clínica, optou-se pela realização da gengivectomia
convencional e com LAP. Além disso, foi preconizada a
profilaxia com pedra pomes e clorexidina à 0,12% e orientação
de higiene oral, previamente aos procedimentos cirúrgicos.
A gengivectomia convencional com bisturi foi realizada
com lâmina nº 15C, nos dentes 11, 12 e 13 da paciente, por
meio da técnica do bisel interno. Já a gengivectomia com laser
de diodo de alta potência (Thera Lase Surgery® - DMC
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Equipamentos, São Carlos, Brasil), no comprimento de onda


infravermelho (808~830 nm ± 20 nm), potência de 2 W, em
modo contínuo, fibra óptica de 400 μm, foi realizada nos dentes
21, 22 e 23 da paciente.

Figura 3. Radiografias periapicais mostrando a relação entre a


junção amelocementária à crista óssea. A linha vermelha
refere-se à junção amelocementária e linha azul ao nível da
crista óssea alveolar.

Fonte: Pesquisa direta. 2020

As regiões de fundo de sulco e interpapilares dos


dentes referidos foram anestesiadas com lidocaína a 2% com
vasoconstrictor epinefrina 1:100.000 (Alphacaine 100, DFL
Indústria e Comércio S.A., Rio de Janeiro/ RJ, Brasil). A
quantidade de tecido a ser removida foi demarcada com uma
caneta biológica (Biomarker ST, DMC Equipamentos, São
Carlos, Brasil). Em seguida, a área demarcada no lado direito
foi incisionada com a lâmina de bisturi e o tecido gengival foi
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removido com gengivótomo de Orban. Enquanto a área


demarcada no lado esquerdo foi removida com a fibra óptica do
laser, sob constante aspiração do ar para evitar a inalação da
poeira biológica, resultante da vaporização do tecido com o
laser. Após os dois procedimentos, a paciente recebeu
instruções pós-operatórias, como não ingerir alimentos
quentes, condimentados e evitar fazer atividades físicas por um
período de sete dias.
Ao final dos procedimentos cirúrgicos, a paciente foi
instruída a retornar à clínica nas 48 horas do pós-operatório e
também no 7º, 14º e 30º dias após a realização das duas
técnicas de gengivectomia, para que algumas avaliações pós-
cirúrgicas fossem realizadas e para que a sua recuperação
fosse observada com cautela.
A avaliação do sangramento intraoperatório foi
realizada no transcorrer dos procedimentos cirúrgicos. Nesse
sentido, foi possível constatar que a paciente apresentou
sangramento apenas no lado em que empregou-se a técnica
convencional, constatando-se sangramento sob a pele e nível
petequial (grau 1) (MILLER, HOOGSTRATEN, STAQUET,
WINKLER, 1981).
A paciente voltou à clínica após 48 horas, para que
fosse realizada a medição da inflamação gengival por meio do
exame termográfico infravermelho (Figura 4). Desse modo, foi
possível observar que as temperaturas no lado esquerdo e
direito eram semelhantes.
Para a obtenção da fotografia termográfica utilizou-se
uma câmera portátil de sensor infravermelho FLIR modelo T650
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Infrared, com lente de 25 mm e resolução espacial de 640 x 480


pixels, que oferece imagens térmicas e visuais de excelente
qualidade e sensibilidade térmica (0,05 a 30°C). Além disso,
essa câmera termográfica capta imagens com temperatura de -
40°C a 150°C e possui emissividade regulável. Para realização
da imagem, a câmera foi fixada em um tripé.

Figura 4. Registro termográfico da paciente 48 horas após a


realização dos procedimentos cirúrgicos.

Fonte: Pesquisa direta. 2020

O exame termográfico foi realizado na Sala de Exames


Termográficos do Laboratório de Termografia Infravermelha
(Departamento de Odontologia – UEPB - Campus I). As
paredes de fundo, onde a cadeira da paciente foi posicionada,
são revestidas com placas de Poliestireno Expandido (EPS
isopor®) com espessura de 25 mm, papel alumínio e etil, vinil e
acetato na cor preta, formando uma barreira térmica isolante
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contra possíveis fontes externas de calor e fazendo com que


nenhuma imagem fantasma seja formada ou refletida no
momento do exame. Além disso, a sala é equipada com um
termohigrômetro digital que fica posicionado próximo ao sujeito,
onde são monitoradas a temperatura ambiente e a umidade
relativa do ar. Foram aguardados 20 minutos para estabilização
da temperatura ambiente (22 A 24°C) antes de iniciar o exame,
bem como a câmera térmica foi ligada previamente por tempo
similar.
Previamente a realização do exame termográfico, a
paciente recebeu orientações, a fim de evitar que fatores
externos interferissem na aquisição das imagens. Os exames
térmicos estavam de acordo com as diretrizes preconizadas
pela Academia Americana de Termologia (SCHWARTZ, 2008).
Os dados referentes à condição geral de saúde, peso e altura
da paciente também foram coletados. A paciente aguardou 15
minutos na sala de exame com temperatura média de 23±1 °C
e umidade relativa do ar entre 40 e 60% para atingir um
equilíbrio térmico preconizado (BRIOSCHI et al., 2003). Durante
a realização do exame termográfico, ela foi acomodada em uma
cadeira, posicionada de modo ereto, com plano sagital
perpendicular ao solo, com uma distância da câmera
padronizada de 0,30 m para aquisição da imagem. A
emissividade considerada para este estudo foi de 98%
(WOŹNIAK et al., 2015). Foi realizada uma aquisição
termográfica: frontal.
Após a realização do exame termográfico, a imagem
obtida foi armazenada. Para a análise da imagem térmica foi
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utilizado o software FLIR Tools v. 6.4 (FLIR®, Wilsonville,


Oregon, EUA). Na medição do gradiente térmico nas regiões
dos seis dentes onde foram realizadas as gengivectomias, foi
utilizada a ferramenta “ponto” em seis regiões de cada lado,
sendo estas logo acima dos zênites gengivais e regiões
interpapilares. Além disso, utilizou-se a ferramenta “linha”
envolvendo a região entre o zênite gengival do incisivo central
até o zênite gengival do canino, de cada lado.
Neste mesmo dia, a paciente foi questionada se alguma
dor a incomodou nas 24 e 48 horas pós-cirúrgicas. Para a
avaliação do nível de dor utilizou-se a escala visual analógica
(EVA). Essa consiste em uma linha horizontal de 10 cm, em
que, na extremidade esquerda há a indicação do número 0
(sem dor) e na extremidade direita há o número 10 (pior dor
possível) (GIFT, 1989). Todavia, a mesma relatou que não
havia sentido qualquer nível de dor.
No 7º dia do pós-operatório, foi realizada a análise do

grau de reparação tecidual (Figura 5), por meio do índice de

cura proposto por Landry, Turnbull e Howley (1988). Nesta

análise, a cicatrização é avaliada com um índice de cinco

escores, avaliado com os cinco parâmetros a seguir: cor do


tecido, sangramento à palpação, tecido de granulação, margem

de incisão e supuração. O nível 1 (Muito pobre – 2 ou mais

sinais estão presentes), quando ≥ 50% da gengiva vermelha,


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presença de sangramento à palpação, de tecido de granulação

e quando a margem da incisão não está epitelizada e há perda

de epitélio além da margem de incisão. O nível 2 (Pobre) refere-

se à ≥ 50% da gengiva vermelha, presença de sangramento à

palpação, de tecido de granulação e quando a margem da

incisão não está epitelizada, com tecido conjuntivo exposto.


Ademais, o nível 3 (Bom) ocorre quando 25-50% da
gengiva vermelha, ausência de sangramento à palpação, de
tecido de granulação e margem da incisão sem expor tecido
conjuntivo. O nível 4 (Muito Bom) ocorre quando 25% da
gengiva está vermelha, ausência de sangramento à palpação,
de tecido de granulação e margem da incisão sem expor tecido
conjuntivo. O nível 5 (Excelente) ocorre quando todos os
tecidos estão de coloração rosa, ausência de sangramento à
palpação, de tecido de granulação e margem da incisão sem
expor tecido conjuntivo.
Após essa análise, constatou-se que a paciente
apresentava nível 3 (Bom) de cicatrização, tanto no lado em que
foi utilizado o LAP, quanto no lado em que realizou-se a
gengivectomia com bisturi. Além disso, a paciente também foi
novamente questionada a respeito do nível de dor, entretanto,
não queixou-se dor.
Decorridos 14 dias, foi analisada a reparação tecidual,
podendo ser observado que o nível de cicatrização no lado em
que realizou-se a gengivectomia convencional foi maior do que
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no lado em que utilizou-se o LAP, sendo esses índices de 4 e


3, respectivamente (Figura 6).

Figura 5. Aspecto clínico do tecido gengival 7 dias após a


realização dos procedimentos cirúrgicos.

Fonte: Pesquisa direta. 2020

Figura 6. Aspecto clínico de 14 dias pós-operatório.


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Fonte: Pesquisa direta. 2020

Por conseguinte, no 30º dia do pós-operatório, a


paciente apresetou nível 5, isto é, excelente, de cicatrização
gengival em ambos os lados (LANDRY, TURNBULL, HOWLEY,
1988), o que pode ser visto na Figura 7.
Durante todo o acompanhamento pós-operatório a
paciente mostrou-se totalmente satisfeita com os
procedimentos cirúrgicos e com seu novo sorriso. Além disso,
a mesma permanece em proservação há 9 meses, sem
demonstrar recidiva do SG.

Figura 7. Aspecto clínico de 30 dias pós-operatório.


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Fonte: Pesquisa direta. 2020

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Farista et al. (2017), a harmonia de um sorriso


perfeito não é determinada apenas pela forma, posição, cor dos
dentes ou a estrutura dos lábios, mas principalmente pela
gengiva, evidenciando o seu papel vital na beleza do sorriso de
um indivíduo. Nesse sentido, a desordem estética causada pela
exposição gengival excessiva é chamada de sorriso gengival
(SG) (CHAGAS et al., 2018).
Os principais fatores etiológicos para o SG incluem
lábio superior curto, lábio superior hiperativo, condições
esqueléticas, como excesso maxilar vertical, ou condições
intraorais, como a erupção passiva alterada, clinicamente
apresentada por coroas clínicas curtas, podendo ser tratada, de
forma eficaz, com procedimentos cirúrgicos de alongamento da
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coroa periodontal (FERREIRA et al., 2016; RAMESH et al.,


2019). Além disso, embora nem sempre revele uma condição
de ordem patológica, os efeitos do SG podem ser debilitantes
para alguns pacientes, visto que o sorriso é importante para a
socialização, pois possibilita a expressão de sensações por
meio da dinâmica das estruturas faciais (HEGDE, HEGDE,
BHAT, 2014).
Para a análise da inflamação, no presente relato de
caso, utilizou-se a termografia infravermelha. Essa é
caracterizada como um método de diagnóstico por imagem não
invasivo que possui a capacidade de detectar, registrar e
produzir imagens infravermelhas que demonstram em tempo
real a dinâmica microcirculatória da superfície cutânea de
indivíduos, abrangendo os sistemas vascular, nervoso e
musculoesquelético, além de processos inflamatórios, bem
como condições endócrinas e oncológicas (HADDAD et al.,
2016). O estudo de Christensen et al. (2012) avaliou a
aplicabilidade da termografia como método de imagem de
inflamação após a remoção de terceiros molares inferiores,
apresentando como resultado, no exame pós-operatório de 2
dias, que a temperatura média foi significativamente mais alta
no lado operado do que no lado em que não foi realizado
qualquer procedimento cirúrgico.
Nesse ínterim, a termografia vem sendo utilizada na
Odontologia como método de diagnóstico de disfunção
temporomandibular (HADDAD et al. 2014; WOŹNIAK et al.
2015), assim como para detecção dos pontos-gatilhos da dor
miofascial (HADDAD, BRIOSCHI, ARITA, 2012). Além de
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também ser empregada como marcador de inflamação em


doenças como herpes labial (BIAGIONI, LAMEY, 1995) e
candidose (IOSIF et al., 2017). Entretanto, até o presente
momento não há relatos sobre a utilização da termografia
infravermelha como marcador de inflamação nos
procedimentos cirúrgicos periodontais. No presente relato de
caso, constatou-se que as temperaturas no lado esquerdo e
direito foram semelhantes, demonstrando que não houve
diferença entre o nível de inflamação promovido por estas duas
técnicas.
Durante os procedimentos cirúrgicos, a paciente
apresentou sangramento apenas no lado em que foi realizada
a gengivectomia convencional. Nesse sentido, a cirurgia com
bisturi pode causar sangramento desagradável durante e após
o procedimento e torna-se necessário cobrir o tecido gengival
exposto com curativo periodontal, em alguns casos
(CHETHANA, PRADEEP, 2016).
Tal fato corrobora o estudo de Akram et al. (2017) que
observou a presença de sangramento na gengivectomia
convencional, enquanto o procedimento cirúrgico com laser
apresentou-se relativamente sem sangue. O estudo também
afirma que, durante o uso do laser, o calor será gerado, e
resultará em coagulação, secagem e vaporização na área de
absorção de energia, o que evitará o sangramento selando os
vasos sanguíneos. Ademais, Campos et al. (2018) constataram
em seu estudo, por meio do relato de dois casos clínicos, que a
gengivectomia realizada por meio do laser de alta potência
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apresentou pouco sangramento em um dos casos e nenhum


sangramento no segundo caso clínico apresentado.
Levando-se em consideração o nível de dor pós-
operatória, pode-se constatar que a paciente não relatou
qualquer nível de dor no primeiro, segundo e sétimo dia, seja
no lado em que foi realizada a gengivectomia convencional ou
no lado em que utilizou-se o LAP. Nesse sentido, o estudo de
Sobouti et al. (2014) também constatou a ausência de dor em
pacientes que foram submetidos ao mesmo procedimento
cirúrgico com o LAP. Além disso, o estudo de Akram et al.
(2017) afirmou que a dor pós-operatória, resultante da
gengivectomia com LAP, era menor em comparação com a dor
na gengivectomia convencional, o que poderia ser atribuído ao
calor gerado pelo laser que inibe os receptores de dor e a
coagulação que proporciona um ambiente seco e isolado e com
menos infecções em feridas.
Ademais, o estudo de Iyamu, Saheeb e Edetanlen
(2013) demonstrou que 27,2% dos pacientes que foram
submetidos a procedimentos de gengivectomia convencional
registraram uma pontuação 8 na escala visual analógica no
pós-operatório, antes da utilização de analgésico, e uma
pontuação de 0 após o uso da medicação. Nesse contexto, a
percepção da dor em humanos envolve interações complexas
entre processos cognitivos e informações nociceptivas, com a
experiência subjetiva de dor moldada de forma ampla por suas
expectativas (SHIH et al., 2017), sendo assim, varia de acordo
com o indivíduo.
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O resultado referente ao grau de reparação tecidual,


evidenciado neste relato de caso nos 14 dias do pós-operatório
foi consonante com o estudo de Chethana e Pradeep (2016), o
qual indicou que após duas semanas a área em que foi
realizada a incisão com bisturi, para o aumento da coroa clínica,
revelou cicatrização satisfatória. Além disso, Prasad, Agrawal e
Reddy (2010) afirmaram que o período de cicatrização de
feridas com bisturi é mais rápido do que outras técnicas.
Entretanto, o fato de no 7º e 30º dias, após a realização dos
procedimentos cirúrgicos, a reparação ter sido a mesma nos
dois lados, demonstra também a eficiência do LAP, estando em
concordância com Kumar, Rattan, Rai (2015), que, em sua
pesquisa, constataram que o laser de diodo promoveu uma boa
coagulação e permitiu uma excisão mais precisa, o que resultou
em danos mínimos ou inexistentes aos tecidos adjacentes,
inclusive comparado a outros lasers, como CO2 e Nd:YAG.

CONCLUSÕES

A partir da análise termográfica, foi possível constatar


que as duas técnicas promoveram nível de inflamação tecidual
semelhante. A gengivectomia com LAP foi mais eficaz, no que
diz respeito à ausência de sangramento intraoperatório. A
técnica convencional promoveu uma melhor reparação tecidual
nos 14 dias após a realização das duas técnicas cirúrgicas,
entretanto, nos sete e 30 dias pós-cirúrgicos, o grau da
reparação foi o mesmo nos dois lados. Quanto ao nível de dor
pós-operatória, nota-se que as duas técnicas cirúrgicas
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empregadas foram satisfatórias, visto que a paciente não


relatou qualquer desconforto.

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ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

CAPÍTULO 7

ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E


DOENÇA PERIODONTAL / OBESIDADE E
DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO
DA LITERATURA

Laryssa Mylenna Madruga BARBOSA 1


Bruno Ferraz Barbosa da COSTA 1
Carla Jéssica Medeiros SILVA 1
Bárbara Rachelli Farias TEIXEIRA 1
Verônica Cabral dos Santos Cunha D’ASSUNÇÃO 2
1 Graduandos do curso de Odontologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do
DCOS/UFPB.
laryssamylenna@hotmail.com

RESUMO: Obesidade e doença periodontal estão entre as


doenças não transmissíveis mais prevalentes, apresentando-se
como preocupação de ordem pública, ao afetar a qualidade de
vida da população. Há evidências na literatura sobre a
influência da obesidade na progressão da periodontite,
apresentando-se mecanismos potenciais para uma relação
bidirecional entre as duas doenças. O presente estudo objetivou
realizar uma revisão bibliográfica sobre a associação entre
obesidade e doença periodontal, visando contribuir para o
conhecimento dos profissionais da área e para uma abordagem
integrada preventiva e terapêutica desses pacientes. A busca
bibliográfica foi realizada nas bases de dados Pubmed/Medline,
Lilacs e Scielo. Selecionou-se artigos publicados entre os anos
de 2015 e 2020. Dois autores realizaram leitura exploratória
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

inicial, seguida de leitura seletiva e síntese do conteúdo. As


evidências atualmente disponíveis ainda não são unânimes, no
entanto, pôde-se observar os mecanismos potenciais
subjacentes ao aumento do risco de desenvolvimento da
doença periodontal pela obesidade, e vice-versa. Há liberação
de citocinas derivadas do tecido adiposo no metabolismo, que
ao contribuir com uma inflamação sistêmica de baixo grau,
influencia a progressão da doença periodontal. Além disso,
ambas doenças são diretamente influenciadas pelos eixos
psicossocial e biológico. Logo, há uma importância evidente na
atuação de uma equipe multiprofissional e possibilidade de
estratégias individualizadas de tratamento pelos dentistas.
Palavras-chave: Obesidade. Periodontite. Qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

O termo doença periodontal (DP) diz respeito às


doenças que acometem um ou mais componentes dos tecidos
de suporte e revestimento do dente (periodonto), os quais
compreendem a gengiva, o osso alveolar, o cemento e o
ligamento periodontal (AZODO, 2015). Para que a DP aconteça
ocorrem desordens inflamatórias iniciadas por uma microbiota
patogênica presente no biofilme subgengival, que provoca uma
resposta imuno-inflamatória (SILVA et al., 2015). Resulta-se,
muitas vezes, na perda dos tecidos moles, do osso e por fim,
quando não tratada, dos dentes (RAPOSO, 2016).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define o
sobrepeso/obesidade como um acúmulo anormal ou excessivo
de gordura corporal, com implicações para a saúde (OMS,
2018). Trata-se de uma doença complexa e multifatorial
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

crônica, fortemente associada com múltiplas comorbidades


(SMIT, SMITH, 2016).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a partir de dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019,
mostrou que 6 em cada 10 brasileiros apresentavam excesso
de peso no referido ano, ou seja, o país possuía cerca de 96
milhões de pessoas acima do peso (sobrepeso ou obesidade).
Segundo dados da OMS (2018), estimou-se que em 2016 a
nível mundial existia 1,9 bilhões de adultos com excesso de
peso, em que pelo menos 650 milhões eram obesos.
A literatura atual tem sugerido a obesidade como fator
de risco para a doença periodontal. Nascimento et al. (2017)
relataram através de um estudo transversal, realizado no Brasil,
que a obesidade tem efeito direto sobre desfechos periodontais
desfavoráveis, principalmente no tocante ao sangramento à
sondagem e à perda de inserção. Além disso, embora haja forte
tendência de que a obesidade amplie o risco de periodontite,
tem sido sugerido, ainda que com evidências limitadas, que
essa relação seja de origem causal e possua mecanismos
potenciais para ser bidirecional (JEPSEN, SUVAN,
DESCHNER, 2020).
São diversos os mecanismos descritos na literatura
pelos quais se pode sugerir uma associação entre obesidade e
periodontite. Um deles é que o tecido adiposo (em excesso na
obesidade) secreta citocinas pró-inflamatórias, como fator de
necrose tumoral-α (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6). O aumento
de TNF-α e seus receptores resulta em estado
hiperinflamatório, levando à perda de inserção periodontal (ANA
et al., 2016). Outros estudos, entretanto, como o de Khan et al.
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

(2020), dentro de suas limitações, não conseguiram demonstrar


associação causal entre as duas doenças.
Diante do exposto, fica claro que a obesidade constitui
um grave problema de saúde que afeta grande parcela da
população mundial, e parece apresentar relação direta para a
ocorrência da periodontite, outro problema de saúde pública
que afeta a qualidade de vida dos pacientes e causa
preocupação nos profissionais. Assim, o presente trabalho
objetivou realizar uma revisão bibliográfica da literatura sobre a
associação entre a obesidade e a doença periodontal, visando
contribuir para o conhecimento dos profissionais da área sobre
o tema e consequentemente auxiliar para uma melhor
abordagem desse paciente com tratamentos mais
completos/integrados e eficazes.

MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica,


com finalidade de realizar o levantamento de evidência
científica acerca da relação de causalidade entre a obesidade
e a doença periodontal.
Para a realização da pesquisa foram utilizadas as
bases de dados eletrônicos: Pubmed/Medline, Lilacs e Scielo.
Como estratégia de busca foi utilizada a combinação dos
termos em inglês, de acordo com o MeSH (Medical Subject
Headings): “obesity” AND “periodontal diseases” utilizando a
opção avançada de pesquisa. Houve ainda a complementação
das buscas por meio da leitura das listas de referências dos
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OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

estudos selecionados, método utilizado como forma de ampliar


o número de trabalhos analisados.
Foram selecionados estudos completos nos idiomas
inglês e português, publicados no período entre 2015 e 2020,
relevantes em termos de delineamento das informações
desejadas.
A seleção dos trabalhos e compilação de dados foram
realizadas por dois pesquisadores, previamente treinados para
tais fins. Os quais revisaram cada trabalho e selecionaram os
artigos que apresentavam o tema e possuíam disponibilidade
de acesso nas bases de dados escolhidas.
Para a montagem da revisão bibliográfica, foi realizada
leitura do tipo exploratória de todo o material selecionado (uma
leitura rápida com objetivo de verificar se a publicação era
interessante para o trabalho); em seguida realizou-se também
a leitura seletiva (leitura mais ponderada de partes que, de fato,
fossem interessantes ao estudo); e, por fim, foi realizada a
síntese e montagem de todo o conteúdo teórico extraído das
fontes selecionadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O aspecto multifatorial da obesidade e da doença


periodontal apresenta extrema relevância quando se decide
estudar e considerar a associação entre essas duas alterações.
Ambas são diretamente influenciadas pelo eixo psicossocial e
pelo eixo biológico, o que reforça a necessidade de um
tratamento multiprofissional (ARBOLEDA et al., 2019).
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

Segundo o Centro de Controle de Doenças, nos


Estados Unidos, cerca de 40% dos adultos jovens (entre 20 e
40 anos) apresentam obesidade, enquanto que no Brasil,
estima-se que um em cada cinco adultos, na mesma faixa
etária, sejam obesos (OMS, 2018; HALES et al., 2020). Como
projeção futura, a Federação Mundial de Obesidade acredita
que em 2025 um em cada cinco adultos do mundo será obeso.
A organização cita, ainda, que os países com rendas mais
baixas, apresentarão maior aumento e menor probabilidade de
cumprir as metas estabelecidas pela OMS até 2025. Os dados
demonstram o alto grau de prevalência e de aumento da
doença em todo o mundo. Além disso, também trata do aspecto
social do problema, que é mais grave em países pobres e em
desenvolvimento (BRAY et al., 2017; HALES et al., 2020)
A obesidade pode ser definida como o acúmulo
anormal e excessivo de gordura que traga prejuízos à saúde.
Ela é caracterizada como uma doença crônica e multifatorial
que está relacionada com vários outros distúrbios sistêmicos,
como diabetes, problemas cardiovasculares e cânceres.
Atualmente, a obesidade é um dos maiores problemas de
saúde pública do mundo, com índices sempre crescentes. Isso
deve-se, principalmente, às dietas muito calóricas e ricas em
açúcares adotadas por grande parte da população mundial.
(JEPSEN, SUVAN, DESCHNER, 2020).
O Índice de Massa Corporal (IMC) é geralmente

utilizado para definir se o indivíduo apresenta sobrepeso ou

obesidade. O indivíduo apresenta sobrepeso quando os


ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

resultados são de 25 a 29,9 kg/m², acima disso é caracterizado

como obesidade. Há entretanto, algumas críticas de acordo

com a OMS (2018) a esse método, visto que é possível

conhecer por ele a adiposidade total, mas não a distribuição no

corpo do indivíduo. Para complementar esse índice, e poder

garantir um diagnóstico mais preciso, recomenda-se também

utilizar os índices de Circunferência da Cintura (CC) e Relação

Cintura/Quadril (RCQ), na qual a obesidade abdominal é

caracterizada quando CC ≥102 cm em homens e ≥ 88 cm em

mulheres, além de RCQ >0,90 em homens e >0,85 em

mulheres (MARTINEZ-HERREA, SILVESTRE-RANGIL,

SILVESTRE, 2017).
As consequências fisiológicas apresentadas em
indivíduos com obesidade se devem, principalmente, pela
inflamação e dano tecidual crônico desencadeado pelos
adipócitos. Essas células, que estão em excesso em pessoas
com obesidade, produzem adipocinas (citocinas) que levam a
um aumento das citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 E TNF-
α) e espécies reativas de oxigênio, levando a um dano tecidual.
O aumento de citocinas desencadeia a ativação dos receptores
de imunidade (Toll-like) que garantem um feedback positivo,
sensibilizando o sistema imune inato e aumentando a resposta
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OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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inflamatória através da ação dos macrófagos. Como esse é um


processo crônico e sistêmico, a inflamação recorrente pode
levar a uma série de consequências como aumento da
resistência à insulina e doença metabólica (OLIVEIRA et al.,
2020).
A síndrome metabólica consiste em uma série de
anomalias metabólicas que aumentam o risco de desenvolver
doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. Os fatores
que mais contribuem para seu desenvolvimento são: obesidade
visceral, intolerância à glicose ou diabetes, hipertensão arterial
sistêmica (HAS) e dislipidemia. A fisiopatologia da doença
consiste em um aumento significativo da resistência à insulina,
com aumento das citocinas pró-inflamatórias, criando um
ambiente de inflamação crônica sistêmica. Ainda que indivíduos
sem obesidade possam desenvolver a doença, a obesidade
visceral é o fator de risco mais comumente atrelado à síndrome.
A síndrome metabólica apresenta vias inflamatórias
semelhantes as presentes na periodontite e obesidade, o que
aumenta também a hipótese de associação entre essa
síndrome e a DP (MCCRACKEN, MONAGHAN,
SREENIVASAN, 2018; JEPSEN, SUVAN DESCHNER, 2020).
A periodontite é uma doença inflamatória crônica de
origem bacteriana que acomete as estruturas de suporte
dentário. É uma doença biofilme dependente. Apesar disso,
outros fatores influenciam na doença, sendo ela considerada,
portanto, multifatorial. Tais fatores podem ser genéticos ou
adquiridos e influenciam na resposta imunológica do indivíduo
e na suscetibilidade deste à doença. Além dos fatores
biológicos, os sociais como higiene oral, hábitos alimentares e
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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tabagismo também são de grande influência para o


desenvolvimento da doença (ARBOLEDA et al., 2019).
Como visto, a periodontite é uma doença biofilme-
dependente, mas que depende da resposta imune para se
desenvolver. Em indivíduos saudáveis, existe uma simbiose
entre as bactérias produtoras do biofilme e o sistema
imunológico. Para que isso ocorra, deve haver um controle do
biofilme. Em pacientes comprometidos essa relação está
descompensada e as bactérias desregulam o sistema imune,
este produz uma série de quimiocinas e citocinas
(principalmente IL-6 e TNF-α) que induzem a resposta
inflamatória na região. Como na periodontite esse processo é
crônico, a constante inflamação da área causa a destruição
tecidual, nesse caso, dos tecidos periodontais (CHAPPLE et al.,
2017).
Sabendo, então, da multifatorialidade dessas doenças,
há diversos mecanismos potenciais com evidências sólidas
pelos quais a obesidade pode aumentar o risco de periodontite,
representado na figura 1 e discutidos adiante (JEPSEN, SUVAN
DESCHNER, 2020)

Figura 1. Potenciais mecanismos pelos quais a obesidade


pode aumentar o risco de periodontite.
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

Fonte: Adaptado de Jepsen, Suvan, Deschner, 2020.

Além da relação inflamatória já citada, evidencia-se


também que a resposta da imunidade inata às bactérias
periodontais é disfuncional na obesidade. Os ácidos graxos
livres, moléculas pró-inflamatórias encontradas em grande
quantidade em pacientes obesos, ligam-se constantemente a
receptores da imunidade inata, Toll-like, promovendo uma
tolerância devido ao estímulo crônico. Dessa maneira, sem uma
resposta correta de células imunoinflamatórias, há invasão das
bactérias periodontopatogênicas e consequententemente
ocorre um agravamento da destruição periodontal (SALTIEL,
OLEFSKY, 2017).
Tam e colaboradores (2018) concluíram que as
diferenças na composição e diversidade microbiana entre os
grupos de obesos (IMC ≥30 kg/m2) e não obesos (IMC <30

kg/m2) foram estatisticamente significativas. Foram


encontradas maiores quantidades de Tannerella forsythia e
Porphyromonas gingivalis no grupo de obesos, sendo essas
bactérias bucais anaeróbicas que compõem o biofilme
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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subgengival em seu estágio final de desenvolvimento, chamado


de complexo vermelho. Dessa forma, é necessário investigar se
a obesidade promove uma maior destruição periodontal, devido
ao aumento do número de bactérias periodontopatogênicas na
microbiota oral.
Além disso, as citocinas pró-inflamatórias derivadas de
adipócitos e macrófagos podem ainda afetar negativamente a
função das glândulas salivares, o que sugere que os
mediadores inflamatórios têm papel importante na hipofunção
das glândulas salivares em indivíduos obesos. Dessa forma há
predileção não apenas por doença periodontal, mas também
pela cárie dentária, reforçando ainda mais o efeito negativo da
obesidade na saúde bucal (ROA, DEL SOL, 2018).
A gordura dietética também afeta fortemente a saúde,
ao modular a composição da microbiota intestinal e a
inflamação sistêmica de baixo grau. Os mecanismos que ligam
a gordura alimentar, a microbiota intestinal e a obesidade são
mediados pelo aumento da permeabilidade intestinal e
endotoxemia sistêmica, sendo esse último responsável pelo
aumento da inflamação periodontal, relacionando novamente a
obesidade à destruição periodontal (CÂNDIDO et al., 2017).
Enquanto o estresse psicológico é conhecido por ser
um fator de risco relevante para diversas condições
inflamatórias, incluindo a doença periodontal, há pesquisas que
também correlacionam a ansiedade, obesidade e doença
periodontal, ao ser encontrado resultados estatisticamente
significativos (KOLTE, KOLTE, LATHIYA, 2016).
É também citado na literatura, por Jepsen, Suvan e
Deschner (2020), mas de forma menos evidente, os diferentes
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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mecanismos através dos quais a periodontite poderia aumentar


o risco do desenvolvimento da obesidade, listados na figura 2.

Figura 2. Potenciais mecanismos pelos quais a periodontite


pode aumentar o risco da obesidade.

Fonte: Adaptado de Jepsen, Suvan, Deschner, 2020.


Na periodontite, como doença inflamatória crônica,
ocorre liberação no fluido gengival e na gengiva de citocinas
pró-inflamatórias, como IL-6 e TNF-α, bem como de espécies
reativas de oxigênio. Existe demonstração em estudos do
aumento desses componentes também no soro de pacientes
com periodontite. Comprovou-se a liberação de adipocinas pró-
inflamatórias pelas células periodontais, o que implicaria em um
estado inflamatório sistêmico de baixo grau, característico
também na obesidade, pela existência dos mesmos
componentes na circulação (MARTINEZ-
HERRERA,SILVESTRE-RANGIL,SILVESTRE, 2017).
Associou-se também a inflamação ocasionada pela
periodontite com a inibição de receptor de insulina e sua
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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sinalização, levando a uma resistência à insulina. Blasco-Baque


et al. (2016) mostraram que a periodontite, induzida por
Porphyromonas gingivalis em camundongos, ocasionou tanto à
disbiose da microbiota periodontal, quanto resistência à insulina
por meio de uma resposta imune adaptativa prejudicada.
Consequentemente, houve o aumento do nível de insulina
circulante ocasionado inicialmente pela periodontite.
A insulina desempenha papéis na captação de lipídeos,
lipólise e lipogênese, além de controlar os níveis de glicose no
sangue. Essa insulina circulante excessiva, devido a
periodontite, poderia então estar associada à expansão do
tecido adiposo e à obesidade, sendo necessário mais
pesquisas para a comprovação de causalidade (PAGE,
JOHNSON, 2018).
É possível que a periodontite contribua com a
obesidade por meio de regulação positiva ao receptor funcional
da grelina. Nokhbehsaim et al. (2019) demonstraram pela
primeira vez que a IL-1β regula positivamente o receptor
funcional da grelina, em células fibroblásticas periodontais. No
entanto, são necessárias mais pesquisas para associação
desse hormônio com a doença periodontal e obesidade.
Outra associação poderia ser feita a partir das perdas
dentárias e mobilidade dental associada à periodontite,
podendo levar a modificação da dieta, diminuição da eficiência
mastigatória e impacto negativo na qualidade de vida
relacionados à função e à estética desses pacientes
(FERREIRA et al., 2017; MENDONÇA et al., 2019).
Como já citada, a associação entre a síndrome
metabólica e a periodontite tem sido sugerida na literatura em
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OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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razão dos fatores que envolvem o estresse oxidativo sistêmico,


a presença de uma resposta inflamatória exacerbada e o
compartilhamento de fatores de risco em comum. Todavia, a
compreensão integral dessa associação ainda não foi
claramente definida (LAMSTER, PAGAN, 2017; ABDALLA-
ASLAN, 2019).
Conforme analisado por Koo e Hong (2018), embora os
critérios diagnósticos da síndrome metabólica exijam a
presença de pelo menos, três de seus componentes de
alteração metabólica (hipertensão, dislipidemia ou
hiperglicemia que promovem a diabetes mellitus tipo 2 ou a
doença cardiovascular aterosclerótica), a presença de um ou
dois componentes já aumenta de maneira considerável o risco
de periodontite. Assim, Jepsen et al. (2020) evidencia em seus
achados que os componentes da síndrome metabólica estão
associados com a periodontite por meio de vários mecanismos
fisiológicos. Como incentivo ao estudo dessa associação, os
resultados obtidos por Tanaka (2018) mostraram que os
participantes com periodontite tiveram 44% mais chances de
desenvolver a síndrome metabólica em relação aos pacientes
sem doença periodontal.
Ainda, segundo Lamster e Pagan (2017), os
componentes mais relacionados ao risco de periodontite são a
hiperglicemia e a obesidade, com contribuições em menor grau,
a dislipidemia e a hipertensão. Enquanto a associação entre a
condição de inflamação gengival, a resistência à insulina e a
obesidade, de acordo com Casavalle et al., (2016), tem como
agente mediador o processo inflamatório presente devido a
desregulação metabólica.
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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Apesar dos mecanismos apresentados anteriormente


serem parcialmente compreendidos, parece haver uma
reciprocidade entre a periodontite e a dislipidemia (CHOI,
2018). Enquanto em relação à hiperlipidemia e a periodontite,
associações significativas entre colesterol, triglicerídeos, níveis
de lipoproteínas de baixa e alta densidade foram observadas
(LIANHUI et al., 2017; NEPOMUCENO et al., 2017).
O diagnóstico periodontal em indivíduos com síndrome
metabólica e a abordagem adequada dos profissionais de
saúde para promover o controle e prevenção desse quadro
clínico é essencial, diante da condição da periodontite como
potencial fonte de carga inflamatória no organismo (ABDALLA-
ASLAN et al., 2019; MUSSKOPF et al., 2017).
Quanto ao impacto das intervenções periodontais e o
quadro da redução do bem-estar e alterações emocionais
advindas da situação de obesidade, Gonçalves et al. (2015)
avaliaram os efeitos da raspagem e alisamento radicular nos
níveis locais e séricos de adipocinas em pacientes com
periodontite. O procedimento não promoveu alterações nos
níveis séricos circulantes de adipocinas nesses pacientes.
Em contrapartida, Al-Hamoudi et al. (2018) observaram
que a raspagem e alisamento radicular foram métodos eficazes
para a redução de processos inflamatórios periodontais em
pacientes com e sem obesidade. Contudo, os níveis de resistina
salivar foram maiores no grupo portador da periodontite. Esses
pesquisadores concluíram que a periodontite influencia
diretamente a expressão dos níveis de resistina e IL-6 nesses
pacientes, sendo a obesidade um fator secundário.
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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Enquanto Akram e colaboradores, (2016) considerando


a terapia não cirúrgica ou ausência de tratamento periodontal,
observaram que os parâmetros periodontais melhoraram e
níveis de resistina diminuíram significativamente no grupo de
tratamento. Sendo esse nível de resistina salivar não associado
a melhorias nos parâmetros periodontais.
Além dos efeitos diretos sobre a saúde geral, a
obesidade como uma doença crônica, multifatorial e complexa,
promove implicações e desafios para a saúde pública. O quadro
clínico promovido por essa condição aumenta o risco de
doenças cardiovasculares, distúrbios respiratórios,
complicações diabéticas, cânceres, como também uma
importante ligação com as doenças periodontais e exige uma
abordagem interdisciplinar. Envolve, assim, os profissionais de
saúde em busca da potencialização dos cuidados e da
necessidade de ações sinérgicas sobre fatores de risco comuns
à condição crônica (TONETTI et al., 2017).
Os profissionais da odontologia, nesse contexto, são
agentes responsáveis por promover orientações necessárias
ao reforço da escolha de uma vida saudável. As semelhanças
dietéticas entre o aconselhamento preventivo bucal e a
promoção do peso saudável, a partir de uma dieta com baixa
ingestão de produtos açucarados, permite traçar perspectivas
consistentes para a manutenção e o controle efetivo do peso
corpóreo. O que auxilia na modificação dos fatores de risco
associados à obesidade e a alteração sobre o contexto da
periodontite. Em conjunto, o aconselhamento dietético
apresenta também fator crucial na diminuição da prevalência da
cárie dentária, afetando positivamente a saúde bucal da
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
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população (CHAPPLE et al., 2017; HUJOEL; LINGSTRÖM,


2017).
Contudo, essas medidas preventivas e a promoção de
saúde bucal deve partir da ação de uma equipe multidisciplinar,
para a expansão da consciência profissional sobre essas
associações de comprometimento sistêmico e
acompanhamento longitudinal desses pacientes (JEPSEN et
al., 2020).
Após cuidadosa leitura e compilação de achados
observou-se que a maioria dos autores encontraram
dificuldades ao desenvolver estudos sobre esse tema, devido
ao grande número de complicadores e vieses possíveis. Existe
a necessidade de desenvolver estudos mais completos, com
aspecto longitudinal, visto que a maioria apresenta caráter
transversal, fato esse que impossibilita a comprovação de
relação entre as duas comorbidades (KHAN et al., 2019).

CONCLUSÕES

Este estudo concluiu que as evidências disponíveis não


são unânimes frente a relação entre a obesidade e a doença
periodontal. No entanto, a realidade de pacientes com
obesidade e presença de doenças periodontais tem sido uma
problemática crescente no manejo clínico e questões de saúde
pública.
Pesquisas longitudinais e prospectivas adicionais
devem ser implementadas como forma de investigar a
prevalência, a extensão e a possibilidade de associação entre
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL /
OBESIDADE E DOENÇA PERIODONTAL: UMA REVISÃO DA
LITERATURA

as doenças periodontais e a obesidade, frente a magnitude em


relação à saúde integral desses indivíduos.
O papel dos profissionais de saúde na oferta de
medidas preventivas e na promoção da saúde periodontal,
nesse panorama, deve buscar conscientizar sobre o potencial
risco dessas complicações, instituindo estratégias
individualizadas de tratamento e cuidados adicionais a esses
pacientes.

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AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

CAPÍTULO 8

AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E
CONDUTA DE CIRURGIÕES-DENTISTAS E
MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A
DOENÇA PERIODONTAL E O DIABETES
MELLITUS
Verônica Cabral dos Santos Cunha D’ASSUNÇÃO 1
Luana Bárbara Rodrigues de FRANÇA 2
Eduardo SABA-CHUJFI 3
Fábio Luiz Cunha D’ASSUNÇÃO 4
¹Professora do DCOS/UFPB; 2Graduanda do curso de
Odontologia UFPB;
3Professor da SLMandic;4Professor do DOR/UFPB.

veronicacabralsca@gmail.com

RESUMO: A doença periodontal mantém uma relação


bidirecional com o diabetes mellitus. O diabetes é o fator de
risco sistêmico mais importante para a doença periodontal e, ao
mesmo tempo em que a doença periodontal é considerada a
sexta complicação do paciente diabético, o tratamento
periodontal demonstra ter um aspecto positivo na melhora do
controle glicêmico. Esse estudo propôs-se a avaliar o
conhecimento e a conduta de cirurgiões-dentistas e médicos
das Unidades de Saúde da Família do município de João
Pessoa, Paraíba, Brasil, frente à relação entre a doença
periodontal e o diabetes mellitus. A amostra foi composta por
87 cirurgiões-dentistas e 87 médicos, que responderam a um
questionário semiestruturado. Esses profissionais receberam a
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

visita da pesquisadora nas suas respectivas unidades de


lotação, abrangendo os cinco distritos sanitários do município.
Foi realizada análise descritiva e inferencial, com a utilização do
Teste Exato de Fisher simples e generalizado e, respeitando-se
um p˂0,05. Sobre os resultados, 12,94% dos médicos não
conheciam a doença periodontal. Houve uma associação
significativa (p = 0,0118) entre a relação da doença periodontal
com o diabetes e as classes profissionais, sendo os cirurgiões-
dentistas os mais conhecedores dessa relação. Portanto,
cirurgiões-dentistas e médicos reconhecem o tema, mas esse
conhecimento é mais claro para os cirurgiões-dentistas.Quanto
à conduta frente aos pacientes, esta parece adequada para
ambas as classes profissionais
Palavras-chave: Diabetes. Doença Periodontal. Educação.

INTRODUÇÃO

Já são antigas as evidências da relação entre as


doenças sistêmicas e as doenças orais. Diante disso, muitos
estudos e pesquisas, já ocorreram e ainda estão em
andamento, corroborando a existência da associação entre a
doença periodontal (DP) e o diabetes mellitus (DM), bem como,
visando elucidar os mecanismos imunopatológicos que
estabelecem essa relação (BUI et al., 2019).
Entre as doenças bucais, a DP em especial, pode
promover a disseminação de patógenos periodontais, endo e
exotoxinas de modo sistêmico, além de aumentar fatores pró-
inflamatórios, o que resulta em um comprometimento da saúde
sistêmica e um maior risco a pacientes que já possuem alguma
outra patologia, como distúrbio metabólico ou doença
cardiovascular (GOEL et al., 2017;BUI et al., 2019).
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

De acordo com as evidências científicas, entre as


doenças sistêmicas a que apresenta mais correlações com a
DP é o DM, que se caracteriza como uma desordem metabólica,
em que os pacientes apresentam ausência da produção de
insulina pelas células β pancreáticas (diabetes mellitus tipo 1),
pela perda da sensibilidade ou resistência à insulina, impedindo
sua ação (diabetes mellitus tipo 2), afetando diretamente o
metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas (JARDIM et
al., 2019).
A doença periodontal e o diabetes mellitus são duas
das doenças crônicas mais comuns em humanos e mantém
uma relação bidirecional, com o diabetes aumentando o risco
de doença periodontal e esta, por sua vez, afetando
adversamente o controle glicêmico e aumentando a gravidade
das complicações do diabetes (GENCO, BORGNAKKE, 2020).
O diabetes mellitus é um grupo de distúrbios
metabólicos em que ocorre hiperglicemia, decorrente da função
definitiva da insulina e/ou redução da produção de insulina
(GENCO, GRAZIANI,HASTURK, 2020). O DM é um problema
de saúde pública. A população mundial, portadora da doença é
estimada em 387 milhões de pessoas, com um crescente
aumento nos grupos mais jovens. Existem diversas
complicações decorrentes da deficiência no controle glicêmico,
que leva a um aumento no risco de morbidade (MALTA et al.,
2019).
A DP é uma patologia biofilme-dependente. O sistema
imune do paciente gera uma resposta, visando mitigar a ação
dos microrganismos no periodonto que atuam na progressão da
doença, entretanto essa resposta imunológica pode sofrer
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

alteração por um fator de risco sistêmico, como o controle


glicêmico deficiente. Acredita-se que o DM promova mudanças
vasculares como a micro angiopatia gengival e o aumento no
número de citocinas pró-inflamatórias que resultam na
mudança da resposta imune do periodonto. Existem diversos
estudos, que tentam elucidar e quantificar os efeitos do
tratamento das DPs sobre o controle glicêmico dos diabéticos
(TASDEMIR et al., 2018; LICCARDO et al., 2019).
Desse modo, a saúde bucal é de suma importância
para a prevenção da ocorrência de doenças periodontais e seu
agravamento em pacientes diabéticos, assim como, para a
prevenção e retardo das complicações decorrentes do diabetes.
Além disso, fatos se tornam ainda mais relevantes, quando são
considerados os dados da última SB Brasil (Pesquisa Nacional
de Saúde Bucal) realizada em 2010, que mostra que já existiam
no Brasil cerca de 20.300 equipes de saúde bucal/Programa de
Saúde da Família cobrindo 85% dos municípios brasileiros. Na
Paraíba o número de equipes de saúde da família é de 1195
espalhadas pelos 223 municípios, sendo dessas 1195, 180 no
município de João Pessoa (Ministério da Saúde, 2010).
Diante do exposto, este trabalho teve por objetivo
avaliar o conhecimento e a conduta dos cirurgiões-dentistas e
médicos que atendem nas Unidades de Saúde da Família
(USF’s) do município de João Pessoa, Paraíba, frente à relação
entre a doença periodontal e o diabete mellitus.
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

MATERIAIS E MÉTODO

O estudo “Avaliação do Conhecimento e Conduta de


Cirurgiões-Dentistas e Médicos frente à relação entre Doença
periodontal e Diabetes mellitus” foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia e Centro de
Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic sob o número
do protocolo 2012/0389.
Para a realização desta pesquisa foram utilizadas
folhas de papel A4 para a confecção dos questionários e dos
termos de consentimento e canetas esferográficas. O estudo,
de caráter local, foi conduzido como uma pesquisa descritiva,
transversal e quantitativa. O universo foi formado por todos os
cirurgiões-dentistas e médicos lotados nas 180 Unidades de
Saúde da Família do município de João Pessoa, Paraíba.
Foram incluídos no estudo todos os cirurgiões-dentistas e
médicos que fossem lotados nas Unidades de Saúde da Família
do município de João Pessoa, Paraíba, e que assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram
excluídos da amostra aqueles que se recusaram a participar da
pesquisa, por não assinar o TCLE ou aqueles que por motivo
de férias ou licença médica ou maternidade não se
encontravam nas suas referidas unidades. Neste último caso,
esses profissionais eram substituídos, quando possível, por
outros de outras unidades. No momento da pesquisa, o
município de João Pessoa apresentava 180 equipes de
profissionais (médicos e cirurgiões-dentistas) atuando nos cinco
distritos sanitários de saúde, conforme mostra a tabela 1. Note
que o número de médicos era inferior ao número de cirurgiões-
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

dentistas, significando dizer que em algumas equipes não havia


médicos. Alguns médicos estavam em processo de demissão e
estes ainda não haviam sido substituídos.

Tabela 1: Número de médicos e cirurgiões-dentistas por distrito sanitário em


João Pessoa, PB / 2012.

DISTR
EQUI CIRURGI MÉDI
ITO
PES ÕES-DENTISTAS COS
SANITÁRIO

I 45 45 37

II 38 38 30

III 53 53 52

IV 26 26 26

V 18 18 18
TOTA
180 180 163
L
Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa-PB/2012

Como o objetivo do estudo era estimar a proporção de


médicos e de cirurgiões-dentistas que conheciam e que lidavam
com a relação entre DM e DP, então o interesse recaiu em
estimar uma proporção. Além disso, como o contingente da
equipe médica era menor, optou-se por calcular o tamanho da
amostra para esse público e replicar o seu resultado para o
contingente de cirurgiões-dentistas e, quanto à essa escolha
não há nenhum dano estatístico. Assim, considerando que a
população é finita (N=163 médicos) e considerando que a
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

margem de erro para a área médica fica entre 5 e 10%, aqui foi
escolhida uma margem de 7,5% (𝐸𝑟𝑟𝑜 = 0,075) com 𝛼 = 0,05
(𝑧0,025 = 1,96). Foi considerado também que a proporção
verdadeira de médicos que realmente conheciam e lidavam
com o problema da relação DM × DP era de 50% (𝑝 = 0,50).
Como não se tinha ideia sobre essa proporção, decidiu-se (uma
decisão matemática-estatística) utilizar essa proporção igual a
50%, já que se sabe que esse valor reflete a máxima
variabilidade possível para o cálculo do tamanho da amostra,
ou seja, com o valor de proporção igual a 50% o tamanho da
amostra seria o maior possível garantindo uma cobertura
estatística para o pior caso possível. Logo, o total mínimo de
médicos que deveriam ser investigadas foi de 84.
Portanto, no mínimo, 84 médicos e 84 cirurgiões-
dentistas deveriam ser investigados nesse estudo, distribuídos
proporcionalmente aos tamanhos das equipes constantes em
cada distrito sanitário. Foi mantido o mesmo número de
médicos e de cirurgiões-dentistas para a coleta da amostra
como um critério para facilitar a comparabilidade na geração
dos resultados. Assim, os dados foram coletados, obtendo-se a
seguinte distribuição:
Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário
para os cirurgiões-dentistas com 2 questões subjetivas e 10
objetivas e um questionário para os médicos com 2 questões
subjetivas e 11 objetivas, elaborado para esta pesquisa,
confeccionado pela pesquisadora onde também foram
registrados dados como gênero, idade, tempo de formação,
instituição em que se formou e se o profissional tem alguma
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

especialização e/ou residência. Esse questionário foi baseado


em Sardenberg et al. (2011), mas também apresentou algumas
adaptações, realizadas pelos pesquisadores, para que este
instrumento fosse aplicável para as duas classes profissionais.

Quadro 1. Número de cirurgiões-dentistas e médicos entrevistados por


distrito sanitário em João Pessoa,Paraíba em 2012.
DISTRITO NÚMERO DE NÚMERO DE
SANITÁRIO CIRURGIÕES-DENTISTAS MÉDICOS

I 09 14

II 21 20

III 27 24

IV 17 15

V 13 14

TOTAL 87 87
Fonte: Própria

Foram selecionados os cirurgiões-dentistas e médicos


que estavam atuando nas USF’s do município de João Pessoa.
Essa seleção foi aleatória e realizada por distrito sanitário.
Foram visitadas 14 equipes no distrito sanitário I, 21 no distrito
sanitário II, 27 no distrito sanitário III, 17 no distrito sanitário IV
e 13 no distrito sanitário V. Foram realizadas visitas às USF’s e
esses profissionais foram abordados pela própria pesquisadora
responsável, a qual explicou os objetivos e a importância da
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

pesquisa e apresentou o TCLE. Em seguida, foi entregue o


questionário semiestruturado com questões abertas e fechadas
para ser devidamente preenchido pelo profissional e recolhido
em 20 minutos.
Foi realizada uma análise descritiva e exploratória dos
dados, com o cálculo de médias, mínimos, máximos e desvios-
padrão. Essa análise ainda foi aplicada em conjunto com um
teste estatístico de associação entre as variáveis qualitativas e
quantitativas, o Teste Exato de Fisher, em suas formas simples
e generalizado.
O nível de significância adotado foi α=0,05 ou 5%.Os
dados foram tabulados no Microsoft Excel 2010 e no programa
estatístico PASW Statistic versão 18.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou 174 profissionais, sendo 87


médicos e 87 cirurgiões-dentistas, e observou o conhecimento
e a conduta desses profissionais frente à relação entre o DM e
a DP.
Na tabela 2 estão expostos os resultados referentes a
análise do grau de conhecimento de médicos e cirurgiões-
dentistas sobre o diabetes e a doença periodontal. Pelo o que
está apresentado nesta tabela, todos os médicos inquiridos
conheciam a doença diabetes mellitus, mas 3,53% dos
cirurgiões-dentistas afirmaram não conhecer a doença. O fato
de ainda haver uma pequena parcela de cirurgiões-dentistas
que afirmou não conhecer o DM, pode sugerir uma limitação do
questionário, quando ele trouxe o termo mellitus, que gerou
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

dúvidas. Alguns profissionais achavam que diabetes era


diferente de diabetes mellitus. Isso foi percebido pela
pesquisadora, que observou alguns comentários de alguns
participantes à medida que iam lendo o questionário. Por outro
lado, a doença periodontal foi conhecida por 100% dos
cirurgiões-dentistas e por mais de 87% dos médicos. A tabela 2
ainda mostra o teste Exato de Fisher (coluna da “Significância”)
para medir a associação entre o conhecimento das doenças e
a classe profissional. O primeiro resultado (p=0,1206) mostrou
que não houve associação entre o conhecimento (ou não) do
diabetes mellitus e a classe profissional analisada, ou seja,
médicos e cirurgiões-dentistas, do ponto de vista estatístico,
conheciam “igualmente” a doença. Já quando se considerou o
conhecimento (ou não) da doença periodontal, concluiu-se que
existiu associação significativa (p=0,0003) com a classe
profissional, isto é, os cirurgiões-dentistas foram
estatisticamente mais conhecedores da doença periodontal do
que os médicos, resultado que vem confirmar o óbvio.
Comparando os 3,53% dos cirurgiões-dentistas que
não conheciam o DM com os 12,94% dos médicos que não
conheciam a DP, é possível sugerir que cirurgiões-dentistas
procuram saber um pouco mais da área médica do que os
médicos procuram saber da área odontológica. Inclusive,
durante a realização da entrega dos questionários, a
pesquisadora observou que muitos médicos, quando liam a
primeira pergunta que era sobre DP, achavam que havia um
erro no questionário, que aquele questionário deveria ser o do
dentista, pois “DP era um conhecimento que só o dentista
poderia saber”. Outro ponto de vista é o da existência de
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

possíveis arestas na estrutura curricular dos cursos de


Medicina. Umeizudike et al. (2016) corroboraram com esta
ideia, uma vez que mostraram um percentual de apenas 13,8%
de internos de Medicina reportando a doença periodontal como
fator de risco para diabetes, estando insuficientemente
capacitados para examinar ou discutir questões relacionadas à
saúde periodontal.

Tabela 2. Conhecimento dos profissionais com relação à diabetes e à


doença periodontal
Profissional
Médicos Dentistas Significância
Conhecimento da doença
(n=87) (n=87) (Valor-p)
Freq. % Freq. %
Diabetes Mellitus
Sim 86 100,00 82 96,47
0,1206 (a)
Não 0 0,00 3 3,53
Doença periodontal
Sim 74 87,06 86 100,00
0,0003 (a)
Não 11 12,94 0 0,00
(a) Através do teste exato de Fisher simples.
(b) Através do teste Exato de Fisher generalizado.

Até o momento havia se cumprido o objetivo de avaliar


o conhecimento isolado tanto do diabetes quanto da doença
periodontal das classes médica e odontológica. No entanto,
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

quanto ao grau de conhecimento da relação DM x DP foram


feitos questionamentos a ambas as classes profissionais.
De início, perguntou-se sobre o conhecimento da
existência da relação entre DM e DP e o resultado mostrou uma
associação significativa (p=0,0118) entre a existência da
relação DM e DP e as classes profissionais investigadas,
indicando, ainda, que o conhecimento dessa relação foi mais
claro para os cirurgiões-dentistas (84,88%) do que para os
médicos (67,82%). Esses resultados corroboraram com os
achados de Umeizudike et al. (2016) que afirmaram que
o conhecimento da doença periodontal como fator de risco para
doenças sistêmicas entre médicos residentes na Nigéria foi
inadequado. Por outro lado, eles não corroboraram com
Sardenberg et al. (2011) que encontraram 50% dos
endocrinologistas entrevistados conhecendo a DP e 68% deles
sabendo da existência da relação DM x DP.
Na tabela 3, adicionalmente, para os médicos, verificou-
se que 64,37% deles perguntavam se os seus pacientes
visitavam o cirurgião-dentista; 62,07% afirmaram que os seus
pacientes diabéticos já haviam relatado algum problema
periodontal, mas apenas para 19,54% dos médicos os
pacientes haviam relatado que o tratamento periodontal
melhorara o controle dos níveis glicêmicos; 59,77% dos
médicos informaram que já haviam se comunicado com algum
dentista sobre o tratamento de algum paciente diabético e
80,46% deles (médicos) já encaminharam seus pacientes
diabéticos ao dentista.
Já para as respostas fornecidas pelos cirurgiões-
dentistas, 95,35% disseram que já haviam perguntado se os
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

seus pacientes apresentavam diabetes; 88,37% dos cirurgiões-


dentistas informaram que pacientes com problema periodontal
já haviam relatado ser diabéticos; embora apenas 46,51% deles
(cirurgiões-dentistas) haviam afirmado que os pacientes
diabéticos não relataram que o tratamento periodontal ajudasse
a controlar os seus níveis glicêmicos.
Sobre a conduta dos grupos profissionais, a maioria dos
médicos (64,37%) nesse estudo perguntava se os seus
pacientes visitavam regularmente o dentista. Esses resultados
não estavam de acordo com os achados de
Obulareddy, Nagarakanti , Chava (2018) que mostraram
apenas 17,8% dos médicos avaliados encaminhando os seus
pacientes ao atendimento odontológico, mesmo conhecendo a
relação da saúde bucal com as doenças sistêmicas.
62,07% dos médicos, também afirmaram que os seus
pacientes diabéticos já relataram algum problema periodontal e
59,77% já se comunicaram com algum cirurgião-dentista sobre
o tratamento de algum paciente diabético, confirmando os
resultados de Sardenberg et al. (2011) que mostraram que 90%
dos seus entrevistados tinham pacientes que já apresentaram
problemas periodontais e 64% também já haviam se
comunicado com algum cirurgião-dentista sobre o tratamento
de algum paciente diabético, mas indo de encontro aos
resultados de Obulareddy, Nagarakanti , Chava (2018).
Nesse mesmo aspecto, a maioria dos cirurgiões-
dentistas perguntava na anamnese se o seu paciente
apresentava diabetes e a maioria deles também relatou que
pacientes com problema periodontal já relataram ser diabéticos.
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

Assim, para o presente estudo, tanto a maioria dos


médicos (67,82%) quanto à maioria dos cirurgiões-dentistas
(84,88%) entendiam a relação DM x DP, além de receberem,
observarem e identificarem os pacientes que apresentavam as
patologias examinadas, ou seja, ao que parece tudo estaria
“perfeito”: o médico não só trataria do paciente diabético, mas
também estaria preocupado com os seus problemas
periodontais; por sua vez, o dentista não só cuidaria do paciente
com a DP, mas também estaria atento com as complicações
que o diabetes poderá trazer à evolução da DP de seus
pacientes.
Um outro aspecto relevante e que aqui deve ser
ressaltado é o do paciente. Foi relatado pelos profissionais que
alguns pacientes diabéticos não perceberam nenhuma melhora
no controle de seus níveis glicêmicos após iniciarem o
tratamento periodontal. Isso foi mostrado, uma vez que apenas
19,54% dos médicos e 46,51% dos cirurgiões-dentistas
afirmaram que os pacientes não relatavam que o tratamento
periodontal ajudasse a controlar os seus níveis glicêmicos.
Esses resultados vêm confirmar os de Furlan et al. (2019), os
quais mostraram que a maioria dos pacientes, apesar do
acompanhamento multidisciplinar, apresentava pouco
conhecimento sobre o DM e suas complicações.
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

Tabela 3: Relações entre a diabetes e a doença periodontal por tipo de


profissional
Profissional

Médicos Dentistas Significância


Interrelações entre DM e DP
(n=87) (n=87) (Valor-p)

Freq. % Freq. %

Relação entre DM e DP
Sim 59 67,82 73 84,88
0,0118 (a)
Não 28 32,18 13 15,12
Você pergunta se o paciente
visita o dentista?(1)
Sim 56 64,37 -- --
----
Não 31 35,63 -- --
Você pergunta se o paciente
tem diabetes?(2)
Sim -- -- 82 95,35
----
Não -- -- 4 4,65

Algum paciente diabético já


relatou problema
periodontal?(1)
Sim 54 62,07 -- --
----
Não 33 37,93 -- --
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

Algum paciente com


problema periodontal já
relatou ser diabético?(2)
Sim -- -- 76 88,37
----
Não -- -- 10 11,63
Algum paciente diabético já
relatou melhoria no controle
glicêmico após tratamento
periodontal?
Sim 17 19,54 30 34,88

Não 54 62,07 40 46,51 0,0626 (b)

Não sei 16 18,39 16 18,60


Já comunicou a algum
dentista sobre o tratamento
de algum paciente
diabético?(1)
Sim 52 59,77 -- --
----
Não 35 40,23 -- --
Já comunicou a algum
médico sobre o tratamento de
algum paciente diabético?(2)
Sim -- -- 74 85,06
----
Não -- -- 13 14,94
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

Já encaminhou algum
paciente diabético ao
dentista?(1)
Sim 70 80,46 -- --
----
Não 17 19,54 -- --
(a) Através do teste exato de Fisher simples.
(b) Através do teste Exato de Fisher generalizado.
(1) Pergunta direcionada para a classe médica

(2)Pergunta direcionada para a classe odontológica

No que se refere a associação entre os esforços de


médicos e cirurgiões-dentistas em se aperfeiçoarem no tema
DM × DP, bem como no desejo de haver uma maior
aproximação entre essas duas classes de profissionais, os
resultados da tabela 4 mostraram que existia uma associação
significativa (p=0,0000) entre a leitura de artigos relacionando o
tema DM × DP e os profissionais; e entre a participação em
curso relacionado ao tema DM × DP e os profissionais
(p=0,0003). Nesses dois casos percebeu-se que a associação
significativa se deu, principalmente, porque os cirurgiões-
dentistas se mostraram mais interessados na leitura de artigos
(75,86% contra 25,29% dos médicos) e na participação de
cursos (91,95% contra 75,58% dos médicos) sobre o tema
abordado. .Esses dados podem ser comparados com os de
Sardenberg et al. (2011) que mostraram que 50% dos
endocrinologistas entrevistados leram algum artigo sobre o
tema relacionado e 76% deles fariam um curso. Tal interesse
dos profissionais é de suma importância, tendo em vista que,
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

em revisão sistemática realizada por Mauri-Obradors (2017)


sobre as manifestações orais do DM, todos os estudos que
investigaram a presença de xerostomia e alteração do paladar
revelaram uma maior incidência dessas patologias em
pacientes portadores do DM. Todavia, a principal manifestação
oral do DM encontrada foi a doença periodontal,reforçando
assim, a necessidade dos médicos e cirurgiões-dentistas em
conhecer sobre a relação entre essas doenças.
Finalmente, mesmo não havendo uma associação
significativa entre o desejo de aproximação e as classes
profissionais, notou-se que praticamente todos os médicos e
cirurgiões-dentistas concordaram que devia haver uma
aproximação maior entre essas duas classes profissionais para
facilitar o entendimento da relação DM x DP,ou seja, percebeu-
se claramente que havia para ambas as categorias, o desejo e
a vontade de se aproximarem, mas, muitas vezes, faltava a
atitude, o convite e o desarme do ego de uma ou outra classe
para que tal aproximação se concretizasse. Esses dados
também são coerentes com os de Sardenberg et al. (2011) nos
quais foi visto que 100% dos endocrinologistas entrevistados
prezavam uma aproximação com a classe odontológica.

Tabela 4: Aperfeiçoamentos sobre as doenças e aproximações de médicos e


cirurgiões-dentistas
Profissional

Médicos Dentistas Significância


Aperfeiçoamentos e Aproximações
(n=87) (n=87) (Valor-p)

Freq. % Freq. %
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

Já leu algum artigo relacionando


DM e DP?(1) (2)

Sim 22 25,29 66 75,86


0,0000 (a)
Não 65 74,71 21 24,14

Você participaria de algum curso


relacionado à DM e DP?(1) (2)

Sim 65 75,58 80 91,95


0,0038 (a)
Não 21 24,42 7 8,05

É possível haver uma aproximação


entre as classes médica e
odontológica?(1) (2)

Sim 87 100,00 85 97,70


0,4971 (a)
Não 0 0,00 2 2,30
a) Através do teste exato de Fisher simples.
(1) Pergunta direcionada para a classe médica.
(2) Pergunta direcionada para a classe odontológica.

Diante de todos esses resultados, é possível ainda


estruturar algumas ideias sobre a importância do conhecimento
e da conduta de profissionais, como médicos e cirurgiões-
dentistas da Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS),
frente à relação entre o DM e a DP. A primeira delas, segundo
Iser (2016), está relacionada às características epidêmicas que
o DM vem adquirindo, principalmente no que diz respeito a
maiores taxas de hospitalizações, a maiores necessidades de
cuidados médicos, a maior incidência de doenças
cardiovasculares e cerebrovasculares, cegueira, insuficiência
renal e amputações não traumáticas de membros inferiores.
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

Tudo isso, associado e justificado por um conjunto de


mudanças no estilo de vida, como obesidade por hábitos
alimentares danosos e, sedentarismo pela diminuição na
frequência de atividade física.
Uma outra razão, de acordo com Simberg, Feres
(2017), está relacionada ao impacto negativo que a periodontite
exerce na vida de indivíduos diabéticos, com incômodo durante
a mastigação, desconforto pessoal, inibição e até dor,
principalmente para aqueles indivíduos com periodontite
quando comparados àqueles que apresentam apenas um
quadro de gengivite. Nesse âmbito da qualidade de vida, pode-
se enfatizar ainda mais a importância do conhecimento e da
conduta de cirurgiões-dentistas sobre o diabetes e suas
implicações num paciente periodontal.
Finalmente, novos estudos e campanhas de
conscientização devem ser realizados para que o DM e a DP
sejam abordadas de forma integral pelas classes médica e
odontológica.

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos permitiram concluir que a maioria


dos médicos das USF’s de João Pessoa conhecia a Doença
Periodontal; médicos e cirurgiões-dentistas reconhecem a
relação entre DM x DP, mas este conhecimento foi mais claro
para os cirurgiões-dentistas do que para os médicos; a conduta
frente aos pacientes parece adequada para médicos e
cirurgiões-dentistas e, finalmente, os cirurgiões-dentistas se
AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

mostraram mais interessados que os médicos na leitura de


artigos e na participação de cursos sobre o tema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E CONDUTA DE CIRURGIÕES-
DENTISTAS E MÉDICOS FRENTE À RELAÇÃO ENTRE A DOENÇA
PERIODONTAL E O DIABETES MELLITUS

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EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

CAPÍTULO 9

EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO


TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS
Nívea Maria Nery GREGÓRIO¹
Aline de Azevedo OLIVEIRA¹
Andreza Mirelly de QUEIROZ¹
Luana Laureano GALDINO¹
Ítalo de Macedo Bernardino²
¹ Graduandas do curso de Odontologia, UEPB; ² Professor do curso de
Odontologia, UNIFACISA
nivinhamgn@gmail.com

RESUMO: Os probióticos têm se tornado alvos de buscas e


estudos para possíveis ações na cavidade oral, em decorrência
de seus resultados satisfatórios diante da mesma. Sabe-se que
esta região está constantemente em mudanças e interações de
microrganismos, e um desequilíbrio nesse processo pode
acarretar em distúrbios orais, como por exemplo, as doenças
periodontais. Estas, por sua vez, em estágio mais avançado,
estimulam respostas inflamatórias que podem gerar a perda de
tecidos que venham a suportar os dentes. O objetivo dessa
revisão parte do intuito de avaliar os efeitos dos probióticos no
tratamento de doenças periodontais. Como metodologia, foi
realizada uma busca nas bases de dados, utilizando termos de
busca Pubmed e BVS durante o período de 2016 a 2020, sendo
selecionados os artigos com maiores relevâncias. Sabe-se que
há resistência bacteriana aos antibióticos existentes para seu
tratamento coadjuvante, e é importante procurar novos
caminhos para se conseguir uma eficácia maior em sua
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

terapêutica, tendo resultados positivos para esses tipos de


situações. Como conclusão, as bactérias probióticas tornaram-
se uma possível vantagem para prevenção, e auxílio no
tratamento dessas, uma vez que são capazes de competir com
outros tipos de bactérias que causam injúria para esse tecido
periodontal. É importante que se analise o tipo de
microrganismo utilizado, e como aplicá-lo, para garantir um
resultado eficaz.
Palavras-chave: Probiótico. Periodontia. Doença periodontal.

INTRODUÇÃO

Atualmente, sabe-se que há uma diversidade de


doenças que afetam a cavidade oral, dentre elas encontram-se
as doenças periodontais. Estas, por sua vez, são tratadas,
primordialmente, pela raspagem e alisamento radicular e
controle diário do biofilme dental. Contudo, sabe-se que,
mesmo utilizando esta terapêutica, ainda é possível haver uma
nova colonização bacteriana e, por esse motivo, surge a
necessidade de estudar terapias coadjuvantes a esta, dentre
elas a probiótica (INVERNICI et.al, 2018). As patologias
periodontais fazem com que haja uma carga
periodontopatogênica bastante elevada, a qual permite que
bactérias possam ser danosas àquela região, principalmente
quando já existe a placa bacteriana. Nesse sentido, é
importante perceber que os probióticos se fazem presentes nas
mais variadas formas de tratamento, e encontram-se no centro
da descoberta de suas vantagens para a manutenção da saúde
bucal. (CARDOSO et.al., 2018).
A inovação ao tratamento de doenças periodontais tem
sido destaque quando relacionada aos probióticos. Estes são
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

microrganismos vivos capazes de trazer ganhos quando se


relaciona com a cavidade oral. Sabe-se que a terapêutica
convencional destas, se dá pelo desbridamento mecânico,
favorecendo a redução de acúmulo de biofilme, e em situação
mais acometida, da profundidade de sondagem da bolsa,
direcionando para a redução da inflamação (SOLER;
KÜSTNER, 2020). De modo a contribuir, os probióticos
consistem em ocasionar um efeito inibitório contra os
microrganismos que causam danos ao periodonto, através de
um processo de competição, o qual consiste na eliminação dos
malefícios ocasionados por estes. (MORALES et.al, 2018). Os
mesmos têm sido considerados bastante eficazes quando
administrados em quantidades adequadas, podendo equilibrar
o meio oral e auxiliar no sistema imunológico do indivíduo,
modulando-o e promovendo maiores efeitos colaborativos. De
um modo geral, são satisfatórios ao melhorar o parâmetro
clínico de indivíduos que apresentam doenças bucais, como a
cárie, gengivite ou periodontite, gerando a possibilidade de
diminuir a inflamação (GRUNER; PARIS; SCHWENDICKE,
2016).
Os probióticos podem ser encontrados em alimentos
laticínios fermentados, e é importante conhecê-los para saber
administrá-los de forma efetiva e ideal, para que sejam
considerados satisfatórios para o auxílio na cavidade bucal,
favorecendo a manutenção e promoção da saúde periodontal.
Desta maneira, o objetivo deste trabalho foi analisar quais
efeitos os probióticos possuem na região oral, e como eles
podem colaborar como coadjuvantes na prevenção e
tratamento de doenças periodontais.
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho parte do desejo de analisar


os efeitos dos probióticos no tratamento de doenças
periodontais através de uma revisão de literatura, sendo
utilizados estudos publicados no período entre 2016 a 2020.
Sua busca foi realizada através das bases de dados Pubmed e
BVS. Foi realizada a pesquisa empregando os termos de busca
“probióticos” e “doença periodontal”, combinados por meio dos
operados booleados “e/ou”, em português e inglês.
Para inclusão de artigos que atendessem ao tema em
questão, a pesquisa baseou-se em trabalhos completos
publicados em português inglês e espanhol, que tratavam do
assunto proposto. Dentre os critérios selecionados e
observados para a escolha dos artigos, foi a disponibilidade de
acesso ao texto de forma completa, de modo que houvesse
clareza do conteúdo. Além disso, foram feitas leituras e análises
criteriosas dos artigos científicos, selecionando aquele de
melhor escolha para o tema.
Os textos foram selecionados por sua relevância,
através de leituras exploratórias dos resumos e realizada
análise detalhada em artigos científicos, principalmente de
estudos clínicos. Foram excluídos os artigos que não se
referiram estritamente ao tema. Dessa forma contribuindo para
o processo de síntese e análise dos resultados de vários
estudos, criando um corpo de literatura compreensível.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca das bases de dados selecionada entre 2016 e
2020, resultou em uma quantidade total de 146 artigos, sendo
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

126 excluídos após leitura do título e resumo, resultando em 20


artigos para leitura na íntegra.
Após fazer a análise criteriosa de inclusão e exclusão,
foi selecionado um total de 14 estudos.
As enfermidades periodontais, juntamente com a cárie
dental, destacam-se como a maior parte das doenças orais.
Sabe-se que a uma microbiota periodontal desequilibrada, pode
ocasionar doenças periodontais, principalmente quando está
relacionada à periodontite. Esta, por sua vez, é capaz de
ocasionar um processo inflamatório ainda maior e intenso,
podendo progredir de forma rápida a depender da resposta
imune do hospedeiro. Quando evoluída, acomete região óssea
e tecidual, podendo levar a destruição dos mesmos (HO et.al,
2020).
O manejo das doenças periodontais baseia-se na
redução do nível da carga bacteriana e cicatrização do tecido.
Por estarem relacionadas com várias bactérias patogênicas, é
necessário ter o conhecimento dos organismos específicos de
forma criteriosa para se ter uma boa terapêutica (HO et.al,
2020).
O objetivo principal do tratamento em doenças
periodontais é evitar uma nova colonização de bactérias
patógenas, e os probióticos como meios auxiliares podem
proporcionar grandes benefícios no manejo das mesmas,
sendo coadjuvantes seguros e eficazes (HO et.al, 2020).
Probióticos
São definidos como microrganismos vivos capazes de
trazerem benefícios para a saúde dos indivíduos,
principalmente quando estão relacionados com a saúde oral.
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

São expostos como suplementos, e são facilmente encontrados


através de alimentos lácteos fermentados, além
de cereais utilizados para melhorar ou manter o bem
estar (MORAES et.al, 2019).
Os probióticos agem como promoção à saúde através
da liberação de compostos antimicrobianos. Os mesmos, por
sua vez, surgiram como uma alternativa aos antibióticos, e
podem colaborar para problemas na cavidade oral
(BUSTAMANTE et.al, 2019).
Há requisitos ideais para que os probióticos possam ser
inseridos como método de apoio para as infecções e
desequilíbrio da microbiota oral. Por esse motivo, os
mecanismos de ação são propostas como interação direta,
indireta, e também pelo método de exclusão através da
exclusão através da competição entre patógenos benéficos e
maléficos à região. Os mesmos devem aderir e
colonizar várias superfícies da área bucal, trazendo um
resultado mais satisfatório e com menos prejuízos
(BUSTAMANTE et.al, 2019).
Entre os microrganismos mais utilizados como
probióticos, estão os gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium.
Pertencem a classe de bactérias Gram-positivas
fermentadoras, que não causam patogenicidade e não
apresentam toxicidade. Os produtos lácteos são os veículos de
maior utilização para bactérias probióticas, uma vez que estes
contribuem para uma maior sobrevivência destas ao suco
gástrico (SANTOS et.al, 2020).
Mecanismo de ação dos probióticos
Os probióticos são importantes pelo fato de prevenir a
adesão e multiplicação e integração das bactérias ofensivas no
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

biofilme, e faz com que haja a inibição do crescimento destas


através da liberação de algumas substâncias como, por
exemplo, as bacteriocinas, ácidos orgânicos, ácidos
graxos livres e peróxido de hidrogênio (PERFECTO et.al, 2018).
Além disso, para a modulação do sistema imunológico,
eles ativam as células T reguladoras que induzem a tolerância
do sistema imune, e também, regula a liberação de citocinas e
aumentam a quantidade de células polimorfonucleares no sulco
periodontal.
A depender do tipo de probiótico, este pode agir de
maneira a aumentar a capacidade fagocitária e de macrófagos,
a exemplo do Lactobacillus Reuteri (PERFECTO et.al, 2018).
Com esse processo, os mesmos conseguem modular
a resposta do hospedeiro a esse acontecimento, podendo gerar
um cenário de melhora (CARDOSO et.al, 2018).
Probióticos na saúde oral
A cavidade oral fornece um ambiente com variados
tipos de microorganismos, que podem estar associados a
infecções notórias na mesma. Sabe-se que as bactérias são
predominantes nesses casos, podendo ser de várias espécies,
refletindo em qual região podem estar presentes, tendo a
oportunidade de sobreviver, por exemplo, como biofilme
(MONTI et.al, 2017).
É importante salientar que, quando há um desequilíbrio
da microflora, juntamente com o hospedeiro, a cavidade oral
sofre mudanças que não trazem benefícios para a mesma,
podendo haver o surgimento de doenças das estruturas bucais.
A cárie, gengivite, periodontite, halitose, candidíase e peri-
implantite estão dentre elas. Isso ocorre pelo fato de não estar
havendo um equilíbrio nessa área (MONTI et.al, 2017).
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

Relacionando-se com a cárie, os probióticos se


concentram no controle de microrganismos patogênicos por
bacterioterapia, de modo a ampliar a inibição e reduzir o
crescimento dos mesmos. Ao circundar o processo de halitose,
os probióticos podem atuar substituindo o lugar das bactérias
produtoras de mau hálito, prevenindo e a tratando, um exemplo
destes é Streptococcus Salivarius, pois está muito presente nas
superfícies orais e encontradas em pessoas que não
apresentam a doença (MONTI et.al, 2017).
Quando envolve a doença periodontal, o intuito é
reduzir patógenos endógenos, e no fortalecimento da barreira
epitelial. As bactérias probióticas podem ter essa capacidade,
desde que consigam promover a saúde periodontal com a
inibição do crescimento e metabolismo dos mesmos. Estes são
sensíveis ao ataque ácido, e acredita-se que bactérias do ácido
lático estejam associadas com essa relação (MONTI et.al,
2017).
Para melhorar a proposta de tratamento na cavidade
oral, seja ele periodontal ou não, os probióticos se encaminham
como resultados promissores, desde que estejam em
quantidades adequadas, trazendo benefícios para a cavidade
oral, sendo alternativa para a diminuição do número de
bactérias que venham a trazer prejuízos (SOLER; KÜSTNER,
2020).
Probióticos na terapia periodontal - Gengivite
A gengivite compreende uma mistura de espécies
Gram-positivas e Gram-negativas, sendo caracterizada como
uma inflamação intensa na região marginal, que, se não tiver o
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

controle pode evoluir para um grau mais avançado,


ocasionando ainda mais irritação da gengiva (LONGO et.al,
2018).
Estudos sobre a prevenção e tratamento da gengivite
com o uso de probióticos ainda são muito escassos, porém
pode ser um meio para que haja a redução de placas na região
afetada, a depender de estudos realizados, e do tipo de
bactérias probióticas colaborativas para o caso (LONGO et.al,
2018).
São necessários ensaios clínicos mais avançados para
que possa haver parâmetros clínicos periodontais, analisar o
avanço dos mediadores inflamatórios e microbiológicos, para
garantir uma efetividade maior dos probióticos quando
relacionados à gengivite (LONGO et.al, 2018).
Periodontite
Sabe-se que, em um contexto geral sobre a doença
periodontal, as bactérias do complexo vermelho têm predomínio
em variadas fases da periodontite, mostrando-se mais
patogênicos, o que não descarta a patogenia do microrganismo
que não pertence a este grupo, como a aggregatibacter
actinomycetemcomitans que também tem relação com essa
patologia (MORALES et.al, 2018).
A terapia periodontal tem focado em reduzir a carga
bacteriana dos patógenos do periodonto, fazendo com que não
haja uma maior invasão microbiana ao nível epitelial, impedindo
sua progressão ao longo do tempo. Devido a isso,
o tratamento convencional, mais o uso de antibióticos
em situações mais graves, contribuem para o alívio dessa
situação (MORALES et.al, 2018).
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

A quantidade de estudos focada nos probióticos,


quando relacionada à doença periodontal tem se tornado cada
vez mais importante. O tratamento da inflamação periodontal
está focado na redução dos patógenos, e é importante ter meios
auxiliares para o método convencional de raspagem e
alisamento radicular, superando as deficiências que estes
podem gerar, já que pode haver recolonização bacteriana
(IKRAM et.al, 2019).
Um ensaio clínico randomizado avaliou o efeito de
Bifidobacterium animalis, contendo pastilhas probióticas como
coadjuvante à raspagem e alisamento radicular em pacientes
com periodontite generalizada. Os resultados demonstram que
o grupo teste apresentou uma diminuição na profundidade da
bolsa durante a sondagem, e um ganho de inserção
significativo, principalmente naqueles que foram submetidos ao
teste antes da raspagem e alisamento radicular. Além disso,
apresentaram uma diminuição de patógenos orais do complexo
vermelho e laranja, bem como mediadores inflamatórios como
as citocinas (INVERNICI et.al, 2018).
Com o intuito de observar os benefícios dos probióticos,
outro estudo foi realizado, através de acompanhamento de um
ano nos pacientes com periodontite crônica, contendo pastilhas
probióticas com Lactobacillus reuteri como coadjuvante à
terapia periodontal inicial. Durante o estudo, os pacientes foram
divididos em dois grupos, sendo um utilizado raspagem e
alisamento radicular mais pastilhas com Lactobacillus reuteri,
enquanto o dois foi utilizado placebo junto com esta terapia
periodontal. Os resultados demonstraram que o índice de placa,
gengival, sangramento na sondagem, e profundidade de
sondagem foi reduzido, principalmente no grupo um, mostrando
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

mais uma vez que os probióticos podem ser úteis para retardar
a colonização de patógenos, e melhorar os resultados clínicos
de uma doença periodontal, incluindo a periodontite crônica, o
que pôde também ser comprovado ao se observar o estudo
anterior, em que a sondagem fora diminuída com a utilização
de outro microrganismo probiótico, mostrando, mais uma vez,
sua eficácia para o tratamento da doença. (TEKCE et.al, 2015).
A superfície radicular adequada é um fator de extrema
importância para a diminuição da periodontite, fazendo com que
esteja interligada à profundidade de sondagem que, estando
reduzida, garante o bom controle do processo inflamatório,
assim como no sucesso do tratamento (SOLER; KÜSTNER,
2020).
Sabendo-se que os probióticos competem com as
bactérias maléficas à cavidade oral, percebe-se que eles
conseguem gerar uma menor colonização das mesmas em
determinadas regiões, sendo positivos como coadjuvantes aos
tratamentos propostos para cada situação (MORAES et.al,
2019).
Probióticos Orais
As espécies probióticas mais abrangente durante
variados estudos são as de gênero Lactobacillus e
Bifidobacterium, e são escolhidas pelo fato de não estarem
envolvidas em meio a infecções, e tem uma relação bastante
satisfatória com o hospedeiro (MONTI et.al, 2017).
Além disso, as mesmas são consideradas acidogênicas
e acidúricas, levando a pensar que são cariogênicas e podem
trazer risco para a saúde bucal. Porém, elas apresentam
capacidade tampão de produtos lácteos que neutraliza essa
acidez exposta. Entretanto, é importante salientar que nem
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

todas as espécies presente nessas classes são probióticos


(MONTI et.al, 2017).
A presença dos probióticos é uma boa opção para
estabilizar a flora microbiana, e garantir que haja uma resposta
imune ao hospedeiro. Estes permitem que o desequilíbrio
gerado com o consumo de antibióticos seja reduzido, uma vez
que não ocasionam resistência bacteriana, e são considerados
microrganismos comensais, ajudando na saúde do hospedeiro,
principalmente periodontal (PERFECTO et.al, 2017).
Bifidobacterium
A bifidobacterium pode estar relacionada com a
redução do nível de biofilme presente em determinada região.
Com isso, é possível haver o efeito preventivo, já que colabora
para diminuição de placa bacteriana, atenuando a inflamação
gengival (CARDOSO et.al, 2018).
De uma forma geral, os probióticos vieram com o intuito
de estabilizar e restaurar a função microbiana oral, garantindo
o aumento das formas de benefícios potenciais no manuseio
clínico da doença periodontal, facilitando a forma como tratar a
mesma de forma mais interativa, dando ênfase a uma
terapêutica importante. (HO et.al, 2020).
Lactobacillus
Estes microrganismos se caracterizam por serem
comensais que se relacionam com o organismo do indivíduo, e
são capazes de inibir o crescimento de patógenos, trazendo
benefícios para o mesmo (MORAES et.al, 2019).
Quando se fala de índice de placa bacteriana, os
lactobacilos se tornam mais eficazes ao serem interligados com
meios alimentares, facilitando os efeitos nas doenças
periodontais, reduzindo a profundidade de sondagem, e
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

inflamação gengival, desempenhando papel importante como


agente antimicrobiano, uma vez que consegue garantir a
diminuição de agentes patógenos facilitadores da doença,
sendo útil para garantir satisfação ao paciente (CARDOSO,
et.al 2018).
Veículos de administração dos probióticos
A seleção de bactérias probióticas baseia-se no gênero,
origem e estabilidade das mesmas ao estar em contato com o
ácido estomacal, e à capacidade de produzir compostos
antimicrobianos. Os benefícios estão relacionados com o tipo
de administração, a quantidade, validade da preparação,
condição do hospedeiro e da microbiota, além do
armazenamento e transporte (SANTOS et.al, 2020).
Os produtos lácteos são os mais utilizados como forma
probiótica, uma vez que os lacticínios contribuem para que
estes sobrevivam ao meio estomacal. Contudo, existem outros
meios para serem passíveis dessas ações, como sorvete,
chocolate, carne, entre outros. A diversidade tem sido tamanha,
e com a alta tecnologia exposta, puderam existir o consumo de
formas farmacêuticas, como comprimidos, cápsulas e sachês e
devem ser de orientação do profissional de saúde (SANTOS
et.al, 2020).
As bactérias mais inseridas no processo de tratamento,
devido sua capacidade de sobreviver ao caminho do sistema
digestivo, e de proliferar no intestino, encontram-se lactobacillus
e bifidobacterium, permitindo estabilizar a flora microbriana, e
modular o sistema imune do hospedeiro (PERFECTO et.al,
2019).
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

Probióticos disponíveis para doença periodontal


Constatou-se que a utilização, por exemplo, de
Periobalance, com Lactobacillus Reuteri, foram eficazes na
diminuição da quantidade de patógenos periodontais, a
exemplo Aggregatibacter actinomycetemcomitans, colaborando
para uma melhoria de estado periodontal, assim como a
redução de inflamação gengival, restabelecendo o equilíbrio
(MONTI et.al, 2017).
Surgiu no mercado, uma nova forma de inserir
probióticos para ajudar no tratamento das doenças
periodontais. Há um número maior de estudos baseados no uso
de probióticos em determinados indivíduos, e demonstrou-se
que há variados formatos como pastilhas, sachês e até
comprimidos para o controle da injúria ao periodonto
(CARDOSO et.al, 2018).·.
Probióticos utilizados, concomitantemente com os
tratamentos básicos existentes, através da raspagem e
alisamento radicular, mostrou-se colaborativo para a diminuição
da inflamação, além de não precisar de um ato cirúrgico durante
o tratamento, sendo bastante satisfatório para o paciente que
será submetido a essa conduta, sendo mais um ponto positivo
para essa terapêutica (CARDOSO et.al, 2018).
Potencial de risco dos probióticos
Os probióticos, de um modo geral, não ocasionam
malefícios aos indivíduos, e vários estudos demonstram sua
eficácia na terapia periodontal, tendo um resultado satisfatório
para a mesma (PERFECTO et.al, 2018). No entanto, ainda são
necessários mais estudos clínicos para padronizar os
protocolos de prescrição e avaliar os efeitos do uso a médio e
longo prazo. E isso se faz necessário para saber interferir no
EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
PERIODONTAIS

momento correto, e saber como utilizar a conduta necessária


para cada caso, além de tornar o tratamento mais adequado
com o tipo de microrganismo inserido (PERFECTO et.al, 2018).

CONCLUSÃO

Diante do exposto, é possível perceber que a cavidade


oral tem se mostrado uma amplitude bastante elevada para o
uso de probióticos, verificando-se eficácias entre as variadas
doenças orais, dentre elas a periodontal. Conforme elucidado,
a utilização destes tem trazido ganhos e melhorias no cenário
da mesma, gerando uma perspectiva maior para seus
benefícios, garantindo uma nova forma de tratar as doenças
periodontais de uma forma mais avançada, usando-se de
associação de condutas.
Os probióticos conseguem proporcionar uma boa
condição oral para os indivíduos, e têm se mostrando de grande
amplitude para favorecer o mesmo. Contudo, é importante que
haja constantemente estudos sobre sua aplicação e seu
mecanismo de ação diante dessas patologias, além de observar
quais grupos de bactérias funcionam para essa situação, para
que surjam novas concepções de prevenção e tratamento,
garantindo uma maior saúde periodontal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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EFEITO DOS PROBIÓTICOS NO TRATAMENTO DE DOENÇAS
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treatment of chronic periodontitis: a 1-year follow-up study. Journal of Clinical
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.
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

CAPÍTULO 10

IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO
FENÓTIPO PERIODONTAL EM CIRURGIAS
DE RECOBRIMENTO RADICULAR:
REVISÃO DE LITERATURA
Bianca Carolina de Sousa SOARES 1
Hévylla Maiara Souza de MELO 1
Ana Karina de Medeiros TORMES 2
Karyna de Melo MENEZES 3
1Graduandos do curso de Odontologia UEPB-Araruna; 2 Professora de
Cirurgia do curso de Odontologia, UEPB-Araruna; 3
Orientadora/Professora de Periodontia do curso de Odontologia, UEPB
biancaodonto0@gmail.com

RESUMO: A determinação do fenótipo periodontal é um


importante fator a ser avaliado e individualizado durante o
planejamento de procedimentos odontológicos. Nesse contexto
o fenótipo periodontal se tornou um padrão amplamente
utilizado por apresentar vantagens como, reconhecer pacientes
com maior risco de recessões gengivais e a previsibilidade no
sucesso em reabilitações. Os tecidos periodontais apresentam
variações clínicas na arquitetura óssea e gengival, parâmetros
clínicos que auxiliam na tipificação de cada fenótipo e podem
influenciar e alterar o resultado estético e funcional de um
tratamento reabilitador. A exposição dos tecidos periodontais
decorrentes de recessões gengivais, necessitam de
procedimentos, para o recobrimento radicular dessa área
exposta. O recobrimento radicular, permite a reconstituição
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

estética e funcional. Deste modo, o objetivo deste trabalho é


analisar a importância da avaliação dos fenótipos periodontais
em caso de recobrimento radicular, através de uma revisão de
literatura a partir de trabalhos publicados nos últimos 5 anos
(2015-2020), por meio da busca bibliográfica nas bases de
dados eletrônicos PubMED/Medline, Scielo (Scientific Eletronic
Library) e Google Acadêmico. Portanto, a eleição dos métodos
de identificação dos fenótipos periodontais necessitam ser
adaptados para cada indivíduo durante o diagnóstico e
planejamento, no qual o enxerto de tecido conjuntivo, por meio
do aumento da espessura gengival, associada a uma técnica
cirúrgica, denotam vantagem de alteração da qualidade do
fenótipo gengival.
Palavras-chave: Retração gengival. Fenótipo. Periodontia.

INTRODUÇÃO

A avaliação do fenótipo vem sendo amplamente


estudada ao longo dos anos e tem se mostrado bastante
relevante na previsibilidade e consequentemente no sucesso
dos diversos tratamentos odontológicos, seja na ortodontia,
implantodontia, prótese e dentística estética ou restauradora
(KAHN et al., 2013). Isso se deve ao fato de que normalmente
os tecidos periodontais, mesmo saudáveis, apresentam
variações clínicas intra e interindividuais (DE ARAÚJO et al.,
2018).
A atual classificação das doenças e condições
periodontais e peri-implantares da Academia Americana de
Periodontia e da Federação Europeia de Periodontia (2017)
mostra que o fenótipo periodontal tem sido considerado um
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

aspecto da gengiva que indica uma dimensão passível de ser


mudada ao longo do tempo, dependendo de características
genéticas, fatores ambientais e intervenção clínica, podendo
ser específica do local (DE ARAÚJO et al., 2018).
A morfologia do fenótipo depende de vários
fatores, como a dimensão do processo alveolar, a anatomia dos
dentes, erupção dentária, posicionamento e a inclinação dos
dentes (MOREIRA, 2017; ABRAHAM et al., 2014).
O diagnóstico do fenótipo pode auxiliar a
identificar pacientes com maior risco de recessões gengivais,
reabsorção óssea severa, alteração de coloração dos tecidos
após a colocação de implantes e outras condições associadas
à perda de inserção (KAHN et al., 2013).
Os fenótipos podem ser classificados em
espesso, intermediário e fino, sendo descrito na literatura
diferentes métodos de diagnóstico e entre os métodos podem
ser citados: avaliação clínica; largura e espessura da mucosa
ceratinizada; altura e largura das papilas; altura e largura das
coroas; transparência à sondagem, fotografia intra-oral e
tomografia computadorizada. O fenótipo fino, por ser formado
de uma estreita faixa de mucosa ceratinizada, apresenta um
risco aumentado de recessão gengival (DE ROUCK et al., 2009;
DE ARAÚJO et al., 2018).
A recessão gengival é caracterizada pela migração
apical da margem gengival, com exposição da superfície
radicular como consequência, podendo causar desconforto
pela presença de hipersensibilidade dentinária e estética
prejudicada, além do aumento da prevalência de cáries
radiculares (STEFFENS, MARCANTONIO, 2018). Sua etiologia
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

é considerada multifatorial, pode ter como fator primário a


inflamação gengival associada ao acúmulo de biofilme e/ou ao
trauma de escovação, podendo destacar os agentes
predisponentes secundários o posicionamento incorreto dos
dentes, deiscência óssea, movimentação ortodôntica,
disfunção oclusal, fatores iatrogênicos, inserção muscular
atípica e pequena quantidade de gengiva queratinizada
(VENTURIM et al., 2011).
Existem algumas maneiras de prevenir e de tratar as
recessões gengivais, podendo optar em não realizar nenhuma
intervenção cirúrgica, utilizar enxerto para prevenir a recessão,
estabilizar a recessão ou recobrir a raiz exposta. Há algumas
alternativas para recobrir a área desnuda, como o enxerto de
tecido autógeno, retalho posicionado coronariamente ou
lateralmente, enxerto gengival livre e enxerto de tecido
conjuntivo (DE LIMA et al., 2020; SEGUNDO, ALVES, 2005).
O enxerto de tecido conjuntivo fornece um ganho clínico
de inserção, tecido queratinizado e recobrimento radicular em
casos de recessões gengivais, caracterizando uma alternativa
viável e bastante previsível para o tratamento dessas recessões
(VENTURIM et al., 2011).
Identificar o tipo de fenótipo periodontal é importante
esteticamente e funcionalmente, pois ele apresenta
características próprias que podem exigir alteração da
espessura gengival antes de procedimentos restauradores ou
reabilitadores na finalidade de prevenir casos de recessões
gengivais, entre outras condições (ZWEERS et al., 2014).
A partir disso, o objetivo desta revisão é avaliar a
importância da identificação dos fenótipos periodontais em
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

casos de recobrimentos radiculares, considerando a relevância


da distinção dos fenótipos na previsibilidade do sucesso nos
tratamentos.

REVISÃO DE LITERATURA

O periodonto é uma estrutura formada por tecidos de


proteção e suporte do dente, sendo eles: gengiva, ligamento
periodontal e cemento, conferindo à gengiva a proteção dos
tecidos adjacentes, que apresentam um aspecto firme,
coloração rosa pálido, podendo variar entre indivíduos; o seu
contorno se dá de acordo com a anatomia dentária e
alinhamento do arco do tecido ósseo, apresenta um aspecto
pontilhado, comumente conhecido como aparência de “casca
de laranja”. Desta maneira é possível reconhecer as
características de um periodonto saudável e suas variáveis, no
tratamento de doenças periodontais e suas repercussões
(CARRANZA et al., 2012).
Segundo De Rouck et al. (2009), a gengiva apresenta
particularidades anatômicas como a arquitetura óssea, a
espessura, o formato das coroas dos dentes e a quantidade de
mucosa ceratinizada, onde cada um desses fatores estão
intimamente envolvidos na determinação das características do
fenótipo periodontal, sendo importantes parâmetros clínicos
utilizados para estabelecer o fenótipo gengival.
Os mesmos autores estabeleceram a classificação de
três fenótipos gengivais, sendo eles categorizados em fino,
intermediário e espesso de acordo com suas características
clínicas. O fenótipo fino possui os contatos interproximais
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

próximos à borda incisal, uma estreitada faixa de mucosa


ceratinizada adjacente, apresenta ainda uma gengiva
clinicamente delicada e fina com coroas delgadas e triangulares
e de pouca convexidade cervical, e osso alveolar relativamente
fino. O fenótipo periodontal intermediário apresenta gengiva
com aparência fibrosa e grossa, coroas com anatomia mais
alongada e triangular, apresenta ainda uma faixa de mucosa
ceratinizada estreita e o arco altamente biselado e regular,
enquanto o fenótipo espesso é caracterizado com acentuada
convexidade na região cervical, contatos interproximais maiores
e posicionados no sentido apical, com ampla faixa de mucosa
ceratinizada adjacente, gengiva com aspecto fibroso e mais
grosso, seu arco gengival é evidenciado por bordas
arredondadas e coroas dentárias com formato quadrangular
(ARAÚJO et al., 2018; DE ROUCK et al., 2009).
Um recente estudo categorizou os fenótipos em três
categorias, o fenótipo recortado fino que está mais associado a
coroas triangulares delgadas, apresentando sútil convexidade
cervical, contatos interproximais próximos a borda incisal, uma
gengiva com aspecto fino e delicado e um osso alveolar
relativamente fino. O fenótipo espesso e plano com coroas
dentárias mais quadradas, convexidade cervical mais evidente,
íntimo contato interproximal localizado mais apicalmente, uma
ampla zona de mucosa ceratinizada, gengiva espessa e
fibrótica e um osso alveolar espesso, e por fim o fenótipo
recortado espesso, evidenciado por uma gengiva fibrótica
espessa, dentes com anatomia mais delgada, zona estreita de
mucosa ceratinizada e acentuado recorte gengival
(CORTELLINI, BISSADA, 2018).
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

A espessura gengival é analisada por alguns métodos,


eles são: a sondagem transgengival, medição ultrassônica e a
visibilidade da sonda, após sua colocação no sulco gengival.
Por meio da transparência da sonda periodontal através da
gengiva, a mesma foi definida e categorizada em fina ou
espessa, De Rouck et al. (2009), obtiveram alta
reprodutibilidade por meio desse método (CORTELLINI,
BISSADA, 2018).
A sondagem transgengival também pode ser realizada
por uma sonda periodontal ou agulha inserida verticalmente na
mucosa até a resistência do tecido ósseo, essa técnica é
auxiliada por um stop de silicone que é colocado em contato
com a mucosa na intenção de facilitar a leitura das medidas e
assim determinar a espessura do tecido periodontal, esse
método também pode ser aplicado para investigar níveis de
osso alveolar (RONAY et al., 2011).
Foi evidenciado por meio de alguns estudos que o
fenótipo fino está mais suscetível à deiscência, fenestração
ósseas e recessão gengival, devido a fatores como
procedimentos periodontais não cirúrgicos, movimentos
ortodônticos e traumas durante a escovação se comparado ao
fenótipo espesso. As características clínicas dos tecidos
periodontais podem apresentar variações entre indivíduos
devido a alguns fatores relacionados a gênero e idade, por
exemplo. O gênero masculino apresenta a gengiva mais
espessa em comparação ao sexo feminino, e avaliando a idade
dos indivíduos, analisa-se que a espessura da gengiva é
inversamente proporcional à idade (MOREIRA, 2017; REBELE,
et al., 2020; DE ARAÚJO, et al., 2018; BORGES, et al., 2019).
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

Com a avaliação dessas características dos tecidos


periodontais e a identificação prévia do fenótipo, há uma maior
probabilidade de prever casos de recessões gengivais,
reabsorção, alteração de coloração dos tecidos após colocação
de implantes, entre outros casos. Assim, necessita ser levado
em consideração essa definição e individualização do fenótipo
periodontal durante o planejamento restaurador e pré-
operatório, aumentando as chances de sucesso e
previsibilidade em reabilitações estéticas e funcionais (DE
ARAÚJO, et al., 2018).
Recessões gengivais ocorrem quando há um
deslocamento da margem gengival no sentido apical, podendo
ser classificada em localizadas ou generalizadas, em
consequência desse deslocamento há exposição da raiz e
junção cemento-esmalte. A deiscência e fenestrações
associados a fatores como mal posicionamento dentário,
trauma decorrente de escovação, próteses e restaurações
inadequadas e ainda histórico de tratamento ortodôntico, torna
o fenótipo fino mais suscetível ao deslocamento apical dos
tecidos periodontais (DE LIMA, et al., 2020; ADAM et al., 2019).
Devido a exposição de tecidos periodontais originada
da recessão gengival, decorrem implicações funcionais e
estéticas que necessitam de procedimentos alternativos
associados a métodos cirúrgicos periodontais, planejados para
o recobrimento dessa área exposta. Assim o recobrimento
radicular objetiva o aumento de gengiva queratinizada,
beneficiando o paciente com a reconstituição de padrões
estéticos e funcionais, como a diminuição da sensibilidade
radicular (DE LIMA et al., 2020; JENABIAN et al., 2016).
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

O recobrimento radicular possui alguns critérios a


serem levados em consideração durante a escolha da técnica,
para assim, elevar a previsibilidade de sucesso no tratamento
escolhido. O primeiro critério a ser discutido é a condição
estética, avalia se a recessão é visível durante o sorriso. O
segundo é se há mucosa ceratinizada apicalmente à recessão,
e por fim o terceiro critério é a espessura gengival ou fenótipo
periodontal, pois em casos de tecidos gengivais finos requer ser
associado ao enxerto de tecido conjuntivo subepitelial,
preferencialmente. (DUBAJ, MARTINS, 2018).
O enxerto de tecido conjuntivo subepitelial (ETCS) faz
parte das técnicas de recobrimento radicular, assim como o
retalho posicionado coronariamente ou lateralmente e enxerto
gengival livre (DE LIMA et al., 2020; SEGUNDO, ALVES, 2005).
A técnica de ETCS, é vista por muitos autores como um
procedimento padrão ouro, pois oferece como resultado um
ganho de tecido queratinizado e qualidade estética superior se
comparado ao enxerto gengival livre, apresenta ainda grande
previsibilidade de sucesso no tratamento das recessões, pois
possui um suprimento sanguíneo duplo, ou seja, do retalho e do
leito supraperiosteal (DE LIMA et al., 2020; RODRIGUES et al.,
2010; VENTURIM et al., 2011; DUBAJ, MARTINS, 2018).
Para o sucesso do recobrimento radicular com uso de
enxerto de tecido conjuntivo subepitelial, vale ressaltar outros
fatores importantes para o procedimento como: as
características do defeito, controle dos fatores etiológicos e
sistêmicos, técnica cirúrgica escolhida, tratamento da superfície
radicular e, também avaliar a vascularização, posicionamento,
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

espessura e largura, fatores referentes ao próprio enxerto.


(RODRIGUES, et al., 2010).

