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Alfredo Mavanga Júnior

Andrea de Castro
Claudina Arlindo Nhandimo
Egnência Américo Hoguane
Leandro Carlos Mondlana
Suzana Agostinho Loia

Regime Juridico do Direito Desportivo

(Licenciatura em Direito)

Universidade Rovuma
Nampula
2023

2
Alfredo Mavanga Júnior

Andrea de Castro

Claudina Arlindo Nhandimo

Egnência Américo Hoguane

Leandro Carlos Mondlana

Suzana Agostinho Loia

Regime Juridico do Direito Desportivo

(Licenciatura em Direito)

Trabalho carácter avaliativo da


disciplina de Direito do Desporto,
Curso de Licenciatura em Direito,
4º ano, 1 º semestre, leccionada
pelo Mestre: Inacio Joao Faria dos
Santos.

Universidade Rovuma

Nampula

2023

3
Índice
Introdução........................................................................................................................................4

Introdução ao regime jurídico desportivo........................................................................................5

A eficácia do regime desportivo......................................................................................................6

Princípios do direito desportivo.......................................................................................................8

A função dos princípios...................................................................................................................9

Conflito de princípios......................................................................................................................9

Princípios em espécie....................................................................................................................11

Principios constitucionais..............................................................................................................11

Princípio da autonomia desportiva.............................................................................................11

Princípio da destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto


educacional e, em alguns casos, para o desporto de alto rendimento........................................11

Princípio do tratamento diferenciado entre desporto profissional e não profissional................12

Princípio do esgotamento de instância desportiva/administrativa.............................................12

Princípios infra-constitucionais.....................................................................................................13

Princípio da soberania................................................................................................................13

Princípio da democratização......................................................................................................13

Princípio da liberdade................................................................................................................14

Princípio do direito social..........................................................................................................14

Princípio da identidade nacional................................................................................................14

Princípio da educação................................................................................................................14

Princípio da qualidade................................................................................................................14

Princípio da descentralização.....................................................................................................15

Princípio da segurança...............................................................................................................15

Princípio da eficiência................................................................................................................15

Princípio da transparência financeira e administrativa..............................................................15

4
Princípio da moralidade na gestão desportiva............................................................................15

Princípio da responsabilidade social dos dirigentes da administração desportiva.....................16

Princípio do tratamento diferenciado em relação ao desporto não profissional........................16

Princípio da participação na organização desportiva do País....................................................16

Conclusão......................................................................................................................................18

Bibliografia....................................................................................................................................19

5
Introdução
Há alguns anos, o desporto passou a ocupar boa parte do tempo daqueles que a ele se dedicam,
tornando-se uma actividade primária em suas vidas.

Um exemplo disso é o facto do mercado do futebol movimentar em média trezentos bilhões de


dólares por ano e, neste cenário, existem diversos interesses: torcedores, media, publicidade,
transportes, hospedagens, materiais desportivos e um grande número de empregos directos e
indirectos.

Nesta conjuntura, o presente trabalho ira apresentar o conceito de direito desportivo, bem como
os seus princípios norteadores.

6
Introdução ao regime jurídico desportivo
A existência de uma disciplina autónoma está condicionada a um conjunto sistematizado de
princípios e normas, identificadoras e peculiares de uma realidade, distintas de demais
ramificações do Direito. O reconhecimento do Direito Desportivo passa, portanto, pela formação
de uma unidade sistemática de princípios e normas.

A peculiaridade do direito aplicável ao desporto é inegável. Álvaro Melo Filho sintetiza com
maestria o conjunto de normas desportivas, ao afirmar que o “desporto é, sobretudo, e antes de
tudo, uma criatura da lei. Na verdade, não há nenhuma actividade humana que congregue tanto o
direito como o desporto: os códigos de justiça desportiva, as regras de jogo, regulamentos de
competições, as leis de transferências de atletas, os estatutos e regimentos das entidades
desportivas, as regulamentações do doping, as normas de prevenção e punição da violência
associadas ao desporto, enfim, sem essa normatização o desporto seria caótico e desordenado, à
falta de uma regulamentação e de regras para definir quem ganha e quem perde.”1

Celso Antônio Bandeira de Mello, afirma que surge o regime jurídico-administrativo embasado
na “composição de elementos, sob perspectiva unitária, denominada sistema. Um sistema
coerente, lógico e harmônico de elementos em todo unitário, integrado em uma realidade maior”.
Nesse panorama sistêmico, que emprestamos do Direito Administrativo, é que se pretende
fundamentar a existência do Direito Desportivo a partir de um determinado regime jurídico, o
regime jurídico desportivo.

