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Universidade Federal de Sergipe

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© 2023 Autores. Direitos para esta edição cedidos à Editora UFS. Proibida a
reprodução total ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idên-
tica, resumida ou modificada, em Língua Portuguesa ou qualquer outro idio-
ma. Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
de 1990, adotado no Brasil em 2009.
Obra selecionada e publicada com recursos públicos advindos do Edital
001/2021 do Programa Editorial da UFS.
Preparação
Juliana Cecci Silva

Revisão
Juliana Cecci Silva e Manuela Oliveira de Jesus

Projeto Gráfico, Diagramação e Capa


Alisson Vitório de Lima

Iconografia da obra
Vinícius Dantas Andrade. Elemento ilustrativo central da capa, da página 6
e página 7.

Alisson Vitório de Lima. Ilustrações autorais associadas com elementos grá-


ficos produzidos em ferramentas gerativas de imagem.

Ficha Catalográfica
Biblioteca Central – UFS

Música vegetal brasileira [recurso eletrônico] : apren-


dendo e ensinando Botânica por meio da música po-
M987
pular / Vinícius Dantas Andrade ... [et.al.]. – São Cris-
tóvão, SE : Editora UFS, 2023.

71 p. : il.

ISBN 978-85-7822-715-9

1. Botânica – Estudo e ensino (Ensino fundamental). 2. Ensino


– Metodologia. 3. Musica popular – Brasil. 4. Regionalismo na
música. I. Andrade, Vinícius Dantas.

CDU 58:37.02:784.4(81)
Sumário

Introdução 9

Método do Arco 12

Análise 15

(EF07CI07) 18

(EF07CI08) 26

(EF08CI07) 36

Quadro de resumo das músicas 43

Músicas extras:
seleção de obras complementares 44

Conclusão 67

Sobre os autores 70

Referências 71
“A árvore quando é cortada chora
e sofre de tal maneira pois vê que
o machado que sangra
o seu tronco também
é feito de madeira”
(EL EFECTO – TROVOADA)
Apresentação
por Vinícius Dantas Andrade
Este livro paradidático tem como finalidade auxiliar professoras e professo-
res de Ciências da rede pública ou privada que desejam tornar as aulas de
Botânica no Ensino Fundamental mais dinâmicas e efetivas.

A proposta aqui apresentada refere-se à utilização de músicas populares


brasileiras a fim de diminuir os obstáculos enfrentados no ensino de Botâ-
nica. A falta de materiais didáticos atrativos, de aulas práticas e a “Cegueira
Botânica” são alguns dos fatores que agravam os entraves na assimilação
dos conteúdos.

Desta forma, a música sendo aplicada no contexto escolar pode ser uma alter-
nativa eficiente no aprendizado, especialmente na Botânica. Através de letras
populares com foco no Reino Vegetal, os alunos e alunas podem associar os con-

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ceitos aprendidos durante as aulas com as mensagens extraídas das músicas.

A música utilizada como recurso didático garante aos alunos e alunas uma
liberdade criativa importante para o desenvolvimento educacional, pensa-
mento crítico e na resolução de problemáticas. Outra considerável contri-
buição está relacionada à comunicação e à expressão de sentimentos.

Utilizar um repertório musical já existente em detrimento de paródias pos-


sibilita mexer com a nostalgia e as memórias afetivas de cada discente. Se-
gundo o professor Paulo Freire, relacionar as experiências prévias individu-
ais com os conteúdos vistos em sala é uma maneira eficiente de ensino e
aprendizagem (PLÁCIDO; SOUZA, 2017).

Uma abordagem importante que levamos em consideração para a seleção


das músicas aqui exemplificadas diz respeito ao viés social, político e cultu-
ral por trás das letras, como previsto pela Base Nacional Curricular Comum
(BNCC) (BRASIL, 2017). Estimular esse tipo de debate favorece e comple-
menta as habilidades exigidas na formação das alunas e alunos.
Introdução
A música pode ser uma forma de estimular e desenvolver a cognição huma-
na, as expressões artísticas e afetivas. Ao utilizá-la como um recurso didá-
tico, é possível transformar a atmosfera da sala de aula tradicional em algo
lúdico. Além de descontrair, a análise das letras promove pensamento inter-
disciplinar ao relacionar interpretação de texto e transpôr conhecimentos
populares em científico (MOREIRA et al., 2014).

Seja no Ensino Fundamental, Médio ou Superior, os conteúdos de Botânica


são tratados com desprezo. Tal desinteresse constrói obstáculos na assimi-
lação dos conteúdos, aumentando os entraves entre os(as) alunos(as) e o
reino das plantas. Algumas hipóteses tentam explicar o fenômeno da “Ce-
gueira Botânica”, que se manifesta com a falta de aulas práticas, como, por
exemplo, o uso de técnicas de coleta e herborização e a falta de materiais
didáticos específicos e de metodologias lúdicas (NASCIMENTO et al., 2017).

Assim, este trabalho tem o intuito de relacionar a música com o ensino de

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Botânica. A atividade apoia-se na interpretação crítica de músicas populares
brasileiras cuja temática trata de conteúdos botânicos. Serão apresentadas
letras de músicas divulgadas pela grande mídia ou não, nas quais cabem aos
alunos(as), juntamente com o(a) professor(a), identificar também as temá-
ticas socioambientais presentes nas letras, para então correlacionar com o
Reino Vegetal e problematizar aspectos do cotidiano da comunidade escolar

Alguns clássicos da música popular como “Terra, planeta água” (de Guilher-
me Arantes) ou “Xote Ecológico” (de Luiz Gonzaga) não foram selecionados
para compor o trabalho, pois queríamos dar oportunidade de apresentar mú-
sicas que não são utilizadas frequentemente em aulas de Ciência e Biologia.

Este recurso complementa o livro didático das instituições públicas e pri-


vadas de ensino, apresentando novas estratégias não convencionais para
facilitar a compreensão dos assuntos abordados em sala de aula (OLIVEIRA
JUNIOR; CIABOTTI, 2017).
Portanto, no decorrer do paradidático, será apresentada uma sugestão de
metodologia ativa na qual poderão ser aplicadas as letras musicais.

As metodologias ativas, em geral, permitem aos(às) alunos(as) uma forma-


ção crítica e reflexiva, colocando-os como parte central na construção do
conhecimento. Neste caso, os(as) professores assumem o papel de orienta-
dores (BORGES; ALENCAR, 2014).

De acordo com essa proposta, será aplicado o método do arco de Charles


Maguerez (1983). Para tanto, sugere-se relacionar a vida pessoal de cada
aluno(a) ou da comunidade onde a escola está inserida com as habilidades
exigidas no Currículo de Sergipe. Essas habilidades são representadas nos
textos por caracteres alfanuméricos, nos quais o primeiro par de letras refe-
re-se à etapa (Ensino Fundamental), seguido do ano (neste caso, 07 ou 08),
a sigla da disciplina (CI) e, por fim, a posição da habilidade.

