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Poder Judiciário

Justiça do Trabalho
Tribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-E-RR-5500-47.2010.5.13.0022

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1001232546A45231C7.
A C Ó R D Ã O
SDI-1
ACV/sp

EMBARGOS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO.
CONTRATO DE ESTÁGIO. RELAÇÃO ENTRE CIEE
X ENTES PÚBLICOS. CONTRATAÇÃO POR
SELEÇÃO PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE FAZER.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO.
RECURSO DE REVISTA NÃO CONHECIDO. Nos
termos da jurisprudência do e. STF, no
julgamento da Reclamação 9988/CE, a
Justiça do Trabalho não detém
competência para o julgamento de causas
que versam sobre o contrato de estágio
com entes da administração pública, por
aplicação analógica do entendimento
contido na ADI 3395. A e. Corte maior
ressalta que “cabe à Justiça Comum dizer
sobre a existência, a validade e a
eficácia dos vínculos jurídicos, de
origem viciada ou não, de caráter
operativo, entre os entes públicos e
aqueles que lhes prestaram serviços”.
(Rcl 9988/CE – Relator Min. Dias Toffoli
– Dje 28.4.2010). Embargos conhecidos e
desprovidos.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos


em Recurso de Revista n° TST-E-RR-5500-47.2010.5.13.0022, em que é
Embargante MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 13ª REGIÃO e Embargado(a)
CENTRO DE INTEGRAÇÃO EMPRESA ESCOLA - CIEE.

A c. 7ª Turma, em decisão da lavra do Exmo. Ministro


Pedro Paulo Manus, não conheceu do Recurso de Revista interposto pelo
Ministério Público do Trabalho quanto ao tema “ação civil pública –
contrato de estágio com ente público – incompetência material da Justiça
do Trabalho”.
O reclamante interpôs recurso Extraordinário e de
Embargos, no qual sustenta haver divergência quanto à competência da
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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
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Justiça do Trabalho para apreciar a contratação de estagiários pelo poder
público. Colaciona aresto para confronto de teses.
Os Embargos não foram admitidos pelo Presidente da
Turma, Exmo. Ministro Ives Gandra Martins Filho, conforme r. despacho,
primeiramente por entender não estarem comprovados os requisitos de
admissibilidade, previstos na Súmula 337 desta Corte, bem como por
entender que o acórdão colacionado não enfrenta todos os argumentos
consignados na decisão embargada, nos termos da Súmula 23 do TST.
Irresignado, o Ministério Público interpôs Agravo
Regimental, no qual sustenta que todos os requisitos de admissibilidade
foram comprovados. Solicita o provimento do Agravo e consequente regular
processamento dos Embargos.
A reclamada apresentou impugnação aos Embargos, bem
como contraminuta ao Agravo Regimental. Requer a condenação em litigância
de má-fé.
Sem remessa dos autos à d. Procuradoria-Geral do
Trabalho.
É o relatório.

V O T O

AGRAVO REGIMENTAL

CONHECIMENTO
Conheço do agravo, porque regular e tempestivo
(Ministério Público intimado em 08/03/2013 e Agravo Regimental
protocolizado em 22/03/2013).

MÉRITO
O r. despacho de admissibilidade não admitiu os
Embargos, ao fundamento:

Em acórdão da lavra do Exmo. Sr. Ministro Pedro Paulo Manus,


decidiu a 7ª Turma do TST, por maioria, não conhecer do recurso de
revista do MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 13ª REGIÃO,
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mantendo a decisão regional que declarou a incompetência da Justiça
do Trabalho para julgar a lide, que diz respeito à contratação
temporária de estagiários no serviço público, e remeteu o processo a
uma das Varas Cíveis da Justiça Estadual, consignando não haver, na
hipótese, vínculo de emprego entre o estagiário contratado e o ente
público. Registrou, ainda, que a jurisprudência do TST, bem como o
entendimento do STF, este consubstanciado na ADI-3395-DF, são
pacíficos no sentido de que a Justiça do Trabalho é incompetente
para julgar processos em que se discute relação estatutária ou de regime
jurídico-administrativo (fls. 613-622).
Inconformado, interpõe o MINISTÉRIO PÚBLICO DO
TRABALHO DA 13ª REGIÃO o presente recurso de embargos à
SBDI-1, no qual defende a competência da Justiça do Trabalho, em
razão da matéria, para o julgamento de ação civil pública em que se
discute a regularidade da contratação de estagiários por ente
público. Transcreve arestos da 5ª e 7ª Turmas do TST para
confronto de teses (fls. 636-647).
II) FUNDAMENTAÇÃO
Tempestivos os embargos (fls. 625 e 636), regular a
representação (Súmula 436 do TST) e dispensado o preparo (arts.
790-A, I, da CLT e 1º, IV, do Decreto-lei nº 779/69), tem-se como
preenchidos os pressupostos de admissibilidade comuns a qualquer recurso.
No entanto, os arestos transcritos pelo parquet para a comprovação
de divergência jurisprudencial desservem ao fim pretendido, pois não
atendem aos ditames da Súmula 337, I, “a”, do TST, uma vez que não
citam a fonte oficial ou o repositório autorizado em que foram
publicados; ademais, o apelo não vem acompanhado das respectivas
certidões ou cópias autenticadas. De outra parte, tampouco se tem por
atendido o comando inserto no item IV da Súmula 337 do TST, porque,
se os precedentes foram retirados de repositório oficial na internet,
deviam ter sido apontadas as datas das respectivas publicações
no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, providência não
verificada “in casu”, porquanto, não obstante indicada uma possível
data de publicação dos arestos, não restou consignado se estas
se deram no DEJT, como exigido pela Súmula.
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Ainda que assim não fosse, tem-se que desserviria a comprovação de
divergência jurisprudencial aresto da mesma Turma prolatora da decisão
embargada, nos termos do art. 894, II, da CLT. Por sua vez, o aresto
colacionado às fls. 642-647, proferido pela 5ª Turma do TST, se mostraria
inespecífico à hipótese dos autos, uma vez que não enfrenta todos os
argumentos consignados na decisão embargada, surgindo como
óbice ao processamento do apelo os termos da Súmula 23 do TST.
III) CONCLUSÃO
Pelo exposto, denego seguimento aos presentes embargos.”

Nas razões do Agravo sustenta a embargante que a v.


decisão cumpre o requisito da Súmula 337, IV, do c. TST, ao contrário
do que decidiu o r. despacho.
Tem razão.
Conforme se verifica do aresto colacionado nas razões
de Embargos, realmente o Ministério Público indicou o aresto com o qual
pretendia demonstrar divergência jurisprudencial, cumprindo o requisito
do item IV da Súmula 337 do c. TST, em sua atual redação, que dispõe:
IV - É válida para a comprovação da divergência jurisprudencial
justificadora do recurso a indicação de aresto extraído de repositório oficial
na internet, desde que o recorrente:
a) transcreva o trecho divergente;
b) aponte o sítio de onde foi extraído; e
c) decline o número do processo, o órgão prolator do acórdão e a data
da respectiva publicação no Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho.

Consta expressamente tais dados, identificadores do


aresto colacionado, o que afasta o óbice levantado pelo r. despacho que
não admitiu os Embargos.
Superado tal óbice, incumbe a apreciação da
divergência jurisprudencial, com fundamento no item II do art. 894 da
CLT.
A c. Turma entendeu pela incompetência da Justiça do
Trabalho para dirimir ação civil pública que trata de conflito envolvendo
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contratação entre o ente privado que contrata os estagiários e o poder
público, por entender que se trata de vínculo jurídico-administrativo,
devendo a presente ação civil pública ser proposta na Justiça Comum.
O aresto colacionado pelo reclamante, oriundo da c.
5ª Turma, em sentido diverso, entendeu que a Justiça do Trabalho é
competente para dirimir demanda envolvendo interesses difusos
relacionados com conflito de interesses entre os sujeitos de uma relação
de emprego ou de trabalho, embora englobando um empregador atual ou
potencial e uma categoria indeterminada de indivíduos, com
potencialidade para celebrar validamente contrato de estágio, na forma
da Lei nº 6.494/77.
Ante o exposto, dou provimento ao agravo, a fim de
admitir o recurso de embargos por possível divergência jurisprudencial,
determinando que seja o feito processado, na forma do art. 3º da Instrução
Normativa nº 35/2012.

EMBARGOS

PRELIMINAR DE LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. ARGUIÇÃO EM


IMPUGNAÇÃO AOS EMBARGOS
Afasta-se a pretensão da embargada em ver penalizado
o Ministério Público do Trabalho, por litigância de má-fé, já que das
razões de Embargos se vislumbra tão-somente o intento do parquet em alçar
o tema a debate da c. SDI, sendo, inclusive, conhecido o seu apelo.
Ao contrário do que alega o embargado, a transcrição
de aresto que trata de contrato de estágio e traz entendimento no sentido
de ser matéria da competência da justiça do trabalho, viabiliza o conflito
jurisprudencial, na medida em que também remonta a ilicitude nos
contratos de estágio.
Rejeito.

INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO – EMPRESA PRIVADA


DE CONTRATAÇÃO DE ESTÁGIO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER.
CONTRATAÇÃO POR ENTE PÚBLICO.
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A c. Turma não conheceu do recurso de revista do
reclamante, mantendo a decisão do eg. TRT que entendeu ser a justiça do
trabalho incompetente para dirimir a demanda, que versa sobre relação
contratual administrativa entre o CIEE e o ente público.
Nesses termos, assim se manifestou:

O Ministério Público do Trabalho alega que intentou a ação civil


pública em face de ente privado (CIEE), de modo que a decisão regional de
reconhecer a incompetência material da Justiça do Trabalho, com base no
artigo 114, I, da Constituição Federal, com o entendimento dado pela decisão
da ADI 3395-DF, não foi correta. Sustenta que não figura no polo passivo da
ação nenhuma pessoa jurídica de direito público, integrante da
Administração Pública Direta ou Indireta, o que significa dizer que não há
causa instaurada entre o Poder Público e seus servidores. Aponta violação do
artigo 114, I, da Constituição Federal.
Eis a decisão regional (fls. 549/554 – seq. 01):
“(...)
A recorrente argui a incompetência da Justiça do Trabalho
para apreciar a matéria, sob a alegação de que os contratos de
estágio não criam vínculo empregatício, o que significa que a
relação jurídica estabelecida entre o CIEE, estudantes e órgão
público é de natureza jurídico-administrativa, pelo que a Justiça
do Trabalho não possui competência para apreciá-la.
Com razão.
Verifica-se, dos autos, que o Ministério Público do
Trabalho objetiva o cumprimento dos princípios insculpidos no
art. 37 da Constituição Federal, na seleção de estagiários para o
setor público.
Nesse contexto, o que se pretende tutelar é o vínculo
jurídico com órgãos públicos, que o STF entende se situam no
contexto das relações jurídico administrativas, conforme recente
decisão do Ministro Relator Dias Toffoli, na Reclamação nº
9988/CE, verbis:
Rcl 9988 / CE – CEARÁ
RECLAMAÇÃO
Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI
Julgamento: 22/04/2010
Publicação
PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-074 DIVULG 27/04/2010 PUBLIC 28/04/2010
Partes
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RECLTE.(S): ESTADO DO CEARÁ
PROC.(A/S)(ES): PROCURADOR-GERAL DO
ESTADO DO CEARÁ
RECLDO.(A/S): JUIZ DO TRABALHO DA 8ª VARA
DO TRABALHO DA COMARCA DE FORTALEZA
INTDO.(A/S): CAIO ALVES DE OLIVEIRA PEDROSA
DECISÃO
Vistos.
Cuida-se de reclamação constitucional, com pedido de
liminar, do ESTADO DO CEARÁ em face de decisão do JUÍZO
DA 8ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA/CE,
proferida nos autos da ação trabalhista nº
0851/2009-008-07-00-1, movida por CAIO ALVES DE
OLIVEIRA PEDROSA, que afronta a autoridade do Supremo
Tribunal Federal e a eficácia do que decidido na ADI no
3395-MC.
A inicial eletrônica baseia-se nos seguintes argumentos:
a) o autor da reclamatória trabalhista pretendeu contra o
ESTADO DO CEARÁ na condição de ex-estagiário do Tribunal
de Justiça do Estado do Ceará, objetivando condená-lo ‘ao
pagamento de valores correspondente a auxílio-transporte,
vencidos a partir da data de admissão e vincendos, na
importância de R$ 6,00 (seis reais) por dia útil’;
b) alegou-se a incompetência absoluta da Justiça do
Trabalho para processar e julgar a ação, porquanto não cabe ao
aludido plexo judiciário ‘decidir sobre questões envolvendo
estagiário e o Poder Público, uma vez que o vínculo jurídico que
atrela as partes ostenta natureza administrativa.’
c) o juízo reclamado, no entanto, rejeitou a tese do
ESTADO DO CEARÁ e julgou parcialmente procedente o
pedido da ação, tendo condenado o reclamante ao pagamento dos
valores relativos ao auxílio-transporte, estabelecendo-se prazo
de trinta dias para a implantação da vantagem.
Pede-se, em liminar, a sustação da eficácia da decisão da
Justiça do Trabalho, com a suspensão do Processo nº
