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HISTÓRIA DIPLOMÁTICA
DO BRASIL
Reconhecimento d,a Independência e do Império -- 3E)

tinham as suas esquadras deixado de proteger os territórios


CAPÍTULO 2 americanos de Portugal e Espanha, já se achavam os povos
revoltados contra as suas metrópoles, ameaçadoscle uma reco-
lonização.,
não tantopor partede Portugnl,maspor parteda
Espalha, que parecia apoiada pela Sa?zfa .4/iançct.
RECONHECIMENTO DA INDEPENDÊNCIA O quc foi, na realidade,a SantaAliança,é talvezdifícil
de dizer. Fruto de uma mística de Alexandre da Rússia.era
E DO IMPÉRIO uma Aliança imprecisa,uni sísfernac7'isíãoque o seu autor
desejavaconstituir entre os Pouoi, mas que Metternich inter-
pretou como formado entre os Reis. Não tinha basesterrito-
riais nem limites lixos, nem regimes definidos a preservar;
era antes uin sisíem.ade mtZíua assisZénciaque foi explorado
l .4 ,4mérica l,afirma e o ,4mzbiemfe /ntermacinmaZ comoznsflzmento de íníe7uençãoem todos os paísesem que
se sentisseabalada a estabilidade política, a pedido do inte-
ressado ou mesmo contra a sua vontade. Representava pois
Enquanto rivalidades nascidas no Congressode Viera uma amerzçaséria para a América Latina e, por isso mesmo,
pal'alizavam as Potências Continentais, a Grã-Bretanha prosse- não podia a Grã-Bretanha nela tomar parte.
guia lla suapolítica mundial, com objetivosmrz7-/ízznos,
comet-
cía;s e co/07zíaís. As grandes nações do Continente tinham
sido mais afetadaspelas alteraçõespolíticas da Revolução e 2. Relações do Bvasil com os Estados Unidos
do Império; a Grã-Bretanha
tinha aprendidomais com as
fra71s/o?znaçõesecozzóz7zícas
do período revolucionário. A estru-
tura colonial da América estavaabalada em seuspróprios prin-
A responsabilidade dit criação de um imundo ,4f7ánlíco
cípios: o prrílo co/07ziaZ
e a esclauaftól'a.Por suavez, o B/o- era um privilégio que as PotênciasEuropéiasOcidentaisdele
qz eio C07zfzneníaZ havia privado os inglêses de seus mercados Javamobter para se tornarem credorasdas novasnaçõesem
europeus e voltado as suas vistas para leczérsos exf7a-ezlroPet&s.
formação na América Latina. A F'ra7zça e a Grã-Brefan/za
Estava, pois, a Grã-Bretanha empenhada em reconquistar o disputavam êste privilégio com os Estados Unidos, também
econòmicamente interessados nos mercados sul-americanos.
terrenoperdido no Continente,semesquecerque a libertação
Documentos oficiais emanados das mais altas personalidades
das colónias podia comprometer a sua própria Po/ífica co/orz;aZ,
na América principalmente. Em suma, ela necessitavade uma americanas traduzem a constante preocupação ão govêrno de
seguir atentamente os acontecimentos do nosso continente.
paz marítima e de um equilíbrio no Ccntinente (Vide: .TACQUXS-
HIENRI PTRENNE -- Z,a SaÍníe-.4//lance, tomo l).
Desde18]0, eram enviadosage?voeiao Rio da Prata, ao Chile
e à Venezuela.
Era nesteambierlteinternacionalque o Brasil, comiacs
demais povos da América Latina, tinha que lutar diplonlà- Por sua vez, a Grã Bretanha receava ver a in//u#rzcía /lízn-
ticamente pela sua independência. feia suplantar a sua, na situaçãoprivilegiada que tinha adqui-
Era de fato delicada a situação da Grã-Bretanha depois I'ido. Não era de sua política ernanciPat'completamente'
as
do Congressode Viela. .4/iízdae de/ensopade Portuga/ e da novas nações, mas não era de seu interêsse restabelecer o
Empaz/za,para os quais tinha reconquistado os territórios euro- a7ttlgo regittte.
peus, necessitava, entretanto, conservar nos mercados cozo?país Nos Estados Unidos, as hesitaçõeseram devidasà pre-
destas potências, os interêssesque lá tinham sido criados pelo ocupação de seus estadistas a respeito da aquisição da /'Zórída,
extraordinário desenvolvimento de sua indústria. Apenas geograficamente indispensável para assegurar a abertura da
36 -J Hi.stória l)iPtomática do Brasil +

