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Giselle Medeiros da Costa One

Adriana Gomes Cezar Carvalho


(Organizadores)

& : os
desafios do mundo contemporâneo

IMEA
João Pessoa - PB
2018
Instituto Medeiros de Educação
Avançada - IMEA
Editor Chefe
Giselle Medeiros da Costa One

Corpo Editorial
Giselle Medeiros da Costa One
Helder Neves de Albuquerque
Julianne Freitas Moreno
Adriana Gomes Cezar Carvalho

Revisão Final
Ednice Fideles Cavalcante Anízio

FICHA CATALOGRÁFICA
Dados de Acordo com AACR2, CDU e CUTTER
One, Giselle Medeiros da Costa.
O59n Nutrição e Saúde: os desafios do mundo contemporâneo, 2./
Organizadores: Giselle Medeiros da Costa One; Adriana Gomes Cezar
Carvalho
1203 fls.
Prefixo editorial: 53005
ISBN: 978-85-53005-02-4 (on-line)
Modelo de acesso: Word Wibe Web
<http://www.cinasama.com.br>

Instituto Medeiros de Educação Avançada – IMEA – João


Pessoa - PB

1. Nutrição clínica 2. Transtornos alimentares 3. Alimentação lactante 4. Terapia


Nutricional I. Giselle Medeiros da Costa One II. Adriana Gomes Cezar
Carvalho III. Nutrição e Saúde: os desafios do mundo contemporâneo, 2

CDU: 612.3

Laureno Marques Sales, Bibliotecário especialista. CRB -15/121

Direitos desta Edição reservados ao Instituto Medeiros de Educação Avançada –


IMEA
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
IMEA
Instituto Medeiros de Educação
Avançada
Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer
meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico,
gráfico, microfilmagem, entre outros. Estas proibições
aplicam-se também às características gráficas e/ou
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Todas as opiniões e textos presentes


neste livro são de inteira responsabilidade
de seus autores, ficando o organizador
isento dos crimes de plágios e
informações enganosas.

IMEA

Instituto Medeiros de Educação Avançada

Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;


João Pessoa - PB
58032-100
Impresso no Brasil
2018
Aos participantes do CINASAMA pela
dedicação que executam suas
atividades e pelo amor que escrevem os
capítulos que compõem esse livro.
“A mente que se abre a uma
nova ideia jamais voltará ao
seu tamanho original (ALBERT
EINSTEIN).”
PREFÁCIO

A citação de Soren Kierkegaard no século XIX diz que


a vida só pode ser comprrendida olhando-se para trás, mas
só pode ser vivida olhando-se para frente. Esta é a proposta
deste que apresenta diversidade sobre uma temática com
abordagens variadas demonstrado ser um livro para
contribuir com o conhecimento do leitor na área da saúde
sob conteúdo dividido nos módulos de saúde, atenção a
saúde, farmácia e saúde mental.
O CINASAMA é um evento que tem como objetivo
proporcionar subsídios para que os participantes tenham
acesso às novas exigências do mercado e da educação. E ao
mesmo tempo, reiterar o intuito Educacional, Biológico,
Nutricional e Ambiental de direcionar todos que formam a
Comunidade acadêmica para uma Saúde Humana e
Educação socioambiental para a Vida.
Os livros “NUTRIÇÃO E SAÚDE: os desafios do
mundo contemporâneo 1, 2 e 3” tem conteúdo
interdisciplinar, contribuindo para o aprendizado e
compreensão de varias temáticas dentro da área em
estudo. Esta obra é uma coletânea de pesquisas de campo
e bibliográfica, fruto dos trabalhos apresentados no
Congresso Nacional de Saúde e Meio Ambiente realizado
entre os dias 17 e 18 de novembro de 2017 na cidade de
João Pessoa-PB.
Os eixos temáticos abordados no Congresso Nacional
de Saúde e Meio Ambiente e nos livros garantem uma
ampla discussão, incentivando, promovendo e apoiando a
pesquisa. Os organizadores objetivaram incentivar,
promover, e apoiar a pesquisa em geral para que os leitores
aproveitem cada capítulo como uma leitura prazerosa e com
a competência, eficiência e profissionalismo da equipe de
autores que muito se dedicaram a escrever trabalhos de
excelente qualidade direcionados a um público vasto.
Esta publicação pode ser destinada aos diversos
leitores que se interessem pelos temas debatidos.
Espera-se que este trabalho desperte novas ações,
estimule novas percepções e desenvolva novos humanos
cidadãos.
Aproveitem a oportunidade e boa leitura.
SUMÁRIO
NUTRIÇÃO CLÍNICA __________________________________________ 18

CAPÍTULO 1 ________________________________________________ 19
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR__________________________________________ 19
CAPÍTULO 2 ________________________________________________ 39
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVÍDICO-PUERPERAL ______________________________________ 39
CAPÍTULO 3 ________________________________________________ 58
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR _____________________________ 58
CAPÍTULO 4 ________________________________________________ 80
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE
CASO _____________________________________________________ 80
CAPÍTULO 5 _______________________________________________ 100
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA ____________________________ 100
CAPÍTULO 6 _______________________________________________ 120
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO _______________________ 120
CAPÍTULO 7 _______________________________________________ 139
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO__________________________ 139
CAPÍTULO 8 _______________________________________________ 162
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS ANTES
E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA _______ 162
CAPÍTULO 9 _______________________________________________ 184
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA_________ 184
CAPÍTULO 10 ______________________________________________ 203
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2 ___________________________________ 203
CAPÍTULO 11 ______________________________________________ 220
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO _______________________________________________ 220
CAPÍTULO 12 ______________________________________________ 253
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS ______________________________________ 253
CAPÍTULO 13 ______________________________________________ 273
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO? ____________________________________ 273
CAPÍTULO 14 ______________________________________________ 294
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ________________________________ 294
CAPÍTULO 15 ______________________________________________ 311
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA __________________ 311
CAPÍTULO 16 ______________________________________________ 328
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA _________________________ 328
CAPÍTULO 17 ______________________________________________ 347
CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM ESCLEROSE
SISTÊMICA: RELATO DE CASO _________________________________ 347
CAPÍTULO 18 ______________________________________________ 366
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO
EM TRANSPLANTADO RENAL TARDIO __________________________ 366
CAPÍTULO 19 ______________________________________________ 387
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO ________ 387
CAPÍTULO 20 ______________________________________________ 407
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB __________________________ 407
CAPITULO 21 ______________________________________________ 427
FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ________________________________ 427
CAPÍTULO 22 ______________________________________________ 453
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS.
_________________________________________________________ 453
CAPÍTULO 23 ______________________________________________ 473
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS _____________ 473
CAPÍTULO 24 ______________________________________________ 491
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL _______________________________ 491
CAPÍTULO 25 ______________________________________________ 514
DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL_____________________________________ 514

NUTRIÇÃO CLÍNICA: TERAPIA NUTRICIONAL _____________________ 532

CAPÍTULO 26 ______________________________________________ 533


O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE DEMÊNCIA. ___________ 533
CAPÍTULO 27 ______________________________________________ 549
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA ________ 549
CAPÍTULO 28 ______________________________________________ 569
ALCANCE DAS NECESSIDADES CALÓRICAS E PROTEICAS EM PACIENTES
COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL _________________________ 569
CAPÍTULO 29 ______________________________________________ 587
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO ______________ 587
CAPÍTULO 30 ______________________________________________ 605
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS __________________________________________ 605
CAPÍTULO 31 ______________________________________________ 623
ADEQUAÇÃO DA INGESTÃO PROTEICA E CALÓRICA DE PACIENTES
CRÍTICOS UTILIZANDO TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL: UMA REVISÃO DE
LITERATURA_______________________________________________ 623
CAPÍTULO 32 ______________________________________________ 640
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA_________ 640
CAPÍTULO 33 ______________________________________________ 660
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER ___________ 660

NUTRIÇÃO CLÍNICA: NUTRIÇÃO EXPERIMENTAL __________________ 676

CAPÍTULO 34 ______________________________________________ 677


A CHIA (SALVIA HISPÂNICA L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE? ______________________________________________ 677
CAPÍTULO 35 ______________________________________________ 695
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS 695
CAPÍTULO 36 ______________________________________________ 716
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR. ____________________________________________ 716
CAPÍTULO 37 ______________________________________________ 738
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR __________________________________________________ 738
CAPÍTULO 38 ______________________________________________ 758
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
_________________________________________________________ 758
CAPÍTULO 39 ______________________________________________ 777
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO TRATAMENTO
NUTRICIONAL _____________________________________________ 777
CAPÍTULO 40 ______________________________________________ 794
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL __________ 794
CAPÍTULO 41 ______________________________________________ 809
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO _________________________________________________ 809
CAPITULO 42 ______________________________________________ 827
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO ________________________ 827

NUTRIÇÃO CLÍNICA: TRANSTORNOS ALIMENTARES _______________ 856

CAPITULO 43 ______________________________________________ 857


A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR_____________________ 857
CAPÍTULO 44 ______________________________________________ 876
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE876
CAPÍTULO 45 ______________________________________________ 897
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO ________________________________ 897

NUTRIÇÃO CLÍNICA: ALIMENTAÇÃO LACTANTE __________________ 919

CAPÍTULO 46 ______________________________________________ 920


PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA
PÓS- MODERNIDADE _______________________________________ 920

NUTRIÇÃO CLÍNICA: ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL INFANTO-JUVENIL __ 937

CAPÍTULO 47 ______________________________________________ 938


INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA __________________________________________ 938
CAPÍTULO 48 ______________________________________________ 955
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADEEM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE _________ 955
CAPÍTULO 49 ______________________________________________ 975
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO ___ 975
CAPÍTULO 50 ______________________________________________ 990
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES ____________________________________________ 990
CAPÍTULO 51 _____________________________________________ 1007
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR
E ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO __________________ 1007

NUTRIÇÃO CLÍNICA: AVALIAÇÃO NUTRICONAL COLETIVIDADE SADIA 1038

CAPÍTULO 52 _____________________________________________ 1039


PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA ___________ 1039

NUTRIÇÃO CLÍNICA: EDUCAÇÃO NUTRICIONAL _________________ 1055

CAPÍTULO 53 _____________________________________________ 1056


RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA ______ 1056
CAPÍTULO 54 _____________________________________________ 1077
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA ________________________________________ 1077

NUTRIÇÃO CLÍNICA: NUTRIÇÃO E PSCICOLOGIA _________________ 1098

CAPÍTULO 55 _____________________________________________ 1099


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL ___________________ 1099

NUTRIÇÃO CLÍNICA: NUTRIÇÃO E SAÚDE DA MULHER ____________ 1123

CAPÍTULO 56 _____________________________________________ 1124


ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL____________________________________ 1124
CAPÍTULO 57 _____________________________________________ 1144
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA __________________ 1144

NUTRIÇÃO CLÍNICA: NUTRIÇÃO E IMUNOLOGIA _________________ 1164

CAPÍTULO 58 _____________________________________________ 1165


ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA ________________ 1165

NUTRIÇÃO CLÍNICA: NUTRIÇÃO EM CIRURGIA __________________ 1183

CAPÍTULO 59 _____________________________________________ 1184


ASPECTOS NUTRICIONAIS EM CIRURGIA BARIÁTRICA _____________ 1184
NUTRIÇÃO
CLÍNICA

18
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
CAPÍTULO 1

ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE


COM LESÃO EXTENSA EM MEMBRO
INFERIOR
Ávilla Monalisa Silva de OLIVEIRA 1
Kamilla Helen Rodrigues da COSTA 1
Luciana Caroline Paulino do NASCIMENTO²
Miniamy Pereira NÓBREGA 1
Amanda de Azevedo ARAUJO ³
1
Residente do programa de Residência Uniprofissional em Nutrição Clínica do Hospital das
Clínicas UFPE; ²Mestre em Bioquímica e Fisiologia, UFPE; ³ Especialização em Saúde da
Família pela Faculdade de Ciências Médicas/UPE
monalisaavilla@gmail.com

RESUMO: A obesidade é um problema de saúde crescente,


estando associada ao surgimento de várias comorbidades
como doenças cardiovasculares, dermatoses e alterações
circulatórias. A nutrição tem papel importante na cicatrização,
sendo necessário muitas vezes o uso de suplementação
nutricional. O objetivo do trabalho foi descrever a atuação
nutricional na assistência à paciente com diagnóstico de lesão
extensa em membro inferior. Trata-se de um estudo descritivo,
do tipo estudo de caso. Para avaliação antropométrica foi
utilizado peso, altura, IMC e circunferência do braço, e para
avaliação de risco nutricional utilizou-se a ferramenta NRS
(2002). A paciente não apresentou risco nutricional na
admissão, nem cursou com perda de peso durante o
internamento. Optou-se por utilizar a recomendação proposta
pela EPUAP (2014) de 30-35 kcal/kg de peso atual e 1,25-1,5
g de proteína/kg de peso atual. Ofertou-se dieta hipercalórica
e hiperprotéica, associada a suplementação oral especializada
para melhora da cicatrização, de característica hipercalórica e
19
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
hiperproteica, rica em antioxidantes e micronutrientes
totalizando 3090 kcal (105%) e 132,3g de proteína (105% de
adequação). Percebe-se a importância da atuação do
nutricionista nessas situações afim de melhorar o estado
nutricional da paciente bem como a cicatrização da ferida, pois
sabe-se que o aporte proteico e energético são de suma
importância nesses casos sendo necessário um
acompanhamento individualizado.
Palavras-chave: Obesidade. Cicatrização. Estado Nutricional.

1 INTRODUÇÃO

A obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo


acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo (NETO;
CAMPOS, 2009). Sua prevalência cresceu acentuadamente
nas últimas décadas, principalmente nos países em
desenvolvimento e as doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) ocupam as primeiras posições nas estatísticas de
mortalidade mundiais (WHO, 2000).
Dados do VIGITEL 2016 mostram que mais da metade
da população está com peso acima do recomendado
totalizando cerca de 18,9% dos brasileiros obesos. O excesso
de peso passou de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016, e a
obesidade cresceu 60% em 10 anos.
O excesso de peso contribui de forma importante para a
carga de doenças crônicas e de incapacidades. Dessa forma,
o aumento excessivo da quantidade de gordura e do peso
corporal deverá repercutir de maneira negativa tanto na
qualidade quanto na expectativa de vida (FORTMANN et al,
2009).
As consequências para a saúde associadas a estes
fatores vão desde condições debilitantes que afetam a

20
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
qualidade de vida, tais como a osteoartrite, dificuldades
respiratórias, problemas músculo-esqueléticos, problemas de
pele e infertilidade, até condições graves, como doença
coronariana, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer (NETO;
CAMPOS, 2009).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a
obesidade baseando-se no índice de massa corporal (IMC)
definido pelo cálculo do peso corporal, em quilogramas,
dividido pelo quadrado da altura, em metros quadrados (IMC =
kg/m²), e também pelo risco de mortalidade associada. A
obesidade é caracterizada quando o IMC encontra-se acima
de 30 kg/m². A OMS define a gravidade da obesidade em:
grau I (moderado excesso de peso) quando o IMC situa-se
entre 30 e 34,9 kg/m2 ); obesidade grau II (obesidade leve ou
moderada) com IMC entre 35 e 39,9 kg/m2 e, por fim,
obesidade grau III (obesidade mórbida) na qual IMC
ultrapassa 40 kg/m (OMS, 1998; FANDINO; SEGAL, 2002).
A distribuição da gordura corporal considera a sua
localização. Há a obesidade central (androide), em que o
tecido adiposo localiza-se principalmente na parte superior do
corpo, estando relacionada a altos riscos para doenças
cardiometabólicas, e a periférica (ginecoide),
predominantemente na parte inferior do corpo, quadril, nádega
e coxa, associado a maiores riscos de artrose e varizes de
membros inferiores (SANTOS; NUNES; TAVARES, 2010).
A obesidade está também associada ao surgimento de
inúmeras comorbidades que prejudicam a qualidade de vida e
agravam o prognóstico dos pacientes. Dentre elas, destacam-
se diabetes tipo 2, câncer e doenças cardiovasculares (ANIS,
2009).

21
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
Também nota-se a relação da obesidade com a alta
prevalência e intensidade das dermatoses, relacionadas ao
grande volume de dobras e pregas cutâneas, alterações
circulatórias, metabólicas e dificuldade do manejo higiênico de
regiões mais acometidas pela própria limitação física (BOZA,
2010).
A cicatrização ocorre de forma semelhante na maioria
dos dos tecidos corporais, com exceção dos tecidos ópticos,
hepático e ósseo. Dessa forma, as fases da cicatrização são
divididas didaticamente em seis fases (SUZUKI, 2013):
 Coagulação: Ocorre liberação de substâncias
vasoconstrictoras, de eicosanoides e ativação da cascata
de coagulação;
 Inflamação neurogênica: Ocorre a vasodilatação
e aumento da permeabilidade capilar com objetivo de
facilitar a migração de neutrófilos até a lesão;
 Inflamação tecidual: Aumento da adesão de
moléculas no endotélio;
 Fase proliferativa: Ocorre ativação dos
macrófagos, responsáveis pelo desbridamento da lesão,
promovendo o início da angiogênese, fibroplasia e síntese
de óxido nítrico;
 Contração: O processo de contração da ferida
alcança a sua eficiência máxima, devido a mudança
fenotípica dos fibroblastos para miofibroblastos;
 Remodelação: Reorganização das novas fibras
de colágeno de forma paralela a superfície da ferida.
A nutrição quando prejudicada interfere diretamente
nessas fases podendo prolongar a fase inflamatória, diminuir a
formação e a proliferação de fibroblastos, angiogênese e
síntese de colágeno e proteoglicanos, limitando os leucócitos
22
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
acelerando a piora do quadro (AZEVEDO; ESCUDEIRO,
2009). Constantemente o comprometimento do estado
nutricional do paciente não é identificado visualmente, onde
até mesmo o obeso pode ter carências nutricionais
importantes (SILVA et al., 2007). A melhoria do estado
nutricional permite que o organismo cicatrize as feridas e
poderá até mesmo acelerar o processo de cicatrização
(MONTENEGRO, 2012). O quadro 1 mostra os nutrientes
envolvidos durante o processo de cicatrização.

Quadro 1 – Nutrientes envolvidos durante a cicatrização.


Fases da cicatrização Citocinas e/ou fatores de crescimento
envolvidos
Inflamação Ácidos graxos essenciais, zinco, cobre,
neurogênica magnésio, selênio.
Inflamação tecidual Arginina, taurina, cisteína, glutamina,
zinco, cobre, ferro, boro, manganês,
vitamina C e vitamina A.
Proliferativa Arginina, taurina, glutamina, carboidratos,
zinco, cobre, ferro, magnésio, manganês,
selênio, vitamina C, vitaminas do
complexo B
Remodelação Vitamina A
Fonte: SUZUKI, 2013.

As recomendações de determinados nutrientes como


proteínas, aminoácidos (glutamina e arginina), antioxidantes
(vitamina C, vitamina B, zinco, cobre) e outros, em portadores
de lesões, foram estabelecidos a partir do conhecimento da
fisiologia e metabolismo dos nutrientes, e os efeitos esperados
sobre o processo de cicatrização (VERDU e PERDOMO,
2011; CAMPOS et.al, 2009).
23
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
A ingestão proteica adequada promove um balanço
nitrogenado positivo, viabilizando a síntese proteica e
recuperação do indivíduo. A European Pressure Ulcer Panel
recomenda de 1,0 a 1,5g/kg/dia, a Agency for Health Care
Policy and Research ou Agency for Healthcare and Quality
recomenda a ingestão de 1,25 a 1,5 g/kg/dia, mesma faixa
etária recomendada pela European Pressure Ulcer Advisory
Panel (EPUAP, 2014).
O mecanismo de ação da arginina durante a
cicatrização ainda não está claro, mas relaciona-se com o
aumento na concentração plasmática de fator de crescimento
similar à insulina (IGF) com estimulação da resposta de
células T e com aumento da síntese de óxido nítrico (SUZUKI,
2013).
A vitamina C, também muito importante durante a
cicatrização, é um cofator essencial na síntese de colágeno,
proteoglicanos e outros componentes da matriz celular
(SUZUKI, 2013).
Devido a esse quadro vale ressaltar a precariedade de
estudos nessa linha de pesquisa e a necessidade de
conhecimento e prestação de cuidados aos doentes com
úlceras de perna no sentido de reduzir o tempo de
cicatrização, prevenir a reincidência e promover a
racionalização de recursos da saúde e melhoria da qualidade
de vida.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de caráter descritivo com


abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Segundo
Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012), o estudo de

24
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
caso representa um método de pesquisa através do qual se
torna possível uma descrição e análise intensiva de um
indivíduo único, funcionando como uma fonte potencialmente
rica de informações.
O estudo foi desenvolvido na enfermaria de Cirurgia
Plástica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, durante o mês de junho de 2017. Os dados
foram coletados a partir de registros de evoluções e exames
anexados em prontuário, observações da equipe ao longo do
período da hospitalização da paciente, e informações
provenientes dos atendimentos realizados. Com vista a
ampliar as discussões, utilizaram-se ainda levantamentos de
dados teóricos, através de revisão da literatura de livros e
artigos científicos.
As medidas de peso e altura foram realizadas segundo
técnica original recomendada por Lohman e cols (1988). A
massa corporal foi obtida em balança eletrônica digital, da
marca Líder-LD1050®, com capacidade máxima de 200 Kg e
precisão de 100g. A altura foi aferida através de estadiômetro
acoplado à balança. Para avaliação do estado nutricional foi
utilizado a classificação da OMS (1998), conforme o Quadro 2.

Quadro 2 – Classificação do estado nutricional de adultos


segundo o Índice de Massa Corporal.
CLASSIFICAÇÃO IMC (kg/m²)
Obesidade grau III >40
Obesidade grau II 35-40
Obesidade grau I 30-34,9
Sobrepeso 25-29,9

25
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
Eutrofia 18,5-24,9
Desnutrição grau I 17-18,4
Desnutrição grau II 16-16,9
Desnutrição grau III <16
Fonte: WHO, 1997.

A circunferência do braço (CB) foi obtida no ponto


médio entre o acrômio e o olecrano utilizando fita métrica
flexível e inelástica sem comprimir os tecidos, com o paciente
em pé. Sua adequação foi obtida através da fórmula: %CB =
CB atual ÷ CB P50. Utilizou-se como percentil 50 o ponto de
corte específico para idade e gênero, recomendado por
Frisancho (1990).
A adequação foi classificada de acordo com o
recomendado por Blackburn (1979), como mostra o quadro a
seguir:

Quadro 2 – Adequação da circunferência do braço proposta


por Blackburn (1979).
Desnutrição Desnutrição Desnutrição Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Grave Moderada Leve
<70% 70-80% 80-90% 90- 110- >120%
110% 120%
Fonte: Blackburn (1979).

Para triagem nutricional foi realizada a NRS 2002 e o


cálculo da dieta ofertada foi calculado pelo DietBox ®, de
acordo com os alimentos e suplementos disponíveis no
hospital.

26
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Identificação do paciente


L.B.S., 53 anos, sexo feminino, casada, natural de
Carnaíba (PE). Admitida pela Cirurgia Plástica no dia
21/06/2017, apresentando lesão extensa em membro inferior
esquerdo, como é possível observar na figura 1.

Figura 1 – Foto autorizada da lesão apresentada em membro


inferior esquerdo pela paciente L.B.S.

Fonte: Própria.

Diagnóstico principal: Lesão extensa em membro inferior


esquerdo.

3.2 História Clínica e antecedentes familiares


Paciente relata peso habitual de 126,5 kg, sendo
inicialmente diagnosticada, pelo IMC, com obesidade grau III

27
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
(IMC = 41,30 kg/m²). Sem comorbidades associadas e com
histórico familiar de obesidade em parentes de primeiro grau.
A paciente refere que juntamente com o ganho de peso
surgiam as lesões no membro inferior esquerdo. Diante disso,
procurou acompanhamento nutricional em seu município e foi
submetida à dieta com restrição calórica objetivando a perda
de peso. Houve perda intencional de 34% do peso (42,5kg) no
período de um ano, associado a isso, houve aumento da lesão
da perna esquerda, levando-a a procurar tratamento médico.

3.3 Anamnese clínica e alimentar


Em anamnese alimentar, observa-se preocupação da
paciente em manter a dieta restrita em carboidratos simples,
porém com baixa ingestão energético-proteica.
Apresenta função gastrointestinal presente, mastigação
e deglutição adequada, nega náuseas e vômitos, apetite
preservado e histórico de perda de peso intencional.

3.4 Exames Bioquímicos

Tabela 1 - Exames bioquímicos durante internamento no


Hos+pital das clínicas (UFPE).
13/06/17 26/06/17 Referência
HEMOGLOBINA 12,2 11,0↓ 12,0-16,0
HEMATÓCRITO 38,4 33,4↓ 36,0-47,0
VCM 77,42↓ 77↓ 80,0-98,0
HCM 24,6↓ 25↓ 27,0-33,0
LEUCÓCITOS 7280 8070 4000-1100
CREATININA 0,9 0,8 0,6-1,1
UREIA 38,8 20,4 10-50
GLICOSE 91,4 70-99

28
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
SÓDIO 136,2 134-139
POTÁSSIO 4,1 3,6-5,5
CLORETO 100,2 94-112
Fonte: CALIXTO-LIMA; REIS, 2012.

Os exames bioquímicos da paciente demonstraram a


presença de anemia inicialmente normocítica e normocrômica
que evoluiu com discreta queda na hemoglobina e hematócrito
caracterizando uma anemia ferropriva.

3.5 Triagem Nutricional

A avaliação do risco nutricional tem como objetivo


demonstrar risco aumentado de morbimortalidade devido o
estado nutricional. Essa identificação ajuda a avaliar o risco de
deterioração nutricional nos pacientes que já tem queixas
relacionadas (BARBOSA; BARROS, 2002; JOHANSEN et al.,
2004; ELIA; ZELLIPOUR; STRATTON, 2005).
A triagem nutricional foi realizada no momento da
admissão por meio da NRS (2002) conforme recomendação
da ESPEN (2017). Foi obtido escore 0, classificando a
paciente como sem risco nutricional.
É importante ressaltar que apesar da paciente
apresentar um lesão extensa, não apresentou risco por sua
ingestão habitual está sendo mantida e a perda de peso ser
intencional. Porém, lesões extensas necessitam de suporte e
acompanhamento nutricional detalhado para cicatrização
(EPUAP, 2014). Fazendo da paciente uma candidata a
acompanhamento nutricional intensificado no ambiente
hospital, apesar de não apresentar risco nutricional pela NRS
(2002).

29
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
3.6 Avaliação física e antropométrica

Em avaliação subjetiva, é possível identificar sinais da


perda de peso importante apresentada pela paciente, como a
atrofia da bola gordurosa de bichart e proeminência da
clavícula. Apesar da paciente ainda apresentar excesso de
peso, como mostra a figura 2.

Figura 2 – Foto autorizada pela paciente L.B.S. durante o


internamento.

Fonte: Própria.

A tabela 2 mostra o resultado do acompanhamento


nutricional durante o internamento.

Tabela 2 - Acompanhamento do estado nutricional durante


internamento no Hospital das Clínicas (UFPE).
DATA Peso (kg) Altura(m) IMC(kg/m²) CB(cm)

30
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
26/06/17 84 (estimado) 1,75 27,5 33(107%)

04/07/17 84,6 1,75 27,62 33(107%)

10/07/17 84,7 1,75 27,6 33(107%)

Fonte: Própria.

Inicialmente, foi necessário estimar o peso utilizando a


escala de silhueta proposta por Kakeshita e col. (2009) devido
impossibilidade de levantar-se pela extensão da lesão. Porém,
na segunda e na última semana de internamento, com peso
aferido, observa-se que ficou semelhante ao estimado.
A paciente, segundo IMC, apresenta sobrepeso e,
segundo a circunferência do braço, é eutrófica.
Supõe-se, ao unir avaliação antropométrica e física, que
com a restrição calórica, houve perda de gordura, porém
acompanhado com uma perda de massa magra.

3.7 Intervenção Nutricional

Durante o internamento a paciente foi submetida a


procedimento cirúrgico de enxerto de pele no local da lesão. O
local onde foi retirado a pele pode ser observado na figura 3.

31
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
Figura 3 – Foto autorizada do local da retirada do enxerto de
pele para procedimento cirúrgico.

Fonte: Própria.
Ao comparar a lesão com a graduação das lesões por
pressão estabelecidas pela EPUAP (2014), observa-se que se
classifica como grau III, com perda da espessura da pele e
exposição do tecido gorduroso.
Optou-se por utilizar a recomendação proposta pela
EPUAP (2014) de 30-35 kcal/kg de peso atual e 1,25-1,5 g de
proteína/kg de peso atual. Dessa forma, objetiva-se a oferta de
2940 kcal (35 kcal/kg de peso) e 126g de proteína (1,5g/kg de
peso).
Ofertou-se dieta hipercalórica e hiperprotéica, com 3090
kcal (105%) e 132,3g de proteína (105% de adequação). Essa
oferta foi obtida através da dieta mais suplementação
especializada em cicatrização três vezes ao dia, totalizando
600ml/dia.
A evolução na lesão pode ser observada na figura 4,
que mostra a lesão na admissão e na alta da paciente.

32
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
Figura 4 – Foto autorizada mostrando a evolução na
cicatrização da lesão durante internamento.

Fonte: Própria.

3.8 Suplementação Nutricional

O processo de cicatrização é mediado por uma série de


fatores, principalmente vários nutrientes. Como a cicatrização
requer gasto energético maior, os carboidratos são de extrema
importância, servindo de energia para leucócitos, fagócitos,
para a proliferação celular e função fibroblástica, além de
garantir a função plástica da proteína, já que a deficiência de
carboidrato leva à degradação muscular e de tecido adiposo,
dificultando a cicatrização (COELHO, SILVA; 2004). Os

33
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
lipídios também são importantes, pelo fato da deficiência de
ácidos graxos essenciais prejudicar a cicatrização. As
proteínas são fundamentais para todo o processo de
cicatrização, sendo essenciais para a síntese do colágeno,
sistema imunológico e proliferação fibroblástica. O zinco é um
elemento traço muito importante na cicatrização, estando
relacionado à síntese proteica, replicação, imunidade celular e
formação de colágeno (SILVA et al., 2012).
A terapia nutricional é indicada sempre que o paciente não
consiga atingir suas necessidades por via oral e tem objetivo
de recuperar o estado nutricional e promover a regeneração
tecidual de modo a evitar a deiscência da ferida (OLIVEIRA,
HAACK, FORTES, 2017).
Estudos anteriores mostraram que o uso de fórmulas
nutricionais é benéfico no tratamento de úlceras por pressão,
nomeadamente fórmulas com arginina, zinco e antioxidantes.
O efeito isolado da suplementação isolada não foi ainda
determinado, o que parece mais eficaz quando é feita a
combinação desses micronutrientes (FERNANDES,2015).
Como dificilmente consegue-se fornecer todos esses
nutrientes em quantidades adequadas apenas com a
alimentação, muitas vezes é necessário utilizar de
suplementação nutricional para que o estado geral do
paciente, assim como a úlcera não venha a piorar. A paciente
do caso em questão fez uso de suplementação especializada
para auxiliar na cicatrização com característica hiperproteica,
acrescido de arginina, alto teor de micronutrientes e mix de
carotenoides como mostra a tabela 3.

34
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL À PACIENTE COM LESÃO EXTENSA EM
MEMBRO INFERIOR
Tabela 3. Quantidade de micronutrientes ingerido pela
paciente através de suplementação.
Nutriente Quantidade
Arginina 9g
Ferro 1350mg
Zinco 18mg
Cobre 4050mg
Selênio 192mcg
Vitamina A 64mcg
Vitamina E 114mg
Vitamina C 750mg
Fonte: Própria.

4 CONCLUSÕES

Lesões extensas demandam necessidades calórico-


proteicas aumentadas, mesmo em pacientes com obesidade,
durante a fase de cicatrização, para uma oferta adequada de
macro e micronutrientes.
A restrição energética e a perda importante de peso no
momento da lesão pode levar ao aumento da sua gravidade,
sendo importante uma atuação do nutricionista nesses
pacientes.

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38
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL

CAPÍTULO 2

ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE


COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVÍDICO-PUERPERAL

Fernanda Dayana da Silva DIAS 1


Thalita Christina da Costa LIMA 1
Lílian Caroline de Souza e SILVA 2
Everlane Alcantara de Lima MARINHO 2
Maryella Laryssa Matias de ARAÚJO 3
1
Nutricionista Residente do Programa Multiprofissional Integrada em Saúde – Hospital das
Clínicas/UFPE; ² Nutricista Residente do Programa Uniprofissional – Hospital das
Clínicas/UFPE; ³ Pós-graduanda em Saúde Pública com ênfase em Saúde da Família/INESP.
fernanda.mdias1@gmail.com

RESUMO: As síndromes hipertensivas da gravidez (SHG) têm


sido destacadas como um problema de saúde pública. Estão
relacionadas na maioria das vezes com a hipertensão arterial
sistêmica (HAS) e o ganho de peso gestacional excessivo.
Dessa forma, o objetivo do estudo consiste em descrever a
atuação do nutricionista por meio da dietoterapia, avaliação
nutricional e evolução clínica frente às condições clínicas da
paciente durante a transição de gestante a puérpera. Trata-se
de um estudo de caráter descritivo com abordagem qualitativa,
o qual adotou-se enquanto estratégia de investigação o estudo
de caso. Foi desenvolcido no setor de maternidade de um
hospital universitário, durante o ano de 2017. Para coleta de
dados da pesquisa, foram utilizados registros das evoluções,
cartão da gestante, exames complementares e avaliação
antropométrica (peso, altura, IMC e parâmetros bioquímicos).
Paciente do sexo feminino, 44 anos, casada, negra, natural e
procedente de Igarassu – PE, com história de HAS Crônica e
pré-eclâmpsia sobreposta. Foi observado curva ascendente,
39
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
mantendo-se em sobrepeso e ao final da gestação atingiu a
classificação de obesidade. A partir do IMC pré-gestacional
observou-se o ganho de peso total acima do recomendado. A
terapia nutricional foi pensada visando a
manutenção/recuperação do estado nutricional e a demanda
energética da lactação. Diante disso, é de suma importância
um acompanhamento nutricional adequado durante a
gestação e no puerpério.
Palavras-chave: Síndromes Hipertensivas. Gestação.
Nutrição.

1 INTRODUÇÃO

A gravidez após os 34 anos é denominada gravidez


tardia, portanto, é considerado fator de risco para a morbidade
tanto materna como fetal. Por consistir em uma gravidez de
alto risco, exige-se uma atenção especial durante a realização
do pré-natal. A gestação de alto risco é “aquela na qual a vida
ou a saúde da mãe e/ou do feto e/ou do recém-nascido têm
maiores chances de serem atingidas que as da média da
população considerada” (BRASIL, 2012).
Em relação a gravidez de alto risco, a hipertensão
arterial sistêmica (HAS) é elencada como a síndrome que
causa a maior taxa de mortalidade materna em muitos países
(CUNHA; COSTA; DUARTE, 2001). Para ser considerada
HAS, deve estar presente antes da gravidez ou diagnosticada
antes de 20º semana de gestação e não desaparecer no
período puerperal. É considerada HAS quando a pressão
arterial sistólica (PAS) é > 140 mmHg e/ou a pressão arterial
diastólica (PAD) > 90 mmHg, medidas em duas ocasiões com
4 horas de intervalo (FREIRE; TEDOLDI, 2009, p.5).

40
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
Diante da expressiva morbimortalidade, tanto materna
quanto fetal, as Síndromes Hipertensivas da Gravidez (SHG)
têm sido destacadas como um problema de saúde pública,
chegando a resultar em 20% a 25% de todas as causas de
óbito materno (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA,
2016). Além de estar entre as principais causas de
internamento de gestantes (RAMONIENE et al., 2017; YEE et
al., 2017).
A pré-eclâmpsia (PE) é definida pela presença de HAS
após a 20ª semana associada à proteinúria significativa (<
300mg/dia). Na ausência de proteinúria significativa, o
diagnóstico pode ser baseado na presença de cefaleia,
turvação visual, dor abdominal, trombocitopenia (plaquetas <
100.000/mm³), elevação de enzimas hepáticas (o dobro do
basal), comprometimento renal (acima de 1,1 mg/dl ou o dobro
do basal), edema pulmonar, distúrbios visuais ou cerebrais,
escotomas ou convulsão (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
CARDIOLOGIA, 2016).
A HAS crônica associada a PE também é considerada
um fator de risco que pode levar a ocasionar o Crescimento
Intrauterino Restrito (CIUR). Este quadro consiste quando o
bebê, ainda no útero da mãe, não adquire o ganho de peso
esperado dentro faixa de normalidade. De acordo com o
Ministério da Saúde (2012), é muito importante diferenciar,
durante os exames, quando o feto é pequeno devido a pais
com biótipo menor e quando o feto de fato reduziu o ritmo de
crescimento. No caso de CIUR há um impedimento do bebê
atingir seu potencial genético. Esse grupo de fetos agrega
considerável morbidade perinatal, bem como possibilidade de
sequelas na vida adulta (SOUZA et al., 2007; FREIRE;
TEDOLDI, 2009, p.65).
41
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
Já a eclampsia (E) caracteriza-se pela presença de
convulsões do tipo tônico-clônicas generalizadas, ou coma,
em mulher com qualquer quadro hipertensivo, não causadas
por epilepsia ou qualquer outra doença convulsiva. É um
agravo que pode ocorrer durante a gravidez, no parto e no
puerpério imediato (BRASIL, 2012).
A amniorexe consiste na rotura espontânea das
membranas ovulares (RPM) ou amniorrexe prematura ou
rotura da bolsa de águas, antes do começo do trabalho de
parto. No caso de partos prematuros, a rotura da membrana é
denominada rotura prematura pré-termo. Vale salientar que a
amniorexe constitui causa importante de partos pré-termo,
cerca de 1/3 dos casos (BRASIL, 2012).
As recomendações de ganho de peso gestacional
estabelecidas pelo Institute of Medicine (IOM) são as mais
aceitas e têm sido utilizadas como padrão de referência em
muitos estudos. As primeiras recomendações de ganho de
peso pelo IOM foram propostas em 1990, sendo
posteriormente revisadas e atualizadas no ano de 2009
(ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009).
As variações no ganho de peso durante a gestação
podem ser influenciadas tanto por fatores nutricionais como
também por fatores sociodemográficos, obstétricos e
comportamentais (KONNO, BENICIO, BARROS 2007;
GONÇALVES et al., 2011).
Estudos têm demonstrado que um ganho de peso
gestacional excessivo está associado a um aumento das taxas
de partos cirúrgicos, bem como à elevação do risco de
resultados perinatais desfavoráveis, tais como: macrossomia
fetal, desproporção céfalo-pélvica, trauma, asfixia e morte
perinatal. Além disso, pode aumentar a ocorrência de diabetes
42
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
mellitus gestacional, síndromes hipertensivas da gravidez e
retenção de peso pós-parto (SANTOS et al., 2010; RODE et
al., 2012; VERNINI et al., 2016).
Deste modo, pretende-se descrever a atuação do
nutricionista por meio da dietoterapia, avaliação nutricional e
evolução clínica frente às condições clínicas da paciente
durante a transição de gestante a puérpera com síndrome
hipertensiva.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de caráter descritivo com


abordagem qualitativa, o qual adotou-se enquanto estratégia
de investigação o estudo de caso. Pois como traz
Shaughnessy e Zechmeister (2012), o estudo de caso
representa um método de pesquisa através do qual se torna
possível uma descrição e análise intensiva de um individuo
único, funcionando nesse sentido como uma fonte
potencialmente rica de informações.
O estudo foi desenvolvido no setor de maternidade de
um hospital universitário, durante o ano de 2017. Os dados
foram coletados a partir de registros de evoluções e exames
anexados em prontuário, observações da equipe ao longo do
período da hospitalização da paciente e informações
provenientes dos atendimentos realizados pela nutricionista.
Com vista a ampliar as discussões, utilizou-se ainda de
levantamentos de dados teóricos, através de revisão da
literatura de livros e artigos científicos. A avaliação nutricional
foi realizada através de dados antropométricos, dietéticos e de
exame físico.

43
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
Os dados antropométricos permitem identificar o risco
nutricional, além de permitir avaliar o ganho de peso ponderal
para a idade gestacional e classificar o estado nutricional (EN).
Os dados pré-gestacionais, como peso e altura, foram obtidos
a partir do cartão da gestante, permitindo identificar o Índice
de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional (CUPPARI, 2009).
As medidas antropométricas de peso e altura foram
realizadas conforme as recomendações do Ministério da
Saúde. A massa corporal foi obtida em balança eletrônica
digital, com capacidade máxima de 200 quilos (kg) e precisão
de 100 gramas (g). A altura foi aferida através de estadiômetro
acoplado à balança (BRASIL, 2011).
O IMC pré-gestacional é calculado com o peso antes da
gestação informado ou com o peso medido antes da 14º
semana de gestação dividido pela altura ao quadrado (Kg/m²)
(ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Para a
classificação do IMC pré-gestacional é usado o mesmo ponto
de corte para a população adulta (Tabela 1).

Tabela 1. Classificação do EN pré-gestacional


Classificação do Estado IMC Pré-Gestacional
Nutricional (Kg/m2)
Baixo peso < 18,5
Eutrofia 18,5 a 24,9
Sobrepeso 25,0 a 29,9
Obesidade > 30,0
Fonte: OMS, 2000.

De acordo com o IMC pré-gestacional é possível


classificar o diagnóstico inicial da gestante e identificar a faixa

44
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
de ganho de peso recomendada semestralmente e até o final
da gestação (Tabela 2).

Tabela 2: Recomendação para ganho de peso gestacional


Ganho de
Ganho de Ganho de
EN Inicial em peso (Kg)
peso (Kg) peso (Kg)
adultas (IMC semanal
total no 1º total da
– Kg/m²) médio no 2º
trimestre gestação
trimestre
Baixo peso
2,3 0,5 12,5 -18,0
(< 18,5)
Adequado
1,6 0,4 11,5 – 16,0
(18,5 -24,99)
Sobrepeso
0,9 0,3 7,0 – 11,5
(25 – 29,99)
Obesidade
-- 0,3 5 – 9,0
(> 30)
Fonte: IOM, 2009.

Como forma de complementar a avaliação


antropométrica foi desenvolvido um instrumento, expresso em
gráfico, que permite acompanhar o ganho de peso
gestacional, baseado na idade gestacional e no IMC atual das
gestantes. Permite também identificar as mudanças no estado
nutricional durante toda a gestação (ATALAH et al., 1997).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

J.T.S, sexo feminino, 44 anos, casada, negra,


evangélica, natural e procedente de Igarassu - PE. Reside
com o marido e filho (10 anos). Nível fundamental completo. O
45
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
nascimento do primeiro filho foi através de parto cesáreo na
qual seu bebê também nasceu prematuro devido às mesmas
condições clinicas atuais. Seu filho necessitou permanecer 10
dias internado em uma UTI neonatal. Como antecedentes
familiares apresenta: Diabetes mellitus, hipertensão arterial
sistêmica crônica e falecimento do pai por derrame (seis anos
atrás).
Gestação única tópica pré-termo de 29 semanas e 6
dias e com história de HASC. Foi encaminhada do pré-natal
com elevação dos níveis pressóricos para realização de rotina
de PE. Admitida no centro obstétrico, com pressão arterial de
180x100 mmHg, em uso de metildopa 1 g/dia e sulfato
ferroso, negando diabetes mellitus, náuseas e vômitos, com
edema em membros inferiores (3+/4+) e sem queixas de
iminência de eclampsia.
Avaliada com hipóteses diagnósticas (HD) de HASC e
PE sobreposta, foi administrado o sulfato de magnésio
(MgSO4 50% - Dose de ataque) e instalada sonda vesical de
demora. Paciente referiu rompimento de bolsa aminiótica com
liberação de líquido claro, porém sem contrações. Paciente foi
reavaliada, com liberação da 2º fase do MgSO4, além do
início do protocolo de antibiocoterapia para rotura prematura
da membrana e solicitado ultrassonografia obstétrica.
No segundo dia de internamento, confirmou-se
diagnóstico de amniorex, PE grave e CIUR. Evoluiu para 3º
fase do MgSO4, que posteriormente foi suspenso, porém
ainda permaneceu em uso de antibioticoterapia e evoluindo
sem queixas. No decorrer do internamento apresentou dor em
baixo ventre, sendo encaminhada para sala de parto.
Prosseguiu para parto transpelviano, com uso de ocitocina
após nascimento, para estimulação da amamentação.
46
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
Nos dias que sucederam o pós-parto, paciente
permaneceu com ocorrência de picos hipertensivos, mantendo
sua PA em 160x110 mmHg. A equipe médica solicitou nova
rotina de pré-eclâmpsia e alterou esquema de medicamentos
anti-hipertensivos.
No pós-parto imediato permaneceu com HD de PE com
sinais de gravidade e em uso de anti-hipertensivos. Ao exame
físico, apresentou estado geral bom, hipocorada, afebril e bem
perfundida, sem edemas e sem demais queixas.
Em relação aos medicamentos e seus possíveis efeitos
colaterais, inúmeras são as possibilidades de interações e
estas podem ser decorrentes de alguns fatores como o
organismo do paciente, quantidade de fármaco administrado,
condições clínicas, dieta e patologias associadas
(LOMBARDO; ESERIAN, 2014).
Os fármacos e os alimentos podem interagir, podendo
interferir no mecanismo de ação do fármaco e no estado
nutricional do paciente, de modo que pacientes hospitalizados
podem receber quantidades excessivas de medicamentos e
por tempo prolongado e isso reflita na absorção dos nutrientes
(MARTINS; MOREIRA; PIEROSAN, 2003; MAHAN; ESCOTT-
STUMP, 2012).
Como forma de tentar minimizar as interações é
importante que os profissionais conheçam estas
possibilidades, visto que não apresentam apenas caráter
teórico, mas também podem apresentar consequências
clínicas relevantes (LOPES et al., 2013; MAHAN; ESCOTT-
STUMP, 2012).
No momento do estudo, a prescrição medicamentosa
estava composta por nove medicamentos, sendo três fixos e

47
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
seis podendo ser infudidos devido a necessidade da paciente
(Tabela 3).

Tabela 3. Interação droga-nutriente


Droga Indicação/Interações medicamentosas e
possíveis intercorrências
Captopril Antihipertensivo. Disgeusia; Xerostomia;
Náuseas e vômitos.
Nifedipino Antiangionoso, anti-hipertensivo. Diminui
pressão arterial, cálcio, vitamina C,
vitamina D.
Propanolol Antiarrítmico, antiangionoso, anti-
hipertensivo. Náuses e Vômitos;
Xerostomia; Aumento de uréia, creatinina,
TGO, TGP, triglicerídio e glicemia.
Dipirona Antitérmico e Analgésico. Leucopenia;
Hipotensão.
Tramal Analgésico. Náuseas e vômitos;
Xerostomia; Constipação; Alterações no
apetite.
Ranitidina Antisecretor. Aumenta TGO, TGP, Gama
GT e Creatinina.
Dimeticona Anti-gases. Eructação.
Ondansetrona Antiemético. Xerostomia; Dor abdominal.
Sulfato ferroso Antianêmico. Macha dentária; Náuseas e
vômitos; Dispepsia; Obstipação; Fezes
escuras. Redução da absorção de zinco e
cálcio.
Fonte: MARTINS; SAEKI, 2013.

48
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
Quanto a análise dos parâmetros laboratoriais, a
paciente apresentou anemia leve a moderada, leucocitose e
alterações de alguns níveis como ácido úrico e enzimas
hepáticas (Tabela 4). A avaliação dos níveis séricos é
essencial para a avaliação do estado nutricional, visto que os
resultados podem contribuir diretamente para o diagnóstico
nutricional e assim auxiliar na escolha da conduta adequada
(MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011).

Tabela 4. Período e exames laboratoriais


Níveis séricos Referências
HB 9,85↓ 9,23↓ 9,63↓ 12 – 16
HT 30,4↓ 29↓ 29,8↓ 36 – 47
VCM/ 78,9 77,7 78,1 80 – 98
HCM 25,5↓ 24,7↓ 25,2↓ 27 – 33
TGO 29,8 28 13 – 390
Ferro/ 108 50 – 170
Transf 272.2 200 – 360
TGP 24,7 45,2↑ 7 – 52
DHL 617,5↑ 670,9↑ 140 – 271
Ácido úrico 5,5↑ 5,4↑ 5,1↑ 2,0 – 5,0
Ureia 27,8 16,6 15 – 53
Creatinina 0,7 0,9 0,8 0,6 – 1,1
4.000 –
Leucócitos 7.700 13.400↑ 14.300↑
11.000
PCR 0,9↑ < 0,5
Fonte: CALIXTO-LIMA; REIS, 2012.

A anemia está diretamente relacionada aos


mecanismos de expansão do volume sanguíneo, que

49
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
aumentam em torno de 50% durante a gestação. Além disso,
observa-se um aumento das necessidades de ferro para o
desenvolvimento do feto, da placenta e cordão umbilical e
para as perdas sanguíneas decorrentes do parto e puerpério
(MONTENEGRO; REZENDE, 2011). Em decorrência dessa
elevação mais acentuada do plasma do que dos eritrócitos,
ocorrem alterações nos níveis de hematócrito, hemoglobina e
no metabolismo do ferro (MODOTTI, 2015) .
A anemia pode ocorrer por perda sanguínea, hemólise
ou deficiência de sua produção. Anemia na gestação é
definida como nível de hemoglobina (Hb) abaixo de 11g/dL.
Ela pode ser classificada como leve (Hb 10 – 10,9g/dL),
moderada (Hb 8 – 9,9g/dL) e grave (Hb _ 8g/dL). Os índices
corpusculares, principalmente o Volume Corpuscular Médio
(VCM = 81-95dL) não sofrem variações na maioria das vezes.
Para fins práticos, o VCM é utilizado como indicador,
identificando-se três tipos de anemia: microcíticas (VCM =
<85dL), normocíticas (VCM entre 85 e 95dL) e macrocíticas
(VCM >95dL) (BRASIL, 2012).
Segundo dados laboratoriais da paciente em questão,
pode-se perceber um quadro de anemia leve a moderada e do
tipo microcítica. Níveis de hemoglobina abaixo de 9,5 g/dL
podem estar relacionados a risco de recém-nascido de baixo
peso e prematuridade. Embora a Hb seja utilizada para
avaliação de anemia por deficiência de ferro, ela tem baixas
especificidade e sensibilidade, por isso seria necessário ser
solicitado em conjunto outros biomarcadores para estimar o
status do ferro, como ferritina (NEMER; NEVES; FERREIRA,
2010; BRASIL, 2013).
A pré-eclâmpsia é classificada em leve ou grave, de
acordo com o grau de comprometimento, considera-se grave
50
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
quando presente um ou mais dos seguintes critérios: PAD (>
que 110mmHg); Proteinúria (> 2,0g em 24 hora); Oligúria (<
500ml/dia ou 25ml/hora); Níveis séricos de creatinina >
1,2mg/dL; Sinais de encefalopatia hipertensiva (cefaleia e
distúrbios visuais); Dor epigástrica ou no hipocôndrio direito;
Evidência clínica e/ou laboratorial de coagulopatia;
Plaquetopenia (<100.000/mm3); Aumento de enzimas
hepáticas (AST ou TGO, ALT ou TGP, DHL) e de bilirrubinas;
Presença de esquizócitos em esfregaço de sangue periférico.
Além de outros sinais, como presença de restrição de
crescimento intrauterino e/ou oligohidrâmnio (BRASIL, 2012).
De acordo com os exames laboratoriais da paciente,
houve ausência de proteinúria e alguns outros critérios como
aumento dos níveis de creatinina e plaquetopenia. Porém, a
suspeita se fortalece com o aumento das enzimas hepáticas
ALT, AST e Desidrogenase lática (DHL).
Com relação à função hepática, geralmente, durante
uma gravidez normal, as concentrações séricas de ALT e AST
permanecem normais e, portanto, quando há alguma
alteração, é necessária investigação. Cerca de 20 a 30% das
pacientes com PE têm a função hepática alterada enquanto
que as concentrações de bilirrubina raramente aumentam
(SOUZA et al, 2006; MARTINEZ et al, 2014).
Houve também um aumento dos níveis de ácido úrico.
Diferentes teorias foram propostas para explicar o fato da
hiperuricemia, por ser uma das primeiras manifestações
descritas na PE. Segundo estudos, o ácido úrico em
concentrações séricas superiores a 5.5 mg/dL é um importante
marcador para detecção de PE, porém não é um bom preditor
de suas complicações. O ácido úrico correlaciona-se também

51
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
com a restrição do crescimento intrauterino (WILLIAMSON;
SNYDER; WALLACH, 2013; MARTINEZ et al, 2014).
No que diz respeito a avaliação nutricional, foi realizada
a avaliação antropométrica, ainda enquanto gestante e como
puérpera a qual não evidenciou risco nutricional (Tabela 5).

Tabela 5. Avaliação nutricional


IG 0s 20s 25s 29s 30S Puerpério
Peso
56 64,4 65,1 71,3 79,1 66,6
(Kg)
Altura
1,53 - - - - -
(Cm)
IMC
23,9 27,5 27,8 30,4 33,7 28,4
(Kg/m2)
Fonte: Coleta de dados no serviço

Segundo a curva de Atalah, paciente seguiu durante


toda a gestação com uma curva ascendente, mantendo-se em
sobrepeso e ao final da gestação atingiu a classificação de
obesidade. Obteve ganho de peso gestacional de 23 kg,
porém, conforme o estado nutricional inicial a recomendação
de ganho de peso na gestação seria de 7-11,5 kg (IOM, 2009).
Com base anamnese realizada, foi observado que a
alimentação referida pela paciente durante a gestação já era
hipossódica e não atendia as recomendações de uma
alimentação saudável para gestantes, visto que o consumo de
edulcorantes, gorduras trans e alimentos refinados faziam
parte das principais refeições. Foi relatado também um quadro
de constipação anterior à gestação, além da ingestão
diminuída de água e sedentarismo. Negava alergias e/ou
intolerâncias alimentares.
52
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
Segundo semiologia nutricional, não foram detectados
sinais associados à desnutrição, como a depleção de massa
muscular e/ou gordura subcutânea ou sintomas de
deficiências de vitaminas e minerais. Foi evidenciado sinais
de edema em membros inferiores (VITOLO, 2008; CUPPARI,
2014).
Paciente admitida já em dieta zero para administração
da 1º fase do MgSO4. No segundo dia de internamento, após
reavaliação e evolução do MgSO4 para 3º fase, iniciou
alimentação por via oral, de consistência normal, com
característica hipercalórica, hiperproteica e hipossódica,
recebendo diariamente um total de 2340,7 kcal (30 kcal/kg) e
89,9 g de proteína (1,3 g/kg). Seguiu com boa aceitação
alimentar, apetite preservado e negando náuseas e vômitos.
A escolha da conduta dietoterápica baseou-se nas
recomendações para o período de lactação (IOM, 2005), onde
é considerado para o cálculo do Valor Energético Total (VET),
peso corporal, altura, idade, tempo puerperal, nível de
atividade física, adicional energético para produção de leite e
ainda redução de kcal para auxilio na perda de peso. Utilizou-
se também a mesma referencia para a recomendação do
consumo de proteínas, onde é indicado o uso de 1,3 g/kg para
todas as fases da lactação.
Segundo IOM (2005), nutrizes com sobrepeso ou
obesidade e se houver necessidade de perda de peso, o
cálculo pode ser feito sem o adicional energético para
produção de leite. Deste modo, as necessidades nutricionais
da paciente, segundo recomendações, foram totalizadas em
2.524 kcal/dia e 85,8g de proteína/dia. Ficando assim, com
percentual de adequação de 92% para calorias e 102% para
proteínas.
53
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM PRÉ-ECLÂMPSIA NO CICLO
GRAVIDICO-PUERPERAL
Considerando o estado clínico e as patologias
associadas, foi realizada uma orientação para futura alta
hospitalar, com o objetivo de manter ou recuperar o estado
nutricional pré-gestacional. A orientação foi direcionada para
alimentação saudável durante o período de lactação,
respeitando os hábitos alimentares, preferencias e nível
socioeconômico. As informações foram passadas de forma
clara, objetivas e adequadas quanto ao nível de entendimento
da paciente.

4 CONCLUSÕES

O monitoramento do ganho de peso durante a gestação


é um procedimento de baixo custo e de grande utilidade.
Dessa forma, a terapia nutricional é de grande importância
desde o início da gestação ao puerpério, atuando no ganho de
peso adequado da gestante e/ou recuperação do estado
nutricional pré-gestaconal, visto que complicações como
síndromes hipertensivas podem levar a desfechos
desfavoráveis.

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57
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
CAPÍTULO 3

ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO
PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR

Lídia Laís Gomes SILVA 1


Mikaella Carla de França CAVALCANTI 1
Suellen Maiara Emerencio da SILVA1
Raisa Santos COELHO 2
Marcella Campos Lima da LUZ ³
1
Pós graduanda do programa de Residência em nutrição clínica no HC-UFPE; 2 Pós
graduanda do programa de Residência em Saúde da Mulher no HC-UFPE; 3Nutricionista do
Hospital das clínicas da Universidade Federal de Pernambuco;

lidialaisgs@gmail.com.br

RESUMO: O câncer é um grande problema de saúde pública


no mundo. No Brasil a neoplasia gástrica está entre os quatro
mais prevalentes em mulheres e o quinto em homens. Este
pode causar diminuição da ingestão de alimentos e aumento
da demanda metabólica com consequente grande perda de
peso. Esses fatores corroboram para que a avaliação e
intervenção nutricional seja inciada de forma precoce. O
objetivo desse trabalho é relatar a terapia e evolução
nutricional de uma paciente com diagnóstico de câncer
gástrico internada na enfermaria de oncologia de um hospital
do Recife/PE. Trata-se de um estudo de caráter descritivo.
Para o diagnóstico nutricional e definição da terapia a ser
implementada foram considerados: a triagem nutricional
realizada pela ASG-PPP, a antropometria pelo IMC e CB,
exame físico e exames laboratoriais. Definiu-se por consenso
entre os parâmetros que a paciente é eutrofica, porém risco
nutricional. Iniciada dieta via oral hipercalórica, hiperprotéica,

58
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
hipossódica, sendo necessário iniciar suporte nutricional oral
específico para paciente oncológico para atingir suas
necessidades, estimadas pelo INCA (2015) para pacientes
59ástrico59s. A paciente evoluiu com estabilização da perda
de peso (12kg-19,3%) que já se seguia há 10 meses. O ganho
de peso nas neoplasias de TGI são dificilmente observadas
mesmo com o uso de suportes orais, por isso a evolução
apresentada é entendida como boa resposta ao plano
terapêutico abordado.
Palavras-chave: Câncer 59ástrico. Avaliação Nutricional.
Terapia nutricional.

1 INTRODUÇÃO

O câncer tem se consolidado como um problema de


saúde pública em todo o mundo. Segundo o INCA (2016) é
esperado que, nas próximas décadas, o impacto do câncer na
população corresponda a 80% dos mais de 20 milhões de
casos novos estimados para 2025. A estimativa segundo
FERLAY (2015) apontou que dos novos casos, mais de 60%
ocorreram em países em desenvolvimento. Para a
mortalidade, a situação agrava-se quando se constata que,
dos 8 milhões de óbitos previstos, 70% ocorreram nesses
mesmos países
No Brasil a estimativa para o biênio 2016-2017, é de
cerca de 600 mil novos casos. Dentre os mais prevalentes,
está o câncer gástrico, que é o quarto mais frequente em
homens e o quinto em mulheres e se apresenta,
frequentemente, sob a forma de três tipos histológicos:
adenocarcinoma, que é responsável por 95% dos tumores;
linfoma, diagnosticado em aproximadamente 3% dos casos, e
leiomiossarcoma, que tem início nos tecidos que dão origem

59
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
aos músculos e ossos (INCA, 2015; INCA, 2016).
A identificação das lesões gástricas geralmente é feita
pelo exame de endoscopia. O rastreamento endoscópico
possibilita verificar a malignidade das lesões e iniciar um
tratamento precoce operável e com grandes chances de cura
(SANTOS et al., 2016).
Em países como Japão, Inglaterra, Canadá e Estados
Unidos da América (EUA), que possuem programas
consolidados de rastreamento, têm se observado importante
redução nos índices de morbidade e mortalidade, devido a
eficiência de seus métodos de seguimento e o uso eficaz dos
testes diagnósticos disponíveis, incrementando a capacidade
de detecção e remoção de neoplasias gástricas em estágio
inicial (ZAUBER, 2015; WELCH; ROBERTSON, 2016). Na
doença avançada, podem ocorrer casos de metástase
intestinal com consequente oclusão. O tratamento mais
utilizado é a ressecção (operação de Hartmann) e criação de
uma colostomia, que pode ser associada ou não a
quimioterapia para alívio de sintomas (GAINANT, 2012;
PAGÉS; GHIGGIA; CALVETE, 2017).
O risco para este tipo de neoplasia relaciona-se a
diversos fatores endógenos e exógenos como: tabagismo,
etilismo, hábitos dietéticos (baixo consumo de vegetais, dieta
rica em sal, conservados e embutidos), sobrepeso ou
obesidade, sedentarismo, pertencer ao sexo masculino, idade
maior que 50 anos, predisposição genética ou histórico familiar
de câncer, além da infecção gástrica por Helicobater pylori
(LETE et al., 2013; ARAN et al., 2016).
O prognóstico do câncer gástrico avançado é ruim, com
taxas de sobrevida de 5 anos entre 26-46% (PERNOT et al.,
2015). Depende da localização, estadiamento, número de

60
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
linfonodos acometidos e metástases em órgãos distantes
(ZILBERSTEIN, 2013).
Os pacientes com câncer gástrico têm alto risco de
desnutrição, condição que é definida como um estado de
deficiência de energia, proteína e outros nutrientes
específicos, tendo impacto negativo sobre o desfecho clínico,
com maior tempo de permanência hospitalar e aumento da
mortalidade, o que pode ser justificado pelo crescimento do
tumor, redução na ingestão alimentar e aumento da demanda
metabólica (JIANG et al., 2014) além de disfunção do trato
gastrointestinal em decorrência dos tratamentos quimio e
radioterápico associando-se com perda ponderal maior que
10% nos últimos seis meses reportada em 30% a 38% dos
casos (FEARON, 2011).
Esses fatores corroboram para que a avaliação destes
pacientes inicie apartir do diagnóstico do tumor e seja repetida
a cada visita,como forma de dectar a desnutrição
precocemente inciando a intervenção nutricional mais
adequada (DO PRADO; CAMPOS, 2017). Uma vez que cada
método tem suas próprias vantagens e desvantagens, uma
combinação de dados antropométricos, parâmetros
laboratoriais, funcionais e um sistema de pontuação subjetiva
são úteis para (FARAMARZI et al., 2013) estabelecer a terapia
nutricional mais indicada afim de minimizar ou prevenir os
efeitos deletérios ao estado nutricional desses pacientes
(MOTOORI et al., 2012).
Neste contexto, o objetivo desse trabalho é relatar a
terapia e evolução nutricional de uma paciente com
diagnóstico de câncer gástrico internada na enfermaria de
oncologia de um hospital do Recife/PE.

61
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de caso de caráter descritivo


com abordagem qualitativa, desenvolvido em um hospital
público da cidade de Recife/ PE na enfermaria de oncologia,
do mês de setembro de 2017.
Para nortear o estudo foram realizadas buscas nas
bases de dados online quanto ao seguimento da temática em
discussão e as informações relacionada a paciente foram
obtidas através do registro das evoluções e exames anexados
em prontuário, bem como, da ficha de acompanhamento
nutricional ao longo do período de hospitalização.
Para obtenção do diagnóstico nutricional foram
considerados os seguintes parâmetros: triagem nutricional,
exame físico, antropometria e exames bioquímicos,
localização da doença (estômago) de acordo com os
indicadores recomendados pelo INCA (2015).
A ferramenta de triagem nutricional aplicada, foi a
avaliação subjetiva global produzida pelo próprio paciente
(ASG-PPP) no momento da admissão, padrão ouro para
pacientes oncológicos, que avalia o estado nutricional
baseado na história de variação de peso, ingestão de
alimentos e sintomas gastrointestinais que persistem por duas
semanas. No momento da avaliação, são observados a
capacidade funcional, o exame físico e a presença de
condições catabólicas impostas por doenças crônicas (INCA,
2015). Com objetivo de identificar, já na admissão a
necessidade de terapia nutricional, e reduzir o impacto
negativo da desnutrição sobre a qualidade de vida do
paciente. (DE SOUZA et al., 2017).

62
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
Semanalmente, até alta hospitalar, foi realizada a
avaliação 63ietoterápica63 pelo índice de massa corporal
(IMC) e circunferência do braço (CB). O IMC foi obtido através
dos valores de peso e altura. Para obtenção do peso, a
pacientes foi pesada em posição ereta, usando roupas leves e
descalços, em balança digital tipo plataforma, capacidade
máxima de 180 Kg e variação de 100 gramas. A altura foi
verificada utilizando estadiômetro metálico, acoplado à
balança com altura máxima de 2,2 metros e frações de 1mm.
Com a paciente mantida em posição ereta, descalça, com os
calcanhares juntos, costas retas e membros superiores
pendentes ao longo do corpo (LOHMAN et al., 1988). O IMC
foi obtido a partir do quociente entre o Peso (kg) e altura (m)² e
classificado de acordo com WHO (1997).
Enquanto que a CB foi obtida com a paciente de braço
flexionado em direção ao tórax onde foi localizado o ponto
médio entre o acrômio e olecrano, sendo a medida realizada
nesse ponto, com os braços estendidos, utilizando-se uma fita
métrica não extensível (LOHMAN et al., 1991). Para se
classificar o estado nutricional utilizando a CB, calculamos o
percentual de adequação dessa medida por meio da
comparação dos resultados obtidos na avaliação do paciente
com o valor de referência do National Examination Survey
(NHANES, 1996), específico para cada uma das medidas,
demonstrado em tabela de percentis por Frisancho (1974), de
acordo com o gênero e idade, e posteriormente classificado de
acordo com Blackburn & Thornton (1979).
O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi
calculado pela fórmula: Perda de peso (%) = (peso usual –
peso atual) x 100 ÷ peso usal. E classificada de acordo com
Blackburn et al. (1977). E o desconto de edema a partir da

63
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
estimativa de peso de Duarte e Castellani (2002).
Os exames bioquímicos foram avaliados de acordo com
os pontos de corte estabelecidos por Calixto-Lima e Reis
(2012). As necessidades energéticas e proteicas foram
calculadas com base nas equações para estimativa das
necessidades de acordo com o INCA (2015) para pacientes
pós cirúrgicos. O acompanhamento para evolução e
adequação 64ietoterápica seguiu até o dia da alta hospitalar.

Resultados e iscussão

Paciente do sexo feminino, 33 anos, alfabetizada,


casada há 16 anos, possui 3 filhos, católica, agricultora, reside
em casa própria, proveniente da zona rural localizada em são
José do Belmonte – Pernambuco. Nega comorbidades,
tabagismo e etilismo. Diagnóstico clínico de Adenocarcinoma
64alórica estádio IV e metástase peritoneal.
História clínica de plenitude gástrica desde maio de
2017, em um hospital do interior do estado seguiu com
investigação endoscópica apresentou laudo de neoplasia
gástrica (Bormann IV) com acometimento secundário de bulbo
duodenal. Após coleta para biópsia de tecido 64alórica teve
como resultado adenocarcinoma pouco diferenciado tipo
difuso, diagnosticado em agosto de 2017. Realizou no
seguimento colonoscopia que evidenciou aspecto infiltrativo
em cólon sigmoide, descendente, proximal, transverso e
flexura hepática, identificando metástase.
No dia 04 de setembro a paciente foi encaminhada ao
hospital do Recife/PE com suspeita de semioclusão intestinal
e parecer geral de abdome agudo obstrutivo, em investimento
pleno oncológico. Após internamento na oncologia, a paciente

64
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
segue em acompanhamento conjunto com a clinica 65alóricas
e no dia 05/09/2017 realiza laparotomia exploratória e
realização de colostomia em alça, sem intercorrências. No pós
operatório continuou internada na enfermaria de oncologia do
serviço oferecido, com programação de quimioterapia
adjuvante seguindo em investimento pleno oncológico.
Quanto a história nutricional e dietética em 04/09/17 a
paciente referia constipação intestinal, com evacuação
ausente há 08 dias, apresentando sangramento nas fezes,
além de sensação de plenitude gástrica. A partir da realização
da colostomia, a mesma manteve padrão evacuatório regular,
com fezes líquido-pastosas. Não referia dificuldades na
mastigação/deglutição. Apresentava náuseas à admissão e
vômitos ausentes. Referiu hipertensão como comorbidade
associada e negou aergias alimentares. Manteve o apetite
durante todo o internamento, porém oscilou a aceitação
alimentar, variando entre aceitação parcial e plena.
No momento da admissão, foi aplicada a triagem de
risco nutricional ASG-PPP, validada para pacientes
oncológicos, com obtenção de score nutricional= B e nove
pontos, evidenciando, portanto, risco nutricional moderado
com necessidade de intervenção nutricional. Esses resultados
concordam com os achados do D’Almeida et al. (2013), onde a
maioria (45,9%) dos pacientes adultos com câncer de
estômago foram classificados no escore B e 71,4% pontuaram
igual ou acima de 9 pontos.
Ao exame físico apresentava sinais de depleção leve de
massa muscular e reserva adiposa e evoluiu com edema leve
em membros inferirores (MMII) na segunda semana de
internamento, avaliado pela formação de cacifo (sinal de
Godet) ao pressionar com o polegar a região pré-tibial e

65
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
maleolar os membros inferiores por, pelo menos, cinco
segundos (BARROS, 2016).
Referiu um peso habitual de 62 Kg há 10 meses, que
representa 12 kg ou 19,3%, de acordo com Blackburn et al.
(1977), não há classificação em significativa ou grave nesse
período de tempo, porém esse achado deve ser levado em
consideração, já que neste tipo de neoplasia é comum
encontrar perda de peso grave entre os pacientes avaliados.
Damo et al. (2016) avaliando neoplasias gastrointestinais, em
uma população de maioria do sexo feminino, encontraram que
aqueles indivíduos com câncer de estômago apresentaram,
como maioria, perda de peso grave (>10%) em 6 meses.
O Quadro 1 tras os dados da avaliação antropométrica
durante o internamento da paciente, que manteve a
circunferência do braço, com aumento do peso ocasionado
pela presença de edema em MMII. Alguns mecanismos
fisiopatológicos podem explicar o desenvolvimento de edema,
um deles é a alteração no movimento de fluidos, que pode
estar associado a hipoalbuminemia (WIENER, et al., 2012),
alteração bioquímica observada nos exames bioquímicos da
paciente na Tabela 2.

Quadro 1. Dados antropométricos


DATA 04/09 09/09
Peso (Kg) 50 54,9
Edema (Kg) 5*
Peso-Edema (Kg) 49,9
IMC 19,5 19,49
CB (cm)/ Adequação 26,1/ 116% 26 / 116%
Fonte: Duarte e Castellani, 2002. *Considerado peso de edema até raíz de
coxa

66
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR

No quadro 2 são apresentados os exames bioquímicos.


A paciente deu entrada no hospital com níveis limítrofes de
hemoglobina e hematócrito, reduzindo para valores abaixo da
referência logo no segundo dia de internamento. Configurou-
se, portanto, uma anemia normocítica e normocrômica, devido
a permanência dos valores normais de VCM e HCM, também
chamada de anemia da doença crônica, que ocorre em
distúrbios infecciosos crônicos, inflamatórios ou doenças
neoplásicas, e é uma das síndromes clínicas mais comuns na
prática clínica (CANCADO; CHIATTONE, 2017).

Quadro 2. Exames bioquímicos


Data 07/09 10/09 Referência
Hematócrito 32,4 40 36-47
Hemoglobina 10,6 14 12-16
VCM 83,2 82 80-98
HCM 27,9 28 27-33
Leucócitos 7470 7870 4000-11000
Uréia 12,1 9,6 10-50
Creatinina 0,5 0,5 0,6-1,1
Sódio 135,2 133 134-149
Potássio 2,8 5,1 3,6-5,5
Cloreto 82,5 90 94-112
Albumina 3,0 3,5-5,2
PCR* 14,8 0,0-0,5
Fonte: Calixto-Lima e Reis, 2012. *Proteína C Reativa; Unidades de
medida em sequência: %, g/Dl, fl, pg, células/mm³, mg/Dl, mg/Dl, mmol/L,
mmol/L, mmol/L, g/Dl, mg/L.

Blackburn et al. (1977), classifica o nível de desnutrição


de acordo com os valores séricos de albumina em nutrido,
desnutrição leve, moderada e grave Quad. (3), a paciente em

67
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
questão, estaria em desnutrição leve. No entanto, sabe-se que
durante o processo inflamatório, tanto os níveis de proteína C-
reativa (PCR) quanto de albumina são orquestrados pelos
valores séricos das citocinas pró-inflamatórias, sobretudo IL-6
e TNF-α (GUPTA; LIS, 2010). Contudo no estudo de SILVA et
al. (2017) valores elevados de PCR relacionaram-se à
desnutrição nos pacientes avaliados, assim como à redução
da albumina sérica.

Quadro 3. Interpretação dos valores de acordo com a


concentração de albumina
Nível de desnutrição Concentração de albumina (mg/Dl)
Nutrido >3,5
Leve 3-3,5
Moderada 2,4-2,9
Grave <2,4
Fonte: Blackburn et al., 1977

Vale salientar que a paciente manteve níveis reduzidos


de creatinina durante todo o internamento, escória nitrogenada
derivada do metabolismo da creatina do musculo esquelético e
da ingestão de dieta à base de carne. Sua produção é
proporcional à massa muscular e varia pouco ao longo dos
dias. Bilirrubinas séricas elevadas, gestação e hepatopatia
crônica podem determinar sua diminuição, fatores não
identificados na paciente, podendo ser justificado pela baixa
ingestão proteica (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012).
Assim como a cretinina, a uréia, apresentou redução
sérica, esta é o principal produto metabólico nitrogenado do
catabolismo proteico nos seres humanos e a substancia de
excreção de nitrogênio responsável por mais de 75% do
nitrogênio não proteico excretado. Entre as situações que
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ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
determinam sua diminuição, está a desnutrição, a baixa
ingestão proteica, hiper-hidratação, fatores que podem
justificar a redução apresentada no exame da paciente
(CALIXTO-LIMA; REIS, 2012).
Hiponatremia é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum
em pacientes hospitalizados. Dentre as possíveis causas
estão alguns fatores observados na paciente: neoplasia
gástrica, hipocalemia e edema. Sua monitorização se faz
necessária, pois está associada a uma série de desfechos
desfavoráveis, como aumento no tempo de permanência
hospitalar (WALD et al., 2010) necessidade de internamento
em UTI, custo da hospitalização e mortalidade (FUNK et al.,
2010). Em alguns casos, para o tratamento ser eficaz é
necessário restrição hídrica, porém nesse caso não foi
necessário.
O potássio apresentou valores reduzidos no momento
da admissão. Edemas e perdas gastrointestinais podem
justificar, a princípio, a hipocalemia. Esta deve ser monitorada,
pois pode interferir na contração muscular, bem como
provocar alterações gastrointestinais, com redução do
peristaltismo e distensão abdominal (COSTA, 2014). A
hipocloremia também é observada, podendo ser associada
aos mesmos fatores causadores das disfunções de sódio e
potássio (MOTTA, 2000).
A avaliação antropométrica constitui um dos métodos
para avaliar a desnutrição em pacientes com câncer, sendo
importante associar a dados bioquímicos, avaliação clínica e
subjetiva (DE SOUZA, 2017). Dessa forma, com avaliação dos
parâmetros antropométricos o diagnóstico nutricional, é de
eutrofia, porém em risco nutricional, observando os
indicadores, localização da doença, PCR e albumina, além da

69
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
ASG-PPP.
É descrito na literatura que o risco nutricional ou a
subnutrição moderada acomete cerca de 49,5% dos pacientes
oncológicos, especialmente nas neoplasias do trato
gastrointestinal superior (KNACK, 2015). É sabido que a
condição de subnutrição associada ao câncer eleva o risco de
infecção, reduz capacidade cicatrizante, bem como força
muscular, com consequente piora da qualidade de vida e
resposta inadequada à terapia antineoplásica (KNACK, 2015).
No Quadro 4 estão descritos os medicamentos usados
no internamento e as possíveis interações fármaco nutriente.
Quando tratamos do paciente oncológico, vale salientar o uso
de opioides para o tratamento da dor crônica e progressiva,
estes são compostos naturais ou sintéticos que produzem
efeitos semelhantes aos da morfina, apesar de não
interferirem na absorção de nutrientes, sua ação pode alterar a
função intestinal dos pacientes interferindo na conduta
nutricional proposta a esses indivíduos (SANTOS, 2002).
Opioides é definido por qualquer composto natural,
semissintético ou sintético, que possua propriedades similares
às dos opioides endógenos e que se liguem
70alóricas70urado aos receptores opioides (mu, kappa, delta e
70alóric), que são importantes na regulação normal da
sensação da dor (BALTIERI, 2004) agindo à nível de sistema
nervoso central. O alívio da dor em pacientes oncológicos
requer o uso dessa classe de medicamentos para promover
uma melhora na qualidade de vida. Entretanto, a
administração desses fármacos produz efeitos colaterais,
dentre os quais destaca-se a alteração patológica do trato
gastrintestinal, que pode provocar quadros de constipação
intestinal (AGRA, 2013; DE LIMA; PEREIRA 2017)

70
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
A constipação, como consequência do uso de opiáceos,
é um efeito reconhecido e inevitável. Os pacientes
ostomisados em uso de opioides devem receber orientações
nutricionais para que tenham uma alimentação balanceada
que auxilie na função intestinal diária, evitando prejuízos em
sua saúde como constipação ou diarreia. A atenção dietética
para este público é de suma importância, pois irá ensiná-los a
escolher os melhores alimentos para suas refeições, ou seja,
os pacientes aprendem a observar os efeitos dos alimentos
em seu organismo e assim saber o que devem ou não
consumir (COELHO, 2013).

Quadro 4. Lista de medicamentos usados durante o


internamento
Droga Dose Indicação Interação droga-
nutriente
Omeprazol 40 mg Antisecretório Diminui a absorção
de ferro e vitamina
B12
Dimorf 10 mg/ml Analgésico Reduz a motilidade
gástrica, as
secreções biliar,
pancreática,intestinal,
e atrasa a digestão
dos alimentos
Clexane 40 mg Anticoagulante Sem interação
Plasil 10 mg Antiemético Tomar ½ hora antes
das refeições. Evitar
álcool, aumenta seu
efeito
Losartana 50 mg Antihipertensivo Sem interação
Captopril 25 mg Antihipertensivo Alimentos diminuem
absorção do fármaco
e leva a retenção de
potássio
Fonte: Calixto-Lima;Gonzalez, 2012

71
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR

Quanto a Evolução Nutricional, como mencionado na


história clínica, a paciente apresentava quadro de constipação
e plenitude gástrica que, à avaliação médica, interrogou-se
decorrência de semioclusão intestinal e/ou abdome agudo
obstrutivo, sendo abordada para realização de colostomia
protetora. A colostomia, abertura realizada na parede cólica e
exteriorizada através da parede abdominal, é realizada para
tratamento de doentes com obstrução intestinal do cólon, em
razão de neoplasia, dentre outras afecções, podendo ser
definitiva ou temporária, terminal ou em alça (OLIVEIRA,
2017).
Do ponto de vista nutricional, compreende-se que há
interrupção do processo absortivo no ponto em que é
confeccionado um estoma. Contudo, diferentemente de uma
ileostomia, não há significativas perdas nutricionais ou
disfunções absortivas, visto que nesta região a saída de fezes
assemelha-se a uma defecação normal (OLIVEIRA, 2017).
A paciente ficou em dieta zero pré-operatória. No pós-
operatório, evoluiu com líquida de prova, líquida total e
pastosa laxante 72alóricas72u (evolução da consistência no
intervalo de 3/3h). Seguiu até dieta branda hipossódica,
conforme aceitação, com alguns alimentos em consistência
pastosa, atendendo à solicitação da mesma. A dietoterapia via
oral conforme aceitação, fracionada em 6 horários
hipercalórica, normoglicêmica, normolipídica, hipossódica,
hiperproteica.
A escolha da conduta dietoterápica baseou-se nas
recomendações para paciente cirúrgico: 30 – 35 kcal/Kg de
peso atual e 1,5 – 2,0g de proteínas por Kg de peso atual
(INCA, 2015).

72
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
Apesar das modificações dietéticas, a paciente não
atingia necessidades energéticas e proteicas, sendo
necessário adição de terapia nutricional via oral hipercalórica e
hiperproteica, no terceiro dia de internamento, específica para
paciente oncológico. Conforme recomenda Arends et al
(2016), o aconselhamento nutricional deve iniciar com
aumento da ingestão através de alimentos normais, quando
não é possível, os complementos enterais devem ser a
primeira opção, quando a ingestão alimentar for <75% das
recomendações em até 5 dias, sem expectativa de melhora da
ingestão (INCA, 2015).
O uso de suplementos nutricionais orais contendo
nutrientes imunomoduladores, ácidos graxos
73alóricas73urados (ácido eicosapentanoico (EPA), tem
mostrado resultados promissores na melhora das funções
imunológicas, reduzindo a resposta inflamatória e que podem
reduzir os efeitos prejudiciais da caquexia em pacientes com
câncer avançado (INUI, 2002; MARSHALL; WINWOOD,
2017).
Deste modo, a oferta total da dieta somou-se 1757 kcal
(37 Kcal/Kg) e 80 g (1,6 g/Kg) de proteína, sendo 29% das
necessidades 73alóricas e 37% das necessidades proteicas
provenientes do suporte nutricional, e 2g de EPA/dia também
do suporte oral. Essa oferta está adequada em 102% de
calorias e 108% de proteína atingindo as necessidades da
paciente.
A paciente recebeu alta no dia 13 de setembro de 2017
com orientação de dieta para ganho de peso, hipossódica,
além de orientações sobre alimentos constipantes e laxantes
conforme sua função instestinal e opções de suporte
nutricional oral padrão hipercalórico e hiperproteico, com

73
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
programação médica de posterior readmissão para tratamento
quimioterápico.

1 CONCLUSÕES

A avaliação nutricional nessa paciente jovem, com


diagnóstico oncológico recente, no momento do internamento,
foi de suma importância para a identificação do risco
nutricional de forma precoce, com possibilidade de fazer a
intervenção nutricional mais indicada para o momento e assim
melhorar a evolução nutricional dessa paciente, influenciando
diretamente na sua resposta ao tratamento e na qualidade de
vida.
Os fatores inerentes a doença e ao tratamento como as
náuseas, a inflamação, que contribuem para anorexia e os
fatores externos como o estar em um ambiente hospitalar,
influenciam na aceitação alimentar, por isso também devem
ser levados em consideração durante o tratamento.
O ganho de peso nas neoplasias de trato
gastrointestinal (TGI) são dificilmente observadas mesmo com
o uso de suportes nutricionais orais específicos, por isso a
estabilização da perda de peso que já se seguia há 10 meses
nessa paciente, onde a doença já estava avançada
(metástase em 74ospitali) é entendida como boa resposta ao
plano nutricional abordado. Ressaltamos também a
importância da orientação nutricional no momento da alta
hospitalar e o acompanhamento ambulatorial para melhor
resposta ao tratamento clínico.

74
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL AO PACIENTE COM CÂNCER GASTRICO: DO
DIAGNÓSTICO À ALTA HOSPITALAR
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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79
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO

CAPÍTULO 4

ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS


PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
Karla Caroline Ramos de JESUS 1
Luciana Caroline Paulino do NASCIMENTO 1
Julianne Cibele Rodrigues da SILVA 2
Fernanda Dayana da Silva DIAS 2
Marcella Campos de Lima da LUZ 3
1
Residente Uniprofissional em Nutrição Clínica – Hospital das Clínicas/UFPE;
2 Residente Multiprofissional Integrada em Saúde – Hospital das Clínicas/UFPE;

³ Nutricionista – Hospital das Clínicas/UFPE.


karlacarolineramos@gmail.com.br

RESUMO: O câncer de vias 80ospital pode se desenvolver em


qualquer parte da via biliar e conforme sua localização pode
ser dividido em três grupos. Os principais sinais e sintomas
deste câncer se dá devido ao bloqueio das vias biliares. O
estudo teve como objetivo descrever atuação nutricional na
assistência ao paciente com diagnóstico oncológico em
cuidados paliativos. Trata-se de um estudo de caráter
descritivo com abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso.
O estudo foi desenvolvido na enfermaria de Oncologia do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, durante o mês de junho de 2017. Os dados
foram coletados a partir de registros de evoluções e exames
anexados em prontuário, observações da equipe ao longo do
período da hospitalização da paciente, e informações
provenientes dos atendimentos realizados. A Paciente era
sexo feminino, 62 anos, com hipótese diagnóstica carcinoma
mal diferenciado de vias biliares. De acordo com a avaliação
nutricional, foi diagnosticada com desnutrição, relatava
80
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
presença de náuseas e apetite reduzido. Utilizou-se a
recomendação nutricional do INCA (2015) para cuidados
paliativos. Durante o tempo de internamento, foram tomadas
condutas como forma de tentar minimizar os sintomas e
ofertar aporte calórico-proteico adequado. Conclui-se que o
tratamento nutricional é importante nos pacientes em cuidados
paliativos, com objetivo de ofertar conforto e qualidade de
vida.

Palavras-chave: Cuidados paliativos; Oncologia; Neoplasia.

1 INTRODUÇÃO

A OMS (Organização Mundial de Saúde) determina o


ponto de corte para classificação da população idosa de
acordo com o desenvolvimento do país no qual o indivíduo
reside. Para países desenvolvidos, a classificação é igual ou
maior que 65 anos, enquanto para países em
desenvolvimento, o corte etário se dá aos 60 anos (INCA,
2016).
A relação entre câncer e envelhecimento,
possivelmente, está associada a alterações moleculares,
celulares, de processos fisiológicos, imunológicos e da
diminuição das reservas fisiológicas e funcionais (INCA, 2016;
SANTOS; MACHADO; LEITE, 2010).
No organismo, verifica-se várias formas de crescimento
celular. Umas organizadas (hiperplasia, metaplasia e
displasia) e outras não organizadas que são chamadas de
neoplasias (BRASIL, 2016). O conceito mais aceito de
neoplasias, descreve esse crescimento celular da seguinte
forma:

81
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
“Neoplasia é uma proliferação anormal
do tecido, que foge parcial ou totalmente
ao controle do organismo e tende à
autonomia e à perpetuação, com efeitos
agressivos sobre o hospedeiro” (PÉREZ-
TAMAYO, 1987; ROBBINS, 1984 apud
BRASIL, 2016).
As neoplasias podem ser divididas em benignas e
malignas a depender das características de multiplicação e
diferenciação. Os tumores benignos, consistem em uma
massa localizada de células que se multiplicam de forma lenta,
se assemelham ao seu tecido original, bem delimitada,
encapsulada e não apresentam metástase, assim raramente
constitui um risco a vida (BRASIL, 2016).
Já as neoplasias malignas quando as células tendem a
ser muito agressivas e incontroláveis, denominando a
formação de tumores (acúmulo de células cancerosas).
Geralmente apresentam crescimento rápido e infiltrativo,
pouco delimitado e costumam apresentar metástases
(BRASIL, 2016).
Uma das principais características das neoplasias
malignas é a capacidade de produção de metástases. Por
definição, a metástase constitui o crescimento neoplásico à
distância, sem continuidade e sem dependência do foco
primário. Ocorre quando as células cancerígenas se
desprendem do tumor primário e entram na corrente
sanguínea ou no sistema linfático, podendo circular pelo
organismo e se estabelecer em outro órgão (BRASIL, 2016;
MACHADO; SAMPAIO; LIMA, 2009).
O câncer é uma doença diferente porque não tem uma
causa única e facilmente identificável (como a hepatite, por

82
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
exemplo, que é causada por um vírus). Essas causas são
chamadas fatores de risco. Entre os principais fatores de risco
estão: a poluição química, uso de álcool, alimentação
inadequada, tabagismo, inatividade física, radiação, exposição
excessiva a luz solar e prática de sexo sem proteção (INCA,
2013)
Quando o câncer apresenta estágio avançado, sem
proposta de terapia curativa, o paciente entra na fase de
cuidados paliativos. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), em conceito definido em 1990 e atualizado em
2002, “cuidados paliativos consistem na assistência promovida
por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da
qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma
doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do
sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e
tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais,
psicológicos e espirituais” (WHO, 2002; HERR et al, 2013).
Entre os princípios dessa modalidade de cuidado estão:
fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes como
astenia, anorexia, 83ospital e outras emergências oncológicas,
reafirmar vida e a morte como processos naturais; integrar os
aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico
de cuidado do paciente; não apressar ou adiar a morte;
oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com
a doença do paciente, em seu próprio ambiente; oferecer um
sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais
ativamente possível até sua morte; usar uma abordagem
interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e
psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo
aconselhamento e suporte ao luto (WHO, 2002)

83
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
O câncer de vias 84ospital pode se desenvolver em
qualquer parte da via biliar e conforme sua localização pode
ser dividido em três grupos. O câncer de via biliar intra-
hepática, o qual se desenvolve nos ramos menores das vias
biliares do fígado. Apenas 10% dos tumores são de vias
biliares intra-hepáticas; câncer de via biliar peri-hilar, que se
desenvolve no hilo, onde os ductos hepáticos se juntam
quando saem do fígado; e ainda o câncer de via biliar distal,
aqueles que são encontrados abaixo do ducto biliar, próximos
ao intestino delgado. Mais de 95% dos cânceres são
carcinomas, sendo a maioria adenocarcinoma (BARROSO et
al., 2015).
O carcinoma de via biliar também é conhecido como
colangiocarcinoma. Os principais sinais e sintomas do câncer
de vias biliares se dá devido ao bloqueio das vias biliares.
Entre eles estão: icterícia, coceira, fezes brilhosas, urina
escura, dor abdominal, perda de apetite, febre, náuseas e
vômitos (INCA, 2013; MARTIN, 2015).
A relação desnutrição e câncer é bastante frequente.
Sendo os principais fatores determinantes desse processo a
baixa aceitação alimentar, as demandas metabólicas
provocadas pelo tumor e os efeitos colaterais produzidos pelo
tratamento (SANTOS et al., 2015).
A desnutrição é capaz de afetar a capacidade funcional
do indivíduo, sendo um fator preditor de morbimortalidade.
Tornando o diagnóstico precoce e a intervenção nutricional
fundamentais parar melhorar o prognóstico do paciente
(FERREIRA; GUIMARÃES; MARCADENT, 2013; DUVAL et al.
2010).
A terapia nutricional possui papel preventivo, buscando
assegurar as necessidades nutricionais na tentativa de

84
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
preservar o peso e a composição corporal e retardar o
desenvolvimento da caquexia. Além disso, auxilia o controle
de sintomas e a manutenção da hidratação satisfatória e atua
85ospitalizados o alimento, possibilitando a redução da
ansiedade e o aumento da autoestima e do prazer
(ACREMAN, 2009; BENARROZ; FAILLACE; BARBOSA, 2009
apud INCA, 2015; TOSCANO, 2008).
Levando em condiseração que as intervenções
nutricionais podem melhorar a qualidade de vida do paciente
oncológico, o objetivo deste estudo é descrever atuação
nutricional na assistência ao paciente com diagnóstico
oncológico em cuidados paliativos durante tratamento clínico
no Hospital das Clínicas da UFPE.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de caráter descritivo com


abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Segundo
Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012), o estudo de
caso representa um método de pesquisa através do qual se
torna possível uma descrição e análise intensiva de um
indivíduo único, funcionando como uma fonte potencialmente
rica de informações.
O estudo foi desenvolvido na enfermaria de Oncologia
do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, durante o mês de junho de 2017. Os dados
foram coletados a partir de registros de evoluções e exames
anexados em prontuário, observações da equipe ao longo do
período da hospitalização da paciente e informações
provenientes dos atendimentos realizados. Com vista a
ampliar as discussões, utilizaram-se ainda levantamentos de

85
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
dados teóricos, através de revisão da literatura de livros e
artigos científicos.
A avaliação nutricional é um processo detalhado para
identificar o estado nutricional, possibilitando uma intervenção
adequada de forma a auxiliar na recuperação ou manutenção
da saúde do indivíduo (ADA, 2006). A avaliação nutricional foi
realizada através de parâmetros antropométricos e dietéticos.
As medidas antropométricas de peso e altura foram
realizadas conforme as recomendações do Ministério da
Saúde. Para avaliação do peso é recomendado que os
pacientes estejam na posição ortostática, descalços e usando
roupas leves, em balança com capacidade máxima de 300
quilos (kg) e variação de 100 gramas (g). A aferição da altura
é obtida com auxilio de régua antropométrica de 2 metros,
com frações de 1 centímetro (cm) e os pacientes são mantidos
em posição ereta, descalços e pés unidos (BRASIL, 2011).
Para avaliar o estado nutricional foi utilizado o Índice de
Massa Corporal (IMC), que é obtido a partir da fórmula: Peso
atual (Kg) / Estatuta (m²) (CORONHA; CAMILO; RAVASCO,
2011). Os pontos de corte para diagnóstico nutricional é
recomendado para população idosa (Quadro 1).

Quadro 1 – Classificação do estado nutricional para idosos


IMC (Kg/m2) Classificação
< 16,0 Baixo peso
22,0 – 27,0 Eutrofia
>27 Sobrepeso
Fonte: Lipschitz, 1994.

86
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
Como forma de complementação da avaliação do
estado nutricional foi utilizada a Circunferência do Braço (CB).
Para esta avaliação, o paciente deve ficar com o braço
relaxado ao longo do corpo, a medida é aferida no ponto
médio entre o acrômio e olécramo, com auxilio de fita métrica.
A adequação da CB pode ser calculada a partir da fórmula:
%CB = CB atual ÷ CB P50 e em seguida ser classificada
(Quadro 2).

Quadro 2 – Classificação da circunferência do braço


Desnutrição Desnutrição Desnutrição Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Grave Moderada Leve
<70% 70-80% 80-90% 90- 110- >120%
110% 120%
Fonte: Blackburn e Thornton, 1979.
A perda de peso involuntária constitui importante
informação para avaliar a gravidade do problema de saúde,
visto que a perda de peso tem alta correlação com a
mortalidade (CUPPARI, 2014; SANTOS, 2015).
Para definição do percentural de perda ponderal é
utilizada a fórmula: Perda de peso (%) = (Peso usual – Peso
atual) x 100 / Peso usual. A partir disto, pode ser classificada
em relação ao tempo (Quadro 3).

Quadro 3 – Classificação da perda de peso x tempo


Tempo Perda de peso Perda de peso
significativa (%) grave
(%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5

87
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
6 meses 10 >10
Fonte: Blackburn, Bistrian e Maini, 1977.

Em relação a avaliação dietética, tornou-se prioridade


avaliar a ingestão alimentar, visto que a paciente apresentava
dificuldades de deglutição. Avaliar a aceitação de forma
qualitativa e quantitativa, é fundamental para direcionar a
conduta nutricional e avaliar a eficiência da intervenção
(FERREIRA; GUIMARÃES; MARCADENTI, 2013).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Paciente do sexo feminino, 62 anos, dona de casa,


residente de Recife – PE. Nega hipertensão arterial, diabetes
melltius, alergias, tabagismo ou etilismo. A paciente em
questão apresentava como hipótese diagnóstica carcinoma
mal diferenciado de vias biliares, estádio IV, porém sem
histórico familiar de neoplasias.
Paciente com relato de dor em hipocôndrio direito e
colelitíase há 17 anos, com piora progressiva da dor,
associado à epigastralgia e perda ponderal de mais ou menos
14 quilos em 06 meses. Em abril de 2017, foi internada por
quadro infeccioso e submetida à colecistectomia aberta,
quando foram visualizados implantes peritoneais, cujo exame
anatomopatológico evidenciou adenoma de ductos biliares.
Evoluiu com infecção pós-operatória (abcessos hepáticos),
sendo novamente internada e submetida à cirurgia de
urgência por quadro de hematêmese volumosa. Durante
cirurgia, foram visualizados implantes peritoneais (maiores que
na cirurgia anterior), presença de massa em topografia da
vesícula biliar e linfonodomegalias abdominais.

88
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
O exame anatomopatológico dos linfonodos evidenciou
carcinoma mal diferenciado de sítio primário desconhecido.
Foi encaminhada para acompanhamento ambulatorial e início
da quimioterapia, a qual foi suspensa pois a paciente evoluiu
com queda do estado geral, hipotensão, náuseas e vômitos,
seguindo para internamento hospitalar para suporte clínico em
cuidados paliativos não invasivos, sem indicação de UTI, com
familiares cientes da gravidade da situação e concordantes
com o nível de investimento.
Segundo estado físico geral no momento da internação
na enfermaria de oncologia, paciente apresentava estado
geral regular, consciente, orientada, eupneica, hipocorada,
afebril, abdome 89ospital, globoso, indolor e edema simétrico
em membros inferiores.
Durante internamento, paciente permaneceu em estado
geral grave, consciente, orientada, sonolenta, hipocorada,
desidratada, abdome globoso, algo doloroso em hipocôndrio
direito, frequência cardíaca de 80bpm, pressão arterial de
70x50mmhg, saturação periférica de 91%, edema assimétrico
em membro inferior esquerdo.
Quanto a análise dos resultados dos exames
complementares, a paciente foi admitida apresentando
exames laboratoriais ligeiramente abaixo dos valores de
referência no aspecto de hemácias, hemoglobina e
hematócrito e aumento do número de leucócitos, sem
melhoras no decorrer do internamento (Tabela 1).
Segundo avaliação dos exames laboratoriais, paciente
apresentou quadro de anemia, podendo ser resultante de
deficiência de ferro, proviniente da baixa aceitação alimentar
ou a seu quadro clínico e estado nutricional. As anemias
podem ter causas multifatoriais, como hemorragia, inflamação,

89
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
desnutrição, entre outros (CARVALHO, 2006; NEMER;
NEVES; FERREIRA, 2010).

Tabela 1 – Período e exames laboratoriais


Datas Referên-
Hemograma cia
19/06/17 22/06/17

Hemácias em milhões/ 4,2 – 5,4


3.14 2.93 células/mm³
mm³

12 a
Hemoglobina em g/dl 9.51 8.75
16g/Dl

Hematócrito em % 29.40 26.60 37 a 47%

Leucócitos por mm³ 22.900 21.300 4 a 11mil


células/mm³

Fonte: CALIXTO-LIMA; REIS, 2012.

Outra alteração entrada foi os níveis de


leucócitos, indicando quadro de leucocitose. O mecânismo
ocorre pela interação das células neoplásicas e o sistema
imunológico. A leucocitose está relacionada a piora no
prognóstico nesta população (CONNOLLY et al., 2010).
A relação dos medicamentos e suas possíveis
interações ou efeitos colaterais, podem decorrer dependente
de alguns fatores, como o organismo do paciente, quantidade
de fármaco administrado, idade, sexo, estado clínico e
doenças associadas (MARTINS; MOREIRA; PIEROSAN,
2003).
Pacientes idosos 90ospitalizados recebem elevada
quantidade de medicamentos, quando comparados a outros
90
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
grupos etários. Isto auxilia para aumento da possibilidade de
interações medicamentosas e possíveis reações adversas,
devido a idade, múltiplas doenças crônicas, alterações
fisiológicas e clínicas (BUENO et al. Apud SOUZA, 2015).
O reconhecimento da possibilidade interação entre
drogas e nutrientes é fundamental no cuidado do paciente.
Cada organismo apresenta um mecanismo de absorção,
metabolização e excreção dos fármacos, além de que alguns
tipos de alimentos podem reduzir ou exarcerbar seu
mecanismo de ação (MAHAM; ESCOTT-STUMP, 2012).
Durante todo o internamento ocorreram alterações na
prescrição medicamentosa. No momento do estudo a
prescrição estava composta por dez medicamentos, sendo
três fixos e os demais, se necessário. Estavam prescrito se
necessário: Dipirona; Buscopan, Tramal, Morfina,
Ondansetron, Plasil e Dimeticona. E os fixos: Ciprofloxacino,
Fluconazol e Daxametasona (Quadro 4).

Quadro 4 – Interação droga-nutriente


Droga Indicação/ Interações
medicamentosas e possíveis
intercorrências
Ciprofloxacino Antibiótico. Náuseas e vômitos, dor
abdominal, diarreia, Aumento de
creatinina, transaminases e fosfatase
alcalina, triglicerídeos e ácido úrico.
Fluconazol Antimicótico. Alterações no paladar,
náuseas e vômitos, boca seca, dor

91
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
abdominal, diarreia e hepatotoxidade
Dexameta- Corticosteróide. Esofagite, náuseas e
Zona vômitos, dispepsia, úlcera péptica,
flatulência, sangramento e perfuração
gastrointestinal, aumento do apetite e
peso, anorexia. Aumento de sódio,
glicose, diminuição de potássio, cálcio,
zinco, ácido úrico, vitaminas A e C.
Fonte: Martins e Saeki, 2013.

Segundo o INCA (2015), na abordagem dos pacientes


em cuidados paliativos, os profissionais devem basear suas
decisões nas preferências e expectativas dos pacientes e
familiares, mas também na avaliação criteriosa do prognóstico
e da sobrevida. Os principais indicadores prognósticos em
pacientes com câncer avançado são: estágio tumoral,
presença de metástases, capacidade funcional, predição
clínica de sobrevida, história de perda de peso, caquexia,
presença de sintomas, tais como: dispneia, delírio, anorexia e
disfagia, e alterações laboratoriais (leucocitose, linfopenia,
hipoalbuminemia e aumento da proteína C reativa).
Para tal abordagem foi proposto que o planejamento
nutricional de pacientes em cuidados paliativos considerando,
entre outros fatores, a expectativa de vida como um dos
componentes essenciais na tomada de decisão sobre a
conduta a ser instituída. Assim dividida em: expectativa de
vida maior que 90 dias; expectativa de vida igual ou menor
que 90 dias; e cuidados ao fim da vida, fase cujo óbito é
iminente e geralmente ocorre em até 72 horas. Com isso

92
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
espera-se que pacientes que possam se beneficiar de uma
terapia nutricional especializada mantenham ou melhore seu
estado nutricional (INCA, 2015; HERR et al, 2013).
Para o estudo de caso em questão, foi decidido
consensualmente pela equipe médica que a paciente se
enquadrava na categoria de cuidados ao fim da vida. Nessa
fase deve-se priorizar alívio dos sintomas e conforto para o
paciente. A avaliação nutricional restringe-se à anamnese
nutricional, afim de evitar qualquer desconforto físico ou
emocional nessa fase.
A avaliação antropométrica da paciente foi proveniente
de um internamento anterior, devido a impossibilidade de
realização de algumas medidas e a contraindicação a fim de
evitar desconforto físico ou emocional na internação atual. A
paciente referia um peso habitual de 63 kg e apresentava peso
atual de 49 kg, altura de 1,49 cm, CB de 19 cm e IMC de 21
kg/m².
A avaliação nutricional evidenciou desnutrição segundo
o IMC e desnutrição moderada segundo a CB (61,8% de
adequação), além de uma perda grave de peso em 6 meses
(22% de perda ponderal). Evidenciando assim, risco
nutricional.
Esta avaliação deve ser individualizada nestes
pacientes, baseando-se em nos aspectos dietéticos,
antropométricos e laboratoriais. Visto que a perda de peso
nestes pacientes é um fator preocupante, podendo provocar
aumento das complicações (BRITO et al., 2012; ROCHA et al.,
2016; GAROFOLO; PEREZ; PETRILLI, 2005).
Independente dos parâmetros já utilizados na avaliação
do estado nutricional, para que seja possível detectar sinais e
sintomas associados a desnutrição é necessário realizar o

93
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
exame clínico nutricional. Este consiste em avaliar as
alterações orgânicas expressas nos tecidos externos
(VITOLO, 2008; LEUENBERGER; KURMANN; STANGA,
2010; PELISSARO, 2016).
No que tange a semiologia nutricional foram
encontrados os seguintes sinais de desnutrição: depleção de
massa magra e de gordura subcutânea, ossos claviculares
evidentes, consumo da bola gordurosa de Bichat e ascite leve.
Na avaliação clínica teve-se a presença de diurese e
trato gastrointestinal sem alterações (após lavagem intestinal),
apresentou mastigação e deglutição comprometida, relatando
também a presença de náuseas, apetite reduzido e
hipotensão arterial.
Segundo Cavichiolo et al. (2017), a desnutrição e a
perda de peso são as principais complicações nutricionais que
acometem pacientes com câncer, porém constatou que a
presença de sintomas gastrointestinais estão presentes e
integrados, podendo influenciar na capacidade funcional do
paciente.
Para o cálculo das necessidades nutricionais foi
utilizado o último peso aferido. Como base para a escolha da
conduta dietoterápica foi utilizado as recomendações para
pacientes oncológicos em cuidados paliativos. Estas orientam
como demanda energética 25-35 quilocalorias por kg de peso
(kcal/kg) e a proteica de 1-1,5 grama de proteína por kg de
peso (g/kg) (INCA, 2015).
Considerando a desnutrição, a perda de peso grave e a
tolerância da dieta utilizou-se 30 kcal/kg e 1,5 g/kg. Sendo
assim a necessidade nutricional da paciente fica em torno de
1470 kcal/dia (40kcal/kg) e 73,5g de proteína/dia (1,5 g/kg).
Na fase de cuidados ao fim da vida, as necessidades

94
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
calóricas e proteicas ainda não estão estabelecidas, pois
serão ofertadas de acordo com a aceitação e a tolerância do
paciente, com foco prioritário na promoção de conforto
(ROBERTS; MATTOx, 2007 apud INCA, 2015).
Durante o tempo de internamento, foram tomadas
condutas como forma de tentar minimizar os sintomas e
ofertar aporte calórico-proteico adequado. No momento da
internação a paciente apresentava indicação de alimentação
por via oral.
A dieta era de consistência branda e com característica
hipercalórica, hiperproteica, hipolipidica, normossódica e
fracionada seis vezes ao dia. Sendo ofertado 2329 kcal/dia e
76,1 g de proteína/dia. Porém, aceitação alimentar em
aproximadamento 25%.
A dieta não pôde ser evoluída devido a presença de
vômitos e dificuldade de deglutição, sendo suspensa no dia
seguinte. Por melhora dos episódios eméticos e quadro de
estabilidade, foi liberada uma dieta de consistência líquida de
prova, a qual ofertava 353 kcal e 1,38 de proteína por dia.
Posteriormente, com melhora da aceitação, a
consistência da dieta foi evoluída para líquida total, sendo
ofertado 1.646 kcal e 63,2 g de proteína dia. Considerando
uma aceitação alimentar, em aproximadamente 25%, a
ingestão era em torno de 411kcal e 15,8g de proteína.
Paciente ainda evoluiu com piora do estado geral e
dificuldades de deglutição, sendo necessário de uso de
analgesia forte, ficando inviável a alimentação via oral. O
INCA, em seu Consenso de Nutrição Oncológica, traz a
dificuldade entre o planejamento nutricional e a ingestão.
Sendo necessário respeitar a tolerância e a aceitação do
paciente (CORRÊA; SHIBUYA, 2007 apud INCA 2015;

95
ATUAÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS: UM ESTUDO DE CASO
SBNPE/ABM, 2011).
Além do que, a maior parte dos pacientes em cuidados
ao fim da vida requer quantidades mínimas de água e alimento
para saciar a fome e a sede, sendo a indicação hídrica
preconizada de 500 ml ao dia a 1.000 ml ao dia (ARENDS et
al., 2006; BACHMANN et al., 2003; DOYLE et al., 2005 apud
INCA, 2015). Assim, a oferta de líquidos nessa fase deve
restringir-se à aceitação e à sintomatologia do paciente (INCA,
2015).

4 CONCLUSÕES

Face ao exposto, o presente estudo permitiu


compreender a importância da assistência nutricional na
promoção da assistência à saúde integral às pacientes
internadas no setor de Oncologia do Hospital das Clínicas. Os
atendimentos nutricionais possibilitaram uma atuação mais
integral e abrangente, permitido a oferta de um
acompanhamento diferenciado durante o período de
internação.
O tempo de acompanhamento dos pacientes, muitas
vezes, torna-se um desafio em outros setores. A Oncologia,
entretanto, é um setor que possui pacientes que, por vezes, e
dependendo de suas condições clínicas, permanecem por
mais tempo, possibilitando um acompanhamento mais intenso
nos cuidados, paliativos ou não.

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99
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
CAPÍTULO 5

ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA


À PACIENTE COM ADENOCARCINOMA DE
PRÓSTATA
Eryka Maria dos SANTOS1
Emylle Thais Melo dos SANTOS1
Kamilla Helen Rodrigues da COSTA1
Mikaella Carla de França CAVALCANTI1
Isis Suruagy Correia MOURA2
1
Nutricionista Residente no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.
2 Orientadora/Nutricionista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.

Erykasantos.nutri@gmail.com

RESUMO: O câncer de próstata é classificado como a


segunda causa de letalidade por câncer entre norte-
americanos, sendo mais comum em homes > 65 anos e
negros. Uma das complicações mais frequentes em pacientes
oncológicos é a desnutrição, comprometendo a resposta ao
tratamento e qualidade de vida do paciente. Dessa forma, o
presente estudo trata-se de um caso clínico desenvolvido no
Hospital das Clínicas da UFPE, em julho de 2017, cujo
objetivo foi discutir o quadro clínico e nutricional de um
paciente com diagnóstico de adenocarcinoma de próstata. Os
dados foram obtidos a partir de prontuários, observações pela
equipe e informados pelo paciente ou familiar. Foram
avaliadas variáveis antropométricas, clínicas, bioquímicas,
história da doença e antecedentes familiares. No momento da
internação, foi realizada a Avaliação Subjetiva Global
Produzida pelo Próprio Paciente, que é uma ferramenta de
triagem utilizada para paciente oncológico. Durante o
internamento, foi realizado rotineiramente o acompanhamento
nutricional e observou-se que o paciente evoluiu com perda de

100
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
peso e diminuição de massa muscular, sendo indicado uso de
suplementação nutricional, que foi associado a dieta via oral.
Dessa forma, destaca-se a importância do acompanhamento
do estado nutricional de pacientes oncológicos, uma vez que o
câncer é uma doença catabólica e a alteração do estado
nutricional pode ser fator determinante para resposta ao
tratamento clínico ao qual o doente será submetido.
Palavras-chave: Próstata. Câncer. Estado Nutricional.

1 INTRODUÇÃO

Os tumores são caracterizados como massas de


tecidos produzidos a partir do crescimento descontrolado e
disseminação de células anormais. Dessa forma, o câncer
pode ser definido como uma enfermidade crônica de
característica multicausal e é considerado como um problema
de saúde pública mundial. Dados de 2013 da Organização
Mundial de Saúde (OMS), o câncer afeta aproximadamente
nove milhões de pessoas, e é a segunda causa de morte por
doença nos dias atuais em países desenvolvidos, perdendo
apenas para as doenças cardiovasculares. Segundo o Instituto
Nacional do Câncer (INCA), o desenvolvimento das neoplasias
malignas está associado tanto a fatores ambientais, como a
fatores genéticos (POLTRONIERI; TUSSET, 2016).
A próstata é uma glândula exócrina específica do
sistema genital masculino, responsável por produzir parte do
líquido seminal, que alimenta e conduz os espermatozoides
produzidos nos testículos. Descrita como um órgão que tem o
tamanho de uma noz, pesa aproximadamente de 10 a 15
gramas, além de ter extrema importância para a fase
reprodutora do homem (NOVAK; SABINO, 2015).

101
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
De acordo com Nettina (2012), o carcinoma de próstata
é mais comum em homens acima de 65 anos, classificado
como a segunda causa de letalidade por câncer entre norte-
americanos, sendo a população negra a mais atingida pela
doença, alcançando uma taxa de incidência superior a 30% da
totalidade e, na maioria das vezes quando diagnosticadas já
se encontram em um estádio bem avançado.
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais
comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-
melanoma). Em valores absolutos e considerando ambos os
sexos é o quarto tipo mais comum e o segundo mais incidente
entre os homens. A taxa de incidência é maior nos países
desenvolvidos em comparação aos países em
desenvolvimento (INCA, 2016).
Segundo INCA (2014), o perfil de morbimortalidade por
câncer de próstata, tanto no Brasil como em outros países tem
sofrido alterações. A justificativa para o aumento do número
de casos está relacionada aos métodos utilizados para o
diagnóstico, os quais favorecem a identificação precoce do
problema.
De acordo com Heidenreich et al. (2012) existem três
fatores de riscos bem estabelecidos para a elevada incidência
do câncer de próstata como: o aumento da idade, origem
étnica e predisposição genética. Alguns achados clínicos
também sugerem outros fatores de riscos exógenos tais como:
dieta, padrão de comportamento sexual, etilismo, exposição à
radiação solar e exposição ocupacional, os quais podem
desempenhar um papel importante para o risco de
acometimento pela patologia, ou seja, a evolução da doença
pode exigir estratégias terapêuticas diferentes, dependendo do
histórico, estilo e da expectativa de vida do paciente.

102
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
Rhoden e Averbeck (2010) relatam que os sintomas de
disfunção miccional (polaciúria, disúria, redução da força e
calibre do jato urinário, noctúria, hesitação, sensação de
repleção miccional) são historicamente mencionados como os
sintomas mais comumente relacionados ao câncer de
próstata, porém não estão especificamente relacionados ao
crescimento benigno ou maligno desta glândula. Em estágios
avançados, sinais e sintomas relacionados à invasão local,
tais como hematúria (invasão da bexiga) ou mesmo obstrução
ureteral, com consequente hidronefrose e uremia ou, menos
frequentemente, sangramento retal decorrente de invasão
retal podem ser observados. No câncer de próstata
metastático os sintomas neurológicos são observados em 20%
dos pacientes. Dores em diferentes sítios, fraqueza, distúrbios
esfincterianos urinários e retais são clinicamente os achados
mais característicos.
A cada ano, surgem 68 mil novos casos de câncer de
próstara no Brasil, fazendo-se importante o diagnóstico
precoce, aumentando as chances de sucesso no tratamento.
Estima-se que quase um terço dos pacientes com diagnóstico
confirmado já apresentam um tumor local bem avançado ou
metastático ao serem diagnosticados. A demora e a relutância
em realizar o exame de toque retal podem explicar esse
cenário, pois muitos homens por desconhecer o procedimento
temem que este comprometa sua masculinidade ou
sexualidade (GUIMARÃES, 2014).
Os principais instrumentos utilizados para diagnosticar o
câncer de próstata incluem o exame digital transretal da
próstata, o antígeno prostático específico (PSA) e a biópsia
por ultrassonografia transretal (USTR). Sobre o sistema de
estadiamento para o câncer de próstata, o mais utilizado é o

103
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
TNM, da American Joint Committee on Cancer (AJCC), que
está baseado em 5 critérios: extensão do tumor primário (T);
se o tumor se disseminou para os linfonodos próximos (N);
ausência ou presença de metástases à distância (M); nível do
PSA no momento do diagnóstico; e pontuação de Gleason,
com base na biópsia ou cirurgia da próstata (HEIDENREICH,
2008).
Os avanços no tratamento do câncer de próstata
melhoraram a sobrevivência desses pacientes. A radioterapia,
quimioterapia e cirurgia (prostatectomia radical) são as opções
de tratamento atual, devido à sua eficácia na redução da
progressão da doença específica da próstata. No entanto, os
efeitos colaterais do tratamento do câncer de próstata são
diversos e podem afetar a qualidade de vida desses pacientes,
levando a um pior prognóstico. Sabe-se que a dieta interfere
diretamente, contribuindo para manutenção ou melhora do
estado nutricional (COLLING et al., 2012; BAGULEY et al.,
2017).
A alteração nutricional mais frequente no paciente
oncológico é a desnutrição, relacionada a fatores multifatoriais,
como a presença do tumor, que proporcionam diversas
alterações metabólicas como a anorexia e caquexia e devido
aos fatores associados ao tratamento. Essas complicações
nutricionais estão associadas como aumento da
morbimortalidade, redução da resposta e tolerância ao
tratamento, maior tempo de internamento hospitalar, aumento
dos custos e redução da qualidade de vida (CARDOSO, 2012;
MIRANDA et al., 2012).
Os acometimentos trazidos pela doença e pelo seu
tratamento, podem levar o paciente a um internamento
hospitalar, comprometendo sua rotina, hábitos diários, e piora

104
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
clínica, percebe-se a necessidade da atuação multiprofissional
para a realização de um atendimento integral. Dessa forma,
esse trabalho teve como objetivo geral, discutir o quadro
clínico e nutricional de um paciente com diagnóstico de
adenocarcinoma de próstata e como objetivos específicos,
descrever a evolução do quadro clínico da paciente, desde o
início da sua internação; compreender, de maneira integrada,
a conceitualização e repercussões clínicas das hipóteses
diagnósticas em questão; discutir, baseado em evidência
científicas, as intervenções pertinentes realizadas pela
nutrição.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo tem caráter descritivo com


abordagem qualitativa, o qual se adotou, enquanto estratégia
de investigação, o estudo de caso.
O estudo foi desenvolvido no setor de oncologia do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, durante o mês de julho de 2017. Os dados foram
coletados a partir de registros de evoluções e exames
anexados ao prontuário, observações da equipe ao longo do
período de hospitalização da paciente, e informações
provenientes do diálogo com a paciente e seus familiares, bem
como dos atendimentos realizados pela nutricionista.

2.1 TRIAGEM NUTRICIONAL

Realizada pela Avaliação Subjetiva Global Produzida


pelo Próprio Paciente (ASG-PPP), trata-se de um método de
triagem criado por Ottery (1996) a partir de uma adaptação

105
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
específica da ASG para a população oncológica, que no ano
de 2010 foi traduzida para o português e validada. Consiste
em um método essencialmente clínico que permite uma rápida
avaliação do estado nutricional, identificação de sintomas de
impacto nutricional, capacidade funcional e perda de peso
específicos para o câncer, considerada como padrão ouro na
avaliação, facilitando a implementação da terapia nutricional
adequada (OTTERY, 1996; LEUENBERGER et al., 2010;
GONZALEZ et al. 2010; SANTOS et al., 2012; INCA, 2015).
O resultado da pontuação da ASG-PPP pode ser
utilizado como medida para intervenção nutricional e identifica
mudanças no estado nutricional, o que a torna uma ferramenta
de elevada sensibilidade e especificidade.
A ASG-PPP avalia o estado nutricional em três
categorias (A = bem nutrido, B = suspeita de desnutrição ou
desnutrição moderada e C = desnutrição grave), além disso
gera ainda um escore numérico que permite a identificação de
pacientes em risco nutricional, que podem assim ser
encaminhados para diversos níveis de intervenção nutricional.
A presença do escore numérico ainda possibilita a repetição
periódica, podendo identificar modificações na necessidade de
intervenção nutricional nestes pacientes (GONZALEZ, 2010).
A triagem nutricional deve ser realizada até 48 horas da
internação, e durante a internação devem ser realizados os
parâmetros antropométricos, bioquímicos, anamnese
alimentar, exame físico e clínico. Todos os dados da avaliação
nutricional devem ser registrados, para que se tenha um
diagnóstico nutricional mais completo (INCA, 2009).

106
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
2.2 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL

A avaliação nutricional foi realizada semanalmente. As


medidas de peso e altura foram realizadas segundo a técnica
original recomendada por Lohman (1991). O paciente foi
pesado utilizando-se uma balança eletrônica digital, tipo
plataforma, da marca Filizola®, com capacidade máxima de
150 Kg e precisão de 100 g. A estatura, foi medida com o
paciente descalço, na posição de Frankfurt, por meio do
estadiômetro fixo à balança com capacidade para 1,90 m e
precisão de 1 mm.
O Índice de Massa Corpórea (IMC), definido como o
peso (em quilos) dividido pela altura (em metros) ao quadrado,
foi utilizado para a avaliação do estado nutricional, segundo a
classificação de Lipschitz (1994) (Quadro 1).

Quadro 1. Classificação do estado nutricional de adultos segundo o IMC.


IMC (Kg/m2) Classificação

< 22 Magreza

22 – 27 Eutrofia

> 27 Excesso de peso

Fonte: LIPSCHITZ,1994

O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi


calculado pela seguinte fórmula:
Perda de peso (%) = (Peso usual – peso atual) x 100 ÷ peso
usual
A classificação do %PP foi realizada conforme descrito
no quadro 2.
107
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA

Quadro 2. Classificação do % PP quanto ao tempo.


Perda de peso
Tempo Perda de peso grave (%)
significativa (%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
Fonte: BLACKBURN, 1977

A circunferência do braço (CB) foi medida com o


paciente em pé, no ponto médio do braço não dominante.
Para sua mensuração, o cotovelo foi fletido em 90º. A
distância entre a projeção lateral do acrômio, no ombro, e do
olécrano, na ulna do cotovelo foi observada utilizando fita
métrica inelástica de fibra de vidro, e o ponto médio marcado.
Após este procedimento, o braço foi contornado com a fita no
ponto marcado de forma ajustada, evitando-se compressão da
pele ou folga. Para cálculo da adequação da CB foi utilizada a
fórmula:
Adequação CB (%) = (CB aferida x 100) ÷ CB do percentil 50
A classificação do estado nutricional quanto a CB foi
feita segundo Blackburn (1979), conforme mostra o quadro 3.

Quadro 3. Classificação do estado nutricional segundo a adequação da


CB.
Desnut Desnut Desnut Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Grave Moderada Leve
< 70% 70 – 80% 80 –90% 90 –110% 110 – 120% >120%
Fonte: BLACKBURN, 1979

A avaliação da circunferência da panturrilha (CP) foi


realizada com fita métrica inelástica, com extensão de 1,50m,
no ponto de maior circunferência. O paciente estava em

108
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
decúbito dorsal ou sentada, com o joelho esquerdo flexionado
a um ângulo de 90º. O ponto de corte utilizado foi o
recomendado pelo Inca (2016), que estabelece dentro da
normalidade o valor ≥ 33 cm para mulheres e ≥ 34 cm para
homens.

29 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Paciente do sexo masculino, 72 anos, natural de


Pernambuco, casado, evangélico, cursou fundamental
completo, possui 4 filhos. Relatou ser ex-tabagista e ex-etilista.
Admitido no serviço no dia 04/07/2017, com dores em coluna
lombar, associado à parestesias em membros inferiores
(MMII), sendo diagnosticado com adenocarcinoma de próstata
estádio IV, com metástase óssea em coluna lombar. O mesmo
realizou cirurgia prévia no mesmo serviço em 2016, tendo
doença retornado com metástases. No momento da admissão
aguardava avaliação da ortopedia com diretrizes de cuidados
paliativos não invasivos, sem indicação de UTI/RCP
(reanimação cardio pulmonar).
Ao exames físico, apresentava estado geral regular,
orientado, eupneico em repouso, corado, afebril, hidratado,
com dor controlada com analgesia, mantendo 109licoco motor
em MMII, deambulando com dificuldade, sob auxílio de órtese
(bengala). Diurese e evacuações presentes. Abdome flácido,
indolor à apalpação, panturrilhas livres, presença de edema
simétrico em MMII.
De acordo com a ASG-PPP realizada no momento da
admissão, o paciente obteve uma pontuação 5, que indica
necessidade de intervenção pelos profissionais de saúde. Na

109
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
categorização do estado nutricional de acordo com esta
triagem, o paciente foi incluso na classificação A, indicando
um estado nutricional adequado ou anabólico.
Em relação aos exames bioquímicos realizados pelo
paciente no momento da admissão e durante o internamento,
o quadro 4 nos mostra os resultados:

Quadro 4. Exames laboratoriais do paciente. Recife, 2017


Valor de
04/07 11/07 16/07 21/07 referência
*
Hemoglobin
12,2↓ 12,3↓ 11,6↓ 11,8↓ 14 – 18
a (g/dL)
Hematócrito
38,1↓ 37,6↓ 34,5↓ 37,4↓ 42 – 54
(%)
VCM (fl)/ 89/ 86,4/ 88,1/ 88,2/ 80 – 98 /
HCM (pg) 28,5 28,2 29,6 27,8 27 – 37
Leucócitos 4.000–
7.220 11.600↑ 13.200↑ 10.700
(mm³) 11.000
Plaquetas 150.000 –
250.000 215.000 186.000 195.000
(mm³) 450.000
Albumina
3,8 - - - 3,5 – 4,8
(g/dL)
Uréia
31 41,1 45,5 47 10 – 50
(mg/dL)
Creatinina
0,6↓ 0,6↓ 0,6↓ 0,6↓ 0,7 – 1,3
(mg/dL)
Sódio
129,9↓ 131,1↓ 125,1↓ 130,0↓ 136 – 145
(mmol/L)
Potássio
4,5 5,2 5,2 5,2 3,6 – 5,2
(mmol/L)
Cloreto
93,7↓ 92,1 ↓ 88,4 ↓ 90,7 ↓ 98 – 107
(mmol/L)
Cálcio
9,1 - - - 8,5 – 10,5
(mg/dL)
Magnésio
2,1 - - - 1,7 – 2,5
(mg/dL)
Fonte: CALIXTO-LIMA E REIS, 2012

110
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
Os exames laboratoriais da paciente demonstraram
anemia normo normo, pacientes oncológicos tendem a
desenvolver anemia como consequência da patologia, do
tratamento ou até mesmo pelas comorbidades que esses
pacientes já apresentavam. Durante a quimioterapia, a
incidência de anemia pode subir a 90%, sendo fator de
prognóstico desfavorável na manutenção da qualidade de vida
(ROCHA et al., 2016).
Quanto ao leucograma, a leucocitose é alteração
importante em pacientes com neoplasia e ocorre devido à
complexa interação entre as células neoplásicas com o
sistema imunológico e com a inflamação peritumoral, está
associada ao pior prognóstico e mortalidade (CONNOLLY et
al., 2010).
Outro parâmetro que se mostrou alterado foi a
creatinina sérica, seu valor reduzido é frequentemente
encontrado na população de idosos, sendo justificado pela
perda de massa muscular. A creatinina sérica é um composto
de 111licocorti derivado do metabolismo da creatinina do
músculo esquelético a sua produção é proporcional a massa
muscular (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012).
O paciente também apresentou hiponatremia que é
definida como a concentração de sódio, no soro, inferior a 136
mEq/L. É associada com diferentes doenças, e quase sempre
é resultado de retenção hídrica. A hiponatremia dilucional, a
causa mais comum desse distúrbio, é provocada por retenção
de água, se a capacidade renal de excretar água é menor do
que a ingestão, ocorre diluição dos solutos no organismo,
provocando hiposmolalidade e hipotonicidade, justificado pela
condição da paciente (NETO; NETO, 2003).

111
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
A hipocloremia encontrada é justificada pela falta de
entrada adequada de CI-, geralmente em dietas prolongadas
sem ou com pouco sal, e por eliminação exagerada por
vômitos (CENEVIVA; ANDRADE, 2008).
É importante ressaltar a importância de acompanhar
também os medicamentos que o mesmo faz uso, uma vez que
estas drogas podem apresentar interações dietéticas e levar a
alterações bioquímicas. O quadro 5 mostra os medicamentos
utilizados, a indicação e a interação droga-nutriente.

Quadro 5. Medicamentos em uso pelo paciente. Recife, 2017


Droga Indicação Interação droga-nutriente
Antisecretório.
Omeprazol ↓ Absorção de Fe e B12.
Protetor gástrico
Antitrombótico, ↑ TGO, ↑ TGP, ↓ vit K, ↓
Clexane
anticoagulante CT, ↓ TG
Glicocorticóide, ↑ peso, ↑ apetite, ↑ Na,
Decadron anti-inflamatório, ↑ glicemia, ↑ TG, ↑ CT, ↓ K
imunossupressor
Vasodilatador coronário e
Anlodipino Náuseas, disfagia
hipotensor
Antidepressivo ↓ vit B2, ↑ peso, ↑ apetite,
Amitriptilina
com funções ansiolíticas ↑↓ glicemia
Insulina NPH Hipoglicemiante ↓ glicemia
Fonte: MARTINS; SAEKI, 2013.

EVOLUÇÃO NUTRICIONAL

Paciente admitido com dieta por via oral de consistência


normal, hipercalórica e hiperprotéica, trato gastrointestinal
funcionante, diurese presente, mastigação e deglutição
normais, sem episódios de náuseas e/ou vômitos, com boa
aceitação da dieta ofertada (100%). Durante o internamento,
por utilização de 112licocorticoide o paciente cursou com

112
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
hiperglicemia associado a picos pressóricos, no 7º dia de
internamento a dieta ofertada foi modificada, com restrição de
carboidratos simples, alimentos com alto índice e carga
glicêmica e sódio, bem como a adição de módulo de fibras
solúveis e insolúveis, que contribui para a manutenção e
recuperação de um adequado índice glicêmico.
Após modificação da dieta o paciente referia boa
aceitação da alimentação ofertada, associada a módulo de
fibras ofertado em 3 horários/dia. Permanecia com ausência
de náuseas/vômitos, eliminações fisiológicas normais, sem
queixas. No entanto, de acordo com a avaliação nutricional
realizada durante o internamento, o paciente apresentou perda
de peso e foi prescrita suplemento nutricional hipercalórico e
hiperprotéico.
A evolução do estado nutricional do paciente durante o
acompanhamento pode ser observada no quadro 6:

Quadro 6. Evolução do estado nutricional. Recife, 2017.


05/07/17 10/07/17 17/07/17 24/07/17
Altura (m) 1,52 1,52 1,52 1,52
Peso (kg) 62,8 kg 64,7 kg 64,6kg 58,9 kg
Sem Sem
Edema - 2 kg - 2 kg
edemas edemas
Peso – Edema
- 62,7 kg 62,6 Kg -
(kg)
Perda de peso
- - - 3,7/5,9%
(kg / %)
IMC (kg/m²) 27,1 27,0 27,0 25,4
Circunferência
26 (83%) 26,1(83%) 26,3 (84%) 25 (79,8%)
Braquial (CB)
Desnutrido Desnutrido Desnutrido Desnutrido
(cm)/
leve leve leve moderado
% adequação
Circunferência
29 –
da panturrilha 31,5 - 32
Desnutrido
(cm)

113
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
De acordo com os dados encontrados, o paciente
apresentou um IMC de eutrofia de acordo com a classificação
deste dado antropométrico específico para idosos proposta
por Lipschitz (1994).
Na admissão o paciente já apresentava reserva
muscular e adiposa dimunuidas, sendo classificado com uma
desnutrição leve segundo a CB (percentil 50 = 31,3cm),
durante o internamento a depleção de massa magra e gorda
foi acentuada a ter um desnutrição moderada, além disso
também foi observado redução dos valores da circunferência
da panturrilha, indicando um quadro de desnutrição moderada.
Diante desses resultados, é importante que a terapia
nutricional estabelecida auxilie no controle dos picos
pressórios e hiperglicemia apresentados, além de
preservar/recuperar o estado nutricional do mesmo, uma vez
que apesar da boa aceitação da dieta, o mesmo cursou com
perda de peso e redução de circunferências durante o
internamento, sendo classificado como desnutrido.
A desnutrição calórico-proteica é a mais frequente
comorbidade encontrada no câncer, esta patologia
compromete o estado geral e nutricional por meio de múltiplas
vias, relacionadas aos mecanismos da doença ou à própria
terapêutica utilizada. Desta forma, a assistência nutricional ao
paciente oncológico não se limita ao cálculo das necessidades
nutricionais e à sua prescrição dietética, mas objetiva
simultaneamente recuperar o estado nutricional, normatizar a
composição corpórea e os déficits nutricionais acumulados,
garantir o desempenho de sistemas vitais como a capacidade
de cicatrização e a função imunológica, e não menos
relevante, auxiliar na qualidade de vida, principalmente em

114
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
pacientes em cuidados paliativos, como é o caso do paciente
em questão (ARAÚJO, 2008).
Embora os cuidados paliativos devam respeitar os
desejos do paciente, fornecer o maior conforto possível por
meio das terapias indicadas e favorecer a diminuição do
sofrimento, há controvérsias se a alimentação pode ou não
contribuir com esse processo. Geralmente, esses pacientes
apresentam algum comprometimento do estado nutricional,
mas nem sempre essa recuperação é alcançada por meio da
terapia nutricional. As necessidades nutricionais, calóricas,
protéicas e hídricas, devem ser estabelecidas de acordo com
a aceitação, tolerância e sintomas desse paciente, visando a
promoção do conforto e proporcionando melhor qualidade de
vida e não apenas a garantia da ingestão adequada de
nutrientes (SBNPE/ABM, 2011).
Hasenberg et al. (2010) verificaram que a terapia
nutricional precoce pode manter a composição corporal,
melhorar a condição de vida e até mesmo prolongar a
sobrevida de pacientes que sofreram de câncer e que estão
em cuidados paliativos. No entanto, se faz necessário
ressaltar que a perda de peso não intencional e as alterações
na composição corporal estão relacionadas à evolução clínica
desfavorável, comprometimento psicológico, socioeconômico
e da qualidade de vida.
Por essas razões, o objetivo principal da terapia
nutricional para pacientes que já se encontram em cuidados
paliativos é manter o controle dos sintomas, bem como
manutenção do peso e constituição corporal.
As necessidades nutricionais foram individualizadas de
acordo com o quadro clínico do paciente em cuidados
paliativos com expectativa de vida > 90 dias, recomendado

115
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
pelo INCA (2015): 25 – 35 Kcal/Kg/dia e 1,0 – 1,5 g de
proteína/Kg/dia.
A prescrição da dieta consistia em: Dieta de
consistência normal, restrita em carboidratos simples e
gordura saturada, rica em fibras, fracionada em 6 refeições/dia
+ suplemento nutricional com fórmula hipercalórica e
hiperprotéica 3x/dia. De acordo com a aceitação da dieta e do
suplemento ofertados, o paciente recebeu em torno de 1934
kcal e 98,7 g de proteína, perfazendo 32kcal/kg/dia e
1,5g/kg/dia, atingindo necessidades nutricionais estimadas.

4 CONCLUSÕES

O presente estudo possibilitou compreender a


complexidade de fatores envolvidos no adoecimento do
câncer, revelando a importância da integralidade do cuidado e
atuação da equipe multiprofissional na atenção à saúde
integral do paciente como forma efetiva de recuperação em
saúde.
Em se tratando do nutricionista, é essencial que a
intervenção seja iniciada o mais precoce possível, uma vez
que as alterações nutricionais são frequentes em pacientes
oncológicos, principalmente a desnutrição. Essa intervenção
deve visar manter ou melhorar o estado nutricional do
paciente, a fim de garantir melhor condição para o tratamento
ao que o mesmo será submetido. Sendo assim, é importante
ressaltar a necessidade de uma triagem nutricional adequada,
que deve ser realizada em até 48 horas após a admissão, pois
auxilia na detecção dos pacientes desnutridos ou em risco de
desnutrição, e a realização da avaliação nutricional
rotineiramente, para acompanhamento da resposta do mesmo

116
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM
ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA
a terapia nutricional, possibilitando manutenção da conduta
prevista ou reformulação das metas preestabelecidas.

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119
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
CAPÍTULO 6

ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA


À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO DE
ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO

Kamilla Helen Rodrigues da COSTA¹


Emylle Thaís Melo dos SANTOS¹
Eryka Maria dos SANTOS¹
Maria Rayssa Silva do NASCIMENTO¹
Mellina Neyla de Lima Albuquerque²
¹Pós-graduanda do programa de Residência Uniprofissional Hospital das Clínicas UFPE
²Orientadora. Doutora em Nutrição em Saúde Pública pela UFPE
Kamillahrc@gmail.com

RESUMO: Em virtude do aumento de sua incidência, o câncer


é, atualmente, um problema de saúde pública mundial. O
objetivo do trabalho foi descrever a atuação nutricional na
assistência à paciente com diagnóstico de adenocarcinoma de
endométrio. Esse estudo é de caráter descritivo, do tipo
estudo de caso. Realizado no Hospital das Clínicas no mês de
abril de 2017. Para avaliação nutricional foi utilizado a ASG-
PPP, peso, altura, IMC, circunferência do braço e parâmetros
bioquímicos. Paciente de 60 anos, sexo feminino, com
diagnóstico de Adenocarcionama de Endométrio IVA e
Diabetes tipo 2, em cuidados paliativos. Refere colostomia
funcionante, diurese presente, mastigação e deglutição
normais, apresentando náuseas, sem episódios de vômitos.
Foi necessário utilizar suporte nutricional oral, quanto à
recomendação calórica e proteica utilizou-se INCA (2015) para
cuidados paliativos. A paciente evoluiu com ganho de peso,
porém não é fidedigno, devido presença de edema e
necessidade de estimar seu desconto. As necessidades
nutricionais foram estimadas em 1668 kcal e 83,4g de

120
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
proteína. A paciente apresentava aceitação de
aproximadamente 80% da dieta e 100% do suplemento
nutricional via oral. A atuação nutricional nos cuidados
paliativos é importante para dar conforto e tratar sinais e
sintomas apresentados. Nesse contexto, o conforto do
paciente é o foco de todo o tratamento, sendo importante
escutar suas vontades e desejos, aliado a uma boa nutrição.
Palavras-chave: Oncologia. Desnutrição. cuidados paliativos.

1 INTRODUÇÃO

O câncer é uma doença crônico-degenerativa


considerada um problema de saúde pública mundial devido
sua alta incidência, prevalência e alta mortalidade (HERR et
al., 2013). A patologia é a segunda maior causa de morte no
mundo e essa realidade é refletida no Brasil, atrás apenas das
doenças cardiovasculares (MACHADO; SAMPAIO; LIMA,
2009).
O carcinoma do endométrio (CE) é o sétimo tumor
maligno mais frequente no mundo, o quarto mais comum na
mulher e também o mais frequente do sistema reprodutor
feminino. No Brasil, ocupa a sexta posição entre todos os
tumores, ficando atrás das lesões de mama, colo uterino,
cólon, pulmão e estômago. Cerca de 75% dos casos, surge
no período pós menopausa, com o pico de incidência na 6ª-7ª
décadas de vida. Esta incidência tem aumentado nos últimos
anos, principalmente devido ao aumento da esperança média
de vida e aos níveis crescentes de obesidade nos países
desenvolvidos (COSTA, 2016; APPEL et al, 2015; BELLELIS,
2010).

121
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
Os fatores de risco que estão envolvidos no
desenvolvimento do câncer de endométrio incluem:
obesidade, nuliparidade, menopausa tardia, diabetes mellitus,
estrogenioterapia exclusiva, terapia com tamoxifeno e uso de
contraceptivos orais (VALEJO; TIEZZI, 2009; ARAÚJO
JÚNIOR; ATHANAZIO, 2007).
O diagnóstico de CE é estabelecido com base no
exame clinico e ginecológico, bem como no resultado
histológico. No que diz respeito ao estadiamento, este
continua a ser cirúrgico, e é definido pela FIGO (Federação
Internacional de Ginecologia e Obstetrícia) onde subdivide-se
em: Estádio I (tumor confinado ao corpo uterino), Estádio II
(invasão do estroma cervical), Estádio III (extensão local e/ou
regional do tumor) e Estádio IV (tumor invade a bexiga e/ou
mucosa intestinal ou apresenta metástases à distância)
(COSTA, 2016; VINATIER et al., 2009).
A maioria das mulheres com câncer de endométrio
apresenta-se no estádio I e tem um bom prognóstico, com
uma taxa de sobrevida global superior a 90%. Com exceção
das mulheres com doença localmente avançada ou
metastática, o tratamento definitivo para o carcinoma
endometrial é a histerectomia total abdominal e salpingo-
ooforectomia bilateral seguida ou não de linfadenectomia
pélvica e para-aórtica (VALEJO; TIEZZI, 2009).
Pacientes portadoras de carcinoma endometrial em
estádio avançado, raramente são candidatas à cirurgia. O
carcinoma endometrial nos estádios III e IV apresenta-se
como grupo heterogêneo de tumores com prognóstico
variável, e a individualização do tratamento deve ser realizada,
de acordo com a extensão da doença (FEDERACAO
BRASILEIRA DAS ASSOCIACOES DE GINECOLOGIA,

122
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
2012). No Carcinoma endometrial estádio IV e doença
recorrente, as pacientes devem ser tratadas com terapias
paliativas apropriadas e consideradas candidatas à
quimioterapia sistêmica caso apresentem adequado
“performance status” (VALEJO; TIEZZI, 2009).
A maioria dos carcinomas endometriais são cânceres
das células que formam as glândulas do endométrio. Esses
carcinomas, podem ser divididos de acordo com o tipo de
células que os formam: Adenocarcinoma, Carcinossarcoma,
Carcinoma espinocelular, Carcinoma indiferenciado,
Carcinoma de pequenas células e Carcinoma Transicional
(ONCOGUIA, 2015; JOST; HEITZ, 2015).
Os cuidados paliativos são um novo ramo da medicina
que objetiva o cuidado global do paciente, quando este não
apresentar mais respostas eficazes aos tratamentos ditos
como curativos (PESSINI; BERTACHINI, 2004). Dessa forma,
o objetivo principal é fornecer qualidade de vida ao indivíduo e
a família. O foco do tratamento passa a ser no controle da dor,
no sofrimento e melhora dos sintomas, e não em tratamentos
curativos. As necessidades básicas, tanto de higiene quanto
de nutrição, devem ser respeitadas e ofertadas de maneira a
não agredir nem gerar maior sofrimento (WHO, 1990).
Frequentemente ocorre perda de peso e de tecidos
corporais em pacientes oncológicos e está relacionado com a
localização, o tipo de tumor, a presença e a duração de
sintomas gastrintestinais como, por exemplo, anorexia,
vômitos e diarreia (TOSCANO et al., 2008). A desnutrição
associa-se com a evolução do tumor e os efeitos colaterais
inerentes ao tratamento (SANTOS et al., 2015; BRITO et al.,
2012; SILVA, 2006).

123
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
A aceitação dos alimentos pode ser influenciada tanto
por fatores emocionais, quanto fatores psicológicos, em adição
àquelas associadas com o tratamento da doença e
perturbação metabólica que é outro problema comum entre
pacientes com câncer, e isto é muitas vezes representado por
estado catabólico (GARÓFOLO; LOPEZ; PETRILLI, 2005;
REBOUÇAS et al., 2011).
A diabetes mellitus têm sido associado a diversos tipos
de câncer, entre eles o câncer de endométrio. Com objetivo de
analisar a relação entre diabetes e câncer, Bosetti et al (2012)
em uma rede de estudos de caso-controle realizados na Itália
e Suíça, encontrou associação entre diabetes e câncer de
endométrio (OR= 1,70).
Em cuidados paliativos, a intervenção nutricional
apresenta como objetivos primários manter um controle dos
sintomas, a preservação do apropriado estado de hidratação,
a manutenção do peso e constituição corporal. Os cuidados
paliativos podem reduzir os sintomas secundários e o
desconforto ocasionados pelo tratamento oncológico, visando
promover qualidade de vida ou de sobrevida nesses pacientes
(SBNPE/ABM, 2011).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho é descrever a
atuação nutricional na assistência à paciente com diagnóstico
de adenocarcinoma de endométrio em tratamento clínico no
Hospital das Clínicas da UFPE.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo tem caráter descritivo com


abordagem qualitativa, o qual adotou-se, enquanto estratégia
de investigação, o estudo de caso.

124
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
O estudo foi desenvolvido no setor de oncologia do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, durante o mês de abril de 2017. Os dados foram
coletados a partir de registros de evoluções e exames
anexados ao prontuário, observações da equipe ao longo do
período de hospitalização da paciente, e informações
provenientes do diálogo com a paciente e seus familiares, bem
como dos atendimentos realizados pela equipe de nutrição.
Utilizou-se ainda de levantamentos de dados através de
revisão literária em livros e artigos impressos e em versão
online referentes à temática em discussão.
A avaliação antropométrica foi feita através da aferição
do peso, altura, IMC e circunferência do braço.
As medidas de peso e altura foi realizada segundo
técnica original recomendada por Lohman e cols (1988). A
massa corporal foi obtida em balança eletrônica digital, da
marca Líder-LD1050®, com capacidade máxima de 200 Kg e
precisão de 100g. A altura aferida com o uso de estadiômetro
acoplado na balança, com precisão de 1mm e exatidão de 0,5
cm. Foi realizado para avaliação do estado nutricional, a
classificação de Lipschitz (1994):

Quadro 1 – Classificação do estado nutricional de idosos,


quanto ao Índice de Massa Corporal.
IMC (Kg/m2) Classificação
< 16,0 Baixo peso
22,0 – 27,0 Eutrofia
>27 Sobrepeso
Fonte: Lipschitz, 1994.

125
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi
calculado pela fórmula: Perda de peso (%) = (peso usual –
peso atual) x 100 ÷ peso usal.
Sendo classificado de acordo com as definições do
Quadro 2:
Quadro 2 – Percentual de perda de peso significativa.
Tempo Perda de peso Perda de peso
significativa (%) grave
(%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
Fonte: BLACKBURN et al. 1977.

A circunferência do braço (CB) foi obtida no ponto


médio entre o acrômio e o olecrano utilizando fita métrica
flexível e inelástica sem comprimir os tecidos, com o
paciente em pé. Sua adequação foi obtida através da
fórmula: %CB = CB atual ÷ CB P50.
A adequação foi classificada de acordo com o
recomendado por Blackburn (1979), como mostra o
quadro 3:

Quadro 3 – Adequação da circunferência do braço.


Desnutriçã Desnutriçã Desnutriçã Eutrofi Sobrepes Obesidad
o Grave o Moderada o Leve a o e
<70% 70-80% 80-90% 90- 110- >120%
110% 120%
Fonte: Blackburn (1979).

126
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
A triagem nutricional foi realizada pela ASG-PPP,
criado por Ottery (1996). O cálculo da dieta ofertada foi
calculado pelo DietBox ®, de acordo com os alimentos e
suplementos disponíveis no hospital.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Identificação do paciente


I.R.D.S., 60 anos, sexo feminino, casada, aposentada,
natural de Recife, mora em São Lourenço da Mata, mãe de 5
filhos, sendo a mais nova adotada, trabalhou como lavadeira e
hoje está aposentada. Admitida na enfermaria de oncologia no
dia 10/04/2017.

Diagnóstico principal: Adenocarcinoma de Endométrio IVA


(estadiamento do câncer para fins didáticos).

3.2 História Clínica e antecedentes familiares


Paciente relata realizar seus exames de saúde com
uma frequência razoável, refere que foi diagnosticada com
mioma, apresentava metrorragia, hipertrofia uterina, e anemia.
Foi submetida a uma Laparoscopia exploratória +
histerectomia + anexectmomia bilateral, no Hospital Petronila
Campos, no dia 11/03/2016, o médico visualizou tumor de
endometrio com invasão para colon sigmóide, e encaminhou a
paciente para o HC, no dia 20/08/2016.
Realizou quimioterapia neoadjuvante com carboplatina +
taxol, foram quatro sessões;
Não houve possibilidade de realizar cirurgia de resgate;
Realizou quimioterapia paliativa com carboplatina + taxol.

127
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
Paciente compareceu ao serviço no dia 10/04/2017,
apresentando queda do estado geral e odor fétido da ferida
abdominal.
Na sua família tem antecedentes familiares de parentes de
primeiro grau diagnosticadas com Diabetes mellitus tipo 2. A
paciente também tem diagnóstico de Diabetes mellitus tipo 2.
3.3 Anamnese alimentar
Alimentando-se via oral conseguindo com consistência
normal e referindo fazer restrição de carboidratos simples.
Relata colostomia funcionante, diurese presente, mastigação e
deglutição normais, presença náuseas, sem episódios de
vômitos, com baixa aceitação alimentar, consumindo cerca de
70% da sua ingestão habitual.

3.4 Exames bioquímicos


Os exames bioquímicos realizados durante a internação
da paciente estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1 – Exames laboratoriais da paciente no internamento.


10/04/17 17/04/17 20/04/17 Referência

Hemoglobina 7,3g/dL↓ 10,2g/dL↓ 9,5g/dL↓ 12 a 16g/Dl

Hematócrito 22,7% ↓ 31,7% ↓ 29,5% ↓ 37 a 47%

VCM 94,9 fl 93,9 fl 93,9 fl 80 a 100fl

HCM 30,6 pg 30,8 pg 30,5 pg 27 a 32pg

Leucócitos 25.500 ↑ 23.700 ↑ 20.100 ↑ 4 a 11mil


células/mm³
células/mm³ células/mm³ células/mm³

128
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
Uréia 47,8 27,5 32,9 10 a
mg/dL mg/dL mg/dL 40mg/dL

Creatinina 0,8 0,9 0,8 0,6 a


mg/dL mg/dL mg/dL 1,1mg/dL

Sódio 121,4 ↓ 129,8 ↓ 135,4 ↓ 135-145


mmol/L
mmol/L mmol/L mmol/L

Potássio 4,8 4,3 4,3 3,5-5,5


mmol/L mmol/L mmol/L mmol/L

Cloreto 86,6 ↓ 93,8 ↓ 96,4 ↓ 98-107


mmol/L mmol/L mmol/L mmol/L

Plaquetas 425.000 353.000 395.000 150 a


/mm³ /mm³ 400mil
/mm³ /mm³

Fonte: CALIXTO-LIMA; REIS, 2012.

Os exames laboratoriais da paciente demonstraram


anemia, o que pode indicar uma deficiência de ferro devido à
baixa ingestão alimentar ou seu quadro de desnutrição.
Segundo Rocha et al. (2016), os pacientes oncológicos
tendem a desenvolver anemia como consequência de sua
neoplasia maligna, tratamento ou até mesmo pelas
comorbidades que esses pacientes já apresentavam. Quando
o tratamento utilizado é a quimioterapia, a incidência de
anemia pode subir a 90%, sendo fator de prognóstico
desfavorável exercendo influência negativa à qualidade de
vida.

129
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
Quanto ao leucograma, a leucocitose é alteração
importante em pacientes com neoplasia e ocorre devido à
complexa interação entre as células neoplásicas com o
sistema imunológico e com a inflamação peritumoral. A
leucocitose está fortemente associada ao pior prognóstico e
mortalidade em seres humanos com neoplasia, sobretudo
naqueles em tratamento quimioterápico (CONNOLLY et al.,
2010).
A hiponatremia encontrada é definida como a
concentração de sódio, no soro, inferior a 136 mEq/1. É
associada com diferentes doenças, e quase sempre é
resultado de retenção hídrica. A hiponatremia dilucional, a
causa mais comum desse distúrbio, é provocada por retenção
de água, se a capacidade renal de excretar água é menor do
que a ingestão, ocorre diluição dos solutos no organismo,
provocando hiposmolalidade e hipotonicidade, justificado pela
condição da paciente (NETO & NETO, 2003).
A diminuição dos valores séricos do cloreto
(hipocloremia) também foi encontrada nos exames realizados
durante o internamento, As causas de hipocloremia são
justificadas pela falta de entrada adequada de CI-, geralmente
em dietas prolongadas sem ou com pouco sal) e por
eliminação exagerada por vômitos (CENEVIVA & ANDRADE,
2008).

3.5 Medicações

Os medicamentos utilizados pela paciente e suas


possíveis interações nutricionais estão descritos no quadro 4.

130
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
Quadro 4 – Medicações utilizadas e suas possíveis interações
nutricionais.
Droga Indicação/ Interações medicamentosas e
possíveis intercorrências
FIXOS
Tazocin Antibiótico. Melena, flatulência, hemorragia,
gastrite, soluço, estomatite ulcerativa.
Omeprazol Antisecretório. Dor abdominal, diminuição da
secreção ácida. ↓ Abs. Fe e B12.
Dexameta- Corticosteróide. Esofagite, náuseas e vômitos,
zona dispepsia, úlcera péptica, flatulência,
sangramento e perfuração gastrointestinal,
aumento do apetite e peso, anorexia. Aumento
de sódio, glicose, diminuição de potássio,
cálcio, zinco, ácido úrico, vitaminas A e C.
Haldol Antipsicótico (utilizado na paciente como
antiemético). Diminuição ou aumento na
produção de saliva, constipação.
Morfina Analgésico. Xerostomia, ↓motilidade gástrica.
Clexane Anti trombótico (heparina de baixo peso
molecular; anticoagulante).
Óleo Laxante. Náusea, dispepsia, cólicas, flatulência
mineral e diarréia.
Fonte: MARTINS; SAEKI, 2013.

3.6 Triagem Nutricional

Avaliação Subjetiva Global Produzida pelo Próprio


Paciente (ASG-PPP), um método de triagem criado por Ottery
(1996) a partir de uma adaptação específica da ASG para a
população oncológica, que no ano de 2010 foi traduzida para o
131
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
português e validada (GONZALEZ, 2010). Consiste em um
método essencialmente clínico que permite uma rápida
avaliação do estado nutricional, identificação de sintomas de
impacto nutricional, capacidade funcional e perda de peso
específicos para o câncer, considerada como padrão ouro na
avaliação, facilitando a implementação da terapia nutricional
adequada (OTTERY FD, 1996; LEUENBERGER et al., 2010;
GONZALEZ ET AL., 2010; SANTOS et al., 2012; INCA, 2015).
O resultado da pontuação da ASG-PPP pode ser
utilizado como medida para intervenção nutricional e identifica
mudanças no estado nutricional, o que a torna uma ferramenta
de elevada sensibilidade e especificidade. A existência de
risco nutricional ou desnutrição é comum em pacientes
submetidos a quimioterapia, no entanto o percentual de
desnutrição pode variar dependendo do método avaliado
(LEUENBERGER et al., 2010; GUPTA et al., 2011; COLLING,
2012).
De acordo com a ASG-PPP realizada no momento da
admissão, a paciente obteve 22 pontos, que indica
necessidade crítica de melhora no manuseio dos sintomas
e/ou opções de intervenção nutricional. Na categorização do
estado nutricional de acordo com esta triagem, a paciente foi
inclusa na classificação B, apontando para uma desnutrição
moderada ou suspeita de desnutrição.

3.7 Avaliação Antropométrica

Paciente refere no dia da admissão um peso habitual de


72,3 kg em novembro/2016 com perda de 16,4 Kg (22,6% de
perda de peso – perda grave) durante 6 meses. A evolução do

132
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
estado nutricional da paciente durante o acompanhamento
pode ser observado na tabela 2.
De acordo com os dados encontrados, a paciente têm
Índice de Massa Corpórea (IMC) de baixo peso de acordo com
a classificação de Lipschitz (1994), podendo ser justificado
que pacientes oncológicos são particularmente vulneráveis à
desnutrição em função do desequilíbrio entre ingestão dos
alimentos e as necessidades nutricionais, efeitos dos
tratamentos instituídos e as alterações metabólicas,
imunológicas e inerentes ao próprio tumor.

Tabela 2 – Avaliação antropométrica e evolução durante


internamento.
11/04/17 18/04/17
Altura 1,60m 1,60m
Peso 56,9 kg 68,3 kg
Edema -1 kg (pés) - 12 kg (anasarca)
Peso Seco 55,9 kg 56,3 kg
IMC 21,8 Kg/m² 21,9 Kg/m²
CB (% 27 cm (87%) - 27 cm (87%) -
adequação) Desnutrição Leve Desnutrição Leve
Fonte: Própria.

Como mostra a tabela, a paciente apresentou uma


perda de massa magra e gorda, segundo CB, utilizando o
percentil 50 (30,9 cm) considerado padrão, abaixo do valor
normal, indicando um quadro de desnutrição leve.

3.8 Intervenção nutricional


A desnutrição calórico-proteica é a mais frequente
comorbidade encontrada no câncer, esta patologia
compromete o estado geral e nutricional por meio de múltiplas
133
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
vias, relacionadas aos mecanismos da doença ou à própria
terapêutica utilizada. Desta forma, a assistência nutricional ao
paciente oncológico não se limita ao cálculo das necessidades
nutricionais e à sua prescrição dietética, mas objetiva
simultaneamente recuperar o estado nutricional, normatizar a
composição corpórea e os déficits nutricionais acumulados,
garantir o desempenho de sistemas vitais como a capacidade
de cicatrização e a função imunológica, e não menos
relevante, auxiliar na qualidade de vida.
Por essas razões, o objetivo principal da terapia
nutricional para pacientes que já se encontram em cuidados
paliativos é manter o controle dos sintomas, bem como
manutenção do peso e constituição corporal.
As necessidades nutricionais foram individualizadas de
acordo com o quadro clínico da paciente em cuidados
paliativos recomendado pelo INCA (2015): 25 - 30 Kcal/Kg/dia
e 1,0 – 1,5 g de proteína/Kg/dia.
Foi introduzido suporte nutricional via oral com fórmula
isenta de glúten e lactose, particularmente desenvolvida para
pessoas com diabetes, com presença de fibras e carboidratos
de menor índice glicêmico, que contribui para a manutenção e
recuperação de um adequado índice glicêmico.
O uso de terapia nutricional é indicada quando o
paciente não consegue atingir suas necessidades por via oral,
tendo como objetivo garantir o suporte necessário via oral
(OLIVEIRA, HAACK, FORTES, 2017).
Durante o internamento a paciente evoluiu com
ausência de fezes, por colostomia, durante 5 dias,
apresentando náuseas e vômitos, apetite reduzido, relatando
ingerir em torno de 50% da dieta ofertada e 100% do suporte
nutricional. Houve relatos de episódios eméticos e diminuição

134
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
da ingestão alimentar, sendo necessário modificar a dieta via
oral para consistência líquida conforme aceitação da paciente.
Posteriormente, a equipe médica optou por drenagem de
colostomia com saída apenas de líquido e pela mudança do
esquema de antiemético.
Houve relato de melhora das náuseas e êmese,
retornando a alimentação de consistência normal conforme
aceitação.
De acordo com a aceitação da dieta ofertada (relatava
em torno de 80% de ingesta) suplementada com o suporte
nutricional oral (ingestão de 100%), a paciente recebia em
torno de 1643,4 kcal e 83,4 g de proteína, perfazendo 29,1
kcal/kg/dia e 1,4 g/kg/dia.
Dessa forma, observa-se que foi respeitado os desejos
da paciente, uma nutrição equilibrada para evitar mais perdas
nutricionais e a recomendação encontrada na literatura.

4 CONCLUSÃO

Diante do caso clínico, observa-se a importância do


acompanhamento nutricional de pacientes acometidos por
doenças oncológicas, por envolver alta demanda metabólica
imposta pelo organismo e problemas inerentes ao tratamento.
A atuação nutricional nos cuidados paliativos é importante
para dar conforto e tratar sinais e sintomas apresentados pelo
paciente. Nesse contexto, o conforto do paciente é o foco de
todo o tratamento, sendo importante escutar suas vontades e
desejos, aliado a uma boa nutrição.

135
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA À PACIENTE COM DIAGNÓSTICO
DE ADENOCARCINOMA DE ENDOMÉTRIO
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138
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
CAPÍTULO 7

ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE
PACIENTE COM ADENOCARCINOMA DE
ENDOMÉTRIO
Fernanda Mirela Amaral GOMES1
Fernanda Dayana da Silva DIAS1
Eryka Maria dos SANTOS1
Maria Rayssa Silva do NASCIMENTO1
Mellina Neyla de Lima ALBUQUERQUE ²
1
Nutricionista Residente do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco;
2
Nutricionista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.
fe.mirela@homail.com

RESUMO: O adenocarcinoma de endométrio é o câncer


ginecológico mais comum que acomete a população feminina
em países desenvolvidos. O tratamento deve ocorrer o quanto
antes para evitar a evolução para metástase, incluindo uma
atenção multiprofissional, onde a nutrição desempenha papel
importante na resposta ao tratamento. Dessa forma, o
presente estudo teve por objetivo avaliar o estado nutricional
de uma paciente com diagnóstico de adenocarcinoma de
endométrio. Trata-se de um estudo de caso realizado no
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, em junho de 2017. Foi realizada triagem
nutricional com a paciente, bem como foram coletados dados
de prontuário para registro em fichas de acompanhamento. A
avaliação nutricional incluiu coleta de peso e altura para
cálculo do índice de massa corporal, além da circunferência do
braço e da avaliação dos exames bioquímicos. A medida da
circunferência da panturrilha não foi realizada, uma vez que a
paciente apresentou edema em membros inferiores durante
todo o internamento. Também foram obtidos dados sobre
aceitação da dieta ofertada. Após as análises, a paciente se
139
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
apresentou desnutrida e com baixa aceitação alimentar,
considerando aceitação da dieta e da suplementação. Assim,
destaca-se a importância do acompanhamento oportuno e
integrado desses pacientes, proporcionando intervenções que
favoreçam maior adesão ao tratamento e melhor qualidade de
vida.
Palavras-chave: Câncer de endométrio. Nutrição. Estado
nutricional.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente o adenocarcinoma endometrioide é o


câncer ginecológico mais comum que acomete a população
feminina em países desenvolvidos. Observa-se que a maioria
das pacientes acometidas se encontram no período da pós-
menopausa (HORTA, CUNHA, 2017; VALEJO, TIEZZI, 2009).
O Manual de Condutas em Ginecologia Oncológica (2010)
afirma que a população mais acometida possui mediana de
idade de 61 anos.
No estágio inicial da doença são vivenciados alguns
sinais e sintomas, como dor pélvica, peso em baixo ventre e
sangramento vaginal. Quando a doença está em fase mais
avançada podem ocorrer dor abdominal baixa, corrimento
vaginal com odor fétido, alterações no sistema urinário e/ou
intestinal e perda de peso (FIM, CARDOSO, 2017;
TRINDADE, 2013).
A principal causa associada ao surgimento do
adenocarcinoma endometrioide ainda é desconhecida, porém
observam-se alguns fatores de risco relacionados como
antecedentes familiares, exposição direta aos estrogênios sem
a antagonização por progestágenos, obesidade, menopausa
tardia e menarca precoce; Hipertensão Arterial Sistêmica
140
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
(HAS) e Diabetes Mellitus associados a obesidade;
nuliparidade, infertilidade e uso de tamoxifeno (BONMANN,
LISSARASSA, 2017; Manual de Condutas em Ginecologia
Oncológica, 2010).
O tratamento precoce pode evitar a evolução para
metástase (URZAL et al., 2014). Da Silva Filho e Carvalho
(2016) indicam que o tratamento mais recomendável para esta
doença é o procedimento cirúrgico. Neste caso, tratou-se de
Histerectomia Total Abdominal (HTA) e Anexectomia seguida
ou não de linfadenectomia pélvica e para-aórtica. Dependendo
do caso, se faz necessária a aplicação de terapêuticas
adjuvantes como a radioterapia ou quimioterapia com a
finalidade de impedir ou diminuir a taxa de aparecimento de
recidivas (APPEL et al., 2015).
Outra doença que gera repercussões no estado clínico
e funcional dos indivíduos hospitalizados é a Trombose
Venosa Profunda (TVP). É caracterizada pela formação de
trombos que obstruem os vasos, impedindo a adequada
circulação sanguínea. Os principais sintomas evidenciados
são edema, dor, calor e rubor (JÚNIOR, 2010).
A TVP é uma doença de grande incidência entre
pacientes internados, que foram submetidos à procedimentos
cirúrgicos ou clínicos. Porém, em casos cirúrgicos há maior
probabilidade para ocorrência de TVP. Além disso, é uma
doença que acomete ambos os sexos, porém com maior
predominância em indivíduos acima de 40 anos e os membros
inferiores são os mais afetados. É possível afirmar que
cirurgias, restrição ao leito e neoplasias são graves fatores de
risco para o surgimento de TVP nos pacientes. Seu tratamento
farmacológico se dá por meio do uso de anticoagulantes, tais

141
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
quais a heparina e a varfarina (AMARAL et al., 2017; SILVA et
al., 2017).
Diante dos problemas que o adenocarcinoma
endometrioide associado com a TVP pode causar nos
indivíduos, no que diz respeito ao quadro clínico, demandas
funcionais e psicossociais, é de suma importância prestar
assistência adequada para melhoria na qualidade de vida dos
pacientes acometidos. Dessa forma, o presente estudo teve
por objetivo avaliar estado nutricional de uma paciente com
diagnóstico de adenocarcinoma de endométrio.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de estudo de caráter descritivo com


abordagem qualitativa, o qual adotou-se, enquanto estratégia
de investigação, o estudo de caso. O estudo foi desenvolvido
na enfermaria de Ginecologia do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE) durante o
mês de junho do ano de 2017.
Para coleta dos dados foram utilizados registros das
evoluções e exames anexos em prontuário, bem como, as
visitas de cunho multiprofissional integrada e da equipe de
nutrição no leito, como também a partir da observação e
discussão com a equipe sobre o estado clínico da paciente.
A avaliação antropométrica foi realizada através da
aferição do peso, altura, índice de massa corporal (IMC) e
circunferência do braço. A circunferência da panturrilha (CP)
não foi levada em consideração devido edema local, durante
as avaliações.
O peso e a altura foram aferidas em conformidade com
a técnica original recomendada por Lohman et al. (1988). O

142
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
peso foi obtido em balança eletrônica da marca Toledo com
capacidade máxima de 150 Kg e precisão de 100g. Durante a
aferição, a paciente esteve posicionada no centro do
equipamento com roupas leves, sem objetos nas mãos ou
bolsos e sem adornos na cabeça, descalça, ereta, com os pés
juntos e os braços estendidos ao longo do corpo. Visto que a
paciente apresentava edema em todas as avaliações, o peso
utilizado foi considerado após desconto de edema, conforme
mostra a tabela 1.

Tabela 1. Peso ajustado para edema.


Edema Localização Retenção hídrica (kg)
+ Tornozelo 1
++ Joelho 3–4
+++ Raiz de coxa 5–6
++++ Anasarca 10 – 12
Fonte: MARTINS, 2009

A altura foi aferida com o uso do estadiômetro da marca


Toledo graduado em décimos de centímetros, com capacidade
para 2,15 m, precisão de 1,0 mm e exatidão de 0,5 cm.
A classificação do estado nutricional foi realizada pelo
cálculo do IMC e seguiu a recomendação proposta
por Lipschitz (1994) para os indivíduos maiores de 60 anos,
conforme mostra a tabela 2.

Tabela 2. Classificação do estado nutricional de idosos, quanto ao Índice


de Massa Corporal.
CLASSIFICAÇÃO DO IMC – IDOSO
Magreza Eutrofia Excesso de peso
< 22,0 22,0 - 27,0 >27,0
Fonte: LIPZCHITZ, 1994

143
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi
calculado pela fórmula: Perda de peso (%) = (peso usual –
peso atual) x 100 ÷ peso usual.
Sendo classificado de acordo com as definições da
tabela 3:

Tabela 3. Classificação da perda ponderal em relação ao tempo.


Perda de peso Perda de peso grave
Tempo
significativa (%) (%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
Fonte: BLACKBURN & BISTRIAN, 1977

A circunferência do braço (CB) foi obtida com fita


métrica inelástica, com extensão de 1,50m, no braço não
dominante, no ponto médio entre o acrômio e o olécrano. Foi
solicitado à participante do estudo que flexionasse o braço a
ser avaliado formando um ângulo de 90 graus. Logo após
mediu-se a localização do ponto médio entre o acrômio e
o olécrano. Posteriormente foi solicitado à paciente que
mantivesse o braço estendido ao longo do corpo com a palma
da mão voltada para a coxa, enquanto o braço estivesse
sendo contornado com fita flexível no ponto marcado de forma
ajustada evitando compressão da pele ou folga. O
resultado foi comparado aos valores de referência para idosos,
sendo utilizado o padrão de referência do NHANES III. O
estado nutricional foi classificado de acordo com Blackburn e
Thornton (1979), como mostra a tabela 4, através da fórmula:
(%CB = CB atual ÷ CB P50). 

144
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
Tabela 4. Classificação do estado nutricional quanto a medida de CB.
Desnutriç Desnutrição Desnutriçã
Eutrofia Sobrepeso Obesidade
ão Grave Moderada o Leve
<70% 70-80% 80-90% 90-110% 110-120% >120%
Fonte: BLACKBURN E THORNTON, 1979

A avaliação da circunferência da panturrilha (CP), seria


realizada com fita métrica inelástica, com extensão de 1,50m,
no membro inferior esquerdo, no ponto de
maior circunferência. Estando a paciente em decúbito dorsal
ou sentada, com o joelho esquerdo flexionado a um ângulo de
90º. A medida seria feita, senão o edema, na parte mais
proeminente da panturrilha, sem que esta fosse comprimida. A
tabela 5 abaixo, apresenta como referência os valores para
ponto de corte para eutrofia, em relação ao sexo:

Tabela 5. Classificação do estado nutricional em relação a medida de CP


CIRCUNFERÊNCIA DA PANTURRILHA
≥ 33 CM MULHER
≥ 34 CM HOMEM
Fonte: INCA, 2016

A triagem nutricional foi realizada pela Nutritional Risk


Screening NRS-2002, que é largamente utilizada no meio
hospitalar, pois pode ser aplicada a uma gama de pacientes
internados, independentemente da doença que apresentem ou
de sua idade, sem custo adicional ao serviço e que pode ser
efetuada por diferentes profissionais (COSTA et al., 2017; DE
AQUINO, PHILLIPI, 2011). A triagem nutricional identifica
indivíduos desnutridos ou em risco de desnutrição, almejando
determinar se existe risco nutricional e se é necessária
avaliação nutricional mais detalhada (RASLAN et al., 2008). A

145
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
paciente não apresentou risco nutricional segundo esta
triagem durante a admissão.
O cálculo da dieta ofertada foi calculado pelo DietBox ®,
de acordo com os alimentos e suplementos disponíveis no
hospital.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

DIAGNÓSTICO PRINCIPAL: Adenocarcinoma endometrioide,


grau histológico I, se estendendo ao istmo e tuba esquerda,
com metástase para ovário direito.

DIAGNÓSTICO SECUNDÁRIO: 36º DPO Laparostomia


exploratória (LE) + Histerectomia ampliada (HTA) +
Linfadenectomia; Trombose venosa profunda (TVP) MMII.

HISTÓRICO DA PACIENTE: M.A.F, sexo feminino, 64 anos,


solteira, nulípara, aposentada, ensino médio completo. Natural
e procedente de Lagoa de Itaenga – PE.

ANTECEDENTES PESSOAIS: História de Sangramento


Uterino Anormal (SUA) e massa anexial há cerca de 6 anos.
Nega histórico de hipertensão arterial, diabetes mellitus,
etilismo e tabagismo. Sem passado cirúrgico.

ANTECEDENTES FAMILIARES: Câncer de mama (sobrinha)


e Câncer de laringe (tio).

146
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO

HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL:


Paciente admitida em 13/04/2017, procedente de Lagoa
de Itaenga, com história de pós-menopausa, dor pélvica e
aumento do volume abdominal. Evoluiu com hipóteses
diagnósticas de massa cística complexa em escavação pélvica
a/e, sangramento uterino anormal pós-menopausa, dor pélvica
e erisipela de repetição. Ao exame físico apresentava estado
geral regular, consciente, afebril, normotensa, hipocorada
(2+/4+), desidratada (1+/4+), com edemas MMII, com
abdômen globoso e depressível superficialmente. Em uso de
cateter de O2 e com saturação de O2 em 95%. Foi realizado
resgate de exames laboratoriais, onde apresentava queda nos
níveis de hemoglobina e hematócrito, sendo necessário
realizar hemotransfusão com 3 bolsas de concentrados de
hemácias.
Durante internamento, paciente evoluiu com alterações
comportamentais, apresentando ansiedade e agitação
psicomotora, além de alterações cognitivas, como déficit de
atenção, alteração de memória e lentidão anormal da fala.
Segundo parecer da psiquiatria, foi considerada a
possibilidade de um quadro de delirium, sendo necessário o
uso de medicamentos antidepressivos.
Foi realizado exame Ecodoppler venoso dos membros
inferiores para pesquisa de TVP. Diante disso, foi
diagnosticado, no dia 19/04, TVP bilateral com sinais de
recanalização, além de linfodomegalia inguinal à direita.
Sendo necessária intervenção com medicamentos
anticoagulantes e vigilância clínica e laboratorial para melhor
acompanhamento da patologia. Foi também solicitada,
segundo parecer da cirurgia vascular, a marcação do implante

147
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
de filtro de cava inferior, com objetivo de diminuir a capacidade
do sangue em coagular, reduzindo assim o risco da extensão
da trombose e formação de novos trombos.
No dia 24/05, foi submetida a LE e foi encontrado
tumoração sólida cística abdominopélvica em continuidade
com corpo uterino, sendo interrogada neoplasia de corpo
uterino, além de tumoração aderida em colón transverso, reto,
colón esquerdo, ovário e trompa esquerda. Sendo assim,
realizada HTA ampliada + linfadenectomia, sem demais
complicações. No 12º DPO, paciente evoluiu com forte dor
abdominal e lombar, sendo encaminhada para UTI por
taquipnéia associada à queda do estado geral, permanecendo
no setor por dois dias e retornando ao setor de Ginecologia
por melhora do quadro clínico.
Os achados anatomopatológicos encontrados durante
biópsia de útero e anexos, recebidos no dia 09/06, foram
conclusivos para o diagnóstico de Adenocarcinoma
Endometrioide, grau histológico I, se estendendo ao istmo e
tuba esquerda, infiltrando menos da metade de espessura do
miométrio, com metástase em ovário direito. O colo uterino e o
ovário esquerdo encontravam-se livres de neoplasia. O caso
foi discutido com a equipe de Oncologia, onde foram
solicitados exames complementares, dentre eles, uma
tomografia de tórax para conclusão diagnóstica.
No dia 27/06, equivalente ao 34º DPO, a paciente
encontrava-se em boas condições clínicas, estável e apta para
alta. A programação pós alta hospitalar baseou-se no resgate
do resultado da tomografia de tórax e a partir desta, foi
marcado acompanhamento médico ambulatorial com as
especialidades: Oncologia, Cirurgia vascular e Psiquiatria. Foi

148
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
orientada para uso de marevan, quetiapina e escitalopram em
âmbito domiciliar
.
MEDICAMENTOS UTILIZADOS

Paciente chegou ao serviço em uso de sulfato ferroso,


devido histórico de sangramento e iniciou ipsilon, um anti-
hemorrágico para auxiliar na melhora dos sintomas. Na
admissão, por apresentar quadro de constipação crônica, foi
necessário o uso de óleo mineral, que teve como objetivo a
lubrificação e amolecimento das fezes. Posteriormente, foi
substituído por lactulona, medicação laxante que intensifica o
acúmulo de água no bolo fecal.
Segundo quadro de TVP apresentado pela paciente
foram prescritos anticoagulantes, como clexane, varfarina e
marevan, sendo administrados de acordo com os valores de
INR (International Normalized Ratio), medida que permite
monitorar a anticoagulação oral. De acordo com Klack e
Carvalho (2006), a vitamina K está envolvida no processo de
coagulação sanguínea e o uso de anticoagulantes interfere na
absorção e pode causar deficiência da mesma. Por isso, foi
administrada dose única, com o objetivo de prevenir futuras
deficiências desta vitamina.
Levando em consideração as alterações psicológicas,
foi necessário o uso de medicamentos antidepressivos, como
o escitalopram e quetiapina, sugeridos em discussão com a
psiquiatria e a clínica médica. Além do uso de antibióticos
durante o tempo de internamento na UTI e no pós-operatório
imediato.

149
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS

O processo de envelhecimento não é igualitário a todos


e, assim, cada organismo apresenta um mecanismo de
absorção, metabolismo e excreção das drogas. Além disso,
surgem modificações no organismo que podem alterar a ação
de determinados medicamentos, aumentando ou reduzindo
sua ação (KRAUSE, 2012).
O uso de diversos fármacos em idosos é uma prática
comum, muitas vezes utilizada não apenas para tentar tratar
comorbidades, mas também como uma forma de diminuir as
situações provenientes do envelhecimento. Essa prática
predispõe ao idoso o risco de interações medicamentosas e
reações adversas (OLIVEIRA, 2016). Os medicamentos
utilizados encontram-se listados na tabela 6.

Tabela 6. Medicamentos utilizados e interação droga-nutriente


Medicamento Efeitos e Interações
Antidepressivo. Alterações de apetite;
Escitalopram aumento de peso; diarreia/constipação;
xerostomia; fadiga; sonolência/insônia.
Antidepressivo. Pode elevar triglicerídeo e
Quetiapina colesterol. Pode promover constipação.
Anticoagulante. Pode causar
Marevan náuseas/vômitos; ↓ ab de vitamina K.
Fonte: MARTINS; SAEKI, 2013.

150
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS EXAMES
COMPLEMENTARES

De acordo com o exame laboratorial no momento da


admissão, foi possível verificar queda nos valores de
hemoglobina e hematócrito, secundário ao SUA. Houve
necessidade de hemotransfusão, no entanto, a mesma não foi
suficiente para que os níveis fossem normalizados e
permaneceram oscilando durante o internamento. Já os
valores do volume corpuscular médio (VCM) e da hemoglobina
corpuscular média (HCM), foram normalizados ao longo do
tratamento, sendo possível desconsiderar a classificação de
anemia ferropriva.
Anemias podem resultar de várias condições, como
hemorragia, inflamação ou doenças crônicas e apresentam
graus variados de consequência nutricional (NUNES;
OLIVEIRA; WAGNER, 2017). Neste caso, a anemia
caracterizou-se como anemia normocrômica ou normocítica,
quando há queda nos níveis de hemoglobina e hematócrito e
permanecendo normais os valores de VCM e HCM. A
patogênese atua pelos mecanismos de alterações da
eritropoiese, diminuição da sobrevida das hemácias e a
resposta inadequada da medula à hemólise (CARVALHO,
2006).
Segundo Ceneviva e Vicente (2008), o equilíbrio
hidroeletrolítico trata-se de processo fisiológico e crucial para a
homeostase. Várias são as causas que podem aumentar ou
diminuir os níveis homeostáticos, como quadros de diarreia,
vômitos, inapetência, perdas renais e digestivas. A paciente
em questão mostrou alterações pontuais no sódio (Na) e cloro
(Cl), não sendo significativas para diagnóstico.

151
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
Outro marcador importante e encontrado em níveis
aumentados nos exames laboratoriais da paciente durante o
internamento foi a Proteína C-Reativa (PCR). Sintetizada pelo
fígado, essa proteína é importante na detecção de processos
inflamatórios, já que seus níveis encontram-se elevados na
fase aguda das doenças. No entanto, pacientes com câncer
são conhecidos por terem maiores concentrações de PCR,
comparados aos indivíduos portadores de doenças benignas.
Outro achado é que após cirurgias, os valores aumentam e no
pós-operatório tardio tendem a diminuir. Porém, é importante
dar continuidade a monitorização, visto que podem demonstrar
resposta anormal ou detectar infecções em andamento
(CSENDES; MUÑOZ; BURGOS, 2014).
A elevação das transaminases hepáticas (TGO/TGP),
identificada no exame laboratorial de admissão, foi
normalizada nos demais exames durante o internamento,
descartando assim a possibilidade de metástase hepática
conforme parecer da clínica médica. Observou-se também a
elevação da Desidrogenase Láctica (DHL), enzima encontrada
em todas as células do organismo e indicativa de lesão
tecidual. Porém, é reconhecida como pouco sensível à lesão
hepática, por ser menos expressiva que as transaminases e
não demonstrar indubitabilidade de sua ação (NEMER;
NEVES; FERREIRA, 2010).
A Gama Glutamil Transferase (GGT), que esteve
alterada em alguns momentos, poderia ser indicativa de
alterações nas vias biliares, visto que a elevação isolada desta
enzima pode refletir um quadro de colestase, que se
caracteriza por redução do fluxo biliar, seja por obstrução ou
por diminuição do mesmo (NEMER; NEVES; FERREIRA,

152
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
2010). Entretanto, torna-se inconclusivo devido à falta de
resultados posteriores para comparação.
Após a identificação de TVP, os valores de INR e TP
(Tempo de Protrombina) do coagulograma, têm sido
monitorados e avaliados. Essa monitorização é necessária
para demonstrar a eficácia do anticoagulante oral. A dosagem
do anticoagulante deve ser individualizada de acordo com a
sensibilidade do paciente indicado pelo INR. O objetivo da
intervenção medicamentosa é estabelecer faixa terapêutica do
INR entre 2 e 3, minimizando os risco de hemorragia, sem
elevar os riscos trombóticos (NEMER; NEVES; FERREIRA,
2010). Os valores obtidos de INR e TP, bem como dos
exames bioquímicos realizados estão descritos nas tabelas 7
e 8, respectivamente.

Tabela 7. INR e Tempo de Protrombina durante internamento


Data 13/04 01/05 06/05 11/05 16/05 26/05 01/06 19/06
INR 1,01 5,05 6,97 1,29 2,42 1,14 1,65 2,49
TP 12.1 60 84.2 14.2 27.6 12.50 18.5 28.5

Tabela 8. Descrição dos exames bioquímicos realizados durante o


internamento.
Valores de
13/04 19/04 18/05 09/06
Referência
Hematócrito
14,8 ↓ 35,1 ↓ 31,0 ↓ 32,6 ↓ 36,0 – 47,0
(%)
Hemoglobina
4,42 ↓ 10,6 ↓ 9,65 ↓ 10,4 ↓ 12,0 – 16,0
(g/dL)

Plaquetas 150,000 -
105,000 ↓ 197,000 306,000 -
(mm³) 450,000

VCM (fl) / 61,4 ↓ 73,8↓ 76,4↓ 87,4 80,0 – 98,0 /


HCM (pg) /18,4 ↓ /22,3 ↓ /23,8↓ /27,9 27,0 – 33,0

153
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
Leucócitos
6.510 10.800 9030 6.710 4000 -11000
(mm³)

Ureia (mg/dL) 40,2 16,1 - 20,9 10 – 50

Creatinina
0,9 0,7 - 0,8 0,6 – 1,1
(mg/dL)

Sódio
139,8 135,9 136,9 139,8 134 – 149
(mmol/L)

Potássio
4,2 3,7 4,7 3,5 3,6 – 5,5
(mmol/L)

Cloreto
93,8 ↓ 106,7 105,6 114 ↑ 94 – 112
(mmol/L)

Magnésio
- 1,9 - - 1,7 - 2,5
(mg/dL)
Albumina
3,5 / 3,0 3,5 – 4,8 / 0
(g/dL) / PCR 4,3 / - - - / 1,5 ↑
↑ – 0,5
(mg/dL)
BT
0,8 0,7 - - < 1,0
(mg/dL)

BI/BD
0,6 / 0,2 0,5 / 0,2 - - < 0,7 / < 0,3
(mg/dL)

TGO/TGP 20,2
51,4 ↑ / 9,2 - - < 32 / < 31
(U/L) /31,4

FA/GGT 226,5/75, 65 – 300 / 7


- -
(U/L) 8↑ – 32

DHL
- 654 ↑ - - 230 – 460
(U/L)

CT
- 131,0 - - < 200
(mg/dL)

Cortisol
- 21,0 - - M: 5 – 25
(µg/dL)

Glicose
- 93,7 89,3 - 70 – 99
(mg/dL)

HbA1c
- 5,7% - - 4,8 – 5,9%
(mg/dL)

154
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
Ácido Fólico
- 8,89 - - 3 – 17
(ng/ml)

CK
- 20,8 - - Até 170
(U/L)

Ferro
- 35,8 ↓ - - 40 – 60
(µg/dL)
T4 livre
1,24 / 0,89 – 1,76 /
(ng/dL) / TSH - - -
0,85 0,4 – 4,0
(mUI/L)
Fonte: CALIXTO-LIMA E REIS, 2012

HISTÓRIA NUTRICIONAL E DIETÉTICA

Durante internamento a paciente evoluiu com quadros


de diarreia e constipação, diurese presente, mastigação e
deglutição sem alterações, sem alergias alimentares, ausência
de náuseas e êmese e apetite reduzido, totalizando o
consumo de 50% da oferta alimentar.

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL

A tabela 9 mostra o resultado das avaliações do estado


nutricional realizadas ao longo do internamento.

