AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS
Benedito Onofre Bezerra Leonel (*)
Origens
A origem de nossas Forças
Armadas remonta à gênese da nação
brasileira sua história confunde-se
com a própria História do Brasil.
Quando do inicio da colonização
da “Terra de Santa Cruz”, as
primeiras povoações nasciam e
prosperavam em torno de uma
fortaleza, símbolo da disposição
portuguesa de permanecer na
colônia. As ações de defesa
assumiam caráter prioritário. Nelas,
todos militares profissionais, colonos,
índios, escravos estavam envolvidos.
No episódio da invasão francesa,
no Rio de Janeiro, constatou-se, pela
primeira vez, a férrea vontade de
defender a terra, expulsando os
invasores. Eram os primórdios de
nossa nacionalidade.
O grande desafio à nova terra e
à sua brava gente chegaria, no
entanto, em 1624, com a invasão
holandesa da Bahia, frustrada pela
resistência obstinada dos brasileiros.
Em 19 de abril de 1648, dois mil
e quinhentos cidadãos derrotaram
cinco mil militares holandeses, na
Batalha de Guararapes. Em 1654 o
invasor capitula.
A partir dessa epopéia, não havia
apenas homens reunidos em torno
Revista da Escola Superior de Guerra
de um simples ideal de libertação,
mas sim as bases do Exército
Nacional de uma Nação.
No dia l0 de novembro de 1822,
foi içada, pela primeira vez, a
Bandeira do Império em um navio
de Guerra – a nau D. Pedro 1 -
marco inicial da esquadra da
Marinha do Brasil.
Em 1º de abril de 1823, a
esquadra brasileira suspendeu do
porto do Rio de Janeiro, para fazer
frente aos portugueses na Província
da Bahia, tendo seu batismo de fogo
no dia 4 de maio do mesmo ano.
Na segunda metade do século
XIX, ocorre o maior conflito da
América do Sul - a Guerra da Tríplice
Aliança. Nela despontam os chefes
militares que viriam a ser os Patronos
da Marinha do Brasil - Joaquim
Marques Lisboa, o Almirante
Tamandaré - e do Exército Brasileiro
- Luís Alves de Lima e Silva, o
Duque de Caxias.
Foi nesta sangrenta peleja que,
em 24 de junho de 1867, subiu aos
ares um balão de observação, o
primeiro emprego militar da
Aeronáutica na América do Sul, o
gérmen daquilo que, mais tarde, veio
a transformar-se na Força Aérea
Brasileira.
O Brasil criou, em 25 de julho
7
de 1946, o Estado-Maior Geral,
origem do atual Estado-Maior das
Forças Armadas.
Coerente com suas origens e
integradas no seio da Nação, as
Forças Armadas são a expressão
militar do Poder Nacional; e têm, no
Presidente da República, o seu
Comandante Supremo.
As Forças Armadas brasileiras
nasceram e cresceram com o Brasil;
contribuíram decisivamente para a
consolidação de nossa independência
e o estabelecimento de nossa
fronteiras; representam todos os
segmentos da sociedade brasileira;
são o próprio povo brasileiro; fazem
parte da História da Nação e nela
escreveram belos capítulos de
sacrifício, abnegação, honra e
dignidade.
A Questão da Soberania
A preservação de nossa
soberania permanecerá naquilo que
é mais central neste conceito: a posse
e jurisdição de nosso território, a sua
indivisibilidade e a possibilidade de
sustentarmos ações políticas que
visem a preservar todos os nossos
interesses vitais. A flexibilização do
conceito de soberania não pode
ultrapassar esse limite, porque senão
estaríamos suprimindo o Estado
Brasileiro.
Temos o entendimento, também,
de que a defesa da soberania, nos
seus múltiplos aspectos, é
8 Revista da Escola Superior de Guerra
responsabilidade de toda a sociedade,
pois exige um esforço global. Não é
uma questão apenas militar, mas
também política, econômica, social
e científico - tecnológica. Por outro
lado, não pode-mos conceber um
sistema de defesa de nosso pais sem
contarmos com uma estrutura
militar, com essa destinação
especifica.
A criação e a manutenção de
uma estrutura com tais objetivos
exige uma política determinada,
investimentos significativos,
planejamentos de longo prazo,
doutrina de emprego e treinamento
continuado.
Não pode ser constituída e
mantida em decorrência de ações
improvisadas ou inopinadas.
Essa estrutura de defesa também
tem de adaptar-se à constante
evolução da realidade. A sua
organização básica, os equipamentos
e os recursos humanos devem,
permanentemente, estar ajustados à
situação existente.
A preservação da soberania de
uma nação deve estar, portanto, no
Campo Militar, suportada por Forças
Armadas compatíveis com sua
dimensão territorial, nela incluídos o
mar territorial e o espaço aéreo
sobrejacente a ambos, bem como
com a relevância de sua ação
diplomática e com as expectativas de
sua população.
Responsabilidades e Atuação
O artigo 142 da Constituição
brasileira de 1988 define e delimita
as responsabilidades de nossas
Forças Armadas. Nele, podemos ler
que a Marinha, o Exército e a
Aeronáutica são instituições
permanentes e regulares, que atuam
sob a autoridade suprema do
Presidente da República e que se
destinam à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais
e, por iniciativa de qualquer destes,
da lei e da ordem.
Também são de responsabilidade
das Forças Armadas brasileiras:
- atendimento às solicitações de or-
ganismos internacionais de que o
Brasil faça parte
- cumprimento de outros compro-
missos na esfera internacional ;
- emprego em ações complemen-
tares, tais como na Defesa Civil,
nas campanhas de saúde, na edu-
cação, na construção civil e nos
casos de catástrofes ou emergên-
cias.
Essa missão é cumprida pelo
desenvolvimento de três tipos de
atividades:
atividades - fim;
atividades - meio;
atividades complementares.
As ATIVIDADES - FIM dizem
respeito ao emprego operacional das
Revista da Escola Superior de Guerra
Forças em atividades bélicas e seu
preparo para tal fim. Ai se incluem a
instrução militar, as atividades de
ensino, as manobras e as operações
militares propriamente ditas.
As ATIVIDADES - MEIO, que
reúnem as ações de apoio às Forças,
dizem respeito, basicamente, às
atividades administrativas e à sua
articulação no território nacional.
As ATIVIDADES COMPLE-
MENTARES abrangem os campos
social e econômico e dirigem-se à
infra-estrutura de construção, ao
transporte, à colonização, ao apoio
à população civil em áreas carentes,
ao apoio nas calamidades públicas,
à educação, à saúde etc.
Incluem-se, também, entre as
atividades complementares:
- Programa Antártico Brasileiro;
- Serviço de Busca e Salvamento;
- A Sinalização e a Cartografia Náu-
ticas;
- Os Estudos de Oceanografia e Re-
cursos do Mar;
- Preparo da Marinha Mercante;
- Transporte Aéreo de Doentes e de
Órgãos para Transplante;
- A Contribuição para o Desenvolvi-
mento da Ciência e da Tecnologia
Nacionais;
- Os Levantamentos de Geodésia e
Cartografia;
- A Construção de Açudes, Fer-
9
 rovias e Rodovias;
- A Distribuição de Alimentos às
Comunidades Carentes.
E tantas outras.
A História mostra que não há
nação forte sem Forças Armadas
fortes à sua retaguarda.
Em várias oportunidades, o
Presidente da República, na
condição de Comandante Supremo,
tem manifestado o seu pensamento
a respeito dos projetos do Governo
para a modernização das Forças
Armadas, bem como sobre as novas
missões, que pretende atribuir a elas,
buscando uma participação maior
das mesmas em outras atividades
ligadas à Segurança e à Defesa
“A modelização das Forças
Armadas, através de investimentos
em meios de combate modernos,
tecnologia e sistemas logísticos
integrados, constitui o foco da
política do Governo no que se refere
à defesa nacional. Dar-se-á
prioridade à estruturação de um
núcleo dotado de capacidade
operacional e poder dissuasório,
sendo fortalecida a presença militar
na Amazônia”.
(Mensagem do Presidente da
República ao Congresso Nacional
1996).
“Além das destinações clássicas