A doutrina pouco tem considerado o estudo do Direito Desportivo, como disciplina formada a
partir de um regime jurídico desportivo. Apenas o faz, no estudo dos seus diversos institutos e
legislação, através de postulados isolados.

Conceitua-se, portanto, o Direito Desportivo insuficientemente pela existência de um apanhado


de leis e normas aplicáveis ao desporto.

Ademais, o Direito Desportivo, em verdade classificado pela jurisprudência com emenda de


Direito Administrativo, consiste em uma disciplina normativa peculiar consagrada por um
regime jurídico desportivo e delineada em função dos princípios basilares insculpidos no art. 217
da Carta Magna e outros contemplados no ordenamento jurídico por conta das diversas
1
Diretrizes para a nova legislação desportiva: Revista Brasileira de Direito Desportivo, IBDD e editora da
OAB/Sp, segundo semestre/2002.

7
manifestações do desporto. O importante é, justamente, a tradução desses princípios no referido
sistema de Direito Desportivo.2

A eficácia do regime desportivo


O Direito Desportivo concebido através de um regime jurídico desportivo composto de
princípios e normas harmônicas, inter-relacionáveis, apresenta maior coerência e raciocínio
lógico, a despeito da doutrina dominante, sobretudo no aspecto metodológico, técnico e
científico.

Com efeito, na perspectiva do regime desportivo, o arcabouço de princípios informativo de


normas que consideram as actividades desportivas em suas diversas prerrogativas e
manifestações, estabelece meio eficaz de aglutinação dessas mesmas normas e princípios.

Exclui-se, assim, um plano de normas e princípios estanques, restritos a determinado método de


interpretação.

Demais disso, admitir que o Direito Desportivo estabelece vínculo indissociável, por
dependência, de qualquer área do Direito (Constitucional ou Administrativo, por exemplo) é
retirar-lhe a autonomia. Os regimes que regulam o objecto de cada matéria, apesar de no mais
das vezes semelhantes, não são iguais.

De outra parte, no regime desportivo, todos os princípios e seus derivados, encerram conceitos
cuja única e exclusiva premissa está centralizada no alcance, genérico ou operacional, de uma
determinada finalidade - privada, escoimada na autonomia constitucional conferida às entidades
directivas quanto a sua organização e funcionamento, ou pública, porquanto o desporto também
se insere no binômio “prerrogativas da Administração” e “direitos dos administrados”. É essa
cadeia de princípios que, linearmente composta no regime desportivo, visa assegurar a protecção
dos direitos e garantias de todas as pessoas físicas e jurídicas directa ou indirectamente
relacionadas com as actividades desportivas. Seja na execução directa dos fins almejados pela
sociedade desportiva organizada, seja no tratamento dispensado pelas entidades desportivas de
finalidade lucrativa ou não nos procedimentos para o atendimento das referidas finalidades.

2
Geraldo Ataliba, Sistema Constitucional Tributário Brasileiro, 1996.

8
Nesse sentido que, somente no regime desportivo, tido como sistema coeso e harmônico, os
princípios conferem absoluta compreensão e inteligência das normas de Direito Desportivo, sem
potencial limitação do processo interpretativo. É imperioso, portanto, reconhecer o princípio da
legalidade como a viga mestra, o centro gravitacional, mandamento nuclear de qualquer regime
jurídico. Dele resultam princípios próprios e peculiares que visam orientar as acções das
entidades públicas e privadas do desporto, na solução ideal dos anseios sociais. O agente,
investido na função desportiva, deve concentrar esforços em todas as suas actividades no
contexto político, social, técnico, jurídico e administrativo, em estrita observância da ordem legal
vigente.

O Estado de Direito só pode existir em base democrática. Contrapõe-se de um lado com o Estado
totalitário, no qual o Estado centraliza todo o poder, aniquilando as forças das pessoas e da
sociedade civil e, de outro lado, está o anarquismo, em que não há Estado, portanto não há
também relações de direito entre indivíduos. O Estado Democrático de Direito se complementa e
se correlaciona com a sociedade civil.

Nesse sentido, constatou-se que, na actualidade, o Estado não pode ser incumbido apenas de
cuidar da ordem interna e da segurança externa do país. Deve reconhecer a divisão de poderes,
acatar a ordem jurídica, e respeitar os direitos e liberdades individuais. Vale dizer, deve ter por
objectivo primordial a distribuição de justiça.

E não apenas a justiça, que corresponde a criar e aplicar as leis, mas a justiça social. Assim,
cumpre o Estado desenvolver o bem-estar da sociedade, através do implemento de actividades
para suprir suas necessidades.

