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PANORAMA DOS MEIOS DE PROVA NO NOVO CPC

RENATO PESSOA MANUCCI


Procurador Jurídico da Câmara Municipal de Bragança Paulista
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Especialista em Direito Civil e Processo Civil pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Professor Tutor do curso de Pós-Graduação em Direito Processual Civil da Estácio/CERS.
Professor Universitário
Advogado

1. Introdução. 2. Meios de prova. 3. Ata notarial. 4. Depoimento pessoal. 5.


Confissão. 6. Exibição de documento ou coisa. 7. Prova documental. 8. Prova
testemunhal. 9. Prova pericial. Conclusão. Referências.

1. Introdução

O Novo Código de Processo Civil (doravamente denominado tão só “NCPC” ou


“CPC de 2015”), aprovado pela Lei 13.105, de 16 de março de 2015, trata no Capítulo
XII das provas, dispondo na Seção I sobre as disposições gerais e a partir da Seção III
dos meios típicos de prova. A nova Codificação, além de aperfeiçoar os meios de prova
previstos no Código de Processo Civil vigente (doravamente denominado tão só de
“CPC vigente”), inseriu no ordenamento jurídico um novo meio típico de prova: a ata
notarial (art. 384).
A prova é direito fundamental do jurisdicionado que decorre, sobretudo, do
princípio do devido processo legal e seus consectários, merecendo especial atenção do
intérprete e aplicador do Direito. Com base nessa premissa, deve-se buscar a máxima
efetividade das disposições relativas à prova à luz dos princípios do contraditório, da
ampla defesa e da cooperação, que norteiam toda a novel legislação.
Nesse cenário, com o presente estudo pretendeu-se contribuir para a efetividade
das novas disposições processuais, sem esgotar o tema, valendo-se sempre que possível
da interpretação sistemática e histórica, além da principiologia inerente ao NCPC,
imprescindíveis para uma primeira e perfunctória análise.
Outrossim, limitar-se-á o estudo às principais inovações e modificações
operadas pelo novo Estatuto Processual Civil em relação aos meios legais de prova,
notadamente a ata notarial, o depoimento pessoal e a confissão, bem como as provas
documental, testemunhal e pericial. O único meio de prova não abordado foi a inspeção
judicial, que praticamente não sofreu modificações substanciais com o advento do
NCPC.

2. Meios de prova

Meios de prova são as fontes de onde os elementos probatórios derivam,


prevendo a nossa legislação que são admissíveis quaisquer meios legais ou moralmente
legítimos, ainda que não especificados no CPC. Não há dúvidas, portanto, que o rol de
meios de prova disciplinado pela Codificação é meramente exemplificativo. Nesse
sentido, o art. 369 do NCPC é taxativo ao determinar que “as partes têm o direito de
empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou
a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”.
Consagrou-se, pois, a liberdade dos meios de prova, donde se conclui que
existem meios típicos e atípicos de prova: aqueles contam com procedimento próprio
discriminado no CPC, a exemplo da prova pericial, documental, testemunhal, da
inspeção judicial, da confissão e do depoimento pessoal; estes, meios atípicos, não têm
procedimento próprio especificado em lei. Em síntese, “são provas atípicas
(inominadas), pois, com elas, se busca ‘a obtenção de conhecimentos sobre fatos por
formas diversas daquela prevista na lei para as provas chamadas típicas’. E a ausência
de disciplina legislativa exige que o juiz atente, no momento da sua produção, para os
princípios que norteiam a teoria geral da prova, sobretudo os princípios do contraditório
e da ampla defesa”1.
Interessam-nos, neste momento, os meios legais ou típicos de prova, os quais
serão objeto da abordagem dos próximos tópicos.

3. Ata notarial

No campo probatório, a maior inovação do NCPC foi a instituição um novo


meio de prova: a ata notarial. Reza, a propósito, o art. 384, caput do referido diploma
legal que “a existência e o modo de existir de algum fato podem ser atestados ou
documentados, a requerimento do interessado, mediante ata lavrada por tabelião”. Ata
notarial, destarte, é o instrumento público lavrado pelo Tabelião de Notas no qual se
atesta a existência ou o modo de existir de certo e determinado fato jurídico.
Trata-se de um dos poucos meios de prova cuja produção se realiza longe da
presença do magistrado, o que reforça a tese de que, com a nova legislação, o juiz não é
o destinatário exclusivo da prova. Nesse sentido, prescreve o Enunciado 50 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis que “os destinatários da prova são aqueles que dela
poderão fazer uso, sejam juízes, partes ou demais interessados, não sendo a única
função influir eficazmente na convicção do juiz”.
Não obstante, na vigência do atual diploma processual, a ata notarial era um
meio atípico de prova, decorrendo sua admissibilidade da cláusula geral do art. 332, o
qual faculta às partes a utilização de todo e qualquer meio prova moralmente legítimo.
Aliás, comentando o novel dispositivo legal, Cássio Scarpinella Bueno lembra que “é
medida [ata notarial] que já vem sendo empregada com frequência no dia a dia do foro
e, tornando-se, como o novo CPC, meio de prova típico, tenderá a ser utilizada ainda
mais”2.