MATERIAIS E MÉTODO

Foi realizada uma revisão bibliográfica com estudos


disponíveis na literatura e publicados no decorrer dos últimos
5 anos (2015-2020), através de uma busca bibliográfica
realizada nas bases de dados eletrônicos PubMED/Medline,
Scielo (Scientific Eletronic Library) e Google Acadêmico.
Para a criação desta pesquisa foram utilizados os
seguintes descritores: “fenótipo” (phenotype), “periodontia”
(periodontics) e “retração gengival” (gingival retraction). O
cruzamento entre os descritores eram sempre realizados entre
“Fenótipo” (phenotype) e um dos outros dois descritores,
utilizando o operador booleano “AND”. Como critérios de
inclusão, foram adotados os artigos escritos na língua inglesa e
portuguesa; os artigos que se enquadravam no enfoque e
objetivo do trabalho e os mais relevantes em termos de
delineamento das informações desejadas. Foram observados e
determinados alguns aspectos para a inclusão dos estudos na
revisão; como a significância, a confiabilidade e clareza no
detalhamento metodológico das informações apresentadas.
Foram excluídos da amostra os trabalhos que não
apresentaram relevância sobre o tema abordado. Dessa forma,
foram selecionados 12 trabalhos para inclusão na revisão após
criteriosa filtragem. Foi inserido, também, 1 livro que
apresentava informações relevantes para este estudo.
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os conceitos em torno dos fenótipos periodontais são


cada vez mais importantes para a tomada de decisão sobre o
planejamento no tratamento de reconstrução tecidual e
previsibilidade das reabilitações e assim, consequentemente,
sucesso nos diversos tratamentos odontológicos, seja na
ortodontia, implantodontia, prótese dentária, dentística estética
ou restauradora. As características na arquitetura óssea e
gengival que caracterizam cada fenótipo periodontal foram
discutidas por alguns autores, assim como os métodos de
identificação da tipagem gengival de cada indivíduo, devido a
influência que estas exercem sobre o resultado estético final de
tratamentos reabilitadores, assim sendo importante avaliar e
discutir durante o planejamento restaurador e pré-operatório (DE
ARAÚJO et al., 2018; KAHN et al., 2013; ZWEERS et al., 2014).
De Rouck et al. (2009), realizaram um estudo onde
avaliaram as variáveis morfológicas dos incisivos centrais
superiores e dos tecidos moles adjacentes de cem voluntários
apresentando tecidos periodontais saudáveis. Um dos
parâmetros avaliados nesse estudo foi a espessura gengival,
pelo método de transparência da sondagem transgengival que
quando associados a outros fatores como, a avaliação da
arquitetura óssea, a quantidade de tecido de mucosa
ceratinizada e ainda também, a anatomia das coroas dentárias
podem determinar as características do fenótipo periodontal.
Assim como, Cortellini e Bissada (2018), que também
expuseram os diferentes biótipos baseado em características
anatômicas de fatores como a espessura gengival, largura da
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

mucosa ceratinizada, morfotipo ósseo, mas além desses


fatores avaliados em comum com De Rouck et al. (2009), os
autores desse estudo avaliaram também a dimensão do dente.
Ainda no estudo De Rouck et al. (2009), avaliando a
espessura gengival, os autores propuseram uma classificação
para os fenótipos periodontais, que podem ser especificados
em fenótipo fino, intermediário e espesso. O fenótipo fino
apresenta características clínicas como, gengiva clinicamente
delicada e fina, estreita faixa de mucosa ceratinizada
circundante e baixa convexidade cervical; já o fenótipo
intermediário expõe clinicamente uma gengiva com aspecto
mais fibroso em relação ao fenótipo fino e sua camada de
mucosa ceratinizada é mais estreitada; por fim, concluíram
ainda que a categoria dos fenótipos periodontais espesso são
periodontos com uma ampla faixa de mucosa ceratinizada e
acentuada convexidade na região cervical e a gengiva
apresenta um aspecto mais fibroso e acentuada convexidade
cervical.
Mais adiante, corroborando com o estudo anterior, foi
descrito os fenótipos periodontais, por um estudo que definiu os
fenótipos em três categorias, em recortado fino, espesso e
plano e recortado espesso. O fenótipo fino apresenta coroas
com formatos triangulares e delgados, enquanto o fenótipo
espesso e plano é descrito por coroas dentárias mais
quadradas e o recortado espesso com anatomia mais delgada;
Sobre o aspecto da gengiva, o fenótipo fino possui um aspecto
fino e delicado, o espesso e plano exibe gengiva espessa e
fibrótica assim como o recortado espesso. Em relação ao
contato interproximal, o fenótipo fino, tem contato próximo à
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

borda incisal, enquanto o espesso e plano contato interproximal


localizado mais apicalmente (CORTELLINI, BISSADA, 2018).
Assim, a espessura gengival pode ser analisada por
algumas técnicas, algumas delas são: sondagem transgengival,
medição ultrassônica e a visibilidade da sonda. No estudo de
De Araújo et al. (2018), os autores também utilizaram as
variáveis evidenciadas pelo estudo de De Rouck et al. (2009),
que esclareceram que os principais parâmetros clínicos para a
definição e classificação do fenótipo periodontal é estabelecido
por meio de alguns princípios, como a determinação da relação
comprimento e largura da coroa dentária, largura e altura da
papila interdental, largura gengival e espessura gengival.
Um estudo realizado por Cortellini e Bissada (2018)
também ressaltaram os mesmos métodos utilizados para definir
a espessura gengival, primeiro a sondagem transgengival,
técnica implementada sob anestesia local dos tecidos
periodontais, segundo, a medição ultrassônica que possui alta
reprodutibilidade e por último a técnica por visibilidade da
sonda. Em conformação com essa análise de Cortellini e
Bissada (2018), De Araújo et al. (2018), se basearam nos
resultados e de acordo com o preconizado na literatura, os
mesmos concordaram que a caracterização e definição do
fenótipo gengival através somente da inspeção visual não seria
suficiente e confiável para definir o planejamento de um
tratamento reabilitador. A literatura sugere então que outros
métodos sejam utilizados para realizar esta avaliação, como por
exemplo a sondagem por transparência através do sulco.
De Araújo et al. (2018), realizaram uma avaliação
clínica bucal de trinta e quatro pacientes para caracterizar os
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

fenótipos periodontais agora por meio de fotografia intraoral,


além de analisar a concordância com o método clínico de
determinação, concluíram que embora a fotografia seja um
excelente recurso clínico para registro, planejamento e
avaliação dos tecidos periodontais, a mesma não foi suficiente
na distinção dos fenótipos periodontais, assim é indispensável
que a avaliação clínica se dê por meio da utilização dos
parâmetros clínicos já conhecidos, concluindo então que na
comparação entre os métodos clínicos e o método fotográfico,
não houve concordância.
Cortellini e Bissada (2018), avaliaram por meio de
revisão a classificação dos fenótipos periodontais também e
relacionaram que a posição dos elementos dentários é
comumente associada a gengiva de espessura fina e que os
fenótipos finos têm uma suscetibilidade a desenvolver mais
recessões comparado ao fenótipo espesso. Destacou que é
possível um início ou a progressão de recessão gengival devido
as forças ortodônticas exercidas durante ou após o tratamento
ortodôntico. Em contra partida, Jepsen et al. (2018) concluíram
que por meio de experimentos em animais, certos métodos de
movimentação ortodôntica afetam os tecidos periodontais,
entretanto existem evidências que confirmam que um adequado
controle do biofilme e um periodonto saudável, pode passar por
um tratamento ortodôntico adequado sem comprometer o
suporte periodontal.
Borges et al. (2019), determinaram os perfis dos
fenótipos periodontais, utilizando uma amostra de noventa e um
pacientes afim de especificar melhor os fatores intrínsecos de
cada indivíduo, verificou-se a associação entre raça, sexo e
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

exposição gengival com o fenótipo gengival, onde confirmaram


com outros estudos, como o De Rouck et al. (2009), e Anand et
al. (2012), onde os mesmos ralataram a associação entre sexo
e o fenótipo periodontal, encontrando uma alta prevalência de
fenótipos gengivais superiores finos para o sexo feminino e
fenótipos gengivais espessos para o sexo masculino, porém o
estudo de De Rouck et al. (2009), não analisou a raça, apenas
sexo.
Ronay et al. (2011), tiveram como objetivo identificar e
resumir métodos que visam quantificar as dimensões gengivais
em termos de morfologia, espessura e volume, no que diz
respeito à sua precisão, praticidade e indicações clínicas.
Ronay et al. (2011), concluíram que as medições
realizadas com a sonda periodontal, assim como a visualização
de recessões, largura da gengiva queratinizada, fotografia
intraoral, bem como índices visuais da papila e método
ultrassônico, são ferramentas úteis para monitorar as
alterações dos tecidos moles, mas não fornecem informações
suficientes, pois uma visão geral das estruturas gengivais e
periodontais não pode ser obtida, concordando com os estudos
de De Rouck et al. (2009), De Araújo et al. (2018), e Cortelline
e Bissada (2018), porém são métodos rápidos e costumam
fazerem parte da rotina clínica. Müller et al. (2000) em
concordância com os outros autores, aplicaram os métodos
descritos e relataram dificuldades na obtenção de medições
confiáveis da espessura gengival em diferentes partes da
cavidade oral, especialmente na região dos molares.
A Tomografia computadorizada de feixe cônico (Cone
beam) (CBCT) é a ferramenta mais adequada segundo Ronay
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

et al. (2011), para obter uma visão anatômica geral, o aspecto


da imagem mantém uma proporção de 1:1, além de ser uma
técnica indolor, obtém imagens dos dentes e estruturas
periodontais. Porém, algumas desvantagens foram descritas
pelos autores, que são a alta dose de exposição à radiação, o
custo, e a necessidade de uma consulta separada. Além disso,
não é possível distinguir diferentes tipos de tecidos moles, a
gengiva inflamada tem um aspecto semelhante a gengiva
saudável. Dessa forma, os autores ressaltam que deve-se
escolher a abordagem mais apropriada de medição para a
situação do paciente, proporcionando um planejamento mais
eficiente e personalizado.
A inflamação associada ao biofilme em indivíduos com
um fenótipo espesso pode resultar em bolsas profundas,
enquanto os pacientes com um fenótipo fino pode responder
com recessões gengivais, mas não necessariamente, porém,
pode-se supor que a probabilidade dessa condição é
aumentada, especialmente se houver trauma mecânico, lesão
cirúrgica ou irritantes forem presentes (RONAY et al., 2011).
Devido a exposição de tecidos periodontais originada
da recessão gengival, decorrem implicações funcionais e
estéticas que necessitam de procedimentos, assim o
recobrimento radicular objetiva o aumento de gengiva
queratinizada, beneficiando o paciente com a reconstituição de
padrões estéticos e funcionais, como a diminuição da
sensibilidade radicular (DE LIMA et al., 2020; JENABIAN et al.,
2016).
Venturim et al. (2011), avaliaram a utilização do enxerto
de tecido conjuntivo no tratamento de recessões gengivais, com
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

a finalidade de solucionar problemas estéticos e alterações


funcionais, desta forma destacaram que os fatores biológicos
influenciam na previsibilidade do recobrimento radicular e são
considerações fundamentais para a escolha da melhor
alternativa terapêutica.
Venturim et al. (2011), também apontaram o estudo de
Langer e Langer (1985), que descreveu as falhas mais comuns
que acarretam o insucesso do enxerto de tecido conjuntivo,
destacando a presença de leito receptor atrésico e insuficiente
para promover adequado suprimento sanguíneo, perfuração do
retalho, enxerto de tamanho ou espessura inadequadas,
posicionamento coronário do retalho insuficiente, ausência de
tecido ósseo na região interproximal, falta de tecido gengival
para o recobrimento, incisões horizontais realizadas
apicalmente à junção cemento-esmalte, mau posicionamento
do enxerto de tecido conjuntivo e preparação radicular
deficiente. Os autores concluíram que o enxerto de tecido
conjuntivo promove ganho clínico de inserção, de tecido
queratinizado e recobrimento radicular em defeitos de Classe I
e II de Miller, tornando a técnica uma alternativa viável e
previsível para o tratamento das recessões gengivais.
Dubaj e Martins (2018), relataram um caso de
tratamento de recessão gengival isolada classe I de Miller no
arco inferior anterior, em um paciente com periodonto fino e com
leve vestibularização do elemento dental, concluíram que o
enxerto de tecido conjuntivo subepitelial associado ao retalho
posicionado lateralmente proporcionou cobertura radicular total
da raiz exposta.
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

Segundo Dubaj e Martins (2018), houve o aumento da


faixa de tecido ceratinizado, preservação da estética dos
tecidos periodontais adjacentes e como consequência uma
melhora nas condições de higienização da área. Os autores
confirmaram também que a técnica do retalho posicionado
lateralmente (RPL) tem apresentado melhores resultados para
cobertura de recessões isoladas em região anterior de
mandíbula, quando comparada a outras técnicas de cobertura
radicular.
De Lima et al. (2020), compararam manejos cirúrgicos
e os resultados funcionais e estéticos entre as técnicas de
recobrimento radicular de Enxerto Subepitelial de Tecido
Conjuntivo (ESTC) e Enxerto Gengival Livre (EGL) através de
2 relatos de casos clínicos e concluíram que ambas as técnicas
de EGL e ESTC possuem ótimos resultados quando bem
indicadas, apresentando vantagens e desvantagens
diferenciadas quanto aos aspectos funcionais e estéticos do
periodonto.
Assim como no estudo de Dubaj e Martins (2018), a
técnica de deslize lateral de tecido gengival poderia ser
utilizada, uma vez que esta possui indicação para o
recobrimento radicular de classe I ou II de Miller, porém, os
autores verificaram que nestes casos em particular, não havia
tecido queratinizado doador nas proximidades, contraindicando
qualquer técnica envolvendo retalhos pediculados.
De Lima et al. (2020), destacam ainda que a técnica de
ESTC é considerada por muitos autores o padrão ouro, pois
pode proporcionar algum ganho de tecido queratinizado e
apresentar qualidade estética superior quando comparada ao
IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO DO FENÓTIPO PERIODONTAL EM
CIRURGIAS DE RECOBRIMENTO RADICULAR: REVISÃO DE
LITERATURA

EGL. Os autores ressaltaram que as indicações de


recobrimento radicular para fins funcionais ou estéticos
dependem de cada caso, de forma que a escolha da técnica
utilizada não é rígida.

CONCLUSÕES

A escolha do método de aferição do fenótipo


periodontal deve se adequar à situação do paciente para
permitir que o diagnóstico e o planejamento seja mais assertivo.
As técnicas cirúrgicas para o tratamento da recessão gengival
são inúmeras, porém, quando associadas ao enxerto de tecido
conjuntivo, apresentam a vantagem da alteração da qualidade
do fenótipo gengival, através do aumento da espessura
gengival. Mais estudos que evidenciem a correlação entre
fenótipo fino e ocorrência da recessão gengival devem ser
realizados para esclarecer qual técnica de recobrimento
radicular apresenta melhores resultados clínicos,
principalmente nos casos de recessão gengival em fenótipo
fino.

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.
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

CAPÍTULO 11

O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A


DOENÇA PERIODONTAL
Aline de Azevedo OLIVEIRA 1
Andreza Mirelly de QUEIROZ ¹
Nívea Maria Nery GREGÓRIO¹
Luana Laureano GALDINO¹
Ítalo de Macedo BERNARDINO²
1 Graduandas do curso de Odontologia, UEPB; 2 Professor do curso de
Odontologia, UNIFACISA
allynneazevedo281@gmail.com

RESUMO: A doença periodontal é uma doença bacteriana


crônica progressiva que pode levar à perda de dentes. O
biofilme dental, fatores ambientais, biológicos e
socioeconômicos são fundamentais para o início e evolução da
doença. O tabagismo é uma das causas de doença que
assombra por sua magnitude e extensão planetária. Os altos
prejuízos impostos pelo consumo do tabaco são uma pesada
carga para a saúde individual e coletiva das pessoas. A
influência do tabaco na gravidade da doença periodontal
exacerba os sítios de profundidade de sondagem maior ou igual
a 4 mm, maior quantidade de cálculo subgengival e maior
quantidade de sítios ou perda de inserção em pacientes
fumantes. No entanto, conclui-se que os cuidados periodontais
devem ter relação com os cuidados gerais de saúde, sendo de
extrema importância a identificação e o controle dos fatores de
risco da doença periodontal que são essenciais para o
planejamento, prevenção e tratamento clínico.
Palavras-chave: Doença periodontal. Tabagismo. Saúde
bucal.
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

INTRODUÇÃO

O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para


doença periodontal que sugere que os fumantes têm uma
tendência maior a problemas como perdas de dentes e ossos e
recessão gengival em comparação aos não fumantes e a
formação de bolsas periodontais, o que aumenta a
probabilidade de sofrer de doença periodontal mais grave
(ZHANG et al., 2019).
Os hábitos tabágicos constituem um fator de risco para
patologias crônicas que envolvem o tecido ósseo como a
osteoporose e a perda óssea alveolar associada à doença
periodontal, também estando diretamente relacionado a uma
variação de problemas médicos como câncer, baixo peso ao
nascer e doenças pulmonares e cardiovasculares (ROCHA et
al., 2019).
A doença periodontal é uma doença inflamatória
crônica que pode afetar desde a gengiva até o osso que envolve
e suporta o seu dente podendo variar em desde estágios menos
graves e localizados, a estágios de maior gravidade e
generalizados (STACCHI et al., 2016). É comum causar perda
dentária em adultos e é caracterizada pela destruição das
estruturas de suporte dos dentes, incluindo gengiva, cemento,
ligamento periodontal e osso alveolar (KHEMISS et al., 2016).
A doença periodontal é muito mais comum em
pacientes tabagistas comparados aos que não tem o hábito de
fumar, porque alteram a microbiota oral e as características do
biofilme dentário. Além disso, promove alteração a nível
sistêmico, estimulando o Sistema Nervoso Central (SNA) a
liberar mais epinefrina, e dessa forma, promove uma intensa
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

vasoconstricção periférica. Com isso, o biofilme invade as


estruturas de sustentação do indivíduo comprometendo sua
defesa. Portanto, a destruição tecidual de um paciente tabagista
chega a ser rampante comparada a um paciente não tabagista
(HANIOKA et al., 2019).
O fumo tem sido associado a uma maior prevalência e
severidade da destruição periodontal, observadas pelo
aumento da profundidade de sondagem, reabsorção óssea
alveolar e perda de inserção. Estes efeitos podem ser
influenciados pelo número de cigarros fumados e o tempo do
hábito (RIVÉRON et al., 2020).
Apesar de tantas informações e campanhas de
prevenção no Brasil e no mundo, a incidência de indivíduos que
fazem uso do tabaco ainda é grande. Desta forma, explorar e
discutir os efeitos do tabaco, independente da forma de sua
utilização: seco, picado, enrolado em papel, em palha, de corda,
charuto, narguilé, cachimbo, entre outros, se faz necessário
(CARRANZA et al., 2016).
Com o processo da epidemia tabágica, o consumo total
do tabaco está aumentando cada vez mais no mundo. Dentro
da Periodontia vem surgindo uma série de estudos
demonstrando significantes indícios do papel da doença
periodontal como fator predisponente para o desenvolvimento
ou exacerbação de problema de ordem sistêmica. O presente
estudo se faz necessário para buscar junto a literatura
evidências quanto ao papel do fumo na doença periodontal a
fim de desenvolver ações de promoção de saúde bucal
direcionadas ao controle desse fator de risco.
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

MATERIAIS E MÉTODO

Para o desenvolvimento desse estudo foram


selecionados estudos epidemiológicos observacionais, análises
retrospectivas e prospectivas, relatos de casos, meta análises
e revisões sistemáticas realizadas nos últimos 5 anos em que
foi possível constatar que o tabaco pode influenciar na saúde
bucal causando grandes impactos negativos e interferindo de
maneira prejudicial ao leque gengival.
Foi realizada uma busca minunciosa por meio do
PubMed, Scielo e Google Acadêmico, artigos completos em
inglês e português foram incluídos nesse estudo e foram
utilizadas palavras chaves como: doença periodontal
(periodontal disease), tabagismo (smoking) e saúde bucal
(periodontal health). Foram considerados relevantes aqueles
que apresentavam os impactos da nicotina para o meio bucal
levando em consideração todos os malefícios causados e
gerados para aquelas pessoas que fazem o uso do tabaco.
Tendo em vista, que a cada ano o número de usuários
aumentam mesmo com projetos de conscientização feitos pela
sociedade. Os estudos foram analisados quanto ao ano de
publicação, local de realização, população do estudo, objetivos,
metodologia e resultados.
Durante um primeiro rastreamento, foram incluídos
artigos em que o título se apresentava pertinente ao tema.
Posteriormente, em um segundo rastreamento, foram
selecionados, avaliados e estudados artigos de natureza
diversas acerca do tema, abordagens e resoluções clínicas.
Foram excluídos aqueles que não se enquadravam com a
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

temática estabelecida e que não colaboraram para o avanço da


pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

● DOENÇA PERIODONTAL
A periodontia é uma especialização da odontologia que
é responsável por avaliar as estruturas de revestimento e
suporte dos dentes bem como identificar e tratar possíveis
alterações patológicas ou fisiológicas. O papel do periodontista
é de suma importância para o estabelecimento das
normalidades frente às doenças bucais e sua possível
repercussão na saúde sistêmica dos indivíduos.
Segundo Pazos et al. (2016), os tecidos periodontais
são divididos em duas partes principais: tecidos de
revestimento (tecido gengival) e tecidos de suporte dos dentes
(ligamento periodontal, cemento e osso alveolar). A principal
função da gengiva é promover a proteção dos tecidos
subjacentes, enquanto que o aparato de inserção distribui as
forças mastigatórias, garantindo a integridade dos dentes e
suas estruturas associadas.
A etiologia e a patogênese das doenças periodontais
são caracterizadas pelo acúmulo de biofilme específico na
superfície dentária adjacente. Ocorre o contato das células do
epitélio do sulco e epitélio juncional com produtos residuais,
enzimas e componentes da superfície das bactérias em
colonização. Com isso ocorre o crescimento da massa
bacteriana. Tais substâncias causam uma irritação maior nos
tecidos do hospedeiro e células epiteliais são induzidas pelas
substâncias microbianas a produzirem citocinas pró-
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

inflamatórias e outros mediadores químicos da inflamação.


Dessa forma, os mediadores iniciam uma resposta inflamatória
no interior dos tecidos, ocorrendo edema à medida que há
acúmulo de fluido, iniciando-se a infiltração celular e o
desenvolvimento da gengivite (VANDERLEI et al., 2018).
De acordo com Hanioka et al. (2019), a inflamação
gengival é o resultado de uma sobrecarga bacteriana que se
deve, provavelmente, ao controle inadequando do biofilme.
Alterações no sistema imunológico podem provocar inflamação
gengival patente.
● FATORES DE RISCO DA DOENÇA
PERIODONTAL
● Gravidez e Puberdade
São dois fatores que podem afetar diversos tecidos do
corpo devido aos períodos de intensas alterações hormonais,
inclusive os tecidos gengivais. Podem ocorrer mudanças na
permeabilidade vascular promovendo extravasamento de
plasma com consequente formação de edema gengival e uma
resposta inflamatória aumentada frente à placa bacteriana, tudo
isso em decorrência dos níveis elevados de hormônios (BRIX
et al., 2018).
● Estresse
O estresse pode ser entendido como uma resposta
física do nosso organismo frente a algum estímulo. Pode estar
relacionado com doenças sérias como por exemplo: câncer e
hipertensão dentre outras, sendo também um dos fatores de
risco mais importantes no desenvolvimento e na progressão da
doença periodontal (BERK-CLARK et al., 2018).
● Diabetes
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

A doença periodontal vem sendo considerada a sexta


complicação do diabetes. Ela influencia na instalação e
progressão da doença periodontal e em contrapartida na
severidade dessa doença (CAMPAGNA et al., 2019).
● Má nutrição
O metabolismo ósseo assim como a resposta
inflamatória são baseados na patogênese do conhecimento
dessa doença podendo indicar fatores importantes da dieta que
possam aumentar o risco ou diminuir a habilidade dos tecidos
periodontais no reparo, podendo ser fatores como ausência dos
nutrientes do cálcio e vitamina C (STEPHENSON et al., 2018)
● Fumo
A utilização do tabaco têm sido relacionada à
prevalência e severidade da doença periodontal, principalmente
em relação à inflamação e perda óssea sendo considerado o
maior fator de risco para a doença periodontal crônica
(CAMPAGNA et al., 2019).
● TIPOS DE DOENÇAS PERIODONTAIS
Pode-se diferenciar duas entidades distintas da doença
periodontal, dependendo da gravidade da mesma, a gengivite
e a periodontite. No entanto, a primeira é reversível, ao contrário
da segunda que é irreversível. A gengivite é uma resposta
inflamatória ao biofilme bacteriano limitada ao tecido gengival já
na periodontite a resposta invade tecidos de suporte causando
perda de inserção (CARVAJAL et al., 2020).
● Gengivite
É uma inflamação na gengiva causada na maioria das
vezes por uma higiene bucal inadequada, é a doença bucal de
maior prevalência, sem predileção por faixa etária, sendo
caracterizada por acúmulo de placa supragengival sobre os
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

dentes por determinado período de tempo (CARVAJAL et al.,


2020).
O primeiro sinal de inflamação dos tecidos periodontais
pode ser chamada de gengivite. Quando ocorre significa que o
equilíbrio entre a agressão bacteriológica e a defesa
imunológica do indivíduo foi quebrado (TONETTI et al., 2018).
As características clínicas da gengivite incluem
hiperemia, edema, sangramento gengival ao escovar os dentes
ou espontaneamente devido a alterações vasculares e
liberação de exsudato inflamatório, além de mudanças na
textura da gengiva (RIVÉRON et al., 2020).
● Periodontite
É uma infecção bacteriana dos tecidos, ligamentos e
ossos específicos que envolvem e sustentam seus dentes,
conhecidos como periodonto (BECK et al., 2019).
A periodontite corresponde a uma situação de
inflamação com destruição do periodonto e ocorre quando as
alterações patológicas que acontecem na gengivite progridem
até a destruição do ligamento periodontal e migração apical do
epitélio de união (TONETTI et al., 2018).
Existe um acúmulo de placa bacteriana, ao nível dos
tecidos mais profundos, causando uma perda de inserção por
destruição do tecido conjuntivo e por reabsorção do osso
alveolar. A periodontite é, portanto, uma inflamação dos tecidos
de sustentação e de proteção com perda de inserção de tecido
conjuntivo, consequente da agressão promovida pela placa
subgengival (CARVALHO et al., 2017).
A gengiva apresenta-se eritematosa com sinais de
inflamação. Porém, pode não estar presente como por exemplo
em pacientes fumantes nos quais a vasoconstricção provocada
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

pelo tabaco simula ausência de inflamação. A periodontite é


sempre precedida de gengivite, no entanto, esta nem sempre
termina com a instalação de uma periodontite (PEACOK et al.,
2016).
As periodontites de progressão lenta a moderada são
inflamações crônicas e progressivas, caracterizadas
clinicamente por inflamação gengival, sangramento á
sondagem, diminuição da resistência dos tecidos periodontais
a sondagem (bolsas periodontais), perda de inserção gengival
e do osso alveolar. As características são variáveis podendo
ocorrer hiperplasia gengival, exposição de furca, mobilidade e
inclinação dentária aumentada e esfoliação dentária (RIVÉRON
et al., 2020).
A progressão da periodontite passa por períodos de
exacerbação aguda devido alguns fatores como a extensão de
perda de inserção e óssea, profundidade da bolsa, idade,
fatores retentivos da placa, patogenecidade das bactérias
colonizadas e fumo (BECK et al., 2019).
● DIFERENTES TIPOS DE TABACO
- Tabaco mascado
Tabaco mascado é uma forma de uso do tabaco sem
fumaça, que é uma das mais antigas modalidades de consumo.
As folhas para mascar podem ser preparadas de maneiras
distintas: podem ser colocadas antes ou após terem sido
torcidas em rolos e pode-se adicionar sabores como whisky,
rum, de geléias, etc. É o tabaco que é consumido sem passar
pelo processo de combustão, logo, não produz fumaça. Este
tipo de tabaco pode ser aspirado, mascado ou usado na forma
de sachês (SANTOS et., 2017).
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

Essa forma de tabaco além de conterem nicotina, que


é altamente aditiva, podendo gerar a dependência à nicotina e
consequentemente ao cigarro, apresentam também diversas
substâncias cancerígenas. O tabaco sem fumaça pode causar
maléficios a saúde, principalmente causar doenças da cavidade
oral, como formação de leucoplasia, lesão pré-cancerígena,
cárie e perda dentária. É também prejudicial a saúde
reprodutiva e fetal, causando abortos e natimortos. E está
associado ao risco aumentado de doenças cardiovasculares e
AVC, além de apresentar toxicidade à crianças (OKUNNA et.,
2018).
- Cigarro convencional
O cigarro convencional consiste em um pedaço de
tabaco enrolado em papel, normalmente em mortalhas,
pronto para ser fumado. Aquilo que possui o formato do
rolo de tabaco referido, ou seja, o cigarro tradicional trata-
se de uma pequena porção de tabaco seco, enrolado em
papel. Alguns possuem um sistema de filtração (BOLD et al.,
2017).
O cigarro é uma droga lícita no Brasil apesar de
haverem diversas substâncias nocivas em sua composição,
entre elas estão pesticidas, mais de quarenta substâncias
cancerígenas, inseticidas e gases tóxicos. Seu princípio ativo
é a nicotina, e essa causa vício aos usuários (ELTORAI et
al., 2018).
- Cigarro eletrônico
O cigarro eletrônico é um dispositivo eletrônico que
fornece aos usuários doses de nicotina e outros aditivos em
aerossol. São três os componentes principais do CE: uma
bateria, um atomizador e um cartucho contendo nicotina. Em
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

alguns países é comercializada uma versão de CE sem


nicotina. Alguns cigarros eletrônicos têm um indicador luminoso
na ponta que acende quando o usuário usa o aparelho,
lembrando-o assim que o cigarro está aceso. A maioria dos
sistemas eletrônicos de liberação de nicotina imita as formas
tradicionais de utilização do tabaco, isto é, o cigarro, o charuto
ou o cachimbo; menos frequentemente, o CE tem a forma de
um objeto de uso diário, como uma caneta ou um pen drive,
sendo usado principalmente por indivíduos que querem fumar
sem chamar a atenção (IKONOMIDIS et al., 2018)
- Narguilé
O narguilé é conhecido por vários nomes como:
cachimbo d'água, water pipe, argileh, goza, hookah, shisha, etc.
A shisha geralmente é misturada com essências ou sabores,
fazendo com que o uso do narguilé seja mais prazeroso do que
o cigarro. Além disso, na maioria das vezes, é utilizado em
grupo, sendo uma atividade social entre amigos e conhecidos
(MARTINS et al., 2019).
Em geral, ao fumar um cigarro uma pessoa inala cerca
de 0,5L de fumaça (45mL, 8 a 12 baforadas por cigarro, que
dura de 5 a 7minutos), enquanto uma sessão de Narguilé pode
chegar a 50L de fumaça (45mL, 50 a 200 baforadas, que dura
de 20 a 80 minutos). Ou seja, o equivalente a 100 cigarros por
sessão (ATTY et al., 2020).
A “shisha” apresenta risco a saúde pois contém
substâncias que podem causar trombose e doenças
coronarianas. Assim, pessoas que usam o Narguilé estão
correndo risco de desenvolverem as mesmas doenças que
tabagistas, como diversos cânceres, DPOC e infertilidade. Além
disso, fumar shisha durante a gestação pode causar CIUr, e
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

doenças respiratórias no neonato. O uso de narguilé pode


apresentar riscos a pessoas não fumantes, pelo tabagismo
passivo tanto da fumaça produzida pelo fumo quanto da queima
do carvão (MARTINS et al., 2019).

● DOENÇA PERIODONTAL E TABACO


A doença periodontal é uma condição multifatorial
caracterizada pela destruição dos tecidos periodontais que não
dependem apenas da presença do biofilme dental, mas também
da interação das bactérias e dos seus produtos frente à
resposta do hospedeiro. Vários fatores podem interferir neste
processo, modificando a susceptibilidade à doença, alteração
de microbiota da placa, progresso da doença e resposta ao
tratamento (PAZOS et al., 2016).
O tabagismo pode ser considerado como uma doença
epidemiológica, pois causa dependência física,
comportamental e psicológica e isso assemelha-se ao que
ocorre quando se faz o uso de drogas como cocaína, heroína e
álcool, além de estar relacionado com mais de 50 tipos de
doenças, alto índice de mortalidade, e prejuízos sociais e
econômicos (RIVÉRON et al., 2020).
A doença periodontal em pacientes fumantes pode
apresentar sinais clínicos pouco evidentes pois eritema e
sangramento teidual muitas vezes não estão presentes devido
ao efeito da nicotina não somente na vascularização tecidual,
como também pelo aumento da espessura do epitélio gengival
(HANIOKA et al., 2019).
O fumo é um dos fatores mais significativos no
desenvolvimento de doenças periodontais por sua interferência
local e sistêmica no desencadeamento e na progressão da
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

periodontite, pois o tabaco além de ser um fator predisponente


à doença periodontal, também pode influenciar no resultado do
seu tratamento, sabendo que as substâncias que estão
relacionadas ao tabagismo agem como vasoconstritores
causando danos ao tecido periodontal, o que leva a progressão
da doença (RIVÉRON et al., 2020).
O efeito do fumo sobre uma reposta tecidual após
terapia periodontal, indivíduos fumantes demonstraram uma
resposta clínica menos favorável, se comparados a indivíduos
não fumantes. Indivíduos fumantes, após raspagem e
alisamento radicular têm menor redução na profundidade de
sondagem e menor ganho de inserção clínica em relação aos
não fumantes (ROCHA et al., 2019).
O tabaco e seus derivados metabólicos interferem na
interação normal entre os componentes epiteliais e
mesenquimais do dente em desenvolvimento, tendo efeitos
teratogênicos no dente, tornando-se um fator local que promove
a ocorrência e o desenvolvimento da doença periodontal. Por
outro lado, o tabagismo causa redução no número de germes
dentários, inibição e diferenciação da proliferação celular e
número reduzido de dentes, resultando em um potencial efeito
negativo no prognóstico da doença periodontal (ZHANG et al.,
2019).
O uso de tabaco é um fator de risco principal para a
periodontite crônica. O tabagismo leva à supressão da
inflamação gengival, manifestada como angiogênese reduzida
e comprometimento da resposta de sangramento à placa, mas
promove simultaneamente a destruição do tecido periodontal
em relação aos não fumantes (ALENCAR et al., 2020).
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

A influência do tabaco na gravidade da doença


periodontal exacerba os sítios de profundidade de sondagem
maior ou igual a 4 mm, maior quantidade de cálculo subgengival
e maior quantidade de sítios ou perda de inserção em pacientes
fumantes (HANIOKA et al., 2019).
À medida que aumenta o tempo de duração ou a
quantidade de cigarros fumados, aumenta também a perda
óssea, a profundidade e a perda de inserção. Os fumantes
apresentam menor sangramento gengival o que sugere que o
fumo pode afetar a expressão clínica da inflamação devido à
ação vasoconstrictora da nicotina na microcirculação do tecido
gengival (CAMPAGNA et al., 2019).
Fumar contribui negativamente na terapia regenerativa,
que inclui enxerto ósseo, regeneração tecidual guiada e
combinação de tratamentos. Os produtos químicos e toxinas da
fumaça do tabaco causam atraso na cicatrização de feridas por
prejudicar (RIVÉRON et al., 2020).
● PROMOÇÃO DE SAÚDE
Parar de fumar é um grande desafio, a maioria das
pessoas precisam de suporte. À medida que a pessoa
desenvolve um curso de ação para se ajudar, manter a boca e
os dentes limpos poderá ser um incentivo diário para buscar a
saúde perfeita. A escovação diária com creme dental com flúor
e uso do fio dental previnem a cárie e a doença periodontal e
se houver combate à formação de tártaro, dessa forma, manter
uma higiene oral adequada, fazendo o uso de dentifrícios é de
grande importância para a saúde bucal desses pacientes
tabagistas (RIVÉRON et al., 2020).
No entanto, não se deve hesitar em conversar com o
dentista sobre o desejo de parar de fumar. Assim como medidas
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

preventivas de reforço e orientações quanto a esses


dependentes do tabaco devem ser feitas e acompanhadas
periodicamente por uma equipe multidisciplinar com dentista,
médico, assistente social, psicólogo, todos juntos, unidos em
busca do mesmo objetivo. É de grande valia a criação de
projetos motivacionais com entrevistas, palestras e
monitoramento periodicamente desses pacientes.

CONCLUSÕES

A doença periodontal pode ser de caráter inflamatório


acomentendo os tecidos de sustentação e proteção dos dentes,
se inicia com acúmulo de biofilme bacteriano na superfície
dentária sendo a principal causa de má higienização oral.
A utilização do tabaco na sua forma de apresentação,
está relacionada diretamente com o desenvolvimento e
progressão da doença periodontal, contribuindo também com
doenças destrutivas e atrasando o processo de cicatrização.
É imprescindível que o Cirurgião-Dentista saiba lidar
com situações e intercorrências de pacientes tabagistas,
orientando sempre e incentivando para que deixe o hábito de
fumar, sendo de extrema importância para o tratamento
periodontal, regeneração tecidual e condição sistêmica
envolvida. São necessárias ações de prevenção e promoção de
saúde para a conscientização dos usuários, principalmente
entre os jovens, alertando para os riscos que o uso do tabaco e
seus derivados podem causar a doença periodontal.
O TABAGISMO E A SUA RELAÇÃO COM A DOENÇA PERIODONTAL

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ansiedade como fatores modificadores das doenças periodontais – uma revisão de
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PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

CAPÍTULO 12

PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO


ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

Rafaela Augusta Melo MENDES1


Julia Cardoso NASCIMENTO1
Gabriele Ribeiro de OLIVEIRA1
Joyce Karoline Neves AZEVEDO1
Sandra Aparecida MARINHO2
1Graduandos do curso de Odontologia, UEPB; 2Orientadora/Professora do
CCTS/UEPB.
san_mar2000@yahoo.com.br

RESUMO: As proteínas derivadas da matriz do esmalte são


peptídeos hidrofílicos obtidos durante a odontogênese de
suínos. Está presente no mercado mundial, sob uma
formulação em gel, Emdogain® (30mg/ml), produzida pelo
Instituto Straumann. Esse biomaterial tem sido utilizado na
Odontologia para regeneração dos tecidos periodontais em
terapias cirúrgicas, de forma isolada ou em associação com
materiais de enxerto. Sua aplicação tem alcançado resultados
positivos em casos de periodontites (crônica e agressiva),
periimplantites e para promoção de melhor osseointegração de
implantes de titânio. Contudo, ainda não se descobriu quais
peptídeos presentes nesse composto são responsáveis pelos
seus efeitos, nem as vias metabólicas responsáveis pelos
mesmos. O presente capítulo teve como objetivo realizar uma
revisão de literatura atual sobre o uso das proteínas derivadas
da matriz do esmalte, para regeneração periodontal. Para isso,
o levantamento foi realizado na base de dados online do
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

National Center for BiotechnologyInformation- NCBI (PubMed),


buscando artigos completos disponíveis, publicados nos
últimos cinco anos, na língua inglesa. Um total de 19 artigos
preencheram os critérios estabelecidos. Foi verificado que as
proteínas derivadas da matriz do esmalte possuem ampla
aplicação e bons resultados clínicos na regeneração
periodontal. No entanto, mais estudos clínicos ainda são
necessários para comprovação de seu mecanismo de ação.
Palavras-chave: Materiais Biocompatíveis. Periodontite.
Implantes Dentários.

INTRODUÇÃO

A periodontite se caracteriza como a perda progressiva


dos tecidos que suportam o dente no sistema estomatognático,
sendo uma inflamação crônica associada ao biofilme disbiótico,
em que esse passa a ter uma maior quantidade de patógenos,
enfraquecendo a imunidade inata (STEFFENS et al., 2018). É
uma doença de alta prevalência, afetando cerca de 20 a 50%
da população global e está associada a fatores de risco como
ausência de higiene oral, uso de medicamentos, idade,
hereditariedade, estresse e doenças sistêmicas (NAZIR, 2017).
No Brasil, a periodontite é considerada problema de saúde
pública, que atinge todas as faixas etárias, aumentando sua
prevalência com o decorrer da idade (BRASIL, 2010).
Embora a periodontite seja uma condição oral
infecciosa prevalente, é evitável e tratável (NAZIR, 2017).
Contudo, quando não tratada, pode levar à perda dentária
(AUSENDA et al., 2019), prejudicando mastigação, fonação,
estética e a proteção e sustentação de tecidos moles
adjacentes (MADEIRA; RIZZOLO, 2016). A terapia periodontal
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

visa, portanto, à manutenção dos dentes do paciente, por meio


do controle da infecção, correções anatômicas que afetem a
saúde periodontal e, quando possível, regeneração dos tecidos
perdidos (AUSENDA et al., 2019). A primeira fase da terapia
periodontal (terapia não cirúrgica), tem como objetivo eliminar
os agentes etiológicos microbianos, permitindo o retorno ao
estado de saúde. Todavia, há casos em que se necessitam
terapias cirúrgicas (NEWMAN et al., 2020) e para melhorar seus
resultados, pode-se utilizar biomateriais como coadjuvantes
(AUSENDA et al., 2019).
Diante disso, o objetivo deste trabalho foi realizar uma
atualização sobre o uso das proteínas derivadas da matriz do
esmalte (PDME) na regeneração periodontal.

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão da literatura recente


sobre o uso de proteínas derivadas do esmalte (Emdogain®)
para regeneração periodontal. O levantamento bibliográfico foi
realizado no mês de maio de 2020, por meio da base de dados
online do National Center for BiotechnologyInformation- NCBI
(PubMed) sendo utilizado no sistema de busca avançada, os
respectivos termos e operadores: “periodontal regeneration”
AND “enamelmatrixderivatives”, e o filtro data de publicação:
nos últimos cinco anos. Foram incluídos na busca, todos os
artigos publicados em inglês sobre o tema, com no máximo
cinco anos de publicação, em sua versão completa.
Após a triagem inicial, os artigos baixados foram
sequencialmente numerados e lidos, para constatação da
adequação ao tema. Os critérios de inclusão foram: estudos in
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

vitro, relatos de casos, estudos transversais, estudos


longitudinais, ensaios clínicos randomizados, estudos de caso-
controle, revisões sistemáticas e metanálises. Foram excluídas
as revisões de literatura (não sistemáticas), artigos que não se
referiram estritamente ao tema, estudos que não estavam na
língua inglesa e artigos que possuíam apenas o resumo
disponível.
Foram também utilizados livros e dados
epidemiológicos nacionais, para construção deste trabalho.

REVISÃO DE LITERATURA

Composição
O Emdogain®, um biomaterial no mercado desde 1997,
comercializado pela Straumann®, é um gel de origem suína
(30mg/ml) (STRAUMANN, 2020), composto por proteínas
derivadas da matriz do esmalte (PDME), principalmente por
amelogeninas (AMEL) (MIRON, 2016). É utilizado em cirurgias
periodontais, de forma isolada ou como coadjuvante aos
materiais de enxerto, com a finalidade de promover
regeneração do cemento, osso alveolar e ligamento
periodontal, melhorando os níveis de inserção clínica
(TONETTI, 2002), além de reduzir dor e edema e acelerar a
cicatrização, proporcionando bem estar ao paciente no pós-
operatório (MIRON, 2016).
As diferentes frações de PDME da composição do
Emdogain® são obtidas durante a formação dos germes
dentários em suínos. Possui moléculas proteicas hidrofóbicas
de baixo peso molecular, veiculadas em propilenoglicol. Os
peptídeos AMEL e seus derivados são seu principal
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

componente (90% dos peptídeos da sua constituição), e outros


produtos de sua degradação, como: AMEL rico em tirosina e
AMEL rico em leucina. Além disso, também possui tuftelina e
enamelina (AJILAN et al., 2015; JONKE et al., 2016;
SWIATKOWSKA et al., 2017).
Mecanismo de ação/ Estudos in vitro
Ainda não se sabe quais os peptídeos responsáveis
pela atividade biológica do Emdogain®, nem quais as vias de
diferenciação fibroblástica esses são capazes de modular
(SWIATKOWSKA et al., 2017).
Amin et al. (2015) analisaram uma cultura de
fibroblastos in vitro, para avaliar como as diferentes frações
proteicas (FRP) do Emdogain® e o peptídeo amelogenina
(AMEL) rica em tirosina, também contida no produto, interferiam
nos mesmos. Existem duas FRP: a FRP C, que contém os
peptídeos de menor peso molecular (<6kDa), que inclui a
amelogenina (AMEL) rica em tirosina (5,3kDa); e a FRP A, de
maior peso molecular (>6kDa). Utilizaram marcadores de
biotina e, por meio da microscopia eletrônica, observaram que
a AMEL rica em tirosina, todos elementos da FRP C e alguns
poucos peptídeos da FRP A são solúveis e endocitados pelos
fibroblastos, exercendo sua ação após esse fato. A maior parte
dos elementos da FRP A são insolúveis, se precipitam e são
fagocitados. Os autores sugeriram que os precipitados
insolúveis da FRP A modulariam as atividades nas células
locais pela via fagocítica.
Jonkeet al. (2016)em um estudo in vitro, compararam a
ação das PDME liofilizada (100 µg/ml) e de seu produto, o
peptídeo AMEL rico em tirosina, em células endoteliais da veia
umbilical humana, por meio de citometria de fluxo e imuno-
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

histoquímica (ELISA). Foi demonstrada atividade significativa


de seu peptídeo AMEL rico em tirosina na migração celular e
angiogênese, sem este apresentar participação na proliferação
celular, indicando assim que essa atividade seria proporcionada
por um outro componente das PDME. Desse modo, os autores
relataram que o AMEL rico em tirosina possui atividade
biológica e contribui na regeneração periodontal induzida pelo
Emdogain®.
Ajilanet al. (2015) analisaram, in vitro, por meio da
espectrometria de fluxo, o efeito osteogênico de células-tronco
multipotentes da polpa dentária, que apresentam origem
embrionária semelhante a das células periodontais. Foi
verificado que, sob a influência de PDME (Emdogain®) a cultura
demonstrou quantidade significativa de nódulos de
mineralização, sendo estes resultados significativamente
superiores aos obtidos com agregados de trióxido mineral
(MTA) e também aos obtidos com fator de crescimento rico em
plaquetas (PDGF). De acordo com os autores, a indução
significativa de maiores níveis de fosfatase alcalina com o uso
de PDME estava associada à diferenciação precoce e formação
de núcleos de mineralização, sendo um indicador de
neoformação óssea. Foi registrado que as PDME aumentaram
a expressão desta enzima em sítios periodontais.
Segundo Li et al.(2017)a fosfatase alcalina é uma
enzima que se relaciona com os níveis de diferenciação de
células mesenquimais em osteoblastos, em que maiores níveis
são associados à diferenciação precoce e formação de núcleos
de mineralização, sendo um indicador de neoformação óssea.
O uso de PDME em pó, nas concentrações de 30 e de 60µg/ml
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

aumentaram significativamente (p<0,05) a expressão dessa


enzima em sítios periimplantares.
Swiatkowskaet al. (2017) investigaram a ação das
PDME, em várias concentrações, em fibroblastos da gengiva
humana, através do monitoramento em tempo real durante 24
e 48 horas, por citometria de fluxo. Foi verificado um aumento
significativo na proliferação celular, com o melhor desempenho
para a concentração de 50,0µg/ml após 48 horas. Desse modo,
foi constatado também que o estímulo positivo das PDME
liofilizadas (concentrações de 12,5µg/ml, 25µg/ml e 50µg/ml) no
ciclo celular dessas células ocorreu pela diminuição da
quantidade de células nas fases G0 e G1 e aumento da
quantidade dessas nas fases G2 e M, que estão mais
avançadas no ciclo celular, de modo quemais células concluem
a síntese proteica e realizam a mitose. Também foi observado
aumento da migração celular com o produto, com atividade
significativa em todas as diferentes concentrações (p=0,0001).
Contudo, essa migração não se mostrou dose-dependente, pois
não houve diferenças significativas na migração entre as
dosagens mais baixas em relação às mais elevadas. Esses
efeitos demonstraram a eficácia do produtopara a regeneração
periodontal, já que, frente a um trauma, as células locais
apresentam as atividades metabólicas limitadas, com
necessidade de renovação dessas.

Uso das PDME


Periodontites
Seshimaet al. (2017)em um estudo prospectivo
demonstraram a eficácia do Emdogain® na regeneração
periodontal em casos de periodontite crônica. Os autores
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

acompanharam, por dois anos, 22 pacientes com periodontite


crônica, com idade média de 55,2 anos, de ambos os sexos,
portadores de 42 defeitos intraósseos. Os mesmos foram
tratados com debridamento periodontal e aplicação de
Emdogain®. Os pacientes responderam de forma positiva, com
resultados significativos (p<0,01) ao prazo de dois anos, com
um ganho médio de: 3,1 mm (+41%) dos níveis de inserção
clínica e diminuição média de 3,3 mm (-48,5%) da profundidade
à sondagem. Desse modo, demonstraram que o uso do
Emdogain® foi eficaz na regeneração periodontal de pacientes
com periodontite crônica.
Nemcovskyet al. (2018) relataram um caso clínico de
recessão gengival em incisivos inferiores, cujo tratamento foi o
uso das PDME em gel associado à técnica da regeneração
guiada (com uso enxertos de tecido conjuntivo), para
regeneração de tecido periodontal perdido. O enxerto foi
autólogo (do próprio paciente) e o controle do biofilme foi
realizado por meio de orientações de higiene, adequação de
forças oclusais e raspagem e alisamento radiculares. Esse
paciente possuía os agravantes de fenótipo periodontal fino,
presença de freios labiais tracionando a musculatura da região,
e pouca gengiva inserida. Segundo os autores, a associação
dessas duas técnicas diminuiu a morbidade associada à
deiscência do retalho, com indução mais rápida da angiogênese
e da reepitelização, essas duas últimas promovidas pela
aplicação do Emdogain®. Isso auxiliou na difusão de nutrientes
e melhorou a adesão do retalho. Os autores relataram o
sucesso dessa associação, com os resultados positivos
alcançados: maior nível de inserção clínica, diminuição da
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

profundidade de sondagem, aumento de gengiva queratinizada


e preenchimento de defeitos intraósseos.
Annunziataet al. (2019)por meio de uma revisão
sistemática, compararam o desempenho do uso das PDME
com e sem a associação de enxertos ósseos autógenos para
correção de defeitos periodontais intraósseos. Os autores
avaliaram 98 defeitos periodontais intraósseos (79 pacientes),
porém as vantagens clínicas adicionais encontradas não foram
estatisticamente significativas, na associação das técnicas
(PDME associada a enxertos). Foram utilizados como
parâmetros: diminuição da profundidade de sondagem(p=0,06),
aumento nos níveis de inserção clínica (p=0,57) e redução nas
taxas do aumento de recessão gengival (p=0,022). Destacaram
que o manejo cirúrgico utilizado poderia mascarar os benefícios
dessa combinação de métodos regenerativos. Segundo os
autores, o uso das PDME de forma isolada apresentou as
vantagens de ser um procedimento mais conservador e com
maior controle no tratamento, por parte do operador.
Bizenjimaet al. (2019) avaliaram uma paciente do sexo
feminino, 53 anos, com periodontite crônica generalizada,
apresentando bolsas periodontais com mais de sete milímetros
à sondagem. Após controle inicial do biofilme, e
acompanhamento de um ano, a paciente foi encaminhada para
terapia periodontal cirúrgica com raspagem em campo aberto e
aplicação do Emdogain® nos dentes: 15, 24, 34, 46 e 47. Três
anos e seis meses após a primeira intervenção de controle
inicial, os autores verificaram que os níveis de inserção clínica
melhoram três milímetros, com profundidade de sondagem de,
no máximo, quatro milímetros, evidenciando saúde periodontal.
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

Park (2019) também indicou o uso do Emdogain ® sem


uso de enxertos complementares, obtendo resultados positivos.
Acompanharam um paciente de 32 anos, sexo masculino, que
apresentava perda óssea na raiz mesial do dente 36, com 15
mm de profundidade de sondagem, que foi tratado inicialmente
com raspagem e alisamento radicular, orientações de higiene
oral, além de recomendações para abstenção do tabagismo e
alcoolismo. Com esse tratamento inicial, houve uma redução de
três milímetros na profundidade de sondagem. Após, foi
encaminhado para a terapia cirúrgica, com raspagem em
campo aberto e aplicação do Emdogain®, com evolução pós-
operatória sem intercorrências. Em um tempo de proservação
de um ano e três meses, evidenciou-se quatro milímetros de
profundidade de sondagem, considerado estado de saúde
clínica em pacientes com periodontite. Após mais seis meses,
esses resultados permaneceram estáveis.
Seshimaet al. (2019) relataram um caso de periodontite
crônica severa, em uma paciente do sexo feminino, de 50 anos,
com mobilidade dentária em molares. Após terapia
conservadora inicial, a paciente foi submetida à terapia
regenerativa com utilização de duas técnicas: nas bolsas mais
amplas e profundas foi utilizado enxerto autógeno, para
preenchimento de defeitos ósseos e aplicação do Emdogain ®
(dentes 15, 24, 27, 33, 35 e 37). Nos sítios com menores
recessões, foram realizadas apenas raspagem em campo
aberto e aplicação do Emdogain®. Após dois anos de
acompanhamento (desde a primeira intervenção), os autores
constataram que os resultados foram positivos nas duas
modalidades, sem diferenças estatisticamente significativas
para eficácia dessas, com menores profundidades de
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

sondagem (p< 0,001) e melhora nos níveis de inserção clínica


(p< 0,001).
Artziet al. (2019) realizaram um estudo prospectivo em
que 28 pacientes com periodontite agressiva foram submetidos
a cirurgias regenerativas, com acompanhamento por 10 anos.
Em seis pacientes se aplicou a regeneração guiada com
membrana de matriz colágena, e em 22 pacientes, houve a
aplicação do Emdogain®. Ambas técnicas foram associadas a
xenoenxertos desmineralizados de origem bovina, para
preenchimento de defeitos ósseos. Ao final do estudo, após 10
anos, houve redução estatisticamente significativa da
profundidade de sondagem, em 2,35 mm (p< 0,001), na
regeneração guiada e redução de 1,95 mm (p< 0,001), no uso
das PDME. Também houve ganhos estatisticamente
significativos nos níveis de inserção clínica, com aumento de
2,27 mm (p< 0,001), no grupo da regeneração guiada e
aumento de 1,92 mm (p< 0,001), no grupo do Emdogain®.
Ambas as técnicas foram eficazes, sem diferenças estatísticas
de desempenho ao se compará-las.
Trikka (2019) relatou um caso de periodontite agressiva
em uma paciente de 19 anos do sexo feminino, com quadro de
mobilidade dentária generalizada e bolsas com mais de 6mm.
Após terapia inicial de adequação do meio e orientação de
higiene, a paciente foi submetida à raspagem em campo aberto,
com a aplicação do Emdogain®. O autor verificou que, após 11
anos de proservação da paciente, não houve reincidência do
quadro, e que a média da profundidade de sondagem diminuiu
de 5,62 ± 2,91mm para 3,57 ± 0,95 mm, demonstrando
resultados satisfatórios em longo prazo do Emdogain®.
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

Yoshikawaet al. (2020) relataram um caso de


periodontite crônica generalizada, em um paciente do sexo
masculino de 57 anos, sem comprometimento sistêmico.
Inicialmente, o mesmo foi tratado com raspagem e alisamento
radicular, orientações de higiene e ajuste oclusal, por meio de
correção de prótese fixa mal adaptada (região molar direita),
que prejudicava a saúde periodontal, pela má distribuição de
forças oclusais. Após um mês, os dentes 25 e 26 foram tratados
por regeneração guiada, com uso de enxerto autógeno e
aplicação do Emdogain®. Houve ganho de inserção clínica,
respectivamente, em cada dente, de 4 e 5mm e evolução pós-
operatória sem complicações, após um ano e oito meses de
proservação.
Sítios periimplantares
Segundo Li et al. (2017) o uso de PDME liofilizadas,
dissolvidas em ácido acético, também está indicado para
promoção da osseointegração de implantes de titânio. Os
autores constataram in vitro que, em 24 horas, o uso de
concentrações entre 15 e 60µg/ml de PDME promoveu
aumento da proliferação das células-tronco do ligamento
periodontal. Já doses entre 30 e 60µg/ml contribuíram para
maior viabilidade celular (24h, 48h e 72h após aplicação), e
aumento da atividade dos níveis de fosfatase alcalina, após
sete dias. Todos esses parâmetros foram estimulados
positivamente de forma estatisticamente significativa (p<0,05)
na regeneração periodontal nos sítios periimplantares.
Park (2018) relatou um caso de um paciente de 52 anos
do sexo masculino com periimplantite do dente 16,
apresentando supuração e recessão de até 6mm. Após terapia
não cirúrgica, o paciente foi submetido à raspagem em campo
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

aberto com ultrassom, enxerto de origem bovina e aplicação do


Emdogain®. Após proservação de dois anos e três meses, não
havia presença de supuração nem sangramento na região e
profundidade de sondagem de até 4mm. Além disso,
radiograficamente, o enxerto apresentava-se estável e com
maior radiopacidade, indicando neoformação óssea.
Vantagens e desvantagens
Villa et al. (2016) realizaram um ensaio clínico
randomizado, buscando comparar os efeitos das PDME in vivo-
por meio da análise do fluido crevicular de 15 pacientes, e in
vitro, em culturas contendo fibroblastos, para avaliar os efeitos
citocinéticos desse produto no tecido periodontal. Por meio do
sistema Luminex, durante 15 dias, foram detectadas respostas
celulares para a produção de citocinas pró-inflamatórias, como
o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucinas 6 (IL-6)
e 8 (IL-8). A quantidade dessas aumentou in vivo e diminuiu in
vitro. Para os autores, esse estudo constatou efeito positivo
dessas proteínas no combate da inflamação pós-cirúrgica nos
fibroblastos (in vitro), mas o mesmo não pôde ser observado no
organismo, uma estrutura mais complexa, com diferentes tipos
celulares, que podem ter diferentes respostas às injúrias.
Kaneret al. (2017) analisaram a evolução de cirurgias de
aumento de coroa clínica (12 pacientes) e para regeneração de defeitos
ósseos (18 pacientes), em que o Emdogain® foi utilizado em todos os
procedimentos. Por meio da fluxometria Doppler e uso de
imunocomplexos, foi observado que o Emdogain® não foi capaz de
conter significativamente o aumento de citocinas inflamatórias (IL-1β
e TNF-α), nem a diminuição das citocinas anti-inflamatórias como a
IL-10; nem a menor microcirculação, por um curto prazo (sete dias),
quadro comum da manipulação cirúrgica dos tecidos. Embora não
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

apresente atividade anti-inflamatória, o Emdogain® não agravou a


inflamação, que permaneceu temporária e previsível, voltando à
normalidade em 15 dias, desde que não haja deiscência do retalho,
como ocorreu também nos procedimentos tradicionais, sem o uso
desse produto.
Rojas et al. (2019) realizaram uma revisão sistemática,
com o objetivo de comparar o uso das PMDE e regeneração
guiada, que auxiliam a cicatrização de feridas após cirurgias
periodontais regenerativas. Devido à heterogeneidade dos
trabalhos, os autores relataram que não foi possível determinar
superioridade de nenhuma das técnicas para a cicatrização
precoce de feridas. Contudo, os sítios tratados com PMDE
obtiveram vantagens nos parâmetros clínicos, com menores
taxas de deiscência do retalho (-1,7%) e edema (-6,25%).
Por outro lado, Zhou et al. (2018) por meio de uma
revisão sistemática com meta-análise sobre os biomateriais:
plasma rico em plaquetas, fibrina rica em plaquetas, PDME e
membrana amniótica, avaliaram o desempenho dos mesmos
junto a enxertos desmineralizados xenógenos, para
preenchimentos de defeitos ósseos periodontais. Seus achados
não demonstraram resultados clínicos benéficos com uso das
PDME, sem ganhos significativos nos níveis de inserção clínica
e sem diminuição significativa da profundidade de sondagem.
De acordo com os autores, os biomateriais com melhores
desempenhos foram plasma rico em plaquetas e fibrina rica em
plaquetas, pois promoveram, respectivamente, melhor
desempenho no preenchimento ósseo e diminuição da
recessão gengival.
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De 34 artigos levantados, um total de 15 (44,1%)


foram excluídos. Desses 15, 12 (80%) não se referiam ao tema,
dois (13,3%) eram revisão de literatura e um (6,7%) não estava
em inglês, permanecendo 19 (55,9%) artigos, que preenchiam
os critérios de inclusão.
Desses 19, sete (38,9%) foram relatos/séries de
caso; cinco (26,3%) estudos in vitro, duas (10,5%) revisões
sistemáticas com meta-análise, dois (10,5%) estudos de coorte,
dois (10,5%) ensaios clínicos e uma (5,3%) revisão sistemática.
Ainda não se sabe quais peptídeos são responsáveis
pela atividade biológica do Emdogain®,nem quais as vias de
modulação de diferenciação fibroblástica estes modulam
(SWIATKOWSKA et al., 2017). De acordo com Amin et al.
(2015), os peptídeos solúveis do Emdogain® são endocitados,
em que está incluída a AMEL rica em tirosina; e os peptídeos
insolúveis, se precipitam e são fagocitados pelos fibroblastos.
Jonkeet al. (2016) relataram que a AMEL rica em tirosina
apresentou atividade in vitro, na migração celular e
angiogênese, sem ativar a proliferação celular de células
endoteliais, podendo contribuir para regeneração periodontal
induzida pelo Emdogain®. Já Ajilanet al. (2015) observaram, in
vitro, que o Emdogain® aumentou a expressão da enzima
fosfatase alcalina, com diferenciação precoce e formação de
núcleos de mineralização, com efeito osteogênico em células-
tronco da polpa dentária. De acordo com Li et al. (2017) essa
enzima apresentou seus níveis significativamente aumentados,
em sítios periimplantares em que se utilizou Emdogain®. Isso
acarretou diferenciação precoce de osteoblastos e formação de
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

núcleos de mineralização, indicando neoformação óssea.


Swiatkowskaet al. (2017) verificaram que o Emdogain®
aumentou a capacidade de proliferação e migração de
fibroblastos gengivais humanos, sendo o melhor desempenho
na concentração de 50,0µg/ml, após 48 horas.
Como indicações, o Emdogain® pode ser utilizado para
regeneração periodontal, em casos de periodontite crônica,
sem associação a enxertos (SESHIMA et al., 2017; BIZENJIMA
et al., 2019; PARK et al., 2019), ou com associação a esses
(NEMCOVSKY et al., 2019; SESHIMA et al., 2019;
YOSHIKAWA et al., 2020), e também em sítios periimplantares
(LI et al., 2017; PARK, 2018). Também está indicado para casos
de periodontite agressiva (ARTZI et al., 2019; TRIKKA, 2019),
sem diferenças significativas no desempenho, ao se comparar
as técnicas de regeneração guiada com membrana colágena e
utilização do Emdogain®, ambas associadas a enxertos bovinos
(ARTZI et al., 2019). Trikka (2019) verificou resultados
satisfatórios do Emdogain® em 11 anos de proservação de um
paciente jovem portador de periodontite agressiva.
Os bons resultados do Emdogain® foram constatados a
longo prazo, contudo, ainda com pouca evidência científica,
sendo a maioria de relatos de caso. Em casos de utilização do
Emdogain® sem associação a enxertos, Seshimaet al. (2017)
observaram resultados positivos em longo prazo (dois anos), na
regeneração periodontal, com a utilização do Emdogain ® em 22
pacientes com periodontite crônica, com ganhos significativos
de inserção clínica e diminuição da profundidade de sondagem.
O mesmo ocorreu no relato de caso de Bizenjimaet al. (2019)
de uma mulher portadora de periodontite crônica generalizada,
com bolsas periodontais com mais de sete milímetros de
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

profundidade. Após dois anos e meio da utilização do


Emdogain®, os autores observaram aumento de três milímetros
no nível de inserção clínica e diminuição da profundidade para
quatro milímetros, evidenciando melhora periodontal. Park et al.
(2019) ao proservarem um paciente tratado com Emdogain ®
sem enxertos complementares, observaram resultados
duradouros após um ano e nove meses, com resolução da
periodontite localizada no dente 36, com diminuição da
profundidade de sondagem de 15mm para 4mm, após
tratamento periodontal.
Já com a utilização de Emdogain® associado a
enxertos, Nemcovskyet al. (2018) relataram um caso clínico de
recessão gengival em incisivos inferiores de um paciente em
que a associação Emdogain® com regeneração guiada diminuiu
a morbidade associada à deiscência do retalho, com indução
mais rápida da angiogênese e reepitelização local, ocorrida pelo
uso do Emdogain®, com melhores difusão de nutrientes e
adesão do retalho. Os resultados obtidos foram maior nível de
inserção clínica, diminuição da profundidade de sondagem,
aumento de gengiva queratinizada e preenchimento dos
defeitos intraósseos. Yoshikawaet al. (2020) observaram
ganhos de inserção clínica de 4 e 5mm em dois dentes tratados
com regeneração guiada, com uso de enxerto autógeno e
Emdogain®.
Contudo, Seshimaet al. (2019) não observaram
diferenças estatisticamente significativas entre a associação ou
não do Emdogain® a enxertos. Ambos resultaram em menores
profundidades de sondagem e melhora nos níveis de inserção
clínica, após dois anos de acompanhamento de um caso de
periodontite crônica severa. Resultados semelhantes também
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

foram encontrados por Annunziataet al. (2019), que relataram


que não houve melhorias clínicas adicionais estatisticamente
significativas nos parâmetros de redução de profundidade a
sondagem, aumento da inserção clínica e recessão gengival,
quando se associou PDME e enxertos autógenos.
Dentre suas vantagens, o Emdogain® apresentou
atividade anti-inflamatoria apenas in vitro, por indução de
diminuição de citocinas pró-inflamatorias. Essa ação, contudo,
não ocorreu in vivo, onde houve aumento dessas citocinas
(VILLA et al., 2016). Contudo, apesar de não possuir atividade
anti-inflamatoria, o Emdogain® não apresentou capacidade de
agravar a inflamação, fato verificado por Kaneret al. (2017)em
cirurgias de aumento de coroa clínica. Já de acordo com a
revisão sistemática realizada por Rojas et al. (2019), tanto o
Emdogain®, quanto a regeneração guiada apresentaram ação
semelhante na cicatrização precoce de feridas cirúrgicas, mas
os sítios tratados com Emdogain® obtiveram menores taxas de
deiscência do retalho e edema. Também, em preenchimentos
de defeitos ósseos periodontais, Zhouet al. (2020)verificaram,
em sua metanálise, que não houve ganhos significativos nos
níveis de inserção clínica, nem de diminuição da profundidade
de sondagem, com o uso das PDME associadas a enxertos
xenógenos bovinos. Os autores relataram que os melhores
biomateriais utilizados foram plasma rico em plaquetas e fibrina
rica em plaquetas, pois promoveram, respectivamente, melhor
preenchimento ósseo e diminuição da recessão gengival.

CONCLUSÕES
As PDME, em especial o Emdogain®, isoladamente ou
associadas a enxertos, podem ser utilizadas em diferentes
PROTEÍNAS DERIVADAS DA MATRIZ DO ESMALTE NA REGENERAÇÃO
PERIODONTAL: UMA ATUALIZAÇÃO

situações, com o objetivo de regeneração periodontal, com


resultados satisfatórios, principalmente em casos de
periodontites crônica e agressiva, apresentando ganho de
inserção clínica e menor profundidade à sondagem. Em sítios
periimplantares, esse material pode auxiliar na
osseointegração. Este gel apresentou capacidade de indução
de proliferações fibroblástica e osteoblástica, com ação na
enzima fosfatase alcalina, produzindo efeito osteogênico.
Apresentou também atividade anti-inflamatória in vitro, todavia,
isso não ocorreu in vivo.
Contudo, ainda não se sabe quais peptídeos de sua
composição são responsáveis por sua ação biológica e quando
comparado a outros biomateriais, apresenta-se inferior aos
derivados de plaquetas, quando associados a enxerto bovino.
Ainda são necessários mais estudos clínicos para comprovação
da verdadeira ação biológica deste biomaterial.

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RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE EM RETRAÇÕES GENGIVAIS
MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

CAPÍTULO 13

RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE


EM RETRAÇÕES GENGIVAIS MÚLTIPLAS
INFERIORES COM FENÓTIPO
PERIODONTAL FINO: UM RELATO DE
CASO
Lucas Gabriel Cândido COSTA1
Ana Karina de Medeiros TORMES2
Karyna de Melo MENEZES3
1 Graduando do curso de Odontologia, UEPB-Araruna; 2 Professora de
Cirurgia do curso de Odontologia, UEPB-Araruna; 3 Orientadora/Professora
de Periodontia do curso de Odontologia, UEPB-Araruna.
candidocostalucasgabriel@gmail.com

RESUMO: As retrações gengivais ocorrem com o


deslocamento apical da margem gengival em relação à junção
cemento-esmalte, sua etiologia é multifatorial e tem relação
com fenótipo periodontal e falta de tecido ceratinizado. A
técnica do retalho deslocado lateralmente associada ao enxerto
de tecido conjuntivo melhora a previsibilidade do tratamento,
promovendo melhor estabilidade e apresenta prognóstico
superior. O objetivo deste artigo é relatar um caso clínico
utilizando a técnica do retalho deslocado lateralmente, em
paciente com retrações gengivais múltiplas inferiores, com
fenótipo periodontal fino. Paciente do sexo masculino, sem
perda de inserção interproximal, com recessões RT1 nos
dentes 41, 42, 43 e 44. Foi submetido à terapia periodontal
básica no pré-cirúrgico. Realizou-se incisão intrasulcular do 41
RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE EM RETRAÇÕES GENGIVAIS
MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

ao 45, onde foi feita uma incisão relaxante na distal; o retalho


total foi deslocado até a junção mucogengival, o qual passou a
ter espessura parcial. O enxerto de tecido conjuntivo foi
colocado nos dentes 41, 42 e 43. O retalho foi suturado com
sutura simples e nas papilas foram realizadas suturas
suspensórias. O paciente recebeu as recomendações pós-
operatórias e prescrição medicamentosa. O deslocamento
lateral do retalho associado ao enxerto de tecido conjuntivo
mostrou-se eficaz no tratamento de retrações múltiplas em
fenótipo fino, com resultado satisfatório para o paciente quanto
à funcionalidade e estética.
Palavras-chave: Retração gengival. Fenótipo. Tecido
conjuntivo.

INTRODUÇÃO

A retração gengival acontece quando ocorre o


deslocamento apical da margem gengival em relação à junção
cemento-esmalte (JCE), associada à perda de inserção e à
exposição de raiz no meio bucal. Essa condição está,
geralmente, relacionada a fatores como problemas estéticos,
hipersensibilidade dentinária, aumento da prevalência de
lesões cervicais cariosas e não cariosas, afetando a qualidade
de vida do paciente (CORTELLINI, BISSADA, 2018).
Apesar de sua etiologia permanecer não esclarecida, a
literatura aponta alguns fatores predisponentes que podem
interferir no surgimento deste tipo de deformidade
mucogengival, entre eles, a falta de tecido ceratinizado; o
fenótipo periodontal fino; a escovação dentária traumática,
sendo esta, ainda, uma conclusão controversa dos estudos;
RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE EM RETRAÇÕES GENGIVAIS
MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

margens restauradoras cervicais em excesso e tratamento


ortodôntico prévio, além de outras condições que os estudos
também sugerem, apesar de serem evidências em menor grau,
como inflamação gengival persistente e posição do frênulo
(CATON et al., 2018; JEPSEN et al., 2018; CORTELLINI,
BISSADA, 2018).
Atualmente, a classificação das retrações gengivais
considera a quantidade de tecido ósseo interproximal de forma
que o diagnóstico clínico torna-se mais objetivo, e o prognóstico
mais claro e são divididas em três tipos (CAIRO et al., 2011).
Nas recessões tipo 1 (RT1), a crista óssea interproximal está
intacta, e a JCE nessa área não é detectável clinicamente; no
tipo dois (RT2), existe a perda de inserção interproximal com a
distância entre a JCE e o fundo do sulco/bolsa menor ou igual
à perda de inserção vestibular; já no tipo três (RT3), há perda
de inserção proximal e a distância entre a JCE e o fundo do
sulco/bolsa é maior que a perda de inserção vestibular, sendo
os tipos um e dois passíveis de recobrimento total, enquanto no
tipo três tal restabelecimento não é esperado (CAIRO et al.,
2011).
Segundo Cortellini, Bissada (2018), um fenótipo
periodontal fino é um fator predisponente para o
desenvolvimento da retração gengival. Ele pode ser
diagnosticado por meio da sondagem transgengival (RONAY et
al., 2011), medição ultrassônica e pela visibilidade da sonda –
quando a sonda é visível, o fenótipo é considerado fino, caso o
instrumental não possa ser visualizado, considera-se espesso
(DE ROUCK et al., 2009). Essa condição pode ainda influenciar
na integridade do periodonto ao longo da vida do paciente, além
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MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

de ser um ponto de atenção durante o tratamento ortodôntico,


reabilitador com implantes dentários e restaurador
(CORTELLINI, BISSADA, 2018). Estudos mostram a
importância da relação entre fenótipo periodontal fino e
recessões gengivais, isto é, caso o paciente apresente fenótipo
periodontal fino, há indício de maior possibilidade de ter
retração gengival ou de apresentá-la em maior prevalência do
que pacientes com fenótipo espesso (ARÉVALO, RODRIGUEZ,
2019; QUEZADA, 2020; MONTES, 2019; STEFFENS,
MARCANTONIO, 2018).
Diante das necessidades estéticas e funcionais,
visando alcançar um recobrimento radicular satisfatório,
diversas técnicas cirúrgicas para o recobrimento radicular de
retrações unitárias ou múltiplas, tais como reposição lateral do
retalho (GRUPE, WARREN, 1956), reposição coronal do
retalho (ZUCHELLI, DE SANCTIS, 2000) e retalho de papila
dupla (COHEN, ROSS, 1968) associadas ou não ao enxerto de
tecido conjuntivo (GUIMARÃES, 2007) surgiram e apresentam
bons resultados clínicos, sejam elas unitárias ou múltiplas, que
já demonstram bons resultados clínicos. (KURDUKAR,
KURDUKAR, DANI, 2017).
O tratamento de retrações gengivais inferiores
profundas representa um desafio clínico devido a condições
adversas locais, como a profundidade vestibular limitada e a
ausência de mucosa ceratinizada suficiente, que limita a
execução da técnica de retalho deslocado coronalmente. O
retalho descolado lateralmente apresenta um resultado estético
e funcional favorável, uma vez que pode recobrir recessões
RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE EM RETRAÇÕES GENGIVAIS
MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

gengivais inferiores profundas sem impedir a mobilidade do


lábio inferior (ZUCHELLI et al., 2014; AUGUSTO et al., 2019).
Nesse sentido, este relato de caso clínico se propôs a
apresentar o recobrimento radicular de retrações gengivais
múltiplas inferiores com fenótipo periodontal fino, através do
retalho deslocado coronalmente associado ao enxerto de tecido
conjuntivo.

RELATO DO CASO CLÍNICO

Paciente T. O. S., 31 anos de idade, sexo masculino,


procurou tratamento odontológico numa clínica particular para
tratamento das retrações gengivais múltiplas. Durante a
anamnese, o paciente não relatou nenhum problema sistêmico
que pudesse interferir na cicatrização dos tecidos periodontais
e declarou não fazer uso de alguma medicação sistêmica.
Embora houvesse perda de inserção nos dentes com recessões
gengivais, a condição de higiene bucal do paciente em questão
era satisfatória e não havia perda de inserção interproximal em
nenhum dente avaliado (Figura 1). Sendo assim, todas as
recessões gengivais foram classificadas como sendo do tipo um
(RT1).
Apesar do paciente apresentar uma boa condição de
higiene bucal, observou-se a presença de cálculo dentário
supragengival no arco inferior, principalmente na superfície
radicular dos dentes com retrações gengivais (Figura 2).
Sendo assim, a terapia básica periodontal foi realizada,
iniciando com uma sessão de orientação e motivação de
higiene bucal, especialmente nos sítios com retração gengival,
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MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

indicando o uso de escovas dentais macias e, em seguida, as


curetas específicas de Gracey foram usadas para a raspagem
e alisamento das raízes, em uma sessão clínica anterior à
cirurgia periodontal para recobrimento radicular. Além disso, ao
final da terapia básica periodontal, uma tomografia
computadorizada de feixe cônico do arco inferior foi solicitada,
para avaliar a espessura da tábua óssea vestibular dos dentes
do quarto quadrante que seriam envolvidos na técnica cirúrgica
e para viabilizar o planejamento cirúrgico. No exame de
imagem, pode-se observar a ausência de osso alveolar nas
faces vestibulares dos dentes 41, 42, 43, e 44 (Figura 3

Figura 1. Aspecto clínico inicial.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


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MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

Figura 2. Aspecto clínico inicial do arco inferior.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


Figura 3. Tomografia computadorizada de feixe cônico
mostrando do dente 41 ao 45.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


Em outra sessão clínica, após o planejamento cirúrgico,
a cirurgia periodontal para recobrimento radicular dos dentes do
quarto quadrante, 41, 42, 43 e 44, foi realizada. Imediatamente
antes do início da cirurgia, os parâmetros clínicos periodontais
de profundidade de sondagem, sangramento à sondagem,
tamanho da recessão gengival e quantidade de mucosa
ceratinizada foram coletados em todos os dentes 41, 42, 43, 44
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MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

e 45 envolvidos. Não houve alteração nos parâmetros


profundidade de sondagem, assim como não houve
sangramento à sondagem. Porém, os dentes 41, 42, 43 e 44
apresentaram 4 mm, 1,5 mm, 2,5 mm, 2 mm de retração
gengival, respectivamente. Sendo assim, o diagnóstico do
paciente foi de saúde clínica gengival em um periodonto
reduzido (Figura 4).

Figura 4. Pré-operatório imediato.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Para o recobrimento radicular dos dentes inferiores, foi


planejado o retalho deslocado lateralmente devido alguns
fatores: a pouca disponibilidade de tecido ceratinizado e o
vestíbulo raso, que inviabilizou a execução de um retalho
deslocado coronalmente, além da largura mésio-distal das
retrações gengivais serem maiores ou iguais a 3,5 mm, que
inviabiliza a realização da técnica do túnel. Devido à
característica de fenótipo fino, foi planejada a colocação de um
enxerto de tecido conjuntivo associado à técnica do retalho
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RELATO DE CASO

posicionado lateralmente para o recobrimento radicular dos


dentes 41, 42, 43 e 44, com a finalidade de aumentar a faixa de
mucosa ceratinizada, aumentar a espessura gengival e
melhorar a estabilidade da margem gengival em longo prazo.
Apesar do paciente em questão apresentar recessões
gengivais múltiplas também no terceiro quadrante, visando o
conforto do paciente no período trans-cirúrgico e pós-
operatório, inicialmente foi planejado o recobrimento radicular
apenas dos dentes do quarto quadrante.
O paciente foi anestesiado pela técnica infiltrativa na
região de fundo de sulco vestibular dos dentes do quarto
quadrante, e o bloqueio do nervo mentoniano foi realizado com
o anestésico articaína 4% com epinefrina. Após o teste da
anestesia, certificando-se de que o paciente estava anestesiado
na área de interesse, com uma lâmina de aço carbono 15c
(Swann-Morton®), as incisões foram realizadas sendo
intrasulcular na vestibular e interproximal desde o dente 41 até
o dente 45, onde foi executada uma incisão relaxante na distal
do segundo pré-molar inferior direito. Com um tunelizador, o
retalho total foi sendo descolado em toda a área vestibular até
atingir o limite anatômico da união mucogengival (Figura 5),
onde o retalho passou a ter espessura parcial, com a finalidade
de promover o deslocamento do retalho total para a área a ser
recoberta, ou seja, até recobrir toda a retração gengival dos
dentes 41, 42, 43, e 44 e ultrapassar a junção cemento-esmalte
no sentido coronal (Figura 6). Após isso, a papila e região
mesial do dente 41 passaram pela deseptelização para conferir
melhor coaptação das bordas cirúrgicas no momento da sutura.
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MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

Finalizada as incisões do leito receptor, o palato do


paciente foi anestesiado com articaína 4% e epinefrina
realizando o bloqueio do nervo palatino maior. Foram realizadas
incisões superficiais na mucosa ceratinizada do palato para
guiar o tamanho e incisões para remoção de enxerto de tecido
conjuntivo. Em seguida, foi realizada a deseptelização do
enxerto com o gengivótomo de Kirkland ainda antes da incisão
completa (Figura 7).
Figura 5. Uso do tunelizador realizando o descolamento total
do retalho.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE EM RETRAÇÕES GENGIVAIS
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RELATO DE CASO

Figura 6. Verificação da mobilidade do retalho total através do


tracionamento coronal.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Figura 7. Deseptelização do enxerto ainda na área doadora.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


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MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

O enxerto de tecido foi removido com as medidas de


17x9mm (Figura 8) e a deseptelização foi finalizada e conferida
na mesa cirúrgica sob uma gaze estéril (Figura 9).

Figura 8. Enxerto de tecido conjuntivo removido do palato.

.
Fonte: Arquivo pessoal, 2020.
Figura 9. Conferência e finalização da deseptelização do
enxerto sob a mesa cirúrgica.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


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MÚLTIPLAS INFERIORES COM FENÓTIPO PERIODONTAL FINO: UM
RELATO DE CASO

Esponjas de colágeno foram acomodadas no leito


doador e suturas contínuas em “X” foram executadas com fio
de sutura 5.0 black nylon (Techsuture®) para estabilização do
coágulo, uma vez que o palato cicatrizou por segunda intenção
(Figura 10).

Figura 10. Aspecto pós-operatório imediato da área doadora.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


No leito receptor o enxerto de tecido conjuntivo foi
acomodado nas superfícies radiculares dos dentes 41, 42 e 43
e suturado através de dois pontos simples com fio blue nylon
5.0 (Techsuture®). O retalho deslocado lateralmente foi
suturado com fio blue nylon 6.0 (Techsuture®), especialmente
na face mesial do dente 41 através de pontos simples e,
novamente com o fio blue nylon 5.0, as papilas deslocadas
lateralmente para a mesial foram estabilizadas através de
suturas suspensórias. Finalmente, a incisão relaxante na distal
do dente 45 foi suturada com fio 5.0 black nylon.
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Figura 11. Aspecto pós-operatório imediato da área receptora.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


O paciente foi acompanhado diariamente, por uma
semana, para avaliação da cicatrização dos tecidos moles na
área doadora (Figura 12) e receptora (Figura 13) no período
inicial.

Figura 12. Evolução clínica de seis dias da cicatrização da área


doadora.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


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RELATO DE CASO

Figura 13. Evolução clínica de seis dias da cicatrização da área


receptora.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

O paciente foi orientado a não escovar os dentes que


receberam o enxerto e uma solução de digluconato de
clorexidina 0,12% foi prescrita como enxaguante bucal para ser
usado duas vezes por dia por 15 dias. O paciente também
recebeu a prescrição de anti-inflamatório (nimesulida 100mg, a
cada 12 horas) e analgésico (dipirona sódica 500mg, a cada 6
horas) por 3 dias, além de antibiótico (amoxicilina 500 mg, a
cada 8 horas) por 7 dias. As suturas da área doadora foram
removidas após 7 dias (Figura 14). No 15º dia pós-operatório
observou-se uma ótima cicatrização do palato, que apresenta a
formação do tecido epitelial quase completa e integração do
tecido conjuntivo à área receptora, sugerindo o recobrimento
radicular total nos dentes 42 e 43, recobrimento radicular parcial
no dente 41 e aumento da faixa de mucosa ceratinizada em
todos os dentes envolvidos na técnica cirúrgica (Figura 15).
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Figura 14. Aspecto da área doadora após 7 e 15 dias.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Figura 15. Aspecto da área receptora após 7 e 15 dias.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


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RELATO DE CASO

DISCUSSÃO

É estabelecido na literatura que, no tratamento de


recessões gengivais, a associação do enxerto de tecido
conjuntivo proporciona maior estabilidade do resultado
cirúrgico, espessura de mucosa ceratinizida e melhoria do
recobrimento radicular, proporcionando previsibilidade de
sucesso superior (CHAMBRONE et al., 2019; CLAUDINO et al.,
2018; TATAKIS et al., 2015). Desse modo, este trabalho
objetivou relatar um caso clínico de um paciente que se
submeteu ao recobrimento radicular de retrações gengivais
múltiplas, no arco inferior, com fenótipo periodontal fino
associado ao enxerto de tecido conjuntivo, e a técnica do
retalho deslocado lateralmente, utilizada neste caso clínico, se
demonstrou eficaz.
O estudo de Ahmedbeyli et al. (2019) reafirma essa
tese, ao concluir que o retalho deslocado lateralmente deve ser
considerado uma boa opção de tratamento para múltiplas
retrações, pois apresenta bons resultados clínicos e sua
associação a enxertos proporciona, ainda, resultados
superiores com cobertura completa da aréa exposta, maior
previsibilidade e excelente prognóstico.
De acordo com Carranza (2018) e Augusto et al. (2019),
o retalho deslocado lateralmente associado ao enxerto de
tecido conjuntivo é eficaz no tratamento de recessões
profundas em dentes anteriores inferiores, pois, além de muitas
vezes promover a cobertura radicular desejada, tal associação
induz a mudança no fenótipo periodontal, aumentando sua
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espessura, e, portanto, induzindo a estabilidade gengival,


evitando recidivas.
A presença do fenótipo periodontal fino possui relação
direta com a maior prevalência de retrações gengivais. Sendo
assim, é fundamental que a técnica cirúrgica possa melhorar a
qualidade do fenótipo gengival, por meio do uso do enxerto de
tecido conjuntivo, o que irá promover o restabelecimento
funcional do periodonto de proteção, aumento da espessura
gengival e consequente alteração no fenótipo de fino para
espesso (ARÉVALO, RODRIGUEZ, 2019; QUEZADA, 2020;
MONTES, 2019).
A técnica do retalho deslocado lateralmente foi descrita
na literatura inicialmente na década de 50 (GRUPE, WARREN,
1956), sendo modificada dez anos depois (GRUPE, 1966). A
diferença entre elas é que, na primeira técnica, o retalho era
feito em espessura total e, posteriormente, manteve-se tecido
mole no dente doador a fim de evitar uma nova recessão.
Parkinson, Richard, Davis (1971) apresentaram outra
modificação, trazendo o duplo retalho, enquanto Nelson (1987)
sugeriu que fosse utilizado um enxerto recoberto pelo retalho
deslocado lateralmente, com o objetivo de aumentar a
espessura do fenótipo periodontal e garantir melhores
resultados estéticos e funcionais.
De acordo com Wagner (2015), as retrações gengivais
impactam negativamente a qualidade de vida, e seu estudo
demonstrou que dentes anteriores em regiões estéticas têm
maiores índices de influência na qualidade de vida dos
pacientes. A constatação da autora concorda com Cortellini,
Bissada (2018) quando associam a retração gengival a
RETALHO DESLOCADO LATERALMENTE EM RETRAÇÕES GENGIVAIS
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problemas estéticos, de sensibilidade e de lesões cervicais,


sendo todos esses fatores prejudiciais ao paciente.
Ainda segundo Cortellini, Bissada (2018), essa inter-
relação das retrações gengivais com a presença de lesões
cervicais, sejam cariosas ou não, ocasiona modificações na
superfície dente-raiz, podendo ocasionar o desaparecimento da
junção cemento-esmalte, e/ou a formação de degraus que
variam em extensão e profundidade.
Por conseguinte, o tratamento de recobrimento
radicular efetivo, além de solucionar os agravos funcionais
relacionados, também oferece otimização estética, inclusive na
percepção dos pacientes. Assim demonstra o estudo feito por
Lorigo (2017), o qual avaliou pacientes submetidos a cirurgias
de recobrimento, os quais verificaram a diferença estética entre
o início e o final do tratamento. Desse modo, é possível concluir
que a realização do procedimento foi percebida, ou seja, a
cirurgia de recobrimento radicular é, também, importante na
percepção estética.
Dentre as limitações deste caso clínico, podemos
destacar o curto período de acompanhamento. No entanto, ao
observar o aspecto clínico aos 15 dias de pós-operatório, nota-
se completa integração do enxerto de tecido conjuntivo,
aumento da faixa de mucosa ceratinizada, provável mudança
do fenótipo gengival e redução das retrações gengivais nos
dentes envolvidos, levando à melhoria do aspecto estético.
Portanto, percebe-se que, apesar de ser um desafio
realizar o recobrimento radicular de retrações gengivais
profundas múltiplas no arco inferior, a técnica proposta, em
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associação ao enxerto de tecido conjuntivo, pode ser


considerada uma alternativa de tratamento para esses casos.

CONCLUSÃO

O presente caso clínico conclui que, em áreas com


retrações gengivais profundas e múltiplas, onde o vestíbulo é
raso e o fenótipo periodontal é fino, a técnica do retalho
deslocado lateralmente é uma opção de tratamento previsível e
eficaz por promover o aumento da faixa de mucosa
ceratinizada, redução das recessões gengivais e aumento da
espessura gengival.

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USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 14

TRATAMENTO PERIODONTAL EM
PACIENTES EM HEMODIÁLISE: UMA
REVISÃO DE LITERATURA

Andreza Mirelly de QUEIROZ¹


Aline de Azevedo OLIVEIRA1
Luana Laureano GALDINO¹
Nívea Maria Nery GREGÓRIO¹
Ítalo de Macedo BERNARDINO²
1 Graduandas do curso de Odontologia, UEPB; 2 Orientador/Professor do Centro Universitário UNIFACISA.

amqueiroz07@gmail.com.

RESUMO: A doença periodontal é uma doença inflamatória


crônica causada por bactérias na placa dentária. A doença renal
crônica (DRC) constitui uma doença com alteração estrutural
que é geralmente progressiva e irreversível. E a saúde
periodontal, em muitos casos de pacientes em hemodiálise, é
pior do que em indivíduos saudáveis. O objetivo dessa revisão
é analisar como deve ser feito o tratamento periodontal em
pacientes submetidos a hemodiálise e identificar como a
doença periodontal age nesses casos. Foi realizada uma busca
nas bases de dados eletrônicos PubMed/Medline, LILACS e
Scielo, publicados entre o período de 2015 a 2020. Foram
encontrados em torno de 48 artigos, sendo utilizados apenas
22, selecionando-se os mais relevantes. Os pacientes em
hemodiálise podem relatar redução da saliva e xerostomia o
que resulta em alterações das mucosas orais e formação de
cálculos dentários. A doença periodontal também pode afetar
os parâmetros nutricionais e a perda óssea em pacientes em
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

hemodiálise. A prevalência de periodontite em pacientes em


hemodiálise é alta principalmente por encontrar sangramento
grave na bolsa periodontal, podendo representar uma fonte de
microinflamação. Em suma, podemos concluir que é muito
importante para esses pacientes em hemodiálise, melhorar a
sua higiene bucal, consultar o dentista com mais frequência, a
fim de evitar doenças periodontais e provável piora da sua
condição geral.
Palavras-chave: Tratamento. Doenças Periodontais.
Hemodiálise.

INTRODUÇÃO

A doença periodontal é uma doença inflamatória


crônica causada por bactérias na placa dentária e pode levar à
destruição, infecção e inflamação dos tecidos de suporte
dentário, osso alveolar e ligamento periodontal. Sua principal
característica clínica é a perda de inserção, principalmente
acompanhada de uma bolsa periodontal e alterações na
densidade e no nível subjacente ao osso alveolar. Em pacientes
submetidos a hemodiálise, a saúde periodontal, em muitos
casos, é pior do que em indivíduos saúdáveis (IWASAKI et al.,
2017).
A doença renal crônica (DRC) constitui uma doença
renal com alteração estrutural (glomerular, tubular e endócrina)
que é geralmente progressiva e irreversível, implicando na
redução ou limitação da capacidade do rim de filtrar que causa
a uremia caracterizada pelo acúmulo de substâncias no
sangue, que devem ser filtradas e expelidas (KIM et al., 2017).
A prevalência da DRC é um relevante problema de
saúde pública em todo o mundo. Um dos resultados clínicos
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

mais sérios da DRC é a perda total ou parcial da função renal e


um dos tratamentos incluem a diálise (hemodiálise) e/ ou em
casos mais extremos o transplante renal (CHOLEWA et al.,
2018).
Os pacientes com doença renal que recebem
tratamento por meio da hemodiálise têm uma taxa
significativamente maior de mortalidade comparada à
população saudável (cerca de 20% ao ano nos Estados Unidos
e 10 - 15% na Europa), principalmente devido a doenças
cardiovasculares (ZAZZERONI et al., 2017).
As consequências de um indivíduo se submeter a
hemodiálise podem acarretar o desenvolvimento de vários
balanços de fluidos e eletrólitos como a hipercalemia, acidose
metabólica e hiperfosfatemia, assim como anormalidades nas
disfunções hormonais como anorexia, náusea, fadiga,
hipertensão, entre outros. Além do desenvolvimento de
doenças cardiovasculares. Nas manifestações orais incluem
halitose, diminuição da secreção salivar, pior estado dentário e
periodontal (CHOLEWA et al., 2018).
Pacientes em hemodiálise são submetidos a esse
procedimento em um hospital três vezes por semana e podem
não conseguir visitar um dentista de forma frequente, além
disso dentistas podem hesitar em prestar cuidados bucais a
esses pacientes pois tendem a sangrar de forma exacerbada
devido aos medicamentos com anticoagulantes, sendo
suscetíveis a infecções bacterianas (MISAKI et al., 2019).
Segundo Misaki et al. (2019) foi identificado uma
associação entre doenças bucais e saúde sistêmica, na qual
pacientes em hemodiálise (HD) são mais suscetíveis à cárie
dentária que pessoas saudáveis, além disso há a associação
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

entre a periodontite e a DRC, na qual também pacientes em HD


são mais passíveis de ter a periodontite.
Pacientes com doença periodontal (DP) grave exibem
níveis elevados de creatinina sérica e um risco duas vezes
maior de ocorrência de insuficiência renal crônica em
comparação com pacientes que não tem a DP. Uma vez que
patógenos e toxinas orais entram na corrente sanguínea
através da bolsa periodontal, causam uma resposta inflamatória
que se torna prejudicial para os rins. Em contrapartida, a
insuficiência renal crônica promove o início ou progressão da
DP (HOU et al., 2017).
De acordo com Hou et al. (2017) a insuficiência renal
na patogênese da doença periodontal é atribuível com a reação
inflamatória, enfraquece o sistema de defesa e prejudica a
capacidade de auto-reparo, por isso que tem sido sugerido que
essas duas doenças interagem entre si quando existentes no
mesmo indivíduo.
No Brasil, estima-se que a cada um milhão, 499
pacientes estão em tratamento de hemodiálise, segundo o
censo emitido pela Sociedade Brasileira de Nefrologia em 2013.
O número de causas da DRC está relacionado à insuficiência
renal. As causas mais comuns da DRC são diabetes mellitus,
hipertensão, glomerulonefrite crônica, doenças renais
policísticas, entre outras (KIM et al., 2017).
Diante desse fato, segundo Rodriguez-Godoy et al.
(2019) 58,9% dos pacientes em hemodiálise apresentam
periodontite moderada a grave. Sendo de alta prevalência de
mau estado periodontal entre os pacientes com DRC grave e
moderada, além disso a prevalência de gengivite entre
pacientes em diálise variou entre 35% a 38%.
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Em relação a terapia periodontal, estudos relatam


melhorias na função endotelial e na inflamação significativa em
com DP. Em pacientes em hemodiálise, sugere-se terapia com
DP para melhorar a inflamação sistêmica, o estado nutricional
e a capacidade de resposta da eritropoietina (HUANG et al.,
2015).
Alguns estudos relatam que após o paciente ser
submetido a terapia periodontal, há redução do processo
inflamatório, assim os pacientes renais crônicos precisam ter
seu risco avaliado e receber o diagnóstico correto da doença
periodontal para então ser realizado um plano de tratamento e
iniciar a terapia de manutenção adequada (KIM et al., 2017).
Além disso, pacientes com DRC que não fazem
tratamento de hemodiálise, pacientes que recebem terapia
renal substitutiva com a hemodiálise e até pacientes com
transplante renal, experimentam alterações nos tecidos bucais,
apresentando geralmente acúmulo de placa, cálculo e
inflamação gengival, além de hiperplasia gengival e aumento da
prevalência e gravidade da doença periodontal (RODRIGUEZ-
GODOY et al., 2019).
Considerando todos esses fatores, os pacientes em
hemodiálise e os que são candidatos a transplante renal
deveriam apresentar um melhor comportamento de saúde bucal
em comparação à população em geral. No entanto, os dados
atuais mostram um comportamento controverso, com uma
higiene bucal inferior em relação ao restante da população
(SCHMALZ et al., 2016).
Em contrapartida, ainda são amplamente
desconhecidos os efeitos clínicos da terapia intensiva com a
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GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

doença periodontal na prevenção de infecções em pacientes


submetidos a diálise (HUANG et al., 2015).
Dessa forma, o objetivo dessa revisão é analisar como
deve ser feito o tratamento periodontal em pacientes
submetidos a hemodiálise, identificar como a doença
periodontal age nesses casos, além de destacar a importância
da saúde bucal e do tratamento periodontal adequado para
estender e melhorar a sobrevida desses pacientes.

MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo constituiu-se em uma revisão da


literatura recente sobre o tratamento periodontal em pacientes
em hemodiálise. Foi realizada uma busca nas bases de dados
eletrônicos PubMed/Medline, LILACS e Scielo, por meio da
busca de artigos relacionados ao tema proposto, publicados
entre o período de 2015 a 2020. Foram encontrados em torno
de 48 artigos, sendo utilizados 22.
Os descritores utilizados como mecanismo de busca
para seleção dos artigos foram: Tratamento (treatment);
Doenças Periodontais (Periodontal Diseases); Hemodiálise
(Hemodialysis). O sistema de formulário avançado “AND” e
“OR” para filtragem dos artigos relacionados ao tema foram
utilizados. Outra estratégia adotada foi a busca manual em
listas de referências dos artigos selecionados.
Após a triagem inicial, os artigos baixados foram
sequencialmente numerados e lidos, para constatação da
adequação ao tema. Os artigos obtidos através das estratégias
de busca, que tiveram como temática principal “Tratamento
Periodontal em Pacientes em Hemodiálise”, foram avaliados e
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GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

classificados em elegíveis (estudos pertinentes e possíveis de


serem incluídos na revisão), escritos em inglês, espanhol ou
português e não-elegíveis os artigos que não apresentaram
relevância clínica sobre o tema abordado e aqueles que não se
enquadraram nos critérios de inclusão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Doença Periodontal e o estado de saúde bucal


Os pacientes em hemodiálise podem relatar redução da
saliva e xerostomia o que resulta em alterações das mucosas
orais e formação de cálculos dentários. Além disso, uma
porcentagem alta de pacientes em hemodiálise podem
negligenciar a higiene bucal, piorando a saúde bucal durante o
tratamento (SCHMALZ et al., 2016).
No estudo que Schmalz et al. (2016) realizaram, a
maioria dos pacientes submetidos a hemodiálise e candidatos
ao transplante renal, afirmaram estar em contato regular com
um dentista, porém, mesmo com essa frequência, foi
encontrada uma elevada necessidade de tratamento
periodontal nesses pacientes (pacientes em hemodiálise:
56,7%, candidatos ao transplante de rim: 71,4%).
Nos estudos feitos por Veisa et al. (2017), foi observado
que a doença periodontal progride em direção à perda dentária
com comprometimento consecutivo da função mastigatória em
um indivíduo afetado sistematicamente e com risco de
desnutrição. Assim, a doença periodontal tem sido associada,
em pacientes com DRC, com idade avançada, baixa renda,
tabagismo e diabetes pré-existentes.
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GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Na pesquisa que Yeter et al. (2019) realizou foi


observado que mais da metade dos pacientes analisados
escovavam os dentes menos de duas vezes por dia. Apenas
29% dos pacientes compareceram a um programa regular de
manutenção dentária e a consultas odontológicas no ano
anterior.
Além disso, o gênero masculino, parece estar
associado ao desenvolvimento de periodontite grave em
pacientes com DRC, isso pode ser explicado devido aos
homens geralmente terem menos atenção à higiene oral em
comparação às mulheres (YETER et al., 2019).
Em outro estudo, avaliou-se o estado de saúde
periodontal em um grupo com 115 pacientes em hemodiálise e
observaram os altos níveis de parâmetros periodontais em
relação a pacientes em diálise (VEISA et al., 2017).
Outro estudo realizado por Misaki et al. (2019) mostrou
que quando há uma saúde dental pior entre os pacientes em
hemodiálise, pode haver uma associação à morte precoce,
enquanto os cuidados bucais preventivos estão associados
com a sobrevida prolongada. Com base nisso, os pacientes em
hemodiálise devem ser educados sobre a importância de
realizar exames bucais com frequência, além dos médicos
responsáveis por esses pacientes terem que colaborar com os
dentistas e trocar informações pertinentes.
Outros fatores alarmantes são o estado de saúde bucal
em pacientes com DRC e da população em geral, pois há altos
níveis de necessidades protéticas. Essas necessidades, muitas
vezes, não são só devidas à doença renal, mas também pode
ser o acesso ao dentista, porque em muitos países não há
saúde pública universal e muitas pessoas não podem obter o
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GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

seguro médico adequado para realizar os tratamentos devido


aos altos custos (MIERNIK et al., 2017).
Assim, em alguns casos, não há procedimentos que
estimulem o paciente a considerar a prevenção e comparecer a
check-ups regulares em consultório odontológico devido ao
sistema de saúde. Em outros casos, o próprio sistema de
saúde, mesmo sendo gratuito, não oferece um tratamento de
qualidade para esse paciente. Porém, de toda forma, é crucial
examinar a saúde bucal da população, a fim de facilitar sempre
a prevenção (MIERNIK et al., 2017).
Doença Periodontal em Pacientes em Hemodiálise
Em pacientes em HD, a doença periodontal induz não
apenas a inflamação local, mas também respostas inflamatórias
sistêmicas. Em uma análise em pacientes submetidos a HD, a
função física, vitalidade, função social e mental, foram
significativamente menores em pacientes com periodontite
grave (p<0,05) em comparação com aqueles que não tem
periodontite ou que tem a periodontite de forma leve (MIYATA
et al., 2019).
Além disso, a doença periodontal também pode afetar
os parâmetros nutricionais e a perda óssea em pacientes em
hemodiálise. Por isso que, nos estudos realizados, os
pesquisadores prestaram atenção especial na relação entre a
doença periodontal e nas alterações sistêmicas, incluindo
inflamação, nutrição e metabolismo ósseo resultantes da
terapia por hemodiálise (MIYATA et al., 2019).
De acordo com Rodriguez-Godoy et al. (2019), a
prevalência de periodontite em pacientes em hemodiálise é alta
principalmente por encontrar sangramento grave na bolsa
periodontal, no qual pode representar uma fonte de
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

microinflamação. Na análise multivariada mostrou associação


entre o tratamento feito com a diálise peritoneal e a duração da
diálise superior a 3 anos que muitos pacientes apresentaram
doença periodontal.
Segundo Cholewa et al. (2018) em comparação a
estudos anteriores, foi observado que numa maior duração da
diálise, foi constatado à gravidade da periodontite. Além disso,
foi observado também que a maior prevalência de doenças
periodontais foi causada principalmente por negligência de
higiene, e não somente pela uremia crônica.
Há também a preocupação com os níveis baixos de
albumina que foi significativamente associado com as doenças
periodontais, um fator evidente entre a periodontite e a
hipoalbuminemia. Além da relação do estado periodontal com a
desnutrição e com os marcadores de inflamação (CHOLEWA et
al., 2018).
A razão para a associação entre a periodontite e a DRC
são explicadas pela uremia que com o subsequente sistema
imunológico debilitado resulta na diminuição da resposta do
hospedeiro, a carga psicológica intensa entre os pacientes, o
hiperparatireoidismo ou diabetes (NYLUND et al., 2015).
A periodontite aumenta a inflamação sistêmica crônica
por meio de citocinas pró-inflamatórias e pela invasão de
bactérias por meio da corrente sanguínea, dessa forma, é
comum encontrar uma associação de anticorpos aos patógenos
periodontais Porphyromonas gingivalis, Treponema denticola,
Aggregatibacter actinomycetemcomitans em pacientes com a
DRC (NYLUND et al., 2015).
No estudo realizado por Ruospo et al. (2017) foi
analisado uma diferença na qual foi feito comparações nos
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GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

participantes entre os principais aspectos clínicos e


características sociodemográficas, aqueles com periodontite
moderada a grave apresentou menor risco de causar
mortalidade cardiovascular. A explicação mais provável para
essa controvérsia é que a periodontite pode ser relacionada a
fatores associados à mortalidade, a idade, tabagismo, emprego
e tempo tratado de diálise.
Em um estudo piloto feito por Araújo et al. (2015), houve
um esforço para entender a alta prevalência de periodontite em
pacientes com DRC, analisando o impacto da doença renal no
microbioma periodontal. Foi observado que a etiologia da
periodontite na população com DRC, a uremia pode ser o elo
que falta, podendo ser a causa da mudança da simbiose
microbiana para a disbiose no ecossistema subgengival.
As “homeostáticas interrompidas”, ou seja, a
estabilidade das funções do organismo interrompidas, podem
desencadear interações microbianas complicadas, já
comprometidas por anormalidades funcionais de neutrófilos e
monócitos/macrófagos (ARAÚJO et al., 2015).
Durante outro estudo sobre o tema, foi observado níveis
de proteína C- reativa (PCR) maiores entre os pacientes com
periodontite crônica. Nas populações brasileiras, essa
observação foi confirmada em pacientes sistemicamente
saudáveis e em pacientes com doença renal crônica (FISCHER
et al., 2020).
Essa associação entre os níveis séricos de PCR e a
periodontite pode corroborar com o aumento da gravidade das
infecções periodontais e pode contribuir para níveis mais
elevados de PCR em pacientes em hemodiálise (YETER et al.,
2019).
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GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Kopić et al. (2019) também relatou sobre a correlação


dos níveis de PCR, bem como dos níveis elevados de
lipoproteína-colesterol de alta densidade (HDL-C) e diminuição
dos níveis de lipoproteína-colesterol de baixa densidade (LDL-
C) com a gravidade da DP. Porém, mesmo com todos os
estudos, ainda é difícil estimar com precisão os efeitos de
determinadas comorbidades e hábitos de vida, como tabagismo
e higiene oral no agravamento da DP. Na pesquisa de Kopić et
al. (2019) não mostrou diferença significativa no estado
periodontal dos pacientes analisados, provavelmente devido ao
fato do grupo controle ser composto por indivíduos com apenas
um a dois graus de DRC mais leve e essa doença pode não ser
suficiente para afetar o estado periodontal de forma
significativa.
No estudo de Garneata et al. (2015) foi identificado que
há uma associação entre a doença periodontal e a síndrome de
desnutrição-inflamação-aterosclerose em paciente em
hemodiálise o que há um aumento no risco de morte. No estudo
realizado foi identificado em 75% dos pacientes maior
prevalência de DP que na população geral (30%), além de
encontrar em 23% dos indivíduos com lesão periodontal grave.
Nesses pacientes, a periodontite foi mais prevalente em
idosos, diabéticos, fumantes, aqueles com mais tempo de
hemodiálise estavam desnutridos e com inflamações. Embora
a velhice e a hemodiálise sejam fatores não modificáveis, mas
o tabagismo pode ser um fator evitável e o diabetes pode ser
controlado (GARNEATA et al., 2015).
O fumo tem sido associado a doença periodontal e a
DRC, em pesquisas feitas, os fumantes atuais tiveram 4 vezes
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e os ex-fumantes 3,3 vezes mais de risco de insuficiência renal


do que os que nunca fumaram (NYLUND et al., 2015).
Pacientes com DRC recebem vários medicamentos
para controlar a pressão arterial, o metabolismo cálcio – fósforo
e os distúrbios ácido-base, dessa forma há uma carga de
medicamentos mais significativa nessa população de pacientes
(YETER et al., 2019).
Uma pesquisa mostrou que os pacientes são tratados
com uma média de 6 a 12 medicamentos nos estágios iniciais
da DRC e, à medida que o estágio progredia, o número médio
de medicamentos aumentou para 19. Alguns dos
medicamentos, como ciclosporina, fenitoína e bloqueadores
dos canais de cálcio, são fatores bem conhecidos para a piora
da periodontite (YETER et al., 2019).
Outro fator importante é que a porcentagem de
indivíduos totalmente desdentados é maior em pacientes com
doença renal em estágio final. Tem sido confirmado que a
prevalência entre indivíduos com edentulismo total e parcial é
maior que na população geral, com frequência de 23% em
pacientes em hemodiálise (LIMERES et al., 2016).
Um dos motivos para perda dentária em pacientes com
a doença renal não é somente a prevalência de cárie, mas sim
a doença periodontal que pode desempenhar um papel
relevante na etiologia e patogênese desse edentulismo pois
apresenta maior porcentagem de variabilidade explicada (R2)
de todas as variáveis analisadas no estudo (LIMERES et al.,
2016).
É notório que a maioria dos pacientes em hemodiálise
realiza os tratamentos em hospitais sem departamentos
odontológicos, assim os pacientes precisam ir a um ambiente
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

odontológico distinto do local da hemodiálise, as informações


sobre a condição médica geral do paciente e os medicamentos
atuais, como os anticoagulantes, são essenciais. Sendo assim,
é de extrema importância a colaboração entre o médico e o
dentista de maneira indispensável (YOSHIOKA et al., 2015).
Um problema encontrado durante o tratamento de
hemodiálise é que os pacientes raramente são aconselhados
sobre saúde bucal pelos médicos porque o cuidado
odontológico preventivo, muitas vezes, não é uma consideração
primária para a maioria dos profissionais médicos (YOSHIOKA
et al., 2015).
Exame Radiográfico
É muito comum observar grande perda óssea alveolar
(vertical ou horizontal) em pacientes com a DRC. Em um estudo
prévio foi observada perda óssea até os terços cervicais do
comprimento da raiz em 54% dos participantes, enquanto o
osso alveolar há perda até os terços médios em 31%, no terço
apical foi encontrado em 12% em pacientes com a DRC
(NYLUND et al., 2015). Assim, a perda óssea é um achado
bastante encontrado devido a periodontite em pacientes em
hemodiálise.
Efeitos da Terapia Periodontal
O tratamento periodontal é divido em dois processos, o
periodontal não cirúrgico e o cirúrgico, que são procedimentos
previsíveis em termos de controlar a infecção, reduzindo a bolsa
periodontal na profundidade de sondagem e promovendo
aumento do nível de inserção clínica. Dessa forma, um bom
controle da placa é crucial para manter a saúde periodontal e a
saúde bucal em geral (FISCHER et al., 2020).
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

A escovação está associada à diminuição do número


de dentes com a periodontite, há uma clara resposta positiva
quando há frequência na escovação. Assim a escovação e o
uso do fio dental diários são os procedimentos mais eficazes e
de menor custo para reduzir a placa bacteriana causadora da
gengivite. Além disso, a raspagem e o alisamento radicular
(RACR) é considerado o tratamento não cirúrgico padrão-ouro
para a periodontite e com sua eficácia clínica comprovada de
maneira positiva (FISCHER et al., 2020).
Há evidências que investigaram os efeitos da terapia
periodontal em pacientes com a DP. Ao realizar o tratamento da
DP, ocorreu a melhora do periodonto, a melhora dos
marcadores inflamatórios e a melhora do estado nutricional do
paciente (MIYATA et al., 2019).
Tasdemir et al. (2018) investigaram os efeitos da
terapia periodontal nos marcadores de inflamação em pacientes
com DP associada a nefropatia diabética, diabéticos sem
doença renal crônica e na população saudável, uma vez que o
diabetes miellitus (DM) é um dos fatores de risco da
periodontite, e essa inflamação periodontal causa uma
deficiência no controle glicêmico. Os autores demostraram que
todos os marcadores inflamatórios em amostras de sangue
foram, de forma significativa, maiores nos pacientes com
doença periodontal associada a nefropatia diabética que nos
outros dois grupos.
Em um estudo realizado foi observado que o grau de
halitose foi significativamente reduzido pela terapia da DP,
ocorrendo um aumento nas taxas do fluxo salivar resultante da
terapia da DP adequada. Assim, o cuidado periodontal e o
tratamento são úteis para melhorar uma variedade de
USO DA TOXINA BOTULÍNICA PARA CORREÇÃO DO SORRISO
GENGIVAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

manifestações inflamatórias em pacientes tanto diabéticos


quanto com nefropatias, além de melhorar o alívio dos sintomas
causados por DP (MIYATA et al., 2019).

CONCLUSÕES

Com base nesses resultados, pode-se concluir que é


muito importante para pacientes com insuficiência renal crônica,
especialmente aqueles em hemodiálise e/ou na fila de espera
de um transplante renal, melhorar a sua higiene bucal, consultar
o dentista com mais frequência, a fim de evitar possível
deterioração do periodonto e provável piora da sua condição
geral. Além disso, é necessário que o cirurgião-dentista fomente
os cuidados de saúde tanto dos pacientes com a doença renal
crônica quanto dos pacientes da população geral a fim de
manter um bom nível da qualidade de vida, com foco em
profilaxia de perda dentária e tratamento protético de dano
existentes. Também pode ser comum a associação da
periodontite com inflamação sistêmica em pacientes com DRC,
medicamentos que são usados por pacientes em hemodiálise,
podem facilitar a periodontite grave, sendo necessário fazer
uma avaliação detalhada de cada caso.