das Forças Armadas, os tempos
atuais trouxeram desafios à soberania
e ameaças à estrutura social do pais
10
que, se por um lado, não mudam
suas missões constitucionais e não
lhes indicam uma atitude policial, por
outro alertam para o enfoque
tradicional de segurança e defesa
nacional.
Assim, permanecem em vigor as
estratégias de preparação para defesa
externa, a vigilância para as garantias
dos poderes constitucionais, a
execução das ações complementares
de alcance social e até econômico,
que é tão positivo, a participação em
forças internacionais de manutenção
da paz e a cooperação episódica na
segurança pública em momentos
críticos.”
(Discurso do Presidente da
República na apresentação dos
novos oficiais-generais - Abril de
1996).
Presença na Amazônia
Existem poucas Regiões no
planeta que causam tanto impacto à
mente humana quanto a selva.
O inferno verde, como já foi
chamado, é um intransponível
labirinto de matéria orgânica em
diversos estágios de crescimento e
de decomposição, evocando no ser
humano as mais primitivas
sensações. Não existe outro lugar, na
Terra, tão hostil ao homem comum,
tanto física quanto psicologicamente.
É nesta região inóspita, que
avulta, sobremaneira, a presença de
Revista da Escola Superior de Guerra
nossas Forças Armadas!
A Marinha do Brasil
Para patrulhar a Amazônia e
prover um elo de ligação com toda a
bacia amazônica, a Marinha do
Brasil possui a mais poderosa frota
da região, com importantes bases em
Belém e em Manaus, mantendo uma
constante presença em,
praticamente, todos os dos da região.
Os navios da Marinha são, na
maioria das vezes, a única maneira
de se atender, em missões
humanitárias, a população carente
existente na região amazônica.
Outras importantes unidades da
Marinha do Brasil, na região
Amazônia são os Grupamentos de
Fuzileiros Navais. Os Fuzileiros
Navais podem operar nos Navios de
Patrulha Fluvial ou a partir de terra,
utilizando suas próprias lanchas ou
os helicópteros da flotilha.
O Exército Brasileiro
A profissional e diligente presença
do Exército Brasileiro na região
amazônica faz com que nossos
combatentes de selva sejam
respeitados em todo o mundo.
A Força Terrestre vem
implementando um programa de
ocupação e de integração daquele
imenso vazio demográfico. Com
esse objetivo, tem aumentado sua
Revista da Escola Superior de Guerra
presença na região, realizando a
transferência de organizações
militares oriundas de outras áreas do
território brasileiro.
No campo da saúde, o Exército,
tradicionalmente, sempre
proporcionou assistência médico-
hospitalar às populações civis e às
comunidades indígenas da
Amazônia, em inúmeros locais, onde
seus enfermeiros e médicos são,
muitas vezes, os únicos presentes.
Paralelamente, a necessidade de
elevar o nível de saúde, em pontos
do interior e das fronteiras do Pais,
motivou a assinatura de um acordo
de Cooperação Técnica, em outubro
de 94, celebrado entre os Ministérios
das Comunicações e do Exército,
objetivando a estabelecer dois
sistemas de telemedicina.
O verdadeiro espírito deste
projeto é levar os benefícios da
modernidade técnico-científica às
comunidades isoladas, possibilitando
a discussão médica simultânea entre
dois profissionais situados em locais
distantes entre si e permitindo a
emissão de diagnósticos mais
precisos, com rapidez e segurança.
Uma outra preocupação do
Exército Brasileiro, seguindo as
tradições do Marechal Rondon, diz
respeito aos índios e à preservação
de suas reservas.
O garimpo ilegal em terras
indígenas tem sido combatido,
diuturnamente pelas unidades do
11
Exército Brasileiro na Amazônia.
A Força Aérea Brasileira
A Força Aérea Brasileira (FAB)
é fator fundamental no
desbravamento e no povoamento da
Amazônia. Voando em missões
perigosas aos remotos povoados
indígenas, às missões religiosas, aos
pelotões de fronteira, às vilas isoladas
e aos projetos especiais no coração
da selva, ela aprendeu a conhecer e
a conquistar os céus da vasta
floresta.
O espaço aéreo da Amazônia
ainda consiste num formidável
desafio. Os céus sobre a enorme
floresta, junto com os das camadas
polares, são os mais perigosos do
planeta.
As distâncias entre os
aeródromos. além da densa
cobertura vegetal, transformam os
rios na única e perigosa alternativa
de pouso em caso de pane.
Na Amazônia, a Força Aérea
Brasileira tem a experiência de várias
décadas.
O conhecimento tecnológico e a
aplicação dos engenheiros da FAB,
construindo pistas, cada vez mais
longas e melhores, nos quatro cantos
da Amazônia permitiram que,
praticamente, todos os pelotões do
Exército localizados na Calha Norte
amazônica recebessem os grandes
C-l30.
12
Apesar de o espaço aéreo e as
condições do solo da Amazônia
serem hostis, a FAB tem condições
de atuar como uma força de defesa
aérea para a região quando
necessário. Tanto das bases de
Fortaleza e Natal, como de Anápolis,
no Planalto Central, esquadrilhas de
caça Xavante e Mirage podem
chegar com rapidez à Amazônia.
A FAB presta, também,
relevante serviço em prol da unidade
nacional e do estreitamento dos laços
de amizade com os nossos vizinhos
da Bacia Amazônica, principalmente
através do Correio Aéreo Nacional
(CAN), que leva o conforto,
civilização e a solidariedade aos
nossos irmãos de todos os riações
daquela região.
O Serviço Militar
O Serviço Militar no Brasil,
regulado na Constituição e em Lei
Complementar especifica, tem
caráter obrigatório.
Alistados % de incorporados
em relação aos
alistados
Marinha 10.752 21,90%
Exército 1.278.505 7,80%
Aeronáutica 28.295 24,20%
Total 1.317.552 8,26%
Constata-se, entretanto, que, no
âmbito de nossa sociedade, discute-
se sempre com maior intensidade a
característica da obrigatoriedade do
Serviço Militar.
Revista da Escola Superior de Guerra
 De um total de 5.000 municípios, (imposição da nossa
apenas 1.087 contribuem com continentalidade).
efetivos para o Serviço Militar.
É importante ressaltar que, dos A Marinha na Antártica
chamados a servir, 52% são
voluntários. As Forças Armadas estão
presentes na Antártica por intermédio
É necessário considerar, da nossa Marinha de Guerra.
também, que a obrigatoriedade do
serviço militar é adotada em 2/3 A primeira expedição brasileira ao
(dois terços) dos países que Pólo Sul ocorreu no verão de 1983,
possuem Forças Armadas a bordo do Navio Oceanográfico
organizadas. Barão de Teffé. Obedecendo os
acordos internacionais firmados, a
É obrigatório nos seguintes guarnição militar pioneira instalou-se
países: na área selecionada, com o objetivo
Alemanha 12 meses; de realizar pesquisas científicas e
proteger o meio ambiente naquele
Bulgária de 2 a 3 anos;
rincão gelado, junto com outras
China 2 anos; nações.
Espanha 9 meses; Posteriormente, a base de
França 10 meses; operações instalada foi batizada de
Estação Antártica Comandante
Hungria 2 anos;
Ferraz.
Itália 12 meses;
Atualmente estão sendo
Polônia de 2 a 3 anos; desenvolvidos projetos e estudos na
Portugal 4 meses;
áreas da Educação, das Ciências da
Atmosfera, da Terra e da Vida.
Turquia 20 meses;
Inicialmente, havia a necessidade
Rússia (CEI) 18 meses. de substituir, com freqüência a
A Profissionalização completa guarnição da base de operações.
das Forças Armadas poderia parecer Hoje, com o apoio de um navio mais
uma solução lógica, mas ela moderna as equipes, cada vez mais
impossibilitaria a formação de especializadas, se revezam de 12 em
reservas mobilizáveis, indispensáveis 12 meses.
numa situação de guerra, Se o tempo maior de permanên-
dificultando, portanto, a cia permite uma maior continuidade
ambientação do soldado às diversas dos programas de pesquisa, do
áreas operacionais do Brasil mesmo modo multiplica os

