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Primeiras Considerações
A diversidade de orientação docente e discente, ou mesmo a sua ausência, pode ge-
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rar uma leitura do livro didático de forma acrítica. O livro, ou qualquer outro material
didático, se transforma em um modelo padrão no ensino, e não apenas uma forma de
transmissão de conhecimento. Segundo Freitag (1986), a desinformação do professor e
sua pouca prática de leitura no dia a dia seria uma explicação viável para a diiculdade que
os professores encontram em avaliar criticamente a escolha e o uso de um dado tipo de
material didático.
gógica da Diretoria Regional de Ensino de Assis para a utilização dos materiais didáticos
Os Cadernos
A Proposta Curricular do Estado de São Paulo para História no Ensino Fundamental
do Programa “São Paulo faz Escola” norteia a ação dos gestores e dos docentes da rede
pública estadual. Nesta proposta é possível veriicar os parâmetros teóricos e metodoló-
gicos que deiniram o processo de elaboração do material didático que é composto pelo
Caderno do Professor, Caderno do Aluno e Caderno do Gestor. A análise se pautará basi-
camente nos dois primeiros elementos, já que estes são praticamente idênticos, ressalvan-
do as orientações didáticas ao docente. A equipe de elaboração do material de História é
composta por Diego López Silva, Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli, Paulo
Miceli e Raquel dos Santos Funari. Todos os docentes foram coordenados por Paulo Mi-
celi, é professor Livre-Docente pela Universidade de Campinas, UNICAMP. Cada um
dos cadernos foi elaborado por um professor que está apresentado em seu campo editorial
e icha catalográica. O presente artigo irá apenas analisar os cadernos correspondentes ao
conteúdo de História Antigo voltado para o Ensino Fundamental.
Nas propostas para o primeiro bimestre, Glaydson da Silva faz um apanhado geral
sobre a Pré-História e o Oriente Próximo comentando as deiciências nos conteúdos
dos livros didáticos e as discussões acadêmicas sobre o assunto. O autor critica conceito
de Pré História
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“(...) geralmente acolhido e utilizado para separar distintos períodos da
história humana, delimitados pelo desenvolvimento da escrita,e que aca-
bam servindo para hierarquizar sociedades, grupos, povos, etc.; e o enfo-
que eurocêntrico dos materiais de ensino (...) .” (2008, p. 8)
por proissionais da área de Filosoia, Geograia e História. São dividas em quatro situa-
ções de aprendizagem: O Rio Nilo e o trabalho camponês no Egito Antigo; O código de
Hamurabi e os princípios de Justiça na Mesopotâmia; A áfrica o berço da humanidade e
Invenções da China Antiga. O material exige que o professor caracterize cada sociedade
antes do inicio das atividades propostas, utilizando seu próprio material e plano de aula.
Nota-se, nos conteúdos do bimestre, a ausência de temas relacionados às sociedades he-
braica, fenícia e persa apresentadas como um dos temas estudados.
O Tema 1 é intitulado “A vida na Grécia Antiga: sociedade, vida cotidiana, mitos, reli-
gião, cidades-estado, polis, democracia e cidadania”. Para tratar desse tema, são previstas 7
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aulas sendo 3 aulas para tratar da “Situação de Aprendizagem 1” e 4 aulas para a “Situação
O texto base para o desenvolvimento da atividade, apesar de conciso, cumpre sua fun-
ção trabalhando os povos que habitaram o Crescente Fértil e o Oriente Próximo de forma
sucinta e precisa, estabelecendo relações entre os povos que habitavam a área na Antigui-
dade e os que habitam hoje. Veriica-se maior cuidado nas abordagens de Glaydson da
Silva no que concerne à transição da Pré-Historia para a Antiguidade.
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e diferenças. São priorizados os aspectos gerais referentes aos temas, cabendo ao docente
a utilização de material extra para a caracterização de ambas sociedades em conjunto. Há
a indicação de três pesquisas a serem realizados pelos alunos.