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.
ENDODONTIA
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

CAPÍTULO 15

UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS
COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA
PARA O REPARO ÓSSEO PERIAPICAL
Larissa Chaves Morais de Lima 1
Robeci Alves Macêdo Filho 1
Paulyanna Farias Trajano 2
Cacilda Chaves Morais de Lima 3
1 Programa de Pós-graduação em Odontologia, Universidade Estadual da
Paraíba; ² Especialista em Endodontia pelo Instituto de Odontologia das
Américas IOA/NEAO; ³ Professora da Escola Técnica de Saúde-UFPB.
larissachaves@outlook.com

RESUMO: O controle e a resolução das infecções pulpares e


perirradiculares proporciona o sucesso no tratamento
endodôntico. Estudos anteriores apontam a etapa do preparo
químico-mecânico como a etapa mais importante desse
processo e, cada vez mais, são utilizadas terapias
complementares a fim de tornar inerte os conteúdos restantes
do canal, dissolver tecidos, atuar como barreira física e
controlar a infiltração apical persistente de fluidos para os
sistemas de canais radiculares. O objetivo deste trabalho foi
revisar a literatura acerca da utilização de três terapias
complementares no preparo químico-mecânico (PQM) em
sessão única para o reparo ósseo periapical, sendo a terapia
fotodinâmica, a Easy Clean e a XP-Endo Finisher. Foram
realizadas buscas bibliográficas eletrônicas utilizando base de
dados como PubMed (Medline), Web Of Science, Scopus e
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

Lilacs, do período de 2010 a 2020. Utilizou-se os seguintes


descritores de assunto na língua portuguesa: “Endodontia”,
“Terapia fotodinâmica” “Preparo químico-mecânico” “canais
radiculares” “Easy Clean” “ Xp-endo Finisher”. Os artigos
selecionados foram lidos criteriosamente e mostraram que o
uso das terapias complementares ao PQM foram mais eficazes
na eliminação dos microrganismos resistentes aos
procedimentos intracanais de desinfecção em comparação com
técnicas convencionais, levando a um melhor reparo de lesões
periapicais. Pesquisas futuras in vivo e in vitro são necessárias
com intuito de testar e esclarecer os parâmetros a serem
utilizados para as terapias coadjuvantes em ambiente clínico.
Palavras-chave: Desinfecção, Biofilme, Canal radicular,
Tratamento endodôntico.

INTRODUÇÃO

A limpeza e modelagem dos canais radiculares é uma


das etapas fundamentais para o sucesso do tratamento
endodôntico (BAO et al., 2017). Sendo assim, o principal
objetivo do preparo químico mecânico (PQM) do sistema de
canais radiculares é eliminar ou reduzir as populações
bacterianas no canal a um nível que permita a cicatrização do
tecido perirradicular com resultado positivo no tratamento
(DUMANI et al., 2020). Tornar um canal livre de bactérias é um
desafio, pois o desbridamento mecânico é limitado em atingir
todos os espaços do canal radicular (ZHANG; DU; PENG,
2015).
Estudos prévios demonstram que apenas 40 a 60% dos
casos podem apresentar cultura negativa após limpeza e
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

modelagem dos canais (AZIM et al., 2016; SIQUEIRA et al.,


2007). Esforços recentes no avanço da endodontia regenerativa
ressaltam ainda mais a importância da desinfecção do canal
radicular (SANTOS et al., 2018). Assim, estratégias para a
desinfecção de canais radiculares devem ser direcionadas para
o uso de técnicas mais eficazes de irrigação que possam
maximizar a desinfecção do canal radicular. Múltiplos métodos
de terapias complementares têm sido propostos para melhorar
a eficácia dos irrigantes, como a Xp-endo Finisher, a Easy clean
e a utilização da terapia fotodinâmica (LEONI et al., 2017;
CARVALHO et al., 2016)
Estudos envolvendo as tecnologias micro CT
mostraram que, de modo geral, quando os instrumentos
mecânicos convencionais são usados para preparar o canal
radicular, apenas 45 a 55% das paredes do canal são
verdadeiramente tocadas (AZIM et al., 2016; BAO et al., 2017;
SAHA et al., 2016). A utilização de técnicas complementares,
como as supracitadas propõem um direcionamento à
endodontia de excelência, a fim de proporcionar reparo tecidual
após o tratamento endodôntico.
O tratamento endodôntico é realizado para manter o
dente não-vital na arcada dentária, devolvendo sua função.
Para o resultado satisfatório desse processo é imprescindível
que PQM proporcione não só limpeza e modelagem do canal
radicular principal, mas também um ambiente propicio a
regeneração tecidual na região afetada por lesões periapicais
(LEONI et al., 2017; SANTOS et al., 2018). Esse meio deve ter
a máxima desinfecção do sistema de canais radiculares, que
podem ser alcançados por terapias complementares que
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

potencializem o PQM, como a Terapia Fotodinâmica, Easy


Clean e Xp-Endo Finisher (BAO et al., 2017).
Torna-se necessário alguns protocolos para definir o
reparo ósseo de lesões perirradiculares frente a terapia
endodôntica, tais como a proservação através dos exames de
imagens. Sendo assim, torna-se de grande valia avaliar o
reparo ósseo de lesões perirradiculares em dentes tratados
endodonticamente, frente a essas novas terapias coadjuvantes
ao PQM.
O presente trabalho se propõe a realizar uma revisão
de literatura sobre a utilização de terapias complementares (a
terapia fotodinâmica, a Easy Clean e a XP-Endo Finisher) no
preparo químico mecânico em sessão única para o reparo
ósseo periapical de acordo com os artigos científicos publicados
nas bases de dados PubMed (Medline), Web Of Science,
Scopus e Lilacs.

MÉTODOS

Este trabalho trata-se de uma revisão narrativa de


literatura. O levantamento dos estudos primárias se deu através
do acesso às bases de dados PubMed (Medline), Web Of
Science, Scopus e Lilacs utilizando as palavras-chave
“Endodontia”, “Terapia fotodinâmica” “Preparo químico-
mecânico” “canais radiculares” “Easy Clean” “ Xp-endo
Finisher”.
Foi priorizado os artigos de periódicos com maiores
fatores de impacto com preferência por artigos dos últimos dez
anos. Além disso, procurou-se por artigos que pudessem
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

avaliar métodos distintos de preparo químico mecânico dos


canais radiculares e que fizessem comparações entre os
métodos. Devido ao desenvolvimento da estratégia de busca
baseada nos termos-chave conferiu-se objetividade na busca
pelos artigos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O processo inflamatório associado à patologia do


periápice é semelhante em qualquer parte do corpo. Devido aos
microrganismos e seus produtos alcançarem a área periapical,
há um recrutamento e a interação com células
polimorfonucleares, como neutrófilos e macrófagos (CHHABRA
et al., 2017). Se o mecanismo continua, células inflamatórias
crônicas, especialmente linfócitos, plasmócitos e macrófagos,
cercam os agentes irritantes (WEI et al., 2018).
A partir disso, os fenômenos imunológicos
desempenham um papel importante na tentativa de eliminar o
agente agressor, podendo desencadear com a formação da
lesão periapical e consequentemente reabsorção óssea. Se o
agente irritante for removido, isto é, se o tratamento
endodôntico for realizado, então, provavelmente ocorrerá o
reparo da lesão (CHHABRA et al., 2017).
As lesões periapicais crônicas são classificadas, pela
maioria dos autores, em granuloma periapical e cisto radicular
ou cisto periodontal apical. Ambas, podem resultar em perdas
ósseas e destruição tecidual envolvendo significativamente
atividade enzimática, o que pode, ainda, ocasionar em
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

destruição de toda uma área de tecido conjuntivo não


mineralizado (LOPES et al. 2015; CONSOLARO et al., 2017).
O granuloma periapical é caracterizado por uma
lesão inflamatória crônica granulomatosa, de longa duração
com caráter predominantemente proliferativo e induzido
geralmente por agentes agressores de origem bacteriana
advindos do canal radicular. Radiograficamente, o acúmulo de
macrófagos no granuloma periapical traduz-se em uma lesão
radiolúcida que se apresenta como uma rarefação óssea bem
definida, delimitada por uma delicada linha radiopaca
descontínua (CONSOLARO et al., 2017; WEI et al., 2018).
Em relação ao cisto periapical ou cisto periodontal
apical, radiograficamente, observa-se uma área radiolúcida
uniforme, arredondada ou oval, bem definida e, na maioria das
vezes, circundada por halo radiopaco, fruto da esclerose óssea
reacional que envolve o processo (NEVILLE et al., 2016). Os
cistos periodontais apicais são caracterizados como uma lesão
inflamatória de crescimento não invasivo, que apresenta uma
cavidade preenchida por material fluido ou semifluido limitada
por epitélio pavimentoso estratificado e suportada por uma
cápsula de tecido conjuntivo compatível com granuloma e
fibrose superficial (DUMANI et al., 2020; SIQUEIRA et al.,
2017). Alguns estudos têm procurado diferenciar granuloma
periapical e cisto periodontal apical, mas ainda não obtiveram
êxito. Radiograficamente, ainda não é possível estabelecer
definitivamente um diagnóstico diferencial entre ambas as
lesões periapicais crônicas (SIQUEIRA et al., 2017).
A avaliação e proservação do tratamento endodôntico,
seja em estudos científicos ou mesmo nas suas diversas fases
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

clínicas, se faz principalmente através de radiografias


periapicais. Atualmente os estudos preconizam o uso de um
sistema sem a presença do filme, conhecido por radiografia
digital direta (DDR), onde as funções de detecção,
armazenagem e exposição da informação são realizadas por
um sensor, um computador e um monitor. O maior benefício da
DDR é a capacidade de produzir a imagem instantaneamente e
em melhor qualidade o que facilita o diagnóstico (CONSOLARO
et al., 2017).
O PQM configura-se como uma das fases mais
importantes no controle da infecção endodôntica (SIQUEIRA et
al., 2017; CHHABRA et al., 2017), pois a ação de corte e de
remoção de tecidos, alcançadas pelos instrumentais associada
ao fluxo do irrigante e à sua ação antimicrobiana, é capaz de
alterar, significativamente, a microbiota situada no canal
radicular principal. No entanto, devido à natureza difusa da
infecção endodôntica pelos istmos, túbulos dentinários, canais
secundários e acessórios, cementoclastos apicais e áreas de
reabsorção cementária apical, o PQM e a imediata obturação
do canal radicular deixam imprecisões sobre a qualidade do
saneamento obtido.
Possivelmente, alguns relatos de lesão periapical
refratária ou muitos casos de áreas radiolúcida parcialmente
reparadas sejam decorrentes dessa infecção remanescente.
No entanto, há resultados plausíveis na literatura endodôntica
de dentes com polpa necrótica e radiolucidez periapical,
tratados em sessão única (LOPES et al., 2015; CONSOLARO
et al., 2017).
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

Inúmeras tentativas na investigação de uma maneira


eficiente e que complemente a irrigação manual estão sendo
realizadas, e entre elas está o uso da terapia fotodinâmica
(TFD) e de técnicas que ativam a substância química dentro do
canal como (Easy Clean, Xp-endo Finish e Irrigação
Ultrassônica Passiva - PUI). Com a inserção destas terapias
complementares ao PQM, o tratamento endodôntico torna-se
um procedimento mais eficaz, devido a possibilidade de
remover um maior número de detritos no canal obtendo maior
efeito bactericida (CARVALHO et al., 2020).
O termo Terapia Fotodinâmica (PDT-Photodynamic
Therapy) foi relatado na literatura médica, pela primeira vez, em
1941, sendo definida como uma reação entre
fotossensibilizadores e luz, gerando efeito citotóxico através de
reações oxidativas. Nessa terapia, um agente químico (corante)
é utilizado e ativado por luz (sensitização) causando morte
celular, principalmente, por apoptose (WAG, et al., 2018;
CHRISTO et al., 2017).
A TFD consiste na associação de um agente
fotossensibilizante, normalmente exógeno, e uma fonte de luz,
com o objetivo de provocar a morte microbiana. O laser de baixa
potência é usado largamente pelo seu efeito fotobiomodulador,
atuando com ações antiinflamatória e reparadora tecidual.
Postula-se que o efeito bactericida da laserterapia pode ser
direto na membrana bacteriana devido à absorção de fótons por
cromóforos endógenos com concomitante produção de
moléculas altamente reativas e citotóxicas, que provocam a
ruptura da membrana e morte celular (JANANI et al., 2017). A
laserterapia chega à endodontia como alternativa de um
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

tratamento coadjuvante pouco invasivo que possibilita melhor


reparação concomitante com bioestimulação tecidual (WAG, et
al., 2018).
CHRISTO et al (2017), avaliaram os efeitos da TFD em
suspensão bacteriana de Porphuromonas gingivalis, P.
intermedia, Fusobacterium nucleatum, Peptostreptococcus
micros, Porphyromonas endodontalis e Enterococcus faecalis,
e em biofilme de E. faecalis em dentes extraídos humanos. Os
microrganismos foram sensibilizados com azul de metileno (25
µm/mL) por cinco minutos e expostos à luz vermelha de 665nm.
Em suspensão, a fluência de 30J/com² eliminou todas as
espécies, exceto E. faecalis, apresentando destruição de 53%.
Em dentes, a mesma concentração do corante associado à luz
vermelha (222J/cm²) foi capaz de eliminar 97% do biofilme de
E. faecalis, usando fibra óptica com difusores cilíndricos que
distribuíam a luz uniformemente em 360 ºC. Tais autores
concluíram que a TFD pode ser desenvolvida como adjuvante
na destruição de bactérias residuais em canais radiculares.
O Easy Clean é um instrumento produzido por um
polímero chamado acrilonitrilo butadieno estireno (ABS) que
apresenta uma morfologia semelhante a uma faca que promove
a limpeza dos canais radiculares, com um movimento
reciprocante (KATO et al., 2016). Esse instrumento de polímero
com diâmetro 25 Taper 04 veio com intuito de diminuir os
desgastes excessivos produzidos pelos instrumentos de NiTi
durante a limpeza dos canais radiculares. Entretanto Kato et al.,
(2016), relatou que o Easy Clean possui uma secção
transversal em forma de Asa de Aeronave com um movimento
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

alternativo de 180° no sentido horário seguido de uma rotação


de 90° no sentido anti-horário.
A Easy Clean, portanto, promove limpeza das paredes
dos sistemas de canais radiculares através da agitação
mecânica das substâncias químicas e do atrito de suas lâminas
no interior do canal, principalmente no terço apical, podendo ser
utilizada durante e depois do preparo ou somente depois do
preparo. Indicada basicamente para movimentos reciprocantes,
e também ser usada com movimentos rotatórios. Em um estudo
avaliando a efetividade da Easy Clean sobre a PUI, tal método
demonstrou níveis elevados de limpeza no terço apical das
raízes (CUNHA et al., 2016).
Outra tecnologia complementar para ser usada durante
o PQM, é a Xp-endo Finisher, a qual trata-se de um instrumento
universal em NiTi, com diâmetro ISO 25 e conicidade nula
(25/00). Possui como características limpeza mecânica do
canal em áreas anteriormente impossíveis de atingir, graças a
flexibilidade e à capacidade de ampliar seu alcance em 6 mm
de diâmetro, ou 100 vezes mais do que uma lima de calibre
equivalente conseguiria (CARVALHO et al., 2020).
Azim et al. (2016), determinaram a eficiência de quatro
sistemas de irrigação na eliminação de bactérias em canais
radiculares, particularmente túbulos dentinários. Dentre esses,
a Xp-endo Finisher obteve a maior redução bacteriana em
comparação com os demais sistemas testados, sendo assim,
mais eficiente na desinfecção do espaço do canal principal
como também nos túbulos dentinários.
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

Após uma busca na literatura e no manual dos


fabricantes, consta abaixo o protocolo preconizado para as três
terapias complementares ao PQM:

Quadro 1: Protocolo para as três terapias complementares


para o PQM (Terapia fotodinâmica, Easy Clean, Xp-Endo
Finish) conforme os fabricantes:
Terapia
Protocolo
Complementar
Utiliza-se o fotossensibilizador(FS)
de azul de metileno (25 µg/ml) por cinco
Terapia minutos como pré-radiação. Seguirá para
Fotodinâmica exposição à luz vermelha de 665nm, com
dosagem de 222J/cm², realizando
aplicação por mais 5 minutos em varredura.
Utiliza-se a baixa rotação,
acionada na seguinte sequência: 20
Easy
segundo de NAOCL 2,5% + 20 segundos
clean
com EDTA 17% + 20 segundo de NAOCL
2,5% e lavagem final com água destilada.
• O uso deve ser iniciado pelo
canal mais amplo e a cavidade de acesso
somente deve ser preenchida com solução
Xp-
irrigante quando a XP-endo Finisher já
endo finisher
estiver no canal;
• Insere-se a XP-endo finisher
no contra-ângulo;
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

• Define-se o CRT, para ajustar


o stop de borracha;
• Resfria-se a Xp-endo finisher
através do tubo, usando spray de
resfriamento;
• Coloca-se a Xp-endo finisher
em rotação e removê-la do tupo, aplicando
pressão nas laterais para garantir que ela
permaneça reta. Em seguida, interromper a
rotação;
• Somente a ponta da
superfície do tubo (onde está localizado o
logo da FKG) pode ser tocada com os
dedos, para evitar o aquecimento da lima;
• Se a lima endireitar fora do
tubo, usa-se uma gaze com álcool para
evitar contaminação e o aquecimento da
lima;
• Introduzir a Xp-endo finisher
ainda reta no primeiro canal do dente;
• Quando a ponta for inserida,
ativar a rotação;
• Acrescentar solução irrigante
na cavidade de acesso;
• Em caso de dificuldade
durante a introdução da lima no canal de
dentes multirradiculares, posicionar a
ponta do instrumento em direção à face
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

mesial da entrada dos canais MV, ML e DV,


da face palatina do canal palatino e da face
lingual dos canais D;
• Utiliza-se a Xp-Endo Finisher
por cerca de 1 minuto, efetuando
movimentos longitudinais de 7-8mm, de
maneira lenta e delicada, abrangendo todo
o comprimento do canal;
• Durante o procedimento,
realizar movimentos sobre as paredes
laterais dos canais. Cuidado para manter a
lima no interior do canal;
• Depois de um minuto,
remover a XP-endo Finisher do canal,
ainda em rotação;
• Irrigar o canal para remover
os detritos suspensos;
• Repetir o protocolo nos
outros canais radiculares;
• Realizar irrigação final para
seguir com a obturação.

Dados epidemiológicos têm apontado que 30% a 50%


dos insucessos da terapia endodôntica convencional estão
relacionados às infecções residuais e persistentes, as quais
necessitam de estratégias complementares para realizar a
desinfecção (AZIM et al., 2016; KOSARIEH et al., 2016).
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

Uma das terapias complementares destacada nos


ensaios clínicos publicados, é a terapia fotodinâmica, que tem
sido proposta como uma terapêutica a ser associada ao PQM
em casos de infecção, considerando a possibilidade de
aumentar a eficácia do tratamento endodôntico por meio de sua
ação bactericida (WAG et al., 2018). A eliminação de micro-
organismos por meio da FTD está relacionada com a ativação
do corante depositado no organismo alvo que, após
sensibilizado, transforma oxigênio molecular em oxigênio
singleto que é citotóxico (CARVALHO et al., 2016)
Em uma revisão da literatura sobre os efeitos da TFD
em endodontia, Trindade et al., (2015), relatam um excelente
potencial antimicrobiano desta terapia. Garcez et al. (2010)
avaliaram o efeito da TFD em pacientes com diagnóstico de
necrose pulpar, portadores de micro-organismos resistentes à
profilaxia antibiótica previamente instituída ao tratamento
endodôntico. Trinta dentes anteriores de 21 pacientes
portadores de lesão periapical receberam tratamento
endodôntico convencional associado à antibioticoterapia.
Observou-se que a terapia endodôntica convencional reduziu
significantemente o número de espécies microbianas, porém,
apenas três dentes se apresentaram livres de bactérias,
enquanto que a combinação da terapia endodôntica com a PDT
eliminou todas as espécies antibiótico- -resistentes e todos os
dentes apresentaram-se livres de bactérias.
Entretanto os autores sobre o tema da TFD concluem
que devido a uma grande variação nos parâmetros utilizados na
literatura, ainda não há o consenso de um único protocolo
clínico. Contudo, parece haver certo consenso quanto ao uso
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

de laser de baixa potência como fonte de luz e em relação aos


fotossensibilizadores (FS), compostos fenotiazínicos como o
azul de metileno tem sido o mais utilizado (CHRISTO et al.,
2017; CARVALHO et al., 2016).
Segundo KATO et al. (2016), que após a
instrumentação do canal radicular, uma grande quantidade de
detritos é aderida às paredes dentinárias, especialmente na
área apical. Portanto, bactérias presentes nos túbulos
dentinários e ramificações do sistema de canais podem não ser
alcançadas durante a instrumentação do canal radicular. Esses
autores comprovaram a eficácia da açao de outra terapia
complementar, a Easy Clean na redução da carga bacteriana
de canais radiculares infectados com lesões periapicaisapós,
corroborando com Herrera et al., (2017).
O EDTA é amplamente utilizado em endodontia para
remover o esfregaço contaminado camada e detritos formados
durante a preparação quimio-mecânica, abrindo o túbulos para
receber uma medicação intracanal ou um selador endodôntico
(SCHIMIDT et al., 2015). A ativação de EDTA pela Easy Clean
demonstrou ser eficaz na redução de bactérias e endotoxina
níveis nos canais radiculares dos dentes com necrose pulpar e
periodontite apical (HERRERA et al., 2017) . Assim sendo, após
minuciosa revisão de literatura, este manuscrito sugere utilizar
um protocolo de agitação final dos irrigantes baseado, em que
o NaOCl deve ser agitado para melhorar a remoção de tecidos
orgânicos, depois usa-se o EDTA, para melhorar a remoção da
smear layer, abrindo túbulos dentinários e expondo possíveis
ramificações do canal; e por fim, novamente o NaOCl deve ser
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

aplicado e agitado para penetrar nessas regiões (SIQUEIRA et


al., 2017).
O XP-endo Finisher são produzidas com uma liga
exclusiva da FKG, a NiTi MaxWire® e foi apresentado
recentemente como um passo final no protocolo de otimização
da desinfecção do canal radicular (CARVALHO et al., 2020).
Trata-se de um material altamente flexível, que reage a
diferentes níveis de temperatura. São baseadas no princípio de
memória de forma da liga NiTi, as limas são retas em sua fase
martensítica, em temperatura ambiente (SOUSA et al., 2019).
Ao serem inseridas no canal, são expostas à
temperatura corpórea e mudam de forma devido à memória
molecular da fase austenítica (A). De acordo com o fabricante
o formato da fase-A em rotação permite que o instrumento
alcance e limpe áreas normalmente impenetráveis em
comparação com os instrumentos padrões, por sua
característica de formato de colher nos seus 10mm com uma
profundidade de 1,5mm. Quando a ponta do instrumento é
comprimida no interior do canal radicular, pode ser expandida
até 6 mm em largura, e durante o seu movimento de vai e vem
em uma expansão de 7 a 8 mm. Este mecanismo de expansão
durante seu movimento de rotação permite que o instrumento
limpe as paredes dos canais radiculares promovendo
turbulência da solução irrigante no interior dos canais
radiculares (SOUSA et al., 2019; ALCALDE et al., 2017).

CONCLUSÕES
• A utilização de terapias complementares ao PQM
convencional tem se mostrado métodos efetivos na literatura
UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
QUÍMICO-MECÂNICO EM SESSÃO ÚNICA PARA O REPARO ÓSSEO
PERIAPICAL

contribuindo para melhorar a descontaminação do sistema de


canais radiculares e, consequentemente, para elevação da taxa
de sucesso da terapia endodôntica.
• O uso da Terapia fotodinâmica antimicrobiana em
endodontia tem se mostrado um método efetivo na redução
microbiana intracanal, tanto em trabalhos in vitro, quanto em
trabalhos em pacientes. Entretanto, ainda não há concordância
quanto a um parâmetro fixo para uso clinico.
• O Uso da Easy Clean como protocolo final de
irrigação após o PQM foi preconizado pela literatura como
sendo eficaz
• O uso da XP-endo Finisher é considerado um
passo final no protocolo de otimização da desinfecção do canal
radicular, e o movimento rotatório possui melhor capacidade de
remoção de smear layer que o movimento reciprocante e
sônico.
• Pesquisas futuras, in
vivo e in vitro são necessárias, com intuito de testar e esclarecer
os parâmetros a serem utilizados nas terapias coadjuvantes,
para utilização na clínica diária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PERIAPICAL

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UTILIZAÇÃO DE TERAPIAS COMPLEMENTARES NO PREPARO
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AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

CAPÍTULO 16

AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE


UM LOCALIZADOR APICAL
Fábio Luiz Cunha D’ASSUNÇÃO1
Rosana Maria Coelho TRAVASSOS2
Glauco dos Santos FERREIRA3
1 Professor de Endodontia do Curso de Odontologia da

UFPB; 2 Professora de Endodontia do Curso de Odontologia da FOP-UPE 3


Professor de Endodontia do CPGO-PE
fabioendodontia@gmail.com

RESUMO: Esta pesquisa avaliou in vivo a precisão de um


localizador apical Novapex (Forum Technologies, Tel Aviv –
Israel) e o efeito do estado da polpa nessa precisão. Foram
utilizados 63 incisivos centrais divididos em 3 grupos (A, B e C)
respectivamente (polpa viva, polpa necrosada sem reação
periapical visível radiograficamente e polpa necrosada com
reação periapical visível radiograficamente). A posição das
limas foi medida tendo o forame apical como parâmetro apical.
A distância entre a ponta da lima e o forame apical foi
determinada por radiografias periapicais padronizadas. Após o
acesso, o clipe labial e a lima foram conectadas ao aparelho e
a lima avançou apicalmente. A inserção da lima parou quando
o Novapex indicou a região apical. Para este aparelho a marca
de 1,0mm aquém do forame apical foi selecionada como
término do tratamento. Após a odontometria os tratamentos
foram concluídos. Em 79,37% dos casos avaliados a posição
da lima ficou no limite adequado de 1,0mm do forame apical
com uma margem aceitável de ± 0,5mm. De acordo com o teste
Exato de Fischer não houve diferença estatisticamente
significativa entre os grupos por condição pulpar (p> 0,005).
Concluiu-se que Novapex é preciso in vivo na obtenção do
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

comprimento de trabalho e a condição pulpar não influenciou


em sua precisão.
Palavras-chave: Odontometria. Odontologia. Endodontia.

INTRODUÇÃO

O tratamento endodôntico visa a limpeza, desinfecção


e obturação do canal radicular. Para que cada fase do
tratamento seja realizada com sucesso, torna-se necessária à
obtenção do comprimento de trabalho do canal radicular
(KLEMZ et al. 2020).
Estudos clássicos, clínicos e histológicos, demonstram
que essa manobra, realizada dentro do limite adequado diminui
traumas operatórios aos tecidos periapicais e, também, a
possibilidade da presença de infecção no sistema de canais ao
final do tratamento (RICUCCI, 1998; RICUCCI, LANGELAND,
1998).
Os aparelhos eletrônicos de odontometria, do tipo
frequência dependente são utilizados para a localização da
constrição apical e do forame apical, prevenindo a extensão do
preparo do canal radicular além do limite de trabalho, e
consequente dano ao periodonto apical (CONNERT et al. 2018;
KLEMZ et al. 2020).
No entanto, não há um consenso quanto à precisão das
medidas destes aparelhos, havendo uma variação de
resultados de precisão quando são comparadas diferentes
gerações de localizadores, variações anatômicas, presença de
irrigantes, contato da raiz com o seio maxilar e outros
parâmetros (PIASECKI et al. 2016; JADHAV et al. 2018;
GOLVANKAR et al. 2019; HACHEM et al. 2019; MAREK et al.
2020).
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

O NOVAPEX (Forum Technologies, Tel Aviv, Israel) é


um localizador apical eletrônico, do tipo frequência dependente
que trabalha com duas frequências alternadas de 1 e 10Khz. O
aparelho possui dois polos, um será conectado ao lábio do
paciente e o outro será conectado a lima de medição. Uma vez
que o instrumento endodôntico atinja o comprimento de
trabalho, o circuito será fechado e um sinal sonoro será emitido
(D’ASSUNÇÃO et al. 2010).
Nos estudos da acurácia das odontometrias realizadas
pelos localizadores eletrônicos, muitas pesquisas não
consideram o estado da polpa, se vital ou necrosada, com ou
sem reação periapical, mas sabe-se que a reação periapical
leva a uma inevitável modificação na anatomia do periápice,
principalmente no forame apical, interferindo no desempenho
de alguns localizadores apicais eletrônicos (GEORGE 2016;
GOLVANKAR et al. 2019).
Pelo exposto, essa pesquisa teve por objetivo, avaliar a
precisão e a confiabilidade da odontometria eletrônica obtida
pelo NOVAPEX (Forum Technologies, Tel Aviv, Israel), tanto na
amostra total, como também em relação aos grupos por
condição pulpar, seja polpa viva, necrosada ou polpa
necrosada com reação periapical, com a finalidade de contribuir
para a validação do aparelho eletrônico e garantir à adequada
execução das demais fases da terapia endodôntica.

MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo foi submetido, avaliado e aprovado pelo


comitê de ética da Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa-PB, Brasil, sob parecer CAAE 02339512.1.0000.5188.
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

Sessenta e três pacientes adultos saudáveis com


sessenta e três incisivos centrais superiores, divididos em três
grupos (A, B e C), respectivamente (Polpa vital – VT; Polpa
necrótica sem lesão apical – Necro S/R e Polpa necrótica com
lesão apical – Necro C/R), programados para tratamentos
endodônticos com ápices maduros foram selecionados para o
estudo.
O consentimento livre e esclarecido foi obtido
anteriormente aos procedimentos endodônticos para cada
paciente.
Foram excluídos da amostra os pacientes com dentes
sem possibilidade de posterior restauração, dentes com fraturas
coronárias que comprometessem a obtenção da odontometria
eletrônica, pacientes portadores de marcapasso cardíacos,
bem como pacientes que se recusassem a participar do estudo.
Todos os dentes tinham ápices completamente
formados confirmados por radiografias periapicais
padronizadas, antes do tratamento, adquiridas por auxílio de
um aparelho de raios-X dentário Gnatus XR 6010 (Gnatus,
Ribeirão Preto, Brasil) ajustado para 60 kVp, 10mA e 10 pulsos
s-1 (Figura 1).
Após o exame clínico e radiográfico, confirmado o
diagnóstico inicial, os pacientes foram anestesiados e os dentes
foram isolados com dique de borracha e foi feita a desinfecção
do campo operatório com Hipoclorito de sódio a 2,5%.
O acesso foi feito por broca diamantada (Fava – São
Paulo), de tamanho compatível com a câmara pulpar, auxiliados
por brocas carbidde e ponta Endo-Z, referência 152 (Dentsply,
Maillefer, Suíça), montadas na peça de mão de alta rotação.
Obtido o acesso, em casos vitais, o tecido pulpar foi removido
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

dos canais radiculares com limas endodônticas em combinação


com hipoclorito de sódio a 2,5%.
O terço cervical do canal radicular foi alargado com
brocas Gates Glidden (Dentsply, Maillefer, Suíça) para facilitar
a inserção da lima endodôntica de medição.

Figura 1 – Radiografia de incisivo central superior de paciente


com lesão periapical.

Fonte: Acervo pessoal do autor, pesquisa direta, 2019

Procedeu-se, então, a odontometria eletrônica (ME)


com o aparelho NOVAPEX (Forum Technologies, Tel Aviv –
Israel), que trabalha com duas frequências alternadas de 1 e 10
Khz trabalhando com uma voltagem baixa de 2 μA. A unidade
é composta basicamente de um painel de medição que simula
um canal radicular, com marcações de 1,0mm – 0,5mm e
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

0,0mm do forame apical. O aparelho também possui dois


eletrodos para conexão da lima e da alça labial. O dispositivo
utiliza uma bateria de 12 V e o display do aparelho possui um
indicador que avisa quando há necessidade de recarga da
bateria (Figura 2).

Figura 2 – Aparelho Novapex (Forum Technologies, Rishon Le-


zion, Israel).

Fonte: Acervo pessoal do autor, pesquisa direta, 2019

Comprimentos de trabalho eletrônicos foram


determinados de acordo com as instruções do fabricante com o
auxílio de uma lima do tipo # K (Dentsply Maillefer, Suíça) de
25mm de comprimento para os dentes com Comprimento
aparente radiográfico entre 19 a 21mm, ou de 31mm para os
dentes com Comprimento aparente radiográfico acima de
21mm, havendo espaço suficiente para a conexão no pólo do
localizador (Figura 3).
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

Figura 3 – Lima sendo conectada ao Localizador apical


eletrônico.

Fonte: Acervo pessoal do autor, pesquisa direta, 2019

O diâmetro das limas tinha que ser sempre semelhante


ao do canal radicular. As limas foram conectadas ao localizador
apical, a alça labial do localizador foi conectada ao lábio do
paciente e, as limas foram inseridas lentamente no canal
radicular (Figuras 4 e 5).

Figura 4 – Polo do localizador apical endodôntico conectado ao


lábio do paciente

Fonte: Acervo pessoal do autor, pesquisa direta, 2019


AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

Figura 5 – Lima sendo ajustada ao ponto de referência.

Fonte: Acervo pessoal do autor, pesquisa direta, 2019

Quando a medida “1,0mm” foi mostrada na tela do


display do localizador apical, o cursor de silicone da lima foi
ajustado ao ponto de referência incisal e a lima foi retirada,
medida com o auxílio de um paquímetro e o comprimento
registrado como comprimento eletrônico (EL) (Figuras 6 e 7).

Figura 6 – Localizador apical marcando a medida de 1mm


aquém do forame apical.

Fonte: Acervo pessoal do autor, pesquisa direta, 2019


AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

As limas endodônticas foram novamente inseridas nos


comprimentos de trabalho indicados eletronicamente e uma
radiografia foi obtida para confirmar a distância da ponta da lima
endodôntica até o forame apical.
Atenção especial foi dada ao colocar o cursor de
silicone da lima no ponto de referência exato para evitar
mudança das medidas e algum viés de medição. Para isso um
único pesquisador calibrado realizou as medidas e os
tratamentos endodônticos.
O comprimento de trabalho radiográfico foi registrado e
as comparações foram feitas entre os métodos eletrônico e
radiográfico. É importante perceber que em cada um dos dois
métodos, a determinação do comprimento terminava no forame
apical (diâmetro maior).
O mesmo operador verificou a correlação das
odontometrias eletrônicas obtidas com o Novapex (Forum
Technologies, Rishon Le-zion, Israel), com os comprimentos de
trabalho radiográficos obtidos. O operador utilizou uma planilha
de dados para registrar informações sobre o diagnóstico pulpar
e periapical, presença ou ausência de lesões periapicais e o
comprimento do canal radicular eletrônico e radiográfico. Em
seguida foram comparados os comprimentos de trabalho
obtidos pelo Novapex (Forum Technologies, Rishon Le-zion,
Israel) e aqueles obtidos por radiografias periapicais.
As radiografias foram numeradas e identificadas e a
relação da ponta da lima com o forame apical radiográfico foi
registrada como: forma positiva (medidas excedendo o forame
apical), negativa (medidas aquém do forame apical) ou correta
(medida coincidindo com o comprimento real) com uma
margem clínica aceitável de ±0,5 mm.
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

A análise das radiografias foi feita em condições


adequadas para uma boa interpretação, com o auxílio de uma
lupa de 50 milímetros de diâmetro e aumento de 5x e uma
máscara de papel preto ocupando toda a extensão do
negatoscópio para controle da interferência do brilho lateral e
auxílio de paquímetro.

Figura 7 – Mensuração da diferença apical da ponta da lima até


o forame apical, sendo confirmada com paquímetro.

Fonte: Fonte próprio autor, pesquisa direta, 2019

Finalmente, após a determinação do comprimento de


trabalho, os tratamentos foram concluídos e os pacientes foram
orientados para realizarem as restaurações dos dentes tratados
e foram orientados a retornarem após seis meses e um ano
para controle clínico e radiográfico dos tratamentos.
Para a realização da análise dos dados da pesquisa
foram padrões distribuições absolutas e percentuais (Técnicas
de estatística descritiva) e usada no teste Exato de Fisher.
O programa estatístico utilizado para a obtenção dos
cálculos estatísticos foi o SPSS (Pacote Estatístico para
Ciências Sociais) na versão 13. A margem de erro utilizada para
a decisão dos testes estatísticos foi de 5,0%.
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos sessenta e três canais radiculares dos incisivos


centrais superiores, 79,4% dos comprimentos de trabalho eram
aceitáveis, enquanto apenas 20,6% eram inaceitáveis. Os
comprimentos médios do canal radicular para cada um dos dois
métodos foram comparados no Teste Exato de Fischer
correlacionado para localizar diferenças estatisticamente
significativas entre os grupos. O nível de significância foi de 5%.
A análise estatística dos resultados não mostrou diferença
estatística entre os grupos (p> 0,05).
Na tabela 1 analisa-se a concordância entre a medida
eletrônica e a medida radiográfica segundo a situação pulpar
agrupando-se os casos de concordância ideal ou aceitável.
Desta tabela destaca-se que: em cada tipo de condição pulpar,
a maioria correspondeu às medidas com concordância ideal ou
aceitável, sendo este percentual igual a 71,4% entre nos casos
com Polpa Viva ou com Necrose com Lesão e 95,2% entre os
casos com Necrose sem Lesão periapical.
As pesquisas que avaliam localizadores de ápices
eletrônicos variam bastante em relação aos aspectos
metodológicos, havendo estudos in vitro, ex vivo e in vivo.
(D’ASSUNÇÃO et al. 2014; OLIVEIRA et al. 2017; SÜBAY et al.
2017; PIASECKI et al. 2018; HACHEM et al., 2019) No entanto,
os estudos in vivo, tem uma força de evidência maior quando
comparado a estudos laboratoriais (CHAUDHARY et al. 2018;
SERNA-PEÑA et al. 2020).
O intervalo aceitável de medidas de ± 0,5 mm é aceito
por muitos autores, considerando-se que essa diferença é
clinicamente segura. Na verdade, estudos comprovam que os
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

localizadores podem obter até 100% de medidas precisas


dentro de uma margem ainda menor próximo a 0,3mm sem que
haja medidas imprecisas (PIASECKI et al. 2016; SERNA-PEÑA
et al. 2020; YOLAGIDEN et al. 2020).

Tabela 1 – Análise de concordância entre a medida eletrônica


e a medida radiográfica segundo a situação da polpa
Situação da polpa
C Vit Ne Ne Gr V
oncordân al - VT cro S/R cro C/R upo Total alor
cia de p
n % N % n % n %

C 1 7 p
(1)
oncordant 5 1,4 2 9 1 7 5 7 =
e 0 5,2 5 1,4 0 9,4 0,110

D 6 2 1 4 6 2 1 2
iscordante 8,6 ,8 8,6 3 0,6

T 2 1 2 1 2 1 6 1
OTAL 1 00,0 1 00,0 1 00,0 3 00,0

(1) – Através do teste Exato de Fisher.


Um outro estudo que também avaliou o Novapex
(Forum Technologies, Rishon Le-zion, Israel), obteve um
resultado de 85% de precisão do aparelho no intervalo aceitável
de ± 0,5 mm (ZAND et al. 2018). Os resultados da presente
pesquisa mostraram uma precisão de 79,4% do aparelho
Novapex (Forum Technologies, Rishon Le-zion, Israel), quando
da localização do comprimento de trabalho determinado, sendo
esses resultados melhores do que os encontrados em outro
estudo cujos resultados de precisão variaram entre 53,58% e
64,29% (GUREL et al. 2017).
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

Outros autores encontraram resultados de acurácia de


localização do forame apical em média de 90% a 97% em
aparelhos semelhantes, resultados esses, superiores aos
encontrada no presente estudo (MELO et al. 2020;
ABDELSALEM et al. 2020). No entanto, essas pesquisas
utilizaram metodologias in vitro que não consideraram a
influência da presença de polpa viva ou lesão periapical. Nesse
sentido, a precisão dos localizadores pode ser afetada pelo tipo
de algoritmo que calcula o quociente das frequências medidas
e por variações anatômicas provocadas, pela presença de uma
lesão periapical ou até pela presença de forame lateral
(PIASECKI et al. 2016; BROON et al. 2019).
Nesta pesquisa, ao analisar-se a vitalidade pulpar foi
possível observar que a média dos comprimentos de trabalho
obtidos pelo Novapex (Forum Technologies, Tel Aviv, Israel),
quando comparada com o método radiográfico, não determinou
diferença significativa entre os três grupos de polpa viva, polpa
necrosada e polpa necrosada com reação periapical. Neste
sentido um estudo mostrou que o localizador pode ter o mesmo
parâmetro de medida, independente do diagnóstico do estado
pulpar (KERATIOTIS et al. 2018).
Analisando-se os grupos separadamente, no grupo de
dentes com polpa viva, o Novapex (Forum Technologies, Tel
Aviv, Israel) mostrou uma precisão inferior quando comparado
a três localizadores de igual e geração superior que obtiveram
leituras próximas aos 97% de precisão (VANITHA;
SHERWOOD, 2019).
Para o grupo com lesão apical, os presentes resultados,
foram inferiores aos de um localizador apical de igual geração,
o Root ZX, considerado padrão ouro, e inferiores a um aparelho
AVALIAÇÃO CLÍNICA DA ACURÁCIA DE UM LOCALIZADOR APICAL

de geração superior o Raypex 6. No entanto, foram melhores


do que os obtidos por um aparelho de geração superior, o iPex
que obteve apenas 67,5% de medidas precisas. (JADHAV et al.
2018).
Na presente pesquisa, ocorreu um número de leituras
que ficaram fora do valor aceitável. Mesmo havendo um
percentual próximo de 80% de medidas aceitáveis, o uso
combinado de localizador apical e radiografias periapicais ainda
é recomendado. Estudos mostraram que as medidas
eletrônicas são bastante coincidentes com as medidas
radiográficas. Neste raciocínio, autores concordam que o uso
combinado de métodos radiográficos e eletrônicos podem
melhorar a determinação acurada do Comprimento de trabalho
de trabalho e mais estudos analisando a influência da anatomia
e patologia apical no comportamento dos localizadores devem
ser realizados (VANITHA; SHERWOOD, 2019; BROON et al.
2019).

CONCLUSÕES

Concluiu-se que Novapex (Forum Technologies, Tel


Aviv, Israel) é preciso in vivo na obtenção do comprimento de
trabalho e a condição pulpar não influenciou na sua precisão
das odontometrias obtidas pelo localizador apical eletrônico.

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CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

CAPÍTULO 17

CIMENTOS ENDODÔNTICOS
BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO
Julia Cardoso NASCIMENTO1
Gabriele Ribeiro de OLIVEIRA1
Mayra Lucy de Macêdo TARGINO1
Rafaela Augusta Melo MENDES1
Sandra Aparecida MARINHO2
1 Graduandos do curso de Odontologia, UEPB (Campus VIII); 2
Orientadora/Professora da UEPB (Campus VIII).
juliacardosonas@gmail.com

RESUMO: O presente capítulo teve por objetivo, através de


uma revisão da literatura atual, verificar a o desempenho dos
cimentos biocerâmicos como seladores obturadores
endodônticos. Para isto, foi realizado um levantamento no mês
de julho de 2020, na base de dados online PubMed, de artigos
publicados na literatura, nos últimos cinco anos, disponíveis
livremente em sua versão completa, a partir dos descritores:
"bioceramic sealer" AND "obturatingmaterials" OR "endodontic
sealers" OR "obturating techniques". De um total de 85 artigos
disponíveis, foram excluídos 66, de acordo com os critérios
estabelecidos, resultando em um número final de 19 artigos,
incluídos nesse estudo. Foi verificado que os cimentos
biocerâmicos utilizados na obturação endodôntica proporciona
ótimas propriedades clínicas, destacando-se o MTA-Fillapex. A
presença do agregado de trióxido mineral (MTA) como
constituinte do mesmo, atribui ao material qualidades próximas
de um cimento obturador ideal, tendo destaque o aspecto
hidrofílico, que permite que o selador se beneficie de uma
possível umidade residual do canal, conferindo um bom
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

selamento e resistência ao deslocamento. Além disso, esses


materiais possuem altos graus de biocompatibilidade e
bioatividade, sendo capazes de induzir a mineralização. Apesar
de ainda existir uma carência de estudos na literatura atual,
pode-se concluir que a utilização dos biocerâmicos na
obturação endodôntica é uma ótima escolha, devido ao seu
excelente desempenho clínico.
Palavras-chave: Cimentos dentários. Endodontia. Obturação
do canal radicular.

INTRODUÇÃO

Os dentes são órgãos mineralizados que fazem parte


do sistema estomatognático, cuja principal função é realizar a
mastigação. Além disso, atuam passivamente na estética facial,
fonação, oclusão, proteção e sustentação dos tecidos moles
relacionados, com o posicionamento dos lábios, bochechas e
língua. A perda dentária provoca reabsorção óssea alveolar,
causando um desequilíbrio significativo no sistema
estomatognático. Com isso, mandíbula e maxila tornam-se
deficientes em altura e espessura, alterando o posicionamento
e ação dos músculos da mastigação e da expressão facial,
tornando-os flácidos e proporcionando consequências estéticas
e funcionais desagradáveis (TEIXEIRA et al., 2008).
Uma das principais causas da perda dentária é a cárie,
um grande problema de saúde pública (SBBRASIL, 2010).
Assim como a fratura radicular, constitui a mais frequente causa
do desenvolvimento de doenças periapicais, devido à presença
de micro-organismos e da produção de calor no decorrer do
tratamento da cárie, quando no uso do instrumento rotatório
para remoção do tecido cariado. Quando os micro-organismos
afetam direta ou indiretamente os condutos radiculares, recorre-
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

se ao tratamento endodôntico, cujo objetivo é a desinfecção, o


preenchimento e o selamento dos condutos radiculares, a fim
de se evitar a reinfecção (TORABINEJAD et al., 2009; SILVA et
al., 2015; ASAWAWORARIT, et al., 2016; HUANG et al., 2017).
Nesse contexto, o preparo químico-mecânico dos
condutos radiculares é uma das etapas fundamentais no
tratamento endodôntico, pois é responsável pela desinfecção
do conduto, através das ações: química, dos agentes
irrigadores (hipoclorito e sódio a 1% ou clorexidina a 2%), e
mecânica, das limas, promovendo a remoção de bactérias,
detritos e remanescentes orgânicos, contribuindo com o reparo
do tecido periapical (SILVA et al., 2015).
Outra parte de fundamental importância, considerada o
maior desafio para o sucesso da terapia endodôntica, é a
obturação dos condutos radiculares, pois essa deve garantir o
correto vedamento das vias de comunicação dos tecidos orais
e perirradiculares com os condutos. O material mais
comumente utilizado para preenchimento é a guta-percha,
porém, isoladamente, essa não é capaz de se adaptar
perfeitamente em todas as paredes do canal, em virtude da sua
baixa viscosidade. Devido a isso, há necessidade de utilização
de cimentos seladores endodônticos, a fim de preencher as
irregularidades entre a guta-percha e as paredes circundantes
dos condutos radiculares (TORABINEJAD et al., 2009;
ASAWAWORARIT et al., 2016; CELIKTEN et al., 2016; HUANG
et al. 2017).
Nesse aspecto, os cimentos seladores biocerâmicos,
que têm como base o silicato de cálcio, tem se destacado na
endodontia, devido suas características, como o pequeno
tamanho da partícula (<2 µm), baixa contração, pH alcalino,
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

biocompatibilidade e bioatividade (pois é capaz de induzir a


formação de hidroxiapatita após a fixação no conduto), além da
capacidade de boa vedação e fortalecimento radiculares, após
obturação (DONNERMEYER et al., 2018; CANDEIRO et al.,
2019; MUNITIĆ et al., 2019). Possui também a vantagem de ter
caráter hidrofílico, não interferindo na configuração final da
obturação, caso haja alguma umidade pré-existente no conduto
radicular (HUANG et al. 2017).
Diante disso, o presente capítulo objetiva, através de
uma revisão da literatura atual, investigar a efetividade dos
cimentos seladores biocerâmicos como material obturador na
endodontia.

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de revisão da literatura recente


sobre a utilização de cimentos seladores biocerâmicos como
material obturador endodôntico. O levantamento bibliográfico
foi realizado no mês de julho de 2020, por meio da base de
dados online do National Center for Biotechnology Information-
NCBI (PubMed) (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/), sendo
utilizado os termos "bioceramicsealer" AND "obturating
materials" OR "endodontic sealers" OR "obturating techniques"
como mecanismo de busca. Foram incluídos na busca todos os
artigos publicados em inglês ou português sobre o tema, com
no máximo cinco anos de publicação. Destes, foram
selecionados somente aqueles disponíveis livremente em sua
versão completa (Free Full Text) e estudos em humanos.
Após a triagem inicial, os artigos baixados foram
sequencialmente numerados e lidos, para constatação da
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

adequação ao tema. Os critérios de inclusão foram estudos


envolvendo a utilização de cimentos biocerâmicos como
material obturador endodôntico, estudos transversais
(prospectivos e retrospectivos), estudos longitudinais, ensaios
clínicos randomizados, estudos de caso-controle, revisões
sistemáticas e metanálises. Foram excluídos os estudos de
relatos de casos, revisões de literatura, artigos que não se
referiram estritamente ao tema e artigos com mais de cinco
anos de publicação. Foram utilizados, também, alguns livros
nesta revisão.

RESULTADOS

De um total de 85 artigos levantados, 66 (77,6%) foram


excluídos. Desses, 62 (93,9%) foram excluídos por não se
referirem estritamente ao tema (como relacionados a cimentos
resinosos, técnicas de irrigação, laserterapia, retratamento
endodôntico em condutos obturados com cimentos resinosos,
influência das soluções irrigadoras, terapia regenerativa, entre
outros); três (4,6%), por serem relato de caso e um (1,5%) foi
excluído por ser revisão de literatura, restando 19 (29,4%)
artigos, que foram utilizados nesta revisão.
Dos 19 artigos utilizados, 18 (94,7%) foram
classificados como ensaios clínicos randomizados e um (5,3%)
como revisão sistemática.
Composição dos cimentos biocerâmicos: O cimento
endodôntico ideal deve possuir as seguintes características: ser
biocompatível, proporcionar fácil inserção e remoção do canal
radicular, possuir um bom escoamento e tempo de trabalho, ser
radiopaco, ter propriedade antimicrobiana, estabilidade
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

dimensional, apresentar solubilidade nos tecidos


perirradiculares e insolubilidade nos fluidos orais, além de ser
adesivo às paredes do canal e não manchar os tecidos
dentários. Esses materiais são classificados de acordo com seu
principal componente, podendo ser à base de resinas, óxido de
zinco, hidróxido de cálcio, ionômero de vidro e, mais
recentemente, os materiais biocerâmicos que estão associados
ao silicato de cálcio. Porém, atualmente nenhum cimento
endodôntico foi capaz de exercer todas as propriedades de um
selador ideal (LOPES; SIQUEIRA., 2015; HARGREAVES;
COHEN., 2017; LEONARDO; LEONARDO., 2017).
Outro material de grande utilização na terapia
endodôntica é o agregado de trióxido mineral (mineral
trioxideaggregate- MTA), usado para o tratamento de
perfurações radiculares e preenchimento da extremidade
radicular (obturação retrógrada). Dentre os componentes do
MTA, possuem destaque: o silicato tricálcio, silicato dicálcio,
aluminato tricálcio, ferroaluminatotetracálcio, sulfato de cálcio
di-hidratado e o óxido de bismuto. O MTA possui excelentes
propriedades hidrofílicas, permitindo que seja utilizado em
ambiente úmido, configurando ao material uma excelente
capacidade seladora, devido a expansão que o mesmo sofre ao
ser utilizado na presença de umidade. Além disso, esse material
é capaz de induzir a mineralização tecidual, todavia, o MTA
isoladamente apresenta difícil aplicação clínica (LOPES;
SIQUEIRA, 2015; LEONARDO; LEONARDO, 2017).
Características químicas dos cimentos
biocerâmicos
Uma das propriedades do cimento obturador ideal é
apresentar biocompatibilidade com os tecidos perirradiculares,
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

porém, atualmente todos os seladores endodônticos provocam


algum grau de irritação ao ambiente perirradicular antes da
presa, além disso, os produtos da decomposição do cimento
pode interferir na cicatrização e reparo tecidual do periápice
(HARGREAVES; COHEN, 2017).
Reszka et al. (2016) avaliaram as características
químicas de alguns cimentos seladores endodônticos à base de
silicato de cálcio (BioRoot™ RCS, MTA-Fillapex®e Well-Root
ST™). Todos os materiais foram preparados seguindo as
instruções do fabricante. Foi verificado que o cimento BioRoot™
RCS não possui nenhum metal pesado em sua composição,
sendo considerado o mais puro dentre os avaliados e com
menores chances de causar toxicidade aos tecidos. O MTA-
Fillapex® apresentou picos de titânio, silício e bismuto. O
bismuto é um agente radiopacificador, que possui a
característica de provocar a descoloração dos biocerâmicos e
dos tecidos dentinários, sendo que picos deste material são
uma característica desvantajosa, pois alteram a coloração
dentinária.
Vantagens e Desvantagens
Os cimentos seladores biocerâmicos estão
conquistando popularidade na endodontia devido às excelentes
propriedades que eles oferecem, como uma ótima
radiopacidade, pH alcalino, alta liberação de íons cálcio, baixa
citotoxicidade aos tecidos, capacidade antimicrobiana, ótima
viscosidade e sua bioatividade após o selamento, que é capaz
de induzir a formação de hidroxiapatita, além disso eles
possuem excelente biocompatibilidade (CANDEIRO et al.,
2010; MUNITIĆ et al., 2019).
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

Entretanto, um estudo avaliando a biocompatibilidade


do MTA-Fillapex® em culturas de células dentárias humanas,
fibroblastos e osteoblastos, demonstrou que esse cimento
obturador apresentou citotoxicidade em curto prazo (<sete
dias). O cimento selador foi diluído nas concentrações 1:2, 1:3
e 1:4. O nível de citotoxicidade desse material, após 24 horas
da obturação, foi considerado de moderado a leve (50-80%),
dependendo da concentração. Na concentração 1:2, foi
moderado, apresentando 50% de viabilidade celular. Esta
viabilidade, por sua vez, foi de 60%, na concentração 1:3 e de
80%, na concentração 1:4 (MESTIERI et al., 2015).
Huang et al. (2019) avaliaram, in vitro, a capacidade
antimicrobiana de quatro cimentos seladores (GuttaFlow2™,
AH Plus®, ProRoot-MTA® e RealSeal™) em culturas de micro-
organismos, pelos métodos de difusão em ágar e por contato
direto, na diluição seriada. Os autores avaliaram a inibição dos
três micro-organismos mais comuns em condutos radiculares
infectados, a Candida albicans, Escherichia coli e Enterococcus
faecalis. No teste de difusão em ágar, o biocerâmico ProRoot-
MTA®, apresentou inibição imediata da C. albicans e após 24
horas, demonstrou inibição contra os demais micro-organismos,
diferente dos demais cimentos seladores, que não
apresentaram histórico de inibição. Já no teste de contato, o
ProRoot-MTA® apresentou eficácia imediata contra as duas
bactérias e continuou mantendo sua efetividade,
consecutivamente, durante os sete dias de experimento. Esse
também apresentou atividade antifúngica, após sete dias.
McMichael et al. (2016) avaliaram a capacidade de
penetração de quatro cimentos endodônticos à base de silicato
tricálcico (MTA-Fillapex®,EndoSequence® BC Sealer™,
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

NeoMTA™ Plus e QuickSet2™), nos túbulos dentinários, pelas


técnicas de obturação de cone único e condensação vertical da
guta-percha aquecida. Este estudo verificou que todos os
selantes, independente da técnica utilizada para obturação
penetraram mais uniformemente nos túbulos dentinários a 5mm
do ápice, quando comparados aos túbulos a 1mm do ápice.
Esse resultado pode ter sido influenciado pela diminuição da
circunferência dos túbulos em direção ao ápice. Ao analisar a
influência da técnica de obturação utilizada, o estudo
demonstrou que ambas técnicas analisadas apresentaram
resultados semelhantes tanto nos túbulos a 5mm quanto a 1mm
do ápice, quando utilizados os cimentos EndoSequence ® BC
Sealer™, NeoMTA™ Plus e QuickSet2™. Já o MTA-Fillapex®
demonstrou maior penetração quando utilizado na técnica de
condensação vertical.
Wang et al. (2018) investigaram a penetração nos
túbulos dentinários de um cimento biocerâmico (iRoot® SP), em
comparação a um cimento resinoso (AH Plus®), utilizando as
técnicas de obturação de cone único e de condensação vertical
da guta-percha aquecida. Os autores verificaram que a
qualidade da penetração nos túbulos dentinários aumentou no
sentido ápice-coroa independentemente do tipo de cimento ou
técnica utilizada. Ao analisar o desempenho dos seladores,
notou-se superioridade do iRoot® SP em comparação ao AH
Plus®, na capacidade de penetração e selamento dos túbulos
dentinários, em ambas técnicas de obturação.
No que diz respeito à qualidade da obturação, Huang et
al. (2017) avaliaram a eficácia de dois cimentos biocerâmicos
(Total Fill™ BC Sealer e Sure Seal Root™) e um resinoso (AH
Plus®), que foram utilizados pela técnica de cone único, e
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

analisados após 10 dias da obturação. A qualidade da


obturação foi verificada pela quantidade de espaços vazios
contidos nas amostras, por meio de micro-CT e nano-CT. Após
a análise, constatou-se que o método de verificação nano-CT
expôs maior quantidade de falhas de preenchimento dos
selantes de modo geral, que no método de micro-CT. Além
disso, não houve diferenças significativas da qualidade a
obturação dos selantes, quando verificado pelo método de
micro-CT. Porém, o método de nano-CT demonstrou
superioridade na qualidade de preenchimento dos cimentos
biocerâmicos sobre o AH Plus® em todos os terços radiculares.
Ao avaliarem a capacidade de selamento apical,
Asawaworarit et al. (2016) observaram a resistência à
microinfiltração dos cimentos MTA-Fillapex® e AH Plus®, ambos
pela técnica de obturação da condensação vertical, em três
momentos, após 24 horas, sete dias e quatro semanas. Foi
utilizado técnica de filtração de fluido, na qual as raízes dos
dentes estudados foram acomodadas em um dispositivo e uma
pressão de 200mmHg foi aplicada no sistema, a microinfiltração
foi observada através do movimento de uma bolha de ar. Pôde-
se observar, nesse estudo que nos períodos de 24 horas e sete
dias, inferioridade na qualidade de selamento apical no grupo
que utilizou o MTA-Fillapex®. Entretanto, após quatro semanas,
o mesmo apresentou menores microinfiltrações que o AH Plus®.
Corroborando o exposto, uma análise a capacidade de
biomineralização intratubular dos seladores EndoSeal-MTA™e
ProRoot-MTA®, utilizando a técnica de condensação lateral,
através de microscopia eletrônica, confirmou a formação de
cristais de hidroxiapatita nos túbulos dentinários após 12
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

semanas da obturação. O EndoSeal-MTA™foi o responsável


pelos melhores resultados (YOO et al., 2016).
No que diz respeito à qualidade de preenchimento dos
espaços vazios, Celikten et al. (2016) analisaram essa
capacidade, comparando condutos preenchidos com cimentos
biocerâmicos (EndoSequence™ BC Sealer®, SmartpasteBio™,
ActiV GP™) com condutos preenchidos com o cimento AH
Plus®. Entretanto, os autores verificaram que todos os 40 pré-
molares avaliados da amostra apresentaram espaços vazios,
não havendo diferença estatisticamente significativa entre os
seladores, quanto à capacidade de preenchimento.
Esse mesmo resultado foi obtido por Huang et al.
(2018), ao compararem a capacidade de preenchimento entre
o EndoSequence™ BC Sealer®e AH Plus®, na obturação de 24
pré-molares inferiores, pela técnica de cone único. Nenhum
selante foi capaz de realizar uma obturação livre de vazios. Ao
observar as partes do canal, verificou-se melhor qualidade de
obturação superior nos terços coronal e médio em ambos
selantes.
Candeiro et al. (2019), diante da importância da
penetração do cimento nas ramificações dos canais radiculares
para a eficácia do tratamento endodôntico, analisaram a
capacidade de selamento de canais laterais artificiais do
EndoSequence™ BC Sealer®, o comparando com o AH Plus®.
Foram analisados 26 pré-molares superiores permanentes,
birradiculares, e confeccionados seis condutos laterais em cada
dente, (três na superfície mesial e três na distal). Não houve
diferença significativa na qualidade de obturação, na
comparação dos dois seladores. Contudo, o EndoSequence™
BC Sealer® apresentou-se mais efetivo na penetração de
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

condutos com diâmetro de 10mm. Já o AH Plus ® não


demonstrou diferença significativa na penetração de diferentes
diâmetros. Os autores concluíram que a capacidade de
penetração do cimento obturador biocerâmico
EndoSequence™ BC Sealer foi semelhante à capacidade do
®

AH Plus®.
Além da complexidade anatômica dos condutos
radiculares, a técnica de obturação também tem influência na
distribuição do cimento selador no interior dos condutos e sua
capacidade de vedação. Um estudo que avaliou a capacidade
de selamento da utilização de diferentes técnicas aliadas a
diferentes cimentos endodônticos, mostrou superioridade
significativa do EndoSeal-MTA™, pela técnica de condensação
ultrassônica. A boa viscosidade do material, juntamente com as
vibrações ultrassônicas permitiram melhor espalhamento do
selador e revestimento eficaz, resultando em melhor selamento
e menores infiltrações bacterianas para o periápice (HWANG et
al., 2015).
Resistência ao deslocamento: Para verificar a
resistência ao deslocamento, Donnermeyer et al. (2018)
realizaram um ensaio clínico randomizado que analisou eficácia
de cimentos à base de silicato de cálcio (TotalFill™ BC Sealer,
Endo-CPM-Sealer™, BioRoot™ RCS) comparado a um
cimento resinoso (AH Plus®), pelo teste de push-out, que
consiste no posicionamento das seções da amostra, em uma
máquina de teste mecânico, na qual é aplicada uma força a uma
velocidade de 0,5mm/minuto, no sentido ápico-coronal, até o
desprendimento do material obturador. A amostra contou com
80 dentes unirradiculares humanos extraídos, que foram
divididos em quatro grupos (n=20), instrumentados e obturados
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

com o selador e guta-percha, pela técnica de cone único. Após


obturação, os dentes ficaram em incubação por 8 dias à 37°C.
O resultado revelou resistência ao deslocamento dos cimentos
biocerâmicos estatisticamente inferior em relação ao AH Plus®.
Dos materiais à base de silicato de cálcio, o TotalFill™ BC
Sealer, demonstrou maior força de união.
Por outro lado, Araújo et al. (2016), analisaram a força
ao deslocamento dos cimentos AH Plus®, MTA-Fillapex®e
Epiphany SE™, utilizando as técnicas de cone único e de
condensação lateral, também pelo teste de push-out. O
experimento contou com 90 dentes caninos humanos, sem
lesões de cáries, fraturas ou trincas radiculares. Os melhores
resultados de retenção, quando utilizada a técnica de
condensação lateral, foram obtidos pelo AH Plus® e MTA-
Fillapex®. Por outro lado, a técnica de cone único apresentou
valores inferiores de resistência a união, quando comparada à
condensação lateral, sendo o AH Plus® com melhores
resultados, seguido pelo Epiphany SE™. Além disso, a análise
por microscopia de varredura revelou maior homogeneidade de
obturação, com poucos espaços vazios na interface
material/conduto, para a técnica de condensação lateral,
principalmente com os seladores AH Plus® e MTA-Fillapex®.
Porém, ao analisar isoladamente o selador Epiphany SE™, a
técnica de compactação lateral mostrou uma resistência de
união inferior à técnica de cone único. De maneira geral, os
resultados demonstraram que a resistência de união do cimento
obturador foi influenciada também pela técnica de obturação.
Gritti et al. (2017) realizaram um estudo para avaliar a
resistência de união do selador biocerâmico (EndoSequence™
BC Sealer®) em 80 pré-molares inferiores humanos. Os autores
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

observaram se essa resistência de união era influenciada pelo


tipo de guta-percha utilizada (convencional ou fosfato de nióbio)
e pelas soluções de reumidificação (água destilada; solução
tampão fosfato salina-PBS, fluido corporal simulado-SBF- que
simula a porção orgânica do plasma sanguíneo humano); ou
nenhuma solução. Os condutos foram preparados e
preenchidos pela técnica de cone único e o experimento foi
realizado após 30 dias da obturação. Os resultados mostraram
diferenças significativas no que diz respeito ao tipo de guta-
percha utilizada, em que a guta-percha convencional aliada ao
biocerâmico demonstrou valores de resistência
estatisticamente inferiores (2,0 Mpa), quando comparada a
guta-percha associada ao fosfato de nióbio (3,42 Mpa). A
solução de fluído corporal, utilizada na reumidificação, também
proporcionou um aumento estatisticamente significativo na
resistência de união.
Retratamento endodôntico
O insucesso do tratamento endodôntico geralmente se
dá pela persistência ou recontaminação de bactérias nos
condutos radiculares. Tal condição pode ser observada através
de sinais como presença de lesões periapicais emergentes
(desenvolveram após o tratamento endodôntico), persistentes
(permaneceram mesmo após o tratamento) ou recorrentes
(tiveram reicidiva após algum tempo do tratamento), além disso,
pode ocorrer o aparecimento de fístulas e/ou tumefação
associadas aos dentes tratados. O tratamento dessa falha pode
ser realizado de três maneiras: através dos retratamentos não
cirúrgico e cirúrgico, ou exodontia. Dentre essas opções, o
retratamento não cirúrgico deve ser a primeira escolha. Esse
procedimento consiste na remoção dos materiais de
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

preenchimento dos canais radiculares, seguido da


reinstrumentação, aplicação de medicação intracanal e
reobturação. Em virtude disso, uma das características do
cimento obturador ideal é a sua fácil remoção dos condutos
radiculares, em caso de necessidade (LOPES; SIQUEIRA.,
2015; HARGREAVES; COHEN., 2017).
Ekici et al. (2018) compararam a eficiência de remoção
de três cimentos seladores endodônticos, dois resinosos
(AH26®, EndoREZ™) e um biocerâmico (MTA-Fillapex®)
utilizando as limas reciprocantes (realizam movimentos em
sentidos horário e anti-horário) WaveOne Gold, sem o uso de
solventes. O experimento foi realizado em 45 pré-molares
inferiores humanos unirradiculares recém-extraídos, de
dimensões semelhantes, condutos retos, que foram divididos
em três grupos aleatoriamente (n=15): G1, dentes obturados
com MTA-Fillapex®; G2, obturados com cimento EndoREZ™, e
G3, obturados com cimento AH26®. Após obturação, os dentes
foram armazenados a 37°C, em estufa úmida, por sete dias,
para garantir melhor configuração do cimento endodôntico.O
G1 (MTA-Fillapex®) apresentou estatisticamente menor tempo
de desobturação em comparação aos demais grupos. Nenhum
dos grupos experimentais apresentou remoção total do material
do interior do conduto, permanecendo ainda algum
remanescente, porém, ao analisar os terços dos condutos, o
grupo que utilizou o MTA-Fillapex® conteve significativamente
maior quantidade de material obturador no terço médio. Esse
resultado demonstrou a baixa solubilidade do material em
curtos períodos (sete dias), mesmo antes da sua total
estabilização (28 dias). Diante disso, pôde-se verificar menor
tempo gasto na remoção dos materiais obturadores no grupo
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

que utilizou o cimento biocerâmico, contudo, nenhum dos


métodos foi capaz de remover por completo o material do
interior do conduto.

DISCUSSÃO

Um cimento selador endodôntico ideal deve


proporcionar alta capacidade de adesão às paredes
circundantes do canal, para estabelecer boa vedação, ter baixa
contração, ser insolúvel e biocompatível. Atualmente, nenhum
cimento selador endodôntico preenche todos esses requisitos,
contudo, os cimentos seladores biocerâmicos, que são à base
de silicato de cálcio, apresentam muitas características
favoráveis como boas propriedades mecânicas e além de
apresentar biocompatibilidade e bioatividade (LOPES;
SIQUEIRA., 2015; HARGREAVES; COHEN., 2017;
LEONARDO; LEONARDO., 2017). Além disso, apresenta ótima
radiopacidade, pH alcalino, alta liberação de íons cálcio, ótima
viscosidade e bioatividade após o selamento, que é capaz de
induzir a formação de hidroxiapatita (CANDEIRO et al., 2010;
MUNITIĆ et al., 2019).
O MTA, também possui excelentes propriedades,
contudo apresenta um aspecto arenoso, o impedindo de ser
utilizado como material obturador único. A associação dos
cimentos biocerâmicos ao MTA, em um produto único (MTA-
Fillapex®, EndoSeal-MTA™ e MTA-Plus™), faz com que esse
material se aproxime de um cimento ideal (MESTIERI et al.,
2015; YOO et al., 2016). Além disso, os cimentos seladores
biocerâmicos apresentam propriedades antimicrobianas, como
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

atividades antibacterianas e antifúngicas, destacando-se o


ProRoot-MTA® (HUANG et al., 2019).
Todavia, alguns estudos in vitro demonstraram
citotoxidade de alguns cimentos biocerâmicos, em curto prazo
(até sete dias), em maiores concentrações, como o cimento
MTA-Fillapex®, sendo que esta toxicidade decaiu com o passar
do tempo, já que em longo prazo, foi verificada maior viabilidade
celular (MESTIERI et al., 2015).
Em relação à capacidade de preenchimento de
espaços vazios do cimento endodôntico selador, Celikten et al.
(2016) verificaram que os cimentos seladores EndoSequence™
BC Sealer®, SmartpasteBio™, ActiV GP™ e AH Plus® (cimento
resinoso) apresentaram características semelhantes de
qualidade de preenchimento in vitro dos condutos, sendo que
em todos eles, foi verificada presença de espaços vazios, após
a obturação. Araújo et al. (2016), por sua vez, observaram maior
homogeneidade de obturação, com poucos espaços vazios na
interface material/conduto dos cimentos seladores MTA-
Fillapex® e AH Plus®, principalmente, quando utilizada a técnica
de condensação lateral. Candeiro et al. (2019) verificaram, in
vitro, que os seladores endodônticos EndoSequence™ BC
Sealer® e AH Plus®, apresentam a mesma capacidade
seladora, ao avaliarem a penetração dos mesmos no interior de
canais laterais artificiais, de diâmetros reduzidos. O AH Plus®
não demonstrou diferença significativa na penetração em
diferentes diâmetros dos condutos e o EndoSequence™ BC
Sealer® apresentou-se mais efetivo na penetração de condutos
com diâmetro de 10mm.
Donnermeyer et al. (2018) verificaram que a resistência
ao deslocamento dos cimentos biocerâmicosTotalFill™ BC
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

Sealer, Endo-CPM-Sealer™ e BioRoot™ RCS, foi


estatisticamente inferior ao cimento resinoso AH Plus®, sendo
que, dos biocerâmicos, o cimento selador TotalFill™ BC Sealer
foi o que demonstrou maior força de união.
Além da complexidade anatômica dos condutos
radiculares, a técnica de obturação também tem influência na
distribuição do cimento selador no interior dos condutos e sua
capacidade de vedação. De acordo com Hwang et al. (2015), o
EndoSeal-MTA™, por apresentar boa viscosidade, juntamente
com as vibrações ultrassônicas da técnica obturadora,
permitiram melhor espalhamento do cimento selador e
revestimento eficaz, resultando em melhor selamento e o que
acarretaria menores infiltrações bacterianas para o periápice.
Já Araújo et al. (2016) observaram, in vitro, que a técnica de
cone único apresentou valores inferiores de resistência de
união, quando comparada à técnica de condensação lateral,
sendo que o cimento resinoso AH Plus® apresentou melhores
resultados, quando comparado aos biocerâmicos MTA-
Fillapex® e Epiphany SE™. Os autores constataram que a
resistência de união do cimento obturador foi influenciada
também pela técnica de obturação. Gritti et al. (2017)
observaram que a utilização do cone de guta percha com
fosfato de nióbio associada ao cimento selador biocerâmico, na
técnica de cone único, apresentou resistência de união
estatisticamente superior.
Em relação à desobturação, os cimentos seladores
biocerâmicos demandaram menor tempo de desobturação,
quando comparados a cimentos resinosos, ao se utilizarem
limas reciprocantes. Contudo, todos cimentos apresentaram
dificuldades de remoção do terço médio (EKICI et al., 2018).
CIMENTOS ENDODÔNTICOS BIOCERÂMICOS: UMA ATUALIZAÇÃO

CONCLUSÕES

Apesar da escassez de estudos na literatura, pôde-se


perceber que a utilização dos cimentos biocerâmicos como
material obturador endodôntico, proporciona algumas
vantagens, como uma excelente biocompatibilidade,
minimizando as irritabilidades ao periápice, capacidade
antimicrobiana, além disso eles possuem a capacidade de
induzir a remineralização através da produção de hidroxiapatita.
A junção das propriedades dos cimentos seladores
biocerâmicos, ao MTA, em um cimento único, faz com que este
se aproxime de um cimento selador ideal. Dentre esses,
destaca-se o MTA-Fillapex®, suas excelentes propriedades
permitem um desempenho semelhante ou superior que o
cimento resinoso AH Plus®, no que diz respeito à qualidade de
preenchimento do canal radicular e resistência ao
deslocamento. Contudo, devido à baixa solubilidade desse
material, sua remoção diante de um retratamento endodôntico
se torna mais difícil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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.
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

CAPÍTULO 18

O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO


DO TRATAMENTO ENDODÔNTICO
Walter Gleybson Antas de MORAIS 1
Wliana Pontes de LIMA 1
Danyllo Guimarães Morais BARROS 2
Felipe Rafael da Cunha ARAUJO 2
Gabriella de Vasconcelos NEVES 3
1Doutorando (a) em Odontologia, Programa de Pós-Graduação em
Odontologia, PPGO/UEPB; 2 Graduado em Odontologia, UEPB ; 3
Orientadora/Professora de Endodontia da Faculdade Maurício de Nassau -
Campina Grande e Doutoranda em Odontologia, PPGO/UEPB.
walter_morais18@hotmail.com.br

RESUMO: Atualmente, a utilização do ultrassom na


endodontia, ocupa um lugar de destaque, tendo-se tornado um
equipamento indispensável, com diferentes aplicações no
âmbito do tratamento endodôntico. Objetivou-se com este
estudo, discutir, a partir de uma revisão de literatura, as diversas
aplicabilidades do uso do ultrassom na endodontia. Para isso,
foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o uso do
ultrassom na otimização do tratamento endodôntico nas bases
de dados: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciência
da Saúde (LILACS-BIREME), National Library of Medicine
(PUBMED-MEDLINE), Scielo e Google acadêmico. Para
conduzir a pesquisa, a estratégia de busca foi realizada por
meio da utilização dos descritores: Endodontia, Ultrassom,
Preparo de canal radicular. Foram selecionados os principais
artigos na língua portuguesa e inglesa relacionados ao tema,
entre os anos de 2015 à 2020. Diante dos estudos encontrados
na literatura, concluiu-se que o ultrassom é uma tecnologia que
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

pode ser aplicada em diferentes etapas do tratamento


endodôntico tais como abertura coronária e localização dos
canais radiculares, ativação da solução irrigadora, preparo do
canal radicular, colocação e retirada da medicação intracanal,
obturação, bem como na remoção de obstruções dentro do
canal, retratamento e cirurgia parendodôntica. A literatura
aponta que o seu uso oferece várias vantagens e aplicações na
área da endodontia, tornando-se uma ferramenta conveniente,
útil e com eficácia comprovada.
Palavras-chave: Endodontia. Ultrassom. Preparo de canal
radicular.

INTRODUÇÃO

O tratamento endodôntico tem como objetivo a


manutenção do dente em função no sistema estomatognático,
sem prejuízos à saúde do paciente. Para que se consiga êxito
nesse tratamento, é necessário que sejam seguidos princípios
científicos, mecânicos e biológicos. Estes princípios e passos
clínicos estão diretamente relacionados aos sucessos e
insucessos do tratamento endodôntico (VALDIVIA et al., 2015;
SILVA et al., 2019).
Nas últimas décadas, a endodontia tem evoluído
substancialmente com o desenvolvimento e adoção de novas
tecnologias e materiais, facilitando o trabalho do endodontista,
diminuindo e otimizando o tempo para execução do tratamento
endodôntico, bem como as etapas, desde o acesso até a
obturação, passando pela irrigação, agitação de soluções e até
retratamento (VALDIVIA et al., 2015; LIRA et al., 2018).
O ultrassom é um som, cujas ondas sonoras possuem
frequências acima do limite audível para o ser humano, ou seja,
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

entre 16-20 KHz. Essas ondas ultrassônicas propagam energia


no meio, e, ao atingir o tecido dental, por exemplo, parte dela é
refletida, enquanto outra parte é absorvida e utilizada nesse
sentido para diferentes fins (LIRA et al., 2018).
Atualmente, o ultrassom tem sido utilizado na
odontologia em diferentes etapas do tratamento endodôntico,
como no acesso ao canal radicular, na irrigação dos canais
radiculares, na remoção de retentores intrarradiculares e de
instrumentos fraturados, na aplicação e remoção de medicação
intracanal, na obturação dos canais radiculares e no
retratamento endodôntico (VALDIVIA et al., 2015; CARNEIRO
et al., 2017; LIRA et al., 2018). Diante disso, o objetivo do
presente estudo foi discutir, por meio de uma revisão de
literatura, as diversas aplicabilidades do uso do ultrassom na
endodontia.

MATERIAIS E MÉTODO

Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o uso


do ultrassom na otimização do tratamento endodôntico nas
bases de dados: Literatura Latino Americana e do Caribe em
Ciência da Saúde (LILACS-BIREME), National Library of
Medicine (PUBMED-MEDLINE), Scielo e Google acadêmico.
Para conduzir a pesquisa, a estratégia de busca foi
realizada por meio da utilização dos descritores: Endodontia,
Ultrassom, Preparo de canal radicular.
Dentre os critérios observados para a escolha dos
artigos, foram considerados os seguintes aspectos:
disponibilidade do texto integral do estudo, clareza no
detalhamento metodológico utilizado do mesmo e trabalhos
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

relacionados diretamente ao tema proposto. Foram incluídos no


presente estudo, trabalhos publicados na íntegra, relatos de
casos, pesquisas e revisões de literaturas sobre o tema,
estudos envolvendo indivíduos humanos, artigos publicados em
inglês e português, entre 2015 e 2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os achados, a primeira aplicação do


ultrassom na endodontia foi realizada por Rickman no ano de
1957. O equipamento utilizado foi o aparelho para profilaxia
periodontal (Cavitron-Dentsply®), no qual foi adaptado uma
ponta específica (PR30) com finalidade endodôntica, atuando
como elemento auxiliar da instrumentação do canal radicular
(LIRA et al., 2018; CRUZ et al., 2020).
Com a evolução das pesquisas, foram surgindo vários
aparelhos no mercado que permitiram o profissional proceder
de forma mais fácil, ágil e objetiva. Existe no mercado uma
grande variedade de aparelhos e pontas para o emprego em
endodontia, sendo que para cada função, há uma frequência a
ser observada, assim como, a configuração das pontas (LIRA
et al., 2018).
Atualmente o ultrassom pode ser utitilizado em quase
todas as fases do tratamento endodôntico, desde a abertura
coronária até a obturação (VALDIVIA et al., 2015; CARNEIRO
et al., 2017; LIRA et al., 2018). Sendo assim, de acordo com os
resultados da busca, foram apresentados as aplicabilidades do
ultrassom em procedimentos endodônticos.
Acesso, localização de canais radiculares e
remoção de calcificações pulpares
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

O acesso para a visualização da entrada dos canais é


uma das principais etapas do tratamento endodôntico, e sua
execução deve permitir a livre entrada dos instrumentos
(VALDIVIA et al., 2015). O acesso para cada dente é
invidualizado, e depende de parâmetros como o grau de
curvatura do canal, a posição do ápice em relação à ponta da
cúspide, comprimento do canal, grau de calcificação, tamanho
e forma dos canais, além da posição do dente nos maxilares
influenciando o desenho da cavidade de acesso (LIRA et al.,
2018).
Nesse contexto, as radiografias periapicais são
valiosas, contudo, apresentam limitações, podendo não revelar
todas as informações necessárias. Bifurcações de canal, canais
acessórios e deltas apicais podem não estar evidentes. Por
isso, devem ser associadas a um bom exame clínico e meios
adicionais facilitadores. Um desses meios seria o uso do
ultrassom. O uso de pontas ultrassônicas contendo abrasivos
na sua ponta remove dentina conservadoramente, pois o
tamanho de sua ponta chega a ser dez vezes menor do que as
menores brocas esféricas, podendo ser utilizada nas paredes e
assoalho da câmara pulpar para procurar orifícios do canal.
Essa opção elimina o uso de peça de mão que, muitas vezes,
obstrui a visão do operador, permitindo uma melhor
visualização direta, evitando também o risco de perfuração
(MOHAMMADI et al., 2016).
Além de facilitar a localização de canais, removendo
dentina secundária e reacional depositada em contato com o
assoalho da câmara pulpar, o ultrassom é utilizado para
remoção de calcificações pulpares. A magnificação da imagem,
somada com uma melhor iluminação do campo operatório,
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

melhora a visualização dessas calcificações e do assoalho da


câmara pulpar. Os insertos de ultrassom realizam desgastes
conservadores, minimizando erros durante a remoção desses
nódulos (VALDIVIA et al., 2015).
Valdívia et al. (2015) demonstraram uma abordagem
clínica de tratamento de um dente com calcificação na entrada
dos condutos, no qual se realizou o acesso à câmera pulpar e,
em seguida, a remoção da calcificação e a localização dos
condutos foram feitas por meio de pontas ultrassônicas sob
magnificação, concluindo-se com a blindagem corono-radicular
definitiva em sessão única. Os resultados deta técnica
demonstram que a associação do uso do ultrassom sob
magnificação é uma estratégia clínica viável para acessar áreas
de calcificação.
Irrigação dos canais radiculares
O uso da irrigação ultrassônica tem sido proposta para
melhorar a limpeza do canal radicular a partir da remoção de
remanescentes de tecidos orgânicos, restos dentinários,
detritos e smear layer, principalmente em áreas de difícil
acesso, como terço apical e áreas de istmos,
consequentemente auxiliando para um tratamento endodôntico
de sucesso. A sua eficácia é determinada pela capacidade de
produção de cavitação e transmissão acústica. Desta forma,
recomenda-se o uso da irrigação com ultrassom complementar
a convencional, facilitando o procedimento e melhorando a
limpeza dos canais (SILVA et al., 2019).
Existem dois tipos de irrigação associadas com o
ultrassom descritos na literatura, uma em que a irrigação é
combinada com instrumentação ultrassônica contínua, da sigla
em inglês (CUI) e outra sem instrumentação simultânea, a
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

chamada irrigação ultrassônica passiva, da sigla em inglês


(PUI). O mecanismo da PUI é baseado na transmissão de
energia a partir de uma lima endodôntica acoplada ao ultrassom
gerando um movimento oscilatório na solução irrigadora dentro
do canal radicular (LIRA et al., 2018; SILVA et al., 2019). Já na
Irrigação ultrassônica contínua, o irrigante é ativado
simultaneamente com a instrumentação pelo ultrassom
(CASTELO-BAZ et al., 2016).
Schmidt et al. (2015) avaliaram a eficácia de PUI em
solução de 17% de EDTA e 1% de NaOCl na remoção da lama
dentinária de 32 pré-molares humanos. As amostras (n = 8)
foram divididas aleatoriamente em quatro grupos de acordo
com o protocolo de irrigação final utilizado. Os canais de todos
os grupos receberam 3 mL EDTA 17% por 3 min e 3 mL de
NaOCl 1% por 3 min, sendo o G1 representado pela irrigação
convencional, o G2 pela PUI no EDTA, o G3 pela PUI no NaOCl
e o G4 pela PUI no EDTA e no NaOCl. Foram avaliadas, por
meio de software, imagens de Microscopia Eletrônica de
varredura (MEV) com aumentos de 1000x dos terços cervical,
médio e apical em relação à porcentagem de área de túbulos
abertos em relação à área total. Apesar de não apresentar
diferença estatística, na região apical a porcentagem de área
de túbulos dentinários abertos foi maior nos grupos que
utilizaram a PUI em comparação com a irrigação convencional.
Em 2016, Castelo-Baz et al. compararam três sistemas
de irrigação no canal principal e em canais laterais em raizes
curvas de 60 incisivos laterais. Foi feita a divisão dos dentes em
três grupos (n = 20): G1 – irrigação por pressão positiva (seringa
e agulha); G2 – PUI e G3 – CUI. As soluções utilizadas foram
uma solução de contraste de NaOCl a 5% e uma tinta chinesa
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

a 20% com volume total de 6ml e com tempos de irrigação de 1


min para todos os grupos. Os resultados analisados foram os
seguintes: a solução de contraste não atingiu o comprimento de
trabalho no G1, atingiu 40% no G2 e atingiu 90% no G3. A
penetração nos canais laterais foi de 0% no G1, 46% no G2 e
92% no G3, ou seja, para os grupos G2 e G3 o resultado foi
mais satisfatório em relação à irrigação convencional.
Aplicação e remoção de medicação intracanal
Em grande parte dos casos de tratamento endodôntico,
se faz necessária a inserção de uma medicação no interior do
sistema de canais radiculares, onde esses medicamentos
devem permanecer ativos e têm um papel auxiliar muito
importante no tratamento. Com isso, a inserção ideal deve ser
feita de forma com que atinja toda a porção do canal, eliminando
assim os micro-organismos e evitando infecções persistentes
(SUNGUR et al., 2017; BARBOSA et al., 2020). Nessa etapa, o
ultrassom auxilia tanto no momento da aplicação quanto da
remoção do curativo intracanal.
Arias et al. 2016 estudaram o efeito antimicrobiano da
agitação ultrassônica de pastas de hidróxido de cálcio (HC) em
dentina bovina infectada, e sua penetrabilidade foi avaliada por
microscopia confocal de varredura a laser e cultura
microbiológica. Cinquenta e dois dentes bovinos foram
infectados com Enterococcus faecalis usando um novo
protocolo de contaminação; em seguida, receberam pasta de
HC e foram divididos em grupos com ou sem ultrassom. A
agitação ultrassônica foi conduzida por 1 min com uma inserção
de ponta simples. Os detritos da parede dentinária foram
coletados por brocas e contadas as unidades formadoras de
colônias (UFC / mL). A penetrabilidade da pasta dentro dos
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

túbulos dentinários foi testada usando o corante B-rodamina.


Em seus resultados, observaram que a pasta de HC apresentou
melhores resultados com o uso da agitação ultrassônica (p
<0,05), concluindo que a agitação ultrassônica da pasta HC
aumentou sua ação antimicrobiana e foi responsável pela
penetração intradentinal com preenchimento dos túbulos.
No que diz respeito a remoção da medicação,
usualmente, o procedimento mais utilizado é a instrumentação
manual, em que são usadas seringas e pontas de irrigação e
soluções irrigadoras como o hipoclorito de sódio ou EDTA. A
remoção de HC é de grande importância, pois estudos
demonstram a preocupação clínica em não remover
completamente a medicação, podendo interferir na entrada do
cimento nos túbulos dentinários e impedir a ligação da resina a
dentina, assim como interferir na fixação de selantes a base de
eugenol e agregado de trióxido mineral (MTA) (BUSANELO et
al. 2015; SILVA et al. 2019).
Kirar et al. (2017) compararam diferentes métodos de
irrigação e agitação para a remoção de dois tipos de
medicamentos de HC das paredes do canal radicular, em uma
amostra de cinquenta dentes com raiz única. Essas amostras
foram divididas aleatoriamente em quatro grupos, sendo que o
Grupo 1 (n = 20) preenchidos completamente com HC à base
de água; Grupo 2 (n = 20) foram preenchidos com HC à base
de óleo usando espiral lentulo; Grupo 3 (n = 5) o grupo de
controle positivo recebeu o HC como medicação intracanal,
mas sem remoção subsequente e o Grupo 4 (n = 5) o controle
negativo não recebeu colocação de HC. Imagens digitais das
paredes do canal radicular foram adquiridas por um microscópio
cirúrgico odontológico e avaliadas usando um critério de
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

pontuação em diferentes terços (coronal, médio e apical) do


canal radicular. Apesar da ausência de diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos (p>0,05), a
remoção de HC foi melhor alcançada por agitação sônica
usando endoativador seguido por PUI, agitação dinâmica
manual e irrigação por seringa convencional com agulha com
ventilação lateral.
Remoção de instrumentos fraturados
Alguns fatores estão fortemente relacionados à
ocorrência de fraturas de instrumentos no interior dos canais: a
experiência do operador, a velocidade de rotação do
instrumento, a curvatura do canal, torção, o design do
instrumento e as repetições do seu uso. Quando ocorre a
fratura, existem muitas variáveis envolvidas para se tomar a
decisão do que se deve fazer, considerando sempre as
vantagens e desvantagens da remoção. Métodos antigos de
remoção eram muitas vezes extremamente destrutivos às
estruturas dentais e não obtinham sucesso. As variáveis a
serem analisadas são: como é a anatomia do canal radicular, o
tamanho do instrumento fraturado e a localização do mesmo no
canal (LIRA et al., 2018).
Yang et al. (2017) avaliaram os efeitos sobre a dentina
de duas técnicas de trepanação utilizando uma ponta
ultrassônica ou uma broca trepano nos canais mesiais de
molares inferiores durante tentativas de remoção de fragmentos
fraturados utilizando imagens micro-computadorizadas. Para
isso, 21 dentes foram selecionados, 42 canais, com canais
mesio-vestibulares e mésio-linguais de mesmo formato,
tamanho e curvatura. Os instrumentos de Níquel-titânio (NiTi)
(SybronEndo, Orange, CA) tamanho 25 foram fraturados nos
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

canais mesiais a 4 mm do ápice. Na remoção ultrassônica,


foram utilizadas pontas ultrassônicas finas (ET25, Satelec Corp,
Merignac Cedex, França), na potência 6. Se o instrumento não
pôde ser removido, o dispositivo microtubo foi utilizado (Micro-
Retrieve & Repair System). Pela técnica Trepano, utilizou-se a
fresa Trepan (Micro-Retrieve & Repair System). Onservou-se
que, na técnica ultrassônica, apenas um fragmento não pôde
ser removido em 45 minutos e quatro fragmentos foram
removidos sem necessitar o uso sequente do microtubo e, em
dois canais, ocorreu perfuração; na técnica trepano, todos os
instrumentos fraturados foram removidos com sucesso, mas
uma perfuração ocorreu, e o microtubo não precisou ser
utilizado em dois casos. Houve diferenças significativas no
diâmetro médio do canal, na espessura da parede, no aumento
do volume do canal e no tempo consumido entre os grupos
ultrassônico e trepano. O volume e o diâmetro médio do canal
após a remoção foram significativamente menores no grupo
trepano.
Tookuni et al. (2020) descreveram o caso clínico da
remoção de instrumento fraturado no terço apical de um pré-
molar superior. O fragmento localizava-se no terço apical da
raiz vestibular. A primeira tentativa de remoção do fragmento foi
realizada sem sucesso. Após 15 dias, em uma nova tentativa,
o instrumento foi removido com o auxílio de ultrassom e inserto
específico. Entre as sessões, utilizou-se medicação intracanal
à base de HC, paramonoclorofenol canforado e propilenoglicol.
Decorridos 15 dias, o dente mostrou-se assintomático e foi
obturado pela técnica da condensação lateral. Após três meses,
foi observada radiograficamente a regressão da lesão
perirradicular. Desta forma, os autores concluíram que a
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

retirada do fragmento no caso descrito, com o auxilio do


ultrassom, se mostrou uma opção eficiente, propiciando a
manutenção do dente com ausência de sinais e sintomas.
Remoção de retentores intrarradiculares
Às vezes, faz-se necessário a remoção de
retentoresintra-radiculares por diversos motivos, como por
exemplo, para permitir o retratamento endodôntico. Para atingir
este objetivo, têm sido utilizadas as mais diversas técnicas e
instrumentos, como o uso de brocas ou dispositivos capazes de
envolver os retentores e tracioná-los para fora da raiz. Durante
esse procedimento, há o risco de desgastar, perfurar ou fraturar
o remanescente dentário já enfraquecido (GRAÇA et al., 2017).
Dessa forma, procuram-se técnicas menos invasivas para
remoção deste tipo de retentor. Nesse sentido, o ultrassom
pode ser empregado com esse propósito, pois a vibração
causada pelo mesmo fragmenta o cimento que une o retentor à
estrutura dentária, facilitando a remoção do mesmo (LIRA et al.,
2018).
Graça et al. (2017) por meio de um estudo in vitro
compararam quatro técnicas diferentes para remoção de núcleo
metálico fundido com o objetivo de analisar um novo protocolo
de remoção de núcleo metálico fundido cimentado com fosfato
de zinco em dentes polirradiculares com preparo de cavidade
utilizando ponta diamantada na porção coronária do núcleo e
aplicação de vibração ultrassônica. Utilizaram-se 40 molares
inferiores, os quais receberam tratamento endodôntico com
instrumentos rotatórios finalizando com o mesmo instrumento
memória e comprimento de trabalho, após isso, os núcleos
foram modelados. As amostras foram divididas em quatro
grupos com 10 molares em cada grupo, sendo estes: controle
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

(sem cavidade e sem vibração ultrassônica), ultrassom (sem


cavidade e com vibração ultrassônica na porção coronal),
cavidade (com cavidade e sem vibração ultrassônica) e
ultrassom-cavidade (com cavidade e vibração ultrassônica na
cavidade). Houve diferença na tração entre todos os grupos,
sendo o grupo ultrassom-cavidade o que exigiu menos tração e
o controle o que exigiu maior tração. Assim, os autores
concluíram que o protocolo testado reduz a força de tração
necessária para remoção de núcleo metálico fundido.
Cruz et al. (2020) avaliaram a utilização do ultrassom
na endodontia para remoção de pinos intrarradiculares, bem
como suas vantagens e desvantagens. Os dados foram obtidos
por meio de pesquisa em bases de dados Scielo, Google
Acadêmico, Biblioteca Virtual e presencial da Faculdade
Cathedral de Boa Vista - RR, do qual 27 artigos foram
selecionados. Como resultado, os autores concluíram que,
comparado a outros aparelhos utilizados para o mesmo fim, o
ultrassom tem uma melhor utilidade, pelo desempenho,
praticidade, conforto e segurança que apresenta.
Obturação dos canais radiculares
Quando operado a seco, o calor do atrito gerado por um
instrumento de ultrassom pode ser utilizado para plastificar a
guta-percha durante o procedimento de obturação. O uso de
uma lima de calibre 25 anexado a um aparelho de ultrassom
magnetoestritivo auxilia na colocação de guta-percha na
obturação do canal radicular (HO; CHANG; CHEUNG, 2016).
Estudos têm demonstrado que a utilização do ultrassom
promove uma obturação mais densa e homogênea quando
comparada a técnica mais popularmente utilizada, da
compactação lateral, onde a massa final de guta-percha bem
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

como o cimento obturador, mostra boa adaptação às


irregularidades da superfície do canal.
Ho, Chang e Cheung (2016) propuseram um estudo
para determinar a qualidade das obturações de canais
radiculares utilizando cones de guta-percha sem cimento,
obturados com compactação vertical aquecida (WV),
compactação lateral (CL) e ultrassônica lateral (UL). Diferenças
significativas foram encontradas entre CL e UL e entre CL e WV,
observando-se uma maior densidade coronal de guta-percha
das raízes tratadas com WV e UL, sendo que o mesmo não
ocorreu com CL. A compactação WV e a compactação UL
produziram uma obturação de raiz de guta-percha
significativamente mais densa do que a compactação
CL. Observou-se que a densidade da guta-percha aumentou
em direção ao aspecto coronal quando as duas técnicas
anteriores foram utilizadas.
Alcalde et al. (2017), em um estudo in vitro, avaliaram a
ação antimicrobiana intratubular e qualidade da obturação
promovida pela agitação ultrassônica de um cimento obturador
a base de resina epóxica. Para avaliar a qualidade da
obturação, foram utilizados 30 canais mesiais de molares
inferiores com as mesmas características anatômicas, que
foram divididos em dois grupos. No grupo 1, realizaram ativação
ultrassônica do cimento obturador, já no grupo 2 não houve
agitação ultrassônica após a inserção do cimento obturador.
Após sete dias, as amostras foram cortadas a 2, 4 e 6 mm do
ápice e avaliadas por um estereomicroscópio e por um
microscópio eletrônico confocal a laser. Os autores concluíram
que a ativação ultrassônica do cimento obturador melhorou a
qualidade da obturação, tanto do canal, quanto das áreas de
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

istmos, a adaptação do cimento/dentina e penetração


intratubular do cimento.
Em estudo in vitro, Kim et al. (2018) investigaram a
qualidade da obturação de um cimento endodôntico à base de
silicato de cálcio (Endoseal MTA) ativado por ultrassom com
uma técnica de obturação de cone único, comparado com um
cimento resinoso. Também foi avaliado o efeito da ativação
ultrassônica do cimento Endoseal MTA. Trinta pré-molares
monorradiculares com canal achatado foram divididos em três
grupos de acordo com a técnica de obturação e o cimento
utilizado: G1 - técnica de obturação de cone único com o
Endoseal MTA, G2 - técnica de obturação de cone único com o
Endoseal MTA e ativação ultrassônica por 3 segundos e G3 -
técnica de compactação vertical aquecida de um cimento
resinoso. As análises foram feitas por meio de microtomografias
computadorizas e esteromicroscópio. Não houve diferença
entre os grupos na análise microtomográfica. Já as análises
microscópicas demonstraram menor quantidade de falhas na
massa obturadora no grupo que utilizou a técnica de obturação
de cone único com o Endoseal MTA e ativação ultrassônica.
Assim, os autores concluíram que o Endoseal MTA teve uma
performance melhor com a ativação ultrassônica.
Retratamento
Em casos de retratamento endodôntico, a tecnologia
ultrassônica auxilia na desobturação do canal radicular
removendo material obturador já com os insertos ultrassônicos
desenvolvidos especialmente para esta finalidade. Além disso,
visto a capacidade da PUI na remoção de resíduos, lama
dentinária e medicações intracanais, alguns estudos buscam
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

avaliar se essa técnica auxilia também a remoção do material


obturador em casos de retratamento (CASTRO et al., 2018).
Em um estudo in vitro, Castro et al. (2018) observaram
a eficiência da remoção de material obturador após diferentes
técnicas de retratamento. Foram utilizadas 40 raízes mesiais de
molares inferiores, visto que pretendiam avaliar as áreas de
istmos e como a curvatura afetaria o resultado do retratamento.
Todas as amostras foram obturadas com a técnica de cone
único e cimento AH Plus®. Após isso, foram divididas em quatro
grupos: PTR (instrumentos ProTaper Universal Retreatment
somente com NaOCl), PTR + OO (instrumentos ProTaper
Universal Retreatment com uma gota de solvente de óleo de
laranja a cada troca de instrumento), PTR + PUI (instrumentos
ProTaper Universal Retreatment com PUI + hipoclorito de sódio
por 20 segundos a cada troca de instrumento) e o grupo
controle que não foi retratado. As amostras foram cortadas
horizontalmente a 2, 4 e 6 mm do ápice e analisadas
microscopicamente. Em relação à área do canal, o grupo PTR
+ PUI apresentou menor quantidade de material obturador
remanescente e após a nova obturação maior quantidade de
cimento endodôntico no canal radicular, em comparação com
os demais grupos. Os autores concluíram que nenhum dos
protocolos foi capaz de remover completamente o material
obturador e, que uso de solvente não melhora a limpeza do
canal radicular, porém, a PUI reduz os restos de material
obturador na área do canal.
Um estudo in vitro investigou o uso de insertos
ultrassônicos como um método auxiliar para desobturação de
dentes com canais ovalados. Utilizaram 45 incisivos inferiores
divididos em três grupos: PFCP – ProDesign Logic 25/.05 +
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

Flatsonic + Clearsonic + Prodesign Logic 40/.01; FCP –


Flatsonic + Clearsonic + ProDesign Logic 40/.01; e PP –
Prodesign Logic 25/.05 + Prodesign Logic 40/.05. A análise foi
realizada através de micro-CT. Observaram que os grupos em
que se utilizou os insertos ultrassônicos, além da
instrumentação rotatória, tiveram um maior volume do canal
radicular e menor área sem instrumentação. Dessa forma,
concluíram que o uso de insertos ultrassônicos influencia o
repreparo de canais ovalados (RIVERA-PENÃ et al., 2019).
Cirurgia Paraendodôntica
A cirurgia parendodôntica é uma opção de tratamento
para aqueles dentes com periodontite apical, cujo retratamento
não cirúrgico não foi eficaz. O método cirúrgico envolve a
confecção de uma cavidade na região apical com posterior
selamento com material obturador retrógrado. Para uma terapia
cirúrgica bem-sucedida, uma boa adaptação deste material
obturador retrógrado às paredes dentinárias é extremamente
importante, a fim de evitar a infiltração de fluidos no espaço do
canal (ALCALDE et al., 2018).
Com relação ao preparo radicular, pontas ultrassônicas
foram utilizadas por Kadić et al. (2017) com o objetivo de avaliar
a resistência de união de três materiais obturadores de raízes à
base de silicato de cálcio. Canais radiculares de 30 dentes
unirradiculares foram tratados endodonticamente e
posteriormente suas extremidades radiculares foram
ressecadas, e as cavidades radiculares preparadas usando
retrotip ultrassônico R1D acoplado a um dispositivo de
ultrassom, indicando a aplicabilidade do ultrassom para este
fim.
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

No que diz respeito a inserção do material obturador na


cavidade radicular, Alcalde et al. (2018) avaliaram o efeito da
agitação ultrassônica de MTA, cimento à base de silicato de
cálcio (CSC) e Sealer 26 (S26) na adaptação na interface
cimento / dentina e na resistência de união por push-out.
Sessenta caninos superiores foram divididos em seis grupos (n
= 10): MTA, S26 e CSC, com ou sem ativação ultrassônica
(US). Após a obturação, as porções apicais dos dentes foram
seccionadas e as cavidades retrógradas, preparadas e
preenchidas com cimento por condensação manual. Nos
grupos US, o cimento foi ativado por 60 segundos: 30 segundos
na direção mésio-distal e 30 segundos na direção
vestibulolingual, por meio de um mini insert Irrisonic acoplado
ao transdutor de ultrassom. Após a pega dos materiais, cortes
de 1,5 mm de espessura foram obtidos dos ápices. A presença
de lacunas e a união entre o cimento e a dentina foram
analisadas por meio de microscopia eletrônica de varredura de
baixo vácuo. A resistência de união por push-out foi medida
usando uma máquina de teste universal. Em seus resultados os
autores observaram que a agitação ultrassônica aumentou a
adaptação interfacial dos cimentos. Além disso, o ultrassom
melhorou a resistência de união push-out para todos os
cimentos (p<0,05), o que levou a conclusão de que o uso do
ultrassom em associação com os cimentos de obturação
retrógrada melhorou a adesão à parede dentinária dos
materiais de obturação testados.

CONCLUSÕES
De acordo com a literatura revisada, pôde-se concluir
que o ultrassom oferece várias vantagens e aplicações na área
O USO DO ULTRASSOM NA OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO
ENDODÔNTICO

da endodontia, devendo portanto, ser um componente do


aparato instrumental presente no consultório odontológico para
uso do endodontista. O uso do ultrassom combinado à técnicas
convencionais torna o tratamento endodôntico mais seguro e
previsível, tornando-se uma conveniente e útil ferramenta com
eficácia comprovada.

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.
DENTÍSTICA
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

CAPÍTULO 19

AVALIAÇÃO IN VITRO DA
MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS
Beatriz Diniz DUARTE 1
Bianca Maria Vieira dos Santos SILVA 1
Bárbara Candeia RESENDE 2
Darlene Cristina Ramos Eloy DANTAS 3
Waldênia Pereira FREIRE 4
1 Graduandas do curso de Odontologia, UEPB – Campus I; 2 Cirurgiã-
dentista;
3 Professora do Departamento de Odontologia, UEPB – Campus I; 4

Orientadora/Professora do Departamento de Odontologia, UEPB – Campus


I.
beatrizdinizduarte7@gmail.com

RESUMO: Em procedimentos adesivos, quando a tensão de


contração dos compósitos for maior que a força de união entre
a resina composta e o sistema adesivo, a interface adesiva
pode romper originando uma fenda que predispõe à infiltração,
sensibilidade pós-operatória e cáries secundárias, diminuindo a
longevidade da restauração. Esta pesquisa teve como objetivo
avaliar o grau de microinfiltração marginal em restaurações de
resina composta. A amostra foi composta por 30 molares
humanos hígidos extraídos, dos quais 2 foram utilizados para
calibração dos pesquisadores. Os dentes foram preparados
com dimensões padronizadas de cavidades classe II e divididos
em quatro grupos restaurados com resinas: Bulk Fill (3M
ESPE), Filtek Z350 XT (3M ESPE), TPH (Dentsply) e Llis
(FGM). Os condutos foram vedados com cola epóxi e todas as
superfícies impermeabilizadas com esmalte cosmético. As
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

amostras ficaram imersas na solução de azul de metileno a 2%


por 24 horas e foram seccionadas no sentido mésio-distal.
Através da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e da
Microscopia Óptica (MO) analisou-se o grau de microinfiltração
marginal. Os resultados evidenciaram a formação de fenda de
aproximadamente 20µm na interface adesiva das restaurações
Bulk Fill. Todos os grupos apresentaram microinfiltração
marginal, sendo o menor índice na resina TPH e o maior na Bulk
Fill. Nenhuma resina foi capaz de impedir a penetração do
corante na interface dente/restauração
Palavras-chave: Infiltração Dentária. Resinas Compostas.
Microscopia.

INTRODUÇÃO

Em uma sociedade altamente competitiva socialmente,


os padrões de beleza tornam-se ainda mais complexos. Sendo
assim, os conceitos e as aspirações por um sorriso perfeito
aumentam significativamente a procura por tratamentos
dentários, bem como, o desenvolvimento de materiais que
proporcionam esses resultados (GADONSKI et al., 2018).
O aperfeiçoamento da composição das resinas
compostas tem sido importante desde a introdução desses
materiais na Odontologia. Em virtude das propriedades
estéticas e funcionais, biocompatibilidade e uso amplo, os
materiais restauradores de compósitos resinosos despertaram
grande interesse entre os pesquisadores de biomateriais
modernos (FERNANDES et al., 2014). No entanto, um dos
maiores problemas é manter o selamento marginal entre a
resina e o dente (LINS et al., 2016).
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Basicamente, a resina é formada por uma matriz


resinosa orgânica (constituída prioritariamente por Bis-GMA -
bisphenol A-glycidyl methacrylate - e monômeros diluentes),
carga inorgânica e um agente de união. Como a matriz orgânica
e as partículas inorgânicas não possuem afinidade química
entre si, é necessário utilizar um agente de união, que pode ser
um silano (SCHNEIDER et al., 2010).
As resinas compostas, muitas vezes, são fraturadas
após poucos anos de uso devido à força de mastigação
aplicada pelo paciente ao final do ciclo mastigatório. Durante o
processo de fadiga periódica, minúsculos defeitos em
propagação lenta são transformados em pequenas rachaduras.
Portanto, adicionar cargas à matriz orgânica auxilia no aumento
da rigidez, da resistência mecânica e da resistência ao
desgaste. Além disso, também reduz a expansão térmica,
sorção de água e tensão de contração (ANUSAVICE; SHEN;
RAWLS, 2013).
A alta tensão de contração pode provocar o surgimento
de falhas na interface entre a resina composta e o dente,
desencadeando uma penetração marginal. Esta condição pode
aumentar a probabilidade de cáries secundárias, degradação
marginal, sensibilidade pós-cirúrgica e, em casos graves, pode
causar fratura coesiva da estrutura dentária (QVIST et al.,
1990). Atenuar esses problemas é importante para saúde bucal,
visto que pode trazer benefícios significativos no tratamento
clínico, aumentar a eficácia e a longevidade das restaurações,
além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes (VICENTE;
BALZER, 2018).
Enquanto resinas convencionais têm alta contração
volumétrica produzindo, consequentemente, altas tensões de
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

polimerização devido à grande quantidade de monômeros de


baixa viscosidade (TEGDMA - Triethylene glycol
dimethacrylate), um novo monômero com porção elástica foi
desenvolvido e comercializado (Surefil, SDR, Dentsply) para
reduzir essas desvantagens (BARATIERI et al., 2015).
A inserção de incrementos de 2mm seguidos de
fotoativação permite a polimerização efetiva de todo o
compósito. Dessa forma, a tensão de cada camada inserida é
reduzida e as propriedades físicas e mecânicas são melhoradas
(SOYGUN et al., 2015). Por mais eficaz que seja, essa técnica
incremental não apenas permite que bolhas de ar e
contaminação sejam incorporadas entre as camadas, como
também exige do cirurgião dentista mais tempo clínico para a
execução (PAR et al., 2015).
Contudo, diante do desenvolvimento da nanotecnologia
e das grandes evoluções ocorridas na Odontologia,
principalmente na Dentística Estética, surgiram as resinas
compostas "Bulk Fill" com o objetivo de combinar os benefícios
de materiais restauradores híbridos e microhíbridos. Essa
resina apresenta tecnologia semelhante às nanopartículas da
Filtek Z350 com monômeros de metacrilato que reduzem o
estresse de contração da polimerização sem comprometer o
desgaste (AFM e AUDMA) (KHURSHID et al., 2015). Nesse
contexto, ao permitir utilizar incrementos em maiores
quantidades, o profissional pode usufruir de maior praticidade e
menor tempo de trabalho (FERREIRA et al., 2018).
O sucesso clínico da restauração inclui sua longevidade
em termos de funcionalidade, ausência de infiltrações e função
estética (GADONSKI et al., 2018). No entanto, a microinfiltração
em restaurações de resina composta comumente é citada como
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

a principal razão para o insucesso do procedimento restaurador


(LINS et al., 2016).
Nakabayashi e Pashley (2000) definem que a
microinfiltração marginal é a penetração de uma substância
para dentro de uma fenda ou um defeito entre o dente e a
restauração. A maioria dos sistemas adesivos apresenta uma
efetiva adesão na interface dente/restauração (AL- SALEH et
al., 2010). Entretanto, nesses materiais, a contração de
polimerização, o estresse mastigatório e o coeficiente de
expansão térmica linear podem provocar o rompimento do
selamento marginal, a falha na interface dente/restauração e
até a formação de fendas.
De acordo com Veras et al. (2015), o insucesso da
utilização de resinas compostas é atribuído às propriedades do
material restaurador e a sensibilidade da técnica restauradora.
Segundo o autor, as falhas são mais comuns em restaurações
de cavidades de Classe II. Nesse contexto, agravos podem
surgir como: manchamento das margens das restaurações,
cárie secundárias e progressão de patologias pulpares (LINS et
al., 2016).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho foi avaliar
comparativamente in vitro, o grau de microinfiltração marginal
formado após o processo de polimerização de resinas
compostas Bulk Fill (3M ESPE), Filtek Z350 XT (3M ESPE),
TPH (Dentsply) e Llis (FGM), em preparos cavitários Classe II
realizados em dentes humanos hígidos.

