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22/04/24, 16:04 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 322/2024 .

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22/04/24, 16:04 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 322/2024 .
ACÓRDÃO Nº 322/2024

Processo n.º 1036-A/2023


3.ª Secção
Relator: Conselheiro Carlos Medeiros de Carvalho

Acordam, em conferência, na 3.ª secção do Tribunal Constitucional

I. RELATÓRIO

1. Nos autos, vindos do SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA (doravante «STJ»), em que era
recorrente A. e recorrido o MINISTÉRIO PÚBLICO, o primeiro requereu a interposição do
presente recurso, ao abrigo da alínea b) do n.º 1 do artigo 70.º da Lei n.º 28/82, de 15 de novembro
(Lei do Tribunal Constitucional, adiante designada «LTC»), na sequência da prolação por aquele
Tribunal de dois de acórdãos, de 7 de junho e de 14 de setembro de 2023.

2. Na qualidade de arguido em processo crime, o recorrente, aqui ora reclamante, interpôs


recurso para o STJ do acórdão proferido pelo Tribunal da Relação de Évora (doravante «TRE») que
confirmou a decisão proferida em primeira instância, pela qual fora condenado pela prática de quinze
crimes de coação sexual agravada e dois crimes de violação agravada na pena única de 12 anos de
prisão e em duas penas acessórias únicas.

2.1. Pelo acórdão de 7 de junho de 2023, o STJ decidiu não admitir o recurso na parte
respeitante aos crimes e penas parcelares aplicadas, e negar provimento ao recurso na parte restante
(cf. fls. 502-517 dos autos que correram termos neste Tribunal sob o n.º 1036/2023).
Pode ler-se nessa decisão o seguinte:
«[…]
1.2. Ora, uma vez que nenhuma das penas parcelares aplicadas ao arguido excede 5 anos de prisão,
não é admissível recurso do acórdão do TRE ora recorrido relativamente aos crimes e penas
parcelares aplicadas, desde logo por força do estabelecido no art. 432.º, n.º 1, b) e no art. 400.º,
n.º 1, al. e), ambos do CPP, segundo o qual “Não é admissível recurso de acórdãos proferidos, em recurso,
pelas relações, que apliquem pena não privativa da liberdade ou pena de prisão não superior a 5 anos …” (
independentemente de ser igualmente caso de dupla conforme nos termos da alínea f) do n.º 1 do
artigo 400.º CPP), mesmo que a decisão seja recorrível relativamente à pena única aplicada como,
à partida (vd infra), se verifica no caso presente, em face da pena única de 12 anos de prisão aplicada
ao arguido pelo acórdão do TRE ora recorrido.
[…]
1.3. Todavia, a irrecorribilidade do acórdão relativamente às penas parcelares não interfere com
a recorribilidade do acórdão recorrido relativamente à pena única de 12 anos de prisão e penas
acessórias, aplicada ao arguido em cúmulo jurídico, dado que esta excede o limite de 8 anos
estabelecido na al. f) do n.º 1 do art. 400.º do CPP, conforme tem sido pacificamente entendido
pela jurisprudência do STJ.
1.3.1. No entanto, a recorribilidade da decisão nesta parte não dispensa a definição do âmbito
do recurso concretamente interposto e os respetivos poderes de cognição do STJ, sendo certo que, tal
como foi devidamente enfatizado no parecer do MP no STJ, é entendimento jurisprudencial há
muito consolidado que sendo os recursos remédios jurídicos, enquanto meios específicos de
impugnação das decisões judiciais que visam a reparação de erros da decisão recorrida e não,
genericamente, um novo julgamento do caso, o tribunal de recurso só conhece – no que aqui importa
- das questões que tenham sido objeto de decisão por parte do tribunal recorrido ou que
devessem tê-lo sido.
Ou seja, o STJ apenas pode conhecer das questões de que o tribunal recorrido conheceu ou de
que devesse ter conhecido de acordo com as regras que delimitam os seus poderes de cognição,
pelo que não cabe ao STJ conhecer de questão que, por não ter sido concretamente suscitada
perante o tribunal recorrido, não foi por este apreciada.
[…]
Porém, ao vir só agora, em recurso do acórdão do TRE para o STJ, pôr em causa a sua
condenação pelo tribunal de 1.ª instância em pena única de 12 anos de prisão a título de pena
principal e de 6 anos de proibição de exercer profissão ou emprego (abreviadamente), mais 6 anos
de proibição de assumir a confiança de menor, a título de penas acessórias, o arguido não recorre de
questão que tivesse colocado à apreciação do TRE, ainda que o fizesse subsidiariamente, pelo que
tal matéria está fora dos poderes de cognição do STJ, pois o STJ apenas pode conhecer das questões
de que o tribunal recorrido conheceu ou de que devesse ter conhecido de acordo com as regras que
delimitam os seus poderes de cognição, pelas razões antes expostas no ponto 1.3.1..

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Deste modo, não pode deixar de negar-se provimento ao recurso do acórdão do TRE
interposto pelo arguido relativamente à medida da pena única aplicada em 1.ª instância, dado não
caber nos poderes de cognição do STJ a apreciação de recurso relativamente a tal matéria sem que
o acórdão recorrido a tivesse apreciado, por não ter sido a mesma abrangida pelo recurso que o
arguido interpôs para o TRE […].»

