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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.226.476 - RJ (2010/0209849-7)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


AGRAVANTE : PEDRO ERNESTO BARRETO E OUTROS
ADVOGADOS : LEONARDO RANGEL PEREIRA E OUTRO(S)
NORVAL CAMPOS VALERIO E OUTRO(S)
AGRAVANTE : COMPANHIA EXCELSIOR DE SEGUROS
ADVOGADO : ERIKA GENILHU BOMFIM PEREIRA E OUTRO(S)
AGRAVADO : ROGER AGNELLI E OUTRO
ADVOGADO : JOSE ANTONIO VELASCO FICHTNER PEREIRA E OUTRO(S)
INTERES. : CARTÓRIO DO 2º OFÍCIO DE JUSTIÇA DE ANGRA DOS REIS
ADVOGADO : HUGO RABHA NUNES SANTIAGO E OUTRO(S)
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RITO
ORDINÁRIO - SERVIDÃO DE PASSAGEM - VALIDADE DO NEGÓCIO
JURÍDICO - REGISTRO POR MEIO DE ESCRITURA PÚBLICA -
NECESSIDADE - RECURSOS IMPROVIDOS.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima
indicadas, acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça,
na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar
provimento aos agravos regimentais, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)
Relator(a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas
Bôas Cueva e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 21 de agosto de 2012(data do julgamento)

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

Documento: 1171725 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 28/08/2012 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.226.476 - RJ (2010/0209849-7)

RELATOR : MINISTRO MASSAMI UYEDA


AGRAVANTE : PEDRO ERNESTO BARRETO E OUTROS
ADVOGADOS : LEONARDO RANGEL PEREIRA E OUTRO(S)
NORVAL CAMPOS VALERIO E OUTRO(S)
AGRAVADO : ROGER AGNELLI E OUTRO
ADVOGADO : JOSE ANTONIO VELASCO FICHTNER PEREIRA E OUTRO(S)
INTERES. : COMPANHIA EXCELSIOR DE SEGUROS
ADVOGADO : ERIKA GENILHU BOMFIM PEREIRA E OUTRO(S)
INTERES. : CARTÓRIO DO 2º OFÍCIO DE JUSTIÇA DE ANGRA DOS REIS
ADVOGADO : HUGO RABHA NUNES SANTIAGO E OUTRO(S)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA(Relator):
Trata-se de dois agravos regimentais interpostos, respectivamente, por
PEDRO ERNESTO BARRETO E OUTROS e COMPANHIA EXCELSIOR DE
SEGUROS, contra decisão desta Relatoria, assim ementada:
"RECURSO ESPECIAL - NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL - INEXISTÊNCIA - SERVIDÃO DE PASSAGEM -
VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO - REGISTRO POR MEIO DE
ESCRITURA PÚBLICA - NECESSIDADE - ACÓRDÃO RECORRIDO
EM DESACORDO COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE -
RECURSO PROVIDO."
No primeiro agravo regimental (fls. 683/721 e-STJ), Pedro Ernesto
Barreto e outros asseveram, em síntese, que o valor da servidão foi inferior a trinta
salários mínimos; que há prova de que a servidão era aparente e estava sendo exercida
há mais de dez anos; que os imóveis pertenciam a uma mesma pessoa; que há justo
título e boa-fé suficientes para o reconhecimento da usucapião em seu favor. Concluem
argumentando que, em razão desses fatos, é dispensável a escritura pública para a
validade da servidão de passagem.
No segundo agravo regimental (fls. 724/728 e-STJ), Companhia
Excelsior de Seguros alega, em resumo, que a análise do recurso especial esbarra nos
óbices das Súmula 5 e 7 desta Corte. No mérito, aduz, ainda, que os ora agravados
tinham plena consciência do negócio que estavam realizando, tendo concordado com a
servidão, à época, devendo-se privilegiar a boa-fé contratual, conforme estabelece o
artigo 113 do Código Civil. Afirma, por fim, que a constituição da servidão foi feita por
contrato gratuito, sem valor expresso em pecúnia, não estando sujeito à norma do artigo
134, II, do Código Civil.
É o relatório.