Reconhecimtento dü Independência e do ItnPélio -- 3'7

legião do MissíssíPf no Golfo. Precisava, em conseqüência, e pagamento da taxa. interessou-se muito pelo reconhecimento
da boa vontadedo go\êrmocle l\ladrid, o que impedia tomar de nossa independência 110tempo do Presidente Monroe.
posição em favor dos rebeldes. Sòmente em 1824, foi enviado a Washington como encar-
Havia tambémo espectroda SantaAliança. O seu pro- regado de negócios, Szluesí7e ReóêZo, um intelectual, versado
motor principal, o Czar Alexandre, não se desinteressava'dos em questões
comerciais.As instruçõesque levavado Rio
acontecimentos da .4mérica do StiJ. Um r7?enloriaZ rtlsso de constituem um documento diplomático de significativo alcance
/8/7 insinuava.a possibilidade dc tl Espalha cedem a Portugal psicológico. Era-lhe recomendado promover o ''reconheci-
territórios platinos a fim de o govêrnodo Brasil cooperarna mento solenee formal da indePendéncicz,integridade e dinastia
luta contra os súditos espanhóisinsurretos. Capo ci'/szrzae do /mPério do Brasa/". Para êstefim, devia êle se introduzir
Pozzo di Barro, nas capitais européias, procuravam obter a com políticos influentes e jornalistas do país, procurar conhecer
aceitação das idéias do Czar. o estado clãs relações americanas com Portugal, ouvir súditos
JMorzt-oe, (2téz:7zcy ,4da pzs e Rác/zatd Rusb, receosos de uma brasileiros domiciliados nos Estados Unidos, mostrar predile-
execuçãodos planos da Santa Aliança, procuraram eíltão uma ção marcada pelos enviados dos Estados da América, insistir
rzP7'0xinação drz Gl-ãBrefazz/la, sabidamente favorável aos sul- na justiça e utilidade do reconhecimento da Independência
americanos. Começavam negociações com Z.ord Casa/arca.q/z.
e do ]mpério. Era lembradaa conveniência
de opor a Grã-
Btefan/2a aos Estados U?lidos, se fossemosforçados a recorrer
l procura de lml meio-têrmo, um compromisso que salvaguar-
dasse os interêsses comerciais e o restabelecimento da auto- aos bons o/frios da Europa. Era também marcado o contraste
ridade. Esquivou
seo ministrobritânico; masquandoa Es- entre a situação precária das ex-colónias espanholas e a esfabi-
Zidade das imsfíílzíções znoz(írqt iras clo Brasil, baseada na
panta aceitou os cinco milhões de dólares em pagamento da
F[órida, em ]819, os Estac]osUnidos se julgaram livres de popularidade do Imperador.
agir e, em princípio de /822, o Congresso autorizou Mozz70e
SilvestreRebêlo foi muitíssimo bem acolhido nos Estados
a reconhecer as colónias emancipadas, enviando-lhes urge/7:es Unidos. Em suas discussões coJn Qz inca Jdams verificou cedo
âiPtomál,ecos. que não faltava boa vontade pois as objeções apresentadas
eram apenas formais, pedidos de informações e esclarecimentos.
Ao Brasil, mandaram os EstadosUnidos, como ministro. Rebêlo apelava, na sua exposição de motivos, para as palavras
.ío/zn G.}-abana .e .17ezzQ Hi/J, como cônsul elletivo, que José célebresde Monroe, na sua rnerzsagem
do ano anterior. Um
Bonifácio de Andrada acolheu muito favoràvelmente,pouco tanto irascível, tinha-se desentendido com Gonçalves da Cruz,
lutes.da Independência. Outro agente americanoque muito mas as suas negociações foram hàbilmente conduzidas e, menos
trabalhou para melhor entendimento e boas relaçõesfoi Sall07zs de dois mesesdepois de desembarcadono país, foi apresentado
cônsul no Rio de janeiro. ao PI'evidenteMloltloe.
Contava apenas vinte e quaoo horas a nossa Indepen- Mostrou-se decepcionado 0 7eP7'esezzíamíe
de PortugaZ, mas
dência quando, a 8 de setembro, desembarcava lio Rio, CoPzdy Quincy Adams lembrou que reconhecia um govêrno de fato,
Ragtlef, novo cônsul americano que foi muito menosincli- tornado isso possívelpelo próprio govêrno que tinha criado
nado às relações de atnizadc e cooperação, pois em diversas o Brasil reino. Aliás nadahavia de poucoamistoso,pois
ocasiões criou casos à Repartição de Negócios Estrangeiros. seguiao exemplo de Lisboa que já havia reconhecidoa inde
Nos EstadosUnidos representounão oficialmente o Brasil pendência de colónias espanholas.
o rico pernambucano Gorzçíz/uesda CrtÉZ que, comprometido Quanto ao segundoobjetivo da missãoRebêlo que Ihe
na revolução cle 1817, se tinha estabelecido e]]] r';/adéJ/ia. havia sido fixado pelo Ministro Cama/bo e Meio, era a obten-
JoséBoniEácioo fêz nomear cônsul em 1822,lilás nunca foi ção de uma a/ia/7çfzdefensfuae orensiz/acom a .jovem república
efetivo no lugar por Ihe ter faltado ''carta patente'', a exeqt&rzZ
lÉ}' do norte. Nisso não foi bem sucedido o nosso representante
à8 ária Diplomáticado Bvasit Reconhecimento da Independência e do l nPévio -- 3q
porque, além de seremos EstadosUnidos genuinamente isora-
cz07zzsfas,o :trgLmlento principal, a ameaça de uma recoloni-
que se teve informação dos acontecimentosseparatistasde 7
de setembro.
zaçãoporfugtiésa havia caído com o reconhecimentoda nossa A trança de Ltiís Xr///, entretanto, havia mandadoao
independência por Portugal. i' Rio um cônsul geral, o Conde de Gesías. Não teria hesitado
ó seugovêrnoem reconhecer a nossaindependência e o Im-
3 A trança e as Potências no Caso Brasileiro pério se tivesse julgado
esperar a deliberação coletiva.
possível agir separadamente,
Embora empenhada em não
sem