2.2. Inconformado, o recorrente, aqui ora reclamante, arguiu a nulidade daquele acórdão,
incidente que foi julgado totalmente improcedente pelo acórdão de 14 de setembro de 2023 (cf. fls.
545-553 dos mesmos autos).

3. Destas decisões foi interposto o recurso de constitucionalidade, através de requerimento


formulado nos seguintes termos (cf. fls. 558-560 dos referidos autos):
«O arguido nos autos supra identificados, notificado do acórdão prolatado nos autos, vem
interpor recurso para o Tribunal Constitucional,
O que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:
1.º
O presente recurso é interposto ao abrigo do artigo 70.º, número 1, alínea b) e n.º 2 da Lei de
Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional.
2.º
O recorrente não se conforma com a aplicação das seguintes normas:
3.º
A norma extraída do artigo 355.º/1 do CPP, inconstitucional, por violar o artigo 32.º n.º 5 da
Constituição, na interpretação que o tribunal recorrido faz ao entender que pode condenar o
arguido por factos não provados, nomeadamente, os 15 crimes de coação sexual agravada e os dois
de violação agravada, quando as provas objetivas, para além das declarações para memória futura
da menor M[…] demonstram que a violação não ocorreu. – Inconstitucionalidade suscitada na
conclusão 1 do recurso interposto para o Tribunal da Relação e expressamente aplicada pelo
respetivo acórdão conforme páginas 7 e 17/18.
4.º
A norma extraída do artigo 359.º/1 do CPP, inconstitucional, por violar art.º 32.º n.º 1 da
Constituição na interpretação de que o arguido pode ser condenado pela prática de 15 crimes de
coação que nos termos da acusação, do despacho de pronúncia e das declarações para memória
futura da menor M[…], foram cometidos às 4.ªs e 5.ªs feiras de cada semana. Ao ser demonstrado
que tal não seria possível, pela junção do horário escolar da menor, o tribunal alterou a acusação,
incluiu-lhe outros factos e condenou o arguido sem que este tivesse tido oportunidade de se
defender, de exercer o contraditório. Entendeu o tribunal que se os crimes de coação sexual
agravada não ocorreram às 4.ªs e 5.ªs feiras entre as 10 e as 12h é porque ocorreram noutros dias e
a outras horas, sem determinar quais e condena o arguido em qualquer dos casos. Sem prova, sem
determinação das circunstâncias, sem que o arguido tivesse tido oportunidade de se defender
destes novos factos. - Inconstitucionalidade suscitada na conclusão 2 do recurso interposto para o
Tribunal da Relação e expressamente aplicada pelo respetivo acórdão conforme páginas 7 e 18/23.
5.º
É inconstitucional, por violar os artigos 32.º/1 e 210.º/1 da Constituição, a norma extraída do
artigo 400.º, n.º 1, al. e), conjugado com o artigo 432.º, n.º 1, b), do CPP na interpretação de que
[para] efeitos de recurso para o Supremo atende-se à medida de cada pena parcelar e se nenhuma
desta for superior a 5 anos, o arguido não pode recorrer mesmo que a pena única seja de 12 anos. -
Inconstitucionalidade suscitada no ponto 9 e 18 da reclamação de nulidade do acórdão do
Supremo de 07.06.2023.
6.º
É inconstitucional, por violar as garantias de defesa do arguido, plasmadas no artigo 32.º/1 da
Constituição a norma extraída do artigo 379.º, al. c) ex vi artigos 425.º/4 e 448.º, todos do CPP,
interpretada no sentido de [que] se esgotou o poder jurisdicional e, consequentemente, que o
Supremo Tribunal de Justiça não está obrigado a conhecer dos fundamentos da reclamação de
nulidade do acórdão que rejeitou o recurso do acórdão condenatório. – Inconstitucionalidade
suscitada no ponto 56 da reclamação de nulidade do acórdão do Supremo de 07.06.2023.
Termos em que,
Por tempestivo e legal, por quem tem legitimidade, deve o presente recurso ser admitido, com
subida imediata, nos próprios autos e com efeito suspensivo.»

4. Foi proferida a Decisão Sumária n.º 6/2024, datada de 05 de janeiro de 2024, a «não conhecer o
objeto do recurso» com a seguinte fundamentação que se reproduz no essencial:
«…
4. O presente recurso veio interposto ao abrigo da alínea b) do n.º 1 do artigo 70.º da LTC, nos
termos da qual cabe recurso para o Tribunal Constitucional das decisões dos tribunais que
«apliquem norma cuja inconstitucionalidade haja sido suscitada durante o processo».