MATERIAIS E MÉTODO
O presente projeto de pesquisa foi devidamente
registrado na Plataforma Brasil e aprovado pelo Comitê de Ética
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CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

do Centro Universitário de Patos – UNIFIP. As análises da


interface dente/material restaurador e do grau de
microinfiltração foram realizadas no Laboratório de Avaliação e
Desenvolvimento de Biomateriais do Nordeste (CERTBIO), no
Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal de
Campina Grande (CCT/UFCG). Sendo assim, foi realizado um
estudo experimental laboratorial, in vitro, com abordagem
qualitativa dos dados. A amostra desta pesquisa, definida por
conveniência, foi composta de 30 molares permanentes hígidos
doados pelo Banco de Dentes Humanos (BDH) da UNIFIP. Os
critérios de inclusão foram: molares humanos permanentes
hígidos, e de exclusão: molares decíduos, molares
permanentes extraídos apresentando fraturas, cáries,
restaurações ou fendas na superfície.
Os dentes foram submetidos à limpeza prévia para
remoção dos tecidos periodontais aderidos e autoclavados em
seguida. Com o intuito de evitar a desidratação dentinária, as
amostras foram devidamente armazenadas em recipientes com
soro fisiológico estéril e conservadas na geladeira.
Os preparos cavitários realizados foram padronizados
na classificação artificial de Black (Classe II) utilizando pontas
diamantadas cilíndricas de número 1090 (Microdont) acopladas
em canetas de alta rotação (Dabi Atlante), sob refrigeração
hidráulica. As cavidades proximais possuíam dimensões
vestíbulo-lingual de 5mm, ocluso-gengival de 4mm e
profundidade de 3mm em direção à polpa.
Para verificar o padrão de dimensões desejadas das
cavidades, utilizou-se uma régua milimetrada e um compasso
de ponta seca. Entre cada passo dos procedimentos, os dentes
foram mantidos imersos em recipientes com soro fisiológico em
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

temperatura ambiente. Vale ressaltar que 2 dentes foram


utilizados para a calibração dos pesquisadores. Desse modo,
após a confecção dos preparos, 28 dentes foram divididos
aleatoriamente em 4 grupos (n=7) formados de acordo com o
sistema restaurador: G1 = Resina Filtek™ Bulk Fill (3M ESPE);
G2 = Resina Filtek™ Z350 XT (3M ESPE); G3 = Resina TPH
Spectrum (Dentsply); G4= Resina Llis (FGM).
As cavidades seguiram o protocolo de condicionamento
total com ácido fosfórico gel a 37% (DFL), aplicando o
condicionante por 30 segundos em esmalte e 15 em dentina.
Em seguida, as cavidades foram lavadas por 30 segundos para
remoção do ácido e o excesso de umidade foi removido com
papel absorvente.
O adesivo Single Bond Universal (3M ESPE) foi
aplicado em duas camadas, intercaladas com aplicação de
leves jatos de ar por 5 segundos e fotoativação por 10
segundos. Todos os materiais foram empregados conforme as
recomendações do fabricante. Para todos os grupos, utilizou-se
o aparelho fotoativador Optilight Max (Gnatus Equipamentos
Médico-Odontológicos), LED de alta potência ≥ 1200 mW/cm².
As restaurações foram confeccionadas com diferentes tipos de
resinas compostas (Quadro 1).
As resinas foram inseridas nas cavidades através da
técnica de inserção incremental, e polimerizada de acordo com
o tempo determinado por cada fabricante. Após a
polimerização, foi realizado o acabamento das restaurações
com o kit de borrachas abrasivas para resina e discos abrasivos
flexíveis Sof-Lex (3M ESPE), em ordem decrescente de
abrasividade. Após os procedimentos restauradores, todos os
dentes tiveram seus ápices vedados com o auxílio de uma cola
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

epóxi (Araldite Cola Epóxi – BRASCOLA), aguardando 8 horas


para a secagem da cola. Posteriormente, foram aplicadas duas
camadas de esmalte de unhas (Risqué - Niasi) na superfície do
dente, respeitando a distância limite de 1 mm da margem da
restauração. Depois disso, os dentes foram imersos em solução
aquosa de azul de Metileno a 2% por 24 horas, e após este
período, foram lavados em água corrente e secos com papel
absorvente. Cada dente foi seccionado verticalmente,
passando pelo centro das restaurações, utilizando os discos
diamantados dupla-face (KG Sorensen). Esse processo gerou
para cada espécime duas subamostras para avaliação da
microinfiltração na interface adesiva.

Quadro 1. Nomes comerciais (fabricantes) e cores,


classificação, composição, lotes de fabricação e tempo de
fotoativação das resinas compostas utilizadas na pesquisa.

Fonte: Catálogo 3M Oral Care, Dentsply, FGM


AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Através da Microscopia Óptica (MO) observou-se o


grau de penetração do corante na interface adesiva,
classificada por escores de 0 a 4 (Tabela 1).

Tabela 1: Critérios utilizados para avaliação do grau de


microinfiltração presente nos corpos de prova analisados.

Fonte: (AMARAL et al., 2002)


Por meio da caracterização por Microscopia Eletrônica
de Varredura (MEV) analisou-se a interface adesiva
dente/material restaurador de quatro subamostras de cada
grupo, escolhidas de forma aleatória, para verificar se ocorreu
a formação de fendas nessa região. Após a coleta de dados, os
resultados foram tabulados no Excel, possibilitando a criação
de gráficos e tabelas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos, através da Microscopia Óptica


(MO) das restaurações analisadas (Figura 1), evidenciaram
que nenhuma das resinas estudadas foi capaz de impedir a
penetração do corante na interface dente/restauração.
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Portanto, em todos os grupos observou-se microinfiltração


marginal nas restaurações adesivas diretas com resinas
compostas.

Figura 1. Micrografias por MO das restaurações Classe II –


Mesial e Distal.

Fonte: Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de


Biomateriais do Nordeste (CERTBIO), UFCG.

O gráfico (Figura 2) expõe que o sistema restaurador


referente ao G3 (TPH Spectrum – resina microhíbrida)
apresentou percentuais de microinfiltração menores em relação
aos demais grupos. Além disso, o G1 (Filtek Bulk Fill) exibiu os
maiores índices de microinfiltração. Em conformidade com os
resultados encontrados, estudos revelam que resinas como
Filtek Bulk Fill (FB, 3M ESPE), apesar das boas propriedades
mecânicas, são menos satisfatórias quando comparadas as
resinas nanohíbridas e microhíbridas (ABOUELLEIL et al.,
2015).
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Figura 2. Gráfico com valores médios obtidos na análise da


microinfiltração marginal dos grupos analisados.

Fonte: Pesquisa Própria

Por apresentar resistência de união à dentina maior do


que as resinas convencionais, provavelmente pela menor
contração de polimerização, as resinas Bulk Fill são indicadas
para uso em restaurações classe I e classe II (dentes
posteriores) como base ou forramento (KUMAGAI et al., 2015).
De acordo com os fabricantes, a resina Bulk Fill não exige uma
camada adicional superficial de resina composta e pode ser
usada como material de preenchimento em uma única etapa
(VICENZI; BENETTI, 2018). No entanto, o presente estudo
evidenciou que o G1, composto pela resina nanoparticulada
Bulk Fill (3M ESPE), inseridas através da técnica de incremento
único, apresentou os maiores índices de microinfiltração
quando comparada com os demais grupos inseridos pela
técnica incremental.
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Em consonância com os resultados da pesquisa,


Santos (2015) observou que a resina Bulk Fill (Surefil/SDR) de
incremento único apresentava adaptação marginal inferior
quando comparada com uma resina convencional microhíbrida
(TPH/Dentsply) inserida na técnica incremental. Através da
análise qualitativa por MEV, pode-se observar que no G1
(Figura 3) houve a formação de uma fenda na interface
dente/material restaurador, com uma espessura de
aproximadamente 20 μm.

Figura 3. Micrografias por MEV da amostra do Grupo 1 na


interface adesiva dente/material restaurador; a) superfície
mesial, aumento 500X; b) superfície mesial, aumento 1000X.

Fonte: Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de


Biomateriais do Nordeste (CERTBIO), UFCG.
Neste estudo, compararam-se quatro resinas
compostas, todas as resinas são condensáveis, porém, com
diferentes composições de partículas de cargas inorgânicas. As
resinas Bulk Fill e Z350 XT (3M ESPE) possuem o mesmo tipo
de partículas (zircônio/sílica), com tamanho médio igual a 0,6
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

micrômetros. Já as resinas TPH (Dentsply) e Llis (FGM)


apresentam como partículas de carga a sílica coloidal com
tamanho médio de partículas 0,8 micrômetros.
Segundo, Correia et al. (2017), o conteúdo inorgânico e
as diferentes associações na matriz orgânica interferem
expressivamente na polimerização das resinas e na formação
de gaps. Desse modo, a distribuição em tamanho das partículas
de carga resulta em uma maior quantidade de carga em um
determinado espaço, diminuindo o escoamento da resina,
justificando assim, o aparecimento de uma fenda na interface
dente/material restaurador no G1. Todavia, observou-se nas
demais amostras do G2, G3 e G4 uma adesão mais efetiva
entre o material restaurador e a superfície dentária, não
ocorrendo a formação de fendas.
As resinas Bulk Fill utilizadas no estudo de Tsujimoto et
al. (2017) continham um modulador de polimerização de alto
peso molecular que retardava o ponto gel, indicando um
aumento da viscosidade devido à formação de cadeia. Isso
pode permitir mais tempo para compensar o encolhimento e,
em seguida, diminuir a contração volumétrica. Por esse motivo,
Vicenzi e Benetti (2018) defendem que o tipo de monômero da
matriz orgânica da resina pode ser um fator mais importante na
redução da tensão de contração do que o conteúdo de carga.
De acordo com Correia et al. (2017), é possível que o
gap de contração esteja relacionado com a presença do
monômero TEGDMA em algumas formulações, bem como sua
interação com outros monômeros diluentes. Em vista disso,
justifica-se as microinfiltrações encontradas no G2 (Figura 4) e
G4 (Figura 5).
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Figura 4. Micrografias por MEV das amostras do Grupo 2 na


interface adesiva dente/material restaurador; a) superfície
distal, aumento 500X; b) superfície distal, aumento 1000X.

Fonte: Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de


Biomateriais do Nordeste (CERTBIO), UFCG.
Figura 5. Micrografias por MEV das amostras do Grupo 4 na
interface adesiva dente/material restaurador; a) superfície
mesial, aumento 500X; b) superfície mesial, aumento 1000X.

Fonte: Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de


Biomateriais do Nordeste (CERTBIO), UFCG.
Vale ressaltar que a ausência de monômeros de baixo
peso molecular como o UDMA e TEGMA sugere aumento na
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

concentração de Bis-GMA nas formulações do material


restaurador. Desse modo, as altas concentrações de Bis-GMA
diminuem a conversão e contração de polimerização. Isso
ocorre porque a alta viscosidade, observada pelos grupos
hidroxila, e a rigidez fornecida pelos anéis aromáticos (alto peso
molecular) permitem um menor acúmulo de grupos reativos.
Esses fatores diminuem a mobilidade necessária para a
disseminação da cadeia polimérica, reduzindo assim, a
conversão final (AL SUNBUL; SILIKAS; WATTS, 2016). Este
fato pode não ter ocorrido no G1, visto que a composição da
resina não apresenta Bis-GMA.
Entretanto, como a resina TPH Spectrum apresenta
Bis-GMA e uretano modificador na matriz orgânica, observou-
se menor microinfiltração marginal no G3 (Figura 6).

Figura 6. Micrografias por MEV das amostras do Grupo 4 na


interface adesiva dente/material restaurador; a) superfície
distal, aumento 500X; b) superfície distal, aumento 1000X.

Fonte: Laboratório de Avaliação e Desenvolvimento de


Biomateriais do Nordeste (CERTBIO), UFCG.
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Com a evolução das resinas compostas, mais


pesquisas sobre a análise do grau de microinfiltração devem ser
desenvolvidas com o propósito de obter maior esclarecimento
sobre o comportamento desses materiais. À vista disso, faz-se
necessário enfatizar que o desempenho e a longevidade clínica
das restaurações com resinas compostas estão intimamente
atrelados a integridade marginal.

CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos no presente estudo,


pode-se concluir que:
• Todos os grupos avaliados de resinas compostas
apresentaram algum grau de microinfiltração marginal.
• A microinfiltração marginal pode estar relacionada
a formação de uma fenda na interface dente/material
restaurador; no entanto, não observou-se a fenda em todas
amostras.
• Através da análise por MEV, observou-se uma
fenda na interface dente/material restaurador apenas nas
restaurações do Grupo 1 (Bulk Fill).
• As restaurações do Grupo 3 (TPH) obtiveram os
melhores resultados de selamento e adaptação marginal
quando comparadas às restaurações dos demais grupos.
• São necessários mais estudos com resultados
clínicos para avaliar a ocorrência de infiltração marginal em
restaurações com resinas compostas, em especial a Bulk Fill.
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

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AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

CAPÍTULO 20

A HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA NO
PANORAMA ATUAL: REVISÃO DE
LITERATURA
Stefanny Danielle da Silva COSTA 1
Igor Péres Cruz de LIMA 1
Maria Cristina dos Santos MEDEIROS 2
Isana Álvares FERREIRA 3
1 Graduandos do curso de Odontologia, UFRN; 2 Professora do
DOD/UFRN; 3 Orientadora/Professora do DOD/UFRN.
isanaalvares@hotmail.com

RESUMO: A Hipersensibilidade dentinária (HD) é uma


patologia muito frequente nos dias de hoje, que influencia
negativamente na qualidade de vida do paciente. Ela ocorre em
consequência da exposição tanto da dentina, quanto do
esmalte vulnerável do paciente dos grupos de risco, aos
estímulos. Dessa forma, é necessário conhecer os fatores
etiológicos da HD, bem como as possibilidades de tratamento
para reduzir os danos ao paciente e a estrutura dentária. Assim,
o objetivo do presente trabalho foi revisar a literatura científica
sobre o contexto atual da HD, através de uma busca nas bases
de dados PubMed e LILACS. Os trabalhos apontam que a HD
tem uma alta prevalência na população mundial, ocorrendo com
mais frequência nos pré-molares de adultos jovens. Apresenta
etiologia multifatorial, decorrente da associação de fatores
como acúmulo de tensão, biocorrosão e fricção, e tem como um
dos fatores predisponentes as lesões cervicais não cariosas. O
tratamento da hipersensibilidade dentinária inclui tanto
abordagens não invasivas quanto abordagens invasivas,
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

variando conforme cada caso, com resultados positivos tanto


na eliminação e/ou redução da HD, quanto na qualidade de vida
do paciente. Portanto, é fundamental que o profissional
conheça e detecte a HD, de forma precoce, para estabelecer
um tratamento eficaz, não apenas erradicando a dor, mas
atuando diretamente nos fatores causais, e obtendo, com isso,
sucesso do tratamento executado.
Palavras-chave: Hipersensibilidade da dentina. Etiologia.
Tratamento. Qualidade de vida.

INTRODUÇÃO

A hipersensibilidade dentinária (HD) pode ser definida


como sendo uma dor não espontânea, localizada, aguda e de
curta duração, apresentada nos elementos dentários em virtude
de um estímulo específico, que pode ser térmico, químico,
evaporativo, tátil ou osmótico, a qual cessa quando o estímulo
em questão deixa de existir. A HD não está associada a doença
cárie, pulpite ou sensibilidade pós-operatória, tampouco a
defeitos ou patologias dentárias (LIU et al., 2020).
Diversas teorias tentam explicar a ocorrência da
hipersensibilidade dentinária, sendo, atualmente, a Teoria
hidrodinâmica a mais aceita (MARTO, C. M. et al., 2019),
segundo a qual a dor ocorreria em virtude de movimentos dos
fluidos que preenchem os túbulos dentinários dos elementos
dentários. Essa sintomatologia dolorosa acontece,
frequentemente, em virtude da exposição de dentina ao meio
bucal, causada por fatores dos mais diversos, porém também
pode ocorrer mesmo sem a exposição de dentina no elemento
dentário, devido a vulnerabilidade do esmalte na região cervical
em pacientes dos grupos de risco à HD. Tal vulnerabilidade
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

seria justificada por características micromorfológicas


encontradas na região cervical do dente desses pacientes, as
quais fazem com que o comportamento biomecânico e a
resistência dos tecidos dessa região se apresentem de forma
peculiar quando comparado com as outras regiões do elemento
dentário (SOARES; MACHADO, 2019).
Com relação à prevalência, a HD atinge um número
bastante elevado de pessoas em todo o mundo, chegando a
cerca de 11,5% da população mundial, sendo mais comum em
pacientes adultos jovens (média: 43,9%) (ZEOLA; SOARES;
CUNHA-CRUZ, 2019) e é mais frequentemente observada nos
dentes pré-molares (45%) e molares (20%) (ALCÂNTARA et al,
2018).
A hipersensibilidade dentinária apresenta etiologia
multifatorial decorrente da associação de fatores como acúmulo
de tensão, biocorrosão e fricção, ocorrendo de forma isolada ou
combinada (SOARES; GRIPPO, 2017; LIU, et al., 2020). A
identificação desses fatores etiológicos é de suma importância
para o manejo do quadro de HD.
Para o tratamento da hipersensibilidade dentinária
diversas opções são sugeridas na literatura, as quais podem
abranger abordagens invasivas e abordagens não invasivas. As
abordagens não invasivas englobam a remoção dos fatores
etiológicos, assim como o uso de pastas de dente com
dessensibilizantes, agentes dessensibilizantes e de lasers (de
alta e baixa potências); os três últimos utilizam mecanismos de
ação que envolvem o bloqueio do sinal nervoso e/ou a oclusão
de túbulos dentinários. As abordagens invasivas, por sua vez,
são os procedimentos restauradores envolvendo o uso de
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

resina composta e o recobrimento radicular, quando houver a


presença de recessões gengivais. (LIU et al., 2020)
Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo,
proporcionar uma atualização acerca da hipersensibilidade
dentinária, através de uma revisão da literatura, especialmente
com relação à sua definição atual, etiologia, prevalência e
possibilidades de tratamento.

MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo consistiu em uma revisão da literatura com


caráter descritivo. As buscas bibliográficas foram realizadas na
base de dados PubMed e LILACS, utilizando os seguintes
descritores: Hipersensibilidade dentinária (Dentin
Hypersensitivity), Fatores de risco (Risk Factors), Prevalência
(Prevalence), Tratamentos da hipersensibilidade dentinária
(dentin hypersensitivity treatments), Agente dessensibilizante
dentinário (Dentin desensitising agente). Nesta revisão foram
incluídos artigos científicos que apresentavam a
hipersensibilidade dentinária como assunto principal, nos
idiomas português e inglês, publicados entre os anos de 2016
a 2020, e que tivessem acesso livre. Foram excluídos trabalhos
de conferência e resumos. Os artigos que cumpriram com o
critério de elegibilidade foram selecionados para leitura.
Primeiramente, a seleção dos artigos foi realizada por meio do
título e leituras exploratórias dos respectivos resumos. Em
seguida, foi realizada a extração dos dados e avaliação da
qualidade dos estudos, de forma independente e em duplicata,
por dois membros da equipe de revisão. Em casos de
desentendimentos, esses foram resolvidos através de
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

discussão e consenso. Também foram incluídos dois livros de


relevância sobre o tema.
Para organizar as ideias centrais da presente revisão,
foram determinadas as seguintes seções: Definição,
prevalência e etiologia da hipersensibilidade dentinária; Grupos
de risco à Hipersensibilidade Dentinária; Vulnerabilidade do
esmalte cervical e sua relação com os grupos de risco à
hipersensibilidade dentinária; Avaliação e diagnóstico de HD;
Tratamento da Hipersensibilidade Dentinária; Influência na
qualidade de vida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Definição, prevalência e etiologia da hipersensibilidade


dentinária
A hipersensibilidade dentinária (HD) é uma das
condições mais complexas da odontologia, referente tanto a
parte de diagnóstico, como também ao seu manejo.
Tradicionalmente é definida na literatura como uma dor aguda,
de curta duração, decorrente de exposição dentinária em
resposta a estímulos térmicos, químicos, evaporativos, táteis ou
osmóticos, que não pode ser atribuída a outra forma de defeito
ou patologia dentária (LIU et al., 2020).
Segundo Soares e Machado (2018), a HD pode ser
considerada “um processo patológico de etiologia multifatorial
(tensão, fricção e biocorrosão), que depende de estímulos (de
pressão, de temperatura, físico, químico e osmótico) em túbulos
dentinários expostos supragengivais, subgengivais (região de
sulco gengival) e abaixo de defeitos estruturais e trincas de
esmalte, para desencadear uma sintomatologia aguda e de
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

curta duração”. Ou seja, de acordo com esses autores, a


ocorrência de HD não é dependente de exposição de dentina,
podendo ocorrer mesmo em situações clínicas em que há
esmalte recobrindo a dentina na região cervical. Isso pode ser
explicado pelo fato do esmalte cervical, em pacientes
considerados dos grupos de risco a HD, ser mais vulnerável, o
que possibilita o surgimento dessa patologia (MACHADO,
2018).
De acordo com Gillam (2017), a definição da HD é
extremamente importante, pois seu diagnóstico é baseado
essencialmente na exclusão de outras alterações, e, portanto,
irá encorajar o profissional cirurgião-dentista a fazer um exame
clínico minucioso e completo, para o diagnóstico correto.
Atualmente, há uma variedade de estudos que
abordam a prevalência da hipersensibilidade dentinária. Em
uma revisão sistemática com metanálise, obteve-se a
prevalência de 11,5% de pessoas com hipersensibilidade
dentinária no mundo, com uma média de prevalência entre os
estudos de 33,5%. Pode-se observar ainda uma alta
heterogeneidade dos estudos incluídos nessa revisão quanto a
prevalência de HD, derivados da diferença de idade, sexo,
estratégias de recrutamento e número de sítios locais
estudados na população analisada (ZEOLA; SOARES;
CUNHA-CRUZ, 2019).
Os dentes mais afetados por hipersensibilidade
dentinária são, respectivamente, os pré-molares (45%) e
molares (20%) (ALCÂNTARA et al, 2018). Na literatura, estudos
sugerem que esses dentes são os mais acometidos por HD,
devido sua localização na arcada dentária favorecer à recessão
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

gengival, e consequentemente, a perda da estrutura dentária na


região cervical (HANEET; VANDANA, 2016).
Ainda sobre a prevalência, a HD ocorre com mais
frequência em pacientes adultos jovens (média: 43,9%),
provavelmente, devido aos hábitos e estilo de vida, com maior
consumo de uma dieta rica em ácidos e episódios de hábitos
parafuncionais. Já nos pacientes idosos, observa-se uma
redução da prevalência de HD (média de 32,1%),
possivelmente, explicada pela deposição de dentina secundária
e terciária ao longo da vida, favorecendo uma camada protetora
de dentina entre a polpa e o meio ambiente bucal (ZEOLA;
SOARES; CUNHA-CRUZ, 2019), além da atrofia do tecido
pulpar.
A hipersensibilidade dentinária é caracterizada por ter
etiologia multifatorial, que acarreta na exposição de dentina, e,
consequentemente, dos túbulos dentinários, resultando na dor
característica, quando esse tecido é exposto aos estímulos
mencionados acima (LIU, et al., 2020).
Uns dos principais fatores envolvidos na exposição de
dentina, acima da margem gengival, e também considerado um
dos fatores predisponentes para hipersensibilidade dentinária,
são as lesões cervicais não cariosas (LCNC’s) (WEST;
SEONG; DAVIES, 2014). Em estudo transversal feito na
Universidade de São Paulo observou-se que, de um total de
2.902 dentes avaliados, 5,82% destes apresentavam HD, do
qual 50% dos dentes hipersensíveis tinham LCNC, mostrando
a associação entre essas duas alterações (YOSHIZAKI et al.,
2016).
As LCNC’s são patologias resultantes de perda de
tecido dental na junção cemento-esmalte, em processos que
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

não envolvem a ação bacteriana. Apresentam etiologia


multifatorial semelhante à da HD, e ambas são decorrentes da
associação de fatores como acúmulo de tensão, biocorrosão e
fricção, ocorrendo de forma isolada ou combinada (SOARES;
GRIPPO, 2017; LIU, et al., 2020).
A tensão (abfração) é caracterizada pela flexão da
estrutura dental, causada por cargas oclusais não axiais
(YOSHIZAKI et al., 2016), que pode levar a formação de trincas
e microfraturas na região cervical do elemento dentário,
favorecendo a quebra de cristais de hidroxiapatita com
exposição dos túbulos dentinários, e, consequentemente,
resultando na HD (ALCÂNTARA et al., 2018). A abfração é
associada, principalmente, com pacientes que têm hábitos
parafuncionais e/ou bruxismo (PEUMANS; POLITANO; VAN
MEERBEEK, 2020).
A biocorrosão refere-se à degradação química,
eletroquímica e bioquímica da estrutura dental, decorrente de
efeitos proteolíticos, piezoelétricos da dentina e,
principalmente, da ação de ácidos (SOARES; GRIPPO, 2017).
A ação frequente e prolongada dos ácidos sobre a superfície
dental, sejam eles de origem intrínseca (originados de
problemas gastroesofágicos, bulimia e anorexia nervosa,
diminuição do fluxo e acidez salivar) (PICOS; BADEA;
DUMITRASCU, 2018), extrínseca (decorrente de dieta e
medicamentos ácidos e bebidas carbonatadas, drogas ilícitas,
além de fatores ocupacionais (RAO; THOMAS; KUMAR, 2019)
ou pela combinação de ambos (PICOS; BADEA;
DUMITRASCU, 2018), acarreta em perda de tecido dental,
camada a camada, que pode levar a HD (WEST; JOINER,
2014).
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

Com relação a fricção (abrasão), ela resulta do


desgaste mecânico da estrutura dental decorrente de uma
escovação inadequada, seja pela aplicação de força excessiva
durante a escovação, principalmente forças horizontais, pelo
uso de escovas com cerdas duras (rígidas) e/ou emprego de
cremes dentais abrasivos (PEUMANS, et al., 2020). Uma
observação importante é que, embora a HD seja causada por
fatores não bacterianos, um estudo transversal mostrou que os
pacientes que não tinham uma boa higiene oral e apresentavam
placa visível tinham mais chance de ter HD (TEIXEIRA, 2017),
possivelmente devido ao ácido da placa ao fator ácido atuar
como um estímulo para a movimentação do fluido no interior
dos túbulos dentinários (GRIPPO; SIMRING; COLEMAN,
2012).
Dentre esses fatores etiológicos da tríade, a
biocorrosão tem sido considerada o principal fator causal da
HD. Já a abrasão atuaria como um coadjuvante, principalmente
por exacerbar a perda de tecido dental, após a ação do ácido,
dependendo do grau de abrasividade do creme dental (WEST;
SEONG; DAVIES, 2014). Em um ensaio clínico, foi possível
observar que 45,3% dos participantes apresentavam
hipersensibilidade dentinária, dos quais em sua maioria eram
mulheres, adultos jovens e com desgaste biocorrosivo severo.
Quanto a ingestão de ácidos, houve uma tendência positiva
com relação a ingestão de bebidas ácidas durante as refeições
e ocorrência de hipersensibilidade dentinária (O’TOOLE;
BARTLETT, 2017).
A recessão gengival é um importante fator etiológico
associado a hipersensibilidade dentinária. Pacientes que
apresentam esse tipo de condição tem maior queixa de HD
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
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(56,8%). Essa recessão pode ser provocada pelo hábito de


escovar fortemente os dentes, como também pela gengivite
(acúmulo de biofilme na região cervical e interdentária), e
envelhecimento do paciente, levando a migração do periodonto
de proteção apicalmente (HANEET; VANDANA, 2016).
O mal posicionamento dentário (9%) é outro fator
etiológico relacionado à HD, tanto pelo fato de que o
apinhamento dentário dificulta a higienização dental, levando à
doença periodontal e migração do periodonto no sentido apical,
o que expõe o cemento radicular, e pela ação da escovação
pode resultar na exposição de dentina ao meio ambiente bucal;
como também a correção desse mal posicionamento, através
do tratamento ortodôntico, pode ocasionar a recessão gengival,
e consequentemente levar à HD (ALCÂNTARA et al., 2018).
Esses fatores estão diretamente associados a grupos
de risco específicos, os quais podem estar mais ou menos
expostos a situações que podem levar à HD.

Grupos de risco à Hipersensibilidade Dentinária


Dentre os grupos de risco, destacam-se os pacientes
pós-ortodônticos, com hábitos parafuncionais, atletas,
pacientes com doenças gástricas ou distúrbios alimentares e
usuários crônicos de medicamentos e substancias ilícitas
(SOARES; MACHADO, 2019).
Li et al. (2017) realizaram um estudo evidenciando que
pacientes com doença do refluxo gastroesofágico
apresentaram maior prevalência de biocorrosão dentária do que
aqueles que não eram diagnosticados com a doença, sendo
essa proporção de 60,8% e 28%, respectivamente. No que diz
respeito aos hábitos de dieta, o estudo em questão encontrou
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
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correlação dessa patologia com o consumo de bebidas


gaseificadas, como refrigerantes e energéticos.
Em outro estudo, conduzido por Rao et al. (2019),
utilizando um grupo de 56 nadadores profissionais expostos de
forma constante a água de piscinas, demonstrou que 69,6%
apresentaram hipersensibilidade dentinária, e 48,2%
apresentaram LCNC, o que demonstra a relação entre a
exposição dos atletas à água clorada em piscinas, a
hipersensibilidade dentinária e às lesões não cariosas,
formando uma espécie de tríade entre esses fatores.

Vulnerabilidade do esmalte cervical e sua relação


com os grupos de risco à hipersensibilidade dentinária
O esmalte dentário, recobre toda a porção coronal do
dente, porém esse recobrimento não ocorre de forma regular,
apresentando espessuras e características diferentes para
cada região do elemento dentário, o que influencia diretamente
no comportamento biomecânico, na resistência e, por
consequência, no surgimento de lesões não cariosas (HARIRI
et al., 2012) e HD na região cervical.
A espessura do esmalte diminui gradativamente da
superfície oclusal para região cervical do dente, culminando em
forma de bisel nessa região (SPALDING, 2000). Com relação
as suas características micromorfológicas na região cervical,
observa-se que o esmalte apresenta uma orientação
perpendicular e as bandas de Hunter-Schreger (BHS)
encontram-se em menor densidade e dimensão. As BHS são
um fenômeno óptico observado na superfície do esmalte
cortado ou fraturado, e diz respeito a orientação dos prismas de
esmalte em toda a coroa do dente. Esses prismas encontram-
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

se dispostos em um trajeto tortuoso, com curvaturas, da junção


amelodentinária até a superfície do dente, as quais influenciam
positivamente na adesão do esmalte, melhorando sua
resistência. Como as BHS são mais comuns na face oclusal e
em menor prevalência na região cervical, essa característica,
associada ao esmalte mais fino, resulta em uma menor
resistência desse tecido, favorecendo a concentração de
tensão ao nível da junção amelo-cementária e ao surgimento e
propagação de trincas de forma passiva no terço cervical
(SOARES et al, 2015).
Além disso, esse esmalte cervical, mais fino e menos
resistente, é mais suscetível ao desgaste pela ação química dos
ácidos e ação mecânica da escovação. O desgaste dentário
começa quando a superfície do esmalte é parcialmente exposta
a um ácido, levando a uma desmineralização inicial, com
consequente diminuição da sua dureza (amolecimento da
superfície). Este esmalte "mais macio" é mais sujeito a impactos
mecânicos, que removem parcialmente essa camada de
esmalte amolecida e expõem as camadas mais profundas de
esmalte, as quais têm diferentes propriedades físicas e
químicas em relação ao esmalte mais superficial (CARVALHO;
LUSSI, 2017): dureza decrescente da superfície do esmalte em
direção à junção amelodentinária (CARVALHO; LUSSI, 2015);
alto modulo de elasticidade, provavelmente associado a uma
redução na matriz orgânica interprismática, o que, por sua vez,
também aumenta a fragilidade do esmalte, podendo levar a
maior propensão à fratura (PARK et al., 2008); e um maior risco
a desmineralização com notório aumento de porosidades nas
lesões de cárie (KIDD et al., 1984). Isso leva-se a supor que a
superfície do esmalte cervical desgastada, fina e exposta aos
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

ácidos, em pacientes de grupos de risco, apresentam-se mais


porosas e, portanto, mais permeável, possibilitando que o
estímulo desencadeante da HD, atinja os túbulos dentinários da
camada de dentina subjacente e resulte na dor, mesmo sem
exposição de dentina.

Avaliação e diagnóstico de HD
Para um diagnóstico específico da HD, têm-se a
necessidade de detectar quais os dentes que apresentam a
sintomatologia dolorosa, como também quantificar a dor
descrita pelo paciente, mediante o uso de estímulos mecânicos
(atrito da sonda exploradora) e térmicos/osmóticos (jatos de ar
da seringa tríplice) (SOARES; GRIPPO, 2017). De acordo com
Gillam (2017), o diagnóstico de pacientes com
hipersensibilidade dentinária pode ser uma tarefa problemática
por uma série de razões. Em primeiro lugar, é vista a dificuldade
de localizar a área na boca do paciente que está causando o
problema; e em segundo lugar, é vista como um impasse a
natureza subjetiva da dor e sua variabilidade nos relatos entre
os indivíduos.
Portanto, para um diagnóstico eficaz da HD, é essencial
que os profissionais obtenham a história médica e odontológica
pregressa do indivíduo, como também possam considerar a
exclusão de outros fatores que causam a sintomatologia de dor
no paciente, para que o cirurgião-dentista, em posse dessas
informações, estabeleça um plano de tratamento apropriado
(GILLAM, 2017).
Com relação às abordagens utilizadas pelos
profissionais como métodos de diagnóstico, além do relato do
paciente extraído durante a anamnese, é citado a utilização do
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
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jato de ar e o uso da sonda exploradora como os gatilhos mais


frequentemente associados com a HD na prática clínica
(91,79%). O método de avaliação menos comum foi a
percussão horizontal e vertical (0,85%) (ZEOLA et al., 2019).
Para a realização desses métodos, é válido ressaltar que os
testes devem ser realizados, inicialmente, em dentes sem
sintomatologia dolorosa de HD, para fim de comparação. O uso
da sonda exploradora é feito friccionando a ponta ativa da
sonda na região cervical do elemento dentário de interesse; já
o uso da seringa tríplice na região cervical é realizado com o
isolamento de algodão nos dentes próximos ao dente de
interesse, com jateamento de ar por 2 segundos, 1 cm de
distância da região cervical (SOARES; GRIPPO, 2017).

Tratamento da Hipersensibilidade Dentinária


Quando falamos da hipersensibilidade dentinária, é
imprescindível discutir acerca do seu tratamento. Um ponto
fundamental para o sucesso da intervenção diz respeito à
adesão do paciente ao protocolo escolhido. Um bom
planejamento por parte dos profissionais envolvidos não surtirá
resultado, caso o paciente não esteja comprometido e
estimulado. Portanto, um paciente colaborativo aumenta de
forma considerável as chances de sucesso, seja qual for a
abordagem terapêutica utilizada.
O tratamento da hipersensibilidade dentinária inclui
tanto abordagens não invasivas quanto abordagens invasivas,
variando conforme cada caso. Deve-se optar, inicialmente, pela
abordagem menos invasiva como forma de tratamento, e
eventualmente, em casos mais avançados e com maior
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
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comprometimento da estrutura dentária, opta-se pela


abordagem invasiva (CLARK; LEVIN, 2016).
Com relação à abordagem não invasiva, a primeira
linha de tratamento que devemos considerar – e a mais
importante delas – se trata da remoção dos fatores etiológicos.
Assim, é necessário identificara etiologia e considerar seus
fatores de risco (CLARK; LEVIN, 2016). Assim, fatores como a
doença do refluxo gastresofágico, uso de dietas ácidas,
escovação dentária exagerada e/ou com uso de pastas
abrasivas, problemas oclusais e hábitos parafuncionais,
exposição contínua a substancias ácidas, como sommelier e
nadadores profissionais, dentre outros, como mencionados no
tópico relacionado a etiologia da HD, devem ser analisados com
cautela pelo profissional, em conjunto com o paciente, para que
se estabeleça a melhor possibilidade de tratamento diante da
causa apresentada, eliminando-a ou reduzindo-a. É importante
que o profissional e o paciente tenham consciência de que a
falha na identificação e remoção dos fatores causadores, pode
culminar na falha da abordagem adotada e na reincidência dos
quadros de dor.
Entretanto, mesmo diante da importância do
conhecimento e resolução dos fatores etiológicos, um estudo
recente acerca da percepção dos dentistas brasileiros sobre o
manejo da hipersensibilidade dentinária, demonstrou que,
esses profissionais, geralmente, costumam recomendar um
tratamento para o problema em questão, sem realizar a
eliminação ou modificação dos fatores etiológicos que o
predispõem (ZEOLA et al., 2019).
Outras formas de abordagens não invasivas são a
utilização de agentes dessensibilizantes, cremes dentais com
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
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dessensibilizantes e uso de lasers, os quais podem ser


utilizados de forma isolada e/ou combinados entre si, porém
sempre associados a remoção dos fatores etiológicos.
Os cremes dentais indicados para o tratamento da HD
possuem, em sua composição, substâncias ativas que podem
atuar de duas formas distintas: eliminar a condução do estímulo
nervoso, pela ação de agentes despolarizantes, ou através do
bloqueio físico dos túbulos dentinários, através da oclusão dos
mesmos. Dentre esses agentes ativos pode-se citar o nitrato de
potássio, acetato de estrôncio, arginina e carbonato de cálcio e
fosfosilicato de cálcio e sódio (CLARK; LEVIN, 2016). A eficácia
dos cremes dentais no tratamento da HD foi avaliada em uma
revisão sistemática, envolvendo 53 ensaios clínicos controlados
randomizados. Os autores concluíram que pastas de dentes
contendo potássio, fluoreto estanhoso, potássio e estrôncio,
potássio e fluoreto estanhoso, fosfosilicato de sódio e cálcio,
arginina e nano-hidroxiapatita são eficazes no alívio de HD (HU
et al., 2018).
Segundo o estudo de Zeola et al. (2019), as pastas de
dentes com dessensibilizantes são a terceira opção de escolha
dos dentistas brasileiros para o tratamento da
hipersensibilidade, correspondendo a 14,73% das abordagens.
Com relação aos agentes dessensibilizantes, esses são
aplicados pelo profissional no consultório, e possuem
substancias ativas com mecanismos de ação semelhantes aos
das pastas dentais: de forma química, através do bloqueio da
condução do estímulo nervoso e/ou de forma física, pela
obliteração dos túbulos dentinários (CLARK; LEVIN, 2016).
São diversos os tipos de agentes dessensibilizantes,
tais como o fluoreto, o hidroxietil metacrilato (HEMA), o
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
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glutaraldeído, o oxalato e o nitrato de potássio, os quais podem


ser utilizados isoladamente, ou de forma combinada (CLARK;
LEVIN, 2016). O tratamento com agentes dessensibilizantes foi
a primeira escolha de 48,16% dos profissionais de odontologia
do Brasil, seguido de 26,63%, que afirmaram priorizar o uso
desses agentes combinados com a laserterapia (ZEOLA et al.,
2019).
Os lasers atuam por diferentes mecanismos de acordo
com a sua intensidade. Lasers de alta potência agem por
intermédio da oclusão tubular (obliteração), como forma de
tratamento da HD. São exemplos, os lasers de Nd:YAG,
Er:YAG, Er,Cr:YSGG e CO2. Em contrapartida, os lasers de
baixa potência têm ação analgésica, anti-inflamatória e
reparadora; agem através da estimulação das células nervosas,
como também induzindo a produção de dentina terciária e
efeitos fotobiomoduladores na polpa, reduzindo dor e
inflamação (MACHADO et al, 2018).
Em uma revisão sistemática, foi visto que na
maioria dos estudos incluídos, observou-se bons resultados no
uso da laserterapia, isolada ou como complemento de outros
tratamentos, quando comparada com o grupo placebo
(REZAZADEH, DEHGHANIAN e JAFARPOUR, 2019). A
utilização do laser de baixa potência, após uma única sessão,
reduziu em 62% a HD, apresentando ótimos resultados. Na
avaliação à longo prazo (3-6 meses, ou mais de 6 meses), o
laser continuou apresentando bons resultados, com redução de
80% da HD (MARTO, et al. 2019).
Há também a possibilidade de abordagens
invasivas para o manejo da hipersensibilidade dentinária.
Nessa linha de tratamento, uma das opções a ser utilizada é o
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procedimento restaurador, indicado para os casos de HD com


perda considerável de estrutura dental, resultando em
cavidades com profundidade igual ou superior a 2mm
(SOARES; GRIPPO, 2017; SOARES; MACHADO, 2019). Com
relação as possibilidades de material restaurador, foi
observado, através de uma revisão sistemática, que a resina
apresentou bom desempenho na redução da HD entre 15 e 30
dias, como também no período de 1-3 meses, com redução em
80% da hipersensibilidade dentinária (REZAZADEH,
DEHGHANIAN & JAFARPOUR, 2019).
Outra opção de abordagem invasiva é o recobrimento
radicular, indicado para os casos de dentes com HD e recessão
gengival, independentemente da presença ou não de cavidade
(SOARES; GRIPPO, 2017). Peumans et al. (2020) relataram a
combinação perio-restaurativa, para que as lesões fossem
restauradas estética e funcionalmente, na tentativa de
recuperar os tecidos duros e moles originais. Em um relato de
caso, foi feito o diagnóstico de recessão gengival associado a
HD, com tratamento realizado mediante retalho de envelope e
enxerto autógeno de tecido conjuntivo retirado do palato. Após
o acompanhamento de 9 meses, foi possível observar a
ausência de hipersensibilidade dentinária e recobrimento da
recessão, com o aumento da faixa de tecido ceratinizado
(MARTINS, et al., 2020).

Influência na qualidade de vida


A qualidade de vida dos indivíduos diagnosticados com
hipersensibilidade dentinária é outro fator de relevância
significativa quando se trata desse assunto. A dor decorrente
da HD impacta diretamente nas atividades diárias desse
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CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

paciente, que passa a sofrer com o simples ato de comer


determinados alimentos, ao consumir bebidas em temperaturas
elevadas ou mais baixas, ou mesmo com a escovação dentária,
gerando transtornos significativos na sua qualidade de vida
(IDON; SOTUNDE; OGUNDARE, 2020, GOH; CORBET;
LEUNG, 2016).
Diversos estudos evidenciam a conexão entre a queda
na qualidade de vida relacionada à saúde oral das pessoas e a
HD. Goh et al. (2016), através de um estudo realizado com 102
pacientes em tratamento periodontal, evidenciaram que 61
deles referiram sofrer de hipersensibilidade dentinária. Desses,
82% (50 pacientes) reportaram sofrer impactos nas suas
atividades diárias e na qualidade de vida.
Assim, o tratamento da HD é fundamental, pois além de
restabelecer a saúde oral, através da remoção dos fatores
etiológicos desencadeantes dessa patologia, também resulta
em uma melhoria significativa da qualidade de vida dos
pacientes (ORTIZ et al., 2019).

CONCLUSÕES

Pode-se concluir, portanto, que a hipersensibilidade


dentinária é uma alteração com prevalência considerável na
população de todo o mundo. Tem etiologia multifatorial,
destacando-se o acúmulo de tensão, a biocorrosão e fricção, e
está associada a LCNC, recessão gengival e ao apinhamento
dentário. A sintomatologia de dor é decorrente da exposição
tanto da dentina, quanto do esmalte vulnerável do paciente dos
grupos de risco, aos estímulos térmicos, osmóticos, químicos,
evaporativos ou táteis.
AVALIAÇÃO IN VITRO DA MICROINFILTRAÇÃO EM RESTAURAÇÕES
CLASSE II COM RESINAS COMPOSTAS

O diagnóstico da HD é extremamente importante para


o estabelecimento de abordagens terapêuticas adequadas, as
quais podem ser classificadas em abordagens não invasivas e
invasivas, aplicadas de forma isolada e/ou associada,
dependendo da intensidade da dor, da quantidade de tecido
comprometido e da recessão gengival.
A hipersensibilidade dentinária impacta diretamente na
qualidade de vida do indivíduo, evidenciando a importância do
cirurgião-dentista conhecer e detectar essa alteração, de forma
precoce, para estabelecer um tratamento adequado e eficaz,
não apenas erradicando a dor, mas atuando diretamente nos
fatores causais, e obtendo, com isso, sucesso a longo prazo do
tratamento executado.

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O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 21

O CLAREAMENTO DE DENTES
DESVITALIZADOS NO CONTEXTO ATUAL:
UMA REVISÃO DE LITERATURA

Caroline de Souza CAVALCANTE 1


César Luis Porpino Santos da SILVA JÚNIOR2
Isana Álvares FERREIRA3
1 Graduanda do curso de Odontologia - UFRN; 2 Cirurgião-Dentista - UFRN,
Residente Multiprofissional em Atenção Básica - EMCM/UFRN; 3
Orientadora/Professora do DOD/UFRN.
isanaalvares@hotmail.com

RESUMO: Dentes não-vitais escurecidos afetam a estética do


sorriso e de toda a face, comprometendo a autoestima e a
qualidade de vida dos pacientes. Nesse sentido, o clareamento
interno apresenta-se como uma alternativa conservadora e
amplamente adotada nos consultórios odontológicos. No
entanto, seu uso pode acarretar em danos à estrutura dentária,
alterar a resistência adesiva, aumentar o risco de fratura e, em
alguns casos, levar à reabsorção cervical externa. Dessa forma,
é necessário conhecer os protocolos, validados na literatura,
para realizar o procedimento clareador de maneira segura e
eficaz, tanto para a estrutura dentária quanto para o paciente
como um todo. Objetiva-se com o presente trabalho revisar a
literatura científica sobre as técnicas de clareamento interno e
suas repercussões na estrutura do elemento dentário. Para tal
fim, foi realizada uma busca de artigos nas bases de dados
PubMED/Medline, Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e
Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS). Como produto dessas buscas, os trabalhos relatam
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

que o clareamento dentário interno é considerado uma técnica


segura e eficaz para dentes desvitalizados escurecidos, com
efeitos colaterais reversíveis e transitórios. Para o sucesso do
tratamento, deve-se fazer um correto diagnóstico da causa do
escurecimento dental, bem como empregar materiais
adequados para a confecção do tampão cervical e utilizar
agentes clareadores de baixa poder oxidativo.
Palavras-chave: Dente não vital. Clareamento dental. Peróxido
de Hidrogênio. Reabsorção de Dente.

INTRODUÇÃO

Com o apelo à estética cada vez mais acentuado


na sociedade contemporânea, o culto à imagem tida como
perfeita é almejada e propagada cotidianamente pelas redes
sociais. Em meio a isso, um dos parâmetros mais buscados é a
estética do suposto sorriso perfeito: branco e simétrico. Desse
modo, apresentar alguma alteração de cor dentária pode ser
motivo para prejuízos à autoestima e, consequentemente, à
sociabilidade com os demais indivíduos (CORREIA et al.,
2020).
Acredita-se que a alteração de cor, nos dentes
desvitalizados e tratados endodonticamente, seja devido a
traumatismo dentário, hemorragia intrapulpar e procedimentos
endodônticos realizados de forma inadequada. Dentre as
possibilidades terapêuticas para o escurecimento dental, o
clareamento é o tratamento mais indicado e empregado como
primeira opção, por se tratar de um procedimento conservador,
no qual não há desgaste da estrutura dentária, e, em geral, por
ser uma intervenção acessível. (MACHADO et al., 2020;
KALAY, 2019).
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

O princípio básico do clareamento baseia-se no uso de


substâncias, que por meio de uma reação de oxi-redução, vão
liberar radicais livres e espécies reativas de oxigênio. Essas
substâncias têm como alvo macromoléculas estáveis que estão
incorporadas à estrutura dentária e causam a descoloração. Ao
atingi-las, ocorrerá uma fragmentação e migração dessas
partículas para o meio externo, alcançando-se o efeito desejado
(SANTOS et al., 2020).
No caso de dentes desvitalizados, diversas técnicas de
clareamento podem ser utilizadas, como a walking-bleach, a
inside-outside, power bleaching e a associação entre elas
(QUAGLIATTO et al., 2020). Cada uma apresenta suas
particularidades, e todas proporcionam excelentes resultados.
Entretanto, o sucesso do tratamento depende de um
diagnóstico e um plano de tratamento corretos, da qualidade do
tratamento endodôntico, clareador e restaurador a posteriori
realizados, da higiene bucal do paciente e do acompanhamento
profissional que deverá ser feito periodicamente (COELHO et
al., 2020; ATREYA; PATEL, 2016).
Apesar dos bons resultados relatados na literatura, o
clareamento de dentes desvitalizados influencia na morfologia
do elemento dentário, causando alterações em sua estrutura,
podendo afetar a resistência adesiva e aumentar o risco de
fratura (CASTRO et al., 2019; KAZEMIPOOR; AZAD;
FARAHAT, 2017). Para reverter essa situação indesejável,
alguns autores sugerem o uso de ascorbato de sódio 10%,
lasers infravermelho e agentes bioativos, que diminuem esse
efeito negativo na superfície dentária (ANTONY et al., 2019;
KILINÇ et al., 2016).
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

O clareamento interno já foi bastante relacionado à


reabsorção cervical externa (RCE), entretanto, essa alta
incidência estava associada ao uso da técnica termocatalítica,
que nos dias atuais não é mais indicada. Além disso, a adoção
de tampões cervicais e utilização de agentes clareados com
baixas concentrações, garantem que a ocorrência de RCE seja
reduzida significativamente (CONSOLARO, 2016).
Atualmente, o clareamento dentário interno pode ser
considerado uma técnica minimamente invasiva, com efeitos
colaterais reversíveis e transitórios, que ao final do tratamento
garantem uma melhor qualidade de vida e satisfação ao
paciente, devido os resultados estéticos que o clareamento
proporciona (BERSEZIO et al., 2018; DOUMANI et al., 2019;
PERDIGÃO, 2016). Nesse sentido, ressalta-se a importância do
presente estudo, o qual tem como objetivo atualizar os
cirurgiões-dentistas, através de uma revisão de literatura,
acerca dos consensos e entendimentos mais atuais sobre o
clareamento interno e suas consequências na estrutura dental.

MATERIAIS E MÉTODO

Este trabalho se apresenta como uma revisão de


literatura, de caráter descritivo convencional, baseada na coleta
e análise de informações relativas ao tema proposto, obtidas
em 1 livro e periódicos. O levantamento bibliográfico se deu
através do acesso às bases de dados eletrônicos
PubMED/Medline, Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e
Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), utilizando os seguintes descritores: dente
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

desvitalizado (tooth nonvital), Clareamento dental (tooth


bleaching), clareamento intracoronário (intracoronal bleaching),
clareamento interno (internal bleaching), walking bleach
technique, perborato de sódio (sodium perborate).
Fizeram parte do estudo 2 livros e os artigos publicados
entre os anos de 2016 e 2020, com acesso livre, nos idiomas
português e inglês e que abordaram a temática do estudo.
Inicialmente, os estudos foram escolhidos apenas pelo título e
resumo. Em seguida, foi avaliada a qualidade desses estudos,
fazendo-se a seleção dos mais relevantes em termos de
delineamento das informações desejadas. Essas etapas foram
realizadas de forma independente e em duplicata, por dois
membros da equipe.
Para organizar as ideias centrais da presente
revisão, foram determinadas as seguintes seções: (1) alteração
de cor dentária; (2) clareamento dentário; (3) técnicas de
clareamento para dentes desvitalizados; (4) alterações
estruturais no elemento dental; (5) influencia na resistência
adesiva; (6) influencia na resistência à fratura; (7) reabsorção
cervical externa; (8) regressão da cor e (9) influencia na
qualidade de vida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Alteração de cor dentária


O mecanismo de alteração da cor dos dentes
desvitalizados e tratados endodonticamente ainda não foi
totalmente esclarecido (WEI; WANG; LI, 2016). Acredita-se que
a alteração de cor pode ser consequência da incorporação à
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

estrutura dentária de produtos oriundos de hemorragias, em


função de traumatismos, da incompleta remoção de
remanescentes pulpares, da presença de fármacos e também
de materiais obturadores endodônticos deixados na câmara
pulpar, de procedimentos endodônticos regenerativos em
dentes permanentes necrosados e imaturos (SANTOS et al.,
2020) e devido às alterações minerais que ocorrem na dentina
em função da utilização de soluções irrigadoras (WEI; WANG;
LI, 2016).

Clareamento dentário
Dentre as possibilidades de tratamento para as
alterações de cor dentária, o clareamento mostra-se como uma
das alternativas mais recorrentes, por se tratar de uma técnica
conservadora e econômica, que não altera a forma, nem a
posição dos dentes. Para o clareamento interno, faz-se uso de
um agente clareador, o qual é colocado na superfície externa
e/ou no interior da câmara pulpar do dente. As substâncias mais
utilizadas para o clareamento interno são o peróxido de
carbamida, peróxido de hidrogênio e o perborato de sódio
(KALAY, 2019).
O efeito clareador dessas substâncias é resultado de
uma reação de oxi-redução. Nesse processo químico, os
radicais livres e as espécies reativas de oxigênio, presentes no
peróxido de hidrogênio, penetram nos túbulos dentinários e
reagem com os cromóforos (pigmentos), que são moléculas
orgânicas complexas, oxidando-as e as quebrando em
moléculas mais simples e menores, as quais absorvem menos
luz, resultando em dentes mais claros. Por serem moléculas
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

mais simples e de baixo peso molecular são eliminadas


facilmente por difusão, ao entrarem em contato com a água
(SANTOS et al., 2020).

Técnicas de clareamento para dentes


desvitalizados
Previamente à realização do clareamento de um dente
desvitalizado, deve-se fazer um bom exame clínico, associado
a exames complementares, tanto para a obtenção de um
correto diagnóstico da causa do escurecimento dentário, quanto
para a avaliação do tratamento endodôntico executado,
conferindo se ele está uniforme e compatível com os
parâmetros preconizados.
As técnicas clareadoras para dentes não-vitais podem
ser classificadas em externa, interna ou combinadas. Os
protocolos mais empregados são: clareamento interno pela
técnica do walking bleach; clareamento interno e externo
caseiro (técnica inside/outside); clareamento interno e externo
em consultório (técnica do power bleaching); clareamento
externo apenas com moldeiras e gel de uso caseiro; e,
associação de técnicas (QUAGLIATTO et al., 2020).
Nas técnicas Walking bleach, Inside-outide e Power
Bleaching, um aspecto importante para o sucesso do
tratamento clareador é com relação ao adequado preparo da
cavidade de acesso à câmara pulpar, principalmente na área do
corno pulpar, visando remover os restos pulpares necróticos
(MARCHESAN et al., 2018) e restos de materiais utilizados no
tratamento endodôntico. Uma atenção também deve ser dada
com relação a remoção total de materiais restauradores de
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

dentro da coroa do dente, com o objetivo de permitir espaço


suficiente para o agente clareador, e possibilitar que esse
produto entre em íntimo contato com a estrutura dental
escurecida. Além disso, o clinico deve remover de 2 a 3mm de
guta-percha da porção mais coronal da raiz, a partir da
embocadura do conduto radicular, com intuito de criar espaço
para colocação de um material selador cervical (tampão
cervical).
O uso de tampões cervicais durante o procedimento de
clareamento interno é indispensável, visto o efeito deletério dos
agentes clareadores sobre a superfície externa do elemento
dentário e os tecidos adjacentes. Como ao final do tratamento
clareador deseja-se que resultados satisfatórios sejam obtidos
com os menores danos possíveis, é necessário, portanto,
equilibrar a quantidade de peróxido de hidrogênio que se
difunde através dos túbulos dentinários até o periodonto (LOU
et al., 2016). Assim, a confecção do tampão cervical objetiva
prevenir o extravasamento do agente clareador para os tecidos
periodontais, o que poderia acarretar na reabsorção dentária
cervical externa. E para prevenir essa possível reabsorção,
também tem sido sugerido na literatura, que durante a etapa de
confecção da barreira cervical, o clínico deve diferenciar a altura
do material da barreira cervical nas áreas interproximais, em
comparação com a área vestibular, levando em consideração a
direção apical coronal específica dos túbulos dentinários
(TRAVIGLIA et al., 2019).
O parâmetro para a etapa de remoção da guta-percha
e criação do espaço para o tampão cervical é baseado no
comprimento da coroa clínica vestibular, o qual é medido até o
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

sulco gengival com uma sonda periodontal ou um condensador


endodôntico. Essa medida é então transportada para dentro da
câmara pulpar, à qual serão adicionados mais 2 mm,
correspondente ao espaço necessário para posicionar a
barreira ou tampão cervical (TRAVIGLIA et al., 2019).
A escolha de um material ideal para barreira
cervical deve levar em consideração suas propriedades físico-
químicas e a capacidade de vedação (ORDOÑÉZ-AGUILERA
et al., 2017). Muitos estudos têm verificado a eficácia de
diferentes materiais para esse uso, considerando o vazamento
de peróxido de hidrogênio até a superfície externa do dente.
Ordoñéz-Aguilera et al. (2017) ao comparar
diferentes materiais de proteção, concluiu que o cimento de
fosfato de zinco e resina composta não são adequados para
esse uso. Acredita-se que o fato da resina composta se contrair
durante a fotopolimerização, criando espaço entre o dente e o
material, causa a maior infiltração do agente clareador. Já o
cimento de fosfato de zinco mostrou dissolução durante o
clareamento interno, que afetou sua capacidade de vedação.
No entanto, outros materiais apresentaram excelente
selamento, com menores valores de infiltração, sendo eles o
Clip F, Coltosol, Vitrebond, Vitremer e Vidrion R.
Por outro lado, Barekatain, Jahromi e Habibagahi
(2016) observaram que não houve diferenças significativas
entre a resina composta e o cimento de ionômero de vidro
modificado por resina, e ambos materiais apresentaram bons
resultados ao barrar a difusão dos agentes clareados.
O agregado de trióxido mineral (MTA) é sugerido
fortemente para ser utilizado nessas situações. Suas
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

propriedades garantem eficácia na resistência ao vazamento e


eficiente adaptação marginal, como também possui alta
alcalinidade, devido ao hidróxido de cálcio em sua composição,
que ajuda a prevenir a reabsorção cervical externa (KALAY,
2019). Bolbolian et al. (2020) obtiveram resultados semelhantes
com o MTA, que apresentou menos vazamento do que o
cimento de ionômero de vidro modificado por resina, no entanto
os dois materiais podem ser utilizados com a finalidade de
barreira cervical durante o clareamento interno.
Além de escolher um material com propriedades
ideais para servir como barreira cervical, é necessário optar por
agentes clareadores que causem menores danos à superfície
do tampão, para em conjunto conseguir reduzir a quantidade de
peróxido de hidrogênio que chega até a superfície radicular, e
que possa desencadear um processo inflamatório que levará à
reabsorção cervical externa. Kalay (2019) demonstrou em sua
pesquisa que a exposição da barreira ao agente clareador
causou danos às características da superfície do MTA. O
peróxido de hidrogênio a 35% reduziu significativamente a
microdureza e aumentou a rugosidade do tampão cervical
comparado com a mistura de perborato de sódio e água.
Após a confecção da barreira cervical, o agente
clareador é aplicado na câmara pulpar. Dentre as opções de
agentes clareadores utilizados na técnica walking bleach, tem-
se o peróxido de carbamida 37% (DURAN; MARTINEZ;
FABIAN, 2017), o perborato de sódio misturado ao peróxido de
hidrogênio 20% (MACHADO et al., 2020; LISE et al., 2018), o
perborato de sódio com peróxido de hidrogênio 10% (SANTOS
et al., 2018) e o perborato de sódio associado a água destilada.
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Embora diferentes materiais estejam disponíveis para o


clareamento através da técnica walking bleach, a combinação
de perborato de sódio com água destilada é a mais
recomendada, pois pode minimizar os riscos de efeitos
colaterais (PERDIGÃO, 2016), devido a uma menor difusão e
geração de radicais de hidroxila (LOU et al., 2016).
Quando o agente clareador é utilizado no clareamento
intracoronário, ele é deixado dentro da cavidade durante um
certo tempo, até ser substituído por uma nova mistura. No
entanto, esse intervalo de tempo ainda não está bem
estabelecido na literatura, ficando mais a cargo de experiências
clínicas do cirurgião-dentista. No estudo de Tran et al. (2016),
os resultados obtidos sugeriram que esse agente clareador
possuía maior eficácia nas primeiras 27 horas dentro da
cavidade intracoronária. Após esse período, havia um pequeno
declínio que atingia um platô e continuava constante por 72h (3
dias). Essa pesquisa demonstra que apesar do pico de
liberação do peróxido de hidrogênio ser em 27h, essa liberação
é contínua por até 3 dias, não sendo necessária a substituição
diária do gel clareador.
Acredita-se que ao combinar o perborato de sódio com
água destilada ocorre uma mudança de pH que resulta na
liberação de peróxido de hidrogênio, metaborato de sódio e
oxigênio residual. O peróxido de hidrogênio se decompõe em
radicais livres, que são capazes de quebrar as moléculas de
pigmento e dessa forma clarear o elemento dentário (TRAN et
al, 2016).
Segundo Nathan et al. (2019), o peróxido de carbamida
em menores concentrações (10 e 15%) produz menor difusão
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

de peróxido de hidrogênio. Esse agente mostra-se eficaz e


seguro, sendo recomendado para pacientes com histórico de
trauma dentário e defeitos cervicais, que podem aumentar o
risco de RCE.
O selamento restaurador provisório da cavidade é outra
etapa do protocolo clareador da técnica Walking Bleach que
deve ser cuidadosamente realizada. Esse fechamento deve ser
hermético, pois evita a propagação dos radicais livres para o
ambiente externo, o que acarretaria em uma queda drástica no
rendimento da reação clareadora. Além disso, o consequente
aumento da pressão, pela liberação de espécies reativas de
oxigênio, dentro da cavidade adequadamente selada,
potencializa a penetração desses radicais nas paredes
dentinárias, e, portanto, aumenta a eficácia do clareamento
(TRAVIGLIA et al., 2019). Diversos materiais podem ser
empregados para essa finalidade, desde compósitos, CIV, CIV
modificado por resina, coltosol, dentre outros.
Ao se alcançar a cor desejada ou limite de clareamento
possível, é preciso realizar a neutralização do meio ácido, que
foi provocada pela ação do agente clareador no dente. Essa
medida também é considerada preventiva contra a reabsorção
cervical externa. Assim, é feita a aplicação de uma pasta de
hidróxido de cálcio, na câmara pulpar, de modo que seus íons
penetrem nos túbulos dentinários e neutralizem o pH do meio,
permitindo a total liberação de espécies reativas de oxigênio,
que estejam presentes na estrutura dentária. Após 7 a 14 dias,
pode-se prosseguir ao tratamento restaurador definitivo
(DURAN; MARTINEZ; FABIAN, 2017).
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Na técnica inside-outside, as etapas iniciais são


semelhantes à walking-bleach, no entanto adiciona-se a etapa
de moldagem para confecção de moldeiras de silicone. Nessa
técnica, a cavidade de acesso intracoronário vai permanecer
aberta durante todo o tratamento. O paciente deve aplicar o gel
de peróxido de carbamida a 10% na região da moldeira,
correspondente à face vestibular do dente escurecido, e
também inseri-lo dentro da câmara pulpar. A moldeira deve ficar
em posição por 5 a 6 horas. Após esse tempo, orienta o
paciente a higienizar a cavidade com escovas interdentais e
irrigar abundantemente com água. Em seguida, deve-se colocar
uma bolinha de algodão dentro da cavidade, para evitar a
entrada de resíduos alimentares. Esse procedimento pode ser
mantido por 4 semanas (REITZER, 2019).
Quando a técnica de clareamento interno e externo
(Power bleaching) é selecionada, aplica-se o gel de peróxido de
hidrogênio 35% na face vestibular e no interior da câmara
pulpar do dente escurecido, em consultório, conforme as
recomendações do fabricante. Essa técnica também pode ser
associada ao clareamento caseiro supervisionado, orientando o
paciente sobre o uso da moldeira de silicone, aplicando o gel
clareador, em baixa concentração, na região da moldeira
correspondente ao dente que se almeja clarear (MONTEIRO;
MONTEIRO JUNIOR; ANDRADA, 2018).
A eficácia do clareamento vai depender de um
diagnóstico correto e plano de tratamento adequado. Com
relação à longevidade do tratamento, está associado à
qualidade do tratamento restaurador, à higiene bucal, à
presença em consultas de acompanhamento (PERDIGÃO et
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

al., 2016), e principalmente ao correto diagnóstico da alteração


de cor e à seleção da técnica clareadora mais indicada de
acordo com cada caso individualmente.
Embora as técnicas convencionais de
clareamento interno proporcionem excelentes resultados, elas
podem acarretar em algumas consequências negativas. Esse
tratamento pode influenciar na morfologia do elemento dentário,
causando alterações em sua estrutura, que afetam a resistência
adesiva de restaurações compostas e também diminuem a
resistência à fratura do dente submetido ao tratamento
clareador (CASTRO et al., 2019; KAZEMIPOOR; AZAD;
FARAHAT, 2017), além do risco de reabsorção cervical.

Alterações estruturais no elemento dental


As alterações nas estruturas dentárias são efeitos
indesejáveis do clareamento interno, pois são capazes de afetar
as propriedades físicas, como a microdureza e a rugosidade da
superfície, além de modificar a ultraestrutura dos elementos
dentários.
Segundo o estudo realizado por Castro et al. (2019), o
clareamento intracoronal promoveu alterações estruturais a
partir da primeira sessão do tratamento clareador. Esse
resultado mostrou que quanto maior o número de sessões,
maior a redução da microdureza da dentina e aumento na
rugosidade superficial.
Além disso, essas alterações podem contribuir para a
diminuição da resistência à fratura do elemento dentário, o que
representa um risco principalmente ao se desempenhar a
função mastigatória (KAZEMIPOOR; AZAD; FARAHAT, 2017).
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Apesar dessas mudanças na morfologia e nas


propriedades físicas dos tecidos dentários ocorrerem após a
realização do clareamento interno, elas são consideradas
mínimas e transitórias (PERDIGÃO, 2016), e são dependentes
do agente clareador utilizado durante o tratamento. Ferreira et
al. (2016) observaram que o perborato de sódio é a substância
mais segura para esse procedimento, por causar menos
prejuízo às estruturas dentárias.

Influencia na resistência adesiva


O uso de agentes clareadores à base de peróxido de
hidrogênio produz espécies reativas de oxigênio, que não são
consumidas totalmente durante o clareamento dentário. O
oxigênio residual que fica sobre a superfície dentária afeta a
reação de polimerização dos materiais resinosos, prejudicando
a adesão aos tecidos mineralizados do dente (UBALDINI et al.,
2020). Para evitar isso, é recomendado que haja um período de
espera entre o término do clareamento e a execução da
restauração.
Apesar dessa recomendação, alguns pacientes não
podem esperar esse período para realizar a restauração final,
sendo preciso concluir o tratamento imediatamente após o
clareamento. Nesses casos é necessário optar por um
protocolo eficaz que garanta a longevidade da restauração
(PERDIGÃO, 2016).
O ascorbato de sódio surge no mercado como uma
opção de antioxidante capaz de eliminar os radicais livres
residuais. Os resultados do estudo de Kilinç et al. (2016),
mostraram que quando o antioxidante é usado na concentração
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

de 10%, empregado imediatamente após o clareamento, a


resistência adesiva aumenta.
Agentes bioativos, utilizados no tratamento
remineralizador da dentina, têm sido sugeridos para serem
utilizados após o clareamento com o objetivo de reverter a
redução da resistência adesiva ao tecido dentinário ocasionada
pelo clareamento interno. Ubaldini et al. (2020) analisaram a
capacidade de remineralização de dois materiais bioativos
(Bioglass e Biossilicato) e seus potenciais efeitos terapêuticos
na adesão dentina/resina, quando usados como agentes
remineralizantes sobre a dentina clareada. Os resultados desse
trabalho mostraram que os dois agentes testados promoveram
deposição mineral na dentina clareada e desmineralizada,
melhoraram a capacidade desse tecido interagir quimicamente
com os monômeros adesivos e, consequentemente, aumentou
a resistência de união resina-dentina clareada.

Influencia na resistência à fratura


Os efeitos do clareamento dentário na resistência
adesiva já estão bem elucidados por alguns autores
(PERDIGÃO, 2016), como mostrado anteriormente. No entanto,
sua associação a consequências na resistência à fratura ainda
é controvérsia.
Apesar do clareamento lesionar a dentina externa e
internamente, causando modificações em sua morfologia, esse
não é o único fator que contribui para fragilização da estrutura
dentária. Sabe-se que o tratamento endodôntico resulta em
uma perda na qualidade e quantidade do remanescente
dentário. O acesso coronário que é realizado durante o
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

procedimento endodôntico, colabora para aumentar a


suscetibilidade a fratura ao receber forças mastigatórias
(KAZEMIPOOR; AZAD; FARAHAT, 2017). Segundo Uzunoglu
et al., (2018), a cavidade realizada durante o acesso
endodôntico, é o fator mais prejudicial ao elemento dentário,
capaz de afetar significativamente os valores de resistência a
fratura.
Alguns autores mostraram em suas pesquisas que os
agentes clareadores são capazes de causar efeito significativo
na diminuição da resistência à fratura. Quando associado a
dentes tratados endodonticamente, esse efeito é ainda maior
(ANTONY et al., 2019; KAZEMIPOOR; AZAD; FARAHAT, 2017;
OSKOEE et al., 2018). Os resultados obtidos podem ser
justificados devido ao mecanismo de ação das substâncias
clareadoras sobre a dentina e o tempo de exposição a esses
produtos. Durante o clareamento, o peróxido de hidrogênio
oxida as cadeias polipeptídicas presenta na dentina peri e
intertubular, além de decompor o tecido conjuntivo e absorver o
conteúdo orgânico desse substrato. Outro fator que pode estar
relacionado, são as baixas concentrações de íons de cálcio e
fosfato, como também a alta concentração de íons de sódio e
cloreto. Essa combinação de fatores é capaz de reduzir a
saturação de hidroxiapatita, aumentar a permeabilidade
dentinária e reduzir a microdureza, que leva a consequências
vistas na resistência a fratura (OSKOEE et al., 2018).
Um meio de compensar a diminuição da resistência à
fratura é o uso de ascorbato de sódio 10%. Antony et al. (2019)
observaram que os grupos clareados que utilizaram esse
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
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antioxidante, antes de realizar a restauração, obtiveram


melhores resultados na resistência à fratura.

Reabsorção cervical externa


As reabsorções cervicais são patologias graves
capazes de estimular células clásticas a reabsorverem a
superfície externa do dente e causarem consequências que
podem levar a perda do elemento dentário (CONSOLARO,
2013). No entanto, essa patologia não tem sua etiologia
totalmente elucidada, embora existam estudos que sugerem
possíveis causas. Segundo Consolaro (2016), o trauma
dentário do tipo concussão é o fator mais importante que leva a
reabsorção cervical externa, apesar de outros tipos de traumas
dentários estarem relacionados, como uso de alavancas
cirúrgicas, cirurgias de exodontia de 3° molar que afeta a
cervical do segundo molar, além de citar o clareamento interno.
Mesmo com essa associação, o clareamento
interno tem somente, em média, 10% dos casos que levam à
RCE (CONSOLARO, 2013). O peróxido de hidrogênio que se
difunde pelos túbulos dentinários até o periodonto, através dos
defeitos encontrados na junção amelodentinária, induz a
destruição de células, desencadeando um processo
inflamatório e iniciando o processo de reabsorção (PERDIGÃO,
2016).
O estudo realizado por Bersezio et al. (2018) mostrou
que os agentes clareadores utilizados no clareamento interno
atuam aumentando significativamente os níveis de
biomarcadores, IL-1B e RANK-L, desde a primeira sessão até
um mês após o procedimento. Esses marcadores são
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

responsáveis por iniciar a atividade osteoclástica e estimular as


citocinas pró inflamatórias, como também regulam o processo
de reabsorção radicular. O peróxido de hidrogênio desencadeia
um processo crônico no periodonto que pode predispor a
reabsorção cervical externa mediada por odontoclastos.
Em concordância, Besegato et al. (2018) observaram
que o pH dos agentes clareadores tem forte influência nas
alterações estruturais do elemento dentário após o
clareamento. Esse ambiente ácido pode causar um aumento na
atividade osteoclástica e acarretar em RCE (ATREYA; PATEL,
2016). Dentre os agentes clareadores, a mistura de perborato
de sódio e água apresenta-se como uma alternativa segura, por
ser alcalino e contribuir para diminuir os danos causados aos
tecidos dentários. Já o peróxido de hidrogênio 30% possui alta
acidez, o que não é recomendado (BESEGATO et al., 2018).
Atreya; Patel (2016), sugerem que se faça uso de
selamento cervical coronário com material adequado para que
diminua o vazamento de peróxido de hidrogênio para superfície
radicular e tecidos periodontais, prevenindo o acontecimento
desse efeito indesejável.
Mesmo com todo o acervo literário disponível
acerca da reabsorção cervical externa e sua ligação como efeito
adverso do clareamento interno, 33,1% dos cirurgiões dentistas
na Arábia Saudita não sabem dessa complicação (DOUMANI
et al., 2019). Essa pesquisa mostra a necessidade da educação
continuada e a importância de basear os procedimentos clínicos
com evidência cientifica de qualidade e atualizada, para reduzir
cada vez mais essa complicação pós clareamento dentário,
garantindo um procedimento seguro e eficaz.
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

No entanto, Newton; Hayes (2020) concluíram


que há pouca evidencia cientifica que sustente o risco
aumentado de RCE em pacientes que realizaram clareamento
dentário prévio. Esse fenômeno raro é mais comum apenas em
pacientes jovens que possuem diâmetro dos túbulos dentinários
maiores, quando não é feito o selamento cervical de forma
adequada, utilizam a técnica termocalítica e empregam altas
concentrações de peróxido de hidrogênio.
Assim, de acordo com a literatura, é possível verificar
que a ocorrência de RCE tem diminuído, principalmente, devido
a adoção de protocolos cada vez mais seguros e que causam
menos dados ao elemento dentário.

Regressão da cor
O desejo frequente dos pacientes quando chegam no
consultório odontológico é o de ter dentes clareados com
estabilidade da cor. Entretanto, o clareamento de dentes
desvitalizados apresenta como um aspecto negativo a
regressão da cor. A taxa de recidiva da cor em dentes clareados
e tratados endodonticamente é relativamente alta, e o
mecanismo ainda não foi totalmente elucidado (CORREIA et al.,
2020). Segundo, Correia et al. (2020), ao realizarem um estudo
retrospectivo observacional do desempenho clínico do
clareamento interno, verificaram que a recidiva da cor foi
observada em todas as condições analisadas,
independentemente do tempo de acompanhamento. De acordo
com os autores, não houve correlação entre a recidiva da cor e
a altura da guta-percha, o intervalo de retorno ou a causa do
escurecimento. Entretanto, no estudo de Bersezio et al. (2019),
O CLAREAMENTO DE DENTES DESVITALIZADOS NO CONTEXTO
ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

diferentes agentes clareadores apresentaram alta eficácia na


alteração da cor do elemento dentário e com um baixo efeito
rebote, durante um ano de acompanhamento dos pacientes.
Esses resultados mostram que apesar da regressão da cor ser
um efeito esperado do clareamento, essa regressão é muito
baixa e causa pouca insatisfação no paciente.

Influencia na qualidade de vida


Com as redes sociais cada vez mais presentes no
nosso dia a dia, o compartilhamento instantâneo, de imagens e
vídeos, ao redor do mundo, propaga a exaltação dos ideais de
beleza pela sociedade. Dentre esses, os dentes apresentam-se
como um dos principais. Alcançar um sorriso com dentes
brancos passa a ser importante para conquistar e manter a
autoestima. Nesse sentido, as alterações de cor dentária
trazem um impacto negativo na saúde, na dimensão
psicológica, nas relações sociais e na qualidade de vida dos
indivíduos. (CORREIA et al., 2020; DOUMANI et al., 2019). E
assim o clareamento surge como uma alternativa para reverter
esse impacto negativo, melhorando a qualidade de vida e a
autoestima do paciente, devido aos resultados estéticos que
proporciona (BERSEZIO et al., 2018; DOUMANI et al., 2019;
PERDIGÃO, 2016).

CONCLUSÕES

Com base na literatura consultada, pode ser concluído


que o clareamento de dentes escuros e desvitalizados, quando
realizado após um correto diagnóstico da etiologia da alteração
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ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA

de cor, e utilizando materiais adequados para a confecção do


tampão cervical e agentes clareadores de baixa poder
oxidativo, é considerado uma técnica segura e eficaz, com
danos reversíveis e transitórios à estrutura dental, e com efeito
positivo na qualidade de vida do paciente. Com relação a
possibilidade de reabsorção cervical, os trabalhos mostram
uma redução significativa nos dias de hoje, entretanto, os
pacientes devem sempre ser alertados sobre o risco, assim
como informados sobre a necessidade de controle e
manutenção do tratamento clareador.

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EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 22

EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA
LONGEVIDADE DA INTERFACE ADESIVA:
REVISÃO DE LITERATURA
Anielle do Nascimento Jácome 1
Igor Péres Cruz de Lima 1
Stefanny Danielle da Silva Costa 1
Marília Regalado Galvão Rabelo Caldas 2
Isana Álvares Ferreira 3
1 Graduandos do curso de Odontologia, UFRN; 2 Professora do
DOD/UFRN;
3 Orientadora/Professora do DOD/UFRN.

isanaalvares@hotmail.com

RESUMO: Para o sucesso das restaurações com resina


composta, a adesão é uma etapa primordial. Entretanto, a
camada híbrida é susceptível à degradação hidrolítica e
enzimática, influenciando na estabilidade e longevidade da
interface de união. Para contornar esse problema, diversos
materiais têm sido pesquisados, dentre eles, os agentes de
ligações cruzadas ou cross-linking, como a Proantocianidina
(PA), a qual é um agente de ligação cruzada natural, que pode
ser derivado do extrato da semente de uva, por exemplo, e tem
grande afinidade pelo colágeno do tipo I, presente em
abundância na estrutura dentinária. Diante disso, esse trabalho
teve como objetivo trazer uma perspectiva sobre o uso da PA
na odontologia adesiva, através de uma revisão de literatura,
enfatizando a sua inter-relação com o colágeno dentinário, e o
seu efeito nas propriedades mecânicas e na remineralização
das fibras colágenas, na resistência adesiva e na estabilidade
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

da interface de união. As buscas bibliográficas foram realizadas


na base de dados PubMed e Scielo. Em todas as suas formas
de aplicação, a PA se mostrou eficaz em favorecer a resistência
adesiva, no aumento da agregação mineral ao longo do eixo do
colágeno, na inibição da ação de metaloproteinases e na
redução da permeabilidade dentinária, promovendo assim, uma
maior estabilidade e longevidade da interface dentina-resina.
Palavras-chave: Colágeno. Adesivos dentinários. Reagentes
para ligações cruzadas. Dentina.

INTRODUÇÃO

Com o avanço da odontologia restauradora adesiva, a


resina tem ganhado destaque como material de escolha para
restaurações estéticas e funcionais. Para o sucesso e maior
longevidade dessas restaurações, a formação de uma camada
híbrida (CH) estável e resistente é uma etapa primordial do
processo adesivo (SOUSA et al., 2018). A CH é formada
mediante a penetração dos monômeros de resina no interior da
matriz dentinária desmineralizada (MATUDA et al., 2016). A
estabilidade da camada híbrida tem sido uma das limitações na
durabilidade da restauração, devido à sua susceptibilidade à
degradação hidrolítica e enzimática (LEME-KRAUS et al.,
2016). Essa degradação pode estar associada a diversos
fatores, dentre eles, a degradação proteolítica de fibras
colágenas expostas por enzimas colagenolíticas da matriz
extracelular, como as metaloproteinases (MMPs) e as cisteínas
catepsinas (CCs).
Para contornar esse problema, diversos materiais têm
sido pesquisados como forma de aumentar a longevidade da
interface de união, dentre eles, os agentes de ligações cruzadas
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

ou cross-linking, que atuam inativando as enzimas


colagenolíticas de forma inespecífica, assim como também
aumentam a resistência mecânica das fibras colágenas, através
de ligações covalentes (HASS et al., 2016). Os agentes de
ligações cruzadas podem ser classificados em agentes naturais
ou sintéticos. Entre os agentes sintéticos, pode-se ressaltar o
glutaraldeído e carbodiimida (DE MEDEIROS et al., 2019), e os
agentes naturais, têm-se a riboflavina (HASS et al., 2016), o
Cardol e Cardanol (MOREIRA et al., 2018), a lignina (DE-
PAULA et al., 2019), a quitosana e a proantocianidina (PA)
(BARBOZA; MAROUN, 2019).
A PA é um agente de ligação cruzada natural, derivado
da semente de uva, que apresenta uma grande afinidade pelo
colágeno do tipo I, presente em abundância na estrutura
dentinária (KULAKOWSKI et al., 2017). As PAs consistem em
monômeros de flavan-3-ol repetidos, condensados via ligações
interflavanil (NAM et al., 2017), que podem se apresentar na
forma de dímeros, trímeros e tetrâmeros, sendo os trímeros e
tetrâmeros os que apresentam maior rigidez e menor
biodegradação enzimática do colágeno dentinário (NAM et al.,
2017). Para ser utilizada no procedimento adesivo, a PA pode
ser incorporada ao ácido ou primer do sistema adesivo, ou ser
aplicada de forma isolada sobre a camada de dentina
(TREVELIN et al., 2020).
A PA apresenta efeito positivo na dentina quando ligada
ao colágeno. A presença de ligações intermoleculares
exógenas entre a PA e as fibrilas de colágeno, induz aumento
das propriedades elásticas da dentina, havendo ganhos no
módulo de elasticidade (LEME-KRAUS et al., 2017), e, portanto,
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

minimiza os riscos de colapso da rede de colágeno (HASS et


al., 2016). Além de proporcionar melhores propriedades
mecânicas na estrutura do colágeno, a PA promove uma
camada híbrida mais bioestável, com menor permeabilidade
(TREVELIN et al., 2020) pela desidratação das fibrilas de
colágeno (BALALAIE; REZVANI; MOHAMMADI BASIR, 2018),
assim como promove a remineralização em torno dessas fibras
(EPASINGHE et al., 2017). Diante disso, o presente estudo tem
como objetivo trazer uma perspectiva, através de uma revisão
de literatura, sobre o uso da PA na odontologia adesiva,
enfatizando a sua inter-relação com o colágeno dentinário e o
seu efeito na estabilidade e longevidade da interface de união.

MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo consistiu em uma revisão da literatura


descritiva, com abordagem relacionada aos efeitos do uso de
PA na adesão dentinária. As buscas bibliográficas foram
realizadas na base de dados PubMed e Scielo, utilizando os
seguintes descritores: Inibidor de metaloproteinases (MMP
inhbitor), Colágeno (Collagen), Ligações cruzadas (Cross-
linking), Proantocianidina (Proanthocyanidin), Adesão
dentinária (Dentin adhesion), Biomodificação dentinária (Dentin
biomodification).
Nesta revisão foram incluídos artigos científicos nos
idiomas português e inglês, publicados entre os anos de 2016
a 2020, e que tivessem relação com o tema abordado. Os
artigos que cumpriram com os critérios de elegibilidade foram
selecionados para leitura. Primeiramente, a seleção dos artigos
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

foi realizada por meio do título e leituras exploratórias dos


respectivos resumos. Em seguida, foi realizada a extração dos
dados e avaliação da qualidade dos estudos pelos membros da
equipe de revisão. Em casos de desentendimentos, esses
foram resolvidos através de discussão e consenso.
Para organizar as ideias centrais da presente revisão,
foram determinadas as seguintes seções: Adesão dentinária e
degradação enzimática da interface adesiva; Estratégias para
aumentar a longevidade da interface adesiva; PA; Efeito da PA
na estrutura e remineralização do colágeno; Influência da PA na
resistência adesiva; Influência da PA na estabilidade da
interface de união.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Adesão dentinária e degradação da interface


adesiva
Quando falamos em Odontologia restauradora, a
adesão se mostra como ponto de crucial importância, pois as
restaurações adesivas são técnico-sensíveis e tem sua
longevidade comprometida, devido à fragilidade da camada
híbrida (CH), que é o elo mais crítico entre a restauração e o
dente (SOUZA et al., 2018).
A adesão à dentina tem uma longevidade inferior em
relação à união ao esmalte, devido à heterogeneidade da
estrutura e composição da dentina. (ZHOU et al., 2019). A
dentina é composta de cristais minerais de hidroxiapatita, e uma
quantidade significativa de matriz orgânica, como fibrilas de
colágeno (principalmente tipo I) (BERTASSONI, 2017). Cada
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

molécula de colágeno possui uma estrutura em tripla hélice,


composta por duas cadeias polipeptídicas idênticas,
denominadas cadeias α1, e uma terceira cadeia ligeiramente
diferente, denominada cadeia α2. Para que a rede de colágeno
apresente estabilidade e viscoelasticidade, as ligações
cruzadas intermoleculares são fundamentais (BRESCHI et. al.,
2018).
A união da resina à dentina ocorre através da formação
da CH, resultante da desmineralização dentinária pela
aplicação do ácido, com subsequente exposição da rede de
fibras colágenas, e, penetração dos monômeros resinosos do
adesivo, os quais envolvem esse colágeno exposto,
proporcionando um embricamento mecânico (Yu et al., 2017).
Entretanto, a estabilidade da camada híbrida tem sido uma
limitação das restaurações adesivas, devido a susceptibilidade
da interface adesiva à degradação hidrolítica e enzimática
(LEME-KRAUS et al., 2017). Essa degradação da interface de
união tem sido relacionada a vários fatores: a incompleta
infiltração dos monômeros resinosos na rede de colágeno
desmineralizada nos sistemas adesivos convencionais,
degradação proteolítica dessas fibras colágenas expostas por
enzimas colagenolíticas da matriz extracelular (como as
metaloproteinases), incorporação de mais monômeros
hidrofílicos nos adesivos autocondicionantes, alta
permeabilidade da interface adesiva, dentre outros
(FRASSETTO et al., 2016).
Nos adesivos de condicionamento total, essa
degradação ocorre mais rápido, devido à incompleta
profundidade de penetração do adesivo (Bond) em relação a
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

profundidade de desmineralização do colágeno, resultando em


fibras colágenas desprotegidas, não envolvidas pelo adesivo
aplicado, as quais são susceptíveis à degradação pelas
metaloproteinases (MMPs) (AYDIN et al., 2016) e Catepsinas
de Cisteína (CCs) (YANG et al., 2016).
Nos sistemas autocondicionantes, há menor chance de
as fibras colágenas ficarem expostas na camada híbrida, devido
às profundidades de penetração do ácido e do adesivo
apresentarem-se semelhantes. Entretanto, nos sistemas
autocondicionantes, que utilizam na sua composição ácidos
fortes (STROBEL; HELLWIG, 2015), os quais contêm
monômeros mais hidrofílicos, há uma maior permeabilidade da
água na camada híbrida, resultando na dissociação dos
monômeros resinosos, com consequente degradação
hidrolítica da camada híbrida.
As Metaloproteinases da Matriz Extracelular (MMPs)
constituem-se de um grupo de enzimas (endopeptidases),
presentes em diversos tecidos do corpo humano, dentre eles,
na dentina. As metaloproteinases mais frequentes na dentina
são as gelatinases A e B (MMP-2 e MMP-9, respectivamente)
(BRESCHI et al., 2018), estromelisina-1 (MMP-3) e colagenase
(MMP-8) (FRASSETTO et al., 2016), as quais são produzidas
por odontoblastos, durante a odontogênese, e são incorporadas
nesse tecido em uma conformação inativa (STROBEL;
HELLWING, 2015). Entretanto, em situações de pH ácido,
inferior a 4,5, essas enzimas são ativadas, tornando-se
funcionais (STROBEL; HELLWING, 2015). Assim, em função
do condicionamento ácido dos sistemas adesivos
convencionais e dos adesivos autocondicionantes,
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

principalmente os mais acídicos, as MMPs, presentes na matriz


da dentina, são ativadas e causam a desnaturação do colágeno
exposto. Outro mecanismo de ativação de MMPs está
relacionado com o pH ácido gerado pelo metabolismo de
bactérias da cavidade oral (LEME-KRAUS et al., 2017).
As enzimas cisteínas catepsinas (CCs), também são
endopeptidases produzidas por vários tipos de células,
incluindo os odontoblastos e células de tecido pulpar (BRESCHI
et. al., 2018), e desempenham sua função enzimática tanto em
pH ácido, quanto próximo ao neutro. A cisteína catepsina-K
compreende 98% da atividade das catepsinas contra o
colágeno (BRESCHI et al., 2018), e atua em meio extracelular,
hidrolisando e digerindo componentes da matriz orgânica, em
particular o colágeno, e assim degradando a interface adesiva
(DE MEDEIROS et al., 2019).
Portanto, o desempenho geral, a longo prazo, das
restaurações adesivas, depende da interface de união formada
entre o adesivo e a dentina (ZHOU et al., 2019), a qual pode
sofrer degradação, apesar dos inúmeros avanços dos materiais
odontológicos (LEME-KRAUS et al., 2017). Para contornar esse
problema, diversas estratégias são propostas na literatura,
como o uso de inibidores de MMPs e Catepsinas, e agentes de
ligações cruzadas, como a PA, que também atua como bioativo
remineralizador.

Estratégias para aumentar a resistência das fibras


colágenas à degradação enzimática
A degradação da interface adesiva, apesar de
inevitável, pode ser atenuada através do uso de substâncias
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

que mimetizam a ação dos inibidores biológicos das MMPs


(TIMPs), como a clorexidina, tetraciclina, componentes de
quaternário de amônio, entre outros, prolongando a
durabilidade da interface de união (DE MEDEIROS et al., 2019).
Entretanto, esses agentes ativos atuam apenas na inibição das
metaloproteínas.
Diante disso, foram desenvolvidos os agentes de
ligações cruzadas (ALCs) ou cross-linking, esses agentes
apresentam vantagens em relação aos inibidores de proteases,
citados acima: além de atuarem na inativação das
metaloproteinases, eles são inespecíficos, agindo sobre um
amplo espectro de enzimas colagenases (MMPs e CCs) e
assim, não havendo a necessidade da utilização de agentes
específicos para cada enzima; e outra grande vantagem é que
os ALCs formam ligações cruzadas com as moléculas do
colágeno, mediante ligações químicas do tipo covalentes,
aumentando a resistência mecânica das fibras colágenas
contra a degradação hidrolítica e enzimática (HASS et al.,
2016). Essas ligações cruzadas reduzem a mobilidade
molecular do colágeno desprotegido, inibem MMPs e diminuem
a permeabilidade à água (DE-PAULA et al., 2019).
Os agentes de ligações cruzadas podem ser
classificados em agentes naturais ou sintéticos. Entre os
agentes sintéticos, tem-se o glutaraldeído (GD) e a
carbodiimida (DE MEDEIROS et al., 2019) e como agentes
naturais, pode-se citar a riboflavina (HASS et al., 2016), o
Cardol e Cardanol, (MOREIRA et al., 2018), lignina (DE-PAULA
et al., 2019), quitosana e a PA.
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

A remineralização da dentina parcialmente


desmineralizada é outro fator chave para a obtenção de
restaurações adesivas com estabilidade de união a longo prazo.
Para isso, é proposto na literatura a utilização de bioativos
remineralizadores, como a PA, que atuam preenchendo o
colágeno da dentina desmineralizada, proporcionando
melhores propriedades mecânicas a essa rede de colágeno
(NIU et al., 2014).

Proantocianidina
A PA é um agente cross-linking natural, derivado de
plantas, como a semente da uva e casca de pinheiro, por
exemplo. É um composto multifuncional que apresenta alta
interatividade com a matriz extracelular (MEC). Sua maior
afinidade é pelo colágeno do tipo I, presente na estrutura
dentinária, a qual está diretamente relacionada com suas
características estruturais e grau de polimerização
(KULAKOWSKI et al., 2017).
Também conhecidos como taninos condensados, as
PAs consistem em blocos monoméricos de flavan-3-ol
repetidos, que formam grupos de oligômeros e polímeros
através de ligações interflavanil (NAM et al., 2017).
As PAs podem interagir com o colágeno dentinário por
meio de quatro mecanismos distintos: Interação iônica,
hidrogênio e interações de ligações hidrofóbicas junto com
ligações covalentes produzidas com proteínas ricas em prolina.
Portanto, sua capacidade de estabelecer uma forte ligação com
proteínas ricas em prolina, como o colágeno, demonstra uma
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

afinidade extremamente alta com este substrato (BEDRAN-


RUSSO et al., 2011)
Além de melhorar as propriedades mecânicas ao ligar-
se com o colágeno, as PAs podem ainda desidratar as fibrilas
de colágeo, e desta forma, haverá um substrato mais promissor
para a hibridização, e uma camada híbrida mais bioestável
(BALALAIE; REZVANI; MOHAMMADI BASIR, 2018). Ademais,
a PA pode simultaneamente inativar a ação de proteases
dentinárias, como as MMPs, além de atuar na remineralização
em torno das fibrilas de colágeno (EPASINGHE et al., 2017),
proporcionando uma melhor estabilidade da interface adesiva,
e consequentemente, uma maior durabilidade da restauração.

Efeito da PA na estrutura e na remineralização do


colágeno
Muitos estudos são realizados para investigar a
remineralização do esmalte, entretanto, a remineralização da
dentina é mais desafiadora devido a mesma ter menor conteúdo
mineral e, consequentemente, menor dureza e maior módulo de
elasticidade em comparação ao esmalte (JOSE; SANJEEV;
SEKAR, 2016). Considerando a microestrutura da dentina, as
fibras de colágeno na dentina servem como uma estrutura para
os cristais minerais que fortalecem a matriz (KHAMVERDI et al.,
2017). Os minerais estão situados intrafibrilar (nas lacunas
espaçadas entre as fibras colágenas) e extrafibrilar (no
interstício das fibrilas colágenas), sendo essa última em maioria
(EPASINGHE et al., 2017).
A biomodificação da matriz de dentina com PA tem
efeito remineralizante, aumentando a agregação mineral ao
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

longo de seu longo eixo. A PA tem um mecanismo quelante,


dos grupos hidroxifenil com íons cálcio, o que aumenta a
deposição de minerais na superfície da dentina (KHAMVERDI
et al., 2017) e inibe a deposição adicional de minerais na parte
mais profunda da lesão. Logo, o efeito do PA parece ser restrito
à camada superficial devido ao alto peso molecular de suas
moléculas, as quais não podem penetrar profundamente nas
camadas subjacentes.
Epasinghe et al. (2017) demonstraram que o uso de PA,
a 6,5%, levou a uma maior agregação mineral em torno das
fibrilas de colágeno em 24-72 horas, assim como a uma
diminuição da porosidade. O resultado desse estudo corrobora
com a pesquisa de Boteon et al. (2017), que também
observaram que a PA afeta positivamente o processo de
desmineralização e/ou remineralização da dentina. Entretanto,
a PA usada nesse estudo foi na concentração de 10%, aplicada
por 1 minuto. Eles também ressaltaram que o mecanismo
remineralizante da PA parece ser diferente do fluoreto, estando
relacionado à formação de um complexo insolúvel, que
permanece estável em pH ácido, e que ainda se liga aos íons
Ca 2+ da saliva, aumentando assim a remineralização, embora
com valores de remineralização menos eficazes do que o flúor
(KHAMVERDI et al., 2017).
O tratamento do substrato dentinário com a PA também
influencia nas propriedades mecânicas do colágeno. Assim, a
aplicação da PA na matriz de colágeno desmineralizada, faz
com que o tamanho e o número de espaços interfibrilares sejam
reduzidos e ocupados pelas ligações cruzadas, inclinando as
propriedades viscoelásticas da matriz de dentina para serem
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

mais elásticas (LEME-KRAUS et al., 2017). Assim, a rigidez


relativa das fibrilas de colágeno depende da formação de
ligações cruzadas endógenas e exógenas. A alta densidade de
ligações cruzadas, também, reduz a hidrofilicidade da superfície
e a dinâmica intrínseca da água no tecido, resultando em
diminuição da água dentro da matriz extracelular e redução da
porosidade (LEME-KRAUS et al., 2017).
Ao avaliar a microdureza Knoop do colágeno, após o
uso de primers com diferentes agentes de ligações cruzadas
(riboflavina 0,1%, glutaraldeído 5% e PA 6,5%), aplicados por 1
minuto, Hass et al. (2016) concluíram que o grupo tratado com
a PA obteve maior microdureza, o que, segundo os autores,
pode ser explicado pela interação química muito eficaz das PAs
com as matrizes de colágeno.
Balalaie et al. (2019) avaliaram o efeito de diferentes
concentrações (1%, 2% e 5%) e tempos de aplicação (1 e 5
minutos) das PAs na perda de massa de colágeno. Foi
verificado que a perda de massa de colágeno foi menor quando
a PA foi aplicada por 5 minutos e na concentração de 2% ou
superior, sendo a concentração de 5% a que apresentou efeitos
mais consideráveis na proteção contra a biodegradação desse
colágeno.
A bioatividade da PA é afetada por sua origem,
técnicas de extração, reagentes de extração, assim como os
vários componentes das PAs, com pesos moleculares e graus
de polimerização distintos, exercem efeitos diferentes na
ligação cruzada com o colágeno dentinário (YANG et al., 2019).
Baseado nisso, Yang et al. (2019) avaliaram o efeito dos
componentes da PA, extraídos do chá de raízes, na elasticidade da
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

dentina e na sua capacidade de resistir à degradação. Para extração


preliminar, dos componentes da PA com diferentes graus de
polimerização, foram usados o acetato de etila (baixo grau de
polimerização) e o álcool n-butílico (alto grau). Os resultados desse
estudo mostraram que a dentina desmineralizada, tratada com
extrato de PA de álcool n-butílico, por 1 hora, apresentou uma
maior elasticidade em relação aos outros grupos. Segundo os
autores, esses achados indicam que as PAs derivadas do chá
da raiz, com um alto grau de polimerização, representam o
componente de PA mais eficaz para proteção e promoção da
elasticidade da dentina. No estudo de Kulakowski et al. (2017),
a matriz dentinária, tratada com as PAs, também obteve um
aumento significativo do módulo de elasticidade, assim como as
PAs aumentaram a proliferação e marcadores reguladores de
diferenciação odontogênica e mineralização. Segundo os
autores, esses resultados sugerem que os dímeros, trímeros e
tetrâmeros de PA não são apenas biocompatíveis, mas
aumentam a diferenciação das células pulpares em direção a
um fenótipo que favorece a biomineralização.
Embora vários estudos tenham investigado a utilização
da PA no substrato dentinário, várias preocupações ainda
permanecem, dentre elas, a retenção da concentração efetiva
da substancia dentro da matriz de colágeno da dentina. Em
função disso, Fawzy et al. (2017) avaliaram o efeito de
nanocarreadores, carregados com PA (6,5%) para liberação
gradual, na resistência estrutural das fibras colágenas. O
tratamento com as nanopartículas carregadas com PA
melhorou a estabilidade estrutural, bioquímica e mecânica das
amostras de dentina desmineralizada com um tempo de
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

armazenamento de até 3 meses. Essa melhora na resistência


à biodegradação pode ser atribuída à liberação gradual da PA
das nanopartículas carregadas com a droga, levando a uma
exposição mais prolongada do colágeno dentinário às PAs e
interações mais eficientes. Após a liberação da nanopartícula,
a PA se difunde, através dos túbulos dentinários abertos e
espaços interfibrilares para interagir com as fibrilas de colágeno
circundantes, através de ligação de hidrogênio e/ou ligação
covalente, o que pode levar a retenção de PA dentro do
substrato dentinário. O tamanho das nanopartículas carregadas
era menor que 200nm, o que facilitou sua entrada nos túbulos
expostos da dentina desmineralizada.
No estudo de De-Paula et al. (2020), soluções ácidas
foram preparadas adicionando 2% em peso de agentes de
biomodificação (cardanol, lignina ou PA), em 37% de ácido
fosfórico. Os resultados mostraram que a PA não promoveu
aumento da resistência de união, quando comparado aos
outros agentes, o que pode ter sido causado pelo curto tempo
de aplicação (15 s). No estudo de Moreira et al. (2017), a
degradação do colágeno foi observada nas amostras tratadas
com PA incorporada ao primer, mesmo com 1 min de aplicação.
Esse resultado foi atribuído ao fato de as estruturas
oligoméricas terem maior peso molecular, o que poderia
justificar sua difusão mais lenta na matriz de colágeno.

Influência na resistência adesiva


A aplicação de PA no substrato dentinário, seja de
forma isolada ou incorporada ao sistema adesivo, em conjunto
com o ácido ou primer, tem sido feita como forma de tentar
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

melhorar a resistência na interface de união (AYDIN et al.,


2016).
Em um estudo, comparando o uso de dois tipos de
primers (neutro e acídico), com a incorporação de extrato de PA
das plantas Vitis vinífera (Vc) e Camellia sinensis (Cs) foi
possível observar que o primer neutro, enriquecido com extrato
de Vv, exibiu maiores valores de microtração (µTBS), quando
comparado aos outros primers, em especial aqueles que tinham
como incorporação a Cs. O uso de primers acídicos,
incorporados com a Vv resultou em alta resistência de adesão
e baixa micro permeabilidade. De acordo com os autores, o
emprego da Cs foi considerado inadequado para uma boa união
resina-dentina, embora tenha apresentado valores positivos no
módulo de elasticidade da matriz de dentina (TREVELIN et al.,
2020).
Hass et al. (2016) também avaliaram a resistência
adesiva dos primers incorporados com diferentes materiais
(riboflavina 0,1%, glutaraldeído 5% e PA 6,5%) e observaram
uma maior resistência à microtração no grupo que usou a PA,
quando comparado aos outros grupos. Além da incorporação
da PA nos primers, o seu uso pode ser feito em conjunto com o
ácido, previamente à aplicação do adesivo propriamente dito.
Hass et al. (2016a), avaliaram o efeito do condicionamento
ácido contendo 2% de PA com 10% de ácido fosfórico,
comparando com o ácido fosfórico convencional a 35%. Com
relação a resistência a microtração, o grupo da PA obteve
resultados similares ao ácido isolado no pós imediato.
Entretanto, a longo prazo, a PA apresentou forças de ligações
mais estáveis. O uso da PA, de acordo com os autores, não
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

prejudicou a eficácia de ligação do material restaurador ao


esmalte e dentina, além de produzir uma maior resistência na
interface dentina-resina. Isso pode ser evidenciado pela inibição
das MMPs pela PA, demonstrada pela análise dos espécimes
estudados, em que o grupo tratado com o ácido incorporado
com a PAC apresentou menor quantidade de MMPs, quando
comparado ao uso do ácido de forma convencional, no qual foi
visto uma maior degradação e menor resistência da interface
de união.
Parise Gré et al. (2018) investigaram se agentes de
ligação cruzada (glutaraldeído, riboflavina e PA), quando
inseridos no protocolo adesivo e aplicados na dentina teriam
efeito positivo na adesão, utilizando o teste de resistência à
fratura. Como resultado, foi verificado que, quando comparados
os espécimes no prazo de 1 semana e de 6 meses, houve um
decréscimo significativo da resistência à fratura, para todos os
agentes cross-linkers, à exceção das proanticianidinas,
confirmando seu efeito inibidor da degradação da interface
adesiva, quando comparado com os demais agentes.
Shafiei, Firouzmandi e Zamanpour (2017) compararam
a PA e a carbodiimida, e seus efeitos na resistência de união
imediata e a médio prazo, aplicados antes da colocação do
material restaurador. De imediato, ambos os grupos não
afetaram a resistência de união, entretanto, após seis meses, o
grupo da carbodiimida apresentou menor força de união quando
comparado a PA, provavelmente por interferir na maturação do
cimento de ionômero de vidro modificado por resina, o que não
foi observado no grupo tratado com a PA.
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

Efeito na estabilidade da interface de união


A estabilidade da camada híbrida tem sido uma
limitação das restaurações adesivas, devido a susceptibilidade
da interface adesiva à degradação hidrolítica e enzimática
(LEME-KRAUS et al., 2017). Assim, o tratamento da dentina
com a PA resulta em uma camada híbrida mais bioestável, com
menor permeabilidade (TREVELIN et al., 2020) pela
desidratação das fibrilas de colágeno (BALALAIE; REZVANI;
MOHAMMADI BASIR, 2018), e inativação da ação das
proteases dentinárias (EPASINGHE et al., 2017).
A avaliação das alterações que eventualmente ocorrem
na biodegradação da matriz de dentina e nos mecanismos de
adesão da resina, devido ao uso das PAs, foi estudada por
Leme-Kraus et al. (2017). Foi estabelecido um grupo controle,
com adesivos comerciais, nos quais não foi feito o
enriquecimento com as PAs e um grupo de adesivos
enriquecidos com PA. No que diz respeito aos mecanismos de
adesão, verificou-se que nos grupos em que a PA foi utilizada
evidenciou-se uma significativa redução da permeabilidade na
interface adesiva, e uma maior intensidade de ligações
cruzadas, contrastando com os grupos controle, nos quais se
verificou uma maior porosidade na interface adesiva,
decorrente da incorporação de água. No estudo de Aydin et al.
(2016) também foi verificado uma redução da
micropermeabilidade na interface adesiva do grupo tratado com
PA. Entretanto esse agente não foi incorporado ao adesivo,
como no estudo anterior. A PA foi aplicada de forma isolada,
após o condicionamento ácido e antes da colocação do adesivo
propriamente dito.
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

Estudo semelhante, realizado por Hass et al. (2016a),


corroborou com os resultados apresentados, demonstrando
que a nanoinfiltração aumentou significativamente em todos os
grupos avaliados, exceto no grupo em que a PA (6,5%) foi
utilizada, gerando uma maior estabilidade na interface dentina-
resina. Essa superioridade da PA se deve a uma menor
exposição à atividade de MMPs e de outros agentes
proteolíticos. Hass et al. (2016) também verificaram que o uso
de primer contendo PA (6,5%) apresentou uma maior eficácia
na inibição da ação de metaloproteinases, quando comparado
com os demais agentes cross-link utilizados, culminando em
uma aior estabilidade da interface de união, tanto num período
imediato, quanto no período de 18 meses.
Loguergio et al. (2017), por sua vez, compararam o
efeito de três ácidos fosfóricos, modificados com clorexidina,
cloreto de benzalcônio e PA, e um ácido convencional, na
nanoinfiltração e estabilidade da interface de união dentina-
compósito, utilizando um sistema adesivo convencional de dois
passos. A avaliação foi feita 24 horas (imediato) e um ano após
a realização da restauração. O estudo observou que nenhum
dos grupos conseguiu prevenir completamente a
nanoinfiltração, mas que, nos grupos contendo os inibidores de
proteases, foi verificada uma diminuição desse quadro no
período de 1 ano de armazenamento em água, quando
comparado com o grupo controle.
No estudo de Barcelar-Sá et al. (2017), foi avaliado o
efeito do pré-tratamento da dentina, com glutaraldeído e PA, na
permeabilidade dentinária de quatro sistemas adesivos: dois
multimodos (Scotchbond Universal – usado no modo
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

autocondicionante; e Prime & Bond Elect – no modo


convencional de 2 passos) e dois HEMA-free (All Bond 3 –
convencional de 3 passos; e G-Aenial – autocondicionante de
passo único). Os resultados mostraram que a permeabilidade
reduziu com a aplicação das PAs, permanecendo estável pelo
período de 6 meses de avaliação, independentemente do tipo
de adesivo utilizado. Esse achado é muito importante do posto
de vista clínico, porque o movimento da água através da
interface dentina-resina pode lixiviar monômeros não reagidos
e pequenos oligômeros, aumentando as porosidades e a
degradação hidrolítica do adesivo, comprometendo a
estabilidade da adesão.
Por outro lado, uma avaliação clínica do uso das PAs
(2% e 5%), incorporadas a um adesivo convencional de dois
passos, mostrou que as restaurações empregando adesivos,
contendo PA na sua formulação, apresentaram os piores
parâmetros clínicos em comparação com o grupo controle, sem
adição de PA. Concluiu-se, nesse estudo, que a adição de PAs
ao protocolo adesivo afetou negativamente sua performance
clínica, no prazo de 24 meses, especialmente quando utilizada
em maior concentração (5%) (DE SOUZA et al., 2019).