deixar a Grã Bretanlla colhêr todos os proveitos de uma situa-


A volta de D. Jogo VI a Portugal havia criado uma situa- ção de protetora, a Fiança cuidava de não meZíndrnrPortuga/.
ção nova para o seu Reino Unido: havia, de fato, dois go Em 1823, o novo Ministro CaruaZbo e ]We/o (futuro Vis-
uerrzos,um no Rzo e outro em Z.isóoa.No conflito que ílascia condede Cachoeira)enviou novamissãoa Paria. Cabiaa
entre êles:era forçoso o recurso âs PoZépzcias
esfrrzngeílízs
para Borgasde BatTos (Viscondeda Pedra Branca) tentar o que
ver reconhecidos os seus direitos nesta especialíssimasituação lameiro não tinha conseguido. Bem recebido,viu, entretanto,
internacional.
recusadas suas credenciais. C/z/zZeat(órfarzd e, depois, o Bíz7-ão
Por isso, nomeou o govêrno do Príncipe Regente um de l)ízz7zas continuaram a evitar compromissos a respeito do
representante junto ao govêrno francês para continuar as rela- Brasil, embora lá mantendo representantes franceses. Acaba-
çõespolíticas e comerciaisentre os dois países,para obter o t ram admitindo a título de reciprocidade: rzgenfes comem'cíais.
reconhecimentoda nova situaçãoe para a aceitaçãode agentes Em maio, porém, reuniam-se em Lozzdres uns represen-
consz /ares em condições de reciprocidade. Não se tFRtava tantesde Portuga/(Vila Real), da JzÉsfría(Neuman)e do
ainda de ''independência
absoluta''de Portugal. As instru- Bt.zsiZ (General Caldeira Brant e Gameiro Pessoa), para sob
ções dadas a êste representante, Gaxnez?-oPessoa, eram ditadas a mediação de Canníng, resolver o conflito político luso-brasi-
por José Bonifácio (agosto de 1822). leiro. Em Lisboa, .Hyde de À'ezÉuf//e tinha trabalhado para
Gazneíroera um baianoque tinha sido secretárioda ser solicitada intervenção militar britânica, no intuito de com-
delegaçãoportuguêsa ao Congressocle Viela, e servido na prometera Grã-Bretanha. rí//ê/e de seu lado, mostrouse
legação de Paras; estava empregado na Repartição dos Ne- ressentidoda preferênciadada à capital britânica para a dita
góciosdo Reino,no Rio, ciuandofoi escolhido.Mais tarde reunião. Nada daí saiu, aliás.
foi feito p'z'sconde de ,ífüórzíüHÜ. Entre os homens cla Restau- Na realidade, o govêrno francês, simpático à causabrasi-
ração com quem teve que lidar, em Fraílça, discutiu com leira, só esperavauma coisa: a resigPzação
portuguêsa. De
rzZ/ê/e,com MozzZm07ezzcy e com C/zízíeatórzand, eram todos fato, menos de dois meses depois do tratado luso-brasileiro
idealistas extremados e reacionários. Não foi mal acolhido. de 29 de agosto de /82-5, o govêrno de Cardos X reconhecia
mas, apesar de seusargumentos, não conseguiu senão palavras a independênciae o império do Brasil. O primeiro ato neste
de boa vontade e muita reserva. sentido, era a assinatura de um frízfado de comércio que im-
