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DD106 – Resolução/Transformação de Conflitos no Âmbito Internacional

EXERCÍCIO 1

Em um território africano, vivenciam-se três conflitos que se tornaram guerras durante o século
XX, que são descritos abaixo:

• A primeira, no início do século, entre dois países europeus A e B com interesses coloniais que
disputam o território africano.

• A segunda, nos anos de 1960 ou 1970, entre dois países africanos independentes (X e Y) devido
ao apoio de um deles (X, com o governo pró-soviético) à guerrilha que é contra o governo pró-
ocidente do país Y.

• A terceira, nos anos de 1980, entre dois grupos étnicos G (maioria no país X, que domina o
governo do país X) e H (grande maioria no país Y, quase a totalidade da população, que domina o
governo do país Y). O grupo étnico H que vive no país X luta em guerrilhas contra o exército do
país X e recebe apoios ocasionais do exército do país Y nas regiões fronteiriças.

EXERCÍCIO 2

Dois estados vizinhos mantêm uma extensa luta pelo controle de uma região fronteiriça com
grandes riquezas minerais. O conflito passou por diferentes etapas que podem ser assim
resumidas:

a) Incubação do conflito, com progressiva ruptura das relações diplomáticas.

b) Guerra de curta duração entre ambos os estados.

c) Apoio de cada estado a alianças de blocos antagônicos na Guerra Fria e ameaças de uma
guerra nuclear.

d) Atualmente, superação da ameaça nuclear e a manutenção de ações armadas em uma


situação crônica de confronto com a ajuda de cada estado a elementos insurgentes do outro.

EXERCÍCIO 3

Após uma série de longos conflitos que têm assolado o povo do Sudão nas últimas décadas, a
comunidade internacional decidiu envolver-se na transformação do conflito para aliviar o
sofrimento da população e para transformar os conflitos a fim de alcançar a paz duradoura.

EXERCÍCIO 4

Johan Galtung faz referência, em um de seus livros (Galtung, J. (2004). Trascender y transformar:
Una introducción al trabajo de conflictos, Quimera, México.), à Bula Papal de 1493 na qual, após o
descobrimento do Novo Mundo, o Papa Alexandre VI estabelece aos Reis Católicos da Espanha e
a seus herdeiros que convertam os habitantes para a fé católica:

Todos os direitos, jurisdições e pertences, todas as ilhas e os continentes, encontradas e por


encontrar, descobertas e por descobrir.

1
• Nós assinalamos a vocês senhores delas com poder completo e livre e jurisdição de todo tipo
(grifo do autor).

• Permita que ninguém, portanto, viole, ou com atrevimento impetuoso, infrinja esta nossa
recomendação, exortação, requisição, obséquio. Concessão, assinatura, constituição, delegação,
decreto, mandato, proibição e vontade. Se qualquer pessoa tentar importunar o anterior, que saiba
muito bem que irá incorrer na ira de Deus Todo-Poderoso e dos bem-aventurados apóstolos Pedro
e Paulo”.

À evidência histórica imperialista o autor contrapõe (embora reconheça a utopia de imaginá-lo na


época) outra possível mensagem mais pacífica e não violenta:

“Nós, Alexandre VI, servo dos servos do Deus Cristão, para os Reis Católicos de Castela, Leão,
Aragão e Granada:

Nos foi dado um presente admirável: viajar de barco, guiados pelas estrelas Todo-poderosas,
através de vastos oceanos a ilhas e a diferentes continentes distantes das nossas de Europa, e
além de tudo, habitados por pessoas diferentes de nós da Europa.

Obrigado ao nosso Deus Pai e Mãe, ao Filho e ao Espírito Santo por esta maravilhosa
oportunidade que nos foi dada de sermos enriquecidos pelo encontro com os Outros,
estabelecendo conexão com eles, celebrando a diversidade de nós, os seres humanos, de nossos
amados animais e plantas, dos mares e das costas e montanhas sob o céu magnífico, iluminado
pelo Deus Sol. Precisaremos aprender com suas Verdades, sobre como elas veem ao mundo e de
todos os milagres que nela habitam. Vamos oferecer-lhes nossas Verdades para que eles as
provem e as possam julgar por seus próprios julgamentos. E, juntos, deveremos avançar adiante,
espiritualmente, materialmente, aprendendo uns com os outros através da palavra, dia logos,
através da troca de nossos produtos. Que maravilhosa oportunidade e desafio para que todos
possamos explorar verdades mais profundas do que qualquer segmento isolado da humanidade
poderia desenvolver sozinho.