Revista da Escola Superior de Guerra 13

problemas advindos do confinamen-
to e da submissão às condições
adversas impostas pelo clima da
região. Em conseqüência, progres-
sivamente foram desenvolvidas
providências para melhorar o ambi-
ente de trabalho dos civis e militares
que observam uma rotina diária de
atividades intensas, desde as 07:00
horas.
Projetos de Defesa
SIVAM
No dia 21 de setembro de 1990,
o Presidente da República aprovou
Exposição de Motivos do Ministério
da Justiça, em conjunto com o
Ministério da Aeronáutica e com a
Secretaria de Assuntos Estratégicos,
resultando nas seguintes diretrizes:
- A Secretaria de Assuntos Estra-
tégicos deverá formular e implantar
um Sistema Nacional de Coorde-
nação (hoje SIPAM - Sistema de
Proteção da Amazônia), visando à
atuação integrada dos Órgãos
Governamentais na repressão aos
ilícitos e proteção ambiental na
Amazônia, ressalvada competência
do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA).
- Ministério da Aeronáutica deverá
implantar o Sistema de Vigilância
da Amazônia (SIVAM), integrado
ao SIPAM,
- Ministério da Justiça deverá estru-
14
turar um conjunto de medidas que
permitam integrar-se ao Sistema, de
forma a habilitá-lo ao desenvol-
vimento das ações de sua responsa-
bilidade.
A finalidade do SIVAM é,
portanto, coletar, processar, produzir
e difundir dados de interesse das
organizações integrantes do SI PAM.
As áreas de atuação do SIVAM
são as seguintes:
Vigilância Ambiental: execução
de funções de análise de cenário
ambiental integrado na área de cada
Centro Regional de Vigilância (CRV)
Vigilância Aérea e de
Superfície: monitoração dos
movimentos aéreos e de superfície,
Monitoração Meteorológica:
de prognósticos meteorológicos da
Amazônia.
Monitoração de
Comunicações: exploração do
espectro eletromagnético para
interceptação de sinais, localização
e identificação de transmissões
clandestinas
Controle de Tráfego Aéreo:
controle do tráfego aéreo na área de
cada Centro Regional de Vigilância
(CRV), segundo normas
internacionais
Planejamento e Controle de
Operações: organização e apoio ao
controle de ações em campo, de
modo a facilitar a atuação integrada
de todos os órgãos envolvidos na
Revista da Escola Superior de Guerra
execução dessas ações.
O Programa Calha Norte
O conhecido PROGRAMA
CALHA NORTE foi idealizado em
1985, para enfrentar os desafios da
Região Amazônica.
A área de domínio do
PROGRAMA compreende terras
dos Estados do Amazonas e Pará,
situadas à margem esquerda dos
Solimões e Amazonas, e ainda os
Estados de Roraima e Amapá,
abrangendo aproximadamente 1.221
.000 km2,
Foram identificados, na
Amazônia, três espaços
diferenciados:
- Faixa de fronteira entre TABA-
TINGA (AM) e OIAPOQUE
(AP);
- Orla ribeirinha dos rios Solimões e
Amazonas;
- Núcleo interiorano.
A importância da presença do
Estado, na faixa de fronteira norte,
de modo a promover o seu
desenvolvimento “pari-passu” com
as iniciativas das nações vizinhas, foi
o fator que recomendou essa área
como a prioritária para uma ação
imediata.
Projetos especiais que compõem
o programa CALHA NORTE
1. Incremento das Relações Bila-
terais,
Revista da Escola Superior de Guerra
2. Aumento da Presença Militar na
Área,
3. Incremento das Ações da FUNAI
na Faixa de Fronteiras,
4. Intensificação das Campanhas de
Recuperação dos Marcos
Limítrofes.
5. Ampliação da Infra-Estrutura
Viária.
6. Ampliação da Oferta de Recursos
Sociais Básicos.
No caso especifico do Projeto
Especial n.º 2, o seu objetivo, além
de fortalecer a Expressão Militar do
Poder Nacional, tendo em vista a
intensificação das atividades relativas
à segurança, estabelece que as
Forças Armadas, pela peculiaridade
capilar de sua organização e de sua
articulação, deverão contribuir para
a vivificação da Faixa de Fronteira e
para o desenvolvimento da área,
apoiando os órgãos federais e
estaduais na execução das ações de
governo, particularmente nos setores
da educação, saúde, transporte e
telecomunicações.
Como decorrência desse projeto
inúmeras providências e iniciativas
têm sido desenvolvidas, tais como:
- assistência às comunidades
indígenas locais;
- construção de pequenas centrais
hidrelétricas;
- implantação de centros de
telecomunicação;
15
- desenvolvimento de ações visando
o incremento da vigilância naval,
terrestre e aérea;
- construção e ampliação de pistas
de pouso;
- captação, tratamento e distribuição
de água;
- ampliação e melhoramento de
hospitais;
- construção de mais de 60 marcos
de fronteira;
- construção e ampliação de unidades
militares de fronteira;
- prestação de apoio médico e
odontológico à população local;
- construção de unidades de saúde e
de centros de distribuição de