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Destacamos as competências exigidas nas habilidades por cores distintas e,
durante a análise das letras, selecionamos as frases das músicas colorindo-
-as de acordo com as habilidades. Esta abordagem facilita visualizar a proxi-
midade das letras com os conteúdos. Em cada análise de música consta um
resumo do que é dito nela, sugestões de objetivos e os conteúdos descritos
que se relacionam com o Currículo de Sergipe. Por fim, será apresentada
uma lista de músicas que não fizeram parte da primeira análise crítica, mas
que, entretanto, aumentam o leque de possibilidades.
Método do Arco
E como aplicar
O método criado e desenvolvido pelo francês Charles Maguerez, em 1970,
surgiu devido à necessidade de aclimatar as(os) imigrantes de países afri-
canos que se mudavam para a França em busca de trabalho. Por não esta-
rem habituadas(os) com os novos costumes e o idioma, pensou-se em um
método alternativo de ensino e aprendizagem que reduzisse os obstáculos
(NUNES et al., 2019).

As influências de Charles Maguerez foram Paulo Freire (1921-1997), Jean


Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896-1934), Jerome Bruner (1915-2016) e
David Ausubel (1918-008). Desde a sua primeira versão até suas atualiza-
ções e variações, pode-se perceber como constante a preocupação com a
formação pessoal e crítica das pessoas, além da formação educacional e/ou
acadêmica (BERBEL; GAMBOA, 2012).

Tal método subdivide-se em observação da realidade; identificação dos pon-


tos-chave; teorização; identificação das hipóteses de solução; aplicação à

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realidade. Neste trabalho, cada etapa será aplicada ao âmbito musical apre-
sentado e à realidade da comunidade, contextualizando os problemas.

Na primeira etapa, denominada observação da realidade, o(a) professor(a) de-


verá subdividir a turma em grupos, estimulando a participação ativa dos dis-
centes para analisar a situação da comunidade associando com a problemática
proposta na aula. Fica a critério do(a) professor(a) selecionar previamente uma
música ou estimular cada grupo a escolher com base em suas vivências.

A segunda etapa está interligada à primeira. Fundamentado nas observa-


ções e na descrição da conjuntura, deverão ser anotados os pontos-chave
que permitirão o desenvolvimento da atividade. Esses pontos serão rela-
cionados à música escolhida pelo grupo, contextualizando a problemática.
Estas etapas podem ocorrer em apenas uma aula.

Destrinchando melhor a primeira aula, a escolha da temática a ser desenvol-


vida pode ser iniciada a partir de uma letra específica, que servirá de ponto
de partida para o início da aula. Iniciar a apresentação com uma música au-
xiliará na quebra do gelo e no melhor entendimento acerca da proposta, tra-
zendo a discussão para a atividade de extração de conceitos da letra. Outra
opção é deixar a turma relatar os problemas socioambientais presentes na
comunidade e, então, selecionar músicas que possibilitem essa discussão.
Essa abordagem, entretanto, exige um referencial musical prévio para que a
música seja escolhida durante a aula.

Na aula seguinte, deverá acontecer a teorização dos questionamentos le-


vantados pelos grupos. Neste momento, o(a) professor(a) apresentará os
conteúdos de acordo com a grade curricular, utilizando as músicas escolhi-
das para ilustrar e familiarizar os objetos do conhecimento abordados. Ao
final da aula, os(as) alunos(as) terão que pensar em hipóteses de soluções
para aplicação à realidade, as quais serão apresentados na aula seguinte.

A aplicação dessas soluções será opcional, uma vez que depende das con-
dições da escola em questão. Entretanto, é indispensável que as discussões

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promovidas em sala de aula retornem para a sociedade, incentivando a ci-
dadania dos estudantes e estimulando a capacidade de resolução de proble-
mas. Isso levaria os(as) alunos(as) a problematizarem o ambiente em que
vivem e, assim, intervirem da maneira que for possível, como, por exemplo,
elaborando uma carta para a prefeitura, criando campanhas de conscienti-
zação virtuais ou não, entre outros.

O método avaliativo fica a critério do(a) Professor(a). Porém, a sugestão que


deixamos aqui leva em consideração a participação dos alunos e alunas du-
rante a atividade.
Análise
das Letras
Inicialmente, a busca pelas músicas surgiu da experiência e dos conheci-
mentos prévios do primeiro autor, Vinícius, como músico e instrumentista
amador. Em 2018, o compositor Djavan publicou o álbum “Vesúvio”, no qual
está presente “Orquídea”, música que inspirou essa relação com as aulas de
Botânica. Adotando-a como ponto de partida, foi confeccionada uma lista de
músicas em potencial a serem empregadas como recurso didático.

A fim de ampliar as buscas, recorreu-se a exemplos de músicas presentes


em artigos e sites contendo listas online de músicas que retratam o reino
vegetal. Estes sites, bem como as plataformas e os aplicativos de streaming,
sugeriram artistas com base no algoritmo, relacionando-os à música em
questão, levando em consideração similaridade rítmica. Por se tratar de mú-
sicas para aplicação em sala de aula, a qualidade da gravação e a audibilida-
de foram levadas em consideração. Algumas das músicas listadas se tratam
de versões; por essa razão, foi feita uma nova busca para se identificar os

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autores originais e suas obras.

As músicas selecionadas foram categorizadas seguindo o estilo dos critérios


definidos por Vasconcelos & Souto (2003), os quais modificamos para ade-
quá-los ao âmbito musical (Quadro 1). Isso é, para fazer parte dessa seleção,
a música precisaria conter em sua letra referência aos órgãos vegetais, à
caracterização e sistematização de plantas, à conservação da biodiversidade
e recursos hídricos, além de representar um potencial estímulo para o pen-
samento crítico.

Dentro de uma lista de 15 músicas, seis foram selecionadas: “Saga da Ama-


zônia” (Vital Farias); “Catingueira” (Onildo Almeida e José Maria Assis); “Ma-
tança” (Augusto Jatobá); “Reis do Agronegócio” (Carlos Rennó e Chico Cé-
sar); “Orquídea” (Djavan); “Ciranda” (El Efecto).
Quadro 1 – Tabela de critérios utilizada na escolha das músicas.

Parâmetro Fraco Regular Bom Excelente

Grau de relação com o conteúdo

Grau de identificação à realidade


brasileira

Possibilidade de contextualização
com a realidade sergipana

Possiblidade de contribuição na for-


mação de consciência socioambiental

Outros: Especificar_________

A avaliação estabelecida para a formulação dos critérios teve o foco na fa-


miliaridade entre os assuntos expostos nas músicas e o conteúdo previsto

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na Base Nacional Comum Curricular, a compatibilidade com a realidade bra-
sileira, a possibilidade de contextualização com o estado no qual se decida
aplicar esse paradidático, e a possibilidade de gerar reflexões de cunho so-
cial, ambiental, ético ou político. No quadro consta Sergipe, pois foi o estado
pensado originalmente para a aplicação deste trabalho; entretanto, pode-se
extrapolá-lo para qualquer região do Brasil.

Esses critérios buscam aproximar as músicas com a realidade pessoal das/


os alunas/os, facilitando tanto o ensino (com a aplicação da metodologia ati-
va com base em problemas) quanto a aprendizagem, gerando aproximação
com os conteúdos trabalhados e gerando, possivelmente, maior interesse
em participar da construção do conhecimento em sala de aula.
(EF07CI07) Identificar e caracterizar os

principais ecossistemas brasileiros


e de Sergipe quanto à
paisagem,
à quantidade de água,
ao tipo de solo,
disponibilidade de luz solar,

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à

à temperatura etc.,
correlacionando essas características

à flora e fauna específicas


e aos impactos ambientais
presentes na região.
“Saga da Amazônia”
– Vital Farias

ecossistemas brasileiros Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta

Mata verde, céu azul, a mais imensa floresta paisagem


quantidade de água No fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas

E os rios puxando as águas

18
Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
fauna e flora específicas quantidade de água
Os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores

Sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir

Era: Fauna, flora, frutos e flores fauna e flora específicas


Toda mata tem caipora para a mata vigiar

Veio caipora de fora para a mata definhar

impactos ambientais E trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira

E trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira


Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar

Prá o dragão cortar madeira e toda mata derrubar


impactos ambientais
Se a floresta meu amigo, tivesse pé prá andar

Eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar

E o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar? fauna e flora específicas

19
Depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar

quantidade de água Igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar


impactos ambientais E quem habita essa mata, prá onde vai se mudar?

Corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá fauna e flora específicas


fauna e flora específicas Tartaruga, Pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura Sergipe
No lugar que havia mata, hoje há perseguição

Grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão


impactos ambientais
Castanheiro, seringueiro já viraram até peão

Afora os que já morreram como ave-de-arribação fauna e flora específicas


Zé de Nana tá de prova, naquele lugar tem cova

Gente enterrada no chão

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro

Disse um castanheiro para um


seringueiro que um estrangeiro

Roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região

Ficou tão penalizado que escreveu essa canção

E talvez, desesperado com tanta devastação impactos ambientais

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Pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção

Com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa

Dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor

Prá gente que tem memória, muita crença, muito amor

Prá defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta

disponibilidade de luz solar Era uma vez uma floresta na Linha do Equador

FARIAS, V. Saga da Amazônia. Rio de Janeiro: Lança Discos e Edi-


ções Musicais, 1982. Suporte (6:58 min).
Resumo
Na música “Saga da Amazônia”, o compositor Vital Farias apresenta a pro-
blemática do desmatamento na Floresta Amazônica. Nela, podemos encon-
trar citações sobre a fauna e flora regionais, características geográficas, os
povos tradicionais e a exploração dos recursos naturais.

Devido à riqueza desta letra, pode-se extrapolar tais problemáticas para os


outros biomas brasileiros, uma vez que os impactos ambientais embasados
pela ganância humana ocorrem em todo o país.

Objetivos
• Identificar as características do ecossistema amazônico e relacionar a ou-
tros ecossistemas brasileiros, focando principalmente nos que ocorrem
em Sergipe.

21
• Discutir as causas dos problemas ambientais presentes nestes ecossiste-
mas e seus impactos na sociedade.

Conteúdos
• Diversidade de ecossistemas.

• Fenômenos naturais e impactos ambientais.


“Catingueira”
– Onildo Almeida e José Maria Assis

fauna e flora específicas Catingueira, catingueira

Diz o segredo que existe

Que somente a catingueira fauna e flora específicas

Enfeita a paisagem triste paisagem

22
fauna e flora específicas Catingueira se és feliz

Não zombes nunca

Deste teu contraste

Segura tua raiz e pede a Deus


quantidade de água
Que ela nunca se gaste

Tão ressêca a imburana fauna e flora específicas

temperatura A terra quente e rachada tipo de solo

O marmeleiro se enrama
fauna e flora específicas
Mas não agüenta a queimada fauna e flora específicas
Sentindo como quem ama

A terra quente pede invernada


quantidade de água
Quanto mais seca a ribeira

A catingueira fica enfolharada fauna e flora específicas

Catingueira se um vintém

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Puder se tornar um milhão

Pede a Deus por quem não tem


quantidade de água
Prá cair chuva no chão

Pois somente a catingueira fauna e flora específicas

paisagem Enfeita a seca lá no meu sertão

Sertanejo não quer nada

Vê na invernada a maior benção quantidade de água

ALMEIDA, A.; ASSIS, A. J. M. Catingueira. Marinês. CBS, 1967.


Suporte (2:35 min).
Resumo
A música “Catingueira”, composta por Onildo Almeida e José Maria Assis, é um
exemplo que pode ser utilizado quando o intuito é destacar o bioma Caatinga.

Nessa letra, o eu lírico utiliza Cenostigma pyramidale (Tul.) Gagnon & G.P.
Lewis (Catingueira) como objeto de observação para compreender o ecos-
sistema em que está inserido. Com isso, relaciona a deciduidade caracte-
rística desta espécie com os índices pluviométricos da região. Logo, é um
ótimo ponto de partida para discutir conceitos ecológicos.

Objetivos
• Identificar as relações ecológicas de Cenostigma pyramidale.

• Examinar as adaptações evolutivas presentes nos vegetais xerófilos.

• Discutir a problemática da seca e seus impactos socioeconômicos.

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Conteúdos
• Diversidade de ecossistemas.

• Fenômenos naturais e impactos ambientais.


(EF07CI08) Avaliar como os impactos

catástrofes naturais
provocados por

ou mudanças nos componentes

físicos,
biológicos
ou sociais de um ecossistema
afetam suas populações,

25
podendo ameaçar ou provocar a
extinção de espécies,
alteração de hábitos,
migração,
especiação etc.
“Matança”
– Augusto Jatobá

Cipó Caboclo tá subindo na virola

Chegou a hora do Pinheiro balançar

Sentir o cheiro do mato, da Imburana

Descansar, morrer de sono na sombra da Barriguda

26
De nada vale tanto esforço do meu canto
mudança nos componentes biológicos
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar

Tal Mata Atlântica e a próxima Amazônica ameaçar ou provocar


Arvoredos seculares impossível replantar a extinção de espécies

mudança nos componentes biológicos Que triste sina teve o Cedro, nosso primo

Desde de menino que eu nem gosto de falar

Depois de tanto sofrimento seu destino


mudança nos componentes biológicos
Virou tamborete, mesa, cadeira, balcão de bar
ameaçar ou provocar Quem por acaso ouviu falar da Sucupira

a extinção de espécies Parece até mentira que o Jacarandá

Antes de virar poltrona, porta, armário


mudança nos componentes biológicos
Mora no dicionário, vida eterna, milenar

Quem hoje é vivo corre perigo

ameaçar ou provocar E os inimigos do verde dá sombra ao ar

27
a extinção de espécies Que se respira e a clorofila

Das matas virgens destruídas vão lembrar

Que quando chegar a hora

é certo que não demora

Não chame Nossa Senhora

Só quem pode nos salvar é

Caviúna, Cerejeira, Baraúna


ameaçar ou provocar
Imbuia, Pau-d’arco, Solva a extinção de espécies
Juazeiro e Jatobá
Gonçalo-Alves, Paraíba, Itaúba

Louro, Ipê, Paracaúba

Peroba, Massaranduba
ameaçar ou provocar
Carvalho, Mogno, Canela, Imbuzeiro Catuaba,
a extinção de espécies
Janaúba, Aroeira, Araribá Pau-Ferro,

Angico, Amargoso, Gameleira Andiroba,

28
Copaíba, Pau-Brasil, Jequitibá.

JATOBÁ, A. Matança. Rio de Janeiro: Estúdio de Invenções, 1988. Su-


porte (5:24 min).
Resumo
A música “Matança”, composta por Augusto Jatobá, relata os impactos antró-
picos acerca do extrativismo de lenha para produção de móveis e alvenaria,
podendo levar diversas espécies vegetais à extinção.

Esta música é considerada uma recordista mundial em citações de árvores,


contendo 39 espécies. Sendo assim, esta música é uma ótima ferramenta para
apresentar e auxiliar na memorização destas plantas.

