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AS INTERFACES

EDUCACIONAIS EM
TEMPOS DE PANDEMIA

Experiências singulares e
coletivas

Ana Maria Castelo Branco


Maria Paula da Silva

Even3 Publicações
1ª Edição - 2022
Recife/PE
Copyright © Ana Maria Castelo Branco - 2022
Copyright © Maria Paula da Silva - 2022
Impressão: Clube de Autores
Capa e diagramação: Ana Maria Castelo Branco
Imagem da capa: Canva Pró.
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1ª Edição - 2022

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Aos que precisarão se apropriar da produção científica
tendo como referência, o período pandêmico.
Tudo evoluiu; não há realidades eternas: tal
como não há verdades absolutas

Friedrich Nietzsche
SUMÁRIO

Apresentação ..................................................................... 11

Prefácio .............................................................................. 17

Andrezza Paula Silva Lima


Kelly Cristina Soares

A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NOS


ESPAÇOS DE CONTEXTO MIGRATÓRIO...................
Eliseane Cardoso Moura

ADAPTAÇÃO CURRICULAR PARA OS ESTUDANTES


COM A SÍNDROME CONGÊNITA DO ZICA VÍRUS EM
TEMPO DE PANDEMIA....................................................
Lauriceia Tomaz da Silva Gomes

UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA: CAMINHOS


PARA O LETRAMENTO - Um novo olhar sobre a obra
sob o contexto pandêmico............................................
Luciana Conceição Dutra de Moura

CONHECIMENTO CARTOGRÁFICO PÓS-PANDÊMICO:


UMA ALFABETIZAÇÃO COMPROMETIDA.....................
Luiz Carlos Araújo Ribeiro
IMPACTOS DA PANDEMIA NO DESENVOLVIMENTO
SOCIOEMOCIONAL DAS CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS
DA CIDADE DE MATINA..............................................
Marly Batista Chagas de Oliveira

A REORGAMIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESCOLAR


EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19...................
Rejane Josefa de Santana
Rozenita Iraci Pereira

SENTIDO DA VIDA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR EM


TEMPOS DE PANDEMIA: UMA ABORDAGEM DE
LOGOTEORIA....................................................................
Silvano Andresso Guedes da Silva
Luciane Infantini da Rosa Almeida

EDUCAÇÃO DURANTE PERÍODO PANDÊMICO ...........


Valdicleia Pereira Barbosa
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

Apresentação

"Nada pode ser


intelectualmente um
problema, se não tiver
sido, em primeiro lugar,
um problema da vida
prática".

(MINAYO, 2015, p.32)

A partir do título desta obra, por ora, intitulada “As


interfaces educacionais em tempos de Pandemia:
experiências singulares e coletivas” nos remete a reflexões
contundentes inspiradas na relevância desta epígrafe. Tendo
em vista que, cada capítulo deste livro evidenciam reflexões
singulares da Educação brasileira na atual conjuntura,
sobretudo, na perspectiva dos desdobramentos
desencadeados pela crise sanitária que demarca o século XXI.
Sendo assim, as problemáticas educacionais
vivenciadas nos últimos dois anos com impactos significativos
para os próximos anos vindouros, configuram os problemas da
vida prática de educadores, educadoras e pesquisadores da
Educação. Desde cedo aprendemos que somos seres em
eterno processo de ressignificação dos nossos aprendizados,
pois estamos em um constante processo de (re)aprender.
Entretanto, diante deste processo de transição da Pandemia
da Covid-19 que nos aproximam da fase pós-pandemia,
definitivamente, a Sociedade adentra num universo de
ressignificações dos saberes e reflexões diagnósticas das
experiências, práticas e vivências, até então.
Nada será mais como antes. Nos mais diversos
setores da Sociedade e não diferente no campo das práticas
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
educativas. Da Educação Básica ao Ensino Superior tanto nas
esferas públicas quanto privadas nas cinco regiões brasileiras
os agentes educacionais passaram nos últimos dois anos por
vivências desafiadoras, e, no pós-pandemia estes desafios se
acentuarão, tendo em vista a necessidade emergencial e
crucial de recuperação dos déficits da aprendizagem. Para
além dessa preocupação com a recuperação da
aprendizagem, há mais um desafio na seara da educação, por
ora, as sequelas psicossociais desencadeadas pela pandemia
que alcançaram discentes e docentes em todos os níveis
educacionais.
Os estudos apontam que a Educação está entre os
setores que mais sofreu prejuízos e impactos severos pela
crise pandêmica. As reinvenções para dar continuidade aos
processos de ensino foram deixando lacunas diuturnamente e,
tais fissuras ocasionadas no tecido escolar exige que haja
urgentemente um repensar do papel da escola e as práticas
escolares.
E, é neste interim das interfaces educacionais em
tempos de Pandemia que, a partir de experiências singulares
e coletivas que os autores e coautores desta obra dissertam
suas análises e reflexões acerca da educação, escola,
práticas educacionais, desafios e expectativas diante das
distintas realidades brasileiras.
Assim sendo, a obra é composta por nove capítulos
fruto de investigações, pesquisas, reflexões e vivências
realizadas por pesquisadores, professores da educação
básica e outros agentes sociais com estudos sobre o tema em
foco, aqui apresentado sob os diferentes olhares e
perspectivas.
O primeiro capítulo é intitulado “Pandemia da Covid-
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Experiências singulares e coletivas
19: o desafio de garantir o ensino onde as TDICs não chegam”
é de autoria Andrezza Paula Silva Lima e Kelly Cristina
Soares, as autoras evidenciam a importância das TDICs no
processo ensino e aprendizagem da sociedade
contemporânea e digital, contudo, trazem uma discussão
pertinente em relação a escola do século XXI com práticas
ancoradas no século XIX, frente as desigualdades sociais e a
inabilidade professoral em lidar, manusear e trabalhar com
TDICs.
O segundo capítulo discute “A importância da
Psicopedagogia nos espaços de contexto migratório”, sob a
perspectiva da autora Eliseane Cardoso Moura que aborda
sobre os impactos na educação quando não há a abordagem
da Psicopedagogia nos espaços migratórios, a partir da prática
vivenciada em um dos espaços acolhedores venezuelanos em
Boa Vista-Roraima no contexto amazônico brasileiro. A autora
salienta no estudo os desafios diuturnos em tempos de
Pandemia.
No terceiro capítulo a autora Lauriceia Tomaz da Silva
Gomes, traz uma discussão pertinente acerca da “Adaptação
Curricular para os estudantes com a Síndrome Congênita do
Zika Vírus em tempo de Pandemia” sob o aspecto das
demandas de atividades adaptadas para os alunos atendidos
em domicílios. Neste sentido a autora salienta o quão os
professores se desdobraram nas reinvenções, readaptações,
criatividades e esforços psicopedagógicos para atender as
demandas da escola, mesmo que, em condições limitantes. O
estudo apresentado por Gomes destaca as que a adaptação
curricular, na sua pesquisa, consiste em adaptação das
atividades metodológicas na perspectiva de inclusão escolar
para atender as necessidades educativas especiais de alunos
em condição de escola-domiciliada. Para a autora estas
adaptações apresentam seus pontos positivos – pela
perspectiva de inclusão destes sujeitos no processo educativo
e, também, aspectos negativos – as dificuldades de
acessibilidade na relação docente e discente diante as
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Experiências singulares e coletivas
restrições sociais. Contudo, há sempre mais avanços
positivos, os quais alcançam os alunos e os familiares.
O quarto capítulo da autoria de Luciana Conceição
Dutra de Moura, traz uma discussão a partir da metáfora “Uma
professora muito maluquinha: caminhos para o Letramento”, a
partir de um olhar sobre a obra e o contexto pandêmico. O
estudo de Moura discute uma dos maiores déficits
desencadeado pela pandemia nos anos iniciais da educação
básica – a leitura e escrita dos estudantes. As reflexões da
autora pontuam a necessidade afetiva das relações
presenciais discentes e docentes nas práticas pedagógicas de
incentivo à leitura – o isolamento e o distanciamento social,
bem como as atividades remotas sem a participação interativa
e coletiva dos pares, impactaram consideravelmente no
desenvolvimento da leitura e escrita.
O quinto capítulo traz o artigo “Conhecimento
cartográfico pós-pandêmico: uma alfabetização
comprometida” cuja autoria é de Luiz Carlos Araújo Ribeiro,
que objetivou responder ao questionamento se o
conhecimento cartográfico teve prejuízo por conta dessa
lacuna temporal? A pesquisa realizada, evidentemente,
apontou que sim. Tendo em vista que, o isolamento social e as
práticas de ensino remoto comprometeram a alfabetização
cartográfica de alunos da Educação Básica. Para Ribeiro,
existe, portanto, a necessidade urgente de práticas escolares
de intervenção pedagógica para mitigar os prejuízos da/na
aprendizagem dos estudantes.
O sexto capítulo versa sobre os “Impactos da
Pandemia no desenvolvimento socioemocional das crianças
de 4 e 5 anos da cidade de Matina”, escrito por Marly Batista
Chagas de Oliveira. A autora destaca as dificuldades de
viabilizar a Educação Infantil por meio das atividades remotas,
uma das grandes preocupações dos professores da primeira
infância durante as restrições pandêmicas foi o
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
comprometimento dos os direitos de aprendizagem dos
infantes, como brincar, participar, explorar, expressar, conviver
e conhecer-se. O distanciamento das crianças do ambiente
escolar por dois anos comprometeu significativamente o
aspecto socioemocional dos sujeitos da Educação Infantil,
desencadeando, instabilidade emocional entre o medo de
voltar para a escola e ao mesmo tempo desejo de brincar,
aprender e socializar com os demais colegas.
No sétimo capítulo desta obra trata-se do “Sentido da
vida na educação superior em tempos de pandemia: uma
abordagem de Logoteoria”, de autoria dos psicólogos, Silvano
Andresso Guedes da Silva e Luciane Infantini da Rosa
Almeida e, eles discutem sobre as complicações psicossociais
que o isolamento social e o lockdown trouxeram para a
população com extensão de prejuízos para o desenvolvimento
ao longo dos próximos anos. E apontam possibilidades de
contribuições da Logoterapia podem no campo da educação,
especialmente para os desafios enfrentados pelos docentes
como alternativa de análise da conjuntura atual.
O oitavo capítulo de autoria de Rejane Josefa de
Santana e Rozenita Iraci Pereira, discute “A reorganização do
planejamento escolar em tempos de Pandemia da Covid-19”,
o estudo discute as necessidades professorais de
reorganização dos saberes e fazeres educativos a partir das
mudanças abruptas desencadeadas pelas restrições
sanitárias e, a urgência dos professores de reorganizar o
planejamento escolar, e consequentemente, as práticas de
ensinagem a partir do universo digital. As autoras concluíram
que o ensino remoto abalou as estruturas do fazer docente e
promoveu inquietações significavas nos docentes em relação
às metodologias e o uso das tecnologias no ambiente de sala
de aula a partir do home office.
No nono capítulo o artigo “Educação durante o período
pandêmico” discutido por Valdicleia Pereira Barbosa e Gladys
Wielewski evidencia o escancarar da desigualdade escolar
existente entre a classe menos favorecidas e a mais abastada
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Experiências singulares e coletivas
economicamente. No que tange a Educação, com o ensino
remoto mediado por meio das ferramentas tecnológicas os
demonstrativos das desigualdades foram gritantes, uma vez
que alguns dos alunos tinham acesso aos meios eletrônicos e
outros não possuem sequer aparelhos de comunicação. As
consequências da pandemia nos mostraram que durante e na
transição para o pós-pandemia houve indiscutivelmente o
aumento do abismo que existe entre as diferentes classes sociais
brasileiras e, inegavelmente, no aspecto educacional.
A publicação do presente livro não intenciona esgotar
as discussões sobre as experiências e vivências deste período
histórico vivenciado no Século XXI, mas sim, publicizar
resultados de estudos de professores e pesquisadores que
tem se debruçados sobre as interfaces educacionais na atual
conjuntura nacional. A disseminação do conhecimento
produzido sobre este período e suas respectivas
consequências se faz necessário. Os estudos tratam de
perspectivas e análises sob as lentes daqueles que se
encontram na caminhada dos diferentes processos educativos
por este Brasil afora.

Profa. Ms. Silvana Sousa Andrade


(Syl Andrade)

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Experiências singulares e coletivas

Prefácio

Este livro provoca uma riqueza de subsídio de


questionamentos dos professores diante da realidade da
pandemia no meio escolar. Os autores apontam
argumentos pertinentes diante do ensino aprendizagem, à
proposta do livro trás uma reflexão palpável da educação.
Em março de 2020 os brasileiros se viram em meio
a algo inimaginável: uma pandemia. Tudo foi intenso e novo,
e não entendíamos como comportar-se ou o que viria a
seguir, visto que era uma doença nova da qual nenhum país
demonstrava saber muito.
As atribuições escolares ficaram bastante
evidentes durante a pandemia da Covid-19. As funções
pedagógicas passaram a ter um novo obstáculo: a
interrupção do ensino presencial e sua transição para o
ensino remoto. Se as atribuições escolares já são
demasiadas, a pandemia apenas tornou a carga extenuante.
Além de precisar manter os índices escolares no
patamar requerido, iniciar o ensino remoto não foi fácil.
Contudo, a equipe educacional e alguns dos professores não
dominavam as mídias e tecnologias digitais com facilidade,
que provaram ser mais um obstáculo.
Os docentes precisaram superar suas limitações,
para que pudesse conduzir todos os seus pilares para o
ensino remoto, ou seja, a ação pedagógica precisou ser
adequada para a realidade da pandemia da Covid-19.

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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

Como funções pedagógicas, inclui-se o


planejamento pedagógico, definindo metas e objetivos a
serem inteirados no final do ano letivo. No contexto
pandêmico, a equipe pedagógica precisou adequar, de uma
hora para outra, seu planejamento pedagógico para a
realidade de ensino remoto. Novas grades de horário de
aulas, fornecimento de material impresso para alunos sem
acesso ao conteúdo virtual, criação e administração de salas
de aulas virtuais, dentre outras tarefas, permearam a rotina
das escolas.
Este livro traz uma reflexão contínua da educação
escolar que conhecendo as dores e obstáculos, é possível
trabalhar para promover os subsídios necessários para a
continuidade da educação. Se a educação conseguiu manter
as atividades em período pandêmico, foram pelo esforço e
sacrifício de toda a equipe escolar em foco os professores, e
por isso, esses merecem atenção, admiração e respeito.
Pois foram os docentes que precisaram lapidar
suas metodologias na rotina das aulas remotas e este livro
aponta vários enfoque na educação.

Profa. Ph.D. Rozineide Iraci Pereira da Silva

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Experiências singulares e coletivas

PANDEMIA DA COVID-19: O DESAFIO DE GARANTIR


O ENSINO ONDE AS TDICS NÃO CHEGAM

Andrezza Paula Silva Lima1


Kelly Cristina Soares2

Resumo: As tecnologias digitais de informação e comunicação


ganhou força e importância como ferramentas essenciais no
processo de ensino aprendizagem, mais ainda no contexto da
Pandemia da Covid-19. Em meio ao lockdown, isolamento
social e escolas fechadas, as TDICs foi o meio de proporcionar
a aprendizagens aos discentes. No entanto, nem estavam
preparados a mudança, onde o acesso à ferramenta inexistia.
O presente artigo tem como principal objetivo analisar o uso
das TDICs pelos docentes no contexto da Pandemia. Mostrar a
importância dessas ferramentas no processo de ensino-
aprendizagem. Chamar a atenção para a questão da
desigualdade quando lhe é negado o acesso, bem como
explicitar a necessidade da formação continuada dos
professores para o máximo de aproveitamento das TDICs. A
metodologia utilizada foi qualitativa apoiada em livros, revistas,
artigos, documentários, legislação. Os resultados encontrados
apontam que as TDICs é uma realidade que precisa estar no
processo educacional.

Palavras-chave: TDICs. Pandemia. Escola. Ensino.

1
Mestranda do Curso de Mestrado Ciências da Educação e
Multidisciplinaridade, Naturalis Educação Superior.
E-mail: dezzalima@hotmail.com
2
Mestranda do Curso de Mestrado Ciências da Educação e
Multidisciplinaridade, Naturalis Educação
Superior. E-mail: kellycsoares@uol.com.br.

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INTRODUÇÃO

O conhecimento transforma uma sociedade e a


educação tem esse papel essencial. A escola é o
segundo lugar de convívio, é onde a criança nos anos
iniciais se depara com o diferente, a saída do núcleo
familiar, a troca com outro, as contraposições do pensar,
do agir, dos valores. É nessa etapa da formação que deve
ser construída essa base sólida para acolher novas
perspectivas.
Os anos que seguem fundamentam essa base
preparando aquele ser para a realidade fora dos muros da
escola. Uma realidade diversa, complexa, repleta de
injustiças, por isso a importância que esse preparo se dê
desde cedo e dentro desse ambiente tão propício a
expandir horizontes que é a escola.
Diante da Pandemia da Covid-19, esses
elementos foram trazidos de forma mais latente,
principalmente, em países onde a desigualdade é
escancarada de forma clara e significativa principalmente
no ambiente educacional. Realidades diversas e abismos
entre o ensino público e o privado, distorções ao acesso
às aulas e aos materiais de apoio importantes para o
melhor entendimento do conteúdo.
Além da falta de acesso as TDICs. Uma gama de
profissionais despreparados para essa realidade
tecnológica, distante não apenas dos alunos, mas de
muitos docentes que não estão inseridos dentro dessa
lógica da modernidade, considerando que todos já estão
devidamente habilitados para nele se inserirem. Mas essa
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inserção não acontece de forma rápida, as escolas não
contam com equipamentos e, quando possuem os
professores que vão utilizar não se encontram
familiarizados com os mesmos por falta de formações.
O uso dessas tecnologias vai mais além do que
apenas usar a internet ou passar filmes em sala de aula,
mas sim compreendendo todos esses dispositivos
eletrônicos que usam os recursos de inteligência de
dados na transmissão de informação por meio do sinal
digital. Esse recurso tão fundamental e que serve como
uma ferramenta de auxílio ao trabalho do docente. Com a
Pandemia foi mais que essencial, pois sem ele o estrago
para a educação seria ainda maior.

1 REFERENCIAIS TEÓRICOS

1.1 A Pandemia da Covid-19

A Pandemia da Covid-19 foi assim declarada pela


Organização Mundial de Saúde e reconhecida pelo
mundo. As medidas inicialmente tomadas foram de
mapeamento das áreas contaminadas e,
consequentemente isolamento. Nada obstante, num
mundo globalizado onde o trânsito de pessoas por mar,
terra e ar, pelas mais diversas razões, é quase livre e
muito rápida. As medidas não foram suficientes para
conter a disseminação do vírus, e em tempo curtíssimo se
espalhou pelo mundo (MARQUES, SILVEIRA e
PIMENTA, 2020).
Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial
de Saúde (OMS) declarou o surto de Emergência de
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Experiências singulares e coletivas
Saúde Pública de Âmbito Internacional (ESPII) – o mais
alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no
Regulamento Sanitário Internacional. Essa decisão
buscou aprimorar a coordenação, a cooperação e a
solidariedade global para interromper a propagação do
vírus. Em 11 de março do mesmo ano, a OMS, por fim,
declarou o estado de Pandemia ante a gravidade em
saúde pública global.

Naquele momento, a COVID-19 já havia


chegado aos cinco continentes, excetuando
alguns territórios e a Antártida. Na virada
para o mês de março, a doença já
ultrapassava a centena de casos na
Alemanha, na França, em Singapura e no
Irã, passando a casa do milhar na Itália, na
Coréia do Sul e chegando a quase 80.000
na China. A escalada da doença a partir de
então foi exponencial, e o aumento de
casos passou a ser acompanhado pelo
crescimento inimaginável do número de
mortos. (MARQUES, SILVEIRA e
PIMENTA, 2020, p.231).

Com a declaração do estado de pandemia em


relação à Covid-19 pela OMS, os estados brasileiros
foram tomando medidas de paralização das atividades e
da circulação de pessoas.
Na educação, as aulas foram suspensas, assim
que os decretos regulamentadores das restrições foram
sendo editados e reeditados conforme a demanda e,
sobretudo, número de contaminados e mortos. Várias
escolas e creches tiveram que encerrar as atividades
definitivamente pelas dificuldades financeiras que não

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Experiências singulares e coletivas
suportaram. No fechamento de tudo para a contenção do
avanço da doença, só ficou aquilo que era considerado
essencial à manutenção da sobrevivência (MARQUES,
SILVEIRA e PIMENTA, 2020)
O mundo virtual, por sua vez, ao longo da
Pandemia experimentou uma grande explosão no
desenvolvimento diante da necessidade real, presente e
iminente. A sociedade não podia parar e assim, também
teve seus reflexos, onde muitos aproveitaram o cenário
para inovações e empreendimentos, tirando o melhor da
tecnologia para produzir, se reerguer e também ajudar as
outras pessoas.
Essa reflexão pesa quando se tem uma realidade,
como a vivida até o momento, em que as escolas tiveram
que fechar de forma brusca, forçada pela situação de
pandemia e por um ato normativo que assim determinou
migrar para o ensino remoto, híbrido ou à distância, que,
de regra, ninguém estava preparado. E que a retomada
não foi na mesma proporção, numa desigualdade social
escancarada, onde nem todos tem acesso à mesma
escada.
Os desafios no enfrentamento da pandemia da
Covid-19 obrigaram as instituições de ensino a
repensarem as atividades imbricadas com as tecnologias
de informação e de comunicação - TDICs para a formação
de cidadãos críticos e conscientes da nova Era cada vez
mais tecnológica e com impactos exponenciais.

1.2 As Tecnologias Digitais da Informação e


Comunicação no processo de inclusã

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Experiências singulares e coletivas
Neste artigo, um dos pilares da pesquisa é a
tecnologia digital, em especial, as voltadas para
informação e comunicação. O termo TDIC compreende os
dispositivos eletrônicos como computadores, tablets,
smartphones e todos aqueles que usam recursos de
inteligência de dados na transmissão de informação por
meio do sinal digital, onde todos estão conectados a uma
rede de compartilhamento. A TDIC faz parte de um
conceito maior chamado tecnologia, que não é algo desse
tempo atual. Como bem lembra Kenski (2007).
Dentre notebooks, computadores, tablets, lousas
digitais, TVs, aparelhos de data show, entre outros, o
smartphone é o mais popular. Tomando como parâmetro
a realidade brasileira, o celular faz parte do cotidiano. A
conexão é física e mental onde se vive a volatilidade, a
incerteza, a complexidade, a ambiguidade. No entanto,
entre pontos positivos e negativos desse mundo
conectado, relembrando Paulo Freire, não se trata de
usar a internet a qualquer custo ou rejeitar por completo,
mas considerá-la no espaço de vivência e tirar dela o
melhor proveito,
Nunca fui ingênuo apreciador da tecnologia:
não a divinizo, de um lado, nem a diabolizo,
de outro. Por isso mesmo sempre estive em
paz para lidar com ela. Não tenho dúvida
nenhuma do enorme potencial de estímulos
e desafios à curiosidade que a tecnologia
põe a serviço das crianças e dos
adolescentes das classes sociais chamadas
favorecidas. (FREIRE, 1996, p.45).