Tabela 9. Avaliação nutricional durante o internamento


Data 18/04 25/04 03/05 16/05 30/05 13/06 20/06
Peso 61 kg 58,5kg 55,1kg 54,0kg 58,6kg 62,6kg 61kg
Raiz de Raiz de Tornoz Raiz de Raiz de
Edema Joelho Joelho
Coxa Coxa elo Coxa Coxa
Desco
nto do 6kg 6kg 3kg 3kg 1kg 6kg 6kg
edema
Peso
55kg 52,5kg 52,1kg 51,0kg 57,6kg 56,6kg 55kg
seco
IMC 24.1 23.0 22.8 22.3 24.9 24.8 24.1
CB 25.8 - 24.8 24.0 - 22,6 23.8
% CB 83,7 - 80,5 77,9 - 72,5 76.2

155
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
CP Edema Edema Edema Edema --- Edema Edema

Segundo Riella e Martins (2001), através de valores de


estimativa de retenção hídrica é possível estimar o peso real
do paciente, conhecido como peso seco. Durante todo o
internamento, a paciente apresentou edemas em MMII,
repercutindo de forma negativa na realização da CP, medida
que auxilia o diagnóstico de sarcopenia, por ser um marcador
de reserva muscular no idoso (INCA, 2016).
Foi referida perda de peso anterior ao diagnóstico, 8kg
em 3 anos, sendo considerados 11,4% de perda ponderal. De
acordo com o INCA (2016), conhecer a velocidade de perda
de peso antes e no decorrer do tratamento é fundamental,
pelo fato de que a alta velocidade está relacionada à perda de
massa muscular, podendo levar a desnutrição.
Segundo avaliação antropométrica utilizando o IMC, a
paciente foi classificada como eutrófica. Contudo, segundo
percentual de adequação da CB, foi obtido o diagnóstico de
desnutrição moderada. Tal resultado é coerente com a
avaliação de maneira integral com as condições clínicas,
laboratoriais e de perda de peso da paciente.

EVOLUÇÃO NUTRICIONAL

A escolha da conduta dietoterápica baseou-se nas


recomendações para paciente oncológico idoso, que orientam
a adoção de 30 – 35 kcal/kg (ganho de peso / repleção) e 1,2
a 1,5g/kg de proteína (estresse leve) (INCA, 2016).
Durante o tempo de internamento e considerando todas
as alterações clínicas apresentadas, foram tomadas condutas
como forma de tentar minimizar os sintomas e ofertar aporte

156
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO
calórico-proteico adequado. A última conduta nutricional e que
permaneceu até a alta hospitalar, foi a dieta por via oral, de
consistência branda, com característica hipercalórica,
hiperproteica, hipolipídica, normoglicêmica, normossódica,
com adição de complementação de ferro e fracionada seis
vezes por dia. Tal conduta totalizou a oferta de 2.158 kcal e
80,3 g de proteína.
Levando em consideração a baixa aceitação da
paciente, em aproximadamente 50%, equivalente a oferta de
1079 kcal e 40 g de proteína. Recomenda-se o uso de
Suplementação Nutricional Oral (SNO), para todos os
pacientes com ingestão alimentar menor que 75% das
necessidades durante o período de até 5 dias, sem
expectativa de melhora da ingestão, e cuja dieta via oral seja
incapaz de satisfazer aos requerimentos nutricionais (INCA,
2016). A literatura adotada pelo protocolo de SNO do hospital,
recomenda que a administração de suplementos ocorra entre
as principais refeições para otimização de seus efeitos, visto
que há uma maior eficácia das proteínas quando fracionadas
em 2-3 vezes por dia (WILSON, 2002).
Tendo em vista a não adequação das necessidades
nutricionais, foi iniciada SNO. O suplemento escolhido teve
característica hipercalórica e hiperproteica, sendo oferecido
em um volume de 125 ml, fracionado em três vezes ao dia. O
pequeno volume do SNO favoreceu a sua completa aceitação
pela paciente (100%). Dessa forma, foram totalizados mesmo
com a baixa aceitação alimentar, 1.979 kcal e 76 g de
proteína. Assim, foram ofertados 35 kcal/kg e 1.3 g de
proteína/kg, atingindo a cota calórico-proteica estimada para
as suas necessidades, até aumento do apetite e consequente
aumento da ingestão alimentar.
157
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL DE PACIENTE COM ADENOCARCINOMA
DE ENDOMÉTRIO

3 CONCLUSÕES

O estudo em questão possibilitou a compreensão sobre


o diagnóstico de adenocarcinoma endometrioide, seu quadro
clínico e as formas de tratamento existentes para restabelecer
a saúde das mulheres. Evidencia-se que, esse diagnóstico
acarreta repercussões no estado clínico, funcional e emocional
das mulheres acometidas. Diante disso, é de suma
importância a atuação de uma equipe multiprofissional
integrada para promover assistência adequada e dessa forma,
melhorar a qualidade de vida destas pacientes. Ressalta-se
também a importância do profissional nutricionista inserido no
âmbito hospitalar, no que diz respeito a uma intervenção
nutricional precoce, impedindo a perda de peso durante a fase
aguda da doença, e durante a hospitalização, combinando a
suplementação ao uso de alimentos de alta densidade
calórico-proteica, além de levar em consideração as
preferências alimentares de seus pacientes.

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161
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
CAPÍTULO 8

ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES


ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS ANTES E
APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA

Thalita Christina da Costa LIMA1


Iago Alves Miranda SANTOS2
Miniamy Pereira NOBREGA 3
Suellen Maiara Emerencio da SILVA3
Amanda Moreira de Andrade SILVA4
1
Nutricionista residente do programa multiprofissional integrada em saúde do Hospital das
Clínicas em nefrologia – COREMU/UFPE;
2
Nutricionista residente do programa multiprofissional em cuidados paliativos do Hospital
Universitário Osvaldo Cruz-COREMU/UPE;
3
Nutricionista residente do programa uniprofissional em nutrição clínica do Hospital das
Clínicas – COREMU/UFPE;
4
Nutricionista e Preceptora do Hospital das Clínicas de Pernambuco.
thalitacnutricao@gmail.com

RESUMO: A elevada incidência de cânceres infantis vem


despertando preocupação devido ao perfil catabólico da
doença, que afeta o crescimento e desenvolvimento do
paciente, e o expõe a riscos nutricionais, associados a fatores
emocionais, culturais ou socioeconômicos, os quais podem
agravar seu estado clínico geral. Diante disso, objetivou-se
caracterizar o estado nutricional (EN) de pacientes
oncológicos pediátricos antes e após tratamento de base. O
presente trabalho trata-se de uma revisão sistemática da
literatura, realizado através de levantamento bibliográfico nos
portais eletrônicos Lilacs, Scielo, Medline, BVS e Pubmed,
nos idiomas português e inglês. Foram reunidos 7 artigos,
nos quais observou-se maior prevalência dos tumores
162
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
hematológicos e no sexo masculino. O EN dos pacientes no
diagnóstico foi, em sua maioria, de desnutrição. Em
contrapartida, no pós–tratamento houve predominância de
sobrepeso e obesidade entre os sobreviventes. O presente
trabalho reafirma a mudança de perfil nutricional mesmo
quando se refere ao público infanto-juvenil com neoplasia,
intensificando a importância de novos estudos para
acompanhamento dos impactos que as terapias anti-
neoplásicas possam causar, afetando a qualidade de vida
desses pacientes a longo prazo.
Palavras-chave: Estado nutricional; Oncologia; Pediatria.

1 NTRODUÇÃO

O câncer é uma doença degenerativa, conhecida desde


os primeiros relatos da humanidade, porém tornou-se mais
conhecido no último século (LIMA et al., 1998). Câncer é o
nome dado para identificar um conjunto de doenças
provocadas pelo desordenado crescimento das células
anormais que invadem outros tecidos e órgãos. Isso ocorre
devido a sua capacidade de dividir-se rapidamente, resultando
em células mais agressivas, resistentes e incontroláveis,
sendo responsáveis pela formação de tumores ou neoplasias
malignas, podendo se disseminar para outras regiões do
corpo, dando origem a novos tumores (metástase) (INCA,
2014a).
A incidência dessa doença tem crescido de forma
assustadora, ocupando progressivamente os primeiros lugares
como causa de mortalidade. Atualmente, o câncer é a
segunda causa de morte, no Brasil, o que o torna importante
problema de saúde pública. Segundo as estimativas do
Instituto Nacional de Câncer (INCA), em 2016, deveriam

163
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
ocorrer, aproximadamente, 596 mil casos novos de câncer no
Brasil, dentre os quais, cerca de 3% seriam tumores
pediátricos, contabilizando em torno de 12.600 novos casos
de câncer em crianças e adolescentes de até 19 anos (INCA,
2015).
De acordo com Garófolo (2012), esta enfermidade em
crianças ocorre principalmente nos tecidos de crescimento
como tecido ósseo e muscular, sistema nervoso, medula
óssea e sistema linfocitário. As neoplasias pediátricas mais
frequentes são: Leucemia Linfoide Aguda (LLA), tumores de
Sistema Nervoso central (SNC) e Linfomas. As LLAs
geralmente ocorrem entre o terceiro e o quinto ano de vida, e
os linfomas mais frequentes são os não-Hodgkin, mais
comuns na adolescência. Dentre estes, nota-se aumento na
incidência dos osteossarcomas (BORGES et al., 2009).
Os principais tipos de tratamento antineoplásico
incluem a quimioterapia, radioterapia, cirurgia, transplante de
medula óssea, hormonioterapia, corticoterapia e imunoterapia.
Estes podem ser realizados separadamente ou combinados
dependendo do tipo de tumor e do seu estadiamento
(GARÓFOLO, 2012a).
Os efeitos do estado nutricional sobre a resposta
terapêutica de crianças merecem maior atenção, uma vez que
a terapia antineoplásica, pode inferir em alterações
nutricionais, por causar efeitos negativos sobre a função
gastrintestinal como náuseas e vômitos intensos, diarreia,
constipação, má absorção de nutrientes intestinais, mucosites,
além de alguns efeitos tóxicos, que podem contribuir para um
quadro de desnutrição (CARAM et al. 2012).
As alterações metabólicas e endócrinas causadas pelo
câncer ao paciente, já o classifica em estado de risco

164
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
nutricional. A desnutrição em paciente oncológico adulto pode
variar de 40% a 80%, enquanto nas crianças varia em até
50%, independentemente do tipo de neoplasia. As funções
orgânicas destes pacientes apresentam-se afetadas devido à
baixa imunidade humoral e celular, reduzindo a sua tolerância
à terapia antineoplásica. Dessa forma, se a desnutrição for
detectada e controlada precocemente, prováveis
complicações e agravos podem ser prevenidos e melhorar a
resposta do paciente ao tratamento específico (CAPRARA et
al., 2009).
A avaliação do estado nutricional em pacientes
oncológicos pediátricos é de suma importância na
compreensão da situação metabólica e dietética do paciente,
tendo como objetivo identificar os distúrbios nutricionais
precocemente, possibilitando o desenvolvimento da
intervenção adequada, de forma a auxiliar na recuperação
e/ou manutenção do estado de saúde do indivíduo (SANTOS
et al, 2011; CAPRARA et al., 2009). Diversos métodos podem
ser utilizados para avaliar o estado nutricional do paciente
pediátrico, como: parâmetros bioquímicos, exame físico,
avaliação antropométrica (peso e estatura), a avaliação
corporal (circunferências do braço, circunferência muscular do
braço e dobras cutâneas), avaliação alimentar por meio do
recordatório 24 horas e/ou frequência alimentar e a avaliação
terapêutica por meio de questões acerca do tratamento (INCA,
2014 b); AMANCIO et al., 2009).
Além dos distúrbios endócrinos e metabólicos,
pacientes com câncer apresentam distúrbios alimentares, que
podem sofrer influência de fatores psicológicos e emocionais,
como também de fatores relacionados com o tratamento e a
doença em si (GARÓFOLO, 2012). Segundo Caprara (2009),

165
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
a maior parte dos casos de desnutrição ocorre por
modificações no apetite e na ingestão alimentar. Em
contrapartida, Nathan et al. (2008) afirmam que sobreviventes
do tratamento de câncer infantil têm grandes chances de
desenvolver uma condição crônica, devido aos efeitos tardios
relacionados à doença e ao tratamento, aumentando assim a
probabilidade do desenvolvimento de uma segunda neoplasia,
doença cardíaca e obesidade. Alguns estudos têm
apresentado a obesidade de maneira crescente nessa
população (Alves et al.,2009).
Segundo Alves et al. (2009), a obesidade constitui uma
das complicações mais frequentes associadas ao tratamento
oncológico em pacientes sobreviventes de LLA, tipo de câncer
mais comum na infância. E diversos fatores podem estar
associados a ocorrência da obesidade entre os sobreviventes
de câncer infantil, como o próprio tratamento oncológico,
resultado do uso de altas doses de corticosteroides associado
ao uso concomitante ou não de radioterapia craniana, que
ocasiona desregulação hormonal; fatores familiares de risco;
estilo de vida, como escolhas alimentares pouco saudáveis
que podem ser utilizadas como compensação ao estresse
emocional causado pela doença e tratamento; aumento de
tempo gasto em atividades sedentárias e redução na prática
de atividade física (OLIVEIRA et al., 2013). Estudos recentes
sugerem que esse desequilíbrio hormonal aumenta em
pacientes tratados com radiação craniana em uma idade mais
jovem, visto que nesses casos a radiação pode afetar o
hipotálamo causando insensibilidade a leptina (ROSS et
al.,2004).
Diante disso, o diagnóstico precoce e acompanhamento
do estado nutricional visa identificar os problemas nutricionais,

166
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
procurando minimizá-los, melhorando a resposta ao
tratamento da doença de base, a qualidade de vida e a
sobrevida do paciente. Atualmente os métodos de detecção,
tratamento e reabilitação estão alcançando avanços
importantes se considerarmos que as dificuldades no estudo
do câncer têm crescido em função de sua natureza e as
múltiplas formas ao qual se desenvolve.
Dessa forma, em virtude do caráter altamente
catabólico do tratamento e da doença o paciente já pode ser
classificado em situação de risco nutricional e, em
contrapartida estudos têm apresentado o sobrepeso e a
obesidade de maneira crescente em sobreviventes do câncer
infantil. Portanto, faz-se necessária uma avaliação periódica,
com técnicas e instrumentos adequados para caracterizar o
estado nutricional de pacientes oncológicos pediátricos antes
e após tratamento de base.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho trata-se de uma revisão sistemática


da literatura sobre o estado nutricional de pacientes
oncológicos pediátricos antes e após tratamento de base. O
método utilizado para a coleta de dados foi o levantamento
bibliográfico através da busca em portais eletrônicos de artigos
indexados nas bases de dados Lilacs (Literatura Latino-
Americana de Ciências de Saúde), Scielo (Scientific Eletronic
Library Online), Medline (United States National Library of
Medicine), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) e Pubmed (US
National Library of Medicine National Institutes of Health) por
meio dos seguintes descritores: “avaliação nutricional”, “estado
nutricional”, “neoplasia”, “pediatria”, “câncer”, “desnutrição”,

167
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
“obesidade”, “transtornos de nutrição infantil” e “oncologia” nas
bases nacionais. Além de “child nutrition disorders”, e
“nutritional Child”, “Child Health”, “malnutrition”, “obesity”, e
“nutritional status”, nas bases internacionais.
Foram incluídos os artigos: a) publicados em periódicos
indexados; b) escritos em língua inglesa, espanhola ou
portuguesa; c) publicados entre agosto de 2000 e fevereiro de
2017; d) empíricos; e) que objetivassem estudar o estado
nutricional de pacientes oncológicos pediátricos antes e/ou
após o tratamento antineoplásico. Destas combinações foram
encontrados 15 artigos no total.
Entre os critérios de exclusão, foram considerados:
artigos que não obtinham dados da avaliação do estado
nutricional (antropometria e/ou composição corporal);
trabalhos com público alvo com idade > 20 anos; capítulos de
livros, teses, dissertações, publicações tipo carta, comentário
ou editorial, trabalhos que abordassem doenças pediátricas de
uma maneira geral.
Portanto, entre os 15 artigos analisados pelo título e
resumo, foram exclusos 8 artigos, os quais preenchiam os
critérios de exclusão.
As características metodológicas e da população dos
estudos selecionados sobre estado nutricional de crianças e
adolescentes sobreviventes de câncer, no pré e pós
tratamento de base foram descritas no quadro 1.
Os resultados apresentados nos artigos foram
computados em planilha do programa Microsoft Office Excel
2010 e apresentados na forma de estatística descritiva por
meio de frequências e porcentagens, média, desvio padrão
(DP).

168
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Quadro 1: Características metodológicas e da população dos


estudos selecionados sobre estado nutricional de crianças e
adolescentes sobreviventes de câncer, no pré e pós tratamento de
base

Fonte: Próprio autor

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo trabalhou com sete artigos, dos


quais todos apresentavam dados do estado nutricional, dos
pacientes estudados no pré-tratamento de base, enquanto
apenas quatro trabalharam com dados do estado nutricional
no pós-tratamento de base.

169
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
O câncer infanto-juvenil, doença rara que acomete
crianças e adolescentes corresponde a 1% e 3%,
respectivamente, de todos os tumores malignos na maioria
das populações. Em alguns países em desenvolvimento, em
que a população de crianças e adolescentes chega a 50%, a
proporção do câncer infantil representa de 3% a 10% do total
de neoplasias.
Nessa revisão foram avaliados 7 trabalhos, dentre os
quais foi possível observar a prevalência dos tumores
hematológicos, correspondente a 57,1% de LLA nos estudos
de Caprara et al. (2009), de 55,7% e 61% de doenças
hematológicas (leucemias e linfomas) nos estudos de Córdova
et al. (2012) e Molle et al. (2011), respectivamente. Enquanto
que os estudos de Oliveira et al. (2013), Caram et al. (2012) e
Alves et al. (2009) trabalharam exclusivamente com pacientes
com LLA.
Dentre os pacientes participantes dos estudos acima
citados, em cinco deles houve uma maior prevalência do sexo
masculino, contando com mais de 50% dos indivíduos por
estudo. A média amostral foi de 93,6 pacientes (entre
crianças e adolescentes), dos quais Razzouk et al. (2007)
trabalhou com a maior amostra, 248 pacientes, e Caprara et
al. (2009) com a menor delas, 14 pacientes. Dos 7 artigos
utilizados, 6 foram nacionais, contemplando os estados do Rio
Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco e um artigo
internacional do estado do Tennessee, Estados Unidos.

3.1 Estado nutricional antes do tratamento de base

Nos estudos, foi possível avaliar o estado nutricional


dos pacientes pediátricos no momento do diagnóstico (pré-

170
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
tratamento de base). No estudo de Caram et al., (2012), das
42 crianças (<12 anos) avaliadas, foi possível classificar a
relação do peso por idade, em escore Z, em 31 crianças,
revelando que a maioria destas (58,1%) apresentaram
comprometimento do peso no momento do diagnóstico; e
42,9%, já apresentavam comprometimento no seu
crescimento. O IMC reforça a elevada prevalência de
desnutrição estratificada como 47,6% de magreza (escore Z >
-3 e < -2) e 4,8% de magreza acentuada (escore Z < -3).
Entre os anos de 1979 e 1984, Razzouk et al.(2007)
realizou um estudo de coorte retrospectivo, com 248 pacientes
com diagnóstico recente de LLA e linfoma, no período entre
maio de 1979 e dezembro de 1984. Os pacientes foram
acompanhados e suas medidas de peso e altura foram
aferidas no momento do diagnóstico, durante o tratamento de
base, ao final da terapia, e em intervalos de 6 meses a 1 ano
depois. Nesse estudo, foi possível observar que
aproximadamente um quarto do total dos pacientes
apresentou baixo do peso no momento do diagnóstico, com
maior prevalência nas crianças com idade de 0 a 6 anos (29%)
em relação aquelas entre 13 a 19 anos de idade (14%). Em
contrapartida, 13% dos pacientes apresentaram excesso de
peso, dentre esses 6% com sobrepeso e 7% apresentaram
obesidade no momento do diagnóstico, com maior prevalência
de excesso de peso entre adolescentes (19%).
Outro estudo de coorte, porém nacional, foi
desenvolvido por Alves et al. (2009), envolvendo 101 crianças
e 19 adolescentes, dos quais 17 (14,2%) apresentavam
excesso de peso, segundo o IMC. Molle et al. (2011) também
desenvolveu um estudo de coorte nacional, no qual encontrou
12% e 23% de desnutrição ou risco nutricional e 17% e 18%

171
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
de sobrepeso ou obesidade, nas crianças e adolescentes,
respectivamente, reforçando a presença do excesso de peso
na adolescência como demonstrado também no estudo de
Razzouk et al. (2007). Oliveira et al. (2013), Córdova et al.
(2012) e Caprara et al. (2009), ainda apresentam dados mais
alarmantes no início do tratamento, com 33,3% e 27,9% de
excesso de peso nas duas primeiras referências,
respectivamente, e 40% de obesidade na última delas.

3.2 Estado nutricional após tratamento de base

Diante dos 7 artigos utilizados nessa revisão, somente


quatro trouxeram dados antropométricos capazes de avaliar o
estado nutricional dos pacientes após o tratamento de base. O
tempo estimado para o pós-tratamento foi de um ano a partir
do término, contados a partir do último dia de tratamento. O
tempo de follow up foi calculado como o tempo entre o
diagnóstico e o pós-tratamento. No estudo de Oliveira et al
(2013), o follow up teve um tempo médio de 4,3 anos (+0,9),
enquanto que no estudo de Razoouket al. (2007) foi
encontrada uma média de aproximadamente 12 anos.
Em seu estudo, Razzouk et al. (2007) apresentou como
média de idade na última avaliação 18,4 anos e o tempo
médio do diagnóstico até a última avaliação nutricional foi de
11,9 anos. O excesso de peso triplicou (10,5% para 37,5%),
enquanto que houve uma redução de quase quatro vezes no
baixo peso (23% para 5,6%).
No estudo de Oliveira et al. (2013), pacientes no
período pós-tratamento, apresentaram 10% de baixa estatura
e 43,3% de excesso de peso, ambos aumentaram em relação
a primeira avaliação. No follow up, foram ainda avaliadas as

172
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
medidas de adiposidade central, Circunferência da Cintura
(CC) e Relação Cintura – Estatura (RCEst), indicando a
frequência de 16,1% de obesidade abdominal por meio da CC
e 35,5% pela RCEst. Os exames laboratoriais (fração de
colesterol, triglicerídeos e glicemia em jejum) revelaram que
mais da metade dos pacientes apresentavam HDL-colesterol,
LDL-colesterol e triglicerídeo na faixa considerada desejável
(58,3%, 66,7% e 79,2% respectivamente). Em contrapartida,
52,1% tinham valores de colesterol total acima do
recomendado. Todos os pacientes encontravam-se dentro da
faixa de normalidade, em relação a glicemia. O estudo ainda
relatou que as crianças que apresentaram excesso de peso,
passavam mais tempo, média de 8,76 horas, com atividades
sedentárias.
Alves et al. (2009) realizou um estudo coorte
retrospectivo com 120 sobreviventes, que realizaram seu
tratamento no serviço de Oncologia do Instituto de Medicina
Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP), em Recife/PE. O
tempo médio de tratamento foi de 2,6 anos (±1). No momento
da confirmação diagnóstica, dezessete pacientes (14,2%) dos
120 sobreviventes apresentavam excesso de peso. No pós-
tratamento, dois anos após o término do tratamento, esse
número aumentou para quarenta e seis pacientes (38,3%) com
excesso de peso. Entre o momento do diagnóstico e os dois
anos após o tratamento, a média do IMC variou de 16,1
(DP=2,3) para 19,1 (DP=3,5) (p < 0.001), respectivamente.
No estudo de Córdova et al. (2012) o excesso de peso
no diagnóstico (27,9%) e no período de follow-up (26,2%)
foram semelhantes, entretanto no pós-tratamento metade
desses pacientes estavam obesos (13,1%), enquanto que
nenhum deles era classificado como obeso na primeira

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ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
avaliação. Segundo Córdova et al. (2012), não houve
diferença estatisticamente significativa (p=0,280) entre a
classificação do EN da primeira para a segunda avaliação,
porém quando as médias dos escores Z para IMC/I foram
analisadas, verificou-se um aumento estatisticamente
significativo (p=0,024) do escore Z de +0,065 ao diagnóstico,
para Z= +0,53 no followup. No período de follow-up, quinze
(24,6%) pacientes faziam uso de algum medicamento, dezoito
(29,5%) apresentavam alguma sequela do tratamento e oito
pacientes (13,1%) tinham alguma comorbidade associada ao
tratamento, tais como hipertensão, hipercolesterolemia,
osteoporose e hipotireoidismo.
Diante dos resultados obtidos nos estudos, foi
possível observar o estado nutricional dos pacientes
oncológicos pediátricos no momento do diagnóstico e no pós-
tratamento e assim entender como ocorrem estas variações
nesses pacientes. O pré-tratamento de base foi marcado pela
predominância de desnutrição, mas com indícios de aumento
do desequilíbrio nutricional pelo excesso de peso. Entre os
artigos, o estudo de Caram et al. (2012) resultou na maior
prevalência de desnutrição Resultados semelhantes foram
encontrados nos estudos de Molle et al. (2011), em que 35%
da amostra encontrava-se com desnutrição ou risco
nutricional, e no estudo de Razzouk et al (2007), que
encontrou 25% de desnutrição pelos índices P/I e IMC/I. As
alterações metabólicas e endócrinas causadas pelo câncer ao
paciente, já o classifica em estado de risco nutricional
(CAPRARA et al., 2009).
Garófolo et al. (2005), refere que a desnutrição em
paciente oncológico pediátrico poder variar de 6% até 50%,
independentemente do tipo de neoplasia, pois geralmente

174
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
apresenta perda de peso relacionado à doença, devido a seu
caráter catabólico. Os artigos da presente revisão apresentam
prevalência que corroboram com o achado do autor acima.
Além disso, o diagnóstico de câncer em crianças e
adolescentes é normalmente realizado mais tardiamente, isso
devido à falta de informação dos pais e à demora na procura
da assistência médica, entre outros. Esse fato implica no
agravamento do estado nutricional da criança no momento do
diagnóstico. A desnutrição quando presente no início do
tratamento antineoplásico, agrava ainda mais a situação
clínica do paciente, prejudicando a resposta terapêutica,
desfavorecendo o prognóstico, mesmo com o elevado
percentual de cura que muitas neoplasias malignas pediátricas
têm alcançado (GARÓFOLO et al.,2005).
Por outro lado, foram encontrados resultados diferentes
nos estudos de Caprara et al. (2009), Oliveira et al. (2013) e
Córdova et al. (2012), nos quais 50%, 33,3% e 27,9%,
apresentaram de excesso de peso no momento do
diagnóstico, respectivamente. A prevalência da obesidade
infantil aumentou rapidamente nas últimas décadas no mundo
inteiro e vem sendo caracterizada como uma verdadeira
epidemia mundial. A presença de obesidade no pré-tratamento
pode causar mudanças na farmacocinética de algumas
drogas, resultando na alteração da distribuição da droga e
mudanças no volume de distribuição aparente desta, pois as
drogas hidrofílicas acabam sendo eliminadas. Em
contrapartida, muitas drogas utilizadas para o tratamento
antineoplásicos são insolúveis em lipídios e podem ser mal
distribuídas no tecido adiposo, podendo assim alterar a sua
eliminação, consequentemente o tratamento não será tão
eficaz. (KIRJNER; PINHEIRO, 2007). Além disso, pacientes

175
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
que apresentam sobrepeso ou obesidade no momento do
diagnóstico tem maiores chances de desenvolver excesso de
peso no período pós tratamento.
Com o avanço da medicina, atualmente existem novos
recursos diagnósticos e terapêuticos, através dos quais foi
possível a padronização dos protocolos para o tratamento do
câncer infantil, resultando em um aumento na taxa de
sobrevida. No entanto, as consequências, e complicações
derivadas dos tratamentos passaram a ser motivo de
preocupação e análise. Atualmente, o término do tratamento
antineoplásico, não significa o ponto final do sucesso do
tratamento oncológico, visto que os efeitos tardios pertinentes
à doença e ao tratamento estão gerando impacto importante
na saúde e na qualidade de vida dos sobreviventes de
neoplasia infanto-juvenil (OLIVEIRA et al.,2009).
Dentre as várias complicações associadas ao
tratamento oncológico a obesidade tem sido alvo de estudos,
em virtude do seu crescente aumento na população
sobrevivente de câncer. No estudo de Alves et al. (2009), a
frequência de excesso de peso foi quase três vezes maior nos
sobreviventes quando comparados o momento do diagnóstico
com dois anos após o término do tratamento (14,2% versus
38,3%). Razzouk et al. (2007) também verificou incremento de
1,55 vezes na frequência de excesso de peso (23% versus
35,7%), ainda que inferior a encontrada por Alves et al. (2009).
A prevalência de obesidade no pós-tratamento, segundo esse
estudo ocorreu em sobreviventes do sexo masculino maiores
de 18 anos e que foram diagnosticados com menos de 5 anos
de idade.
No estudo de Oliveira et al. (2013), o excesso de peso
aumentou na ordem de 1,3 vez no período pós-tratamento

176
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
quando comparada ao momento do diagnóstico (33,3% versus
43,3%). Nesse estudo foi encontrado um aumento significante
da média de escore-Z do indicador IMC/I entre o início e o
período pós-tratamento, apesar de um aumento não
significante na frequência de excesso de peso no mesmo
período. Além disso, no esmo estudo identificou maior
porcentagem de obesidade abdominal por meio da RCEst
quando comparada à obtida pela CC, demonstrando forte
correlação com fatores de risco cardiovascular. Córdova et al.
(2012), embora tenha encontrado uma tendência a
manutenção da prevalência de excesso de peso no pré e pós
tratamento, observou aumento na gravidade da classificação
destes com migração de pacientes da categoria de sobrepeso
para obesidade. Os achados de Veringa et al. (2012)
corroboram com essa tendência ao aumento do sobrepeso no
pós tratamento citada nos artigos acima, dessa forma
encontrou 38,8% de excesso de peso, segundo o IMC, no
follow-up.
O diagnóstico de obesidade como efeito tardio do pós
tratamento antineoplásico no público infanto-juvenil, pode ser
justificada por algumas razões como fatores decorrentes do
tratamento, tais como o déficit de crescimento linear (hormônio
do crescimento), o uso elevado de medicamentos à base de
corticosteroides, associado ou não a radioterapia craniana,
fatores endógenos e exógenos (socioeconômico, alimentação
e estilo de vida) (ALVES et al.,2009; OLIVEIRA et al., 2013).
Vários fatores podem ser apontados como causadores
de déficit de crescimento linear podendo-se citar a própria
doença, ingestão deficiente de nutrientes, a ocorrência de
infecções, a quimioterapia e a deficiência do hormônio do
crescimento secundária à irradiação craniana. O retardo grave

177
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
no crescimento, é observado em até 30%-35% de
sobreviventes de tumores cerebrais na infância e em 10%-
15% dos doentes tratados com certos regimes antileucemia,
como resultados encontrado no artigo de Oliveira et al. (2013).
Os efeitos tardios da radiação craniana são
relacionados com a idade no momento da radiação,
apresentando risco para baixa estatura se o paciente receber
radiação com idade menor que 8 anos (LANDIER E BHATIA,
2008). Dalton et al. (2003), observaram que o aumento do IMC
relatado no período de follow-up pode ser justificado em
virtude do crescimento inadequado e não propriamente do
ganho de peso. Segundo ele, ter idade menor que 13 anos no
momento do diagnóstico e aumento da intensidade da
quimioterapia foram os principais fatores de risco para o
quadro de obesidade na fase adulta.
O uso de altas doses de corticosteroides, tipo de
medicação usada durante o tratamento oncológico, pode
causar alguns efeitos colaterais, tais como aumento do
apetite, ganho de massa adiposa e perda de proteína
muscular, uma vez que pode ocasionar desregulação
hormonal (MOLLE et al.,2011). Entre os hormônios que tem
sua função alterada, podemos citar a leptina, hormônio
produzido pelo tecido adiposo e que está envolvido no
controle da saciedade. Estudos têm demonstrado níveis mais
elevados desse hormônio entre os sobreviventes da LLA,
inclusive entre aqueles sem excesso de peso o que fortalece o
papel interativo dos fatores endógenos com os ambientais no
desenvolvimento da obesidade após a cura da LLA. Outro
fator endógeno que alguns autores têm apontado é a
presença de excesso de peso no diagnóstico (ROSS et al.,
2004; RAZZOUK et al., 2007; ALVES et al.,2009).

178
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Além dos fatores citados acima, registre-se ainda que
pode acontecer descuido dos responsáveis em relação a
alimentação das crianças e adolescentes diagnosticados com
LLA, tendo em vista a vulnerabilidade da fase, tendência a
procura por alimentos ricos em açúcar e gorduras, além da
tentativa de suprir a dor da doença com o prazer da comida.
Além desses fatores, deve-se lembrar que alguns alimentos
densamente energéticos também possuem menor custo e
melhor palatabilidade. Oliveira et al. (2013), refere que os
sobreviventes com excesso de peso apresentaram maior
média de tempo gasto em atividades sedentárias quando
comparados aos sobreviventes eutróficos. Dessa forma, ao
agregar a prática de atividade física com alimentação é
possível reduzir o excesso de peso nessa população, a partir
das reconhecidas causas evitáveis.
Outras complicações podem estar presentes nos
sobreviventes de câncer infantil são doenças cardiovasculares
e um conjunto de disfunções metabólicas incluindo resistência
à insulina, consequentemente a hiperinsulinemia, intolerância
à glicose, hipertensão, dislipidemia e, têm sido designados
como síndrome metabólica, que está associada com o
aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares
(TALVENSAARI et al., 2002).
O tratamento anti-neoplásico e seus impactos na saúde
da criança-adolescente e futuro adulto ainda são pouco
conhecidos. Porém, urge a necessidade de intervenções
precoces para prevenção e promoção da saúde nestes
pacientes e, por conseguinte para preservar a saúde de
familiares e comunidade, dos quais dependem quase que
integralmente.

179
ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
4 CONCLUSÕES

Os sobreviventes de neoplasias malignas no período infanto-


juvenil apresentaram frequência importante de excesso de
peso e desnutrição no momento do diagnóstico, além do
aumento do excesso de peso no pós-tratamento. Esses
achados reafirmam a mudança de perfil nutricional mesmo
quando se refere ao público jovem e com neoplasia, o que
reforça a preocupação e importância de estudos de
acompanhamento para esclarecer possíveis lacunas quanto
ao impacto das terapias anti-neoplásicas na qualidade de vida
desses pacientes, à longo prazo. As pesquisas de percepção,
conhecimento e prática de pais e responsáveis em relação a
condução da alimentação e estilo de vida da criança-
adolescente a partir do momento do diagnóstico também
devem ser encorajadas, além da implementação de
estratégias de promoção da saúde desde o princípio do
tratamento.

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ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES ONCOLÓGICOS PEDIÁTRICOS
ANTES E APÓS TRATAMENTO DE BASE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
CAPÍTULO 9
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO
GLUTAMINA NO TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA
REVISÃO DA LITERATURA

Luciana MEDEIROS1
Fernanda BARBOSA2
Larruama VASCONCELOS3
Fernanda MEDEIROS4
Mylena MORAIS5
1
Graduanda do curso de nutrição, FIP; 2 Professora do curso de nutrição, FIP; 3 Nutricionista;
4
Graduanda do curso de nutrição, FIP. 5 Nutricionista, pós graduada em Nutrição Clínica e
Funcional.
lucianandreza_@hotmail.com

Justificativa: As referidas referências foram utilizadas, pois


foram as mais atualizadas encontradas acerca do assunto,
tendo em vista que estudos clínicos acerca da utilização de
suplementos como a glutamina no tratamento do câncer ainda
encontra-se escasso na literatura. Foram utilizadas algumas
referências um pouco mais antigas com o intuito de
complementar as informações mais atuais, dando ênfase nos
últimos dados que foram encontrados.
RESUMO: Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
afirmam que a cada ano o câncer atinge cerca de nove
milhões de pessoas no mundo. Dentre as consequências
severas do câncer, a caquexia apresenta-se como uma das
principais. O uso do aminoácido glutamina pode trazer
possíveis benefícios na prevenção e tratamento do câncer,
possibilitando uma maior sobrevida, ou melhora da qualidade
de vida do paciente acometido. Dessa forma, objetivou-se
realizar uma revisão bibliográfica de caráter descritivo e
abordagem qualitativa dos dados, acerca da utilização da
suplementação de glutamina durante o tratamento do câncer.
Este consiste em cirurgias, quimioterapia e radioterapias. A

184
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
falta de apetite é um dos sintomas mais comuns em paciente
oncológicos, por isso, a utilização de suplementos alimentares
é muito aplicada nesse público. O aminoácido glutamina é
descrito como imprescindível no tratamento de pacientes
oncológicos por ser um excelente imunomodulador, atuando
como substrato fundamental para as células do sistema
imunológico. Em situações de hipercatabolismo como o
câncer, onde há o balanço nitrogenado negativo e elevação
das taxas de degradação muscular, o organismo não
consegue sintetizar a glutamina na quantidade ideal em
condições normais, tornando-a um aminoácido
condicionalmente essencial. Assim, observaram-se diversos
dados comprovativos acerca do efeito benéfico da utilização
da suplementação de glutamina no tratamento do câncer,
especialmente durante a fase de tratamento e na resposta
nutricional do paciente.
Palavras-chave: Câncer. Caquexia. Glutamina.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Matos, Pelloso e Carvalho (2010) é


cada vez mais notório as mudanças relativas ao estilo de vida
da população com destaque na adoção de hábitos de vida não
saudáveis e consigo, o aumento exponencial do número de
casos de câncer na população mundial. Dentre os principais
fatores de risco da doença, destaca-se o referido estilo de vida
vivido pela população, caracterizado por mudanças na dieta,
com consumo cada vez maior de alimentos industrializados,
hipercalóricos, de rápido preparo e menor índice de valor
nutricional, sedentarismo, obesidade, tabagismo e consumo
excessivo de álcool.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS), a cada ano o câncer atinge pelo menos nove milhões
185
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
de pessoas no mundo e acarreta diversos impactos
nutricionais, devido principalmente aos sintomas e efeitos
colaterais do câncer e do seu tratamento, que por sua vez,
visa à cura, o controle ou os cuidados paleativos
(VANNUCCHI; MARCHINI, 2007; MAHAN; ESCOTT-STUMP;
RAYMOND, 2012).
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) afirmam que
câncer representa um grande problema de saúde pública no
mundo, relevando que para o ano de 2030 estima-se uma
carga 27 milhões de novos casos globais (BRASIL, 2015).
O câncer corre quando um clone de células
anormais consegue escapar da sua regulação, ou seja, é uma
função celular anormal resultante de mutações e alterações no
DNA. Waitzberg (2009) complementa que tais células
anormais cancerosas são caracterizadas por autossuficiência
em termos de crescimento, resistência a apoptose, potencial
de replicação ilimitado, insensibilidade aos sinais de
interrupção do crescimento, angiogênese persistente e por
invasão tecidual e metástase. A anormalidade das células
cancerígenas é fenotípica, sendo decorrente de mutação
genética, adquirida ao longo do ciclo de vida da célula ou
transmitida pela célula-mãe (MANN, 2011).
Com o intuito de reverter e/ou tratar os diversos
tipos de câncer faz-se necessário à realização de uma
terapêutica antitumoral, que compreende a quimioterapia, a
radioterapia, a imunoterapia, a hormonioterapia, a cirurgia ou a
combinação destas. Entretanto, cada modalidade de
tratamento pode ocasionar diversos sintomas, além de
alterações fisiológicas e nutricionais, interferindo, na maioria
das vezes, na capacidade de digestão, ingestão e absorção

186
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
adequada de nutrientes, além de afetar o paladar e a
deglutição (SANTOS et al., 2010).
Kowata et al. (2009) preconizam que dentre as
consequências severas do câncer, a caquexia cancerosa
apresenta-se como uma das principais. Caracteriza-se pela
perda de peso acentuada, consumição progressiva, fraqueza
generalizada, falta de apetite e presença de anemia. É
definida pelo balanço negativo de proteína e energia
causado por redução na ingestão de alimentos e
por desordens metabólicas (RAVEL; PICHARD, 2010).
Fortes e Novaes (2010) relatam que a ubiquitina-
proteasoma é a principal via de proteólise no câncer,
dependente de energia que age na hidrólise proteica em
diferentes condições fisiológicas e fisiopatológicas. Assim,
esclarece-se o gasto energético observado em pacientes que
apresentam a caquexia do câncer.
Argilés et al. (2010) preconizam que o suporte
nutricional é a melhor forma de prevenção e/ou reversão do
quadro de caquexia que acomete o paciente oncológico. Um
acompanhamento nutricional é necessário para auxiliar na
manutenção ou ganho de peso, principalmente, em situações
em que o paciente será submetido a procedimento cirúrgico,
quimioterápico e/ou radioterápico (MAIO et al., 2009;
BOLIGON, HUTH, 2011).
Os tipos de cânceres mais frequentes para os
homens são: câncer de próstata, pulmão, intestino, estômago
e cavidade oral e para as mulheres câncer de mama, de
intestino, do colo do útero, do pulmão e do estômago,
respectivamente, sem contar o câncer de pele não melanoma,
que é um dos principais em ambos os sexos (BRASIL, 2015).

187
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
A suplementação como forma de minimizar os
efeitos deletérios referentes ao câncer vem sendo amplamente
utilizada, a exemplo do aminoácido glutamina. Este, segundo
Kim (2011), possui diversos papeis no organismo, entretanto,
durante o estresse metabólico, comum durante o tratamento
do câncer, suas reservas musculares esgotam-se
rapidamente, tendo em vista que é rapidamente liberada,
necessitando de reposição e tornando-se nesses casos,
condicionalmente essencial. Assim, Morais, Ribeiro e Lacerda
(2013) complementam que a suplementação de glutamina
pode trazer possíveis benefícios na prevenção e tratamento do
câncer, possibilitando uma maior sobrevida, ou melhora da
qualidade de vida do paciente acometido.
Dessa forma, tendo em vista o aumento
exponencial do número de casos de câncer no mundo,
objetivou-se realizar uma revisão bibliográfica acerca da
utilização da suplementação de glutamina durante o
tratamento do câncer a fim de verificar se este aminoácido tem
efeito positivo durante esse processo e no quadro geral
relativo ao estado nutricional do indivíduo.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão da


literatura, de caráter descritivo e abordagem qualitativa dos
dados, onde o processo de formulação se deu mediante a
busca por literaturas científicas, através de sites de iniciação
científica, como na base de dados do google acadêmico, no
banco de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO)
e na Literatura Latino-americanas e do Caribe (LILACS) e em

188
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
livros relativos ao assunto, nas línguas portuguesa e inglesa,
tendo como descritores: Câncer; Caquexia e Glutamina.
Foram incluídas na pesquisa os artigos publicados
nos últimos dez anos, dando preferência as mais atuais, em
língua portuguesa e inglesa, que apresentaram como objeto
de estudo a temática central: Câncer e glutamina e excluídos
todos os artigos que não iriam contribuir para a pesquisa e/ou
não apresentaram a temática principal descrita.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Silva (2006), o metabolismo


energético do indivíduo com câncer apresenta alterações, pois
a célula cancerosa usa primordialmente glicose como
substrato energético, chegando a aumentar 50 vezes mais o
seu consumo por esse macronutriente quando comparado
com as células normais. Para manter os níveis plasmáticos de
glicose há uma elevação na gliconeogênese hepática, onde
são utilizados aminoácidos musculares e lactato.
As alterações no metabolismo dos carboidratos
acontecem pela resistência periférica à ação da insulina
e por meio da intolerância à glicose, e faz com que haja um
consumo excessivo de glicose pelo tumor, aumentando a
produção de glicose hepática a partir do lactato
(gliconeogênese). Em pacientes com caquexia, a resistência
periférica à insulina é ainda maior, resultando em uma
acentuada gliconeogênese no fígado. As depleções proteicas
são percebidas principalmente pela atrofia do músculo
esquelético e órgãos viscerais, miopatia e hipoalbuminemia,
fazendo com que o indivíduo seja mais susceptível a
infecções, tenha um reparo inadequado de feridas e haja

189
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
diminuição uma da capacidade funcional. Em relação ao
metabolismo lipídico, este apresenta-se alterado, com
depleção da reserva de gorduras e níveis aumentados de
lipídios circulantes no organismo (NUNES, 2008; KOWATA et
al., 2009).
As perdas de tecido adiposo na caquexia
podem ser mediadas por citocinas pró-inflamatórias,
principalmente o TNF-α, também conhecido por caquexina,
através mobilização de ácidos graxos e pela inibição da
atividade de lipoproteína lipase. Tal inibição leva ao
aumento da lipólise no tecido adiposo e de ácidos graxos
livres (AGL) no sangue (WAITZBERG; NARDI; HORIE,
2011).
Kowata et al. (2009) ainda afirma que a conversão
de lactato para a glicose envolve consumo de
Trifosfato de adenosina (ATP), nucleotídeo
responsável pelo armazenamento de energia e aparenta
ser um processo bioquímico de gasto energético
contribuindo para a perda de peso e massa corpórea.
O tratamento do câncer consiste em cirurgias,
quimioterapia e radioterapias, dependendo dos efeitos
sistémicos ou locais, para médio ou curto prazo (OCAMPO,
2016). Fernández-Ortega et al. (2012) acreditam que cerca de
50% dos indivíduos com câncer irão apresentar efeitos
adversos de náuses e vômitos durante o tratamento
quimioterápico.
Os sintomas gerados pelo tratamento
quimio/radioterápico ocorrem em função da droga utilizada, da
dose, pela combinação de drogas, pela via e velocidade de
administração e pelo número de ciclos recebidos (JAKOBSEN;
HERRSTEDT, 2009; PIRRI et al., 2012). Gozzo et al. (2013)

190
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
preconiza que todas as drogas quimioterápicas possuem
potencial emetogênico, variando de acordo com a intensidade.
Brito et al. (2012) acreditam que prevenção e/ou
controle dos sintomas gerados pelo tratamento oncológico são
extremamente importantes, tendo em vista que podem limitar
o tratamento, podendo levar à necessidade de interrompe-lo
ou mesmo reduzir a motivação do indivíduo em prosseguir
com o plano de tratamento, comprometendo assim o controle
local do tumor e as taxas de sobrevida.
A quimioterapia consiste em administração de
medicamentos que visam curar ou controlar a neoplasia,
atuando na destruição de células malignas, impedindo a
formação de um novo DNA (ácido desoxirribonucleico),
bloqueando funções essenciais da célula ou induzindo a
apoptose, afetando todos os tecidos em graus diferentes, pois
se constitui em um tratamento sistêmico. Suas drogas
antineoplasicas causam diversos sintomas e desconfortos no
sistema digestório como constipação, diarréia, nauséas,
vômitos, alterações nas preferências e hábitos alimentares,
estomatite, anormalidades no paladar, falta de apetite e
mucosite (DIAS et al., 2006). Gozzo et al. (2013)
complementam que este tratamento, além de gerar grande
impacto no estado nutricional e gerar tantos desconfortos, atua
diretamente na ordem física e emocional das pessoas.
Segundo Boligon e Huth (2011), a radioterapia, que
assim como a quimio, tem papel fundamental no tratamento do
câncer, mas os pacientes submetidos a tal tratamento
costumam mencionar que sentem dificuldade ao se alimentar,
falar e realizar higiene oral dor intensa, pois é muito comum
gerar o aparecimento de mucosite oral por radiação, uma

191
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
reação frequente durante até alguns dias após o tratamento
radioterápico/quimioterápico, especialmente em cânceres.
O desenvolvimento do câncer precede de uma
influência mútua entre fatores endógenos e ambientais, sendo
o mais evidente desses fatores a dieta. Acredita-se que
aproximadamente 35% dos vários tipos de câncer advêm das
dietas inadequadas (GARÓFOLO et al., 2004).
Em indivíduos com neoplasia, as necessidades de
nutrientes são maiores devido ao fato de ser uma doença de
característica hipermetabólica, ou seja, consome alto nível de
energia do indivíduo, além das funções orgânicas estarem
prejudicadas devido ao curso normal da doença. Na maioria
das vezes, pacientes oncológicos apresentam um balanço
energético negativo, pelo fato de realizarem uma menor
ingestão energética e um maior gasto de energia, decorrente
dos sintomas associados à doença. Praticamente todas as
drogas antineoplásicas causam náuseas, vômitos e alterações
gastrointestinais como a diarréia e constipação, tornando-se
mais intensos quando a quantidade de droga for maior. Isso
causa uma redução significativa da ingestão alimentar e
conseqüentemente uma depleção do estado nutricional
(SANTOS, 2014).
A desnutrição é um das complicações mais comuns
em pacientes oncológicos, é multifatorial, devido a alterações
metabólicas decorrentes de diversos fatores relacionados à
presença do tumor, induzindo à síndrome da anorexia-
caquexia, e aos fatores relacionados ao tratamento da doença,
tendo em vista que as terapias antineoplásicas comumente
empregadas são invasivas e corroboram o agravamento do
estado nutricional (SKIPWORTH et al., 2007).

192
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Santos (2014) ainda complementa que a terapia
nutricional em pacientes oncológicos deve ser feita de forma
individualizada, levando-se em consideração, suas
necessidades nutricionais, restrições dietéticas, tolerância,
estado clínico, e efeitos colaterais esperados, realizando
ajustes à medida que eles aparecem, com o objetivo de
manter/ou recuperar o estado nutricional, tolerar melhor os
tratamentos e os efeitos colaterias, diminui o risco de
infecções e melhorar cicatrização.
Uma alimentação adequada fornece aos indivíduos
inibidores de carcinogêneos. Nessa categoria, se encaixam os
antioxidantes como as vitaminas C, A e E, zinco, selênio e
caratenoides, além de fitoquímicos (MAHAN; ESCOTT-
STUMP; RAYMOND, 2012).
Diversos estudos têm mostrado relação direta entre
hábitos de vida saudáveis e o estilo de vida com a melhora na
qualidade de vida dos pacientes com câncer (ATTOLINI;
GALLON, 2010). Garófolo et al. (2004) afirma que vários
estudos mostram que uma alimentação adequada/saudável
seria capaz de prevenir milhões de novos casos de câncer
anualmente.
A falta de apetite é um dos sintomas mais comuns
em paciente oncológicos, devido ao processo natural da
doença, ao crescimento do tumor e aos tratamentos, por isso,
a utilização de suplementos alimentares é muito aplicada
nesse público. Inicialmente, a via oral de alimentação deve ser
sempre priorizada, mas caso a aceitação da dieta seja inferior
a 60% das necessidades (o que acontece na maioria dos
casos), é preciso aumentar as densidades calórica e proteica
por meio de alimentos calóricos e nutritivos e/ou de
suplementos alimentares industrializados (SILVA, 2006).

193
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Os pacientes acometidos pelo câncer encontram-se
na maioria das vezes incapazes de atingir suas necessidades
nutricionais. Na pesquisa realizada por Manzatti (2009), a
utilização do suplemento oferecido, levando em consideração
a afirmação proposta, teve aumentos significativos de calorias
e proteínas, melhorando dessa maneira, o estado nutricional
do paciente.
A suplementação oral constitui-se em um método
simples, natural e menos invasivo para o aumento da ingestão
de nutrientes nos pacientes. Sua utilização trás benefícios
como o aumento da ingestão de energia e proteína e
consequentemente, do apetite e ganho de peso, melhor
estado de atividade e diminuição da toxicidade
gastrointestinal, além da melhora na resposta imune
(RAVASCO; MONTEIRO-GRILLO; CAMILO, 2003).
A suplementação do ácido graxo ômega 3 é muito
utilizada e seus efeitos em pacientes oncológicos parece claro.
Considerando-se ainda os poucos efeitos colaterais relatados,
Carmo e Correia (2009) acreditam que a suplementação
desse nutriente seja amplamente indicada nessa população e
que especialmente os EPA’s, possuem papel indispensável no
processo de caquexia. A diretriz terapia nutricional na
oncologia (2011) preconiza que o uso de complemento
nutricional oral de ácidos graxos ômega-3, na forma de ácido
eicosapentanoico, previne a perda de peso e a interrupção dos
tratamentos de rapio ou/e quimioterapia (BRASIL, 2011).
Apesar dos efeitos positivos do uso de
suplementos, Antunes, Silva e Cruz (2010) ressaltam que
estes não devem ser utilizados de maneira aleatória, com o
intuito de promover quimioprevenção, devendo sua ingestão
ser em quantidades adequadas e fisiológicas. O uso excessivo

194
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
e em quantidade elevada dos suplementos pode ser deletério
ao organismo.
A glutamina (NH2-C(O)-CH2-CH2-CHNH2-COOH)
é um tipo de aminoácido, sendo este o mais abundante no
sangue. Pode ser sintetizada por todos os tecidos do
organismo e representa 60% de todos os aminoácidos livre do
músculo esquelético (CURI, 2000; WANG et al., 2007).
Em situações de hipercatabolismo como o câncer,
onde há o balanço nitrogenado negativo e elevação das taxas
de degradação muscular, o organismo não consegue sintetizar
a glutamina na quantidade ideal em condições normais,
tornando-a um aminoácido condicionalmente essencial. Dessa
forma se faz necessária sua suplementação, devido ao
aumento da demanda deste aminoácido nos tecidos,
resultando na diminuição significativa dos seus níveis
plasmáticos (MORAIS; RIBEIRO; LACERDA, 2013).
Segundo Abrahão e Machado (2014), este
aminoácido é imprescindível no tratamento de pacientes
oncológicos por ser um excelente e importante
imunomodulador, atuando como substrato fundamental para
as células do sistema imunológico, estimulando a
multiplicação de linfócitos, a diferenciação das células B, a
produção de interleucina e a fagocitose dos macrófagos. Esta
informação é intensificada por Boligon e Huth (2011), que
afirmam que o aminoácido glutamina é uma importante fonte
energética para os macrófagos, linfócitos e para as demais
células do sistema imunológico, e considerada essencial em
situações de hipercatabolismo associadas a estados de
imunodeficiência frequentemente encontrados em pacientes
oncológicos.

195
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Segundo Abrahão e Machado (2014), na falta de
glicose, alguns estudos citam que a glutamina é fonte
energética para as células tumorais, porém são necessários
mais estudos para confirmação desta vertente.
Santos et al. (2010) afirmam que sua utilização em
pacientes com câncer promove resultados benéficos na
redução do crescimento tumoral, melhoria na resposta
imunológica e aumento na sensibilidade do tumor ao
tratamento quimioterápico, pois reduz os níveis de glutationa
tumoral e aumenta ou mantém a concentração desse
antioxidante no intestino. Boligon e Huth (2011), ainda
complementam que, especialmente nos cânceres do trato
gastrointestinal, cabeça e pescoço, há uma melhora da
recuperação, retardo do tempo de hospitalização e aumento
da massa magra.
A glutationa (GSH), subproduto do metabolismo da
glutamina, protege as células normais contra a injúria
oxidativa, ou seja, faz parte do sistema antioxidante natural.
Observou-se que a toxicidade da quimioterapia e radioterapia
são maximizadas quando os níveis de GSH intracelular
encontram-se baixos. Por outro lado, as células tumorais
possuem menor quantidade de glutationa intracelular,
permitindo maior ação do tratamento oncológico nessas
células (PACCAGNELLA; MORASSUTTI; ROSTI, 2011).
Dourado et al. (2007) afirmam que não existe
consenso sobre a melhor dosagem de glutamina a ser
oferecida e nem qual seria a melhor forma de
via/apresentação a ser utilizada, entretanto, em termos gerais,
para um paciente adulto com 60 a 70 kg, pode ser
administrado 18-30g de glutamina na forma de dipeptídeo/dia
(fornecendo 13-20g de glutamina pura/dia).

196
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
O nutricionista tem como principal função minimizar
os desconfortos advindos da fisiopatologia do câncer e
intensificados com o tratamento, através conservação e
recuperação do estado nutricional e do sistema imunológico
do paciente por meio da adequação quantitativa e qualitativa
da dieta, levando em consideração aspectos sociais, psíquicos
e culturais. Além disso, sugerir preparações apropriadas às
condições atuais do paciente utilizando ou não suplementos
alimentares como ingrediente é uma atribuição importante
(PALMIERI et al., 2013).
Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012)
complementam que a terapia nutricional visa ainda, maximizar
a ingestão por via oral, previnir ou corrigir as deficiências
nutricionais e minimizar a perda de peso do paciente
acometido.
Segundo Correa e Shibuya (2007), além de realizar
a conduta dietoterápica individualizada, o profissional da
nutrição pode auxiliar diretamente na evolução favorável do
prognóstico e é um dos profissionais responsáveis por
oferecer recursos e esclarecimento aos pacientes e seus
familiares.
Mello (2014) acredita que trabalhar com pacientes
oncológicos é um desafio diário, tendo em vista que um
conjunto de fatores estão associados à conduta dietoterápica,
especialmente de um paciente em cuidado paleativo, como a
situação do paciente, seus familiares e da equipe tendo-se
que avaliar a relação custo/benefício ao paciente.

3 CONCLUSÕES
Através do referente estudo foi possível concluir, levando em
consideração os dados presentes na literatura acerca da
197
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
utilização da glutamina, que este aminoácido possui efeito
benéfico no tratamento contra o câncer, auxiliando
especialmente na resposta nutricional do paciente, tendo em
vista que diversos dados literários comprovam a melhora do
quadro nutricional de pacientes acometidos com câncer e
redução nos sintomas relativos ao tratamento, inevitável
durante este processo que constitue-se altamente invasivo,
aumentando consequentemente a taxa de sobrevida e/ou
qualidade de vida do paciente. Além disso, há evidências
relativas à suplementação de glutamina e diminuição do
crescimento tumoral, aumentando a sensibilidade do tumor
quando induzido ao tratamento quimioterápico, além de
significativas melhoras na resposta imunológica dos pacientes
acometidos pela doença.
Assim, é visível os benefícios relativos à
suplementação do aminoácido glutamina em indivíduos com
câncer, podendo ser uma grande ferramenta no auxilio na luta
contra esta doença e os malefícios causado por tal,
especialmente durante o tratamento invasivo, entretanto, ainda
faz-se necessário mais estudos clínicos relativos ao assunto
para intensificar os resultados existentes evidenciar possíveis
novas descobertas.

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202
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2

CAPÍTULO 10

A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS


DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Estefani Cabral dos SANTOS1
Stéfany Kelly Martins de OLIVEIRA2
Dayanna Joyce Marques QUEIROZ3
1;2;
Graduadas do curso de Nutrição, Faculdade Maurício de Nassau; 4Orientadora/Professora
da Faculdade Maurício de Nassau
estefanicabral.s@hotmail.com.br

RESUMO: O Diabetes Mellitus tem causado impacto mundial


para os sistemas de saúde, devido ao aumento de prevalência
e incidência. Pode ser classificado por: DM tipo 1, DM tipo 2,
DM gestacional e outros tipos específicos de DM, porém o DM
tipo 2 atualmente é responsável pelas causas de morbidade e
mortalidade em nível mundial. O estilo de vida em que se
encontram as pessoas de todos os países vêm contribuindo
para a expansão do Diabetes Mellitus tipo 2 atingido várias
faixas etárias. Este estudo teve como objetivo identificar a
ação do consumo de fibras dietéticas solúveis em indivíduos
com Diabetes Mellitus Tipo 2. Trata-se de uma revisão
integrativa onde foi utilizado artigos científicos e publicações
de órgãos governamentais estabelecendo para a pesquisa as
seguintes bases de dados: PubMed, LILACS e SciELO entre
os anos de 2012 e 2017. Para a revisão foram selecionados
nove artigos que demonstraram efeitos benefícios no consumo
de fibras dietéticas solúveis para um tratamento essencial do
Diabetes Mellitus tipo 2 devido ao seu efeito hipoglicemico, por
diminuir os níveis de triglicerídeos e colesterol VLDL, além de
reduzir a glicemia pós-prandial e hemoglobina glicosilada e

203
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
causar efeitos sobre o metabolismo do paciente na redução do
peso corporal.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus tipo 2. Resistência à
insulina. Fibras solúveis,.

1 INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus (DM) é considerado uma patologia


crônica causada por falhas na produção de insulina, ou
quando o organismo não corresponde de forma eficaz à
insulina produzida (WHO, 2016). É considerado uma das
doenças crônicas que mais necessita de atenção nos dias
atuais (BALDO et al., 2015). Essa patologia vem mostrando
grande preocupação quanto aos cuidados de prevenção e
controle por meio da crescente prevalência, estando também
associada a outras doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) tais como: a dislipidemia, a hipertensão arterial e a
disfunção endotelial. Conforme as pesquisas realizadas, a
prevalência de DM nos países da América Central e do Sul foi
estimada em 26,4 milhões de pessoas e projetada para 40
milhões em 2030 (BRASIL, 2013). Enquanto isso, apenas
adultos no total de 415 milhões foram encontrados com casos
de DM nos países de baixa e média renda no ano de 2015,
estimando-se que em 2040 a quantidade seria de 642 milhões
de adultos com a doença (INTERNACIONAL DIABETES
FEDERATION, 2016).
O Diabetes Mellitus tem causado impacto mundial para
os sistemas de saúde, devido ao aumento de prevalência e
incidência (KLAFKER et al.2014). A ocorrência da doença
aumenta conforme a idade das pessoas, enquanto indivíduos
com idade entre 18 e 24 anos apresentam com Diabetes
Mellitus a porcentagem de 0,6%, outros com mais de 65 anos
com 21,6% dos casos (BRASIL, 2013).
Essa doença é caracterizada por uma síndrome
metabólica de etiologia múltipla, por não apresentar apenas

204
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
uma patologia, mas várias patologias refletidas por meio de
um defeito onde há um descontrole no funcionamento do
metabolismo, podendo considerar que a principal causa
desses distúrbios são as altas taxas de glicose na corrente
sanguínea, caracterizada como a hiperglicemia crônica, a qual
possui uma deficiência na ação ou na produção da insulina,
responsáveis por promover a absorção do açúcar nas células
(BRASIL, 2014-2015).
Segundo a Organização Mundial da Saúde o DM pode
ser classificado por: DM tipo 1, DM tipo 2, DM gestacional e
outros tipos específicos de DM, porém o DM tipo 1 e tipo 2
atualmente são responsáveis pelas causas de morbidade e
mortalidade em nível mundial (FRANZ et al., 2012).
O DM tipo 1 acontece por destruição auto imune das
células que produzem a insulina no pâncreas causando um
quadro permanente de hiperglicemia no indivíduo
(RODRIGUES; MOTTA, 2012). Enquanto o DM tipo 2 está
relacionado a resistência à insulina que são adquiridas pelas
próprias células (SUPLICY; FIORIN, 2012).
O Diabetes Mellitus Tipo 2 ocorre quando o pâncreas
por sua vez consegue secretar a insulina através das células
beta porém, muitas vezes o pâncreas não tem a capacidade
de continuar com a produção eficiente causando deficiência
nos níveis de insulina por não conseguir absorver a demanda
de glicose na corrente sanguínea (MONTEIRO;
NASCIMENTO, 2013). Mesmo que as células beta
pancreáticas produzam a insulina as células do corpo não
conseguem responder a ação da insulina por causa da
resistência que adquirem, podendo considerar a relativa
deficiência (BOTEGA, 2013).
A quantidade de insulina endógena pode ser pouca, em
uma quantidade normal ou em grandes quantidades, mas
devido à resistência das células a ação da insulina não
consegue ser equilibrada. A hiperglicemia também pode
ocorrer quando é observada na glicemia pós-prandial devido à

205
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
quantidade de glicose que é encontrada na corrente
sanguínea já que as células do corpo passam a resistir à
insulina secretada pelo pâncreas. O organismo entende que
na corrente sanguínea não possui glicose para suprir as
necessidades das células levando o pâncreas a secretar
glucagon, um hormônio produzido pelas células alfa
pancreática, responsável por suprir a necessidade de glicose
no jejum, como resultado altos níveis de açúcar na corrente
sanguínea (FRANZ et al., 2012).
A glicose é a principal fonte energética para as células
do corpo, após as refeições os níveis de glicose são alterados,
e essa alteração favorece a liberação da insulina absorvendo
agindo como receptor da glicose sanguínea e armazenando o
excesso em forma de glicogênio nas células hepáticas
(PARKER, 2012).
No Diabetes Mellitus a regulação da glicose sanguínea
não funciona de forma apropriada, já que a razão consiste no
defeito da produção da insulina, com isso as células não
conseguem absorver glicose suficiente, resultando em
grandes quantidades de açúcar no sangue, a hiperglicemia
(SUPLICY; FIORIN, 2012).
O descontrole da glicemia afeta a fisiologia do
metabolismo (FERREIRA; CAMPOS, 2014). A resistência à
insulina é a base da fundamentação do DMT2, essa é
perceptível nos tecidos musculares ao nível do adipócito por
consequência do excesso de glicose levando a lipólise e ao
aumento dos ácidos graxos, obtendo altos níveis de colesterol
sérico, com o aumento de colesterol na corrente sanguínea as
células do corpo diminuem a sensibilidade à insulina
(GOBATO, 2014).
O Diabetes Mellitus é mais favorável em pessoas
obesas, mas as pessoas que não são obesas também correm
o risco de desenvolver o DMT2, assim como pessoas obesas
podem não apresentar e não desenvolver o DMT2
dependendo do fator genético e a história familiar. A disfunção

206
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
total das células beta tem a possibilidade de levar o indivíduo
a depender de medicamentos para controlar os níveis de
glicose hepático e no decorrer do tempo precisar introduzir
insulina exógena (FRANZ et al., 2012).
Iniciar um novo estilo de vida assim, com a prática do
exercício físico e alimentação saudável, é a forma para
controlar ou evitar o DM tipo 2 (BALDO et al., 2015).
O estudo realizado por Bernaud; Rodrigues (2013)
mostraramm que indivíduos com DM tipo 2 que consumiam
alimentos com baixo índice glicêmico e incluindo alimentos
ricos em fibras dietéticas, podem contribuir para diminuir as
altas níveis de glicose no sangue, evitando picos
hiperglicêmicos inclusive no período pós-prandial. As fibras
dietéticas de maneira específica as fibras solúveis são
importantes nesse processo pois são responsáveis por deixar
a absorção da glicose mais lenta no organismo, agindo
também na prevenção de outras doenças.
Portanto, considerando que haja fatores que possam
influenciar a prevenção, o controle e riscos causados pela
doença em pacientes com Diabetes Mellitus, este estudo teve
como objetivos: Avaliar o efeito do uso fibras dietéticas em
indivíduos com diabetes tipo 2

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para elaboração do presente estudo foi utilizado o


método da revisão integrativa da literatura. As seguintes
etapas foram utilizadas: elaboração da questão norteadora,
busca ou amostragem na literatura, coleta de dados, análise
crítica dos estudos incluídos e discursão dos resultados.
Para direcionar a pesquisa, elaborou-se a seguinte
questão: o que foi executado na literatura sobre os efeitos do
consumo de fibras dietéticas solúveis em indivíduos com
Diabetes Mellitus tipo 2?

207
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Com o objetivo de cientificar um alcance para revisão
foram estabelecidos para a pesquisa as seguintes bases de
dados: PubMed, LILACS e SciELO.
Em vínculo ao período de publicação, foram
selecionados artigos publicados entre os anos de 2012 a
2017, em relação ao idioma foram obtidos a busca por
trabalhos nos idiomas inglês, português, espanhol. Os artigos
que aparecem mais de uma vez, foram selecionados os
artigos da primeira busca.
Os artigos que buscaram os princípios determinados
foram selecionados para o presente estudo. Além das bases
de dados consultadas foi incluído para a consulta o portal de
periódicos da Capes, utilizando os descritores: índice
glicêmico, fibras dietéticas, Diabetes Mellitus tipo 2.
Com o propósito de responder à questão norteadora,
utilizou-se um instrumento que compõe os seguintes: Ano de
publicação, título do artigo, autor, objetivos, metodologia e
resultados. A partir de dados apresentados foram discutidos
segundo os objetivos da revisão integrativa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a busca de literatura e os critérios de inclusão e


exclusão foram escolhidos 9 artigos que estão apresentados
na tabela 1 .

Tabela 1. Apresentação da síntese de artigos incluídos na


revisão integrativa

Autor e Objetivos Metodologia Resultados


ano

LI, Xue Avaliar os Um subgrupo de 298 Dimuição de (GPJ)


et al. efeitos a indivíduos com glicose plasmática

208
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
2016 curto e longo sobrepeso foi de jejum, (GPP)
prazo da selecionado. glicemia pós-
ingestão de prandial, (HbA1C)
aveia e O grupo de cuidados hemoglobina
desenvolver habituais (n=60) não glicosilada,
um plano recebeu intervenção, homeostase da
dietético o grupo de dieta resistência à
razoável saudável (n=79) insulina, (CT)
para os recebeu uma dieta colesterol total, (TG)
pacientes pobre em gordura e triglicerídeos totais e
com DM2 em rica em fibras (“dieta (LDL-c) colesterol de
sobrepeso. saudável”); o grupo lipoproteína de baixa
de 50g de aveia densidade.
(n=80) e o rupo de
100g de aveia (n=79)
receberam a “dieta
saudável” com a
mesma quantidade
de cereais
substituída por 50g e
100g de aveia,
respectivamente.

GARGA Avaliar os Estudo randomizado, Diminuição


RI, efeitos da triplo-cego significativas na
Bahram suplementaç controlado, 49 glicemia de jejum
Pourgha ão de inulina mulheres receberam (8,47%),
ssem et alto a ingestão de fibra < hemoglobina
al. 2013 desempenho 30g/dia. Os glicosilada (10,43%)
no controle participantes foram e malondialdeído
da glicemia divididos em grupos (37,21%). Os níveis
no sangue e em que os e aumento
níveis de participantes: ou significativos na
antioxidantes receberam 10g/dia capacidade
em mulheres de inulina antioxidantes total
com diabetes (intervenção, n=24) (18,82%) e atividade
mellitus tipo ou maltodextrina da superóxido
2. (controle n=2) por dismutase (4,36%)
dois meses. no grupo de inulina
quando comparado
com o grupo
maltodextrina.

209
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
BROCK Examinar o Três grupos de ratos As dietas de (HPMC)
MA, efeito do Zucker Diabect FAtty hidroxipropilmetilcelu
David A; consumo (ZDF) foram lose aumentaram a
CHEN, crônico de alimentados com viscosidade do
Xiaoli; fibras dietas contendo 5% conteúdo do intestino
GALLA alimentares de celulose não delgado e reduziram
HE, viscosas, viscosa (controle), o aumento pós-
Daniel não HPMC de baixa prandial da glicose
D. 2012 fermentáveis, viscosidade (LV- no sangue. Controle
hidroxipropil HPMC) ou HPMC de de obesidade a
metilcelulose alta viscosidade (HV- excreção urinária de
(HPMC), no HPMC) durante seis corpos de glicose e
controle da semanas. Zucker cetona foi reduzida.
glicose, lean littermates
resistência à consumindo celulose
insulina e servindo como um
lipídios controle negativo.
hepáticos em
um modelo
de ratos
diabéticos
obesos.
VALES O objetivo do No presente ensaio No grupo de
CA, presente clínico randomizado, intervenção, a
Dall’alba estudo foi 44 pacientes com circunferência da
et al. avaliar os diabetes tipo 2 cintura (CC), a Hb
2013 efeitos da (homens 38%, idade glicosada (HbA1C), a
fibra solúvel 62 anos e síndrome excreção de
de goma de metabólica, foram albumina urinária 24
guar submetidos a horas e os ácidos
parcialmente tratamento clínico, gordos trans séricos
hidrolisada laboratoriais e foram reduzidos em
(PHGG) dietéticas no clínico comparação com a
sobre a do estudo, 4 e 6 linha base após 4 e 6
síndrome semanas. Todos os semanas. A adição
metabólica pacientes seguiram de PHGG à dieta
(Mets) e sua dieta habitual e o habitual melhorou os
fatores de grupo de intervenção perfis
risco (n=23) recebeu 10g/ cardiovasculares e
cardiovascul dia adicionais de metabólicos,
ar em PHGG. reduzindo a CC,
pacientes

210
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
com diabetes HbA1C e trans.
tipo 2.

CORRE O objetivo A fibra de mesocarpo Ouve diminuição


IA et al. deste estudo de maracujá foi seca estatisticamente
2014 foi num forno com ar significativa da
determinar o circulante a 60ºC e glicose plasmática
efeito do pulverizada. Utilizou- para grupos GFH2O,
albedo de se 32 ratos machos GF15% e GF30%
fibra de alta adultos, dividido em com 27,0%, 37,4% e
temperatura quatro grupos. A 40,2%
do dieta correspondente respectivamente.
maracujazeir para cada grupo foi
o sobre o oferecida aos
perfil animais por 60 dia.
metabólico e
bioquímico
em ratos
diabéticos
induzidos por
aloxano
(2%).

LOBAT Investigar o Foram utilizados 24 O uso de β-glucano


O, efeito da ratos Wistar em 4 levou uma redução
Raquel ingestão de grupos em um da glicemia (30%)
Vieira et β-glucano projeto inteiramente apenas nos animais
al. 2015 Saccharomy casualizado diabéticos. Também
ses delineamento com causou uma redução
cerevisae em um modelo fatorial nas taxas de
ratos de 2x2 (com e sem triglicerídeos
perfil diabetes; com e sem plasmáticos (32%)
glicêmico e β-glucano. Os ratos nos animais
lipoproteína receberam doses diabéticos. O β-
de ratos diárias de 30mg/kg glucano foi eficiente
diabéticos. de β-glucano solução na redução dos
salina por gavage níveis sanguíneos de
durante 28 dias. alanina
aminotransferase
com (41%) nos
animais com DM
induzida.

211
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
CHEN O presente Um total de 117 Após a intervenção,
et al. estudo teve pacientes com DM2 os níveis de glicemia
2016 como entre as idades de de 2h, insulina em
objetivo 40 e 70 anos foram jejum e lipoproteína
investigar o avaliados. Os e o índice de
efeito da doentes foram resistência à
fibra dietética aleatoriamente insulina, foram
(FD) solúvel designados para um significativamente
sobre o dos dois grupos e melhorada em todo
controle administrados a fibra os grupos. Além
metabólico dietética solúvel (10 disso, 10 e 20g/dia
em pacientes ou 20g/dia), ou a um de fibras dietéticas
com DM2. grupo de controle solúveis melhoraram
(0g/dia) durante um significativamente as
mês. circunferência da
cintura e quadril e os
níveis de
triglicerídeos e
apolipoproteína A.

ANDRA Avaliar os Os animais Diminuição da


DE, Eric efeitos do receberam dieta com glicemia e HbA1c,
Franceli consumo de (25% de gordura, níveis séricos de
no et al. beta-glucano 48% de carboidratos triglicerídeos,
2016 (Saccharomy e 20% de proteína) colesterol total (CT)
ces durante 28 dias. Os e Lipoproteína de
cerevisiae), animais foram baixa densidade
associado ou divididos (LDL-C). combinados
não ao aleatoriamente em exercício físico com
exercício, quatro. Foi marcado o beta glucano,
nos um sistema fatorial 2 ambos os
parâmetros × 2: com ou sem tratamentos foi
metabólicos exercício e com ou observado um efeito
dos ratos sem beta-glucano. aditivo para reduzir o
Wistar Nos últimos 28 dias índice aterogênico
diabéticos. de experiência, os de lesões
animais receberam plasmáticas e renais.
30mg/kg/dia de Beta-
Glucano.

KOND, Mostrar que Foram convidados Houve alteração da


Keiko et uma dieta pacientes com DM2 função endotelial;
rica em com idade entre 40 e Mudanças no HDL e
212
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
al. 2017 fibras, com o 80 anos e com níveis LDL-colesterol.
arroz integral de HbA1c inferiores Melhora no nível de
melhora a a 8,4%. Os proteína C – reativa
função participantes foram de alta sensibilidade.
endotelial em divididos em dois Alterações e melhora
pacientes grupos, sendo um na função endotelial,
com diabetes grupo com dieta de glicemia pós-
mellitus tipo arroz integral (n=14) prandial, níveis
2. e outro com dieta de plasmáticos de
arroz branco (n=14), glicose e insulina nos
ambos os grupos estados de jejum e
foram instruídos a pós-prandial, HbA1c,
consumir o arroz triglicerídeos,
determinado como lipoproteína de alta
alimento básico para densidade (HDL) -
10 de 21 refeições lipoproteína de baixa
por semana, além de densidade (LDL) –
praticar atividade colesterol.
física ao longo do
estudo.

A Pesquisa mostra através da revisão integrativa na


literatura apresentada na tabela 1, a avaliação da ação das
fibras solúveis no Diabetes Mellitus tipo 2. Foram selecionados
nove artigos para esta revisão, onde todos eles foram
demonstrado efeitos benefícios no controle da glicemia e
associado a redução da glicemia, quando comparados os
estudos observou-se que as fibras solúveis tem uma atuação
importante no controle e diminuição do peso corporal,
circunferência da cintura, diminuição nos níveis plasmático de
triglicerídeos, na redução do índice aterogênico de lesões
plasmáticas e renais, além de mostrar a melhora na função
endotelial no diabetes mellitus tipo 2.
LI et al. (2016) Mostrou em seu estudo que uma dieta
livre de gordura ou com pouca quantidade e acrescentando a
quantidade de fibras alimentar na alimentação não é
suficiente. Foi possível observar que introduzindo na dieta de
pacientes com Diabetes Mellitus tipo 2 e com sobrepeso uma
213
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
dieta com baixo teor de gordura e alta quantidade de fibras
considerando o estudo a "dieta saudável" houve efeitos
benéficos sobre o metabolismo desses pacientes, contudo
esses efeitos foram mais evidentes quando essa dieta foi
associada com a ingestão de aveia.
Quando comparados com os valores iniciais, os grupos
de aveia com o grupo de dieta saudável, os três grupos de
intervenção tiveram diminuição, mas a maior diminuição do
peso relativo, IMC e triglicerídeos foi apenas nos grupos de 50
g e 100 g de aveia. o grupo de 50 g de aveia apresentou uma
maior redução de triglicerídeos, já o grupo de 100g de aveia
apresentou maior redução de peso, glicose plasmática de
jejum, hemoglobina glicada, colesterol total e LDL-c. A
combinação de ingestão de aveia de curto prazo (30 dias) com
a "dieta saudável" teve maiores efeitos do que a de ter apenas
um baixo teor de gordura e alta fibra alimentar.
Para Gargari et al., (2013) o seu estudo resultou que a
suplementação de inulina durante dois meses apresentaram
significativamente uma diminuição do peso corporal, assim
como foi comprovado no estudo de Li et al., (2016); Houve a
diminuição do IMC quando comparado ao grupo que recebeu
a suplementação com maltodextrina. Logo, após o ajuste para
redução de peso e ingestão de energia, mostrou que a
suplementação de inulina reduziram a glicose plasmática de
jejum, (HbA1c) hemoglobina glicosada, a insulina de jejum e a
(HOMA-IR) avaliação do modelo de homeostase da
resistência à insulina, quando comparadas com a do grupo de
maltodextrina. A suplementação de inulina pode melhorar a
glicemia e alguns antioxidantes podem diminuir os níveis de
malondialdeído em mulheres com diabetes mellitus tipo 2.
Observou-se que a viscosidade do conteúdo intestinal
dos dois grupos de ratos alimentados com (HPMC)
hidroxipropilmetilcelulose foi muito maior do que os grupos de
controle, que foram alimentados com 5% de celulose não
viscosa como fonte de fibras. Neste estudo o consumo de

214
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
fibras não fermentável viscosa HPMC contribuiu para controlar
o índice glicêmico e reduzir a resistência à insulina, além do
fígado gordo num modelo de obesidade com diabetes,
aumentando a viscosidade do conteúdo intestinal (BROCKMA;
CHEN; GALLAHE 2012).
Em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 e Síndrome
Metabólica, a adição de (PHGG) goma de guar parcialmente
hidrolisada à dieta habitual houve uma melhora no perfil da
Síndrome metabólica e nos fatores associados ao risco
cardiovascular, reduzindo a (HbA1C) hemoglobina glicosada,
a excreção de albumina urinária 24hs e os ácidos gordos trans
séricos. Este consumo de fibra solúvel Podem ser incluídos na
gestão dietética de diabéticos tipo 2, segundo Dall’alba et al.,
(2013).
Correia et al. (2014) explica em seus resultados, de
acordo com o estudo realizado que a fibra mesocarpiana do
maracujazeiro (Passiflora edulis), em concentrações de 15% e
30%, poderia ser um importante suplemento dietético para o
tratamento da diabetes devido ao seu potencial hipoglicêmico.
Além disso o mesocarpo fibra de maracujá também promove a
redução de triglicérides, VLDL-colesterol, insulina e leptina.
A administração de β-glucano teve um efeito benéfico
nas concentrações de glicose sérico com (30%), TAG 32% e
alanina aminotransferase 41%. Não houve alterações
histopatóligicas hepáticas em nenhum dos grupos, foi
observado o aumento em relação as vilosidades. O uso de β-
glucano reduziu significativamente os níveis de glicemia, TAG
e ALT (LOBATO et al., 2014).
O consumo aumentado e regular de fibras dietéticas
solúvel obteve melhorias significativas, nos níveis de glicose
no sangue, resistência à insulina e perfis metabólicos,
triglicerídeos e circunferência da cintura durante um período
de intervenção de curto prazo em pacientes com DM2,
segundo Chen et al., (2016).

215
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
Andrade et al., (2016) Ao analisar os parâmetros
bioquímicos e o índice aterogênico do plasma em ratos
diabéticos tipo 2 onde foram submetidos ao treinamento físico,
ou consumindo o beta-glucano (30 mg / kg / dia) isolados e em
associação, foi possível notar a apresentação de níveis mais
baixos da glicemia e HbA1c. Os níveis séricos de
triglicerídeos, colesterol total (CT) e Lipoproteína de baixa
densidade (LDL-C) foram significativamente reduzidos nos
animais que consumiram o beta-glucano, onde foi introduzido
em seu estudo a independentemente do treinamento físico;
Os níveis de HDL-C foram maiores em animais tratados com
beta-glucano, logo, foi visto que o exercício físico não
modificou significantemente este parâmetro. O índice
aterogênico do plasma nos animais que foram tratados com
beta-glucano foi menor em comparação com os que não
fizeram o tratamento. Foi avaliado que o grupo que passou
apenas pelo o exercício físico diminuiu os níveis de glicemia,
HbA1c e lesões renais; porém, quando foram combinados
ambos os tratamentos foi observado um efeito aditivo para
reduzir o índice aterogênico de lesões plasmáticas e renais. O
presente estudo testifica os resultados que Lobato et al.,
(2015) encontrou quando investigou por meio da ingestão do
beta glucano.
Kondo et al., (2017) Demonstrou dois pontos
importantes. O primeiro foi a intervenção com uma dieta rica
em fibras especificamente do arroz integral, onde o mesmo foi
eficiente para a melhora da função endotelial em pacientes
com Diabetes Mellitus tipo 2; onde, após oito semanas de
intervenção no grupo de arroz integral comparados com o
grupo de arroz branco obteve um resultado de 20,4% vs.
5,8%, tendo a diferença de 26,2%.
O estudo mostra que não houve alterações de peso
corporal, visto que, foi cuidadosamente controlado para que
não houvesse diferença entre os grupos, explicando que o

216
A EFICÁCIA DO USO DE FIBRAS DIETÉTICAS EM INDIVÍDUOS COM
DIABETES MELLITUS TIPO 2
objetivo do trabalho estaria para informar a melhora da função
endotelial em pacientes com DM2.
O segundo ponto de importância do estudo foi mostrar
que a dieta de arroz integral avaliou resultados na glicose,
tornando-a mais baixa no devido grupo, onde permaneceu até
o final da intervenção.

4 CONCLUSÕES

Os estudos realizados apontam o valor das fibras


dietéticas solúveis quando consumidas em quantidades
adequadas, pode melhorar significativamente os níveis de
glicose no sangue e a resistência à insulina.
O consumo dessas fibras pode ser um tratamento
essencial do Diabetes Mellitus tipo 2 devido ao seu efeito
hipoglicemico causando impacto na diminuição dos níveis de
triglicerídeos e colesterol VLDL, além da redução da glicemia
pós-prandial e HbA1C, o efeito das fibras sobre o metabolismo
do paciente foi importante na redução do peso corporal, assim
como na melhora da função endotelial e reduzindo o Índice
Aterogênico.

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219
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
CAPÍTULO 11

ADESÃO AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO POR IDOSOS
DIABÉTICOS PARTICIPANTES DO
PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO
DO SERTÃO PARAIBANO
Ivandro SILVA¹
Francisca BATISTA¹
Luana ALVES¹
Walnara FORMIGA²,³
Fernnada BARBOSA³
¹Graduandos do curso de nutrição, FIP; ²Orientadora/Professora de nutrição/FIP; ³Professora
de nutrição/FIP.
¹ivandro.2000@hotmail.com;
²,³walnara@hotmail.com; ¹mikelly.nutriçao@gmail.com;
³fernandatorres_nutriçao@hotmail.com; ¹luana_galdino_91@hotmail.com

RESUMO: Nos últimos anos houve um aumento da população


idosa no Brasil, com isso aumentou-se também a preocupação
com a qualidade de vida e assistência à saúde dessas
pessoas, destacando-se os cuidados com a alimentação,
sobretudo quando são portadores de diabetes, doença que
exige um seguimento constante ao tratamento dietoterápico. A
pesquisa teve como objetivo avaliar a adesão ao tratamento
dietoterápico por idosos diabéticos cadastrados no programa
hiperdia de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em um
município do sertão paraibano. Tratou-se de um estudo de
campo quantitativo e de caráter descritivo, onde foram
utilizados questionários de cunho sociodemografico e de
hábito e frequência alimentar para a obtenção dos dados, a
população foi formada por 45 idosos cadastrados no hiperdia
220
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
da UBS em estudo e amostra foi do tipo não probabilística por
conveniência, a pesquisa foi realizada após aprovação pelo
Comitê de ética e pesquisa das Faculdades Integradas de
Patos através do parecer número: 2.107.390. A pesquisa
mostrou que os idosos diabéticos cadastrados no programa
hiperdia de uma UBS no sertão da Paraíba apresentaram uma
boa adesão ao tratamento dietoterápico, uma vez que a
grande maioria demonstrou não fazer uso ou usar com pouca
frequência alimentos contraindicados para diabéticos, além de
referirem consumir com grande frequência carne, frango, peixe
e ovos cozidos, verduras, leguminosas e frutas in naturas.

Palavras-chave: Diabetes mellitus. Dietoterapia. Idosos.

1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno natural


em todo o mundo. Em 1940, a população brasileira era
composta por 42% de jovens com menos de 15 anos
enquanto os idosos representavam apenas 2,5%
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E
GERONTOLIGIO, 2014).
Os indicadores de envelhecimento da população,
segundo dados estatísticos, mostram que houve um aumento
acentuado do número de idosos nos últimos milênios.
Conforme os estudos prelecionados por uma pesquisa em
2013, estimativas tem apontado que até 2025 o número de
idosos será superior a 30 milhões (DAWALIBI et al., 2013).
Concomitante a esse crescimento, alguns autores
salientam que essa velhice vem acompanhada por diversas
modificações no organismo humano, incluindo as doenças
crônicas, que englobam uma série de patologias não

221
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
transmissíveis, tais como: Hipertensão Arterial Sistêmica
(HAS), Diabetes Mellitus (DM), doenças osteomusculares,
dentre outras (MACHADO; CAVALIÉRE, 2012).
O diabetes mellitus (DM) configura-se como uma
epidemia mundial. Atualmente a Organização Mundial de
Saúde (OMS) estima que 346 milhões de pessoas sejam
diabéticas em 2030, estima-se que as mortes por essa
condição crônica dobrem em relação a 2005. A estimativa
atual do total de portadores de DM com idade entre 20 e 79
anos no Brasil é de 11,9 milhões, equivalendo a quase 6% da
população brasileira. Na população idosa brasileira, a
prevalência de DM é de 16,1% (VITOI et al., 2015).
Conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes (2015) a
DM vem aumentando os números de casos devido à conduta
de maus hábitos alimentares, visto que é a forma mais
prevalente na população adulta e idosa, sendo causada por
acentuadas reduções na sensibilidade dos tecidos-alvos aos
efeitos metabólicos da insulina.
Classifica-se como diabetes mellitus o grupo de
doenças metabólicas que têm como característica a
manifestação da hiperglicemia procedente de defeitos na
secreção de insulina, resistência periférica à sua ação ou
ambas as situações. Em longo prazo, níveis constantemente
elevados de glicose sanguínea são tóxicos ao organismo,
estimulando o desenvolvimento de lesões micro e macro
vasculares, podendo resultar em complicações irreversíveis
(ROOS et al., 2015)
O diabetes implica desafios para os sistemas de saúde
do mundo todo e a adoção de estilo de vida pouco saudável
com uso de dieta industrializada, são os principais

222
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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PARAIBANO
responsáveis pelo aumento na incidência e na prevalência da
doença, sendo assim, o envelhecimento da população, a
urbanização acentuada e a intensificação da globalização
contribuem para este aumento, pois não há uma preocupação
consistente em prevenir a doença (STOPA et al., 2014).
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (2015), o
tratamento de pessoas com diabetes mellitus tipo 2 com idade
maior do que 65 anos, em especial aquelas com faixa etária
superior a 75 ou 85 anos está sendo complexo, pois deve-se
lembrar de que não existem estudos clínicos robustos feitos
especificamente neste grupo etário.
De acordo com Medeiros et al. (2014), existem fatores
que influenciam bastante na adesão do tratamento
dietoterápico, como o ambiente familiar, estar em isolamento
social ou em instituições geriátricas, fatores socioeconômicos,
alterações fisiológicas inerentes da idade e progressiva
incapacidade de realizar suas atividades cotidianas.
Para Faria et al. (2013) o DM é um grande desafio tanto
para os idosos portadores de diabetes como para seus
familiares, pois envolve varias pontos e características que
dificulta a adesão por partes dos mesmos.
Segundo Vitoi (2015), a prevalência da DM em idosos
vem aumentando cada vez mais devido a vários fatores como
outras doenças crônicas, sintomas silenciosos da doença e a
não adesão ao tratamento dietético e medicamentoso, contudo
essa prevalência do acometimento a DM aumentará, devido a
rejeição e não assentimento da doenças, assim traz consigo o
aumento das consequências doenças cada vez mais
elevadas.

223
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
Ressalta-se que, para tratar essa população, é
fundamental considerar aspectos que a diferenciam como os
princípios básicos no tratamento de idosos com não diferem
daqueles estabelecidos para diabéticos mais jovens, incluindo
critérios de diagnóstico, classificação e metas de controle
metabólico (glicêmico e lipídico), pressão arterial e(IMC) Índice
De Massa Corporal (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2015).
Quando falamos em diabetes no paciente idoso, é
preciso lembrar que alguns desenvolveram a doença ainda na
idade de adulto jovem e outros já na idade superior a 65 anos.
E que essa é uma população heterogênea, ou seja, um idoso
é muito diferente do outro: alguns são funcionais (capazes de
manter o cuidado com o seu corpo e a vida em sociedade) e
apresentam poucas comorbidades, já outros são frágeis,
dependentes e apresentam múltiplas comorbidades, visto que
além de diferirem nos aspectos sociais, culturais e nas suas
crenças, sendo que todos esses fatores dificultam a definição
de diretrizes de tratamento das doenças crônicas, como o
diabetes. (KICKMAN et al., 2012).
Conforme Brasil (2015), para que se possa conhecer a
situação dos portadores de Hipertensão e Diabetes brasileiros
e assim orientar os gestores na adoção de estratégias de
intervenção para melhorar a qualidade de vida dos portadores
dessas doenças foi criado o programa hiperdia.
O referido programa lançado pelo governo federal tem
por objetivo cadastrar e acompanhar todos os pacientes
hipertensos e diabéticos a fim de que através do cuidado
especial se alcance um controle das doenças, garantindo uma
melhor qualidade de vida aos pacientes, portanto quando o

224
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
paciente é atendido nas Unidades de Saúde da Família (UBS)
do município e é identificado o problema, os mesmos são
encaminhados para o hiperdia e os pacientes são cadastrados
no programa e passam a ser acompanhados pela equipe
multidisciplinar de acordo com a necessidade individual de
cada um (BRASIL, 2015).
Através dos grupos do hiperdia, a estratégia de saúde
da família (ESF) se apresenta como uma importante
ferramenta para o controle do Diabetes Mellitus, pois possui
um vínculo direto com os pacientes e seus familiares,
permitindo a construção de ações pontuais que venham a
contribuir para o tratamento eficaz e a prevenção de novos
casos.
Dados brasileiros de 2011 mostram que as taxas de
mortalidade por DM (por 100 mil habitantes) são de 33,7 para
a população geral, 27,2 nos homens e 32,9 nas mulheres, com
acentuado aumento com o progredir da idade, que varia de
0,50 para a faixa etária de 0 a 29 anos a 223,8 para a de 60
anos ou mais, ou seja, um gradiente de 448 vezes
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2015).
De acordo com os estudos de Britto et al. (2015) vários
fatores podem influenciar a adesão ao tratamento, tais como
idade, gênero, etnia, estado civil, escolaridade, nível
socioeconômico, autoestima, crenças de saúde, hábitos de
vida e culturais, cronicidade da doença, ausência de sintomas
e consequências tardias decorrentes da doença, falta de
conhecimento, ambiência familiar entre outros fatores
Assim, é de fundamental importância que se seja
averiguado se os idosos diabéticos aderem ao tratamento
dietoterápico a eles recomendado durante acompanhamento

225
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
na ESF por meio do hiperdia, uma vez que essa população
apresenta uma maior necessidade de acompanhamento e
incentivo, pois existem muitos fatores que podem influenciar
negativamente a adesão desses pacientes ao tratamento
dietético.
Frente a isso, há uma urgência em se verificar se os
idosos diabéticos realmente cumprem as orientações
nutricionais para o controle da doença, visto que ao aderirem
ao tratamento dietoterápico recomendado terão uma melhor
qualidade de vida, pois apresentarão menores consequências
da doença como as amputações de membros, AVC (Acidente
Vascular Cerebral), infarto e outras complicações, sendo neste
contexto que se justifica o presente estudo.
Diante do exposto, o presente estudo teve como
objetivo avaliar a adesão ao tratamento dietoterápico por
idosos diabéticos participantes do programa hiperdia em um
município do sertão paraibano, buscando verificar a frequência
do consumo de alimentos contraindicados para diabéticos,
evidenciar a ingestão dos alimentos benéficos a idosos
diabéticos, identificar hábitos que influenciam nos tratamentos
dietoterápicos relacionados a refeições, recebimento de
orientação alimentar e prática de atividade física e traçar o
perfil sócio demográfico dos participantes.

2 MATERIAIS E MÉTODO

A presente pesquisa tratou-se de um estudo de campo


quantitativo e de caráter descritivo que segundo Gil (2010) a
pesquisa descritiva objetiva principalmente descrever as
características de determinada população ou fenômeno ou,

226
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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então, o estabelecimento de relações variáveis e realizar
inferências sobre os dados coletados, uma de suas
peculiaridades está na utilização de técnicas padronizadas de
coleta de dados, tais como o questionário e a observação
sistemática.··.
O estudo foi realizado na (UBS) Unidade Básica de
Saúde Benedito Pedro, localizada na Rua Elviro Soares
Barbosa, Bairro São Bernardo, na cidade de São Bento no
Estado da Paraíba, sendo uma cidade de pequeno porte com
aproximadamente 34.000 mil habitantes.
A população foi formada por 45 idosos cadastrados no
Hiperdia da UBS estudada e a amostra foi do tipo não
probabilístico por conveniência constituída por 42 participantes
com idade igual ou superior a 60 anos e aceitaram participar
da pesquisa através da assinatura do TCLE (Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido) e estavam em pleno gozo
de suas funções cognitivas (pensamento, raciocínio,
abstração, linguagem, memória, atenção, capacidade de
resolução de problemas, entre outras funções) necessárias
para responder aos questionamentos.
Teve como instrumento de coleta de dados, dois
questionários, o primeiro contendo 13 questões adaptadas de
Medeiros et al. (2014), contemplando perguntas de cunho
sócio demográficos, culturais, financeiro, convivência familiar e
grau de escolaridade e o segundo tratou-se de um QFA
(Questionário de Frequência Alimentar) composto de 36
questões adaptadas de Slater et al. (2003).
A pesquisa foi realizada nos meses de agosto e
setembro de 2017,durante os encontros do grupo do hiperdia,
nestes dias todos os hipertensos e diabéticos cadastrados na

227
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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UBS da comunidade comparecia a unidade, onde os mesmo
recebiam da equipe multidisciplinar, os medicamentos e
orientações de como controlar a diabetes e a pressão arterial.
Foi utilizado para a análise dos dados o programa
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences; versão 22),
onde análises de estatística descritiva (média, desvio padrão e
frequência) e análises de estatística inferencial foram
realizadas. Os testes foram escolhidos mediante a análise da
distribuição de normalidade (kolmogorov-smirnov ou Shapiro-
Wilk) das variáveis métricas
Inicialmente o projeto foi submetido ao Comitê de Ética
em Pesquisa (CEP) envolvendo seres humanas das
Faculdades Integradas de Patos, de acordo com o preconiza a
resolução Nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que
rege sobre a ética da pesquisa envolvendo seres humanos
direta ou indiretamente. O pesquisador antes da aplicação do
estudo assinou um Termo de Compromisso do Pesquisador
em que o mesmo se responsabilizou em cumprir todas as
normas expressas.
A resolução incorpora sob a ótica do indivíduo e das
coletividades, os quatro referenciais básica da bioética:
autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, entre
outros, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem
respeito à comunidade cientifica, aos sujeitos da pesquisa. A
instituição que foi realizada a pesquisa assinou um Termo de
Autorização, autorizando a realização da pesquisa em sua
instituição e posteriormente foi entregue o Termo de
Compromisso Livre e Esclarecido (TCLE) a todos os sujeitos
envolvidos na pesquisa, sendo assinada pelos mesmos,
impresso em duas vias, uma para o pesquisado e outra para o

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PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
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pesquisador, sendo aprovado através do parecer número:
2.107.390.
Esta pesquisa ofereceu riscos mínimos aos
participantes como, promover a possibilidade de
constrangimentos por abordar questões como, renda familiar,
grau de escolaridade e hábitos alimentares, sendo tal risco
minimizado pela forma como o entrevistador aplicou o
questionário.
Os benefícios que esta pesquisa trás consigo, tendo em
vista o controle do Diabetes mellitus e o aprimoramento dos
hábitos alimentares e nutricionais, são a contribuição para que
possa traçar uma estratégia de ação para se promover o
prolongamento e uma melhor qualidade de vida aos idosos
diabéticos, a diminuição de gastos pelo SUS (Sistema Único
de Saúde) com tratamento medicamentoso, internações e
cirurgias para esses pacientes

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A tabela abaixo mostra os dados sócio-demográficos


dos idosos diabéticos que frequentam uma UBS de uma
cidade no sertão paraibano.

Tabela 1 – Dados sócio-demográficos da amostra (N=42)

GÊ DISCRIÇÃO PORC
NEROS NºDE ENTAGEM
PARTICIPANT
ES
Se Masculino 16 38,1 %
xo

229
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PARAIBANO
Feminino 26 61,9 %

Ida 60 a 75 anos 28 66,7 %


de
75 a 85 anos 14 33,3 %

Co Sozinho (a) 13 31 %
nvívio
Familiar
Com o parceiro (a) 16 38,1 %
Com os filhos 11 26,2 %
Com o cuidador 2 4,8 %

Re Acima de 5 salários 1 2,4 %


nda
familiar
3 a 5 salários 2 4,8 %
mínimos
1 a 2 salários 36 85,7 %
mínimos
Menos de 1 salários 3 7,1 %
mínimos
Es Analfabeto 16 38,1 %
colaridade
Analfabeto funcional 16 38,1 %
Fundamental.incom 10 23,8 %
pleto
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Conforme a Tab. (1), que expressa os dados sócio


demográficos da amostra, observa-se que a pesquisa foi
realizada com 42 participantes, sendo sua maioria do sexo
feminino 61,9% (n=26). Visto que as mulheres não são mais
230
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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susceptíveis a adquirir a diabetes mais do que os homes, pois
a DM tipo II é uma acometida através de maus hábitos
alimentares e não por gêneros.
O que vem a confirmar a informação dada por Brasil
(2013) de que as mulheres são as mais acometidas pela
Diabetes mellitus no Brasil, dado que pode estar associado à
possibilidade das mulheres procurarem mais os serviços de
saúde e assim diagnosticarem mais a doença e não ao fato
das mulheres terem maior predisposição ao desenvolvimento
da referida patologia.
Sendo reforçado por Costa et al. (2014), que os
problemas decorrentes do descontrole glicêmico são mais
evidentes nos homens devido à baixa adesão ao tratamento,
entretanto o que vem a ocorrer é que os homens costumam
alegar que devido a sua posição como provedor da família e a
dificuldade em ser atendido visto que as consultas coincidem
com o horário de trabalho são os principais motivos para a não
procura da assistência médica de rotina, podendo assim,
mostrar que a população mais acometida são as mulheres por
cada vez mais, procurarem o serviço de saúde á consultas
rotineiras.
Quanto à faixa etária 66,7% (n=28) apresenta idade
entre 60 a 75 anos, na pesquisa realiza foi visto que, a
população mais atingida foram os indivíduos dessa faixa
etária, podendo refletir em uma menor expectativa de vida
pelo não controle da doença, assim não havendo um
prolongamento da vida devido ao agravamento ou
complicação do quadros de saúde acometidos divido ao DM
Conforme o estudo de Maués et al. (2010) classificam
os idosos de idade entre 60 a 75 anos como idosos jovens, de

231
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75 a 85 anos são considerados idoso e acima de 85 anos
muito idoso
De acordo com os estudos de Stopa et al. (2014) o
número de portadores de diabetes ultrapassa os 180 milhões
de pessoas no mundo e deverá chegar aos 350 milhões em
2025, visto que a população brasileira diabética ultrapassa os
10 milhões, dos quais aproximadamente 33,0% têm entre 60 e
79 anos.
Em relação ao convívio familiar apenas 31% da amostra
vive sozinho e 69,1 % dos entrevistados moram
acompanhados seja com parceiros, filhos ou cuidadores
estando esses dados também em consonância com a
literatura, pois o convívio familiar tem papel fundamental na
adesão ao tratamento nutricional, através de apoio, incentivo,
assim favorecendo na melhora do seu quadro de saúde e
podendo levar ao prolongamento da vida e a melhoria do bem
estar.
Uma vez que segundo Dima (2013) cuidar é um ato
inerente à condição humana, pois à medida que vamos
ultrapassando os ciclos vitais, vamos sendo alvos ou
prestadores de cuidados.
Conforme os estudos de Esteves et al. (2017) é
importantes para a qualidade de vida, preservar
relacionamentos interpessoais, vínculos familiares com filhos,
netos, vizinhos, amigos solidificando sua rede de suporte
social na senilidade, pois vale ressaltar que essas doenças em
idosos representam alto custo social, considerando que a
qualidade de vida pode ser preservada quando os indivíduos
envelhecem com autonomia, independência e boa saúde
física, continuando a desempenhar seus papéis sociais, pois

232
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processo do envelhecimento humano vem seguido de
modificações biológicas e psicológicas, favorecendo o
desgaste físico e emocional, acarretando redução das
respostas fisiológicas às ações do ambiente em que o idoso
está inserido.
No tocante a renda familiar a grande maioria, ou seja,
85,7% (n=36) dos participantes ganham de 1 a 2 salários
mínimos, o que representa um baixo poder aquisitivo e pode
estar influenciando negativamente na adesão ao tratamento
dietético, visto que impossibilita a aquisição de alimentos de
melhor qualidade que propiciem um melhor controle da
doença.
Em seu estudo Zanetti. et al. (2015) demonstraram que
os pacientes que apresentam limitações econômicas possuem
maior dificuldade na aquisição de alimentos prescritos no
plano alimentar.
Estudos de Tavares et al. (2014) vem mostrar que no
Brasil a população idosa tende há ter uma maior evidência de
pobreza; isolamento social; baixa escolaridade; presença de
residências em condições precárias; restrição de acesso ao
transporte e, distância dos recursos sociais e de instituições
de saúde, sendo que tais fatores podem subestimar a
prevalência de doenças crônicas, como o DM, entre os idosos,
assim como limitar a atenção à sua saúde, somando -se a
estes fatores o impacto negativo do DM na qualidade de vida
do idoso, decorrentes da presença de possíveis complicações
crônicas, como retinopatia, nefropatia, cardiopatia, lesões
cerebrais e cardiovasculares.
De acordo com os estudos de Bezerra et al. (2016) uma
das maiores dificuldades são o custeio por parte do

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ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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tratamento, seja ele em relação a aquisição de alimentos e/ou
medicamentos, pois a renda têm forte impacto sobre a
situação de saúde da população, sendo que os idosos com
melhor renda e maior nível escolaridade são mais
independentes para o autocuidado, incluindo o uso correto de
medicamentos, de meios de transporte e de comunicação,
enquanto os de menor poder aquisitivo e intelectual estão
mais suscetíveis às doenças e, consequentemente,
necessitam de maior atenção à saúde
No que se refere ao grau de escolaridade 76,20%
(n=32) são analfabeto e/ou analfabeto funcional e o restante
da amostra apresentava apenas ensino fundamental
incompleto, esse baixo grau de instrução pode refletir na falta
de cuidados adequados para o controle da doença, como os
cuidados relacionados ao tratamento nutricional, podendo ser
um dos fatores primordiais para o auto cuidado e escolas de
alimentos adequados para o diabéticos
De acordo com Cortez et al. (2015) em sua pesquisa
aleatorizada, realizada em um Centro Alemão de Diabetes,
identificou entre os aspectos socioeconômicos, que a
escolaridade mais baixa pode interferir no efeito de
aprendizagem dos cuidados relacionados ao diabetes.
. Conforme a pesquisa de Dias et al. (2017) percebeu-
se que a maioria dos idosos portadores de DM2 tem um baixo
nível de escolaridade, o que pode dificultar a sua adesão ao
tratamento e o entendimento em relação à doença e aos
cuidados.
Nos estudos de Leite et al. (2015) mostra que o grau de
escolaridade é determinante para o sucesso da abordagem
preventiva do diabetes, neste público, pois a baixa

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ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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PARAIBANO
escolaridade pode dificultar o acesso a informações, trazer
menos chances de aprendizado sobre o autocuidado, além de
dificuldades no entendimento das condutas terapêuticas, além
disso, a presença de uma quantidade considerável de
analfabetos entre os idosos diabéticos também é um dado
preocupante, uma vez que, além dos fatores de risco
mencionados anteriormente, o menor nível de escolaridade
parece estar associado diretamente com sintomas depressivos
entre os diabéticos, comprometendo sobremaneira sua saúde
mental, um aspecto ímpar na avaliação da qualidade de vida
relacionada à saúde.

Tabela 2 – Dados sobre refeições, orientação alimentar e


prática de atividade física da amostraFonte: Dados da
pesquisa, 2017.

GÊNEROS DISCRIÇÃO NºDE PORCEN


PARTICIP TAGEM
ANTES
Nº de refeições 1a2 2 2,4
%
2a4 19 45,
2%
4a6 22 52,
4%
Quem prepara Você mesmo (a) 21 50
as refeições %
Companheiro 8 19
(a) %
Cuidador 3 7,1
(empregada %

235
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doméstica)
Filhos 10 23,
8%
Já recebeu da Sim 22 52,
UBS alguma Não 20 4%
orientação como 47,
deve se 6%
alimentar

Se sim, segue Sim 13 59


as orientações. %
Não 9 41
%
Já foi a uma Sim 15 35,
consulta com o Não 27 7%
nutricionista 64,
3%

Se sim, segue Sim 9 60


as orientações. %
Não 6 40
%
Pratica atividade Sim 27 64,
física 3%
Não 15 35,
7%
Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

De acordo com a Tab. (2), na devida pesquisa em


relação aos números de refeições 52,4% (n=22) faziam de 4 a
6 refeições diárias, sendo que 50% (n=21) dos participantes
preparavam suas próprias refeições, portanto através de um
fracionamento melhor e da forma por quem são preparadas as
236
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refeições podemos ter pontos positivos no tratamento
dietoterápico do paciente diabético, favorecendo assim, um
melhor aproveitamento dos nutrientes e evitando picos de hipo
ou hiperglicemia nesses indivíduos.
De acordo com os estudos de Zanetti, et al (2015)
quem prepara suas próprias refeições e as dividem em varias
vezes ao dia contribui para auxiliar na melhoria dos casos de
diabetes.
Conforme a pesquisa de Silva (2014) deve-se fracionar
as refeições, objetivando a distribuição harmônica dos
alimentos, evitando grandes concentrações de carboidratos
em cada refeição, reduzindo assim, o risco de hipo e
hiperglicemia sendo que o paciente deverá seguir as seguintes
recomendações, para o DM tipo 1 seis refeições ao dia (três
grandes refeições e três pequenas refeições) e para o DM tipo
2, de quatro a seis refeições ao dia
Na pesquisa de Deon et al. (2015), a alimentação
saudável pode ser definida como: aquela que fornece
quantidades adequadas de nutrientes (carboidratos, proteínas,
gorduras, vitaminas e minerais); rica em frutas e verduras;
moderada em gorduras, sal e açúcar; aquela que proporciona
uma boa hidratação e que apresenta um fracionamento entre
quatro a seis refeições diárias.
Quando questionados se já receberam da UBS
orientações sobre como deve se alimentar, 52,4% (n=22)
responderam sim e desses apenas 59% seguem as
orientações prescritas, portanto assim percebe-se que a
maioria dos participantes desta pesquisa recebeu orientação
alimentar para auxiliar no controle do diabetes, mas o que se
evidencia é que mesmo as maiores partes dos que receberam

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ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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as orientações alimentares não as seguem, podendo assim
levar a uma disfunção dos índices glicêmico, podendo cada
vez mais agravar os quadros clínicos desses indivíduos.
Conforme a pesquisa de Mendes (2011) em seu estudo
constatou que a prática de tomar medicamento apresenta uma
maior prevalência do que seguir um plano alimentar específico
para controle da doença.
Nos estudos de Godói (2015) a baixa adesão as
orientações dificultam a terapia nutricional e a educação
alimentar para os pacientes hipertensos e diabéticos, visto que
as orientações são o principal auxilio aos indivíduos para que
conscientizem em realizar mudanças em seus hábitos
alimentares, minimizando a morbimortalidade por essas
doenças e seu impacto na saúde pública, sendo de grande
importância criar estratégias de educação nutricional para que
esses indivíduos se conscientizem de que é possível levar
uma vida saudável e normal, mesmo sendo portadores de
doenças crônicas
Na pesquisa de Santos et al. (2017) diz que o
tratamento e acompanhamento da DM estão associados à
fonte de orientação nutricional, no entanto o treinamento de
profissionais é fundamental e visa ampliar o conhecimento,
criando novas estratégias metodológicas e estimulando
habilidades de comunicação, compreensão e escuta que
possibilitam uma maior proximidade com os usuários e o
entorno social a qual estão inseridos, portanto a educação
nutricional permite a conscientização sobre a importância de
uma alimentação adequada, estimulado a adesão ao
tratamento da DM 2, uma dietoterapia adequada favorece o
controle glicêmico por meio da ingestão moderada em

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ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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carboidratos, com baixo teor de açúcares simples, gordura
saturada e sal, onde o consumo de dieta rica em fibras
solúveis reduz a absorção intestinal de carboidratos e
colesterol.
Com relação à consulta com o nutricionista, 64,3%
(n=27) disseram nunca terem realizado, ou seja, apenas 35,7
% já foram atendidos por nutricionista e desses apenas 60%
dizem seguir o tratamento dietoterápico prescrito, assim,
percebe-se a necessidade de um número maior de orientação
alimentar realizado por nutricionista para que se tenha a
melhor conduta para controle da doença, destaca-se também
o grande número de pessoas que recebem o atendimento
qualificado, porém não aderem ao plano alimentar prescrito,
visto que esses paciente necessitam de um apoio por parte de
toda equipe de saúde do munícipio para acompanhar cada
indivíduos, em relação a manutenção e sobrevida desses
pacientes.
De acordo com os estudos de Oliveira et al. (2016) a
baixa adesão ao plano alimentar proposto e consequente
consumo inadequado de alimentos está relacionado ao
aumento dos riscos ocasionados pelo mau controle da
doença, diferente do que ocorre com uma alimentação
adequada rica em fibras e entre outros nutrientes essenciais.
Conforme a pesquisa de Campos (2014) a reeducação
alimentar e a pratica de atividades físicas são a ser trasposta,
visto que o trabalho do nutricionista aliado ao medico e
enfermeiro e educador físico não tem tido sucesso, pois
muitos pacientes não aceitam ser orientados por esses
profissionais, ou não seguem o que é proposto, ingerem uma
grande quantidade de carboidrato e são sedentários.

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ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
Nos estudos de Salgado (2015) mostra que a gravidade
das complicações tardias está significativamente relacionada
com a qualidade da alimentação e a gestão nutricional da
doença, isto significa que, quanto mais eficaz for o
cumprimento das recomendações alimentares e, por
conseguinte, do tratamento, mais qualidade de vida os
doentes terão dado que a probabilidade de desenvolverem
comorbilidades será menor, considerando a dificuldade e a
importância da alimentação no tratamento da diabetes, o
doente deve participar ativamente na elaboração do seu plano
alimentar, em conjunto com o nutricionista.
Quando indagados sobre a prática de atividade física,
64,3% (n=27) informaram realizar regularmente, fato que
contribui para a melhoria da qualidade de vida desses
indivíduos, auxiliando na manutenção do índice glicêmico e
evitando assim um comprometimento da DM, divido a novas
co morbidades que podem sem adquiridas, sendo um
resultado diferente do encontrado na pesquisa de Nagai et al.
(2012), que em seu estudo viu que apenas 30% dos idosos
entrevistados relataram fazer algum tipo de exercício apesar
de as pessoas idosas disporem de mais tempo.
De acordo com a pesquisa de Fernandes et al. (2005)
estudos epidemiológicos apontam que o sedentarismo (falta
de atividade física), favorecido pela vida moderna, é um fator
de risco tão importante quanto à dieta inadequada e a
obesidade no desenvolvimento do DM tipo 2, pois a prática de
exercícios físicos regularmente é fundamental para prevenir
doenças crônicas, dentre elas o DM, regulando a melhoria do
metabolismo da glicose e o perfil lipídico e diminui a pressão
arterial, reduzindo o risco de desenvolverem doenças

240
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
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cardiovasculares, portanto a um melhora da sensibilidade
insulínica e a redução da hiperglicemia, resultantes da prática
do exercício físico que poderiam retardar a progressão das
complicações, a longo prazo
Nos estudos de Franchi et al (2008) Os exercícios
físicos tem um efeito depressor sobre os nÌveis de glicose
sanguínea, pois h· maior entrada de glicose nos músculos
esqueléticos, diminuindo assim a glicemia em indivíduos com
DM2, favorecendo, portanto, uma melhora em seu estado,
pois os efeitos benéficos são vários, como, a diminuição das
concentrações de glicose sanguínea antes e após o exercício,
melhora do controle glicêmico, diminuição de medicamentos
orais ou insulina, melhora da sensibilidade á insulina e do
condicionamento cardiovascular e consequente diminuição
dos fatores de risco cardiovascular.
Figura 1: Dados relacionados a frequência do consumo de
alimentos contraindicados para idosos diabéticos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

241
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
PARAIBANO
Analisando o gráfico acima nota-se que a grande
maioria dos idosos entrevistados nunca fazem uso dos
alimentos contraindicados para diabéticos, o que pode ser
considerado um bom indício de que os mesmos possuem uma
alimentação equilibrada recomendada para diabéticos.
De acordo com os estudos da SBD (2015) a nutrição
equilibrada estabelecida a partir de concentrações adequadas
de micronutrientes e micronutrientes, prescritos de forma
individualizada, deve se basear nos objetivos do tratamento
nutricional, sendo que a ingestão dietética recomendada
segue recomendações semelhantes àquelas definidas para a
população geral, considerando todas as faixas etárias e as
patologias de todos os indivíduos, fornecendo assim o controle
da glicemia por meios dos alimentos.
Conforme os estudos de Fernandes et al. (2005) a
alimentação deve ser rica em fibras, vitaminas e minerais,
com um consumo diário de duas a quatro porções de frutas
(sendo pelo menos uma rica em vitamina C) e de três a cinco
porções de hortaliças (cruas e cozidas), sendo Recomenda-
se, ainda, dar preferência, sempre que possível, aos
alimentos, algumas recomendações complementares deve ser
incluída, como o fracionamento dos alimentos, distribuídos em
três refeições básicas e duas a três refeições intermediárias
complementares, nelas incluída a refeição noturna (composta
preferencialmente por alimentos como leite ou fontes de
carboidratos complexos), procurar manter constante, a cada
dia, a quantidade de carboidratos ingerida, bem como sua
distribuição nas diferentes refeições e evitar o uso
O consumo frequente dos alimentos presentes na Fig.
(1) por diabéticos influi negativamente no controle da doença,

242
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
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uma vez que os mesmos alimentos são pobres em
micronutrientes e contribuem para a hiperglicemia e
dislipidemias nesses pacientes, a amostra estudada em sua
maioria afirma não usar ou não usar com frequência os
referidos alimentos o que se leva a pensar inicialmente que os
idosos estudados aderem ao tratamento dietoterápico
prescrito, porém de acordo com a pesquisa de Barbosa et al.
(2015), os pacientes idosos diabéticos tem uma boa
percepção dos alimentos ruins para a doença, mesmo tendo
às vezes um conhecimento limitado de como deve-se
alimentar, eles tendem a evitar alimentos com altos índices de
açúcar na sua composição.
Nos estudos de Leal et al. (2016) mostra que o plano
alimentar é um dos principais problemas para as pessoas
portadoras dessa doença, quanto à adaptação às
recomendações dietéticas, dificuldade de nunca mais poder
comer e beber normalmente como todos os outros e ao
controle permanente de desejos, sensações e ansiedades,
contudo as modificação comportamental referente às práticas
dietéticas é uma exigência imposta pela doença, devendo
haver uma modificação para a formação de novos hábitos
alimentares
De acordo com a pesquisa de Gomes (2016) os idosos
diabéticos necessitam ter um olhar diferenciado para os
fatores relacionados com a alimentação que interferem na
prevenção, controle e tratamento da doença, no qual sua
inadequação pode resultar em excesso de peso, dislipidemia e
controle glicêmico inadequado, visto que as modificações
alimentares para adquirir uma dieta saudável são
reconhecidamente benéficas para a saúde, resultando em

243
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
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melhor controle glicêmico e pressórico, como também
minimizando o risco de desenvolver doenças
cardiovasculares, portanto é fundamental que os profissionais
de saúde, principalmente os nutricionistas estejam preparados
para identificar os fatores de risco e realizar orientações
alimentares saudáveis para evitar e/ou retardar as
complicações dessas doenças
Figura 2: Dados da frequência do consumo de alimentos
indicados para idosos diabéticos.

Fonte: Dados da pesquisa, 2017

Observando o Fig. (2) pode-se perceber que os


alimentos indicados para idosos diabéticos, tais como, cereais
e massas integrais, os desnatados como leites e queijos, as
gorduras boas como os azeites e as carnes magras
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ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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preparadas sem frituras apresentaram baixo consumo pelos
idosos em estudo.
O baixo consumo da maioria dos alimentos indicados
para diabéticos pela amostra pode estar associado à baixa
renda e escolaridade da mesma, podendo assim dificultar de
alguma forma á aquisição e escolhas dos gêneros
alimentícios, concomitantemente pode-se haver outras
prioridades aquisitivas para essa população.
Na pesquisa de Zanetti et al. (2015) foi visto que
pessoas com maior nível de escolaridade tendem a apresentar
maior conhecimento e habilidades que favorecem o manejo da
doença, assim, maior nível de escolaridade é uma variável que
favorece a adesão às recomendações nutricionais, juntamente
com o baixo poder aquisitivo pode impossibilitar na aquisição
de bons alimentos.
Nos estudos de Tavares et al. (2014) mostra que a
baixa escolaridade e renda podem dificultar a adesão ao
tratamento. O desenvolvimento de ações educativas para o
autocuidado, norteada pela comunicação eficaz e coerente
com a necessidade do grupo pode ser uma estratégia para
amenizar esta situação.
Na pesquisa de Dias et al. (2017) diz que o se analisar
a escolaridade, verificou-se que a maioria dos idosos não era
alfabetizada ou possuíam apenas o ensino fundamental
incompleto, o que pode ser reflexo das dificuldades de acesso
às escolas na época em que esses idosos nasceram e ao fato
de terem crescido em um ambiente de desvalorização da
educação formal e de condições socioeconômicas precárias.

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ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
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Conforme a pesquisa de Deon et al. (2015), o consumo
de alimentos está intimamente relacionada com o nível de
escolaridade e a renda per capita das pessoas,
Com relação às verduras e leguminosas, frutas in
natura, carnes, frangos, peixes e ovos cozidos, a Fig. (2)
mostra que esses alimentos apresentaram uma boa
frequência de consumo. Esses alimentos possuem papel
fundamental no controle do diabetes no idoso, sendo
alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras que auxiliam
na redução do índice glicêmico, podendo fornecer uma melhor
qualidade de vida a esses indivíduos.
De acordo com o estudo de Motta et al, (2016) devido
às suas propriedades nutricionais, o consumo de verduras e
leguminosas contribui para uma alimentação saudável, pelas
suas caraterísticas demostram possuir um importante papel,
nomeadamente, na prevenção de doenças como a diabetes, a
doença cardiovascular e a obesidade e
Conforme a pesquisa de Munhoz (2014), a alimentação
deve ser rica em vitaminas e minerais, além de um consumo
diário de duas a quatro porções de frutas, auxiliando em um
bom seguimento do tratamento nutricional aos diabéticos.
De acordo com os estudos de Deon et al. (2015), o
consumo recomendado é de duas a três porções de frutas
diariamente8. A ingestão da quantidade adequada desses
alimentos pode auxiliar na prevenção das doenças crônicas
não transmissíveis

246
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
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4 CONCLUSÃO

Tendo como base os resultados alcançados,


examinados e discutidos na presente pesquisa constatou-se
que de um modo geral os idosos diabéticos cadastrados no
programa hiperdia de uma UBS no sertão da Paraíba
apresentaram uma boa adesão ao tratamento dietoterápico,
uma vez que a grande maioria demonstrou não fazer uso ou
usar com pouca frequência alimentos contraindicados para
diabéticos, além de referirem consumir com grande frequência
carne, frango, peixe e ovos cozidos, verduras, leguminosas e
frutas in naturas. Essa adesão ao plano alimentar pode ser
considerada boa mesmo que os idosos tenham referido em
sua grande maioria nunca consumirem cereais integrais, pois
tal prática pode estar mais associado ao perfil socioeconômico
da amostra do que a resistência para adesão ao tratamento
dietético.
Essa boa adesão foi verificada ainda na pesquisa
quando a maioria dos idosos demonstrou ter hábitos que
influenciam positivamente na adesão ao tratamento
dietoterápico como preparar as próprias refeições, realizando-
as de forma fracionada durante o dia, além de referirem já
terem recebido orientação nutricional e praticarem atividade
física regularmente
.A adesão encontrada na Unidade Básica de Saúde
estudada pode refletir a política de atenção ao diabético
adotada pela Secretaria Municipal de Saúde, que recomenda
que se estabeleça um acompanhamento contínuo dos
pacientes diabéticos pelas equipes da Estratégia de Saúde da

247
ADESÃO AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO POR IDOSOS DIABÉTICOS
PARTICIPANTES DO PROGAMA HIPERDIA EM UM MUNICIPIO DO SERTÃO
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Família, na tentativa de proporcionar o controle da doença,
evitar consequências negativas e diminuir gastos.
Percebeu-se também que mesmo aderindo ao plano
alimentar sugerido pela UBS através de seus profissionais, a
maioria dos idosos nunca recebeu o tratamento dietoterápico
individualizado prescrito por nutricionista, o que se faz
imprescindível a presença constante do profissional
nutricionista nas Unidades Básicas de Saúde desse município
para que se possa traçar melhores estratégias para auxiliar
esse público, de modo a contribuir para o prolongamento da
vida e melhor bem estar desses indivíduos.
Verificar a adesão de diabéticos ao tratamento
dietoterápico apresenta-se como algo de grande importância
clínica, uma vez que se constitui como um direcionamento de
ação para a equipe de saúde da família que a partir desse
conhecimento pode avaliar a qualidade da sua atenção em
diabetes.
Dada à importância do tema, torna-se necessário que
outros estudos na mesma perspectiva sejam realizados,
porém com métodos mais precisos de análise da adesão ao
tratamento dietoterápico e assim efetivar uma pesquisa com
maior amplitude.

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252
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
CAPÍTULO 12

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO


ALIMENTAR E DE SAÚDE DE IDOSOS
PORTADORES DE DIABETES MELLITUS
TIPO 2 NÃO INSTITUCIONALIZADOS
Yasmin Farias GOMES 1
Kamilla Helen Rodrigues da COSTA 1
Maria da Conceição Rodrigues GONÇALVES 2
Maria Rayssa Silva do NASCIMENTO 1
Eryka Maria dos SANTOS 3
1
Graduadas em Nutrição, UFPB; 2 Orientadora/Professora do DN/UFPB ³ Graduada em
Nutrição, UFPE.
yasmingomes@hotmail.com.br

RESUMO: O frequente crescimento das doenças crônicas na


população idosa e as dificuldades que cercam seu controle
são fatores que dificultam o estado nutricional adequado no
idoso. A diabetes mellitus é um grupo de doenças cuja
principal característica é a concentração elevada de glicose na
corrente sanguínea. A DM contribui para um aumento elevado
das taxas de morbidade e mortalidade. O objetivo deste
trabalho foi avaliar o estado nutricional, o consumo alimentar e
o estado de saúde de pacientes idosos portadores de DM tipo
2 não-institucionalizados. A população estudada consistiu de
30 idosos, de ambos os sexos, diabéticos tipo 2 atendidos no
Ambulatório de Nutrição do Hospital Universitário Lauro
Wanderley em João Pessoa - PB. Dos participantes, a maioria
são mulheres, e 60% dos idosos estavam com sobrepeso. A
glicemia de jejum mostrou que a maioria dos idosos
encontravam-se hiperglicêmicos. Diferente da pressão arterial
que encontrava-se elevada na minoria deles. O consumo
alimentar na maioria consistiu de dieta normo nos
253
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
macronutrientes. Nos micronutrientes, as vitaminas
lipossolúveis e o cobre apresentaram-se abaixo do
recomendado para todos eles. Conclui-se que Apesar da
população ser composta por maioria dos participantes com
excesso de peso, apresentava consumo calórico adequado,
podendo está associado ao processo de envelhecimento.
Estudos deste tipo são importantes para fornecer dados para
um aconselhamento dietético direcionado à realidade destes
indivíduos.
Palavras-chave: Avaliação nutricional. Idosos. Diabetes
mellitus tipo 2.

1 INTRODUÇÃO

Envelhecer é um processo natural que acarreta perdas


progressivas na capacidade funcional e alterações
metabólicas. O frequente crescimento das doenças crônicas
na população idosa e as dificuldades que cercam seu controle,
como o uso contínuo de medicamentos, a necessidade da
prática de atividade física e mudanças na alimentação são
fatores que dificultam o estado nutricional adequado no idoso
(FERREIRA; ROSADO, 2012).
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) têm-se
configurado como uma das principais causas de
morbimortalidade no mundo, responsáveis por cerca de 60%
dos óbitos anuais e 46% da carga global de doença, sendo
predominante principalmente nos países industrializados e nos
emergentes. No Brasil, as DCNT seguem padrões
semelhantes, constituindo a partir de 2009 a principal causa
de óbito no país, destacando-se, dentre elas, as doenças do
aparelho circulatório, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e

254
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
a Diabetes Mellitus (DM) como principais fatores de risco para
as complicações, tais como o acidente vascular cerebral,
infarto agudo do miocárdio e doença renal crônica (ZAGUI et
al., 2011).
A DM é um grupo de doenças cujo principal
característica é a concentração elevada de glicose na corrente
sanguínea devido uma produção ineficiente de insulina, defeito
na ação da insulina ou ambos os fatores. A DM contribui para
um aumento elevado das taxas de morbidade e mortalidade,
devido sua alta prevalência e o impacto que a doença pode
causar ao paciente. O nível elevado de glicose no sangue é
caracterizado pelo estado de hiperglicemia nesses pacientes
(MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2013).
A DM pode ser classificada como Diabetes Mellitus tipo
1 (DM1), Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), Diabetes Mellitus
gestacional (DMG) e outros tipos específicos, como: defeitos
genéticos na função das células beta, defeitos genéticos na
ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino e outras
condições. A DM2 corresponde a 90-95% dos casos, ocorre
geralmente em pacientes em meia idade ou idade avançada,
podendo uma hiperglicemia estar presente por vários anos,
anteriormente ao seu diagnóstico. É caracterizada pela
resistência à insulina e/ou secreção reduzida do hormônio. O
tratamento do DM envolve o uso de antidiabéticos orais e/ou
insulina, dieta e atividade física (SBD, 2016).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS,


2016) na DM2 são determinantes os fatores genéticos e
metabólicos. Entre os fatores de risco estão: etnia, histórico
familiar, diabetes gestacional anterior, idade avançada,
sobrepeso e obesidade, má alimentação, sedentarismo e
255
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
tabagismo. A OMS ressalta que o fator de risco mais
importante é o excesso de peso e esse junto com o
sedentarismo são as causas para o aumento de casos no
mundo dessa patologia. O tabagismo também é responsável
pelo aumento do risco de desenvolver DM2, principalmente
em pessoas que fumam ativamente, em grande quantidade e
por um longo período, esse risco só tende a diminuir 10 anos
após cessar o fumo, onde esses indivíduos ficam com um
risco comparado ao fumante leve.
O tratamento para o paciente diabético inclui em uma
prescrição nutricional individualizada, uso de medicamentos
específicos para o controle glicêmico, assim como de uma
atividade física orientada. (CUPPARI, 2014)
Diante disto, este trabalho tem como objetivo avaliar o
perfil nutricional, consumo alimentar e o perfil de saúde de
idosos portadores de DM2 não institucionalizados. Realizando
avaliação antropométrica dos pacientes, análise do consumo
dietético, da glicemia de jejum e pressão arterial.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Esta pesquisa foi norteada segundo a Resolução


466/12 do Conselho Nacional de Saúde e encaminhada ao
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro
Wanderley (HULW), sendo aprovada segundo o parecer
CEP/HULW nº 321.837/2013.
Esse estudo foi realizado com pacientes idosos
portadores de DM2 atendidos pelo Projeto de Extensão
“Intervenção nutricional e educação continuada para pacientes

256
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
diabéticos” realizado no Ambulatório de Nutrição do HULW,
em João Pessoa, PB.
A amostra foi composta por pacientes idosos (idade ≥
60 anos) diagnosticados com DM2, atendidos no Ambulatório
Nutrição do HULW, no período no de março/dezembro de
2015, num total de 30 pacientes. Foram excluídos do estudo
pessoas que não possuíam a patologia e/ou não se
encaixaram na faixa etária; e alterações físicas que
impossibilitaram a verificação das medidas antropométricas,
impossibilidade de responder o R24h, ou não assinaram o
Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
Foram utilizadas variáveis contínuas como peso, altura
e circunferência da cintura, como dado bioquímico foi
analisada a glicemia em jejum do paciente, também foi aferida
a pressão arterial e aplicado R24h para avaliar o consumo
alimentar.
As medidas de peso e altura foram realizadas para
posterior avaliação do IMC dos participantes. A massa
corporal foi obtida em balança eletrônica digital, da marca
Plenna-MEA-03140®, com capacidade máxima de 150 Kg e
precisão de 100g. A altura por sua vez foi medida utilizando
um estadiômetro acoplado na balança. A circunferência da
cintura aferida com o uso de fita métrica Stanley® milimetrada,
com precisão de 1 mm e exatidão de 0,5 cm.
A glicemia em jejum foi medida com glicosímetro da
marca ACCU-CHECK®/ ACTIVE/ Modelo GU. A pressão foi
aferida com aparelho digital da marca G-TECH® modelo
BP3BK1.
No momento da pesquisa o paciente encontrava-se em
jejum de no mínimo 8h, então foi medida a glicemia em jejum

257
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
no ambulatório, com o glicosímetro, e analisada de acordo
com os valores preconizados pela SBD (2016), as metas de
controle estão descritas no quadro 1.

Quadro 1. Recomendação de controle glicêmico para adultos


com diabetes mellitus.
Glicemia de jejum Glicemia pós- Hemoglobina
prandial glicada
< 110 mg/dℓ Até 160 mg/dℓ < 7%
Fonte: SBD, 2016.

A Pressão Arterial foi avaliada de acordo com a


recomendação da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBC,
2016), onde para diabéticos a meta é de 130/80 mmHg, acima
desse valor eles devem receber tratamento medicamentoso e
modificação do estilo de vida, por tratar-se de pacientes de
alto risco para eventos cardiovasculares.

A CC foi obtida no ponto médio entre o último arco


costal e a crista ilíaca com fita métrica flexível e inelástica sem
comprimir os tecidos, a classificação foi feita de acordo com a
OMS (Quadro 2).

Quadro 2. Risco de complicações metabólicas associadas à


obesidade, quanto à circunferência da cintura.
Elevado Muito elevado
Homem ≥ 94cm ≥ 102cm
Mulher ≥ 80 cm ≥ 88cm
Fonte: OMS (1998)

258
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
Por meio da divisão do peso em quilogramas pela altura
em metros ao quadrado, foi obtido o IMC, e os valores foram
comparados com o padrão de referência, conforme o quadro
3.

Quadro 3. Estado Nutricional de Idosos, quanto ao Índice de


Massa Corporal.
IMC (Kg/m2) Classificação
< 16,0 Baixo peso
22,0 – 27,0 Eutrofia
>27 Sobrepeso
Fonte: Lipschitz, 1994.

No R24h o indivíduo recordou e descreveu todos os


alimentos e bebidas ingeridos no período de 24 horas anterior
ao encontro, as quantidades de alimentos foram estimadas
através de medida caseira. O R24h possui como principais
vantagens a rapidez, baixo custo, pode ser usado em grupos
de baixo nível escolar além de fornecer um número estimado
do valor energético total e da ingestão de macronutrientes
(CUPPARI, 2014). O consumo de macronutrientes foi avaliado
de acordo com a recomendação da SBD (2016) e para avaliar
micronutrientes foi utilizado a recomendação do Institute of
Medicine (2004).
Para realizar o tratamento e a análise dos dados foi
utilizado o software Dietwin® para analisar os macronutrientes
(carboidratos, proteínas e lipídeos) e os micronutrientes
(vitaminas e minerais).
As análises estatísticas foram analisadas no Microsoft
Office Excel® 2010 e SPSS® versão 20.0.
259
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A maioria dos idosos participantes do estudo eram do


sexo feminino (53,3%), resultado semelhante ao encontrado
por Menezes et al. (2014) ao avaliar diabetes mellitus referido
e fatores associados em idosos residentes em Campina
Grande, Paraíba. Esse resultado também é semelhante ao
encontrado por Stopa et al. (2014) ao avaliar diabetes
autorreferido em idosos: comparação das prevalências e
medidas de controle. E vários outros estudos analisados
(BENFICA, et al, 2011; BARBOSA, et al, 2015; PREVIATO, et
al, 2015; FÉLIX, et al, 2014; ESTEVES, et al, 2017;
VENTURINI, et al, 2015).
Para Benfica et al. (2011) este fato pode estar
relacionado à maior busca das mulheres por serviços de
saúde, devido a maior preocupação das mesmas com a
saúde, onde entre outras causas, possuem menor exposição a
fatores de riscos, como tabagismo e etilismo, ressaltando
assim o processo de feminização vivenciada no Brasil e no
mundo, tendo em vista a maior sobrevida dos indivíduos do
sexo feminino.
A idade média entre os participantes foi de 65,3 ± 4,75
anos, o que se assemelha também aos estudos de Menezes
et al. (2014), Esteves et al. (2017) e Stopa et al. (2014). Para
Lima-Costa et al. (2002) uma provável explicação para o fato
da prevalência da diabetes ter um não aumento com o
progredir da idade estaria ligado ao viés de sobrevivência, pois
os mais vulneráveis as complicações que são geradas pela
doença teriam maior probabilidade de morte prematura.

260
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
Além da DM2, 80% dos entrevistados apresentavam
outras comorbidades sendo a mais prevalentes entre os
indivíduos no presente estudo foi a HAS (63,3%) e dislipidemia
(26,7%). Fato este também observado no estudo de Benetti et
al. (2012), onde entre os indivíduos com DM a maior
prevalência de outras comorbidades foi a HAS com 78% dos
mesmos. Nos estudos realizado por Mota et al. (2010) e Rios
et al (2017), as mais prevalentes foram a HAS e a dislipidemia
sendo esta última um fator de risco aumentado para o
desenvolvimento de DCV nestes pacientes, cujas principais
alterações são o aumento nos níveis dos triglicerídeos,
redução na High Density Lipoprotein (HDL) ou lipoproteína de
alta densidade e aumento na Low Density Lipoprotein (LDL)
ou lipoproteína de baixa densidade.
O efeito da atividade física, no controle glicêmico de
pacientes com DM, tem sido bastante reconhecido. É possível
observar melhora do perfil cardiovascular, lipídico, pressórico
e glicêmicos dos indivíduos. (MENDES, et al. 2013)
Quanto ao IMC, a maioria (60%) da amostra apresentou
excesso de peso e os demais eram eutróficos. Com uma
média de 28,65 ± 4,67 kg/m², resultado semelhante ao
encontrado por Previato et al. (2015) ao avaliar o perfil clínico-
nutricional e consumo alimentar de idosos do Programa
Terceira Idade em Ouro Preto-MG, onde foi observado que
53,6% dos idosos foram classificados com excesso de peso.
No estudo de Pereira e Fietz (2015) também foi encontrado
um percentual de 57% dos idosos em sobrepeso. Diferente do
estudo de Venturini et al. (2015), onde 54,9% dos idosos
entrevistados apresentavam baixo peso segundo o IMC.

261
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
Segundo Machado et al. (2012), a obesidade e o
sobrepeso favorecem a manifestação do DM2, tendo em vista
que a resistência insulínica pode estar aumentada em
indivíduos obesos, principalmente quando se refere à gordura
abdominal.
A SBD (2016) afirma que a perda de 5% a 10% de peso
corporal implicaria na redução dos níveis glicêmicos,
retardando o avanço da doença, diminuindo a necessidade
insulínica e poderia, inclusive, permitir a retirada do tratamento
farmacológico.
No estudo de Previato (2015), a média de CC
encontrada para o sexo feminino e masculino foram 91,45 cm
± 11,74 e 94,66 cm ± 9,55, respectivamente. Resultado
semelhante ao encontrado no presente estudo, onde a média
de CC foi de 99,63 ± 8,81 cm. Com base nesse dado, 100%
das mulheres e 64% dos homens apresentavam risco elevado
ou risco muito elevado para desenvolvimento de DCV.
Existe uma relação importante entre a CC com a
probabilidade de aparecimento de eventos cardiovasculares
pela deposição de gordura mobilizável na região abdominal e
independente do valor do IMC, a CC é reconhecida como um
fator preditivo de DCV (BARBOSA, 2013).
Considerando o elevado número de diabéticos com
HAS, durante a consulta nutricional foram realizadas, aferições
da pressão arterial e da glicemia de jejum. Visto que a
glicemia de jejum é um dado importante e prático para
diagnóstico e controle da doença (SBD, 2016). Deste modo,
classificou-se os usuários quanto ao controle das doenças
associadas.

262
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
Figura 1: Glicemia de jejum e pressão arterial sistêmicas dos
idosos (n=30) atendidos no Ambulatório de Nutrição do
Hospital Universitário Lauro Wanderley em 2015.
19% 7%
6%
36%
57%
75%
Hipoglicêcmicas Hipoglicêmicos
Normoglicêmicas Normoglicêmicos
Hiperglicêmicas Hiperglicêmicos

13% 14%

50%
36%

87%
Normotenso Normotensos
Hipertenso Hipertensos

Fonte: Própria.

Através da figura 1, podemos observar que a maioria


das mulheres (75%) e dos homens (57%) estavam
hiperglicêmicos, de acordo com o recomendado pela SBD
(2016). Foi possível observar dados semelhantes no estudo de
Félix et al. (2014), o qual a maioria dos idosos apresentaram
uma média irregular da glicemia de jejum. Já com relação a
pressão arterial, a maioria das mulheres (87%) e dos homens
(50%) apresentavam-se normotensos, de acordo com o
recomendado pela SBC (2016).
A avaliação clínica e terapêutica da HAS são
comentadas e discutidas atualmente no Brasil pelas diretrizes
da SBC (2016), esta, assim como outras diretrizes, dentre elas

263
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
as europeias e americanas, referem que o ideal dos níveis
pressóricos devem ser abaixo de 140x90 mmHg para
população de hipertensos e abaixo de 130x80 mmHg para
pacientes diabéticos e com doenças renal. Essa diretriz, ainda
mais específica, refere que valores abaixo de 140x90mmHg
são indicados para pacientes hipertensos de grau 1 e 2 com
risco de DCV baixo, e de 130x80mmHg para pacientes de
risco baixo a alto com risco muito aumentado para DVC. Estão
inseridos neste grupo, indivíduos que apresentem 3 ou mais
fatores de risco (DM, síndrome metabólica e lesões de órgãos
alvos) bem como hipertensos com lesão renal (SBC, 2013).
Sobre o consumo alimentar, de acordo com o R24h, o
valor calórico consumido está em torno de 1740,07 Kcal ±
384,74 Kcal. De acordo com Cuppari (2014) indivíduos idosos
tendem a ter seu consumo energético diminuído, devido a
fatores como dificuldade de se alimentar, mudanças no
paladar e perda de apetite.
De acordo com a diretriz da SBD (2016) a ingestão de
carboidrato deve ser de 45% a 60% do valor energético total,
dessa forma o consumo de carboidratos apresentou-se
adequado no estudo, visto que a média de consumo foi de
49%.
Os carboidratos, de todos os macronutrientes, são os
maiores responsáveis pelo aumento da glicemia pós-prandial,
evidenciando que a prioridade deve ser o monitoramento da
quantidade total desse nutriente no plano alimentar (SBD,
2016)
Segundo Cuppari (2014) a proteína ingerida estimula a
secreção de insulina, sugerindo desta forma, que dietas com
quantidades superior a 20% do valor energético total de

264
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
proteínas, não aumenta a glicemia em portadores de DM bem
controlados. De acordo com a SBD (2016) a prescrição de
proteína deve ser individualizada levando em consideração o
estado nutricional do indivíduo. De acordo com as DRIs o
consumo de proteína pode varias de 10-35% do valor calórico
total. No presente estudo, os idosos apresentaram um
consumo médio de proteína de 22% do valor energético total e
uma média de 94,25 ± 14,42 g/dia.
De acordo com a análise da ingestão de ácidos graxos,
observou-se que a maioria dos indivíduos apresentou
consumo de ácidos graxos saturados acima do recomendado
(<7% do VET) pela Sociedade Brasileira de Cardiologia
(2013). O elevado consumo de ácidos graxos saturados
promove o aumento nos níveis sanguíneos de colesterol,
aumento do risco para o desenvolvimento de DCV, sabe-se,
no entanto, que este último já é um fator de risco elevado nos
indivíduos diabéticos. Dessa forma, o elevado consumo
desses ácidos graxos aumenta ainda mais o risco
cardiovascular em indivíduos diabéticos (SBD, 2016). Esse
fato preocupa, visto que as 100% das mulheres e 64% dos
homens que participaram desse estudo possuem risco
elevado ou muito elevado para DCV.
De acordo com a SBD (2016) o consumo de fibras deve
ser de no mínimo 14g/1000kcal, sendo o ideal de 30 a 50g/dia.
A média de consumo encontrada foi de 21,81 ± 7,53 g/dia,
estando acima do mínimo aceitável e abaixo do ideal.
Diferente da pesquisa de Benetti et al. (2012), onde todos os
pacientes apresentaram um consumo de fibras abaixo da
recomendação. O aumento no consumo de fibras tem impacto
positivo no aumento do controle glicêmico (CARVALHO et al.,

265
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
2012). Sendo fundamental estimular o consumo de fibras
nesses indivíduos.
O consumo de colesterol apresentou-se dentro do
recomendado para a maioria dos indivíduos (<300mg/dia),
segundo a SBD (2016). A média de consumo encontrada foi
de 287,85 ± 186,43 mg/dia. Há associação entre o consumo
de colesterol e maior incidência de aterosclerose, porém, são
conflitantes, pois apenas 56%, aproximadamente, do
colesterol dietético é absorvido, portanto, ele não exerce muita
influência no colesterol plasmático e na aterosclerose precoce
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2013).
Os idosos apresentam com alterações no seu consumo
alimentar, devido alterações fisiológicas, como por exemplo a
diminuição do paladar ou perda da dentição. Como
consequência disto, esses indivíduos diminuem o consumo de
frutas, legumes e verduras, em especial as in natura,
prejudicando assim o alcance das recomendações diárias dos
micronutrientes (MULLER; FIETZ, 2015).
O consumo de vitaminas lipossolúveis (vitaminas A, D,
E e K) apresentou-se inadequado em 100% dos indivíduos de
acordo com as recomendações das DRIs. Resultado
semelhante foi observado no estudo de Schmaltz (2011), onde
as vitaminas A, D e E estavam abaixo do recomendado. Esse
fato pode ser explicado pela fragilidade do uso do R24h, pois
ele estima a média apenas de um dia e não leva em
consideração o consumo a médio/longo prazo (CUPPARI,
2014). Além disso, esse resultado pode ser devido o alto
consumo de alimentos desnatados encontrado entre os
idosos.

266
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
O estudo de Lichtenstein et al. (2013) referencia
pesquisas que correlacionam o consumo de vitamina D com
patologia e comorbidades. O mesmo refere a existência de
outros estudos enfocando que esta vitamina é utilizada no
tratamento e prevenção do DM, considerando a sua ação no
sistema imunológico, podendo melhorar a atividade das
células beta e na resistência a insulina. Por outro lado estes
pesquisadores não consideram essa análise conclusiva, tendo
em vista o escasso número de estudos a longo prazo
analisando a relação vitamina D e DM.
A vitamina A possui ação antioxidante e auxilia na
prevenção das DCNT, seu consumo dentro do recomendado
pode diminuir o risco do indivíduo desenvolver DCV, devido
seu mecanismo antiaterogênica e de redução da agregação
plaquetária, vários estudos tem mostrado um consumo inferior
ao recomendado para essa vitamina (SILVA et al., 2013).
A vitamina E possui função antioxidante, atuando na
inibição da propagação de reações dos radicais livres e, desta
forma, protegendo as membranas celulares de danos
oxidativos e prevenindo a peroxidação lipídica (ALQUDAH et
al, 2017). Devido a quantidade de participantes com
dislipidemia e o alto número de idosos com risco elevado ou
muito elevado para doenças cardiovasculares, seria adequado
maior aprofundamento na avaliação das vitaminas
lipossolúveis e posteriormente sua adequação no consumo.
A vitamina C apresentou adequação em 36% dos
indivíduos, sendo esta uma das principais vitaminas
antioxidantes que participa de várias funções celulares do
sistema imune, contribuindo para a melhora do sistema imune
e diminuindo peroxidação lipídica (CARR; MAGGINI, 2017).

267
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
Portanto, seria importante também o aumento do seu
consumo nos participantes do estudo.
O consumo de vitaminas do complexo B apresentou-se
adequada na maioria dos idosos. A deficiência de vitamina B1
e outras vitaminas do complexo B pode prejudicar o
metabolismo dos carboidratos, o que pode resultar em piora
da insuficiência cardíaca (NETO et al., 2012), No estudo de
Araújo et al. (2013), a tiamina (vitamina B1) encontrava-se
abaixo do recomendado para a maioria dos diabéticos
estudados, assim como a vitamina B6 que apresentava-se
abaixo do recomendado para a maioria dos homens e
adequado para 42,85% das mulheres. Já no estudo de Silva et
al. (2013) foi observado que as vitaminas B3 e B12 atingiram a
recomendação entre homens e mulheres.
Foi encontrada uma inadequação em 100% da amostra
no consumo de cobre, de acordo com as DRIs. Já no estudo
de Benetti et al. (2012) foi possível observar o oposto, onde a
ingestão desse mineral excedeu a recomendação nutricional.
Pedrosa (2007) indica que pesquisa com modelos animais e
humanos sugerem que a diminuição da tolerância à glicose
pode ser secundária à deficiência de cobre.
A deficiência de cálcio foi encontrada em 66,67% dos
participantes, corroborando com a pesquisa de Benetti et al.
(2012), o qual todos os pacientes diabéticos apresentaram
baixa ingestão de cálcio. O que é um dado preocupante, pois
o consumo de cálcio está associado à diminuição do risco de
diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão, o qual as proteínas de
seu soro também podem ter efeito hipotensivo. (PASSANHA
et al., 2011)

268
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL, DE CONSUMO ALIMENTAR E DE SAÚDE DE
IDOSOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 NÃO
INSTITUCIONALIZADOS
O consumo de Fósforo, Magnésio, Ferro, Zinco, Iodo,
Selênio, Molibdênio e Sódio encontra-se adequado na maioria
dos entrevistados. Um fator positivo é o consumo adequado
de sódio em 86,67% da amostra, pois, a restrição da ingestão
dietética de sódio reduz a rigidez arterial, diminuindo os riscos
para DCV e nos pacientes com DM, a longo prazo, é
considerado um efeito protetor para nefropatias e cardiopatias
(D'ELIA et al, 2017; PARVANOVA et al, 2017).
Tudo isso mostra a necessidade de um
acompanhamento nutricional adequado, para minimizar as
consequências que o DM acarreta, com uma educação
alimentar e nutricional direcionada para estes pacientes e
individualizada para que eles possam apresentar uma melhora
na qualidade de vida.

4 CONCLUSÕES

Apesar da população ser composta por maioria dos


participantes com excesso de peso, apresentava consumo
calórico adequado, podendo está associado ao processo de
envelhecimento.
Estudos deste tipo são importantes para fornecer dados
para um aconselhamento dietético direcionado à realidade
destes indivíduos, identificando possíveis deficiências e
problemas nutricionais encontrados nessa população.

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272
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
CAPÍTULO 13

DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR


AO TRATAMENTO DIETOTERÁPICO E
QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO
NUTRICIONISTA PARA MELHOR ADESÃO?
Rúbia Cartaxo Squizato de MORAES 1
Caroline Severo de ASSIS 2
Jéssica Vicky Bernardo de OLIVEIRA 2
Nadjeanny Ingrid Galdino GOMES 2
1
Graduada no Curso de Nutrição, Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba;
2
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Nutrição, UFPB.
rubiacartaxo@gmail.com.br

RESUMO: O estudo objetivou analisar a percepção dos


pacientes diabéticos quanto a importância da adesão a terapia
nutricional, bem como, explorar estratégias nutricionais para
uma maior adoção ao tratamento dietoterápico. A pesquisa é
classificada quanto à duração como transversal, de caráter
exploratório e conforme o método como bibliográfica ou
revisão sistemática. A coleta dos dados foi realizada através
da procura de artigos científicos sobre as estratégias utilizadas
pelos nutricionistas para o aumento da adesão ao tratamento
dietoterápico e a percepção dos diabéticos sobre a
importância da adoção da terapia nutricional. Para a
identificação dos artigos, realizou-se, em 2017, um
rastreamento nas bases eletrônicas LILACS, SCIELO e
PERIÓDICOS CAPES, de todos os estudos publicados no
período de 2013 a 2017 em inglês e português. O Diabetes
Mellitus tipo 2 é uma doença metabólica, crônico degenerativa
e multifatorial. Essa patologia caracteriza-se pela
hiperglicemia, resultante da sensibilidade diminuída à insulina
e funcionamento prejudicado das células beta. Por fim,
273
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
percebe-se que são inúmeros os fatores que levam a não
adesão do tratamento dietoterápico pelos diabéticos, mas o
nutricionista deve usar de vários artifícios, como incentivar o
empoderamento do indivíduo para que este possa fazer
melhores escolhas diante dos desafios cotidianos e adquira
habilidades para superar os desafios, estabelecer metas
realistas, suporte familiar e uma aliança terapêutica que
permita a participação do indivíduo na escolha alimentar.
Palavras-chave: Diabetes tipo 2. Autocuidado. Terapia
nutricional.

1 INTRODUÇÃO

O diabetes do tipo 2 caracteriza-se pela resistência na


ação da insulina e/ou deficiência na sua produção pelo
pâncreas (BRASIL, 2013). A condição crônica destaca-se
como importante causa de morbidade e mortalidade
principalmente em idosos. A tendência ao envelhecimento
populacional, a alta incidência do sedentarismo e má
alimentação, contribuem para o aumento da prevalência dessa
patologia. Essa população é mais vulnerável a comorbidades,
que podem causar variabilidade no nível glicêmico sanguíneo,
esses sinais se apresentam de forma inespecífica na fase
inicial da doença, por isso os cuidados de saúde dos
diabéticos necessitam de atenção eficaz (FRANCISCO et al,
2010).
Para tratamento e controle do problema a terapia
nutricional mostra-se como essencial, pois atua na prevenção
e controle das complicações da doença. Sendo uma das
principais estratégias a ser adotada pelas equipes

274
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
multiprofissional, mas principalmente pelo nutricionista
(BRASIL, 2013).
Implementar ações educativas junto ao paciente, família
e comunidade sobre o cuidado essencial diário e o estilo de
vida saudável tem impacto no controle da doença. Realizar
essas medidas educativas e estimular os diabéticos a
modificar os hábitos de vida contribui para uma melhor
qualidade de vida. Tendo como ponto de partida o
acompanhamento da saúde e doença do paciente, é possível
identificar suas necessidades, contribuindo assim para um
cuidado pessoal e evitando uma possível complicação
associadas à essa patologia (SOUSA, 2013).
A necessidade do desenvolvimento desta pesquisa em
relação ao diabetes mellitus é que essa patologia exige
cuidados integrais no que diz respeito aos aspectos biológicos,
psicológicos, culturais e socioeconômicos, além de exigir o
acompanhamento multiprofissional frequente com os
diabéticos e sua saúde, uma vez que existem muitas
dificuldades nas modificações no estilo de vida e
consequentemente não adesão à terapia nutricional.
Nesse sentido, a relevância da pesquisa está em
proporcionar uma reflexão sobre o conhecimento e o
autocuidado frente ao diabetes tipo 2 tanto para os diabéticos
como para os profissionais da saúde visando o controle
glicêmico e uma diminuição das complicações crônicas
advindas desta doença. Essa reflexão poderá ajudar aos
nutricionistas na busca por estratégias para a promoção do
autocuidado, culminando em uma melhoria na qualidade de
vida.

275
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
O presente estudo objetivou analisar a percepção dos
pacientes diabéticos quanto a importância da adesão a terapia
nutricional, bem como, explorar estratégias que os
nutricionistas utilizam para que haja uma maior adoção do
diabéticos ao tratamento dietoterápico.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O estudo é caracterizado quanto à duração como


transversal, onde a pesquisa é realizada em um curto período
de tempo e em um determinado momento. De caráter
exploratório, no qual têm como objetivo proporcionar maior
familiaridade com o tema. Seu planejamento é bastante
flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais
variados aspectos relativos ao fato estudado. Conforme o
método a pesquisa é classificada como bibliográfica ou revisão
sistemática, na qual é desenvolvida com base em material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos. (GIL, 2008).
A busca dos artigos incluiu pesquisa em bases
eletrônicas: LILACS, SCIELO e PERIÓDICOS CAPES. Para
essa busca, foram utilizadas palavras-chaves em português:
Diabetes tipo 2, autocuidado e terapia nutricional. A partir da
combinação desses descritores foram localizadas 31
publicações. Incluíram-se artigos originais, publicados entre
2013 e 2017, em inglês e português, em periódicos nacionais
e internacionais e que apresentavam resultados referentes ao
diabetes tipo 2 associado à nutrição, bem como a percepção
dos diabéticos em relação a importância terapia nutricional,
fatores associados à não adesão ao aconselhamento

276
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
nutricional e estratégias dos nutricionistas para a que haja
maior adesão ao tratamento dietoterápico. Foram excluídas
publicações que não se enquadraram no recorte temporal, que
não tinham relação com o tema ou duplicatas, estabelecido
assim, a amostra final que foi constituída por 24 artigos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diabetes tipo 2

O diabetes é uma doença crônica que acomete parte


significativa da população mundial - cerca de 415 milhões de
pessoas - e estima-se que para o ano de 2040 ocorra um
aumento para 642 milhões de pessoas com a doença. No
Brasil, a prevalência de diabetes no ano de 2015 foi de 14,3
milhões de pessoas, correspondendo a 8,1% da população
nacional (INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION, 2015).
O diabetes constitui um importante problema de saúde pública
em razão da elevada prevalência e morbi mortalidade, além
dos custos envolvidos no seu tratamento (LIND et al, 2014;
TANCREDI et al, 2015).
É um problema de saúde pública, que afeta grande
parte da população, fatores ambientais e hereditários são
algumas das principais causas. Sem tratamento essa
patologia pode levar a complicações como, doença
cardiovascular, cegueira e insuficiência renal (BRASIL, 2015).
Guldbrand et al. (2012) atribuem que a prevalência do
diabetes tipo 2 está aumentando em todo o mundo, por
consequência do aumento da prevalência de obesidade, e

277
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
conclui que a perda de peso geralmente melhora os fatores de
risco cardiovascular e o controle glicêmico.
A patologia em questão é a forma mais comum da
doença e ocorre geralmente na vida adulta. A hiperglicemia
sustentada, resultado da resistência à ação da insulina e da
incapacidade pancreática em suplantar essa resistência,
associada a fatores genéticos e ambientais é uma das
principais responsáveis pelo desenvolvimento das
complicações crônicas microvasculares, neuropáticas e
macrovasculares (INTERNATIONAL DIABETES
FEDERATION, 2015).
A redução das complicações crônicas e o controle
glicêmico em diabéticos são usados como alvo terapêutico no
tratamento da doença e as incidências de retinopatia,
nefropatia e neuropatia que estão diretamente associadas com
o grau de hiperglicemia (AMERICAN DIABETES
ASSOCIATION, 2016).

Percepção dos diabéticos sobre a importância da terapia


nutricional

A falta de conhecimento acerca dessa patologia ainda é


predominante, pois muitos diabéticos não sabem,
corretamente, o que é o diabetes, como ele se desenvolve,
suas complicações e a importância do tratamento correto. Há
uma percepção restrita dos diabéticos que relacionam a
doença somente com o açúcar.
Segundo o estudo de Pontieri e Bachion (2010),
percebe-se que o entendimento dos participantes sobre a
terapia nutricional está atrelado a conceitos restritivos, pois
278
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
alguns dos diabéticos parecem vincular a dieta saudável a
uma ideia de restrição e, talvez, repassadas de forma
proibitiva, sem uma tomada de decisão conjunta, condições de
vida, crenças e preferências do cliente. Ressalta-se que tal
conduta pode causar baixa adesão ao tratamento dietético.
Nas pesquisas de Vieira, Cecílio e Torres (2017), os
diabéticos reconheceram a importância de adotar uma
alimentação equilibrada e afirmaram seguir alguns hábitos,
mas com o passar do tempo, a tendência foi deixar de realizar
as refeições de forma adequada por não ter um
acompanhamento com o profissional capacitado
(nutricionista).
Ao mesmo tempo, foi interessante notar que existe a
consciência por parte de alguns pacientes diabéticos da
necessidade da adoção de hábitos alimentares saudáveis. No
entanto, deve-se ressaltar que somente o conhecimento não é
suficiente para que as pessoas que têm diabetes se tornem
autônomas e ativas nas ações de autocuidado, mas um
acompanhamento com nutricionista é essencial, para que
juntos paciente e profissional possam traçar metas
condizentes com a realidade do paciente (LLANES, 2014).
Identificar as necessidades de aprendizagem dos
portadores de diabetes tipo 2 sobre os cuidados específicos
com sua saúde é o primeiro passo para que os nutricionistas
possam traçar estratégias mais eficazes para ações de
educação e promoção da saúde além da busca pelo controle
glicêmico e minimização das complicações por meio da
adesão à terapia nutricional. O nutricionista tem o desafio de
propor estratégias de tratamento que levem em consideração
o perfil social do paciente e, ao mesmo tempo de possibilitar o

279
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
alcance de melhores resultados, no que se refere ao aumento
do conhecimento e controle da doença, bem como de
provocar mudança na prática do autocuidado.

Fatores associados à não adesão ao aconselhamento


nutricional

É consenso que o controle adequado do diabetes não


pode ser atingido sem um planejamento alimentar. (PÉRES;
FRANCO; SANTOS, 2006). A dieta para o indivíduo com
diabetes mellitus objetiva contribuir para a normalização da
glicemia, atingir e manter o peso corpóreo adequado, diminuir
os fatores de risco cardiovasculares e prevenir as
complicações agudas e crônicas da doença (MOLENA-FERNADES
et al, 2005).
Atualmente, existem evidências de que a dieta do
individuo com diabetes não necessita estar pautada na
restrição dos alimentos, porém balanceada dentro de limites
preestabelecidos, e ajustada individualmente. Baseadas em
evidências científicas, as recomendações nutricionais devem
levar em conta as características culturais e econômicas,
respeitando as preferências individuais e envolvendo o
paciente nas decisões. É importante que o plano alimentar
considere que as alterações no estilo de vida possam ser
realizadas, e que permitam ao usuário manter vida ativa e
integrada em sociedade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
DIABETES, 2009).
Uma parte importante do tratamento básico do paciente
diabético é uma alimentação adequada. Apesar da percepção

280
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
de uma boa porcentagem dos diabéticos em relação ao plano
de alimentação saudável, podemos constatar na pesquisa de
Tavares et al (2016), onde a grande maioria dos participantes,
que estavam sendo acompanhados, relataram realizar uma
alimentação adequada durantes os sete dias da semana e na
coleta das glicemias de jejum e/ou capilar e hemoglobina
glicada houveram alterações pouco satisfatórias, podendo ser
explicado por uma suposta omissão, educação errônea acerca
do entendimento do que seria uma dieta saudável, além do
mais que as mudanças nos hábitos de vida do paciente
diabético é bastante lento e difícil.
Salienta-se que, muitas vezes, o indivíduo diabético tem
conhecimento da necessidade de uma alimentação saudável,
mas não a segue adequadamente, considerando a influência
de aspectos socioeconômicos, culturais, psicológicos,
econômicos e educacionais justificando, assim, à resistência
ou dificuldade por parte do diabético para adotar mudanças
nos seus hábitos dietéticos. Entretanto, no estudo de Santos e
Araújo (2011), apenas o fator econômico foi o mais relevante.
Observa-se que os participantes deste mesmo estudo sabem
que a adoção de uma dieta adequada é essencial para o
sucesso do tratamento do diabetes tipo 2. Entretanto, parece
faltar aos mesmos uma apropriação do conhecimento de como
esta dieta deve ser realizada.
Em uma pesquisa com base em entrevistas com
mulheres portadoras de diabetes realizada por Péres, Franco
e Santos (2006), demonstrou-se que grande parte das
entrevistadas relataram que o maior impasse para o
cumprimento de uma dieta regrada, está atrelada ao
inconformismo com o caráter restritivo que esta patologia

281
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
sugere, já outras relacionam a uma vida corrida e agitada,
sendo este atribuído a filhos ou a serviços.
Apesar do consumo de frutas, vegetais e carboidratos
ser realizado de maneira correta, na maioria da amostra da
pesquisa de Tavares et al (2016), Dall’Alba e Azevedo (2010)
relatam que a adesão às dietas ricas em fibras alimentares é
complexa, principalmente pelo fato dos indivíduos necessitar
cerca de 25 a 30g diária. Para minimizar a falta de adesão,
recomenda-se que esta quantidade seja dividida em várias
refeições a serem consumidos no decorrer do dia. Desta
maneira, é recomendado que os nutricionistas, profissionais
aptos a realizar tal função, encorajem principalmente os
pacientes com hiperglicemia, adicione na sua dieta alimentos
ricos em fibras, pois estas promovem uma melhora nos
parâmetros antropométricos, como medidas de peso e
circunferência abdominal (MACHADO et al, 2013).
A fibra alimentar inclui polissacarídeos vegetais, como
celulose, hemiceluloses, pectinas, gomas e mucilagens,
oligossacarídeos, lignina e são divididas em solúveis e
insolúveis, alimentos estes que tem grande relevância para a
dieta de um paciente portador de diabetes, por apresentarem
função de controlar o nível glicêmico e aumentar a
sensibilidade pela glicose através de um mecanismo que
diminui os picos glicêmicos alterando assim a glicemia pós-
pandrial (MOLZ et al, 2015).
Nota-se que a maioria dos diabéticos reconhecem a
necessidade de evitar o consumo de alguns tipos de alimentos
que elevam os níveis glicêmicos, porém apresentam algumas
ideias equivocadas demonstrando necessidade de melhor
orientação, como, por exemplo, quando se referem aos

282
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
alimentos com sabor adocicado (açúcar e doces) como sendo
os únicos responsáveis pelas alterações dos níveis glicêmicos.
Existem alimentos que contêm açúcar e não possuem alto
valor glicêmico quando comparados com outros que não
contêm, tornando-se importante saberem que todos os
carboidratos são convertidos em glicose pelo organismo e
que, por isso precisam, ser pouco consumidos (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE DIABETES, 2009) .
Para assegurar uma alimentação saudável ao indivíduo
com diabetes, é recomendável uma dieta equilibrada, que
considere as suas necessidades, estabelecendo uma
quantidade diária de ingestão de carboidratos, proteínas e
lipídios, dando preferência a alimentos saudáveis, de origem
natural e reduzindo o consumo dos industrializados e
processados, ácidos graxos saturados e na forma trans, como
também o sódio (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES,
2009).
A não adesão ao tratamento, pelo paciente diabético,
está associada com controle deficiente da glicemia e a
presença de complicações microvasculares ou
macrovasculares, ocasionando o agravo da doença. (TIV et
al., 2012).

Estratégias para adoção ao tratamento dietoterápico

O diabetes está entre as doenças com menores taxas


de adesão ao tratamento por exigir diversos cuidados
(NASCIMENTO et al, 2014). Ainda não estão bem
estabelecidos os motivos pelos quais alguns indivíduos
adotam e sustentam comportamentos que contribuem para a
283
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
perda de peso e sua manutenção e outros não. Estudos
sugerem como fatores preditores de boa adesão: ter elevado
grau de motivação intrínseca, ser mais ativo, ausência de
tratamentos anteriores e manter assiduidade nas consultas. A
ansiedade e os resultados lentos são apontados como os
maiores desmotivadores da reeducação alimentar e
comprometem a adesão do indivíduo ao tratamento
(KOEHNLEIN et al., 2008; GUIMARÃES et al, 2010).
Ainda é difícil traçar o perfil do paciente não aderente
ao tratamento nutricional (MANTOVANI et al, 2015).
Entretanto, fatores pessoais dos indivíduos também incidem
negativamente sobre a adesão, como falta de motivação para
modificação de estilo de vida, falta de conhecimento acerca da
doença, tanto dos cuidadores quanto dos próprios pacientes,
baixa autoestima ou depressão, ausência de apoio familiar,
problemas pessoais, elevado número de doenças associadas,
ausência de sintomas, estresse, representações negativas em
relação à doença e ao tratamento, bem como a passividade do
paciente em relação aos profissionais de saúde e à escolha do
regime terapêutico (CAMPUZANO; RODRÍGUEZ;
RODRÍGUEZ, 2013).
Programas educacionais para indivíduos com diabetes
tipo 2 têm sido promovidos visando à otimização do
tratamento, onde os participantes são instruídos sobre a
patologia a fim de obtenção de autonomia para o seu controle.
Porém, a literatura mostra que apenas a informação
transmitida no tratamento não assegura a adesão do paciente.
Assim, de acordo com Ferreira e Fernandes (2009), os
profissionais de saúde têm procurado aliar o conhecimento
das orientações ao seu seguimento.

284
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
De acordo com o Ministério da Saúde (2002), deve-se
auxiliar o indivíduo a fazer mudanças em seus hábitos
alimentares, favorecendo o melhor controle metabólico e do
peso corporal. Só se consegue atingir um bom controle do
diabetes com uma alimentação adequada através dos
seguintes pontos: Incentivar a adoção de hábitos alimentares
saudáveis para prevenção obesidade e diabetes; Aumentar o
nível de conhecimento da população sobre alimentação
equilibrada, manutenção do peso adequado e benefícios da
atividade física; Buscar adequar as orientações sobre hábitos
de alimentação saudáveis e prática da atividade física
compatíveis com a realidade local; Aplicar a terapia nutricional
para a prevenção ou correção do excesso de peso,
manutenção da glicemia.
Portanto, as ações educativas devem ser desenvolvidas
com o objetivo de estimular os pacientes diabéticos a aderirem
ao tratamento, com a utilização de uma dieta adequada,
práticas de exercício, tratamento medicamentoso, bem como a
importância do retorno às consultas para o controle dos níveis
glicêmicos (BARROS, 2014).
Segundo Budó et al (2009), o processo educativo deve
ser embasado na complexidade que envolve a compreensão
da saúde. Por esse motivo, a educação em saúde é
considerada capaz de desenvolver a autonomia e de tornar os
pacientes responsáveis por sua saúde. Sendo assim, é
possível construir o saber compartilhado sobre o processo da
doença e buscar alternativas para a elaboração do plano de
cuidados com a saúde em conjunto com os diabéticos,
permitindo que ele próprio decida sobre os seus cuidados.

285
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
Entretanto, pode ser encontrado no estudo de Schultz,
Wichmann e Couto (2014), que a intervenção educativa de
curto prazo, com atendimentos nutricionais individualizados e
oficinas educativas quinzenais, por quatro meses, foi eficaz
para estimular a mudança qualitativa da alimentação. Mesmo
assim, foi observada, em uma avaliação realizada após seis
meses, uma tendência de abandono dos hábitos alimentares
recomendados ao longo da intervenção, ressaltando a
necessidade de intervenções periódicas de manutenção.
Diversos fatores contribuem para que as pessoas
acreditem que a dieta seja a parte mais difícil do tratamento a
ser realizada, o que influência ainda mais a baixa adesão,
como planos dietéticos inflexíveis que não levam em
consideração aspectos pessoais dos pacientes e a visão
restritiva que os pacientes possuem dos planos alimentares
(PONTIERI; BACHION, 2010). Nada deve ser proibido, desde
que sejam respeitadas as quantidades preestabelecidas
(BUENO et al, 2011) Sobretudo, o padrão alimentar está
envolvido com questões emocionais e culturais, por isso
muitas vezes é difícil de modificar (NASCIMENTO et al, 2014).
Portanto, acredita-se que novas estratégias de
atendimento nutricional devam ser desenvolvidas para
promover uma motivação autônoma. Estratégias que se
baseiem no empoderamento do indivíduo para que este possa
fazer melhores escolhas diante dos desafios cotidianos e
adquira habilidades para superar os desafios, tornando-se
apto para zelar pelo seu bem-estar. O estabelecimento de
metas realistas, suporte social e familiar, bem como uma
aliança terapêutica que permita a participação do indivíduo na
solução de problemas relacionados à alimentação, são

286
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
estratégias que visam reduzir as desistências inerentes ao
tratamento convencional (GUIMARÃES et al, 2010). Assim,
serão observados resultados melhores e mais duradouros no
tratamento e controle do diabetes.
O aconselhamento nutricional tem como base a clínica
ampliada e compartilhada que procura promover autonomia e
protagonismo dos participantes, encoraja a escuta, encoraja o
estabelecimento de vínculo e o entendimento do contexto de
vida da pessoa além das queixas apresentadas por ela. Esse
modelo de atendimento propõe que a intervenção seja
construída “com a pessoa” e não “para a pessoa”, trata-se de
uma “construção” e não de uma “aplicação” de intervenção.
Sendo assim, o indivíduo deve se sentir parte do processo de
construção, onde juntos o paciente o profissional irão
estabelecer metas, dentro da realidade econômica, social e
emotiva do diabético para que possam ser cumpridas visando
uma redução de peso e controle glicêmico. (ALVARENGA et
al, 2015).
Como forma de melhorar a adesão terapêutica torna-se
imprescindível o estabelecimento de relações confiáveis entre
o paciente e o profissional de saúde. Uma comunicação
melhor e orientações mais fáceis de serem compreendidas,
tanto na consulta individualizada quanto na coletiva, é um
recurso terapêutico que favorece a adesão (FRANZONI et al,
2013). O profissional também deve estar atento ao grau de
compreensão que o paciente teve das orientações realizadas,
sendo capaz de identificar possíveis distorções do que foi
orientado.
Outra estratégia para melhorar a adesão é o trabalho
multiprofissional e interdisciplinar, com uma equipe de saúde

287
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
ampla, a fim de encontrar alternativas viáveis às dificuldades
relatadas pelos pacientes e seus familiares (RIBEIRO et al,
2012). Uma abordagem multiprofissional permite que os
pacientes tenham uma adequada compreensão de sua
condição, pois os profissionais não médicos fornecem, muitas
vezes, as mesmas informações de diferentes formas,
facilitando o entendimento do paciente sobre a importância do
tratamento da doença (ALVES et al, 2012).
Estratégias educacionais incluem atividades em grupos
operativos, oficinas e palestras. Os profissionais responsáveis
pela educação devem ser treinados não somente sobre o
diabetes, mas principalmente em educação em saúde e
nutrição. Técnicas educativas devem ser diferenciadas de
acordo com as características do individuo, como idade,
escolaridade e tempo de diagnóstico. É um processo continuo
e tem como objetivos: adesão ao plano alimentar prescrito;
independência quanto a trocas alimentares; atitudes e
decisões em situações não rotineiras e conscientização da
influencia das escolhas alimentares no controle glicêmico e na
prevenção de complicações agudas e crônicas. Educação
nutricional é estratégia que confere melhor qualidade de vida e
redução de custos institucionais (SBD, 2015).
Nessa perspectiva, compreende-se a importância do
nutricionista que atua nessa área e tem como objetivo, realizar
ações de promoção de saúde, além de estimular o
autocuidado, desenvolver habilidades frente às incapacidades
e limitações e motivar a adesão de um estilo de vida que tenha
como base uma alimentação equilibrada, na visão de
proporcionar melhoria da qualidade de vida dos pacientes,

288
DIABETES TIPO 2: POR QUE NÃO ADERIR AO TRATAMENTO
DIETOTERÁPICO E QUAIS ESTRATÉGIAS UTILIZADAS PELO NUTRICIONISTA
PARA MELHOR ADESÃO?
com o intuito de evitar complicações próprias do diabetes,
ensinando e motivando os mesmos para o controle da doença.

4 CONCLUSÕES

Diante dessas exposições, é possível afirmar que é


necessário reforçar aos pacientes com diabetes sobre a
importância de aderir ao tratamento dietoterápico, além de
incentivar a adoção de prática alimentares saudáveis, a fim de
promover qualidade de vida. Portanto, é essencial que o
nutricionista esteja sempre se atualizando e buscando
estratégias para que os diabéticos possam aderir mais
facilmente ao tratamento dietotrápico.
Lembrando que a adesão às mudanças de hábitos
alimentares é um processo dinâmico, onde o nutricionista
deve proporcionar tratamentos mais flexíveis, com objetivos
claros, com enfoque em mudanças graduais, com maior
acompanhamento, com trabalho multiprofissional e
interdisciplinar, podendo possibilitar maior adesão ao
tratamento. Principalmente respeitando a aceitação e a
adaptação da nova condição de saúde pelo indivíduo e
sempre motivando o paciente. Quanto menor a complexidade,
maior será a adesão terapêutica.

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293
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CAPÍTULO 14

EDULCORANTES PERMITIDOS NA
DIABETES MELLITUS GESTACIONAL: UMA
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Érika Santos Fragoso de ALBUQUERQUE1
Rebeka Correia de Souza CUNHA2
Dayanna Joyce Marques QUEIROZ3
Jessica Bezerra dos Santos RODRIGUES4
1
Pós-graduanda em Nutrição Clínica e Funcional, FIP; 2Graduanda do curso de Nutrição,
UNINASSAU;3 Professora Mestre do curso de Nutrição/UNINASSAU, 4Orientadora/Professora
doutora do curso de Nutrição/UNINASSAU
e-mail:erikalbuquerque1@hotmail.com

RESUMO: O Diabetes Mellitus Gestacional está associado ao


aumento do risco de complicações para a mãe e para o feto,
ocasinando a redução da tolerância a glicose, que começa na
gestação, podendo ou não prosseguir após o parto. Os
edulcorantes são utilizados para proporcionar o sabor
adocicado com baixo valor energético, e contribuir com o
controle do peso e qualidade de vida da gestante durante esse
período. Esse trabalho objetiva estudar essa classe de aditivo
durante o período gestacional, atribuindo fatores de risco,
consequências dessas alterações e prejuízos para a mãe e
feto. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliográfica em
bases de dados eletrônicas, tais como SCIELO, PubMED e
Google Acadêmico, pelas seguintes palavras-chave: Diabetes
Mellitus, Gestação e Edulcorantes. Seu uso nesse período
deve ser restrito a pacientes que realmente necessitam, dando
preferências ao aspartame, neotame, sucralose, acessulfame-
K e a estévia, desconhecendo-se na literatura dados
científicos comprovando possíveis alterações morfológicas.
Destaca-se ainda a falta de informação nas rotulagens dos

294
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
edulcorantes atualmente à disposição no mercado. Ao final
deste trabalho conclui-se que as recomendações para o uso
dos edulcorantes devem ser feitas com cautela, frisando a
importância da leitura do rótulo do produto. Além de salientar a
relevância de uma fiscalização mais rígida ao se tratar da
formulação de rotulagem objetiva, que conste a identificação
de substâncias proibidas para o período gestacional.
Palavras-chave:Diabetes Mellitus. Gestação. Edulcorantes.

1 INTRODUÇÃO

O estado nutricional durante o período gestacional é


de total importância para o desenvolvimento do feto.
Principalmente pela ingestão de nutrientes, que caso
inadequada poderá configurar uma competição entre a mãe e
o bebê, limitando a disponibilidade dos nutrientes necessários
para o crescimento fetal (CAMPOS; SILVA; MASTROENI,
2012; PADILHA et al., 2007).
O diabetes é um conjunto de doenças metabólicas
caracterizadas por hiperglicemia, ocasionada pela disfunção
ou insuficiência da secreção do hormônio insulínico (ALBA;
MORALES; CATAÑO, 2016; BOLOGNANI; SOUZA;
CALDERONI, 2011).
Defeitos na secreção ou ação da insulina acarretam
processos patológicos como resistência a insulina,
promovendo diversos problemas à gestante (QUEIRÓS;
MAGALHÃES; MEDINA, 2006.)
O aumento do número de diabéticos é um problema
comum, principalmente em países desenvolvidos. O consumo
exagerado de alimentos industrializados, juntamente com o
sedentarismo e estresse são alguns dos fatores de risco

295
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
determinantes para o desenvolvimento da diabetes (MUNHOZ
et al., 2014; REICHELT et al., 2017).
Durante o período gestacional ocorrem extensas
mudanças fisiológicas pela adaptação hormonal, e o controle
da glicemia materna se estabelece pelo equilíbrio da secreção,
depuração e ação da insulina nos tecidos. A sensibilidade
muda consideravelmente durante a gravidez e regride
progressivamente ao final (MENICATTI; FREGONESI, 2006).
Essas mudanças interferem no metabolismo dos carboidratos,
diminuindo a ação da insulina, podendo resultar em mulheres
susceptíveis ao desenvolvimento de diabetes gestacional
(CHORELL et al., 2017).
O Diabetes Mellitus Gestacional é definido pela
redução da tolerância à glicose, que começa ou é reconhecida
pela primeira vez na gestação, podendo ou não prosseguir
após o parto. Essa descrição pode englobar pacientes com
particularidades clínicas de Diabetes Mellitus tipo 1 ou tipo 2 e
casos de tolerância à glicose reduzida (REIS; SILVA;
CALDERON, 2011). O Diabetes Mellitus Gestacional ocorre
em 14% de todas as gestações (SBD, 2015).
O diagnóstico da Diabetes Mellitus (DM) gestacional
geralmente se dá no segundo ou terceiro trimestre da
gestação, época em que os hormônios antagônicos à insulina
estão em maior concentração. Os critérios laboratoriais
configuram-se pela glicemia de jejum acima de 126 mg/dL e
glicemia acima de 200 mg/dL, duas horas após a alimentação
no teste de tolerância a glicose (WEINERT et al., 2011).
É importante um diagnóstico rápido do DM
gestacional, pois continua, na atualidade, sendo uma causa de
mortalidade materna e perinatal a despeito da crescente
ocorrência nos últimos anos (REICHELT et al., 2017).

296
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Uma alternativa para controle da DM é o uso de
edulcorantes, aditivos alimentares, que são adicionados
intencionalmente com finalidade tecnológica ou organoléptica
(PADILHA et al., 2010; TEIXEIRA; GONÇALVES; VIEIRA,
2011). São considerados substâncias altamente eficazes,
devido à sua capacidade de adoçar muito em pequenas
concentrações, com a finalidade de atender às necessidades
de pessoas com restrição a carboidratos simples (TORLONI et
al., 2007).
A utilização dos edulcorantes no período gestacional
deve ser feito com segurança. O uso indiscriminado entre
gestantes deve ser analisado com cautela para que não venha
oferecer riscos para a vida do bebê nem complicações para
mãe (BRUGNERA et al., 2012).
Os edulcorantes foram inseridos na alimentação
cotidiana da população, seja na dieta para perda ou
manutenção da massa corporal ou em casos de DM para
controle glicêmico (REIS; SILVA; CALDERON, 2011;
SAUNDERS et al., 2010).
Diante dos fatores epidemiológicos associados ao
processo do desenvolvimento da DM Gestacional, com
impacto significativo na saúde pública, o presente trabalho
objetivou avaliar o conhecimento do uso dos edulcorantes por
mulheres portadoras de DM Gestacional, destacando quais
edulcorantes podem ser utilizados sem trazer riscos para
gestação, atribuindo os fatores de risco e consequências
dessas alterações.

297
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2 MATERIAIS E MÉTODO

A presente pesquisa foi realizada através de revisão


bibliográfica, documental para obter uma ideia precisa sobre o
estado atual do assunto abordado. Foi pesquisado temas
acerca do uso de edulcorantes na diabetes gestacional, nos
anos de 2002 a 2017 que foram encontrados nas bases
eletrônicas Google acadêmico, Scientific Eletronic Library
Online (Scielo), PubMED, Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), através das palavras chaves Nutrição;
Edulcorantes; Diabetes Mellitus Gestacional, onde foram
selecionados para realização deste trabalho artigos científicos
que correlacionavam com a problemática estudada, para a
construção das tabelas de resultados e discussão.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A necessidade da redução do consumo de açúcar em


gestantes portadoras de Diabetes Mellitus (DM) incentiva à
busca de edulcorantes como alternativa para adoçar alimentos
(SBD, 2015). No entanto, constata-se a falta de conhecimento
da população em geral, incluindo gestantes quanto ao uso
correto dessas substâncias.
Em estudo transversal realizado em um PSF –
Programa Saúde da Família de um bairro de classe baixa em
Minas Gerais, apurou-se que a maioria dos indivíduos não
liam os rótulos de educolrantes (83%), e os que liam não
compreendiam as informações, levando a uma ingestão
inadequada de educorantes (DUARTE; OLIVEIRA, 2008).
Em um outro estudo, verificou-se que o uso de
adoçantes é frequente em portadores de DM. Eles consomem

298
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
mais o edulcorante líquido e só passaram a utilizar adoçantes
somente após o diagnóstico da doença (91,2%). Contudo,
havia uma dificuldade no processo de educação nutricional,
em razão de que 66% dos entrevistados não apresentou
nenhum nível de escolaridade ou ensino fundamental
incompleto (SAITO; PEREIRA; PAIXÃO, 2013).
Além do pouco conhecimento dos consumidores a
respeito desses alimentos para fins especiais, o que ocasiona
sua utilização indiscriminada, os fabricantes de adoçantes, em
geral, não disponibilizam no rótulo a quantidade em
miligramas que os contém, não sendo possível calcular o
limite de gotas ou pó pela Ingestão Diária Aceitável - IDA de
cada edulcorante (ÁVILA, 2009).
Nos rótulos podem conter eventuais publicidades,
induzindo a má escolha do edulcorante e, consequentemente,
colocar a saúde do consumidor em risco (ÁVILA, 2009;
DUARTE; OLIVEIRA, 2008). Ao avaliar o conusmo de de
adoçantes e produtos dietéticos por indivíduos diabéticos,
verificou-se que 33,3% dos entrevistados tinham preferência
por produtos contemplados pela mídia. E apenas 7,2% por
orientação profissional (CASTRO; FRANCO, 2002).
Faz-se necessário inserir informações a respeito do uso
adequado dos edulcorantes e incentivar a leitura dos rótulos
para uma melhor compreensão do que realmente está sendo
consumido (DUARTE; OLIVEIRA, 2008)
O profissional de saúde, inlcuindo o nutricionista, tem
um papel fundamental na orientação adequada da ingestão de
edulcorantes (BRUGNERA et al., 2012; WEINERT et al.,
2011). Sousa (2006) relata que a grande maioria dos
entrevistados em seu estudo (92,3%) utilizavam adoçantes por
recomendação médica. Porém, ainda assim, 40% não

299
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
souberam informar a composição de seu adoçante. O que
demonstra a grande necessidade de informações mais claras
nas rotulagens, além do esclarecimento por parte dos
profissionais de saúde para melhor compreensão dos
pacientes sobre o que está sendo consumido e suas
vantagens e desvantagens.
A escolha do edulcorante a ser utilizado nem sempre se
dá pela sua composição, muitas vezes é escolhido por seu
sabor ou preço mais acessível. Algumas pessoas portadoras
de DM relatam não utilizar o edulcorante por não aceitarem o
sabor diferenciado (LEITE et al., 2016).
Vários edulcorantes comercializados utilizam dois ou
mais edulcorantes em sua composição, essa combinação
desenvolve vantagens e neutraliza as desvantagens, como por
exemplo o sabor residual (TEIXEIRA; GONÇALVES; VIEIRA,
2011).
Segundo Sousa (2006), o adoçante mais consumido é o
aspartame (38,3%), seguido por sacarina e ciclamato (28,3%),
esteviosídio (11,7%) e acessulfame – k (1,7%). Foi verificado
que 40% dos usuários não souberam informar a composição
de seu adoçante.
Os edulcorantes são classificados em não nutritivos e
nutritivos. Os edulcorantes não nutritivos fornecem somente
doçura acentuada, e não desempenham nenhuma outra
função tecnológica no produto final. São utilizados em
quantidades muito pequenas e são pouco calóricos ou
efetivamente não calóricos (VIGGIANO, 2003). São eles: a
sacarina, ciclamato, taumatina, acessulfame K, sucralose,
esteviosídeo, neotame e aspartame (ZAMPROGNO, 2012).
Na Tabela (1) estão as características dos principais
edulcorantes não nutritivos.