1
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito
Processual Civil. Vol. 02: Teoria da Prova, Direito Probatório, Ações Probatórias, Decisão,
Precedente, Coisa Julgada e Antecipação de Tutela. 9ª ed. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 51.
2
BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p.
279.
Na prática, portanto, a ata notarial tinha sua admissibilidade como meio de prova
fundada no art. 332 do CPC vigente, complementado pelo art. 7º, inciso III, da Lei
8.935, de 18 de novembro de 1994, que regulamenta o art. 236 da Constituição Federal,
dispondo sobre serviços notariais e de registro (Lei dos Cartórios), que atribui aos
tabeliães competência para, com exclusividade, lavrar atas notariais. O CPC de 2015
complementa dispondo no parágrafo único do art. 384 que “dados representados por
imagem ou som gravados em arquivos eletrônicos poderão constar da ata notarial”.
A inovação é salutar e digna de aplausos, sobretudo porque facilita a
documentação de fatos que, dadas as características do meio digital, tendem a
desaparecer com mais facilidade.

4. Depoimento pessoal

O NCPC manteve o depoimento pessoal como espécie de meio típico de prova


(arts. 385 a 388), introduzindo pequenas modificações que não tiveram o condão de
desnaturar o instituto; na verdade, adequou-se a produção da prova às novas
tecnologias.
Vale lembrar que o depoimento pessoal “é o meio de prova destinado a realizar
o interrogatório da parte, no curso do processo”3, requerido pela parte contrária com o
escopo de obter a confissão do depoente. Quando determinado de ofício pelo
magistrado, fala-se em interrogatório, que não tem o condão de gerar confissão ficta.
O novo Estatuto processual reproduziu esta sistemática ao consignar no art. 139,
inciso VIII que incumbe ao juiz, na condução do processo, “determinar, a qualquer
tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa,
hipótese em que não incidirá a pena de confesso”. Sem embargo de eventuais
divergências, o ideal seria a separação de depoimento pessoal e interrogatório como
meios de provas distintos, o que não foi acolhido pela legislação.
Substancialmente, portanto, nada mudou. Sob o aspecto formal, digna de
destaque foi a modificação inserida pelo § 3º do art. 385 que, inspirado na legislação
processual penal, admitiu a colheita do depoimento pessoal por videoconferência ou

3
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 01: Teoria Geral do
Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 1461.
outro recurso tecnológico semelhante, dispondo in verbis: “o depoimento pessoal da
parte que residir em comarca, seção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita
o processo poderá ser colhido por meio de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, o que poderá ocorrer,
inclusive, durante a realização da audiência de instrução e julgamento”.

5. Confissão

Poucas foram as modificações operadas pelo CPC de 2015 em relação à


confissão, focando o legislador reformista na adequação do processo ao direito material.
O art. 389 inaugura a Seção V (“Da Confissão”) reproduzindo a norma do art. 348 do
CPC vigente, que a admite duas modalidades de confissão: judicial e extrajudicial. Por
sua vez, o art. 390, repetindo a regra do art. 349 do atual Estatuto processual, estabelece
que a confissão judicial pode ser espontânea ou provocada.
Fundado nestas disposições, Humberto Theodoro Júnior, reproduzindo a lição de
João Monteiro e Lessona, assinala que “confissão é a declaração, judicial ou
extrajudicial, provocada ou espontânea, em que um dos litigantes, capaz e com ânimo
de se obrigar, faz da verdade, integral ou parcial, dos fatos alegados pela parte contrária,
como fundamentais da ação ou da defesa”4. Vale dizer, “trata-se de uma declaração
voluntária de ciência de fato; não se trata de declaração de vontade para a produção de
determinado efeito jurídico (não é, pois, um ato negocial)”5.
O art. 391 do NCPC, que corresponde ao art. 350 do CPC vigente, aborda os
efeitos da confissão em relação aos litisconsortes. A norma está em consonância com as
regras de tratamento dos litisconsortes, valendo lembrar que, tratando-se de
litisconsórcio necessário, a confissão somente produz efeitos se todos os litisconsortes a
praticarem; no simples, de outro lado, a confissão é eficaz apenas em relação ao
confitente.

4
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 01: Teoria Geral do
Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 1468.
5
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol.: 02: Teoria da Prova, Direito Probatório,
Ações Probatórias, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e Antecipação dos Efeitos da Tutela. 14ª ed.
Salvador: Juspodivm, 2014, p. 128.
Acrescenta o parágrafo único do dispositivo em comento que “nas ações que
versarem sobre bens imóveis ou direitos reais sobre imóveis alheios, a confissão de um
cônjuge ou companheiro não valerá sem a do outro, salvo se o regime de casamento for
o de separação absoluta de bens”. Verifica-se, portanto, que, em se tratando de litígio
envolvendo bens imóveis ou direitos reais sobre imóveis alheios, a confissão somente
terá eficácia caso seja realizada em conjunto por ambos os consortes. Nesse ponto, o
CPC de 2015 ao ressalvar de sua incidência o casamento realizado sob o regime da
separação absoluta de bens, alinha o processo aos ditames do art. 1.647 do Código Civil
(doravemente denominado tão só “CC”).
De resto, outra inovação com idêntica finalidade operou-se no art. 393 do
NCPC, que reproduziu, parcialmente, as disposições do art. 352 do CPC vigente, o qual
fala, impropriamente, em revogação da confissão. Na doutrina, vale conferir o
pensamento de Humberto Theodoro Júnior:

Corolário dessa plena eficácia da confissão é a sua irretratabilidade, que


decorre de uma verdadeira preclusão processual: uma vez proferida, a
confissão não mais se retrata.
[…] Há no texto da lei processual uma impropriedade de linguagem quando
fala em ‘revogar’ a confissão. O caso é de anulação e não de revogação, já
que se trata de desconstituir ato contaminado por vício de consentimento. O
Código Civil, ao tratar do mesmo tema, corrigiu o equívoco terminológico.
Seu art. 214 dispõe, com mais precisão que, quando decorre de erro de fato
ou de coação, a confissão ‘pode ser anulada’.”6.

