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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO/SP

FACULDADE DE DIREITO
DIREITO AMBIENTAL / PROF. ANDRÉ GERALDES
SEMINÁRIO DE DIREITO AMBIENTAL – SETEMBRO 2023

Giovanna Gabriela RA00307453


Mayara Barreto RA00

1. O desenvolvimento de atividades potencialmente causadoras de degradação


ambiental, dentre outras, mineração, construção de hidrelétricas, rodovias,
ferrovias, porto e indústrias, é compatível com a legislação ambiental em
vigor? Em quais princípios ou normas constitucionais sua resposta está
fundamentada?
Resposta: Sim, é compatível com a legislação ambiental em vigor. A
Constituição Federal em seu artigo art. 225, § 1º, Inciso IV, prevê a avaliação de
impacto ambiental, que determina a realização de estudo prévio de impacto
ambiental para a instalação no País de obras ou atividades potencialmente
causadoras de significativa degradação do meio ambiente. As normas
específicas variam de acordo com o projeto, mas de modo geral, o
desenvolvimento de atividades potencialmente causadoras de degradação se
apara no princípio do desenvolvimento sustentável, derivado do mesmo
diploma, que prevê a conciliação entre o desenvolvimento econômico e a
preservação do meio ambiente. Outro princípio fundamental nesse âmbito é da
prevenção e da precaução, advindo da Lei nº 6938/81. Essa lei também
instituiu o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão responsável
pelo estabelecimento de normas e critérios para o licenciamento ambiental
que legitime essas atividades de potencial caráter nocivo ao meio ambiente.

2. Em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público na cidade de DOIS DO


ALTO, o juiz proibiu a queima da palha da cana de açúcar, com base em
alguns estudos científicos que demonstram que a queimada afeta
significativamente o meio ambiente e a saúde da população. Embora existam
diversos outros estudos em sentido contrário, defendendo que as queimadas
são inofensivas para o meio ambiente e para a população, o juiz entendeu
que caberia, no caso concreto, a aplicação do princípio da precaução, o qual
inclusive utilizou para fundamentar a decisão. Os réus apelaram e você, como
desembargador, deve dar o seu voto, e, neste voto, abordar a aplicabilidade
ou a inaplicabilidade do princípio da precaução no caso sub judice.
Resposta: No caso em tela, o voto como desembargador é a favor da
aplicabilidade do princípio da precaução. Tal aplicabilidade se respalda na
própria definição do princípio da precaução, que estabelece a vedação de
intervenções no meio ambiente, salvo se houver a certeza de que as alterações
não causaram reações adversas, já que nem sempre a ciência pode oferecer à
sociedade respostas conclusivas sobre a inocuidade de determinados
procedimentos. Na ação estudada, diante da incerteza científica dos impactos
trazidos pela queima da palha da cana de açúcar, ao sopesar a dificuldade ou
impossibilidade de reparação da maioria dos danos ao meio ambiente, deve-se
priorizar a precaução de tal prejuízo ambiental, ainda que seja incerto,

3. Responda às questões abaixo relacionadas com base nos excertos retirados da


sentença proferida nos autos do processo n. 0000025-24.1986.8.26.0157, ação
civil pública decorrente da poluição em Cubatão.

"A responsabilidade independe, pois, da existência de culpa e se funda na ideia de que


a pessoa que cria o risco deve recuperar os danos advindos de seu empreendimento.
Desta forma, sendo a responsabilidade por dano ambiental objetiva, é irrelevante a
discussão neste feito a respeito de dolo ou culpa do poluidor. Aliás, em se tratando de
dano ambiental, a jurisprudência majoritária e grande parte da doutrina adota a teoria
do risco integral, razão pela qual não há necessidade de verificar o nexo de causalidade
entre a conduta ou atividade do agente com o dano ambiental, inexistindo, ademais,
causas aptas a excluir a responsabilidade quando decorrente de dano ao meio
ambiente [...]
“A responsabilidade entre as empresas que figuram no polo passivo da ação é
solidária, sendo esta solidariedade decorrência lógica, quando se trata de dano
ambiental, da adoção do sistema de responsabilidade objetiva pela legislação
brasileira." [...]
"No caso dos autos, a vasta prova documental que acompanha a inicial, especialmente
o estudo da CESTEB a respeito da degradação da cobertura vegetal da Serra do Mar
em Cubatão, a Carta do Meio Ambiente e de sua Dinâmica relativa à região da Baixada
Santista e o Plano de Ação para Solução da Problemática Ambiental em Cubatão da
Comissão Interministerial de Cubatão – Subcomissão de controle – datado de junho de
1983, revela, de forma inequívoca, que os danos na vegetação da área em discussão
foram decorrentes da poluição proveniente das indústrias de Cubatão e o risco ao
meio ambiente criado pelas empresas situadas próximas ou no complexo industrial
onde a degradação ocorreu. É irrelevante a discussão na ação civil pública ambiental a
respeito da legalidade do ato, pois o que importa é a potencialidade do dano que o ato
possa trazer ao meio ambiente." [...]
"Aplicável, ainda, em matéria de solidariedade, o art. 1.518, 2ª parte, do Código Civil
de 1916, vigente à época da propositura da ação, para fins de responsabilização das
empresas, consignando-se, ademais, que o fato de não se poder individualizar a
contribuição de cada empresa nos danos ambientais não enseja a improcedência da
ação, sendo que, nesta hipótese, todos aqueles próximos ou que compõem o
complexo industrial onde a degradação se verificou devem responder pelo ocorrido."

a. Qual é o conteúdo do princípio do poluidor pagador informado pela teoria


do risco integral?

b. Quais seriam os possíveis pontos a serem abordados pelas empresas em


sede de recurso de apelação?

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