300
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Tabela 1. Características dos principais edulcorantes não
nutritivos.
Nome Caracteríticas, sabor, poder Calorias Ingestão
adoçante, origem e estabilidade (kcal/g) Máxima/dia
Acessulfame Sem sabor residual com doçura 0 9 a 15
K de fácil percepção, 200 vezes mg/kg
maior que a sacarose, artificial -
derivado de ácido acético e
estável em altas temperaturas.
Aspartame É o mais parecido com o açúcar, 4 40 mg/kg
200 vezes maior que a sacarose,
artificial - combina os
aminoácidos fenilalamina e ácido
aspático e pouco estável em
altas temperaturas.
Ciclamato Possui sabor residual acre-doce 0 11 mg/kg
ou doce azedo, 40 vezes maior
que o açúcar, artificial – derivado
do petróleo e estável em altas
temperaturas.
Neotame Sabor doce, sem gosto residual, 0 2 mg/kg
800 vezes maior que o açúcar,
artificial – derivado do arpartame,
com estabilidade térmica.
Sacarina Deixa gosto residual doce 0 5 mg/kg
metálico, 300 vezes maior que o
açúcar, artificial – derivado do
petróleo, com estabilidade
térmica.
Stévia Sabor residual semelhante ao 0 5,5 mg/kg
alcaçuz, 300 vezes maior que o
açúcar, natural – extraído de
planta, com estabilidade térmica.
Taumatina Sabor doce intenso, mascarando 4 Não
sabores residuais indesejáveis, estabelecido
3000 vezes maior que o açúcar,
natural – extraído da fruta
Katemfe típica do oeste africano,
com estabilidade térmica.
Sucralose Parecido com o açúcar, não 0 15 mg/kg
deixa sabor residual, 600 a 800

301
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
maior que o açúcar, artificial –
feito a partir da molécula de
açúcar de cana modificada em
laboratório, com estabilidade
térmica.
Fonte:Ávila, (2009); Brugnera et al. (2012); Saunders et al. (2010); Teixeira;
Gonçalves; Vieira, (2011); Viggiano, (2003); Zamprogno, (2012).

Os edulcorantes nutritivos são chamados de adoçante


de corpo por fornecer energia e textura aos alimentos.
Geralmente possuem o mesmo valor energético do açúcar e
são utilizados em grandes quantidades (LIMA et al., 2016). Na
Tabela (2) estão as características dos principais edulcorantes
nutritivos.

Tabela 2. Características dos principais edulcorantes


nutritivos.
Nome Caracteríticas, sabor, poder Calorias Ingestão
adoçante, origem e estabilidade (kcal/g) Máxima/dia
Eritritol Sabor doce e limpo sem gosto 0,24 Não
residual, 0,3 vezes menor que o estabelecido
açúcar, natural – encontrado em
frutas, algas, cogumelos e
alimentos fermentados, elevada
estabilidade térmica e química e
resiste a decomposição em meio
ácido e alcalino
Xilitol Sabor doce com efeito 2,4 Não
refrescante, mesmo poder do estabelecido
açúcar, natural – extraído de
madeiras, frutos, vegetais,
cogumelos e microoganismos.
Possui estabilidade química e
microbiológica.
Manitol Sabor levemente refrescante, 2,4 50 a 150
0,45 vezes menor que o açúcar, mg/kg
natural – encontrado em frutas e
algas marinhas, com estabilidade

302
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
térmica.
Sorbitol Levemente refrescante, parecido 4 Não
com o açúcar, mas um pouco estabelecido
mais doce. Poder adoçante 0,5
vezes menor que o açúcar,
natural – extraído das frutas, mas
não possui estabilidade térmica.
Isomaltitol Sabor doce sem efeito 2,4 Não
refrescante ou gosto residual, estabelecido
poder adoçante 0,5 vezes menor
que o açúcar, artificial – derivado
da sacarose, com alta
estabilidade química, térmica,
enzimática e microbiológica.
Pouco solúvel em água.
Lactitol Doce e suave, 0,6 vezes menor 2,4 Não
que o açúcar, artificial – derivado estabelecido
da lactose, solubididade
semelhante a sacarose, estável
em condições ácidas, alcalinas e
altas temperaturas de
processamento.
Maltitol Sabor doce sem efeito 2,4 Não
refrescante ou sabor residual, 0,1 estabelecido
vezes menor que o açúcar,
artificial – derivado da maltose,
estabilidade química, térmica e
enzimática.
Fonte: Ávila, (2009); Brugnera et al. (2012); Saunders et al. (2010);
Teixeira; Gonçalves; Vieira, (2011); Viggiano, (2003); Zamprogno, (2012).

O uso de edulcorantes no período gestacional deve ser


restrito a pacientes que realmente necessitam fazer o uso.
Dando preferência aos que possuem aspartame, neotame,
sucralose, acessulfame – K e a estévia, não se conhecendo
na literatura dados científicos comprovados sobre possíveis
alterações morfológicas (TEIXEIRA; GONÇALVES; VIEIRA,
2011; TORLONI et al., 2007; ZAMPROGNO. 2012).

303
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A sucralose é o único adoçante não calórico produzido
a partir do açúcar, não sendo percebido nenhum sabor
residual. Não prejudica o controle glicêmico de pacientes
diabéticos e nem apresenta riscos carcinogênicos,
neurológicos ou reprodutivos (TORLONI et al., 2007).
No entanto, ainda há a necessidade de identificar
possíveis malefícios para a mulher gestante diante do uso
frequente desses edulcorantes, principalmente quando
utilizados a longo prazo (SAUNDERS et al. 2010; TORLONI et
al., 2007).
Em trabalho realizado por Fausto (2013), não foram
apresentados efeitos nocivos nem para mãe, nem para feto,
durante o experimento feito com ratas no uso de edulcorante a
base de estévia. Quanto ao perfil lipídico, foi observado
redução significativa na concentração plasmática de HDL – c,
que pode levar ao aumento do risco de doenças
cardiovasculares. Com relação ao triglicerídeos, colesterol
total, LDL – c, VLDL – c e glicemia não houve diferenças
significativas. Portanto, estudos controlados são necessários
para determinar os efeitos do adoçante em grupo
populacionais específicos.
Contudo, já são conhecidos efeitos negativos de alguns
edulcorantes que alteram o estado fisiológico da gestante e
ocasionam alterações no feto. O sorbitol aumenta a excreção
de minerais essencias, entre eles o cálcio, importantíssimo
para a gestação. A sacarina atravessa a placenta e pode
afetar o desenvolvimento fetal e crescimento infantil, além de
seu potencial carcinogênico. O ciclamato cruza a placenta
causando efeitos citogenéticos nos linfócitos associado a
maior incidência de malformação e problemas

304
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
comportamentais do feto (BRUGNERA et al., 2012; TORLONI
et al., 2007).
De nada adiantará se a gestante adotar uma dieta
desequilibrada, pois o peso deve ser monitorado
cuidadosamente através de um estilo de vida saudável, com
dieta equilibrada associada à prática de exercícios físicos
regulares, para garantir o controle da glicemia e controle de
peso, evitando cetose (GIACOPINI; OLIVEIRA; ARAÚJO,
2016; ADA, 2015). Caso não exista o controle da glicemia e
do peso, com a orientação e supervisão de um profissional a
gestante poderá fazer o uso de adoçantes artificiais não
calóricos, que até certo limite, é considerado seguro (BRASIL,
2008)
Além disso, o mel, adoçante natural, que
tradicionalmente se atribui benefícios para a saúde,
possivelmente pelo conteúdo de fitoquímicos. É um alimento
com grandes concentrações de açúcares, sobretudo, glicose e
frutose, que também induzem alterações glicêmicas (GOMES
et al. 2017; RAATZ; JOHNSON; PICKLO, 2015).
A opção por alimentos sem açúcar mas com
edulcorantes, deve ser feita com cuidado e de forma
consciente. A utilização indiscriminada destes produtos pode
induzir ou agravar o excesso de peso já existente, o que
dificulta o controle metabólico adequado da diabetes. A
gestante deve assegurar um estado nutricional adequado e
alcançar o controle da doença, obtendo a glicemia próxima
dos valores normais (TEIXEIRA; GONÇALVES; VIEIRA,
2011).

305
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
4 CONCLUSÕES

O desconhecimento sobre edulcorantes leva ao uso


indiscriminado e inadequado. Uma Ingestão Diária Aceitável
(IDA) em mg por quilograma de peso corporal, e a estimativa
da quantidade máxima que uma substância pode ser ingerida,
deve ser orientada por médico ou nutricionista sem oferecer
riscos à saúde.
A escolha do adoçante a ser utilizado pela gestante
deve ser feita cuidadosamente com orientações precisas
sobre os edulcorantes permitidos no período gestacional. Além
das recomendações dentro da quantidade máxima permitida
por dia, a gestante deve ser orientada sobre a importância da
leitura do rótulo nutricional dos edulcorantes disponíveis no
mercado, para que sejam identificadas as substâncias nele
presentes.
Sugere-se a regulamentação da rotulagem de
edulcorantes pelo fabricantes, de modo a oferecer
informações mais claras e direcionadas ao público gestante,
com as indicações e a forma de utilizá-los, com o escopo de
identificar aquelas que são consideradas proibidas ou
permitidos para o período gestacional.
Diante de tais considerações é de suma importância o
acompanhamento nutricional da mulher gestante, com uma
dieta equilibrada e o controle glicêmico, para uma melhoria do
estado metabólico com impacto positivo na saúde materna e
fetal. Além disso, ressalta-se a verificação da real necessidade
do consumo de edulcorantes pela gestante, reservando a
ingestão para gestantes diabéticas.

306
EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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EDULCORANTES PERMITIDOS NA DIABETES MELLITUS GESTACIONAL:
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310
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
CAPÍTULO 15

ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA


AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA
CRÔNICA

Suellen Maiara Emerencio da SILVA¹


Lídia Laís Gomes SILVA¹
Mikaella Carla de França CAVALCANTI¹
Thalita Christina da Costa LIMA²
Claudia Campello LEAL³
1
Pós- Graduanda do programa de Residência Uniprofissional Hospital das Clínicas de
Pernambuco- UFPE; 2 Pós-Graduanda do Programa de Residência Multiprofissional em
Nefrologia- UFPE; ³ Nutricionista do Hospital das Clínicas de Pernambuco- UFPE
suellenmaiara@hotmail.com

RESUMO: A incidência de doença hepática ocasionada pelo


consumo excessivo de álcool é alta, variando entre 8% e 63%.
Essa condição abrange um amplo quadro clínico evoluindo
com esteatose hepática, hepatite, cirrose hepática e outras
complicações como encefalopatia, ascite e hemorragias
digestivas. Esse trabalho tem como objetivo descrever a
assistência nutricional ao paciente com diagnóstico de doença
hepática alcoólica com HDA em tratamento na Unidade de
Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas de Pernambuco. O
mesmo apresenta caráter descritivo, adotando como
estratégia de investigação e estudo de caso, durante os
meses de maio a junho de 2017. Na triagem nutricional
usamos a NRS-2002, para parâmetros antropométricos
avaliamos peso, altura, IMC, circunferência do braço e
panturrilha. Como diagnóstico clínico o paciente apresentava
doença hepática crônica (DHC) secundária ao álcool,
necessitando de cuidados intensivos ao apresentar episódio

311
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
de hemorragia digestiva alta (HDA). Diagnosticado
nutricionalmente como desnutrido conforme o exame físico e
avaliação antropométrica. O paciente durante o internamento
foi submetido inicialmente a terapia nutricional parenteral,em
seguida terapia de nutrição enteral evoluindo para dieta via
oral, perfazendo 1626 calorias/dia (30,6 kcal/kg/dia) e 85,6g de
proteínas/dia (1,5g/ kg/dia), atingindo, dessa forma, suas
necessidades nutricionais estimadas. O paciente evoluiu com
melhora do quadro clinico, apresentando sucesso nas três
terapias nutricionais implementadas, minimizando, assim, os
danos causados pelo estresse metabólico.
Palavras-chave: Doença hepática Crônica. Hemorragia
Digestiva Alta. Terapia Nutricional.

1 INTRODUÇÃO

As doenças hepáticas são ocasionadas por lesões ou


inflamação no órgão levando a perda de sua função. Os
sinais e sintomas mais comuns são: icterícia, náuseas,
vômitos, anorexia, prurido, dor no hipocôndrio direito,
hepatomegalia, distensão abdominal e hemorragia intestinal
(BATALLER, 2012; CHICK, 2011).
Pode ser classificadas em hepatocelular como por
exemplo: hepatite viral, doença hepática causada pelo
alcoolismo, inflamação e necrose hepática, entre as
disfunções colestática estão a colelitíase, obstrução maligna,
cirrose biliar primária. Dentre estas, as doenças hepáticas
secundárias ao álcool tem alta prevalência, variando ente 8%
e 63%, desencadeado pelo uso abusivo e prolongado de
etanol associado a fatores genéticos e ambientais (HERNAEZ
et al., 2017; SARIN et al., 2014). Essa condição abrange um
amplo quadro clínico evoluindo com esteatose hepática,

312
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
hepatite, cirrose hepática e outras complicações como
encefalopatia hepática, ascite e hemorragias digestivas
(ARROYO et al., 2016; ASKGAARD et al., 2015; KASL, 2013;
LLERENA et al., 2015).
A hemorragia digestiva alta (HDA) caracteriza-se pelo
sangramento de lesões no sistema digestório proximal,
ocasionados tanto por úlceras pépticas quanto pelo
rompimento das varizes esôfago-gástricas. Essa complicação
é uma das mais recorrentes em emergências médicas,
fazendo com que os pacientes necessitem de cuidados em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) (MCCLAIN; BARVE, 2011;
ROSSI; CONTE; MASSIRONI, 2015).
Em pacientes com o diagnóstico de doença hepática
por etiologia alcoólica podem ter-se o estado nutricional
acometido por múltiplos fatores causais. Dentre esses,
destacam-se a baixa ingestão calórico-proteica, a má digestão
e absorção, os distúrbios gastrointestinais, o retardo do
esvaziamento gástrico e a proliferação bacteriana. Outras
causas recorrentes são o tempo de internamento, as
restrições alimentares, as hemorragias digestivas, as
encefalopatias e a síndrome hepatorrenal (MCCLAIN; BARVE,
2011; NUNES et al., 2017; ROSSI; CONTE; MASSIRONI,
2015).
Até o momento não há consenso na literatura quanto ao
melhor método antropométrico para avaliar desnutrição
nesses pacientes, uma vez que, a doença hepática e os
fatores subjacentes podem influenciar nos resultados.
Todavia, a Sociedade Européia de Nutrição Clínica e
Metabolismo (ESPEN-2015), recomenda que para a avaliação
do estado nutricional através da Avaliação Subjetiva Global
(ASG) ou de métodos antropométricos, como também, de

313
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
métodos quantitativos, como a bioimpedância (PURNAK;
YILMAZ, 2013; SILVA et al., 2015).
Em casos de HDA, a abordagem nutricional deve
considerar inicialmente a localização do sangramento. Após a
homeostase do quadro, é esperado um intervalo de 48 horas
após o evento para que seja traçado um plano terapêutico
nutricional com o objetivo de contribuir para a redução do
catabolismo proteico, evitar a translocação bacteriana e
manter ou recuperar o estado nutricional do paciente
(HÉBUTERNE; VANBIERVLIET, 2011; MCCLAVE; CHANG,
2005; REINTAM BLASER et al., 2017).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho é descrever a
atuação nutricional na assistência ao paciente com diagnóstico
de doença hepática alcoólica com HDA em tratamento na
unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo tem caráter descritivo com


abordagem qualitativa, o qual adotou-se como estratégia de
investigação, o estudo de caso.
O estudo foi desenvolvido na UTI do Hospital das
Clínicas da UFPE, durante os meses de maio a junho de 2017.
Os dados antropométricos, clínicos e bioquímicos, foram
coletados a partir da ficha de acompanhamento nutricional do
paciente durante seu internamento na enfermaria, a partir de
registros de evoluções e exames anexados ao prontuário,
observações da equipe ao longo do período de hospitalização
e em discussões durante a visita multiprofissional, bem como
dos acompanhamentos realizados pela equipe de nutrição e

314
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
anotações diárias da equipe de enfermagem. Utilizou-se ainda
de levantamentos de dados através de revisão da literatura em
livros e artigos impressos e em versão online referentes à
temática em discussão.
A triagem nutricional foi realizada pelo Nutritional Risk
Screening (NRS-2002), e foi aplicada no momento da
admissão do paciente.
Para avaliações antropométricas foram utilizados o
último peso registrado, altura, índice de massa corporal (IMC),
circunferência do braço (CB) e da panturrilha (CP).
As medidas de peso e altura foram realizadas na
enfermaria, segundo técnica recomendada por Lohman et al
(1988). Para a estimativa da altura, foi utilizada a técnica
proposta por estes mesmos autores, a qual utiliza a altura do
joelho, sendo aferida com auxílio de uma fita métrica Stanley®
inextensível com precisão em milímetros. O peso foi aferido
em uma balança eletrônica digital, com capacidade máxima de
200Kg e divisão de 100g da marca Líder-LD1050®. Para
estimativa do peso seco foi utilizada a proposta por James
(1989) (Quadro 1), e para o cálculo do IMC, utilizou-se a
classificação proposta por Lipschitz (1994) (Quadro 2).

Quadro 1. Estimativa de peso relativo à ascite


Edema Peso retirado (kg)
Leve 4-6
Moderado 8-10
Grave 12-14
Fonte: James (1989)

315
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
Quadro 2. Classificação do estado nutricional de idosos,
quanto ao Índice de Massa Corporal
IMC (Kg/m2) Classificação
< 16,0 Baixo peso
22,0 – 27,0 Eutrofia
>27 Sobrepeso
Fonte: Lipschitz, 1994

O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi


calculado pela fórmula: Perda de peso (%) = (peso usual –
peso atual) x 100 ÷ peso usual, classificado conforme a
ASPEN (1993) (Quadro 3).

Quadro 3. Classificação do grau de perda de peso segundo


tempo de perda
Tempo Perda de peso Perda de peso
significativa (%) grave
(%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
Fonte: ASPEN, 1993

A aferição da CB foi obtida a partir do ponto médio entre


o acrômio e o olécrano no braço não dominante, com o auxílio
de uma fita métrica inelástica com divisão em milímetros. Na
adequação desse valor, aplicou-se a seguinte fórmula: %CB =
CB atual ÷ CB P50. O resultado da adequação foi classificado
de acordo com o recomendado por Blackburn (1979) (Quadro
4), como mostra a tabela a seguir.

316
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA

Quadro 4. Classificação de Circunferência do Braço.


Desnutrição Desnutrição Desnutrição Eutro Sobrepe Obesida
grave moderada leve fia so de

90 a 110 a
<70% 70 a 80% 80 a 90% >120%
110% 120%
Fonte: Blackburn; Thornton (1979)

A CP foi aferida com fita métrica inelástica, com divisão


em milímetros, no membro inferior esquerdo. Para essa
aferição, o paciente estava em decúbito dorsal ou sentado,
com o joelho esquerdo flexionado em um ângulo de 90º,
obtendo a medida na parte mais proeminente da panturrilha. A
classificação deste parâmetro como marcador de desnutrição
utilizou o ponto de corte valores ≤ 31cm (GIANNINI; TESTA;
SAVARINO, 2005).
Os resultados de exames bioquímicos foram coletados
no prontuário do paciente e interpretados conforme os valores
de referência propostos por Calixto Lima et al. (2012). Os
medicamentos usados pelo paciente durante o internamento
foram vistos em prescrição médica. Os efeitos colaterais e
prováveis interações medicamentosas foram baseados em
Martins et al. (2013).

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diagnóstico principal: Doença Hepática Crônica


(DHC) secundaria ao álcool; Hemorragia Digestiva Alta (HDA).

317
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
Histórico do paciente
Paciente J.F.N., 79 anos de idade, sexo masculino,
aposentado, natural de Moreno – Pernambuco, Brasil.

História da doença atual

Paciente admitido na enfermaria de Gastroenterologia,


no dia 11/04/2017. Com relato de aumento do volume
abdominal há cerca de um ano, portador de DHC de etiologia
em investigação associada à trombose parcial de veia porta e
varizes esofágicas, sendo submetido em 26/04/2017 à
ligadura elástica sem intercorrências.
No dia 29/04/2017, apresentou novo episódio de
sangramento digestivo alto associado a hipotensão, mantendo
pressão arterial limítrofe, mesmo após perda de 2500 ml
sanguíneo . No dia 30/04/2017 foi encaminhado para realizar
endoscopia digestiva alta (EDA) que evidenciou fundo gástrico
com coágulos, o que dificultou a avaliação da grande
curvatura e sem sangramentos ativos.
Após exame foi admitido na unidade de recuperação
cirúrgica cardíaca (URCC). Durante o internamento na URCC
realizou nova EDA, que evidenciou presença de múltiplas
úlceras secundárias a ligadura elástica prévia no esôfago, sem
sinais de sangramentos ativos, evoluindo estável, consciente e
orientado, sem novos episódios de hematêmese ou melena
recebendo alta no dia seguinte.
O paciente é admitido na UTI no dia 20/05/2017,
procedente da enfermaria de gastroenterologia apresentando
queda de saturação com pressão arterial inaudível, sendo
submetido à intubação orotraqueal (IOT) seguida de parada
cardiorrespiratória (PCR) por cerca de 15 minutos, sem

318
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
sangramentos nessa ocasião. Após recuperação do quadro,
evoluiu na UTI com ascite volumosa, hidrotórax e alguns
episódios de sangramento digestivos, sem indicação de nova
EDA. Durante o internamento na UTI, foram realizadas
algumas toracocenteses e paracenteses de alivio.
No dia 12/06/2017, realizou um implante de derivação
intra-hepática portossistêmica transjugular (TIPS),
procedimento sem intercorrências, evoluindo com melhora
clínica, diminuição do sangramento, sem drogas vasoativas,
em respiração espontânea, tendo alta para enfermaria no dia
19/06/2017.

Exame físico

Durante a admissão na URCC o Paciente encontrava-


se com estado geral regular, consciente, orientado,
hipocorado, com bom humor, eupnéico, acianótico, sem
edemas em membros superiores e inferior, afebril,
deambulando com auxílio da equipe de fisioterapia
Apresentava abdome semi-globoso, ascítico, flácido,
depressível e indolor à palpação, com presença de ruídos
hidroaéreos, além de depleção da musculatura temporal, da
bola gordurosa de Bichat, região supra e infraclaviculares e de
musculaturas intercostais e paravertebrais.

Anamnese e evolução dietética

Paciente readmitido na URCC no dia 30/04/2017 em


dieta zero durante seu primeiro internamento, devido aos
episódios de HDA.

319
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
Em sua admissão na UTI, no dia 20/05/2017 também
encontrava-se em dieta zero, em ventilação mecânica e em
uso de droga vasoativa (noradrenalina- 0,1 mcg/kg/min), ou
seja, apresentava-se com quadro de instabilidade
hemodinâmica. Além disso, o paciente cursava com
evacuações em consistência pastosa com aspecto de melena.
Encontrava-se com sonda nasogástrica (SNG) aberta com
drenagem de 50 ml nas 24horas, bom controle glicêmico
(máxima de 134 mg/dl), bom controle pressórico e afebril.
Após dois dias, o paciente apresentou HDA,
impossibilitando a passagem de sonda nasoenteral (SNE) e
consequente início de terapia nutricional enteral; também
seguia com quadro de melena em moderada quantidade.
Aguardava implante de TIPS, sendo neste momento, indicado
o uso da terapia nutricional parenteral total (NPT).
Após estabilização hemodinâmica, no primeiro dia após
implante de TIPS (12/06/17), sem droga vasoativa e ainda em
ventilação mecânica, o paciente iniciou suporte nutricional
enteral, em posição gástrica, com fórmula polimérica,
hipercalórica, hiperproteica, sem fibra, isenta de lactose e
sacarose. O paciente evoluiu com fezes de consistência
pastosa, ainda apresentando melena, diurese de 1010 ml nas
24 horas, normotenso, com controle glicêmico adequado e
afebril.
Após 24 horas, quando paciente apresentou condições
de sair da ventilação mecânica, a equipe multiprofissional
chegou ao consenso de liberar dieta por via oral em
consistência pastosa homogênea, hipossódica, fracionada em
6 refeições diárias.
O paciente apresentou boa aceitação da dieta via oral
ofertada, evoluindo com evacuações pastosas de coloração

320
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
normal, boa diurese, glicemia normal, valores entre 140 a 180
mg/dl (MOGHISSI et al., 2009), normotenso e afebril, em
respiração espontânea e sem droga vasoativa.

Avaliação nutricional

Na admissão hospitalar realizou-se a triagem


nutricional através do Nutritional Risk Screening (NRS-2002)
(KONDRUP et al., 2003) , um instrumento recomendado pela
ASPEN (2016). O escore obtido foi de 5 pontos, com
classificação de risco nutricional, o qual estaria relacionado ao
maior risco de morbimortalidade.
O último peso aferido do paciente na enfermaria foi de
58,9 kg no dia 15/05/2017. A altura estimada através da altura
do joelho (AJ=54,4cm) foi 1,70 m. Ao exame físico foi
observada ascite leve, sendo portanto, calculado o peso seco
de 52,9 kg. O IMC classificado em magreza grau I,
categorizado segundo os critérios de Lipschitz (1994).
De acordo com a adequação da CB (Tabela 1), o
paciente foi classificado como desnutrido.
Tabela 1. Classificação da adequação da circunferência do
braço (CB)
15/05/2017 04/06/2017
CB(% adequação)
20 cm (63,8%) 19 cm (61%)

Fonte: Blackburn et al (1979)


O valor da CP, 26 cm, também corresponde ao
diagnóstico de desnutrição, e acordo com a OMS (1995).

Avaliação bioquímica

321
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
Tabela 2. Parâmetros bioquímicos
*VR 10/06/17 13/06/17 16/06/17 19/06/17
Hemoglobina 12-16 8,79 9,95 9,59 10,5
Hematócrito 36-47 27,4 27,9 27,6 30,7
VCM/HCM 80- 87,8 / 28 83,3/29 88/30,6 87,3/29,7
98/27-
37
Leucócitos 4.000- 7.960 14.100 2.770 3.660
11.000
Uréia 15-53 61,4 75,4 65,8 45,3
Creatinina 0,6-1,3 0,6 0,4 0,5 0,5
Sódio 136- 127,5 136 140,4 129,3
145
Potássio 3,6- 5,2 4.3 3,4 3,8 4,2
Cloreto 98 – 98,9 104,3 106,9 84
107
TGO/TGP 40/30 206/186
* VR- Valores de Referência *VCM- volume corpuscular média;
HCM- hemoglobina corpuscular média; TGO- transaminase glutâmico
oxalacética; TGP- transaminase glutâmico pirúvica.

Alguns fatores causais podem estar relacionados com o


desenvolvimento da anemia em pacientes com disfunção
hepática, dentre eles os episódios de sangramento
gastrintestinais, alterações na homeostase do ferro, hemólise
principalmente em pacientes etilistas, entre outras causas
(GKAMPRELA; DEUTSCH; PECTASIDES, 2017; GONZALEZ-
CASAS; JONES; MORENO-OTERO, 2009).
A uréia é uma das principais substâncias formada pelo
fígado através do catabolismo protéico. Seus níveis séricos
em pacientes com DHC podem sugerir condições catabólicas,
hemorragia, trauma e uso de alguns medicamentos como
antibióticos (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012). Alguns fatores

322
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
podem ser responsáveis por alterar os níveis séricos de
creatinina, entre eles a redução da massa muscular magra,
diminuição da síntese hepática, bem como elevação da
secreção tubular renal (SHERMAN; FISH; TEITELBAUM,
2003).
Recomenda-se na DHC avaliar as transaminases ou
aminotransferases, expressada pela alanina aminotransferase
(ALT ou TGP) e aspartato aminotransferase (AST ou TGO),
levando em consideração o contexto clínico do pacientes, uma
vez que, esses valores podem sofrer influência do perfil da
doença hepática, da idade e da pratica de atividade física.
Entre as duas enzimas transaminases, a TGP possui baixa
concentração nos rins e músculo esquelético e maior
concentração no fígado, deste modo, maior sensibilidade nos
danos hepáticos (GIANNINI; TESTA; SAVARINO, 2005).

Medicamentos utilizados

Quadro 5. Indicação e interações das medicações utilizadas


pelo paciente.
Droga Indicação/ Interações medicamentosas e
possíveis intercorrência

Teicoplamina Antibiótico. Náusea, vômitos, diarreia.


Omeprazol Antisecretório. Dor abdominal, diminuição da
secreção ácida. ↓ Abs. Fe e B12.b
Meropenem Antibiótico. Náusea, vômitos, diarreia.
Haldol Antipsicótico (utilizado na paciente como
antiemético). Diminuição ou aumento na produção
de saliva, constipação.
Lactulona Laxante. Náusea, dispepsia, cólicas, flatulência e
diarréia.

323
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
Cerne 12 Vitaminas Indicado na prevenção dos estados
carênciais durante a Nutrição Parenteral Total.
Interação com alimentos não são conhecidas até o
momento.
Oligtrat Indicado na prevenção dos estados carenciais de
zinco, cobre, manganês e cromo, durante a
Nutrição Parenteral Total
Fonte: Martins et al, 2013

Necessidades nutricionais

Os pacientes críticos fazem parte das populações


heterogêneas, apresentam elevado gasto energético basal e
mobilização de mediadores inflamatórios, cujas manifestações
repercutem em uma exacerbação do catabolismo da massa
muscular esquelética, desnutrição e deficiências nutricionais.
Em consequência disso, aumenta a probabilidade de desfecho
clínico desfavoráveis, retardo na cicatrização de úlceras,
edemas, predisposição a infecções e maior tempo de
permanência hospitalar (KREYMANN et al., 2006; MCCLAVE
et al., 2016; RIDLEY; GANTNER; PELLEGRINO, 2015).
Esses desfechos clínicos podem ser minimizados a
partir de terapia nutricional precoce, no contexto de
estabilidade hemodinâmica, com objetivo de minimizar
depleção de massa muscular, manter o equilíbrio da barreira
imunológica e reduzir o número de possíveis complicações
(MCCLAVE et al., 2016).
Na ausência de calorimetria indireta, a ASPEN (2016)
sugere o uso de fórmulas de bolso para determinar as
necessidades nutricionais energéticas e protéicas. A
recomendação indicada nesta condição para o paciente foi de

324
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
25 - 30 Kcal/Kg/dia e 1,2 – 2,0 g de proteína/Kg/dia para peso
atual (ASPEN, 2016).
Baseado nas recomendações de Guidelines
americanos, a meta inicial para o paciente foi de 1587
calorias/dia (30 kcal/kg/dia) e 105,8 g de proteína (2,0g/
kg/dia). A oferta hídrica foi de 1ml/kcal, totalizando 1587 ml de
água/dia.
Durante o internamento foi ofertado ao paciente 1600
calorias/dia (30,2 kcal/kg/dia) e 98,1 g de proteína (1,8 g/
kg/dia) através da via parenteral (22/05 até 13/06), com
velocidade de infusão de glicose (VIG) de 2,49 mg/kg/min.
Quando submetido à dieta enteral (13/06) atingimos um aporte
calórico de 1605,2 calorias (30,3 kcal/kg/dia) e 104,8 g de
proteína (1,97 g/ kg/dia).
No dia 17/06/2017, o paciente iniciou a dieta via oral
exclusiva em consistência pastosa. Foram ofertados por essa
via 1626 calorias/dia (30,6 kcal/kg/dia) e 85,6g de proteínas
(1,5 g/ kg/dia), evoluindo com boa aceitação atingindo assim
suas necessidades nutricionais estimadas.

3 CONCLUSÕES

A DHC é uma doença com alta incidência de


comprometimento do estado nutricional, devido sua
característica catabólicas e a sua sintomatologia. Uma vez que
esses pacientes necessitam de cuidados intensivos, a atenção
multiprofissional é de extrema importância no desfecho clinico.
No que diz respeito aos cuidados nutricionais a terapia
proposta contribui com a melhora do estado geral dos
pacientes e assim alcançando um desfecho clinico favorável.

325
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CRÍTICO COM
DIAGNÓSTICO DE DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA
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327
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
CAPÍTULO 16

ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE


ULCERATIVA ASSOCIADA A COLANGITE
ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
Mikaella Carla de França CAVALCANTI 1
Lídia Laís Gomes SILVA 1
Eryka Maria dos SANTOS 1
Suellen Maiara Emerencio da SILVA 1
Cláudia Porto Sabino PINHO 2
1
Pós-Graduanda do Programa de Residência Uniprofissional em Nutrição Clínica, UFPE
2
Coordenadora do Programa de Residência Uniprofissional em Nutrição Clínica do Hospital
das Clínicas de Pernambuco, UFPE
cfcmikaella@gmail.com

RESUMO: A doença de Crohn e a retocolite ulcerativa são as


duas principais doenças inflamatórias intestinais que afetam 1
a cada 200 pessoas em países desenvolvidos. O objetivo do
relato foi descrever a atuação nutricional ao paciente com
diagnóstico de retocolite ulcerativa e colangite esclerosante
primária em tratamento clínico. Tratou-se de um estudo de
caso, de caráter descritivo, desenvolvido na enfermaria de
Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Universidade
Federal de Pernambuco, durante o mês de julho de 2016. A
triagem nutricional foi realizada pela Nutritional Risk Score-
2002, e a avaliação antropométrica foi feita através da aferição
do peso, altura, índice de massa corporal e circunferência do
braço. Paciente apresentava diagnóstico prévio de retocolite,
negando co-morbidades associadas. Durante
acompanhamento ambulatorial, evoluiu com aumento das
enzimas hepáticas e alterações em colangiorresonância,
sendo diagnosticado com colangite esclerosante primária. De
acordo com exame físico e avaliação antropométrica, o
paciente foi diagnosticado nutricionalmente como desnutrido.

328
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
A prescrição dietética, ofertou dieta via oral, hipercalórica,
hiperproteica, normolipídica, constipante e normossódica,
ofertando 2158kcal (37,2kcal/kg de peso ideal) e 80,3g de
proteínas (1,3g/kg de peso ideal), perfazendo 93% e 92% de
adequação, respectivamente. O paciente evoluiu com melhora
do quadro de diarreia, boa ingestão dietética e ganho de peso,
sendo aplicada uma terapia nutricional que respeitou a
aceitação alimentar, ao mesmo passo que priorizou uma
nutrição equilibrada.
Palavras-chave: Doença Inflamatória Intestinal; Retocolite
Ulcerativa; Colangite Esclerosante Primária

1 INTRODUÇÃO

A doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RU)


são as duas principais doenças inflamatórias intestinais (DIIs)
que afetam 1 a cada 200 pessoas em países desenvolvidos,
onde apresentam uma incidência e prevalência cada vez
maiores. Nos países europeus, pelo menos um aumento de
cinco vezes na incidência de DIIs foi estimado nos últimos 30
anos (CLEYNEN et al, 2016; SQUIRES; BOAL; NAISMITH,
2016).
As DIIs geralmente causam sintomas debilitantes, como
diarreia urgente, sangramento retal, vômitos e anorexia, que
muitas vezes têm um efeito adverso nas relações sociais,
profissionais, acadêmicas, familiares e na atividade sexual dos
pacientes (SOUZA;BELASCO;AGUILAR-NASCIMENTO,
2008; BARROS;SILVA;NETO,2014).
A RU é uma doença inflamatória do intestino grosso
com grau variável de atividade, extensão e curso de doença
(BÁLINT et al, 2016). Geralmente se desenvolve no reto
(proctite) e pode se prolongar proximalmente ao cólon

329
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
sigmóide e descendente (colite do lado esquerdo) ou ao cólon
inteiro (pancolite) (BARDHAN et al, 2010).
Sepúlveda et al (2008) demonstraram que, de um total
de 258 pacientes atendidos no serviço de Coloproctologia do
Hospital Clínico da Universidade do Chile, 59% foram
diagnosticados com RU. No Brasil, estudos epidemiológicos
sugerem que sua incidência está aumentando, apesar de
desconhecermos sua taxa real. Souza et al (2008) avaliaram o
perfil epidemiológico dos pacientes com DII que residiam no
estado de Mato Grosso, encontrando um total de 220
pacientes, e desses, 117 (53%) eram portadores de RU
(LOFTUS-JR, 2004; SEPÚLVEDA et al, 2008; SOUZA et al,
2008).
A localização e o índice de atividade da doença
determinam a abordagem terapêutica (SANTOS et al, 2017). A
maioria dos pacientes tem um curso de doença recorrente e
com alargamentos periódicos, nos quais os corticosteróides
intravenosos e, eventualmente, a colectomia podem ser
necessários (COSNES et al, 2011). O tratamento com agentes
inibidores do fator de necrose tumoral (TNF) pode ser usado
em RU moderada a grave, refratária ao tratamento
convencional com aminosalicilatos e imunomoduladores e/ou
em pacientes dependentes de esteróides (CHRISTENSEN;
STEENHOLDT; BRYNSKOV, 2015; NIELSEN; AINSWORTH,
2013).
A redução da ingestão dietética é a principal causa de
desnutrição em pacientes com DII. Isso pode ser resultado do
medo do paciente em provocar dor abdominal ou diarreia,
assim como, da imposição de restrições dietéticas ("jejum
terapêutico") durante a fase aguda de atividade. A anorexia
está relacionada ao aumento de níveis das citocinas

330
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
inflamatórias.
Obstrução, fístulas ou extensas inflamações intestinais
também contribuem na diminuição da ingestão e absorção de
nutrientes e, consequentemente, da massa muscular corporal
(CAMPOS et al, 2002).
O prognóstico da doença varia e pode depender de
inúmeros fatores, incluindo o aparecimento de manifestações
extra-intestinais, como a colangite esclerosante primária (CEP)
(LARSEN; BENDTZEN; NIELSEN, 2010).
A CEP é uma doença crônica e progressiva,
caracterizada pela inflamação e fibrose dos ductos biliares
extra e intra-hepáticos, ocasionando obstrução e dilatação
(HIRSCHFIELD et al, 2013; LAZARIDIS; LARUSSO, 2016),
podendo coexistir com outras manifestações de caráter
imunológico, como hepatites auto-imune ou cirrose biliar
primária. A incidência da CEP cresceu de 0,04 para 1 a cada
100.000 pessoas por ano, sendo esse aumento mais
expressivo na Europa e América do Norte (MOLODECKY et
al, 2011).
Os principais sintomas da CEP envolvem quadro de
prurido, dor em quadrante superior direito, fadiga, perda
ponderal, febre e calafrios. Além disso, as complicações
decorrentes dessa condição incluem hipertensão portal,
coagulopatia, insuficiência hepática, deficiência de vitaminas
lipossolúveis e doença óssea osteopênica (TORRES NETO et
al, 2010).
Aproximadamente 70 a 80% dos pacientes com CEP
são diagnosticados com DII, a maioria com RU (LAZARIDIS;
LARUSSO, 2016). Os sintomas inflamatórios intestinais dos
doentes com CEP e RU antecedem, em geral, vários anos as
manifestações e o diagnóstico da CEP, embora o contrário

331
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
também possa ocorrer (FEVERY et al, 2012; VAVRICKA et al,
2015).
O CEP pode evoluir para uma cirrose hepática,
podendo desencandear até mesmo uma doença hepática
terminal e, quando terapias medicamentosas não forem
eficazes, o transplante hepático pode ser indicado
(LAZARIDIS; LARUSSO, 2016). É considerado um fator de
risco para o câncer colorretal e o câncer hepatobiliar
(KARLSEN; BOBERG, 2013), sendo menor o risco em
pacientes com CEP e DC quando comparados aos que
apresentam CEP e RU (BRADEN et al, 2012; FRANCESCHET
et al, 2016).
Portanto, o objetivo do presente relato é descrever a
atuação nutricional na assistência ao paciente com diagnóstico
de RU e CEP em tratamento clínico no Hospital das Clínicas
da UFPE.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo apresenta caráter


descritivo,adotando como estratégia de investigação, o estudo
de caso.
O estudo foi desenvolvido na enfermaria de Clínica
Médica Não Especializada do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco, durante o mês de julho
de 2016. Os dados foram coletados a partir de registros de
evoluções e exames anexados ao prontuário, assim como, de
observações da equipe ao longo do período de hospitalização
do paciente. Utilizou-se ainda de levantamentos de dados
através de revisão literária em livros e artigos impressos e em
versão online referentes à temática em discussão.

332
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
A triagem nutricional foi realizada pela NRS-2002, a
qual é empregada para detectar a desnutrição e o risco do
desenvolvimento de desnutrição no ambiente hospitalar. A
NRS 2002 recebeu aprovação da Sociedade Européia de
Nutrição Parenteral e Enteral para uso na configuração
hospitalar (KONDRUP et al, 2003; SORENSEN et al, 2008),
sendo caracterizada por sua confiabilidade e reprodutibilidade
satisfatória na prática clínica (ZHOW et al, 2013).
A avaliação antropométrica foi feita através da aferição
do peso, altura, IMC e circunferência do braço (CB).
As medidas de peso e altura foram realizadas segundo
técnica original recomendada por Lohman et al (1988). A
massa corporal foi obtida em balança eletrônica digital, da
marca Líder-LD1050®, com capacidade máxima de 200 Kg e
precisão de 100g. A altura aferida com o uso de fita métrica
Stanley® milimetrada, com precisão de 1mm e exatidão de 0,5
cm.
O IMC foi obtido pela relação: Peso/Altura², sendo o
estado nutricional do paciente classificado de acordo com a
proposta da Organização Mundial de Saúde (1998), como
aparece no Tabela 1:

Tabela 1. Classificação do estado nutricional de adultos,


quanto ao Índice de Massa Corporal.
IMC (kg/m²) Classificação
≤18,4 Magreza
18,5 – 24,5 Eutrofia
25-29,9 Sobrepeso
≥30,0 Obesidade
Fonte: OMS, 1998.
O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi
calculado pela fórmula:
333
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA

%PP = (PU – PA) x 100 ÷ PU

Onde, PU corresponde ao peso usual relatado pelo


paciente, e PA, ao peso atual do paciente. Sendo classificado
de acordo com as definições apresentadas na Tabela 2:

Tabela 2. Classificação do percentual de perda de peso, de


acordo com o período de tempo.
Tempo Perda de peso Perda de peso
significativa (%) grave (%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
Fonte: Blackburn et al., 1977

A CB foi obtida no ponto médio entre o acrômio e o


olecrano utilizando fita métrica flexível e inelástica sem
comprimir os tecidos, com o paciente em pé. Sua adequação
foi obtida através da fórmula:

%CB = CB atual ÷ CB P50

A adequação foi classificada de acordo com o


recomendado por Blackburn et al (1979), como mostra a
Tabela 3:

Tabela 3. Classificação da adequação da circunferência do


braço (CB) de acordo com Blackburn et al (1979):
DG DM DL E SP OB
<70% 70-80% 80-90% 90-110% 110-120% >120%
334
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
*DG: Desnutrição Grave; DM: Desnutrição Moderada; DL: Desnutrição
Leve; E: Eutrofia; SP: Sobrepeso; OB: Obesidade

O cálculo da dieta ofertada foi calculado pelo DietBox ®,


de acordo com os alimentos disponíveis no hospital.
Quanto à avaliação bioquímica, todos os parâmetros
laboratoriais foram extraídos a partir do prontuário do paciente
e os resultados foram referenciados de acordo com Calixto-
Lima et al (2012).
As indicação e interações medicamentosas e possíveis
intercorrências dos medicamentos utilizados pelo paciente
durante o período de internamento foram extraídas conforme
Martins et al (2013).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

HISTÓRICO DO PACIENTE
E.F.C.F., 37 anos, sexo masculino, autônomo, natural
de Recife. Na sua família tem antecedentes familiares de
parentes de primeiro grau diagnosticados com Diabetes
mellitus tipo 2 (DM) e Hipertensão Arterial (HAS), negando
histórico de doenças auto-imunes.
Paciente apresenta diagnóstico prévio de RU, negando
co-morbidades associadas, sendo acompanhado no Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco desde o
ano de 1995, seguindo estável, em uso de mesalazina.
Durante acompanhamento ambulatorial, evoluiu com
aumento das enzimas hepáticas e alterações em
colangiorresonância, realizada em 11/05/2016, que mostrou
leve ectasia das vias biliares intra-hepáticas, baço de
dimensões normais, apresentando algumas formações

335
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
nodulares e presença de múltiplos linfonodos mesentéricos,
sendo diagnosticado com CEP.

EXAME FÍSICO
Paciente em estado geral regular, consciente,
orientado, humor estável, responsivo, anictérico, ausência de
edemas e ascite, afebril, deambulando sem auxílio.
Apresentava atrofia da musculatura temporal e da bola
gordurosa de Bichat, atrofia das regiões supra e
infraclaviculares e da fúrcula esternal (indicando uma perda
crônica da massa muscular).

ANMNESE NUTRICIONAL E EVOLUÇÃO DIETÉTICA


Paciente admitido na Enfermaria de Clínica Médica no
dia 06/07/2016. No momento da admissão, não relatou alergia
alimentar, mastigação e deglutição normais, ausência de
episódios de náuseas e vômitos, negava etilismo e tabagismo,
negava prática de atividade física, relatando também apetite
preservado. Paciente referiu evacuações líquidas (três a
quatro episódios por dia), com presença de restos alimentares
e sangue, sem relato de esteatorreia, e diurese presente.
Devido ao quadro de exacerbação da fase aguda da
RU, foi ofertada uma dieta por via oral, de consistência
branda, constipante, isenta em carboidratos simples, sacarose
e lactose, sendo o paciente avaliado diariamente pelo
profissional nutricionista para acompanhamento da aceitação
alimentar e funcionamento do trato gastrointestinal.
No dia 08/07/2016, paciente evoluiu clinicamente
estável, referindo boa aceitação alimentar, com ingestão total
da dieta ofertada e redução no número de evacuações (2
episódios), ainda em consistência líquido-pastosa.

336
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
No dia 09/07/2016, o paciente seguia sem queixas
alimentares, e referiu ausência de muco e/ou sangue nas
fezes.
Devido ao quadro de melhora quanto ao número de
evacuações assim como, na consistência das fezes, somado à
favorável ingestão alimentar do paciente, foram reintroduzidos
carboidratos simples, sacarose e lactose à dieta do paciente.
Portanto, a dieta ofertada em 12/07/2016, permaneceu
em consistência branda, constipante, porém sem restrição de
carboidratos simples.
O paciente respondeu positivamente à introdução de
sacarose e lactose à dieta, evoluindo com melhora do quadro
de diarreia, ausência de restos alimentares e sangue nas
fezes.

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
De acordo com a NRS 2002, realizada no momento da
admissão, o paciente obteve escore 4, que indicou risco
nutricional e, consequentemente, a necessidade do manuseio
dos sintomas e/ou opções de intervenção nutricional.
Paciente referiu no dia da admissão um peso habitual
de 55,0kg há aproximadamente 2 anos, com perda de 8Kg
dentro desse perído, o que correspondeu a um percentual de
14,5%. Como o período de perda de peso relatado não se
enquadrava nos parâmetros estabelecidos por Blackburn et al
(1997), houve dificuldade na classificação da perda ponderal
apresentada pelo paciente. A evolução do estado nutricional
do paciente durante o acompanhamento pode ser observado a
seguir na Tabela 4 :

337
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
Tabela 4. Acompanhamento antropométrico
Antropometria 07/07/2017 11/07/2017
Altura 1,77m 1,77m
Peso 47kg 47,7kg
IMC 15Kg/m² 15,2Kg/m²
CB (%adequação) - 23 cm (69%)

De acordo com os dados encontrados, o paciente


apresentou-se na classificação de desnutrição, a partir do
IMC, de acordo com a classificação da OMS (1998). Através
da CB, o paciente também foi classificado como desnutrido
(desnutrição grave), refletindo uma depleção de massa magra.
Por outro lado, o paciente apresentou, durante o
período de internamento, um ganho ponderal de 0,7Kg,
estando provavelmente relacionado à boa ingestão alimentar
associada à melhora do quadro de diarreia, ou seja,
otimização dos quadros de ingestão e absorção de nutrientes.

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA
Parâmetros 07/10/16 11/10/16 13/10/16
Hemoglobina 14 16,6 15,1
Hematócrito 41,5 50,8 45,4
VCM 84,3 86 84,9
HCM 28,5 28 28,2
Leucócitos 7.990 8620 12990
Uréia 34 32,9 -
Creatinina 0,9 0,9 -
Sódio 138 140,5 138,9
Potássio 4,6 5,0 4,5
Cloreto - 104 103,3
Albumina 4,0 - -
TGO 92,8 56 63,7

338
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
TGP 101,3 104 106,6
BT 0,3 0,3 -
BD 0,1 0,1 -
BI 0,2 0,2 -
FA 635,8 798 588,7
GGT 115 133 113
Ácido Fólico - - 5,32
Vitamina B12 - - 680
Cálcio - - 9,5
Vitamina D - - 30,9
*VCM: Volume corpuscular médio; HCM: Hemoglobina Corpuscular Média;
TGO: Transaminase glutâmico oxalacética; TGP: Transaminase glutâmico
pirúvica; BT: Bilirrubina total; BD: Bilirrubina direta; BI: Bilirrubina indireta;
FA: Fosfatase alcalina; GGT: Gama glutamil transferase

As principais alterações laboratoriais encontradas


reforçam as alterações hepatobiliares apresentadas pelo
paciente.
As isoenzimas hepáticas e ósseas representam 80% da
fosfatase alcalina (FA) circulante, sendo importante a
determinação desse parâmetro no diagnóstico das doenças
hepatobiliares, já que todas as formas de colestase elevam a
FA. Outro marcador marcador sensivel de colestase
hepatobiliar é a gama glutamil transferase (GGT). Nos quadros
de icterícia obstrutiva nÍveis 5 a 50 vezes acima do normal são
encontrados.
Os níveis de transaminase glutâmico oxalacética (TGO)
e transaminase glutâmico pirúvica (TGP) também mostraram-
se elevados. Enquanto a TGO é encontrada em grandes
concentrações no fígado, coração, músculo esquelético, rins e
em menor concentração no cérebro, pulmões, pâncreas, baço
e leucócitos, e seus valores elevados ocorrem em, entre

339
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
outros casos, na colestase, a TGP localiza-se principalmente
no fígado e é mais sensível na detecção de injúria do
hepatócito. São raras as situações de elevação do TGP sem
doença do parênquima hepático, além disso, persiste por mais
tempo elevada que a TGO (CALIXTO-LIMA; REIS, 2012).
Alguns medicamentos comumente utilizados no
tratamento das DIIs, podem ocasionar alteração na absorção
de cálcio, vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e folato. O
cálcio tem a absorção intestinal inibida pela utilização de
corticóides, o folato pela utilização de sulfassalazina e as
vitaminas lipossolúveis pela colestiramina. O aumento das
perdas (perda entérica de proteínas, sangue, minerais,
eletrólitos, elementos-traço do intestino) durante períodos de
inflamação ativa são comuns tanto na RU quanto na DC
(FLORA; DICHI, 2006). Entretanto, alterações na dosagem
desses micronutrientes não foram observadas a partir dos
exames do paciente em questão.
Outro fator que não mostrou variações foram os níveis
de hemoglobina e hematócrito, o que não é comum, já que em
paciente com RU, observa-se uma maior ocorrência de
anemia, devido às perdas sanguíneas, que são usuais
(FLORA; DICHI, 2006).

MEDICAMENTOS UTILIZADOS
Droga Indicação/ Interações medicamentosas e
possíveis intercorrências
Mesalazina Anti-inflamatório/ Aumento nos níveis de TGO,
TGP, Fosfatase Alcalina, Ureia e Creatinina
Ácido Tratamento de Doenças hepato-biliares e
Ursodesoxi- colestáticas crônicas/ Redução nos níveis de TGP
cólico e GGT
Fonte: Martins et al, 2013.

340
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
NECESSIDADES NUTRICIONAIS
A DII pelo seu envolvimento com o trato gastrintestinal e
seus efeitos sobre a ingestão alimentar, é comumente
associada à deficiência nutricional, podendo esta variar desde
alterações discretas dos níveis dos oligoelementos até
estados óbvios de desnutrição severa, com grande perda de
peso (DICHI; BURINI, 1996).
A desnutrição aguda observada durante os surtos de
atividade da doença, e cujas manifestações clínicas principais
são a perda de peso, anemia e hipoalbuminemia, pode se
associar uma desnutrição crônica, resultando em caquexia,
deficiências nutricionais (FLORA; DICHI, 2006).
Por essas razões, os objetivos da terapia nutricional foi
auxiliar no controle das manifestações da fase aguda da
doença, recuperar o estado nutricional do paciente e,
posteriormente, aumentar o tempo de remissão da doença.
As necessidades nutricionais foram individualizadas de
acordo com o quadro clínico do paciente e satisfazendo as
demandas proteicas e energéticas de pacientes adultos com
doença inflamatória intestinal ativa, de acordo com Dichi et al,
(1996), 35 a 40kcal/kg de peso ideal e 1 a 1,5g de
proteínas/kg de peso ideal.
Considerando o IMC mínimo de eutrofia (18,5kg/m²), foi
obtido o peso ideal do paciente (57,9Kg). A partir do peso
ideal, foram estimadas as necessidades energéticas em
2.318kcal (40kcal/kg de peso ideal) e 86,8g de proteínas
(1,5g/kg de peso ideal).
A prescrição dietética, neste caso, ofertou dieta via oral,
hipercalórica, hiperproteica, normolipídica, constipante e
normossódica, ofertando 2158kcal (37,2kcal/kg de peso ideal)

341
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
e 80,3g de proteínas (1,3g/kg de peso ideal), perfazendo 93%
e 92% de adequação, respectivamente.
De acordo com a evolução do paciente, assim que
houve melhora do quadro de diarreia, realizou-se a oferta de
carboidratos simples.
Segundo dados da literatura, existem duas principais
intervenções dietéticas de relevância para RU. A primeira
delas compreende dietas de exclusão de carboidratos simples
fermentáveis (conhecidos como FODMAP), enquanto outra
estratégia, envolve a exclusão de carboidratos específicos
(SHAOUL;BROWN;DAY, 2017).
Gearry et al (2009) avaliaram retrospectivamente 72
pacientes com DII (52 DC e 20 RU) após 3 meses de
educação alimentar sobre uma dieta restrita em FODMAP.
Com base em auto-relato, 70% dos pacientes permaneceram
aderentes à dieta após 3 meses, e os sintomas de dor,
inchaço e diarréia melhoraram. Para os diagnosticados com
RU, houve melhora nos sintomas gerais, dor abdominal,
diarreia, distensão e flatulência.
Mais recentemente, Prince et al (2016) avaliaram 88
pacientes com DII (39 DC, 38 RU e 11 DII não classificados)
acompanhados por um centro hospitalar no Reino Unido,
todos orientados a seguir uma dieta restrita em FODMAPs por
um período mínimo de 6 semanas. Ao final do estudo, houve
uma diminuição significativa na gravidade da maioria dos
sintomas, bem como melhorias significativas na consistência e
frequência das evacuações.
Portanto, a terapia nutricional aplicada ao paciente
respeitou a aceitação alimentar, ao mesmo passo que
priorizou uma nutrição equilibrada.

342
ATUAÇÃO NUTRICIONAL NA RETOCOLITE ULCERATIVA ASSOCIADA A
COLANGITE ESCLEROSANTE PRIMÁRIA
5 CONCLUSÕES

O paciente foi diagnosticado nutricionalmente como


desnutrido, através do exame físico e de avaliação
antropométrica, entretanto, não apresentou alterações
bioquímicas relevantes quanto à dosagem de micronutrientes,
assim como, diagnóstico de anemia. Ao longo do
internamento, evoluiu com melhora do quadro de diarreia,
aceitando bem a dieta ofertada, e com isso, conseguiu
alcançar um quadro de ganho ponderal.
A atuação nutricional na DII, assim como em suas
repercussões, como é o caso da CEP, é importante para
recuperação do estado nutricional do indivíduo através de uma
terapia que garanta o fornecimento de suas necessidades
energéticas, auxiliando na evolução e no tratamento da
doença.
Dessa forma, através de um plano alimentar
individualizado de acordo com o estado nutricional, tipo de
doença e gravidade, os efeitos deletérios da doença de base
poderão ser minimizados, melhorando sobretudo, a qualidade
de vida do paciente.

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346
CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
CAPÍTULO 17

CUIDADOS NUTRICIONAIS NA
ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLEROSE SISTÊMICA: RELATO DE
CASO

Maria Rayssa Silva do NASCIMENTO¹


Kamilla Helen Rodrigues da COSTA¹
Karla Thuany de Oliveira SANTOS¹
Fernanda Mirela Amaral GOMES¹
Amanda de Azevedo ARAÚJO²
¹Pós-graduanda do programa de Residência Uniprofissional Hospital das Clínicas UFPE
²Especialização em Saúde da família pela FCM/UPE
maria.rayssaa@hotmail.com

RESUMO: A esclerose Sistêmica (ES) é uma doença


inflamatória autoimune e está associada com várias
complicações, incluindo a desnutrição. O objetivo deste
trabalho é descrever a atuação nutricional na assistência a um
paciente com diagnóstico de Esclerose Sistêmica. Este é um
trabalho de caráter descritivo, do tipo relato de caso, realizado
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, durante o mês de outubro de 2018. O
diagnóstico nutricional foi realizado com base no Peso, Altura,
Índice de Massa Corporal (IMC), Circunferência do braço (CB)
e a triagem nutricional foi realizada através da NRS 2002.
Paciente de 59 anos de idade, do sexo feminino com
diagnóstico de Esclerose Sistêmica. A avaliação nutricional
baseada na antropometria evidencia desnutrição e ao longo do
internamento evoluiu com ganho de peso. Paciente refere
hábito intestinal normal e diurese presente, com apetite
preservado e aceitação total da dieta ofertada. A terapia
nutricional ofertada possuía características hipercalóricas e
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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
hiperproteicas, com dieta via oral de consistência pastosa
devido a presença de disfagia, adicionada de suplemento
alimentar para aumentar aporte calórico-proteico. É necessário
fazer o rastreio da desnutrição no paciente com ES visto que
esta condição representa um fator de risco potencial na
morbiddade, sendo modificável com intervenções nutricionais.
Palavras-chave: Assistência. Esclerose Sistêmica. Nutrição.

1 INTRODUÇÃO

A esclerose Sistêmica (ES) é uma doença inflamatória


autoimune e degenerativa do sistema nervoso central que
afeta predominantemente jovens e adultos entre 20 e 40 anos
de idade, atingindo cerca de 1,4% a 9,9% da população em
diferentes países. A doença influencia também na qualidade
de vida das pessoas pelo impacto a nível físico, psicológico e
social (LOTTI et al, 2017).
A forma mais comum de ES é recorrente e remitente,
sendo os sintomas ou lesões neurológicas seguidas por
períodos de melhora clínica ou latência. A forma progressiva
pode apresentar-se no início da doença (primária progressiva),
ou após anos da forma recidivante-remitente (secundária
progressiva) A manifestação mais incomum de ES é aquela
onde os sintomas começam a aparecer a partir dos 50 anos
de idade, sendo conhecida como esclerose múltipla de início
tardio (LOTTI et al, 2017; CAVENAGHI et al, 2017).
O diagnóstico para ES é realizado com base em
achados clínicos, lesões identificadas na ressonância
magnética (MRI), presença de bandas oligoclonais e/ou altos
níveis de imunoglobulina G (IgG) no líquido cefalorraquidiano
(LCR) (CAVENAGHI et al, 2017).
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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
Apesar dos critérios diagnósticos, há dificuldade em
estabelecer o diagnóstico de ES e seu início geralmente é
negligenciado, uma vez que esses sintomas iniciais podem se
resolver espontaneamente. Esta situação leva a um
diagnóstico tardio, o que, consequentemente, atrasa o
tratamento e tem um impacto negativo sobre a velocidade de
progressão da doença e seu prognóstico (FRAGOSO, 2017).
Por um tempo, a ES foi considerada como sendo
principalmente uma doença inflamatória da substância branca,
e os resultados dos ensaios clínicos foram direcionados para o
controle de recidivas desmielinizantes agudas. Mais
recentemente, os resultados dos ensaios mudaram para
aumentar o período de tempo para o qual os pacientes
permanecem livres de deficiência física e disfunção cognitiva,
uma vez que estes são os objetivos reais de terapias bem-
sucedidas (FRAGOSO, 2017).
Uma complicação relatada com frequência nesta
doença é a desnutrição, sendo relatada em 15-56% dos
pacientes com ES, podendo esta variação estar variação ser
explicada pelo uso de diferentes métodos de avaliação e
seleção, bem como o uso de diferentes definições. A presença
de desnutrição nesses pacientes está associada ao aumento
da morbidade e mortalidade (SPANJER et al, 2017).
Há anos a falta de uma definição internacional para
desnutrição tem sido um fator problemático para a sociedade
cintífica, pesquisadores, clínicos e formuladores de políticas
públicas (SÁNCHEZ-RODRÍGUEZ et al, 2017).
Neste sentido, A Sociedade Européia de Nutrição
Clínica e Metabolismo (ESPEN, 2016) propôs recentemente
uma nova definição de desnutrição, que inclui não apenas as
medidas de baixo peso e perda de peso, mas também
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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
medidas de Massa Livre de Gordura (Fat-free mass - FFM),
sendo aplicada em pacientes diabéticos idosos hospitalizados
e pacientes de meia idade, pacientes ambulatoriais geriátricos
e idosos saudáveis e indivíduos jovens (SÁNCHEZ-
RODRÍGUEZ et al, 2017).
Segundo a ESPEN (2016) a desnutrição pode ser
definida como: IMC <18,5 kg/m²; ou perda de peso> 10% em
tempo indefinido em combinação com um IMC <20/22kg/m²
(<70 />70 anos) ou em combinação com um índice de FFM
(FFMI) <15kg/m² em mulheres e <17kg/m² em homens.
O acometimento gastrointestinal também é muito
comum nesses indivíduos, podendo qualquer segmento do
trato gastrointestinal, da boca ao ânus, estar acometido e os
sintomas são uma causa frequente de morbidade. Em casos
graves, o envolvimento do gastrointestinal pode progredir,
sendo uma das causas da desnutrição(SHREINER et al,
2016).
O envolvimento do trato digestivo na ES contribui para a
mortalidade relacionada a doenças, embora principalmente
como uma comorbidade e não como causa direta da morte
(SHREINER et al, 2016).
Os indivíduos com ES também podem apresentar
algum grau de má absorção intestinal, bem como constipação,
diareia e/ou incontinência fecal, gastroparesia, refluxo
gastroesofágico, pseudo-obstrução e disfagia esofágica, que
pode comprometer o estado nutricional (RECASENS; PUIG;
ORTIZ-SANTAMARIA, 2012).
A presença de desnutrição nos pacientes com ES,
diagnósticada por medidas antropométricas e bioquímicas que
refletem as reservas de proteínas, pode ser

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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
influenciadatambém pelo comprometimento de outros órgãos,
como o trato gastrointestinal (CODULLO et al, 2015).
Os pacientes com alto risco de desnutrição apresentam
aumento do risco de mortalidade e, portanto, uma avaliação
nutricional individualizada é de suma necessidade. Este
rastreio é especialmente importante, pois a desnutrição
representa um fator de risco potencialmente modificável com
intervenções nutricionais (CODULLO et al, 2015).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho é descrever a
atuação nutricional na assistência a um paciente com
diagnóstico de Esclerose Sistêmica internado em um Hospital
Universitário no estado de Pernambuco.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo tem caráter descritivo com


abordagem qualitativa, o qual se adotou, enquanto estratégia
de investigação, o estudo de caso.
O estudo foi desenvolvido na enfermaria de Clínica
Médica Especializada do Hospital das Clínicas da
Universidade Federal de Pernambuco, durante o mês de
outubro de 2017.
Os dados foram coletados a partir de registros de
evoluções e exames anexados ao prontuário, observações da
equipe ao longo do período de hospitalização do paciente, e
informações provenientes do diálogo com a paciente e seus
familiares, bem como dos atendimentos realizados pela equipe
de nutrição.
Utilizou-se ainda de levantamentos de dados por meio
de revisão literária em livros e artigos impressos e em versão
online referentes à temática em discussão.
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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
Para avaliação antropométrica foi utilizada a aferição do
peso, altura, IMC e circunferência do braço.
As medidas de peso e altura foram realizadas segundo
técnica original recomendada por Lohman et al (1988).
A massa corporal foi obtida em balança eletrônica
digital, da marca Líder-LD1050®, com capacidade máxima de
200 Kg e precisão de 100g.
A altura foi aferida com o uso de estadiômetro acoplado
na balança, com precisão de 1mm e exatidão de 0,5 cm. Para
avaliação do estado nutricional foi utilizado a classificação da
OMS (1998), conforme o Quadro 1.

Quadro 1 – Classificação do estado nutricional de adultos


segundo o Índice de Massa Corporal.
CLASSIFICAÇÃO IMC (kg/m²)
Obesidade grau III >40
Obesidade grau II 35-40
Obesidade grau I 30-34,9
Sobrepeso 25-29,9
Eutrofia 18,5-24,9
Desnutrição grau I 17-18,4
Desnutrição grau II 16-16,9
Desnutrição grau III <16
Fonte: WHO, 1997.

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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi
calculado pela fórmula:

Perda de peso (%) = (peso usual – peso atual) x 100 ÷ peso


usual.

O valor do percentual da perda de peso foi classificado


de acordo com os critérios de Blackburn et al (1977) conforme
demonstra o Quadro 2.

Quadro 2 – Classificação da Perda de Peso Involuntária


Tempo Perda de peso Perda de peso
significativa (%) grave(%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
Fonte: BLACKBURN; MANN, 1979.

A circunferência do braço (CB) foi obtida no ponto


médio entre o acrômio e o olecrano utilizando fita métrica
flexível e inelástica sem comprimir os tecidos, com o paciente
em pé (BLACKBURN; MANN, 1979).
O valor obtido da CB foi comparado com o valor de
ponto de corte do percentil 50 específico para idade e gênero,
desenvolvido por Frisancho (1990), sendo o percentual de
adequação calculado a partir da fórmula: %CB = CB atual ÷
CB P50, para posterior classificação em desnutrição leve,
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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
desnutrição modera, desnutrição grave, eutrofia, sobrepeso e
obesidade, conforme Quadro 3.

Quadro 3 – Classificação da adequação da Circunferência do


Braço
Desnutri Desnutri Desnutri Eutro Sobrep Obesid
ção ção ção Leve fia eso ade
Grave Moderad
a
<70% 70-80% 80-90% 90- 110- >120%
110% 120%
Fonte: BLACKBURN; MANN, 1979.

A triagem nutricional foi realizada pela NRS 2002. O


objetivo é detectar a presença de risco nutricional,
originalmente, destinada ao ambiente hospitalar. É formada
por questões referentes ao IMC, perda de peso não
intencional em três meses, apetite, habilidade de ingestão e
absorção de alimentos e fator de estresse da doença.
Pacientes com idade acima de 70 anos são considerados com
um fator de risco adicional a pontuação (KONDRUP et al,
2003).
O cálculo da dieta ofertada foi calculado pelo DietBox ®,
de acordo com os alimentos e suplementos disponíveis no
hospital.

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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 HISTÓRICO DO PACIENTE


D.M.S., 59 anos, sexo feminino, solteira, moradora da
cidade de Recife-PE. Durante internamento hospitalar
necessitou ser transferida para a Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) do serviço por Infecção do Trato Respiratório (ITR), onde
permaneceu por três dias e posteriormente retornou para a
enfermaria de Clínica Médica, estando internada na Clínica
Médica há 2 meses e 1 semana até o dia da elaboração desse
trabalho.

DIAGNÓSTICO PRINCIPAL: ESCLEROSE SISTÊMICA

3.2 HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL

Paciente evoluiu com dispneia e dependência de


oxigênio, estando atualmente no hospital por não possuir
suporte de oxigênio domiciliar. Apresenta hipertensão
pulmonar moderada e com histórico de infecção do trato
respiratório superada. Com o avanço da doença, desenvolveu
disfagia esofágica, tolerando ingestão apenas de alimentos
pastosos e líquidos.

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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
3.3 ANAMNESE ALIMENTAR

Na admissão, relatava ingestão por via oral com a


consistência normal, sem dificuldade de mastigação ou
deglutição e com preservação do apetite. Relatava hábito
intestinal normal e diurese presente, sem queixas de náuseas,
vômitos ou outras queixas.
Durante internamento na UTI, a paciente queixou-se de
dificuldade de ingerir alguns alimentos, foi encaminhada a
fonoaudiologia que identificou presença de restos alimentares
no esôfago, diagnosticando a paciente com disfagia esofágica
e segurança apenas para ingestão de alimentos pastosos e
líquidos.
Inicialmente, houve resistência da paciente a aceitar a
dieta pastosa, porém, com trabalho de educação alimentar, foi
possível a melhora da ingestão pela paciente.
A disfagia é considerada uma alteração que envolve a
musculatura dos órgãos fonoarticulatórios, sendo classificada
como um sintoma não motor, segundo a Movement Disorders
Society (AYRES; JACINTO-SCUDEIRO; OLCHIK, 2017).
Esta alteração motora tende a resultar em outras
complicações, tais como pneumonia aspirativa, desnutrição e
desidratação, estas duas últimas decorrentes da menor
ingestão de alimentos ou mudança de consistências, de
acordo com a gravidade da disfagia (AYRES; JACINTO-
SCUDEIRO; OLCHIK, 2017).

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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
3.4 Exames bioquímicos

Alguns bioquímicos realizados durante a internação do


paciente estão descritos na Tabela 1.

Tabela 1 – Exames laboratoriais da paciente durante o


período de internamento hospitalar.
15/05 01/09 17/09 30/09 Refe-
rência

Hemo- 13g/dL 15g/dL 15g/dL 14g/dL 12 a


16g/dL
globina

Hema- 39,8% 46,0% 45,5% 41,9% 37 a


47%
Tócrito

VCM 94,9 fl 92,5 fl 87,6 fl 90,8fl 80 a


100fl

HCM 29,7 pg 30,5 pg 28,4 pg 30,6pg 27 a


32pg

Leuco 10.900 22.600 ↑ 23.100 ↑ 15.800↑ 4a


11mil
células/ células/ células/ células/ células/
mm³ mm³ mm³ mm³ mm³

Uréia 23,3 44,5 34,9 32,6 10 a


mg/dL mg/dL mg/dL 40mg/d
mg/dL L

Creti- 0,7 0,9 0,6 0,7 0,6

357
CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
nina mg/dL mg/dL mg/dL mg/dL a1,1mg/
dL

Sódio 140,3 -- 134,5 -- 135-


145
mmol/L mmol/L mmol/L

Potás- 5,1 -- 4,3 -- 3,5-5,5


sio mmol/L mmol/L mmol/L

PCR 6,6 ↑ 0,8 ↑ -- 2,5↑ <0,5

Fonte: CALIXTO-LIMA; REIS, 2012.

Os exames bioquímicos do paciente demonstram


aumento dos valores da Proteína C Reativa (PCR) e
Leucocitose, evidenciando processo inflamatório.
A PCR é uma proteína sintetizada no fígado e é
classificada como uma proteína de fase aguda. É um
marcador sensível e inespecífico para processos inflamatórios,
sendo os seus níveis elevados em circunstâncias diversas
(CALIXTO-LIMA; REIS, 2012).
A Leucocitose também está associada à infecção ou
inflamação e seus valores podem ser alterados por diversos
fatores, como tabagismo, diabetes, estresse, exercícios físicos
vigorosos entre outros. A variação dos valores do leucograma
devem ser interpretados em combinação com outros
parâmetros clínicos(CALIXTO-LIMA; REIS, 2012).

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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
3.5 Medicações

Os medicamentos utilizados pelo paciente e suas


possíveis interações nutricionais estão descritos no quadro 4.

Quadro 4 – Medicações utilizadas e suas possíveis interações


nutricionais.
Droga Indicação/ Interações medicamentosas e
possíveis intercorrências
MEDICAMENTOS FIXOS
SYMBICORT Para tratamento de doenças respiratórias.

Sem interações.
Omeprazol Antisecretório. Dor abdominal, diminuição da
secreção ácida. ↓ Abs. Fe e B12.
Prednisona ↑apetite ↑peso ↑PA ↑glicemia ↑Na ↑TG ↑CT
(15mg) ↓Ca
(0,4mg/kg)
Cetoconazol Antifúngico
Dinitrato de Utilizado no tratamento da angina, edema
Isossorbida agudo de pulmão e insuficiência cardíaca
congestiva
Clexane Anti trombótico (heparina de baixo peso
molecular; anticoagulante).
Fonte: MARTINS; SAEKI, 2013.

Não foram observadas alterações clínicas no paciente


que pudessem ser justificadas pelos efeitos adversos do uso

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CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
dos medicamente citados, bem como interações com
alimentos ou nutrientes.

3.6 Triagem Nutricional

A triagem nutricional foi realizada por meio da NRS


(2002) no momento da admissão conforme indica ESPEN
(2017).A pontuação obtida pelo instrumento de triagem
classifica-o no Escore 4, indicando que o mesmo apresenta
risco nutricional.
O risco nutricional demonstra risco aumentado de
morbimortalidade em decorrência do estado nutricional. A
identificação do risco nutricional é importante para avaliar o
risco de deterioração nutricional em pacientes que já tem
queixas associadas. Durante o internamento hospitalar, a
triagem pode propiciar uma intervenção nutricional primária,
evitando a instalação ou avanço da desnutrição (ELIA,
ZELLIPOUR, STRATTON, 2005; BARBOSA, BARROS, 2002;
JOHANSEN et al, 2004).

3.7 Avaliação Antropométrica

Paciente refere no dia da admissão um peso habitual de


72,3 kg em novembro/2016 com perda de 16,4 Kg (22,6% de
perda de peso – perda grave) durante 6 meses. A evolução do
estado nutricional da paciente durante o acompanhamento
pode ser observado na Tabela 2.
Diante dos parâmetros antropométricos e baseado nos
sinais do exame físico e na perda de peso prévia, a paciente
foi diagnosticada do ponto de vista nutricional como
Desnutrida.
360
CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
Tabela 2 – Acompanhamento do estado nutricional no período
do internamento.
Data Peso IMC CB %PP Peso
Ideal
10/08 45,1 kg 17,8 22,6% 55,6kg
kg/m²
21/08 43,8 kg 17,38 23,5cm 2,8%
kg/m² (76%)
11/09 46,0 kg 18,25 22,5cm
kg/m² (72,8%)
18/09 45,0 kg 17,85 2,1%
kg/m²
25/09 46,3 kg 18,37 23cm
kg/m² (74,4%)
02/10 46,6 kg 18,43
kg/m²
09/10 48,3 kg 19,01 23,5cm
kg/m² (76%)
Fonte: Dados coletados no serviço de Nutrição (HC-UFPE), 2017.

Existem poucas séries de casos que relatam


intervenções nutricionais no paciente com Esclerose
Sistêmica.
Segundo Harrison (2012), até 18% dos pacientes com
Esclerose Sistêmica estão em alto risco de desnutrição
(conforme avaliado por critérios de Insuficiência Universal de
Desnutrição (MUST), sendo esterisco crescente com a
gravidade da doença.
Spanjer (2017) em seu estudo encontrou uma
frequência de desnutrição de 8,3% e baixa FFMI em 20,8% (n
= 15) dos pacientes. O autor relata que o estudo mostra uma
prevalência relativamente baixa de desnutrição em

361
CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
comparação com outros estudos devido aos critérios de
diagnóstico de desnutrição que foram utilizados.
Observa-se ainda que a paciente evoluiu com ganho de
peso corporal durante o período de internamento e ganho
discreto do dos valores de CB, porém manteve-se com o
diagnóstico de desnutrição.

3.8 Intervenção nutricional

A desnutrição nos pacientes com ES é de origem


multifatorial e está relacionada com as alterações
gatrointestinais e acometimento de outros órgão. A presença
da desnutrição nesses indivíduos também está associada com
aumento do risco de mortalidade (CODULLO et al, 2015).
Desta forma, a identificação da desnutrição e a
intervenção nutricional adequada de forma individualizada são
etapas necessárias para o manejo da terapia clínica.
Neste contexto, o objetivo da terapia nutricional é
recuperar o estado nutricional do paciente, utilizando
estratégias que possam aumentar o aporte calórico-proteico
atraves da dieta ofertada e da utilização do suplemento
alimentar.
Para a estimativa das necessidades energéticas foram
utilizadas as recomendações propostas por Martins (2000)
para ganho de peso, que indica aporte calórico de 30-35
kcal/kg/dia e proteico de 1,1-1,5g/kg/dia para estresse
moderado.
O paciente recebia dieta por via oral de consistência
pastosa devido a presença de disfagia e em conformidade
com a indicação do profissional fonoaudiologista. Foi

362
CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
introduzido suplemento alimentar padrão com fórmula
polimérica, de características hipercalórica e hiperprotéica.
Referia ainda preservação do apetite e aceitação total
da dieta ofertada e negava presença de náuseas, vômitos ou
qualquer outra complicação gastrointestinal. Durante todo o
internamento manteve o hábito intestinal normal, sem a
presença de constipação ou diarreia.
A terapia nutricional pela dieta por via oral e o
suplemento alimentar ofertaram aproximadamente 2052 kcal e
88,1 gramas de proteinas, estando de acordo com o
recomendado por Martins (2000).
Ressalta-se que a ingestão de proteínas e energia de
pacientes em risco nutricional ou desnutrição resulta em
redução do tempo de internamento hospitalar bem como
redução de complicações.

4 CONCLUSÂO

A desnutrição nos pacientes com Esclerose Sistêmica


tem um impacto negativo no prognóstico clínico, além de
produzir morbidade substancial risco aumentado de
complicações.
Desta forma, o manejo multidisciplinar nesses
pacientes, incluindo a intervenção nutricional, ajuda a melhorar
os sintomas gastrointestinais, prevenira desnutrição e
melhorar a qualidade de vida desses indivíduos.

363
CUIDADOS NUTRICIONAIS NA ASSISTÊNCIA AO PACIENTE COM
ESCLESROSE SISTÊMICA: RELATO DE CASO
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365
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
CAPÍTULO 18

INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA
CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO

Lílian Caroline de Souza e SILVA¹


Skalyt Lee Barbosa e SILVA¹
Ávilla Monalisa Silva de OLIVEIRA¹
Everlane Alcântara de Lima MARINHO¹
Cláudia Campello LEAL²
¹Pós-graduanda do programa de Residência Uniprofissional em Nutrição Clínica do Hospital
das Clínicas - UFPE; ²Nutricionista do Hospital das Clínicas - UFPE
Hospital das Clínicas - UFPE
lilian_carolinne@hotmail.com

RESUMO: O uso de imunossupressores em transplantados é


essencial para evitar a rejeição do enxerto, porém em longo
prazo, essa utilização pode ocasionar diversas alterações
metabólicas, além do desenvolvimento de neoplasias
malignas, sobretudo, de acometimento cutâneo. O objetivo
deste trabalho é descrever a atuação nutricional na assistência
a um paciente transplantado renal tardio, hospitalizado após
infecção de ferida operatória extensa, com acometimento
inclusive da camada muscular, resultante de múltiplas
abordagens cirúrgicas para a remoção de carcinoma
espinocelular invasivo. Trata-se de um estudo de caráter
descritivo, de abordagem qualitativa, no qual se adotou o
estudo de caso, como estratégia de investigação. Os dados
foram obtidos com base nas informações registradas em
prontuários. Foram coletados resultados de exames
laboratoriais realizados durante o internamento, além de
realizada avaliação antropométrica, que constou de tomada de
peso e altura, para posterior cálculo do Índice de Massa

366
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Corporal, além da circunferência do braço. Também foi
avaliado a ingestão alimentar e a perda de peso. Neste estudo
de caso fica evidente que nesses pacientes, o cuidado
nutricional vai muito além da preservação do órgão
transplantado, e inclui a adoção de uma alimentação
adequada e equilibrada, para a prevenção e/ou tratamento de
outras complicações que venham a surgir decorrentes do uso
crônico de imunossupressores.
Palavras-chave: Transplante renal; cicatrização; terapia
nutricional.

1 INTRODUÇÃO

A Doença Renal Crônica (DRC) é definida como uma


anormalidade da estrutura e/ou na função do rim, com
apresentação clínica variável, relacionada à causa, à
gravidade e à taxa de progressão, com implicações para a
saúde do indivíduo (NATIONAL KIDNEY FOUNDATION, 2013;
CUPPARI et al., 2014).
A DRC é estabelecida quando a taxa de filtração
glomerular (TGF) é <60mL/min/1,73m², por pelo menos três
meses, ou >60mL/min/1,73m², desde que associada a um
marcador de dano renal, como proteinúria, hematúria,
albuminúria e/ou alteração em exame de imagem, em um
período de tempo igual ou superior a três meses (NATIONAL
KIDNEY FOUNDATION, 2013). Dentre os fatores de risco
para o desenvolvimento da DRC, o diabetes mellitus e a
hipertensão arterial sistêmica são destacados como os
principais (WILKEANS; JENEJA; SHANAMAN, 2012;
CUPPARI et al., 2014).

367
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
De acordo com a TFG, associada à lesão renal, a DRC
pode ser dividida em cinco estágios, são eles: Estágio I,
quando TGF90mL/min/1,73m²; estágio II, caracterizado pela
TFG entre 60-89 mL/min/1,73m²; estágio III, subdividido em
IIIa, quando a TFG verifica-se entre 45 a 59 ou IIIb, quando
entre 30 a 44 mL/min/1,73m²; estágio IV, se a TFG permanece
entre 15-29 mL/min/1,73m² e por fim, o estadiamento V, que é
característico da doença renal crônica grave ou terminal, no
qual a TFG é inferior a 15 mL/min/1,73m² (NATIONAL KIDNEY
FOUNDATION, 2013).
Conforme dados do Global Kidney Disease, estima-se
uma prevalência de 8 a 16% da população mundial com DRC
em diferentes graus de disfunção renal, o que representa uma
quantidade considerável de indivíduos com elevada
possibilidade de progredir para os estágios finais da doença
(VIVEKANAND et al., 2013).
Na última fase da DRC, o rim perde sua funcionalidade,
e o paciente necessita de uma terapia substitutiva renal,
através da hemodiálise, diálise peritoneal ou de transplante
renal, sendo este último considerado como a melhor
alternativa terapêutica por oferecer uma qualidade de vida
superior, quando comparado aos processos dialíticos (CUNHA
et al, 2007; PEREIRA et al, 2003).
O transplante renal pode ocorrer a partir de doadores
vivos ou cadáveres, porém quando o órgão provém de um
doador vivo maior sobrevida do rim transplantado/enxerto tem
sido documentada (BAPTISTA; SILVA-JUNIOR; PESTANA,
2013). O processo se divide em três fases: pré-transplante,
que inclui os indivíduos no estágio 5 da DRC; pós-transplante
imediato, que se estende de 4 a 6 semanas após o
procedimento cirúrgico; e pós-transplante tardio, que
368
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
corresponde ao período adiante, enquanto o enxerto estiver
funcionando (MARTINS; COUTO, 2013).
Em relação ao estado nutricional, indivíduos
transplantados podem cursar com desnutrição, ou ainda com
sobrepeso e obesidade, provavelmente devido as menores
restrições alimentares proporcionadas pelo pós-transplante
(PEREIRA; MONTEIRO; DE OLIVEIRA TOMIYA, 2016) e,
sobretudo, às alterações metabólicas ligadas ao uso de
imunossupressores, como hiperglicemia, hiperfagia,
dislipidemia, entre outros (TEIXEIRA et al., 2012).
A utilização de drogas imunossupressoras é essencial
para evitar a rejeição do enxerto, porém, além das alterações
citadas, a utilização destas drogas tem sido relacionada
também ao desenvolvimento de neoplasias malignas,
sobretudo, de acometimento cutâneo (SAMPAIO et al., 2012).
O desenvolvimento de câncer na população
transplantada é de caráter multifatorial, envolvendo
componentes genéticos, imunológicos, ambientais e, em
alguns casos, virais (CARDARELLI et al., 2016). A
imunossupressão pode interferir nos mecanismos normais de
reparo do DNA ou ainda alterar a vigilância imunológica, que é
a responsável por impedir o crescimento e o desenvolvimento
tumoral (KASISKE, 2004).
Um outro fator que atua diretamente na deflagração do
câncer de pele especificamente, é a intensidade de exposição
solar, dessa forma, quanto maior a exposição aos raios
ultravioleta, maior tem sido documentada a ocorrência de
neoplasias cutâneas, tornando os países tropicais, os de maior
incidência (POPIM et al., 2008).
Dessa forma, o objetivo deste trabalho é descrever a
atuação nutricional na assistência a um paciente transplantado

369
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
renal tardio, hospitalizado devido a uma infecção de ferida
operatória, após remoção cirúrgica de carcinoma espinocelular
invasivo.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um desenho de caráter descritivo, com


abordagem qualitativa, no qual adotou-se o estudo de caso,
como estratégia de investigação.
O estudo foi desenvolvido na enfermaria de Transplante
Renal do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco, durante os meses de junho e julho de 2017. Os
dados foram obtidos com base nas informações registradas
em prontuários: evoluções elaboradas pelos profissionais de
saúde ao longo do período de hospitalização, além de
informações provenientes do acompanhamento realizado pela
equipe de Nutrição. Foram incluídos também os resultados de
exames laboratoriais realizados durante o internamento, e
consultados através da ferramenta de gestão hospitalar
disponível no hospital, destinada exclusivamente à requisição
e consulta de exames. Utilizou-se ainda da revisão da
literatura a cerca da temática em discussão, com busca em
livros e artigos impressos e em versão online.
Para avaliação antropométrica foram coletados dados
de peso e altura, para posterior cálculo do Índice de Massa
Corpórea (IMC), além da circunferência do braço (CB). O peso
corporal e a estatura foram mensurados por técnicas
preconizadas por Lohman, Roche e Martorell (1988), sendo
utilizada uma balança eletrônica da marca Filizola®, de
capacidade de 200kg com divisão de 100g e estadiômetro
acoplado à balança com precisão em milímetros. O Índice de

370
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Massa Corporal (IMC) foi calculado pela divisão do peso, em
quilogramas, pelo quadrado da altura, em metros, sendo
expresso em Kg/m² e para a classificação do estado
nutricional, utilizaram-se os pontos de corte propostos pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) para adultos (1995),
conforme exposto no Quadro 1.

Quadro 1. Classificação do estado nutricional segundo o


Índice de Massa Corporal, para adultos.
IMC (Kg/m²) Classificação
< 16 Magreza grau III
16 – 16,9 Magreza grau II
17 – 18,4 Magreza grau I
18,5 – 24,9 Eutrófico
25,0 – 29,9 Sobrepeso
30 – 34,9 Obesidade grau I
35 – 39,9 Obesidade grau II
≥ 40 Obesidade grau III
Fonte: OMS, 1995.

O percentual de perda de peso involuntária (%PP) foi


calculado pela fórmula: Perda de peso (%) = (peso usual –
peso atual) x 100 ÷ peso usual, sendo classificado de acordo
com as definições abaixo:

371
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Quadro 2. Classificação do percentual de perda de peso
Tempo Perda de peso Perda de peso
significativa (%) grave (%)
1 semana 1–2 >2
1 mês 5 >5
3 meses 7,5 >7,5
6 meses 10 >10
Fonte: Blackburn; Bistrian, 1977.
A circunferência do braço (CB) foi obtida no ponto
médio entre o acrômio e o olecrano, utilizando fita métrica
flexível e inelástica sem comprimir os tecidos, com o
paciente em pé. Sua adequação foi obtida através da
fórmula: %CB = CB atual ÷ CB Percentil 50, sendo o
percentil obtido dos valores de referência desenvolvidos
por Frisancho (1990).
A adequação foi classificada de acordo com o
quadro abaixo:

Quadro 3. Adequação da Circunferência do Braço (CB)


Desnutri Desnutri Desnutri Eutro Sobrep Obesid
ção ção ção fia eso ade
Grave Moderad Leve
a
<70% 70-80% 80-90% 90- 110- >120%
110% 120%
Fonte: BLACKBURN et al., 1979.

A triagem nutricional foi realizada através da


ferramenta Nutritional Risk Screening (NRS-2002),
desenvolvida e validada por Reilly et al. (1995) e
recomendada pela European Society for Parenteral and

372
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Enteral Nutrition (ESPEN), podendo ser utilizada tanto
para adultos, quanto para idosos hospitalizados e
devendo ser realizada nas primeiras 72 horas de
internamento, com intuito de identificar de maneira
precoce, os pacientes em risco nutricional (GOMES DE
LIMA et al, 2014).
O cálculo da dieta ofertada foi realizado através do
DietBox®, um software de Nutrição virtual disponível para
nutricionistas para cálculo de dietas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

DIAGNÓSTICO

Doença Renal Crônica de etiologia desconhecida;


Transplantado renal há 20 anos (doador vivo);
Osteonecrose de cabeça de fêmur secundária a
corticoterapia;
Carcinoma Espinocelular invasivo em dorso (2ª
recidiva), com remoção cirúrgica extensa em 13/06/17;
Infecção de ferida operatória.

PATOLOGIAS ASSOCIADAS

Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS);


Crises convulsivas.

HISTÓRICO DO PACIENTE

373
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
J.B.F., 53 anos, admitido em 29/06/2017, sexo
masculino, casado, ensino médio completo, profissão:
motorista, natural de Recife-PE.

HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL

Paciente com doença renal de etiologia desconhecida,


transplantado há 20 anos, cujo transplante foi realizado em
07/08/1997, sendo o rim procedente de um doador vivo
relacionado (sobrinho). Possui histórico de osteonecrose de
cabeça de fêmur, secundária ao uso de corticoide.
Em março de 2015 apresentou tumoração em região
dorsal, sendo realizada biópsia que evidenciou carcinoma
espinocelular invasivo, sendo removido cirurgicamente. Em
novembro de 2016, cursou com recidiva de tumor no mesmo
local, sendo novamente ressecado. Após seis meses
(maio/2017), evoluiu com segunda recidiva, precisando ser
submetido a uma cirurgia extensa para remoção, com
necessidade de retalho pela cirurgia plástica. Evoluiu com
infecção de ferida operatória com queixa de secreção
serossanguinolenta associada à febre, sendo internado em
junho de 2017 para tratamento de processo infeccioso.

EXAME FÍSICO GERAL

Paciente em estado geral regular, consciente,


orientado, humor rebaixado, anictérico, sem edemas, afebril,
deambulando. Abdome: semi-globoso, depressível e indolor à
palpação, sem ascite; ferida operatória infectada extensa em

374
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
dorso, com indicativo de curativo a vácuo; evacuações
presentes; diurese espontânea.

ANAMNESE E EVOLUÇÃO DIETÉTICA

Paciente admitido na Enfermaria de Transplante Renal


no dia 29/06/2017, com dieta por via oral, de consistência
normal, apresentando mastigação e deglutição normais,
evacuações presentes, sem queixas de náuseas ou vômitos,
apetite preservado e, ingestão alimentar em torno de 75% da
dieta ofertada, devido a algumas queixas apresentadas,
relacionadas ao hábito alimentar e à limitação dos alimentos
ofertados no hospital.
Em relação à ferida operatória infectada, verifica-se
dano total da espessura dos tecidos e acometimento da
camada muscular, assemelhando-se a uma úlcera de pressão
grau IV, diante da profundidade apresentada e exposição de
músculo, conforme descrição proposta pelo European
Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP; EPUAP; PPPIA,
2014). Assim, mesmo se tratando de um paciente
transplantado renal tardio, onde uma dieta normoproteica em
longo prazo é recomendada para preservação do enxerto
(MARTINS; COUTO, 2013), foi acordado juntamente com a
equipe de Nefrologia, o aumento do aporte proteico a fim de
priorizar a cicatrização da ferida operatória.
Diante disso, foi iniciado suporte nutricional oral (SNO)
especializado, duas vezes ao dia, hipercalórico e
hiperproteico, acrescido de arginina e de micronutrientes
relacionados à cicatrização (vitamina A, E, C, Zinco e Selênio).
Após essas mudanças, paciente cursou com melhora da

375
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
aceitação alimentar, referindo ingestão de 100% da dieta e do
SNO especializado.

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA

Os exames bioquímicos, bem como os valores de


referência utilizados estão descritos no quadro a seguir:

Quadro 4. Exames bioquímicos do paciente.


Valores
10/0 15/0 de
01/07 03/07 13/07
7 7 Referênci
a
Hemoglobi
9,2 9,1 9,2 10 9,8 12 – 16
na (g/dL)
Hematócrit
26,5 28,6
o 26,3 26,3 29,5 36 – 47
 
(%)
VCM (fl) 93,7 93,1 92,2 94,4 92,7 80 – 98
HCM (pg) 33 32,9 32,1 32 31,9 27 - 37
Leucócitos 4.000 –
8950 8330 7630 8510 8000
(mm³) 11.000
Ureia 53,9 57,1
51,4 56,6 56,4 15 – 53
(mg/dL)  
Creatinina
2,0 1,9 2,0 1,8 1,7 0,6 – 1,3
(mg/dL)
Sódio 114,
119 122,4 - 114 136 – 145
(mmol/L) 8
Potássio
5,0 5,0 4,3 4,5 3,6 – 5,2
(mmol/L)
Cloreto 78,2
90,1 - - 82,3 98 – 107
(mmol/L) 

376
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Albumina
3,4 - - - - -
(g/dL)
PCR
4,3 - - 1,4 1,8 <0,5
(mg/dL)
*VCM: volume corpuscular médio; HCM: hemoglobina
corpuscular média; PCR: proteína C reativa.

Os exames bioquímicos demonstram anemia do tipo


normocrômica e normocítica, comum nos pacientes com DRC
e inclusive nos submetidos ao transplante renal, já que mesmo
após essa terapia substitutiva, esses pacientes continuam
sendo portadores de DRC, porém, regridem da fase terminal,
para a condição de tratamento conservador.
Em pacientes transplantados, a presença de anemia
tem sido estimada em 30 a 60% dos casos e uma das
principais causas é a variação da função do enxerto e,
consequentemente, da TFG (VANRENTERGHEM et al., 2003;
BREGMAN, 2009). Vincens et al. (2012) também destacam a
menor síntese de eritropoietina, deficiência prévia de ferro,
utilização de drogas como inibidores da enzima de conversão
da angiotensina (IECA) e bloqueadores de receptor da
angiotensina (BRA) que podem resultar em mielotoxicidade;
doadores com idade superior a 60 anos; microangiopatia
trombótica; e entre outros.
A elevação de ureia e creatinina são justificadas pela
disfunção crônica do enxerto, já que se trata de um paciente
transplantado há 20 anos e cujas alterações já podem ser
sinais de falência do órgão transplantado. Quanto à ureia,
diversos fatores podem contribuir para alteração, como por
exemplo, o uso de drogas nefrotóxicas. Já a creatinina,

377
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
verifica-se que nesse paciente se mantem em torno de
2,0mg/dL.
A hiponatremia pode estar associada a diversas
causas, sendo na maioria dos casos resultante de retenção
hídrica, pela incapacidade renal de excretar água, ocorrendo
diluição dos solutos e cursando com hiposmolalidade e
hipotonicidade (NETO; NETO, 2003). Outra justificativa dessa
alteração está relacionada ao uso de Carbamazepina, um
anticonvulsivante, que tem a hiponatremia como um dos
principais efeitos colaterais, afetando entre 5 e 40% dos
pacientes tratados com esse fármaco (SEMPERE-I-VERDU,
E. et al., 2004). Dentre os mecanismos para explicar esse
efeito, verifica-se a secreção exacerbada do hormônio
antidiurético (ADH), ocasionado pelos inibidores seletivos da
captação de serotonina (DOMINGUEZ; ANAGUA;
BARRIONUEVO, 2010).
A hipocloremia é mais uma alteração bioquímica
visualizada, caracterizada pela redução dos níveis de cloreto
sérico (Cl-). Dentre as possíveis causas, cita-se a falta de
entrada adequada de CI-, geralmente pela manutenção de
dietas hipossódicas por tempo prolongado ou ainda por
eliminação exacerbada, através de vômitos, o que não se
aplica a esse caso (CENEVIVA; ANDRADE, 2008).
Por fim, o processo inflamatório é evidenciado a partir
dos níveis séricos aumentados da proteína C reativa (PCR),
uma proteína de fase aguda positiva, que se eleva em
resposta a infecções ativas ou inflamações agudas (VELLOSA
et al., 2013)

MEDICAMENTOS UTILIZADOS

378
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Quadro 5. Medicamentos utilizados e possíveis interações e
efeitos colaterais
Interações fármaco-
Droga Categoria
nutrientes
FIXOS
Tacrolimus + Hiperglicemia,
Imunossupresso
Micofenolato hipercolesterolemia,
res
de sódio leucopenia, neutrofilia.
Dor abdominal,
diminuição da secreção
Omeprazol Anti-secretório ácida. Redução da
absorção de Ferro e
vitamina B12.
Elevações das
concentrações séricas
Anti- de ureia, creatitina e
Enalapril
hipertensivo potássio. Redução de
hematócrito e
hemoglobina.
Aumento das
concentrações séricas
Anti-
Atenolol de ureia, creatitina,
hipertensivo
potássio, ácido úrico e
triglicerídeos.
Aumento de TGO, TGP
Anti- e HDL-colesterol.
Sinvastatina hiperlipêmico Redução de Colesterol
Total, LDL, VLDL e
Triglicerídeos.
Elevação de
Hemax Antianêmico
hematócrito,
379
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
hemoglobina, e
eritropoietina.
Alterações no peso
Anticonvulsivant (aumento ou redução),
Clonazepam
e além de elevação de
TGO e TGP.
Elevação das
transaminases (TGO e
TGP), ureia e
Carbamazepi Anticonvulsivant triglicerídeos. Além de
na e hiponatremia,
hipovitaminose D e
hipocalcemia.

Fonte: MARTINS; SAEKI, 2013

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL

De acordo com a ferramenta de triagem nutricional


realizada no momento da admissão, NRS, 2002, o paciente é
classificado como sem risco nutricional (escore final < 3
pontos), justificada pela ausência de perda ponderal
involuntária prévia, redução do apetite e/ou da ingestão
alimentar.
A evolução do estado nutricional durante o
internamento pode ser observada quadro a seguir:

380
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Quadro 6. Evolução nutricional
29/06 05/07 12/07 19/07

Peso (kg) 69 67,8 66,3 67,4

Altura (m) 1,61 1,61 1,61 1,61

IMC (kg/m²) 26,6 26,2 25,6 26,0

CB (cm) / 32,2/ 32/


- -
Adequação 100% 99,4%
% de perda de peso - 1,5 2,2 -

*IMC: índice de massa corpórea; CB: circunferência do braço.

De acordo com os dados antropométricos


apresentados, o paciente possuía IMC de sobrepeso. Quanto
à CB, a adequação de 100% e de 99,4%, a partir do percentil
50 (32,2 cm), para idade e sexo correspondente, evidencia
eutrofia. Verifica-se ainda, uma perda ponderal significativa de
1,5% entre a primeira e segunda semana, e uma perda grave
de 2,2%, entre a segunda e terceira semana de internamento,
o que pode ser atribuída à mudança do padrão alimentar, pois
durante anamnese, verificou-se um consumo habitual de
excesso de alimentos fontes de carboidratos simples e a
manutenção de uma alimentação sem restrições. Assim, a
mudança para uma alimentação saudável, não só
qualitativamente, mas também quantitativamente, pode ter
contribuído para essa perda ponderal inicial, estagnada na
quarta semana de avaliação, onde evoluiu com ganho de
peso, que pode ser favorecido também pela ingestão do SNO.

381
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
No exame físico, verificou-se ausência de ascite, edema
ou sinais de depleção de massa muscular ou gordurosa,
sendo observado apenas uma depleção leve de têmporas, em
face.
Diante de todos os parâmetros apresentados, o
paciente recebeu diagnóstico nutricional de eutrofia.

NECESSIDADES NUTRICIONAIS

As necessidades nutricionais do paciente foram


estimadas por meio da recomendação para transplante renal
tardio de Martins e Couto (2013), onde para as necessidades
calóricas em caso de infecção, estresse ou febre, recomenda-
se de 35 a 45 kcal/ kg de peso atual/ dia. Quanto às
necessidades proteicas, utilizou-se a recomendação da
EPUAP (2014), para lesão por pressão que é de 1,25 a 1,5g
de proteína/ Kg de peso atual/ dia, diante do quadro infeccioso
e da extensão da lesão ocasionada pelas múltiplas ressecções
cirúrgicas, sendo necessário um maior aporte proteico para
promover o processo de cicatrização, conforme tem sido
evidenciado na literatura (BOTTONI et al, 2011).
Por se tratar de um paciente eutrófico, foi optado por 35
Kcal/Kg/dia e 1,25g/proteína/dia, o que corresponde a 2359
Kcal e 84,25g de proteína/dia. Assim, foi ofertado uma dieta
hipercalórica, hiperproteica, hipossódica, reduzida em
carboidratos simples (justificada pelo uso de
imunossupressores), e em gorduras saturadas, de
consistência normal, fracionada em seis refeições diárias e
associada a SNO acrescido de arginina e rico em vitamina A,
C, E, Selênio e Zinco, duas vezes ao dia.

382
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
Durante o internamento, o paciente evoluiu com
aceitação plena da dieta e do SNO, sendo ofertado um total de
2316,47 Kcal (34,3Kcal/Kg) e 89,63g de proteína (1,32g/Kg),
com adequação de 98,2% e 106,3%, respectivamente,
atendendo as suas necessidades calórico-proteicas.
Em relação aos micronutrientes, foi possível suprir
100% das necessidades de micronutrientes, de acordo com o
recomendado pela EPUAP (2014) para a cicatrização, que
corresponde ao dobro das DRIS (Dietary Reference Intakes)
para as vitaminas e minerais. O paciente permaneceu em
acompanhamento nutricional e em uso de SNO. Foi iniciado
curativo a vácuo, e após sete dias, diante da melhora da
infecção, recebeu alta. Nesse momento, foi orientada a
importância da continuidade do tratamento nutricional em
casa, a partir da manutenção da suplementação e de uma
alimentação saudável e rica em antioxidantes.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atuação do nutricionista na atenção ao paciente


transplantado é de grande importância tendo em vista as
complicações que podem surgir decorrentes do uso crônico de
imunossupressores. Neste estudo de caso pode-se observar
que um aporte nutricional adequado é essencial na
cicatrização e dessa forma, o cuidado nutricional não se
restringe apenas a preservação do órgão transplantado, mas
também deve estar aliado a prevenção e tratamento de outras
complicações que venham a surgir no pós-transplante tardio.

383
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NA CICATRIZAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM
TRANSPLANTADO RENAL TARDIO
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386
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
CAPÍTULO 19

NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS


PARA A PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA
SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
Bruno Rafael Virginio de SOUSA 1
Glêbia Alexa CARDOSO 2
Hiarla Correia WANDERLEY 3
Mateus Duarte RIBEIRO 4
Márcio André Ferreira SOUSA 5
1
Pós-graduando em Nutrição Esportiva, FIP; 2 Doutoranda em Educação Física, UPE/ UFPB;
3
Graduada em Nutrição, FMN; 4 Graduando em Educação Física, UFPB, 5 Pós-Graduado em
Nutrição Esportiva, FIP.
brunorafaelnt@gmail.com

RESUMO: A síndrome metabólica (SM) é uma doença


multifatorial que cresce a cada dia. Diante disso, novas
perspectivas nutricionais acerca do controle e/ou tratamento
das comorbidades associadas à SM estão surgindo. O objetivo
do estudo foi apresentar a relação entre a nutrição, obesidade
e síndrome metabólica em adultos e as perspectivas futuras
visando à prevenção e o tratamento nutricional. Para tanto, foi
realizada uma revisão da literatura entre 2012 e 2017. Os
estudos demonstram que a dieta mediterrânea, apresenta
inúmeros benefícios, principalmente para a saúde
cardiometabólica. Dieta rica em ácidos graxos poli-
insaturados, em especial o ômega-3, apresentam benefícios
na saúde cardiovascular e marcadores inflamatórios,
fracionamento diário elevado, dieta de baixo índice glicêmico,
hipocalórica e padrões dietéticos antioxidantes demonstram
serem eficazes em portadores da SM. Constatou-se também,
que o consumo de compostos bioativos como vitamina C,
antocianinas e catequinas, hidroxitirosol, quercetinas,
resveratrol apresentam efeitos protetores e preventivos das
387
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
comorbidades associadas à SM. Novas estratégias
promissoras para a prevenção e tratamento da SM e
condições associadas através de uma escolha alimentar
adequada estão sendo alvos de estudos. Conclui-se que a
probabilidade de melhorar as comorbidades relacionadas com
a SM será maior, pois o surgimento de condutas nutricionais
diferentes com enfoque mais aprofundado aumenta a chance
de resultados satisfatórios tomando como base os achados
recentes da literatura.
Palavras-chave: Doenças Crônicas. Dietoterapia. Novos
Tratamentos.

1 INTRODUÇÃO

Vários fatores estão relacionados com a prevalência


estável da Síndrome Metabólica (SM), enfatizando seus cinco
componentes: Hipertensão Arterial (HA), níveis elevados de
triglicerídeos, baixos níveis de lipoproteína de alta densidade
(HDL), obesidade abdominal e glicemia de jejum elevada.
Também podem ser utilizados outros critérios de classificação
da SM, tais como: estado pró-inflamatório (proteína C-reativa
elevada [PCR]), estado protrombótico (aumento do inibidor do
ativador plasminogênio tipo 1 [PAI-1] e fibrinogênio), aumento
da lipoproteína de baixa densidade (LDL), inatividade física,
tabagismo, alta frequência cardíaca (FC) de repouso e baixa
variabilidade da FC (TRAN; JEONG; OH, 2017).
Como fator de risco para a SM, destaca-se o sobrepeso
e a obesidade que são definidos como: o acúmulo excessivo
de gordura que ocasiona riscos para a saúde. Como
parâmetro para avaliação da obesidade de modo geral, o mais
utilizado é o índice de massa corporal (IMC), sendo
classificado como obeso o indivíduo que apresenta um IMC ≥

388
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
30 Kg/m² e com sobrepeso um IMC ≥ 25 Kg/m² (WHO, 2017).
Entretanto, ressalta-se que o IMC não reflete a distribuição da
gordura corporal, nem é capaz de distinguir a massa gorda da
massa magra, sendo um índice menos preciso e que pode ser
superestimado em indivíduos com maior quantidade de massa
muscular.
Desta forma, é necessária a avaliação em conjunto com
outras medidas de adiposidade abdominal, como
circunferência da cintura (CC), relação cintura/altura (RCA) e
relação cintura/quadril (RCQ), já que indivíduos com o mesmo
IMC podem ter diferentes níveis de gordura visceral e possuir
associação com a SM.
Sendo assim, este trabalho objetivou apresentar a
relação entre a nutrição, obesidade e síndrome metabólica em
adultos e as perspectivas futuras visando à prevenção e o
tratamento nutricional da SM.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Constituiu-se de uma revisão da literatura, que envolveu


a escolha e análise de vários artigos científicos relativos ao
tema escolhido. Para o levantamento bibliográfico, realizou-se
busca de dados nas bases eletrônicas Sciencedirect, Pubmed,
Web Of Science e Periódicos CAPES, utilizando os termos
indexadores: metabolic syndrome, obesity, nutrition, dietary
factors and intervention.
Como critérios de elegibilidade, foram considerados
artigos no idioma inglês, no intervalo temporal de 2012 a 2017,
que contemplassem aspectos atuais da prevenção e
tratamento da síndrome metabólica. Como critérios de
exclusão, foram descartados os que não apresentavam

389
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
perspectivas de fatores nutricionais e estudos experimentais.
Desta forma, dos 55 artigos pesquisados, 44 foram
selecionados e lidos na íntegra.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A SM ocorre quando uma pessoa possui três ou mais


dos seguintes fatores: Obesidade abdominal (circunferência
abdominal > 102 centímetros para homens e > 88 centímetros
para mulheres); nível de triglicerídeos ≥ 150 miligramas por
decilitro de sangue (mg / dL) ou Colesterol HDL < 40 mg / dL
para homens ou < 50 mg / dL para mulheres; Pressão arterial
sistólica > 130 milímetros de mercúrio (mmHg) ou maior, ou
pressão arterial diastólica > 85 mmHg e Glicose em jejum ≥
100 mg / dL (LA-IGLESIA et al., 2016).
Prevenir e combater os fatores de risco para a SM é o
objetivo principal durante os últimos anos. Sobre isso, no
estudo realizado por Gennuso et al. (2014), foi constatado que
o aumento do índice de sedentarismo, níveis elevados de
triglicerídeos, glicemia de jejum e baixo HDL foram associados
com maior risco de desenvolvimento da SM. A prevalência
dessa síndrome foi de 19% e o tempo de Comportamento
Sedentário (CS) diário médio foi de 8,1 ± 2,8 h, com 90 ± 25
pausas/dia.
Diante disso, torna-se uma grande preocupação
encontrar medidas e estratégias eficazes que serão capazes
de detectar, tratar e controlar as comorbidades associadas à
síndrome metabólica. Nesse contexto, estudos têm
demonstrado que o consumo de alimentos que compõem o
padrão da dieta mediterrânea, caracterizada pelo alto
consumo de grãos integrais, oleaginosas, legumes, frutas e

390
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
vegetais, vinho tinto, peixe e azeite de oliva extra virgem,
promovem efeitos benéficos para a saúde cardiometabólica,
devido à sua rica composição em nutrientes e fitoquímicos
bioativos e com potencial para influenciar as vias metabólicas.
Os efeitos deste tipo de padrão alimentar foram
demonstrados pela redução do Colesterol Total (CT) e
triglicerídeos (TG), aumento do colesterol HDL, melhora do
controle glicêmico, diminuição da pressão arterial, adiposidade
reduzida e ações antioxidantes e anti-inflamatórias, resultando
na diminuição do risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2
e SM, como mostra a Figura (1) (SALAS-SALVADÓ et al.,
2016).

Figura 1. Os principais nutrientes da Dieta Mediterrânea e


seus alvos biológicos.

Fonte: Salas-Salvadó et al. (2016).

391
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
Zhang et al. (2017), avaliaram o efeito do
aconselhamento dietético da American Heart Association
(AHA) na redução do consumo de açúcar adicionado aos
alimentos entre indivíduos com SM e verificaram que após 12
meses de aconselhamento, a ingestão de açúcares diminuiu
23,8 g/dia, além de reduzir a ingestão de bebidas não
alcoólicas. No entanto, para 48% dos participantes o consumo
de açúcar adicionado ainda excedeu os limites recomendados.
Em outra vertente, a modulação da microbiota intestinal
através da dieta, visando equilibrar a composição de bactérias,
tem emergido como uma estratégia promissora para auxiliar
no tratamento da SM.
Nesse sentido, um estudo experimental com 28 ratos
constatou que a administração de frutooligossacarideo (FOS)
durante 8 semanas com uma dosagem de 0,6g/dia melhorou o
controle do apetite e as desregulações glicêmicas (tolerância à
glicose e resistência à insulina), acompanhado por um
aumento dos níveis de Interleucina-10 (IL-10), citocinas anti-
inflamatórias plasmáticas e Ácido Ribonucleico mensageiro
(RNAm) hipotalâmico, além da expressão da citocina
anorexigênica Interleucina 1 (IL-1) (COSSÍO et al., 2016).
Ensaio clínico realizado com 93 voluntários com idade
entre 25 e 55 anos, IMC ≥ 28kg/m 2, circunferência da cintura ≥
80 cm (mulheres), ≥ 90 cm (homens), relação cintura-quadril ≥
0,85 (mulheres) e ≥ 0,90 (homem), constatou que portadores
de SM se beneficiaram com uma intervenção dietética
baseada em grãos integrais, alimentos tradicionais da cultura
chinesa ricos em fibras alimentares como, aveia, trigo
sarraceno, feijão branco, milho amarelo, feijão vermelho, soja,
inhame, e prebióticos durante 9 semanas. A perda média de
peso atingiu 5,79 kg, além de proporcionar melhorias na

392
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
sensibilidade à insulina, perfil lipídico, pressão arterial e
aumento das bactérias protetoras da barreira intestinal, do
gênero Bifidobacteriaceae e redução do tipo
Enterobacteriaceae e Desulfovibrionaceae (XIAO et al., 2014).
Observou-se também, uma redução do fator de necrose
tumoral alfa (TNF-α), interleucina-6 (IL-6) e aumento da
adiponectina, sugerindo assim, que a modulação da
microbiota intestinal através da intervenção dietética pode
aumentar a integridade da barreira intestinal e reduzir a carga
de antígeno circulante, melhorando a inflamação sistêmica e
os fenótipos metabólicos (XIAO et al., 2014).
Haro et al. (2015) em estudo randomizado e controlado,
objetivaram testar o efeito de dois padrões dietéticos, a dieta
mediterrânea e uma dieta rica em carboidratos com baixo teor
de gordura, verificando os possíveis efeitos sobre a microbiota
intestinal de 138 pacientes com SM durante 24 meses. Foi
constatado que o consumo da dieta mediterrânea à longo
prazo restaurou parcialmente a população de P. distasonis, B.
thetaiotaomicron, F. prausnitzii, B. Adolescentis e B. longum
em pacientes com SM. Sugerindo assim, que a dieta
mediterrânea pode ser uma estratégia eficaz para a
restauração das bactérias benéficas da microbiota intestinal
em pacientes com SM.
Recente pesquisa realizada por Hajiluian; Farhangi; e
Jahangiry (2017), avaliaram a ingestão dietética através de um
questionário semi-quantitativo de frequência alimentar (QSFA)
de 200 voluntários, sendo 150 indivíduos com SM e 50
indivíduos saudáveis. Como resultado, constatou-se que os
pacientes com SM que consumiam maiores quantidades de
colesterol dietético apresentavam níveis mais elevados de
triglicerídeos. Destacou ainda, que os participantes que

393
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
consumiam grandes quantidades de peixes (30 a 60g) e
frutas/vegetais (400 a 700g) apresentaram concentrações de
LDL significativamente mais baixas.
Nos últimos anos tem surgido várias outras estratégias
alimentares verificando seus potenciais efeitos positivos na
prevenção e tratamento de diferentes complicações
associadas à SM.
Apesar de ser uma prática aplicada a muitos anos, a
restrição energética ainda sim apresenta efeitos na
composição corporal. Isso ocorre através da mobilização de
gordura de diferentes compartimentos do corpo, como
consequência do processo de lipólise necessário para fornecer
substratos energéticos (GRAMS; GARVEY, 2015). Esse
processo é importante, principalmente em pessoas que estão
com sobrepeso ou obesidade.
Vale ressaltar também, que perda de peso é fator
preponderante, visto que, está associada à melhoria de
distúrbios relacionados à SM como a obesidade abdominal,
diabetes tipo 2, DCV ou inflamação, além de estar vinculada a
melhora na sensibilidade à insulina periférica e secreção
desse hormônio (GRAMS; GARVEY, 2015; GOLAY et al.,
2013). Desta maneira, indivíduos com excesso de peso
corporal que estão em risco de desenvolver diabetes tipo 2,
podem se beneficiar de uma dieta hipocalórica para melhorar
os níveis plasmáticos de glicose e a resistência à insulina se
configurando assim, como uma forma de tratamento da SM
(LA-INGLESIA et al., 2016).
Outro tipo de padrão dietético que tem apresentado
bons resultados é a dieta rica em ácidos graxos poli-
insaturados, em especial o ômega-3, cujas principais fontes
alimentares são óleos de peixe, algas e peixes gordurosos,

394
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
principalmente de águas frias e profundas. Nesse sentido,
existem evidências que sugerem que os ácidos graxos poli-
insaturados ômega-3, principalmente o ácido
eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA), possuem
um papel positivo na prevenção e tratamento das patologias
associadas à SM, destacando-se a capacidade de reduzir o
risco de desenvolver alterações cardiovasculares e
cardiometabólicas, bem como mortalidade relacionada à DCV
(WEN; DAI; GAO, 2014).
Além disso, Maiorino et al., (2016) destacam que o
ômega-3 apresentou efeitos anti-inflamatórios em diferentes
estudos, onde as pessoas que aderiram a uma dieta rica neste
ácido graxo poli-insaturado, obtiveram redução nos níveis
plasmáticos das citocinas pró-inflamatórias IL-6 e fator de
necrose tumoral alfa (TNF-α) bem como, redução dos níveis
de proteína C reativa.
Definida como um indicador de qualidade dietética, a
capacidade antioxidante total da dieta (TAC), tem sido
utilizada como novo padrão dietoterápico no tratamento de
SM. A alta quantidade de antioxidantes contida na dieta atua
eliminando os radicais livres e outras espécies reativas
produzidas no organismo (MAIORINO et al., 2015). Tal
estratégia tem importância comprovada pois, levando em
consideração que o estresse oxidativo é um dos estados
fisiológicos indesejados da SM, alimentos com alta capacidade
antioxidante são de interesse primordial na prevenção e
tratamento desta desordem multifatorial (ZULET; MORENO-
ALIAGA; MARTÍNEZ, 2012).
Desta maneira, o consumo de uma dieta com um alto
teor de especiarias, ervas, frutas, vegetais, nozes e chocolate
com alto teor de cacau está associado a um menor risco de

395
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
desordens relacionadas ao desenvolvimento do estresse
oxidativo (MAIORINO et al., 2015).
Destaca-se também, que o fracionamento da dieta é
positivo do ponto de vista dietoterápico. O mecanismo
sugerido mais aceitável é que a frequência crescente de
refeições diminui as oscilações dos níveis de glicose
plasmática e também reduz a secreção de insulina, que
parece contribuir para um melhor controle do apetite em
populações com excesso de peso ou níveis de glicose
elevados (HEDEN; LECHEMINANT; SMITH, 2012;
PERRIGUE et al., 2016). Todas as estratégias mencionadas
são descritas abaixo na tabela 1.

Tabela 1: Potenciais efeitos benéficos de diferentes padrões


alimentares no tratamento de comorbidades da SM.
Doença
Padrão da
Metabólica Mecanismo Referência
dieta
melhorada
Obesidade Lipólise
Melhora da
Dieta com Diabetes glicemia e Grams;
restrição de tipo II resistência a Garvey,
energia insulina (2015)
Diminuição de
Inflamação
IL-6
Diminui IL-6 e Fleming; Kris-
Inflamação
TNF-α Etherton
Dieta rica em (2014), Wen;
ômega 3 Dai; Gao
Diminui TG e
DCV (2014),
LDL-c oxidada
Maiorino et al.
(2016)

396
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
Dieta com Bellastella et
baixo índice Diabetes Diminui HbA1c al. (2015),
glicêmico tipo II e frutosamina Bellastella et
al. (2015b)

Dieta com Maiorino et al.


capacidade Estresse Atua diminuido (2015)
atioxidante oxidativo os radicais livres
alta
Diminuiu Heden;
Dieta com alto oscilações de LeCheminant;
fracionamento glicose Smith (2012),
Obesidade
diário plasmática e Bachman;
secreção de Raynor (2012)
insulina
Legenda: DCV (Doença Cardiovascular), HbA1c (Hemoglobina glicada),
HDL (Lipoproteina de Alta Densidade), IL-6 (Interleucina 6), LDL
(Lipoproteina de Baixa Densidade), PAD (Pressão Arterial Diastólica), PAS
(Pressão Arterial Sistólica), TG (Triglicerídeo), TNF-α (Fator de Necrose
Tumoral alfa)
Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Estudos recentes, com foco na ação molecular de


compostos nutricionais bioativos, identificaram efeitos
positivos dessas substâncias sobre a SM. Entre essas
estratégias personalizadas no âmbito da nutrição molecular
estão: os flavonoides, vitaminas antioxidantes e polifenóis
(RIOS-HOYO et al., 2014).
Nesta perspectiva, vários efeitos benéficos são
associados à vitamina C (ascorbato) entre eles, o potencial
antioxidante e suas propriedades anti-inflamatórias e
preventivas, tratamento de DCV e diabetes tipo II. Esse efeito
antioxidante do ascorbato é explicado pelo fato de que, a
vitamina C atua sobre os radicais livres e outras espécies

397
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
reativas de oxigênio e nitrogênio e, portanto, impedindo
moléculas como LDL-c da oxidação (MASON et al., 2016).
A suplementação com vitamina C também foi associada
à prevenção de DCV, melhorando a função endotelial (ASHOR
et al., 2015). Tal efeito parece ser exercido pela capacidade da
vitamina C em aumentar a enzima endotelial óxido nítrico
sintase (eNOS) e reduzir a glicação de HDL-c, se configurando
assim, uma importante opção nutricional para pacientes com
síndrome metabólica que comumente apresentam estágios de
inflamação em diferentes graus (KIM et al., 2015).
Outros compostos bioativos, com efeitos positivos sobre
a SM, que têm ganhado destaque são as antocianinas, elas
podem ter a capacidade de prevenir DCV por mecanismos que
melhoram a função endotelial através do aumento da dilatação
fluxo mediada da artéria braquial, elevação de HDL-c, e
diminuição das concentrações séricas da Molécula de Adesão
Vascular-1 (VCAM-1) e LDL-c (ZHU et al., 2014). Como fontes
desses compostos destacam-se as uvas roxas, pêssegos,
cerejas, ameixas, romã, berinjela, feijão preto rabanetes
vermelhos, cebolas vermelhas, repolho vermelho, milho roxo
ou batata doce roxa (SMERIGLIO et al., 2016).
Outros tipos de polifenóis são as catequinas, essas
substâncias têm recebido destaque por seu efeito
cardioprotetor e antiobesidade. Esses compostos podem ser
encontrados em uma variedade de alimentos, incluindo frutas,
vegetais, chocolate amargo, vinho tinto e chá verde (KESKE et
al., 2015). Os mecanismos de ação sugeridos para explicar
esses efeitos sobre a composição corporal são: aumento do
gasto energético, oxidação e redução da absorção de gordura
(HUANG et al., 2014). Quanto aos efeitos anti-inflamatórios,

398
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
esses polifenóis podem reduzir moléculas pró-inflamatórias
tais como interleucina 8 (IL-8), IL-1 ou PCR (ZHU et al., 2013).
Além disso, o gasto de energia é aumentado pela
inibição da catecol-O-metiltransferase e da fosfodiesterase,
enzimas que estimulam o sistema nervoso simpático
causando uma ativação do tecido adiposo marrom. Já a
oxidação da gordura é mediada pela regulação positiva da
acil-CoA desidrogenase e peroxisomal, enzimas beta
oxidantes (HURSEL; WESTERTERP-PLANTENGA, 2013).
Com relação aos efeitos cardioprotetores, a ingestão de
catequinas também tem sido associada a menor risco de
desenvolvimento de DCV por meio da melhora do perfil
lipídico, pois o consumo deste tipo de polifenol foi relacionado
ao aumento do HDL-c, diminuição do LDL-c e colesterol total
(KHALESI et al. 2014). As catequinas apresentam também,
propriedades antidiabéticas com possíveis efeitos sobre a
glicemia de jejum e sensibilidade à insulina, demonstrando
assim, importante estratégia contra a SM (HURSEL;
WESTERTERP-PLANTENGA, 2013).
Considerado o mais potente antioxidante presente no
azeite e um dos principais antioxidantes na natureza, o
hidroxitirosol atua como um poderoso eliminador de radicais
livres e como quelador de metais com a capacidade de inibir a
oxidação de LDL-c pelos macrófagos, além de apresentar
propriedades anti-aterogênicas por meio da diminuição da
expressão de VCAM-1 e molécula de adesão intercelular 1
(ICAM-1) (VILAPLANA-PEREZ et al., 2014).
Já a quercetina é um flavonol predominantemente
presente em vegetais, frutas, chá verde ou vinho tinto. A
respeito das possíveis vantagens do uso desse composto,
muitos efeitos benéficos que podem contribuir para a melhoria

399
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
da SM foram atribuídos a este polifenol, entre eles, sua
capacidade antioxidante deve ser destacada, como tem sido
relatado por inibir a peroxidação lipídica e aumento de
enzimas antioxidantes, como superóxido dismutase (SOD),
catalase (CAT) ou glutationa peroxidase (GPX) (VINAYAGAM;
XU, 2015).
Ainda segundo Vinayagam e Xu (2015), a quercetina
pode melhorar a hiperglicemia inibindo o transportador de
glicose 2 (GLUT2) e fosfatidilinositol-3-quinase dependente de
insulina (PI3K) e bloqueando a tirosina quinase (TK). Além
disso, já foi mencionado que a quercetina também atua como
cardioprotetor, pois a mesma tem a capacidade de reduzir a
pressão arterial, porém, os mecanismos de ação não estão
totalmente elucidados, assim como também é citado que a
quercetina aumenta eNOS, contribuindo para a inibição da
agregação plaquetária e melhora da função endotelial (CLARK
et al., 2015).
Outro composto fenólico bastante utilizado é o
resveratrol, encontrado principalmente em uvas roxas e seus
derivados (vinho tinto e suco de uva), e que se destaca por
seus efeitos anti-inflamatórios cujo mecanismo de ação é
mediado pela inibição da sinalização do Fator Nuclear Kappa
Beta (NFkB) (REN et al., 2013). Além disso, esse polifenol
reduz a expressão de citocinas pró-inflamatórias tais como: IL-
6, IL-8, TNF-α, Proteina Quimiotática de Monócito 1 (MCP-1) e
Enzima Oxido-nitro-sintetase endotelial (eNOS), bem como,
inibe a expressão e atividade da cicloxigenase (COX), via
envolvida na síntese de lipídios proinflamatórios mediadores
(LATRUFFE et al., 2015).
Além disso, também foi descrito que o resveratrol pode
ter um papel importante na prevenção da obesidade, em se

400
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
tratando do melhoramento do metabolismo energético,
aumento da lipólise e redução da lipogênese (GAMBINI et al.,
2015). Porém, existe a necessidade de mais estudos que
corroborem esses achados.
A Tabela 2 apresenta de maneira sintetizada os
principais achados do papel dos compostos bioativos no
tratamento da SM.

Tabela 2. Principais compostos bioativos com potencial efeito


benéfico sobre a SM.
Componente Efeito fisiológico Referência
bioativo
Diminuição de radicais livres Chambial et al.
Ascorbato
e regeneração de moléculas (2013); Kim et al
(vitamina)
oxidadas (2015)
Aumento de HDL, Zhu et al. (2014)
Antocianina diminuição de VCAM-1 e
(polifenol) LDL
Diminuição de IL-8, IL-1β e Zhu et al. (2013)
PCR
Aumentou HDL e diminuiu Huang et al.
LDL e Colesterol Total (2014); Hursel e
Catequinas Diminuiu os níveis de Westerterp-
(polifenol) glicose de jejum e melhorou Plantenga
sensibilidade a insulina (2013); Khalesi
et al. (2014)
Aumentou eNOS e diminuiu
Hidroxitirosol COX Vilaplana-Perez
(polifenol) Diminuição da oxidação de et al. (2014)
LDL, ICAM-1,
VCAM-1
Diminuição de PI3K e
GLUT2 NFkβ, TNF-α,
AMPK, IL-6, IL-1β, IL-8 e
MCP-1 Vinayagam e Xu
Quercetina Diminuição da Adipogênese (2015); Clark et

401
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
(polifenol) geral AMPK e PPAR al. (2015);
Diminuição da peroxidação Larson et al.
lipídica e aumento das (2012)
enzimas antioxidantes
Diminuição de NFkB, IL6, Bitterman e
IL-8, TNF-α, MCP-1, Chung (2015);
Resveratrol eNOS, COX Latruffe et al.
(polifenol) Aumento da lipólise e (2015); Gambini
diminuição da lipogênese et al. (2015)
Diminuiação da oxidação de
LDL e PUFAs
Legenda: AMPK (Proteina Ativada por AMP), COX (Cicloxigenase), eNOS
(Enzima Oxido-nitro-sintetase endotelial), GLUT-2 (Transportador de
Glicose 2), HDL (Lipoproteina de Alta Densidade), ICAM-1 (Molécula de
Adesão Intercelular-1), IL-6 (Interleucina 6), IL-8 (Interleucina 8), IL-1β
(Interleucina 1 beta), LDL (Lipoproteina de Baixa Densidade), MCP-1
(Proteina Quimiotática de Monócito 1), NFkβ (Fator Nuclear Kappa Beta),
VCAM-1 (Molécula de Adesão Vascular-1), P13K (Fosfatodilinositol-3-
Quinase), PCR (Proteina C Reativa), PPAR (Receptor Ativado por
Proliferadores de peroxissomos), TG (Triglicerídeo), TNF-α (Fator de
Necrose Tumoral alfa),
Fonte: La-Iglesia et al. (2016).

4 CONCLUSÕES

Estudos crescentes têm demonstrado novas estratégias


promissoras para a prevenção e tratamento da SM e
condições associadas. A partir dessa nova perspectiva da
nutrição (dieta mediterrânea, modulação da microbiota
intestinal, restrição calórica, dieta rica em ômega-3, alta
capacidade antioxidante e vários compostos bioativos), a
probabilidade de melhorar as comorbidades da SM será maior,
pois o surgimento de condutas nutricionais diferentes com
enfoque mais aprofundado aumenta a chance de resultados
satisfatórios tomando como base os achados apresentados
nessa revisão.

402
NOVAS PERSPECTIVAS NUTRICIONAIS PARA A PREVENÇÃO E
TRATAMENTO DA SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO
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406
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
CAPÍTULO 20

FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À


OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS NO
MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
Francisca Mikelly Virgolino BATISTA1
Ivandro Gomes da SILVA1
Ana Clara Patriota Lopes da SILVA1
Fernanda Patrícia Torres BARBOSA2
Jullyane de Oliveira Maia LEMOS2
1
Graduandos do curso de Nutrição, FIP; 2 Orientadora/Professora da FIP.
mikelly.nutricao@gmail.com

RESUMO: Nos últimos anos, o índice de adultos com excesso


de peso e obesidade, se tornou uma epidemia mundial em
todos os países. Objetivou-se do estudo foi analisar os
principais fatores de risco associados à obesidade em adultos
no município de Pedra Branca-PB. A pesquisa de campo foi
quantitativa e descritiva, o trabalho foi desenvolvido com um
grupo de 36 adultos com diagnóstico de obesidade, do sexo
masculino e feminino, com idade entre 24 e 58 anos. Foi
aplicado um questionário socioeconômico, e realizada uma
avaliação do estado nutricional através de índice de massa
corporal (IMC) e da relação cintura quadril (RCQ). De acordo
com dados da pesquisa o peso dos sujeitos, variou de 63 a 97
kg, em relação à altura variou de 1,41 a 1,76cm, Sobre os
resultados do IMC, obteve-se valores de 30,04 a 36,88 Kg/m
O estudo em pesquisa, mostrou uma predominância alta, o
valor médio de IMC obtido foi de 32,64, sendo 94,4% com
obesidade grau um e 5,6% grau dois, dados que demonstram
a necessidade de um melhor entendimento sobre o
407
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
desenvolvimento da obesidade, além da aplicação de ações
governamentais. Concluiu-se que os principais fatores de risco
associados à obesidade em adultos no município de Pedra
Branca-PB foram o consumo em excesso de alimentos pobres
em nutrientes e ricos em calorias como bebidas e doces.
Palavras-chave: Educação nutricional. Alimentação saudável.
Peso corporal.

1 INTRODUÇÃO

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são


doenças que tem um período prolongado e acometem as
pessoas em qualquer fase da vida, caracterizam-se como um
dos principais problemas de saúde pública no mundo, e
atingem a maioria da população. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS) 63% das mortes no
mundo estão relacionadas a estas doenças (BAUMGARTEL et
al., 2016). Dentre as principais DCNT estão o câncer, doenças
metabólicas, respiratórias, cardiovasculares, hipertensão.
Existem vários fatores que influenciam o desenvolvimento
dessas patologias, entre estes estão à inatividade física,
hábitos alimentares errôneos, tabagismo, o estilo de vida, a
realização das refeições em horários inadequados.
Dentre as DCNT destaca-se a obesidade que é uma das
principais causas de morte no Brasil, esta doença pode atingir
todas as pessoas, independente da faixa etária que se
encontra. Um dos métodos mais utilizados para o diagnóstico
da obesidade em adultos é a avaliação do índice de massa
corporal (IMC), onde com índice maior ou igual a 30 kg/m2 é
realizada sua classificação (SANTOS et al., 2012). Há alguns
anos a desnutrição era considerada o maior problema de

408
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
saúde pública a ser enfrentado. Atualmente devido ao
processo de transição nutricional, a obesidade se apresenta
como o principal desafio pois é crescente o índice de pessoas
obesas principalmente em países desenvolvidos (SOUZA et
al., 2014).
A obesidade é, desse modo, considerada um dos
principais fatores de risco para a saúde, e um grave distúrbio
nutricional, porém com o hábito alimentar das pessoas e a
modernização, sua prevalência tende a aumentar
gradativamente, interferindo na qualidade de vida das
pessoas, e diminuindo a taxa de longevidade (LOURENÇO;
RUBIATTI, 2016).
A obesidade coloca em risco a saúde e os pacientes
obesos tem maiores chances de desenvolver complicações
em relação a saúde como alterações nas taxas de
triglicerídeos, glicose, e colesterol total elevando o risco de
desenvolvimento de outras patologias como problemas
cardíacos, diabetes tipo II, alguns tipos de câncer, além disso
a obesidade pode relacionar-se a mudanças de
comportamento ligadas a baixa autoestima (SILVEIRA et al.,
2013).
Obesidade é uma da doença crônica não transmissível
caracterizada pelo acúmulo do tecido adiposo no corpo, seus
índices têm crescido em vários países tornando-se uma
preocupação mundial por ser uma das principais causas de
óbito. Este esta doença pode levar ao surgimento de várias
complicações para o organismo, tanto psicológicas,
metabólicas, alterações no comportamento alimentar e físico
(SANTOS et al., 2012; SWAROWSKY et al., 2012).
O estilo de vida, é um dos principais fatores que estão
diretamente ligados aos fatores de risco para a obesidade,

409
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
tendo relação com a alimentação inadequada e a inatividade
física, estes influenciam ao surgimento da obesidade
(BARBIERI; MELLO, 2012).
As características da alimentação relacionam-se ao
desenvolvimento da obesidade, os hábitos alimentares e a
forma como os alimentos são preparados e consumidos estão
associados ao aparecimento desta doença, onde em grande
parte dos casos ocorrem modificações e substituições de
alimentos nutritivos por lanches rápidos. Os alimentos
industrializados, são os mais consumidos, por serem de rápido
preparo porém com quantidades elevadas de gorduras,
açúcares e baixos valores de vitaminas, minerais,
carboidratos, proteínas, lipídeos e fibras para suprir as
necessidades para o bom funcionamento metabólico
(OLIVEIRA; MARTINS, 2013).
De acordo com a POF (2008-2009), houve um
crescente aumento do índice de obesidade em adultos, no
entanto, com a transição nutricional, ocorreu um aumento
significativo no consumo de alimentos industrializados
resultando em consequente aumento do percentual de
gordura. Desse modo, o número de pessoas obesas e com
sobrepeso continua aumentando gradativamente. Surge então
um alerta quanto aos principais fatores de risco que estão
associados ao surgimento da obesidade em adultos, que
podem apresentar consequências negativas em relação a
saúde, qualidade de vida, estado nutricional e ingestão
alimentar, podendo precipitar o surgimento de complicações a
saúde. Os principais fatores de risco podem estar associados
a alimentação e com o desenvolvimento da obesidade.
As modificações corporais da obesidade podem estar
relacionadas aos fatores genéticos e algumas irregularidades

410
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
celulares que levam ao aumento do tecido adiposo, no
entanto, alguns genes incluídos no sistema neurológico estão
relacionados diretamente no processo de absorção dos
nutrientes presentes na alimentação, (REIS, 2015).
A herança genética está envolvida no
desenvolvimento da obesidade em todas as faixas etárias
em ambos os sexos, no entanto, quando existe esta
herança, as chances de ser diagnosticado com obesidade
são bem maiores (GRAHL et al., 2013).
De acordo com Malta (2014), através de dados da
VIGITEL, no período entre 2006 a 2012, o índice de adultos
com excesso de peso e obesidade, se tornou uma epidemia
mundial em todos os países e as consequências da obesidade
são umas das principais causas de morte em todas as faixas
etárias. Diante do crescente aumento, é importante se
conhecer os fatores de risco que estão associados ao
surgimento da obesidade e as formas de prevenção e
tratamento.
O paciente com diagnóstico de obesidade, tem medo e
preocupa-se com a sua imagem, não tendo segurança na
tentativa de perca de peso, sente-se solitário e a rejeição por
parte da sociedade faz com que o incômodo psicológico
aumente (LIMA; OLIVEIRA, 2016).
São vários os métodos utilizados para o tratamento da
obesidade, como a reeducação alimentar aliada a mudanças
no estilo de vida, a técnica cirúrgica; o uso de medicamentos
sob prescrição médica, a perda de peso associada a outros
métodos auxiliam na prevenção de complicações futuras. A
obesidade é uma doença que exige um tratamento adequado
buscando minimizar o risco de desenvolvimento de patologias
associadas a ela (NISSEN et al., 2012).

411
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
Diante do exposto, objetivou-se através deste estudo
analisar os principais fatores de risco associados à obesidade
em adultos no município de Pedra Branca-PB, para isso
buscou-se descrever quais os fatores de risco que podem
estar associados a obesidade nesses indivíduos, identificar as
principais causas que podem estar relacionadas a alimentação
no desenvolvimento do quadro de obesidade, assim como
também relacionar os fatores de risco ao perfil
socioeconômico.

2 MATERIAIS E MÉTODO

De acordo com a metodologia utilizada, foi realizada


uma pesquisa de campo, quantitativa e descritiva sobre os
principais fatores de risco que estão associados à obesidade,
em uma área de abrangência do Núcleo de Apoio a Saúde da
Família (NASF), do município de Pedra Branca – PB que está
localizado na microrregião de Itaporanga, no sertão paraibano
e segundo os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), no ano de 2010 a população era estimada em
3.721 habitantes.
O trabalho foi desenvolvido com um grupo de 36 adultos
com diagnóstico de obesidade, do sexo masculino e feminino,
com idade entre 24 e 58 anos, sendo utilizado a amostragem
não probabilística para a realização da pesquisa, no NASF do
município de Pedra Branca.
Foram incluídos na pesquisa adultos obesos que são
acompanhados pela nutricionista do NASF da cidade de Pedra
Branca-PB e excluídos aqueles que apresentaram algum
diagnóstico confirmado de síndrome ou distúrbio mental, ou
algum tipo de intolerância alimentar.

412
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
Para o desenvolvimento do estudo foi utilizado um
Questionário Socioeconômico onde foram obtidas informações
relativas a idade, sexo, estado civil, grau de escolaridade,
renda familiar, número de moradores por domicílio, e
existência de pessoas com diagnóstico de obesidade na
família. Além disso, foi aplicado um Questionário de
Frequência Alimentar objetivando o conhecimento da ingestão
de grupos alimentícios comumente incluídos na dieta da
população brasileira e que podem relacionar-se ou não com o
surgimento de um quadro de obesidade como leite e
derivados, cereais, tubérculos, massas, pães e biscoitos,
leguminosas, verduras e legumes, frutas, carnes e ovos,
bebidas (refrigerantes), doces e industrializados.
Para estabelecer os dados antropométricos dos adultos,
foi realizada uma avaliação do estado nutricional e risco
cardiovascular dos participantes através de índice de massa
corporal (IMC) e da relação cintura quadril (RCQ) utilizando,
para isso, balança plataforma com estadiômetro, com
capacidade de até 150 kg, aferição de até 200cm e fita métrica
inelástica, ambos disponibilizados no próprio local de
aplicação do estudo. Os resultados obtidos por meio dos
dados antropométricos foram comparados com os dados de
padronização (ORGANIZAÇÃO ..., 2003).
Antes de seu início a proposta da pesquisa foi
apresentada à Secretaria Municipal de Saúde do município de
Pedra Branca - PB, sendo assim requisitada a assinatura no
Termo de Autorização Institucional, dando consentimento para
sua consumação. A coleta dos dados foi realizada na sede do
NASF no período de agosto a setembro de 2017, logo após a
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) das

413
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
Faculdades Integradas de Patos de acordo com parecer de nº
2.223.425.
No primeiro encontro houve a apresentação dos
objetivos da pesquisa, seus benefícios e como se daria sua
realização. Aceitando a participação os usuários da unidade
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –
TCLE de acordo com o Conselho Nacional da Saúde –
Resolução 466/12. Nesse mesmo encontro foi realizada a
coleta dos dados antropométricos dos indivíduos presentes no
local. Para aferir o peso a balança estava calibrada, para que
não haja erro no dado obtido, o participante avaliado estava
vestido com roupas leves ou com o mínimo de roupa possível,
retirar todos os adornos e calçados e manter-se parado no
meio da balança em posição ereta. Para aferir a altura o
avaliado se posicionou descalço, com a cabeça livre de
adereços, ereto, com os braços estendidos ao longo do corpo,
cabeça erguida, olhando para um ponto fixo na altura dos
olhos foi realizado a aferição no momento de inspiração. Para
aferir a circunferência da cintura e a circunferência do quadril,
o avaliado ficou em posição ereta, com os braços estendidos,
e estava com o mínimo de roupa possível para que não
houvesse erros nos dados obtidos.
Posteriormente, com os dados obtidos referentes ao
peso e estatura, foi feita uma análise do resultado desses
parâmetros que resultará no IMC (peso/altura2), assim, a
partir destes dados foi feita a classificação quanto ao grau de
obesidade. Em seguida foi feita uma análise em relação aos
dados obtidos da circunferência da cintura e do quadril, para
identificar o risco cardiovascular em relação ao valor obtido,
sendo utilizado a relação de RCQ (circunferência da
cintura/circunferência do quadril).

414
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
Os questionários tratando das questões
socioeconômicas e o consumo alimentar foram aplicados
nesta mesma oportunidade. O pesquisador, junto aos
profissionais do local, auxiliou no momento da aplicação
destes questionários, dando todo o apoio necessário e
esclarecendo possíveis dúvidas.
O programa estatístico utilizado para processamento e
análise dos dados obtidos foi o SPSS (Statistical Package for
the Social Sciences) na versão 22.0.
A demonstração dos dados foi expressa em tabelas e
gráficos para uma adequada observação dos resultados. A
análise estatística foi realizada por meio da aplicação do teste
Qui-Quadrado para avaliar correlação entre a ingestão
alimentar e fatores de risco associados a obesidade em
indivíduos adultos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa contou com a participação de 36 sujeitos


entre 24 e 58 anos, sendo 37,8% (n = 14) do sexo masculino e
59,5% (n = 22) do sexo feminino. Quando questionados sobre
o estado civil, observou-se que 18,9% eram solteiros, e 75,7%
casados, em relação ao grau de escolaridade, 5,6% eram
analfabetos, 13,9% com fundamental completo, 11,1% nível
superior, 41,7% fundamental incompleto e 27,8% nível médio.
Também de acordo com Lima et al. (2015), em relação ao
estado civil, o que teve maior atuação no grupo em estudo foi
o de casado (75,7%).
A renda familiar dos participantes se dividiu em 0 a 2
salários mínimos (75%), 22,2% de 3 a 5 salários e apenas
2,8% acima de 8 salários, no que diz respeito aos moradores

415
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
da residência de cada indivíduo, 2,8% moram sozinhos, 55,6%
com esposa/marido/companheiro, 27,8% com os filhos, 11,1%
com outros parentes e somente 2,8% com amigos e com
relação a quantidade de pessoas, 25% responderam que
moram com 1 ou 2 pessoas, 66,7% com 3 a 5 pessoas e
apenas 8,3% disseram que moram com mais de 5 pessoas.
Quando questionados sobre a existência de pessoas obesas
na família, 33,3% responderam que sim, 63,9% disseram que
não e 2,8% optaram por não responder. Dos 36 entrevistados
que foram avaliados, 37,8% eram do sexo masculino e 59,5%
do sexo feminino. Em comparação a outros estudos como o
de Lima et al. (2015), houve um predomínio de obesidade em
mulheres.
De acordo com dados demonstrados na Tab. (1) o peso
dos sujeitos, variou de 63 a 97 kg, em relação à altura variou
de 1,41 a 1,76cm, Sobre os resultados do IMC, obteve-se
valores de 30,04 a 36,88 Kg/m². A circunferência da cintura
variou de 94 a 122cm, Circunferência do quadril variou de 102
a 128cm, em relação ao RCQ variou de 0,89 a 1,02 cm.
O estudo em pesquisa mostrou, como descrito na Tab.
(1), uma média de 32,64. Dados que demonstram um quadro
preocupante e alarmante tendo em vista que segundo dados
bibliográficos a obesidade é um fator de risco para o
surgimento de outras doenças crônicas não transmissíveis
(SILVEIRA et al., 2013).

416
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
Tabela 1 – Distribuição dos dados quantitativos da amostra
(N=36)
VARIÁVEL MÉDIA *DP MÍNIMO MÁXIMO
IDADE 40,25 10,35 24 58
PESO 83,41 8,86 63 97
ALTURA 1,59 0,08 1,41 1,76
IMC 32,64 1,55 30,04 36,88
CIRCUNFERÊNCIA 103,75 7,16 94 122
DA CINTURA
CIRCUNFERÊNCIA 109,53 6,62 102 128
DO QUADRIL
RCQ 0,94 0,03 0,89 1,02
* Desvio padrão
Fonte: Pesquisa direta, 2017.

Linhares et al. (2012) em um estudo transversal realizado em


2010 na área urbana da cidade de Pelotas (região Sul), com
2.448 indivíduos, identificou que entre 2000 e 2010 houve um
aumento na média do IMC, sendo registrado em 2000, médias
de 25,7 e 26,5 e em 2010, médias de 26,9 e 27,4
respectivamente para homens e mulheres. O avanço da idade
e escolaridade mais baixa mostrou associação de obesidade
para as mulheres, já para a obesidade abdominal a
associação positiva permaneceu significativa. Para os
homens, o avanço da idade e melhor classe social houve
associação positiva para a obesidade.
É observável através da análise de IMC da presente
pesquisa, que os resultados indicam necessário cuidado dos
pacientes analisados, devido ao aumento dos fatores de risco
associados à obesidade. Na POF 2008-2009 houve
prevalência de obesidade para o Nordeste, de 9,9% para os
homens e 15,2% para as mulheres. Os dados da pesquisa
refletem uma tendência nacional. O Nordeste apresenta uma
417
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
população rural maior que a média nacional e índices de
escolaridades mais baixos, refletindo diretamente no estilo de
vida da população.
Na Fig.(1) fica demonstrado que em relação ao RCQ,
houve uma porcentagem de 69,4% para a classificação de
muito alto risco e de 30,6% para alto risco. Quando
comparados a dados da literatura, esses índices são
considerados elevados. Uma das principais dificuldades
enfrentadas é saber qual a principal causa que leva uma
pessoa a se tornar obesa, porém a maioria dos casos ocorrem
por fatores que estão relacionados ao estilo de vida da
população (OLIVEIRA; ALMEIDA, 2012).

Figura 1. Distribuição da relação RCQ

80 69,4
60
40 30,6
20
0
Alto Risco muito alto

Alto Risco muito alto

Fonte: Pesquisa direta, 2017.

Em Relação ao RCQ variou de 0,89 a 1,02, valor de


risco para o desenvolvimento de outras doenças crônicas não
transmissíveis associadas a obesidade. De acordo com o
estudo de Silveira et al. (2013), o excesso de gordura
abdominal pode estar associado ao crescente índice do grau
de obesidade, sendo um fator de risco para a saúde do grupo
em estudo. As medidas antropométricas foram realizadas
418
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
através de métodos padronizados, com balança calibrada
regularmente e fita métrica, sendo comparados com dados da
literatura para a obtenção dos resultados, os entrevistados
foram orientados em relação a alimentação saudável, na qual
foi esclarecido os principais fatores de risco que podem estar
associados a uma alimentação inadequada (LIMA; RIBEIRO;
LOPES, 2016).
A distribuição de RCQ da amostra neste estudo, reflete a
tendência nacional relacionada a obesidade consultada na
literatura, demonstrando criticidade em relação ao estado
clínico dos indivíduos analisados na pesquisa. Os fatores de
risco da obesidade estão associados a um maior risco de
acidente cardio respiratório, além dos obesos apresentarem
maiores chances do desenvolvimento de proteínas
relacionadas ao câncer, aumento do colesterol, perda da
qualidade do sono, também são fatores de risco associados a
obesidade, demonstrando a importância do tratamento e
acompanhamento da população obesa.
O acompanhamento do grau da obesidade é importante
pois o indivíduo que apresenta IMC acima da faixa
considerada saudável, pode vir a apresentar complicações
com o avanço da doença. Quanto maior o grau da obesidade,
há o aumento do risco de complicações à saúde.
Conforme demonstrado na Fig. (2), 94,4% da amostra
apresentou obesidade grau um e 5,6% grau dois. Souza
(2015), em seu estudo onde 619 indivíduos que frequentavam
um parque em Recife com média de idade de 50,6 ± 14,8,
identificou que 45% da amostra apresentava excesso de peso
e 25,7% obesidade, dos quais 20,7% com obesidade grau I,
3,9% com grau II e 1,1% com grau III. Os índices coletados na
pesquisa refletem os dados da literatura consultada,

419
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
demonstrando o quanto é preocupante a evolução do quadro
de obesidade apresentada pelos indivíduos, já que a
obesidade interfere na qualidade de vida e influencia outros
fatores da saúde.

Figura 2. Distribuição dos Dados Quantitativos do Grau de


obesidade do Grupo em Estudo.
Obesidade 1 (n=34)
50
94,4%

5,6%
0
Fonte: Pesquisa direta, 2017.

Quanto aos grupos de alimentos mais consumidos, o


consumo de cereais foi relatado de duas a cinco vezes na
semana, leite de uma a quatro vezes no mês, leguminosas
uma ou mais de uma vez ao dia, legumes de uma a quatro
vezes no mês, frutas de uma a quatro vezes no mês, carnes e
ovos de duas a cinco vezes na semana, bebidas de duas a
cinco vezes na semana, doces de uma a quatro vezes no mês.
De acordo com dados apresentados na Tab. (2).
O quadro de transição nutricional demonstra um
declínio no índice de desnutrição e um aumento na taxa de
doenças crônicas não transmissíveis, como a obesidade
associada a uma alimentação inadequada (LIMA et al., 2015).
De acordo com dados da literatura, para a reversão desde
índice alarmante de obesidade e doenças crônicas não
transmissíveis associadas aos hábitos alimentares errôneos,
seria indicado a inversão em bons hábitos alimentares e a
prática de atividade física, são muitas vezes modificações

420
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
difíceis de serem seguidas mas que trazem diversos
benefícios (SWAROWSKY et al., 2012).

Tabela 2 – Distribuição dos dados em relação aos alimentos.


GRUPOS DE ALIMENTOS Média Desvio Padrão
CEREAL 2,7 0,5
LEITE E DERIVADOS 2,3 0,7
LEGUMINOSAS 3,7 0,7
VERDURAS E LEGUMES 1,9 0,5

FRUTAS 2,1 0,5


CARNES E OVOS 2,7 0,5
BEBIDAS 2,8 1,3
DOCES E OUTROS 2,5 0,6
Fonte: Pesquisa direta, 2017

Na Fig. (3) estão relatados


os alimentos mais consumidos pelo grupo em estudo,
verificou-se que o grupo de alimentos com maior consumo foi
o de leguminosas, em seguida o grupo de bebidas, cereal,
carnes e ovos, doces e outros, leite e derivados, frutas e
verduras, que se associados a um estilo de vida inadequado
podem esta relacionados ao surgimento da obesidade em
comparação a dados da literatura.
Apesar dos hábitos alimentares brasileiros
apresentarem a ingestão frequente de sementes e hortaliças,
a mudança no estilo de vida, a forma de consumo moderno
tem influenciado negativamente o quadro nutricional do
brasileiro. A ingestão aumentada de produtos industrializados
mostram combinação com o aumento dos índices de
obesidade. Baumgarter et al. (2016) observaram em

421
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
resultados de prevalência de índices de proteção para
doenças crônicas não transmissíveis, resultado de 51,20%
para homens e 70,40% para mulheres, quanto ao consumo
regular de frutas/hortaliças, 9,57% para homens e 16,14 %
para mulheres quanto ao consumo recomendado de
frutas/hortaliças e 46,89% para homens e 40,36% para
mulheres quanto ao consumo de feijão.

Figura 3. Distribuição dos alimentos mais consumidos

4 3,7
2,7 2,7 2,8 2,5
3 2,3 2,1
1,9
2
1
0

Fonte: Pesquisa direta, 2017

No estudo de Oliveira e Almeida (2012) foi observado


que uma das principais causas para o surgimento da
obesidade são os hábitos alimentares errôneos, mas existe
uma grande dificuldade para definir exatamente a principal
causa que leva uma pessoa a ser obesa, na qual o estilo de
vida tem influência direta, tendo em vista o fato de a
obesidade apresentar-se como uma patologia multicausal.
De acordo com o resultado da pesquisa em
comparação a estudos de Silveira et al. (2013) houve uma
associação da obesidade com o grau de escolaridade, ou seja,

422
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
pessoas com baixa escolaridade tendem a ter um maior índice
de obesidade em comparação as pessoas com maior
escolaridade.
Os dados obtidos demonstram uma necessária
mudança no estilo de vida desses indivíduos, incluindo hábitos
alimentares saudáveis, a prática de atividade física entre
outros métodos, proporcionando assim uma diminuição no
percentual de gordura e uma maior longevidade (SANTOS et
al., 2012).
Os índices apresentados na pesquisa direta e
analisados na literatura, refletem a influência da obesidade
quanto a fatores de risco associados ao desenvolvimento de
DCNT, hábitos alimentares, estilo de vida. A avaliação da
obesidade através do IMC, RQC demonstraram apropriados
para a finalidade da pesquisa, além do questionário quanto
aos hábitos alimentares empregados a amostra para análise
da qualidade nutricional dos indivíduos.

4 CONCLUSÕES

De acordo com os dados da pesquisa ficou


demonstrada a baixa escolaridade e padrão socioeconômico
dos entrevistados, fatores esses que seguem o padrão de
transição nutricional onde todos os níveis populacionais são
afetados de forma semelhante pela obesidade. Em relação ao
estado nutricional, o quadro de obesidade se relacionou ao
estilo de vida e hábitos alimentares errôneos, na qual pode
trazer diversos malefícios e ocasionar diversas DCNT’s. O
índice de obesidade no estudo relacionou-se com o consumo
em excesso de alimentos pobres em nutrientes e ricos em
calorias como bebidas e doces.

423
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À OBESIDADE EM INDIVÍDUOS ADULTOS
NO MUNICÍPIO DE PEDRA BRANCA-PB
Em todos os índices analisados, o grau de obesidade e
a sua distribuição demonstram a necessidade de maiores
cuidados para com esses pacientes. Mais pesquisas
necessitam ser realizadas acerca deste assunto para um
melhor entendimento sobre o processo, além do
desenvolvimento de ações governamentais visando o
tratamento da obesidade e principalmente sua prevenção.
Estilo de vida como prática de exercícios regulares,
consumo de alimentos não industrializados e
acompanhamento profissional, são fatores que melhoram a
qualidade de vida, tanto na prevenção como no tratamento da
obesidade.

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426
FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CAPITULO 21

FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA
DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Raphaela ARAÚJO VELOSO RODRIGUES1
Daline FERNANDES DE SOUZA ARAÚJO 2
Paloma OLIVEIRA ANTONINO DE ASSIS 1
Gerlane COELHO BERNARDO GUERRA 3
Rita de Cássia RAMOS DO EGYPTO QUEIROGA4
1
Pós-graduanda do Programa de Pós-Graduação em Ciênicas da Nutrição/ UFPB;
2
Professora da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi/UFRN; 3 Professora do
Departamento de Biofísica e Farmacologia/UFRN; 4 Professora do Departamento de
Nutrição/UFPB.
raphaelavrodrigues@yahoo.com.br

RESUMO: A Doença Inflamatória Intestinal é uma condição


inflamatória crônica que acomete o trato digestório,
caracterizada por períodos de exacerbações e remissões dos
sinais e sintomas, compreendendo principalmente a Doença
de Crohn e a Colite ulcerativa. A inflamação intestinal
descontrolada pode levar a uma má qualidade de vida e
requer intervenções médicas e/ ou cirúrgicas. O trabalho
buscou realizar uma revisão bibliográfica em livros e nas
bases eletrônicas ScienceDirect, Pubmed, LILACS, Web of
Science e Periódicos CAPES, com o objetivo de aprofundar a
discussão sobre as doenças inflamatórias intestinais, focando
em seus potenciais fatores etiopatogênicos. Embora a
etiologia ainda não esteja bem definida, a DII envolve um
conjunto de fatores ambientais, genéticos e imunológicos, que
resulta no aumento da síntese e liberação de diferentes
mediadores pró-inflamatórios, incluindo espécies reativas de
oxigênio, metabólitos de nitrogênio, os eicosanóides,
quimiocinas e citocinas, que contribuem para perpetuar a

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UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
resposta inflamatória no intestino. Além disto, há uma série de
indicações sobre o papel crucial da microflora intestinal e
distúrbios intestinais da mucosa. Em condições normais,
mecanismos protegem o epitélio intestinal contra a invasão
microbiana, porém estímulos ambientais combinados com
fatores genéticos podem facilitar a proliferação de microflora
prejudicial e induzir respostas imunitárias anormais que
rompem a barreira mucosa, causando inflamação.
Palavras-chave: Inflamação Intestinal. Resposta Imune.
Fatores etiopatogênicos.

1 INTRODUÇÃO

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é uma


enfermidade complexa, sendo representada principalmente
pela Doença de Crohn (Crohn Disease, CD) e Retocolite
Ulcerativa Inespecífica ou apenas Colite Ulcerativa (Ulcerative
colitis, UC). Inclui, inflamações não infecciosas do intestino,
necessitando ainda de investigações pelos
gastroenterologistas e imunologistas (STROBER; FUSS;
MANNON, 2007; PODOLSKY, 2002).
As DII são caracterizadas por inflamação intestinal
crônica e recidivante, com produção anormal de citocinas,
aumento da expressão de moléculas de adesão e infiltrado
celular, levando a um dano da mucosa e apoptose celular
(MANDALARI et al., 2011). É crucial a determinação do grau
de severidade ou atividade da ambas as doenças, uma vez
que a gravidade, duração e a localização da doença são
importantes na resposta ao tratamento (CARUSO, 2014).
Uma alta prevalência da DII tem sido constatada nas
populações da América do Norte e Europa, com incidência
mais acentuada na segunda metade do século XX, devido ao

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UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
maior desenvolvimento industrial e urbanização constante.
Além disso, as populações anteriormente consideradas de
"baixo risco" (como do Japão e Índia) estão vivenciando um
aumento na incidência (ANANTHAKRISHNAN, 2015). No
Brasil, a escassez de estudos e divulgação em meios
científicos sobre as DII contribui para o atraso no diagnóstico e
aumento da morbidade (OLIVEIRA; EMERICK; SOARES,
2010).
O processo inflamatório das DIIs é caracterizado pelo
aumento da permeabilidade epitelial, edema, e infiltração de
leucócitos do cólon. E, embora grandes avanços tenham sido
conquistados no tratamento desta doença nas últimas
décadas, ainda não existe uma terapia definitiva, necessitando
de mais esclarecimentos sobre os mecanismos envolvidos na
sua patogênese (SANDS, 2000; ANANTHAKRISHNAN, 2015).
A CD é uma doença inflamatória transmural, ou seja,
que pode acometer todas as camadas teciduais intestinais,
afetando qualquer parte do trato gastrintestinal, desde a boca
até o reto, no entanto, a localização mais frequente é na
região ileocecal. A inflamação e ulceração é descontínua,
sendo comum o espessamento da parede do intestino, muitas
vezes com granulomas (GÁLVEZ; COMALADA; XAUS, 2010).
Os pacientes com CD relatam sintomas gastrointestinais de
dor abdominal, diarreia e sangramento retal, bem como
sintomas sistêmicos de perda de peso, febre e fadiga. Além
disso, podem desenvolver estenoses com obstrução intestinal
e conexões inflamatórias entre os segmentos do intestino ou
entre o intestino e a pele e outros órgãos (FUSS et al., 2004).
Já a UC é uma doença inflamatória não transmural que
afeta o reto e se estende ao cólon (proximal) com uma
inflamação contínua da mucosa comprometendo parte do

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UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
intestino grosso (GRAMLICH; PETRAS, 2007). A
sintomatologia da UC geralmente inclui diarreia sanguinolenta,
dor abdominal e eliminação de pus e/ou muco durante as
evacuações (WEYLANDT et al., 2007). Essa enfermidade
pode ser classificada quanto ao padrão de distribuição
(proctite, pancolite extensa e colite distal), atividade (remissão,
leve, moderada e grave) e curso (assintomático após surto
inicial, aumento da intensidade com o tempo, sintomas
crônicos contínuos ou reincidivantes) da doença (MEIER;
STURM, 2011).
Embora a patogênese ainda não esteja totalmente
esclaredia, há um consenso de que as DII são o resultado de
alguns componentes básicos que apresentam grande
interação: fatores ambientais, variações genéticas no
hospedeiro e fatores luminais: relacionados a microbiota
intestinal, seus antígenos e produtos metabólicos e os
antígenos alimentares, relacionados à barreira intestinal, e à
imunorregulação (CARUSO, 2014; GALVEZ; COMALADA;
XAUS, 2010; MOLODECKY; KAPLAN, 2010; SANG et al,
2014; ANANTHAKRISHNAN, 2015). Os estudos em modelos
murinos sugerem que as DII são causadas por uma
desregulação da resposta imune da mucosa por antígenos na
microbiota (STROBER; FUSS; BLUMBERG, 2002).
Diante da relevância do tema, esse estudo de revisão
bibliográfica fornecerá uma melhor compreensão sobre os
fatores etiopatogênicos da doença inflamatória intestinal.

2 MATERIAIS E MÉTODO

A pesquisa constituiu-se de uma revisão bibliográfica


através de buscas de dados em livros e nas bases eletrônicas

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ScienceDirect, Pubmed, LILACS, Web of Science e Periódicos
CAPES. Foram utilizados para a busca os descritores doença
inflamatória intestinal, inflamação intestinal, Doença de Crohn,
Colite Ulcerativa, fatores genéticos, fatores ambientais e
resposta imune.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

RESPOSTA IMUNE

O trato gastrointestinal humano é um sistema complexo


e eficiente, que tem papel importante na digestão e absorção
dos nutrientes e proteção do corpo contra a invasão
bacteriana (ECKBURG et al., 2005). A homeostase intestinal
envolve uma ação coordenada entre células epiteliais e
células da resposta imune inata e adaptativa. Contudo, a
patogênese da DII considera que existe uma interação
disfuncional entre a microbiota intestinal com a ativação do
sistema imunológico da mucosa (STROBER; FUSS;
MANNON, 2007).
A imunidade inata apresenta como principal
característica a capacidade de distinguir um microrganismo do
outro, sendo responsável pela proteção inicial contra as
infecções. O sistema imune inato possui estratégias para o
reconhecimento de microrganismos, uma das quais é o
reconhecimento do padrão molecular fitogeneticamente
conservado, associado ao patógeno (pathogen-associated
molecular patterns – PAMP). O reconhecimento deste por
meio da ativação de receptores do tipo toll-like (TLR) acarreta
a secreção de citocinas e o consequente início da resposta
inata, com recrutamento e ativação de neutrófilos e

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macrófagos, cujo fato é essencial para a morte do patógeno
(ROGERO; FOCK; BORELLI, 2013; PEARL et al., 2013).
Quando essa resposta inflamatória for insuficiente, não
eliminando esses produtos microbianos, a imunidade adquirida
será estimulada. A resposta imune adaptativa é iniciada
quando os antígenos são apresentados a célula CD4+, que
quando ativadas podem ser diferenciadas em células T helper
(Th), Th1 e Th2 (PALLONE; MONTELEONE, 2001).

Resposta Imune alterada

Alteraçôes existentes na microbiota intestinal, quer no


tipo ou número dos organismos que compreendem a
população, ou na forma em que os mesmos confrontam o
sistema imune da mucosa, resulta em uma perda de
tolerância, visto que que a microbiota é capaz de induzir
resposta do sistema imune normal a antígenos microbianos
em excesso (STROBER; FUSS; MANNON, 2007). De forma
similar, uma inflamação na barreira epitelial intestinal aumenta
sua permeabilidade, levando também à ativação inapropriada
do sistema imune da mucosa em pacientes com DII (HYUN;
MAYER, 2006; LARA-VILLOSLADA et al., 2006).
Vários componentes do sistema imune da mucosa têm
sido implicados na patogênese da DII incluindo células
epiteliais intestinais, macrófagos, monócitos, células
dendríticas e células natural killers (NK) (sistema imune inato),
células T e B (sistema imune adaptativo), bem como
mediadores de inflamação (citocinas e quimiocinas)
(ROGERO; FOCK; BORELLI, 2013).
Na DII, os antígenos luminais ganham acesso ao tecido
da mucosa subjacente através de uma barreira permeável ou

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UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
mesmo por uma susceptibilidade da mucosa. Células da
resposta imune inata e adaptativa expressam perfil e número
diferentes de receptores de reconhecimento de padrões
moleculares. Ocorre um aumento da resposta mediada por
células T, sendo que as células ativas Th1, Th2 e Th17
predominam sobre as células T reguladoras (Th3, Tr). Na CD,
as células T imatura (Th0) diferenciam preferencialmente em
células Th1, que leva a uma produção aumentada de INF-γ e
IL-12, e na UC, estas células se diferenciam em Th2,
produzindo IL-4, IL-5 e IL-13 e IL-17 em maiores quantidades
(STROBER; FUSS; MANNON, 2007; BAUMGART; CARDING,
2007; FUSS et al, 2004), Figura 1.

Figura 1. Vias de interação entre microbiota e células do


sistema imune na Doença Inflamatória Intestinal

Fonte: Michielan e D’Incà (2015); Ordás et al. (2012), adaptada pelos


autores.
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Novos componentes e características do sistema
imunológico celular foram descobertos nas últimas décadas
que revolucionaram a compreensão dos mecanismos
subjacentes ao desenvolvimento de DII, é o caso das células
Th17. A Th17 produz IL-17 e IL-23, potentes indutoras de
inflamação que estimulam infiltração celular e a produção de
citocinas pró-inflamatórias (BAUMGART; CARDING, 2007;
GÁLVEZ, 2014).
O desenvolvimento e a cronicidade das lesões, tanto na
CD como na UC, podem ser explicados pela cascata
inflamatória, responsável pelo aumento das citocinas pró-
inflamatórias que está associada com o início e a progressão
da doença (MÛZES et al., 2012). O desequilíbrio entre as
citocinas pró-inflamatórias e anti-inflamatórias que ocorre na
DII impede a resolução da inflamação e leva a perpetuação da
doença (NEURATH, 2014).
O papel das citocinas, sintetizadas e segregadas por
células de defesa, no sistema imunitário da mucosa do cólon,
tem sido extensivamente avaliado em estudos clínicos e
experimentais, uma vez que estas podem prolongar ou
atenuar o processo inflamatório. As DII são condições crônicas
caracterizadas por super-regulação de citocinas pró-
inflamatórias e resposta imune descontrolada (BERTEVELLO
et al., 2005; SARTOR, 2006), e estão relacionadas a
complicações como estenose intestinal, sangramento retal,
abcesso e formação de fístula, e o desenvolvimento de colite
associada neoplasias.
Na DII, a inflamação do epitélio aumenta a
permeabilidade da barreira intestinal, que conduz à ativação
do sistema imune da mucosa indevidamente, caracterizada
principalmente por exacerbações agudas associadas a um

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aumento do influxo de neutrófilos e ao recrutamento de
mediadores inflamatórios, incluindo metabolitos de nitrogênio,
espécies reativas de oxigênio (ERO), como superóxido, radical
hidroxila, peróxido de hidrogênio e ácido hipocloroso, além de
proteases, eicosanóides, citocinas e quimiocinas pró-
inflamatórias (HYUN; MAYER, 2006; STROBER; FUSS, 2011;
BAUMGART; CARDING, 2007).
O infiltrado de neutrófilos na lâmina própria leva a um
aumento da enzima mieloperoxidase que é considerada um
importante marcador bioquímico na inflamação tecidual
(FAURSCHOU; BORREGAARD, 2003). O papel patogênico
desse infiltrado pode contribuir para danos nos tecidos através
da liberação de mediadores inflamatórios, incluindo espécies
reativas de oxigênio (ERO) e proteases, bem como citocinas
pró-inflamatórias (ARDIZZONE; PORRO, 2002).
As primeiras citocinas liberadas na resposta inflamatória
pelo macrófagos ativados incluem a IL-1β, IL-6 e fator de
necrose tumoral alfa (TNF-α), que ativam fatores pró-
inflamatórios de transcrição para produzir outras citocinas, e
exercem um papel fundamental na patogênese nos pacientes
com DII e colite experimental (STROBER; FUSS, 2011).
A IL-1β é uma citocina pró-inflamatória que
desempenha função central nas respostas inflamatórias do
intestino, provocando um aumento na permeabilidade epitelial
intestinal (AL-SADI; MA, 2007; AL-SADI et al., 2013). Existe
um desequilíbrio de IL-1β e o seu antagonista que ocorre
naturalmente no tecido intestinal de doentes com CD,
sugerindo a falta de capacidade intrínseca para neutralizar o
efeito da citocina (O’NEILL; DINARELLO, 2000).
A IL-6 é melhor caracterizada como uma das citocinas
pró-tumorogênicas e juntamente como outros membros da sua

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família afetam a proliferação, sobrevivência, diferenciação,
migração celular etc. É ativada pela via de sinalização Janus
Kinase/Transdutores de Sinal e Ativadores de Transcrição 3
(JAK/STAT-3), sinais importantes para o desenvolvimento de
colite murina (TANIGUCHI; KARIN, 2014). Uma inibição da IL-
6 em pacientes com DII, não só pode reduzir a inflamação
intestinal, mas também o risco de desenvolvimento de câncer
colorretal (WALDNER; NEURATH, 2014). Alguns autores
relatam que a carcinogênese pode estar relacionada com a
cronicidade da inflamação e um dano causado pela ativação
prolongada das vias de sinalização responsáveis pela
renovação celular continuada. A severidade, o tempo e a
extensão das DII está relacionada ao maior risco para o
surgimento de uma neoplasia (MCDONALD et al., 2006; JESS
et al., 2006).
Uma outra citocina é a IL-7, que está envolvida no
desenvolvimento de condições inflamatórias crônicas,
incluindo a DII e doenças auto-imunes quando produzida em
excesso. Por outro lado, em baixas concentrações, a IL-17
desempenha um papel chave na defesa do hospedeiro
extracelular de bactérias e fungos contra infecções
(BERINGER; NOACK; MIOSSEC, 2016).
Na DII, o TNF-α induz hipervascularização e
angiogênese, induz a produção de outras citocinas pró-
inflamatórias por macrófagos e células T, provoca alterações
na barreira intestinal e promove a morte celular de células
epiteliais intestinais e células de Paneth. O TNF-α também
promove a destruição do tecido, aumentando a produção de
metaloproteinases de matriz (MMPs) pelos miofibroblastos e
conduz a ativação do Factor Nuclear - Kappa B (NF-kB)
(NEURATH, 2014). Este último é importante na regulação da

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transcrição de outros mediadores pró-inflamatórios, e induz a
expressão de diversos genes envolvidos nos processos anti-
apoptóticas e pro-metastáticos (SALAS et al, 2002,
NAUGLER; KARIN, 2008).
Além da expressão de proteínas inflamatórias, ocorre
um aumento da produção das enzimas cicloxigenase-2 (COX)-
2, lipoxigenase (LOX), óxido nítrico sintetase induzida (iNOS)
(SAKTHIVEL; GURUVAYOORAPPAN, 2013; JOBIN, 2008;
ARDIZZONE; PORRO, 2005). A COX-2 e a LOX participam do
metabolismo do ácido araquidônico, gerando produtos como
prostaglandinas e tromboxanos, e leucotrienos,
respectivamente. Estes eicosanóides são importantes
produtos de ativação de neutrófilos e macrófagos, com a
capacidade de recrutar e ativar uma gama de células efetoras
com destaque para o leucotrieno B4 (LTB4), um potente
quimiotático que tem sido descrito como um mediador
patogênico na inflamação intestinal (CROOKS; STOCKLEY,
1998; GÁLVEZ et al., 2001; WHITTLE et al., 2008).
A expressão da COX e iNOS são reguladas por NF-kB
e contra-reguladas pelo supressor de NF-kB, que pode
atenuar a colite experimental em camundongos (NEURATH et
al., 1996). A enzima COX-2 apresenta baixa expressão no
epitélio intestinal normal, sendo induzida nas células apicais
do epitélio inflamado do íleo terminal e cólon, apresentando-se
aumentada na DII, tanto na forma aguda quanto na crônica
(JIANG, 2006). A Figura 2, mostra que o óxido nítrico (NO) é
produzido a partir da ação do óxido nítrico sintase (NOS) na
presença do substrato L-arginina, e que a NOS pode estar
disponível nas isoformas constitutiva e induzida (MARLETTA,
1994).

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A NOS constitutiva (cNOS) é regulada pela ação do
cálcio e de ligação da calmodulina e está presente no sistema
nervoso como a NOS neuronal (nNOS) ou no endotélio
vascular como a óxido nítrico sintase endotelial (eNOS). A
cNOS produz baixos níveis de NO, que ativa a guanilato
ciclase solúvel e os resultados da produção do segundo
mensageiro Guanosina Monofosfato Cíclica (GMP) em locais
em todo o corpo, incluindo o trato da mucosa gastrointestinal
(CROSS; WILSON, 2003; WILSON et al., 1996). Por outro
lado, a iNOS é induzida pelas citocinas TNF-α, IL-1, IFN-γ, e
por lipopolissacarídeo bacteriano (LPS) em uma variedade de
tipos de células. Na DII, a iNOS é expressa em células
epiteliais e nos macrófagos teciduais da mucosa inflamada
(DIJKSTRA et al., 2002).
A síntese de grandes quantidades de NO por iNOS foi
demonstrada na patogênese da colite, onde a sua expressão é
aumentada nas áreas de inflamação e está associada a
parâmetros inflamatórios histológicos tais como ulcerações e
depleção de células caliciformes que constituem um
componente importante do epitélio intestinal, uma vez que são
responsáveis pela produção de peptídeos cruciais para a
defesa e reparo do epitélio da mucosa intestinal (MASHIMO et
al., 1996; KIMURA et al., 1997). O NO é potencialmente
tóxico, em grandes quantidades, estando presente,
particularmente, em situações de estresse oxidativo, na
geração de intermediários do oxigênio e na deficiência do
sistema antioxidante; e pode apresentar ação potente sobre a
adesão de leucócitos e quimiotaxia (DUSSE; VIEIRA;
CARVALHO, 2003).

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Figura 2. Representação esquemática das ações do óxido
nítrico (NO) indicando os efeitos fisiológicos e patológicos das
isoformas de óxido nítrico sintase constitutiva (c) e induzida (i)

Fonte: Cross e Wilson (2003).

Estresse Oxidativo

O estresse oxidativo é definido como um desequilíbrio


entre o excesso de produção de radicais livres e o sistema de
defesa antioxidante. Destacam-se ERO, como o peróxido de
hidrogênio, ânions superóxido e radicais hidroxilo e espécies
reativas de nitrogênio (ERN), como peroxinitrito e NO, além de
outras substâncias potencialmente tóxicas. O excesso de
ERO e ERN pode ser verificado como um processo de
intermediação de doenças como inflamação, isquemia,
trauma, doenças degenerativas e morte celular por ruptura da
membrana (lipoperoxidação) e inativação enzimática (KOURY;
DONANGELO, 2003).
A produção de radicais livres ocorre como um processo
contínuo e fisológico nas funções biológicas do organismo. Em
quantidades adequadas possibilita a geração de energia,

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FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
ativação de genes e na participação de mecanismos de defesa
durante o processo de infecção. Contudo, em quantidades
elevadas pode levar a um dano oxidativo (BARBOSA et al.,
2010).
Na patogênese da DII, o estresse oxidativo também
desempenha um papel importante, podendo influenciar na
inflamação intestinal através de mecanismos que resultam na
produção de citocinas pró-inflamatórias, ativação de
macrófagos, alteração da permeabilidade e da microbiota
intestinal (BONAZ; BERNSTEIN, 2013; BAILEY et al., 2011).
Os radicais livres são responsáveis pela peroxidação de
lipídeos que é um processo de reação em cadeia, iniciado
geralmente por um radical hidroxila, o qual tem a capacidade
de retirar um átomo de hidrogênio da molécula de lipídeo. Este
ataque ocasiona a fragmentação de lipídeos poli-insaturados e
gera produtos secundários, como o malondialdeido (MDA),
que reage com proteínas e fosfolipídeos, inclusive com o
Ácido Desoxirribonucleico (DNA), causando lise e morte
celular (BARREIROS; DAVID, 2006).
O excesso de radicais livres no organismo é combatido
por sistemas de defesa antioxidantes endógenos, com a
participação das enzimas superóxido dismutase, glutationa
peroxidase e a catalase, capazes de neutralizar o estresse
oxidativo na mucosa intestinal e como papel importante no
reparo do DNA (MANDALARI et al., 2011; ROESSNER et al.,
2008).
A enzima superóxido dismutase catalisa a dismutação
do ânion radical superóxido a peróxido de hidrogênio e
oxigênio; a catalase atua na decomposição de peróxido de
hidrogênio, oxigênio e água; e a glutationa peroxidase, que
atua sobre peróxidos em geral, com utilização de glutationa

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FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
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como co-fator (VASCONCELOS et al., 2007). Outros
antioxidantes podem ser provenientes da dieta como o α-
tocoferol, β-caroteno, ácido ascórbico, e compostos fenólicos,
em especial flavonoides (HALLIWELL et al., 1995).

FATORES AMBIENTAIS

Os fatores ambientais são componentes essenciais na


patogênese da DII e principal responsável pela sua incidência
crescente em todo o mundo. Evidências epidemiológicas,
clínicas e experimentais apoiam uma associação entre as DII
e um grande número de fatores ambientais aparentemente
não relacionados, que incluem tabagismo, dieta,
medicamentos, situação geográfica e social, estresse, agentes
microbianos, permeabilidade intestinal e apendicectomia
(DANESE; SANS; FIOCCHI, 2004; HO; BOYAPATI;
SATSANG, 2015).
A relação entre o tabagismo e DII é um pouco
intrigante. Estudos mostram que o hábito de fumar é um fator
de risco para o desenvolvimento de CD, ou complicações na
doença (formação de fístulas e estenoses). Os efeitos do
tabagismo resultam na soma dos efeitos contraditórios de
várias substâncias, incluindo nicotina e monóxido de carbono,
além de serem modulados por: gênero, antecedentes
genéticos, localização da doença e atividade, dose e
concentração de nicotina do cigarro (COSNES, 2004). O
aumento da concentração de monóxido de carbono pode
amplificar o comprometimento da capacidade de vasodilatação
nos microvasos cronicamente inflamados, resultando em
isquemia e perpetuando em ulceração e fibrose (PULLAN, et
al., 1994; HATOUM et al., 2003).

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Por outro lado, o tabagismo pode exercer um efeito
protetor no aparecimento da UC (CALABRESE et al., 2012).
Esse efeito tem relação com os níveis de citocinas pró-
inflamatórias IL-1β, IL-8 e TNF-α no cólon, sendo
significativamente menores em fumantes, do que não-
fumantes com colite (ALDHOUS et al., 2008; BAUMGART;
CARDING, 2007). Isso foi demostrado em estudos in vivo em
modelos de UC que revelaram que a nicotina tem um efeito
inibitório sobre Th-2, mas não exerce efeito inibitório em
células Th-1 (COSNES, 2004).
Outro fator ambiental relacionado a patogênese da DII é
a dieta que tem sido amplamente estudada. Mas os resultados
devem ser interpretados com cautela, pois os pacientes
podem mudar sua dieta antes do diagnóstico, para reduzir os
sintomas da doença. Estudos demonstraram que uma alta
ingestão de fibra alimentar, incluindo frutas e legumes, protege
contra DII. O mecanismo pelo qual as frutas e legumes pode
conferir proteção está relacionado com a sua capacidade de
modificar enzimas envolvidas na remoção de ERO (AMRE et
al., 2007).
Por outro lado, o consumo de carne vermelha e
processada, álcool e baixo teor de fibra dietética estão
associados com um aumento da probabilidade de recidivas
(FROLKIS et al., 2013; SPOOREN et al., 2013; HO;
BOYAPATI; SATSANG, 2015). Isso se deve ao fato das
gorduras saturadas desempenharem um papel na resposta
inflamatória através da modulação dos TLR em macrófagos
(LEE et al., 2004). O elevado consumo de ácidos graxos poli-
insaturados ômega-6 e um baixo consumo de ômega-3 (ou
uma elevada relação n-6: n-3) tem sido associado com um

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aumento do risco tanto da colite ulcerativa como da doença de
Crohn (COSTEA et al., 2014).
Estudos tem mostrado a relação epidemiológica de
causa-efeito entre o uso de anti-inflamatórios não esteroidais
(AINEs) e DII. Santos et al. (2006) mostraram que além de
efeitos adversos no trato gastrintestinal superior, o uso
contínuo de AINEs pode provocar lesões no intestino delgado
e cólon. Em modelos animais de colite espontânea usando
camundongos deficiente de IL-10, a administração de AINEs
não seletivos demostrou uma rápida e severa inflamação
colônica associada ao bloqueio da proteção de protaglandinas
E2 e alteração imune da mucosa (BERG et al., 2002).

FATORES GENÉTICOS

Em 2001, foi descoberto o primeiro gene de


susceptibilidade para a CD, o domínio de oligomerização de
ligação de nucleotídeos (NOD2), localizado no cromossomo
16q12 (OGURA et al., 2001; HUGOT et al., 2001). Atualmente
mais de 160 locus genéticos foram associados com a
susceptibilidade da DII (JOSTINS et al., 2012).
Em estudos genéticos de coorte em pacientes com CD,
foram identificadas mutações no gene de
Domínio do Recrutamento e Ativação de Caspase (CARD15),
que codifica NOD2, sendo responsável por 10-15% da
prevalência da doença (SARTOR, 2006; MOLODECKY;
KAPLAN, 2010). Um modelo murino de mutação do gene
CARD15 mostrou perda de sua função e produção excessiva
de citocinas pró-inflamatórias em resposta a sinalização
mediada pelo TLR em macrófagos deficientes de CARD15
(STROBER et al., 2006).