Objetivos
• Identificar a importância de conservar a flora nativa.

• Apresentar o nome popular de 39 árvores presentes na Mata Atlântica e


Floresta Amazônica.

• Introduzir os conceitos de nomenclatura botânica.

29
• Discutir a problemática do extrativismo ilegal e seus impactos ambien-
tais e socioeconômicos.

Conteúdos
• Diversidade de ecossistemas.

• Fenômenos naturais e impactos ambientais.


“Reis do Agronegócio”
– Carlos Rennó e Chico César

[...]

mudança nos componentes físicos Para vocês, que emitem montes de dióxido

Para vocês, que têm um gênio neurastênico

mudança nos componentes sociais Pobre tem mais é que comer com agrotóxico

Povo tem mais é que comer se tem transgênico

30
mudança nos componentes biológicos
É o que acha, é o que disse um certo dia
ameaçar ou provocar
Miss motosserrainha do desmatamento
a extinção de espécies
Já o que acho é que vocês é que deviam

Diariamente só comer seu “alimento”


mudança nos componentes biológicos
Vocês se elegem e legislam, feito cínicos
mudança nos componentes sociais
Em causa própria ou de empresa coligada

mudança nos componentes biológicos O frigo, a múlti de transgene e agentes químicos

mudança nos componentes sociais Que bancam cada deputado da bancada


mudança nos componentes sociais Té comunista cai no lobby antiecológico

Do ruralista cujo clã é um grande clube

Inclui até quem é racista e homofóbico

Vocês abafam, mas tá tudo no youtube

Vocês que criam, matam cruelmente bois

Cujas carcaças formam um enorme lixo

Vocês que exterminam peixes, caracóis

Sapos e pássaros e abelhas do seu nicho


ameaçar ou provocar

31
E que rebaixam planta, bicho e outros entes
a extinção de espécies
E acham pobre, preto e índio “tudo” chucro

Por que dispensam tal desprezo a um vivente?

Por que só prezam e só pensam no seu lucro?

Seu avião derrama a chuva de veneno

Na plantação e causa a náusea violenta


mudança nos componentes biológicos
E a intoxicação em adultos e pequenos

Na mãe que contamina o filho que amamenta


mudança nos componentes biológicos Seu avião derrama a chuva de veneno

Na plantação e causa a náusea violenta

E a intoxicação em adultos e pequenos

Na mãe que contamina o filho que amamenta

Provoca aborto e suicídio o inseticida


mudança nos componentes sociais
Mas na mansão o fato não sensibiliza

32
Vocês já não tão nem aí com aquelas vidas

Vejam como é que o agrobiz desumaniza.

Desmata Minas, Amazônia, Mato Grosso

Infecta solo, rio, ar, lençol freático.


mudança nos componentes biológicos
Consome, mais do que qualquer outro negócio

Um quatrilhão de litros d´água, o que é dramático


Por tanto mal, do qual vocês não se redimem
mudança nos componentes biológicos Por tal excesso que só leva à escassez

mudança nos componentes físicos Por essa seca, essa crise, esse crime

mudança nos componentes sociais Não há maiores responsáveis que vocês

mudança nos componentes biológics Eu vejo o campo de vocês ficar infértil

Num tempo um tanto longe ainda, mas não muito

mudança nos componentes biológicos E eu vejo a terra de vocês restar estéril

Num tempo cada vez mais perto, e lhes pergunto

33
ameaçar ou provocar O que será que os seus filhos acharão de
a extinção de espécies
Vocês diante de um legado tão nefasto

Vocês que fazem das fazendas hoje um grande


mudança nos componentes biológicos
Deserto verde só de soja, cana ou pasto?

[…]

RENNÓ, C; CÉSAR, C. Reis do Agronegócio. Estado de Poesia. Labo-

ratório Fantasma, 2015. Suporte (11:00 min).


Resumo
A música “Reis do Agronegócio”, com letra de Carlos Rennó e musicada por
Chico César, apresenta onze minutos de críticas incisivas aos impactos ambien-
tais e socioeconômicos do agronegócio. Devido a sua extensão, foi selecionada
apenas uma parte da música para otimizar o debate.

Essa música permite estender a discussão para diversas áreas, como: poluição,
desmatamento, escassez de recursos hídricos, desertificação, alimentos trans-
gênicos, problemas relacionados à monocultura e à utilização de fertilizantes,
entre outras.

Objetivos
• Identificar a parcela de envolvimento do agronegócio na devastação de
ecossistemas, levando a extinção da biodiversidade.

34
• Discutir a utilização de fertilizantes e seus impactos na saúde humana.

• Problematizar politicas públicas que dificultam a conservação do meio


ambiente.

Conteúdos
• Diversidade de ecossistemas.

• Fenômenos naturais e impactos ambientais.

• Programas e indicadores de saúde pública.


(EF08CI07) Comparar diferentes

processos reprodutivos em plantas e


animais em relação aos

mecanismos adaptativos e
evolutivos.

35
“Orquídea”
– Djavan

Lembra aquela Phalaenopsis

Que você me deu


mecanismos evolutivos
Me deixou com Sophronitis

Por um beijo seu

36
Pleurothallis, Paphiopedilum

mecanismos adaptativos Cores demais

Nada comum

Cyrtopodium, Sarcoglottis

De um bem-querer

Fui à Brassia na Malaxis mecanismos evolutivos

Mas não vi você

mecanismos evolutivos Amabilis, Violácea-me aqui

Javanica, Guttata-me
Cattleya ou Purpurata mecanismos evolutivos
Me remete a você

Uma Brassavola nata

processos reprodutivos eu labelo bicolor

Desacata

Pela fragrância da cor mecanismos evolutivos

37
mecanismos evolutivos Sépala, labelo, coluna

E pétala tem a flor

Flor que nasce, cresce


processos reprodutivos
E flora por amor

DJAVAN. Orquídea. Rio de Janeiro: Luanda Records/Sony Music,

2018. Suporte (3:42 min).


Resumo
A música “Orquídea”, de autoria do compositor Djavan, demonstra a variedade
de espécies da família Orchidaceae, além de apresentar os verticilos florais que
compõe a flor característica deste grupo de plantas.

Contrapondo “Matança”, que apresenta nomes populares, aqui podemos ver


o nome científicos de dez gêneros de Orquídea, além de alguns epítetos espe-
cíficos encontrados nesta família. Com isso, pode-se exemplificar os conceitos
de nomenclatura botânica e o sistema binomial. No refrão, encontra-se uma
descrição da flor, componente fundamental na reprodução das angiospermas.

Objetivos

38
• Identificar os gêneros de Orchidiaceae presentes na música e buscar
qual deles ocorrem em Sergipe através da plataforma speciesLink (CRIA,
2022).

• Entender os mecanismos evolutivos de reprodução das plantas a partir


do grupo mais com maior número de espécies de angiosperma.

• Problematizar o extrativismo ilegal de espécies vegetais.

Conteúdos
• Mecanismos reprodutivos.

