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DIREITO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

Por Fernanda Evlaine


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................3
2. PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL.............................................................7
3. INFORMATIVOS STJ: PRINCIPAIS JULGADOS:................................................................................................19
4. JURISPRUDÊNCIA EM TESE- STJ:....................................................................................................................21
5. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO...............................................................................................22
6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA.............................................................................................................................22
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ATUALIZADO EM 25/09/2022

RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL

Atenção, amiga e amigo cicleiro, esse é o tema de ouro do Direito Ambiental. Mais certo que aluno ciclos
tomando posse (Amém, Igreja?) é que VAI CAIR questão na sua prova sobre Responsabilidade Civil Ambiental.
Então, atenção total nesse momento: liga os motores, alonga a coluna e mete bronca!
1. INTRODUÇÃO:

No Direito Ambiental, pelo menos desde 1981 a responsabilidade independe da existência de culpa.
Isso porque o § 1º do art. 14 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, expressamente determina que:

Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O MP da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de
responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Um dos motivos da introdução da responsabilidade objetiva nesta área foi exatamente a circunstância
de que boa parte – senão a maioria – dos danos ambientais foi – e é – causada ou por grandes corporações
econômicas ou pelo próprio Estado, o que torna quase impossível a comprovação da culpa desses agentes
causadores de degradação ambiental.

A responsabilidade objetiva conforma uma obrigação de indenizar, que é atribuída ao agente causador
do dano, pouco importando se agiu ou não com culpa.

Nesse sentido, a responsabilidade objetiva fundamenta-se na noção de risco social, que está implícito
em determinadas atividades, como na indústria, nos meios de transporte de massa, nas fontes de energia.
Assim, a responsabilidade objetiva, calcada na teoria do risco, é uma imputação atribuída por lei a
determinadas pessoas para ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob
seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do agente ou de
seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a situação de risco criada
pelo agente.

Imputa-se objetivamente a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a fonte de origem do


risco, devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua atividade
independentemente de culpa.

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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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A teoria do risco integral constitui uma  modalidade extremada da teoria do risco em que o nexo causal
é fortalecido de modo a não ser rompido pelo implemento das causas que normalmente o abalariam (v.g. culpa
da vítima; fato de terceiro, força maior). Essa modalidade é excepcional, sendo fundamento para hipóteses
legais em que o risco ensejado pela atividade econômica também é extremado, como ocorre com o dano
nuclear (art. 21, XXIII, “c”, da CF e Lei 6.453/1977). O mesmo ocorre com o dano ambiental (art. 225, caput e §
3º, da CF e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981), em face da crescente preocupação com o meio ambiente.

Vale ressaltar, contudo, que minoritariamente, há os que defendem a teoria do risco criado. Para esses
autores, a teoria da responsabilidade objetiva aplicada à área ambiental funda-se no risco criado e na reparação
integral, compreendendo como risco criado aquele produzido por atividades e bens dos agentes que
potencializam, aumentam ou multiplicam um dano ambiental. Assim, o agente responde pelo risco criado e não
em razão de eventual culpa, motivo pelo qual deve recompor o dano ambiental em sua integralidade e não de
forma limitada, ainda que possua autorização administrativa.

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #AJUDAMARCINHO

O particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde,
apesar da existência de cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o acesso
de outros particulares seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos danos sofridos por
pessoa que, por conduta não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes
de contato com os resíduos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
6/5/2014 (Info 544).

Com efeito, são requisitos para a configuração do dever de indenizar pelo dano ambiental a existência
do evento danoso e do nexo causal entre a atividade e o dano. O evento danoso é o fato que origina a alteração
das propriedades do meio ambiente, de modo a prejudicar a saúde ou as condições de vida da população.
O nexo causal é a dedução de que a atividade do infrator contribuiu para o evento danoso,
independentemente de culpa ou intenção de causar prejuízo ao ambiente.

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: A empresa “Alta Vista Ltda.” estava transportando toras de madeira
quando foi parada em uma fiscalização do IBAMA. Os servidores da autarquia ambiental constataram que a
empresa estava transportando madeiras serradas em desacordo com a nota fiscal e com a licença de transporte
que possuía. A empresa estava transportando 4.000 m3 de madeira a mais do que estava autorizada. Isso
significa que ela estava transportando cerca de 10% a mais da carga que poderia. A legislação ambiental prevê a
lavratura de auto de infração e a apreensão da carga. Indaga-se: deverá ser apreendida a carga toda (todas as
madeiras) ou apenas aquelas que excederam a autorização prevista na guia de transporte? A carga inteira. A
gravidade da conduta de quem transporta madeira em descompasso com a respectiva guia de autorização não
se calcula com base apenas no quantitativo em excesso. Essa infração compromete a eficácia de todo o sistema
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de proteção ambiental. Logo, a medida de apreensão deve compreender a totalidade da mercadoria
transportada. STJ. 2ª Turma. REsp 1.784.755-MT, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/09/2019 (Info 658).

*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicuña no


momento de sua explosão, no Porto de Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos
danos alegadamente suportados por pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo causal a ligar
tais prejuízos (proibição temporária da pesca) à conduta por elas perpetrada (mera aquisição pretérita do
metanol transportado). Situação concreta: três indústrias químicas adquiriam uma grande quantidade de
“metanol”, substância utilizada como matéria-prima para a produção de alguns medicamentos. Elas adquiriram
o metanol da METHANEX CHILE LIMITED, empresa chilena que ficou responsável tanto pela contratação quanto
pelo pagamento do frete marítimo. O navio contratado pela empresa chilena para o transporte foi o “BTG
Vicuña”, de bandeira do Chile. Ocorre que quando já estava atracado no porto de Paranaguá/PR, o navio
explodiu. Isso provocou uma tragédia ambiental porque houve o vazamento de milhões de litros de óleo e de
metanol. Em razão do derramamento, a pesca na região ficou temporariamente proibida. STJ. 2ª Seção. REsp
1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/10/2017 (Info 615).

#OLHAOGANCHO: Responsabilidade ambiental no âmbito criminal


No Brasil, é perfeitamente possível a responsabilidade penal das pessoas jurídicas por crimes
ambientais. O art. 225, § 3º, CF/88 prevê o seguinte:

Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de
reparar os danos causados.

A Lei n. 9.605/98, regulamentando o dispositivo constitucional, estabeleceu:

Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o


disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A
responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do
mesmo fato.

Mesmo com essa previsão expressa na CF/88 e na Lei n. 9.605/98, surgiram quatro correntes para
explicar a possibilidade (ou não) de responsabilização penal da pessoa jurídica, quando a pessoa física não fosse
responsabilizada. Vejamos:

A CF/88 não previu a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas apenas


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1ª Corrente sua responsabilidade administrativa.
Os defensores desta primeira corrente fazem a seguinte interpretação do § 3º
do art. 225 da CF/88: os infratores pessoas físicas estão sujeitos a sanções
Minoritária penais e os infratores pessoas jurídicas a sanções administrativas. Assim,
quando o dispositivo constitucional fala em sanções penais ele está apenas se
referindo às pessoas físicas.

Adotam essa corrente: Miguel Reale Jr., Cézar Roberto Bitencourt, José
Cretela Jr.

A ideia de responsabilidade da pessoa jurídica é incompatível com a teoria do


2ª Corrente crime adotada no Brasil.

É a posição majoritária na doutrina tradicional. Esta segunda corrente baseia-


se na Teoria da ficção jurídica, de Savigny, segundo a qual as pessoas jurídicas
Majoritária na são puras abstrações, desprovidas de consciência e vontade (societas
doutrina delinquere non potest), logo, desprovidas de tais atributos, não podem
tradicional praticar condutas tipicamente humanas, como as condutas criminosas.