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Nos termos da LTC, e segundo jurisprudência constante deste Tribunal, a admissibilidade do
recurso pressupõe, necessariamente: i) que este seja atempadamente interposto (artigo 75.º); ii) de
decisão que não admita recurso ordinário (artigo 70.º, n.os 2 a 5); iii) que vise a apreciação de
norma(s) (artigo 70.º, n.º 1); iv) cuja inconstitucionalidade tenha sido prévia e adequadamente
suscitada diante do tribunal que proferiu a decisão recorrida (artigos 70.º, n.º 1, alínea b), e 72.º, n.º
2); e que v) coincidam com a ratio decidendi dessa decisão, atenta a natureza instrumental dos
recursos de fiscalização concreta (artigo 80.º, n.º 2).
Não se encontrando reunidos estes pressupostos, pode o relator proferir decisão sumária de
não conhecimento (cf. o n.º 1 do artigo 78.º-A da LTC), já que a decisão de admissão do recurso
não vincula o Tribunal Constitucional (cf. o n.º 3 do artigo 76.º da LTC).
Vejamos.
5. Tal como identificadas no requerimento de interposição do recurso (cf. supra, § 3), o
recorrente pretende ver apreciadas por este Tribunal quatro questões:
i) «[a] norma extraída do artigo 355.º/1 do CPP, inconstitucional, por violar o artigo 32.º, n.º 5 da
Constituição, na interpretação que o tribunal recorrido faz ao entender que pode condenar o arguido por factos não
provados…»;
ii) «[a] norma extraída do artigo 359.º/1 do CPP, inconstitucional, por violar art.º 32.º, n.º 1 da Constituição
na interpretação de que o arguido pode ser condenado pela prática de 15 crimes de coação que nos termos da
acusação, do despacho de pronúncia e das declarações para memória futura da menor […] foram cometidos às 4.as e
5.as feiras de cada semana»;
iii) «a norma extraída do artigo 400.º, n.º 1, al. e), conjugado com o artigo 432.º, n.º 1, b), do CPP na
interpretação de que efeitos de recurso para o Supremo atende-se à medida de cada pena parcelar e se nenhuma desta
for superior a 5 anos, o arguido não pode recorrer mesmo que a pena única seja de 12 anos»;
iv) «a norma extraída do artigo 379.º, al. c) ex vi artigos 425.º/4 e 448.º, todos do CPP, interpretada no
sentido de se esgotou o poder jurisdicional e, consequentemente, que o Supremo Tribunal de Justiça não está obrigado
a conhecer dos fundamentos da reclamação de nulidade do acórdão que rejeitou o recurso do acórdão condenatório».
6. No que respeita às questões enunciadas em i) e ii), prontamente se observa que, apesar de o
recorrente se referir a «normas» pretensamente aplicadas pelo Tribunal a quo, não é possível
discernir qualquer critério normativo de decisão, dissociável das circunstâncias concretas do caso e
extraível dos artigos 355.º, n.º 1, ou 359.º, n.º 1, do Código de Processo Penal (doravante CPP).
Pelo contrário, a pretensão do recorrente é a de que este Tribunal se pronuncie sobre a bondade
ou acerto da decisão proferida pelo Tribunal da Relação de Évora, na medida em que, a seu ver, tal
decisão se baseou em «factos não provados» ou em elementos probatórios que não deveriam ter sido
valorados.
6.1. Não pode, todavia, ser satisfeita a pretensão do recorrente a ver apreciada a
inconstitucionalidade de tal decisão, nem a sua bondade, justeza ou correção, já que esse não configura
objeto idóneo do recurso de constitucionalidade.
Com efeito, o sistema português de fiscalização da constitucionalidade confere ao Tribunal
Constitucional competência para exercer um controlo de natureza estritamente normativa, que
exclui a apreciação da inconstitucionalidade de decisões, judiciais ou administrativas, a impugnar
pelos meios próprios da correspondente ordem jurisdicional (v., entre muitos outros, os Acórdãos
n.os 526/1998, 695/2016 e 733/2021). Significa isto que este Tribunal não pode substituir-se aos
tribunais recorridos, v.g., na fixação e qualificação dos factos, na valoração da prova, na
determinação do direito ordinário aplicável ou na apreciação sobre a suficiência da fundamentação
das decisões recorridas, sob pena de se imiscuir no concreto ato de julgamento e de rever decisões,
quando apenas lhe compete apreciar da inconstitucionalidade ou ilegalidade de normas (cf. o n.º 1
do artigo 71.º da LTC e o artigo 280.º da Constituição).
6.2. Não versando as questões supra identificadas em § 5, i) e ii) sobre qualquer norma ou
interpretação normativa, que possa constituir objeto idóneo do recurso de constitucionalidade, não
podem tais questões ser conhecidas por este Tribunal.
7. Já no que respeita à questão supratranscrita em § 5, iii), atentamente analisada a
fundamentação das decisões recorridas, verifica-se que a norma ou interpretação normativa dos artigos
400.º, n.º 1, alínea e) e 432.º, n.º 1, alínea b) do CPP, tal como enunciada pelo recorrente, não é
coincidente com a ratio decidendi do acórdão recorrido.
7.1. Apesar de, no acórdão proferido em 7 de junho de 2023 (v. supra, § 2.1.) e no que respeita
ao conhecimento dos crimes e penas parcelares aplicadas, o Tribunal a quo ter realmente afirmado
que «uma vez que nenhuma das penas parcelares aplicadas ao arguido excede 5 anos de prisão, não é
admissível recurso do acórdão do TRE ora recorrido», aduziu com clareza que «a irrecorribilidade do acórdão
relativamente às penas parcelares não interfere com a recorribilidade do acórdão recorrido relativamente à pena
única de 12 anos de prisão e penas acessórias, aplicada ao arguido em cúmulo jurídico, dado que esta excede o limite
de 8 anos estabelecido na al. f) do n.º 1 do art. 400.º do CPP, conforme tem sido pacificamente entendido pela
jurisprudência do STJ» (ibidem). Entendeu, porém, o mesmo Tribunal que, in casu, não poderia
conhecer do recurso nessa parte, «dado não caber nos poderes de cognição do STJ a apreciação de recurso
relativamente a tal matéria sem que o acórdão recorrido a tivesse apreciado, por não ter sido a mesma abrangida
pelo recurso que o arguido interpôs para o TRE [Tribunal da Relação de Évora]» (ibidem).