• Sexualidade.
“Ciranda”
– El Efecto

É debaixo da terra

No silêncio do chão
mecanismos evolutivos
Onde não é superfície

O olho não enxerga não

39
É no fundo do peito

Junto do coração

Onde não é superfície

O olho não enxerga não

Mas ela tá lá...

mecanismos adaptativos Na espreita ela espera, a dor

mecanismos evolutivos Mais bonita mais singela, a flor mecanismos reprodutivos

Vem a chuva clarear


mecanismos adaptativos
Faz a terra estremecer
Tira ela pra dançar

Germinar eu quero ver

E já vai chegar, e já vai chegar

Então o olho verá...


processos reprodutivos
Árvore que dá o fruto

Num processo tão bonito

40
Do fruto nasce a semente

E assim se repete o ciclo

Ciclo onde o dinheiro é nada

Lá quem manda é o mistério

Voz de fora mercenária

Inventa a semente estéril

[...]

EL EFECTO. Ciranda. Rio de Janeiro: Novas Músicas Velhas Angús-


tias, 2010. Suporte (8:41).
Resumo
A música “Ciranda”, da banda El Efecto, descreve de forma poética o processo
reprodutivo das angiospermas. Vinculado a isso, a letra chama atenção para
o PL 1117/2015, na qual pretendia liberar em âmbito nacional a produção de
sementes estéreis, gerando impactos na sociedade, na economia e no meio
ambiente brasileiro.

Utilizando “Ciranda” como recurso didático, pode-se ilustrar os mecanismos de


germinação, desenvolvimento e reprodução das angiospermas, evidenciando
o que é científico e o que é liberdade poética.

Objetivos

41
• Identificar os mecanismos reprodutivos e relacionar com as adaptações
evolutivas das plantas.

• Problematizar politicas públicas que visam primeiramente o lucro em de-


trimento conservação ambiental e o bem estar social.

Conteúdos
• Mecanismos reprodutivos.

• Sexualidade.
Quadro de resumo das músicas
Música Habilidade Conteúdo científico Conteúdo sociocientífico Problematização

disputas políticas para sub-


Ecossistema Amazônico; interação crimes ambientais promo-
Saga da Amazônia EF07CI07 julgar as matas em prol do
ecológica; educação ambiental vidos por construtoras
capitalismo

caracterização da caatinga; anato- desamparo governamental manejo indevido da caatin-


Catingueira EF07CI07 mia, morfologia e fisiologia vegetal; na seca; desvalorização da ga, promovendo desertifi-
desertificação caatinga cação: queimadas

42
escolha de espécie ban-
Extrativismo ilegal de le-
nomenclatura botânica; Botânica deira da flora local para
Matança EF07CI08 nha; identificação da flora
econômica; educação ambiental incentivar a preservação
local
ambiental

agrotóxicos; alimentos transgêni- malefícios dos agrotóxicos malefícios dos agrotóxicos


Reis do agronegócio EF07CI08 cos; poluição ambiental; monocul- para a saúde humana e para a saúde humana e
tura para o solo para o solo

nomenclatura botânica; mecanis- comunidades tradicionais extrativismo ilegal de or-


Orquídea EF08CI07 mos reprodutivos; morfologia flo- e sua relação com a con- quídeas para fins ornamen-
ral; evolução servação ambiental tais

mecanismos reprodutivos em an- Agricultura familiar; políti-


preservação da genética de
Ciranda EF08CI07 giospermas; germinação de se- cas que prejudicam os pe-
sementes crioulas
mentes quenos produtores
Músicas extras
Seleção de obras complementares
Esta sessão do paradidático foi reservada para discutirmos as demais músi-
cas que não foram selecionadas como principais representantes das habi-
lidades da BNCC (2017), e que, por esta razão, não entraram nos exemplos
citados no capítulo anterior. Vale ressaltar que, dentro das habilidades exi-
gidas no Currículo Nacional Comum Curricular, as músicas anteriores apre-
sentam uma relação mais íntima e explícita com os conteúdos; entretanto,
as próximas letras também possuem potencial de se tornarem recursos di-
dáticos nas aulas de Botânica.

Na lista a seguir, constam as músicas: “Refazenda” (Gilberto Gil); “Morena


Tropicana” (Alceu Valeça); “Caldo de Cana” (Nação Zumbi); “Arrumação”
(Elomar Figueira Melo); “Sobradinho” (Sá e Guarabyra); “Semente” (Arman-
dinho); “Casa da Floresta” (Nanan); “Bem Leve” (Arnaldo Antunes e Marisa
Monte); “Luz do Sol” (Caetano Veloso)”.

Além do rol de músicas que passaram pelos critérios avaliativos definidos

44
no Quadro 1 (p. 15), apresentamos outras obras complementares cujo de-
bate fornecem embasamento para expandir as percepções da utilização de
músicas como recurso didático. Portanto, sugerimos: o primeiro episódio
da série “Explicando”, que explana sobre a percepção musical e seus efeitos
cognitivos; o álbum “Matança” completo de Augusto Jatobá, no qual encon-
tramos a música de mesmo nome discutida anteriormente e outras obras
significativas para a discussão da conservação ambiental. Quanto à música
“Frutos da Terra”, vale a pena ser trabalhada, pois apresenta as relações de
cuidado com as plantas.
“Refazenda”
– Gilberto Gil

Abacateiro, acataremos teu ato

Nós também somos do mato como o pato e o leão

Aguardaremos, brincaremos no regato

Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração

Abacateiro, teu recolhimento é justamente

O significado da palavra temporão

Enquanto o tempo não trouxer teu abacate

Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão

45
Abacateiro, sabes ao que estou me referindo

Porque todo tamarindo tem

O seu agosto azedo, cedo, antes

Que o janeiro doce manga venha ser também

Abacateiro, serás meu parceiro solitário

Nesse itinerário da leveza pelo ar

Abacateiro, saiba que na Refazenda

Tu me ensina a fazer renda que eu te ensino a namorar

Refazendo tudo

Refazenda

Refazenda toda

Guariroba

GIL, G. Refazenda. Rio de Janeiro: Warner Music, 1975. Suporte (3:03).


Em “Refazenda, podemos encontrar referências à Persea americana

Miller (abacateiro) e aos frutos de Solanum lycopersicum L. (tomate), de

Carica papayaL. (mamão), de Tamarindus indica L. (tamarindo) e de

Mangifera indica L. (manga).

Apesar dessas espécies serem bem conhecidas e cultivadas nacionalmente,

46
nenhuma delas têm origem no Brasil, o que é um fato interessante para se
discutir em sala de aula. Vale ressaltar também uma nova música de Gilber-
to Gil, a “Refloresta”, que, lançada em 2021, foi inspirada pela destruição da
Floresta Amazônica; ótima para abordar questões de Educação Ambiental.

Segundo o próprio compositor, “Refazenda” tem o objetivo de retratar uma “na-


tureza doméstica”, na qual as moradoras e moradores das regiões interioranas
do Brasil possam se identificar com a ambientação reconfortante e familiar.
“Morena Tropicana”
– Alceu Valença

Da manga rosa quero o gosto e o sumo

Melão maduro, sapoti, joá

Jaboticaba seu olhar noturno

Beijo travoso de umbú cajá

Pele macia, é carne de cajú

Saliva doce, doce mel, mel de uruçu

Linda morena fruta de vez temporana

Caldo de cana caiana

Vem me desfrutar

47
Linda morena fruta de vez temporana

Caldo de cana caiana

Vem me desfrutar

Morena tropicana eu quero teu sabor

Ai, ai, ai, ai

Morena tropicana eu quero teu sabor

Ai, ai, ai, ai

VALENÇA, A. Morena Tropicana. Rio de Janeiro: Cavalo de Pau; Gravadora Ariola, 1982.