Em fins de 1822,Gameiro foi a re70níz, onde se discutia plicava o reconhecimento. (V. HlxíTOKLYRA: /izsÍÓ7Íal)iPro-
o caso espanhol A FI'onça e a Áustria estavam dispostas a mdfíca e Po//ficrz /nfe7'/?aczona/, Rio, ]941).
ouvi-lo, mas o Czar e We//zngfon se oPz&setarn
à sua admissão
no Congresso. Apesar de absolutista intransigente, ]Weffe7-rzic/z 4 As NegociaçõesDiplomáticas com Portugat
se tinha manifestadoa seufavor, em razãodos laçosfamiliais
que uniam D. Pedro à dinastia austríaca. Não foi feita dife-
A política do Duque de Palmela em relação ao Brasil era
rença entre o caso das colónias esparlholasrePt D/lianas e o evidentemente ditadapor um espíritode conciliação.Não
Brasil nvozzdrgzzzco, tanto mais que foi durante o congresso tendo ol)tido de Metternich a intervençãoque Jhe pedira,

+
4
4Q -- fíistória Diplomática do BTasit Reconhecimentoda Independência e do Imt)é'rio -- 4\
resolveuentrar em negociações vitelas com 1). Pedra /. Foi leiras. Canning, como mediador, propunha a sePrzlaçãofofas
êsteo objetivo da missãodo Corzdede Rzo-Maior,em setembro do Biasil, a rerz7Zrzrírz de D. Pede'0 ao frorzo de Pot-lt(ga/, a
de.]823. As tropasportuguêsas
do Genera/
Madeirajá se }esf;Zt&íção das propriedades con/íscadrls e a celebração de um
tinham retirado para Portugal, quando chegavaêste parla- í -r/fado de corrzé7'cio sabre bases mútuas da nação mais favo-
mentar em missãodiplomática com c;trtasde D. Jogo VÍ para recida. Recusado por Vida Rea], foi enviado o projeto a
seu filho. Tendo a corveta "Voadora" içado a bandeira 'por- Lisboa. Revelou então D. .TocoVI, além de outras exigências,
tuguêsa,''inimiga'. e não a parlamentar,Ca7neírode Campos que queria o Zífu/o de /nzPe7rzdor do Brasil para si, cedendo
não permitiu o desembarque dos comissários portugueses, a apenaso exercício dêste título a D. Pedro durante a sua vida.
menos que preltminarmente fossereconhecida a Independência Acabaram as negociaçõesquando o govêrno português comu
e integridade do Império do Brasil; não tendo os enviados nicou o seu contra-projeto às Potências da Santa Aliança,
os poderes legais para isso, tiveram de voltar para Portugal, comose apelassepara elas contra a Grã-Bretanha. Declarou
no brigue "Treze de Maio", ficando prisioneira a tripulação então Canning que ia reconheceras rePtZÓJícas esPaPZ/zo/ase
da ''Voadora nãopoderiaabrir exceçãono casodo Brasil.
O fracasso da Missão Río-Maior desanimou o govêrno de Foi nestascircunstânciasque o ministro britânico resolveu
D. Jogo VI que apelou então para as Potências da Santa mandar a Lisboa e ao Rio um emissário seu, SãrC/latõesSltéarf.
Aliança. para jystirícar a infe7-benção filmada que preparava embaixadorem Paras,removidoa pedido do Príncipeda
Portugal. A Rússia, a Prússia, a Espinha aprovaram êste
Polignac, então em Londres. O govêrno da Bemposta com-
recursoà fôrça; a Áustria,emborasimpáticaã causaportu- .!

