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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

RO/ Nº 0011784-69-2015-5-01-0074
RECORRENTES: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL E OUTRO
RECORRIDOS: OS MESMOS

PARECER

RELATÓRIO

Trata-se de recurso ordinário interposto contra a r. decisão proferida


pela MM. 74ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedente em
parte o mérito

Alega a Caixa Econômica Federal preliminares de incompetência


desta Especializada, ausência de interesse de agir e litisconsórcio passivo
necessário, e, no mérito, que a demanda deve ser julgada improcedente.

O reclamante recorre adesivamente apenas para obter a gratuidade


de justiça.
Contrarrazões Id nº a971341.
É o relatório.

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE

RECURSO VOLUNTÁRIO DO MUNICÍPIO

Apelos tempestivos e regulares as representações.


Depósito recursal e custas judiciais no Id nºdbd7c36/bc943f7.

Pelo conhecimento de ambos os recursos.

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FUNDAMENTAÇÃO

Incompetência Absoluta

A CEF suscitou a incompetência desta Justiça


Especializada, ao fundamento de que a recorrida não celebrou contrato de
emprego, apenas participou do concurso público, inexistindo, portanto, a
qualquer título, relação de trabalho entre as partes. Discordamos de tal
assertiva.
Ora, compete à Justiça do trabalho conhecer e julgar os
litígios decorrentes das fases pré e pós contrato de trabalho como se verifica
na hipótese examinada. No caso em tela, discute-se o período pré-contratual
de potencial empregado que presta concurso público para ingresso em
entidade da Administração Pública Indireta. Desta forma, somos pela
rejeição da preliminar pois a matéria devolvida encontra-se perfeitamente
incluída nos limites estabelecidos pelo art. 114 da Constituição Federal.

Carência da ação

Considerando os contornos legais para o instituto da

carência de ação, concluímos pela sua inexistência neste universo, pois

restaram configuradas todas as condições da ação (a possibilidade jurídica

do pedido, a legitimidade ad causam e o interesse de agir). Ora, lembre-se

que, não há veto legal que impeça a apreciação do pedido exordial pelo

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Poder Judiciário, os sujeitos da relação jurídica processual coincidem com

os interlocutores da relação jurídica substantiva e o provimento

jurisdicional revelou-se necessário para a solução do conflito de

interesse trazido à colação. Assim, sugerimos a rejeição da

preliminar.

LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO

Não vislumbramos nestes autos a hipótese prevista do artigo 47 do


CPC, uma vez que a eficácia da decisão a ser proferida não depende da presença
dos demais candidatos aprovados, que inclusive tem acesso à mesma garantia
constitucional prevista no artigo 5º, XXXV, da CF/88 manejada pela recorrida.

Pela rejeição.

Mérito

O cerne da controvérsia refere-se a situação da reclamante


que foi aprovada em concurso público promovido pela recorrente, destinado
à formação de cadastro de reserva para provimento de vagas no cargo de
Técnico Bancário (Editais nºs 01 e 02/2014). Obteve classificação nas
posições 353ª (polo de classificação RJ - Rio de Janeiro - Centro) e 389ª para
o macropolo RJ Capital, sendo a validade do certame prorrogada até
16.06.2016. Restou evidenciado que a CEF realizou contratações de mão de

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obra terceirizada para o exercício de funções em área fim que seriam


executadas pelos candidatos aprovados, contrariando decisões obtidas pelo
Ministério Público do Trabalho em ações civis públicas, bem como do TCU.

A prova documental acostada aos autos, mormente a ação


civil pública proposta pelo Ministério Público do Trabalho no Rio de
Janeiro, robustecem a alegação de contratação de serviços terceirizados com
o seguinte objeto: "contratação de empresa(s) para a prestação de serviços de
atendimento, monitoramento e suporte operacional e tecnológico aos
produtos, serviços e sistemas utilizados nas operações da Caixa, incluindo a
geração, o tratamento de informações gerenciais e atividades acessórias de
suporte e gestão do atendimento, ...".

Na verdade, as atribuições correlatas a serem desempenhadas


pelos terceirizados são similares às descritas no Edital nº 01/2014 referente
ao concurso realizado pela recorrente, porquanto relacionadas basicamente à
execução de serviços de atendimento, operação em equipamentos e
computadores, serviços administrativos inerentes à informação, entre outras
conexas. Portanto, não se evidencia, pela designação das atividades, serviços
de natureza meramente acessória e secundária em relação às atividades-fim,
como alegado.