Outrossim, o Estado de Direito, formal, que elabora, executa as leis e sanciona o seu
cumprimento, não pode fazê-lo, na modernidade, sem que a devida representação social -
democracia. Assim, o anseio social é quem determina e legitima o Estado.

Interagem e se comunicam, na medida em que mera legalidade não é suficiente para alcançar os
fins almejados pelo cidadão. É necessário que a lei reflicta a necessidade popular, e é nesse ponto
que predomina a moralidade.

Despojado de qualquer lampejo de romanticismos, as restrições ao cumprimento do princípio da


legalidade não estão apenas em medidas excepcionais e urgentes previstas em lei. Estão, sim,

9
disseminadas na inversão de valores e crise moral de nossas instituições. A constatação da
existência de um Direito Desportivo, calcado em um regime sistêmico de elementos formadores
de um todo, contribui de sobremaneira para ampliar as condições de gerir o interesse à cura das
Entidades Desportivas.3

Princípios do direito desportivo


O Direito Desportivo diferencia-se dos demais ramos do direito, justamente porque está sob a
égide de um determinado regime jurídico. Tal regime é composto de um conjunto sistematizado
de princípios e normas, reunidos de forma coordenada e lógica, formadores de um todo unitário -
o “regime jurídico desportivo”.

Portanto, o conjunto de princípios peculiares desse regime, constitui o seu elemento essencial.

Princípios são proposições directoras de uma ciência. Como bem observa José Afonso da Silva,
“princípios são ordenações que irradiam e emanam o sistema de normas”4. Na perspectiva de um
sistema desportivo, são os seus alicerces, bases e fundamentos. Constituem a fonte ou causa de
uma acção, resultante de um processo de pensamentos gerais e abstrações a partir do real
vivido5. É a própria essência de cada indivíduo, constituindo, segundo Japiassu e Marcondes,
"um preceito moral, norma de acção que determina a conduta humana e à qual um indivíduo
deve obedecer quaisquer que sejam as circunstâncias. Duas condições são necessárias: uma, que
seja tão claros e evidentes que o espírito humano não pode duvidar de sua validade; a outra, que
seja deles que dependa o conhecimento de outras coisas, de que possam ser conhecidos sem elas,
mas não reciprocamente elas sem eles".

Ainda que timidamente, é forçoso reconhecer que tanto a doutrina, como a legislação e a
jurisprudência, contemplam um número cada vez maior de princípios aplicáveis ao Direito
Desportivo. Percebe-se que, ao eleger um dado princípio, minimiza-se o processo apropriado de
tomada de decisão. Assim, um ato que esteja em desconformidade com um determinado
princípio aplicável, constitui o seu fundamento revogatório ou anulatório.4

3
SILVA, João Bosco e SCHMITT, Paulo M. Entenda o Projeto Pelé: ed. Lido, Londrina/Pr, 1997, cit. p. 84.
4
SCHMITT, Paulo Marcos. REGIME JURÍDICO E PRINCÍPIOS DO DIREITO DESPORTIVO. Artigo disponível
em https://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/regime_juridico.pdf. Acessado à 06/05/2023.

10
A função dos princípios
A importância do estudo dos princípios que orientam o regime jurídico desportivo reside,
principalmente, em aclarar o sentido das normas - o espírito das leis. Preconiza-se, todavia,
aplicar métodos de interpretação dos textos das leis sem, contudo, distanciar-se do objectivo para
as quais foram editadas.

Os princípios têm a função de auxiliar no processo interpretativo das regras, permitindo o


adequado preenchimento de suas lacunas. As leis, normas e regulamentos em geral reconhecem,
para a solução de casos omissos, o uso da analogia, jurisprudência, costumes e princípios gerais
de direito. Entretanto, embora não expresso formalmente pelo notório reconhecimento
doutrinário e jurisprudencial que possui, o uso dos princípios precede qualquer omissão contida
na lei. Vai além, os princípios informam a correcta interpretação de todo a aparelho legal.

Não basta conhecer a lei, faz-se necessário o seu estudo conceitual e principio lógico. Uma lei é
editada com uma finalidade específica. Distanciar-se desse fim - o espírito da lei - significa
incorrer em erro invencível de interpretação, qual seja, desprezar os seus princípios, explícitos ou
implícitos. Nem sempre os princípios se acham transpostos literalmente no texto das leis
(explícitos).