alimentos; e implantação de
projetos agropecuários.
Participação em Missões de
Paz
As Forças Armadas brasileiras
têm uma tradição em participar de
operações de paz que remonta à
década de 40.
Contribuindo para a manutenção
da paz entre as nações, o Brasil foi
autor e negociador de vários tratados
e resoluções incluídos nos anais da
ONU. Sob sua égide, as nossas
Forças Armadas têm participado de
inúmeras operações de paz, desde o
período de 1947 a 1951, quando,
pela primeira vez, foram enviados
16
militares brasileiros para a Grécia,
com o objetivo de observar uma
possível intromissão de países
vizinhos na guerra civil grega.
Em 1956, juntamente com outros
dez países, passamos a integrar a
Força de Emergência das Nações
Unidas, que atuou até 1967, na Faixa
de Gaza, no Egito.
Em 1958, atendendo a
solicitações do Líbano e da Jordânia
à ONU, em decorrência de surtos
de insurreição que ameaçavam a
estabilidade da região, o Brasil
enviou um contingente da FAB para
a região, que lá permaneceu de 1960
a1961.
Em 1960, a fim de restabelecer
a paz no Congo, a ONU enviou uma
Força de Emergência para aquele
pais. O Brasil fez-se representar por
oficiais aviadores da Força Aérea
Brasileira.
Por 16 meses o Brasil fez parte
da FIP (Força Interamericana de
Paz) organizada pela OEA para
restabelecer a ordem e a paz na
República Dominicana entre 1965 e
1966.
Entre 1962 e 1966, tomamos
parte em operações de menor escala,
desenvolvidas na Nova Guiné, no
Paquistão e em Chipre, sempre
integrando Força de Paz da ONU.
Mais recentemente, fruto do
elevado conceito adquirido junto à
ONU em decorrência do êxito das
missões supracitadas e de sua
Revista da Escola Superior de Guerra
projeção política internacional, o
Brasil tem participado de uma série
de missões de paz.
São elas:
- Missão de Observadores das Na-
ções Unidas em EI Salvador
(ONUSAL).
- Missão de Assistência à Remoção
de Minas na América Central
(MARMlNCA). Teve seu inicio na
Nicarágua, em 1991. Hoje estende
a sua área de atuação também a
Honduras e Costa Rica, devendo
proximamente abranger outros
países da América Central.
- Missão de Observação das Nações
Unidas em Uganda e Ruanda
(UNIMUR), entre 1993 e 1994.
Dez observadores militares
brasileiros participaram da
operação.
- Força de Proteção das Nações
Unidas (UNPROFOR). Em
janeiro de 1992, atendendo à
decisão do Conselho de Segurança
da ONU, o Brasil passou a marcar
presença na ex-Iugoslávia, a fim
de supervisionar os acordos de
cessar fogo estabelecidos entre os
litigantes.
- Missão de Paz das Nações Unidas
para Moçambique (ONUM02). A
missão foi estabelecida em 1992
para verificar o cumprimento do
prescrito nos acordos de paz para
Moçambique, assinados pelo
Governo daquela nação e pela
facção rebelde.
Revista da Escola Superior de Guerra
- Missão de Verificação das Nações
Unidas em Angola 1 (UNAVEM1)
Teve por objetivo a verificação da
retirada do efetivo militar cubano
(50.000 homens) do território
angolano.
- Missão de Verificação das Nações
Unidas em Angola 11
(UNAVEM11). Decorrente da
UNAVEM 1, teve por finalidade
verificar o cumprimento do acordo
de paz entre o Governo de Angola
e a UNITA (União Nacional para
a Independência Total de Angola).
- Missão de Verificação das Nações
Unidas em Angola III (UNAVEM
III). Em 8 de fevereiro de 1995, o
Conselho de Segurança das
Nações Unidas resolveu, com a
concordância das panes em
conflito (Governo e União
Nacional pela Independência Total
de Angola - UNITA), promover
condições para a instalação
definitiva da paz em Angola.
- Missão de Observadores Militares
no Equador e Peru (MOMEP).
Após cerca de um mês de conflito
em região fronteiriça e intensas
negociações diplomáticas conduzidas
pelos “Países Garantes” - Argentina,
Brasil Chile e Estados Unidos da
América, Equador e Peru firmaram
em Brasília, no dia 17 de fevereiro
de 1995, a “Declaração de Paz de
ltamaraty”.
Constou dessa declaração que as
partes aceitavam plenamente o
17
oferecimento dos “Países Garantes” Brasileira, constituída por um
de enviar uma Missão de General brasileiro, coordenador e
Observadores, afim de zelar pela encarregado do controle operacional,
separação de todas as tropas e dez oficiais observadores de cada
envolvidas no conflito e seu retorno País Garante.
aos quartéis de tempo de paz,
devendo ainda recomendar o
estabelecimento de uma área
desmilitarizada.
A MOMEPE partiu de Brasília
em 11 de março de 1995, em uma
aeronave C-130 da Força Aérea

Participação das Forças Armadas Brasileiras em Operações de Paz

LO CA L O B JET IV O P E R ÍO D O
O b s e rv a r u m a p o s s í v e l i n tr o m is s ã o d e p a í s e s v iz i n h o s
G r é ci a 1 9 4 7 a 19 51
n a g u e r ra c i v il g re g a .