preendeu então que um segundo insucessoprivaria Portugal


guesa, não se pronunciava neste sentido e a Grã-BrefanÃíz se dos bons of/rios do goué7node Lovzdres. Aliás, muito das
oPzznãacategoricamente. De fato, George Canning que, se- atitudesbritânicasera ditado por interêsseseuropeus,llo
gundo a expresl;ão de Oliveira Lama, ''foi'nada menos Üo que Oriente, onde surgia a rivalidade anglo-russa,pois os prece-
o agentedissolventeda Santa Aliança dos Reis contra os
dentes na América serviriam de pretextos à Rússia no Oriente
Povos", George Canning recebia Caldeira Brant e Gameiro,
Por fim, chegaraSir CharlesStuart a Lisboa e ouvia as
que o Brasil liiandava a Londres contratar um emPrésfír7zo
propostas
de D. JogoVI que queria assumiro título de Im
de !rés mi//iões de esfer/fitase tratar do reconhecimentopor- pecador,.associandoem seguida D. Pedro ao trono imperial.
tuguês.
Desdemarço de ]824, tinha sido enviado a Caniiing um Visavapois a reunião dos dois paísesem conflito. O inglês
plano de acomodação a obter do Brasil; consistia em cessar declarou não se inculíibir de negociaçãoalguma que não fosse
baseada num preliminar reconhecimento da Independência.
/zosfílídades, restituir a Portugal todas as p?-oPriedades con-
Aos poucos, foi El-Rei se convencendo de que devia confiar
Jriscadai,. comprometer-se . a não ag7'Cair cÓJónía poríuguésa
ainda obediente, e demitir súditos inglêses cont;atados no a CharlesStuart o encargode 7esoZuer o cas13,
como Ihe pare-
exército. Com a chegadade Brant e Gameiro,foram discuti- cessee, para isso, entregou-lhefrés cartaspfzfenfes,com três
tipos de soluções.
das, em Londres, as propostasportuguêsascom rí/a Rea/,
Netímrznm e Camning. Como já foi dito, as negociações falha- No Rio de Janeiro, foram as negociações entabuladas com
ram e deu se mesmolml incidente com Vila Real que ofendeu Caruaiho e Mle7o, yiieia Balbosa e gaiato ÁmaTO. O Brasa\
os brasileiros, tratando D. Pedro de ''rebelde''. Desculpou-se, estavaentão a braçoscom a antipatia do govêrnode Buenos
mais tarde, o diplomata portuguêse a reconciliaçãodos nego- Aires e as dificuldades resultantes da ocupação da CísP/afina
ciadores se fêz por intermédio do Príncipe Esterhazy, ''afogando que a Inglaterrn desaprovava.
a injúria no.Tokay do magnata húngaro." (OLIVEIRA LexIA). As cartas patentes portuguêsas, discutidas em várias con
{

Foi devidoo fracasso


dasnegociações
de Londresà ferências, eram recusadas pelos brasileiros, principalmente
intransigência portuguêsa mais do que às pretensõesbrasi- pelas expressões nelas empregadas. Por fim, venceram as reco-