Suporte (3:46).
Na música “Morena tropicana”, é possível perceber citações de diversos
frutos carnosos e referências a outros órgãos vegetais e até derivados de
interações entre fauna e flora, como é o caso do mel, dando margem para
se trabalhar sobre grãos de pólen. O título da música faz alusão ao clima tro-
pical, referenciando as praias do Nordeste, principalmente em Pernambuco,
estado natal do autor.

48
Devido às analogias românticas, a letra apresenta uma diversidade de frutos
famosos pelo seu sabor e/ou beleza. Isso nos remete à ideia do papel disper-
sivo de sementes em relação aos atrativos, como a cor, o cheiro e o sabor.
“Caldo de Cana”
– Nação Zumbi

Eu decido é agora

Feito caldo de cana

Eu decido é agora

Feito caldo de cana

Eu vou admirar

Admirar o mundo novo

Eu vou admirar

Eu vou, vou, vou, eu vou, eu vou, eu vou...

Eu decido é agora

49
Feito caldo de cana

Eu decido é agora

Feito caldo de cana

a cana caiana [...]

NAÇÃO ZUMBI. Caldo de Cana. Rio de Janeiro: Nação Zumbi; Sony/ATV Music Publishing,

2002. Suporte (3:25).


A música “Caldo de Cana”, como o próprio nome já diz, refere-se à reser-
va energética presente em Saccharum spp. Porém, a letra não facilita direta-
mente a abordagem de problemáticas socioambientais. Ela seria mais bem
aproveitada em debates referentes aos tecidos de reserva encontrados nos
vegetais. Contudo, a baixa quantidade de conteúdos relacionados à anatomia
vegetal dentro da Base Nacional Curricular Comum, tanto para o ensino fun-

50
damental quanto para o médio, dificultaria sua utilização.

Uma possibilidade de aplicação seria chamar a atenção para as problemáticas


sociais tratadas na música; poderia se destacar que o eu lírico, mesmo perme-
ado de dificuldades, mantém seus valores e traça sua vida de maneira doce,
porém de forma energética, a fim de superar os desafios, “feito caldo de cana”.
“Arrumação”
– Elomar Figueira Melo
Josefina sai cá fora e vem vê
Olha os forro ramiado vai chuvê
Vai trimina riduzi toda criação
Das bandas de lá do ri gavião
Chiquera pra cá já roncô o truvão

Futuca a tuia, pega o catadô


Vamo plantá o feijão no pó
Futuca a tuia, pega o catadô
Vamo plantá o feijão no pó

Mãe prudença inda num cuieu o ai

51
O ai roxo dessa lavora tardã
Diligença pega o pano e cum balai
Vai cum tua irmã, vai num rumo só
Vai cuiê o ai, o ai da tua avó

Lua nova sussarana vai passá


Sêda branca, na passada ela levô
Ponta d´unha, lua fina risca no céu
A onça prisunha, a cara de réu
O pai do chiquêro a gata comeu
Foi um trovejo c´ua zagaia só
Foi tanto sangue de dá dó
Os cigano já subiro bêra ri
É só danos, todo ano nunca vi Paciênca, já num guento a pirsiguição Já só
caco véi nesse meu sertão Tudo que juntei foi só pra ladrão

MELO, E. F. Arrumação. Rio de Janeiro: Nas Quadradas das Águas Perdidas; Discos Marcus
Pereira, 1979. Suporte (4:19).
Em “Arrumação”, Elomar demonstra uma situação característica de mui-
tos interiores do Nordeste, nos quais os(as) agricultores(as) dependem da
chuva para plantar. Para isso, utilizam dos conhecimentos meteorológicos
empíricos passados de geração em geração. Com o início do período chuvo-
so, inicia-se também o plantio de feijão; logo, pode-se relacionar os índices
pluviométricos no sertão com os costumes dos(as) agricultores(as) destas
regiões. Permite também o debate sobre agricultura familiar e a importân-
cia dos investimentos em políticas públicas para favorecer a produção de
alimentos mais saudáveis.

O dialeto presente nas obras do cancioneiro é uma característica bem mar-


cante. O termo “Arrumação”, destacado no título, refere-se à necessidade
de arrumar-se para o que vem vindo, preparar-se. Assim como descrito na
letra, existem diversas tarefas a serem executadas no instante em que os
primeiros sinais de chuva chegam no sertão. Este é o caso da primeira estro-

52
fe, mostrando a necessidade de prender a criação no curral. O refrão inicia
com “Futuca a tuia, pega o catador”, referindo-se à “tuia” ou dispensa onde
se guardam ferramentas de trabalho no campo.

Partindo para uma visão mais crítica da composição instrumental, podemos


perceber a utilização da charanga, um instrumento musical originado nas
Cordilheiras dos Andes. Trata-se de um instrumento de corda com sonori-
dade aguda que, na música, cumpre a função de manter uma relação iden-
titária entre toda a população campesina e cancioneira da América-Latina
(ARRUDA, 2015).

As obras de Elomar são de uma complexidade incrível e demandam aten-


ção e pesquisa para serem analisadas, pois o conjunto de fatores, como a
maestria na composição das letras, melodias, harmonizações, críticas socio-
ambientais e políticas, encontram-se sintetizadas nas músicas deste artista.
“Sobradinho”
– Sá e Guarabyra

O homem chega e já desfaz a natureza

Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar

O São Francisco lá pra cima da Bahia

Diz que dia menos dia vai subir bem devagar

E passo a passo vai cumprindo a profecia

Do beato que dizia que o Sertão ia alagar

O sertão vai virar mar, dá no coração

O medo que algum dia o mar também vire sertão

53
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé

Adeus Pilão Arcado, vem o rio te engolir

Debaixo d’água lá se vai a vida inteira

Por cima da cachoeira o gaiola vai subir

Vai ter barragem no salto do Sobradinho

E o povo vai-se embora com medo de se afogar

Remanso, Casa Nova, Sento-Sé

Pilão Arcado, Sobradinho

Adeus, adeus

SÁ E GUARABYRA. Sobradinho. Rio de Janeiro: Pirão de Peixe com Pimenta;

Gravadora Som Livre, 1977. Suporte (3:18).


Em “Sobradinho”, os autores relatam um fato ocorrido na cidade baiana,
que dá nome à música, e nas proximidades. Na década de 70, foi construída
em Sobradinho uma barragem no Rio São Francisco que resultou em uma
usina hidrelétrica. Diante disso, Remanso, Casa Nova, Sento-Sé, Pilão Arcado
e Sobradinho foram inundadas, submergindo a biodiversidade da região e
gerando diversos problemas socioeconômicos (AMARAL; SANTOS, 2018).

Com o auxílio desta letra, podemos extrapolar as consequências oriundas


da construção de uma hidrelétrica, como a destruição das matas próximas
ao rio, assoreamento dos leitos, extinção de espécies da fauna e flora, além
das influências negativas nos âmbitos sociais e econômicos das comunida-
des ribeirinhas (CRUZ et al., 2016).

Trazendo para a temática vegetal, as instalações de hidrelétricas levantam


um grande debate acerca dos seus impactos, uma vez que elevam conside-
ravelmente o nível dos rios (CRUZ et al., 2016). Isto pode causar alagamen-

54
to nas proximidades, e até interferir em cidades inteiras, como no caso da
construção de Sobradinho.

