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HABEAS CORPUS

(Encerramento da aula 5 de peças)


13. Caso hipotético

Mário de Tal, brasileiro, solteiro, empresário, residente e domiciliado no Município X, é convocado como testemunha para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito Mista aberta pelas Casas do Congresso Nacional para apurar irregularidades envolvendo o desvio de verbas federais referente à compra de
ambulâncias para os hospitais vinculados ao Sistema Único de Saúde. Mário procura o seu escritório de advocacia para que possa elaborar a peça cabível para: garantir o direito de ser assistido por seu Advogado e de com este comunicar-se durante o curso de seu depoimento perante a referida Comissão
Parlamentar de Inquérito e, b) também o direito de exercer o privilégio constitucional contra a autoincriminação.
Observe, na redação da peça processual adequada: a) competência
do Juízo; b) legitimidade ativa e passiva; c) fundamentos de mérito
constitucionais e legais vinculados; d) os requisitos formais da
peça.
EXM°. SR. MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
(5 linhas)

MÁRIO DE TAL, brasileiro, solteiro, empresário, portador do RG nº... e do CPF


n°..., endereço eletrônico ..., residente e domiciliado..., nesta cidade, por seu
advogado infra-assinado, conforme procuração anexa..., com escritório ...,
endereço que indica para os fins do art. 77, V, do CPC, com fundamento no art.
5º, LXVIII, da CRFB/88 e no art. 647 do CPP e ss., vem impetrar o presente
HABEAS CORPUS em favor da própria liberdade, já que está na iminência de
sofrer violência por ato do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito
Mista, pelos motivos que a seguir expõe.
I – DOS FATOS
O impetrante foi convocado por uma CPMI – Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito – aberta pela Câmara dos Deputados e Senado
Federal, para prestar depoimento, na qualidade de testemunha e tal
Comissão foi inaugurada com o objetivo de apurar irregularidades no que
tange ao desvio de verbas federais destinadas a compra de ambulâncias
para hospitais vinculados ao SUS – Sistema Único de Saúde.
Mário deve ter garantido o direito de ser assistido por
seu advogado, bem como o de poder se comunicar com aquele
enquanto prestar depoimento perante a Comissão e, ainda, o direito
de exercer o privilégio constitucional contra a auto incriminação. Por
esses motivos, se faz necessária a propositura do presente Habeas
Corpus preventivo, a fim de evitar a consumação da lesão.
II – DA TUTELA DE URGÊNCIA
O fundamento da tutela de urgência em sede de Habeas Corpus é
extraído dos arts. 649 e 660, §2º do CPP e, segundo a
jurisprudência, possui natureza cautelar.
A probabilidade do direito se justifica pelos argumentos apresentados
ao longo da petição e pela documentação anexa, e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo é demonstrado em
razão do impetrante, ora paciente, estar privado de sua liberdade
de locomoção.
III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
De acordo com o art. 5º, LXVIII, da CRFB/88 será concedido habeas
corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou
abuso de poder.
O remédio também é respaldado pela legislação processual penal, a
partir do art. 647.
O art. 5º, XV, da CRFB/88, por sua vez, trata da liberdade de
locomoção, que pode ser assegurada preventivamente em razão da
iminência de violência ao direito, dispondo que é livre a locomoção no
território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos
termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
Do art. 58, § 3º, da CRFB/88, extraímos que as comissões
parlamentares de inquérito, que possuem poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais, podem encaminhar ao Ministério
Público as suas conclusões, a fim de que este venha a promover a
responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
Dessa forma, tendo em vista a possibilidade de culminação em
condenação em ação penal futura, verifica-se que há ameaça indireta à
liberdade de locomoção do investigado – o que justifica a impetração do
presente Habeas Corpus Preventivo.
É competente o Supremo Tribunal Federal para julgar o presente
remédio, pois a autoridade coatora é o Presidente da CPMI mista,
conforme prevê o disposto no art. 102, I, “i”, da CRFB/88.
IV – DOS PEDIDOS
Pelo exposto, requer a V. Exa. que:
a) Determine a notificação da autoridade coatora, o Presidente da
Comissão, na forma do art. 662, do CPP;
b) Conceda o pedido liminar para determinar a expedição do salvo
conduto, de acordo com o art. 660, §2º, do CPP, confirmando
posteriormente a concessão do presente remédio, consoante o art.
660, §4º, do CPP ;
c) Junte os documentos anexos, segundo o art. 320, do CPC;
d) Intime o representante do Ministério Público.
Valor da causa de acordo com o art. 291 do CPC/15.
Ou:
Valor da causa de acordo com o art. 319 do CPC/15.