Adotam essa corrente: Pierangelli, Zafaroni, René Ariel Dotti, Luiz Regis Prado,
Alberto Silva Franco, Fernando da Costa Tourinho Filho, Roberto Delmanto,
LFG, entre outros.

É plenamente possível a responsabilização penal da pessoa jurídica no caso de


3ª Corrente crimes ambientais porque assim determinou o § 3º do art. 225 da CF/88. A
pessoa jurídica pode ser punida penalmente por crimes ambientais ainda
que não haja responsabilização de pessoas físicas
Acolhida
atualmente pelo O principal argumento desta corrente é pragmático e normativo: pode haver
STF e STJ responsabilidade penal porque a CF/88 assim determinou. Vale ressaltar que
o § 3º do art. 225 da CF/88 não exige, para que haja responsabilidade penal
da pessoa jurídica, que pessoas físicas sejam também, obrigatoriamente,
denunciadas.
STJ. 6ª Turma. RMS 39.173-BA, Rei. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 6/8/2015 (lnfo 566). STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rei. Min. Rosa Weber,
julgado em 6/8/2013 (lnfo 714).

É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica, desde que em


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4ª Corrente conjunto com uma pessoa física.

Posição antiga do Era a antiga posição do STJ.


STJ, atualmente
superada.

#CUIDADO #PARECEMASNÃOÉ

Não confunda a teoria da dupla imputação com a teoria da dupla garantia, que conta com aplicação no tocante
à responsabilidade civil do Estado e do servidor público que age em seu nome.

*#SÚMULA #STJ: Súmula 613 - Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito
Ambiental. (Súmula 613, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/05/2018, DJe 14/05/2018)
Cuidado! O STJ entende que a responsabilidade ADMINISTRATIVA ambiental tem natureza subjetiva,
ensejando, portanto, a análise de culpa.

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: A aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da


responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática
da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração
de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano. Assim, a
responsabilidade CIVIL ambiental é objetiva; porém, tratando-se de responsabilidade administrativa ambiental,
a responsabilidade é SUBJETIVA. STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 08/05/2019 (Info 650).

*(Atualizado em 23/08/2020) #DEOLHONAJURIS Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco
integral. A pessoa que explora a atividade econômica ocupa a posição de garantidor da preservação
ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos vinculados à atividade. Logo, não se
pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro ou força maior. No caso
concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental protegida. Mesmo
tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é causa
excludente da responsabilidade do proprietário do estabelecimento. Mesmo que se considere que a
instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença
ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco
concretizado no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de
reparar a lesão verificada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
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28/04/2020 (Info 671).

2. PRINCIPAIS DISPOSIÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL:

2.1. AGENTE CAUSADOR DO DANO E AGENTE POLUIDOR:


Tanto a pessoa natural quanto a pessoa jurídica (de direito público ou privado) podem ser qualificadas
como agentes causadores do dano. A própria Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, ao tratar do conceito de
poluidor, prevê que ambas (pessoa natural e jurídica) podem ser responsáveis, direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental.

*#SAINDODOFORNO: Súmula 618-STJ: A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.

Art. 3º, inciso IV: poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;

#APROFUNDAMENTO
Deep Pocket Doctrine (Doutrina do Bolso Profundo)

Deep Pocket doctrine possui origem no Direito norte-americano e preconiza que havendo vários
responsáveis pelo dano ambiental, e sendo de difícil aferição a responsabilidade de cada um, deve-se transferir
o ônus da reparação aquele que possui as melhores condições financeiras, daí o termo “bolso profundo”, pois se
remeteria a um bolso com bastante dinheiro.
Nesse sentido, afirma Frederico Amado2:
“Há uma tendência específica no Direito Ambiental em buscar responsabilizar quem tem mais
condições de arcar com os prejuízos ambientais, com base na doutrina americana do “bolso profundo”, uma
vez que prevalece que todos os poluidores são responsáveis solidariamente pelos danos ambientais”.

2.2. DANO AMBIENTAL:


O dano ambiental pode ser definido como qualquer lesão causada ao meio ambiente por condutas ou
atividades de pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado.
O dano ambiental é de difícil ou impossível reparação, dada a natureza do bem lesado: o meio
ambiente, seja na condição de macrobem (considerado como um todo, um bem de uso comum do povo,
incorpóreo e imaterial), seja na condição de microbem (os elementos que compõem o meio ambiente, como os
biomas e os ecossistemas).

2
(AMADO, Frederico. Direito Ambiental Esquematizado. 7ª ed. São Paulo: Método, 2016, p. 567);
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2.2.1. Classificação do dano ambiental:
O dano ambiental pode ser classificado considerando (i) a amplitude do bem protegido, (ii) a
reparabilidade e os interesses jurídicos envolvidos, (iii) a extensão e (iv) o interesse objetivado, de acordo com a
classificação e conceitos propostos por José Rubens Morato Leite, uma das mais completas, senão a mais
completa da doutrina.
Em relação à amplitude do bem protegido classifica-se em:
a) dano ecológico puro: aquele em que um ou alguns dos componentes naturais do ecossistema é
atingido de forma intensa;
b) dano ambiental lato sensu: abrange todos os componentes do meio ambiente, inclusive o
patrimônio cultural, protegendo-se, pois, o meio ambiente e todos os seus componentes, numa concepção
unitária;
c) dano individual ambiental ou reflexo (ricochete ou refluxo): atinge pessoas individualmente
consideradas e incide sobre interesses próprios do lesado, pois o dano patrimonial ou extrapatrimonial sofrido
por uma pessoa, ou a doença contraída, inclusive a morte, podem decorrer de degradação ambiental.
Quanto à reparabilidade e ao interesse envolvido pode ser:
a) dano ambiental de reparabilidade direta: diz respeito a interesses próprios, tanto os individuais
quanto os individuais homogêneos. O interesse que sofreu lesão será indenizado diretamente;
b) dano ambiental de reparabilidade indireta: relaciona-se aos interesses difusos, coletivos e,
eventualmente, individuais de dimensão coletiva. A reparação é dirigida preferencialmente ao bem ambiental
de interesse coletivo, considerando-se a capacidade funcional ecológica e a de aproveitamento humano do
meio ambiente. Não objetiva, pois, ressarcir interesses próprios e pessoais.
Considerando-se a extensão pode-se dividir em:
a) dano patrimonial ambiental: incide sobre os bens materiais. Trata-se do dano material;
b) dano extrapatrimonial ambiental: é o dano moral ocasionado à sociedade e/ou aos indivíduos
decorrente de lesão ao meio ambiente. Abrange o dano ambiental extrapatrimonial coletivo (quando atingido o
macrobem ambiental) e o dano ambiental extrapatrimonial reflexo, a título individual (quando se referir ao
microbem ambiental).
Relativamente aos interesses objetivados biparte-se em:
a) dano ambiental de interesse da coletividade ou de interesse público: à coletividade interessa
preservar o macrobem ambiental para as presentes e futuras gerações;
b) dano ambiental de interesse individual: aquele que se reflete no interesse particular da pessoa,
inclusive o de defender o macrobem, tutelado via ação popular.

*#OUSESABER: O que se entende por carácter sinérgico do dano ambiental? O caráter sinergético do dano
ambiental corresponde à hipótese em que a degradação do meio ambiente decorre de várias fontes
independentes que somadas resultam em lesão ao bem jurídico ambiental, obrigando solidariamente todos os
poluidores à sua reparação.
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*#OUSESABER: em que consiste os efeitos transitórios, remanescentes ou reflexos, do dano ambiental?