0851/2009-008-07-00-1, em trâmite no JUÍZO DA 8ª VARA
DO TRABALHO DE FORTALEZA/ CE. No mérito, que seja
declarada a incompetência absoluta da Justiça Especializada.
Documentos eletrônicos juntados, com demonstração de
que a reclamação trabalhista não transitou em julgado.
É o relatório.
Inicialmente, observo que o juízo reclamado, na sentença
datada de 15.9.2009, expressou o entendimento de que:
‘Nesse contexto, o contrato de estágio, ainda que voltado à
preparação para o trabalho produtivo, é relação de trabalho, na
medida em que há dispêndio de energia, de pessoa física em
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estado de subordinação e hipossuficiência. Afinal, o trabalho é
sempre forçado pela necessidade de sobrevivência e, no estágio,
essa ilação se faz ainda mais contundente quando se constata que
ele também se torna necessário para viabilizar a melhor
capacitação do estudante, de forma a assegurar-lhe a
sobrevivência futura através do trabalho finalmente produtivo,
ou diríamos, efetivamente rentável, há que hoje, mais e mais, o
mercado opta pelos profissionais com experiência, em
detrimento daqueles que não a possuem.’
É absolutamente clara a afronta à autoridade do STF e à
eficácia do quanto decidido na ADI no 3395.
Sobre esse ponto, observada a consolidação plena da
jurisprudência da Corte, não se faz necessária maior digressão.
Referencio acórdão de minha lavra, acolhido no Plenário do
STF, que patenteia a exclusão da esfera cognitiva especializada
de dissídios envolvendo o Poder Público e agentes que desejam
com ele estabelecer liame laborativo:
‘AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO E
PROCESSUAL. REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO.
ADI nº 3.395/DF-MC. AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS
SUSCEPTÍVEIS DE MODIFICAR A DECISÃO
AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1.
É competente a Justiça comum para processar e julgar ações para
dirimir conflitos entre o Poder Público e seus agentes,
independentemente da existência de vício na origem desse
vínculo, dada a prevalência de sua natureza
jurídico-administrativa. 2. Prorrogação do prazo de vigência do
contrato temporário não altera a natureza jurídica de cunho
administrativo que se estabelece originalmente. 3. Agravo
regimental não provido.’ (Rcl 7157 AgR, de minha relatoria,
Tribunal Pleno, DJe 19-03-2010)
A posição do STF, que restou ofendida pela sentença do
nobre juízo trabalhista, é explícita: cabe à Justiça Comum dizer
sobre a existência, a validade e a eficácia dos vínculos jurídicos,
de origem viciada ou não, de caráter operativo, entre os entes
públicos e aqueles que lhes prestaram serviços. O problema, em
assim sendo, radica-se em um processo lógico-causal
antecedente: não pode a Justiça Especializada qualificar a
relação jurídica Estado-agente e, após isso, sobre ela emitir
pronunciamentos declaratórios, condenatórios ou executivos.
Acha-se abstraída, ao exemplo de uma hipótese de
não-incidência, de sua órbita de cognição essa modalidade de
conflito.
Não é esse modo de encarar a quaestio um deslustre à
Justiça do Trabalho, capítulo jurisdicional brasileiro dos mais
respeitáveis e dotado de uma judicatura culta e comprometida
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com a causa da celeridade da prestação jurisdicional. O STF
simplesmente enalteceu a necessidade de divisão categorial entre
o regime jurídico-administrativo e o regime jurídico-trabalhista.
A presença do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará como
plexo no qual o estagiário ofereceu sua força de trabalho,
inserida no processo de aprendizagem e não no âmbito da
mais-valia das relações de produção, é elemento bastante por si
mesmo para afastar qualquer possibilidade de conhecimento da
causa pelo juízo reclamado.
Se não se tem admitido a competência da Justiça Federal
do Trabalho para situações como trabalho temporário, ocupantes
de cargos em comissão, empregados públicos posteriormente
