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Questões controvertidas
DIREITO ADMINISTRATIVO
Resumo: Neste artigo, são examinadas diversas questões controvertidas relacionadas à obrigatoriedade de inscrição de servidor público em
Conselho Profissional, tais como o exercício ilegal de profissão e o poder de polícia dos conselhos profissionais diante das atividades
desempenhadas por servidores públicos.
I. INTRODUÇÃO
A necessidade de inscrição de servidor público em Conselho Profissional, não raro, suscita dúvidas no meio jurídico. A dúvida pode surgir
na Administração, nos Conselhos Profissionais e/ounos servidores públicos. Em regra, a controvérsia gira em torno dos seguintes pontos:
a) Necessidade de registro (e manutenção), perante os conselhos profissionais, de servidores públicos para o exercício de suas
b) Possibilidade do exercício de poder de polícia por parte dos conselhos profissionais diante das atividades realizadas por
servidores públicos, no exercício de suas competências legais; e
c) O exercício das atribuições do cargo público não pode ser considerado exercício irregular da profissão.
Desse modo, enfrentaremos no presente artigo as questões propostas, visando ao aclaramento do tema.
II. DESENVOLVIMENTO
ART. 37. A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA DE QUALQUER DOS PODERES DA UNIÃO,
DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS OBEDECERÁ AOS PRINCÍPIOS DE
À luz da legislação que regem os cargos públicos (art. 37, I e II, da Carta Magna, cumulado com a legislação específica de cada carreira e
os editais dos respectivos concursos públicos), constata-se que a questão exige que seja feita, inicialmente, a seguinte distinção:
a) Cargo público acessível a portador de diploma de qualquer curso de graduação (nível superior), nos termos da lei da
respectiva carreira e do edital do concurso público; e
b) Cargo público acessível apenas a detentores de determinada profissão regulamentada, atendidas as qualificações
profissionais previstas em lei[1] e demais disposições da lei de regência da respectiva carreira e do edital do concurso público.
Feita essa distinção, tratando-se de cargo público acessível a portador de diploma de qualquer curso de graduação (nível superior), forçoso
reconhecer que não é necessário que os servidores sejam integrantes de determinada profissão (engenheiro, biólogo, advogado, agrônomo,
médico etc), bastando apenas que possuam diploma registrado, emitido por instituição reconhecida, atendendo o nível de escolaridade exigido
por lei e no edital de abertura do concurso (superior completo). Nesse caso, não há obrigatoriedade de inscrição (e sua manutenção) em
Conselho Profissional.
Diferentemente, na segunda hipótese,a saber, de cargo público acessível apenas a detentores de determinada profissão regulamentada,
atendidas as qualificações profissionais previstas em lei (art. 5º, XIII, c/c 37, § 2º, da Constituição Federal), à luz da legislação da respectiva
carreira e do edital do concurso público, é exigido do servidor integrar determinada profissão.
Ora, é cediço que para o exercício de profissão específica, de nível superior, deve-se atender as qualificações profissionais previstas nas
respectivas leis, dentre as quais se insere o registro em conselho profissional. Com efeito, para ser engenheiro, biólogo, advogado, agrônomo,
médicoetc, é essencial estar inscrito, respectivamente, no CREA, no CRB, na OAB,no CRA, no CRM etc.
Nesses casos, repise-se, o candidato (e o servidor) só pode ser considerado integrante de determinada profissão se estiver inscrito no
respectivo conselho profissional, sob pena de, neste caso, exercer irregularmente a profissão.
Por pertinência, cito o entendimento da Advocacia-Geralda União acerca da obrigatoriedade de inscrição nos quadros da OAB dos
ocupantes dos cargos da advocacia pública federal (Advogado da União, Procurador Federal e Procurador da Fazenda
Nacional),consubstanciado na Instrução Normativa CGAU/AGU Nº 1, de 21 de junho de 2011, na medida que tais cargos são acessíveis apenas
a advogados mediante aprovação em concurso público de provas e títulos e, nos termos da Lei nº 8.906, de 4 de julho de 1994, somente
A respeito do exercício do poder de polícia pelos conselhos profissionais diante das atividades realizadas pelos servidores públicos, no
exercício de suas competências legais, a questão foi exaustivamente examinada pela Procuradoria-Geral Federal no Parecer Nº
21/PGF/BAC/2010. Quanto ao ponto, entendeu-se, em suma, que “... a despeito de ser servidor público, é plenamente possível a aplicação de
penalidade por Conselho ou Ordem profissional, pois tal penalidade se encontra na esfera civil da pessoa e não na esfera funcional, que, como
dito anteriormente, nela não repercute diretamente, e para que se puna administrativamente o servidor há que se obedecer os trâmites previstos
PARECER Nº 21/PGF/BAC/2010:
(...)
23. PRELIMINARMENTE, APONTO PARA UM ASPECTO FUNDAMENTAL SOBRE A QUESTÃO, QUAL SEJA, O DE
APLICAR UMA PENALIDADE IMPOSTA POR CONSELHO PROFISSIONAL A UM SERVIDOR PÚBLICO.