Nas demandas ambientais, por força dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum, admite-se
a condenação do réu, simultânea e agregadamente, em obrigação de fazer (recompor/restaurar/recuperar as
áreas afetadas), não fazer (não mais poluir ou degradar) e indenizar em pecúnia. Se o bem ambiental lesado for
imediata e completamente restaurado ao status quo ante não há falar, ordinariamente, em indenização
remanescente. Contudo, a possibilidade técnica, no futuro, de restauração in natura nem sempre se mostra
suficiente para reverter ou recompor integralmente as várias dimensões do dano ambiental causado. Há uma
parcela que, causada pelo mesmo comportamento pretérito do agente, apresenta efeitos deletérios de cunho
futuro, irreparável ou intangível. Essa degradação ou dano transitório, remanescente ou reflexo do meio
ambiente inclui: a) o prejuízo ecológico que medeia, temporalmente, o instante da ação ou omissão danosa e o
pleno restabelecimento ou recomposição da biota; b) a ruína ambiental que subsista ou perdure, não obstante
todos os esforços de restauração (= dano residual ou permanente), e c) o dano moral coletivo. Nesse setido: STJ
- REsp 1.180.078/MG (Rel. Min Herman Benjamin, DJe de 28/2/2012)

#RESUMO

É aquele em que um ou alguns dos componentes naturais do


Dano Ecológico Puro
ecossistema é atingido de forma intensa;

Abrange todos os componentes do meio ambiente, inclusive o


Dano Ecológico Lato
Quanto à patrimônio cultural, protegendo-se, pois, o meio ambiente e todos
Sensu
amplitude do bem os seus componentes, numa concepção unitária;
protegido Atinge pessoas individualmente consideradas e incide sobre
Dano individual interesses próprios do lesado, pois o dano patrimonial ou
ambiental ou reflexo extrapatrimonial sofrido por uma pessoa, ou a doença contraída,
inclusive a morte, podem decorrer de degradação ambiental.

Diz respeito a interesses próprios, tanto os individuais quanto os


Dano ambiental de
individuais homogêneos. O interesse que sofreu lesão será
reparabilidade direta
indenizado diretamente;

Quanto à Relaciona-se aos interesses difusos, coletivos e, eventualmente,


Reparabilidade individuais de dimensão coletiva. A reparação é dirigida
Dano ambiental de
preferencialmente ao bem ambiental de interesse coletivo,
reparabilidade
considerando-se a capacidade funcional ecológica e a de
indireta
aproveitamento humano do meio ambiente. Não objetiva, pois,
ressarcir interesses próprios e pessoais.
Considerando à Dano patrimonial Incide sobre os bens materiais. Trata-se do dano material.
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ambiental
É o dano moral ocasionado à sociedade e/ou decorrente de lesão
Dano ao meio ambiente. Abrange o dano ambiental extrapatrimonial
extensão do dano
extrapatrimonial coletivo (quando atingido o macrobem ambiental) e o dano
ambiental ambiental extrapatrimonial reflexo, a título individual (quando se
referir ao microbem ambiental).
Dano ambiental de
À coletividade interessa preservar o macrobem ambiental para as
interesse da
Interesses presentes e futuras gerações;
coletividade
objetivados
Dano ambiental de Aquele que se reflete no interesse particular da pessoa, inclusive o
interesse individual de defender o macrobem, tutelado via ação popular.

2.2.2. Reparação do dano ambiental:


Há três formas de reparação do dano ambiental: a reparação natural, a compensação ambiental e a
indenização.

A reparação natural ou in specie consiste na recomposição do meio ambiente degradado. Busca-se


reequilibrar o bem ambiental lesado, por meio da reversão da degradação ambiental sempre que isso for
possível. Embora seja a modalidade mais onerosa, em contrapartida, é a ideal e exigida em primeiro lugar,
sendo as demais formas subsidiárias.

A própria Constituição da República, no § 2°, do art. 225, determina:

Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente na forma da lei.

A segunda opção é a compensação ambiental. Esta solução é usada pelo Direito Ambiental como
forma de neutralizar ou contrabalançar um dano ambiental. Contudo, não há um tratamento uniforme.

Em verdade, diversas leis abordam o assunto. É o caso do Código Florestal (*Lei n 12.651, de 25 de
maio de 2012), que estabelece a compensação ambiental para o caso de supressão de vegetação de Áreas de
Preservação Permanente e de Reserva Legal; a Lei da Mata Atlântica (Lei n° 11.428, de 22 de dezembro de 2006)
prevê a compensação para o corte, a supressão e a exploração de vegetação deste bioma; a Lei n° 9.985, de 18
de julho de 2000 (Sistema Nacional das Unidades de Conservação) prevê a compensação ambiental antecipada,
para fins de implantação de empreendimentos causadores de significativa degradação ambiental. A Lei
12.651/12 (Novo Código Florestal) estabelece no art. 25, IV a aplicação de recursos oriundos da compensação
ambiental em áreas verdes.

Assim, a compensação ambiental é cabível quando os danos ambientais forem irreversíveis e não seja
possível a reparação in natura.
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Por fim, subsiste a indenização pecuniária. À evidência, é admissível apenas e tão somente quando a
reconstituição apresentar-se inviável tática ou tecnicamente. O valor da indenização é depositado em um fundo:
o fundo para reconstituição dos bens lesados, que é destinado à compensação ecológica.

2.2.3. Responsabilidade estatal por dano ambiental:


O Estado também pode ser responsabilizado por dano ambiental, sempre que for causado pelo
próprio Poder Público ou por concessionária de serviço público. Neste caso, é a responsabilidade objetiva, como
dito anteriormente. Esta a regra que está expressamente prevista no art. 37, § 6°, da Constituição.

Vale ressaltar que mesmo em condutas omissivas, a responsabilidade do Estado por dano ambiental
continuará a ser objetiva.

#TEMCARADEPROVA #ATENÇÃO:

Há solidariedade entre a responsabilidade do poluidor direto e indireto. Contudo, apesar de ser


solidária, a atual jurisprudência dominante no STJ (1ª e 2ª Turma) é no sentido de que a responsabilidade civil
do Poder Público é de execução SUBSIDIÁRIA, na hipótese de omissão de cumprimento adequado do seu dever
de fiscalizar que foi determinante para a concretização ou o agravamento do dano causado pelo seu causador
direto3.

*(Atualizado em 16/03/2022) #DEOLHONASÚMULA! Súmula 652-STJ: A responsabilidade civil da


Administração Pública por danos ao meio ambiente, decorrente de sua omissão no dever de fiscalização, é de
caráter solidário, mas de execução subsidiária. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 02/12/2021, DJe 06/12/2021.

*(Atualizado em 25/09/2022) A omissão na fiscalização e mitigação dos danos ambientais enseja a imposição
judicial de obrigações positivas para o Município a fim de solucionar o problema cuja extensão temporal e
quantitativa revela afronta à dimensão ecológica da dignidade humana. STJ, AREsp 2.024.982-SP, Rel. Min. Og
Fernandes, Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 14/06/2022, DJe 24/06/2022.

2.2.4. Desconsideração da personalidade jurídica:


Apesar de ser instituto ligado a questões cíveis, o dispositivo legal que a regulamenta foi inserido na
Lei dos Crimes Ambientais, no art. 4º (Lei 9.605/98):
Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.