Voltando para a questão socioambiental, as terras produtivas abastecidas


pelo Rio São Francisco foram submersas, obrigando a população a migrar
para as regiões mais interioranas, até antes da usina, distante do rio. Essas
terras, por sua vez, apresentavam uma característica diferente e com maio-
res dificuldades de adaptação para o plantio, gerando impactos econômicos
severos na população nativa. Havia, ainda, a questão do significado religioso
que as terras possuíam para as comunidades quilombolas, indígenas e ribei-
rinhas que habitavam o local (AMARAL; SANTOS, 2018).
“Semente”
– Armandinho
Semente, semente, semente
Semente, semente
Se não mente fale a verdade
De que árvore você nasceu?

De onde veio
De onde apareceu
Por que que o meu destino
É tão parecido com o seu?

Eu sou a terra

55
Você minha Semente
Na chuva a gente se entende
É na chuva que a gente se entende Oh Semente!
[...]

Semente eu sei
Tem gente que ainda acredita
E aposta na força da vida
E busca um novo amanhecer
Lá vem o sol
Agora diga que sim
Semente eu sou sua terra
Semente pode entrar em mim...

[...]
ARMANDINHO. Semente. Rio de Janeiro: Semente; Gravadora Universal Music Brasil, 2007.

Suporte (4:02).
A música “Semente” pode ser utilizada dentro da habilidade EF08CI07, pre-
sente na BNCC, pois relata de maneira poética a interação da chuva e a ger-
minação de sementes. Dessa maneira, os conteúdos de reprodução apre-
sentam a capacidade de serem trabalhados, destacando principalmente os
processos envolvendo as sementes. Isso permite falarmos desde o surgi-
mento da flor até a germinação de um novo indivíduo (RAVEN et al., 2014).

Outro ponto que pode ser pensado a partir dessa temática está relaciona-
do aos mecanismos evolutivos, constatando o surgimento das sementes no
Reino Plantae; quais as relações ecológicas que favoreceram o desenvolvi-
mento dessas estruturas nos vegetais; quais são as vantagens relacionadas
à dispersão e ao predomínio em novos ambientes; quais os tipos morfoló-
gicos e quais adaptações estão relacionadas a tal conformação; quais os
tecidos que compõem as sementes; entre outros.

56
Esta maneira de enxergar a música ocorre de maneira extrapolada, pois não
apresenta discussões sobre problemáticas que possibilitem a contribuição
na formação de consciência socioambiental tão explicitamente. Vale lem-
brar que buscar aprofundar o olhar sobre o que percebemos na música é,
por si só, um exercício estimulante para o raciocínio crítico, e mesmo que
não apresente os conteúdos de maneira nítida, tais conjecturas fornecem
outros atributos, além dos conceituais (GOHN; STAVRACAS, 2010).
“Casa da Floresta”
– Nanan
Eu quero morar
Numa casinha feita à mão
Numa floresta onde eu possa plantar o que eu quiser
E andar de pés no chão

E vou plantar abacaxi com banana


Mandioca, cacau, batata doce e feijão
Palmito, e um café bem bonito
Lá na sombra da goiaba e do mamão
Sob a copa do coqueiro, açaí, abacateiro
Cajueiro e maracujá

57
Lá no alto a seringueira
Com o guapuruvu na beira
Contemplando uma vista pro mar
[...]
Trilha pro rio, cachoeira e cascata
No berro do tucano e canto do sabiá
E no voar da borboleta a saíra, bem faceira
Fica à espreita na procura do jantar
Abelha nativa fazendo colmeia
Colhendo pra lá e pra cá
Espero que tenha
Um fogão a lenha
E muito pra aqui celebrar

NANAN. Casa da Floresta. Rio de Janeiro: Movimento: Manifesto Sentimental. Independen-

te, 2019. Suporte (5:38).


A música “Casa da Floresta” apresenta diversos órgãos vegetais utilizados
na alimentação humana. As plantas citadas são conhecidas nacionalmente
e compõem os pratos típicos de diversas regiões do Brasil. A dispersão de
sementes através da alimentação pode ser generalizada para outros grupos
de animais, permitindo entender uma das fases do ciclo reprodutivo de al-
gumas plantas.

58
“Bem Leve”
– Marisa Monte

Bem leve leve, releve

Quem pouse a pele em cima de madeira

Beira beira, quem dera, mera mera, cadeira

Mas breve breve, revele

Vele, vele quem pese, dos pés à caveira

Dali da beira uma palavra cai no chão, caixão

Dessa maneira

Uma palavra de madeira em cada mão

Imbuia, Cerejeira

59
Bem leve leve, releve

Quem pouse a pele em cima de madeira

Beira beira, quem dera, mera mera, cadeira

Mas breve breve, revele

Vele vele quem pese dos pés à caveira

Jacarandá, Peroba, Pinho, Jatobá, Cabreúva, Garapera

Uma palavra de madeira cai no chão

Caixão, dessa maneira

ANTUNES, A; MONTE, M. Bem Leve. Rio de Janeiro: Gravadora Universal Music Brasil, 1993.

Suporte (2:34).
A música “Bem Leve” relata os impactos ambientais da extração de plantas
lenhosas presentes na mata nativa brasileira e até um exemplo estrangeiro
(Cerejeira) para confecção de móveis. Assim como em “Matança”, realiza
críticas ao desmatamento e homenageia algumas espécies de árvores nati-
vas e até mesmo exóticas.

A mensagem da música gira em torno da contradição entre desmatar estes

60
seres vivos, que possuem papéis fundamentais no ecossistema, e conse-
quentemente para nós, para construir móveis e caixões.
“Luz do Sol”
– Caetano Veloso

Luz do sol

Que a folha traga e traduz

Em verde novo

Em folha, em graça, em vida, em força, em luz

Céu azul que vem

Até onde os pés tocam a terra

E a terra inspira e exala seus azuis

Reza, reza o rio

Córrego pro rio e o rio pro mar

61
Reza a correnteza, roça a beira, doura a areia

Marcha o homem sobre o chão

Leva no coração uma ferida acesa

Dono do sim e do não

Diante da visão da infinita beleza

Finda por ferir com a mão essa delicadeza

A coisa mais querida, a glória da vida

[...]

VELOSO, C. Luz do Sol. Rio de Janeiro: Gravadora Warner Chappell Music, 1985. Suporte (3:34).
Esta música traz de maneira bastante poética e subjetiva referências à cap-
tação da luz solar para a utilização no processo fotossintético. A primeira
estrofe da música pode ser utilizada para introduzir a discussão sobre como
funciona a fisiologia envolvida na produção primária dos seres autótrofos.

Além disso, esta música apresenta um potencial interdisciplinar, uma vez


que podemos descrever conceitos de ordem de curso das águas numa rede

62
fluvial, demonstrando o fluxo de desague do rio no mar e suas influências
na dinâmica dos ecossistemas terrestres.
Sugestões Complementares
“Frutos da Terra”
– Jurandy da Feira

Esta terra dá de tudo

Que se possa imaginar

Sapoti, jabuticaba

Mangaba, maracujá

Cajá-manga, murici

Cana-caiana, juá

Graviola, umbu, pitomba

Araticum, araçá

63
Engenho Velho,

Canavial,

Favo de mel

No meu quintal

O fruto bom dá no tempo

No pé pra gente tirar

Quem colhe fora do tempo

Não sabe o que o tempo dá

Beber a água na fonte

Ver o dia clarear

Jogar o corpo na areia

Ouvir as ondas do mar

[...]