São apresentados tópicos para orientar o desenvolvimento dos temas pois as propostas
não possuem conteúdo suiciente para a elaboração destes. Os tópicos sugeridos são rela-
cionados à vida urbana, a servidão, a política, religião e economia de ambas as sociedades.
povo
- Fenícios: questão geográica;desenvolvimento de ciências de navegação,
comércio e artesanato, rotas marítimas,etc;
- Persas: império Persa, divisão do império em satrapias (cidades esta-
do), servidão coletiva, dualismo religioso, etc.”
Fora os tópicos de pesquisa acima, são apresentados dois excertos de Heródoto e dois
trechos da Gênesis, relacionados aos povos estudados, para análise em grupo em sala de
aula. Para aprofundar o estudo destes povos é sugerido a “bíblia on-line”.
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onde o professor deve promover a análise do código de Hamurabi e a organização de um
painel sobre o tema.
A última atividade do bimestre intitulada “As invenções na China Antiga” tem como
objetivo a organização de um caderno sobre as invenções chinesas, com a inalidade de
apontar aos alunos como estas descobertas alteraram a vida de diversos povos. Durante
três aulas o professor deve desenvolver nos alunos as competências e habilidades de
Cada assunto a ser dado em sala de aula é composto por um Texto-base e duas Situa-
ções de Aprendizagem, que juntos completam a proposta de cada bloco de aulas.
Analisando os blocos das aulas propostos para Grécia e Roma, podemos observar que
os temas são tratados supericialmente e são apenas um pouco mais aprofundados em
determinados pontos que são temas centrais propostos nas Situações de Aprendizagem.
Para a Grécia temos um Texto-base que resume (muito) a História da Grécia Antiga.
Esse resumo é feito desde o desenvolvimento da sociedade micênica até uma peque-
na menção de Alexandre, o Grande. Neste texto, os séculos são resumidos em poucas
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Porém, é dada maior ênfase a alguns temas que estão presentes nas Situações de Apren-
dizagem. Na história grega é dada maior importância para a formação da cultura e para
a comparação entre os jogos olímpicos da Grécia e da atualidade. Mesmo dando maior
importância a esses temas, alguns conceitos continuam vazios, sendo apenas mencionados
entre tantos outros assuntos que o professor necessita abordar.
Para a história romana, a maior ênfase é nas eleições e nas sete maravilhas do mun-
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do antigo. Mesmo dando ênfase a esses dois assuntos, podemos notar que a Proposta
das aulas sobre Roma Antiga é mais defasada do que sobre a Grécia Antiga, pois, em
nenhum momento há a menção da constituição de Roma, da localização e/ou da consti-
tuição geográica e cultural. Roma é tratada em dois tópicos que fazem apenas os alunos
relacionarem o passado com o presente para conseguirem compreender as relações entre
essa temporalidade. Mas, não seria muito mais importante a História do Império Ro-
mano para o mundo atual do que somente dois temas? Por isso que consideramos essa
proposta de aula bastante defasada e simplista em relação à proposta das aulas sobre a
Grécia (não que esta não seja defasada, mas, em comparação com a história de Roma, é
um pouco menos resumida.).
do trabalho camponês. Neste caso, cabe ao professor utilizar material didático comple-
Volume 4 • As Disciplinas Escolares, os Temas Transversais e o Processo de Educação
mentar para abordar os demais temas relacionados à sociedade egípcia. Essas mesmas
falhas são encontradas no estudo da Mesopotâmia, dedicado somente ao código de Ha-
murabi e a lei de Talião, não caracterizando aspectos econômicos, culturais e sociais desta
sociedade. Caracteriza-se apenas a sociedade do período de Hamurabi, mesmo assim
apenas aos escravos, delegando aos demais grupos sociais apenas três linhas:
No estudo da China Antiga, as noções de tempo e espaço não são adequadas à faixa
etária dos alunos. Não é apresentado nenhum mapa da China para localização do país
estudado pelos alunos. Ademais, a situação de aprendizagem explica toda a historia da
China, como se da Antiguidade chinesa ao período feudal houvesse passado pouco tempo.
