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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.279.090 - RS (2018/0088202-3)

RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


AGRAVANTE : MARISA LETICIA LULA DA SILVA
ADVOGADO : CRISTIANO ZANIN MARTINS E OUTRO(S) - SP172730
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA

DIREITO PROCESSUAL PENAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL.


DIREITO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL DA DECISÃO QUE NÃO
CONHECEU DO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INSTRUMENTO DE
MANDATO. ADVOGADO. ÓBITO. PARTE. EXTINÇÃO AUTOMÁTICA.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - O agravo regimental deve trazer novos argumentos capazes de alterar o
entendimento anteriormente firmado, sob pena de ser mantida a r. decisão vergastada
por seus próprios fundamentos.
II - O art. 674 do Código Civil não se presta a conferir regularidade na
representação processual da parte falecida em sede de recurso, sobretudo porque “a
eficácia do mandato após a morte é admitida excepcionalmente para a tutela de
interesses de terceiros de boa-fé, no caso da morte do mandante, ou para tutelar os
interesses do mandante, no caso da morte do mandatário” (CARNACCHIONI,
Daniel. Manual de Direito Civil, volume único, Salvador: Juspodivm, 2017. p. 1098).
III - In casu, é de se aplicar, não o art. 674 do Código Civil, mas o seu art.
682, II do repositório civil, que dispõe que a extinção do mandato judicial se dá
automaticamente com a morte de uma das partes.
IV - O Código Civil, em seu artigo 692, estabelece que "o mandato judicial
fica subordinado às normas que lhe dizem respeito, constantes da legislação
processual, e, supletivamente, às estabelecidas neste Código" e a solução
encontrada no âmbito processual não difere do que previsto no art. 682, II, da norma
civilista, na medida em que determina a imediata suspensão do processo, na hipótese de
morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes (art. 313, I do CPC),
justamente para possibilitar a habilitação daqueles que houverem de suceder o falecido
no processo, tal qual disciplinam os artigos 687 e seguintes do CPC. E assim o é
justamente porque, sobrevindo o evento morte do mandante, o mandato extingue-se de
pleno direito.
Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Documento: 1748501 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/09/2018 Página 1 de 4

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Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao agravo regimental.
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e
Joel Ilan Paciornik votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 11 de setembro de 2018 (Data do Julgamento).

Ministro Felix Fischer


Relator

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AgInt no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.279.090 - RS (2018/0088202-3)

AGRAVANTE : MARISA LETICIA LULA DA SILVA


ADVOGADOS : VALESKA TEIXEIRA ZANIN MARTINS - SP153720
CRISTIANO ZANIN MARTINS - SP172730
ALFREDO ERMIRIO DE ARAUJO ANDRADE - SP390453
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: Trata-se de agravo


regimental interposto contra decisão de minha relatoria, a qual não conheceu do agravo em
recurso especial, com fundamento no art. 253, parágrafo único, inciso I, do RISTJ (fls.
776-784).

Ressai das alegações aventadas pela defesa da Agravante, a pretensão de que


seja efetivado o juízo de retratação, sustentando, para tanto, que o mandato judicial outorgado
pela Recorrente permanece válido, produzindo efeitos no universo jurídico, por força da
exceção prevista no art. 674 do Código Civil, inexistindo, em seu entender, qualquer
irregularidade da representação processual. Diz que o ato forense corresponde ao conceito de
negócio, tal qual insculpido na norma civilista.

Assevera estarem atendidas as condições impostas pelo referido dispositivo,


haja vista que “(i) a representação judicial já se encontrava em pleno curso, sendo dela
inseparável a defesa do melhor interesse da Agravante, que no caso concreto se
converte no resguardo de sua honra post mortem, (ii) há perigo na demora, vez que a
não absolvição sumária dá vazão a danos irreparáveis à honra e memória da Agravante,
bem como de seus familiares, aviltando a garantia constitucional da presunção da
inocência” (fl. 796).

Na sequência, passa a discorrer acerca das teses defendidas no agravo em


recurso especial, notadamente o interesse recursal, a ponto de autorizar o avanço no mérito da
discussão, cuja pretensão se circunscreve ao reconhecimento da absolvição sumária da
Agravante, em virtude do óbito noticiado nos autos.