FEIRA, J. Frutos da Terra. Gravadora Pequizeiro. Catálogo: PE 0041. 2000.


Natural da cidade de Tucano-BA, o artista Jurandy da Feira compôs a música
“Frutos da Terra”, que foi regravada por diversos artistas, iniciando por Luiz
Gonzaga, em 1982. Nela, podemos encontrar muitas referências vegetais e
a relação entre os agricultores e agricultoras com os cultivares.

A música inicia demonstrando o mesmo conceito trazido por Gilberto Gil em


“Refazenda”: o de uma natureza domesticada, na qual podemos encontrar
referências à vida campesina. Isso mostra a simplicidade da rotina do campo,

64
ao mesmo tempo que explicita a satisfação na realização de tais atividades.
O álbum “Matança”, de Augusto Jatobá, é uma rica fonte de músicas com
temáticas vegetais. Devido à qualidade do áudio, somente a música tema foi
explorada neste trabalho. Entretanto, vale a pena conhecê-lo por completo
e extrair as informações possíveis.

Esta obra consta de 10 faixas:

1. “Primeiro Vegetal” – Retrata de maneira poética as interações ecológicas


durante a chuva.

2. “Imbuzeiro” – Homenageia uma árvore de extrema importância para a


Caatinga, fonte de água e frutos alimentícios.

3. “Mata Atlântica” – Cita diversas plantas e animais que compõe a


paisagem da Mata Atlântica, além de destacar os desmatamentos desta
mata.

4. “Matança” (com participação especial de Geraldo Azevedo) – Essa

65
música foi explanada nas p. 24-26.

5. “Frutos de Plástico” – Problematiza os processos de industrialização dos


alimentos que prejudicam a saúde dos consumidores, em detrimento
dos alimentos orgânicos.

6. “Ave Árvore” – Aqui, o autor faz uma analogia da sua vida com a de uma
árvore, aplicando concepções filosóficas sobre a existência das árvores.

7. “Mastruço” – Aqui, temos uma homenagem ao mastruz, além de


demonstrar as aplicações etnobotânicas dessa erva.

8. “Homem Arvoredo” (com participação especial de Elomar, Xangai, João


Omar) – Além de reunir mestres cantadores, mais uma vez referencia
diversos vegetais em analogias com a vida da(o) sertaneja(o).

9. “Buraco Negro” – Trás uma crítica a devastação da natureza.

10. “Parado no Ar” – O álbum encerra com uma homenagem à natureza,


mostrando suas belezas em contraste com o expansionismo urbano.

JATOBÁ, A. Matança. Rio de Janeiro: Estúdio de Invenções, 1988.


A série “Explicando” é um documentário de caráter sociocultural sobre ciências
e natureza. No primeiro episódio da série, produzida e divulgada pela platafor-
ma de streaming Netflix, podemos ver como a percepção de música estimula
o cérebro humano. Com isso, expandimos nossas noções sobre os efeitos da
música no desenvolvimento cognitivo para aplicá-los em sala de aula.

Este episódio é interessante para facilitar nossa visão sobre a atuação da


música no corpo e nas relações interpessoais. De compreensão fácil, o epi-

66
sódio exemplifica graficamente os processos constituintes da percepção
sonora, além de trazer o curioso caso de Jennifer Lee, uma DJ e produtora
musical que possuiu, por muitos anos, um distúrbio que a impossibilitava de
perceber qualquer parte de uma música.

Consideramos esse episódio um ótimo complemento, pois ilustra não só


o trajeto percorrido das vibrações sonoras, mas o que faz um ser humano
agrupar um emaranhado de sons e perceber uma melodia harmoniosa ali,
visto que a distinção entre barulho e música está na forma interpretativa do
nosso cérebro atribuir significado.

EXPLICANDO: Música. Ezra Klein; Joe Posner (Criadores). NETFLIX. 2018.


Conclusão
A Biologia, principalmente a Botânica, necessita de recursos didáticos facili-
tadores para se estudar os vegetais em sala de aula. Logo, este paradidático
disponibiliza de uma metodologia ativa com base na problematização, ser-
vindo de apoio para as(os) professoras(es) de Ciências e Biologia.

Dessa forma, utilizamos letras de músicas populares para iniciar e guiar os


debates, uma vez que essa relação íntima entre a música e a educação fa-
cilita a identificação das(dos) discentes com os conteúdos trabalhados nas
letras e as temáticas presentes no currículo sergipano e na BNCC.

As músicas selecionadas para este trabalho contêm alto potencial interdis-


ciplinar, pois envolvem aplicações além das Ciências Biológicas, como, por
exemplo, a Sociologia e a Filosofia, estimulando a capacidade de refletir so-

67
bre as problemáticas que circundam a escola, o que é fundamental para o
desenvolvimento das(dos) discentes.
Referências
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de Sento-Sé – BA. In: CONGRESSO NACIONAL DA DIVERSIDADE DO SEMIÁ-
RIDO (CONADIS), p. 1-10, 2018.

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tão e suas performances. 2015. Dissertação (Mestrado em Música) – Univer-
sidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.

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Arco de Maguerez: uma perspectiva teórica e epistemológica. Filosofia e

Educação. v. 3, n. 2, p. 264-287, 2012.

BORGES, T.S.; ALENCAR, G. Metodologias ativas na promoção da formação


crítica do estudante: o uso das metodologias ativas como recurso didático

68
na formação crítica do estudante do ensino superior. Cairu em Revista, n.
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BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasí-


lia, DF: Ministério da Educação, 2017.

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tricas e PCH’s na Amazônia Meridional. Revista Eletrônica Geoaraguaia,
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Sobre os autores
Vinícius Dantas Andrade
Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Sergipe.
Desenvolveu projetos de pesquisas e monitoria na área da Botânica junto
ao Laboratório de Sistemática Vegetal (UFS).

Débora Moreira de Oliveira


Tecnóloga em Saneamento Ambiental (IFS Sergipe). Bacharel em Ciências
Biológicas (UFS). Licenciatura em Ciências Biológicas (Unopar). Mestre e
Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente pelo Programa de Pós-Gra-
duação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFS). Atualmente, é profes-
sora do Departamento de Educação em Ciências Agrárias e da Terra (DE-
CATS), da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Campus do Sertão.

Marcos Vinicius Meiado


Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Pernam-
buco (2005), Mestrado (2008) e Doutorado (2012) em Biologia Vegetal pela

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mesma instituição. Atualmente, é professor do Departamento de Biociên-
cias (DBCI), da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Professor permanen-
te do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação (PPEC/UFS
São Cristóvão) e Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais (PPGCN/
UFS Itabaiana).

Marla Ibrahim Uhebe de Oliveira


Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Sergipe
(2006); mestrado (2009) e doutorado (2013) em Botânica pela Universida-
de Estadual de Feira de Santana – UEFS. Atualmente, é professora da área
de Botânica do Departamento de Biologia (DBI) da Universidade Federal de
Sergipe – UFS e curadora do Herbário ASE, atuando na área de Sistemática
Vegetal, em especial Myrtaceae (Campomanesia Ruiz & Pavón e demais gê-
neros que ocorrem no Brasil). Interessa-se por temas como taxonomia de
embriófitas, florística, morfologia, anatomia, filogenia, variabilidade genéti-
ca, ensino de Ciências e Biologia e curadoria.

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