Fa ix a d e G a z a M a n t e r s e p a r a d o s o s b e l ig e ra n t e s n a g u e r ra á r a b e s -
1 9 5 6 a 19 67
(O p e ra ç ã o ) i s r ae l e n s e s .

M a n t e r a e s tab ili d a d e n a re g ião , e v ita n d o q u e s e

L í b a n o e J o rd â n i a 1 9 5 8 a 19 61
a la s t ra s s e o s fo c o s d e i ns u rr e iç ã o .

E v it a r o ge n o c í d i o p e rp et r ad o p e lo s s ep a ra t i s ta s a p ó s
C on go a g u e rr a d e in d e p e n dê n c ia e pr ot e g er a re t ir ad a d a s 1 9 6 0 a 19 64
t ro p a s b e l g a s d a re g i ão

R e p ú b l ic a R e s t a b el e c e r a o rd em e a p a z n a R e p ú b l ic a
1 9 6 5 a 19 66
D o m in i c a na D o m i n ic a n a .

N o v a G u in é , In te g ra r F o rç a s d e P a z d a O N U , e v it a n d o u m a
1 9 6 2 a 19 66
P a q ui s t ã o e C h i p re e s c a la d a d e c o n fl i to s n e s t e s p a í s e s .

E l Sa lvad o r V e ri fi c a r a o b e di ê n ci a a a co rd o s r el a t iv o s à
1 9 9 1 a 19 95
(O N U S A L ) p r e s e rv aç ã o d e d ir e it o s h u m a n o s

N i c ar á g u a , H o n d u ra s S u p e rv i s io n ar a ç õ es d e d es m i na g e m n a s f ro n t e i ra s
1 99 1 a
e C o s ta R ic a e n tr e e s t e s p a ís es . A m e s m a a t i v i d a d e e s t á s e n d o
( e m an d am e n t o )
(M A R M I N C A ) d e s e n v o l v i d a e m o u t ro s p a ís e s d a A m ér i ca C en t ra l .

U g and a e R u an da M a n te r a e s t a bi l id a d e n a re g iã o , ev i ta n d o q u e s e
1 9 9 3 a 19 94
(U N IM U R ) a la s t ra s s e o s fo c o s d e i ns u rr e iç ã o .

S é r vi a , C r o á c i a , S u p e rv i s i on a r o s ac o rd o s d e c e s s a r fo go e n t re o s
B ó s n i a -H e rz e g o v in a e l it i g a n te s , t e n t a r s o lu c io n ar o s c o n fl it o s re g i on a is p el a 1 99 2 a
M a ce dô nia v i a d i p l o m á ti c a e p r o m o v e r p ro t e çã o a c o m b o io s d e ( e m an d am e n t o )
(U N P R O F O R ) n a tu re z a h u m a n i t á ri a .

M o ça m b i q u e V e ri fi c a r o cu m p ri m e n t o d o s a c o rd os d e p a z en t re o
1 9 9 2 a 19 94
(ON UM O Z) g o v e r n o e a fa c ç ã o re b e ld e .

A ng ola
V e r if ic a r a r et i ra d a d o ef e ti v o m i li t a r c u b an o . 1 9 8 9 a 19 91
(U N AV E M I )

A ng ola V e ri fi c a r o cu m p ri m e n t o d o s a c o rd os d e p a z en t re o
1 9 9 1 a 19 95
(U N AV E M II ) G o v er n o d e a n g o l a e a U N IT A .

P r o m o v e r c o nd i ç õ e s p a r a a i n s ta l a ç ão d e fi n it i v a d a
A ng ola 1 99 5 a
p a z e m A n g ol a e v e ri fi c a r a o b e d iê n c ia a a c o r d o s
( U N A V E M I II ) ( e m an d am e n t o )
re l a t iv o s à p re s e r v a ç ã o d e d i re i t o s hu m a n o s .

E q u ad o r e P e ru G a ra n t i r o c u m p ri m en t o d o " P ro t oc o l o d o R i o " e p o r 1 99 5 a
(M O M E P ) fi m a o li t íg i o e n v ol v e n d o e s s e s p a í s e s . ( e m an d am e n t o )

