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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0003.09.033223-4/001 Númeração 0309494-


Relator: Des.(a) Antônio Sérvulo
Relator do Acordão: Des.(a) Antônio Sérvulo
Data do Julgamento: 17/08/2010
Data da Publicação: 08/10/2010

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. SERVIDÃO


ADMINISTRATIVA. SERVIDÃO MINERÁRIA. DIFERENÇA DE INSTITUTO.
IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE. MANUTENÇÃO. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. Há que se deferir ao titular de direito de servidão
administrativa a tutela antecipada para imissão provisória na posse,
presentes os seus requisitos, pois o instituto da servidão minerária é diverso
do instituto de servidão preceituado no Código Civil, não havendo que se
falar em confusão de tais institutos, que têm natureza jurídica diversas.

AGRAVO DE INSTRUMENTO CÍVEL N° 1.0003.09.033223-4/001 -


COMARCA DE ABRE-CAMPO - AGRAVANTE(S): ADAÍLTON EDUARDO
DA SILVA E OUTRO(A)(S) - AGRAVADO(A)(S): CODEMIG CIA
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO MINAS GERAIS - RELATOR: EXMO.
SR. DES. ANTÔNIO SÉRVULO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça


do Estado de Minas Gerais, sob a Presidência do Desembargador EDILSON
FERNANDES , incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da
ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM
NEGAR PROVIMENTO.

Belo Horizonte, 17 de agosto de 2010.

DES. ANTÔNIO SÉRVULO - Relator

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

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Assistiu ao julgamento, pela agravada, o Dr. Wellington De' Moro Alves de


Souza.

O SR. DES. ANTÔNIO SÉRVULO:

VOTO

No juízo de admissibilidade, conheço do recurso.

Controverte-se a respeito da legalidade de Decreto Expropriatório que


declarou como de utlidade pública, para construção e passagem do
mineroduto "Minas-Rio", de lavra do Chefe do Poder Executivo do Estado de
Minas Gerais e, que, por delegação, está sendo cumprido pela CODEMIG -
Cia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, ora agravada.

O agravante, sustenta que a decisão que deferiu a imissão provisória na


posse não observou as condições da ação, notadamente a legitimidade ativa
e a possibilidade jurídica do pedido, visto que o chefe do Poder Executivo
não detem de competência para dispor a respeito da servidão de mina, e a
agravada não detem de legitimidade para explorar a execução da
autorização a ela concedida.

Pois bem. Equivocadas teses trazidas pelo agravante.

Notadamente, a impossibilidade jurídica do pedido, o Decreto de 13 de Julho


de 2009 não trata da servidão de mina, mas, sim, da servidão administrativa,
como se infere da simples leitura de seu artigo 1º, 'litteris':

"Ficam declarados de utilidade pública, para desapropriação de pleno


domínio ou constituição de servidão, mediante acordo ou judicialmente,
tendo como titular o Estado de Minas Gerais, os imóveis constituídos de
terrenos e benfeitorias situados nas faixas de terras delimitadas no Anexo,
salvo impossiblidade legal, necessários à construção das instalações
complementares ao empreendimento do

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mineroduto Minas-Rio, bem como à implantação das minas de minério de


ferro e da usina de beneficiamento, localizadas nos Municípios de Conceição
do Mato Dentro e Alvorada de Minas, em favor da empresa Anglo Ferrous
Minas-Rio Mineração S/A."

Observa-se, que o objetivo principal do ato governamental é a instação de


beneficiamento de minério e porto marítimo no Norte Fluminense, tendo por
fim a exportação de minério de ferro extraído em Minas Gerais.

Cuida-se, precisamente da construção de um corredor de passagem para


transporte e descarga do minério.

Há que se distinguir a servidão civil da servidão minerária.

A propósito, vejam-se os escólios de William Freire:

" (...) Servidão Minerária não se confunde com servidão civil. Toca
predominantemente ao interesse público no desenvolvimento de uma
atividade industrial, que é considerada como de utilidade pública pela lei
3365, de 21/06/41.

Não é constituída em favor do minerador, mas em favor do título minerário.


Conseqüentemente, a renúncia ao direito de lavra não atinge a servidão,
como também não a extingue a declaração de caducidade. Em casos tais, a
mina será colocada em disponibilidade no estado em que se encontrar. Os
direitos de lavra, com a servidão, serão adjudicados ao vencedor sem
necessidade de nova indenização ao proprietário do solo. (...)" (Freire.
William. Comentários ao Código de Mineração. Editora Aide. Rio de Janeiro.
1995. p. 115. grifei

Assim, ainda que a servidão administrativa esteja intimamente ligada e/ou


relacionada a atividade minerária, isto não significa tratar-se de uma servidão
minerária.

O Decreto limita-se à utilidade pública que nada dispõe a respeito de


atividade minerária e/ou exploração de recursos minerais e jazidas,

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motivo este que atrai a competência do chefe do Poder Executivo do Estado


para dispor a respeito.

Ultrapassada estas questão, analiso a questão relativa ao valor indenizatório.

A servidão administrativa ou pública é uma forma de intervenção estatal na


propriedade privada, amparada pelo interesse público, por ato unilateral e
compulsório, em que o particular proprietário sofre apenas algumas
restrições ao uso e gozo da propriedade onerada com a servidão
administrativa.