Corrigindo a falta de técnica da legislação processual em vigor, o caput do novel


comando legal (art. 393) prescreveu que “a confissão é irrevogável, mas pode ser
anulada se decorreu de erro de fato ou de coação”. Destarte, a nova Codificação,
acolhendo as críticas doutrinárias, harmoniza as disposições processuais e materiais,
reproduzindo ipsis litteris o comando do art. 214 do CC.

6. Exibição de documento ou coisa

Em tema de exibição de documento ou coisa, a nova Codificação praticamente


repetiu as mesmas disposições positivadas no CPC vigente; extinguiu, todavia, todos os

6
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 01: Teoria Geral do
Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p.
1473/1474.
procedimentos cautelares específicos, incluindo àqueles vocacionados à produção de
provas, como a exibição de documento ou coisa e a produção antecipada de provas.
Portanto, no novo Estatuto processual, só existe exibição incidental como meio de
prova.
Ademais, o NCPC preocupou-se com a efetividade da exibição de documento ou
coisa, prevendo no parágrafo único do art. 403 que “se o terceiro descumprir a ordem, o
juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, sem
prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa e outras
medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar a efetivação da decisão”.
Na vigência do CPC vigente, o STJ consagrou entendimento, que não foi
reproduzido no enunciado do comando legal acima transcrito, no sentido de que “na
ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa cominatória” (Súmula
372). Logo, com a vigência do CPC de 2015, que se verificará a partir de março de
2016, o referido posicionamento restará superado. Nesse sentido, estabelece o
Enunciado 54 do Fórum Permanente de Processualistas Civis que “fica superado o
Enunciado 372 da Súmula do STJ (‘Na ação de exibição de documentos, não cabe a
aplicação de multa cominatória’) após a entrada em vigor do novo CPC, pela expressa
possibilidade de fixação de multa de natureza coercitiva na ação de exibição de
documento”.

7. Prova documental

O NCPC, sem grandes inovações e da mesma forma que o atual diploma


processual, disciplina a prova documental na Seção VII, estruturada da seguinte
maneira: Subseção I (“Da força probante dos documentos”), Subseção II (“Da arguição
de falsidade”) e Subseção III (“Da produção da prova documental”). Acrescentou-se,
em seguida, uma Seção relativa à disciplina dos documentos eletrônicos (Seção VIII,
composta pelos arts. 439 a 441).
De acordo com a lição de Fredie Didier Jr, “o documento é a fonte da prova; é
de onde se pode extrair a informação acerca do fato ou do ato nele representado. A
prova documental é o veículo por meio do qual essa fonte vai ser levada ao processo
para análise judicial; é a ponte entre o fato e a mente do juiz”7.
Em relação à força probante dos documentos, o art. 411, inciso II, do CPC de
2015 adequou o processo às vantagens inerentes à internet, considerando autêntico o
documento cuja autoria estiver identificada por qualquer outro meio legal de
certificação, inclusive eletrônicos, nos termos da lei. A medida segue a tendência da
atualidade, havendo inclusive inúmeras certidões negativas que são obtidas tão somente
em suporte eletrônico.
De outro lado, o art. 430, que inaugura a Subseção relativa à arguição de
falsidade, em comparação com o dispositivo correspondente no CPC vigente (art. 390),
apresenta duas novidades: a) o prazo para arguição da falsidade, que no atual diploma é
de 10 (dez) dias, passou a ser de 15 (quinze) dias, contado da intimação da juntada do
documento aos autos e b) a arguição será resolvida como questão incidente e como tal
não ficará acobertada pelos efeitos da coisa julgada material, salvo quando juiz
enfrentar a arguição como questão principal na forma do inciso II do art. 198.
A alteração mencionada na letra “b” alhures motivou a inclusão das
modificações efetuadas pelo art. 430, segundo o qual “a declaração sobre a falsidade do
documento quando suscitada como questão principal, constará da parte dispositiva da
sentença e sobre ela incidirá a autoridade da coisa julgada”. Adverte, a propósito, Cássio
Scarpinella Bueno:

O dispositivo, contudo, limita-se à declaração sobre a falsidade quando


suscitada como questão principal. Neste caso, ela constará da parte
dispositiva da sentença e fará, quando esgotados ou não interpostos os
recursos cabíveis, coisa julgada material. É a proposta que constava do
Projeto da Câmara, vencedora no novo CPC, diferente, no particular, do
Projeto do Senado.
Nada é dito, contudo, sobre a coisa julgada nos casos em que a arguição de
falsidade é feita incidentalmente como expressamente permite o parágrafo
único do art. 430. Neste caso, a decisão transitará materialmente em julgado?
A opção do novo CPC parece ser a de responder negativamente à questão
afastando, com isso, ao menos para os casos em que a falsidade é
incidentalmente arguida, a novel disciplina do § 1º do art. 503.
Nesse sentido, ao menos para as hipóteses de falsidade, é correto entender
que o novo CPC acabou por preservar a chamada ‘ação declaratória
incidental’, é dizer: cabe ao interessado, ao arguir a falsidade, requerer que
ela seja decidida de forma principal, formulando, assim, novo pedido ao