De acordo com o STJ, essa previsão de desconsideração da personalidade jurídica, tal qual ocorre na
proteção do direito do consumidor se fundamenta na Teoria Menor da desconsideração da personalidade
jurídica, pois são menores os requisitos aqui do que aqueles que constam do art. 50 do Código Civil. Aqui não se
exige abuso da personalidade jurídica, tendo como norte apenas a reparação, bastando, por exemplo, que o
3
Tema cobrado na prova objetiva para Juiz de Direito Substituto do TJ-SC, em 2022.
13
ente não tenha patrimônio, mesmo que isto não importe em ações ilícitas perpetradas por seus gestores ou
sócios.

2.2.5. Inversão do ônus da prova:

O STJ passou a admitir, desde 2009, a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA nas ações de reparação dos
danos ambientais, com base no interesse público da reparação e no Princípio da Precaução, sendo uma ótima
técnica de julgamento na hipótese de dúvida probatória (non liquet), pois poderá ser carreado ao suposto
poluidor o ônus de comprovar que inexiste dano ambiental a ser reparado, ou, se existente, que este não foi de
sua autoria (vide REsp 972.902, de 25.08.2009; REsp 1.060.753-SP, de 1º/12/2009).

#APROFUNDAMENTO #VÁALÉM

Houve uma evolução interna, bancada pelo Ministro Herman Benjamin e, na atualidade, além do
aspecto material, admite-se também a inversão do ônus da prova em matéria de reparação ambiental no seu
aspecto processual com aplicação ao CDC com expansão a todas as demandas coletivas. Isto é, além de se
fundamentar no aspecto material (ope legis), mormente no Princípio da Precaução (in dubio pro natura ou
salute), a inversão do ônus da prova na ação de reparação do dano ambiental também encontra fundamento
processual (ope judicis), pois a regra do artigo 6º, do CDC, tem aplicação em defesa de todos os direitos
coletivos e difusos (MICROSSISTEMA).

#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #AJUDAMARCINHO

Vale destacar que a inversão do ônus da prova não deverá se proceder apenas por ocasião da sentença
(regra de julgamento), e sim anteriormente, preferencialmente no despacho saneador, em respeito ao Princípio
do Contraditório, para que o réu saiba perfeitamente que terá a missão de desconstituir a presunção de
veracidade dos fatos declinados pelo autor, não sendo surpreendido apenas na sentença, consoante acertada
jurisprudência do STJ (REGRA DE INSTRUÇÃO) (REsp 802.832, j. 13.04.2011).

2.2.6. Natureza da reparação do dano ambiental:

Essa natureza é real, isto é, propter rem. Essa obrigação é um caso raro de responsabilidade civil que
existe mesmo que ausente o nexo de causalidade.

*#STJ #SELIGANASÚMULA: Súmula 623 - As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo
admissível cobrá-las do proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

É irrelevante a boa ou má-fé do adquirente para haver a exigência desta reparação. Vale salientar que
este entendimento do STJ foi abraçado pelo Novo Código Florestal. O Novo Código Florestal dispõe que:

Art. 3, § 2º: As obrigações previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de
qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel rural.
14
A lei faz menção apenas a imóvel rural, mas esta restrição deve ser ignorada, pois o proprietário de
imóvel urbano também a terá, não havendo razão para tal diferenciação, pois, como analisado, existe proteção
especial também em âmbito urbano.

2.2.7. Compensação e responsabilidade civil por danos ambientais:

Vimos que o art. 36 da Lei 9.885/2000 prevê a compensação por significativa degradação ambiental, a
ser paga em dinheiro, proporcionalmente ao grau de impacto ambiental e que o patamar mínimo estabelecido
no dispositivo foi declarado inconstitucional pelo Supremo, por violação ao princípio da proporcionalidade.
Assim, quem causa significativa degradação tem que pagar a compensação em dinheiro, compensação esta que
será vertida ao propósito de preservação do meio ambiente.

*Obs.: essa compensação antecipada e paga em dinheiro é diferente da indenização realizada após o
dano. A compensação do art. 36 da Lei 9.885/2000 é, como o próprio nome já diz, antecipada, ou seja, deve
ser realizada antes ou conjuntamente com a execução do empreendimento que gerará o dano ambiental
previsto nos estudos de impactos ambientais (EIA/RIMA), ou seja, a Administração prevê o dano e estabelece,
como condição para que o empreendimento seja realizado, a implementação de compensação antecipada.

Obs: Prevalece que esta compensação tem natureza jurídica (civil) de reparação antecipada do dano.

#ATENÇÃO

O pagamento dessa compensação exonera o que indenizou da responsabilidade na ação coletiva


para a reparação do dano?

O STJ entendeu que se o dano ambiental causado estiver previsto o EIA-RIMA, não será admitida a
perseguição do responsável por ação coletiva, pois aí seria bis in idem, mas, caso o impacto seja um que NÃO
esteja contemplado neste estudo, será possível a responsabilização por ação coletiva. (REsp 896.863).

*[Ou seja, se a Administração pública não previu aquele dano no EIA/RIMA, é possível intentar ação coletiva
contra o causador do dano e requerer a indenização financeira ou a compensação posterior. No entanto, se a
Administração previu aquele dano nos estudos de impacto ambiental, não é possível que o poluidor seja
responsabilizado duas vezes se, lá no início da execução da obra, ele já realizou a compensação antecipada do
dano!]

*“PROCESSO CIVIL E AMBIENTAL. VIOLAÇAO DO ART. 535, II, DO CPC. OMISSAO NAO CONFIGURADA.


COMPENSAÇAO AMBIENTAL. ART. 36 DA LEI Nº 9.985/2000. 1. Não há violação do art. 535 do CPC quando o
Tribunal de origem resolve a controvérsia de maneira sólida e fundamentada. 2. O artigo 36 da Lei
n.º 9.985/2000 prevê o instituto de compensação ambiental com base em conclusão de EIA/RIMA, de que o
empreendimento teria significativo impacto ambiental e mensuração do dano previsível e indispensável a sua
realização. 3. A compensação tem conteúdo reparatório, em que o empreendedor destina  parte considerável
de seus esforços em ações que sirvam para contrabalançar o uso de recursos naturais indispensáveis à
15
realização do empreendimento previsto no estudo de impacto ambiental e devidamente autorizados pelo
órgão competente. 4. O montante da compensação deve ater-se àqueles danos inevitáveis e  imprescindíveis
ao empreendimento previsto no EIA/RIMA, não se incluindo aqueles  que possam ser objeto de medidas
mitigadoras ou preventivas. 5. A indenização por dano ambiental, por seu turno, tem assento no
artigo 225, 3º, da Carta da Republica, que cuida de hipótese de dano já ocorrido em que o autor
terá obrigação de repará-lo ou indenizar a coletividade. Não há como se incluir nesse contexto aquele foi
previsto e autorizado pelos órgãos ambientais já devidamente  compensado. 6. Os dois institutos têm
natureza distinta, não havendo bis in idem  na cobrança de indenização, desde que nela não se inclua a
compensação anteriormente realizada ainda na fase de implantação do projeto. 7. O pleito de compensação
por meio do oferecimento de gleba feito previamente pelo Governo do Distrito Federal como meio de reparar
a construção da estrada em área de conservação não pode ser acolhido, seja pela inexistência de EIA/RIMA -
requisito para aplicação do artigo 36 da Lei nº 9.985/2000-, seja pela existência de danos que não foram
identificados nos relatórios técnicos que justificaram a dispensa do estudo. 8. A indenização fixada em R$
116.532,00 (cento e dezesseis mil, quinhentos e trinta e dois reais) já se justificaria pela existência dos danos
ambientais gerados pela obra que não foram contemplados por medidas que os minorassem ou evitassem.
O simples fato de o Governo do Distrito Federal gravar determinado espaço como área de  conservação
ambiental não lhe permite degradar como melhor lhe aprouver outra extensão da mesma unidade sem
observar os princípios estabelecidos na Carta da Republica . 9. Recursos especiais não providos.

