Você está na página 1de 2

RECURSO ESPECIAL Nº 1.859.

933 - SC (2020/0022564-9)

O recurso especial julgado pela Terceira Seção do STJ, em 9 de março de


2022, tem como parte recorrente o Ministério Público de Santa Catarina e como
recorrido Giovani Venícius Rossa.
Em resumo, anteriormente o recorrido tinha sido condenado pelos artigos
157, caput (roubo), e 330 (desobediência), ambos do Código Penal. A defesa
interpôs recurso de apelação objetivando a desclassificação do crime de roubo para
o delito de furto. O recurso foi desprovido pelo Tribunal de Santa Catarina.
Entretanto, de ofício, decidiram absolver o recorrido da prática do crime tipificado no
art. 330 do Código Penal.
O Ministério Público, então, interpôs recurso especial para que haja o
restabelecimento da sentença condenatória à pena de desobediência. A defesa
alegou que esse tipo penal seria um crime subsidiário, aplicado apenas nos casos
em que não houvesse previsão de sanção específica em caso de descumprimento
da conduta nele descrita. Além disso, o fato de o recorrido ter descumprido ordem
de parada emanada por policiais para evitar a prisão por outro crime, o de roubo,
não poderia configurar o delito previsto no art. 330 do Código Penal, uma vez que a
"sua criminalização conflitaria verticalmente com o direito fundamental ao silêncio e
de não produzir prova contra si mesmo".
Em maioria, os ministros da Terceira Seção decidiram que o direito ao
silêncio e o de não produzir prova contra si mesmo não são absolutos, razão pela
qual não podem ser invocados para a prática de outros delitos. De acordo com os
magistrados, “o acusado não pode, a pretexto de exercer a prerrogativa
constitucional da não autoincriminação, praticar condutas consideradas penalmente
relevantes pelo ordenamento jurídico, uma vez que essa situação caracterizaria
abuso do direito”. O recurso foi provido, com a fixação da seguinte tese: “A
desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto
de policiamento ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui
conduta penalmente típica, prevista no art. 330 do Código Penal Brasileiro”.
As questões jurídicas relativas à interpretação da legislação federal
discutidas no processo eram, evidentemente, relativas ao artigo 330 do Código
Penal e, também ao artigo 5º, inciso 63 da Constituição:

Código Penal:
“Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.”

Constituição:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o
de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da
família e de advogado;”

A conduta dos procuradores da parte recorrida, em especial a sustentação


oral, foi essencial para a garantia dos direitos e prerrogativas constitucionais do réu.
Apesar de o recurso ter sido provido à parte contrária, a defesa apresentou
argumentos válidos, que convenceram o Ministro Antônio Saldanha Palheiro, que
proferiu “O ótimo penal seria que o crime de desobediência só ocorresse em
situações como as que menciona o eminente defensor público: de ordem legal
documentada de um servidor público, emanada de um processo”.

Você também pode gostar