7
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 02: Teoria da Prova, Direito Probatório,
Ações Probatórias, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e Antecipação dos Efeitos da Tutela. 14ª ed.
Salvador: Juspodivm, 2014, p. 151.
8
Dispõe o inciso II do art. 19 do NCPC que o interesse do autor pode limitar-se à declaração “da
autenticidade ou da falsidade de documento”.
longo do processo, com fundamento no art. 19, II, e consoante autoriza o
parágrafo único do art. 430. Sem que tome esta iniciativa, o magistrado
apreciará a falsidade documental, mas não haverá sobre ela, no sentido
técnico, decisão apta a transitar em julgado materialmente. Tratar-se-á, neste
sentido (e a exemplo do que ocorre de forma generalizada no novo CPC), de
mera solução incidental da questão. Essa interpretação encontra eco no inciso
III do art. 436, que se refere expressamente à hipótese, indicando poder haver
ou não o incidente de arguição de falsidade’.”9.

Quanto à produção da prova documental, o art. 434 reproduziu em seu caput a


regra de que incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os
documentos destinados a prova de suas alegações, inovando ao prever no parágrafo
único que “quando o documento consistir em reprodução cinematográfica ou
fonográfica, a parte deverá trazê-lo nos termos do caput, mas sua exposição será
realizada em audiência, intimando-se previamente as partes”.
Outrossim, o art. 435, após repetir em seu caput a norma do art. 397 do CPC
vigente, excepciona no parágrafo único a regra constante do art. 434, privilegiando a
busca da verdade real em detrimento da verdade formal. Assim, prescreveu o referido
comando normativo que “admite-se também a juntada posterior de documentos
formados após a petição inicial ou a contestação, bem como dos que se tornaram
conhecidos, acessíveis ou disponíveis após esses atos, cabendo à parte que os produzir
comprovar o motivo que a impediu de juntá-los anteriormente e incumbindo ao juiz, em
qualquer caso, avaliar a conduta da parte de acordo com o art. 5º”.
Não obstante, a referida regra poderá fundamentar a aceitação de prova
documental não produzida no momento adequado, incumbindo ao magistrado valorá-la
à luz da boa-fé processual inerente ao comportamento das partes. Assim, alinha-se à
tendência de valorização da verdade real no processo civil.
O art. 437 cuida do contraditório na produção da prova documental, dispondo no
caput que o réu manifestar-se-á na contestação sobre os documentos anexados à inicial,
enquanto o autor se manifestará na réplica sobre os documentos apresentados na
contestação. Acrescenta o § 1º que “sempre que uma das partes requerer a juntada de
documento aos autos, o juiz ouvirá, a seu respeito, a outra parte, que disporá do prazo de
15 (quinze) dias para adotar qualquer das posturas indicadas no art. 43610”.

9
BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p.
297/298.
10
O art. 436 arrola as atitudes da parte diante da juntada de novos documentos aos autos. Nos moldes do
dispositivo, a parte, intimada a falar sobre documento constante dos autos, poderá: I. impugnar a
admissibilidade da prova documental; II. Impugnar sua autenticidade; III. Suscitar sua falsidade, com ou
sem deflagração do incidente de arguição de falsidade; IV. Manifestar-se sobre seu conteúdo.
O § 2º do art. 437 prescreve que “poderá o juiz, a requerimento da parte, dilatar
o prazo para manifestação sobre a prova documental produzida, levando em
consideração a quantidade e a complexidade da documentação”. Em que pese a
literalidade, o novel comando legal deve ser interpretado sistematicamente,
especialmente porque o art. 139, inciso VI, permite ao magistrado ampliar os prazos
para manifestação das partes quando a quantidade e/ou a complexidade de documentos
puder inviabilizar o exercício do contraditório. Logo, “o juiz pode, de ofício, dilatar o
prazo para a parte se manifestar sobre a prova documental produzida” (Enunciado 107
do Fórum Permanente de Processualistas Civis).
As disposições são fruto do princípio da adequação do processo, que é um
consectário do princípio do devido processo legal, constituindo importante instrumento
para garantir a efetividade da tutela jurisdicional. Com efeito, “a dinâmica da vida social
é, sem dúvida, muito mais rápida do que a técnica legislativa, sendo necessário
reconhecer ao magistrado um poder de adequação do procedimento às peculiaridades do
caso concreto, algo semelhante ao vetor interpretativo adotado pela codificação civil, a
operabilidade”11.
Sobre o princípio, vale lembrar ainda as lições de Fredie Didier Júnior, para
quem:

Nada impede que se possa previamente conferir ao magistrado, como diretor


do processo, poderes para conformar o procedimento às peculiaridades do
caso concreto, tudo como meio de mais bem tutelar o direito material.
Também se deve permitir ao magistrado que corrija o procedimento que se
revele inconstitucional, por ferir um direito fundamental processual, como o
contraditório (se um procedimento não previr o contraditório, deve o
magistrado determiná-lo, até mesmo de ex officio, como forma de efetivação
desse direito fundamental). Eis que aparece o princípio da adaptabilidade,
elasticidade ou adequação judicial do procedimento: cabe ao órgão
jurisdicional prosseguir na empresa da adequação do processo, iniciada pelo
legislador, mas que, em razão da natural abstração do texto normativo, pode
ignorar peculiaridades de situações concretas somente constatáveis caso a
caso.12.