2.2.8. Prazo Prescricional:

O STJ vem pronunciando a imprescritibilidade da pretensão de reparação ao dano ambiental, tendo


em vista o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

2.2.9. Cumulação de pedidos:


É plenamente possível a cominação de obrigação de reparação com a indenização pecuniária
cumulativamente, até que haja a recuperação total do dano, se possível.

*#NOVIDADE #SÚMULA #STJ: Súmula 629 - Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à
obrigação de fazer ou à de não fazer cumulada com a de indenizar.

De acordo com o STJ, no julgamento do Recurso Especial 1.198.727, de 14/08/2012, ao


responsabilizar-se civilmente o infrator ambiental, não se deve confundir prioridade da recuperação in natura
do bem degradado com impossibilidade de cumulação simultânea dos deveres de repristinação natural
(obrigação de fazer), compensação ambiental e indenização em dinheiro (obrigação de dar), e abstenção de uso
e de nova lesão (obrigação de não fazer).
16
Contudo, deve-se ressaltar que havendo restauração completa do dano ambiental, bem como ausente
dano reflexo, não haverá o dever de indenizar. Vejamos o julgado anteriormente citado, que foi cobrado no TRF
4ª Região:
“Esse entendimento não implica a conclusão de que, sempre, será devida a indenização, pois, quando
é possível a completa restauração, sem que se verifique ter havido dano remanescente ou reflexo, não há falar
em indenização” (STJ. REsp 1198727/MG, j. 14/08/2012, DJe 09/05/2013)
*“Se o bem ambiental lesado for imediata e completamente restaurado ao status quo ante  (reductio ad
pristinum statum, isto é, restabelecimento à condição original), não há falar, como regra, em  indenização.
Contudo, a possibilidade técnica, no futuro (= prestação jurisdicional  prospectiva), de restauração in
natura  nem sempre se mostra suficiente para reverter ou recompor integralmente, no terreno da
responsabilidade civil, as várias dimensões do dano ambiental causado; por isso não exaure os deveres
associados aos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum. Não custa lembrar que o dano
ambiental é multifacetário (ética, temporal, ecológica e patrimonialmente falando, sensível ainda à
diversidade do vasto universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletividade, às gerações futuras
e aos próprios processos ecológicos em si mesmos considerados). Em suma, equivoca-se, jurídica e
metodologicamente, quem confunde prioridade  da recuperação in natura  do bem degradado com
impossibilidade de cumulação simultânea  dos deveres de repristinação natural (obrigação de fazer),
compensação ambiental e indenização em dinheiro (obrigação de dar), e abstenção de uso e nova
lesão (obrigação de não fazer).”

2.2.10. Dano Moral Coletivo:


Através da sua 2ª Turma, o STJ vem admitindo a condenação em dano moral coletivo do poluidor,
presumindo a ocorrência dos danos às presentes e futuras gerações.

#APROFUNDAMENTO #AJUDAMARCINHO

Imagine que determinada empresa causou grave dano ambiental.

O Ministério Público (ou outro legitimado) poderá ajuizar ação civil pública pedindo que essa empresa seja
condenada a recompor o meio ambiente?
SIM, sem nenhuma dúvida.

Além disso, é possível que, na ACP, seja pedida a condenação da empresa ao pagamento de danos morais em
favor da coletividade? Em outras palavras, é cabível dano moral coletivo em razão de dano ambiental?
SIM. A 2ª Turma do STJ decidiu recentemente que é possível que a sentença condene o infrator ambiental ao
pagamento de quantia em dinheiro a título de compensação por dano moral coletivo (REsp 1.328.753-MG, Rel.
Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013).
17
Assim, apesar de existirem precedentes da 1ª Turma em sentido contrário (AgRg no REsp 1305977/MG, julgado
em 09/04/2013), a posição majoritária (não pacífica) é no sentido de ser cabível a  condenação por dano moral
coletivo.

É possível, então, que a empresa seja condenada, cumulativamente, a recompor o meio ambiente e a pagar
indenização por dano moral coletivo?
SIM. Isso porque vigora em nosso sistema jurídico o princípio da reparação integral do dano ambiental, de modo
que o infrator deverá ser responsabilizado por todos os efeitos decorrentes da conduta lesiva, permitindo-se
que haja a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar.

O art. 3º da Lei n.° 7.347/85 afirma que a ACP “poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”.

Para o STJ, essa conjunção “ou” – contida no citado artigo, tem um sentido de adição (soma), não
representando uma alternativa excludente. Em outras palavras, será possível a condenação em dinheiro e
também ao cumprimento de obrigação de fazer/não fazer.

Veja precedente nesse sentido:

(...) Segundo a jurisprudência do STJ, a logicidade hermenêutica do art. 3º da Lei 7.347/1985 permite a
cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil
pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já consumado.
Microssistema de tutela coletiva.
(...)
4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo
desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa,  a indignação, tal qual fosse um
indivíduo isolado.
5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização
pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em danos morais coletivos, com a devolução
dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, no caso, há dano indenizável e fixação do
eventual quantum debeatur. (STJ, REsp 1.269.494, de 24/09/2013).

2.2.11. Caráter Multifacetário do Direito Ambiental:


O dano ambiental é imaterial. Há atualmente uma série de vertentes relacionadas ao dano ambiental.
Neste ponto é que se torna necessário apontar o caráter multifacetário do dano ambiental, que se apresenta na
seara ecológica, ética, patrimonial e temporal, já reconheceu o STJ no julgamento do Recurso Especial
1.198.727:
18

*ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESMATAMENTO DE VEGETAÇÃO NATIVA (CERRADO)