Nesse particular, assevera que “se a própria lei, em seu artigo 397, inciso

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IV, do Código de Processo Penal dispõe que a extinção da punibilidade é uma das
causas da absolvição sumária, e diante dos princípios consagrados na Constituição
Federal, não há que se falar em falta de interesse recursal, visto que o que se quer é a
pura e simples aplicação da lei ao caso concreto” (fl. 799).

No mérito do recurso especial, defende que “se (a) o artigo 107, I do Código
Penal indica que a morte do agente provoca a extinção da punibilidade dos fatos
imputados, e (b) o artigo 397, IV do Código de Processo Penal determina que o juiz
deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar extinta a punibilidade, logo
(c) o falecimento da pessoa acusada tem como conseqüência jurídica o dever de
reconhecimento de sua absolvição sumária” (fl. 800).

Com essas considerações, requer seja reconsiderada a decisão agravada e, de


forma alternativa, que “seja o presente recurso submetido a julgamento pelo Colegiado,
sendo o mesmo conhecido e provido para reformar a r. decisão agravada,
reconhecendo-se a regularidade da representação processual da Agravante nos
presentes autos. Em decorrência do provimento, pede-se seja apreciado o Agravo em
Recurso Especial epigrafado, sendo o mesmo deferido, para que se reconheça a
absolvição sumária da Agravante nos autos de n° 5063130-17.2016.4.04.7000/PR” (fl.
802).

Por manter a decisão ora agravada, trago o feito ao colegiado.

É o relatório.

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RELATOR : MINISTRO FELIX FISCHER


AGRAVANTE : MARISA LETICIA LULA DA SILVA
ADVOGADOS : VALESKA TEIXEIRA ZANIN MARTINS - SP153720
CRISTIANO ZANIN MARTINS - SP172730
ALFREDO ERMIRIO DE ARAUJO ANDRADE - SP390453
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA

DIREITO PROCESSUAL PENAL. DIREITO


PROCESSUAL CIVIL. DIREITO CIVIL. AGRAVO
REGIMENTAL DA DECISÃO QUE NÃO
CONHECEU DO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. INSTRUMENTO DE MANDATO.
ADVOGADO. ÓBITO. PARTE. EXTINÇÃO
AUTOMÁTICA. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
I - O agravo regimental deve trazer novos
argumentos capazes de alterar o entendimento
anteriormente firmado, sob pena de ser mantida a r.
decisão vergastada por seus próprios fundamentos.
II - O art. 674 do Código Civil não se presta a
conferir regularidade na representação processual da
parte falecida em sede de recurso, sobretudo porque
“a eficácia do mandato após a morte é admitida
excepcionalmente para a tutela de interesses de
terceiros de boa-fé, no caso da morte do mandante,
ou para tutelar os interesses do mandante, no caso
da morte do mandatário” (CARNACCHIONI,
Daniel. Manual de Direito Civil, volume único,
Salvador: Juspodivm, 2017. p. 1098).
III - In casu, é de se aplicar, não o art. 674 do
Código Civil, mas o seu art. 682, II do repositório civil,
que dispõe que a extinção do mandato judicial se dá
automaticamente com a morte de uma das partes.
IV - O Código Civil, em seu artigo 692,
estabelece que "o mandato judicial fica subordinado
às normas que lhe dizem respeito, constantes da
legislação processual, e, supletivamente, às
estabelecidas neste Código" e a solução encontrada
no âmbito processual não difere do que previsto no art.
682, II, da norma civilista, na medida em que determina
a imediata suspensão do processo, na hipótese de
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morte ou perda da capacidade processual de qualquer
das partes (art. 313, I do CPC), justamente para
possibilitar a habilitação daqueles que houverem de
suceder o falecido no processo, tal qual disciplinam os
artigos 687 e seguintes do CPC. E assim o é justamente
porque, sobrevindo o evento morte do mandante, o
mandato extingue-se de pleno direito.
Agravo regimental desprovido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO FELIX FISCHER: O presente recurso não


merece provimento.