18 Revista da Escola Superior de Guerra

Meios
Abrigando parcela considerável
de brasileiros, oriundos dos mais
diversos rincões do nosso território,
as Forças Armadas, em função de
suas respectivas atividades, possuem
características próprias que lhes dão
identidade no conjunto das demais
instituições e organizações que
integram o Estado brasileiro.
Marinha do Brasil
A Marinha do Brasil conta, hoje,
com um efetivo aproximado de
50.000 homens, dos quais 35.000 no
Serviço da Armada e 15.000 no
Corpo de Fuzileiros Navais. Dispõe,
ainda, de 12.000 funcionários
públicos civis.
Basicamente, sob o ponto de
vista operacional, a Marinha do
Brasil está estruturada em Comando
de Operações Navais, Distritos
Navais, Comando Naval de Brasília
e Comando da Esquadra,
abrangendo a Força de Superfície, a
Força de Submarinos e a Força
Aeronaval.
A Marinha possui, ainda, os
seguintes meios:
Navios da Esquadra : Navio
Aeródromo Ligeiro, Fragatas,
Contratorpedeiros, Submarinos,
Corvetas, Navios de Desembarque-
Doca, Navios de Transporte de
Tropas, Navios de Desembarque de
Carros de Combate, Navio-Escola,
Navios-Tanque, Naviooficina, e
Revista da Escola Superior de Guerra
Navio de Salvamento de
Submarinos.
A Marinha do Brasil conta,
também, com mais de 50 (cinqüenta)
helicópteros na sua Base principal,
em São Pedro D’Aldeia e com
helicópteros de emprego geral em
Manaus (AM), em Ladário (MS) e
no Rio Grande (RS).
Em face de recursos serem
escassos, a estratégia adotada pela
Marinha foi optar por navios
modernos, dotados de alta
tecnologia, seguramente no mesmo
nível das Marinhas dos países mais
desenvolvidos.
Exército Brasileiro
Com cerca de 200.000 homens,
é a Força Singular dotada de maior
efetivo. Disseminada por,
praticamente, todos os grandes
centros urbanos do território
nacional, possui, também, unidades
distribuídas ao longo da faixa de
fronteira.
A presença do Exército
Brasileiro, nas mais longínquas
localidades, em todo o território, é a
garantia de preservação do nosso
patrimônio, tanto material como
subjetivo.
A Força Terrestre, na conjuntura
atual, é constituída por dois grandes
conjuntos: o operacional e o logístico.
O primeiro é composto pelos
Comandos Militares de Área, pelas
Divisões de Exército, pelas Brigadas,
19
pelas Artilharias Divisionárias, pelo
Comando de Aviação do Exército e
pelos Regimentos, Batalhões,
Grupos, e Companhias das diversas
Armas, Serviços ou Quadros.
O segundo grande conjunto é
constituído pelos órgãos de direção
setorial (os Departamentos), os
órgãos normativos (as Diretorias), as
Regiões Militares, os Parques e
outros escalões menores.
Encontram-se, também, na
estrutura de nosso Exército, os
elementos que integram o seu
sistema de ensino, que são as escolas
e outras organizações voltadas
especificamente para a capacitação
de recursos humanos.
Aeronáutica
Ao estudar-se o Ministério da
Aeronáutica é necessário termos em
mente que a Força Aérea Brasileira
é um dos cinco vetores básicos do
poder aeroespacial , ao lado da
Aviação Civil, da lnfraestrutura
Aeroespacial, do Complexo
Científico-Tecnológico Aero-espacial
e da Indústria Aeroespacial.
Á Força Aérea cabe a execução
das ações militares aéreas e espaciais
necessárias à Segurança Nacional. O
ministério da Aeronáutica conta,
hoje, com um efetivo aproximado de
43.000 militares e 10.000 civis.
Para bem cumprir as missões que
lhe são afetas constitucionalmente,
o Ministério da Aeronáutica conta
20
com o Comando Geral do Ar, o
Comando Geral de Apoio, o
Comando Geral do Pessoal, o
Departamento de Pesquisas e
Desenvolvimento, o Departamento
de Aviação Civil e o Departamento
de Ensino, além dos seus órgãos de
direção setorial e do Estado-Maior
da Aeronáutica.
Subordinados ao Comando Geral
do Ar, encontramos os Comandos
Aéreos Regionais (COMAR). Os
COMAR são extensões do poder
administrativo da Força,
consolidando o apoio às Unidades
Aéreas (Esquadrilhas, Esquadrões e
Grupos). Os COMAR têm, também,
sob sua responsabilidade, as Bases
Aéreas e os Batalhões de Infantaria,
voltados para a segurança de suas
instalações e aeronaves.
Todo o apoio logístico do Minis-
tério da Aeronáutica está subordi-
nado ao Comando Geral de Apoio,
com as suas Diretorias e, ainda, com
o Sistema de Controle do Espaço
Aéreo Brasileiro, aqui incluídos os
três Centros Integrados de Defesa
Aérea e Controle do Tráfego Aéreo
(CINDACTA).
As atividades logísticas voltadas
para as áreas de pessoal, de saúde,
de intendência, de psicologia, de
administração do pessoal, do
desporto e da documentação e
histórico são grupadas sob a tutela
do Comando Geral do Pessoal.
Ao Departamento de Pesquisas
Revista da Escola Superior de Guerra
e Desenvolvimento, por meio do território está coberto com detecção
Centro Técnico Aeroespacial, do de radar, devendo essa área ser
Centro de Lançamento da Barreira estendida à Região Amazônica nos
do Inferno, do Centro de próximos anos, dependendo da
Lançamento de Alcântara e de suas conjuntura econômica.
diversas comissões, compete
Para que se tenha uma idéia
detectar, no campo da ciência e
da magnitude dessa tarefa, basta
tecnologia, quais são as áreas de
dizer que a área amazônica a ser
interesse do Ministério da
coberta representa duas vezes
Aeronáutica, fazendo o seu
toda a Europa Ocidental
acompanhamento e verificando o seu
grau de evolução.
Forças Armadas no Mundo
Ao Departamento de Aviação
Indicadores Comparativos
Civil, com os seus Serviços Regionais
de Aviação Civil e com o Instituto
de Aviação Civil, cabe administrar Porcentagem do PIB gastos com
todos os assuntos ligados à aviação defesa:
civil nos seus diversos setores de Israel 11,30;
atividade. Cuba 8,75;
O Departamento de Ensino Turquia 5,62;
(DEPENS) é o órgão responsável
EUA 4,15;
pela área de formação de recursos
humanos, administrando e Alemanha 2,41;
coordenando as atividades de todas Japão 2,11;
as escolas da Força Aérea Brasileira, China 1,44;
com exceção do ITA, que é
Brasil 0,58.
vinculado ao Centro Técnico
Aeroespacial. Hab/Militar Km2/
Militar
O Ministério da Aeronáutica vem
Israel 30 0,11;
implementando, dentro das
Cuba 60 0,60;
possibilidades econômicas, o Sistema
de Controle do Espaço Aéreo, Turquia 108 1,40;
componente do Comando de Defesa EUA 108 3,88;
Aeroespacial Brasileiro, cuja função Alemanha 239 1,05;
precípua é a vigilância do aeroespaço Japão 439 1,32;
sobrejacente ao nosso território e China 396 3,19;
águas jurisdicionais. Brasil 535 8,69.

