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MINISTÉRIO DE RELAÇÕES
EXTERIORES
Discute-se aqui sobre um conflito, que, ao menos em suas instâncias físicas, dá-se na
localidade do Saara Ocidental. Ele é uma extensão grande de terra componente do continente
africano, em sua porção setentrional. Da sua especificidade desértica, observa-se dois detalhes
importantes: o primeiro, de que, a princípio, não representava um atrativo a olhares estrangeiros,
motivação essa que explicaria a limitação da Espanha, até o século XIX, de atuação costeira –
visando à pesca; e o segundo, também em derivação ao primeiro, da qualificação dos povos que
ali habitavam – eram, em sua maioria, tribos nômades1.
1
MENEZES, F. L.; MORAIS, J. M. A.; CARVALHO, M. S. M. SAARA OCIDENTAL: a miragem da
descolonização. LEOPOLDIANUM (UNISANTOS), 2018, p. 74.
A duração da administração espanhola leva quase 100 anos, sendo substituída, apenas,
em 1975 – data que marca o início do conflito tripartido sobre a região. Com a instabilidade que
começava a se estabelecer sobre o país espanhol por conta da saúde de seu líder, e também em
consideração à expansão que o Marrocos buscava empreender, a Espanha entende ser a melhor
solução abrir mão de sua administração na região 4. Para tanto, assina, em segredo, um acordo
com o Marrocos e a Mauritânia - dito Acordo de Madrid -, dividindo o Saara Ocidental sem se
importar com a opinião do povo nativo saaraui, que na época já era representado pela Frente
Polisário, a qual teve origem dos grupos nacionalistas com uma ideolgoia socialista e pan árabe
advindos de Tan-Tan (estudantes saarauis) e de Zuerat, que percebeu a importância de se lutar
pela sua independência5.
2
Ibid, p. 75.
3
Ibidem.
4
Ibid, p. 79.
5
Ibid, p. 78.
6
Ibid, p. 79.
aliados estrangeiros, para com a região do Saara Ocidental, assim como os laços da Frente
Polisário foram desenvolvidos e de que maneira os três atores se encontram no campo de batalha,
que será melhor evidenciado no próximo item.
Para nós, é importante estipular essas conexões e relações para perceber não só de quem
vem o apoio para x ou y país, mas para entender o porquê da motivação nesse apoio e quais são
os reflexos que ele implica. A relação do posicionamento da comunidade internacional, dessa
forma, também pode servir de exemplo para a nossa própria decisão nessa Nota Diplomática.
Logo, vejamos.
Logo, através das alianças formadas na Guerra Fria, da vontade na luta contra o
terrorismo ou mesmo dos laços coloniais, o Marrocos consegue o apoio dos Estados que, na
divergência entre a prevalência do princípio da autodeterminação dos povos e dos interesses
sobre um Estado aliado, optaram pelo segundo caminho, em uma verdadeira estratégia da
política realística, isto é, a diplomacia que se exerce segundo os interesses nacionais 7. Nesse
sentido, mais do que a valorização da soberania de um povo originário, o que brilhou aos olhos
ocidentais foram: a areia, recursos naturais como fosfato, pesca, recursos energéticos, água - não
só dos aquíferos, mas também como geopolítica de favorecimento do comércio internacional -,
cobre, urânio, ferro e zinco, para citar alguns.
7
Ibid, p. 80.
Do outro lado, ou melhor, ao lado da causa Saaraui e da Frente Polisário, o que se
observou, também pela influência dos laços criados pela Guerra Fria, mas com questões
históricas anteriores envolvidas, foi o apoio dos Estados socialistas, como a Argélia, a Líbia, o
Vietnã e Cuba8. A Argélia, em especial (pela variante histórica), opera seu apoio desde tempos
anteriores, visto que, após a repressão feita em 1958 pelas tropas francesas e espanholas, as
forças atacadas da população saaraui buscaram ajuda na região de Tindufe, em território
argelino, criando nesse momento um laço com o país, que acabara de conquistar a sua
independência, importante e mútuo.
A verificação do apoio internacional, por vezes, dá-se sobre bases delicadas, pois, no
pensamento geral, qualquer política diplomática é um risco para o país em perder um aliado em
potencial. É por isso que a Espanha, por exemplo, tenta (apesar de figurar mais presente ao lado
da influência marroquina) cultivar uma boa relação com ambos os atores da disputa, e, também,
seria por isso que tantos da comunidade internacional tem se mantido em silêncio, não
escolhendo um lado em específico.