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7.2. Foi, pois, esta a razão determinante da decisão de «o arguido não pode[r] recorrer mesmo que a
pena única seja de 12 anos» e não a efetiva aplicação do artigo «400.º, n.º 1, al. e), conjugado com o artigo
432.º, n.º 1, b), do CPP na interpretação de que [para] efeitos de recurso para o Supremo atende-se à medida de
cada pena parcelar».
7.3. Deste modo, a apreciação da inconstitucionalidade da norma enunciada supra em § 5, iii),
não teria qualquer efeito útil, já que se manteriam intocados os fundamentos que efetivamente
suportam, nesta parte, a decisão recorrida (cf. o n.º 2 do artigo 80.º da LTC). Considerado o
caráter instrumental dos recursos de fiscalização concreta da constitucionalidade, e segundo a
jurisprudência constante este Tribunal, tal obsta a que o presente recurso seja admitido também
quanto a essa questão (v., entre muitos, os Acórdãos n.os 169/1992, 490/1999, 372/2015 e, mais
recentemente, 74/2023, 99/2023, 131/2023 ou 224/2023).
8. Pelas mesmas razões, é forçoso concluir que não pode ser conhecida «a norma extraída do
artigo 379.º al. c) ex vi artigos 425.º/4 e 448.º, todos do CPP, interpretada no sentido de se esgotou o poder
jurisdicional e, consequentemente, que o Supremo Tribunal de Justiça não está obrigado a conhecer dos fundamentos
da reclamação de nulidade do acórdão que rejeitou o recurso do acórdão condenatório» (v. supra a alínea iv) do
§5).
8.1. Por um lado, como esclareceu o Tribunal a quo no acórdão proferido em 14 de setembro
de 2023 (a fls. 545/553), e resulta do teor da decisão (cf. supra o § 2.1.), tal norma não foi
efetivamente aplicada no acórdão de 7 de junho de 2023.
8.2. Por outro, também na decisão proferida em 14 de setembro de 2023, em que o Tribunal a
quo se pronunciou sobre a nulidade do acórdão em que foi rejeitado o recurso interposto do
acórdão do Tribunal da Relação de Évora, não é possível encontrar qualquer indício de que os
preceitos legais citados tenham sido interpretados no sentido de o «Supremo Tribunal de Justiça não
est[ar] obrigado a conhecer dos fundamentos da reclamação …».
8.3. Pelo contrário, o Tribunal conheceu das questões colocadas no incidente pós-decisório
suscitado pelo ora recorrente, concluindo que «o arguindo não reconduz as questões afloradas na sua
reclamação a nenhuma das nulidades de sentença ou a outro dos fundamentos a que se refere o artigo 425.º, n.º
4, CPP, nem se entende que tais questões possam reconduzir-se a algum daqueles fundamentos (v.g. falta das
menções referidas no n.º 2 e na al. b) do n.º 3 do artigo 374.º ou o vício de omissão de pronúncia [a que
se refere a alínea c) do n.º 1 do artigo 379.º do Código de Processo Penal])», razões pelas quais
julgou totalmente improcedente a reclamação (cf. fl. 552).
8.4. Ora, não cabendo a este Tribunal, pelas razões já expostas supra (cf. o § 6.1.), ajuizar da
correção ou acerto desta conclusão, resta assinalar que o Tribunal a quo, no exercício das suas
competências, concluiu não se verificar in casu a nulidade da decisão reclamada, sem deixar de se
considerar obrigado a conhecer dos fundamentos da reclamação de nulidade do acórdão de 7 de junho de 2023,
pelo que não pode considerar-se que tenha sido, sequer implicitamente, aplicada a norma
enunciada no requerimento de interposição do presente recurso.
9. Não estando em causa simples insuficiências formais, hipoteticamente supríveis nos termos
do artigo 75.º-A, n.os 5 e 6, da LTC, mas antes a falta de diversos pressupostos essenciais de
admissão do recurso interposto, resta concluir que não é possível conhecer do seu objeto.»

