Você está na página 1de 3

1. O que é a executoriedade do ato administrativo? Qual o seu fundamento?

Em que se
distingue da exigibilidade?

O que importa a saber, aqui, para o desenvolvimento da questão, não é necessariamente o


conceito de ato administrativo1, mas que uma característica a moldar os atos administrativos é a
capacidade jurídica que advém da supremacia do interesse público sobre o privado 2. Nela, está a
possibilidade de se diferenciar os atos administrativos dos outros atos jurídicos, em específico os
privados. Tem-se que a exigibilidade compõe o atributo cuja função está em permitir ao Estado,
ao atuar de maneira administrativa, a obrigação para com terceiros de cumprimento das
condições que a eles foram impostas.
No direito francês, é chamada de privilège du préalable, por permitir a aplicação de
punição (multa, advertência, interdição) por lesão à ordem jurídica sem precisar dispor de ordem
judicial3. Se na imperatividade essa obrigação se via posta, aqui se verifica a força motriz para
que ela seja atendida, livrando o Poder Judiciário de ser chamado para intervir 4. Porém, tal qual
na imperatividade, é evitada nos atos enunciativos 5. No sentido paralelo, surge a executoriedade,
podendo ser definida da mesma forma que a exigibilidade (atributo que permite o Poder Público
de opor ao administrado o cumprimento de uma obrigação sem a necessidade de recorrer às vias
judiciais), com a exceção de uma informação importante: dessa vez, a imposição se faz além,
materialmente6.
Parte da doutrina traz que a definição de apenas executoriedade, e não
autoexecutoriedade, estaria incorreta - além de completar que, no direito francês, é reconhecida
por privilége d’action d’office7. Ela se vê presente em raros atos administrativos: nos assim
conferidos por lei ou realizados em ocasiões emergenciais que precisam da execução imediata a
fim de proteger o interesse público8. Portanto, nem todos os atos que possuem a exigibilidade
1
Sobre o conceito de ato administrativo, vide MAZZA, Manual de direito administrativo, pp. 293-301. No mesmo
sentido, MELLO, Curso de direito administrativo, p. 16 e STASSINOPOULOS, Traité des actes administratifs, p.
24.
2
MAZZA, Manual de direito administrativo, ob. cit., p. 304.
3
MAZZA, Manual de direito administrativo, ob. cit., p. 307.
4
MELLO, Curso de direito administrativo, ob. cit., p. 427.
5
MAZZA, Manual de direito administrativo, ob. cit., p. 308.
6
MELLO, Curso de direito administrativo, ob. cit., p. 427.
7
MAZZA, Manual de direito administrativo, ob. cit., p. 308. Exemplos da autoexecutoriedade estão indicados na
mesma página, tais como: guinchamento de carro estacionado em lugar não permitido e fechamento de restaurante
pela vigilância sanitária, ou apreensão de mercadorias contrabandeadas.
8
MAZZA, Manual de direito administrativo, ob. cit., p. 309.
também irão ser abarcados pela executoriedade. A primeira, sozinha, não consegue ser suficiente
para consagrar a execução do ato, isto é, a compelir e constranger fisicamente o sujeito para que
realize a obrigação - poderá, somente, induzi-lo à obediência 9. Então, enquanto uma aplica a
sanção ao sujeito particular, a outra é quem consegue desconstituir materialmente a
irregularidade, ultrapassando a limitação de uma coerção indireta10.
É por isso que se afirma que, na aplicação da autoexecutoriedade, é mister observar aos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade, a fim de se alcançar um bom senso 11. Vale
destacar, ainda, que, embora elas apresentem as diferenças notáveis entre si, a exigibilidade e a
executoriedade também nos revelam semelhanças. Já foi dito, mas importa realçar: elas se
consagram sem a obrigação de ir até os meios judiciais pela Administração, diferentemente dos
atos particulares. Dessa forma, nota-se que em um âmbito privado, é a sentença que vale
enquanto título exigível e a ordem do juiz como a execução, mas, na esfera administrativa, a
própria ação do Poder Público é moldada pelas qualidades de exigibilidade e executoriedade12.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MAZZA, Alexandre. Manual de Direito Administrativo, 9ª ed., São Paulo: Saraiva Educação,
2019.

9
MELLO, Curso de direito administrativo, ob. cit., p. 428. Na mesma página, o autor realiza a distinção entre
executoriedade e exigibilidade, indicando o seguinte exemplo: “a intimação para que o administrado construa
calçada defronte de sua casa ou terreno não apenas impõe esta obrigação, mas é exigível porque, se o particular
desatender ao mandamento, pode ser multado sem que a Administração necessite ir ao Judiciário para que lhe seja
atribuído ou reconhecido o direito de multar. Ainda mais: a Administração pode construir a calçada, por conta
própria, e debitar o custo desta obra ao administrado (é isto que se designa pela locução "execução de ofício"),
igualmente sem necessidade de socorrer-se das vias judiciais para realizar esta construção. Entretanto, não pode
obrigar materialmente, coativamente, o particular a realizar a construção da calçada. Nos casos de executoriedade,
pelo contrário, a Administração, por si mesma, compele o administrado, como, v.g., quando dissolve uma passeata
(...)”.
10
MAZZA, Manual de direito administrativo, ob. cit., p. 309.
11
MELLO, Curso de direito administrativo, ob. cit., p. 429.
12
Sobre os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, vide MELLO, Curso de direito administrativo, ob.
cit., pp. 417, 418, 419, 867 e 881. No mesmo sentido, vide MAZZA, Manual de direito administrativo, ob. cit., pp.
151-154: “A proporcionalidade é um aspecto da razoabilidade voltado à aferição da justa medida da reação
administrativa diante da situação concreta. Em outras palavras, constitui proibição de exageros no exercício da
função administrativa”.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 32ª ed., São Paulo:
Malheiros, 2015.

STASSINOPOULOS, Michel D. Traité des Actes Administratifs. Athènes, 1954.

Você também pode gostar