U
42 -- 1iistória l)iPlom(trica do Bra,sil Reconhecintento da ll dePendênciri e do InLpério -- 4B

mendaçõesde Canning e o plenipotenciário português, no têilcias zeladores da Fé e mentores do Papado consideravam


caso, Sir Charles Stuart, obteve uma redação aceitável. de grande transcendênciae relevância'' (F. C. VIDTGAI. in
Em virtude do Traçado /teso-b7-asi/eito de 29 de agósfo
Má'rio de Vasconcetos Motivos da Hlistólia Dit)temática).
O plenipotenciário brasileiro escolhido era Monde/z/zo?-
de /82i, Portugalreconheciaa Independência
e o Império Francísco Correia rádzga/, da Imperial Capela e Conselheiro
de sua ex-colónia
do Imperador. Antes de desembarcar cm Romã, foi o sacer-
No artigo VI as reclamações portuguêsas eram atendidas dote brasileiro a Londres e a Pauis,preparar o terreno diplo-
pelo pagamento de dois nzi//iões de /abras esíe7/i?zas, que mático. O representante
de Portugaljunto à SantaSé era
figurou em convençãoadicional. Nos três primeiros artigos então o Cu?de de Fz lc/za/, que tudo fêz para que não fosse
L questão do reconhecimento se apresentava sob a forma de recebido o emissário brasileiro: o embaixador espanhol havia
uma ftansferé?zcza de soberania do ]mpério, por livre vontade assimconseguido
afastaro emissário
da Colónia. De fato,
de Sua Majestade Fidelíssima,ao seu filho e a seuslegítimos {

Monsenhor Vidigal não foi recebido oficialmente e teve de


sucessores. Por sua vez, o Imperador, em sinal de respeito paciental' durante meses,mesmo depois do reconhecimento
e amor, a7zuíaa que seu pai tomassepala a sua pessoao f/fti/o do Império por parte de Portugal. Funchal conseguiuo adia-
de /nzPe7ador. Nada, entretanto, era dito a respeito da questão mento questionandoa validade da credencial por ter sido
da st(cessão potftlgtl#sa. O tratado foi criticado ao mesmo assinada antes da ratificação do tratado de 29 de agosto.
tempo em Portugal e no Brasil, massatisfeza Carlning. Rebelou-se Vidigal, por fim, conseguindo ser admitido a
No ano seguinte, 1826, reconheciam a Independência e entregar suas credenciais em ;aneiro de -7826. Depois desta
o Império, a Stéécia,
a Franca,a Suíça,os PaísesBaixos,a data multiplicaram-se as concessõesda Santa Sé poi' meio de
PttZssza
e outros govel-noseuropeus; a H'esfria havia sido a Bt /as pontificais aue criaram a Ordem de Ctíiío }zo B?as!/,
primeira a fazê-lo, a 27 de dezembro de 1825. desligada de Portugal, concediam o Pad?Dado,recusado aliás
Em ]narço de ]826, tendo falecido D. Jogo VI, cabia pois pela Câmara dos Deputados; não foi, todavia, celebrada
Con co'rdata .
a coroa de Portugal ao Imperador brasileiro. Êste, porém,
já havia renunciado desde 1824, mas, a 2 de maio expediu
uma Carta Réguaaódícrzzzdo
em favor de sua filha Marca
da Glória. EXGERPTA
Os aros diplomáticos de reconhecimento foram seguidos,
com os diversos países, por fraZados e cona/erzfões de comércio OLIVEIRA LIÀ,rA
O Recozihecimelzto do /17 pdr;a, Rio, 1901, ps. 177/182
g nízz/egczção, assinados de ]826 a ]829 (França, Áustria,
Prússia, Grã Bretanha, Dinamarca, Estados Unidos. Cidades Graças à providência do oportunista de gênio que foi Canning, a
Grã-Bretanhaia de fato aí concretizaruma parte do seu plano geral de
Hanseáticas e Sardenha). política externa naquele período, plano que inscreveu cojllo seu fito
capital a conquistaeconõtnicae moral do continenteemancipado
da
5.
tutela hispanoportuguêsa. Tanto o compreendeuo espírito atilado e
A Santa Sé e Q IndePendêltcia matreiro de Metternich, o extraordinário acrobata político que ora atiçava
uma contra outra nos Bálcãsa Rússia e a Inglaterra, ora se servia da
Em ]824,a vacânciade bispadosimportantesdo Brasil, França para embaraçar o jogo de Canning, ora da Prússia para sopitar
os ardor-es
de Alexandre1, que aparentoudesmascarar
suasbateriase,
t falta de missionários,a sujeiçãoàs congregações
de Portugal a fim de satisfazer dois compromissos de uma assentada, opor o -podem
levaram o govêrno de D. Pedra l a cuidar o mais cedo possível da reaçãoà política inovadorade Canning. As instruçõesmandadaspara
da normalização das relações com a Santa Sé. Acabava de ser o Rio ao Agente austríaco, Barão de b'lareschal, dão testemunho dêsse
eleito PízPaLeão X//; não gozavao novo Pontífice de sufi- estratagema do Chanceler. Rezavam que hlareschal devia apoiar qualquer
ciente autonomiapolítica para tomar iniciativas que as ''Po- u/[fmízlum de Portugal e não poupar di]ígências para persuadir o Príncipe