Nesse aspecto, diferencia-se, claramente, da desapropriação, na medida em


que esta, apesar de ser, também, modalidade de intervenção do Estado na
propriedade particular, não se resume a uma mera restrição à propriedade.
Pelo contrário, representa a retirada do bem do domínio particular, mediante
o pagamento de indenização, em regra, justa, prévia e em dinheiro (artigo 5º,
XXIV, da Lei Maior).

Todavia, tanto as servidões administrativas em geral, como as


desapropriações por utilidade pública, receberam disciplina legal,
principalmente, pelo Decreto-lei n. 3.365, de 21.06.1941.

Extrai-se do artigo 40 do mencionado Decreto-lei:

"Art. 40. O expropriante poderá constituir servidões, mediante indenização na


forma desta lei."

Previu-se, além disso, a possibilidade de o Poder Público se imitir, de forma


imediata e provisória, na posse do bem, objeto de desapropriação ou de
servidão, desde que alegue urgência e deposite determinada quantia para
tanto, nos termos do artigo 15 do Decreto-lei n. 3.365, de 1941:

"Art. 15. Se o expropriante alegar urgência e depositar quantia arbitrada de


conformidade com o art. 685 do Código de Processo Civil, o juiz mandará
imiti-lo provisoriamente na posse dos bens.

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§1º. A imissão provisória poderá ser feita, independentemente da citação do


réu, mediante o depósito:

a) do preço oferecido, se este for superior a 20 (vinte) vezes o valor locativo,


caso o imóvel esteja sujeito ao imposto predial;

b) da quantia correspondente a 20 (vinte) vezes o valor locativo, estando o


imóvel sujeito ao imposto predial e sendo menor o preço oferecido;

c) do valor cadastral do imóvel, para fins de lançamento do imposto territorial,


urbano ou rural, caso o referido valor tenha sido atualizado no ano fiscal
imediatamente anterior;

d) não tendo havido a atualização a que se refere o inciso 'c', o juiz fixará,
independentemente de avaliação, a importância do depósito, tendo em vista
a época em que houver sido fixado originariamente o valor cadastral e a
valorização ou desvalorização posterior do imóvel.

§2º. A alegação de urgência, que não poderá ser renovada, obrigará o


expropriante a requerer a imissão provisória dentro do prazo improrrogável
de 120 (cento e vinte) dias.

§3º. Excedido o prazo fixado no parágrafo anterior não será concedida a


imissão provisória."

Diante disso, tem-se que, acertadamente, decidiu o nobre Juiz singular, ao


imitir a agravada provisoriamente na posse do bem, diante da alegada
urgência da servidão pretendida e do depósito judicial no valor ofertado, já
que respaldada no artigo 15 do Decreto-lei n.3.365, de 1941.

Não se pode perder de vista ainda que o montante depositado, para fins de
imissão na posse, não é necessariamente o valor da indenização
correspondente à constituição da servidão administrativa, tendo em vista que
somente após a instrução probatória se concluirá

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pelo justo 'quantum' indenizatório.

Precedentes desse egrégio Sodalício:

"LINHA DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. PLANTAÇÃO DE


EUCALIPTO. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA. INTERESSE PÚBLICO.
URGÊNCIA. IMISSÃO NA POSSE. POSSIBILIDADE. VALOR DA
INDENIZAÇÃO. COMPLEMENTAÇÃO POSTERIOR. POSSIBILIDADE.
Declarada a utilidade pública de faixa de terreno destinada à servidão
administrativa para a instalação de rede de transmissão em área de floresta
de eucalipto explorada comercialmente, é possível a imissão provisória na
posse, condicionada ao depósito prévio do valor da indenização. Os
eventuais prejuízos podem ser compensados posteriormente, mediante
realização de perícia." (Agravo de Instrumento (C. CÍVEIS ISOLADAS)
1.0528.03.900009-6/001 - Relator Desembargador Fernando Bráulio - Data
do acórdão: 01/07/2004, Data da publicação: 22/09/2004).

"DESAPROPRIAÇÃO - IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE - ARTIGO 15


DO DECRETO-LEI 3365/41- PRESENÇA DE SEUS PRESSUPOSTOS
AUTORIZATIVOS - INOBSERVÂNCIA DE DANO IRREPARÁVEL. Se foi
constatada a presença de todos os requisitos previstos no artigo 15 do
Decreto-lei 3365/41, a dar supedâneo à concessão da buscada imissão
provisória na posse, e se não se vislumbra a possibilidade de dano
irreparável ao direito dos expropriados, não se justifica a suspensão de seus
efeitos (dela, imissão provisória na posse)." (Agravo de Instrumento nº
1.0000.00.236721-7/000 - Relator: Des. Hyparco Immesi - Publicação:
01.06.2004).

Por estas razões, nego provimento ao recurso.

Sem custas recursais.

Outrossim, não lograram os agravantes comprovar em que ponto se


encontra o risco de lesão grave ou de difícil reparação em aguardar o
processamento do recurso, não podendo a decisão do relator que indefere
efeito suspensivo ser entendida como violadora do instituto

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da imissão provisória na posse do imóvel.

A prudência recomenda, em casos como o dos autos, que o magistrado se


cerque de maiores garantias ao conceder uma medida irreversível, razão
pela qual indefiro o pleito neste momento.

A SRª. DESª. SANDRA FONSECA:

VOTO

De acordo.

O SR. DES. EDIVALDO GEORGE DOS SANTOS:

VOTO

De acordo.

SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO.

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