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A coação moral irresistível é a grave ameaça que vicia a vontade do coagido, tornando
punível apenas o autor da coação. Diferencia-se da coação física irresistível, de acordo com
Luiz Regis Prado, pois:
No tocante ao último requisito, tem-se que caso a coação moral seja resistível, à
semelhança do erro de proibição vencível, o coagido também responde pelo crime, contudo,
com pena diminuída, porquanto incide a atenuante do artigo 65, inciso III, alínea c, do Código
Penal.
Nesse sentido, Luiz Flávio Gomes e Antonio Garcia-Pablos de Molina aduzem que
“sempre que o juiz constatar que não era possível comportamento diverso do agente, deve
absolvê-lo (com fundamento numa causa exculpante expressa ou com base na
inexigibilidade, como causa supralegal)”.[27]
Guilherme Madi Rezende, em estudo sobre o assunto, traz à lume esse entendimento,
explicando:
“ “Para que se possa, então, afirmar esta excludente é importante que se avalie se a
conduta do indígena estava de acordo com os valores próprios de seu povo. Se sim,
considerando que estes valores, apesar de conflitantes com os valores da norma que
incrimina a conduta, são respeitados e protegidos, estará o indígena acolhido pela
inexigibilidade da conduta diversa. Se não, não há se falar nessa excludente”.[29]”
Mesmo que estes indígenas tenham conhecimento dos ditames penais e das normas
proibitivas imperantes em virtude de interação com a sociedade não-indígena, seus
comportamentos dentro de seu povo devem ser respeitados, semelhantemente à proteção
que se dá aos atos em razão de crença ou fé religiosa, sob pena de se incorrer em um
processo sério de aculturação interétnica, provocando mudanças nos padrões culturais,
sujeitando os índios à perda de sua cultura e identidade.
Pode se dizer, enfim, que a inexigibilidade de conduta diversa aparece após a análise da
atuação sob a excludente do erro de proibição, quando se constate que o indígena possuía
plena consciência de seus atos e do padrão comportamental que a sociedade
contemporânea exige, contudo, não pode agir consoante as expectativas em razão do
choque de valores.
5. Conclusão
A política atual, ao contrário do caminho trilhado em quinhentos anos, prega o retorno
dos índios às suas origens e assegura a eles o direito de serem diferentes e de serem
respeitados em suas diferenças. O Direito Penal, contudo, ainda não rompeu totalmente com
o viés de preconceito que assola o pensamento de seus operadores. Em que pese o
surgimento de vozes na doutrina em contrário, o indígena “silvícola” ainda é tratado como
surgimento de vozes na doutrina em contrário, o indígena silvícola ainda é tratado como
inimputável ou semi-imputável, excluindo-se ou atenuando-se a sua culpabilidade com
motivação em um suposto desenvolvimento mental incompleto por sua não-integração à
sociedade, apesar da existência de outros critérios - as exculpantes do erro de proibição
REFERÊNCIAS:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Erro de tipo e erro de proibição. 3ª ed. São Paulo: Saraiva,
2003.
GOMES, Luiz Flávio; GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Direito Penal: parte geral, v. 2.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Direito Penal. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2007.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1:parte geral. 1. 7ª ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.
SANTOS FILHO, Roberto Lemos dos. Índios e Imputabilidade Penal. Disponível em:
http://www.funai.gov.br. Acesso em: 04/06/2009.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2007.
ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro,
volume 1: parte geral. 6ª Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006.
Notas
[1] PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1:parte geral. 1. 7ª ed. São
[2]TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. 5ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2007, pp. 229-230.
[4] GOMES, Luiz Flávio; GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio, op. cit., p. 569.
[5] NUCCI, Guilherme de Souza. op. cit., p. 289.
[9]
DALLARI, Dalmo de Abreu apud SANTOS FILHO, Roberto Lemos dos. Índios e
Imputabilidade Penal. Disponível em: http://www.funai.gov.br. Acesso em: 04/06/2009.
[14]BITENCOURT, Cezar Roberto. Erro de tipo e erro de proibição. 3ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2003. p. 84-85.
[20] ZAFFARONI, Eugenio Raul. PIERANGELI, José Henrique. op, cit., p. 554.
[23]Ibidem, p. 555.
[27] GO S lá G CÍ OS O 8
[27] GOMES, Luiz Flávio; GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio, op. cit., p. 648.
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Assuntos relacionados
Direito Constitucional Direito Penal Culpabilidade penal Penas
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Sobre a autora
Marcela Baudel de Castro
Procuradora Federal. Pós-graduada em Ciências Penais.
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