443
FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Embora os camundongos deficientes em NOD2 sejam
mais susceptíveis à infecção por agentes patógenos
bacterianos específicos, ainda não se sabe até que ponto a
deficiência de NOD2 pode alterar a resposta imune do
hospedeiro para destruir bactérias comensais (DESHMUKH et
al., 2009).
Outros genes também são conhecidos que estão
envolvidos na regulação da imunidade inata (genes de
Histocompatibilidade - HLA, genes NOD, genes de
interleucina), gene associado à produção alterada de
adipocinas (ATG16L1), aqueles envolvidos nas funções
epiteliais (genes de mucina), dentre outros (OGURA et al.,
2001).
O receptor de IL-23 (IL23R) também desempenha um
papel importante na resposta aos agentes patógenos e
mutações de IL23R associado com o aumento do risco de DII.
Os níveis elevados de IL-23 foram encontrados na barreira da
mucosa epitelial de portadores dessa doença, indicando ainda
o papel da IL-23 na resposta inflamatória crônica a bactérias
luminais (RIOL-BLANCO et al., 2010).
Mais de 50% dos locus genéticos de susceptibilidade da
DII também estão associados a outras doenças auto-imunes e
inflamatórias. Estes genes sobrepostos podem ter efeitos
contrastantes em diferentes doenças (KHOR; GARDET;
XAVIER, 2011). A exemplo das variantes genéticas MST1,
IL2, CARD9 e REL que são compartilhados entre UC e a
colangite esclerosante primária, uma inflamação das vias
biliares; e o NOD2, C13orf31 e LRRK2, compartilhado com o
Mycobacterium leprae e a CD (ZHANG et al., 2009; JANSE et
al., 2011).

444
FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os sintomas articulares constituem a manifestação
extra-intestinal mais comum em pacientes com UC e DC.
Polimorfismos do gene CARD15 já foram associados a um
risco maior de se desenvolver DC e são considerados
preditores tanto de doença inflamatória intestinal crônica em
pacientes com espondiloartrites quanto de sacroiliíte em
acometidos por DC (LANNA et al., 2006).

3 CONCLUSÕES

Apesar de permanecer com usa etiologia mal


estabelecida, as pesquisas experimentais com DIIs permitiu o
avanço sobre a fisiopatologia desse grupo de enfermidades.
Portatores de CD e UC apresentam indução exacerbada e
prolongada de diferentes mecanismos inflamatórios, bem
como falha no sistema de contra-regulação e resolução da
inflamação. Esse quadro determina o acúmulo de fatores pró-
inflamatórios, como as citocinas, e radicais livres, culminando
na lesão tecidual, que prejudica o funcionamento do intestino,
e aumenta a permeabilidade da barreira da mucosa,
aumentando o contato com antígenos luminais, que reiniciam
a cascata inflamatória.
O conhecimento sobre os mecanismos pelos quais as
DII se desenvolvem nos pacientes contribui para o
estabelecimento de terapias medicamentosas e
complementares, como nutricionais, que sejam capazes de
regular e reduzir os danos teciduais causados pela resposta
imune.

445
FATORES ETIOPATOGÊNICOS DA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:
UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
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452
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
CAPÍTULO 22

MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM


DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS.
Dalila Fernandes BEZERRA 1
Luciana Caroline Paulino do NASCIMENTO 1
Karla Thuany de Oliveira SANTOS 1
Julianne Cibele Rodrigues da SILVA 2
Marcella Campos Lima da LUZ 3
1
Nutricionista Residente em Nutrição Clínica, Uniproffisional, Hospital das Clínicas UFPE;
2
Nutricionista Residente em Saúde da Mulher, Multiprofissional, Hospital das Clínicas UFPE.
3
Orientadora/Preceptora, Hospital das Clínicas UFPE.
dallilaferbe @gmail.com.br

RESUMO: O papel da microbiota humana na saúde-doença


tem sido estudado recentemente. A sua influência no
desenvolvimento de doenças neuronais é uma temática atual
que vem sendo explorada principalmente em modelos
animais. Apesar de ser um tema recente, através dos
trabalhos disponíveis, já é possível verificar sua associação
com doenças neurodegenerativas específicas como:
Esclerose lateral amiotrófica, Doença de Parkinson, Acidente
Vascular Cerebral, Lesão de Médula Espinhal, por meio de
pesquisas utilizando modelos animais e humanos. O objetivo
desse estudo é esclarecer a relação entre a microbiota
intestinal e estas doenças neurodegenerativa. Para isso, foram
pesquisados artigos de revisão e estudos observacionais em
bases de pesquisa Pubmed, Scielo, Wiley Online Library. A
maioria dos estudos desenvolvidos eram recentes, e foram
capazes de demonstrar mecanismos fisiopatológicos que
envolvem a ativação de vias específicas responsáveis pelas
alterações observadas. Tais mudanças mostram a função da
microbiota como protetora do sistema neuronal ou até mesmo
453
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
como agente causador, participando assim da etiologia da
doença e de sua progressão degenerativa. Sabendo-se que a
dieta tem influência direta no desenvolvimento de uma
microbiota saudável é necessário conhecer a relação
estabelecida entre a neuropatologia e esse microbioma, para
assim poder traçar estratégias que miniminizem os fatores
associados à doença, uma vez que a mudança no perfil
microbiótico humano pode ser um alvo terapêutico e protetor
nessas desordens.
Palavras-chave: Microbiota; Doenças neurodegenerativas;
Microbioma gastrointestinal.

1 INTRODUÇÃO

A microbiota humana é composta por 100 trilhões de


bactérias que residem no trato gastrointestinal, sendo apenas
1% dos genes encontrados em nosso corpo de origem
humana, o restante é composto pelos genes provenientes dos
organismos da microbiota (bactérias, fungos, vírus) também
chamado de microbioma, sendo 100 vezes maior do que o
genoma humano, e desempenhando funções importantes na
fisiologia do hospedeiro (UMBRELLO; ESPOSITO, 2016;
MOOS et al, 2016).
Os filos mais abundantes são os Bacteroidetes e
Firmicutes, seguido pelo Proteobacteria e Actinobacteria,
enquanto Fusobacteria e Verrucomicrobia estão geralmente
em menor quantidade (UMBRELLO; ESPOSITO, 2016;
TREMLETT et al, 2017). A relação desses filos com
determinadas patologias já é demonstrada em estudos em
animais e seres humanos, como obesidade e esteatose
hepática não-alcoolica (SCHWENGER; ALLARD, 2014).

454
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
Dentre as funções da microbiota, estão a disgestão de
alimentos, metabolismo de drogas, ácidos graxos de cadeia
curta e vitaminas. Há uma interrelação entre o hospedeiro e
microbiota, uma vez que fatores como idade, dieta, fatores
geográficos, metabolismo, estresse, aquisição de novos
patógenos, infecções e uso de drogas também irão afetar esta
microbioma (MOOS, 2016; KHAN;OLOKETUYI, 2016).
Em relação aos fatores dietéticos, é importante enfatizar
conceitos importantes como:
Prebiótico: alimento ou ingredientes não digeríveis que
melhoram o crescimento e/ou atividade das bactérias
benéficas colônicas (KHAN;OLOKETUYI, 2016). Os
prebióticos mais conhecidos são oligofrutose, inulina,
galactooligossacarídeos, lactulose e oligossacarídeos do leite
materno (OMGE, 2017).
Probiótico: microrganismos vivos presentes em
produtos lácteos ou em formas de cápsulas que exercem
efeito benéfico no hospedeiro quando administrado na
quantidade adequada. Geralmente as cepas mais utilizadas
são Lactobacillus ou Bififobacteria, podendo ser usados
isoladamente ou em conjunto (KHAN;OLOKETUYI, 2016).
Simbióticos: trata-se de um produto composto pela
junção entre prebióticos e probióticos, podendo ser um ou
mais componente adicionado. Atualmente apenas algumas
patologias possuem critérios de indicação fechados para o uso
de simbióticos, dentre elas estão: diarreia aguda infecciosa ou
devido a antibioticoterapia, pacientes críticos com trauma em
ventilação mecânica, cirurgias eletivas de grande porte,
encefalopatia hepática mínima, cirurgia de Whipple, entre
outras (EMTN, 2012).
Disbiose: desequilíbrio da composição da microbiota
(bactérias não-patogênicas) que estão diminuídas ou
455
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
suprimidas pelas bactérias patogênicas inflamatórias
(KHAN;OLOKETUYI, 2016).
O objetivo deste revisão é esclarecer sobre a relação
entre a microbiota e o desenvolvimento ou progressão de
doenças neurodegenerativas específicas, elucidando o papel
da flora intestinal como a desencadeadora ou fator protetor
nestas patologias, sendo esse um assunto que trará novas
perspectivas sobre a terapêutica envolvendo probióticos ou
prebióticos na dieta destes pacientes. Como muitos estudos
são realizados no âmbito internacional, não há muitos
trabalhos em português sobre essa temática, o que pode
dificultar o acesso à essas informações.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Os termos combinados dos seguintes descritores foram


utilizados nas bases de pesquisa Pubmed, Scielo, Whiley
Online Library: “Microbiota”, “Microbiota intestinal”, “doenças
neuronais”, “Esclerose lateral amiotrófica”, “Doença de
Parkinson”, “Acidente Vascular Cerebral”, “Lesão de medula
espinhal”. Foram selecionados artigos de revisão ou estudo
experimental que investigassem a relação entre os termos
pesquisados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As desordens neurológicas crônicas são patologias que


resultam na perda gradual e progressiva das células nervosas
com diminuição de atividades importantes como
movimentação, coordenação, respiração, equilíbrio, fala e
funções dos órgãos vitais. Algumas patologias neurológicas
não possuem causa conhecida definida, mas sua maioria
456
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
possuem fatores de risco em comum, que englobam mutações
genéticas, exposição à toxinas, fatores ambientais e
senescência (KHAN;OLOKETUYI, 2016).
A maioria dos estudos, principalmente artigos de
revisão, que encontram associação entre uma desordem
neurológica trazem como teoria explicativa a presença de uma
comunicação entre o sistema nervoso central (SNC) e o trato
gastrointestinal (TGI), que é o eixo intestino-cérebro. Essa
comunicação pode ocorrer através de quatro vias
(metabólicas, endócrinas, imunológicas e neuronais) (WINEK;
DIRNAGL; MEISEL, 2016. FUNG;OLSON;HSIAO, 2017).
A rota metabólica é explicada pelas secreções de
metabólitos excretados pela flora comensal, que irão atingir o
complexo nervosos entéricos, localizados na subcamadas do
TGI. Esses complexos tem extensão do intestino até o SNC,
levando as informações por eles captadas até esse sistema
central. Algumas substancias ultrapassam a barreira
hematoencefálica (BHE), que por ser semi-seletiva, não é
capaz de impedir a absorção dos compostos metabólicos
produzidos pela microbiota, como os ácidos graxos de cadeia
curta (AGCC), colina, neurotransmissores (serotonina,
dopamina e acetilcolina) (SMITH et al., 2013; ROOKS;
GARRETT, 2016).
A rota de comunicação que envolve o sistema
imunológico, envolve as células do sistema imune que estão
localizadas no tecido linfático associado ao trato
gastrointestinal (GALT). Esses tecidos são localizados próxima
a mucosa intestinal, possibilitando assim o contato entre a
microbiota e sua estrutura. Essa interação desencadeia a
produção de compostos humorais (citocinas) e celulares
(ativação de compostos celulares específicos), atingem o

457
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
SNC, modulando sua resposta (FUNG; OLSON; HSIAO,
2017).
O sistema endócrino possuem sua relação com a
microbiota pautada no papel do sistema nervoso endócrino e
seu eixo hipotálamo- pituitária- adrenal (HPA). Essa via age na
modulação fisiológica sobre a microbiota, devido a secreção
principalmente de cortisol. Esse hormônio age alterando a
permeabilidade entérica, causando assim, uma modificação no
ambiente do lúmen intestinal, que afetará diretamente a flora
intestinal (BELLAVANCE; RIVEST, 2014; FUNG; OLSON;
HSIAO, 2017).
O sistema neuronal tem também seu papel,
influenciando os fatores de mobilidade intestinal devido as
alterações na liberação dos neurotransmissores, que são
controlados pelo SNC sobre o TGI. Essa comunicação ocorre
por meio do nervo vago (que age no controle peristáltico).
Essa rota têm sua fisiopatologia demonstrada por meio de
estudos com modelos animais, onde propostas terapêuticas
são baseadas na vagotomia (remoção cirúrgica do nervo
vago) para melhora do quadro em doenças neurológicas
(FUNG;OLSON;HSIAO, 2017).

o ESCLEROSE MÚLTIPLA (EM)

A esclerose múltipla é uma doença desmielinizante


caracterizada por lesões inflamatórias em diferentes locais no
sistema nervoso central (SNC) que resulta em cicatrizes gliais,
desmielinização, perda de oligodendrócitos e danos axonais
(MERINO et al., 2017). Assim, a patologia pode apresentar-se
em indivíduos geneticamente predispostos que são expostos a
certos fatores ambientais. Entre estes, a composição da
microbiota intestinal vem sendo alvo de estudos como sendo

458
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
um dos fatores desencadeadores da EM (CASTILLO-
ÁLVAREZ; MARZO-SOLA, 2017).
Os modelos explicativos para esclarecer a relação da
microbiota do comensal e seu acometimento neurológico
desencadeador da EM, consistem em pesquisas
desenvolvidas em animais, em sua maioria. A EM é provocada
em laboratório, geralmente usando ratos, sendo nomeada de
Esclerose Autoimune Experimental (EAE). Ratos com essa
patologia desencadeada, apresentam disfunção na barreira
intestinal (WINEK; DIRNAGL; MEISEL, 2016).
Quando um desses animais é criado num ambiente sem
exposição a nenhum tipo de microrganismo, tornam-se não
colonizados, não desenvolvendo nenhum tipo de microbiota,
são, portanto denominados de germ-free (GF). Ao induzir a
EAE em ratos GF, estes acabam apresentando uma forma
atenuada da doença ou evoluem livres dela. Já naqueles
animais que foram expostos à um ambiente com a presença
de microrganismos, ocorre a colonização da microbiota, e
quando induzido a patologia, ocorre a presença da EAE em
sua forma normal (NOURI et al., 2014; WINEK;DIRNAGL;
MEISEL, 2016).
O mecanismo que pode explicar esse fato envolve os
linfócitos Th17 e Tregs. Esses dois tipos de células do sistema
imune, atuam de forma antagonistas, sendo o desequilíbrio
entre elas, a possível causa para o aparecimento da EM. Os
linfócitos Th17 são considerados pró-inflamatório, já os Tregs
têm função imune-protetora considerados como anti-
inflamatórias. Ratos GF possuem mais células de
características anti-inflamatório (Tregs), além de células
dendríticas (células fagocitárias) com menor capacidade de
resposta pró-inflamatória. Sendo assim sua exposição à
antígenos não é capaz de gerar resposta inflamatória,
459
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
portanto, essa condição favorece o não desenvolvimento
desse tipo de esclerose (WINEK;DIRNAGL;MEISEL, 2016).
Outro fator importante a ser enfatizada é que o uso de
antibiótico, em modelos animais, interferem nessa patologia de
modo diferente, uma vez que seu uso está associado a
melhora do quadro patológico apresentado, principalmente
aliviando os sintomas. O potencial terapêutico é mais atribuído
aos componentes bacterianos da flora comensal do que ao
tipo de bactéria utilizada, isso por que dependendo dessa
exposição do sistema imune à esse tipo de estruturas, a
resposta inflamatória é desencadeada (HSIAO et al., 2013;
LANGDOM; CROOK; DANTAS, 2016). Ou seja, nesse caso
especifíico não é o tipo de bactéria presente na microbiota que
irá desencadear a EAE, e sim a presença das estruturas
microbianas, em contato com o sistema imune.
Existem fatores associados como obesidade,
tabagismo, exposição à vírus, estado nutricional bioquímico de
vitamina D, exposição à luz solar. Todos esses fatores podem
afetar a microbiota intestinal (BRUCE-KELLER et al., 2015;
TREMLETT et al, 2017). O mapeamento do microbioma já
permite a detecção de quais gêneros ou espécies são mais
prevalentes em determinadas doenças neurológicas, através
da comparação do perfil microbiótico de indivíduos saudavéis
e acometidos por essas patologias e outras, como
demonstrado na Tabela (1).

460
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
Tabela 1. Alterações na microbiota do trato gastrointestinal
(TGI) com base na doença neuronais.
Neuropatologia Alteração da TGI
Microbiota Aumentada Microbiota
Diminuída
Esclereose Methanobrevibacter Akkermansia
Múltipla Butyricimonas
Depressão Actinomycineae, Bifidobacterium,
Coriobacterineae, Lactobacillus
Lactobacillaceae, Bacteroidaceae,
Streptococcaceae, Rikenellaceae,
Clostridiales, Lachnospiraceae
Eubacteriaceae,
Lachnospiraceae,
Ruminococcaceae,
Erysipelotrichaceae
Lesão da médula LME+bexiga Lactobacillus,
Espinhal neurogênica: Klebsiella, Corynebacterium,
Escherichia, Staphylococcus,
Enterococcus Streptococcus,
Prevotella, Veillonella
Acidente Enterobacter, Desulfovibrio
Vascular Megasphaera, Bacteroides,
Cerebral Oscillibacter, Prevotella,
Enterobacteriaceae, e Faecalibacterium
Bifidobacteriaceae, and Roseburia,
Clostridium difficile Bacteroides e
↑ Collinsella nos Faecalibacterium
pacientes com
arterosclerose
↑ Roseburia,
Eubacterium, e 3
espécies de
Bacteroides no grupo

461
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
controle.
Doença de Associada com infecção viral e bacteriana
Alzheimer
Doença de Blautia, Coprococcus, Faecalibacterium,
Parkinson Roseburia, Prevotellaceae
Proteobacteria Prevotellaceae
Enterobacteriaceae
correlacionada com
disfunção motora
Fonte: WINEK; DIRNAGL; MEISEL, 2016; FUNG; OLSON; HSIAO, 2017
(adaptado).

o DOENÇA DE PARKINSON (DP)

A doença de Parkinson é uma patologia


neurodegenerativa, caracterizada pela morte precoce de
neurônios dopaminérgicos, cuja deficiência de dopamina nos
gânglios basais leva a uma desordem do movimento. Embora
a principal forma de tratamento da doença seja o uso de
drogas que aumentam as concentrações de dopamina, a
doença envolve outros neurotransmissores e regiões do
sistema nervoso além dos gânglios basais (KALIA et al.,
2015). A agregação de proteínas neuronais específicas
denominadas de amiloides também estão envolvidas em sua
etiologia, sendo seu acúmulo responsável pelo
comprometimento da função celular neuronal.
Ratos GF possuem uma alteração da mielinização
cortical e função da BHE comprometida. Como em outras
patologias, a diferença entre a microbiota de indivíduos que
apresentam a doença e daqueles saudáveis, assume
importância da relação entre o perfil do microbioma e a
expressão da patologia estudada. Em humanos saudáveis, a

462
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
microbiota intestinal difere daquelas que apresentam a doença
de Parkinson (SHAMPSON et al, 2016).
Pacientes diagnosticados com DP exibem como
sintomas associados a inflamação intestinal e constipação.
Estudos notam que a presença dessa constipação intestinal
precede a exacerbação do Parkinson devido ao surgimento de
proteínas conhecidas como alfa-sinucleína, que aparece
primeiro no SNC, e posteriormente nos nervos glossofaríngeo
e vago, respectivamente (WANG et al., 2012; DEVOS et al.,
2013; BRETTSCHNEIDER et al., 2015; SHAMPSON et al,
2016).
Outro componente que apresenta relação com a
apresentação da doença envolve uma componente celular do
sistema imunológico: micróglia, célula imunológica de ação
fagocitária, localizada no tecido nervoso (ERNY et al., 2015).
Estudos demonstram que ratos GF possuem micróglias
em estado de repouso ou de menor ativação, ou seja, em uma
forma não-reativa. In vitro, é demonstrado que sua modulação
ocorre geralmente durante instalação de uma infecção onde
há produção dos AGCC pelas bactérias presentes no TGI,
acelerando então a agregação das proteínas alfa-sinucleína.
Em seres humanos, também foi evidenciado essa condição,
onde indivíduos portadores do “mal de Parkinson” possuem
maior concentração desses ácidos e um desequilbrio em sua
produção, já que há maior formação de butirato e proprionato,
e menor de acetato, resultando em uma célula com
características morfológicas diferentes (SMITH et al., 2013;
ERNY et al., 2015; SHAMPSON et al, 2016).

463
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
o DOENÇA DE ALZHEIMER (DA)

A doença de Alzheimer é de natureza degenerativa e


progressiva, considerada a causa mais comum de demência.
Caracterizada pelo acúmulo de placas β-Amiloide (Aβ), além
de depósito de emaranhados fibrilares (em inglês,
neurofibrillary tangles – NTF's). Os NTF's são compostos por
proteínas TAU hiperfosforiladas, já as placas Aβ são formas
insolúveis e agregadas de peptídeos Aβ (KANG et al., 2017).
Em modelos animais, a diversidade da comunidade
microbiana demonstrou papel regulatório no sistema imune
inato do hospedeiro, além de importante impacto sobre as Aβ-
amiloides. O desenvolvimento das placas amiloides é menor
em camundongos criados em condições estéreis (TREMLETT
et al., 2017).
Estudos em adultos diagnosticados com demência
encontrou associação entre aqueles pacientes que
desenvolveram periodontite severa precocemente ao
diagnóstico demencial, mostrando a importante influência da
flora bacteriana presente na via oral. Outros pesquisadores
também encontraram relação entre a escovação dentária
irregular e o maior risco de desenvolvimento de demência em
idosos (TREMLETT et al., 2017).

o ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA)

A Esclerose Lateral Amiotrófica é causada pela


progressiva perda de neurônios motores superiores no trato
corticoespinal, músculos bulbares e medula espinal,
conduzindo a fraqueza e paralisia dos músculos, atrofia,
fasciculações e espasticidade (GORDON, 2013). Apesar de
não totalmente elucidada, sabe-se que a fisiopatologia da ELA
é multifatorial e inclue disfunção mitocondrial, agregação de
464
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
proteínas, estresse oxidativo, excitotoxicidade, inflamação e
apoptose que envolve neurônios motores e células gliais
circundantes (GORDON, 2013;RIANCHO et al., 2016).
Ratos transgênicos portadores de ELA, possuem menor
quantidade de bactérias que são produtoras de butirato
(AGCC). Entretanto, não é esclarecido se o microbioma
desempenharia papel desencadeador nas alterações
neuromotoras. Alguns dos mecanismos propostos envolvem
também a ativação da micróglia e processo de disbiose
(KHAN; OLOKETUYI, 2016; TREMLETT, et al., 2017).
A influência do microbiota nessa patologia, também
compartilha alterações histológicas devido ao acúmulo das
proteínas beta-amiloides e alfa-sinucleína (também envolvidas
na fisiopatologia do Azheimer e doença de Parkinson.
Entretanto, os fatores responsáveis pelo início desse acúmulo
ou sua propagação, não estão bem elucidados (KHAN;
OLOKETUYI, 2016).

o ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (AVC)

A interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro, seja


devido ao rompimento de um vaso sanguíneo ou por
bloqueio do fluxo por um coágulo é o que caracteriza o
AVC.Essa falta de oxigênio e nutrientes para o cérebro é
capaz de causar diversos danos, muitas vezes irreversíveis
(WHO, 2017).
O principal aspecto elucidado nessa condição é a
influência da microbiota no desfecho da isquemia cerebral. A
modulação do SNC e a resposta imune antígeno-específica
estaria envolvido nesse processo. Sabe-se também que a
translocação bacteriana, ou seja, a invasão das bactérias
através da mucosa para a circulação sanguínea, pode

465
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
desencadear uma resposta inflamatória à nível sistêmico após
a formação do coágulo sanguíneo, podendo inclusive,
aumentar as complicações após evento isquêmico (WINEK;
DIRNAGL; MEISEL, 2016).
O uso de antibióticos em experimentos animais
aumentou a mortalidade de camundongos que tiveram a
microbiota depletada. Por outro lado, é visto também que a
comunidade bacteriana pós-AVC, é primordial pois, o sistema
imune do hospedeiro está severamente comprometido,
afetando negativamente a barreira imuno-intestinal. Sendo
assim, a presença de microbiota saudável acarretará em
benefício pela estimulação do sistema imunológico (MILLER et
al., 2015; WINEK et al., 2016).

o LESÕES DA MEDULA ESPINHAL (LME)

Pacientes com injuria na medula espinhal possuem


menor quantidade de bactérias produtoras de butirato, essas
consequências não são bem elucidadas, mas o que se sabe é
que após as lesões, as mudanças na microbiota podem
persistir por até um mês, e predizem a magnitude da
locomoção prejudicada (KIRGERL et al., 2016).
A lesão da medula espinhal prejudica a função imune
(GALT) aumentando a necessidade de doses repetidas de
antibióticos para conter infecções. Com isso, a disbiose no
trato gastrointestinal é exacerbada, comprometendo assim, as
funções neurológicas (KIRGERL et al., 2016).
A fisiopatologia envolvida é justificada pela supressão
imune crônica, obstrução intestinal e motilidade intestinal
prejudicada que ocorre devido à LME, facilitando assim a
translocação bacteriana. Há ainda estudos que demonstram o

466
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
uso de probióticos como terapêuticos no tratamento dessa
condição (KIRGERL et al., 2016).
O uso de probióticos após o estabelecimento da lesão
vêm sendo estudada como promotor de melhora locomotora.
Esse avanço pode ser explicado pela homeostase da mucosa
intestinal, estabilização da barreira epitelial do TGI, e
modulação local e sistêmica da resposta imune (KWON et al.,
2013; WONG et al., 2014; KIRGERL et al., 2016).

o INFLUÊNCIA DA DIETOTERAPIA

As dietas ricas em gorduras e carboidratos refinados


induzem mudanças na microbiota (disbiose) prejudicando a
função das células apresentadoras de antígenos (APCs),
diminuindo também as células produtoras de interleucina-7 (IL-
7) no intestino. Tais alterações precedem a instalação de
doenças metabólicas como: obesidade e diabetes mellitus,
que são também fatores de risco para doenças que afetam o
SNC, como por exemplo: AVC (RICCIO; ROSSANO, 2015).
Atualmente, não há ferramenta validada para mensurar
ou diagnosticar indiretamente o quadro disbiótico. Entretanto,
cabe ao nutricionista avaliar através de ferramentas como
análise do consumo alimentar (qualitativo ou quantitativo),
sinais e sintomas gastrotintestinais, principalmente, se o
paciente necessita ou não do uso de simbióticos.
A administração oral de probióticos podem reverter os
efeitos patológicos da disbiose intestinal (WONG et al., 2014).
Em pacientes com lesão na medula, probióticos tem sido
usado para tratar infecções urinárias e estresse
gastroinstestinal. A dieta também deve englobar a integração
de prebióticos (exemplo: inulina, farelo, olifrutose,
lactosacarose) e probióticos (bífidobacterium lactis, clostridium

467
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
butyricim, lactococcus lactis). Juntamente à isso, a ingestão de
vitaminas (D, A, B12), oligoelementos (magnésio e selênio) e
compostos bioativos (polifenóis), por exemplo, também
possuem sua função protetora (WINEK; DIRNAGL; MEISEL,
2016; KIRGERL et al., 2016).
Para uso de simbióticos, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) (2005) (2008) preconiza que a
dose mínima de probióticos seja na faixa de 10 8 a 109 Unidade
Formadora de Colônia (UFC) para atingir a recomendação
diária. Apesar dos benéficios de seu uso, como melhora do
controle glicêmico, diminuição da taxa de colesterol
sanguíneo, aumento de bactérias benéfica (bifidobactérias),
efeitos adversos podem ser observados em alguns pacientes,
por exemplo: desconforto abdominal e aumento da produção
de gases. Porém mesmo com essas queixas, sua utilização
deve ser continuada até melhor do quadro geral.

4 CONCLUSÕES

Pode-se direcionar a modulação de uma microbiota,


seja pela eliminação de um determinado microrganismo, sua
modificação ou inserção de bactérias benéficas à flora
intestinal, a fim de desencadear a resposta imune positiva
para o tratamento de doenças. Essa terapêutica é promissora
quando já há relação estabelecida entre um tipo específico de
microbiota e alguma doença.
Apesar de não haver consenso sobre a utilização
específicas sobre a modulação dessa microbiota através do
uso de prebióticos, probióticos ou simbióticos, devido aos tipos
distintos de bactérias que podem estar aumentadas ou
diminuídas nas neuropatologias descritas nesse trabalho,
salienta-se quanto a avaliação quanto a necessidade do uso
468
MICROBIOTA E SUA RELAÇÃO COM DOENÇAS NEURODEGENETARIVAS
desses produtos, já que o benefício desses compostos
associados a alimentação saudável pode sim acarretar em
melhora por propiciar a microbiota saudavél.
A modulação do microbioma com o intuito terapêutico
tem futuro promissor, uma vez que com os avanços será
possível manipular comunidades inteiras (seja individualmente
ou em combinação) com prebióticos, probióticos, simbióticos
ou até mesmo transplante fecal.

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472
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
CAPÍTULO 23

NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS


POLICÍSTICOS
Raísa Santos COELHO 1
Emylle Thaís Melo dos SANTOS 1
Lídia Laís Gomes SILVA 1
Julianne Cibele Rodrigues da SILVA 1
Amanda Moreira de Andrade SILVA 2
1
Nutricionistas Residentes do Hospital das Clínicas, UFPE; 2 Especialista em Nutrição Clínica
pela UFPE, Nutricionista do Hospital das Clínicas, UFPE
raisa.coelho@gmail.com.br

RESUMO: A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é a


mais importante repercussão da obesidade na saúde
reprodutiva, sendo a endocrinopatia de maior incidência nesse
público. Trata-se de um distúrbio neuro-endócrino-reprodutor,
de etiologia multifatorial, associado a alterações morfológicas
ovarianas e ao hiperandrogenismo. A mesma relaciona-se
diretamente com a resistência à insulina, obesidade,
predisposição ao diabetes mellitus tipo II, dentre outras
anormalidades metabólicas e/ou clínicas. O estudos, portanto,
têm identificado estreita relação entre a Síndrome dos Ovários
Policísticos, padrões dietéticos, estado nutricional da mulher,
sua fase de vida (pré ou pós-menopausa) e comorbidades.
Acredita-se que o metabolismo dos carboidratos seja o mais
diretamente relacionado às alterações supracitadas. Sendo
assim, o padrão alimentar das mulheres com SOP tem sido
avaliado e associado com as alterações endócrinas,
antropométricas e metabólicas apresentadas pelas mesmas,
assim como diferentes distribuições de macronutrientes e
alguns nutrientes específicos têm sido elucidados e

473
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
relacionados à melhora do perfil metabólico das portadoras de
SOP, sobretudo, no que concerne à melhora da resistência à
insulina e à redução do peso corporal. Deste modo, este
estudo objetivou a revisão da literatura, nos últimos 10 anos,
que aborda a relação entre a nutrição adotada pela população
feminina, sobretudo em idade reprodutiva, e a Síndrome dos
Ovários Policísticos, da etiologia ao tratamento.
Palavras-chave: Nutrição. Síndrome dos Ovários Policísticos.
Obesidade.

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) ou


Síndrome de Stein Leventhal é um distúrbio no eixo neuro-
endócrino-reprodutor, associado a alteração morfológica
ovariana e à produção androgênica elevada (BARACAT,
2015). Descrita pela primeira vez em 1935, por Stein e
Leventhal, como uma associação entre amenorreia, hirsutismo
e obesidade, com ovários de aspectos policísticos (SOUSA et
al, 2013).
Trata-se da endocrinopatia de maior incidência em
mulheres em idade reprodutiva (PEREIRA, DE OLIVEIRA
SILVA e CAVALCANTI, 2016). A literatura varia a prevalência
de 4-20% das mulheres, no mundo. No Brasil, a prevalência
se mantém neste mesmo intervalo, de acordo o dado mais
recente que afirma que a SOP foi diagnosticada em 13% das
mulheres em idade reprodutiva (SANTOS, 2015; SOARES
JÚNIOR et al, 2014; REHME et al, 2013; SOUZA et al, 2013).
Segundo Pereira, Oliveira Silva e Cavalcanti (2015), a
SOP é causada pelo desequilíbrio dos hormônios femininos e
tem caráter multifatorial. Baracat (2015) afirma que há, ainda,

474
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
um contrassenso na explicação da etiologia da doença.
Enquanto alguns autores sugerem que há resposta
inadequada dos ovários aos hormônios hipofisários, outros
acreditam em produção inadequada de gonadotrofinas pela
hipófise. Costa, Viana e Oliveira (2007) atribuem também um
fator multigênico envolvido na predisposição genética da SOP.
Santos (2015), entretanto, sugere que os fatores ambientais
sejam gatilhos para os fatores genéticos, e afirma que a
possibilidade de hereditariedade ainda é incerta.
Devido à heterogeneidade dos achados, para o
diagnóstico, sugere-se a adoção dos critérios estabelecidos no
Consenso de Rotterdam (2003), que caracteriza a síndrome
pela presença de dois dos seguintes fatores: oligo e/ou
anovulação; hiperandrogenismo clínico ou laboratorial; ovários
com aspectos policísticos (SOUSA et al, 2013).
O National Institutes of Health (NIH) e o Androgen
Excess Society (AES) ressaltam que deve ser dada maior
ênfase ao hiperandrogenismo no diagnóstico, devido a sua
presença identificar um fenótipo de maior risco para
complicações metabólicas, e este, tornar-se mais marcante
quando associado ao estado de anovulação crônica
(BARACAT, 2015; SANTOS, 2015).
Sendo assim, a Androgen Excess Society (AES)
estabeleceu como critérios para a SOP, o hiperandrogenismo
e/ou hiperandrogenemia obrigatoriamente associado à
disfunção ovariana (anovulação crônica e/ou ovários
policísticos), o que condensa todos os critérios de Rotterdam
(SOARES JUNIOR et al., 2014). Neves (2013) reitera que este
critério engloba os diferentes fenótipos da doença, e pontua a
relação destes com o aumento da prevalência para o risco de
desenvolver resistência à insulina.

475
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
As mulheres com SOP exibem um perfil metabólico
característico, segundo Santos (2015), que apresenta-se
associado à resistência à insulina, intolerância à glicose,
dislipidemia e obesidade. É comum a ocorrência de diabetes
mellitus, hipertensão arterial sistêmica, disfunção endotelial,
obesidade central e alterações em marcadores pró-
inflamatórios (SOUZA et al, 2013).
Baracat (2015) descreve que, muitos autores sugerem
um distúrbio do metabolismo dos carboidratos. Tanto a
resistência como a hiperinsulinemia compensatória parecem
desempenhar papel importante na etiologia da doença
(COSTA, VIANA e OLIVEIRA, 2007; PEREIRA, DE OLIVEIRA
SILVA e CAVALCANTI, 2016). Segundo Neves (2013), a
insulina estimula a esteroidogênese nos ovários. O excesso
local dos androgênios ovarianos causa atresia prematura dos
folículos, formando cistos pequenos e anovulação.
A síntese hepática da globulina carreadora de
hormônios sexuais (SHBG) também sofre influência da
hiperinsulinemia, sendo inibida e, deste modo, gera aumento
da testosterona livre (NEVES, 2013). Santos (2015) descreve
também a capacidade da insulina de ligação com a SHBG,
resultando na perda da sua atividade biológica. Além disso,
níveis elevados de insulina circulantes colaboram para o
estímulo do sistema nervoso simpático e o músculo liso
central, elevando a pressão arterial, outro fator intimamente
associado e presente em mulheres com SOP (SOUZA et al,
2013).
Além das manifestações metabólicas supracitadas, as
pacientes portadoras da SOP, apresentam manifestações
clínicas associadas à doença. São elas: irregularidades

476
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
menstruais, infertilidade, obesidade, hirsutismo, acne e
acanthosis nigricans (NEVES, 2013).
De acordo com Santos (2015), embora a obesidade e a
adiposidade visceral caracterizem risco iminente para
desenvolvimento da resistência à insulina, a literatura tem
evidenciado a elevação significativa do risco, quando
associada à SOP, independente do Índice de Massa Corporal
(IMC).
Deste modo, o objetivo dessa revisão é pontuar as
alterações fisiológicas com impacto nutricional e o papel da
dieta no tratamento da Síndrome de Ovários Policísticos.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Realizou-se, no presente estudo, revisão bibliográfica,


na qual foi empregada análise exploratória.
As seguintes bases de dados eletrônicas foram
utilizadas para a coleta de artigos científicos: Medline,
Pubmed, Scielo, Science Direct, Scopus e Springer. Os
descritivos pesquisados foram: Síndrome dos Ovários
Policísticos, Obesidade, Resistência a Insulina. A pesquisa foi
realizada nos idiomas inglês, português e espanhol, com maior
ênfase nos artigos publicados nos últimos 10 anos.
A pesquisa bibliográfica incluiu artigos originais e de
revisão, além de dissertações, teses e livros escritos nas
línguas portuguesa, inglesa e espanhola.
A pré-seleção dos estudos ocorreu num período de 06
meses, no qual, analisou-se títulos e resumos. Por
conseguinte, foi realizada a leitura integral dos textos pré-
selecionados. Os critérios de exclusão adotados, foram:
publicações que não se adequavam ao tema analisado,

477
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
possuíam conflitos de interesses e/ou data de publicação num
período anterior ao limite definido para este estudo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Síndrome dos Ovários Policísticos é um transtorno


endócrino-metabólico, considerada um tipo de síndrome
metabólica feminina, comum que afeta 12-18% das mulheres.
Portadoras dessa doença têm, ao longo da vida, risco
aumentado para resistência à insulina (RI), diabetes mellitus
tipo 2 (DM2), dislipidemia e aterosclerose (AQUINO, 2014;
JEANES e REEVES, 2017).
Os sintomas costumam incluir: irregularidade menstrual,
acne, excesso de pelos (hirsutismo), alopecia, adiposidade
central e infertilidade (JEANES e REEVES, 2017).
O diagnóstico adota os critérios estabelecidos no
Consenso de Rotterdam (2003), que caracteriza a síndrome
pela presença de dois dos seguintes fatores: oligo e/ou
anovulação; hiperandrogenismo clínico ou laboratorial; ovários
com aspectos policísticos (SOUSA et al, 2013).
A morfologia ovariana de aspecto policístico é
observada por exame de imagem (ultrassonografia), no qual é
possível observar a presença de 12 ou mais folículos, medindo
de 2 a 9mm de diâmetro e/ou volume ovariano acima de
10cm3. Os ovários policísticos apresentam-se aumentados por
hiperplasia das células da teca e estroma ovariano e pelo
acúmulo de microcistos subcapsulares (AQUINO, 2014).
Diversas manifestações clínicas/bioquímicas da doença
podem ser observadas. Em 2012, o NIH categorizou-as:
excesso de andrógeno + disfunção ovulatória; excesso de

478
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
andrógeno + morfologia ovariana policística; disfunção
ovulatória + morfologia ovariana policística; e, excesso de
andrógeno + disfunção ovulatória + morfologia ovariana
policística (?).
Baracat (2015) afirma que a característica mais
marcante da doença, no entanto, é o hiperandrogenismo
associado ao estado de anovulação crônica. Segundo Jeanes
e Reeves (2017), considera-se este o padrão de maior risco
metabólico.

3.1 Fisiopatologia

A etiologia da SOP ainda não está, totalmente,


elucidada. Segundo Baracat (2015), investiga-se a
possibilidade de resposta inadequada dos ovários aos
hormônios hipofisários ou a produção inadequada de
gonadotrofinas pela hipófise. Alguns autores sugerem
predisposição genética, como variantes genômicas em genes
relacionados a biossíntese, regulação e ação dos andrógenos;
à ação e à secreção da insulina, fator de crescimento (IGF),
entre outros (AQUINO, 2014).
Além disso, muitos autores associam um distúrbio no
metabolismo dos carboidratos, sobretudo, a resistência à
insulina ao quadro clínico observado na SOP. Tal
consideração baseia-se na observação de alta prevalência
(70%) de hiperinsulinemia em mulheres portadoras de ovários
policísticos (BARACAT, 2015).
Segundo Aquino (2014), o hiperinsulinismo pode ser
considerado um elemento fisiopatogênico básico. Isto porque
a insulina atua diretamente sobre o ovário, em sinergismo com
o hormônio luteinizante (LH), estimulando a síntese de

479
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
andrógenos. Além disso, indiretamente, a insulina inibe a
produção hepática da globulina carreadora de hormônios
sexuais (SHBG), o que permite a circulação de grande
quantidade de androgênios livres e biologicamente ativos, que
contribuem para o estado oligo-anovulatório.
O excesso local dos androgênios ovarianos –
aumentados pela hiperinsulinemia – causa atresia prematura
dos folículos, formando os cistos e causando anovulação
(NEVES, 2013).
Segundo Neves (2013), o distúrbio na ação da insulina
ocorre pós-receptor, com fosforilação excessiva da serina do
receptor de insulina. Sendo assim, apenas o metabolismo da
glicose torna-se afetado, visto que as ações biológicas da
insulina relacionadas a esteroidogênese continuam existindo.
Isso se dá, pois a fosforilação da serina estimula a enzima
P450c17 presente nos ovários e nas glândulas suprarrenais, o
que contribui para o aumento da síntese de androgênios.

3.2 Repercurssões Metabólicas e Nutricionais

A hiperinsulinemia observada na SOP contribui, não


somente, para as alterações hormonais supracitadas, mas
favorecem um distúrbio metabólico, com aumento das
lipoproteínas de baixa densidade (LDL-colesterol) e
triglicerídeos, além da diminuição das lipoproteínas de alta
densidade (HDL-colesterol) (NEVES, 2013).
Baracat (2015) afirma que essas alterações associadas
à tríade lipídica justificam-se pela resistência insulínica
promover liberação dos ácidos graxos livres do adipócito,
enquanto o fígado reduz a supressão na síntese de VLDL,

480
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
ricas em triglicerídeos, gerando uma cascata que contribui
para a redução dos níveis de HDL.
Além disso, a redução da ação da lipoproteína lipase e
aumento da lipase hepática contribuem para a transformação
de LDL em partículas de menor diâmetro e maior densidade,
como para a manutenção de um estado de lipemia pós
prandial, na qual as lipoproteínas remanescentes, ricas em
colesterol, permanecem na circulação (BARACAT, 2015).
Outras repercussões clínicas são potenciais, além das
citadas na sintomatologia por Jeanes e Reeves (2017), sendo
elas: achantosis nigricans, lesões potenciais sobre o endotélio
vascular e maior risco de neoplasias do trato reprodutivo. Esse
risco justifica-se, segundo Baracat (2015), pela obesidade,
hiperinsulinemia e hiperandrogenemia participarem da gênese
da progressão de lesões proliferativas.
De acordo com Sousa (2013), corroborando com os
demais autores supracitados, a obesidade, sobretudo
abdominal, é comumente descrita como um fator associado à
SOP, com prevalência que varia de 38 a 88%.
Segundo Baracat (2015), além do IMC ≥ 30 kg/m2,
admite-se a existência de obesidade quando a proporção de
tecido adiposo ultrapassa 25% do peso corporal. Sendo o teor
considerado normal para mulheres, em torno de 22%.
O padrão de localização da gordura também influencia
para os distúrbios metabólicos observados na obesidade e na
SOP. O padrão androide, observado na doença, potencializa
os riscos observados, visto que os adipócitos atuam de modo
endócrino, são volumosos, ativos e respondem à adrenalina
com aumento da atividade da lipase e quebra celular com
liberação de ácidos graxos livres, o que repercute na redução

481
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
da sensibilidade periférica à insulina, como já discutido
(BARACAT, 2015).
A relação entre obesidade e SOP pode ser descrita
pelas alterações de fertilidade, visto que a redução da
frequência de ovulações é apontada como importante critério
de associação, pois está presente em mais de 50% das
mulheres com SOP obesas, comparadas com as não obesas
(AQUINO, 2014). Baracat (2015) afima que a obesidade
relaciona-se também à maior produção de estrogênios.
A elevação da insulina circulante diminui a síntese
hepática da SHBG, o que determina aumento do clearance
metabólico de andrógenos (DHEAS, androstenediona,
testosterona, diidrotestosterona e androstenediol). Sendo
assim, o corpo produz elevação compensatória destes
hormônios, o que configura o chamado hiperandrogenismo
funcional, relativo ao obeso. No tecido adiposo ocorre também
a maior produção dos andrógenos com conversão dos
mesmos em estrogênios, num processo chamado
aromatização (BARACAT, 2015).
Apesar desses distúrbios serem mais observados
quando em excesso de peso, mulheres magras/eutróficas com
SOP também apresentam RI e elevação de LDL-colesterol.
Alterações de HDL-colesterol e triglicérides que são mais
frequentemente acentuadas nas obesas.

3.3 Nutrição e SOP

No que diz respeito a alimentação recomendada no


tratamento da SOP, estudos epidemiológicos suportam a
hipótese de que o aumento do consumo de frutas e vegetais,
com dietas ricas em fibras e com baixo teor de gordura

482
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
induzem a redução nos fatores de risco de doenças crônicas
(JOSHIPURA et al., 2009; GEORGE et al., 2012; CASES et
al., 2015), além de demonstrarem serem eficientes na redução
do estresse oxidativo, pela ação dos compostos bioativos,
como os antioxidantes, em mecanismos específicos sobre a
oxidação e inflamação (DRAGSTED et al., 2006; PAXTON et
al., 2012).
As dietas ricas em gorduras saturadas e açúcares
simples realizam o processo contrário, sendo importantes
fontes de geração de agentes de glicação avançada (AGE)
que originam agentes oxidantes no organismo (VLASSARA et
al., 2008). Estudo recente demonstrou que a exposição
excessiva aos AGE exógenos, pode exacerbar o perfil
metabólico e hormonal, bem como o estresse oxidativo na
SOP (TANTALAKI et al., 2014).
As recomendações de macro e micronutrientes para as
dietas de mulheres com SOP ainda não estão totalmente
esclarecidas. Estudos demonstram benefícios na redução da
glicose pós-prandial e na sensibilidade a insulina com dietas
de baixa carga glicêmica (CG) e/ou índice glicêmico (IG)
(WALSH et al., 2013), bem como favorável perda de massa
gorda (GOSS et al., 2014) e redução de riscos metabólicos
(SUZANNE et al., 2013).
Dietas hiperproteicas foram associadas a melhorias
significativas na perda de peso e nos marcadores de risco
cardiometabólicos em mulheres com SOP (SORENSEN et al.,
2012).
Perelman et al (2017) avaliaram a redução do
percentual de carboidratos da dieta, com elevação
proporcional das gorduras poli-insaturadas e
monoinsaturadas, em mulheres obesas, com SOP, resistentes

483
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
à insulina, por um período de 03 semanas. Observou-se, com
essa intervenção, melhora significativa nas concentrações
séricas de insulina e alterações benéficas no perfil lipídico das
mesmas.
Revisões sistemáticas que buscaram esclarecer essa
composição “ideal” da dieta na SOP identificaram que a
redução de peso, atingida por dieta hipocalórica associada a
um padrão de alimentação saudável, é capaz de reduzir a
massa adiposa e melhorar as alterações cardiometabólicas,
independente das proporções dos macronutrientes utilizados
na dieta, na maioria dos estudos avaliados (MEHRABANI et
al., 2012; MORAN et al., 2013; PANIDIS et al., 2013).
Estudos avaliando a adesão ao padrão alimentar DASH
(Dietary Approaches to Stop Hypertension) durante 8 semanas
entre mulheres com sobrepeso e obesas com SOP
apresentaram efeitos benéficos em peso, IMC, triglicerídeos
no soro, insulina e melhora na capacidade antioxidante em
comparação com a dieta controle (ASEMI et al., 2015).
Dietas ricas em vegetais e com uma quantidade
considerável do ácido graxo poliinsaturado em substituição a
gordura saturada, durante 8 semanas, também foram
suficientes para diminuir as quebras no DNA de indivíduos
com DM2 (MULLNER et al., 2013). Essa estratégia pode ser
ainda mais importante para mulheres com SOP, visto a
relatada redução dos níveis basais de antioxidantes nessas
mulheres (MOHAMADIN et al., 2010).
A Androgen Excess and Polycystic Ovary Syndrome
Society (AE-PCOS) estabeleceu que a modificação no estilo
de vida, através da dieta e exercício físico, com interrupção do
tabagismo e etilismo, é escolha prioritária para o tratamento da
SOP, principalmente as que apresentam sobrepeso ou

484
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
obesidade em associação com fatores de risco
cardiometabólicos (WILD et al., 2010; RAVN et al.,2013).
Para essa população, estudos de intervenção para
perda de peso em curto prazo (quatro a oito semanas) têm
efeitos positivos na redução da gordura abdominal e dos
níveis séricos de insulina (NORMAN et al.,2006), além de
redução na androgenicidade (MORAN et al.,2013), na
resistência a insulina (HOEGER et al., 2006) e na melhora do
perfil lipídico (MORAN et al., 2003).
Clinicamente, melhorias no hisurtismo, no ciclo
menstrual e na fertilidade também são relatadas com a
redução do peso e a melhora no consumo alimentar
(MEHRABANI et al., 2012; SALAMA et al., 2015).
Trabalhos que estudam nutrientes específicos nessa
população já relataram os benefícios da suplementação com
vitamina D e do cálcio na função hormonal, sendo observada
melhora na função reprodutiva das mulheres com SOP
(aumento das taxas de gravidez, melhora da frequência
menstrual, regulação dos ciclos menstruais), diminuição da
testosterona livre, ou seja, houve melhora do
hiperandrogenismo (PAL et al., 2012; TEHRANI et al., 2014).
Verificou-se, ainda, que com a suplementação de
25(OH)D aumentou a secreção de insulina e,
consequentemente, houve melhora da sensibilidade a este
hormônio nessas mulheres, além de haver aumento das
concentrações de HDL e diminuição dos triglicerídeos,
diminuindo assim, os riscos das mesmas desenvolverem
doenças cardiovasculares (PAL et al., 2012; TEHRANI et al.,
2014).
Isto sugere que há, de fato, uma relação entre a
vitamina D e a função reprodutiva, observando que baixas

485
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
concentrações séricas de 25(OH)D estão associadas a
irregularidades ovulatórias e menstruais. Já as altas
concentrações de vitamina D foram associadas a uma maior
probabilidade de gestações bem sucedidas, e um efeito
benéfico da suplementação de vitamina D sobre a disfunção
menstrual (FANG et al, 2017).
Ainda sobre a resistência à insulina, SOP e
micronutrientes, um estudo avaliou concentrações séricas de
zinco e adiponectina em mulheres com SOP, encontrando
correlações positivas, o que não foi observado em controles
saudáveis. A explicação para essa investigação é que a
redução do nível sérico da adiponectina correlaciona-se
positivamente a redução também do nível de zinco na
resistência a insulina (MAZLOOMI et al, 2017).
Sendo assim, Mazloomi et al (2017) acreditam que a
suplementação de zinco, por ser capaz de aumentar a
concentração de adiponectina, poderia configurar uma boa
intervenção para mulheres com Síndrome dos Ovários
Policísticos. Entretanto, mais estudos são necessários para
comprovar esse benefício.
Por fim, o ômega 3 tem sido um dos nutrientes mais
estudados nessa população. O ensaio de Khani et al (2017),
com suplementação de 2g de ômega 3 suplementado, num
período de seis meses, evidenciou redução da circunferência
da cintura no grupo suplementado, comparado ao controle,
bem como melhora do perfil lipídico.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de multifatorial, é inegável que o padrão


alimentar a o estado nutricional da mulher influenciam para o
desenvolvimento da Síndrome dos Ovários Policísticos e às
486
NUTRIÇÃO E SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS
alterações metabólicas associadas à mesma. A resistência à
insulina parece ser o eixo central dessa associação e,
portanto, o foco a ser trabalhado, do ponto de vista nutricional,
a fim de que se tenha os benefícios esperados para a melhora
do perfil metabólico da mulher e, consequente, a redução do
risco cardiovascular, geralmente associado, aos distúrbios
metabólicos observados nessas pacientes. Embora não exista
um guia de conduta nutricional a ser utilizado em pacientes
com SOP, acredita-se que o evidenciado na literatura já
suporta diferentes estratégias nutricionais a serem adotadas
pelo nutricionista no tratamento dietoterápico das mulheres
acometidas pela SOP. Isso poderá envolver modificações
calóricas e de distribuição de macronutrientes, bem como a
adequação de vitaminas antioxidades e minerais envolvidos
no metabolismo dos carboidratos, sendo a suplementação
interessante quando evidenciadas deficiências dietéticas e/ou
séricas.

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490
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
CAPÍTULO 24

SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES


INFECTADOS PELO HIV EM USO DA
TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
Luciana Caroline Paulino do NASCIMENTO1
Karla Thuany de Oliveira SANTOS 1
DalilaFernandes BEZERRA 1
Karla Caroline Ramos de JESUS 1
Claudia Porto Sabino PINHO2
1
Residente de Nutrição Clínica Uniprofissional do Hospital das Clínicas-UFPE;
2
Nutricionista/Preceptora, Hospital das Clínicas/ UFPE
lucianacpnascimentol@hotmail.com

RESUMO: O vírus da imunodeficiência humana enfraquece os


sistemas de defesa das pessoas contra infecções,
desencadeando a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
que cursa com importante comprometimento do estado
nutricional. A implantação da terapia antirretroviral foi capaz de
aumentar a sobrevida dos pacientes e reduzir complicações
associadas. Mesmo assim, as repercussões nutricionais ainda
são encontradas. A proposta dessa revisão foi reunir
evidências científicas que mostrem a relação entre sarcopenia
e caquexia e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, nos
pacientes em uso da terapia antirretroviral. É amplamente
discutido que tanto a fisiopatologia da doença, associada a
sintomas como anorexia, mal absorção e utilização dos
nutrientes, assim como o uso prolongado da terapia
antirretroviral são capazes de induzir perda de peso e de
massa muscular, contribuindo para o desenvolvimento de
sarcopenia e caquexia. Tais condições, características do
envelhecimento e de patologias hipermetabólicas,
respectivamente, estão sendo relacionadas ao vírus da
imunodeficiência humana, uma vez que estão envolvidos
491
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
diversos mecanismos moleculares e principalmente, a
produção de citocinas inflamatórias no curso da doença.
Conclui-se que a implantação da terapia antirretroviral
proporcionou o aumento da sobrevida dos pacientes com HIV,
bem como reduziu as complicações. Contudo, a sarcopenia e
a caquexia ainda são problemas clínicos significativos capazes
de aumentar a morbimortalidade nos pacientes com HIV.
Palavras-chave: Sarcopenia. Caquexia. HIV.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde


(OMS), a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana
(VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus)
continua a ser um problema de saúde pública. Em 2015, foi
estimado que 1,1 milhões de pessoas morreram vítimas de
causas relacionadas ao vírus mundialmente (WHO, 2016).
O HIV tem como alvo o sistema imunológico,
enfraquecendo os sistemas de defesa contra infecções. Por
destruir e prejudicar a função das células imunes, indivíduos
infectados tornam-se gradualmente imunodeficientes, sendo
os linfócitos T CD4+ as células mais atingidas, resultando em
aumento da susceptibilidade a uma ampla gama de infecções
e doenças (WHO, 2016). As variadas alterações causadas
pelo vírus no organismo constitui a Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) que atualmente é
considerada uma doença crônica, principalmente pelos
avanços no uso da terapia antirretroviral (TARV) (DEEKS et
al., 2013). O uso destes medicamentos tem aumentado
drasticamente a sobrevivência dos que convivem com o HIV.
Adicionalmente, mudanças na composição corporal

492
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
resultantes da utilização da terapia antirretroviral (TARV),
assim como também da infecção por HIV, reproduzem
processos de envelhecimento normal. As alterações mais
comuns encontradas são o acúmulo de tecido adiposo
visceral, perda de densidade mineral óssea (DMO) e redução
de massa magra corporal (FALUTZ, 2011; SCHERZER et al.,
2011). Evidências apontam que a perda de peso e de massa
muscular continua a serem complicações significativas,
mesmo em populações com acesso generalizado à potente
terapia (GRINSPOON; MULLIGAN, 2003).
Além disso, a desnutrição é também uma condição
comumente observada entre os indivíduos infectados pelo HIV
(SHEVITZ; KNOX, 2001). Isso se deve ao fato desses
pacientes apresentarem apetite diminuído e ingestão
energética insuficiente associada a um gasto energético de
repouso aumentado, contribuindo para a perda de massa
muscular, que muitas vezes se associa à perda de força e/ou
de funcionalidade, caracterizando a presença de sarcopenia,
condição que também é relatada nesses pacientes
(GRINSPOON; MULLINGAN, 2003). A sarcopenia, por sua
vez, é definida como uma síndrome caracterizada pela perda
progressiva e generalizada de massa muscular esquelética
associada à perda de força e/ou função muscular, acarretando
maior risco de deficiência física, má qualidade de vida e maior
morbimortalidade (DELMONICO et al., 2007; CRUZ-JENTOFT
et al., 2010). Em recente estudo, Neto (2016) observou
associação positiva tanto de sarcopenia como de sua forma
mais precoce, a pré sarcopenia, com a infecção pelo HIV em
pacientes em uso regular da TARV. Em outro estudo,
Wasserman (2014) também relatou uma alta prevalência de
baixa massa muscular em pessoas infectadas pelo HIV.

493
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
Além da sarcopenia, há ainda a possibilidade de
aparecimento de outra condição, a caquexia (MORLEY et al.,
2013), que se caracteriza como uma síndrome multifatorial,
que além de severa perda de peso corporal, gordura e de
massa muscular, há a presença de inflamação (EVANS et al.,
2008). A caquexia não pode ser totalmente revertida pela
terapia nutricional convencional, conduzindo ao
comprometimento funcional progressivo do organismo
(FEARON et al., 2011). De forma geral, a caquexia pode ser
diagnosticada quando há perda de 5% do peso durante os
últimos 12 meses ou menos. Quando esta não puder ser
avaliada, utiliza-se o índice de massa corporal (IMC)
<20mg/m2 como critério inicial marcador da caquexia.
Adicionalmente, critérios como perda de massa muscular,
fadiga, anorexia, além de alterações metabólicas e
bioquímicas, caracterizando inflamação, também são
utilizados como critérios diagnósticos (EVANS et al., 2008;
ARGILES et al., 2011).
Em pacientes com HIV, a caquexia é um importante
preditor de mortalidade (GRINSPOON; MULLIGAN, 2003). De
fato, Wheeler (1998) mostrou aumento do risco de morte em
pacientes infectados pelo HIV que apresentavam progressiva
perda de peso. Em outro estudo, Suttmann (1995) havia
demonstrado um aumento na sobrevida de pacientes com
AIDS que apresentavam maior peso corporal, assim como
também níveis de albumina sérica dentro da normalidade.
Apesar de evidências sobre a presença de sarcopenia e
caquexia em pacientes infectados pelo HIV, ainda há
escassez de trabalhos que explorem essa relação. Sendo
assim, o objetivo desde trabalho é revisar estudos que
mostrem a ligação entre sarcopenia e caquexia e a Síndrome

494
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
da Imunodeficiência Adquirida, naqueles em uso da terapia
antirretroviral.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para esta revisão foi realizado uma busca de artigos


científicos nas bases de dados Pubmed/Medline e Science
Direct no período de março a maio de 2017. Os termos chave
utilizados foram: “sarcopenia e HIV”, “cachexia e HIV”,
“nutritional status e HIV”. Os artigos selecionados incluem
aqueles de maior relevância para os tópicos aqui abordados.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Síndrome da Imunodeficiência Adquirida


3.1.1 Definição e epidemiologia
Descoberta em 1981, nos Estados Unidos, a Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (SIDA; AIDS-Acquired
immunodeficiency syndrome) é uma manifestação clínica que
ocorre em consequência de um quadro de deficiência no
sistema inume causada por infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana (VIH; HIV- Human immuno
deficiency vírus) (KLIMAS et al., 2008).
Os primeiros casos notificados foram em homossexuais
que desenvolveram pneumonia por Pneumorystis carinii, uma
infecção característica de indivíduos imunocomprometidos
(CDC,1981). Pouco tempo depois, casos de Sarcoma de
Kaposi, também em homossexuais, começaram a ser
relatados (CDC,1981). A partir de então, percebeu-se que
inúmeras infecções incomuns que cursavam com a morte

495
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
desses pacientes começaram a ocorrer (HIDALGO et al.,
2000) e que além disso, houve um considerável aumento da
doença, principalmente naqueles que receberam transfusões
sanguíneas e nos usuários de drogas injetáveis. O grande
aumento de casos motivou a realização de diversos estudos
que objetivaram desvendar tal doença. Assim, tornou-se
evidente que o principal mecanismo de atuação da patologia
era a destruição das células CD4, importante componente do
sistema imunológico, capazes de proteger o organismo contra
infecções (COOPER et al., 2013). O enfraquecimento do
sistema de defesa do organismo torna-o susceptível ao
desenvolvimento de uma variedade de doenças que
comprometem diversos órgãos, mas principalmente o sistema
respiratório e o sistema nervoso central (LEE; EVERALL;
2015).
Desde sua descoberta até os dias atuais, a AIDS
continua a ser um desafio para a saúde pública,
principalmente em países de média e baixa renda (WHO,
2016). De acordo com o último relatório publicado sobre a
epidemia global de AIDS, até 2015, havia 36,7 milhões de
pessoas vivendo com o HIV. Além disso, 2,1 milhões de
pessoas tinham sido recentemente infectadas pelo vírus. O
número estimado de mortes ocasionadas pela infecção em
2015 foi de 1,1 milhões de pessoas, das quais 1 milhão foram
adultos e 110.000 foram menores de 15 anos de idade
(UNAIDS, 2016). No Brasil, em 2015, havia 830.000 pessoas
vivendo com HIV, estimando-se que tenham ocorrido 44.000
novas infecções pelo vírus e que o número de mortes
relacionadas à AIDS foi estimado em 15.000 (UNAIDS, 2016).
Mesmo com altas taxas de infecções, dados apontam
que houve progresso na prevenção e eliminação da

496
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
transmissão de mãe para filho, com redução no número de
infecção. É ainda observada a implantação de políticas
públicas no intuito de melhoria e expansão de prevenção,
tratamento, cuidados e serviços de apoio aos pacientes
infectados pelo HIV (WHO, 2016).

3.1.2 Fisiopatologia e repercussões nutricionais

Como anteriormente citado, a doença manifesta-se por


uma incompetência do sistema imune em combater infecções,
sendo esse comprometimento causado por um vírus, o HIV.
Este por sua vez, é um retrovírus capaz de alterar o fluxo da
informação genética celular, utilizando um molde de RNA viral
para a produção de DNA viral (ROBERTS et al., 1988).
Após a exposição do organismo ao vírus, uma partícula
viral liga-se aos receptores CD4 e correceptores da célula
imune do hospedeiro. Após fundir-se no citoplasma, a enzima
transcriptase reversa do HIV converte o seu RNA em DNA
viral, induzindo a célula a produzir mais cópias do vírus
invasor. Com a morte celular, os vírus recém formados são
liberados na corrente sanguínea levando a reinvasão de novas
células (SMITH; DANIEL, 2006). Além de células do sistema
imune, como os macrófagos e monócitos, o vírus pode
também invadir células intestinais, do colo uterino e células de
Langerhans da pele (TABORDA-VANEGAS et al., 2011).
O termo AIDS refere-se a um estágio avançado da
infecção pelo HIV quando um grande número de linfócitos T
CD4 tem sido destruído, tornando o organismo incapaz de
combater patógenos oportunistas secundários ou os efeitos
tóxicos do próprio HIV (GONG, 1984). Com a descoberta da
síndrome, vários estudos foram publicados relacionando o

497
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
aparecimento de patologias em pacientes infectados pelo HIV,
como as doenças, tais como citotoxoplasmose e criptococose;
diversas complicações pulmonares; nefropatias; linfomas e
Sarcoma de Kaposi (LEE; EVERALL, 2015). Não existe uma
sequencia de apresentação dos sintomas, mas
frequentemente os indivíduos evoluem com o aparecimento de
infecções oportunistas que normalmente não ocorrem na
presença de um sistema imunológico saudável, tais como
infecções fúngicas e bacterianas. Além disso, é frequente a
ocorrência de diarreia, fadiga e perda de peso (LEE;
EVERALL, 2015).
As deficiências nutricionais comumente encontradas em
infectados pelo HIV decorrem, principalmente, devido a
distúrbios como redução da ingestão alimentar, má absorção
intestinal, aumento da utilização ou excreção de nutrientes,
alterações metabólicas, bem como o excesso de produção de
citocinas (GRINSPOON; MULLIGAN, 2003; KLOTLER et al.,
2004). Além disso, é observado que mesmo indivíduos
infectados assintomáticos que apresentaram índices
antropométricos normais, cursavam com redução dos níveis
de colesterol total, HDL colesterol, triglicerídeos, hemoglobina
e albumina (VORSTER et al., 2004).
O comprometimento do estado nutricional,
caracterizando desnutrição, eleva consideravelmente o risco
de complicações. Em seu estudo, Wheler (1999) concluiu que
a perda de peso corporal em 5% é capaz de aumentar o risco
de morte em 2,5 vezes. Além disso, o risco de infecções
oportunistas pode ocorrer com taxas que são de 61% a 176%
maior nesses pacientes. Antes mesmo destes achados, já
havia sido observada depleção de massa muscular em

498
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
adultos, ocorrendo mesmo precocemente ao desenvolvimento
da doença (OTT et al., 1993).
A perda de peso e a perda muscular, no início da
epidemia, foram as únicas características da infecção pelo HIV
(MHIRI et al., 1992) e mesmo na era dos potentes
antirretrovirais como controle da síndrome, esses ainda são
complicações encontradas tanto em adultos como em
crianças.
3.1.3 Terapia Antirretroviral (TARV)

Retardando a progressão da doença e melhorando


significativamente a qualidade de vida das pessoas infectadas
pelo HIV - a terapia antirretroviral tem contribuído para um
forte declínio da mortalidade relacionada à infecção pelo vírus
(PASSAES; SAEZ-CIRION, 2014). Além disso, a taxa de
hospitalização desse grupo de pacientes foi significativamente
reduzida (UNAIDS, 2013).
Existem 5 classes diferentes de medicamentos,
diferindo através do seu mecanismo de ação molecular
específico, sendo eles: os inibidores da transcriptase reversa
análogo de nucleosídeos, inibidores da transcriptase reversa
não análogos de nucleosídeos, inibidores de integrases,
inibidores da protease e inibidores de fusão / entrada do vírus
através do bloqueio dos correceptores (KINCH; PATRIDGE,
2014).
São incontestáveis as melhorias na sobrevida e
qualidade de vida dos indivíduos infectados após a descoberta
da TARV, porém o uso contínuo desses medicamentos
contribuiu para o surgimento de comorbidades associadas,
assim como também de modificação na composição corporal

499
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
(MCCOMSEY et al., 2016). A redistribuição anormal de tecido
adiposo encontrada em pacientes infectados pelo HIV,
chamada síndrome de liposdistrofia, foi considerada uma
desvantagem do uso da TARV em longo prazo (GRANT et al.,
2016). As alterações corporais encontradas em decorrência do
uso prolongado da TARV, não limita-se ao desenvolvimento
de lipodistrofia, perda de peso e perda de massa magra
também é relatada.
Em um estudo realizado de 1995 a 2003, com pacientes
infectados pelo HIV, mostrou que a perda de peso naqueles
em uso da TARV foi semelhante aqueles que não faziam uso
dos antirretrovirais (TANG et al., 2005). A prevalência da
chamada “Síndrome do Desperdício” no HIV, caracterizada
pela desnutrição energético-proteica em uma população de
indivíduos que fazem uso contínuo dos antirretrovirais, foi de
8,3%. Além disso, essa porcentagem associava-se a custos
de saúde com cuidados ambulatoriais anuais
significativamente maiores (SIDDIQUI et al., 2009). Grant e
cols (2016), comparando a composição corporal de invíduos
infectados pelo HIV em uso da TARV com indíduos não
infectados demonstraram que naqueles com uso dos
medicamentos, houve maior redução de massa magra assim
como maior perda de densidade mineral óssea, sendo o risco
de fraturas e fragilidade aumentado com o prolongamento de
uso da TARV.

3.2 Sarcopenia e Caquexia

Em 1989, Rosenberg propôs o termo sarcopenia (do


grego, sark ou carne e penia ou perda) como o declínio de
massa muscular associada à idade. A definição mais atual foi

500
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
desenvolvida pelo European Working Group on Sarcopenia in
Older People (EWGSOP) que descreve a sarcopenia como
uma condição caracterizada pela perda de massa muscular,
acompanhada por redução de força e função muscular
(CRUZ-JENTOFT et al., 2010).
Embora seja uma condição fortemente associada ao
envelhecimento (causa primária), a sarcopenia também pode
ocorrer em pessoas mais jovens, a partir de diversas causas
(causas secundárias). O conhecimento o mais precoce
possível dessa condição ajuda na orientação do seu
gerenciamento clínico. Sendo assim, o EWGSOP categorizou
a sarcopenia em três estágios, sendo eles: 1. Pré sarcopenia,
quando é observado apenas redução de massa muscular; 2.
Sarcopenia: quando além de redução de massa muscular,
também há perda de força ou de função muscular e 3.
Sarcopenia severa: quando há perda de massa, de força e de
função muscular (CRUZ-JENTOFT et al., 2010).
Diversos fatores contribuem para o desencadeamento
da perda de massa magra e posterior desenvolvimento da
sarcopenia. Dentre os principais mecanismos fisiopatológicos
podemos incluir a perda de fibras musculares resultante da
perda de unidades motoras, bastante relacionado a doenças
neurodegenerativas (MALAFARINA et al., 2012); modificação
na produção e sensibilidade de ação hormonal, principalmente
o hormônio de crescimento (GH), corticosteroides,
andrógenos, estrógenos, insulina (BOIRIE, 2009), bem como a
vitamina D (VISSER et al., 2003). Além disso, o aumento dos
níveis circulantes de moléculas inflamatórias como o fator de
necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucinas (IL-6 e IL-1) e
proteína-C-reativa (PCR) está sendo apontado por afetar
negativamente a força muscular (STENHOLM et al., 2008). A

501
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
presença dessas moléculas, também encontradas na
obesidade, pode ser um dos fatores mediadores de perda de
massa e força muscular encontrada em indivíduos obesos,
dando origem ao fenômeno conhecido como obesidade
sarcopênica (ZAMBONI et al., 2008). A prolongada inanição e
problemas de má absorção intestinal também são
considerados importantes fatores de risco para o
desenvolvimento de sarcopenia (CRUZ-JENTOFT et al.,
2010).
Por apresentarem fatores etiológicos e a perda de
massa muscular em comum, a sarcopenia pode ser
associada, e muitas vezes confundida, a outras síndromes,
dentre as quais se destaca a caquexia. Esta é
tradicionalmente descrita como uma síndrome metabólica
complexa associada à doença subjacente e caracterizada pela
perda de massa muscular com ou sem perda de gordura. A
principal característica da caquexia é a perda de peso em
adultos. O fenótipo da caquexia caracteriza-se pela perda de
peso, redução do IMC e de massa e função muscular em
combinação com uma doença subjacente que exibe elevados
índices bioquímicos de atividade inflamatória em curso
(EVANS, 2008; CEDERHOLM et al., 2017).
A síndrome pode ser diagnosticada quando houver
perda de peso corporal de pelo menos 5% do peso durante os
últimos 12 meses ou menos. Quando esta não puder ser
avaliada, utiliza-se o índice de massa corporal (IMC)
<20mg/m2 para caracterizar a caquexia. Adicionalmente,
critérios como perda de massa muscular, fadiga, anorexia,
além de alterações metabólicas e bioquímicas, caracterizando
inflamação, também são utilizados como critérios diagnósticos
(EVANS et al., 2008; ARGILES et al., 2011). De forma mais

502
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
simples e rápida, Bozzetti e Mariani (2009) a classificaram
como presença de perda de peso >10% associada a anorexia
ou a fadiga ou a saciedade precoce.
A fisiopatologia da caquexia varia de acordo com sua
doença de base, as quais se incluem câncer, doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doença renal crônica
(DRC), insuficiência cardíaca (IC) e a AIDS, porém a principal
causa e mecanismo mediador em comum parece ser o
excesso de citocinas. Além disso, a deficiência de testosterona
e do fator de crescimento dependente de insulina (IGF-I), o
excesso de miostatina e de glicocorticoide são considerados
relevantes para o desenvolvimento da caquexia (MORLEY, et
al., 2016).
Ainda não há uma forma de tratamento efetiva, mas
propõe-se que uso de agentes orexígenos e anabólicos, bem
como o suporte nutricional adequado tenham um importante
papel no manejo da caquexia (MORLEY et al., 2006;
BADOWSKI et al., 2016).

3.3 Sarcopenia associada ao HIV

A AIDS é atualmente considerada uma doença crônica,


principalmente devido aos avanços realizados nos tratamentos
com a TARV. Se por um lado houve considerável redução da
prevalência de infecções oportunistas, por outro houve o
aumento de patologias crônicas como as doenças
cardiovasculares, hepáticas e renais, além de desordens
cognitivas e osteoporose (DEEKS et al., 2013). Tal
observação serviu de base para suportar a ideia de que
indivíduos infectados pelo HIV apresentam a chamada
“síndrome de envelhecimento acelerado” (SOLOMON et al.,

503
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
2014). Investigações tem mostrado maior perda de massa
óssea em pacientes com HIV, o que aumenta o risco de
fraturas (YOUNG et al., 2011), levando a imobilidade e
dependência, onde este risco torna-se ainda maior na
presença de sarcopenia (VON HAEHLING et al., 2010).
Os efeitos deletérios tanto do próprio HIV como do uso
da TARV sobre o músculo, atualmente ganharam mais espaço
como objetivos de estudo, mas inicialmente a miopatia no HIV
havia sido considerada uma rara complicação associada ao
vírus (SIMPSON; BENDER, 1988). Posteriormente, foi
observado o aparecimento de miopatias associadas ao uso da
TARV, principalmente devido à capacidade de toxicidade
mitocondrial (MCCOMSEY et al., 2012). Além disso, a fibrose
muscular, medida pela deposição de colágeno, também
contribui para a insuficiência da função miocitária, encontrada
em homens infectados pelo HIV comparado a não infectados
(KUSKO et al., 2012). Estes eventos moleculares muitas
vezes podem explicar a perda de força e função muscular
encontrado em indivíduos com HIV.
A Agência Francesa de Pesquisa sobre Aids e Hepatite
(ANRS), mostrou que 53% dos pacientes com HIV
apresentaram maus resultados no teste que avalia o
desempenho do músculo do membro inferior, mostrando ainda
que esse resultado piorava quanto maior fosse o tempo de
diagnóstico da doença (RICHERT et al., 2011). Embora
existam poucos estudos utilizando medidas combinadas de
massa muscular e função em pessoas com infecção pelo HIV,
uma coorte de adultos infectados pelo vírus, tratados com
TARV, demonstrou que 50% dos adultos com deficiência física
funcional preenchiam os critérios para sarcopenia
(ERLANDSON et al., 2013). Descobertas recentes de um

504
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
estudo multicêntrico sugeriram que a força e a velocidade da
marcha diminuem mais rapidamente após 50 a 60 anos entre
os infectados pelo HIV, mesmo naqueles com carga viral
controlada (SCHRACK et al.,2016). Da mesma forma, em um
estudo com uma amostra de 33 indivíduos infectados por HIV,
em uso da TARV, mesmo com mais de 90% dos indivíduos
apresentando carga viral suprimida, o risco de sarcopenia foi
5,2 vezes maior em relação aos indivíduos saudáveis e não
infectados pelo HIV (NETO et al., 2016).
De modo geral, a deficiência de massa, força e função
muscular, associadas à TARV e ao HIV, são condições
comuns em pessoas infectadas pelo vírus e que contribuem
para um maior risco de fragilidade e quedas, além de aumento
de mortalidade (HAWKINS et al., 2017).

3.4 Caquexia associada ao HIV

A síndrome consumptiva associada ao HIV é conhecida


como uma forma de caquexia, sendo esta se apresentando na
presença de inflamação (MORLEY et al., 2006). A caquexia
nos pacientes com HIV é altamente preditiva de mortalidade
nessa população. Antes da disponibilidade dos antirretrovirais
os pacientes pesavam menos de 90% do seu peso ideal, após
a implantação da TARV, a incidência e prevalência de perda
de peso declinou consideravelmente, porém ainda é frequente
nessa população (BADOWSKI et al., 2016).
Em um estudo realizado por Carbonnel e cols (1998)
mostrou que 74% dos participantes cursaram com ganho de
peso após 176 dias de início da TARV, mas que 17% ainda
cursavam com perda ponderal. Resultados semelhantes
também foram relatados por Wanke e cols. (2000), onde num

505
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
estudo do tipo coorte, foi observado que mais de 50% dos
participantes estavam em uso da TARV e ainda assim 18% da
amostra apresentou perda de peso >10% entre duas visistas,
21% apresentaram perda >5% em seis meses e 8% deles
apresentarem IMC < 20kg/m2.
As causas mais comuns da síndrome da caquexia no
HIV incluem redução da ingestão alimentar, incluindo
condições patológicas locais, depressão, medicamentos,
infecções coexistentes que cursam com febre e
hipermetabolismo, e uma variedade de doenças
gastrointestinais, por exemplo, diarreia, esofagite por Candida,
infecção por Giardia lamblia e Mycobacterium avium (MORLEY et
al., 2006). Além disso, a presença de elevada carga viral
(BATTERHAM et al., 2002), doenças psiquiátricas e a
insegurança alimentar gerada por preocupações psicossociais
também contribuem para a perda de peso e consequente
caquexia em pacientes infectados pelo HIV (MANKAL;
KOTLER, 2014).
Do ponto de vista molecular, é encontrado altas
concentrações de miostatina (molécula limitante do
crescimento muscular) em pacientes com AIDS (GONZALEZ-
CADAVID et al., 1998), porém destaca-se que a formação de
citocinas proinflamatórias são os maiores responsáveis pela
caquexia nesses pacientes (MORLEY et al., 2006). Seguindo
esse raciocínio, Mangini e cols. (2006) demonstraram que
naqueles infectados pelo HIV na presença de infecção aguda,
apresentaram aumento de interleucina-6, interleucina-1b e
fator de necrose tumoral-α, sendo estas relacionadas com
significativa perda de peso.
Diante do que se relata, e sabendo da influência da
caquexia na qualidade de vida dos pacientes com HIV, várias
506
SARCOPENIA E CAQUEXIA EM PACIENTES INFECTADOS PELO HIV EM USO
DA TERAPIA ANTIRRETROVIRAL
formas de tratamento foram propostas e incluem estimulantes
do apetite, agentes anabolizantes, e, raramente, moduladores
de produção de citoquinas (BADOWSKI et al., 2014).

4 CONCLUSÕES

A implantação da TARV proporcionou o aumento da


sobrevida dos pacientes com HIV, bem como reduziu as
complicações inerentes à doença como o progressivo declínio
do estado nutricional. Contudo, a sarcopenia causada pela
perda muscular, mesmo em obesos ou a caquexia,
caracterizada pela perda de peso, tanto de massa magra
como gorda, ainda são problemas clínicos significativos
capazes de aumentar a morbimortalidade nos pacientes com
HIV. O acompanhamento nutricional adequado seria capaz de
evitar ou retardar tais agravos, melhorando os desfechos
clínicos e a qualidade de vida desses pacientes.

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
CAPÍTULO 25
DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA
NÃO PROGRESSIVA: ATUAÇÃO NUTRICIONAL

Everlane Alcântara de Lima MARINHO 1


Lídia Lais Gomes SILVA 1
Skalyt Lee Barbosa e SILVA 1
Lílian Caroline de Souza e SILVA 1
Isis Suruagy MOURA 2
1
Pós-graduanda do programa de Residência Uniprofissional do Hospital das Clínicas UFPE;
2
Orientadora/Nutricionista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de
Pernambuco/UFPB.
everlane.nutricao@outlook.com

RESUMO: A Paralisia Cerebral (PC) é uma patologia


decorrente de um distúrbio não progressivo que ocorre
durante o desenvolvimento cerebral do feto ou da criança. A
mesma provoca alterações permanentes no movimento e
postura, proporcionando limitações funcionais, além de
alterações gastrointestinais como a disfagia que pode levar a
baixa ingestão de macro e micronutrientes. O presente
trabalho trata-se de um estudo de caso desenvolvido na
enfermaria de pediatria do Hospital das Clínicas da UFPE, em
setembro de 2017, com objetivo de discutir o quadro clínico e
nutricional de um paciente com diagnóstico de PC. Os dados
foram obtidos a partir de prontuários, observações pela equipe
e informado pelo pais/responsável. Foram avaliadas variáveis
antropométricas, clínicas, bioquímicas, história da doença e
antecedentes familiares. Durante o internamento, a paciente
foi submetida a confecção de gastrostomia como parte do
tratamento da desnutrição e disfagia grave. Foi realizado
rotineiramente o acompanhamento nutricional e observou-se
que a paciente evoluiu com melhora dos padrões
antropométricos. Dessa forma, destaca-se a importância do
acompanhamento nutricional dos pacientes com PC, uma vez

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ATUAÇÃO NUTRICIONAL
que a ingestão alimentar adequada pode ser fator
determinante para o crescimento e desenvolvimento desses
pacientes, bem como para resposta ao tratamento clínico ao
qual o doente será submetido.
Palavras-chaves: Paralisia Cerebral. Desnutrição Grave.
Pediatria.

1 INTRODUÇÃO

A Paralisia Cerebral (PC) é atualmente conceituada


como Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância e
considerada como qualquer desordem caracterizada por
alteração na estrutura e função do corpo, atividade e
participação por causa de lesão não progressiva do cérebro
em desenvolvimento (CARVALHO JACQUES et al., 2017).
A PC é a neuropatia mais prevalente na população
infantil, com incidência de aproximadamente 7 por 1.000
nascidos vivos nos países em desenvolvimento, sendo
considerado um problema de saúde pública no Brasil (ZANINI
et al., 2009; FONSECA et al., 2011).
A maior causa de PC é anóxia perinatal devido um
trabalho de parto anormal ou prolongado. Também pode ser
causado por prematuridade ou infecções pré-natais, como
rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus e as infecções pós-
natais (VIANNA; SUZUKI, 2011).
A paralisia cerebral tem maior prevalência entre a
população com baixos recursos (DONALD et al., 2014).
Monokwane e colaboradores (2017) ao avaliar os fatores de
risco na população de baixos recursos para o desenvolvimento
da PC, encontrou como fatores de risco significativos história

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
de infeção neonatal grave, complicações durante o parto e
infecções do vírus da imunodeficiência humana materna.
Os problemas motores presentes na PC são muitas
vezes acompanhados por distúrbios na sensação,
comunicação, percepção, cognição e comportamento, além da
epilepsia e perturbações musculares. Estes podem levar a
distúrbios na fala e na deglutição, que dificultam a socialização
dos pacientes portadores da patologia (MARRARA, 2009).
Crianças e adolescentes com PC frequentemente
apresentam problemas gastrointestinais, estes afetam
principalmente a função e a motilidade motora da via oral. A
disfagia é a característica mais comum e pode contribuir com
a desnutrição. Essa alteração do estado nutricional é
secundária também a uma ingestão calórica deficiente, que
acarreta deficiências não apenas de macronutrientes, como
também de micronutrientes (ROMANO et al., 2017).
Problemas como déficit de crescimento, excesso de
peso, deficiências de micronutrientes e a osteopenia também
são comorbidades nutricionais que afetam frequentemente
crianças com deficiência neurológica. O monitoramento
dessas comorbidades é parte integrante dos cuidados nessa
população para prevenir os resultados adversos associados a
dificuldades de alimentação e ao mau estado nutricional
(MARCHAND; MOTIL, 2006).
Penagini et al. (2015) em revisão sistemática observou
consumo energético reduzido, em média de 76% da
necessidade diária recomendada, acompanhado com aumento
da ingestão de lipídios e proteínas. Além disso, ingestão
deficiente de micronutrientes tais como vitamina D, E, ferro,
niacina, ácido fólico, e de cálcio (cerca de 75% das
necessidades específica para a idade).
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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
Em crianças com PC, as necessidades nutricionais são
diferentes de crianças saudáveis, e variam de acordo com o
grau de acometimento da doença. As mais ativas, que
apresentam convulsões e infecções frequentes, tendem a ter
aumento das suas necessidades energéticas (RIEKEN et al.,
2011). A dependência dos pais na alimentação e o tempo
prolongado das refeições também são fatores que contribuem
nesse quadro (MELUNOVIC, et al. 2017).
Com relação a avaliação do estado nutricional em
crianças com PC as deficiências físicas dificultam a avaliação
e interpretação dos resultados nessa população. As
dificuldades na medida da estatura derivam da postura
corporal alterada e contraturas fixas que alteram e geram
estimativas pouco confiáveis de altura ou comprimento
decúbito (GURKA et al., 2010).
A prevalência da desnutrição e insuficiência de
crescimento nas crianças com problemas neurológicos ainda é
desconhecida. A desnutrição foi relatada entre 29% a 46% das
crianças com PC e a insuficiência do crescimento em 23%,
levando em consideração medidas de peso, estatura e dobra
cutânea tricipital. A desnutrição frequentemente aumenta com
o avanço da idade e comprometimento neurológico
(MARCHAND et al., 2006).
A avaliação do estado nutricional não deve ser baseada
apenas em medidas de peso e comprimento. Crianças e
adolescentes com neuropatias tem a composição corporal
diferente, com um maior acúmulo de adiposidade na região
central que nas periféricas. Para avaliar a composição corporal
é recomendado o uso de DXA, bioimpedância ou de pregas
cutâneas com fórmulas específicas para pacientes com
paralisia cerebral (ROMANO et al., 2017).

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
Pacientes neuropatas que não melhoram o estado
nutricional após intervenção como orientações e prescrição de
suplementos nutricionais e/ou possuem risco para
broncoaspiração, como consequência de uma disfagia grave,
possuem indicações para alimentação por sonda ou
gastrostomia (GTT) (ROMANO et al., 2017). Pois estudos
mostram que há melhora significativa no estado nutricional e
qualidade de vida para estes pacientes, após confecção de
GTT.
Algumas crianças e adolescentes com PC apresentam
hidrocefalia, uma malformação dita congênita quando
diagnosticada durante o pré-natal, ao nascimento, ou logo
após o nascimento (CAVALCANTI; SALOMÃO, 2003). É
caracterizada pela dilatação ventricular secundária ao
desequilíbrio entre formação e a absorção de líquidos
ceflorraquidiano (LCR) resultando em inúmeros danos
cerebrais. É considerada a neuropatologia mais comum em
neurocirurgia pediátrica (COSTA, 2012; SILVA et al., 2013).
Algumas estimativas indicam uma incidência de 1-3 por
1000 nascimentos (SILVA et al., 2013). No Brasil, a
prevalência de hidrocefalia congênita varia entre 05 e 2,5/1000
nascidos vivos (VIEIRA; CAVALCANTI; LOPES, 2004).
Devido à alta prevalência dessas patologias na
população brasileira e a magnitude de suas complicações,
estudos abordando a intervenção nutricional nesse público é
importante para nortear futuras intervenções. Dessa forma, o
presente estudo tem como objetivo discutir o quadro clínico e
nutricional de um paciente com diagnóstico de PC.

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de caráter descritivo com


abordagem qualitativa, o qual adotou-se, enquanto estratégia
de investigação, o estudo de caso.
Foi executado no setor de pediatria do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/ UFPE),
no mês de Setembro a Outubro de 2017. A coleta de dados foi
realizada através de registro em prontuário médico,
atendimento e registro nutricional, e discussão multidisciplinar.
Dos prontuários foram colhidas informações sociais,
patológicas e evolução do paciente durante o internamento.
Foi realizada triagem nutricional pela STRONG - KIDS
adaptado de HULST et al. (2010). Na avaliação
antropométrica foi feita aferição do peso, altura estimada,
índice de massa corporal (IMC), circunferência do braço (CB)
e pregas cutâneas: tricipital (PCT) e subescapular (PCSE).
O peso e a altura, foram efetuados conforme a técnica
recomendada pela ESPGHAN (2017). A massa corporal foi
obtida em balança eletrônica digital, da marca Líder-LD1050®,
com capacidade máxima de 2000 Kg e precisão de 100g. A
altura foi estimada pelas equações de Stevenson, (1995),
utilizando a medida da altura do joelho (AJ) por ter um menor
desvio padrão. Esta foi aferida com o uso de infantromêtro.
Para classificação do estado nutricional foi utilizado as curvas
da Organização Mundial de Saúde (OMS), (2006).

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ATUAÇÃO NUTRICIONAL
Figura 1 – Classificação do estado nutricional para crianças
menores de 10 anos.

Fonte: OMS, 2006.


A CB foi obtida no ponto médio entre o acrômio e o
olecrano utilizando fita métrica flexível e inelástica sem
comprimir os tecidos, com o paciente sentado. Sua
classificação foi feita por idade segundo as curvas de
Frisancho (1974).
A PCT foi aferida na face posterior do braço,
paralelamente ao eixo longitudinal, no ponto médio entre a
borda súpero-lateral do acrômio e o olécrano. A classificação
foi realizada baseado nas curvas de Frisancho (1990). Já a
PCSE foi medida obliquamente ao eixo longitudinal, seguindo
a orientação dos arcos costais, a dois centímetros abaixo do
ângulo inferior da escápula.
Utilizou-se também os resultados de exames
bioquímicos realizados durante o internamento, e
consultados através de uma ferramenta de gestão
hospitalar disponível para os profissionais do hospital,

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
destinada exclusivamente à requisição e consulta de
exames.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

DIAGNÓSTICO PRINCIPAL:
Encefalopatia Crônica não Progressiva;
Hidrocefalia;
Desnutrição Grave.

HISTÓRICO DO PACIENTE
M.C.S.S, 3 anos e 6 meses, sexo feminino, natural e
procedente de Recife, pernambucana, Brasileira, mora com os
pais. Não há relatos de doenças crônicas não transmissíveis
em seus parentes.

HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL

Paciente com encefalopatia crônica não progressiva e


hidrocefalia, admitida no Hospital das Clínicas com história de
lesão por pressão e celulite em pavilhão auricular à esquerda,
tendo vindo encaminhada do Hospital de Areias -PE, em uso
de antibiótico. Em avaliação nutricional foi diagnosticado
desnutrição grave, por isso foi iniciado o protocolo para
desnutrido grave do Ministério da saúde. Na admissão
apresentava baixa ingestão alimentar por via oral por
dificuldade de deglutição e mastigação, sendo diagnosticada
com disfagia. Diante do quadro foi iniciada dieta por sonda
nasoenteral em posição gástrica para otimizar o tratamento.

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
ANAMNESE ALIMENTAR
O inquérito alimentar revelou baixa ingestão de calorias,
além de uma oferta elevada de alimentos ricos em
carboidratos simples (mucilon, iogurte adoçado, arrozina,
açúcar), baixa ingestão de frutas e verduras e alimentos fonte
de ferro e ácidos graxos essências.

EXAME FÍSICO
Paciente em estado geral estável, consciente,
anictérica, sem edema, afebril, eupnica. Apresenta abdome:
globoso, distendido, dor à palpação. Verifica-se depleção da
massa magra e tecido adiposo.

EVOLUÇÃO DIETÉTICA

Paciente internou no dia 30/08/2017 (1˚dia de


internamento hospitalar - DIH), onde foi iniciada suporte
nutricional por sonda, utilizando fórmula polimérica, adequada
para idade, no volume de 30 mL de 3/3 horas fracionada 8
vezes ao dia. Genitora relata constipação crônica, mas no
momento apresentava evacuações normais, diurese presente.
Foi identificado disfagia para sólidos e semi-sólidos, negava
náuseas, sem episódios eméticos. No dia 31/08/2017 (2˚ DIH)
a paciente evoluiu sem náuseas ou vômitos, sem distensão
abdominal, mantendo estado geral estável, de acordo com
esses parâmetros, foi aumentado volume da dieta para 60mL
mantendo fracionamento e intervalos.
No dia 01/09/2017 (3˚DIH) como a paciente não
apresentou nenhum sinal e sintoma que interferisse na
evolução da dieta, esta foi evoluída para 90mL. No 4˚DIH a
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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
paciente mantinha estado geral bom e por isso foi aumentado
volume da dieta para 130mL, mantido os intervalos da dieta,
mas modificado o fracionamento para 7 vezes ao dia, para dar
repouso intestinal noturno.
Na impossibilidade da ingestão por via oral, por causa
da disfagia grave apresentada pela paciente, foi indicada
confecção de gastrostomia (GTT) para suporte nutricional. O
procedimento foi realizado no dia 15/09/17 (17˚DIH) por via
endoscópica com sonda nº 20, sem intercorrências. No
mesmo dia após 6 horas (16h) do procedimento foi liberada
30mL de dieta liquida de prova por GTT, às 18h horas já foi
ofertada 30mL de fórmula polimérica, adequada para idade, a
paciente evoluiu bem, sem distensão abdominal. No entanto, a
mesma evoluiu no dia 18˚DIH com crises convulsivas, dor
abdominal, tempo de preenchimento capilar prolongado, que
melhorou após hidratação venosa, cursou com taquipnéia e
taquicardia importante. Diante deste quadro a dieta foi
suspensa.
No dia 20/09/17 (22˚DIH) a paciente evoluiu com
melhora do quadro clínico e em reunião clínica foi optado por
voltar a dieta por GTT, retornando a dieta no volume de 50mL
de fórmula polimérica, adequada para idade, no intervalo de 3
em 3 horas, fracionada em 7 refeições ao dia. No dia 21/09/17
(23˚ DIH) a paciente manteve seu estado bom e o volume da
dieta foi aumentado para 70mL o que perfazia 50% das suas
necessidades nutricionais diária, a sua cota calórica total foi
atingida no dia 25/09/17 (27˚ DIH) com volume de 135mL em 7
vezes ao dia. Evoluindo com melhora clínica, boa tolerância a
dieta por GTT, sem apresentar náuseas ou vómitos, com
evacuações presente com uso de medicamento laxantes,
recebeu alta hospitalar no dia 10/10/17 (42˚ DIH).

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA

Os exames bioquímicos da paciente podem ser


observados no quadro 1.

Quadro 1 – Exames bioquímicos realizados no Hospital das


Clínicas (UFPE) durante internamento.
24/09 02/10 06/10 11/10 Referência

Hb 11,4 13 12,4 11,4 2 a 9 anos: 11,5 a


14,5g/dL

Ht 33,3 38,4 36,6 32,7 2 a 9 anos: 33% a 42%

VCM 81,7 80 80,26 77 2 a 9 anos: 76 a 90fL

HCM 28,1 27,08 27,19 27 2 a 9 anos: 25 a 31pg

Leuco 10.000 13.900 12.300 12.200 3 a 7 anos: 60.000 a


150.000m3

Ur 14,2 - 16,1 - 10 – 40mg/L

Cr 0,2 - 0,2 - 0.3 a 0.7mg/dL

Na - - 134 - 138 a 145mmol/L

K 0 - 4,8 - 3.5 a 5.0mEq/L

Ferritina - - 3 - 1 a 9 anos: 10 a
60mcg/L

Fonte: CALIXTO-LIMA; REIS, 2012.

Durante o internamento a paciente apresentou ferritina


e creatinina reduzidos. A ferritina é a principal proteína
envolvida no armazenamento de ferro, sendo encontrada no

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
meu intracelular e também como constituinte normal do
plasma. Esta proteína representa um indicador satisfatório das
reservas deste elemento no organismo humano (THEIL, 2003;
LIU et al., 2006). A redução de suas reservas pode estar
relacionada com redução de ferro e consequentemente com
anemia. Porém como pode ser observado no quadro acima a
paciente não apresentou alteração no hemograma.
A redução da creatinina pode estar relacionada com o
estado de desnutrição grave, por depleção da massa
muscular.

MEDICAMENTOS UTILIZADOS

O quadro 2 mostra os medicamentos utilizados pela


paciente durante o internamento e suas respectivas
interações.

Quadro 2 – Medicações utilizadas e possíveis interações


medicamentosas.
Droga Dose Indicação/ Interações
medicamentosas e possíveis
intercorrênicas
Fixos
Enalapril 5mg Anti-hipertensivo. Elevações das
concetrações séricas de ureia,
creatitina e potássio. Redução de
hematócrito e hemoglobina.
Baclofeno 10mg -
Fenobarbital 9,8mg/kg/dia -
Carbamazepina 20mg/kg/dia Anticonvulsivante. Pode resultar
em elevação das transaminases
(TGO e TGP), além de ureia e
triglicerídeos. Além disso, pode

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
ainda levar a uma hiponatremia,
hipovitaminose D e hipocalcemia.
Depakene 50mg/kg/dia -
Ácido fólico - -
Vitawin - -
Dimeticona - -
Omeprazol 10mg Anti-secretório. Dor abdominal,
diminuição da secreção ácida.
Redução da absorção de Ferro e
vitamina B12.
Leite de Magnésio 9ml -
Fonte: MARTINS; SALEÓ, 2013

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL

Na triagem nutricional segundo a Strong kids realizada


no momento da admissão, a paciente foi classificada em alto
risco nutricional, pois obteve 5 pontos.
Ainda na admissão a mãe não sabia informar peso
habitual da menor. No quadro 3 a baixo pode ser observado a
evolução do estado nutricional da paciente durante o
internamento:

Quadro 3 - Evolução nutricional


31/08/17 04/09/17 29/09/17 09/10/17
Altura (cm) 81 81 81 81

Peso (kg) 7,500 8,235 8,880 9,000

P/I p0 p0 p0 p0
(z-5,35) (z-4,51) (z-3,92) (z-3,82)
P/E p0 P0 p3 p4
(z-3,96) (z-2,79) (z-1,88) (z-1,72)

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
E/I p0 p0 p0 p0
(z-3,83) (z-3,83) (z-3,99) (z-4,01)

CB 11 12 14,5
(% adequação) (<p3) (<p3) (p15)
4
PCT (p<3)
(adequação)
PCSE 3,8
(adequação) (p<3)

Analisando os dados antropométricos aferidos, segundo


as curvas da OMS (2006) para crianças menores de 5 anos foi
diagnosticado por todos os parâmetros que a paciente possui
desnutrição grave, o qual é caracterizado quando as relações
P/E e E/I se encontram menor que –3 escore-z. A disfagia e a
qualidade e quantidade das refeições ofertadas a paciente
podem ser consideradas justificativas para à depleção de suas
reservas de tecido muscular e adiposo.
Em relação a evolução nutricional da paciente durante o
internamento, pode ser observado no quadro acima que a
criança evoluiu com ganho ponderal importante totalizando
1,5g, o que a tirou do diagnóstico de desnutrido grave.
Observa-se também melhora de todos os parâmetros,
principalmente da CB que no início do internamento era
classificado como desnutrido e na alta hospitalar a paciente
possuía circunferência braquial de eutrofia.

NECESSIDADES NUTRICIONAIS

A avaliação das necessidades energéticas da criança


com encefalopatia crônica não progressiva é difícil, pois não

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
há recomendações específicas adequadas para estes
pacientes (MARCHAND et al., 2013). A DRI (Ingestão dietética
de referência) superestima as necessidades energéticas,
devido ao severo atraso do crescimento. As equações já
publicadas subestimam estas necessidades em crianças que
são confinadas ao leito em aproximadamente 22%, mesmo
quando não são utilizados os coeficientes de atividade física
ou nível de atividade física. As necessidades energéticas
variam conforme o comprometimento motor. Os pacientes que
caminham necessitam de mais energia do que aqueles que
não deambulam, estes precisam de 60 -70% das DRI
(SAMSON-FANG et al., 2013; GUYATT et al., 2011). Diante
da falta de recomendações especificas para estes pacientes, a
ESPGHAN (2017) indica o uso dos padrões de referência
dietética das crianças com o desenvolvimento normal para
estimar o gasto calórico de crianças com paralisia cerebral.

As necessidades proteicas para esta população são


semelhantes aos de crianças saudáveis. A ESPHAN (2017)
recomenda o uso da ingestão de referência dietética para
estimar a cota proteica. E indica a suplementação proteica em
situações clínicas especificas, como lesão por pressão.
Conforme o quadro de desnutrição grave da paciente,
foi optado por utilizar o protocolo do MS especifico para
tratamento da doença atual. Segundo o protocolo as
necessidades energéticas e proteicas são estimadas de
acordo com duas fases: Estabilização e recuperação.

Na fase de estabilização a recomendação de calorias


vai de 80 a 100kcal/kg de peso/dia e 1 a 1,5g de
proteína/kg/dia. Já na fase de recuperação a cota energética é

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DESNUTRIÇÃO GRAVE NA ENCEFALOPATIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA:
ATUAÇÃO NUTRICIONAL
de 150 a 220kcal/kg de peso/dia e um total de proteína na
faixa de 4 a 5g/kg de peso/dia (Brasil, 2005). Após a
recuperação da desnutrição as recomendações nutricionais
são determinadas pelas DRI’S. Desta forma, a paciente
recebeu alta fazendo 945kcal/dia (105 kcal/kg/dia) e 29g de
proteína/ dia (3g/kg/dia).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A paciente evoluiu, durante o internamento hospitalar, com


melhora dos padrões antropométricos, aumento de 1,5kg e 3,5
cm de circunferência braquial.
Embora sejam necessários mais estudos que foquem na
validação ou na criação de recomendações nutricionais
adequadas para os pacientes com deficiência neurológicas, as
equações existentes norteiam os profissionais da nutrição no
manejo nutricional.
É de suma importância o acompanhamento do peso e das
medidas antropométricas para verificar se a conduta
nutricional está sendo efetiva ou não e fazendo ajuste na dieta
quando necessário, buscando a recuperação do estado
nutricional do paciente.

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531
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
TERAPIA
NUTRICIONAL

532
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
CAPÍTULO 26

O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA


DE DEMÊNCIA.

Ana Clara Patriota Lopes da SILVA¹


Fernanda Patrícia Torres BARBOSA²
Jullyane de Oliveira Maia LEMOS³
Francisca Mikelly Virgolino BATISTA¹
Luana RAMOS¹
1
Graduanda do curso de Nutrição, FIP; 2Orientadora/Professora da FIP, ³Professora FIP.
anac_nutricao@hotmail.com
fernandatorres_nutricao@hotmail.com
jullyanemaia@hotmail.com
mikelly.nutricao@gmail.com
luana_galdinho_91@hotmail.com

RESUMO: A prevalência de algumas doenças vem


aumentando, especialmente as crônicas, em parte em
decorrência das diversas alterações provenientes do
envelhecimento, destacando-se as demências. Dessa forma, o
presente estudo teve como objetivo verificar a influência do
zinco na doença de Alzheimer. Trata-se de uma revisão
bibliográfica não sistemática através de consultas nas bases
cientificas Scielo, Pubmed, em portal de pesquisa como
oPortal Capes, por meio de artigos e revistas científicas, teses,
dissertações e livros. Como resultados, na literatura
consultada encontrou-se uma ligação direta entre o zinco e a
DA, onde apresenta-se comum uma deficiência subclínica em
indivíduos com a doença. No entanto, não foram encontrados
estudos que relatassem a recomendação do consumo de
zinco na dieta mais adequado para a prevenção da doença,
nem se a sua suplementação seria benéfica nesses casos, já
533
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
que algumas pesquisa relatam a toxicidade do zinco devido ao
seu acúmulo pode ocasionar também o acúmulo de ferro
intraneural. Dessa forma, conhecer a sua concentração
adequada para uma melhor interação com os demais metais,
possa ser um dos fatores determinantes no tratamento da DA,
tornando-se necessários mais trabalhos para uma melhor
compreensão dessa relação a fim de que possa ser
administrado com segurança na prevenção e tratamento
Palavras-chaves: Envelhecimento. Idoso. Nutrição.

1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo irreversível e


inevitável para todos os seres humanos. A velhice é um
processo normal e natural, no qual os indivíduos acometidos
por esse processo são submetidos a perdas em função do
declínio do ritmo biológico (SANTOS; VITAL, 2014).
A velhice pode variar gradativamente de uma pessoa,
para outra, as características são muito particulares, podendo
ser mais rápido para alguns. Essas variações variam de
acordo com o estilo de vida, condições socioeconômicas e
doenças crônicas. Deste modo, falar de envelhecimento é
abrir interpretações que se relacionam com o cotidiano e
perspectivas culturais diferentes (BASÍLIO; TROMPIERI,
2012).
O envelhecimento resulta em várias modificações
fisiológicas, um processo natural que ocorre devido à idade
(CHAGAS; ROCHA, 2012). A princípio, as alterações são
leves, sendo incapazes de provocar incapacidade no
indivíduo, com o passar dos anos, essas alterações vão
causando limitações para realização das atividades diárias e

534
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
simples do cotidiano (ESQUENAZI; SILVA, GUIMARÃES,
2014).
Essas modificações passam por uma gama de
alterações orgânicas, como as perdas da percepção sensorial
que é a diminuição da visão, tato, olfato e paladar. Apesar
dessas perdas serem de forma gradual, elas podem acarretar
prejuízos sociais, psicológicos e até funções que podem levar
a um declínio na qualidade de vida dos indivíduos (LAMAS;
PAUL, 2014).
No Brasil, a redução da taxa de mortalidade e de
fecundidade, é a causa do país está envelhecendo
rapidamente, quando comparado aos demais países em
desenvolvimento, isso porque quando há mudanças
demográficas, ocorre também mudanças no perfil
epidemiológico (SILVEIRA et al., 2015). De acordo com os
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a população idosa brasileira representa 10,8% da população
total, sendo 20.590.599 milhões de pessoas, sendo 44,5%
homens e 55,55% mulheres (KUCHEMANN, 2012).
Com a evolução nas estimativas da população idosa, o
índice de doenças decorrentes a velhice também tende a
aumentar, destacando-se, a doença de Alzheimer (DA)
(COELHO et al., 2015). A prevalência da demência é mais
comum nos idosos mais velhos, sendo 38,9% naqueles com
mais de 84 anos e 1,6% em idosos entre 65 a 69 anos
(XIMENES; RICO; PEDREIRA, 2014).
O fenômeno do envelhecimento acarreta mudanças
epidemiológicas, no mundo todo, predominantemente nas
doenças crônicas não transmissíveis que podem ou não
comprometer a capacidade funcional e qualidade de vida do
idoso. Dentre as doenças crônicas, destaca-se o Alzheimer,
que é caracterizado pelas demências, afetando o idoso e
535
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
comprometendo sua integridade física, mental e social
(FERREIRA; ALEXANDRE; LEMOS, 2011).
As demências são vulneráveis ao envelhecimento,
surgindo problemas de memórias que dificultam a realização
das atividades diárias, existindo ainda uma grande alteração
na linguagem, no decorrer da doença vão surgindo outras
dificuldades como alterações degustativas, olfativas e visuais
que podem comprometer diretamente o estado nutricional do
idoso (XIMENES; RICO; PEDREIRA, 2014).
Assim, a doença Alzheimer (DA), representa a perda
cognitiva progressiva, que leva a uma perda gradual de
autonomia que ocasiona a dependência de outras pessoas, e
caracteriza-se como uma doença degenerativa se instalando
de forma rápida, causando uma perda no funcionamento
psicomotor do aprendizado, memória e raciocínio (SANTOS;
BORGES, 2015).
Na doença de Alzheimer, a memória é a função
cognitiva mais precocemente prejudicada, estando tal déficit
parcialmente associado ao declínio progressivo e intenso do
número e eficiência dos neurônios. No que diz respeito aos
déficits de memória comuns na DA, verifica-se já nas fases
iniciais da doença o comprometimento da memória episódica
de longo prazo e da memória de curto prazo, estando a
intensidade de tais déficits relacionados à gravidade do quadro
(ABREU; FORLENZA; BARROS, 2010).
No cérebro de um doente com Alzheimer, para
além da acumulação de placas amiloides e de emaranhados
neurofibrilares, ocorre alteração nas reações redox, havendo
registo de um aumento de danos oxidativos (ZAWIA; LAHIRI;
CARDOZO-PELAEZ, 2009). Suspeita-se que a secreção e a
deposição do βA, bem como a agregação das placas senis
ocorrem num segundo plano, funcionando como uma tentativa
536
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
das células se protegerem contra os danos provocados pelo
stress oxidativo (LIU; PERRY; SMITH, 2009)
A DA é classificada de acordo com o seu estágio,
podendo ser leve, moderada ou severa. O estágio leve são os
problemas iniciais da doença como: dificuldade de raciocínio e
de realizar novas habilidades. No estágio moderado ocorrem
dificuldades na realização de atividades da vida diária, como
tomar banho, vestir-se, alimentar-se, tendo alterações no
sono, dificuldades de nomear objetos, reconhecer as pessoas,
podendo até haver nessa fase delírios, ansiedade e
alucinações (ILHA et al., 2014).
Na fase final (severa), o idoso apresenta irritação e
agressividade, incapacidade de falar e realizar cuidados
pessoais, descontrole urinário, diminuição do apetite e do
peso. As alterações neurológicas se agravam, devido aos
movimentos estarem lentos ou quase inexistentes (ILHA et al.,
2014).
O diagnóstico se dá através do comprometimento da
memória. A demência é a principal característica da doença,
pois elas são muito progressivas. O diagnóstico clínico segue
os critérios de provável, possível e definitivo. Provável porque
a demência é estabelecida através do exame clínico e
documentada na escala de Demência, o possível devido a
haver presença de uma síndrome demencial e ausência de
anormalidades neurológicas ou psiquiátricas para causar o
delírio, e o definitivo só pode ser feito de acordo com a análise
histopatológica do tecido cerebral (XIMENES; RICO;
PEDREIRA, 2014).
O tratamento da doença de Alzheimer tem o objetivo
de aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença.
Dentre as opções terapêuticas propostas atualmente, os
fármacos inibidores de colinesterase (IChE) são os mais
537
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
comumente empregados por apresentarem melhores
resultados no controle da doença nos níveis leve e moderado,
que correspondem às classificações CDR1 e CDR2,
respectivamente (ALMEIDA-BRASIL et al., 2016).
Nesse sentido é importante observar o estado
nutricional do idoso portador da DA, uma vez que ele poderá
está comprometido pela incapacidade do idoso de preparar o
seu próprio alimento, além da dificuldade de mastigação e
deglutição. Dessa forma, o idoso encontra-se na maioria dos
casos exposto a maior vulnerabilidade de desenvolver
desnutrição. Assim, é importante, preservar seu estado físico e
nutricional, e observar as mudanças fisiológicas e metabólicas
causados pela doença, para que se possa evitar outros
problemas associados como infecções, osteoporose,
problemas cardiorrespiratórios, entre outros (STURMER et al.,
2011).
O estado nutricional na doença é totalmente afetado,
devido à dificuldade de mastigação, aceitação, deglutição e
assimilação dos alimentos. Muitos fatores interferem nesse
estado nutricional, a perda de apetite, um desinteresse pela
alimentação e a falta de consciência do quanto a alimentação
é importante para a melhoria de vida e recuperação da
doença, a fim de minimizar os fatores que possam agravar o
estado de saúde como a desidratação e desnutrição nos
portadores de Alzheimer (CORREIA et al., 2015).
A doença de Alzheimer, assim como as outras doenças
crônicas, geralmente necessitam de um aporte proteico e
calórico maior, devido as dificuldades encontradas na
alimentação. Dessa maneira, as avaliações nutricionais são de
plena importância para evitar uma desnutrição, esse é um dos
principais casos de mortalidade da patologia principalmente no

538
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
último estágio chega a atingir os 50% de casos de desnutrição
proteico-energética (CORREIA et al., 2015).
A DA atinge as funções neurocognitivas e fazem com
que o idoso se torne muitas vezes, totalmente dependente.
Diante deste fato, é importante que os cuidadores e os
profissionais da saúde, adquiram mais informações sobre
todos os aspectos que envolvem a forma correta de cuidar do
portador da doença, sobretudo, a alimentação. Nesse sentido,
o zinco tem sido estudado e vem demonstrando um papel
importante nas funções neurológicas, contribuindo para a
saúde do portador da doença Alzheimer (COELHO et al.,
2015).
Pesquisadores tem investigado o papel do zinco (Zn) na
DA, pois o Zn observa quando as placas senis, que são
característica da doença tem a localização limitadas as
regiões cerebrais, que são ricas do mineral como hipocampo,
amígdala, e córtex cerebral (SILVA et al., 2012).
O zinco é fundamental na função cerebral, ele é
indispensável como neuromodulador da excitabilidade
sináptica, como a resposta do estresse, ou no funcionamento
de proteínas que dependem dele, contribuindo para a
manutenção da capacidade cerebral, além de ter funções
estruturais e catalíticas (MELLO; COELHO, 2011).
Nesse sentido, o Zn desempenha papel crítico na
neurotransmissão das sinapses glutamatérgicas. É nas
sinapses glutamatérgicas que a patologia amiloide da DA tem
início, e essas contêm grande concentração de zinco, que é
liberado durante a neurotransmissão (CROUCH; WHITE;
BUSH, 2007).
O zinco é um biometal que circula no cérebro de forma
regulada, através da barreira hematoencefálica. O Zn é um
oligoelemento que tem como funções bioquímicas a
539
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
participação em processos enzimáticos e estabilização da
estrutura molecular dos componentes subcelulares e da
membrana. Encontra-se em todos os tecidos e fluidos
corporais, sendo o cérebro um dos órgãos que contém níveis
mais elevados deste metal. A sua eliminação é feita através
dos rins, da pele e do intestino (DUTRA; CANTOS, 2010).
A concentração de Zn diminui com o avançar da idade,
havendo acentuado decréscimo a partir dos 75 anos de idade.
Esta diminuição em doentes de Alzheimer aumenta a
patologia amilóide. A diminuição de Zn sistêmico provoca
aumento na retenção de Zn no cérebro (DUCE; BUSH, 2010).
Suas principais fontes são: são carnes no geral
(bovinas, aves), frutos de mar, queijo, trigo, feijões, abóbora,
leite, castanhas, nozes, trigos (MELLO;COELHO, 2011). As
recomendações diárias de zinco segundo a Ingestão Diária
Recomendada (RDI) são de 11mg por dia para homens e 8mg
por dia para mulheres (ALBUQUERQUE, et.al., 2011).
O excesso desse mineral, também pode comprometer a
doença de Alzheimer, porque no cérebro, ele vai está
totalmente ligado e envolvido na formação de placas de
amiloide em forma de depósitos no tecido neuronal que
complicam e agravam o estágio da doença (CARAMELLI et
al.,2011).
A deficiência do zinco é um problema mundial, pois
afeta todas as faixas etárias dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Os idosos por sua vez, estão sob risco
nutricional devido a vários fatores fisiológicos, psicológicos,
sociais e econômicos. As mudanças fisiológicas naturais
levam a um declínio na absorção e no metabolismo dos
nutrientes. Além disso, pode levar a anorexia, que devido as
mudanças irá reduzir a ingestão de alimentos (CESAR;
WADA, BORGES, 2010).
540
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
A deficiência do zinco tem sido relacionada com uma
alta ingestão de carboidratos e baixa ingestão de proteína
animal, que é um perfil comum nos idosos devido à restrição
de renda e dificuldade de obter e preparar sua refeição
(CESAR,WADA, BORGES, 2010), sua principal deficiência é
agravamento das funções neurais e outros problemas como:
dificuldade no crescimento, apatia, lesões na pele, dificuldade
de cicatrização, alteração no sistema imune, dermatite, perda
de peso, entre outros (MELLO; COELHO, 2011).
O estudo procurou investigar a influência do zinco na
doença de Alzheimer, tendo em vista que a deficiência desse
mineral tem sido sugerida como um fator de risco para o
agravamento e/ou complicações da doença, contribuindo para
um melhor esclarecimento desse relação e auxiliando
profissionais de saúde envolvidos no cuidado da doença.
Diante do exposto, a presente pesquisa torna-se
relevante uma vez que irá levantar informações sobre a
influência do zinco enquanto micronutriente, e sua importância
no tratamento doença de Alzheimer, tanto na terapia
nutricional, quanto no tratamento da doença, já que o mineral
mostra-se essencial para as funções neurológicas, que é uma
grande característica da doença. As informações à respeito
dessas questões, também irão ajudar a comunidade científica
e os profissionais que trabalham com a doença, a fim de que
possam ser desenvolvidos programas de intervenção mais
eficientes, trazendo benefícios à pessoa idosa e ao sistema de
saúde.
No entanto, esse trabalho busca realizar uma revisão
bibliográfica sobre a influência do zinco na Doença de
Alzheimer, além de relacionar a deficiência do zinco com o
agravamento da doença, identificar os riscos nutricionais no

541
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
idoso causado pelo o Alzheimer e analisar a importância do
zinco para os portadores da doença.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica


não sistemática que foi realizada nas bases cientificas Scielo,
Pubmed e Portal Capes, através de consultas a artigos e
revistas científicos, monografias, teses e dissertações, em
modelos experimentais e humano, sites institucionais e livros.
Os descritores utilizados para realização das buscas estão de
acordo com os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e
foram: Doença de Alzheimer Envelhecimento, Zinco, Nutrição.
Foram incluídos e selecionados publicações dos últimos
dez anos. Foram excluídos do estudo publicações com data
inferior ao período estabelecido e que não tragam informações
relevantes sobre a doença.
Os estudos foram inicialmente selecionados pelos
resumos e posteriormente analisados na íntegra, e após a
inserção dos critérios de inclusão e exclusão, foram lidos a fim
de extrair os resultados e a conclusão do estudo proposto.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estudos apontam para uma estreita ligação do zinco


com o estresse oxidativo cerebral, e demonstram que essa
relação afeta diretamente a cognição e memória, uma vez que
a sinapse glutamatérgica, responsável por manter essas áreas
do cérebro, tem o seu transportador de zinco 3 (ZnT3) com
concentração maior em áreas afetadas pela patologia
amilóide, uma amiloidose localizada, de origem neurológica
que ocorre em pacientes com DA (ADLARD et al, 2010).
542
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
Nesse sentido, Smitd e Rungby (2012), em estudo de
revisão observaram que o ZnT3 tem sido associado à doença
de Alzheimer, e ainda, diabetes e doenças das vias aéreas. O
maior interesse na proteína tem sido em sua capacidade de
transportar zinco em vesículas pré-sinápticas de neurônios
glutamatérgicos e seu papel durante o desenvolvimento de
placas amilóides β na doença de Alzheimer, que resultam na
perda ou ausência da memória.
Para os autores, evidências crescentes sugerem que o
ZnT3 está presente em vários tipos de células, como do
cérebro, tecido adiposo, ilhotas pancreáticas, epiteliais, células
de testículos, células de câncer de próstata e células da retina,
e sua expressão é regulada pela idade, hormônios, ácidos
graxos, quelação de zinco e glicose.
Estudo experimental em ratos transgênicos, identificou
o declínio cognitivo em animais que apresentavam a patologia
amilóide, no qual verificou-se que a perda do transportador
ZnT3 inibiu a liberação dos íons Zn2+, onde o zinco liberado na
sinapse glutamatérgica contribuiu predominantemente na
deposição das placas amilóides, comprovando assim a
relação entre o zinco e a DA. No entanto, na pesquisa não
ficou claro até que ponto a carência ou a suplementação do
zinco é um fator estratégico para tratamento ou prevenção da
DA (ADLARD et al., 2010).
Nas diversas literaturas consultadas o declínio do zinco
é mais evidenciado com o avanço da idade, podendo afetar o
organismo de diversas formas, ressaltando-se a importância
do cuidado com uma alimentação saudável antes e durante a
velhice, e a necessidade de uma atenção maior com a
chegada da idade. No que se refere a DA, o nível de
decaimento do ZnT3 torna-se significativo com o avanço da
idade, sendo a perda da cognição causada pelo fato das
543
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
placas Aβ serem agregadas covalentes por esse metal,
também afetada pelo movimento trans-sináptico do zinco.
Dessa forma, o sequestro do zinco extracelular causada pela
lesão amiloide na DA, poderia resultar em perdas cognitivas
(BUSH, 2013; CRADDOCK et al., 2012; MILLER et al., 2010;
ADLARD et al, 2010).
Existem relatos, de que intrínsico ao processo de
formação das placas Aβ, o acúmulo de ferro intraneural na DA,
é causado por uma relação patológica com o acúmulo de
zinco, revelando um mecanismo de toxicidade (FALCO et al.,
2015). Contudo, demonstra-se a carência de trabalhos que
comprovem a dosagem de zinco nas dietas, principalmente
para os idosos, adequada para o organismo, já que sua
ausência também pode levar a outras patologias.
Quanto à relação entre os parâmetros bioquímico de
zinco e a DA, Tavares (2010), em pesquisa realizada com 86
idosos, 43 pertencentes ao grupo controle (sem DA) e 43 no
grupo com a DA, percebeu que entre os dois grupos não
houve diferença relevante significativa do mineral. Em
controvérsia, para o zinco plasmático no grupo experimental
entre idosos com demência leve a avançada a diferença foi
significativa, sendo 66,5 ± 10,5 para estes e 65,9 ± 7,3 para o
grupo de controle. Também foi observado que as
características de mastigação e deglutição sofreram maior
comprometimento nos idosos com DA, quando comparados
aos idosos saudáveis.
Destaca-se ainda, de acordo com o estudo acima
supracitado que o estado nutricional relativo ao zinco,
encontrava-se inadequado nos idosos pesquisados, uma vez
que a mastigação e a deglutição podem estar prejudicados na
DA e são importantes no processo de digestão, e quando esta
é dificultada, leva o idoso a reduzir sua ingesta calórica,
544
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
podendo agravar o sua nutrição e estado nutricional. Torna-se
evidente que a nutrição do idoso como um todo desempenha
um papel importante na sua qualidade de vida, visto que
outras doenças ligadas á nutrição também podem acometer
esses indivíduos que já apresentam quadro da DA, como
diabetes, sobrepeso e desnutrição.

4 CONCLUSÕES

A literatura consultada evidencia que existe uma ligação


direta entre o zinco e a DA, apresentando-se comum a
deficiência subclínica em indivíduos com a doença. No
entanto, não foram encontrados estudos que relatassem a
recomendação do consumo de zinco na dieta mais adequado
para a prevenção e tratamento da doença, nem se a
suplementação seria benéfica nesses casos, já que algumas
pesquisas relatam a toxicidade do zinco devido ao seu
acúmulo ocasionado também pelo acúmulo de ferro
intraneural.
Dessa forma, conhecer a sua concentração adequada
para uma melhor interação com os demais metais, possa ser
um dos fatores determinantes no tratamento da DA, tornando-
se necessários mais trabalhos para uma melhor compreensão
dessa relação a fim de que possa ser administrado com
segurança na prevenção e tratamento contribuindo para
qualidade de vida dos indivíduos acometidos pela doença.

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548
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
CAPÍTULO 27

A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO
ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA SOBRE
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E
EXPRESSÃO GÊNICA
Luana Ramos ALVES 1
Ivandro Gomes da SILVA 1
Ana Clara Patriota Lopes da SILVA 1
Fernanda Patricia Torres BARBOSA2
Walnara Arnaud Moura FORMIGA3
1
Graduanda do curso de Nutrição; FIP;Graduando do curso de Nutriçao FIP,graduanda do
curso de Nutriçao FIP 2 Mestre em Nutricao ,Orientadora/Professora FIP. 3 Professora FIP
luana_galdino_91@hotmail.com

RESUMO: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou


Autismo, é um transtorno neurobiológico de desenvolvimento
que de acordo com o critério do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), acometem duas
áreas principais: déficit na comunicação e interação social e
comportamentos repetitivos e interesses restritos. Sua
apresentação clínica é muito heterogênea, em termos de
gravidade, nível cognitivo e co-morbilidades. Nos últimos anos,
vem tornando-se evidente que os nutrientes podem interagir,
direta ou indiretamente, com os genes. Alterações induzidas
pelos nutrientes na expressão gênica podem ter muitos
resultados, incluindo modificações no metabolismo e maior
susceptibilidade à doença. A hipótese gene-ambiente tem sido
recentemente sugerida para o TEA. Neste contexto, um
suposto papel da deficiência da vitamina D tem sido proposto
no que se refere a relação da nutrição com a doença. Dessa
forma, o presente estudo terá como objetivo investigar o papel
da vitamina D no Transtorno do Espectro Autista e sua

549
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
influência nos mecanismos epigenéticos e expressão gênica.
Trata-se de uma revisão bibliográfica não sistemática, nas
bases científicas Scielo, Pubmed e Portal Capes, através da
consulta de artigos e revistas científicas, sites, teses e
dissertações. Como resultados, espera-se levantar
informações e ter um maior esclarecimento sobre essa relação
gene-nutriente, colaborando para o tratamento dos portadores
do TEA, proporcionando uma melhor qualidade de vida,
podendo ainda, contribuir para a atualização e capacitação de
profissionais da área que atuam no transtorno.
Palavras-chave: Autismo. Vitamina D. Gene.

1 INTRODUÇÃO

O transtorno do espectro autista (TEA) ou autismo é um


neurodistúrbio complexo do desenvolvimento, caracterizado
por deficiências generalizadas na interação social,
comunicação verbal e não verbal e padrões estereotipados de
interesses e atividades. Esta síndrome geralmente ocorre em
crianças menores de 3 anos, e tem uma etiologia complexa e
heterogênea (WANG et al., 2016 Nas últimas décadas, a
prevalência de TEA aumentou de uma em 5000 crianças em
1975 para uma em 88 crianças em 2012, representando um
aumento de 600% em 30 anos (FENG et al., 2016).
De acordo com dados do Center of Deseases Control
and Prevention (CDC), atualmente nos Estados Unidos, o
TEA, é diagnosticado em 1 de cada 64 crianças americanas.
No Brasil, estima-se que dos seus 200 milhões de habitantes,
cerca de dois milhões sejam de autistas. Só no Estado de São
Paulo são mais de 300 mil ocorrências (BHAT et al., 2014).
Atualmente, não há tratamento curativo para o autismo,
e medidas de controle incluem educação, apoio, cuidado e

550
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
gestão comportamental. Embora terapias farmacológicas
forneçam um complemento á terapêutica oral melhorando os
sintomas centrais do autismo, os resultados não têm efeitos
significativos (WANG et al., 2016).
O diagnóstico é eminentemente clínico. É importante
salientar ainda, que sendo caracterizado como um espectro,
as manifestações podem se apresentar em graus diferentes,
desde leves e com habilidades excepcionais até
extremamente graves, com retardo mental (BRASIL, 2015).
Embora estudos sobre a compreensão da biologia do
TEA venha aumentando, sua etiologia ainda é desconhecida.
Pesquisas em diferentes àreas observaram o envolvimento da
genética, inflamação, desordens auto-imunes, estresse
oxidativo, de neurotransmissores e de fatores ambientais
(FENG et al., 2016).
Os distúrbios do espectro autista são causados por
diferentes fatores genéticos, ambientais e nutricionais,
estabelecendo-se assim a relação gene-nutriente
(SHAMBERGER; 2011). Atualmente diversos estudos vêm
buscando uma relação entre autismo e níveis de vitamina D. A
deficiência de vitamina D, tem sido investigada e apontada
com possíveis ligações e algumas observações clínicas no
autismo (FERNELL et al., 2010). Os distúrbios do Transtorno
do Espectro Autista são decorrentes de diferentes fatores,
incluindo os nutricionais (SHAMBERGER, 2011).
Além dos sintomas característicos como estereotipias,
ecolalia, déficits de comunicação, entre outros, algumas
manifestações envolvendo a alimentação podem ser
observadas em pacientes portadores de TEA (SHARP, 2013).
As desordens alimentares podem envolver aspectos como
aversão a determinados alimentos devido à sua textura, cor ou

551
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
odor, a insistência em comer somente uma pequena seleção
de alimentos e a recusa de introduzir novos alimentos (KLIN,
2006). No que se refere à alimentação, vale ressaltar que
estes comportamentos alimentares tendem a não melhorar ou
desaparecer com a idade (GROKOSKI, 2016), o que torna a
conduta dietoterápica complexa e desafiadora.
Conforme Domingues (2007), pesquisas tem
demonstrado que com relação à alimentação, especialmente
na hora da refeição, três aspectos mais marcantes são
registrados em pacientes com autismo: a seletividade, que
limita a variedade de alimentos, podendo resultar em
carências nutricionais; a recusa, mesmo ocorrendo à
seletividade é frequente a não aceitação do alimento
selecionado, o que pode levar a um quadro de desnutrição
calórico-proteica e a indisciplina, que também contribui para a
inadequação alimentar. A má alimentação e a falta de
equilíbrio energético são motivos de especial preocupação,
pois a ingestão de micronutrientes está estreitamente
relacionada com a ingestão de energia.
Nesse sentido, as atividades realizadas pela equipe de
cuidados em comunhão com a família/cuidadores, podem
envolver uma terapia nutricional e prescrições de dieta; uma
gestão de deficiências nutricionais e, por último, cuidados
quanto ao trato gasto intestinal e controle de peso, uma vez
que, a prevalência de disfunções gastrointestinais como
obstipação, diarreia, refluxo gastro-esofágico e dor abdominal
em portadores do TEA está estimada entre 9% a 70%, não se
sabendo se é maior do que na população em geral (BUIE,
2010).
Algumas observações clínicas evidenciam que crianças
autistas possuem maior risco de excesso de peso, pela grande

552
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
dificuldade em praticar atividade física de forma estruturada,
associado ao isolamento social, o que colabora para o
aumento do sedentarismo. E ainda geralmente os hábitos
alimentares não são adequados. (CURTIN et al., 2005).
Dessa forma, a intervenção dietética deve ter como
objetivo melhorar a saúde física e bem estar desses
indivíduos, existindo evidências de que uma dieta adequada
pode proporcionar resultados positivos nos sintomas
periféricos e nos resultados de desenvolvimento no Transtorno
do Espectro Autista (WHITELEY et al., 2013).
A alimentação e a nutrição são importantes no
tratamento do autismo (KIDD; STEIN, 2014). Justificando os
cuidados dietéticos individualizados no momento do seu
tratamento, pois a criança portadora de autismo tem uma
combinação de anormalidades clinicas e laboratoriais que lhe
são próprias (KIDD; KAWICKA, 2013). Nesse contexto, uma
apropriada intervenção dietética permite um maior alívio dos
sintomas da doença, devendo ser complementada com a
terapia comportamental e farmacoterapia (KAWICKA;
SINISCALCO, 2013).
As terapias dietéticas têm sido usadas numa variedade
de doenças neurológicas, estando o autismo aqui incluído
(STAFSTROM, 2012). Segundo Srinivasan e Kawicka (2013),
dentre os tipos de dietas (Tabela 1) mais comuns utilizadas
em pacientes autistas destacam-se:

553
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
Tabela 1. Tipos de dieta.

Dieta Descrição

A dieta propõe a restrição de aditivos


alimentares, conservantes, corantes
alimentares e sabores artificiais da
Dieta de Feingold alimentação diária e alimentos que
sejam ricos em fenóis como uva, maçã
e outros.

A ingestão de oxalatos na dieta do


paciente autista é limitada para 40-50
mg/dia, devendo evitar alimentos como
os espinafres, cacau, raspas de limão,
Dieta de baixo teor em oxalatos uvas pretas, bagas, aveia, trigo,
castanhas de caju, avelãs e
suplementada com a arginina, taurina,
vitamina A e E, glucosamina, glutationa,
tiamina, magnésio, cálcio e zinco.

Dieta natural à base de açúcares


simples e usada como meio de
tratamento dos sintomas
gastrointestinais e resolução dos
problemas comportamentais em
pacientes com autismo, promovendo a
Dieta específica dos Hidratos de ingestão de monossacarídeos
Carbono provenientes do mel, frutas, iogurtes
feitos em casa e de alguns vegetais
como o repolho, couve-flor, cebolas e
espinafres; de carnes, queijo natural e
ovos e, ainda, de amêndoas, castanha-
do-pará, nozes, lentilhas embebidas e
feijões.
Fonte: Srinivasan e Kawicka (2013).

Segundo cartilha elaborada pela câmara dos Deputados


em Brasília - Autismo: vencendo esse desafio - muitos pais e

554
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
profissionais ao implementar a dieta sem glúten, que baseia-
se na remoção do glúten, encontrado no trigo, aveia e
derivados e sem caseína, que é a proteína do leite animal,
também apresentou a melhora no comportamento do autista.
De acordo com a cartilha, esse modelo de dieta, para muitos
autistas, também deve ser acompanhada da remoção de
outros alimentos como soja (porque a proteína da soja é
parecida com a do leite) e milho que podem em alguns casos,
causar reações adversas (BRASIL, 2015).
Atualmente, a Specific Carbohydrate Diet (SCDiet), uma
dieta científica baseada em estudos realizados pela
pesquisadora Elaine Gottschall, publicados no livro “Breaking
the vicious cycle”, vem ganhando popularidade nos Estados
Unidos com os autistas que têm problemas no “Leaking Gut” –
intestino poroso. A dieta propõe a redução e seleção de
carboidratos (somente alguns são permitidos) e açúcares,
ajudando o corpo a fazer quelação naturalmente (BRASIL,
2015).
A principal fonte da vitamina D é representada pela
formação endógena nos tecidos cutâneos após a exposição à
radiação ultravioleta (R-UV) (BRUM et al., 2014). A produção
após alguns minutos de exposição solar excede facilmente as
fontes alimentares. Pode haver uma produção de 20000 UI de
vitamina D em 30 minutos de exposição, o equivalente a 200
copos de leite (RECH, 2014) Acredita-se que as melhores
fontes dietéticas animais de vitamina D3 são peixes de água
salgada (especialmente salmão, sardinha, arenque, atum e
cavala), fígado e gema do ovo (TEIXEIRA; COSTA, 2012).
A Tabela 2 apresenta algumas fontes de vitamina D nos
alimentos. Conforme Ross et al. (2011) dentre os alimentos
mais ricos em vitamina D, pode-se destacar:

555
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
Tabela 2. Quantidade de Vitamina D por 100 g de alimento.

Alimento Quantidade

Salmão Selvagem 100 g 600-1000UI de Vit D3

Salmão Criado em cativeiro 100 g 100-250 UI Vit D3 ou D2

Salmão Enlatado 100g 300-600 UI Vit D3

Sardinha enlatada 100g ∼ 300 UI Vit D3

Cavalinha enlatada 100g ∼ 250 UI Vit D3

Atum enlatado 100g ∼ 230 UI Vit D3

Óleo de fígado de bacalhau (1 colher sopa) ∼ 400-1000 UI Vit D3

Cogumelo Shiitake fresco 100g ∼ 100 UI Vit D3

Cogumelo Shiitake seco 100g ∼ 1600 UI Vit D3

Gema de ovo ∼ 20 UI Vit D3 ou D2

Leite fortificado 240 mL ∼ 100 UI Vit D3

Suco de laranja 240 mL ∼ 100 UI Vit D3

Fórmulas infantis 240 mL ∼ 100 UI Vit D3

Iogurtes fortificados 240 mL ∼ 100 UI Vit D3

Manteiga fortificada 100g ∼ 50 UI Vit D3

Margarina fortificada 100g ∼ 430 UI Vit D3

Queijos fortificados 85g ∼ 100 UI Vit D3

Cereais fortificados ∼ 100 UI Vit D3

Óleo de fígado de bacalhau 400–1.000 UI/1colher de chá (D3)

556
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
Salmão Selvagem 100 g 600-1000UI de Vit D3
Fonte: Ross et al (2011).

Desta forma o objetivo deste estudo foi realizar um


levantamento bibliográfico sobre a vitamina D no Transtorno
do Espectro Autista e sua influência nos mecanismos
epigenéticos e expressão gênica, podendo conhecer a relação
entre a nutrição e o TEA, verificar o papel da vitamina D no
TEA, relacionar a deficiência de vitamina D com o
agravamento da doença e analisar terapias nutricionais no
restabelecimento dos sintomas do TEA.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma revisão bibliográfica não sistemática,


realizada através de consulta a artigos e revistas científicas
nas bases científicas Scielo, Pubmed, Bireme e Periódicos
Capes, dissertações, monografias, sites institucionais, teses e
livros. Foram selecionados e incluídos artigos na íntegra que
retratem a temática referente à revisão integrativa publicados
em português, inglês ou espanhol, em modelos experimentais
ou humanos. Foram excluídos da seleção publicações que
não eram relevantes para o tema em estudo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nos últimos anos, pesquisas vêm identificando genes


potencialmente responsáveis pela manifestação da doença.
Nesse sentido, a vitamina D vem destacando-se na sua forma
bioativa, intervindo entre muitas outras funções fisiológicas, na
modulação da imunidade inata e autoimunidade, e auxiliando

557
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
na ativação de numerosos genes, incluindo alguns que têm
sido relacionados com o autismo, desempenhando papel na
regulação da sua expressão (FENG et al., 2016; CANNELL,
2017)
Nesse sentido, no que se refere á influência da genética
e ambiente, existe um forte consenso no meio científico de
que os fatores genéticos desempenham um papel importante
no TEA. Além disso, tornou-se evidente que fatores
ambientais também estão envolvidos (CANNELL, 2010;
KINNEY et al., 2010) e que apresentam interação com fatores
genéticos (FREITAG et al., 2010; MEGUID et al., 2010;
RAMAGOPALAN et al., 2010)
Neste âmbito, estão incluídas mutações genéticas
relacionadas com a função nervosa, onde a vitamina D tem
demonstrado um papel importante, existindo uma forte relação
entre o autismo e disfunções no sistema imunitário.
Adicionalmente, o déficit da vitamina D também tem sido
demonstrado nas doenças inflamatórias do intestino, e o fato
de muitas crianças autistas apresentarem distúrbios a nível
intestinal, pode também influenciar os níveis plasmáticos desta
vitamina (CHRISTSKOS, 2010).
Assim, vem tornando-se evidente que os nutrientes
podem, direta ou indiretamente, interagir com os genes.
Alterações induzidas pelos nutrientes na expressão gênica
podem ter muitos resultados, como alterações no metabolismo
e maior susceptibilidade à doença. No entanto, para otimizar o
uso de nutrientes para manter a saúde e prevenir certas
doenças, é necessário mais conhecimento sobre o papel dos
nutrientes nos níveis moleculares que afetam a função do
gene crítico.

558
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
Dessa forma, a epigenética surge como um fenómeno
biológico envolvendo a regulação da expressão genética
independente da sequência de bases de DNA, com o objetivo
de elucidar a natureza nutriente-gene e, de forma mais ampla,
as interações dieta-gene (CHOI et al., 2013). De acordo com a
Academia de Nutrição e Dietética, os cuidados nutricionais
prestados são essenciais para todos os indivíduos com
dificuldades de desenvolvimento, envolvendo a avaliação de
fatores ambientais, econômicos e sociais, bioquímicos,
clínicos, antropométricos, incluindo ainda, preocupações
dietéticas e capacidade de auto-alimentação (STEIN, 2014).
A hipótese gene-ambiente tem sido recentemente
sugerida para o TEA. Neste contexto, um suposto papel da
deficiência de vitamina D tem sido proposto (FENG et al.,
2016; CANNELL, 2017), uma vez que a deficiência de
vitamina D tem sido observada em crianças autistas. No
entanto, os dados sobre a relação da deficiência de vitamina D
e a gravidade do autismo ainda são escassos (SAAD et al.,
2015).
Geneticistas de todo o mundo, têm sem empenhado em
descobrir uma mutação genética comum para a etiologia do
autismo, porém ainda há um longo caminho a percorrer, uma
vez que não há um gene único para o TEA e estima-se que
aproximadamente 15 genes possam estar envolvidos
(CANNEL; GRANT, 2013). Alguns pesquisadores identificaram
regiões nos cromossomos 2 e 7, que apresentam sugestiva ou
significativa ligação genética com o transtorno do espectro
autista, sendo a região 7q e 17q bastante investigadas nos
estudos genômicos. Outros sítios de anormalidades
cromossômicas encontrados em pacientes autistas envolve a

559
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
região 15q11-13. Acredita-se que este gene esteja envolvido
com as sinapses excitatórias (GREER et al., 2010).
Os estudos que correlacionam os fatores genéticos
também estão focados em mutações, como a MECP2.
Mutações raras na MECP2 foram identificadas em pacientes
autistas (SAMACO et al., 2008).
No entanto, embora a etiologia do TEA ainda seja
desconhecida, estudos sobre o tema apontam para além dos
fatores genéticos, fatores ambientais (exposição solar,
localização geográfica, variações sazonais, exposição a
materiais tóxicos) e a deficiência de vitamina D.
Nesse sentido, em relação à deficiência de vitamina D e
autismo, Fernell et al. (2015), em estudo realizado na Suécia
com 58 crianças com o espectro autista e pelo menos um
irmão de cada paciente, encontraram valores médios de
25(OH)D (24.0 ± 19.6 ng/ml) mais baixo nos autistas quando
comparados com seus irmãos (31.9 ± 27.7 ng/ml). De modo
semelhante, em pacientes adultos, Humble, Gustafsson e
Bejerot (2010), dosaram os níveis de vitamina D e observaram
que aqueles que possuíam desordens do espectro autista
apresentaram níveis significativamente mais baixos de
vitamina D (12.26 ng/ml) em comparação com os que não
apresentavam o transtorno.
Esses achados corroboram com vários outros estudos
internacionais que também evidenciaram baixos níveis séricos
de vitamina D em pacientes com espectro autista (WANG et
al., 2016; SAAD et al., 2015; KOCOVSKA et al., 2014; GONG
et al., 2014; MOSTAFA; AL-AYADHI, 2012). No Brasil, de
forma semelhante Tostes e colaboradores (2012), também
evidenciaram níveis baixos de vitamina D, sendo a dosagem

560
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
sérica média nas crianças autistas de (26,48 ± 3,48 ng/mL) em
relação as crianças sem o transtorno (40,52 ± 3,13 ng/mL).
Adicionalmente, também tem sido relatado que
deficiência materna de vitamina D durante a gestação e/ou na
primeira infância pode ser considerado como um fator de risco
no desenvolvimento de TEA. Evidências crescentes
direcionam-se para a possibilidade de que a deficiência de
vitamina D na gravidez e na primeira infância (<40 ng/ml)
causam alguns casos de autismo (CANNELL, 2017).
Fernell e colaboradores (2010), dosaram os níveis de
25 (OH)D em mães, cujos filhos eram autistas e os resultados
demonstraram que essas mães possuíam baixos níveis de 25
(OH)D, sugerindo que as crianças com o espectro autista
teriam um déficit de vitamina D, desde o pré-natal, no entanto,
mais estudos são necessários.
Dessa forma, a deficiência de vitamina D durante a
gestação tem sido associada a efeitos adversos para o bebê,
incluindo um risco aumentado de TEA.
Essa evidência levou pesquisadores a realizar
recentemente um ensaio clínico randomizado (padrão-ouro da
investigação), a fim de avaliar os efeitos da suplementação de
vitamina D no autismo em crianças. O estudo incluiu 109
crianças com TEA, no qual metade do grupo recebeu doses
diárias de 300 UI de vitamina D3 kg/dia, e a outra metade
recebeu placebo, durante 4 meses. Foi observado que os
sintomas de autismo (irritabilidade, hiperatividade, retirada
social, comportamento estereotipado e discurso inadequado)
das crianças melhoraram significativamente, após a
suplementação, o que não ocorreu no grupo placebo. A
suplementação com vitamina D diminuiu significativamente os
movimentos repetitivos de mão, ruídos aleatórios, saltos e

561
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
interesses restritos. Os pesquisadores concluíram que a
vitamina D3 demonstrou eficácia em pacientes com TEA, e
que a suplementação oral da vitamina pode melhorar com
segurança sinais e sintomas do TEA (SAAD et al, 2016).
O estudo acima supracitado, também observou que o
regime de suplementação foi bem tolerado, demonstrando a
eficácia e tolerabilidade de altas doses de vitamina D3 em
crianças com TEA. Apenas cinco delas sofreram com efeitos
colaterais durante o período do estudo, como erupções
cutâneas, comichão e diarreia. No entanto, o estudo consistiu
de um número relativamente pequeno de pacientes, e estudos
adicionais são necessários para confirmar a eficácia da
vitamina D em TEA. Os mesmos achados, também foram
observados por Cannel e colaboradores (2017), utilizando
doses elevadas de vitamina D que demonstrou melhora dos
sintomas centrais do autismo em cerca de 75% das crianças
autistas.
No que se refere a relação da vitamina D e genes no
autismo, parece provável que a vitamina D seja tanto um fator
ambiental quanto genético que interage com o ambiente, para
determinar alguns fenótipos de autismo. Dessa forma, se o
indivíduo nasce com a tendência genética para autismo, essa
tendência pode interagir ambientalmente ou geneticamente
com determinados níveis de 25(OH)D (WANG et al., 2016).
O resultado dessa hereditariedade é baixos níveis de
25(OH)D, a partir do primeiro trimestre de gestação, no
nascimento e na primeira infância, como observado pelos
baixos níveis de 25(OH)D em crianças com TEA. É importante
ressaltar que a maioria dos fetos, lactentes e crianças com
baixos níveis de vitamina D não serão autistas, uma vez que
também é necessário que haja uma predisposição. Para

562
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
gestantes e crianças com quadros clínicos baixos de vitamina
D, doses entre 40 e 60 ng / ml (gestação) e de 40-60 ng/ml
(durante a primeira infância) pode prevenir a maioria dos
sintomas do TEA superando a herdabilidade significativa dos
níveis de 25(OH)D (FENG et al., 2016).
Estudos de associação genômica ampla (GWAS -
genomic wide association study) encontraram associação
significativa na análise genômica entre níveis insuficientes de
25(OH)D e variantes genéticas em locci próximos aos genes
envolvidos na síntese do colesterol (DHCR7, que codifica a 7-
DHC redutase) e na hidroxilação da vitamina D (CYP2R1 e
CYP24A1) e em regiões do gene que codifica a DBP (GC)
(vitamin D binding protein) (proteína multifuncional que liga a
vitamina D e seus metabólitos do plasma e transporta-os para
os tecidos-alvo) (AHN et al., 2010),
Contudo, por sua vez, a vitamina D além de seus
efeitos já bastante conhecidos sobre o metabolismo do cálcio
e do sistema ósseo, vem demonstrando modulação do
genoma humano, participando da manutenção do controle da
homeostase sistêmica, como crescimento, diferenciação e
apoptose celular, regulação do sistema de defesa,
cardiovascular e musculoesquelético. Nesse sentido, já foi
demonstrado que os efeitos genômicos da forma ativa da
vitamina D (1α-25-di-hidroxivitamina D, 1,25(OH)2D) são
mediados pelo seu receptor VDR (vitamin D receptor), que é
expresso em quase todas as células humanas e parece ter
participação, de maneira direta ou indireta, na regulação de
cerca de 3% do genoma humano (BOUILLON et al., 2008).

563
A VITAMINA D NO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: INFLUÊNCIA
SOBRE MECANISMOS EPIGENÉTICOS E EXPRESSÃO GÊNICA
4 CONCLUSÕES

À literatura aponta para uma relação estreita entre a


deficiência de vitamina D e o Transtorno do Espectro Autista,
uma vez que já está bem estabelecido nas pesquisas que a
deficiência de vitamina D pode contribuir para a etiologia do
TEA. Dessa forma, a suplementação de vitamina D parece ser
uma alternativa de tratamento, podendo melhorar
significativamente os sintomas causados em pacientes
portadores da doença, especialmente em crianças mais
jovens, no entanto, mais estudos sobre essa relação se fazem
necessários.

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568
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
CAPÍTULO 28

ALCANCE DAS NECESSIDADES


CALÓRICAS E PROTEICAS EM PACIENTES
COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
Flávia Nunes de Lima BARROSO 1
Ana Carolina Lúcio Pereira da SILVA 2
Niethia Regina Dantas de LIRA 3
Caroline Souza de Farias LEAL4
Geovana Torres de PAIVA5
Especialista em Nutrição Clínica e Funcional/FIP 1; Especialista em Nutrição
Esportiva/Estácio2; Mestre em Ciências Farmacêuticas/UFRN4; Especialista em Nutrição
Clinica Funcional/CVPE4; Mestre em Ciência da Nutrição/UFPB5
nutriflavialima@gmail.com.br

RESUMO: INTRODUÇÃO: A terapia nutricional enteral (TNE)


possui a finalidade de manter ou restaurar o estado nutricional.
Contudo, se não for tolerada, ou se o paciente não alcançar as
necessidades nutricionais pode apresentar complicações
infecciosas, metabólicas e gastrointestinais. OBJETIVO:
Avaliar o alcance das necessidades calórico-protéicas em
pacientes internados em um hospital universitário. MATERIAIS
E MÉTODOS: Trata-se de um estudo transversal de caráter
descritivo realizado em maio e junho/2017, por meio da coleta
de dados em prescrições nutricionais de pacientes (n=20) com
indicação de TNE. Para avaliar o percentual de adequação
das necessidades usou-se regra de três simples, de acordo
com a oferta dietética e acompanhamento da evolução
nutricional. Os dados foram tabulados e analisados utilizando
o programa Microsoft Excel, versão 2010. RESULTADOS: Da
amostra, 50% (n=10) atingiram as Necessidades Calórico-
proteica (NCP). Em relação ao período de TNE, notou-se que
nas prescrições da UTI (n=8) houve variação de 2 a 17 dias
para alcance das NCP. Na UTI pediátrica apenas 3 atingiram

569
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
as NCP (8 dias). Na Clínica Cirúrgica (n=2), nenhuma
prescrição atingiu a meta. Na pediatria, mesmo com 16 dias
de TNE, não foi alcançado o planejado. Entre as
intercorrências, destacam-se as manifestações
gastrointestinais e jejum para exames ou procedimentos
cirúrgicos. CONCLUSÃO: A inadequação calórico-proteica na
TNE é um fator a ser considerado pela equipe
multiprofissional, visando otimização do cuidado e
recuperação da saúde.
Palavras-chave:
Terapia Nutricional Enteral. Paciente Hospitalizado.
Necessidades Protéico-Calóricas.

1 INTRODUÇÃO

A terapia nutricional consiste na administração de


fórmulas de nutrientes por via enteral ou parenteral com a
finalidade de manter ou restaurar o estado nutricional. Quando
os pacientes são incapazes de alimentar-se o suficiente para
suprir suas necessidades nutricionais por mais de alguns dias,
a terapia nutricional deve ser considerada (MAHAN, STUMP e
RAYMOND, 2012). Uma vez que a desnutrição no ambiente
hospitalar tem crescido significativamente em todo o mundo,
podendo sua prevalência chegar a 50% (STRATTON et. al,
2004). A desnutrição está relacionada a maiores custos
hospitalares, maior tempo de internação, predispondo a uma
variedade de complicações, maior incidência de infecções e
de mortalidade (WAITZBERG, CAIAFFA, CORREIA, 2001).
No Brasil, o grau de desnutrição dos pacientes
internados na rede pública de saúde varia conforme a região
estudada, podendo chegar a 48% (WAITZBERG, CAIAFFA,
CORREIA, 2001). Neste sentido, a Terapia Nutricional Enteral

570
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
(TNE) é um o conjunto de procedimentos terapêuticos para
manutenção ou recuperação do estado nutricional do paciente
por meio de Nutrição Enteral (NE), na qual o paciente
alimenta-se por uma sonda posicionada no estômago ou
intestino (GIROLDI e BOSCAINI, 2016). É reconhecida como
uma terapêutica essencial no paciente crítico, por prevenir a
perda de massa muscular, manter o sistema imune estável e
auxiliar na redução das complicações metabólicas, porém,
para que os objetivos sejam alcançados de forma rápida e
eficaz, deve ser iniciada de forma adequada (PAZ e COUTO,
2016).
No hospital, a realização da TNE é regulamentada pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). (Conselho
Federal de Nutrição-CFN, 2016).
Segundo Albuquerque, Rosenfels e Abrahão (2005), a
NE apresenta várias vantagens como: preservação da
integridade da mucosa intestinal, secreções intraluminal de
IgA pelo enterócitos, manutenção da homeostase e
competência imunológica, melhora o balanço nitrogenado,
menor incidência de complicações, prevenção de translocação
bacteriana, decréscimo de hipermetabolismo, prevenção de
úlceras de estresse, atenuação da resposta inflamatória,
diminuição do risco de infecção, facilidade de administração e
baixo custo em relação à Terapia Nutricional Parenteral (TNP)
(VASCONCELOS e TIRAPEGUI, 2002). Vale ressaltar que ela
pode ser indicada concomitantemente com dieta por via oral ou com a TNP.
Contudo, o paciente que está em nutrição enteral pode
apresentar complicações mecânicas, infecciosas, metabólicas
e gastrointestinais (FREITAS, CASTRO e ZABAN, 2010). Tais
intercorrências podem retardar o progresso da dieta, visto que
causam suspensão temporária e/ou permanenteda NE. As

571
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
complicações gastrointestinais relacionada à intolerância da
dieta são as mais encontradas na literatura, entre essas, a
diarreia é a principal (REID, 2006). Todavia, existem outras
como a aspiração em consequência do aumento do volume
residual gástrico e a constipação (PETROS e ENGELMANN,
2006).
Segundo Poltronieri (2006), quando a NE não atende as
necessidades nutricionais para minimizar a perda de massa
magra, a recuperação do paciente torna-se difícil, pois
contribui na diminuição do estresse fisiológico e na
manutenção da imunidade, assim a descompensação das
funções orgânicas pode levar à acidose, coma e óbito. Outro
aspecto importante é a hiperalimentação, uma vez que,
embora menos frequente, pode levar a problemas como a
hiperglicemias, intolerâncias gastrointestinais e sobrecarga de
volume (DANTAS et. al, 2006). Desta forma, o presente
estudo objetivou avaliar o alcance das necessidades calórico-
protéica da terapia nutricional enteral (TNE) em pacientes do
Hospital Universitário Onofre Lopes-HUOL.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal de caráter descritivo,


conduzido entre os meses de maio e junho de 2017, incluindo
pacientes adultos e pediátricos com indicação de TNE,
acompanhados por um período de 23 dias na ambiência do
Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) no município de
Natal, Rio Grande do Norte (RN).
A coleta de dados foi realizada a partir das prescrições
nutricionais da TNE de 20 pacientes hospitalizados, adultos e
pediátricos, de ambos os sexos, com faixa etária de 1 a 80

572
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
anos. Os critérios de inclusão deste estudo foram as
prescrições de pacientes que possuíam administrações de
nutrição enteral exclusiva por gavagem ou por bomba de
infusão. Foram excluídos os pacientes que tiveram alta
hospitalar no período, ou retirado a sonda para introdução da
via oral, sem que houvessem atingido as necessidades
nutricionais.
O volume, calorias e proteínas prescritos foram
registrados a partir da prescrição dietética realizada pelo setor
de nutrição enteral (de forma impressa), e os dados do que foi
efetivamente administrado e os fatores que levaram à
suspensão da dieta foram coletados no sistema eletrônico de
gestão hospitalar MV2000i, do hospital universitário. Foram
coletadas as informações de dietas enterais dos pacientes,
assim como, evolução nutricional diária, visando embasar as
possíveis intercorrências que retardam o progresso da dieta.
Todos esses dados foram coletados a partir do primeiro dia de
introdução da TNE, até o momento de sua descontinuação,
óbito, alta, por todo o período de acompanhamento
previamente determinado no presente estudo.
Os valores calórico (Kcal) e proteico (g de proteínas)
prescritos e administrados foram registrados diariamente para
cada paciente. A determinação do percentual de alcance das
necessidades calóricas e proteicas dos pacientes em TNE foi
realizada por meio de regra de três simples de acordo com a
oferta destes nutrientes, da forma que segue:

Necessidade Calórica/Proteica =100%


Oferta Calórica/Proteica = X

573
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
As prescrições nutricionais contavam com fórmulas
apresentadas em ambos os sistemas (aberto e fechado) de
TNE, do tipo gravitacional ou infusão por bomba, de maneira
intermitente. As dietas enterais oferecidas foram fórmulas
oligoméricas, poliméricas e especializadas. A escolha da
fórmula era baseada no valor mais próximo das necessidades
diárias ou conforme necessidade específica do paciente e as
patologias apresentadas.
Os dados coletados foram tabulados e analisados com
o auxílio de uma planilha eletrônica do programa Microsoft
Excel versão 2010. Posteriormente foram expostos os
resultados por meio de gráficos, quadros e tabela, contribuindo
para uma melhor visualização dos mesmos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostra do presente estudo totalizou 20 prescrições


nutricionais, abrangendo dietas para pediatria e adultos. De
acordo com os dados expressos na Fig. 1, observou-se que o
número de participantes deste estudo que se nutriam através
da TNE era principalmente de pacientes que estavam na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) 40%, seguido da UTI
pediátrica 15%, Neurologia/Psiquiatria 15%, Cirúrgica 10%,
Cardiologia 10%, Clínica Médica 5% e Pediatria 5%. O estado
clínico do paciente, que demanda cuidados mais intensivos,
pode ser a justificativa para o maior número de prescrições de
dietas enterais nos setores de Terapia Intensiva.

574
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
Figura 1. Número de pacientes por setores de internação.

UTI

5% UTI Pediátrica
10%
40%
15% Cirúrgica

5% Clínica médica
10%
15% Neuro/Psiquiatria

Cardiologia

Pediatria

O início da NE em até 72 horas caracteriza a NE


precoce, que tem benefícios bem descritos pela literatura por
atenuar a resposta inflamatória e hipermetabólica, melhorando
a imunidade intestinal, entre outros benefícios (MARIK, e
ZALOGA, 2001). Quando iniciada precocemente a TNE pode
propiciar o alcance das necessidades nutricionais propostas
mais rapidamente, favorecendo a recuperação do estado
nutricional. Contudo, em nosso estudo apenas 2 pacientes
(que corresponde a 10%), conseguiram atingir suas
necessidades calórico-proteica no tempo descrito pela
literatura.
No que se refere ao período de TNE avaliado no
estudo, nota-se que entre os pacientes da UTI (n=8) o alcance
das necessidades nutricionais foi de 62,5% (n=5) com

575
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
variações de 2 a 17 dias de terapia, os demais 37,5% (n=3)
não atingiram suas necessidades, mesmo com tempo superior
de acompanhamento (17 a 23 dias de TNE), como mostra a
Tabela 1. Já no setor da UTI pediátrica (n=3), apenas 33,3%
(n=1) alcançou as necessidades calórico-proteicas em 8 dias e
66,6% (n=2) não conseguiram atingir, ao longo do período em
que foram avaliados.
Nas prescrições dos pacientes internados no setor da
Clínica Cirúrgica (n=2) observou-se que nenhuma das
prescrições (100% da amostra) conseguiu atingir suas
necessidades durante o período avaliado, ficando em TNE por
9 e 19 dias. No setor de Clínica Médica (n=1), verificou-se que
a prescrição de dieta enteral (100% da amostra) atingiu suas
necessidades calórico-proteica em 4 dias de TNE, como está
representado na Tabela 1.

Tabela 1. Número de dias de alcance ou não das


necessidades calórico-proteica por setores hospitalares.

Setores Nº de Nº de dias para Nº dias de não


prescrição alcance alcance
1 6 dias -
Unidade de 2 - 23 dias
3 17 dias -
Terapia
4 - 21 dias
Intensiva 5 -
3 dias
(UTI) 6 -
4 dias
7 -
8
5 dias 17 dias
-

576
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
UTI 1 8 dias -
Pediátrica 2 - 7 dias
3 - 23 dias
Clínica 1 - 9 dias
cirúrgica 2 - 19 dias
Clínica 1 4 dias -
médica
Neurologia 1 - 8 dias
e Psiquiatria 2 7 dias -
3 11 dias -
Cardiologia 1 5 dias -
2 - 13 dias

Pediatria 1 - 16 dias

Na análise das prescrições de dieta enteral destinadas


ao setor de Neurologia/Psiquiatria (n=3), percebe-se que
66,6% (n=2) atingiram suas necessidades, levando de 2 a 13
dias de terapia enteral. Já outros 33,3% (n=1) não
conseguiram atingir, mesmo em 8 dias de TNE, devido a
intercorrências. No setor de Cardiologia (n=2), apenas 50%
(n=1) atingiram suas necessidades em um período de 2 dias.
Entretanto, outros 50% (n=1) não alcançaram suas
necessidades, mesmo com 13 dias de TNE. O último setor
analisado foi a Pediatria (n=1), na qual observou-se que 100%
(n=1) da amostra não atingiu suas necessidades calórico-
proteica mesmo com 16 dias de TNE, conforme mostra Figura
2.

577
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
Figura 2. Percentual de alcance das necessidades protéico-
calóricas por setor.

Percentual de alcance das NPC por setor


120,00%

100,00%

80,00%

60,00%

40,00%

20,00%

0,00%
UTI Adulto UTI Pediátrica Neuro/Psiquiatria Cirurgia

Atingiu Não atingiu

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Cardiologia Clínica médica Pediatria

Atingiu Não atingiu

Com relação aos principais fatores que impossibilitaram


os pacientes atingirem as necessidades calórico-proteica, foi
578
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
possível observar desde causas internas, como as
manifestações gastrointestinais, até causas externas, como
procedimentos ou exames médicos.
Entre as causas que impossibilitam atingir a meta
calórica, foram citados por outros autores: volume elevado de
resíduo gástrico, realização de traqueostomia, procedimentos
cirúrgicos, procedimentos radiológicos, saída da sonda e
eventos relacionados à rotina da enfermagem. (BINNEKADE
et al, 2005)
Na análise geral, 55% (n=11) da amostra deste estudo
apresentaram episódios diarreicos, seja de forma isolada ou
em associação a outros fatores, o que diverge do estudo de
Isidro e Lima (2012), onde a maior causa de interrupção de
dietas foi o jejum para procedimentos.
Como pode ser visualizado na Fig. 4, a maior parte dos
pacientes, 20% (n=4) apresentaram de 3 a 8 evacuações
líquidas ao dia, o que impossibilitava alcançar as suas
necessidades em um curto período de terapia. Já outros
pacientes ficaram em dieta zero ou suspensa para realizar
exames e obtiveram também episódios diarreicos ao longo da
TNE, estes pacientes correspondiam a 15% (n=3) da amostra.
Somados a isto, alguns pacientes 15% (n=3) da
amostra não tiveram os motivos relatados em suas evoluções
nutricionais sobre as causas de não atingir ou demorar a
alcançar suas necessidades. Outro fator importante observado
neste estudo foi as constantes suspensões de dieta enterais
por períodos excessivos de tempo (mais de 12 horas) para
realização de exames ou procedimentos como a
traqueostomias (cerca de 10% dos pacientes), além disto,
episódios de diarreia e broncoaspiração correspondiam a

579
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
cerca de 5% (n=1) dos pacientes em TNE, ou não atingiram a
suas necessidades nutricionais, como mostra a Figura 3.
O refluxo gástrico correspondeu a 5% (n=1) dos
pacientes que tiveram suas necessidades impossibilitadas ou
que demoraram a alcançar estas, como pode ser observada
na Figura 3.
Os pacientes que apresentaram episódio de
convulsões, ficaram em dieta suspensa, com presença de
resíduos gástricos e episódios de broncoaspiração
corresponderam a 5% (n=1) da amostra. Já os pacientes que
apresentaram episódios de diarreia e constipação e que
demoraram ou não atingiram suas necessidades
corresponderam a 5% (n=1). Neste estudo 5% (n=1) não
conseguiram ou tiveram atrasos em atingir suas necessidades
devido a suspensão de dietas para exames, como também
episódios de diarreia e broncoaspiração, como pode ser
visualizado na Figura 3.
Somente 10% (n=2) dos pacientes apresentaram
episódios de constipação ao longo da TNE, já outros 5% (n=1)
não atingiram ou demoraram a atingir suas necessidades
devido os pacientes puxaram suas sondas enterais, e
apresentarem desconfortos respiratórios no decorrer da TNE.
A diarreia frequente mais a suspensão de dieta e a presença
de distensões abdominais corresponderam a 5% (n=1) dos
pacientes com TNE, o que justificariam os prejuízos em
alcançar suas necessidades nutricionais, como mostrado na
Figura 3.
Neste sentido, a intolerância gastrointestinal que
compromete a administração da NE pode ser evitada com
protocolos que melhorem à tolerância a Nutrição Enteral (NE),
como o uso de pró-cinéticos, mudanças de posicionamento da

580
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
sonda, manter a cabeceira elevada a 45º, aumentar o tempo
de infusão da dieta, mantendo a administração noturna com
menor velocidade (KEHR et. al, 2005). De acordo com
Poltronieri (2006)12, em relação aos procedimentos e a rotina
da enfermagem, que também comprometem a administração
da NE, deve-se programar pausas na NE de modo a não
ultrapassar 4 horas. O que distoa do presente estudo, visto
que o tempo médio de infusão das fórmulas enterais é de 22
horas, o que não garante uma pausa de 4 em 4 horas.
Figura 3. Percentual de participantes por fatores internos e
externos que impossibilitaram os pacientes de alcançarem as
necessidades calórico-proteicas.

25

20
Número de Participantes (%)

15

10

D = Diarreia; ZD = Zero para exame e diarreia; NR = Motivo não relatado; Z


= Zero para exame; DB = Diarreia e broncoaspiração; RG = Refluxo
gástrico; CZRB = Convulsões, zero para exame, resíduo gástrico e
broncoaspiração; DC = Diarreia e constipação; ZDB = Zero para exame,
diarreia e broncoaspiração; C = constipação; SSD = Sem sonda e

581
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
desconforto respiratório; DZDA = Diarreia, zero para exame e distensão
abdominal.

No que diz respeito ao alcance das necessidades


calóricas, em geral a maior parte dos pacientes 70% (n=14)
em TNE conseguiram atingir a meta previamente estabelecida
durante o período estudado, entretanto, cerca de 30% (n=6)
da amostra não conseguiu. Nossos resultados divergem dos
de Koehnlein, Carvalo e Nozaki (2010), onde os
pesquisadores concluíram que um alto índice de pacientes
não receberam as quantidades de calorias prescritas
(67,44%).
Já na avaliação das necessidades protéicas, mais da
metade das prescrições conseguiram atingir 55% (n=11) a
meta proposta pelo nutricionista, porém cerca de 45% (n=9)
da amostra não atingiu o aporte planejado, no tempo
analisado no presente estudo. Em geral, somente 50% dos
participantes deste estudo atingiram as necessidades calórico-
proteica, como pode ser visualizado na Figura 4.
Os resultados encontrados nesse estudo foram
semelhantes aos de Isidro e Lima (2012), que ao avaliarem a
adequação calórico-proteica da terapia nutricional enteral
encontraram que cerca de 50% dos pacientes conseguiram
atingir suas necessidades calórico-proteicas, e uma
adequação média da dieta recebida em relação à prescrita foi
de 88,9 ± 12,1% e de 87,9 ± 12,2% para calorias e proteínas,
respectivamente.

582
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
Figura 4. Necessidade calórica, protéica e calórico-proteica
dos pacientes em Terapia Nutricional Enteral (TNE) do
Hospital Universitário Onofre Lopes-HUOL.

80

70
Percentual de Necessidade (%)

60

50

40

30

20

10

0
Necessidade Calórica Necessidade Protéica Necessidade Protéico-
Calórica

Atingiu Não Atigiu

Os mesmos autores descreveram que as principais


causas da suspensão da dieta ocorreram em 81,3% dos
pacientes (ISIDRO e LIMA, 2012), que assim como em nosso
estudo, as complicações gastrointestinais e fatores externos
contribuíram para aumentar o tempo de permanência na TNE,
como também dificultou o alcance das necessidades.
Portanto, torna-se necessário a vigilância clínica afim de
minimizar estes fatores e garantir a assistência nutricional
adequada para estes indivíduos.

583
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
4 CONCLUSÕES

A inadequação calórica-proteica como também a longa


duração de TNE observada em pacientes hospitalizados é um
fator importante a ser considerado pela equipe
multiprofissional, tendo em vista que, a maioria dos pacientes
hospitalizados encontra-se em desnutrição e dependem
exclusivamente da nutrição enteral.
Assim, é necessário estabelecer treinamento
profissional e protocolos de controles que minimizem as
causas de interrupções da dieta como os fatores
gastrointestinais ou externos presentes na maioria dos
participantes deste estudo, assegurando assim a
administração da TNE e contribuindo para recuperação do
estado nutricional desta população.

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585
ALCANCE DAS NECESSIDADES ENERGÉTICAS E PROTÉICAS EM
PACIENTES COM TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL
VAN DEN BROEK, P. W.; RASMUSSEN-CONRAD, E. L.; NABER A. H.;
WANTEN, G. J. What you think is not what they get: significant
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Br J Nutr. v.101, p.68-71, 2009.

586
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
CAPÍTULO 29

ASPECTOS METABÓLICOS E
FISIOLÓGICOS DO ZINCO

Christiane Leite CAVALCANTi¹


Ana Flávia Gomes de Britto NEVES¹
Priscilla Paulo LINS2
1Doutorandas do Programa de Pós Graduação em Ciências da Nutrição da Universidade
Federal da Paraíba. Bolsista CAPES.
2 Laboratório de Nutrição Experimental da Universidade Federal da Paraíba.
christileite@gmail.com

RESUMO: Pesquisas recentes ressaltam a importância do


Zinco (Zn) como um oligoelemento fundamental à saúde
humana, por integrar numerosos processos bioquímicos e
fisiológicos, participar do metabolismo de carboidratos,
proteínas e lipídios e atuar como cofator em processos
antioxidantes, antiinflamatórios e antiapoptóticos. Devido a
essencialidade do Zn no organismo humano, é necessário
compreender melhor os aspectos metabólicos e fisiológicos
desse oligoelemento. Para isso, realizou-se uma pesquisa
bibliográfica através de consultas nas bases de dados
indexadas à Biblioteca Virtual em Saúde e ao Pubmed,
analisando artigos completos publicados na íntegra, em
idiomas português e inglês, entre o período de 2007 à 2017.
De um total de 98 artigos encontrados, após a aplicação dos
critérios de inclusão, vinte e dois artigos foram selecionados
para leitura na íntegra e compuseram a amostra final para
análise da pesquisa bibliográfica. Os artigos demonstraram o
papel fisiológico e metabólico do Zn no organismo humano,
sua biodisponibilidade e homeostase, efeitos da sua
deficiência no organismo, além da ressaltar a importância da
manutenção de níveis adequados deste oligoelemento. Desse
modo, pode-se concluir que o envolvimento do Zn é essencial
para o adequado funcionamento do corpo humano, além de
587
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
ser benéfico para a manutenção da saúde e a prevenção de
determinadas doenças crônicas, para sendo considerado um
oligoelemento fundamental à saúde humana.
Palavras-chave: Zinco, Importância, Saúde.

1 INTRODUÇÃO

O Zinco (Zn) é um metal de transição pertencente à


família IBB da Tabela Periódica, possuindo número atômico
30, com massa atômica 65,38. É considerado o 23º elemento
químico mais abundante da litosfera, presente na atmosfera e
na hidrosfera. Entre os sais, destacam-se o Sulfato (ZnSO4), o
Gluconato (C12H22O14Zn), o Acetato (C4H6O4Zn.2H2O), o
Cloreto (ZnCl2) e o Óxido (ZnO), muito abundantes na litosfera
(IUPAC, 2013).
Acredita-se que em algum momento do processo
evolutivo, o Zn presente no ambiente foi adquirido pela célula
primitiva para desempenhar processos biológicos simples e,
ao longo da evolução, foi incorporado aos processos mais
complexos dos organimos. Dados da importância evolutiva do
Zn nos processos biológicos estão relacionados à quantidade
de metaloproteínas, ou seja, proteínas estruturalmente
associadas ao Zn nos seres vivos (WIILIAMS, 2012).
Recentes evidências científicas revelaram importantes
descobertas sobre as funções deste oligoelemento para o
organismo humano. O Zn participa como constituinte integral
de proteínas ou cofator enzimático em mais de 300 reações
químicas que envolvem a síntese e degradação de
carboidratos, proteínas e lipídeos (COMINETTI; COZZOLINO,
2009).
O Zn é o segundo mais abundante oligoelemento do
organismo, encontrado principalmente nos músculos, ossos,

588
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
fígado e pele, correspondendo a cerca de 2 a 4g do peso
corporal. É também encontrado no pâncreas, rins e em outros
tecidos, em algumas partes dos olhos, cabelos e unhas. No
sangue, cerca de 80% do Zn é encontrado nos eritrócitos, 16%
no plasma ligado à albumina e a α2-macroglobulina
(HAGMEYER; HADERSPECK; GRABRUCKER, 2015).
As principais fontes dietéticas são os alimentos de
origem animal, como ostras, fígado, carnes, queijos e ovos,
sendo encontrado também em fontes vegetais, como
hortaliças, grãos integrais, castanhas e cereais (DOMENE et
al., 2008). A obtenção de Zn por meio da ingestão de
alimentos é considerada o principal meio de suprir as
recomendações diárias (PRASAD, 2013).
Há dificuldades inerentes à estimativa das
necessidades de Zn para os seres humanos, visto que fatores
fisiológicos, ambientais e dietéticos variam de acordo com as
populações. Assim, as estimativas para o consumo diário de
Zn foram feitas para contemplar entre 98% das necessidades
nutricionais da população, por meio de estudos, considerando-
se a sua ingestão, excreção, quantidades necessárias para o
crescimento e desenvolvimento, além de eventuais perdas e
disponibilidade (COMINETTI; COZZOLINO, 2009).
Mediante a diversidade funcional do Zn no corpo
humano, além da homeostase desse oligoelemento, a
recomendação diária para a população sadia é de 8 mg/dia
para mulheres e 11/dia mg para os homens. Durante a
infância, devido ao importante papel do Zn no crescimento, é
recomendado entre 3 a 8 mg/dia, de acordo com a faixa etária.
Em outras fases da vida, as necessidades de Zn estão
aumentadas como na gestação, cujas recomendações variam
entre 11 a 13 mg/dia (HAMBIDGE et al., 2008).

589
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
Devido a essencialidade do Zinco no organismo
humano, é necessário compreender melhor os aspectos
metabólicos e fisiológicos desse oligoelemento. Dessa forma,
com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre o papel do
Zn na saúde humana, o objetivo desse estudo foi realizar uma
pesquisa bibliográfica aprofundando essa temática, na
tentativa de compreender melhor o papel do Zn na saúde
humana.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Foi realizada uma pesquisa descritiva, com abordagem


qualitativa, do tipo pesquisa bibliográfica, a qual se apresenta
ainda com uma conformação de trabalho que permite observar
o progresso do pesquisador, em relação ao seu objeto de
estudo e uma avaliação de outros autores sobre o tópico
(SANTOS, 2012).
Dessa forma, o levantamento bibliográfico foi realizado
em dois momentos: inicialmente, foi feito uma busca nas
bases de dados indexadas à Biblioteca Virtual em Saúde e ao
Pubmed, buscando todas as produções científicas por meio do
cruzamento entre as seguintes palavras chaves: 1) Zinco; 2)
Metabolismo, 3) Fisiologia, durante o período de março à
agosto de 2017.
Os critérios para inclusão de artigos foram: artigos
publicados na íntegra nos idiomas português e inglês, artigos
que abordassem os aspectos fisiológicos e metabólicos do Zn
e artigos publicados e indexados nos referidos bancos de
dados, entre o período de 2007 à 2017. O critério de exclusão
referiu-se a artigos duplicados ou que não tratavam dos
aspectos mencionados.

590
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
Após a utilização da estratégia de busca, utilizando o
descritor associados às palavras chave, foram encontrados 98
artigos. No segundo momento, foram selecionados os artigos
que atendecem aos critérios de inclusão, assim, do total de 45
artigos, 22 artigos foram selecionados e compuseram a
amostra final para análise da pesquisa (Figura 1).

Figura 1. Processo de seleção dos artigos.

Análise do título de 98 documentos.

Leitura prévia dos resumos de 45 documentos, para


posterior seleção.

Seleção e leitura total de 22 documentos, que


atenderam aos critérios de inclusão.
Fonte: Dados das autoras, 2017.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Aspectos Metabólicos do Zn

O papel do Zn na nutrição humana tem sido cada vez


mais ressaltado, e tem havido um progresso dos
conhecimentos no que diz respeito aos aspectos bioquímicos,
imunológicos e clínicos. A importância desse mineral foi
demonstrada com a descoberta de processos metabólicos,

591
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
envolvendo esse nutriente em diversas atividades enzimáticas
(COMINETTI; COZZOLINO, 2009).
Deve-se considerar que a simples presença do Zn na
dieta não garante sua utilização pelo organismo, pois existem
fatores que podem comprometer sua biodisponibilidade
(COMINETTI; COZZOLINO, 2009). Dentre os fatores que
podem inibir a absorção do Zn, a presença de fitato e fibras
merecem destaque. O ácido fítico, encontrado especialmente
nos cereais e leguminosas, reduz a absorção de Zn devido à
formação de um complexo insolúvel com esse elemento
(RIBEIRO et al. 2013).
Outros fatores que podem comprometer a absorção é a
competição do Zn com os minerais cobre e ferro. Já os
promotores da absorção de Zn incluem a vitamina A, a
ingestão de proteínas e outros ácidos orgânicos.
Possivelmente, o β-caroteno forma um complexo intestinal
com o Zn, mantendo-o solúvel no lúmen intestinal e
prevenindo os efeitos inibitórios do fitato (GAUTAM; PLATEL;
SRINIVASAN, 2010).
Como os alimentos proteicos são fontes de Zn, o
aumento da ingestão de proteínas promoveria uma maior
ingestão do Zn dietético, além disso, a proteína animal pode
diminuir os efeitos inibitórios da absorção de Zn, mantendo
esse elemento em solução devido à liberação de aminoácidos,
porém, proteínas específicas como a caseína tem efeito
inibitório (COMINETTI; COZZOLINO, 2009).
A biodisponibilidade de Zn em indivíduos saudáveis
pode ser influenciada por diversos fatores, incluindo a
quantidade ingerida, o estado nutricional e idade do indivíduo,
a concentração e a forma química presentes no alimento e
presença de inibidores e promotores de absorção
(COMINETTI; COZZOLINO, 2009).
592
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
O Zn alimentar não apresenta efeitos tóxicos e sua
ingestão acima dos limites estabelecidos é incomum. Em
casos de ingestão excessiva de suplementos, podem ocorrer
sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, febre e letargia
(KAUR et al., 2014).
A ingestão oral de Zn leva à sua absorção através do
intestino delgado e, em seguida, a sua liberação no sangue,
onde é distribuído em diferentes áreas do corpo e, finalmente,
excretado (COMINETTI; COZZOLINO, 2009).
Não obstante, os mecanismos de absorção e excreção
desse elemento obedecem a sistemas de autorregulação com
alta sensibilidade, o que faz com que os reajustes nos
estoques dependam da necessidade e da biodisponibilidade
do Zn no organismo. Dessa forma, é lícito supor que a
absorção deste oligoelemento depende dos estoques
corporais, sendo menor se houver quantidades razoáveis no
organismo e maior nas deficiências (COMINETTI;
COZZOLINO, 2009).
Em humanos, tanto reduções, quanto aumentos
extremos na ingestão de Zn são compensados num período
de 6 a 12 dias. Contudo, quando o suprimento desse
oligoelemento é muito baixo ou a quantidade consumida é a
mínima durante um longo período de tempo, os ajustes
homeostáticos podem não ser suficientes e causar um balanço
negativo do Zn (COMINETTI; COZZOLINO, 2009).
Mudanças na absorção e excreção do Zn pelo trato
gastrointestinal são os mecanismos primários para manter a
homeostase desse oligoelemento. Os eventos principais na
manutenção da homeostase do Zn no organismo são: (1)
absorção, (2) distribuição, (3) armazenamento e (4) excreção.
Em condições de ingestão adequada, cerca de 40% do Zn
alimentar é absorvido pelos enterócitos do intestino delgado. O
593
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
transportador ZIP4 é o principal responsável por transportar o
Zn da membrana apical para o citoplasma dos enterócitos
(WANG; ZHOU, 2010).
Fatores como doenças intestinais absortivas, como a
acrodermatite enteropática, além do consumo de fitato são
considerados os principais fatores que influenciam a absorção
do Zn pelo intestino. Após sua entrada pela membrana
plasmática, parte do Zn permanece no citoplasma. Após sua
entrada pela membrana plasmática, parte do Zn permanece
no citoplasma das células intestinais, sendo redistribuído pelos
compartimentos celulares por diferentes transportadores para
que desempenhe funções celulares típicas desse
oligoelemento (WANG; ZHOU, 2010).
Para que o Zn absorvido pelos enterócitos alcance a
circulação e seja distribuído aos demais órgãos do corpo, sua
saída ocorre pela membrana basolateral dos enterócitos,
sendo o realizado pelo transportador ZnT1, alcançando a
circulação sistêmica e sendo distribuído entre os diferentes
órgãos. No fígado, especificamente, os transportadores ZIP5 e
ZIP14 têm papel relevante na importação do Zn do meio
extracelular para o citoplasma dos hepatócitos (SUN et al.,
2014).
Após o influxo do Zn para o meio intracelular, ocorre
sua distribuição entre citoplasma, núcleo e membrana
plasmática para que desempenhe suas principais funções
(KAMBE; HASHIMOTO; FUJIMOTO, 2014). Sobretudo, os
transportadores ZIP7 e ZnT7 estão presentes nas organelas
do hepatócito, como o retículo endoplasmático e participam
desse processo (SUN et al., 2014).
Parte do Zn citoplasmático liga-se às Metalotioneínas.
Especificamente, as metalotioneínas parecem ser
“reservatórios” de Zn, pois a expressão de tais proteínas é
594
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
diretamente associada às alterações na concentração do Zn
intracelular (KLOUBERT; RINK, 2015). Os transportadores
ZnT1 e ZnT2 têm papel importante na redução da
concentração desse elemento no fígado, visto que o aumento
na quantidade de Zn aumenta a expressão de tais
transportadores, podendo resultar no efluxo do Zn dos
hepatócitos para a corrente sanguínea (KLOUBERT; RINK,
2015).
Por fim, a excreção do Zn também é mediada pela ação
dos transportadores e ocorre, principalmente, pelo intestino e
em pequena parte pela urina via células epiteliais tubulares
renais. O transportador ZIP5, presente na membrana
basolateral dos enterócitos, media a reentrada do Zn
circulante para citoplasma, já o transportador ZnT6, presente
na membrana apical dos enterócitos, é o responsável pela
excreção do Zn do citoplasma para o lúmen intestinal
(GEISER; DE LISLE; ANDREWS, 2013).
As perdas de Zn ocorrem por meio dos rins, da pele e
do intestino. As perdas endógenas intestinais podem variar de
0,5 a 3 mg/dia. As perdas renais de Zn se mantêm constante
em níveis variados de ingestão. Com a ingestão muito baixa,
em 2 a 3 dias, a excreção urinária de Zn também diminui.
Perdas adicionais de Zn ocorrem pelo suor, crescimento de
cabelos e unhas, menstruação e sêmen. Essas perdas variam
antes que ocorra a diminuição dos níveis séricos de Zn
(COMINETTI; COZZOLINO, 2009).