CONCLUSÕES

De acordo com os estudos apresentados, pode-se


concluir que o uso da PA, na tentativa de melhorar a interface
de união dentina-resina, vem apresentando resultados
promissores, independentemente, se aplicada de forma
EFEITO DA PROANTOCIANIDINA NA LONGEVIDADE DA INTERFACE
ADESIVA: REVISÃO DE LITERATURA

separada sobre a dentina desmineralizada, ou se incorporada


ao ácido ou primer do sistema adesivo.
A PA resultou no aumento da resistência adesiva, na
inibição da ação das metaloproteinases, redução da
degradação da interface adesiva, teve efeito remineralizante,
com aumento da agregação mineral ao longo do eixo do
colágeno e diminuiu a permeabilidade dentinária, influenciando
na estabilidade da adesão e na longevidade das restaurações
adesivas. Entretanto, é imprescindível que o clínico se atualize
sobre essa nova estratégia, visando a execução de tratamentos
restauradores com sucesso a longo prazo, assim como há a
necessidade de mais pesquisas clínicas longitudinais para
ratificar esses resultados e definir o melhor protocolo de
utilização desse agente de ligação cruzada.

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EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

CAPÍTULO 23

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO


DE PANDEMIA: ORIENTAÇÃO E
EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS
NÃO CARIOSAS PARA PACIENTES COM
ALTERAÇÕES GÁSTRICAS
Raissa Taynnar Albuquerque LOPES1
Germana Coeli de Farias SALES2
Rosenês Lima dos SANTOS3
1Graduanda do curso de Odontologia, UFPB; 2Professora do DCOS/UFPB;
3Orientadora/Professora do DCOS/UFPB.

raissataynnar@hotmail.com

RESUMO: As lesões cervicais não cariosas são definidas como


a perda de estrutura dental na região cervical, que se origina a
partir de mecanismos não relacionados com o processo de
cárie. Tradicionalmente, são classificadas em erosão, abfração
e abrasão. A erosão dental, denominada de perimólise,
manifesta-se principalmente em pacientes com alterações do
aparelho digestivo que apresentam regurgitações e vômitos
frequentes, especialmente nas superfícies dentais que entram
em contato com a língua e o conteúdo ácido do vômito, sendo
assim então, um achado comum em pacientes com alterações
gástricas. É importante que esses pacientes consigam
identificar os sinais e sintomas dessas lesões, praticando assim
o autocuidado e procurando o melhor tratamento possível. Com
base nisso, o presente trabalho teve como objetivo fazer um
relato da experiência da utilização das tecnologias da
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

informação e comunicação no processo de educação em saúde


desse público-alvo. Foram realizadas postagens educativas
semanalmente, utilizando como principal ferramenta o
Instagram. Diversos temas relacionados ao projeto foram
abordados e expostos na forma de publicações interativas e
autoexplicativas. A realização dessas ações por meio do
ambiente virtual permitiu um aprendizado compartilhado entre
discentes, docentes e pacientes de forma interativa, fazendo
com que os conhecimentos adquiridos nas salas de aula
cheguem até o público, e contribuindo diretamente para a
formação como alunos, através do aprimoramento científico e
prático.
Palavras-chave: Educação em Saúde. Sensibilidade da
Dentina. Refluxo Gastroesofágico. Saúde Bucal.

INTRODUÇÃO

As lesões cervicais não cariosas (LCNCs) são


caracterizadas pela perda gradativa de tecido mineralizado na
região cervical do dente, gerada por uma combinação de
motivos sem o envolvimento de bactérias. A causa da LCNC é
multifatorial, originando-se por ações mecânicas e modificações
químicas de esmalte e dentina. Esse tipo de lesão é encontrado
especialmente no terço cervical da superfície vestibular de
todos os dentes, acontecendo com mais frequência nos dentes
posteriores inferiores, tanto em pacientes idosos quanto jovens
(KINA et al.; 2015). Tradicionalmente, são classificadas em
abfração, erosão e abrasão (XAVIER et al., 2012).
A erosão, especificamente, tem como características
principais a perda de brilho e superfície lisa em forma de “U” ou
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

pires (OLIVEIRA et al., 2017). Ela pode ser causada por ácidos,
que podem ser de dois tipos: extrínsecos e intrínsecos. Ácidos
extrínsecos ou exógenos estão relacionados à ingestão
excessiva e continuada de alimentos e bebidas ácidas. Ácidos
intrínsecos ou endógenos são originários do ácido gástrico,
como resultado de refluxos. A lesão gerada pelo ácido exógeno
(ou extrínseco) tende a se localizar na região da face vestibular.
Já quando é causada por ácidos de origem intrínseca, tendem
a se localizar nas regiões das faces palatinas e oclusais
(SALAS et al., 2015).
Pacientes com refluxo gastroesofágico e desordens
alimentares psicossomáticas (como por exemplo, bulimia) têm
alto risco de desenvolver erosão pelo contato dental com ácido
gástrico (ROCHA et al., 2016). A doença do refluxo
gastroesofágico (DRGE) é definida como o retorno passivo do
conteúdo gástrico para o esôfago, independentemente de sua
etiologia. Tal fenômeno pode ocorrer em circunstâncias
fisiológicas ou patológicas e em qualquer indivíduo, seja criança
ou adulto (FRAGA et al., 2012). A presença constante do ácido
do estômago na cavidade bucal pode levar à predisposição do
acontecimento da erosão dental nesses indivíduos.
É importante que esses pacientes consigam identificar
os sinais e sintomas dessas lesões, praticando assim o
autocuidado e procurando o melhor tratamento possível, tendo
em vista a melhoria de sua saúde bucal e qualidade de vida.
Com base nisso, o presente trabalho teve como objetivo
descrever a experiência do Projeto de Extensão da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), denominado
Orientação e educação sobre Lesões Cervicais não Cariosas
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

para pacientes com alterações gástricas, que foi desenvolvido


por discentes e docentes do curso de Odontologia, durante o
ano de 2020 (em cenário de pandemia do COVID-19), através
da utilização das tecnologias da informação e comunicação,
visando o processo de educação em saúde desse público-alvo.

MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de um relato de experiência


com abordagem qualitativa, acerca da vivência de um grupo de
estudantes do curso de graduação em Odontologia, da
Universidade Federal da Paraíba, participantes do projeto de
extensão “Orientação e educação sobre Lesões Cervicais não
Cariosas para pacientes com alterações gástricas”.
A extensão foi realizada durante o ano de 2020, no
decorrer dos meses de Abril a Outubro. Tendo em vista o
cenário de pandemia vivido pelo mundo no ano em questão, as
ações aqui relatadas foram desenvolvidas de forma remota,
utilizando as tecnologias da informação e comunicação.
As discentes participantes desenvolveram como
principal material postagens semanais, utilizando a página do
Instagram da extensão, sob orientação das docentes
coordenadoras. Os temas foram escolhidos de acordo com o
que havia sido proposto inicialmente pelo projeto. Dentre eles,
podemos destacar: os tipos de lesões cervicais não cariosas e
suas principais características, a relação entre o refluxo
gastroesofágico e erosão dental, as formas de identificar essa
lesão e quais sintomas podem estar presentes, a
hipersensibilidade dentinária e suas características, o efeito dos
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

distúrbios gastrointestinais na saúde de paciente grávidas,


entre outros.
Esses temas foram expostos na forma de publicações
interativas e autoexplicativas, além de vídeos curtos e em
linguagem acessível, objetivando atingir o maior público
possível, de forma eficaz e interativa, disseminando
informações e conhecimentos adquiridos em sala de aula,
podendo assim contribuir para uma melhoria na qualidade de
vida das pessoas, incentivando-as a praticar o autocuidado.
Cerca 150 a 200 pessoas foram alcançadas pelas postagens
durante a vigência.
Temas relacionados ao cenário atual de pandemia
também foram apresentados, entre eles a relação do COVID-
19 com o refluxo, e a importância dos cuidados bucais em
tempos de pandemia.
Outros recursos adicionais foram utilizados, como um
portfólio na plataforma Google, que permitiu a visualização
integral de todos os posts e vídeos feitos durante o projeto, e o
WhatsApp, para realização de reuniões entre os integrantes da
extensão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As alterações na região cervical dos dentes são


divididas em lesões cariosas e não cariosas, onde ocorre uma
perda irreversível da estrutura dentária. Entretanto, enquanto as
lesões cariosas são motivadas por microrganismos, as lesões
não cariosas possuem causa etiológica multifatorial e não
bacteriana. As LCNCs estão associadas geralmente a recessão
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

gengival, gerando queixas estéticas, acúmulo de biofilme


bacteriano próximo à lesão, hipersensibilidade dentária,
comprometimento da integridade da estrutura do dente e da
vitalidade da polpa (COSTA et al., 2018).
A lesão de erosão dental é caracterizada pela
perda irreversível e incurável das estruturas dentais
mineralizadas, que são degradadas por ácidos, sem
envolvimento de bactérias. Essa degradação acontece de
forma difundida, normalmente atingindo vários elementos
dentários e pode aparecer em todas as idades. O principal fator
causal parece ser atribuído ao contato entre o dente e os com
ácidos que não são provenientes de bactérias, podendo ser de
origem intrínseca ou extrínseca. A destruição dos tecidos
dentários acontece progressivamente (NASCIMENTO et al.,
2016).
Dentre os fatores causais intrínsecos, podemos
mencionar, sobretudo, os ácidos de origem endógena, tendo
como principal fator decisivo o contato com o ácido clorídrico de
origem estomacal que possui baixo pH. A relação com esses
ácidos endógenos pode ser atribuída à pacientes que são
portadores distúrbios digestivos, como o refluxo
gastroesofágico. Todavia, pode ocorrer também através do
vômito, que nesse caso, pode acontecer de forma natural ou ser
causado voluntariamente, como ocorre em pacientes
portadores de bulimia ou que possuam anorexia nervosa
(SILVA et al., 2019).
A erosão dental pode ter consequências
catastróficas para a saúde bucal, apresentando como
agravantes perdas de tecido dental que podem resultar em
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ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

sensibilidade, dificuldade de higienização e má aparência. Pode


haver exposição pulpar, diastemas, bordas incisais finas e
fraturadas, perda da dimensão vertical, proeminência das
restaurações, pseudo-mordida aberta e comprometimento
estético (JARKANDER et al., 2017).
O refluxo gastroesofágico apresenta uma
sintomatologia típica, que envolve a pirose (azia ou queimação),
a regurgitação ácida e a disfagia, porém, sinais e sintomas
atípicos podem estar também presentes, como a dor torácica,
sintomas otorrinolaringológicos e sintomas pulmonares,
exigindo dos profissionais que atuam no seu tratamento dentro
de uma equipe multidisciplinar o conhecimento necessário para
a identificação dos possíveis diagnósticos diferenciais e das
características e manifestações dessa patologia (CARIÚS,
2019).
Considerando que a erosão dental é um achado
comum em pacientes portadores da Doença do Refluxo
Gastroesofágico assim como também de outros distúrbios
gastrointestinais e transtornos alimentares, é imprescindível
que os mesmos reconheçam essa lesão preferencialmente em
estágio inicial, estando hábeis a procurar o tratamento
necessário. Isso possibilita ao cirurgião-dentista a realização de
um diagnóstico diferencial e identificação dos fatores
etiológicos, tornando possível a implementação de um
programa preventivo para evitar a evolução do quadro ou o
aparecimento de novas lesões, através da definição de um
plano de tratamento para cada caso em particular
(SCHNEIDER, 2016; SOUZA et al., 2019).
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

Além disso, é importante mencionar a


hipersensibilidade dentinária. Essa é uma condição que se
caracteriza por dor aguda, de pequena duração e que pode
ocasionar grande desconforto para o paciente. Esta dor é
originária de estímulos mecânicos, térmicos, químicos ou
osmóticos que são conduzidos para a polpa através dos túbulos
dentinários que se encontram abertos, presentes na superfície
dentinária. A abertura desses túbulos acontece pela corrosão
do esmalte e do cemento, acontecimento que está
frequentemente associado às lesões cervicais não cariosas
(KINA et al., 2019).
Destaca-se, atualmente, a importância da
educação, orientação e do correto diagnóstico da dor das
lesões cervicais não cariosas e da hipersensibilidade dentinária
cervical para que o tratamento seja efetivo, definindo sinais e
sintomas característicos da hiperestesia dentinária, decorrente
de respostas aos estímulos químicos, voláteis, térmicos, táteis,
ou osmóticos provocados no momento do exame e gerarem
resposta imediata e presença de áreas de dentina expostas
visíveis clinicamente (SCHNEIDER, 2016).
O sucesso no tratamento da hipersensibilidade
dentinária e da LCNC dependerá do conhecimento científico do
cirurgião-dentista, no sentido de assegurar uma precisa
identificação dos fatores etiológicos, e a correta seleção dos
materiais para dessensibilizar e restaurar, ou seja, a correta
intervenção clínica. Para isso, também é necessário que o
paciente esteja apto a identificar seus sintomas, com objetivo
de procurar o tratamento necessário o mais rápido possível
(COSTA et al., 2018).
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

Nesse contexto, entra a educação em saúde, que


caracteriza-se por estratégias que visam à qualidade de vida da
população. Tem a finalidade de compartilhar a gestão entre
indivíduos, comunidade, movimentos sociais, trabalhadores,
gestores, entre outros setores, além de promover autonomia e
corresponsabilidade, de forma a contemplar os princípios do
SUS como a Universalidade e Integralidade (BRASIL, 2006).
A tarefa de articular o ensino, o serviço e a
comunidade é desafiadora. É importante desenvolver métodos
e ações que respondam às necessidades e interesses da
comunidade e que, além disso, proporcionem uma interação
dos estudantes com a sociedade. Sendo assim, é este o desafio
que a extensão universitária tenta combater quando procura
desenvolver atividades com atributos teórico-práticos em uma
relação dialógica do meio acadêmico com a comunidade,
buscando uma troca de saberes entre graduandos e usuários
(MARTINS et al., 2016)
No setor da saúde, uma das principais expressões
da extensão tem sido sua insistência na criação de espaços de
integração ensino-serviço-comunidade, de modo a
potencializar a construção cotidiana de espaços de encontro,
criatividade e formação crítica em saúde, o que vem permitindo
vislumbrar tecnologias e dispositivos concretos para o
enfrentamento de obstáculos (ARAÚJO et al., 2015).
Sendo assim, o projeto de extensão “Orientação e
educação sobre Lesões Cervicais não Cariosas para pacientes
com alterações gástricas” teve como propósitos: orientar os
pacientes portadores de alterações gastroesofágicas quanto à
presença e diagnóstico das lesões cervicais não cariosas,
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

contribuindo para a melhoria de sua saúde bucal e qualidade de


vida; gerar uma integração médico-odontológica-paciente
através de um processo interdisciplinar e educacional,
promovendo uma interação transformadora de saúde bucal na
comunidade assistida pela ação de extensão; evidenciar a
concepção e a prática de uma atividade de extensão com
atenção à saúde do adulto, através da interação dialógica dos
acadêmicos de Odontologia com a sociedade por meio da troca
de conhecimentos e participação direta dos discentes com a
comunidade assistida, pautada no contexto social e articulação
entre ensino e extensão.
As publicações foram realizadas de forma
autoexplicativa e interativa, facilitando a absorção do conteúdo
por quem estava assistindo e garantindo que os assuntos
estavam sendo oferecidos em linguagem acessível. Além disso,
vídeos autoexplicativos também foram apresentados. Durante
a vigência no ano de 2020, foi observado que as postagens
obtiveram a média de alcance de 150 a 200 pessoas.
A realização da extensão contribui de forma
fundamental para a comunidade, pois possibilita que diferentes
grupos de pessoas tornem-se independentes em relação ao
cuidado com sua saúde bucal e sistêmica. Os conteúdos
abordados nas redes sociais do projeto envolveram desde
pacientes fumantes e gestantes até aqueles portadores de
distúrbios alimentares, como anorexia ou bulimia, ou de
distúrbios gastrointestinais. A partir das instruções e
orientações transmitidas pelo projeto, esses pacientes podem
receber o diagnóstico precoce de suas lesões, o que irá afetar
positivamente em sua qualidade de vida.
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

A importância dos instrumentos e dos espaços


virtuais no aprendizado já é reconhecida pela literatura. Nos
dias atuais, um grande número de tecnologias móveis que se
conectam à internet é utilizado por discentes e docentes em
todo o mundo para ter acesso à informações, tornar mais
simples a gestão do tempo e também facilitar a aprendizagem
de maneira moderna e transformadora (FRANÇA et al., 2019).
Assim como a nossa extensão, a literatura já
apresenta outros estudos que demonstram que o uso das
tecnologias da informação e comunicação constitui-se em uma
ferramenta útil no processo de ensino no meio acadêmico
(RAMOS et al., 2015; SILVA et al., 2015; PAULINO et al., 2018;
NETO et al., 2018; BERNARDES et al., 2019).
Paulino e colaboradores (2018), realizaram um
estudo na cidade de Uberlândia, com objetivo de destacar o
potencial pedagógico e formativo das redes sociais, que ainda
não aproveitado plenamente pelas universidades. Exemplos de
ações de educação em saúde veiculadas em diferentes mídias
foram compartilhados em um grupo de WhatsApp, ao qual
foram adicionados os discentes e professores envolvidos. Tais
ações visaram direcionar o debate proposto, e a atividade
permitiu uma discussão fluida e dinâmica, com contribuição
intensa de todos os participantes. Após a experiência, os
discentes demonstraram satisfação com o resultado final e
consideraram o experimento muito positivo e proveitoso. Esta
experiência evidenciou como as novas tecnologias da
informação e comunicação, especialmente as redes sociais,
têm capacidade para aprimorar o processo de ensino-
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

aprendizagem e trazer novos meios de interação entre


educador e educandos.
Neto e colaboradores (2018), realizaram um
estudo para descrever o projeto da Liga de Emergência do
Curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (UECE),
com foco no uso de redes sociais como meio de propagar
informações relativas a emergências cotidianas para uma
população leiga. O projeto teve como metodologia a confecção
de banners abordando emergências cotidianas, e a divulgação
destes em meios digitais. O estudo evidenciou um crescente
número de visualizações nas mídias e retorno positivo do
público, demonstrando assim que a liga cumpriu o princípio da
extensão universitária de levar informações da universidade à
população, ao mesmo tempo em que usou de maneira positiva
das tecnologias da informação e comunicação na formação dos
discentes.
O estudo realizado por Bernardes e
colaboradores (2019), na cidade de Uberlândia, teve o intuito
de compartilhar o uso do Facebook como ferramenta
pedagógica em Saúde Coletiva. A experiência foi conduzida
durante dois semestres letivos consecutivos, por duas
diferentes turmas do curso. Foi criada uma página do Facebook
com a finalidade de promover a saúde da população por meio
de postagens criativas, críticas e acessíveis. Os acadêmicos
tornaram-se protagonistas da atividade, uma vez que a escolha
das temáticas, a busca ativa por fontes científicas de qualidade,
a responsabilidade por cada postagem e o gerenciamento da
página foram atribuídos a eles, sendo supervisionados pelos
docentes. Obteve-se a interação com a comunidade para além
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

do meio acadêmico, já que a página foi divulgada para atingir a


população como um todo, contribuindo para a educação em
saúde e consequentemente para a autonomia do cuidado pelos
indivíduos. Dessa forma, as postagens dos discentes
alcançaram muitos cidadãos, os quais, além de acessarem
informações relevantes sobre saúde, podiam tirar dúvidas e
fazer comentários sobre o tema, evidenciando que o uso das
mídias digitais é eficiente na educação em saúde.
Ramos e colaboradores (2015), realizaram um
estudo na cidade do Rio de Janeiro, com objetivo de relatar a
produção, difusão de conhecimentos e metodologias na área de
educação e prevenção das doenças bucais, auditivas e de fala,
por meio de uma ferramenta educativa em saúde, realizada por
um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Foi articulada uma parceria entre as
Faculdades de Odontologia e Medicina da UFRJ. A metodologia
para a criação das atividades ocorreu por meio da
problematização, que tem por princípio observar a realidade de
modo crítico. Dentre os materiais criados, foi ressaltado um
método eletrônico, por meio de uma mídia digital (canal de
interlocução no YouTube), e a proposta de disseminação dos
conhecimentos se deu através de vídeo de mensagens
divertidas e com linguagem acessível e atualizada. Foi possível
concluir que o processo para criação e execução do vídeo
auxiliou os alunos na troca de conhecimentos e mostrou ser
uma forma inovadora para a aquisição de conhecimentos e com
alto potencial de utilização por adolescentes e jovens nos dias
de hoje, além de se configurar para a comunidade como uma
forma de aquisição de conhecimentos e solução de dúvidas.
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

Silva e colaboradores (2015), realizaram um


estudo a fim de realizar uma reflexão acerca da produção
acadêmica em mídias, saúde e educação no Brasil. Para
investigar essa influência, os autores objetivaram em seu
trabalho discutir artigos científicos que debatessem sobre a
interface Mídia, Educação e Saúde, para então observar as
impressões positivas e/ou negativas de cada autor sobre essa
interface na promoção efetiva da saúde. Os resultados
demonstraram o potencial da mídia em interferir no
comportamento e saúde da população e que o uso das mídias
para educação em saúde é um forte aliado.
Outro ponto positivo e importante da nossa
extensão foi a abordagem de conteúdos relacionados à
pandemia do novo Coronavírus. Temas atuais e relevantes
foram apresentados, sendo discutidos em conjunto com os
assuntos propostos pela extensão, como por exemplo, a
relação do COVID-19 com o refluxo gastroesofágico, e a
importância dos cuidados bucais em tempos de pandemia.
Estudos já demonstram que mesmo sob a orientação da
quarentena e do isolamento social, os usuários continuam a
buscar os serviços de saúde, pois os problemas de saúde
continuam a afetá-los. Sendo assim, é essencial a produção do
cuidado, ainda mais em meio as aspirações e necessidades da
comunidade. Portanto, o contato entre profissional da saúde e
usuário do sistema seguirá ocorrendo, e a aposta nas
tecnologias leves e no cuidado humanizado são ainda mais
fundamentais. A educação em saúde, neste caso de pandemia,
não consiste apenas em ações de transmissão de conteúdo
sobre o Coronavírus, mas um processo ético, estético, político
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

e pedagógico que requer o aumento do pensamento crítico e


reflexivo, permitindo se adequar a realidade e implementar
ações inovadoras, como é o caso do isolamento social
(CECCON et al., 2020).
É importante mencionar que a interação com o
mundo concreto e seus protagonistas, disseminada pela
reflexão crítica e participativa, bem como o espírito de trabalho
cooperativo interdisciplinar, desperta na maioria dos estudantes
o apreço pela utilização de abordagens humanísticas,
participativas e solidárias dos problemas de saúde. Desse
modo, a participação em extensões como essa amplia a visão
do estudante, simplificando o saber científico e ensinando-o a
atuar conforme a vida comunitária numa atuação centrada na
vida, não apenas na doença e na cura (ARAÚJO et al., 2015).
A extensão permite o desenvolvimento da
corresponsabilidade entre os futuros profissionais e a
comunidade sobre o processo saúde-doença, além de
possibilitar que os estudantes conheçam as realidades e os
problemas que acontecem na comunidade e realizem medidas
propositivas face às necessidades sociais. Do mesmo modo,
essas atividades contribuem para a autonomia dos indivíduos
sobre os direitos que possuem, por meio do compartilhamento
de informações, tendo a academia como mediadora (MARTINS
et al., 2016).
Ao estarem inseridos no contexto dessa extensão,
os discentes puderam não apenas desenvolver a capacidade
de planejamento, adaptação a novos cenários e interação com
a comunidade, mas também puderam ampliar suas habilidades
quanto ao trabalho interdisciplinar, estando mais cientes de sua
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

responsabilidade quanto a suas funções no que se refere ao


cuidado para com os pacientes.
Faz-se necessário considerar a extensão universitária
na perspectiva de estudantes de cursos de graduação da área
da saúde como uma parte integrante da formação, indissociável
e não menos importante que o ensino e a pesquisa, de forma a
compreender e reverberar em suas práticas o seu caráter
político, social e científico. Verifica-se a necessidade de estudos
que analisem os impactos das ações extensionistas nas
comunidades, de maneira a discutir as contribuições para a
comunidade e para a formação acadêmica (RIBEIRO et al.,
2016).

CONCLUSÃO
O uso das mídias digitais na educação em saúde vem
sendo considerado como uma promissora ferramenta de ensino
e aprendizagem nos tempos atuais. Especificamente no ano em
que estamos vivendo, com o acontecimento da pandemia, as
redes sociais foram uma forma essencial de dar continuidade
às ações de extensão, que são parte indispensável do meio
acadêmico, por proporcionar uma diversificação das atividades
educativas entre a comunidade e a universidade.
A extensão “Orientação e educação sobre Lesões
Cervicais não Cariosas para pacientes com alterações
gástricas” obteve êxito no que se propôs, construindo um
espaço para que o público-alvo pudesse entender as
informações referentes à sua saúde, sanar dúvidas e trazer à
tona questionamentos, que muitas vezes não podem ser feitos
por outros meios. Isso reflete diretamente na conscientização
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM CENÁRIO DE PANDEMIA:
ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
PARA PACIENTES COM ALTERAÇÕES GÁSTRICAS

da comunidade, dando início a um processo de reflexão e


transformação da mesma.
As informações compartilhadas por esta extensão
permitirão que os pacientes tenham autonomia e capacidade de
fazer o autoexame bucal para identificar as Lesões Cervicais
não Cariosas, estando hábeis a procurar o atendimento
odontológico que necessitam.
A realização dessas ações por meio do ambiente virtual
permitiu um aprendizado compartilhado entre discentes,
docentes e pacientes de forma interativa, fazendo com que os
conhecimentos adquiridos nas salas de aula cheguem até o
público, e contribuindo diretamente para a nossa formação
como alunos, através do aprimoramento científico e prático.

REFERÊNCIAS
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ORIENTAÇÃO E EDUCAÇÃO SOBRE LESÕES CERVICAIS NÃO CARIOSAS
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57-66, jan-abr, 2012..
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

CAPÍTULO 24

USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES


NO CLAREAMENTO DE DENTES
VITALIZADOS
Bianca Maria Vieira dos Santos SILVA 1
Beatriz Diniz DUARTE 1
Geovanna de Oliveira NOGUEIRA 2
Darlene Cristina Ramos Eloy DANTAS 3
Waldênia Pereira FREIRE 4
1 Graduandas do curso de Odontologia, UEPB – Campus I; 2 Graduanda do
curso de Odontologia, UNIFIP Centro Universitário de Patos; 3 Professora
do Departamento de Odontologia, UEPB – Campus I; 4
Orientadora/Professora do Departamento de Odontologia Odontologia da
UNIFIP Centro Universitário de Patos
bianca123vieira@gmail.com

RESUMO: A hipersensibilidade dentinária constitui-se como um


problema que afeta grande parcela da população. Essa
sintomatologia dolorosa, devido à exposição de dentina ao meio
externo, desencadeia o aumento na procura por tratamentos
alternativos com o intuito de aliviar a dor. Desta forma, esse
trabalho teve como objetivo avaliar clinicamente a eficácia do
agente dessensibilizante utilizado previamente à aplicação do
peróxido de hidrogênio à 35%. Foram selecionados 20
pacientes, divididos aleatoriamente em dois grupos:
experimental e placebo. No 1º grupo foi utilizado o agente
dessensibilizante a base de nitrato de potássio 5% e fluoreto de
sódio 2% (Dessensibilize KF 2%, FGM), e no 2º grupo foi
utilizado o placebo. Um gel dessensibilizante e um placebo
foram aplicados antes do procedimento de clareamento dental
em consultório, em duas sessões clínicas, com intervalos de 15
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

dias. A análise da dor pós operatória foi realizada através de


uma escala numérica analógica com scores de 0 (sem dor) à 10
(dor máxima). Os dados obtidos foram submetidos a análise
estatística ANOVA, no qual percebeu-se que em ambas
sessões o grupo placebo apresentou maiores graus de dor em
relação ao grupo experimental. Conclui-se que o uso do agente
dessensibilizante a base de nitrato de potássio à 5% e fluoreto
de sódio à 2% reduziu a prevalência e a intensidade da
sensibilidade dentinária pós clareamento.
Palavras-chave: Clareamento Dental. Dessensibilizantes
Dentinários. Peróxido de Hidrogênio.

INTRODUÇÃO

Atualmente, o principal agente clareador empregado no


consultório é o peróxido de hidrogênio nas concentrações de 30
a 35% e no método caseiro, o peróxido de carbamida de 10 a
22%. Em sua grande maioria, os relatos de sensibilidade de
pacientes que utilizaram o método caseiro são menores, em
virtude das baixas concentrações dos agentes clareadores
(GENTILE et al., 2004).
Existem dois mecanismos que podem alterar a cor do
elemento dental: as manchas intrínsecas e/ou extrínsecas.
Qualquer substância que apresente pigmentos, principalmente
os escurecidos, pode causar manchamento dental ao entrar em
contato com a superfície dentária. Já o escurecimento
fisiológico por deposição constante de dentina ou por
traumatismo é resultante do mecanismo de manchas
extrínsecas (SULIEMN, 2008).
Em uma pesquisa realizada, Silva et al. (2012),
comparavam a eficácia dos dois agentes clareadores, peróxido
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

de hidrogênio e peróxido de carbamida, e concluíram que


ambos são eficazes dentro de cada técnica, alcançando, assim,
o desejado resultado do clareamento dental.
Na sensibilidade ocasionada pelo clareamento, ocorre
a penetração de subprodutos dos géis clareadores, que
adentram na dentina até atingir a polpa, gerando uma pulpite
reversível e uma sensibilidade térmica temporária, não
causando danos maiores ao tecido pulpar (BLANKENAU et al.,
1999).
Existem poucos estudos acerca dos efeitos causados
pelos agentes clareadores nos componentes da polpa. Costa et
al. (2010), seguiram um estudo, in vivo, de grande relevância,
no qual realizaram três aplicações consecutivas de 15 minutos
de peróxido de hidrogênio a 38% em dentes com indicação de
exodontia para tratamento ortodôntico de pacientes jovens,
sendo seis pré-molares e quatro incisivos inferiores. Depois de
analisar histologicamente os dentes, observou-se que não
houve nenhuma alteração pulpar nos pré-molares. No entanto,
verificou-se necrose dos tecidos pulpares em três incisivos, que
provavelmente ocorreu devido a menor espessura de esmalte
e dentina.
De acordo com Crescente (2016), para avaliar os
efeitos dos agentes clareadores sobre a polpa dental, é
necessário fazer a verificação através dos tecidos dentais.
Gillam et al. (1997) relataram que cerca de 35% de da
população, em especial na terceira e quarta década de vida
apresenta sensibilidade. Geralmente, atinge as margens
vestibulares cervicais e linguais, ou qualquer região com
exposição dentinária. No entanto, nem toda dentina exposta
necessariamente será hipersensível.
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

Araújo et al. (2013) analisaram a eficácia do 10% de


peróxido de carbamida, manipulado para o uso caseiro, durante
2 horas por dia no decorrer de 15 dias consecutivos em 34
pacientes com dentes naturalmente escurecidos. Em 71% da
amostra foi relatado sensibilidade, com 50% apresentando leve
sensibilidade, 37,5% moderada e 12,5% severa. Observou-se
também, a presença de uma irritação gengival na metade dos
voluntários, sendo 59% leve, 35% moderado e 6% severo.
Desses 34 pacientes, 10 ficaram bastante satisfeitos com o
resultado obtido, 20 satisfeitos, e 4 razoavelmente satisfeitos.
Os autores puderam concluir a eficácia do clareamento com gel
de peróxido de carbamida a 10%, manipulado em farmácia,
para dentes vitalizados e escurecidos naturalmente.
O peróxido de hidrogênio por ser uma molécula
extremamente mutável, dissocia quando está em contato com
fluidos orgânicos, podendo formar os seguintes tipos de íons:
moléculas de água (H2O); íons hidroxila (OH) e peridroxila
(HOO-) considerado o mais potente. Esses radicais livres vão
reagindo com macromoléculas dos pigmentos na medida que
penetram na superfície do esmalte atingindo a dentina. Assim,
absorvendo os comprimentos de onda eletromagnética,
presente nessas estruturas, fazem a oxidação e a redução das
moléculas deixando-as menores e mais simples. Ou seja, com
menor absorção e menos pigmentação tornam-se mais claras,
o que promove o clareamento dos dentes (FLOREZ et al., 2007,
TRAVASSO et al., 2010, BORTOLATTO, 2011).
Em função disso, as demandas da população
aumentam cada vez mais em relação à estética dentária. O
tratamento de dentes descoloridos pela abordagem
conservadora utilizando procedimentos não restauradores é
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

uma área em rápido desenvolvimento (WATTS et al., 2001).


Existem vários métodos para o tratamento de dentes
descoloridos, sendo o clareamento dental o mais comum,
simples e menos invasivo (BIZHANG et al., 2006).
A partir das evidências científicas, têm-se demonstrado
que durante o clareamento, a sensibilidade dental é provocada
pela nocividade do peróxido de hidrogênio aos tecidos pulpares,
estimulando os receptores neurais (MARKOWITZ et al., 1992).
O peróxido de hidrogênio nas concentrações 35 a 40% são os
mais usados pelo cirurgião dentista, sendo seguros e efetivos,
tendo como efeito colateral mais relatado pelos pacientes, a
sensibilidade dental (HAYWOOD et al., 2002).
Todo estímulo, seja mecânico, físico ou biológico,
provoca a movimentação do fluido dentinário, que ocasiona a
penetração ligeira nos túbulos dentinários, repercutindo nas
terminações nervosas e provocando a sensibilidade (TORRES
et al., 2013). Postulada por Brannstrom, a teoria da
hidrodinâmica, refere-se à sensibilidade, ou seja, a dor
dentinária sentida, sendo causada pelos movimentos dos
fluidos dentinários para dentro e para fora dos túbulos
(BRANNSTROM et al., 1967).
Reis et al. (2011) sugeriram a realização da aplicação
tópica do dessensibilizante, como o fluoreto de sódio a 5%,
nitrato de potássio a 2%, fazendo a associação dos mesmos
previamente ou imediatamente após (ARMENIO et al., 2008) o
uso do peróxido de hidrogênio aplicado em consultório, que
apresenta resultados satisfatórios sem alterar a eficácia do
clareamento (PUBLIO et al., 2013).
A sensibilidade, na maioria dos casos, pode
desaparecer. O uso dos agentes dessensibilizantes, que
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

possuem em sua composição fluoretos e nitratos de potássio,


constitui-se como uma possível solução para a redução da
sensibilidade no pós-operatório (TAY, KOSE, LOQUERCIO &
REIS, 2009).
A indicação para o uso dos agentes dessensibilizantes
pode ser conveniente nos casos em que o paciente já apresenta
sensibilidade dental ou a desenvolve durante o tratamento.
Uma das composições dos dessensibilizantes, como por
exemplo o fluoreto, atua restringindo as respostas nervosas ao
ocluir os canalículos dentários (MATIS, COCHRAN & ECKERT,
2009).
Kolker et al. (2002) relatam que os agentes
dessensibilizantes podem possuir tanto uma ação bloqueadora
dos túbulos, quanto nas terminações nervosas intratubulares. O
tratamento oclusivo mais comumente usado em caso de
dentina hipersensível para a sensibilidade pode ser à base de
fluoretos (PEREIRA et al., 2005), incluindo géis fluoretados e
vernizes essas que, em altas concentrações promovem a
precipitação de cristais (GARBEROGLIO, BRANNSTROM,
1976; PASHLEY, 1986). A base de proteínas quando
combinadas com os carbonatos presentes na dentina formam
barreira que causa a obstrução dos túbulos dentinários
(CUMMINS et al., 2010).
Haywood (2002) afirma que o agente tópico mais usado
pelo profissional é o flúor. Este promove o fechamento dos
túbulos dentinários diminuindo a sensibilidade, através de uma
cristalização e redução desse fluxo dos fluídos para a polpa.
Para Garone (1996) a aplicação prática de íon flúor é através
da utilização de vernizes. Contudo, Yoshiyama (1990) afirma
que mesmo tendo o seu valor clínico no tratamento da
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

hipersensibilidade, o tempo de efeito dos vernizes é curto, visto


que são removidos rapidamente pela saliva.
Em consonância, Kerns et al. (1991), Suge et al. (1995)
e Arrais et al. (2004) supõem que a oclusão tubular conseguida
pelo uso do dessensibilizante pode ser removida facilmente
pela ingestão de substâncias ácidas, escovação diária ou
dissolução precipitados formados pela saliva, levando a uma
duração menor dos efeitos do tratamento.
Haywood (2002) explica que os sais de potássio agem
obliterando os túbulos dentinários quando são aplicados em
movimentos de esfregas, diminuindo assim, o fluxo dos fluídos
nos túbulos. O hidróxido de cálcio também está sendo muito
utilizado para o tratamento da hiperestesia dentinária, agindo
na formação de dentina esclerótica, bloqueando os túbulos, não
sendo irritante para a polpa, além de que os seus íons de cálcio
e seu PH alcalino promovem o depósito de fosfato de cálcio
dentro dos túbulos dentinários (RICO, 1992). Garone (1996)
refere-se ao mecanismo do hidróxido de cálcio, mas também,
relembra que estes são solúveis em meio ácido.
Kruger (2001) e Ferreira et al (2001) mencionaram que
o dentifrício é a fórmula mais comum de veículo para os agentes
dessensibilizantes, contendo formulações como nitrato de
potássio, cloreto de estrôncio e fluoreto de sódio. O cloreto de
estrôncio é um dessensibilizante que pode ser encontrado na
forma de vernizes e dentifrícios e seu mecanismo de ação se
dá pela troca do cálcio pelo estrôncio (CONCEIÇÃO, 2007).
Os dessensibilizantes resinosos é outro método
oclusivo, a base de Bis-GMA, podendo ter uma ação mais
duradoura, sendo estes mais resistentes a abrasões e pouco
solúveis que outros precipitados (BRUNTON et al., 2000). Os
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

métodos largamente utilizados são os tópicos por serem


convenientes e obter um efeito imediato (GARBEROGLIO,
BRANNSTROM, 1976). Os íons de potássio podem penetrar
nos túbulos dentinários e exercer um efeito dessensibilizante
diretamente nas terminações nervosas, chamando assim esse
método neural (MARKOWITZ et al., 1991; GANGAROSA,
1994).
Ishihata et al. (2009) realizaram estudos clínicos,
preferencialmente, fazendo a determinação da eficácia dos
agentes tópicos, do consultório ou caseiro. Os testes in vitro são
bem uteis na avaliação dos agentes dessensibilizantes,
embora, não sejam capazes de imitar a complexidade da
dentina vital. No entanto, Kolker et al. (2002) observaram que é
necessário realizar avaliações por longos períodos, com
simulações das condições orais, incluindo a abrasão.
A obtenção de um estudo de caso sobre a possível
eliminação ou diminuição da sensibilidade dentinária utilizando
os agentes dessensibilizantes no clareamento dental configura-
se como um tema de extrema relevância na Odontologia. Nesse
sentido, a atualização de conhecimentos e informações serão
fundamentais para a realização do procedimento odontológico
estético com o menor índice de dano e efeito colateral.
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi avaliar,
clinicamente, a eficácia dos agentes dessensibilizantes,
utilizando-os previamente à aplicação do peróxido de
hidrogênio a 35%, em dentes vitalizados, na efetividade do
clareamento e sensibilidade dental.
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente projeto de pesquisa foi aprovado pelo


Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário de Patos –
UNIFIP. Sendo assim, foi realizado um estudo de caso,
qualitativa, com abordagem quantitativa. A amostra foi
composta por 20 pacientes que se enquadravam nos critérios
de inclusão do estudo em questão, sendo devidamente
selecionados e informados sobre os objetivos da pesquisa. Os
critérios de inclusão foram: preenchimento do termo de
consentimento e participação voluntária da pesquisa, pacientes
de 18 a 30 anos com boa saúde geral e oral, presença em todas
as sessões do claremaneto dental, possuir os dentes ântero-
superiores livres de cárie, ausência de restaurações com
envolvimento na face vestibular dos elementos a serem
clareados ou implantes dentais e ausência de sensibilidade
dental (sensibilidade estimulada por jatos de ar). Os critérios de
exlusão foram: grávidas ou lactantes, indivíduo com doença
periodontal ou em tratamento do tabagismo, reação adversa a
produtos utilizados no clareamento, dentes com escurecimento
severo (manchamento por tetraciclina, fluorose, tratamentos
endodônticos), presença de hábitos parafuncionais ou outro tipo
de patologia bucal, realizado clareamento anteriormente.
Para execução deste estudo foi escolhido um agente
dessensibilizante a base de nitrato de potássio a 5% e fluoreto
de sódio a 2%, um placebo a base de água e um agente
clareador a 35%, de uso em consultório (Quadro 1). Os
procedimentos foram realizados na Clínica Escola de
Odontologia da UNIFIP Centro Universitário de Patos, no
município de Patos-PB.
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

Quadro 1. Marca comercial, fabricante, composição e indicação


dos materiais utilizados na pesquisa

Fonte: Catálogo FGM, Johnson & Johnson

Previamente ao clareamento, todos os pacientes


responderam uma ficha clínica e foram submetidos à limpeza
profilática com pedra pomes e água. Foram realizadas duas
sessões de clareamento em cada indivíduo com intervalo de 15
dias de uma sessão para a outra. Os dentes anteriores
superiores e inferiores, do pré-molar esquerdo ao pré-molar
direito, foram clareados com peróxido de hidrogênio a 35%.
Por meio de sorteio, os pacientes foram divididos
aleatoriamente em dois grupos: experimental e placebo. No
experimental (GE), aplicou-se um dessensibilizante à base de
nitrato de potássio 5% e fluoreto de sódio 2% (Desensibilize KF
2%, FGM, Joinville, Santa Catarina, Brasil), e no grupo placebo
(GP), utilizou-se um placebo a base de água, com a mesma
forma de apresentação, mas sem os princípios ativos.
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

Dependendo do grupo em questão, aplicou-se o gel


dessensibilizante ou o placebo nas faces vestibulares dos
dentes durante 10 minutos. Posteriormente, o gel ou o placebo
foi removido através de uma cânula de aspiração endodôntica.
A inserção do afastador labial (Arcflex) foi utilizada
para facilitar o acesso e a manipulação da cavidade bucal. Para
confeccionar a barreira gengival fotopolimerizável foi realizado
o isolamento relativo com o Top Dam. Para cada grupo de 3
dentes, a resina foi fotopolimerizada durante um período de 20
e 30 segundos. A mistura do gel clareador de peróxido de
hidrogênio seguiu a proporção 3:1, utilizando 21 gotas de
peróxido para 7 gotas de espessante.
Com ajuda de um microbrush, toda a face vestibular
dos 20 dentes (visíveis na linha do sorriso) foi coberta pelo gel
clareador à base de peróxido de hidrogênio à 35%. Em cada
sessão clínica, foram realizadas 3 aplicações do gel (15
minutos/aplicação), seguindo as recomendações do fabricante.
Ao finalizar o tempo de aplicação, removeu-se o gel clareador
e a barreira gengival com lavagem abundante dos elementos
dentais.
Após cada sessão, os pacientes responderam um
questionário de experiência de análise da sensibilidade pós-
clareamento obtido através de uma Escala Numérica,
apresentada em uma régua no sentido horizonta, que variava
de 0 a 10 (Figura 1). Desse modo, pretendeu-se que o paciente
relacione a intensidade da sua dor com a classificação
numérica. O valor 0 corresponde a uma classificação “sem dor”
e o valor 10 a classificação “dor máxima” (Dor de intensidade
máxima imaginável).
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

Figura 1. Escores dos graus de sensibilidade relacionados com


a escala numérica de intensidade da dor.

Fonte: Ministério da Saúde


< http://www.myos.com.pt/files/circular5sinalvital.pdf >

Os pacientes receberam recomendações para não


consumir substâncias que contenham ácidos como: sucos de
limão, abacaxi, laranja, refrigerantes, para não aumentar o
processo de desmineralização inicial causada pelo agente
clareador. Além disso, recomendou-se evitar o consumo
alimentos com pigmentos fortes, principalmente nas primeiras
48 horas, e se possível, durante a primeira semana. Foi
proibido, também, o fumo e o consumo de bebidas alcoólicas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra foi composta por 20 indivíduos distribuídos


em 2 grupos, tendo 10 (50,0%) fazendo parte do grupo placebo
e 10 (50,0%) do grupo experimental (Tabela 1). Quanto ao sexo
no grupo placebo, 4 (40,0%) eram do sexo masculino e 6
(60,0%) do sexo feminino. No grupo experimental, 4 (40,0%)
eram do sexo masculino e 6 (60,0%) do sexo feminino. A média
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

de idade da amostra foi de 23,10 anos e Desvio Padrão (DP)


2,86, com idade mínima de 20 e máxima de 29 anos.

Tabela 1. Variáveis sociodemográficas (N=20).

Fonte: Pesquisa Própria


Tabela 2. Grau de dor representado pela amostra na primeira
sessão de clareamento (N=20)

Fonte: Pesquisa Própria


USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

Tabela 3. Grau de dor representado pela amostra na segunda


sessão de clareamento (N=20).

Fonte: Pesquisa Própria

Analisando as tabelas 2 e 3, percebe-se que em ambas


as sessões, o grupo placebo apresentou maiores graus de dor
em relação ao grupo experimental, o que nos permite
compreender a eficiência dos agentes dessensibilizantes ativos
a base de nitrato de potássio a 5% e fluoreto de sódio a 2%.
No estudo foi realizado um teste Quiquadrado entre a
escala de dor (1° e 2° sessão) com as variáveis referentes ao
perfil sociodemográfico da amostra (sexo, estado civil, renda e
escolaridade), no qual apontou significância estatística (p≤0,05)
apenas em relação ao sexo com a 1° sessão de clareamento
do grupo placebo. Isso implica afirmar que o sexo está
relacionado com o grau de dor dos indivíduos. Dependendo ou
não da relação do paciente com o profissional, a dor é resultante
de uma complexa interação psicológica e fisiológica, e a
sensibilidade vem sendo descrita como a complicação mais
comum após o clareamento (HAYWOOD, 2003).
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

Na superfície dentinária, os estímulos aplicados não


conseguem estimular de forma direta os receptores de dor.
Nesse sentido, a estimulação deve ser indireta, tendo em vista
que segundo a teoria hidrodinâmica, qualquer estímulo causa a
movimentação dos fluídos que estimulam os nervos no interior
do túbulos dentinário, e por consequência, produzem a
sensação dolorosa (BRANNSTROM et al., 1967).
De acordo com Pashley (1986), a obliteração parcial ou
total dos túbulos, com finalidade de reduzir o movimento dos
fluidos e a permeabilidade da dentina, seria um tratamento
efetivo para uma hipersensibilidade. Trazendo para o nosso
estudo em questão, pôde-se observar que foram obtidos
grandes vantagens na execução da aplicação dos
dessensibilizantes, visto que na pesquisa os pacientes que
possuíam sensibilidade considerável, obtiveram uma
atenuação no desconforto.
O clareamento dental de consultório, à base de
peróxido de hidrogênio à 35%, como o material utilizado nesse
estudo, é classificado como um processo oxidativo avançado
homogêneo que oxida os pigmentos presentes, clareando a
estrutura dentária. De acordo com Joiner (2007), em uma
revisão bibliográfica de estudo in vitro sobre os efeitos
deletérios no esmalte e na dentina causados pelo peróxido de
hidrogênio, concluiu que as alterações nessas estruturas não
seriam relevantes. Cadenaro et al., (2008) concluíram que as
altas concentrações de agente clareador aplicados repetidas
vezes não causariam danos ao esmalte.
O aspecto principal nesse estudo é a sensibilidade
provocada pelo tratamento do clareamento dental, sendo
bastante relatada pelos pacientes, devido ao nível de agressão
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

desse procedimento estético(PAPATHANASTIOU et al., 2002).


Apesar dos benéficos estéticos, os radicais livres produzidos
pelos géis clareadores são agressivos aos tecidos biológicos
(BARATIERI et al., 2004).
Outro fator importante na determinação da
sensibilidade é a média de idade dos pacientes. Neste estudo
essa média esteve entre 18 e 30 anos, o que configura
procedimento realizado em dentes jovens. Vale ressaltar que
esses dentes apresentam polpas volumosas e menor grau de
mineralização do esmalte e dentina quando comparados aos
pacientes mais velhos. No entanto, Sulieman et al. (2002)
ressaltaram que a espessura de esmalte e de dentina não
influencia na resposta pulpar do dente em relação ao
clareamento.
Através de testes estatísticos da ANOVA foram obtidos
valores significantes da porcentagem de redução da sensação
dolorosa. Nesse sentido, o agente dessensibilizante a base de
nitrato de potássio 5% e fluoreto de sódio 2% (Dessensibilize
KF 2%, FGM) foi eficaz frente ao tratamento de clareamento
dental. Arrais et al. (2004) também testou produtos
dessensibilizantes e concluiu que esses agentes possuem uma
maior capacidade de obliteração dos túbulos dentinários
quando comparados ao grupo controle sem tratamento.
Os sais de potássio e o nitrato de potássio são produtos
dessensibilizantes que tem ação de interferir a transmissão do
impulso nervoso e interromper o fluxo do fluído dentro do
túbulos dentinários, diminuindo a resposta do estímulo da dor,
agindo em um pequeno número de axônios amielinizados.
Esses axônios são advindos dos feixes nervosos da polpa, que
entram nos túbulos através das células odontoblásticas (2013).
USO DOS AGENTES DESSENSIBILIZANTES NO
CLAREAMENTO DE DENTES VITALIZADOS

No nosso estudo, os agentes dessenssibilizantes possuíram


efeito satisfatório, diminuindo o grau de sensibilidade, e,
consequentemente, o nível da percepção de dor para os
pacientes. Nesse sentido, contribui-se com maior conforto para
as futuras aplicações e mais segurança para o procedimento
estético.

CONCLUSÕES

Baseado nos resultados encontrados neste estudo


podemos concluir que:
• O agente dessensibilizante à base de nitrato de
potássio 5% e fluoreto de sódio 2% (Dessensibilize KF 2%,
FGM) é eficaz frente ao tratamento de clareamento dental no
consultório. Utilizando como método de avaliação um
questionário de experiência de análise de dor.
• De acordo com as variáveis referentes aos perfis
sociodemográficos dos pacientes, o sexo foi a única variável
significativa, influenciando na relação com o grau de
sensibilidade percebida após as sessões de clareamento
dental.
• A sensibilidade é um problema e foi percebida de
uma forma notória nos pacientes do grupo placebo.

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INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO TERAPÊUTICA
PARA LESÃO DE CÁRIE PROXIMAL NÃO CAVITADA –
REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 25

INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO


TERAPÊUTICA PARA LESÃO DE CÁRIE
PROXIMAL NÃO CAVITADA – REVISÃO DE
LITERATURA
Franciara Maria Gomes Alves1
César Luis Porpino Santos da Silva Júnior1
Caroline de Souza Cavalcante 2
Diana Ferreira Gadelha de Araújo3
Isana Álvares Ferreira4
1Cirurgião-Dentista
- UFRN, Residente Multiprofissional em
Atenção Básica - EMCM/UFRN; 2Graduanda do curso de Odontologia -
UFRN; 3Professora do DOD/UFRN; 4Orientadora/Professora do
DOD/UFRN.
isanaalvares@hotmail.com

RESUMO: O diagnóstico e tratamento precoces das lesões de


cárie são essenciais para evitar que essas lesões progridam e
resultem em cavidades, favorecendo tratamentos mais
conservadores, como os infiltrantes resinosos. O objetivo deste
trabalho é realizar uma revisão da literatura convencional para
avaliar a eficácia da técnica de infiltração resinosa como
tratamento das lesões de cárie proximal. Para isso, foi realizado
um levantamento nas bases de dados PubMed (Medline),
Scielo (Scientific Eletronic Library Online) e Literatura Latino
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Os
estudos analisados mostraram que a infiltração resinosa é
indicada para lesão branca de cárie não cavitada, com
resultados promissores em relação às abordagens não
invasivas, aplicadas de forma isolada. Foi observada uma maior
INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO TERAPÊUTICA
PARA LESÃO DE CÁRIE PROXIMAL NÃO CAVITADA –
REVISÃO DE LITERATURA

eficácia nas lesões de cárie restritas ao esmalte do que nas com


envolvimento de dentina. A resistência do esmalte infiltrado
frente ao desafio ácido demonstrou grande proteção ao tecido,
como também menos alteração de cor e rugosidade superficial.
Para obtenção de um resultado favorável, é necessário realizar
um bom diagnóstico, o qual norteará a indicação correta da
infiltração resinosa para o tratamento da lesão proximal, além
de seguir as orientações do fabricante do infiltrante, quanto a
sua aplicação na superfície do dente cariado.
Palavras-chave: Cárie dentária. Mancha branca. Ação
terapêutica.

INTRODUÇÃO

A cárie dentária ainda é a doença crônica mais


prevalente em todo o mundo, mesmo com o avanço da
Odontologia Preventiva, sendo as lesões cariosas incipientes
as mais comumente presentes, quando comparadas às
grandes lesões cavitadas (CASALEGNO et al., 2019). O
processo de estabelecimento da cárie dentária é dinâmico,
contínuo e envolve, simultaneamente, o metabolismo de
bactérias do biofilme cariogênico e perda mineral do tecido
dentário. Nas fases iniciais da doença, as lesões caracterizam-
se por uma perda mineral na subsuperfície dentária, deixando
um corpo de lesão por baixo de um esmalte aparentemente
intacto (SADYRIN et al., 2020).
No processo do diagnóstico da cárie interproximal, o
maior obstáculo consiste na detecção das lesões antes que
ocorra o processo de cavitação, pois a técnica diagnóstica
tradicional, por exame clínico-visual, bem como o sítio de
INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO TERAPÊUTICA
PARA LESÃO DE CÁRIE PROXIMAL NÃO CAVITADA –
REVISÃO DE LITERATURA

localização da lesão, não favorecem uma percepção sensível


dos sinais dessa fase inicial da doença, sendo necessário
lançar mãos de técnicas complementares de detecção como
radiografias, lasers, separação interdental, transiluminação
infravermelha, dentre outras (KOCAK & CENGIZ-YANARDAG,
2020).
Os diferentes estágios de evolução do processo de
cárie correspondem a diferentes estratégias de tratamento. O
diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para evitar
que essas lesões progridam e se transformem em cavidades,
pois, quando em estágios iniciais, essas têm potencial para
serem remineralizadas e monitoradas ao longo do tempo,
favorecendo tratamentos mais conservadores e procedimentos
que abarcam a odontologia minimamente invasiva (ABBAS,
MARZOUK & ZAHER, 2018).
Para o manejo das lesões de cárie proximais há uma
gama de opções de tratamento, compreendendo abordagens
não operatórias/não invasivas e minimamente/micro invasivas,
bem como tratamentos restauradores tradicionais. O tratamento
não invasivo visa controlar a atividade do metabolismo
bacteriano por meio do controle de biofilme e aplicações de
flúor; já os tratamentos microinvasivos incluem selantes
proximais e infiltração de resina que constroem uma barreira
mecânica contra o desafio cariogênico. Entretanto, para as
lesões de cárie proximais mais avançadas, onde há cavitação,
o tratamento, além da remoção dos fatores etiológicos, consiste
na execução de uma restauração convencional, a fim de
substituir o tecido duro perdido (SPLIETH et al., 2020).
INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO TERAPÊUTICA
PARA LESÃO DE CÁRIE PROXIMAL NÃO CAVITADA –
REVISÃO DE LITERATURA

A abordagem microinvasiva das lesões iniciais de cárie


interproximais, por meio da infiltração resinosa (IR), consiste em
um procedimento onde uma resina de baixa viscosidade é
empregada no corpo da lesão, precedida por um
condicionamento ácido da superfície dentária afetada (com HCl
15% por 2min), ocorrendo a penetração da resina e a criação
de uma barreira mecânica que impede a difusão dos ácidos
provenientes do metabolismo do biofilme cariogênico,
resultando no controle da progressão da cárie (JORGE et al.,
2019).
A literatura já têm associado a eficácia da técnica como
procedimento cariostático microinvasivo, através da análise da
capacidade de penetração do infiltrante resinoso, substituindo
o ar no esmalte desmineralizado de lesões incipientes de cárie,
preenchendo as porosidades e reforçando a estrutura
desmineralizada do esmalte, tornando a estrutura
mecanicamente mais forte e mais resistente à dissolução ácida
(PERDIGÃO, 2020). Dessa forma, a eficácia da infiltração
resinosa vem sendo considerada como uma abordagem
promissora, tendo em vista que a sua eficiência na prevenção
da progressão de lesões de cárie, pelo aumento da dureza do
tecido dentário infiltrado e resistência a ataques ácidos
provenientes do processo patológico da cárie dentária, já vem
sendo comprovada (ARORA et al., 2019). Entretanto, o seu alto
custo, dificulta a sua ampla utilização, principalmente, em nível
de saúde pública no Brasil.
À luz desses conhecimentos, esse trabalho tem como
objetivo realizar uma revisão de literatura convencional,
pautando os achados na abordagem das lesões de cárie
INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO TERAPÊUTICA
PARA LESÃO DE CÁRIE PROXIMAL NÃO CAVITADA –
REVISÃO DE LITERATURA

proximais, avaliando-se o parecer dos estudos quanto à


indicação, eficiência e efetividade da técnica da infiltração
resinosa na paralização da lesão, como método promissor de
tratamento microinvasivo, a fim de melhor compreender como a
ciência odontológica têm explanado essa importante temática
no avanço dos conceitos da odontologia moderna e
conservadora.

MATERIAIS E MÉTODO

Este trabalho se apresenta como uma revisão de


literatura, de caráter descritivo convencional, baseada na coleta
e análise de informações relativas ao tema proposto. O
levantamento dos estudos primários se deu através do acesso
às bases de dados PubMed (Medline), Scielo (Scientific
Eletronic Library Online) e Literatura Latino Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), utilizando os seguintes
descritores: Cárie dental (dental carie), Infiltrante resinoso
(infiltrant resin), Infiltrante Icon (Icon infiltrant), Lesões de macha
branca em esmalte (enamel white-spot lesions), Lesão de cárie
proximal (proximal carious lesion).
Fizeram parte do estudo artigos publicados entre os
anos de 2016 e 2020, com acesso livre, nos idiomas português
e inglês e que abordaram a temática do estudo. Inicialmente, os
estudos foram selecionados apenas pelo título e resumo. Em
seguida, foi avaliada a qualidade desses estudos, fazendo-se a
seleção das informações principais. Essas etapas foram
realizadas de forma independente e por três membros da
INFILTRAÇÃO RESINOSA COMO OPÇÃO TERAPÊUTICA
PARA LESÃO DE CÁRIE PROXIMAL NÃO CAVITADA –
REVISÃO DE LITERATURA

equipe, contando com supervisão de uma pesquisadora com


doutorado na área de Dentística.
Para organizar as ideias centrais da presente revisão,
foram determinadas as seguintes seções: (1) Cárie dentária;
(2)Fatores etiológicos da cárie dentária; (3) Diagnóstico das
lesões de cárie proximal; (4) Tipos de abordagens para lesão
de cárie proximal; a) infiltração resinosa - Definição e indicação;
b) Capacidade de penetração do infiltrante resinoso no tecido
desmineralizado; c) Análise morfológica do esmalte infiltrado; d)
Eficácia do IR na paralisação da cárie; e) Resistência do
esmalte infiltrado ao desafio ácido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Cárie dentária
A cárie dentária caracteriza-se como uma doença
infecciosa, biofilme-dependente, crônica, multifatorial e
progressiva; nessa doença, o tecido dentário sofre destruição
de sua estrutura mediante a ação de bactérias cariogênicas,
que usam o açúcar como substrato (LIANG et al., 2018).
Em condições fisiológicas, as superfícies dos dentes
sofrem constantes e alternados processos de desmineralização
e remineralização (PIATEK-JAKUBEK; NOWAK; BOLTACZ-
RZEPKOWSKA, 2017). Na dinâmica multifatorial da instalação
da doença, a atividade metabólica do biofilme dental submete a
estrutura dentária a desafios ácidos constantes, e, quando o
processo de desmineralização sobrepõe à remineralização,
tem-se o comprometimento do esmalte podendo progredir para
a dentina ao longo do tempo (TAGLIAFERRO et al., 2018).
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Segundo Bowen (2015), o termo “cárie” é


costumeiramente utilizado no intuito de descrever lesões
cariosas em variados estágios de desenvolvimento.
Inicialmente, a dissolução ocorre na superfície do dente. Assim
o primeiro estágio da doença é o aumento da porosidade
subsuperfície, com uma camada de esmalte desmineralizado
quase intacto, com 10-100 µm de espessura (SADYRIN et al.,
2020), devido à dissolução parcial dos cristais de
hidroxiapatitacarbonatada, resultado do ataque ácido
proveniente da metabolização dos carboidratos, pelas bactérias
do biofilme cariogênico (YUN et al., 2020). Essas lesões iniciais
apresentam-se clinicamente como lesões de mancha branca ou
acastanhadas sem cavitação, com um aspecto esbranquiçado
e poroso envolvendo a área do esmalte dentário (SADYRIN et
al., 2020). Nas faces proximais, essas lesões são
frequentemente observadas em localização cervical ao ponto
de contato, devido serem áreas relativamente protegidas da
ação natural de limpeza da língua e bochechas, bem como dos
efeitos da escovação dos dentes (RICUSSI; SIQUEIRA, 2020).
Caso as condições favoráveis ao desenvolvimento e/ou
progressão da lesão persistam, o mineral do esmalte mais
profundo (e subsequentemente da dentina) será perdido, e a
lesão se tornará mais extensa (SCHWENDICKE et al., 2019).
Em seus estágios iniciais de desenvolvimento, uma lesão não
cavitada não é visível a olho nu, mas à medida que progride, a
detecção por inspeção torna-se possível (RICUSSI; SIQUEIRA,
2020).
Análises das características e propriedades do esmalte
de lesões de mancha branca (LMB) e da dentina, contornando
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essas lesões (tocando a junção amelo-dentinária (JAD), o mais


próximo possível da LMB), revelaram algumas alterações
fundamentais nesses tecidos, quando comparado aos tecidos
sadios. Sobre as propriedades mecânicas, houve redução tanto
no módulo de elasticidade, quanto na dureza do esmalte
cariado e da dentina próxima à lesão, com um aumento da
fluência da identação no esmalte em torno de 69%. O esmalte
adjacente a LMB também teve suas propriedades mecânicas
reduzidas, embora essa redução não tenha sido tão severa
quanto a do esmalte da lesão. Apesar da redução nas
propriedades mecânicas mencionadas, a diminuição da
densidade mineral da lesão de mancha branca e da dentina
limítrofe foi pequena. Esse estudo também observou que a
rugosidade média aumentou consideravelmente nas áreas
afetadas por cáries e que mudanças na composição molecular
das áreas cariosas (esmalte e dentina) também foram
observadas (SADYRIN et al., 2020).
Novas observações vieram à luz sobre a organização
bacteriana na JAD, em lesões de esmalte proximais não
cavitadas, através do estudo de Ricussi; Siqueira
(2020). Estruturas de biofilme bacteriano espesso, com células
bacterianas penetrando na extremidade superficial dos túbulos
dentinários subjacentes, às vezes invadindo-os em
profundidade considerável, foram detectadas na JAD de dentes
com lesões de mancha branca ativas e inativas. O aumento da
porosidade e permeabilidade, causado pela desmineralização,
permite que os produtos bacterianos, como metabólitos,
enzimas, exotoxinas e componentes da parede celular, se
difundam pelo esmalte cariado não cavitado, para atingir a
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dentina e a polpa. E alterações patológicas, de intensidades


variadas, foram observadas na polpa, subjacente a esses
túbulos dentinários. As respostas pulpares consistiram em
perda de odontoblastos em áreas restritas, bem como evidência
de linha cálcio-traumática e formação de dentina terciária com
redução da camada de odontoblastos.

Fatores etiológicos da cárie dentária


A cárie dentária é uma doença infecciosa, de caráter
multifatorial, com sua etiologia bastante complexa,
perpassando pelo viés comportamental. (SCHWENDICKE et
al., 2019). O entendimento da etiologia da cárie é explicado
pelos fatores determinantes e modificadores em saúde. Os
fatores determinantes compreendem o hospedeiro, os micro-
organismos, a dieta e o tempo, que são influenciados pelos
fatores modificadores, tais como questões sociais, econômicas
e comportamentais, que levam ao desenvolvimento dessa
doença (LIMA et al., 2020).
Nesse sentido, a morfologia dentária, a concentração
de flúor, a composição, o fluxo e a capacidade de
tamponamento salivar influenciam no processo cariogênico,
bem como a presença de micro-organismos relacionados à
cárie, como Streptococcus mutans, Streptococcus sobrinus e
Lactobacillus, os quais são capazes de se aderir às estruturas
dentárias e de produzir ácidos, a partir da fermentação dos
carboidratos oriundos da dieta (RICUCCI; SIQUEIRA, 2020).
Esses microorganismos cariogênicos necessitam da energia
proveniente da sua fermentação para sobreviver. Assim a dieta
é outro fator importante neste processo, em que a frequência e
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a consistência desses carboidratos afetam também no


desenvolvimento dessa doença (OLIVEIRA et al., 2020). E
todos esses fatores, quando em interação, exigem um período
de tempo para favorecer a desmineralização dentária,
característica do processo carioso (BATISTA;
VASCONCELOS; VASCONCELOS, 2020).

Diagnóstico das lesões de cárie proximal


O diagnóstico precoce das lesões de cárie proximal é
fundamental para estabelecer um tratamento menos invasivo e
com um bom prognóstico, prevenindo a progressão da doença
e evitando procedimentos mais invasivos.
Algumas estratégias são empregadas no diagnóstico
dessas lesões, como o exame tátil visual, afastamento
interdental e radiografias bitewing (interproximais). Em casos de
difícil visualização das características da lesão de cárie,
recomenda-se separar o elemento dentário para obter uma
visão direta da lesão, e, através do exame tátil da lesão, com
uma sonda exploradora de extremo arredondado, detectar se a
superfície interproximal está cavitada. A avaliação radiográfica
realizada antes da inspeção tátil visual serve para dimensionar
previamente a extensão da lesão (PARIS et al., 2019).
A profundidade das lesões proximais, verificadas
através do exame radiográfico, pode servir para prever se a
lesão está cavitada ou não. As lesões incipientes localizadas na
metade externa (E1) e interna do esmalte (E2) raramente estão
cavitadas, enquanto as lesões mais profundas, localizadas no
terço interno da dentina (D3), normalmente apresentam
cavitação. No entanto, as lesões com radiolucidez no terço
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externo da dentina pode ser contraditória no que diz respeito a


presença ou não de cavitação (SCHWENDICKE et al., 2018),
sendo necessária, nesses casos, a realização do afastamento
dental para confirmação do diagnóstico.
Subka et al., (2019) observaram que para identificar
lesão de cárie em esmalte, o exame visual-tátil, após a
separação dental, mostrou alta eficácia, sendo possível
localizar lesões brancas não detectadas por outros métodos.
Em alguns casos, os meios convencionais são
insuficientes, sendo necessário a adoção de outros métodos
para detectar lesões proximais precocemente. Dentre esses
métodos, tem-se a transiluminação com luz infravermelha, a
qual utiliza a dispersão e absorção da luz para identificar onde
o grau de mineralização do dente está menor (CASALEGNO et
al., 2019).

Tipos de abordagens para lesões de cárie proximal


Atualmente, as abordagens adotadas para o tratamento
das lesões de cárie são classificadas de acordo com os níveis
de invasividade, em: Abordagens não invasivas (são as que não
removem o tecido dental duro e envolvem controle de biofilme,
controle da dieta e controle do equilíbrio mineral); Abordagens
microinvasivas (são as que removem o tecido dental duro em
escala micrométrica, geralmente durante uma etapa de
condicionamento ácido, como nas técnicas de selamento ou
infiltração resinosa); e abordagens invasivas (as que removem
tecido duro dentário por meio de instrumentos rotatórios ou
outros dispositivos, e, na maioria dos casos, estão associadas
a execução de restaurações) (SCHWENDICKE et al. 2019).
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A superfície proximal do dente é um dos locais de


predileção de cárie dentária, e, portanto, o diagnóstico precoce
dessas lesões interproximais é de grande interesse, tendo em
vista que, se detectadas precocemente (antes do nível de
cavitação), favorece a adoção de abordagens minimamente
invasivas (CHATZIMARKOU; KOLETSI; KAVVADIA, 2018).
Assim, à luz desses conhecimentos, a odontologia moderna
tem pautado as suas abordagens no controle da cárie e das
lesões cariosas proximais, através de conceitos como o de
odontologia minimamente invasiva. Essa nova filosofia é
respaldada pelo fato de as abordagens invasivas, como as
restaurações, sacrificarem uma quantidade considerável de
estrutura dental sadia, dada a necessidade de, muitas vezes,
acessar essas lesões proximais através da crista marginal.
Somado a isso, as restaurações proximais apresentam taxas de
sobrevivência mais baixas do que as lesões em outras
superfícies, ou seja, precisam de substituição em intervalos
ainda mais curtos, colocando o elemento dentário em uma
condição de ciclo restaurador repetitivo, e, gerando a cada ciclo
um sacrifício substancial de estrutura dentária sadia (KROIS et
al., 2019).
Portanto, lesões proximais não cavitadas podem ser
paralisadas por meio de estratégias não invasivas, como
controle mecânico de biofilme, aconselhamento dietético e
prescrição de flúor. Entretanto, para que essas abordagens
sejam efetivas e resultem em sucesso a longo prazo, o paciente
precisa estar altamente estimulado e comprometido com o
tratamento proposto. Diante disso, as abordagens
microinvasivas, como o selamento e a infiltração resinosa,
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surgem como tratamentos promissores para esses tipos de


lesões (LIANG et al., 2018). Essas abordagens consistem na
remoção de alguns micrômetros de tecido dental, durante a
aplicação de um ácido condicionante na superfície do dente
desmineralizada, para posterior aplicação de um material que
criará uma barreira sobre o tecido cariado (selamento da lesão)
ou dentro do tecido cariado (infiltração da lesão). Essa barreira
impedirá a difusão do ácido bacteriano no tecido dental, com
consequente perda de minerais, interrompendo a progressão
da lesão (KROIS et al., 2019).
Com relação a comparação entre essas duas
estratégias microinvasivas, as evidências mostram que não
houve diferença significativa entre elas (KROIS et al.,
2019), embora a revisão sistemática conduzida por Liang et al.
(2018), afirme que o selante resinoso foi ineficaz para reduzir a
taxa de progressão da cárie, em diferentes profundidades na
superfície proximal. Além disso, para o selamento há a
necessidade de duas sessões clínicas, sendo uma para a
separação dental e a segunda para a aplicação do material, o
que pode ser considerado uma desvantagem. Com relação a
infiltração resinosa, não é necessário essa sessão adicional
para a separação dental, uma vez que os infiltrantes resinosos,
vem com kits contendo cunhas e folhas aplicadoras para
separar e isolar os dentes adjacentes uns dos outros (DORRI
et al., 2015).
Um aspecto importante a ser considerado é o de que o
tratamento das lesões de cárie incipientes proximais, pautado
em abordagens microinvasivas, sempre deve estar associado à
medidas preventivas, tanto para impedir a progressão das
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lesões já existentes, como também prevenir o surgimento de


novas lesões de cárie, uma vez que o tratamento da cárie está
relacionado a remoção e/ou controle dos fatores etiológicos.
Para isso, além de considerar a profundidade/extensão da
lesão, a presença de cavidade e a atividade da lesão, o
tratamento deve reunir em si uma análise de risco de cada
paciente, tendo em vista que o cuidado baseado no risco de
cárie é um componente de suma importância na prestação de
cuidados em saúde bucal (GIACAMAN et al., 2018).

a) Infiltração resinosa - Definição e Indicação


A odontologia minimamente invasiva é um conceito
baseado na preservação dos tecidos biológicos do dente do
paciente, optando por tratamento conservador que desgaste o
mínimo possível da estrutura dentária sadia. Dessa forma,
surgiu no mercado os infiltrantes resinosos, que foram
desenvolvidos por um grupo de pesquisadores da Alemanha
em 2009. Os infiltrantes consistem em um material resinoso de
baixa viscosidade, com o objetivo de ser infiltrado nas lesões
de cárie iniciais, através de forças capilares pelas porosidades
do esmalte desmineralizado, onde, após a fotopolimerização, a
resina infiltrante (IR) obstrui as vias de difusão para ácidos
cariogênicos e minerais dissolvidos, levando a uma contenção
na progressão da lesão (ASKAR et al., 2018).
O tratamento das lesões de cáries proximais com o
Icon® (kit proximal; DMG, Hamburg, Alemanha) é realizado da
seguinte forma: Limpeza da superfície dentária; separação dos
dentes com cunha; aplicação do Icon-Etch (ácido clorídrico
15%) por 2 minutos; lavagem e secagem por 30s cada;
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aplicação do Icon-Dry (Etanol 99%) por 30 s; aplicação do Icon-


Infiltrant por 3 minutos e fotopolimerização por 40 segundos;
seguido de uma nova aplicação de Icon-Infiltrant por 1 minuto e
fotopolimerização por 40 segundos (NTOVAS; RAHIOTIS,
2018).
Segundo o próprio fabricante (Icon®, DMG) essa
abordagem é indicada para o tratamento microinvasivo de
lesões brancas de cárie proximal incipientes, que se estendem
da metade externa do esmalte (E1) até o terço externo da
dentina (D1).

b) Capacidade de penetração do infiltrante resinoso


no tecido desmineralizado
Os infiltrantes resinosos são alternativas
conservadoras para tratar lesões brancas de cárie proximais
que estejam em progressão, mas que ainda não apresentam
cavidade, conforme mencionado acima. No entanto, os
infiltrantes resinosos ao serem aplicados nas lesões podem não
preencher completamente todos os espaços de esmalte e
dentina cariados, permanecendo microáreas desmineralizadas
e enfraquecidas, que podem sucumbir diante de forças
mastigatórias (KIELBASSA et al., 2017).
A fim de se evitar isso, um dos fatores mais
pesquisados com relação aos infiltrantes resinosos é a
capacidade de penetração, que depende diretamente do grau
de viscosidade do infiltrante utilizado. Assim, o tratamento
realizado na superfície de intervenção é um ponto importante a
ser considerado. Como o monômero do infiltrante resinoso, com
sua baixa viscosidade, penetra na lesão de cárie por forças
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capilares, o diâmetro e o volume dos poros nessas lesões são


cruciais para o resultado da infiltração. A camada superficial do
dente atua como uma barreira, inibindo a adequada penetração
do infiltrante resinoso, por isso essa superfície deve ser tratada
com algum agente ácido, deixando a superfície mais porosa e
facilitando o poder de penetração do infiltrante (SCHNEIDER et
al., 2017). Para isso, o uso do ácido clorídrico 15%,
recomendado pelo Icon , mostra um resultado mais efetivo do
©

que o ácido fosfórico 37% (ARORA et al., 2019). Também no


estudo de Schneider et al. (2017), 20 segundos após o início da
infiltração, o monômero atingiu metade da lesão cariosa e, após
180 segundos, o corpo da lesão estava completamente
infiltrado.
Outro ponto a ser analisado é com relação às
diferenças de penetração em esmalte e em dentina, pois, por
serem tecidos morfologicamente distintos, apresentam
diferenças na progressão da cárie. No esmalte, à medida que
os ácidos orgânicos são produzidos pelas bactérias
cariogênicas, vai ocorrendo a desmineralização do tecido e o
aumento gradativo dos poros formados na estrutura, de modo
que nenhuma bactéria vai invadir o esmalte se o tamanho do
poro aberto não for suficiente para sua entrada. Nesse
momento, o uso do infiltrante resinoso é crucial, visto que ele
vai penetrar nos poros do esmalte e criar uma barreira física,
isolando as bactérias e os seus subprodutos, interrompendo a
progressão da cárie. No entanto, se não é feita essa
intervenção em nível de esmalte, a progressão da cárie pode
atingir a dentina, onde o processo ocorre de modo mais rápido
e complexo do que no esmalte. A dentina contém túbulos
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dentinários e mais matéria orgânica. As bactérias podem invadir


esses túbulos, multiplicarem-se e, em vez de produzir ácido, as
cepas bacterianas podem produzir grandes quantidades de
enzimas proteolíticas e hidrolíticas para degradar a matéria
orgânica presente. Esse cenário está associado à porcentagem
de penetração do infiltrante resinoso que foi de 99,1% em
esmalte, enquanto foi de 82,0% para cárie em dentina. A
barreira formada com o infiltrante resinoso pode isolar as
bactérias externas, mas ainda não está claro na literatura se
pode controlar em sua totalidade as bactérias que alcançam a
dentina (LIANG et al., 2018).
No estudo desenvolvido por Arora et al. (2019), o
infiltrante resinoso Icon mostrou o melhor resultado, com
©

penetração máxima em lesões brancas de cárie, em


conformidade com outro estudo (EL-ZANKALOUNY et al.,
2016). Em seguida, vieram o Embrace e o Clinpro ,
© ©

respectivamente, com penetração menor. Esses achados


corroboram com o estudo de Thedory et al. (2019), que ao
analisarem a superfície dentária submetida aos infiltrantes
resinosos, constataram que todos os infiltrantes testados
possuíam substancial capacidade de penetração, sendo o
Icon© o que apresentou maior índice em área de penetração.
Askar et al. (2018), ao avaliarem comparativamente a
capacidade de penetração de um infiltrante resinoso micro-
preenchido com o infiltrante resinoso convencional, observaram
que ambos infiltrantes apresentam capacidade semelhante de
penetração, quando tratando lesões não cavitadas, reforçando
a ideia de que a abordagem microinvasiva com infiltração
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resinosa é capaz de produzir eficiência no tratamento das


lesões incipientes de cárie dentária.
Alguns autores, como Kielbassa et al. (2020),
adicionaram nanopartículas de prata (AgNP) aos infiltrantes
resinosos e, como resultado, observaram que não houve
prejuízos à capacidade de penetração, tendo o benefício de
trazer os efeitos antibacterianos do AgNP, o que dificulta a
formação do biofilme, aumentando assim a longevidade do
procedimento, sem comprometer suas propriedades mecânicas
e dificultando o desenvolvimento de recidiva de cárie.
Com a penetração do infiltrante resinoso ocorrendo de
modo efetivo, forma-se uma barreira de difusão para os ácidos
cariogênicos e carboidratos de baixo peso molecular. Assim,
alguns autores como Kielbassa et al. (2017), sugerem também
o uso de solução de hipoclorito de sódio 2%, que através de um
processo de desproteinização, melhora a capacidade de
penetração externa.

c) Análise morfológica do esmalte infiltrado


O esmalte dentário humano tem propriedades
estruturais que conferem a ele características como dureza,
resistência ao esmagamento e abrasão, alto módulo de
elasticidade, bem como sua estabilidade nas condições em
constante mudança do ambiente oral (PIATEK-JAKUBEK,
NOWAK, BOLTACZ-RZEPKOWSKA, 2018). Na lesão branca
de cárie, a subsuperfície desmineralizada é coberta por uma
camada superficial aparentemente intacta. Como comentado
anteriormente, essa camada mineralizada, que cobre o corpo
da lesão, dificulta a penetrabilidade do infiltrante, sendo
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necessário o condicionamento com ácido clorídrico (HCl), a fim


de aumentar a porosidade superficial e favorecer a infiltração
do material resinoso usado na técnica (PERDIGÃO, 2020).
Arora et al. 2019, avaliando um sistema de infiltração
resinosa (Icon©) observou que a superfície tratada apresentou
aspereza mínima da superfície, microdureza máxima e
penetrabilidade maior do que os selantes convencionais. Esses
achados corroboram com o estudo de Perdigão (2020) que,
analisando o tratamento da superfície com HCl e posterior
infiltração da resina, observou que ocorreu um processo de
hibridização do esmalte semelhante ao que ocorre na dentina
condicionada, juntamente com a formação de extensões de
resina nos poros formados dentro do esmalte desmineralizado,
revelando que a técnica da infiltração resinosa é capaz de
preencher as áreas desmineralizadas do corpo da lesão,
impedindo a progressão da lesão, reforçar a estrutura dentária
desmineralizada, tornando-a mecanicamente mais forte e
resistente à dissolução ácida das bactérias do biofilme
cariogênico.

d) Eficácia do IR na paralisação da cárie


A infiltração de resina em lesões de cárie proximal é um
tratamento promissor que segue a filosofia da odontologia
minimamente invasiva, com o objetivo de reduzir a progressão
da lesão e prevenir o desgaste da estrutura dentária em
procedimentos invasivos.
Em revisões sistemáticas, foi constatado que, para o
tratamento de lesões incipientes interproximais, o uso de
infiltração resinosa foi favorável e muito mais eficaz do que
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medidas preventivas isoladas, em dentes decíduos e


permanentes (ELRASHID et al., 2019), ou quando combinado
com medidas de higiene bucal, em dentes permanentes
(CHATZIMARKOU; KOLETSI; KAVVADIA, 2018). Segundo
Chatzimarkou; Koletsi; Kaivadia (2018), esse tratamento
microinvasivo mostra-se eficiente em reduzir a progressão da
lesão de cárie proximal quando localizada até o terço externo
da dentina, mas sendo necessário sua ação conjunta com
medidas de higiene oral padrão.
No entanto, Peters et al., (2019) realizaram um ensaio
clínico randomizado com acompanhamento de 3 anos, que
demonstrou que os infiltrantes de resina possuem menor
eficácia em lesões envolvendo a dentina. As lesões infiltradas
que progrediram foram as lesões que radiograficamente
envolviam o terço externo da dentina. Já as lesões restritas à
metade interna do esmalte não progrediram ao longo dos anos,
com taxa de inibição da progressão da lesão de100% para as
lesões E2, e apenas 64% para as lesões D1. Esse resultado
mostra que os infiltrantes resinosos possui alta eficácia em
reduzir a progressão das lesões de cárie incipientes.
E esses achados corroboram com uma revisão
sistemática, na qual foi observado que os resultados da
infiltração foram melhores em lesões de cárie restritas ao
esmalte dentário, com maior redução da progressão, do que
para lesões no terço externo da dentina. Essa condição pode
ser explicada devido às diferenças entre os substratos, as quais
influenciam na penetração do infiltrante. A cárie em esmalte
possui uma patogenia mais simples, com os ácidos bacterianos
desmineralizando sua superfície e tornando o esmalte mais
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frágil. Já na dentina a progressão da lesão é mais rápida e


complexa devido a presença dos túbulos dentinários e maior
quantidade de matéria orgânica (LIANG et al., 2018).

e) Resistência do esmalte infiltrado ao desafio ácido


Uma habilidade importante a ser considerada sobre os
infiltrantes resinosos é a proteção do esmalte infiltrado contra
novos episódios de desmineralização, decorrentes dos ácidos
orgânicos produzidos pelas bactérias cariogênicas. A
resistência do esmalte infiltrado por resina a esse desafio ácido
vai depender do pH, e, nesse sentido, também da qualidade do
infiltrante resinoso utilizado. Em um estudo desenvolvido por
Takashino et al. (2016), os autores submeteram espécimes a
condições de desmineralização contínua em pH 4,5 por 7 dias.
A barreira física obtida com o infiltrante resinoso Icon©
demonstrou uma grande proteção do esmalte frente ao desafio
ácido, com uma inibição percentual de 95,4%.
Já Chellapandian et al. (2020) mostraram que a
quantidade de infiltrante resinoso resistente ao desafio ácido foi
de 72%, considerando um período com 14 dias de
desmineralização. Esses autores também apresentaram que a
adição de etanol ao infiltrante resinoso está associada a um
maior coeficiente de penetração, pelo fato de que age
diminuindo a viscosidade, sendo, portanto, uma ferramenta
promissora para uma penetração rápida.
Em outro trabalho, desenvolvido por Enan, Aref e
Hammad (2019), investigando a resistência dos infiltrantes
resinosos frente ao desafio ácido, espécimes infiltrados com
Icon©, quando submetidos a pH semelhante ao da boca,
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apresentaram menos alterações de cor e rugosidade superficial


quando comparados aos espécimes não infiltrados. Houve, de
fato, algum grau de descoloração e rugosidade superficial
detectado, até nos espécimes tratados com Icon©, no entanto,
o esmalte com o infiltrado resinoso mostrou-se mais resistente
a alterações superficiais, mesmo quando submetido ao desafio
ácido.

CONCLUSÕES

Baseado na literatura analisada, é possível concluir que


a técnica microinvasiva de infiltração resinosa é promissora e
eficaz para paralisar a progressão da lesão branca de cárie em
face proximal não cavitada, sendo os resultados mais
evidentes, quando a lesão se restringe ao esmalte. Os estudos
mostram também que os infiltrantes são superiores em relação
às abordagens não invasivas, quando aplicadas de forma
isolada. As lesões infiltradas por resina apresentam um boa
resistência ao desafio ácido, além de apresentarem pouca
alteração de cor e rugosidade superficial ao longo do tempo.
Esse procedimento deve ser realizado em conjunto com
abordagens não invasivas, como orientação de higiene oral e
dieta para garantir a longevidade do tratamento.

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ODONTOPEDIATRIA
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

CAPÍTULO 26

UMA ABORDAGEM DA LITERATURA


SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA DECÍDUA E
SINTOMATOLOGIA

Giderlane Daianny de Souza SILVA1


Amanda Medeiros GOMES1
Raissa Taynnar Albuquerque LOPES1
Jocianelle Maria Felix Fernandes NUNES2
1 Graduandas do curso de Odontologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do
DCOS/UFPB.
giderlane@gmail.com

RESUMO: A erupção dentária é um processo fisiológico e


universal que normalmente acontece por volta dos 4 aos 10
meses de idade. Durante este período, a criança passa por
diversas mudanças em seu crescimento e desenvolvimento que
podem coincidir com o surgimento dos sintomas que são
comuns durante esse processo. Este fato ainda é motivo de
controvérsias entre pais e também dentro da comunidade
médica e odontológica. Sendo assim, o presente trabalho
objetiva elaborar uma revisão da literatura sobre a erupção dos
dentes decíduos e a possível sintomatologia, observando as
manifestações locais e sistêmicas. Para a pesquisa documental
realizada, foram utilizados os seguintes bancos de dados
online: PubMed, Portal de Periódicos CAPES, Scielo e Google
Acadêmico, nos quais foram selecionados artigos científicos
relacionados ao tema. Os sintomas mais relatados foram
irritabilidade, choro noturno, aumento da salivação, bruxismo,
prurido, inflamação, sensibilidade à palpação da gengiva,
hiperemia e edema da mucosa, cistos de erupção e úlceras
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

bucais. Outros fatores de ordem geral, como febre alta, diarreia


ou tosse devem ser investigados de forma criteriosa, uma vez
que podem camuflar o diagnóstico de doenças comumente
encontradas em pacientes nesta faixa etária. Apesar da
discussão sobre o referido tema, ainda há a necessidade de
estudos e investigações com um acompanhamento mais
rigoroso para que respostas efetivas sejam obtidas sobre essa
possível associação.
Palavras-chave: Erupção dentária. Dente decíduo. Sinais e
sintomas.

INTRODUÇÃO

A erupção dentária caracteriza-se por ser um processo


fisiológico e universal, sendo uma etapa que passa pelas fases
pré-eruptiva, eruptiva e pós-eruptiva, na qual ocorre a migração
dentária de sua posição intraóssea nos maxilares para a sua
posição funcional na cavidade bucal. Acredita-se que essa
migração intraóssea dentária até o rompimento do dente na
boca pode gerar uma série de manifestações sistêmicas e
locais, gerando discussões sobre a existência de uma relação
da mesma com a erupção dentária (BARBOSA et al., 2017).
Geralmente, a erupção dos primeiros dentes decíduos
ocorre entre 4 e 10 meses de idade, estando a dentição
completa por volta dos 30 meses. Durante este período, a
criança passa por diversas mudanças em seu crescimento e
desenvolvimento, muitas vezes, ocorre uma associação
temporal que pode coincidir com o surgimento de
sintomatologia durante o processo de erupção dentária.
Tornando este fato motivo de controvérsia entre pais e também
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

dentro da literatura médica e odontológica (BARBOSA et al.,


2017).
O primeiro relato na literatura sobre a relação entre a
erupção dos dentes decíduos e a sintomatologia, como
salivação excessiva, febre, distúrbios gastrointestinais e perda
de apetite foi descrito por Hipócrates, 460-377 a.C. A partir
deste, muitos estudos foram realizados e os resultados
apresentados mostraram que o aumento da salivação, a
irritação gengival e a irritabilidade foram os sintomas mais
descritos (AZEVEDO et al., 2015).
Ainda não existe um consenso na literatura sobre a
ocorrência de manifestações associadas à fase eruptiva dos
dentes decíduos, devido à dificuldade em distinguir entre a
sintomatologia que acompanha a erupção e as mudanças
fisiológicas normais que acontecem durante este período.
Sendo assim, pode ocorrer uma coincidência entre a erupção
dentária e o aparecimento dos distúrbios gerais, porém ela não
é suficiente para determinar tais alterações. O aparecimento
desses sintomas pode acontecer concomitantemente ao
processo eruptivo (MASSIGNAN et al., 2016).
Assim, diante da dificuldade encontrada em se obter
informações seguras a respeito dos sinais e sintomas atrelados
a erupção dentária decídua, o objetivo deste estudo é realizar
uma abordagem da literatura sobre o tema para se observar os
principais fenômenos, distúrbios locais ou sistêmicos
associados, assim como também o tratamento adequado.
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma pesquisa de base


secundária, do tipo revisão de literatura, que visa um
levantamento de dados sobre a erupção dentária decídua,
sintomatologia e suas repercussões clínicas. Para a pesquisa
documental realizada, foram utilizados os seguintes bancos de
dados online: PubMed, Portal de Periódicos CAPES, Scielo e
Google Acadêmico. Os termos utilizados para busca foram:
“Erupção Dentária”, “Dente Decíduo” e “Sinais e Sintomas”.
Os critérios de inclusão foram: artigos escritos em
português, inglês e francês, publicados no período de 2015 a
2020, sendo os tipos de estudo revisões de literatura e relatos
de caso. Os artigos que não se encaixaram nesses critérios
foram excluídos do estudo.
De posse do material bibliográfico levantado, foi
realizada a leitura e releitura dos estudos, e elaborada,
posteriormente, a revisão de literatura com base nos achados,
apresentando o que existe de relevante para o tema em
questão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A odontogênese é o resultado de uma série de


complexas interações indutivas entre tecidos embrionários, o
epitélio do primeiro arco faríngeo e o ectomesênquima derivado
das células da crista neural. O fator indutor inicial está presente
no epitélio oral primitivo que, na quinta semana de vida
intrauterina, começa a proliferar invadindo o ectomesênquima,
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

formando a lâmina dentária, a qual dará origem aos germes


dentários (JIANG et al., 2017).
É neste momento que o germe dentário começa o seu
crescimento e desenvolvimento, devido a processos de
proliferação e histodiferenciação. O aparecimento do primeiro
elemento dentário na cavidade bucal da criança acontece entre
os 6 e 8 meses de vida, podendo haver divergência desse
período entre os autores. A dentição decídua completa conclui-
se por volta dos 30 meses, estendendo-se até os 3 anos de
idade (AL-BATAYNEH et al., 2015).
Os dentes decíduos são 20 no total, 10 em cada uma
das arcadas. Não existem pré-molares, sendo esta dentição
constituída por incisivos, caninos e molares. A morfologia dos
dentes decíduos é geralmente muito semelhante a dos dentes
permanentes, no entanto, a sua cor é mais clara, aproximando-
se de um tom “branco leitoso”, o que contribuiu para que
ficassem conhecidos popularmente como os “dentes de leite”
(SARAIVA, 2015).
O dente em si não parece ter um papel muito ativo
durante a erupção, já o folículo dentário parece ser crucial no
processo, uma vez que é rico em eicosanóides, citocinas e
fatores de crescimento. Sendo assim, considera-se plausível
que o processo eruptivo possa promover sintomas locais como
a inflamação e/ou a irritação. Outros investigadores defendem
que na fase em que acontece a erupção dentária, a criança
apresenta uma menor resistência e, por isso, uma maior
suscetibilidade a doenças e infecções, explicando, desta forma,
a sintomatologia que surge durante esse período (SARAIVA,
2015; LAM et al., 2016; ANDRADE; KATZ, 2018). .
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

A variação na cronologia de erupção dentária depende


de fatores genéticos e ambientais, entretanto nenhum deles
atua de forma individualizada, existindo inter-relação entre os
mesmos durante o desenvolvimento da dentição decídua.
Dentre esses, citam-se raça, gênero, condições sistêmicas,
condições ambientais, nível socioeconômico, aleitamento
materno, estado nutricional infantil e desenvolvimento físico
(VIANNA et al., 2019).
A relação entre a erupção dentária e o aparecimento de
sintomas é bastante comentada e polêmica, existindo
controvérsias se a sintomatologia observada está ou não
relacionada com o processo eruptivo. Estudos da literatura
ainda não conseguiram comprovar uma possível relação que
explique se tais alterações são de fato ocasionadas pelo
movimento do dente e o irrompimento na arcada (BARBOSA et
al., 2017).
Essa controvérsia pode ser justificada pelo próprio
processo eruptivo, que está fundamentado em hipóteses,
portanto, não se pode referir uma relação de causa e efeito
entre eles. Além disso, os estudos relacionados ao tema
apresentam metodologia e populações diferentes, bem como
amostras insuficientes para comprovar validade científica
(MASSIGNAN et al., 2016).
A maior parte dos profissionais da saúde acredita que a
erupção dentária provoca uma variedade de sinais e sintomas,
sendo a maioria destes relacionados a desconfortos locais.
Alguns desses sintomas relacionados à fase eruptiva são:
irritabilidade, choro noturno, aumento da salivação, bruxismo,
prurido, inflamação, dor, sensibilidade à palpação da gengiva,
hiperemia, edema da mucosa, cistos de erupção e úlceras
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

bucais. Em razão disso, a erupção dentária pode se tornar


desconfortável para as crianças (AMARASENA; LALLOO,
2015; MATOS; SILVA, 2018; FRANZOLIN et al., 2019).
É importante destacar que o processo eruptivo
isoladamente não explicaria o surgimento de tais eventos,
embora esses possam ocorrer de forma concomitante.
Ademais, sintomas graves como febre alta, diarreia, tosse,
coceira auditiva, erupção cutânea e convulsões não devem ser
tratados como parte do processo eruptivo, devendo ser
realizada uma avaliação apropriada para descobrir outras
possíveis causas sistêmicas. Uma vez que tais sinais podem
camuflar o diagnóstico de alterações sistêmicas, comumente
encontradas em pacientes nesta faixa etária (AZEVEDO et al.,
2015; KOZUCH et al., 2015). A febre, por exemplo, está
relacionada a reações inflamatórias que ocorrem na cavidade
oral com participação de mastócitos e liberação de
imunoglobulinas (IgE). Essa reação de hipersensibilidade
poderia resultar em alterações toxêmicas, que poderiam ser
causadas por uma infecção herpética primária não
diagnosticada (FRANZOLIN et al., 2019).
Apesar de toda a discussão sobre o referido tema,
ainda há a necessidade de estudos e investigações com um
acompanhamento mais rigoroso, para que respostas efetivas
sejam obtidas sobre essa possível associação. Profissionais de
saúde que prestam atendimento a crianças devem ser
cautelosos ao associar a erupção dentária a sintomas que
ocorrem simultaneamente ao período da erupção dos dentes
decíduos (SARAIVA, 2015).
Sabendo-se dos desconfortos causados nesse período,
alguns métodos podem ser utilizados para minimizar ou aliviar
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

alguns dos sintomas causados. Dentre eles destacam-se o uso


de mordedores gelados, massagem digital nos rodetes
gengivais, introdução de alimentação consistente e o uso de
medicações fitoterápicas com efeito calmante (MEMARPOUR
et al., 2015; BARBOSA et al., 2017).
Alguns profissionais indicam o uso de medicamentos
locais e sistêmicos para o alívio dessa sintomatologia, como
pomadas e géis à base de componentes anestésicos e
antitérmicos orais. Porém, deve-se levar em consideração que
o sistema gastrointestinal dos bebês é imaturo, levando a uma
maior facilidade de absorção dos medicamentos, podendo
gerar, consequentemente, possíveis efeitos colaterais
(CALCAGNO et al., 2016).
Elbur et al. (2015), relatam que tais sinais e sintomas
são em sua maioria transitórios e comuns nessa faixa etária,
por isso é importante que os profissionais orientem
adequadamente os pais em relação aos hábitos de higiene oral
e geral, para uma melhor manutenção da saúde do bebê. É
importante também que ocorra uma abordagem interdisciplinar
entre o cirurgião-dentista e o pediatra, pois em casos mais
graves essa interação pode ajudar no diagnóstico de outras
alterações sistêmicas que possam ocorrer concomitantemente
(ELBUR et al., 2015).
Em alguns casos, também como alteração local, pode
ocorrer o retardo da erupção dentária decídua, sendo indicada
a realização de um procedimento cirúrgico denominado
ulectomia. Este tem por objetivo remover os tecidos gengivais
que recobrem os elementos dentários, permitindo que os
mesmos ocupem a sua posição ideal no arco dentário. Além
disso, também está indicada em casos de cisto de
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

erupção/hematomas de erupção, quando o paciente apresentar


incômodo ou sintomatologia dolorosa, visando a drenagem do
fluido cístico para expor a coroa do dente ao meio bucal (PIRES,
2017).
Barbosa et al. (2017), realizaram um estudo sobre a
fase de erupção dos dentes decíduos em crianças de 0 a 3 anos
de idade, na cidade de Araçatuba/SP, por meio das
informações contidas nos prontuários e relatadas pelos pais,
assistidas na Bebê-Clínica da Faculdade de Odontologia de
Araçatuba-UNESP. Conforme os dados obtidos nesta
pesquisa, de um total de 503 prontuários analisados, 328
(65,3%) crianças apresentaram manifestações locais
(sialorreia, coriza, coceira gengival, introdução de objetos e as
mãos na boca com frequência) e sistêmicas (febre, diarreia,
vômitos, enjoos, inapetência, sono agitado, irritação),
compatíveis com os sintomas de odontíase. No entanto, 175
(34,7%) não apresentaram nenhum sintoma (BARBOSA et al.,
2017).
O estudo de Azevedo et al. (2015), foi conduzido na
cidade de Pelotas/RS, com mães de crianças de 12 a 23 meses,
as quais visitaram 12 centros de saúde pública durante o Dia da
Vacinação Infantil. As mães foram entrevistadas e foram
coletadas informações sobre os desconfortos sentidos pelas
crianças no início do período de erupção dentária, condições
socioeconômicas, cor da pele da criança e variáveis
demográficas (idade materna e sexo da criança).
De um total de 188 pares mãe-filho, os sintomas da
dentição foram relatados por 91,93% das mães. Dentre eles, os
mais frequentemente relatados foram: salivação excessiva
(67,7%), irritabilidade (65,2%), febre (44,1%), dificuldade
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

alimentar (34,2%) e distúrbio do sono (31,7%). No entanto,


deve-se considerar que este estudo foi conduzido no Sul do
Brasil, e que, devido ao clima, as crianças se tornam mais
suscetíveis a maiores taxas de infecções respiratórias, o que
pode levar a maior prevalência de sintomas semelhantes aos
relacionados à erupção dentária. No referido estudo, a
sintomatologia apresentada pelas crianças não foi associada a
variáveis socioeconômicas e demográficas investigadas
(AZEVEDO et al., 2015).
O estudo de Haznedaroglu e Mentes (2016) executado
na Turquia, teve como objetivo avaliar informações da internet
versus orientações dos pediatras, como fonte de conhecimento
sobre a erupção dentária decídua para os pais. 62 sites de pais
ou de saúde foram analisados sobre a qualidade e abrangência
do conteúdo específico sobre dentição. Além disso, foram
investigados 75 pediatras de hospitais públicos, que
preencheram um questionário auto administrado estruturado.
No total, 54 sites (87,1%) descreveram os sintomas da erupção
dentária decídua como um processo normal de
desenvolvimento. As listas de sinais/sintomas encontradas nos
sites identificaram a febre e o aumento da salivação como os
mais frequentes associados à erupção dentária decídua
(HAZNEDAROGLU; MENTES, 2016).
Getaneh et al. (2018) avaliaram no sudoeste da Etiópia
os principais equívocos e as práticas tradicionalmente utilizadas
pelas mães em relação aos sintomas da erupção dos dentes
decíduos. As mães (n = 107) foram abordadas no
Departamento de Pacientes Pediátricos do Hospital
Universitário Especializado Jimma. Para a coleta de dados, foi
utilizado um questionário estruturado. Noventa e oito mães
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

(91,6%) afirmaram que a erupção estava associada a vários


sintomas. Noventa e sete (90,7%) atribuíram diarreia a esse
período. Apenas uma mãe alegou administrar analgésico
(paracetamol) ao filho para aliviar os sintomas. Cerca de 4,7%
das entrevistadas permitiam que os filhos fizessem uso de
chupeta/mordedor. Algumas das práticas relatadas para aliviar
os sintomas incluíram massagear a gengiva da criança com
alho (12,1%) ou com ervas (GETANEH et al, 2018).
El-Gilany e Abusaad (2017) realizaram um estudo
transversal no distrito de Mansoura, no Egito, para investigar as
crenças de 457 mães sobre sintomatologia e tratamento
associados à erupção dentária decídua. As mães foram
entrevistadas durante uma sessão de vacinação, em 25
unidades de saúde selecionadas. Elas foram questionadas
sobre a concordância com 24 sinais e sintomas geralmente
associados ao período eruptivo. Apenas 1,8% delas relataram
que nenhuma alteração foi observada. A maioria relacionou a
sintomatologia da erupção dentária decídua à mordedura de
objetos/dedos (70,5%) e aumento da salivação (60%). Menos
da metade relatou conhecimento sobre massagem gengival
(42%) e inchaço gengival (47%). Diarreia foi relatada por 51%
e febre por 83%. Apenas 16,8% das mães relataram estar
familiarizadas com os desconfortos presentes no período da
erupção da dentição decídua. 13,4% não ministraram nenhum
tratamento durante essa fase. Antipiréticos e antibióticos foram
os tratamentos mais frequentemente administrados, 71,3% e
24,3% respectivamente (EL-GILANY; ABUSAAD, 2017).
O trabalho desenvolvido por Kumar et al. (2016) na
província de Jazan, na Arábia Saudita, utilizou uma técnica de
amostragem estratificada por agrupamento para identificar o
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

conhecimento sobre a erupção da dentição decídua e as


experiências das mães durante esse período. Um total de 159
mães participaram do estudo. Aproximadamente 80% da
população deste estudo relataram que os primeiros dentes
decíduos irrompem aos 6-7 meses de idade, e que os incisivos
inferiores são os primeiros a erupcionarem. Os sinais e
sintomas prevalentes associados incluíram: vontade de morder
(97,5%), febre (93%), diarreia (91,1%), aumento de salivação
(79,9%), perda de apetite (77,4%) e irritação gengival (71,7%).
Pouco mais da metade (55,7%) das mães ofereceram um
objeto gelado para morder e (42,1%) ofertaram mamadeira
noturna para aliviar os sintomas (KUMAR et al., 2016).
Existem diferentes correntes teóricas que tentam
esclarecer os transtornos causados durante o período de
erupção (MASSIGNAN et al., 2016). A primeira corrente diz que
a erupção dos dentes decíduos é considerada um processo
fisiológico e que não apresenta sintomatologia. A outra corrente
afirma que se trata de um processo fisiológico, mas que altera
o ritmo das atividades normais do organismo, o que pode
ocasionar sintomas (SARAIVA, 2015).
De acordo com Barbosa et al. (2017), a inflamação
produzida devido à presença de imunoglobulinas no local pode
acarretar sintomas locais como eritema, prurido e irritação
durante a fase de erupção, além de um aumento excessivo na
produção de saliva. Os sintomas apresentados que são de
ordem sistêmica, como a febre e a diarreia, podem ser
explicados devido a um comprometimento imunológico dessas
crianças, que poderiam estar levando a mão e objetos
contaminados à boca em função do desconforto causado pela
erupção dentária (BARBOSA et al., 2017).
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

Segundo Matos e Silva (2018), a febre, que é um


importante sintoma associado a diversas doenças na infância,
é um dos desconfortos mais relatados, tanto pelos pais, quanto
por profissionais de saúde. Para esses profissionais, é possível
que este sintoma esteja sendo desencadeado por fatores
externos como infecções locais, gripes ou resfriados. Apesar da
febre ser uma manifestação frequentemente relatada por
pais/responsáveis, evidências científicas ainda são fracas para
determinar a relação entre esta e a erupção dentária
(ANDRADE et al., 2018). Durante o período eruptivo, a
criança está em crescimento e, muitas vezes, isso coincide com
o surgimento de algumas alterações, tornando esse tema
controverso entre pais, literatura médica e odontológica
(MASSIGNAN et al., 2016).
Para Azevedo et al. (2015), um dos sintomas mais
relatados pelos pais é a irritabilidade, que pode estar
acompanhada de quadros febris. Isso pode ser explicado
porque durante a erupção, ocorre uma forte pressão nos tecidos
fibrosos gengivais, causando dor, coceira e lesões, o que pode
levar a inflamação e febre (AZEVEDO et al., 2015).
O excesso de salivação foi uma das manifestações
predominantemente encontradas em diversos estudos
(MEMARPOUR et al., 2015; OLCZAK-KOWALCZYK et al.,
2016; BANKOLE; LAWAL, 2017). Essa alteração pode ser
explicada pela irritação gengival, que leva a criança a morder
objetos em busca de alívio. Em contrapartida, outros estudos
encontraram alta prevalência de manifestações sistêmicas,
como febre e diarreia, durante a erupção da dentição decídua
(AMARASENA; LALLOO, 2015; GETANEH et al., 2018). Esses
sintomas devem ser vistos com cautela para que possíveis
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

fatores externos não sejam negligenciados (FRANZOLIN et al.,


2019).
Com essas discussões na literatura, fica claro que a
erupção dentária decídua têm muitas manifestações, sendo a
maior parte relacionada a sintomas locais. Em casos de
alterações sistêmicas, como a febre, o profissional de saúde
deve adotar uma conduta holística para com o paciente,
investigando de forma criteriosa a sua etiologia, sendo capaz
de excluir a hipótese de que esses sintomas possam estar
vinculados a outras doenças, garantindo assim um diagnóstico
mais seguro (AZEVEDO et al., 2015; BARBOSA et al., 2017).
Outro fator importante a ser levado em consideração é
o tipo de tratamento realizado pelos pais/responsáveis ou
indicado pelos dentistas, quando são procurados, na tentativa
de aliviar a sintomatologia. Bankole e Lawal (2017) em seu
estudo, realizado na Nigéria, apontaram que 14,2%, dos 393
pais/responsáveis questionados sobre suas práticas
relacionadas ao período eruptivo, recorrem aos antibióticos
(principalmente a tetraciclina) visando à diminuição dos
sintomas. Esse dado é preocupante, tendo em vista que a
tetraciclina é responsável por causar descoloração cinzenta nos
dentes, como resultado da calcificação dos tecidos. Além disso,
é conhecido que o uso indiscriminado de antibióticos resulta
diretamente na resistência bacteriana, que continua a evoluir e
representa um crescente perigo para todas as populações,
inclusive crianças (MEDERNACH; LOGAN, 2018).
Muitos pais/responsáveis recorrem a tratamentos
farmacológicos sem prescrição médica ou odontológica. O
estudo realizado por Ip et al. (2017) revelou que 63% dos
farmacêuticos da cidade de São Francisco, nos Estados
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

Unidos, quando consultados por pais/responsáveis sobre


opções para aliviar sintomas de erupção, erroneamente
recomendam produtos à base de benzocaína. A disponibilidade
de benzocaína tópica de venda livre representa um desafio para
a segurança do paciente pediátrico, pois os pais ou cuidadores
podem não estar totalmente informados sobre os riscos
hematológicos associados à toxicidade desse anestésico
tópico. Os médicos pediatras e cirurgiões-dentistas devem estar
cientes das indicações clínicas, concentrações e doses seguras
(VOHRA et al., 2017).
É preciso levar em consideração ainda, que em muitos
lugares os pais buscam o alívio da sintomatologia através da
medicina alternativa, que apesar de não ter comprovação
científica, ainda está enraizada culturalmente. Segundo More et
al. (2019), um número significativo de pais faz uso de colares
que garantem melhorar o sistema imunológico, combatendo a
inflamação. Assim como o uso de medicamentos homeopáticos
e plantas medicinais. No estudo de Diouf et al. (2018), também
é ressaltada a utilização de práticas terapêuticas alternativas,
como o uso de plantas e suas partes (folhas, cascas, raízes),
bem como crustáceos ou pérolas que são usadas para cura e
alívio da dor. Do ponto de vista dos pais/responsáveis, essas
terapias são satisfatórias tanto para prevenir, quanto para tratar
os sinais associados da erupção dentária. Além disso, a busca
por curandeiros locais acaba sendo mais viável para alguns do
que a procura por atendimento odontológico. No entanto,
orientações são necessárias para incentivar uma visita ao
dentista e assim conciliar a crença popular com o
acompanhamento profissional (BANKOLE; LAWAL, 2017).
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

Muitos autores relatam que a sintomatologia de


erupção dos dentes decíduos na maioria das vezes ocorre de
forma leve e transitória. Entretanto, essa criança deve ter um
acompanhamento odontológico pelo Odontopediatra, visando
evitar a exacerbação dos sintomas. Embora as manifestações
atribuídas à erupção dentária pareçam estar intimamente
relacionados às mudanças decorrentes do processo de
desenvolvimento infantil, essas devem ser investigadas para
evitar possíveis instalações de doenças graves, por negligência
de cuidados profissionais. Desta forma, em função da
complexidade assumida pelo fenômeno, cabe aos profissionais
de saúde, buscar sempre como desafio, um conhecimento
multidisciplinar (ELBUR et al., 2015).