Destarte, em que pese as alegações da recorrente visando a


embasar a arguição de legalidade da terceirização de serviços sob
contratação temporária de empregados, a jurisprudência dominante na
Justiça do Trabalho tem entendimento firme distinguindo atividade-meio de

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atividade-fim, em clarividente esforço de evitar a precarização da mão de


obra, à vista do conjunto de princípios juslaborais. São inúmeras as
decisões/acórdãos obstando a contratação terceirizada de serviços
relacionados à atividade finalística empresarial que vêm sendo proferidas
nessa Especializada, inclusive em se tratando de empresas públicas e
sociedades de economia mista que firmam contratos de prestação de serviços
para desempenho de funções atreladas ao seu objetivo social específico.

Nesse quadro, além da irregularidade em tese da contratação


terceirizada para atuação em funções manifestamente relacionadas à
atividade-fim, até porque não comprovada, na espécie, a hipótese prevista no
art. 37, IX, da Constituição Federal, o fato é que tal pactuação, inclusive
renovada, afirma e comprova a existência de vagas, a necessidade de serviço
e a possibilidade orçamentária da empresa, com o que se demonstra também
a evidente necessidade de contratação de pessoal, nos termos do próprio
Edital nº 01/2014.

Diante disso, remanescendo candidato não convocado a assumir


o cargo para o qual fora aprovado, ainda que para cadastro de reserva, não
seria razoável nem regular a contratação de mão de obra precária para
atuação em função correlata à qual concorreu a reclamante, sob pena de
violação do art. 37, II, da Constituição Federal.

Não obstante entendermos que a aprovação em concurso público


não gera em princípio direito de fato à respectiva nomeação, mas apenas
expectativa de direito à convocação definitiva, conforme às especificidades e

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condicionantes previamente estabelecidas em editais, nos casos em que se


evidencia a circunstância demonstrada neste universo, vários julgados vem
sendo proferidos nos Tribunais Regionais e Superiores entendendo pela
convolação da mera expectativa em direito subjetivo à contratação, por
demonstrada conduta abusiva e desvio de poder em face da preterição de
candidato aprovado a empregados temporários. Irrelevante, como se vê, o
fato de que a parte reclamante, posicionada em 353º/389º lugar, ainda não ter
sido convocada a assumir em observância à ordem de convocação, uma vez
que a contratação temporária para preenchimento de vagas denota, reitere-se,
a existência destas, bem como de dotação orçamentária e necessidade de
serviço.

De fato, a contratação de serviços terceirizados para execução


de tarefas similares àquelas atribuídas aos concursados, além de gerar a
preterição dos aprovados, viola princípios constitucionais da legalidade,
impessoalidade, eficiência, boa fé e isonomia, contrariando o disposto no art.
37, caput e incisos I a IV, da Constituição, e também, ao compromisso
assumido pela CEF no TAC firmado perante o Ministério Público do
Trabalho, conforme consta dos presentes autos.

Registre-se, por oportuno que, a realização de concurso público


envolve, para o candidato, tanto a expectativa de ingresso na administração
pública, quanto a dedicação e preparação intelectual, além de custos
objetivando a tal conquista. E para a administração implica mobilização de
pessoal com alto dispêndio orçamentário, o que também deve ser

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considerado ao se fazer uso de contratações terceirizadas para as atividades


iguais ou similares.

Entendemos que o concurso público realizado para a


formação de cadastro de reserva não se mostra contrário aos dispositivos
constitucionais invocados pela parte demandante. Todavia, resta evidenciada
a necessidade imperiosa de contratação dos candidatos aprovados ao cargo
de técnico bancário, ante a terceirização praticada pela CEF nas atividades
integrantes do referido cargo. Fixadas tais premissas fáticas e jurídicas, resta
inegável o direito da reclamante/recorrida de ser convocada para contratação
nos quadros da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, observados os
procedimentos previstos no Edital nº 01/2014.

CONCLUSÃO

Pronuncia-se o MINISTÉRIO PÚBLICO DO


TRABALHO pelo conhecimento do recurso, pela rejeição das
preliminares, e, no mérito, pelo não provimento do apelo da CEF e
provimento do recurso do reclamante para deferir a gratuidade
vindicada.

É o parecer.
Rio de Janeiro, 08 de setembro de 2016.

DEBORAH DA SILVA FELIX


Procuradora Regional do Trabalho

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