Por fim, os arts. 439 a 441, de forma inédita, tratam dos documentos eletrônicos.
O primeiro dispositivo assegura que “a utilização de documentos eletrônicos no
processo convencional dependerá de sua conversão à forma impressa e da verificação de

11
MANUCCI, Renato Pessoa. Aspectos controvertidos da repercussão geral no recurso extraordinário.
Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2358, 15 dez. 2009. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/14023>. Acesso em: 15 out. 2013.
12
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 1: Introdução ao Direito Processual
Civil e Processo de Conhecimento. 14ª ed. Salvador: Juspodivm, 2012, op. cit. p. 82.
sua autenticidade, na forma da lei”. A referência a “processo convencional” indica que a
regra somente tem incidência nos processos não eletrônicos. O segundo comando, por
sua vez, estabelece que “o juiz apreciará o valor probante do documento eletrônico não
convertido, assegurado às partes o acesso ao seu teor”. Na verdade, incumbirá ao juiz
apreciar o valor probante de qualquer documento eletrônico que não preencha os
requisitos do art. 439, a exemplo da cópia de um email. O último dispositivo
complementa dispondo que “serão admitidos documentos eletrônicos produzidos e
conservados com a observância da legislação específica”. Para tanto, dever-se-á
observar os comandos do art. 11 da Lei 11.419/2006.

8. Prova testemunhal

O novo Estatuto processual aborda a prova testemunhal nos arts. 442 a 463, em
duas Subseções: Subseção I (“Da admissibilidade e do valor da prova testemunhal”) e
Subseção II (“Da produção da prova testemunhal”). Trata-se de meio de prova em que
um terceiro, que tem conhecimento dos fatos da causa, presta declarações em juízo. Em
outra palavras, “prova testemunhal é a que se obtém por meio do relato prestado, em
juízo, por pessoas que conhecem o fato litigioso”13.
O art. 442 do NCPC inaugura a disciplina da prova testemunhal reproduzindo a
ideia do art. 400, caput do CPC vigente, segundo o qual a prova testemunhal é sempre
admissível, não dispondo a lei de modo contrário. A regra, portanto, é o cabimento da
prova testemunhal, ressalvadas as disposições em contrário.
No CPC vigente, o art. 401, que veda a produção de prova testemunhal sobre
negócio jurídico cujo valor supere dez salários mínimos, é exemplo de restrição ao
cabimento deste meio de prova, constituindo resquício do sistema da prova tarifada.
Todavia, o NCPC não reproduziu a mencionada restrição ao cabimento da produção da
prova testemunhal. Tanto é verdade que a nova Codificação revogou expressamente o
art. 227 do CC, que vedava a produção de prova testemunhal acerca de negócio jurídico
cujo valor seja superior ao décuplo do salário mínimo (art. 1.072, inciso II).