5. O aqui ora reclamante invocando ter «sido preso» veio apresentar reclamação (cf. fls. 18/26
dos presentes autos de traslado n.º 1036-A/23 - tal como as ulteriores referências à paginação, salvo expressa indicação
em contrário [autos extraídos dos autos de recurso n.º 1036/23]), arguindo «nulidade processual», alegando para o
efeito que «em tempo, rectius no dia 22.01.2024 às 17:18 (Doc. 1) enviou RECLAMAÇÃO (Doc. 2) para a
conferência da decisão sumária, mensagem que resulta certificada ter sido entregue pelo serviço postal
eletrónico no Tribunal Constitucional às 17:17:53 (Doc. 3)», pelo que «o acórdão recorrido [sic] não transitou
em julgado» e de «que o recorrente sofre prisão ilegal». Terminou «requerendo que do presente expediente
seja dado conhecimento ao tribunal de primeira instância para que este pela forma mais expedita ordene a
restituição do recorrente à liberdade».

6. Sobre tal requerimento recaiu despacho do relator, datado de 08 de abril de 2024, a


«indeferir a presente reclamação, com todas as legais consequências» (cf. fls. 30/33), extraindo-se da sua
fundamentação, o seguinte:
«…
1. Nos autos de recurso tramitados sob o n.º 1036/2023 foi proferida Decisão Sumária n.º
6/2024, datada de 05 de janeiro de 2024, a «não conhecer o objeto do recurso» (centrado e dirigido aos
acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 7 de junho e de 14 de setembro de 2023) (facto que
este Tribunal tem conhecimento por virtude do exercício das suas funções – cf. n.º 2 do artigo
412.º do Código de Processo Civil [adiante designado «CPC»] ex vi do artigo 69.º da Lei n.º 28/92,
de 15 de novembro [Lei de Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional,
adiante designada «LTC»]).
2. Compulsados os autos sub judice destes se extrai que veio a ser elaborada a conta n.º
105/2024, conta essa que devidamente notificada, mormente ao aqui requerente (cf. fls. 9/11 –
através de cartas, datadas de 08 de fevereiro de 2024, enviadas sob registo, constando da carta de
notificação dirigida ao ilustre mandatário do aqui requerente nota com o teor seguinte «N.B. – Os

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Autos de Recurso são hoje remetidos ao Supremo Tribunal de Justiça») não foi objeto de qualquer
impugnação.
Deriva dos autos, ainda, que o aqui ora requerente, em 27 de fevereiro de 2024, liquidou as
custas em dívida e disso fez prova mediante requerimento subscrito pelo seu ilustre mandatário
juntando documentação anexa (cf. fls. 13/16), extraindo-se do aludido requerimento, mormente o
seguinte: «notificado da conta de custas n.º 105/2024 …» «[v]em requerer a junção aos autos do
comprovativo de pagamento mesma».
Por fim, extrai-se dos autos que foi rececionado neste Tribunal, no dia 22 de janeiro de 2024,
pelas 17:18 horas, um correio eletrónico enviado pelo Dr. Joaquim Patrício, ilustre mandatário do
aqui ora requerente, sendo que no dia seguinte, pelas 09:13 horas, a secção central, do TC
informou-o, em resposta, que «foi rececionado um email em branco sem qualquer assunto» (cf. fls.
28), sendo que «[a]pós essa data nenhum outro email ou requerimento foi recebido na secção
central» (cf. informação prestada pela secção de fls. 29).
3. Presente o quadro circunstancial que resulta apurado (§§ 1. e 2.) e o disposto conjugada e
nomeadamente nos artigos 78.º-A, n.os 2 a 5, e 80.º, n.º 4, da LTC, 137.º, 138.º, 144.º, 149.º, 195.º,
197.º, 198.º, 199.º e 652.º, n.os 1, al. b), 3 e 4, todos do Código de Processo Civil (adiante
designado de «CPC»), 118.º a 123.º do Código de Processo Penal (adiante designado de «CPP»)
deriva a clara insubsistência/improcedência da pretensão do ora requerente.
3.1. Com efeito, ante a prolação da Decisão Sumária n.º 6/2024, que considerou ocorrer
fundamento que obstava ao conhecimento do objeto do recurso, sob o aqui ora requerente
impendia o ónus uma vez devidamente notificado da mesma, como o foi, de, no prazo de 10 (dez)
dias, deduzir reclamação contra tal decisão, requerendo que sobre a matéria daquela decisão
recaísse um acórdão em conferência (cf. artigos 78.º-A, n.os 2 a 5, e 80.º, n.º 4, da LTC, 137.º,
138.º, 144.º, 149.º, e 652.º, n.os 1, al. b), 3 e 4, todos do CPC ex vi do artigo 69.º da LTC).
3.2. Ocorre que o mesmo, como vimos, não o fez de modo eficaz, operativo e válido, já que o
concreto ato processual praticado não poderá considerar-se como tal visto não possuir um qualquer
conteúdo, dado «em branco sem qualquer assunto», sendo que, devidamente alertado para tal
falha/anomalia, o aqui ora requerente nada fez e/ou veio a deduzir/peticionar, suprindo ou
sanando-a em devido tempo e de modo operante.
3.3. Daí que decorrido o prazo legal sem que tal decisão haja sido objeto de uma qualquer
impugnação válida a mesma transitou em julgado com todos os efeitos e consequências legais (cf.
artigos 613.º, 619.º e 621.º do CPC ex vi do artigo 69.º da LTC), ciente de que a pretensão ora
deduzida se apresenta, nesse contexto, como claramente insubsistente e inoperante, para além de
que a mesma se mostra intempestiva, pois ainda que tivesse sido cometida alguma nulidade ou
irregularidade nos autos, o que não resulta sequer minimamente demonstrado, nem tal se concede,
sempre a arguição ora realizada resulta extemporânea, visto o requerente notificado da conta final
realizada por este Tribunal, no pressuposto correto do trânsito em julgado da Decisão Sumária n.º
6/2024, e com a expressa menção na carta de notificação de que «[o]s Autos de Recurso são hoje
remetidos ao Supremo Tribunal de Justiça», nada disse e/ou veio requerer, não tendo arguido qualquer
nulidade/irregularidade quando dela podia/devia ter tomado conhecimento e agido com a devida
diligência, tendo, inclusive, vindo a ter intervenção no processo, juntando requerimento respeitante
à liquidação das custas em dívida, em 27 de fevereiro de 2024, sem que, também nesse momento,
haja suscitado ou deduzido qualquer nulidade/irregularidade.
Flui de todo o exposto a total insubsistência do alegado e a improcedência da pretensão,
impondo-se o seu indeferimento.»