Talvez, por conta da construção de um ideário de que todos estão buscando por um
posicionamento neutro, ou na argumentação de que se instaura cada vez mais uma (in)diferença
internacional, é que o conflito, até hoje, não vê perspectiva de uma resolução. O território, ainda
dominado pelo Marrocos, recebe o clamor de reinvindicação da nação saaraui. O que se percebe,
contudo, e aí que se denota a importância do posicionamento da comunidade internacional, e o
porquê dessa nota diplomática na figura do Uruguai, é que não se trata de uma indiferença, nem
de uma escolha de apoio neutro. É consentimento velado. Aquiescência dolosa.
É falácia acreditar que o reino marroquino poderia impetrar uma divergência tamanha que
resultaria em uma implacável crise econômica para o país que reconhecesse a soberania do povo
saaraui. Em verdade, o reconhecimento de um Estado não representa má política nem em tempos
de guerra, cuja situação ainda se faz contornável9. Logo, em vistas de, apesar da Mauritânia ter se
8
Ibidem.
9
NOMOS (produtor). Estrada, R. D.; Costa, R. (Diretor). (2017). Um fio de esperança: Independência ou Guerra
no Saara Ocidental [Youtube]. Brasil. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KY1bfcnG3Js&t=1s>.
Acesso em 15 jun. 2022.
rendido e reconhecido a RASD e da elaboração da Missão das Nações Unidas para o Referendo
do Saara Ocidental (MINURSO) ter efetivado um cessar-fogo entre o Marrocos e a Frente
Polisário, o referendo ainda não ter sido realizado, a soberania da nação saaraui não ter sido
consolidada e o Marrocos ocupar o território até hoje, é que implica na importância do
posicionamento do nosso país. O Uruguai, portanto, entende como se segue.
Vemos, aos poucos, como o Saara Ocidental era um fator de importância unidade
nacional, na medida em que o Marrocos e a Mauritânia, por serem Estados que conquistaram sua
independência recentemente, e, portanto, ainda se verem consolidados sobre uma estrutura
fragilizada e desestabilizada, tentam remediar essas lacunas pela imposição de sua força
soberana sobre o território. Nesse sentido, o nascimento de uma Soberania pelo interesse e pelo
status se faz sobre o enfraquecimento de outra, especificamente de povos minoritários, qual seja,
as tribos originárias da região. Ou melhor, corrige-se: deve-se desvincular dessa visão dos
10
ONU. ASSEMBLEIA GERAL DA ONU (AG). Resolução 1514 [XV]. AG index: A/RES/1541(XV), 14
de dezembro de 1960. Disponível em: <http://www.un.org>. Acesso em 15 jun. 2022.
______. Resolução 2072 [XX]. AG index: A/RES/2072(XX), 16 de dezembro de 1965. Disponível em:
<http://www.un.org>. Acesso em 15 jun. 2022.
Nota-se quão sensível é a relação do povo saaraui para com sua ancestralidade, natividade
e originalidade. Antes da colonização, era forte a correlação entre a sua população e seus
costumes, suas regras, suas religiões - destaca-se, assim, a sua organização sociopolítica, mas
também sua mundividência12. Características essas que só se intensificaram, ou deveria dizer
foram resilientes à violência colonizatória, com a noção de uma identidade una, o sentimento
nacionalista e a consciência de uma comunidade para além da tribo. Assim, cunhou-se no
ambiente externo e no sangue de cada indivíduo, a vontade de pertencer a uma nação Saaraui.
Muito da visão subjetiva mencionada é clara, conforme já adiantado, na Carta das Nações
Unidas13, que, em seu artigo 73, alínea b, demonstra a importância do princípio da
autodeterminação dos povos na medida em que eles possam
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CIJ. CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Western Sahara Advisory Opinion, The Hague, ICJ, 16 out.
1975.
NOMOS (produtor). Estrada, R. D.; Costa, R. (Diretor). (2017). Um fio de esperança: Independência ou Guerra no
Saara Ocidental [Youtube]. Brasil. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=KY1bfcnG3Js&t=1s>.
Acesso em 15 jun. 2022.
ONU. ASSEMBLEIA GERAL DA ONU (AG). Resolução 1514 [XV]. AG index: A/RES/1541(XV), 14
de dezembro de 1960. Disponível em: <http://www.un.org>. Acesso em 15 jun. 2022.
______. Resolução 2072 [XX]. AG index: A/RES/2072(XX), 16 de dezembro de 1965. Disponível em:
<http://www.un.org>. Acesso em 15 jun. 2022.
______. Carta das Nações Unidas. UNTS (XVI), 1945. Disponível em: <http://www.un.org>. Acesso em 15 jun.
2022.