3.1 Aspectos Fisiológicos do Zn

A importância do Zn ao organismo é conhecida desde o


século XIX. Este oligoelemento é encontrado em mais de 300
enzimas necessárias em processos metabólicos essenciais,
595
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
desempenhando funções estruturais, enzimáticas e
reguladoras (PRASAD, 2014).
A versatilidade das características físico-químicas do Zn
constitui a base de sua extensa participação no metabolismo
de proteínas, ácidos nucléicos, carboidratos e lipídios, na
manutenção do crescimento e desenvolvimento normais, na
função do sistema imune, na defesa antioxidante
(DESHPANDE; JOSHI; GIRI, 2013; PRASAD, 2013).
Desempenha um papel na organização polimérica de
macromoléculas como DNA e RNA e é indispensável para
atividade de enzimas envolvidas diretamente com a síntese de
DNA e RNA, como por exemplo a RNA polimerase. Além
disso, influencia a divisão celular, por meio da atividade da
dioxitimidina quinase e adenosina (5') tetrafosfato (5')-adeno-
sina. Defeitos na síntese ou prejuízo da função do RNA
mensageiro parecem ser induzidos pela deficiência de Zn
(PRASAD, 2013).
O Zn também relaciona-se com as células do sistema
imune, incluindo atividade das células T-Helper,
desenvolvimento de linfócitos T-citotóxicos, hipersensibilidade
retardada, proliferação de linfócitos T, produção de
interleucina-2 e morte programada de células de origem
mielóide e linfóide (PRASAD, 2013).
Este oligoelemento também atua como cofator em
processos antioxidantes, antinflamatorios e antiapoptóticos
(CRUZ; OLIVEIRA; MARREIRO, 2015), além de ser
fundamental para a preservação da saúde e prevenção de
doenças crônicas (RUTTKAY-NEDECKY et al., 2013). Estudos
comprovaram que o Zn funciona como potente indutor de
metalotioneínas, que possui um efeito na redução do estresse
oxidativo (CRUZ; OLIVEIRA; MARREIRO, 2015;
NAZARIZADEH; ASRI-REZAEI, 2016).
596
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
Além disso, o Zn participa da estrutura da enzima
superóxido dismutase, que é a primeira linha de defesa contra
o estresse oxidativo, sendo também fundamental para a
função normal do sistema antioxidante endógeno, além de ser
um potente estabilizador das membranas celulares, de
proteínas estruturais e da sinalização celular (PRASAD, 2014).
Mamíferos têm três isoformas desta enzima, mas
apenas as isoformas (CuZnSOD) e (SOD extracelular)
precisam de Zn como um cofator para sua atividade
enzimática e para atuar, respectivamente, no espaço
intracelular e nos fluidos extracelulares (CRUZ; OLIVEIRA;
MARREIRO, 2015).
O Zn participa ainda na produção, armazenagem e
secreção de hormônios, bem como ativador de receptores e
resposta de órgãos. Os principais efeitos do Zn na produção e
secreção de hormônios estão relacionados com a
testosterona, insulina e corticóides da adrenal. A manutenção
de níveis adequados deste oligoelemento no organismo auxilia
os sentidos do paladar e olfato; aumenta a fertilidade; estimula
a cicatrização de feridas e irritações cutâneas, sendo útil para
acne e queimaduras; ajuda na proteção contra resfriados,
gripes, conjuntivite; promove a saúde dos cabelos e couro
cabeludo (PEDRAZA, 2011).
Existem no sistema nervoso central, neurônios que
apresentam vesículas sinápticas com elevadas concentrações
de Zn, sendo estes neurônios conhecidos como uma
subclasse de neurônios glutaminérgicos. Apesar do seu papel
no córtex cerebral ainda ser desconhecido, o fato do Zn estar
presente nos botões sinápticos, implica num papel vital neste
sistema. Além disso, este oligoelemento está envolvido com o
desenvolvimento cognitivo, sendo essencial na neurogênese,
migração neuronal e sinapses (PEDRAZA, 2011).
597
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
Grande parte do conhecimento das suas múltiplas
funções, sobretudo em humanos, está relacionada à
descoberta dos efeitos da deficiência desse elemento nos
organismos (PRASAD, 2014). Os efeitos desta deficiência nos
seres humanos foram inicialmente registrados por Halsted e
Prasad em 1961, quando homens iranianos foram
diagnosticados com alterações do crescimento,
hipogonadismo, supressão da resposta imunológica,
disfunções cognitivas e anormalidades cutâneas (PRASAD,
2014).
Apesar desses achados, ainda nos anos 90 do século
passado, a deficiência de Zn ainda era considerada por alguns
autores um problema negligenciado pelas principais agências
de saúde mundiais. Esse quadro só mudou em 2002, quando
a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que,
mundialmente, a deficiência de Zn estaria relacionada com
16% das infeções do trato respiratório inferior, 18% dos casos
de malária e 10% das doenças diarreicas, principalmente nos
países em desenvolvimento (PRASAD, 2013).
Atualmente, estima-se que a deficiência de Zn acometa
cerca de um terço da população mundial, podendo ser
considerada potencialmente um problema de saúde pública
em diversos países (WESSELLS; BROWN, 2012).
A deficiência acomete especialmente os países da Ásia
(Sul e Sudeste) e da África Subsaariana. Além disso,
síndromes de má absorção causadas por doenças diarreicas
endêmicas são comuns nessas regiões, também influenciando
na absorção e levando a deficiência desse oligoelemento. Por
outro lado, estima-se que na América de Sul e na Europa,
somente 10% da população esteja sob risco de consumo
inadequado do Zn (WESSELLS; BROWN, 2012).

598
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
A deficiência de Zn ocasiona primeiro uma mobilização
das reservas funcionais e, com a deficiência prolongada,
podem ocorrer, anorexia; retardo no crescimento e defeito no
crescimento fetal; cicatrização lenta; intolerância à glicose pela
diminuição de produção de insulina; hipogonadismo,
impotência sexual e atrofia testicular; atraso na maturação
sexual e esquelética; restrição da utilização de vitamina A;
fragilidade osmótica dos eritrócitos; diminuição da atividade da
interleucina-2; disfunções imunológicas, ocorrendo infecções
intercorrentes; hipogeusia; desordens de comportamento,
aprendizado e memória; diarréia, dermatite e alopecia
(PRASAD, 2013).
Existem várias causas da deficiência de Zn, incluindo
ingestão dietética insuficiente, consumo de fitatos e fibras que
diminuem a sua biodisponibilidade, má absorção, aumento da
excreção urinária (JUROWSKI et al., 2014) e doenças
específicas como a acrodermatite enteropática, doença renal
crônica e anemia falciforme (FERNANDO; ZHOU, 2015).
Por meio de uma alimentação equilibrada e variada, rica
em macro e micronutrientes, é possível suprir as
recomendações diárias de Zn, entretanto, em determinadas
situações a suplementação é indicada, devendo ser
monitorada, resultando em uma melhora na saúde e na
prevenção de diferentes doenças crônicas (PRASAD, 2013;
RUTTER et al., 2016).
A partir de 2002, como resultado da estimativa da OMS
quanto à importância desse oligoelemento a nível mundial,
dietas de readequação de consumo, suplementação e
fortificação de alimentos foram amplamente aplicados para
reduzir os efeitos da deficiência. Em relação a suplementação,
diversos sais de Zn podem ser utilizados, com variação em
relação a dose e frequência (PRASAD, 2013).
599
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
Dentre os compostos de Zn, destacam-se o Sulfato
(ZnSO4), o Gluconato (C12H22O14Zn), o Acetato
(C4H6O4Zn.2H2O), o Cloreto (ZnCl2) e o Óxido (ZnO), muito
abundantes na litosfera. A escolha do composto deve
considerar fatores como solubilidade na água e intragástrica,
sabor, custo, efeitos colaterais, segurança e
biodisponibilidade, que é determinada pelo status de Zn no
organismo, pelo teor total de Zn na dieta e pela solubilidade
dos compostos de Zn usados na suplementação, que varia de
acordo com a fórmula química (ROOHANI et al., 2013).
A circulação representa a menor parte do total de Zn no
organismo, e o turnover plasmático é o mais elevado. Os
parâmetros mais utilizados para avaliação do estado
nutricional relativo ao Zn e, consequentemente, detecção de
sua deficiência, são as medidas desse elemento no plasma,
em componentes celulares do sangue (eritrócitos, monócitos,
plaquetas, neutrófilos), no cabelo (a atividade de enzimas
dependentes de Zn), bem como na excreção urinária
(HAMBIDGE et al., 2010).
Normalmente, utiliza-se mais de um biomarcador
devido às baixas concentrações nos tecidos, e ao efetivo
mecanismo homeostático para manutenção das
concentrações plasmáticas e teciduais. Outros autores
sugerem uma associação com outros indicadores, como
ingestão alimentar e enzimas dependentes de Zn (HAMBIDGE
et al., 2010).

600
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
Tabela 1. Valores normais de Zn no organismo.

Compartimento Concentração normal de Zm


Plasma 70 µg/dL
Eritrócitos 42,2 ± 5,6 µg/g hemoglobina
Urina 300 – 600 µg/dia
Fonte: HAMBIDGE et al., 2010.

4 CONCLUSÕES

Os diferentes estudos pesquisados sobre o assunto


demonstrou a essencialidade do Zn, considerando-o
indispensável para o bom funcionamento do organismo
humano, por estar presente em todos os tecidos e órgãos,
além de participar de processos biológicos essenciais.
Em relação à quantidade, os estudos apontam que é
fundamental manter níveis adequados deste oligoelemento,
pois existem implicações quando ingeridos em excesso ou em
quantidades insuficientes, sendo necessário que exista um
completo equilíbrio no metabolismo do Zn.
Dentre as principais funções do zinco, destacam-se sua
participação na síntese e degradação dos carboidratos,
lipídeos e proteínas, na manutenção do crescimento e
desenvolvimento normais, na atividade de enzimas envolvidas
diretamente com a síntese de DNA e RNA, na função do
sistema imune, na defesa antioxidante, na produção e
secreção de hormônios e ainda desempenha um papel no
desenvolvimento cognitivo.
Tendo em vista a essencialidade do Zn na saúde humana,
é importante a manutenção de níveis adequados deste
oligoelemento em todos os ciclos da vida, através de uma
alimentação saudável e adequada e, em casos especiais
601
ASPECTOS METABÓLICOS E FISIOLÓGICOS DO ZINCO
através da suplementação, para que seus benefícios sejam
obtidos.
Assim, é de suma importância ampliar os conhecimentos a
respeito do Zn, ressaltando-se a importância da realização de
mais pesquisas sobre este oligoelemento, pois é provável que
o Zn tenha uma participação ainda mais ampla na saúde
humana, estando sua importância subestimada.

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604
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

CAPÍTULO 30

AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE


DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

Hiarla Correia WANDERLEY¹


Eudiane dos Santos SILVA¹
Mayana Kelly Tavares de SOUZA²
1
Graduadas em Nutrição, FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU/CG; 2
Orientadora/Professora da FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU/CG.
hiarla@hotmail.com

RESUMO: O diabetes consiste em uma série de complicações


que alteram o metabolismo dos carboidratos e outras
substâncias acarretando a hiperglicemia. A terapia nutricional
enteral para estes pacientes, atua como uma opção para que
suas necessidades nutricionais e um melhor controle glicêmico
sejam atingidos. No estudo realizado no ano de 2016, foram
analisados os rótulos de cinco dietas enterais industrializadas
de diferentes marcas, com o objetivo de verificar a
composição, o teor lipídico e comparar os valores expostos
nos rótulos com as recomendações das diretrizes da
Sociedade Brasileira de Diabetes, American Diabetes
Association e da European Association for the Study of
Diabetes. Diante dos dados analisados, a marca 4 foi a que
apresentou um maior teor de lipídeos (50%) e a marca 2 uma
menor concentração (25%). Em relação ao tipo de gordura,
observou-se que os óleos vegetais do tipo canola, milho e
girassol estão presentes nas composições de todas as dietas
enterais, sendo que, a marca 2 apresentou uma maior
quantidade de óleo de canola (96%). Uma dieta enteral para
605
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

ser considerada adequada para o paciente diabético deve


apresentar teores e concentrações lipídicas aceitáveis pelas
recomendações. Porém, é importante não restringir-se
apenas a composição química das dietas enterias, mais
também, a qualidade e segurança nutricional dos óleos
vegetais que fazem parte da composição nutricional destas
dietas.
Palavras-chave: diabetes, lipídeos, diretrizes, terapia
nutricional.

1 INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus (DM) é considerado um problema


de saúde mundial por associar-se a graves complicações
crônicas que, além de sobrecarregar os sistemas de saúde,
dificultam a qualidade e a expectativa de vida dos portadores
(SILVA e MURA, 2010). Segundo as diretrizes da Sociedade
Brasileira de Diabetes-SBD (2016), atualmente estima-se que
a população mundial com essa patologia corresponde a mais
de trezentos milhões, onde só no Brasil existem mais de dez
milhões de pessoas diabéticas.
O DM resulta de uma série de complicações genéticas,
metabólicas e adquiridas, que geram desordens no
metabolismo dos carboidratos e profundas anormalidades no
metabolismo da gordura, da proteína e de outras substâncias
(SHILLS, et al., 2009). De origem multifatorial, caracteriza-se
por elevadas concentrações sanguíneas de glicose,
resultantes da falta de insulina e/ou incapacidade da insulina
exercer adequadamente os seus efeitos fisiológicos,
acarretando a hiperglicemia crônica tanto no jejum quanto no
período pós-prandial. Normalmente é acompanhada de

606
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

dislipidemia, hipertensão arterial e disfunção endotelial (SBD,


2016).
A terapia nutricional é parte fundamental do plano
terapêutico do portador pois ajuda o paciente a ter um melhor
controle metabólico, reduzindo a necessidade de
hipoglicemiantes, promovendo o emagrecimento nos
pacientes obesos, diminuindo os riscos de doenças
cardiovasculares e melhorando a qualidade de vida, podendo
reduzir a hemoglobina glicada entre 1 e 2% (BRASIL, 2006). A
alimentação adequada requer uma abordagem individualizada
e a educação nutricional para um autocontrole efetivo
(MAHAN et al., 2012).
A SBD (2016) orienta a adoção de um plano alimentar
saudável, preconizando uma alimentação com limitada
ingestão de ácido graxo saturado, trans e colesterol; com
baixa carga glicêmica e enfatizando o consumo de legumes,
vegetais, frutas e alimentos integrais que tem impacto
significante no controle e prevenção do diabetes.
Quanto à terapia nutricional enteral, as dietas
industrializadas para diabéticos surgem como alternativa para
controle glicêmico e podem ser administradas por via oral ou
enteral. Tem como objetivo manter e/ou recuperar o estado
nutricional de pacientes que apresentam o trato
gastrointestinal (TGI) íntegro, porém com a ingestão oral total
ou parcialmente comprometida (CAMPANELLA et al., 2008;
BRASIL, 2000). As dietas enterais devem apresentar em sua
composição uma quantidade e qualidade nutricional de
lipídeos adequados para evitar maiores complicações no
estado patológico do paciente crônico, estabelecendo também
uma maior harmonia entre os carboidratos e proteínas,

607
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

suprindo as necessidades nutricionais dos pacientes (DIENER


et al., 2001).
A American Diabetes Association-ADA (2016) orienta
que os lipídeos presentes nas formulações enterais para
diabéticos devem ser preferencialmente ácidos graxos
monoinsaturados, isto porque estes atuam melhorando o
controle glicêmico. Os ácidos graxos poli-insaturados ômega 3
são também benéficos pois reduzem as concentrações de
triglicerídeos, embora o seu excesso possa aumentar o LDL-
colesterol (MAHAN et al., 2012).
Em relação aos ácidos graxos saturados, trans e o
colesterol, a SBD (2016) recomenda limitar a ingestão dessas
gorduras, isto porque altas ingestões destes tipos de lipídeos
estão positivamente associadas a marcadores inflamatórios e
inversamente à sensibilidade a insulina. Estes tipos de
gorduras também estão relacionados com o aumento do risco
cardiovascular nos diabéticos.
Uma dieta com alto teor lipídico pode influenciar no
estado patológico do paciente acarretando a dislipidemia, que
é caracterizada pela produção desregulada de colesterol no
organismo dos seres humanos e que pode ocasionar sérios
problemas, como obstrução das paredes dos vasos
sanguíneos, denominada aterosclerose. Além disso, lipídeo
em excesso constitui fator de risco para doenças
cardiovasculares (DCV), deixando o paciente mais susceptível
à infarto, enquanto que dietas com teores de lipídeo
adequadas influenciam positivamente o estado clínico do
paciente diabético (NELSON e COX, 2006).
De acordo com o exposto, o objetivo do trabalho foi
analisar o perfil e a quantidade de lipídeos descritos em

608
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

rótulos nutricionais de dietas enterais industrializadas,


destinadas a pacientes diabéticos e comparar os valores
expostos nos rótulos com as recomendações das principais
diretrizes e sociedades.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo observacional e descritivo,


caracterizado pela avaliação dos valores de lipídeos
declarados obrigatoriamente nos rótulos das embalagens de
cinco dietas enterais industrializadas, escolhidas
aleatoriamente, para serem analisadas no estudo.
Os critérios de inclusão foram dietas do tipo
normocalórica (1cal/ml) quanto a densidade calórica, de
consistência líquida, com indicação para pacientes diabéticos
e que apresentaram na informação nutricional as quantidades
e os teores de lipídeos. Foram excluídas do estudo as dietas
enterais em pó e que apresentavam mais de 1cal/ml de
densidade calórica.
Para avaliação dos dados declarados nos rótulos das
amostras foram utilizadas as diretrizes da Sociedade Brasileira
de Diabetes (SBD), American Diabetes Association (ADA) e a
European Association for the Study of Diabetes (EASD), onde
foram realizadas verificações das recomendações em relação
a quantidade de lipídeo que essas diretrizes e sociedades
recomendam para o consumo diário de gordura total na dieta
do diabético e comparar os valores com a quantidade de
lipídeos que essas dietas enterais oferecem aos pacientes,
julgando se as mesmas estavam dentro dos parâmetros das
recomendações ou não.

609
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

Os autores declaram não existir conflitos de interesses.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 5 (cinco) rótulos de dietas enterais,


industrializadas, de diferentes marcas, destinadas a pacientes
diabéticos, avaliadas separadamente, de acordo com o teor e
a composição lipídica demonstradas na informação nutricional
contidas nos rótulos. Não houve permissão nesse estudo para
a divulgação das marcas analisadas, por este motivo as dietas
foram descritas como código de acordo com as exigências
éticas de pesquisas científicas.
A tab. (1) descreve o teor lipídico em 1000ml presentes
nas dietas enterais examinadas.

Tabela 1. Percentual do teor lipídico das dietas enterais em


1000ml.
PRODUTO TEOR LIPÍDICO (%)
Marca 1 38%
Marca 2 49%

Marca 3 25%

Marca 4 50%

Marca 5 39%

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

De acordo com os dados expostos na tab. (1), a marca


4 apresenta uma maior concentração de lipídeos (50% em
1000ml) contido na dieta. As marcas 1, 2 e 5 apresentam,
respectivamente, valores correspondentes a 38%, 48% e 39%.

610
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

A marca 3 contém a menor quantidade (25% em 1000ml) do


macronutriente analisado em questão.
A nutrição enteral (NE) é um composto balanceado de
nutrientes com carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas e
minerais. É indicado para pacientes criticamente enfermos,
com graves distúrbios do aparelho digestivo e com
necessidades especificas de nutrientes (CUNHA et al., 2011).
A dieta enteral deve apresentar uma composição adequada de
macro e micronutrientes para que os objetivos terapêuticos
sejam alcançados. (DIENER et al., 2001).
Os lipídios presentes nas dietas enterais são
importantes, pois desempenham funções essenciais que vão
desde a reserva de energia, à formação, manutenção e a
função da membrana celular com capacidade de modificar
respostas imunológicas (SILVA e MURA, 2010).
Frequentemente as recomendações desse macronutriente são
estudadas e estabelecidas por sociedades e diretrizes como a
ADA, SBD e a EASD, que preconizam limites aceitáveis para o
consumo dos nutrientes, bem como a terapia nutricional e
medicamentosa mais indicada para o paciente diabético.
Segundo a ADA (2016) e a SBD (2016), a distribuição
de lipídeos aceitável para os pacientes adultos é de 20-35%,
sem um nível tolerável de consumo definido, pois ela enfatiza
o tipo de lipídeo como elemento mais importante na dieta do
que a quantidade estabelecida. Quando se leva em
consideração as metas metabólicas e risco de DCV, a ADA
ainda recomenda que pessoas diabéticas devem ser
aconselhadas a seguir as diretrizes de recomendações de
gorduras como a da população em geral, com uma dieta
adequada em lipídeos e carboidratos para diminuir os riscos

611
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

de DCV. Já a EASD (2004), estabelece uma média de 30-35%


de distribuição de lipídeos para o paciente diabético.
Diante dos dados expostos na tab. (1), a marca 4
apresenta o percentual de lipídeo mais elevado (50%) de
todas as dietas, ultrapassando todas as recomendações
estabelecidas pela ADA, SBD e EASD, seguida da marca 2
que também apresenta um percentual (49%) acima de todas
as recomendações estabelecidas. A marca 1 ultrapassa 3%
das recomendações estabelecidas pela EASD e a marca 5
ultrapassa 4% da mesma recomendação. Somente a marca 3
apresenta um teor lipídico (25%) que está dentro das
recomendações estabelecidas pela ADA e SBD, porém está
abaixo das recomendações estabelecidas pela EASD.
O excesso de lipídeos, observados em algumas dietas
enterais analisadas, pode acarretar na modificação do
metabolismo do tecido adiposo e levar ao desenvolvimento de
obesidade (KENNEDY et al., 2009). Tal patologia representa
um fator importante para a resistência à insulina através do
aumento de ácidos graxos circulantes, secreção de citocinas e
interleucina-6 pelo tecido adiposo e diminuição da
adiponectina. Altas concentrações de gordura nos outros
tecidos reduzem a capacidade do fígado e músculos de
realizar o processo metabólico da glicose e resulta em uma
maior infiltração de gorduras no tecido hepático, as quais
estão associadas com a resistência à insulina (SBD, 2016).
Teores elevados desse macronutriente provocam uma
deposição ectópica em tecidos não adiposos, aumentando
consequentemente os estoques de lipídeos no fígado,
coração, endotélio, sistema nervoso, pâncreas e músculo
esquelético, prejudicando a função normal desses órgãos

612
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

(TRAUNER et al., 2010; VAN HERPEN e SCHRAUWEN-


HINDERLING, 2008). As consequências desse excesso de
depósitos de lipídeos podem acarretar o acúmulo de
metabólicos tóxicos no meio intracelular, gerando um quadro
de lipotoxicidade ou lipoapotose (RIAL et al., 2010; UNGER,
2002).
Quando as concentrações teciduais de ácidos graxos
continuam constantes, esses ácidos desempenham uma ação
diretamente sobre a sinalização muscular e hepática da
insulina, reduzindo ainda mais a resposta desse hormônio em
pacientes diabéticos tipo II e diminuindo a captação de glicose
pelo musculo esquelético, aumentando o processo de
gliconeogênese e o fornecimento de glicose do fígado para a
circulação. Este processo acarreta ao paciente diabético
sérios danos, como aumento da concentração sanguínea de
glicose circulante, podendo gerar um quadro de hiperglicemia
(CUSI, 2009).
Entretanto, dietas com teores reduzidos de lipídeos,
também tornam-se prejudiciais para o paciente diabético, visto
que, a deficiência deste nutriente pode prejudicar a digestão,
absorção e transporte das vitaminas lipossolúveis que
necessitam da gordura dietética para serem metabolizadas,
como também os fitoquímicos, os carotenóides e licopenos.
Uma dieta hipolipídica geraria também alterações no cérebro e
na produção dos neurônios, tendo em vista que os lipídeos
desempenham funções fundamentais no desenvolvimento
cerebral, pois a gordura é necessária para a mielinização e
para o crescimento dos neurônios e desenvolvimento da retina
(FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2016).

613
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

As composições lipídicas das cinco dietas analisadas


variam entre os óleos vegetais de girassol, canola e milho,
sendo que a marca 4 possui uma maior concentração de óleo
de girassol (85%), a marca 3, óleo de canola (79%) e a marca
5 a única que possui óleo de milho em sua composição (5%).

Tabela 2. Composição lipídica das dietas enterais descritas


nos rótulos nutricionais.
PRODUTO COMPOSIÇÃO LIPIDICA FRAÇÕES LIPÍDICAS EM
100ml
Marca 1 Óleo de Canola – 18% Gordura Saturada – 0,5g
Óleo de Girassol de alto teor Gordura Monoinsaturada –
Oleico – 82% 2,9g
Gordura Poli-insaturada –
0,8g

Marca 2 Óleo de Canola – 96%


Lecitina de Soja – 4%
Marca 3 Óleo de Canola – 79% Gordura Saturada – 3,5%
Óleo de Girassol – 12% Gordura Monoinsaturada –
TCM – 9% 13%
Gordura Poli-insaturada –
9,8%

Marca 4 Óleo de Canola – 10% Gordura Saturada – 4,6g/l


Óleo de Girassol de alto teor Gordura Monoinsaturada –
oléico – 85% 41,3g/l
Lecitina – 5% Gordura Poli-insaturada –
6,7g/l

614
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS
Marca 5 Óleo de Canola – 40% Gordura Saturada – 3%
Óleo de Girassol de alto teor Gordura Monoinsaturada –
Oleico – 55% 26%
Óleo de Milho – 5% Gordura Poliinsaturada – 10%

Fonte: Dados da pesquisa (2016).

Os óleos vegetais são gorduras formadas por


triglicerídeos e simbolizam um dos mais importantes produtos
extraídos de plantas, onde aproximadamente 2/3 são usados
no setor alimentício, constituindo-se integrantes das dietas
humanas. O óleo de girassol é considerado um produto nobre
pelas suas qualidades nutricionais possuindo em sua
composição um alto teor de ácido linoleico e vitamina E.
Apresenta ainda, grandes quantidades de ácidos poli-
insaturados (65,3%) e valores de monoinsaturados e ácidos
graxos saturados correspondentes a 23,1% e 11,6%
respectivamente. O consumo de óleo de girassol favorece a
diminuição do colesterol total, contribuindo para a prevenção
de DCV e placa aterosclerótica (OLIVEIRA e VIEIRA, 2004).
Entre as dietas enterais analisadas, a marca 4 foi a que
apresentou em sua composição, uma maior quantidade de
óleo de girassol, chegando a 85% deste lipídeo em sua
formulação.
No óleo de milho, o ácido graxo encontrado em maior
quantidade é o ácido linoleico, fazendo com que a utilização
deste óleo vegetal traga benefícios, implicando na redução do
colesterol total e auxiliando na manutenção da pressão arterial
(RODRIGUES, 2003; REGINA e SOLFERINI, 2014). Sua
formulação química ainda apresenta 13% de ácidos graxos

615
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

saturados, 58% poli-insaturados, 29% de monoinsaturados e


não possui colesterol em sua composição (EMBRAPA, 2004).
Possuem níveis de ácidos graxos essenciais favoráveis a
saúde e é considerado um óleo de alta qualidade e de alto
valor nutricional. Sua extração é feita através da fibra do milho,
sendo uma fonte de fitosteróis, fitostanóis, ferulato éster de
sitostanol e campesterol. (FOOD INGREDIENTS BRASIL,
2014). A dieta enteral da marca 5 foi a única dieta analisada
que utilizou o óleo de milho em sua composição, porém, sua
quantidade é baixa, chegando a 5% deste lipídeo total na
formulação.
O óleo de canola, comparado aos demais, apresenta o
menor teor de ácidos graxos saturados (7%), possui alto teor
de monoinsaturados (61%) e 32% de poli-insaturados, com
11% de ácido alfa-linoléico (FOOD INGREDIENTS BRASIL,
2014). Além disso, este óleo possui uma baixa quantidade de
ácido palmítico (4%), que é considerado um ácido que
aumenta os níveis de colesterol no sangue (FOOD
INGREDIENTS BRASIL, 2012). Todas as dietas analisadas
apresentaram em sua composição o óleo de canola, algumas
em maior quantidade como nas marcas 2 (96%), 3 (79%) e 5
(40%). Já as marcas 1 (18%) e 4 (10%) foram as que tiveram
o menor percentual deste óleo em sua composição.
A canola é o óleo vegetal menos recomendado para o
consumo, devido a vários motivos e entre esses, ao fato de
que a canola utilizada para a produção do óleo não existir. A
canola é o resultado do melhoramento genético das espécies
de plantas Brassica napus e Brassica campestres. Essa
modificação a nível industrial teve como objetivo diminuir o
teor de ácido erúcico e glucosinolatos presentes na colza, que

616
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

é a planta de origem do óleo vegetal (CHAVARRIA et al.,


2011). A colza é uma semente oleaginosa cultivada por uma
antiga civilização na Índia há cerca de 3.000 anos atrás e que
durante a Segunda Guerra Mundial foi largamente utilizada em
máquinas a vapor, tanto para barcos mercantes como para a
marinha de guerra (DAFF, 2010; FOOD INGREDIENTS
BRASIL, 2012).
O óleo de colza, em sua forma natural, apresenta
grandes quantidades de substâncias tóxicas, como ácido
erúcico. Este ácido é caracterizado pelo sabor amargo e
desagradável e é conhecido por causar distúrbios metabólicos
em animais e humanos. A venda de óleo de colza na forma
natural é ilegal, pois esse tipo de óleo apresenta riscos à
saúde humana (BRUCE, 2012). Esta planta, também
conhecida como mostarda, já era cultivada no Canadá desde
1936 e através dela foi desenvolvida pela primeira vez o óleo
de canola no mesmo país. Por este motivo recebeu este
nome, que vem de CANadian Oil, Low Acid, termo utilizado
para uma comercialização mais amigável que a original (low
erucic acid rapeseed oil), que quer dizer óleo de colza com
baixo teor de ácido erúcico, modificado devido a associações
negativas feitas por muitos países da América do Norte
(DAFF, 2010; FOOD INGREDIENTS BRASIL, 2012).
Em relação aos malefícios que esse tipo de óleo vegetal
oferece, Naito et al., (2000), demonstraram que ratos de
laboratórios que apresentavam como patologias a hipertensão
e DM e que consumiram o óleo de canola, todos os dias em
sua alimentação, apresentaram como sinais clínicos um
aumento da pressão sanguínea, lesões renais, resistência à
insulina e um risco aumentado de desenvolvimento de

617
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

acidente vascular encefálico. Os autores ainda concluíram que


essas alterações que os animais de laboratórios adquiriram
durante o consumo da dieta com o óleo de canola, poderá não
ter sido apenas pelo teor de ácidos tóxicos contido no óleo
vegetal, como também, por outras substâncias não
identificadas que o óleo teria em sua composição, já que o
mesmo é um produto geneticamente modificado.
Com a mesma linha de estudo, Costa et al., (2011)
analisaram ratos de laboratórios que consumiam em suas
dietas o óleo de canola. No estudo, observaram que esses
ratos desenvolveram resistência à insulina e que as
concentrações de glicose sanguíneas estavam muito
elevadas. Os autores ainda concluíram que, uma dieta com
19% de óleo de canola diário já é capaz de promover a
resistência à insulina e, consequentemente, o diabetes tipo II.
Outro fator importante a ser ressaltado a cerca dos
danos acarretados por este óleo, está no seu alto potencial de
estriamento das células sanguíneas, resultando na redução da
flexibilidade que impede o seu desdobramento e compressão
nos pequenos capilares sanguíneos, gerando problemas na
circulação e hipertensão arterial (RATNAYAKE et al., 2000).
Os esteróis presentes no óleo são absorvidos pelas
células sanguíneas e tornam as suas membranas mais
rígidas, diminuindo a permeabilidade e consequentemente a
capacidade de absorver nutrientes e expulsar resíduos,
comprometendo assim a sua função (RATNAYAKE et al.,
2000).

618
AVALIAÇÃO DO TEOR LIPÍDICO DE DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS
PARA DIABÉTICOS

4 CONCLUSÕES

Uma dieta enteral para ser considerada adequada para


os pacientes diabéticos devem apresentar não apenas teores
adequados de carboidratos, como também de lipídeos em sua
composição, a fim de evitar complicações futuras, devido ao
fato de que, tanto a carência quanto o excesso deste
macronutriente torna-se prejudicial ao estado clinico do
diabético.
Em se tratando do tipo de óleo presentes nessas
dietas, foram observados que a grande maioria era composta
por óleo de canola e girassol. Esses óleos possuem em sua
composição grandes quantidades de gorduras
monoinsaturadas, que é o tipo de gordura mais recomendada
para consumo. Porém, é importante ressaltar que não deve
ser analisada apenas a composição química dos óleos, mas
também, a origem, a forma de processamento, os efeitos
adversos que os mesmos podem acarretar no estado
nutricional e clinico do paciente em questão e o nível de
segurança que estes óleos vegetais apresentam para
consumo da população.

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622
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
CAPÍTULO 31

ADEQUAÇÃO DA INGESTÃO PROTEICA E


CALÓRICA DE PACIENTES CRÍTICOS
UTILIZANDO TERAPIA NUTRICIONAL
ENTERAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Fernanda Augusta de Andrade MEDEIROS1
Catarina Fernandes de MEDEIROS1
Olívia Regina Souza de ANDRADE2
Ana Paula de Mendonça FALCONE3
1
Graduandasdo curso de Nutrição, UFCG; 2Graduanda do curso de Fisioterapia, FIP;
3
Orientadora/Professora da UAS/UFCG.
fernandaaugusta10@gmail.com.br

RESUMO: O paciente crítico é aquele que se encontra em


risco iminente de perder a vida ou função de órgão/sistema,
desenvolvendo resposta inflamatória aguda e
consequentemente alterações metabólicas. Tendo em vista o
risco nutricional do paciente em Unidade de Terapia Intensiva,
é fundamental o estabelecimento de uma oferta nutricional
adequada, controlando a desnutrição e suas consequências.
Esse trabalho objetivou verificar o perfil de adequação da
oferta proteico-calóricaem pacientes críticos em Terapia
Nutricional Enteral (TNE), encontrados na literatura. Utilizou-se
a revisão integrativa de literaturacomo ferramenta
metodológica, sendo incluídos artigos publicados no período
de 2009 a 2017, contabilizado-seuma quantidade de 691
pacientes em TNE, e calculou-se um percentual de adequação
na ingestão proteico-calórica, sendo de 69,5% na ingestão
calórica e 61%na proteica. Os principais fatores que
influenciaram na ingestão inadequada foram: jejum prolongado
para procedimentos de causa externa e as complicações
gastrintestinais como principal causa interna. Dessa forma,

623
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
conclui-se que a adequação da ingestão vem se mostrado
mais próxima às recomendações, porém, ainda continua alta a
quantidade de pacientes que recebem um aporte nutricional
inadequado, principalmente proteico. Para auxilio adequado
da ingestão seria necessário um acompanhamento
individualizado, de acordo com as diretrizes, o
monitoramentoda oferta e da ingestão proteico-calorica e
intervir perante interrupções na TNE.
Palavras-chave: Nutrição Enteral. Recomendações
Nutricionais. Estado crítico

1 INTRODUÇÃO

O paciente grave ou crítico é aquele que se encontra


em risco iminente de perder a vida ou função de órgão/sistema
do corpo humano, bem como aquele em frágil condição clínica
decorrente de trauma ou outras condições relacionadas a
processos que requeiram cuidado imediato clínico, cirúrgico,
gineco-obstétrico ou em saúde mental (ANVISA, 2011). Esses
desenvolvem resposta inflamatória intensa em resposta à fase
aguda da doença, catabolismo, mobilização de proteínas,
sobrecarga fluida e intolerância à glicose e previsão de
necessitar do suporte para a função orgânica por pelo menos
três dias, além disso, apresentam maior risco de desnutrição
(OLIVEIRA, 2011; SANT’ANA et al., 2012).
A terapia Nutricional (TN) é vista como mais uma
ferramenta terapêutica dentro da gama de cuidados
intensivos. Há mais de 40 anos a TN revolucionou o
tratamento e o prognóstico de várias doenças clínicas e
cirúrgicas em doentes crônicos, agudos e críticos. Há vários
anos existe a preocupação em aumentar a sua eficiência
visando à redução de complicações associadas à Nutrição

624
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Enteral (NE) e/ou parenteral, além de garantir um adequado
suporte nutricional (WAITZBERG, 2010).
Tendo em vista o risco nutricional do paciente em
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é fundamental que haja o
estabelecimento de uma oferta nutricional adequada para o
controle da desnutrição e suas consequências (HOLANDA;
MOREIRA, 2017). Pois, a subnutrição está associada a
alterações do sistema imunológico, maior risco de infecção,
maior tempo de permanência hospitalar e aumento da
morbidade e mortalidade (OLIVEIRA; BITTENCOURT, 2016).
Quando as necessidades nutricionais do indivíduo não
são supridas, o organismo utiliza reservas energéticas, como
tecido muscular, aumentando o risco de desnutrição, já o
excesso de aporte de nutrientes pode sobrecarregar órgãos e
sistemas, tornando-se prejudicial ao organismo, para isso,
existem as Diretrizes Brasileiras em Terapia Nutricional
(DITEN) a fim de padronizar os procedimentos e
recomendações em Terapia Nutricional (TN), que devem ser
adotados em todo o Brasil. (AMIB, 2011).
Diretrizes nacionais e internacionais preconizam
precocidade na introdução da Terapia Nutricional Enteral, para
que haja o alcance das necessidades calóricas do paciente
entre o sétimo e décimo dia de internação (MCCLAVE et al.,
2016), podendo reduzir consideravelmente a incidência de
infecções e o tempo de permanência hospitalar (SANTANA,
2016).
Tendo em vista a relevância destes fatores, esse estudo
objetivou verificar na literatura, o perfil de adequação de
nutrientes e calorias ofertados à pacientes em estado crítico.
Contribuindo, dessa forma, para um diagnóstico situacional de
diferentes estudos, enfocando a importância da adequação na

625
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
ingestão nutricional relacionada à recuperação do estado
crítico do paciente.

2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 TIPO DE PESQUISA

O presente estudo utiliza a pesquisa bibliográfica como


ferramenta metodológica.
Inicialmente foi realizada uma revisão literária
integrativa, de caráter descritivo e análise qualitativa, a fim de
abarcar estudos relevantes relacionados ao tema.
Posteriormente, foi feita uma análise quantitativa, a fim de
contabilizar a quantidade de pacientes estudados nos artigos,
proporcionando, dessa forma, maior conhecimento sobre o
diagnóstico da atual situação na ingestão de calorias e
proteínas em pacientes críticos, por meio da Terapia
Nutricional Enteral.

2.2 LOCAL DA PESQUISA

Foram levantados e compilados dados de artigos


científicos indexados nas seguintes bases de dados: Periódico
Capes, PubMed, Lilacs, Sciello, Medline, Bireme e Google
Acadêmico. Também foram selecionados livros de acervos
particulares e/ou encontrados na biblioteca da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG).

626
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
2.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Durante a realização da pesquisa, foram estabelecidos


critérios de inclusão e exclusão para seleção e análise dos
estudos, visando à organização e sistematização do estudo.
Dentre os critérios de inclusão estão: inicialmente teria
sido estipulado um período de 2012 a 2017 para a publicação
dos estudosincluidos, porém devido aos conceitos
relacionados à Terapia Nutricional Enteral e a relevância de
trabalhos publicados nessa área, estendeu-se para estudos
publicados entre os períodos de 2009 a 2017, encontrados a
partir dos descritores cruzados na língua portuguesa, inglesa e
espanhola, compilados aos descritores, artigos originais e de
revisão, on-line na íntegra, além de dissertações, teses e
monografias, contendo a temática estudada, independente da
faixa etária ou sexo do paciente crítico em Terapia Nutricional
Enteral exclusiva, iniciada precocemente (entre 24 a 48hs),
por período de tempo maior que 72 horas, tanto por meio da
via de administração nasogástrica ou nasoentérica, quanto
com por ostomias.
Os critérios de exclusão foram todos os demais tipos de
publicação (editoriais, comentários, reflexão, e relato de
experiência), artigos que não apresentavam algum dos
descritores, além de trabalhos realizados fora do período
estabelecido por esse estudo e artigos que abordavam
pacientes críticos em Nutrição Parenteral, e os demais
estudos que não se enquadravam nos critérios de inclusão.

2.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS


A busca e a coleta dos dados foram realizadas no
período de Fevereiro a Julho de 2017 e a análise de dados e

627
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
discussão dos resultados ocorreu nos meses de Maio a
Setembro do mesmo ano.
Inicialmente foi realizada uma consulta nos Descritores
em Ciência da Saúde (DeCS), para localizar estudos que
tivessem os seguintes descritores de pesquisa: 1) NUTRIÇÃO
ENTERAL; 2) ESTADO CRÍTICO; 3) INGESTÃO
ALIMENTAR; 3)DESNUTRIÇÃO; 4)RECOMENDAÇÕES
NUTRICIONAIS, utilizados de forma isolados ou associados.
Os dados foram obtidos a partir do acesso a cada um
dos artigos e, simultaneamente, foi elaborado, como um
instrumento de coleta, dois quadros comparativos, o primeiro
com os respectivos campos: título do trabalho, ano de
publicação, objetivos, metodologia, resultados e conclusões,
de todos os trabalhos com a finalidade de comparar e
discorrer os resultados.
O segundo quadro, foi montado de forma mais
específica, utilizando apenas artigos originais que fizeram
parte da contagem de pacientes em Terapia Nutricional
Enteral, para que fosse delineado o perfil de adequação da
ingestão na literatura, constando dados como: título do
trabalho, quantidade de pacientes estudados, quantidade de
pacientes que receberam ingestão adequada e inadequada,
de caloria e proteínas. Logo após, foi calculado o percentual
de adequação e de inadequação da ingestão calórica e
proteica.
Para a análise das metas nutricionais energéticas foram
calculadas em média de 25 calorias por quilo de peso ideal por
dia e para o aporte proteico de 1,5 a 2,0 gramas de proteínas
por quilo de peso ideal por dia estando de acordo com o Guia
de Terapia Nutricional em Terapia Intensiva conforme

628
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
preconizado pela American Society for Parenteral and Enteral
Nutrition(ASPEN).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 107 artigos por meio dos


descritores anteriormente citados e foram avaliados através da
leitura de todos os títulos e resumos, desses, 26 artigos que
respeitaram os critérios de inclusão e ficaram selecionados,
desses 11 correspondem a artigos originais utilizados para a
contagem de pacientes (691),e foram excluídos83 por não
atenderam a todos os critérios previamente propostos. Em
seguida foi realizada uma análise detalhada dos artigos
selecionados para a construção do quadro comparativo.
Na análise dos artigos selecionados, foi ponderada a
quantidade dos pacientes em cada estudo e a adequação da
ingestão proteica e calórica dos mesmos, correspondendo,
dessa maneira, a 691 pacientes, em uso exclusivo da Terapia
Nutricional Enteral precoce, por período de tempo maior que
72 horas, tanto por meio da via de administração nasogástrica
ou nasoentérica, quanto com por ostomias e, todos os estudos
utilizaram o método de infusão contínua. Além disso, os
artigos utilizados para a contagem de paciente usaram as
recomendações da ASPEN para estimar a necessidades dos
pacientes.
A Figura a seguir (Fig. 1), representa os resultados em
percentual referente a adequação da ingestão calórica e
proteica. Onde, dos 691 pacientes que entraram na contagem,
apenas 480 apresentaram adequação calórica e 422 proteica.

629
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Figura 1 – Perfil de adequação da ingestão calórica
800
700
nº de pacientes

600
500
400
300
200
100
0
TOTAL DE INGESTÃO INGESTÃO
PACIENTES CALÓRICA PROTEICA
ADEQUADA ADEQUADA

Fonte: dados da pesquisa, 2017.

3.1 ADEQUAÇÃO CALÓRICA

Tendo em vista isso, a ingestão calórica mostrou uma


adequação, aproximadamente de 70% conforme a figura 2.

Figura 2 –Perfil de adequação da ingestão calórica


100,00%
PERCENTUAL DE INGESTÃO

90,00%
80,00%
69,40%
70,00%
CALÓRICA

60,00%
50,00%
40,00% 30,60%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00% Fonte: dados da pesquisa, 2017.
ADEQUADA INADEQUADA
630
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Corroborando com esse resultado, Santos et al. (2017),
observou uma adequação de 76,47% na ingestão de calorias
de pacientes críticos. Ribeiro et al. (2014), também constatou
que em torno de 80% dos pacientes atingiram as metas
calóricas em menos de 36 horas. Além do que, segundo esse
mesmo autor, a introdução precoce da NE em UTI tem sido
associada a menores taxas de complicações infecciosas e
menor tempo de permanência, restaura o fluxo sanguíneo
esplânico, prevenindo a destruição da mucosa gastrintestinal e
evitando ulcerações, o que torna esse fato particularmente
bem importante, considerando que os pacientes graves podem
ter a progressão da dieta dificultada por situações clínicas que
impossibilitam o adequado aporte e aproveitamento de
nutrientes.
Os parâmetros encontrados nessa revisão estão de
acordo com o Guia de Terapia Nutricional em Terapia
Intensiva conforme preconizado pela ASPEN, que recomenda
na fase aguda um aporte de 20 a 25 kcal/kg/dia e na fase de
recuperação e estabilização de 25 a 30 kcal/kg/dia. Além do
início da NE precoce, as diretrizes apregoam que essa seja
quantitativamente adequada em nutrientes. Pacientes devem
receber de 50 a 65% das necessidades energéticas nos três
primeiros dias de internação e devem atingir a totalidade da
meta traçada dentro dos primeiros sete dias (ASPEN, 2016).
Um cuidado proposto pelas diretrizes da ESPEN (2017)
diz respeito aos pacientes críticos estarem inicialmente
instáveis do ponto de vista metabólico, com alterações
hidroeletrolíticas, hiperglicemia de difícil controle, acidose
metabólica significativas ou hemodinamicamentes muito
instáveis. Portanto, clinicamente, é mais sensato retardar o

631
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
suporte nutricional até que se atinja uma situação metabólica
mais estável.
Em contra partida, Oliveira et al. (2011), verificou a
prevalência de adequação da ingestão calórica em 94,5% dos
pacientes. Vale ressaltar, que nesse estudo foi realizado o
acompanhamento nutricional individualizado por meio do
protocolo de avaliação nutricional padronizado pelo Serviço de
Nutrição e Dietética do Hospital onde aconteceu, sendo esse
um importante fator perante o índice satisfatório de
adequação. Torna-se claro, então, que os pacientes,
possivelmente, têm recebido valores mais próximos à
recomendação.
No entanto na prática clínica é diferente, apesar das
evidências e de especialistas ressaltarem a importância do
início de TN no prazo de 24 horas a 48 horas de admissão em
UTI, estudos relatam que 40 a 60% dos pacientes que são
elegíveis para o início de TNE ainda não recebem alimentação
dentro de 48 horas de admissão na UTI (BOINGet al., 2009);
outro estudo traz a média de 5,3 dias após a internação na
UTI para início da TNE (BARBAS et al., 2015). Santos et al.
(2017), também constatou que 58,9% dos pacientes em
terapia nutricional enteral receberam menos de 80% do
volume de dieta prescrito, 23,5% receberam entre 80 e
100% do volume prescrito e 17,6% receberam acima de 100%
desse volume, na primeira semana do seu estudo. Desses, 18
pacientes permaneceram até a terceira semana recebendo
NE, todavia, apesar do período de internação, cinco pacientes
ainda estavam recebendo menos de 60% do volume
necessário da dieta. Esse fator torna-se preocupante, partindo
do pressuposto que segundo Fujino (2007), sem a presença
intraintestinal do alimento, o estímulo do trofismo dos

632
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
enterócitos e do GALT é prejudicado e consequentemente a
modulação das respostas imunológicas.
É valido destacar que, em pacientes críticos, a baixa
ingestão de calorias durante a primeira semana de internação
em UTI está associada a maior risco de mortalidade, balanço
energético negativo, a aumento de infecções, além de maior
tempo em ventilação mecânica e tempo de internação na UTI
(TSAI et al., 2011; SINGER et al., 2011).
Pasinatoet al. (2013), relatou que 63% dos pacientes
que participaram do seu estudo, a NE foi iniciada
precocemente, porém apenas cerca de 50% atingiu as metas
calóricas e proteicas no terceiro dia da internação na UTI.
Khalidet al. (2010), mostrou que 60% dos pacientes críticos
estudados receberam NE precoce e constatou que o início da
alimentação, nesse período, diminui o tempo de internação, a
incidência de complicações infecciosas e a mortalidade dos
pacientes.
Outro aspecto a ser levado em consideração é que não
se alimenta o paciente acima de suas necessidades
energéticas. A hiperalimentação pode ser tão desastrosa
quanto a subalimentação. A hiperglicemia pode causar
alterações metabólicas graves como a hiperosmolaridade, a
diarreia osmótica, desidratação e alterações eletrolíticas,
diminuindo as defesas antiinfecciosas (RIBEIRO, 2014).

3.2 ADEQUAÇÃO PROTEICA

No que diz respeito à ingestão proteica, o percentual


desse levantamento foi de aproximadamente 61%. De acordo
com a figura a seguir (Fig. 3), mostrando-se, dessa forma,
inferior à ingestão calórica que foi de 69,5%.

633
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Figura 3 - Perfil de adequação da ingestão proteica.
100%
90%
PERCENTUAL DE INGESTÃO

80%
70% 61%
PROTEICA

60%
50%
39%
40%
30%
20%
10%
0%
ADEQUADA INADEQUADA

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Esse dado condiz com todos os estudos que foram


analisados na revisão, onde a adequação proteica apresentou-
se, de fato, menor que a calórica. No entanto esse fato foi
justificado em alguns estudos, principalmente naqueles que
foram realizados em hospitais públicos, onde na maioria das
vezes a dieta padrão ofertada aos pacientes críticos era
normoproteica, influenciando diretamente nos resultados da
ingestão adequada de proteína.
Cartolanoet al. (2009), realizou um estudo que compara
a adequação da ingestão em pacientes críticos de um hospital
nos anos entre 2005 a 2008, onde foi observado que enquanto
no primeiro ano de acompanhamento, foi encontrada uma
adequação do administrado frente ao prescrito em torno de
74%, em termos de proteínas, já em 2008 esta adequação foi
em torno de 89%. Santos et al. (2017), também encontrou
uma adequação da proteína ingerida próxima a encontrada
634
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
por aquele autor no ano de 2005, em torno de 73%.
Demonstrando que a ingesta proteica dos pacientes críticos
em terapia nutricional enteral vem alcançando maiores
adequações, porém ainda apresenta vieses que a limitam.
Na pesquisa de Stefanello e Poll (2014), foi detectado
que, a maioria dos pacientes atingiram 60% de adequação das
proteínas prescritas e todos esse pacientes encontravam-se
em estado de magreza. Já os pacientes que estavam em
excesso de peso não atingiram o previsto. O autor ainda
concluiu que o estado nutricional pode influenciar na
adequação da ingestão proteica. Desmataca-se que o peso
corporal usado para estimar o índice de Massa Corporal
(IMC), o Valor Energético Total (VET) e as proteínas foi o peso
atual (em kg) do paciente. Portanto essa conclusão pode ser
devido à diferença entre o peso ideal, proposta para o cálculo,
e o peso utilizado (Peso atual) dos pacientes em magreza e
obesidade. Subestimando o teor de proteínas necessárias
para pacientes desnutridos e superestimando para pacientes
obesos.
Em contrapartida aos resultados encontrados na
presente pesquisa, Santana et al. (2016), encontrou uma
inadequação proteica, 68,42%
Em pacientes em resposta de fase aguda, ou seja, que
se caracteriza como uma resposta metabólica ao estresse,
envolvendo intenso catabolismo, mobilização de proteínas
para reparo de tecidos lesados e fornecimento de energia,
sobrecarga fluida, intolerância à glicose, dentre outras
alterações, desenvolvem resposta inflamatória sistêmica,
sendo acompanhada de alterações do metabolismo
intermediário que determinam a perda de massa magra de
modo expressivo, proporcional ao grau de estresse metabólico

635
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
e resistente ao efeito anabólico do aporte nutricional proteico.
Esta alteração, denominada efeito alostático do estresse, pode
resultar em sobrecarga alostática autoperpetuada,
contribuindo para a morte por meio da disfunção de múltiplos
órgãos (SANTOS; VIANA, 2016). Com isso, a inadequação do
aporte proteico pode resultar, numa exarcebação dessas
manifestações clínicas.
Para mais, Simões et al. (2017), analisou o volume
prescrito de dieta enteral versus o volume infundido. O autor
traz dados que expressam de forma numérica os gastos
gerados pela inadequação da ingestão, o custo da
administração da dieta resultou em R$ 37.690,11 gastos com
os 27 pacientes em um dia. Porém, apenas R$ 22.094,13
foram utilizados realmente pelos pacientes e R$ 15.595,98
foram descartados. Tornando-se um grande impacto para os
investimentos desperdiçados em meio escassez de
suprimentos básicos hospitalares na saúde pública do Brasil.

5 CONCLUSÕES

Apesar da grande quantidade de artigos encontrados e


da riqueza de informações neles contidos, foram selecionados
artigos atualizados e alguns que abarcavam relevantes
informações para o desenvolvimentodessa revisão. Entretanto,
todos os estudos relacionados aos pacientes críticos são de
grande importância devido à vulnerabilidade dessa população
frente aos riscos de desnutrição e infecções hospitalares.
Desse modo, a partir dos dados analisados, foi possível
observar que a adequação na ingestão proteico-calórica vem
se mostrando cada vez mais próxima as recomendações.
Porém, ainda é alarmante o índice de inadequações,

636
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
principalmente no que se diz respeito ao aporte proteico,
responsável por diversos fatores na reversão do quadro agudo
e essencial para recuperação e manutenção do estado
nutricional, refletindo, dessa maneira, como um importante
prognóstico na recuperação patológica do paciente, e
consequentemente na alta hospitalar. Por outro lado, o
conhecimento dos fatores que impedem a efetiva
administração da terapia nutricional enteral permite a adoção
de medidas visando a adequação da ingestão calórica e
proteica dos pacientes.
Portanto, tão importante quanto à avaliação nutricional
individualizada e adequada às necessidades do paciente é a
constatação de que o paciente receberá o que lhe é prescrito.
Para isso, o nutricionista deveria monitorar a oferta e a
ingestão da dieta, através de registros, em protocolos ou
planilhas de controle, a fim de garantir uma ingestão adequada
do paciente. Ademais, as condutas multidisciplinares frente a
essas complicações necessitam ser padronizadas para que
soluções precoces possam ser tomadas, sem que haja
interferências no aporte nutricional dos pacientes.

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
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CAPÍTULO 32
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO
GLUTAMINA NO TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA
REVISÃO DA LITERATURA

Luciana MEDEIROS1
Fernanda BARBOSA2
Larruama VASCONCELOS3
Fernanda MEDEIROS4
Mylena MORAIS5
1
Graduanda do curso de nutrição, FIP; 2 Professora do curso de nutrição, FIP; 3 Nutricionista;
4
Graduanda do curso de nutrição, FIP. 5 Nutricionista, pós graduada em Nutrição Clínica e
Funcional.
lucianandreza_@hotmail.com

Justificativa: As referidas referências foram utilizadas, pois


foram as mais atualizadas encontradas acerca do assunto,
tendo em vista que estudos clínicos acerca da utilização de
suplementos como a glutamina no tratamento do câncer ainda
encontra-se escasso na literatura. Foram utilizadas algumas
referências um pouco mais antigas com o intuito de
complementar as informações mais atuais, dando ênfase nos
últimos dados que foram encontrados.
RESUMO: Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)
afirmam que a cada ano o câncer atinge cerca de nove
milhões de pessoas no mundo. Dentre as consequências
severas do câncer, a caquexia apresenta-se como uma das
principais. O uso do aminoácido glutamina pode trazer
possíveis benefícios na prevenção e tratamento do câncer,
possibilitando uma maior sobrevida, ou melhora da qualidade
de vida do paciente acometido. Dessa forma, objetivou-se
realizar uma revisão bibliográfica de caráter descritivo e
abordagem qualitativa dos dados, acerca da utilização da
suplementação de glutamina durante o tratamento do câncer.
Este consiste em cirurgias, quimioterapia e radioterapias. A

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
falta de apetite é um dos sintomas mais comuns em paciente
oncológicos, por isso, a utilização de suplementos alimentares
é muito aplicada nesse público. O aminoácido glutamina é
descrito como imprescindível no tratamento de pacientes
oncológicos por ser um excelente imunomodulador, atuando
como substrato fundamental para as células do sistema
imunológico. Em situações de hipercatabolismo como o
câncer, onde há o balanço nitrogenado negativo e elevação
das taxas de degradação muscular, o organismo não
consegue sintetizar a glutamina na quantidade ideal em
condições normais, tornando-a um aminoácido
condicionalmente essencial. Assim, observaram-se diversos
dados comprovativos acerca do efeito benéfico da utilização
da suplementação de glutamina no tratamento do câncer,
especialmente durante a fase de tratamento e na resposta
nutricional do paciente.
Palavras-chave: Câncer. Caquexia. Glutamina.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Matos, Pelloso e Carvalho (2010) é


cada vez mais notório as mudanças relativas ao estilo de vida
da população com destaque na adoção de hábitos de vida não
saudáveis e consigo, o aumento exponencial do número de
casos de câncer na população mundial. Dentre os principais
fatores de risco da doença, destaca-se o referido estilo de vida
vivido pela população, caracterizado por mudanças na dieta,
com consumo cada vez maior de alimentos industrializados,
hipercalóricos, de rápido preparo e menor índice de valor
nutricional, sedentarismo, obesidade, tabagismo e consumo
excessivo de álcool.

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS), a cada ano o câncer atinge pelo menos nove milhões
de pessoas no mundo e acarreta diversos impactos
nutricionais, devido principalmente aos sintomas e efeitos
colaterais do câncer e do seu tratamento, que por sua vez,
visa à cura, o controle ou os cuidados paleativos
(VANNUCCHI; MARCHINI, 2007; MAHAN; ESCOTT-STUMP;
RAYMOND, 2012).
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) afirmam que
câncer representa um grande problema de saúde pública no
mundo, relevando que para o ano de 2030 estima-se uma
carga 27 milhões de novos casos globais (BRASIL, 2015).
O câncer corre quando um clone de células
anormais consegue escapar da sua regulação, ou seja, é uma
função celular anormal resultante de mutações e alterações no
DNA. Waitzberg (2009) complementa que tais células
anormais cancerosas são caracterizadas por autossuficiência
em termos de crescimento, resistência a apoptose, potencial
de replicação ilimitado, insensibilidade aos sinais de
interrupção do crescimento, angiogênese persistente e por
invasão tecidual e metástase. A anormalidade das células
cancerígenas é fenotípica, sendo decorrente de mutação
genética, adquirida ao longo do ciclo de vida da célula ou
transmitida pela célula-mãe (MANN, 2011).
Com o intuito de reverter e/ou tratar os diversos
tipos de câncer faz-se necessário à realização de uma
terapêutica antitumoral, que compreende a quimioterapia, a
radioterapia, a imunoterapia, a hormonioterapia, a cirurgia ou a

642
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
combinação destas. Entretanto, cada modalidade de
tratamento pode ocasionar diversos sintomas, além de
alterações fisiológicas e nutricionais, interferindo, na maioria
das vezes, na capacidade de digestão, ingestão e absorção
adequada de nutrientes, além de afetar o paladar e a
deglutição (SANTOS et al., 2010).
Kowata et al. (2009) preconizam que dentre as
consequências severas do câncer, a caquexia cancerosa
apresenta-se como uma das principais. Caracteriza-se pela
perda de peso acentuada, consumição progressiva, fraqueza
generalizada, falta de apetite e presença de anemia. É
definida pelo balanço negativo de proteína e energia
causado por redução na ingestão de alimentos e
por desordens metabólicas (RAVEL; PICHARD, 2010).
Fortes e Novaes (2010) relatam que a ubiquitina-
proteasoma é a principal via de proteólise no câncer,
dependente de energia que age na hidrólise proteica em
diferentes condições fisiológicas e fisiopatológicas. Assim,
esclarece-se o gasto energético observado em pacientes que
apresentam a caquexia do câncer.
Argilés et al. (2010) preconizam que o suporte
nutricional é a melhor forma de prevenção e/ou reversão do
quadro de caquexia que acomete o paciente oncológico. Um
acompanhamento nutricional é necessário para auxiliar na
manutenção ou ganho de peso, principalmente, em situações
em que o paciente será submetido a procedimento cirúrgico,
quimioterápico e/ou radioterápico (MAIO et al., 2009;
BOLIGON, HUTH, 2011).

643
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Os tipos de cânceres mais frequentes para os
homens são: câncer de próstata, pulmão, intestino, estômago
e cavidade oral e para as mulheres câncer de mama, de
intestino, do colo do útero, do pulmão e do estômago,
respectivamente, sem contar o câncer de pele não melanoma,
que é um dos principais em ambos os sexos (BRASIL, 2015).
A suplementação como forma de minimizar os
efeitos deletérios referentes ao câncer vem sendo amplamente
utilizada, a exemplo do aminoácido glutamina. Este, segundo
Kim (2011), possui diversos papeis no organismo, entretanto,
durante o estresse metabólico, comum durante o tratamento
do câncer, suas reservas musculares esgotam-se
rapidamente, tendo em vista que é rapidamente liberada,
necessitando de reposição e tornando-se nesses casos,
condicionalmente essencial. Assim, Morais, Ribeiro e Lacerda
(2013) complementam que a suplementação de glutamina
pode trazer possíveis benefícios na prevenção e tratamento do
câncer, possibilitando uma maior sobrevida, ou melhora da
qualidade de vida do paciente acometido.
Dessa forma, tendo em vista o aumento
exponencial do número de casos de câncer no mundo,
objetivou-se realizar uma revisão bibliográfica acerca da
utilização da suplementação de glutamina durante o
tratamento do câncer a fim de verificar se este aminoácido tem
efeito positivo durante esse processo e no quadro geral
relativo ao estado nutricional do indivíduo.

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão da


literatura, de caráter descritivo e abordagem qualitativa dos
dados, onde o processo de formulação se deu mediante a
busca por literaturas científicas, através de sites de iniciação
científica, como na base de dados do google acadêmico, no
banco de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO)
e na Literatura Latino-americanas e do Caribe (LILACS) e em
livros relativos ao assunto, nas línguas portuguesa e inglesa,
tendo como descritores: Câncer; Caquexia e Glutamina.
Foram incluídas na pesquisa os artigos publicados
nos últimos dez anos, dando preferência as mais atuais, em
língua portuguesa e inglesa, que apresentaram como objeto
de estudo a temática central: Câncer e glutamina e excluídos
todos os artigos que não iriam contribuir para a pesquisa e/ou
não apresentaram a temática principal descrita.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Silva (2006), o metabolismo


energético do indivíduo com câncer apresenta alterações, pois
a célula cancerosa usa primordialmente glicose como
substrato energético, chegando a aumentar 50 vezes mais o
seu consumo por esse macronutriente quando comparado
com as células normais. Para manter os níveis plasmáticos de
glicose há uma elevação na gliconeogênese hepática, onde
são utilizados aminoácidos musculares e lactato.

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
As alterações no metabolismo dos carboidratos
acontecem pela resistência periférica à ação da insulina
e por meio da intolerância à glicose, e faz com que haja um
consumo excessivo de glicose pelo tumor, aumentando a
produção de glicose hepática a partir do lactato
(gliconeogênese). Em pacientes com caquexia, a resistência
periférica à insulina é ainda maior, resultando em uma
acentuada gliconeogênese no fígado. As depleções proteicas
são percebidas principalmente pela atrofia do músculo
esquelético e órgãos viscerais, miopatia e hipoalbuminemia,
fazendo com que o indivíduo seja mais susceptível a
infecções, tenha um reparo inadequado de feridas e haja
diminuição uma da capacidade funcional. Em relação ao
metabolismo lipídico, este apresenta-se alterado, com
depleção da reserva de gorduras e níveis aumentados de
lipídios circulantes no organismo (NUNES, 2008; KOWATA et
al., 2009).
As perdas de tecido adiposo na caquexia
podem ser mediadas por citocinas pró-inflamatórias,
principalmente o TNF-α, também conhecido por caquexina,
através mobilização de ácidos graxos e pela inibição da
atividade de lipoproteína lipase. Tal inibição leva ao
aumento da lipólise no tecido adiposo e de ácidos graxos
livres (AGL) no sangue (WAITZBERG; NARDI; HORIE,
2011).
Kowata et al. (2009) ainda afirma que a conversão
de lactato para a glicose envolve consumo de Trifosfato de
adenosina (ATP), nucleotídeo responsável pelo

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
armazenamento de energia e aparenta ser um processo
bioquímico de gasto energético contribuindo para a perda de
peso e massa corpórea.
O tratamento do câncer consiste em cirurgias,
quimioterapia e radioterapias, dependendo dos efeitos
sistémicos ou locais, para médio ou curto prazo (OCAMPO,
2016). Fernández-Ortega et al. (2012) acreditam que cerca de
50% dos indivíduos com câncer irão apresentar efeitos
adversos de náuses e vômitos durante o tratamento
quimioterápico.
Os sintomas gerados pelo tratamento
quimio/radioterápico ocorrem em função da droga utilizada, da
dose, pela combinação de drogas, pela via e velocidade de
administração e pelo número de ciclos recebidos (JAKOBSEN;
HERRSTEDT, 2009; PIRRI et al., 2012). Gozzo et al. (2013)
preconiza que todas as drogas quimioterápicas possuem
potencial emetogênico, variando de acordo com a intensidade.
Brito et al. (2012) acreditam que prevenção e/ou
controle dos sintomas gerados pelo tratamento oncológico são
extremamente importantes, tendo em vista que podem limitar
o tratamento, podendo levar à necessidade de interrompe-lo
ou mesmo reduzir a motivação do indivíduo em prosseguir
com o plano de tratamento, comprometendo assim o controle
local do tumor e as taxas de sobrevida.
A quimioterapia consiste em administração de
medicamentos que visam curar ou controlar a neoplasia,
atuando na destruição de células malignas, impedindo a
formação de um novo DNA (ácido desoxirribonucleico),

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
bloqueando funções essenciais da célula ou induzindo a
apoptose, afetando todos os tecidos em graus diferentes, pois
se constitui em um tratamento sistêmico. Suas drogas
antineoplasicas causam diversos sintomas e desconfortos no
sistema digestório como constipação, diarréia, nauséas,
vômitos, alterações nas preferências e hábitos alimentares,
estomatite, anormalidades no paladar, falta de apetite e
mucosite (DIAS et al., 2006). Gozzo et al. (2013)
complementam que este tratamento, além de gerar grande
impacto no estado nutricional e gerar tantos desconfortos, atua
diretamente na ordem física e emocional das pessoas.
Segundo Boligon e Huth (2011), a radioterapia, que
assim como a quimio, tem papel fundamental no tratamento do
câncer, mas os pacientes submetidos a tal tratamento
costumam mencionar que sentem dificuldade ao se alimentar,
falar e realizar higiene oral dor intensa, pois é muito comum
gerar o aparecimento de mucosite oral por radiação, uma
reação frequente durante até alguns dias após o tratamento
radioterápico/quimioterápico, especialmente em cânceres.
O desenvolvimento do câncer precede de uma
influência mútua entre fatores endógenos e ambientais, sendo
o mais evidente desses fatores a dieta. Acredita-se que
aproximadamente 35% dos vários tipos de câncer advêm das
dietas inadequadas (GARÓFOLO et al., 2004).
Em indivíduos com neoplasia, as necessidades de
nutrientes são maiores devido ao fato de ser uma doença de
característica hipermetabólica, ou seja, consome alto nível de
energia do indivíduo, além das funções orgânicas estarem

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
prejudicadas devido ao curso normal da doença. Na maioria
das vezes, pacientes oncológicos apresentam um balanço
energético negativo, pelo fato de realizarem uma menor
ingestão energética e um maior gasto de energia, decorrente
dos sintomas associados à doença. Praticamente todas as
drogas antineoplásicas causam náuseas, vômitos e alterações
gastrointestinais como a diarréia e constipação, tornando-se
mais intensos quando a quantidade de droga for maior. Isso
causa uma redução significativa da ingestão alimentar e
conseqüentemente uma depleção do estado nutricional
(SANTOS, 2014).
A desnutrição é um das complicações mais comuns
em pacientes oncológicos, é multifatorial, devido a alterações
metabólicas decorrentes de diversos fatores relacionados à
presença do tumor, induzindo à síndrome da anorexia-
caquexia, e aos fatores relacionados ao tratamento da doença,
tendo em vista que as terapias antineoplásicas comumente
empregadas são invasivas e corroboram o agravamento do
estado nutricional (SKIPWORTH et al., 2007).
Santos (2014) ainda complementa que a terapia
nutricional em pacientes oncológicos deve ser feita de forma
individualizada, levando-se em consideração, suas
necessidades nutricionais, restrições dietéticas, tolerância,
estado clínico, e efeitos colaterais esperados, realizando
ajustes à medida que eles aparecem, com o objetivo de
manter/ou recuperar o estado nutricional, tolerar melhor os
tratamentos e os efeitos colaterias, diminui o risco de
infecções e melhorar cicatrização.

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Uma alimentação adequada fornece aos indivíduos
inibidores de carcinogêneos. Nessa categoria, se encaixam os
antioxidantes como as vitaminas C, A e E, zinco, selênio e
caratenoides, além de fitoquímicos (MAHAN; ESCOTT-
STUMP; RAYMOND, 2012).
Diversos estudos têm mostrado relação direta entre
hábitos de vida saudáveis e o estilo de vida com a melhora na
qualidade de vida dos pacientes com câncer (ATTOLINI;
GALLON, 2010). Garófolo et al. (2004) afirma que vários
estudos mostram que uma alimentação adequada/saudável
seria capaz de prevenir milhões de novos casos de câncer
anualmente.
A falta de apetite é um dos sintomas mais comuns
em paciente oncológicos, devido ao processo natural da
doença, ao crescimento do tumor e aos tratamentos, por isso,
a utilização de suplementos alimentares é muito aplicada
nesse público. Inicialmente, a via oral de alimentação deve ser
sempre priorizada, mas caso a aceitação da dieta seja inferior
a 60% das necessidades (o que acontece na maioria dos
casos), é preciso aumentar as densidades calórica e proteica
por meio de alimentos calóricos e nutritivos e/ou de
suplementos alimentares industrializados (SILVA, 2006).
Os pacientes acometidos pelo câncer encontram-se
na maioria das vezes incapazes de atingir suas necessidades
nutricionais. Na pesquisa realizada por Manzatti (2009), a
utilização do suplemento oferecido, levando em consideração
a afirmação proposta, teve aumentos significativos de calorias

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
e proteínas, melhorando dessa maneira, o estado nutricional
do paciente.
A suplementação oral constitui-se em um método
simples, natural e menos invasivo para o aumento da ingestão
de nutrientes nos pacientes. Sua utilização trás benefícios
como o aumento da ingestão de energia e proteína e
consequentemente, do apetite e ganho de peso, melhor
estado de atividade e diminuição da toxicidade
gastrointestinal, além da melhora na resposta imune
(RAVASCO; MONTEIRO-GRILLO; CAMILO, 2003).
A suplementação do ácido graxo ômega 3 é muito
utilizada e seus efeitos em pacientes oncológicos parece claro.
Considerando-se ainda os poucos efeitos colaterais relatados,
Carmo e Correia (2009) acreditam que a suplementação
desse nutriente seja amplamente indicada nessa população e
que especialmente os EPA’s, possuem papel indispensável no
processo de caquexia. A diretriz terapia nutricional na
oncologia (2011) preconiza que o uso de complemento
nutricional oral de ácidos graxos ômega-3, na forma de ácido
eicosapentanoico, previne a perda de peso e a interrupção dos
tratamentos de rapio ou/e quimioterapia (BRASIL, 2011).
Apesar dos efeitos positivos do uso de
suplementos, Antunes, Silva e Cruz (2010) ressaltam que
estes não devem ser utilizados de maneira aleatória, com o
intuito de promover quimioprevenção, devendo sua ingestão
ser em quantidades adequadas e fisiológicas. O uso excessivo
e em quantidade elevada dos suplementos pode ser deletério
ao organismo.

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
A glutamina (NH2-C(O)-CH2-CH2-CHNH2-COOH)
é um tipo de aminoácido, sendo este o mais abundante no
sangue. Pode ser sintetizada por todos os tecidos do
organismo e representa 60% de todos os aminoácidos livre do
músculo esquelético (CURI, 2000; WANG et al., 2007).
Em situações de hipercatabolismo como o câncer,
onde há o balanço nitrogenado negativo e elevação das taxas
de degradação muscular, o organismo não consegue sintetizar
a glutamina na quantidade ideal em condições normais,
tornando-a um aminoácido condicionalmente essencial. Dessa
forma se faz necessária sua suplementação, devido ao
aumento da demanda deste aminoácido nos tecidos,
resultando na diminuição significativa dos seus níveis
plasmáticos (MORAIS; RIBEIRO; LACERDA, 2013).
Segundo Abrahão e Machado (2014), este
aminoácido é imprescindível no tratamento de pacientes
oncológicos por ser um excelente e importante
imunomodulador, atuando como substrato fundamental para
as células do sistema imunológico, estimulando a
multiplicação de linfócitos, a diferenciação das células B, a
produção de interleucina e a fagocitose dos macrófagos. Esta
informação é intensificada por Boligon e Huth (2011), que
afirmam que o aminoácido glutamina é uma importante fonte
energética para os macrófagos, linfócitos e para as demais
células do sistema imunológico, e considerada essencial em
situações de hipercatabolismo associadas a estados de
imunodeficiência frequentemente encontrados em pacientes
oncológicos.

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Segundo Abrahão e Machado (2014), na falta de
glicose, alguns estudos citam que a glutamina é fonte
energética para as células tumorais, porém são necessários
mais estudos para confirmação desta vertente.
Santos et al. (2010) afirmam que sua utilização em
pacientes com câncer promove resultados benéficos na
redução do crescimento tumoral, melhoria na resposta
imunológica e aumento na sensibilidade do tumor ao
tratamento quimioterápico, pois reduz os níveis de glutationa
tumoral e aumenta ou mantém a concentração desse
antioxidante no intestino. Boligon e Huth (2011), ainda
complementam que, especialmente nos cânceres do trato
gastrointestinal, cabeça e pescoço, há uma melhora da
recuperação, retardo do tempo de hospitalização e aumento
da massa magra.
A glutationa (GSH), subproduto do metabolismo da
glutamina, protege as células normais contra a injúria
oxidativa, ou seja, faz parte do sistema antioxidante natural.
Observou-se que a toxicidade da quimioterapia e radioterapia
são maximizadas quando os níveis de GSH intracelular
encontram-se baixos. Por outro lado, as células tumorais
possuem menor quantidade de glutationa intracelular,
permitindo maior ação do tratamento oncológico nessas
células (PACCAGNELLA; MORASSUTTI; ROSTI, 2011).
Dourado et al. (2007) afirmam que não existe
consenso sobre a melhor dosagem de glutamina a ser
oferecida e nem qual seria a melhor forma de
via/apresentação a ser utilizada, entretanto, em termos gerais,

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
para um paciente adulto com 60 a 70 kg, pode ser
administrado 18-30g de glutamina na forma de dipeptídeo/dia
(fornecendo 13-20g de glutamina pura/dia).
O nutricionista tem como principal função minimizar
os desconfortos advindos da fisiopatologia do câncer e
intensificados com o tratamento, através conservação e
recuperação do estado nutricional e do sistema imunológico
do paciente por meio da adequação quantitativa e qualitativa
da dieta, levando em consideração aspectos sociais, psíquicos
e culturais. Além disso, sugerir preparações apropriadas às
condições atuais do paciente utilizando ou não suplementos
alimentares como ingrediente é uma atribuição importante
(PALMIERI et al., 2013).
Mahan, Escott-Stump e Raymond (2012)
complementam que a terapia nutricional visa ainda, maximizar
a ingestão por via oral, previnir ou corrigir as deficiências
nutricionais e minimizar a perda de peso do paciente
acometido.
Segundo Correa e Shibuya (2007), além de realizar
a conduta dietoterápica individualizada, o profissional da
nutrição pode auxiliar diretamente na evolução favorável do
prognóstico e é um dos profissionais responsáveis por
oferecer recursos e esclarecimento aos pacientes e seus
familiares.
Mello (2014) acredita que trabalhar com pacientes
oncológicos é um desafio diário, tendo em vista que um
conjunto de fatores estão associados à conduta dietoterápica,
especialmente de um paciente em cuidado paleativo, como a

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A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
situação do paciente, seus familiares e da equipe tendo-se
que avaliar a relação custo/benefício ao paciente.

4 CONCLUSÕES

Através do referente estudo foi possível concluir,


levando em consideração os dados presentes na literatura
acerca da utilização da glutamina, que este aminoácido possui
efeito benéfico no tratamento contra o câncer, auxiliando
especialmente na resposta nutricional do paciente, tendo em
vista que diversos dados literários comprovam a melhora do
quadro nutricional de pacientes acometidos com câncer e
redução nos sintomas relativos ao tratamento, inevitável
durante este processo que constitue-se altamente invasivo,
aumentando consequentemente a taxa de sobrevida e/ou
qualidade de vida do paciente. Além disso, há evidências
relativas à suplementação de glutamina e diminuição do
crescimento tumoral, aumentando a sensibilidade do tumor
quando induzido ao tratamento quimioterápico, além de
significativas melhoras na resposta imunológica dos pacientes
acometidos pela doença.
Assim, é visível os benefícios relativos à
suplementação do aminoácido glutamina em indivíduos com
câncer, podendo ser uma grande ferramenta no auxilio na luta
contra esta doença e os malefícios causado por tal,
especialmente durante o tratamento invasivo, entretanto, ainda
faz-se necessário mais estudos clínicos relativos ao assunto
para intensificar os resultados existentes evidenciar possíveis
novas descobertas.
655
A UTILIZAÇÃO DA SUPLEMENTAÇÃO DO AMINOÁCIDO GLUTAMINA NO
TRATAMENTO DO CÂNCER: UMA REVISÃO DA LITERATURA
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659
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
CAPÍTULO 33

O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA


DE ALZHEIMER

Ana Clara Patriota Lopes da SILVA¹


Fernanda Patrícia Torres BARBOSA²
Jullyane de Oliveira Maia LEMOS³
Francisca Mikelly Virgolino BATISTA¹
Luana RAMOS¹

1
Graduanda do curso de Nutrição, FIP; 2Orientadora/Professora da FIP, ³Professora FIP.
anac_nutricao@hotmail.com
fernandatorres_nutricao@hotmail.com
jullyanemaia@hotmail.com
mikelly.nutricao@gmail.com
luana_galdinho_91@hotmail.com

RESUMO: A prevalência de algumas doenças vem


aumentando, especialmente as crônicas, em parte em
decorrência das diversas alterações provenientes do
envelhecimento, destacando-se as demências. Dessa forma, o
presente estudo teve como objetivo verificar a influência do
zinco na doença de Alzheimer. Trata-se de uma revisão
bibliográfica não sistemática através de consultas nas bases
cientificas Scielo, Pubmed, em portal de pesquisa como
oPortal Capes, por meio de artigos e revistas científicas, teses,
dissertações e livros. Como resultados, na literatura
consultada encontrou-se uma ligação direta entre o zinco e a
DA, onde apresenta-se comum uma deficiência subclínica em
indivíduos com a doença. No entanto, não foram encontrados
estudos que relatassem a recomendação do consumo de

660
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
zinco na dieta mais adequado para a prevenção da doença,
nem se a sua suplementação seria benéfica nesses casos, já
que algumas pesquisa relatam a toxicidade do zinco devido ao
seu acúmulo pode ocasionar também o acúmulo de ferro
intraneural. Dessa forma, conhecer a sua concentração
adequada para uma melhor interação com os demais metais,
possa ser um dos fatores determinantes no tratamento da DA,
tornando-se necessários mais trabalhos para uma melhor
compreensão dessa relação a fim de que possa ser
administrado com segurança na prevenção e tratamento
Palavras-chaves: Envelhecimento. Idoso. Nutrição.

1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo irreversível e


inevitável para todos os seres humanos. A velhice é um
processo normal e natural, no qual os indivíduos acometidos
por esse processo são submetidos a perdas em função do
declínio do ritmo biológico (SANTOS; VITAL, 2014).
A velhice pode variar gradativamente de uma pessoa,
para outra, as características são muito particulares, podendo
ser mais rápido para alguns. Essas variações variam de
acordo com o estilo de vida, condições socioeconômicas e
doenças crônicas. Deste modo, falar de envelhecimento é
abrir interpretações que se relacionam com o cotidiano e
perspectivas culturais diferentes (BASÍLIO; TROMPIERI,
2012).
O envelhecimento resulta em várias modificações
fisiológicas, um processo natural que ocorre devido à idade
(CHAGAS; ROCHA, 2012). A princípio, as alterações são
leves, sendo incapazes de provocar incapacidade no
indivíduo, com o passar dos anos, essas alterações vão
661
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
causando limitações para realização das atividades diárias e
simples do cotidiano (ESQUENAZI; SILVA, GUIMARÃES,
2014).
Essas modificações passam por uma gama de
alterações orgânicas, como as perdas da percepção sensorial
que é a diminuição da visão, tato, olfato e paladar. Apesar
dessas perdas serem de forma gradual, elas podem acarretar
prejuízos sociais, psicológicos e até funções que podem levar
a um declínio na qualidade de vida dos indivíduos (LAMAS;
PAUL, 2014).
No Brasil, a redução da taxa de mortalidade e de
fecundidade, é a causa do país está envelhecendo
rapidamente, quando comparado aos demais países em
desenvolvimento, isso porque quando há mudanças
demográficas, ocorre também mudanças no perfil
epidemiológico (SILVEIRA et al., 2015). De acordo com os
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a população idosa brasileira representa 10,8% da população
total, sendo 20.590.599 milhões de pessoas, sendo 44,5%
homens e 55,55% mulheres (KUCHEMANN, 2012).
Com a evolução nas estimativas da população idosa, o
índice de doenças decorrentes a velhice também tende a
aumentar, destacando-se, a doença de Alzheimer (DA)
(COELHO et al., 2015). A prevalência da demência é mais
comum nos idosos mais velhos, sendo 38,9% naqueles com
mais de 84 anos e 1,6% em idosos entre 65 a 69 anos
(XIMENES; RICO; PEDREIRA, 2014).
O fenômeno do envelhecimento acarreta mudanças
epidemiológicas, no mundo todo, predominantemente nas
doenças crônicas não transmissíveis que podem ou não
comprometer a capacidade funcional e qualidade de vida do
idoso. Dentre as doenças crônicas, destaca-se o Alzheimer,
662
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
que é caracterizado pelas demências, afetando o idoso e
comprometendo sua integridade física, mental e social
(FERREIRA; ALEXANDRE; LEMOS, 2011).
As demências são vulneráveis ao envelhecimento,
surgindo problemas de memórias que dificultam a realização
das atividades diárias, existindo ainda uma grande alteração
na linguagem, no decorrer da doença vão surgindo outras
dificuldades como alterações degustativas, olfativas e visuais
que podem comprometer diretamente o estado nutricional do
idoso (XIMENES; RICO; PEDREIRA, 2014).
Assim, a doença Alzheimer (DA), representa a perda
cognitiva progressiva, que leva a uma perda gradual de
autonomia que ocasiona a dependência de outras pessoas, e
caracteriza-se como uma doença degenerativa se instalando
de forma rápida, causando uma perda no funcionamento
psicomotor do aprendizado, memória e raciocínio (SANTOS;
BORGES, 2015).
Na doença de Alzheimer, a memória é a função
cognitiva mais precocemente prejudicada, estando tal déficit
parcialmente associado ao declínio progressivo e intenso do
número e eficiência dos neurônios. No que diz respeito aos
déficits de memória comuns na DA, verifica-se já nas fases
iniciais da doença o comprometimento da memória episódica
de longo prazo e da memória de curto prazo, estando a
intensidade de tais déficits relacionados à gravidade do quadro
(ABREU; FORLENZA; BARROS, 2010).
No cérebro de um doente com Alzheimer, para
além da acumulação de placas amiloides e de emaranhados
neurofibrilares, ocorre alteração nas reações redox, havendo
registo de um aumento de danos oxidativos (ZAWIA; LAHIRI;
CARDOZO-PELAEZ, 2009). Suspeita-se que a secreção e a
deposição do βA, bem como a agregação das placas senis
663
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
ocorrem num segundo plano, funcionando como uma tentativa
das células se protegerem contra os danos provocados pelo
stress oxidativo (LIU; PERRY; SMITH, 2009)
A DA é classificada de acordo com o seu estágio,
podendo ser leve, moderada ou severa. O estágio leve são os
problemas iniciais da doença como: dificuldade de raciocínio e
de realizar novas habilidades. No estágio moderado ocorrem
dificuldades na realização de atividades da vida diária, como
tomar banho, vestir-se, alimentar-se, tendo alterações no
sono, dificuldades de nomear objetos, reconhecer as pessoas,
podendo até haver nessa fase delírios, ansiedade e
alucinações (ILHA et al., 2014).
Na fase final (severa), o idoso apresenta irritação e
agressividade, incapacidade de falar e realizar cuidados
pessoais, descontrole urinário, diminuição do apetite e do
peso. As alterações neurológicas se agravam, devido aos
movimentos estarem lentos ou quase inexistentes (ILHA et al.,
2014).
O diagnóstico se dá através do comprometimento da
memória. A demência é a principal característica da doença,
pois elas são muito progressivas. O diagnóstico clínico segue
os critérios de provável, possível e definitivo. Provável porque
a demência é estabelecida através do exame clínico e
documentada na escala de Demência, o possível devido a
haver presença de uma síndrome demencial e ausência de
anormalidades neurológicas ou psiquiátricas para causar o
delírio, e o definitivo só pode ser feito de acordo com a análise
histopatológica do tecido cerebral (XIMENES; RICO;
PEDREIRA, 2014).
O tratamento da doença de Alzheimer tem o objetivo
de aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença.
Dentre as opções terapêuticas propostas atualmente, os
664
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
fármacos inibidores de colinesterase (IChE) são os mais
comumente empregados por apresentarem melhores
resultados no controle da doença nos níveis leve e moderado,
que correspondem às classificações CDR1 e CDR2,
respectivamente (ALMEIDA-BRASIL et al., 2016).
Nesse sentido é importante observar o estado
nutricional do idoso portador da DA, uma vez que ele poderá
está comprometido pela incapacidade do idoso de preparar o
seu próprio alimento, além da dificuldade de mastigação e
deglutição. Dessa forma, o idoso encontra-se na maioria dos
casos exposto a maior vulnerabilidade de desenvolver
desnutrição. Assim, é importante, preservar seu estado físico e
nutricional, e observar as mudanças fisiológicas e metabólicas
causados pela doença, para que se possa evitar outros
problemas associados como infecções, osteoporose,
problemas cardiorrespiratórios, entre outros (STURMER et al.,
2011).
O estado nutricional na doença é totalmente afetado,
devido à dificuldade de mastigação, aceitação, deglutição e
assimilação dos alimentos. Muitos fatores interferem nesse
estado nutricional, a perda de apetite, um desinteresse pela
alimentação e a falta de consciência do quanto a alimentação
é importante para a melhoria de vida e recuperação da
doença, a fim de minimizar os fatores que possam agravar o
estado de saúde como a desidratação e desnutrição nos
portadores de Alzheimer (CORREIA et al., 2015).
A doença de Alzheimer, assim como as outras doenças
crônicas, geralmente necessitam de um aporte proteico e
calórico maior, devido as dificuldades encontradas na
alimentação. Dessa maneira, as avaliações nutricionais são de
plena importância para evitar uma desnutrição, esse é um dos
principais casos de mortalidade da patologia principalmente no
665
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
último estágio chega a atingir os 50% de casos de desnutrição
proteico-energética (CORREIA et al., 2015).
A DA atinge as funções neurocognitivas e fazem com
que o idoso se torne muitas vezes, totalmente dependente.
Diante deste fato, é importante que os cuidadores e os
profissionais da saúde, adquiram mais informações sobre
todos os aspectos que envolvem a forma correta de cuidar do
portador da doença, sobretudo, a alimentação. Nesse sentido,
o zinco tem sido estudado e vem demonstrando um papel
importante nas funções neurológicas, contribuindo para a
saúde do portador da doença Alzheimer (COELHO et al.,
2015).
Pesquisadores tem investigado o papel do zinco (Zn) na
DA, pois o Zn observa quando as placas senis, que são
característica da doença tem a localização limitadas as
regiões cerebrais, que são ricas do mineral como hipocampo,
amígdala, e córtex cerebral (SILVA et al., 2012).
O zinco é fundamental na função cerebral, ele é
indispensável como neuromodulador da excitabilidade
sináptica, como a resposta do estresse, ou no funcionamento
de proteínas que dependem dele, contribuindo para a
manutenção da capacidade cerebral, além de ter funções
estruturais e catalíticas (MELLO; COELHO, 2011).
Nesse sentido, o Zn desempenha papel crítico na
neurotransmissão das sinapses glutamatérgicas. É nas
sinapses glutamatérgicas que a patologia amiloide da DA tem
início, e essas contêm grande concentração de zinco, que é
liberado durante a neurotransmissão (CROUCH; WHITE;
BUSH, 2007).
O zinco é um biometal que circula no cérebro de forma
regulada, através da barreira hematoencefálica. O Zn é um
oligoelemento que tem como funções bioquímicas a
666
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
participação em processos enzimáticos e estabilização da
estrutura molecular dos componentes subcelulares e da
membrana. Encontra-se em todos os tecidos e fluidos
corporais, sendo o cérebro um dos órgãos que contém níveis
mais elevados deste metal. A sua eliminação é feita através
dos rins, da pele e do intestino (DUTRA; CANTOS, 2010).
A concentração de Zn diminui com o avançar da idade,
havendo acentuado decréscimo a partir dos 75 anos de idade.
Esta diminuição em doentes de Alzheimer aumenta a
patologia amilóide. A diminuição de Zn sistêmico provoca
aumento na retenção de Zn no cérebro (DUCE; BUSH, 2010).
Suas principais fontes são: são carnes no geral
(bovinas, aves), frutos de mar, queijo, trigo, feijões, abóbora,
leite, castanhas, nozes, trigos (MELLO;COELHO, 2011). As
recomendações diárias de zinco segundo a Ingestão Diária
Recomendada (RDI) são de 11mg por dia para homens e 8mg
por dia para mulheres (ALBUQUERQUE, et.al., 2011).
O excesso desse mineral, também pode comprometer a
doença de Alzheimer, porque no cérebro, ele vai está
totalmente ligado e envolvido na formação de placas de
amiloide em forma de depósitos no tecido neuronal que
complicam e agravam o estágio da doença (CARAMELLI et
al.,2011).
A deficiência do zinco é um problema mundial, pois
afeta todas as faixas etárias dos países desenvolvidos e em
desenvolvimento. Os idosos por sua vez, estão sob risco
nutricional devido a vários fatores fisiológicos, psicológicos,
sociais e econômicos. As mudanças fisiológicas naturais
levam a um declínio na absorção e no metabolismo dos
nutrientes. Além disso, pode levar a anorexia, que devido as
mudanças irá reduzir a ingestão de alimentos (CESAR;
WADA, BORGES, 2010).
667
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
A deficiência do zinco tem sido relacionada com uma
alta ingestão de carboidratos e baixa ingestão de proteína
animal, que é um perfil comum nos idosos devido à restrição
de renda e dificuldade de obter e preparar sua refeição
(CESAR,WADA, BORGES, 2010), sua principal deficiência é
agravamento das funções neurais e outros problemas como:
dificuldade no crescimento, apatia, lesões na pele, dificuldade
de cicatrização, alteração no sistema imune, dermatite, perda
de peso, entre outros (MELLO; COELHO, 2011).
O estudo procurou investigar a influência do zinco na
doença de Alzheimer, tendo em vista que a deficiência desse
mineral tem sido sugerida como um fator de risco para o
agravamento e/ou complicações da doença, contribuindo para
um melhor esclarecimento desse relação e auxiliando
profissionais de saúde envolvidos no cuidado da doença.
Diante do exposto, a presente pesquisa torna-se
relevante uma vez que irá levantar informações sobre a
influência do zinco enquanto micronutriente, e sua importância
no tratamento doença de Alzheimer, tanto na terapia
nutricional, quanto no tratamento da doença, já que o mineral
mostra-se essencial para as funções neurológicas, que é uma
grande característica da doença. As informações à respeito
dessas questões, também irão ajudar a comunidade científica
e os profissionais que trabalham com a doença, a fim de que
possam ser desenvolvidos programas de intervenção mais
eficientes, trazendo benefícios à pessoa idosa e ao sistema de
saúde.
No entanto, esse trabalho busca realizar uma revisão
bibliográfica sobre a influência do zinco na Doença de
Alzheimer, além de relacionar a deficiência do zinco com o
agravamento da doença, identificar os riscos nutricionais no

668
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
idoso causado pelo o Alzheimer e analisar a importância do
zinco para os portadores da doença.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica


não sistemática que foi realizada nas bases cientificas Scielo,
Pubmed e Portal Capes, através de consultas a artigos e
revistas científicos, monografias, teses e dissertações, em
modelos experimentais e humano, sites institucionais e livros.
Os descritores utilizados para realização das buscas estão de
acordo com os Descritores em Ciência da Saúde (DeCS) e
foram: Doença de Alzheimer Envelhecimento, Zinco, Nutrição.
Foram incluídos e selecionados publicações dos últimos
dez anos. Foram excluídos do estudo publicações com data
inferior ao período estabelecido e que não tragam informações
relevantes sobre a doença.
Os estudos foram inicialmente selecionados pelos
resumos e posteriormente analisados na íntegra, e após a
inserção dos critérios de inclusão e exclusão, foram lidos a fim
de extrair os resultados e a conclusão do estudo proposto.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estudos apontam para uma estreita ligação do zinco


com o estresse oxidativo cerebral, e demonstram que essa
relação afeta diretamente a cognição e memória, uma vez que
a sinapse glutamatérgica, responsável por manter essas áreas
do cérebro, tem o seu transportador de zinco 3 (ZnT3) com
concentração maior em áreas afetadas pela patologia
amilóide, uma amiloidose localizada, de origem neurológica
que ocorre em pacientes com DA (ADLARD et al, 2010).
669
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
Nesse sentido, Smitd e Rungby (2012), em estudo de
revisão observaram que o ZnT3 tem sido associado à doença
de Alzheimer, e ainda, diabetes e doenças das vias aéreas. O
maior interesse na proteína tem sido em sua capacidade de
transportar zinco em vesículas pré-sinápticas de neurônios
glutamatérgicos e seu papel durante o desenvolvimento de
placas amilóides β na doença de Alzheimer, que resultam na
perda ou ausência da memória.
Para os autores, evidências crescentes sugerem que o
ZnT3 está presente em vários tipos de células, como do
cérebro, tecido adiposo, ilhotas pancreáticas, epiteliais, células
de testículos, células de câncer de próstata e células da retina,
e sua expressão é regulada pela idade, hormônios, ácidos
graxos, quelação de zinco e glicose.
Estudo experimental em ratos transgênicos, identificou
o declínio cognitivo em animais que apresentavam a patologia
amilóide, no qual verificou-se que a perda do transportador
ZnT3 inibiu a liberação dos íons Zn2+, onde o zinco liberado na
sinapse glutamatérgica contribuiu predominantemente na
deposição das placas amilóides, comprovando assim a
relação entre o zinco e a DA. No entanto, na pesquisa não
ficou claro até que ponto a carência ou a suplementação do
zinco é um fator estratégico para tratamento ou prevenção da
DA (ADLARD et al., 2010).
Nas diversas literaturas consultadas o declínio do zinco
é mais evidenciado com o avanço da idade, podendo afetar o
organismo de diversas formas, ressaltando-se a importância
do cuidado com uma alimentação saudável antes e durante a
velhice, e a necessidade de uma atenção maior com a
chegada da idade. No que se refere a DA, o nível de
decaimento do ZnT3 torna-se significativo com o avanço da
idade, sendo a perda da cognição causada pelo fato das
670
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
placas Aβ serem agregadas covalentes por esse metal,
também afetada pelo movimento trans-sináptico do zinco.
Dessa forma, o sequestro do zinco extracelular causada pela
lesão amiloide na DA, poderia resultar em perdas cognitivas
(BUSH, 2013; CRADDOCK et al., 2012; MILLER et al., 2010;
ADLARD et al, 2010).
Existem relatos, de que intrínsico ao processo de
formação das placas Aβ, o acúmulo de ferro intraneural na DA,
é causado por uma relação patológica com o acúmulo de
zinco, revelando um mecanismo de toxicidade (FALCO et al.,
2015). Contudo, demonstra-se a carência de trabalhos que
comprovem a dosagem de zinco nas dietas, principalmente
para os idosos, adequada para o organismo, já que sua
ausência também pode levar a outras patologias.
Quanto à relação entre os parâmetros bioquímico de
zinco e a DA, Tavares (2010), em pesquisa realizada com 86
idosos, 43 pertencentes ao grupo controle (sem DA) e 43 no
grupo com a DA, percebeu que entre os dois grupos não
houve diferença relevante significativa do mineral. Em
controvérsia, para o zinco plasmático no grupo experimental
entre idosos com demência leve a avançada a diferença foi
significativa, sendo 66,5 ± 10,5 para estes e 65,9 ± 7,3 para o
grupo de controle. Também foi observado que as
características de mastigação e deglutição sofreram maior
comprometimento nos idosos com DA, quando comparados
aos idosos saudáveis.
Destaca-se ainda, de acordo com o estudo acima
supracitado que o estado nutricional relativo ao zinco,
encontrava-se inadequado nos idosos pesquisados, uma vez
que a mastigação e a deglutição podem estar prejudicados na
DA e são importantes no processo de digestão, e quando esta
é dificultada, leva o idoso a reduzir sua ingesta calórica,
671
O ZINCO E SUA INFLUÊNCIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER.
podendo agravar o sua nutrição e estado nutricional. Torna-se
evidente que a nutrição do idoso como um todo desempenha
um papel importante na sua qualidade de vida, visto que
outras doenças ligadas á nutrição também podem acometer
esses indivíduos que já apresentam quadro da DA, como
diabetes, sobrepeso e desnutrição.

4 CONCLUSÕES

A literatura consultada evidencia que existe uma ligação


direta entre o zinco e a DA, apresentando-se comum a
deficiência subclínica em indivíduos com a doença. No
entanto, não foram encontrados estudos que relatassem a
recomendação do consumo de zinco na dieta mais adequado
para a prevenção e tratamento da doença, nem se a
suplementação seria benéfica nesses casos, já que algumas
pesquisas relatam a toxicidade do zinco devido ao seu
acúmulo ocasionado também pelo acúmulo de ferro
intraneural.
Dessa forma, conhecer a sua concentração adequada
para uma melhor interação com os demais metais, possa ser
um dos fatores determinantes no tratamento da DA, tornando-
se necessários mais trabalhos para uma melhor compreensão
dessa relação a fim de que possa ser administrado com
segurança na prevenção e tratamento contribuindo para
qualidade de vida dos indivíduos acometidos pela doença.

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675
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
NUTRIÇÃO
EXPERIMENTAL

676
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?

CAPÍTULO 34

A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ


ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
Rafaela de França COSTA1
Noelly Martins da SILVA2
Ana Lúcia Brito de OLIVEIRA3
1
Graduada em Nutrição Clinica ,FMN; 2 Pós graduada em nutrição Clínica – Metabolismo,
prática e terapia nutricional, UNIVERSIDADE GAMA FILHO; 3 Pós graduanda em nutrição
Clínica e Funcional DNA/ POS-FIP.
rafaellafranca41@gmail.com

RESUMO: A chia (Salvia hispanica L.) é uma planta herbácea


oriunda do México e norte da Guatemala, é considerada um
alimento funcional por apresentar na sua composição um
elevado valor nutricional, aos pouco vem despertado grande
interesse da população devido aos inúmeros benefícios a
saúde que lhe são atribuídos, onde estudos vem relacionado a
chia a distúrbios metabólicos como a obesidade. Esta revisão
literária tem como objetivo rever esses estudos e identificar os
benefícios funcionais da chia na obesidade, seus efeitos
benéficos e seus componentes bioativos na regulação da
obesidade. O estudo está sendo baseado em revisão literária
de diferentes artigos publicado em sua maioria no período
2007 a 2017. Com base nos estudos selecionados foi
possível observar a eficácia da semente de chia encontrada
nas suas diferentes formas onde apresentou propriedades
benéficas a saúde, onde o uso da suplementação na dieta da
chia na obesidade e promissor associando aos seus
componentes bioativos, no entanto esses componentes devem
ser avaliados para determinar uma dose segura de utilização,
formas de extração da chia e seus principais constituintes

677
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
bioativos para caracterizar os efeitos biológicos na regulação
da obesidade.
Palavras-chave: Chia (salvia hispanica L.). Alimentos
Funcionais. Obesidade.

1 INTRODUÇÃO

Os alimentos funcionais ao longo dos anos vêm


despertando o interesse de governos, indústrias, e
consumidores em todo mundo, sendo influenciado o seu
consumo e ressaltando a importância que os mesmo
apresentam para a saúde da população. Um dos alimentos
funcionais que apresenta grande valor nutricional para a saúde
humana é a semente de chia que é um alimento pouco
conhecido pela população brasileira (FERREIRA, 2013).
A chia (Salvia hispanica L.) é uma planta herbácea,
pertence a família Lamiaceae, tem sido cultivada inicialmente
no México há séculos e expandido ao longo dos anos para
vários países, as sementes podem ser consumidas em água
ou suco de frutas (COELHO, 2014). O grande destaque deve-
se ao fato de ser a melhor fonte saudável de fibras
(MIGLIAVACCA et al. 2014). Apresenta-se como um alimento
funcional de grande importância para a nutrição, por
apresentar na sua composição micro e macros nutrientes,
onde seu consumo passou a ser relacionado com efeitos
benéficos para a saúde, o que aumentou ainda mais o
interesse por essa matéria prima podendo auxiliar na
prevenção de diversas enfermidades relacionadas ao elevado
consumo de gordura saturada e baixa ingestão de fibras
(FERREIRA, 2013).

678
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
Devido as propriedades nutricionais estudadas a
semente de chia vem sendo associada ao tratamento de
diversas doenças metabólicas como a obesidade, diabete tipo
II, dislipidemia, hipertensão arterial e doenças
cardiovasculares (FUELBER, 2016).
Uma nutrição adequada é capaz de promover a saúde
do organismo, diminuir estresse, ansiedade e irritabilidade,
além de facilitar o controle de peso e do humor. Auxilia
também no combate a diversas doenças, torna seu tratamento
mais eficaz e favorece o paciente com uma recuperação mais
rápida (ALMEIDA, 2014).
Com base nisso, este presente trabalho tem como
objetivo avaliar na literatura os efeitos do consumo da
semente de chia na dieta analisando a sua composição, os
componentes bioativos e seus efeitos na prevenção da
obesidade e doenças relacionadas.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O desenvolvimento do seguinte trabalho seguiu os


preceitos de estudo exploratório por meio de levantamento
bibliográfico relacionado ao tema a partir de materiais já
elaborados.
A metodologia aplicada foi a leitura crítica, realizada
através de bibliogáfia de artigos em língua portuguesa e
inglesa indexados por bases de dados online SCIELO
(ScientificElectronic Library Online) e PUBMED (US National
Library of Medicine NationalInstitutesof Health), MEDLINE,
Google Acadêmico, publicações recentes dos últimos 10 anos.
Onde foram utilizados os seguintes descritores: chia, salvia
hispânica, propriedades funcionais, obesidade, distúrbios

679
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
metabólicos, benefícios para a saúde , compostos bioativos .
Foram selecionados artigos que preenchiam os seguintes
critérios: estudos científicos que abordassem a temática de
propriedades funcionais da chia , obesidade, distúrbios
metabólicos , os componentes bioativo, efeitos na dieta,
benéficos a saúde.
A coleta de dados seguiu de leitura exploratória do
material pré - selecionado para registros específicos das
informações extraídas das seguintes fontes (autor e ano,
objetivo do estudo , método, resultado, discussão), como
critério de exclusão foi utilizado os seguintes critérios: estudos
científicos que não atendessem às temáticas e que não
apresentassem informações dos efeitos da chia na dieta.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A seguir serão apresentados os artigos coletados


baseado nos critérios estabelecido em forma de tabelas
contendo estudos que identificam os benefícios da chia na
dieta e sua composição química.
Os dados coletados nos estudos pré-clínicos
apresentados demonstraram os efeitos benéficos da chia em
animais e observou que a chia apresentou melhoras no perfil
lipídico, ação hepatoprotetora, efeito hipotensor, redução dos
níveis de glicemia, efeito gastoprotetor, anti-inflamatório e
antioxidante.

680
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?

Tabela 1. Efeitos benéficos da chia em ensaios pré-clínicos


Autor/ Objetivo do Métodos Dose Resultados
Ano estudo /Duração do
tratamento

CHICCO Investiga os Ratos wistar Setenta e dois Os


etal.(2008) benefícios da machos (peso ratos foram resultados
ingestão de inicial de 180- randomizados mostraram
sementes de 190 g) em três grupos que a
chia rica em e alimentado semente de
fibras sobre uma dieta chia
dislipidemia e atribuída por 3 dietética
resistência à semana. impediu o
insulina (RI). apareciment
o de
dislipidemia
e (RI).
POUDYAL Avalir as 48 ratos wistar Dos grupos de Os ratos
et al.(2012) sementes de machos (8-9 tratamento suplementa
chia nos efeitos semanas de foram dos com
metabólicos, idade, 338 ± 4 suplementado semente
cardiovasculares g) foram s com 5% de chia ouve
sinais hepáticos aleatoriamente sementes de uma
de uma dieta rica divididos em chia após 8 melhora
em carboidratos quatro grupos. semanas de significativa
em ratos. tratamento. na insulina,
a gordura
visceral foi
reduzida.

681
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?

AYERZA Determinar os 32 ratos Wistar Dieta derivada Melhra no


(2007) ácidos graxos machos foram do óleo de perfil
influenciam alimentados milho (T (1)), Lipídico
positivamente na com quatro semente de para os
composição do dietas chia inteira (T ratos
plasma. isocalóricas. (2) semente de alimentados
chia moída (T com chia
(3)), ou óleo (T2) em
de chia (T (4)) comparação
durante 30 com os
dias de ratos
tratamento. alimentados
com as
outras
dietas
controle.

MARINELI Verificar os Os animais Animais Houve


et al. efeitos benéficos usados na alimentados redução da
(2015) no organismo pesquisa foram com dieta peroxidação
dos animais. ratos wistar adicionada de lipídica nos
divididos em 6 semente de dois grupos
grupos: chia em de 6 e 12
controle magro, período longo semanas é
controle obeso. de 12 aumento da
semanas e capacidade
curto de 6 do sistema
semanas. de defesa
antioxidante.

Fonte: COSTA RF, 2017

O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de


identificar os benefícios funcionais da chia na obesidade, seus
efeitos benéficos, e seus componentes bioativos. De acordo
com estudos avaliados neste trabalho, a chia encontradas nas

682
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
suas diferentes formas apresentou outras propriedades
benéficas a saúde além das descritas anteriormente a respeito
da obesidade, onde houve resultados controversos entre os
autores citados.
A suplementação da semente de chia demonstram
uma melhora no perfil lipídico impedindo o aparecimento de
dislipidemia em experimento pré-clínicos Poudyal (2012). Os
ratos suplementados com semente chia apresentou uma
melhora significativa na insulina e de glicose onde houve
redução na gordura visceral apesar disso nenhuma alteração
foi encontrada no plasma (CHICCO, 2008). Em seus estudos
AYERZA (2007) demonstrou que a chia aumentou o conteúdo
de TG sérico aumentando o conteúdo de HDL apenas com a
dieta (t2) semente de chia TG significativamente inferior, com
a dieta (t3) chia moída o HDL significativamente mais
elevado, do que a dieta de controle, mostrando que chia
significativamente aumentou a conteúdo de plasma em
comparação com a dieta de controle, ouve diferença nos
constituintes das extrações da chia durante o resultado.
Segundo Marineli (2016) o consumo da semente ou do
óleo de chia pode não favorecer o emagrecimento como
muitos acreditam, mas, ainda assim, faz muito bem à saúde. A
pesquisa comprovou que a chia possui resultados positivos
referem-se à resistência à insulina, tolerância à glicose e aos
níveis de colesterol, problemas que também podem estar
relacionados com a obesidade podendo vim diminuir essa
inflamação.

683
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
Tabela 2. Influência da chia na dieta em ensaios clínicos
Autor/Ano Objetivo do Métodos Dose/Duração Resultados
estudo do tratamento
NIEMAM Avaliar a Os Ingestão de 25 g Aumento
et al.(2009) eficácia de indivíduos de sementes de significativo
semente de incluíram chia duas vezes do ácido a-
chia 90 homens ao dia durante linolênico
(Salviahispanic com 12 semanas. (ALA )
a L) em excesso de plasmático,
Promovendo a peso e sobrepeso
perda de Peso obesos e homens e
de 20 a mulheres não
70anos. tiveram
benefícios
para a saúde .

NIEMAN et Avaliar a Os 25g de sementes A massa


al. (2012) eficácia da indivíduos de chia ou corporal e a
semente de incluíram suplementos composição
chia moída e 24 placebo a cada permanecera
integral na sobrepeso dia durante 10 m estáveis
alteração do e 38 semanas
risco de doença obesos
fatores em mulheres
mulheres com pós-
sobrepeso pós- menopaus
menopausa. a.

JIN et al. Avaliar a Mulheres 25 g de Houve


(2012) suplementação pós- sementes aumento no
de chia moída menopaus de chia moídas Plasma ácido
no organismo. a, com por dia durante 7 a-linolênico
idades semanas. (ALA ) e
entre 53- ácido
60 indice eicosapentan
de massa oico(EPA) ,
corporal mas não DPA
(IMC) não e DHA, não
maior do conseguiu
que 35 kg mostrar

684
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
/M². mudanças.

VUSKAN Avaliar a Indivíduos Receberam 15 a Houve uma


et al. (SalviaHispanic saudáveis 24 g de Salvia redução da
(2010) a L.) grão (6 homens cozido em pão dose-resposta
inteiro na e5 branco, o na glicemia
redução da mulheres, tratamento foi pós-prandial
glicemia pós- idade durante 120 min. com todas as
prandial em 30 ± 3,6 três doses de
individuos anos; Salvia.
saudável. índice de
massa
corporal de
22,2 ± 1,3
kg / m 2) .

GUEVERA Avaliar os 67individuo Consistiu de uma Perda de


et al. efeitos de um s mestiços dieta de 500kcal peso corporal
(2012) padrão dietético mexicanos, uma mistura de e redução dos
(DP, proteína de com idade nopal níveis de
soja, nopal, entre 20 e desidratado (7g), trigliceridios e
semente de 60 anos , 4 g de sementes glicose no
chia e aveia) com de chia, 22 g de sangue.
sobre as síndrome aveia, 32 g de
variáveis metabólica proteína de soja
bioquímicas . por 2 meses.

FUELBER Avaliar os 19 10 g da Houve uma


(2016) efeitos do mulheres semente/dia maior redução
consumo da foram durante 30 dias. de peso
semente chia selecionad naquelas que
em mulheres as. o fizeram no
com sobrepeso período da

685
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
e obesidade . noite.

TAVARES Avaliar o efeito 29 Ingeriram 35g de Chia induzida


et al. da indivíduos farinha de chia e reduziu
(2015) suplementação de ambos placebo durante significativam
chia na os sexos 12 semanas. ente a Perca
composição foram de peso
corporal, recrutados corporal com
Sobrepeso ou para maior redução
indivíduos estudo entre
obesos. randomiza indivíduos
do, duplo- obesos do
cego. que
sobrepesos.

VUSKAN Avaliar o efeito Ensaio Dieta com Aos 6 meses,


et al. de Salvia-chia duplo-cego restrição calórica os
(2016) no peso randomiza de 6 meses. participantes
corporal, do, um grupo no Salba-chia
obesidade controlado recebeu 30 g / tinha perdido
visceral e à com dois dia de Salvia- mais peso do
obesidade grupos Chia, os outros que aqueles
paralelos 36g / dia de um no
77 controle à base controle,respe
envolvido 6 de farelo de ctivamente;
pacientes aveia. acompanhada
com de uma maior
excesso de redução da
peso ou circunferência
obesos da cintura.
com
diabetes
tipo2.

Fonte: : COSTA RF , 2017

686
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
Nos estudos apresentados pode-se perceber diferenças
na quantidade da dose ofertada, na duração do tratamento,
nos indivíduos que foram selecionados e na forma como a
chia foi utilizada : semente, óleo e farinha de chia . Dos oitos
estudos investigado sobre a influência da sementes de chia na
perca de peso em humanos apenas quatro apresentou
resultados significativos, a pesquisa também mostrou que o
consumo de chia possui efeitos positivos para a saúde.
Os estudos dos efeitos da chia na dieta em humanos
apresentados na tabela de estudos clínicos mostraram que há
divergências nos resultados. Nos estudo feito inicialmente por
Nieman et al., (2009) onde 76 indivíduos de ambos os sexos
com idade 20-70 anos, utilizaram 25g de semente de chia
duas vezes ao dia diluídas em água não apresentou
diferença significativa na redução da massa corporal apenas
um aumento significativo do ALA plasmático.
Para comprovar seus resultados Nieman et al., (2012)
de modo a minimizar as diferença entre os indivíduos, foram
selecionada 56 mulheres pós-menopausa, onde consumiram
25 g de sementes de chia moídas uma vez ao dia, foi
observado um aumento significativo nos níveis de ALA e EPA
no grupo chia moído, mas nenhuma alteração foi encontrada
nos outros parâmetros do estudo, a massa corporal e a sua
composição permaneceram estáveis comprovando assim seu
estudo anterior. Este mesmo efeito foi observado no estudo
realizado por Jin et al. (2012) onde foi avaliado 10 mulheres
pós-menopausa usando 25g de chia moída por dia durante um
Período de sete semanas, e constatou um aumento
concentrações séricas de ALA e EPA.
Apesar dos estudos de Nieman (2009, 2012) não ter
apresentado uma redução na perca de peso dos indivíduos
687
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
estudados, os estudos feitos por GUEVARA et al. (2012)
mostrou uma redução significativa onde foi realizado estudo
com 4g de semente de chia diluído em 250 ml de água em
conjunto com uma intervenção dietética, foi demonstrado uma
diminuição significativa na massa corporal, IMC, circunferência
da cintura, e resistência à insulina.
Um resultado positivo na redução de peso foi avaliado
por Fuelber (2015) onde foram consumido 10g de chia em
sua forma integral, ou seja, em forma de semente
acompanhado de água, 30 min antes das refeições.
Estudos realizados por Tavares et al., (2015 ) avaliou
20 indivíduos sendetarios onde foi feito um estudo
randomizado duplo cego onde os indivíduos receberam uma
mistura de farinha de chia e placebo durante 12 semanas,
onde foi observado que o grupo chia apresentou aumento da
proteína na quarta semana em comparação com o PLA, o
peso corporal diminuiu significativamente no grupo chia após
12 semanas de intervenção em comparação com a linha de
base chia induz a perda de peso clinicamente discreta e
melhora o perfil lipídico. A fibra dietética pode melhorar a
saciedade, e promover a perda de peso a chia farinha e
Placebo utilizados no estudo contêm quantidades semelhantes
de fibra dietética. No entanto, as fibras presentes em chia
possui alta viscosidade levando à formação de gel em que
pode conferir a esta um aditivo alimentar efeito sobre a
saciedade.
Estudos realizados por Vuskan et al., (2016) que
avaliou uma dieta restrita normocalorica com apenas 500kcal
que continham chia 30g e placebo 36g foi realizada com
indivíduos com excesso peso, obeso e diabéticos tipo II por 6
meses acompanhamento, apresentaram uma maior redução
688
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
da circunferência da cintura a proteína C-reativa foi reduzida
em Salva-chia, em comparação no controle adiponectina.
Estes dados em conjunto sugerem que a chia é
promissor no tratamento da obesidade porém, sera necessário
que determinar quais são componentes presentes na chia
estabeleçam uma margem de segurança para o consumo
dessa semente, já que ainda são incertos os valores ideais
para desenvolver o seu efeito em seres humanos.

Tabela 3. Benefícios dos compostos bioativos na dieta


Autor/ Ano Metodos Componentes Benefícios

OLIVEIRA et al. Extração Ácido cafeico e São compostos


(2017) líquido-líquido danshensu fenólicos das
de ultra-som sementes de chia
(USE) , a estão relacionados
caracterização a um risco
foi feita por reduzido de
Cromatografia doença
líquida cardiovascular e
efeito
hepatoprotetor um
efeito protetor
contra o estresse
oxidativo
plasmático e
obesidade
relacionados.
IXTAINA etal. (2011) Pressão e Os ácidos cafeico Antioxidantes e
extração de e clorogênico, anti-inflamatorias
solvente miricetina, alem de melhorar
quercitina e as anormalidades
kaempferol. relacionadas a SM.

CVETKOVIKJ Cromatografia Ácido rosmarínico Um composto

689
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
et al. (2013) líquida de fenólico principal
desempenho em espécies de
(HPLC) salvia e tem
diversos funções
imunorreguladoras,
incluindo
atividades
antimicrobianas,
antioxidantes e
anti-inflamatória.

YANG et al. (2013) Cromatografia Ácido cafeico e Aumento no efeito


líquida de rosmarínico hepatoprotector,
desempenho relacionado ao
(HPLC) aumento dos
níveis de
antioxidante
endógeno.

Fonte: COSTA RF, 2017

Os dados coletados demosntraram a importância dos


componentes bioativos na dieta e seus benefícios, ambos os
estudos mostraram que a dieta com esses componentes
aumentam os efeitos antioxidantes, anti-inflamatorio,
hepatoprotetor, funções imunorreguladoras.
Para identificar quais os compostos que estã presente
na chia estudos realizado por Oliveira et al., (2017) foram
encontrado compostos fenólicos na sementes de chia (Salvia
hispanica L.), farinha e óleo, onde foi indentificado seus
benefícios através dos componentes ácido cafeico e
danshensu e seus derivados, tais como como ácidos
rosmarínicos e salvianolicos que são fontes dietéticas
importantes de antioxidantes para prevenção de doenças
causadas pelo estresse oxidativo, esses compostos também
690
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
foram avaliados e identificado os ácidos cafeico e clorogênico,
miricetina, quercitina e kaempferol por Ixtaina et al. (2011) ,
ácido rosmarínico Cvetkovikj et al.(2013) , ácido cafeico e
rosmarínico yang et al. (2013), onde foi destacado a
importância desses componentes na dieta na preveção de
algumas doenças relacionadas ao estresse oxidativo.
Os compostos bioativos estudados revelam sua
importância aonde sua ingestão dietética de componentes
bioativos como compostos fenólicos das sementes de chia
estão relacionadas a um risco reduzido de doença e efeito
hepatoprotetor e um efeito protetor contra o estresse oxidativo
plasmático e a obesidade relacionada doenças, diversos
estudos evidenciaram os efeitos benéficos da chia como foi
citado por alguns autores que apresentam como um potencial
no tratamento de perda de peso, devendo ser utilizada como
complemento dietético e suplementação na dieta (OLIVEIRA,
2017).
Com este estudo pode-se perceber que o uso da
suplementação de chia na dieta para redução peso é
promissor, pois os estudos mostraram que houve uma
redução, no entanto não padronizaram a sua forma de
utilidade de maneira que onde não foi expecificado uma dose
segura da chia (salvia hispanica L. ) nem a sua forma de ser
utizada como óleo, semente, farinha na alimentação, na
prevenção e no tratamento da obesidade álem disso os seus
efeitos benéficos podem está associado a presença de
compostos bioativos presente na chia como os compostos
fenólicos, ácidos cafeico e clorogênico, flavonoides, quercetina
e kampeferol podendo ser utilizada como um complemento na
alimentação. Consideramos importantes que mais estudos
sejam realizados para caracterizar a dose, a sua forma de
691
A CHIA (salvia hispânica L.) ESTÁ ENVOLVIDA NA REGULAÇÃO DA
OBESIDADE?
utilização é seus constituintes bioativos para garantir a
comprovação dos seus efeitos na obesidade.
4 CONCLUSÕES

Com base neste estudo pode-se perceber que o uso da


suplementação de chia na dieta para redução peso é
promissor, pois os estudos mostraram que houve uma
redução, no entanto não padronizaram a sua forma de
utilidade de maneira que onde não foi expecificado uma dose
segura da chia (salvia hispanica L.) nem a sua forma de ser
utizada como óleo, semente, farinha na alimentação, na
prevenção e no tratamento da obesidade, álem disso os seus
efeitos benéficos podem está associado a presença de
compostos bioativos presente na chia como os compostos
fenólicos, ácidos cafeico e clorogênico, flavonoides, quercetina
e kampeferol podendo ser utilizada como um complemento na
alimentação. Consideramos importantes que mais estudos
sejam realizados para caracterizar a dose, a sua forma de
utilização é seus constituintes bioativos para garantir a
comprovação dos seus efeitos na obesidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

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694
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
CAPÍTULO 35

ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA


IMAGEM CORPORAL E O SURGIMENTO DE
TRANSTORNOS ALIMENTARES EM
UNIVERSITÁRIOS

Jéssica Andréia Bezerra do Nascimento COSTA¹


Erivânia Oliveira de QUEIROZ²
Jousianny Patrício da SILVA³
¹ ²
Nutricionista pelas Faculdades Integradas de Patos; Nutriciinista pelas Faculdades
³
Integradas de Patos; Nutricionista, Mestre em Ciências da Nutrição, Especialista em Nutrição
Clínica, Docente das Faculdades Integradas de Patos.
nutricionistajessicacosta@gmail.com

RESUMO: A busca por um corpo considerado perfeito está


cada vez mais em evidência, a maioria das pessoas
preocupam-se em se enquadrar a padrões que consideram a
imagem corporal aspecto de aceitação. O presente trabalho
objetivou investigar a associação entre a percepção da
imagem corporal e o risco para desenvolvimento de
características que envolvem o comportamento alimentar,
favoráveis para o surgimento de transtornos alimentares em
universitários do curso de Nutrição das Faculdades Integradas
de Patos – FIP. Foi realizado um estudo do tipo transversal
com 220 alunos, através de levantamento de campo realizado
em todos os períodos com aplicação dos questionários Body
Shape Questionnaire (BSQ) e Eating Attitudes Test (EAT 26).
Foi possível identificar diferentes proporções para os níveis de
preocupação com a imagem corporal através do BSQ, 10% da
amostra apresentou preocupação leve, 4,1% preocupação
moderada e 0,9% preocupação grave com a imagem corporal.
695
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
Por meio do EAT 26 constatou que a escala da dieta contou
com resultados de preocupação patológica ligada ao
comportamento alimentar em 12% dos participantes, e por
meio da associação com os resultados do BSQ, foi
demonstrado que a imagem corporal influência no
comportamento alimentar dos universitários. Diante do estudo,
conclui-se que a forma como a própria imagem corporal é vista
pelos universitários é capaz de influenciar o comportamento
alimentar, podendo ser fator predisponente para transtornos
alimentares.
Palavras-chave: Constituição Corporal. Comportamento
Alimentar. Transtornos da Alimentação.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o culto ao corpo perfeito está cada


vez mais em evidência, equivalente ao crescimento da busca
de um conceito do modelo de beleza proposto pela sociedade.
Para Zenith et al. (2012) as pessoas que não se encaixam
nesses padrões sentem-se por vezes cobrados, demonstrando
uma insatisfação que nem sempre é ligada a um corpo
saudável. Paralelamente, a sociedade de consumo atual não
liberta as pessoas dos padrões exigidos em relação a beleza
imposta, valorizando a aparência, desconsiderando as
diversidades existentes, essa preocupação com o corpo bonito
afeta diferentes gêneros, faixas etárias e classes sociais
(WITT; SCHENEIDER, 2011).
Segundo Schilder (1994 apud UCHÔA et al., 2015 p. 1)
“a imagem corporal é a figuração do corpo formada em nossa
mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para
nós”. Quando a imagem corporal que o indivíduo tem sobre si
é negativa, provoca uma experiência aversiva, insatisfação e
696
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
presença de sentimentos depreciativos, podendo provocar
desconfortos que levam a busca constante da aceitação dos
outros, esses sentimentos é um relevante aspecto para o
diagnóstico de alguns transtornos de ordem alimentar
(CARVALHO et al., 2013; MACÊDO et al., 2015).
Pietro e Silveira (2009) destacam a relevante
importância de se identificar as possíveis alterações na
imagem corporal, devido ser um fator categórico no tocante ao
diagnóstico precoce de transtornos alimentares e distorções
corporais, já que deve-se considerar os sintomas mesmo que
isolados, pois estes antecedem as manifestações desses
distúrbios.
Caracterizados como doenças psiquiátricas com
capacidade debilitante, os transtornos alimentares podem
causar danos à saúde física, no funcionamento psicossocial,
associados com complicações clínicas, morbidade e
mortalidade significativas, pois são acompanhados com
alterações fisiológicas resultantes do controle do peso, em
pacientes com anorexia e bulimia nervosa (SCHEBENDACH,
2013). Perante essas consequências ocasionadas pelos
distúrbios que envolvem a alimentação, Bighetti (2003)
explana a importância que se deve atribuir aos transtornos
alimentares, priorizando medidas que previnam o
aparecimento e desenvolvimento dos mesmos.
Duarte, Almeida e Martins (2013) afirmam que os
universitários apresentam modificações no consumo alimentar
com pouca ingestão de alimentos saudáveis fora do lar,
distintas vezes pela pouca disponibilidade de determinados
produtos no comércio presente na proximidade da
universidade ou pelas ações de marketing que geralmente são

697
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
direcionadas a produtos de baixa qualidade nutricional, o que
pode influenciar na escolha do alimento.
Em paralelo, os estudantes do curso de nutrição serão
futuros profissionais que estarão lidando diretamente com a
imagem corporal, ao envolver-se constantemente com as
características estéticas, estes podem ser acometidos por
preocupações excessivas relacionadas ao físico, levando a
uma busca constante para enquadrar-se no que julgam como
adequado para a satisfação corporal (BATISTA et al., 2015;
CARAM; LAZARINE, 2013; WITT; SCHENEIDER, 2011).
Surge, portanto, a relevância de investigar se há associação
da imagem corporal com o possível surgimento de transtornos
alimentares nos estudantes de Nutrição.
Com base no exposto, o presente estudo teve por
objetivo investigar a associação entre a percepção da imagem
corporal e o risco para desenvolvimento de características que
envolvem o comportamento alimentar, favoráveis para o
surgimento de transtornos alimentares em universitários do
curso de Nutrição das Faculdades Integradas de Patos – FIP.
Do mesmo modo, avaliar como os estudantes de Nutrição
julgam sua própria imagem corporal, identificar o
comportamento alimentar dos alunos, como também
relacionar se a auto percepção corporal é um fator que exerce
influência sobre o comportamento alimentar dos estudantes.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Foi realizado um estudo do tipo transversal com 220


alunos (186 mulheres e 34 homens) do curso de bacharelado
em Nutrição das Faculdades Integradas de Patos (FIP), com
enfoque quantitativo para análise estatística, os métodos

698
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
foram efetivados em um levantamento de campo realizado em
todos os períodos do curso supracitado.
A população foi composta por acadêmicos do curso de
Nutrição, com amostragem do tipo não probabilística,
constituída por 220 universitários encontrados em sala de aula
no momento da coleta dos dados, aos quais foram aplicados
os questionários.
O critério de inclusão na amostra constituía em ser
aluno do curso de Nutrição das FIP, está devidamente
matriculado, sem limite de idade. Foram excluídos os alunos
que não aceitaram participar do estudo, aqueles que não
responderam os questionários propostos de forma correta e as
alunas grávidas.
Os dados foram coletados por meio da aplicação de
dois questionários validados e auto preenchíveis adicionado
de perguntas sobre informações quanto ao gênero, idade e o
período do curso que se encontravam. Para avaliar os níveis
de insatisfação com a imagem corporal foi aplicado o Body
Shape Questionnaire (BSQ), um questionário desenvolvido por
Cooper, Taylor e Cooper (1987), validado e traduzido para
versão brasileira por Pietro e Silveira (2009). Segundo Rosa
Júnior et al. (2015), este questionário de auto relato é
composto por 34 questões, em uma escala do tipo Likert de 6
pontos (onde 1 = nunca até 6 = sempre), cada item do BSQ é
somado para calcular o resultado final da escala, quanto maior
o valor significa que mais insatisfeito com sua própria imagem
corporal encontra-se o indivíduo.
Para quantificar a preocupação com a imagem corporal
os resultados inferiores ou iguais a 110 pontos classificam que
a pessoa não apresenta “nenhuma preocupação”, a
preocupação é considerada uma “preocupação leve” quando a

699
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
pontuação total for maior que 110 e menor ou igual a 138,
“moderada” quando atingir um total superior a 138 e inferior a
167, e “grave” quando a pontuação estiver superior a 167
pontos (PIETRO; SILVEIRA, 2009).
Para mensurar a avaliação das atitudes alimentares
aplicou-se o Eating Attitudes Test (EAT 26) questionário
desenvolvido por Garner e Garfinkel (1979), em sua versão
traduzida para o português e validada por Bighetti (2003). O
EAT-26 é um instrumento formado por 26 itens, esses estão
divididos em três escalas: 1 – Escala da dieta (D) – itens n°
1,6,7,10,11,12,14,16,17,22,23,24,25: refletem uma rejeita
patológica a alimentos de alto valor calórico e intensa
preocupação com a forma física; 2 – Escala de Bulimia e
Preocupação com os Alimentos (B) – itens n° 3,4,9,18,21,26:
referentes a eventos de ingestão compulsiva dos alimentos,
seguidos de vômito e outras atitudes para evitar o ganho de
peso; 3 – Escala do Controle Oral (CO) – n° 2,5,8,13,15,19,20:
refere-se ao auto controle relacionado as refeições e distingue
forças sociais no ambiente que incitam o consumo alimentar
(BIGHETTI, 2003).
As questões são divididas em 3 escalas, também do
tipo Likert, com 6 opções de respostas atribuindo de 0 a 3
pontos de acordo com a escolha (sempre = 3 pontos, muitas
vezes = 2 pontos, as vezes = 1 ponto, poucas vezes, quase
nunca e nunca = 0 pontos) sendo a única questão que
apresenta ordem de pontos invertidas o item 25, pois para
respostas mais assintomáticas não são dados pontos, e para
as alternativas poucas vezes, quase nunca e nunca são
atribuídos 1, 2 e 3 pontos, ao contabilizar os resultados acima
de 21 pontos são considerados positivos para comportamento
de risco para transtornos alimentares (BIGHETTI, 2003).

700
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
Após a aplicação dos questionários supracitados, os
dados foram armazenados no programa estatístico Statistical
Package For The Social Sciences (SPSS) versão 22 para
Windows, onde realizou-se análises descritivas utilizando-se
média, desvio padrão e frequências, como também a
realização de tabulação cruzada com teste analítico por meio
do qui-quadrado de Pearson.
A participação no estudo foi de acordo com a
Resolução normativa n° 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde, com caráter voluntário ficando considerado o respeito
pela dignidade e proteção dos participantes. A pesquisa
iniciou-se apenas após a aprovação do Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) das FIP sob protocolo n° 1.687.236, com
autorização institucional devidamente assinada. Os alunos
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) e para os menores de 18 anos foi solicitada a
assinatura do Termo de Assentimento e do TCLE pelos seus
responsáveis.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram do estudo 220 alunos do curso de


Nutrição, dos quais 186 eram mulheres (84,5%) e 34 homens
(15,5%), com a média de idade de 22,3 anos (±4,2). Todos os
períodos do curso fizeram parte da amostra da pesquisa, com
uma predominância dos estudantes do 6° período (17,3%),
seguido pelo 2° (16,4%) e 8° período (14,5%).
A análise do instrumento de coleta de dados mostrou
que a média de pontos do BSQ entre os universitários foi de
78,95, sendo o escore mínimo de 35 e o máximo de 178. Foi
possível identificar a proporção de acadêmicos para os níveis

701
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
de preocupação com a imagem corporal, onde 85% (n= 187)
não apresentaram nenhuma preocupação, 10% (n=22)
demonstraram preocupação leve, 4,1% (n=9) preocupação
moderada e 0,9% (n=2) preocupação grave, como pode-se
observar na Figura 1.

Figura 1- Dados referentes a porcentagem dos resultados


obtidos com base no instrumento BSQ

4,1% 0,9%
10%

85%

Nenhuma Preocupação Preocupação Leve


Preocupação Moderada Preocupação Grave

Fonte: Dados da pesquisa, 2016

Corroborando com os dados atuais referentes a


supervalorização da imagem corporal, Bracht et al. (2015)
descreve que a sociedade desencadeou um padrão de beleza
que leva as pessoas a uma busca constante por uma
aparência perfeita, que quando não almejada gera uma
insatisfação pessoal. Diante do estudo foi possível identificar
15% da amostra de universitários que apresentaram algum
nível de preocupação relacionada a imagem corporal.

702
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
Segundo Cheung-Lucchese e Alves (2013) a aparência física
com seus aspectos de tamanho, forma e peso, demonstram
uma influência representativa na maneira de perceber-se ou
na forma como são interpretadas as transformações corporais.
Foram relacionados os resultados da classificação do
BSQ com a variável sociodemográfica sexo, por meio de um
teste qui-quadrado com significância estatística (p=0,04),
verificou-se que o gênero feminino foi o que apresentou
resultados para preocupação leve 10% (n=22), moderada
4,09% (n=9) e grave 0,45% (n=1), enquanto que o gênero
masculino apenas um estudante apresentou uma única
característica de preocupação grave (0,45%), os demais
universitários do gênero masculino apresentaram nenhuma
preocupação 15% (n=33), como pode-se observar na Figura 2.

Figura 2- Classificação do BSQ de acordo com o gênero


dos participantes
80%
70%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 15%
10%
10% 4,09%
0,00% 0,00% 0,45% 0,45%
0%
Nenhuma Preocupação Leve Preocupação Preocupação Grave
Preocupação Moderada
FEMININO MASCULINO

703
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
Fonte: Dados da pesquisa, 2016

Os achados em relação a insatisfação com a imagem


corporal no gênero masculino, não houve preocupação
significativa 0,45% (n= 1), entretanto no gênero feminino
apresentaram resultados positivos para os diferentes níveis,
preocupação leve 10% (n= 22), moderada 4,09% (n=9) e
preocupação grave 0,45% (n= 1), o que condiz com resultados
semelhantes aos estudos de Batista et al. (2015), Carvalho et
al. (2013), Silva e Ferreira (2013), onde foram identificadas
diferenças estatísticas para insatisfação com a imagem
corpórea no sexo feminino. Podendo justificar tal resultado
pelo fato do número de mulheres participantes do presente
estudo ser maior que o de homens, bem como pela
característica das mulheres valorizarem mais um modelo de
beleza.
Scherer et al. (2010) afirmam que o padrão do corpo
feminino passou por transformações perante a sociedade, o
corpo mais obeso era considerado como ideal de beleza, e foi
substituído nos últimos anos por uma figura extremamente
magra, desconsiderando as formas físicas, influência genética
e a própria saúde da mulher, acarretando em insatisfação
constante com o próprio corpo.
Contrapondo-se com dados do estudo de Silva e Nunes
(2014), onde constatam que o gênero masculino também está
demonstrando o desenvolvimento de uma insatisfação com o
próprio corpo, fazendo com que deixe de ser uma inquietação
predominantemente feminina, em sua pesquisa foram
encontradas altas prevalências de insatisfação em ambos os
sexos, 69,4% no sexo feminino, 68,9% no masculino, mas
devido a carência de estudos com esse público em específico,

704
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
o descontentamento com a forma física nos homens ainda
encontra-se de certa forma incompreendida.
A comparação entre as respostas do BSQ com as
variáveis idade e período do curso que os estudantes
encontravam-se, não apresentaram significância estatística
para os níveis de preocupação do BSQ, demonstrando que
essas variáveis não são fatores predominantes para
preocupação com a imagem corporal.
O EAT foi analisado através da divisão das escalas que
constituem o mesmo, a escala bulimia e preocupação com o
alimento e escala do controle oral não apresentaram nenhum
sujeito com resultado positivo para preocupação patológica. A
escala da dieta apresentou um percentual considerável de
indivíduos com resultado positivo, perfazendo 12% da amostra
(n=25), como podemos notar na Figura 3.
Gráfico 3- Percentual da amostra com resultado positivo
na escala da dieta
100%
88%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20% 12%
10%
0%
Resultado Positivo Para Preocupação Sem Preocupação
Patológica

Fonte: Dados da pesquisa, 2016


705
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS

A literatura fundamenta a existência da associação que


envolve a insatisfação corporal relacionada com o
comportamento alimentar, uma idealização de imagem perfeita
do corpo está ligada aos padrões sociais que são
preconizados na atualidade, interferindo nas escolhas dos
alimentos, tornando-se um dos aspectos analisados para
auxiliar no diagnóstico de transtornos de origem alimentar,
contudo ainda necessita-se de estudos que avaliem mais
detalhadamente essa associação (CARVALHO et al., 2013).
Com relação ao comportamento alimentar de risco a
escala do EAT referente a dieta, aponta um resultado positivo
para 12% da amostra do presente estudo, uma vez que esse
questionário não faz o diagnóstico definitivo de um transtorno
alimentar, mas identifica o risco de atitudes alimentares
inadequadas, podendo refletir uma rejeita patológica dos
estudantes a alimentos de alto valor calórico e preocupação
exacerbada com a forma física.
A tabela 1 apresenta os dados obtidos através do teste
qui-quadrado com significância (p= 0,000), onde foram
associados os resultados do BSQ com a escala da dieta do
EAT, demonstrando que 48% dos alunos que apresentaram
preocupação leve com a imagem corporal também
apresentaram características preocupantes na escala da dieta,
20% com preocupação moderada e 8% com preocupação
grave, com a mesma predominância de característica
preocupante relacionadas ao comportamento alimentar, o que
confirma que as mesmas pessoas que apresentam
preocupação relacionada a imagem corporal também
demonstram-se preocupadas com as questões que envolvem
o consumo alimentar.

706
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
Tabela 1 – Associação entre níveis de preocupação do
BSQ com escala da dieta do EAT
*p < Escala da Dieta
0,00
1 Com indícios Sem
Font
e:
BSQ para preocupação
Dad preocupação
os
da patológica
pesq
uisa, n % n % n
2016
Nenhuma 6 24% 180 92.8 18
O
Preocupação %

pres Preocupação Leve 12 48% 10 5,2% 2


ente Preocupação 5 20% 4 2,1% 9
estu
Moderada
do
verif Preocupação Grave 2 8% 0 0% 2
icou TOTAL 21
uma
associação significativa entre a distorção da imagem corporal
e o risco para o desenvolvimento de transtornos de ordem
alimentar conforme na tabela 1, a correlação foi verificada
entre alunos que apresentaram características preocupantes
na escala da dieta, e aqueles que apresentaram preocupações
relacionadas a imagem corporal no teste BSQ, essas escalas
se complementaram demonstrando um mesmo grupo de
indivíduos no teste estatístico, com sinais preocupantes. Esta
associação confirma os resultados encontrados por Cubrelati
et al. (2014), Legnani et al. (2012) e Schere et al. (2010), onde

707
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
a percepção corporal se apresentou como um fator de risco
para mudanças nas atitudes alimentares.
Em contrapartida, o estudo de Martins et al. (2010) não
averiguou essa associação entre a imagem corporal e o
comportamento alimentar, os autores explanam que mesmo
que as atitudes alimentares não demonstrem um
comportamento de risco para transtornos alimentares, a
insatisfação com a auto percepção corporal é existente na
amostra da pesquisa.
Alvarenga, Scagliusi e Philippi (2011) analisa que o
comportamento de risco para transtornos alimentares é
frequente entre estudantes do curso de Nutrição, os achados
que envolvem insatisfação com a imagem corporal e
comportamento alimentar nesses alunos demonstram uma
influência a qual são submetidos mesmo antes de entrarem
em contato com o meio profissional, podendo desenvolver
consequências físicas e psicológicas, devendo esse fato ser
considerado pelos educadores como também por profissionais
de saúde, para planejamento de ações que envolvam
educação nutricional focada na prevenção de transtornos
alimentares.
A pesquisa apresentou como limitações o baixo número
amostral de estudantes do sexo masculino, mas vale ressaltar
que essa é uma característica dos cursos de Nutrição, onde
frequentemente é encontrado um maior número de mulheres
matriculadas. O uso de questionários autoaplicáveis também
pode se apresentar como um fator limitante, considerando que
os alunos podem modificar ou omitir respostas diferenciando
da realidade. Com base na literatura, outro fator negativo é a
característica transversal da pesquisa, segundo Carvalho et al.
(2013), esse tipo de estudo limita a verificação da relação de

708
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
causa e efeito, contudo para o presente estudo esse
delineamento foi suficiente devido a sua aplicação na
metodologia traçada.

1 CONCLUSÕES

Diante da presente pesquisa foi possível avaliar que os


estudantes do curso de Nutrição apresentam características
de diferentes proporções para os níveis de apreensão com a
imagem corporal, reforçando a existência de preocupação com
seu corpo, encontrando-se predominantemente no gênero
feminino, associada a um almejo de um padrão de beleza.
Identificou-se também que os universitários refletem um
consumo alimentar preocupante relacionado ao valor calórico
dos alimentos.
Conclui-se que a imagem corporal exerce influência no
comportamento alimentar dos estudantes, podendo ser esse
um fator de risco para o desencadeamento de transtornos de
ordem alimentar. Desta forma, sugere-se a adoção de
medidas preventivas, tendo em vista a magnitude das
consequências de um transtorno alimentar, destacando a
importância de se promover ações que conscientizem os
estudantes para questões que envolvam não apenas hábitos
saudáveis como consumo de alimentos adequados e prática
de exercício físico, mas também ações que tratem das
questões de aceitação do próprio corpo e valorização pessoal.

REFERÊNCIAS

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714
ASSOCIAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E O
SURGIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM UNIVERSITÁRIOS
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Acesso em: 21 abr. 2016.

715
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.

CAPÍTULO 36

ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO
ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM RATOS
WISTAR.
Anna Paula Amaro Gervazio da SILVA 1
Renam Marinho BRAGA 2
Raquel Fragoso PEREIRA 3
Giciane Carvalho VIEIRA 4
1
Mestre em Ciências da Nutrição, UFPB; 2 Doutorando do IPeFarm, UFPB; 3 Estudante do
curso de Farmácia, UFPB; 4 Professora do Departamento de Morfologia, UFPB.
annapaulagervazio13@gmail.com

RESUMO: A epilepsia é definida como uma condição crônica


caracterizada por convulsões recorrentes e não provocadas,
que surgem quando há excitação anormal da atividade elétrica
no cérebro. A presença de ácidos graxos poliinsaturados na
dieta é vista como uma estratégia viável de complementação
ao tratamento medicamentoso na Epilepsia Refratária. Este
trabalho teve como objetivo geral investigar se a
suplementação com óleo de gergelim natural apresenta efeito
anticonvulsivante após indução da fase aguda da Epilepsia em
ratos Wistar. Os animais foram randomizados em três grupos
com oito animais cada, que receberam por via orogástrica
água destilada, óleo mineral e óleo de gergelim natural na
dose de 5 mL/kg por dia, durante trinta dias. O status
epilepticus foi induzido com Pilocarpina via intraperitoneal na
dose de 350 mg/kg (i.p). Constatou-se que a suplementação
com óleo de gergelim natural não apresentou sinais tóxicos
nos exames histológicos do sistema nervoso central, ao

716
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
contrário do observado no grupo que recebeu óleo mineral
onde ocorreu perda neuronal e destruição de tecido nas
regiões do córtex cerebral e hipocampo, além disso, o óleo de
gergelim natural apresentou características de alimento
funcional com potencial anticonvulsivante e neuroprotetor ao
retardar o aparecimento de crises convulsivas clônicas e
generalizadas no teste da pilocarpina, podendo ser utilizada
como substância coadjuvante no tratamento farmacológico de
pacientes com epilepsia refratária.
Palavras-Chave: Epilepsia refratária. Óleo de gergelim
natural. Anticonvulsivante.

1 INTRODUÇÃO

A epilepsia é definida como uma condição crônica


caracterizada por convulsões recorrentes e não provocadas,
que ocorrem quando há excitação anormal da atividade
elétrica no cérebro (KOBOW et al., 2012; REMIG; WEEDEN,
2012). Existem vários tipos de crises epilépticas (convulsivas e
não convulsivas), cujas manifestações clínicas dependem da
área encefálica envolvida na atividade neuronal, podendo ser
a única manifestação de uma doença ou até mesmo a
expressão neurológica de um quadro clínico sistêmico
(GUILHOTO, 2011; VALENTINA; ALLISHA, 2012; HIROSE,
2013; MOSHÉ et al., 2015).
Mesmo com os crescentes avanços da neurociência,
nota-se que 30% dos pacientes acometidos pela epilepsia,
não respondem satisfatoriamente ao tratamento
medicamentoso, apresentando quadro clínico com crises de
difícil controle terapêutico, correspondendo à chamada

717
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
epilepsia refratária (ER) (GOMES, 2011; MOREIRA, 2004;
SIERRA et al., 2012).
Por esta razão, nos últimos anos, as estratégias de
tratamento não farmacológico para ER são cada vez mais
consideradas, dentre elas, destaca-se o uso dos ácidos graxos
poliinsaturados (PUFAs) (SIERRA et al., 2012). Os PUFAs são
essenciais para a integridade e o desenvolvimento cerebral,
fazem parte da estrutura do cérebro como componentes das
membranas celulares, atuando também como mensageiros
(moléculas de sinalização), além de estarem envolvidos na
síntese de neurotransmissores cerebrais e sua deficiência está
relacionada com o surgimento de diversos transtornos
neurológicos (ABD-ELGHAFOUR et al., 2016; CHALON, 2006;
PUSCEDDU et al., 2015).
Dentre os óleos vegetais ricos em ácidos graxos de
cadeia longa ou poliinsaturados, destaca-se o óleo de
gergelim que é extraído das sementes do gergelim (Sesamun
indicum Lim) e bastante utilizado nas indústrias farmacêuticas
e de alimentos, devido a sua composição lipídica, seu elevado
teor de proteínas e seu sabor característico (CORSO, 2008;
SALEEM; CHETTY; KAVIMANI, 2012). O gergelim é
considerado um alimento funcional ou nutracêutico por
apresentar efeitos na prevenção e no tratamento de doenças
crônicas, podendo ser comercializado em duas formas
distintas de óleo, o óleo de gergelim torrado e o natural
(FIGUEIREDO; FILHO 2008; CARVALHO et al., 2012; LIU;
LIU, 2016).
Alguns estudos mostram que este óleo apresenta ação
anti-hipertensiva, imunorreguladores, anticancerígenos,
antiinflamatória, antioxidante e neuroprotetora (FLORENT et
al., 2006; NAMIKI, 2007; MONTEIRO et al., 2014; JOHN et al.,
718
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
2015). O óleo de gergelim natural possui antioxidantes como a
sesamina, sesamolina, sesamol e tocoferol, substâncias que
desempenham um papel importante na regulação do
metabolismo lipídico, diminuindo concentrações séricas de
triglicerídios, LDL e VLDL e aumentando o HDL em modelos
de ratos hipercolesterolêmicos (LAGO et al., 2001; KUMAR,
2009; MAJDALAWIEH; RO, 2015; ZHANG et al., 2016;
BOONNOY et al., 2017).
Conhecendo a importância dos lipídios dietéticos no
desenvolvimento do sistema nervoso, a suplementação com
óleo de gergelim pode representar um potencial coadjuvante
no tratamento da epilepsia, propiciando melhoria nos aspectos
clínicos e na qualidade de vida dos pacientes acometidos por
esse transtorno (YEHUDA; RABINOVITZ; MOSTOFSKY,
2005).
Diante disso, esse trabalho tem como objetivo geral
investigar se a suplementação com óleo de gergelim natural
apresenta efeito anticonvulsivante após indução da fase aguda
da Epilepsia em ratos Wistar. Os objetivos específicos são:
investigar possíveis ações do óleo de gergelim sobre o
sistema nervoso central de ratos Wistar; Investigar se o óleo
de gergelim natural apresenta capacidade anticonvulsivante;
Investigar se a suplementação promove alterações
histológicas no cérebro dos animais.

719
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Óleos experimentais e Fármacos

O óleo de gergelim natural é comercializado e


produzido pela Sésamo Real Indústria e Comércio de
Produtos Alimentícios LTDA. Na Tabela 1, estão os resultados
fornecidos pelo fabricante com a composição nutricional
referente ao óleo de gergelim natural utilizado no estudo.

Tabela 1. Composição nutricional do óleo de gergelim natural


QUANTIDADE POR PORÇÃO*
Óleo de Gergelim Natural
Valor Calórico (kcal) 120
Carboidratos (g) 0
Proteínas (g) 0
Gorduras Totais (g) 14
Gorduras Saturadas (g) 2
Gorduras Mono (g) 5
Gorduras Polii (g) 6
Gorduras trans (g) 0
Ômega 3 (g) 0,05
Ômega 6 (g) 6
Ômega 9 (g) 5
Colesterol (mg) 0
Fibra alimentar (mg) 0
Ferro (mg) 0
Sódio (mg) 0
Vitamina E (mg) 1,5

Fonte: Dados do fabricante, acesso em:


http://www.sesamoreal.com.br/site/wpcontent/tabelas/tabela_oleo_gerg_nat
ural.pdf *Porção de 13 mL

720
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
O óleo mineral foi adquirido comercialmente, da marca
Óleo Mineral 100% Puro produzido pelo Laboratório Tayuyna
Ltda, este não apresenta nenhum componente nutricional visto
ser um derivado do petróleo, sem nenhum nutriente a ser
metabolizado ou utilizado pelo organismo. Foi utilizado neste
estudo por se tratar de um óleo sem cor, sabor ou cheiro e
com textura semelhante ao óleo de gergelim, podendo retratar
assim os possíveis benefícios das substâncias presentes no
óleo de gergelim natural. Os fármacos diazepam, pilocarpina,
N-metil-scopolamina, cloridrato de cetamina e xilazina foram
comprados na Sigma (St. Louis, MO, USA).

2.2 Animais

Foram utilizados 30 ratos da linhagem Wistar (Rattus


norvegicus), albinos, machos, adultos com aproximadamente
120 dias, peso corporal variando de 250 a 350 g, provenientes
do biotério Prof. Dr. Thomas George do Centro de
Biotecnologia da Universidade Federal da Paraíba. Os animais
foram mantidos coletivamente em gaiolas plásticas micro-
isoladoras providas de cama de serragem selecionada e
alimentados com água e ração ad libitum com cliclo
claro/escuro de 12 / 12h. Os animais foram randomizados em
três grupos (n= 8), foram suplementados uma vez ao dia
durante 30 dias com água destilada (GW), óleo mineral (GMO)
e óleo de gergelim natural (NSO), ambos na dose de 5 mL/kg
de peso corporal por dia. O projeto foi submetido e aprovado
com protocolo n° 002/2016 pela Comissão de Ética no Uso de
Animais (CEUA) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

721
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
2.3 Indução da fase aguda (Status Epilepticus)

A indução da fase aguda da epilepsia Fig. (1) ou status


epilepticus (SE), foi realizada no 31° dia de experimento,
fazendo-se necessário inicialmente que os animais fossem
tratados com N-metil-scopolamina, 1 mg/kg s.c (solução de 1
mg/mL). Passados 30 minutos foi administrado uma injeção de
Pilocarpina via intraperitoneal i.p. 350 mg/Kg, (solução de 350
mg/mL), em seguida o animal foi colocado em gaiola
apropriada para observação do comportamento, onde foi
contado como início do teste o momento da injeção de
Pilocarpina (t0).

Figura 1. Desenho do estudo para indução da fase aguda da


Epilepsia.

Fonte: Dados da pesquisa.


Os animais receberam as substâncias por via orogástrica durante trinta
dias, no 31° dia foram induzidos à Epilepsia através de uma única dose de

722
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
Pilocarpina, em seguida foram eutanasiados e retirados os cérebros para
exames histológicos.

Após a introdução de pilocarpina avaliou-se os


seguintes parâmetros: ocorrência do SE e grau de intensidade
das crises convulsivas. As alterações comportamentais e a
intensidade das convulsões foram analisadas de acordo com a
escala de Racine: escore 0: sem resposta; escore 1:
hiperatividade, inquietação, espasmos das vibrissas; escore 2:
movimentos da cabeça, espasmos clônicos e mioclônicos da
cabeça; escore 3: clonus unilaterais ou bilaterais dos
membros; escore 4: crise convulsiva clônica; escore 5: crises
tônico-clônicas generalizadas; escore 6: morte do animal
(Racine, 1972).

2.4 Análise Histológica

Após a eutanásia por exanguinamento, os cérebros dos


animais foram removidos e fixados em formalina tamponada à
10% por 24 horas à temperatura ambiente para realização das
análises histológicas. Os tecidos fixos foram incorporados em
parafina, cortes sagitais feitos em intervalos de 1mm, foram
obtidos a partir de um corte inicial próximo aos corpos
mamilares. Para o estudo microscópico, secções de 5 µm
foram realizadas e coradas em Hematoxilina-Floxina B, e
analisados com auxilio do microscópio óptico (Motic BA 410).
As fotografias digitais foram capturadas pela câmera 5.0 MP
acoplada ao microscópio óptico. As imagens foram calibradas
no programa MOTIC PLUS em definições especifícas
conforme a objetiva utilizada: 10x ou 40x. A análise histológica
foi realizada qualitativamente por um operador capacitado, o

723
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
qual analisou qualitativamente parâmetros histológicos como:
lesão tecidual, organização de camadas, preservação de
neurônios e neuroglias no córtex cerebral, hipocampo e
cerebelo.

2.5 Análise Estatística

Para análise estatística dos dados, foi utilizado o


programa estatístico Graph Pad Prism versão 6.0. Os testes
de hipótese foram definidos de acordo com a normalidade dos
dados e a classificação das variáveis, sendo utilizados
métodos paramétricos (ANOVA one way) e não paramétricos
(Kruskal-Wallis). Os dados foram apresentados como média ±
erro padrão da média (s.e.m). Os resultados foram
considerados significativos quando apresentaram um nível de
significância de 5% (p< 0,05).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao analisar a atividade anticonvulsivante de acordo com


o modelo de epilepsia límbica utilizado neste estudo, a
presença do status epilepticus ocorreu logo após a
administração i.p. de pilocarpina (350 mg/kg). Não foi possível
identificar com precisão o início dos graus 0 e 1 da escala de
Racine, pois a maioria dos animais já começaram
apresentando características do grau 2 em diante. Ressalta-se
ainda que não foram expressos resultados do grau 6 pois não
houve nenhuma morte de animal durante os 60 minutos de
experimento.
O Grau 2 da escala de Racine analisa o tempo que o
animal leva para apresentar movimentos da cabeça com
724
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
espasmos clônicos e mioclônicos, constatou-se que não houve
diferença estatística (p> 0,05) entre os grupos experimentais e
o grupo controle (GW 188 ± 27,3s; GMO 155,1 ± 68,4s; NSO
180,3 ± 60,38s). Estes resultados estão expressos na Figura
2.

Figura 2. Efeito da suplementação com óleo de gergelim


natural no grau 2 da escala de Racine.

Para comparação entre os grupos utilizou-se ANOVA one way, os dados


foram expressos como média ± s.e.m (n= 8 animais por grupo).

O Grau 3 da escala de Racine representado na Fig. (3),


analisa o aparecimento de clônus unilaterais ou bilaterias dos
membros, foi observado que também não houve diferença
estatísticas (p>0,05) entre os grupos analisados para o
aparecimento dos primeiros sintomas característicos desta
fase (GW 316,9 ± 37,50s; GMO 331,6 ± 73,83 s; NSO 330,5 ±
61,19s).

725
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
Figura 3. Efeito da suplementação com óleo de gergelim no
grau 3 da escala de Racine.

Para comparação entre os grupos utilizou-se ANOVA one way para dados
paramétricos e Kruskal-Wallis para dados não paramétricos, os dados
foram expressos como média ± s.e.m (n= 8 animais por grupo).

No Grau 4 da escala de Racine Fig. (4), é possível


observar as primeiras crises convulsivas clônicas provocadas
pela pilocarpina, nesta fase os animais tratados com óleo de
gergelim natural apresentaram um tempo significativamente
maior (NSO 2841 ± 266,7s) para o aparecimento das crises,
caracterizando efeito de proteção (p < 0,01). Os demais
grupos não apresentaram nenhuma atividade ou efeito
anticonvulsivante (GW 1209 ± 365,6s; GMO 2263 ± 514,8s).

726
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
Figura 4. Efeito da suplementação com óleo de gergelim no
grau 4 da escala de Racine.

** p < 0,01 para óleo de gergelim natural versus água destilada. Para
comparação entre os grupos utilizou-se ANOVA one way, os dados foram
expressos como média ± s.e.m (n= 8 animais por grupo).

O Grau 5 Fig. (5) visa analisar o tempo para surgimento


da primeira crise convulsiva generalizada nos animais, neste
grau o grupo tratado com NSO apresentou efeito
anticonvulsivante ao retardar o tempo (NSO 3178 ± 251,4s)
para aparecimento das crises convulsivas generalizadas p <
0,01. Os demais grupos não apresentaram nenhum efeito para
retardar ou evitar o aparecimento da crise convulsiva
generalizada (GW 2070 ± 273,3 s; GMO 2635 ± 353,3s).

727
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
Figura 5. Efeito da suplementação com óleo de gergelim no
grau 5 da escala de Racine.

** p < 0,01 para óleo de gergelim natural versus água destilada. Para
comparação entre os grupos utilizou-se ANOVA one way, os dados foram
expressos como média ± s.e.m (n= 8 animais por grupo).

Estudos utilizando modelos experimentais de epilepsia


vêm fornecendo nas últimas décadas, importantes avanços
para a compreensão dos mecanismos envolvidos na epilepsia
humana. Neste estudo, ao analisar a atividade
anticonvulsivante pôde-se perceber que o óleo de gergelim
natural conseguiu proteger os animais contra as fases mais
críticas da epilepsia provocadas pela pilocarpina, as crises do
tipo tônico-clônico ou generalizadas. Estes resultados
coincidem com o estudos de Kumar et al. (2011), em que um
extrato à base de gergelim foi capaz de proteger animais
contra o desenvolvimento de crises generalizadas no teste do
eletrochoque. No estudo realizado por Advani et al. (2011) e
Hassanzadeh et al. (2014), o óleo de gergelim foi
significativamente efetivo no controle de crises convulsivas

728
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
provocadas pelo teste da pilocarpina e o pentilenotetrazol
(PTZ). O óleo de gergelim natural parece agir promovendo
uma possível potencialização do neurotransmissor GABA,
inibindo assim a excitabilidade neuronal e prevenindo crises
convulsivas agudas, ou, inibindo parcialmente os canais
iônicos voltagem-dependentes, devido principalmente a sua
capacidade antioxidante (ADVANI, 2011; TRÉPANIER, et al.,
2015).
Um dos grandes responsáveis pelo efeito
anticonvulsivante encontrado no óleo de gergelim são as
Lignanas como sesamina e sesamolina. Essas substâncias
protegem células neuronais e diminuem a gravidade das
crises convulsivas por promoverem uma diminuição na
produção de óxido nítrico, de citocinas como a interleucina-6 e
o fator de necrose tumoral (HOU et al., 2003; KAMAL-EDIN et
al., 2011).
As lâminas com os cortes do córtex cerebral Fig. (6) dos
animais suplementados durante trinta dias, mas que não foram
induzidos à Epilepsia, apresentaram na análise histológica,
morfologia compatível com as camadas corticais, com
presença das células piramidais, também conhecidas como
neurônios piramidais e células da glia (neuroglia). No exame
microscópico o grupo GMO demonstrou diminuição do número
de células neuronais e destruição de tecido (seta) envolvendo
a camada granular externa, camada de células piramidais
externa e a camada granular interna. As imagens dos grupos
GW e NSO apresentaram preservação de células neuronais e
das camadas corticais, demonstrando que o óleo de gergelim
não apresenta toxicidade a nível de córtex cerebral.

729
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
Figura 6. Fotomicrografias do córtex cerebral dos animais
após suplementação.

A) GW: neurônios piramidais bem preservados e células da glia, B) GMO:


destruição de tecido com perda neuronal (seta), C) NSO: preservação de
neurônios e células da glia; Hematoxilina-Floxina-B, A.T. x100.

As imagens da região do hipocampo Fig. (7), dos


animais que foram suplementados e não foram induzidos ao
status epilepticus, é possível identificar através da
comparação com o grupo GW, que o grupo GMO apresenta
destruição de tecido na camada de células piramidais externa
(seta). Entretanto no grupo NSO foi observado preservação
dos neurônios, neuroglia e organização das camadas
hipocampais.

730
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
Figura 7. Fotomicrografias do hipocampo dos animais após
suplementação.

A) GW: organização entre as camadas do hipocampo com preservação de


células neuronais, B) GMO: destruição de tecido com perda neuronal (seta)
envolvendo camada granular externa, camada de células piramidais
externa e camada granular interna, C) NSO: preservação de neurônios e
células da glia; Hematoxilina-Floxina-B, A.T. x100.

Na região do cerebelo expresso na Fig. (8), é possível


analisar histologicamente que não foram encontradas
alterações entre os grupos. Nesta região o óleo mineral não
apresentou sinais de toxicidade, a morfologia cortical cerebelar
permaneceu com suas característica intactas nas camadas
molecular, granular e de células de Purkinje, bem como na
substância branca.

731
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
Figura 8. Fotomicrografias do cerebelo dos animais dos
grupos experimentais.

A) GW: preservação das camadas de células neuronais, B) GMO:


não houve sinais de toxicidade nesta região do cérebro causados
pelo óleo mineral, C) NSO: morfologia preservada entre as
camadas neuronais. (Substância cinzenta): 1. Camada
molecular, 2. Camada granulosa, seta – camada de células de
Purkinje, 3. (Substância branca). Hematoxilina- Floxina B, A.T.
x100.

Ao exame microscópio foi identificado neste estudo que


a suplementação com óleo de gergelim natural não provocou
nenhuma alteração tecidual ou celular, não apresentando
nenhum efeito tóxico a nível de sistema nervoso central na
dose de 5 mL/kg. Ao contrário do que foi observado no grupo
suplementado com óleo mineral, onde houve perda neuronal e
destruição do tecido nas regiões do córtex cerebral e do
hipocampo. Estes resultados são similares a outro estudo,
732
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
onde o óleo de gergelim se apresenta como substância segura
na dose de 10 mL/kg (ADVANI et al., 2011; AINSWORTH;
FREDRICKSON; MORBECK, 2017).
O óleo de gergelim apresentou nas regiões do córtex
cerebral, hipocampo e cerebelo ação neuroprotetora por
preservar a organização existente entre as camadas de
células neuronais. De acordo com Mori et al. (2004) os
antioxidantes diminuem as espécies reativas de oxigênio
promovendo maior proteção dos neurônios e estimulando a
neurogênese. O óleo de gergelim apresenta em sua
composição substâncias com propriedades antioxidantes
capazes de proteger as células neuronais de possíveis danos
oxidativos (HSIEH et al., 2011; WANG et al., 2016; LENZ et
al., 2017).
A perda neuronal provocada pelo óleo mineral nas
regiões do córtex cerebral e hipocampo pode tornar o
organismo mais vulnerável a crises convulsivas, já que na
epilepsia de lobo temporal a estrutura mais danificada é o
hipocampo, que exibe perda neuronal seletiva, podendo
chegar até a esclerose hipocampal e o brotamento de fibras
musgosas. Não foram encontrados na literatura estudos
avaliando o efeito do óleo mineral no cérebro de ratos, foram
encontrados trabalhos feitos com peixes expostos a água
contaminada com óleo mineral que apresentaram dificuldade
natatória, letargia e desorientação. De acordo com a Sigma
(2015), a dose letal oral (DL50) de óleo mineral para ratos é 22
mg/kg. Estudos apontam que a utilização e exposição
constantes a óleos minerais podem causar problemas à saúde
como pneumonia, doenças por deficiências de vitaminas como
A, D e K e minerais como cálcio e fósforo, podendo levar até o
câncer. Com a falta de estudos minuciosos sobre a
733
ATIVIDADE ANTICONVULSIVANTE DO ÓLEO DE GERGELIM NATURAL EM
RATOS WISTAR.
neurotoxicidade do óleo mineral, sugere-se que mais estudos
sejam realizados para avaliar o efeito do consumo do óleo
mineral sob o sistema nervoso central (ZANETT et al., 2007;
MACKERER et al., 2003).

4 CONCLUSÕES

O óleo de gergelim natural apresentou-se como uma


substância com potencial efeito anticonvulsivante e
neuroprotetora ao reduzir o tempo para o surgimento de crises
clônicas e generalizadas no teste agudo da pilocarpina, não
apresentando efeito tóxico no exame histológico do cérebro
dos animais nas regiões do córtex cerebral, hipocampo e
cerebelo, podendo ser indicado como alimento funcional e
utilizado como coadjuvante no tratamento farmacológico de
pacientes com Epilepsia Refratária.

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EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
CAPÍTULO 37

EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO


DE GERGELIM SOBRE PARÂMETROS
BIOQUÍMICOS E MEDIDAS
ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS WISTAR
Jessilânia Gomes da SILVA 1
Anna Paula Amaro Gervazio da SILVA 2
Renam Marinho BRAGA 3
Raquel Fragoso PEREIRA 4
Giciane Carvalho VIEIRA 5
1
Graduanda do curso de Nutrição- FIP; 2 Mestre em Ciências da Nutrição, UFPB; 3
Doutorando do IPeFarm, UFPB; 4 Graduanda do curso de Farmácia, UFPB; 5 Professora
do Departamento de Morfologia, UFPB.
annapaulagervazio13@gmail.com

RESUMO: O crescente avanço de doenças crônicas na


população mundial, tem contribuído para o desenvolvimento e
aumento do uso de alimentos do tipo funcionais e
nutracêuticos. Em meio a estes alimentos destaca-se o
gergelim, que devido a sua composição nutricional apresenta
efeitos na prevenção e no tratamento de doenças crônicas.
Este estudo teve como objetivo investigar se a suplementação
com óleo de gergelim apresenta efeito sobre perfil lipídico e
em medidas antropométricas de ratos Wistar. Trata-se de um
estudo experimental realizado em ratos da linhagem Wistar
(Rattus norvegicus), estes foram randomizados em três grupos
com 8 animais cada: água destilada (AD); óleo de gergelim
torrado (OGT) e óleo de gergelim natural (OGN), as
substâncias foram oferecidas via orogástrica durante trinta
dias na dose 5 mL/kg por dia. Constatou-se que o óleo de
gergelim apresentou-se como alimento funcional, visto que a

738
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
suplementação com o óleo de gergelim torrado promoveu
redução do colesterol plasmático, enquanto que o óleo de
gergelim natural reduziu a circunferência abdominal e
melhorou perfil lipídico ao reduzir os níveis de triglicerídios e
VLDL, além de aumentar os níveis plasmáticos de HDL. Além
disso, os óleos promoveram maior saciedade dos animais
levando a uma diminuição no consumo da ração, mas sem
interferir no ganho de peso e no crescimento final dos animais.
Palavras-chave: Óleo de Gergelim. Perfil lipídico. Medidas
antropométricas.

1 INTRODUÇÃO

Com o crescente avanço de doenças crônicas na


população mundial, vem surgindo uma nova percepção
especialmente no meio dos consumidores, a fim de melhorar a
qualidade de vida e reduzir danos da saúde e gastos com
tratamentos medicamentosos. Isso tem contribuído para o
desenvolvimento e aumento do uso de alimentos do tipo
funcionais e nutracêuticos (GONZÁLES-SARRÍAS et al., 2013;
VARZAKAS; ZAKYNTHINOS; VERPOORT, 2016).
São caracterizados alimentos funcionais aqueles
alimentos capazes de suprir as necessidades nutricionais
básicas do organismo, ao mesmo tempo em que trazem
propriedades benéficas aos sistemas fisiológicos, como
também a prevenção de doenças (COLLI; SARDINHA;
FILISETTI, 2005; GONZÁLES-SARRÍAS et al., 2013;
PITCHAIAH; AKULA; CHANDI, 2017).
O alimento é considerado nutracêutico quando na sua
totalidade ou parcialmente é capaz de proporcionar benefícios
à saúde, que vão desde a prevenção até o tratamento da

739
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
doença. Podem ser nutrientes isolados, suplementos
dietéticos, produtos herbais e alimentos processados tais
como cereais, sopas e bebidas, ou até mesmo sob a forma de
cápsulas (SHARMA et al., 2014; GUPTA; PRAKASH, 2015).
Os alimentos com propriedade funcionais e
nutracêuticas concentram-se em sua maioria nos grupos de
alimentos de origem vegetal, devido à presença natural de
fitoquímicos, a exemplo do alho, cebola, tomate, chá-verde ou
preto, soja, sementes de linhaça e gergelim (NAMIKI, 2007;
CORSO, 2008; KAMAL-ELDIN; MOAZZAMI; WASHI, 2011).
Em meio a estes alimentos, destaca-se o gergelim. De acordo
com Figueiredo (2008), o gergelim está inscrito na primeira e
quarta edição da Farmacopéia Brasileira, como alimento
funcional ou nutracêutico, devido a sua composição nutricional
e seus efeitos na prevenção e no tratamento de doenças
crônicas.
O óleo de gergelim (Sesamum indicum Lim), é extraído
das sementes de gergelim, apresenta-se rico em ácidos
graxos insaturados como o ácido oleíco, linolênico e ácido
linoleíco, com características e propriedades de diminuir níveis
de colesterol. Além disso, o óleo pode ser utilizado como
suplemento alimentar produzindo efeito analgésico, antipirético
e anti-inflamatório comprovados em experimentos com
modelos animais (CORSO, 2008; CARVALHO et al., 2012;
SALEEM; CHETTY; KAVIMANI, 2012; LIU; LIU, 2016).
As sementes de gergelim apresentam um apreciável
valor nutricional, devido à quantidade significativa de fibras
dietéticas, proteínas, antioxidantes naturais, vitaminas
(principalmente do complexo B) e constituintes minerais como
cálcio, ferro, fósforo, potássio, magnésio, sódio, zinco e

740
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
selênio. (NAMIKI, 1995; ANTONIASSI; SOUZA, 2000; LAGO
et al., 2001).
O gergelim tem apresentado benefícios no tratamento
de doenças crônicas, no estudo de Figueiredo (2008), a
ingestão de farinha de gergelim na dieta contribuiu
beneficamente na redução do risco de diabetes e obesidade,
assim como, auxiliou no controle do perfil glicêmico e do peso
em pacientes diabéticos tipo 2. Ademais o gergelim é
apontado no tratamento de doenças cardiovasculares, com
ação de diminuição de lesões ateroscleróticas e reduções nos
níveis de colesterol, triglicerídios e LDL, em estudos feitos em
animais (BHASKARAN et al., 2006; CHENG et al., 2006;
GUIMARÃES et al., 2013; MONTEIRO et al., 2014;
BOONNOY; KARTTUNEN; WONG-EKKABUT, 2017).
O presente estudo tem como objetivo geral investigar se
a suplementação com óleo de gergelim apresenta efeito sobre
perfil lipídico e em medidas antropométricas de ratos Wistar.
Os objetivos específicos são: avaliar o consumo alimentar,
ganho de peso e comprimento após suplementação com os
óleos de gergelim torrado e natural; avaliar medidas
antropométricas como circunferência do abdômen e do tórax;
avaliar possíveis alterações em exames bioquímicos (glicose,
triglicerídios, colesterol total e frações); avaliar se o óleo de
gergelim torrado ou natural apresentam características de
alimento funcional ou nutracêutico.

741
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Óleos experimentais e Fármacos


Na Tabela 1, estão os resultados da composição
nutricional fornecidos pela Sésamo Real Indústria e Comércio
de Produtos Alimentícios LTDA, empresa responsável por
produzir e comercializar os óleos de gergelim torrado e natural
utilizados neste estudo.

Tabela 1. Composição nutricional do óleo de gergelim torrado


e natural
QUANTIDADE POR PORÇÃO*
Óleo de Gergelim Óleo de Gergelim
Torrado Natural
Valor Calórico (kcal) 107 120
Carboidratos (g) 0 0
Proteínas (g) 0 0
Gorduras Totais (g) 14 14
Gorduras Saturadas (g) 2 2
Gorduras Mono (g) 5 5
Gorduras Polii (g) 6 6
Gorduras trans (g) 0 0
Ômega 3 (g) 0,05 0,05
Ômega 6 (g) 6 6
Ômega 9 (g) 5 5
Colesterol (mg) 0 0
Fibra alimentar (mg) 0 0
Ferro (mg) 0 0
Sódio (mg) 0 0
Vitamina E (mg) 1,5 1,5

Fonte: Dados do fabricante, acesso em:


http://www.sesamoreal.com.br/site/wpcontent/tabelas/tabela_oleo_gerg_nat
ural.pdf *Porção de 13 mL

742
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
Os fármacos cloridrato de cetamina e xilazina utilizados
para anestesiar os animais foram comprados na Sigma (St.
Louis, MO, USA).

2.2 Desenho Experimental

Trata-se de um estudo experimental que foi realizado


em ratos da linhagem Wistar (Rattus norvegicus) albinos,
machos, adultos com aproximadamente 120 dias, peso
corporal variando de 250 a 350 g, provenientes do biotério
Prof. Dr. Thomas George do Centro de Biotecnologia da
Universidade Federal da Paraíba. Os animais foram mantidos
coletivamente em gaiolas plásticas micro-isoladoras providas
de cama de serragem selecionada e alimentados com água e
ração ad libitum com cliclo claro/escuro de 12 / 12h. Foram
randomizados em três grupos com 8 animais cada: água
destilada (AD); óleo de gergelim torrado (OGT) e óleo de
gergelim natural (OGN). O projeto foi submetido e aprovado
com protocolo n° 002/ 2016, pela Comissão de Ética no Uso
de Animais (CEUA) da Universidade Federal da Paraíba.
Os animais dos grupos AD receberam por via
orogástrica água destilada na quantidade de 5 mL/kg de peso
corporal, uma vez ao dia durante trinta dias. Os animais dos
grupos OGT e OGN foram suplementados via orogástrica com
óleo de gergelim torrado e natural respectivamente na dose de
5 mL/kg de peso corporal, a suplementação também foi feita
uma vez ao dia durante trinta dias, sempre no mesmo horário
do grupo da água destilada, às 10 horas da manhã.
O peso corporal dos animais foi avaliado a cada sete
dias, sempre nos mesmos horários, utilizando-se balança

743
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
eletrônica digital (bioprecisa, modelo BS3000A), capacidade
de 3 kg e sensibilidade de 0,1 g, durante os trinta dias de
experimento. Com a mesma balança, foi analisado o consumo
alimentar, medido semanalmente, subtraindo-se o peso da
ração oferecida pelo peso da ração pós-consumo.
As medidas antropométricas foram realizadas ao fim do
experimento no 31° dia, após anestesia do animal e
registradas em papel milimetrado. Utilizando fita
antropométrica não elástica (Sanny, São Paulo, Brasil) foram
aferidas a circunferência abdominal (imediatamente anterior a
pata traseira), a circunferência torácica (imediatamente
posterior a pata dianteira) e o comprimento corporal (medido
do nariz até a base da cauda).

2.3 Exames Bioquímicos

Os animais passaram um período de 12 horas em


jejum, no 31° dia foram anestesiados com uma mistura de
cloridrato de cetamina (75 mg/kg) por via intramuscular e
cloridrato de xilazina (15 mg/kg) por via intraperitoneal. O
sangue foi coletado (5mL) via veia cava, para dosagens de
colesterol total, triglicerídios, LDL, HDL e VLDL. As amostras
de sangue foram centrifugadas por 10 min para que fosse
separado o soro, o qual foi armazenado a -80°C para análises.
Todos os procedimentos desde o início do estudo até o
momento de eutanásia foram realizados para evitar o
sofrimento, reduzir o desconforto e dor dos animais.

744
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
2.4 Análise Estatística

Para análise estatística dos dados, foi utilizado o


programa estatístico Graph Pad Prism versão 6.0. Os testes
de hipótese foram definidos de acordo com a normalidade dos
dados e a classificação das variáveis, sendo utilizados
métodos paramétricos (ANOVA one way) e não paramétricos
(Kruskal-Wallis). Os dados foram apresentados como média e
erro padrão da média (s.e.m). Os resultados foram
considerados significativos quando apresentaram um nível de
significância de 5% (p< 0,05).

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Constatou-se aumento na saciedade dos animais


suplementados com óleo de gergelim torrado e natural, estes
apresentaram menor consumo da ração (p< 0,05) durante os
trinta dias de suplementação (OGT 148,2 ± 5,2 g; OGN 137,6
± 5,9 g), em comparação ao grupo da água destilada (AD
166,1 ± 3,5 g). Este resultado está expresso na Figura 1.
O óleo de gergelim sendo rico em ácidos graxos poli-
insaturados apresentou neste estudo, efeito sobre o apetite
aumentando a saciedade dos animais, esses resultados
assemelham-se com outros estudos que demonstraram que
dietas ricas em ácidos graxos poliinsaturados são fontes
promissoras no controle da ingestão alimentar e na saciedade
(LAWTON et al., 2000; BRUCKLEY; HOWE, 2009; CINTRA et
al., 2012; LEY et al., 2014). Para Hynes et al. (2003) e Sankar
et al. (2006), os ácidos graxos poliinsaturados presentes no
óleo de gergelim podem promover um aumento nos níveis

745
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
plasmáticos de leptina, que é uma proteína secretada por
adipócitos com ação sobre o sistema nervoso central
promovendo menor ingestão alimentar.

Figura 1. Efeito da suplementação com óleo de gergelim


sobre o consumo da ração em ratos Wistar.

* p< 0,05 para óleo de gergelim torrado versus água destilada ** p< 0,001
para óleo de gergelim natural versus água destilada. Para comparação
entre os grupos foi utilizado ANOVA one way, os dados foram expressos
como média ± s.e.m. Os valores representam a média individual de
consumo da ração medido semanalmente durante 30 dias de
suplementação.

Para Heer (2012), a presença de gorduras e ácidos


graxos no íleo é capaz de retardar o esvaziamento gástrico e
prolongar o tempo de trânsito alimentar no trato
gastrointestinal influenciando assim no processo de
saciedade. Além disso, os lipídios possuem vias metabólicas
distintas de acordo com sua composição, afetando de forma
diferente o apetite, sendo a qualidade da gordura mais

746
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
importante do que a ingestão da gordura total no processo de
controle de ingestão alimentar (FLINT et al., 2003; LEY et al.,
2014).
Ao observar o ganho de peso dos animais Fig. (2),
constatou-se que não houve diferença estatística entre os
grupos experimentais e o grupo controle, os animais tiveram
ganho de peso semelhante durante os dias de suplementação
(GW 81,74 ± 8,64g; RSO 68,98 ± 5,99g; NSO 84,30 ± 6,98g).

Figura 2. Efeito da suplementação com óleo de gergelim


sobre o ganho de peso dos animais.

Para comparação entre os grupos foi utilizado ANOVA one way, os dados
foram expressos como média ± s.e.m, sendo n= 8 animais por grupo.

Os animais consumiram calorias diferentes entre os


grupos, mas isto não refletiu ou influenciou no ganho de peso
final. Assim, os grupos que receberam suplementação lipídica
não apresentaram ganho de peso superior ao grupo controle.
De acordo com Duloo et al. (1995) a composição dos ácidos
graxos, o comprimento da cadeia e sua saturação afetam de

747
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
forma distinta no acúmulo da gordura, distribuição da gordura
corporal, na termogênese e na taxa de oxidação.
Alguns estudos mostram que apesar das gorduras em
geral ofertarem a mesma quantidade de energia (9 Kcal/ g) a
proporção entre ácidos graxos poliinsaturados na dieta deve
ser maior do que ácidos graxos saturados para haver um
balanço no ganho de peso, pois os poliinsaturados elevam o
gasto de energia e a taxa metabólica basal (TMB) promovendo
um aumento na termogênese pós-prandial e diminuindo
acúmulo da adiposidade através da elevação da taxa de
oxidação lipídica, contribuindo para o controle do peso
corporal (LAWTON, 2000; JIANG; QI, 2009; AUGUSTE et al.,
2016).
Ao observar o acúmulo de gordura na região abdominal
pode-se constatar que os animais suplementados com OGN
apresentaram redução da circunferência abdominal (p< 0,001)
em relação ao grupo controle e aos animais suplementados
com OGT (AD 15,88 ± 0,87 cm; OGT 15,38 cm ± 0,75; OGN
14,13 ± 0,23 cm), estes resultados estão expressos na Figura
3.
A medida isolada da circunferência do tórax Fig. (4),
mostrou que os animais dos grupos experimentais
apresentaram valores mais baixos ao encontrado no grupo
controle (AD 14 ± 0,41 cm; OGT 13 ± 0,41 cm, p< 0,05; OGN
12,75 ± 0,29 cm, p< 0,001).

748
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
Figura 3. Circunferência abdominal dos animais após
suplementação

*** p< 0,001 para óleo de gergelim natural versus água destilada. Para
comparação entre os grupos utilizou-se ANOVA one way para dados
paramétricos e Kruskal-Wallis para dados não paramétricos, os resultados
foram expressos como média ± desvio padrão, sendo n= 8 animais por
grupo.

A forma pela qual a gordura está distribuída pelo corpo


é mais importante que a gordura corpórea total na
determinação do risco individual de doenças. Diversos estudos
tem recomendado a avaliação da medida da circunferência da
cintura ou abdominal e relacionando-a com o maior risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares e melhor
predição do tecido adiposo visceral (NOVELLI et al., 2007;
NERY et al., 2011). No estudo de Hynes et al. (2003), o
consumo de ácidos graxos poli-insaturados reduziu
significativamente os níveis de gorduras viscerais, esta relação
ocorreu pelo aumento nos níveis plasmáticos de leptina que
por sua vez facilita a perca de peso. No estudo de Sankar et
749
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
al. (2006), o uso do óleo de gergelim durante 45 dias foi
associado com redução de gordura visceral e diminuição no
IMC, trazendo benefícios na redução do risco de doenças
cardiovasculares.

Figura 4. Circunferência do Tórax dos animais após


suplementação

** p< 0,05 para óleo de gergelim torrado versus água destilada, p< 0,001
para óleo de gergelim natural versus água destilada. Para comparação
entre os grupos utilizou-se ANOVA one way, os resultados foram
expressos como média ± desvio padrão, sendo n= 8 animais por grupo.

A avaliação do estado nutricional é importante para


identificar os distúrbios nutricionais, possibilitando uma
intervenção adequada de forma a auxiliar na recuperação ou
manutenção do estado de saúde do indivíduo, além de
prevenir o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis.

750
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
Como um parâmetro isolado não caracteriza a condição
nutricional, a utilização de diversas medidas melhora a
acurácia do diagnóstico nutricional (ESTADELLA et al., 2004;
XIÃO et al., 2007).
Ao analisarmos o crescimento e desenvolvimento dos
animais na Fig. (5), constatamos que não houve diferença
estatística (p> 0,05) entre os grupos analisados (AD 23,5 ±
0,57 cm; OGT 22,25 ± 0,5 cm; OGN 22,25 ± 0,5 cm), os
animais tiveram médias de crescimento semelhante durante
os 30 dias de experimento. Os resultados deste estudo sugere
que mesmo o óleo de gergelim promovendo maior saciedade
e menor consumo da ração isso não é suficiente para causar
um efeito anorexígeno e comprometer o crescimento dos
animais, ao contrário, a suplementação promoveu mudanças
da composição corporal com efeitos significativos nas
circunferências do abdomêm e do tórax. Estes resultados
assemelham-se a outros estudos onde os animais tiveram
crescimento corporal proporcional ao ganho de peso
(NOVELLI et al., 2007; TAVARES et al., 2015).
Com relação aos parâmetros bioquímicos Tabela (2),
não houve diferença estatística (p> 0,05) entre os grupos nas
variáveis Glicose e LDL. Constatou-se que os animais tratados
com OGT apresentaram níveis mais baixos (p< 0,05) de
Colesterol Total em relação ao grupo controle AD. Os animais
que compuseram o grupo OGN apresentaram níveis mais
baixos (p< 0,05) de triglicerídios e VLDL, além de aumentar os
valores séricos do HDL (p< 0,05) em relação ao grupo
controle. Assim, os óleos de gergelim torrado e natural
apresentam-se como substâncias eficazes no tratamento de
dislipidemais.

751
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
Figura 5. Avaliação do comprimento dos animais após
suplementação.

Para comparação entre os grupos utilizou-se ANOVA one way, os dados


foram expressos como média ± desvio padrão, sendo n= 8 animais por
grupo.

Tabela 2. Efeito da suplementação com óleo de gergelim


sobre os parâmetros bioquímicos de ratos Wistar.

Variável AD OGT OGN

Glicose 173 ± 18,08 193,3 ± 5,45 135,5 ± 19,01


Colesterol 73 ± 5,91 58 ± 2,89* 77,25 ± 2,35
Triglicerídios 77,75 ± 5,16 67 ± 6,85 59 ± 6,78*
HDL 36,75 ± 2,76 32 ± 1,79 45 ± 0,96*
LDL 17,20 ± 4,89 12,60 ± 2,42 20,45 ± 2,67
VLDL 15,55 ± 1,03 13,40 ± 1,37 11,80 ± 1,35*

752
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
* p < 0,05 óleo de gergelim torrado ou natural versus água destilada. Para
comparação entre os grupos utilizou-se ANOVA one way para dados
paramétricos e Kruskal-Wallis para dados não paramétricos, os resultados
foram expressos como média ± s.e.m, sendo n= 8 animais por grupo.