Nós, Alexandre VI, servo dos servos do Deus Cristão, encomendamos a vocês, Reis de Castela,
Leão, Aragão e Granada que:

• Abordem essas pessoas...

descobertas por nós e ainda por serem descobertas, com profunda humildade e respeito ... nunca
impondo, por qualquer tipo de poder, por força ou ameaça de força, por obséquios ou promessas
de obséquios ..., mas nos conectamos com eles em trocas amistosas guiadas pela reciprocidade,
se assim for do desejo deles. Se não for, deixem-nos em paz, digam lhes onde vocês podem ser
encontrados se eles vierem a mudar de ideia. E vocês podem perguntar-lhes o que poderia fazê-
los mudar de parecer, para compreender as razões pelas quais não nos querem levar como nós
queremos levá-los.

2
• Aprendam com essas pessoas...

nos foi dado o entendimento de que vivem em paz, caminham desnudos e que não comem carne.
Tratem de aprender com eles o conhecimento e a sabedoria que lhes têm guiado a uma vida em
paz, tão tristemente estranhada em nossa parte do mundo. Relaciona-se de algum modo com os
outros dois pontos? Peçam a eles humildemente que sejam nossos mestres na difícil arte da
harmonia.

• Não construam nunca...

nenhuma torre fortificada ou guarnição, mas peça permissão para viver entre eles, a seu próprio
risco, e não ao do deles.

• Vocês expulsaram os sarracenos …

muçulmanos, porque eles haviam ocupado ilegalmente sua terra, e os judeus mouriscos também.
Eu lhes encomendo que convidem novamente os muçulmanos e os judeus que desejam regressar
para que se estabeleçam em suas terras, para que lhes enriqueçam ao terem ideias diferentes à
mensagem do Livro Sagrado e para continuarem os diálogos maravilhosos entre as religiões
abraâmicas, em Alhambra, em Granada, com a esperança de alcançar uma maior e mais profunda
compreensão da Criação que nos une a todos”.

Instruções para o desenvolvimento da atividade

I. Após estudar o caso descrito, responda às seguintes perguntas:

Depois de ler o exercício 1, indique as diferenças fundamentais que certamente


seriam encontradas entre as três guerras quanto aos objetivos das partes
envolvidas, à duração, às suas fases e às vítimas do conflito armado.

Segundo aponta (Funiber,2023 p.7) “o interesse associado à finalidade de


alcançar objetivos específicos relacionados à outra parte (por exemplo, conseguir uma
parte do território do oponente, obter a liberdade de explorar recursos, proteger-se contra
ataques ou controlar recursos, aumentar o poder de influência, etc.)

Podemos mencionar que até o final da década de 80, existiam na África treze
conflitos regionais (Angola, Etiópia, Libéria, Sudão, Chade, entre outros). Um ano depois,
esse número diminuiu para seis, diante dos altos custos de sua manutenção. Com o
relaxamento das tensões EUA-URSS (distensão), os países africanos também deixaram
de ser o desencalhe de armas convencionais dos dois países. Entre 1984 e 1987, as
despesas militares diminuíram de 5,2% do PNB, acumulado dos países em conflito para
cerca de 4,3%. O cenário que resulta é desolador. Destruição econômica e destruição

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social, com a disseminação da fome e da epidemia da Aids.” (OLIVA, J. e GIANSANTI, R.
1995).

Considerando que o principal fator responsável pelos conflitos no continente


africano foi a divisão territorial estabelecida pelos colonizadores europeus, que não
consideraram as diferenças étnicas e culturais da população local. Esse processo
proporcionou, e ainda proporciona, uma série de conflitos entre grupos étnicos rivais.

Considerando (Funiber,2023 p.8-9) as variedades de causas:

● As percepções;

● O território;

● A história;

● A economia;

● A falta de democracia;

● As questões étnicas;

● As questões ambientais;

● O militarismo;

● A pobreza.

Considerando objetivos dos envolvidos:1º guerra: conflitos por territórios, 2º


guerra: conflitos políticos, 3º guerra: conflitos étnicos entre governos e povos também por
territórios.

Enquanto à duração e fases:1º guerra: Início do século XX - fase de disputas


apenas por território, 2º guerra: entre os anos 60 e 70 - fase de luta, poder e domínio de
terras, 3º guerra: início dos anos 90 - luta entre grupos étnicos que submetem os
governos.

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Quanto às vítimas:1º guerra: povo africano, 2º guerra: governos africanos e seus
povos, 3º guerra: grupo étnicos dos países envolvidos.