SEM AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE AMBIENTAL. DANOS CAUSADOS À BIOTA. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 4º,
VII, E 14, § 1º, DA LEI 6.938/1981, E DO ART. 3º DA LEI 7.347/85. PRINCÍPIOS DA REPARAÇÃO INTEGRAL, DO
POLUIDOR-PAGADOR E DO USUÁRIO-PAGADOR. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER
(REPARAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA) E DE PAGAR QUANTIA CERTA (INDENIZAÇÃO). REDUCTION AD PRISTINUM
STATUM. DANO AMBIENTAL INTERMEDIÁRIO, RESIDUAL E MORAL COLETIVO. ART. 5º DA LEI DE INTRODUÇÃO
AO CÓDIGO CIVIL. INTERPRETAÇÃO IN DUBIO PRO NATURA DA NORMA AMBIENTAL. 1. Cuidam os autos de ação
civil pública proposta com o fito de obter responsabilização por danos ambientais causados pelo desmatamento
de vegetação nativa (Cerrado). O juiz de primeiro grau e o Tribunal de Justiça de Minas Gerais consideraram
provado o dano ambiental e condenaram o réu a repará-lo; porém, julgaram improcedente o pedido
indenizatório pelo dano ecológico pretérito e residual. 2. A legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos
interesses difusos e coletivos deve ser interpretada da maneira que lhes seja mais favorável e melhor possa
viabilizar, no plano da eficácia, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma. A hermenêutica jurídico-
ambiental rege-se pelo princípio in dubio pro natura. 3. Ao responsabilizar-se civilmente o infrator ambiental,
não se deve confundir prioridade da recuperação in natura do bem degradado com impossibilidade de
cumulação simultânea dos deveres de repristinação natural (obrigação de fazer), compensação ambiental e
indenização em dinheiro (obrigação de dar), e abstenção de uso e de nova lesão (obrigação de não fazer). 4.
De acordo com a tradição do Direito brasileiro, imputar responsabilidade civil ao agente causador de
degradação ambiental difere de fazê-lo administrativa ou penalmente. Logo, eventual absolvição no processo
criminal ou perante a Administração Pública não influi, como regra, na responsabilização civil, tirantes as
exceções em numerus clausus do sistema legal, como a inequívoca negativa do fato ilícito (não ocorrência de
degradação ambiental, p. ex.) ou da autoria (direta ou indireta), nos termos do art. 935 do Código Civil. 5. Nas
demandas ambientais, por força dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum, admite-se a
condenação do réu, simultânea e agregadamente, em obrigação de fazer, não fazer e indenizar. Aí se encontra
típica obrigação cumulativa ou conjuntiva. Assim, na interpretação dos arts. 4º, VII, e 14, § 1º, da Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), e do art. 3º da Lei 7.347/85, a conjunção "ou" opera com valor
aditivo, não introduz alternativa excludente. Essa posição jurisprudencial leva em conta que o dano ambiental é
multifacetário (ética, temporal, ecológica e patrimonialmente falando, sensível ainda à diversidade do vasto
universo de vítimas, que vão do indivíduo isolado à coletividade, às gerações futuras e aos próprios processos
ecológicos em si mesmos considerados). 6. Se o bem ambiental lesado for imediata e completamente
restaurado ao status quo ante (reductio ad pristinum statum, isto é, restabelecimento à condição original),
não há falar, ordinariamente, em indenização. Contudo, a possibilidade técnica, no futuro (= prestação
jurisdicional prospectiva), de restauração in natura nem sempre se mostra suficiente para reverter ou
recompor integralmente, no terreno da responsabilidade civil, as várias dimensões do dano ambiental
causado; por isso não exaure os deveres associados aos princípios do poluidor-pagador e da reparação in
integrum. 7. A recusa de aplicação ou aplicação parcial dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in
19
integrum arrisca projetar, moral e socialmente, a nociva impressão de que o ilícito ambiental compensa. Daí a
resposta administrativa e judicial não passar de aceitável e gerenciável "risco ou custo do negócio", acarretando
o enfraquecimento do caráter dissuasório da proteção legal, verdadeiro estímulo para que outros, inspirados no
exemplo de impunidade de fato, mesmo que não de direito, do infrator premiado, imitem ou repitam seu
comportamento deletério. 8. A responsabilidade civil ambiental deve ser compreendida o mais amplamente
possível, de modo que a condenação a recuperar a área prejudicada não exclua o dever de indenizar - juízos
retrospectivo e prospectivo. 9. A cumulação de obrigação de fazer, não fazer e pagar não configura bis in idem,
porquanto a indenização, em vez de considerar lesão específica já ecologicamente restaurada ou a ser
restaurada, põe o foco em parcela do dano que, embora causada pelo mesmo comportamento pretérito do
agente, apresenta efeitos deletérios de cunho futuro, irreparável ou intangível. 10. Essa degradação transitória,
remanescente ou reflexa do meio ambiente inclui: a) o prejuízo ecológico que medeia, temporalmente, o
instante da ação ou omissão danosa e o pleno restabelecimento ou recomposição da biota, vale dizer, o hiato
passadiço de deterioração, total ou parcial, na fruição do bem de uso comum do povo (= dano interino ou
intermediário), algo frequente na hipótese, p. ex., em que o comando judicial, restritivamente, se satisfaz com a
exclusiva regeneração natural e a perder de vista da flora ilegalmente suprimida, b) a ruína ambiental que
subsista ou perdure, não obstante todos os esforços de restauração (= dano residual ou permanente), e c) o
dano moral coletivo. Também deve ser reembolsado ao patrimônio público e à coletividade o proveito
econômico do agente com a atividade ou empreendimento degradador, a mais-valia ecológica ilícita que auferiu
(p. ex., madeira ou minério retirados irregularmente da área degradada ou benefício com seu uso espúrio para
fim agrossilvopastoril, turístico, comercial). 11. No âmbito específico da responsabilidade civil do agente por
desmatamento ilegal, irrelevante se a vegetação nativa lesada integra, ou não, Área de Preservação
Permanente, Reserva Legal ou Unidade de Conservação, porquanto, com o dever de reparar o dano causado, o
que se salvaguarda não é a localização ou topografia do bem ambiental, mas a flora brasileira em si mesma,
decorrência dos excepcionais e insubstituíveis serviços ecológicos que presta à vida planetária, em todos os seus
matizes. 12. De acordo com o Código Florestal brasileiro (tanto o de 1965, como o atual, a Lei 12.651, de
25.5.2012) e a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), a flora nativa, no caso de supressão,
encontra-se uniformemente protegida pela exigência de prévia e válida autorização do órgão ambiental
competente, qualquer que seja o seu bioma, localização, tipologia ou estado de conservação (primária ou
secundária). 13. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei 7.347/85 e da
Lei 6.938/81, de cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar (REsp 1.145.083/MG, Rel.
Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe 4.9.2012; REsp 1.178.294/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 10.9.2010; AgRg nos EDcl no Ag 1.156.486/PR, Rel. Ministro Arnaldo Esteves
Lima, Primeira Turma, DJe 27.4.2011; REsp 1.120.117/AC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe
19.11.2009; REsp 1.090.968/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 3.8.2010; REsp 605.323/MG, Rel.
Ministro José Delgado, Rel. p/ Acórdão Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 17.10.2005; REsp
625.249/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 31.8.2006, entre outros). 14. Recurso especial
parcialmente provido para reconhecer a possibilidade, em tese, de cumulação de indenização pecuniária com
20
as obrigações de fazer e não fazer voltadas à recomposição in natura do bem lesado, devolvendo-se os autos
ao Tribunal de origem para que verifique se, na hipótese, há dano indenizável e fixe eventual quantum
debeatur. (STJ - REsp: 1198727 MG 2010/0111349-9, Relator: Ministro HERMAN BENJAMIN, Data de
Julgamento: 14/08/2012, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/05/2013)

2.2.12. Dano punitivo e a sua aplicação no Direito Ambiental:


É inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato,
pois a punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo.
Assim, não há que se falar em danos punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais, haja
vista que a responsabilidade civil por dano ambiental prescinde da culpa e revestir a compensação de caráter
punitivo propiciaria o bis in idem (pois, como firmado, a punição imediata é tarefa específica do direito
administrativo e penal).
#IMPORTANTE
Responsabilidade civil e dano ambiental
A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL. Não
são admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou
culpa exclusiva da vítima.
O registro de pescador profissional e o comprovante do recebimento do seguro-defeso são
documentos idôneos para demonstrar que a pessoa exerce a atividade de pescador. Logo, com tais documentos
é possível ajuizar a ação de indenização por danos ambientais que impossibilitaram a pesca na região.
Se uma empresa causou dano ambiental e, em decorrência de tal fato, fez com que determinada
pessoa ficasse privada de pescar durante um tempo, isso configura dano moral. O valor a ser arbitrado como
dano moral não deverá incluir um caráter punitivo. É inadequado pretender conferir à reparação civil dos danos
ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que incumbe ao direito penal e administrativo.
Assim, não há que se falar em danos punitivos (punitive damages) no caso de danos ambientais . STJ. 2a Seção.
REsp 1.354.536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 (recurso repetitivo).