Na linha de Freire (1996), a questão é como


aproveitar ou tirar o melhor dessa onda. Não tem sentido
não surfar nela. Usar a criatividade, a arte de pensar e
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Experiências singulares e coletivas
tirar o melhor proveito do mundo cada vez ágil, hábil e
inovador. Resistir ou negar não é uma medida inteligente.
O futuro é esse e a Pandemia reforçou. No momento que
ocorre a superação dos entraves entre analógico e digital
ocorre a disrupção, ou seja, o digital dispara em
crescimento exponencial e o mundo analógico vai caindo
em desuso.
No Brasil, um país de proporção continental, tão
desigual e tão plural, em muitas escolas, os professores
ainda ministram as aulas de forma tradicional. A situação
é grave quando se pensa que a educação não é só
matemática, português, geografia, assim como também
não é só mercado, é todo o contexto humano e social que
se vive, como algo a ser desenvolvido, pensado,
ministrado a bem da humanidade.
Se o ensino já provocava debates no tocante ao
novo paradigma de ensino, na arte de ensinar, a
pandemia da COVID-19 fez subir a superfície toda a
problemática e disparidade, porque a aula presencial
precisou ser online, e nem todos estavam preparados,
faltavam-lhe estrutura, faltavam-lhe didática de ensino
através de uma tela. Como pensar uma educação para as
atuais e futuras gerações? Como pensar em
desenvolvimento, se a realidade do mundo não é levada
para o ambiente escolar?
Na linha do educador Paulo Freire (FREIRE, 1967,
p.39), “ninguém é sozinho no mundo nem é um ser
isolado da natureza”, muito menos superior a ela. O ser
humano precisa ser pensado como ser social e que faz
parte de um sistema chamado meio ambiente. Então a
relação dele com o meio vão além da natureza e precisa
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
ser harmoniosa e consciente, uma vez que atos
praticados ou mesmo a omissão reverbera no meio e traz
consequências para presentes e futuras gerações.
A escola exerce um papel importante nesse
processo de transformação de mudança, ela é elemento
essencial nesse processo de integração escola e
comunidade, como principal referencial de educação
formal, espera-se dela um olhar mais atencioso às
transformações das pessoas e do mundo.

1.3 O papel da escola e do professor diante da


realidade das novas tecnologias

A educação como Direito Social abrange também o


conceito de acesso à educação de permanência e de
inserção no mercado de trabalho e não apenas de um
direito assegurado por um texto. É preciso trazer à
discussão a questão da efetividade já que artigo 205 do
texto constitucional aborda a educação para todos sendo
papel do Estado promover e incentivar.
No entanto, na prática a realidade anda em
desconformidade com esses preceitos, sendo preciso ir
em busca dessa igualdade de acesso propalada pela lei,
Queiroz (2018, p. 2) afirma que “implica uma discussão
sobre o processo de construção igualitária de uma
sociedade democrática e justa, quando se concebe a
educação como direito inalienável a todos os seres
humanos”.
A realidade vivenciada pelos que estão à margem
da sociedade, que habitam os locais mais longínquos do
Brasil, sem acesso à tecnologia, muito menos a internet
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
escancarou um problema que estava adormecido, a
desigualdade no acesso à educação. Nada de promoção
do ensino e muito menos de incentivo. O Estado inerte,
apático sem dar as respostas aos anseios da população.
Muitos estudantes seguem sem aula, enfrentando uma
realidade que irá reverberar no futuro, com a
desmotivação e consequentemente com a evasão
escolar. Uma percepção de um direito apenas
proclamado.
A escola é o espaço, depois da família, onde a
criança e/ou adolescente vivenciam as suas relações
interpessoais. Longe do abrigo acolhedor da família, é
nesse ambiente diferenciado e complexo, justamente pela
diversidade de grupos e formações, que o estudante se
depara como ser social. E o papel da escola contribui
essencialmente com a formação acadêmica, através dos
conteúdos abordados, sem esquecer também das
questões de ética e moral (SILVA e FERREIRA, 2014).
Sobre este aspecto, o professor José Carlos Libâneo
segue a mesma linha de raciocínio destacando os
aspectos sociais da educação em uma pedagogia
familiar:
Sendo a educação uma prática social que
acontece em uma grande variedade de
instituições e atividades humanas (na
família, na escola, no trabalho, nas igrejas,
nas organizações políticas e sindicais, nos
meios de comunicação de massa etc.)
podemos falar de uma pedagogia familiar,
de uma pedagogia política etc. e de uma
pedagogia escolar. (LIBÂNEO, 2017, p. 14).

É na escola que a criança aprende a dividir, a


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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
respeitar o tempo do outro e a perceber o quão diverso é
o mundo. Não apenas do ponto de vista físico, com as
características peculiares de cada um,
mais essencialmente na órbita das ideias e
comportamentos. Ideias essas, que se colidem em alguns
momentos com o que lhe foi transmitido na primeira
infância pelos pais. Por isso, a convivência nessa fase é
mais significativa para a formação do que os conteúdos.
Conforme Saviani (2020, p. 13), a função da
escola em fornecer conhecimento reforça a importância
da educação na formação do indivíduo enquanto ser
social. Essa formação pode ser observada como uma
preparação para a cidadania. Afinal de contas, através
desses conhecimentos advindos do ambiente escolar é
que o indivíduo se depara na prática com as
diversidadesde cultura, pensamento, opiniões, já citadas
acima.
O papel da escola envolve um universo de
habilidades e competência, mas antes de tudo, deve-se
pensar no humano, na vida em sociedade. Partindo da
afirmação que pobreza traz pobreza e que sem estudo
não se consegue arrumar emprego e sem emprego o
círculo vicioso da fome das doenças e da violência se
perpetua.
A educação surge como o caminho transformador
da sociedade, por onde são transmitidos conceitos
essenciais na vida e na formação do estudante em
cidadão. Conhecedor dos seus direitos e deveres, agente
de transformação social. “Uma pessoa instruída pode
defender melhor os seus direitos e sabem quais são as
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
suas obrigações” (DIMENSTEIN, 1999, p. 52).
Nenhuma novidade há no discurso da educação
como caminho transformador da sociedade e na
obrigação do Estado em fornecê-la a todos. É preciso
expandir, no entanto, esse conceito em países como o
Brasil que depende de investimentos internacionais para
desenvolver certos programas e políticas públicas,
inarredavelmente precisam cumprir certas metas,
objetivos e resultados, de certo modo, impostos pelos
órgãos internacionais. Os investimentos chegam, mas
não são sem contrapartida, uma vez que os resultados
precisam acontecer conforme as exigências que fazem,
seja do Fundo Monetário Internacional ou de qualquer
outro. Em países com graves problemas sociais, políticos
e econômicos como o nosso, a ideologia do Estado
Mínimo, neoliberal e com pouquíssima intervenção estatal
tem se mostrado irreal (AFONSO, 2003).
Dentro do ambiente escolar, o professor é uma
peça fundamental, pois não basta tecnologias avançadas
sem alguém para conduzir, orientar e despertar o
pensamento crítico. Principalmente nos anos iniciais onde
as crianças não conseguem extrair de vídeos e estímulos
tecnológicos, como jogos didáticos, apenas ao executar a
tarefa. Necessário se faz ainda esse acompanhamento
que deve ser especializado por uma pessoa preparada
para fazer essa ligação entre as TIDCs e a vida real.
Muitos docentes foram empurrados literalmente a
manusear essas tecnologias sem nenhuma espécie de
preparo antecipado, devido à urgência e a necessidade
de enviar conteúdo. Nas escolas particulares o abismo foi
menor, porque a maioria dos alunos tem acesso e
29
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
convivem com o mundo digital, através de seus celulares,
computadores. Na frieza do distanciamento promovido
pelo ensino remoto, coube ao professor se reinventar
para romper as barreiras, fazendo o que era possível e
muitas vezes até o impossível.

2. METODOLOGIA

A inquietação e a preocupação vieram junto com a


Pandemia, onde no mundo de incertezas mais incertezas
afloraram diante da notícia do fechamento das escolas e
de como ficou inúmeros estudantes, sobretudo da rede
pública de ensino, sem acesso. Muitos têm a escola como
segunda casa, seja porque tem a formação educacional,
seja pelo acolhimento que recebe, seja por ser o lugar
que tem garantida a refeição diária.
O artigo foi desenvolvido a partir dessas
observações de como as tecnologias digitais são
ferramentas essenciais na promoção da educação, do
ensino e aprendizagem, num espaço democrático,
chamado escola, que vem tomando outros contornos no
contexto social atual. E, sobretudo, a não acessibilidade
agravada pela Pandemia.
Numa abordagem qualitativa com o referencial
teórico obtido através da pesquisa bibliográfica com
leitura crítica de livros, artigos científicos, revistas,
codificações legislativas vigentes no País ou do qual o
Brasil é parte. No tocante as normas internacionais,
dissertações acadêmicas, vídeos – documentários, além
de pesquisa utilizando as ferramentas como Google
acadêmico e a plataforma de periódicos da Coordenação
30
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES).
O triângulo da pesquisa formado inicialmente
ligando o ponto fato com o do referencial teórico são os
dados levantados e trazidos por instituições de pesquisa
reconhecidas como o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) que faz levantamento de dados e
informações do País. O IBGE aponta diversos
seguimentos como emprego, renda, crescimento
populacional, sem prejuízo de outras instituições que
possam corroborar com a pesquisa.

3. ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS

Com a Pandemia da Covid-19, duas questões


essenciais estavam sob uma mesma balança de
importância: educação e saúde. Como a saúde envolve
vida, sem ela não existe educação, economia nem
demais direitos essenciais aos seres humanos. A questão
sanitária foi determinante para a suspensão das aulas. A
professora Carlota Boto da Universidade de São Paulo
(USP) explica a mudança do ensino pela pandemia,
quando a escola já vivencia um modelo linear e
excludente.
O Coronavírus impactou a escola. Impactou
a escola porque os estudantes deixaram de
ir para a escola. Impactou a escola porque,
neste momento, os professores não têm
mais a escola como seu território. E as
aulas, quiséssemos nós ou não, passaram
a ser a distância. [...] A exclusão, nesse
sentido, deixa de estar apenas fora da
escola; mas tem correspondência com os
31
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
processos avaliativos, estabelecendo
mecanismos de clivagens das performances
dos alunos. Assim, as marcas de seleção
do desempenho dos alunos engendram
uma nova distribuição do mérito. (BOTO,
2020, online)

Estudar a migração do presencial para o ensino


remoto tem importância quando há a consciência de que
garantir o acesso à educação com qualidade sempre foi
uma dificuldade no Brasil. O fator renda per capita é um
dos indicadores marcantes e determinantes, de tal sorte
que algumas renomadas instituições de pesquisa e
estatística fizeram pesquisas e trouxeram dados desse
cenário. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 aponta que 82,7%
dos domicílios brasileiros têm acesso a internet, um
ligeiro aumento em relação a 2018 que bateu a cifra de
79,1%.
A renda per capita por domicílio e o grau de
instrução dos membros familiares determinam os
indicadores. De tal sorte que as razões para o não uso
foram: 1. falta de interesse em acessar internet; 2. serviço
de acesso à internet era caro; 3. nenhum morador sabia
usar a internet.
Os resultados foram nessa ordem tanto para os
domicílios em áreas urbanas como em áreas rurais, com
dado alarmante de que 75,4% dos que não acessavam
alegaram não saber usá-la ou falta de interesse, como se
observa na Tabela 1 abaixo:

Tabela 1 – razões para de não usar a internet - 2019


32
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
MOTIVO DA NÃO URBANA RURAL BRASIL
UTILIZAÇÃO
Falta de interesse em 37,3% 24,1% 31,6%
acessar a internet
Serviço de acesso à 26,7% 25,3% 11,9%
internet era caro
Nenhum morador sabia 27,9% 21,4% 43,8%
usar a internet
Área sem serviço de 0,6% 19,2% 4,3%
acesso à internet
Equipamento de acesso 4,2% 6,6% 6,1%
à internet caro
Outro motivo 3,2% 3,5% 2,4%
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento,
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua 2019.

Dos dados da Tabela 1, outro merece destaque


que é a inexistência de serviço de internet no local,
sobretudo nas áreas rurais, o que denuncia é que no
Brasil a cobertura de Internet ainda não é 100%. Logo, a
situação que se agrava quando se vive numa Era de
conectividade, tecnologia digital, inovação, inteligência
artificial, ramos que tiveram um crescimento avassalador
com a pandemia e que apontam um crescimento
exponencial em futuro próximo.
Some-se a isso que, para os que possuem acesso
à Internet, não é garantida o acesso à educação remota
tendo em vista que as operadoras de telefonia além de
não ofertarem o serviço em 100% dos municípios, a
cobertura não significa que o sinal é de qualidade. Numa
consulta ao site da Agência Nacional de
Telecomunicações (ANATEL), observa-se 81 municípios
33
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
não é atendido por nenhuma operadora. E dos que são é
notória as queixas pela prestação do serviço ruim, sinal
fraco, custo alto. O estudo "O abismo digital no Brasil",
realizado pela PwC Brasil em parceria com o Instituto
Locomotiva revela:
No Brasil, 81% da população com 10 anos
ou mais usam a internet, mas somente 20%
têm acesso de qualidade à rede. Há
diferenças marcantes no acesso à internet
entre os extremos das classes de renda
(100% na classe A, em comparação com
64% na DE) e entre negros e não negros.
Em termos educacionais, o índice de
conexão é maior entre estudantes de
escolas privadas, o que acentuou o déficit
de ensino durante a crise sanitária. E
apenas 8% dos internautas plenamente
conectados pertencem às classes D e E,
enquanto entre os desconectados eles são
60%.

A desigualdade também se evidencia entre


estudantes da rede pública e privada. Em 2019, segundo
o IBGE, 1,6% dos estudantes da rede privada não
utilizaram a Internet, enquanto que os da rede pública
amargaram na cifra de 16,3%, o que significa dizer que
esses estudantes estarão fadados à exclusão social. O
quantitativo de estudantes sem acesso à internet é mais
grave na região Nordeste e Norte, onde se observa um
distanciamento mais acentuado entre estudantes da rede
pública e da rede privada.

Tabela 2 – Rede de Ensino - 2019


REDE PÚBLICA REDE PRIVADA
BRASIL 83,7% 98,4%
34
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
NORTE 68,4% 96,4%
NORDESTE 77% 96,8%
SUDESTE 91,3% 99%
SUL 90,5% 99,4%
CENTRO-OESTE 88,6% 99%
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento,
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua 2019.

Não basta apenas olhar para os que têm acesso à


internet, é preciso se atentar para os que não têm acesso.
Consequentemente, enfrentam outras dificuldades de
acesso como a alimentação, a saúde, a moradia,
transporte e, considerando objeto do artigo, lhe foi negado
o acesso à educação formal, sem olvidar que as regiões
Norte e Nordeste a desigualdade se evidencia com os
dados. O abismo digital na Era da inovação, automação,
dados e algoritmos é um entrave que afeta e muito as
classes C, D E, cada vez mais excluída, engrossando a
massa da informalidade e desperdiçando o
desenvolvimento de habilidades existente em cada
pessoa. E isso sem dúvida impacta no desenvolvimento
do País. Não existe uma nação forte sem uma população
consciente do seu papel de cidadão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar a educação é algo muito abrangente e que


precisa envolver vários sujeitos dentro de uma perspectiva
de uma sociedade que seja mais justa e equilibrada.
Pensar a educação em tempos de Pandemia é algo
extremamente desafiador. Tentar unir universos distintos,
35
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
realidades díspares. Lidar com a pobreza diária e com a
ausência do poder público com a falta de acesso ao
mundo digital.
As TIDCs têm um papel importante na formação
dos estudantes, não há como pensar em retroceder ao
quadro de giz, a utilização apenas de fichas e apostilas e
livros físicos. Porque o mundo digital se apresenta com
um leque de oportunidades de cruzar fronteiras de
aproximar culturas e os povos, através de vídeos, filmes e
relatos de experiências diversas advindas da internet.
No entanto, essa realidade fez emergir novamente
a discussão do abismo do acesso à educação no Brasil,
as desigualdades ficaram mais visíveis. Esse abismo
tornou-se ainda maior, conforme os dados trazidos pela
pesquisa, demonstrado os estragos de norte a sul do país
e as distorções entre as escolas públicas e privadas que
não surgiram com a Pandemia da Covid-19, mas que
foram mais intensificadas pela falta do acesso aos meios
tecnológicos.
Necessário será um esforço descomunal
envolvendo toda a sociedade para que tentar resgatar o
que ficou para traz e buscar uma nova realidade,
pensando a educação como dever de todos, buscando a
efetivada no texto constitucional, de um ensino
equilibrado e mais justo com as crianças e jovens desse
país.
Por fim, acredita-se que haja essa inclusão das
TIDCs de forma efetiva dentro das escolas, que os
estudantes sejam contemplados com esse conhecimento
na busca de uma sociedade mais justa e equilibrada,
onde se impera os valores do respeito e da cidadania.
36
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Necessário se faz essa inserção, mas que seja de forma
efetiva, estudada conhecendo a realidade de cada local e
que desperte na sociedade o sentimento de
pertencimento utilizando o conhecimento como
instrumento para transformação social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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políticas educacionais: elementos para uma agenda
de investigação. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, n.
22,p.3546,Abril.2003.Disponívelem:http://www.scielo.br/sc
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coronavírus. Jornal da USP, ano 2020. Em:
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Experiências singulares e coletivas

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IBGE Educa. Disponível em:
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Contínua: Acesso à Internet e à Televisão e posse de
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Experiências singulares e coletivas

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Periódico Científico Projeçãoe Docência |v.5n. 2, 2014.

39
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NOS


ESPAÇOS DE CONTEXTO MIGRATÓRIO
Eliseane Cardoso Moura4
Centro UniversitárioEstácio da Amazônia

Resumo: O artigo tem por objetivo analisar a contribuição da


Psicopedagogia diante dos desafios educacionais gerados
pelos fluxos migratórios venezuelanos. Partindo do contexto
da migração, perfazendo uma revisão teórica, além de
sintetizar os pontos de análise sob a luz de autores no campo
da psicopedagogia. O estudo aborda os impactos na
educação quando não há a abordagem da psicopedagogia
nesses espaços migratórios. Para tanto, utilizou-se pesquisa
bibliográfica e qualitativa.Por meio deste estudo foi possível
conhecer teoricamente os pontos sobre a psicopedagogia na
visão de autores que tratam do assunto com clareza.No
decorrer da pesquisa bibliográfica foi possível esclarecer
dúvidas que existiam a respeito das estratégias de
atendimento no campo da psicopedagogia. Para isso,
tomaram-se por base os artigos e periódicos de autores
como: Brito; Rivière; Visca; Pottker; Bittencourt. Assim sendo,
contribuir com os profissionais da educação sobre a
importância do papel do psicopedagogo nos espaços
educacionais migratórios ou não.

Palavras-chave: Psicopedagogia. Migração. Educação.

4
Bacharel Serviço Social, Assistente Social. E-mail:
eliseane_@hotmail.com

40
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

INTRODUÇÃO

O estudo foi realizado nos anos de 2020 durante a


realização da Pós-Graduação em Psicopedagogia
Clínica e Institucional no Centro Universitário Estácio da
Amazônia e tem como objetivo principal apresentar a
contribuição da Psicopedagogia nos espaços educativos
escolares complementares de fluxos migratórios que
funcionam nos abrigos para migrantes venezuelanos.
A motivação da escolha dessa temática foi a
prática vivenciada em um dos espaços acolhedores
venezuelanos em Boa Vista-Roraima como profissional
do Sistema de Proteção de Crianças e Adolescentes
Migrantes, e assim, foi proporcionado o contato com a
população migrante infantil. Em face dessa realidade
vivenciada, e espaço de experiências, surgiu o interesse
em avançar na pesquisa que visa apresentar: qual a
contribuição da Psicopedagogia nos espaços migratórios
venezuelanos?
A finalidade deste estudo é de contribuir com a
comunidade acadêmica e escola em geral, no
reconhecimento das necessidades que apresentam a
criança migrante no que é inerente ao aprendizado
regular, das dificuldades e limitações impostas pela
migração forçada de seu país de origem, à Venezuela.
Partindo da observação das atividades aprendizagem
realizadas pela equipe de educação complementar no
espaço em questão, onde são realizadas diariamente
com as crianças e adolescentes, migrantes na cidade de
Boa Vista em Roraima.
41
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
O texto está organizado com o objetivo de
identificar os principais eixos dos fluxos migratórios,
descrever um panorama sobre a contribuição da
psicopedagogia nos espaços de acolhimento
migratórios. Por fim, analisar a contribuição da
psicopedagogia com a população migrante.

1. REFERENCIAIS TEÓRICOS

1.1 Migração

A influência dos fluxos migratórios mundiais tem


sido uma realidade em diversos países, esses
movimentos desencadeados por contextos diversificados,
como crises políticas internas, busca por melhores
condições de vida e trabalho, desastres e tragédias
ambientais. Os contextos diferenciam-se de forma não
linear de país a país, o que se sabe é que o fator
econômico é a maior e principal causa na atualidade.
Martine (2005) ressalta que essa tem sido uma
realidade enfrentada em vários países e que na
atualidade, até mesmo os países mais desenvolvidos têm
sentido os efeitos neoliberais, isto afetando o sistema
econômico. Ocasionando conflitos políticos e cenários de
guerra, a migração tem se apresentado com uma nova
estrutura, aqueles que saem em busca de bem-estar
social, um lar, um trabalho e alimentação. Nessa ótica,
países que já estiveram no topo econômico estão
enfrentando esses desafioscontemporâneos.
Recorrendo-se à história no contexto das
migrações mundiais, esse enfrentamento foi subjetivado
42
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
na grandemaioriadas vezes por guerras civis,
perseguições armadas, e os grandes desastres
ambientais. E o que se tem visto na atualidade são
pessoas que tem fugido principalmente da fome de seu
país de origem.
Nesse entendimento de fluxos migratórios,
compreende-se que as composições familiares de
determinadas populações migrantes, como indica Simões
(2017), geralmente são formadas por genitores, filhos e
filhas, que se somam em média de cinco a seis pessoas.
Nessa realidade, adentram países onde deverão aprender
a ter conhecimento da língua fluente daquele país da qual
estará inserida, sendo esse, um dos maiores desafios da
humanidade, trabalhar a educação de quem deverá
aprender e de quem deverá ensinar.
No contexto de migração fatores são considerados
importantes para a educação como norteadora de
proteção para as crianças e adolescentes migrantes,
partindo da premissa que toda pessoa tem direito à
educação e à proteção, os espaços educativos
complementares dentro dos abrigos promovem
abordagens que integram a comunidade em várias fases
escolares educativas e de aprendizagem.
Tratam-se, ainda, de questões de saúde, higiene e
autocuidado com a população migratória. E as equipes de
profissionais são compostas por educadores, assistentes
sociais e psicólogos, que são desafiados recorrentemente
para proporcionar bem-estar e atividades educacionais
para crianças e adolescentes, tais atividades visam à
integração, desenvolvimento de atividades educacionais,
desenvolvimento de atividades de prevenção e
43
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
desenvolver capacidades de autoproteção por meio de
palestras e cursos.
Dessa forma, os profissionais tomam por base a
utilização da BNCC entre as quais se trabalham
competências, habilidades e aprendizagens no percurso
da Educação Infantil até o Ensino Médio, a proposta é
assegurar direito à aprendizagem e para o
desenvolvimento cognitivo, psíquico e intelectual da
população migratória, ofertando inclusão e capacidades
de aperfeiçoamentos.
No intuito de trabalhos diferenciados e com
abordagens de temáticas que explorem ações produtivas
no pensar, agir e cooperar, todo desenvolvimento
educativo promove oportunidades de expansão de uma
realidade cultural outrora sofrida pela migração forçada.
Eixos como musicalidade, festas, artes, cultura e
lazer são partes essenciais para o desenvolvimento social
e educativo da população migrante, porém, é evidente
a ausência de um olhar mais criterioso no que tange
observar as dificuldades de aprendizagem de muitas
crianças. Especificamente como a distorção de fala e
escrita, incapacidades cognitivas e até aspectos
comportamentais que influenciam o não desenvolvimento
de crianças e adolescentes migrantes e decorrências de
fatores para identificação de doenças e transtornos que
comprometam os diversos comportamentos e/ou fatores
físicos e psíquicos.
Desse modo, fortalecer a contribuição do papel do
psicopedagogo nesses espaços é afirmar que todo
desenvolvimento e assistência são acrescidos
desempenhos e quebras de obstáculos, ora impostas
44
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
pelas circunstâncias da migração como vivências de
traumas, complexos ou desafios na aprendizagem.