CONCLUSÕES

A relação entre o processo de erupção dos dentes


decíduos e o aparecimento de manifestações locais ou
sistêmicas na criança ainda constitui um assunto controverso
na literatura. Apesar de toda a discussão sobre o referido tema,
ainda há a necessidade de realização de mais estudos e
investigações com um acompanhamento rigoroso para que
respostas efetivas sejam obtidas sobre essa possível
associação. Sobre as opções de tratamento, um arsenal
terapêutico foi discutido ao longo do trabalho, mostrando a
variedade de intervenções em diferentes regiões. Muitos pais e
responsáveis recorrem ao uso de produtos à base de
benzocaína na busca do alívio dos sintomas, porém é
necessário que essa utilização seja feita de forma segura. Não
se pode deixar de mencionar ainda, o uso de terapias
UMA ABORDAGEM DA LITERATURA SOBRE ERUPÇÃO DENTÁRIA
DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

alternativas em locais de pouco acesso ao atendimento


odontológico. Dessa forma, é fundamental a interação entre os
profissionais de saúde e a família, para que a criança seja
diagnosticada adequadamente, tornando possível um
tratamento efetivo e holístico, contribuindo para um
desenvolvimento saudável.

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DECÍDUA E SINTOMATOLOGIA

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ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

CAPÍTULO 27

HIPOMINERALIZAÇÃO MOLAR-INCISIVO E
CÁRIE DENTÁRIA EM PACIENTES
PEDIÁTRICOS ONCOLÓGICOS

Amanda de Araújo BARROS1


Amanda Raquel Guedes BARBOZA1
Eliane Batista de MEDEIROS-SERPA 2
1 Graduandos do curso de Odontologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do
DOCS/UFPB.
amandabarrosfe@gmail.com.br

RESUMO: Foi desenvolvido um estudo transversal,


observacional, com abordagem quantitativa em 40 pacientes
oncológicos na faixa etária de 0 a 19 anos. A partir do prontuário
dos pacientes foram obtidas informações sociodemográficas,
da patologia de base, hematológicos, e do tratamento
antineoplásico instituído. Os dados foram coletados por meio de
um exame clínico dentário, por um examinador calibrado
(Kappa=0,89). Para o diagnóstico da HMI, utilizou-se os
critérios da Associação Europeia de Odontopediatria (EAPD), e
para o levantamento da cárie dentária, foram utilizados os
índices de dentes permanentes, cariados, perdidos e obturados
(CPO-D) e o de dentes decíduos cariados, com extração
indicada e obturado (ceo-d), de acordo com os códigos e
critérios do SB Brasil 2010. Os dados foram tabulados e
analisados por meio de estatística descritiva e apresentados
sob a forma de tabelas. Verificou-se que a maioria da amostra
foi composta de crianças e adolescentes do sexo masculino
(64%), com até 10 anos de idade (80%), portadora de Leucemia
Linfoblástica Aguda (30%) e submetida à quimioterapia
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

(92,5%). A prevalência de HMI foi de 5%, sendo estas


classificadas como do tipo 2, com perda estrutural dentária de
severidade severa. Na dentição decídua a prevalência de cárie
foi de 42,9%, na dentição permanente foi de 68,1%. O presente
estudo verificou que a prevalência de cárie foi alta, contudo a
de hipomineralização molar – incisivo nos pacientes
oncopediatátricos foi considerada baixa.
Palavras-chave: Hipoplasia do Esmalte Dentário; Cárie
Dentária; Prevalência; Oncologia; Pediatria.

INTRODUÇÃO

Assim como nos países desenvolvidos, no Brasil, o


câncer já representa a primeira causa de morte por doença (8%)
entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos. O câncer
infantojuvenil geralmente afeta as células do sistema sanguíneo
e os tecidos de sustentação. Por serem predominantemente de
natureza embrionária, tumores na criança e no adolescente são
constituídos de células indiferenciadas, o que, geralmente,
proporciona melhor resposta aos tratamentos atuais (INCA,
2019).
Cerca de 70% dos pacientes acometidos por
neoplasias têm como tratamento instituído a quimioterapia
(MARTINS, 2002), intervenção esta realizada à base de drogas
quimioterápicas, as quais destroem células de divisão celular
rápida e, por esse motivo, tecidos como cabelos, pele,
membranas mucosas e o sistema hematopoiético são afetados
(CAMARGO, 2004).
Dentro desse contexto, os tecidos bucais possuem uma
alta sensibilidade aos efeitos tóxicos dos agentes
quimioterápicos (KUDUBAN, 2016), sendo comum a presença
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

de complicações decorrentes do tratamento antineoplásico,


dentre elas: mucosite; xerostomia; cárie precoce da infância;
doenças periodontais; infecções bacterianas, viróticas ou
fúngicas e alterações na formação dos germes dentários nos
casos de tratamento durante as fases da odontogênese
(CARVALHO et al., 2019).
As anomalias dentárias podem ter origem em fatores
ambientais, idiopáticos ou, ainda, hereditários (NEVILLE,
2009), configurando-se entre os mais comuns efeitos colaterais
do tratamento antineoplásico, além disso, as alterações no
processo de erupção podem interferir na mineralização e
calcificação dos elementos dentários (MACHADO, 2014).
A quimioterapia intensiva associada ou não à
radioterapia durante o período de deposição e calcificação da
matriz do esmalte também afeta de maneira irreversível sua
formação (PEDREIRA et al. 2014).
Dentre os defeitos idiopáticos de esmalte de etiologia
desconhecida temos Hipomineralização Molar-Incisivo (HMI),
sendo descrita como um fenômeno de hipomineralização de
origem sistêmica, de um a quatro primeiros molares
permanentes, frequentemente associados com incisivos
afetados, e sugeriram o nome (WEERHEIJM, JALEVICK e
ALALUUSUA, 2001) . Devido ao rápido desenvolvimento de
lesões cariosas, perda precoce de esmalte, estrutura macia,
sensibilidade dentária e pela necessidade de recorrentes e
extensivos tratamentos nos casos mais severos de HMI, o
conhecimento a seu respeito é muito relevante à prática clínica
atual (TEIXEIRA et al., 2017).
A Hipomineralização Molar-Incisivo é definida como um
defeito qualitativo do esmalte que ocorre em diferentes estágios
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

da amelogênese, uma de suas principais carcaterísticas é a


porosidade e opacidade do esmalte, que pode variar de
branco/amarelado a marrom. Em alguns caso causa perda de
estrutura dentária, resultando em problemas funcionais (dor,
sensibilidade dentária e cárie dentária), bem como estéticos
para o paciente (FARIAS et al., 2018).
A média da prevalência de HMI no Brasil é 13,48%
(AAPD, 2013).
Em uma pesquisa realizada em um hospital de
referência, na cidade de João Pessoa/PB, que contou com uma
amostra de 100 pacientes. A predominância nos índices ceo-d
e CPO-D foi do componente cariado. Cárie não tratada foi
encontrada na maioria dos pacientes, sendo os elementos
decíduos os mais afetados e o impacto da saúde bucal na vida
diária mais citado foi a dificuldade para comer. Na regressão
logística binária, em relação à saúde bucal, a insatisfação com
os dentes se comportou como fator de risco para o prejuízo na
qualidade de vida das crianças e adolescentes em tratamento.
Para os que estavam com tratamento finalizado, apenas a
insatisfação com os dentes foi significante e se apresentou
como fator de risco (CARNEIRO, 2014).
Faz–se essencial a presença do cirurgião-dentista na
equipe multidisciplinar responsável pelo tratamento do paciente
oncológico, pela sua capacidade no diagnóstico, prevenção,
estabilização e tratamento de alterações na cavidade oral que
comprometem a qualidade de vida do paciente antes, durante
e depois da terapêutica antineoplásica (RIBEIRO et al, 2017;
SILVA et al, 2020).
Partindo do princípio que estudos de prevalência são
importantes ferramentas para elaborar estratégias de prevenir
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

ou reduzir a as consequências da HMI e da cárie dentária, este


estudo se propôs a caracterizar o perfil dos pacientes
oncológicos infanto-juvenis assistidos no Hospital Napoleão
Laureano, identificar a prevalência de Hipomineralização Molar-
Incisivo (HMI) e da cárie dentária.

MATERIAIS E MÉTODO

Tratou-se de um estudo transversal, descritivo com


observação direta extensiva, com abordagem quantitativa
(MARCONI e LAKATUS, 2010). Foi realizado no setor de
pediatria do Hospital Napoleão Laureano, que é um centro de
referência no tratamento do câncer para todo o estado da
Paraíba, realizando cerca mais de 40 mil atendimentos mensais
entre consultas exames e cirurgias. O setor de Pediatria dessa
instituição fica localizado em um anexo do Hospital, sendo
composto por um ambulatório (onde são realizadas, consultas
e exames), três consultórios médicos, um consultório
odontológico e uma ala com 12 quartos, que suportam 21 leitos
de internação. Conta também com um espaço de recreação, a
brinquedoteca. A população estudada foi composta por uma
população de 40 pacientes de 0 a 19 anos, em atendimento no
Hospital Napoleão Laureano (PARAÍBA, 2016).
A amostra foi censitária determinada por procedimentos
de amostragem de conveniência. Adotou-se como critério de
inclusão ser criança ou adolescente, de ambos os sexos, entre
0 a 19 anos de idade, internada no setor da Enfermaria
Pediátrica, no período de outubro de 2019 a fevereiro de 2020.
Não foram incluídos pacientes com síndromes que
estão ligadas à má-formação de esmalte; pacientes utilizando
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

aparelho ortodôntico no momento do exame; pacientes com


impossibilidade de exame clínico, e que não aceitaram
participar do estudo.
A partir do prontuário foram obtidos dados
sociodemográficos: sexo, idade, cor de pele, cidade de
residência, tipo de doença de base, grupo sanguíneo, fator Rh
(coletadas quando do diagnóstico); tipo de tratamento
antineoplásico instituído, tempo desde a última vez que tomou
a quimioterapia/radioterapia, classe do quimioterápico,
frequência de doses do quimioterápico e/ou da radioterapia,
número de leucócitos e de plaquetas e nível sanguíneo de
creatinina.
O levantamento das condições sistêmicas foi realizado
com base no estudo inicial com base na pesquisa de eventos
sistêmicos do Grupo de Hipomineralização Molar-Incisivo –
Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade
Estadual de São Paulo (Grupo HMI – FOAr Unesp), com
questões referentes à história médica da fase gestacional da
mãe e dos três primeiros anos de vida da criança abordando
questões, como: risco da gestação; tipo de parto;
prematuridade; doenças; uso de medicamentos (MEDINA,
2014).
As avaliações da condição de saúde bucal foram
realizadas no consultório odontológico do setor de pediatria do
Hospital Napoleão Laureano ou nos leitos em que os pacientes
se encontram internados. Na impossibilidade de realizar o
atendimento sob a iluminação ideal, que é a do consultório
odontológico, os pacientes foram avaliados nos leitos sob
condições adaptadas de iluminação com o uso de lanternas de
cabeça tática, a higiene oral foi realizada com escovação
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

supervisionada, e nos casos de pacientes impossibilitados de


se locomoverem foi realizada a remoção de biofilme com gaze
e água filtrada. Os seguintes dados foram registrados:
Presença/severidade de HMI, adaptado utilizando critérios
propostos pela Academia Europeia de Odontopediatria (EAPD)
(WEERHEIJM, JALEVICK e ALALUUSUA, 2001).
A severidade do quadro de HMI foi avaliado de acordo
com os parâmetros propostos por Lygidakis et al (2010), o qual

define: leve e severa. São considerados casos leves quando os

dentes afetados apresentam opacidade demarcada ≥ 1,0mm,

sem perda de estrutura. Enquanto casos severos são definidos

pelos dentes que tiveram perda estrutural, ou lesão atual ou

passada que requereu tratamento, ou ainda a presença de uma

restauração atípica.
Apenas para as crianças que já possuíam os molares
decíduos e/ou primeiro molar permanente que foi avaliado o
HMI. O exame intra-bucal foi realizado por um único
examinador calibrado (Kappa intraexaminador = 0,89), sendo
considerada quase perfeita (LADIS e KOCH, 1977) .
A padronização de critérios diagnósticos para estudos
epidemiológicos de saúde bucal foi claramente definida pela
Organização Mundial da Saúde (OMS, 1991; WORD HEALTH
ORGANIZATION, 1997) e a avaliação de cárie dentária foi
realizada conforme os critérios do SB Brasil 2010 (BRASIL,
2012).
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Os seguintes dados foram registrados: 1- índices de


cárie dentária: CPO-D (dentes permanentes cariados, perdidos
ou obturados) (CPO-D > 0) e ceo-d (dentes decíduos cariados,
extraídos ou obturados) (ceo-d > 0) (OMS, 1991).
Os dados sóciodemográficos foram coletados com
base na ficha de avaliação do SB Brasil 2010 (BRASIL, 2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram examinadas 40 crianças e segundo a Tabela 1,


o sexo masculino apresentou uma prevalência discretamente
maior (57,5%) que o feminino dentre os pacientes oncológicos
pediátricos. A idade média foi de 7,5 anos, com predominância
da faixa etária entre 6 e 12 anos (n=19, 47,5%).

Tabela 1. Perfil socioeconômico dos pacientes oncopediátricos


do Hospital Napoleão Laureano
Variáveis n %
SEXO
Feminino 17 42,5
Masculino 23 57,5
IDADE (anos)
01 01 02,5
02 04 10,0
03 01 02,5
04 08 20,0
05 02 05,0
06 05 12,5
07 01 02,5
08 02 05,0
09 03 07,5
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

10 05 12,5
11 03 07,5
15 01 02,5
16 01 02,5
17 02 05,0
18 01 02,5
NÚMERO DE RESIDENTES NA CASA DO PACIENTE
02 3 7,5
03 8 20,0
04 14 35,0
05 4 10,0
06 9 22,5
07 2 5,0
RENDA FAMILIAR*
Até 1 salário 15 37,5
De 1 a 2 19 47,5
De 2 até 3 04 10,0
ESCOLARIDADE DO
RESPONSÁVEL
Não estudou 01 02,5
Ensino Fund. completo 13 32,5
Ensino Medio
11 27,5
incompleto
Ensino Medio completo 12 30,0
Ensino superior
03 07,5
completo
*Salário Mínimo vigente em dezembro de 2019 de R$ 998,00.
Fonte: dados da pesquisa.

Em relação à renda familiar, 47,2%, possuem uma


renda familiar de 1 a 2 salários mínimos. Quanto a escolaridade
do responsável, observou-se que 32,5% estudaram o ensino
fundamental completo, e apenas 7,5% dos responsáveis
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EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

possuem o ensino superior completo. Ainda sobre a Tabela 1,


verificamos que 35% da amostra possuíam até quatro pessoas
na sua residência.
Foi importante verificar esses aspectos, porque a
literatura aponta a influência das características sócio-
ambientais em doenças como o HMI (FARIAS et al., 2018) e a
a cárie dentária (SANTANA et al, 2018)
De acordo com o Instituto Nacional do câncer, a
classificação das neoplasias infanto-juvenis é subdividida em
dois grupos. Os tumores hematológicos correspondem às
leucemias e os linfomas; e o grupo de tumores sólidos é
constituído entre outros, por tumores do sistema nervoso
central/ cérebro, tumores abdominais (neuroblastomas,
hepatoblastomas, nefroblastomas), tumores ósseos e tumores
de partes moles (rabdomiossarcomas, sarcomas sinoviais,
fibrossarcomas) (INCA, 2019).
Em nosso estudo, das doenças de bases verificadas,
as mais comuns foram as neoplasias hematológicas (55%). De
todos os tumores, o mais frequente foi a Leucemia Linfoblástica
Aguda (LLA), com 30% da amostra. Das neoplasias de origem
do tecido mole, 7,5% dos pacientes tiveram neoplasia dos rins,
outros 7,5% cerebral. Das neoplasias de origem linfática, a mais
prevalente foi o Linfoma de Burkitt com 5%. E no caso das
neoplasias ósseas, a de osso longo foi a mais prevalente com
7,5%.
A caracterização da amostra conforme o perfil médico
está descrita na Tabela 2. Verificou-se que durante a pesquisa,
em 75% dos casos, as mães que acompanhavam o paciente
pediátrico oncológico internos, o tipo de tratamento instituído
mais frequentemente foi a quimioterapia (92,5%) e as taxas
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EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

sanguíneas em sua maioria encontravam-se dentro da


normalidade com base nos exames hematológicos realizados
pelo próprio Hospital Napoleão Laureano.

Tabela 2. Perfil médico dos pacientes oncopediátricos do


Hospital Napoleão Laureano, João Pessoa, PB, 2020.
Variáveis n %
VÍNCULO COM ACOMPANHANTE
Mãe 17 42,5
Pai 23 57,5
Avó/Avô
Tia/tio 01 02,5
Irmão 04 10,0
Total 01 02,5
TIPO DE TRATAMENTO
Quimioterapia 37 92,5
Radioterapia 01 2,5
Quimioterapia
02 5,0
+Radioterapia
Total 40 100,0
TAXA DE LEUCÓCITOS
Normal 28 70,0
Leucopenia 10 25,0
Leucocitose 02 5,0
Total 40 100,0
TAXA DE PLAQUETAS
Normal 35 87,5
Plaquetopenia 05 12,5
Total 40 100,0
NÍVEL DE CREATINA
Normal 26 65,0
Anormal 04 10,0
Sem informação 10 25,0
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Fonte: dados da pesquisa.

É importante destacar, que todo paciente realiza


exames hematológicos quando inicia o tratamento, porém, a
renovação desses exames hematológicos, dependem da
condição do paciente, e do tratamento antineoplásico instituído,
além da necessidade para manutenção dos ciclos.
Conforme a Tabela 3, verificou-se que 7,5% dos
pacientespossuíam problema renal, como alteração sistêmica,
87,5% da amostra não teve relato de risco gestacional, sendo
52,5% dos pacientes nasceram de parto normal.
Avaliar o histórico médico-odontológico é muito
importante quando se pretende entender sobre a etiologia das
allterações dentárias (WEERHEIJM, JALEVICK e
ALALUUSUA, 2001; FARIAS et al., 2018)
Na amostra estudada, 18 pacientes (45%)
apresentavam-se na dentição decídua, 30% (n=12) na dentição
permanente e 25% (n=10) na dentadura mista, sendo avaliado
o ceo-d e CPO-D (Tabela 4).
Verificou-se que dos 28 pacientes em que o ceo-d foi
avaliado, 16 (57,1%) apresentavam-se livre de cárie na
dentição decídua, ou seja ceo-d = 0. Dos 22 pacientes que se
apresentavam na dentição permanente, sete (31,8%) tinham o
CPO-D =0 (Tabela 4).
É importante destacar que o clínico deve considerar as
lesões de cárie para o diagnóstico diferencial da HMI. A doença
cárie é um processo complexo, multifatorial, biofilme açúcar-
dependente e considerada pela Organização Mundial da Saúde
como doença reemergente. As condições socioeconômicas,
culturais, os níveis de educação, os costumes e crenças
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EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

explicam a alta prevalência deste processo em grupos mais


desprovidos da sociedade (SANTOS-PINTO, FRAGELLI e
IMPARATO, 2020).

Tabela 3. Histórico médico-odontológico dos pacientes


oncopediátricos do Hospital Napoleão Laureano, João Pessoa,
PB, 2020.
Variáveis n %
PROBLEMAS SISTÊMICOS
Problema respirátorio 02 5,0
Problema cardíaco 01 2,5
Problema renal 03 7,5
Hipertenção 01 2,5
Neurofibromatose 02 5,0
Febre reumática 01 2,5
Nenhum 30 75,0
NASCEU PREMATURO
Sim 05 12,5
Não 35 87,5
RISCO GESTACIONAL
Sim 05 12,5
Não 35 87,5
TIPO DE PARTO
Normal 21 52,5
Cesáreo 19 47,5
DOR DE DENTE NOS ULTIMOS 6 MESES
Sim 19 47,5
Não 21 52,5
ÚLTIMA CONSULTA COM
DENTISTA
Menos de 1 ano 24 60,0
De 1 ano a 2 anos 06 15,0
De 3 anos ou mais 02 5,0
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EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Não sabe 08 20,0

Tabela 4. Frequência da cárie dentária (índice ceo-d e CPO-D)


e do HMI nos pacientes oncopediátricos do Hospital Napoleão
Laureano, João Pessoa, PB, 2020.
Variáveis n %
ceo-d (n=28)
0 16 57,1
1 05 17,8
3 02 07,2
6 02 07,2
7 02 07,2
12 01 03,5
CPO-D (n=22)
0 07 31,8
1 01 04,5
2 04 18,2
3 01 04,5
4 05 22,7
5 01 04,5
9 01 04,5
12 01 04,5
18 01 04,5
HIPOMINERALIZAÇÃO MOLAR INCISIVO
Hígido 38 95,0
Perda estrutural 02 05,0
Fonte: dados da pesquisa.

Dos pacientes avaliados, 5% (n=2) apresentaram HMI,


sendo caracterizados como do tipo 2 (com perda estrutural
dentária) na forma severa. A baixa prevalência de HMI na
amostra estudada, impossibilitou a realização de testes
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EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

estatísticos para verificar a possível associação com os dados


sóciodemográficos, médicos e presença de cárie dos pacientes.
Dados derivados de estudos realizados em diferentes
populações ao redor do mundo reportam valores de prevalência
que variam de 2,8% a 44%. Apesar dessa falta de padronização
nos estudos, uma revisão sistemática realizada em 2018 relatou
que a prevalência global da HMI é de 14,2%. No que se refere
ao Brasil, alguns estudos epidemiológicos, alguns estudos
epidemiológicos foram realizados nas regiões Sudeste,
Nordeste e Centro-Oeste. Na região sudeste quatro estudos
reportaram taxas de prevalência de 12,3%, 19,8% 20,4% e
40,2%. Os valores encontrados nas regiões Nordeste e Centro-
Oeste fora de 18,4% e 14, 69%, respectivamente(SANTOS-
PINTO, FRAGELLI e IMPARATO, 2020).
Conforme foi verificado, o sexo masculino apresenta
uma prevalência discretamente maior que o feminino dentre os
pacientes oncológicos pediátricos, estando de acordo com o
que é demonstrado por várias equipes de pesquisadores e
segue as tendências populacionais da região estudada
(OLIVEIRA et al, 2019). A expectativa de vida de crianças e
adolescentes com câncer tem aumentado de maneira
significativa, a partir dos avanços tecnológicos no tratamento
contra este grupo de neoplasias. Atualmente, 80% dos casos
podem ser curados, se o diagnóstico for realizado de maneira
precoce (KUPEEMAN et al, 2010) .
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios – PNAD (BRASIL,2018), em que
48,1% da população de 25 anos ou mais de idade estava
concentrada nos níveis de instrução até o ensino
fundamental completo ou equivalente; 27% tinham o ensino
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EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

médio completo ou equivalente; e 16,5%, o superior


completo. Conforme o presente estudo observou que 32,5%
possuem apenas o ensino fundamental completo, 30% o ensino
médio completo e 27,5% dos responsáveis possuem o ensino
médio incompleto.
Várias alterações no esmalte apresentam componente
genético, no entanto, fatores ambientais podem ser
responsáveis pela sua aparência final. Fatores externos,
conhecidos como fatores epigenéticos, podem modificar a
resposta genética do indivíduo (SANTOS-PINTO, FRAGELLI e
IMPARATO, 2020).
É importante se atentar que, em um estudo de caso
controle, publicado em 2017, mostrou que os primeiros molares
permanentes afetados por HMI, em uma mesma criança que
também apresentava outro primeiro molar não afetado, ou seja,
localizados em um mesmo ambiente bucal, expostos à mesma
dieta, apresentam maior número de lesões de cárie quando
comparados àqueles sem HMI. Indicando que a
hipomineralização molar incisivo é um fator de risco para o
desenvolvimento da cárie dentária (SANTOS-PINTO,
FRAGELLI e IMPARATO, 2020).
O grau de severidade do HMI, conforme foi descrito nos
resultados da avaliação da amostra desse estudo, está
relacionado a evolução da condição. As lesões de HMI iniciam-
se como uma opacidade demarcada, e são suscetíveis a perdas
estruturais pós-irruptivas, seguida da realização de
restaurações atípicas, desenvolvimento de lesões cariosas e
até mesmo exodontias. Quando uma ou mais características
estiverem associadas, deve ser classificada sempre a de maior
severidade (SANTOS-PINTO, FRAGELLI e IMPARATO, 2020).
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Esta pesquisa teve como limitação o tamanho do grupo


estudado e o tipo de estudo. Esta limitação deve-se à própria
característica dos estudos conduzidos em patologias que são
consideradas raras aliado a outros fatores como a evasão
temporária dos internamentos pela falta de medicamentos,
além disso, durante a coleta de dados algumas dificuldades
foram encontradas, de forma que, por se tratarem de crianças
que são submetidas a muitos procedimentos dolorosos,
algumas delas hesitaram a seres examinadas em consulta
odontológica, mesmo que em leito, enquanto outras se
apresentavam estressadas ou cansadas para participar do
exame.
Sugere-se estudos longitudinai, visto a importância em
se avaliar a influência dos tratamentos antineoplásicos na
incidência do HMI, para que haja uma antecipação nas
condutas terapêuticas e dessa forma, melhorar a qualidade de
vida desses pacientes, bem como o rastreamento e
monitoramento das condições de saúde bucal de pacientes
infanto-juvenis durante o tratamento antineoplásico promovem
a vigilância em saúde, favorecendo o planejamento de
estratégias educativas, preventivas e curativas a serem
ofertadas para este paciente

CONCLUSÕES

Os pacientes oncológicos infanto-juvenis atendidos no


Hospital Napoleão Laureano apresentaram baixa prevalência
HMI (5%) e alta prevalência de cárie dentária. Salienta-se a a
importância dos exames periódicos na detecção precoce de
alterações bucais e, principalmente a criação de protocolos
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EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

hospitalares que orientem a manutenção da boa saúde bucal


nessa população.
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170-179
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

CAPÍTULO 28

ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS


DE PANDEMIA: UMA EXPERIÊNCIA NA
EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
Raiana Gurgel de QUEIROZ 1
José Gabriel Victor Costa SILVA 1
Thayana Maria Navarro Ribeiro de LIMA 1
Thays Matias RIBEIRO 1
Jocianelle Maria Félix Fernandes NUNES 2
1 Graduandos do curso de Odontologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do
Departamento de Clínica e Odontologia Social DCOS/UFPB.
raianagqueiroz@gmail.com

RESUMO: A Liga Acadêmica de Odontologia para bebês


(LAOB) da Universidade Federal da Paraíba proveu
atendimento clínico e atividades de caráter educativo que
fomentavam prevenção, promoção e recuperação em saúde
bucal para pacientes de 0 a 3 anos e suas famílias no ano de
2019. Em 2020, devido à pandemia da COVID-19 o projeto teve
que ser modificado para respeitar os novos parâmetros de
distanciamento social indicados pelas organizações de saúde.
Neste capítulo, objetiva-se relatar a experiência da LAOB no
período de funcionamento presencial em 2019, bem como as
adaptações realizadas para a continuidade das atividades. A
extensão que, quando presencial, realizava exames clínicos,
orientações de higiene bucal, protocolos restauradores
minimamente invasivos e condicionamento psicológico do
público atendido, passou a utilizar redes sociais para manter
contato e realizar telemonitoramento dos pacientes, além de
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

fornecer acesso a informações sobre saúde bucal, dieta e


hábitos. Um e-book direcionado aos responsáveis para
cuidados com bebês foi idealizado, estando, atualmente, em
processo de publicação. Também foi realizada uma estratégia
de promoção à saúde pela entrega de kits de higiene nas
residências dos pacientes. Assim, mesmo com as alterações
nas atividades do projeto, a participação na LAOB remotamente
estimulou o desenvolvimento de competências e habilidades
profissionais para os extensionistas e garantiu suporte à
manutenção da saúde bucal do público-alvo envolvido.
Palavras-chave: Odontopediatria. Odontologia Preventiva.
Promoção da Saúde. Saúde Bucal. Pandemia.

INTRODUÇÃO

A promoção e prevenção da saúde bucal infantil deve


começar o mais cedo possível, sendo preferível que ocorra a
partir do estágio pré-natal (VILELA et al., 2017), pois trata-se de
uma fase essencial para que o indivíduo atinja a idade adulta
livre de patologias que acometem a cavidade bucal, como, por
exemplo, a cárie dentária e a doença periodontal (VILELA et al.,
2017; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2019).
Nesse contexto, a odontologia para bebês abrange os
cuidados com a saúde bucal durante a primeira infância
(VILELA et al., 2017), a partir de intervenções que começam no
primeiro ano de vida da criança, baseadas em evidências e
riscos, que promovem cuidados preventivos para reduzir a
prevalência de doenças orais. Empreende-se uma perspectiva
educativo-preventiva, principalmente pela associação da
promoção de saúde bucal com a disseminação de
conhecimentos e informações para os indivíduos, exercendo
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

forte papel educativo, individual e social (MEYER, ENAX, 2018;


TINANOFF et al., 2019).
Apesar de atualmente a odontologia para bebês ter
uma ampla divulgação, ainda há uma alta prevalência de
doenças bucais em crianças, como a cárie dentária (OLIVEIRA,
BOTTA, ROSELL, 2010; TINANOFF et al., 2019; BRANDÃO et
al., 2020). Desse modo, a cárie na primeira infância caracteriza-
se por ser uma doença complexa e de caráter multifatorial, que
apresenta rápida progressão, sendo associada ao consumo
elevado de sacarose (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2019).
Observando a crescente prevalência dessa patologia
em países com menores índices de desenvolvimento humano,
percebe-se a importância de implementar ações preventivas
durante a primeira infância, ainda no período que antecede a
erupção dos primeiros dentes, criando e incentivando hábitos
de higiene saudáveis para prevenir futuras doenças bucais
(PEÇANHA et al., 2019; WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2019).
O tratamento preventivo infantil baseia-se na
intervenção integral que engloba os âmbitos educacional,
preventivo e curativo. A odontopediatria tem o papel de fornecer
educação em saúde para gestantes, pais e responsáveis,
priorizando temas como: a importância do tratamento
odontológico, amamentação, hábitos alimentares e dieta, cárie
dentária e higiene bucal (VILELA et al., 2017). A atuação
multidisciplinar apresenta grande importância para o aumento
do conhecimento das mães sobre saúde bucal (GOUVÊA et al.,
2018), devendo o profissional de saúde lidar com as diferentes
realidades socioeconômicas de cada comunidade e se
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

responsabilizar pela transformação dessa realidade social


(BRANDÃO et al., 2020).
A relação com a família é bastante significativa pois
trata-se de um núcleo forte com função primordial na rotina da
criança, sendo a principal responsável pela formação da
personalidade, hábitos e costumes do indivíduo, tornando-os
competentes em atitudes relacionadas a sua saúde (SILVA,
2016). Especialmente na primeira infância, visando o
desenvolvimento saudável e adaptativo de um indivíduo
(MEYER, ENAX, 2018; WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2019).
Nesse sentido, a extensão universitária atua
promovendo a comunicação efetiva com as famílias,
construindo um vínculo com a comunidade, adaptando-se às
diversas linguagens e experiências encontradas e gerando um
diálogo direto e produtivo, além de ensino e conhecimento para
os envolvidos (AYRES, 2015).
No Brasil, a extensão em conjunto com o ensino e a
pesquisa constituem os pilares do ensino superior, denominado
tripé educacional, conforme dispõe o artigo 207, da Constituição
Federal. O estabelecimento da interação entre universidade e
sociedade por meio de processos ativos de formação
acadêmica justifica sua importância e valorização (OLIVEIRA,
2019).
A extensão universitária promove um impacto
acadêmico - proporcionando a formação de futuros
profissionais humanizados, capacitados e com boa atuação em
equipe - e social - no que diz respeito ao conhecimento do
contexto social e necessidades de determinada população
(CAMPOSTRINI et al., 2018).
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Nesse contexto, a extensão universitária intitulada Liga


Acadêmica de Odontologia Para Bebês (LAOB) surgiu com o
objetivo de fornecer atendimento odontológico gratuito para
bebês de 0 a 3 anos na Clínica Escola da Universidade Federal
da Paraíba, além de trabalhar o empoderamento dos pais e
responsáveis para que atuem no processo de saúde de seus
filhos. A extensão tenta abordar aspectos comportamentais,
educativos, preventivos, reabilitadores e de manutenção na
área odontológica, valorizando também a formação profissional
comprometida com os valores éticos de respeito à vida e com o
direito à saúde dos cidadãos.
Atualmente, enfrenta-se uma grave crise mundial
causada pela pandemia do novo coronavírus (COVID-19), um
problema de saúde que até o presente momento não possui
tratamento farmacológico comprovadamente eficaz, tampouco
vacina como medida preventiva efetiva. Por isso, as principais
medidas adotadas para o enfrentamento da pandemia foram o
distanciamento e isolamento social, representando estratégias
de controle da disseminação da contaminação na população
pelo distanciamento físico e redução da mobilidade
(GOODMAN; BORIO, 2020).
Na odontologia, o impacto da COVID-19 tem sido
grande, uma vez que se lida com a cavidade oral do paciente,
o que gera um aumento significativo do potencial de exposição
direta e indireta a materiais infecciosos. A geração de aerossóis
durante o tratamento odontológico pode transportar o vírus,
bem como a transmissão pode ocorrer por contato direto com
superfícies contaminadas ou por gotículas dispersas em até
dois metros de uma pessoa infectada, colocando esses
profissionais no pico da cadeia de transmissão (BRITO et al.,
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

2020; GE et al., 2020; ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE


ODONTOPEDIATRÍA, 2020).
Devido à atual situação pandêmica, o alto risco de
transmissão da COVID-19 e, em cumprimento às
recomendações de isolamento estabelecidas pelos órgãos
públicos e pela Organização Mundial de Saúde, as atividades
que eram realizadas presencialmente na extensão universitária
foram interrompidas. Dessa forma, com a suspensão das
atividades de prevenção e reabilitação oral, incluindo
anamnese, exame clínico, aplicação tópica de verniz fluoretado,
tratamentos minimamente invasivos, cirurgia oral menor, entre
outros, as ações da Liga Acadêmica de Odontologia para Bebês
foram repensadas e adaptadas ao novo cenário, priorizando a
continuidade do alcance à população e o benefício para a
sociedade de forma não presencial.
A educação em saúde quando disseminada por meio
de informações, conhecimentos e o incentivo ao autocuidado, é
fundamental para promoção de saúde e consequente melhoria
na qualidade de vida (SANTOS et al., 2020). O estudo de Costa
et al. (2019) demonstrou que a utilização de tecnologias para
ampliar e difundir conhecimentos sobre saúde bucal ajudou no
alcance da integralidade em saúde para o público com
dificuldades de obtê-las presencialmente.
Portanto, o funcionamento da LAOB passou a ser de
modo remoto, destacando-se ações desenvolvidas com o uso
de tecnologias de informação e comunicação como as redes
sociais, por meio de plataformas como WhatsApp® e
Instagram®, para o acompanhamento dos pacientes em
tratamento, a publicação de conteúdos com embasamento
científico direcionados aos responsáveis dos bebês atendidos,
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

bem como para estudantes de Odontologia e Cirurgiões-


dentistas interessados. Além do telemonitoramento dos
pacientes e, quando necessário, encaminhamento para os
serviços em funcionamento, conforme orientado pela
Associação Latinoamericana de Odontopediatria
(ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE
ODONTOPEDIATRÍA, 2020).
O objetivo deste trabalho foi relatar a experiência no
Projeto de Extensão Liga Acadêmica de Odontologia para
Bebês da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) no período
que antecedeu a pandemia causada pelo Coronavírus, bem
como a adaptação e nova logística de funcionamento do projeto
pelas atividades desenvolvidas com o uso de tecnologias de
informação e comunicação.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

A Liga Acadêmica de Odontologia para bebês foi


idealizada enquanto projeto de extensão para suprimir a
necessidade de atendimento odontológico a indivíduos de 0 a 3
anos não absorvidos pelos serviços públicos, já que esses
exigem um tratamento diferenciado, que demanda tempo e
habilidades específicas. Assim, a LAOB buscou fomentar
práticas de cuidado oral nesses pacientes de tenra idade e nas
suas respectivas famílias, promovendo saúde bucal através do
lúdico, bem como prevenindo patologias ainda prevalentes
como cárie dentária e doença periodontal.
Durante o ano de 2019, o projeto funcionou realizando
atividades clínicas e educativas presencialmente. Nas
intervenções clínicas, os bebês e os seus responsáveis eram
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

acolhidos pelos extensionistas na clínica escola de Odontologia


da Universidade Federal da Paraíba uma vez por semana, no
turno da tarde. Os bebês e suas famílias receberam orientações
e instruções de higiene oral, informativos sobre dieta e foram
submetidos à anamnese e, posteriormente, aos exames
clínicos para determinação do risco de cárie dentária individual
com análise dos fatores ambientais e não ambientais.
As ações educativas, preventivas e de reabilitação
bucal foram executadas de acordo com a necessidade do
paciente, a partir da elaboração do plano de tratamento
individual. Para os casos de lesões de mancha branca ativas,
foram empregados protocolos de fluorterapia, utilizando o
verniz fluoretado. Já na presença de lesões cariosas cavitadas,
priorizou-se a adequação do meio bucal, por meio de protocolos
minimamente invasivos, como o tratamento restaurador
atraumático e aplicação de selantes resinosos e ionoméricos.
Ainda foram realizados procedimentos restauradores
empregando compósitos resinosos ou cimento de ionômero de
vidro, além de exodontias e atendimentos de urgências para
odontalgias.
Nesses momentos práticos que sempre ocorriam sob
supervisão docente, metodologias lúdicas eram utilizadas para
propiciar o condicionamento psicológico dos pacientes e
fortalecimento do vínculo com os graduandos em Odontologia
participantes da LAOB. Como o projeto de extensão sempre
entendeu a motivação e o papel familiar como cruciais para um
tratamento de excelência, retornos para reavaliação da
condição clínica foram marcados conforme necessidade, bem
como para reorientação dos responsáveis sobre os quadros
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

persistentes. Para isso, os cuidadores eram contatados por


telefone e recebiam um cartão com o momento para retorno.
A LAOB também contou nesse primeiro ano com uma
ação interprofissional com um projeto de extensão do curso de
Nutrição para motivação dos responsáveis sobre dieta saudável
e inserção de hábitos alimentares, que garantissem os
parâmetros nutricionais adequados. Desse modo, realizou-se
uma atividade lúdica teatral para os bebês, baseada no filme
“Frozen: Uma Aventura Congelante”, sendo ainda prestadas,
aos pais/responsáveis, orientações sobre alimentação
saudável em roda de conversa.
Devido à impossibilidade de realizar os tratamentos
clínicos, a equipe de discentes extensionistas e professores
colaboradores planejou e realizou reuniões virtuais pela
plataforma Google Meet® para que os integrantes partilhassem
propostas e encaminhassem as intervenções. Em uma das
reuniões, pactuou-se que os extensionistas passariam a
produzir conteúdo on-line embasado em evidências científicas
para público-alvo e suas famílias, priorizando a utilização de
métodos lúdicos e linguagem de fácil compreensão.
Nessa perspectiva, por meio da rede social Instagram®,
foram compartilhados conhecimentos científicos sobre temas
relacionados à Odontologia para bebês. Assim, até duas vezes
por semana foram veiculadas publicações desenvolvidas pela
equipe do projeto de extensão, buscando abranger, além dos
familiares dos pacientes atendidos pelo projeto, graduandos em
Odontologia, Cirurgiões-Dentistas e demais interessados nos
temas.
Foram realizadas publicações, com imagens e vídeos
nas plataformas IGTV e Reels do Instagram ®, que possuem
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

informações variadas sobre erupção dentária, higiene bucal,


candidíase oral, cárie da primeira infância, hábitos deletérios,
traumatismo dentário, entre outras, utilizando uma linguagem
clara e acessível para o público.
Destaca-se ainda, a colaboração da Liga Acadêmica de
Odontologia para Bebês com outros projetos de extensão da
própria instituição. Foram produzidas publicações no
Instagram® com a Liga Acadêmica de Odontologia Legal sobre
o uso de imagens de pacientes infantis nas redes sociais e
maus tratos na infância. E, juntamente ao projeto de extensão
Nutrindo com Alegria, do curso de Nutrição, foi compartilhada
uma publicação, na mesma rede social, a respeito da
importância da educação em saúde de forma lúdica para bebês.
Tais parcerias tiveram por objetivo incorporar mais áreas da
saúde ao projeto, promovendo a integralidade e permitindo a
ampliação do alcance dos conteúdos.
Com o intuito de potencializar as publicações feitas no
Instagram®, foi fomentada a ideia de produzir um e-book que
pudesse esclarecer as principais dúvidas dos
pais/responsáveis sobre a saúde bucal e geral dos bebês, além
de expandir o acesso a conhecimentos providos de
fundamentos científicos.
Desse modo, a equipe do projeto de extensão elaborou
o Manual de Orientações Odontológicas para Bebês, que conta
com diversos capítulos sobre temas variados, como os
cuidados com a COVID-19, cárie dentária, hábitos de higiene
bucal, importância da dieta equilibrada e da amamentação,
patologias bucais e alterações orais que podem acometer
bebês, importância do atendimento odontológico para bebês,
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

entre outros, que foram contextualizados com um vocabulário


simples.
O e-book foi submetido à Editora da UFPB e pretende-
se compartilhá-lo com os responsáveis pelos pacientes
atendidos pela LAOB, bem como para o público do Instagram ®
e Cirurgiões-Dentistas da Secretaria Municipal de Saúde de
João Pessoa, a fim de que as informações tenham um alcance
maior.
Além da produção e divulgação de conteúdo on-line
através do Instagram® e da submissão do e-book, a extensão
passou por uma adaptação para dar continuidade ao
atendimento e acompanhamento dos pacientes de forma
remota, sendo realizado o telemonitoramento por meio do
WhatsApp® com os pais e responsáveis dos bebês, em
conformidade à Resolução nº 226 do Conselho Federal de
Odontologia (2020), que aprovou as práticas de
acompanhamento remoto para pacientes que já se
encontravam em atendimento clínico. Para a manutenção da
saúde bucal dos pacientes da LAOB, prestaram-se orientações
e informações necessárias, incluindo o encaminhamento
desses pacientes com casos urgentes para os serviços de
saúde em funcionamento durante a pandemia.
Criou-se uma planilha de controle para que todos os
participantes da extensão pudessem adicionar informações
sobre o telemonitoramento, efetuando o registro das datas em
que foi realizado o contato com os responsáveis e a situação de
saúde bucal atual do paciente. Por meio do WhatsApp ®, a
equipe também pôde articular com os pais e responsáveis uma
forma de promover saúde - além do uso de tecnologia - para os
pacientes atendidos pela LAOB, sem que houvesse riscos para
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

ambos, a partir da entrega de kits de higiene bucal na casa dos


pacientes.
Os kits foram confeccionados pelos extensionistas e
docentes, e apresentavam: 1 escova de dentes infantil, 1
escova de dentes para adulto, 1 dentifrício infantil (1100 ppm
F), 1 fio dental, manual de orientação de cuidados com o bebê,
atividades lúdicas de promoção de saúde bucal, 1 caixa de lápis
para colorir e 1 adesivo de identificação do projeto. É importante
ressaltar que esses kits foram devidamente desinfetados com
álcool etílico 70%, e no momento da distribuição, as
recomendações de proteção dos órgãos públicos referentes à
pandemia foram devidamente respeitadas, com uso de
equipamentos de proteção individual, medidas de higiene e
distanciamento seguro. A entrega ocorreu nas residências dos
pacientes localizadas nos bairros da Grande João Pessoa,
Paraíba.
A pandemia causada pelo Coronavírus configurou um
grande desafio para os alunos e professores participantes da
extensão, no sentido de reorganização da logística de seu
funcionamento. No entanto, os entraves da adaptação da LAOB
durante o período de pandemia estimulou e reforçou o
desenvolvimento de competências de humanização, liderança,
comunicação, trabalho em equipe e tomada de decisão nos
alunos de graduação participantes, principalmente, em relação
ao desdobramento de condutas éticas no envolvimento com a
comunidade. Isso evidencia a importância do trabalho como
extensionista para o aluno, resultando na valorização da
formação profissional comprometida com os valores éticos de
respeito à vida e com o direito à saúde dos cidadãos.
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Além da aquisição de habilidades profissionais


diretamente relacionadas com a ética e com a humanização em
saúde, a experiência proporcionada pela LAOB cumpriu um
propósito de caráter social, pois mesmo diante de um período
de distanciamento social, a extensão foi capaz de atuar e se
manter próxima à comunidade assistida, entregando aos
pacientes uma forma de cuidado e atenção à saúde bucal por
meio da distribuição de kits de higiene bucal nas suas casas.
Sendo assim, a LAOB manteve o seu comprometimento com o
papel de servir ao usuário e aproximar as ações de saúde à
população.

REFLEXÃO SOBRE A EXPERIÊNCIA

Por meio da extensão universitária ocorre uma troca de


saberes mútua entre discentes e sociedade, pois são levados
para as comunidades os saberes científicos, ao passo que a
comunidade acadêmica adquire saberes cidadãos,
configurando-se como uma ferramenta valiosa e imprescindível
para a formação acadêmica e profissional (OLIVEIRA et al.,
2020).
No projeto de extensão Liga Acadêmica de Odontologia
para bebês, tornou-se evidente que a interligação com a
comunidade, além de manter o vínculo entre a universidade e
os pacientes atendidos pelo projeto de extensão, incentivou os
cuidados de higiene da família por motivar a aquisição de
hábitos adequados e favorecer o fator comportamental da
criança e da família. A realização das ações descritas neste
trabalho enriqueceu a formação profissional dos discentes, uma
vez que estimulou o desenvolvimento de estratégia diferente e
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

adequada ao cenário atual, seguindo a proposta original do


projeto, contribuindo para o aprimoramento e versatilidade no
vínculo entre as famílias atendidas e os futuros profissionais de
saúde.
De acordo com Tinanoff et al. (2019), a cárie na primeira
infância continua a ser altamente prevalente no mundo,
representando uma doença que gera altos custos para a
sociedade e grande impacto na qualidade de vida dos bebês e
seus responsáveis. No que diz respeito às abordagens para
reduzir sua prevalência, estão a gestão do processo de doença,
a qual começa no primeiro ano de vida; a educação baseada
em evidências, que promovem uma mudança do cuidado
cirúrgico para o preventivo; abordagens preventivas para todas
as crianças em idade pré-escolar; além de pesquisas sobre
gestão preventiva da cárie (TINANOFF et al., 2019; WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2019), sendo missão da LAOB
contribuir para tal.
Com a pandemia da COVID-19, os atendimentos
odontológicos foram diretamente impactados, sendo
suspensos, exceto nos casos de procedimentos de urgência
(GHAI, 2020). Dessa forma, com a necessidade de acompanhar
e controlar o estado dos pacientes em tratamento, o Conselho
Federal de Odontologia (2020) permitiu a realização do
telemonitoramento em Odontologia, com as finalidades
descritas. Sendo assim, com a adaptação do projeto de
extensão ao momento de pandemia, o telemonitoramento tem
sido uma das principais estratégias para dar continuidade no
acompanhamento dos pacientes que já eram atendidos pelo
projeto.
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Além disso, medidas preventivas devem ser


enfatizadas nesse período em que os atendimentos presenciais
estão suspensos, sendo necessário aconselhar
pais/responsáveis quanto a quaisquer dúvidas que surjam, bem
como verificar se as recomendações estão sendo
adequadamente empregadas (MALLINENI et al., 2020;
ACHARYA et al., 2020). Seguindo esse propósito, além do
telemonitoramento dos pacientes por meio do WhatsApp ®,
diversos conteúdos de interesse da Odontologia para bebês
foram publicados no perfil da LAOB na rede social Instagram ®.
Nessa perspectiva, as medidas executadas para
orientação das famílias quanto aos hábitos de higiene oral e
dietéticos tornaram-se mais relevantes, já que a pandemia da
COVID-19 afetou negativamente os cuidados com a saúde
bucal e os hábitos alimentares das crianças (CAMPAGNARO et
al., 2020). As atividades lúdico-educativas desenvolvidas para
promoção de saúde exploram o lado criativo dos acadêmicos
para abordar os temas propostos, assim como as metodologias
ativas para os pacientes e seus pais e responsáveis, buscando
informá-los, conscientizá-los e motivá-los a realizarem o
autocuidado em saúde tanto geral quanto bucal (OLIVEIRA et
al., 2016).
A interação entre o acadêmico e a comunidade por
meio da extensão universitária demonstra uma inclusão social
muito importante na vida do futuro profissional de saúde
(OLIVEIRA et al., 2016). Principalmente no contexto da COVID-
19, a qual o uso de recursos como as tecnologias digitais de
informação e comunicação contribuem no processo de
educação em saúde (DIAS; RIBEIRO, 2020).
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

CONCLUSÕES

O atendimento para os bebês promovido pelo projeto


de extensão fomentou para a comunidade um serviço
odontológico baseado em evidências científicas e, ao mesmo
tempo, promoveu aos extensionistas o aprimoramento de
habilidades técnicas e a aquisição de competências. Estas
atribuições foram de humanização, liderança, comunicação,
cooperação e tomada de decisão, incentivando o compromisso
social com a integralidade da saúde dos indivíduos ao manter o
vínculo com os bebês contemplados pelo projeto e suas
famílias mesmo frente à pandemia.
Diante disso, as ações realizadas pela extensão
promoveram uma amplitude do cuidado em saúde bucal, além
de condutas eticamente corretas a serem desenvolvidas pelos
extensionistas no envolvimento com a comunidade, ressaltando
a valorização da formação profissional comprometida com os
valores éticos de respeito à vida e com o direito à saúde dos
cidadãos.
As principais limitações enfrentadas pelo projeto se
deram em virtude da pandemia da COVID-19, que
impossibilitou as atividades clínicas presenciais, além das
atividades de educação em saúde de forma pessoal e o
acompanhamento semanal. Outra limitação identificada trata-
se da ausência de retorno na comunicação com alguns
pais/responsáveis pelos bebês, inviabilizando a continuidade
do acompanhamento.
Mesmo diante desses desafios, o projeto conseguiu
realizar ações com finalidades educativas, com benefícios para
o público-alvo, por meio da disseminação de informações de
ODONTOLOGIA PARA BEBÊS EM TEMPOS DE PANDEMOA: UMA
EXPERIÊNCIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

qualidade, utilizando as ferramentas digitais disponíveis. Além


disso, manteve-se o papel fundamental do vínculo da equipe
envolvida com o público-alvo por meio do telemonitoramento e
entrega dos kits de higiene.

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.
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 29

ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE
LITERATURA

Manoelly Anyelle Pessoa Dias DANTAS¹


Rodolfo Freitas DANTAS²
Elaine Cristie Nascimento XAVIER¹
Manoel de Oliveira Dantas FILHO³
Erika Lira de OLIVEIRA²
²Discente em Odontologia da UNIESP; ¹Docentes do UNIESP; ³Cirurgião
Buco Maxilo Facial Hospital de Trauma de João Pessoa;
Manoelly.pessoa@hotmail.com

RESUMO: Localizada na cavidade bucal a língua é um órgão


que executa ativamente as funções de sucção, deglutição,
mastigação e fala. No interior da língua localiza-se uma
pequena prega de membrana mucosa que a conecta ao
assoalho da boca, chamada frênulo ou freio da língua. O freio
lingual é uma estrutura importante e responsável pela ação da
sucção, da fala e a amamentação. A má formação desta
membrana contituida basicamente por mucosa pode sofrer
problemas na pronúncia de algumas letras. O diagnóstico dessa
anormalidade no recém-nascido, ainda em ambiente hospitalar
é realizado por meio do teste da linguinha por meio de um
fluxograma estabelecido pela equipe. O objetivo dessa revisão
foi observar a prevalência da anquiloglossia, assim como a sua
etiopatogênese suas caracteristicas anatomicas a área afetada
e relatar sobre os possíveis tratamentos para essa patologia.
Para a realização deste estudo, foram feitas pesquisas sobre
artigos que citavam a prevalência, os protocolos de avaliação e
relatos de casos sobre a frenectomia lingual. Foi verificado que
a anquiloglossia é mais prevalente no sexo masculino e sua
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

etiopatogenia é de apoptose durante o desenvolvimento


embrionário. Os casos de anquiloglossia devem ser tratados
com a frenectomia/frenotomia lingual ou o acompanhamento
com fonológicos para estratégias de exercício compensatórias
dependendo da situação.
Palavras-chave: Freio lingual. Anquiloglossia. Terapêutica.
odontopediatria.

INTRODUÇÃO

A língua inicia seu desenvolvimento na 4ª semana de


vida intrauterina, (SVIU), onde os arcos faríngeos se encontram
na linha média, onde surgem as protuberâncias linguais
laterais. Elas se alargam rapidamente, se encontram umas com
as outras e com o tubérculo ímpar para formar uma grande
massa da qual é formada a mucosa dos dois terços anteriores
da língua. Depois de formada a base da língua, ocorre a morte
celular programada e a reabsorção do músculo esquelético em
desenvolvimento na sua região ântero-ventral e normalmente,
uma fina faixa de tecido permanece como o único elo de ligação
formando o freio lingual, a língua é um órgão que influencia
diretamente: na fala, na mastigação, na sucção e na deglutição
(BILLINGTON et al., 2018).
O frênulo da língua (ou freio língual) vai da metade da
face inferior da língua até o assoalho da boca. É uma grande
prega mediana de túnica mucosa que passa da gengiva,
recobrindo a face lingual da crista alveolar anterior, para a face
postero-inferior da língua, sendo constituído de tecido
conjuntivo fibrodenso e, ocasionalmente, de fibras superiores
do músculo genioglosso. Esta prega mucosa vai de uma parte
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

mais fixa para uma parte com maior liberdade de movimentos


(ARAUJO et al., 2019).
O frênulo possibilita ou interfere na livre movimentação
da língua, no entanto quando não ocorre a apoptose completa
durante o desenvolvimento embrionário, o tecido residual que
permanece pode limitar os movimentos da língua, podendo
levar à anquiloglossia, sendo esta uma anomalia bucal
congênita, do desenvolvimento, a qual limita a amplitude dos
movimentos da língua e impede que esta cumpra a sua função,
traduz-se pela inserção anormal do frênulo lingual que consiste
em mucosa de tecido conjuntivo fibroso denso e
ocasionalmente, de fibras superiores do músculo genioglosso
que pode ocorrer de forma total ou parcial, limitando a
mobilidade de língua em graus variados e podendo interferir nas
funções bucais, conhecida popularmente como “língua presa” e
pode ainda gerar alterações na fala. No entanto, é uma
anomalia congênita da língua caracterizada por alteração no
frênulo lingual curto e/ou espesso (MARTINELLI, 2016).
É uma anomalia congénita da língua caracterizada
por um freio lingual curto e/ou espesso, que pode afetar a
mobilidade da mesma. Contudo, os termos língua com menor
função, freio lingual espesso, muscular ou fibroso ou, ainda,
uma fixação da língua ao pavimento da boca foram utilizados
com sinónimos desta condição. A alteração da fixação pode
variar desde a ponta da língua até o rebordo alveolar língua,
sendo visível desde o nascimento até a idade adulta (DUSARA
et al., 2014; JAMILIAN et al., 2014).
Quando existe comprometimento do frênulo da língua,
podemos ter como consequências: a boca entreaberta,
alterações oclusais e periodontais, dificuldade nos movimentos
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

realizados pela língua, assim como postura baixa da mesma no


ambiente bucal. As funções de mastigar, deglutir e a produção
dos sons da fala podem se alterar, logo as alterações de fala
mais comumente encontradas são as distorções dos fones [s] e
[z] e do vibrante alveolar simples que é o mais frequentemente
alterado, já que é realizado com a ponta da língua
(MARTINELLI, 2016).
Observa-se durante a fala algumas adaptações,
compensações, a diminuição do espaço entre os maxilares, o
aumento da salivação, movimentos mandibulares excessivos
de lateralização e anteriorização, o que pode gerar imprecisão
na fala. A amamentação e a fala são as alterações mais
frequentes quando o frênulo da língua se encontra alterado
(FUJINAGA et al., 2017).
A classificação do frênulo lingual varia de acordo com
os profissionais da área de saúde, isto porque ele tem
parâmetros distintos, quanto ao que é uma alteração de frênulo
e, em geral, não seguem protocolo específico para avaliar,
fazendo simples inspeção visual, seguida de alguns
movimentos da língua (FERRÉS-AMAT et al., 2017).
A indicação da frenectomia e da fototerapia para melhor
adaptação da função alterada está relacionada à formação do
profissional e a seu conhecimento sobre o assunto, sendo
utilizados, na maior parte das vezes, critérios pessoais. Existe
controvérsia entre os profissionais da saúde com relação a
como classificar um frênulo como normal ou alterado. A
controvérsia também existe com relação à indicação ou não de
cirurgia. Há dois tipos de tratamento podem ser realizados: a
frenotomia, onde é feita uma incisão pontual para liberar o freio,
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

e a frenectomia, que se caracteriza por uma excisão completa


no freio (XAVIER, 2014).
Os procedimentos cirúrgicos tradicionalmente
recomendados para o tratamento da anquiloglossia são a
frenotomia e a frenectomia, que apresentam diferentes
indicações, riscos e idades ideais para a sua realização. Para
além da cirurgia convencional, há autores que defendem
métodos alternativos como cirurgia a laser (KOTLOW, 2008).
O procedimento é rápido com pouco ou nenhum
sangramento, desde que a incisão seja realizada corretamente.
As complicações atribuídas à frenotomia povdem ser infecção
e hemorragia causada pelo rompimento da artéria lingual. A
hemostasia deve ser realizada por meio da compressão com
gaze e através da colocação da criança imediatamente para a
amamentação (SEGAL et al., 2007).
Contudo, o teste da linguinha é obrigatório segundo a
lei. Lei nº13.002 ’’ Art. 1º é obrigatória a realização do Protocolo
de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês, em todos os
hospitais e maternidades, nas crianças nascidas em suas
dependências. Art. 2º diz esta Lei entrou em vigor após
decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação oficial’’.
O objetivo dessa revisão foi compreender a prevalência
da anquiloglossia, assim como a sua etiologia e relatar sobre
os possíveis tratamentos para essa patologia.

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de Revisão de Literatura, realizada entre os


anos de 2015 a 2020, e alguns fora deste período mas que de
extrema relevância para o tema, onde forão escolhidos os
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

motores de busca para esta pesquisa: Medline, Pubmed,


Google Académico. Foram excluídos aqueles que não se
adequavam ao tema, ou artigos com resultados obtidos em
animais, ou aqueles que não fossem em inglês ou português.
Com base nos critérios de inclusão foram considerados
sessenta e um artigos como base científica deste trabalho, na
data selecionada e artigos de datas anteriores de grande
relevância. Como palavras-chave para a pesquisa foram
escolhidas: Freio lingual. Anquiloglossia. Terapêutica.
odontopediatria. Foram usados os seguintes descritores:
“frenotomia lingual, anquiloglossia e intervenção cirúrgica”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observa-se na tabela I, a prevalência da anquiloglossia


em relação aos sexos, onde a patologia se tornou mais
incidente no sexo masculino.

Tabela I. Características dos artigos incluídos na revisão, sobre


prevalência de anquiloglossia.

AUTOR AMOSTRA SEXO FAIXA AMAMENTAÇÃO


ETÁRIA
NATURAL
Martinelli, 2020 92 pessoas F=34 6-41 anos -
M=58
Martinelli, 2018 558 lactantes F=302 48 h de vida SIM
M=256
Marcione, 2016 166 bebês F=84 1-4 meses SIM
M=82
Martinelli, 2013 100 bebês F=44 30 dias SIM
M=56
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

Diante de várias classificações para o freio: curto,


anteriorizado, curto e anteriorizado, podem contudo,
apresentar o formato de coração durante o choro, na tabela II,
encontramos a classificação mais frequente encontrada foi o
freio curto, segundo Braga (2009).

Tabela II. Características dos artigos incluídos na revisão,


características anatômicas
A A F F F F L
utor mostra reio reio reio ixação na íngua em
Curto Anteriori Curto e Crista Formato
zado Anteriori Alveolar de
zado Inferior Coração
Durante
choro

M F - - - - S
artinelli, =34 im
2020 M
=58

M F - - - S -
arcion 2016 =84 im
M
=82

M F - - - S S
artinelli, =44 im im
2013 M
=56

B M 2 1 7 - -
raga, 2009 /F=47 8 2

Quanto às consequências da anquiloglossia, podem


ser: a dificuldade na fala, comprometimento na amamentação,
na deglutição e na mastigação, Com isso, a tabela III notou-se
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

que todos os indivíduos examinados apresentaram dificuldade


na deglutição, segundo o estudo de Marcione (2016), que foi
feito com bebês foi visto dificuldade durante a amamentação.
Foi observado, ainda, em outros estudos como Silva (2009) e
Gonçalves (2006) dificuldade na fala e mastigação.

Tabela III. Características dos artigos incluídos na revisão,


quanto aos efeitos da anquiloglossia.
F
AUTOR AMOSTRA AMAMENTAÇÃO MASTIGAÇÃO DEGLUTIÇÃO
ALA

MARCION
F=84 SIM - SIM -
E,
2016 M=82
SILVA, 2
- SIM SIM -
2009 0 pessoas
GONÇALV 1 S
- - SIM
E 2 pessoas IM
S
, 2006

Verifica-se no Quadro IV, nos dois únicos artigos


selecionados, aos quais se referia a tratamento da
Anquiloglossia, que pode ser corrigida com a frenectomia ou
utilizar de estratégias de exercício compensatórias geralmente
preferidas pelos fonoaudiólogos.
O tipo de anquiloglossia mais prevalente é a
caracterizada pela inserção curta do frênulo lingual e que pode
influenciar no desenvolvimento da mordida aberta anterior, em
1,7% a 4,4% dos recém-nascidos e são quatro vezes mais
comuns em meninos. Por não haver uma flexibilidade
adequada no caso de um frênulo curto, os problemas na
amamentação são bastante comuns, que podem causar um
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

ciclo de alimentação precário para o bebê afetado


(MARTINELLI, 2020).

Quadro IV. Características dos artigos incluídos na revisão,


possíveis tratamentos.
AU AM DIAGN ESTRAT FREN
TOR OSTRA OSTICADO ÉGIAS ECTOMIA
AO COMPEN
NASCIMENTO SATÓRIAS
AL 1
MEIDA, RN SIM NÃO SIM
20
18
MA F=
RCHES 02 NÃO SIM NÃO
AN M=
, 2012 08

Levando em consideração a tendência de diminuição


da prevalência quando relacionado ao aumento da idade,
alguns autores sugerem que as formas de anquiloglossia se
resolvem de forma espontânea com o crescimento. Quanto à
incidência, nos recém-nascidos varia entre os 0,02% a 5% e
apresenta uma relação entre homem-mulher de 3 para 1. A
grande amplitude de valores deve-se muito provavelmente à
falta de uniformidade na definição da Anquiloglossia e nos
critérios do seu diagnóstico (JIMÉNEZ, 2013; SETHI et al.,
2013).
Existem diferenças entre dois tipos de anquiloglossia:
uma, onde é possível se visualizar a fusão total da língua ao
assoalho bucal, sendo essa classificada como total e
considerada geral, e o outro tipo a parcial, onde a inserção do
freio é curta se destaca considerando a incidência e o grau de
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

complexidade da total, ela é dificilmente encontrada, enquanto


a parcial é mais estudada e de fácil tratamento (XAVIER, 2014).
Estudos genéticos sugerem que, de forma hereditária,
as mudanças do freio podem estar ligadas ao cromossomo X,
com alta possibilidade para herança autossômica dominante,
por mutação do gene T-box. Esse gene participa de uma
família extensa e geradora de mutações de diversas
síndromes. Existe uma relação com esse gene no seu caso
clínico, envolvendo uma família com herança de
anquiloglossia, de origem autossômica dominante ou
autossômica recessiva, constituída por cinco gerações com
cinco indivíduos afetados. Outro fator de risco é o que diz
respeito ao uso da cocaína por gestantes (MARCHESAN et al.,
2014).
Como consequências da Anquliglossia é possível
desencadear problemas periodontais, pode levar a alterações
oclusais assim como possíveis problemas de mastigação,
deglutição e alteração dos sons da fala. A restrição da
movimentação da língua pode gerar implicações na higiene
oral predispondo à cárie dentária bem como, distúrbios da fala,
bullying durante a infância e adolescência com consequentes
problemas sociais e de desenvolvimento. Em relação ao
recém-nascido, a anquiloglossia é assunto controverso dentro
e entre as especialidades médicas e equipes multidisciplinares
quando se discute qual a interferência na amamentação e qual
o melhor tratamento indicado (WONG et al., 2017).
No recém-nascido os problemas estão relacionados
com a amamentação, enquanto que na criança, se relacionam
com a fala, no adolescente e no adulto com problemas
mecânicos, sociais e psicológicos (SETHI et al., 2013).
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

Quando a amamentação é afetada, pode ser feita uma


frenotomia, que consiste na liberação do freio fazendo uma
incisão, onde pode ser realizada por cirurgiões- dentistas,
otorrinolaringologistas ou pediatras. Esta cirurgia pode ser
feita, em crianças ou adultos com dificuldades funcionais ou
periodontais, liberando maior mobilidade lingual. Enquanto as
crianças com mais de 2 anos de idade, para liberar por
completo o freio lingual, é realizado um procedimento cirúrgico
denominado frenectomia. Este melhora a movimentação da
língua e, em 40% dos casos, a articulação da fala. Porém,
muitos fonoaudiólogos não recomendam a realização do
procedimento cirúrgico, afirmando que pode ser corrigida com
exercícios compensatórios fala (XAVIER, 2014).
Na maioria dos casos, não há necessidade de
tratamento, É mais difícil avaliar o grau de restrição da língua
nos recém-nascidos devido a seu tamanho, causado pela
doença. A língua vai ficando mais alongada e fina no topo, de
acordo com que a criança vai crescendo e, na maioria das
vezes, diminuindo o tamanho da anquiloglossia. Devido a isso,
a patologia é corrigida espontaneamente em muitos dos casos
e assim, tornando-se menos comum em adultos (MARTINELLI,
2019).
De acordo com Izolani Neto et al., (2014), os frênulos
são estruturas anatômicas que variam na forma, tamanho e
posição ao longo das diversas fases de desenvolvimento do ser
humano. Os freios labiais têm a atribuição de limitar a
movimentação dos lábios, estabilizando a linha média e inibindo
uma exposição gengival acentuada. O frênulo lingual têm a
finalidade de restringir o deslocamento da língua, visando
contribuir com a ingestão de alimentos, fala e fonética. Ele é
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

classificado em freio labial (médio maxilar ou mandibular, lateral


maxilar ou mandibular) ou lingual, que poderá transformar-se
numa complicação no momento em que a sua inserção gerar
restrições nas estruturas e problemas em diversos graus.
Para Lima & Weiler (2009) o prognóstico da frenectomia
é favorável quando seu diagnóstico e intervenção são
realizados precocemente. O acompanhamento multidisciplinar
através de pediatras, fonoaudiólogos e odontopediatras são
fundamentais para um correto diagnóstico e indicação cirúrgica
e fonoterápico, diminuindo os impactos negativos causados
pelo freio anormal.
De acordo com Almeida (2006) frenectomia é o
procedimento cirúrgico que objetiva a remoção do freio labial,
lingual e bridas, permitindo tanto a movimentação ortodôntica
para fechamento de diastemas, como a movimentação
adequada da língua, necessária às atividades funcionais.

CONCLUSÕES

Concluiu- se que a anquiloglossia é mais prevalente no


sexo masculino, podendo ser mais espesso ou fixado na crista
alveolar inferior. Quanto à classificação o que mais acomete é
o tipo curto, causando assim, alterações nas funções de
mastigar, deglutir e a na fonação, contudo deve-se fazer
presente na terapêutica destes problemas, a terapia da fala
para assim orientar melhor tratamento, continuando após a
cirurgia, pois a frenectomia é um procedimento mais agressivo,
que a frenotomia, sendo necessários maiores cuidados pós-
operatórios.
ANQUILOGLOSSIA: REVISÃO DE LITERATURA

Segundo Izola Neto et al., (2014), a anormalidade do


frênulo poderá causar deficiência dos movimentos labiais,
diastemas e descontentamento para o paciente. A remoção
cirúrgica do freio é um método altamente seguro e previsível,
porém podendo acarretar deformações em determinadas
situações. O procedimento cirúrgico tradicional baseia-se na
excisão total do freio, tecido interdental e papila palatina, no
entanto esta técnica corre o risco do resultado estético negativo
em virtude da falta de uma quantia apropriada de tecido
conjuntivo. Certas técnicas cirúrgicas mucogengivais, como
deslize lateral de retalho e enxerto gengival, são recomendadas
para favorecer as consequências da remoção do freio.
Estudo de Marschsan (2012), demonstra que a postura
e a mobilidade da língua, as funções orofaciais e a postura do
lábio melhoraram em diferentes graus após a frenectomia,
independentemente da fonoterapia. Esses resultados
evidenciam que a frenotomia deve ser realizada na maior parte
dos casos. Sabe-se que as alterações do frênulo lingual, a
idade do sujeito e os diferentes tipos de procedimentos
cirúrgicos influenciam os resultados finais.

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SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

CAPÍTULO 30

SAÚDE BUCAL EM PACIENTES


PEDIÁTRICOS COM CÂNCER - VISÃO DE
CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM.
Amanda Raquel Guedes BARBOZA 1
Amanda de Araújo BARROS 1
1
Eliane Batista de Medeiros SERPA2
Graduandas do curso de Odontologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do DCOS/UFPB.
arguedes@gmail.com.br

RESUMO: O objetivo foi verificar a percepção da equipe de


enfermagem e dos cuidadores do paciente infantil em
tratamento antineoplásico, acerca dos hábitos de saúde bucal
e a concordância em relação às manifestações bucais. Tratou-
se de um estudo observacional, do tipo transversal, com
abordagem quantitativa. A amostra foi composta pela equipe de
enfermagem (n=07) e pelos cuidadores das crianças e
adolescentes internados (n=30) no setor de um Hospital de
Referência, em João Pessoa, Paraíba. Os dados foram
coletados por meio de entrevista. A análise descritiva foi
realizada utilizando o software SPSS. O grau de concordância
foi determinado pelo Coeficiente de Kappa. As crianças
apresentavam idade média de 9,1 anos (±5,5) e tinham como
patologia de base mais comum Leucemia Linfoblástica Aguda
(30%). Metade dos cuidadores (50%) relatou que a frequência
da higiene bucal nas crianças ocorria duas vezes ao dia. 70,0%
dos cuidadores alegou ter recebido instrução de higiene bucal
fornecida pelo cirurgião-dentista. As manifestações bucais mais
relatadas pelos cuidadores foram boca seca (60%) e enjoos
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

(56,7%) e pela equipe de enfermagem: enjoo (60%), dor na


mucosa (26,7%) e vômitos (26,7%), ocorrendo uma fraca
concordância entre os grupos (Kappa = 0,06 a 0,38). A
frequência de manifestações bucais decorrentes do tratamento
antineoplásico, foi considerada alta entre os cuidadores e
equipe de enfermagem.
Palavras-chave: Cuidadores. Cuidados de enfermagem.
Manifestações bucais. Câncer.

INTRODUÇÃO

O câncer é a segunda principal causa de morte no


mundo e foi responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018
(INCA,2019). No Brasil, os casos em crianças e adolescentes
(de 0 a 19 anos) correspondem entre 2% e 3% de todos os
tumores malignos registrados, sendo considerado raro quando
comparado com o câncer em adultos. (INCA, 2019)
As repercussões na cavidade bucal devido à terapia
comumente são: hemorragias gengivais, distúrbios de formação
do germe dentário e principalmente mucosite e xerostomia, etc.
Além de trazerem deficiência nutricional, essas complicações
podem influenciar negativamente a higiene bucal, fazendo com
que os pacientes apresentem alto índice de infecções, incluindo
a cárie l. (OLIVEIRA et. al. , 2019).
Há uma conjuntura favorável à manifestação da doença
cárie nesses pacientes (OLIVEIRA et. al. , 2019), também
existem dificuldades na deglutição e danos à membrana
mucosa (RIBEIRO et. al., 2020) , havendo então necessidade
de maior orientação sobre hábitos alimentares e de
higienização. (OLIVEIRA et. al., 2019)
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

Sendo assim, um exitoso tratamento requer integração


multiprofissional com o cirurgião-dentista. Nessa integração, o
cuidador tem papel fundamental. A equipe de saúde deve
oferecer suporte, acompanhamento e orientação para que
impacto psicológico, físico e até mesmo financeiro que ele sofre
não afete negativamente o cuidado bucal (CARNEIRO et. al.,
2015; MARTINS et. al., 2019) Partindo
do princípio que a higiene bucal tem impacto no tratamento do
paciente oncopediátrico e que a equipe de enfermagem e os
cuidadores são importantes na manutenção da saúde desse
paciente. O objetivo da pesquisa foi verificar a percepção da
equipe de enfermagem e do cuidador do paciente infantil em
tratamento antineoplásico, acerca dos hábitos de saúde bucal
e a sua concordância em relação às manifestações bucais.

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo analítico observacional do tipo


transversal, com abordagem quantitativa (MARCONI;
LAKATUS, 2010), realizado no Hospital Napoleão Laureano
(HNL), em João Pessoa, Paraíba, Brasil. Sabe-se que no
Brasil existem 317 centros de assistência habilitados no
tratamento contra o câncer. O Hospital Napoleão Laureano
(HNL) é um dos dois hospitais que apresentam serviço de
Oncologia Pediátrica na Paraíba. (INCA, 2019) A
pesquisa foi desenvolvida com a população dos cuidadores dos
pacientes internados no Setor de oncologia pediátrica (Grupo 1)
e com a equipe de Enfermagem (Grupo 2), no período de
outubro de 2019 a fevereiro de 2020. A amostra foi censitária
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

determinada por procedimentos de amostragem de


conveniência. Para investigar as diferenças e semelhanças no
olhar do paciente em relação à higiene bucal e manifestações
bucais (dor na mucosa, enjoos, ardência, boca seca, dor de
dente e ausência de paladar) de crianças e adolescentes
adotou-se como critério de inclusão do Grupo 1 ser responsável
por criança ou adolescente entre 0 a 19 anos de idade,
internada no setor da Enfermaria Pediátrica,
independentemente do tipo de vínculo ou parentesco. Para o
Grupo 2, foram incluídos integrantes da equipe de enfermagem
que estivessem escalados e trabalhando no setor da
Enfermaria Pediátrica no turno diurno, durante o período da
coleta de dados. Participaram da pesquisa 30 cuidadores
(Grupo 1) e 07 da equipe de enfermagem, sendo 05 Técnicas
de Enfermagem e 02 Enfermeiras (Grupo 2).
Para a coleta dos dados, utilizou-se um formulário
utilizado em um estudo anterior por Barbosa, Ribeiro e Caldo-
Teixeira (2010) sobre conhecimentos e práticas em saúde bucal
e manifestações clínicas, sendo importante salientar que o
formulário sobre manifestações bucais foi respondido a respeito
de cada criança, de acordo com a divisão da equipe de
enfermagem realizada no dia da coleta. Os dados individuais
do paciente foram obtidos no prontuário médico do HNL.
Os dados foram organizados em planilhas no programa
Excel (versão 2013) e a análise estatística foi realizada no
software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS
versão 21.0) (IBM, 2012). Os resultados obtidos foram
analisados pela frequência de respostas (análise descritiva) por
meio da distribuição absoluta e relativa. Para investigar a
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

concordância entre os cuidadores e a equipe de enfermagem,


utilizou-se o coeficiente de Kappa. (LANDIS e KOCH, 1977)
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) sob protocolo no. 046/17 - CAAE:
64249317.3.0000.5188) com a anuência do Comitê de Ética em
Medicina do Hospital Napoleão Laureano. O termo de
consentimento livre e esclarecido foi assinado por todos os
participantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período da coleta de dados estiveram internas 30


crianças e adolescentes, variando de 10 meses a 19 anos, com
idade média de 9,1 anos (±5,5). O sexo masculino (56,7%) foi
o mais acometido, sendo a patologia de base mais comum a
Leucemia Linfoblástica Aguda (30%), seguida pelo
Osteossarcoma (16,7%).
56,7% dos cuidadores e 100% da equipe de
enfermagem relataram que a criança apresentou desconforto
na cavidade bucal e 50% dos cuidadores e 100% da equipe de
enfermagem encaminharam para consulta com cirurgião-
dentista
A maioria dos cuidadores alegou não realizar a higiene
bucal da criança, A frequência mais relatada de higiene bucal
foi duas vezes ao dia (50%) e três vezes ao dia (30%), Podemos
inferir que há uma maior dificuldade em exercer cuidado e
higiene bucal, pois as crianças estão sujeitas aos efeitos do
tratamento oncológico, bem como suas complicações Além
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

disso, podemos inferir que à medida que o paciente cresce,


caso não haja um cuidado adequado, a tendência é que a
doença cárie esteja mais difundida nos elementos dentários
(BRASIL, 2012). Sobretudo, no Brasil, existe uma alta
prevalência de cárie em adultos, podendo também refletir no
cuidado realizado pelo cuidador para com a criança. (BRASIL,
2012).
A maioria dos cuidadores realiza/indica higiene bucal
com escova e dentifrício durante a internação
Com relação às manifestações bucais, as mais
relatadas pelos cuidadores foram boca seca (60%) e enjoos
(56,7%) e pela equipe de enfermagem, o enjoo (60%), seguida
por dor na mucosa e vômitos (ambas com 26,7%). A
manifestação bucal menos relatada pela equipe de
enfermagem foi dor de dente (3,3%).
A concordância entre os cuidadores e enfermeiros
sobre a frequência de manifestações bucais foi considerada de
pobre a fraca segundo a escala determinada pelo coeficiente
Kappa.
Em relação a essas manifestações, o relato entra em
conformidade com o estudo de Ribeiro et al. (2020), onde as
alterações orais durante o tratamento quimioterápico ocorreram
principalmente na função da deglutição, na membrana mucosa,
na mucosa labial e gengival, tendo essas alterações sido
encontradas principalmente em pacientes com tumores
hematológicos - como é o caso da maior parte da amostra
encontrada no presente estudo. Yüce e Yurtsever (2019)
concluíram em sua pesquisa que pacientes oncológicos que
receberam educação em saúde bucal obtiveram frequência
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

estatisticamente menor de mucosite oral em relação ao grupo


que não recebeu.
A manifestação bucal menos relatada pela equipe de
enfermagem entrevistada foi dor de dente (3,3%). Em relação a
isso, foi identificada no HNL condição de saúde bucal
satisfatória entre os pacientes, tendo grande parte baixa ou
nenhuma incidência de cárie e doença periodontal (OLIVEIRA
et al., 2019), porém, há diferença entre o relato da equipe de
enfermagem e dos cuidadores, sendo necessário investigar
mais a respeito por meio de pesquisas. Salienta-se que o
presente estudo faz parte de um projeto mais amplo que está
em andamento, em que os pacientes serão examinados e
alguns índices bucais coletados, tais como ceo-d, CPO-D,
Índice de Sangramento, Índice de Higione Oral para posterior
comparação. Esta pesquisa teve como limitação o
tamanho do grupo estudado e o tipo de estudo. Esta limitação
deve-se à própria característica dos estudos conduzidos em
patologias que são consideradas raras aliado a outros fatores
como a evasão temporária dos internamentos pela falta de
medicamentos. Os estudos de prevalência não tem a
pretensão de estabelecer relação de causa e efeito (MARKONI;
LAKATUS, 2010), ademais, alguns dados coletados dependiam
da lembrança dos responsáveis e da equipe de enfermagem
sobre as informações, existindo a possibilidade de viés de
memória (MARKONI; LAKATUS, 2010). Apesar dessas
limitações, o trabalho consegue responder ao que foi proposto,
isto é, verificar a percepção das pessoas que mais passam
tempo e cuidam do paciente em tratamento antineoplásico
acerca das práticas e manifestações bucais.
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

CONCLUSÕES

De acordo com os cuidadores das crianças e


adolescentes com câncer e a equipe de enfermagem envolvida
no tratamento dos mesmos, o desconforto bucal é frequente
nos pacientes em tratamento antineoplásico, destacando-se as
seguintes manifestações bucais: mucosite, vômitos, enjoos e
xerostomia. Entender a importância da saúde bucal e o
impacto que esta causa no tratamento antineoplásico é
fundamental para se estabelecer uma rotina adequada de
higiene bucal sendo necessário que a equipe de enfermagem,
e os cuidadores participem mais efetivamente na prática higiene
bucal.
A fraca concordância nas manifestações bucais entre
os grupos pesquisados corrobora com demanda levantada
pelos cuidadores e equipe de enfermagem, da importância da
inserção da presença formal, mediante uma equipe de
profissionais de saúde bucal (Cirurgião-dentista; TSB e ou ASB)
contratado pelo HNL para o setor de Oncologia Pediátrica, para
um melhor controle da saúde bucal do paciente, orientação e
comunicação entre os profissionais de saúde e cuidadores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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práticas em saúde bucal com crianças hospitalizadas com câncer. Ciênc. saúde
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BARROS, N.F; SPADACIO, C.; COSTA, M.V. Trabalho interprofissional e as
Práticas Integrativas e Complementares no contexto da Atenção Primária à Saúde:
SAÚDE BUCAL EM PACIENTES PEDIÁTRICOS COM
CÂNCER – VISÃO DE CUIDADORES E EQUIPE DE
ENFERMAGEM

potenciais e desafios. Saude debate , Rio de Janeiro, v. 42, ed. 1, p. 163-173,


2018.
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RIBEIRO, I.L.A; SILVA, S.M; LIMEIRA, R.R.T; BONAN, P.R.F; VALENÇA, A.M.G;
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by patients with solid and hematologic tumors during the chemotherapeutic
treatment. J Appl Oral Sci , Bauru, v. 28, ed. 1, p. 2-12, 2020.
YÜCE, U.; YURTSEVER , S. Effect of Education About Oral Mucositis Given to the
Cancer Patients Having Chemotherapy on Life Quality. J Cancer Educ., New York,
v. 34, ed. 1, p. 35-40, 2019.
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

CAPÍTULO 31

MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO


PEDIÁTRICO E SEU POTENCIAL EROSIVO -
UMA REVISÃO DE LITERATURA
Johnatan Meireles do NASCIMENTO 1
Raíssa Lima TOSCANO 1
1 Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Odontologia,
PPGO/UFPB
johnatanmeireles@hotmail.com

RESUMO: A administração medicamentosa contínua em


pacientes pediátricos pode apresentar desafios que refletem
diretamente na adesão ao tratamento e na eficácia da
terapêutica empregada. As formas líquidas são amplamente
utilizadas nessa faixa etária. Entretanto, o uso constante dessas
substâncias pode resultar em efeitos adversos como o desgaste
dental erosivo, que corresponde a perda da estrutura
mineralizada dos tecidos duros causados pela exposição
progressiva à ácidos. Este estudo é uma revisão de literatura
que tem por objetivo investigar a relação do uso de
medicamentos pediátricos orais líquidos e o desgaste dental
erosivo na dentição decídua. Trata-se de um estudo
exploratório, com a técnica de observação indireta e de caráter
bibliográfico. Realizou-se a busca nas bases de dados
MEDLINE, LILACS, Scielo e Pubmed, sem restrições quanto ao
idioma e desenho do estudo, utilizando a combinação de cinco
descritores indexados da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS e
aplicação dos critérios de inclusão: artigos publicados nos
últimos cinco anos que descreviam as medicações de uso
pediátrico e o seu potencial erosivo na dentição decídua.
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

Totalizando sete artigos. Observou-se que a incorporação de


diversos excipientes possibilitam uma queda de pH ou de
acidez titulável dos compostos farmacêuticos, provocando uma
maior susceptibilidade dos tecidos dentais, da dentição
decídua, ao desgaste, resultando em um aumento no potencial
erosivo das medicações pediátricas orais líquidas.
Palavras-chave: Erosão dentária. Dente decíduo. Preparações
farmacêuticas.

INTRODUÇÃO

As estruturas dentárias estão susceptíveis à


exposição de diversas substâncias que podem afetar o
equilíbrio do pH da cavidade bucal, provocando um prejuízo
estrutural ao tecido mineral dos dentes. Ainda que seja
considerado um processo fisiológico, quando o desequilíbrio
ultrapassa o limiar de reversibilidade, danos permanentes
podem ser gerados, afetando a morfologia e função dos tecidos
dentários (LUSSI et al., 2019).
Ao serem submetidos à substâncias ácidas, ocorre
uma perda na integridade dos tecidos duros dentais que, ao
afetar as suas propriedades físicas, provoca um amolecimento
superficial, com subsequente perda de estrutura, denominada
erosão dentária (CARVALHO; LUSSI, 2020).
Dessa forma, o processo de erosão dentária
caracteriza-se como uma perda progressiva e irreversível dos
tecidos dentários mineralizados, ocorrendo sem o envolvimento
bacteriano (DE OLIVEIRA et al., 2019).
Clinicamente, entretanto, é impossível que este
desgaste ocorra sem influência da ação de forças mecânicas,
advindas tanto da escovação como das estruturas presentes no
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

sistema estomatognático, caracterizando um processo químico-


mecânico que, atualmente, é descrito como desgaste dental
erosivo (DDE) (CARVALHO; LUSSI, 2020; SCHLUETER et al.,
2020).
A erosão dentária tem se destacado em diversos
estudos nos últimos anos, principalmente pela alta e crescente
prevalência, que a tornou um dos principais problemas de
saúde bucal na infância e juventude (MALTAROLLO et al.,
2020).
Os estudos acerca da prevalência do DDE em todo o
mundo resultam em uma grande variabilidade de estimativas,
de cerca de 30% a 50% na dentição decídua, e de 20% a 45%
na dentição permanente, globalmente (SCHLUETER; LUKA,
2018), e de 18,4% à 78,2%, em estudos nacionais e locais
(COSTA et al., 2017; SANTANA et al., 2018).
O DDE possui etiologia multifatorial e está associada
ao contato frequente e de longa duração de substâncias ácidas,
intrínsecas e extrínsecas, com a superfície dos dentes,
podendo ocorrer de maneira isolada ou concomitante. De
maneira intrínseca pode-se desenvolver a partir de substâncias
provenientes do próprio organismo, como o ácido clorídrico,
presente no suco gástrico, em pacientes que apresentam
alterações gastrintestinais, refluxos ou vômitos constantes.
Extrinsecamente, é desenvolvida, principalmente, a partir de
substâncias com baixo pH que podem estar presentes na
composição de alimentos, bebidas e de medicamentos de uso
crônico (CARVALHO; LUSSI, 2020; DE OLIVEIRA et al., 2019).
A presença e a gravidade dos defeitos erosivos
dependem de várias características, como nutrição, saliva,
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

doenças e estresse mecânico por abrasão e atrição (KANZOW


et al., 2016).
Os dentes decíduos apresentam um menor grau de
mineralização do que os dentes permanentes. Além disso, o
menor fluxo salivar e a habilidade de coordenação muscular
oral menos proeminente permitem um processo de clearance
salivar menos efetivo, aumentando a susceptibilidade destes
dentes ao processo erosivo, em relação aos dentes
permanentes (DE OLIVEIRA et al., 2019; GUPTA; PANDA,
2017; LUSSI et al., 2019)
Problemas crônicos diagnosticados em pacientes
infantis, como asma brônquica, rinite alérgica, amigdalite e otite,
exigem um tratamento contínuo, o que possibilita a exposição
constante a estas substâncias por esse grupo de indivíduos.
Uma vez que tais medicamentos podem possuir composição
ácida, geralmente com o intuito de manter a estabilidade de
suas formulações, e serem utilizados, em formas de soluções e
xaropes, tais fatores podem favorecer o desenvolvimento de
DDE nestes pacientes (DE OLIVEIRA et al., 2019).
Desta maneira, o objetivo deste consiste em realizar
uma revisão bibliográfica da literatura para investigar a
possibilidade de relacionar o desgaste dental erosivo na
dentição decídua e a utilização de medicamentos pediátricos
orais líquidos.

MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa
exploratória, com a técnica de observação indireta e de caráter
bibliográfico (MARCONI; LAKATOS, 2017).
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

A estratégia da busca bibliográfica foi realizada nas


bases de dados MEDLINE, LILACS, Scielo e Pubmed, sem
restrições de idiomas, utilizando a combinação dos seguintes
descritores, indexados da biblioteca virtual em saúde – BVS:
“Erosão Dentária”, “Desgaste Dentário”, “Dente decíduo”,
“Preparações Farmacêuticas” e “Tecnologia Farmacêutica”,
isolados ou combinados entre si a partir dos operadores
boleanos “AND” e “OR”, assim como seus termos equivalentes
na língua inglesa.
Foram utilizados 7 artigos que tiveram como critérios
de inclusão sua publicação nos últimos cinco anos, assim como
relacionar as medicações de uso pediátrico e o seu potencial
erosivo na dentição decídua, sem restrições quanto ao desenho
do estudo.
Para obtenção os dados, os artigos foram lidos na
íntegra e extraídas as informações relevantes acerca da erosão
dentária extrínseca, medicações de via oral e o potencial
erosivo na dentição decídua.
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

Figura 1. Fluxograma de busca e seleção de artigos.

Fonte: próprio autor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A erosão dentária é a perda química de estrutura


mineralizada dos tecidos duros causados pela exposição aos
ácidos não-derivados das bactérias da microbiota oral.
Corresponde a um processo progressivo e cumulativo, que
promove a dissolução das camadas mais superficiais,
deixando-as vulneráveis às forças mecânicas, que atuarão sob
a superfície amolecida causando um desgaste em sua estrutura
(CARVALHO et al., 2015).
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

Uma vez que, clinicamente, há a impossibilidade da


atuação de um desgaste puramente químico, isolado das forças
mecânicas, o termo desgaste dental erosivo foi inserido para
caracterizar este desgaste quando a erosão dentária
corresponder ao fator etiológico primário deste processo
(CARVALHO et al., 2015; LUSSI et al., 2019).
Ao contrário da cárie dentária, no DDE não há um
valor crítico de pH para que a desmineralização aconteça, uma
vez que, para a cárie, existe o contato do fluido do biofilme com
a superfície dentária, que contém uma taxa constante de
concentração de itens relevantes para a remineralização,
resultando em um pH crítico de 5.5 para o início da
desmineralização (LUSSI et al., 2019).
Uma vez que o DDE ocorre na ausência de biofilme, a
sua composição não influencia no processo erosivo, e
possibilita um contato direto da solução erosiva com a
superfície dentária. Desta maneira, a solução pode apresentar
baixas concentrações de íons que atuam na remineralização,
dissolvendo o esmalte em um pH mais baixo, ou vice versa
(LUSSI et al., 2019).
Alguns fatores, entretanto, possibilitam um efeito
protetor contra o DDE. A película adquirida corresponde a uma
camada adsorvida aos tecidos duros dentais que protegem
contra desafios ácidos, compostas por várias proteínas e íons.
Normalmente, as crianças possuem concentrações menores de
proteínas e cálcio em sua saliva, o que possibilitaria um menor
efeito protetor contra o DDE. Ademais, a taxa de adsorção da
proteína nos dentes decíduos é mais lenta, e sua espessura é
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

significativamente mais delgada que nos dentes permanentes


(LUSSI et al., 2019).
O efeito protetor da película adquirida, contra a
erosão, em ambos os dentes, decíduos e permanentes, foi
avaliado por Carvalho et al. (2016), onde observaram que a
saliva adulta formou uma película com maior proteção nos
dentes permanentes, do mesmo modo que a saliva infantil
formou uma película com maior proteção nos dentes decíduos.
Visto que crianças na dentição mista apresentam dentes
permanentes e decíduos, o efeito protetor da película adquirida
será mais eficiente nos dentes decíduos, o que possibilita uma
maior susceptibilidade de DDE nos dentes permanentes em
pacientes na faixa etária de 6 a 12 anos (CARVALHO;
BAUMANN; LUSSI, 2016).
A administração medicamentosa em pacientes
pediátricos pode apresentar alguns desafios, que reflete
diretamente na adesão ao tratamento e na eficácia da
terapêutica empregada. Sendo assim, diferentes formas
farmacêuticas podem ser empregadas, usualmente conforme a
idade da criança. Em recém nascidos, comumente se utilizam
supositórios, enquanto para crianças, as formulações líquidas,
são preferidas, tais como xaropes, soluções orais e
suspensões. Mesmo crianças maiores, acima dos 6 anos,
podem exibir dificuldades no sistema de administração, até a
adolescência. Desta forma, as formas líquidas são amplamente
utilizadas em todas as faixas etárias iniciais do indivíduo
(HUMAID, 2018).
O uso de soluções líquidas facilita a aceitação e
deglutição da droga por esta população em específico. Assim,
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

um complexo de adjuvantes, os excipientes, são inseridos nas


formulações com o objetivo de apresentar um produto colorido,
aromatizado e adoçado e, consequentemente, tornar-se mais
agradável para o consumo infantil (FREIRE; CAMPOS;
MARTINS, 2018) podendo ser subdivididos em conservantes,
emulsificantes, umectantes, solventes, corantes, estabilizantes,
edulcorantes, aromatizantes, espessantes, antioxidantes,
diluentes, promotores de absorção e matrizes de liberação
prolongada (ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).
Estes excipientes não correspondem a apenas
adjuvantes farmacotécnicos, mas auxiliam, também, no
desenvolvimento de fármacos mais seguros e eficazes,
garantindo uma estabilidade em sua formulação a partir de sua
adição, com funções antioxidantes, sequestrantes,
conservantes, tamponantes ou modificadoras do pH
(LOMBARDO, 2020).
Todavia, a adição destes componentes pode resultar
em alguns efeitos adversos. Várias preparações possuem
sacarose, glicose ou frutose em sua composição, com o intuito
de apresentar uma palatabilidade maior do composto, ou,
ainda, apresentam substâncias ácidas, para garantir a
estabilidade e consequente ação farmacológica adequada das
substâncias (FREIRE; CAMPOS; MARTINS, 2018).
Sendo assim, muitos medicamentos líquidos
pediátricos exibem baixo pH, alta acidez titulável e alta
concentração de açucares, o que aponta a possibilidade da
relação de DDE com uma ingestão frequente de fármacos orais
líquidos (VALINOTI et al., 2016).
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

A tabela 1 mostra a caracterização dos artigos que


avaliaram medicações de uso pediátrico quanto ao seu
potencial erosivo.

Tabela 1. Tabela de caracterização dos artigos que avaliaram


medicamento de uso pediátrico e seu potencial erosivo.

Título
N Autor/ Revista/ Ano Tipo de Medicamentos
° estudo
Are 0Pediatric VALINOTI, A. C. et al. In Vitro 29 tipos de
1 Antibiotic antibióticos sob
Formulations The open dentistry forma de suspensão
Potentials Risk journal. oral.
Factors for
Dental Caries 2016.
and Dental
Erosion?
Avaliação
0 in FREIRE, T. F. C.; DE In Vitro 6 tipos de
2 vitro do JESUS CAMPOS, E.; corticosteroides
potencial MARTINS, G. B. (dexametasona) sob
cariogênico e forma de elixir.
erosivo de Revista de Ciências
corticosteroide Médicas e Biológicas.
de uso tópico.
2018.
Efeito
0 sobre a ALVES, V. F. et al. In Vitro 3 tipos de
3 morfologia do anticonvulsivantes
esmalte dental e Revista de sob forma de
análise físico- Odontologia da suspensão oral.
química de UNESP.
medicamentos 1 tipo de medicação
utilizados por 2016. para refluxo
pacientes gastroesofágico sob
pediátricos com forma de suspensão
paralisia oral.
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

cerebral.
Cariogenic
0 GUPTA, M.; PANDA, In Vitro 1 tipo de
4 Potential of the S. analgésico*
commonly
Prescribed The Journal of 1 tipo de anti-
Pediatric Liquid Contemporary inflamatório não
Medicaments in Dental Practice. esteroidal*
Kingdom of
Saudi Arabia: An 2017. 4 tipos de
in vitro Study. antibióticos*

1 tipo de
suplemento
nutricional*

*medicamentos
líquidos, de forma
não especificada.
Os 0 OLIVEIRA, et al. Revisão Medicamentos orais
5 medicamentos sistemática líquidos.
infantis podem HU Revista.
causar erosão
na superfície de 2019.
dentes
decíduos?
Revisão
sistemática da
literatura
Fluoride
0 ALEXANDRIA, A.D. et In Vitro Medicamento
6 Varnishes al. associado à
against Dental refrigerante.
Erosion Caused Brazilian Dental
by Soft Drink Journal.
Combined with
Pediatric Liquid 2017.
Medicine
“Serie:
0 BAAT, C. et al. Revisão da Medicamentos orais
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

7 Medicamenten literatura sem especificações.


en mondzorg 5. Nederlands
Bijwerkingen tijdschrift voor
van tandheelkunde.
medicamenten
en 2017.
zelfzorg-middele
n op
gebitselementen
” [Medicaments
and oral
healthcare 5.
Adverse effects
of -medications
and over-the-
counter drugs
on teeth].
Fonte: próprio autor

Valinoti et al. (2016) avaliaram o potencial cariogênico


e erosivo de vinte e nove formulações de antibióticos
pediátricos. Destas, vinte e sete apresentaram pH ácido, e
quinze pH abaixo no limiar crítico de 5.5 para a cárie. Os autores
concluíram que a maioria dos fármacos analisados
apresentaram altas concentrações de açúcares, acidez titulável
e viscosidade, além de baixo pH, o que caracteriza um fator de
risco para o desenvolvimento da cárie dentária e do desgaste
dental erosivo. Observaram, ainda, que, dos doze
medicamentos que especificaram a presença de componentes
ácidos em suas formulações, seis apresentaram ácido cítrico,
além de ácido clavulânico, ácido succínico e ácido esteárico.
O ácido cítrico é um importante agente na composição
de alguns medicamentos. Além de garantir uma compatibilidade
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

fisiológica, permite uma melhoria do sabor da medicação,


tornando-a mais atrativa para os pacientes infantis. Este ácido
atua mantendo a estabilidade química do fármaco, devido ao
seu efeito tampão, garantida pela capacidade quelante de se
ligar ao cálcio. Embora corresponda à um ácido fraco, a
capacidade quelante torna-o um potente agente erosivo nas
estruturas dentárias (DE OLIVEIRA et al., 2019).
O estudo de Freire, Campos e Martins (2018) avaliou
o potencial erosivo e cariogênico de diferentes marcas de
dexametasona, na forma de elixir, disponíveis no mercado, e
puderam constatar que o pH encontrado nos medicamentos
investigadas apresentaram valores próximos entre si e abaixo
de 5,5. Sendo assim, todas as amostras de anti-inflamatórios
do estudo apresentaram potencial erosivo.
Além do pH, a acidez titulável corresponde à um
parâmetro importante da determinação do potencial erosivo da
solução, pois corresponde à propriedade de manutenção de
seu pH da solução ácida ao adicionar substâncias
neutralizantes, isto é, a capacidade tampão. Desta maneira,
fármacos que apresentam acidez titulável alta serão mais
dificilmente neutralizadas pelos fluidos orais, o que prolongará
o período de queda do pH, possibilitando uma maior
desmineralização da estrutura dentária (VALINOTI et al., 2016).
Para o desempenho de algumas funções, como
aromatizantes, regulação de pH, agentes de tamponamento e
de fermentação, geralmente são empregados agentes
acidulantes, como o ácido cítrico ou ácido benzóico, por
exemplo, que podem ser responsáveis pelos baixos índices de
pH das soluções, representando um potencial erosivo da
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

medicação quanto à estrutura dentária (FREIRE; CAMPOS;


MARTINS, 2018).
Ainda, a viscosidade da substância também contribui
no seu potencial patogênico. A alta viscosidade prejudica a
capacidade tampão e o clearance salivar, impossibilitando um
retorno rápido na neutralidade do pH. Além disso, a penetração
em estruturas de difícil acesso para a higiene oral, como
fissuras e áreas proximais, pode aumentar o período de
retenção dessas substâncias ácidas sob as superfícies
dentárias, consequentemente aumentando, também, o risco de
desenvolvimento de lesões erosivas (ALVES et al., 2016).
O conhecimento dos compostos presentes nas
formulações das medicações orais é de fundamental
importância na prevenção da erosão dentária. Entretanto,
alguns responsáveis relatam a não orientação sobre estes
fatores pelos médicos que lhe prescrevem (PORTO et al.,
2016).
Porto et al. (2016), avaliaram o conhecimento dos
pediatras relacionados à composição dos edulcorantes dos
medicamentos mais utilizados na prática clínica, além de seus
possíveis efeitos adversos na cavidade oral, e concluíram que
alguns pediatras desconhecem as substâncias presentes, com
exceção do princípio ativo, o que pode refletir em um déficit de
orientação e consequente prejuízo da saúde bucal de seus
pacientes.
Valinoti et al (2016) destaca a importância de atentar-
se aos principais fatores que podem aumentar a probabilidade
de um indivíduo sofrer de erosão dentária, como a taxa de fluxo
salivar, pH, capacidade tampão e formação de película, estando
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

estes associados a forma de utilização do medicamento,


frequência de consumo, bem como à condições biológicas do
indivíduo, parâmetros salivares e placa dentária. Além disso,
em crianças clinicamente comprometidas, os medicamentos
podem ser tomados em horários distantes da ingestão de
alimentos ou à noite, quando o fluxo salivar é reduzido. Dessa
forma, esses fatores podem aumentar o potencial desafio
erosivo.
Oliveira et al. (2019) realizaram uma revisão
sistemática da literatura para avaliar os efeitos do uso de
medicamentos líquidos orais na estrutura de dentes decíduos,
a partir de ensaios clínicos randomizados e não randomizados,
além de estudos observacionais e in vitro. Os autores relataram
que o uso contínuo de medicamentos, usualmente utilizados no
tratamento de alterações crônicas infantis, apresenta um
potencial erosivo na estrutura dentária destes pacientes,
relacionados ao pH e acidez titulável destes fármacos.
Os efeitos sob a superfície do esmalte dentário e as
propriedades físico-químicas de medicamentos contínuos
utilizados para o tratamento de pacientes pediátricos com
paralisia cerebral foram analisados, observando o pH e
viscosidade das medicações. Os pesquisadores avaliaram as
soluções orais de fenobarbital, domperidona, carbamazepina,
oxcarbazepina e, apesar das duas primeiras apresentarem um
pH acima do limiar crítico para desmineralização no processo
carioso, concluíram que todos os medicamentos analisados em
seu estudo, apresentaram potencial cariogênico e erosivo, por
seus altos índices de concentração de açúcar e viscosidade, em
destaque a oxcarbazepina (ALVES et al., 2016).
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

O estudo de Gupta e Panda (2017) analisou o


potencial cariogênico dos medicamentos pediátricos orais
líquidos mais prescritos na Arábia Saudita, em que avaliaram o
pH endógeno e a concentração de sacarose nas formulações
dos fármacos. Os pesquisadores constataram que todas as
drogas (analgésico, anti-inflamatório não esteroidal, antibióticos
e suplemento nutricional) apresentaram pH ácido e com adição
da sacarose, o que poderia aumentar o risco de processo
erosivo nas estruturas dentárias.
Pesquisadores holandeses realizaram um
levantamento bibliográfico acerca do potencial erosivo dos
medicamentos orais. Os autores observaram que vários
comprimidos efervescentes contendo vitaminas e minerais
promovem um risco à DDE, por seu caráter ácido. Fator que,
também, se aplica ao ácido acetilsalicílico e vários antibióticos,
entre eles, amoxicilina com ácido clavulânico. Um valor médio
de pH inferior a 5 também foi observado para os grupos de
medicamentos: antipsicóticos, antieméticos, analgésicos,
broncodilatadores, antitússicos e antiepiléticos. Além disso,
também foi possível constatar que alguns agentes substituos de
saliva associavam alto grau de viscosidade e alta acidez, o que
possibilitaria um maior potencial erosivo (BAAT et al., 2017).
Embora o potencial erosivo que a presença dos
excipientes possa induzir, alguns compostos possuem aditivos
que atuam como métodos de proteção. Uma vez que, para o
desenvolvimento do DDE, o grau de saturação da solução
também deve ser levado em consideração, a adição de cálcio,
fosfato e flúor nas medicações apresenta um efeito protetor
contra a desmineralização do esmalte dentário. Além disso, a
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

utilização de dentifrício fluoretado diariamente pode ser capaz


de reduzir o efeito erosivo das formulações ácidas (DE
OLIVEIRA et al., 2019).
Os efeitos protetores dos vernizes de NaF e CPP-
ACP/NaF foram avaliados na diminuição do processo erosivo
decorrente de refrigerante associado a um medicamento líquido
pediátrico. Embora o verniz CPP-ACP/NaF tenha apresentado
melhores resultados para a erosão decorrente do refrigerante,
ambos os produtos evidenciaram capacidade de redução de
perda de estrutura dentária e de rugosidade superficial após o
DDE quando associado ao medicamento líquido pediátrico
(ALEXANDRIA et al., 2017).
Apesar dos resultados desse estudo mostrarem que
as medicações líquidas de uso pediátrico possuem potencial
risco da erosão sobre a estrutura dentária nos pacientes
pediátricos com dentição decídua, concorda-se com Alves et al.
(2016) quando sugerem que não se deve suspender o uso das
medicações, pois são cruciais para manter a saúde das
crianças, propõe-se a mudança na composição desses
medicamentos, de modo a minimizar seus efeitos erosivos.

CONCLUSÕES

Os medicamentos de uso pediátrico necessitam de


formulações que possibilitem uma adesão ao tratamento e, para
isso, aspectos como uma boa palatabilidade e aceitação pelos
pacientes necessitam ser levados em consideração. Além
disso, uma maior estabilidade e segurança das formulações é
garantida pela adição de substâncias adjuvantes.
MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

Dessa maneira, a incorporação de diversos


excipientes farmacêuticos possibilita que todas essas
características sejam alcançadas, de modo a garantir um
sucesso na terapêutica medicamentosa empregada. Contudo,
a adição dos excipientes pode possibilitar uma queda de pH ou
de acidez titulável dos compostos farmacêuticos provocando
uma maior susceptibilidade dos tecidos dentais, da dentição
decídua, ao desgaste, resultando em um aumento no potencial
erosivo das medicações pediátricas orais líquidas.
Uma vez que o tratamento medicamentoso para
afecções na infância é um fator indispensável, torna-se de
fundamental importância o conhecimento acerca da
composição dos fármacos para que seja possível promover
uma melhor orientação e consequente prevenção do desgaste
dental erosivo nos pacientes pediátricos.

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MEDICAMENTOS ORAIS LÍQUIDOS DE USO PEDIÁTRICO E SEU
POTENCIAL EROSIVO – UMA REVISÃO DE LITERATURA

ORTODONTIA
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

CAPÍTULO 32

ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO


MATERNO E INSTALÇÃO DE HÁBITOS
BUCAIS DELETÉRIOS
Marijara Vieira de Sousa OLIVEIRA1
Tônia Arianne Mendes CRUZ1
Panmella Pereira MACIEL2
Patrícia Pereira MACIEL3
1Graduandas do curso de Odontologia, FSM; 2Doutoranda em Odontologia,
UFPB; 3Pós-graduanda do curso de Doutorado em Ortodontia, SLMandic
jarinha_vieira@hotmail.com

RESUMO: O aleitamento natural é considerado a forma mais


eficiente de suprir as necessidades alimentares e emocionais
do bebê. O desmame precoce pode prejudicar a capacidade de
desenvolvimento oral e favorecer a instalação de hábitos de
sucção deletérios. Esses hábitos são considerados os fatores
de risco mais recorrentes relacionados a difusão de más
oclusões na infância. O objetivo deste estudo foi avaliar a
associação entre o período de aleitamento materno e a possível
instalação de hábitos bucais nutritivos e não nutritivos. Foram
coletados dados de 100 crianças, com idade entre 3 e 12 anos,
através da aplicação de um questionário que abordou o tipo e
tempo de aleitamento materno, a existência de alguma
alternativa nutritiva complementar, a presença de algum hábito
bucal deletério e hábitos não nutritivos. Foi observado que 92%
das crianças foram amamentadas através do seio da mãe, além
de que 49% das crianças chupavam chupeta, 10% chupavam
dedo, 53% eram respiradores bucais, 30% rangiam os dentes,
15% mordiam objetos, 34% roíam unha e 6% mordiam lábio.
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

Conclui-se que o único hábito significantemente correlacionado


ao período de amamentação exclusiva foi a sucção de chupeta,
não sendo encontrada correlação entre o tempo que durou o
hábito de chupar chupeta; chupar dedo; respiração bucal e
ranger os dentes, ou tempo de amamentação exclusiva e mista.
Palavras-chave: Amamentação. Hábitos. Má oclusão.

