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Alunas: Helena Kich, Lídia Ritter e Rafaela Oliboni

EXCELENTÍSSIMA SENHORA DESEMBARGADORA PRESIDENTE DO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

APELAÇÃO CÍVEL Nº: xxx


RECORRENTE: Mariana
RECORRIDO: Estado do Rio Grande do Sul

MARIANA, já devidamente qualificada nos autos, representada


por sua procuradora constituída (procuração em anexo), vem
respeitosamente, perante Vossa Excelência, observando o
disposto no art. 102, inciso III, alínea “a”, da Constituição
Federal, e art. 1.029 do Código de Processo Civil, interpor o
presente

RECURSO EXTRAORDINÁRIO

em face da decisão proferida pela 3º Câmara Cível do Tribunal


de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, com base nos fatos
e fundamentos jurídicos que passarão a serem expostos na
peça de razões recursais em anexo. O prazo para interpor
recursos é de 15 (quinze) dias, consoante art. 1.003, § 5º, do
CPC. Ademais, nos termos do art. 1.007 do CPC, o recorrente
comprovará, no ato de interposição do recurso, o respectivo
preparo. Deste modo, considerando que o recurso foi interposto
passados 10 dias da publicação do acórdão recorrido e
comprovado o preparo, o recurso deverá ser admitido.
DIANTE DO EXPOSTO REQUER: (1) a intimação da parte recorrida para
que possa apresentar suas contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos
do art. 1.030 do CPC; (2) a admissão ao presente recurso; e (3) a remessa do
mesmo, junto com seus autos, ao Supremo Tribunal de Federal para apreciação do
recurso em sua íntegra.

Termos que pede deferimento

Local xxx, 30 de maio de 2023.

Advogada
OAB/UF nº xxx
AO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL DE FEDERAL