1.2 Migração em Roraima

No Brasil, entre os anos de 2015 aos dias atuais,


foram milhões de migrantes que chegaram ao país,
destaca-se a presença da população venezuelana que
saiu do seu país de origem pela fuga da fome e miséria
em contexto de crises políticas.

O fenômeno da migração venezuelana na


fronteira Brasil-Venezuela intensifica-se a
partir de 2015, período marcado pelo
acirramento da crise econômica, política e
social, que desencadeou o
desabastecimento (de alimentos, remédios,
produtos de higiene etc.) e a elevação
desenfreada das taxas de inflação. A
intensificação do movimento migratório
gerou impactos nos sistemas públicos de
segurança e da rede socioassistencial
(saúde, educação, assistência social) na
faixa de fronteira do Estado de Roraima,
sobretudo na capital Boa Vista, que
estrategicamente localizada, liga Manaus-
AM à República Cooperativista da Guiana
por meio da BR-410 e através da BR-174 à
Venezuela (BRITO, 2019, p.190).

No exposto, várias famílias afetadas pela crise


econômica e política no país Venezuela, recorreram aos
países de fronteiras Brasil, Guiana, Bolívia. São famílias
formadas de pai, mãe, avó, avô, filhos e filhas, na média
de três filhos para cada família. Ao chegarem ao Brasil
45
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
foram sendo instalados em abrigos improvisados, casas
de apoio e casas de amigos ou parentes no país, e as
questões como da falta de documentação ao cenário de
desnutre para crianças e acometimento de doenças aos
idosos, as dificuldades foram postas para solução
brasileira.
Até janeiro de 2020, mais de 264 mil
imigrantes venezuelanos solicitaram
regularização imigratória; foram realizados
mais de 899 mil atendimentos na fronteira e
mais de 27 mil imigrantes já foram
interiorizados. Nos demais estados, existem
diversas organizações da sociedade civil,
organizações não governamentais e igrejas
que disponibilizam o acolhimento do
imigrante por todo o país. Mais
especificamente [...] do que de proteção e
garantia de direitos as pessoas migrantes.
Nos demais quesitos, mesmo com a
aprovação da nova Lei de Migração, há
omissão por parte do governo em questões
que demandem intervenção a este público
(NESPP, 2020, p.5).

Diante do exposto, o acolhimento, ora prestado à


população venezuelana apresenta algumas questões.
Há no país, duas leis que na perspectiva de direitos que
protegem os migrantes a Lei nº 13.445/2017 conhecida
como Lei da Migração e a Lei nº 6.815/980 que tem
como base o Estatuto do Estrangeiro, a nova Lei de
Migração assegura condições de igualdade tanto a
brasileiros quanto a estrangeiros.
Nesse sentido, iniciadas as precauções e
promoção a respeito da vida e saúde, muitos migrantes
receberem assistência em todos os serviços
necessários.
46
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
No Estado de Roraima estão localizados abrigos na
capital e demais municípios, aos quais recebem saúde,
moradia, apoio jurídico e educação.

1.3 O papel do psicopedagogo nos ambientes de


Ensino e Aprendizagem

A Psicopedagogia no Brasil se desenvolveu ao


reconhecer um aumento expressivo de fracasso escolar
nos ambientes escolares, na justaposição entre saberes
da psicologia e da pedagogia passou a identificar nessa
lógica, as complexidades entre o saber e o não saber, e
assim, inicia-se o processo de construção do
conhecimento (BOTELHO, 2017).
O papel do psicopedagogo é considerar múltiplas
características positivas ou não na aprendizagem,
mensurando saberes e possibilitando inovar o
aprendizado para a criança ou adolescente, desse
modo, solucionar problemas que decorrem no próprio
processo humano de aprendizagem.
Conforme Botelho (2017), este profissional atuará
nas questões didáticas, formação e orientará pais e
professores.
De forma preventiva atuará nas necessidades
escolares promovendo integração e resultados com as
equipes atuantes no contexto escolar, professores,
psicólogos, administrativo e outros. Na linha preventiva
seu papel atuante na escola irá detectar possíveis
dificuldades de aprendizagens dos alunos e participar na
comunidade escolar orientando e promovendo
processos educacionais individuais e grupais, na linha
47
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
terapêutica, irá apresentar diagnósticos aos profissionais
de áreas psicológicas e psicomotoras.
Nesse sentido, podemos indicar que há diversas
áreas em que o psicopedagogo poderá atuar de forma
preventiva e terapêutica. Desse modo, e no contexto da
educação, e notório ter conhecimento que as agências
de refúgios de migrantes, dividem as atividades entre
arte, cultura e entretenimento.
Destaca-se, na educação, como forma de
amenizar os desgastes e impactos emocionais dessa
população assistida e ao mesmo tempo desassistida na
sociedade. Promovem-se atividades nos abrigos de
migrantes o direito à vida, educação e lazer, com
equipes formadas na área educacional e psicossocial e
recebem toda assistência no contexto migratório de
crianças e adolescentes venezuelanas.
Durante as observações de desenvolvimento das
atividades lúdicas e realizadas pelos profissionais no
ensino com as crianças e adolescentes foram
percebidas algumas situações que permeiam o universo
psicopedagógico no contexto migratório e o quanto a
sua importância é necessária na educação como um
todo.

Figura1 – Representação escrita de um acriança de 9


anos expressando seus anseios pessoais

48
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

Fonte: arquivo pessoal do autor, 2020.

Conforme a Figura 1, essa representação na


escrita refere-se ao contexto que abrange o sentido das
emoções em desejar o retorno para seu país de origem.
A criança descreve seus sentimentos e canaliza
suas emoções reservando-se a emitir por meio de uma
carta a sua expressão emocional e de insatisfação de não
estarem seu país com seus amigos e outros familiares.
É notório, o apelo de uma criança em não se sentir
livre em um país que não conhece e que a necessidade
de um olhar diferenciado educacional deve ser respeitada
para que ela se sinta acolhida.

Figura 2 – Desenho de uma adolescente


retratandoausência de um brinquedo em específico

49
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

Fonte: Arquivo pessoal do autor, 2020.

Conforme a Figura 2, o adolescente expressou por


meio da ilustração o desenho de seu urso que ganhou
no seu país, porém teve que abandoná-lo durante o
percurso para o Brasil. Inicialmente, a leitura de um
simples brinquedo, porém, se demonstra os apegos
emocionais que podem bloquear o aprendizado da
criança, contudo em seu interior, está o resguardo das
boas lembranças da infância com os amigos em seu
país de origem.

2 METODOLOGIA

50
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
No estudo, utilizou-se a metodologia por meio de
aplicação de procedimentos e técnicas durante a
construção do trabalho, objetivou-se a validade. No
primeiro momento, a pesquisa foi definida como básica e
descritiva considerando a interpretação dos resultados
(MARCONI; LAKATOS,1999). Perpassando para a fase
exploratória, bibliográfica e qualitativa, que segundo
GOMES (et. al, 2005) compõe a exploração do material
para irmos além das falas e fatos do material
analisado.E,por fim, a análise de conteúdo,que aporta
um referencial interpretativo dos dados (MINAYO, 2006).

3. ANÁLISES E RESULTADOS

Os recursos utilizados pela Psicopedagogia são


próprios, inicialmente, parte-se da queixa da
aprendizagem, seguido da busca em conhecer o sujeito
cognoscente, seus mecanismos, defesas e
funcionamento operativo para que haja resultados
positivos para o psicopedagogo.
Nesse sentido, a articulação de afetividade e ação
motora poderá tornar a criança socialmente adequada
aos moldes do que é normal, as brincadeiras podem se
tornar atividade prazerosa ou não, e que a criança deverá
corresponder nessa construção de forma silenciosa ou
extremamente expansiva.
Provas Pedagógicas irão avaliar a gênese da
escrita, leitura e cálculo, avalia o desempenho para o
nível de escolaridade e o não saber e por fim as Provas
Projetivas sugerem e consistem em estímulos que
51
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
favorecem a latência, percepções e vínculos afetivos.
Destaca-se a importância do desenho como uma fonte
significativa para estimular projeções, isto é, observar a
partir do vínculo escolar, vínculo familiar e o vínculo
consigo mesma.
As dificuldades de aprendizagem não devem ser
encaradas e nem entendidas como limitador do
desenvolvimento de uma criança. Jorge Visca propõe os
conceitos de obstáculos à aprendizagem e os identifica
como epistêmicos, epistemológicos, epistemofílicos e
funcionais, para isso, se faz necessário à investigação
sistemática que é o diagnóstico psicopedagógico.
Dentre as técnicas utilizadas estão: EOCA
(Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem)
apresenta-se aspectos a partir da Temática, Dinâmica e
Produto, partindo do processo de escuta e observação e
que deverá levar o psicopedagogo ao eu cognoscente do
sujeito investigado, a Anamnese que se refere à
entrevista que o psicopedagogo faz com a família do
paciente, ou seja, ouvir a história do paciente.
Compõemna formação do psicopedagogo, os
conceitos indispensáveis: inconsciente, id, ego, superego,
desenvolvimento psicossexual, recalque e sublimação.
Perpassada pelo reconhecimento do estágio operatório
do sujeito que aprende, compreendendo seus
movimentos de adaptação e podendo intervir necessário,
conceituando equilibração, maturação, estágios de
desenvolvimento, interação, adaptação, assimilação e
acomodação.
Da premissa da Psicanálise de Freud de que a
educação começa a considerar um sujeito que deseja e
52
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
não apenas pensa, mas que pensa de maneira desejante,
é responder aos estímulos que a aprendizagem fornecerá
ao sujeito aprendente.
Diante das análises realizadas pontuam-se os
desafios a serem superados por crianças e adolescentes
nos abrigos de migrantes, apresentando as dificuldades
de fala e escrita para o ensino regular em território
brasileiro, visto que, as dimensões que criam obstáculos
para o aprendizado não dependem unicamente do
esforço da criança em aprender, e sim de receber
ensinamento adequado aos padrões da língua brasileira
em um longo espaço de tempo e não devem ser exigida
respostas pontuais de aprendizagem.
Sendo assim, ofertar o apoio psicopedagógico
nesses espaços irá ocasionar respostas positivas para as
crianças e adolescentes migrantes e quão breves serão
identificadas possíveis dificuldades de aprendizagem.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo procurou mensurar os principais


pontos da importância do papel do psicopedagogo nos
espaços de contexto migratório e foi nesse intuito que se
elucidou a atuação do Psicopedagogo em possuir
conhecimento específico do sujeito em atendimento,
elucidar de maneira positiva a queixa e na intervenção
organizar todas as possibilidades de aprendizagem.
Em linhas gerais, a contribuição do psicopedagogo
para lidar com aspectos migratórios deverá ser mais
precisa, pois envolverá além dos aspectos cognitivos e
características culturais outros fatores como baixo
53
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
rendimento escolar de outra metodologia de ensino e não
brasileira. Esse fator atrelado ao próprio contexto de pais
que não incentivam os estudos aos filhos e filhas, por
considerarar escolha individual o querer aprender ou não.
É sabido que a influência migratória no país terá
muitos desafios ainda a serem superados, principalmente
no campo educacional, a busca por estruturação e
acolhida das famílias requer um suporte maior dos
profissionais que irão se engajar para esses propósitos,
espera-se que a contribuição do psicopedagogo
intervenha positivamente para o crescimento no
aprendizado de muitas crianças e adolescentes
venezuelanos.
Nesse sentido, a superação dos obstáculos
envolve muitos atores sociais e o psicopedagogo sendo
essencial irá apresentar de forma individual e coletiva as
melhores orientações tanto a pais e educadores. E nessa
compreensão, espera-se que isso ocorra para o melhor
desempenho escolar acrescido de realização pessoal e
profissional a todos os envolvidos.
Em suma, o processo do aprender deve ser algo
natural para o desenvolvimento e o papel do
psicopedagogo é tornar isso o mais simples possível para
crianças e adolescentes migrantes ou não.

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, Ana Cristina et al . A atuação do


psicopedagogo em relação à inovação no ambiente
escolar: uma revisão sistemática integrativa. Rev.
54
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
psicopedag., São Paulo, v. 36, n. 110, p. 196-211, 2019.
Disponível em &lt;
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&am
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iso&gt;. Acessos em 15 Mai. 2022.

BOTELHO, Baleeiro Sidnéia e MOREIRA, Maria


Aparecida Antunes. O papel do psicopedagogo na
instituição escolar.
http://www.minerva.edu.py/archivo/11/7/ARTIGO%20SID
NEIA%202.pdf. Acesso: 29 Mai. 2022.

BRITO, Lady Mara Lima de. Políticas de satisfação de


necessidades básicas no contexto da migração na
fronteira brasil-Venezuela. Sociedade em Debate. Nov-
2019.

GOMES, R: SOUZA, E.R; MINAYO, M.C.S.; SILVA,


C.F.R. Organização, processamento, análise e
interpretação de dados: o desafio da triangulação. In:
MNAYO, M.C.S.; ASSIS, S.G.; SOUZA, E.R. (org).
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programas sociais. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005, p.185-
221.

MARCONI, M.A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de


pesquisa. 4ª ed, São Paulo: Atlas, 1999.

MARTINE, George. A Globalização inacabada:


migrações internacionais e pobreza no século 21.
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, v. 19, n. 3, p. 3-22,
jul./set.2005.

MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa


qualitativa em saúde. 9ª ed. rev. E aprimorada. São
55
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Paulo: Hucitec, 2006.

NESPP Núcleo de Estudos e Pesquisa em Estado,


Sociedade Civil, Políticas públicas e Serviço Social.
COVID-19: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS IMPACTOS
NA QUESTÃO MIGRATÓRIA.

SIMÕES, Gustavo da Frota (org.). Perfil


sociodemográfico e laboral da imigração venezuelana
no Brasil. Curitiba: CRV,
2017.https://portaldeimigracao.mj.gov.br/images/publicaco
es/Perfil_Sociodemografico_e_laboral_venezuelanos_Bra
sil.pdf. Acesso: 30 de Mai. 2022.

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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

ADAPTAÇÃO CURRICULAR PARA OS ESTUDANTES


COM A SÍNDROME CONGÊNITA DO ZIKA VÍRUS EM
TEMPO DE PANDEMIA

Lauriceia Tomaz da Silva Gomes5


Coordenação de Educação Especial - Jaboatão dos
Guararapes/PE

Resumo: O referido trabalho versa sobre a adaptação


curricular para os estudantes com a Síndrome Congênita do
Zika Vírus nas atividades a serem realizadas no domicilio em
período pandêmico. Objetivamos descrever as alternativas
pedagógicas realizadas para atender as especificidades dos
estudantes com a Síndrome Congênita do Zika Vírus, pontuar
as principais alternativas encontradas para superação dos
desafios para o ensino destes estudantes no momento
pandêmico. A partir do seguinte questionamento: Mediante a
complexidade existente com os estudantes com a SCZV, como
adequar às atividades escolares para a realização no contexto
domiciliar? Como metodologia, optamos pela pesquisa
exploratória, tendo como sujeitos de pesquisa 13 crianças com
a SCZV e suas mães. Como resultados, percebemos respostas
positivas e avanços na aprendizagem dos estudantes e a
certeza que o olhar voltado para cada uma, com
potencialidades e habilidades a serem exploradas,
oportunizará a todos nós, grandes e agradáveis surpresas em
um futuro próximo.

Palavras - chave: Pandemia. SCZV. Adaptação curricular

5
Mestre em Educação, coordenadora de Educação Especial do
Município do Jaboatão dos Guararapes/PE. E-mail:
lauritomaz12@gmail.com

57
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

INTRODUÇÃO

O ano de 2020 foi marcado por um momento muito


crítico em nossa sociedade mundial impactada pela
pandemia da COVID-19, e que resultou em uma
paralisação geral em toda a esfera social. Mediante tal
quadro, houve uma movimentação em todos os
segmentos sociais na busca de alternativas a curto prazo
que minimizasse as consequências dessa paralisação na
sociedade. Dentre as preocupações dos órgãos mundiais,
estava a questão educacional.
No Brasil, as atividades no contexto escolar foram
paralisadas no mês de março de 2020. No intuito de
minimizar os efeitos dessa paralização, o ministério da
Educação autorizou em caráter excepcional o uso das
plataformas on-line como alternativa para a continuidade
das atividades escolares. Essas foram apresentadas a
muitos estudantes. Todavia, a disparidade social foi logo
vista como um entrave para a efetivação dessa
modalidade de ensino. Uma vez que “A maioria dos
domicílios das classes D e E não possuía acesso ao
computador e nem Internet 58%” (INSTITUTO
RODRIGO MENDES, 2021, p. 06), além da ausência
de acessibilidade em grande parte dos sites educacionais
para o atendimento aos estudantes com deficiência.
Nesse sentido, além dos desafios oriundos da
disparidade social já discorrida, emergiu mais um desafioa
ser superado. Como atender as especificidades dos
estudantes com deficiência e Transtorno do Espectro do
Autismo em meio a essa situação? Surgiu também uma
58
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
preocupação em relação aos estudantes com a Síndrome
Congênita do Zika Vírus, uma vez que a vivência com
eles no contexto educacional tinha sido pequena, pois
poucos em 2018 iniciaram seu processo de
escolarização, e grande parte teve essa inserção
interrompida com o advento da pandemia em 2020.
A partir dessa problemática, o referido trabalho
será norteado a partir do seguinte questionamento:
Mediante a complexidade existente com os estudantes
acometidos com a Síndrome Congênita do Zika Vírus,
como adequar às atividades escolares para a realização
de suasatividades no contexto domiciliar?
Como objetivos delineamos descrever as
alternativas pedagógicas realizadas no intuito de atender
as especificidades dos estudantes com a Síndrome
Congênita do Zika Vírus, pontuar os principais desafios
enfrentados e listar as alternativas encontradas para
superação desses desafios.

1 REFERÊNCIAIS TEÓRICOS

1.1 O contexto pandêmico e suas consequências


educacionais para os estudantes com deficiência.

O período pandêmico trouxe grandes desafios a todos


os gestores educacionais. Tais desafios visou oportunizar uma
educação de qualidade a todos os estudantes independentes
de suas especificidades. Nesse contexto, repensar as
estratégias metodológicas surgiu como alternativa emergencial
e urgente, uma vez que a migração do ensino presencial para o
online síncrono ou assíncrono, deixou de ser para alguns, e
59
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
tornou-se uma alternativa para todos. Assim:

Uma boa comunicação permite que tanto os


educadores quanto os pais da criança
conheçam os diferentes aspectos dessa
jornada, as principais dificuldades, como
aquele estudante prefere aprender, entre
outras condições essenciais. (MENDES, p.
23, 2020).

É imprescindível a parceria entre todos os atores,


de tal forma que possibilite aos estudantes com
deficiência maior condições de aprendizagem nesse
momento tão difícil. Todavia, junto com toda a
problemática oriunda do período pandêmico, ainda
encontramos a disparidade social, que impossibilita em
muitos casos o êxito dessa abordagem. Um dos fatores
associados, a pobreza e o analfabetismo de muitos
responsáveis por essas crianças. Além da escassez de
materiais a serem utilizados na educação desses
estudantes, uma vez que os mesmos requerem
atendimentos individualizados e que atendam às suas
especificidades.

1.2 A inserção dos estudantes com a Síndrome


Congênita e o período Pandêmico: Caminhos que se
cruzam.

A síndrome congênita associada a infecção


causado pelo Zika vírus “compreende um conjunto de
sinais e sintomas apresentados por crianças nascidas de
mães infectadas por esse vírus durante a gestação”.
(FRANÇA, 2017, p. 02).
60
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
No Brasil, no ano de 2015, houve um aumento
considerável de crianças nascida com microcefalia. Após
pesquisa, foi constatado que essas crianças tinham a
Síndrome Congênita do Zika Vírus. Em 2020, essas
crianças chegaram à idade da obrigatoriedade de Ensino
no Brasil (BRASIL, 1996; GOMES, 2021; INSTITUTO
RODRIGO MENDES, 2021; SANTOS; FONSECA,
2021). Contudo, o advento da pandemia da COVID-19
trouxe com essa inserção novos desafios a serem
superados por esses estudantes e seus professores.
Corrobora com esse pensamento Pletsch e Mendes
(2021) quando afirma que,

as crianças com SCZV, assim como outras


crianças com deficiência, que demandam
intervenções e mediações mais
sistematizadas para se apropriar dos
conceitos escolares, certamente com o
isolamento social, foram as mais
prejudicadas ao acesso curricular, pois os
processos de ensino e de aprendizagem
são uma prática social que ocorre na
interação mediada pelo outro. (p. 08)

Tais desafios ora posto impulsionam a todos a


busca de alternativas que possam suprir as necessidades
pedagógicas e sociais de todos que estejam envolvidos
nesse processo.

1.3 Adaptações curriculares e estudantes com


deficiência: desafios e possibilidades

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


em seu artigo 59 garante aos estudantes com deficiência
61
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
currículos, métodos, recursos educativos e organização
específica que atendam às suas necessidades. Tais
preceitos nunca foram tão necessários à sua execução
quanto no período de 2020 e 2021 durante as aulas
remotas. Para Salgado (2020) apud Mirueira; Mendes,
(2013 p.106) “as adaptações curriculares surgem apenas
quando as necessidades educativas individuais
se tornam imprescindíveis”.
Todavia, apesar de as leis e literaturas sinalizarem
a necessidade de adaptação das atividades dos
estudantes com deficiência, isto ainda não configura uma
realidade na maioria das escolas brasileiras, sendo
sinalizados por muitos professores pela falta de formação
específica para realização dessa tarefa. (SALGADO,
2020).
Neste sentido, a pandemia impulsiona a muitos
busca de novos saberes que antes não era visível, ou
permanecia na invisibilidade dos múltiplos fazeres
pedagógicos.