Inicialmente, cumpre registrar que o agravo regimental deve trazer novos


argumentos capazes de alterar o entendimento anteriormente firmado, sob pena de ser mantida
a r. decisão vergastada por seus próprios fundamentos.

Nesse compasso, não obstante o teor das razões suscitadas pela defesa da
Agravante, não vislumbro elementos hábeis a alterar a decisão de fls. 776-784. Ao contrário,
os argumentos ali externados por esta Relatoria merecem ser ratificados pelo Colegiado, eis
que de uma análise detida dos autos, verifica-se a existência de óbice legal ao conhecimento
do agravo em recurso especial.

Na dicção do artigo 682 do Código Civil, “cessa o mandato: II - pela morte


ou interdição de uma das partes”. Assim o é porque “o principal efeito da morte real é o
fim da personalidade civil. A pessoa deixa de existir juridicamente”.
(CARNACCHIONI, Daniel. Manual de Direito Civil, volume único, Salvador: Juspodivm,
2017. p. 132).

Pois bem, na lição da doutrina:

“Para que determinada pessoa tenha aptidão de ser parte, exige-se, em


primeiro lugar, a capacidade para ser parte, verdadeiro pressuposto processual de
existência. A capacidade de ser parte deriva da personalidade, consistindo na
capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações (CC, art. 1º).
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[...]
Para além dessa capacidade para ser parte, também se faz necessária a
capacidade de estar em juízo, ou seja, a capacidade processual (legitimatio ad
processum). Esta capacidade processual, tida como pressuposto processual de validade,
refere-se à capacidade de exercer direitos e deveres processuais, ou seja, de praticar
validamente atos processuais” (LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 4ª
edição. Volume único. Salvador: Juspodiwm, 2016, ebook. fls. 1.680-1.681).

Tal premissa se harmoniza com as diretrizes dispostas no Código Civil, no


ponto em que estabelece as regras do contrato de mandato, em particular, quanto a produção
de efeitos após o advento da morte de um dos contratantes.

Nesse contexto, não obstante os argumentos deduzidos no recurso especial


acerca da manutenção excepcional dos efeitos do mandato judicial (fl. 336), fundamental para
a correta aplicação do art. 674 do Código Civil que se esclareça, desde logo, a quem esta
norma visa proteger.

Dispõe o referido artigo que “Embora ciente da morte, interdição ou


mudança de estado mandante, deve o mandatário concluir o negócio já começado, se
houver perigo na demora”.

Tal dispositivo não tem aplicação ao presente caso, como quer fazer crer a
Defesa, eis que destinado a “evitar prejuízos, em especial aos sucessores do mandante no
caso de morte ou ao próprio mandante nas demais hipóteses” (CARNACCHIONI,
Daniel. Manual de Direito Civil, volume único, Salvador: Juspodivm, 2017. p. 132).

Com efeito, tal exegese não se presta a conferir regularidade na representação


processual da parte em sede de recurso, sobretudo porque “a eficácia do mandato após a
morte é admitida excepcionalmente para a tutela de interesses de terceiros de boa-fé, no
caso da morte do mandante, ou para tutelar os interesses do mandante, no caso da
morte do mandatário” (idem, p. 1.098).

Nesse sentido é que, quanto ao mandato judicial outorgado, no caso em tela,


aos advogados, em 16/1/2017 (fl. 367), é de se aplicar, não o art. 674 do Código Civil, mas o
seu art. 682, II do mesmo codex, que dispõe que a extinção do mandato judicial se dá com a
morte de uma das partes.

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Não se olvide, por sua vez, que o Código Civil, em seu artigo 692, estabelece
que "o mandato judicial fica subordinado às normas que lhe dizem respeito, constantes
da legislação processual, e, supletivamente, às estabelecidas neste Código" e a solução
encontrada no âmbito processual não difere do que previsto no art. 682, II da norma civilista,
na medida em que determina a imediata suspensão do processo, na hipótese de morte ou
perda da capacidade processual de qualquer das partes (art. 313, I do CPC), justamente para
possibilitar a habilitação daqueles que houverem de suceder o falecido no processo, tal qual
disciplinam os artigos 687 e seguintes do CPC. E assim o é justamente porque, sobrevindo o
evento morte do mandante, o mandato extingue-se de pleno direito.

