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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 115.768 - SP (1996/0077205-3)

RELATOR : MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS


RECORRENTE : ENICE POL DESTRI VILLARI
ADVOGADO : CELSO ALVES FEITOSA E OUTROS
RECORRIDO : MAURO DESTRI VILLARI E OUTRO
ADVOGADO : LAERTE JOSÉ MAGUETA E OUTRO
EMENTA

AÇÃO DE ANULAÇÃO. VENDA EM FRAUDE À LEI. DOAÇÃO.


PRESCRIÇÃO.
- A ação para desconstituir negócio realizado em fraude à lei prescreve em vinte
anos (CC/1916, art. 177).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do
recurso especial. Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Castro Filho e Antônio
de Pádua Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, ocasionalmente, a Sra.
Ministra Nancy Andrighi.
Brasília (DF), 19 de fevereiro de 2004 (Data do Julgamento).

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 115.768 - SP (1996/0077205-3)

RELATÓRIO

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS: Mauro Destri


Villari e litisconsorte, herdeiros do "de cujus", interpuseram ação, rotulada de anulação de ato
jurídico, contra terceiro, visando a declaração de nulidade de doação inoficiosa.
Foi interposto agravo de instrumento, às fls. 02/13, contra decisão que
rejeitou a preliminar de prescrição argüida pela ré.
O Tribunal "a quo" negou provimento ao agravo. O acórdão foi assim
ementado:
"PRESCRIÇÃO - Ação rotulada, erroneamente, de anulação de ato
jurídico - Feito em que se pretende, na verdade, a declaração de nulidade
de doação inoficiosa - Hipótese em que o lapso prescricional não é o de
quatro anos, previsto no art. 178, § 9º, IV, b, do Código Civil, mas o de vinte
anos, previsto no art. 177 do mesmo estatuto - Agravo de instrumento
desprovido.
PRESCRIÇÃO - Ação ajuizada por herdeiros, visando a anulação de
doação inoficiosa feita pelo pai a terceiro - Lapso prescricional que somente
começa a contar a partir da abertura da sucessão, ou seja, da morte do
autor da herança, sob pena de se demandar acerca de herança de pessoa
viva - Agravo de instrumento desprovido." (fl. 89).
Neste recurso especial ("a" e "c"), às fls. 104/115. O recorrente queixa-se
de ofensa aos arts. 128, 283 e 295, do CPC, e 178, § 9º, V, b, do CC/1916, e aponta
dissídio jurisprudencial.

Sustenta que o julgamento do acórdão foi extra-petita, pois o pedido dos


recorridos foi de anulação de ato jurídico (compromisso de venda e compra) e o Tribunal "a
quo" julgou como doação inoficiosa. Diz, ainda, que em casos de anulação de compromisso de
venda e compra o prazo prescricional é de 4 (quatro) anos e se inicia a partir do momento em
que se realiza o ato ou o contrato.

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RECURSO ESPECIAL Nº 115.768 - SP (1996/0077205-3)

AÇÃO DE ANULAÇÃO. VENDA EM FRAUDE À LEI.


DOAÇÃO. PRESCRIÇÃO.
- A ação para desconstituir negócio realizado em fraude à lei
prescreve em vinte anos (CC/1916, art. 177).

VOTO

MINISTRO HUMBERTO GOMES DE BARROS (Relator):