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O texto-base para a Grécia resume, e muito, a História da Grécia Antiga. Esse resumo
é feito desde o desenvolvimento da Soceidade Micênica até uma pequena menção de Ale-
xandre, o Grande. Lendo esse texto, podemos observar que os séculos são resumidos em
poucas linhas, sendo que, se o professor utilizar esse texto em aula e não tiver clareza com
a temporalidade, poderá resultar na não-compreensão do contexto histórico pelos alunos.
Com o texto-base sobre Roma, encontramos a mesma falha, os séculos são resumidos
demasiadamente e há apenas uma menção da Grécia, quando a lenda da fundação de
Roma é relatada: “Segundo suas lendas, a cidade foi fundada pelos gêmeos Rômulo e
Remo, em 753 a.C.. Descendentes dos troianos, inimigos dos gregos, eles seriam ilhos do
deus da guerra, Marte.” (2009, p. 22). Sem a contextualização do processo histórico e sem a
clareza de que Grécia e Roma estão inseridas na mesma conjuntura, o aluno simplesmente
não compreende as ligações entre elas. Os temas são tratados tão separadamente que cau-
sam a impressão de serem histórias distintas, de tempos distintos.
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-três aulas para Antigo Egito (duas para correção de pesquisa, debate e transmissão de
conteúdo; e uma para a exibição de um documentário) ;
-uma aula para separar a sala em grupos, montar um quadro comparativo entre o Egito
e a Mesopotâmia, e a elaboração de um quadro geral.
Situação de aprendizagem 6: As atividades não são pertinentes, pois duas aulas não
são o suiciente para realização de pesquisas, correção, análise de documentos e produ-
ção de texto.
Situação de aprendizagem 3: ao se estudar a áfrica são sugeridas apenas três aulas para
A proposta para o 3º bimestre do 6º. ano é formada por dois assuntos centrais: a vida na
Grécia Antiga e a vida na Roma Antiga. Para abordar tais temas, são propostas Situações
de Aprendizagem a serem desenvolvidas e uma determinada quantidade de aulas. Dentro
dessas Situações de Aprendizagem, há um texto para o professor ter como base, o que
se espera que o aluno aprenda e há dicas de exercícios a serem desenvolvidos durante as
aulas. É neste ponto que queremos chegar: nos exercícios a serem desenvolvidos durante
a aula. Primeiro vamos reapresentar-se-á cada Situação de Aprendizagem para que sejam
analisadas mais adiante.
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Já é claro no início desse texto que a abordagem será feita por meio de Estudo Dirigido
para que o aluno desenvolva o pensamento relexivo e tenha uma análise crítica. A Propos-
ta Pedagógica, como já diz, propõe os assuntos a serem discutidos com os alunos em sala
de aula, como: a importância de mostrar que a Grécia Antiga era um conjunto de cidades
e povos espalhados por uma área extensa do Mediterrâneo; que a palavra gregos referia-se
ao povo grego, pois o termo Grécia não existia; as características comuns existentes nesse
povo; as diferenças entre os dialetos (parecidos, mas com maneiras diferentes de serem
falados em cada lugar); a religião.
O tempo previsto para tal assunto é de 3 aulas, para tratar o conteúdo referente à polis,
monarquia, aristocracia, cidades-Estado na Grécia Antiga. As Competências e Habilida-
des exigidas são a de comparar pontos de vista sobre a polis e as colônias gregas, tendo
como recursos o uso de textos. Como Avaliação, recomenda-se utilizar a pesquisa, a parti-
cipação do aluno nas aulas e a produção textual.
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derno.
O tempo previsto para essa Situação de Aprendizagem é de 4 aulas, onde podem ser
tratados os temas sobre: cidadãos gregos; Olímpia; pentatlo; Zeus; palestra; discóbolo;
mascotes; Jogos Olímpicos; Grécia e Beijing . Para Competências e Habilidades, sugere-
-se que compare os pontos de vista sobre os jogos olímpicos na Grécia Antiga e nos tem-
pos modernos, utilizando aulas expositivas com pesquisa orientada e dinâmica de grupo.