Vários estudos feitos em animais e seres humanos


trazem efeitos benéficos do óleo de gergelim sobre doenças
cardiovasculares e hipercolesterolemia (BHASKARAN et al.,
2006; SANKAR et al., 2006; ADVANI et al., 2011;
GUIMARÃES et al., 2013). No estudo de Saleem et al. (2012)
o tratamento a base de óleo de gergelim na dose de 10mL/kg
melhorou o perfil lipídico diminuindo colesterol, triglicerídios,
LDL, VLDL e aumentando HDL, além de diminuir os níveis da
pressão arterial, apresentando efeito protetor semelhante ao
captopril composto em pacientes induzidos à lesão do
miocárdio.
A suplementação lipídica por trinta dias com óleo de
gergelim torrado, apresentou uma redução significativa nos
níveis de Colesterol plasmáticos. Para Namiki (2007), as
lignanas presentes no gergelim em combinação com o
tocoferol provocam uma diminuição do colesterol no soro,
devido à inibição da absorção deste pelo intestino e a
supressão de sua síntese pelo fígado. O óleo de gergelim
torrado não influenciou nos resultados das variáveis
Triglicerídios, HDL e VLDL. Esta diferença entre o óleo de
gergelim torrado e natural pode acontecer devido aos
antioxidantes naturais como sesamina e sesamolina que estão
presentes em altas concentrações no gergelim natural, ao
passo que o gergelim torrado apresenta maiores quantidades
de sesamol, um potente regulador nos níveis de colesterol

753
EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE GERGELIM SOBRE
PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE RATOS
WISTAR
plasmático (HOU et al., 2003; EMBRAPA, 2008; KAMAL-EDIN
et al., 2011; JOHN et al., 2015).
No estudo de Zhang et al. (2016), constatou-se que a
sesamina desempenha um papel importante na regulação do
metabolismo lipídico, diminuindo concentrações séricas de
triglicerídios, LDL e VLDL e aumentando o HDL em modelos
de ratos hipercolesterolêmicos, no entanto, o estudo afirma
que o mecanismo pelo qual a sesamina atua ainda é
controverso.

4 CONCLUSÕES

O óleo de gergelim apresenta-se neste estudo como


alimento funcional ou nutracêutico, visto que sua
suplementação promoveu alterações em variáveis interligadas
diretamente com o surgimento de doenças crônicas. Ambos os
óleos promoveram maior saciedade dos animais levando a
uma diminuição no consumo da ração, sem interferir no ganho
de peso e no crescimento final dos animais. Além disso, o óleo
de gergelim torrado promoveu redução do colesterol
plasmático, enquanto que o óleo de gergelim natural reduziu a
circunferência da cintura e melhorou perfil lipídico ao reduzir
os níveis de triglicerídios e VLDL-colesterol e aumentando as
concentrações de HDL.

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757
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
CAPÍTULO 38

EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A


OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
Keylha Querino de Farias LIMA 1
Erika Epaminondas de SOUSA 1
Jéssica Vicky Berbardo de OLIVEIRA 1
Jéssica Vanessa de Carvalho LISBOA 2
Maria José de Carvalho COSTA3
1
Mestranda no programa de pós-graduação em ciências da nutrição, UFPB; 2 Mestre em
ciências da nutrição, UFPB; 3Orientadora/Professora do DFP de Nutrição/UFPB.
k_farias1@hotmail.com

RESUMO: A epigenética é definida como o estudo das


alterações na regulação da atividade e expressão de genes,
sem alterações na sequência do DNA (ROMANOSKI et al.,
2015), embora sua definição esteja em constante atualização,
três aspectos principais estão estabelecidos: inalteração na
sequência do DNA, hereditariedade, plasticidade e
reversibilidade. A metilação do DNA é a marca epigenética
mais conhecida, e é catalisada por enzimas DNA
metiltransferases: DNMT1, DNMT3A e DNMT3B em
dinucleótideos citosina fosfato guanina (CpG) para gerar 5-
metilcitosina, com isso uma nova metilação do DNA é mediada
por enzimas DNMT3A e DNMT3B, principalmente durante o
desenvolvimento embrionário, já a DNMT1 mantém padrões
de metilação do DNA durante sua replicação. Embora a
metilação do DNA geralmente esteja relacionada à inativação
do gene, e normalmente ocorre em dinucleotídeos (CpG), a
mesma em locais de ligação com o fator de transcrição que
bloqueia a ligação de proteínas repressoras pode,
paradoxalmente levar a ativação de genes. Mecanismos
epigenéticos de regulação desempenham funções nas
diversas vias envolvidas com a obesidade e outras doenças
crônicas não transmissíveis, incluindo ingestão alimentar,
758
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
gasto energético e adiposidade, sendo as mesmas
intimamente relacionadas com o estado oxidativo celular. A
dieta desenvolve um importante e complexo papel na
determinação destes estados epigenéticos, onde alguns
componentes alimentares tem ação direta ou indireta nestes
mecanismos.
Palavras-chave: Epigenética. Metilação do DNA. Obesidade.

1 INTRODUÇÃO

Após a conclusão do Projeto Genoma Humano,


surgiram novas linhas de pesquisa na área da saúde, mas
precisamente na ciência da nutrição, que está vivendo a era
pós-genoma. Através da relação existente entre os nutrientes
e o genoma humano originou-se a nutrigenômica, cujo objetivo
principal é conhecer o funcionamento e a interação do genoma
com os componentes dietéticos, e com base nesse
conhecimento prescrever dietas personalizadas para promover
saúde e compreender as várias respostas obtidas através de
uma determinada dieta aplicada entre grupos populacionais ou
indivíduos (CONTI, 2010; SALES; PELEGRINI; GOERCH,
2014; MECDONALD; GLUSMAN; PRICE, 2016).
A Epigenética é definida como o estudo das
modificações que ocorrem no genoma resultantes de
alterações na estrutura da cromatina sem alterar a sequência
nucleotídica (MATHERS, 2008; LANGEVIN; KELSEY, 2013;
LIZCANO; VARGAS, 2016).
Sendo os padrões epigenéticos vulneráveis a
modificações do ambiente podendo levar a mudanças
fenotípicas que podem ser transmitidas para as próximas
gerações (PRAY, 2004; JARAMILLO; CAMACHO; NARANJO,
2013; LOPOMO; BURGIO; MIGLIORE, 2016). Os

759
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
mecanismos epigenéticos de regulação e expressão gênica
são influenciados e estimulados por fatores internos tais como:
alterações na estrutura da cromatina, vias metabólicas,
balanço neuroendócrino, atividades hormonais e fatores
externos como nutrientes ou componentes alimentares
bioativos, medicação, tabaco, radiação, organismos infeccioso
e estresse (REMELY et al., 2015).
Algumas características diferenciam a epigenética dos
mecanismos genéticos convencionais: a reversibilidade, os
efeitos de posicionamento e a habilidade de agir em distâncias
maiores do que um único gene. Embora a definição de
epigenética esteja sendo atualizada continuamente, algumas
características principais são conservadas: como a
manutenção da sequência de DNA, hereditariedade,
plasticidade e reversibilidade (FEINBERG, 2001; ZHENG et
al., 2014).
Atualmente o termo tomou maiores proporções e
abrange diversos mecanismos que participam na regulação da
expressão gênica, sendo eles metilação do DNA, modificações
pós traducionais em histonas, RNAs não codificantes, entre
outros. A epigenética desperta muito interesse nos
pesquisadores pelo fato de que seus processos são
potencialmente reversíveis, diferente de alterações genéticas
estruturais, e consequentemente são passíveis de tratamento
(YANG et al., 2010).
Logo o campo da epigenética nutricional consegue
desvendar a natureza das interações dos nutrientes com os
genes, dando assim mais suporte à nutrigenômica na
compreensão da aquisição de novos fenótipos. O padrão
epigenético é principalmente estabelecido no início da vida e
em seguida mantidos em células diferenciadas, mas
alterações dependentes da idade, ainda tem o potencial de
760
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
modular a expressão do gene e traduzir fatores ambientais em
traços fenotípicos (KANG, 2013).
Os fenômenos epigenéticos são de relevância para
pesquisas, devido ao seu possível envolvimento na
transmissão fenotípica e inclinação para o desenvolvimento de
doenças complexas, dentre elas a obesidade e o estresse
oxidativo. Esses fenômenos possuem características como
reversibilidade e hereditariedade. Diferente do genoma, o
epigenoma pode ser modificado, desta forma alguns
marcadores de risco epigenético tem o potencial para ser
invertido. Essas modificações ocorrem por meio de
medicamentos, dieta ou exposições ambientais (CHONG;
WHITELAW, 2004; ANWAY et al, 2005; FRANKS; LING, 2010;
BISHOP; FERGUSON, 2015).
Diante deste contexto, relacionando alterações
epigenéticas obesidade e estresse oxidativo, objetivou-se
realizar um estudo de evisão do que é encontrado na
literatura referente a esta problemática.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O estudo em questão trata-se de uma revisão


integrativa da literatura visando testar a hipótese de que as
alterações epigenéticas influenciam na etiologia da obesidade
e estresse oxidativo, a revisão de literatura foi realizada no
período de agosto a outubro de 2017, considerando como
critério de inclusão: estudos correlacionando a microbiota com
a etiologia da obesidade em humanos, e critérios de exclusão
estudos com ratos e microbiota intestinal e obesidade.
Para tanto, foram selecionados 26 artigos científicos do
ano de 2004 até 2017, que abordam a problemática em

761
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
questão. A busca dos artigos na literatura consultada foi
realizada através dos descritores (em inglês): epigenetic, DNA
methylation and obesity. Os artigos foram obtidos em diversas
bases de dados, como PUBMED, Periódicos Capes e
American Society for Nutrition.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 MECANISMOS EPIGENÉTICOS E OBESIDADE

A obesidade é uma doença metabólica que tem


alcançado dimensões epidêmicas. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) alegou que a obesidade tem sido o maior
problema crônico de saúde global em adultos, e que vem se
transformando em um problema mais grave que a desnutrição.
A obesidade tem sido uma das principais causas de
incapacidade e morte, afetando não apenas os adultos, mas
também crianças e adolescentes em todo o mundo, portanto
recomenda-se políticas que visem influenciar positivamente
nas escolhas alimentares s mais saudáveis e estimular a
prática dee atividade física regular prevenindo assim o
excesso de peso e obesidade. (WHO, 2000, 2016 ).
A obesidade, considerada como um problema de saúde
pública em ascensão tem uma relação mútua com o estresse
oxidativo. Por um lado uma elevada produção de Espécies
Reativas de Oxigênio (EROs) pode ser considerada um pré
fator para obesidade, por outro lado as citocinas inflamatórias
da própria doença tende a elevar os níveis de EROs, gerando
um círculo vicioso. Estudiosos sugerem que o estresse
oxidativo está envolvido na etiologia das doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT), promovendo danos às
macromoléculas e a membrana celular, causando aumento do
762
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
processo inflamatório, disfunção mitocondrial e alteração do
padrão de metilação (GOTTLIEB; MORASSUTTI; CRUZ,
2011).
Nos últimos dez anos, segundo a pesquisa VIGITEL
(vigilância de fatores de risco e proteção para doenças
crônicas por inquérito telefônico), o aumento da obesidade
entre os brasileiros foi em torno de 60%, com prevalência de
18,9% em ambos os gêneros, sendo mais frequente a partir
dos 25 anos de idade. Além da obesidade, o sobrepeso
também é um fator preocupante visto que apresentou uma
prevalência de 53,8%, com maior frequência no gênero
masculino (BRASIL, 2017).
Uma definição simples da obesidade poderia ser: uma
consequência de um desequilíbrio entre a ingestão calórica e
gasto de energia. O equilíbrio energético representa um
conjunto de características, onde cada uma é influenciada por
numerosas variáveis como comportamento, dieta, meio
ambiente, estrutura social, fatores metabólicos e genéticos
(MATHES et al., 2011; SANDHOLT; HANSEN; PEDERSEN,
2012; BRAY, G. et al., 2016).
Apesar de campanhas de conscientização da
obesidade, e trabalhos para diminuir o consumo energético e
aumentar o gasto de energia, a prevalência de obesidade vem
aumentando cada vez mais (HASLAM; JAMES, 2005; XIA ;
GRANT, 2013; BRASIL , 2016).
A alimentação é um fator crucial, envolvido na fisiologia
da obesidade, de modo que a ingestão de alimentos em
excesso e permanente, pode ter um efeito deletério levando
ao estresse oxidativo, inflamação crônica, disfunção a nível
mitocondrial e adiposidade (CAMPS et al., 2016).
Allen et al. (2016), realizaram um estudo de base
populacional com adultos obesos, objetivando avaliar a
763
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
associação entre a dor crônica e obesidade. Concluiu-se que
as pessoas que eram obesas mostraram-se duas vezes mais
propensas a ter dor que interferia moderadamente ou
extremamente com as atividades da vida diária, havendo uma
forte associação entre dor crônica e obesidade.
No que se refere à prevalência do sobrepeso e
obesidade a nível internacional, Pell et al. (2016) ao
descreverem o excesso de peso e obesidade entre
adolescentes e adultos jovens, em uma população multi-
étnica, envolvendo malaios, chineses, indianos e indígenas,
associando fatores como sobrepeso, obesidade e etnia.
Observaram que a prevalência de sobrepeso foi de 12,8% em
idades de 16-20 anos e 28,4% em idades de 31-35 anos, já a
prevalência de obesidade foi de 7,9% e 20,9%
respectivamente, nos mesmos grupos etários. Entre os grupos
étnicos os indígenas apresentaram a maior prevalência de
obesidade (22,8%) diferente dos chineses cuja prevalência foi
considerada a menor (7,6%).
Os recentes avanços na nutrigenômica, que relacionam
a dieta e várias condições de saúde, inclusive a dieta como
responsável pelo fenótipo da obesidade, é um tema relevante
para futuras pesquisas. Além do que evidencias apontam que
as interações entre genética e fatores ambientais podem
desencadear mudanças epigenéticas, surgindo recentemente
para intervir em importantes fenótipos envolvidos na
obesidade (OKAMURA et al., 2010).
Existem dois principais mecanismos da epigenética,
como já mencionado, que são a modificação pós-tradução de
proteínas histonas da cromatina e a metilação de DNA. Parece
haver um papel fundamental desempenhado pela epigenética
em doenças humanas, tais como na doença inflamatória e em
câncer.Mecanismos moleculares como microRNAs e
764
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
expressão gênicas também estão sendo relacionadas com a
obesidade e, juntamente com outros fatores epigenéticos
constituem uma importante área de pesquisa em obesidade
(ALBUQUERQUE et al., 2015).
A obesidade tem etiologia multifatorial, que envolve
fatores genéticos e não genéticos (HASLAM; JAMES 2005;
XIA; GRANT 2013).
Supostamente, a maioria dos casos de obesidade,
podem ser melhor retratados como resultado de um ambiente
obesogênico adverso, de suseptibilidade genóptica. A
susceptibilidade genética pode ser observada por defeitos em
diferentes mecanismos homeostáticos. Certamente a
exposição a fatores ambientais e obesogênicos é a principal
causa do aumento da prevalência de um IMC elevado ao
longo dos últimos 30 anos (HASLAM; JAMES, 2005;
FINUCANE et al. 2011; SWINBURN et al. 2011).
Como por exemplo, alterações epigenéticas induzidas
pelo estresse ambiental podem aumentar a susceptibilidade à
obesidade (CRUJEIRAS; CASANUEVA, 2015).
A regulação epigenética apresenta efeitos de grande
alcance em relação ao desenvolvimento e a saúde podendo
ser reversível (MILAGRO et al., 2013).
Sendo assim, as marcas epigenéticas podem explicar a
relação entre estilo de vida e o risco para a doença, com
propostas para serem biomarcadores sensíveis e potenciais
alvos terapêuticos na gestão de doenças (HAMILTON, 2011).
Torna-se evidente que as doenças crônicas não
resultam apenas da ingestão alimentar e do genoma, mas
também do epigenoma herdado, e das diversas influências
nutricionais que ocorram seja no período gestacional ou mais
tarde na fase adulta, logo a identificação e caracterização de
moduladores epigenéticos podem levar a prevenção e
765
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
tratamento de doenças (LANGEVIN; KELSEY, 2013).
Há o envolvimento de diversos genes, importantes no
surgimento da obesidade e desordens metabólicas, onde a
expressão gênica sofre ação da regulação epigenética
(OKAMURA et al., 2010).
A metilação do DNA é considerada um dos mais
importantes mecanismos epigenéticos envolvidos na
regulação da expressão gênica, impedindo a ligação dos
fatores de transcrição em promotores de genes relacionados à
obesidade, ou seja, no controle do apetite e metabolismo,
sinalização da insulina, imunidade, inflamação, crescimento e
regulação circadiana (DIJK et al., 2015).
Se faz pertinente a identificação de alterações
epigenéticas no início do desenvolvimento da obesidade, para
que se trace um caminho, a fim de escolher a terapia mais
eficaz. Visto que as modificações epigenéticas são reversíveis,
esta característica torna-se um alvo no tratamento desta
patologia ( LOPOMO; BURGIO; MIGLIORE, 2016).
Adversidades no início da vida pode ser um gatilho para
o ganho de peso ao longo da mesma. A exposição precoce a
baixa sensibilidade materna é considerada um fator agravante
no desenvolvimento da obesidade em crianças. Pré-escolares
que carregam o alelo 7R no gene DRD4 sofrem maior
influência pela sensibilidade materna em relação ao
desenvolvimento de problemas como o sobrepeso e
obesidade (LEVITAN et al., 2016).
A obesidade dos pais pode influenciar no
desenvolvimento da prole, por este motivo vem sendo alvo de
investigações. Pesquisadores relataram que o sobrepeso e
obesidade masculina pode ser rastreável no genoma do
esperma humano.
Observou-se que uma fração maior de esperma foi
766
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
completamente metilada na Região Diferencialmente Metilada
(DMR) do gene MEG3-IG, em homens com sobrepeso e
obesidade, quando comparado com o sêmem de homens
considerados com o peso adequado. Desta forma comprova-
se que a obesidade pode modificar a programação epigenética
em uma pequena fração de espermatozoides, sendo a chave
para influências intergeracionais sobre a saúde da prole
(SOUBRY et al., 2016).
Estudiosos recentemente investigaram o papel da
metilação do DNA do músculo esquelético humano em
combinação com alterações de transcrição na obesidade.
Onde detectou-se vários locais de metilação do genoma
humano, obtendo-se como resultados um aumento de 5% na
metilação de indivíduos obesos, quando comparado ao
participantes considerados magros.
Concluiu - se que a expressão do gene SORBS3 é
diminuída na obesidade, devido o aumento da metilação. Essa
diminuição na expressão do referido gene pode desencadear
alterações na estrutura do músculo esquelético (DAY et al.,
2016).
Embora as alterações epigenéticas que envolvem
mudanças na metilação do DNA, ligadas a obesidade ou
comorbidades relacionadas com esta doença crônica não
transmissível, não estejam totalmente compreendidas, estas
variações na metilação do DNA podem alterar a expressão de
genes envolvidos no metabolismo do tecido adiposo, tais
como LPL (LPL-CG1 e -CG2), ADIPOQ (ADIPOQ-CG1 e-
GC2) e PPAR (PPAR-CG1) (OKAMURA et al., 2010).
Níveis elevados de metilação do DNA foram associados
com a menor expressão do gene LPL, relacionado a maiores
valores de Circunferência da Cintura (CC), já a metilação do
gene PPAR-CG1 foi significativamente maior nos indivíduos
767
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
com maiores índices de gordura visceral (DICK et al., 2014).
De um modo geral a distribuição da gordura corporal
localizada, parece estar associada a alterações na metilação
do DNA de genes que codificam proteínas - chave do
metabolismo (DIJK et al., 2015; DROGAN et al., 2015).
Recentemente, contatou-se que o tecido adiposo é mais
dinâmico do que acreditava-se, sendo assim sugere-se uma
estratégia terapêutica em que haja uma manipulação deste
tecido, visto que o mesmo controla o equilíbrio entre a
acumulação de energia e da produção de calor. No momento
da diferenciação de adipócitos marrons, existem diversos
fatores que modificam a cromatina onde determinam a função
dos genes que aumentam o gasto calórico e determinam um
fenótipo de adipócitos marrons (LIZCANO; VARGAS, 2016).
Em um estudo utilizando técnicas epigenômicas em
amostras humanas e em modelos animais, com objetivo de
analisar os circuitos reguladores e a base dos mecanismos do
gene FTO e sua associação com a obesidade, elucidou-se
que esta relação é resultante de uma Variação de Nucleotídeo
único (SNV) rs 1421085 no gene em questão influenciando no
fenótipo da obesidade ( CLAUSSNITZER et al., 2016).

3.2 ESTRESSE OXIDATIVO E EPIGENÉTICA

O estresse oxidativo resulta de um desequilíbrio entre a


produção de radicais livres e substâncias antioxidantes,
culminando em alterações biomoleculares deletérias sobre
estruturas celulares tais como DNA, lipídeos e proteínas. Tais
alterações podem contribuir para a patogênese de diversos
problemas de saúde como, por exemplo, doenças
degenerativas, processos inflamatórios, doenças
cardiovasculares podendo também levar a expressão
768
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
excessiva de genes envolvidos na fisiopatogênese do câncer
(PISOSCHI; POP, 2015).
As espécies reativas de oxigênio (ROS) e reativas de
nitrogênio (RNS) possuem níveis elevados de reatividade,
podendo desempenhar dupla função biológica ocasionando
efeitos benéficos ou prejudiciais aos sistemas
viventes.Contudo existem mecanismos antioxidantes
enzimáticos e não enzimáticos atuantes na eliminação dos
efeitos deletérios das ROS (SUZEN; GURER-ORHAN; SASO,
2017).
O sistema enzimático inclui as enzimas seperóxido
desmutase (SOD), glutationa peroxidase (GPX) e catalase
(CAT). Estas enzimas estão envolvidas em mecanismos de
prevenção, controlando e impedindo a formação de radicais
livres e a ocorrência de danos oxidativos (SCHNEIDER;
OLIVEIRA, 2004).
Já o sistema não enzimático inclui os compostos de
origem dietética com destaque para: vitaminas, minerais e
compostos fenólicos (PRASAD et al., 2007).
O desequilíbrio homeostático entre os mecanismos de
geração de radicais livres e a ação dos agentes do sistema de
defesa antioxidante contribuem para a formação de peróxidos
e radicais livres. A produção de peróxidos e radicais livres
geram comprometimentos na fisiologia e função celular, o que
implica em alterações genéticas podendo levar ao surgimento
de doenças crônicas não transmissíveis tais como câncer,
diabetes, fibrose cística e doenças cardiovasculares, como
também a síndrome metabólica (YARA; LAVOIE; LEVY,
2015).
A proteína reguladora do estresse oxidativo (p53)
participa da estabilidade do sistema redox, sendo regulada por
alterações trancricionais, de tradução, eventos envolvendo
769
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
mRNA e modificações pós- traducionais como metilação,
fosforilação e acetilação. Estes mecanismos pós-traducionais
aliados a outros fatores que se ligam a p53, ajudam na sua
modulação e estabilidade.
Dependendo da ocorrência destes eventos a p53 pode
diminuir ou aumentar os níveis de estresse oxidativo,
considerando assim um fator de impacto sobre o controle ou
progressão da obesidade, síndrome metabólica e diabetes
(SPAHIS; BORYS; LEVY, 2017).
Níveis elevados de espécies reativas de oxigênio
(ROS), quando excedem a capacidade antioxidante
desencadeiam o estresse oxidativo, que por sua vez está
envolvido nas diversas e principais etapas da carcinogênese.
A epigenética, assim como o estresse oxidativo, exerce
influência significativa no surgimento do câncer através da
metilação do DNA, modificações de histonas pós-tradução e
alterações pós-transcrição mediadas por miRNA ( LI et al.,
2016).
Segundo Mahalingaiah; Ponnusamy; Singh, (2016),
alterações epigenéticas nos mecanismos de metilação do
DNA desempenham um importante papel no desenvolvimento
de câncer renal. Por se tratar de mecanismos reversíveis,
compreender a regulação epigenética na transformação das
células epiteliais renais, servirá para elaborar estratégias de
prevenção, assim como para tratar nos estágios inicias o
carcinoma de células renais.
Alguns componentes dietéticos como por exemplo os
polifenóis funcionam como quimioprotetores e moduladores
epigenéticos, invertendo e prevenindo alterações no
epigenoma, inerentes ao câncer, segundo resultados
encontrados em um painel de estudos(WENDLAND et al.,
2014).
770
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
Concluindo que a via desintoxicante mediada pelo fator
de transcrição nuclear 2 (Nrf2), pode sofrer intervenções
epigenéticas de inativação, assim como outros genes que
atuam na prevenção do câncer, contudo os fitoquímicos têm a
finalidade de modular mecanismos epigenéticos e ativar o
fator Nrf2 ( LI et al., 2016). Os biomarcadores utilizados para
avaliar o estresse oxidativo in vivo, cada vez mais nos últimos
anos têm sido alvo de interesse de diversos pesquisadores,
tendo em vista o importante papel que desempenham no que
diz respeito ao estilo de vida, na gênese de enfermidades e na
avaliação de diferentes tratamentos.
O fato de que os radicais livres são biomoléculas que
possuem meia-vida curta (da ordem de poucos segundos),
sua medição in vivo é encarada como sendo um procedimento
desafiador. Em contra partida os derivados de oxi radicais
(peróxido de hidrogênio ou hidroperóxido de lipídeos) são
considerados estáveis e com meia-vida longa podendo ser
medidos e monitorados repetidamente (CZERSKA et al.,
2015).
Alguns biomarcadores são utilizados rotineiramente em
investigações clínicas para medir o estresse oxidativo, dentre
eles o malondialdeído (MDA) e capacidade total de
antioxidante (CAT) (KHOUBNASABJAFARI; ANSARIN;
ABOLGHASEM, 2016).

4 CONCLUSÕES

A literatura mostra claramente evidências científicas de


que os mecanismos epigenéticos, principalmente a metilação
do DNA tem uma relação significativa com alterações
metabólicas como a obesidade e modificações no mecanismo
do estresse oxidativo. Visto que os fatores ambientais e de
771
EPIGENÉTICA E SUA RELAÇÃO COM A OBESIDADE E ESTRESSE OXIDATIVO
estilo de vida contribuem negativamente ou positivamente
para a etiologia destes agravos, torna-se pertinente as
investigações, na tentativa de elaborar estratégias de
tratamento e prevenção eficazes.

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776
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
CAPÍTULO 39

FATORES INTERVENIENTES NO
SEGUIMENTO DO TRATAMENTO
NUTRICIONAL

Caroline Severo de ASSIS1


Erika Epaminondas de SOUSA 1
Nadjeanny Ingrid Galdino GOMES1
Jessica Vicky Bernardo de OLIVEIRA1
Rúbia Cartaxo Squizato de MORAES2
1
Mestranda em Nutrição, UFPB; 2 Especialista em Nutrição Clínica, FIP
carolsevero5@gmail.com

RESUMO: Com o intuito de reunir informações concernentes


às questões adesão e motivação de indivíduos em programas
de intervenção alimentar, o presente trabalho visou avaliar os
fatores intervenientes no seguimento do tratamento nutricional
para melhor adesão da dieta pelos seus clientes, e as
principais variáveis que estão envolvidas na relação
profissional/cliente. Para tanto, foram recolhidas na literatura
as atribuições do Nutricionista, seus métodos de avaliação, a
comunicação entre o profissional e o cliente e a importância do
atendimento humanizado. Está pesquisa de caráter
transversal, com aspectos qualiattivos e quantitativos, foi
desevolvida aplicando questionário com profissionais da
Nutrição Clínica, a certa da vivência em seus consultórios e a
visão do profisisonal quanto ao do público atendido. Como
resultados, foi evidenciado que a relação profissional/cliente é
satisfatória quando o cliente se mostra disposto a seguir as
recomendações do profissional, e que o êxito ao alcançar
objetivos depende não somente das prescrições dietétitas,
mas também do grau de envolvimento de quem as segue. As

777
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
redes sociais, assim como o dito popular, mostraram
influenciar a conduta de quem procura um nutricista, devendo
essas serem muito bem ponderadas e debatidas. Concluindo-
se que o êxito no tratamento perpassa por diversas questões
que envolvem principalmnete o comprometimento de quem
procura o serviço de nutrição.
Palavras-chave: Adesão. Fatores externos.
Profissional/paciente.

1 INTRODUÇÃO

O surgimento da profissão de nutricionista há mais de


sessenta anos vinha atender a carência de um profisisonal
voltado especialmente para alimentação. A educação
alimentar foi o instrumento essencial para formar uma
“consciência alimentar” na população, visto que até então a
preocupação com o que era ingerido por meio da alimentação,
não era tido como fator contribuinte para o desencolvimento
de patologias, desta forma, com o surgimento da profisão de
nutricionista, essa temática passou a ser considerada como
sendo capaz de corrigir os erros e combater a ignorância a
cerca das informações referentes a alimentação, que nas
décadas passadas refletia a política voltada para a medicina
comunitária, como forma de auxiliar a população brasileira
quanto a doenças e a fome,sem a priori sema preocupação
de garantir segurança nutricional aos indivíduos
(CRISTOFOLLI, et al, 2014).
Nesse contexto de mudança em relação a hábitos
alimentares, a reeducação alimentar, que consiste em um ato
de ensinar, estando intimamente relacionado com a
intervenção nos hábitos dos indivíduos, é interpretada como a
representação de fatores psicológicos e também culturais. No
778
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
entanto, a alimentação mais amplamente compreende um
universo de significados, de forma que nela o homem se
expressa psicológica e culturalmente, sofrendo variações de
acordo com os diferentes povos e culturas (PREVIDELLI, et
al, 2011).
Tratando-se de uma área tão complexa, o papel do
nutricionista como formador de opinião e responsável por
mudanças no âmbito alimentar, o fator adesão, que pode ser
definido como extensão do comportamento individual
correspondendo e concordando com as recomendações de
um profissional da saúde, é componente importante no manejo
do objetivo que se deseja alcaçar (CFN,2015 ).
A baixa adesão ao tratamento tem sido mencionada na
literatura como um dos problemas mais importantes
enfrentados pelos profissionais de saúde. Sendo de extrema
importancia compreender a extensão com a qual o
comportamento de uma pessoa corresponde ao acordo
estabelecido com o profissional ou com a equipe de
profissionais de saúde (PIRES, 2014).
Uma vez compreendida a extensão do comportamento
alimentar, estratégias para aumentar a adesão às mudanças
dietéticas devem incluir educação, motivação, características
comportamentais e interações interpessoais. As estratégias
visam à motivação individual para que ocorra mudança dos
hábitos alimentares, envolvendo superação das expectativas e
um autoconhecimento sobre as habilidades em realizar
modificações no estilo de vida (PINHEIRO, 2012).
Os aspectos que influenciam a adesão de um paciente a
uma prescrição dietética e sua motivação para adotar um
padrão desejável de comportamento alimentar, devem ser
analisados como um conjunto de características relacionadas

779
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
ao profissional, paciente, qualidade da relação profissional-
paciente, prescrição, aspectos organizacionais, pessoais,
ambientais e físicos do serviço ou clínica e ambiente externo
ao serviço (OLIVEIRA, 2016).
Uma série de elementos devem compor o atendimento
clínico nutricional, sendo estes a Avaliação antropométrica
onde o peso e a estatura são medidos imediatamente antes
da consulta de nutrição, utilizando instrumentos calibrados e
adotando os procedimentos constantes da Orientação
Avaliação Antropométrica do Adulto, da Direcção Geral da
Saúde (2013).
Avaliação dos hábitos alimentares por inquérito às 24
horas anteriores, sendo esse método de inquirição da ingestão
nas 24 horas anteriores (ou de um dia habitual, se o anterior
for atípico) utilizado para aferir tudo aquilo que o indivíduo
comeu ou bebeu durante o dia anterior ao momento da
recolha dos dados (BUZZARD, 1998).
Quanto ao formato e frequência das consultas, a
intervenção adequada conta com consultas em períodos não
muito espaçados , sendo o propósito dos encontros para
avaliar a efetividade do formato habitual e da intervenção que
está sendo proposta (LALLY, et al, 2008).
Avaliação da motivação para o aconselhamento
nutricional, fornecido individualmente, assume que o
profssional de saúde deve ter em conta a prontidão para a
mudança do indivíduo. Com o propósito de aferir a dita
prontidão, os nutricionistas podem utilizar perguntas abertas
como “O que o trás a esta consulta” e/ou “Tenho informação
de que foi referenciado à consulta de nutrição para perder
peso… qual é a sua opinião a esse respeito?”. Respostas do
tipo “Estou aqui porque me mandaram” ou “Estou aqui porque,

780
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
se não, não me operam” são sugestivas de baixa
predisposição para receber aconselhamento nutricional e,
sobretudo, reduzida expectativa quanto à intervenção e aos
seus benefícios (PROCHASKA, et al, 1994).
Perante indivíduos num estado pré-contemplativo,
quanto ao problema ou ao seu papel na sua resolução,
utilizam-se estratégias didáticas e de promoção da literacia e
exploram-se as expectativas relativas aos objetivos e aos
benefícios esperados . Quando o doente expressa o desejo de
perder peso e melhorar o seu estado de saúde, por exemplo
respondendo “Estou aqui porque desejo melhorar a minha
saúde”) o clínico deve explorar a qualidade desta motivação,
nomeadamente através de perguntas como “Pode falar-me um
pouco mais das vantagens que espera obter para a sua vida
atual, se perder peso?”, possibilitando ao indivíduo discorrer
sobre os motivos mais prementes para uma redução de peso.
Desta forma, o clínico ajuda o doente a consciencializar-se
das vantagens potenciais da redução ponderal (CIAMPOLINI,
et al, 2010).
Anamnese e caracterização do comportamento alimentar
recorre, preferencialmente, a perguntas abertas, à escuta ativa
e ao diálogo. A recolha de dados clínicos mantém estes
pressupostos. Por exemplo, utiliza os registos prévios e/ou o
documentos de referenciação à consulta como ponto de
partida para convidar os indivíduos a falar sobre a sua
condição clínica: identifcar fatores etiológicos e de
manutenção da doença (idade de instalação da doença,
historia familiar de obesidade…), tentativas anteriores e os
seus resultados, etc (ROLLS, 2014).
No caso concreto das tentativas anteriores, o diálogo
permite perceber (pela perspetiva do indivíduo) os motivos dos

781
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
insucessos passados, com a dupla vantagem para o
nutricionista de ter a oportunidade de reenquadrar e contribuir
para a literacia relativa aos motivos do insucesso e poder
selecionar estratégias alternativas, mais adequadas e com
maior potencial de sucesso. Adicionalmente, e eventualmente
mais relevante, as experiências e estratégias bem-sucedidas
descritas podem ser “recicladas” para o novo processo
terapêutico, contribuindo assim para o sucesso desse
(GARAULET, et al, 2013).
Após a tomada de decisão sobre a cunduta prescrita ou
sobre a avaliação realizada pelo profissional, deve-se levar em
consideração a forma como o diagnóstico nutricional é
comunicado ao cliente influencia positiva ou negativamente no
processo relacional entre nutricionista e o indivíduo, uma vez
que a partir desse momento pode ou não haver adesão ao
tratamento. A palavra comunicar provém do latim comunicare,
que tem por significado “pôr em comum”. Ela pressupõe o
entendimento das partes envolvidas, e sabe-se que não existe
entendimento se não houver, anteriormente, a compreensão
acerca da doença e do programa no qual será inserido
(ARAÚJO, et al, 2015).
O Nutricionista possuim papel de cunho educativo,
atuando como facilitador no processo em que o paciente
identifica mais claramente onde ele está, onde quer estar e o
que precisa aprender para chegar lá. A educação nutricional,
ação precípua do nutricionista, tem por objetivo favorecer a
adoção de atitudes e práticas positivas. Esse processo
envolve o desenvolvimento da relação de confiança e auxílio
entre o profissional e o paciente (CFN, 2015).
Essas práticas positivas, ou qualquer assunto abordado
durante a consulta nutricional devem ser feitos da forma mais

782
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
aberta e interativa possível (olhando para o indivíduo) para
que quem está sendo atendido se sinta à vontade para falar
sobre seus hábitos de forma geral, incluindo os relacionados a
alimentação. Nem sempre as perguntas devem ser fechadas,
mas podem ser oriundas da conversa, a partir de relatos sobre
as suas condições de vida, suas atividades laborais e
cotidianas e de sua alimentação (GIL, et al, 2015).
Para Loureiro et al (2013), uma avaliação da
complexidade do atendimento ao paciente, deve levar em
conta que esse está inserido em um contexto pessoal, familiar
e social complexo; a assistência deve efetuar uma leitura das
necessidades pessoais e sociais do paciente, compreendendo
o contexto de vida como um todo.
A mesma autora considera que as reflexões sobre o
atendimento conduzem também ao campo ético. A questão
ética surge quando alguém se preocupa com as
consequências que sua conduta tem sobre o outro. Para que
haja ética, é preciso ver (perceber) o outro. E, se para a
assistência humanizada também é preciso perceber o outro,
conclui-se que assistência humanizada e ética caminham
juntas (LOUREIRO, et al, 2013).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2014)
com base na anamnese, deve-se construir junto ao paciente o
plano de ação, no qual serão apontados aspectos que podem
ser valorizados e estimulados por já fazerem parte do
cotidiano alimentar e de vida, e os aspectos que precisarão
ser transformados, escolhendo estratégias viáveis para serem
incorporadas pelo paciente e sua família em seu dia a dia,
conforme o diagnóstico clínico-nutricional.
O presente trabalho visou avaliar os fatores
intervenientes no seguimento do tratamento nutricional para

783
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
melhor adesão da dieta pelos seus clientes. E as principais
variáveis que estão envolvidas na relação profissional/cliente.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trabalho de campo de caráter transversal, com aspectos


qualitativos e quantitativos, foi aprovado pelo comitê de ética e
pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, sob
o parecer nº26203013.8.0000.5178, sendo desenvolvido por
meio de aplicação de questionário previamente submetido a
teste piloto. A pesquisa foi realizada com 30 Nutricionistas
clínicos da cidade de João Pessoa/PB, no período de março a
abril de 2014. De acordo com o Conselho Regional de
Nutrição (CRN- 6), no momento do desenvolvimento da
pesquisa, o município contava com o cadastro de 115 (cento
e quinze) profissionais em toda a cidade de João Pessoa. Á
partir deste dado a amostra constituiu-se de 30 Nutricionistas
Clínicos, calculados para serem dados amostrais
significativos, em decorrência do número de profissionais
totais. Os dados coletados através dos questionários foram
compilados, analisados e distribuídos em frequência e
números relativos e aplicado tratamento estatístico através do
programa GraphPad, versão 3.0.
Os participantes da pesquisa foram tratados com todo o
rigor ético previsto pela Resolução n. 466/12, envolvendo
pesquisas com seres humanos e os dados foram coletados
após aprovação do projeto pelo comitê de Ética em Pesquisa
da FCM/PB. Os participantes assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em que foram
informados dos objetivos e dos procedimentos da pesquisa
antes da aplicação do questionário.

784
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
O critério de inclusão compreendeu os nutricionistas que
atuam na prática clínica e que concordaram em participar da
pesquisa; o de exclusão, nutricionistas que recusaram
participação e que não atendiam em clínica.
Este estudo apresentou risco reduzido, por se tratar de
coleta de informações profissionais, através de questionário e
seguiu todo rigor ético exigido.Os resultados desta pesquisa
poderão auxiliar aos Nutricionistas na conduta com os
pacientes e em sua melhor resposta ao tratamento proposto,
uma vez que terão conhecimento dos entraves em sua relação
com o cliente.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O total de participantes que aceitaram participar do


estudo foi de trinta profissionais, tendo esses idade entre vinte
e sete e trinta de um anos de idade. Dentre esses, vinte e sete
mulheres e três homens. O perfil destes profissionais revelou
seguirem uma tendência a qualificação profissional, uma vez
que mais da metade desses (18) possuíam no mínimo alguma
especialização.

Tabela 1. Principais demandas dos pacientes que buscam


o Nutricionista
Demanda Médias (%)
Perda de Peso 64,8
Reeducação alimentar 14,3
Outros 10,5
Recuperação de peso 6,1
Manutenção de peso 4,3
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
785
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL

Segundo resposta do profissionais entrevistados,


(64,8%) afirmaram que a maior procura por atendiento
nutriconal clínico por parte de seus cliente é com o intuito de
perder peso, seguido pela busca de reeducação alimentar
alimentar ( 14,3%), perpassando por outros objetivos como
recuperação de peso e manutenção deste.
Na colocação de Souza (2010) em que a transição
nutricional exercia influência sob os problemas nutricionais de
uma população obesa, constatou-se que a maior demanda
enocntrada nos atendimentos clínicos é a busca de
tratamentos relacinados a perda de peso, dado este que
corrobora com o encontrado no presente trabalho, onde 64,8%
dos nutricionistas referiram que seus clientes, procuram o
atendimento com este intuito, seguido por alternativas para
reeducar a alimentação de forma geral.
Segundo os Nutricionistas Clínicos do município de
João Pessoa/PB, os pacientes demonstram um Grau de
bastante satisfação ao retornarem para o consultório, 21
nutricionistas fizeram esse relato, e alguns apontam um Grau
de satisfação intermediário, segundo o que 9 profissionais
relataram. Este grau de satisfação demonstra influencia na
adesão ao tratamento apresentado pelo Nutricionista conforme
exposto por Oliveira e Pereira (2014). Mesmo sendo uma
percepção apresentada pelos profissionais é importante frisar
que este grau de satisfação é um fator importante na relação
profissional/paciente.
De acordo com o que os Nutricionistas apresentaram
quanto ao cumprimento do tratamento recomendado aos seus
pacientes que, 19 profissionais referiram ter avaliado que a
grande maioria de seus pacientes cumpre o tratamento

786
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
proposto. Seis Nutricionistas discorreram sobre questões mais
específicas como o fato de o sucesso no tratamento variar de
paciente para paciente, dependendo do seu nível de
comprometimento, e também do objetivo do tratamento.
Existem ainda, aqueles pacientes que cumprem parcialmente
o que foi proposto, abandonando em algum momento o que
anteriormente estava seguindo como conduta.

Figura 1. Grau da satisfação ao retornar

21

40
9

20 0
0
0

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

Desta forma deve-se considerar que, mesmo a maioria


dos profissionais pesquisados terem respondendo que a maior
parte dos seus pacientes cumprem o tratamento proposto, é
necessário o envolvimento do profissional em trabalhar a auto-
estima e o comprometimento do paciente, para que o alcane

787
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
dos objetivos sejam facilitados e moldados de acordo com as
necessidades de cada indivíduo.

Figura 2. Influências sobre o tratamento

14 13
12
12
10
8
6 5
4
2
0
Financeiras Psicológicas Outras

Fonte: Dados da pesquisa, 2014.

O Tratamento Dietoterápico sofre influência de meios


externos, e não só são influenciados pela força de vontade do
paciente e pelos incentivos que os Nutricionistas fornecem.
Destas dificuldades, que na descrição feita pelos profissionais,
são destacadas: as de conciliar o tratamento com a vida
social, a adaptação a novos horários de realizar as refeições,
as novas preparações e o universo de refeições sugeridas,
viagens que mudam a rotina alimentar, a depressão, a falta de
motivação pessoal e, a proposta de “tratamentos milagrosos”.
Seguidos destas descrições, vieram em segundo lugar às
dificuldades Psicológicas, e em terceiro, as financeiras.
Tais interferências devem ser levadas em consideração,
uma vez que essas podem prejudicar o andamento do
tratamento proposto. Indivíduos instáveis emocionalmente,e
788
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
que não possuem estabilidade finaceira, são indivíduos com
tendência ao extresse e a preocupações, o que por vezes
desencadeiam processos compensatórios relacionados a
alimentação, sendo esta prejudicada, pelo consumo de
grandes quantidades ingeridas e de produtos de baixa
qualidade nutricional.
As influências externas com respeito à execução dos
tratamentos, 25 profissionais relatam que seus pacientes
discorrem sobre a existência destas influências pela TV, mídia,
amigos, familiares, redes sociais, dietas da moda e internet
como fatores que acarretam influência no tratamento, e
apenas 5 Nutricionistas disseram que não, que seus pacientes
não relatam a existência de fatores externos refletindo e
influenciando na conduta traçada. Desta maneira há de se
considerar que o Nutricionista deve ponderar as influências
externas na abordagem do tratamento com o seu paciente
para melhor alcance dos objetivos.
O cliente necessida de orientações não so a respeito da
conduta dietética em si, mas também precisa ser alertado do
peso que essas influencias podem exercer em seu tratamento,
uma vez que facilmente as mídias transmitem informações
generalizadas e muitas vezes inadequadas e que os ditos
populares acabam sendo incorporados também de forma
inadequada na prescrição dietética, mascarando ou
minimizando os efeitos dessa.
Com relação a assimilação do Tratamento proposto
pelo profissional, 28 deles, afirmaram que ocorre a
assimilação correta das orientações dadas aos pacientes,
refletindo claramente no bom andamento do tratamento.
Apenas 2 profissionais relataram que um ou outro paciente
não consegue assimilar o que foi dito, e assim o profissional

789
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
se coloca a disposição para retirar toda e qualquer dúvida do
paciente, correspondendo a uma margem pequena de
dificuldade entre o profissional e seus pacientes.
Talvez aqui se evidencie a necessidade de um
atendimento mais personalizado com maior disponibilidade do
profissional com o uso de outros sistemas de
comunicação.Uma vez que o atendiento é voltado
completamente para as necessidades e características de
cada cliente, a probabilidade de êxito aumenta, assim como as
taxas de retrono ao consultório, sendo o que os nutricionistas
evidenciaram na preste pesquisa.
Verifica-se desta forma que apesar das influências
externas que são inevitáveis e das adequações que são
difíceis e variadas entre cada paciente que procura o
Nutricionista para realizar mudanças em sua conduta e no seu
comportamento nutricional, o profissional tem auxiliado o seu
cliente no desenvolvimento pessoal de auto controle, auto
avaliação e de auto eficácia, sendo este um condutor da
mudança, que será realizada pelo cliente, sendo esse o maior
responsável pela mudança, o profissional auxia e fornece
orientações a cerca do que deve ser realizado, conforme
propõe Nunes, et al (2014).

1 CONCLUSÕES

Os resultados aqui encontrados, apontam para um perfil


de profissionais jovens atendendo em clínicas no município de
João Pessoa, estes possuem tendência a capacitação,
apresentando minimamente algum tipo de especialização.

790
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
Entre os diversos fatores intervenientes no seguimento
dietético, como evidenciado neste trabalho, está a relação
entre profissional/cliente. Os fatores externos contribuem para
a adesão adequada ao tratamento proposto ou não. Outro
fator evidenciado foi o nível de comprometimento que os
profissionais relataram em relação ao seus clientes,
mostrando que para aqueles que compreendem bem e
assimilam as orientações, conseguem mais facilmente atingir
seus objetivos.
Evidencisou-se no presente estudo, que os profissionais
relataram que seus clientes possuem bons níveis de adesão
aos tratamentos propostos, e que isto implica no bom
entendimento do que foi proposto, assim como relataram que
os clientes atendidos conseguem lidar bem com as influencias
externas, sem deixar que essas atrapalhem o andamento
plano dietético.
Como alternativa para facilitar cada vez mais a adesão
aos tratamentos, os profissionais clínicos podem procurar
desenvolver canais de interações rápidas com seus pacientes,
por meio de mídia, redes sociais, para atender suas
demandas, tanto daquelas previstas no tratamento, como de
influência externa e momentâneas. Ressaltando que o grau de
comprometimento do indivíduo infuencia muito mais no
sucesso do que foi proposto, do que a própria prescrição
dietética realizada pelo profissional.
Uma vez que o cliente procura o atendimento nutricional
clínico, parte-se do pressuposto que esse tem desejo de
mudança, e caberá ao profissional orquestrar essa mudança,
por meio das prescrições e de um conjuto de fatores que
precisarão ser inclusos ao longo do tratamento, sendo esses a
relação de confiança entre profissional/ paciente, a

791
FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
TRATAMENTO NUTRICIONAL
compreensão do ambiente social em que o cliente está
inserido, assim como orientações por meio de canais que
facilitem a relação entre o profissional e quem procura o
atendiemntos.

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FATORES INTERVENIENTES NO SEGUIMENTO DO
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793
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
CAPÍTULO 40

O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA
HIPERTENSÃO ARTERIAL
Juliana SILVA 1
Adriana SOUZA 2
1
Pós Graduando do curso de Nutrição Esportiva, FMN; 2 Mestre docente da FMN.
julianacostanutrição@gmail.com

RESUMO: Esse estudo de revisão integrativa, mostra através


da seleção de referências, verificar a importância do magnésio
no controle da hipertensão arterial. A mesma é considerada
uma doença crônica não transmissível, caracterizada por
níveis elevados de pressão arterial. A revisão, teve como
objetivo verificar a hipertensão e a influência da atividade
física, analisando os efeitos do magnésio, classificando
alguns alimentos fonte deste mineral, ressaltando na
prevenção e controle da hipertensão e doenças
cardiovasculares. Os métodos usados nesta pesquisa foram,
leituras e fichamentos das partes mais importantes, que foram
utilizados para fundamentar e relatar a importância do
magnésio, baseada em artigos e livros compilados nas bases
de dados como, Scielo, Google Acadêmico e Pubmed, entre
os anos de 2000 a 2015. Os resultados dos artigos
pesquisados considerados mais relevantes ao trabalho
exposto e suas citações referenciadas ao tema, podendo
afirmar que as pesquisas estabelecem aceitação que o
magnésio é essencial, podendo ajudar na prevenção ou
tratamento de doenças não transmissíveis. Portanto, podemos
inferir que os estudos mostram a importância deste mineral na

794
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
alimentação diária, em alguns casos foram usados a
suplementação em forma de sulfato ajudando na eficácia do
tratamento dos pacientes, esse mineral é importante para
homeostase do corpo, os autores citados ressaltam que deve-
se haver mais estudos para que possam aumentar a
comprovação e finalidade do magnésio a vida.
Palavras-chave: Hipertensão arterial. Magnério. Tabela de
alimentos. Atividade física.

1 INTRODUÇÃO

Os hábitos alimentares atuais estão sendo


responsáveis por grandes transformações no estilo de vida do
ser humano. A vida moderna com praticidade não trouxe
apenas influência social e tecnológica, mas também no estilo
de vida (OLIVEIRA, 2014).
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) considerada
uma doença crônica não transmissível, é clinicamente
caracterizada por níveis elevados de pressão arterial (PA).
Associada a alterações estruturais dos órgãos como: coração,
encéfalo, rins, e vasos sanguíneos. As alterações da pressão
arterial são consequências e aumentam o risco de doenças
cardiovasculares. Relato de estudos nos últimos vinte anos
30% da população Brasileira é hipertensa, mas também foram
estudadas estratégias para o controle e prevenção da HA, no
tratamento não farmacológico, mostra a mudança de estilo de
vida com a prática de atividade física regular e hábitos
alimentares mais saudáveis (VI Diretriz Brasileira de
Hipertensão, 2010).
A ação cardioprotetora do magnésio está entre as 350
reações enzimáticas, havendo magnésio suficiente resulta a
sintetização de hormônios. Entretanto a deficiência de
795
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
magnésio pode ocorrer um descontrole do colesterol, que é a
possível origem das placas de gordura nas artérias. No
tratamento da HA, os médicos prescrevem medicamentos
diuréticos que diminuem a quantidade de líquidos nos tecidos
pelo aumento da excreção de sódio e agua pela urina,
ressaltando a diminuição do volume plasmático que age sobre
receptores do átrio, baixando a pressão arterial. Os diuréticos
causam efeitos colaterais aumentando a perda de líquidos na
urina. O sódio, o potássio e o magnésio são mais secretados.
A perda desses ricos minerais que funcionam como eletrólitos
mostra ser suficiente para o desequilíbrio do organismo.
Nessas complicações na musculatura lisa das artérias
coronárias ou cerebrais, levam a ataques cardíacos, derrames
ou arritmias cardíacas (COSTA, 2010).
Segundo Piper et al., (2012), o padrão dietético DASH
(Dietary Approaches to Stop Hypertension), rico em frutas,
hortaliças, fibras, minerais e laticínios com baixos teores de
gordura, tem mostrado efeitos de prevenção e tratamento no
controle da HA. Os benefícios com o consumo dos minerais,
potássio, magnésio e cálcio tiveram uma potencialidade na
redução dos níveis da PA em pacientes hipertensos, e ainda
ressalta sobre orientações nutricionais para emagrecimento,
em ênfase na redução dos marcadores de risco
cardiovascular.
O objetivo desse estudo foi identificar os benefícios do
magnésio na redução da hipertensão arterial, e na prevenção
de doenças cardiovasculares fornecendo informações de bons
hábitos alimentares que podem trabalhar na homeostase do
organismo.

796
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
2 MATERIAIS E MÉTODO

Os métodos usados nesta pesquisa como, leituras e


fichamentos das partes mais relevantes, dos quais foram
utilizados para fundamentar e relatar a importância do
magnésio sobre a prevenção e tratamento da hipertensão
arterial, baseada em artigos e livros compilados nas bases de
dados como, Scielo, Google Acadêmico e Pubmed, versando
entre os anos de 2000 a 2015.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussões disponibilizados neste


trabalho pretendem relevar as informações científicas
encontradas durante a abordagem integrativa relacionada a
pesquisa de revisão bibliográfica dentro da metodologia em
foco, segue os resultados na tabela abaixo:
Segundo os autores dos artigos pesquisados
considerados mais relevantes ao trabalho exposto e suas
citações referenciadas ao tema, afirma-se que as pesquisas
estabelecem aceitação que o magnésio é um mineral
essencial para vida, podendo ajudar na prevenção ou
tratamento de doenças não transmissíveis, como, hipertensão,
doenças cardiovasculares, pré-eclampsia entre outras.
Portanto, pode-se inferir que este mineral é capaz de reduzir a
pressão arterial.

797
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
Tabela 1. A, B, C, D, E, F
Título do Base de Resultados encontrados Conclusão
dados
artigo,
autor e ano
A) Efeitos Google O magnésio pode ser Mais estudos são
do Acadêmico:
suplementado de diversas necessários para
magnésio Revista do
sobre a Hospital formas como, óxido, avaliar os riscos da
Estrutura Universitário
hidróxido, quelato, sulfato deficiência de
E função Pedro
vascular Ernesto, e citrato. magnésio e os
(CUNHA et UERJ.
O sulfato de magnésio, efeitos que devem
al., 2011).
pode ser usado no ser considerados em
tratamento suplementações. O
anticonvulsivante na pré- mais importante é
eclâmpsia devido ao seu definir de forma
papel na regulação da homogênea a
pressão arterial por ação população do estudo,
no tônus vascular. considerando mesmo
Estudos que avaliaram os gênero e faixa etária
efeitos de suplementos de restrita, usar uma
magnésio sobre a pressão dose especifica e o
arterial e outros desfechos tipo de suplemento,
cardiovasculares mantendo a
intermediários indicam que suplementação por
a ação do magnésio no um período maior.
sistema vascular está Dessa forma, é
presente, mas ainda não possível que
estabelecida. (p.43) possamos esclarecer
melhor o papel do
magnésio na
prevenção e no
tratamento das
doenças

798
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
cardiovasculares.

B) Dieta Google Estudos também têm As evidências


Acadêmico:
DASH na observado associações disponíveis sugerem
Artigo de
redução Revisão. entre pressão arterial que modificações no
Scientia
dos níveis sistêmica e estilo de vida,
Medica
de pressão (Porto ingestão de magnésio, incluindo a adoção
Alegre).
arterial e cálcio, fibras e proteínas. de uma dieta
prevenção Foram utilizaram tipo DASH, são
do suplementação estratégias eficazes
acidente isolada de algum desses no controle da
vascular
nutrientes encontraram hipertensão arterial e
cerebral
(PIPER et uma redução na pressão na redução de
al., 2012).
arterial, eventos
sugerindo que a cardiovasculares,
associação ou a interação como o acidente
entre vascular cerebral.
nutrientes presentes nos
alimentos, mais do que
o consumo isolado, estaria
resultando em efeitos
positivos. (p.116)

799
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
C) Google Os resultados mostram Apesar de evidencias
Aspectos Acadêmico:
que o organismo necessita cientificas mostrarem
Metabólicos Artigo
e baseado em de magnésio para exercer que o magnésio tem
Nutricionais estudos:
diversas funções papel fundamental
do Nutricion
Magnésio Clinica e fisiológicas em tecidos em diversas reações
(SEVERO et Dietética
especificos, como por metabólicas, o
al., 2015). Hospitalaria
exemplo, na secreção complexo
pancreática de insulina e metabolismo desse
ação desse hormônio nos mineral não está
tecidos periféricos, como o completamente
adiposo, muscular e elucidado, bem como
hepático, o que pode suas interações com
contribuir para uma outros nutrientes ou
excreção urinaria reduzida substancias da dieta.
desse micronutriente, na Associado a isso, e
perspectiva de manter as evidente a existência
concentrações de inadequação no
plasmáticas adequadas. consumo de
(p.72) magnésio, o que
parece contribuir
para a manifestação
de sua deficiência na
população.

800
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
D) Google Destaca-se áreas onde Mais pesquisa é
Magnesium Acadêmico: magnésio tem sido necessária, no
in Disease Advances in mostrado para melhorar entanto, com
Prevention Nutrition: An os sintomas da amostras maiores
and Overall International enxaqueca, doença de para elucidar melhor
Health Review Alzheimer , acidente o efeito do magnésio
(VOLPE, Journal vascular cerebral, sobre a saúde. No
2013). hipertensão, doença longo prazo, estudos
cardiovascular, diabetes prospectivos, com
do tipo 2 e mellitus. quantidades e tipos
Apesar das melhorias de suplementação de
nem todos os magnésio
pesquisadores relataram semelhantes também
relações de causa e são necessários para
estabelecer
efeito.
definitivamente um
efeito dose resposta
e o melhor tipo de
magnésio a utilizar.
Há boas evidência
para apoiar a
influência positiva
que o magnésio tem
sobre a saúde em
geral.

801
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
E) Usos do Revista Durante infarto agudo do O sulfato de
Sulfato de
Brasileira de miocárdio (IAM), 80% magnésio vem sendo
Magnésio em
Obstetrícia e Anestesiolog dos pacientes utilizado em
em Anestesia
ia apresentam obstetrícia com boa
(BARBOSA et
al., 2010) Vol. 60, No hipomagnesemia nas efetividade para
1, Janeiro-
primeiras 48 horas, inibição do trabalho
Fevereiro,
2010 provavelmente de parto prematuro e
pelos altos níveis séricos para o tratamento das
de catecolaminas. A crises convulsivas
deficiência do magnésio associadas ao quadro
leva à despolarização de eclâmpsia. É um
das células e fármaco com
promove taquicardias. potencial analgésico
Dois estudos usando e
magnésio em sedativo que pode
pacientes IAM, ser utilizado como
mostraram resultados coadjuvante durante
antagônicos com relação a
à mortalidade. anestesia geral,
O uso profilático para atenuando a resposta
prevenir a pressórica à
hipomagnesemia durante intubação
a circulação traqueal e diminuindo
as necessidades dos
extracorpórea é
anestésicos.
controverso, embora se
tenha demonstrado
diminuição na incidência
de taquicardias
ventriculares e
fibrilação atrial.

802
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
F) “Magnésio Livro A perda de magnésio Conforme os estudos
o que ele
Editora intracelular está ressaltam, todas as
pode fazer doenças conhecidas
por você” Thaesau relacionada com a baixa
estão associadas à
(COSTA,
rus dessa mineral no tecido deficiência de
2010) magnésio no
(Brasíli) muscular estriado ou liso,
organismo.
2010. sendo esta a provável
A deficiência desse
causa do risco maior de mineral é responsável
hipertensão em pessoas por um maior número
de doenças do que
da personalidade
qualquer outro
(extrovertidas e nutriente.
agressivas). Os
hormônios do estresse
são liberados adrenalina
e corticoides no sangue
induziu o aumento da
personalidade. Os ácidos
graxos livres reagem
com os íons de magnésio
formando um composto
químico não assimilável
pelas células, tornando-o
impróprio para as
funções fisiológicas,
sendo rapidamente
excretado pela urina.

Fonte: Elaboração própria.

Importante ressaltar segundo Cunha et al., (2011), que


estudos experimentais sobre a deficiência de magnésio
dietético encontrasse relação com pacientes hipertensos. Os
estudos clínicos da suplementação desse mineral mostraram

803
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
resultados significativos sobre a redução da pressão arterial,
mas que é necessário a fomentação de mais evidencias
cientificas para aprimorar essa conduta.
Piper et al., (2012), cita que os registos da dieta
vegetariana relacionada a Dieta DASH, apresentavam uma
ingesta alimentar mais rica em fibras, gordura poli-insaturada,
magnésio e potássio e pobre em gordura saturada e
colesterol. O aumento dos índices de AVC no Brasil, suas
referências de mortalidade e sequelas, faz com que as
alternativas de prevenção sejam mais vistas, mostrando que
uma dieta parecida com a vegetariana resulta em uma
estratégia não medicamentosa, de baixo custo e sem efeitos
colaterais, prevenindo o AVC e reduzindo a hipertensão
arterial.
Estudos evidenciam os processos de absorção do
magnésio, na presença de alimentos com fitatos, oxalatos,
fosfatos e fibras alimentares, a ingestão desse mineral pela
população estudada foram encontrados em reduzida ingesta
sobre as recomendações das Dietary Reference Intakes, o
que contribui para manifestação da deficiência podendo
resultar problemas na homeostase do corpo humano
(SEVERO et al., 2015).
Segundo Volpe (2013), o magnésio é o quarto mineral
mais eficiente e em segundo lutar mais abundante intracelular
resultado em várias reações metabólicas no corpo. Em média
50% desse mineral encontrasse nos ossos, tecidos e órgãos,
1% é encontrado no sangue, existem alguns processos
incluindo a produção de energia celular e armazenagem. Esse
mineral leva um papel satisfatório na manutenção normais a
função muscular e nervosa, resultando em um ritmo cardíaco
normalizado, pressão arterial normal, integridade óssea,

804
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
condução neuromuscular e contração muscular e regula o
metabolismo da glicose e insulina.
Barbosa et al., (2010), usou o sulfato de magnésio nas
aplicações em obstetrícia resultando na prevenção e controle
de crises convulsivas sob a doença hipertensiva específica da
gravidez, vantagem essa na diminuição a resistência vascular
periférica sem alterar o fluxo sanguíneo do útero. O real efeito
no tratamento das convulsões no quadro de eclampsia, o
efeito desse mineral resulta na junção neuromuscular podendo
mascarar o real efeito do magnésio no sistema nervoso
central.
No resultado do tratamento da hipertensão arterial, Costa
(2010) ressalta que a demanda de diuréticos prescritos pelos
médicos diminuem a quantidade de líquidos nos tecidos
aumentando a excreção urinária de sódio e água acionando
mecanismo que baixam a pressão arterial, mas os diuréticos
são dotados de efeitos colaterais, aumentando a perda da
urina junto o potássio e o magnésio e o sódio. A perda desses
minerais que funcionam como eletrólitos pode ocorrer um
desequilíbrio iônico do organismo, produzindo um distúrbio
como espasmos na musculatura lisa das artérias coronárias
ou cerebrais, levando a ataques cardíacos, derrames
cerebrais ou arritmias cardíacas e junto a hipertensão arterial,
podendo levar até a morte.

4 CONCLUSÕES

O respectivo trabalho aborda integralmente a relação do


consumo e na suplementação de magnésio, seus efeitos na
prevenção e tratamento, sobre a PA, doenças
cardiovasculares, arritmias cardíaca e eclampsia. Pode-se
observar que os estudos ressaltaram a importância do
805
O MAGNÉSIO NO CONTROLE DA HIPERTENSÃO ARTERIAL
consumo desde mineral na alimentação diária, prevenindo
doenças não transmissíveis, em alguns casos foram
submetidos a suplementação em forma de sulfato ajudando na
eficácia do tratamento dos paciente. Como nutricionista
percebe a grande importância da eficiência do magnésio na
homeostase do corpo e também junto a outros minerais na
recuperação e manutenção da saúde de pacientes enfermos.
Portanto, deve-se haver, mais estudos científicos para que
cada vez possa melhorar a qualidade de vida dos indivíduos
aumentando a comprovação e finalidade do magnésio a vida.

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808
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
CAPÍTULO 41

SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS
COMO UMA ESTRATÉGIA TERAPÊUTICA
INOVADORA PARA AS DESORDENS
METABÓLICAS: UMA REVISÃO
Larissa de Fátima Romão da SILVA 1
Larissa Ramalho BRANDÃO 1
Yohanna de OLIVEIRA 2
1
Graduandas do curso de Nutrição, UFPB; 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Nutrição (PPGCN), UFPB.
larissaf_romao@hotmail.com

RESUMO: Estudos recentes têm demonstrado que os


probióticos têm sido utilizados para auxiliar na disbiose
intestinal, no controle da glicose, melhora do perfil lipídico,
regulação da pressão arterial e a manutenção do peso
corporal, no entanto, alguns pontos mecanicistas ainda não
foram totalmente elucidados. Portanto, a partir das evidências
crescentes entre probióticos e efeitos benéficos para a
melhoria da saúde, objetivou-se com este trabalho, apresentar
a eficácia da suplementação dos diferentes tipos de
probióticos nas diversas desordens metabólicas. Constituiu-se
de uma revisão bibliográfica através de buscas nas bases
Sciencedirect, Pubmed, Web of Science e Periódicos CAPES,
no intervalo de tempo de 5 anos, idioma inglês, e os termos
indexados foram probiotics supplementation, obesity, diabetes,
dyslipidemia, blood pressure, metabolism. A suplementação
com probióticos têm emergido como uma alternativa excelente
e inovadora para diversos tratamentos de saúde, com grande
repercussão de pesquisas científicas e os efeitos benéficos
desses micro-organismos podem ser associados com a
modulação da microbiota intestinal, que é alterada em
809
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
indivíduos com obesidade, diabetes, hipertensão e
dislipidemia. No entanto, novas pesquisas devem ser
direcionadas para a combinação de cepas específicas,
duração significativa da intervenção e a dosagem ótima para
promover a eficácia com micro-organismos probióticos no
tratamento das desordens metabólicas.
Palavras-chave: Probióticos. Intervenção. Alterações
metabólicas.

1 INTRODUÇÃO

Os probióticos são definidos como microorganismos


vivos que quando suplementados na dosagem adequada
conferem benefícios à saúde do hospedeiro (HILL et al.,
2014). Para ser considerado um probiótico eficaz, os
microorganismos precisam ter várias características
essenciais, como por exemplo, proporcionar efeitos benéficos
comprovados para o hospedeiro, sua ingestão não pode trazer
riscos por toxicidade ou patogenicidade, sendo assim
reconhecido como seguro e devem ser capazes de resistir ao
pH gástrico e colonizar todo o trato gastro-intestinal (TGI),
sendo viáveis para o desenvolvimento de métodos de
encapsulação dos probióticos (BUTEL, 2014; VANDENPLAS,
HUYS, DAUBE, 2015).
Os probióticos podem ser comercializados como uma
única cepa microbiana isolada ou pela combinação de várias
espécies, que podem ser ingeridos na dieta ou sob forma de
suplementos (MIZOCK, 2015; PETERSON et al., 2015).
Quando os probióticos são administrados na forma de iogurte,
vários aspectos de qualidade devem ser averiguados, devido à
influência de diversos fatores, como acidez, pH, peróxido de

810
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
oxigênio e por ingredientes contidos no leite, que podem
modificar as características do produto durante a fabricação ou
o armazenamento (CRUZ et al., 2013).
O consumo de probióticos aumentou consideravelmente
nos últimos anos. Nos Estados Unidos, 3,9 milhões de adultos
relataram consumir suplementos probióticos ou prebióticos em
2015, o que revelou um aumento de quatro vezes mais
quando comparado com os dados de 2007 (CLARKE et al.,
2015).
As espécies de probióticos mais comercializadas no
mundo são provenientes do ácido láctico como: L. acidophilus,
L. casei, L. paracasei, L. fermentum, L. reuteri, L. plantarum, L.
rhamnosus e L. salivarius, bem como B. bifidum, B. breve, B.
infantis, B. lactis, B. longum e B. thermophilum (VIJAYA
KUMAR; VIJAYENDRA; REDDY, 2015).
A partir de evidências crescentes, os probióticos têm
sido utilizados para auxiliar na disbiose intestinal, a qual está
associada a diversos distúrbios gastrointestinais e outras
patologias neurológicas, como Parkinson (MULAK; BONAZ,
2015), doenças hepática gordurosa (QUIGLEY; MONSOUR,
2015), diabetes mellitus (BARLOW; YU; MATHUR, 2015) e
hipertensão arterial (YANG et al., 2015).
Neste sentido, estudos têm comprovado a eficácia da
utilização dos probióticos para diversos fins, como o controle
da glicose, melhora do perfil lipídico, regulação da pressão
arterial e a manutenção do peso corporal (PETERSON et al.,
2015; PATEL; DUPONT, 2015). Em adição, os probióticos têm
a capacidade de modular a microbiota intestinal (MIZOCK,
2015).

811
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
Portanto, a partir das evidências crescentes entre
probióticos e efeitos benéficos para a melhoria da saúde,
objetivou-se com este trabalho, apresentar a eficácia da
suplementação dos diferentes tipos de probióticos nas
diversas desordens metabólicas.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Constituiu-se de uma pesquisa de natureza qualitativa


descritiva, exploratória e transversal, realizada através de uma
revisão da literatura, que envolve a recolha e análise de vários
artigos científicos relativos ao tema escolhido. Para o
levantamento bibliográfico, realizou-se buscas de dados nas
bases eletrônicas Sciencedirect, Pubmed, Web Of Science e
Periódicos CAPES, no intervalo de tempo de 5 anos, utilizando
os termos indexadores: probiotics supplementation, obesity,
diabetes, dyslipidemia, blood pressure, metabolism.
Foram selecionados 23 artigos para compor a presente
revisão. Como critérios de inclusão, foram considerados
artigos no idioma inglês, no intervalo temporal de 2012 a 2017,
que contemplassem estudos clínicos e experimentais
abordando a suplementação de probióticos e seus efeitos
benéficos na obesidade, diabetes, dislipidemia e hipertensão
arterial, e revisões de meta-análise. Como critérios de
exclusão, foram descartados os artigos que não pertenciam ao
intervalo de tempo de 2012 a 2017, os que não abordavam a
interação entre probióticos e as doenças metabólicas, artigos
não disponíveis na íntegra e protocolos de estudo.

812
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Probióticos e seus efeitos na obesidade

Segundo Mekkes et al. (2014), estudos recentes têm


apontado que a suplementação com L. gasseri SBT 2055, L.
rhamnosus ATCC 53103 e a combinação de L. rhamnosus
ATCC 53102 e B. lactis Bb12 podem reduzir a adiposidade, o
peso corporal e o ganho de peso, sugerindo que essas cepas
microbianas podem ser aplicadas no tratamento da obesidade.
Em um estudo realizado em ratos machos C57BL/6J
obesos, os quais foram tratados com dois probióticos,
Lactobacillus curvatus HY7601 e Lactobacillus plantarum
KY1032 a uma dosagem de 5 x 109 UFC/dia/cada durante 10
semanas, foi verificada uma redução no ganho de peso
corporal e acúmulo de gordura, assim como baixos níveis de
biomarcadores de insulina plasmática, leptina, colesterol total
(CT) e toxicidade hepática. Indicando assim, que o tratamento
com cepas probióticas podem reduzir a obesidade induzida
pela dieta, assim como o processo inflamatório no fígado e no
tecido adiposo (PARK et al., 2013).
Entretanto, no estudo de Karimi et al. (2017), a dieta
rica em gordura suplementada com B. longum em ratos
Sprague Dawley durante 15 dias foi mais benéfica nas
alterações do perfil metabólico do que a dieta suplementada
com uma mistura das espécies de B. longum e Lactobacillus
casei Shirota, apresentando melhores resultados em termos
de modulação do nível de leptina, massa gorda e tamanho de
adipócitos.

813
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
Em um estudo clínico randomizado, placebo-controlado,
duplo-cego, realizado com 153 homens e mulheres obesos, a
suplementação com Lactobacillus rhamnosus CGMCC1.3724
(LPR) a uma dosagem de duas cápsulas/dia, contendo 1,6 ×
108 UFC de LPR durante 24 semanas, acentuou a perda de
peso em mulheres submetidas à restrição energética. Além
disso, foi observado que esse efeito persistiu na fase de
manutenção subsequente, quando a restrição de energia não
foi mais imposta, enquanto observaram-se alterações opostas
no grupo placebo (SANCHEZ et al., 2014). No entanto, são
necessárias mais pesquisas para fornecer explicações
mecanicistas desse efeito no balanço energético.
Em uma recente revisão sistemática composta por 14
ensaios clínicos randomizados e controlados, foi verificado
que nove relataram diminuição do peso corporal e / ou gordura
corporal, três não apresentaram efeito nas medidas de
adiposidade corporal e apenas dois apresentaram aumento de
peso. Portanto, os probióticos podem ter efeitos benéficos na
perda de peso em adultos com sobrepeso, destacando que as
cepas de L. gasseri e L. amylovorus podem promover a
diminuição do peso, L. plantarum e L. rhamnosus quando
combinados com uma dieta hipocalórica, L. plantarum com L.
curvatus e L. acidophilus e L. casei com compostos fenólicos e
múltiplas espécies de Lactobacillus (CROVESY et al., 2017).

3.2 Probióticos e diabetes mellitus

Segundo Han e Lin (2014), a microbiota intestinal pode


desempenhar um papel importante na patogênese da diabetes
mellitus tipo 2 (DMT2), influenciando o peso corporal, o

814
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
metabolismo do ácido biliar, aumento da atividade pró-
inflamatória, resistência à insulina e a modulação dos
hormônios intestinais. No entanto, estudos experimentais e
clínicos têm demonstrado que a modulação da microbiota
intestinal pelo uso de probióticos pode promover benefícios na
melhoria do metabolismo da glicose e resistência à insulina no
hospedeiro, conforme apresentado na Figura (1).

Figura 1. O papel da microbiota intestinal na patogênese da


diabetes mellitus tipo 2.

Fonte: Han; Lin (2014).

Em um estudo clínico randomizado, placebo-controlado,


duplo-cego, realizado com 54 pacientes diabéticos, a
suplementação com 7 cepas probióticas de Lactobacillus
acidophilus (2 × 109 UFC), L. casei (7 × 109 UFC), L.

815
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
rhamnosus (1,5 × 109 UFC), L. bulgaricus (2 × 108 UFC),
Bifidobacterium breve (2 × 1010 UFC), B. longum (7 × 109
UFC) e Streptococcus thermophilus (1,5 × 109 UFC) durante 8
semanas, revelaram que o consumo de suplementos
probióticos impediu o aumento da glicemia de jejum, resultou
em uma diminuição da proteína C-reativa (PCR) e um
aumento na glutationa total plasmática (GSH) (ASEMI et al.,
2013).
Em outro estudo clínico randomizado, placebo-
controlado, duplo-cego, com 156 homens e mulheres adultos
com sobrepeso, a suplementação com o iogurte probiótico
contendo L. acidophilus La5 e B. animalis subsp lactis Bb12 a
uma dosagem de 3 x 109 UFC/dia durante 6 semanas,
proporcionou um aumento significativo do índice de
sensibilidade à insulina (HOMA-IR), mas não teve efeitos na
glicemia de jejum, insulina e hemoglobina glicada (HbA1C)
(IVEY et al., 2014).
Em uma meta-análise realizada com 12 ensaios
clínicos, totalizando 684 pacientes com DMT2, o efeito da
intervenção com probióticos foi significativo nos níveis de
HbA1C, insulina de jejum e HOMA-IR, no entanto, não
demonstrou alterações nos níveis de glicemia de jejum, PCR e
perfil lipídico (YAO et al., 2017).
Em outra meta-análise com 17 ensaios clínicos
randomizados e placebo-controlados, o consumo de
probióticos reduziu significativamente a glicemia de jejum,
insulina plasmática em jejum e HOMA-IR, em comparação
com o grupo placebo, indicando que o consumo de probióticos
pode melhorar modestamente o controle glicêmico. Logo, a
modificação da microbiota intestinal através da suplementação

816
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
probiótica pode ser um método eficaz para prevenir e controlar
a hiperglicemia na prática clínica (RUAN et al., 2015).

3.3 Probióticos e dislipidemia

De acordo com Yoo e Kim (2016), a desconjugação


enzimática de ácidos biliares pela hidrolase de sais biliares foi
proposta como um mecanismo molecular importante nos
efeitos de redução do colesterol.
Têm sido sugerido que a modulação da microbiota
intestinal pelo uso de prebióticos e/ou probióticos, mostrou-se
como uma alternativa promissora na prevenção de doenças
cardiovasculares. Certos prebióticos podem promover um
perfil de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) que altera a
secreção hormonal e atenua a síntese do colesterol, enquanto
que os efeitos da hidrolase de sais biliares e probióticos
produtores de exopolissacarídeos podem promover a melhoria
da hipercolesterolemia. Além disso, gêneros microbianos
específicos foram identificados como potenciais fatores de
risco de doença cardiovascular (RYAN et al., 2015).
A bile consiste em ácidos biliares conjugados,
colesterol, fosfolípidos, pigmentos biliares e eletrólitos.
Sintetizada no fígado, a bile é armazenada em altas
concentrações na vesícula biliar entre as refeições. Após a
ingestão de alimentos, é liberada para o duodeno. A bile
funciona como um detergente biológico que emulsiona e
solubiliza os lipídios para a digestão. A hidrolase de sais
biliares catalisa a hidrólise dos ácidos biliares primários
conjugados com glicina ou taurina para criar ácidos biliares
desconjugados. Os ácidos biliares desconjugados são menos

817
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
solúveis e menos eficientemente reabsorvidos do que os seus
homólogos conjugados, levando à sua eliminação nas fezes
(NAGPAL et al., 2012).
A deconjugação de sais biliares pode levar a uma
redução dos níveis de colesterol sérico, aumentando a
demanda de colesterol para a síntese de novos ácidos biliares
para substituir os eliminados pelas fezes ou reduzindo a
solubilidade do colesterol e, assim, a absorção de colesterol
através do lúmen intestinal (YOO; KIM, 2016).
O colesterol é utilizado como precursor para a síntese
de novos ácidos biliares conjugados e a ativação da hidrolase
de sais biliares por probióticos catalisa os ácidos biliares
primários para criar ácidos biliares desconjugados que são
menos solúveis e menos eficazmente reabsorvidos no
intestino e no fígado. Os ácidos biliares desconjugados
também contribuem para a eliminação do colesterol nas fezes
(YOO; KIM, 2016).
A Figura (2) mostra o mecanismo de desconjugação
enzimática dos ácidos biliares pela hidrolase de sais biliares.
Em um estudo experimental realizado por Kim et al.
(2016), a suplementação com Lactobacillus rhamnosus GG
(LGG) durante 13 semanas a uma dosagem de 1 x 10 8
UFC/dia, proporcionou uma redução significativa no peso do
tecido adiposo do fígado, mesentério e subcutâneo em ratos
alimentados com uma dieta rica em gordura tratados com LGG
em comparação com os controles não tratados, além de
reduzir os níveis séricos de CT e triglicerídeos (TG),
confirmando assim, o potencial terapêutico dos probióticos
para a melhoria da dislipidemia e da doença hepática
gordurosa não-alcoólica.

818
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
Em um estudo randomizado, duplo-cego e placebo-
controlado, a suplementação de cápsulas probióticas contendo
L. acidophilus e B. bifidum durante 6 semanas, três vezes ao
dia em 64 pacientes com hipercolesterolemia, diminuiu os
níveis séricos de CT, lipoproteína de baixa densidade (LDL) e
lipoproteína de alta densidade (HDL) nesses pacientes, no
entanto, não apresentou efeitos nos níveis de glicose
sanguínea e nos níveis de TG (RERKSUPPAPHOL;
RERKSUPPAPHOL, 2015).
Em outro estudo randomizado, placebo-controlado,
paralelo, duplo-cego, em 156 adultos com excesso de peso, a
suplementação de iogurte probiótico e cápsulas probióticas
contendo L. acidophilus La5 e B. animalis subsp. lactis Bb12
(a uma dose de 3 × 109 UFC/dia durante 6 semanas) não
promoveram alterações significativas na pressão arterial (PA),
frequência cardíaca (FC), CT, LDL, HDL e TG (IVEY et al.,
2015).
Já em uma meta-análise realizada com 11 ensaios
clínicos randomizados, as intervenções probióticas reduziram
os níveis de CT e LDL, porém os níveis de HDL e TG não
diferiram estatisticamente entre os grupos de probióticos e
controle. Ressalta-se ainda, que as intervenções à longo prazo
(> 4 semanas) foram mais efetivas na diminuição de CT e LDL
do que as intervenções de curto prazo (≤ 4 semanas). Em
adição, tanto os produtos de leite fermentado como as
preparações probióticas diminuíram os níveis de CT e LDL,
com destaque para as cepas Gaio e Lactobacillus acidophilus
que reduziram os níveis de CT e LDL em maior extensão do
que outras cepas bacterianas (SHIMIZU et al., 2015).

819
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
Figura 2. Efeitos da hidrolase de sais biliares na redução do
colesterol por probióticos.

Fonte: Yoo; Kim (2016).

3.4 Probióticos na hipertensão arterial

Segundo Marques, Mackay e Kaye (2017), as fibras


dietéticas ou amido resistente, são consideradas prebióticos,
pois são resistentes à digestão no TGI superior e passam para

820
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
o cólon, onde são metabolizadas por bactérias comensais
como fonte de energia, diminuindo a proliferação de bactérias
patogênicas. O consumo de uma dieta rica em fibras aumenta
as populações da microbiota intestinal que geram AGCC
através da fermentação da fibra. O acetato, o propionato e o
butirato representam 80% dos AGCC produzidos pela
microbiota, encontrados em aproximadamente 60:25:15,
respectivamente, dentro do cólon. O butirato é utilizado pelos
colonócitos para manter a integridade da barreira intestinal e
diminuir a inflamação local, no entanto, pequenas quantidades
são transportadas com acetato e propionato para o fígado
através da veia porta. O propionato é metabolizado pelos
hepatócitos, enquanto que o acetato e proporções menores de
propionato e butirato são liberados para a circulação
sistêmica, onde podem alcançar os órgãos envolvidos na
regulação da pressão arterial, conforme demonstrado na
Figura (3).
Evidências de estudos experimentais e clínicos
demonstraram que a melhoria da microbiota intestinal, através
da suplementação com probióticos, auxilia na redução da
pressão arterial em pacientes hipertensos (ROBLES-VERA et
al., 2017). Além disso, os efeitos benéficos ou deletérios da
microbiota intestinal sobre a pressão arterial é consequência
de diversas variáveis, incluindo genética, epigenética, estilo de
vida e ingestão de antibióticos, influenciando os valores da
pressão arterial e controle da hipertensão (JOSE; RAJ, 2015).

821
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
Figura 3. Influência da dieta na microbiota intestinal e pressão
arterial.

onte: Marques; Mackay; Kaye (2017).

No estudo realizado por Gómez-Guzmán et al. (2015)


em ratos espontaneamente hipertensos, a
administração à longo prazo de L. fermentum ou L.
coryniformis ou L. gasseri (3,3 × 1010 UFC/dia, durante 5
semanas) induziu a uma redução na pressão arterial sistólica
(PAS), porém não houve modificações significativas na FC.
No estudo de Ahrén et al. (2015), a suplementação de
2g/dia de mirtilos fermentados com bactérias produtoras de L.
plantarum DSM 15313 em ratos machos Sprague Dawley
durante 4 semanas, apresentaram uma redução significativa
na pressão arterial em comparação com o grupo controle,
além de alterações da microbiota intestinal, demonstrando
assim as propriedades anti-hipertensivas desses probióticos e
o potencial efeito na redução do risco de doenças
cardiovasculares.
Em uma meta-análise realizada com 9 ensaios clínicos,
foi verificado que o consumo de probióticos reduziu
822
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
significativamente a PAS em 3,56 mmHg e a pressão arterial
diastólica (PAD) em 2,38 mmHg em comparação com os
grupos controle. Ressaltou-se ainda, que uma maior redução
foi encontrada na PAD e PAS através da utilização de
múltiplas cepas probióticas, em comparação com espécies de
cepas isoladas. Sugerindo assim, que o consumo de
probióticos pode reduzir os níveis de PA, sendo recomendável
a suplementação com cepas probióticas variadas, duração da
intervenção > 8 semanas e uma dosagem diária ≥ 1011 UFC
(KHALESI et al., 2014).

4 CONCLUSÕES

A suplementação de probióticos têm emergido como


uma alternativa excelente e inovadora para diversos
tratamentos de saúde, com grande repercussão de pesquisas
científicas, no entanto, vários pontos para uma intervenção
bem sucedida e personalizada ainda não foram elucidados. Os
efeitos benéficos desses micro-organismos podem ser
associados com a modulação da microbiota intestinal, que é
alterada em indivíduos com obesidade, diabetes, hipertensão
e dislipidemia.
Devem ser realizados ensaios clínicos randomizados,
placebo-controlados com tamanho amostral significativo para
justificar a utilização de probióticos e confirmar os efeitos
benéficos sugeridos no presente estudo, proporcionando
embasamento para futuras diretrizes e direcionamento para a
aplicabilidade clínica.
Além disso, novas pesquisas devem ser direcionadas
para a combinação de cepas específicas, duração significativa

823
SUPLEMENTAÇÃO DE PROBIÓTICOS COMO UMA ESTRATÉGIA
TERAPÊUTICA INOVADORA PARA AS DESORDENS METABÓLICAS: UMA
REVISÃO
da intervenção e a dosagem ótima para promover a eficácia
com micro-organismos probióticos no tratamento das
desordens metabólicas.

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826
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
CAPITULO 42

EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O


COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Dayana Flávia Silva SOUSA¹
Roberta Cristina França SILVA¹
Juliana Késsia Barbosa SOARES2
Camila Carolina de Menezes Santos BERTOZZO²
¹Nutricionistas pela Universidade Federal de Campina Grande/Centro de Educação
e Saúde, Unidade Acadêmica de Saúde.
²Professoras da Universidade Federal de Campina Grande/Centro de Educação e
Saúde, Unidade Acadêmica de Saúde, Campus Cuité-PB.
E-mail:flaviasousaufcg@outlook.com

RESUMO: O óleo de cártamo é utilizado para sintetizar CLA


industrialmente suas sementes são ricas em ésteres glicéridos
de ácidos graxos insaturados, ácido oleico e ácido linoléico,
considerado um óleo com alto teor de gordura poli-insaturada.
Reduz a gordura corporal e aumenta a tonicidade muscular,
despertando interesse aos consumidores, sendo utilizado
como suplemento por desportistas. O objetivo deste trabalho
foi avaliar alterações comportamentais de ratos submetidos
a uma dieta suplementada com óleo de cártamo associado
ou não ao treinamento físico. Machos adultos Wistar, com
idade de 60 dias, foram divididos em quatro grupos: grupo
controle-sedentário, suplementado com água destilada,
grupo controle-sedentário suplementado com óleo de
cártamo, grupo exercitado suplementado com água
destilada, outro grupo exercitado suplementado com óleo
de cártamo. No teste do Campo Aberto, quatro parâmetros
foram analisados. Na ambulação, o grupo E-controle
apresentou um aumento significativo comparado aos grupos

827
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
S-controle e S-cártamo. No parâmetro levantar, o grupo E-
controle mostrou um aumento comparado aos demais grupos.
Quanto à defecação, não houve diferença estatística. No teste
do LCE, o tempo de permanência nos braços fechados não
houve diferença estatística. Concluiu-se que o consumo do
óleo de cártamo e o exercício físico, quando isolados,
causaram efeito ansiolítico nos animais, porém, o exercício
não potencializou o efeito ansiolítico provocado pelo consumo
do óleo de cártamo.
Palavras-chaves: Óleo de cártamo. Ansiedade. Treinamento
físico.

1 INTRODUÇÃO

O ômega-3 (W-3) e o ômega-6 (W-6) fazem parte da


família dos ácidos graxos poli-insaturados (AGPIs). Os ácidos
graxos de cadeia muito longa são representados pelos ácidos
araquidônicos (EPA) e docosaexaenoicos (DHA), exercendo
importantes funções para o desenvolvimento e funcionamento
do cérebro e da retina (MARTIN et al., 2006).
Um óleo fonte de AGPIs é o óleo de cártamo, que está
sendo utilizado para sintetizar CLA industrialmente. Suas
sementes são ricas em ésteres glicéridos de ácidos graxos
insaturados (90%), ácido oleico (W-9) (20-30%) e ácido
linoléico (W-6) (55-88%), sendo considerado um óleo com alto
teor de gordura poli-insaturada. Tem como principal função a
redução da gordura corporal e aumento da tonicidade
muscular, despertando bastante interesse aos consumidores,
tanto para consumo alimentar como também sendo muito
utilizado como suplemento (PINTÃO; SILVA, 2008).

828
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Atualmente, o óleo de cártamo está sendo muito
utilizado pela população com intuito de reduzir o peso
corporal, melhorar o perfil lipídico e aumentar a massa magra
(PINTÃO; SILVA, 2008). Porém, o consumo deste óleo está
ocorrendo sem nenhuma prescrição dietética, levando a uma
discussão acerca da suplementação e seus efeitos gerados
quanto aos fatores fisiológicos e psicológicos ocasionados no
organismo, e se tais efeitos são positivos ou negativos,
ocorrendo controvérsias com relação ao consumo do óleo de
cártamo, não chegando a nenhum resultado conclusivo a
respeito desta suplementação, devido aos estudos ser muito
escassos e inconclusivos. É importante avaliar se a
suplementação do óleo de cártamo quando aliado ao
treinamento físico interfere no comportamento, devendo
observar o nível de ansiedade e estresse.
A ansiedade e o medo são reconhecidos como
patológicos quando são exagerados e desproporcionais ao
estímulo, podendo ser qualitativamente variados quando é
observado como normal para aquela faixa etária, podendo
interferir na qualidade de vida, no conforto emocional ou no
desempenho diário do indivíduo. Porém, reações exageradas
a este estímulo ansiogênico podem se desenvolver em
indivíduos com uma predisposição neurobiológica herdada
(CASTILO et al., 2000).
A ansiedade é invocada em situações de perigo
incerto como, por exemplo, ameaça potencial, devido a uma
situação nova ou por razão do estímulo de perigo estar
presente no passado e não mais no ambiente. É
relacionada a uma série de manifestações psíquicas, tais
como: agressividade, impulsividade, apreensão, etc., e
somáticas, caracterizando os seguintes sintomas: aumento

829
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
de pressão arterial, náuseas, diarréia, aumento do número
de micções, cefaléia, tontura, tremor, insônia, sensação de
falta de ar, impotência, inquietação etc (COLLAÇO, 2011).
Sendo assim, diante do consumo do óleo de cártamo
associado ao treinamento físico, e dos feitos que isto possa
causar no comportamento do indivíduo, faz-se necessário
uma investigação dessa associação e dos possíveis efeitos
causados. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar
alterações comportamentais de ratos submetidos a uma
dieta suplementada com óleo de cártamo submetidos ou
não ao treinamento físico.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 ANIMAIS E DIETA

Foram utilizados 40 ratos Wistar machos albinos, com


idade de 60 dias, pesando 250 ± 50 g, provenientes do
Biotério de Criação da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e mantidos no Laboratório de Nutrição Experimental
(LANEX), do Centro de Educação e Saúde (CES), da
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campus
Cuité-PB.
Durante todo o período experimental, os animais foram
alojados em gaiolas metabólicas individuais, consumindo água
e ração ad libitum elaborada pela recomendação do American
Institute of Nutrition (AIN 93G). A temperatura e umidade do ar
foram controladas na faixa de 22 ± 1°C e 60 a 70%,
respectivamente, obedecendo a um ciclo claro/escuro de doze
horas, começando a fase clara a partir das 6h00 até as 18h00.
Os animais foram divididos aleatoriamente em quatro
grupos (N=10), sendo dois grupos controles e dois grupos

830
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
experimentais. Os grupos controle constituíram-se em um
grupo sedentário (S-controle) e um grupo exercitado (E-
controle). Da mesma forma, ocorreu com os grupos
experimentais, tratados com óleo de cártamo: um grupo
sedentário (S-cártamo) e um grupo exercitado (E-cártamo).
Os animais foram suplementados com óleo de cártamo,
obtido comercialmente, da marca Nature’s® produtos naturais,
por meio de gavagem utilizando seringa descartável de 5 ml e
sonda, obedecendo a quantidade de 1ml/100g de peso
corporal/dia. Após 4 semanas de treinamento e
ou/suplementação, os animais foram submetidos aos testes
de comportamento do Campo Aberto e Labirinto em Cruz
Elevado.

2.2 TREINAMENTO FÍSICO

O treinamento físico foi feito em esteira motorizada


(Figura 1), de pequeno porte (Insight®), com visor eletrônico
digital de medição automática, apropriada para ratos,
contendo 6 baias, permitindo que os animais praticassem os
exercícios físicos ao mesmo tempo e isoladamente.
Inicialmente, todos os animais do grupo exercitado passaram
por um período de adaptação durante 5 dias contínuos antes
dos experimentos, iniciando o tempo de 5 minutos e
velocidade de 16 m/min, sendo que neste período de 5 dias de
adaptação o tempo foi aumentado gradativamente a cada 5
minutos e a velocidade a cada m/mim. Depois desse período
de adaptação, o treinamento físico iniciou-se com o tempo de
30 minutos aumentando gradativamente a cada 5 minutos
durante os dias da primeira semana, com velocidade de 21
m/min; na segunda semana até a quarta semana o tempo

831
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
estabelecido foi 45 minutos na velocidade de 21 m/min. O
treinamento físico foi realizado durante os cinco dias da
semana (segunda a sexta), no período de 4 semanas
seguidas, correspondendo a 20 dias, iniciando-se a partir das
8h00.
Figura 1. Esteira Motorizada para ratos

Fonte: Laboratório de Nutrição Experimental, LANEX/UFCG


Tabela 1. Protocolo de corrida na esteira motorizada para
ratos utilizado na pesquisa.
DIAS DE ADAPTAÇÃO MINUTOS POR DIA VELOCIDADE (m/min)
1 5 16
2 10 17
3 15 18
4 20 19
5 25 20
SEMANAS DE MINUTOS POR DIA VELOCIDADE (m/min)
TREINAMENTO
1 30, 35, 40, 45 21
2 45 21
3 45 21
4 45 21
Fonte: Silva França, 2014

832
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
2.3 TESTES COMPORTAMENTAIS

2.3.1 Teste do Campo Aberto


Consiste de uma arena circular pintada de branco com
medida de 1 metro de diâmetro, subdividida por 17 quadrantes
e uma arena central destacados de cor preta (Figura 2),
permitindo assim, um contraste entre o animal e a arena,
facilitando a visualização do observador (OLIVEIRA et al.,
2008).
O teste do campo aberto é utilizado para quantificar
movimentos de locomoção e de exploração de animais. Esses
movimentos locomotores são chamados de deslocamentos
entre um ponto a outro da arena (ambulação). Os movimentos
que caracterizam a exploração são aqueles em que o animal
pode fazer sem precisar se deslocar, sendo estes: elevação
vertical, cheirar o ambiente e autolimpeza. (PRUT E
BELZUNG 2003, EILAM, 2003 apud MACHADO et al., 2006).
O teste foi realizado com 40 ratos Wistar machos
albinos, divididos em 4 grupos: S-controle, E-controle, S-
cártamo e E-cártamo. Neste teste, foram observados os
seguintes parâmetros: ambulação (número de cruzamentos
pelo animal com as quatro patas), rearing (número de
comportamentos de levantar), grooming (tempo de
comportamentos de autolimpeza) e defecação (números de
bolos fecais).
Os testes foram filmados com uma câmera de vídeo
implantada no teto da sala de experimentação e depois
analisadas. Cada animal permaneceu durante 10 minutos
explorando o campo aberto, e a cada teste realizado o campo
aberto foi limpo com álcool a 10%.

833
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 2. Aparelho do Campo Aberto

Fonte: Laboratório de Nutrição Experimental, LANEX/UFCG

2.3.2 Teste do Labirinto em Cruz Elevado (LCE)

O teste do Labirinto em Cruz Elevado (LCE) consiste de


dois braços abertos (30 x 5 cm) e dois braços fechados (30 x 5
x 25 cm), posicionados perpendicularmente, com paredes
laterais e elevados a 50 cm do solo (Figura 3) (GIOVA, 2011).
O tempo gasto em cada braço pelo animal, também o
número de entradas nos braços abertos e as porcentagens de
tempo e entradas são os parâmetros mais utilizados, de modo
que a permanência nos braços abertos significa um índice
confiável de ansiedade (PELLOW et al., 1985).
O teste foi realizado com todos os animais, 24 horas
após o teste do Campo aberto. Os animais foram submetidos
ao teste do Labirinto em Cruz Elevado e os parâmetros
observados neste teste foram: o número de entradas nos
braços fechados (NEBF), tempo gasto nos braços fechados
(TBF), número de entradas nos braços abertos (NEBA),
tempo gasto nos braços abertos (TBA), e o tempo gasto na
área central (TC).
Os testes foram filmados com câmera de vídeo
implantada no teto da sala de experimentação e depois
analisados. Os animais permaneceram durante 5 minutos no
834
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
LCE explorando o mesmo, e a cada sessão de filmagem o
Labirinto foi limpo com álcool a 10%.

Figura 3. Labirinto em Cruz Elevado

Fonte: Laboratório de Nutrição Experimental, LANEX/UFCG


Todos os experimentos foram executados no período
compreendido entre 10h00 e 14h00, e os animais foram
eutanasiados por deslocamento cervical após os
experimentos.

2.4 ANÁLISES ESTATÍSTICAS

Os resultados obtidos foram analisados


estatisticamente por meio do teste de Análise de Variância
(ANOVA) com uma classificação “one-way”, seguido do teste
de Bonferroni. Os valores obtidos foram expressos com a
média ± erro padrão da média (E.P.M.). Os resultados foram
considerados significativos quando apresentaram valores de
(p < 0,05).

2.5 PROCEDIMENTOS ÉTICOS

Na pesquisa, foram adotados os princípios e protocolos


éticos instituídos que estabelece todos os cuidados com
animais durante a utilização para experimentos. Este trabalho
835
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
foi submetido ao Comitê de Ética para o Uso de Animais
(CEUA) da UFCG campus de Patos-PB, com o protocolo de
aprovação sob o número 0407/13. Todos os métodos
realizados com os animais foram de acordo com as normas do
Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 TESTE DO CAMPO ABERTO


Os animais foram submetidos ao teste do campo
aberto, no qual foram avaliados os seguintes parâmetros:
Ambulação, rearing (número de vezes que o animal levantou)
grooming (autolimpeza) e defecação (número de bolos fecais).
Os dados obtidos para o parâmetro de Ambulação mostraram
significância estatística entre o grupo Exercitado-Controle
(102,3 ± 10,2) e os grupos Sedentário-Controle (74,3 ± 5,1) e
Sedentário-cártamo (60,5 ± 7,4), não havendo diferença no
grupo Exercitado-Cártamo (76,3 ± 14,5), demostrando que o
grupo Exercitado-controle ambulou mais do que o grupo
Sedentário-controle e Sedentário-cártamo (Fig. 1).

836
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 1. Efeito da suplementação com óleo de cártamo
associado ou não ao treinamento físico sobre a ambulação no
teste do Campo Aberto em ratos. Os valores estão expressos
em média ± E.P.M. (n=10). Teste ANOVA (oneway) –
Bonferroni *p<0,05, **p<0,01.
150 *
**
Ambulação

100

50

0
le o le o
tro rta
m
n tro rta
m
Con -C
á Co Cá
-
rio o- o-
á rio á ta
d
ta
d
nt nt ci ci
de de er xer
Se Se E x E

Com relação ao parâmetro rearing, foram observados


os seguintes valores: Sedentário-Controle (25,4 ± 2,7)
Sedentário-Cártamo (26,6 ± 3,6) Exercitado Controle (48,4 ±
3,3) e Exercitado Cártamo (27,5 ± 1,5), demostrando que o
grupo Exercitado Controle apresentou aumento comparado
aos demais grupos (Fig. 2).

837
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 2. Efeito da suplementação com óleo de cártamo
associado ou não ao treinamento físico sobre a quantidade de
levantar no Teste do Campo Aberto em ratos. Os valores
estão expressos em média ± E.P.M. (n=10). Teste ANOVA
(oneway)– Bonferroni ***p<0,001.
60
Quantidade de levantar

***

40

20

o
o

le
le

m
m

o
o

tr

ta
ta
tr

ár
ár
n

o
o

-C
-C

-C
-C

o
o

o
o

ad
ri

ad
ri


it
it
en

rc
rc
en

xe
ed

xe
ed

E
S

E
S

Quanto ao tempo de autolimpeza, os resultados


mostraram que o grupo Sedentário-cártamo (43,5 ± 7,6) teve
um maior tempo de autolimpeza do que o Sedentário-controle
(21,9 ± 4,3) e o grupo Exercitado-controle (33,5 ± 9,0) e
Exercitado-cártamo (19,5 ± 4,6) não apresentaram diferença
estatística (Fig. 3).

838
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 3. Efeito da suplementação com óleo de cártamo
associado ou não ao treinamento físico sobre o tempo da
autolimpeza no teste do Campo Aberto em ratos. Os valores
estão expressos em média ± E.P.M. (n=10). Teste ANOVA
(oneway) – Bonferroni *p<0,05.
Tempo de autolimpeza (seg)

60
*

40

20

o
o

le
le

m
m

o
ro

tr

ta
ta
nt

ár
ár

o
o

C
C

C
C

o-
o-

o-
o-

ad
ri

ad
ri


it
it
en

rc
rc
en

xe
ed

xe
ed

E
S

E
S

Foi observado que não houve diferença estatística entre


os grupos: Sedentário-controle (4,5± 0,5) Sedentário-Cártamo
(2,5 ± 1,0) Exercitado-controle (2,5 ± 0,8) e Exercitado-
Cártamo (3,1 ± 0,8) para o parâmetro defecação (Fig. 4).

839
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 4. Efeito da suplementação com o óleo de cártamo
associado ou não ao treinamento físico sobre o número de
bolos fecais no Teste do Campo Aberto em ratos. Os valores
estão expressos em média ± E.P.M. (n=10). Teste ANOVA
(oneway) – Bonferroni.
6
Número de bolos fecais

0
le o le o
nt
ro tam tro tam
ár on ár
Co C C o-
C
rio
- io- o-
ad
ár ad
nt
á
e nt rcit rcit
de Se
d
Ex
e
Ex
e
Se

3.2 TESTE DO LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO

No LCE foram observados os seguintes parâmetros:


número de entrada nos braços fechados, tempo de
permanência nos braços fechados, número de entrada nos
braços abertos, tempo de permanência nos braços abertos e
tempo de permanência na área central.
Os resultados mostraram que houve um menor número
de entrada nos braços fechados nos dois grupos: Sedentário-
Cártamo (5,8 ± 0,9) e Exercitado-Cártamo (7,1 ± 0,9) quando
comparado aos demais grupos Sedentário-Controle (11,5 ±
0,8) e Exercitado-Controle (10,3 ± 0,6) (Figura 5).

840
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 5. Efeito da suplementação com o óleo de cártamo
associado ou não ao treinamento físico no teste do LCE sobre o n°
de entradas nos braços fechados em ratos. Os valores estão
expressos em média ± E.P.M. (n=10). Teste ANOVA (oneway) –
Bonferroni **p<0,01, ***p<0,001.

**
15 ***
**
Número de entradas

**
Braços fechados

10

0
le o le o
ro ta
m tro ta
m
nt ár n ár
-C
o - C Co - C
rio o- do
rio d
nt
á nt
á
c ita c ita
de de er er
Se Se Ex Ex

Os resultados mostraram que não houve diferença


estatística entre os grupos: Sedentário-controle (225,3 ± 12,1),
Sedentário-cártamo (203,8 ± 28,9) Exercitado-controle (185,5
± 14,7) e Exercitado-cártamo (229,6 ± 26,2) quanto ao tempo
de permanência nos braços fechados (Figura 6).

841
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 6. Efeito da suplementação com o óleo de cártamo associado ou
não ao treinamento físico sobre o tempo de permanência nos braços
fechados em ratos. Os valores estão expressos em média ± E.P.M. (n=10).
Teste ANOVA (oneway)– Bonferroni.

300
Tempo de permanência (s)
Braços fechados

200

100

o
o

le
le

m
m

o
o

tr

ta
ta
tr

ár
ár
n

o
o

-C
-C

-C
-C

o
o

o
o

ad
ri

ad
ri


it
it
en

rc
rc
en

xe
ed

xe
ed

E
S

E
S

Todos os grupos aumentaram o número de entradas


nos braços abertos em relação ao Sedentário controle (0,9 ±
0,2) [Sedentário cártamo (2,4 ± 0,4), Exercitado controle (2,7 ±
0,5) e Exercitado cártamo (3,2 ± 1,0)] (Figura 7).

842
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 7. Efeito da suplementação com o óleo de cártamo associado ou
não ao treinamento físico sobre o número de entradas nos braços abertos
em ratos. Os valores estão expressos pela média ± E.P.M. (n=10). Teste
ANOVA (oneway) – Bonferroni *p<0,05, **p<0,01.

5
*
Número de entradas

4
Braços abertos

**
3 **
2

o
o

e
e

ol

m
m
ol

tr

ta
ta
tr

on

ár
ár
on

-C
-C

-C
-C

do
io

do
io

ár

ta
ár

ta
nt

ci
nt

ci
de

er
er
de

Ex
Se

Ex
Se

Os resultados mostraram que o grupo Sedentário-


cártamo (28,2 ± 8,5) ficou mais tempo nos braços abertos
comparando-se ao grupo Sedentário-controle (6,7 ± 2,3) e não
houve diferença estatística entre o grupo Exercitado-controle
(18,6 ± 6,1) e Exercitado-cártamo (30,8 ± 15,9) (Figura 8).

843
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO

Figura 8. Efeito da suplementação com o óleo de cártamo associado ou


não ao treinamento físico sobre o tempo de permanência nos braços
abertos em ratos. Os valores estão expressos em média ± E.P.M. (n=10).
Teste ANOVA (oneway) – Bonferroni *p<0,05.

50
Tempo de permanência (s)

40
Braços abertos

*
30

20

10

0
le o le o
ro rta
m tro ta
m
o nt á o n á r
-C -C -C o-C
rio rio d o d
tá nt
á
c ita c ita
d en d e er er
Se Se Ex Ex

O grupo Exercitado-cártamo (32,8 ± 8,9) passou menos


tempo na área central, quando comparado ao grupo
Exercitado-controle (73,0 ± 13,8) e não houve diferença
estatística entre o grupo Sedentário-controle (53,5 ± 10,3) e
Sedentário-cártamo (58,8 ± 18,2) (Figura 9).

844
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
Figura 9. Efeito da suplementação com o óleo de cártamo associado ou
não ao treinamento físico sobre o Tempo de permanência na Área Central
em ratos. Os valores estão expressos em média ± E.P.M. (n=10). Teste
ANOVA (oneway) – Bonferroni *p<0,05.

100 *
Tempo de permanência (s)

80
Área central

60

40

20

o
o

le
le

m
m

o
o

tr

ta
ta
tr

ár
ár
n

o
o

-C
-C

-C
-C

o
o

o
o

ad
ri

ad
ri


it
it
en

rc
rc
en

xe
ed

xe
ed

E
S

E
S

Atualmente, há um grande interesse e necessidade da


sociedade em ter hábitos mais saudáveis de vida, como forma
de combater danos prejudiciais à saúde, incluindo maior
interesse para a prática de atividade física, tendo em vista
uma procura por praças de esportes, lugares públicos abertos
para o exercício físico, aos clubes esportivos e academias de
ginásticas (SALMULKI; NOCE, 2000). Pesquisas relatam
efeitos benéficos do exercício regular sobre a saúde humana,
principalmente aos fatores psicológicos. Dentre eles,
destacam: a diminuição nos níveis de ansiedade, estresse e
depressão, melhora do humor, aumento do bem estar físico e
psicológico, bom funcionamento do organismo em geral,
melhor rendimento do trabalho e maior disposição física e
mental (ANTUNES et al., 2006).
O exercício físico pode trazer benefícios em relação à
diminuição da liberação de corticosteróides, diminuindo,

845
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
assim, a ansiedade e depressão, além do que os
corticosteróides diminuem a quantidade de fatores
neurotróficos cerebrais (BDNF) no hipocampo.
A ansiedade é caracterizada como um estado
emocional ocasionado por elementos psicológicos e
fisiológicos, portanto, faz parte do desenvolvimento humano,
por isso, as doenças patológicas podem ocorrer de maneira
exagerada ou pode ocorrer em uma situação real assustadora
que a desencadeie (CAÍRES; SHINOHARA, 2010).
No Brasil, há uma alta prevalência de casos de
transtornos de ansiedade, correspondendo acerca de 9% a
17%, estando associado a uma alta demanda potencial
estimado (prevalência de casos potencialmente necessitados
de assistência). Essas informações, junto ao fator morbidade e
aos custos associados a estas patologias, mostram que os
transtornos de ansiedade compõem um grupo de transtornos
de grande importância para a saúde do indivíduo como
também para a saúde pública (ANDREATINI; LACERDA;
FILHO, 2001).
Correlacionando os benefícios que o exercício físico
pode trazer para a saúde mental, inclusive para a diminuição
nos níveis de ansiedade relatados em alguns estudos, 40
animais foram utilizados em testes comportamentais com
idade de 60 dias, correspondendo à fase adulta em humanos.
Para avaliar o efeito do óleo de cártamo e do
treinamento físico, foram realizados dois testes
comportamentais: Campo Aberto e Labirinto em Cruz Elevado
(LCE). O teste do campo aberto foi criado por Hall (1936) com
o intuito de avaliar a atividade exploratória dos animais. O
Campo Aberto é um teste inespecífico. Não mede apenas o
comportamento de ansiedade, mede também a atividade

846
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
exploratória e a excitabilidade do SNC. Portanto, quando há
aumento da ambulação, pode representar que houve uma
maior atividade exploratória, efeito ansiolítico e/ou uma
excitabilidade do SNC. O procedimento consiste em colocar o
animal na arena e confrontá-lo com o novo ambiente,
observando-se quatro parâmetros comportamentais:
ambulação, rearing, grooming e defecação (LACERDA, 2006).
Com relação ao parâmetro ambulação, foi observado
que o grupo E-controle ambulou mais do que os dois grupos
sedentários (S-controle e S-cártamo) significativamente,
mostrando que o efeito foi relacionado com o exercício, e
houve interferência do consumo do óleo de cártamo,
mostrando que o grupo E-controle teve um aumento na
atividade exploratória e/ou um efeito ansiolítico, provavelmente
pelo condicionamento do treinamento físico (Gráfico 1).
Entretanto, o estudo realizado por Gunha (2009), mostrou que
a atividade locomotora dos animais do grupo controle e do
grupo suplementado com diferentes AGPIs (óleo de peixe,
óleo de girassol) não houve diferença estatística entre eles.
Em outro estudo feito por Santos, (2014) demostrou que
animais suplementados com W-3 e submetidos ao exercício
físico ambularam mais do que os demais grupos: exercitado
controle, controle, e controle suplementado, demostrando que
o exercício físico e a suplementação com o W-3 influenciaram
a ambulação dos animais, contrariando os resultados
encontrados no presente estudo. Porém, Cruz et al, (2010)
demostraram que animais jovens e adultos submetidos ao
exercício físico (natação) apresentaram um número maior de
ambulações quando comparado aos animais do grupo
sedentário. A ambulação avalia a atividade exploratória do
animal na arena, que pode ser afetada pelo uso de drogas

847
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
ansiolíticas, causando uma ação inibitória/excitatória no SNC
(OLIVEIRA et al., 2008).
Já no rearing foi observado que o grupo E-controle
levantou mais do que todos os demais grupos: S-controle, S-
cártamo e E-cártamo, demostrando novamente que o efeito foi
relacionado com o exercício, e não foi dependente do
consumo do óleo de cártamo (Gráfico 2). Este resultado
corrobora os resultados encontrados por Santos (2014),
realizados com animais suplementados com óleo de peixe e
submetidos ao exercício físico, demonstrando que o grupo
exercitado controle levantou mais do que os demais grupos:
controle, controle suplementado e suplementado/exercitado,
sugerindo que o efeito foi causado pelo exercício e não
dependeu do consumo do óleo de peixe. No estudo feito por
Gunha (2009), foi observado que animais suplementados com
diferentes AGPIs (óleo de peixe, óleo de girassol) não houve
diferença estatística entre os animais do grupo controle,
demostrando que o consumo dos AGPIs não interferiu no
rearing. O rearing avalia o grau de sedação ou comportamento
de ansiedade podendo ser alterados pelo uso de drogas com
atividade ansiolítica/ansiogênica, caracterizando o grau de
emocionalidade nos animais (OLIVEIRA et al., 2008).
No parâmetro do tempo de autolimpeza foi
demonstrado que o grupo S-cártamo aumentou a autolimpeza
quando comparado ao grupo S-controle, porém, como este
parâmetro representa um aumento do comportamento de
ansiedade, sugere-se que o cártamo provocou um efeito
ansiogênico (Gráfico 3). No estudo feito por Cruz et al., (2010)
foi observado que os animais jovens e adultos praticantes de
atividade física apresentaram um maior tempo de autolimpeza,
demostrando que o exercício não foi capaz de diminuir o

848
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
comportamento de ansiedade nos animais. Com relação à
defecação não houve diferença significativa entre os grupos
(Gráfico 4). A defecação é um indicativo que analisa a
emocionalidade em animais, demostrando que quando há um
aumento no número de bolos fecais, ocorre um elevado índice
de emocionalidade (ANGRINI; LESLIE; SHEPHARD, 1998;
SHAW et al., 2007).
O labirinto em cruz elevado é um teste utilizado para
avaliar o comportamento de ansiedade, e consiste de dois
braços abertos e dois braços fechados posicionados
perpendicularmente entre si (PUDELL, 2012). O número de
entradas e o tempo gasto nos braços abertos são utilizados
como indicadores inversamente relacionados com a ansiedade
(PELLOW et al., 1985; HOGG,1996). Quando os animais têm
medo inato por lugares elevados e sem paredes laterais eles
entram menos e permanecem por menos tempo nos braços
abertos, podendo ser avaliado o nível de ansiedade,
demostrando que quanto maior a ansiedade menor será a
porcentagem de entradas nos braços abertos, e menor tempo
gasto no mesmo (PELLOW; FILE, 1986).
Os animais do grupo S-cártamo entraram menos nos
braços fechados do que os dos grupos controle (sedentário e
exercitado). Do mesmo modo, o grupo E-cártamo entrou
menos nos braços fechados do que os grupos controle
(sedentário e exercitado), demonstrando assim, que os grupos
tratados com o óleo de cártamo reduziram o número de
entradas nos braços fechados, mostrando que o cártamo
causou um efeito ansiolítico, no entanto, este efeito foi
independente do exercício, relacionando-se apenas com o
consumo do óleo de cártamo (Gráfico 5). No estudo feito por
Rachetti et al., (2012) foi observado que animais
849
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
suplementados com óleo de peixe e submetidos ao
treinamento físico permaneceram menos tempo nos braços
fechados quando comparados ao grupo controle, sugerindo
que o exercício potencializou o efeito ansiolítico do óleo de
peixe, contrariando nossos resultados. O comportamento que
caracteriza o natural do animal é o de refugiar-se mais nos
braços fechados e evitar os braços abertos (CARVALHO,
2011).
Com relação ao tempo de permanência nos braços
fechados, os resultados obtidos não foram significativos
(Gráfico 6). O estudo de Rangel (2014) em animais
suplementados com cártamo demonstrou um gasto menor de
tempo nos braços fechados do grupo cártamo quando
comparados ao grupo controle. Porém, no estudo de Rangel,
os animais foram suplementados durante a fase inicial da vida
(gestação e lactação), quando o SNC está iniciando sua
formação.
Foi observado que os grupos S-cártamo, E-controle e
E-cártamo aumentaram o número de entradas nos braços
abertos em relação ao grupo S-controle (Gráfico 7), sendo um
indicativo do efeito ansiolítico, podendo está associado tanto
ao cártamo quanto ao exercício. O estudo feito por Rachetti et
al., (2012) revelou que os animais suplementados com óleo de
peixe do grupo exercitado e do grupo controle não mostraram
diferença significativa quanto ao número de entradas nos
braços abertos. O estudo feito por Rangel (2014) revelou que
animais suplementados com cártamo tiveram um número
maior de entrada nos braços abertos quando comparados ao
grupo controle.
Já com relação ao tempo de permanência nos braços
abertos, foi observado que o grupo S-cártamo permaneceu

850
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
mais tempo nos braços abertos, quando comparado ao grupo
S-controle, sugerindo então que o grupo S-cártamo
apresentou um efeito ansiolítico, não estando associado com o
exercício (Gráfico 8). Em um estudo feito por Cruz et al.,
(2010) com camundongos jovens e adultos que praticaram
natação demostrou que houve uma maior porcentagem do
tempo de permanência nos braços abertos sem a
suplementação de nenhum óleo, quando comparados aos
animais do grupo controle. O estudo de Rangel (2014)
corrobora os nossos resultados, onde animais suplementados
com cártamo permaneceram mais tempo nos braços abertos
do que o grupo controle. O estudo de Teixeira et al., (2011)
revelou que animais suplementados com óleo de soja com
adição de 20% de AGPIs (W-3 e W-6) e submetidos ao
treinamento físico apresentaram um maior tempo de
permanência nos braços abertos, demonstrando que os
animais ficaram menos ansiosos.
Quanto ao tempo de permanência na área central, foi
observado que o grupo E-cártamo passou menos tempo na
área central, comparado ao grupo E-controle (Gráfico 9). Esse
resultado pode ser explicado pelo fato dos animais do grupo
E-cártamo terem ambulado mais do que o grupo controle, e
por isso passaram menos tempo na área central. O estudo de
Rangel (2014) feito com animais suplementados com óleo de
cártamo demostrou que os animais permaneceram mais
tempo na área central do que o grupo controle.
Vale salientar que os resultados que se contradizem
foram obtidos com estudos que usaram óleos ricos em W-3,
enquanto que o óleo de cártamo é rico em W-6 e W-9, o que
pode justificar os dados conflitantes.

851
EFEITO DO ÓLEO DE CÁRTAMO SOBRE O COMPORTAMENTO DE RATOS
SUBMETIDOS AO TREINAMENTO FÍSICO
4 CONCLUSÕES

No teste do campo aberto, observou-se que o


treinamento físico aumentou a atividade ansiolítico/exploratória
nos animais do grupo Exercitado-controle, demonstrando que
este efeito foi independente do cártamo.
No teste do LCE, o consumo do cártamo provocou um
efeito ansiolítico e este efeito foi independente do treinamento
físico, quanto aos braços fechados. Com relação aos braços
abertos, o efeito ansiolítico foi associado tanto ao cártamo
quanto ao treinamento físico.
Esses achados evidenciam os efeitos dos lipídeos
dietéticos sobre o funcionamento do SNC e mais ainda sobre
o comportamento dos animais.
Além disso, no presente estudo o treinamento físico
aeróbio regular não foi capaz de potencializar o efeito
ansiolítico da suplementação com o óleo de cártamo.
Pode-se concluir que o treinamento físico não
potencializou o efeito ansiolítico através do consumo de
cártamo, porém, quando isolado, tanto o treinamento físico
quanto o cártamo causaram um efeito ansiolítico nos animais.

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855
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
TRANSTORNOS
ALIMENTARES

856
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
CAPITULO 43

A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA


SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO TRATAMENTO
DA COMPULSÃO ALIMENTAR
Daniela Leal VIANA1
Bruno Gama CATÃO2
Marina Suênia de Araújo VILAR3
1
Pós-Graduanda em Fitoterapia pela Faculdade Unyleya, Graduanda do curso de Nutrição
na Faculdade de Ciências Medicas - FCM, membro do Grupo de Estudo em Fitoterapia -
GEFITO, Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande - FCM; 2 Graduando de
Medicina na Universidade Federal de Campina Grande – UFPB;3 Orientadora/Professora da
Faculdade de Ciências Médicas, Campina Grande/PB, Coordenadora do Grupo de Estudo em
Fitoterapia –GEFITO, da Faculdade de Ciências de Campina Grande - FCM
peritaquimica@yahoo.com.br

RESUMO: Com o grande aumento na taxa de obesidade


mundial a necessidade de tratamentos eficazes que auxiliem
os pacientes acometidos por esses problemas é cada vez
maior. Muitos indivíduos obesos queixam-se da dificuldade
para aderir à dieta e consequentemente perder peso, devido à
compulsão alimentar. O transtorno de compulsão alimentar
dificulta o tratamento da obesidade, pois os pacientes que tem
que sofrem desse transtorno perdem o controle diante dos
alimentos mesmo quando não estão com fome. Associado a
compulsão alimentar, ocorre o problema da mudança de
humor que varia da angústia pela ânsia pelo alimento,
irritabilidade pela restrição e vai a euforia pela satisfação do
desejo após a ingestão do alimento, até a tristeza gerada pela
culpa por tê-lo consumido e quebrado a dieta. Assim, para
muitos pacientes faz-se necessário a indicação do uso de
medicamentos associado a dieta, para auxiliar no tratamento
da obesidade. A Griffonia simplicifolia(GS) é uma planta
857
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
medicinal que contém uma substância chamada 5-HTP, que
estimula a produção da serotonina, e está tem efeito em
relação ao humor e ansiedade, podendo consequentemente
ser eficaz no tratamento de pacientes com o transtorno de
compulsão alimentar. Existem evidências que a administração
de 5-HTP, tem um efeito sacietógeno, causando a diminuição
do consumo alimentar auxiliando na perda de peso em
indivíduos obesos.
Palavras-chave: Griffonia simplicifolia. 5-HTP. Fitoterapia.
Compulsão Alimentar. Obesidade

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, a obesidade é um dos maiores problemas


de saúde pública e uma das doenças crônicas não-
transmissíveis que, epidemiologicamente, mais crescem em
todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde
(NAVES; PROVENZA PASCHOAL, 2007)
Sabe-se que a obesidade não é um problema simples
de resolver. Não é apenas uma questão de déficit calórico e
da simples equação: ingerir menos calorias do que as que são
gastas. Pois essa fórmula não leva em consideração os
fatores que servem de obstáculo para a adesão e manutenção
da dieta. Existem outros fatores que vão além do apenas
"fechar a boca" e “ter força de vontade” (ASSIS; NAVARRO;
BESSA, 2012)
A compulsão alimentar (CA) é um transtorno cada vez
mais comum e que pode resultar em alterações de peso do
paciente (FRANCO; OTHERS, 2016). Duchesne et al. (2007)
afirmaram haver relação entre a compulsão alimentar e o
aumento de peso. Cerca de 1,8% a 4,6% da população em

858
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
geral sofre de compulsão alimentar, e que entre os obesos
30% apresentam quadros compulsivos.
A compulsão alimentar dificulta a adesão e manutenção
da dieta e causa o fracasso de negativa diante um desejo
incontrolável de comer, muitas vezes causada por um alimento
específico que serve de gatilho. Esse alimento causa o
descontrole e desencadeia uma mudança no estado de
humor, que varia da angústia pela ânsia do alimento, a
irritabilidade pela restrição, a euforia pela satisfação da
ingestão do alimento, e a tristeza gerada pela culpa de ter
quebrado a dieta (KARIYA; NAGAMATSU, 2015; OLIVERA;
FONSÊCA, 2006).
Essas dificuldades enfrentadas por muitos pacientes
sugerem a existência de um defeito no sistema de controle de
apetite, devido a uma falha na modulação de serotonina no
cérebro. Quando esses processos do sistema regulatórios
estão em desequilíbrio contribuem para a patogênese da
obesidade, pois ocorrem alterações hipotalâmicas na
regulação da homeostase energética e manutenção do peso
corporal (NAVES; PROVENZA PASCHOAL, 2007). Nesse
contexto, a fitoterapia pode ser uma boa aliada para o
tratamento da obesidade.
A fitoterapia, como medicina alternativa ou
complementar, é atualmente um fenômeno social mundial (DO
PRADO et al., 2012), caracterizada pelo tratamento com uso
de plantas e suas diferentes formas farmacêuticas sem a
utilização de princípios isolados para a cura de alguma doença
(FIRMO et al., 2012).
As plantas medicinais possuem grande valia para a
melhoria nas condições de saúde da população e seu uso é
uma das proposições da Organização Mundial de Saúde

859
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
(OMS), que tem incentivado a valorização das terapias
tradicionais. (DO PRADO et al., 2012)
Segundo Who (2004), o uso de plantas medicinais é
cada vez maior e encontra-se em constante expansão em todo
mundo, pois, em busca de cuidar da saúde, as pessoas fazem
uso além das plantas medicinais, dos medicamentos à base
de plantas, e de outros produtos à base de plantas para seus
cuidados de saúde. A dietoterapia associada a fitoterápicos
com ações sacietógenas podem auxiliar no tratamento de
pacientes com transtorno de compulsão alimentar.
A Griffonia simplicifolia (GS) é uma planta medicinal
que contém uma substância 5- HTP que estimula a produção
da serotonina, que se mostrou eficaz no tratamento de uma
grande variedade de condições incluindo depressão,
compulsão alimentar associada à obesidade, reduzindo a
ansiedade (CANGIANO et al., 1992; LEMAIRE; ADOSRAKU,
2002; CARNEVALE et al., 2011; CHEN et al., 2013).
Suas sementes são ricas em 5–hidroxitriptofano (5-
HTP), um precursor da serotonina. Evidências farmacológicas,
bioquímicas e comportamentais demonstraram que o 5-HTP
pode ser uma boa opção no tratamento da compulsão
alimentar como um regulador de apetite, capaz de interferir na
preferência de macronutrientes (CANGIANO et al., 1992).
Nessa perspectiva esse trabalho se propôs a analisar a
eficácia do Griffonia simplicifolia (5-HTP) para o tratamento da
compulsão alimentar buscando as evidências científicas para
confirmar ou refutar essa hipótese, a fim de fornecer através
da uma revisão bibliográfica, informações sobre a segurança,
contraindicações, interações medicamentosa e possível
toxicidade dessa planta medicinal.

860
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
2 METODOLOGIA

O presente artigo consiste numa revisão da literatura


científica referente a eficácia da Griffonia simplicifolia (5-HTP)
para o tratamento da compulsão alimentar. A coleta de dados
ocorreu entre os meses de Junho a Outubro de 2017. Para
encontrar os artigos de interesse, foram utilizados os
seguintes descritores: obesidade, compulsão alimentar,
Griffonia simplicifolia, 5-HTP, nas bases de dados Scielo,
Pubmed, Lilacs, Medline e Google Acadêmico. Após aplicar os
critérios de exclusão: artigo de referência ou publicado nos
últimos cinco anos e combinações das palavras-chave, foram
selecionado trabalhos de referência englobando livros, artigos
científicos originais de ensaios pré-clínicos e de ensaios
clínicos, bem como artigos de revisão sobre o tema, escritos
na língua inglesa, portuguesa e espanhola.

3 RESULTADOS E DISCURSÕES

3.1 OBESIDADE

Segundo a ABESO - Associação Brasileira para Estudo


da Obesidade e da Síndrome Metabólica, “a Organização
Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores
problemas de saúde pública no mundo, e a projeção é que,
em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com
sobrepeso e mais de 700 milhões obesos”. (ABESO, 2016)
A obesidade se apresenta como um processo
multifatorial, que tem no estado emocional um componente
significativo na aquisição e acumulação de peso. A maioria
dos indivíduos obesos refere-se a sentimentos e/ou situações

861
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
tais como: ansiedade, angústia, preocupação, solidão,
tensão/estresse, raiva e tristeza como desencadeadores da
vontade de comer (SOUZA et al., 2005).
Frequentemente, a obesidade está relacionada à
compulsão alimentar, um transtorno alimentar cada vez mais
comum e que resulta em alterações de peso do paciente
(FRANCO et al., 2016).

3.2 TRANSTORNO DE COMPULSÃO ALIMENTAR

O transtorno de compulsão alimentar (TCAP) é uma


síndrome caracterizada por episódios recorrentes de ingestão
de grande quantidade de alimentos. (AZEVEDO; SANTOS;
FONSECA, 2004).
Na Compulsão Alimentar há total perda de controle do
que e quanto se come, facilitando o aumento substancial de
peso e o desenvolvimento da obesidade, que por sua vez,
promove sentimento de culpa e de vergonha, compensadas
pelo ato de comer ainda mais (PETRIBU et al., 2006).
Obesos acometidos de transtorno alimentar podem
constituir uma subcategoria entre a população obesa
(NAPOLITANO et al., 2001), tornando-se um subgrupo de com
características psicopatológicas específicas (PAPELBAUM;
APPOLINÁRIO, 2001).
Os pacientes obesos com transtorno alimentar sentem
mais dificuldades, pois sofrem também com os sentimentos de
angústia subjetiva e culpa (AZEVEDO; SANTOS; FONSECA,
2004). Pacientes com TCAP ingerem significativamente mais
alimentos do que as pessoas obesas sem compulsão
alimentar (GOLDFEIN et al., 1993). Segundo estudos, existe

862
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
uma prevalência de 30% do TCAP entre pacientes em
tratamento para emagrecer (COUTINHO et al., 1998).
Desse modo, os pacientes com compulsão alimentar,
sentem dificuldade de aderir e manter a dieta, bem como lidar
com o fracasso de negativa diante um desejo incontrolável
(KARIYA; NAGAMATSU, 2015).
O “comer em excesso” ocorre como um meio para lidar
com a ansiedade e muitos indivíduos obesos comem em
busca de solucionar ou compensar esse problema (VIEIRA;
MEYER, 2013).
Bernardi, Cichelero & Vitolo, (2005), afirmam que o
tratamento mais adequado para os obesos com compulsão
alimentar deve ser centrado na diminuição da frequência dos
episódios de compulsão alimentar e, posteriormente, no
emagrecimento.

3.3 SEROTONINA

A serotonina ou 5-HT é um neurotransmissor, essencial


para a formação dos circuitos neurais, (MARANE, 2015), que
participa de funções como a liberação de alguns hormônios, a
regulação do sono, do humor e do apetite (NEVES, 2013).
Como explica de Matos Feijó e colaboradores (2011), a
serotonina (5-HT) desempenha um importante papel na
regulação do sono, temperatura corporal, apetite, humor,
atividade motora e diversas funções cognitivas.
A serotonina age como calmante combatendo a
ansiedade, regula as funções dos músculos lisos do coração e
do sistema gastrointestinal e regulador das funções
plaquetárias. A deficiência está associada à depressão, ao
apetite descontrolado, fobia social e síndrome pré-menstrual, a

863
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
ansiedade, transtornos alimentares, pânico, enxaqueca
(COSTA; FIGUEIREDO; CAZENAVE, 2005; DELUCIA, 2006;
VALENTE; MELLO, 2013).
Segundo Ribeiro (2009), o sistema nervoso central
(SNC), regula a ingestão de alimentos e a inervação
serotonérgica do hipotálamo exerce uma importante ação
anorexígena. De acordo com De Matos Feijó e colaboradores
(2011), as alterações, como baixos níveis ou problemas na
sinalização com os receptores de serotonina, estão
relacionadas ao aumento do desejo de ingerir doces e
carboidratos. Em quantidades normais de 5-HT, a pessoa
atinge mais facilmente a saciedade e consegue maior controle
sobre a ingestão de açúcares, sendo cada vez mais usados no
tratamento da obesidade os medicamentos que inibem a
recaptação de 5-HT.
Há evidências que a presença de anormalidades na
neurotransmissão serotoninérgica central causa ocorrência de
episódios de transtornos alimentares e reforçam o argumento
sobre o uso de fármacos de atuação serotoninérgica, no
tratamento do TCAP (VIEIRA; MEYER, 2013).

3.4 PAPEL DO 5-HTP NA SÍNTESE DA SEROTONINA

A serotonina é sintetizada no núcleo da rafe em duas


etapas: pós a captação do triptofano, sendo este convertido
em 5-hidroxitriptofano (5-HTP) pela enzima triptofano
hidroxilase a partir de uma hidroxilação na posição cinco do
anel aromático formando 5-hidroxitriptofano (5-HTP) e depois
este produto é então descarboxilado pela descarboxilase de L-
aminoácidos aromáticos e convertido na serotonina.
(MARANE, 2015; PENEDO, 2008). O 5-hidroxitriptofano ou 5-

864
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
HTP é, portanto, precursor da serotonina (MARANE, 2015).
(Figura 1)

Figura 1. Síntese da Serotonina

Fonte: MARTINS; SILVA; GLORIA (2010)

3.5 GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA

A Griffonia simplicifolia (GS), é uma leguminosa, da


família Fabaceae, nativa da África Ocidental, popularmente
conhecida como Griffonia. É um arbusto que atinge, em
média, cerca de 3 metros e apresenta folhas e flores da cor
verdes e vagens enegrecidas quando maduras (Figura 2). Na
África, a GS é conhecida por vários nomes diferentes,
incluindo atooto, gbogbotri, kajya, kanya e kwakuo-aboto
(GIURLEO, 2017).
Os habitantes dessas áreas atribuem a planta
propriedades estimulantes e tonificadora para corpo, com
efeitos afrodisíacos. Há muito tempo várias a partes da planta
para diversos fins. ( KIGEN, et al.,2013)

865
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
Figura 2. Flores verdes e vagens enegrecidas quando
maduras da Griffonia simplicifolia

Fonte: Elaborada pela autora a partir do Google Imagens.

Apesar de ser usada de forma ancestral como planta


medicinal pelos africanos, a Griffonia simplicifolia é mais
comumente conhecido por suas sementes, que contêm altos
níveis de 5-hidroxitoptofano, chegando a 20,83% do peso
fresco da amostra (KIGEN et al., 2013; IWU, 2014;).
O 5-HTP também é encontrado naturalmente nas frutas
e sementes de outras espécies, como Ananas comosus
(abacaxi), Musa sapientum (banana), Persea americana
(abacate), mas nenhuma dessas fontes acumula as
quantidades elevadas de 5-HTP (até~20%) como a Griffonia
simplicifolia (LEMAIRE; ADOSRAKU, 2002).
O 5-HTP do extrato da GS tem sido amplamente
procurado para tratamento natural de problemas que
envolvem desequilíbrio de serotonina, como depressão,
insônia (KIM et al., 2009).
O reconhecimento das propriedades farmacológicas da
GS e dos efeitos do 5-HTP é conhecido há décadas, tendo
sido evidenciado em vários trabalhos. Porém, devido o
surgimento de uma epidemia de síndrome de eosinofilia-
mialgia (SEM), em 1989, causada pela ingestão um

866
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
suplemento sintético L- triptofano (l-Trp), o 5-HTP esteve sob
estado sob vigilância e chegou a ter seu uso interrompido
devido a desconfiança de risco. Após rigorosa investigação,
comprovou-se anos depois, que a causa foi contaminação no
sistema de produção de um único fornecedor japonês que
continha uma série de contaminantes (SIDRANSKY, 1994).
Em um estudo publicado em 2004, Das e colaboradores, após
uma extensiva análise, descartaram a contaminação ou
qualquer outra presença de impurezas significativas nas várias
fontes pesquisadas de 5-HTP.
Numa investigação sobre as propriedades
farmacológicas do extrato das sementes de GS com um grupo
de mulheres adultas obesas, feito por Ceci e colaboradores
(1989), mostrou que a administração oral de 5-HTP causou
efeito anorexígeno, com diminuição da ingestão de alimentos
e promoção de perda de peso na ausência de qualquer
restrição dietética.
Anos depois Cangiano e colaboradores (1992),
confirmaram os resultados da pesquisa de Ceci et al., (1989),
em um estudo de maior periodicidade, verificando que a
aderência às prescrições dietéticas poderia ser melhorada
pela administração oral de 5-HTP.
Cangiano et al.(1992), relataram na conclusão do
trabalho deles que administração do 5-HTP de fato resultou
em uma redução total da energia diária ingerida e
principalmente da diminuição da ingestão de carboidratos,
seguida de uma perda significativa de peso corporal, graças
uma maior facilidade de aderência à prescrição dietética e
que devido a boa tolerância apresentada durante a pesquisa,
supõe-se que o 5-HTP pode ser utilizado com segurança no

867
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
tratamento a longo prazo de em paciente com diagnóstico de
obesidade.
Em 2009, Rondanelli, fez um estudo randomizado,
duplo-cego e controlado por placebo com 20 mulheres de
forma aleatória que utilizaram o extrato de Griffonia
simplicifolia associado a dieta. Durante 4 semanas, 10
mulheres receberem a suplementação e outras 10 receberam
placebo, todas com a associação de uma dieta personalizada
com redução de calorias. A partir desse estudo foi possível
observar que a suplementação com extrato de G. simplicifolia,
tem a propriedade de promover o aumento da sensação de
saciedade, mostrando-se benéfica no controle do apetite,
auxiliando no tratamento da obesidade durante um programa
de perda de peso. (RONDANELLI et al., 2009)
Carnavale e colaboradores (2010), afirmaram que a
suplementação com esta fonte natural de 5-HTP promove
efeitos ansiolíticos significativos, sendo assim, o extrato de G.
simplicifolia apresenta eficaz efeito sobre a ansiedade.
Em outro estudo do mesmo autor, conclui-se que o 5-
HTP exerce um efeito ansiolítico, sem induzir uma atividade
sedativa (CARNEVALE et al., 2011).
Uma das opções de tratamento da compulsão alimentar
é o uso da serotonina para inibir o consumo alimentar, usada
no tratamento da obesidade e de vários tipos de
psicopatologias que são associadas aos baixos níveis de
serotonina como depressão, ansiedade e transtorno alimentar
(NAVES; PROVENZA PASCHOAL, 2007).
Salzano e Cordás (2004), sugerem que o existe a
associação do TCAP com obesidade, e que por isso, o uso de
um inibidor de apetite com ação no sistema nervoso central,
em regiões que regulam a saciedade e o apetite, poderia

868
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
promover melhora no quadro clínico relacionado a compulsão
alimentar.
De acordo com Papelbaum e Appolinário (2001), a ação
específica dos agentes serotoninérgicos poderia ser uma
alternativa no controle da impulsividade que pode
desencadear a Compulsão Alimentar. Ribeiro (2009),
demonstrou que a liberação de serotonina no hipotálamo
lateral é estimulada pela ingestão de alimentos, sugerindo um
mecanismo fisiológico da saciedade.

3.7 EFEITOS COLATERAIS DO 5-HTP

Segundo Turner e colaboradores (2006), as ocorrências


mais comuns em relação ao 5-HTP são gastrointestinais
(náuseas, vômitos e diarreia). Esses efeitos colaterais ocorrem
de forma moderado e, muitas vezes, diminui ou desaparece
uma vez se alcança a dose ideal para o tratamento. As doses
orais que são particularmente baixas, têm uma incidência
ainda menor de alguns efeitos colareis mais raros que ocorrem
geralmente em caso de dosagem maiores como com dor de
cabeça, insônia e palpitações.

3.8 INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS E CONTRA


INDICAÇÕES

Como atua no mesmo sitio dos antidepressivos, a


indicação do 5 -HTP para pacientes que fazem uso de
antidepressivos deve ser feita apenas por um profissional da
saúde habilitado. Sendo assim, para tratamento de compulsão
alimentar o G. simplicifolia não deve ser tomado com
antidepressivos (MUSZYŃSKA et al, 2015), pois pode alterar

869
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
os efeitos destes medicamentos e, possivelmente, a dose
necessária para o tratamento.
Schruers e colaboradores (2002), orientam que o 5-HTP
é contraindicado para com tumores carcinoides e durante e/ou
após duas semanas da descontinuação do tratamento com
inibidores de MAO tipo A (aqueles comercializados para
tratamento de depressão), gestantes e lactantes.
Não há recomendações de uso do 5-HTP por
gestantes, lactantes e crianças, para uso especificado o para o
fim dessa pesquisa.

3.9 RECOMENDAÇÃO DE PRESCRIÇÃO

As formas farmacêuticas usuais do extrato natural do


Griffonia simplicifolia (5-HTP) prescritas pelos nutricionistas
são: cápsulas, gomas e adicionado ao chocolate
(PHARMACEUTICAL ASSESSORIA E TREINAMENTO LTDA,
2009). (FIGURA 3)

870
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
Figura 3. Sugestão para prescrição de formulações com
Griffonia simplicifolia 5-HTP
1. Cápsulas com 5-HTP Natural G. simplicifolia.................... 50mg
60 cápsulas. Tomar uma cápsula duas vezes ao dia.

2. Gomas com 5-HTP Natural G. simplicifolia....................... 50mg


60 unidades. Comer uma unidade duas vezes ao dia.

3. Chocolate com Griffonia simplicifolia


Extrato de G. simplicifolia........................................................... 50mg
Tablete de chocolate qsp............................................................. 1un
Administrar duas unidades ao dia

Fonte: Pharmaceutical Assessoria e Treinamento ltda, 2009.

4 CONCLUSÃO

Foi observado que as pesquisas sobre o efeito do 5-


HTP para o controle do apetite foram feitas por estudos
duplos-cego, ou seja, "padrão-ouro" de pesquisa, e todos eles
demonstram eficácia.
Diante do exposto, conclui-se que a Griffonia
simplicifolia (5-HTP) realmente tem o efeito sacietógeno e que
prescrição do 5-HTP pode constituir uma estratégia
complementar eficaz à prescrição dietética elaborada pelo
nutricionista, para auxiliar o tratamento de pacientes obesos
que sofrem com a dificuldade de adesão e manutenção a dieta
devido a compulsão alimentar.

871
A AÇÃO SACIETÓGENA DA GRIFFONIA SIMPLICIFOLIA (5-HTP) NO
TRATAMENTO DA COMPULSÃO ALIMENTAR
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875
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
CAPÍTULO 44

NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE
DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E
TRATAMENTO COADJUVANTE
Joanna D’arc Gomes Rodrigues da SILVA1
Laís Kisly Costa SILVA2
Yohanna de OLIVEIRA3
Juliana Gondim de ALBUQUERQUE4
1
Pós Graduanda em Nutrição Clínica e Funcional, DNA/FIP; 2 Pós Graduada em Nutrição
Clínica, Faculdade Estácio de Sá; 3 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências
da Nutrição (PPGCN), UFPB;4 Doutoranda em Nutrição pela Universidade Federal de
Pernambuco, UFPE.
joanna.darc22@hotmail.com

RESUMO: Os transtornos de depressão e ansiedade


representam um crescente problema de saúde pública. O
tratamento mais aplicado para esses transtornos une
psicoterapia e terapêutica farmacológica. Devido aos efeitos
provocados pelos fármacos, muitos pacientes não aderem ao
tratamento. Uma solução para esse problema seria um
tratamento baseado na nutrição. Objetivou realizar um
levantamento bibliográfico a respeito dos principais nutrientes
capazes de auxiliar no tratamento da Depressão e Ansiedade.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa descritiva, exploratória e
transversal, por meio de uma pesquisa bibliográfica, realizada
nas bases de dados Scielo, BVS, Medline, LILACS, Bireme. A
busca totalizou 43 publicações, considerando-se os artigos
publicados nos últimos cinco anos. Diante dos estudos
analisados observou-se que deficiências de ácidos graxos
ômega-3 (ω-3) e ômega-6 (ω-6), magnésio, triptofano,
vitaminas B6, B9 e B12, vitamina D e zinco são as carências
nutricionais mais comumente observadas em pacientes
depressivos e com ansiedade. Alimentos fontes desses
876
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
nutrientes são considerados fundamentais no tratamento
complementar ou alternativo. Além de ter a vantagem de ser
livre de efeitos colaterais, a intervenção nutricional é
relativamente barata quando comparada a medicamentosa,
traz benefícios para condições psiquiátricas e propiciam uma
melhora global na saúde do indivíduo. No entanto, observa-se
a necessidade de mais estudos no âmbito do uso de
nutrientes específicos como coadjuvantes no tratamento de
pacientes com depressão e ansiedade, principalmente no
Brasil.
Palavras-chave: Depressão. Ansiedade. Tratamento
Nutricional.

1 INTRODUÇÃO

A depressão representa um importante e crescente


problema de saúde pública. Mundialmente, estima-se que 350
milhões de pessoas sejam afetadas com a doença (WHO,
2017). Acredita-se que seja a principal causa de incapacidade
mental em termos mundiais e estima-se que, até 2020, seja a
segunda causa de incapacidade para a saúde. A maioria das
pessoas depressivas apresentam como sintomas a tristeza,
cansaço e falta de interesse em atividades diárias (FARIOLI-
VECCHIOLI et al., 2017).
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (WHO,
2017) no Brasil, 5,8% da população sofrem com transtorno de
depressão, afetando um total de 11,5 milhões de brasileiros. O
Brasil é o considerado o país com maior prevalência de
depressão da América Latina e o segundo com maior
prevalência nas Américas, ficando atrás somente dos Estados
Unidos, que têm 5,9% de depressivos.

877
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
É importante observar que muitas pessoas têm tanto
depressão quanto transtornos de ansiedade. O Brasil é
recordista mundial em prevalência de Transtornos de
Ansiedade Generalizada (TAG): 9,3% da população sofrem
com o problema. Ao todo, são 18,6 milhões de pessoas
(WHO, 2017).
A depressão afeta dramaticamente a função do
sistema nervoso central e degrada a qualidade de vida,
especialmente durante o envelhecimento. Vários mecanismos
subjazem a fisiopatologia da doença depressiva, dado que ela
tem uma etiologia multifatorial. Estudos humanos e animais
demonstraram que a depressão está associada principalmente
a desequilíbrios em neurotransmissores e neurotrofinas,
alterações do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, alterações do
volume cerebral, disfunção da neurogênese e desregulação de
vias inflamatórias (FARIOLI-VECCHIOLI et al., 2017).
O tratamento mais aplicado ao paciente depressivo e
com TAG une psicoterapia e o uso de fármacos psicotrópicos.
Alguns dos efeitos colaterais da utilização desses fármacos
são: sonolência, ganho de peso, náuseas, tontura, taquicardia,
constipação, anorexia, falta de ânimo, entre outros (FARIOLI-
VECCHIOLI et al., 2017).
Devido a esses efeitos, muitos pacientes não aderem
ao tratamento farmacológico. Por esse motivo, transtornos de
ansiedade e depressão têm sido tradicionalmente entre os
motivos mais proeminentes para o uso de terapias
complementares (KYROU et al., 2017).
A depressão e o transtorno de ansiedade generalizada
é uma doença altamente incapacitante, que pode levar a
morte em seus casos mais extremos. Essa morbidade
acomete um número cada vez maior de pessoas em todo o

878
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
mundo. Um fato que não é muito difundido é que a nutrição
tem um papel determinante não apenas na promoção da
saúde e prevenção desta doença, como também em seu
tratamento. Um organismo nutricionalmente equilibrado é mais
resistente e menos suscetível ao adoecimento (FARIOLI-
VECCHIOLI et al., 2017;JACKA et al., 2017).
Nesse sentido, cada vez mais pesquisas e estudos
mostram forte relação entre deficiências nutricionais e
desordens mentais. As deficiências de ácido graxo ômega-3,
vitaminas do complexo B, minerais e aminoácidos são as mais
frequentemente vistas em pacientes com depressão e TAG
(JACKA et al., 2017).
Alguns nutrientes estão envolvidos na fisiopatologia da
doença, tais como o aminoácido triptofano, o mineral
magnésio, as vitaminas do complexo B e, principalmente, o
ácido graxo ômega-3. O tratamento nutricional tem a
importante vantagem de não causar efeitos colaterais
indesejáveis nos pacientes. No entanto, a terapia nutricional
não costuma ser uma opção a ser agregada ao tratamento
tradicional (KYROU et al., 2017).
A vantagem do tratamento nutricional é a de melhorar a
qualidade de vida do paciente sem gerar efeitos colaterais
negativos (SEZINI; GIL, 2014). Portanto o presente trabalho
tem como objetivo apresentar os nutrientes específicos
presentes nos alimentos que podem estar presentes na
gênese da depressão e ansiedade, bem como auxilio do
tratamento e prevenção desses transtornos mentais.

879
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa qualitativa descritiva,


exploratória e transversal, por meio de uma pesquisa
bibliográfica.
Na primeira etapa, foi realizado a identificação das
fontes, assim, selecionou-se as fontes pertinentes ao assunto
que seria abordado no estudo.
Para a seleção dos artigos científicos sobre a temática
foram acessados as bases de dados da Scientific Electronic
Library Online (Scielo), Biblioteca Virtual e Saúde (BVS),
Medical Literature Analysis and Retrieval System Online
(Medline), Literatura Latino-americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (LILACS), Centro Latino-Americano e do
Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme). Foram
analisadas as produção científica dos últimos 5 anos (2012 à
2017), sendo selecionados artigos nacionais e internacionais.
Os Descritores de Ciências da Saúde (Decs) utilizados
foram: Depressão, Transtorno de Ansiedade Generalizada,
Tratamento nutricional, Nutrientes. Para selecionar as fontes
foram utilizados critérios de inclusão que abordassem a
utilização de alimentos e/ou nutrientes isolados no tratamento
e prevenção de transtornos mentais, como Depressão e TAG.
Na etapa seguinte foi realizado a coleta de dados a
partir dos 49 artigos científicos encontrados que seguiu as
seguintes premissas: Leitura exploratória do material
encontrado (sendo esta objetiva com a finalidade de
identificar se o tema era pertinente ao estudo proposto);
Leitura seletiva (aprofundada nas partes mais relevantes a
pesquisa); e Registro das informações selecionadas em
instrumento específico (levando em consideração autores, ano

880
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
de publicação, método, resultados e conclusões encontradas).
A terceira etapa do trabalho envolveu a análise e interpretação
dos resultados. Nesta etapa foram ordenados e colocados em
sumário as informações contidas nas fontes, de maneira que
elas possibilitassem a obtenção de respostas aos problemas
da pesquisa.
E por fim foi realizado a discussão dos resultados, no
qual elencamos as categorias das etapas procedentes, sendo
analisadas e discutidas a partir do referencial teórico relativo a
temática do estudo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A atenção nutricional surge para estes pacientes como


um importante tratamento alternativo ou complementar, visto
que determinados nutrientes tem um papel fundamental na
gênese e melhora da depressão e TAG. O tratamento
nutricional deveria integrar a terapia de todos os pacientes em
transtornos, pois, além de ser livre de efeitos colaterais,
também propicia uma melhora global na saúde do indivíduo
(SEZINI; GIL, 2014).
Deficiências de ácidos graxos ômega-3, vitaminas do
complexo B, minerais e aminoácidos precursores de
neurotransmissores são as carências nutricionais mais
comumente observadas em pacientes depressivos e com
ansiedade generalizada (JACKA et al., 2017).

3.1 Ácidos Graxos Ômega-3 (ω-3) e Õmega-6 (ω-6)

Ômega-3 e ômega-6 são ácidos graxos poliinsaturados


(polyunsaturated fatty acids – PUFAs) essenciais, ou seja, não

881
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
são sintetizados pelo organismo humano e precisam ser
adquiridos pelo consumo alimentar. São importantes
constituintes da membrana celular e estão presentes em
quantidades relativamente grandes no cérebro e na retina,
especialmente o Ácido Docosahexaenóico (DHA) da família
ômega-3 e o ácido araquidônico (AA) da família ômega-6. O
DHA encontra-se nas áreas mais metabolicamente ativas do
cérebro, como na membrana neuronal em locais de sinapse e
no córtex cerebral (DYALL, 2015).
O acúmulo desses ácidos graxos no Sistema Nervoso
Central (SNC) acontece primeiramente durante o
desenvolvimento fetal, e logo após durante a infância por
fontes alimentares sendo fundamental para o desenvolvimento
neurológico (TREBATICKÁ et al., 2017).
Além de sua função como constituinte de células do
sistema nervoso, os PUFAs ômega-3 e ômega-6 também são
de extrema importância para a regulação do processo
inflamatório. O ácido eicosapentaenóico (EPA) da família
ômega-3 origina eicosanóides com propriedades anti-
inflamatórias, enquanto o AA da família ômega-6 dá origem a
Eicosanoides pró-inflamatórios (DYALL, 2015). Como esses
PUFAs competem por enzimas em vias metabólicas comuns,
é necessário haver um balanço ideal na ingestão desses
nutrientes para que o equilíbrio na produção dos eicosanóides
anti e pró-inflamatórios se estabeleça (CALDER, 2015).
A recomendação da OMS e da Food and Agriculture
Organization (FAO) é de uma ingestão diária de ômega-6 e
ômega-3 na proporção de 5:1 a 10:1 para indivíduos
saudáveis (SMITH et al., 2014).
Segundo Hallahan et al. (2016), dados epidemiológicos
e estudos clínicos já comprovaram que ácidos graxos ômega-

882
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
3 podem trazer resultados significativos no tratamento da
depressão. O consumo diário de suplementos contendo de 1,5
a 2g de EPA significou uma melhora no humor de pacientes
depressivos.
Estudos epidemiológicos mostram que a ingestão
dietética de ômega-3 PUFAs através do consumo de peixes é
inversamente correlacionada com a prevalência de depressão,
sugerindo que ômega- 3 têm um efeito protetor. Embora a
dieta humana tradicional tem uma proporção de ômega - 6 / 3
de aproximadamente 1:1, dietas ocidentais contemporâneas
são caracterizados por uma razão de cerca de 15:1, o que
reflete a ingestão deficiente de ômega-3 e o consumo
excessivo de ômega-6. Importante, a adesão a uma dieta
ocidental está associada a uma maior prevalência de
depressão (DYALL, 2015).
Diante dos estudos apresentados, é possível observar
que o processo inflamatório exacerbado é capaz de afetar
negativamente o SNC e as neurotransmissões, consumir
alimentos fonte e/ou suplementos de ômega-3 e ômega-6 em
quantidade e proporção adequadas pode ser um fator
determinante no tratamento da depressão (DYALL, 2015;
HALLAHAN et al., 2016).
Peixes de água fria, como o salmão, arenque, cavala,
sardinha e atum são ricos em EPA e DHA, e são consideradas
as principais fontes alimentares de ômega-3. As carnes, e
óleos de soja e girassol são alguns importantes alimentos
fonte de ômega-6. Sendo indispensável o consumo habitual
desses (SMITH et al., 2014).

883
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
3.2 Magnésio

O magnésio é o segundo cátion intracelular e o quarto


elemento principal do corpo (VOLPE, 2015).
Nos últimos anos, o papel deste elemento na incidência
de depressão, devido ao seu efeito no N-metil-D-aspartato
(NMDA) no cérebro atraíram uma grande atenção. Estes
canais dependentes do glutamato têm papéis importantes na
neurotransmissão e na plasticidade neuronal (PAOLETTI;
BELLONE; ZHOU, 2013).
De acordo com Yary et al. (2016), a ingestão de
magnésio em muitos países ocidentais está inadequada,
especialmente em dietas de pacientes com ansiedade e
depressão. Consumos dietéticos com baixo teor de magnésio
e o refinamento de grãos em alimentos processados são
algumas justificativas para o declínio da ingestão de magnésio
ao longo do último século. Banana, abacate, beterraba,
quiabo, amêndoas e nozes são alguns alimentos ricos em
magnésio.
Quando os neurônios não conseguem gerar energia
suficiente para manter suas bombas iônicas funcionando
adequadamente, ocorre um desequilíbrio cíclico na liberação
de cálcio e glutamato (um aminoácido neurotransmissor
excitatório do SNC) pelas células, podendo resultar em danos
neuronais e consequente depressão. Outro fator que
exemplifica a importância desse nutriente no SNC é a
necessidade de magnésio para a ligação do receptor de
serotonina. A ação antidepressora do magnésio é dependente
de sua interação com os receptores serotonérgicos,
noradrenérgicos e dopaminérgicos (PAOLETTI; BELLONE;
ZHOU, 2013).

884
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
Em muitos estudos, o nível de magnésio na dieta em
relação à depressão foi investigada. Embora os resultados
obtidos sejam controversos, na maioria dos estudos, foi
observada uma relação significativa entre deficiência do
magnésio consumado e incidência de depressão (DEROM et
al., 2012). O resultado de um estudo de seguimento de 20
anos mostrou que a ingestão de magnésio pode ter um efeito
sobre o risco de desenvolver depressão (YARY et al., 2016).
O estudo realizado por Rajizadeh et al. (2017) indicou
que o consumo diário de 500 mg de comprimido de óxido de
magnésio por pelo menos 8 semanas de pessoas deprimidas
que sofrem de hipomagnesemia resultam em sua melhora em
termos da depressão e do estado do corpo de magnésio.
Se a inadequação de magnésio no cérebro pode reduzir
os níveis de serotonina, e se já foi comprovado em estudos
que fármacos antidepressivos aumentam o magnésio cerebral,
é possível afirmar que uma adequada suplementação de
magnésio beneficiaria a maioria dos indivíduos acometidos por
transtornos de depressão e ansiedade generalizada (YARY et
al., 2016).

3.3 Triptofano

O triptofano, um aminoácido essencial, é o único


precursor da serotonina e sua concentração plasmática é
determinada pelo balanço entre a ingestão dietética e sua
remoção do plasma para promover a síntese proteíca
(FERNSTROM, 2013).
O ciclo do triptofano começa quando é absorvido pelo
intestino, e então fica disponível na circulação e atravessa a
barreira hematoencefálica (BHE), a fim de participar na síntese

885
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
de serotonina (5-HT) no sistema nervoso central. O triptofano,
é convertido em 5-hidroxi-triptofano (5-HTP), e posteriormente
convertido em 5-HT (COWEN; BROWNING, 2015; DAVID;
GARDIER, 2016).
A degradação do triptofano tem grande importância
neuropsiquiátrica, pois a degradação desse aminoácido
implica na produção de substâncias neurotóxicas, como os
catabólitos do triptofano (TRYCATs), que podem atuar como
pró ou antioxidante, neurotóxico ou neuroprotetor, pode induzir
a apoptose, ser ansiogênico e depressivo (DA SILVA DIAS et
al., 2016).
No estudo de André et al. (2014), foi observada uma
forte relação entre ativação da Indoleamina-2,3-dioxigenase
(IDO) e expressão de citocinas pró-inflamatórias no cérebro
com o comportamento de ansiedade.
Quando a suplementação de magnésio é aplicada em
voluntários saudáveis sem fatores de vulnerabilidade para o
desenvolvimento de depressão, não ocorrem mudanças
significativas do humor. Por outro lado, se aplicada em
pacientes ditos recuperados não medicados, ocorre um
retorno da sintomatologia depressiva (COWEN; BROWNING,
2015).
É sabido que a serotonina tem um forte papel na
fisiopatologia da depressão, bem como no mecanismo de
ação de fármacos antidepressivos. Visto que a quantidade de
serotonina sintetizada depende da biodisponibilidade de
triptofano plasmático e da atividade da enzima
triptofanohidroxilase, a ingestão adequada desse aminoácido
e de nutrientes envolvidos na composição dessa enzima
(magnésio, e vitaminas do complexo B) é fundamental no
tratamento da depressão. Algumas fontes de triptofano são:

886
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
arroz integral, feijão, carne bovina, peixe, aves, abóbora,
banana e manga (SHABBIR et al., 2013).

3.4 VITAMINAS B6, B9 E B12

A deficiência de vitaminas B6 (piridoxina), B9 (ácido


fólico ou folato) e B12 (cobalamina ou cianocobalamina) pode
estar relacionada ao aparecimento de sintomas depressivos e
ansiogênicos, pois essas vitaminas possuem um importante
papel na via metabólica envolvida nos processos de síntese
dos neurotransmissores no SNC, além de participarem do
metabolismo da homocisteína (proteína que em altas
concentrações aumenta significativamente a oxidação por
radicais livres) (MOORTHY et al., 2012).
A ingestão insuficiente dessas vitaminas é um fator de
risco para a depressão, seja causando uma queda na síntese
de neurotransmissores, seja gerando aumento na
concentração de homocisteína. As proteínas animais são
ótimas fontes de vitamina B6 e B12, e as leguminosas,
hortaliças e frutas são boas fontes de ácido fólico (WALKER et
al., 2012).
A indução de estresse oxidativo por grandes
concentrações de homocisteína leva a danos neurológicos e
reduz o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF),
comprometendo sua ação no hipocampo e deixando os
neurônios mais suscetíveis a ação dos radicais livres
(WALKER et al., 2012).
Estudos na Finlândia e na Coréia, baseados em
mecanismos biológicos e observação clínica, também
obtiveram resultados associando a deficiência dessas
vitaminas (conhecidas como vitaminas do complexo B) à

887
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
depressão (OKEREKE et al., 2015). Juntamente com o
magnésio, as vitaminas B6, B9 e B12 também são
necessárias para a enzima hidroxilase, que é responsável pela
conversão do triptofano em serotonina (WALKER et al., 2012).
Um estudo longitudinal procurou analisar a associação
entre a ingestão de vitaminas do complexo B (B6, B9, B12),
concluindo que as vitaminas B6 e B12 estavam associadas
com um menor desenvolvimento de depressão. No entanto, a
vitamina B9 não estava associada com a doença, o que os
autores pensam dever-se à carência de vitamina B9, devido à
fortificação obrigatória de alguns alimentos com esta vitamina
(OKEREKE et al., 2015).
Alguns estudos concluíram, experimentalmente, que
baixos níveis de vitamina B12 estão presentes na maioria dos
indivíduos depressivos. Outros apresentaram uma resposta
melhor ao tratamento antidepressivo quando houve reposição
de vitamina B12 e corroborando com os achados, alguns
outros comprovaram que indivíduos sem sintomas
depressivos, quando tratados com vitamina B12, têm menor
risco de depressão (OKEREKE et al., 2015; MOORTHY et al.,
2012).
A deficiência de vitamina B12 pode estar associada
com um aceleramento do declínio cognitivo, a vitamina B6
participa na síntese da serotonina (OKEREKE et al., 2015), e a
vitamina B9 e D podem ter um papel na síntese de
neurotransmissores (WALKER et al., 2012).
Apesar destes estudos deixarem clara a relação entre
deficiência das vitaminas B6, B9 e B12, e depressão, não está
claro se a deficiência dessas vitaminas pode desencadear a
depressão por si ou se é um fator associado, ou até mesmo

888
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
consequência, já que o estado depressivo pode causar
inapetência e desnutrição (OKEREKE et al., 2015).

3.5 VITAMINA D

A vitamina D é considerada uma hormônio


neurosteróide e seu papel na fisiopatologia da depressão tem
sido investigado (FIGUEIREDO et al., 2017). A vitamina D é
produzida na pele através da exposição ao sol e também pode
ser adquirida através da ingestão de peixes (como salmão,
atum, sardinha e cavala), gema de ovo, óleo de fígado de
bacalhau e suplementos. No entanto, ela precisa ser
metabolizada no fígado e em seguida nos rins para que ocorra
a conversão para sua forma biologicamente ativa, o 1,25-
dihidroxicalciferol (calcitriol) (GOWDA et al., 2015).
Estudos comprovaram que o cérebro possui receptores
de vitamina D, sugerindo a possibilidade de que o humor e os
transtornos depressivos possam estar relacionados a
deficiência e insuficiência de vitamina D (GOWDA et al.,
2015). A vitamina D é um único hormônio neurosteróide
(MOZAFFARI-KHOSRAVI et al., 2013) e está envolvido em
vários processos cerebrais incluindo neuroimunomodulação,
neuroproteção, e desenvolvimento do cérebro.
Outro possível mecanismo de interação seria o
envolvimento do calcitriol na síntese de alguns
neurotransmissores e na defesa antioxidativa do cérebro. A
forma ativa da vitamina D estimula a expressão de genes da
enzima tirosina hidroxilase, que é necessária para a produção
de noradrenalina. Logo, é possível que o calcitriol atue
aumentando a disponibilidade do neurotransmissor
noradrenalina (FIGUEIREDO et al., 2017).

889
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
Em estudos clínicos, baixos níveis de 25-
hidroxicalciferol (forma na qual a vitamina D é armazenada no
corpo) foram associados com diminuição da função cognitiva e
predisposição para depressão. Porém é plausível que
indivíduos depressivos fiquem mais reclusos e, portanto,
menos expostos a luz solar. Por isso seus baixos níveis de
vitamina D podem ser um resultado da depressão, e não parte
da causa (MOZAFFARI-KHOSRAVI et al., 2013).
Um estudo realizado com uma amostra de jovens do
sexo feminino e um estudo caso-controle concluíram que a
deficiência de vitamina D sérica estava associada com um
maior risco de depressão (KERR et al., 2015; KJAERGAAD et
al., 2012).
Figueiredo et al. (2017), demonstraram recentemente
em estudos com gestantes brasileiras demonstraram alta
prevalência de deficiência de vitamina D e sintomas
depressivos em mulheres grávidas aparentemente saudáveis.
Mulheres com maiores concentrações de 25-hidroxicalciferol
no início da gravidez foram associados com menor
probabilidade de sintomas depressivos durante a gravidez.
A deficiência de vitamina D possivelmente contribui
para o aparecimento da depressão e sua suplementação pode
trazer benefícios ao tratamento, porém mais estudos são
necessários para tornar viável uma recomendação nesse
sentido (GOWDA et al., 2015).

3.6 Zinco

A participação do zinco é de fundamental importância


para todos os sistemas fisiológicos, sendo incluído o
funcionamento neural. As descobertas clínicas, moleculares e

890
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
genéticas com vergentes apresentam papéis essenciais para
a homeostase de zinco em associação
com depressão clínica (NOWAK, 2015; PRAKASH; BHARTI;
MAJEED, 2015).
O zinco é fortemente regulado no cérebro, com níveis
mais altos no hipocampo e córtex, predominantemente
localizados nos neurônios glutamatérgicos conhecidos como
"neurônios enriquecidos com zinco" (ZEN) (PRAKASH;
BHARTI; MAJEED, 2015). Cerca de 15% de todo o zinco no
SNC está em forma vesicular dentro dos ZENs (NOWAK,
2015).
O zinco é um oligoelemento imunomodulador sugerido
para ser benéfico no tratamento antidepressivo. Estudos
transversais também demonstraram associação entre baixa
ingestão dietética de zinco e depressão (LEHTO et al., 2013;
SOLATI et al., 2015).
A deficiência intracelular pode surgir de baixos níveis
de zinco circulantes devido à insuficiência dietética ou redução
da absorção pelo envelhecimento ou condições médicas
(PETRILLI et al., 2017).
De maneira geral, a depressão e o TAG provocam um
quadro de estresse oxidativo aumentado no organismo,
produzindo espécies reativas de oxigênio (ERO’s), levando à
oxidação de biomoléculas com perda de suas funções
biológicas e/ou ao desequilíbrio homeostático (STEFANESCU;
CIOBICA, 2012). O cérebro é considerado vulnerável à lesão
oxidativa devido à sua elevada taxa de utilização de oxigênio
e, portanto, maior geração de radicais livres (PANDYA;
HOWELL; PILLAI, 2013).

891
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
Alguns alimentos fonte de zinco são: carne vermelha,
leites e derivados, feijão, castanha de caju e amêndoas
(YARY; AAZAMI, 2012; LEHTO et al., 2013).
Vários ensaios clínicos controlados aleatórios suportam
a eficácia do zinco como terapia adjuvante para melhorar o
humor em indivíduos deprimidos e saudáveis (RANJBAR et
al., 2014; SOLATI et al., 2015; PETRILLI et al., 2017).
As metanálises recentes demonstraram níveis mais
baixos de zinco sérico em grupos de casos com depressão em
comparação com controles, com associações inversas
significativas entre os escores de gravidade da depressão e os
níveis séricos de zinco (PETRILLI et al., 2017, SWARDFAGER
et al., 2013).
Corroborando com achados anteriores, os resultados de
outros dois estudos sugeriram uma relação significativa entre
a ingestão de zinco e uma menor prevalência de depressão,
apesar de esta relação não ser de dose-resposta (VASHUM et
al., 2014; LEHTO et al., 2013).

4 CONCLUSÕES

Evidências crescentes têm demonstrado que a nutrição


tem um papel indispensável tanto na gênese e prevenção das
doenças, como na recuperação de pacientes depressivos e
com ansiedade, podendo potencializar a ação de fármacos
antidepressivos e antiansiogênicos ou até ser um tratamento
alternativo, ou complementar para pacientes que não aderem
à terapêutica convencional devido aos vários e indesejáveis
efeitos colaterais dos fármacos.
Além de ter a vantagem de ser livre de efeitos
colaterais, a intervenção nutricional seja ela com a ingestão de

892
NUTRIENTES E TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO E ANSIEDADE
GENERALIZADA: GÊNESE, PREVENÇÃO E TRATAMENTO COADJUVANTE
alimentos ou nutrientes específicos é relativamente mais
barata quando comparada a medicamentosa, mais fácil de
administrar, aceita pela população em geral e traz benefícios
não só para condições psiquiátricas, mas também propiciam
uma melhora geral na saúde do indivíduo.
Dessa forma, mesmo com argumentos de que os
ômegas-3 e 6, vitaminas B (B6, B9, B12), vitamina D, minerais
(magnésio e zinco) e aminoácido precursor de
neurotransmissores (triptofano) estão associados com na
gênese e tratamento dos transtornos de depressão e
ansiedade, há divergência entre os resultados, evidenciando a
necessidade de mais pesquisas nessa área, abrindo um
campo vasto para pesquisa científica.

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896
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
CAPÍTULO 45

TRANSTORNOS ALIMENTARES E A
MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO

Hercília Clementino de CARVALHO1


Raquel Bezerra de Sá de Sousa NOGUEIRA2
1
Graduanda do curso de Nutrição, FIP; 2Orientadora/Professora do Departamento de Nutrição
dasFIP;
hercilianutrici@gmail.com

RESUMO: Conceitos distintos acerca da beleza foram criados


e modificados com o decurso do tempo, seguindo tendências
estéticas na busca pelo corpo perfeito, difundido pela mídia de
forma a influenciar fortemente as escolhas dos indivíduos. Em
virtude disso foi realizado uma revisão integrativa, de caráter
exploratório com abordagem qualitativa, utilizando-se no
processo de formulação do trabalho literaturas científicas
encontradas no Portal de Pesquisa da Biblioteca Virtual de
Saúde (BVS), com compilação de publicações na base de
dados da Literatura Latino-americana e do Caribe (LILACS),
no Banco de Dados SciELO – ScientificElectronic Library
Online, no período de setembro e outubro de 2017.Devido ao
crescente quadro de elevação dos transtornos alimentares
dede ordem psiquiátrica atingindo sobretudo adolescentes e
jovens do sexo feminino, propõe-seque mudanças no plano
alimentar sejam implementadas, para que se evitemos
extremos como os visualizados na bulimia e anorexia, que
envolvem transtornos de ordem alimentar, causando
consequentemente prejuízos nutricionais, metabólicos e
psicológicos. Sendo assim, há uma necessidade
imprescindível de que os profissionais estejam atentos quanto
897
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
ao número crescente de morbidade e mortalidade relacionada
a tais transtornos.Portanto, a nutrição segundo Krause (2013)
constitui-se como fator principal para a manutenção da saúde
mental, incluindo os transtornos alimentares, já que o
organismo absorve os nutrientes necessários, excreta ou
armazena na forma de lipídeos como fonte energética.
Palavras-chave:Transtornos. Nutrição. Imagem corporal.

1 INTRODUÇÃO

Vários conceitos acerca da beleza foram criados e


modificados com o decorrer do tempo, seguindo tendências
estéticas de busca ao corpo perfeito, difundido pela mídia de
forma a influenciar fortemente nas escolhas dos indivíduos,
desde o vestuário até à alimentação, sendo que nesse
contexto as mulheres são o alvo principal de uma sociedade
com padrões pré-estabelecidos que não respeitamas
particularidades relacionadas a tal sexo, nem a individualidade
pessoal(LIRA etal., 2017).
O comportamento alimentar compreende de forma
completa todas as relações que o indivíduo tem com o
alimento (PHILIPPI et al., 1999), tendo uma relevância direta
com a insatisfação corporal, pois é um fator desencadeante
para o desenvolvimento do comer transtornado (SCHERER et
al.,2010). O comportamento alimentar errado é constante em
universitários que mostram relação de preocupação com os
alimentos e sua composição corporal, futuramente
possivelmente terão problemas físicos e psíquicos
(ALVARENGA; SCAGLIUSI; PHILIPPI, 2011).
O descontentamento com o corpo está associado a
fatores prejudiciais à saúde psíquica, como baixa autoestima,
sinais depressivos, momentos de ansiedade social e, atitudes
898
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
errôneas com um grau elevado de preocupação diária de
controle do peso, como o abuso de laxantes, uso de
substâncias anorexígenas e esteroides anabólicos, checagem
corporal e atitudes alimentares inadequadas (SILVA et
al.,2011;CARVALHO et al.,2013).
A imagem corporal sendo um conceito
multidimensional, com várias definições defendidas por
diversos autores (COQUEIRO et al., 2008; BOSSI et al.,
2006), pode ser definida como a figura mental relacionada
com o tamanho e forma do corpo, assim como dos
sentimentos, atitudes e experiências relacionadas com essas
mesmas características. Existem vários estudos que avaliam a
imagem corporal aplicando diversos instrumentos na sua
mensuração, sendo que os mais utilizados são os
questionários e as escalas de silhueta, devido ao seu modo
prático de aplicação e correção (MARQUES; GUIMARÃES;
SANTOS., 2016).
Na tentativa de se encaixar em um modelo definido pela
sociedade, alguns profissionais sentem uma exigência
alarmante quanto a sua aparência física (modelos, atrizes,
bailarinas, atletas, nutricionistas, jockeys) estando cada vez
mais susceptíveis aos transtornos alimentares (GARNER etal.,
1983).
Tais modulações desencadeiam de forma desenfreada
os transtornos alimentares, sendo exorbitante o número de
pessoas com bulimia nervosa, perturbações do humor,
incluindo depressão e ansiedade. A anorexia nervosa
caracteriza-se por uma restrição na ingestão alimentar e
principalmente um medo intenso de ganhar peso. Tais
transtornos alimentares tem uma característica em comum
que é a preocupação com a composição corporal, criando um

899
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
quadro crescente do ponto de vista clínico, o que
preocupadiferentes profissionais de saúde, devido a serem
quadros patológicos de difícil identificação, diagnósticoe
adesão ao tratamento (SLADE, 1994).
A insatisfação corporal relatada como a avaliação
subjetiva negativa da imagem corporal, que pode ser avaliada
pela discrepância entre a imagem real e a idealizada. (SATOet
al., 2016); Influenciada por diversos fatores, sendo três de
maior importância: os pais, os amigos e a mídia. Esta última,
sinônima de “meios de comunicação social”, é a mais
persuasiva das influências (THOMPSON; COOVERT;
STORME, 1999).
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (American PsychiatricAssociation, 2013),
a anorexia nervosa (AN) é caracterizada por comportamento
alimentar de desequilíbriona tentativa extrema de permanecer
no peso corporal utilizando-se de métodos e formas
inconvenientes, agravando sua percepção corporal
(ORNELLAS; SANTOS, 2016).
Os estudos mostram que até acadêmicos bem como
profissionais estão sendo considerados grupos susceptíveis,
pois a sociedade moderna tenta de várias maneiras levar o
indivíduo à praticas errôneas e enquadrá-lo em um padrão
ditado por ela; profissionais que deviam estar envolvidos em
pesquisas de como solucionar este problema terminam sendo
vítimas deste processo, devido sofrerem grande pressão no
exercício do seu trabalho(American PsychiatricAssociation,
2013).
De acordo com Del Priore (2000), levando em
consideração a transição nutricional dos últimos anos, é
notória a alteração da percepção corporal hoje em

900
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
comparação há 20 anos anterior, vindo a afirmar que:
“Diferentemente de nossas avós, não nos preocupamos mais
em salvar nossas almas, mas em salvar nossos corpos da
desgraça da rejeição social. Nosso tormento não é o fogo do
inferno, mas a balança” (ORNELLAS; SANTOS, 2016).
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo mostrar
os diferentes tipos de transtornos alimentarese a relação com
a percepção corporal, assim como suas causas, seus meios
influenciadores e a busca para resolver esse problema.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Estudo do tipo revisão integrativa, de caráter


exploratório com abordagem qualitativa. A pesquisa foi
realizada no Portal de Pesquisa da Biblioteca Virtual de Saúde
(BVS), compilando publicações na base de dados da
Literatura Latino-americana e do Caribe (LILACS), no Banco
de Dados SciELO – ScientificElectronic Library Online, no
período de setembro e outubro de 2017, sendo utilizados os
seguintes descritores (DEcS):imagem corporal; anorexia
nervosa; bulimia nervosa. Como critério de inclusão foram
utilizados artigos publicados na íntegra, em qualquer idioma e
que apresentaram como objeto de estudo a temática central.
Como critérios de exclusão consideraram-se os artigos que
não foram publicados na íntegra, bem como os estudos que
não apresentaram aspectos que contribuíssem com o objetivo
desta pesquisa. Sendo assim, foram selecionados23 artigos
para o estudo.
Os dados obtidos nos artigos foram analisados com
base no enfoque qualitativo. Para uma melhor compreensão
dos resultados com a revisão de literatura foi utilizada a

901
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
discussão pelo método dissertativo, representando o conteúdo
da revisão. Após análise do conteúdo, os mesmos foram
utilizados como subsídio para a referida pesquisa e
posteriormente os dados foram analisados de acordo com a
literatura pertinente ao tema.

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os transtornos alimentares são de ordem psiquiátrica


atingindo principalmente adolescentes e jovens do sexo
feminino, com mudanças no plano alimentar, chegando a
extremos tanto de emagrecimento quanto de obesidade e
levando a prejuízos biológicos e psicológicos e um número
crescente de morbidade e mortalidade (CORDÁS; SALZANO,
2011). Os principais transtornos alimentares são: Anorexia
nervosa, Bulimia nervosa, Transtorno da compulsão alimentar
periódica e Transtornos alimentares sem outras
especificações (TASOE). Há uma relação de desequilíbrio no
comportamento alimentar (SOUZA; PESSA, 2016), onde a
imagem corporal que o individuo possui não o satisfaz, sendo
o principal motivo para o surgimento da patologia.
(CARVALHO et al., 2013; OLIVEIRA; FIORIN; CONTRERA,
2016).
A anorexia nervosa (AN) é um distúrbio alimentar
caracterizado por um medo mórbido da obesidade. Os
sintomas são distorção da imagem corporal, preocupação com
o alimento e recusa em comer. Segundo o Dicionário Aurélio
da Língua Portuguesa (2010), a anorexia nervosa restritiva
envolve dietas, jejuns e exercícios físicos excessivos; e a
compulsiva periódico-purgativa envolve compulsão alimentar

902
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
seguida de purgação e vômitos induzidos (SILBER; LYSTER-
MENSH; DUVAL, 2011).
Desde a década de 1960 a 2000 a taxa de prevalência
é de 0,5% a 1%, atingindo principalmente mulheres entre 12 a
30 anos de idade, sendo apenas 4% a 10% dos casos em
homens (TOWNSEND, 2002).
Segundo Cordás e Salzano (2011) a Bulimia nervosa
(BN) é mais um dos tipos de transtorno alimentar que se
caracteriza por uma ingestão excessiva,compulsivaem curto
período de tempo, sem controle, sendo que no momento o
indivíduo não restringe o consumo de certos alimentos ou
quantidades, sendo seguido de atos de compensação errônea,
como ouso abusivo de laxantes e diuréticos, jejum e exercícios
excessivos.
É mais prevalente quando comparada com a anorexia,
1% e 3%dos acometidos geralmente se encontra no final da
adolescência ou no início da idade adulta e 90% das pessoas
afetadas são do sexo feminino (CORDÁS; SALZANO, 2011).
(OLIVEIRA; FIORIN;CONTRERA, 2016).
A BNsendo uma Perturbação do Comportamento
Alimentar(PCA), as mulheres são mais propícias do que os
homens no aparecimento na adolescência e no início da fase
adulta e íntima relação com a depressão, sendo mais
frequente nos pacientes com BN em comparação à população
geral e pode estar presente antes, durante ou após o
desenvolvimento de BN. A maioria dos doentes com BN não
apresenta sinais ao exame físico e requer que o profissional
fique atento a todos os sinais e sintomas relatados, pois não
há teste para o diagnóstico específico para a doença, assim
há necessidadede um olhar criterioso para so diagnóstico
diferencial, pois a BN se associa a outras perturbações

903
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
mentais na maioria dos indivíduos. A BN é incluída na 10ª
Classificação Internacional de Doenças (CID) e no manual
mais recente de diagnóstico e estatística de perturbações
mentais– DSM-5 (AmericanPsychiatricAssociation, 2013).
Para um melhor entendimento divide-se em A e B(critério A) e
ações de compensação incorreta com a finalidade de não
aumentar o peso (critério B) a junção dos episódios bulímicos
(FRANCISCO, 2017).
Indivíduos com BN recorrem a comportamentos
compensatórios inapropriados para impedir o ganho ponderal
no sentido de compensar a compulsão alimentar. Estes
comportamentos incluem comportamentos purgativos como
vômitos, o mais frequentemente associado a BN. Estes
comportamentos podem também envolver o uso de hormônios
tireóideos e a diminuição/omissão de insulina em indivíduos
com DM. O jejum e o exercício físico excessivo são também
considerados comportamentos compensatórios em indivíduos
com BN, apesar de não serem considerados comportamentos
purgativos. Episódios de compulsão alimentar e
comportamentos compensatórios acontecem em ciclo
compulsão/purgação e a sua frequência é também critério de
diagnóstico para BN. Aceitando-se que são vários os fatores
que influenciam a doença, comoo sociocultural, ambiental, os
psicológicos, trazem o físico como um dos fatores não
somente para a bulimia nervosa, mas para outros transtornos
alimentares. (American PsychiatricAssociation, 2013).Essa
particularidade relaciona-se com os sentimentos negativos
decaracterística depressiva (PEARSON; WONDERLICH;
SMITH, 2015).

904
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
No transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP)
tal transtorno psiquiátrico desenvolve dislipidemias, e doenças
crônicas (VENZON; ALCHIERI, 2014).
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico das
Perturbações Mentais — DSM IV, em seu apêndice B,
caracteriza o TCAP como a ocorrência da ingestão, em um
período limitado de tempo, de uma quantidade de alimento
maior que a maioria das pessoas consumiria em um período
similar, sob circunstâncias similares. Os episódios devem
ocorrer por pelo menos dois dias por semana e durante seis
meses. Os transtornos alimentares sem outras especificações
definem os transtornos que não satisfazem os critérios para
qualquer transtorno alimentar específico (CARVALHO;
AMARAL; FERREIRA, 2009).
Episódios de compulsão alimentar e comportamentos
compensatórios ocorrem geralmente de forma cíclica – ciclo
compulsão/purgação e a sua frequência é também critério de
diagnóstico para BN (American PsychiatricAssociation, 2013),
Vários modelos e teorias etiológicas de BN têm sido
sugeridos ao longo dos anos, não existindo um modelo
globalmente aceito. Inúmeros fatores comportamentais ou
psicológicos, ambientais ou socioculturais e biológicos ou
físicos foram identificados como fatores de risco de BN,
incluindo particularmente a presença da componente do afeto
negativo e da sintomatologia depressiva em quase todos
(PEARSON; WONDERLICH; SMITH, 2015).
Os indivíduos acometidos por TCA apresentam aversão
a mudança em relação aos hábitos alimentares e imagem
distorcida da realidade, resultando no surgimento de
patologias que podem ser iniciadas na infância e
adolescência, comumente em mulheres, contribuindo nos

905
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
problemas de saúde e agravos. O índice crescente de TCA
tem como fatores desencadeadores osbiológicos, psicológicos
e socioculturais (BANDEIRA et al., 2016),
A Compulsão alimentar é definida através de dois
critérios: a quantidade excessiva ingerida num curto espaço de
tempo (critério a1) e a sensação de falta de controlo que o
doente experiência (critério a2). Quando acontecesse os dois
critérios denomina-se episódios de compulsão alimentar
objetivos (ECAO). Casos que o paciente não controla se a sua
ingestão, mas não consome grande quantidade, são
chamados episódios de compulsão alimentar subjetivos
(ECAS). Este tipo de episódios isoladamente não constitui
critério para compulsão alimentar e BN (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013);(FORNEY et al., 2016)
(BROWNSTONE et al., 2013).
A literatura ate o momento não possui um conceito
unificado sobre a grandeza da imagem corporal e suas
nomenclaturas, tem-se o conhecimento que a classifica em
perceptiva, cognitiva, comportamental e afetiva (FERNANDES,
2007). A dimensão perceptiva é a visãoem que o paciente faz
sobre si, considerando seu peso e forma corporal, proporção
podendo ser avaliada pela escala da silhueta. A cognitiva, a
influência psicológica e cultural, o pensamento formado sobre
o nosso corpo, e as crenças. Já o aspecto comportamental
são as mudanças na buscapela modificaçãodo corpo. A forma
de avaliação afetiva é a relação emocional que o indivíduo tem
com o seu corpo (FERNANDES, 2007); (SILVA; MONTEIRO;
FILGUEIRA, 2014).
A autoimagem é a protagonista das ações que
influenciam diretamente o estilo, a estética, e a relação
intersocial (FERNANDES, 2007) até a autoconfiança, a

906
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
relação de se aceitar, tanto em crianças, quanto em adultos
(SIMÕES; MENESES, 2007), o que pode levar a uma imagem
corporal distorcida negativa, indicando um distúrbio que
acarreta problemas dolorosos nas relações profissionais e
pessoais (TAVARES et al., 2010); (SILVA;MONTEIRO;
FILGUEIRA, 2014).
Os critérios estabelecidos para o diagnóstico de
anorexia nervosa segundo a Classificação Internacional de
Doenças (CID–10) são: Perda de peso, falta de ganho de
peso, peso corporal 15% abaixo do esperado; A perda de
peso é autoinduzida por evitar “alimentos que engordam”;
Distorção na imagem corporal na forma de uma psicopatologia
específica de um pavor de engordar; e um transtorno
endócrino generalizado envolvendo o eixo hipotalâmico-
hipofisário-gonadal é manifestado em mulheres como
amenorreia e em homens como perda de interesse e potência
sexual.
Os critérios para o diagnóstico de bulimia nervosa
segundo o CID-10 são: Episódios de hiperfagia pelo menos
duas vezes por semana durante três meses; Preocupação
persistente com o que comer e um forte desejo de compulsão
a comer; O paciente tenta neutralizar os efeitos “de engordar”
dos alimentos por meio de vômitos autoinduzidos, purgação
autoinduzida, períodos de alternação de inanição, uso de
drogas tais como anorexígenos, preparados tireoidianos ou
diuréticos. Quando a bulimia ocorre em pacientes diabéticos,
eles podem negligenciar seu tratamento; e Autopercepção de
estar gordo, com pavor de engordar e com prática de
exercícios excessivos ou jejuns (CORDÁS; SALZANO, 2011).
(OLIVEIRA; FIORIN; CONTRERA, 2016).