A hipótese reclama tratamento adequado, a partir da técnica denominada pela


doutrina como "diálogo das fontes", consoante se extrai do Enunciado n. 3 da I Jornada de
Direito Processual Civil do Conselho da Justiça Federal, a orientar que “As disposições do
CPC aplicam-se supletiva e subsidiariamente ao Código de Processo Penal, no que não
forem incompatíveis com esta Lei”.

Nesse contexto, não há como se afastar da premissa de que a morte do


mandante extingue automaticamente os efeitos do mandato. Aliás, com a clareza que o
distingue, decidiu o Ministro Celso de Mello no Ag. Reg. no Recurso Extraordinário com
Agravo 707.037/MT, in verbis:

“Como se sabe, a morte de qualquer das partes gera consequências de


natureza jurídica, com imediato reflexo, tanto na ordem processual quanto na esfera
material: (a) extingue o mandato judicial outorgado pelo falecido ao mandatário
(Código Civil, art. 682, II), pois, extinto o mandato pela morte do mandante, o antigo
procurador já não mais ostenta qualidade para intervir no processo (AI 24.862, Rel. Min.
PEDRO CHAVES), (b) provoca a suspensão do processo (CPC, art. 265, I), (c) torna
inexistentes os atos praticados durante esse período de suspensão processual, (d)
legitima a sucessão processual da parte falecida (CPC, art. 43) e (e) viabiliza, para este
último efeito, a habilitação dos terceiros interessados (CPC, art. 1055).
Vê-se, portanto, que um dos efeitos jurídicos mais expressivos resultantes
da morte da parte consiste na extinção, de pleno direito, do mandato que outorgou ao
seu procurador.
Isso significa que, extinto o mandato judicial, não pode, o mandatário,
após o falecimento do outorgante, exercer a prerrogativa da representação processual,
nem substabelecer os poderes decorrentes desse mesmo mandato, cuja eficácia jurídica
cessou com o óbito do mandante” (Disponível em:
file:///C:/Users/claud/Downloads/texto_108875938.pdf, acesso em 30/7/2018).
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Em vista do exposto, tenho que a morte da Agravante no curso do processo é


fato jurídico relevante a obstar o conhecimento do agravo em recurso especial, porquanto,
com o fim de sua personalidade (artigos 1º e 6º do Código Civil), extinguiu-se, ao mesmo
tempo, o mandato outorgado ao advogado, carecendo o recurso do pressuposto da
regularidade formal, necessário ao avanço do mérito. Aliado a tal realidade, a ausência de
habilitação, na forma determinada na lei processual, torna inadmissível o conhecimento do
referido recurso.

Assevero ainda que esse foi o mesmo entendimento que veio a prevalecer
perante a Terceira Seção, quando em julgamento os Embargos de Declaração na Ação
Rescisória n. 3.358/SC, no qual fiquei relator para o acórdão, cuja ementa transcrevo a seguir:

"PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES EM


AÇÃO RESCISÓRIA. AUTOR FALECIDO ANTERIORMENTE AO
AJUIZAMENTO DA DEMANDA ORDINÁRIA. EXTINÇÃO DO
MANDATO. INCAPACIDADE PARA SER PARTE. ILEGITIMIDADE
PARA O PROCESSO. COISA JULGADA. INEXISTÊNCIA. TÍTULO
EXECUTIVO INEXIGÍVEL.EMBARGOS NÃO PROVIDOS.
1. A morte do mandante extingue automaticamente os
efeitos do mandato, nos termos do art. 1316, II do CC de 1916 ou do art.
682, II do CC de 2002.
2. O art. 1321 do Código Civil de 1916 destina-se,
ordinariamente, aos mandatos extrajudiciais em que os interesses das
partes e de terceiros são convergentes e não ao mandato judicial, como no
presente feito, em que o terceiro - demandado na ação de conhecimento -
deseja, em realidade, resistir à pretensão do falecido mandante.
3. Por sua vez, o Código Civil de 2002 em seu art. 692,
expressamente, dispôs que o mandato judicial é regulado pela legislação
processual e a solução encontrada no âmbito processual não difere da que
prevista no art. 682, II do CC de 2002 (art. 1316, II do CC de 1916), isto
é, os efeitos do mandato extinguem-se com a morte, razão pela qual se o
outorgante do mandato falecer antes do ajuizamento da ação, este
contrato estará extinto, devendo ser outorgados novos poderes pelo
inventariante ao advogado, agora em nome do espólio (art. 12, V do
CPC), sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito, nos
termos do art. 267, VI do CPC.
4. Nos casos de morte da parte no curso do processo,
também a jurisprudência desta Corte é no sentido de que a suspensão é
automática, a decisão tem efeito ex tunc e eventuais atos praticados após
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o falecimento são nulas em razão da mesma causa: a morte do mandante
extingue automaticamente os efeitos do mandato. Nesse sentido: REsp n.
270.191/SP, Terceira Turma, Rel. Ministro Ari Pargendler, Rel. p/ Acórdão
Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJ de 8/4/2002 e EREsp n.
270.191/SP, Corte Especial, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, DJ
de 20/9/2004. Da mesma forma, recente decisão do Ministro Celso de
Mello no AgReg. no Recurso Extraordinário com Agravo no. 707037/MT ,
publicado no DJE no. 214, 29/10/12.
5. A morte do autor anteriormente à propositura da
demanda de conhecimento é, portanto, fato jurídico relevante para se
declarar a inexistência do processo judicial em relação a ele, eis que a
relação processual não se angularizou, nunca existiu, não se formou
validamente, à míngua da capacidade daquele autor para ser parte e, por
conseguinte, extinguiu-se, ao mesmo tempo, o mandato outorgado ao
advogado, carecendo a relação processual de pressuposto de
desenvolvimento válido e regular, qual seja, aquele relativo à capacidade
postulatória. Nesse sentido: AR n. 3.285/SC, Terceira Seção, Rel. Ministro
Nilson Naves, Rel. p/ Acórdão Ministro Felix Fischer, DJe de 8/10/2010.
Embargos infringentes não providos" (EAR n. 3.358/SC,
Terceira Seção, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. p/ Acórdão Min. Felix
Fischer, DJe de 4/2/2015, grifei).

Nesse sentido também os seguintes julgados desta Corte:

"PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. AUTOR


FALECIDO ANTERIORMENTE AO AJUIZAMENTO DA DEMANDA
ORDINÁRIA. EXTINÇÃO DO MANDATO. INCAPACIDADE PARA SER
PARTE. ILEGITIMIDADE PARA O PROCESSO. COISA JULGADA.
INEXISTÊNCIA. TÍTULO EXECUTIVO INEXIGÍVEL.
1. A morte do mandante extingue automaticamente os
efeitos do mandato, nos termos do art. 1316, II do CC de 1916 ou do art.
682, II do CC de 2002.
2. O art. 1321 do Código Civil de 1916 destina-se,
ordinariamente, aos mandatos extrajudiciais em que os interesses das
partes e de terceiros são convergentes e não ao mandato judicial, como no
presente feito, em que o terceiro - demandado na ação de conhecimento -
deseja, em realidade, resistir à pretensão do falecido mandante.
3. Por sua vez, o Código Civil de 2002 em seu art. 692,
expressamente, dispôs que o mandato judicial é regulado pela legislação
processual e a solução encontrada no âmbito processual não difere da que
prevista no art. 682, II do CC de 2002 (art. 1316, II do CC de 1916), isto
é, os efeitos do mandato extinguem-se com a morte, razão pela qual se o
outorgante do mandato falecer antes do ajuizamento da ação, este
contrato estará extinto, devendo ser outorgados novos poderes pelo
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inventariante ao advogado, agora em nome do espólio (art. 12, V do
CPC/73), sob pena de extinção do processo sem resolução do mérito, nos
termos do art. 267, VI do CPC/73.
4. A morte do autor anteriormente à propositura da
demanda de conhecimento é, portanto, fato jurídico relevante para se
declarar a inexistência do processo judicial em relação a ele, eis que a
relação processual não se angularizou, nunca existiu, não se formou
validamente, à míngua da capacidade daquele autor para ser parte e, por
conseguinte, extinguiu-se, ao mesmo tempo, o mandato outorgado ao
advogado, carecendo a relação processual de pressuposto de
desenvolvimento válido e regular, qual seja, aquele relativo à capacidade
postulatória. Nesse sentido: AR n. 3.285/SC, Terceira Seção, Rel. Ministro
Nilson Naves, Rel. p/ Acórdão Ministro Felix Fischer, DJe de 8/10/2010.
Ação rescisória procedente" (AR n. 3.269/SC, Terceira
Seção, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Rel. p/ Acórdão Min. Felix
Fischer, DJe de 21/8/2017, grifei).