SE QUE O PODER DO ESTADO DE PUNIR SEUS AGENTES DEVE SER EXERCIDO QUANDO NECESSÁRIO,
25. DESTACO QUE TAL MEIO É O PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR, USADO PELA ADMINISTRAÇÃO
NÃO É UM PROCESSO DE CUNHO INQUISITÓRIO TENDO DEFINIDOS POR LEI OS PRINCÍPIOS E FASES A
26. DESTA FORMA, NÃO É POSSÍVEL SE APENAR UM SERVIDOR, SEM O COMPETENTE PROCESSO
E AMPLA DEFESA.
27. ASSIM, ALÉM DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO ART. 37, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO, PRESENTES
28. O ENTENDIMENTO DE QUE NÃO É POSSÍVEL SE APLICAR AO SERVIDOR PÚBLICO PENALIDADE SEM O
DEVIDO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR, E QUE ESTE AINDA DEVE OBEDECER AOS
(...)
29. ANTE O EXPOSTO, VEDA-SE QUALQUER PUNIÇÃO A SERVIDOR PUBLICO, MESMO QUE APENADO PELO
CONSELHO PROFISSIONAL, SEM O DEVIDO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR SOB A
30. ALÉM DISSO, HÁ QUE SE NOTAR QUE A APLICAÇÃO DE PENALIDADE POR CONSELHO OU ORDEM
PROFISSIONAL TEM CARÁTER EMINENTEMENTE CIVIL, QUE NÃO REFLETIRÁ A PRINCÍPIO, NA ESFERA
FUNCIONAL, DESSA FEITA, IMPÕE-SE LEMBRAR A INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS CIVIL (ONDE SE
CÓDIGOCIVIL BRASILEIRO.
31. SE TAL NÃO BASTASSE, A LEI N° 8.112/90, NO SEU ARTIGO 126, REZA:
(...)
33. DIANTE DE TAIS FATOS, RESSALTO QUE A DESPEITO DE SER SERVIDOR PÚBLICO É PLENAMENTE
POSSÍVEL A APLICAÇÃO DE PENALIDADE POR CONSELHO OU ORDEM PROFISSIONAL, POIS TAL
PENALIDADE SE ENCONTRA NA ESFERA CIVIL DA PESSOA E NÃO NA ESFERA FUNCIONAL, QUE COMO, DITO
FINALIDADE.
Destarte, na esteira desse entendimento, entende-se que, em regra, é possível a aplicação de penalidade por conselho ou ordem
profissional, contudo a sua repercussão na esfera funcional, com eventual aplicação de penalidade disciplinar (natureza administrativa), somente
será possível após regular processo administrativo disciplinar, assegurando-se ao servidor o exercício do contrário e da ampla defesa.
Tal possibilidade somente é afastada em caso de previsão legal expressa em sentido diverso, como ocorre em relação ao integrantes das
carreiras de advogado da União, procurador da Fazenda Nacional e procurador Federal. Com efeito, quanto a estes, por expressa determinação
legal, preconizada no art. 75 da MedidaProvisória n° 2.229-43, de 6 de setembro de 2001, quaisquer faltas funcionaispraticadas no exercício de
suas atribuições específicas, institucionais e legais serão apuradasexclusivamente perante a Advocacia-Geral da União, afastando-se, pois, no
ponto, o poder de polícia da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB. Eis, in verbis, o disposto no art. 75, caput, da Medida Provisória nº 2.229-43,
de 2001:
NORMAS, INCLUSIVE DISCIPLINARES, DA LEI ORGÂNICA DA INSTITUIÇÃO E DOS ATOS LEGISLATIVOS QUE,
NO PARTICULAR, A COMPLEMENTEM.
(Grifei)
ÂMBITO DA INSTITUIÇÃO.
(Grifei)
III. CONCLUSÃO
Portanto, conclui-se no sentido de que é exigível do servidor público a inscrição em conselho profissional apenas quando, da análise da
legislação de regência e do edital do respectivo concurso, ou ainda das atribuições legais do cargo (art. 37, I e II, da Constituição Federal),
resultar a constatação de que o cargo público é acessível somente a detentores de determinada profissão regulamentada, atendidas as
qualificações profissionais previstas em lei (art. 5º, XIII, c/c 37, I e II, da Lei Maior.
Nos casos em que a inscrição em conselho profissional não for exigível (nos termos precedentes), o exercício das atribuições legais do
Por derradeiro, nas hipóteses em que a inscrição é obrigatória, o poder de polícia dos conselhos profissionais pode alcançar os atos
praticados pelos servidores públicos, no exercício das atribuições legais dos respectivos cargos,salvo disposição legal expressa em sentido
contrário. Eventual penalidade aplicada por conselho ou ordem profissional, contudo, não repercute automaticamente na esfera funcional, na
medida em que a aplicação de qualquer penalidade pela Administração Pública depende de regular processo administrativo disciplinar,
NOTAS:
[1] Art. 5º. omissis
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
[2]Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos
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Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da
seguinte forma: APOLIANO, Ellen Linhares Guimarães. A obrigatoriedade de inscrição de servidor público em Conselho Profissional. Questões controvertidas
Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 13 jan 2015, 04:45. Disponivel em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/42931/a-obrigatoriedade-de-inscricao-de-