2 METODOLOGIA

O referido trabalho se configura uma pesquisa de


natureza qualitativa do tipo exploratória que segundo
Raupp e Bueren (2022, p. 80), consiste “no
aprofundamento de conceito preliminar sobre determinada
temática não contemplada de modo satisfatório
anteriormente”, logo, o campo de pesquisa foi s
residências dos estudantes com a SCZV. Sendo os
sujeitos de pesquisa 13 estudantes e suas mães. Para a
coleta de dados foram utilizadas análises de vídeos
62
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
produzidos pelas mães e fotografia e as atividades
realizadas para os mesmos. Para a análise foi utilizada a
análise qualitativa dos dados.

3 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS


RESULTADOS

O processo de transição entre pensar e pôr em


prática as adaptações curriculares para os estudantes
com a síndrome Congênita do Zika Vírus, passou por
etapas e adequações a partir da prática cotidiana. Na
primeira, as adaptações iniciaram com uma tentativa de
aproximação de atividades a partir de cadernos voltados
às especificidades de cada estudante. Em uma tentativa
frustrada, iniciamos com 15 volumes de cadernos de
atividades numa busca em atender o máximo de
estudantes possíveis. Contudo, nessa primeira etapa os
estudantes em tela, não foram incluídos, assim como
todos os estudantes da educação infantil.
Na segunda etapa – ao perceber que os cadernos
não davam conta das especificidades de todos os alunos.
Iniciamos o processo de trazermos para a educação
infantil, um caderno e atividades estruturadas, onde cada
estudante recebia três atividades, voltadas às habilidades
mínimas a serem desenvolvidas pelos estudantes no ano
escolar o qual se encontrava, respeitando o campo de
aprendizagem a eles destinado.
Com essa adequação, percebemos uma resposta
positiva tantos dos professores, como pais em relação
aos objetivos propostos. Nesse contexto, estavam
inseridos na distribuição das atividades os estudantes
63
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
com a SCZV. Todavia, nos inquietávamos sobre a
questão de como os estudantes com maiores
complexibilidades estavam respondendo aos objetivos
propostos pelas atividades, uma vez que a maioria
dessas atividades requeria deles uma coordenação
motora fina, sabíamos que alguns mediante sua condição
não apresentavam tais habilidades. Neste contexto dos
13 estudantes com a SCZV só atendíamos efetivamente a
cinco estudantes.
Mediante essa inquietação, passamos para a
terceira etapa voltada a atender os setes estudantes que
ficaram fora da segunda etapa. Inicialmente solicitamos
às mães que fizessem um vídeo e nos mostrássemos os
estudantes segurando alguns objetos. A partir da análise
dos vídeos, buscamos verificar quais as pegas que os
mesmos conseguiam fazer. Aos termos o resultado dessa
análise, partimos para a elaboração das atividades.
Tivemos como ponto de partida atender também
ao que estava exposto das habilidades mínimas a serem
adquiridas pelos estudantes para aquela faixa etária.
Utilizamos recursos como luvas em feltros, bolas de
isopor de tamanhos diversos, copos de requeijão, caixas
de sapatos, entre outros objetos que serviram de bases
para as adaptações. Junto com as atividades foram
enviadas as instruções dos jogos pedagógicos e em
parcerias com as mães, solicitamos que as mesmas nas
execuções das atividades fossem filmando para
percebermos e orientarmos a melhor abordagem para
execução das atividades. Como resultado dessa parceria,
percebemos pequenas evoluções dos estudantes, alguns
de forma qualitativa e outros de forma mais incipientes.
64
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

4 CONSIDERAÇOES FINAIS

Os desafios enfrentados pela pandemia na busca


da garantia dos direitos à educação de todos os
estudantes configuraram uma realidade e no que diz
respeito aos estudantes com vulnerabilidade social este
desafio foi ainda maior, que tendo sua trajetória de vida
marcada por vários percursos de exclusão, ainda vem
concomitantemente à desigualdade social entrelaçando
em sua vida educacional.
No tocante aos estudantes com deficiência e em
particular aos da Síndrome Congênita do Zika Vírus, os
sentimentos de incapacidade, gerado pelo desconhecido,
muitas vezes configuram entraves para o processo
pedagógico. Para quebrar esse paradoxo é necessário
compreendermos que todos têm capacidade de aprender,
o que precisamos é ousar e descobrir caminhos
pedagógicos diferenciados para levar o conhecimento a
todos os estudantes, realidade essa provocada e
vivenciada pelo momento tão difícil que passamos.
A pandemia com essa experiência nos trouxe a
certeza de que quando nos unimos tudo é possível. E
com a volta desses estudantes ao contexto escolar, de
forma presencial, podemos perceber que todos os
esforços para que sua educação lhe fosse garantida e
não interrompida tem nos trazido frutos.
Não há dúvidas também que os caminhos e
achados sobre a aprendizagem dessas crianças ainda é
incipiente, não só pela pandemia, mas pela própria
síndrome que no mundo é desconhecido, despertando em
65
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
toda a área de conhecimento sobre o desenvolvimento
humano um olhar investigativo, voltado a entender a
complexidade que a envolve. Mas temos a certeza que o
caminho a ser percorrido envolve um olhar voltado para
cada pessoa, com potencialidades e habilidades a ser
explorada, deixando de lado os rótulos e mitos
direcionados a elas. Agindo assim teremos a oportunidade
de sermos profissionais melhores e aprendermos com a
diversidade que compõe os serem humanos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional, LDB. 9394/1996. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>.
Acesso: 18 abr. 2022.

FRANÇA, Giovanny Vinícius Araújo de et al. Síndrome


congênita associada à infecção pelo vírus Zika em
nascidos vivos no Brasil: descrição da distribuição dos
casos notificados e confirmados em 2015-2016.
Epidemiologia e Serviços de Saúde [online]. 2018, v. 27,
n. 2, e 2017473. Disponível em:
<https://doi.org/10.5123/S1679-49742018000200014.
Acesso: 22 abr. 2022.

GOMES, Lauriceia Tomaz da Silva. Inserção dos


estudantes com Síndrome Congênita da Zika Vírus na
Educação Infantil: Expectativa e possibilidade.
Chapadinha, SP; Editora AlfaCiência, 2021, p.71-87.

INSTITUTO RODRIGO MENDES®. Protocolos sobre


educação inclusiva durante a pandemia da covid-19.
Um sobrevoo por 23 países e organismos. Disponível
66
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
em:<https://fundacaogrupovw.org.br/wpcontent/uploads/2
020/07. Data de acesso: 30 mai.2022.

PLETSCH, Márcia Denise; MENDES, Geovana


Mendonça Lunardi. Entre a espera e a urgência:
propostas educacionais remotas para crianças com
Síndrome Congênita do Zika Vírus durante a pandemia da
COVID-19. Disponível em
<https://doi.org/10.5212/PraxEduc.v.15.17126.106>.
Acesso: 18 abr.2022.

SANTOS, Juliana da Silva. MARQUES, Maria Andreia da


Nóbrega. Positividade de professores e as suas
expectativas quanto à inclusão das crianças com
microcefalia relacionada ao vírus zika. Disponível em:
https://www.ufpe. Data de acesso 20 març. 2022.

SALGADO, Thais Regina de Freitas. Adaptação


curricular: um estudo de caso sobre a incorporação
desse procedimento no Ensino Fundamental. Revista
Brasileira de Educação e Linguagem, 2020. Disponível
em: https://periodicosonline.uems.br/index.php/educacao.
Data deacesso: 20 mai. 2022.

RAUUP, Fabiano Maury; BEUREN, Ilse Maria.


Metodologia da Pesquisa Aplicável às Ciências
Sociais. Disponível em:
<https://d1wqtxts1xzle7.cloudfront.net/35790526/Cap_3_
Como_Elaborar-with-cover-page-v2.pdf?> Data de
acesso: 31 mai. 2022.

67
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA:


CAMINHOS PARA O LETRAMENTO
Um novo olhar sobre a obra sob o contexto pandêmico

Luciana Conceição Dutra de Moura6

Resumo: A priori, este trabalho teve por objetivo apresentar o


perfil do professor, através do letramento, ou seja, na formação
do aluno leitor, tendo como corpos de estudo a análise da obra
literária Uma professora muito maluquinha do escritor Ziraldo,
uma vez que a obra em questão viabilizou a observação lúdica
da prática docente na sala de aula e no ambiente extraescolar.
Porém, adequando-se ao cenário atual, a análise será feita sob
a perspectiva dos tempos pandêmicos ocasionado pelo COVID-
19, considerando seus efeitos e ramificações no cenário
escolar. Acrescenta-se que a pesquisa buscou elucidara
importância da leitura e da produção escrita como prática social
do letramento. Essa procura teórica foi embasada pelos
postulados de Paulo Freire, Teresa Colomer, Magda Soares e
Cynthia Almeida de Souza. Os resultados mostram a
necessidade de aprofundamento neste campo de estudo, uma
vez que a prática educacional da personagem aponta a
importância da leitura e escrita centrada, além do processo de
ensino aprendizagem durante a pandemia.

Palavras-chave: Leitura. Letramento. Pandemia

6
Pedagoga, Pós-Graduada em Literatura Infantil e Juvenil Brasileira,
Docente da Rede Pública, Contadora de Histórias, Brinquedista,
Mediadora de Leitura. Possui obra publicada e tem participação em
antologias de contos e poesias. Apresenta em sua rede social:
@biblioencantos espaço de leitura e escrita para infância.

68
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

INTRODUÇÃO

O presente foco de estudo visa retratar o perfil do


professor, em consonância à prática de letramento, no
desenvolvimento do aluno leitor na obra Uma professora
muito maluquinha, escrita por Ziraldo Alves Pinto, autor de
importantes narrativas da literatura infanto-juvenil
brasileira com interface ao período pandêmico, uma vez
que a pratica educacional adequou-se a uma nova
realidade.
A referida obra revela perfis dicotômicos de prática
docente. Um, que segue o modelo tradicional cujo
discente é apenas receptor dos conteúdos “depositados”
pelo professor, em contrapartida temos o outro, no qual
uma professora não pratica esse modelo, sendo a
personagem principal da obra Uma professora muito
maluquinha, cujo adjetivo nos provoca à reflexão
semântica, principalmente, em registros pesquisados em
dicionários, onde encontraremos os seguintes significados
para a palavra louco (a): “que age como se fosse um
louco”, “tolo”, como também “extravagante” que, por sua
vez, significa “que não está atrelado ao habitual, ou
comum”, ou seja, condizentes com a atuação da
personagem citada. Com efeito, o próprio autor pontua a
importância dessa segunda modalidade, como citado em
entrevista concedida ao site da Folha Uol em 24 de junho
de 2005, afirmando que‘Hoje é preciso ter “Professora
Maluquinha”, professora heroica’.

69
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

Neste contexto, o professor é a peça chave que


aproxima o leitor ao texto, tornando a aula um momento
interativo de ensino-aprendizagem vinculado ao prazer,
elemento fundamental de aproximação do aluno ao livro e
a personagem em “Professora Maluquinha” possui perfil
ligado à prática do letramento.
Porém, nos tempos atuais, a população mundial foi
afetada pela pandemia do COVID-197, e por tal afetação,
a educação adequou-se a novos modificações, como a
suspensão das aulas presenciais no país, a partir do mês
de março de 2020, com restrições ao contato social e
recomendações pelas autoridades sanitárias, como a
Organização Mundial da Saúde (OMS), para mitigação
dos efeitos da pandemia, criando assim novos formatos
deensino.
Segundo Morgado (2020), as consequências da
pandemia ocasionaram certo transtorno ao trabalho
educativo que é fundamentalmente atrelado as relações
humanas. Apesar dos benefícios e avanços das
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a

7 O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/2019 após


casos registrados na China. De acordo com o Ministério da Saúde, o
coronavírus é uma família de vírus que causam infecções
respiratórias, derivada dessa família, o vírus SARS-Covid-19 tem
causado uma doença de rápido contágio e com uma gama de
sintomas preocupantes, a então conhecida como COVID-19.
Disponível: https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#o-que-e-
covid Acesso em: 24 Mai. 2022.

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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

interação presencial prevalece no sistema de ensino


brasileiro.

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Panorama literário infantojuvenil

Inicialmente, no século XVIII, não era produzido


texto para o público infantil, a sociedade era centrada no
patriarcado e a infância não tinha uma devida adequação,
o que acarretou nas crianças vistas como “pequenos
adultos”. Já na idade moderna, com a intensificação do
capitalismo e ciclos consumistas oriundos da Revolução
Industrial, o livro passa ser qualificado como mercadoria
exercendo papel pedagógico de repassar moral e valores.
A literatura surge com o aspecto didático apresentando
como o adulto queria que a infância fosse vista.
No século XIX, os irmãos Grimm, na Europa
lançam os contos de fadas e consolidam a literatura como
produto da sociedade burguesa. Ao findar do século XIX e
início do século XX com a população “massificada
urbana”, tem-se uma população consumista de produtos
industrializados e surgem vários tipos de publicações no
mercado editorial. Ressalta-se a revista O Tico-Tico com
sucesso de vendagem e repercussão em 1905 para o
imaginário infantil.
A crise literária se instaurou devido à quebra de
padrões e tradições estéticas com o surgimento dos
movimentos de Vanguarda – Cubismo, Dadaísmo,

71
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

Futurismo, Expressionismo e Surrealismo e uma


revolução crítico-literário brasileira surgiu com a literatura
genuinamente brasileira para infância através do escritor
Monteiro Lobato tendo como A menina do narizinho
arrebitado sua obra pioneira. Portanto, após a revolução
modernista há um crescimento da produção literária para
infância e já anos 40 tem-se um significativo acervo
devido ao processo de modernização da sociedade
brasileira, consolidando o consumo de bens e a
urbanização, que concomitantemente culminam em um
mercado livre, que se expande juntamente com a escola.
Após o ano de1920 com a 2ª Guerra Mundial, a
revolução audiovisual e a revolução tecnológica, a busca
pela informação e conhecimento foi crescente para os
indivíduos numa sociedade letrada, e a prática leitora se
fez presente quando essa população buscou
compreender o mundo, como apresenta Paulo Freire
(2006, p11),
A leitura do mundo precede a leitura da
palavra, daí que a posterior leitura desta
não possa prescindir da continuidade da
leitura daquele. Linguagem e realidade se
prendem dinamicamente. A compreensão
do texto a ser alcançada por sua leitura
crítica implica a percepção das relações
entre o texto e contexto.

Portanto, tem-se uma troca mútua de afetações,


em que ao tempo em que o leitor procura ler e
compreender o mundo, também interfere no texto, na
compreensão do mesmo, ao inserir sua visão pessoal.
Seu mundo textual é então produto da interação do que
72
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
ele lê e de suas próprias vivências. O ato de ler aguça os
sentidos, as emoções e a razão, pois além da
compreensão da simples decodificação, o leitor é
convidado a desvendar os “mistérios e sutilezas” das
palavras escritas.
Essa leitura então possui níveis, que interagem
dentro e fora do texto, como parte importante para
entender as suas concepções, sendo eles: sensorial,
emocional e racional.
A primeira a ser citada envolve os órgãos vitais do
ser humano e a sensopercepção advinda dos sentidos
humanos – visão, tato, audição, olfato, gustação e
propriocepção – os quais são apontados como elementos
cruciais no ato da leitura, uma vez que é considerado o
primeiro nível desse processo.
No intuito de ratificar a importância do sensorial no
mundo da decodificação e interpretação, a autora Maria
Helena Martins (1995) menciona que a leitura emocional
lida com o sentimento guiado pelo inconsciente do leitor,
porém não é inferior por se tratar da subjetividade bem
como o nível sensorial que é considerado como primeira
manifestação da interação de sentidos.
Para tanto, a obra foco de estudo teve uma
significativa importância neste contexto, Mineiro de
Caratinga, Ziraldo Alves Pinto, nasceu em 24 de outubro
de 1932 e desde sua infância demonstrou sua paixão
pelos livros. No atual contexto é considerado um artista
eclético e multimídia que acumula várias funções tais
como chargista, caricaturista, desenhista, jornalista entre
outras.
No intuito de revelar a significância histórica na
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
produção desse autor, grande parte da obra escrita por
Ziraldo está contextualizada no seguinte período:
Segunda Guerra Mundial e gestão do presidente Getúlio
Vargas (1930-1945), logo em seguida, a Ditadura Militar
(1964-1985). Períodos nos quais houve uma absoluta
mudança histórica sociopolítica no Brasil e no mundo. A
autora Ana Maria Machado (1999) comenta o seguinte
sobre essa época:

Isso tornou os textos de literatura infantil


brasileira dessa época muito carregados de
sentidos. Em termos de conteúdo, tudo foi
expresso e discutido, da “revolução” de 64
ao exílio, da luta armada à censura, do
autoritarismo ao imaginário mais
obviamente psicanalítico, dos novos
padrões de comportamento às novas
realidades familiares e sociais.
Formalmente, estava-se sempre na
vizinhança de outros textos igualmente
densos de significado: o humor e a poesia.
(p.18).

O escritor Ziraldo através de seu legado literário


para infância revela a importância da ludicidade, fantasia
e inteligência construtiva; superando o tradicionalismo
através da independência de pensamento e possibilidade
de leitura crítica sobre o mundo, o que culminou na
disseminação a nível internacional das obras do autor.

1.2 Docência e caminhos para o letramento

A sociedade direciona à instituição escolar a


responsabilidade de formar leitores, para tanto, os
educadores necessitam ter ciência do papel que exercem
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
na formação de sujeitos leitores. O ambiente da escola é
lócus para conscientização da importância do ato de ler,
tornando como atividade coletiva o ato de formar leitores,
em uma atividade por si só desafiadora, na qual o docente
tem papel fundamental de estimular gradativamente,
aguçando novas leituras e novos modos de ler, assim
consolidando a construção do conhecimento pelo
exercício da interpretação.
Vale salientar que, ao ponto que a sociedade atribui
à escola o dever de formar leitores, e mediante a essa
afirmativa, fica implícito que o papel é ampliado à
formação de leitores ávidos que perpetuem o hábito da
leitura e da busca por conhecimento. Portanto, o
professor necessita se conscientizar da importância da
leitura na sua vida e na dos alunos, uma vez que
realizando leituras para crianças, ele também estará se
prevalecendo da aquisição do ato de ler, o tornando uma
atividade coletiva. A transferência do prazer em ler é
introjetada a partir do gosto de quem está facilitando tal
tarefa, pois quem não se deixa permitir a uma boa leitura,
não apresenta condições de incentivar aos outros lerem.
Para tanto, a aquisição da leitura e da escrita está
aliada as práticas sociais, a partir da interação dos mais
diversos gêneros, culminando no letramento. Tendo em
vista que a origem do letramento brasileiro, segundo
Magda Soares (2007, p. 38) surgiu na década de 80,
porém somente no ano de 2001 o Dicionário Houaiss
registrou as palavras: letramento e letrado, acrescentado
a definição como conjunto de práticas de uso dos
variados tipos de materiais escritos.
A alfabetização e letramento estão associados,
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
reflete Magda Soares, por se tratar, a priori, de
encaminhar a criança ao “domínio da tecnologia da
escrita”, enquanto o letrar direciona ao “exercício das
práticas sociais da leitura e da escrita”. A autora reitera
que,
Dissociar alfabetização e letramento é um
equívoco porque, no quadro das atuais
concepções psicológicas, linguísticas e
psicolinguísticas de leitura e escrita, a
entrada da criança (e também do adulto
analfabeto) no mundo da escrita se dá
simultaneamente por esses dois processos:
pela aquisição do sistema convencional de
escrita – a alfabetização, e pelo
desenvolvimento de habilidades de uso
desse sistema a língua escrita – o
letramento. Não são processos
independentes, mas interdependentes, e
indissociáveis: a alfabetização se
desenvolve no contexto e por meio de
práticas sociais de leitura e escrita, isto é,
através de atividades de letramento, e este,
por sua vez, só pode desenvolver-se no
contexto da e por meio da aprendizagem
das relações fonema-grafema, isto é, em
dependência da alfabetização. (2007, p.
23).

As habilidades de letramento são necessárias, pois


estão associadas ao indivíduo e seu contexto social, de
tal maneira que o papel da escola, de ser responsável
pelo desenvolvimento das habilidades do letramento, é
imprescindível, pois através do letramento o discente irá
interagir com as demandas sociais do cotidiano.
No cenário atual, a formação leitora no contexto
pandêmico fomentou inúmeros desafios à prática
docente. As dificuldades de acesso às tecnologias, os
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
obstáculos socioeconômicos e geográficos foram
aspectos potencializadores para reflexão do acesso à
tecnologia como recurso para formalizar o espaço de
ensino e aprendizagem, de adequação, de atualização e
de produção de meios para a formação do leitor.
Observa-se que a produção escrita de textos,
oriundos a diversos gêneros, fomentam o
desenvolvimento de variadas competências e habilidades,
que devem ser direcionadas pelas situações de ensino e
aprendizagem. Muitos foram, e são, os desafios da
prática pedagógica, de modo que a reflexão e discussão
sobre o papel do docente se intensificaram. Com o
fenômeno da pandemia de COVID-19 estamos diante de
novos formatos de exclusão e de enfrentamentos que
levam em conta não apenas a leitura de mundo e a leitura
da escrita (FREIRE, 1996), mas acrescentam-se a leitura
digital.
Então compreenderemos os caminhos necessários
à leitura que potencializam a formação do leitor e a
atuação do professor enquanto igualmente leitor e
mediador de leitura, sob os aspectos de letramento e
alfabetização, tendo em vista a análise da obra Uma
professora muito maluquinha.

Pesquisa bibliográfica através de revisão de


conceitos e teorias, publicadas por meios escritos e
eletrônicos, como livros, artigos científicos e sites
(MATOS e VIEIRA, 2001; MINAYO, 2007), visando à
reflexão da práxis pedagógica em tempos pandêmicos.
Por meio da literatura analisada, almeja-se a
construção de um saber dialogando e interagindo com o
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
intuito de ampliar suas percepções a respeito dos
desafios e possibilidades do perfil docente na formação
leitora na sala de aula.