7. Desta decisão veio o aqui reclamante apresentar reclamação para a conferência (cf. artigo
78.º-B, n.º 2, da LTC), nos seguintes termos (cf. fls. 46/49):
«…
1. É indiscutível que o Tribunal Constitucional é um verdadeiro tribunal o que, embora para
alguns, não pareça, até está escrito na Constituição.
2. Parece-nos também que o Código do Processo Civil é o processo matriz do nosso
ordenamento jurídico.
3. O artigo 157.º/6 do CPC garante que os erros e omissões dos atos praticados pela secretaria
judicial não podem, em qualquer caso, prejudicar as partes.
4. O despacho reclamado lavra, por um lado, em manifestos erros da secretaria e, por outro,
erra de direito ao admitir que no nosso sistema processual a renúncia ao recurso pode ser
implícita, inferida da inércia relativa a atos que com aquele em nada contendem. Com efeito,
5. O facto de o recorrente ter pagado inadvertidamente as custas da reclamação apenas se
deveu ao facto de, na medida do possível, querer cumprir com as suas obrigações não
representando, em momento algum, que tal pudesse ser visto ou interpretada como renúncia ao
recurso que legal e tempestivamente interpôs.
6. Por outro lado, vendo a mensagem enviado pelo signatário a 22.01.2024, alcança-se que o
email enviado via servidor da Ordem dos Advogados, que o mesmo contém o assunto “Autos de
recurso 1063/23” e que contém o anexo denominado “Reclamação conferência 22.01.2023 [sic]” e

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que, como já documentado foi acusada pelo servidor a sua entrega no email do destinatário (Doc.
1).
7. Portanto, o recorrente cumpriu com o mínimo e máximo de diligência que lhe era exigido.
8. Se algo ou alguém falhou não foi seguramente o recorrente!
9. Aparentemente a falha terá sido de abertura da mensagem no PC da secção central que, por
motivo que não é imputável ao recorrente, não editou a mensagem do correio eletrónico nas
condições normais de funcionamento, quando é certo que as mensagens de correio eletrónico não
se perdem, e, portanto, ela deve existir no servidor do tribunal nas exatas condições em que foi
enviada e entregue.
10. Ademais, tendo a secretaria recebido uma mensagem nas condições em que se assume no
despacho recorrido era seu dever notificar, por escrito (correio eletrónico com prova de entrega e
de leitura, faz ou correio postal) o signatário de tal situação.
11. A terminar para dizer que tendo os serviços administrativos do signatário procedido a
diligências de pesquisa, não consta recebida nenhuma mensagem do Tribunal Constitucional no
dia 23.01.2024 às 9:15.
12. A situação é, aliás, exatamente igual à que foi objeto do acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça de 02.03.2006 relatado pelo estudioso Conselheiro Salvador da Consta que com notável
sapiência doutrinou acompanhado pelos adjuntos
i. É uma cadeia de actos processuais ilegais em razão de erros funcionais, numa lógica sequência de indução,
facilitados pela inércia da parte que interessada em que tal não decorresse.
ii. Todavia, não se está, na espécie, perante o vício de nulidade a que alude o artigo 201.º, n.º 1, do Código das
Custas Judiciais, porque do que se trata é de erros funcionais suscetíveis de reclamação para o juiz nos termos do n.º
5 do artigo 161.º daquele diploma.
iii. Certo é que ocorreu a preclusão do seu direito de reclamar da ilegalidade dos referidos actos funcionais
envolvidos de ilegalidade derivada de erro, mas isso não pode significar, como é natural, a desistência do recurso de
revista que interpôs.
iv. Com efeito, a desistência do recurso tem de ser no mínimo expressa em requerimento para o efeito, ou seja, a
lei não comporta na espécie a desistência por via de declaração tácita (artigo 681.º, n.º 5, do Código de Processo
Civil).
v. Tendo em conta o disposto no artigo 681.º, n.ºs 1 a 3, certo que o recurso está em fase de decisão, não tem
qualquer apoio legal o entendimento de que, na espécie, se está perante uma renúncia tácita do mesmo.
vi. Estamos perante uma anómala situação em que a sentença final ainda não transitou em julgado e, portanto
ainda se está perante a pendência do litígio no quadro da relação jurídica processual propriamente dita, e se
procedeu, no que concerne à distinta e dependente relação jurídica de custas, como se a primeira já tivesse terminado.
vii. A solução que resulta da lei para casos deste tipo, para pôr termo à situação anómala de a decisão final
proferida no processo já há longo tempo, por virtude das referidas vicissitudes, ainda não haver transitado em
Julgado, é a remessa do processo ao Supremo Tribunal de Justiça.
viii. Perante ela, logo que detetado o erro pelos serviços judiciários em causa, quando a Empresa-A requereu a
remessa do processo ao Supremo Tribunal de Justiça com vista à decisão do recurso de revista, impunha-se que o
erro fosse oficiosamente corrigido por via da imediata remessa, por iniciativa da secção de processos ou do Juiz do
processo, nos termos dos artigos 161.º, n.ºs 1 e 2 e 265.º, n.º 1, do Código de Processo Civil.
13. Assim decorre que que deve ser reposta a legalidade da situação mediante admissão da
reclamação para a conferência com a consequente anulação de todos os atos posteriores,
comunicando-se à primeira instância que o acórdão condenatório não transitou em julgado.
Termos em que
E sempre com o mui douto suprimento de vossas excelências, deve ser julgada procedente, por
provada, a presente reclamação e, consequentemente, admitida a reclamação e anulado todo o
processado posterior, comunicando-se de imediato à primeira instância que o acórdão
condenatório não transitou em julgado …».