Termos em que,
pede deferimento.
Local... e data...
Advogado...
OAB n.º ...
MANDADO DE SEGURANÇA
PARTE 1.
1. Histórico, conceito, natureza jurídica.
O mandado de segurança é uma ação constitucional, cuja finalidade é
proteger direito líquido e certo, ou seja, provado por documentos,
que tenha sido ameaçado ou violado por ato ilegal ou abusivo de
autoridade pública ou de agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público.
2. Base Legal: art. 5º, LXIX, LXX, da CRFB/88 e Lei 12.016/09.
Art. 5º: LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger
direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou
"habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de
poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
exercício de atribuições do Poder Público;
Art. 5°, LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser
impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;
3. A celeridade.
A celeridade é a principal característica do rito do MS. O art. 20 da Lei
12.016/09 prevê que:
Art. 20. Os processos de mandado de segurança e os respectivos
recursos terão prioridade sobre todos os atos judiciais, salvo
habeas corpus.
§1º Na instância superior, deverão ser levados a julgamento na
primeira sessão que se seguir à data em que forem conclusos ao
relator.
§2º O prazo para a conclusão dos autos não poderá exceder de 5
(cinco) dias.
4. Espécies
 MS preventivo - quando há séria ameaça de lesão a direito
líquido e certo.
 MS repressivo - quando a lesão já ocorreu. Nesse caso, deve
ser obedecido o prazo decadencial de 120 dias, contados da
ciência, pelo interessado, do ato que se deseja impugnar, na forma
do art. 23, da Lei 12.016/09.
5. Modalidades:
a) MS individual - O impetrante é o titular do direito líquido e certo,
como por exemplo: a pessoa natural, os órgãos públicos, as
universalidades de bens (espólio, massa falida etc.), a pessoa
jurídica, nacional ou estrangeira, domiciliada no Brasil ou no
exterior...
b) MS Coletivo (art. 5º, LXX, da CRFB/88) O mandado de
segurança coletivo pode ser impetrado por:
- partido político com representação no Congresso Nacional, ainda
que o partido esteja representado em apenas uma das Casas
Legislativas.
-organização sindical, entidade de classe e associações
legalmente constituídas e em funcionamento há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
O requisito de um ano em funcionamento hoje só é exigido para as
associações, com o intuito de evitar que sejam criadas apenas
para a impetração do remédio. Ademais, segundo jurisprudência
consolidada, como se trata de substituição processual, não há
necessidade de autorização expressa de cada um dos associados.
Art. 21 da lei 12.016/09. 
O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido
político com representação no Congresso Nacional, na defesa de
seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à
finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e
certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou
associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes
às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial. 
Parágrafo único.  Os direitos protegidos pelo mandado de segurança
coletivo podem ser: 
I- coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os
transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo
ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária
por uma relação jurídica básica; 
II- individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei,
os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação
específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros
do impetrante. 
ENUNCIADOS DO STF

 Súmula  nº 101: o mandado de segurança não substitui a ação


popular.
 Súmula nº 629: A impetração de mandado de segurança coletivo
por entidade de classe em favor dos associados independe da
autorização destes.
 Súmula nº 630: A entidade de classe tem legitimação para o
mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada
interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.
6. Condições específicas.