907
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
Os TCA correspondem a Anorexia Nervosa (AN),
Bulimia Nervosa (BN) e Transtorno Alimentar Sem Outra
Especificação (TASOE). Esses TCA estão relacionados a uma
desorganização e desequilíbrio do comportamento alimentar ,
sendo a insatisfação corporal apontada como o principal fator
de risco para o desenvolvimento da doença (CARVALHO et
al., 2013 ); (PAIVA et al.,2017).
Já Souza e Alvarenga (2016), verificaram em seu
estudo que os alunos do curso de Educação Física e Nutrição
tendem a sofrer uma pressão intrínseca à profissão, pois são
pressionados a se manterem sempre em busca do que seria
uma saúde ideal, no entanto, muitas vezes, essa procura
acaba se transformando em um fator de risco para o
desenvolvimento de TCA tanto AN quanto BN. Vale destacar
que algumas pessoas que são mais susceptíveis a esses
transtornos tendem a escolher profissões na área da saúde,
mostrando um interesse intenso sobre conteúdos relacionados
à alimentação, exercício físico, bioquímica e funcionamento do
metabolismo.
No estudo de Paiva et al.,(2017) analisou que tanto as
alunas do curso de Nutrição que estão no início do curso
quanto as que estão concluindo a graduação e as mesmas
apresentavam insatisfação corporal por magreza ou excesso
de peso e 20% das que estavam no início do curso
demonstraram distorção grave em relação a sua imagem
corporal (PAIVA et al.,2017).
Em um estudo realizado por Vargas et al., (2016) com
universitários demonstrou que a prevalência de distorção da
imagem corporal foi de 4,38 vezes maiores nos alunos que
foram classificados com sobrepeso e obesidade quando

908
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
comparados aos alunos que foram classificados com um
quadro de eutrofia ou baixo peso.
De acordo com o estudo de Carvalho et al., (2013)
verificou que a prática da avalição corporal é frequente em
jovens universitários de ambos os sexos e que a mesma, está
relacionada, principalmente, a dois fatores de risco para o
desenvolvimento de TA: a insatisfação corporal e as atitudes
alimentares inadequadas. Já em relação ao sexo, as
universitárias do sexo feminino demonstraram maior
insatisfação corporal, checagem corporal e atitudes
alimentares irregulares do que os indivíduos do sexo
masculino. Bento et al., (2016) em seu estudo com estudantes
universitárias do sexo feminino dos cursos de Enfermagem,
Fisioterapia e Nutrição, verificou que as alunas do curso de
Nutrição tinham uma maior tendência a desenvolver TCA,
provavelmente por se sentirem pressionadas em ter um corpo
magro e associarem isso ao sucesso profissional (PAIVA et
al.,2017).
A imagem corporal (IC) tem sua relevância por
influenciar na construção da identidade do indivíduo, na
percepção que o mesmo tem de seu próprio corpo ou do que
ele entende como saudável (American PsychiatricAssociation,
2013). A insatisfação da IC das crianças e dos adolescentes
em relação à forma física e torna-se mais intensa ao longo do
tempo, de forma que tentam mudar sua aparência devido à
dificuldade de aceitar o seu corpo (SILVA et al., 2011).
Nesse sentido, predomina a baixa autoestima,
aumentando as chances do desenvolvimento de
comportamentos de risco, tal como um transtorno alimentar
(TA) (PHILIPPI, S.T et al., 1999).Os Tas ocorrem por
consequência da percepção distorcida da autoimagem na

909
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
proporção de que indivíduos eutróficos se veem magros e
indivíduos com excesso de peso não se enxergam nessa
condição, sendo que os Tas são mais frequentes no gênero
feminino e durante a adolescência(SCHERER, F.C et al.,
2010). Assim, a insatisfação com a IC determina a
suscetibilidade de desenvolvimento de distúrbios de conduta
alimentar (ALVARENGA; SCAGLIUSI; PHILIPPI, 2011). A
perturbação da imagem corporal é considerado um dos
principais sintomas atômicos dos transtornos alimentares.
Esses distúrbios alimentares são retratados pelo medo
mórbido de engordar, por uma obsessiva perturbaçãocom os
alimentos, com o anseio perseverantes de emagrecer e pela
distorção da imagem corporal, resultando em prejuízos
biológicos, psicológicos e crescente morbimortalidade
(MARTINSet al., 2009).
Uma situaçãode aspiração por um corpo diferente do
seu estado nutricional é uma informação significativa para os
profissionais de saúde, e poderia ser usada como uma
ferramenta no planejamento de ações que potencializem
aadesão a comportamentos saudáveis (FERNANDES et al.,
2017).
De acordo com Júnior, Júnior e Silveira (2013)a
sociedade atual confere relevânciaextrema à estética corporal.
Dispor um perfil antropométrico adequado, especialmente
percentual de gordura dentro dos parâmetros normais,tornou-
se uma das prioridades na vida de muitas pessoas. Aqueles
indivíduosque não conseguem obter êxito em atingir a esse
padrão corporal, tem um sentimento de
sofrimento,acontecendo, quase inevitavelmente, o
desencadeamento de transtornos alimentares, sem autoestima
e depressão, entre outras psicopatologias. A cultura influencia

910
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
de forma significativaa formacom que os indivíduo tem uma
pretensão, o desejoda percepção da imagem corporal
(ALVES et al., 2009; FERNANDES et al., 2017).
Os fatores culturais envolvidos no aumento do número
de transtornos alimentares, sugerem uma discussão teórica
emque estudos interdisciplinares e de desenho qualitativo
poderiam fornecer dados com profundidade da complexidade
desses eventos, que as práticas alimentares tem um impacto
significativo na imagem corporal, assim como o diálogo entre
essas duas interpelações, que oferecem informações de
natureza diferentes (as investigações quantitativas
privilegiando o objetivo tangível efetivo, possível de ser
quantificado e analisado estatisticamente e a abordagem
qualitativa, evidenciando o subjetivo, emocional e individual,
possível de ser alcançado através de uma análise construtiva
e interpretativa), seja mais eficiente na produção de
conhecimentos que permitam entendimento e ações de forma
mais efetiva em termos preventivos e resolutivos(OLIVEIRA;
HUTZ, 2010; LÓPEZ; TORRES; LÓPEZ 2009).
Morgan et al. (2002), afirma que a dietae um
pressuposto atual é o principal fator precipitante de um TA.
Pessoas que adotam dieta têm um risco de desenvolver a
doença 18 vezes maior do que as outras pessoas (OLIVEIRA;
HUTZ, 2010).
Hoje,, os retoques feitos com photoshop deixam as
modelos quase perfeitas, fazendo assim a criação e o
despertar por um desejo por aquela idealização de um corpo
impossível de se atingir sendo uma forma de
desumanização.As jovens mais magras têm constantemente
uma perturbação aocomer e os corpos não tão saudáveis. E

911
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
um atoobsessivo pela magreza e ganho de peso significa
fracasso(OLIVEIRA; HUTZ, 2010).
O DSM-IV-TR caracteriza a AN como sendo a não
aceitação em manter o peso corporal dentro ou acima do
mínimo normal adequado considerado para a sua idade e
estatura (OLIVEIRA; HUTZ, 2010).
O tratamento de pacientes com TCAP merece atenção
multidisciplinar, sendo importante a terapia dietética, a terapia
cognitivo comportamental e a prática de atividade física
(NUNES, 2012)
Ambos surgem quando o indivíduo consome uma
quantidade excessiva de alimentos em um curto período de
tempo, acompanhada de uma sensação de perda de controle
sobre o seu comportamento alimentar. Quando os episódios
de compulsão alimentar ocorrem pelo menos dois dias por
semana, num período de seis meses, associados a algumas
características de perda de controle e não são acompanhados
de comportamentos compensatórios dirigidos para a perda de
peso, indicam, segundo estudos, a presença da síndrome
denominada TCAP (MELO 2011).
No Brasil, entre os pacientes que procuram tratamento
para emagrecer, 15 a 22% apresentam TCAP. Pacientes com
TCAP apresentam níveis maiores de psicopatologia, sendo
que os episódios de compulsão podem estar relacionados com
o hábito alimentar inadequado ou mesmo com sintomas
psiquiátricos generalizados (COUTINHO, 2006).São de
trêsformas que apresentam a sua sintomatologia: calmante,
anestésico, e conforto para momentos de solidão. Outra
característica evidenciada foi o uso da comida como uma
forma de compensação satisfação de outras necessidades
que não apresenta a fome fisiológica (ESPÍNDOLA, 2006).

912
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
A Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP),
avalia hoje em dia o TCAP queécomposta por um questionário
de autopreenchimento traduzido e validado para o português
contendo 16 questões. Utilização fácil e eficácia no alcance de
seu objetivo (NUNES, 2012).
Com uma etiologia desconhecida dos transtornos
alimentares e a possibilidade de que haja uma disfunção
neuroquímica no Sistema Nervoso Central desses pacientes é
analisada por vários estudos (MELO, 2011).
O comportamento alimentar do indivíduo com TCAP é
de ingestão de duas horas de qualquer tipo de alimento. Essa
ingestão significativa vem seguida de uma sensação de perda
de controle da quantidade e do tipo de alimento
ingesto.(AZEVEDO; SANTOS; FONSECA, 2004).
Os meios de comunicação tem um foco,a idealização
por um biótipo de corpo específico (magro) levando com que
as pessoas que não seguem as normas pré-editadas
procurem meios, incorretos prejudiciais a saúde, para atingir o
corpo ideal (CARDOSO; ZUBEN; SANTOS, 2014;
MENDONÇA;BLAMIRES, 2016).

4 CONCLUSÃO

Portanto, a nutrição segundo Krause (2013) constitui-se


como fator principalpara a manutenção da saúde mental,
incluindo os transtornos alimentares, já que o organismo
absorveos nutrientes necessários, excreta ou armazena na
forma de lipídeos como fonte energética.
Em estudo de 2013foi vista uma relação entre
transtornos alimentares envolvendo diversos fatores, desde
fatores sociais como bullying, baixo apoio familiar ou dietas

913
TRANSTORNOS ALIMENTARES E A MUDANÇA NA PERCEPÇÃO CORPORAL
NO TRANSCORRER DO TEMPO
sem correta orientação, gerando uma grande insatisfação com
a sua imagem corporal.
Sem contar ao fato de que há pessoas que agem de
forma compensatória, comendo para diferentes tipos de
problema ou circunstâncias.Por outro lado, muitas pessoas
fazem do ato de se alimentar uma ação compensatória para
algum tipo de problema ou situação de estresse que esteja
vivenciando.

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NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
ALIMENTAÇÃO
LACTANTE

919
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
CAPÍTULO 46

PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO:


DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
Carla Patrícia Novaes dos Santos FECHINE 1
Jéssica Vicky Bernardo de OLIVEIRA 2
Rafaella Cristhine Pordeus LUNA3
Sterphany Lindy Barbosa da SILVA4
Christiane Carmem Costa do NASCIMENTO5,6
1
Mestre em Ciências da Nutrição, UFPB, fisioterapeuta e Profa., UNIPE; 2Mestranda em
Nutrição Clínica e Epidemiologia, UFPB;3Doutoranda em Ciências da Nutrição, UFPB;
4
Graduanda do curso de Nutrição, Faculdade Maurício de Nassau;
5,6
Orientadora/Professora,FMN.
chriscarmenutri@gmail.com

RESUMO: São evidentes a importância do aleitamento


materno exclusivo e os seus benefícios gerados na criança e
na mãe. Porém, essa prática vem sendo prejudicada, apesar
das mães saberem os benefícios da amamentação é grande o
número de desmame precoce. Com a chegada da pós-
modernidade, as mulheres começaram a ter novos ideais, uma
das principais mudanças foi a inserção da mulher no mercado
de trabalho. A pesquisa teve como objetivo estudar os
desafios da maternidade em torno da prática de aleitamento
materno na atualidade. Trata-se de um estudo de revisão
bibliográfica que pesquisou artigos científicos nas bases de
dados PUB MED, Scielo, Lilacs e CAPS. Uma das grandes
dificuldades encontradas hoje em dia por mães trabalhadoras
é a difícil conciliação em fornecer a prática do aleitamento
materno exclusivo até os seis meses de vida, devido ao início
do trabalho muitas vezes ocorrer antes desse período, essas
mães acabam fazendo a substituição do leite por fórmulas
infantis e introduzindo novos alimentos a dieta dos seus filhos,
920
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
antes mesmo do que é recomendado pela Organização
Mundial de Saúde. Outro fator substancial é que as mães de
hoje, encontram-se mais inseguras em fornecer a
amamentação comparadas as mães de antigamente, e se faz
necessário aprender como amamentar e ainda criar auto-
confiança para tal ato e isso muita das vezes acaba
prejudicando a amamentação.
Palavras-Chave: Amamentação. Desmame precoce. Pós-
modernidade.

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no


mundo, menos de 40% das crianças são amamentadas
exclusivamente até os seis meses de vida, e cerca de metade
das mortes de crianças com menos de cinco anos está, direta
ou indiretamente, relacionada à má nutrição, porquanto 25%
delas estão com o desenvolvimento comprometido, e 6,5%,
acima do peso ou obesas (CHILD, 2015). Estudo realizado por
Lutter (2013),constatou que os índices de Aleitamento Materno
Exclusivo (AME), em 22 países da África, da Ásia, do Oriente
Médio e da América Latina, entre 2004 e 2011, variaram de
7,7 a 71,4%.
As vantagens do aleitamento materno são múltiplas
tanto para as crianças quanto para as mães. Pois nos bebês
age como um fator protetor nas doenças respiratórias,
gastrointestinais, urinárias e nas alergias principalmente as da
proteína do leite da vaca. E no que diz respeito as mães que
fornecem o leite materno, terão uma facilidade de involução
uterina mais precoce e a diminuição da probabilidade do
surgimento de câncer de mama e entre outros. Além de

921
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
permitir o prazer único que a amamentação possibilita para
desenvolvimento do vínculo mãe e filho (MONTEIRO, 2017).
Em contrapartida, existem fatores que influenciam no
aleitamento materno causando o desmame precoce são eles:
a idade materna, sendo menos influenciado pelas mães
jovens, por ser solteiras influenciadas pelo poder aquisitivo; a
questão socioeconômica, o qual as mulheres com baixo poder
aquisitivo apresenta três vezes mais risco de desmame
precoce; o nível de escolaridade; trabalho materno, as mães
domésticas apresentam 30% a mais em fornecer o
aleitamento exclusivo, comparada com as mães que
trabalham fora e sentem dificuldades para a manutenção
exclusiva do leite materno; situação conjugal, a mãe que não
possui companheiro tem a probabilidade apresentar seis
vezes o risco de não praticar a amamentação; problemas
relacionados ao bebê e a mãe, como problemas mamários,
insegurança em relação ao leite fraco, a dieta materna, bebês
que fazem o uso de bicos são amamentados por menos
tempo, a dieta materna e os que nasceram com peso
inadequado pelo fato de permanecerem em hospitais
influenciando o tempo de amamentação (LOGUÉRICO, 2011).
Crianças que foram amamentadas exclusivamente até
os seis meses consomem frutas e legumes com mais
frequência, enquanto que as demais consomem regularmente
alimentos como doces, salgadinhos, sucos adoçados, sendo
que seus hábitos alimentares futuros serão diretamente
influenciados pela duração da amamentação (PERRINI et al,
2014).
Uma das poiam ências que permeiam a vida da
mulher atual é a diminuição do percentual da prática de
amamentação, esse declínio é decorrente das influências

922
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
socioculturais, sendo acompanhado com a entrada da mulher
no mercado de trabalho, caracterizando ainda mais a
dificuldade em conciliar o trabalho fora do lar com a
maternidade. Com isso, as mulheres que amamentam estão
cada vez mais trocando essa prática por outros substitutos,
que no caso, são as fórmulas infantis ou leites industrializados,
que segundo as mesmas são ditos como mais seguros e dão
sustância ao seu filho, quando comparado ao leite materno.
Mostrando assim, que hoje as mulheres pós-moderna
apresentam mais inseguranças, quando comparadas com as
mulheres dos tempos anteriores (SCHAFFKA et al., 2011).
Considerando-se que o leite materno é o principal meio
de promoção e proteção para a saúde da criança, como
também auxilia na saúde materna. O presente estudo tem
como objetivo pontuar os fatores que dificultam a prática de
aleitamento materno na atualidade, e descrever a importância
do aleitamento materno. Além de identificar os fatores que
poiam e protegem os direitos da amamentação.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Para o desenvolvimento do estudo e melhor


compreensão do tema, este Trabalho de Conclusão de Curso
foi realizado a partir de uma pesquisa que teve como
ferramenta embasadora, materiais já publicados sobre o tema
em livros, artigos científicos, publicações periódicas, materiais
na Internet, documentos de órgãos oficiais que estavam
disponíveis nos seguintes bancos de dados: Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS),
Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Literatura

923
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
Internacional em Ciência da Saúde (MEDLINE), Biblioteca
Virtual de Saúde (BVS), Google acadêmico e PubMed, sendo
utilizada a língua portuguesa e inglesa. Para a organização do
material, foram realizadas as etapas e procedimentos do
Trabalho de Conclusão de Curso onde se busca a
identificação preliminar bibliográfica, realizando os
fichamentos em forma de resumos dos principais artigos
relacionados com o tema, identificados na presente pesquisa.
A pesquisa foi realizada através dos descritores:
amamentação, desmame precoce, prática do aleitamento
materno e jornada de trabalho materna. Os artigos utilizados
foram os de língua portuguesa e o período de coleta de dados
foi referente aos anos 2011 a 2017.

8 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO

O leite materno é considerado um alimento natural,


porém vivo e completo. Adequado a quase todos os recém-
nascidos. Sendo considerado, como melhor alimento para o
bebê, já que são múltiplas as suas vantagens seja a curto ou a
longo prazo. Há um consenso mundial de que a sua prática
exclusiva seja de até 6 meses de vida e continuado até os dois
anos de idade com complementos (WHO, 2015).
Além de exercer efeito protetor no começo de vida do
lactente, reduz o risco de doenças crônicas e autoimunes
como diabetes mellitus, alergias dentre outras, a lactação
oferece melhorias não só para o bebê, mas para a mãe, a
família e o estado. Com relação a mulher que amamenta, o
aleitamento evita, câncer de mama de ovários, além de
924
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
fraturas ósseas. Para a família reduz os custos, ocorre a
praticidade e o estímulo da relação mãe e filho. Com relação
ao estado favorece o baixo custo com alimentação, em
doenças infantis e no fornecimento de alimentos
industrializados. Todos este fatores corroboram para o
estímulo da prática da lactação sendo fundamental na
promoção, proteção e apoio à saúde da criança sendo
recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e
pelo Ministério da Saúde (MS), sendo que no Brasil ainda está
aquém do recomendado (OPAS, 2013).
O aleitamento materno tem relevância no combate a
fome extrema e desnutrição estabelecida nos dois primeiros
anos de vida, sendo esse responsável pela sobrevivência das
crianças, principalmente aquelas que se encontram em
condições desfavoráveis. Além de ser a melhor fonte de
nutrição para as crianças nessa fase, favorecendo inúmeras
vantagens imunológicas e psicológicas, e quando associado a
alimentos complementares de qualidade após o período de
seis meses da criança, conforme o estabelecido pelo o
Ministério da Saúde, otimiza ainda mais o desenvolvimento
saudável das mesmas (MINISTÉRIO DA SAUDE, 2015).
A amamentação deve ser estimulada, a cada mamada
fornecida representa uma vacina, ou seja, um fator de
proteção para a criança. O aleitamento materno fornece todos
os nutrientes essenciais para o crescimento e
desenvolvimento adequado, propiciando o fator de proteção, o
desenvolvimento das estruturas ósseas, psicológicas e
neurológicas. O ato de amamentar representa o encaixe
perfeito do binômio mãe-filho, cumprido uma função de cordão
umbilical externa. Além disso, a lactante ao amamentar seu
filho, produz benefícios futuros para ela e seu bebê. O leite

925
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
materno é riquíssimo, em minerais, gorduras, vitaminas,
enzimas e imunoglobulinas, são essas vantagens nutricionais
que promovem o desenvolvimento da criança e o seu
desempenho escolar. Além de ajudar a combater a
desnutrição, diarréias e pneumonias (SCHAFFKA et al., 2011).
Há evidenciais substanciais a um possível vínculo entre
o aleitamento materno e o desenvolvimento psicossocial da
criança. O leite materno tem sido associado constantemente a
fatores cognitivos mais altos, como também, pode ser capaz
de evitar o inicio da obesidade na infância e na adolescência.
As constatações biológicas acerca do desenvolvimento
intelectual são altas, uma vez que, o leite materno possui
compostos bioativos que não são encontrados nos leites em
pó e que são essenciais para o desenvolvimento máximo do
sistema nervoso central; e a interação mãe-bebê durante o
processo de amamentação, que possuem características
diferentes para os bebês que são alimentados por leite
materno e os de mamadeiras. Da mesma forma, as
confirmações sobre a prevenção da obesidade são verídicas,
pois indivíduos que são alimentados aos seios quando bebês
podem ser programados para conseguir regularizar melhor o
seu apetite e obter o padrão de gordura adequado (PEREZ,
2011).
O sucesso na promoção do aleitamento materno é
proveniente dos engajamentos das autoridades públicas. O
SUS é um órgão que tem mostrado esforços para controlar a
mortalidade infantil por incentivos a amamentação. Como
também, o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento
Materno (PNIAM), em conjunto com órgãos internacionais
(Fundo das Nações Unidas para a infância- UNICEF- e
Organização Mundial da Saúde – OMS), algumas

926
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
organizações não- governamentais e a Sociedade Brasileira
de Pediatria contribuíram para o aumento da duração e da
taxa de aleitamento natural. Conforme a última pesquisa
nacional feita em 2008, a probabilidade de crianças menores
de um ano estarem em aleitamento materno exclusivo foi de
23,3% aos quatros meses e 9,5% aos seis meses. Tais dados
sugerem que uma minoria segue o que estabelecido pela
OMS e Ministério da Saúde, as quais preconizam a
amamentação por dois anos ou mais, sendo de forma
exclusiva nos primeiro seis meses de vida (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2013).

3.2 FATORES QUE PODEM DIFICULTAR A PRÁTICA DO


ALEITAMENTO MATERNO NA MATERNIDADE PÓS-
MODERNIDADE

O ato de amamentar não é totalmente instintiva no ser


humano. Já que, muitas das vezes deve ser aprendida, para
que se tenha êxito no seu prolongamento. Pois, existem mães
que necessitam de esforços e apoio constante para tal ato
(WHO, 2015)
Acerca do apoio ao aleitamento materno pelos
profissionais de saúde, foi possível identificar o interesse por
parte das mães em buscar ajuda dos mesmos, para solucionar
os seus problemas relacionados ao aleitamento, porém o
profissional geralmente impõe tantas normas e regras que não
condizem com as realidades vividas pelas mães, que isso
muitas vezes acaba gerando medo e insegurança nessas
mulheres e contribuindo ainda mais para o desmame precoce
(ALMEIDA, LUZ, UED, 2015). As mães que tiveram pouca

927
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
ajuda no auxilio a amamentação, foram as que tiveram menor
probabilidade em manter o aleitamento materno por um
período de tempo maior (RAYFIELD, LAURA, MARIA, 2015).
O desmame precoce pode ser influenciado também por
várias variáveis dependentes. Sendo eles: idade,
escolaridade, trabalho materno, condição socioeconômica,
experiência materna, a decisão da mãe em relação ao
aleitamento, além de crenças e tabus. A introdução de outros
alimentos antes dos seis meses vai interromper no processo
da amamentação, devido a redução das mamadas e
consequentemente na diminuição do leite produzido. Por meio
do aprendizado social a família, pode influenciar e ser
responsável pelo comportamento alimentar da criança
(BARBOSA et al, 2011).
As análises revelaram que os fatores que interferem na
amamentação, segundo os relatos das mães que amamentam
são: enfermidades da mãe que impediram o aleitamento
materno; medicamentos utilizados por elas; e substituição do
leite materno por outros alimentos. Foi evidenciado que o
conhecimento sobre o leite materno está pautado em cima de
um discurso biomédico saúde-doença e o grande crescimento
da participação feminina no mercado de trabalho (FOX,
MCMULLEN, NEWBURN, 2015).
Outro fator importante é a influência paterna, que está
sendo destacada como um dos motivos para o aumento da
incidência e prevalência do aleitamento materno, ou seja, o pai
influi na decisão da mulher em amamentar e contribui para a
sua continuidade, como também pode contribuir para
desmame precoce,quando não dão suporte necessário a
mulher para decidir tal ato, já que nesta fase de amamentação
a mulher necessita de suporte e apoio por parte do pai

928
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
(MARQUES et al., 2010). E as mesmas ainda enfatizam a
importância de se ter um acompanhamento de pré-natal
qualificado, no qual o pai seja envolvido, principalmente para o
apoio na semana do pós-natal imediato e para que esses
meios de consultas sejam acessíveis a todas as mulheres dos
diversos setores da comunidade (FOX, MCMULLEN,
NEWBURN, 2015).
De acordo com alegações maternas foi possível
identificar a associação da inexperiência com déficit de
informações mediante a amamentação, podendo estar
relacionado direta ou indiretamente a insegurança em adotar o
seu próprio leite como único alimento dos seus filhos, perante
as dificuldades encontradas, essas mães buscam como
primeira opção, a introdução das fórmulas infantis , já que é de
fácil acesso e manuseio e satisfaz a necessidade
momentâneo da mãe em alimentá-lo. Entretanto, esse ato
passa a ser contínuo e muitas das vezes permanente,
contribuindo assim, para a ocorrência do desmame parcial ou
total (OLIVEIRA et al., 2015).
As representações das mães atualmente contrastam
com as de antigamente, quando se tinha a visão que a mulher
era dona de casa, cuja a função principal era os cuidados com
seus filhos. Diante desse novo cenário, após a inserção da
mulher no mercado trabalho e as dificuldades presentes em
conciliar o lado familiar com as tarefas profissionais,
despertam desafios na vida da mulher quando estão frente a
escolha pela maternidade, impondo assim novos valores
importantes na vida das mesmas, como: Conseguir conciliar o
trabalho e a maternidade? O que é ser uma mãe
suficientemente boa na contemporaneidade?. Perguntas

929
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
estas, cercada por dúvidas e angústia de como exercer uma
maternidade correta.
De acordo com entrevistas feitas com as mães que
possuem o curso superior, com idades entre 32 a 39 anos e
grávidas, foi observado que as mães tinham como
necessidade de procurar por especialistas, para garantir
informações acerca da maternagem, principalmente
informações no que diz respeito à amamentação. Como
resultado da entrevista, foi percebido como as mulheres se
sentem inseguras e amedrontadas para exercer o papel da
maternidade. É como se para ser mãe houvesse a
necessidade de qualificar-se, acreditando que para tal ato
exista uma forma perfeita de agir. A procura por cursos que
ensinem a respeito da amamentação é bastante grande, pois
as mães encontram-se incapazes para tal ato. Essas
inseguranças e incertezas são sentimentos que estão
presentes no cotidiano de quem habita o mundo
contemporâneo (CORREA, GARCIA, 2016).
Uma das conseqüências que permeiam a vida da
mulher atual é a diminuição do percentual da prática de
amamentação, esse declínio é decorrente das influências
socioculturais, sendo acompanhado com a entrada da mulher
no mercado de trabalho, caracterizando ainda mais a
dificuldade em conciliar o trabalho fora do lar com a
maternidade. Com isso, as mulheres que amamentam estão
cada vez mais trocando essa prática por outros substitutos,
que no caso, são as fórmulas infantis ou leites industrializados,
que segundo as mesmas são ditos como mais seguros e dão
sustância ao seu filho, quando comparado ao leite materno.
Mostrando assim, que hoje as mulheres pós-moderna

930
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
apresentam mais inseguranças, quando comparadas com as
mulheres dos tempos anteriores (SCHAFFKA et al., 2011).
A amamentação é de vital importância para o
desenvolvimento nutricional e o estabelecimento do vínculo
mãe e filho. Requerendo por parte da mãe a disponibilidade
para a sua prática, que seja feita com dedicação e eficácia no
primeiro semestre de vida da criança. A mulher trabalhadora,
quando recebe alta hospitalar, se depara com a difícil tarefa de
conciliar o aleitamento exclusivo com o trabalho fora do lar
(SOUZA; RODRIGUEZ, 2010).
Porém, estar no mercado de trabalho não deve ser
motivo para impedir que a mulher amamente. Em contra
partida, o trabalho materno é considerado um fator importante
para o desmame precoce (ALVES, BOVI, TADEU et al., 2012).
Entre os fatores determinantes do desmame precoce, notou-
se: referência ao choro e à fome da criança; insufciência do
leite materno; trabalho das mães fora de casa; problemas
relacionados às mamas e recusa ao seio,por parte da criança,
como opções para a introdução de outros alimentos
precocemente. Ressalta-se que a composição do leite
materno é ideal para alimentar e nutrir exclusivamente a
criança até os 6 meses de vida, haja vista que a maioria dos
lactentes cresce dentro dos padrões de normalidade e são
saudáveis (FILHO, et al., 2016).
No que tange as questões de trabalho, as mulheres que
amamentam e exercem uma atividade fora do lar, geralmente
encontram muitas dificuldades em continuar com
amamentação, pois algumas começam a trabalhar antes da
criança completar os 6 meses de vida, interrompendo assim, a
amamentação exclusiva. Foi realizado um estudo, em que a
amostra foi constituída por 200 mulheres trabalhadoras

931
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
formais, que retornaram ao trabalho antes de a criança
completar seis meses de vida, essa pesquisa foi feita no
município de Piracicaba, São Paulo, que tinha como objetivo
identificar variáveis relacionadas ao desmame no quarto mês
de vida. Conforme os resultados apresentados, as mães que
não participavam de grupos de incentivo a amamentação, 43%
desmamaram antes do quarto mês. Entre as mães que não
amamentavam durante a jornada de trabalho, 34%
desmamaram antes do quarto mês. Dentre as mães que
voltaram a trabalhar depois do quinto mês após o parto, 82,9%
desmamaram após o quarto mês. Essas variáveis mostram
relações significativas de como a não conciliação da
maternidade com o trabalho acaba atenuando ainda mais o
desmame precoce (ALVES, BOVI, TADEU et al, 2012).
Outro fator que dificulta o incentivo a amamentação são
os problemas que as nutrizes encontram na jornada de
trabalho, pois, as empresas não fornecem hora extra nem
mesmo remuneração adequada que incentivem as mesmas a
fornecerem a amamentação dos seus filhos, surgindo
barreiras que acabam levando ao desmame precoce. o não
cumprimento da legislação trabalhista por parte dos
empregadores e a falta de orientação das mães quanto à
retirada e armazenamento do leite materno para ser oferecido
à criança durante seu trabalho, são fatores que contribuem
para o desmame precoce (FILHO, et al., 2016).
Embora amamentar seja um traço característico da
espécie humana, o aleitamento materno configura-se um ato
bastante complexo diante da sociedade. Contudo é uma
prática exercida pela mãe em conjunto com seu filho. A partir
do momento em que a mulher que amamenta começa a
trabalhar pode encontrar algumas barreiras e muitas vezes

932
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
deixam de amamentar os seus filhos por conta disso, levando
assim ao desmame precoce. Ainda são poucas as instituições
empregatícias, que estão adotando medidas que tragam
benéficos há mãe e o filho e que buscam apoiar o próprio ato
de amamentar. Porém, em nossa sociedade existem algumas
instituições que disponibilizam algum apoio à nutriz, mas essa
temática continua a passos curtos (SOUZA; RODRIGUEZ,
2010).
Como direito da criança, para se alcançar os mais altos
padrões de saúde, oacesso ao alimento seguro e à nutrição
adequada são essenciais. O leite materno traz benefícios para
a saúde dacriança e da mulher em curto e em longo prazos.
Protege a criança contra a diarreia,problemas
respiratórios,alergia, menor chance de desenvolver diabetes,
hipertensão eobesidade na vida adulta (VICTORA et al.,
2016). Por essas razões, é importante incentivar a
amamentação,especialmente nosprimeiros 6 meses de vida.
Com o retorno da mulher ao trabalho antes desse período,
antes de 6 semanas após o parto, aumenta a chance de não
iniciar aamamentação (ROLLINS et al., 2016). Tais achados
mostram a influência que otrabalho exerce inclusive na
decisão de amamentar o bebê. O tempo entre o parto e o
retorno ao trabalho é um preditor da duração doaleitamento
materno, e quanto menor for o tempo, mais cedo inicia-se o
desmame
(VICTORA, 2016).
Portanto, o estudo de Monteiro et al., 2017, constatou
que a licença-maternidade está associada ao aumento da
prevalência do AME nas capitais brasileiras e DF, reforça a
importância do governo e a sociedade oferecerem dispositivos
que estimulem maior duração da amamentação, como, por

933
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE
exemplo, a ampliação universal da licença maternidade de
quatro para seis meses.

6 CONCLUSÕES

Como foi visto o aleitamento materno exclusivo até os


seis meses de vida e prolongado até os dois anos com
complemento é considerado o alimento mais saudável nessa
faixa etária da criança, pois possui benefícios imprescindíveis,
para a criança e para mãe.
Foi observado que o desmame precoce é um fator que
percorre as mães que amamentam, pois muitas das vezes
apresentam dificuldades no seu dia a dia para manter a
amamentação exclusiva.
Um dos principais fatores dos desmame precoce na
atualidade é o trabalho materno, pois as mães trabalhadoras,
não conseguem manter a amamentação, quando estão no
horário do trabalho. Mesmo estando protegidas por leis
trabalhistas, essas mães não vão a procura dos seus direitos e
muitas das vezes se sentem intimidades em perder o seu
emprego.
De acordo com o presente trabalho faz-se necessários
as mães que trabalham e amamentam, procurarem os direitos
que protegem e apóiam a amamentação. Além de procurar as
informações por partes dos profissionais de saúde de como
manter uma lactação e ter um manejo correto para fornecer a
amamentação de forma prolongada e sem interrupções. Essas
iniciativas em conjunto com as leis que protegem a
maternidade e com a ajuda dos profissionais de saúde,
poderão ter um importante papel para aumentar a prática de
aleitamento materno exclusivo.

934
PRÁTICA DE ALEITAMENTO MATERNO: DESAFIO DA MATERNIDADE NA PÓS-
MODERNIDADE

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936
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
ASSISTÊNCIA
NUTRICIONAL
INFANTO-
JUVENIL

937
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
CAPÍTULO 47

INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E


CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA

Valéria TRAJANO 1
Niedja Dias2
1
Graduanda do curso de Nutrição, FPB; 2 Orientadora/Supervisora de Estágio/FPB.
Valleriatrajano@gmail.com

RESUMO: O autismo é caracterizado como um transtorno no


desenvolvimento psíquico e motor, comprometendo o
desenvolvimento da criança, afetando a sua comunicação, seu
comportamento, interação interpessoal e social, também
conhecido como transtorno de espectro autista (TEA), os
portadores dessa síndrome podem apresentar desordens
gastrointestinais, como inflamações na parede intestinal
devido à diminuição de enzimas digestivas, ocasionando
alteração metabólica em determinados nutrientes, elevam os
níveis de algumas substâncias no sangue, como gluteomorfina
e caseomorfina, na criança portadora dessa síndrome. Desta
forma, esta pesquisa tem como objetivo investigar a influência
da proteína glúten e caseína no comportamento da criança
autista, em específico avaliar o consumo alimentar das
crianças autistas e suas possíveis associações entre a
sensibilidade ao glúten e caseína e as manifestações desta
síndrome, analisar as alterações gastrointestinais e
compreender as possíveis seletividades alimentares. O
instrumento utilizado foi um questionário com 35 questões,
sendo dissertativas e objetivas, com o perfil quantitativa e
qualitativa realizado com as mães de crianças portadoras da
síndrome TEA. Resultados revelaram que os pais não fazem

938
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
restrição da caseína e ao glúten, com um número de 90% das
crianças, por não apresentarem alergias nem intolerância as
ambas proteínas. Nas análises dos resultados 50% das mães
responderam que as crianças não apresentam manifestações
TGI, nem flatulência e dores abdominais. Quanto diarreias e
constipação apresentam com frequência, elevando uma
porcentagem de 70% de acordo com as respostas dos pais.
Conclui-se que o autismo infantil é um transtorno que precisa
de mais estudos sobre sua origem precisando de uma
abordagem multidisciplinar, que abordem a complexidade que
é esse transtorno e sua relação com o consumo das proteínas
glúten e caseína.
Palavras-chave: Espectro autista. Glúten e caseína.
Desordens Gastrointestinais.

1 INTRODUÇÃO

Caracteriza-se como autismo um transtorno no


desenvolvimento mental e cognitivo, comprometendo o
desenvolvimento da criança afetando a sua comunicação, seu
comportamento, interação interpessoal e social. É também
conhecido como transtorno de espectro autista (TEA).
Estudos publicados em 2013 nos EUA revelou uma
prevalência de 1 a 68 criancas com o transtorno do espectro
autista, tendo quadriplicado nos últimos 20 anos sem uma
causa definida (ALMEIDA, 2015).
Estudos mostram uma prevelência maior em meninos de
nascerem com TEA do que em meninas, tem-se aumentado o
numero de nascido com essa síndrome que já se fala em uma
epidemia mundial, precisando de mais estudos sobre fatores
que contribuem para o aparecimento desse transtorno.

939
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
A Organização Mundial de Saúde define o transtorno
autista como um distúrbio do desenvolvimento, sem cura e
severamente incapacitante. Tendo como incidência cinco
casos em cada 10.000 nascimentos, devendo se adotar um
critério de classificação rigoroso, e três vezes maior
considerando os casos semelhantes, isto é, que necessitem
do mesmo tipo de atendimento.
Segundo Carvalho (2012) crianças autistas possuem uma
seletividade alimentar e são resistente ao alimento
desconhecido criando um bloqueio a novas experiências
alimentares o que contribui para uma deficiências nutricional.
Observou- se também alteração metabólica em
determinados alimentos, onde seus nutrientes elevam os
níveis de algumas substâncias no sangue, opióides, é o caso
da gluteomorfina e caseomorfina, são peptídeos similares aos
mesmos, que derivam da proteína do glúten e caseína. Esses
peptídeos promovem alguns efeitos como redução de células
nervosas no sistema nervoso central e a inibição de alguns
neurotransmissores (MOURA; NASCIMENTO; RAMOS, 2013).
Além desses transtornos, o autista também possui inflamação
gastrointestinais, essa anormalidade tem relação com a
permeabilidade do intestino, alterando a flora intestinal e
consequentemente apresentando desconforto abdominal,
constipação ou diarreia o que acarreta alteração no
comportamento da criança portadora dessa síndrome
(OLIVEIRA, 2012).
Este artigo tem como objetivo investigar a influência da
proteína glúten e caseína no comportamento da criança
autista, em específico avaliar o consumo alimentar das
crianças autistas e suas possíveis associações entre a
sensibilidade ao glúten e caseína e as manifestações desta

940
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
síndrome, analisar as alterações gastrointestinais e
compreender as possíveis seletividades alimentares.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O instrumento utilizado foi um questionário com 35


questões, sendo dissertativas e objetivas, com o perfil
quantitativa e qualitativa realizado com mães de crianças
portadoras da síndrome TEA, com uma temática relevante e
atual sobre Influência da Proteína Glúten e Caseína no
Comportamento da Criança Autista, obtendo o tempo
máximo de 20 minutos para resolução do questionário, onde
abordou-se a seletividade alimentar por parte das crianças, a
ingestão de glúten e caseína no consumo diário, a possível
intolerância aos mesmos, como também as alterações
comportamentais e gastrointestinais.
Foram utilizados artigos apartir de 2012, para uma
fundamentação teórica mas atualizada. Utilizamos o termo de
consentimento livre e esclarecido (TCLE) com os participantes
da pesquisa e submetido ao comitê de ética em pesquisa por
se tratar de uma pesquisa com seres humanos.
A pesquisa foi aplicada em dois locais, na Associação
Paraibana de Autismo (APA) situado na rua Sebastião Avelino
rocha, 193 – Jardim São Paulo, João Pessoa –PB e na
Associação de Pais, Amigos e Simpatizantes do Autismo
(ASAS) Situado na Avenida Vasco da Gama 1033 –
Jaguaribe, João Pessoa –PB com participação de 21 mães.

941
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa realizada mostra que a prevalêcia de


meninos portadores desse transtorno é maior que em
meninas, podendo concluir que do total de 21 crianças
entrevistados apenas 5 meninas foram encontradas nas
associações, onde a pesquisa foi realizada. Existem relatos
que para cada 1000 crianças que nascem 2/3 é do sexo
masculino e 1/3 do sexo feminio (CARVALHO et al.,2012).
“Tabela (1)” a pesquisa revelou uma prevalência do
transtorno no sexo masculino, sendo indentificado pelos pais
ou cuidadores a partir de dois anos de idade, devendo ser
observados desde a infância alguns sinais, tais como;
anormalidade sensorial e motora, perturbações do sono,
hiperatividade, crises de epilepsia, momentos de
agressividade, bipolaridade, ansiedade, entre outras
manifestações atípicas, sendo necessária uma intervenção
multidisciplinar.

Tabela 1. Faixa Etaria ( idades)


Nº idade (ano) Masculino Feminino
Nº 16 (76,19%) 5 (23,81 %)
Faixas de idades 2 a 12 4 a 12
Fonte: Próprio estudo (2017)

A criança autista possui dificuldades na interação social


podendo manifestar-se com o isolamento ou relação
interpessoal, possui dificuldades no contato visual com outras
pessoas, não interagem em grupos, apresentam indiferença
afetiva tem dificuldade em demonstrar afeto e apresenta
empatia social ou emocional.

942
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
Os que apresentam capacidade expressiva adequada
sofrem dificuldades de iniciar e manter uma interação
apropriada, não compreende a linguagem verbal e não verbal,
problemas para interpretar linguagem corporal e expressões
faciais (SANTOS, 2015).
Um estudo realizado em 2011 numa cidade brasileira
mostou uma prevalência de 0,3% de pessoas com TEA, nos
últimos tempos essa prevalência vem aumentando tornanado
essa síndrome uma epidemia mundial mas com nenhuma
causa definida e as intervenções de tratamento ainda não são
comprovadas suas eficácias (LEAL et al., 2013).
São enumerados fatores que contribuem para o
surgimento desta síndrome como: fator genético, gene-
ambiete, herdabilidade de gêmeos, fatores pré e peri- natais, a
idade avançada das mães, entre outros. Porém não tem uma
definição comprovada necessitando de mais aprofundamento
nos estudos sobre a relação desses fatores com os casos de
autismo.
Segundo Castro (2016) as características do TEA são
amplas e sua etiologia ainda são desconhecidas com
inúmeras teorias acerca do surgimento, são relatados que pelo
menos 15% estão associados com múltiplos defeitos de
genes, sendo correlacionado como um fator genético ou
ambiental.
Tabela (2) a pesquisa revelou que o total das crianças
entrevistadas participam de escolas regular e nas associações
que exerce um papel importante dando um suporte
educacional mais avançado a essas crianças com transtorno.
As escolas especiais como as associações de apoio a criança
autista devem trabalhar fatores como, sociabilidade e relação
interpessoal, conhecimentos educacionais regulares,

943
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
utilizando a ferramenta como ABA (Análise do comportamento
aplicada) e o Teacch (Ensino estruturado) em resposta as
dificuldades de aprendizado apresentadas por essas crianças.

Tabela 2. Participação Escolar


Descrição Meninos Meninas
Escola apenas 0 0
regular
Escola apenas 0 0
especial
Escola regular/ 16 5
especial (76,19%) (23,81%)
Fonte: Próprio estudo (2017)

Em 2012 surgiu a lei 12.764/12 cujo nome é Berenice


Pianna. Essa lei assegura a proteção dessa síndrome o direito
a educação e ensino profissionalizante e direito de ter uma
acompanhante especializado na classe de ensino regular.
(ALMEIDA, 2016).
Essa lei assegura a criança o direito de ter um
acompanhamento de um profissional habilitado nos
conhecimentos de ABA e TEACCH garantindo um melhor
aprendizado e desenvolvimento a estas crianças nas escolas
regulares ou especiais.
As dificuldades do autista na relação com outras
crianças a má socialização podem manifestar nessas crianças
isolamento ou relação interpessoal, com agressividade a
outras pessoas ou em si próprio, eles apresentam dificuldades
no contato visual, no ambiente escolar, não interagem em
grupos, apresentam indiferença afetiva, dificuldade em
demonstrar afeto, apresentam empatia social ou emocional,
por isso a importâncias de inclusão da crianças com TID’S

944
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
(Transtorno Invasivos do Desenvolvimento) nas escolas
regulares e especiais.
Algumas crianças têm capacidade de se expressar mas
apresentam dificuldade de iniciar e manter uma interação
apropriada, não compreende sutilezas de linguagem, piadas
ou sarcasmo, bem como problemas para interpretar linguagem
corporal e expressões faciais.
É necessário que os educadores ou cuidadores
obserevem as criancas autistas pois apresentam dificuldades
de expressar dores, fome ou vontade de fazer necessidades
fisiológicas, para que não ocorra na sala de aula e possam
sentir- se constrangido no ambiente escolar.
“Tabela (3)” revelou que as mães não fazem restrição da
caseína e ao glúten representado 90% do total, por não
apresentarem alergias nem intolerância as ambas proteínas.
Mães afirmaram não observar alteração no comportamento
da criança após o consumo destas proteínas.
As mães que fazem a restrição ao glúten e ou caseína,
está relacionado a uma patologia já identificada, como alergia
ou intolerância as proteínas glúten ou caseína, embora a sua
situação econômica dificulte a obtenção desses alimentos por
não serem acessíveis pelos elevados custos, por não
possuírem tempo necessário para preparar as refeições
separadas, além dessas dietas terem a capacidade de ser
socialmente criticada.
Um problema encontrado nessas restrições
é a dificuldade de saber como e onde comprar alimentos com
a restrição e eliminar possíveis contaminações cruzadas com
outros alimentos, ou seja, falta conhecimento de muitos
profissionais da área de saúde (CAROLINE, 2015).

945
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
Os produtos da indústria alimentícia trazem em seu
rótulo a identificação da presença ou não de glúten mas existe
uma preocupação quanto a utilização de farinhas que contém
o glúten e não informam isto no rótulo, como remédios,
vitaminas ou temperos.
Estudos tem mostrado que uma dieta livre de glutén e
caseína trás melhoria na qualidade de vida dessas crianças já
que tais proteínas servem de gatilhos para crises
comportamentais, inflamações gastrointestinais, e alergias
(LEAL, et al., 2013).
Conforme a “Tabela (3)” uma dieta insenta de glutén e
caseína pode influenciar nas melhoras das crises
comportamentais, alergias e transtornos gastrintestinais, essa
restrição deve ser feita com uma intervenção nutricional para
que não ocorra carências nutricionais para as crianças
autistas.

Tabela 3. Restrição, Alergias, Intolerância


Descrição Sim Não Não avaliado %
Restrição a caseína (10%) 19 (90%) 0%
Restrição ao glúten (14.2%) 17 (81%) (4,8%)
Alergia a caseína (4,8%) (76,2%) (19%)
Alergia ao glúten (0%) (71,4%) (23.8%)
Intolerância a caseína (4,8%) (71,4) (19%)
Intolerância ao glúten (9,5%) (76,2%) (14,2%)
Total % 21 Crianças
(100%)
Fonte: Próprio estudo (2017)

Algumas intervenções nutricionais devem ser feitas


como a suplementação da vitamina B9 (ácido fólico) que
possui a função indispensável para o desenvolvimento, na

946
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
manutenção da função cerebral e na síntese de lipídios,
associando uma melhora no comportamento do autista.
A suplementação da vitamina D relacionando com a
melhoria das perturbações nutricionais do autista, modulação
da imunidade e autoimunidade e auxiliam na ativação de
genes.
Estudos tem mostrado que a suplementação com ácido
Ômega 3 manifestaram melhoras significativa no
comportamento e na concentração no contato visual na
linguagem e na capacidade motora da criança autista.
Por isso ao aderir a dieta SGSC precisa-se ter
consciência das deficiências nutricionais mais comuns em
neuropatias que são de ômega-3, vitaminas do complexo B,
minerais e aminoácidos, que são essenciais na formação de
neurotransmissores, responsáveis por trazer equilíbrio no
sistema nervoso central (LEAL et al., 2015).
Não é fácil obter uma dieta livre de glúten e
caseína, a mudança na alimentação da criança deve ser lenta
e gradual, para que se possa ter maior sucesso em sua
conquista. (MOURA; NASCIMENTO; RAMOS, 2013).
“Figura 1” revela que um pouco mais de 50% das mães
responderam não apresentar manifestações TGI (Trato Gastro
Intestinal), nem flatulência e dores abdominais.
Quanto as diarreias e constipações apresentam com
frequência, elevando uma porcentagem de 70% de acordo
com as respostas das mães.
Alimentos que tenham em sua base centeio, cevada,
glúten, aveia e caseína formam exorfinas que prejudicam o
organismo, esses peptides são resistentes a digestão pela
enzimas gástricas e pancreáticas, atravessando a parede
intestinal, entrando na circulação sanguínea de forma intacta

947
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
ocasionando resposta inflamatórias na mucosa intestinal,
tornando a função digestiva e a absorção limitada, acarretando
um desequilíbrio no sistema imune, causando um processo de
disbiose intestinal, podendo ser manisfestadas em diarréias ou
constipação.
A proteína é capaz de gerar distúrbios em diversos
sistemas, incluindo o gastrointestinal e desordens autoimunes,
com o surgimento de doenças alérgicas ou autoimunes do
sistema nervoso central (SILVA, 2015).
Os peptídeos além de afetar o TGI eles atuam no
cérebro quando má digeridos e absorvidos são transformados
em caseiomorfinas, gluteomorfinas e gliadomorfina, todos
atuam no cérebro, pois apresentam função similar aos
opiláceios como a morfina e o ópio que atingem o cérebro e
passam a atuar como receptores dessas substâncias
causando alteração no metabolismo cerebral, afetando a fala e
a integração de audição, promovendo redução dos números
de células nervosas e a inibição de alguns
neurotransmissores.
As células do epitélio intestinal são chamdas de enterócitos,
tem a função de quebrar o alimento e proporcionar nutrição ao
organismo, isso só ocorre quando se tem uma boa flora
intestinal.
No caso das criancas portadoras do TEA isso não
ocorre por não apresentarem renovação adequada destas
células ocasionando desequilíbrio entre as bactérias
protetoras e agressoras do intestino, causando algumas
reações na criança como constipação ou diarréias frequentes.
Por isso a importância de uma alimentação sem Glutém e
caseína evitando esses desconfortos abdominais que causa

948
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
irritabilidade alterando o comportamento da criança tendo em
vista que estão interligados com a alimentação.
Criancas autistas podem apresentar quadros gastrointestinas
em um padão de fezes anormais, constipação, flautulências,
dores abdominais, inchaço e vômito confirmada na “Figura
(1)”.
Figura 1 Manifestações Gastrointestinal
80,00%
70,00%
60,00%
50,00%
40,00%
30,00%
20,00%
10,00%
0,00%

Sim Não Não avaliado

Fonte: Próprio estudo (2017)

Crianças com espectro autista são mais propensas a


terem desequilíbrio gastrointestinais e imunológica, por não
apresentarem renovação correta das células (GAZOLA;
CAVEIÃO, 2015).
Na “Figura 2” foi analisado o consumo alimentar
dessas crianças e observou- se que o consumo de alimentos

949
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
industriazidos muito elevado, relatados pelas mães que os
filhos consomem alimentos industrializados, como biscoitos
recheados, macarrão instantâneo, iogurte, dentre outros e
apenas 3 mães afirmaram que seus filhos não consomem
alimentos industrializados diariamente, por apresentar
algumas patologias, como alergia a caseína.
O consumo de frutas é bem aceitas pelas crianças,
algumas frutas como: banana, maçã, melão e melancia, são
citadas pelas mães. Porém devido possuírem seletividade
alimentar, algumas mães precisam altera a textura de algumas
frutas, de sólida para pastosa ou tranfromando em sucos
para melhor aceitação dos seus filho, o mesmo ocorre com
raízes e turbérculos, nas alterações das textura.

Figura 2. Consumo Alimentar


20%
18%
16% 18%
17% 17%
14%
12% 14%

10%
8%
6% 7%
4%
2% 4% 4%
3%
0%
alimentos frutas legumes raizes e turbeculos
industrializados

Sim Não

Fonte: Próprio estudo (2017)

950
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
Alimentos como glutén, caseína, glutamato, espartante
e corantes devem ser banida da dieta dessas crianças,
estudos o efeitos desses alimentos dificulta a concentração,
causa alteração no comportanto, retardo na linguagem verbal,
disbiose intestinal e dificuldades para dormir (GAZOLA;
CAVEIÃO, 2015).
As crianças autistas apresentaram recusa a algumas
texturas e preferências a algumas cores de alimentos,
possuem aversão em experimentar novos alimentos, o cheiro
e a temperatura também contribui para a relutâncias em
experimentar novas comidas.
Mães relataram a preferências da textura pastosa por
partes das crianças, algumas não consomem líquidos, como
sucos e água, tendo dificuldade de inserir essa textura na
alimentação dos filhos, podendo ocasionar uma desidratação,
desequilíbrio hidroeletrolítico, comprometendo seu rendimento
físico e intelectual acarretando prejuízo a saúde do indivíduo.
Com tudo, a seletividade alimentar é um desafio
tornando fundamental um trabalho multiprofissional com
médicos especializados, psicólogos e nutricionistas
capacitados diminuindo as deficiências nutricionais e oferecer
uma qualidade de vida melhor para as crianças com a
síndrome e trazendo aconselhamento para os familiares sobre
o comportamento dos filhos em relação as refeições,
minimizar as recusas alimentares por partes dessas crianças,
com isso melhoranado a qualidade de vida da criança e de
todo o núcleo famíliar.

951
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
4 CONCLUSÕES

Portanto, as alterações gastrointestinais, seletividade


alimentar e alterações metabólicas, conduz a uma perda
nutricional e um aporte proteíco necessário para um bom
desenvolvimento da criança.
Os resultados vistos neste artigo contribuíram para
melhoria no comportamento das crianças autistas mas não há
um consenso entre os autores, haja vista que cada criança
com autismo apresentam suas características peculiares.
Essa pesquisa mostrou uma necessidade de um estudo
com maior amostragem e profundidade para comprovar as
evidencias relatadas e quanto é difícil os pais seguirem a uma
dieta restiritiva a essas crianças tanto por falta de
conhecimentos como por falta de incentivos dos profissionais
de saúde, visto que é muito conflitante os resultados quando
comparado com a literatura.
Sobre tudo, podemos afirmar que uma alimentação isenta
de glúten e caseína podem trazer benefícios para uma saúde
gastrointestinal e uma melhora nos processos inflamatórios e
comportamentais das crianças portadora deste transtorno.

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CRIANÇA AUTISTA
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(Mestrado) – Faculdade de Medicina. Universidade Federal
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Transtorno do Espectro Autista. Caderno da Escola de
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MARQUES, Isabella; CASTRO, Fabiola; Evidências da
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e Transtorno do Espectro Autista (TEA) 2016 f. 18 Trabalho
acadêmico (Bacharel em Biomedicina) Centro Universitario
de Brasilia, Faculdade de Ciência e Saúde, Brasilia, 2016.
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conhecimento de estudantes da área da saúde a respeito do

953
INFLUÊNCIA DA PROTEÍNA GLÚTEN E CASEÍNA NO COMPORTAMENTO DA
CRIANÇA AUTISTA
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trabalho acadêmico (graduanda em nutrição) – Faculdade
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OLIVEIRA, Ana. Intervenção Nutricional no Autismo. Porto.
p.1- 26, 2012.
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Universitário de Brasília. Brasília, 2013.
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Monografia (Graduanda em Farmácia) – Faculdade de
Pindamonhangaba. Pindamonhangaba, 2015.

954
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
CAPÍTULO 48

CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA


FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE IDADEEM
UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM
SAÚDE
Lígia Celli Marques BESERRA 1
Clodoaldo Vieira dos SANTOS 2
Drízia Skarlet Medeiros DANTAS 2
Suellen Duarte de Oliveira MATOS 3
Ana Carolina Dantas Rocha CERQUEIRA 4
1
Graduanda do curso de Enfermagem, UFCG; 2 Bachareis do curso de Enfermagem, UFCG;3
Professora do DENC/UFPB, Doutoranda em Enfermagem pelo PPGENF/ UFPB; 4Professora
Doutora em Enfermagem /UFCG.
ligiacmb@gmail.com

RESUMO: Uma boa alimentação e nutrição são fatores


essenciais para que ocorra a promoção e a proteção a saúde.
Objetivo: Investigar o consumo alimentar de crianças de 0 a 1
ano de idade atendidas por um serviço de atenção primária no
município de Cuité- PB. Metodologia: Trata-se de um estudo
de caráter quantitativo, transversal realizado no município de
Cuité- PB, na Unidade Básica de Saúde da Família Luíza
Dantas de Medeiros, tendo como público alvo crianças na
faixa etária compreendida entre 0 a 1 ano de idade.
Resultados: A maioria das mães possuíam baixo nível de
escolaridade e uma renda familiar baixa. Como também, a
maioria das crianças mamaram na primeira hora de vida;
crianças que deveriam estar em aleitamento materno
exclusivo estão utilizando outros alimentos em tempo precoce,
especialmente chá e água; o tempo total de aleitamento
materno esteve aquém do preconizado para a faixa etária
estudada; e nas crianças que já estavam em alimentação
complementar (crianças de seis a doze meses) foi evidenciada

955
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
uma introdução incorreta de alimentos, a citar: o baixo
consumo de frutas, verduras, legumes, carne, feijão e fígado.
Considerações Finais: Faz-se necessário a sensibilização
das mães a respeito da importância do aleitamento materno,
para que estas persistam nessa prática, respeitando o tempo
estimado pelos órgãos de proteção a saúde (MS e OMS).

Palavras-chave: Aleitamento Materno. Criança. Consumo de


Alimentos.

1 INTRODUÇÃO

As práticas alimentares nos primeiros anos de vida irão


influenciar nas outras fases de vida do indivíduo. O ato de
alimentar- se é uma prática social, que envolve a cultura e as
relações familiares. Nesse contexto a mãe, que é a principal
cuidadora, tem papel fundamental na formação dos hábitos
alimentares da criança (LIMA et al, 2014).
São numerosas e já estabelecidas pela literatura
científica as vantagens do Aleitamento Materno (AM) para a
saúde do binômio mãe–filho, a citar: para o bebê, ajuda no
fortalecimento do sistema imunológico e na prevenção de
doenças, além de promover a saúde física, mental e psíquica
da criança, previne a mortalidade infantil, previne contra a
diarreia ou constipação, diminui o risco de alergias e melhora
o sistema respiratório (COSTA et al, 2013; SILVA, 2013).
Os benefícios também são estendidos a mãe, diminui o
risco de câncer de mama e de ovário, e também auxilia na
perda de peso de forma natural. No momento da
amamentação são estimulados entre a mãe e o bebê o

956
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
contato físico, promovendo o vínculo afetivo entre ambos
(COSTA et al, 2013; SILVA, 2013).
A Pesquisa de Prevalência de Aleitamento Materno
(PPAM), realizada nas capitais brasileiras e no distrito federal
em Outubro de 2008, por meio da aplicação de questionário
sobre as práticas alimentares no primeiro ano de vida, que
contou com a participação de 227 municípios e a participação
de aproximadamente 120.000 crianças com idade abaixo de 1
ano em todo o território nacional, mostrou que o tempo
recomendado pelo MS e OMS para a amamentação não está
sendo respeitado (BRASIL, 2013; ALVES et al, 2012).
Pode ser observado por meio dessa pesquisa a
introdução de outros alimentos logo no primeiro mês de vida,
como a introdução de chás em 15,3%, águas em 13,8% e
outros tipos de leite em 17,8% das crianças que se
submeteram a pesquisa e também que 25 % das crianças
entre três e seis meses de vida consumiam comidas salgadas
e frutas (BRASIL, 2013; ALVES et al, 2012).
O primeiro ano de vida apresenta como característica
um rápido crescimento e desenvolvimento do indivíduo, que
demandam diferentes quantidades de nutrientes para que
esse processo ocorra de maneira satisfatória. Se houverem
alterações nesse processo, provavelmente a causa será um
déficit nutricional, desta forma é de fundamental importância
que nessa fase da vida existam bons hábitos alimentares
(SOUSA, 2015).
As condições nutricionais e metabólicas do indivíduo
serão influenciadas de acordo com as práticas alimentares
que existirão, principalmente, nos primeiros anos de vida. Para
que o desenvolvimento humano ocorra de maneira satisfatória
é necessário que exista uma correta prática alimentar,

957
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
principalmente nos estágios iniciais do desenvolvimento
(BRASIL, 2015).
Os futuros hábitos alimentares são formados de acordo
com as práticas alimentares no primeiro ano de vida, nesse
período podem ser realizadas intervenções educativas
voltadas a nutrição, visando a promoção e a prevenção em
saúde através de uma correta alimentação, diante disso é
necessário que se tenha um conhecimento correto sobre
essas práticas (SOUSA, 2015; FREITAS, 2016).
Uma alimentação e nutrição adequadas contribuem
para promoção e a proteção da saúde dos indivíduos,
auxiliando assim para que ocorra o desenvolvimento e
crescimento adequados, garantindo assim uma melhor
qualidade de vida (BRASIL, 2013).
A alimentação até os 6 meses de vida da criança deve
ser feita exclusivamente com o leite materno, garantindo assim
que todas as necessidades nutricionais do bebê sejam
supridas, e ajudando na construção do vínculo afetivo entre
mãe e filho (BUENO, 2013).
É por meio da amamentação que o bebê recebe água
suficiente para sua hidratação, vitaminas, sais minerais,
energia, carboidratos, lipídios, proteínas e vitaminas em
quantidades suficientes para as demandas nutricionais da
criança além de garantir proteção contra infecções. O leite
materno ainda contem endorfinas que ajudam na diminuição
da dor e reforçam a atuação das vacinas (BUENO, 2013;
OLIVEIRA; PARREIRA; SILVA, 2014; MELO; GONÇALVES,
2014).
Após os 6 meses outros alimentos podem ser
introduzidos na alimentação da criança. Esses alimentos são
chamados alimentos complementares ou alimentação

958
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
complementar, isso ocorre porque a partir dessa idade a
criança vai necessitar de outros nutrientes que vão contribuir
para o seu desenvolvimento e que apenas o leite materno não
oferece. Esses alimentos devem oferecer quantidades
satisfatórias de água, energia, proteínas, gorduras e minerais,
e devem ser economicamente acessíveis e culturalmente
aceitáveis (MENDES, 2014; BRASIL, 2015).
É importante que os pais ofereçam os alimentos para a
criança, pois eles são responsáveis pela promoção do
ambiente onde a criança irá vivenciar suas primeiras
experiências alimentares (SAMPAIO et al, 2013).
Para que o indivíduo tenha uma boa saúde se faz
necessário que ele tenha uma boa alimentação. Neste sentido,
o enfermeiro tem, como uma de suas funções, informar e
conscientizar a respeito de hábitos alimentares corretos. Essa
conscientização deverá ser feita para o indivíduo, família e
comunidade, afim de que estes adotem uma alimentação mais
saudável, tendo assim uma melhor qualidade de vida e
ajudando a proteção da saúde (MAGALHÃES, 2012).
Tendo como foco a atenção nutricional no Sistema
Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Alimentação e
Nutrição (PNAN), foi aprovada no ano de 1999, e tem como
objetivos promover práticas alimentares saudáveis e prevenir
e controlar distúrbios nutricionais da população brasileira
(BRASIL, 2013).
Os Dez passos para uma alimentação saudável tem
como objetivo nortear a prática profissional e orientar com
relação as práticas alimentares. Nele estão descritos as
etapas que os profissionais devem realizar para ajudar a
melhorar as condutas alimentares da população (BRASIL,
2015).

959
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
Desse modo, este estudo tem os seguinte objetivo
investigar o consumo alimentar de crianças de 0 a 1 ano de
idade atendidas por um serviço de atenção primária.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata- se de um estudo de caráter quantitativo,


transversal, realizado no município de Cuité- PB.
Considerando a rede de atenção a saúde no município de
Cuité, a presente investigação foi realizada na UBS Luíza
Dantas de Medeiros, visto que o monitoramento das práticas
alimentares infantis possui como eixo a ESF.
Foram estudadas todas as crianças cadastradas e
acompanhadas pela UBS Luíza Dantas de Medeiros que no
período da coleta de dados possuíam idade compreendida
entre 0 e 1 ano. Considerando o quantitativo de crianças nesta
situação, procedeu-se um levantamento censitário que incluiu
34 crianças. Foram considerados como critérios de exclusão a
prematuridade, a presença de algum tipo de déficit neurológico
ou má formação congênita grave que interferisse na
alimentação.
A coleta de dados ocorreu no período de Maio a Junho
de 2017, durante as consultas de puericultura na Unidade
Básica de Saúde, por meio da utilização do Formulário de
marcadores de consumo alimentar do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional (SISVAN).
O Formulário de marcadores de consumo alimentar
encontra-se disponível na página http://189.28.128.100/dab/do
cs/portaldab/documentos/ficha_marcadores_alimentar.pdf,sen
do utilizado na rotina dos serviços de saúde para identificar as
práticas alimentares saudáveis e não saudáveis, e tem como

960
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
objetivos simplificar a coleta de dados e análise das
informações obtidas no momento do atendimento individual. O
Formulário encontra-se dividido por três faixas de idade, que
compreendem: i) crianças menores de 6 meses; ii) crianças de
6 a 23 meses; iii) crianças com 2 anos ou mais, adolescentes,
adultos, gestantes e idosos. Para alcance dos objetivos deste
estudo, que é de investigar crianças de zero a um ano,
utilizou-se apenas as duas primeiras partes do instrumento.
Os dados foram compilados e analisados com o auxílio
do programa Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS) versão 17.0, gerando gráficos e tabelas com
frequências e percentuais.
Atendeu-se a Resolução nº 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde (BRASIL, 2012), quanto aos aspectos
éticos da pesquisa envolvendo seres humanos. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de
Campina Grande sob protocolo nº 1. 941. 569

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta pesquisa a maioria das mães (79,41%) tinha


entre 20 e 35 anos, isto é positivo pois de acordo com
Boccolini (2015) as mães que estão em uma faixa etária
intermediária, são mais praticantes ao aleitamento materno
exclusivo, e as mães adolescentes e aquelas com 35 anos ou
mais possuem uma tendência a interromper o AME em tempo
precoce (BOCCOLINI, 2015).
Quanto ao trabalho remunerado, 73,52% das mães
entrevistadas disseram trabalhar apenas dentro de casa. Para
Oliveira e cooperadores (2015), as mães que trabalham fora

961
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
de casa têm maiores chances de descontinuar a prática do
aleitamento materno precocemente.
Na pesquisa foi observado que a maioria das mães
entrevistadas mantinham união estável (58,82%) ou eram
casadas (17,64%). Apesar de ser sabido que a mãe ocupou
nesse estudo lugar de destaque no cuidado, não se pode
perder de vista a segurança emocional e financeira que a
presença de um companheiro garante a família. O pai passa
para a mãe segurança para ela e para o bebê, dessa forma
ele é visto como um suporte positivo para a prática do
aleitamento. Ter companheiro fixo contribui para o
prolongamento do tempo de lactação (LIMA; CAZOLA;
PÍCOLI, 2017; GRENDENE, 2015).
Machado (2014) mostra em seu estudo que 30% das
puérperas em tempo de até 4 meses após o parto
abandonaram a prática do AME, e que um dos fatores para o
abandono dessa prática é a falta de ajuda do companheiro,
fazendo dessa forma com que a mãe faça a interrupção de
maneira precoce desta prática. Apesar disso, um outro estudo
revela que mães que conversam com seus companheiros a
respeito do seu bebê, tem uma maior chance de
permanecerem em aleitamento materno por seis meses
(GRENDENE, 2015).
A maioria (32,35%) das mães entrevistadas na presente
pesquisa possuíam o ensino fundamental incompleto. Rigotti,
Oliveira, Boccolini (2015), em seu estudo, dizem que a
escolaridade materna menor que o 2º grau completo influencia
diretamente na prática da amamentação, observando uma
redução de 17% dessa prática em mães com esse nível de
escolaridade. Por outro lado, uma pesquisa nacional realizada
no ano de 2006 revelou que a duração média da

962
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
amamentação foi de 21 meses para mães que tinham menos
de 4 anos de estudo, e de 13,1 meses para aquelas que
tinham 9 anos ou mais de estudo (BRASIL, 2009).
A renda familiar foi relatada em 52,94% das entrevistas
como sendo menos de um salário mínimo. Isto é preocupante
pois quando a renda da família é pequena, a alimentação é
composta principalmente por produtos mais baratos que
possuem grande densidade energética, que satisfazem o
paladar, diminuindo assim os custos destinados a
alimentação, são alimentos ricos em energia, amidos,
açúcares e gorduras vegetais, por outro lado os alimentos
saudáveis são retirados, como os grãos de alta qualidade de
proteínas, hortaliças e frutas. Alimentos mais baratos estão
mais acessíveis, enquanto os alimentos naturais são mais
caros e requerem alguma maneira específica para o seu
preparo (BORGES et al, 2015).
No que concerne ao padrão de aleitamento adotado
pelas crianças nas figuras 1 e 2 permitem observar que do
conjunto de 34 crianças estudadas, considerando o AME e o
AMT 14 (41,2%) e 22 (64,7%) delas, respectivamente,
mantiveram um padrão de aleitamento coerente com o que é
preconizado para a idade em que as mesmas se encontram.
É importante ressaltar que apenas 14 crianças
possuíam seis meses ou mais na ocasião da coleta dos
dados. O dado apresentado por Ferreira (2013), que mostra o
crescente abandono do padrão de AME com o incremento de
idade, nos deixa alerta quanto a necessidade de seguimento
das crianças alvo da presente pesquisa no sentido de otimizar
a manutenção da taxa de AME com o avançar da idade, visto
que é sabido que a amamentação exclusiva até o sexto mês
de vida é o que mais previne mortes infantis além de contribuir

963
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
para a saúde física e psíquica da mãe e do bebê (BUENO,
2013).
Mesmo sendo comprovado cientificamente os
benefícios do AME até os 6 meses de vida da criança essa
prática não respeita o tempo preconizado pelos órgãos de
saúde (MS e OMS) por vários fatores. Muitas mulheres
acreditam que seu leite é fraco, ou que produzem pouco leite,
isso ainda ocorre devido a falta de informações que as
mulheres recebem a respeito dos componentes nutricionais do
leite (ALGARVES;JULIÃO; COSTA, 2015) .
Desta forma, não basta ao profissional de saúde ter
conhecimentos básicos e habilidades em aleitamento materno.
Ele precisa ter também competência para se comunicar com
eficiência, o que se consegue mais facilmente usando a
técnica do aconselhamento em amamentação. Aconselhar não
significa dizer à mulher o que ela deve fazer; significa 964nten-
la a tomar decisões, após ouvi-la, 964ntende-la e dialogar com
ela sobre os prós e contras das opções. No aconselhamento,
é importante que as mulheres sintam que o profissional se
interessa pelo bem-estar delas e de seus filhos para que elas
adquiram confiança e se sintam apoiadas e acolhidas. Em
outras palavras, o aconselhamento, por meio do diálogo, ajuda
a mulher a tomar decisões, além de desenvolver sua
confiança no profissional (DUNCAN et al, 2013).
As crianças participantes do estudo possuem uma
média de idade de 5 meses e 7 dias. De acordo com os
resultados descritos na tabela 02, é possível verificar que
entre as crianças participantes do estudo as do sexo feminino
estavam em maior número em relação as do sexo masculino,
contemplando uma porcentagem de 55,88%.

964
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
De acordo com as informações coletadas na caderneta
de saúde da criança foi observado que a maioria (94,11%)
tiveram peso maior ou igual a 2500g ao nascer. De acordo
com Boccolini, Carvalho e Oliveira (2015) é possível associar
positivamente crianças com peso ao nascimento adequado em
AME em 3 de 21 estudos que investigaram essa relação. Por
outro lado as crianças que apresentam baixo peso ao nascer
tem mais tendência a ficarem internadas em UTI neonatal,
ficando dessa forma longe de suas mães, e essas crianças
podem apresentar uma certa dificuldade em iniciar ou manter
o aleitamento materno.
Quanto a idade gestacional 41,17% nasceram a termo.
O tipo de parto mais prevalente foi o parto normal com uma
porcentagem de 61,76%. Entre as crianças estudadas 76,47%
precisaram de internamento ao nascer e 67,64% não
apresentaram nenhum problema de saúde no último mês.

FIGURA 1 – Distribuição das crianças segundo a idade


considerando o tempo de aleitamento materno exclusivo.
Cuité- PB, 2017

Fonte: dados da pesquisa, 2017

965
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
No presente estudo, por sua vez, no que diz respeito ao
tempo de AME, 14 das 34 crianças estudadas (41,2%)
mantiveram a prática do AME em acordo com a idade.

FIGURA 2 – Distribuição das crianças segundo a idade


considerando o tempo de aleitamento materno total. Cuité- PB,
2017

Fonte: dados da pesquisa, 2017


Quanto ao tempo de AMT observa-se um desmame
precoce, pois todas as crianças ainda deveriam estar sendo
amamentadas, visto que a OMS preconiza o AM até os 2
anos. Vinte e duas das 34 crianças estudadas (64,7%)
mantêm a prática do AMT em acordo com a idade. Apesar
deste resultado ser mais positivo quando comparado ao tempo
de AME, é importante salientar que nenhuma criança incluída
na presente investigação possuía mais de um ano, e que
58,8% delas tinham menos de 6 meses. Logo, sugere-se
seguimento com igual rigor para este conjunto de crianças,
pois as mesmas não podem optar para serem amamentadas,
é um direito delas, para que possam ter qualidade de vida e

966
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
crescer sadias física e mentalmente. As crianças que não são
amamentadas com leite materno tem maiores chances de
serem desnutridas (BUENO, 2013).
No que diz respeito as práticas alimentares nos
primeiros meses de vida no estudo de Ferreira (2013), foi
observado que 94,7% das crianças mantiveram o AME
durante o primeiro mês de vida, 78,92% no terceiro mês,
31,52% no quinto mês e apenas 15,78% até o sexto mês de
vida. Em um outro estudo, realizado em Pelotas, referente ao
padrão alimentar em crianças na faixa etária compreendida
entre 0 e 3 meses de vida, foi revelado que ao final do 3º mês
apenas 39% estava em AME, e 61% já havia desmamado
(GRENDENE, 2015).
Igualmente importante a manter uma prática de
aleitamento materno dentro dos padrões preconizados pelo
Ministério da Saúde, é aderir a introdução oportuna da
alimentação complementar, pois se forem oferecidos
alimentos ao bebê em desacordo com a idade na qual as
mesmas estarão prontas para consumi-los esses alimentos
poderão causar lesão do intestino (GERMOGLIO, 2014).
Quanto aos questionamentos feitos aos responsáveis
pelas crianças de zero a seis meses com relação ao padrão
de consumo de leite materno no dia anterior, a quantidade de
vezes que o alimento foi consumido e se a criança consumiu
outros tipos de alimentos além do leite materno. Ao observar
esta tabela é possível verificar que 78,94% das crianças
encontram-se em amamentação (exclusiva ou complementar),
5,26% relataram o consumo de mingau, 21,05% de água/chá,
15,78% de leite de vaca, de fórmula infantil, suco de fruta e
fruta 5,26% e de comida de sal e/ou outros alimentos/bebidas
10,52%.

967
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
Grande parte das crianças da pesquisa (78,95%) não
tiveram água/chá introduzidos na sua alimentação até os 6
meses de idade. Saldan (2015), mostram em seu estudo que
mais de 25% de crianças com idade abaixo de 6 meses
fizeram consumo de água ou chá de maneira precoce. É
fundamental que a mãe esteja ciente de que o consumo de
água ou chá durante o processo de amamentação até o sexto
mês faz com que o mesmo deixe de se configurar como
exclusivo, e contribui de forma negativa para a saúde da
criança pois, o consumo de chás em crianças menores de 6
meses de idade pode aumentar as chances da criança
desenvolver quadros de diarreia (ALGARVES; JULIÃO;
COSTA, 2015; GRENDENE, 2015).
Nesse estudo 84,21% das mães de crianças na faixa
etária de 0 a 6 meses relataram que não deram a seus filhos
leite de vaca no dia anterior ao da pesquisa. Para Bortolinia
(2013), 40,1% de crianças menores de seis meses fizeram
consumo de outros leites que não o leite materno, e das que
possuíam idade entre seis e doze meses 77,1% fizeram
consumo de outro tipo de leite que não o materno. Este
mesmo estudo acrescenta que as crianças menores de 6
meses que moram na região Nordeste são as que mais fazem
uso de outro tipo de leite que não o leite materno (48,7%) no
período de aleitamento (BORTOLINIA et al, 2013).
A maioria das crianças (94,73%) alvo do estudo de 0 a
6 meses não fizeram uso de fórmula infantil. Melo e Gonçalves
(2014), salientam que crianças que são alimentadas com
fórmulas são mais propensas a desenvolverem alterações
gastrintestinais, soma- se a isso o risco de contaminação
desse alimento no momento do preparo e as alergias
alimentares devido a proteína presente no leite de vaca.

968
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
4 CONCLUSÕES

É na infância que os hábitos alimentares são formados


e estes podem acompanhar a criança até a vida adulta, bem
como contribuir para que esta seja um adulto com mais
qualidade de vida. O desenvolvimento deste estudo permitiu
conhecer a respeito das práticas alimentares em crianças de 0
a 12 meses de idade cadastradas em um serviço de atenção
primária a saúde do município de Cuité, Paraíba, sendo pois
relevante no processo de identificação de perfis de risco para
possíveis intervenções.
A prática do aleitamento materno é muito importante
visto que, o leite materno oferece todos os nutrientes que a
criança necessita, sendo esta prática recomendada pelo MS e
OMS de maneira exclusiva até o sexto mês de vida da criança
e a partir dos 2 anos de idade complementada com outros
alimentos. Um dos pontos observados durante a realização do
estudo foi o não cumprimento, por boa parte da amostra, ao
tempo preconizado para as práticas de aleitamento exclusivo e
total, bem como a introdução de outros alimentos realizada de
maneira precoce quando as crianças ainda deveriam estar em
AME, e a escolha por alimentos inadequados quando da
alimentação complementar requerida. Considerando as
características da população de estudo alguns fatores que
possivelmente podem responder por este perfil alimentar
foram: a renda familiar, a escolaridade materna, idade
materna.
Faz-se necessário a conscientização das mães a
respeito da importância do aleitamento materno, para que
estas façam essa prática respeitando o tempo estimado pelos
órgãos de proteção a saúde, bem como que realizem a

969
CONSUMO ALIMENTAR DE CRIANÇAS NA FAIXA ETÁRIA DE 0 A 1 ANO DE
IDADE EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE
introdução em tempo oportuno de outros alimentos e de uma
alimentação saudável, para o bom crescimento e
desenvolvimento das crianças. É importante que a família
reconheça os benefícios que o AM traz para todos os
envolvidos neste processo, bem como que sejam ensinados
sobre as melhores escolhas possíveis no que diz respeito a
introdução de alimentos, considerando o contexto social de
cada família, e do momento oportuno para implementa-las.
O aconselhamento é visto como uma das estratégias
mais bem sucedidas, pois vai ajudar os cuidadores a tomar as
decisões corretas. A orientação sobre hábitos alimentares
corretos deve ser realizada junto aos cuidadores e a família,
com sensibilidade por parte do profissional e de maneira clara
e objetiva. Essas orientações vão ajudar a diminuir os níveis
de desmame precoce na população.
O enfermeiro tem papel de educador, mas também
deve respeitar os conhecimentos e a realidade que a sua
população vive. Essas orientações devem ser feitas
embasadas no que preconiza o MS, e devem ser feitas desde
as consultas de pré-natal até o crescimento da criança, e se a
mãe não for a única cuidadora da criança, estas orientações
devem ser feitas a outros membros da família.

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974
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
CAPÍTULO 49

NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE
PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO
EMISSORAS DE TELEVISÃO
Tatiana Sales de OLIVEIRA ¹
Dayanna Joyce Marques QUEIROZ ²
Jessica Bezerra dos Santos RODRIGUES ³
1
Graduanda do curso de Nutrição, Faculdade Maurício de Nassau; 2 Orientadora/Professora
Me. Do curso de Nutrição /UNINASSAU; 3 Professora Dr. Do curso de Nutrição/ UNINASSAU.
tatiananutri@outlook.com.br

RESUMO: Na atualidade a mídia é foco de discussão entre


diversas áreas da saúde quando o tema se trata de
consumidor infantil. O marketing é usado pelas indústrias
alimentícias a fim de atrair a atenção das crianças para
consumir seus produtos. Estima-se que as crianças
permaneçam entre cinco a seis horas por dia em frente à
televisão e que o hábito de assistir TV por várias horas pode
estar diretamente relacionado com o aumento da obesidade
na infância. Esse trabalho teve como objetivo investigar a
quantidade e as estratégias de propagandas infantis mais
apresentadas em quatro emissoras de televisão. Para isso foi
realizada uma pesquisa observacional onde coletaram-se os
dados através de gravação em vídeo em três diferentes
horários e foi observada a quantidade e frequência das
propagandas alimentares destinadas a esse público, bem
como os métodos de atração usados na divulgação do
produto. Os dados foram expressos em frequência,
percentuais e gráficos. Diante dos resultados da pesquisa é
possível identificar que ainda há uma quantidade relevante
dessas propagandas principalmente na TV aberta e que a

975
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
maioria delas utilizam meios e estratégias para incentivar o
consumo dos alimentos divulgados. O estudo aponta a
necessidade de empregar estratégias educacionais para
promover bons hábitos alimentares na infância, ajudando
assim na promoção de saúde e prevenção de doenças.
Palavras-chave: Hábitos alimentares. Infância. Propaganda.

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o marketing de produtos alimentícios,


principalmente aqueles destinados ao público infantil virou
foco de debate em diversas áreas da saúde (CARDOSO,
2008). Isso porque o foco das propagandas infantis são os
alimentos industrializados, que tendem a conter teores
elevados de sal, açúcares, gorduras saturadas e trans não
recomendados nutricionalmente nessa fase da vida por serem
pobres em nutrientes além, de contribuir no aumento das
Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs)
(BIOCHEMIST et al., 2017).
No Brasil a televisão surgiu pela iniciativa privada e até
hoje permanece, em sua maioria, com programas televisivos e
propagandas privadas. A publicidade é vendida nos intervalos
comerciais das atrações para a divulgação de vários produtos,
incluindo alimentícios (LANG; NASCIMENTO; TADDEI, 2009).
Desta forma, a mídia não está preocupada com a saúde das
crianças ou em passar uma informação de qualidade, e sim
em conquistar maiores índices de audiência para vender mais
espaços publicitários (HENRIQUES et al., 2012).
Na atualidade inúmeros fatores como, por exemplo, a
violência nas ruas e a ausência dos pais em casa na maior
parte do dia, leva com que as crianças permaneçam maior
tempo expostas à mídia televisiva, internet, vídeo games,

976
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
entre outros meios de divulgações de propagandas (FIATES;
AMBONI; TEIXEIRA, 2006).
De acordo com Henriques (2010) a criança brasileira é
uma das que mais assiste à televisão em todo o mundo. Hoje,
no país, os brasileiros assistem diariamente a quase cinco
horas de televisão, ou seja, a criança está exposta a um
bombardeio de marketing televisivo que, na sua maioria
incentivam o consumo de fast foods, salgadinhos, doces e
alimentos processados em geral.
O fato da criança não distinguir o que é publicidade de
entretenimento faz com que haja interferência nas suas
escolhas alimentares trazendo desde a infância hábitos
alimentares não saudáveis (MATTOS et al., 2010).
Diante do aumento do consumo de alimentos
industrializados inseridos cada vez mais cedo na infância,
podemos observar o aumento das DCNTs, entre elas estão:
diabetes, hipertensão e, principalmente, a obesidade. Para
prevenir que isso aconteça, deve haver uma educação
alimentar incentivando o consumo de alimentos “in natura” e
ricos em nutrientes, tendo como exemplo as frutas e verduras
(MOURA, 2010; SANTOS et al., 2012).
A má alimentação principalmente na infância vem
aumentando nos últimos anos, e como consequência,
trazendo danos a saúde da criança, seja a curto ou longo
prazo. Com isso faz-se necessário a inserção dos profissionais
de saúde, principalmente do nutricionista nesse contexto, que
precisa intervir de forma educativa trazendo para população a
definição de uma alimentação saudável e de como ter hábitos
saudáveis no dia a dia, inclusive diminuir ao máximo o
consumo de alimentos processados e tomar mais cuidado com
as propagandas (PONTES et al.,2009).

977
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
Nesse contexto, a pesquisa realizada tem como objetivo
investigar a quantidade e as estratégias de propagandas
infantis mais apresentadas em quatro emissoras de televisão,
observando a frequência e os horários das propagandas mais
anunciadas, além de identificar quais as estratégias de
marketing usadas nas propagandas alimentícias para atrair as
crianças.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O artigo caracteriza-se como uma pesquisa


observacional e descritiva. A pesquisa foi feita por meio da
observação de quatro canais de televisão, sendo dois canais
inseridos na TV aberta a todos os públicos e dois canais
inseridos na TV fechada ou por assinatura. Utilizou-se como
critérios de escolha para o estudo: dois canais abertos com
maior audiência no Brasil, denominados como Emissora A.1 e
Emissora A.2, e dois canais fechados com programações
exclusivas ao público infantil com maior audiência mundial,
denominados como Emissora F.1 e Emissora F.2.
Os dados foram coletados através de gravação em
vídeo das propagandas, sendo realizadas em duas fases: na
primeira a coleta foi realizada em dois dias na Emissora A.1 e
logo em seguida na Emissora A.2, totalizando quatro dias. As
gravações foram feitas nos seguintes horários, 8:00 às 10:00
horas, 14:00 às 16:00 horas e 20:00 às 22:00 horas. Na
segunda fase utilizou-se a mesma metodologia acima, porém
com as emissoras F.1 e F.2. O critério usado para definir o
período de coleta de dados está relacionado com a
programação televisiva destinada a diferentes públicos alvos

978
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
em cada horário. A metodologia foi estabelecida com base em
alguns estudos e artigos publicados nos últimos anos.
Ao total foram realizadas seis horas de gravações
diárias, durante oito dias consecutivos. O mecanismo para a
coleta de dados foi estruturado em dois princípios, são eles:
1. Quantidade de propagandas alimentares divulgadas em
cada emissora; quantas são destinadas ao público
infantil; com qual frequência são apresentadas.
2. Meios, instrumentos e estratégias utilizados para atrair
a atenção dos consumidores quanto ao dia/hora de
exibição, a temática, a emissora, o número de
repetições e o tempo de duração das propagandas.
Os dados obtidos na pesquisa observacional foram
avaliados, logo em seguida representados através de gráficos
e tabelas que mostram qual a interferência das propagandas
televisivas na construção dos hábitos alimentares na infância.
Em seguida, os dados foram tabulados no programa
Excel e expressos em tabelas e gráficos, demonstrado em
frequência e percentuais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante os oito dias foram gravadas 48 horas de


programação televisiva, sendo seis horas ao dia, em horários
distintos por dois dias consecutivos para cada emissora. No
qual foram encontradas 125 propagandas alimentares ou não.
Quando observado o número de propagandas por emissora,
destacou-se que a Emissora A.1 apresentou maior quantidade
de propagandas voltadas ao público infantil, sendo a mesma
um canal aberto. Também pode-se observar a predominância
dessas propagandas nos horários da manhã e tarde, que são

979
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
horários onde geralmente uma grande parte da população
infantil está assistindo a programação apresentada (Tabela 1).
A intencionalidade dos horários se constitui em uma estratégia
de marketing cada vez mais usada pelos anunciantes da TV
aberta (SANTOS et al., 2012).

Tabela 1. Propagandas Alimentares de Acordo com


Horário e Emissora Aberta ou Fechada
QUANTIDADE DE PROPAGANDAS (n)
Horário Horário Horário
EMISSORA
08:00 às 10:00 14:00 às 16:00 20:00 às 22:00
Total Infantil Total Infantil Total Infantil
A1 16 7 26 13 0 0
A2 16 8 10 7 2 0
F1 2 2 1 1 0 0
F2 0 0 0 0 0 0
Fonte: Dados da pesquisa. 2017

O estudo de Almeida, Nascimento e Quaioti (2002)


também demonstra que os comerciais de alimentos estão
distribuídos por todos os períodos do dia, o que para ele é
preocupante por já existirem evidências que comprovam o
aumento da exposição principalmente das crianças à TV e que
os comerciais influenciam no comportamento alimentar infantil
e estão diretamente relacionados com pedidos, compras e
maior consumo dos alimentos anunciados.
Na Tabela (1) é possível observar que as emissoras de
canais abertos apresentaram uma quantidade bem mais
relevante quando comparadas as emissoras de canais
fechados, que quase não apresentaram propagandas nesse
gênero. De acordo com Castro et al. (2009) a TV por
assinatura atende a um pequeno número de pessoas,

980
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
inseridas em extratos econômicos mais elevados, cerca de 6,2
milhões em 2008, quando comparadas ao imenso público que
assiste a TV aberta. Por este motivo, alguns anunciantes,
principalmente aqueles já renomados na indústria, preferem
investir em propagandas na TV aberta. Levando em
consideração que alguns canais por assinatura apresentam
programações específicas para as crianças, o que conta
mesmo na hora da publicidade é a quantidade de pessoas que
estarão assistindo ao produto anunciado.
Foram encontradas no total 125 propagandas, das
quais 58,4% (73) eram designadas a produtos alimentares e
30,4% (38) destinadas ao público infantil, ou seja, maior parte
das propagandas apresentadas nos horários analisados são
alimentares, sendo mais da metade destas, desenvolvidas
especificamente para as crianças. Podemos afirmar então que
a maioria dos comerciais analisados divulgavam produtos
alimentares infantis.
Na Figura (1) destacou-se do total de propagandas, as
alimentares e destas as propagandas infantis, é possível
observar a distribuição da quantidade de propagandas
encontradas de acordo com cada emissora, A.1, A.2, F.1 e
F.2.
Pode-se destacar que, apesar dos canais fechados não
apresentarem grandes quantidades de comerciais alimentares
destinados às crianças, observou-se o uso de outra estratégia
de marketing conhecida por merchandising, corroborando com
estudo de Castro et al. (2009) que também constatou o uso
dessa técnica em canais fechados. Os merchandisings são
rápidas chamadas dos produtos durante a programação, ou
seja, é uma publicidade inserida no programa que implica que
a criança tenha ainda mais dificuldade em distinguir o que é

981
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
entretenimento de publicidade. O que pode justificar a menor
quantidade de comerciais alimentares nessas emissoras em
relação às outras.

Figura 1. Percentual de Propagandas Infantis de Acordo


com Emissora e quantidade (%).

1900ral 67,7%
1900ral
1900ral
52,8 %
1900ral
1900ral 32.2 % Alimentares
1900ral 28.2 %
Infantil
1900ral
1900ral
30 %30 %
1900ral 0%
1900ral
Emissora Emissora Emissora Emissora
A1 A2 F1 F2

Fonte: Dados da pesquisa. 2017

Segundo Rodrigues e Fiates (2012) a criança brasileira


está exposta diariamente a um verdadeiro bombardeio
publicitário apresentando durante os intervalos comerciais e
até mesmo inseridos no próprio conteúdo da programação
televisiva, no qual os alimentos se destacam, correspondendo
mais da metade dos produtos divulgados, concordando com
os dados obtidos nesse estudo.
Dos produtos anunciados em todas as emissoras a
maioria consistia em alimentos industrializados (68,4%) e fast
foods (hambúrguer, batata frita e refrigerante, acompanhados
de brinquedos) (13,1%), outra pequena parte era cereal
982
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
matinal açucarado (5,2 %), leite (7,9%) e achocolatado (5,2%).
Não houve publicidade para o incentivo do consumo de frutas
e verduras, o que condiz com a pesquisa de Santos et al.
(2012) e Castro et al. (2009) que também não encontraram
propagandas voltadas a esse grupo alimentar.
A mídia usa algumas técnicas em seus comerciais para
atrair o público desejado e quando se trata de consumidor
infantil existem meios e estratégias eficazes para despertar a
atenção dos pequenos (ROMEIRO et al., 2016). Nas
propagandas analisadas pôde-se observar diferentes atrativos,
entre eles o uso de músicas e rimas, personagens infantis, a
venda casada com brinquedos ou brindes colecionáveis, ou
até mesmo a oferta de mais nutrientes e praticidade nos
produtos. Além do mais, alguns fabricantes usam várias
dessas estratégias em apenas uma propaganda, aumentando
as chances de incentivar o consumo do produto anunciado.
Na Figura (2) estão expressos os dados obtidos, nele
conseguimos ver que 82% das propagandas infantis usam
como artifício personagens em seus comerciais, fazendo com
que a criança sinta-se atraída pelo mundo de fantasias que
está lhe sendo apresentado, contribuindo assim no cosumo
desses alimentos.
Adequando-se a pesquisa apontada por Henriques
(2010) que mostra que as crianças influenciam 92% das
compras de produtos alimentícios, tendo como fatores
determinantes a publicidade na televisão, a presença de
personagens ou famosos como referência do produto e a
embalagem. Outro estudo revela que 82% dos comerciais
televisivos sugerem o consumo imediato dos alimentos
divulgados, isso porque em 78% dos comerciais os
personagens que anunciam os alimentos os ingerem

983
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
imediatamente, levando a um aumento da ingestão desses
produtos (NASCIMENTO, 2007).

Figura 2. Meios e estratégias de marketing usadas nas


propagandas analisadas

Música/ Rimas
41% 35%
Personagens infantis

47% Praticidade
82%
Ricos em nutrientes
12%
Brinquedos e Brindes
colecionáveis

Fonte: Dados da pesquisa. 2017

A venda casada dos alimentos é bastante utilizada


principalmente nos fast foods, mas também aparece na
divulgação de outros produtos, como salgadinhos e
chocolates. Consiste na oferta de brindes ou brinquedos na
compra do alimento divulgado, brinquedos que em sua maioria
são colecionáveis, estimulando assim que a criança se
alimente daquele lanche várias vezes para completar a sua
coleção. Dos comerciais estudados 41% usam essa estratégia
como forma de atrair o consumidor infantil, condizendo com o
estudo de Souza e Palma (2012) que evidencia a venda
casada como uma estratégia de marketing bastante utilizada
nas propagandas.
Diferentes estudos e pesquisas demonstram que, em média, a totalidade das crianças não conseguem
compreender que o principal objetivo da publicidade, por trás de todos os recursos gráficos, falas sedutoras, personagens
animados, ídolos famosos, entre outros, é a persuasão para o consumo do produto ou serviço anunciado (HENRIQUES et al.,
2012; RODRIGUES; FIATES, 2012).

984
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
Diante dos resultados encontrados é capaz de verificar
que apesar da existência da Resolução CONANDA, n° 163
(2014) que regulamenta as propagandas infantis no Brasil,
ainda há uma quantidade relevante dessas propagandas
principalmente na TV aberta, e que a maioria delas utilizam
meios e estratégias que vão contra a regulamentação, como
por exemplo, o uso de personagens e músicas direcionadas
às crianças (HENRIQUES; DIAS; BURLANDY, 2014).
Observa-se também a grande quantidade de
propagandas alimentares destinadas ao público infantil
principalmente nos horário de maior audiência desse público,
e destaca-se que os alimentos mais divulgados são
industrializados e com altos teores de gorduras, açúcares, sal
e corantes, ingredientes que devem ser consumidos
moderadamente principalmente nesta fase da vida no qual a
criança precisa de nutrientes específicos, como vitaminas e
minerais para auxiliar no seu crescimento e desenvolvimento,
além de formar hábitos alimentares mais saudáveis.

4 CONCLUSÕES

Ao avaliar a qualidade e a quantidade de propagandas


exibidas na televisão de acordo com as emissoras analisadas,
o estudo identificou que as crianças estão expostas a uma
grande quantidade de propagandas alimentares durante todo
o dia, que por sua vez usam estratégias de marketing para
atrair a atenção e incentivar o consumo dos produtos
anunciados. Permitiu-se observar ainda que os produtos mais
divulgados pela mídia apresentam em sua maioria grandes
quantidades de gorduras, açúcares, sal e corantes e são de
alto valor calórico, evidenciando assim o risco nutricional que

985
NÚMERO E ESTRATÉGIAS DE PROPAGANDAS ALIMENTARES INFANTIS
VEICULADAS PELA MÍDIA EM QUATRO EMISSORAS DE TELEVISÃO
as crianças estão expostas ao consumirem esses produtos
diariamente ou em quantidades elevadas.
Podemos constatar também, que além da influência da
família e da escola, a mídia televisiva ocupa um papel
importante na formação dos hábitos alimentares das crianças,
o que pode influenciar negativamente as escolhas alimentares
na infância e consequentemente ao longo da vida adulta. Com
a maior exposição das crianças à TV agregada ao
sedentarismo e os maus hábitos alimentares o consumidor
infantil se torna vulnerável ao aumento de peso e
consequentemente ao aparecimento das DCNTs.
Diante o exposto, o estudo aponta a necessidade de
empregar estratégias educacionais para promover hábitos
alimentares mais saudáveis na infância, onde os pais tem um
papel fundamental na oferta de alimentos de alto valor
nutricional. Além disso, propõe-se que a mídia contribua
positivamente na formação dos hábitos alimentares das
crianças, promovendo propagandas que divulguem alimentos
mais saudáveis, ajudando assim na promoção de saúde e
prevenção de doenças.

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989
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
CAPÍTULO 50

PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E
OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO
ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

Isabella da Silva OLIVEIRA 1


1
Pós Graduanda do curso de Nutrição clínica, UNINASSAU.
isabella.oli.nutri@gmail.com.br

RESUMO: Introdução: A alimentação da criança está


associada às práticas alimentares da trajetória familiar,
pessoal e influências que determinam os hábitos alimentares
de um indivíduo, que se inicia na gestação com a exposição
ao cheiro, sabores e aromas difundidos através do líquido
amniótico e leite materno. Modificando as preferências
alimentares futuras da criança, quando a alimentação passa a
ser igual a da família, sendo estimulada pela cultura na qual
está inserido. Objetivo: Descrever fatores ambientais na
construção dos hábitos alimentares na fase da infância e
adolescência e analisar como as preferências alimentares são
adquiridas de acordo com cada fator ambiental. Métodos:
Trata-se de uma revisão bibliográfica de artigos originais e de
revisão, pesquisados na base de dados periódicos CAPES
dos últimos 5 anos; e publicações de teses e dissertações.
Resultados e discussão: O desenvolvimento de crianças e
adolescentes tem uma importância decisiva na perspectiva de
vida e saúde do indivíduo, por intermédio da educação,
desenvolvimento de conhecimento, oportunidades. O indivíduo
é afetado diretamente pelos riscos de obesidade, má nutrição,
990
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
transtornos mentais. Portanto, as crianças precisam viver e ser
desenvolvidas em ambientes seguros, saudáveis,
acolhedores, educativos e dinâmicos. Conclusão: Assim,
pretende-se alertar os profissionais de saúde no atendimento
de crianças e adolescentes e orientar os pais/responsáveis,
para que os fatores ambientais sejam levados em
consideração, no processo de hábitos saudáveis.
Palavras chaves: Hábitos alimentares. Alimentação na
infância e adolescência. Fatores ambientais.

1 INTRODUÇÃO

Hábito alimentar é definido por Vaz; Bennermann


(2014), como a resposta do indivíduo frente ao alimento
ficando caracterizado pela repetição desse ato.
Quando o indivíduo se alimenta ele busca atender suas
necessidades fisiológicas e prazerosas. Como os fatores
ambientais tem influência em suas relações com o meio é
necessário conhecer os fatores que refletem e determinam as
escolhas alimentares (BATISTA; LIMA 2013; SILVA; SILVA
2016).
A alimentação da criança está associada às práticas
alimentares da trajetória familiar, pessoal e influências que
determinam os hábitos alimentares de um indivíduo. Que não
ocorre somente no jovem e no adulto inicia na gestação na
exposição ao cheiro, sabores e aromas difundidos através do
líquido amniótico e do leite materno modificam as preferências
alimentares futuras da criança, quando a alimentação passa a
ser igual a da família, sendo estimulada pela cultura na qual
está inserido (COSTA; VIGÁRIO, 2014, LARA; PAIVA, 2012).

991
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
Os hábitos alimentares construídos na infância serão
primordiais para a fase da adolescência, pois a alimentação
não terá a orientação dos pais, o indivíduo passará a tomar
decisões em relação à ingestão de alimentos, sendo assim,
essas escolhas irão proporcionar saúde ou doença (LAGO et
al., 2016).
A necessidade de uma intervenção não só na prática do
que comer ou como comer, mas na questão cultural e de
educação nutricional iniciada na orientação dos pais para a
formação dos hábitos alimentares saudáveis dos filhos
determinarão o comportamento em relação ao alimento (VAZ;
BENNEMANN, 2014).
Frente a isso, o objetivo deste trabalho é descrever
fatores ambientais na construção dos hábitos alimentares na
fase da infância e adolescência bem como analisar o modo
pelo qual as preferências alimentares são adquiridas de
acordo com cada fator ambiental.

3 MÉTODOS
4

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica


de artigos originais, artigos de revisão, pesquisados na base
de dados periódicos CAPES dos últimos cinco anos e
publicações de teses e dissertações concluídos, utilizando os
seguintes descritores: hábitos alimentares, alimentação na
infância, alimentação na adolescência, fatores ambientais,
nutrição comportamental.

992
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hábitos alimentares e a importância no crescimento e


desenvolvimento na fase da infância e adolescência
Na concepção de Vaz; Bennermann (2014), hábito
alimentar é a resposta do indivíduo frente ao alimento sendo
caracterizado pela repetição dessa ação.
O período da infância e adolescência tem como
características a definição e estruturação dos hábitos
alimentares, que sofrem influência desde o período
intrauterino, lactação e o início da introdução de alimentos em
relação à variedade de sabores oferecidos, o que está
relacionado com a aceitação e preferências alimentares
(LAGO et al., 2016; CORRÊA et al., 2017, SILVA; SILVA ,
2016).
Em estudo realizado por Borba et al.(2016) sobre o
consumo de frutas, verduras e legumes na alimentação de
adolescentes de 28 municípios do Maranhão, observou- se
que o maior consumo diário em uma ou mais vezes foi em
relação as frutas banana (15,87%) e laranja/tanja(13,87%).
Essas frutas, juntamente com a maçã e o abacaxi, obtiveram
as maiores frequências semanais de consumo. As frutas
regionais foram as menos consumidas, apresentando as
maiores frequências na categoria “nunca consomem”, o pequi
(92,99%), bacuri/cupuaçu (92,92%), carambola (91,71%) e
buriti (91,57%). Em relação ao consumo diário de legumes e
verduras destacaram-se cebola (36,45%), tomate (35,96%) e
cheiro verde (29,58%); couve (90,20%), joão-gome/vinagreira
(69,55%) e quiabo/maxixe (67,19%) foram as que
representaram maior percentual na categoria em que os

993
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
adolescentes relataram nunca consumirem Quanto à
classificação do consumo das frutas, verduras e legumes em
baixo, adequado e alto, foi observado que 84,27%
apresentaram baixo consumo para frutas e 71,98% obtiveram
consumo insuficiente de legumes e verduras. O consumo
adequado somado ao alto para frutas foi verificado em 15,73%
dos entrevistados e para legumes e verduras em 28,02%. O
consumo insuficiente de frutas, verduras e legumes acarretam
problemas em relação à saúde, visto que, são alimentos fonte
de micronutrientes, fibras e compostos bioativos, essenciais
para manutenção da saúde, além do baixo consumo é
importante observar que os alimentos regionais apresentam-
se como pouco consumidos diariamente pelos adolescentes,
caracterizando um quadro negativo para o hábito alimentar
local, esse fato poderia ser revertido com o incentivo a
consumo e produção de alimentos regionais e facilitando o
acesso e disponibilidade.
O desenvolvimento da primeira infância tem uma
importância decisiva na perspectiva de vida e saúde do
indivíduo, por intermédio da educação, desenvolvimento de
conhecimentos, educação e oportunidades profissionais.
Sendo assim, a criança na fase da primeira infância é afetada
diretamente pelos riscos de obesidade, má nutrição,
transtornos mentais. Portanto as crianças precisam viver e ser
desenvolvidas em ambientes seguros, saudáveis,
acolhedores, educativos e dinâmicos (CARVALHO, 2013).

994
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
Influência dos pais e relações sociais

O indivíduo é exposto ao alimento desde a gestação à


alimentação da mãe, em seguida serão apresentados ao
aleitamento materno e alimentação complementar, essas
etapas são primordiais na preferência alimentar, é importante
que os pais percebam a importância da alimentação não só
como sobrevivência, mas como um fator de prevenção de
doenças e estabeleçam o consumo de alimentos saudáveis na
introdução de alimentos (COSTA; VIGÁRIO, 2014, LARA;
PAIVA, 2012).
Com o objetivo de caracterizar a associação entre
hábitos alimentares do agregado familiar e escolhas
alimentares dos adolescentes, Cardoso et al. (2015) concluiu
que o padrão alimentar praticado em casa é determinante para
a adoção e manutenção de comportamentos alimentares por
parte dos adolescentes em geral. Tal fato, ao contrário do que
poderá acontecer com outros, destaca-se entre os
adolescentes que fazem escolhas adequadas sobre os que
efetuam escolhas inadequadas. Pais que adquirem alimentos
saudáveis, tornando-os disponíveis em contexto familiar, que
consomem esses mesmos alimentos de uma forma regular,
com preocupação com o bem-estar dos vários elementos da
família, contribuem para enraizar hábitos alimentares
saudáveis por parte dos filhos. Que tendem a tomar decisões
semelhantes fora de casa, pelo que a influência se estende
para além do contexto familiar.
Com a inserção da mulher no mercado de trabalho
ocorreu mudanças no hábito alimentar da família, como a
mulher ainda tem responsabilidade pela organização,

995
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
planejamento e preparo das refeições, o tempo que antes era
destinado exclusivamente para atividades domésticas, com a
introdução na vida profissional soma-se as atividades
domésticas. Em uma pesquisa realizada com 101 mulheres na
cidade de Viçosa/ MG foi analisado se a inserção feminina no
mercado de trabalho ocasionou mudanças nos hábitos
alimentares da própria mulher e de sua família, as
entrevistadas tinham entre 27 e 58 anos e média de 1,8 filhos.
Quanto ao estado civil, a maioria era casada (75,5%); seguido
por união consensual (9,9%); solteiras (6,9%); separadas (3.9%);
divorciadas (2,9%); e outros (0,9%). Para as que relataram
alterações nos hábitos alimentares a principal modificação foi em
relação à falta de tempo e aumento da renda familiar, que
ocasionava realização de refeições rápidas, substituindo refeições
por lanches, alimentação em self- service, consumo de comida
pré-preparada, aumento do consumo de industrializados,
refletindo na alimentação dos filhos. Foi observado também que
algumas mulheres que antes não se preocupavam com a
qualidade da própria alimentação, modificaram os hábitos
alimentares, não pela inserção no mercado de trabalho, mas com
o objetivo de fornecer uma alimentação saudável para os filhos
(LELIS et al., 2012).
O estudo de Vázquez-Nava et al. (2013) apresentou
uma relação entre estrutura familiar e nível de escolaridade e
empregabilidade de mães de crianças em idade escolar
primária, onde concluiu que crianças que moram em uma
família de pais separados que vivem com um ou nenhum dos
pais biológicos apresentam risco de 1,62 vezes maior de ser
sedentário em comparação a crianças que vivem com pais
biológicos, mostrando que a estrutura familiar está mais

996
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
associada com a vida sedentária e sobrepeso em crianças que
do que o baixo nível de escolaridade ou mães que trabalham
fora de casa.

Ambiente escolar e formação dos hábitos


alimentares

A escola tem um papel vital no desenvolvimento e na


construção das capacidades das crianças e adolescentes,
sendo necessário fazer parte de um ambiente saudável
proporcionando para os indivíduos em construção o
conhecimento de práticas saudáveis de saúde (CARVALHO,
2013).
Freitas MCS et al. (2013) descreve em estudo realizado
com 160 escolares adolescentes de 12 a 18 anos, a avaliação
à aceitação do Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE) pelos estudantes, onde verificou que os alunos
associam o alimento a lugares, aparências, gosto,
sociabilidade, familiaridade e estranhamento. Em que é
declarado estranho a associação banana e biscoito; laranja e
pão; mingau de tapioca com gosto de remédio; feijão ou sopa
no meio da manhã ou no meio da tarde, ou no lugar do
recreio. São alimentos familiarizados, mas ao mesmo tempo
estranhados, pois, encontram-se fora do lugar da tradição, do
hábito. Para a cultura da região, sopa é jantar, e se oferecida
fora desse lugar torna-se comida de doente ou de idoso. Na
visão dos escolares a alimentação na escola tem relações
além da cultura alimentar, existe a influência na mídia em
relação a novidades e propagandas alimentícias. Que é
possível observar de acordo com os desejos narrados pelos

997
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
escolares de serem oferecidos alimentos midiáticos ou de rua
como: batata-frita, refrigerante, biscoitos recheados, pipoca
doce etc. Estes alimentos representam para os alunos o
sentido de estarem no mundo moderno, globalizado, midiático.
A escola representa um ambiente de relações sociais e
de aprendizado, sendo um ambiente estratégico para
implantação de ações de promoção e alimentação adequada,
no entanto a abordagem didática precisa acontecer de forma
lúdica, levando em conta o público alvo, sendo essas
atividades desenvolvidas por nutricionistas ou profissionais
treinados, com a finalidade de viabilizar mudanças de
comportamento que propicie a formação de hábitos
alimentares saudáveis na infância e adolescência, como forma
de prevenir doenças na vida adulta (OLIVEIRA; SOUZA, 2016;
COLEONE et al.,2017 ).

Condições socioeconômicas e mídia


O marketing na indústria de alimentos usa como
artifícios personagens de desenho animado, cores, brindes
colecionador. Para chamar a atenção das crianças, que
influencia os pais na compra, como a maioria dos pais
disponibiliza de tempo restrito com os filhos, sedem o “desejo”
do filho para a satisfação naquele momento, que são seguidos
por outros “desejos” incentivando o consumo. Na indústria de
alimentos as escolhas e consumo destes produtos têm como
consequência a saúde de crianças e adolescentes expostas
cada vez mais cedo e constantemente a alimentos com alto
valor calórico, ricos em açúcar, sal e gorduras não saudáveis
(BORTATO et al., 2017; MOREIRA,2017).

998
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
A oferta constante de produtos industrializados
principalmente para o público infantil direciona os hábitos
alimentares para um perfil não saudável, o consumo de
industrializados é justificado pela praticidade e facilidade de
acesso, essas informações são claramente focadas na mídia
como uma qualidade exclusiva de alimentos ultraprocessados
(MOREIRA, 2017).
A criança brasileira fica exposta a quase 5h de
programação televisiva por dia, de acordo com a média
nacional, na maioria das vezes assistindo conteúdo da
televisão aberta que não é destinado à sua faixa etária.
Salientando que as crianças das camadas menos favorecidas
e mais vulneráveis assistem bem mais à televisão, que as
crianças das classes socioeconômicas mais favorecidas.
Considerando que, grande parte da população tem baixo
poder aquisitivo e acesso a educação de pouca qualidade, a
situação socioeconômica brasileira é ainda um obstáculo para
um maior consumo de diferentes tipos de mídia por grande
parte das crianças do país. Por isso ainda existe a
predominância do acesso à televisão entre todas as outras
mídias (REIS, 2015).
No Brasil, as legislações que estabelecem limites em
relação à mídia para o público infantil são: Lei municipal de
Florianópolis que proíbe a comercialização de lanche
acompanhado de brinde ou brinquedo (Lei nº: 8985/2012),
resoluções que apontam diretrizes para a promoção da
alimentação saudável (Resolução do Conselho Nacional de
Saúde nº 408/2008) e que dispõe sobre a abusividade do
direcionamento de publicidade e de comunicação
mercadológica à criança e ao adolescente (Resolução nº

999
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
163/2014 do Conanda). Mesmo com legislações em vigor
ainda é comum a publicidade voltada para o público infantil,
usando artifícios para ludibriar as leis de proteção à criança e
ao adolescente. Sendo necessária com isso a conscientização
de pais, educadores, profissionais de saúde, para orientação
desse público com relação aos malefícios de produtos
alimentícios de baixo valor nutricional (SILVA, et. al., 2016).

Transtornos alimentares e imagem corporal


A preocupação com a estética e não aceitação do
adolescente em relação ao corpo apresenta- se por uma série
de fatores, desde a relação do adolescente com a família,
escola, mídia e características da adolescência por mudanças
abruptas desta fase, que levam a uma insatisfação com o
corpo e ao maior risco de desenvolver transtornos alimentares
(CORDONI et al.,2016; BAAD et al.,2016 ).
Cordoni et al. (2016) avaliou através de questionário de
EAT-26 e BSQ-34, que analisa atitudes alimentares e
preocupação com a imagem corporal, 40 adolescentes de
ambos os sexos, os resultados mostraram que 52,6% dos
meninos e 42,9% das meninas apresentam risco para
desenvolver transtornos alimentares e que 42,1% dos meninos
e 52,4% das meninas tem preocupação com a imagem
corporal. Dessa forma, destaca-se a importância da existência
de programas que oriente o adolescente em relação à
aceitação do corpo e melhora dos hábitos de vida, a fim de
promover maior satisfação com a imagem corporal nessa fase
prevenindo o desenvolvimento de transtornos alimentares.

1000
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
Risco de desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis na fase da infância e adolescência

O crescimento da prevalência de obesidade infantil tem


sido associado ao aparecimento precoce de hipertensão
arterial, dislipidemias, aumento da ocorrência de diabetes tipo
2, distúrbios na esfera emocional, além de comprometer a
postura e causar problemas na locomoção, estão associadas
à alimentação, na qual é chamado atenção para a população
infantil (SPARRENBERGER et. al., 2015; CAMARGO, 2013).
Pesquisa realizada por Oliveira; Souza (2016) relatou
que o alto consumo de achocolatado em pó por crianças como
um dado alarmante, pois trata- se de um alimento
ultraprocessado de uso diário e constante nas refeições,
podendo acarretar ricos para a saúde.
Em estudo organizado por Monticelli et. al.(2013) com o
objetivo de avaliar o consumo de frutas, verduras e legumes
de adolescentes, evidenciou-se o consumo insuficiente desses
alimentos e quando se trata de verduras e legumes foi
observado que a diminuição do consumo foi proporcional ao
aumento da idade.
Em pesquisa realizada por Noll et al.(2016) Foi
avaliado o consumo de alimentos por escolares de diferentes
redes de ensino, observou-se o baixo consumo de peixes,
legumes e verduras, saladas, frutas e sucos e iogurtes em
todas as redes de ensino. Por outro lado, o consumo de
salgados fritos, pizza e sanduíches, biscoitos doces,
guloseimas, refrigerantes e sucos industrializados, bebidas
alcóolicas e/ou energéticos foi maior que o recomendado. O
alto consumo de alimentos ultraprocessados não saudáveis

1001
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
tem como consequência o baixo consumo de alimentos
marcadores de alimentação saudável.
Pereira et. al. (2017) apontam como fatores de risco
para o desenvolvimento de doenças crônicas não
transmissíveis a inatividade física, obesidade e sobrepeso,
consumo de álcool, cigarros e drogas ilícitas. Apresentaram
como marcadores de hábitos alimentares não saudáveis, o
consumo cotidiano de balinhas/doces, bolacha recheada e
refrigerante, por todos os adolescentes entrevistados, sem
diferença entre os sexos. Mais de um alimento saudável ou
não saudável foi consumido simultaneamente pelos
entrevistados.
Messias et al. (2016) chama a atenção para a
diminuição no consumo de alimentos ultraprocessados, os
quais apresentam alto teor de gorduras, açúcares, sódio,
corantes artificiais. Desta forma, incentivar o consumo de uma
alimentação saudável e equilibrada, a fim de evitar o
desenvolvimento de doenças relacionadas à alimentação,
ainda na adolescência ou mesmo na idade adulta.
Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde
(2016), aponta o aumento da prevalência de diabetes,
hipertensão, doenças crônicas não transmissíveis no adulto
que tem relação com o aumento da frequência de excesso de
peso que passou de 42,6% em 2006 para em 53,8% 2016,
sendo maior entre homens (57,7%) do que entre mulheres
(50,5%). O diagnóstico médico de diabetes passou de 5,5%
em 2006 para 8,9% em 2016 e o de hipertensão de 22,5% em
2006 para 25,7% em 2016. Em ambos os casos, o diagnóstico
é mais prevalente em mulheres. Foi observado que a
obesidade entre os mais jovens, de 25 a 44 anos, atinge

1002
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
indicador alto: 17%. Excesso de peso também cresceu entre a
população, passou de 42,6% em 2006 para 53,8% em 2016. A
mudança no hábito alimentar da população aponta diminuição
da ingestão de ingredientes considerados básicos e
tradicionais na mesa do brasileiro, o consumo regular de feijão
diminuiu 67,5% em 2012 para 61,3% em 2016. E apenas 1
entre 3 adultos consomem frutas e hortaliças em cinco dias da
semana. Foi caracterizado como um fator preocupante já que
são alimentos minimamente processados, que fazem parte de
hábitos da população e aparecem como marcadores de
alimentação saudável (BRASIL, 2017; PEREIRA et. al., 2017).
Hábito alimentar desequilibrado e sedentarismo são os
determinantes que mais favorecem o aumento de excesso de
peso e obesidade. O processo de urbanização e o
desenvolvimento econômico apresentou transformação no
estilo de vida da população, com padrões alimentares
inadequados; com crescimento do fornecimento de produtos
industrializados; de alimentação rica em gorduras,
especialmente de origem animal; açúcar refinado e reduzida
ingestão de carboidratos complexos e fibras; modelos de
trabalho sedentário; comodidades da modernidade, tais como
aparelhos de televisão, telefones sem fio, videogames,
computadores, controle remoto, entre outros; tem favorecido a
redução do gasto energético (CAMARGO et al., 2013).

4 CONCLUSÃO
O alimento é necessário para manutenção da vida e os
hábitos alimentares são construídos desde a formação do feto
no contato com o líquido amniótico e depende da alimentação
da mãe. Para que essa construção de sabores aconteça de

1003
PROBLEMÁTICA DO SOBREPESO E OBESIDADE: A RELAÇÃO ENTRE OS
FATORES AMBIENTAIS E O HÁBITO ALIMENTAR DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
forma variada, a criança terá oportunidade de conhecer os
sabores a partir desse contato e em seguida com o
aleitamento materno. Alimentação complementar iniciada de
forma adequada também vai auxiliar na aceitação de
alimentos diferentes. Os fatores ambientais influenciam as
crianças desde a sua formação, com a visão dos pais em
relação aos alimentos até o contato da criança com a
sociedade, escola, mídia, entre outros, construindo assim a
personalidade e hábitos alimentares de acordo com o meio em
que foi educado. Portanto, ao descrever os fatores ambientais
e sua influência nos hábitos alimentares esse estudo pretende
alertar os profissionais de saúde no atendimento de crianças e
adolescentes para que na orientação tanto para os
pais/responsáveis, crianças e adolescentes, sejam levados em
consideração os fatores ambientais que vão além do ato de se
alimentar.
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1006
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
CAPÍTULO 51

AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL:


PERFIL ALIMENTAR E ANTROPOMÉTRICO DE
ESCOLARES EM FOCO

Debhora Dayse Cavalcante COSTA 1


Rafaela Beltrão Cambuim De OLIVEIRA 2
1
Graduanda do curso de Nutrição, FPB; Orientadora/Professora da FPB 2.
debhoradayse.cavalcante@gmail.com

RESUMO: O estudo teve como objetivo avaliar o estado e a


educação nutricional de escolares. Trata-se de uma pesquisa
prospectiva longitudinal de intervenção, com caráter descritivo,
exploratória e com abordagem quantitativa. A amostra foi de
32 crianças de 7 a 9 anos de idade de uma escola privada da
cidade de Bayeux, PB. Realizou-se duas avaliações
antropométricas e de consumo alimentar, antes e após as
atividades de educação nutricional que foram realizadas por
um período de dois meses. Para a avaliação antropométrica
utilizou peso e estatura e a análise do estado nutricional foi
feita através do IMC/I, P/I e E/I, classificado por meio dos
Escore-z e o teste t-student. Na avaliação do consumo
alimentar realizou-se a anamnese, através de um recordatório
alimentar e observou-se a frequência de consumo dos
alimentos. O percentual de meninas eutróficas passou de
61,1% para 66,7%, já os meninos de 42,9% para 50%, além
da redução de sobrepeso para ambos os sexos, 16,7%
reduziu para 11,1% nas meninas e 21,4% para 14,3% nos
meninos, porém, não foi houve associação significativa. Foram
observadas melhorias na qualidade alimentar, como a redução
do consumo de macarrão, pipocas, bolos e achocolatados e
aumento na ingesta de frutas e sucos. Os dados reforçam a
importância da implementação de estratégias de educação

1007
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
alimentar, a fim de promover a alimentação saudável para os
escolares.
Palavras-chave: Fase escolar. Educação nutricional. Estado
nutricional.

1 INTRODUÇÃO

A educação alimentar e nutricional é conceituada como


um processo educativo que utiliza diferentes abordagens
educacionais visando as interações que constituem o
comportamento alimentar e nutricional. Tem por objetivo
atingir beneficamente os indivíduos em suas escolhas
alimentares. Por meio da educação alimentar e nutricional, é
possível promover saúde e contornar os problemas
alimentares e nutricionais existentes.
A escola é um lugar de constante trocas de
conhecimentos, construção de saberes e é capaz de
desenvolver a autonomia dos escolares em suas escolhas
diárias. Desta forma, torna-se um espaço ideal para atuar na
formação de hábitos saudáveis através de práticas educativas
como a educação alimentar e nutricional, tendo um papel de
grande importância na vida dos escolares. Através das
dinâmicas, conteúdos ensinados, os educadores devem ajudar
às crianças a reconhecer suas necessidades, como também a
corrigir desvios na alimentação e conduzi-los de forma
prazerosa a uma correta escolha dos alimentos, de acordo
com seus valores nutricionais e assim, desde cedo, promover
conscientização alimentar (CUNHA, 2014).
O período escolar, que compreende a faixa etária de 7
a 9 anos 11 meses e 29 dias de idade, é caracterizado por
crescimento lento, porém, observa-se um aumento na ingesta

1008
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
alimentar e que aliados a maior independência, permite ao
escolar, melhor aceitação dos alimentos e definição de suas
preferências e aversões alimentares (VITOLO, 2008; MAHAN;
RAYMOND; ESCOTT-STUMP, 2012).
A alimentação é um ato não apenas fisiológico, mas
também de integração social e é, portanto, influenciada pelas
experiências a que as crianças são submetidas e os exemplos
em seu círculo de convivência. Considerando o tempo em que
as crianças permanecem na instituição e a diversidade de
oportunidades de ensino e de incorporação de valores, torna a
escola um ambiente ideal de transformação (ACCIOLY, 2009).
Atividades desenvolvidas na escola são capazes de gerar repercussões
positivas, pois é na infância que os hábitos e práticas comportamentais são formados, e
o incentivo as escolhas alimentares saudáveis principalmente na fase escolar é de
grande importância, já que é nesse período que as crianças começam a desenvolver
suas habilidades de escolha e a ter maior independência, e os hábitos adquiridos no
período se refletem nos seguintes ciclos da vida (YOKOTA
et al., 2010).
A alimentação adequada na infância é importante para
assegurar o desenvolvimento físico e crescimento adequado
para a faixa etária, além prevenir o surgimento de algumas
doenças relacionadas à alimentação, tanto na infância, como
na fase adulta. A promoção de uma alimentação saudável visa
mudanças no comportamento alimentar, visto que, os hábitos
adquiridos na infância se perduram nos demais ciclos da vida.
Portanto, hábitos alimentares saudáveis adquiridos na
infância, principalmente na fase escolar, serão a base para o
desenvolvimento nos demais ciclos da vida. Oferecer uma boa
alimentação à criança requer atenção especial quanto as
necessidades preconizadas e estabelecidas, para que estas,
recebam todos os tipos de nutrientes, podendo assim,
desenvolver-se e garantir saúde e qualidade de vida nas
seguintes fases (CUNHA, 2014).

1009
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
Para que haja construção de conhecimento sobre
alimentação e nutrição voltados à incorporação de hábitos
saudáveis e para que o conhecimento seja compartilhado com
familiares e comunidade escolar, o presente trabalho teve
como objetivo avaliar o estado e a educação nutricional em
escolares, com a intenção de apontar como a educação
nutricional interfere nos hábitos alimentares, de modo a
auxilia-los nas escolhas alimentares para que tenham saúde e
qualidade de vida.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo prospectivo longitudinal de


intervenção, com caráter descritivo, exploratória e com
abordagem quantitativa. Foi desenvolvido com crianças
de uma escola privada da cidade de Bayeux, Paraíba, com
uma amostra de 32 crianças de sete a nove anos de idade
e de ambos os sexos.
Foram convidadas a participar todas as crianças de
sete a dez anos. A escola foi escolhida por conveniência, uma
vez que concordou em participar da pesquisa. Receberam
uma breve explicação sobre a pesquisa em uma reunião
realizada na escola, na qual se esclareceu que a participação
das crianças era voluntária, sem prejuízo daquelas que não
fossem participar, e também foi explicado que as crianças
teriam atividades de educação nutricional e que toda
informação coletada seria importante para o diagnóstico
nutricional que seria realizado. Os pais que permitissem a
participação da criança na pesquisa deveriam assinar e
devolver o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o
Termo de Assentimento.

1010
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
A coleta de dados e as ações de intervenção nutricional
foram realizadas durante o horário de aula, em turno
vespertino. Para avaliação antropométrica foram necessários
dados de peso, descritos em quilogramas, utilizando balança
digital de marca camry, com as crianças avaliadas descalças e
vestindo roupas leves, posicionadas em pé, com o peso
igualmente distribuído em ambos os pés.
A estatura foi mensurada com a criança descalça, em
posição anatômica, sob a base da fita métrica, encostada à
parte posterior do corpo e a cabeça posicionada no plano de
“Frankfurt”, estando em apneia inspiratória no momento da
medida de dados de estatura, em metros, aferida por meio de
estadiômetro adaptado com fita métrica fixada à parede com
200 cm e precisão de 0,1cm. Ambas as medidas foram
coletadas sempre com os mesmos equipamentos
rotineiramente calibrados.
As medidas mais utilizadas para os escolares são o
peso e estatura. As avaliações dos índices antropométricos
podem ser obtidas com o uso de escalas, sendo o escore Z o
mais utilizado. O escore Z representa uma medida de
dispersão que avalia a posição do dado obtido, observando se
está afastando da média de referência. É importante para
avaliar se as crianças estão acima ou abaixo da faixa de
normalidade (VASCONCELOS et al., 2011).
Após a coleta dos dados foi calculado o IMC/Idade,
Peso/Idade e Estatura/Idade e classificado de acordo com os
Escore-z para população de 5 a 19 anos de idade (Estudo
Multicêntrico de Referência do Crescimento – MGRS)
proposta pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 2006).
Os escolares foram classificados em: magreza se IMC
estivesse dentro dos valores críticos de > Escore-z -3 e <

1011
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
Escore-z -2; em eutrofia valores de ≥ Escore-z -2 e < Escore-z
-1 e ≥ Escore-z -1 e ≤ Escore-z +1; estado de sobrepeso >
Escore-z +1 e ≤ Escore-z +2; obesidade > Escore-z +2 e ≤
Escore-z +3 e obesidade grave > Escore-z +3.
Para análise dos dados antropométricos foi utilizado o
software WHO AnthroPlus e análise estatística se deu através
do teste T-student. Para verificar a classificação do estado
nutricional foram adotados os critérios propostos pela World
Health Organization (WHO), sendo utilizados os indicadores
Estatura/Idade (E/I), Peso/Idade (P/I) e IMC/Idade (IMC/I). Os
índices foram expressos em unidades de desvio padrão
(Escore-Z), e a classificação do estado nutricional seguiu a
referência do SISVAN/OMS.
Após a avaliação antropométrica e antes das ações de
educação nutricional foi realizada a anamnese alimentar,
através de um recordatório alimentar individualizado, para
avaliar as práticas em relação aos hábitos alimentares dos
escolares. Essa avaliação foi aplicada e acompanhada para
que não houvesse omissão de alimentos consumidos.
A atividade de educação nutricional para as crianças foi
desenvolvida em encontros semanais, totalizando um período
de dois meses com palestras de incentivo à formação de bons
hábitos alimentares abordando temas como meu prato
saudável; comparação entre alimentos saudáveis e não
saudáveis; distribuição dos grupos de alimentos na
alimentação diária: pirâmide alimentar; consequências
negativas de uma alimentação inadequada e desvendando os
mistérios dos legumes. As atividades foram projetadas com o
objetivo de transmitir às crianças informações sobre
alimentação e nutrição, buscando a formação de hábitos

1012
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
alimentares saudáveis, como forma de prevenção de doenças
crônicas não transmissíveis.
Os escolares foram contemplados com várias
dinâmicas, entre elas a história infantil “O segredo do sherek”,
onde as crianças experimentaram um suco verde associado a
imagem do personagem sherek e foi explicado os benefícios
dos ingredientes para a saúde; a pirâmide dos alimentos e
seus respectivos grupos que foram apresentados de forma a
mostrar as fontes, recomendações adequadas e funções dos
carboidratos, proteínas, vitaminas, minerais e fibras
alimentares para o organismo, como também incentivando a
limitar o consumo de gorduras saturadas, açúcares e sal; e a
dinâmica “Que alimento é esse”, em que as crianças puderam
experimentar frutas, verduras e legumes.
Após a realização das atividades de educação
nutricional, o recordatório de práticas alimentares foi
novamente aplicado com o intuito de avaliar as mudanças
ocorridas nos hábitos alimentares dos escolares. Para analisar
o hábito alimentar, foi verificado os alimentos que eram
consumidos nas refeições do desjejum, lanche da manhã,
almoço, lanche da tarde e jantar, em ambos os sexos antes e
após o período da educação nutricional.
Após esse momento, foi desenvolvida uma tabela com
o objetivo de quantificar a frequência de consumo dos
alimentos, relacionando-o ao número de vezes que o alimento
era consumido pelos escolares do sexo feminino e masculino.
Após a compilação dos dados, foi utilizado para discussão dos
resultados apenas os alimentos com percentuais significativos
de comparação para os períodos antes e depois da educação
nutricional.

1013
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
Uma nova avaliação nutricional foi realizada no
momento posterior as atividades de educação nutricional.
Essa avaliação incluiu a aferição e verificação dos parâmetros
antropométricos de peso e altura e para analisar o estado
nutricional utilizou-se os mesmos indicadores de IMC/Idade,
Estatura/Idade e Peso/Idade, incluindo a mesma amostra
(n=32) avaliada no primeiro momento, com ambos os sexos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para as análises dos dados obtidos foram avaliadas 32


crianças, representando o total da amostra, com idade entre
sete a nove anos e com os termos assinados pelos pais,
autorizando-os sua participação. Da amostra avaliada 43,8%
(14) eram do sexo masculino e 56,3% (18) do sexo feminino.
Diante dos dados obtidos a Fig. (1) mostra os
resultados da análise do estado nutricional do sexo feminino e
masculino no período anterior a intervenção nutricional e após
a aplicação da educação nutricional, de acordo com o
parâmetro de avaliação IMC/Idade que tem como variáveis o
peso e a estatura.
Na Figura (1), a distribuição dos escolares do sexo
feminino segundo classificação do estado nutricional
(magreza, eutrofia, sobrepeso e obesidade), de acordo com os
Escores-z encontrados dentro das recomendações da OMS e
SISVAN para o parâmetro IMC para idade, antes da
intervenção nutricional demonstra 5,6% de magreza, 61,1%
eutróficos, 16,7% com sobrepeso, 11,1% obesos e 5,6% em
estado de obesidade grave. Após a realização da intervenção
nutricional, nota-se uma modificação positiva no estado
nutricional do sexo feminino, onde há um aumento no estado

1014
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
de eutrofia para 66,7% e diminuição do estado de sobrepeso
para 11,1%.

Figura 1. Estado Nutricional segundo o parâmetro IMC/I

Sexo feminino AI

Sexo feminino DI

Sexo masculino AI

Sexo masculino DI

0 20 40 60 80
Magreza Eutrofia Sobrepeso Obesidade Obesidade grave

Fonte: Autor da pesquisa.

Petroski e Araujo (2002), avaliaram o estado nutricional


de 960 escolares da faixa etária de 7 a 14 anos, pertencentes
à rede pública de ensino das cidades de Florianópolis/SC e
Pelotas/RS. O estado nutricional foi avaliado através do Índice
de Peso para Altura (P/A) e do Índice de Massa Corporal
(IMC). Puderam concluir que cerca de 90% dos escolares, de
ambas as cidades, encontram-se dentro da faixa de
normalidade, 6 a 9% com sobrepeso e 0,4 a 0,8% com
desnutrição.
O Indicador de Massa Corporal/Idade (IMC/I)
representa a interação entre o peso da criança e o quadrado
da estatura, tendo em consideração da idade cronológica e é

1015
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
recomendado para o diagnóstico nutricional. Por ser um índice
utilizado em outros ciclos da vida, permite continuidade da
avaliação do indivíduo e rastreamento de sobrepeso e baixo
peso (VASCONCELOS et al., 2011).
A antropometria tem-se tornado o modo mais prático e
de menor custo para avaliar a saúde e o risco nutricional em
crianças. Existem vários métodos para avaliar o estado
nutricional infantil, entre eles, a combinação de medidas,
compreendidas por meio dos índices antropométricos,
segundo um padrão de referência. Apesar do crescente
aumento da obesidade infantil e redução da desnutrição na
infância, ainda é possível encontrar crianças em condições de
desnutrição. Dentre as causas, está a má nutrição e a
privação de alimentos, sendo uma das principais causas de
déficit de crescimento e desenvolvimento, além de estar
relacionada a infecções, comprometimento do sistema
imunológico e carências nutricionais, que se não tratadas,
podem levar à mortalidade infantil (VASCONCELOS et al.,
2011; ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009).
O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
(SISVAN) utilizado como base para verificar o estado
nutricional dos escolares é um instrumento composto por
vários indicadores que utiliza o método antropométrico para
avaliar e monitorar o estado nutricional e alimentar nos
diversos ciclos da vida. Por meio do SISVAN é possível obter
diagnóstico precoce de possíveis problemas nutricionais e
elaborar um plano de intervenção, evitando o surgimento de
consequências e agravos à saúde (BRASIL, 2004).
Em relação ao sexo masculino foi observado uma
mudança notória no estado nutricional após a intervenção
nutricional. Em que o percentual de eutróficos era de 42,9% e

1016
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
aumentou para 50%, representando uma melhora significativa
no estado nutricional dos meninos. Observa-se ainda, redução
do índice de sobrepeso de 21,4% para 14,3%. Ao comparar o
estado nutricional entre os sexos, verificou-se maior
porcentagem de meninas eutróficas do que meninos em
adequado estado nutricional, e os meninos estavam com
maior percentual de sobrepeso e obesidade que as meninas,
como mostrado na Figura (1).
Spinelli et al (2013), avaliaram o estado nutricional e a
adequação do consumo alimentar em escolares de uma
escola privada. Utilizaram o índice de massa corporal para
idade e sexo e observaram que a prevalência de desnutrição
foi de 0,9%, sobrepeso 22,1% e obesidade 18,9%. Como
também analisaram que uma maior porcentagem de crianças
com sobrepeso e obesidade era entre os meninos, mas sem
significância estatística.
Ao investigar o estado nutricional de 1647 escolares
com idade entre seis e 10 anos da rede municipal de ensino
utilizando as medidas antropométricas de Peso/Idade,
Estatura/idade, segundo as tabelas normativas do NCHS, foi
observado que a desnutrição nos meninos correspondia a
21% e nas meninas 24,7%, já de sobrepeso foi de 9,4% nos
meninos e 10,6% nas meninas e de obesidade 10,1% e 11,7%
para meninos e meninas, respectivamente. Os autores
concluíram que não houve associação entre o estado
nutricional de acordo com o sexo e idade, porém os resultados
apontam uma prevalência relativamente alta de desnutrição e
excesso de peso, indicando co-existência de ambos os
problemas (SALOMONS; RECH; LOCH, 2007).
Lopes, Prado e Colombo (2010), avaliaram em seu
estudo 162 alunos em idade escolar. Mediante as análises,

1017
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
observaram que as crianças com sobrepeso e obesidade
representaram 38,2% da amostra e 54,9% estavam dentro da
normalidade, classificados como eutróficos; já em estado de
desnutrição foram encontrados 11 alunos (6,8%).
O crescimento corporal é uma variável contínua e está
relacionada a vários fatores, como por exemplo, a fase da vida
em que o indivíduo se encontra. Desta forma, o corpo se
transforma e sofre modificações, porém, alguns indivíduos têm
dificuldades quanto ao seu crescimento, tornando-se diferente
em estatura e peso dos demais para sua fase da vida.
Portanto, identificar precocemente as falhas no crescimento
corporal é importante para posterior diagnóstico e
intervenções de modo a reverter a situação em que o mesmo
se encontrar, visando proporcionar o crescimento adequado
(GONZAGA; ALEXANDRE, 2013).
O estado nutricional é a condição de saúde resultante
do equilíbrio entre a ingestão e utilização de nutrientes pelo
corpo, é também um excelente marcador de qualidade de
vida. Avaliar o estado nutricional de crianças é importante para
observar se estão crescendo dentro dos padrões
estabelecidos, verificando possíveis distúrbios na alimentação,
que é essencial para prevenir situações de morbidez e
mortalidade provocadas tanto pelas carências quanto pelos
excessos alimentares (VASCONCELOS et al., 2011).
A tabela 1 mostra o estado nutricional dos escolares, de
ambos os sexos, segundo os parâmetros de avalição:
IMC/Idade, Peso/Idade e Altura/Idade, avaliados no período
anterior e após a educação nutricional, e de acordo com a
análise realizada por meio do software WHO AnthroPlus e
análise estatística do teste T-student, tendo como nível de
significância de p ≤ 0,05.

1018
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
Tabela 1. Avaliação do estado nutricional de acordo com os
três índices antropométricos
Fonte: Autor da pesquisa.

Diante do exposto apresentado na Tab. (1) foi analisado


os indicadores do estado nutricional de ambos os sexos e foi
observado que não houve diferença significativa
estatisticamente. Porém, observa-se que houveram resultados
quanto a mudança de estado nutricional, tanto de meninas
como meninos, conforme mostra a Figura (1). Além do mais,
Índice Grupo Masculino e Feminino
P valor
Antes Depois
Peso/Idade 0,79 ± 1,50 0,77 ± 1,37 0,964
Altura/Idade 0,39 ± 1,02 0,20 ± 1,01 0,466
IMC/Idade 0,73 ± 1,67 0,86 ± 1,50 0,741
observou-se que escolares em estado de magreza/desnutrição
evoluíram para estado eutrófico, o que representa o aumento
do parâmetro IMC/Idade depois da intervenção nutricional.
Delwing, Rempel e Bosco (2010), propuseram
identificar o perfil antropométrico de escolares entre 6 e 11
anos de uma escola municipal no Rio Grande do Sul.
Observou-se que a prevalência de sobrepeso (12,62%) e
obesidade (8,73%) no sexo feminino foi menor que no sexo
masculino (12,93% e 13,93%, respectivamente). Contudo, não
houve diferença significativa entre o IMC de meninos e
meninas (p = 0, 1641).
Em um estudo realizado por Rech et al (2010),
estimaram a prevalência de obesidade e sobrepeso em
escolares de 7 a 12 anos de ambos os sexos, de uma cidade
serrana do Rio Grande do Sul. De acordo com a avaliação
antropométrica que considerou o IMC, segundo sexo e idade,

1019
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
que a prevalência de sobrepeso foi de 8% e obesidade 19,9%
e não foi encontrada diferença estatística significante para
obesidade e sobrepeso entre meninos e meninas.
Outro estudo ao avaliar o índice de massa corporal de
escolares observou que baixo peso, sobrepeso e obesidade
na população estudada, foram 12,1%, 14,8% e 4,4%,
respectivamente e também não houve diferenças
estatisticamente significativas nas prevalências de sobrepeso
e obesidade entre os sexos (p = 0,36). Nos meninos, as
prevalências de sobrepeso e obesidade foram de 14,6% e
3,4%, e nas meninas de 16% e 5,2%, respectivamente
(NOGUEIRA; SICHIERI, 2009).
Bertin et al (2010), propuseram em seu estudo associar
o estado nutricional com os hábitos alimentares de escolares
em Santa Catarina. Observaram de acordo com o percentil
encontrado nas curvas da OMS de IMC para idade, 2,7% de
magreza, 63,3% eutróficos, 21,2% com sobrepeso e 12,7%
obesos e ao comparar o estado nutricional entre os sexos,
diferente do presente estudo, verificou-se maior porcentagem
de meninas com sobrepeso e de meninos com obesidade e
ainda, detectou-se a presença de bons hábitos em 66% dos
escolares e uma baixa ocorrência de maus hábitos (3,1%).
Fagundes et al (2008), após avaliarem 218 escolares
submetidos à avaliação antropométrica e questionário sobre
hábitos alimentares, observaram que a prevalência de obesos
e de portadores de sobrepeso foi respectivamente 14,7 e
16,5%. Entre os escolares obesos e com sobrepeso, o baixo
consumo de frutas (10,8 e 10,8%), de verduras e legumes
(16,4 e 9,1%) e o alto consumo de doces (72,2 e 78,1%) foram
associados ao excesso de peso.

1020
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
O acompanhamento do estado nutricional da criança é
um importante instrumento para avaliar as condições de
saúde. Para tal realização, faz-se necessário o uso de
indicadores antropométricos, que além da facilidade em
coletar os dados e interpretar os resultados obtidos, reflete no
princípio de que com a aplicação destes é possível detectar a
incidência de doenças crônico-degenerativas (POLLA;
SCHERER, 2011; JANUÁRIO et al., 2008).
A detecção precoce do estado nutricional em crianças,
além da promoção de hábitos saudáveis e o fornecimento de
informações e conhecimentos acerca da obesidade e
desnutrição na infância e suas possíveis consequências para
a saúde dos escolares são formas de controlar a ocorrência
dos distúrbios nutricionais nesse grupo etário (BRITO;
WALSH; DAMIÃO, 2013).
A população brasileira tem se transformando em
relação ao perfil antropométrico e nutricional. As mudanças
nos hábitos alimentares e de vida refletem diretamente na
composição corporal e estado de saúde, tendo como resultado
dessas alterações, redução no déficit nutricional e aumento na
ocorrência de excesso de peso (REIS; VASCONCELOS;
OLIVEIRA, 2011). A obesidade é um distúrbio metabólico em
que há alteração no metabolismo energético, consecutivo do
balanço energético positivo, caracterizado pelo acúmulo de
gordura corporal que pode acarretar em consequências à
saúde. O sobrepeso é uma situação que antecede a
obesidade, nos quais o peso excede os padrões
recomendados para idade e altura. O diagnóstico depende de
variáveis antropométricas, como o peso, a altura e a
composição corporal do indivíduo (VASCONCELOS et al.,
2011; VITOLO, 2008).

1021
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
A infância é um período que requer uma alimentação
saudável para que haja completo desenvolvimento físico e
capacidade intelectual. Visando prevenir o surgimento dos
riscos nutricionais, faz-se necessário a implementação de
atividades de educação alimentar e nutricional, pois envolve
modificação e é capaz de melhorias no hábito alimentar a
médio e longo prazo e está relacionada a representações
sobre o alimento, conhecimentos, atitudes e valores. A
educação alimentar e nutricional tem um papel de grande
importância na promoção de hábitos alimentares saudáveis
desde a infância (MENDES, 2014; ZANCUL, 2008).
Avaliar o padrão alimentar na fase escolar é
indispensável, visto que, os escolares requerem uma oferta e
consumo adequados de nutrientes para a manutenção da
saúde, garantir crescimento adequado para idade, além de
prevenir a ocorrência de carências nutricionais seja por
excesso ou falta da alimentação; e através das ferramentas de
avaliações dietéticas é possível identificar os alimentos que
compõem a dieta de indivíduo ou grupos, como também
realizar alguma atividade de intervenção quando necessária
(GOMES; COELHO; SCHMITZ, 2006).
Para a análise do consumo alimentar foram
entrevistados 32 escolares, de ambos os gêneros, com idade
entre 7 e 9 anos, através de um instrumento individualizado
para a realização de uma anamnese alimentar composta pelas
seguintes refeições: desjejum, lanche da manhã, almoço,
lanche da tarde e colação. A anamnese alimentar foi realizada
em dois momentos: antes e após as intervenções de
educação nutricional. O instrumento para coleta das práticas
alimentares foi novamente aplicado afim de avaliar as
mudanças ocorridas nos hábitos alimentares dos escolares.

1022
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
A Figura (2) apresenta os resultados da análise dos
dezesseis alimentos observados no consumo alimentar dos
escolares, de ambos os sexos, e como parâmetro de
avaliação foi verificado através das refeições já citadas. A
coluna da esquerda representa a frequência de consumo
antes das atividades de educação nutricional e a coluna da
direita reproduz a frequência alimentar após a intervenção
nutricional. Os dados estão expostos em percentuais
representando a frequência dos alimentos.

Figura 2. Consumo alimentar de ambos os sexos: antes e


após a aplicação da educação nutricional.
100

80

60

40

20

Antes Depois

Fonte: Autor da pesquisa.


Diante do exposto na Figura (2), verifica-se a
comparação entre os alimentos mais consumidos e a
frequência dos mesmos tanto pelo sexo feminino como
masculino, no período anterior e após a intervenção
nutricional. No presente estudo foi observado que antes da
intervenção ser realizada havia uma elevada ingestão de
alimentos com baixo valor nutricional como pipocas

1023
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
industrializadas, fontes de gorduras saturadas e trans,
alimentos com alto teor de açúcares simples como o
achocolatado e bolo, além do consumo em excesso de
macarrão e pão, ricos em carboidratos simples que podem
trazer consequências negativas à saúde.
Assis et al. (2007), avaliaram o consumo alimentar de
crianças de 8 a 10 anos de idade por meio de um questionário
baseado nos hábitos alimentares comuns da faixa etária,
alimentos fornecidos na escola e o guia alimentar para
população brasileira. Os resultados encontrados nesse estudo
mostraram que as crianças estimam com quase totalidade o
que consome e não consome diariamente. O autor analisa que
o questionário utilizado apresentou validade e boa
reprodutividade, tornando-se um instrumento prático em
pesquisas para análise do consumo alimentar.
O consumo de alimentos saudáveis é um dos
determinantes do estado nutricional e está diretamente
relacionado à saúde e qualidade de vida dos indivíduos.
Portanto, conhecer o padrão de consumo alimentar é
fundamental para diagnosticar a situação alimentar e
nutricional e promover melhorias no perfil alimentar quando
necessários (BRASIL, 2015).
Após a intervenção de educação nutricional, nota-se
uma mudança significativa e positiva em relação ao consumo
do macarrão, cuja ingesta era de 60% reduziu para 40%; o
achocolatado houve uma redução de 81,2% para 18,8%;
assim como o consumo de pipocas industrializadas reduziu de
61,1% para 38,9% e o alimento bolo de 58,3% reduziu para
41,7%.
Estudos relatam que indivíduos que consomem
elevadas quantidades de gorduras, principalmente saturada e

1024
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
trans, têm seus níveis de colesterol sérico elevados, sendo um
grande fator no surgimento de doenças cardiovasculares.
Além disso, o consumo excessivo de alimentos
industrializados que são constituídos em sua maior parte de
gordura saturada e trans, contribuem para o ganho excessivo
de peso e a manifestação de outras doenças como diabetes e
hipertensão (BRASIL, 2012; CAMPOS et al., 2010).
Spinelli et al (2013) avaliaram a adequação do consumo
alimentar em escolares de uma escola privada, verificando
que o consumo de verduras, legumes e frutas foi considerado
inadequado e um aumento no consumo de guloseimas, como
bolachas recheadas, salgadinhos, doces e refrigerantes,
representado por 67,7% das crianças.
O atual ambiente obesogênico é característico do
aumento no consumo de alimentos ultraprocessados,
incentivados por estratégias de marketing que investem em
divulgação de alimentos de alta densidade energética, com
baixo valor nutricional, além das bebidas açucaradas,
influenciando nas preferências e padrões alimentares
(TADDEI; TOLONI; SILVA, 2016).
A obesidade infantil é uma grande consequência
desses desvios nos padrões alimentares, influenciados pela
mídia. Quanto mais células gordurosas uma criança adquirir
na infância se tornará mais difícil ter na idade adulta um peso
ideal e hábitos saudáveis, já que este é um processo contínuo
e gradual (LESSA, 2011; SETZER, 2009). Esta por sua vez,
não é resultante de uma causa específica. É uma
manifestação de vários fatores, entre eles, fatores genéticos,
ambientais e fisiológicos. A genética é um importante fator na
determinação do peso, porém, os fatores ambientais têm sido
cada vez mais responsáveis pelo desencadeamento da

1025
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
obesidade. Dentre os fatores ambientais têm-se mostrado
principalmente as modificações no padrão alimentar com um
aumento no consumo de alimentos de elevada densidade
calórica, maior ingesta de açúcares e gorduras, além da
redução de alimentos como frutas e verduras que são ricas em
vitaminas e minerais (VASCONCELOS et al., 2011).
Fernandes et al (2009), ao investigarem o efeito de um
programa de educação nutricional na prevalência de
sobrepeso/obesidade e no consumo alimentar de escolares,
observaram melhorias em relação à qualidade dos alimentos
consumidos pelos escolares após a aplicação do programa de
educação nutricional, apesar de sua curta duração, como a
diminuição significante no consumo de suco artificial, o
salgadinho e pipoca industrializados também teve o percentual
de consumo diminuído.
Autores propuseram um estudo com objetivos
semelhantes e obtiveram resultados similares ao presente
estudo. Avaliaram o consumo alimentar e diagnóstico
nutricional e a aderência ao processo de educação nutricional
com trinta e quatro crianças de sete a dez anos de idade,
durante um período de sete semanas. Concluíram que não
houve diferença significativa em relação ao peso e IMC e
quanto a frequência no consumo alimentar, houve melhora
significativa na ingestão dos grupos alimentares,
demonstrando que a educação nutricional melhorou as
escolhas alimentares dos alunos avaliados (COSTA et al.,
2009).
Hinnig e Bergamaschi (2012), buscaram analisar os
alimentos mais consumidos pelos escolares e puderam
concluir que os dez itens mais citados por pelo menos 49%
dos escolares foram: arroz, feijão, leite, refrigerante normal,

1026
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
achocolatado em pó, pão francês, sucos industrializados de
caixinha, carne, bolo e pipoca.
Em Florianópolis - SC, Costa et al (2012), ao
investigarem a mudança do consumo alimentar de crianças de
cinco a dez anos de idade em um período de cinco anos,
mostrou que houve redução no consumo de alimentos
marcadores de dieta saudável (feijão, carnes/peixes, frutas,
legumes e verduras), sendo uma modificação negativa, porém
houve diminuição de alimentos de alta densidade energética e
baixo valor nutricional (refrigerantes, guloseimas e
pizza/batatas fritas), representando uma mudança positiva.
No estudo de Costa et al (2012), ao avaliarem a
alimentação dos escolares puderam observar após o período
do estudo, que houve uma pequena redução no consumo de
carne, frango, sendo 52,1%, 48%, respectivamente, alterando-
se para 47,9% e 48%. Sendo considerada uma modificação
pequena, visto que o consumo desses alimentos já eram
considerados baixos, comparado com outros alimentos
investigados na alimentação dos escolares.
A proteína é um nutriente importante e essencial para a
fase escolar. Atua na construção dos tecidos e está
diretamente relacionada ao crescimento. A ingestão dietética
recomendada de proteínas para escolares são divididas em
grupos. Para crianças de 7 a 10 anos recomenda-se
0,95g/kg/dia, segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS) e de acordo com as Dietary Reference Intakes (DRIs),
para a faixa etária de 7 e 8 anos o valor recomendado de
proteína é de 19g/dia e entre 9 e 10 anos o valor é de 34g/dia
(VASCONCELOS et al., 2011; SILVA; MURA, 2010).
A ingestão de Arroz e feijão foram relatados com o
percentual de 49,1% e 57,4% para ambos; após a intervenção

1027
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
realizada observa-se um pequeno aumento no consumo de
arroz para o percentual de 50,9%, porém o consumo de feijão
teve uma redução para 42,6%. Desta forma, a promoção e
incentivo desses alimentos devem ser mais reforçadas, visto
que, a combinação de arroz e feijão é benéfica ao organismo
principalmente quanto ao fornecimento de aminoácidos
essenciais (SPINELLI, 2013).
Os minerais e as vitaminas são compostos orgânicos
importantes que contribuem também para o crescimento
normal dos escolares e garantem o bom funcionamento do
organismo. Um mineral importante na saúde da criança é o
ferro, presente no feijão. Além de aumentar os valores de
hemoglobina, também tem função de aumentar a
concentração total de ferro no organismo, necessário para o
período de crescimento (VASCONCELOS et al., 2011).
O ferro atua na melhora e conservação do sistema
imune e age nos processos de crescimento e
desenvolvimento. A carência desse mineral é a principal causa
da anemia; sendo resultante da queda dos níveis
considerados normais de hemoglobina. Dentre as
consequências da ingesta insuficiente de ferro, estão a
redução no desenvolvimento mental, menor resposta
imunológica, fadiga, irritabilidade, além disto, há prejuízos na
capacidade de aprendizagem, na memória e concentração
(REZENDE et al., 2009; TEIXEIRA, 2009).
A prática alimentar composta de uma dieta rica em
alimentos de qualidade é fundamental para o bom
desenvolvimento intelectual e crescimento saudável, além de
prevenir distúrbios nutricionais como anemia ferropriva,
desnutrição ou obesidade, como também reduzir riscos futuros
para outras manifestações clínicas (SILVA; MURA, 2010).

1028
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
Na análise realizada, nota-se também que o consumo
de bolacha representava 44% e cuscuz 44,4% e após a
aplicação do instrumento para avaliar os alimentos mais
consumidos no período posterior a intervenção aumentou para
56% e 55,6%, respectivamente. Pode ser observado ainda
que por meio da intervenção nutricional através das atividades
educativas de incentivo a alimentação saudável, os escolares
aumentaram o consumo de frutas, sendo representado na Fig.
(2) por maçã e suco. Com um valor expressivo de suco 39,3%
aumentou para 60,7% e a maçã com representativo de 13,8%
teve um aumento para o percentual de 86,2%.
As atividades de educação alimentar desenvolvidas no
presente estudo, proporcionaram não só melhorias na
qualidade e no perfil alimentar dos escolares, como também,
proporcionaram vivências que os mesmos não haviam
experimentado, como consumir verduras, frutas e legumes
que eram citadas como ruins, mas nunca havia sido provada;
como ainda, a dinâmica do suco verde que ao experimentar
teve quase 100% de aprovação e os benefícios gerados por
meio dos vídeos educativos, puderam refletir no ambiente
escolar e familiar.
A alimentação saudável e completa em nutrientes é de
grande importância na infância, pois proporcionam
crescimento e desenvolvimento adequado. As práticas
alimentares erradas têm sido constantemente relacionadas à
ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis, havendo
necessidade de avaliar o consumo alimentar para detectar os
alimentos relacionados a tais doenças (VOCI; ENES;
SLATER, 2008; BARBOSA; SOARES; LANZILLOTTI, 2007).
Para um bom funcionamento do organismo são
necessários os minerais que tem função estrutural, atuando na

1029
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
formação dos ossos ou função reguladora, como também a
ingestão de todas as vitaminas. Como nenhum alimento
contém todas as vitaminas e minerais, é importante o
consumo de vários alimentos (CUNHA, 2014). Dentre os
exemplos de vitaminas importantes, destacam-se a vitamina C
que auxilia na absorção do ferro e está relacionada a
processos de cicatrização de tecidos e sistema imunitário; a
vitamina A importante para a visão, para o crescimento,
diferenciação e proliferação celular, reprodução e integridade
do sistema imune. A baixa ingestão desse micronutriente pode
contribuir para o surgimento de uma hipovitaminose, causando
graves consequências para saúde e sobrevivência da criança
(SILVA; MURA, 2010).
Além destas, a vitamina D é importante para o bom
desenvolvimento dos ossos e do esqueleto durante a infância,
como também prevenção e manutenção da saúde nos demais
ciclos da vida. Possui ações em outros órgãos, como intestino,
rins, além de ser essencial para a absorção do cálcio
(VASCONCELOS et al., 2011).
O consumo de leite obteve uma pequena redução de
51,3% para 48,7%. Desta forma, ressalta a importância de
incentivar ainda mais aos escolares o consumo de leite, já que
os mesmos estão em crescimento e necessitam de todos os
nutrientes para que haja o desenvolvimento adequado e
saudável (CUNHA, 2014; PETERS; OLIVEIRA; FISBERG,
2013).
As crianças têm seus hábitos formados em dois
ambientes, que estão em ligação contínua: a própria família e
a escola. Parte de sua vida se dá na escola e a outra parte no
ambiente familiar; estes em conjunto são os responsáveis por
construir hábitos saudáveis, tendo em vista que as crianças

1030
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
utilizam os pais e os professores como referência e se
espelham em suas atitudes (ANTONIO; MENDES, 2009;
SONATI, 2009).
Segundo Dowbor (2016), a criança é uma frágil
construção à mercê de valores familiares e sociais, das
tecnologias que invadem seus espaços, das mensagens
marteladas pela mídia. Desta forma, todo trabalho educacional
voltado para a aquisição de bons hábitos alimentares, seja da
escola ou da família, estão todos os dias em confronto com as
dimensões sociais e os meios de comunicação.
Os crescentes casos de obesidade são preocupantes,
dado que o excesso de gordura corporal na infância
representa um importante fator de risco, principalmente a
longo prazo. Alterações no perfil lipídico, hipertensão, diabetes
do tipo 2, são exemplos de consequências associadas a
patologias que estão diretamente relacionadas à alimentação
(VASCONCELOS et al., 2011; KLIEGMAN, 2009).
As doenças crônicas não transmissíveis, podem
desenvolver em etapas precoces da vida, como na infância e
desta forma, a alimentação se não realizada de forma
saudável com boas escolhas alimentares, representa um
importante fator de risco. Dentre os distúrbios relacionados,
destacam-se as doenças cardiovasculares, câncer, obesidade
e dislipidemias (ACCIOLY, 2009).
Portanto, é de extrema importância atitudes de
prevenção desde o início da vida, principalmente em idade
escolar, cujos dados de obesidade são mais acentuados.
Espera-se, reverter essa situação e influenciar os pais acerca
dos cuidados e intervenções nutricionais que devem ser
tomadas, bem como o entendimento de tal problema para as
crianças (TENORIO; COBAYASHI, 2011).

1031
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
4 CONCLUSÕES

Pôde-se concluir que: quanto ao estado nutricional, de


acordo com os critérios da WHO, antes da educação
nutricional do sexo feminino uma grande parte da amostra
estavam dentro da faixa de normalidade, uma pequena
porcentagem apresentava-se com magreza, e com relação ao
sobrepeso, obesidade e obesidade grave representaram uma
porcentagem um pouco inferior à de eutróficos. Já o sexo
masculino, observa-se que a amostra ficou dividida quase por
igual entre o estado eutrófico e a classificação de sobrepeso,
obesidade e obesidade grave.
Após o período da intervenção nutricional, observa-se
que tanto no sexo feminino e masculino houveram mudanças
no seu estado nutricional, como o percentual dos escolares de
eutróficos que passou a representar uma maior porcentagem e
a redução de crianças com sobrepeso. Apesar de todas essas
mudanças, estatisticamente não houve diferença significativa,
o que pode ter sido resultado de um curto período de tempo
entre as atividades de educação nutricional.
No contexto alimentar ao comparar os alimentos mais
consumidos e a frequência dos mesmos, algumas práticas
alimentares dos escolares mostraram-se inadequadas:
elevado consumo de pipocas industrializadas, bolo,
achocolatado, pão e macarrão, e baixa ingestão de frutas. O
maior consumo de lanches não saudáveis, como pipocas e
bolos, fontes de açúcares e assim como a ingestão elevada de
carboidratos simples e lipídeos pelos escolares, evidenciou a
prática de excessos alimentares, os quais podem contribuir
para o desenvolvimento de doenças crônicas não-
transmissíveis.

1032
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
Pôde-se observar que o consumo dos alimentos citados
após as atividades de educação nutricional, teve uma redução
na frequência de consumo como o macarrão, o achocolatado,
pipocas industrializadas e o consumo de bolos; ainda,
houveram mudanças no aumento do consumo de sucos e o
consumo de maçã que expressou uma grande evolução.
A análise dos dados obtidos aponta a importância na
adoção de medidas que promovam hábitos saudáveis na fase
escolar. Tais evidências reforçam a importância da
implementação de estratégias de educação nutricional, para
ensinar aos escolares como escolher adequadamente os
alimentos. Superar os desafios ao problema da obesidade em
escolares e quanto aos hábitos alimentares deve ser um
trabalho diário e as medidas têm por objetivo promover
mudanças de comportamento que irá proporcionar saúde e
qualidade de vida, além da prevenção de doenças na vida
adulta.
Conclui-se, através dos resultados obtidos, que as
atividades desenvolvidas de educação alimentar foram
eficazes na melhora do perfil alimentar, porém, tais mudanças
não foram capazes de modificar expressivamente o estado
nutricional dessa população, sugerindo um conjunto de fatores
associados à questão.
Nesse sentido, estudos futuros são necessários para
avaliar o impacto de ações educativas que envolvam toda a
comunidade escolar, como também estender o período de
promoção as práticas alimentares saudáveis, desenvolver
atividades que incluam os professores e os familiares dos
alunos, já que o hábito alimentar das crianças são geralmente
o reflexo dos pais e estes devem também estar conscientes da

1033
AVALIAÇÃO DO EFEITO DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: PERFIL ALIMENTAR E
ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES EM FOCO
importância de uma boa alimentação para prevenir o
surgimento de doenças.

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1037
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
AVALIAÇÃO
NUTRICONAL
COLETIVIDADE
SADIA

1038
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
CAPÍTULO 52

PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO


EXÉRCITO BRASILEIRO DO HOSPITAL DE
GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
Rodrigo Brasileiro de Lira 1
Rodrigo Luiz Targino Dutra 2
1
Professor do curso técnico em nutrição e dietética da FPB; 2 Mestre em ciência e Tecnologia
de alimentos e professor da FPB.
rodrigo06luiz@gmail.com.br

RESUMO: O estudo foi realizado com militares do Exército


Brasileiro da guarnição de João Pessoa – Paraíba, da
Organização Militar, Hospital de Guarnição de João Pessoa
(HguJP), tendo como objetivo analisar os hábitos alimentares
e o perfil nutricional, o presente estudo tratou-se de uma
pesquisa de campo de carater descritivo e transversal, fez-se
uso de questionários elaborados pelos pesquisadores os
dados obtidos na pesquisa foram coletados através de uma
ficha clinica, Questionário de Consumo Alimentar (QFCA);
Recordatório Alimentar e Exames Bioquímicos. O universo
desta pesquisa é de 27,5% que corresponde a 47 militares
onde a amostra foi dividida em 17,39% do sexo masculino,
que correspondem a 37 voluntários e 10,11% do sexo
feminino que correspondem a 10 voluntárias. onde foram
selecionados aleatoriamente, voluntariamente e independente
da hierarquia cargo ou função, tendo como critério de inclusão
militar da ativa que tenha no minimo 1 ano de serviço e que
façam no mínimo duas refeições. A partir dos dados obtidos
observou-se que os militares encontram-se com IMC no
parâmetro da eutrófia. No entanto a grande maioria encontra-
se com o risco cardiovascular de acordo com a circunferência
cintura. O bem-estar físico adequado proporciona melhora do
desempenho do trabalho, podendo manter ou melhorar o perfil
1039
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
nutricional de cada indivíduo e desta forma, melhorando a
qualidade de vida.

Palavras-chave: Perfil Nutricional. Hábitos alimentares. Risco


cardiovascular.

1 INTRODUÇÃO

O Exército Brasileiro é uma instituição renomada que


esteve presente em muitos dos momentos decisivos da
história do Brasil. Acumula inúmeras funções: defender a
Pátria, garantir a lei e a ordem, cooperar com o
desenvolvimento nacional e com a defesa civil e, dentre outras
funções, participar de operações internacionais (BORBA,
2008).
Para o bom cumprimento destas funções, se faz
necessário estar adequadamente preparado quanto aos
materiais e tecnologias de emprego militar. Além disso, se faz
necessário ter um bom condicionamento físico, mental e
nutricional. O equilíbrio do estado nutricional está intimamente
ligado ao consumo e o gasto energético, em que o resultado
depende do plano físico e biológico da pessoa e da
necessidade de se suprir suas carências nutricionais. Os
nutrientes que compõem a dieta merecem atenção, pois
podem minimizar os danos causados pelo estresse para
obtenção do desempenho físico que, muitas vezes, exige uma
sobrecarga físico-mental e emocional (TEIXEIRA, 2009).
A dieta tem o papel fundamental para a manutenção da
vida, promovendo saúde e bem estar através da alimentação
balanceada e adequada para cada indivíduo. Isso serve para
os militares da ativa que estão em constante atividade.

1040
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
Assim, esta pesquisa foi resultado de uma pesquisa que
veio avaliar os Hábitos Alimentares e verificar o perfil
nutricional dos militares do Exército Brasileiro do Hospital
Guarnição de João Pessoa – Paraíba e suas consequências.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa de campo foi realizada através de um


estudo do tipo descritivo e transversal, com a abordagem
quantitativa de caráter exploratório, modelo que melhor se
adequou a proposta deste trabalho.
O presente estudo foi realizado com militares do
Exército Brasileiro do Hospital de Guarnição de João Pessoa –
PB. O total de militares que trabalham na Unidade Médica
Militar é de 171 militares e a amostra analisada corresponde a
47 militares (27,5% do contingente da instituição) dos quais 37
são do sexo masculino e 10 do sexo feminino. Eles foram
selecionados aleatoriamente, voluntariamente e independente
da hierarquia, cargo, função ou sexo, tendo como critério de
inclusão ser militar da ativa que tenha pelo menos 1 ano de
serviço e que fazem, no mínimo, duas refeições na
Organização Militar (OM).
Os dados obtidos na pesquisa foram coletados através
de uma Ficha Clínica: parâmetros antropométricos – peso,
altura, estado nutricional, relação cintura quadril, história social
e história familiar; Questionário de Frequência de Consumo
Alimentar (QFCA); Recordatório Alimentar 24 horas e Exames
Bioquímicos (glicemia de jejum, colesterol e triglicerídeo).

1041
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
Para a análise foi utilizado dois programas de
estatísticas, SPSS e os gráficos e tabelas no programa
Windows Excel.
Considerando a exigência do Conselho de Saúde
através da resolução 196/96 que trata de pesquisa com seres
humanos, este estudo descritivo e qualitativo foi submetido à
análise e aprovação do comitê de ética do Hospital de
Guarnição de João Pessoa – HguJP do Exército Brasileiro –
EB.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A amostragem do estudo foi 47 militares do Exército


Brasileiro do Hospital da Guarnição de João Pessoa –
Paraíba. A média dos dados clínicos encontrados no estudo
teve a variação do total pesquisado dos seguintes parâmetros;
a idade mínima 19 anos e idade máxima 49 anos; peso
mínimo de 53 kg peso máximo 101 kg; altura mínima de 1,55m
e altura máxima 1,81m. O IMC (Índice de Massa Corpórea)
mínimo foi de 20,2 mínimos e IMC máximo 34,49. A CC
(Circunferência da cintura) mínima foi de 71 cm e CC máxima
foi de 113 cm. A CQ (Circunferência do Quadril) mínimo foi de
85 cm e CQ máximo 120 cm.
A partir do estudo se conseguiu observar o estado
nutricional da amostragem, identificando como o de maior
incidência a eutrófia, ou seja, a maioria dos avaliados tem seu
estado nutricional normal, considerado dentro dos padrões
estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
como mostra a figura 1.

1042
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
Figura 1- Estado Nutricional dos soldados do hospital de
guarnição da Paraíba

Fonte: próprio autor

A amostra revelou uma média dentro do padrão de


magreza e uma menor parte desta amostra em condições de
sobrepeso. No entanto, a grande maioria apresenta risco
cardiovascular, de acordo com a circunferência cintura, ainda
que a circunferência cintura/quadril apresentasse um risco
cardiovascular de menor incidência (figura 2).

Figura 2- Circunferência da cintura dos soldados do


hospital de guarnição da Paraíba

Fonte: próprio autor

1043
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA

Foi analisado com essa pesquisa o nível, frequência e


percentual de realização de prática de atividade física por
parte dos militares (figura 3).

Figura 3 – Prática de atividade física

Fonte: próprio autor

Como se pode verificar no gráfico 3, 53,32% dos


participantes da pesquisa não praticam atividade fisica,
enquanto 44,68% afirmam praticar atividade fisica.
Conforme Neto (1999), pessoas que praticam cerca de
30 minutos de atividade física por dia, pelo menos três vezes
por semana têm diminuídas as chances de desenvolver
doenças crônico-degenerativas, associadas entre outras
causas a falta de atividade fisica e ao aumento do estresse
oxidativo, causado por uma dieta desbalanceada e pobre em
vitaminas e sais minerais.

Verificou-se o nível e o percentual de frequência na


realização prática de atividade física por parte dos militares,
como mostra a figura 4.

1044
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
Figura 4 – Frequência da Prática Atividade Física

Fonte: próprio autor

Observou-se na figura 3, que 44,68% dos militares


participantes da pesquisa praticam atividade física, sendo
assim, na figura 4, pode-se observar a frequência da prática
de atividade fisica desses militares, constatando-se que
21,28% dos participantes praticam atividade física duas vezes
por semana, enquanto 19,15% praticam atividade fisica mais
de três vezes por semana e 4,25% praticam atividade fisica
três vezes por semana.
Conforme Carlet (2006) diversos estudos têm
demonstrado uma intensa relação entre síndrome metabólica
e inatividade física, assim como tem sido relatada associação
inversa entre atividade física, índice de massa corpórea (IMC)
e razão cintura-quadril (RCQ). A manutenção de um estilo de
vida ativo, independentemente de qual atividade é praticada,
pode evitar o desenvolvimento de doenças crônico-
degenerativas associadas a síndrome metabólica e obesidade.
A grande parte das evidências científicas apontam para a
importância dos exercícios aeróbios na redução do peso, em

1045
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
geral, e manutenção da saúde. Hoje existe uma área da
Nutrição – Nutrição Esportiva, que tem sido bastante
explorada e que pode ser de grande valia na prática da
atividade física dos militares que fazem treinamento nos
quartéis.
Para obtenção de dados mais conclusivos foi utilizado
para traçar o perfil nutricional um questionário de frequência
do consumo alimentar que se trata de uma lista dos alimentos
consumidos na dieta dos avaliados e visa verificar os hábitos
alimentares da amostra pesquisada. Os grupos alimentares
selecionados seguiu a padronização da Pirâmide Alimentar da
OMS.
Observando os questionários respondidos, notou-se
que cerca de 95,7% da amostra dos avaliados consomem
arroz, e dessa amostra 78,26% faz este consumo diariamente.
O que destaca este cereal como o mais consumido pelos
avaliados.
Entre os alimentos energéticos podemos incluir ainda
os doces, dentre este grupo o alimento mais consumido é o
açúcar, com cerca de 89,10%.
Dentre os vegetais mais consumidos destaca-se o
tomate, com 95,07% da amostra, seu consumo diário está em
torno de 28,06%. O vegetal menos consumido está o almeirão,
apenas 6,05% consomem este vegetal.
As frutas mais consumidas o destaque é para a banana,
95, 07% da amostra consome esta fruta, com uma frequencia
diária de 15,21%. As menos consumidas o destaque é para a
pera, que é consumida apenas por 39,10% da amostra.
Entre as leguminosas mais consumidas destaca-se o
feijão que é consumido diariamente por cerca de 43,47%.

1046
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
Quanto a menos consumida observou-se a lentilha, com
26,10% do consumo entre os avaliados.
Dentre as carnes, a mais consumida é a carne bovina,
100% da amostra consome, muito embora o consumo diário
seja de apenas 6,52%.
Quanto aos laticinios destacou-se como produto mais
consumido o iogurte de frutas e o queijo mussarela, com
82,06% da amostra. Dentre os derivados do leite menos
consumido temos a ricota, com apenas 28,03%. Com uma
frequência diária de apenas 2,17%, o que corresponde a um
único avaliados.
No consumo de embutidos temos o destaque maior
para o presunto que é consumido por cerca de 80,40%, em
um consumo diário de 10,85%. O menor consumo está o da
salsicha suína, com 8,70% da amostra.
A frequência de consumo verificada na amostra dos
avaliados de fast food destaca a pizza como alimento mais
consumido neste grupo, cerca de 84,80% do total, em um
consumo de 17,39% pelo menos uma vez na semana.
O consumo dos óleos e gorduras deu-se destaque para
o azeite de oliva consumido por 73,90% da amostra, num
consumo diário de 26,08%. Entre o mínimo consumido está a
gordura hidrogenada, com cerca de 2,17%.
Nas estatísticas obtidas com relação a frequência de
consumo de bebidas, a bebida mais consumida dentro da
população da amostra é o suco natural, correspondendo a
84,80% do total, sendo consumidos diariamente cerca de
13,04%. Dentro das bebidas menos consumidas está a
cachaça, que revelou um consumo de apenas 2,17% da
amostra estudadas

1047
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
No Grupo dos Temperos, o maior consumo é do sal, por
volta de 93,50% da amostra afirmam se utilizar deste tempero
em sua alimentação, em consumo diário de 73,91%. Entre os
menos utilizados estão as plantas medicinais, com cerca de
17,40% da amostra em um consumo/dia de 8,69%.
De acordo com o questionário de consumo alimentar e
o recordatório alimentar 24 horas, foi observado que a grande
maioria faz uso de alimentos energéticos – CHO
(carboidratos), contudo em quantidades elevadas. Sabe-se
que o uso exagerado desses alimentos pode levar a fatores
que ao longo prazo pode trazer prejuízos à saúde do
indivíduo, sendo irreversíveis, por exemplo, o diabetes do tipo
2. Mesmo sabendo que carboidratos são alimentos altamente
energéticos e se escolhidos de forma adequada podem ser
muito benéficos para a saúde do individuo, deve-se minimizar
o uso de carboidratos de alto índice glicêmico, como o açúcar
de mesa, o mel, o arroz e a batata inglesa, e otimizando o uso
de carboidratos complexos de índice glicêmico baixo a
moderado como frutas e pão integral (CARPERSEN, C.J.
1995).
As proteínas são utilizadas na reparação e construção
de tecidos no organismo e estão presentes em todas as
células. Também possuem a função reguladora por estarem
presentes nos hormônios e enzimas. A proteína animal, em
geral, possui alto valor biológico por conter maior quantidade
de aminoácidos essenciais. Além disso, os alimentos que são
fontes naturais de proteína animal normalmente também são
ricos em ferro, vitaminas do complexo B e zinco. Entretanto,
esses alimentos podem conter maior quantidade de gordura
saturada quando comparado às fontes de proteína vegetal
(soja, feijão e oleaginosas) e seu excesso pode levar ao

1048
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
aumento do colesterol ruim LDL (DEURENBERG, P.; YAP, M.;
VAN-STARVEREN, W.A 1998).
A gordura, presente em inúmeros alimentos, pode
trazer benefícios, mas também pode trazer complicações para
a saúde, quando consumida de maneira inadequada.
Atualmente, o grande vilão dentre as gorduras, é o ácido graxo
transverso, mais comumente chamado de gordura trans e a
gordura saturada encontrada nas carnes gordas, leites e
derivados. Logo, se deve aprender a equilibrar o consumo de
gorduras dando prioridade as gorduras insaturadas, que
melhoram o colesterol bom HDL (poliinsaturadas – Ômega 3 e
Ômega 6 e a gordura monoinsaturadas – Ômega 9).
Em observação e vivenciando dia a dia na prática, e
após análise do inquérito dietético aplicado ao longo desta
pesquisa pode-se observar que alguns dos avaliados fazem o
consumo exagerado de calorias, porém alguns sofrem
anormalidades nutricionais, fatores responsáveis pela
subnutrição de calorias vazias. Apesar de a população
pesquisada está dentro dos padrões eutróficos, de acordo com
o índice de massa corpórea. Entre as causas possíveis deste
resultado o consumo alimentar pode ser apontado como uma
das principais causas. O consumo de alimentos inadequados,
a pouca prática de exercícios físicos, além da evolução e a
industrialização dos alimentos e o marketing da indústria
alimentícia podem ser apontados como possíveis causas dos
resultados obtidos, apesar do esforço da Unidade de
Educação Nutricional do Hospital de Guarnição, com suas
campanhas e palestras tentar estabelecer uma cultura dentro
da corporação de uma Alimentação Saudável.
Nota-se, contudo, que consumir uma alimentação
saudável e balanceada tem sido uma preocupação constante

1049
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
na rotina de muitas pessoas. Seja para obter um estilo de vida
saudável, seja para perder peso, melhorar a saúde ou,
simplesmente, satisfazer uma necessidade fisiológica do
corpo, afinal de contas, comer é sempre muito bom. Logo,
uma dieta equilibrada tem o poder de reduzir o aumento de
doenças associadas, que são prejudiciais ao bom
funcionamento do nosso organismo, porém vale ressaltar que
a alimentação precisa ser fracionada em cinco ou seis
refeições diárias. Isso ajuda a controlar melhor nosso apetite e
mantém melhor o funcionamento do metabolismo corporal.
Uma alimentação equilibrada deve conter cerca de 50 a 60%
da ingestão calórica diária como carboidratos, 10 a15% de
proteínas e 20 a 30% de gorduras. Não se devem esquecer as
vitaminas, minerais, fibras e do consumo de 2 litros de água
por dia. É importante evitar excesso de alimentos ricos em
gordura, principalmente as saturadas e trans, sal e açúcares.
Abusar das verduras, legumes e frutas. Preferir as carnes
mais magras, os cereais integrais e beba bastante água.
Dessa forma, é importante manter a qualidade e a
quantidades dos tipos e dos alimentos e líquidos que
consumimos, buscando uma dieta mais saborosa, agradável e
saudável.
Para complementar o estudo foi realizado exames
bioquímicos dos avaliados. Os mesmos revelaram tendência a
problemas cardiovasculares devido a altas taxas de
triglicerídeos e colesterol, confirmando assim os dados obtidos
pela CC. Tais resultados são preocupantes, pois as altas taxas
destes materiais associadas ao nível eutrófico da amostra
demonstra que o risco cardiovascular é silencioso e tem
influência direta dos alimentos consumidos.

1050
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
Vivemos hoje, um fenômeno chamado de “transição
nutricional”, caracterizado por um aumento dos índices de
sobrepeso e de doenças crônicas não transmissíveis,
associados pelos avanços tecnológicos na indústria de
alimentos e na agricultura, bem como pela globalização da
economia e pela perspectiva mercadológica que nosso
sistema econômico nos impõe, no qual, o Estado da Paraíba
não se difere dos outros Estados Brasileiros. As práticas
alimentares contemporâneas têm sido objeto de preocupação
das ciências da saúde desde que os estudos epidemiológicos
passaram a sinalizar estreita relação entre a dieta brasileira e
algumas doenças crônicas associadas à alimentação, motivo
pelo qual o setor sanitário passou a intervir e pensar
mudanças nos padrões alimentares. Apesar de todas as
medidas de prevenção, ainda falta informação, principalmente
para a classe social média e baixa. Contudo, esse problema
vem se repercutindo em todas as classes sociais.
Inquéritos nutricionais têm apontado com frequência a
inadequação dos hábitos alimentares e do grau de
conhecimento de nutrição de populações de baixa renda
dentre os fatores determinantes da subnutrição, ao invés de
considerá-los também como integrantes de uma situação na
qual aparecem como resultado de normas estabelecidas e de
condições criadas pelo sistema produtivo vigente, pois, sabe-
se que a boa alimentação e boa nutrição dependem da
produção e distribuição dos alimentos, que são influenciados
pela economia do país e também pela educação da população
(OLIVEIRA et al., 1996). Estes problemas que afetam a boa
nutrição vão de encontro aos padrões pré-estabelecidos de
uma vida saudável. A alimentação adequada é um direito
fundamental de todo ser humano, inerente à sua dignidade e

1051
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
indispensável à realização dos direitos consagrados na
Constituição Federal (BRASIL, 1988). Com isso, estudos são
frequentemente realizados para sanar os problemas
nutricionais que afetam a população.
O grande avanço da ciência na área da Nutrição
transformou o simples ato de comer em uma ferramenta
poderosa na promoção da saúde. A cada dia são descobertos
novos nutrientes aptos a atuar diretamente no organismo,
prevenindo e tratando doenças. O Exército Brasileiro no
Estado da Paraíba disponibiliza uma única Unidade Militar
Hospitalar, o Hospital de Guarnição de João Pessoa – HGuJP.
Nesta unidade é oferecido serviço de Nutrição em Educação
Nutricional, que disponibiliza profissionais do setor de Nutrição
e Aprovisionamento, três nutricionistas e um técnico em
alimentos (Gastronomia) que detêm o papel principal de
diagnosticar o estado nutricional e de acompanhar os
pacientes, que se encontram em baixa hospitalar, em casa ou
ambulatorial, prescrevendo dietas de acordo com a patologia e
as necessidades do indivíduo. Com os militares da ativa que
prestam serviço ao hospital, é realizada consulta ambulatorial
na qual o nutricionista prescreve a dieta conforme as
necessidades de cada um. Tanto são prescritas Dietas Livres,
como também as Dietas Terapêuticas (Especiais), conforme
estado patológico e aceitação do comensal. No caso do
acompanhante pode ser prescrita dieta individualizada,
quando este relatar alguma patologia.
Por isso, levando em conta os aspectos supracitados, a
pesquisa se propôs a analisar cada ponto ressaltado acima a
fim de estabelecer um perfil nutricional do militar e através
deste, promover uma melhor qualidade na oferta do serviço de
Educação Nutricional dos pacientes do Hospital, além da

1052
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
conscientização da Corporação Militar em relação à qualidade
da alimentação.