Hoje, cerca de 50% do nosso

Revista da Escola Superior de Guerra 21

Capacitação de Recursos
Humanos
A formação, a especialização e o
aperfeiçoamento do militar
profissional ocorrem dentro de um
verdadeiro sistema de educação
continuada, no qual, durante toda:
sua vida militar, os integrantes das
Forças Singulares adquirem as
habilitações e as capacitações
necessárias ao desempenho de
funções, cada vez; mais complexas,
que se sucedem ao longo de sua
carreira.
A formação inicial do Oficial e a
do Sargento dá-se em Escolas, que
desenvolvem diferentes cursos, de
acordo com a característica do
profissional.
A Escola Naval, a Academia
Militar das Agulhas Negras e a
Academia da Força Aérea são
aqueles estabelecimentos de ensino
superior, que desenvolvem cursos
para a formação dos nossos Oficiais,
com duração de quatro anos e uma
carga horária diária mínima de oito
horas, em regime de internato.
O ingresso na Escola Naval é
realizado por concurso público
diretamente a esse estabelecimento
de ensino ou ao Colégio Naval, onde
o aluno freqüenta um curso
preparatório, em três anos,
equivalente ao 2º grau completo.
Para matrícula na Academia das
Agulhas Negras, é necessário que o
22
pretendente ingresse, inicialmente,
por concurso público, na Escola
Preparatória de Cadetes do Exército,
onde ele irá realizar a 3a série do 2º
grau, além de ser submetido, durante
todo o ano letivo, a um rigoroso
processo de seleção.
Caso o aluno não alcance, na
Escola Preparatória, os índices
mínimos necessários à matrícula na
Academia Militar da Agulhas Negras,
ele será orientado, de acordo com
sua aptidão, para uma outra
atividade profissional.
Para ter acesso à Academia da
Força Aérea, é necessário realizar
concurso público diretamente para
esse estabelecimento de ensino ou
para a Escola Preparatória de
Cadetes do Ar, onde o aluno, à
semelhança do Exército, realizará a
3ª série do 2º grau.
Após ter freqüentado a Escola
de Formação, o Oficial durante
toda sua carreira, ingressa em
variados Cursos de
Especialização, de
Aperfeiçoamento e de Altos
Estudos Militares, em nível de pós-
graduação.
Os Sargentos das três Forças
também são submetidos a um
sistema semelhante, em nível de 2º
grau.
Uma das peculiaridades da
educação militar é a enfatização,
principalmente nos cursos de
formação, dos aspectos afetivos da
Revista da Escola Superior de Guerra
aprendizagem, isto é, o
desenvolvimento de atitudes e
valores essenciais ao militar que, no
exercício de sua profissão, muitas
vezes tem de enfrentar riscos de vida
e condições extremamente adversas
de sobrevivência e possuir, ainda,
uma alta dose de autodomínio, que
lhe permita atuar com correção e
precisão em situações criticas.
Assim, a educação militar, além
de tratar o aspecto cognitivo,
envolvendo conhecimentos
altamente complexos, realça os
aspectos formativos relacionados
atitudes e valores. Esse tipo de
aprendizagem exige técnicas
educacionais sofisticadas, que as
escolas de formação militar vêm
desenvolvendo há muitos anos.
Os recrutas das Forças Armadas
recebem, nas organizações militares
em que servem, uma formação não
só profissional mas também cívica.
Responsabilidade cooperação,
lealdade, dedicação e iniciativa,
atributos essenciais à vida do homem
em sociedade, são aperfeiçoados e
constantemente estimulados durante
todo tempo em que o recruta
permanecer nas organizações
militares.
As Forças Armadas também
mantêm cursos e instituições, de
renome nacional, voltados para o
ensino e a pesquisa na área
Tecnológica.
O Instituto Militar de Engenhada
Revista da Escola Superior de Guerra
(IME) e o Instituto Tecnológico da
Aeronáutica (ITA) são algumas
dessas instituições, que, ao longo dos
anos, além de preparar pessoal para
o desempenho de funções técnicas
e especializadas, de interesse das
Forças Armadas, têm também
contribuído, na sociedade brasileira,
para. a melhoria da capacitação
profissional de inúmeros engenheiros
e pesquisadores civis.
O mundo que vivemos e o futuro
do próximo milênio estão marcados
pela característica da mudança, cada
vez mais acelerada, e pela
supremacia do conhecimento.
O militar do nosso futuro
próximo deve estar capacitado a
responder aos novos desafios de
uma realidade cada vez mais
mutante. Deve estar preparado para
atuar nas mais diferentes condições
operacionais, empregar sofisticados
temas de armas, comunicar-se em
diversos códigos lingüísticos e
compreender as transformações que
ocorrem na sua realidade.
Os sistemas educacionais das
Forças Armadas estão considerando
essas evidências do mundo de hoje
e do futuro próximo, como um dos
aspectos fundamentais para a
construção de seus currículos e para
a reformulação da pedagogia militar.
Ciência e Tecnologia
As Forças Armadas desenvolvem
inúmeros projetos e programas, na
23
área da ciência e da tecnologia, de
interesse militar, mas que, por suas
características, estimulam o
envolvimento da comunidade
científica brasileira. Alguns desses
trabalhos podem ser destacados:
Na Marinha:
1. Projeto e construção de navios
de guerra de superfície (corvetas,
navios patrulhas, etc.);
2. Projeto e construção de
submarinos convencionais
(propulsão diesel elétrica);
3. Desenvolvimento de sistemas de
propulsão nuclear para
submarinos;
4. Desenvolvimento de sistemas de
apoio à decisão dos núcleos de
comando e controle de operações
navais;
5. Pesquisas oceanográficas e
estudos relacionados com a
preservação da fauna marinha;
6. Levantamento do perfil da
plataforma continental brasileira;
7. Levantamentos
hidrográficos(rios e oceanos) e
confecção de cartas náuticas;
8. Controle do tráfego marítimo.
No Exército
1. Homologação do uso de
munição e armamentos para o
Brasil;
2. Desenvolvimento de carros de
24
combate nacionais;
3. Desenvolvimento de armas
portáteis ou transportáveis, de
médio porte adequadas às
características ambientais do
Brasil;
4. Levantamentos cartográficos do
território nacional;
5. Desenvolvimento de técnicas
modernas para o tratamento de
imagens satélites;
6. Desenvolvimento de sistemas
computacionais para a
configuração de rotas para o
tráfego terrestre;
7. Preservação da diversidade
ecológica e sítios arqueológicos em
área estratégicas.
Na Aeronáutica:
1. Estudos e projetos de VLS
(veículos lançadores de satélites),
dentro do Programa Espacial
Brasileiro;
2. Desenvolvimento de sistemas
imageadores infravermelhos;
3. Homologação de aeronaves para
vôo em território nacional;
4. Programas relativos ao
desenvolvimento aeroportuário
brasileiro;
5. Programas relativos ao
desenvolvimento de aeronaves
militares;
6. Confecção de cartas
Revista da Escola Superior de Guerra
 aeronáuticas nacionais;
7. Controle do tráfego aéreo no
espaço aéreo sob jurisdição
brasileira;
8. Previsão do tempo para a
navegação aérea e para fins civis;