INTRODUÇÃO

A amamentação é reconhecida como a estratégia ideal


para a alimentação infantil, principalmente nos primeiros seis
meses de vida. Além das vantagens nutricionais, o aleitamento
materno aumenta a resposta imunológica, reduzindo a
incidência de infecções e outras morbidades da infância. A
sucção da mama durante a amamentação envolve vários
músculos e esse recrutamento está relacionado ao
desenvolvimento oral e facial, culminando no correto
desenvolvimento dessas estruturas (CHEN et al. 2015). A
sucção da mama além de promover a nutrição, desenvolve a
percepção e noções psicológicas do bebê (TRAEBERT et al.,
2020).
A sucção é a primeira atividade muscular executada
pela criança, sendo um reflexo primitivo e fisiológico
fundamental para a sobrevivência de um recém-nascido
(BEZZERA et al., 2018). Se a criança não é amamentada, para
saciar suas necessidades nutricionais e emociais, ela vai
buscar outros mecanismos de sucção. Hábitos de sucção não
nutritivo podem provocar anormalidades morfológicas e
funcionais das estruturas do sistema estomatognático
(GOMES-FILHO et al, 2019). É apontado na literatura a
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

associação entre a menor duração do aleitamento materno e o


aumento de aquisição de hábitos de sucção deletérios (Amaral
et al. 2017).
Os hábitos são inseridos por se tonarem prazerosos e
proporcionarem satisfação ao indivíduo. A introdução do dedo
na boca é percebida como uma atividade agradável nos três
primeiros meses de vida (TRAEBERT et al., 2020).
Esses hábitos de sucção são considerados os fatores
de risco mais recorrentes relacionados a difusão de más
oclusões na infância. Os hábitos de sucção são classificados
como nutricionais, sendo eles a amamentação e o uso de
mamadeiras. E os hábitos não nutricionais, sendo eles a sucção
do dedo ao chupeta (FERNANDES et al., 2016).
As alterações no trato respiratório também podem
influenciar no desenvolvimento das más oclusões. Além disso,
está relacionado a diferentes maloclusões, como aumento da
sobressaliência, mordida cruzada anterior e posterior e mordida
aberta anterior (GRIPPAUDO et al., 2016).
Segundo Amaral et al. (2017), a decisão de não
amamentar traz consequências para o desenvolvimento da
saúde. No entanto, em muitos casos, isso não é apenas uma
questão de escolha da mãe (AMARAL et al., 2015). Fatores que
dificultam ou impedem a amamentação, entre eles, o
desconhecimento das mães sobre o aleitamento materno, a
crença na produção insuficiente de leite, a dificuldade de
agarrar as mamas pela criança, complicações com o recém-
nascido e complicações mamárias. Além disso, o aleitamento
materno exclusivo está relacionado a uma menor chance de
desenvolvimento de hábitos de sucção não nutricionais, como
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

o uso de chupeta (LOPES-FREIRE et al., 2015; PERES et al.,


2015).
Alguns fatores estão associados ao uso precoce e
contínuo da chupeta, que são eles mães que ficam o dia todo
fora e não tem tempo para a amamentação, desse modo o bebê
não consegue pegar ou se acostumar com hábito, a
primiparidade, crianças do sexo masculino, baixa nutrição ao
nascer, não amamentar nos primeiros momentos de vida, e a
utilização de fórmulas. (GOMES-FILHO et al., 2019) E também
é comum haver o surgimento desses hábitos em casos em
que há um desequilíbrio emocional criança (BEZZERA et
al., 2018).
Após o aparecimento da dentição decídua é natural que
os hábitos de sucção diminuam ou até desapareçam. Porém o
prolongamento dessa fase, principalmente pela persistência do
uso da chupeta, pode atuar modificando o desenvolvimento
ósseo, no posicionamento dentário, na fala, respiração e
consequentemente gerando as más-oclusões (FERNANDES et
al., 2016). Além disso, constatou-se que na dentição decídua a
oclusão é influenciada por outros hábitos prejudiciais durante a
primeira infância, como hábitos de sucção digital, mamadeira e
desmame precoce.
O uso de chupeta está ligado a redução de síndrome
de morte súbita infantil, porém em muitos casos o mecanismo
exato do efeito não seja bem compreendido (COSTA et al,
2018). A American Academy of Pediatrics recomenda iniciar o
uso de chupeta após o estabelecimento da amamentação. Tal
hábito durante os primeiros 4 meses de vida pode aumentar o
risco de desenvolver certas doenças como otite média e
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

candidíase oral, além da má oclusão já mencionada


anteriormente (GOMES-FILHO et al, 2019).
O meio ideal pelo qual a criança vai alcançar sua
saciedade nutricional e emocial é a amamentação, que ainda
vai proporcionar a estimulação neuromuscular adequada para
o desenvolviemento correto do sistema estomatognático. De
fato, para que haja a intercepção e prevenção de tais distúrbios
oclusais é preciso que os fatores associados a essa ocorrência
de más-olucsões seja investigado, tornado-se assim muito
importante para o desenvolvimento de políticas públicas de
saúde. Sabendo de todos os efeitos positivos que a
amamentação trás a Organização Mundial da Saúde (OMS)
recomenda que o aleitamento materno(AME) seja exclusivo até
os seis meses de vida.(ROSCOE et al., 2018).
Alguns estudiosos concordam que nem sempre o
hábito causa má oclusões, as alterações são provocadas
na arcada dentária, dependendo da resistência dento-
alveolar, o padrão facial da criança e fatores ligados ao
próprio hábito de sucção de acordo com a Tríade de Graber,
que vão indicar o desenvolvimento e intensidade das
alterações oclusais, faciais e musculares. Considera-se que
a região mais afetada é o arco superior de canino a canino
(BEZERRA et al., 2018).
Diante do exposto, observa-se a necessidade de adotar
medidas de prevenção e também enfatizar a importância do
tratamento multidisciplinar, com profissionais da ortodontia,
psicologia e fonoaudiologia que irão fazer orientações aos pais
de como interromper o uso abusivo desses hábitos deletéricos
de sucção não nutritiva, deixando eles cientes das causas e
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

possíveis consequências que tais hábitos podem trazer, caso


não sejam cessados (BEZZERA et al., 2018).
Dessa forma, o trabalho teve como objetivo avaliar a
associação entre o período de aleitamento materno e a possível
instalação de hábitos bucais nutritivos e não nutritivos.

MATERIAIS E MÉTODO

A pesquisa é descritiva de natureza observacional e


transversal por meio de uma abordagem quantitativa e método
estatístico comparativo. Sendo a mesma realizada nas
Faculdades Integradas de Patos, localizado na Rua Horácio
Nóbrega, s/n, Belo Horizonte, Patos – PB, telefone: (83) 3421-
7300.
A população do estudo foi formada pelos responsáveis
dos pacientes das clínicas de odontopediatria do curso de
odontologia das Faculdades Integradas de Patos. Dessa
população, a amostra, seleciona por conveniência, englobou
um total de 100 responsáveis.
Foram incluídos no estudo incluídos as mães, pais,
familiares e cuidadores que tiveram contato direto com a
criança e a mãe durante o período de amamentação. Sendo
excluídas as crianças acometidas por fendas labiais/palatinas e
aquelas que sofreram trauma na região facial.
Os dados do estudo foram colhidos a partir da aplicação
de um formulário pré-estruturado composto apenas por
questões fechadas, aplicado pelo próprio pesquisado em
linguagem simples e clara, pouco científica. Além das questões
de identificação da amostra, o formulário possuía questões
relacionadas ao objetivo da pesquisa como: tipo e tempo de
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

aleitamento materno, se obteve alguma alternativa nutritiva


complementar, presença de algum hábito bucal deletério e
hábitos não nutritivos.
A coleta dos dados foi feita após submissão e
aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa das
FIP, sendo o questionário aplicado aos responsáveis durante o
atendimento das crianças, mediante explicação dos objetivos
do estudo e sua metodologia, como também sobre os riscos e
os benefícios. Os resposanvés que concordaram em participar
assinaram o TCLE, respeitando assim critérios éticos que
envolvem a pesquisa com seres humanos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Considerando o avançado no conhecimento que se tem


sobre a importância da amamentação, e sua relação com o
estimulo de músculos e assim o desenvolvimento oral e facial,
pode-se entender a existência de consequências para o
desenvolvimento da saúde da criança quando se tem a decisão
de não amamentar (TRAEBERT et al, 2020). Com isso, esse
estudo buscou avaliar a associação entre o período de
aleitamento materno e a possível instalação de hábitos bucais
nutritivos e não nutritivos em 100 crianças com idade entre 03
a 12 anos atendidas pelas clínicas de odontopediatria do curso
de odontologia das Faculdades Integradas de Patos (FIP).
Dos 48% participantes do sexo feminino representam
entre idades de 03 a 05 anos 12%, de 06 a 08 anos 18% e de
09 a 12 anos 17%. A média de idade foi 03 a 08 anos, com o
mínimo de 03 anos e o máximo de 12 anos, a amostra
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

apresentou-se de forma simétrica e distribuída de forma


homogênea.

Tabela 1. Distribuição da amostra quanto à frequência de idade


por sexo.
Sexo/Idade Quantidade Percentual

Feminino

03 a 05 anos 12 41,5%

06 a 08 anos 18 30,2%

09 a 12 anos 17 28,3%

Masculino

3 a 5 anos 22 41,5%

6 a 8 anos 16 30,2%

9 a 12 anos 15 28,3%
Fonte: Arcevo pessoal

Em relação à amamentação natural, 92 (92%) das


crianças foram amamentadas através do seio da mãe e apenas
08 (8%) disseram que não. Já com relação ao tempo de
amamentação exclusiva, 06 (06%) respondera que as crianças
não tiveram amamentação exclusiva, 10 (10%) que tiveram até
1 mês, 29 (29%) entre 2 a 5 meses, 23 (23%) até 6 meses, 20
(20%) entre 7 meses a 1 ano e 12 (12%) responderam que as
crianças foram amamentadas mais de 1 ano. O estudo
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

realizado, por Roscoe et al. (2018), com 50 crianças, também


com a faixa etária entre 3 e 12 anos, revelou que 49 crianças
(98%) foram amamentadas, durante o período, em média, de
10,8 meses.
O período de amamentação exclusiva pode influenciar
na morfologia definitiva dos maxilares, estimulando a oclusão
adequada e prevenindo o aparecimento de hábitos
parafuncionais. No entanto, um período menor que 6 meses
pode causar distúrbios na maturação e desenvolvimento do
aparelho oral do indivíduo (RONDÓN et al., 2018).

Figura 1. Distribuição da amostra quanto ao tempo de


amamentação exclusiva.

Fonte: Arcevo pessoal.

No caso da utilização de utensílio para o aleitamento


artificial, 82 (82%) afirmaram utilizar mamadeira e 06 (6%) o
copo. A alta prevalência do uso da mamadeira é preocupante
visto que a deglutição, a fonação e a respiração podem ser
afetadas quando a mamadeira é introduzida muito cedo na
rotina do bebê (FREIRE; FERRARI; PERCINOTO, 2015).
Quanto ao tempo de amamentação mista, 18 (18%)
tiveram-na entre 01 a 12 meses, 22 (22%) entre 01 a 02 anos,
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

25 (25%) de 03 anos ou mais, 16 (16%) não souberam


responder e 28 (28%) não tiveram amamentação mista e
apenas 01 (1%) respondeu que ainda permanece sendo
amamentado.
Quando a necessidade de sucção não é satisfeita
durante a amamentação, podem surgir hábitos de sucção não
nutritivos, como o uso de chupeta ou a sucção dos dedos
(FREIRE; FERRARI; PERCINOTO, 2015). Em um estudo com
pré-escolares no município de Pelotas, Brasil, das 489 crianças
avaliadas mais da metade das crianças (57,87%) usaram
chupeta; 46,01% foram amamentadas exclusivamente e
24,74% nunca foram amamentadas. A prevalência de má
oclusão moderada/grave foi de 37,83% (COSTA et al, 2018).
No presente estudo foi observado que 51 (51%) afirmaram que
tem o hábito de usar chupeta e 49 (49%) disseram que não.

Figura 2. Distribuição da amostra quanto ao tempo de


amamentação mista.

Fonte: Acervo pessoal.

O hábito de chupar o dedo ou chupeta traz para a


crianças uma sensação de bem-estar e proteção, estando
asscocido ao alívio da frustração e do estresse. No entanto, se
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

esses hábitos persistem por um período prolongado, podem


ocorrer consequências adversas para as estruturas orofaciais.
Sendo que, o tratamento para a correção dessas sequelas é
baseado na utilização de aparelhos ortodônticos, que requerem
um período de intervenção e não são acessíveis a grande parte
da população. Além disso, pode haver alguma dificuldade na
aceitação dos tratamentos ortodônticos, uma vez que nem
sempre as crianças têm maturidade suficiente para cooperar
(FREIRE; FERRARI; PERCINOTO, 2015).
O ato de sucção pode ser dividido em nutritivo e não
nutritivo, a sucção por dedo ou chupeta se classifica como não
nutritiva e comumente é associada a primeira infância, sendo
geralmente presente em crianças que não recebem
amamentação natural nos primeiros seis meses de vida,
como em casos específicos em que a amamentação artificial é
utilizada por orientação médica (BEZERRA et al., 2018).
Em estudo feito por Freire, Ferrari e Percinoto (2015), a
incidência de sucção de chupeta em crianças que receberam
aleitamento natural até os 6 meses foi de 70,1%, enquanto
21,6% não possuíam hábitos de sucção não nutritivos. Já para
as crianças amamentadas além dos 6 meses de idade, os
respectivos números foram de 24,4% e 67,2%. Em discordância
com o nosso estudo onde nenhuma correlação foi encontrada
entre o tempo que durou o hábito de chupar chupeta o tempo
de amamentação exclusiva (p=0,92) e mista (p=0,43).
De acordo com os resultados deste estudo, a maioria
das crianças que fazem uso da chupeta, usam-na durante a
noite (28%), seguido do dia todo (22%) conforme pode ser
verificado no. O uso de chupeta mostrou-se muito importante
para o desenvolvimento de maloclusões, principalmente
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

mordida aberta anterior e mordida cruzada posterior


(TRAEBERT et al., 2020).

Tabela 2. Tempo de amamentação exclusiva relacionado à


presença do hábito de chupar chupeta
Hábito de Chupar Chupeta
Amamenta
ção Exclusiva SIM NÃO

(%) (%)
(n) (n)

Não Teve 3 3 3 3
% %

Até 1 mês 6 6 4 4
% %

2 a 5 meses 2 2 6 6
3% 3 %

6 meses 8 8 1 1
% 5% 5

7 meses a 1 6 6 1 1
ano % 4% 4

Mais de 1 3 3 1 1
ano % 2% 2
Fonte: Acervo pessoal.
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

Figura 3. Distribuição da amostra relativamente à


frequência do uso da chupeta.

Fonte: Acervo pessoal

Em um estudo com 50 crianças, com idade entre 3 e 12


anos, foi observado que a chupeta foi usada por 27 crianças
(54,0%) durante 3,9 anos, em média e a sucção de dedo foi
relatado para apenas 5 crianças (10%) (ROSCOE et al, 2018).
Já nesse referido estudo foi colhido que em relação ao hábito
de sucção digital, apenas 10 (10%) afirmaram que têm ou já
tiveram o hábito. Não foi encontrada, nenhuma correlação entre
o tempo que durou o hábito de chupar o dedo e o tempo de
amamentação exclusiva (p=0,17) e mista (p=0,55).
Em relação ao hábito de respirador bucal, 53 (53%)
afirmaram que possuem o hábito, e 47 (47%) disseram que não.
Nenhuma correlação foi encontrada entre o tempo que durou o
hábito de respiração bucal e o tempo de amamentação
exclusiva (p=0,41) e mista (p=0,20). Discordando assim do
estudo de Rondón et al. (2018), que ao avaliar a relação entre
o período de aleitamento materno exclusivo, com a presença de
hábito de respirar pela boca, constatou que 46 (76,67%)
paciantes que foram amamentados exclusivamente por 0 a 3
meses possuiam o hábito de respiração pela boca, e 14
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

(23,33%) que foram amamentados 4 a 5 meses também


possuiam o hábito Esse resultado reflete que quanto menor o
período de aleitamento materno exclusivo recebido pelo
indivíduo há uma prevalência maior deste hábito nesta amostra
populacional.

Tabela 3. Tempo de amamentação exclusiva relacionado à


presença do hábito de sucção digital.
Amamentação Hábito de Sucção Digital
Exclusiva
SIM NÃO

(%) (n) (%) (n)

Não Teve 6% 6 0% 0

Até 1 mês 10% 10 0% 0

2 a 5 meses 29% 29 17% 5

6 meses 23% 23 08% 2

7 meses a 1 ano 20% 20 20% 2

Mais de 1 ano 12% 12 08% 1


Fonte: Acervo pessoal.

Em estudo realizado por Traebert et al. (2020), teve-se

o relato de respiração oral como um importante fator associado

ao desenvolvimento de maloclusão, pois tem sido associado à

relação molar / canino classe II ou III, com sobressaliência ≥ 4


ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

mm e com mordida cruzada posterior. A respiração bucal

devido à obstrução nasal pode levar a alterações na postura e

no posicionamento da língua e lábios, o que pode gerar

aumento vertical da face. Além disso, está relacionado a

diferentes maloclusões, como aumento da sobressaliência,

mordida cruzada anterior e posterior e mordida aberta anterior

(TRAEBERT et al., 2020).

Tabela 4. Tempo de amamentação exclusiva relacionado a


presença do hábito de respirador bucal.
Amamentaçã Hábito de Respirador Bucal
o
Exclusiva SIM NÃO

(%) (n) (%) (n)

Não Teve 6% 6 83 5
%

Até 1 mês 10 1 70 7
% 0 %

2 a 5 meses 29 2 41 1
% 9 % 2

6 meses 23 2 43 1
% 3 % 0
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

7 meses a 1 20 2 60 1
ano % 0 % 2

Mais de 1 ano 12 1 58 7
% 2 %
Fonte: Arcevo pessoal.

Quando questionados sobre o bruxismo, 70 (70%)


afirmaram que as crianças não rangiam os dentes e que apenas
30 (30%) tinham o hábito. No entanto, nenhuma correlação foi
encontrada entre o tempo que durou o hábito de ranger os
dentes e o tempo de amamentação exclusiva (p=0,63) e mista
(p=0,55).

Tabela 5. Tempo de amamentação exclusiva relacionado à


presença do hábito de ranger os dentes.
Amamentação Hábito de Ranger os Dentes
Exclusiva
SIM NÃO

(%) (n) (%) (n)

Não Teve 6% 6 16% 1

Até 1 mês 10% 10 40% 4

2 a 5 meses 29% 29 13% 4

6 meses 23% 23 39% 9

7 meses a 1 ano 20% 20 35% 7

Mais de 1 ano 12% 12 41% 5


ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

Fonte: Arcevo pessoal.

Em relação a algum outro hábito, 45 (45%) disse não


ter nenhum hábito, 15 (15%) morder objetos, 34 (34%) roer
unha e 6 (06%) relataram morder lábio.
Um estudo com 183 crianças e adolescdntes
venezuelanos, contatou que, em relação à presença de hábitos
parafuncionais, 131 pacientes (71,58%) exibiu um ou mais
hábitos, sendo que desse total, 83 pacientes (63,36%) foram
amamentadas por um período de 0 a 3 meses, enquanto os 48
pacientes restantes (36,64%) foram amamentados por 4 a 5
meses. Esses resultados indicam que enquanto o período de
amamentação era mais curto materno exclusivo recebido, maior
a prevalência de hábitos parafuncionais nesta amostra
(RONDÓN et al., 2018). Indo em divergência com os resultados
obtidos nessa pesquisa, já que não foi possivel encontrar
associação significante entre a amamentação exclusiva e a
presença de hábitos não nutritivos.

CONCLUSÕES

Através dos resultados obtidos a partir da metodologia


empregada foi possível concluir que houve um predomínio de
amamentação natural, onde a maioria das crianças foram
amamentadas exclusivamente por mais de seis meses e
apenas 12% interromperam a amamentação mista antes de 01
ano de idade, também foi constatado que 49% das crianças
chupavam chupeta, 10% chupavam dedo, 53% eram
respiradores bucais, 30% rangiam os dentes, 15% mordiam
objetos, 34% roíam unha e 6% mordiam lábio, mas o único
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

hábito significantemente correlacionado ao período de


amamentação exclusiva foi a sucção de chupeta. Foi observado
que a maioria das crianças deixou de chupar chupeta e dedo
com 2 a 3 anos, e ainda permanecem com o hábito de ranger
os dentes.
Nenhuma correlação foi encontrada entre o tempo que
durou o hábito de chupar chupeta o tempo de amamentação
exclusiva e mista, entre o tempo que durou o hábito de chupar
o dedo e o tempo de amamentação exclusiva e mista, entre o
tempo que durou o hábito de respiração bucal e o tempo de
amamentação exclusiva e mista ou entre o tempo que durou o
hábito de ranger os dentes e o tempo de amamentação
exclusiva e mista.
Dessa forma, mesmo o estudo, dentro das suas
limitações, não trazerem um relação significativa entre o ato de
amamentação exclusiva e o desenvolvimento de hábitos de
sucção não nutritivos, é necessário reformçar as
recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do
Ministério da Saúde brasileiro. O aleitamento materno exclusivo
deve ser feito até o sexto mês e, a partir daí, a introdução da
alimentação complementar junto com o aleitamento materno
até os dois anos ou mais. A amamentação por períodos mais
longos pode atuar como fator protetor contra o desenvolvimento
de maloclusões, principalmente mordida cruzada posterior, que
é um tipo de maloclusão que se desenvolve em idade precoce
e dificilmente retrocede por si mesma (TRAEBERT et al., 2020).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO ENTRE ALEITAMENTO MATERNO E INSTALÇÃO DE
HÁBITOS BUCAIS DELETÉRIOS

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materno exclusivo em nutrizes. Rev Gaucha Enferm v. 36, p. 127-134. 2015.
BEZERRA, I. C. M. et al. Hábitos deletérios de sucção não nutritiva em pré-
escolares. Rev. Cient. OARF, v.2, n.1, p.13-21. 2018.
CHEN, X; XIA, B.; GE, L. Effects of breast-feeding duration, bottle-feeding duration
and non-nutritive sucking habits on the occlusal characteristics of primary dentition.
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RÓNDÓN, R. G. et al. Relação entre amamentação exclusiva com menos de 6
meses e hábitos parafuncionais em um grupo de crianças
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ROSCOE, M. G. et al. Association of Breastfeeding Duration, Nonnutritive
Sucking Habits, and Malocclusion. Int J Clin Pediatr Dent, v. 11, n.1, p. 18-22.
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TRAEBERT, E. et al. Nutritional and non-nutritional habits and occurrence of
malocclusions in the mixed dentition. An. Acad. Bras. Ciênc., Rio de Janeiro, v. 92,
n. 1, p. 1-13. 2020.
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

CAPÍTULO 33

FATORES QUE MOTIVAM PACIENTES


ADULTOS A BUSCAREM TRATAMENTO
ORTODÔNTICO
Iasmim Lima MARQUES 1
Panmella Pereira MACIEL2
Camylla Loyanne Mendes Dantas LOPES 2
Jaqueline Borges de OLIVEIRA 2
Patrícia Pereira MACIEL3
1 Graduanda do curso de Odontologia, UFPB; 2 Cirurgiã dentista; 3
Orientadora/Professora do curso de odontologia da FIP.
iasmimlimamarques@gmail.com

RESUMO: A percepção da estética dentária tem aumentado


cada vez mais, uma vez que um sorriso agradável proporciona
aos adultos um bem estar físico e principalmente emocional.
Nesse sentido, é de responsabilidade do dentista escutar as
queixas dos seus pacientes e tentar atender suas expectativas.
Dessa forma, objetivou-se verificar quais os principais fatores
que motivam os pacientes a procurarem tratamento ortodôntico.
Para tanto, aplicou-se um questionário previamente validado à
100 pacientes que estavam iniciando o tratamento ortodôntico
no curso de Pós-graduação em Ortodontia do Centro
Universitário de Patos (UNIFIP). O conteúdo do questionário foi
dividido em 3 categorias: modificações dentárias, modificações
faciais e modificações dos sintomas, de acordo com Arnett e
Worley (2002). A partir disso, pode-se observar que os
pacientes apresentavam idades entre 18 a 60 anos, com média
de 29,48 anos. O sexo feminino representou 61% dos pacientes
e o maior fator motivador pela busca do tratamento ortodôntico
foi “consertar os elementos dentários superiores anteriores”
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

(77%). Em relação ao perfil facial “tornar as bochechas


menores” (18%) foi a justificativa mais frequente e na categoria
relacionada à sintomatologia dolorosa a alternativa “em meus
dentes” obteve maior porcentagem (25%). Conclui-se que a
principal motivação dos participantes a buscarem tratamento
ortodôntico foi o alinhamento dos elementos dentários
superiores e inferiores.
Palavras-chave: Ortodontia Corretiva. Estética dentária. Má
Oclusão.

INTRODUÇÃO

A face é a parte do corpo mais condecorada e


representativa de um indivíduo. Os dentes fazem parte de um
sistema ortognático complexo que constitui a face, com funções
de mastigação, fonação, proteção e sustentação dos tecidos
moles. (TEIXEIRA, REHER, REHER, 2020). Além disso, os
dentes desempenham um papel fundamental na estética do
sorriso e da face. Assim, a percepção de um sorriso agradável
advém de um conjunto formado por elementos dentários e
gengiva, colocados em uma proporcionalidade que obedece a
regras de beleza estrutural e afinidade entre dentes e lábios,
levando a uma harmonização facial (VAN DER GELD et al.,
2007).
Atualmente, a estética atinge um lugar de grande
destaque no meio odontológico, pois os pacientes anseiam
cada vez mais por um sorriso esteticamente agradável
(BECERRA, 2015). Tendo em vista que o aspecto da aparência
dentofacial exerce grande influência nas relações interpessoais
(MONTEIRO, 2019). Dessa forma, o progresso tecnológico e
cientifico, fez com que os profissionais da odontologia
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

procurassem métodos e materiais mais modernos que


auxiliassem nos tratamentos estéticos buscando alcançar a
estética almejada pelos pacientes (GIMENEZ, 2016).
A ortodontia é uma das especialidades odontológicas
envolvidas diretamente com a estética do sorriso. Esta área
vem evoluindo muito em relação a seus tratamento e materias
estéticos em resposta a demanda do público e a tecnologia
disponível (KUHLMAN et al., 2016). Os tratamentos
ortodônticos e ortopédicos faciais consistem na correção de
problemas oclusais e de alterações de crescimento do
esqueleto crâneofacial, além de distúrbios na articulação
temporomandibular. Estas alterações e anormalidades refletem
nos apectos funcionais e estéticos da face, havendo correlação
entre as características faciais e alterações esqueléticas e
oclusais (SIÉCOLA et al., 2017).
Nesse sentido, as más oclusões desempenham papel
importante nas atividades diárias em dimensões físicas,
funcionais, sociais e psicológicas, influenciando a qualidade de
vida das pessoas. Isso acontece por essas alterações afetar o
posicionamento dos dentes, ocasionando efeito negativo na
autoestima dos indivíduos, principalmente adolescentes
(KAIEDA, 2015; SHARMA et al., 2017; ABREU et al., 2016).
Diversos índices analisam a prevalência das
oclusopatias e consistem em métodos de avaliar a necessidade
normativa e priorização do tratamento ortodôntico. Alguns
desses são o IOTN (Índice de Necessidade de Tratamento
Ortodôntico), ICON (Índice de Complexidade, Efeito e
Necessidade de Tratamento Ortodôntico), AC (Componente de
Estética Dental) e DAI (Índice de Estética Dental) (ARAÚJO et
al., 2019). Entretanto, alguns desses índices possuem como
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

principal limitação não contemplarem a percepção da má


oclusão do ponto de vista do paciente.
Em um estudo transversal feito com 1.015 jovens entre
12 e 15 anos mostrou que a taxa de necessidade normativa de
tratamento ortodôntico foi de 44,8%, enquanto 60,5% dos
participantes perceberam a necessidade de tratamento
ortodôntico (SILVA et al., 2016). Da mesma forma, Sultana e
Hossain (2019) em um estudo com 800 crianças e jovens com
faixa etária de 11 a 15 anos obtiveram taxa do índice AC
(Componente de Estética Dental) significativamente diferentes
entre os ortodontistas, crianças e responsáveis. Desse modo,
as necessidades de tratamentos ortodônticos podem variar
muito entre a percepção do cirurgião dentista sobre as
desordens da oclusão e o paciente em reação à aparência
dental e facial (SHARMA et al., 2017), levando a diferentes
discernimentos quanto ao mais adequado tratamento a ser
realizado.
Essa divergência pode estar associado ao grau de
escolaridade e os valores pessoais quanto ao seu ponto de
vista do que é estético, no entanto, ambos as opiniões são
importantes para avaliar o tratamento ortodôntico necessário
para cada pessoa (SHARMA et al., 2017). Portanto, deve-se
considerar a opinião e percepção dos pacientes em relação às
suas expectativas ao tratamento ortodôntico (NÁPOLES et al.,
2018; MONTEIRO et al., 2017). Dessa forma, objetivou-se por
meio deste estudo verificar quais os principais fatores que
motivam pacientes adultos a buscarem tratamento ortodôntico.
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de natureza observacional,


descritiva e transversal, por meio de uma abordagem
quantitativa e método estatístico comparativo.
Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do
Centro Universitário de Patos (UNIFIP), sob o parecer nº
3.327.832, um questionário foi aplicado à pacientes da clínica
do curso de especialização em ortodontia do Centro
Universitário de Patos.
A amostra foi composta por 100 pacientes escolhidos
aleatoriamente entre os inscritos em busca de tratamento
ortodôntico. Alguns critérios de inclusão foram usados para a
seleção da amostra como por exemplo: pacientes que tinham
buscado o tratamento ortodôntico por iniciativa própria, sem a
indicação de algum profissional e pacientes com idade acima
de 18 anos. Além disso, excluiu-se da amostra pacientes que
não sabiam ler, devido a metodologia usada na pesquisa
baseada em um questionário, onde a coleta dos dados são
preenchidas pelos próprios informantes.
O instrumento para coleta de dados abrangeu uma lista
de situações para que os participantes pudessem indicar suas
queixas. O conteúdo do questionário foi dividido em 3
categorias: modificações dentárias; modificações faciais e
modificações dos sintomas (ARNETT, WORLEY, 2002)
conforme mostra o quadro 1.
Inicialmente durante a primeira consulta, os pacientes
foram convidados a responderem o questionário após a
explicação prévia dos objetivos da pesquisa e assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

participantes foram ainda informados quanto aos métodos,


benefícios e riscos, tendo autonomia de permanecer ou não na
pesquisa.

Quadro 1. Instrumento de coleta de dados


INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Idade:
Sexo:
Indicação: ( ) Outro dentista ( ) Iniciativa própria
Motivação do paciente para tratamento ortodôntico

Você, que decidiu se submeter a um tratamento ortodôntico,


provavelmente está buscando mudanças em seus dentes, na sua face
ou o alívio de dores ou desconfortos.
Por favor, ajude-nos a entender melhor o seu problema e suas
expectativas, marcando com um “x” os itens abaixo. Para ser mais
específico faça um círculo em volta das palavras: superiores, inferiores,
mais, menos, para frente, para trás, mais longos, mais curtos, etc.

Dentes

Se seus dentes pudessem ser mudados, como você gostaria


de mudá-los?
( ) Arrumar os dentes da frente superiores /inferiores
( ) Arrumar os dentes de trás superiores /inferiores
( ) Tornar os dentes superiores anteriores mais longos / mais
curtos
( ) Movimentar os dentes superiores para frente / para trás
( ) Movimentar os dentes inferiores para frente / para trás
( ) Posicionar a linha dos meus dentes anteriores superiores
mais para frente/ para trás
( ) Mover a linha média dentária superior/ inferior para direita/
esquerda
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

Face

Se sua aparência facial pudesse ser mudada, o que você


gostaria de mudar?
( ) Eliminar o queixo duplo
( ) Movimentar o queixo para a frente/ para trás
( ) Movimentar o queixo à esquerda/ à direita, para centralizá-
lo
( ) Movimentar o lábio superior para a frente/ para trás
( ) Movimentar o lábio inferior para a frente/ para trás
( ) Movimentar a área em torno do meu nariz para a frente/
para trás
( ) Tornar o perfil do meu nariz mais longo/ mais curto
( ) Movimentar a área sob os meus olhos para a frente/ para
trás
( ) Tornar minhas bochechas maiores/ menores
( ) Mostrar mais/ menos os meus dentes/ gengivas, quando
sorrio
( ) Tornar meus lábios mais próximos/ mais afastados, quando
meus dentes estiverem em contato
( ) Reduzir a tensão em meu queixo/ lábio, quando fecho os
lábios
( ) Tornar minha face mais estreita/ larga
( ) Diminuir o volume da minha mandíbula na porção inferior
lateral da face

Sintomas

Se você sente dor ou desconforto onde ele se localiza?


( ) Na frente da minha orelha
( ) Abaixo da minha orelha direita/ esquerda
( ) Acima da minha orelha direita/ esquerda
( ) Em minha orelha direita/ esquerda
( ) Em meu pescoço do lado direito/ esquerdo
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

( ) Em meu ombro direito/ esquerdo


( ) Em minha têmpora direita/ esquerda
( ) Em meus dentes
( ) Em meus seios maxilares
( ) Em meu olho direito/ esquerdo
Fonte: Adaptado de Arnett e Worley (2002).

Após a aplicação do questionário, os dados foram


analisados estatisticamente utilizando o programa Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0.
Diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis
foram avaliadas com intervalo de confiança de 95% (p<0,05) e
e utilizou-se o teste qui-quadrado. Em seguida, os dados foram
reproduzidos na forma de tabelas para a melhor visualização
dos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram do estudo, 100 pacientes acima de 18


anos que tinham buscado tratamento ortodôntico por iniciativa
própria, sendo 61 do sexo feminino (61%) e 39 do sexo
masculino (39%). A média de idades nesse estudo foi de 29,48
anos com idade variando de 18 a 60 anos. Os pacientes foram
agrupados conforme expressa a tabela 1.
A amostra deste trabalho contou com uma população
bem especifica que procuraram tratamento ortodôntico na
Clínica Escola de Odontologia do Centro Universitário de Patos
(UNIFIP). Durante a análise das faixas etárias, presente neste
estudo, percebeu-se que houve uma procura por parte de
indivíduos com idade mais avançada na busca pelo tratamento
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

ortodôntico, porém a maior prevalência foi de pacientes com


faixa de 18 a 30 anos de idade (54%).

Tabela 1. Distribuição da amostra pelos diferentes grupos de


idade.
Idade N (%)
De 18 a 30 54 54
De 31 a 60 46 46
Fonte: Pesquisa direta (2019)

A maioria dos pacientes procurou o tratamento


ortodôntico com o intuito de modificar o posicionamento dos
elementos dentários superiores e anteriores (77%), seguido do
interesse em arrumar os dentes da frente inferiores (65%)
(Tabela 2).

Tabela 2. Fatores dentários que motivaram os pacientes a


procurarem pelo tratamento ortodôntico quanto ao sexo.
N % SEXO
M=
Arrumar os dentes
34(87,1%)
da frente 77 77
F = 43
superiores
(70,4%)
M
Arrumar os dentes =27(69,2%)
65 65
da frente inferiores F=
38(62,2%)
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

M=
Arrumar os dentes 11(28,2%)
26 26
de trás superiores F=
15(24,5%)
M=
Arrumar os dentes 13(33,3%)
29 29
de trás inferiores F=
16(26,2%)
Tornar os dentes
superiores M = 2(5,12%)
9 9
anteriores mais F = 7(11,4%)
longos
Tornar os dentes
superiores M = 3(7,6%)
4 4
anteriores mais F = 1(1,6%)
curtos
Movimentar os
M = 4(10,2%)
dentes superiores 11 11
F = 7(11,4%)
para frente
Movimentar os M = 6(15,3%)
dentes superiores 16 16 F=
para trás 10(16,3%)
Movimentar os
M = 2(5,12%)
dentes inferiores 11 11
F = 9(14,7%)
para frente
Movimentar os
M = 4(10,2%)
dentes inferiores 11 11
F = 7(11,4%)
para trás
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

Posicionar a linha
dos meus dentes
M = 5(12,8%)
anteriores 9 9
F = 4(6,5%)
superiores mais
para frente
Posicionar a linha
dos meus dentes
M = 3(7,6%)
anteriores 10 10
F = 7(11,4%)
superiores mais
para trás
Mover a linha
média dentária M = 6(15,3%)
13 13
superior para F = 7(11,4%)
direita
Mover a linha
média dentária M = 0(%)
5 5
superior para F = 5(8,1%)
esquerda
Mover a linha
M = 1(2,5%)
média dentária 4 4
F = 3(4,9%)
inferior para direita
Mover a linha
média dentária M = 0(%)
5 5
inferior para F = 5(8,1%)
esquerda
Fonte: Pesquisa direta (2019)

Os resultados demonstram que a queixa primordial dos


pacientes era modificar o desalinhamento dos elementos
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

anteriores de ambas as arcadas, estando a maior preocupação


dos pacientes relacionada à estética do sorriso.
Semelhantemente, no estudo de Arnett e Worley (2002) a
queixa principal (81% da amostra) esteve relacionada com as
mudanças no posicionamento dentário, principalmente em
relação aos dentes anteriores. No entanto, Pedrin e
colaboradores (2016) realizaram uma pesquisa sobre a
motivação do pacientes para o tratamento ortodôntico e
obtiveram como resultados que a maioria dos pacientes buscou
o tratamento por terem a percepção que possuíam má oclusão.
Outro estudo, com uma abordagem metodológica
diferente e uma amostra envolvendo crianças de 12 anos,
avaliou a percepção de crianças e suas mães quanto ao
tratamento ortodôntico e obteve que o maxilar overjet, o
espaçamento entre dentes e o apinhamento dentário foram os
preditores significativos para a percepção da necessidade de
tratamento ortodôntico em crianças. Enquanto que o fator que
mais contribuiu para a reclamação da mãe foi a mordida aberta
anterior (SOUSA et al., 2016).
No que diz respeito à estética da face (Tabela 3), o fator
mais relatado pelos pacientes foi tornar as bochechas menores
(18%), seguido de tornar a face mais estreita (14%) e mostrar
mais os dentes quando sorrir (14%).
Atualmente uma forma de melhorar a estética facial por
meio do tratamento ortodôntico é associá-lo com a famosa
bichectomia, cirurgia periodontal e harmonização facial, seja
ela com ácido hialurônico ou toxina botulínica, pois a estética
do sorriso e da face está intimamente ligada à autoestima do
paciente. Devido a isso tais procedimentos estão obtendo cada
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

vez mais espaço no âmbito odontológico (CAVALCANTI et al.,


2017).

Tabela 3. Fatores da estética facial que motivaram os pacientes


a procurarem pelo tratamento ortodôntico quanto ao sexo.
N % SEXO
Eliminar o M=0(%)
3 3
queixo duplo F=3(4,9%)
Movimentar o
M=2(5,1%)
queixo para 10 10
F=8(13,1%)
frente
Movimentar o M=4(10,2%)
12 12
queixo para trás F=8(13,1%)
Movimentar o
queixo à M=3(7,6%)
8 8
esquerda para F=5(8,19%)
centralizá-lo
Movimentar o
M=2(5,1%)
queixo à direita
7 7 F=5(8,1%)
para centralizá-lo
Movimentar o
lábio superior M=2(5,1%)
11 11
para frente F=9(14,7%)
Movimentar o
lábio superior M=2(5,1%)
9 9
para trás F=7(11,4%)
Movimentar o
M=0(%)
lábio inferior para 5 5
F=5(8,1%)
frente
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

Movimentar o
lábio inferior para 6 6 M=2(5,1%)
trás F=4(6,5%)
Movimentar a
área em torno do M=1(2,5%)
2 2
meu nariz para F=1(1,6%)
frente
Movimentar a
área em torno do M=0(%)
1 1
meu nariz para F=1(1,6%)
trás
Tornar o perfil do
M=0(%)
meu nariz mais
1 1 F=1(1,6%)
longo
Tornar o perfil do
M=8(%)
meu nariz mais 13 13
F=5(%)
curto
Movimentar a
área sob os M=2(5,1%)
4 4
meus olhos para F=2(3,2%)
frente
Movimentar a
área sob os M=1(2,5%)
1 1
meus olhos para F=0(%)
trás
Tornar minhas
M=2(5,12%)
bochechas 3 3
F=1(1,6%)
maiores
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

Tornar minhas
M= 3(7,6%)
bochechas 18 18
F= 15(24,5%)
menores
Mostrar mais os
M=6(15,3%)
meus dentes, 14 14
F=8(13,1%)
quando sorrio
Mostrar menos
M=4(10,2%)
os meus dentes, 10 10
F=6(9,8%)
quando sorrio
Mostrar mais
M=1(2,5%)
gengiva, quando 2 2
F=1(1,4%)
sorrio
Mostrar menos
M=3(7,6%)
gengiva, quando 5 5
F=2(2,8%)
sorrio
Tornar meus
lábios mais
próximos, M=3(7,6%)
5 5
quando meus F=2(2,8%)
dentes estiverem
em contato
Tornar meus
lábios mis
afastados, M=1(2,5%)
4 4
quando meus F=3(4,9%)
dentes estiverem
em contato
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

Reduzir a tensão
em meu queixo, M=2(5,1%)
2 2
quando fecho os F=0(%)
lábios
Reduzir a tensão
em meus lábios, M=4(10,2%)
quando fecho os 5 5 F=1(1,6%)
lábios
Tornar minha
M=4(10,2%)
face mais
14 14 F=10(16,3%)
estreita
Tornar minha M=4(10,2%)
6 6
face mais larga F=2(3,2%)
Diminuir o
volume da minha
M=5(12,8%)
mandíbula na 8 8
F=3(4,9%)
porção inferior
lateral da face
Fonte: Pesquisa direta (2019)

Nesse sentido, no estudo de Pedrin et al. (2016), a


melhora da aparência foi a segunda motivação mais frequente
entre o público adulto, enquanto que no público mais jovem foi
a influência por outro dentista ou profissional de saúde. Assim
ressalta-se a importância de conhecer os fatores primordiais
que motivam a procura do tratamento ortodôntico de acordo
com a faixa etária, para alcançar resultados de excelência que
atendam suas expectativas. Diferentemente, no presente
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

estudo não participou da pesquisa pacientes que procuraram


tratamento ortodôntico por indicação de profissionais da área.
Já em relação à sintomatologia dolorosa (Tabela 4) os
pacientes relataram terem procurado pelo tratamento
ortodôntico, principalmente por desconforto e/ou dor nos dentes
(25%), seguido do desconforto e/ou dor abaixo da orelha direita
(9%).

Tabela 4. Fatores relacionados ao desconforto e/ou dor que


motivaram os pacientes a buscarem tratamento ortodôntico
quanto ao sexo.

N % SEXO
Na frente da minha M = 1(2,5%)
2 2
orelha F = 1(1,6%)
Abaixo da minha M = 1(2,5%)
9 9
orelha direita F = 2(3,2%)
Abaixo da minha M = 2(5,1%)
7 7
orelha esquerda F = 5(8,1%)
Acima da minha M = 1(2,5%)
1 1
orelha direita F = 0(%)
Acima da minha M = 1(2,5%)
1 1
orelha esquerda F = 0(%)

M=
Em minha orelha 0(%)
2 2
direita F=
2(3,2%)
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

M=
Em minha orelha 0(%)
1 1
esquerda F=
1(1,6%)
M=
Em meu pescoço 3(7,6%)
8 8
do lado direito F=
5(8,1%)
M=
Em meu pescoço 2(5,1%)
8 8
do lado esquerdo F=
6(9,8%)
M=
Em meu ombro do 0(%)
3 3
lado direito F=
3(4,9%)
M=
Em meu ombro do 0(%)
3 3
lado esquerdo F=
3(4,9%)
M=
Em minha têmpora 1(2,5%)
7 7
direita F=
6(9,8%)
M=
Em minha têmpora 0(%)
4 4
esquerda F=
4(6,5%)
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

M=
8(20,5%)
Em meus dentes 25 25
F=
17(27,8%)
M=
Em meus seios 2(5,1%)
4 4
maxilares F=
2(3,2%)
M=
1(2,5%)
Em meu olho direito 3 3
F=
2(3,2%)
M=
Em meu olho 1(2,5%)
4 4
esquerdo F=
3(4,9%)
Fonte: Pesquisa direta (2019)

Achados semelhantes foram encontrados no estudo de


Arnett e Worley (2002), onde no quesito sintomatologia, a
sensibilidade dolorosa nos dentes apareceu como a queixa
mais freqüente (21%) podendo estar relacionada com hábitos
parafuncionais de apertamento dentário e/ou bruxismo.
Dessa forma, o interesse pelo tratamento ortodôntico
tem aumentado nas últimas décadas, com o aumento da
expectativa de vida e com as exigências estéticas da sociedade
contemporânea. (ARNETT, WORLEY, 2002). Nesse sentido,
indivíduos com autopercepção de necessidade de tratamento
ortodôntico ou com tratamento ortodôntico prévio possuem
IMPORTÂNCIA DA RADIOLOGIA E IMAGINOLOGIA ODONTOLÓGICA
PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

maiores demandas estética (SALIH, LINDSTEN, BAGESUND,


2017).

CONCLUSÕES

A busca pela estética vem aumentando na Ortodontia


sendo um dos principais motivos pela procura do tratamento
ortodôntico em adultos. O principal fator que motiva os
pacientes a procurarem tratamento ortodôntico foi o
posicionamento dos elementos anteriores de ambas as
arcadas. A autopercepção por parte dos pacientes foi
relacionada ao posicionamento dos elementos ântero-
superiores, região de maior estética do sorriso. A
autopercepção sobre o perfil facial teve como resultado a
diminuição do volume das bochechas, porém não obteve alta
porcentagem. E por fim não pode-se afirmar se a procura pelo
tratamento ortodôntico esteve relacionada à sintomatologia
dolorosa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PARA O TRATAMENTO DE FISSURADOS

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TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
CAPÍTULO 34

TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA


ANTERIOR MEDIANTE DISPOSITIVOS DE
ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE
INTRUSÃO

Sabrina Gonçalves RIATTO¹


Erika Lira de OLIVEIRA¹
Manoelly Anyelle Pessoa Dias DANTAS2
Alejandro IGLESIAS-LINARES3
Jose Enrique SOLANO-REINA4
¹Professora do curso de Odontologia, Centro Universitário UNIESP;
²Graduanda do curso de Odontologia, Centro Universitário UNIESP;
3Professor do curso de Odontologia, Universidade de Sevilha; 4Catedrático

em Ortodontia do curso de Odontologia, Universidade de Sevilha.


manoelly.pessoa@hotmail.com

RESUMO: Os dispositivos de ancoragem óssea (DAT)


ampliaram as opções de tratamento das mordidas abertas
anteriores (MAA) e diminuíram o seu tempo, tornando os
tratamentos complexos mais simples e previsíveis, evitando a
cirurgia ortognática em pacientes selecionados. Esta revisão
investigou a eficácia da correção da MAA por meio de intrusão
ortodôntica de molares auxiliadas por DAT em pacientes
adultos, identificando a quantidade de intrusão molar em
milímetros e o tempo de ativação intrusiva em meses dessas
intervenções. As buscas eletrônicas de janeiro de 2002 a
janeiro de 2018 foram realizadas em publicações em todos os
idiomas. Doze estudos foram incluídos após analisados de
acordo com os itens de Relatórios Preferenciais para Revisões
Sistemáticas e Diretrizes de Meta-Análises (PRISMA). A média
de intrusão dos dentes posteriores utilizando os DAT foi de 2.27
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
mm com uma média de fechamento da MAA de 5.16 mm em
um tempo médio de ativação intrusiva de 6.8 meses para os
mini-implantes e de 10.3 meses para as miniplacas. Obteve-se
maior fechamento mediante a intrusão de molares superiores e
inferiores simultaneamente. A intrusão de dentes posteriores
auxiliada pelos DAT é uma modalidade eficaz e rápida de
tratamento não cirúrgico que, razoavelmente, pode ser utilizada
para tratar pacientes adultos com MAA, com a vantagem de
apresentar melhor aceitação devido ao seu caráter menos
invasivo e menos custoso.
Palavras-chave: Tratamento odontológico. Movimentação
ortodôntica. Mordida aberta. Ancoragem óssea. Intrusão
dentária.

INTRODUÇÃO

A mordida aberta anterior (MAA) também chamada de


sobremordida anterior inversa ou sobremordida negativa é
observada frequentemente na clínica ortodôntica, sendo
considerada uma das más oclusões mais difíceis de serem
corrigidas por apresentar etiologia multifatorial e devido à
dificuldade em manter a estabilidade do tratamento em longo
prazo (ALMEIDA, 2013).
Pode comprometer a função mastigatória por dificultar
a apreensão e o corte de alimentos, a fonação por prejudicar a
pronúncia de alguns fonemas e a estética, afetando a
autoestima e a qualidade de vida do paciente. Estes fatores
justificam a necessidade de diagnóstico preciso e de
intervenção profissional imediata, preferivelmente o mais
precoce possível para buscar um prognóstico mais favorável do
tratamento (ALMEIDA et al., 2006).
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
O planejamento do tratamento frente a uma MAA
depende da etiologia, da classificação, da idade do paciente, da
severidade do caso e da estabilidade, sendo esta última
considerada o fator indicativo do sucesso real do tratamento
(SANDLER et al., 2011; TEITTINEN et al., 2012).
Pacientes com ou sem crescimento que apresentam
MAA classificada como dentária, podem ser tratados
unicamente com ortodontia, com ou sem extrações, ou
associada ao ajuste oclusal. Busca-se ou a intrusão de molares
ou a extrusão de incisivos e o êxito depende do controle da
dimensão vertical, do sistema de ancoragem, assim como da
colaboração do paciente (LIN et al., 2013). Por outro lado,
tradicionalmente e segundo Stansbury et al. (2010), para obter-
se um bom resultado estético e funcional de uma MAA
esquelética, os segmentos posteriores necessitam ser
impactados com intervenção orto-cirurgica. Os riscos, a
complexidade, o caráter invasivo e o fator econômico
colaboram para que ocorra recusa ao tratamento cirúrgico por
parte dos pacientes, levando à busca de procedimentos
alternativos. Estes tratamentos, chamados compensatórios,
propõem solucionar os problemas estéticos e funcionais,
envolvendo ortodontia convencional sem ou com extrações
dentárias, associados aos dispositivos de ancoragem óssea
temporária - DAT (MATSUMOTO et al., 2012).
Com o surgimento dos DAT (mini-implantes e
miniplacas) consegue-se uma ancoragem absoluta fixa dentro
da boca, que facilita a intrusão verdadeira dos dentes
posteriores. Provocando autorrotação no sentido anti-horário da
mandíbula com um mínimo de extrusão dos incisivos, diminui a
altura facial inferior e, consequentemente, promove o
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
fechamento da MAA sem cirurgia ortognática. Portanto,
proporciona mudanças dento alveolares e esqueléticas,
apresentando resultados satisfatórios similares à impactação
maxilar cirúrgica (YAMAGUCHI et al., 2012).
Antes do desenvolvimento dos dispositivos de
ancoragem óssea (DAT), a intrusão de molares para a correção
das MAA era considerada um desafio para os ortodontistas. O
recurso de ancoragem óssea proporciona o ponto fixo que
permite o movimento de dentes sem os indesejáveis
movimentos recíprocos à força (Terceira lei de Newton) e
representou um grande avanço nos tratamentos ortodônticos,
visto que a ausência de movimento da unidade de ancoragem
permite uma maior previsibilidade e eficiência em tratamentos
complexos, independente da colaboração do paciente. Desta
forma, em casos indicados, é possível corrigir MAA unicamente
com ortodontia, mediante a intrusão verdadeira dos dentes
posteriores, obtendo resultados considerados satisfatórios para
os pacientes e profissionais, sem atos cirúrgicos maiores
(ROCHA; RODRIGUES, 2017). A aplicação deste método mais
conservador e menos invasivo, segundo Kuroda et al. (2007b),
proporciona segurança para corrigir MAA esqueléticas leves,
moderadas e severas até 5 mm.
O propósito deste trabalho foi buscar estudos sobre o
tratamento da MAA em pacientes adultos, mediante intrusão de
dentes posteriores utilizando os DAT e identificar a quantidade
de intrusão, o tempo de ativação intrusiva e a estabilidade
obtida com esta modalidade de tratamento.

MATERIAIS E MÉTODOS
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
Estratégias de busca e fontes de informação: Após
definir um protocolo específico no formato PICOS (FORREST;
MILLER, 2002) formulando a pergunta a ser investigada
(Tabela 1), fez-se a busca por artigos publicados na literatura
eletrônica a partir de janeiro de 2002 nas bases de dados
Scopus, Pubmed, e Portal Periódicos Capes, utilizando os
términos: "treatment" AND ("anterior open bite" OR "anterior
openbite") AND ("TAD*" OR "temporary anchorage device*" OR
"miniplate*" OR "mini plate*" OR "miniscrew*" OR "mini screw*"
OR "mini implant*”). Esta revisão foi baseada no método
PRISMA (URRÚTIA; BONFILL, 2010) que é considerado o
preferido para as revisões sistemáticas e meta análises
(MOHER et al., 2010).

Tabela 1. Formato PICOS*.


Participants Humanos adultos com má-oclusão denominada mordida
P
(Participantes) aberta anterior (MAA).
Tratamento ortodôntico convencional associado ao uso
Interventions
I de dispositivos de ancoragem óssea temporária (DAT)
(Intervenções)
para intrusão de dentes posteriores.
Comparação entre a quantidade de intrusão alcançada
Comparisons
C com o DAT utilizado nos arcos superior, inferior ou
(Comparações)
ambos.
Quantidade de intrusão dos dentes posteriores e
Outcomes
O consequente quantidade de fechamento da MAA após o
(Resultados)
período de acompanhamento.
Qual a quantidade de intrusão em mm, o tempo de
Study design
ativação intrusiva do DAT em meses e a estabilidade
(Desenho
S do
alcançada em anos com cada tipo de tratamento em
estudo)
pacientes adultos com MAA?
*Este é um acrônimo para P: Participants (Participantes); I:
Interventions (Intervenções); C: Comparisons (Comparações); O: Outcomes
(Resultados); S: Study design (Desenho do estudo).
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
Critérios de seleção: Os artigos selecionados
cumpriram com os requisitos de acordo com o formato PICOS,
os critérios de inclusão foram:
1.Estudos em humanos adultos ou sem crescimento
(pacientes do gênero feminino a partir dos 14 anos e do gênero
masculino a partir dos 16 anos) com MAA.
2.Tratamento não cirúrgico da MAA com ortodontia
convencional associada ao uso de DAT para intrusão de dentes
posteriores.
3.Descrição da quantidade de intrusão em mm, do
tempo de ativação intrusiva em meses, da sobremordida inicial
em mm (T0), da sobremordida pós-tratamento em mm (T1), da
sobremordida pós-período de acompanhamento em mm (T2),
do fechamento da MAA em mm (T1-T0), da recidiva em mm
(T2-T1), do fechamento estável em mm (T2-T0), do período de
acompanhamento em anos e dos parâmetros de estabilidade
utilizados.
4.Publicações em qualquer idioma.
Foram excluídos os artigos que apresentaram um
período de acompanhamento pós-tratamento inferior a 1 ano.
Métodos utilizados nos estudos selecionados:
Foram utilizados como recursos de ancoragem óssea
temporária os mini-implantes ou as miniplacas para intrusão de
primeiros molares superiores ou de primeiros molares
inferiores; ou ambos os DAT para intrusão superior e inferior
simultaneamente, associados à ortodontia convencional com o
objetivo do fechamento da MAA. Foram instaladas barras
transpalatinas e/ou arcos linguais e a ativação intrusiva foi
realizada mediante elásticos corrente ou molas.
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
Para obterem-se medidas e parâmetros cefalométricos
foram feitas radiografias cefalométricas em T0 (início do
tratamento), T1 (pós-tratamento) e T2 (pós-período de
acompanhamento). Os valores da MAA foram obtidos medindo
a distância vertical em mm entre as bordas incisais dos incisivos
centrais superiores e inferiores perpendicularmente ao plano
oclusal funcional. Afim de definir as medidas verticais
posteriores utilizou-se parâmetros cefalométricos
desenvolvidos por Burstone et al. (1978): a quantidade de
intrusão dos primeiros molares superiores foi obtida a partir das
medidas lineares em mm desde a cúspide mésio vestibular até
o plano palatino perpendicularmente (U6-PP); e para os
primeiros molares inferiores mediu-se as distancias desde a
cúspide mésio vestibular até o plano mandibular
perpendicularmente (L6-MP).
Para a medição da quantidade de intrusão obtida pós-
tratamento, assim como para observar a quantidade de recidiva
pós-período de acompanhamento, utilizaram a sobreposição
cefalométrica de radiografias tomadas em T0, T1 e T2 com
referência ao plano sela-nasio (SN), ao plano palatino (PP) e ao
plano mandibular (MP), seguindo o método de Bjork e Skieller
(1984).
Coleta de dados: Os artigos selecionados foram
armazenados mediante o autor principal, o ano de publicação e
o tipo de DAT utilizado. Foram coletados os seguintes dados:
quantidade de intrusão em mm, tempo de ativação intrusiva em
meses, sobremordida inicial em mm (T0), sobremordida pós-
tratamento em mm (T1), sobremordida pós-período de
acompanhamento em mm (T2), fechamento da MAA em mm
(T1-T0), recidiva em mm (T2-T1), fechamento estável em mm
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
(T2-T0), período de acompanhamento em anos e parâmetros
de estabilidade utilizados.
Avaliação da qualidade metodológica: Utilizou-se um
processo de qualificação baseado nos dados descritos por
Nguyen et al. (1999), Lagravere et al. (2005) e Baratieri et al.
(2011), o qual os artigos selecionados para a elegibilidade são
avaliados baseados no desenho do estudo, nas medições do
estudo e na conclusão (Tabela 2). Os resultados da avaliação
de qualidade metodológica podem variar de 0 a 16 pontos e os
artigos podem ser qualificados como de alta (>13), moderada
(>8 e <13) ou baixa (˂ 8) qualidade metodológica.

Tabela 2. Modelo da avaliação metodológica da qualidade dos


artigos incluídos.
Itens de avaliação Pontos
I- A- Descrição do objetivo 1
Desenho B- População adequadamente descrita 1
do estudo (idade, sexo)
C- Critério de seleção descrito 1
D- Tamanho da amostra: <30/grupo(1) ou 2

≥30/grupo(2)
E- Estudo randomizado 2
F- Grupo de controle 1
G- Definição e duração de acompanhamento 2
II- H- Cancelamentos mencionados 1
Medições I- Medição definida 1
do estudo J- Cegamento: examinador e estatístico 1
K- Confiabilidade descrita e adequada 1
L- Apresentação de dados 1
III- M - Conclusão razoável para empoderamento 1
Conclusão do estudo
Pontuação total 16
Fonte: Nguyen et al. (1999); Baratieri et al. (2011).
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Resultados da busca bibliográfica: Dos 251 artigos


separados, obedecendo aos critérios de inclusão e exclusão,
finalmente selecionou-se 12 artigos que cumpriram todos os
critérios para este trabalho.
Resultados da avaliação da qualidade
metodológica: Todos os artigos selecionados foram
qualificados como de moderada qualidade metodológica por
apresentarem resultados entre 8 e 13 pontos. Dos 12 artigos, 5
apresentaram pontuação 10, 6 apresentaram pontuação 9 e 1
apresentou pontuação 8, gerando a média de 9.33 o que
identifica moderada qualidade metodológica (Tabela 3).
Segundo o método de qualificação utilizado, os principais
defeitos na qualidade dos artigos foram o tamanho pequeno da
amostra, a não aleatoriedade, a ausência de grupo controle e o
não cegamento dos estudos. Por outro lado, estes defeitos se
justificam por se tratarem de relatos de casos clínicos ou casos
seriados, que são estudos não aleatórios (NRS), no entanto, a
questão de interesse não pôde ser respondida pelos ensaios
aleatórios, uma vez que se necessitava de estudos
quantitativos com respeito à eficácia de uma intervenção
clínica.

Tabela 3. Pontuação dos artigos selecionados de acordo com


a qualidade metodológica.
Autor A B C D F G H I J K L M T Q
otal ualidade
Sugawara 1 M
1 1 1 1 0 2 0 1 0 1 1 1
(2002) 0 oderada
Kuroda M
1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 1 9
(2004) oderada
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
Park H. M
1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 1 9
(2006) oderada
Erverdi 1 M
1 1 1 1 0 2 0 1 0 1 1 1
(2007) 0 oderada
Kuroda M
1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 1 9
(2007a) oderada
Kuroda M
1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 1 9
(2007b) oderada
Park Y. M
1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 1 9
(2008) oderada
Lee (2008) 1 M
1 1 1 1 0 2 0 1 0 1 1 1
0 oderada
Baek (2010) 1 M
1 1 1 1 0 2 0 1 0 1 1 1
0 oderada
Deguchi 1 M
1 1 1 1 0 2 0 1 0 1 1 1
(2011) 0 oderada
Watanabe M
1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 1 9
(2012) oderada
Oka M
1 1 0 1 0 2 0 1 0 1 1 0 8
(2013) oderada
Pontuação 9 M
média .33 oderada

Quantidade de intrusão, tempo de ativação


intrusiva, fechamento da MAA e recidiva:A intrusão de
molares é um dos movimentos ortodônticos mais difíceis de
serem conseguidos, porém, em todos os artigos selecionados
se obteve intrusão verdadeira de dentes posteriores mediante
o uso dos DAT associados à ortodontia. Para corrigir as MAA,
nos artigos selecionados, foram utilizados métodos de intrusão
dos dentes posteriores superiores e inferiores mediante
ancoragem óssea temporária com mini-implantes, miniplacas
ou a associação de ambos.
Com relação à intrusão dos primeiros molares
superiores utilizando mini-implantes, os autores Park Y. et al.
(2008), Lee e Park Y. (2008) e Baek et al. (2010), relataram
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
quantidade de intrusão em milímetros muito próximas (2.0;
2.22; e 2.39; média de 2.2 mm) em tempos de ativação intrusiva
quase iguais (5 a 5.4 meses; média de 5.26 meses), obtendo
valores em milímetros do fechamento das MAA também muito
aproximados (5.0; 5.47; e 5.53; média de 5.33 mm), mas houve
pequenas diferenças a cerca da recidiva no período de
acompanhamento de 1 a 3 anos.
De outra maneira, e comparando com estes trabalhos
onde foram intruídos somente os molares superiores, a
quantidade de intrusão obtida por Kuroda et al. (2007a), que
optaram pela intrusão dos primeiros molares inferiores com
mini-implantes, foi maior (3.0 mm), consequentemente com um
fechamento da MAA maior (6.0 mm), em tempo de ativação
intrusiva também um pouco maior (6 meses) e não observaram
recidiva no período de seguimento. É provável que se possa
atribuir estes valores vantajosos, encontrados nos casos de
intrusão dos molares superiores, ao número pequeno da
amostra de casos de intrusão de molares inferiores.
Nos estudos onde trataram as MAA mediante o uso de
mini-implantes para intrusão de molares superiores e inferiores
simultaneamente, os autores Kuroda et al. (2004), Park H. et al.
(2006), e Deguchi et al. (2011) relataram de 2.0 a 3.0 mm de
intrusão dos molares superiores e de 1.0 a 3.0 mm nos molares
inferiores, média de 4.33 mm; em tempos de ativação intrusiva
de 8 a 12 meses, média de 8.6 meses; apresentando média de
fechamento das MAA de 6.63 mm, e obviamente, valores
maiores em mm de fechamentos das MAA em comparação com
os casos de intrusão de molares realizadas em um só arco
dentário.
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
Com a utilização das miniplacas como recurso de
ancoragem óssea temporária para intrusão dos primeiros
molares superiores Erverdi et al. (2007) e Watanabi et al. (2012)
conseguiram as quantidades de intrusão de 3.6 e 1.0 mm,
média de 2.3 mm; tempos de ativação intrusiva de 9.6 e 6
meses respectivamente, média de 7.8 meses, e fechamentos
suficientes para obter a correção das sobremordidas negativas
(média de 4.6 mm). Em comparação com as médias dos
resultados obtidos nos casos de intrusão dos mesmos molares
com o uso de mini-implantes, se observou a obtenção de
valores similares, mas no caso do uso das miniplacas relatou-
se um tempo de ativação intrusiva um pouco maior.
Mediante a associação de mini-implantes e miniplacas
com o objetivo de intruir também os molares superiores e
inferiores simultaneamente, pelos estudos de Kuroda et al.
(2007b) e Oka et al. (2013) obtiveram quantidade de intrusão
dos molares superiores e inferiores de 2.3 a 3.0 mm e 1.3 a 3.0
mm respectivamente (média de 4.8 mm); em tempo de ativação
intrusiva de 3 a 6 meses (média de 6.7 meses); apresentando
média de fechamento das MAA de 7.55 mm. Na realidade, se
observa uma similaridade entre os resultados obtidos pelos
métodos de intrusão simultânea dos molares nos dois arcos,
tanto utilizando somente mini-implantes como utilizando mini-
implantes associados à miniplacas (Figura 1).
Sugawara et al. (2002) utilizaram miniplacas para intruir
primeiros molares inferiores e obtiveram 1.7 mm de intrusão em
15.5 meses de ativação intrusiva, com fechamento estável da
mordida aberta de 4.0 mm, uma vez que observaram 0.9 mm
de recidiva no período de acompanhamento. Em comparação
com o caso de Kuroda et al. (2007a), que optaram pela intrusão
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
dos mesmos dentes com o uso de mini-implantes, os resultados
de Sugawara et al. (2002) foram mais modestos, além de
apresentarem tempos de ativação mais extensos, significando
que se observou maior intrusão no caso de uso de mini-
implantes, com maior fechamento e em menor tempo de
ativação intrusiva.

Figura 1. Médias da quantidade de intrusão dos molares


superiores (MS) e molares inferiores (MI) intruídos
simultaneamente, utilizando somente mini-implantes ou
utilizando mini-implantes associados à miniplacas, fechamento
da MAA e recidiva.

Fontes: 1ºMS e 1ºMI intruídos simultaneamente com mini-implantes: Kuroda


et al. (2004), Park H. et al. (2006), e Deguchi et al. (2011); 1ºMS e 1ºMI
intruídos simultaneamente com mini-implantes associados à miniplacas:
Kuroda et al. (2007b), Oka et al. (2013).
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
Na Tabela 4 estão agrupadas as variáveis de interesse
dos tratamentos das MAA mediante a utilização dos DAT para
intrusão de dentes posteriores e seus valores em médias.
Observa-se a quantidade de intrusão maior e
consequentemente maior fechamento das MAA mediante o uso
dos DAT em ambas as arcadas simultaneamente.

Tabela 4. Comparação entre as médias das variáveis de


interesse e os tipos de DAT utilizados para obter a intrusão dos
dentes posteriores.
1 1º 1 1
Dente/DAT ºMS MS intruídos ºMI ºMI 1
intruídos com intruídos intruídos ºMS e 1ºMI
com miniplacas com mini- com intruídos
V mini- implantes miniplacas simultâne
ariáveis implante a-mente
s
Qu
2 2.3 3 1. 4
antidade de
.2 mm mm .0 mm 7 mm .52 mm
intrusão
T 5
7.8 6 1 7
empo de .26
meses meses 5.5 meses .9 meses
intrusão meses
F
5 4.6 6 4 7
echamen-to
.33 mm mm .0 mm .9 mm .0 mm
da MAA
Re
0 0.5 0 0 0
cidiva em 1
.72 mm mm mm .9 mm .32 mm
a 3 anos
Ar P Erve K S K
tigos/ ark rdi (2007) uroda ugawara uroda
Fontes Y(2008) Watan (2007a) (2002) (2004)
Labe(2012) Park H
ee (2008) (2006)
Baek D
(2010) eguchi
(2011)
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
Kuroda
(2007b)
O
ka (2013)

Cada milímetro de intrusão dos dentes posteriores se


consegue de 2 a 4 milímetros de fechamento de una MAA
(PARK H. et al., 2006; SHERWOOD, 2007). Os valores
encontrados nos artigos selecionados foram de acordo com
estes autores, una vez que se calculou uma média de intrusão
dos dentes posteriores de 2.27 mm (1.0 a 3.6 mm) com
fechamento das MAA de 5.16 mm em média (4.0 a 6.0 mm),
obtido através de tratamentos da MAA mediante DAT.
Estabilidade: Um dente intruído é menos estável que
um rotacionado ou deslocado no sentido mésio-distal (BAEK et
al., 2010) e sabe-se, desde o informe de Reitan (1967), que os
dentes intruídos são mais estáveis que os dentes extruídos,
provavelmente devido ao relaxamento das fibras periodontais
ao redor da raiz do dente intruído, consequentemente, se
espera mais estabilidade de una correção de MAA por intrusão
de dentes posteriores sem a extrusão de dentes anteriores.
Outra perspectiva acerca da estabilidade está baseada na
“Teoria do equilíbrio de Proffit” (PROFFIT, 1978), onde as
forças verticais próprias da oclusão podem ajudar na prevenção
da reabertura da mordida através da resistência natural à
irrupção do molar, porém, a estabilidade pós-tratamento
continua um fator preocupante, e uma maneira efetiva de
manter um dente intruído ainda é objeto de especulação e
investigação. Segundo Bueno-Medeiros et al. (2012) e Baek et
al. (2010), as sobremordidas recidivaram mais
significativamente durante o primeiro ano pós-tratamento,
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
embora, não mostraram recorrência significativa entre um ano
e três anos de acompanhamento. Portanto, estes autores
recomendam a aplicação de métodos de retenção adequados
durante o primeiro ano, tendo em consideração a força
muscular, a influencia da língua e dos tecidos moles, além do
padrão esquelético inicial do paciente, para melhorar a
estabilidade em longo prazo do tratamento. Apesar de que
investigações futuras sejam necessárias para obter mais
informações com respeito à estabilidade do tratamento das
MAA mediante intrusão de dentes posteriores, se recomenda
como maneiras de evitar recidiva: além da eliminação de fatores
etiológicos (como hábitos nocivos e má postura lingual) e do
uso do aparelho de Hawley removíveis, a terapia miofuncional,
o uso noturno de força extrabucal de tração alta, a
sobrecorreção, bem como a manutenção dos DAT por
determinado tempo pós-tratamento (PARK J. H. et al., 2012).

CONCLUSÕES

Baseando-se nos resultados dos artigos selecionados,


pode-se concluir:
1- O tratamento da MAA esquelética foi favorecido com
o aparecimento dos DAT, permitindo uma maior capacidade de
correção nos tratamentos compensatórios, além de um maior
controle da mecânica convencional;
2- Com relação à quantidade de intrusão conseguida,
não se observou grandes diferenças entre os métodos de
intrusão dos molares superiores ou inferiores;
3- As miniplacas necessitaram de um tempo de
ativação intrusiva maior do que os mini-implantes;
TRATAMENTO DA MORDIDA ABERTA ANTERIOR MEDIANTE
DISPOSITIVOS DE ANCORAGEM ÓSSEA: QUANTIDADE DE INTRUSÃO.
4- As recidivas se produziram mais frequentemente
durante o primeiro ano de retenção, portanto, o
desenvolvimento de um protocolo de retenção adequado e sua
aplicação durante este período pode favorecer a estabilidade
em longo prazo do tratamento.
5- Existe a necessidade de realizar-se mais estudos
sobre o tema, com uma estandarização dos métodos de
avaliação, amostra aleatória e maior tempo de
acompanhamento.

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.
PRÓTESE E OCLUSÃO
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

CAPÍTULO 35

TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO


DE PLACA OCLUSAL PROVISÓRIA/SOCIAL
Renata Coelho Navarro 1
Douglas Paiva Alves 2
Júlia Magalhães da Costa Lima Assad 3
Cacilda Chaves Morais de Lima4
Luciana Barbosa Sousa de Lucena 5
1 Orientadora/ Professora da ETS/ UFPB; 2 Graduando do curso de

Odontologia, UFPB; 3 Cirurgiã-dentista do HULW/UFPB; 4 Professora da


ETS/ UFPB; 5 Professora do DM/ UFPB.
renacn@hotmail.com

RESUMO: A etiologia da Disfunção Temporomandibular e da


Dor Orofacial é multifatorial e, portanto, necessita de uma
intervenção interdisciplinar para seu tratamento. Um dos
tratamentos mais estudados e amplamente utilizados no
tratamento da Disfunção Temporomandibular e da Dor
Orofacial é o uso de placas oclusais rígidas confeccionadas em
resina acrílica. No entanto, esse dispositivo intraoral, por ter
uma etapa laboratorial na sua confecção, tem um custo elevado
principalmente para os pacientes que utilizam os Serviços
Públicos de Saúde. Para tratar esses pacientes, pode-se utilizar
uma placa oclusal provisória ou placa social confeccionada em
resina acrílica autopolimerizável incolor que apresenta um custo
bem mais baixo para sua confecção e que apresenta
efetividade na resolução dos sintomas. Este trabalho propõe a
modificação da técnica de confecção da placa oclusal provisória
para torná-la mais acessível e segura para os pacientes que
utilizam os Serviços Públicos de Saúde. A técnica proposta vem
sendo utilizada a cerca de 4 anos no Hospital Lauro Wanderley
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

da UFPB e tem apresentado resultados promissores. Apesar de


ter um tempo de confecção maior, há uma redução no tempo
do atendimento clínico, na inalação e na ingestão pelo paciente
das substâncias liberadas durante a acrilização. Nas consultas
de retorno, após alguns meses de uso, os pacientes relatam
melhora da dor e da qualidade de vida.
Palavras-chave: Síndrome da Disfunção da Articulação
Temporomandibular. Tratamento Odontológico. Placas
Oclusais. Oclusão Dentária.

INTRODUÇÃO

Segundo a International Association for the Study of


Pain (IASP/2020), a dor é uma experiência pessoal e
desagradável influenciada por fatores biológicos, psicológicos e
sociais em diferentes graus e pode estar associada a uma lesão
tecidual real ou potencial.
A dor orofacial foi definida pela Academia Americana de
Dor Orofacial (American Academyof Orofacial Pain – AAOP)
como sendo uma condição dolorosa associada a tecidos duros
e moles da cabeça, face, pescoço e todas as estruturas
intraorais. Sua faixa de diagnóstico inclui: cefaléias, dores
músculo-esqueléticas, neurogênicas, psicogênicas e dores
devidas a doenças graves, como câncer e Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (OKESON, 2020).
As dores orofaciais, que se originam das estruturas
musculo- esqueléticas do sistema mastigatório, estão incluídas
na categoria de queixas de dor coletivamente conhecidas como
Disfunção Temporomandibular (DTM). Assim, a DTM é um
termo coletivo que abrange vários problemas clínicos que
envolvem a musculatura da mastigação, a ATM (articulação
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

temporomandibular) ou estruturas associadas (OKESON,


2020).
Estudos epidemiológicos estimam que 40% a 75% da
população em geral apresentem ao menos um sinal ou sintoma
de DTM com maior prevalência entre a terceira e quinta
décadas de vida, especialmente nas mulheres, sendo duas
vezes mais comum (CONTI et al., 2001).
Uma vez que a etiologia da DTM e das dores orofaciais
é multifatorial, o tratamento também deve ser multifatorial. Para
uma correta indicação terapêutica, a avaliação de todos os
possíveis sintomas juntamente com o trabalho em equipe é
fundamental. Cirurgiões-dentistas, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, além de psicólogos, otorrinolaringologistas,
neurologistas e clínicos da dor devem conjuntamente avaliar os
possíveis fatores causais e, cada qual em sua área de atuação,
intervir (DONNARUMMA et al., 2010).
A placa oclusal é um dos recursos largamente utilizados
para tratar pacientes portadores de DTM (OKESON, 2020) por
promoverem temporariamente uma posição articular
ortopedicamente mais estável e por promoverem uma oclusão
funcional ótima que reorganiza a atividade reflexa
neuromuscular anormal enquanto propicia uma função
muscular mais adequada.
De acordo com uma pesquisa recente (AL-MORAISSI
et al., 2020), as placas oclusais são o tratamento mais eficaz
entre tratamentos para DTMs artrogênicas e miogênicas
quando comparados a nenhum tratamento (pacientes controle
não tratados) e placas não oclusivas.
De acordo com Micelli et al. (2015) o uso de placas
planas de plano oclusal ajudou a restabelecer a dimensão
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

vertical da oclusão e distribuir as forças mastigatórias mais


uniformemente, permitindo a recuperação voluntária do disco
condilar e posições mandibulares e restabelecimento do tônus
muscular. Martins et al. (2016) concluíram que o tratamento de
DTM por meio do dispositivo interoclusal, seguido do
aconselhamento, é eficaz na redução da intensidade da dor.
Segundo Magri et al. (2018), ao realizar um estudo
retrospectivo entre 2006 e 2016, houve um aumento de
atendimentos a pacientes com Disfunção Temporomandibular
e Dor Orofacial, além de uma crescente valorização de práticas
voltadas para educação em dor, orientações de automanuseio
e atuação multidisciplinar e que a placa oclusal continua sendo
uma opção terapêutica ainda bastante utilizada na Odontologia.
As placas oclusais rígidas são confeccionadas em
laboratório com resina acrílica incolor termopolimerizável. No
entanto, isso tem um custo que muitas vezes está fora do
alcance dos pacientes que são atendidos pelo Sistema Público
de Saúde.
Para suprir esta carência e buscar melhorar a qualidade
de vida dos pacientes portadores de Disfunção
Temporomandibular e Dor Orofacial pode-se utilizar uma placa
oclusal provisória ou placa social confeccionada em resina
acrílica autopolimerizável incolor cuja técnica foi descrita em
1974 por Becker et al.
O objetivo deste trabalho é descrever uma modificação
desta técnica para torná-la mais acessível e segura,
acrescentando uma etapa laboratorial simples, e reduzindo o
tempo no atendimento clínico, evitando também, o desconforto
do paciente causado pelo odor e sabor forte que a resina
autopolimerizável apresenta durante a sua manipulação e
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

acrilização, sem reduzir a eficiência no tratamento dos


pacientes com Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial
atendidos no Hospital Universitário Lauro Wanderley da
Universidade Federal da Paraíba.

MATERIAIS E MÉTODO

Primeira etapa clínica:


1) Avaliação clínica da condição oral do paciente;
2) Moldagem das arcadas superior e inferior do
paciente;
3) Confecção de um “stop” em resina acrílica para
desoclusão dos arcos dentários (Figura 1);
4) Registro da mordida do paciente em resina
acrílica e/ou cera 7 (Figura 1).

Etapa laboratorial:
1) Preenchimento dos moldes com gesso especial
(modelos primários) (Figura 2);
2) Duplicação do modelo de gesso no qual será
instalada a placa oclusal (modelo secundário) (Figura 2);

Figura 1. Stop para determinação da desoclusão dos


arcos dentários e registro de mordida em resina acrílica e em
cera.
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Figura 2. Modelos em gesso, sendo os superiores os


modelos primário e secundário e o inferior o modelo
antagonista.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


3) Articulação do modelo de gesso secundário e do
antagonista com auxilio do registro de mordida (Figura 3);
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Figura 3. Modelos de gesso articulados com o registro


de mordida para montagem no verticulador.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


4) Montagem dos modelos articulados em
verticulador observando que o mesmo deve estar fechado
completamente (travar na posição limite) (Figura 4);

Figura 4. Modelos montados em verticulador.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


5) No modelo primário que receberá a placa, deve-
se eliminar as áreas retentivas com cera;
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

6) Marcação dos limites da placa com lápis grafite


(Figura 5);

Figura 5. Marcação dos limites da placa abaixo do


equador protético com lápis grafite.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

7) Plastificação da placa de acetato cristal de 2 mm


sobre o modelo de gesso primário no qual a placa será instalada
(Figura 6);
8) Recorte da placa sobre o modelo de gesso com
auxílio de um motor de prótese e um disco diamantado ou broca
de tungstênio (Figura 7);

Figura 6. Placa de acetato cristal plastificada sobre o


modelo de gesso.
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Figura 7. Placa sendo recortada respeitando o limite


pré-determinado.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

9) Remoção da placa em acetato e ajuste das


arestas com broca de tungstênio (Figura 8);
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Figura 8. Remoção das arestas e excessos da placa de


acetato.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

10) Colocação da placa de acetato no arco


correspondente montado no verticulador (Figura 9);
11) Aplicação de vaselina no modelo de gesso
antagonista;
12) Remoção da parte do verticulador na qual está a
placa de acetato;
13) Manipulação de resina autopolimerizável incolor
em quantidade suficiente para recobrimento de toda a face
oclusal e, opcionalmente, vestibular e palatina/lingual;
14) Quando a resina acrílica atingir a fase plástica,
fazer uma bola e depois um “rolinho” e aplicar sobre a face
oclusal da placa de acetato confeccionando o platô incisal
(Figura 10);
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Figura 9. Placa de acetato posicionada sobre o modelo


de gesso articulado no verticulador.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Figura 10. Resina acrílica autopolimerizável


manipulada e na fase plástica.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


15) Adaptar a resina acrílica nas faces vestibular e
palatina/lingual (opcional) (Figura 11);
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Figura 11. Adaptação da resina acrílica sobre a placa


de acetato. Notar que a resina está sendo colocada na face
oclusal e faces vestibular e palatina.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

16) Articular o verticulador e travar até o limite máximo


(Figura 12);
17) Recortar os excessos de resina acrílica em todas
as faces;
18) Esperar a polimerização da resina acrílica com o
verticulador fechado;
19) Imergir a placa em água morna por 1 minuto;
20) Fazer as marcações da oclusão das cúspides
antagonistas no verticulador com papel carbono para
articulação (Figura 13);

Figura 12. Verticulador travado com a placa de acetato


recoberta com resina acrílica. Importante adaptar bem a resina
sobre as faces.
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

21) Remover os excessos dos pontos de contato e de


resina acrílica com broca de tungstênio (Figura 14).

Figura 13. Marcação dos pontos de contato oclusais


com papel carbono e pinça de Muller.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.


Figura 14. Remoção dos excessos oclusais e das
demais faces com broca de tungstênio.
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Segunda etapa clínica:


1) Provar a placa oclusal na boca do paciente;
2) Observar a existência de básculas ou áreas de
compressão;
3) Realizar os ajustes oclusais em boca realizando
os movimentos de protrusão, lateralidade, abertura e
fechamento com fita de carbono para articulação;
4) Realizar o acabamento e o polimento da placa
(Figura 15);
5) Orientar o paciente quanto ao uso e cuidados com
a placa (Figura 16).

Figura 15. Realizar o acabamento e o polimento da


placa antes de entregar ao paciente.
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

Figura 16. Placa finalizada e pronta para uso.

Fonte: Arquivo pessoal, 2020.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Diante do aumento de casos de DTM e Dor Orofacial


atendidos pelo SUS e do aumento de casos de bruxismo
relacionados ao isolamento social devido a Pandemia COVID-
19 (EMODI-PERLMAN et al., 2020), a placa oclusal provisória
ou social surge como uma alternativa mais rápida e acessível
para pacientes que precisam sair imediatamente de um quadro
de dor aguda ou que apresentam limitações financeiras. A
eliminação da etapa laboratorial do processo de confecção
diminui consideravelmente os custos da placa oclusal e torna
viável a sua confecção em Serviços Públicos de Saúde que
possuem Odontologia no seu quadro clínico.
O mais importante para a resolução dos sintomas não
é a técnica pela qual a placa é confeccionada, e sim, como a
placa é ajustada para se aproximar dos objetivos do tratamento
proposto (OKESON, 2020).
Algumas modificações foram realizadas na técnica
proposta por OKESON (2020) devido a limitações encontradas,
principalmente, nas características físicas e químicas dos
materiais utilizados.
A resina acrílica autopolimerizável disponível no
Serviço apresenta um tempo de polimerização longo, o que
dificultava a confecção das placas em sessão única e
diretamente na boca do paciente. Então, a solução encontrada
foi montar os modelos de gesso em verticulador, como proposto
por LIMA et al. (2000), para construção da placa. O sistema de
travamento do verticulador permite que a distância
predeterminada entre os dois modelos de gesso seja mantida e
que a resina acrílica não sofra uma expansão maior do que o
esperado.
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

A montagem dos modelos de gesso em articulador


semi-ajustável não surgiu como opção devido ao custo do
aparelho, ao tempo de montagem e a dificuldade de controle da
expansão da resina acrílica.
Todo o preparo da placa é realizado com o auxílio do
verticulador e quando a placa está pronta os ajustes são
finalizados na boca do paciente para determinação das guias
de desoclusão. A vantagem da confecção da placa
extraoralmente é que a conversão dos monômeros em
polímeros durante a polimerização da resina acrílica
autopolimerizável não ocorre diretamente na cavidade oral, o
que diminui o desconforto do paciente, uma vez que o cheiro e
o sabor da resina acrílica durante a polimerização são muito
fortes, e a possibilidade de alergias e danos aos tecidos bucais
são menores (RASHID et al., 2015). Ainda na tentativa de
minimizar os efeitos deletérios causados pela resina acrílica, a
placa oclusal é imersa em água morna por cerca de 1 minuto
para diminuir a quantidade de monômeros residuais que não se
converteram durante a polimerização.
Após os ajustes da placa, o paciente é orientado quanto
a higiene e manutenção da placa. A placa deve ser mantida
sempre limpa e guardada imersa em água em uma caixa
plástica com tampa quando não estiver em uso. A higiene deve
ser feita sempre que a placa for removida da boca com escova
exclusiva para esse fim e sabonete líquido neutro e/ou creme
dental. Uma vez por semana pode-se colocar 2 gotas de
hipoclorito de sódio na água da caixa e deixar a placa imersa
por 5 a 10 minutos, para evitar a proliferação de fungos e
bactérias.
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

Normalmente, após 6 a 12 meses de uso, essas placas


ficam amareladas. O monômero residual é liberado
gradativamente após a polimerização da resina acrílica,
causando porosidades que permitem a infiltração de líquidos,
corantes e fluidos presentes no meio oral (GARCIA-LOPEZ et
al., 2013). Apesar do polimento, a resina autopolimerizável
apresenta muita porosidade, o que facilita a pigmentação da
placa, acelera a degradação da resina e a proliferação de
microrganismo na placa que, além de serem responsáveis por
processos inflamatórios, causam odores indesejáveis. Com
isso, propõe-se a troca eventual dessas placas após avaliação
individual de cada caso.

CONCLUSÕES

A técnica proposta apresenta um tempo de confecção


maior devido a etapa laboratorial acrescentada, mas reduz o
tempo no atendimento clínico, a inalação e ingestão, pelo
paciente, de substâncias liberadas durante a acrilização da
resina acrílica autopolimerizável, e do pó produzido durante o
acabamento e polimento da placa em sua confecção. A técnica
tem mostrado eficiência ao longo desses 4 anos de experiência
clínica e os pacientes beneficiados com este tratamento relatam
melhora no quadro clínico de dor e na qualidade de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TÉCNICA MODIFICADA DE CONFECÇÃO DE PLACA OCLUSAL
PROVISÓRIA/SOCIAL

AL-MORAISSI, E. A. et al. Effectiveness of occlusal splint therapy in the management


of temporomandibular disorders: network meta-analysis of randomized controlled
trials. International Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, v.49, n.8, p. 1042-
1056, aug. 2020.
BECKER, C. M.; KAISER, D. A.; LEMM, R. B. A simplied technique for fabrication of
night guards. Journal of Prosthetic Dentistry, v.32, n.5, p.:582–589, 1974.

CONTI, P. C. et al. Pain measurement in TMD patients: evaluation of precision and
sensitivity of different scales. Journal of Oral Rehabilitation, v.28, n.6, p. 534-539,
2001.
DONNARUMMA, M. D. C. et al. Disfunções temporomandibulares: sinais, sintomas
e abordagem multidisciplinar. Revista. CEFAC, São Paulo, v.12, n.5, p. 788-794,
2010.
EMODI-PERLMAN, A. et al. Temporomandibular Disorders and Bruxism Outbreak as
a Possible Factor of Orofacial Pain Worsening during the COVID-19 Pandemic—
Concomitant Research in Two Countries. Journal of Clinical Medicine, v.9, n.10, p.
E3250, 2020.
GARCIA-LOPEZ, D. A. et al. Estabilidade dimensional de uma resina acrílica para
coroas provisórias em função de diferentes técnicas de processamento ao longo do
tempo. Revista de Odontologia da UNESP, v.42, n.3, p. 196-203, 2013.
LIMA, C. C. M. et al. Placas Oclusais- Técnica Cacilda Chaves. PCL. Revista
Brasileira de Prótese Clínica & Laboratorial , v. 2, n.2, p. 67-74, 2000.
MAGRI, L. V. et al. Perfil de atendimento de um serviço de disfunção
temporomandibular e dor orofacial de uma universidade pública brasileira: o que
mudou em 10 anos? Estudo retrospectivo. Brazilian Journal of Pain [online], v.1,
n.3, p. 236-240, 2018.
MARTINS, A. P. V. B. et al. Aconselhamento e tala oral para tratamento conservador
da disfunção temporomandibular: estudo preliminar. Revista de Odontologia da
UNESP, Araraquara, v.45, n.4, p. 207-213, 2016.
MICELLI, A. L. P. et al. Restabelecimento das relações côndilo-fossa e
maxilomandibular usando uma tala plana oclusal plana e prótese implanto-suportada:
relato de caso com seguimento de 2 anos. RGO, Revista Gaúcha de Odontologia,
Campinas, v.63, n.3, p. 319-326, 2015.
OKESON, J.P. Management of Temporomandibular Disorders and Occlusion - E-
Book. 8 ed., Elsevier, 2020.
RASHID, H.; SHEIKH, Z.; VOHRA, F. Allergic effects of the residual monomer used
in denture base acrylic resin. European Journal of Dentistry, v.9, n.4, p.614-618,
2015.
.
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

CAPÍTULO 36

A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO
E DAS RECHAMADAS PERIÓDICAS PÓS-
REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL
REMOVÍVEL
Isis de Araújo Ferreira MUNIZ 1
Débora e Silva CAMPOS 1
Luciano Elias da Cruz PEREZ 2
Dúcia Caldas Cosme da TRINDADE 3
1Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Odontologia, UFPB; 2
Professor do Departamento de Odontologia Restauradora, UFPB; 3
Orientadora/Professora do Departamento de Odontologia Restauradora da
UFPB.
isisamuniz@gmail.com

RESUMO: A Prótese Parcial Removível (PPR) representa uma


alternativa para pacientes parcialmente desdentados ao
restabelecer as funções estomatognáticas e impactar
positivamente no convívio social, nutrição e qualidade de vida
do indivíduo. Porém, as falhas pós-instalação podem ser
frequentes, ressaltando-se a importância do acompanhamento
periódico a fim de detectá-las precocemente e evitar danos
maiores ao paciente. O objetivo desta revisão é abordar os
principais fatores envolvidos na manutenção da qualidade das
PPRs, além das principais falhas biológicas e mecânicas que
podem ocorrer, enfatizando a relevância da consulta de retorno
imediato e o controle periódico para o sucesso a longo prazo
desta reabilitação. As bases de dados utilizadas na busca foram
Pubmed, Lilacs e Scopus, utilizando os descritores: “prótese
parcial removível”, “saúde bucal”, “manutenção”, “lesões dos
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

tecidos moles”, “idoso” para a identificação de artigos


publicados nos últimos cinco anos. As falhas biológicas mais
encontradas foram cárie, doença periodontal e lesões de
mucosa, cujos principais fatores associados são biofilme e
trauma. As falhas mecânicas mais prevalentes estão
relacionadas à ausência de estabilidade, retenção e suporte,
além da fratura dos componentes mecânicos. Portanto, o
profissional deve estar atento às características ideais de uma
PPR de qualidade, bem como realizar consultas periódicas de
controle para diagnosticar possíveis falhas e tratá-las, evitando
sua progressão e o consequente fracasso da prótese,
mantendo a saúde dos tecidos de suporte.
Palavras-chave: Prótese Parcial Removível. Idoso. Saúde
Bucal. Manutenção. Lesões dos Tecidos Moles.

INTRODUÇÃO

O edentulismo é caracterizado pela perda total ou


parcial do elemento dentário, resultante de fatores biológicos
como cárie dentária, doença periodontal e traumatismo, sendo,
portanto, um importante indicador de saúde bucal e reflexo de
tratamentos anteriores mal conduzidos (CANKAYA;
YURDAKOS; KALABAY, 2020; LEE; SAPONARO, 2019).
Outros fatores também podem estar envolvidos e contribuírem
com essa condição, como aspectos econômicos, sociais,
culturais e o acesso aos serviços odontológicos (CARDOSO et
al., 2016; SILVA; OLIVEIRA; LELES, 2016). A prevalência do
edentulismo no Brasil é elevada e ainda representa um grande
problema de saúde pública (SILVA; OLIVEIRA; LELES, 2016).
Com base no último levantamento epidemiológico realizado no
Brasil (SB Brasil 2010), 68,8% dos adultos (idade entre 35 e 44
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

anos) necessitavam de algum tipo de prótese, sendo que


aproximadamente 40% necessitavam de prótese parcial. Entre
os idosos (de 65 a 74 anos de idade) somente 7,3% não
necessitavam de algum tipo de prótese, seja ela parcial ou total
(BRASIL, 2012).
O edentulismo, além de impactar negativamente na
função mastigatória, estética e fonação do indivíduo, pode
influenciar diretamente na nutrição e qualidade de vida do
indivíduo do idoso (OLIVEIRA et al., 2020; SILVA; OLIVEIRA;
LELES, 2016). Alguns estudos atribuem à uma reabilitação
protética adequada, somado ao número de dentes
remanescentes no arco, uma melhora na eficiência
mastigatória, no estado nutricional e na qualidade de vida de
pacientes reabilitados (MCKENNA et al., 2015; MELANIA;
PREOTEASA; PREOTEASA, 2019; TONIAZZO et al., 2018;
YAMAMOTO; SHIGA, 2018). Desta forma, a reabilitação com
próteses totais ou parciais passa a ser a alternativa para reduzir
os impactos negativos e restabelecer as funções
estomatognáticas afetadas do indivíduo.
Dentre as opções de reabilitações protéticas, a Prótese
Parcial Removível representa uma alternativa viável para
pacientes parcialmente desdentados, com custo-benefício
satisfatório, preparos minimamente invasivos e de fácil
higienização (KIM, 2019; SUGIO et al., 2019). Podem ser
indicadas em amplos espaços edêntulos e extremidades livres,
bem como espaços intercalares curtos, com o objetivo de
restaurar estética, fonética e função mastigatória, preservando
as estruturas remanescentes (CARREIRO; BATISTA, 2013).
No entanto, para que a prótese apresente um bom
desempenho, é necessário um planejamento detalhado através
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

da adequação do meio bucal, da seleção correta dos


componentes mecânicos e do preparo de boca, seguindo os
princípios de suporte, retenção e estabilidade e evitando danos
aos tecidos de suporte do paciente. Além disso, o controle
imediato pós-instalação e o acompanhamento periódico do
paciente, através de consultas de reavaliação, são
fundamentais para a longevidade do tratamento, a fim de
detectar falhas e complicações precocemente e evitar danos
maiores (CAMPBELL et al., 2017; FRIEL; WAIA, 2020).
As complicações relacionadas ao uso das PPRs são
classificadas em biológicas e mecânicas. As falhas biológicas
são representadas por cárie, doença periodontal, perda
dentária e lesões de mucosa oral (AL-IMAM et al., 2016;
BARBOSA et al., 2018; MOLDOVAN; RUDOLPH; LUTHARDT,
2018), enquanto as falhas mecânicas estão relacionadas à
perda de retenção e estabilidade, fratura da estrutura metálica,
desgaste dentário e desadaptação (KRAUSCH-HOFMANN et
al., 2016; STEINMASSL et al., 2016). A avaliação constante da
qualidade técnica da prótese quanto à retenção, estabilidade e
estética, bem como o diagnóstico precoce dos fatores
predisponentes das falhas biológicas nas consultas pós-
instalação são fundamentais para a manutenção da saúde oral
(KRAUSCH-HOFMANN et al., 2016; STEINMASSL et al.,
2016).
Desta forma, o objetivo desta revisão é abordar os
principais fatores envolvidos na manutenção da qualidade das
PPRs, além das principais falhas biológicas e mecânicas que
podem ocorrer ao longo do tempo, enfatizando a relevância das
consultas de retorno e a importância do controle periódico para
o sucesso a longo prazo deste tipo de reabilitação oral.
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

MATERIAIS E MÉTODO

Esta revisão de literatura foi realizada através da busca


nas bases de dados Pubmed, Lilacs e Scopus, utilizando os
seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da
Biblioteca Virtual em Saúde: “prótese parcial removível”,
“idoso”, “saúde bucal”, “manutenção” e “lesões dos tecidos
moles”. Foram selecionados artigos publicados no período de
2015 a 2020, nos idiomas português e inglês. Os critérios de
elegibilidade definidos para a inclusão dos artigos foram
estudos que abordaram as principais falhas mecânicas e
biológicas na reabilitação oral com prótese parcial removível,
bem como artigos que abordaram os fatores relacionados à
execução da reabilitação protética, com as características que
a prótese deve apresentar e as orientações a serem dadas aos
pacientes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao planejar uma reabilitação com prótese parcial


removível, o cirurgião-dentista deve conhecer os princípios
envolvidos no seu planejamento e execução, essenciais para o
bom desempenho mecânico-funcional, sem causar danos ao
sistema estomatognático. Além disso, orientações fornecidas
ao pacientes pós-instalação e um controle periódico são
essenciais para prevenir e identificar possíveis complicações
que possam ocorrer, dentre elas as falhas biológicas e as falhas
mecânicas (Figura 1), as quais estão intimamente relacionadas
e serão discutidas nos tópicos a seguir:
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

Figura 1. Tipos de falhas relacionadas ao uso da


Prótese Parcial Removível.

Fonte: Autoria Própria, 2020.

Falhas biológicas:
Cárie
As lesões de cárie dentária em usuários de próteses
são mais frequentes em virtude de características que
favorecem o acúmulo de biofilme, como as irregularidades e a
rugosidade dos preparos e a própria presença dos retentores
extracoronários, o que pode dificultar a higienização (ALMEIDA
et al., 2020). A instalação do processo carioso nos nichos e na
região cervical do dente suporte (áreas retentivas) pode gerar
desadaptação da estrutura no arco dental, afetando o
comportamento biomecânico da prótese e influenciando na sua
longevidade.
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

Uma revisão sistemática avaliou usuários de PPR e


encontrou um aumento de até 32% de novas lesões cariosas,
indicando que a presença da prótese pode constituir um fator
de risco para a cárie, especialmente na ausência de um
acompanhamento do paciente (MOLDOVAN; RUDOLPH;
LUTHARDT, 2018).
Portanto, para evitar a instalação de cárie e
consequente comprometimento do dente suporte, é necessário
que o cirurgião-dentista institua um programa de manutenção
periódica com instrução de higiene oral e motivação do
paciente, objetivando um efetivo controle químico/mecânico do
biofilme. Especialmente deve ser recomendada a remoção da
prótese para limpeza com escovas específicas: unitufo para os
nichos e uma escova adequada para a porção interna da
prótese (CARREIRO et al., 2016). Métodos tradicionais de
desinfecção utilizados para prótese total não podem ser
utilizados para as PPRs por risco de corrosão ou manchamento,
sendo sugerida a imersão da prótese em solução com água e
vinagre branco (PIRES et al., 2018).

Doença Periodontal

As alterações nos tecidos de suporte podem ser


provocadas tanto pelo acúmulo de biofilme quanto pelo
planejamento inadequado dos componentes da prótese, onde
a incidência de forças laterais ou oblíquas pode ser prejudicial
e resultar em mobilidade dos dentes suportes ou até mesmo a
perda dentária (ALMEIDA et al., 2020). Alguns estudos relatam
que o impacto causado pela má distribuição das forças
mastigatórias entre dentes e a crista alveolar residual é bem
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

maior do que o causado pelo acúmulo do biofilme para o


desenvolvimento da doença periodontal em dentes suportes de
PPR (ALMEIDA et al., 2020; CARREIRO et al., 2016).
A associação entre higiene bucal, prótese parcial
removível e estado periodontal foi avaliada em 553 pacientes
idosos, revelando que a instrução e os hábitos de higiene oral
apresentaram impacto significativo na manutenção da PPR,
ressaltando o papel dos dentistas na motivação do paciente
quanto aos cuidados com o tratamento reabilitador (CANKAYA;
YURDAKOS; KALABAY, 2020). A orientação quanto aos
cuidados e as consultas regulares de monitoramento da saúde
bucal, bem como o tempo de uso da prótese, influenciaram
diretamente no seu padrão de limpeza e, consequentemente,
na saúde periodontal do paciente (CANKAYA; YURDAKOS;
KALABAY, 2020).
Um estudo longitudinal em 67 pacientes usuários de
PPR com extremidades livres bilaterais inferiores avaliou os
seguintes parâmetros: índice de placa, sangramento à
sondagem, profundidade de sondagem, recessão gengival,
perda de inserção clínica e mucosa queratinizada. A terapia
periodontal não cirúrgica reduziu o índice de placa embora os
demais parâmetros tenham piorado durante o período de quatro
anos (ALMEIDA et al., 2020). Carreiro et al. (2016) também
avaliaram parâmetros semelhantes em 22 pacientes durante 7
anos após a instalação da PPR e verificaram que as próteses
induziram danos periodontais aos dentes pilares diretos.
Embora esses estudos não apontem a PPR como causa direta
dos danos periodontais, a falta de acompanhamento e o
negligenciamento das consultas periódicas podem causar
prejuízos à saúde bucal do paciente. Além disso, a manutenção
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

da higienização e o controle do biofilme é essencial para o


sucesso a longo prazo (KAPCZINSKI; CHIARELLI; KAPPES,
2016).
Lesões de mucosa

A maioria das lesões da mucosa oral pode estar


relacionada ao uso de prótese e os principais fatores
associados ao seu desenvolvimento são higiene oral deficiente,
uso prolongado, má qualidade e irregularidades na mesma
(BRANTES et al., 2019). Um estudo transversal com 97
pacientes avaliou a frequência de lesões em próteses dentárias
superiores e as principais foram: estomatite protética,
hiperplasia fibrosa inflamatória e ulceração traumática
(BRANTES et al., 2019). Em pacientes usuários de PPR, estas
também são as lesões mais comumente encontradas,
principalmente naqueles com espaços edêntulos extensos
onde a fibromucosa é utilizada como via de suporte.

● Estomatite protética
A alteração da microbiota oral associada a
irregularidades na base da prótese podem favorecer o acúmulo
de microrganismos patogênicos, dentre eles a Candida
albicans, que induz um processo inflamatório na mucosa oral
denominada estomatite protética (AL-FOUZAN; AL-MEJRAD;
ALBARRAG, 2017; BARBOSA et al., 2018). As características
clínicas são representadas por edema e eritema que acometem
principalmente a mucosa do palato em contato direto com a
prótese. Alterações no fluxo salivar, tabagismo, uso contínuo da
prótese e superfície rugosa são fatores predisponentes desta
condição (BRANTES et al., 2019; HILGERT et al., 2016).
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

A conscientização do paciente quanto à higienização,


seja através de métodos mecânicos ou químicos, é um
importante fator de prevenção. Além disso, o cirurgião-dentista
tem um importante papel na confecção da prótese, devendo
verificar características como polimento e ausência de
irregularidades, boa adaptação e, nas consultas de retorno,
avaliar a presença de poros, trincas, fraturas ou bordas
irregulares que favoreçam a aderência de microrganismos e
dificultem o controle do biofilme por parte do paciente (AL-
FOUZAN; AL-MEJRAD; ALBARRAG, 2017; HILGERT et al.,
2016).
O tratamento convencional da estomatite protética
baseia-se na remoção do fator causal com correção da prótese
ou até a reposição, e uso de antifúngicos tópicos (nistatina) e
desinfetantes para a higiene da prótese, sendo a decisão
baseada na experiência clínica e aspectos relacionados ao
paciente, como adesão, preferência ou efeitos adversos
(HILGERT et al., 2016). Nesse contexto, a fitoterapia tem sido
estudada como uma alternativa de baixo custo e com menos
reações adversas quando comparado às drogas alopáticas,
porém ainda sem evidências robustas (FERREIRA et al., 2015).

● Úlceras traumáticas
As úlceras traumáticas são lesões caracterizadas pela
desintegração dos tecidos mucosos resultado do trauma
mecânico da prótese, decorrentes da ausência de estabilidade,
de reparos inadequados e de fraturas da base acrílica
(BRANTES et al., 2019; FITZPATRICK; COHEN; CLARK,
2019). São também comuns após a instalação de novas
próteses, em virtude de sobre-extensões ou áreas
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

compressivas, ou ainda oclusão não balanceada, que deveriam


ser avaliadas e ajustadas pelo profissional de preferência na
consulta de instalação, uma vez que o traumatismo não deve
ser uma característica inerente ao tratamento protético
(BRANTES et al., 2019; PEIXOTO; PEIXOTO;
ALESSANDRETTI, 2015).
Desta forma, o tratamento consiste na remoção do fator
causal, incluindo ajustes das áreas sobre-extendidas, alívio das
bordas cortantes, polimento da base acrílica, e análise oclusal,
bem como a suspensão temporária da prótese até a completa
cicatrização tecidual.

● Hiperplasia fibrosa inflamatória


A hiperplasia fibrosa inflamatória, também conhecida
como epúlide fissurada ou pólipo fibro-epitelial, é caracterizada
por um aumento tecidual associado a agentes irritantes
crônicos (BARBOSA et al., 2018). As úlceras traumáticas
podem evoluir para a hiperplasia fibrosa quando a remoção do
fator causal não é realizada, podendo ser necessária a remoção
cirúrgica deste tecido. Os principais fatores relacionados ao seu
desenvolvimento são higiene deficiente, próteses mal
adaptadas ou sobre-extendidas e ausência de ajuste oclusal
adequado (BRANTES et al., 2019). A confecção de PPRs
seguindo os princípios biomecânicos de forma rigorosa, com
ênfase para os cuidados na fase de instalação, pode evitar o
desenvolvimento bem como garantir a regressão da lesão caso
seja diagnosticada precocemente. Igualmente, é
responsabilidade do cirurgião-dentista identificar e respeitar os
limites anatômicos, definidos na moldagem funcional, durante
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

toda a execução do caso (BARBOSA et al., 2018; DUTRA et al.,


2019).

● Queilite angular
A queilite angular é caracterizada por inflamação e
presença de fissuras nas comissuras labiais, cujo fator principal
é a diminuição da dimensão vertical associada ao acúmulo de
saliva e proliferação fúngica (FEDERICO; BASEHORE; ZITO,
2020). O uso de prótese dentária demonstrou ser um fator de
risco mais associado à queilite angular do que a própria idade
do paciente, aumentando em 3 vezes a incidência nos
pacientes idosos (FEDERICO; BASEHORE; ZITO, 2020).
A perda dos elementos posteriores resulta numa
situação de colapso posterior de mordida, redução da dimensão
vertical de oclusão (DVO) e redução do terço inferior da face.
Consequentemente, o acúmulo de saliva nas comissuras labiais
associado à presença de microrganismos, principalmente em
pacientes com imunossupressão, pode favorecer o surgimento
da queilite angular. Brantes et al. (2019) verificaram que 49%
dos pacientes usuários de prótese apresentavam DVO
insatisfatória. Dessa forma, o cirurgião-dentista tem um papel
fundamental no restabelecimento da DVO através da
reabilitação protética, recuperando a altura do terço da face
afetado e respeitando a individualidade de cada paciente.