2 ANÁLISE DE DADOS

2.1 Uma professora muito maluquinha de Ziraldo em


tempos padêmicos

“Era uma vez”, é a senha para imersão no


universo da prática docente em Uma professora muito
maluquinha que, através da ilustração, o leitor conhece o
traço do artista e realiza sua imersão na obra.É
importante mencionar que a personagem teve na
professora Catarina Marques da Rocha, ou Dona Kate,
docente dos anos 60, da escola Municipal Cícero Penna
em Copacabana, no Rio de Janeiro a sua fonte
inspiradora para o autor. A docente teve sua influência
reconhecida, pois o seu perfil de atuação não estava
conforme os moldes das demais professoras da escola no
que diz respeito a prática docente.
Em consonância com a Lei de Diretriz e Bases da
Educação Nacional (9394/96),no recorte alusivo a
Educação Infantil, apresentam-se a relevância da prática
docente com diferentes tipos de gêneros textuais. Para
tanto, a personagem direciona sua atuação inovadora e
vai de encontro aos moldes educacionais da época, cujo
regime estava estritamente ligado ao tradicionalismo.
Entre outros recursos utilizados pela docente, o ato de
brincar faz parte da rotina de estudos, aguçando a
maneira como a criança aprende o conteúdo.
78
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Outras atividades relatadas na obra merecem
destaque, como os embates com diferentes tipos de times
“morenos contra louros, magros contra gordos”, nas
modalidades de jogos populares, como o jogo da forca,
outros como jogo da rima, caça-palavras, entre outros.
Também era utilizado material didático, tais como: jornais,
revistas, textos publicitários da época. Um dos mais
criativos materiais produzidos pela maluquinha é a
Máquina de Ler, utilizando uma bobina de embrulho.
Os discentes da professora maluquinha, vão se
tornando leitores a partir das estratégias de leitura,
ratificando que o letramento é um processo de
continuidade não linear, multidimensional, ilimitado,
condizente com o que prega Soares que é dialogar com
as mais diversas tipologias textuais verbais e não verbais.
Pois, a utilização das múltiplas linguagens e
diversas situações didáticas, a prática do letramento não
se limita no espaço escolar, extrapolando os muros da
escola, como nos mostrou à maluquinha quando levou
seus alunos ao cinema da cidade, que resultou na
produção de uma peça teatral inspirada no enredo do
filme.
Mediante as consequências da Pandemia de
COVID-19 onde a educação se alinhou a novos formatos
de docência, a portaria 544/2020 do Ministério da
Educação que autoriza as aulas, de forma remota, por
meio das tecnologias digitais de informação e
comunicação (TICs) ocasionaram novas práticas de
ensino e o docente precisou se reinventar com práticas
adequadas ao cenário em questão. Semelhante à
personagem da obra literária, os profissionais
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
demonstram resiliência diante as dificuldades
apresentados, tais como os entraves diante no novo
cenário educacional atual.
Docentes que além da tecnologia da conectividade,
que em casos significativos não foram eficientes, devido
os entraves geográficos e outros, utilizaram a criatividade
e suas potencialidades, que foram amplificadas e
modificadas, por meio de atividades já tradicionais, mas
modificadas para a inclusão da família como ferramenta
alinhada ao processo.
Por meio disso, as atividades impressas e livros
como ferramentas de aprendizagem e em especial, o
empréstimo do acervo literário para formação leitora
contribuíu para a perpetuação do processo de formação
de leitores ávidos, ao permitir que a leitura fizesse parte
da jornada de casa discente em seu próprio cenário.
Só uma professora com o perfil da personagem
para tentar e investir em caminhos possíveis chamando
atenção para as assimetrias socioeconômicas e o acesso
aos sistemas de ensino.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo do corpus possibilitou a análise da prática


pedagógica da professora muito maluquinha, uma vez
que apresentou propostas inovadoras de ensino que
extrapolaram os muros da escola de forma atemporal, de
encontro aos padrões tradicionais da época, elucidando o
sonho e a fantasia no processo de ensino e aprendizagem
na formação do leitor literário.
A escola assume o papel estritamente importante
80
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
atrelado à formação do leitor quando proporciona um
lócus motivador e de entusiasmo ao aprendizado por
meio da ludicidade, centrada na importância do estímulo à
leitura e escrita sob a perspectiva de letramento.
Para tanto, a experiência exitosa da personagem
reverbera nas ações pedagógicas atuais, na qual o
docente teve sua atuação posta em prova mediante o
cenário pandêmico da Covid-19, sendo necessário
adequar-se às TICs e ao “novo normal” composto por
distanciamento social e preocupações diversas. Porém,
as barreiras socioeconômicas, geográficas, entre outras,
provocam a reflexão sobre o acesso, se de fato mobilizam
ou imobilizam o direito à educação.
Portanto, muitas questões não foram elencadas e
pedem outras pesquisas e aprendizagens sobre até que
ponto as chamadas facilidades tecnológicas de fato
trouxeram acesso garantido aos alunos e se foi possível
um bom trabalho dentro do cenário e da urgência das
adaptações do momento.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar, 2001.

CASTELLS, M. Obsolescência da Educação


Contemporânea. Entrevista à Fronteiras do Pensamento.
https: //www.fronteiras.com/noticias/manuel-castells-
explica-a-obsolescencia-da-educacao contemporanea-
1427125019 Acesso em: 31 de Maio de 2022.

COELHO, N. N. Literatura: arte, conhecimento e vida.


81
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Fundação Petrópolis, São Paulo: 2000.

COLOMER, T. Andar entre livros: a literatura literária na


escola. São Paulo: Global, 2007.

FINO, C. N. Inovação Pedagógica, Etnografia,


Distanciação. In Fino, C. N. Etnografia da Educação.
Funchal: Universidade da Madeira - CIE-UMa, p. 99-118,
2011.

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artigos que se completam. 23. ed.São Paulo: Cortez,
1989.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes


necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,
1996.

GERALDI, João Wanderlei. Portos de Passagem. 4. ed.


São Paulo: Martins Fontes, 2003.

KLEIMAN, A. B.; MORAES, S.Leitura e


interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da
escola. São Paulo: Mercado das Letras, 2003.

MAIA, J. Literatura na formação de leitores e


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2010.

RIBEIRO, V. M. (Org.). Letramento no Brasil. 2. ed. São


Paulo: Global, 2004.

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Experiências singulares e coletivas
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros.
Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

SOUZA, C. A. de. Letramento literário na Pandemia.


Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do
Conhecimento. Ano 05, ed. 12, vol. 03, p. 26-37.
Dezembro de 2020. ISSN: 2448-0959, Disponível em:
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/sem-
categoria/literario-na-pandemia acesso em: 31 de Maio de
2022.

ZIRALDO. Uma professora muito maluquinha. São


Paulo: Companhia Melhoramentos. Ed. 16, 1995.

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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

CONHECIMENTO CARTOGRÁFICO PÓS-PANDÊMICO:


UMA ALFABETIZAÇÃO COMPROMETIDA

Luiz Carlos Araújo Ribeiro8

Resumo: A COVID-19 fechou escolas no planeta inteiro por


períodos variados de tempo e por conta desse fechamento
aulas não foram ministradas. O conhecimento cartográfico teve
prejuízo por conta dessa lacuna temporal? Para responder
esse questionamento foi realizada uma pesquisa com
estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental II ao 3º ano do
Ensino Médio. Pesquisa realizada através de um questionário
onde os estudantes foram instigados responder perguntas
sobre cartografia a nível de Ensino Fundamental II. Os
resultados indicaram que sim, houve prejuízos e apontou que a
defasagem do conhecimento cartográfico já era um fato,
contudo, teve agravamento por conta da pandemia. Isto postou
que é urgente uma intervenção pedagógica buscando mitigar o
máximo possível esse prejuízo.

Palavras-chave: Alfabetização Cartográfica. Pandemia


COVID-19. Intervenção Pedagógica.

INTRODUÇÃO

A pandemia da Covid-19 trouxe para a escola


novos desafios e otimizou antigos. Se já tínhamos a

8
Licenciado em Geografia pela UCSal. Especialista em Educação
Científica e Cidadania pelo IF-Baiano, Campus, Uruçuca. Professor
da Rede Estadual de Educação da Bahia. Professor da Rede
Municipal de Educação de Itajuípe, Bahia. E-mail:
luizcarlosprofgeografia@gmail.com.

84
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

percepção de deficiências no desenvolvimento das


competências e habilidades dos estudantes sem a
intercorrência da pandemia, neste momento pós-
pandêmico tal percepção foi aguçada.
A partir de diálogos informais com alunos do
terceiro ano do Ensino Médio, surgiu a percepção que
muitos não se lembravam de terem vivenciado alguma
aula de Geografia utilizando algum tipo de mapa ou Globo
Terrestre. Fato este que, não se resumia ao período
pandêmico, mas ele se agravou mais ainda por conta
das aulas on-line e o retorno híbrido.
Diante da situação apresentada foi feita uma
pesquisa através de questionário para os alunos do 9º
ano do Ensino Fundamental II, de uma unidade escolar no
município de Itajuípe e alunos do 1º e 3º anos do Ensino
Médio de uma escola do município de Itabuna.
A pesquisa teve o objetivo de verificar os
conhecimentos cartográficos dos estudantes das referidas
series.

1 REFERÊNCIAIS TEÓRICOS

Pesquisa do Senado Federal já alertava logo no


início do ano letivo de 2022, que as dificuldades desse
recomeço após praticamente 02 anos de afastamento
presencial das escolas, seriam evidentes, pois,
O retorno às aulas presenciais em
instituições públicas e privadas de
educação básica de todo o país nesses
primeiros meses de 2022 deixou evidente a
especialistas e à comunidade escolar um
quadro desafiador: recuperar o conteúdo
85
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
não incorporado e curar sequelas
psicossociais que atingem alunos e, não
raras vezes, os professores. (PIMENTA,
2022).

No estudo de Pimenta (2022) o relato de uma mãe


nessa mesma pesquisa afirma que:
“Meu filho estava no segundo ano, voltou
híbrido e jogaram ele para o terceiro, ele
não sabe ler nem escrever. A pedagoga
falou que nós pais temos que dar aula para
os filhos. Chego todo dia 19h, meu filho já
está cansado”, afirma uma mãe de Curitiba.
(PIMENTA, 2022).

O prejuízo causado pela pandemia no quesito


aprendizagem já fora citado em Araújo (2021), que nos
informa:
O estudo Perda de Aprendizagem na
Pandemia, uma parceria entre o Insper e o
Instituto Unibanco, estima que, no ensino
remoto, os estudantes aprendem, em
média, apenas 17% do conteúdo de
matemática e 38% do de língua portuguesa,
em comparação com o que ocorreria nas
aulas presenciais. (ARAÚJO, 2021).

A escola nesse momento pós-pandêmico precisa


refletir também sobre:
“Resgatar a escola como espaço de
aprendizagem, pertencimento e acolhimento
para que as crianças, jovens e adultos
encontrem nela esperança e sonhos: um
futuro”, diz Gina Vieira, formadora de
professores da educação básica do Distrito
Federal. (MATUOKA, 2022).

Em material da Fundação Lemann, a questão da


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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
defasagem de aprendizagem também é tratada:

Mestre em Educação, Juliana também


visualiza o retorno em 2022 como um ponto
pedagógico crucial para diagnosticar as
defasagens de aprendizagens causadas
pela pandemia e propor um trabalho de
recuperação e consolidação de conceitos
que não foram apreendidos. (F. LEMANN,
2022).

As consequências da pandemia da COVID-19 na


educação também é tratada por Oliveira (2021),

Como afirmado pela CEPAL (2021), a


prolongada crise de saúde terá
consequências de longo prazo para as
atuais gerações de crianças, adolescentes e
jovens, apesar dos esforços de autoridades,
docentes e estudantes. Haverá atrasos e
maiores lacunas nas realizações de
aprendizagem que serão difíceis de
recuperar a curto prazo. (OLIVEIRA, 2021).

Apesar de o ensino remoto ter sido implantado nas


duas unidades escolares pesquisadas e atividades
impressas terem sido entregues aos estudantes sem
acesso a internet, os dados revelam que apesar desse
esforço, houve de forma geral comprometimento na
aprendizagem conforme estudo de Queiroz, Sousa, Paula,
(2021),
Quando indagado quais as maiores
dificuldades encontradas pela família na
modalidade do ensino remoto, 40%
dos investigados citaram problemas
tecnológicos, como falta de internet e
computadores, outros 40% citaram a
falta de interação do aluno com a
ambiência escolar, e outros 20% não
87
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
citaram. (QUEIROZ, SOUSA, PAULA, 2021,
p. 5).

Essa defasagem certamente será perpetuada pelos


anos vindouros. O Banco Mundial em Relatório à UNESC
fala em prejuízo ao longo da vida da ordem de 17
trilhões de dólares em rendimentos não auferidos pelos
estudantes, devido às consequências da pandemia da
COVID-19.
Diante de tal magnitude o diretor global de
Educação do Banco Mundial, por ora, Jaime Saavedra é
contundente,
Agora, 21 meses depois, as escolas
permanecem fechadas para milhões de
crianças e outras podem nunca mais voltar
a estudar. A perda de aprendizado que
muitas crianças estão experimentando é
moralmente inaceitável. E o aumento
potencial da pobreza de aprendizagem
pode ter um impacto devastador na
produtividade futura, ganhos e bem-estar
para esta geração de crianças e jovens,
suas famílias e as economias mundiais
(SAAVEDRA, 2021).

As defasagens de aprendizagem ainda não são


totalmente conhecidas, mas já é preocupação em vários
setores, inclusive, fora do espectro da educação. As
estimativas apontam que em 2022, teremos um cenário
com defasagens de aprendizagem com extensão ainda
não totalmente compreendida (WEINSTEIN, 2022).
Por isso, diagnosticar para intervir será a grande
prioridade de 2022. Segundo Weinstein (2022) o maior
desafio refere-se ao planejamento e execução da
recuperação das perdas de aprendizagem que ocorreram
88
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
durante o período da pandemia do Covid-19, nos diversos
setores. E não diferente no âmbito da escola.
Nossa pesquisa ocorreu nesse cenário de transição
da crise pandêmica. Onde buscamos exatamente
identificar as possíveis defasagens de aprendizagem na
Cartografia tendo como referência as habilidades e
competências esperadas aos estudantes concluintes do
Ensino Fundamental II.

2 METODOLOGIA

Utilizamos o método quantitativo nessa pesquisa


por entendermos que era o melhor q u e se adaptava
ao objetivo proposto. De modo que, “a pesquisa
quantitativa pretende e permite a determinação de
indicadores e tendências presentes na realidade, ou seja,
dadosrepresentativos e objetivos” (MUSSI, et al 2019).
Para tanto, foi elaborado um questionário com 15
questões de Geografia, voltadas para o conhecimento
Cartográfico. Questões de conteúdos de Ensino
Fundamental I e II. As séries escolhidas foram 9º do
Ensino Fundamental e 1ª e 3ª séries do Ensino Médio. O
9º ano foi de uma escola da rede municipal do município
de Itajuípe e as duas séries do Ensino Médio de uma
escola de Itabuna, ambas localizadas na região sul do
estado da Bahia.
As séries foram escolhidas por ser o 9º ano a última
série do Fundamental II, onde poderíamos avaliar o
percurso do conhecimento cartográfico ao longo do
Ensino Fundamental I e II dos sujeitos participantes.
A 1ª série do Ensino Médio foi escolhida por ser a
89
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
escolar pesquisada exclusiva de Ensino Médio, com isso
teríamos um retorno do conhecimento cartográfico dos
estudantes que estavam chegando à unidade escolar. Já
a 3ª série do Ensino Médio, tinha por objetivo avaliar o
conhecimento cartográfico dos estudantes concluintes da
Educação Básica da referida unidade escolar.
A definição de ser desenvolvida a pesquisa em dois
municípios tinha por razão essencial não ter a visão de
apenas uma realidade municipal. Desse modo, a intenção
inicial era desenvolver a pesquisa com todos os
estudantes das series pesquisadas. Porém, nas duas
escolas o número de alunos faltosos comprometeu esse
objetivo. Contudo a amostragem foi significativa, tendo em
vista que tivemos mais de 50% de estudantes
participando da pesquisa.
Participaram estudantes dos turnos matutino e
vespertino. O noturno não foi pesquisado levando em
consideração que na escola selecionada do município de
Itajuípe não existe 9º ano no turno noturno e o noturno da
escolar de Itabuna não houve matrícula para 1ª série do
Ensino Médio.
A pesquisa foi realizada na sala de aula com o
professor regente daquele momento pedagógico. Os
participantes foram orientados a responder com a maior
atenção possível, calma e sem preocupação, já que era
uma avaliação diagnóstica da turma. Entretanto,
ressaltamos a importância da resposta individual para
termos uma visão mais próxima do real possível.
Foi desenvolvida em um único dia e horário, ao
mesmo tempo em todas as turmas no seu referido turno.
Tal dinâmica que adotamos foi para garantir que as
90
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
perguntas e respostas não tivessem compartilhamentos
ou comentários posteriores ao evento. O 9º ano tinha um
universo de 125 alunos, 87 estavam presentes e
responderam o questionário. Na 1ª série tinha um
quantitativo de 72 alunos, 62 estavam presentes e
responderam. Na 3ª série de um universo de 165 alunos,
79 estavam presentes e responderam oquestionário.

3 ANÁLISE DE DADOS, RESULTADOS E/OU DISCUSSÃO

Selecionamos 03 perguntas para realizarmos uma


análise do quadro nas 02 escolas e nas 03 séries
pesquisadas. São perguntas que mostram pelas suas
respostas o comprometimento de aprendizagens
fundamentais da Cartografia para a conclusão da
Educação Básica.
A pergunta número 03, foi: Se você olhar um mapa
da Região Nordeste do Brasil sem os nomes dos Estados,
você é capaz de identificar o seu Estado, Bahia?
Gráfico 01:
70
60 54
49
50
40 32 SIM
30 23 NÃO
20 1716 16 Branco/ass. Errado
7 9
10
0
9º ano 1ª série 3ª série

91
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Selecionamos 03 perguntas para realizarmos uma


análise do quadro nas 02 escolas e nas 03 séries
pesquisadas. São perguntas que mostram pelas suas
respostas o comprometimento de aprendizagens
fundamentais da Cartografia para a conclusão da
Educação Básica.
A pergunta número 03, foi: Se você olhar um mapa
da Região Nordeste do Brasil sem os nomes dos Estados,
você é capaz de identificar o seu Estado, Bahia?

Gráfico 02:
70
60

50 43
37 3839
40 35 SIM
30 NÃO
21
20 Branco/ass. Errado
10 6
2 2
0
9º ano 1ª série 3ª série

Fonte: Dados da pesquisa, 2022.

Nesta pergunta mais de 56% dos estudantes não


sabem a cor certa de se pintar as terras emersas em um
mapa.
As perguntas 12 e 13 se referiam à escala gráfica e
escala numérica. Foi colocada a imagem das duas
92
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
representações para que eles respondessem o que
significava aqueles símbolos. Alunos do 9º em 100% não
sabiam identificar uma escala gráfica ou numérica.
Os estudantes da 1ª série do Ensino Médio
apresentaram resultado semelhante, tendo apenas 01
aluno que acertou o símbolo da escala gráfica.
Na 3ª série do Ensino Médio o resultado foi melhor,
porém, nem de longe promissor. Apenas 04 estudantes
identificaram corretamente o símbolo da escala gráfica e
apenas 02 da escala numérica.
As outras 11 perguntas tiveram quadro de
respostas semelhantes. Demonstrando que existe de fato
uma defasagem nessa competência.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados nos apresentam uma realidade


extremamente preocupante. Estudantes poderão concluir a
Educação Básica sem saber localizar e identificar o seu
próprio Estado e país, dentre outras habilidades e
competências comprometidas.
Desse modo, concluimos, por ora, que a
Alfabetização Cartográfica ficou altamente prejudicada por
conta da pandemia. As aulas virtuais não conseguiram
superar essa realidade.
Entretanto, como de forma empírica e emergencial
um professor muitas das vezes sem domínio das tecnologias
digitais poderia atender a todas as demandas de
aprendizagem num formato totalmente novo para ele em
muito dos casos?

93
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Contudo, fica claro, que a defasagem do
conhecimento cartográfico, já vinha desde antes da
pandemia, conforme foi possível observar em estudantes da
3ª série que terminaram o 9º ano do Ensino Fundamental II
em 2019, sem terem adquirido as competências referentes
ao Ensino Fundamental II, no que tange ao conhecimento
cartográfico.
O quadro geral nos indica que uma intervenção
pedagógica é mais que necessária, é urgente diante da
possibilidade de um prejuízo pedagógico de alto impacto nos
estudantes concluintes e recém-promovidos ao Ensino
Médio.

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exige ações do poder público. Agência Senado, 2021.
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

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publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/41193/
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OLIVEIRA, D. A. Trabalho docente no Brasil pós-


pandêmico: qual o destino dos recursos públicos?
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https://retratosdaescola.emnuvens.com.br/rde/article/view/
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https://revistas.uece.br/index.php/ensinoemperspectivas/a
rticle/view/6057/5383 Acesso em 07 de maio 2022.

PIMENTA, P. Educação busca superar estragos da


pandemia.Agência Senado, 2022. Disponíve em
<https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2022/0
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WEINSTEIN, M. in: Retomada Escolar em 2022 –


Desafios. A Escola Legal, São Paulo, 2022.
95
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
IMPACTOS DA PANDEMIA NO
DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL DAS
CRIANÇAS DE 4 E 5 ANOS DA CIDADE DE MATINA

Marly Batista Chagas de Oliveira9


Escola Municipalizada Luís Eduardo Magalhães

Resumo: Este artigo é o resultado de uma Pesquisa de


Campo realizada com crianças de 4 e 5 anos da cidade de
Matina no estado da Bahia para analisar os impactos
socioemocionais causados pela Pandemia do vírus SARS –
COV-2 causador da COVID – 19. Com a pandemia, escolas
tiveram que fechar as portas e estabelecer normas
excepcionais para serem adotadas durante o estado de
calamidade pública. Uma dessas normas foi o Ensino Remoto.
Partindo desse pressuposto, as Escolas de Educação Infantil
enfrentaram um dilema, pois o trabalho remoto com crianças
inviabiliza os direitos de aprendizagem que é brincar, participar,
explorar, expressar, conviver e conhecer – se, sendo que
essas aprendizagens acontecem na interação com seus pares.
Esta pesquisa representa um demonstrativo de crianças que
apontam medo de voltar para a escola e ao mesmo tempo o
desejo de brincar, aprender e socializar com os demais
colegas.

Palavras-chave: Pandemia. Desenvolvimento Infantil. Impacto


socioemocional.