APELAÇÃO CÍVEL Nº: xxx


RECORRENTE: Mariana
RECORRIDO: Estado do Rio Grande do Sul

ORIGEM: 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul


COLENDA TURMA
INCLÍCITOS JULGADORES

1. EXPOSIÇÃO DOS FATOS E DIREITOS

Mariana ajuizou ação de indenização de danos morais contra o Estado do


Rio Grande do Sul. Segundo seu relato, seu marido Francisco, pessoa que cumpria
pena de reclusão junto à Penitenciária X/RS, cometeu suicídio, mediante disparo de
arma de fogo, no interior de sua cela, em 05.05.2020.
A demanda foi julgada totalmente procedente perante o primeiro grau, tendo
sido, o Estado, condenado ao pagamento de uma indenização de R$100.000,00
(cem mil reais) para a autora. O Estado apelou, tendo, a 3ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do RS, dado provimento ao recurso, entendendo, à
unanimidade, que, apesar de “o STF ter fixado, em sede de repercussão geral, que
‘Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no artigo
5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, o Estado é responsável pela morte de
detento’. (Recurso Extraordinário 841526, Plenário do STF, Rel. Luiz Fux, j.
30.03.2016)”, no caso concreto, “o fato de o Estado ter permitido o ingresso de arma
de fogo no estabelecimento penal, por falha de segurança, não é o bastante para
condenar o Poder Público, tratando-se, o suicídio, de ato de responsabilidade
exclusiva da vítima, apto a romper o nexo causal” (Apelação Cível n. 321).
A 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS decidiu que o dever de
guarda, previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal, não se estende
aos casos de suicidio com arma de fogo dentro de estabelecimento penal, apesar
de a decisão recorrida contrariar dispositivo desta Constituição, conforme artigo 102,
III, a, da Carta Magna.
Em que pese o profundo conhecimento dos julgadores integrantes da 3ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o acórdão contém
expressa violação à Constituição Federal, uma vez que afronta o artigo 5º, inciso
XLIX, da Carta Magna, porquanto deixou de reconhecer o dever específico de
proteção dos detentos, já consagrado pelo Supremo Tribunal Federal, sendo o
Estado responsável pela morte de detento (Recurso Extraordinário 841526, Plenário
do STF, Rel. Luiz Fux, j. 30.03.2016).
In casu, ainda que tenha ocorrido o suicídio do detento, o Estado possui
responsabilidade pelo ocorrido, já que falhou em fiscalizar a entrada da arma de
fogo no estabelecimento prisional, devendo, assim, reparar os danos decorrentes da
sua omissão.
Nesse sentido, o acórdão recorrido bem destacou que “houve evidente falha
no dever de proteção do Estado, na medida em que permitiu o ingresso, no
estabelecimento penal, e o manuseio, por detento, de arma de fogo, permitindo que
o suicídio fosse consumado”.
Ademais, o Supremo Tribunal Federal possui entendimento, conforme
julgamento do RE 841526, julgado em repercussão geral, que o Estado possui
responsabilidade pelas mortes dentro dos estabelecimentos prisionais, estando
incluso o suicídio, caso descumpra o dever de proteção constante no art. 5º, XLIX,
da Constituição Federal. Vejamos:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR MORTE DE
DETENTO. ARTIGOS 5o, XLIX, E 37, § 6o, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL.1. A responsabilidade civil
estatal, segundo a Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 37, § 6o, subsume-se à teoria do risco administrativo,
tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as
omissivas, posto rejeitada a teoria do risco integral.2. A
omissão do Estado reclama nexo de causalidade em relação
ao dano sofrido pela vítima nos casos em que o Poder
Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir
para impedir o resultado danoso.3. É dever do Estado e
direito subjetivo do preso que a execução da pena se dê de
forma humanizada, garantindo-se os direitos fundamentais
do detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e
moral (artigo 5o, inciso XLIX, da Constituição Federal).4. O
dever constitucional de proteção ao detento somente se
considera violado quando possível a atuação estatal no
sentido de garantir os seus direitos fundamentais,
pressuposto inafastável para a configuração da
responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37,
§ 6o, da Constituição Federal.5. Ad impossibilia nemo
tenetur, por isso que nos casos em que não é possível ao
Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria
mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o
nexo de causalidade, afastando-se a responsabilidade do
Poder Público, sob pena de adotar-se contra legem e a
opinio doctorum a teoria do risco integral, ao arrepio do texto
constitucional.6. A morte do detento pode ocorrer por várias
causas, como, v. g., homicídio, suicídio, acidente ou morte
natural, sendo que nem sempre será possível ao Estado
evitá-la, por mais que adote as precauções exigíveis.7. A
responsabilidade civil estatal resta conjurada nas hipóteses
em que o Poder Público comprova causa impeditiva da sua
atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de
causalidade da sua omissão com o resultado danoso.8.
Repercussão geral constitucional que assenta a tese de que:
em caso de inobservância do seu dever específico de
proteção previsto no artigo 5o, inciso XLIX, da Constituição
Federal, o Estado é responsável pela morte do detento.9. In
casu, o tribunal a quo assentou que inocorreu a
comprovação do suicídio do detento, nem outra causa capaz
de romper o nexo de causalidade da sua omissão com o
óbito ocorrido, restando escorreita a decisão impositiva de
responsabilidade civil estatal.10. Recurso extraordinário
DESPROVIDO.(RE 841526, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal
Pleno, julgado em 30/03/2016, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-159 DIVULG
29-07-2016 PUBLIC 01-08-2016)

No caso em comento, a parte recorrida ajuizou ação buscando indenização


por danos morais contra o Estado do Rio Grande do Sul, ora recorrente, tendo em
vista a morte de seu marido Francisco, que cumpria pena de reclusão junto a
Penitenciária X/RS, local em que cometeu suicidio mediante disparo de arma de
fogo no interior de sua cela.
DIANTE DO EXPOSTO, o presente recurso é cabível conforme hipótese do
art. 102, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal.

2. DEMONSTRAÇÃO DO CABIMENTO DO RECURSO INTERPOSTO

Primeiramente, deve-se destacar o cabimento do presente Recurso


Extraordinário, demonstrado assim o preenchimento de todos os requisitos legais a
fim de que esta Egrégia Corte Superior possa exercer o enfrentamento da matéria
nele versada.
O artigo 1.029, caput do Código de Processo Civil, estabelece os requisitos
para interposição de Recurso Extraordinário:
Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos
casos previstos na Constituição Federal , serão interpostos
perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido,
em petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da
decisão recorrida.

Deste modo, passa-se a demonstrar o cabimento do presente recurso e,


posteriormente, as razões do pedido.