3. INFORMATIVOS STJ – PRINCIPAIS JULGADOS:


*(Atualizado em 20/06/2020) #DEOLHONAJURIS A cobrança por Município de multa relativa a danos
ambientais já paga à União anteriormente, pelo mesmo fato, não configura bis in idem. O art. 76 da Lei nº
9.605/98 afirma que, se o Estado, Município, Distrito Federal ou Território já tiver multado o infrator e esta tiver
sido paga, não é mais possível que seja imposta uma “multa federal”: Art. 76. O pagamento de multa imposta
pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de
incidência. O inverso, contudo, não é verdadeiro. Assim, se a União já tiver multado o infrator, essa “multa
federal” não substitui a multa imposta pelo Estado, DF ou Município considerando que isso não foi previsto pelo
art. 76. Houve um silêncio eloquente do legislador. Se o pagamento da multa imposta pela União também
afastasse a possibilidade de cobrança por Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios, a lei teria afirmado
21
simplesmente que o adimplemento de sanção aplicada por ente federativo afastaria a exigência de pena
pecuniária por quaisquer dos outros. Dessa forma, não há margem para interpretação de que a multa paga à
União impossibilita a cobrança daquela aplicada pelo Município, sob pena de bis in idem, uma vez que a atuação
conjunta dos poderes públicos, de forma cooperada, na tutela do meio ambiente, é dever imposto pela
Constituição Federal. STJ. 2ª Turma. REsp 1.132.682-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 13/12/2016
(Info 667). ATENÇÃO: penso que esse entendimento está superado. Os fatos analisados neste julgado ocorreram
quando ainda não estava em vigor a LC 140/2011. Esta Lei previu que se, mais de um ente federativo lavrar auto
de infração ambiental, deverá prevalecer aquele que foi feito por órgão que detenha a atribuição de
licenciamento (art. 17, § 3º). Isso para evitar bis in idem. Logo, no caso concreto, seria preciso definir qual dos
dois órgãos tinha competência (União ou Município) e somente iria prevalecer o auto de infração lavrado por
ele. Muito cuidado como esse tema vai ser cobrado em prova.

Competência
*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de
minério, localizada em Brumadinho (MG). O rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e
humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou ação popular contra a União, o Estado de Minas Gerais e a
Vale S.A., pedindo para que os réus fossem condenados a recuperar o meio ambiente degradado, pagar
indenização pelos danos causados e pagar multa por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas (SP), ele
ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a demanda foi distribuída para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP).
Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas Gerais existem ações individuais, ações populares e ações civis
públicas tramitando contra os mesmos réus e envolvendo pedidos semelhantes a essa ação popular ajuizada em
Campinas. Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do domicílio do autor ou o juízo do local
em que se consumou o ato danoso? O juízo do local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal de Minas
Gerais). Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano
tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa um direito político fundamental,
deve-se facilitar o seu exercício. Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era
excepcional com inegáveis peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto
processual em uma situação de enorme magnitude social, econômica e ambiental. Assim, para o STJ é
necessário superar, excepcionalmente, a regra geral. Entendeu-se que seria necessário adotar uma saída
pragmática para permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos desta grande tragédia. A
regra geral do STJ deve ser usada quando a ação popular for isolada. Contudo, no caso de Brumadinho havia
uma ação popular em Campinas (SP) competindo e concorrendo com várias outras ações populares e ações civis
públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações individuais tramitando em MG, razão pela qual, em
se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato. Em face da magnitude
econômica, social e ambiental do caso concreto, é possível a fixação do juízo do local do fato para o julgamento
de ação popular que concorre com diversas outras ações individuais, populares e civis públicas decorrentes do
22
mesmo dano ambiental. STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019
(Info 662).

#AJUDAMARCINHO
O particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde, apesar da
existência de cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o acesso de outros
particulares seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos danos sofridos por pessoa que,
por conduta não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes de contato
com os resíduos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/5/2014
(Info 544)

Responsabilidade por dano ambiental


Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material que atingiu
quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, deixando
inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens móveis e imóveis. O STJ, ao julgar a responsabilidade civil
decorrente desses danos ambientais, fixou as seguintes teses em sede de recurso repetitivo:
a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de
causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a
invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar
sua obrigação de indenizar;
b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e;
c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da
empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de
modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja
efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado. STJ. 2ª Seção. REsp
1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2014 (Info 545).

*(Atualizado em 24/07/2022). A indenização de dano ambiental deve abranger a totalidade dos danos
causados, não sendo possível ser decotadas em seu cálculo despesas referentes à atividade empresarial
(impostos e outras). Caso concreto: ACP ajuizada pela União objetivando condenação dos réus na obrigação de
restauração de área degradada e ao pagamento de valor total do lucro obtido com a extração ilegal de areia e
argila. O TRF fixou a indenização no montante de 50% do faturamento total da empresa proveniente da
extração irregular do minério, por referentes à atividade empresarial (impostos e outras). STJ . ter descontado
as despesas O STJ não concordou com o TRF. A indenização deve abranger a totalidade dos danos causados ao
ente federal, sob pena de frustrar o caráter pedagógico-punitivo da sanção e incentivar a impunidade de
23
empresa infratora, que praticou conduta grave com a extração mineral irregular. 2 ª Turma. REsp 1.923.855SC,
Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

Construção de hidrelétrica e prejuízo aos pescadores artesanais do local


João é pescador artesanal e vive da pesca que realiza no rio Paranapanema, que faz a divisa dos Estados de São
Paulo e Paraná. A empresa "XXX", após vencer a licitação, iniciou a construção de uma usina hidrelétrica neste
rio. Ocorre que, após a construção da usina, houve uma grande redução na quantidade de alguns peixes
existentes no rio, em especial "pintados", "jaú" e "dourados". Vale ressaltar que estes peixes eram os mais
procurados pela população e os que davam maior renda aos pescadores do local.
Diante deste fato, João ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a empresa
(concessionária de serviço público) sustentando que a construção da usina lhe causou negativo impacto
econômico e sofrimento moral, já que ele não mais poderia exercer sua profissão de pescador. O pescador terá
direito à indenização em decorrência deste fato?
Danos materiais: SIM.
Danos morais: NÃO. STJ. 4ª Turma. REsp 1.371.834-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/11/2015
(Info 574).

As empresas adquirentes da carga transportada pelo navio Vicuña no momento de sua explosão, no Porto de
Paranaguá/PR, em 15/11/2004, não respondem pela reparação dos danos alegadamente suportados por
pescadores da região atingida, haja vista a ausência de nexo causal a ligar tais prejuízos (proibição temporária da
pesca) à conduta por elas perpetrada (mera aquisição pretérita do metanol transportado). Situação concreta:
três indústrias químicas adquiriam uma grande quantidade de “metanol”, substância utilizada como matéria-
prima para a produção de alguns medicamentos. Elas adquiriram o metanol da METHANEX CHILE LIMITED,
empresa chilena que ficou responsável tanto pela contratação quanto pelo pagamento do frete marítimo. O
navio contratado pela empresa chilena para o transporte foi o “BTG Vicuña”, de bandeira do Chile. Ocorre que
quando já estava atracado no porto de Paranaguá/PR, o navio explodiu. Isso provocou uma tragédia ambiental
porque houve o vazamento de milhões de litros de óleo e de metanol. Em razão do derramamento, a pesca na
região ficou temporariamente proibida. STJ. 2ª Seção. REsp 1.602.106-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 25/10/2017 (Info 615).