13
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 01: Teoria Geral do
Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 55ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 1539.
Por outro lado, a nova legislação promoveu algumas alterações no que tange à
produção da prova testemunhal. A primeira delas operou-se na qualificação da
testemunha, prevendo o art. 450 que, no rol de testemunhas, a parte indicará, sempre
que possível, o nome, a profissão, o estado civil, a idade, o número de inscrição no
Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), o número de registro de identidade e o endereço
completo da residência e do local de trabalho da testemunha.
O § 1º do art. 453 permitiu a colheita do depoimento de testemunha residente
fora da comarca, da seção ou subseção judiciária em que tramita o feito por
videoconferência, o que tende a garantir, na prática, a razoável duração do processo.
Dessa forma, prescreveu o dispositivo que “a oitiva de testemunha que residir em
comarca, seção ou subseção judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá
ser realizada por videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão e
recepção de sons e imagens em tempo real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a
audiência de instrução e julgamento”.
Ademais, na produção da prova testemunhal, é comum que determinadas
pessoas, em razão do cargo que exercem, possuam prerrogativas especiais para a
prestação de seus depoimentos. Em relação a tais autoridades, o art. 454, além de repetir
o rol do art. 411 do CPC vigente, ampliou o seu alcance ao garantir ao Prefeito e ao
Procurador-Geral de Justiça o direito de serem inquiridos em sua residência ou onde
exercem suas funções.
O art. 455 do NCPC, por sua vez, abandonou a sistemática do CPC vigente no
que tange ao ônus inerente à intimação das testemunhas para comparecimento em juízo.
Na atual legislação, a testemunha é intimada a comparecer em juízo por intermédio do
Poder Judiciário que, para tanto, expede mandado no qual consta dia, hora e local da
prática do ato, bem como o nome das partes e a natureza da causa. A novel Codificação
transfere para o advogado da parte o ônus de proceder à intimação da testemunha,
devendo informá-la do dia, hora e local da audiência designada, sendo dispensável a
intimação do juízo.
Para tanto, o § 1º do art. 455 dispõe que a intimação será realizada por carta com
aviso de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos, com antecedência de
pelo menos três dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação
acompanhada do comprovante de recebimento. No entanto, pode a parte, não desejando
proceder à intimação formal da testemunha (aqui pouco importa o motivo),
comprometer-se a levá-la à audiência independentemente de intimação, hipótese em que
a ausência da testemunha importará presunção de desistência de sua inquirição (§ 2º).
Outrossim, a inércia na realização da intimação da testemunha acarreta os mesmos
efeitos (presunção de desistência de sua inquirição).
A intimação da testemunha realizada pelo Poder Judiciário constituir-se-á em
medida excepcional, a depender de expressa motivação que demonstre o seu cabimento
na forma do § 4º do art. 455, in verbis: “a intimação será feita pela via judicial quando: I
- for frustrada a intimação prevista no § 1o deste artigo; II - sua necessidade for
devidamente demonstrada pela parte ao juiz; III - figurar no rol de testemunhas servidor
público ou militar, hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou ao
comando do corpo em que servir; IV - a testemunha houver sido arrolada pelo
Ministério Público ou pela Defensoria Pública; V - a testemunha for uma daquelas
previstas no art. 454”.
As referidas modificações exigirão do advogado maiores cautelas, especialmente
quando a parte manifestar o desejo de conduzir a testemunha por si só. Nesse caso, é
recomendável que o advogado, na petição endereçada ao juízo para informar o
desinteresse pela intimação formal da testemunha, colha a assinatura da própria parte, a
fim de evitar responsabilidade civil por suposta perda de uma chance.
A par disso, o art. 456 do NCPC, no caput, repetiu a regra do art. 413 do CPC
vigente, estabelecendo de forma inédita no parágrafo único a possibilidade de alteração
da ordem de oitiva das testemunhas desde que haja acordo entre as partes. A
mencionada inovação não pode ser interpretada isoladamente, de modo que o juiz,
conforme as peculiaridades do caso concreto e independentemente da vontade das
partes, poderá modificar a ordem de produção dos meios de prova para adequá-los às
necessidades do conflito, por força do art. 139, inciso VI, do CPC de 2015. Novamente,
o legislador inspirou-se nos princípios da adequação do processo e da cooperação.
A nova Codificação, tratando do procedimento para a colheita do depoimento da
testemunha, abandonou o sistema presidencialista vigente no art. 416 do CPC vigente14
(acompanhando, nesse particular, a legislação processual penal – Leis 11.689/2008 3
11.690/2008). Fredie Didier Júnior, à luz das sobreditas leis, tece a seguinte crítica ao
CPC vigente: “[…] ora, se no processo penal, onde as garantias para o acusado são

14
“Art. 416. O juiz interrogará a testemunha sobre os fatos articulados, cabendo, primeiro à parte, que a
arrolou, e depois à parte contrária, formular perguntadas tendentes a esclarecer ou completar o
depoimento.
§ 1º As partes devem tratar as testemunhas com urbanidade, não lhes fazendo perguntas ou considerações
impertinentes, capciosas ou vexatórias.
§ 2º As perguntas que o juiz indeferir serão obrigatoriamente transcritas no termo, se a parte o requerer”.
observadas com ainda mais atenção, permite-se a inquirição direta pelas partes, nada
justifica que se mantenha essa formalidade obsoleta no processo civil”15.
De fato, art. 459, caput, prevê que “as perguntas serão formuladas pelas partes
diretamente à testemunha, começando pela que a arrolou, não admitindo o juiz aquelas
que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da
atividade probatória ou importarem repetição de outra já respondida”. Logo, os
advogados, membros do Ministério Público e/ou Defensores Públicos são responsáveis
pela oitiva das testemunhas, devendo tratá-las com urbanidade e evitando a formulação
de perguntas impertinentes, capciosas ou vexatórias (§ 2º).
Tal sistemática, contudo, não impede o magistrado de inquirir a testemunha
diretamente, antes ou depois da inquirição realizada pelas partes (§ 1º). Aliás, durante a
tramitação do CPC no Congresso Nacional, foi aprovado o Enunciado 156 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis, segundo o qual “não configura induzimento,
constante do art. 466, caput [art. 459, caput, na versão final aprovada e sancionada], a
utilização de técnica de arguição direta no exercício regular de direito”. Complementa o
§ 3º estabelecendo que as perguntas eventualmente indeferidas pelo magistrado serão
transcritas no termo, caso a parte o requeira. A propósito, firmou-se entendimento,
expresso no Enunciado 158 do Fórum Permanente de Processualistas Civis, no sentido
de que “constitui direito da parte a transcrição de perguntas indeferidas pelo juiz”.
O art. 461 repetiu em seu caput a disciplina do art. 418 do CPC vigente,
introduzindo dois parágrafos sem correspondente no atual Estatuto processual. O § 1º
reza que, na acareação, os acareados serão reperguntados para que expliquem os pontos
de divergência, reproduzindo-se a termo o ato de acareação. O § 2º, por outro lado,
admite a realização da acareação por videoconferência ou por outro recurso tecnológico
de transmissão de sons e imagens em tempo real.