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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.226.476 - RJ (2010/0209849-7)

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RITO


ORDINÁRIO - SERVIDÃO DE PASSAGEM - VALIDADE DO NEGÓCIO
JURÍDICO - REGISTRO POR MEIO DE ESCRITURA PÚBLICA -
NECESSIDADE - RECURSOS IMPROVIDOS.

VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO MASSAMI UYEDA:
As irresignações não prosperam.
Com efeito.
Conforme asseverou a decisão ora agravada, os elementos existentes
nos autos dão conta que o Tribunal a quo negou provimento à apelação interposta pelos
autores, ao fundamento de que, à época em que foi instituída a servidão de passagem,
tanto o imóvel dominante quanto o serviente eram do mesmo proprietário, motivo pelo
qual seria válido o registro efetivado por meio de instrumento particular. Entendeu,
ainda, que a servidão é aparente e vem sendo exercida de forma contínua há mais de
dez anos, sendo assegurado aos réus o direito à proteção possessória. Por fim, afastou
a nulidade do ato, ao argumento de que, quando os autores adquiriram seus lotes, o
direito deferido aos réus já era público, registrado no RGI competente, referindo-se a
negócio sem valor declarado, em observância ao artigo 108 do Código Civil.
Contudo, a doutrina e a jurisprudência, às quais filia-se esta Relatoria,
têm considerado que, em casos como o dos autos, é essencial à validade do negócio
jurídico o registro por meio de escritura pública, sob pena de violação ao disposto no
artigo 108 do Código Civil, que reproduz o artigo 134, II, do Código Civil de 1916. Nesse
sentido, cita-se o REsp 254.875/SP, Relator Ministro JORGE SCARTEZZINI, DJ de
30/08/2004, LEXSTJ vol. 182 p. 122, REVJUR vol. 323 p. 104, RJADCOAS vol. 62 p. 75,
RSTJ vol. 182 p. 342.
In casu, observa-se que tal entendimento está em harmonia com o
voto vencido (fls. 546/548 e-STJ), o qual ora se transcreve, para melhor compreensão
da controvérsia:
"Restei vencido quando do julgamento, por entender que o recurso dos
apelantes, que tem por base a anulação de servidão de passagem
constituída sobre o imóvel de que são proprietários os autores da
presente ação, foi celebrado por instrumento particular, em violação ao
disposto no art. 108, do Código Civil, que reproduz a regra inserta no
inciso II, do art. 134 do revogado Código Civil de 1916, que dispõe que
“a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que
visem a constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos

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reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o
salário-mínimo”.
(...)
Relativamente ao decreto de improcedência do pedido formulado na
inicial, com referência aos demais réus da ação, tenho que a sentença
não se sustenta, entretanto.
Senão, vejamos.
O título objeto do registro imobiliário, o qual pretendem os apelantes ver
declarado nulo, foi celebrado em 13/02/1995.
Como se vê dos autos, nessa data o imóvel dominante já pertencia a
um dos réus da demanda, enquanto o imóvel serviente era de
propriedade de um terceiro.
Não há nos autos qualquer prova de que, anteriormente à celebração
do instrumento particular em questão, designado como Contrato de
Instituição de Servidão de Passagem, a servidão já existisse, o que
joga por terra a alegação de que, à oportunidade da constituição do
gravame, os imóveis pertenceriam a uma mesma pessoa, não se
tratando de negócio jurídico, mas tão apenas de ato unilateral de
contrato.
Assim, não procede o primeiro fundamentos da decisão recorrida.
De igual forma o segundo fundamento adotado pela sentença recorrida,
de que o direito real instituído teria valor inferior a 30 (trinta)
salários-mínimos, resultando daí a possibilidade de sua constituição por
instrumento particular, também não pode obter guarida, pelo simples
fato de que o art. 108, do Código Civil, ao tratar da necessidade de
escritura pública para os negócios que versem sobre direitos reais
sobre imóveis, faz referência ao valor do imóvel a que aludidos direitos
se referem e não aos gravames em si.
Ressalte-se, por oportuno, que o critério que a Lei utilizou para impor a
necessidade da celebração de escritura pública para tais casos há de
ser observado no caso concreto, onde não pode ser considerada
desnecessária a celebração de escritura, pelo simples fato de ser do
conhecimento geral de que um imóvel localizado em condomínio de alto
luxo, situado em Angra dos Reis, como é o Condomínio Portogalo
jamais poderia ter valor inferior ou igual a apenas 30 (trinta)
salários-mínimos.
Ora, o documento nominado como Contrato de Instituição de Servidão
de Passagem não se reporta a qualquer valor, pelo que fácil concluir-se
que a servidão assim não se convalidou, porque constituída de modo
ilegal.
Por outro lado, quanto à suposta usucapião também invocada pela
sentença, por óbvio diz respeito à eventual hipótese em que se esteja
diante de justo título e boa fé.
No caso em tela, entretanto, não vislumbro que haja justo título.
Tudo isso conduziria, assim, à procedência da pretensão autoral, com a
conseqüente reforma da decisão de primeiro grau.