2.1 DA HIPÓTESE CONSTITUCIONAL

De acordo com o art. 102, III, “a”, da CF, cabe Recurso Extraordinário
direcionado ao Supremo Tribunal Federal, quando houver violação à Constituição
Federal em decisão proferida em única ou última instância:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,


precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas
decididas em única ou última instância, quando a decisão
recorrida:
a) contrariar dispositivo desta Constituição

No presente caso, em razão de haver questão constitucional decidida em


última instância e que não cabe qualquer outro recurso para discutir a violação à
Constituição Federal, é cabível o presente recurso.
Ademais, ressalta-se que não se trata de discussão que envolva o mero
reexame de provas ou dos fatos, mas sim questão exclusivamente de direito, em
conformidade com a regra prevista na Súmula n.º 279 do Supremo Tribunal Federal.

2.2. DO PREQUESTIONAMENTO

O prequestionamento consiste em uma exigência implícita do texto


constitucional, entendido como a exigência de que a matéria impugnada pelo
Recurso Extraordinário já tenha sido objeto de decisão pelas instâncias inferiores,
acentuando a função constitucional do Supremo Tribunal Federal.
Destarte, o prequestionamento carateriza-se por ser o questionamento
prévio, pelo órgão julgador a quo, sobre questão constitucional que será objeto do
recurso excepcional, a fim de se esgotar as instâncias jurisdicionais inferiores, bem
como para que os Tribunais Superiores apenas analisem questões previamente
decididas. Nesse sentido, a Súmula n.º 282, do Supremo Tribunal Federal dispõe
que:

Súmula 282. É inadmissível o recurso extraordinário, quando


não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal
suscitada.

Sobre o tema, cumpre mencionar as lições dos ilustres professores Luiz


Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero:

Em qualquer caso, porém, o recorrente tem o ônus de


demonstrar nas suas razões recursais a causa constitucional
ou a causa federal que pretende ver examinada pelo Supremo
Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça. Vale
dizer: tem o ônus de apontar na decisão recorrida a questão
constitucional ou a questão federal que entende
equivocadamente tratada.

Na prática, esse requisito é chamado de prequestionamento –


nada obstante prequestionar seja na verdade uma atividade
voltada ao enfrentamento pelo órgão que prolatou a decisão
recorrida de determinada questão.

Desta forma, a matéria do presente Recurso Extraordinário foi devidamente


prequestionada, conforme passara a expor, cumprindo o requisito previsto
expressamente pelo art. 102, III, da Constituição Federal, da qual somente admite o
recurso extraordinário contra “causas decididas”.
Na situação, a decisão proferida no acórdão recorrido viola diretamente o art.
art. 5o, XLIX, da Constituição Federal. Salienta-se que houve o prequestionamento
explícito da matéria em comento pelo tribunal de origem, visto que referidos
comandos restaram devidamente prequestionados na decisão recorrida, havendo
manifestação expressa sobre o artigo constitucional contrariado no acórdão:
apesar de “o STF ter fixado, em sede de repercussão geral,
que ‘Em caso de inobservância de seu dever específico de
proteção previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição
Federal, o Estado é responsável pela morte de detento’.
(Recurso Extraordinário 841526, Plenário do STF, Rel. Luiz
Fux, j. 30.03.2016)”, no caso concreto, “o fato de o Estado ter
permitido o ingresso de arma de fogo no estabelecimento
penal, por falha de segurança, não é o bastante para
condenar o Poder Público, tratando-se, o suicídio, de ato de
responsabilidade exclusiva da vítima, apto a romper o nexo
causal” (Apelação Cível n. 321)

DIANTE DO EXPOSTO, constata-se que a matéria foi devidamente


enfrentada pelo juízo de origem, tendo em vista que o art. 5º, inciso XLIX, da
Constituição Federal, restou ventilado na decisão da 3ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, estando a matéria constitucional discutida
no presente recurso prequestionada. Ainda, destaca-se que restou observado os
requisitos previstos nas Súmulas 356 e 282, ambas do Supremo Tribunal Federal.