15
DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 02: Teoria da Prova, Direito Probatório,
Ações Probatórias, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e Antecipação dos Efeitos da Tutela. 14ª ed.
Salvador: Juspodivm, 2014, p. 224/225.
9. Prova pericial

A perícia é meio de prova tendente a esclarecer fatos que demandam do julgador


conhecimentos técnicos específicos, os quais serão trazidos aos autos por intermédio de
um terceiro desinteressado: o perito. Assim, “como não se pode exigir conhecimento
pleno do juiz a respeito de todas as ciências humanas e exatas, sempre que o
esclarecimento dos fatos exigir tal espécie de conhecimento, o juízo se valerá de um
auxiliar especialista, chamado de perito”16. O NCPC promoveu inúmeras modificações
em vários aspectos da prova pericial.
A nova Codificação inaugura a Seção X (“Da prova pericial”) tratando do objeto
da prova pericial, prevendo o art. 464, caput, do NCPC, que repete a regra do art. 420
do CPC vigente, que a prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação:
 Exame: espécie de inspeção sobre coisas, pessoas ou documentos;
 Vistoria: espécie de inspeção que recai sobre bens imóveis;
 Avaliação: atividade através da qual se apuram valores de coisas, direitos ou
obrigações.
Nesse particular, o NCPC inovou ao dispor no § 2º que o juiz poderá, de ofício
ou a requerimento das partes, determinar, em substituição à perícia, a produção de prova
técnica simplificada, quando o ponto controvertido for de menor complexidade. O § 3º
esclareceu o significado da expressão “prova técnica simplificada”, assim entendida
aquela em que o juiz se limita à inquirição de especialista sobre ponto controvertido da
causa que demande especial conhecimento científico ou técnico. Importou o legislador a
experiência da Lei 9.099/95 (Juizados Especiais), que, há muito, adotava procedimento
pericial simplificado17.
Em seguida, o art. 465 estabelece o procedimento para nomeação e arguição de
impedimento/suspeição do perito. Segundo o novo comando legal (art. 465, caput e §
1º), o juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato prazo
para a entrega do laudo, incumbindo às partes, dentro do prazo de quinze dias, contados

16
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 2ª ed. São Paulo: Método,
2011, p. 464.
17
“Art. 35. Quando a prova do fato exigir, o Juiz poderá inquirir técnicos de sua confiança, permitida às
partes a apresentação de parecer técnico.
Parágrafo único. No curso da audiência, poderá o Juiz, de ofício ou a requerimento das partes, realizar
inspeção em pessoas ou coisas, ou determinar que o faça pessoa de sua confiança, que lhe relatará
informalmente o verificado”.
da intimação do despacho de nomeação do auxiliar do juízo, arguir o impedimento ou a
suspeição do perito, se for o caso; indicar assistente técnico e apresentar quesitos. De
início, verificam-se duas alterações em relação ao CPC vigente: o perito deve ter
formação específica acerca do objeto da perícia (e não necessariamente curso
universitário) e o prazo para arguição de impedimento, apresentação de assistentes
técnicos e quesitos foi ampliado (de 05 para 15 dias).
Além da forma tradicional de nomeação do perito, o art. 471, inspirado na
cooperação que orienta a nova Codificação, permite que as partes, de comum acordo,
escolham o perito, indicando-o mediante requerimento (figura denominada de perícia
consensual). Mas para tanto as partes devem ser plenamente capazes e a causa precisa
comportar solução por meio de autocomposição. Comentando o novo preceptivo legal,
Cássio Scarpinella Bueno ressalta:

Trata-se de mais um caso em que o novo CPC inova ao admitir, na prática


dos atos processuais, ampla participação (e mais que isto, inegável
protagonismo) das partes como verdadeiros condutores dos rumos do
processo, aplicando, assim, a diretriz ampla do art. 190. Este protagonismo
não impede, de qualquer sorte, o necessário (irrenunciável e inafastável)
controle judicial sobre a regularidade da prática dos atos, a começar pela
observância das exigências da hipótese de incidência do dispositivo:
capacidade das partes e se tratar de causa que admita a autocomposição
(incisos I e II do caput)18.

O § 2º do mencionado dispositivo impõe ao perito que, uma vez cientificado da


nomeação, apresente em cinco dias: a) proposta de honorários; b) currículo
acompanhado de comprovação de sua especialização e c) contatos profissionais,
notadamente endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as intimações pessoais.
Apresentada a proposta, as partes serão intimadas para, querendo, manifestarem no
prazo comum de cinco dias, após o que o juiz arbitrará o valor e intimará as partes para
os fins do art. 95 (adiantamento de honorários).
Os §§ 4º e 5º cuidam de aspectos relacionados aos honorários do perito. O
primeiro comando legal, em disposição inédita, faculta ao magistrado cindir o
pagamento dos honorários do perito em duas parcelas: uma a título de adiantamento,
consistente em 50% (cinquenta por cento) do valor devido e a remanescente ao final,
quando concluída a perícia, ou seja, depois de entregue o laudo e prestados os
esclarecimentos necessários. O § 5º, sem correspondente no CPC vigente, permite a