convertidos em servidores públicos, o que se dirá de uma ação
fundada em pretensões decorrentes de um contrato de estágio.
Considero, por essas razões, não só dispensável maior
aprofundamento no tema, bem como é conveniente que se
eliminem quaisquer dúvidas sobre a correta tramitação da causa,
o que implica a oportunidade de se resolver de logo o mérito da
reclamação, como tem aceitado a jurisprudência da Corte.
Não faz sentido, especialmente em relação ao interessado,
retardar-lhe o exercício correto de sua pretensão em juízo, o que
ocorreria por efeito da prorrogação do trâmite deste incidente.
Ante o exposto, julgo procedente a reclamação e declaro
incompetente a Justiça do Trabalho para conhecer e julgar da
ação trabalhista nº 0851/2009-008-07-00-1, em tramitação
perante o JUÍZO DA 8ª VARA DO TRABALHO DE
FORTALEZA/CE, cabendo à Justiça Comum essa prerrogativa
jurisdicional.
Publique-se.
Comunique-se.
Arquive-se.
Brasília, 22 de abril de 2010.
Ministro DIAS TOFFOLI
Relator
O que se vê, portanto, é a necessidade de instauração de
litisconsórcio passivo necessário com os entes públicos, de
natureza unitária, pois o que se persegue, frente ao réu, dotado de
personalidade jurídica de direito privado, é a tutela de relações
jurídicas, coletivas, a luz dos princípios do art. 37 da CF, que são
aqueles que se impõe, apenas, frente aos entes dotados de
personalidade jurídica de direito público interno.
Ao se tutelar tais relações, mesmo que de forma oblíqua,
apenas em relação ao réu privado, se está a atingir, diretamente,
os entes públicos com os quais o mesmo tem contrato e, com
isso, a afrontar a autoridade da decisão referenda pelo plenário
do STF na ADIN 3.395-MC/DF.
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(...)
Ante o exposto, acolho a preliminar suscitada pela
recorrente para declarar a incompetência da Justiça do Trabalho,
em razão da matéria, remetendo o processo a uma das Varas
Cíveis da Justiça Estadual para julgamento do feito.”
Sem razão o recorrente.
Não obstante a inexistência de entes públicos figurando no polo
passivo da presente ação civil pública, o resultado prático dos efeitos desta
ação atingem, primordialmente, estes entes, na medida em que o CIEE, como
mero agente de integração privado, apenas intermedia a contratação de
estagiários para os entes públicos.
O regramento jurídico a respeito do estágio está contido na Lei nº
11.788/2008. O artigo 3º preceitua que o estágio, seja ele obrigatório ou não,
não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, salvo se descumpridos
os requisitos previstos no próprio dispositivo, verbis:
“Art. 3º O estágio, tanto na hipótese do § 1º do art. 2º desta
Lei quanto na prevista no § 2º do mesmo dispositivo, não cria
vínculo empregatício de qualquer natureza, observados os
seguintes requisitos: I – matrícula e frequência regular do
educando em curso de educação superior, de educação
profissional, de ensino médio, da educação especial e nos anos
finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da
educação de jovens e adultos e atestados pela instituição de
ensino;
II – celebração de termo de compromisso entre o
educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino;
III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no
estágio e aquelas previstas no termo de compromisso.
(...)
§ 2º O descumprimento de qualquer dos incisos deste
artigo ou de qualquer obrigação contida no termo de
compromisso caracteriza vínculo de emprego do educando com
a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação
trabalhista e previdenciária.”
Assim, se reconhecermos que a Justiça do Trabalho é competente para
dirimir a controvérsia objeto desta ação civil pública, necessariamente
teremos que reconhecer que, no caso de um contrato de estágio firmado entre
um estagiário e um ente público, em que uma ou mais cláusulas previstas no
artigo 3º, I, II e III, da Lei nº 11.788/2008, forem descumpridas, a Justiça do
Trabalho seria competente para resolver o conflito.