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Num único ponto, entretanto, não vi como prover-se o recurso dos
apelantes, ou seja, no sentido da condenação de qualquer dos apelados
ao pagamento de indenização por danos materiais e morais sofridos
pelos apelantes, os quais não tenho por caracterizados no caso
concreto."
Por fim, quanto ao argumento de que o especial não poderia ter sido
conhecido, em face dos óbices das Súmulas 5 e 7 desta Corte, anota-se que ao se
julgar o mérito do recurso especial, resta subentendido que ele ultrapassou os
requisitos de admissibilidade. Nesse sentido: AgRg no REsp 1101246/RS, desta
Relatoria, DJe 26/08/2009.
Mantém-se, portanto, a decisão ora impugnada por seus próprios
fundamentos, negando-se provimento a ambos os agravos regimentais.
É o voto.

MINISTRO MASSAMI UYEDA


Relator

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2010/0209849-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.226.476 / RJ

Números Origem: 20060030050470 200800130705 200913523607

EM MESA JULGADO: 21/08/2012

Relator
Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ROGER AGNELLI E OUTRO
ADVOGADO : JOSE ANTONIO VELASCO FICHTNER PEREIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : COMPANHIA EXCELSIOR DE SEGUROS
ADVOGADO : ERIKA GENILHU BOMFIM PEREIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : PEDRO ERNESTO BARRETO E OUTROS
ADVOGADOS : NORVAL CAMPOS VALERIO E OUTRO(S)
LEONARDO RANGEL PEREIRA E OUTRO(S)
RECORRIDO : CARTÓRIO DO 2º OFÍCIO DE JUSTIÇA DE ANGRA DOS REIS
ADVOGADO : HUGO RABHA NUNES SANTIAGO E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Coisas - Servidão

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : PEDRO ERNESTO BARRETO E OUTROS
ADVOGADOS : NORVAL CAMPOS VALERIO E OUTRO(S)
LEONARDO RANGEL PEREIRA E OUTRO(S)
AGRAVANTE : COMPANHIA EXCELSIOR DE SEGUROS
ADVOGADO : ERIKA GENILHU BOMFIM PEREIRA E OUTRO(S)
AGRAVADO : ROGER AGNELLI E OUTRO
ADVOGADO : JOSE ANTONIO VELASCO FICHTNER PEREIRA E OUTRO(S)
INTERES. : CARTÓRIO DO 2º OFÍCIO DE JUSTIÇA DE ANGRA DOS REIS
ADVOGADO : HUGO RABHA NUNES SANTIAGO E OUTRO(S)

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento aos agravos regimentais, nos termos do
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voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Sidnei Beneti, Paulo de Tarso
Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva e Nancy Andrighi votaram com o Sr. Ministro Relator.

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