2.3. DA REPERCUSSÃO GERAL

A demonstração da repercussão geral é imprescindível para a admissão do


Recurso Extraordinário, consoante dispõe o art. 102, § 3º, da Constituição Federal,
dispositivo incluído pela Emenda Constitucional nº 45/2004:

Art. 102, § 3º. No recurso extraordinário o recorrente deverá


demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais
discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal
examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo
pela manifestação de dois terços de seus membros. (Incluída
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Nesse viés, conforme o art. 1.035, § 1º, do Código de Processo Civil, é


essencial a existência de questão relevante sob o ponto de vista econômico,
político, social ou jurídico, que ultrapasse o interesse subjetivo das partes:

Art. 1.035, § 1º. Para efeito de repercussão geral, será


considerada a existência ou não de questões relevantes do
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que
ultrapassem os interesses subjetivos do processo.
Verifica-se que a presente demanda conduz o debate sobre a
responsabilidade do Estado pelo suicidio do detento com arma dentro do
estabelecimento prisional, assim, a decisão sobre o assunto irá disseminar seus
efeitos por todo território brasileiro, pois determinará parâmetros para o Poder
Judiciário deliberar sobre causas que envolvam a responsabilidade do Estado
nesses casos. Deste modo, vislumbra-se há questão jurídica relevante que
ultrapassa os interesses jurídicos das partes e que apresenta relevância econômica,
política, social ou jurídica.
Ademais, verifica-se que há repercussão geral absoluta quando o recurso
impugnar decisão que contraria a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal
Federal, consoante o art. 1.035, § 3º, I, do CPC:

Art. 1.035, § 3º Haverá repercussão geral sempre que o


recurso impugnar acórdão que: I - contrarie súmula ou
jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal consolidada preceitua que: “as


pessoas jurídicas de direito público respondem objetivamente pelos danos que
causarem a terceiros, com fundamento no art. 37, § 6º, da Constituição Federal,
tanto por atos comissivos quanto por atos omissivos, desde que demonstrado o
nexo causal entre o dano e a omissão do Poder Público” (Ag. Reg. no Recurso
Extraordinário com Agravo nº 900445/RO, 2ª Turma do STF, Rel. Dias Toffoli. j.
22.09.2015, unânime, DJe 10.11.2015). (grifo nosso)
Deste modo, constata-se que a decisão recorrida, ao interpretar o art. 37, §
6º, da Constituição Federal, contrariou expressamente a jurisprudência dominante
do Supremo Tribunal Federal, porquanto afastou a responsabilidade objetiva do
Poder Público pelos danos causados por seus agentes, bem como a sua
legitimidade passiva nessas demandas.

DIANTE DO EXPOSTO, resta demonstrada a repercussão geral do caso,


cumprindo com o requisito de admissibilidade do Recurso Extraordinário, nos
termos do art. 102, § 3º, da Constituição Federal.

3. RAZÕES PARA A REFORMA DA DECISÃO


Vencida a questão da sua admissibilidade, o presente Recurso Extraordinário
deve ser conhecido e provido, pelas razões ora apresentadas. No caso em tela,
apesar da procedência do pleito da recorrente em primeiro grau, a 3ª Câmara Cível
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul entendeu que a
responsabilidade pelos danos causados não é objetiva do Estado e que o Estado
não possui legitimidade para figurar no polo passivo da demanda, nos seguintes
termos:

“o fato de o Estado ter permitido o ingresso de arma de fogo


no estabelecimento penal, por falha de segurança, não é o
bastante para condenar o Poder Público, tratando-se, o
suicídio, de ato de responsabilidade exclusiva da vítima, apto
a romper o nexo causal” (Apelação Cível n. 321).”.

Contudo, cumpre destacar que a doutrina e a jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal adotam a Teoria do Risco Administrativo, portanto, a omissão do
Estado reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima nos
casos em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir
para impedir o resultado danoso. Desse modo, na forma do artigo 37, § 6o, da
Constituição Federal, o dever constitucional de proteção ao detento é violado
quando possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos
fundamentais. Entendimento que vai ao encontro do disposto no art. 37, § 6º, da
Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer


dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
[...] §6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos
danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

Deste modo, o Estado, que gera o risco pela atividade exercida, suporta o
ônus decorrente dos danos causados por seus agentes, independente de culpa,
bastando a demonstração da conduta, do dano causado e do nexo de causalidade
para a comprovação do dever de indenizar.
Nesse viés, Caio Mário da Silva Pereira 2 dispõe que: O direito brasileiro
consagra a teoria do risco administrativo. O art. 37, §6º, da Constituição de 5 de
outubro de 1988, repetindo a política legislativa adotada nas disposições
constitucionais anteriores, estabelece o princípio da responsabilidade do Estado
pelos danos que os seus agentes causarem a terceiros.
A pessoa jurídica de direito público responde sempre, uma vez que se
estabelece o nexo de causalidade entre o ato da Administração e o prejuízo sofrido.
Não há que cogitar se houve ou não culpa, para concluir pelo dever de reparação. A
culpa ou dolo do agente é somente é de se determinar para estabelecer a ação de
in rem verso, da Administração contra o agente. Quer dizer: o Estado responde
sempre perante a vítima, independentemente da culpa do servidor. Este,2
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. Atualizado por Gustavo
Tepedino. 12.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 179-180. entretanto, responde
perante o Estado, em se provando que procedeu culposa ou dolosamente.” (grifos
nossos)
Ademais, também é nesse sentido a jurisprudência consolidada do Supremo
Tribunal Federal:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL


RECONHECIDA. DIREITO CONSTITUCIONAL E
ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
POR OMISSÃO. ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
FISCALIZAÇÃO DO COMÉRCIO DE FOGOS DE ARTIFÍCIO.
TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. NECESSIDADE DE VIOLAÇÃO DO DEVER
JURÍDICO ESPECÍFICO DE AGIR.1. A Constituição Federal, no
art. 37, § 6º, consagra a responsabilidade civil objetiva das
pessoas jurídicas de direito público e das pessoas de direito
privado prestadoras de serviços públicos. Aplicação da teoria do
risco administrativo. Precedentes da CORTE.2. Para a
caracterização da responsabilidade civil estatal, há a necessidade
da observância de requisitos mínimos para aplicação da
responsabilidade objetiva, quais sejam: a) existência de um dano;
b) ação ou omissão administrativa; c) ocorrência de nexo causal
entre o dano e a ação ou omissão administrativa; e d) ausência de
causa excludente da responsabilidade estatal.[...] 4.Fixada a
seguinte tese de Repercussão Geral: “Para que fique
caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos
decorrentes do comércio de fogos de artifício, é necessário que
exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que
ocorrerá quando for concedida a licença para funcionamento sem
as cautelas legais ou quando for de conhecimento do poder
público eventuais irregularidades praticadas pelo particular”.
5.Recurso extraordinário desprovido. (RE 136861, Relator(a):
EDSON FACHIN, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE
MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 11/03/2020, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-201 DIVULG 12-08-2020 PUBLIC 13-08-2020
REPUBLICAÇÃO: DJe-011 DIVULG 21-01-2021 PUBLIC
22-01-2021)(grifo nosso) [...] as pessoas jurídicas de direito
público respondem objetivamente pelos danos que causarem a
terceiros, com fundamento no art. 37, §6º, da Constituição
Federal, tanto por atos comissivos quanto por atos omissivos,
desde que demonstrado o nexo causal entre o dano e a omissão
do Poder Público [...] (Ag. Reg. no Recurso Extraordinário com
Agravo nº 900445/RO, 2ª Turma do STF, Rel. Dias Toffoli. j.
22.09.2015, unânime, DJe 10.11.2015).

Portanto, verifica-se que a responsabilidade civil do Estado é objetiva e que o


Poder Público possui legitimidade passiva para atuar nas demandas que busquem
indenizações causadas pela omissão do dever de proteção ao detento. Assim,
restando os fatos incontroversos, conforme descrito na decisão recorrida, o acórdão
deverá ser reformado mantendo-se a decisão de primeiro grau na íntegra.
DIANTE DO EXPOSTO, requer a reforma da decisão, reconhecendo a
responsabilidade objetiva do Estado do Rio Grande do Sul e a sua legitimidade para
figurar no polo passivo da ação, determinando, consequentemente, a condenação
do recorrido ao pagamento da indenização por danos morais.

4. REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

I) O presente Recurso Extraordinário seja recebido e admitido definitivamente


por este Supremo Tribunal Federal, visto que atende a todos requisitos de
admissibilidade;

II) O integral provimento do presente recurso para que seja reformado o


acórdão recorrido, reconhecendo a responsabilidade objetiva do Município de
Porto Alegre e a sua legitimidade para figurar no polo passivo da ação, bem
como seja determinada a condenação do recorrido à indenização pleiteada;
III) A condenação da parte recorrida ao pagamento de honorários recursais,
nos termos do art. 85, § 11º, do Código de Processo Civil.

Termos que pede deferimento.

Local xxx, 30 de maio de 2023.

Advogada
OAB/UF nºxxx

DOCUMENTAÇÃO ANEXADA:
Procuração
Comprovante de custas

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