9Pedagoga como Especialização em Psicopedagogia Institucional


e Clínica e Neuropsicopedagogia Clínica, Institucional e Hospitalar.
Professora de Educação Infantil da rede pública. E-mail:
marlybatistachagasdeoliveira@gmail.com

96
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

INTRODUÇÃO

A Pandemia causada pela COVID -19 impactou o


cotidiano de muitas famílias em diferentes contextos:
econômico, sociocultural, emocional e educacional.
Afetou de forma transparente e desigual, principalmente
os países com graves problemas sociais, a exemplo do
Brasil. Em relação à educação, aulas presenciais foram
suspensas em março de 2020 no Brasil, no intuito de frear
a disseminação do vírus. O Ensino Remoto foi uma das
alternativas encontradas por muitos municípios para
prosseguir com as atividades educacionais (Medida
Provisória nº 934/20 que posteriormente deu origem a Lei
14.040/2020 que estabelece normas educacionais
excepcionais para serem adotadas durante o estado de
calamidade pública).
Neste cenário está a educação das crianças que
compõem o segmento da Educação Infantil. Como pensar
a infância em tempos de pandemia, longe das instituições
de Educação Infantil? Como acontece o cuidar e o
educar nesse contexto? Quais medos, angústias e
desafios estão sendo vivenciados por elas? Como garantir
os direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar,
explorar, expressar e conhecer – se, sem a interação com
seus pares?
Diante do desencontro entre pandemia, Ensino
Remoto e concepção de infância, esse trabalho tem como
foco de pesquisa, compreender os impactos da pandemia
no desenvolvimento socioemocional das crianças de 4 e 5
anos da cidade de Matina. Uma vez que, cogitar a
97
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
possibilidade de uma Educação Infantil online é
contrariar as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Infantil que posiciona a criança como sujeitos
históricos de direitos, que constrói sua identidade através
das relações e práticas cotidianas.
Atuante no campo da docência de Educação
Infantil há onze anos com crianças da Pré – escola, a
escolha dessa temática emergiu da necessidade de
identificar os impactos da pandemia no desenvolvimento
socioemocional das crianças, a partir da análise da escuta
narrada pelos sujeitos pesquisados.
A escolha do tema “Impactos da Pandemia no
desenvolvimento socioemocional das crianças” tendo
como sujeitos de pesquisa crianças de 4 e 5 anos da
cidade de Matina, justifica- se, uma vez que, o impacto da
pandemia atingiu a infância em suas diferentes esferas de
desenvolvimento, inclusive nas competências
socioemocionais.
Desse modo, as contribuições da pesquisa
proporcionariam respostas aos problemas, partindo da
análise dos sujeitos pesquisados e as relações com os
impactos causados pela pandemia, visto que, muitas
crianças foram abaladas emocionalmente.
As possibilidades de mudança seriam inúmeras,
na medida em que, o cenário pós-pandemia sugere
transformações nas práticas educativas da Pedagogia da
Infância, onde a escuta, o cuidado e o planejar com as
crianças sejamprioridades na Educação Infantil.

1. REFERENCIAIS TEÓRICOS

98
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
1.1 A criança e os relacionamentos sociafetivos

As crianças experenciam e aprendem no mundo


através dos relacionamentos socioafetivos, e estes, por
sua vez, influenciam todos os aspectos do
desenvolvimento infantil.
Aspectos importantes para o desenvolvimento
infantil como cooperação, autocontrole, negociação,
imaginação e criatividade acontecem através das
brincadeiras na relação com seus pares, oferecendo
oportunidades para aprender em contextos de relações
socioafetivas. Conforme Saviani e Galvão, (2021, p.42) “o
indivíduo precisa aprender para se desenvolver e isso se
dá em primeiro lugar na relação com o outro”.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Infantil - DCNEI, 5 Resolução CNE/CEB Nº 5/2009, em
seu artigo 4º definem a criança como:

Sujeito histórico e de direitos que nas


interações, relações e práticas cotidianas
que vivencia, constrói sua identidade
pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia,
deseja, aprende, observa, experimenta,
narra, questiona e constrói sentidos sobre a
natureza e a sociedade, produzindo cultura.
(BRASIL, 2009).

Ainda de acordo com as DCNEI, os eixos


estruturantes das práticas pedagógicas dessa etapa da
Educação básica são as interações e a brincadeira. Sem
essas experiências nas quais as crianças podem construir
e apropriar-se de conhecimentos por meio de suas ações
e interações com seus pares, os direitos de aprendizagem
99
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
e desenvolvimento na educação infantil: conviver, brincar,
participar, explorar, expressar, conhecer-se, acaba sendo
negados em um cenário pandêmico onde o
distanciamento social é uma das formas mais eficazes de
evitar a disseminação do vírus.
Desse modo, vale ressaltar que a sociafetividade é
de fundamental importância no desenvolvimento integral
da criança. Os espaços, o tempo, as relações, são fatores
que implicam diretamente no contexto da Educação
Infantil para que a criança possa conviver em um
ambiente de aprendizagem significativa.

1.2 Criança, pandemia e aprendizagem

No contexto da Pandemia do COVID -19 as


crianças e os pais estão lidando com situações de
estresse devidos os medos, insegurança e mudanças de
rotina no convívio familiar, onde a morte ou ameaça da
morte passa a ser um assunto em pauta tanto entre
familiares, quanto os meios de comunicação.
As crianças expostas a contextos estressores
mostram alto nível de cortisol, hormônio regulador do
estresse, em comparação a crianças que não vivem
nesse contexto (SLOPEN, MCLAUGHLIN, & SHONKOFF,
2014). As alterações do cortisol relacionam-se com o
sistema imunológico e sistema nervoso que se relaciona
à emoção, memória e aprendizagem (SHONKOFF,
RICHTER, VANDER GAAG, & BHUTTA, 2012b).
Diante disso, percebe-se que, além da criança
está privada do convívio escolar, das interações e
100
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
brincadeiras, podem também estar vulnerável a
alterações no sistema nervoso devido o isolamento social
e problemas no seio familiar como violência doméstica,
alimentação, dentre outros.
O funcionamento psicológico se dá no duplo
trânsito entre dois planos. O primeiro, interpsíquico e o
segundo, intrapsíquico. Segundo Vygotsky (1998, p.114),

Todas as funções psicointelectuais


superiores aparecem duas vezes no
decurso do desenvolvimento da criança. A
primeira vez nas atividades coletivas, nas
atividades sociais, ou seja, como funções
interpsíquicas; a segunda, nas atividades
individuais, como propriedades internas do
pensamento da criança, ou seja, como
funções intrapsíquicas.

Segundo o Censo Escolar realizado pelo Instituto


Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP) em 2019, 71,4% das crianças
matriculadas na Educação Infantil atendidas em creches e
Pré-escolas da rede pública de ensino, o que corresponde
a 8.972.778 de crianças de 0 a 5 anos de idade. Isso
significa que a política de Educação Infantil constitui uma
política de cuidado, educação e bem-estar social
promovida majoritariamente pelo Estado.
Devido ao distanciamento social, as crianças não
estão frequentando a escola, espaço essencial para o
desenvolvimento da aprendizagem. A Ausência desse
suporte educacional ou o ensino fragmentado “
distância” e/ou “remoto”, vem se constituindo um fator de
risco no desenvolvimento das crianças. O acesso aos

101
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
bens e produções culturais bem como, as narrativas e
saberes da humanidade com o ensino de forma não
presencial está sendo negado a esses sujeitos.
Além disso, garantir saúde e alimentação além das
fronteiras escolares tem sido desafiador para muitas das
famílias que se viram sobrecarregadas. Tendo que
trabalhar fora, ajudar os filhos em atividades escolares
remotas convivendo com o medo de serem contaminadas.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma Pesquisa de Campo com caráter


qualitativo, partindo da ideia de que a teorização dos
dados pressupõe o confronto da abordagem teórica com a
investigação de campo.
Para a coleta de dados foram usadas perguntas
virtuais através de whatsapp onde as crianças
respondiam por meio de áudios. Essa técnica partiu da
necessidade de prezar pela segurança do pesquisador e
dos entrevistados.
A escolha da cidade de Matina como campo de
pesquisa se deu justamente por ser a cidade onde resido
e trabalho como professora de Educação Infantil.
A pesquisa foi realizada no mês de novembro de
2021 com onze crianças de 4 e 5 anos da Pré - escola da
Sede e Zona Rural do município.

3 ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS/DISCUSSÃO

Segue abaixo alguns dados da Pesquisa de Campo


realizada na cidade de Matina interior da Bahia sobre os
102
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
medos das crianças no contexto da pandemia. Das
crianças entrevistadas a maioria delas já completaram 5
anos.

O Gráfico representa o percentual de crianças


entrevistadas da Sede e Zona Rural do município.
Entretanto, o mesmo gráfico demonstra que há uma
quantidade maior de crianças infantis da Sede do
município.
Porém, ressalta-se que, a pesquisa foi realizada de
forma virtual e muitas famílias da Zona Rural não tem
acesso à internet, justificando a quantidade menor de
crianças infantis correspondendo aos aspectos da área
da Zona Rural que participaram da pesquisa. Esta
informação também, nos leva a refletir sobre o município
ser um território predominantemente agrícola, como boa
parte dos municípios baianos.

103
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

Através de conversas feitas pelo whatsapp, foi


lançada a seguinte pergunta para os entrevistados: Na
pandemia você teve medo de quê? O que você não pode
fazer?
A seguir, uma tabela com a transcrição das falas de
algumas crianças que participaram da pesquisa. Os
nomes são reais porque as famílias autorizaram a
divulgação.

Elias – Tenho medo de pegar coronavírus e perder


5 minha família. Não pude ir para a escola
anos brincar com os colegas.
Jonas – Não posso ir para a escola porque estou com
Gabriel – medo do vírus.
4 anos
Maria Meu pai está doente, não posso deixar ele
Cecília só. Vou fazer a atividade dentro de casa
-4anos mesmo.

104
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Sofia – Ficava com medo quando as pessoas
5 encostavam em mim sem máscara. Fiquei
anos com medo de minha avó pegar covid. Fiquei
preocupada e triste quando minha irmã
pegou covid. Sinto falta da escola e de meus
coleguinhas.
Davi Eu estou com saudade da escola, eu
Felipe – brincava muito mais. Com a pandemia eu não
5anos vou mais, tem que usar máscara. Quando
meu pai pegou covid fiquei com medo dele
morrer aí fiquei 15 dias com minha mãe
isolada
Gleice Estou sentindo falta da escola, estou com
Kelly – vontade de estudar, aqui em casa a gente
5anos. não aprende nada. Eu queria voltar para a
escola.

Nota-se nas falas dos entrevistados o medo de


contaminar e também uma preocupação em perder entes
queridos. Alguns chegam a relatar a necessidade do
isolamento e medo de aproximar das pessoas, medo do
contato físico, o desejo de ficar próximo de alguém da
família com comorbidade. As atividades escolares são vistas
como uma segunda opção, quando o mais importante é
preservar a vida daquele que ama.
Diante desse cenário, a criança foi exposta a
situações de estresse na idade em que ocorre o
desenvolvimento das estruturas e circuitos cerebrais e a
aquisição de capacidades fundamentais que permitirão o
aprimoramento de habilidades futuras mais complexas, que
105
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
pode comprometer o desenvolvimento integral saudável.
Estudos demonstram o efeito do estresse nocivo
no cérebro em desenvolvimento, podendo alterar a
formação de circuitos neuronais, comprometer o
desenvolvimento de estruturas como o hipocarmo (região
cerebral essencial para a aprendizagem e memória).
De acordo com Branco e Linhares (2018), o
estresse tóxico pode causar hiperatividade nos circuitos
neuronais que controlam as respostas de medo,
provocando uma interpretação no cérebro de ameaça,
que pode levar a respostas de agressão como defesa.
Desse modo, ao associar as falas das crianças no
contexto da pandemia com os estudos realizados sobre
desenvolvimento do cérebro infantil, pode se afirmar que
famílias e escolas estão sujeitos a se depararem com
grandes desafios pelo frente. Especialmente, no que diz
respeito ao desenvolvimento integral das crianças de
forma saudável, uma vez que, os medos, angústias,
perdas de entes queridos, são fatores que estão sendo
vivenciados nos lares de muitas famílias, podendo refletir
na saúde mental e aprendizagem das crianças.
Outro ponto pertinente na fala das crianças diz
respeito à falta que a escola faz e não poder rever os
coleguinhas e a vontade e desejo de brincar e interagir.
As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil
consideram as interações e a brincadeira como eixos
estruturantes da prática pedagógica.
Na BNCC a etapa da Educação Infantil é referenda
por essa diretriz ao descrever os eixos como experiências
nas quais as crianças podem construir e apropriar-se de
conhecimentos por meio de suas ações e interações com
106
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
seus pares e com os adultos, com os objetos e a
natureza, possibilitando aprendizagens, desenvolvimento
e socialização.
Nesse sentido, o afastamento da sala de aula e o
Ensino Remoto na Educação Infantil vão de desencontro
as Diretrizes Curriculares Nacionais e a Base Nacional
Comum Curricular. Um grande número de famílias sequer
conseguiu manter contato com os professores devido à
falta de acesso à internet. Para muitas crianças, o Ensino
Remoto resumiu em um amontoado de tarefas (atividades
mecânicas) que eram entregues às famílias e devolvidas
para a escola.
Alguns estudantes chegaram a relatar em suas
falas que em casa não estava aprendendo nada e que
precisava voltar para a escola. Esse relato justifica o
despreparo e a falta de conhecimento de algumas
famílias para auxiliar os filhos nesse processo de
aprendizagem, além das grandes perdas de
aprendizagens significativas que acontecem na interação
com o outro sobre a supervisão do professor.
O Ensino a distância na Educação priva a criança
de experiências concretas em um espaço coletivo. Esse
tipo de ensino segundo Holmes (2020) pode constituir um
fator de risco ao desenvolvimento das crianças.
Vale ressaltar que durante a pandemia outros
setores além da escola também não funcionaram de
forma presencial, dificultando cada vez mais a situação de
famílias e aumentando o índice de desemprego, violência
doméstica e fome, colocando as crianças e cuidadores
em situação de estresse tóxico.
Desse modo, quando o cuidador não está bem ou
107
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
o ambiente familiar é conflituoso, tende a transmitir para a
criança essa carga negativa que refletirá na
aprendizagem.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos levantamentos teóricos sobre


desenvolvimento infantil, aprendizagem na Educação
Infantil, Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Infantil e Ensino no Contexto da Pandemia, com a
tabulação de dados da Pesquisa de Campo realizada com
crianças e de quatro e 5 anos da cidade de Matina sobre
os medos durante a pandemia e o que elas não puderam
fazer.
Percebe-se que, os medos, estresses e isolamento
nessa fase podem acarretar problemas emocionais nas
crianças, uma vez que, nessa fase de crescimento a
estrutura cerebral é altamente receptiva e a ausência de
estímulos ou a ocorrência de estímulos negativos, podem
deixar marcas duradouras e afetar diretamente a
aprendizagem e a memória.
Os sujeitos entrevistados nesta pesquisa
demonstraram medo de voltar à escola, embora esteja
sentindo falta desse espaço de interação e lugar de
brincadeiras; medo de perder entes queridos, medo da
proximidade física e desejo de socialização.
Desse modo, é preciso pensar em situações de
como cuidar em tempos de crise; como garantir
alimentação, saúde e educação além das fronteiras
escolares; como cuidar de quem cuida e o que as
instituições escolares estão planejando para um retorno
108
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
que garanta acima de tudo a escuta das crianças, o
acolhimento, equipes multidisciplinares para acompanhar
tanto as crianças quanto as famílias em situação de
vulnerabilidade.

REFERÊNCIAS

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Psicologia. Campinas, 2018.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional


Comum Curricular. Brasília, 2018.

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Experiências singulares e coletivas
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110
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

SENTIDO DA VIDA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR EM


TEMPOS DE PANDEMIA: UMA ABORDAGEM DE
LOGOTEORIA

Silvano Andresso Guedes da Silva10


Luciane Infantini da Rosa Almeida11

Resumo: A pandemia de Covid-19 que se instalou no Brasil


desde o início de 2020 exigiu a adoção de rígidas medidas
sanitárias para sua contenção. Dentre elas, foi estabelecido o
distanciamento social em várias partes do país. O isolamento
social e o lockdown trouxeram várias consequências
psicológicas para a população, tendo extensão de prejuízos
para o desenvolvimento ao longo dos anos. A Logoterapia, que
tem como tríade conceitual: a liberdade da vontade, a vontade
de sentido e o sentido da vida, é uma abordagem psicológica
que pode contribuir para o enfrentamento dessas
consequências psicológicas experimentadas pelas pessoas em
diferentes contextos no pós-pandemia. Tendo em vista que o
contexto educacional foi bastante afetado pelas medidas
restritivas que precisaram ser adotadas na pandemia, o
presente trabalho objetivou compreender como os conceitos
fundamentais da abordagem da Logoterapia podem contribuir
10
Graduado ( Instituto de Educação Superior de Brasília - IESB), pós
graduando em logoterapia (UNILIFE) , Psicólogo Clínico (CRP
01/24292). Lattes:http://lattes.cnpq.br/2250934803578701
E-mail: silvanoandresso@gmail.com.
11
Psicóloga (UFES), pós graduada em psicopedagogia (FDV) pós
graduanda em Logoterapia (UNILIFE), Mestre em Educação (UFES),
Doutora em Serviço Social (UERJ), Doutoranda em Psicologia
(UFES). Psicóloga clínica. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/9914583938758306.
Email: luciane.infantini@gmail.com

111
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

no campo da educação superior, especialmente para os


desafios enfrentados pelos docentes. O método de revisão
bibliográfica foi exploratório-reflexivo. Na apresentação dos
resultados apresenta-se um panorama geral e breve sobre a
situação da docência superior brasileira na realidade da
pandemia e, em seguida, os pilares da logoterapia como
abordagem para superação de algumas dificuldades
encontradas no campo proposto.

Palavras chaves: Logoterapia. Educação superior. Pandemia

INTRODUÇÃO

No final do ano de 2019, foi detectada na China


uma nova cepa do Coronavírus, causador da COVID-19,
uma doença infecciosa cujos sintomas podem variar de
um resfriado, uma síndrome gripal até uma pneumonia
severa, que pode levar à morte. A alta taxa de
transmissão do vírus e o crescente número de mortes em
nível global, fez com que a Organização Mundial da
Saúde (OMS) declarasse uma situação de emergência de
saúde pública de importância Internacional (ESPII). Após
essa declaração, no dia 11 de março de 2020,
caracterizou-se a Covid-19 como uma pandemia
(BEZERRA et al., 2020).
Diante desta situação pandêmica, houve a
necessidade de se aplicar medidas econômicas, políticas,
sociais e sanitárias, com o objetivo de manter o
distanciamento social para evitar ao máximo a sua
transmissão e propagação viral. Uma dessas medidas foi

112
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

a suspensão das aulas presenciais nas instituições de


nível superior tanto no Brasil quanto no mundo, e a
adoção de estratégias de ensino online (SANTOS et al.,
2021).
Tal medida foi necessária para evitar a evasão dos
estudantes e para conseguir cumprir o calendário
acadêmico e as atividades planejadas para o semestre.
Logo, com essa nova medida cautelosa, estudantes e
profissionais da educação, tiveram que se adequar ao
estilo de aulas híbridas, o que resultou em muitos
desafios para que as aulas continuassem e a qualidade
de ensino não fosse afetada. Embora os professores de
ensino superior e as coordenações de cursos buscassem
realizar as aulas remotas da melhor forma possível diante
das limitações impostas, sabe-se que a transição entre
essas modalidades de ensino tornou-se um desafio por
diversos fatores.
A necessidade de adaptação, às exigências de
inovação e criatividade em um curto período de tempo,
assim como as cobranças sobre o rumo a se tomar para
garantir a continuação do ensino de qualidade em meio
virtual, trouxe aos professores medo, incertezas e
dúvidas. A migração para as aulas em meios híbridos
acarretou em mais horas trabalhadas, mais exigências em
relação de como o conteúdo das matérias seriam
passadas, sem perder a qualidade nas aulas presenciais
e a adaptação às diversas ferramentas tecnológicas
foram alguns dos desafios que os professores tiveram
que enfrentar nesse período (SANTOS Et al., 2021).
Diante disso, diversos desses profissionais da
113
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
educação superior vêm adoecendo mentalmente em
função da pressão e das exigências colocadas sobre eles,
para se adaptarem a um novo formato de ensino nesse
períodode pandemia.
Diante deste cenário, o presente estudo tem por
objetivo principal contribuir para a discussão sobre os
desafios da educação superior no Brasil durante a
pandemia sob a perspectiva da logoterapia. Para
responder o objetivo geral, estabelecemos objetivos
específicos: (a) identificar as vulnerabilidades de
professores do ensino superior (b); interpretar os valores
em logoteoria e sua aplicabilidade no ensino superior em
tempos pandêmico e pós-pandêmico; (c) demonstrar que
no contexto da educação superior mesmo em situações
de risco é possível encontrar um sentido de vida através
otimismo trágico.
Para alcançar os resultados buscamos uma
explicação teórica do pai da logoterapia Viktor Emil Frankl
(1905-1997) e suas concepções acerca do sentido,
valores e o otimismo trágico. Neste artigo será utilizado o
termo logoteoria para referir-se a teoria da logoterapia, já
que esta última tem sido mais associada à prática clínica.
A partir de uma ação crítico-reflexiva em busca de
reflexões acerca das vivências dos professores do ensino
superior diante da COVID-19.

2 METODOLOGIA

Adotou-se a pesquisa bibliográfica como


procedimento metodológico principal de levantamento de
informações. “O problema que norteou a presente
114
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
pesquisa consistiu no seguinte questionamento: como a
logoterapia poderia propor uma solução possível de
enfrentamento diante dos desafios do ensino superior
durante a pandemia?”
Serviram como fontes a Biblioteca Digital Brasileira
de Teses e Dissertações, o Banco de Teses da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes) e o SciELO. A pesquisa se organizou
ao redor das palavras-chaves “professores, pandemia e
logoterapia”. Em nenhuma das três plataformas foram
encontrados resultados ao pesquisar as três palavras
chaves juntas. Diante disso, foi preciso intercalar as
palavras chaves para encontrar os resultados que mais se
aproximavam com o objetivo da pesquisa.
O próximo passo foi ler os títulos, resumos e
palavras-chave, de seus correspondentes, de modo a
contemplar diferentes modalidades de trabalhos. Foram
analisados trabalhos publicados entre 2020 a 2022. O
conjunto de materiais encontrados nos fez organizar sua
divisão em três agrupamentos.
No primeiro, reunimos pesquisas que oferecem um
panorama geral sobre educação superior e pandemia. Em
seguida enveredamos pelos estudos que se debruçaram
sobre a problemática da logoterapia e educação superior.
Por último, faremos uma reflexão sobre o otimismo trágico
diante da vulnerabilidade dos professores do ensino
superior.

