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22/04/24, 16:04 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 321/2024 .

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22/04/24, 16:04 TC > Jurisprudência > Acordãos > Acórdão 321/2024 .
ACÓRDÃO Nº 321/2024

Processo n.º 51/2024


3.ª Secção
Relator: Conselheiro Afonso Patrão

Acordam, em conferência, na 3.ª secção do Tribunal Constitucional:

I. RELATÓRIO
1. No âmbito dos presentes autos, vindos do Tribunal da Relação de Guimarães, foi
interposto recurso para o Tribunal Constitucional, ao abrigo da alínea b) do n.º 1 do artigo 70.º da
Lei de Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional (LTC — Lei n.º 28/82,
de 15 de novembro, na sua redação atual), por A..

2. Através da Decisão Sumária n.º 38/2024, decidiu-se, ao abrigo do disposto no n.º 1 do


artigo 78.º-A da LTC, não tomar conhecimento do objeto do recurso.
Inconformado, o recorrente reclamou para a conferência. Tendo sido notificado da
reclamação deduzida, o MINISTÉRIO PÚBLICO pronunciou-se pelo seu indeferimento, remetendo
para a fundamentação da decisão reclamada.
Através do Acórdão n.º 175/2024, a reclamação foi indeferida.

3. O recorrente vem agora arguir a nulidade do Acórdão n.º 175/2024. Depois de um longo
excurso sobre o princípio do contraditório e a sua consagração constitucional, invoca o seguinte:
«(…)
12 O que acabamos de expender vem a propósito da preterição, no processo decisório,
nestes autos, da notificação ao recorrente, da posição assumida pelo Ministério Público,
relativamente ao requerimento de suspensão da instância formulado por aquele.
13 Na verdade, para concretização do princípio do contraditório, o recorrente deveria ter
sido notificado da tomada de posição, por parte do Exmo. Procurador-Geral Adjunto, de
modo a responder aos argumentos aduzidos.
14 Julgamos nós, que, ao caso presente, dever-se-á aplicar o art. 417º, n.º 2 do Código de
Processo Penal, por analogia, de modo a enfatizar- se o Princípio Geral do Contraditório,
subjacente a todas as tramitações processuais.
15 Dispõe o referido artigo o seguinte: "Se, na vista... o Ministério Público não se limitar a
apor o seu visto, o arguido... é notificado para, querendo, responder no prazo de 10 dias."
16 No caso concreto, o Ministério Público não se limitou a apor o seu visto; tomou posição
acerca do requerimento formulado pelo recorrente.
17 Deste modo, o Exmo. Juiz Conselheiro - antes de ter decidido - deveria ter ordenado a
notificação do recorrente, para proceder ao exercício do contraditório.
18 O direito de o recorrente exercer o seu contraditório foi coartado. Tal facto constitui uma
violação do princípio da tramitação processual equitativa e do seu corolário lógico - o
princípio do contraditório.
19 Ao ter sido preterida a notificação supra referida, o Tribunal Constitucional cometeu uma
nulidade na tramitação processual do processo decisório.
20 Assim sendo, deverá ser anulada toda a tramitação processual, a partir do
requerimento/Parecer apresentado pelo Ministério Público, por altura da vista do processo».

4. O MINISTÉRIO PÚBLICO pronunciou-se pelo indeferimento da pretensão do


reclamante, em suma, nos seguintes termos:
«(…)
5.
Importa, antes de mais, registar que o recorrente responde à nulidade que argui, já que no
parecer do Ministério Público a que alude, e através do qual o Ministério Público exerceu o
contraditório e se pronunciou sobre o objeto da reclamação apresentada, não foram
suscitadas quaisquer novas questões, ou seja, questões que não tivessem sido apreciadas na
decisão reclamada, a Decisão Sumária n.º 38/2024, antes se tendo reproduzido os
argumentos desta decisão, por se concordar com os mesmos.
6.
Tal seria já suficiente, por si só, para se rejeitar a alegação de nulidade do Acórdão sob
escrutínio, por preterição de notificação da resposta do Ministério Público: nada havia a
notificar, face à ausência de verdadeira novidade, que impusesse o contraditório (artigos 3.º,
n.ºs 1 e 3 e 195.º do CPC, aplicáveis ex vi do artigo 69.º da LTC).
7.
Acresce que, no requerimento a que se responde, o arguido não expressa discordância com a
fundamentação substantiva do acórdão sob escrutínio, invocando apenas e singelamente a