Os Recursos sugeridos são cartolina, papel Kraft, canetinhas e lápis de cores, para elaborar
cartazes para complementar a aprendizagem. A Avaliação seria feita baseada nas pesqui-
sas, participação das aulas e produção textual.
Assim, vimos que a Situação 1 compreende 3 aulas e o professor precisa, nessas 3 aulas,
dar conta de discutir pontos considerados (por quem elaborou a proposta) importantes
para a compreensão do aluno sobre a História e a importância da sociedade grega, mas
os assuntos abordados (resumidamente) no conteúdo dos textos não dão conta do que é
proposto. A mesma circunstância acontece na Situação 2, quando o professor tem 4 aulas
para abordar os assuntos propostos, avaliar e corrigir a avaliação dada.
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O tempo previsto para essa situação é de 2 aulas, onde o professor tem que abarcar te-
mas como: o cidadão romano; constituição; Senado; Assembleias populares; cônsules; edil;
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duúnviro, plebe; propaganda eleitoral. Como podemos perceber, sempre há uma relação
A Proposta Pedagógica sugere um texto sobre eleições para ser tratado em sala de aula,
o que mostra que o tema central dessas aulas sobre Roma será as eleições e o voto. Reduzir
toda a história de Roma em duas aulas sobre eleições fará com que o aluno compreenda a
importância do Império Romano para o mundo moderno?
O tempo sugerido para este tema é de 3 aulas, para tratar das Sete Maravilhas do
Mundo Antigo (Colosso de Rodes, Estátua de Zeus em Olímpia, Farol de Alexandria,
Jardins Suspensos da Babilônia, Mausoléu em Halicarnasso, Pirâmides de Gizé e Templo
de ártemis em Éfeso). Para cada maravilha do mundo há um pequeno texto (geralmente
de 10 linhas) que ajudariam o professor na preparação da aula. É proposto com estratégia
a aula expositiva, leitura de texto e dinâmica de grupo, utilizando cartolina e papel cartão.
A avaliação seria baseada nas pesquisas feitas pelos alunos, na participação das aulas e na
produção textual.
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para as avaliações, contendo propostas de perguntas, propostas de lições para os alunos
fazerem em casa, além de sugerirem temas para a recuperação e recursos para “ampliar
a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão do tema” (p. 17 e p. 21), onde
livros, sítios de internet e museus são indicados.
Analisando o Tema 2, temos exatas 5 aulas para o professor conseguir expor a história
de Roma dando ênfase aos dois temas propostos, realizar tarefas com dinâmicas de grupos
e ainda aplicar uma avaliação nos alunos. Em 5 aulas isto é impossível, pensando que em
cada aula de 50 minutos, cerca de 10 a 20 minutos são reservados para a realização da
chamada e da organização da sala de aula. O professor precisa, então, dar uma aula pouco
aprofundada e correr contra o tempo par realizar as atividades propostas.
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No tema “Os jogos olímpicos da Grécia Antiga e no mundo moderno” sugere-se que
se compare os pontos de vista sobre os jogos olímpicos na Grécia Antiga e nos tempos
modernos. No tema “As Eleições no Mundo Romano” o professor tem que abarcar temas
como: o cidadão romano, constituição, Senado, Assembleias populares e propaganda elei-
toral, fazendo comparações entre o passado e o presente.
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Conclusão
Mesmo veriicando que há inovações do material apresentado já que este se propõe a
trabalhar a História dentro da perspectiva temática, percebe-se que há alguns vícios quan-
to à abordagem. Principalmente em relação à construção cronológica do caderno. A abor-
dagem temática aplicada não respeita a transversalidade mas apenas se aplica em recortes
temáticos na abordagem das sociedades especíicas de forma cronológica e tradicional. Os
autores não fogem desta abordagem seja porque se preocupam com os “conteúdos” a serem
abordados seja porque têm que analisar a História na perspectiva linear. O que se conclui,
portanto, é que o material não foge tanto das propostas tradicionais e que a proposição da
construção de uma História pautada na problematização do presente é apenas um mote
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para iniciar a construção textual e não uma preocupação com fundamentação pedagógica.
REfERêNCIAS
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