4 CONCLUSÕES

A partir da pesquisa de campo realizada com os


militares do Exército Brasileiro do Hospital de Guarnição de
João Pessoa foi observado que avaliação nutricional dos
militares é muito importante, pois é através desta que se
determina o estado nutricional que estes indivíduos se
encontram. Neste estudo observou-se o estado nutricional dos
militares do Exército e relacioná-lo aos padrões estabelecidos
pela OMS.
O estado nutricional é o resultado do equilíbrio entre o
consumo de nutrientes e o gasto energético do organismo
para suprir as necessidades nutricionais, sendo que a
avaliação nutricional visa a identificar problemas nutricionais,
possibilitando a promoção ou recuperação do estado de saúde
do indivíduo. O bem-estar físico adequado proporciona
melhora do desempenho do trabalho, melhorando a qualidade
de vida como também alcançando as metas estipuladas pelo
Exército Brasileiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALESSI, NP. Conduta alimentar e sociedade. Medicina (Ribeirão Preto)


2006; 39 (3): 327-32.
BEHNKE, A.R.; FEEN, B.G.; WELHAM, W.C. The specific gravidity of
healthy men: body weight/volume as an index of obesity. Journal of the
American Medical Association, Chicago, v.118, p.495-8, 1942.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil, Subchefia para Assuntos
Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília,
5 de outubro de 1988.
1053
PERFIL NUTRICIONAL DOS MILITARES DO EXÉRCITO BRASILEIRO DO
HOSPITAL DE GUARNIÇÃO DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA
CANESQUI, A.M. Antropologia e alimentação. Revista de Saúde Pública,
São Paulo, v.20, n.3, p.207-216, 1968.
CANESQUI, A.M. Comida de rico, comida de pobre: um estudo sobre
alimentação num bairro popular. Campinas, 1976. 267p. Tese (Doutorado
em Ciências ) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de
Campinas,1976.
CARPERSEN, C.J. Physical activity epidemiology. Public Health Rep.
310(1), pp. 5109-5113. 1995
Consultation on Obesity. Geneva: World Health Organisation.
DEURENBERG, P.; YAP, M.; VAN-STARVEREN, W.A. Body mass index
and percent body fat: a meta-analysis among different ethnic groups.
International Journal of Obesity, London, v.22, p.1164-71, 1998.
BORBA NEVES, EDUARDO, Prevalência de sobrepeso e obesidade em
militares do exército brasileiro: associação com a hipertensão arterial.
Ciência & Saúde Coletiva [en linea] 2008.
TEIXEIRA, CLARISSA STEFANI; PEREIRA, ÉRICO FELDEN, Physical
Fitness, Age and Nutritional Status of Military Personnel, Sociedade
Brasileira de Cardiologia, 2009.

1054
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
EDUCAÇÃO
NUTRICIONAL

1055
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
CAPÍTULO 53

RELATO DE EXPERIÊNCIA:
METODOLOGIAS ATIVAS COMO
FERRAMENTA DE ENSINO-
APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO
CLÍNICA
Rayssa Araújo GOMES 1
André Matheus Costa DUARTE 1
Laedja Driely Silva de MOURA 1
Jarson Pedro da Costa PEREIRA 2
Thaiz Mattos SUREIRA 3
1
Graduandos do curso de Nutrição, FACISA/UFRN; 2 Nutricionista graduado pela
FACISA/UFRN; ³ Orientadora/Professora do curso de Nutrição, FACISA/UFRN.
rayssaraujogomes@gmail.com

RESUMO: As formas de ensino que as universidades estão


direcionadas, diminui a visão ampla do profissional em relação
ao paciente, havendo a necessidade de métodos mais
afinados de avaliação dos alunos de graduação. As
metodologias ativas são formas de interação entre saberes,
em processos individuais ou para grupos. O presente trabalho
trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência e
possui por objetivo apresentar as vivências de monitores da
área de nutrição clínica que adotaram metodologias ativas
durante as monitorias realizadas. O período de plantões de
monitoria ocorreu em dias e horários previamente acordados
entre monitores, docentes e discentes e os métodos ativos
mais utilizados durante as monitorias foram o Objective
Structured Clinical Examination (OSCE) e o Team Based
Learning (TBL). Os feedbacks referentes à utilização das
metodologias ativas foram positivos por parte dos alunos
participantes. Monitorias com metodologias ativas obtiveram

1056
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
maior número de discentes participantes em relação às
monitorias tradicionais, chegando, por vezes, a ter mais que o
dobro de participantes. Houve dificuldade de programar as
monitorias em relação ao conteúdo e abordagem, contudo
notou-se bom aproveitamento dos assuntos abordados e
assiduidade crescente nas monitorias com uso de
metodologias ativas. Além disso, os monitores também foram
beneficiados à medida que desenvolveu-se um
aprofundamento teórico para os momentos da monitoria.
Palavras-chave: Aprendizagem baseada em problemas.
Estudantes. Educação em saúde.

1 INTRODUÇÃO

As formas de ensino que as universidades estão


direcionadas, tendem a diminuir a visão ampla do profissional
em relação aos pacientes, levando a 1057nxerga-lo apenas
como portador de enfermidade, além de que, o atual modelo
biomédico é incapaz de trazer conclusões sobre problemas
subjetivos que influenciam de maneira direta no processo
saúde-doença que deve ser abordado de forma integral
(BARROS, 2002; LUDKE; CUTOLO, 2010)
Tendo em vista que a forma de ensino padrão deixa a
desejar na formação profissional (CYRINO; TORALLES-
PEREIRA, 2004; ALMEIDA, 1999), surge então a necessidade
de métodos mais afinados tanto para ensino como para
avaliação dos alunos de graduação, já que estes, em alguns
anos estarão em contato com a população.
É possível ainda afirmar que, cursos da área da saúde
em sua grade curricular possuem grande quantidade de
disciplinas voltadas à técnica e poucas com conteúdo
humanístico, além de necessitar de maior integração entre

1057
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
conteúdo prático e teórico (SILVA; MUHL; MALIANI, 2015;
LALUNA; FERRAZ, 2003) e que possivelmente isto acarreta
na formação de profissionais preparados para lidar com
enfermidades mas não com o portador desta, sendo esta
realidade desfavorável para a inserção no mercado de
trabalho que não necessita de profissionais pouco motivados e
sim que tenham proatividade e autonomia em relação a
produção de conhecimento (LIMBERGER, 2013). Também
vale ressaltar ainda que, a educação deve ser um espaço de
reconhecimento e respeito da subjetividade do ser humano
(RODRIGUES, 2001)
Levando em conta o que acima foi exposto, percebe-se
que há uma necessidade de diferentes métodos de formação
profissional daqueles que irão atuar na área da saúde. Há,
atualmente, o estímulo à implementação de metodologias
ativas de aprendizagem. Apesar destas sofrerem resistência
em sua aplicação, sendo um dos motivos a fuga do modelo
tradicional de ensino, onde o professor é detentor do
conhecimento, para o fato de o conhecimento ser depositado
no aluno (MITRE et al, 2008). Sendo que é por meio dessas
revoluções metodológicas que se constrói conhecimento por
meio da autonomia do aluno (GOMES et al, 2010).
As metodologias ativas são formas de interação entre
saberes, sejam estes por meio de processos individuais ou em
grupo, sendo o professor mediador deste momento e atuando
com intuito de instrui o estudante a pesquisar e refletir sobre o
assunto em questão e a partir disso consolidar o conteúdo
ministrado. Este é um momento que demanda do aluno criar
uma capacidade de análise e traçar uma solução para a
situação problema proposta, ou seja necessitará de mais
pesquisa sobre o assunto, não sendo está necessariamente

1058
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
dentro de sala de aula. Nesse contexto, as metodologias
ativas baseiam-se em formas de desenvolver o processo de
aprender por meio de experiências reais ou simuladas com o
objetivo de solucionar desafios que possam acontecer, por
exemplo, na prática profissional (BERBEL, 2011).
Corroborando com o autor acima citado, Richartz (2015,
p. 303 ) afirma que:

“...se a forma como é conduzido o processo de


ensino/aprendizagem favorece no aluno a
capacidade de ouvir, ver, perguntar, discutir, fazer
e ensinar, o caminho seguido é o da
aprendizagem ativa.”

Este tipo de método, torna-se importante pois, utiliza a


problematização como estratégia de ensino/aprendizagem, e
tem como finalidade alcançar e motivar o discente, uma vez
que, diante do problema, ele se detém, examina, reflete,
relaciona e passa a ressignificar suas descobertas, e assim
propor soluções para a problemática em questão (MITRE et al.
2008).
Experiências com metodologias ativas já vem sendo
descrita na literatura, havendo dos desafios presentes,além de
relatos por parte dos estudantes de que disciplinas com esse
caráter auxiliam, a partir das experiências vividas, a
desenvolver a criticidade, além de habilidades necessárias
para desempenhar o seu papel como profissional da saúde
(PARANHOS; MENDES, 2010; LIMA; KOMATSU; PADILHA,
2003; GODOY, 2003). Sobral e Campos (2012) em seu
trabalho verificaram que há um maior predomínio de utilização
de metodologias ativas por parte dos profissionais de
enfermagem (relatada em literatura) no Brasil na região
sudeste do país, seguida de sul e nordeste.
1059
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
Dentre as técnicas utilizadas, uma das mais aplicadas
na área da saúde é o Objective Structured Clinical
Examination (OSCE) e que é definido por Winter (2007) como
um teste onde os estudantes têm suas habilidades clínicas
avaliadas. O TBL, do inglês Team Basead Learning, em
tradução livre, significa “Aprendizagem em Equipes”. É outro
tipo de metodologia ativa que funciona tanto para grupos com
mais de 100 pessoas, como também para aqueles menores,
com 25 pessoas. Sua base tem três componentes: preparação
prévia e individual dos alunos; teste individual e em grupo; e
tarefas baseadas em decisão feitas em equipe (PARMELEE et
al., 2012).
Sabe-se que a implementação desse tipo de
metodologia possui suas dificuldades, independente em qual
nível de ensino, já que que para esta implementação há
problemas curriculares, resistência e má compreensão do
método por parte dos próprios docentes, sendo percebido que
parte desses problemas são acarretados pelo tempo de uso
da metodologia passiva de ensino (WALL; PRADO;
CARRARO, 2008; MESQUITA; MENEZES; RAMOS, 2016;
VALENTE; ALMEIDA; GERALDINI, 2017)
O uso de uma metodologia ou outra não pode ser
considerado a solução, como afirmam Diesel et al, (2017).
Este, ainda, coloca que “se faz necessário, ao docente,
compreender a metodologia utilizada de tal forma que sua
escolha traduza uma concepção clara daquilo que intenciona
obter como resultado”. Valendo ainda ressaltar que necessita-
se de uma mudança que harmonize os conteúdos práticos e
teóricos de forma a não supervalorizar um ou outro e que o
foco seja a construção de um profissional competente em

1060
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
relação às técnicas necessárias em sua formação, sem perder
a visão humana do paciente.
Afirmamos, ainda, que há uma necessidade de
repensar as grades curriculares de ensino das universidades,
principalmente da área da saúde. Corroborando com essa
afirmação Gomes et al. (2010) sugerem uma “substituição do
ensino que se limita à transmissão de conteúdos teóricos por
um ensino que promova um processo de construção do
conhecimento”.
Diante desse contexto, o presente estudo tem por
objetivo apresentar as percepções de discentes monitores da
área de Nutrição Clínica a partir das vivências de monitoria e
aula em que utilizou-se de metodologias ativas como
instrumento de ensino-aprendizado, em especial por meio do
Team Based Learning (TBL) e do Objectve Structured Clinical
Examination (OSCE).

3 MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho trata de um estudo descritivo do


tipo relato de experiência originado a partir das vivências de
monitores das disciplinas obrigatórias e eletivas (Dietoterapia
I, Interpretação de Exames Laboratoriais, Terapia Nutricional e
Ambulatorial e Nutrição na Atividade Física) integrantes da
área de nutrição clínica que adotaram metodologias ativas
durante as sessões de monitorias realizadas. O estudo está
inserido dentro do projeto de monitoria intitulado “Monitoria em
nutrição clínica: compartilhando os conhecimentos adquiridos
ao longo do curso de graduação em Nutrição da Faculdade de
Ciências da Saúde do Trairi – Universidade Federal do Rio

1061
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
Grande do Norte (FACISA/UFRN)” e refere-se às experiências
e percepções no transcorrer do primeiro semestre letivo do
ano de 2017 compreendido de janeiro a junho.
O período de realização de plantões de monitoria
ocorreram em dias e horários previamente acordados entre
monitores, docentes e discentes das disciplinas, de modo a
propiciar um momento de encontro que melhor se adequasse
à realidade cotidiana e contemplando o maior número possível
de discentes.
Os métodos ativos utilizados nas monitorias foram,
também, propostos e discutidos previamente em reuniões
semanais juntamente com os docentes das disciplinas
integrantes da área em questão, sendo que os mais utilizados
durante o semestre foram o Objective Structured Clinical
Examination (OSCE) e o Team Based Learning (TBL).
O método OSCE foi utilizado em momentos em que
eram necessárias simulações de atendimentos ambulatoriais.
Os discentes os realizavam em local propício (ambulatórios da
Clínica Escola de Nutrição) e deveriam alcançar objetivos que
eram dispostos em checklist propostos e discutidos para o
atendimento em questão. Para tanto, os alunos além de serem
avaliados perante tais objetivos ainda eram avaliados quanto
ao comportamento, postura ética, método de explanação de
informações e repasse de conhecimento e, manuseio de
equipamentos, como fita métrica, plicômetro, balança e
estadiômetro, sendo estes essenciais para a formação técnica
do profissional Nutricionista. A monitoria era finalizada com um
feedback individual sobre os pontos acertados e pontos a
serem melhorados pelos discentes.
O TBL, por sua vez, era pautado na aplicação de
questões objetivas de múltipla escolha e era realizado

1062
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
posteriormente à orientação feita aos alunos para que
estudassem previamente os assuntos que seriam abordados
na atividade (com base em artigos e outros materiais técnicos
para leitura e direcionamento do conteúdo). A aplicação do
mesmo ocorria em dois momentos distintos, sendo o primeiro
momento uma aplicação individual e o segundo em grupo, no
qual os discentes se organizavam de modo a propiciar a
discussão das questões elencadas e, assim, chegar em uma
resposta-chave final para as mesmas. O método ativo era
finalizado com a correção das questões por meio de discussão
coletiva e caso necessário elaboração de apelações pelos
grupo, sendo que estes justificavam tecnicamente possíveis
respostas equivocadas das questões corrigidas.
Ao final de cada monitoria com métodos ativos
registrava-se a frequência de participação dos discentes e
ainda era requerido dos mesmos um feedback sobre as
impressões, pontos negativos e positivos da utilização desse
distinto modelo de aprendizado, além de serem requeridas
sugestões para as próximas monitorias. Tais relatos foram
registrados de forma anônima.
As monitorias que seguiam o método tradicional, por
sua vez, eram baseadas em plantões de retirada de dúvidas
nos quais os monitores focavam no esclarecimento de dúvidas
pontuais e específicas dos discentes.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De modo geral os feedbacks e percepções referentes à


utilização das metodologias ativas foram positivas por parte
dos alunos participantes.

1063
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
Foi observado quanto à assiduidade dos discentes que
aquelas monitorias que contavam com metodologias ativas
obtinham maior número de discentes participantes quando
comparadas às monitorias em que empregava-se
metodologias tradicionais. As quais na maior parte das vezes,
resumiam-se a plantões de retiradas de dúvidas. Por meio de
uma média aritmética simples constatou-se que as monitorias
com metodologias ativas obtiveram mais que o dobro da
assiduidade em relação às tradicionais, comprovando assim
um maior envolvimento com as monitorias que traziam uma
abordagem diferente do plantão de dúvidas comum. Além
disso, pode-se dizer que a assiduidade dos alunos em
monitorias com metodologias ativas foi crescendo ao poucos
durante o período letivo: a primeira monitoria registrou uma
frequência de 6 alunos enquanto que a última monitoria
registrou 19 alunos, como pode ser observado na Tabela 1, a
seguir:

Tabela 1. Frequência dos alunos nas monitorias


Tipo de
Desvio
método Média Mínimo Máximo
padrão
aplicado
Tradicional 4,5 2 5 2,12
Ativo 10 6 19 6,16
Fonte: autoria própria, 2017.

Tal acontecimento, empiricamente falando, pode estar


relacionado ao fato de que a aplicação desses métodos ativos
de aprendizado, como sendo algo novo no programa curricular
do curso, fez com que parte dos alunos se posicionassem de
maneira preconceituosa e neofóbica no que tange às
perspectivas futuras de avaliação e à medida que os mesmos

1064
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
entravam em contato com os métodos se tornavam mais
habituados e, consequentemente, observavam os benefícios
dos mesmos. A habituação e reconhecimento pelas
metodologias ativas também ficou explícito, além da
frequências crescente nessas monitorias, através dos pedidos
pela utilização de tais metodologias pelos próprios alunos,
onde estes relataram maior assimilação do conteúdo abordado
nas monitorias.
Percebeu-se, também, que os alunos apresentaram-se
mais bem preparados nas posteriores aulas teóricas quando
participavam das monitorias com metodologia ativa, o que,
empiricamente, pode ser explicado pelo fato de que o
emprego dessas metodologias como ferramenta de ensino-
aprendizado geram nos alunos maior criticidade e, portanto,
aptidão de relacionar conteúdos, como podemos observamos
nos seguintes relatos em relação à adoção de metodologias
ativas:

Desenvolver novos métodos/habilidade de estudo com


objetivo de melhorar o rendimento acadêmico. (A3)

Permite (...) direcionar os estudos extra classe nos


pontos fracos identificados durante a monitoria. (A4)

...ajudam o aluno a compreender melhor o assunto


ministrado em sala de aula, o aluno consegue
compreender de verdade e desenvolver. (A6)

Em um estudo realizado por Marin et al (2009) sobre os


Aspectos das fortalezas e fragilidades no uso das
Metodologias Ativas de Aprendizagem realizados com alunos

1065
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
de enfermagem e medicina, foi destacado que as
metodologias ativas são modalidades que auxiliam a superar o
modelo tradicional de ensino, favorecendo o ensino-
aprendizagem uma vez que, considera a complexidade com
que a realidade se apresenta, por partirem de situações reais
ou se aproximarem da realidade. Desse modo, colabora para
uma integração entre os ciclos básico e clínico, entre as
dimensões biopsicossociais e para o trabalho em grupo.
Outro ponto observado foi que a adoção de métodos
ativos como o TBL, e também o OSCE, auxiliam na tomada de
decisão frente a grupos, ou seja, desenvolvem a aptidão do
trabalho em equipe e argumentação científica, uma vez que,
possibilita a troca de informações e pensamentos/condutas e,
consequentemente, a tomada de decisão. Tais pontos podem
ser inferidos uma vez que percebia-se o envolvimento dos
alunos nos grupos expondo seus argumentos, acolhendo os
dos demais alunos e, assim, chegando em uma resposta
muito mais bem elaborada e fundamentada, além de que os
alunos nas simulações de atendimento ambulatorial tinham a
cautela de como repassar o conteúdo aprendido, fato muito
importante tendo em vista que:

“O trabalho em equipe constitui uma estratégia do


SUS para mudar o atual modelo de assistência à
saúde, por ser considerado uma ferramenta de
democratização e de construção de trabalhadores
e usuários cidadãos. Reforça-se, portanto, que as
modalidades ativas de aprendizagem
representam um recurso importante nessa
trajetória, que demanda ênfase nas relações
humanas, ou seja, na troca de informação, no
respeito e na comunicação” (MARIN et al, 2010,
p.17).

1066
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
Ainda de acordo com as percepções dos discentes,
público-alvo das monitorias, de acordo com o que era relatado
pelos mesmos após a finalização de cada encontro, percebeu-
se que o emprego dessas metodologias possibilita testar os
conhecimentos por meio dos aspectos já aprendidos e por
meio daqueles pontos que precisam ser revistos e melhor
estudados. Além do que estimula a participação mais efetiva e
ampla dos, explicitado na seguinte afirmação:

A utilização de metodologias ativas é muito importante


porque permite que a gente tenha contato novamente
com os assuntos já vistos em sala de aula através de
métodos mais dinâmicos, que ajuda a 1067rob-los com
mais facilidade. (A1)

O uso de metodologias ativas na monitoria melhora a


qualidade do aprendizado pois põe em prática os
assuntos teóricos vistos em sala de aula. (A5)

De acordo com Berbel (2011), o empenho do discente


em relação a novas aprendizagens, seja essa por meio da
compreensão, pela escolha ou pelo interesse, é uma condição
vital que contribui para que o aluno consiga ampliar suas
capacidades exercitando constantemente a autonomia e a
liberdade na tomada de decisões na qual vivencia, e desse
modo indiretamente, prepara-se para o exercício profissional
futuro.
A utilização desses métodos ativos de ensino,
principalmente ao tratar-se do OSCE, também promove um
contato mais aprofundado no que diz respeito ao futuro clínico
do profissional de Nutrição, tendo em vista, que no modelo

1067
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
tradicional de ensino do curso, o aluno só viria a ter o
desenvolvimento de sua autonomia no que tange suas
condutas enquanto terapeuta nutricional, apenas no sétimo
período (o curso é composto por 9 períodos semestrais), por
meio do componente curricular intitulado por Terapia
Ambulatorial e Nutricional. Sendo observado, também
empiricamente, que a ausência desse contato prévio fazia com
que os alunos se sentissem menos preparados para conduzir
um atendimento ambulatorial de forma autônoma, levando,
até mesmo, à situações críticas por parte de alguns alunos,
como crises de choro, ansiedade e sensação de incapacidade.
Tais percepções podem ser observadas mediante o seguinte
relato:

...são em momentos de monitoria como esses que nós


podemos errar, acertar e receber feedback dos alunos
monitores, permitindo que as correções no nosso
comportamento sejam feitas e a identificação do que
teremos que focar… (A1)

O desenvolvimento de metodologias ativas são


considerações discutidas por vários teóricos como Dewey
(1950), Freire (2009), Rogers (1973), Novack (1999), entre
outros, no qual enfatizam, há muito tempo, a importância de
superar a educação bancária, tradicional que é uma educação
onde o professor torna-se dono do saber e o aluno é
considerado um ser vazio, onde deve ser preenchido pelo
conhecimento passado pelo educador. Dessa forma, não são
considerados para a construção do conhecimento do aluno as
suas vivências diárias, o aprendizado adquirido pelo meio, não
permitindo que haja um significado ao aprendizado. E desse

1068
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
modo, deve-se focar a aprendizagem no aluno, envolvendo-o,
motivando-o e dialogando com ele. O autor ainda destaca que
quanto mais aprendemos próximos de situações que o aluno
irá desfrutar na vida, melhor o avançar para processos mais
integrados de desenvolvimento e reflexão, valorizando a
integração cognitiva, de generalização, de reelaboração de
novas práticas fazendo com que o aluno seja o agente
participativo e decisório nesse processo (MORAN, 2015).
Como demonstrado por Gesteira et al (2012), ta is
metodologias tratam de estratégias de ensino e aprendizagem
que auxilia também na diminuição da insegurança do
estudante ao adentrar nas atividades práticas e estágios do
curso, além de proporcionar autonomia e interesse pelo
conteúdo discutido, favorecendo uma formação crítico-
reflexiva.
Em seu trabalho sobre as metodologias ativas e a
promoção da autonomia de estudantes, Berbel (2011),
enfatiza que o fato de os alunos, desde o início, analisarem
criticamente uma parcela da realidade para 1069roblematiza-
la e escolher uma postura na qual consideram mais relevante
naquele momento, torna-se fundamental para o seu empenho
na continuidade do processo, uma vez que sentem-se autores
pela construção do conhecimento acerca do problema e
conseguem visualizar alternativas para a sua superação,
contribuindo para a constituição gradativa de sua autonomia
nesse meio.
Partindo desse entendimento, os autores Brant e Brant
(2005), destacam a importância em questionar formas viáveis
de integrar os conhecimentos científicos com a realidade dos
alunos, quando se tem por intuito atender de forma eficiente
um indivíduo ou um grupo específico.

1069
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
Dessa maneira, enxerga-se o OSCE como sendo uma
forma de promover esse contato prévio e um modo de
capacitar o aluno a conduzir um atendimento ambulatorial de
maneira mais eficaz e efetiva, tomando propriedade e
segurança do que se propõe a realizar.
No entanto, isso pode ser enviesado pelo fato de que a
maioria desses métodos ativos de ensino acabam sendo
vistos somente como atividades avaliativas, o que faz com que
alguns discentes também passem a temer o modelo que foge
do tradicional. Assim, as monitorias adotando metodologias
ativas de ensino também auxiliam na adaptação ao uso de
novas metodologias nas atividades de ensino e avaliativas,
ensinando o aluno que ambas as fases estruturam os são
momentos de aprendizagem, que segundo relatos:

...nos prepara previamente sobre atividades avaliativas


como o OSCE. Assim, melhora o entendimento, nos
acalma em algumas situações… (A2)

Preparar os necessitados para minimizar o trauma


psicológico. (A3)

Particularmente a simulação do OSCE reduz a


ansiedade e insegurança, e acaba preparando os
alunos para dia da avaliação. (A5)

Como ressalta Paulo Freire (1996) em defesa do


desenvolvimento de metodologias ativas, tomando por base a
educação de adultos, o que impulsiona a aprendizagem é a
superação de desafios, a resolução de problemas e a
construção do conhecimento novo a partir de conhecimentos e

1070
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
experiências prévias dos indivíduos. Desse modo, a
implementação de metodologias ativas são condições que
podem vir a favorecer a motivação autônoma quando inclui o
fortalecimento da percepção deste como origem e construtor
da própria ação. Tal fato fica evidente ao serem apresentadas
oportunidades de problematização de situações envolvidas na
programação escolar, de escolha de aspectos dos conteúdos
de estudo, de caminhos possíveis para o desenvolvimento de
respostas ou soluções para os problemas que se apresentam
alternativas criativas para a conclusão do estudo ou da
pesquisa, entre outras possibilidades (BERBEL, 2011).
Vale salientar, ainda, que a adoção dessas estratégias
de ensino requerem uma maior dedicação no tocante ao
tempo, quando comparadas às estratégias tradicionais uma
vez que é necessário maior planejamento a priori e de modo
que assumam um caráter específico para o momento e
realidades a serem trabalhadas.
Desse modo, observamos que a educação tem um
papel indispensável na vida do indivíduo, e como afirma
Batista et al (2008), a mesma deve proporcionar em seu
contexto a capacidade de uma visão do todo — de
interdependência e de transdisciplinaridade —, além de
possibilitar a construção de redes de mudanças sociais, com a
consequente expansão da consciência individual e coletiva.
Assim sendo, nota-se a importância da inserção de
metodologias capazes tornar o aluno, não só um ser mais
ativo, como também um indivíduo questionador, que busca o
conhecimento e que visualiza o professor como um facilitador
do conhecimento. Isso se dá, pois, o aluno não recebe os
conteúdos prontos e não se acomoda com o que lhe é
passado (GOMES et al, 2009).

1071
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
No que diz respeito a experiência vivida pelos
monitores, vê-se que com o uso de metodologias ativas há
também um melhor preparo à docência, já que este é um dos
objetivos de estar inserido em um projeto de monitoria. Para a
realização dessas há uma necessidade de preparação de
material e conteúdo, além de um posicionamento crítico em
relação a postura dos alunos participantes na monitoria
durante o desenvolver das atividades. Percebe-se que a
monitoria na graduação tem um perfil voltado apenas para
momentos de solução de dúvida (OLIVEIRA, 2014), logo, a
utilização de metodologias ativas de ensino serve de
ferramenta para o rompimento do modelo tradicional presente
em grande parte das instituições de ensino.
Ainda sobre a formação docente dos monitores, a
participação neste tipo de projeto se torna um espaço
privilegiado para sua formação pois para quem almeja a
docência, como citado por Freitas et al. (2016) há um maior
preparo para esta área em pós-graduações e ao estar inserido
em um projeto de monitoria já é um preparo para o magistério,
além de, como é visto no trabalho do autor supracitado, há o
relato de alguns profissionais que não foram preparados para
a docência ou tiveram pouco contato com esta área de
atuação.Os resultados devem ser apresentados de forma

4 CONCLUSÕES

As percepções obtidas, ora empiricamente, ora por


depoimento dos discentes contemplados com as metodologias
ativas, revelam que tratam-se de métodos ascensores no que
tange o processo de ensino-aprendizagem, fugindo de
aspectos rudimentares, os quais limitam-se numa ideia falida e

1072
RELATO DE EXPERIÊNCIA: METODOLOGIAS ATIVAS COMO FERRAMENTA
DE ENSINO-APRENDIZAGEM NA ÁREA DE NUTRIÇÃO CLÍNICA
hierárquica onde os docentes são responsáveis e detentores
do conhecimento acadêmico e científico.
Sob a nova ótica não verticalizada desses métodos
ativos, foi possível observar uma melhora nos aspectos
cognitivos, tal qual aqueles aspectos relacionados à questões
psicológicas, tendo em vista que os discentes sentiam-se
menos despreparados e incapazes de desenvolver de maneira
autônoma as atividades que lhes foram atribuídas.
Assim, a partir das percepções dos discentes
monitores, tais atividades desenvolvidas durante o período
outrora mencionado, configuram positivamente o processo de
ensino e de aprendizado, promovendo benefícios que não se
atrelam simplesmente ao reflexo de notas, mas principalmente
o processo de formação acadêmica e profissional.
No entanto, faz-se necessário que os métodos ativos
possam se reinventar progressivamente, para que venham
melhor atender a cada momento e primar pela qualidade da
formação do profissional de saúde, num contexto mais amplo,
buscando sempre novas atualizações e estratégias, visando
melhorias, principalmente no tocante aos aspectos cognitivos.
É necessário, também, que sejam feitas novas
pesquisas acerca da percepção dos alunos, como ferramenta
para atender as necessidades reais dentro do contexto
acadêmico palpável o qual os discentes estão inseridos.

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1076
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
CAPÍTULO 54

ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO
NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Maria Helena Araújo de VASCONCELOS1
Thaís Helena Figueirêdo do BONFIM2
Raquel Araújo de VASCONCELOS3
Isabelle de Lima BRITO4
Jailane de Souza AQUINO5
1
Doutoranda em Ciências da Nutrição, PPGCN/UFPB; 2Mestranda em Ciências da Nutrição,
PPGCN/UFPB; 3 Médica generalista Graduada/CCM/UFPE;4 Professora do
DGTA/CCHSA/UFPB; 5Orientadora/Professora do DN e do PPGCN/UFPB.
helenanutricionista@hotmail.com

RESUMO: A educação nutricional tem sido ferramenta


importante no processo de promoção da saúde através do
alimento. Seu histórico perpassou diferentes abordagens e em
resposta às modificações no perfil epidemiológico da
população foi evidenciada com a criação de políticas públicas,
integrando o conjunto de intervenções para a promoção de
práticas alimentares saudáveis e prevenção de distúrbios
nutricionais. O objetivo do estudo foi realizar uma revisão
bibliográfica sobre as principais estratégias e técnicas
aplicadas na educação nutricional direcionada à publicidade
de alimentos e a diferentes grupos populacionais na sociedade
contemporânea. O estudo tratou-se de uma revisão a partir da
busca de livros e artigos científicos nas bases de dados
Science direct, Google acadêmico e Scielo publicados nos
anos entre 2012 a 2017. A alimentação há tempo vem sendo
reportada e relacionada ao processo saúde/doença. Com a
expansão da indústria de alimentos, as práticas alimentares
têm se tornado motivo de preocupação para os profissionais
da saúde, especialmente os da nutrição, uma vez que, as
1077
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
escolhas têm sido fortemente infuenciadas através da mídia,
pelas facilidades, pelo sabor intenso e por todo um contexto
social no qual o indivíduo está inserido. A publicidade
alimentar tem contribuído fortemente para indução de
escolhas alimentres inadequadas, especialmente em crianças.
Essas escolhas refletem diretamente a qualidade de vida da
população e está diretamente relacionada ao surgimento de
doenças. Diante do exposto, a educação nutricional tem
incentivado as pesquisas em alimentação e nutrição com a
utilização de técnicas e estratégias para analisar seu impacto
no padrão alimentar da população.

Palavras-chave:Educação nutricional. Alimentos


Processados. Alimentação e Nutrição. Estratégias. Publicidade
de Alimentos.

1 INTRODUÇÃO

A efetividade das intervenções em educação nutricional


tem introduzido mudanças no padrão alimentar da população,
objetivando a prevenção de doenças e a promoção da
alimentação saudável (ROBERTO, KHANDPUR, 2014; ROSI
et al., 2016). Sob outra perspectiva, o processo histórico de
construção do mundo moderno conduziu alterações nas
práticas alimentares diárias da sociedade (HARIHARAN,
VELLANKI, KRAMER, 2015). Neste sentido, as transformações
oriundas da urbanização, da expansão da indústria de
alimentos, do desenvolvimento de novas tecnologias e da
difusão da mídia têm transformado o comportamento alimentar
dos indivíduos (BOYLAND, HALFORD, 2013; FLEGAL et al.,
2016; KRAMER, 2017). Neste cenário, a educação nutricional
surge com novo enfoque na busca da valorização da cultura e
construção de novos conceitos (LIST, SAMEK, 2014;

1078
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
HAWKES et al., 2015) objetivando a promoção e recuperação
da saúde, a sustentabilidade ambiental e o convívio social
(ALMEIDA et al., 2016; DIEZ-GARCIA, CERVATO-
MANCUSO, 2013; SILVA, NEVES, NETTO, 2016). Portanto, a
educação nutricional é vista como um conjunto de estratégias
que pode permitir, a diferentes grupos populacionais, práticas
alimentares para atender as necessidades sociais, fisiológicas
e culturais (CRUZ E SILVA, 2017; SIMON et al., 2014;
TRICHES, 2015).
Segundo SOUZA et al.(2016), a educação nutricional
pode ser compreendida como uma busca compartilhada de
novas formas e novos sentidos para o ato de comer. Por
conseguinte, o desenvolvimento essencial das estratégias em
educação nutricional pode ser realizado à partir da construção
de valores, conhecimentos e condições que proporcionem
uma alimentação saudável, com responsabilidades e
temperança de maneira a não se privar do sabor dos
alimentos (CERVATO-MANCUSO, 2013; KLEEF et al., 2015).
Ademais, aspectos cognitivos e sociais podem estar
envolvidos nos hábitos alimentares, sendo estes fundamentais
para as modificações do padrão alimentar (BOOG, 2013;
CARVALHO, 2016).
No decurso da história, a educação nutricional
compreendeu diferentes abordagens, em virtude dos diversos
problemas alimentares da população mundial (CERVATO-
MANCUSO, VINCHA, SANTIAGO, 2016). Desde a década de
1940, a educação alimentar, assim denominada na época,
tinha surgido com a possibilidade de determinar
transformações significativas nas condições sociais da
sociedade(SANTOS, SANTOS, BARROS, 2015). Desta forma,
a atenção às carências nutricionais tinha sido constante

1079
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
preocupação em diversos países, com destaque para os
cientistas e médicos que lutaram no combate à fome e à
desnutrição como Josué de Castro, Gilberto Freyre, Dutra de
Oliveira, entre outros (CERVATO-MANCUSO, 2013; SOUZA
et al., 2017).
O período pós-guerra foi caracterizado pela criação dos
programas de ajuda alimentar internacional que enviavam
produtos agrícolas aos países em desenvolvimento, como o
Brasil (CARDOSO, 2014; CERVATO-MANCUSO, 2013).
Nesta lógica, a intenção era de desenvolver projetos de
mercado que pudessem destinar produtos que não faziam
parte do hábito alimentar da população dos países aos quais
eram destinados, a fim de construir um potencial mercado
externo consumidor, passando a induzir o consumo de
alimentos estranhos ao hábito alimentar daqueles países
(JAIME, PRADO, MALTA, 2017; POPKIN, HAWKES, 2016).
Nesta época, a educação nutricional, também relacionada à
criação do programa de merenda escolar, visava o incentivo à
utilização dos produtos recebidos do exterior e á utilização de
alimentos destinados á suplementação alimentar (CARDOSO,
2014).
Em decorrência da imposição do consumo alimentar
associada à industrialização de alimentos nos países em
desenvolvimento (CANELA et al., 2014), as mudanças sofridas
no padrão da alimentação tem sido demonstradas através do
aumento do consumo de alimentos com elevado teor de
gorduras e açúcar, com alta densidade energética e reduzido
consumo de alimentos in natura e quantidade de fibras, com a
preferência por refeições preparadas fora de casa (KRAMER,
2017; LOUZADA et al., 2015; MARTINS et al., 2013).

1080
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
Diante do panorama da década de 90, o consumo de
alimentos industrializados com alto teor de gorduras saturadas
e trans, sal e açúcar associado ao estilo de vida sedentário
têm contribuído para o aumento da obesidade e doenças
crônicas como a diabetes, doenças cardiovasculares e câncer
(DUNKLER, DEHGHAN, KOON, 2013; HARIHARAN,
VELLANKI, KRAMER, 2015; SAHOO et al., 2015). Desta
forma, modificações no padrão dietético da sociedade
moderna têm favorecido a obesidade como um dos principais
problemas de saúde pública associada à incidência das
doenças crônicas não transmissíveis (RAMOS et al., 2015).
Assim, no campo da educação nutricional, o problema da
escassez de alimentos e a epidemiologia das carências
nutricionais foram sendo substituídos pelo fenômeno
emergencial da obesidade e doenças correlacionadas, período
denominado transição nutricional (CONDE, MONTEIRO, 2014;
KANDALA, STRANGES, 2014).
A intensificação do setor econômico associado ao
aumento da densidade populacional urbana também foram
aspectos que impulsionaram o excesso do consumo de
alimentos industrializados (MARTINS et al., 2013; LOUZADA
et al., 2015) . Por conseguinte, a demarcação desse novo
padrão de alimentação, denominado dieta “afluente”, refletiu-
se no perfil atual de morbimortalidade por doenças crônicas,
nos países desenvolvidos e em desenvolvimento (CERVATO-
MANCUSO, 2013). Assim, em resposta às mudanças na
epidemiologia da população mundial, o desafio no campo da
educação nutricional foi sendo evidenciado com a criação de
novas políticas públicasque estabelecessem o aumento no
consumo de alimentos in natura, principalmente vegetais e

1081
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
frutas e redução no consumo de produtos industrializados
(PIMENTA, ROCHA, MARCONDES, 2015; SANTOS, 2012).
Nas últimas décadas, a elaboração de intervenções em
educação nutricional vem sendo refletidas no investimento em
políticas públicas que visem a promoção da alimentação
saudável (SANTOS, 2013). Nesta perspectiva, as políticas e
programas de educação nutricional tem sido projetadas no
propósito de garantir a qualidade dos alimentos consumidos, a
promoção de práticas alimentares saudáveis e prevenção dos
distúrbios nutricionais (RIBEIRO et al., 2015; MAIA et al.,
2017).
Pesquisas recentes têm demonstrado a introdução de
programas que integram o tema educação nutricional no
ambiente da saúde e escolar como o Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional e o Programa Saúde na Escola (DIEZ-
GARCIA, CERVATO-MANCUSO, 2013; MAIA et al., 2017).
Além disso, a implantação dos Núcleos de Apoio à Saúde da
família com a inclusão do Nutricionista foi uma conduta inicial
já introduzida no gerenciamento das práticas em educação
nutricional (KUNKEL et al., 2015). Centralizadas nos diferentes
grupos populacionais, as intervenções em educação
nutricional também têm sido selecionadas e adaptadas para
diferentes indivíduos, objetivando o apoio emocional e o
auxílio na identificação dos problemas nutricionais (RAMOS et
al., 2013; SANTOS, 2014).
Considerando o exposto, o estudo teve como objetivo
realizar uma revisão de literatura sobre as principais
estratégias, técnicas e tecnologias aplicadas à educação
nutricional na sociedade contemporânea.

1082
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura


realizada à partir da busca em livros e artigos científicos nas
bases de dados Science Direct, Google acadêmico e Scielo
publicados nos anos de 2012 a 2017. Foram utilizados os
seguintes descritores nos idiomas português e inglês:
“nutritional education”, “processed foods”, “alimentação e
nutrição” “estratégias”, “food advertising”. A excelência e
integridade foram considerados no desenho, bem como a
adequação e originalidade.
Os critérios de inclusão utilizados na revisão foram
livros e publicações disponíveis on line, que trataram sobre o
tema, com a exclusão de teses/dissertações e anais de
congresso. Considerou-se relevante analisar o processo
histórico da educação nutricional no Brasil e no mundo, como
também os principais programas de alimentação e nutrição,
tendo como pontos principais as estratégias, tecnologias e
técnicas utilizadas pela educação nutricional na publicidade de
alimentos, sendo aplicada aos diferentes grupos populacionais
na sociedade atual.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Política Nacional de Alimentação e Nutrição vem


integrando um conjunto de ações que englobam o Sistema
Único de Saúde, implementada de forma articulada ao
Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (ALVES,
JAIME, 2014). Ademais, a educação em alimentação e
nutrição deve considerar os diferentes aspectos geográficos,
econômicos e culturais (MUCHIRI, GERICKE, RHEEDER,

1083
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
2016; SOLVEIG et al., 2014). Assim, importantes instrumentos
de promoção da alimentação saudável vem sendo elaborados,
como os guias alimentares, cuja utilização tem sido realizada
em ações de educação nutricional direcionadas ao
desenvolvimento de hábitos saudáveis e combate às doenças
nos diferentes ciclos de vida (BOTELHO et al., 2016;
BATISTA, MONDINI, JAIME, 2014).
A educação nutricional deve estar fundamentada na
investigação de estratégias para a promoção e valorização da
alimentação e da cultura (RIBEIRO et al., 2015). Neste
sentido, os significados para a prática alimentar têm sido
concebidos como uma descoberta compartilhada para que os
indivíduos possam desenvolver novos hábitos e métodos em
alimentação e nutrição (PIMENTA, ROCHA, MARCONDES,
2015; SANTOS, 2013). Deve ser considerada como uma
intervenção pelo convite, não devendo ser imposta,
proporcionando hábitos alimentares saudáveis no contexto
biológico e social na orientação ao autocuidado (CERVATO-
MANCUSO, 2013).
Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, a
expansão da indústria de alimentos propiciou práticas
alimentares com impacto negativo na saúde do indivíduos.
Contudo, diante do padrão alimentar da sociedade atual, o
resgate de práticas alimentares saudáveis constitui-se um
árduo trabalho da educação nutricional, essencial na
valorização do consumo de alimentos regionais, de baixo
custo e elevado valor nutritivo (DIEZ-GARCIA, CERVATO-
MANCUSO, 2013).
Na perspectiva atual, os meios de comunicação
associados à influência do ambiente escolar e familiar também
têm sido considerados determinantes no comportamento

1084
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
alimentar da população. Portanto, intervenções em educação
nutricional devem ser direcionadas a diferentes ambientes
com eixo individual e/ou coletivo (ALMEIDA et al., 2016).
Neste sentido, ações em educação nutricional vem sendo
inseridas através de políticas e programas de alimentação e
nutrição no campo da atenção básica, hospitalar e escolar
(MAIA et al., 2017).
Nos últimos anos a publicidade de produtos
alimentícios, como os fast foods, vem estimulando o
comportamento alimentar dos indivíduos mediante divulgações
publicitárias, associando o alimento ao poder aquisitivo, ao
status, à modernidade e ao bem-estar (CERVATO-
MANCUSO, 2013). Nesta lógica, com a utilização de técnicas
comuns em noticiários sobre alimentos, os publicitários vem
buscando melhorar o apelo das propagandas infantis
mediando respostas positivas em relação às marcas
promovidas. Tais aspectos tornaram-se preocupantes, visto
que a natureza das mensagens promocionais pode ser
considerada uma influência em potencial no perfil alimentar e
nutricional da população (CERVATO-MANCUSO, 2013;
CARDOSO, 2014).
De acordo com um estudo em que se investigou o
conteúdo e o alcance da publicidade alimentar da televisão
para crianças na Ásia no ano de 2012, concluiu-se que as
taxas de publicidade alimentar não essenciais foram mais
elevadas, estando as crianças mais expostas a grandes
volumes de propaganda de televisão de alimentos e bebidas
não saudáveis (GIBBS et al, 2013). Já para Kunkel (2013), a
relação da obesidade infantil com a propaganda de alimentos
direcionados às crianças na televisão espanhola,
demonstraram que a qualidade nutricional dos produtos

1085
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
alimentares nos canais de língua espanhola eram mais pobres
quando comparados aos canais de língua inglesa,
demonstrando que a publicidade alimentar direcionada às
crianças de língua espanhola é mais propensa a promoção de
hábitos alimentares inadequados.
Nesse contexto, um grupo de pesquisadores da
Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) investigou
sobre a promoção e publicidade de alimentos e bebidas não
alcóolicas para crianças na América Latina e concluíram que a
propaganda de alimentos para crianças é repetitiva e invasiva,
promovendo hábitos alimentares ricos em gordura, açúcar e
sal (ORGANIZAÇÃO PAN AMARICANA DE SAÚDE, 2012).
No Brasil, um estudo avaliou a publicidade televisiva de
alimentos com base nas recomendações do Guia Alimentar
para a População Brasileira de 2014, no qual, os resultados
apontaram que dos 2.732 comerciais identificados, a
publicidade de alimentos ultraprocessados correspondeu a
60,7 % dos anúncios, e os alimentos in natura ou
minimamente processados, a cerca de 7%, realidade que se
contrapõe às recomendações do Guia Alimentar para a
População Brasileira, reforçando a importância de ações de
regulamentação da publicidade de alimentos na televisão
brasileira (MAIA et al., 2017).
O Guia Alimentar para a População Brasileira é uma
importante ferramenta na Educação Nutricional. Elaborado
pelo Ministério da Saúde, com sua versão atual no ano de
2014. Tem como ênfase principal orientar a escolha de
alimentos frescos e minimamente processados, além de evitar
os processados e ultraprocessados Traz ainda incentivos ao
consumo de alimentos regionais e sua diversidade no Brasil,
além de informações necessárias quanto a preparações,

1086
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
contribuindo para escolha de uma alimentação saudável,
saborosa e balanceada (Figura 1) (BRASIL, 2014).

Figura 1. Guia Alimentar para a População Brasileira

Segundo Boyland e Halford (2013), a publicidade de


alimentos também alcançou a internet, uma influente aliada de
grande repercussão nas empresas e entre os consumidores,
devido a interatividade e agilidade. Deste modo, a publicidade
on line vem se tornando cada vez mais difundida através da
utilização de tecnologias interativas que atraem os
consumidores por meio de sites de jogos, descontos e
promoções.
A influência do hábito alimentar familiar é também um
relevante aspecto a ser investigado para avaliar o padrão
alimentar de crianças e adolescentes. No Brasil, um estudo
transversal que utilizou dados secundários gerados pela
Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) em 2013, analisou a
influência de hábitos familiares e características do domicílio
sobre o consumo de bebidas açucaradas em crianças

1087
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
brasileiras menores de 2 anos. Os resultados demonstraram
elevada prevalência de consumo de bebidas açucaradas nesta
população, associando ainda a influência das características
sociodemográficas e familiares nestas práticas alimentares
(JAIME, PRADO, MALTA, 2017).
Estudos relacionados ao consumo alimentar de
crianças e adolescentes têm evidenciado baixa ingestão de
frutas, hortaliças e produtos lácteos e fontes de proteína e
excesso de açúcar e gorduras (DIEZ-GARCIA, CERVATO-
MANCUSO, 2013). Uma pesquisa recente realizada com
adolescentes investigou o consumo alimentar referente ao
grupo de leite e derivados, frutas e doces, bem como analisou
os possíveis fatores influenciadores deste consumo em uma
escola da rede privada do município de Porto Velho-RO. Os
pesquisadores demonstraram que entre os adolescentes há
uma ingestão inadequada de leite e derivados e frutas, como
também o consumo elevado de doces. Ademais, foi possível
evidenciar também que os pais são os maiores influenciadores
para o consumo de leite e derivados e que a mídia e os
amigos exercem maior influência para o consumo de doces e
outros alimentos açucarados (LEMKE et al., 2016).
No Brasil, a regulamentação da publicidade de
alimentos ainda está em fase de intensas discussões por parte
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), visto que
esta medida pode se contrapor aos interesses da indústria de
alimentos, a qual possui potencial influência nas políticas
públicas (ALVES, JAIME, 2014; HENRIQUES, DIAS,
BURLANDY, 2014). Desta forma, medidas menos conflitivas
tem sido adotadas como os acordos voluntários para a
redução dos teores de sal, gorduras saturadas e açúcar dos
processados, sugerindo que as propagandas de alimentos não

1088
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
saudáveis sejam evitadas (LEMKE et al., 2016). O ministério
da saúde elabora e dispõe de materiais que auxiliam os
profissionais no processo de promoção da saúde através da
educação nutricional, tais como folders, panfletos, cartilhas e
guias alimentares.
A implementação de restrições publicitárias para
alimentos poderia ser uma alternativa eficaz e viável, no
entanto, as políticas públicas precisam também ser
cuidadosamente empregadas para que o processo de
educação nutricional possa ser alcançado (BATISTA,
MONDINI, JAIME, 2017). Portanto, pode-se privar a criança ao
acesso à propaganda televisiva, porém, esta ação não garante
a ausência do alimento na escola ou em casa (CARDOSO,
2014). Em recente pesquisa sobre rotulagem de alimentos,
Machado et al (2014) concluiu que o acesso à educação
nutricional é uma ferramenta útil na identificação de mudança
do comportamento alimentar em adolescentes de 11 a 14
anos, sugerindo que a escola possui relevante função no
padrão alimentar, influenciando nas atitudes e
comportamentos.
A promoção de práticas alimentares saudáveis têm sido
cada vez mais transmitida através da realização dos
programas de educação nutricional, haja vista também está
inserida como prioridade nas políticas públicas de saúde.
Assim,diversas tecnologias e técnicas têm sido habitualmente
empregadas pela educação nutricional na publicidade de
alimentos. Uma recente pesquisa utilizou jogos eletrônicos
como abordagem não intrusiva e lúdica na temática educação
alimentar e nutricional na publicidade de alimentos para
crianças de 7 a 10 anos. O jogo intitulado “conhecendo os
alimentos” Fig. (1), foi aplicado em um colégio particular da

1089
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
cidade de Sergipe abordando quatro atividades como as
escolhas saudáveis, identificação dos alimentos,
preparaçãodos alimentos e testedos conhecimentos
(FAGUNDES, LIMA, SANTOS, 2017).
Os pesquisadores concluíram que foi possível detectar
um conhecimento prévio dos alunos sobre as suas escolhas
alimentares, no entanto, a nomeação dos alimentos se
constituiu uma atividade de maior dificuldade (FAGUNDES,
LIMA, SANTOS, 2017).

Figura 2. Atividade do jogo “Conhecendo os alimentos

” Fonte: FAGUNGES, LIMA, SANTOS, 2017

Os programas de intervenção nutricional no âmbito


escolar são considerados relevantes estratégias preconizadas
pelas políticas públicas. Neste sentido, projetos de hortas
escolarescomo veículos de educação nutricional têm sido
implantados como modelos de experiência em atividades de
1090
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
alimentação e nutrição. Um recente estudo avaliou a
implantação de hortas escolares entre os alunos e professores
de duas escolas localizadas na cidade de Mossoró-RN, Figura
(2). Os pesquisadores concluíram que as atividades
desenvolvidas com as hortas apontaram mudanças de
comportamento social entre os alunos, promovendo maior
responsabilidade ambiental e nutricional (RIBEIRO et al.,
2015).

Figura 3.Horta Escolar com rúcula

Fonte: RIBEIRO et al, 2015

A inclusão das hortas nos currículos escolares vem


despertando o interesse pelas instituições públicas e privadas,
na busca da promoção da saúde das crianças e adolescentes
e das possíveis modificações na merenda escolar. Ademais,
hortas como veículos de educação nutricional também têm
sido introduzidas nas comunidades a fim de melhorar a
disponibilidade e o acesso aos alimentos. Assim, a horta
escolar é um importante instrumento de trabalho na área da
Saúde Pública, onde cada aluno pode tornar-se um elemento

1091
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
multiplicador em sua residência e comunidade, entre amigos e
vizinhos (DIEZ-GARCIA, CERVATO-MANCUSO, 2013).
Diversas intervenções em educação nutricional têm
utilizado a culinária, para a promoção da alimentação saudável
e segurança alimentar, como também na autonomia da
produção de refeições saudáveis. Nesta lógica, as oficinas
culinárias têm sido bastante utilizadas como estratégias de
educação nutricional com o objetivo de sensibilizar os
participantes a aperfeiçoarem ações de saúde e nutrição. Um
estudo comparativo analisou o impacto de um programa de
culinária em crianças de seis escolas primárias de Victória na
Austrália, sobre a apreciação de diversos alimentos saudáveis.
Os resultados demonstraram efeitos positivos nas
modificações dos hábitos alimentares para as crianças e os
pais, ampliando a influência dos programas de culinária para
serem utilizados como facilitador do processo de educação
nutricional (GIBBS et al., 2013).
Pesquisa realizada em escolas municipais de Duque de
Caxias-RJ analisou o efeito da realização de oficinas de
culinária no aprendizado, a respeito de alimentação saudável
em crianças do ensino fundamental. Concluiu-se que as
intervenções possibilitaram melhora do desempenho escolar
dos alunos envolvidos, com interesse de participação dos pais
e filhos (SILVA et al., 2014). Outras estratégias em educação
nutricional como a aplicação de testes sensoriais e a utilização
do cinema como recurso educativo em alimentação e nutrição
podem possibilitar modificações no padrão alimentar dos
indivíduos, especialmente as crianças e os idosos. Assim,
estudos demonstram que os estímulos através dos testes
sensorias podem desenvolver a aceitabilidade dos alimentos,
sendo imprescindível as ações em educação nutricional.

1092
ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÃNEA
4 CONCLUSÕES

Diante do exposto, a avaliação das experiências


históricas da educação nutricional no Brasil e no mundo têm
possibilitado a dinâmica da criação dos programas de
alimentação e nutrição direcionados a diferentes grupos
populacionais. Para tanto, diversos recursos e tecnologias
estão disponíveis para estas intervenções. Desta forma, a
avaliação das ações e estratégias relacionadas à publicidade
de alimentos possibilitam uma profunda reflexão sobre a
propaganda de alimentos industrializados como principal
influência no padrão alimentar da sociedade atual. Assim,
considerou-se relevante a orientação para o autocuidado e
compreender as principais estratégias dos programas de
educação nutricional, especialmente no ambiente escolar, tais
como criação de hortas e oficinas culinárias, uma vez que os
hábitos adquiros na infância irão refletir diretamente no padrão
de consumo, condição de saúde da criança e surgimento de
doenças atuais e futuras.

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1097
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
NUTRIÇÃO E
PSCICOLOGIA

1098
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
CAPÍTULO 55

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE
UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO
SAUDÁVEL
Layrtthon Carlos de Oliveira SANTOS 1
Maria Gabriela Costa RIBEIRO 2
Flávia Marcelly de Sousa Mendes da SILVA 1
Gleidson Diego Lopes LOURETO 2
Larisse Helena Gomes Macêdo BARBOSA3
1
Doutorando(a) em Psicologia Social, UFPB; 2 Mestrando(a) em Psicologia Social, UFPB; 3
Professora do Departamento de Psicologia das Faculdades Integradas de Patos
layrtthon.oliveira@gmail.com

RESUMO: O presente estudo teve como objetivo conhecer as


representações sociais feitas por universitários paraibanos
com relação a alimentos saudáveis e não saudáveis. Tratou-
se de uma investigação qualitativa, tendo como instrumentos
um questionário sociodemográfico e duas questões abertas
referentes a opiniões sobre alimentos saudáveis e não
saudáveis, respectivamente. A amostra consistiu em 205
estudantes com idades entre 17 e 58 anos (M = 23,3; DP =
7,34), a maioria do sexo feminino (75%), solteira (81,5%),
heterossexual (87%), de classe média (82,8%) e de
universidade pública (63%). Os dados textuais foram
analisados por meio do software IRAMUTEQ, sendo
realizadas análises de Classificação Hierárquica Descendente
(CHD). Os resultados da CHD em relação ao corpus referente
às opiniões sobre alimentos saudáveis foram reunidos em um
dendograma formado por quatro classes: Aspectos
nutricionais, Qualidade de vida e prevenção de doenças,
Importância e Benefícios do consumo. Já o dendograma
gerado para o segundo corpus, sobre alimentos não
1099
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
saudáveis, reuniu cinco classes: Riscos, Moderação do
consumo, Prejuízos à saúde, Vantagens e Consciência dos
malefícios. Conclui-se que os universitários fizeram uma
representação positiva dos alimentos saudáveis no binômio
alimentação-saúde, e uma representação ambígua dos não
saudáveis que embora associados a danos à saúde não
apresentaram ausência de intenção de consumo. Tais
resultados são corroborados pela literatura sobre o tema.
Palavras-chave: Representações sociais. Alimentação.
Saúde.

1 INTRODUÇÃO

A temática das Representações Sociais (RS) é de


interesse de pesquisadores em todo o mundo na abordagem
de uma série de fenômenos sociais, ocupando, portanto, um
importante lugar no âmbito da Psicologia Social (OLIVEIRA et
al., 2017). Conceitualmente, representações sociais são
proposições e explicações originadas coletiva e
interpessoalmente no cotidiano, podendo ser comparadas ao
conhecimento do senso comum (MOSCOVICI, 1981), ou ainda
teorias sobre conhecimentos populares, coletivamente
elaboradas e compartilhadas, cuja finalidade é construir e
interpretar a realidade (JODELET, 1985).
No processo de elaboração das RS dois fatores são
importantes na interpretação do e atribuição de significado ao
objeto da representação: a objetivação e a ancoragem. A
objetivação consiste no processo de transformar o abstrato em
concreto, o estranho em familiar, enquanto a ancoragem é o
processo a partir do qual um conhecimento é inserido com
referência nas experiências e esquemas já pertencentes aos
indivíduos (COUTINHO; ARAÚJO; GONTIÈS, 2004).

1100
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
Assim, o estudo das representações sociais possibilita
identificar a “visão de mundo” que as pessoas e os grupos
apresentam e utilizam nos seus modos de se comportar e se
posicionar (CHAVES; SILVA, 2013), sendo observadas na
inter-relação entre sujeitos, fenômenos e conjuntura social
(ARAÚJO; COUTINHO; SANTOS, 2006). Dessa forma, as
representações sociais suscitam tanto a incorporação do
novo/estranho aos padrões já existentes, como também uma
mudança naquilo que é familiar (SOUZA; SILVA; SANTOS,
2017).
É possível encontrar na literatura estudos que envolvem
representações sociais e diversos fenômenos, como qualidade
de vida em idosos (FERREIRA et al., 2017) e adolescentes
(MOREIRA et al., 2015), alimentação da nutriz (MARQUES et
al., 2011), consumo de alimentos orgânicos (PÉREZ et al.,
2012) e questões de saúde (HOWARTH; FOSTER; DORRER,
2004).
Andreatta (2013) destaca que a alimentação também
poder consistir em um fenômeno de interesse para a Teoria
das Representações Sociais, tendo em conta a importância de
se considerar as interações sociais e as práticas envolvidas
neste processo. A autora afirma que uma dieta constitui-se
como objeto de representação que envolve crenças, opiniões
e significados compartilhados socialmente e que apresentam
implicações nas diversas etapas envolvidas, desde a produção
ao consumo dos alimentos.
Para Missagia (2012), a alimentação também está
ligada a um conjunto de crenças, valores, percepções, atitudes
e comportamentos. Já Lima et al. (2014) destaca que a
alimentação vai além de uma necessidade biológica,

1101
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
constituindo-se como uma prática instituída socialmente,
relacionando-se tanto com a cultura como com as relações
familiares, de maneira que o hábito alimentar de uma pessoa
está intrinsecamente associado a sua postura no contexto em
que ela está inserida (SILVA; TEIXEIRA; FERREIRA, 2014).
Desse modo, muitos significados podem ser
observados em relação às práticas alimentares, nos quais a
alimentação associa-se não apenas à necessidade de comer,
mas sobretudo, à identidade cultural, às condições
socioeconômicas, aos costumes familiares, às crenças, aos
valores e outros (BENTO et al., 2016). Nesta direção, Quenza
(2006) destaca a importância de se considerar o conhecimento
social ao estudar vários assuntos, inclusive a alimentação.
São muitos os debates que envolvem o tema da
alimentação. Ell et al. (2012), por exemplo, apontam a
importância dos estudos sobre alimentação e nutrição humana
na orientação de programas e políticas públicas no âmbito da
promoção de saúde. Leme, Philippi e Toassa (2013) destacam
que a boa alimentação traz consequências positivas ao
crescimento e desenvolvimento, bem como previne o
surgimento de doenças ocasionadas por uma má nutrição.
Damo e Schmidt (2016), por outro lado, sublinham a
valorização e a busca pelo lucro em detrimento da saúde e da
qualidade de vida que os alimentos podem oferecer. Estes
autores apontam a importância de se considerar tais aspectos
juntamente com as representações dos indivíduos para que
sejam realizadas modificações necessárias envolvendo
alimentação-sociedade-natureza. Corroborando com essa
afirmação, é importante pontuar que o consumo de alimentos

1102
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
desempenha um papel de destaque em diversas esferas,
como a cultura, economia, saúde, doença e outros
(VILLAGELIM et al., 2012).
Observa-se uma preocupação no que concerne à
saúde e ao bem-estar dos jovens, destacando-se entre os
fatores que estão subjacentes a este fenômeno os hábitos
alimentares (GRABOVSCHI; CAMPOS, 2014). Nessa direção,
Missagia (2012) aponta que hodiernamente, devido a uma
maior preocupação com a saúde, o mercado tem ofertado um
leque de alimentos saudáveis, com menos calorias, menos
teor de sódio, alimentos orgânicos e outros, resultante também
da necessidade de alimentos que atendam às especificidades
de doenças crônicas e alérgicas (e.g., diabetes, intolerância à
lactose). Esta autora destaca que o avanço de doenças
relacionadas à má alimentação fez emergir uma busca coletiva
por alimentos saudáveis.
A literatura dispõe de diversas definições acerca da
alimentação saudável, apesar de não haver um consenso
quanto ao termo. McCarroll, Eyles e Mhurchu (2017), por
exemplo, consideram que alimentação saudável refere-se a
um conjunto de comportamentos alimentares relacionados a
uma boa saúde e que seguem as diretrizes dietéticas, de
maneira que sejam observados aumentos no consumo de
alimentos/nutrientes que promovem benefícios para a saúde
(e.g. frutas, vegetais, grãos integrais etc.), bem como uma
diminuição de alimentos/nutrientes que promovem déficits na
saúde quando consumidos excessivamente.

1103
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
Orellana, Sepúlveda e Denegri (2013) observaram que
universitários chilenos consideram que uma alimentação
saudável é comer de tudo, mas moderadamente. Já Bento et
al. (2016) destacam que comer saudável consiste em um
desafio, de modo que é possível perceber implicações na
motivação das pessoas para modificar seu modo de se
alimentar.
Bento et al. (2016) realizaram um estudo com 1.656
pessoas que frequentavam restaurantes populares de Belo
Horizonte, buscando conhecer suas representações sociais no
que concerne aos desafios para adotar uma alimentação
saudável. Os resultados observados apontam que quando
questionados se era difícil comer de maneira saudável, os
participantes relataram dificuldades como a baixa renda e a
falta de tempo, o que traz implicações no consumo de
alimentos saudáveis e não saudáveis. Venn e Strazdins (2016)
também destacaram a falta de tempo e a baixa renda como
fatores que estão associados à dificuldade de uma prática
alimentar saudável.
Em ambos os estudos, os autores consideram que tais
dificuldades devem ser consideradas em programas de
intervenção educacional que promovam uma alimentação
saudável considerando as representações sociais e condições
socioeconômicas, assim como valores, crenças e significados
que as pessoas constroem.
Embora seja destacada recorrentemente a importância
de uma boa alimentação, verifica-se que tanto nos países
desenvolvidos como em desenvolvimento, as pessoas estão

1104
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
adotando estilos de vida e hábitos alimentares pouco
saudáveis (SILVEIRA, 2013). Nessa direção, observa-se na
sociedade moderna, um elevado consumo de fast-foods,
produtos industrializados e alimentos pouco nutritivos, os
quais são prejudiciais tanto para o bem-estar pessoal quanto
para o meio ambiente (SILVA, 2013).
Deve-se atentar à importância do cuidado da
alimentação já na infância, uma vez que, os hábitos
alimentares nesta etapa do desenvolvimento apresentam
consequências que perpassam a adolescência e a idade
adulta (LIMA et al., 2014). Todavia, cabe pontuar que os
programas de intervenções que objetivam promover uma
alimentação saudável ou modificar os hábitos alimentares
nesta etapa do desenvolvimento devem levar em conta as
representações sociais que os alimentos possuem para as
crianças (GRABOVSCHI; CAMPOS, 2014). Ademais, como
afirmam Cano, Ramos e Salazar (2013) é importante que, na
busca pela redução da obesidade na infância, seja
considerado também o ambiente da escola, uma vez que é
visível um crescimento relevante na indústria de alimentos e
bebidas nesse contexto.
Diante do exposto, o presente capítulo tem como
objetivo principal conhecer quais são as representações
sociais de estudantes universitários da Paraíba sobre
alimentos saudáveis e não saudáveis, considerando a
especifidade da alimentação entre este grupo, bem como que
a alimentação possui um caráter social e que a abordagem

1105
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
das RS é uma importante ferramenta com potencial para
contribuir na compreensão desse fenômeno.

2 MATERIAIS E MÉTODO

2.1 Delineamentp e lócus de estudo

A pesquisa caracteriza-se pelo delineamento não


experimental (sem manipulação de variáveis), de natureza
qualitativa e de caráter descritivo e exploratório. O estudo foi
realizado em duas universidades da cidade de João Pessoa –
PB, sendo uma pública e outra privada.

2.2 Instrumentos

Além de um questionário demográfico que permitisse


caracterizar o grupo de respondentes da pesquisa, foram
aplicadas duas questões abertas, a saber: 1) Qual sua opinião
a respeito dos alimentos saudáveis? E 2) Qual sua opinião a
respeito dos alimentos não saudáveis? 104 participantes
responderam a pergunta sobre os alimentos saudáveis e 101
sobre os não saudáveis. Ambas eram acompanhadas de uma
breve descrição com exemplos de cada tipo de alimentos,
apresentadas a seguir.
Exemplos de alimentos saudáveis: Em suas práticas
alimentares, as pessoas podem consumir diversos tipos de
alimentos. Uma dieta baseada em alimentos saudáveis, como
frutas, verduras, sucos naturais, carne branca, comidas

1106
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
caseiras e sem conservantes e alimentos orgânicos traz uma
série de benefícios para o consumidor e o meio ambiente.
Exemplos de alimentos não saudáveis: Em suas
práticas alimentares, as pessoas podem consumir diversos
tipos de alimentos. Uma dieta baseada em alimentos não
saudáveis, como doces, salgadinhos, refrigerante, comidas
industrializadas e com conservantes, embutidos (e.g.,
salsicha, mortadela) traz uma série de consequências para o
consumidor e o meio ambiente.

2.3 Participantes

O presente estudo contou com uma amostra não


probabilística, de conveniência, que consistiu em 205
universitários com idades entre 17 e 58 anos (M = 23,3; DP =
7,34), a maioria do sexo feminino (75%), solteira (81,5%),
heterossexual (87%) e declaradamente de classe média
(82,8%). Do total, 129 (63%) acadêmicos eram da instituição
pública e 76 (37%) da privada. Os cursos mais frequentes
foram Psicologia (49,8%), Fisioterapia (16,1%) e Direito
(15,6%).
2.4
2.5 Procedimentos e aspectos éticos

Colaboradores devidamente treinados distribuíram os


dois tipos de questionários abertos, de maneira aleatória, em
ambiente coletivo de sala de aula, com autorização prévia das
instituições de ensino e professores. Foi explicado o propósito
da investigação e como proceder com a resposta. Aos
1107
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
partícipes foi garantido o caráter anônimo e voluntário da
participação, assim como que em caso de desistência não
haveria quaisquer consequências aos mesmos. Como forma
de assegurar a participação e permitir a utilização dos dados
em publicações acadêmicas futuras, foi requerido que os
participantes assinassem um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), de acordo com a resolução 510/16 do
Conselho Nacional de Saúde (CNS). Este estudo é recorte de
um projeto maior que conta com a aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da
Universidade Federal da Paraíba (Nº de Parecer: 2.147.190,
CAAE: 68129317.8.0000.5188).

2.6 Organização e análise dos dados

As respostas foram transcritas no OpenOffice Writer,


em dois arquivos distintos, correspondentes às perguntas
sobre alimentos saudáveis (corpus 1) e não saudáveis (corpus
2), respectivamente. Após revisão dos bancos textuais,
observou-se que nenhum dos participantes omitiu resposta, de
modo que o corpus 1 ficou constituído por 104 respostas ou
Unidades de Contexto Iniciais (UCIs) e 2359 palavras e o
corpus 2 por 101 UCIs e 2705 palavras.
Os arquivos finais foram importados para o Bloco de
Notas do Windows e salvos na codificação UTF-8 para análise
no software Iramuteq (Ratinaud, 2009), com hospedagem no
R (R Core Team, 2012). Realizaram-se análises de
Classificação Hierárquica Descendente (CHD), que classifica
os segmentos de texto a partir dos vocabulários empregados.

1108
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
Com base nas frequências (f) e qui-quadrados (χ²) dos termos,
esta análise dá origem a classes de Unidades de Contexto
Elementares (UCEs), constituídas por palavras que
apresentam vocabulários similares entre si e diferentes dos
seguimentos de texto das outras classes (CAMARGO; JUSTO,
2013). Ressalta-se que apenas adjetivos, substantivos e
verbos foram incluídos nas análises.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Representações da alimentação saudável

A CHD do corpus 1 apresentou a composição de 74


UCEs das quais 67,9% foram utilizadas na análise. O
dendograma gerado por esta foi formado por quatro classes,
apresentado na Fig. (1) juntamente com os termos de cada
uma delas, suas frequências e os respectivos qui-quadrados
entre parênteses. Salienta-se que apenas aquelas palavras
que obedeceram ao critério f > 2 e χ² (1) ≥ 3,84 (p < 0,05)
foram reportadas.
As classes serão descritas de acordo com a ordem em
que aparecem no dendograma, da esquerda para a direita,
sendo discutido seu significado e mostradas respostas dos
participantes que as caracterizam. Ao fim, as relações entre as
classes serão exploradas, bem como serão feitos links entre
os resultados obtidos e o que a literatura dispõe sobre as
concepções direcionadas à alimentação e aos alimentos
saudáveis.

1109
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
Figura 1. Dendograma do corpus 1

A classe 1 abarcou 28,4% das UCEs e está relacionada


à compreensão de que os alimentos saudáveis possuem
elementos importantes para o organismo humano, como
vitaminas e proteínas, sendo denominada Aspectos
nutricionais. Conteúdos semânticos que melhor representam
esta classe são: “São essenciais para uma dieta rica em
proteínas, carboidratos e demais nutrientes para uma vida
saudável” (universitário 139, 19 anos, sexo feminino) e “São
indispensáveis para nossa saúde, já que são fontes de
vitaminas e proteínas, alimentos que são importantes para o
nosso bem-estar” (universitário 138, 24 anos, sexo feminino).
Esta concepção está de acordo com McCarroll, Eyles e
Mhurchu (2017) no sentido de que a alimentação saudável
está relacionada a comportamentos alimentares associados

1110
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
ao consumo de alimentos/nutrientes que acarretam benefícios
para a saúde.
As classes 4 e 3 estão proximamente relacionadas. A
primeira foi denominada Qualidade de vida e prevenção de
doenças, contando com 21,6% das UCEs do corpus 1. Como
o nome sugere, esta classe diz respeito à capacidade que os
alimentos saudáveis possuem de contribuir na prevenção de
uma série de enfermidades, promovendo melhor qualidade de
vida das pessoas. Trechos que podem bem exemplificá-la são:
“São ótimos, além de nos proporcionar uma vida mais
saudável evitando a possibilidade do aparecimento de
doenças causadas pela alimentação, são extremamente
saborosos, nutritivos e enriquecem com energia e disposição”
(universitário 6, 20 anos, sexo feminino) e “Acho importante
para o aumento da qualidade de vida, longevidade, e para
evitar doenças futuras” (universitário 109, 19 anos, sexo
masculino).
A classe 3, por sua vez, recebeu o título de Importância,
abarcando 20,2% das UCEs, e se referindo à consciência que
os estudantes possuem de que o consumo de tais alimentos é
importante tanto para uma boa estética quanto para saúde no
geral, podendo ser exemplificadas a partir de passagens como
“Acho importante se alimentar de forma saudável, para manter
uma vida com mais saúde” (universitário 90, 21 anos, sexo
feminino) e “Vai muito além de ter uma boa aparência física,
uma alimentação saudável é a base para uma boa saúde e
para o bem-estar” (universitário 43, 19 anos, sexo feminino).
Devido a uma maior preocupação com a saúde, o
mercado tem oferecido uma maior diversidade de alimentos
que supram necessidades específicas relacionadas a doenças
crônicas e alérgicas (e. g. diabetes, intolerância à lactose), de

1111
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
acordo com Missagia (2012). Além disso, as pessoas tem
buscado alimentos que previnam problemas como a
hipertensão ou mesmo a obesidade. Nesta perspectiva, é
adequada a representação que os estudantes fazem dos
alimentos saudáveis enquanto estando relacionados à
promoção da saúde e ao bem estar (GRABOVSCHI;
CAMPOS, 2014).
Finalmente, a última classe que compôs o gráfico de
representações sobre a alimentação saudável foi a classe 2,
denominada Benefícios do consumo e que contou com 29,7%
das UCEs, constituindo a classe de maior poder explicativo do
dendograma. O conteúdo semântico desta classe refere-se à
consciência de que o consumo desses alimentos acarreta
benefícios para saúde e bem-estar das pessoas, bem como
para o meio ambiente. São exemplos típicos desta classe:
“Servem para que o nosso organismo trabalhe de melhor
forma, e quanto mais o consumo, melhor nos sentimos e
contribui para nossa saúde de forma bastante considerável,
embora este consumo traga benefícios para o consumidor,
nem todos consomem da forma que deveria ser” (universitário
39, 19 anos, sexo feminino) e “São de extrema importância
para o ser humano, pois o consumo traz benefícios para si,
além disso, é uma forma melhor de conduzir o planeta, já que
alimentos saudáveis evitam o uso de agrotóxicos”
(universitário 117, 20 anos, sexo masculino).
Pode-se observar que estas quatro classes que
compuseram as representações sobre a alimentação e os
alimentos saudáveis estão relacionadas entre si. De modo
geral, os estudantes universitários ancoraram suas
representações sobre os alimentos saudáveis de maneira
positiva no binômio alimentação-saúde. O consumo desses

1112
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
alimentos é representado como trazendo benefícios para a
saúde do consumidor e até mesmo para o meio ambiente, é
reconhecida a riqueza nutricional que tais produtos possuem e
que são importantes na prevenção de doenças e na promoção
da qualidade de vida dos indivíduos. Assim, em linhas gerais,
os universitários têm uma representação dos alimentos
saudáveis como algo bom.
As representações que os universitários elaboraram dos
alimentos saudáveis estão de acordo com o que a literatura
sobre o tema relata, no sentido em que estes alimentos são
associados à preocupação com a saúde, à perda de peso e à
estética, sendo reconhecidos os benefícios que trazem à
saúde dos indivíduos que os consomem, bem como sua rica
condição nutricional (MONTEIRO et al., 2009; RODRIGUES et
al., 2010). Ademais, são produtos também conhecidos por
estarem de acordo em seus meios de produção e transporte
com questões éticas, por exemplo, ao favorecer o meio
ambiente e os direitos dos animais (LEA; WORSLEY, 2005;
TORQUATO, 2015).

Representações da alimentação não saudável


73 UCEs foram verificadas na CHD realizada com o
corpus 2, sendo 70,8% utilizadas na análise. A Fig. (2)
apresenta o dendograma obtido pela análise do referido
corpus, no qual observa-se que cinco classes foram
identificadas na representação dos alimentos não saudáveis.
Cada uma delas é apresentada, juntamente com as
frequências e qui-quadrados (entre parênteses) de cada
termo. Novamente, só foram incluídas palavras cuja f > 2 e χ²
(1) ≥ 3,84 (p < 0,05).

1113
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
Assim como no tópico anterior, as classes serão
expostas com seus significados esclarecidos e exemplos de
conteúdos que as caracterizam. Posteriormente todas elas
serão discutidas de modo a relacionar as representações que
os estudantes universitários fazem da alimentação não
saudável e conhecimentos que a literatura traz sobre esses
alimentos.

Figura 2. Dendograma do corpus 2

A primeira classe a constituir o dendograma (classe 2)


aglomerou 26% das UCEs do corpus 2. Esta está relacionada
à concepção de que apesar de ocasiões que favoreçam o
consumo de alimentos não saudáveis, como a falta de tempo,
seu consumo acarreta riscos de causar danos à saúde dos
indivíduos e por esta razão a mesma denominada Riscos e
pode ser melhor compreendida por meio de respostas como
“Acredito que no mundo em que vivemos, tornou-se mais
prático e viável o consumo de alimentos não saudáveis.
1114
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
Apesar de tais alimentos oferecerem riscos à nossa saúde,
proporcionando o risco de aparecimento de doenças
orgânicas, como hipertensão, diabetes, obstrução das artérias,
além do acúmulo de gordura corporal” (universitário 91, 21
anos, sexo masculino) e “Os alimentos não saudáveis trazem
consigo diversos fatores de risco e más consequências.
Apesar de inúmeras pessoas estarem acostumadas com o
comodismo por alimentos mais práticos e não saudáveis,
ainda existem exceções” (universitário 18, 19 anos, sexo
feminino). Estes resultados corroboram achados de Bento et
al. (2016) e Venn e Strazdins (2016), nos quais a falta de
tempo, entre outros fatores, está associada ao consumo de
alimentos não saudáveis. Assim, mesmo consumindo tais
alimentos em situações como esta, os participantes os
representaram como não estando isentos de riscos à saúde.
A classe 2 está proximamente relacionada à classe 5,
que aparece em seguida no dendograma e que recebeu o
nome de Moderação do consumo, envolvendo 15% das UCEs.
Esta classe, tal qual sugere seu título, tem a ver com a
preocupação dos estudantes de que alimentos não saudáveis
devem ser consumidos moderadamente ou até mesmo
evitados, o que se pode constatar a partir de conteúdos
semânticos como “Devem ser evitados pois acarretam
diversos problemas de saúde. Logo é importante consumir o
menos possível para não implicar em problemas sérios”
(universitário 169, 19 anos, sexo feminino) e “Devem ser
consumidos o mínimo possível” (universitário 19, 40 anos,
sexo feminino).
A classe 4, na sequência, foi intitulada Prejuízos à
saúde e responsável por 17,8% das UCEs. A mesma
relaciona-se ao conhecimento que os estudantes universitários

1115
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
detêm de que alimentos não saudáveis são prejudiciais
quando consumidos em excesso. Falas típicas que
exemplificam adequadamente esta classe são: “São
extremamente prejudiciais à saúde se consumidos em
excesso. Pode haver um equilíbrio no consumo juntamente
com as coisas saudáveis, porém, estando em minoria”
(universitário 152, 22 anos, sexo feminino) e “Tenho
consciência que em excesso se torna bastante prejudicial à
saúde, mas não vejo problema em os consumir
moderadamente” (universitário 99, 22 anos, sexo feminino).
Por outro lado, a classe 3 (26% das UCEs) diz respeito
à representação dos alimentos não saudáveis como sendo
mais práticos, mais saborosos e mais baratos, por exemplo,
sendo estes fatores que guiam o consumo desses alimentos
mesmo com o conhecimento de seus riscos. Esta classe 3 foi
denominada como Vantagens e juntamente com a classe 2
(Riscos) foi a que mais explicou o dendograma. Os seguintes
trechos podem ilustrar esta classe: “São prejudiciais à saúde,
como bem sabemos, mas por vezes são mais baratos e
saborosos, atraindo assim as pessoas” (universitário 51, 22
anos, sexo masculino) e “São mais saborosos e têm um preço
bem mais em conta que os saudáveis, embora a médio e
longo prazo possam trazer prejuízos à saúde” (universitário
154, 45 anos, sexo feminino).
Por fim, a classe 1 foi denominada Consciência dos
malefícios e contou com 15% das UCEs do corpus 2. Esta
classe consiste no pensamento dos estudantes universitários
de que a maioria das pessoas mesmo tendo a consciência de
que os alimentos não saudáveis podem causar mal à saúde,
não deixa de consumi-los. É possível compreendê-la melhor a
partir dos seguintes trechos: “Apesar de boa parcela da

1116
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
população mundial saber dos malefícios decorrentes deles,
ainda assim o consomem. As redes de fast-food parecem
crescer a cada dia mais e o consumo não saudável também”
(universitário 58, 18 anos, sexo masculino) e “Os alimentos
não saudáveis são os mais procurados pela população,
mesmo sabendo dos malefícios que contêm” (universitário 22,
21 anos, sexo feminino).
Na sociedade moderna, aponta Silva (2013), tem-se
observado um amplo crescimento no consumo de fast-foods,
produtos industrializados e alimentos com baixo teor nutritivo.
Esses alimentos são reconhecidamente, mesmo a nível de
senso comum, vistos prejudiciais tanto para a saúde e o bem-
estar dos indivíduos, como para o meio ambiente, e assim
foram representados pelos universitários, que relataram ainda
não deixar de exercer seu consumo mesmo com o
conhecimento desses problemas, especialmente porque os
alimentos não saudáveis possuem atrativos como o sabor, a
alta disponibilidade, a praticidade e os custos geralmente mais
baixos que os saudáveis.
Diante desses resultados, pode-se interpretar que os
estudantes universitários fazem uma representação um tanto
quanto ambígua dos alimentos não saudáveis, ancorando-a
em certa medida na relação alimentação-doença. Se por um
lado o consumo excessivo de tais alimentos é visto como
trazendo prejuízos para a saúde dos indivíduos e há
consciência dos riscos e malefícios desse consumo, por outro,
tal consciência não impede o consumo por parte das pessoas
e, além disso, considera-se que o consumo moderado não
acarreta problemas à saúde. Os alimentos não saudáveis
também foram representados como sendo mais saborosos,
mais práticos e baratos que os saudáveis, sendo também

1117
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
favorecido seu consumo quando os indivíduos dispõem de
pouco tempo, algo típico da rotina da maior parte dos
estudantes, especialmente aqueles que além de atividades
acadêmicas, exercem atividades laborais.
A literatura a respeito dos alimentos não saudáveis
corrobora, em certa medida, as representações sociais feitas
pelos universitários paraibanos sobre tais produtos. De modo
geral, os alimentos não saudáveis consistem naqueles com
alta quantidade de gordura e alto teor calórico, sendo
geralmente associados a diversas doenças, principalmente à
obesidade (BOWMAN; VINYARD, 2004; MADDOCK, 2004;
BEYDOUN; POWELL; WANG, 2008). São, portanto, alimentos
cujo consumo é considerado de risco e prejudicial à saúde.
Entretanto, são também vistos como mais saborosos e
práticos que os saudáveis (KWATE, 2008; MOORE et al.,
2009), o que vai de encontro à ambiguidade nas
representações desses alimentos.

4 CONCLUSÕES

O presente capítulo objetivou conhecer como


universitários paraibanos representam alimentos saudáveis e
não saudáveis. Confia-se que este objetivo tenha sido
devidamente alcançado. Precisamente, observou-se uma
representação positiva dos alimentos saudáveis, no geral
associados à promoção da saúde, enquanto os não saudáveis
tiveram uma representação ambígua que apesar de associada
à danos à saúde, ainda assim tiveram o consumo relatado.
Estudos futuros podem fazer relações entre estas
representações e a prática alimentar do referido grupo,
avaliando a consistência entre os dois fenômenos, bem como

1118
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE UNIVERSITÁRIOS PARAIBANOS SOBRE A
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E NÃO SAUDÁVEL
podem ser desenvolvidas intervenções a fim de promover o
consumo de alimentos saudáveis e conscientização dos
problemas relacionados aos não saudáveis entre os jovens
estudantes. Conclui-se que o estudo ora desenvolvido traz
contribuições no entendimento da temática da alimentação à
luz da Teoria das Representações Sociais, fazendo um link
entre as áreas da Psicologia Social e da Saúde/Nutrição.

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1122
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
NUTRIÇÃO E
SAÚDE DA
MULHER

1123
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL

CAPÍTULO 56

ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE


COM TUBERCULOSE NO PERÍODO DE
PÓS-PARTO NORMAL
Julianne Cibele Rodrigues da SILVA 1
Fernanda Dayana da Silva DIAS 1
Dalila Fernandes BEZERRA 2
Emylle Thais Melo dos SANTOS 1
Amanda Moreira de Andrade SILVA3
1
Nutricionista Residente do Programa Multiprofissional Integrada em Saúde – Hospital das
Clínicas/UFPE; ² Nutricista Residente do Programa Uniprofissional – Hospital das
Clínicas/UFPE; ³ Orientadora/Nutricionista do Hospital das Clínicas/UFPE.
juliannerodrigues@outlook.com.br

RESUMO: A tuberculose pulmonar (TB) é uma doença


infectocontagiosa transmitida pelo Mycobacterium
tuberculosis, o bacilo de Koch. Na gestanção, quando bem
tratada não oferece riscos significativos para a mulher e para o
bebê. Dessa forma, o objetivo do estudo consiste em
descrever a assistência nutricional a paciente com tuberculose
não tratada no período de pós-parto normal. Trata-se de um
estudo de caráter descritivo com abordagem qualitativa, do
tipo estudo de caso. Foi desenvolvido na Maternidade do
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco
(HC/UFPE), do ano de 2017. Para coleta dos dados da
pesquisa, foram utilizados registros das evoluções, exames
complementares e avaliação antropométrica (peso, altura,
Índice de Massa Corporal (IMC), circunferência do braço (CB)
e parâmetros bioquímicos). Paciente, 25 anos, solteira, dona
de casa, ensino fundamental incompleto, tabagista crônica há

1124
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
13 anos e histórico de TB pulmonar com multidrogas
resistentes há 1 ano. Na avaliação nutricional, a paciente
encontra-se desnutrida segundo o IMC. Com sinais de
depleção de massa magra e de gordura subcutânea, ossos
claviculares evidentes e consumo da bola gordurosa de
Bichat. A terapia nutricional foi pensada visando a
recuperação do estado nutricional e a demanda energética da
lactação. A paciente apresentou boa aceitação alimentar
(100%). Diante disso, a terapia nutricional é relevante no
tratamento da TB, visto que trata-se de uma doença
hipercatabólica.
Palavras-chave: Tuberculose. Gestação. Nutrição

1 INTRODUÇÃO

A tuberculose pulmonar é uma doença


infectocontagiosa, transmitida pelo Mycobacterium
tuberculosis, o bacilo de Koch. Os pulmões, por serem um
local ao mesmo tempo quente e úmido, ventilado e escuro,
favorecem para a proliferação bacilar em formato de colônias
e podem se espalhar para outras regiões do organismo, como
pela corrente linfática chegando a atingir os gânglios linfáticos
(linfonodos), componentes do sistema imunológico (BERTOLLI
FILHO, 2001; ARAUJO et al., 2013; SANTOS et al., 2014).
Através da fala, tosse e do espirro, gotículas dos bacilos
da tuberculose (TB) são expelidas pelo indivíduo,
desencadeando um processo de infecção do meio ambiente.
Essas gotículas microscópicas podem ficar suspensas no ar
por um período de até 8 horas. Estima-se que num período de
24 horas, um indivíduo infectado possa estar lançando no
ambiente cerca de 3,5 milhões de bacilos. Diante disso, a
1125
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
exposição às pessoas infectadas, lugares fechados e de
pouca ventilação podem contribuir para o processo de
contágio da doença (BERTOLLI FILHO, 2001; BRASIL, 2016;
ARROYO et al., 2017).
Especula-se que a TB seja a doença infectocontagiosa
responsável por acarretar mais mortes no Brasil, cerca de 30%
da população mundial está infectada pelo bacilo de Koch, mas
nem todas podem chegar a desenvolver a doença. Algumas
pessoas possuem o bacilo de Koch como inativo no organismo
por não conseguirem expulsá-lo ou extingui-lo, mas, sendo
ativado, passam a ser indivíduos infectantes (BERTOLLI
FILHO, 2001; CECCON et al., 2017).
Os sintomas mais comuns da TB podem ser tosse por
mais de duas semanas, tosse com catarro, dor no peito,
cansaço e emagrecimento contínuo. Em casos mais
avançados, há o aparecimento de tosse com sangue, febre no
final da tarde seguida de calafrios. O diagnóstico se dá a partir
da radiografia pulmonar, tomografia e análise laboratorial do
escarro. O tratamento é realizado com três tipos de fármacos,
que são a Pirazinamida, Isoniazida e Rifamicina. Nos
primeiros dois meses, o paciente toma as três medicações, e,
a partir do terceiro mês, utiliza-se apenas a Isoniazida e
Rifampicina (BERTOLLI FILHO, 2001; FURLAN; MARCON,
2017).
No que se refere à TB e a gravidez, dada a boa adesão
ao tratamento, a gravidez, o parto, o puerpério e a lactação
não oferecem riscos para as mulheres com a doença. É
orientado à mulher que dará início ou está em tratamento de
TB, evitar a gravidez, mas em caso de descoberta ou contágio
da doença durante a gestação, essa mulher deve ser
submetida ao tratamento, não havendo necessidade de
1126
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
interrupção da gravidez (SILVA, 1980 apud BRANCO et al.,
2009, p. 56-57; ALCOBIA; COSTA, 2016).
O risco de TB congênita é muito raro. Se a mãe estiver
em tratamento da doença, por pouco mais de duas semanas,
o risco de contágio está afastado para o recém-nascido,
podendo ser amamentado. A indicação é que o bebê seja
vacinado logo após o nascimento. Caso a mãe não esteja em
tratamento, é recomendado que o neonato seja distanciado da
mãe por cerca de quinze dias, ou que a mãe utilize a máscara
nos cuidados com a criança, e também deve ser realizada a
vacinação (BRANCO et al., 2009; OLIVEIRA; MATEUS, 2011).
Outra doença de caráter infectocontagiosa, que pode
acometer a mulher no período perinatal e puerperal, é a sífilis.
Causada pela bactéria Treponema pallidum e transmitida por
via sexual ou por via vertical a partir da placenta da mãe (sífilis
congênita). A infecção se dá pelo contato através de lesões
genitais. A transmissão também pode ocorrer por via indireta
(objetos contaminados, tatuagens e entre outros) ou por
transfusão sanguínea, porém esses casos são considerados
mais raros (AVELLEIRA, BOTTINO, 2006).
No caso da sífilis congênita, a infecção pode gerar
abortamento, óbito fetal e morte do bebê, quando este se
encontra seriamente acometido pela doença. Os primeiros
sinais podem se manifestar logo após o nascimento ou no
decorrer dos dois primeiros anos de vida da criança, chegando
a apresentar pneumonia, feridas no corpo, cegueira, surdez,
anemia, problemas ósseos e retardo mental (HEBMULHER;
FIORI; LAGO, 2015).
O diagnóstico da sífilis congênita se dá por meio de
exame laboratorial durante a gestação. Já o tratamento da
doença se dá pela utilização da penicilina, devido a sua rápida
1127
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
ação no desaparecimento das lesões. Apesar de outras
drogas estarem sendo testadas no tratamento da sífilis, a
penicilina tem sido a única eficaz no tratamento de mulheres
gestantes (AVELLEIRA, BOTTINO, 2006; NOGUEIRA;
CARMO; NONATO, 2014; NONATO; MELO; GUIMARÃES,
2015).
Diante do processo de hospitalização, frente ao
isolamento respiratório e tratamento farmacológico, que os
indivíduos são submetidos no ambiente hospitalar, visando o
restabelecimento da saúde se faz importante abordar esse
diagnóstico, oferecendo assistência integrada.
Dessa forma, o objetivo do estudo descrever a
assistência nutricional a paciente com tuberculose não tratada
no período de pós-parto normal.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Trata-se de um estudo de caráter descritivo com


abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. O estudo foi
desenvolvido na enfermaria de Maternidade do Hospital das
Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE)
no mês de maio, do ano de 2017.
Para coleta dos dados do estudo, foram utilizados
registros das evoluções e exames anexados em prontuário,
bem como observação e discussão com a equipe sobre o
estado clínico da paciente. Também foi realizada revisão da
literatura referente ao tema em questão.
A avaliação nutricional durante a gestação tem o
objetivo de avaliar e acompanhar o estado nutricional (EN) das
gestantes e identificar o risco nutricional, possibilitando
melhores intervenções e promoção da saúde (ACCIOLY;
1128
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
SAUNDERS; LACERDA, 2009). A avaliação nutricional foi
realizada através de dados antropométricos e do exame físico.
Os dados antropométricos permitem identificar as
gestantes com ganho de peso ponderal insuficiente ou
excessivo para a idade gestacional, a partir do EN prévio
(CUPPARI, 2009). Os dados anteriores a gestação, como
peso e altura, foram coletados a partir do cartão da gestante,
presente no prontuário. Estes dados auxiliaram para identificar
o Ìndice de Massa Corporal (IMC) pré-gestacional, para
considerar o diagnóstico inicial da gestante.
O IMC pré-gestacional é calculado com o peso antes da
concepção informado ou com o peso medido antes da 14º
semana de gestação dividido pela altura ao quadrado (Kg/m²)
(ACCIOL; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Os pontos de corte
para diagnótico nutricional pré-gestacional é o mesmo
recomendado para a população adulta (Tabela 1).

Tabela 1. Classificação do EN pré-gestacional


Classificação do Estado IMC Pré-Gestacional
Nutricional (Kg/m2)
Baixo peso < 18,5
Eutrofia 18,5 a 24,9
Sobrepeso 25,0 a 29,9
Obesidade > 30,0
Fonte: OMS, 2000.

O monitoramento do ganho de peso (GP) durante a


gestação é um procedimento de baixo custo e de grande
utilidade para o estabelecimento de intervenções nutricionais
visando à redução de riscos maternos e fetais (WHO, 2012;
MAGALHÃES et al., 2015). O ganho ponderal durante a
1129
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
gestação é considerado como a diferença entre o peso obtido
antes da concepção, ou antes, da 14ª semana gestacional e o
peso mais próximo do nascimento (ACIOLLY; SAUNDERS;
LACERDA, 2009).
As recomendações de ganho ponderal são
estabelecidas pelo Institute of Medicine (IOM), levando em
consideração o IMC pré-gestacional e têm sido utilizadas
como padrão ouro para acompanhamento durante a gravidez.
As primeiras recomendações de ganho de peso pelo IOM
foram propostas em 1990, sendo posteriormente revisadas e
atualizadas no ano de 2009 (ACIOLLY; SAUNDERS;
LACERDA, 2009). Para cada situação nutricional inicial há
uma faixa de ganho de peso recomendada (Tabela 2).

Tabela 2: Recomendação para ganho de peso gestacional


Ganho de
Ganho de Ganho de
EN Inicial em peso (Kg)
peso (Kg) peso (Kg)
adultas (IMC semanal
total no 1º total da
– Kg/m²) médio no 2º
trimestre gestação
trimestre
Baixo peso
2,3 0,5 12,5 -18,0
(< 18,5)
Adequado
1,6 0,4 11,5 – 16,0
(18,5 -24,99)
Sobrepeso
0,9 0,3 7,0 – 11,5
(25 – 29,99)
Obesidade
-- 0,3 5 – 9,0
(> 30)
Fonte: IOM, 2009.

1130
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
Entretanto, levando em consideração que as gestantes
podem mudar o estado nutricional ao decorrer da gravidez, foi
desenvolvido um instrumento baseado na idade gestacional e
no IMC atual das gestantes, expresso em gráfico. Este método
de avaliação é importante para determinar o diagnóstico
nutricional, além de permitir a identificação de mudanças de
estado nutricional durante a gestação (ATALAH et al., 1997).
Como forma de complementação da avaliação do
estado nutricional foi utilizada a Circunferência do Braço (CB).
Como método de avaliação, o paciente deve ficar com o braço
relaxado ao longo do corpo, a medida é aferida no ponto
médio entre o acrômio e olécramo, com auxilio de fita métrica
(FRISANCHO, 1990). A adequação da CB pode ser calculada
a partir da fórmula: %CB = CB atual ÷ CB percentil 50 e em
seguida ser classificada (Tabela 3).

Tabela 3. Classificação da circunferência do braço


Desnutrição Desnutrição Desnutrição
Eutrofia Sobrepeso Obesidade
Grave Moderada Leve
90- 110-
<70% 70-80% 80-90% >120%
110% 120%
Fonte: BLACKBURN; THORNTON, 1979.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Paciente, 25 anos, solteira, dona de casa, ensino fundamental


incompleto e residente de Recife-PE. Nega alergias, Diabetes
Mellitus, Hipertensão Arterial e transfusão sanguínea. Afirmou
ser tabagista crônica há 13 anos e histórico de TB pulmonar

1131
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
com multidrogas resistentes há 1 ano, com interrupção do
tratamento por escolha própria, alegava que o tratamento era
muito doloroso.
Segundo dados obstétricos, encontrava-se na quarta
gestação, com três partos anteriores sem complicações e sem
histórico de abortos. Afirmou ter realizado pré-natal na
Unidade de Saúde da Família (USF) no bairro que reside,
onde foi diagnosticada com TB.
Chegou a triagem obstétrica do Hospital das Clínicas, com
contrações e ruptura da bolsa amniótica. Ainda na triagem, ao
realizar teste para HIV e Sífilis, recebeu diagnóstico de VDRL
reagente. Seguindo assim, para internamento com diagnóstico
de Gestação Única Tópica Termo (GUTT), TB pulmonar e
sífilis.
De acordo com o exame físico geral no momento do
internamento, paciente seguiu com estado geral bom,
consciente, orientada, hidratada, normocorada, anictérica,
acianótica, afebril, sem edemas, deambulando, com mamas
flácidas e lactíferas, com frequência cardíaca de 76bpm e
pressão arterial de 110x70 mmHg. Sem mais queixas quanto
ao estado físico geral.
Na maternidade, ficou sob os cuidados das equipes de
obstetrícia, pneumologia e multidisciplinar. Ainda no
internamento, a equipe médica solicitou apoio da Secretaria de

1132
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
Saúde do Recife para agir mais próximo da paciente durante
retorno para comunidade, visto que a mesma se mostrava
bastante resistente em dar continuidade ao tratamento da TB.
E foi encaminhada para dar seguimento ao tratamento no
Ambulatório de multidrogas resistentes do Hospital das
Clínicas.
Quanto a análise dos resultados dos exames
complementares, a paciente foi admitida apresentando
exames laboratoriais ligeiramente abaixo dos valores de
referência no aspecto de hemácias, hemoglobina e
hematócrito e aumento do número de leucócitos (leucocitose)
e plaquetas (plaquetose) (Tabela 4).

Tabela 4. Período e exames laboratoriais


16/05 17/05 22/05 Referência
Ht 33,80 ↓ 28,2 ↓ 32.30 ↓ 36,0 – 47,0
Hb 11,1 ↓ 9,51 ↓ 10.7 ↓ 12,0 – 16,0

150000 a
Plaquetas 393,000 357,000 532,000 ↑
450000

84,71/ 82,40/ 83,0/ 80,0 – 98,0 /


VCM/HCM
27,82 27,80 27,40 27,0 – 33,0

Leucócito
15,600 ↑ 14,300 ↑ 13,900 ↑ 4000 -11000
s

VDRL REAGENTE
Fonte: CALIXTO-LIMA; REIS, 2012.

1133
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
Os parâmetros laboratoriais são essenciais para a
avaliação do estado nutricional do paciente. Uma vez que os
resultados apresentam dados objetivos, estes são utilizados
no processo de cuidado nutricional identificando diagnósticos
nutricionais e auxiliando o monitoramento dos desfechos da
conduta nutricional (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2011).
Considerando que cada organismo reage de maneira
diferente às condições a que é submetido, deve-se atentar
para detecção precoce de mudanças no estado nutricional,
sendo fundamental monitorar os marcadores bioquímicos dos
pacientes e não apenas restringir-se à comparação com os
valores da normalidade (CUPPARI, 2009).
Durante o período gestacional frequentemente há a
queda fisiológica dos níveis de hematócrito e hemoglobina,
devido aumento do volume plasmático em até 50% (1.000ml)
e do número total de hemácias circulantes em cerca 25%
(300ml), para suprir as necessidades do crescimento uterino e
fetal. Esse processo aumenta a perfusão placentária,
facilitando assim as trocas gasosas e de nutrientes. Cerca de
seis semanas após o parto, na ausência de perda sanguínea
excessiva durante o parto, esses níveis retornam ao normal
(BRASIL, 2012).
Anemia na gestação, de acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), é definida como nível de
hemoglobina abaixo de 11g/Dl. Ela pode ser classificada como
leve (Hb 10 – 10,9g/Dl), moderada (Hb 8 – 9,9g/Dl) e grave
(Hb – 8g/Dl) (WHO, 2001).
A gestação está associada a supressão da função
imunológica, devido a necessidade de acomodar um “corpo
estranho” no organismo materno. Esse fato pode estar
associado ao aumento no número de leucócitos 5 a
1134
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
7.000/mm3 para médias entre 8.000 a 16.000/mm3,
especialmente no segundo e terceiro trimestres, por razões
não bem esclarecidas. Durante o parto e o puerpério imediato,
estes valores podem atingir até 20 a 30.000/mm3, às custas
principalmente dos granulócitos e neutrófilos, normalizando-se
em torno do sexto dia de puerpério (MONTENEGRO;
REZENDE, 2011; WILLIAMSON; SNYDER; WALLACH, 2013;
MODOTTI et al., 2015).
Em condições normais, a própria gravidez induz ao
estado protrombótico (trombocitose) decorrente de alterações
hormonais fisiológicas no sistema da coagulação como citado
anteriormente (MONTENEGRO; REZENDE, 2011).
O VDRL (do inglês Venereal Disease Research
Laboratory) baseia-se no uso de uma suspensão antigênica
composta por uma solução alcoólica contendo cardiolipina,
colesterol e lecitina purificada e utiliza soro inativado como
amostra. Resultados positivos estão associados ao
acometimento do paciente por sífilis, porém sugere-se que
sejam realizados exames mais específicos posteriormente
(BRASIL, 2016; NEMER; NEVES; FERREIRA, 2010).
No que diz respeito aos medicamentos, inúmeras são
as possibilidades de ocorrência de interações entre fármacos
e alimentos, eventos estes frequentemente desconhecidos ou
ignorados por profissionais e pacientes. De acordo com a
literatura, as interações fármaco-alimento podem apresentar
um caráter apenas teórico, mas também podem ocorrer
interações que resultam em efeitos relevantes à prática clínica
(LOMBARDO; ESERIAN, 2014).
Diversos fatores justificam a ocorrência de interações
fármaco-alimento, como as características físico-químicas das
substâncias envolvidas, a dose do fármaco e a quantidade de
1135
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
nutrientes disponíveis, o momento de administração do
medicamento e o horário da dieta, além de aspectos
individuais, como quadro clínico, polifarmácia, constituição
enzimática e microflora intestinal (LOMBARDO; ESERIAN,
2014; LOPES et al, 2013).
As drogas e os nutrientes presentes nos alimentos,
podem interagir de várias maneiras, afetando o estado
nutricional bem como a eficácia do tratamento
medicamentoso, assim, a história medicamentosa é uma parte
importante de qualquer avaliação nutricional. Os indivíduos
cronicamente doentes que tem história de ingestão nutricional
marginal ou inadequada, ou que estão recebendo múltiplas
drogas durante longos períodos, são suscetíveis a deficiências
nutricionais induzidas por drogas (MAHAN; ESCOTT-STUMP,
2012; MARTINS; MOREIRA; PIEROSAN, 2003).
Os efeitos dos tratamentos medicamentosos podem ser
alterados por alimentos específicos e pelo horário do consumo
de alimentos ou das refeições. (MAHAN; ESCOTT-STUMP,
2012). No momento do estudo, a prescrição medicamentosa
estava sendo composta por seis medicamentos, podendo ser
infudidos devido a necessidade da paciente (Tabela 5).

Tabela 5. Interação droga-nutriente


Droga Indicação/Interações medicamentosas e
possíveis intercorrências
Captopril Antihipertensivo. Disgeusia; Xerostomia;
Náuseas e vômitos.
Dipirona Antitérmico e Analgésico. Leucopenia;
Hipotensão.
Tramal Analgésico. Náuseas e vômitos;

1136
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
Xerostomia; Constipação; Alterações no
apetite.
Dimeticona Anti-gases. Eructação.
Ondansetrona Antiemético. Xerostomia; Dor abdominal.
Sulfato ferroso Antianêmico. Macha dentária; Náuseas e
vômitos; Dispepsia; Obstipação; Fezes
escuras. Redução da absorção de zinco e
cálcio,
Fonte: MARTINS; SAEKI, 2013.

A antropometria é um método indireto mais comumente


utilizado na prática clínica e apresenta boa acurácia e
precisão. É capaz de predizer risco nutricional, além de
descrever a magnitude dos problemas nutricionais. Os
procedimentos envolvidos na avaliação antropométrica são
simples, rápidos, de baixo custo, não invasivos e usam
equipamentos de fácil precisão (CUPPARI, 2014; VITOLO,
2008).
Foi verificado o estado nutricional pré-gestacional,
mediante análise dos dados coletados do cartão da gestante e
realizado o acompanhamento do histórico de ganho de peso
da paciente, assim como realizou-se a avaliação nutricional
atual (Tabela 6).

Tabela 6. Avaliação nutricional


Idade
0s 26s 33s 37s Puerpério
Gestacional
Peso (Kg) 40 55 57,4 56,0 46,4
Altura (Cm) 1,68
IMC (Kg/m )2 14,17 19,49 20,34 19,84 16,44

1137
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
CB (Cm) - - - - 23
% CB - 83%
Fonte: Coleta de dados no serviço

Segundo os dados da avaliação nutricional pré-


gestacional, a paciente evoluiu com ganho de peso
satisfatório durante o período gestacional, totalizando 16kg,
estando dentro do preconizado pelo IOM (2009) para
gestantes que iniciam a gravidez com baixo peso (12,5 a
18kg).
A partir dos dados analisados na curta de Atalah (1997),
a qual estabelece uma relação entre a idade gestacional e o
IMC gestacional, observou-se que a curva de ganho de peso
foi ascendente, porém dentro da classificação de baixo peso
durante todo curso da gestação.
A avaliação nutricional atual, evidenciou desnutrição
segundo o IMC e desnutrição leve segundo a CB, com
diagnóstico nutricional de desnutrição. Cinco dias após o parto
a paciente apresentou perda de 9,6kg com relação a última
pesagem no pré-natal.
A semiologia nutricional é focada nos aspectos
nutricionais. Trata-se de um componente importante da
avaliação geral porque algumas deficiências nutricionais
podem não ser identificadas por outras abordagens. Alguns
sinais de deficiências nutricionais não são específicos e
devem ser distinguidos daqueles com fatores causais não
nutricionais (HAMMOND, 2013; VITOLO, 2008; PIVA et al.,
2013).
No que tange a semiologia nutricional foram
encontrados os seguintes sinais de desnutrição: depleção de
massa magra e de gordura subcutânea, ossos claviculares

1138
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
evidentes, consumo da bola gordurosa de Bichat. Na
avaliação clínica observou-se a presença de diurese e
evacuações, sem episódios de náusea e vômitos, mastigação
e deglutição encontravam-se normais e a Pressão Arterial
(PA) dentro da normalidade.
Para o cálculo das necessidades nutricionais foi
definido o peso de 52,2 Kg que corresponde ao IMC mínimo
da eutrofia (18,5kg/m2). O cálculo das necessidades levou em
consideração a tuberculose como enfermidade catabólica
(FRANCISQUET; PEREIRA, 2012). Usou-se a recomendação
da Guideline para TB que traz uma demanda energética de
35-40 caloria por kg de peso (Kcal/kg) e a necessidade
proteica de 75 a 100g de proteína/dia (g/dia) (WHO, 2013).
Sendo assim a necessidade nutricional em torno de
2100kcal/dia (40kcal/kg) e a necessidade protéica de 1,4 a 1,9
g/kg.
As necessidades foram calculadas também pela
recomendação da FAO/WHO, (2004) para lactação, com a
finalidade de comparação entre as recomendações. Assim,
temos um Gasto Energético (GE) de 1928 Kcal/dia, acrescido
de 505 Kcal/dia referente ao adicional energético no primeiro
semestre de lactação. Totalizando 2433 Kcal/dia. Para
proteína, utilizou-se 1,1g/kg de peso desejável acrescido de
19g/dia referente ao adicional de lactação para o primeiro
semestre. Totalizando 76,4g de PTN/dia.
Foi ofertada alimentação por via oral, de consistência
normal, com característica hipercalórica, hiperprotéica e
normosódica, recebendo diariamente um total de 2340,7
kcal/dia (44 kcal/kg) e 89,9 g de proteína/dia (1,7 g/kg). Para
adequação foi utilizada a recomendação da FAO/WHO (2004).
A dieta segue com 104% de adequação para calorias e com
1139
ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
DE PÓS-PARTO NORMAL
relação a proteína com 115% de adequação. A paciente
apresentava boa aceitação alimentar (100%), apetite
preservado e negava náuseas e vômitos.
A paciente foi acompanhada pela nutrição durante todo
o internamento e foi orientada quanto a alimentação adequada
após a alta hospitalar.

4 CONCLUSÕES
O período puerperal é marcado por alterações
hormonais e funcionais a depender do tipo e procedimento no
parto. Quando se tem uma patologia associada no período
perinatal, parto e puerpério, pode haver repercussões graves
para o estado biopsicossocial das mulheres. A tuberculose
pulmonar pode causar sérios problemas para a puérpera,
bebê e todos que estejam em contato direto. Diante disso é
imprescindível manter o acompanhamento farmacológico
adequado para manutenção da saúde.
A terapia nutricional é de grande importância para o
tratamento do paciente com TB, visto que trata-se de uma
doença hipercatabólica, caracterizada principalmente pela falta
de apetite e emagrecimento acentuado, afetando diretamente
o estado nutricional.

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ASSISTÊNCIA NUTRICIONAL A PACIENTE COM TUBERCULOSE NO PERÍODO
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1143
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
CAPÍTULO 57

NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO
NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE
LITERATURA
Emylle Thais Melo dos SANTOS 1
Raísa dos Santos COELHO 1
Julianne Cibele Rodrigues da SILVA 1
Fernanda Dayana da Silva DIAS 1
Amanda Moreira de Andrade SILVA 2
1
Nutricionista residente do Programa Multiprofissional Integrada em Saúde da Mulher,
HC/UFPE; 2 Especialista em Nutrição Clínica pela UFPE, Nutricionista do Hospital das
Clínicas, UFPE.
emylle.saantos@hotmail.com

RESUMO: O período gestacional provoca mudanças no


organismo da mulher, que gera uma necessidade aumentada
de nutrientes essenciais. O estado nutricional materno é um
indicador de qualidade de vida tanto para a mulher quanto
para o crescimento do bebê, uma vez que a fonte de
nutrientes para o concepto é constituída pelas reservas
nutricionais e ingestão alimentar materna. O inadequado
aporte de macro e micronutrientes na alimentação da gestante
pode levar a uma competição entre mãe e feto, limitando a
disponibilidade dos nutrientes necessários ao adequado
crescimento fetal. Uma alimentação adequada durante a
gestação é de extrema importância, associada a
suplementação nutricional - quando indicada por profissionais
capacitados - visando medidas profiláticas, contribuindo com a
saúde materna e o bom desenvolvimento do feto, assim
como melhores hábitos alimentares evitando complicações
durante a gestação. Neste contexto, o objetivo deste trabalho
foi verificar na literatura artigos que evidenciem quais
1144
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
necessidades nutricionais são comprovadas no período
gestacional e que suplementos alimentares são seguros e
permitidos à pratica do nutricionista no acompanhamento das
gestantes. Foram selecionados materiais impressos e
publicações científicas por meio das bases de dados BIREME,
MEDLINE, Scielo, Lilacs e Pubmed usando as seguintes
palavras-chave: Nutrition AND Recomendation AND
Pregnancy AND Micronutrients. Foram escolhidas publicações
nos idiomas Português e Inglês.
Palavras-chave: Gestação. Recomentação nutricional.
Micronutrientes.

1 INTRODUÇÃO

A gestação constitui-se um período formado por três


trimestres, totalizando 40 semanas, que apresenta
significativas diferenças metabólicas e nutricionais. No
primeiro trimestre, a saúde do embrião depende da condição
nutricional pré-gestacional da mãe, enquanto nos demais
trimestres, a adequada ingestão energética e de nutrientes e,
consequentemente, o ganho de peso adequado repercutirão
mais significativamente na saúde nutricional do feto (VITOLO,
2014).
Deste modo, entende-se que há elevada demanda
nutricional pelo corpo materno a fim de suprir às necessidades
do desenvolvimento fetal. Considera-se, então, a alimentação
um fator de risco modificável ao desfecho gestacional (RIBAS
et al, 2015). Rocha et al. (2014) afirmam que o período
gestacional predispõe a carências nutricionais específicas,
algumas das quais, já contam com consensos de
suplementação.

1145
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
No Brasil, o Ministério da Saúde orienta e subsidia a
suplementação nutricional profilática de ferro e ácido fólico,
como parte do cuidado pré-natal, com o objetivo de evitar
anemia na gestante, risco de baixo peso ao nascer e defeitos
na formação do tubo neural na criança (BRASIL, 2013).
Entretanto, sabe-se que os requerimentos nutricionais da
gestante vão além de dois nutrientes, e estes nem sempre são
atendidos por meio da alimentação. Deste modo, acredita-se
que insuficiências nutricionais precisam ser avaliadas
individualmente, para que a orientação de suplementação
energética, vitamínica e/ou mineral seja segura e eficaz.
Portanto, o objetivo deste trabalho é revisar na literatura
artigos que evidenciem quais requerimentos nutricionais são
comprovados no período gestacional e que suplementos
alimentares são seguros e permitidos à pratica do nutricionista
no acompanhamento a essa fase de vida da mulher.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Este estudo tratou de uma revisão bibliográfica,


realizada através de método investigativo, que, segundo
Prodanov (2013) engloba a análise de trabalhos já realizados
na área, com o intuito de prover ao leitor o entendimento
necessário sobre as necessidades nutricionais durante a
gestação.
Para a realização das buscas foram utilizados materiais
impressos e artigos científicos das diversas bases de dados,
como: sistema BIREME; MEDLINE; SciELO; LILACS e
Pubmed. Para a realização desta pesquisa foram utilizados os
seguintes descritores: Nutrition AND Recomendation AND

1146
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Pregnancy AND Micronutrients, e escolhidas publicações nos
idiomas português e inglês.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Vitolo (2014), há duas importantes mudanças


fisiológicas na gestação que exercem forte influência nos
aspectos nutricionais da mulher. São eles: Aumento de 50%
do volume plasmático, com 20% do conteúdo de hemoglobina
e a elevação da progesterona e estrogênio, hormônios
responsáveis pelo relaxamento da musculatura lisa do útero e
aumento da elasticidade da parede uterina, respectivamente.
A progesterona atua, consequentemente, na redução
da motilidade intestinal, pela sua ação de relaxamento da
musculatura lisa, o que induz ao maior tempo de absorção de
nutrientes, porém, colabora para a constipação intestinal
observada com frequência em mulheres grávidas. Já o
estrogênio, reduz proteínas séricas, afeta a função tireoidiana
e interfere no metabolismo do ácido fólico (VITOLO, 2014).
A elevação de outros hormônios, considerados
antagonistas da insulina, como cortisol, prolactina e hormônio
lactogênio placentário (somatomamotropina coriônica)
contribuem para o conhecido estado diabetogênico
gestacional, por redução da sensibilidade à insulina (VITOLO,
2014). Oliveira et al (2015) consideram esta uma importante
adaptação metabólica materna, pois ajuda a fornecer a
adequada quantidade de glicose ao feto e permite o acúmulo
de tecido adiposo na mulher.
As alterações de perfil hormonal também modulam os
lipídeos durante a gestação. Faria (2013) descreve o aumento
da lipólise e, consequentemente, de ácidos graxos livres, pela

1147
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
ação do hormônio lactogênio placentário, cortisol e hormônio
do crescimento, com o objetivo de ofertar energia alternativa
ao organismo materno.
O aumento da produção hormonal durante a gestação
também interfere no metabolismo basal da mulher, que eleva-
se em 15% a 20% até o final do período gestacional,
decorrente também do aumento de peso e maior demanda de
oxigênio (VITOLO, 2014).
O ganho de peso na gestação é um importante preditor
de comorbidades e do desfecho gestacional. O Institute of
Medicine (IOM) 2009 recomenda o ganho de peso, de acordo
com o IMC pré-gestacional da mulher conforme descrito na
Tab. (1).

Tabela 01. Recomendações de ganho de peso gestacional de


acordo com o IMC.
IMC pré-gestacional Ganho de Ganho de Ganho de
(kg/m2) peso total peso/semana (kg) 2 e Peso Mínimo
3º trimestres (a partir (kg/sem)
da 14ª semana)
Baixo Peso (< 18,5) 12,5 – 18,0 0,51 (0,44 – 0,58) 0,44
Adequado (18,5 – 11,5 – 16,0 0,42 (0,35 – 0,50) 0,35
24,9)
Sobrepeso (25,0 – 7,0 – 11,5 0,28 (0,23 – 0,33) 0,23
29,9)
Obesidade (≥ 30) 5-9 0,22 (0,17 – 0,27) 0,17
Fonte: Adaptada de IOM (2009) Apud RASMUSSEN et al. (2009).

Segundo Vitolo (2014), o ganho de peso no primeiro


trimestre não é especialmente relevante. Deste modo
variações de perda de 3kg, manutenção de peso e/ou ganho
de 2kg não tem parâmetros de inadequação, porém são
situações previstas que não oferecem riscos à mãe e ao feto.
1148
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
De acordo com Vitolo (2014), a gestação é um período
de maior demanda nutricional do ciclo de vida da mulher, uma
vez que envolve rápida divisão celular e desenvolvimento de
novos tecidos e órgãos, necessitando assim de uma oferta
maior de energia, proteínas, vitaminas e minerais para suprir
as necessidades básicas e formar reservas energéticas para
mãe e feto.
Em se tratando de macronutrientes, a recomendação é
de aproximadamente 55 a 75% do Valor Energético Total
(VET) diário na forma de carboidratos, sendo o limite
recomendado para a ingestão de açúcares de adição menos
que 10% desses valores e maior que 25g de fibras ao dia
(IOM, 2005).
O consumo de gorduras deve ficar entre 15 a 30% do
total do VET, sendo menos de 10% na forma de gordura
saturada (IOM, 2005). As proteínas envolvidas na síntese de
novos ciclos e garantindo a melhor absorção de carboidratos e
lipídios, devem estar presentes numa média de 60g/dia
durante a gravidez, sendo recomendado 1g/Kg/dia sobre o
peso pré-gestacional ou o peso aceitável, com o adicional de
acordo com o trimestre da gestação (+ 1 g/dia no 1º trimestre /
+ 9 g/dia no 2º trimestre / + 31 g/dia no 3º trimestre), devendo
50% ser de alto valor biológico (FAO/WHO, 2007).
Ao se tratar de micronutrientes, sabe-se que o consumo
inadequado de vitaminas e minerais está associado a
desfechos gestacionais desfavoráveis, portanto deve se ter
uma atenção maior na hora de avaliar a presença desses
elementos na dieta da gestante, em especial o cálcio, ferro,
ácido fólico, zinco e as vitaminas A, C e D, seguindo as DRIs
de acordo com a faixa etária (IOM, 2004).

1149
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
A nutrição no período gestacional deve atuar também
sobre a sintomatologia. Náuseas e vômitos são frequentes no
1º trimestre gestacional e tendem a parar na décima terceira a
décima quarta semana de gestação, podendo ser minimizados
com o fracionamento adequado da dieta, a redução de
gorduras, a preferência por alimentos sólidos pela manhã e
gelados, ao longo do dia.
A baixa ingestão de irritantes gástricos, como café,
chás, doces e álcool podem reduzir a pirose (azia), sintoma
também frequente entre mulheres grávidas (SILVA et al,
2007; BRASIL, 2012).
As alterações fisiológicas da gestação também
predispõem à redução da motilidade gástrica, o que provoca
dores abdominais e obstipação intestinal. Estes podem ser
minimizados com dieta rica em resíduos (frutas cítricas,
verduras, mamão, ameixas e cereais integrais), elevada
ingestão de líquidos e a redução do consumo de alimentos
muito fermentáveis, tais como repolho, couve, ovo, feijão, leite
e açúcar (BRASIL, 2012).
O consumo da cafeína durante a gestação pode trazer
impactos negativos, uma vez que a substância atravessa a
barreira placentária e pode ser detectada no fluído amniótico.
O feto apresenta reduzida capacidade de metabolização da
cafeína, a qual prejudica o desenvolvimento celular do
embrião ou feto, tal fato é também potenciado pela diminuição
da eliminação hepática da cafeína que ocorre durante a
gravidez (PATEL; RIZZOLO, 2012).
A influência da cafeína sobre o crescimento fetal é vista
como importante questão de Saúde Pública, a hipótese do
mecanismo é de que aumenta a liberação de catecolaminas,
levando à vasoconstrição na circulação uteroplacentária e

1150
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
consequente hipoxia fetal, condicionando o seu crescimento e
desenvolvimento (FREITAS et al, 2011).
As recomendações atuais à quantidade permitida do
consumo de cafeína durante a gravidez são díspares, A Food
and Drug Administration (FDA, 2002) aconselha geralmente
ingestão diária inferior a 200-300mg/dia. No entanto, Matias et
al. (2017) realizaram uma meta-análise propondo-se, por fim,
ingestões inferiores a 100-150mg/dia nesta fase.
No que diz respeito aos adoçantes durante a gestação,
a sua escolha deve ser cuidadosa, pois determinadas
substâncias utilizadas em sua formulação podem ser
prejudiciais neste período. Existem poucas informações sobre
o uso da sacarina e ciclamato na gestação, e seus efeitos
sobre o feto. Por causa das limitadas informações disponíveis
e ao seu potencial carcinogênico em animais, a sacarina e o
ciclamato devem ser evitados durante a gestação (risco C). O
aspartame tem sido extensivamente estudado em animais,
sendo considerado seguro para uso na gestação (risco B),
exceto para mulheres homozigóticas para fenilcetonúria (risco
C). A sucralose e o acessulfame-K não são tóxicos,
carcinogênico ou mutagênicos em animais, mas não existem
estudos controlados em humanos. Porém, como esses dois
adoçantes não são metabolizados, parece improvável que seu
uso durante a gestação possa ser prejudicial (risco B). A
estévia, substância derivada de uma planta nativa brasileira,
não produz efeitos adversos sobre a gestação em animais,
porém não existem estudos em humanos (risco B). Portanto,
segundo as evidências atualmente disponíveis, o aspartame, a
sucralose, o acessulfame-K e a estévia podem ser utilizados
com segurança durante a gestação (TORLONI et al, 2007).

1151
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
De acordo com Melo et al. (2017) existem muitas
substâncias de origem vegetal utilizadas para realização de
chás que são potencialmente embriotóxicas ou teratogênicas.
A planta mais utilizada pelas gestantes é a camomila, que tem
uso contra-indicado durante a lactação e gestação, por possuir
ação abortiva e ser um relaxante uterino. A hortelã, também
utilizada por esta população, apresenta efeito abortivo, bem
como a melissa que não deve ser administrada na gravidez e
lactação. O boldo, por sua vez, pode acarretar redução do
peso fetal e apresenta ação abortiva, contra-indicado no
primeiro trimestre de gestação.

3.1 Suplementação nutricional na gestação

A dieta deve ser a principal fonte nutricional da


gestante. Os suplementos devem ser usados,
fundamentalmente, em mulheres que apresentem riscos de
carência nutricional. Sendo elas: com ingestão inadequada;
IMC baixo; gestações múltiplas; fumantes; adolescentes;
vegetarianas; anêmicas; com deficiência de lactase (ROCHA
et al, 2014).
Salienta-se a necessidade de critério na suplementação
nutricional de gestantes, visto que, os mesmos podem
interferir na nutrição fetal. E, para mulheres com aporte
dietético adequado, a suplementação, sobretudo, no terceiro
trimestre, período de pico de crescimento e acúmulo de
reservas, pode condicionar o risco de parto pré termo e baixo
peso ao nascer (ROCHA et al, 2014).
Dentre as vitaminas e minerais que têm seus
requerimentos aumentados durante a gestação, segundo
Rocha et al. (2014), estão: folato, ferro, cálcio e vitamina B12.

1152
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Entretanto, outros estudos avaliam a suplementação de
demais micronutrientes com benefícios claros à saúde
materno-infantil.
Deste modo, além dos micronutrientes citados acima,
serão abordados os demais descritos na literatura que
apresentam benefícios à mulher no período gestacional e são
considerados seguros à suplementação.

3.1.1 Ácido Fólico e Ferro

A suplementação diária oral de ferro e ácido fólico é


recomendada como parte da assistência pré-natal para reduzir
o risco de baixo peso no nascimento, anemia materna e
deficiência de ferro. O ácido fólico é necessário para a síntese
de purinas e do timidilato, tornando-se essencial para a
síntese dos ácidos desoxirribonucleico (DNA) e ribonucleico
(RNA), sendo elemento fundamental na eritropoiese. Sabe-se
também que é de suma importância na regulação do
desenvolvimento normal de células nervosas, na prevenção de
defeitos congênitos no tubo neural e na promoção do
crescimento e desenvolvimento normais do ser humano
(LINHARES; CESAR, 2017).
A partir destas evidências, a Organização Mundial de
Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde do Brasil (MS)
recomendam a dose de 400µg (0,4mg), diariamente, por pelo
menos 30 dias antes da concepção até o primeiro trimestre de
gestação para prevenir os defeitos do tubo neural e durante
toda a gestação para prevenção da anemia. E para as
mulheres com antecedentes de malformações congênitas o
MS recomenda a dose de 5 mg/dia a fim de reduzir o risco de
recorrência de malformação (OMS, 2013).

1153
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
3.1.2 Cálcio

A recomendação de cálcio para gestantes define-se de


acordo com a idade materna. Portanto, gestantes entre 14-18
anos tem uma recomendação de ingestão diária de 1300mg;
já adultas de 19-50 anos, recomenda-se a ingestão de
1000mg/dia. A UL também estratifica-se entre adolescentes
(3000mg) e adultas (2500mg) (SILVA et al, 2013).
Recém-nascidos tem cerca de 30 gramas de cálcio
provenientes da circulação materna durante a gestação.
Sendo assim, há elevação da absorção de cálcio materna
durante o período gestacional, como forma de repor
direcionado ao feto. É possível, portanto, que o conteúdo
mineral dos ossos maternos sofra repleção, inclusive, porque
os requerimentos continuam elevados na lactação. Contudo,
não há evidências que isso interfira na saúde óssea de alguma
maneira (SILVA et al, 2013).
Segundo Gomes et al. (2016), a baixa ingestão de
cálcio durante a gestação associa-se ao risco elevado de pré-
eclâmpsia. Por isso, a Organização Mundial de Saúde (WHO,
2013) recomenda a suplementação deste mineral em áreas
onde há baixa ingestão do mesmo. Orienta-se, portanto, a
suplementação de 1,5g a 2,0g de cálcio elementar/dia, da
vigésima semana gestacional até o termo. Contudo, apesar
das evidências, o Brasil ainda não adotou essa medida
profilática nas suas orientações de acompanhamento pré-
natal, pelo Ministério da Saúde.

3.1.3 Vitamina A

1154
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
A recomendação diária de vitamina A para gestantes
abaixo de 18 anos é 750μg e de 19 – 50 anos, 770μg. As UL,
respectivamente, são 2800μg e 3000μg (YUYAMA et al,
2013). Durante a gestação, a vitamina A é importante para a
divisão celular, formação dos órgãos fetais, crescimento e
maturação esquelética, manutenção do sistema imunológico e
desenvolvimento da visão no feto, bem como à manutenção
da saúde ocular materna (WHO, 2011).
Os requerimentos adicionais de vitamina A na gestação
são pequenos e estão limitados ao terceiro trimestre. Observa-
se que, mesmo que a gestante apresente uma deficiência
moderada desta vitamina, o feto ainda obtém o suficiente para
desenvolver-se adequadamente (WHO, 2011).
O Guideline, portanto, recomenda com nível de
evidência forte, que a suplementação desta vitamina não é
recomendada durante a gravidez como parte de cuidados pré-
natais de rotina para prevenção de morbimortalidade materna.
Porém, em áreas onde a deficiência da mesma consiste em
problema de saúde pública, a suplementação pode ser
adotada como modo de prevenção à cegueira noturna. A OMS
institui que cada país deve analisar seu contexto para aplicar
as recomendações. Ressalta-se, por fim, que se a ingestão
exceder 10 000 UI/dia ou 25 000 UI/ semana, a vitamina A
pode ser tóxica para mãe e bebê (WHO, 2011).
No Brasil, há um programa de suplementação de
megadose de vitamina A para crianças e puérperas. Deste
modo, o Ministério da Saúde oferta em seu guia de vacinação
doses de 100 000 a 200 000 UI. Ressalta-se, porém, que esta
oferta não é recomendada a gestantes ou mulheres em idade
fértil, por risco de má-formação fetal (teratogenicidade).

1155
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Assegura-se, então, a suplementação da megadose
(200 000 UI) a puérperas antes da alta hospitalar, ainda na
maternidade, preferencialmente, no pós-parto imediato, como
forma de contribuir para a melhor nutrição materna (BRASIL,
2013).
É importante destacar que essa suplementação só está
indicada na Região Nordeste brasileira, além de alguns
municípios da Região Norte, estados de Minas Gerais e Mato
Grosso (BRASIL, 2013).

3.1.4 Ômega 3

De acordo com Magalhães (2012) o organismo humano


consegue dessaturar e alongar o ácido alfa-linolênico (ALA),
convertendo-o na forma biologicamente ativa de ómega-3, o
ácido eicosapentaenóico (EPA), que por sua vez é convertido
no ácido docosahexaenóico (DHA). O DHA é o componente
crítico da membrana celular no cérebro e na retina, estando
envolvido na função cerebral e visual.
O ácido linoleico (LA) é convertido na forma
biologicamente ativa de ómega-6, o ácido araquidônico (AA),
que está envolvido nas vias de sinalização celular, sendo um
precursor dos eicosanóides próinflamatórios (MAIA, 2016).
Lassek & Gaulin (2013) afirma que o consumo materno
de DHA (na forma de pescados e/ou suplementação), é
essencial para a formação de todas as membranas celulares
do sistema nervoso central, pode prolongar gestações de alto
risco, aumentar peso do recém-nascido, comprimento e
circunferência da cabeça ao nascimento, aumentar acuidade
visual, coordenação mão-olhos, atenção, resolução de
problemas e processamento de informações. Envolvida

1156
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
também na melhora da imunidade e da resposta do sistema
nervoso autônomo.
Segundo o IOM (2005) a recomendação para uma
ingestão adequada para as mulheres grávidas e ao
amamentar é de 13 g/dia de LA e 1,4 g/dia de ALA.
No entanto apesar de o consumo ALA no Brasil ser
adequado, a taxa de conversão é baixa e níveis adequados de
DHA não são atingidos por gestantes, lactantes e crianças
(TORRES; TRUGO, 2009).
De acordo com o Consenso da Associação Brasileira de
Nutrologia sobre recomendações de DHA durante gestação,
lactação e infância, recomenda-se que, independente da dieta,
toda gestante deve receber suplemento diário de 200 mg/ dia
de DHA, preferencialmente obtido industrialmente através de
algas, evitando o risco de contaminação por metais pesados
(ALMEIDA; BERTOLUCCI, 2014).

3.1.5 Vitamina E

Durante a gestação, a recomendação de ingestão de


alfa-tocoferol para mulheres adultas não muda em relação ao
recomendado para mulheres não grávidas, Segundo o IOM
(2008) a recomendação de vitamina E é de 15 mg/dia para
todas as faixas etárias.
Este fato pode ser justificado porque provavelmente
essa vitamina não ultrapassa a barreira placentária em
grandes quantidades, para evitar os efeitos tóxicos no feto que
poderiam ser causados pelo excesso deste micronutriente
devido ao desequilíbrio do estado oxidante/antioxidante nos
tecidos embrionários (DEBIER, 2007).

1157
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Ressalta-se, porém que, não se evidenciou nenhum
benefício da suplementação deste mineral sobre as condições
apresentadas pela gestante que possam assegurar a sua
recomendação profilática no pré-natal (JUNIOR; LEMOS,
2009).

3.1.6 Vitamina D

Gomes et al. (2016) afirmam que o estado nutricional


materno referente à vitamina D tem sido associado à pré-
eclâmpsia, peso e comprimento ao nascer, nascimento pré-
termo e diabetes gestacional, com melhores desfechos
quando há níveis circulantes suficientes da mesma.
Segundo o IOM (2011) Apud Cominetti e Cozzolino
(2013), a recomendação de vitamina D para gestantes de 14 a
50 anos é de 600 UI, o que equivale a 15μg/dia. Já a UL é de
4000 UI (100μg/dia).
Basile (2014) afirma que a quantidade de
suplementação de vitamina D atualmente recomendada não é
suficiente para manutenção dos valores séricos adequados na
gestante (≥ 30 ng/dl). Portanto, sugere-se que deve ser dada
atenção especial à insuficiência de vitamina D em grávidas,
sobretudo, naquelas com excesso de peso.
Acredita-se que essa vitamina interfere em mecanismos
envolvidos na patogênese da pré-eclâmpsia, incluindo invasão
trofoblástica e imunomodulação, além do controle da pressão
arterial e proteinúria. Além disso, a placenta produz e
responde à vitamina D, pois a mesma atua como moduladora
da implantação na produção de citocinas e na resposta imune
à infecção (BASILE, 2014).

1158
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Por acreditar na inadequação da RDA de vitamina D
para manter níveis séricos satisfatórios, o estudo recomenda a
prescrição de 1500 – 2000 UI/dia. Em casos de deficiência
comprovada da 25-OH-VD (<20ng/ml), recomenda-se a
suplementação medicamentosa com 6000 UI/dia, por 8
semanas. Em caso de melhora (>30ng/ml), manter dose
profilática de 1500-2000 UI/dia. Se ainda permanecer abaixo
de 30 ng/ml, repetir a dose medicamentosa por mais dois
meses e solicitar novos exames. Contudo, esta conduta é
médica e deve ser, apenas, acompanhada pelo nutricionista,
até que se possa recomendar valores abaixo da UL,
novamente (BASILE, 2014).

3.1.7 Magnésio

Segundo o IOM (1999) Apud Mafra e Cozzolino (2013),


a recomendação de magnésio para gestantes estratifica-se
por idade. Sendo assim, para gestantes menores de 18 anos
recomenda-se 400mg/dia; 19 a 30 anos, 350mg/dia; 31 a 50
anos, 360 mg/dia. Enquanto a UL é a mesma para todas as
faixas etárias, 350mg/dia (esta refere-se a ingestão via
suplementos).
Ressalta-se, porém que, apesar do grande número de
estudos para avaliação do magnésio sobre a saúde materna e
fetal durante a gestação, em extensa revisão realizada pela
Cochrane, não se evidenciou nenhum benefício da
suplementação deste mineral sobre as condições
apresentadas pela gestante que possam assegurar a sua
recomendação profilática no pré-natal (MAKRIDES, 2014).

1159
NECESSIDADES E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DURANTE O PERÍODO
GESTACIONAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA
4 CONCLUSÕES

O período gestacional caracteriza-se por um fenômeno


fisiológico marcante no organismo da mulher. A assistência a
essa população por meio de profissionais capacitados visa a
tomada de medidas profiláticas, que envolve a melhoria dos
indicadores com benefícios para o binômio mãe-bebê.
Nesse sentido, se faz necessário que orientações a
cerca de uma alimentação e suplementação adequadas para
cada caso contribuam para a saúde materna e bom
desenvolvimento do feto, auxiliando assim na aquisição de
bons hábitos alimentares e redução de riscos de diversas
patologias.

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1163
NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
NUTRIÇÃO E
IMUNOLOGIA

1164
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
CAPÍTULO 58

ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA


CELÍACA
Júlia Rafaella Resende de Almeida DIAS 1
Camila Figueiredo GOMES 2
Natália Tabosa Machado CALZERRA 3
1
Graduanda do curso de Nutrição, IESP2; Professora do IESP 2;
Orientadora/Professora do IESP3.
naty_tabosa@msn.com

RESUMO: A doença celíaca (DC) é uma enteropatia


caracterizada por uma inflamação crônica na mucosa
intestinal, resultando em atrofia ou destruição das vilosidades.
O principal agente desencadeador dessa doença é ingestão
de glúten por indivíduos geneticamente suscetíveis. Uma
importante alteração genética envolvida no desenvolvimento
dessa doença é a presença de duas variações de genes
codificadores de proteínas, o HLA-DQ2 e/ou HL2-DQ8. A DC é
considerada uma doença autoimune, pois lesão intestinal é
imunologicamente mediada e múltiplos mecanismos efetores
são responsáveis pela sua expressão. Desta maneira, esta
revisão tem como objetivo abordar os aspetos imunológicos
associados na fisiopatologia da DC, elucidando o
envolvimento da imunidade inata e adaptativa. A pesquisa
corresponde uma revisão bibliográfica de caráter descritivo,
baseada na literatura científica atual, pesquisada na base de
dados do Pubmed, Scielo, NCBI, entre outras. Apesar de ser
considerada uma doença do sistema imune adaptativo,
pesquisas apresentaram que a produção de algumas citocinas
e consequente ativação de linfócitos intraepiteliais e células
NK podem mediar a participação do sistema imune inato na
DC. Os principais mecanismos adaptativos relacionados ao
desenvolvimento dessa enteropatia envolvem ação efetora de
linfócitos T CD4+ específicos para peptídeos derivados da
1165
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
degradação do glúten, a gliadina, e a produção de anticorpos
anti-gliadina, anti-endomísio, anti-reticulina e anti-
transglutaminase 2. Desta forma, o entendimento dos
aspectos imunológicos envolvidos é fundamental para
compreensão da doença.
Palavras-chave: Doença Celíaca. Glúten. Gliadina. Lesão
intestinal.

1 INTRODUÇÃO

A Doença Celíaca (DC) é uma enteropatia sensível ao


glúten, caracterizada por uma inflamação na mucosa intestinal
decorrente de uma resposta imunológica exacerbada a
específicas proteínas que compõem o glúten, sendo estas
secalina (centeio), hordeína (cevada) e gliadina (trigo)
(RODRIGUES, 2013). Esta doença também chamada de
espru não tropical, é incurável e seu único tratamento é
eliminar o glúten da dieta. (RODRIGUES, 2013; ABBAS,
2012).
A DC é uma doença autoimune, pois se trata de uma
agressão do sistema imunológico ao próprio organismo, e a
autoimunidade está relacionada com a suscetibilidade
genética (ABBAS, 2015). Dessa forma, essa enteropatia não é
causada apenas pelo consumo de alimentos que contêm
glúten, mas também é dependente de fatores genéticos e uma
disfunção na barreira da mucosa intestinal (CECILIO;
BONATTO, 2015; MEGIORNI; PIZZUTI, 2012).
Para o desenvolvimento da DC é preciso ser portador
de genes que estão relacionados com a sensibilidade do
organismo ao glúten causando uma resposta imunológica
intensa a essa proteína. É descrito que uma alteração
genética mais comum envolve variação no gene que codifica a

1166
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
proteínas conhecida como antígeno leucocitário humano
(HLA). Existem dois tipos de variações no gene HLA, o DQ2
(90-95%) e o DQ8 (5 -10%), sendo o mais comum a presença
de apenas um desses genes, porém existem pessoas celíacas
que possuem os dois tipos, as quais estão mais propícios a
desenvolverem a doença. Cerca de 40% da população possui
HLA-DQ2 e/ou DQ8, porém a DC só se desenvolve em cerca
de 1% da população. Com isso esses genes não são a única
causa da doença celíaca, entretanto, já foi determinado que
são fatores cruciais para a existência da DC. Sendo assim,
indivíduos negativos para HLA-DQ2 e HLA-DQ8 tem um risco
muito baixo de desenvolver a doença. (RODRIGUES, 2013;
ESTEVES, 2016; CECILIO; BONATTO, 2015).
A soma do fator genético e a exposição a repetidas
ingestões de alimentos que contêm o glúten, promove uma
inflamação na mucosa intestinal exacerbada, provocando
lesões na mucosa, podendo causar a atrofia das vilosidades.
Esta complicação pode acarretar uma série de problemas,
dentre eles estão a má absorção de nutrientes, causando
deficiência nutricional (RODRIGUES, 2013).
De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes
Terapêuticas (PCDT), a doença celíaca pode ter diferentes
formas clínicas de apresentação: clássica ou típica, não
clássica ou atípica e assintomática ou silenciosa. Alguns
sintomas que são apresentados nas formas típicas e atípicas
são: diarreia crônica, perda de peso, vômitos, distensão
abdominal. Os sintomas nem sempre aparecem no trato
intestinal, podendo também ocorrer anemia por deficiência de
ferro, manifestações psiquiátricas, osteoporose, etc (BRASIL,
2015).
Tanto Lamireau (2013) como Clouzeau (2013) apontam
que a incidência no número de novos casos de DC por ano
1167
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
aumentou nos últimos 30 anos, de dois a três, nove ou mesmo
13 novos casos por 100.000 habitantes por ano. Segundo
Catassi et al (2014), Gotti (2014) e Fasano (2014), a
prevalência da DC varia muito, mas vários relatórios
mostraram que a DC está aumentando com frequência em
diferentes regiões. O aumento da prevalência pode ser
parcialmente atribuído a melhoria das técnicas de diagnóstico;
contudo, é igualmente documentado que o aumento da
incidência nos últimos 30-40 anos não pode ser tão facilmente
explicado. No Brasil, esta enteropatia atinge 1 para cada 681
pessoas e demonstra que é relativamente comum (DO
NASCIMENTO; TAKEITI; BARBOSA, 2012).
Apesar da DC acometer varias pessoas no Brasil e
mundo, ela ainda é considerada uma doença rara e a
população mundial ainda tem pouco conhecimento sobre a
doença e o glúten. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é
realizar uma revisão bibliográfica sobre os aspectos
imunológicos dessa enteropatia, mostrando que a lesão
intestinal é mediada pela ação do sistema imune em
decorrência da ingestão de glúten por indivíduos
geneticamente suscetíveis. Sendo elucidado neste trabalho
que tanto os componentes da resposta imune inata, da
imunidade humoral (linfócitos B e seus produtos), como
também da resposta imune celular (linfócitos T e seus
produtos) participam ativamente no processo de lesão da
mucosa intestinal.

2 MATERIAIS E MÉTODO

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa


bibliográfica sobre o envolvimento do sistema imunológico no
mecanismo de desenvolvimento da DC. Para a elaboração
1168
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
deste trabalho foi realizado um levantamento na literatura
nacional e internacional utilizando os seguintes bancos de
dados Pubmed, Scielo, Google Acadêmico, NCBI, Science
Direct, Sciepub, apresentados como pesquisas científicas
publicadas até os últimos cinco anos. As palavras-chaves
utilizados para pesquisa foram: doença celíaca; sensibilidade
ao glúten; gliadina; inflamação; permeabilidade intestinal;
zonulina; ativação da imunidade inata na patogenia da doença
celíaca; resposta imunológica humoral e celular na doença
celíaca, lesão na mucosa intestinal.
Os critérios de inclusão para construção desse trabalho
foram artigos originais, artigos de revisão, livros, teses e
diretrizes que abordam as características gerais da doença
celíaca e os aspectos imunológicos associado ao
desenvolvimento da mesma; que apresentam disponibilidade
na forma de texto completo; e que foram publicados nos
últimos cinco anos nos idiomas português ou inglês. Foram
excluídos os trabalhos que não atenderam aos critérios de
inclusão previamente estabelecidos. As informações foram
captadas e analisadas para corresponder à proposta do
trabalho.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A DC envolve uma complexa interação entre o glúten, a


suscetibilidade genética do hospedeiro e o seu sistema
imunitário. Em indivíduos predispostos, o glúten e péptidos
derivados da sua degradação desencadeiam uma resposta
imunitária que pode ser do tipo inata e/ou do tipo adaptativa,
levando à inflamação da mucosa do intestino delgado
(TEXEIRA, 2012).

1169
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
No processo de digestão no organismo humano, temos
uma diversidade de enzimas que apresentam um alto grau de
especificidade para os seus substratos e sua função é quebrar
os mesmos em determinados produtos. Entretanto, existem
algumas moléculas que o organismo humano consegue
ingerir, porém estas moléculas não são digeridas ou são
digeridas parcialmente, como no caso do glúten
(RODRIGUES, 2013). No trato gastrointestinal, o glúten é
digerido, porém existe uma sequência de 33 aminoácidos que
são resistentes a proteólise pelas proteases intestinais, como
a pepsina, quiomiotripsina, elastase e tripsina. Esta resistência
se dá devido a composição da prolamina gliadina, que é rica
em prolinas e glutaminas. (RODRIGUES, 2013; GUTIÉRREZ,
et al., 2017; BARONE; TRONCONE; AURICCHIO, 2014). A
digestão incompleta do glúten dá origem aos peptídeos de
gliadina (RODRIGUES, 2013). A presença desses peptídeos
no lúmen intestinal dos portadores de DC estimula uma
resposta imunológica na mucosa intestinal que envolve tanto a
resposta imune inata como adaptativa (RODRIGUES, 2013;
DENHAM; HILL, 2013).
A permeabilidade intestinal é um fator crucial para o
desencadeamento de reações inflamatórias, pois permite a
passagem anormal de substâncias que podem desencadear
reações imunes (HOLLON et al., 2015). O tecido epitelial
intestinal contêm especializações de membrana que fornecem
mecanismos de adesão e comunicação, entre esses
mecanismos é importante destacar as junções apertadas
(TJS), as quais fornecem uma barreira contra o transporte livre
de íons e moléculas entre as células epiteliais intestinais.
(SCHUMANN; SIEGMUND; SCHULZKE; FROMM, 2017.)
Porém, hoje se sabe que as TJS são estruturas dinâmicas

1170
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
envolvidas na regulação fisiológica e patológica epiteliais
intestinais. (STURGEON; FASANO, 2016).
Tem sido descrito que o peptídeo derivado da
degradação do glúten, a gliadina, está envolvido no aumento
da permeabilidade intestinal, sendo esse uma etapa essencial
para geração de respostas inflamatória na mucosa intestinal
na DC. A passagem desses peptídeos, em específico o
peptídeo α-gliadin 31-43, demonstrou induzir a apoptose de
enterócitos, como também o aumento da concentação de
moléculas de MHC Classe I, ativação da via MAP quinase e
aumento da expressão de CD83, na qual é um marcador de
maturação de células dendríticas (DENHAM; HILL, 2013).
O mecanismo associado ao aumento da permeabilidade
envolve a ligação da gliadina ao receptores CXCR3 dos
enterócitos, o que resulta na liberação de forma exagerada da
zonulina, conhecida como proteína intestinal análoga da
Zonula occludens toxin (ZOT) derivada da Vibrio cholerae
(RODRIGUES, 2013; TEIXEIRA, 2016; STURGEON;FASANO,
2016; FASANO, 2012; ESTEVES, 2016; MAKHARIA, 2014). A
zonulina liberada liga-se aos receptores de zonulina na
superfície do epitélio intestinal e causa disjunção de TJS,
contribuindo para o aumento da permeabilidade intestinal,
permitindo a passagem de macromoléculas e antígenos para
região luminal da lâmina própria (ESTEVES, 2016;
RODRIGUES 2013) Figura (1).
Um estudo realizado com pacientes com sensibilidade
ao glúten não celíaco (SGNC), com síndrome do intestino
irritável (SII) e com DC mediu os níveis sanguíneos de
zonulina. Essa pesquisa constatou que os níveis mais altos de
zonulina foram encontrados em pacientes com DC, seguidos
pelos pacientes com SGNC e SII. Os voluntários saudáveis da

1171
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
pesquisa apresentaram níveis muito baixos de zonulina
(BARBARO et. al., 2015).
O aumento da permeabilidade, em decorrência da
disjunção da TJS, permite a passagem dos peptídeos de
gliadina para a lâmina própria, contribuindo para liberação de
citocinas, incluindo a interleucina-15 (IL-15) (LEFFLER;
GREEN; FASANO et. al., 2015; RODRIGUES, 2013).
A IL-15 é uma citocina liberada principalmente pelos
enterócitos quando entram em contato com os peptídeos de
gliadina, e apresentam papel essencial no dano do epitélio
intestinal. Uma vez produzida, a IL-15 é responsável pela
ativação dos linfócitos intraepiteliais (IELs), os quais são
células T com propriedades citolíticas e imunorreguladoras
(RODRIGUES, 2013; STAKHEEV; VANNUCCI, 2014;
ESTEVES, 2016). A ativação dos IELs induzem a expressão
da molécula não clássica de classe I (MICA) na superfície dos
enterócitos, ligante do receptor NKG2D na superfície das
células NK (Natural Killer) e também se liga a diversos
linfócitos T. Com isso, a ação dessas células em conjunto irá
contribuir para ativação da resposta imune inata e dano aos
enterócitos. (RODRIGUES, 2013; MERESSE; MALAMUT;
CERF-BENSUSSAN, 2012; FERRETTI et al.; 2012).
As células epiteliais intestinais danificadas liberam
transglutaminase 2 (tTG), enzima que desempenha papel
duplo na doença celíaca pois tanto auxilia no aumento da
afinidade entre peptídeos derivados do glúten e as moléculas
desencadeadoras dessa enteropatia (HLA-D2 e HLA-DQ8),
além de torna-se alvo para a resposta autoimune. Entre as
funções da tTG destaca-se sua ação em catalisar a
modificação de proteínas, ou seja, ela irá modificar a proteína
gliadina do glúten (RODRIGUES, 2013; STAKHEEV;
VANNUCCI, 2014) Figura (1).
1172
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
Tem sido descrito que a tTG desamina a gliadina (rica
em aminoácidos glutamina) e irão ser gerados peptídeos
carregados negativamente (fragmentos de glutamina foram
transformados em ácido glutâmico) que possuem forte
afinidade pelas moléculas HLA-DQ2 e HLA-DQ8 das células
apresentadoras de antígeno (APCs). (RODRIGUES, 2013)
Complexos formados entre peptídeos de gliadina
desaminados e tTG (complexo gliadina- tTG) podem ser
apresentados pelas APCs aos linfócitos T CD4+ virgens.
Como foram apresentadas ambas moléculas, irá se originar
respostas imunes tanto contra a gliadina e também contra a
tTG. Além disso, as APCs podem reconhecer só a gliadina
desaminada, apresentando-a aos linfócitos auxiliares (T CD4+)
(RODRIGUES, 2013; STAKHEEV; VANNUCCI, 2014).

Figura 1. Mecanismo assocido ao aumento da permeabilidade


intestinal induzido pela gliadina e ao dano aos enterócitos.

(1) Ligação da gliadina ao receptor CXCR3, (2) A zonulina


liberada liga-se ao seu receptor na superfície do epitélio

1173
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
intestinal e causa disjunção de TJS, (3) Entrada das partículas
de glúten debaixo dos enterócitos e liberação da IL-15 ativando os
linfócitos intracelulares, (4) Ação da tTG na modificação do glúten
para serem apresentados a APCs, (5) Processo de englobamento,
processamento e apresentação do glúten na superfície da APC, (6)
Apresentação de partículas do glúten da APC para o linfócito T
CD4+, (7) Migração das células inflamatórias ativadas para os
enterócitos causando inflamação local, responsável pelos sintomas
gastrointestinais e/ou sintomas extraintestinais. Fonte: Adaptado de
LEFFLER; GREEN; FASANO, 2015.

Após a apresentação, o processo de ativação da


imunidade mediada por célula ocorre, resultando na
proliferação e diferenciação de células T CD4+ efetoras. A
mucosa intestinal de pacientes celíacos apresenta uma
população de células T CD4+ que irão induzir uma resposta
do tipo T helper 1 (Th1) e/ou do tipo T helper 2 (Th2) com
secreção de citocinas que contribuem para o dano a mucosa
intestinal (RODRIGUES, 2013; GUJRAL; FREEMAN;
THOMSON, 2012).
Os linfócitos auxiliares adquirem um fenótipo Th1 pela
ação de citocinas como IFN-α e IL-15, os mesmos liberam
citocinas pró-inflamatórias, como IFN-γ e interleucina 2 (IL-2).
É descrito que a resposta imune adaptativa na DC caracteriza-
se predominantemente por uma resposta Th1 específica ao
glúten (DENHAM; HILL, 2013; GUJRAL; FREEMAN;
THOMSON, 2012).
O IFN- γ produzidos pelas células Th1 são
responsáveis por estimularem os fibroblastos a liberarem uma
enzima chamada metaloproteinases (MMPs), que é
responsável pela degradação do colágeno, das glicoproteínas
e proteglicanos da matriz extracelular, originando assim a
atrofia das vilosidades intestinais (RODRIGUES, 2013;
ESTEVES, 2016; TEXEIRA, 2016). Já resposta Th2 promove
1174
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
a maturação e proliferação de plasmócitos, o qual irão
produzir anticorpos de classe IgA contra gliadina, tTG e
complexos gliadina-tTG, amplificando o dano causado
nos enterócitos (ROMERO-ADRIAN, 2015) Figura (2).
A inflamação local iniciada pela ação das células
Th1 e Th2 desempenham um papel central na patogênese
da DC, porém não são responsáveis por todo o dano
causado as células intestinais. As lesões epiteliais e
atrofia das vilosidades também são induzidas pelos IELs
CD8+ e células NK, sendo as citocinas IFN- γ e IL-15
associadas à estimulação dos mesmos. (LEFFLER; GREEN;
FASANO, 2015; ESTEVES, 2016).

Figura 2. Mecanismo efetor do perfil Th1 e Th2 associado ao


dano intestinal na DC.

A liberação de citocinas pelo perfil Th1 são


responsáveis por estimularem os fibroblastos a liberarem
enzimas MMPs responsáveis pela dregradação da matriz
extracelular, contribuindo para atrofia das vilosidades. Além
1175
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
disso, a gliadina, tTG e complexo gliadina-tTG são
apresentados aos linfócitos B, sendo estimulados por citocinas
do perfil Th2 a produzirem anticorpos. Fonte: Adaptado de
SCHUPPAN, 2000.

Os IELs e células NK contribuem para destruição das


vilosidades por estimular a apoptose dos enterócitos
(GUJRAL; FREEMAN; THOMSON, 2012). A morte por
apoptose pode ocorrer pela ativação do sistema Fas/FasL ou
a IL-15 estimula via de sinalização que envolve NKG2D-MICA
e liberação perforina/granzima Figura (3). (GUJRAL;
FREEMAN; THOMSON, 2012). É importante destacar que a
inflamação gerada pela estimulação do sistema imune é
responsável tanto pelos sintomas gastrointestinais e
também sintomas extraintestinais.
A imunidade humoral também está envolvida no
processo de lesão tecidual do epitélio intestinal dos celíacos.
As células Th2 direcionam a resposta imune humoral pela
secreção de interleucina 4 (IL-4), interleucina 5 (IL-5) e
interleucina 10 (IL-10) que induzem a proliferação e a
diferenciação dos linfócitos B (BIZZARO et al., 2012) Esta é
mediada por anticorpos (imunoglobulinas) que são liberados
pelos plasmócitos (linfócitos B diferenciados e ativados). Para
que haja a produção dos anticorpos é necessário que as
células B primeiramente reconheçam diretamente o antígeno.
Porém, como se trata de uma proteína, esta será uma
resposta T-dependente, ou seja, as células T específicas para
gliadina ativam as células B reativas ao gliadina e, assim, se
diferenciam em plasmócito que libera anticorpos, resultando
em amplificação da resposta imune (DU PRÉ, 2015).
Os testes sorológicos para DC são importantes para
selecionar os pacientes que devem ser submetidos a biópsia e
1176
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
para confimar o diagnóstico nos casos em que foi detectada
uma enteropatia (BAI et al., 2013; SIQUEIRA et al., 2014). Os
anticorpos produzidos são anti-gliadina (AAG) e anti-tTG
(AAT). A enzima tTG está presente nos enterócitos e
associada a componentes da matriz extracelular (endomísio e
fibras de reticulina). Dessa forma, também é formado
anticorpos anti-endomísio (AAE) e anticorpos anti-reticulina
(AAR) (TEIXEIRA, 2012). Todos esses anticorpos são
baseados na imunoglobulina A (IgA) ou imunoglobulina G
(IgG) (BAI et al., 2013).

Figura 3: Mecanismo de morte por apoptose dos enetócitos


mediado pelo sistema imunológico.

A ligação da gliadina ao receptor CXCR3 é um importante


envento para ativação da resposta imune inata e adaptativa na
DC, resultando na morte de enterócitos por apoptose. A morte
por apoptose é mediada pelos sistemas Fas/FasL dos IELs e
liberação de perforinas e granzimas pelas células NK
estimuladas pela citocina IL-15. Fonte: Adaptada de SOLLID;
JABRI, 2013 e GUJRAL; FREEMAN; THOMSON, 2012.
1177
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA

Esses anticorpos são marcadores excelentes para a


doença celíaca, já que eles desaparecem da circulação meses
após o início de uma dieta sem glúten. De acordo com isso,
testes sorológicos para anticorpos específicos para doença
celíaca são uma ferramenta cada vez mais importante no
diagnóstico de pacientes (AITORO, 2014).
A produção de autoanticorpos específicos de tTG
parece estar fortemente conectada a DC, mas, apesar do seu
papel central no diagnóstico, o significado biológico desse
anticorpo é incerto. Dessa forma, ainda é debatido se a
resposta anti-tTG desempenha algum papel na patogênese do
DC (QIAO, 2016).
Estudos realizados com culturas celulares tratadas com
anticorpos séricos do paciente com DC sugerem que os
autoanticorpos anti-tTG podem ter alguns efeitos biológicos.
Entre eles incluem a indução da proliferação e a inibição da
diferenciação nas células epiteliais, efeitos que se encaixam
nas características clínicas observadas nas biópsias intestinais
dos pacientes. Além disso, os autoanticorpos de DC estão
associados à ativação de monócitos e ao aumento a
permeabilidade das células epiteliais (QIAO, 2016). Apesar
dos efeitos reportados de autoanticorpos anti-tTG em sistemas
de cultura de células, estudos in vivo até agora não
conseguiram confirmar que os anticorpos específicos de tTG
desempenham um papel patogênico no DC (QIAO, 2016). No
entanto, outro estudo demosntrou que os sintomas de DC
extraintestinal podem estar associados a depósitos de
imunoglobulina A (IgA) em tTG extracelular no fígado, nos rim,
nódulos linfáticos e músculos de pacientes com DC (GUJRAL;
FREEMAN; THOMSON, 2012).

1178
ASPECTOS IMUNOLÓGICOS DA DOENÇA CELÍACA
4 CONCLUSÕES
Conclui-se que o entendimento dos aspectos
imunológicos no desenvolvimento da DC é de suma
importância para compreender a lesão intestinal após a
ingestão de glúten por pessoas geneticamente suscetíveis.
O dano intestinal inicia-se pela ação da gliadina nos
enterócitos de pacinete susceptíveis, com consequente
aumento da permeabilidade intestinal e produção de citocinas
que ativam a resposta imune inata. tTG tem uma importante
função na modificação da molécula de gliadina e subsequente
reconhecimento da gliadina e do complexo tTG-gliadina pelas
APCs, sendo este processo essencial para a ativação da
resposta imune adaptativa.
A participação da imunidade adaptativa está associada a
ativação e proliferação de linfócitos, resultando na liberação de
citocinas e anticorpos específicos. As citocinas produzidas
pelo perfil Th1 ativam outras células contribuindo para atrofia
das vilosidades e para morte dos enterócitos. Já o perfil Th2
contribui para ativação de linfócitos B e produção de
anticorpos. Os anticorpos são utilizados para realizar o
diagnóstico, e, assim, começar o tratamento a partir de uma
dieta isenta de glúten, já que esta enteropatia não tem cura.
Mesmo já se conhecendo a base imunopatológica da
DC, ainda há muitos estudos que podem ser realizados para
ampliar e elucidar o papel de várias moléculas e mecanismos
imunológicos, como também diversos genes e cofatores
ambientais na origem da doença.

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1182
ASPECTOS NUTRICIONAIS EM CIRURGIA BARIÁTRICA

NUTRIÇÃO
CLÍNICA:
NUTRIÇÃO EM
CIRURGIA

1183
CAPÍTULO 59

ASPECTOS NUTRICIONAIS EM CIRURGIA


BARIÁTRICA
Miniamy Pereira NÓBREGA¹
Karla Thuany Oliveira SANTOS¹
Ávilla Monalisa Silva de OLIVEIRA¹
Thalita Christina da Costa LIMA¹
Marcella Campos Lima da LUZ²
1
Residente em Nutrição pelo Hospital das Clínicas-UFPE; 2Preceptora da Residência em
Nutrição no Hospital das Clínicas-UFPE
miny.nobrega@hotmail.com.br

RESUMO: A obesidade vem alcançando dimensões


epidêmicas no Brasil e no mundo, diante disso, a cirurgia
bariátrica vem se mostrando uma opção mais efetiva de
tratamento para essa condição patológica, quando
comparamento ao tratamento clínico no paciente obeso grave
. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi realizar uma
revisão da literatura abordando sobre os aspectos nutricionais
na cirurgia bariátrica. Assim, foi realizada uma pesquisa ,
utilizandoas bases de dados PUBMED, PERIODICO CAPES e
SCIELO a fim de identificar artigos científicos publicados sobre
o tema. Os achados consistem que as implicações nutricionais
na cirurgia bariátrica dependem da técnica cirúrgica
empregada. Atualmente, é preconizado dietas hipocalóricas no
pré-operatório para perda de peso, porém ainda são poucos
os estudos que investigem os efeitos dessa conduta a longo
prazo. No pós operatório, o individuo pode desenvolver
deficiências nutricionais, como de ferro, tiamina, vitamina D,
B12, lipossolúveis, zinco entre outras, reforçando a
importância daprática de suplementação nutriciional e um
adequado consumo alimentar no pós operatório prevenindo
uma evolução clínica e nutricional negativa do paciente como

1184
o desenvolvimeto de deficiências nutricionais e o reganho
ponderal. Apesar disso, são necessários a realização de mais
estudos, principalmente no tocante a conduta nutricional no
pré-operatório da cirurgia.
Palavras-chave:Cirurgia bariátrica; Deficiências nutricionais;
Pré-operatório.

1 INTRODUÇÃO

A obesidade é considerada um problema de saúde pública


que vem alcançando dimensões epidêmicas, em nível mundial
(ALVAREZ et al., 2016). No Brasil, houve um aumento na sua
prevalência nos últimos anos. Segundo os dados da Pesquisa
de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Crônicas por Inquérito Telefônico, realizada em todas as
capitais brasileiras, uma em cada cinco pessoas no país está
acima do peso. A prevalência da obesidade passou de 11,8%,
em 2006, para 18,9%, em 2016 (VIGITEL, 2017).
O tratamento dessa condição patológica consiste
inicialmente na abordagem clínica através de medidas
dietéticas, atividade física e a utilização de alguns fármacos
(ALVAREZ et al., 2016), porém sabe-se que o tratamento
conservador é ineficaz em produzir perda de peso significativa
e manutenção dessa perda no paciente obeso grave. Dessa
forma, o tratamento cirúrgico tem se mostrado eficaz, por ser
responsável em promover uma perda de peso significativa em
longo prazo (REMOLAR et al., 2016).
De acordo com as normas da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Bariátrica as indicações para o tratamento operatório,
são: (1) Pacientes portadores de obesidade mórbida com IMC
maior ou igual a 40 Kg/m;(2) Pacientes que apresentem
insucesso em tratamentos conservadores pelo período mínimo

1185
de dois anos; (3)Pacientes com IMC entre 35 e 39,9 Kg/m 2,
portadores de doenças crônicas desencadeadas ou agravadas
pela obesidade (PUGLIA, 2004).
Os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica podem
apresentar melhora das comorbidades associadas à
obesidade (AYOUB; ALONSO; GUIMARÃES, 2012). Estudos
prévios demonstraram melhora de parâmetros como colesterol
total, lipoproteínas de baixa densidade (LDL), triglicerídeos,
glicemia de jejum, circunferência abdominal e pressão arterial
(AYOUB, ALONSO, GUIMARÃES, 2012; TEDESCO et al.,
2016). Além disso, diversos estudos (JORGE, ARAÚJO et al.,
2012; JIAJIE et al., 2015) tem documentado a correção dos
quadros de Diabetes Mellitus. Concomitantemente a essas
positivas e importantes mudanças metabólicas e hormonais,
seguem mudanças no perfil nutricional, pois a cirurgia
bariátrica, em suas várias técnicas, proporciona redução na
ingestão calórica total e diminuição na absorção de macro e
micronutrientes, conduzindo o indivíduo a perda de peso
(CAMBI; MARCHESINI; BARETA, 2015).
Apesar dos efeitos benéficos que o tratamento cirúrgico
pode oferecer, estudos mostram que aproximadamente 30%
dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pode
desenvolver, em longo prazo, deficiências nutricionais
(TOREZZAN, 2013). O número e a severidade das
deficiências são determinados pelo tipo de cirurgia realizada,
os hábitos dietéticos e a presença de complicações
relacionadas ao procedimento cirúrgico como náuseas,
vômitos ou diarreia. No caso do bypass gástrico em Y-de
Roux, as complicações nutricionais mais comuns incluem
deficiência de ferro, cálcio, ácido fólico e vitamina B12. Nos
casos em que o componente disabsortivo é muito extenso,
pode haver um risco aumentado de deficiência de vitaminas
1186
lipossolúveis (A, D, E, K), ácidos graxos essenciais, cobre e
zinco (TOREZZAN, 2013; COPPINI, 2015).
Dessa forma, é necessário que o paciente bariátrico tenha
um acompanhamento nutricional em longo prazo, devido ao
risco significativo do desenvolvimento de carências
nutricionais, sendo a alimentação adequada e a
suplementação nutricional, uma forte aliada no tratamento e
na prevenção dessas complicações.
Diante do exposto, reforça-se quanto a importância de
conhecer os aspectos nutricionais na cirurgia bariátrica para
um melhor delineamento da conduta nutricional para esses
pacientes, visto que estes podem evoluir com deficiências
nutricionais importates levando a um comprometimento de sua
saúde e qualidade de vida, dessa forma, o objetivo do
presente trabalho é realizar uma revisão da literatura sobre os
aspectos nutricionais na cirurgia bariátrica.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Foi realizada uma revisão da literatura,nas bases de


dados PUBMED, PERIODICO CAPES eSCIELOa fim de
identificar artigos científicos publicados n o período de 2012 a
2017, que abordassem sobre os aspectos nutricionais na
cirurgia bariátrica,dessa forma foram utilizando os seguintes
indexadores: cirurgia bariátrica, pré-operatório, pós-operatório
e deficiências nutricionais.

1187
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

CIRURGIA BARIÁTRICA

O conhecimento quanto as técnicas cirúrgicas existentes é


o primeiro passo para definir de forma mais efetiva a
abordagem nutricional do paciente obeso. Atualmente a
cirurgia bariátrica é considerada o tratamento mais efetivo
para perda de peso, apesar disso, sabe-se que no pós
operatório o paciente pode desenvolver, a longo prazo,
deficiências nutricionais (TOREZAN, 2013) que podem ser
responsáveis por alterações clínicas negativas.
Dentre as técnicas cirúrgicas existentes, as mais
conhecidas são as técnicas disabsortivas (derivação jejuno
ileal e a derivação jejunocolonica), que resultam em restrição
energética e redução do trânsito intestinal com limitação
importante na absorção de nutrientes; restritivas (balão intra
gástrico, banda gástrica ajustável e gastroplastia vertical) que
saõ caracterizadas pela redução da capacidade gástrica,
levando a menor ingestão dietética e a técnica mista
(derivações gastrojejunais em Y-deRoux)que associa o
componente restritivo e disabsortivo, ocasionando menor
ingestão energética e redução na absorção de nutrientes
(COPPINI, 2015; BURGOS; LIMA; COELHO, 2011;
KRAUSE,2012). Dentre essas, o bypassgástrico em Y de
Roux é a técnica cirúrgica mais realizada no Brasil e no mundo
(LEIRO; MELENDEZ -ARAÚJO, 2014)

1188
Figura 1 - Técnicas cirúrgicas

Fonte: GUIMARÃES, 2013.

DIETA HIPOCALÓRICA NO PREPARO DO PACIENTE


PARA CIRURGIA BARIÁTRICA

Salienta-se que, devido ao fato de pacientes que se


submetem à cirurgia bariátrica possuírem um grande número
de patologias associadas e um elevado risco cirúrgico, o
preparo do paciente no pré operatório é fator relevante
(REMOLAR et al, 2015). Os objetivos da terapia nutricional
nessa etapa consistem em orientar o paciente quanto à
cirurgia, diminuir o risco cirúrgico promovendo uma perda de
peso e estimular uma atitude adequada diante da alimentação
(CUPPARI, 2014)
Referente as recomendacões da dieta atualmente
proposta para promoção de perda de peso no pré-operatório,
o guideline de cirurgia bariátrica publicado pela aspen em
2016 sugere o uso de dietas de baixa caloria (1000 – 1200

1189
kcal/dia) ou muito baixa em calorias (800 kcal/kg), iniciada 2-4
semanas antes do procedimento cirúrgico.
Nielsen et al. (2016) avaliou a eficácia de uma dieta de
baixa energia (aproximadamente 760 kcal)ofertada durante o
período de 7 e 11 semanas, para atingir o peso pré-operatório
alvo antes da cirurgia. Nesse estudo a perda de peso foi
alcançada após 5-4 semanas de intervenção, além disso os
autores observaram diminuição no perfil bioquímico com
redução de LDL, HDL, colesterol total, glicemia de jejum,
insulina e peptídeo C. Foi observado também um maior
controle da pressão arterial.
Quanto a avaliação da consistência da dieta, Faria et al.
(2015), realizou um ensaio clínico, controlado e randomizado,
dividindo sua amostra em dois grupos, onde um grupo
recebeu dieta hipocalórica de consistência normal e o outro
dieta hipocalórica de consistência líquida, 15 dias antes do
procedimento cirúrgico, mostrando assim os seguintes
resultado:Todos os pacientes apresentaram benefícios,
demonstrando efeito protetor no pré operatório da cirurgia,,
porém os pacientes que consumiram dieta de consistência
líquida apresentaram uma maior redução de gordura hepática
e maior perda de peso do que o grupo de dieta normal.
Apesar de alguns estudos demonstrarem benéficios no
uso de dietas hipocalóricas no pré-operatório da cirurgia e
atualmente ser uma conduta consensuada no Brasil, Beebe et
al. (2015), realizou uma revisão sistemática intitulada por “
Can Hypocaloric, High-Protein Nutrition Support Be Used in
Complicated Bariatric Patients to Promote Weight Loss?
”dessa forma, o autor concluiu que atualmente a
recomendação para o uso de alimentações hipocalóricas e de
alta proteína é limitada pelo pequeno número de estudos
especificamente na investigação das complicaçõesno pós
1190
operatório da cirurgia, reforçando que estudos extensivos
adicionais, incluindo ensaios prospectivos, randomizados, são
necessários para fornecer esclarecimentos adicionais. Estudos
que analisam resultados clínicos de longo prazo também
podem ser benéficos, visto que, há dados disponíveis na
literatura que sugerem que a dieta hipocalórica pode trazer
resultados similares a uma dieta eucalóricano pré-operatório
(BEEBE et al., 2015).

REPERCURSÕES NUTRICIONAIS NO PÓS OPERATÓRIO


DE CIRURGIA BARIÁTRICA

DEFICIÊNCIA DE PROTEINA

A redução proteica é a deficiência mais comum relatada


entre os macronutrientes. A deficiência proteica e
hipoalbuminemia pode repercurtir de forma negativa na
evolução clínica do paciente, que pode apresentar sintomas
como: (1) Velocidade na perda do excesso de peso; (2)
Diarreia ou esteatorreia persistente; (3)Redução das proteínas
viscerais; (4) Diminuição da massa muscular esquelética; (5)
Presença de edema em membros inferiores; (6) Relato de
anemia e (7) Deficiência de micronutrientes e eletrólitos
(Coppini, 2013).
A hipoalbumineima é observada principalmente após as
técnicas cirúrgicas disabsortivas ou mistas. Estima-se que
apenas 57% da proteína ingerida é absorvida após o bypass
intestinal. Joia-neto, Lopes-Júnior e Jacob (2010) trabalharam
na investigação das alterações sistêmicas decorrentes da
redução de peso ao longo do tempo, após o tratamento
cirúrgico e obervaram uma prevalência de 15,9% de
hipoalbuminemia em sua amostra.
1191
Diante disso, é importante atentar-se quanto a ingestão
proteica adequada no pós operatório e nos sinais e sintomas
de deficiência que o paciente possa apresentar. As
recomendações para cada tipo de técnica cirúrgica estão
descritas no quadro 1:

Quadro1- Recomendações de proteínas nas diferentes


técnicas cirúrgicas
Tipo de cirurgia Recomendação
Gastroplastia vertical e banda 60-800g/dia
gástrica 1 a 1,5 g de peso ideal
By-pass gástrico em Y de Roux 60 a 80g/dia
1 a 1,5 g/kg de peso idea
Derivação biliopancreática 90-120 g/dia

Sleeve gástrico 60 a 80 g/dia

Fonte: Coppini 2013.

DEFICIÊNCIA DE MICRONUTRIENTES

Apesar dos efeitos benéficos que o tratamento cirúrgico


pode oferecer, estudos mostram que aproximadamente 30%
dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pode
desenvolver, em longo prazo, deficiências nutricionais
(TOREZZAN, 2013). O número e a severidade das
deficiências são determinados pelo tipo de cirurgia realizada,
os hábitos dietéticos e a presença de complicações
relacionadas ao procedimento cirúrgico como náuseas,
vômitos ou diarreia.
No caso do bypass gástrico em Y-de Roux, as
complicações nutricionais mais comuns incluem deficiência de

1192
ferro, cálcio, ácido fólico e vitamina B12. Nos casos em que o
componente disabsortivo é muito extenso, pode haver um
risco aumentado de deficiência de vitaminas lipossolúveis (A,
D, E, K), ácidos graxos essenciais, cobre e zinco (TOREZZAN,
2013; COPPINI, 2015). Dessa forma, é necessário que o
paciente tenha um acompanhamento em longo prazo, devido
ao risco significativo do desenvolvimento de carências
nutricionais, sendo a alimentação adequada e a
suplementação nutricional, um forte aliado no tratamento e na
prevenção dessas complicações.
A maior parte das deficiências nutricionais ocorrem
entre 12-15 meses após cirurgia, porém, é observado que a
deficiência de VITAMINA D3, pode ocorrer um pouco antes,
entre 7-9 meses (VAN DER, 2015).A figura 2 ilustra a técnica
cirúrgia de bypass gástrico e as principais repercurssões de
deficiência de micronutrientes que podem acometer o paciente
submetido a esse tipo de cirurgia.Figura 2: Deficiências
nutricionais no bypass gástrico

Fonte: BORDALLO et al., 2011

1193
Umas das deficiências observadas frequentemente é a
da tiamina (LIMA et al., 2013).Alguns estudos relatam que esta
deficiência acontece desde o pré-operatório, tendo em vista
que a alimentação de pacientes obesos, é baseada em
carboidratos simples como produtos açucarados e
óleos/gorduras (CARRODEGUAS et al., 2005; LIMA et al.,
2013). Outras causas que auxiliam na deficiência da tiamina
nestes pacientes, é o percentual de perda de peso, a presença
de sintomas gastrointestinais como náuses e vômitos, o
abandono ao acompanhamento nutricional, além do
alcoolismo (BORDALO et al., 2011; NAUTIYAL; SINGH;
ALAIMO, 2004;THAISETTHAWATKUL et al., 2004).
Outra deficiência bastante reconhecida, é a deficiência
da VITAMINA B12, principalmente após o bypass gástrico. É
importante ressaltar que para esta vitamina ser absorvida, ela
precisa inicialmente ser liberada na presença de ácido
gástrico, para então se ligar à proteína R no estômago.
Posteriormente, ela é clivada no duodeno, para se ligar ao
fator intrínseco (FI). O complexo B12-FI fica intacto até seu
local de absorção que é no íleo (BORDALO et al., 2011;
CARVALHO et al.,2012). Foi observado uma prevalência de
12-70 % após 1 ano de ciruriga, sendo verificado que mesmo
após 10 anos, essa deficiência persistia em 71,3%( BORDALO
et al., 2011). É descrito que está deficiência se dar geralmente
após 9 anos de cirurgia,porém há relatos de deficiência após 6
meses de realização, dependendo da reserva da vitamina no
corpo (CARVALHO et al., 2012).
No que diz respeito a deficiência de ferro,a anemia
atinge dois terços dos pacientes submetidos à cirurgia
bariátrica, variando de 20-49%, sendo uma das complicações
mais comuns (DOGAN et al., 2014;). O grupo mais afetado

1194
com estas deficiências, são as gestantes e mulheres em idade
fértil (VON DRYGALSKI et al., 2009).
Um dos principais fatores que afetam ainda mais a
necessidade de ferro nestes pacientes , envolvem a redução
da ingestão de carne vermelha na qual está biodisponível o
ferro heme, a exclusão do estômago, com consequentemente
menor produção de ácido clorídrico, na qual diminui a
solubilização do ferro para sua posterior absorção
(MALLINOWSKI, 2006). A quantidade de ferro disponível nos
polivitamínicos geralmente é pequena, sendo insuficiente para
evitar a deficiência de ferro nestes pacientes ( PARKES,
2006). Outros fatores que podem contribuir para esta
deficiência são perdas sanguíneas, consequente ao
sangramento gastrointestinal, geralmente observados em
pacientes que realizaram bypass gástrico na alça do intestino (
LOVE et al., 2008; TRAINA, 2010).
A literatura relata ainda como principais deficiências ,a
redução de vitaminas lipossossolúveis e zinco no pós
operatório (TOREZAN,2013), dessa forma, reforçamos a
importância de investigar através de exames laboratoriais e
exame físico as deficiências nutricionais que o paciente
apresenta realizando, dessa forma, a suplementação
necessária,individualizando o tratamento. No quadro 1
encontra-se uma sugestão de recomendaçãde micronutrientes
no pós operatório.

1195
Quadro 2: Recomendações para suplementação de
mirconutrientes
Nutrientes Recomendações
Polivitaminico completo 1 a 2 vezes ao dia
Citrato de cálcio 1500 mg/dia (BG)
1500 a 2000
mg/dia(DBP/DS)
1800 a 2500 (DBP/DS)
Ferro quelato 15-65 g/dia (prevenção oral)
300 mg/dia (tratamento
anemia)
Vitamina B12 35 µg/dia
1000 µg/mês
3000 µg a cada 6 meses

Ou 500µg sublingual ou
nasal
Vitamina D 100 a 400 UI/dia
> 2000 UI de vitamina D
(colecalciferol)
Ácido fólico 400µg/dia
Tiamina 20-30 mg/dia
50 – 100 mg/dia
(endovenoso ou
intramuscular)
Fonte: Coppini, 2013.

REPERCURSÕES NO PÓS OPERATÓRIO TARDIO

O reganho ponderal, em longo prazo, já foi mencionado


por diversos autores (SILVA; OLIVEIRA KELLY, 2013;
BASTOS et al., 2013; LAUTI et al., 2016; SILVA; GOMES;
CARVALHO, 2016). Indivíduos submetidos à cirurgia

1196
bariátrica, após perda de peso satisfatória, podem recuperar o
peso, caso mantenham os hábitos alimentares errôneos,
resultando em elevada ingestão energética e de baixo valor
nutricional. Além disso, o sedentarismo também pode estar
associado (COSTA et al., 2010; MARCHESINI; NICARETA,
2014; MARCHESINI et al., 2014). Outras causas igualmente
importantes para justificar essa problemática seria o consumo
excessivo de álcool, a compulsão por doces e alimentos
hiperlipídicos em geral, o aumento do diâmetro da anastomose
gastrojejunal e do comprimento da bolsa gástrica (CAMBI;
MARCHESINI; BARETA, 2015).
Estudos realizados com pacientes em tratamento no
pós-operatório de cirurgia bariátrica (TRINDADE et al., 2017;
VALEZI et al., 2008; LEIRO; MELENDEZ-ARAÚJO, 2014;
ALVAREZ et al., 2014; FARIA; FARIA; CARDEAL, 2014;
FREIRE et al., 2012) vêm encontrando inadequação alimentar,
com elevado consumo de calorias e reduzido de
micronutrientes, o que revela um acompanhamento nutricional
insatisfatório e/ou negligência por parte dos pacientes em
relação às mudanças propostas no comportamento alimentar,
fator necessário na continuidade do cuidado.
Apesar da problemática voltada ao consumo alimentar
inadequado no pós-operatório tardio de cirurgia bariátrica e as
repercussões negativas que as práticas alimentares
inadequadas podem trazer ao paciente, ainda são poucos os
estudos disponíveis na literatura que analisem o padrão
alimentar desses pacientes em longo prazo, porém é
importante ressaltar sobre a importância de acompanhamento
do paciente estimulando um adequado consumo alimentar
para prevenir as complicações já relatadas no decorrer desse
capítulo.

1197
4 CONCLUSÕES

Devido ao aumento na prevalência de obesidade no


Brasil, consequentemente houve um aumento na realização
de cirurgia bariátrica, apesar disso, são poucos os estudos
disponíveis na literatura realizados com essa população,
principalmente quando trata-se da abordagem desses
pacientes no pré-operatório . Atualmente o que se preconiza é
a perda de peso no pré-operatório, através da indicação de
dietas hipocalórias e hiperproteicas e o cuidado nutricional
constante no pós operatório corrigindo as possíveis
deficiências nutricionais e prevenindo a adesão de hábitos
nutricionais inadequados, evitando complicações como
deficiências nutricionais e o reganho ponderal.

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1201
CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE E MEIO AMBIENTE:
Os desafios do mundo contemporâneo
O CONGRESSO NACIONAL DE SAÚDE MEIO AMBIENTE está
destinado a estudantes e profissionais da área saúde (nutrição, farmácia,
enfermagem, fisioterapia, educação física) e áreas afins e tem como
objetivo de proporcionar, por meio de um conjunto de palestras, mesa
redonda e apresentações de trabalhos, subsídios para que os
participantes tenham acesso às novas exigências do mercado e da
educação no contexto atual. E ao mesmo tempo, reiterar o intuito
Educacional, Biológico e Ambiental de inserir todos que formam a
Comunidade Acadêmica para uma Educação sócio-ambiental para a
Vida.
Foram abordados diversos temas durante o evento, entre eles:
Saúde e meio ambiente: os desafios do mundo contemporâneo; Resiliência
agroecologica as mudanças climáticas no Semiárido Brasileiro; Água para
o consumo humano em quantidade e qualidade para comunidades rurais;
Riscos para saúde e meio ambiente das tecnologias utilizadas na produção
de alimentos; As superbactérias: Impacto ambiental e multirresistência aos
antibióticos atuais ; O uso indiscriminado de agrotóxicos e doenças
relacionadas; Uso de plantas transgênicas na produção de alimentos; Uso
das radiações na agricultura e meio ambiente; Gerenciamento de resíduos
e resíduos sólidos de serviço de saúde.
Diante da grandiosa contribuição dos artigos aprovados, os livros
frutos desse Evento: SAÚDE: os desafios desafios do mundo
contemporâneo, NUTRIÇÃO E SAÚDE: desafios do mundo
contemporâneo, MEIO AMBIENTE: desafios do mundo
contemporâneo, e ODONTOLOGIA: desafios do mundo
contemporâneo contribuirão para o conhecimento dos alunos da área
de Ciencias biológicas e Saúde.

1202
Este livro foi publicado em 2018
IMEA
Intituto Medeiros de Educação Avançada
Av Senador Ruy Carneiro, 115 ANDAR: 1; CXPST: 072;
Joao Pessoa - PB
58032-100

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