Sobre o exercício 2, indique a provável sequência de esquemas de preferência dos


dois grupos e qual seria, consequentemente, a estratégia fundamental que um
mediador deveria adotar.

Considerando a mediação, na prática, assemelha-se em muitos aspectos ao


processo de negociação e, desse modo, em alguns casos, torna-se difícil distinguir um
método do outro. Tendo em mente as discussões elencadas nesse estudo acerca da
negociação, exemplifica-se o modelo de mediação de Coleman/Raider para que se possa
compreender as fases iniciais para implementação de uma mediação na resolução de
conflitos e, em contrapartida, perceber o quão perto esse processo se encontra, em
termos práticos, do mecanismo da negociação (RAIDER; COLEMAN; GERSON, 2006:
715).

Podemos citar o Modelo de mediação de Coleman/Raider.

Fase 1: Configuração Fase 2: Identificar os Fase 3: Facilitar o Fase 4: Chegar a um


da mediação. problemas. IOU (Informing, acordo.
Opening, and Uniting)

e resolução de
problemas.

1. Estabelece-se o 1. Ouvir cada lado, 1. Ajudá-los a 1. Os disputantes


local um de cada vez, negociar diretamente confirmam a
sondando suas compreensão
(informando, abrindo
necessidades e unindo). dos compromissos
prioritárias básicas futuros um para com
(abertura) o outro.

2. Entrega-se uma 2. Reformular (união). 2. Manter o 2. Redação do


declaração de reenquadramento acordo, se for o caso.
abertura. (união).

M 3.Priorizar as 3. Esclarecer 3. Fecha-se a


questões. hipóteses (questões mediação.
D D
culturais).

M 4. Debater soluções M

5
alternativas (unir).

D D D D

D D

Nesse modelo, o processo de mediação se constitui em quatro fases,


paralelamente, semelhantes às etapas da negociação: 1) Na fase inicial, tem-se a criação
da mediação; 2) Na segunda fase são identificadas as questões contestadas pelas
partes; 3) No estágio seguinte, os mediadores atuam para facilitar as informações,
abrindo e reunindo os comportamentos divergentes dos conflitantes, os chamados (IOU),
para que se possam encontrar soluções para os problemas; 4) Na fase final, em
decorrência do trabalho realizado pelos mediadores, os disputantes compreendem
mutuamente a necessidade de resolverem o conflito e concordam com o estabelecimento
de um acordo, fechando-se o ciclo da mediação (RAIDER; COLEMAN; GERSON, 2006:
715). Nesse viés, podemos mencionar que, na prática, o modelo poderá ser utilizado
com mais características exemplificadas.

Nessa direção, mesmo que o mediador busque um posicionamento imparcial ao


processo de mediação, o sucesso das negociações depende necessariamente de certo
envolvimento dessa terceira parte, para que, desse modo, estabelece-se implicitamente
certo grau de dependência entre os conflitantes e o mediador, o que por sua vez, o
possibilitaria uma situação na qual ele poderia angariar concessões de um ou de ambos
os lados, para a resolução do conflito (ZARTMAN; TOUVAL, 2007: 439)

Ainda a pontuar a sequência estratégica abaixo:

1) Defrauda – somente um coopera.


2) Defrauda – nenhum coopera.
3) Defrauda – nenhum coopera.
4) Coopera – ambos cooperam.

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Seguindo as estratégias de intervenção em conflitos utilizadas pelo sistema das
Nações Unidas, elabore um modelo de intervenção internacional no Sudão que vise
superar os vários conflitos mencionados no exercício 3 e busque a reconciliação
das partes em conflito.

Podemos mencionar o modelo das Nações Unidas, dentre eles, estão a


diplomacia preventiva, manutenção da paz, (peacekeeping), estabelecimento da paz
(peacemaking) e construção da paz (peacebuilding), que os grupos poderiam ter
adotado.

Podemos citar que o método seria à prevenção do conflito, identificar a natureza


do conflito, causas e fases, utilização de mecanismos e consequentemente contribuirão
para a gestão não violenta do conflito.

Trazendo para articulação não violenta. Funiber,2023, p.75) ... frente ao


paradigma do consumismo, fortalecer o paradigma da prevenção como um conjunto de
doutrinas, sistemas e experiências que permitem evitar que os conflitos ou catástrofes
derivem em formas de violência ou mortandade massiva”.

Considerada uma extensão da negociação, a mediação se constituiu como uma

alternativa pacífica bastante utilizada para resolver conflitos. Com foco no modelo das
Nações Unidas a estratégia utilizada seria Peacekeeping.