{
44 -- Histó ia l)iPtomática do Brasii ZlxcerPfa -- 45

a ceder não hostilizando criminosamenteseu pai e aderindo aos prin- no espíritodo Chancelerpelo fato da Inglaterra ir concluirsózinhauma
cípios da legitimidade mediação começada pelas duas potêllcias. Instruções para igual colabo-
Caldeira Brant e Gameiro, logo acertando com a verdade, comuni- ração, ainda que passiva, recebeu o agente austríaco no Rio de Janeiro.
caram para o Brasil que semelhantesinstruções da última hora eram de pois que Metternich, homem de um só pêso e de unia só naedida, entrara
encomenda, tanto para satisfazer o Imperador da Rússia, cujas veleidades a achar mais do que justa a separação do Brasil, e a considerar como
liberais se tinham curado e que acusavaa Áustria de desviar-sepor con- lun dever re/igioso, 77zorü/ e Píz errzaZ de D. Jogo VI o reconhecê-la sem
siderações de família das obrigações contraídas com a Santa Aliança; al-nbages. Agora era o seu delegado em Lisboa quem instava diàriamente
como para não desampararàs escâncarasa Carte portuguêsa, a qual, com cole o govêrno português pelo desfecho do conflito, desmanchandosem
tamanho gôsto estava ajudando a causa comum das realezas. Metternich sombra .de piedade as ilusões de superioridade militar e de interferência
no seu taro íntimo reconhecia porém a justeza dos motivos que assistiam continental ainda acal'iciadaspor alguns dos estadistasdo Reino, e excla-
os plenipotenciários brasileiros em julgarem deslllallchado o nó górdio: a mandocomo uma sibila que ''reconhecendoo Brasil, S. M. Fidelíssima
breve trecho êle o faria perceber perdia,.sim, os seusdireitos pessoais,
mas para seguraros da sua des-
Nada mais decerto,depoisda atitude francamenteassumida])elo cendência
Govêrno Britânico, lograria empatar o reconhecimento do Império. esta De todos os adversáriosda Inglaterra leão era porém AÍetternich
vam no urgindo em Lisboa o próprio Vila Real e outros personagens aquêle que Canning então lílais temia. O papel preponderante da Áustria
para que, irremediável como se tornara, toi)passeo aspectode uma doação estavafindo e, sob a sua hegemonia, o Império Germânico não passava
generosae leão parecessearrancado pela diplolllacia de Sir Charles Stuart. de um si)-nulacrode confederação,
sustentadopela habilidadede alguns
O empenho tinha sido antes obstar ao reconhecimento,]nas agora, passava hoTnens de Estado e ])elo cultivo da tradição, mas condenado à dissolução
a ser roubar à Inglaterra a glória e proventos de um ato tão importante Viela aparentavaainda cojlstituir o foco capital da reação,como nos
e de tanto alcance quanto era a perfilhação de uma nova e imelasanação, primeiros temposda política pregada, sustentada e imposta por Metternich
cuja mãe se convertera em madrasta e de que Canning se metera a Mais perigosa mostrava se a França, cuja guerra aos interêsses
padrinho. Por issonão pareceráinverossímilque, desdea ruptura das inglêsesse estendiaa todos os terrenos
negociaçõesdiretas, os representantesde Portugal e da Áustria en] Londres
alterassem não só a sua norma de proceder como até o estilo, passando
a tratar D. Pedro l de Imperador e Soberano. sem falar em quererena LUAS NORTON J Córfe de Porfzzgai 710 ]3rasi/, S. Paulo, 1938, ps. 227/31