Observo, de início, que os artigos 128, 283 e 295 do CPC não foram prequestionados. O
conteúdo normativo desses dispositivos não foi objeto de apreciação pela Turma julgadora.
Não houve oposição de embargos de declaração. Incidem as Súmulas 282 e 356 do STF.
Examino a alegada ofensa ao art. 178, § 9º, V, b, do CC/1916.
O pedido refere-se à anulação de ato jurídico simulado - venda e compra de
imóvel, realizado entre o "de cujus" e terceiro, com o objetivo de prejudicar os herdeiros. Os
autores apontaram ofensa ao art. 1.176 do CC/1916.
O Tribunal "a quo" entendeu tratar-se de anulação de doação inoficiosa com
prescrição vintenária.
Cuidando-se de negócio efetivado em fraude à lei, a prescrição é vintenária,
pois incide a regra do art. 177 do CC/1916.
Nesse sentido, a seguinte jurisprudência:
"(...)
Tratando-se de fraude a lei, não se aplica a regra do artigo 178, parágrafo
9., v, b do Código Civil.
Recurso não conhecido." (REsp 63.511/ROSADO);
"(...)
1. A prescrição em caso de fraude da lei é vintenária e assim se formou
coisa julgada, com base em acórdão anterior que reformara sentença que a
pronunciara sob o fundamento de que existira simulação.
2. Venda de bens a quem não tinha capacidade financeira para comprá-los,
acoberta a doação que sujeita ditos bens a conferência, dado que a
donatária, na condição de legatária, concorre a herança do doador." (AGA
18.296/DIAS TRINDADE);
"(...)
- A tese de que, quando a simulação é utilizada como instrumento para
fraudar lei imperativa, prepondera a fraude a lei, não só no que diz respeito
a sanção (nulidade), mas também no que concerne ao prazo de prescrição,
que deixa de ser o aludido no artigo 178, § 4., v, b, do Código Civil.

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- Dissídio de jurisprudência não comprovado. Recurso Extraordinário não
conhecido. (RE 88.442/MOREIRA ALVES).

A contagem inicia-se da data do registro da respectiva escritura no cartório


competente. É a partir do registro que se dá publicidade ao ato, produzindo efeitos "erga
omnes".
Lembro a propósito o voto do Min. Ruy Rosado no REsp 151.935:
"Contudo, têm razão quando afirmam o mesmo princípio em se tratando de
doação feita nos termos previstos no art. 1176 do CCivil: "Nula é também a
doação quanto à parte, que exceder a de que o doador, no momento da
liberalidade, poderia dispor em testamento". Esse o fundamento invocado
pelos autores, quando da inicial, e o da sentença, relativamente aos bens
adquiridos com recursos comuns do casal (excluído o imóvel transacionado
com Josino); Nestes outros casos, não houve alienação a descendente, de
forma direta ou indireta, mas verdadeira doação, com o emprego de capital
dos cônjuges na aquisição de bens registrados em nome de Evilásio. Essas
doações, se excedessem a parte livre do doador, poderiam ter sido
declaradas nulas mediante a propositura de ação ainda em vida do doador.
Há precedente da eg. Terceira Turma nesse sentido, no REsp nº 7879/SP,
de lavra do em. Ministro Costa Leite:

'Civil. Doação inoficiosa. A ação anulatória com base no art.


1176 do CPC pode ser intentada mesmo em vida do doador.
Recurso não conhecido'.

O registro foi feito em 07.12.1989 (fl. 28). A ação foi proposta em 29.03.95
(fl. 17). Não ocorreu a prescrição.
A divergência apontada não está devidamente configurada. O acórdão
recorrido possui a particularidade de se tratar de direito sucessório e fraude a lei. Os
paradigmas colacionados não se referem a tal assunto.
Não conheço do recurso.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 1996/0077205-3 RESP 115768 / SP

Números Origem: 133534 42195

PAUTA: 19/02/2004 JULGADO: 19/02/2004

Relator
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ ROBERTO FIGUEIREDO SANTORO
Secretária
Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ENICE POL DESTRI VILLARI
ADVOGADO : CELSO ALVES FEITOSA E OUTROS
RECORRIDO : MAURO DESTRI VILLARI E OUTRO
ADVOGADO : LAERTE JOSÉ MAGUETA E OUTRO

ASSUNTO: Civil - Sucessão - Inventário

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso especial."
Os Srs. Ministros Carlos Alberto Menezes Direito, Castro Filho e Antônio de Pádua
Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, ocasionalmente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.

O referido é verdade. Dou fé.


Brasília, 19 de fevereiro de 2004

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO


Secretária

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