Estratégia Problema Agentes Atividades Objetivos


Envolvidos

Peacekeeping Percepção de - Diplom. Via I. - Negociação Resolução de


incompatibilidade conflitos.
- Diplom. Via II. - Mediação
de interesses
- Facilitação

- Diálogo

- Encontros

De acordo com (Funiber, 2023, p. 71) que traz que “... recomenda medidas para o
fortalecimento dessas missões, além de sua importância como ferramenta política. Entre

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essas medidas encontram-se o desenvolvimento de mandatos mais claros, críveis e
realistas, o fortalecimento das estruturas das missões, o maior protagonismo requerido
para os civis em diferentes tarefas e a necessidade de dispersão rápida das forças de
paz”.

Depois de ler e compreender o exercício 4, indique e comente brevemente as


diferenças entre os elementos ideológicos do Papa e dos Reis Espanhóis no
século XV e os do autor contemporâneo diante da descoberta do Novo Mundo e de
seus habitantes, e as atitudes não-violentas resultantes destes elementos
ideológicos.

Nesse cenário, enfatiza-se as descrições abaixo.

“Permita que ninguém, portanto, viole, ou com atrevimento impetuoso, infrinja esta nossa
recomendação, exortação, requisição, obséquio. Concessão, assinatura, constituição,
delegação, decreto, mandato, proibição e vontade. Se qualquer pessoa tentar importunar
o anterior, que saiba muito bem que irá incorrer na ira de Deus Todo-Poderoso e dos
bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo”.

“Obrigado ao nosso Deus Pai e Mãe, ao Filho e ao Espírito Santo por esta maravilhosa
oportunidade que nos foi dada de sermos enriquecidos pelo encontro com os Outros,
estabelecendo conexão com eles, celebrando a diversidade de nós, os seres humanos,
de nossos amados animais e plantas, dos mares e das costas e montanhas sob o céu
magnífico, iluminado pelo Deus Sol. Precisaremos aprender com suas Verdades, sobre
como elas veem ao mundo e de todos os milagres que nela habitam. Vamos oferecer-
lhes nossas Verdades para que eles as provem e as possam julgar por seus próprios
julgamentos. E, juntos, deveremos avançar adiante, espiritualmente, materialmente,
aprendendo uns com os outros através da palavra, dia logos, através da troca de nossos
produtos. Que maravilhosa oportunidade e desafio para que todos possamos explorar
verdades mais profundas do que qualquer segmento isolado da humanidade poderia
desenvolver sozinho”.

Considerando que ambas têm cunho religioso, trazer luz uma ideologia de mero
poder religioso, transmite uma mensagem não-violenta, bem como modela seu discurso,
transmitindo acordos, leis e decretos de forma clara. Possibilitando contato e articulação
diante das descobertas.

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Também sobre o exercício 4, expresse e justifique a sua opinião sobre as
possibilidades reais de aplicação das recomendações da "bula" que Galtung
imagina se a atitude dos índios for pacífica ou se for de rejeição violenta. Quais
seriam as chaves da estratégia adequada em cada caso para cumprir com as
recomendações?

Neste viés aponta-se que “Todos os direitos, jurisdições e pertences, todas as ilhas e
os continentes, encontradas e por encontrar, descobertas e por descobrir”.

Aponta (Funiber, 2023, p.102) “os estudos sobre paz e conflitos: estudos empíricos
sobre a paz, estudos críticos sobre a paz e estudos construtivistas sobre a paz”.

Pode-se mencionar que seria necessário estudar a realidade do sujeito, sua cultura,
seus hábitos, entre outros aspectos, assim vislumbrar e conceituar estratégias, aplicar a
comunicação não violenta é fundamental, para a paz.

REFERÊNCIA

APOSTILA VI. Fundação Universitária Iberoamericana. (2023) –


Resolução/Transformação de Conflitos no Âmbito Internacional.

Adaptado de Coleman Raider Mediation Model. In: DEUTSCH, Morton; COLEMAN,


Peter T.; MARCUS, Eric C.The Handbook of Conflict Resolution: theory and practice,
2006: 715.

OLIVA, J. e GIANSANTI, R. Espaço e modernidade: temas da geografia mundial. São


Paulo: Atual, 1995).

ZARTMAN, I. William; TOUVAL, Saadia. International Mediation. In: CROCKER, Chester


A.; HAMPSON, Fen Osler; AALL, Pamela R. (eds.). Leashing The Dogs of War.
Washington: United States Institute of Peace, 2007.

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