9. Implantação e gestão do
SIVAM.
No EMFA:
1. Desenvolvimento das
comunicações estratégicas de
defesa por satélites, através do
CISCOMIS (Comissão de
Implantação do Sistema de
Comunicações Militares por
Satélites);
2. Coordenação dos projetos da
COMASSE (Comissão de
Assessoramento de Assuntos
Científicos e Tecnológicos das
Forças Armadas);
3.Controle do levantamento
aeroespacial em território nacional;
4. Atividades como membro nato
do Conselho Deliberativo da
ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas);
5. Atividades como membro do
Conselho Nacional de Ciência e
Tecnologia; do Conselho Nacional
de Cartografia e do Conselho
Superior da Agência Espacial
Brasileira.
Perspectivas
Revista da Escola Superior de Guerra
A análise e a interpretação da
História do BRASIL conduzem à
evidência de que suas Forças
Armadas têm desempenhado um
papel extremamente importante na
construção de nosso Pais. Sem
dúvida, essa tem sido a destinação
tradicional do militar brasileiro.
Os tempos atuais são marcados,
de maneira muito nítida, pela
mudança, pela transformação que
ocorre hoje, em grande amplitude.
Essas modificações,
contundentes, atingem todos os
setores da atividade humana. Em
conseqüência, conceitos e teorias
explicativas das relações entre seres,
grupos sociais e diferentes
instituições estão sendo submetidos
a revisões permanentes.
No contexto internacional pós-
guerra fria, coexistem múltiplas
tendências no que se refere ao
entendimento dos aspectos de
segurança e defesa. Enquanto
determina das áreas geoestratégicas
buscam estruturar-se em torno de
acordos regionais de segurança
cooperativa, outras Regiões se vêem
submetidas a crescentes fontes de
conflito e instabilidade.
Em se tratando das denominadas
potências globais, ocorre uma
redução do quadro de tensões,
resultando uma baixa probabilidade
de ocorrência de uma confrontação
armada nesse nível. Essa nova
situação encontra amparo na rede de
25
relações que liga essas potências
entre si e aos outros países, por
intermédio dos organismos
internacionais, com destaque para a
ONU, a par de outros foros de
composição e natureza diversos.
Tudo isso ocorre em um
ambiente globalizado no qual as
interações e inter-relações se
multiplicam indefinidamente, mas
onde, também, surgem, a cada
momento, novos e inusitados fatores
de instabilidade.
O término da bipolaridade
representa o inicio de uma era onde
diminuem os conflitos entre Estados.
Surge, todavia, uma preocupante
onda de rivalidades étnico-religiosas,
de identidades nacionais desabrigadas
de um Estado e, ainda, de
reivindicações de independência,
desatando comoções internas com
graus variados de violência e
conseqüências danosas para as
populações civis.
A isso se somaram:
- a proliferação de tecnologias
sensíveis, com disseminação não
só entre Países, mas, eventu-
almente, para grupos terroristas;
- crescente aumento do terrorismo
e da violência política sob diversas
formas;
- crescimento do narcotráfico e
atividades conexas.
Essas situações podem ser
nominadas como “novas ameaças,
26
constando-se que os fenômenos
decorrentes afetam de forma indireta
a integridade territorial e a soberania
dos Estados.
O impacto delas resultante não
aumentou o quadro das tensões em
nível estratégico-militar, mas sim fez
surgir toda uma problemática ligada
a imprevisibilidade.
Em outras palavras, percebe-se
a definição de uma trama com
elementos representados pela
incerteza, pela complexidade e pelo
risco.
As ameaças não são configuradas
antecipadamente, decorrendo
naturais dificuldades quanto à
previsão dos meios para enfrentá-la.
Os pensadores militares atuais
desenham, como principais reflexos
para o campo militar, os seguintes:
- cenários estratégicos de conforma-
ção difusa;
- rápida e continuada evolução da
doutrina;
- permanente mutabilidade tecno-
lógica;
- descentralização das operações;
- atuação em ambientes operacio-
nais múltiplos;
- cumprimento de missões de va-
riada natureza (paz, combate,
humanitárias).
Essa situação anteriormente
apresentada, não deve minimizar
Revista da Escola Superior de Guerra
nosso entendimento sobre a
manutenção de um patrimônio,
construído por diferentes gerações,
que compreende a preservação de
nossa integridade territorial, de nossa
unidade política e a manutenção de
uma efetiva capacidade de
resguardar nossos interesses vitais.
Esses quesitos básicos de
segurança nacional subsistirão
mesmo em um quadro onde as
ameaças não sejam perceptíveis de
imediato.
A maioria de nós dispõe da
compreensão de que a segurança e
a defesa do Estado, nos seus
múltiplos aspectos, é
responsabilidade de toda a seriedade.
Não é uma questão tão somente
militar, mas também política e
econômica.
É inimaginável um sistema de
defesa de nosso Pais, sem uma
estrutura militar com essa destinação
especifica.
Uma estrutura, com tais
objetivos, exige uma Política
determinada, investimentos
significativos, planejamentos
estratégicos, doutrina operacional e
adestramento continuado. Essa
estrutura de defesa também terá de
se adaptar à constante evolução da
realidade internacional, provisória e
mutante. A sua organização básica,
os equipamentos e os recursos
humanos devem, permanentemente,
estar ajustados a uma dada situação.
Revista da Escola Superior de Guerra
O homem será o elemento
fundamental, com uma crescente
exigência de valores e de
conhecimentos para máxima
competência profissional.
No tocante ao material de
emprego militar, as aspirações
deverão estar dirigidas para o
permanente aperfeiçoamento
científico-tecnológico e a
independência na sua aquisição.
A doutrina deverá dispor da
indispensável capacidade de
adaptação a situações não previstas,
a teatros de operações cambiantes e
a diferentes tipos de missão.
Não poderá ser esquecido o
prosseguimento da contribuição
militar para o desenvolvimento do
pais, bem como sua atuação em
situação de emergências.
As Forças Armadas do Brasil têm
a mais perfeita consciência dos
obstáculos a serem ultrapassados no
sentido da sua adequação à estatura
político estratégica do pais.
Sua atuação deve passar por uma
integração com os elementos
representativos da sociedade: o
Congresso Nacional, à Imprensa e
aos segmentos acadêmicos, que
contribuirá para a delimitação mais
precisa de sua área de atuação, e para
um necessário intercâmbio de
princípios e de idéias.
As Forças Armadas do Brasil
sempre demonstraram notável
capacidade de adaptação às
27
mudanças, no espaço e no tempo.
Sua missão principal é garantir a
integridade territorial e preservar a
soberania nacional.
As Forças Armadas devem
28
representar a garantia da
permanência e da evolução do Brasil
nesses tempos de mudanças.
(*) General de Exército, Chefe
do Estado-Maior das Forças
Armadas
Revista da Escola Superior de Guerra