3 ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS/ DISCUSSÃO

3.1 Vulnerabilidade da docência no ensino superior


115
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
diante da COVID-19

A vulnerabilidade psicológica, nesse período de


pandemia, está sendo claramente um fator de risco para a
doença mental. Essa vulnerabilidade, em parte, decorre
de fatores econômicos - muitas pessoas perderam seu
emprego devido à crise econômica.
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2002) sugere uma
atenção especial também para as condições de
insegurança no emprego, pois se entende que o
surgimento de novas formas de adoecimento mal
caracterizadas como o estresse, a fadiga física e mental e
outras formas de sofrimento em relação ao trabalho tem
uma grande relação com os processos de reestruturação
da produção. Além disso, a transição para o trabalho
remoto, indicada pelo Ministério da Saúde, trouxe
desafios que impactam na saúde mental dos
trabalhadores. Isso pode trazer dificuldades em manter e
organizar uma eficiente rotina, pois é um só local para seu
ambiente de trabalho e para sua vida pessoal.
No caso específico dos professores universitários,
sobretudo os ligados à instituições privadas, o trabalho
remoto, além de trazer esse desafio de se separar tempo
de lazer com tempo de trabalho trouxe, ainda, desafios
como: apropriar-se de tecnologias virtuais não antes
utilizadas em um curto período de tempo; garantir a
qualidade das aulas em um novo formato de ensino;
redução drástica de carga horária e de salários já que
muitos alunos trancaram a matrícula ou desistiram da
faculdade por não se adaptar ao modelo de aulas
remotas; metas e prazos difíceis de serem cumpridos
116
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
visto todas as mudanças ocorridas; ser resiliente e
adaptar-se a todas as mudanças em seu modo de ser
professor no contexto da pandemia.
Falar sobre a vulnerabilidade da docência no
ensino superior, portanto, diante da COVID 19, implica,
necessariamente, em uma atenção às manifestações de
sintomas de esgotamento e de excesso de trabalho dos
docentes de ensino superior. É de suma importância que
os seus superiores sejam empáticos e procurem novas
maneiras de proporcionar um tempo de trabalho de
excelente qualidade, buscando evitar a jornada excessiva
de seus professores.
Além de diminuir os riscos trabalhistas de ordem
moral e material, é importante também evitar que os
professores fiquem doentes por terem de alguma forma,
desenvolvido problemas relacionados à grande pressão
de seus superiores mediante a imposição de metas altas
e abusivas (DA SILVA, 2006). Diante disso, quais as
contribuições da logoteoria?

3.2 Logoteoria e a educação superior

Nos materiais analisados evidencia-se um conjunto


de conceitos, ideias e valores implícitos que mostram como
a logoterapia pode ser utilizada como alternativa de análise
da conjuntura atual. Isso porque tal abordagem propõe
quais as ações do sujeito estão ligadas às suas escolhas,
associando sua capacidade de tomada de consciência e
adoção de valores em cada situação para que, a partir de
então, adote uma atitude positiva e criativa perante os
desafios da vida na educação superior. Sobre a questão da
117
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
escolha, Frankl afirma (2011, p. 26 - 30) que:

“[...] o homem não é livre de suas


contingências, mas, sim, livre para tomar
uma atitude diante de quaisquer que sejam
as condições que sejam apresentadas a
ele". O autor se posiciona diante de
qualquer reducionismo de ordem biológica,
sociológica ou psicológica. Frankl (2011)
conceitua assim “[...] alguém que não mais
vê a floresta da verdade, optando por
enxergar apenas as árvores dos fatos” (p.
30).

O professor não se via livre diante de todo o


sofrimento que a covid-19 trouxe, mas dependendo da
atitude que poderia tomar, poderia encontrar um sentido e
realizar valores, entendendo que o sofrimento que há
nesta caminhada é pertencente à condição humana.
Partindo de uma reflexão realista de mundo, e
percebendo que ninguém está isento de vivê-la, e que,
dependendo da forma com que se enfrenta esta causa,
poderá ser norteado o campo da saúde e dos modos de
existir. Para Frankl, o ser humano:

[...] é um ser capaz de refletir sobre si


próprio. [...] O homem como um ser capaz
de distanciar-se de si mesmo, deixando o
plano biológico e do psicológico e
atravessando o espaço do noológico
[espiritual]. Essa dimensão especificamente
humana, que nomeei de noológica, não é
acessível a um animal (FRANKL, 2020,
p.23).

Sobre a adoção de valores afirmados em cada


118
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
situação, vale destacar que para a logoterapia, o ser
humano encontra sentido da vida ao realizar valores:
vivências criativas e atitudinais. Os valores vivenciais são
realizados na medida em que o indivíduo vive plenamente
suas experiências, experimentado algo ou encontrando
alguém. Os valores criativos são realizados na medida em
que a pessoa usa sua criatividade para deixar algo no
mundo. Já os valores atitudinais representam uma atitude
tomada diante de algo inevitável e trágico, trata-se do
enfrentamento das situações de vida (FRANKL, 1991).
Nesse sentido, é possível compreender que a
experiência da docência pode propiciar a realização de
valores, segundo a perspectiva da logoteoria. Os valores
vivenciais podem ser realizados na própria relação com o
fazer cotidiano do professor - é possível tal realização
pessoal com a docência - ou na relação com os alunos.
Os valores criativos dizem respeito ao uso da
criatividade do professor ao propiciar estratégias para
que seus alunos se desenvolvam e aprendam. Os valores
atitudinais, por sua vez, dizem respeito à capacidade de
enfrentamento de situações adversas, ou seja, que
atitude tomar diante de cada situação? Os valores
atitudinais, assim como os demais, quando vivenciados
pela pessoa, trazem grande realização apesar das
condições vividas.
Além disso, os trabalhos que abordam
mais profundamente as questões logoteoria e
intersecções na educação superior, afirmam que apesar
da pandemia, sofrimento ou prováveis condicionantes há
uma liberdade e também uma responsabilidade (SILVA et
al., 2021).
119
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Desse modo, evidenciam um conjunto de
conceitos, ideias e valores implícitos que, entende-se que a
logoterapia pode ser utilizada como alternativa de análise
da conjuntura atual (LUNA et al., 2021). Isso porque essa
abordagem propõe que as ações do sujeito estão ligadas
às suas escolhas, associando sua capacidade de
tomada de consciência e adoção de valores em cada
situação para que, a partir de então, ele adote uma atitude
positiva e criativa perante os desafios da vida na educação
superior.

3.3 O otimismo trágico na educação superior

O otimismo trágico é um processo de


enfrentamento que busca, apesar das circunstâncias
"problemáticas" (dor, culpa e morte), levar uma pessoa
em sofrimento a continuar otimista diante de situações
difíceis, buscando transformar o sofrimento em realização
humana (FRANKL, 1991). Nesse campo, há uma tentativa
de, a partir da culpa, possibilitar a chance de mudar para
melhor.
Diante de todas as transformações ocorridas a
partir da pandemia uma pergunta importante colocou-se
diante de cada pessoa, mesmo que de forma
inconsciente: “como conservar o sentido apesar dos
aspectos trágicos e traumáticos?”.
Segundo a Logoterapia, para responder esse
questionamento, percebe-se que apesar das
circunstâncias difíceis, quanto maior o sentido da vida,
menor a força de expressão da depressão (LUNA et al.,
2021). A partir dessa constatação pode-se propor que é
120
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
possível manter a esperança como um sentimento
potencial, associado às experiências do amor e da fé,
para a superação de situações difíceis e desafiadoras no
espaço e na atuação educacional.
Contudo, da mesma forma que através da tríade
trágica pode-se encontrar um sentido de vida também se
pode sofrer de um vazio existencial que, para Frankl
(1991) é um sentimento de falta de sentido e, como
consequência, traz elementos da tríade da neurose de
massa (depressão, dependência química e agressão)
(SILVA, et al, 2021).
Segundo os autores, a falta de entusiasmo pelas
atividades acadêmicas demonstra um vazio existencial ao
não perceber o tanto de sentidos a realizar diante da
situação. É certo que não precisa de sofrimento para
encontrar um sentido, mas saber que tem como encontrar
um sentido diante dessas situações que uma coisa é
passar pelas diversidades e outra coisa é passar sabendo
que tem um sentido.
Assim, apesar dos aspectos trágicos, os
professores universitários podem encontrar seu sentido
potencial. As investigações na educação superior
apresentadas figuram apenas os primeiros passos de
estudos exploratórios sobre um universo que demanda
atenção, diante das amplas perspectivas abertas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estado da arte reforça a importância de


investigações sobre a temática no campo educacional
superior, ao mesmo tempo em que oferece subsídios
121
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
provenientes de outros campos das humanidades:
pandemia, logoterapia.
Tais contribuições indicam caminhos a serem
percorridos para a compreensão de que apesar de todos
os sofrimentos que a pandemia possa causar, a pessoa
tem a capacidade de tomar uma atitude valorativa diante
das necessidades, encontrando, na busca do sentido, a
razão de seu continuar a existir.
Desse modo, é possível perceber que as
vulnerabilidades enfrentadas pelos profissionais da
educação superior podem ser reduzidas a partir do uso de
estratégias e conceitos da logoterapia, o que não exclui, é
fato, a responsabilidade das instituições de ensino
superior. É necessário, por parte dos empregadores, um
olhar de atenção e cuidado para amparar a rotina de
trabalho desses profissionais, bem como as condições de
trabalho.
Nesse sentido, mais estudos científicos devem ser
realizados com esse propósito, para que se efetuem no
cotidiano escolar condições de saúde de forma global e
qualidade de vida.
Vale destacar que o panorama da produção
científica acerca do tema aponta para pesquisas de cunho
mais exploratórias e descritivas que pouco aborda
questões de enfrentamento das condições adversas em
situações de pandemia ou quaisquer outras situações de
crise.
Assim, a logoteoria é uma abordagem capaz de
trazer um efeito positivo no enfrentamento das
experiências psicológicas difíceis trazidas pela pandemia,
uma vez que cada indivíduo pode desenvolver uma forma
122
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
única de ser no mundo, buscando lidar e superar suas
crises e incertezas por meio da busca de valores.

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BEZERRA, A. C. V., SILVA, C. E. M. D., SOARES, F. R.


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19 de Fevereiro de 2002. Brasília, 2002.

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123
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
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Sá Barreto, B. C., de Almeida, P. H. T. Q., & PONTES, T.
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COVID-19: ensino remoto emergencial e saúde mental de


docentes universitários. Revista Brasileira de Saúde
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SEVERINO, A. J. Metodologia científica. São Paulo:


Cortez, 2007.

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Disponível
em:<https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/11690
>.

124
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

A REORGANIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO ESCOLAR


EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19

Rejane Josefa de Santana12


Rozenita Iraci Pereira13

Resumo: A pandemia da Covid-19 impactou o campo


educacional e os reflexos foram observados imediatamente
devido à necessidade do isolamento social e a suspensão das
aulas presenciais. Esta pesquisa tem como objetivo analisar
como os professores reorganizaram o planejamento escolar
diante da pandemia da Covid-19. A pesquisa de caráter
quantitativa, com amostra de 2 professores a metodologia
aplicada foi com procedimentos bibliográficos, documentais e
pesquisa de campo com abordagem quantitativa, descritiva em
gráficos. Como coleta de dados utilizou-se questionários
semiestruturados sobre a temática, assim foram entregues
questionários. A análise dos dados foi feita a partir da
descrição dos questionários aos entrevistados. Os resultados
mostra que os professores precisaram reorganizar seu
planejamento adequando para serem ministrados em aulas
remotas, mesmo assim a participação dos alunos não era
12
Pedagoga pela Universidade Estadual Vale do Acaraú, Pós-
graduação em Psicopedagogia pela Faculdade Escritor Osmar da
Costa Lins – FACOL, Mestre em Ciências da Educação pela
Universidade Gama Filho, Doutora em Ciências da Educação pela
Universidade Francis Xavier, professora da Rede Municipal de Ensino
do Município de Cumaru-PE.
13
Pedagoga pela FAFICA – Faculdade de Filosofia Ciências e Letras
de Caruaru – PE, Pós-graduada em Psicopedagogia pela Faculdade
Escritor Osmar da Costa Lins – FACOL, professora da Rede
Municipal de Ensino do Município de Cumaru-PE.

125
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas

100%. Concluiu-se que o ensino remoto abalou as estruturas


do ensino e promoveu uma inquietação significava dos
docentes em relação às metodologias e as novas tecnologias
no ambiente de sala de aula.

Palavras-chaves: Planejamento Escolar. Aulas Remotas.


Tecnologias.

INTRODUÇÃO

Nos dias atuais a educação brasileira dispõe de um


cenário redirecionado a aplicação da tecnologia em sala
de aula remota devido à pandemia da Covid-19. Logo, as
ferramentas de ensino que eram utilizadas em salas de
aula tradicionais, tais como o caderno e o quadro branco,
deixaram de seremos principais recursos dos professores
passando por mudança repentina.
Dessa forma houve a necessidade de adapta-se a
outros recursos tecnológicos que não faziam parte do
cotidiano escolar, dentre estes estão, celular, notebook,
tablet e smartphone. O interessante é que neste período
de pandemia todos os professores passaram a ver os
recursos não pedagógicos como recursos indispensáveis
a atual conjuntura escolar, respeitando assim as normas
de exigências de saúde pública.
Conforme consta nos registros do Ministério da
Saúde de 2020, foi identificado o primeiro caso de COVID-
19 no país. Em consequência da velocidade de infecção
do vírus, estados e municípios estabeleceram medidas de
segurança para que a propagação do vírus fosse

126
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
combatida. Aderindo a recomendação mundial, a medida
de isolamento foi tomada na maioria dos estados
brasileiros, decretando o fechamento de serviços que
eram considerados “não essenciais”.
Logo, as aulas presenciais das escolas de ensino
regular foram suspensas não podendo ter as aulas
presenciais passaram a ser remotas, seguindo os
horários do presencial, mas feitas por plataformas digitais.
Em meio a tudo isso os professores participaram
ativamente de todas as mudanças acarretadas por conta
da pandemia, para que as aulas continuassem
acontecendo.
Com o olhar voltado ao professor, refletindo sobre
o momento e as dificuldades, principalmente a
insegurança no uso da tecnologia e a preocupação se os
alunos estavam conseguindo aprender de maneira
remota. Mesmo no ensino a distância e de maneira
remota, cabe ao professor desenvolver um planejamento
voltado ao ensino efetivo.
Diante do exposto, essa pesquisa tem como
objetivo principal analisar como os professores
reorganizaram o planejamento escolar diante da
pandemia da Covid-19.
A metodologia utilizada foi com procedimentos
bibliográficos, documentais e pesquisa de campo com
abordagem quantitativa, no intuito de analisar como os
professores reorganizaram o planejamento escolar diante
da pandemia da Covid-19.
O instrumento usado para a coleta de dados foi um
questionário direcionado aos alunos da escola campo de
pesquisa. A base metodológica foi à pesquisa
127
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
quantitativa, realizada através de questionários
semiestruturados, que foram aplicados em nível de
alunos.

1 O USO DO WHATSAPP COMO FERRAMENTA NO


ENSINO REMOTO

Durante o período da pandemia da Covid-19 foi


suspensas as aulas presenciais, com isso houve-se a
necessidade de implantar o ensino remoto para que os
estudantes prosseguissem nos estudos, suspeitou-se que
alguns estudantes não tinham acesso a esse ensino de
forma igual, devido à falta de equipamentos ou Internet
que suprissem a necessidade.
O ensino remoto é uma alternativa para que
aconteça a educação escolar no período da pandemia,
em que as aulas presenciais são substituídas por aulas
ao vivo (on-line) ou gravadas nos dias e nos horários
combinados. Essas aulas são construídas pelos
professores, tendo como referência o que já se sabe dos
estudantes para que haja interação, e possuem
calendário próprio, a partir do plano de ensino adaptado
para a situação emergencial. Segundo Almeida (2020),

é uma modalidade de educação a distância


realizada via internet, cuja comunicação
ocorre de forma sincrônica ou
assincrônicas. Tanto pode utilizar a internet
para distribuir rapidamente as informações
como pode fazer uso da interatividade
propiciada pela internet para concretizar a
interação entre as pessoas, cuja
comunicação pode se dar de acordo com
128
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
distintas modalidades comunicativas
(ALMEIDA, 2020, p. 332)

Assim a educação on-line realizada a partir das


aulas remotas permite uma interação entre o professoreo
estudante, possibilitando certa semelhança com as aulas
presenciais. Logo esse docente planeja sua prática
baseando-se na realidade e nos contextos já conhecidos,
com atividades e exercícios específicos, de forma que o
processo de ensino e aprendizagem seja mais voltado
para as vivências e experiências dos estudantes, sem
deixar de lado o conhecimento construído historicamente.
O ambiente digital de aprendizagem escolhido na
maioria das escolasfoi o Whatsapp. Este, de acordo com
seu site oficial, é utilizado por “mais de dois bilhões de
pessoas, em mais de 180 países”.“O Whatsapp é gratuito
e oferece um serviço de mensagens e chamadas simples,
seguro e confiável para celulares em todo o mundo”
(WHATSAPP, 2021).
Portanto, ele é bastante difundido, por ser gratuito
e de fácil manuseio. Sendo assim, o Whatsapp deixa de
ser um instrumento desconexo da realidade educacional e
passa a ser uma ferramenta primordial no contexto
educacional, principalmente durante a pandemia.
Segundo Coutinho (2016):

O ato de usar o smartphone para abrir o


aplicativo Whatsapp “poderá não ser mais
traduzido” como uma ação disruptiva na
sala de aula, podendo ser vista como uma
ação educacional, desde que este aplicativo
seja inserido no cotidiano escolar como uma
ferramenta educacional, e não mais visto
129
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
como o inimigo do professor (COUTINHO,
2016, p.71)

O aplicativo Whatsapp apresenta vantagens e


desvantagens enquanto ambiente digital de ensino;
entretanto, para a realidade pesquisada e vivenciada em
questão, ele adequa-se melhor, mas, para demandas de
outras realidades, pode ser considerado limitante, devido
às poucas possibilidades de inovação.
Entende-se que as vantagens como maior
interatividade, aumento da motivação, e, principalmente, a
possibilidade do contato aluno-aluno e aluno-professor
para além dos muros da instituição de ensino, facilitando
o intercâmbio de saberes são maiores do que as
desvantagens.
Todavia, para o uso adequado, “faz-se necessário
ter cautela e pensar em como realizar o planejamento,
evitando distração, dificuldades no acompanhamento do
fluxo de mensagens, para que os propósitos educativos
sejam atingidos”(COUTINHO, 2016, p. 33).
A aproximação dos/as estudantes com o Whatsapp
proporciona melhor usabilidade, mas também pode
provocar distrações; ademais, ele não é uma ferramenta
educacional, e sim uma rede social de contato e interação
entre as pessoas para além da escola, o que pode
ocasionar desatenções e outras ações paralelas,
enquanto as aulas e os encaminhamentos das atividades
são realizados. Por isso, o (re) planejamento é
fundamental em todo tipo de ensino, mas no ensino
remoto sua importância é maior.

130
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
1.1 O Planejamento do Ensino Remoto

Como ponto de partida o planejamento passou a


ser obrigatório nas escolas brasileiras, a partir da década
de 60, representado em um quadro dividido em colunas,
contento tais itens: conteúdos, objetivos, procedimentos,
recursos e avaliação.
Anos depois, durante o processo de
redemocratização do Brasil, surgiram novas concepções
do planejamento. Com essa nova concepção, houve a
ampliação do modo de elaborar, o que resultou na
inserção o PPP (Projeto Político Pedagógico), que seria
um planejamento pensado a realizar o proposto em longo
prazo, contendo dados da escola, as prioridades a serem
trabalhadas, atividades que devem ser realizadas e seus
objetivos que deviam ser definidos coletivamente.
Planejar é “antecipar mentalmente uma ação a ser
realizada e agir de acordo com o previsto”
(VASCONCELLOS, o 2018, p.35). Uma das
funcionalidades do planejamento escolar é atribuir sentido
na atuação docente: qual a finalidade do trabalho, o que
se faz na escola, na sala de aula, como desejaformar um
indivíduo, como irá alcançar os objetos.
O planejamento escolar é um meio de reflexão,
coordenação e sistematização do trabalho docente,
ligando a atividade escolar e o contexto social, uma ação
reflexiva a respeito das atividades em sala de aula, pois é
um instrumento que pode auxiliar os educadores a
realizar um trabalho com qualidade. De acordo com
Libâneo (2021):

131
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O planejamento escolar é uma tarefa
docente que inclui tanto a previsão das
atividades didáticas em termos da sua
organização e coordenação em face dos
objetivos propostos, quanto a sua revisão e
adequação no decorrer do processo de
ensino (LIBÂNEO, 2021, p. 221)

Assim o planejamento é um meio para se


programar as ações docentes, mas é também um
momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado à
avaliação e tem a função de racionalizar, coordenar e
organizar a ação docente, concedendo ao professor, a
escola e ao aluno um ensino de qualidade, criando uma
rotina e deixando de lado o improviso.
Evidencia concepções, procedimentos e meios do
trabalho docente que garantam junção das tarefas
escolares e as exigências do contexto social articulando
os objetivos, conteúdos, metodologias e avaliação de
maneira coerente e significativa.
Para Libâneo (2021, p. 223), “o plano é um guia de
orientação, pois nele são estabelecidos as diretrizes e os
meios de realização do trabalho docente”. Como sua
função é orientar a prática, partindo das exigências da
própria prática, ele não pode ser um documento rígido e
absoluto, pois uma das características do processo de
ensino é que está sempre em movimento, está sempre
sofrendo modificações face às condições reais.
Com o isolamento social imposto pela pandemia, o
planejamento de aulas precisou ser reorganizado. Agora,
vendo os alunos apenas por telas, o professor precisou
mais do que nunca planejar e com as implicações da
pandemia, fez com que o trabalho do professor dobrasse
132
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em relação às aulas presenciais.
O desafio foi maior principalmente quando se
tratava em planejar as aulas remotas com a utilização de
recursos digitais, em ambiente digital. A princípio, foi difícil
adaptar-se a esse formato, no plano de aula, nas aulas
remotas foi preciso registrar o tipo de atividade proposta.

2 METODOLOGIA

Esta pesquisa foi caracterizada com uma


metodologia com procedimentos bibliográficos,
documentais e pesquisa de campo com abordagem
quantitativa, no intuito de analisar como os professores
reorganizaram o planejamento escolar diante da
pandemia da Covid-19.
O instrumento usado para a coleta de dados foi um
questionário direcionado aos alunos da escola campo de
pesquisa. A base metodológica foi à pesquisa
quantitativa, realizada através de questionários
semiestruturados, que foram aplicados em nível de
alunos.
O questionário foi elaborado utilizando a escala de
perguntas semiestruturadas. Gil (2017) aponta, como
vantagens da utilização do questionário para coletar
informações, a garantia do anonimato das respostas e a
possibilidade de atingir um maior número de pessoas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante dos resultados apresentados nos gráficos a


seguir, observa-se que houve muitas dificuldades no
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acesso e no uso das tecnologias, fazendo com que o
trabalho sobrecarregasse. Já que tinha que aprender a
mexer nas plataformas, adequar o planejamento para
aulas que engajassm. Era o que mais se ouvia da
gestora, planejar aulas em que os alunos participassem, e
ainda criar materiais para usar nas plataformas.

Gráfico 1: Caracterização das professoras quando


questionadas se os alunos estavam interessados a
assistir os vídeos explicando os conteúdos e as
atividades.

Fonte: As autoras (2022)

No gráfico acima se observa que 75% dos alunos


assistiam aos vídeos e atividades postadas e 25% não
assistiam, porém quando percebeu-seque os alunos não
assistiam as aulas os professores sentiam-se tristes ao
ver todo o trabalho por trás de cada aula gravada, do
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planejamento minucioso do professor para que atingisse
seus objetos, os materiais criados para tornar lúdicas as
aulas. Como se todo o trabalho, no momento, fosse vão.
Mesmo sendo uma minoria deixava os professores
desmotivados diante de tantos trabalhos exigidos por
parte da direção da escola.