18
BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p.
316.
redução da remuneração quando a perícia for inconclusiva ou deficiente. Importa
registrar que em ambas as hipóteses o legislador se valeu do verbo “poderá”, indicando
que o juiz, diante das peculiaridades do caso concreto, adotará, ou não, as providências
mencionadas.
Na realização da perícia, o perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe
foi cometido, independentemente de termo de compromisso, nos termos do art. 466,
caput do NCPC (art. 422 do CPC vigente). Nesse ponto, o § 2° do referido dispositivo
legal, realçando o princípio do contraditório, impõe ao perito o dever de assegurar aos
assistentes das partes o acesso e o acompanhamento das diligências e dos exames que
realizar, com prévia comunicação, comprovada nos autos, observada a antecedência
mínima de cinco dias.
No entanto, o perito pode eventualmente ser substituído no curso do processo,
desde que presentes uma das circunstâncias elencadas no art. 468, caput do NCPC (no
CPC vigente, art. 424, caput), não havendo qualquer modificação da nova Codificação a
esse respeito. Na verdade, os § 2º e 3º inovaram ao dispor sobre o dever de restituição
das quantias eventualmente recebidas pelo perito substituído. Na forma do § 2º, o perito
substituído restituirá, no prazo de quinze dias, os valores recebidos pelo trabalho não
realizado, sob pena de ficar impedido de funcionar como perito judicial pelo prazo de
cinco anos; o § 3º previu que, não havendo a restituição voluntária (§ 2º), a parte
prejudicada poderá promover a execução contra o perito, valendo-se da decisão que
determinar a devolução do numerário. Evidentemente que tais normas somente terão
incidência quando houver o adiantamento de honorários.
Concluídos os trabalhos, o perito elabora o laudo pericial no qual apresenta
resposta aos quesitos formulados, sendo omisso o CPC vigente sobre os requisitos que
deve conter tal documento. O art. 473 do NCPC, diferentemente, elenca os elementos
que o laudo pericial deve conter, a saber: I. exposição do objeto da perícia; II. análise
técnica ou científica realizada pelo perito; III. indicação do método utilizado,
esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da
área do conhecimento da qual se originou; IV. Resposta conclusiva a todos os quesitos
formulados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público.
Além disso, o perito não pode incorrer nas vedações do § 2º, que constituem
verdadeiros requisitos negativos. Portanto, é vedado ao perito, na confecção do laudo,
ultrapassar os limites de sua designação, bem como emitir opiniões pessoais que
excedam o exame técnico ou científico objeto da perícia.
Complementa o § 1º que, no laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação
em linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas
conclusões, algo semelhante à congruência interna inerente às decisões judiciais.
Confeccionado o laudo, o perito deve, a teor do disposto no art. 477, caput do
NCPC (art. 433 do CPC vigente) protocolá-lo em juízo, observando prazo fixado pelo
magistrado, pelo menos vinte dias antes da audiência de instrução e julgamento. Não
raras vezes, entretanto, circunstâncias externas podem impedir o perito de cumprir o
prazo fixado, hipótese em que poderá o juiz conceder prorrogação pela metade do prazo
originalmente fixado, nos moldes do art. 476. A nova Codificação, como se verifica,
limitou a prorrogação à metade do prazo originalmente fixado, retirando do magistrado
a liberdade que lhe era conferida pela redação do art. 432 do CPC vigente.
Produzida a prova e assegurado o contraditório, o juiz a valorará por ocasião do
julgamento da lide, consignando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou
deixar de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo
perito (art. 479 do NCPC). Mais uma vez a nova Codificação realça o dever de
fundamentação do magistrado, que não pode se eximir de enfrentar todos os argumentos
lançados no laudo (contraditório sob o aspecto substancial).
Conclusão

Seguindo a tendência de constitucionalização, o CPC de 2015 alinha-se à diretriz


segundo a qual o direito à prova decorre do princípio constitucional do devido processo
legal e seus consectários. Com esse foco, o legislador introduziu diversas modificações
nos meios típicos de prova, embora as inovações sejam tímidas para um projeto de
Codificação.
A ata notarial talvez tenha sido a maior inovação em matéria probatória do
NCPC, medida que tende a garantir maior segurança jurídica nas relações eletrônicas,
evitando o perecimento de situações fáticas consolidadas em meio digital.
As modificações operadas nos meios legais de prova ora tiveram por objetivo a
adequação do processo aos avanços tecnológicos, a exemplo do depoimento pessoal e
da prova testemunhal; ora buscaram alinhar o processo aos ditames do direito material,
como se verificou em relação à confissão. Ademais, muitas alterações decorreram
simplesmente do novo modelo de processo adotado (cooperativo), que valoriza
sobremaneira os princípios constitucionais, em especial o do devido processo legal.
Referências

BUENO, Cássio Scarpinella. Novo Código de Processo Civil Anotado. São Paulo:
Saraiva, 2015.

DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 1: Introdução ao


Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 14ª ed. Salvador: Juspodivm,
2012.

DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso
de Direito Processual Civil. Vol. 02: Teoria da Prova, Direito Probatório, Ações
Probatórias, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e Antecipação de Tutela. 9ª ed.
Salvador: Juspodivm, 2014.

MANUCCI, Renato Pessoa. Aspectos controvertidos da repercussão geral no recurso


extraordinário. Jus Navigandi, Teresina, ano 14, n. 2358, 15 dez. 2009. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/14023>. Acesso em: 15 out. 2013.

NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 2ª ed. São
Paulo: Método, 2011,

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. 01:


Teoria Geral do Direito Processual Civil e Processo de Conhecimento. 55ª ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2014

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