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Por óbvio, isso não é possível, já que não há como se reconhecer a
formação de vínculo empregatício entre um indivíduo e o Poder Público sem
a submissão daquele a um concurso público, sob pena de violação do artigo
37, II, da Constituição Federal. Imaginar que tal situação é factível é ir de
encontro à jurisprudência pacificada deste Tribunal, no sentido de que a
Justiça do Trabalho é incompetente para julgar processos em que se discute
relação estatutária ou de regime jurídico-administrativo.
Neste sentido são os seguintes precedentes desta Corte:
“RECURSO DE EMBARGOS. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO TRABALHO - SERVIDOR PÚBLICO - CARGO
EM COMISSÃO. RECURSO DE REVISTA NÃO
CONHECIDO A v. decisão firmou entendimento no sentido de
consagrar a jurisprudência do e. STF, firmando a tese de que
diante de relação jurídica estatutária, de cargo em comissão, a
Justiça do Trabalho não tem competência para dirimir a causa.
Não demonstrada divergência jurisprudencial na apreciação de
matéria idêntica, eis que colacionado aresto que trata sobre
incompetência da Justiça do Trabalho para julgamento de
matéria relacionada a contratação temporária. Embargos não
conhecidos.” (E-ED-RR - 63900-36.2005.5.15.0002 , Relator
Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de Julgamento:
29/03/2012, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Data de Publicação: 13/04/2012)
“EMBARGOS SUJEITOS À SISTEMÁTICA DA LEI Nº
11.496/2007 - CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE
SERVIDOR PÚBLICO - ARTIGO 37, IX, DA
CONSTITUIÇÃO - INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO A Justiça do Trabalho é incompetente para
processar e julgar as ações em que se estabeleçam relações de
cunho jurídico-administrativo, nas quais se insere a contratação
para atender necessidade temporária de excepcional interesse
público (artigo 37, IX, da Constituição). Diante das reiteradas
decisões do Excelso Supremo Tribunal Federal, o Pleno do TST,
em sessão realizada no dia 23/4/2009, decidiu cancelar a
Orientação Jurisprudencial nº 205 da SBDI-1, que se firmava em
sentido contrário (Resolução nº 156/2009, DJe divulgado em 27,
28 e 29/4/2009). Embargos conhecidos e desprovidos.” (E-RR -
169400-94.2008.5.22.0001 , Relatora Ministra: Maria Cristina
Irigoyen Peduzzi, Data de Julgamento: 17/02/2011, Subseção I
Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação:
25/02/2011)
“RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO NA
VIGÊNCIA DA LEI 11.496/2007. INCOMPETÊNCIA DA
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JUSTIÇA DO TRABALHO. REPERCUSSÃO GERAL.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. NATUREZA
ADMINISTRATIVA. SERVIDOR PÚBLICO. O Supremo
Tribunal Federal, apreciando o Recurso Extraordinário
573.202/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ 11/4/2008,
reconheceu a existência de repercussão geral da questão
constitucional, qual seja, a incompetência da Justiça do Trabalho
para apreciar demanda ajuizada por servidor admitido mediante
contratação temporária regida por legislação local, anterior à
Constituição da República de 1988, o que levou esta Corte
Superior ao cancelamento da Orientação Jurisprudencial n.º 205
da SBDI-1, por meio da Resolução n.º 156/2009. Desde então
esta Corte vem reconhecendo a incompetência da Justiça do
Trabalho para processar e julgar demandas que envolvam
contrato temporário, ainda que irregular a sua execução.
Afigura-se correta, portanto, a decisão proferida pela Turma,
mediante a qual se reconheceu a competência da Justiça do
Trabalho para processar e julgar demandas que tem por objeto a
execução de contrato temporário, nos termos do art. 37, IX, da
Constituição Federal. Recurso de Embargos conhecido e
desprovido.” (E-RR - 175700-63.2008.5.22.0004 , Relatora
Ministra: Maria de Assis Calsing, Data de Julgamento:
31/03/2011, Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Data de Publicação: 08/04/2011)
Desta forma, não há como se conceber uma ação civil pública, em que
o objeto seja o questionamento sobre a forma de contratação de estagiários,
sem que se leve em consideração o vínculo que se formará entre o estagiário
e o ente público cedente.
Assim, a decisão regional foi proferida em perfeita harmonia com o
entendimento do STF, consubstanciado na ADI 3395-DF, que suspendeu
toda e qualquer interpretação dada ao artigo 114, I, da Constituição Federal
que incluísse, na competência da Justiça do Trabalho, a apreciação de causas
que fossem instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele
vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter
jurídico-administrativo, este último, o caso dos autos.
Não conheço do recurso de revista.