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referida “nulidade”.
8.
Num caso em que a resposta do Ministério Público à reclamação de decisão sumária, à qual
nada acrescenta – como no caso vertente –, a jurisprudência constitucional já se tem
pronunciado, reiterada e consistentemente, no sentido da desnecessidade de notificação da
resposta à parte reclamante.
9.
Assim, não há lugar ao contraditório naquelas situações em que o Tribunal venha a decidir a
reclamação com base numa fundamentação já constante da Decisão Sumária reclamada, uma
vez que, neste caso, o reclamante estava já na posse de todos os elementos necessários para os
contraditar e rebater, para os efeitos do processo em curso.
10.
Em tal circunstância, não sobra por proteger qualquer interesse por si titulado, pelo que o
princípio do contraditório e o direito de acesso aos tribunais e ao direito permanecem
totalmente ilesos.
11.
É este um entendimento pacífico, emergente, entre outros, dos acórdãos n.ºs 364/2013,
59/2015, 676/2015, 316/2016, 603/2019 e 211/2022, do Tribunal Constitucional.
12.
No caso vertente nos autos, é incontroverso que a resposta do Ministério Público não
apresentou qualquer facto ou argumento novo, e o Acórdão em causa se limitou a reiterar o
entendimento já constante da Decisão Sumária n.º 38/2024».
Cumpre apreciar e decidir.

II. FUNDAMENTAÇÃO
5. O recorrente vem arguir nulidade processual, invocando que «O direito de o recorrente exercer o
seu contraditório foi coartado. Tal facto constitui uma violação do princípio da tramitação processual equitativa e do seu
corolário lógico - o princípio do contraditório», uma vez que, deduzida a reclamação da Decisão Sumária n.º
38/2024, não foi notificado da resposta do MINISTÉRIO PÚBLICO a tal reclamação antes de
proferido o Acórdão n.º 175/2024.
Não assiste, porém, qualquer razão ao recorrente.
É factual que o recorrente não foi notificado do parecer do MINISTÉRIO PÚBLICO antes
de ter sido prolatado o Acórdão n.º 175/2024, sendo também certo que essa circunstância se afigura
potencialmente relevante em face do disposto no artigo 195.º do Código de Processo Civil,
aplicável ex vi do disposto no 69.º da LTC.
Simplesmente, constitui jurisprudência inteiramente pacífica deste Tribunal que a prévia
notificação ao reclamante do parecer apresentado pelo Ministério Público só é justificada – e, assim,
devida – quando nele seja levantada uma questão nova ou uma questão sobre a qual o reclamante
não tenha tido oportunidade de se pronunciar e tal argumentação tenha sido levada em conta na
fundamentação do Acórdão proferido pelo Tribunal Constitucional. Em contraste, não há lugar ao
contraditório nas situações em que o Tribunal venha a decidir a reclamação com base numa
fundamentação já constante da decisão sumária reclamada, pois nesta circunstância o reclamante está
já na posse de toda a informação de que necessita para os efeitos do processo em curso, não
sobrando por proteger qualquer interesse por si titulado. É justamente o que se afirma, como bem
sublinha a Digna Magistrada do MINISTÉRIO PÚBLICO, nos Acórdãos n.ºs 364/2013, 59/2015,
676/2015, 316/2016, 603/2019 e 211/2022.
Ora, no presente caso, o parecer do MINISTÉRIO PÚBLICO limitou-se a remeter para os
fundamentos da decisão sumária reclamada. Razão pela qual não se justificava qualquer notificação
ao ora reclamante nem se preteriu, de modo algum, qualquer direito ao contraditório.

III. DECISÃO
Em face do exposto, decide-se indeferir a presente reclamação.

Custas devidas pelo reclamante, fixando-se a taxa de justiça em 15 unidades de conta, nos
termos do artigo 7.º do Decreto-Lei n.º 303/98, de 7 de outubro, ponderados os critérios
estabelecidos no respetivo artigo 9.º, sem prejuízo do apoio judiciário de que eventualmente
beneficie.

Lisboa, 11 de abril de 2024 - Afonso Patrão - José João Abrantes


Atesto o voto de conformidade do Senhor Juiz Conselheiro Carlos Carvalho, que participa por
videoconferência.
Afonso Patrão

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