à viva força reatar aquelas negociações que ainda na véspera pareciam
uma audáciada parte do Brasil Enl junho de 1823, proclamado em Portugal o regime absolutista,
A resposta'de D. Miguel Antânio de INlelo à carta de Caldeira Brant, suspensaa Constituição, não se pensou mais em socorrer as forças por-
documento que faz parte do arquivo Barbacena,já aponta para a necessí [uguêsas que lutavam no Brasil contra D. Pedra.
dízde ec/Fracaque os dois povosexperimentavam
um do outro, e falava, Nem D. .Toãodesejavafazer guerra ao filho, rebelde,colaformecerti-
pôsto que bastante vagamente,em reconhecimento da Independência feita ficava no seu ofício secreto, de 7 de setembro de 1824, o agente diplo-
de u77za
71za
feira decorosa
e úfiJ. Ofereciatransferirpara Lisboaa sede mático brasileiro em Paras,Domingos Borges de Barros.
das negociações diretas e convi.dava Caldeira Brant a ir ali prossegui-las [.Jm médico chamado Lea], dizia um dia ao Sr. ]). .Jogo V] que,
certo de que "seria recebido e acolhido com a maior benigllidade, e bom por hotua e dignidade da coroa agravadadevia fazer-seguerra ao Inlpe
agasalho que pudesse desejar.'' A indisposição contra a Grã-Bretanha redor e ao Império, e êle Ihe tornou: isso não, e nem meu filho tem
cresceraen] Lisboa correlativainente com os passosdados por Canning no feito senão o que em suas circLmstâllciãs fazer devia, por agravos a mim
caminho do reconhecimento, e dêste estado de espírito tiravam in.ilireta- pessoaisnão hão de sofrer os povos:
mente lucros os brasileiros, que assim deixando de desmerecerno conceito A política inglêsa também não apoiava uma guerra que afetaria o
dos portuguêses, conservavamse entretanto nas boas graças dos inglêses. seu comércio e os seusinterêsses na América portuguêsa; nem aprovada
O próprio Nletternich, o pontífice ltláximo dos expedientes e palia- o regresso à .recolonização e ao sistema parasitário.
tivos, calculando exatalnenteas conseqiiênciasda dianteira tomada pela A Grã-Bretanha precedera até o Brasil nos trabalhos preparatórios
Grã-Bretanha, mudou ostensivamente de linguagem nas conferências de do reconhecimeílto
da Independência. Para o ministério de Canning,o
Viena com Tules da Silva, o futuro Marquês de Resende e fiel amigo grito do lpiranga era peremptório, irrevogável,como ul-nadecisivadecla-
de D. Pedra, cujo elogio histórico pronunciaria na Academiade Lisboa. ração de maioridade.
Passou
a afetaro maiorinterêsse
peloBrasile despachou
ordenspost Bem informado pelos seus agentesdiplomáticos estabelecidosno Rio
uvas ao encarregado de negócios en) Lisboa para cooperar francamente de .janeiro desde 1808, o Gabinete de Saint-James leão tinha dú\idas
com Sir Charles Stuart, cujas instruções estavatn sendo re.digidas do punho sabre "a aptidão ao se/f-gouerrzn&enf
da nova Ilação
mesmo de Canning que depois as mostrou ao representanted'Áustria, '0 Govêrno Britâ]]ico''. -- escrevia Can]]ing ]la nota enviada ao en
desarmando pelo seu rasgo de franqueza qualquer suscetibilidade acordada carregadodos l)egóciosem Lisboa, eln 30 de novembro de 1822-- ''tem

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