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO


RESCISÓRIA. VIOLAÇÃO LITERAL DE DISPOSIÇÃO DE LEI E
DOCUMENTO NOVO. ART. 485, V E VII, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. EX- COMBATENTE. PENSÃO ESPECIAL. INEXISTÊNCIA DE
PROCURAÇÃO VÁLIDA QUANDO DA PROPOSITURA DA AÇÃO
ORDINÁRIA. CONHECIMENTO NA FASE EXECUTIVA DE QUE O
ÓBITO DO MILITAR SE DEU ANTES MESMO DA PROPOSITURA DA
AÇÃO. ADVOGADO SEM PODERES PARA REPRESENTAÇÃO.
MORTE. EXTINÇÃO DOS EFEITOS DO MANDATO. INEXISTÊNCIA DE
PRESSUPOSTO DE DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
1. A morte do mandante extingue automaticamente os
efeitos do mandato, sendo fato jurídico relevante para que se declare a
inexistência do processo judicial em relação ao de cujus, pois a relação
processual não chegou a se angularizar, carecendo o processo de
pressuposto de desenvolvimento válido e regular, qual seja, a capacidade
postulatória. Deve ser extinto o processo, sem resolução de mérito, nos
termos do art. 267, inciso IV, do Código de Processo Civil - CPC.
Ação Rescisória procedente” (AR 3.271/SC, Terceira Seção,
Rel. Min. Ericson Maranho - Desembargador convocado do TJ/SP, DJe de
4/12/2015, grifei).

Ante o exposto, por não vislumbrar a existência de argumentos capazes de

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alterar o entendimento anteriormente exposto, nego provimento ao agravo regimental,
mantendo, por seus próprios fundamentos, o ato decisório objurgado.

É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUINTA TURMA

AgInt no
Número Registro: 2018/0088202-3 AREsp 1.279.090 /
RS
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 50058967720164047000 50115929420164047000 50126639720174047000


50310820520164047000 50349647220164047000 50540081420154047000
50549328820164047000 50631301720164047000 PR-50126639720174047000

EM MESA JULGADO: 11/09/2018

Relator
Exmo. Sr. Ministro FELIX FISCHER
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOÃO PEDRO DE SABOIA BANDEIRA DE MELLO FILHO
Secretário
Me. MARCELO PEREIRA CRUVINEL

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : MARISA LETICIA LULA DA SILVA
ADVOGADOS : VALESKA TEIXEIRA ZANIN MARTINS - SP153720
CRISTIANO ZANIN MARTINS - SP172730
ALFREDO ERMIRIO DE ARAUJO ANDRADE - SP390453
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de "Lavagem" ou


Ocultação de Bens, Direitos ou Valores

AGRAVO INTERNO
AGRAVANTE : MARISA LETICIA LULA DA SILVA
ADVOGADO : CRISTIANO ZANIN MARTINS E OUTRO(S) - SP172730
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental."
Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan
Paciornik votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1748501 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/09/2018 Página 13 de 4
Processo: 0801808-93.2021.4.05.0000
Assinado eletronicamente por:
PAULA ROBERTA CORREA COUTINHO - Procurador 22031908485948900000030530986
Data e hora da assinatura: 19/03/2022 08:49:16
Identificador: 4050000.30582844
Para conferência da autenticidade do documento: https://pje.trf5.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam 13/13

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