A) Direito Líquido e certo, comprovado por prova pré-constituída


(documental).
B) Ato coator.
C) Tempestividade.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO

A expressão “direito líquido e certo” na realidade está ligada aos fatos


nos quais se ampara a pretensão, e não ao direito invocado. Quer
dizer que o pedido deve estar amparado em fatos demonstrados
de plano, através de prova pré-constituída (EM REGRA,
DOCUMENTAL).
É requisito específico de cabimento, porque o rito do MS não
comporta dilação probatória, não existe fase de provas no MS.
Controvérsia sobre fato em MS implica na extinção do feito sem
julgamento do mérito.
Lei 12.016/09
Art. 6.° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos
pela lei processual, será apresentada em 2 (duas) vias com os
documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará,
além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se
acha vinculada ou da qual exerce atribuições.
§ 1o No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache
em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que
se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará,
preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em
cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10
(dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à
segunda via da petição.
Súmula 625 STF - Controvérsia sobre matéria de direito não
impede concessão de mandado de segurança.

Súmula 266 - Não cabe mandado de segurança contra lei em


tese.
ATO COATOR
É ato ou omissão de autoridade pública (ato praticado ou omitido por pessoa
investida de parcela de poder público), eivado de ilegalidade ou abuso de
poder.

As expressões “ilegalidade ou abuso de poder” estão previstas na


Constituição, no art. 5º, inciso LXIX, mas é certo que ilegalidade é gênero,
e abuso de poder é espécie.

Os elementos do ato administrativo (competência, finalidade, forma, motivo e


objeto) devem todos ser respeitados, sob pena de ilegalidade, e abuso de
poder pode ser vício de competência (excesso de poder) ou finalidade
(desvio de finalidade).
Se o ato coator for praticado por PJ ou PF no exercício de atribuições do
poder público, é essa PF ou PJ que será a autoridade coatora, e não o
ente da federação que delegou os poderes.

Súmula 510 STF - “PRATICADO O ATO POR AUTORIDADE, NO


EXERCÍCIO DE COMPETÊNCIA DELEGADA, CONTRA ELA CABE O
MANDADO DE SEGURANÇA OU A MEDIDA JUDICIAL.”
Os atos de pessoas de direito privado tipicamente administrativos também
podem ser questionados por MS. Ex: ato de licitação praticado por SEM
ou EP. Quando a Petrobrás ou Caixa fazem licitação, por imposição
constitucional, os atos da licitação podem ser impugnados por meio de
MS. É o que prevê a súmula 333 do STJ:

Súmula 333 - Cabe mandado de segurança contra ato praticado em


licitação promovida por sociedade de economia mista ou empresa
pública.

A súmula pode ser aplicada, por analogia, aos concursos públicos. Assim, a
inabilitação de candidatos em concurso para ingresso nos quadros de
SEM e EP também poderia ensejar a interposição de MS.
Também é comum MS em face de dirigentes de estabelecimento de
ensino (Reitor, Diretor etc.), desde que a matéria questionada
tenha relação direta com a atribuição delegada (no caso, a
atividade de ensino. Ex: negativa de certificado de conclusão,
negativa de matrícula, etc.).

Atos de gestão das PJ de direito privado não são passíveis de MS,


tais como: fixação de calendário do ano letivo, questão referente a
mensalidades, etc. (art. 1°§ 2o  Não cabe mandado de segurança contra
os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de
empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias
de serviço público)
TEMPESTIVIDADE
Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á
decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo
interessado, do ato impugnado.

Súmula 632 STF - É CONSTITUCIONAL LEI QUE FIXA O PRAZO DE


DECADÊNCIA PARA A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE
SEGURANÇA.

Com essa súmula também se posicionou o STF quanto à natureza do prazo,


que entende ser decadencial. Mas atenção, porque se trata de decadência
sui generis. É uma decadência que não atinge o direito material.
O termo inicial é a data em que o prejudicado tomou ciência do ato.

No caso de omissão, não há que se falar em prazo decadencial,


porque a omissão se perpetua no tempo. Haverá lesão enquanto
mantida a omissão.

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