Falhas mecânicas:
Durante a etapa de planejamento da PPR, alguns
princípios devem ser seguidos para obtenção de uma
reabilitação adequada, resultando em manutenção da saúde
oral, menores índices de falhas mecânicas/técnicas e
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

longevidade do tratamento. As principais falhas mecânicas na


reabilitação com PPR estão relacionadas à perda de retenção
e estabilidade, e consequente desadaptação da prótese, a
perda da integridade (fratura da estrutura metálica, por
exemplo) e ao desgaste dentário. Desta forma, torna-se
evidente a importância da manutenção periódica do paciente
pós-reabilitação com o objetivo de prevenir estas complicações
e corrigi-las antes de maiores transtornos.
A retenção e a estabilidade de uma PPR estão
diretamente relacionadas à simplicidade da estrutura metálica e
a integridade desta e da base acrílica, sendo afetadas
negativamente pelas principais complicações que são as
fraturas de conectores, apoios e grampos, além da
desadaptação da base acrílica e dos problemas oclusais.
O princípio da retenção em PPR, a resistência ao
deslocamento da prótese no sentido gengivo-oclusal, pode ser
obtida com o correto posicionamento dos grampos nas áreas
retentivas dos dentes suportes, distribuídos adequadamente no
arco dentário. Desta forma, deformação e fraturas destes
componentes decorrentes de ajustes inadequados durante a
instalação da prótese, excesso de retentividade do grampo ou
presença de bolhas durante a fundição metálica, podem
influenciar negativamente na retenção da peça. Igualmente, o
eixo de inserção definido pode resultar no excesso de tensão
nesse componente, que também é um dos elementos
responsáveis pela estabilidade da prótese (FRIEL; WAIA, 2020;
STEINMASSL et al., 2016). Algumas condições bucais, como a
redução do fluxo salivar, podem interferir no desempenho
biomecânico, já que a quantidade e a qualidade da saliva
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

auxiliam na retenção da prótese e devem ser observadas


detalhadamente pelo profissional (BRANTES et al., 2019).
Umas das possíveis consequências da perda de
retenção da prótese é a perda de estabilidade, que consiste na
resistência às forças horizontais. Alguns fatores como saúde e
a distribuição dos dentes remanescentes na arcada, o tipo de
rebordo residual e a resiliência da fibromucosa influenciam na
estabilidade e devem ser criteriosamente avaliados durante a
etapa de planejamento, bem como a distribuição adequada dos
retentores indiretos no arco (CARREIRO; BATISTA, 2013;
FRIEL; WAIA, 2020). Portanto, a instabilidade da base protética
pode resultar em danos à mucosa oral, representando a inter-
relação entre as falhas mecânicas e biológicas que
frequentemente são observadas.
Esta perda da estabilidade da prótese é capaz de
resultar em desadaptação, podendo gerar compressão da
mucosa, acelerando a reabsorção do osso alveolar e a
incidência de forças laterais que podem ocasionar mobilidade
dos dentes suportes e recessão gengival. Durante as consultas
de avaliação periódica, o cirurgião-dentista deve observar a
existência desta desadaptação, através de espaços existentes
entre a base da prótese e o tecido mucoso, e corrigi-la através
de reembasamento, seja pela técnica direta ou indireta. Nos
casos em que é verificada a fratura de componentes da
estrutura metálica, a substituição da PPR se faz necessária
(FRIEL; WAIA, 2020).
Outras complicações mecânicas podem ser
decorrentes da ausência de suporte da PPR e implicar em
danos biológicos. A localização adequada dos apoios favorece
a dissipação das forças mastigatórias no longo eixo do dente e
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

oferece suporte à peça protética, evitando sua intrusão e danos


aos tecidos periodontais de proteção e suporte, pois esse
princípio representa a resistência ao deslocamento no sentido
ocluso-gengival. Os nichos, confeccionados por desgaste na
fase de preparo de boca, devem ter espessura, contorno e
forma adequados para evitar a fratura do apoio e garantir a
transmissão de forças mastigatórias o mais próximo do longo
eixo do dente (KIM, 2019). A higienização desses preparos
deve ser orientada ao paciente para evitar o acúmulo de
biofilme nessa região, o que pode favorecer o desenvolvimento
de cárie e, consequentemente, interferir no assentamento final
da PPR. Da mesma forma, os nichos confeccionados por
acréscimo são susceptíveis a fraturas ou falhas de adesão
podendo repercutir em complicações semelhantes, gerando
traumatismos aos tecidos de suporte (CARREIRO; BATISTA,
2013).
Um alto índice de falhas biológicas e técnicas foi
verificado no tratamento reabilitador com prótese, como
demonstra o estudo de Brantes et al. (2019), com 40% e 69%
de comprometimento na retenção e estabilidade,
respectivamente. As próteses avaliadas também apresentaram
porosidades, fissuras, bordas irregulares, perdas e fraturas de
dentes artificiais e desgastes em altas proporções. Além dos
fatores relacionados à prótese, também foram avaliadas as
lesões de mucosa, presentes em 78% dos participantes,
apontando a estomatite protética como a principal lesão,
seguida de hiperplasia fibrosa inflamatória e de ulceração
traumática.
O estudo de Steinmassl et al. (2016) avaliou 192
próteses de idosos institucionalizados e verificou retenção
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

deficiente em 56% dos casos, função mastigatória inadequada


em 26,7%, e trauma nos tecidos intraorais, sendo observada a
presença de úlceras traumáticas em 18,1% dos sujeitos. Os
autores enfatizaram a relevância da retenção e da função
mastigatória em reabilitações com prótese parcial removível,
além das consultas regulares como fator de prevenção às
lesões de mucosa oral causadas por próteses mal adaptadas.
A consulta de instalação da PPR é a fase inicial do
processo de adaptação do paciente ao novo aparelho protético.
Desta forma, os cuidados nesta consulta incluem uma avaliação
criteriosa da qualidade da prótese vinda do laboratório antes
mesmo do contato com o paciente. Aspectos como polimento,
lisura de superfície, presença de bolhas e bordas irregulares,
espessura e forma dos grampos podem interferir no acúmulo de
biofilme e surgimento de traumas e lesões de mucosa oral,
devendo ser identificadas e corrigidas pelo cirurgião-dentista
neste momento. Outros fatores também devem ser observados,
como a estética, fonética, grau de retenção e estabilidade,
orientação do eixo de inserção da prótese junto ao paciente,
análise oclusal, e principalmente as instruções de higiene oral
e motivação, enfatizando a importância das consultas de
retorno, as quais servirão também para avaliar a adaptação do
paciente à prótese e analisar a função mastigatória (FUEKI et
al., 2019; KIM, 2019; SUGIO et al., 2019).
O planejamento adequado é um importante fator no
sucesso do tratamento reabilitador e para a saúde bucal do
paciente, entretanto, a ocorrência de falhas não é de
responsabilidade apenas do cirurgião-dentista. O paciente tem
um papel fundamental na manutenção da sua saúde bucal,
sendo responsável direto pelos cuidados diários com a prótese
A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DAS RECHAMADAS
PERIÓDICAS PÓS-REABILITAÇÃO COM PRÓTESE PARCIAL REMOVÍVEL

e com sua higiene oral. O cirurgião-dentista, por sua vez, deve


também motivá-lo e conscientizá-lo acerca da importância das
consultas periódicas de acompanhamento, visando uma maior
previsibilidade do tratamento, e enfatizando que a ausência
destas pode repercutir em complicações biológicas/ mecânicas
e os indesejáveis fracassos (FRIEL; WAIA, 2020).

CONCLUSÕES

As falhas biológicas e mecânicas de um tratamento


reabilitador com PPR podem ser minimizadas através da
instituição de um programa de manutenção periódica com o
intuito de verificar as características da prótese, diagnosticar a
presença de cárie, doença periodontal e lesões em mucosa
precocemente, e tratá-las a fim de evitar a progressão e
consequente perda da prótese, mantendo a saúde bucal do
paciente. A motivação do paciente quanto ao seu papel na
prevenção não deve ser negligenciada, pois os cuidados
durante o uso da prótese são essenciais para o sucesso a longo
prazo.

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.
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

CAPÍTULO 37

ALTERNATIVAS NO MANEJO DA
ESTOMATITE PROTÉTICA EM PACIENTES
IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA
Heloísa Nunes Brandão 1
Dúcia Caldas Cosme da Trindade 2
1 Graduanda do Curso de Odontologia, UFPB; 2 Orientadora/Professora do
Departamento de Odontologia Restauradora da UFPB.
heloisanb27@gmail.com.br

RESUMO: O edentulismo é uma condição prevalente em


pacientes idosos evidenciando-se a importância da reabilitação
oral para o restabelecimento das funções estomatognáticas e
qualidade de vida. Entretanto, o surgimento de lesões
associadas ao uso de próteses, como a estomatite protética
(EP), é bastante comum, resultado de hábitos de higiene oral e
da prótese deficientes, associados a doenças sistêmicas,
xerostomia e imunossupressão. Desta forma, evidencia-se a
importância dos tratamentos alternativos ao uso de antifúngicos
no manejo do idoso com doenças sistêmicas uma vez que a
inflamação oral aumenta o risco dessas complicações. Essa
revisão narrativa tem como objetivo apresentar novas
evidências do impacto da EP em pacientes comprometidos
sistemicamente e discutir as alternativas de tratamento,
evidenciando suas vantagens e limitações. A busca foi
realizada nas bases de dados PubMed e SciELO, tendo como
critérios de inclusão artigos publicados nos últimos cinco anos,
sem restrição de idioma. Além da terapia convencional com
antifúngicos, alternativas como soluções desinfetantes,
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

desinfecção por micro-ondas, terapia fotodinâmica e a


fitoterapia mostraram eficácia no tratamento da EP, tendo esta
última se destacado por apresentar baixo custo e menores
efeitos adversos. Mais relevante do que a definição da terapia
ideal, é o papel do cirurgião-dentista na conscientização e
motivação do paciente quanto à boa higiene oral e da prótese,
fundamental tanto para prevenção quanto para o tratamento da
EP.
Palavras-chave: Estomatite. Candida albicans. Prótese Total.
Idoso.

INTRODUÇÃO

O número de pessoas com idade superior a 60 anos


tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, resultado
de melhorias nas condições de saúde global e consequente
redução da mortalidade e aumento da expectativa de vida desta
população (SEENIVASAN et al., 2019). O envelhecimento
populacional foi evidenciado através dos 900 milhões de
pessoas com 60 anos ou mais no mundo no ano de 2015,
estimando-se que em 2050 este número duplique, enquanto no
Brasil espera-se que este número ultrapasse 32 milhões ainda
neste ano de 2020 (TENANI et al., 2019).
O processo de envelhecimento é acompanhado de
doenças e condições que muitas vezes influenciam
negativamente na qualidade de vida destes indivíduos, às quais
devem ser dada atenção especial. Dentre estas condições, o
edentulismo ainda se destaca como uma doença crônica
presente em grande parcela dos pacientes com idade
avançada, embora este número venha sendo reduzido ao longo
dos anos (TENANI et al., 2019; SEENIVASAN et al., 2019). A
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

perda dos elementos dentários está relacionada ao decréscimo


da qualidade de vida dos idosos, afetando tanto funções
relacionadas ao sistema estomatognático como
comprometendo a saúde psicológica (TENANI et al., 2019), o
que torna o uso de próteses dentárias de grande importância
para assegurar qualidade de vida a esses indivíduos.
Contudo o uso de próteses removíveis, total ou parcial,
pode estar associado à presença de lesões na mucosa oral,
como úlceras traumáticas, hiperplasias e a candidíase oral,
conhecida como estomatite protética, uma doença de natureza
inflamatória caracterizada pela presença de edema e de lesões
eritematosas na mucosa, na região do palato em contato com a
base da prótese (FERREIRA et al., 2015; GHORBANI et al.,
2018). A estomatite protética apresenta etiologia multifatorial,
sendo a Candida albicans, um fungo presente na cavidade oral
saudável, o principal microrganismo responsável pela sua
patogenia, quando da presença de fatores como
imunodeficiência, doenças sistêmicas, diabetes, uso de
medicamentos que reduzem o fluxo salivar, higiene oral
precária, uso ininterrupto ou noturno da prótese ou ainda uso
de prótese deficiente (FERREIRA et al., 2015; ERCALIK-
YALCINKAYA e OZCAN 2015). Pesquisas indicam que a
estomatite possui uma prevalência global de 15-70% nos
usuários de prótese, com incidência maior em mulheres e
idosos (VERHAEGHE; WYATT; MOSTAFA, 2020), sendo o
controle do biofilme aderido à prótese e o uso de antifúngicos,
como a nistatina e fluconazol, os tratamentos mais indicados
para o controle da infecção. Contudo, o uso desses
medicamentos pode levar à uma resistência por parte dos
microrganismos, além de serem responsáveis por alguns
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

efeitos adversos como reações alérgicas, o que pode impactar


negativamente na saúde do indivíduo idoso (FERREIRA et al.,
2015).
Além disso, indivíduos idosos são geralmente usuários
de diversos tipos de medicamentos para controle de doenças
sistêmicas, como diabetes e problemas de imunossupressão e,
com isso, os efeitos adversos das medicações acabam sendo
constantes, sendo já bem documentando na literatura
(FERREIRA et al., 2015). Desta forma, outras terapias como
soluções desinfetantes, terapia fotodinâmica, desinfecção por
micro-ondas, fitoterapia, uso de adesivo sob a prótese e
incorporação de produtos na própria resina acrílica têm sido
propostas para o tratamento da estomatite protética, tanto no
controle do biofilme como na redução da infecção. A fitoterapia,
por exemplo, tem mostrado bons resultados no combate à
várias patologias, apresentando menos efeitos adversos, custo
mais acessível e com um impacto negativo muito baixo,
podendo ser uma alternativa ideal no tratamento dos pacientes
idosos.
Deste modo, o objetivo desse estudo consiste em
realizar uma revisão narrativa da literatura a fim de
contextualizar o impacto da estomatite protética no paciente
idoso imunocomprometido, bem como apresentar os alguns
tipos de tratamentos propostos, especificando seus benefícios
e a comprovação da sua eficácia, através de evidência científica
atualizada.

MATERIAIS E MÉTODO
O presente estudo trata-se de uma revisão narrativa da
literatura, definidos por Rother (2007) como “publicações
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

amplas, apropriadas para descrever e discutir o


desenvolvimento ou o "estado da arte" de um determinado
assunto, sob ponto de vista teórico ou contextual”. Esse tipo de
revisão de literatura permite a atualização sobre um tema
específico em um curto período de tempo, porém de modo
qualitativo com metodologia não reprodutível para obtenção dos
dados (ROTHER, 2007).
Esta revisão de literatura foi realizada através da busca
nas bases de dados PubMed (Medline) e SciELO (The Scientific
Electronic Library Online), utilizando os seguintes Descritores
em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde:
“Estomatite”, “Candida albicans”, “Prótese Total”, “Idosos”.
Foram considerados apenas artigos de caráter não
observacional, publicados nos últimos 5 anos e sem restrição
de idioma, selecionados após leitura do título e resumo
(abstract) para verificação da relação com o tema proposto.
Logo após a seleção dos artigos elegíveis, foi realizada a leitura
na íntegra e separação de acordo com o tema a fim de
compará-los e sintetizar suas evidências na abordagem do
paciente com estomatite protética.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1- Estomatite Protética: etiologia e fatores


predisponentes
A prótese dentária superior, por seu íntimo contato com
a mucosa do palato, pode expor seu usuário a inflamações e
irritações constantes, ocasionando danos mecânicos e não
fisiológicos. A formação de biofilme sobre a superfície da
prótese em contato com a mucosa é facilitada pela presença de
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

microfissuras, porosidades ou fraturas existentes na base


acrílica de uma peça deficiente. Como resultado desta
constante exposição à placa instalam-se as alterações
inflamatórias no tecido, podendo ser foco para uma posterior
reinfecção (BERIAU; SOLER; BOULLÓN, 2017; GACON;
LOSTER; WIECZOREK, 2019).
Dentre elas destaca-se a candidíase oral, uma
condição que tem como principal microrganismo causador a
Candida albicans que, apesar de comensal, pode se tornar
patogênico pela proliferação de suas hifas ou pela maior
susceptibilidade do hospedeiro devido à alta carga de
medicamentos e terapias imunossupressoras, por exemplo. A
candidíase oral em usuários de próteses dentárias é
denominada Estomatite Protética, caracterizada por edema e
eritema sob a mucosa do palato em contato direto com a
prótese (Figura 1). Apresenta etiologia multifatorial estando
aliada a fatores microbiológicos, má higiene, traumas, má
adaptação, fluxo salivar reduzido, tempo de uso e qualidade da
prótese. Além disso, um hábito muito comum nos usuários de
próteses totais, o seu uso ininterrupto, ocasiona uma redução
da oxigenação e do fluxo salivar na região de contato,
impedindo sua limpeza e resultando em um tecido altamente
sensível a danos. Como essa região não permite a ação
mecânica da língua, o ambiente favorece a proliferação do
principal fungo responsável pela patologia, os quais já possuem
sua aderência favorecida à superfície da prótese pela
hidrofobicidade e rugosidade superficial (AOUN e CASSIA,
2016; BERIAU; SOLER; BOULLÓN, 2017; BERGAMO et al.,
2018).
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

Em 1962, Newton descreveu três tipos de estomatite


protética:
Tipo 1: indica o início do processo inflamatório, com
pontos focais de coloração rosa na mucosa saudável próximos
à desembocadura dos ductos salivares, caracterizando uma
hiperemia puntiforme;
Tipo 2: presença de um eritema difuso e generalizado
recobrindo toda a mucosa em contato com a prótese, tornando-
a atrófica, sensível e de fácil sangramento;
Tipo 3: caracterizada como uma hiperplasia papilar
inflamatória que acomete a mucosa da região central do palato
deixando-a com uma aparência nodular e rugosa.
A estomatite protética do tipo 2 é a mais prevalente nos
pacientes desdentados, sendo que a grande maioria
desconhece ter a doença por ela se manifestar de forma
assintomática, enquanto poucos relatam sintomas como
sensação de queimação e alteração do paladar. Dessa forma,
o indivíduo apenas obtém conhecimento da patologia em uma
consulta de rotina (AOUN e CASSIA, 2016; BERGAMO et al.,
2018; GACON; LOSTER; WIECZOREK, 2019), o que torna de
extrema relevância a instituição de um programa de
manutenção periódica para os pacientes usuários de próteses.
Prevenir o desenvolvimento da estomatite protética não
é tarefa difícil e depende igualmente dos esforços do paciente
e do cirurgião-dentista. Este através da motivação e
conscientização do paciente para uma higiene oral adequada e
uso correto da prótese, bem como no acompanhamento para
avaliação criteriosa quanto a correta adaptação da prótese,
garantindo suporte, estabilidade e retenção (BERIAU; SOLER;
BOULLÓN, 2017). O controle de alguns fatores predisponentes
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

e perpetuantes como redução do fluxo salivar e tabagismo,


assim como orientações quanto ao uso contínuo da prótese e
correção na mesma também é conduta associada e faz parte
da prevenção/tratamento (HILGERT et al., 2016). Diversas
alternativas são propostas na literatura para o tratamento da
estomatite protética e serão discutidas mais à frente, após uma
abordagem voltada para o paciente idoso com
comprometimento sistêmico.

Figura 1. Mucosa com pontos avermelhados e


edemaciados em usuário de prótese total indicando estomatite
protética.

Fonte: Arquivo próprio.

2 - Estomatite Protética e Doenças Sistêmicas no


Paciente Idoso
Algumas infecções e inflamações na cavidade oral,
incluindo a estomatite protética, têm sido correlacionadas com
diversas doenças sistêmicas. Complicações como
aterosclerose, acidente vascular cerebral, doença pulmonar
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

obstrutiva crônica (DPOC), doenças cardiovasculares e


diabetes são mais frequentemente mencionadas na literatura
uma vez que os patógenos orais parecem induzir uma resposta
inflamatória sistêmica via mediadores provenientes do fígado e
sistema cardiovascular aumentando seus riscos (GACON e
WIECZOREK, 2020; LE BARS et al., 2015). Igualmente, uma
patologia fúngica simples de ser tratada pode se tornar uma
infecção sistêmica em pacientes que foram submetidos a
antibioticoterapia prolongada e agentes imunossupressores ou
corticosteroides, além daqueles que apresentam o fluxo salivar
reduzido e higiene oral precária com comprometimento do
sistema imunológico (GACON e WIECZOREK, 2020).
Os pacientes diabéticos são mais propícios a
desenvolverem estomatite protética e de uma forma mais
severa quando comparados aos pacientes saudáveis, sendo de
extrema importância que este indivíduo seja diagnosticado e
tratado de sua comorbidade a fim de evitar infecções pela
Candida albicans (LE BARS et al., 2015). Pacientes com
problemas respiratórios, como pneumonia e DPOC, podem ter
suas próteses colonizadas pelos patógenos do trato citado
quando a higiene oral é deficiente, servindo de reserva para
esses microrganismos e modulando a resposta imune do
hospedeiro. Como exemplo, o estudo de Przybylowska et al.
(2016) evidenciou que cepas de bactérias e fungos, dentre elas
a espécie Candida, foram encontradas no biofilme da prótese e
podem ser uma fonte para exacerbação dessas doenças. Além
disso, o uso de glicocorticoides inalatórios e oxigenoterapia
provocam redução do fluxo salivar e afinamento da mucosa
oral, resultando em uma forma mais complicada da estomatite
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

protética nos pacientes com DPOC (PRZYBYLOWSKA et al.,


2016; LE BARS et al., 2015).
Torna-se evidente o papel do cirurgião-dentista na
prevenção da estomatite protética em pacientes idosos com
estas condições sistêmicas. A higiene básica é um fator
determinante na manutenção da qualidade de vida desses
pacientes comprometidos sistematicamente, imunossuprimidos
e com a capacidade motora comprometida, sendo responsável
pela eliminação do biofilme e da placa aderida à prótese e
limitando a adesão e propagação dos microrganismos na
superfície rugosa em contato com a mucosa
(PRZYBYLOWSKA et al., 2016; LE BARS et al., 2015).

3 – Estomatite Protética: Tratamentos


Diversas opções de tratamento para a estomatite
protética têm sido apresentadas na literatura, desde um bom
programa de higiene oral e da prótese até a utilização de
medicamentos antifúngicos, desinfetantes, terapia
fotodinâmica, desinfecção por micro-ondas, fitoterapia e
incorporação de substâncias na base acrílica da prótese. É
unanimidade que a manutenção da limpeza do tecido em
contato com a prótese é o tratamento ideal e mais simples,
podendo ser combinado com outros métodos como, por
exemplo, os convencionais antifúngicos tópicos (HILGERT et
al., 2016).

3.1 – Antifúngicos tópicos e sistêmicos


A nistatina é a primeira escolha para o tratamento da
estomatite protética devido à sua eficácia no combate à
infecção fúngica, diminuindo a contagem de Candida e pela
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

melhora no quadro sintomático do paciente. Independente do


uso tópico ou sistêmico, a nistatina, por ser um antifúngico
poliênico, é responsável por causar a lise da célula ao se ligar
ao ergosterol presente na membrana plasmática dos fungos
(FANG; HUANG; DING, 2020). No entanto, seu uso, assim
como o de outros antifúngicos, tem resultado no
desenvolvimento de cepas resistentes e pode ter efeitos
secundários tóxicos. Além disso, o fármaco, em sua forma
tópica, pode ter seus efeitos comprometidos em razão do fluxo
salivar (BERGAMO et al., 2018; HILGERT et al., 2016; GAD e
FOUDA, 2020).
O fluconazol é um tipo de antifúngico triazólico de
amplo espectro o qual possui efeito forte e baixa toxicidade.
Trata-se de um medicamento com boa absorção e que não
sofre interferência de outros fatores, como por exemplo os
alimentícios. Segundo Fang, Huang e Ding (2020), o fluconazol
apresentou efeitos melhores que outros fármacos, inclusive a
nistatina, no quesito de redução da taxa de cura micológica.

3.2 – Soluções desinfetantes


A superfície interna da prótese total apresenta uma
área de contato ampla com a mucosa do palato, servindo de
proteção para o biofilme nela formado contra a desinfecção, o
que aumenta o risco de reinfecção e reincidência da estomatite
protética. Além do mais, a colonização por Candida albicans é
mais frequente na resina do que na mucosa do palato, ficando
evidente a importância da associação de métodos de
desinfecção da prótese a fim de eliminar esses pontos de
biofilme e controlar o processo inflamatório (DA COSTA et al.,
2020).
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

O método mecânico de remoção do biofilme é


imprescindível para a higienização da prótese, podendo ser
realizada por meio da escovação mecânica ou ultrassônica
(utilizada geralmente com pacientes física ou cognitivamente
comprometidos), contudo, esse método isolado não é capaz de
eliminar todo o biofilme, sendo necessário que esse cuidado
seja aliado a outros protocolos (DUYCK et al., 2016).
Os desinfetantes para imersão da prótese como a
clorexidina, o glutaraldeído e o hipoclorito de sódio, por
exemplo, possuem efeitos fungicidas relatados na literatura,
contudo sua eficácia depende da imersão contínua e correta,
conforme explicado nas instruções de uso (HILGERT et al.,
2016; GAD e FOUDA, 2020), bem como utilizados em baixas
concentrações a fim de garantir, além da eficácia, segurança
(HASHIZUME; HOSCHARUK; MOREIRA, 2015). A clorexidina,
mesmo em concentrações baixas, possui bom efeito
antimicrobiano, porém alguns inconvenientes, descritos a
seguir, desaconselham seu uso diário; o hipoclorito de sódio,
também em baixas concentrações (0,5 e 1%) possui efetividade
similar a clorexidina, mas seu uso contínuo pode alterar as
propriedades da resina acrílica; e o peróxido de hidrogênio de
10 volumes apresentou menor potencial antimicrobiano dentre
os citados. O vinagre também é um desinfetante de baixo custo
e de fácil obtenção o qual possui atividade contra a Candida
albicans, mais efetiva que o peróxido de hidrogênio, porém
inferior ao hipoclorito e a clorexidina (HASHIZUME;
HOSCHARUK; MOREIRA, 2015).
Nesse contexto, o enxaguatório de clorexidina à 0,2% é
capaz de eliminar o fungo em sua forma planctônica e prevenir
sua colonização, tendo sua eficácia equivalente à de um
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

antifúngico convencional. No entanto, apesar de suas


qualidades anti-inflamatórias e antissépticas, o gosto amargo, o
manchamento da língua e dos dentes e a descamação da
mucosa prejudicam o uso adequado por parte dos pacientes.
Como alternativa, foi proposto o enxaguante bucal de
quitosana-curcuminóide sem álcool, com propriedades
antimicrobianas contra a Candida albicans e bactérias
patógenas da orofaringe. A junção desses dois permite a
durabilidade da curcumina na cavidade bucal mesmo com a
ação da saliva, permitindo que ela difunda as suas propriedades
por mais tempo, além de potencializar seus efeitos contra o
fungo. Dessa forma, apesar da desvantagem de uma coloração
amarelada impregnada na gengiva e ferimentos, esse
antisséptico bucal possui melhores efeitos anti-inflamatórios
que a clorexidina e eficácia semelhante quanto à eliminação da
Candida e do biofilme (MUSTAFA et al., 2019).
A fim de contornar o efeito de coloração amarronzada
da clorexidina, Aoun, Cassia e Berberie (2015) realizaram uma
pesquisa sobre o cloreto de cetilpiridínio (0,05%) que possui a
vantagem de tingir menos a prótese em relação à clorexidina.
Dentre outras características importantes desse agente se
destacaram a eliminação da Candida albicans após quatro
noites de imersão da prótese e menor indução à resistência
microbiana, similar à clorexidina.
Outro protocolo recomendado é o uso de tabletes de
limpeza durante o armazenamento da prótese no período da
noite, os quais possuem a comprovação científica de redução
também na contagem de bactérias. Com isso, seguir um
regimento de limpeza da prótese com sabão e armazená-la em
uma solução com tablete à base de peróxido alcalino pode
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

reduzir significantemente a colonização por Candida na


superfície da prótese (DUYCK et al., 2016; VERHAEGHE;
WYATT; MOSTAFA, 2020).
Os agentes desinfetantes agem de forma mais
conservadora que os antifúngicos tradicionais, com boa
atividade fungicida e podendo ser usados em casos de
limitação do método de tratamento convencional, como no caso
de pacientes idosos. No entanto, vale ressalva quanto ao uso
destes produtos contendo álcool, sendo eles proibidos para
grupos como imunossuprimidos, gestantes e indivíduos com
xerostomia (BERGAMO et al., 2018; GAD e FOUDA, 2020).

3.3 – Terapia fotodinâmica


A terapia fotodinâmica antimicrobiana pode ser usada
em casos de estomatite protética recorrente visto que um de
seus benefícios é a não necessidade de alta dose do
medicamento. Esse método funciona através de um
fotossensibilizador que, quando exposto à uma fonte de luz
visível, é absorvida por ele e o oxigênio presente e
transformado em espécies reativas que destroem os
microrganismos por estresse oxidativo (DAVOUDI; EBADIAN;
NOSOUHIAN, 2018; ALVES et al., 2020). Vários tipos de
fotossensibilizadores com diferentes comprimentos de onda
têm sido utilizados em diferentes áreas na odontologia visando
o tratamento de enfermidades, sendo os de primeira geração,
que utilizam grandes concentrações, os que obtém maior
efetividade (ALVES et al., 2020; AFROOZI et al., 2019).
Segundo os achados de Alves et al. (2020) a terapia
fotodinâmica reduziu significativamente o número de
microrganismos tanto no palato como na base da prótese desde
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

o período inicial até o acompanhamento 15 dias após o uso da


terapia, utilizando como fotossensibilizante a fotoditazina
(segunda geração). No entanto, o uso de nistatina não obteve
o mesmo resultado quando comparado à terapia, não tendo
redução no número de microrganismos.
A terapia fotodinâmica tem apresentado maior efeito
antimicrobiano na superfície da prótese do que na mucosa do
palato, o que torna o tipo de tratamento eficaz já que o fungo
tem maior afinidade para colonização na resina acrílica. Apesar
de pesquisas indicarem que a eficácia desta terapia é
semelhante à do uso dos antifúngicos convencionais, ainda não
existe consenso na literatura, evidenciando a necessidade de
mais estudos, principalmente para avaliar a aplicabilidade
clínica (DAVOUDI; EBADIAN; NOSOUHIAN, 2018).
A reincidência da infecção pós-tratamento com a
terapia fotodinâmica já foi relatada, podendo estar associada ao
fato da superfície da prótese atuar como protetor para os fungos
causadores, bem como o fato desses fungos virem de outras
regiões da cavidade oral que não receberam a terapia
fotodinâmica. Isso tudo reforça a necessidade de mais estudos
buscando protocolos capazes de tornar essa terapia uma
alternativa ao tratamento da estomatite protética (ALVES et al.,
2020; AFROOZI et al., 2019).
A combinação de técnicas também pode contribuir para
o sucesso do tratamento. Tendo isso em vista, Afroozi et al.
(2019) realizou um estudo utilizando a terapia fotodinâmica
(fotossensibilizador de indocianina verde) juntamente com o
bochecho de nistatina, o qual demonstrou um grande efeito
antifúngico com uma redução significativa da Candida albicans.
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

A terapia fotodinâmica não apresenta complicações,


como dores, desconfortos ou alterações na mucosa, porém o
uso do fotossensibilizante merece atenção, já que pode
representar perigo à pele por via subcutânea, inalação ou
ingestão, além do custo mais elevado quando comparado à
outros tratamentos (DAVOUDI; EBADIAN; NOSOUHIAN, 2018;
AFROOZI et al., 2019; ALVES et al., 2020).

3.4 – Desinfecção por micro-ondas


A desinfecção por micro-ondas é uma alternativa para
tratamento da estomatite protética, onde as radiações
eletromagnéticas causam a morte celular pela temperatura
gerada, tendo sido comparada com formas de desinfecção
química, como a clorexidina a 0,2%, e demonstrado eficácia
similar ao final do tratamento (DA COSTA et al., 2020). O uso
associando com o miconazol também apresentou desempenho
melhor que o do antifúngico isolado, como também similar em
relação à nistatina tópica. Nesse sentido, Da Costa et al. (2020)
mostraram que esse tratamento promoveu a redução dos sinais
clínicos em 50 a 80% dos pacientes.
Contudo, um dos maiores desafios têm sido lidar com a
recolonização, porém as micro-ondas, além de garantirem
menores chances de reinfecção do palato, apresentaram taxas
de recorrência menores que a clorexidina e similar à nistatina.
Dentre as vantagens da técnica se encontram seu baixo custo,
praticidade e segurança, porém com os riscos de danos às
propriedades da resina acrílica, sendo sugerido por Da Costa et
al. (2020) a prática de um protocolo mais conservador, com a
irradiação de 650W, por 3 minutos, semanalmente, durante
duas semanas. Logo, apesar da necessidade de mais estudos
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

sobre esse método observam-se resultados equivalentes a


outros já estabelecidos, sendo uma boa alternativa no
tratamento da estomatite protética.

3.5 – Fitoterapia
O uso da fitoterapia no tratamento de diversas
patologias tem se mostrado eficaz por apresentar menos
reações adversas quando comparado às terapias alopáticas
(FERREIRA et al., 2015), contribuindo para a resolução de
várias doenças bucais e sendo, inclusive, inserida no sistema
público de saúde brasileiro por meio do SUS.
Esses medicamentos naturais são utilizados de
diversas formas para o tratamento de doenças orais, não sendo
diferente para o controle da Candida albicans em usuários de
prótese. Os produtos naturais, como os óleos essenciais, que
tem características antimicrobianas de amplo espectro, não
promovem resistência das cepas microbianas como os
antifúngicos e são mais acessíveis, porém, seu uso deve ser
feito com cautela uma vez que a utilização indiscriminada pode
gerar efeitos tóxicos no paciente (ALMEIDA et al., 2016; GAD e
FOUDA, 2020).
Um exemplo clássico é o uso da aloe vera, planta
conhecida por suas propriedades antibacterianas, anti-
inflamatórias e antioxidantes, bastante utilizada em diversas
áreas da saúde. Na odontologia, estudos demonstram sua
eficácia no tratamento do líquen plano e da xerostomia, além da
redução dos sintomas clínicos da candidíase oral, reduzindo
dores e sensações de queimação e sem relato de efeitos
adversos (NAIR et al., 2016).
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

O própolis, produto natural resinoso, é dotado de


propriedades antifúngicas, antimicrobianas, anti-inflamatórias e
curativas e foi capaz de promover uma cura clínica das lesões
como mostra o estudo de Pina et al. (2017), apesar de que seu
efeito antifúngico não foi igualmente tão presente. O efeito
positivo foi atribuído ao fato do extrato de própolis ter atuado na
remissão da doença, porém sem a quebra do equilíbrio da
microbiota bucal, já que Candida albicans, por ser um fungo
comensal, não poderia ser totalmente eliminado. Nesse sentido,
a eficácia desse produto natural na redução dos sintomas
clínicos foi equivalente ao miconazol, além de não sofrer com a
resistência por parte do fungo, sendo uma grande vantagem do
fitoterápico sobre o antifúngico convencional. Além disso, o
extrato de própolis pode ser uma ótima alternativa para o
tratamento em idosos, uma vez que fornece segurança em seu
uso e diminui a necessidade do uso de medicamentos
alopáticos tradicionais (PINA et al., 2017).
No estudo de Arruda et al. (2017) a solução contendo
8% de Ricinus communis (mamona) demonstrou eficácia na
remissão dos sinais clínicos da estomatite protética quando
comparada com o hipoclorito de sódio à 0,2%, porém menos
efetiva que o hipoclorito à 0,1%. Além dele, os óleos essenciais
de canela e citronela demonstraram redução na formação do
biofilme, efeitos que se mostraram presentes imediatamente
após seu uso, porém com reaparecimento do biofilme em 48
horas. Com isso, seu uso diário como limpadores de próteses é
indicado devido a sua ação imediata, além da baixa toxicidade
dos óleos e difícil alteração da estrutura da prótese (ALMEIDA
et al., 2016).
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

Para o uso tópico, a Equisetum giganteum L.


(cavalinha) tem sido proposta, com atividade antifúngica contra
a Candida albicans, influenciando na aderência do fungo à
resina acrílica, com ação anti-inflamatória, baixa toxicidade,
podendo ser uma um promessa para o uso tópico na prevenção
e tratamento da estomatite protética (DA SILVA et al., 2017).

3.6 – Adesivo sobre a prótese e incorporação na


resina acrílica
Outros métodos citados na literatura incluem a
cobertura da base da prótese com polímeros a fim de alterar a
superfície do material e diminuir a formação de biofilmes, bem
como a incorporação de agentes antifúngicos na própria resina
acrílica, sem que haja alteração das suas propriedades
mecânicas (GAD e FOUDA, 2020).
Uma alternativa proposta por Namangkalakul et al.
(2020) foi o uso de quitosana adesiva na base da prótese em
contato com a mucosa. A quitosana é um biopolímero
encontrado em conchas de crustáceos com propriedades como
biocompatibilidade, efeito antimicrobiano de amplo espectro e
recuperação de feridas, por exemplo. O gel de quitosana pode
ser usado como um adesivo sobre a prótese, uma vez que ele
mostra atividade antimicrobiana contra a Candida albicans,
impedindo sua adesão na base de resina acrílica. Além disso,
segundo os autores, o gel ainda pode auxiliar na retenção e
estabilidade da prótese. Dessa forma, esse método de
prevenção e tratamento da estomatite protética é uma
excelente alternativa para pacientes com problemas sistêmicos
e que possuem limitação ao uso de fármacos tradicionais com
menos indução de resistência microbiana.
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

Com relação à incorporação de materiais na própria


resina acrílica da base da prótese (polimetilmetacrilato), sugere-
se que o ácido metacrílico carrega a base negativamente e há
repulsão da Candida albicans, impedindo a formação do
biofilme. Além dos monômeros e copolímeros, os óleos
essenciais como o pó de henna, extrato de neem e óleo de
melaleuca têm sido incorporados às resinas, demonstrando
atividade antimicrobiana e eficácia no tratamento da estomatite
protética, apesar de sua volatilidade e rápida liberação no meio
ainda serem problemas a contornar. A quitosana também
apresentou excelentes propriedades quando incorporada ao
polimetilmetacrilato (AN et al., 2020).
Mesmo com todos os estudos comprovando a eficácia
de cada uma das técnicas descritas ainda não há evidências
que demonstrem a superioridade de um tratamento em relação
ao outro, sendo a escolha dependente do conhecimento clínico
e das características do paciente. Desta forma, mais estudos
devem ser conduzidos com o objetivo de encontrarmos
evidências mais robustas para a tomada da decisão no
tratamento dos pacientes com estomatite protética. A
prevenção ainda continua sendo a melhor forma de combate à
estomatite protética, sendo imprescindível um programa de
manutenção periódica e o reforço contínuo do paciente quanto
à importância do uso correto da prótese e dos hábitos de
higiene adequados (HILGERT et al., 2016; GAD e FOUDA,
2020).
ALTERNATIVAS NO MANEJO DA ESTOMATITE PROTÉTICA EM
PACIENTES IDOSOS: UMA REVISÃO NARRATIVA

CONCLUSÕES

Conhecer a etiologia e os fatores predisponentes da


estomatite protética é de extrema importância para o cirurgião-
dentista no atendimento de pacientes idosos, principalmente os
portadores de doenças sistêmicas, em virtude do impacto
negativo desta condição tanto na saúde bucal quanto na saúde
geral destes indivíduos.
Sendo assim, para assegurar a cura e prevenção dessa
patologia, além dos diversos tipos de tratamentos
convencionais e alternativos propostos, é primordial que a
higiene oral seja reforçada e os cuidados com o uso da prótese
redobrados. Neste contexto, evidencia-se o papel do cirurgião-
dentista a fim de garantir a saúde e bem estar desse indivíduo
por meio da conscientização e motivação constantes em
consultas de controle periódico, influenciando diretamente na
melhora de sua qualidade de vida.

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REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

CAPÍTULO 38

REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO:


PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA
Lucas Claudino de OLIVEIRA1
Larianne de Sousa MOISÉS 2
Lara de Sales Wanderley BEZERRA2
Ana Karênina de Freitas Jordão do AMARAL 3
Carmem Silvia Laureano Dalle PIAGGE 4
1 Mestrando do PMPG, UFPB; 2 Graduandasdo curso de Odontologia,
UFPB;
3 Professora do DFONO/ UFPB; 4 Orientadora/Professora do DOR/UFPB.

lucas.claudino@academico.ufpb.br

RESUMO: A odontologia passa por constantes mudanças com


os aprimoramentos das técnicas e materiais odontológicos. As
próteses dentárias são consideradas como substitutos artificiais
dos elementos dentários naturais perdidos devolvendo, além da
função mastigatória, a estética e a fonética para o participante.
Há situações em que podem ocorrer uma substituição total ou
parcial desses elementos dentários. Desta forma, objetivo deste
trabalho é relatar um caso clínico de uma idosa com
comprometimento do sistema estomatognático, com
necessidade de reabilitação oral e miofacial. Após o exame
clínico e radiográfico elaborou-se um diagnóstico e prognóstico,
delineando um plano de tratamento mais adequado ao caso.
Foram realizadas todas as etapas da reabilitação protética oral:
Moldagem; montagem dos modelos no articulador; confecção
das prótese; prova da armação metálica; moldagem funcional;
preparo da boca; prova de dentes e instalação. A maxila
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

apresentava classe I de Kennedy e mandibular classe II de


Kennedy. Foi realizada uma avaliação na Motricidade Orofacial
com o software e-Myo, com a classificação de morfologia,
postura, tonicidade e mobilidade dos orgãos fonoarticulatórios,
seguida de uma avaliação do limiar de deglutição, antes e após
a reabilitação protética. Conclui-se que houve uma alteração na
tonicidade do lábio e língua a partir da classificação do software
e-Myo, uma redução no limiar de deglutição e estabilidade na
oclusão após a reabilitação protética.
Palavras-chave: Avaliação Miofuncional. Prótese Dentária.
Sistema Estomatognático.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que a expectativa de vida ao redor do mundo


tem aumentado. Segundo a Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS) pela primeira vez na história, a maioria das
pessoas podem esperar viver 60 anos ou mais, já em 2050. É
esperado que a população mundial com 60 anos ou mais
chegue a 2 bilhões, em contraste com os 900 milhões em 2015
(VIERO; DOS SANTOS, 2019)
As mudanças no modelo assistencial com aumento da
expectativa de vida também são decorrentes de uma maior
atenção nas políticas públicas de saúde bucal no Brasil, porém,
há prevalências de baixos índices nos usos de serviços
odontológicos entre idosos. Existe uma resiliência dos idosos
em aceitar suas condições de saúde bucal, muitas vezes sendo
precárias, junto a um dado histórico de pouca acessibilidade e
tratamentos mutiladores. (NASCIMENTO, 2019; RAMIRES,
2020).
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Embora a Odontologia tenha evoluído no


aprimoramento das técnicas e dos materiais odontológicos, as
condições socioeconômicas da população brasileira ainda
refletem um número muito alto de indivíduos com perda parcial
ou total dos dentes, o que transparece no pouco ou nenhum
acesso a procedimentos preventivos e restauradores (DE
AGUIAR FILGUEIRA et al., 2020). Desta forma, o acesso da
população de classes sociais mais baixas à um tratamento
odontológico com próteses removíveis (totais ou parciais) tem
um grande impacto na saúde bucal e, consequentemente na
saúde sistêmica do indivíduo. As reabilitações protéticas nos
desdentados totais ou parciais podem contribuir para o resgate
da autoestima, melhora da performance mastigatória e da
condição nutricional, além de reflexos na qualidade de vida
(ESQUISATTO, 2020).
As atividades que são realizadas em estruturas que
compõem o Sistema Estomatognático (SE) são denominadas
como funções estomatognáticas. Ossos, articulações, dentes,
músculos que possuem participação do sistema vascular e
sistema nervoso central e periférico fazem parte do SE. A
mastigação é a função mais importante do mesmo, cujo papel
é fragmentar os diversos alimentos em partículas cada vez
menores preparando-os para a deglutição e digestão. Com os
movimentos mandibulares, a mastigação torna-se
essencialmente automática, mesmo classificada com uma
atividade consciente (DE OLIVEIRA, 2016).
A capacidade mastigatória está relacionada
diretamente a vários parâmetros, como o número de ciclos de
mastigação, duração e frequência, atividade muscular,
amplitude do movimento, fluxo salivar e a capacidade de
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

trituração fornecida por elementos dentários ou protéticos, com


cada alimento fornecendo um estímulo diferente. A forma,
textura e o sabor vão promover mudanças na função
mastigatória para que provoque uma trituração eficiente.
(SILVA, 2020). Dessa forma, lidar com a preservação e a
recuperação da função mastigatória é de suma importância e
mostra-se como um dos principais objetivos de um tratamento
odontológico reabilitador, além de vários aspectos morfológicos
serem levados em consideração no momento da reabilitação
com próteses (KREVE, 2016).
O edentulismo pode causar efeitos anatômicos,
estéticos e biomecânicos. Pode, também, direcionar a um
impacto psicológico negativo nos participantes. Dessa forma,
as reabilitações bucais devem devolver ao indivíduo uma
fonação apropriada, deglutição melhor adaptada, satisfação na
estética e uma mastigação mais eficiente. Porém, mesmo após
a reabilitação por meio de próteses, muitos participantes se
queixam da perda de eficiência mastigatória (FRANCO, 2019).
Portanto, o objetivo deste trabalho é descrever um
relato de caso clínico de um idoso desdentado parcial, com
comprometimento da função mastigatória e motricidade
orofacial.

MATERIAIS E MÉTODOS
Com base na Resolução 510 de 2016, que trata de
Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, esse relato de caso está
inserido no projeto de pesquisa que foi submetido à avaliação
do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da
Saúde da Universidade Federal da Paraíba, conforme parecer
número 2.763.143.
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Participante S.A.M.S. (Figura 1), sexo feminino, 60


anos, procurou a clínica de prótese com queixa de dificuldade
para mastigar durante a alimentação. Após a anamnese, seu
limiar de deglutição (LD) inicial foi avaliado com 3,7g do
amendoim torrado sem casca, sendo observados 53 ciclos de
mastigação. Durante o exame intra-oral, verificou-se perda de
elementos em ambos os arcos dentários, sendo necessária a
reabilitação com prótese parcial removível (PPR) na arcada
superior, pois a participante usava uma PPR inferior
considerada satisfatória. Dessa forma, segundo a classificação
de Kennedy, o arco superior foi considerado classe I e o arco
inferior com a prótese instalada, a oclusão foi considerada como
restabelecida. Em seguida, houve encaminhamento para a
equipe da Fonoaudiologia para que a etapa de Avaliação da
Motricidade Orofacial (AMF) fosse realizada antes de iniciar o
processo de reabilitação protética.

Figura 1. Fotografia frontal e de perfil.

Fonte: Acervo pessoal, 2020.


REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

O tratamento protético iniciou-se com uma moldagem


dos arcos superior e inferior, com um material de moldagem
(alginato) para confecção dos modelos de estudo (Figura 2).
Os modelos foram montados em articulador semi
ajustável (Figura 2) para diagnóstico e planejamento das
etapas. Foi realizado enceramento de diagnóstico (Figura 3)
nos dentes anteriores para restabelecer a anatomia dentária e
posterior restauração com resina composta. Durante essa
etapa de restauração dos dentes anteriores a participante usou
uma prótese parcial removível provisória para restabelecer a
dimensão vertical. O planejamento da prótese removível com
armação metálica, incluindo todas as suas etapas desde o
delineamento até o desenho da armação metálica, foi
executado (Figura 4). Após o preparo de boca II prosseguiu a
execução, uma moldagem para confecção da armação
metálica. Os registros maxilomandibulares, prova de dentes,
instalação da prótese, ajustes oclusais e de base protética, foi
finalizada a etapa protética. Após a instalação da prótese, com
30 dias, uma nova avaliação de LD do participante foi realizada,
analisando modificações nos ciclos mastigatórios e, se houve
melhoras ou pioras na qualidade da função oral.
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Figura 2. Modelos de gesso montados em articulador


semi-ajustável (ASA).

Fonte: Acervo pessoal, 2020


Figura 3. Enceramento de Diagnóstico.

Fonte: Acervo pessoal, 2020.


REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Figura 4. Etapas da reabilitação protética com Prótese


Parcial Removível (PPR) Superior.
Restauração com Registro Maxilo
Moldagem/Mod Resina Composta Mandibular +
elo de dentes Montagem em
anteriores articulador ASA

Montagem do
modelo em Preparo de Boca
Prova de Dentes
Articulador Semi- II
Ajustável (ASA)

Moldagem
Enceramento funcional Instalação da
Diagnóstico (modelo de PPR
trabalho)

Confecção de Prova da
Maxila: Classe I
PPR provisória armação
de Kennedy
superior metálica

Fonte: Acervo pessoal, 2020.

RESULTADO E DISCUSSÃO

O uso das próteses requer um período de adaptações


no qual ocorrem modificações morfológicas e funcionais.
Segundo a literatura, para ocorrer uma adaptação, faz-se
necessário um tempo de três meses, contudo, estudos
ressaltam que pode chegar até seis meses de uso. A adaptação
relaciona as características das próteses, mas também com a
situação miofuncional orofacial do participante, o que acaba
sendo prejudicado pela atuação das forças aplicadas que
desequilibram as próteses e que podem acarretar em uma
prótese instalada, mas sem funcionalidade. Existem outros
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

casos quando o desconforto acontece somente nos primeiros


dias, porém, há situações que os indivíduos deixam de usar a
prótese pelo dor e falta de adaptação. (ALVES, 2018)
As próteses dentárias são consideradas substitutos
artificiais dos elementos dentários naturais perdidos
devolvendo, além da função mastigatória, a estética e a fonética
do participante (PIAGGE et. al, 2016). Frente a uma situação de
edentulismo, há casos em que ocorrem substituição total ou
parcial de acordo com a quantidade de dentes perdidos na
arcada dentária, as quais são indicadas a partir da realização
da anamnese e exame clínico para que se possa chegar ao
diagnóstico e, posteriormente, ao tratamento reabilitador mais
adequado à situação do participante (PIAGGE et. al, 2018).
A prótese total removível (PTR) ainda é o tratamento
mais indicado na reabilitação do participante totalmente
desdentado que, ao ser bem confeccionada, proporciona
melhoras na estética, fonética, mastigação. De acordo com
COSTA et. al (2017), devolve o indivíduo à sociedade, visto que
o participante edêntulo tem sua autoestima afetada frente aos
constituintes sociais e, por isso, torna-se socialmente excluído.
O Sistema Estomatognático (SE) é definido como um
conjunto de estruturas da cavidade oral que, juntos,
desenvolvem atividades comuns sendo funções motoras e
sensoriais (OLIVEIRA et. al., 2016). A mastigação é uma função
do SE do tipo motora, em que os movimentos mandibulares são
essencialmente realizados de forma automática durante o
processo da mastigação, mesmo que considerado um atividade
consciente. Estes envolvem o movimento de corte, o qual
relaciona-se com a abertura da boca com participação da
articulação temporomandibular (ATM), deslocando a mandíbula
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

para frente; e o ato de triturar começando pelo movimento de


abertura da boca em decorrência do deslizamento dos côndilos
para o lado em que ocorre a trituração (OLIVEIRA et. al, 2016).
O ato de mastigar é provocado a partir dos movimentos
mandibulares e pelo movimento de contração dos músculos
mastigatórios (OLIVEIRA et. al, 2016) e está intimamente ligado
à manutenção da homeostasia, tendo a preparação do bolo
alimentar como principal objetivo, para que este possa ser
devidamente deglutido, de forma a oferecer os nutrientes
necessários ao organismo (SILVA, 2020). Já o processo de
maceração se dá em decorrência do amassamento do bolo
alimentar realizado pelo indivíduo edêntulo, preparando o
alimento para a digestão mediante suas condições orais
anatômicas (OLIVEIRA et. al, 2016).
A capacidade mastigatória é dependente de vários
fatores, como o número de ciclos mastigatórios, sua duração e
frequência (SILVA, 2020), altura do rebordo alveolar (FRANCO
et. al., 2019), fluxo salivar e capacidade de trituração fornecida
pelos elementos dentários presentes na cavidade oral, sejam
naturais ou protéticos. Com isso, a consistência e a textura do
alimento provocam adaptações na função mastigatória do
indivíduo para que a trituração possa ocorrer de forma
satisfatória e o bolo alimentar possa ser deglutido corretamente
(SILVA, 2020). Em casos de edentulismo ocorre redução da
capacidade mastigatória, visto que ocorre perda do rebordo
alveolar e a área de contato com os alimentos passa a ser
diminuída e, consequentemente, há uma preferência por
alimentos de consistências mais pastosas e moles, em
pequenas quantidades e que permitam a realização da função
mastigatória de forma mais fácil (SILVA, 2020).
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

A falta da estética satisfatória para o participante


decorrente das perdas dentárias muitas vezes pode levar a uma
descaracterização facial percebida pelo participante, o que
provoca dificuldade de aceitação individual e sinta-se
socialmente diminuído (SILVA, 2020) por não estar de acordo
com o padrão estabelecido e aceito pela sociedade. É
evidenciado pela literatura que a perda dentária provoca
alterações faciais físicas, como a depressão da comissura
labial, redução da oclusão vertical e a perda do tônus muscular,
assim como podem provocar reações psicológicas, como a
perda de autoconfiança e preocupação com a aparência
(SILVA, 2020), fazendo com que o indivíduo mantenha em
segredo a sua condição bucal (KREVE et. al, 2016).
Durante o tratamento de participantes edêntulos por
meio de próteses, diversos fatores são necessários para que
uma prótese seja confeccionada com sucesso. A estabilidade
das próteses é considerada um dos principais fatores, se não o
principal. Na busca por essa estabilidade, aposição em que os
dentes são montados e o esquema oclusal são importantes.
Esta etapa requer atenção do profissional durante a confecção
da prótese por influir diretamente no resultado final da
reabilitação, pois a oclusão pode não ser funcional ao
participante, visto que nas dentições naturais, cada dente tem
sua individualidade, enquanto que nas próteses totais estão
todos unidos a uma estrutura basal, funcionalmente agindo
como um único corpo. Por este motivo, a intercuspidação deve
ser tratada com todo cuidado, pois um simples contato
prematuro ou deslizante pode afetar a estabilidade do aparelho
e refletir em perda na retenção, no conforto e na eficiência
mastigatória (FRANCO et. al., 2019).
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Após os procedimentos clínicos e laboratoriais de


execução das próteses, a participante retornou para o
procedimento de Avaliação em Motricidade Orofacial com o
software e-Myo seguindo o protocolo estabelecido,
comparando a classificação da morfologia (Tabela 1),
classificação da mobilidade (Tabela 2), classificação de função
(Tabela 3), classificação da tonicidade (Tabela 4) antes e após
o tratamento reabilitador, em que todos os dados coletados são
espelhados em gráficos, tanto da avaliação antes da
reabilitação (Figura 4), quanto 30 dias após o tratamento
(Figura 5).

Tabela 1. Avaliação miofuncional de participante quanto à


classificação de morfologia, antes e 30 dias após a reabilitação
protética. João Pessoa, 2020.

Fonte: Software E-Myo.


REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Tabela 2. Avaliação miofuncional de participante quanto à


classificação de mobilidade, antes e 30 dias após a reabilitação
protética. João Pessoa, 2020.

Fonte: Software E-Myo.

Tabela 3. Avaliação miofuncional de participante


quanto à classificação de tonicidade, antes e 30 dias após a
reabilitação protética. João Pessoa, 2020.

Fonte: Software e-Myo


REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Tabela 4. Avaliação miofuncional de participante quanto à


classificação de funções, antes e 30 dias após a reabilitação
protética. João Pessoa, 2020.

Fonte: Software e-Myo.

Figura 5. A avaliação miofuncional da participante antes da


reabilitação protética. João Pessoa, 2020.

Fonte: Software e-Myo.


REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Figura 6. A avaliação miofuncional da participante 30 dias após


a reabilitação protética. João Pessoa, 2020.

Fonte: Software e-Myo


Vários problemas estão associados em participantes
que ficam por um período de tempo sem dentes naturais ou
artificiais, a língua interpõe-se aos rebordos alveolares, para
estabilizar a mandíbula no ato da deglutição e controlar o fluxo
de ar na fala, como aconteceu com esta participante. Após a
instalação das próteses ocorre à adaptação adequada, se o
volume da língua for compatível com o espaço bucal disponível,
pois a mesma tende a retrair-se (DEL-AGUILA et al., 2016;
MAZZOCHINE et al., 2019).
Destarte, através do software e-Myo foi possível
realizar análise imediata da AM da participante. Foram
identificadas as principais alterações do SE sendo constatada
a relação de alteração de morfologia e postura com tônus e
mobilidade, identificando onde havia maior grau de alteração,
assim, favoreceu-se planejamento terapêutico.
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

Figura 7. Limiar de Deglutição antes da reabilitação protética


(LD1) e após trinta dias após a reabilitação protética (LD2) do
paciente.

LD2

LD1

0 50 100 150 200

Fonte: Pesquisa própria, 2020.

No que refere-se ao teste de LD, a figura 1 apresenta o


comparativo dos LDs antes e após a reabilitação protética no
participante, onde podemos observar uma redução de 61,07%
entre os testes. Para o LD1 a paciente apresentou um total de
149 ciclos mastigatórios. Já o LD2 foi de 91 ciclos mastigatórios.
A mastigação é um processo fisiológico realizado pelo
SE, que promove a redução mecânica dos alimentos e
insalivação química com a finalidade de preparar o bolo
alimentar para a deglutição (BONNET et al., 2018). As perdas
dentárias que ocorrem nesse sistema, assim como a introdução
de aparelhos protéticos influenciam no seu equilíbrio, levando a
necessidade de avaliações, que objetivam verificar o sucesso
do tratamento proposto como também, promover estratégias
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

que possam contribuir na melhoria desse desempenho (SILVA


et al., 2018).
A função mastigatória depende da condição e do
número de dentes remanescentes. Esse fato justifica a
diminuição no número do LD com a mastigação do amendoim
no LD1 e LD2. Todos os dados referentes ao LD após a
reabilitação protética foram inferiores aos realizados antes da
reabilitação, como observado em outros estudos (STEGUN et
al, 2017; PINHEIRO et al, 2018).
As interfaces estabelecidas pela Odontologia e
Fonoaudiologia apresentam a necessidade premente do
trabalho de maneira a agregar conhecimentos para abranger
não só seu objeto de estudo, mas sim o indivíduo como um
todo, onde o SE - que é campo comum de atuação entre estes
profissionais – seja utilizado de maneira plena e com
consciência da abrangência de cada especialidade, em virtude
de considerável demanda dos pacientes das clínicas
odontológicas por algum tipo de disfunção neuromotora, na qual
envolve cabeça e pescoço, sendo a relação fundamental entre
a Odontologia e a Fonoaudiologia explicada através de
conceitos anatômicos e funcionais. Logo, reputa-se o real
conhecimento da atuação multiprofissional no SE para
complementação de conhecimentos e tratamento de qualidade
(FIGUEIREDO et al., 2018).

CONCLUSÕES

A prótese parcial removível tem um tipo de reabilitação


com baixo custo e com impacto na saúde bucal e sistêmica do
participante, pois contribui não somente para melhora da fala e
REABILITAÇÃO ORAL NO IDOSO: PARCERIA ENTRE ODONTOLOGIA E
FONOAUDIOLOGIA

da performance mastigatória, como também para o resgate da


autoestima.
Após a segunda AM, a participante apresentou
tonicidade do lábio e língua alterada, a função mastigatória
apresentou-se normal após participação exagerada da
musculatura perioral e movimentos rotatórios de mandíbula,
além da considerável estabilidade na oclusão a partir da
classificação de morfologia e postura.
Constatou-se redução do LD após reabilitação
protética, isso se deve ao fato dos dentes, além de serem
essenciais para uma sustentação e postura, também
proporcionam eficiência mastigatória.

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IMPLANDONTIA
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

CAPÍTULO 39

IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE


RISCO À LONGEVIDADE DOS IMPLANTES
DENTÁRIOS
Bárbara Rachelli Farias TEIXEIRA¹
Palloma Christine Queiroga Gomes da COSTA¹
Diego de Sousa SILVA2
Antonio Veloso Correia NETO1
Tulio Pessoa de ARAUJO3
1Graduandas do curso de Odontologia, UFPB; 2Graduando do curso de
Medicina, UFMA; ³Orientador/Professor do DOR/UFPB.
barbara.rachelli@gmail.com

RESUMO: A implantodontia, visando à reposição de um ou


mais dentes ausentes, tem atuado como medida de reabilitação
estética e funcional para a obtenção de um sorriso agradável e
restabelecimento da saúde integral. No entanto, complicações
presentes na cavidade oral, como as doenças periodontais, têm
levantando questionamentos sobre a repercussão na
longevidade e no sucesso desse tratamento. O presente estudo
tem como objetivo analisar as alterações periodontais e sua
associação como fatores de risco em complicações
relacionadas aos implantes dentários. Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura que busca aprofundar conhecimentos
através de estudos de relevância encontrados nas bases de
dados MEDLINE, LILACS, IBECS, BBO, PubMed e SciELO.
Pacientes com histórico de doença periodontal têm
demonstrado maior risco de desenvolvimento de patologias
peri-implantares, sendo esse um fator danoso ao sucesso da
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

terapia implantar. Contudo, pode-se concluir que a doença


periodontal não inviabiliza o tratamento com implantes dentais
desde que uma terapia de suporte seja instituída a partir do
momento em que se decide optar por essa técnica reabilitadora.
Palavras-chave: Implantes Dentários. Periodontia.
Reabilitação bucal. Saúde Bucal.

INTRODUÇÃO

O uso de implantes dentários, nas últimas décadas,


tornou-se um método seguro e eficaz de tratamento para a
reposição de um ou mais dentes em pacientes com perda
dentária total ou parcial. A devolução da função mastigatória e
as expectativas estéticas frente ao tratamento empregado,
aliada aos altos índices de sucesso e de sobrevivência da
implantação dentária, tem promovido a utilização dessa técnica
visando a melhor solução aos dentes remanescentes, bem
como a preservação dos tecidos de suporte (GUARIZA-FILHO
et al., 2018; GANDRA et al., 2019).
A reabilitação oral promovida por meio da
implantodontia, parte do princípio da utilização de um
dispositivo metálico em titânio que atua repondo dentes
ausentes na cavidade bucal. Para esse processo, também se
faz necessária a confecção de próteses dentárias sobre o
implante, sendo caracterizadas como suportadas – quando a
prótese encontra-se sobre uma estrutura metálica de interação
direta com o implante – ou retidas, quando diretamente fixadas
sobre o implante (OLIVEIRA, 2015).
Quando se fixa um implante na estrutura óssea, espera-
se que ocorra o processo de ósseointegração, no qual se
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

estabelece uma conexão direta, estrutural e funcional entre o


osso vivo e a superfície do implante (HEINEMANN et al., 2015).
Para que essa efetivação seja mais previsível, é
prudente realizar uma avaliação prévia das condições ósseas
do paciente, em razão da necessidade de preservação desse
tecido ósseo frente às cargas mastigatórias que serão aplicadas
sobre a estrutura do implante (AGUIRRE-ZORZANO et al.,
2015).
A abordagem interdisciplinar e o planejamento desse
tratamento em pacientes com múltiplas perdas dentárias
corrobora com o sucesso terapêutico. Pois reduz efeitos
colaterais indesejáveis, torna os custos e o tempo empregado
menor, além de devolver a função mastigatória com
estabilidade a longo prazo. Contudo, requer o conhecimento
aprofundado sobre a interface do tratamento e a associação
entre o implante, o domínio da técnica e a condição bucal do
paciente (ROCCUZZO et al., 2018).
Múltiplas considerações podem ser aplicadas à perda
de elementos dentários implantados. Ausência de higienização
adequada, presença de alterações sistêmicas, falta de
ósseointegração e irregularidade nas avaliações periódicas
junto ao dentista, são alguns dos elementos que contribuem
para essa condição. No entanto, alterações periodontais
persistentes e os agravos sobre os tecidos peri-implantares
podem comprometer a efetividade da terapêutica
(VILLALOBOS et al., 2017).
As alterações nos tecidos peri-implantares, divididas
em mucosite peri-implantar e peri-implantite, abrem um paralelo
semelhante às doenças periodontais da gengivite e da
periodontite. A presença do biofilme oral provido de
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

características microbiológicas comuns e compartilhadas entre


essas condições levanta questionamentos acerca dessa
associação à redução na longevidade da reabilitação por
implantes (SARMAST et al., 2017).
A utilização da terapêutica implantar como medida
artificial para substituir a ausência de elementos dentários
naturais, deve ser empregada considerando fatores intrínsecos
à cavidade oral e a condição periodontal saudável, tendo em
vista a busca por tratamento efetivo e duradouro (VILLA-
LOBOS et al., 2017).
Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo
analisar as alterações periodontais e sua atuação como fatores
de risco em complicações associadas aos implantes dentários.

MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura,


com abordagem metodológica integrativa, fundamentada em
informações científicas e na incorporação de estudos para o
aprofundamento do conhecimento da temática discutida. Esse
método investigativo permite delimitar questões, avaliar críticas
e considerações sobre o assunto, corroborando para resultados
que contribuam com evidências de qualidade e que possam,
ainda, identificar fragilidades e competências a serem
desenvolvidas em futuras investigações (SOUSA et al., 2017).
Para a execução da pesquisa científica, reconhecendo
o rigor metodológico empregado, bem como o fornecimento de
informações amplas sobre o assunto, foram adotadas as
seguintes etapas: 1. Identificação da temática e delimitação da
problemática para construção da questão norteada da pesquisa
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

bibliográfica; 2. Estabelecimento dos critérios de inclusão e


exclusão para seleção da amostra científica; 3. Categorização
dos estudos selecionados; 4. Avaliação crítica das informações
incluídas na revisão integrativa; 5. Análise e interpretação dos
dados obtidos na investigação científica; 6. Síntese do
conhecimento com a apresentação dos resultados da revisão
integrativa.
Assim, para contemplar a primeira etapa da pesquisa,
a questão norteadora selecionada para orientar o
desenvolvimento do estudo foi: “As alterações periodontais
atuam como fatores de risco em complicações associadas aos
implantes dentários?”
Na segunda etapa, foram selecionados estudos durante
os meses de agosto a outubro de 2020, onde foram
estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: artigos
científicos disponíveis integralmente que respondessem ao
objetivo da presente pesquisa; estudos na língua portuguesa,
inglesa e espanhola; recorte temporal dos últimos cinco anos
de publicação (2015 a 2020). Os critérios de exclusão adotados
foram: estudos realizados em organismos não humanos, teses
e dissertações.
As bases de dados selecionadas para a pesquisa
foram: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica
(MedLine), National Library of Medicine (PubMed), Índice
Bibliográfico Español em Ciencias de la Salud (IBECS) e
Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO) utilizando os
descritores indexados nos Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS): “Implantação dentária”, “Implantes dentários”,
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

“Periodontite”, “Doenças periodontais”. Os dados foram


coletados a partir do cruzamento entre os descritores e o
operador booleano AND no processo.
A coleta dos estudos foi realizada por dois
pesquisadores, de forma independente, utilizando o rigor
metodológico a partir da categorização e análise crítica do título
e resumo dos artigos pra reduzir possível viés à busca. Foram
excluídos estudos duplicados e aqueles que não atenderam aos
critérios de inclusão. Os dados obtidos foram analisados e
interpretados para apresentação da revisão integrativa de forma
sintetizada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A busca por artigos científicos resultou na identificação


do total de 798 referências primárias. Posteriormente, o
levantamento restrito por critérios de inclusão tornou 84 estudos
elegíveis. Realizou-se uma triagem para a análise da temática
por meio da leitura do título e do resumo, sendo 37 artigos
selecionados para a leitura na íntegra.
A relevância do estudo e a abordagem do conteúdo
como meio de contribuição para os resultados utilizados na
construção desta revisão integrativa, resultou na amostra final
de 24 artigos obtidos nas bases de dados selecionadas.
Além disso, 12 artigos foram incluídos por meio de
rastreamento de referências, considerando a sua conveniência
para compor as deliberações sobre o assunto abordado (Tabela
1).
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

Tabela 1. Processo de identificação, seleção por critérios de


inclusão e eleição de estudos
BASE DE DADOS
IDENTIFICAÇÃO SciELO, LILACS, MedLine, IBECS,
BBO
(n = 798)

ARTIGOS SELECIONADOS
Objetivo da pesquisa; idiomas
SELEÇÃO português, inglês e espanhol; recorte
temporal 2015-2020
(n = 84)

ARTIGOS ELEGÍVEIS
ELEGIBILIDADE Leitura do título e resumo
(n = 37)

ARTIGOS DEFINIDOS
APRESENTAÇÃO Resultados e dados com relevância
(n = 24)

ARTIGOS INCLUÍDOS
INCLUSÃO Rastreamento de referências
(n = 10)

AMOSTRA FINAL
(n = 34)
Fonte: Própria autoria, 2020.

O desenvolvimento da implantodontia ósseointegrada


representa uma importante opção para a reabilitação de
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

elementos dentários perdidos devido às vantagens funcionais,


estéticas e biológicas em comparação as pontes fixas
convencionais e as próteses removíveis (DERKS et al., 2016;
CHRCANOVIC et al., 2017).
CHRCANOVIC et al. (2017) apontam como vantagens
a higiene menos dificultosa, o suporte mais adequado aos
tecidos moles, os ganhos fonéticos, estéticos e de potência
mastigatória, e a maior retenção e estabilidade protética que
transmite conforto e segurança ao paciente.
O avanço técnico-científico empregado e a validade do
tratamento implantar, confirmada por estudos longitudinais,
permite restabelecer a qualidade da condição bucal dos
indivíduos que passam por esse tipo de reabilitação protética,
mediante resultados favoráveis de sucesso a longo prazo da
osseointegração desses implantes (VALENTE e ANDREANA,
2016).
ROKAYA et al. (2019) apresentam os implantes
dentários como um marco na reabilitação oral considerando a
sua alta taxa de sobrevivência (94,3%), observada em
pacientes ao longo de 13,4 anos. Resultados também
constatados por CHRCANOVIC et al. (2017), durante um
período de 10 anos, com taxa de sobrevivência implantar entre
92,8 e 97,1% em pacientes com periodonto saudável.
Adicionalmente, King et al. (2016) constataram taxas de
sucesso e de sobrevivência de implantes dentários sendo
96,7% a 97,5% para implantes unitários e 92,5% a 93,6% para
próteses parciais implanto-retidas ao longo de 7 anos.
No entanto, atrelado ao advento de sucesso dos
implantes dentários no tratamento reabilitador em odontologia,
alterações patológicas relacionadas aos tecidos peri-
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

implantares surgiram como subproduto desse avanço


(BELIBASAKIS e MANOIL, 2020).
A mucosite peri-implantar e a peri-implantite são as
principais causas de falhas que acometem a longevidade dos
implantes osseointegrados e necessitam de identificação
precoce e tratamento eficaz, em razão desses eventos
biológicos não serem incomuns (DERKS et al., 2016;
FERREIRA et al., 2016; KARLSSON et al., 2018).
Como tal, a discussão sobre o maior risco de ocorrência
dessas patologias peri-implantares em pacientes com histórico
de periodontite tem sido considerada mediante evidências
relacionadas a alterações em aspectos da osseointegração
desses implantes (HEINEMANN et al., 2015).

Condição periodontal prévia


A doença periodontal, condição inflamatória
multifatorial associada à presença de biofilme e à ação de
bactérias específicas, acomete o aparato de inserção dentária,
tendo como formas comuns de manifestação a gengivite e a
periodontite (CATON et al., 2018).
A gengivite, de caráter reversível, não promove a perda
de inserção clínica, enquanto a periodontite – segunda
patologia oral mais prevalente - é caraterizada por perda
irreversível do tecido conjuntivo e do osso alveolar (CAMISA,
2015).
Dada a elevada prevalência da condição inflamatória
periodontal e suas consequências no processo de reabilitação
bucal, estudos têm sugerido a sua correlação como o
desenvolvimento de complicações peri-implantares e a ameaça
a sobrevivência dos implantes, tornando o histórico de doença
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

periodontal um indicador de risco para essa circunstância


(SOUSA et al., 2016).
Segundo achados de Sgolastra et al. (2015), as taxas
de sobrevida dos implantes fixados em 53 pacientes
acompanhados durante 10 anos, foram de 96,5% quando não
havia histórico de periodontite e 90,5 % quando da presença de
histórico relacionado a periodontite. Os autores advertiram para
os riscos dos implantes em pacientes com periodontite, contudo
justificaram sua viabilidade considerando a significativa
proporção de sucesso dos implantes nesses casos.
Theodoris et al. (2017) corroboram com esses achados,
pois apresentam dados que demonstram alta taxa de
sobrevivência implantar, 96.4% e 100%, entre pacientes com
periodontite e aqueles periodontalmente saudáveis.
Achados clínicos e resultados radiográficos, nesses
casos de doença periodontal prévia, são essenciais para
verificar a possibilidade de reabsorções ósseas aumentadas
e/ou desenvolvimento de alterações nos tecidos peri-
implantares, como a mucosite peri-implantar e a peri-implantite
(SOUSA et al., 2016; BERGLUNDH et al., 2018).
Roccuzzo et al. (2017), em um estudo de corte
prospectivo de 10 anos, demostraram que pacientes com
histórico de periodontite apresentam uma taxa maior de perda
de implantes e profundidade a sondagem maior que 6mm,
devido a perda óssea ao redor dessas estruturas.
Theodoridis et al. (2017) avaliaram resultados da
construção de meta-análise na colocação de implantes em
pacientes com periodontite controlada. Através do uso de
parâmetros clínicos e radiográficos, aos 3 anos, a taxa de
sobrevivência dos implantes dentários foi entre 97,98%-100%.
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

Enquanto a perda média de osso marginal ficou entre 0,47 mm


- 1,07 mm.
Resultados da meta-análise construída por Sgolastra et
al. (2015) revelaram um risco significativamente maior de perda
de implantes em pacientes afetados por doença periodontal,
bem como maior perda óssea em redor do implante e um maior
risco de peri-implantite.
Sousa et al. (2016) aponta que o perfil periodontal
prévio dos pacientes atua como fator de influência sobre
resultados de osseointegração na reabilitação
implantossuportada e demonstra a necessidade de abordagens
preventivas sobre esse fator de risco ao desenvolvimento de
patologias peri-implantares e o comprometimento do sucesso
da reabilitação.

Complicações periodontais: mucosite peri-


implantar, peri-implantite
Os implantes dentários consistem em uma porção
endóssea, com superfície rugosa, que promove a
osseointegração; e uma porção transmucosa, de superfície lisa,
que fica exposta ao ambiente bucal (BELISABAKIS e MANOIL,
2020).
Uma vez que o emprego desse tratamento busca
compensar a ausência dos elementos dentais naturais, as
diferenças histológicas e imunofisiológicas dos tecidos ao redor
desses implantes devem ser consideradas devido à
susceptibilidade das estruturas peri-implantares a infecções
orais endógenas (BELIBASAKIS et al., 2015).
Enquanto os dentes naturais estão inseridos no alvéolo
dentário através do ligamento periodontal, os implantes
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

ósseointegrados estão ancorados diretamente sobre o tecido


ósseo (CAMISA et al., 2015).
Com o limitado suprimento sanguíneo decorrente da
ausência do ligamento periodontal e de seu plexo vascular no
arcabouço implantar, a quantidade de células imunes torna-se
restrita ao combate de possíveis infecções bacterianas locais
(BELISABAKIS e MANOIL, 2020).
Em paralelo, as fibras dos tecidos conjuntivos
posicionadas de forma circunferencial ao implante, reduzem a
barreira física contra invasores patógenos, ao passo que as
fibras normalmente contam com organização anátomo-
funcional perpendicular (BELISABAKIS e MANOIL, 2020).
A inserção do implante na cavidade oral oferece uma
superfície de adesão aos colonizadores bacterianos iniciais e
receptores para a coaderência incremental dos colonizadores
tardios, com os quais o biofilme organizado se estabelece ao
longo de 2 semanas (BELIBASAKIS et al., 2015).
Payne et al. (2017) e Belibasakis e Manoil et al. (2020)
evidenciam que a composição da microbiota, entre os primeiros
meses da inserção do implante, apresenta pequenas diferenças
e abriga menos variabilidade taxonômica que elementos
dentais vizinhos. Esse momento gera oportunidade de equilíbrio
simbiótico entre o hospedeiro e a saúde peri-implantar.
Fatores de crescimento que envolvem a predisposição
genética, hábitos deletérios como o tabagismo, doenças
sistêmicas, preexistência de processos cariosos e a higiene oral
precária, favorecem o início da inflamação tecidual e a alteração
da saúde peri-implantar com o aumento da presença regional
de patógenos e a manifestação das condições como a mucosite
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

peri-implantar e a peri-implantite (SHIOTA et al., 2015; HEITZ-


MAYFIELD et al., 2018).
Ferreira et al. (2016), Aleksandrowicz et al. (2020) e
Belisabakis e Manoil (2020) considerando a etiologia do
processo inflamatório, incluem a periodontite e a peri-implantite
como alterações provocadas, predominantemente, pelos
mesmos microrganismos, como os agentes gram-negativos
fusobactérias e espiroquetas, e microrganismos formadores de
pigmentação negra como Aggregatibacter
actinomycetemcomitans, Porphyromonas gingivalis, Prevotella
intermedia, Tannerella forsythia e Treponema denticola (Tabela
2).
Semelhanças presentes entre a doença periodontal e a
patologia peri-implantar são levantas por Lindhe et al. (2015)
caracterizando a origem inflamatória do processo e a
apresentação mediante as formas da mucosite peri-implantar e
a peri-implantite.
A mucosite peri-implantar, assim como a gengivite,
apresenta sinais de inflamação, com aumento do índice
gengival e sangramento a sondagem, porém sem sinais
radiográficos de perda óssea, tornando-a uma alteração
reversível quando do tratamento precoce e da eliminação de
fatores etiológicos (SARMAST et al., 2017).
Por sua vez, a peri-implantite consiste em um processo
inflamatório irreversível com a inflamação da mucosa peri-
implantar, sangramentos e supuração, sondagem
correspondente a valores maiores que 4 mm, acompanhada por
perda óssea marginal, características presentes na periodontite
(LEE et al., 2017).
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

Tabela 2. Espécies bacterianas comuns ao desenvolvimento da


doença periodontal e peri-implantite assinaladas em negrito.

PATOGÊNESE PERIODONTAL

Aggregatibacter
actinomycetemcomitans
Porphyromonas
gingivalis
Tannerela forsythia
Treponema dentícola
Microrganismos patogênicos Prevotella intermédia
periodontais Fusobacterium nucleatum
Prevotella nigrescens
Peptostreptococcus
micros
Campylobacter
rectus/showae
Einkenella corrodens
Eubactéria nodatum

PATOGÊNESE PERI-IMPLANTAR

Aggregatibacter
actinomycetemcomitans
Porphyromonas
Microrganismos patogênicos gingivalis
peri-implantares Tannerela forsythia
Treponema dentícola
Prevotella intermédia
Fusobacterium sp.
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

Staphylococcus aureus
Enteric rods
Candida albicans
Fonte: Própria autoria, 2020.

A alta prevalência dessas alterações peri-implantares


constituem uma das maiores ameaças ao sucesso da
reabilitação (LINDHE et al., 2015).
Kordbacheh et al (2019) apontam em um estudo de
coorte realizado a partir de registros eletrônicos de saúde bucal
durante um período de 3,5 anos, nos Estados Unidos,
compreendendo 2.127 pacientes e 6.129 implantes, que
aproximadamente um terço de todos os pacientes e um quinto
de todos os implantes sofrerão peri-implantite.
Kandasamy et al (2018) realizaram um estudo de coorte
com objetivo de avaliar parâmetros clínicos relacionados com a
mucosite peri-implantar e peri-implantite, incluindo um total de
40 pacientes com idades compreendidas entre os 35 e 65 anos,
em processo de manutenção do implante, com
acompanhamento de 1 ano. O grupo de pacientes sem história
de periodontite, antes da colocação do implante, apresentou
2,0% de peri-implantite, enquanto o grupo de pacientes com
história de periodontite antes da colocação do implante
apresentou 28% de peri-implantite. Assim, conclui-se que
fatores etiológicos contribuintes para a peri-implantite, como a
doença periodontal, devem ser considerados.
Karlsson et al. (2020), a partir de observações durante
o período de 9 anos, entre 596 pacientes, trazem também um
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

expressivo diagnóstico de periodontite e peri-implantite em


27,8% dos casos clínicos implantados.
A revisão dos estudos de acompanhamento médio de,
pelo menos, 3 anos realizada por Lee et al (2017) demonstra
que a prevalência média de mucosite peri-implantar baseada
em implante foi de 29,48%, enquanto a prevalência média de
peri-implantite baseada em implante foi 9,25%, considerando
quanto maior foi o período de acompanhamento e mais
implantes foram colocados em um indivíduo.
Lee et al (2017) reforça, ainda, que a peri-implantite é a
condição clínica mais preocupante que a mucosite peri-
implantar, pois a perda de tecido ósseo que ocorre de maneira
progressiva acarreta a perda do implante funcional.
Assim, o implante dentário embora construído para
trazer semelhança a estrutura dental, difere em aspectos
anatômicos e materiais que influenciam no microbioma
periodontal e na estrutura peri-implantar (Robitaille et al., 2016).

Terapia periodontal e fatores associados

A superfície do implante dentário apresenta


propriedades de modução à resposta imune, o que torna esse
microbioma um espaço específico para o desenvolvimento de
microrganismos, aumentando o dano causado por potenciais
modificadores da resposta do hospedeiro (CANULLO et al.,
2015).
Canullo et al. (2015) consideram o monitoramento
contínuo desse microambiente essencial para a saúde
periodontal, pois o acúmulo de biofilme e diferentes fatores
etiológicos podem desencadear as alterações peri-implantares.
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

Além disso, o diagnóstico precoce das alterações


periodontais permite com que terapêuticas sejam aplicadas
para o controle eficaz da evolução do quadro clínico
(BELISABAKIS E MANOIL, 2020).
O diagnóstico para as infecções peri-implantares
envolve exames clínicos e radiográficos. O sinal clínico de
sangramento durante a sondagem é o principal alerta para a
detecção da inflamação tida como mucosite peri-implantar,
além da supuração. Porém não se observa nenhuma perda
ósseo, além da remodelação inicial esperada (BERGLUNDH et
al. 2018; BELISABAKIS E MANOIL, 2020).
Na peri-implantite, o diagnóstico é feito mediante
a presença de alterações radiográficas ao nível ósseo, as quais
demonstram um defeito ósseo simétrico em formato discoide ao
redor do implante (BERGLUNDH et al., 2018; BELISABAKIS E
MANOIL, 2020).
Lee et al. (2017) destacam que essas patologias
peri-implantares são passíveis de tratamento, caso a
inflamação seja controlada em torno do implante em
funcionamento.
A terapia periodontal e peri-implantar de suporte é um
importante mecanismo de ação entre os tecidos marginais dos
implantes, pois permite a manutenção e controle rigoroso do
biofilme para que a colonização bacteriana não interfira no
índice de sucesso dos implantes instalados (SGOLASTRA et
al., 2015).
Martinez-Benazet et al. (2019) indicam que os
tratamentos de raspagem e alisamento radicular, extração de
dentes perdidos, desbridamento do alvéolo e colocação tardia
dos implantes devem ser instituídos quando na presença ativa
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

da doença periodontal, para prevenir infecções cruzadas que


acometam dentes e implantes.
Estudos de avaliação do índice de sobrevivência dos
implantes osseointegráveis instalados em pacientes com
histórico de periodontite, retratam a importância das terapias de
suporte periodontal individualizado considerando o risco sobre
a evolução das doenças peri-implantares e motivo pelo qual
tratamentos prévios a instalação dos implantes devem ser
instituídos (SGOLASTRA et al. 2015; ZANGRANDO et al.,
2015, SOUSA et al., 2016).
Zangrando et al. (2015) efetuaram uma revisão
sistemática para avaliar o grau de satisfação sobre implantes
dentários inseridos em pacientes diagnosticados com
periodontite que receberam tratamento periodontal antes de
sua colocação. A amostra total de 748 pacientes e 1.403
implantes revelou resultados satisfatórios, com uma alta taxa de
sobrevivência dos implantes (92,1%) entre estudos de coorte,
com acompanhamento de 10 anos, o que evidencia o sucesso
implantar a partir da terapia adequada e manutenção regular do
periodonto.
Stewart et al. (2018) apontam que protocolos de
higienização também devem ser instituídos nos programas de
manutenção da terapia de suporte.
Em 2016, Sousa et al. realçaram que a ausência de
uma terapia periodontal de suporte em pacientes com doença
periodontal atrelada a presença do tabagismo, promove
influencia negativa sobre resultados de tratamento com
implantes, exibindo taxas diminuídas de sucesso e
sobrevivência dessa estrutura.
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

Assim, a terapia periodontal de suporte como


prevenção a recorrência da doença periodontal, apresenta a
necessidade de adequação de seus intervalos de aplicação,
considerando o perfil do paciente, a higiene oral adequada e a
sua saúde em geral (ROCCUZZO et al., 2018).
Pacientes com risco elevado de doença periodontal
necessitam de intervalos menores entre consultas, enquanto
pacientes com menor acometimento da doença podem ter
maiores intervalos de manutenção da terapia periodontal de
suporte para o controle efetivo de infecções ao redor dos
implantes (CANULLO et al., 2015; SALVI et al., 2017).
Contudo, Roccuzzo et al. (2018) aponta que alguns
pacientes podem precisar de retratamento, terapias adjuvantes
ou remoção do implante frente à progressão ou recorrência da
doença, mesmo com a terapia de suporte regular.
Os cuidados básicos da terapia de suporte incluem
medidas de higiene oral e remoção de biofilme, monitoramento
da saúde bucal e a redução dos riscos das infecções peri-
implantares, unindo esforços para motivar o paciente quanto ao
controle do biofilme bacteriano em implantes e dentes
(ROCCUZZO et al., 2018; STEWART et al., 2018).
O sucesso do tratamento pode ser definido tanto diante
da estabilidade do nível de osso peri-implantar, ausência de
hemorragias ou supuração à sondagem, profundidades de
sondagem menores que 5 mm e baixos índices de acúmulo do
biofilme; quanto da ausência de progressão doença (LARSEN
E FIEHN, 2017; ROCCUZO et al., 2018).
Diante dos estudos abordados, a terapia de suporte
deve ser considerada como parte importante do tratamento com
implantes que permite o aumento das chances de sucesso
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

dessa técnica e resguarda a saúde periodontal (ZANGRANDO


et al., 2015).
Pacientes com histórico de periodontite que buscam a
reabilitação por meio de implantes dentários devem ser
instruídos sobre os desafios que envolvem a prevenção ou
redução de respostas inflamatórios prejudiciais sobre os
implantes, a começar por cuidados de higiene bucal reforçados
e visitas regulares ao dentista (VALENTE e ANDREANA, 2016).
Tonetti et al. (2015) considera que o controle do biofilme
é um princípio chave na manutenção dos tecidos peri-
implantares e aborda a motivação da correta higiene oral para
desempenha esse papel na taxa de sobrevivência implantar.
O polimento das estruturas protéticas com taças de
borracha e pasta profilática, constituem medidas de prevenção
primária, enquanto a remoção de placas/depósitos de
microrganismos supra e subgengivais se constitui como uma
medida de prevenção secundária (TONETTI et al., 2015).
Ferreira et al. (2016) indicam que diferentes terapias
clínicas têm sido sugeridas na literatura para o tratamento das
infecções dos tecidos peri-implantares, sendo as principais
envolvendo terapias cirúrgicas, desbridamentos mecânicos,
uso de diferentes antimicrobianos tópicos e/ou sistêmicos e
tipos de lasers.
Assim, apesar das possíveis complicações e desafios
relatados no presente estudo, a reabilitação por implantes
dentários em pacientes com alterações periodontais se constitui
como um tratamento osseointegrado confiável, com altas taxas
de sucesso e diversas vantagens funcionais e estéticas.
IMPLANTE E PERIODONTIA: FATORES DE RISCO À LONGEVIDADE
DOS IMPLANTES DENTÁRIOS

CONCLUSÕES

O conhecimento acerca dos microrganismos


associados ao desenvolvimento da periodontite está bem
definido e a microflora relativa às alterações peri-implantares
apresenta uma heterogeneidade que sugerem uma ligação
etiológica entre as patologias.
Os pacientes acometidos por doença periodontal têm
demonstrado maior risco de desenvolvimento de patologias
peri-implantares e perda óssea a longo prazo, em comparação
a pacientes com saúde periodontal.
Contudo, a condição periodontal prévia não inviabiliza
a realização da terapia implantar desde que seja estabelecida
uma terapia de suporte periodontal e a intervenção para a
saúde periodontal.
É essencial determinar aos diferentes perfis de
condição periodontal frente à instalação de implantes dentários,
medidas preventivas para conter a evolução da doença
periodontal e promover a saúde peri-implantar que se constitui
como um fator essencial para o sucesso da reabilitação por
terapia implantar a longo prazo.

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ODONTOGERIATRIA
CAPÍTULO 40

AVALIAÇÃO DA FORÇA DE MORDIDA


EM PESSOAS COM DOENÇA DE
PARKINSON: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
DA LITERATURA
Pedro Henrique Lopes CAVALCANTI 1
Isaac Newton de Abreu FIGUEIRÊDO 2
Carla Cabral dos Santos Accioly LINS 3
1 Graduando do curso de Odontologia, UFPE; 2 Mestrando em

Gerontologia, UFPE; 3 Orientadora/Professora do PPGERO, UFPE.


p3drohlc@gmail.com

RESUMO: A Doença de Parkinson (DP) é uma desordem


neurológica caracterizada pelo comprometimento motor de todo
o corpo. Sabe-se que ela compromete a força de mordida dos
indivíduos por ela acometidos, por interferir diretamente nos
componentes e funções do sistema estomatognático. Este
estudo teve como objetivo avaliar publicações acerca da
influência da DP sobre a força de mordida e suas demais
implicações no sistema estomatognático. Foram consultados os
descritores para o tema via DeCS e MeSH e realizadas
estratégias de busca para as bases de dados:
MEDLINE/PubMed, SCOPUS, SciELO, Science Direct e BVS.
No total, 51 artigos foram triados e 3 selecionados para esta
revisão, conforme os critérios de inclusão estabelecidos. Os
estudos incluídos foram considerados de boa qualidade
metodológia e vieses reduzidos. Esses apontaram que a força
de mordida de indivíduos com DP é menor, quando comparada
a de indivíduos sem essa doença. Foi utilizado para avaliação
dos artigos o instrumento CASP (Critical Appraisal Skill
Programme) para maior rigor metodológico. Além disso, a
doença acomete a musculatura craniocervical, que contrubui
para a menor força de mordida e comprometimento da função
mastigatória do sistema estomatognático. Os métodos para
avaliação da força de mordida relatados nos estudos foram a
utilização de dinamômetro digital e transdutor de força de
mordida associado a sensores de pressão, ambos postos na
região dos dentes molares.
Palavras-chave: Força de Mordida. Doença de Parkinson.
Mastigação.

INTRODUÇÃO

A doença de Parkinson (DP) é uma condição


neurodegenerativa crônica, caracterizada pela perda gradual e
progressiva dos neurônios dopaminérgicos a nível de
substância negra do mesencéfalo, cuja região é responsável
pelo planejamento motor (RODRIGUES et al., 2018). A sua
prevalência pode atingir 3% dos indivíduos acima de 65 anos
de idade, incidência que aumenta com o avanço da idade e
ocupa o segundo lugar dentre as doenças neurodegenerativas
mais comuns (RODRIGUES et al., 2017).
A sua etiologia não está totalmente definida, sendo, na
maioria das vezes, apontada como idiopática. No entanto,
estudos revelam que fatores ambientais associados a fatores
genéticos, estejam entre as suas principais causas
(ASCHERIO; SCHWARZSCHILD, 2016; KOULI; TORSNEY;
KUAN, 2018).
A sintomatologia da DP é bastante heterogênea, pode-
se verificar sintomas motores e não-motores. A motricidade é
afetada pela rigidez plástica em roda denteada, tremor de
repouso, bradicinesia e instabilidade postural durante os
movimentos e na marcha, destarte os sintomas não-motores
são caracterizados por anormalidades durante o sono,
disfunção autonômica, distúrbios olfatórios e déficits cognitivos
(CABREIRA; MASSANO, 2019).
No tocante aos tratamentos da DP, é importante
ressaltar que esses apenas atenuam os sintomas por meio de
agentes que conseguem restaurar a transmissão
dopaminérgica. Pelo fato de isso não ser possível com a
dopamina, devido aos danos à substância negra que a produz,
geralmente é realizada a administração da Levodopa, que é
uma droga precursora da dopamina e, atualmente, apresenta-
se como a melhor opção terapêutica (RIBEIRO et al., 2019).
Vale salientar que, devido aos sintomas motores, há o
aparecimento de inúmeras manifestações orofaciais, como
deficit de força mastigatória, falta de expressão na face,
tremores em algumas regiões do rosto e movimentos
involuntários que promovem declínio funcional, prejudicando a
função muscular mastigatória e todo o sistema
estomatognático, que é composto pela articulação
temporomandibular (ATM), músculos da mastigação e
estruturas adjacentes (VERRI et al., 2019).
Uma das funções vitais do organismo humano é a
mastigação, caracaterizada pela quebra do alimento em
partículas menores previamente à disgestão. Essa função é
realizada pela combinação de variáveis do sistema
estomatognático, como a presença de dentes, fluxo salivar,
força oclusiva e outros. Todas essas sofrem a influência direta
ou indireta do sistema nervoso central, mediante coordenação
dos movimentos. Devido a isso, entende-se que problemas
mastigatórios podem ocorrer não apenas por adversidades
nessas variáveis do sistema estomatognático, mas também por
desordens neurológicas que possuem o potencial de impactar
as funções motoras orofaciais (RIBEIRO et al., 2016).
Com isso, é perceptível a relação entre força de
mordida e a DP, visto que, no parkinsonismo, há alteração na
musculatura craniocervical principalmente envolvendo o ombro,
cabeça e pescoço, comprometendo a funcionalidade dos
músculos faciais e mastigatórios. Tal desarranjo, pode levar a
mudanças no controle, percepção, coordenação e diminuição
da força mastigatória, devido ao desequilíbrio biomecânico das
forças musculares cervicais anteriores e posteriores
(RODRIGUES et al., 2017).
Diante desse contexto, o presente estudo teve como
objetivo avaliar as produções científicas relacionadas à
mensuração da força de mordida em pessoas com Doença de
Parkinson e esclarecer como a essa condição interage com a
função estomatognática.

MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo revisão


integrativa; que permite a análise dos estudos selecionados
para obtenção de conclusões, buscando uma colaboração para
a prática clínica baseada em evidências. Foram utilizadas seis
etapas metodológicas: a) estabelecimento da questão de
pesquisa; b) busca na literatura; c) avaliação dos dados; d)
categorização dos estudos; e) interpretação dos resultados e
integração dos dados; e f) apresentação da revisão integrativa
(MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
A pergunta norteadora do presente estudo consistiu
em: como os estudos avaliam a força de mordida em pessoas
com doença de Parkinson?
As buscas por artigos científicos foram realizadas em
agosto/2020 e as seguintes bases de dados foram acessadas:
MEDLINE/PubMed (Medical Literature Analysis and Retrieval
System On-line), SCOPUS (Base de Dados Bibliográficos),
SciELO (Science Eletronic Library Online), Science Direct (Base
de Dados Bibliográficos) e BVS (Bibllioteca Virtual em Saúde).
A busca foi direcionada especificamentes aos estudos
referentes a publicações de 2015 à agosto de 2020, sem
restrição linguística. As estratégias de buscas utilizadas para
localização dos artigos em cada base de dados estão descritas
na Tabela 1. Ressalta-se que, quando aplicável, foram
utilizados os descritores de acordo com o MeSH (Medical
Subject Headings) e o DeCS (Descritores em Ciências da
Saúde), “Bite Force” e “Parkinson Disease”, no MeSH, “Força
de Mordida” e “Doença de Parkinson”, no DeCS. Esses
descritores foram permutados, junto aos seus termos
alternativos, com o uso dos operadores booleanos AND ou OR,
de acordo com a adequação à busca.
Para obtenção e seleção dos artigos, utilizou-se os
seguintes critérios de elegibilidade: (1) artigos que abordassem
sobre a força de mordida em pessoas com Parkinson; (2)
artigos publicados entre os anos de 2015 a agosto de 2020; (3)
sem restrição de idioma. Foram excluídos: (1) Estudos
repetidos em bases de dados; (2) Monografias. (3) Publicações
não disponíveis na íntegra ou cujos resultados ainda não foram
publicados.
Tabela 1. Estratégias de buca usadas para nas bases de
dados. Recife, PE, 2020.
Para melhor análise crítica metodológica dos artigos
incluídos foi aplicado o instrumento Critical Appraisal Skill
Programme (CASP) (2018), que consiste em um checklist,
apropriado para cada tipo de estudo, cujo objetivo é analisar
possíveis problemas sistemáticos daqueles selecionados. Para
esta revisão, foram utilizados os checklists para estudos de
caso controle e para estudos de coorte, de acordo com a
natureza dos estudos selecionados. Esses poderiam ser
classificados em nível A (pontuação entre 6 e 10 pontos), sendo
considerado de boa qualidade metodológica e viés reduzido, ou
nível B (até 5 pontos), significando qualidade metodológica
satisfatória, mas com risco de viés considerável.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um montante de 51 estudos foi encontrado a partir da


busca nos bancos de dados, dos quais 6 eram duplicados. Após
leitura dos títulos e resumos, 43 estudos foram excluídos e 8
foram selecionados como elegíveis. Pelos critérios de inclusão
e exclusão, 3 artigos foram selecionados, sendo 2 casos-
controles e 1 coorte, para leitura na íntegra e posterior
realização desta revisão. As etapas desse processo de seleção
estão apresentadas no fluxograma baseado no modelo
PRISMA, conforme na figura 1.
Após a leitura na íntegra dos 3 estudos selecionados
foram aplicados, para cada tipo de estudo, os checklists Critical
Appraisal Skill Programme (CASP). As perguntas podem ser
respondidas com “sim”, “não” ou “não sei”, sendo as três
primeiras definitivas para o prosseguimento com o estudo.
Nessa etapa, pode-se perceber que os artigos selecionados
foram bem avaliados de acordo com os checklists, conforme
apresentado na tabela 2, e, portanto, foi dado prosseguimento
à revisão. Os estudos de caso controle (VERRI et al., 2019;
RIBEIRO et al., 2016) pontuaram 10 e 9, respectivamente,
enquanto que o estudo de coorte (RIBEIRO et al., 2018)
pontuou 8. Ao final, os estudos foram classificados em nível A
(pontuação entre 6 e 10), sendo considerados de boa qualidade
metodológia e vieses reduzidos.
Em relação ao local de produção, não houve diferença
em relação aos países. Todos os estudos selecionados (VERRI
et al., 2019; RIBEIRO et al., 2018; 2016) foram realizados no
Brasil. Apesar de realizados nesse país, todos eles foram
regidos na língua inglesa.
Em se tratando da população investigada nos estudos,
não houve diferença significativa entre as idades dos
participantes, variando entre 50 a 70 anos. O número das
amostras dos estudos de caso-controle variou entre 24 (VERRI
et al., 2019) e 34 (RIBEIRO et al., 2016), enquanto que no
estudo de coorte (RIBEIRO et al., 2018) foi igual a 11. Em todas
as pesquisas, os indivíduos com Doença de Parkinson (DP)
faziam uso do medicamento Levodopa – droga que é convertida
em dopamina por meio de enzimas presentes em vários órgãos
do corpo (FABBRI et al., 2017).
O primeiro estudo (VERRI et al., 2019) avaliou, em 24
participantes (12 com DP e 12 do grupo controle), as variáveis:
força de mordida máxima (FMM), atividade eletromiográfica
(AE) e espessura muscular (EM). A primeira delas foi
mensurada com um dinamômetro digital com capacidade de
980.665N posto na região dos primeiros molares com instrução
prévia sobre o procedimento de mordida, para manter sua
confiabilidade. Para AE, foi utilizado eletromiógrafo com
eletrodos diferenciais ativos de superfície nos músculos
masseter, temporal e esternocleidomastoideo, durante as
condições de repouso, lateralidade máxima, protrusão máxima
e contração voluntária máxima. Durante as condições de
repouso e de contração voluntária máxima, foram realizadas
ultrassonografias dos músculos mencionados e mensuradas
três vezes as dimensões de cada um deles, para avaliação da
EM.
Figura 1. Fluxograma da metodologia com base no modelo
PRISMA. Recife, PE, 2020.
Tabela 2. Análise crítica metodológica por meio do CASP.
Recife, PE, 2020.

Legenda: S: sim; N: não; NS: não sei; B: bom/boa; CCS: case


control study (estudo de caso controle); CS: cohort study (estudo de coorte);
CASP: Critical Appraisal Skills Programme (Programa de Habilidades de
Avaliação Crítica).

O segundo e terceiro estudo (RIBEIRO et al., 2018;


2016) utilizaram metodologia similar. Ribeiro et al. (2018)
avaliaram 11 participantes com DP maiores de 65 anos de
idade, enquanto que, em 2016, avaliaram 34 pacientes (17 com
DP e 17 do grupo controle). As populações de ambos eram
totais ou parcialmente edêntulas e, antes das análises, os
participantes receberam tratamento odontológico geral e
próteses removíveis, de acordo com as necessidades
individuais de cada um deles. Foram analisados os parâmetros:
força de mordida (FM), movimentos de queixo e mandíbula
(MQM) e performance mastigatória (PM). Para FM, foi utilizado
transdutor de força de mordida e sensores de pressão, postos
na região dos dentes molares, pedindo que os participantes
ocluíssem com força máxima os lados direito e esquerdo. Para
MQM, um dispositivo de rastreamento cinesiográfico
mandibular foi usado durante os movimentos de lateralidade,
abertura máxima e protrusão, com o intuito de mensurar o
alcance desses movimentos. Os movimentos do queixo foram
analisados durante 40 ciclos de mastigação com Optocal –
material artificial mastigável para esse tipo de teste – e, com o
auxílio do software BioPack, foram analisados tempo total dos
ciclos, tempo das fases de abertura, fechamento e oclusão e os
ângulos dessas fases. A PM foi avaliada pelo método de
peneiramento: as partículas cominutivas do material mastigado
foram postas em uma máquina de peneiramento para análise
dos seus tamanhos. Para essa etapa, foram utilizadas peneiras
com malhas de 5,6 a 0,5mm e, previamente, o material
mastigado permaneceu em temperatura ambiente por uma
semana até secagem total.
Diferente do terceiro estudo (RIBEIRO et al., 2016), o
segundo (RIBEIRO et al., 2018) avaliou um parâmetro a mais:
capacidade sensório-motora (CSM). Para isso, foram
confeccionadas, em cenouras cruas, formas similares
separadas por pares (círculo e elipse, semicírculo e triângulo,
quadrado e retângulo). Foram apresentadas aos participantes
cada forma em imagens ampliadas e então as formas,
aleatoriamente, foram postas na língua dos participantes. Com
os olhos fechados, os participantes precisavam dizer qual delas
estava na sua lingua. O participante poderia movimentar as
formas dentro da cavidade oral. Após isso, foram atribuídas
pontuações para essa etapa: 2 pontos, para resposta correta; 1
ponto, para resposta parcialmente correta (quando a resposta
era correspondente ao par similar); 0 ponto para resposta
incorreta.
No primeiro estudo (VERRI et al., 2019), os valores de
força de mordia e de espessura muscular dos pacientes com
DP foram significativamente menores, quando comparados aos
do grupo controle. Durante a contração voluntária máxima, os
músculos masseter e esternocleidomastoideo apresentaram
dimensões menores e apenas o músculo temporal (porção
anterior) apresentou dimensões maiores que as do grupo
controle. Paralelo a isso, ainda na contração voluntária máxima,
foi possível notar que a atividade eletromiográfica de todos
esses músculos foi significativamente maior que a dos
participantes do grupo controle. O estudo sugere que essa alta
na AE pode estar relacionada ao recrutamento de fibras
musculares de caráter compensatório à espasticidade, rigidez e
falta de coordenação de movimentos voluntários, causadas
pela condição neurológica anormal dos participantes com DP.
Essa rigidez muscular pode estar diretamente relacionada ao
estresse oxidativo proveniente da disfunção do complexo
mitocondrial I e aos danos à musculatura esquelética, os quais
reduzem o poder de força muscular tornando essa condição um
sintoma característico da doença.
Corroborando com esses resultados, RIBEIRO et al.
(2016) apresentou baixos valores de movimentos de queixo e
mandíbula para participantes do grupo DP: baixa velocidade e
longos períodos das fases de abertura, fechamento e oclusão,
em relação ao grupo controle. Esses resultados foram
reforçados, ainda, pela análise dos tamanhos das partículas
cominutivas, os quais, quando comparados aos do grupo
controle, foram maiores para o grupo com DP. Por fim, com a
análise da força de mordida, que apresentou valores menores
aos participantes com DP, o estudo sugeriu que esses valores
possuíam relação com os resultados dos outros parâmetros
avaliados. Isso porque, a força de mordida também é um
parâmetro para a avaliação da atividade muscular, a qual foi
realizada no primeiro estudo (VERRI et al., 2019) no qual se
constatou menor espessura dos músculos craniocervicais em
pessoas com DP. Assim, devido ao comprometimento da
musculatura estriada esquelética causado pela DP e pela perda
da capacidade física e funcional do organismo dos participantes
idosos, a força de mordida também é prejudicada, o que,
juntamente aos baixos valores de MQM, diminui a capacidade
de triturar alimentos. Logo, são justificados os tamanhos
maiores das partículas cominutivas para o grupo com DP,
quando comparados ao controle.
Outrossim, Ribeiro et al. (2016) perceberam uma maior
frequência do uso de próteses removíveis no grupo com DP,
quando comparado ao grupo controle. Em hipótese desse
estudo, as próteses deveriam auxiliar, de forma positiva, a
função mastigatória, uma vez que substituiriam os dentes
ausentes nas arcadas dentárias dos participantes do grupo DP.
Mesmo assim, como explanado anteriormente, esse estudo
apresentou performance mastigatória comprometida e sugeriu,
como justificativa disso, as manifestações orais dos sintomas
da DP. Esses sintomas estariam relacionados aos tremores nos
lábios, bem como aos movimentos involuntários do queixo e
língua, o que dificulta a deglutição e mastigação. Isso porque,
com o movimento lingual reduzido, a passagem do alimento da
região dos dentes incisivos para as regiões oclusais posteriores
dos dentes molares não é realizada de forma adequada.
Ribeiro et al. (2016), ainda, sugeriram que as mesmas
funções e parâmetros fossem avaliados durante os períodos
ativo (on) e inativo (off) da Levodopa, medicamento utilizado por
todas as amostras de pacientes com DP nos estudos incluídos
nesta revisão. Isso porque o estudo sugere que, de acordo com
estudos anteriores, essa droga pode causar efeitos adversos
quando seu uso é feito por longos períodos, assim como
também sugerem RODRIGUES et al. (2019). Dessa maneira,
estudar as variáveis acometidas pela DP durante a
administração desse medicamento seria clinicamente relevante
(RIBEIRO et al., 2016).
Respondendo à sugestão, Ribeiro et al. (2018), da
mesma forma que o estudo anterior (RIBEIRO et al. 2016), as
mesmas variáveis – MQM, FM e PM – juntamente com a
Capacidade Sensório-motora Oral foram analisadas em dois
momentos diferentes: 30 minutos antes dos participantes
tomarem a Levodopa, no período inativo (off) e, após três dias,
1 hora depois dos participantes tomarem a Levodopa, no
período ativo (on). Durante o período off, os valores para os
movimentos de queixo e mandíbula, bem como os de força de
mordida foram significativamente menores, comparados aos do
período on, sugerindo que a Levodopa aumenta a força de
mordida em indivíduos com DP. Em relação à performance de
mastigação, as partículas cominutivas apresentaram tamanhos
maiores durante o período off, em relação ao on. Desse modo,
igualmente ao estudo anterior, os tamanhos das partículas
cominutivas foram maiores quando a FM foi menor, o que
indica, mais uma vez, o comprometimento da função
mastigatória atrelada à baixa força de mordida.
Ademais, para Ribeiro et al. (2018), as pontuações da
capacidade sensório-motora não apresentaram diferenças
significativas durante os dois períodos. O estudo propõe que a
Levodopa não impacta na capacidade de reconhecer formas
oralmente, porque essa habilidade nocirreceptiva,
aparentemente, não é influenciada pela restauração da
transmissão dopaminérgica nos neurônios motores. Embora,
nos estudos revisados, a Levodopa tenha apresentado caráter
benéfico, o primeiro estudo (VERRI et al., 2019) ressaltou que
essa droga pode manifestar respostas adversas como o início
da hipotensão postural (FABBRI et al., 2017).
Os estudos (VERRI et al., 2019; RIBEIRO et al., 2018;
2016) concluíram que a força de mordida em pacientes com DP
é menor, quando comparada a de pacientes sem essa doença.
Isso, consequentemente, compromete outros componentes e
funções do sistema estomatognático, como a capacidade de
cominuir partículas, alcance dos movimentos de queixo e
mandíbula e atividade eletromiográfica dos músculos nele
envolvidos. A Levodopa atua de maneira beneficente em todas
as variáveis relacionadas ao sistema estomatognático
avaliadas pelos estudos.
Essa revisão teve limitações pela pouca quantidade de
estudos publicados acerca do tema e pelos diferentes métodos
utilizados por eles, os quais apresentam diferenças importantes
que não dão margem para generalização dos seus dados.

CONCLUSÕES

Os estudos avaliados nesta revisão indicaram, para


avaliação da força de mordida em pessoas com Doença de
Parkinson, o uso de dinamômetro digital e transdutor de força
de mordida associado a sensores de pressão, ambos postos na
região dos dentes molares. Além disso, verificaram que a força
de mordida em pessoas com DP foi menor, quando comparada
a pessoas sem essa a doença. Verificou-se também que a força
de mordida, bem como a performance mastigatória dos
indivíduos com DP são melhoradas durante o período ativo da
Levodopa. Por fim, é possível pontuar que são necessárias
mais pesquisas sobre o tema, para estabelecer melhores
abordagens e formas de avalição da força de mordida e suas
possíveis implicações em indivíduos com DP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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and sternocleidomastoid muscles: A case-control study. Journal of oral
rehabilitation, v. 46, n. 10, p. 912-919, 2019.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de


Pernambuco (FACEPE) pelo apoio aos nossos estudos, com o
financiamento do projeto: APQ-0527-4.07/19
Este livro foi publicado em 2021
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Joao Pessoa - PB
58032-100

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