*#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ: Até o trânsito em julgado das Ações Civis Públicas n. 5004891-
93.2011.4004.7000 e n. 2001.70.00.019188-2, em tramitação na Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de
Curitiba, atinentes à macrolide geradora de processos multitudinários em razão de suposta exposição à
contaminação ambiental decorrente da exploração de jazida de chumbo no Município de Adrianópolis-PR,
deverão ficar suspensas as ações individuais. STJ. 2ª Seção. REsp 1.525.327-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 12/12/2018 (recurso repetitivo) (Info 643)
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*#DEOLHONAJURIS #STJ #IMPORTANTE O art. 40 da Lei 6.766/79 prevê um poder-dever do Município de
regularizar os loteamentos irregulares ou clandestinos. Existe o poder-dever do Município de regularizar
loteamentos clandestinos ou irregulares. Esse poder-dever, contudo, fica restrito à realização das obras
essenciais a serem implantadas em conformidade com a legislação urbanística local (art. 40, caput e § 5º, da
Lei nº 6.799/79).
Após fazer a regularização, o Município tem também o poder-dever de cobrar dos responsáveis (ex: loteador)
os custos que teve para realizar a sua atuação saneadora. STJ. 1ª Seção. REsp 1.164.893-SE, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 23/11/2016 (Info 651).

*(Atualizado em 25/09/2022) #DEOLHONAJURIS - A empresa que efetua irregularmente a lavra de minério,


enriquecendo-se ilicitamente, não pode pretender o ressarcimento dos custos operacionais dessa
atividade contra legem, sob o argumento de que a não remuneração ensejaria o locupletamento sem causa
da União.
O caso trata de ação civil pública proposta pela União em desfavor de empresa mineradora, objetivando a
condenação desta ao ressarcimento de R$ 2.134.548,00 (dois milhões, cento e trinta e quatro mil, quinhentos e
quarenta e oito reais), em razão de prejuízos causados pela extração ilegal de 177.879 m³ de areia, bem como a
restauração ambiental da área degradada.
Na origem, houve o reconhecimento da prática de extração ilegal de minérios, com desatendimento às
limitações constantes da licença de operação, optando, contudo, empregar os critérios da proporcionalidade e
da razoabilidade por ocasião da delimitação do quantum indenizatório.
Do cálculo, concluiu-se que a indenização deveria ser arbitrada em 50% (cinquenta por cento) do valor obtido
com a extração irregular de areia, sob o argumento de que a reparação proporcional ao dano sofrido pela
vítima, não poderia proporcionar lucro (ganho que não auferiria acaso o dano não houvesse ocorrido), pois
valer-se do preço de venda do minério equivaleria a permitir que a União se apropriasse do trabalho, dos custos
e dos investimentos alheios.
Ao assim decidir, o Tribunal de origem se afastou da orientação jurisprudencial consagrada no STJ, no sentido de
que "a indenização deve abranger a totalidade dos danos causados ao ente federal, sob pena de frustrar o
caráter pedagógico-punitivo da sanção e incentivar a impunidade de empresa infratora, que praticou conduta
grave com a extração mineral irregular, fato incontroverso nos autos." (REsp 1.923.855/SC, relator Ministro
Francisco Falcão, Segunda Turma, julgado em 26/4/2022, DJe de 28/4/2022).
Diversamente do entendimento consignado pela instância recursal ordinária, não se mostra plausível a ideia de
se premiar o infrator particular com a metade dos ganhos obtidos com a venda do minério por ele
irregularmente lavrado, notadamente porque tal compreensão não reflete o princípio da integral reparação do
dano, colidindo, ao invés, com o primado de que a ninguém é lícito beneficiar-se da própria torpeza.
Portanto, a empresa que efetua irregularmente a lavra de minério, enriquecendo-se ilicitamente, não pode
pretender o ressarcimento dos custos operacionais dessa atividade contra legem, sob o argumento de que a não
remuneração de tais custos ensejaria o locupletamento sem causa da União. Ao invés disso, desponta intuitivo
que a prévia conduta antijurídica da mineradora particular afasta a proteção normativa que invoca para si.
25
STJ, REsp 1.860.239-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 09/08/2022, DJe
19/08/2022, Info. 746.

*4. JURISPRUDÊNCIA EM TESE - STJ

A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de
causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a
invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para afastar
sua obrigação de indenizar. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 681 e 707, letra a).

Causa inequívoco dano ecológico quem desmata, ocupa, explora ou impede a regeneração de Área de
Preservação Permanente - APP, fazendo emergir a obrigação propter rem de restaurar plenamente e de
indenizar o meio ambiente degradado e terceiros afetados, sob o regime de responsabilidade civil objetiva.

O reconhecimento da responsabilidade objetiva por dano ambiental não dispensa a demonstração do nexo de
causalidade entre a conduta e o resultado.

A alegação de culpa exclusiva de terceiro pelo acidente em causa, como excludente de responsabilidade, deve
ser afastada, ante a incidência da teoria do risco integral e da responsabilidade objetiva ínsita ao dano
ambiental (art. 225, §3º, da CF e art. 14, §1º, da Lei n. 6.938/1981), responsabilizando o degradador em
decorrência do princípio do poluidor-pagador. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 438).

* (Atualizado em 09/08/2020) #DEOLHONAJURIS É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano


ambiental. STF. Plenário. RE 654833, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral –
Tema 999) (Info 983 – clipping).

O termo inicial da incidência dos juros moratórios é a data do evento danoso nas hipóteses de reparação de
danos morais e materiais decorrentes de acidente ambiental.

A inversão do ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental. (Súmula n. 618/STJ)

Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental. (Súmula n. 613/STJ)

Não há direito adquirido à manutenção de situação que gere prejuízo ao meio ambiente.
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O pescador profissional é parte legítima para postular indenização por dano ambiental que acarretou a redução
da pesca na área atingida, podendo utilizar-se do registro profissional, ainda que concedido posteriormente ao
sinistro, e de outros meios de prova que sejam suficientes ao convencimento do juiz acerca do exercício dessa
atividade.

É devida a indenização por dano moral patente o sofrimento intenso do pescador profissional artesanal,
causado pela privação das condições de trabalho, em consequência do dano ambiental. (Tese julgada sob o rito
do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 439).

*(Atualizado 29/01/2021) #DEOLHONAJURIS O cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta deve ser


regido pelo Código Florestal vigente à época da celebração do acordo. Caso concreto: o Termo de Ajustamento
de Conduta foi celebrado sob a égide da Lei nº 4.771/65 (antigo Código Florestal). Ocorre que entrou em vigor o
novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) com regras diferentes daquelas que haviam sido ajustas no TAC. Será
possível aplicar as regras do novo Código Florestal? Não. O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir
o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada. Uma vez celebrado, e cumpridas as
formalidades legais, o Termo de Ajustamento de Conduta - TAC constitui ato jurídico perfeito, imunizado contra
alterações legislativas posteriores que enfraqueçam as obrigações ambientais nele estabelecidas. Deve, assim,
ser cabal e fielmente implementado, vedado ao juiz recusar sua execução, pois do contrário desrespeitaria a
garantia da irretroatividade da lei nova, prevista no art. 6º da LINDB STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.754-SP, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 08/10/2019 (Info 679).

5. DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO

DIPLOMA DISPOSITIVO
Constituição Federal Artigo nº 225
Lei 9.605/98 Artigo nº 4
Lei nº 6.938 Artigo nº 14

6. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

Esse material é uma fusão das seguintes fontes:

1. Direito Ambiental, coleção Sinopses – Talden Faria e outros – Editora Juspodivm.

2. Resumo de Direito Ambiental Esquematizado – Frederico Amado – Editora Juspodivm.

3. Coleção resumos para concursos, Direito Ambiental – Frederico Amado.

4. Informativos esquematizados do Dizer o Direito – Márcio André Cavalcante Lopes.

5. Anotações pessoais de aulas.

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