Pelas razões de Embargos O Ministério Público remete


ao objetivo da ação civil pública, intentada pelo MP da 13ª Região, em
que se visava a regularização das seleções de estagiários perpetradas

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por entes da administração pública, com o fim de se observar critérios
objetivos e impessoais de seleção. Sustenta conflito jurisprudencial na
apreciação da matéria, em face de aresto que colaciona e que demonstra
tese diversa, no sentido de competência da justiça do trabalho para
julgamento de ação civil pública em que se discute a regularidade da
contratação de estagiários, por ente público.
A c. Turma entendeu pela incompetência da Justiça do
Trabalho para dirimir ação civil pública que trata de conflito envolvendo
entes públicos, em face de se tratar o CIEE de mero agente de integração
privado, que intermedia a contratação de estagiários para os entes
públicos, tendo em vista que o que visa a ação é o contrato firmado entre
um estagiário e um ente público que, por sua vez, entende não ser da
competência desta Justiça.
O aresto colacionado pelo reclamante, oriundo da c.
5ª Turma, em sentido diverso, entendeu que a Justiça do Trabalho é
competente para dirimir demanda envolvendo contrato de estágio, na forma
da Lei nº 6.494/77.
Conheço, por divergência jurisprudencial.

MÉRITO
A ação civil pública tem como objeto denúncia contra
o Centro de Ensino Integrado Empresa e Escola, em face do descumprimento
dos preceitos constitucionais estabelecidos no art. 37 da C, eis que não
vem observando os princípios da publicidade e impessoalidade na execução
dos contratos para preenchimento de vagas destinadas a estágios nas
instituições públicas.
O que se discute é se a Justiça do Trabalho é competente
para dirimir a demanda, na medida em que se busca obrigação de fazer
relacionada com o modo de contratação de estagiários junto ao CIEE, em
face de se tratar de contrato realizado com entes da administração
pública.
A competência ratione materiae, in casu, se faz pela
interpretação que se dá em relação ao que dispõe o art. 114, I, da CF,
que trata da “relação de trabalho”, que abrange também o estágio
profissional.
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Todavia, o fato de o debate que norteia a ação civil
pública estar fulcrada na conduta do CIEE e no modo de contratação dos
estagiários com o ente público, em face da necessidade de seleção pública
dos candidatos para exercerem o estágio profissional perante a
administração pública direta e indireta, não viabiliza reconhecer a
competência desta Justiça do Trabalho.
Embora os procedimentos de pré-seleção de empregados
e, por consequência logica, das relações de trabalho decorrentes do
estágio, encontrarem no âmbito da competência da Justiça do Trabalho,
não há como se adentrar no exame de matéria vinculada à relação
administrativa com entes públicos, diante do entendimento do e. STF que,
por analogia com o julgamento da ADI 3395, afasta a competência da Justiça
do Trabalho para dirimir tais causas.
Embora a atuação do parquet, no presente caso, se
subordina a conduta que alcança o interesse público, em face da
necessidade de seleção pública e publicidade, nos termos do art. 37 da
Constituição Federal, a questão contratual e administrativa não se
encontra no âmbito da atuação desta Justiça do Trabalho, afeta que está
à Justiça Comum.
Registre-se que o Ministério Público indica que
procedeu a assinatura de TAC junto ao Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba, em face da postura do CIEE no encaminhamento de estagiários,
sem os procedimentos de pré-seleção realizados nos moldes do art. 37 da
Constituição Federal.
Nesses termos, o fato de o debate nortear a pré-seleção
dos estagiários que ingressam na administração pública, não incumbe a
esta Justiça Especializada apreciar a conduta do CIEE em face dos entes
públicos que o contratam para ingresso de estagiários em seus quadros.
Tal entendimento foi dirimido em Reclamação
Constitucional, em decisão no Rcl 9988/CE, da lavra do Exmo. Ministro
Dias Toffoli que, por sua vez, afastou a competência da Justiça do
Trabalho, conforme julgado que a c. Turma já trouxe a conhecimento, que
peço vênia para transcrever:

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“DECISÃO Vistos. Cuida-se de reclamação constitucional, com
pedido de liminar, do ESTADO DO CEARÁ em face de decisão do JUÍZO
DA 8ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA/CE, proferida nos autos
da ação trabalhista nº 0851/2009-008-07-00-1, movida por CAIO ALVES
DE OLIVEIRA PEDROSA, que afronta a autoridade do Supremo Tribunal
Federal e a eficácia do que decidido na ADI no 3395-MC. A inicial
eletrônica baseia-se nos seguintes argumentos: a) o autor da reclamatória
trabalhista pretendeu contra o ESTADO DO CEARÁ na condição de
ex-estagiário do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, objetivando
condená-lo “ao pagamento de valores correspondente a auxílio-transporte,
vencidos a partir da data de admissão e vincendos, na importância de R$ 6,00
(seis reais) por dia útil”; b) alegou-se a incompetência absoluta da Justiça do
Trabalho para processar e julgar a ação, porquanto não cabe ao aludido plexo
judiciário “decidir sobre questões envolvendo estagiário e o Poder Público,
uma vez que o vínculo jurídico que atrela as partes ostenta natureza
administrativa.” c) o juízo reclamado, no entanto, rejeitou a tese do
ESTADO DO CEARÁ e julgou parcialmente procedente o pedido da ação,
tendo condenado o reclamante ao pagamento dos valores relativos ao
auxílio-transporte, estabelecendo-se prazo de trinta dias para a implantação
da vantagem. Pede-se, em liminar, a sustação da eficácia da decisão da
Justiça do Trabalho, com a suspensão do Processo nº
0851/2009-008-07-00-1, em trâmite no JUÍZO DA 8ª VARA DO
TRABALHO DE FORTALEZA/CE. No mérito, que seja declarada a
incompetência absoluta da Justiça Especializada. Documentos eletrônicos
juntados, com demonstração de que a reclamação trabalhista não transitou
em julgado. É o relatório. Inicialmente, observo que o juízo reclamado, na
sentença datada de 15.9.2009, expressou o entendimento de que: “Nesse
contexto, o contrato de estágio, ainda que voltado à preparação para o
trabalho produtivo, é relação de trabalho, na medida em que há dispêndio de
energia, de pessoa física em estado de subordinação e hipossuficiência.
Afinal, o trabalho é sempre forçado pela necessidade de sobrevivência e, no
estágio, essa ilação se faz ainda mais contundente quando se constata que ele
também se torna necessário para viabilizar a melhor capacitação do
estudante, de forma a assegurar-lhe a sobrevivência futura através do
trabalho finalmente produtivo, ou diríamos, efetivamente rentável, há que
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hoje, mais e mais, o mercado opta pelos profissionais com experiência, em
detrimento daqueles que não a possuem.” É absolutamente clara a afronta à
autoridade do STF e à eficácia do quanto decidido na ADI no 3395. Sobre
esse ponto, observada a consolidação plena da jurisprudência da Corte, não
se faz necessária maior digressão. Referencio acórdão de minha lavra,
acolhido no Plenário do STF, que patenteia a exclusão da esfera cognitiva
especializada de dissídios envolvendo o Poder Público e agentes que
desejam com ele estabelecer liame laborativo: “AGRAVO REGIMENTAL.
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL. REGIME JURÍDICO
ADMINISTRATIVO. ADI nº 3.395/DF-MC. AUSÊNCIA DE
ARGUMENTOS SUSCEPTÍVEIS DE MODIFICAR A DECISÃO
AGRAVADA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. É
competente a Justiça comum para processar e julgar ações para dirimir
conflitos entre o Poder Público e seus agentes, independentemente da
existência de vício na origem desse vínculo, dada a prevalência de sua
natureza jurídico-administrativa. 2. Prorrogação do prazo de vigência do
contrato temporário não altera a natureza jurídica de cunho administrativo
que se estabelece originalmente. 3. Agravo regimental não provido.” (Rcl
7157 AgR, de minha relatoria, Tribunal Pleno, DJe 19-03-2010) A posição
do STF, que restou ofendida pela sentença do nobre juízo trabalhista, é
explícita: cabe à Justiça Comum dizer sobre a existência, a validade e a
eficácia dos vínculos jurídicos, de origem viciada ou não, de caráter
operativo, entre os entes públicos e aqueles que lhes prestaram serviços. O
problema, em assim sendo, radica-se em um processo lógico-causal
antecedente: não pode a Justiça Especializada qualificar a relação jurídica
Estado-agente e, após isso, sobre ela emitir pronunciamentos declaratórios,
condenatórios ou executivos. Acha-se abstraída, ao exemplo de uma hipótese
de não-incidência, de sua órbita de cognição essa modalidade de conflito.
Não é esse modo de encarar a quaestio um deslustre à Justiça do Trabalho,
capítulo jurisdicional brasileiro dos mais respeitáveis e dotado de uma
judicatura culta e comprometida com a causa da celeridade da prestação
jurisdicional. O STF simplesmente enalteceu a necessidade de divisão
categorial entre o regime jurídico-administrativo e o regime
jurídico-trabalhista. A presença do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará
como plexo no qual o estagiário ofereceu sua força de trabalho, inserida no
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processo de aprendizagem e não no âmbito da mais-valia das relações de
produção, é elemento bastante por si mesmo para afastar qualquer
possibilidade de conhecimento da causa pelo juízo reclamado. Se não se tem
admitido a competência da Justiça Federal do Trabalho para situações como
trabalho temporário, ocupantes de cargos em comissão, empregados
públicos posteriormente convertidos em servidores públicos, o que se dirá de
uma ação fundada em pretensões decorrentes de um contrato de estágio.
Considero, por essas razões, não só dispensável maior aprofundamento no
tema, bem como é conveniente que se eliminem quaisquer dúvidas sobre a
correta tramitação da causa, o que implica a oportunidade de se resolver de
logo o mérito da reclamação, como tem aceitado a jurisprudência da Corte.
Não faz sentido, especialmente em relação ao interessado, retardar-lhe o
exercício correto de sua pretensão em juízo, o que ocorreria por efeito da
prorrogação do trâmite deste incidente. Ante o exposto, julgo procedente a
reclamação e declaro incompetente a Justiça do Trabalho para conhecer e
julgar da ação trabalhista nº 0851/2009-008-07-00-1, em tramitação perante
o JUÍZO DA 8ª VARA DO TRABALHO DE FORTALEZA/CE, cabendo à
Justiça Comum essa prerrogativa jurisdicional. Publique-se. Comunique-se.
Arquive-se. Brasília, 22 de abril de 2010. Ministro DIAS TOFFOLI Relator

Diante de tal entendimento, deve ser mantida a v.


decisão que reconheceu a incompetência da Justiça do trabalho para o
julgamento da presente ação civil pública.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Subseção I Especializada em


Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade,
dar provimento ao agravo para, destrancando os Embargos, deles conhecer
por divergência jurisprudencial e, no mérito, por maioria, negar-lhes
provimento, vencidos os Exmos. Ministros Lelio Bentes Corrêa, José
Roberto Freire Pimenta e Hugo Carlos Scheuermann.

Brasília, 31 de Março de 2016.

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ALOYSIO CORRÊA DA VEIGA
Ministro Relator

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