Gráfico 2: Caracterização das professoras quando


questionadas sobre o apoio da gestão escolar diante dos
recursos oferecidos para ministrar as aulas online.

Fonte: As autoras (2022)

No gráfico acima se observa que a escola oferecia


apenas a internet para que os professores pudessem dá
suas aulas, professores que não tivesse celulares ou
notebooks adequado para suportar o trabalho a ser
realizado precisou atualizar-se nas tecnologias para puder
ministras suas aulas remotas nos tempos da pandemia.

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4 CONSIDERÇÕES FINAIS

Conclui-se que o ensino remoto na prática docente


sob o ponto de vista dos professores não foi tão satisfatório
devido à participação dos alunos nas aulas online e o
suporte da instituição no processo de transição para as
aulas remotas foi bom, mas continua sendo insuficiente
para o enfrentamento de desafios tão amplos.
Percebeu-se também que alguns docentes
apresentaram dificuldade no domínio das plataformas
utilizadas para as aulas remotas. Porém observou-seque a
área de apoio mais solicitada pelos professores foi a do
suporte tecnológicos conseguindo superar essas
dificuldades para repassar suas aulas da melhor forma
possível para suas turmas.
Diante do apresentado, cabe aos professores,
refletir e debater as impossibilidades de recriação de si
enquanto profissionais, enquanto seres humanos em um
mundo em constante transformação. É preciso se
reconhecer, analisar as habilidades e competências,
encontrar suas fragilidades e buscar novas formas de
reaprender para ensinar.
Ainda há muito que se pesquisar sobre essa
temática, visto que o professor, como ser humano, está
sempre em processo de autoformação, o cuidado de si se
torna um exercício, que possibilita emergir essa
subjetividade.

REFERÊNCIAS

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Experiências singulares e coletivas

ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância na internet:


abordagens e contribuições dos ambientes digitais de
aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n.
2, p. 327-340, 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ep/v29n2/a10v29n2.pdf. Acesso
em: 16 abr. 2021.

COUTINHO, C. P. Whatsapp e suas Aplicações na


Educação: uma revisão sistemática da
Literatura/Whatsapp. Revista Educa Online, Rio de
Janeiro, v. 10, n. 2, p. 67-87, 2016.

LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2008.

VASCONCELLOS, C. S. Planejamento: Projeto de


Ensino-Aprendizagem e Projeto Político Pedagógico –
elementos metodológicos para elaboração e
realização. São Paulo: Libertad, 2000.

VASCONCELLOS, C. S. Sobre o Planejamento


Escolar: Momentos Iniciais, Projeto de Ensino-
Aprendizagem e Trabalho por Projetos. In: Gestão da
Sala de Aula. São Paulo: Libertad, 2019 (no prelo).

WHATSAPP. Sobre o Whatsapp. Menlo Park, 2021.


Disponível em: https://www.whatsapp.com/about/. Acesso
em: 10 mai. 2022.

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Experiências singulares e coletivas

EDUCAÇÃO DURANTE O PERÍODO PANDÊMICO

Valdicleia Pereira Barbosa14


Dra.Gladys Wielewski 15

Resumo: Este capítulo trata da educação em tempo de pandemia,


salientado as mudanças ocorridas por causa do avanço do COVID-
19, atingindo várias áreas da sociedade seja ela econômica, social ou
educacional. Diante do distanciamento social, medida interposta pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), as aulas presenciais foram
suspensas, tornando necessária a adoção do ensino remoto e
deixando um grande desafio para a escola e toda comunidade
escolar, a de se adaptar ao novo contexto social. O objetivo é
apresentar as ações realizadas pelas escolas por meio de
levantamentos de dados coletados pelo Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Retrata ainda, a
desigualdade escolar existente entre a classe menos favorecidas e a
mais abastada economicamente. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa com revisão bibliográfica, que possibilitou a leitura dos
autores: Valle e Marcon (2020), Alves (2020), Araújo (2012), entre
outros.

Palavras-chave: Educação-Pandemia. Tecnologia. Desigualdade.

INTRODUÇÃO

No ano de 2019, mundialmente ocorreram muitas


mudanças após o avanço do COVID-19, pois a
14
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação
PPGE/UFMT. E-mail: valbarbosa36@hotmail.com
15
Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação
PPGE/UFMT. E-mail: gladysdw@gmail.com

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propagação e a contaminação pelo vírus foram


assustadoras e letais.
Dentre essas mudanças temos as atividades
escolares, ou seja, as aulas presenciais foram suspensas
e o ensino tornou-se remoto. Nesse contexto, docentes e
discentes viram-se obrigados a se adequar a essa nova
realidade de ensino. Outrossim, evidenciou o quanto a
desigualdade está presente na educação, pois parte dos
discentes não possuíam o mínimo para acessar as aulas
remotas.
Por fim, o presente capítulo propõe algumas
considerações acerca da reflexão da educação durante a
pandemia.

1 COVID-19, TECNOLOGIA E DESIGUALDADE

Historicamente, a humanidade foi marcada por


doenças que dizimaram diferentes povos, sendo elas
epidemia (doença que, numa localidade ou região, ataca
simultaneamente muitas pessoas), ou pandemia (surto de
uma doença com distribuição geográfica internacional
muito alargada e simultânea), por exemplo, a peste
bubônica (século XIV), a cólera (século XIX), a gripe
espanhola (século XX), a covid-19 (no atual século).
A Organização Mundial da Saúde (2020), em 31 de
dezembro de 2019, foi alertada sobre vários casos de
pneumonia, que se tratava de um novo tipo de
Coronavírus em humanos, ocorria na cidade de Wuhan –

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República Popular da China. Ademais, a informação foi


confirmada pelas autoridades chinesas somente em 7 de
janeiro de 2020.
Neste contexto, a Organização Pan-Americana da
saúde (2021) afirma existir sete coronavírus humanos
(HCoVs): HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63, HCoV-
HKU1, SARS-COV (que causa síndrome respiratória
aguda grave), MERS-COV (que causa síndrome
respiratória do Oriente Médio) e o, mais recente, novo
coronavírus (que no início foi temporariamente nomeado
2019-nCoV e, em 11 de fevereiro de 2020, recebeu o
nome de SARS-CoV-2). Esse novo coronavírus é
responsável por causar a doença COVID-19.
A Organização Mundial da Saúde (2020)
meramente, em 30 de janeiro de 2020, anunciou que o
surto desse novo coronavírus institui uma Emergência de
Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), isto
é, o mais alto nível de alerta da Organização, em
concordância com o Regulamento Sanitário Internacional.
Tal ato preocupou em buscar medidas de cooperação
para coordenação global, com objetivo de interromper a
propagação do vírus.
Em 11 de março de 2020, o mundo foi informado
pela OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre a
mudança de classificação do novo coronavírus (COVID-
19) para pandemia e que não se deve à gravidade da
doença, e sim à disseminação geográfica rápida que tem
se apresentado.
Diante dos acontecimentos, a OMS instituiu
medidas que os países deveriam tomar para prevenir a
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
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contaminação da população, tais medidas são:
distanciamento físico entre as pessoas, lavagem de mãos
repetidas vezes e monitoramento térmico das pessoas em
circulação.
Com isso, a principal medida de saúde pública
preventiva adotada em vários estados e municípios
brasileiros foi o distanciamento social, com a finalidade de
conter a rápida propagação do vírus; além disso, houve
a suspensão de atendimento presencial no âmbito dos
serviços públicos, o que implicou diretamente na
suspensão das atividades escolares presenciais.
Vale ressaltar que desde 1950, alguns teóricos
desenvolveram teorias tratando do fato de que os meios
de informação e comunicação constituíam um meio
educacional onde os indivíduos estariam encantados e
atraídos em conhecer conteúdos diferentes da escola
convencional. Surge, a análise do efeito da tecnologia
sobre a sociedade e consequentemente sobre a
educação.
Ademais, Friedmann e Pocher (1977) afirmam que
as tecnologias são mais do que meras ferramentas a
serviço do ser humano, elas podem modificar o próprio
ser humano, uma vez que, interfere em seu modo de
perceber o mundo e de transformá-lo. Evidencia-se que o
uso das TICs (Tecnologias da informação e comunicação)
em sala de aula, transforme esse local um ambiente
articulador de inovações e totalmente democrático, pois,
permite que o professor e o aluno promovam ações
políticas participativas e inclusivas. Vale ressaltar que,

141
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
as tecnologias, enquanto fontes de
interação, informação, sociabilidade e
estímulo, proporcionam novas formas de
convívio, novas possibilidades de
performances e estímulos visuais, criando
novos espaços e novas formas de vivenciá-
los, alterando seus usos e significados.
(DARODA, 2012, p. 103).

Dessa forma, existirá transformação do ensino-


aprendizagem de forma a suprir a necessidade de todos
os envolvidos, por meio da interatividade.
Outrossim, a Constituição Federal de 1988, no
artigo 205 afirma que a educação direito de todos e dever
do Estado e da família, será promovida e incentivada com
a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL,
1998).
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) regulamenta o
sistema educacional brasileiro e apresenta políticas que
foram efetivadas para um processo de democratização da
educação nas escolas públicas brasileiras e traz como
obrigatoriedade do Poder Público.
Ademais, a educação é uma das entidades que
deveriam ser a base e o alicerce da sociedade, em que os
nacionais lograssem melhoria na qualidade de vida e
oportunidade para conseguir ingressar no mercado de
trabalho de forma mais digna. Assim, as escolas em meio
à pandemia na modalidade presencial adotaram,
emergencialmente, recursos de Tecnologia da Informação
e Comunicação (TIC´s) para manter o distanciamento
social, então às aulas passaram a acontecer
142
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
remotamente.
Por consequência do modelo de ensino adotado, o
remoto, durante a pandemia houve distanciamento entre
a classe menos favorecida economicamente e a
educação, já que, existe maior dificuldade na
implementação de currículos, metodologias, propostas
pedagógicas e investimentos (seja no aspecto social,
intelectual ou financeiro). Neste contexto, foi possível
perceber que a perspectiva de educação digna e que
abranja a necessidade de uma sociedade, todos os
indivíduos, está longe de ser efetivada.

2 CENSO ESCOLAR

O Ministério da Educação realiza o Censo Escolar


todos os anos, o levantamento de dados estatístico-
educacionais, juntamente com o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP), para verificar desde o número de matrículas e o
rendimento dos alunos até a infraestrutura de todas as
escolas públicas e privadas de educação básica e funções
docentes. Uma vez que, as matrículas e dados escolares
coletados são base para distribuição de recursos federais
e também para planejamento da avaliação realizada pelo
Inep esse censo é uma importante ferramenta para
compreensão da situação da educação no país e para
implementação de políticas públicas.
De acordo com o Censo Escolar da Educação
Básica (2020, pg. 15), foram registradas 47,3 milhões de
matrículas nas 179,5 mil escolas de educação básica no
Brasil, cerca de 579 mil matrículas a menos em
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Experiências singulares e coletivas
comparação com o ano de 2019, o que corresponde a
uma redução de 1,2% no total. Assim, o gráfico abaixo
representa matrículas no Brasil com dados de 2016 a
2020.
Gráfico: Número de matrículas na educação
básica, segundo a rede de ensino no Brasil entre 2016 a
2020.

Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da


Educação Básica.

Observa-se, no gráfico acima, que a educação


pública tem se a maioria dos nacionais matriculados e ao
analisarmos os anos de 2016 à 2020 existe uma redução
de 1,3 milhão de matrículas na educação básica
(referindo se aos estudantes de 4 a 17 anos, contendo a
segunda etapa da educação infantil, anos iniciais e finais
do ensino fundamental e ensino médio) e, de 2016 à 2019
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
uma redução de 1 milhão, por certo as matriculas já
estava em redução considerável antes mesmo a
pandemia.
Segundo UNICEF (Fundo das Nações Unidas para
a Infância) (2020), estima que na América Latina e no
Caribe, mais de 154 milhões de crianças, cerca de 95%
dos alunos matriculados na região, estão
temporariamente fora da escola devido à Covid-19. A
mesma entidade, alerta ainda que a situação pode ser
piorada e se estender o período pandêmico, pois
aumenta o riscode abandono escolar.
Indubitavelmente, é inquietante, saber que o
Estado tem obrigação em fornecer educação, e os pais ou
responsáveis tem a responsabilidade de matricular seus
filhos na rede regular de ensino, isso está previsto em leis
federais. Sendo disposta no artigo 55, do Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), bem como no
exercício do poder familiar conferido aos pais, conforme
disposto no artigo 22, do mesmo diploma legal, no artigo
229, da Constituição Federal e, no artigo 1.634, I do
Código Civil. Sendo assim, o que implicaria a redução de
alunos matriculados antes e durante a pandemia?
De acordo com Araújo (2012), as desigualdades,
visíveis e identificadas, que perpassam pelo sistema
educacional brasileiro, parecem não servir de parâmetro
para mudar a precária situação da educação pública no
Brasil.
Desse modo, a desigualdade social, aparece com
reincidência, o que acaba refletindo na desigualdade
escolar, não oportunizando aos estudantes as mesmas
garantias previstas em lei de acesso e permanência na
145
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
escola.
Salientando que nesse período pandêmico as
instituições de ensino obrigaram-se a interromper suas
atividades presenciais e adequaram a atendimentos
remotos, ocasionando que nem todos os estudantes tem
acesso aos meios de comunicação utilizados para
transmissão das aulas; nesse contexto, muitos
pais/responsáveis tiveram que assumir/responsabilizar
sozinhos todos os cuidados com os seus filhos, inclusive
com a educação, uma vez que, a mediação e a presença
pedagógica do professor estiveram distanciadas.
De acordo com o Inep (2021), no dia 8 de julho,
foram divulgados os resultados da pesquisa educacional
relativa à pandemia de COVID-19 no Brasil. O estudo
realizado entre fevereiro e maio de 2021, por meio de um
questionário suplementar, durante a segunda etapa do
Censo Escolar 2020, reunindo dados sobre os impactos e
as respostas educacionais decorrentes da pandemia, com
o intuito de elaborar estratégias, minimizar os impactos
da crise sanitária no ensino e na aprendizagem, a partir
dos resultados obtidos.
Por meio do Censo Escolar, 94% das escolas
contando com 168.739 pessoas responderam ao
questionário, correspondendo a 134.606 escolas públicas
e 34.133 privadas. No levantamento, 99,3% das escolas
brasileiras suspenderam as atividadespresenciais.
Consta ainda que, pouco mais de 53% das escolas
públicas e 70% das privadas mantiveram o calendário, as
demais sentiram necessidade maior de fazer adequação.
Outrossim, 98% das escolas adotaram estratégias não
presenciais de ensino, sendo 98,4% na rede federal,
146
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
97,5% escolas municipais, 85,9% estaduais e 70,9%
privadas.
Além disso, o levantamento feito pelo Inep mostra
que para dar continuidade ao trabalho durante a
suspensão das aulas presenciais, os professores
precisam realizar reuniões virtuais para planejamento,
coordenação e monitoramento das atividades.
Em suma, essa reestruturação, causada
obrigatoriamente pela pandemia, teve o objetivo de
priorizar habilidades e conteúdo específicos. Ademais,
79,9% das escolas da rede estadual e 53,7% da rede
municipal treinaram os professores para usarem métodos
ou matérias de programas não presencias.
Ainda 43,3% das escolas estaduais e 19,7% das
municipais, disponibilizaram equipamentos, como
computador, notebooks, tablets e smartphones, aos
docentes. Quanto ao acesso gratuito à internet em
domicilio, o levantamento mostra que 15,9% da rede
estadual e 2,2% da rede municipal adotaram medidas
nesse sentido.
Neste período, e-mail, telefone e aplicativos de
mensagem foram os meios de comunicação entre aluno e
professor sendo essa a estratégia mais adotada para
manter contato e oferecer apoio tecnológico junto aos
estudantes, tendo também disponíveis matérias impressos
para retirada na escola sendo a mais utilizada.
Além disso, coexiste o ensino híbrido, 21,9% das
escolas privadas e apenas 4% das escolas públicas
retornaram às aulas com a realização concomitante de
atividades presenciais e não presenciais. Vale destacar
que:
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
Híbrido significa misturado,
mesclado, blended. A educação sempre foi
misturada, híbrida, sempre combinou vários
espaços, tempos, atividades, metodologias,
públicos. Agora esse processo, com a
mobilidade e a conectividade, é muito mais
perceptível, amplo e profundo. (BACICH;
MORAN, 2015, p. 1)
Quanto à realização de aulas síncronas (ocorrem
em tempo real em que o professor e o aluno interagem,
ao mesmo tempo, em um espaço virtual), 72,8% das
escolas estaduais e 31,9% das municipais
implementaram essa estratégia. Salientando que esta
alternativa é oportuna para dar continuidade ao
aprendizado dos alunos, porém, alguns não se sentem à
vontade em falar durante a aula, ademais, participam via
chat (mensagem em tempo real) por muitas vezes
sentem-se vergonhosos ou pavorosos em abrir o
microfone e falar.
Outrossim, 28,1% das escolas públicas e 19,5%
das escolas privadas planejaram a complementação
curricular com a ampliação da jornada escolar no ano
letivo ainda de 2021. Para assegurar a aprendizagem dos
alunos nesse período pandêmico, foi proposto o “contínuo
curricular”, que permitirá que habilidades e conteúdo que
não puderam ser contemplados e precisam ser
aprofundados sejam retomados no ano subsequente.

3 EDUCAÇÃO DURANTE A PANDEMIA

A situação pandêmica é desafiadora para todos os


setores da sociedade, e também para educação, uma vez

148
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
que o sistema de ensino teve que ser reestruturado para
atender as precauções devidas para tentar conter a
proliferação do Coronavírus.
Diante disso, o Ministério da Educação, sob a
Portaria n° 343, de 17 de março de 2020, anunciou a
substituição das aulas presenciais por aulas em meios
digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo
Coronavírus - COVID-19. Por meio da portaria, o MEC
resolve:
Art. 1º Autorizar, em caráter excepcional, a
substituição das disciplinas presenciais, em
andamento, por aulas que utilizem meios e
tecnologias de informação e comunicação,
nos limites estabelecidos pela legislação em
vigor, por instituição de educação superior
integrante do sistema federal de ensino, de
que trata o art. 2º do Decreto nº 9.235, de
15 de dezembro de 2017. (BRASIL, 2020,
p.01).

Daí, professores e alunos precisaram se adequar a


uma nova forma de ensino, disponibilizado pelas
tecnologias. Tal fato foi marcado por dificuldade, pois os
professores não tiveram a formação necessária para
utilizar as ferramentas digitais necessárias, e também os
alunos não tiveram tempo para adaptar-se de um sistema
para o outro. Segundo Valle e Marcom (2020, p. 142),

a crise instaurada pela covid-19 produziu


nas escolas um cenário de muitas
mudanças. Nessa esteira, apresentamos
como um dos maiores desafios a imposição
da exigência de um novo perfil que devem
ter os professores para ministrar aulas
nesse contexto de contradições vivenciadas

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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
dentro e fora do espaço escolar.

De fato, os professores passam a viver uma nova


realidade, precisando se adaptar ao ensino remoto, que
exige que o docente possua habilidades com várias
ferramentas voltadas para o manejo tecnológico, como,
por exemplo: Google Meet, Plataforma Moodle, Chats e
Live (Transmissão ao vivo). Processo difícil para muitos
professores que não dominava e nem obteve inicialmente
orientação devida quanto à utilização das novas
ferramentas metodológicas, que mudou os recursos
manuais para as ferramentas digitais e softwares, como
blogs, Google Classroom e WhatsApp, no qual passou a
ser utilizada para compartilhar conteúdo, atividades e
tirava dúvidas a qualquer momento de seus alunos.
Indubitavelmente, os professores agora utilizam as
câmeras para dar continuidade ao ensino online, com
preparação, estudo das ferramentas digitais,
disponibilidade para tirar dúvidas e planejamento de
aulas, precisando se reinventar para continuar cumprindo
sua missão de mediar à aprendizagem dos estudantes.
Percebe-se a necessidade de repensar as práticas
pedagógicas, metodologias de ensino e os métodos
avaliativos, planejando um ensino atrativo e dinâmico para
os alunos, suscitando-os na busca pelo conhecimento
mesmo que a distância.
Em suma, para diminuir os efeitos do isolamento
social e aumentar o desenvolvimento de milhares de
alunos fora da estrutura física da sala de aula presencial,
as instituições passaram a acreditar ser possível
continuar o desenvolvimento do processo educacional
150
AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
com o apoio das tecnologias.
Segundo Alves (2020), a sugestão de educação
remota na rede pública como um todo, pode ser
percebida como um grande equívoco, pois, inviabiliza o
acesso ao conhecimento da classe social menos
favorecida economicamente, já que, muitos não
conseguem acesso às tecnologias digitais ou não
possuírem condições de moradia adequada para
acompanhar de maneira satisfatória os momentos de
aulas virtuais.
Para suprir tal problema relacionado aos
discentes que não possuem meios tecnológicos como
acesso a computadores, tablets e celulares, com sinal de
internet para assistir as aulas, a escola disponibilizou
atividades de forma impressa para buscar na escola. Daí,
segundo Alves (2020), os pais encontram várias
dificuldades para ensinar as atividades escolares,
dificultado pelo grau de escolaridade familiar,
principalmente, os pais de estudantes da rede pública.
Ocorre também, a falta de tempo e preparo das famílias
para mediar às atividades escolares com os filhos,
tornando o ensino ainda mais complexo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O período pandêmico que toda a humanidade foi


obrigada a enfrentar tem causado várias alterações em
nosso dia a dia, afetou todos os setores da sociedade,
como: economia, saúde, segurança e educação. Dentre
essas mudanças a educação tem passado por um
aumento substancial na curva de aprendizagem da
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AS INTERFACES EDUCACIONAIS EM TEMPOS DE PANDEMIA -
Experiências singulares e coletivas
cultura digital, que determinará os novos processos de
ensino e aprendizagem.
Indubitavelmente, o isolamento social, vindo da
política de distanciamento adotado para conter a
proliferação do COVID-19, professores e estudantes
submetidos à utilização de ferramentas digitais em
substituição às aulas presenciais. Outrossim, essa
perspectiva expôs a falta de formação para os
professores e o precário acesso da comunidade escolar a
recursos tecnológicos, como computadores e internet de
qualidade.
Em virtude da pandemia, ficou evidente o quanto a
desigualdade social está presente na educação, uma vez
que uns tem acesso aos meios eletrônicos, que se
tornaram os meios de aprendizagem, e outros não
possuem sequer aparelhos de comunicação.
Dessa forma, aumentou nesse período, o abismo
que existe entre as diferentes classes sociais, o que
dificultou a continuidade do processo de ensino
aprendizagem que deve ser garantido a todos, como
prevê a Constituição de 1988.

REFERÊNCIAS

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realidade. Interfaces Científicas Educação, v. 8, n. 3, pág.
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