Em anexo ao presente requerimento juntou um documento (in casu o Acórdão n.º


261/2024 deste TC, onde foi decidido «declarar inconstitucional, com força obrigatória geral, a norma
que resulta da interpretação conjugada dos artigos 3.º-A, n.º 3, e 5.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 42/2001, de 9 de
fevereiro (…), segundo a qual a deliberação do conselho diretivo do Instituto de Gestão Financeira da Segurança
Social, I.P., prevista no primeiro dos preceitos, define a competência territorial de um Tribunal Administrativo e
Fiscal, por violação dos artigos 112.º, n.º 5, 165.º, n.º 1, alínea p), e 20.º, n.º 4, da Constituição da República
Portuguesa») e, ainda, requereu como «Diligência probatória» que «se necessário, na presença de
um técnico de informática e de um seu representante, em dia e hora a designar, seja efetuado
exame aos emails recebidos no Tribunal no dia 22.01.2024 de modo a certificar se o erro - e que
erro – persiste»).

Cumpre apreciar e decidir.

II. FUNDAMENTAÇÃO

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22/04/24, 16:04 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 322/2024 .
8. Pela Decisão Sumária n.º 6/2024, datada de 5 de janeiro de 2024, pronunciou-se este Tribunal
no sentido de «não conhecer o objeto do recurso» (cf. antecedente § 4.), tendo os autos principais sido
remetidos/devolvidos em 08 de fevereiro de 2024 ao STJ.

9. Na sequência de reclamação que veio a ser deduzida pelo ora reclamante e processada no
quadro deste traslado (cf. antecedente § 5.), veio este Tribunal, pela decisão reclamada, datada de 8 de
abril de 2024, a desatender a arguição de nulidade ali suscitada (cf. antecedente § 6.).

10. Na reclamação sub specie o ora reclamante insurge-se contra aquela decisão, pugnando pela
sua revogação e anulação de todo o processado.
Sem qualquer razão, todavia, de harmonia com a motivação que se passa a enunciar.

11. Na verdade, ante a fundamentação em que se estribou a decisão reclamada ressalta como
insubsistente, ou mesmo inoperante, a argumentação que foi desenvolvida pelo aqui reclamante e
com a qual visa demonstrar o desacerto do ali decidido.

12. Com efeito, no que aqui releva temos que, desde logo, o alegado funda-se ou dirige-se a
pressuposto circunstancial e normativo que nada tem que ver com a situação sob análise (cf. pontos
12. e 13. da presente reclamação), mormente quando faz apelo à jurisprudência firmada pelo STJ no
acórdão convocado e cujo juízo nenhuma similitude aporta ou comporta com a situação vertente,
tanto mais que na situação sub specie não estamos em face de uma qualquer situação de desistência ou
de renúncia a recurso ou que à mesma pudesse ser equiparada.

13. Por outro lado, não rebate, nem afasta sequer minimamente, a motivação/justificação que foi
expendida naquela decisão em termos das implicações e consequências dos atos e omissões havidos
por parte do reclamante em resposta às sucessivas comunicações/notificações de que foi alvo ou lhe
foram dirigidas (cf., nomeadamente, pontos 3. a 5. da presente reclamação), corporizando, para além
disso, alegação não só insubsistente, como alegação e pretensão instrutória que se apresenta como
clara e inequivocamente extemporânea considerando o quadro do devir processual e do que são os
ónus legais que impendem sobre os vários sujeitos/intervenientes processuais, tal como resulta
devidamente explicitado na decisão reclamada e que, também nesse segmento, não foi minimamente
abalado (cf., nomeadamente, os pontos 6. a 11. da presente reclamação), tanto mais que o que nesta sede
ora se invoca, enquanto crítica aos trâmites desenvolvidos pela secretaria, e se requer, em termos de
instrução da presente reclamação, ou foi feito pela secretaria deste Tribunal, ao invés do que o
reclamante improcedentemente invoca, alertando para anomalias ocorridas e trâmites desenvolvidos
(cf. todo o procedimento descrito no § 2. da decisão objeto da presente reclamação reproduzida supra sob o
antecedente § 6.) ou corresponde aquilo que, em devido tempo, deveria ter sido a atuação do
reclamante quando confrontado com os vários atos processuais e notificações que foram produzidas,
sem que tivesse reagido no tempo e modo que era devido e imposto, não podendo, agora, através da
via e forma empregues pretender suprir aquilo que foi uma falha então cometida e, assim, obviar aos
efeitos e às consequências que resultam consolidados ou firmados.

14. É que ante a prolação da Decisão Sumária n.º 6/2024, que considerou ocorrer fundamento
que obstava ao conhecimento do objeto do recurso, sob o aqui ora reclamante impendia o ónus uma
vez devidamente notificado da mesma, como o foi, de, no prazo de 10 (dez) dias, deduzir reclamação
contra tal decisão, requerendo que sobre a matéria daquela decisão recaísse um acórdão em
conferência (cf. artigos 78.º-A, n.os 2 a 5, e 80.º, n.º 4, da LTC, 137.º, 138.º, 144.º, 149.º, e 652.º, n.os
1, al. b), 3 e 4, todos do CPC ex vi do artigo 69.º da LTC).

15. Ora do apurado resulta que o mesmo não o fez de modo eficaz, operativo e válido, já que o
concreto ato processual praticado não pode considerar-se como tal por não possuir um qualquer
conteúdo, visto estar «em branco sem qualquer assunto», sendo que, devidamente alertado para tal
falha/anomalia, o requerente, aqui ora reclamante, nada fez e/ou veio a deduzir/peticionar, suprindo
ou sanando-a em devido tempo e de modo operante, pelo que decorrido o prazo legal sem que tal
decisão haja sido objeto de uma qualquer impugnação válida a mesma transitou em julgado com
todos os efeitos e consequências legais (cf. artigos 613.º, 619.º e 621.º do CPC ex vi do artigo 69.º da
LTC), ciente, ainda, de que cumpre notar que a diligência instrutória ora requerida para além de
deduzida extemporaneamente resulta também como insubsistente na e para a economia do
explicitado e decidido, sendo que o documento junto em anexo com a presente reclamação se
apresenta como total e manifestamente impertinente, porquanto sem nenhuma conexão para as
questões sobre apreciação.

16. Assim e tal como acertadamente se afirmou e concluiu na decisão objeto da presente
impugnação a pretensão/reclamação deduzida pelo requerente, ora aqui reclamante, arguindo a
nulidade e requerendo a sua restituição à liberdade (cf. antecedente § 5.), apresenta-se, no contexto,
como «claramente insubsistente e inoperante, para além de que a mesma se mostra intempestiva, pois ainda
que tivesse sido cometida alguma nulidade ou irregularidade nos autos, o que não resulta sequer minimamente
demonstrado, nem tal se concede, sempre a arguição ora realizada resulta extemporânea, visto o requerente
notificado da conta final realizada por este Tribunal, no pressuposto correto do trânsito em julgado da

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Decisão Sumária n.º 6/2024, e com a expressa menção na carta de notificação de que «[o]s Autos de Recurso são
hoje remetidos ao Supremo Tribunal de Justiça», nada disse e/ou veio requerer, não tendo arguido qualquer
nulidade/irregularidade quando dela podia/devia ter tomado conhecimento e agido com a devida diligência,
tendo, inclusive, vindo a ter intervenção no processo, juntando requerimento respeitante à liquidação das
custas em dívida, em 27 de fevereiro de 2024, sem que, também nesse momento, haja suscitado ou deduzido
qualquer nulidade/irregularidade».

17. Não tendo o reclamante aduzido qualquer motivação que haja logrado obter procedência
conducente à demonstração do desacerto da decisão ora reclamada, resta indeferi-la, com todas as
legais consequências.

III. DECISÃO

Pelo exposto, decide-se indeferir a presente reclamação e manter na íntegra o despacho do


relator ora reclamado.

Custas pelo aqui ora reclamante, fixando-se a taxa de justiça em 20 (vinte) unidades de conta
(artigos 84.º, n.º 4, da LTC e 7.º do Decreto-Lei n.º 303/98, de 7 de outubro).

Notifique-se. D.N..

Lisboa, 17 de abril de 2024 - Carlos Medeiros de Carvalho - Afonso Patrão - José João Abrantes

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