Encontramos inúmeros princípios relacionados para o Direito Desportivo. No momento, importa


apenas elencá-los com a adequada fundamentação constitucional ou infra-constitucional,
doutrinária e jurisprudencial, sem contradizê-los ou deferir-lhes uma disposição sistemática. Isto
porque, à medida que nos apropriamos do conhecimento princípio lógico, depuramos o processo
de interpretação das normas que o informam.5

Conflito de princípios
Embora devam estar dispostos harmonicamente em um sistema coeso de normas, nem todos os
princípios são aplicáveis indistintamente de modo a informar, ao mesmo tempo, um conjunto de
normas. Essa aparente incompatibilidade de observância de um princípio em detrimento de
outro, pode ser dirimida através dos estudos de Robert Alexy, na Teoria de Los Derechos
Fundamentales (Centro de Estudios Constitucionales, Madrid, 1993). O referido autor estabelece

5
Carlos Ari Sunfeld, Fundamentos de Direito Público,1998.

11
que os princípios diferenciam-se das regras, especialmente, quando estudados sob o prisma do
conflito ou colisão.

Regras conflitantes são, normalmente solucionadas, através de uma cláusula de excepção


prevista em uma delas. Caso contrário, se inexistente uma condição de previsibilidade ou
excepção, uma das regras deve ser invalidada e eliminada do ordenamento jurídico para que a
outra possa ser aplicada. Assim, os critérios adoptados de invalidação, podem se dar através da
importância das regras em conflito, anterioridade da regra ou preponderância de regras especiais
sobre regras gerais.

No caso dos princípios a solução não é tão simples. Não se pode, por exemplo, invalidar um
princípio em detrimento de outro, retirando-lhe do ordenamento jurídico. O que está em jogo não
é a validade do princípio, como no caso das regras. Ao contrário, parte-se do pressuposto de que
os princípios somente se acham em conflito se forem válidos ou consagrados no ordenamento
sistêmico.

Como já dissemos, princípios são alicerces, e, anulá-los ou retirar-lhes a validade, significa


enfraquecer ou desestruturar a base de um sistema. Em verdade, um conflito de princípios
aplicáveis a um mesmo caso concreto, determina que um princípio deve ceder, para que o outro
seja aposto.

Nesse sentido, Alexy formula o que denomina de ´ley de colisión’, para dirimir o conflito de
princípios. A lei sob análise utiliza uma didática de equacionamento exemplificativo para aclarar
a solução de princípios conflitantes.

No entanto, o postulado princípio lógico pode ser compreendido a partir de premissas de


precedência incondicionada ou de precedência condicionada. Na primeira hipótese um princípio
precede a outro por razões puramente abstratas, sem considerar as condições ou circunstâncias
do caso concreto. Um princípio antecede o outro, consideradas algumas condições dessa
precedência. Para que se adopte a preferência de um princípio sobre o outro, tais condições
constituem um peso, quantificado segundo determinadas circunstâncias e suas consequências
jurídicas. Quanto maior a complexidade e valores envolvidos no caso concreto, maior o plexo

12
condicional. Nesses casos, o critério de preferência de um princípio é, em tese, mais objectivo e
concreto.6

Princípios em espécie

Principios constitucionais
Princípio da autonomia desportiva
Previsto no artigo 217, inciso I, da Constituição Federal, bem como no artigo 2º, inciso II, da Lei
nº 9.615/1998, o princípio da autonomia desportiva garante a liberdade de funcionamento e
organização às associações e entidades desportivas, sem que haja qualquer interferência do Poder
Público em suas questões internas.

Bem destaca a versão preliminar do voto do Dep. Gilmar Machado, relator do Projecto de Lei do
Estatuto do Desporto:

“A autonomia, que neste caso é uma garantia da preservação de um ambiente de liberdade de


pensamento, não se exerce como se fosse soberania. O campus, não é um estado à parte, no qual
se deixa de aplicar, por exemplo, a lei penal. E assim com as demais normas de ordem pública. A
universidade é autónoma, mas submete-se ao controle de qualidade previsto pela lei estatal. O
mesmo raciocínio aplica-se mutatis mutandi ao desporto. Isto é, afasta-se a idéia de qualquer
intervenção do Estado, ou de regulação de normas esportivas no sentido estrito - mas não de
regulação segundo normas de ordem pública que garantam a eficácia de princípios e regras
constitucionais.”

Princípio da destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto


educacional e, em alguns casos, para o desporto de alto rendimento
Os investimentos públicos, segundo a Constituição Federal, devem ser utilizados, de forma
prioritária, para a promoção do desporto educacional, bem como do desporto de alto rendimento,
sendo, este último, somente em determinados casos. É importante mencionar que, caso haja

6
SCHMITT, Paulo Marcos. REGIME JURÍDICO E PRINCÍPIOS DO DIREITO DESPORTIVO. Artigo disponível
em https://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/regime_juridico.pdf. Acessado à 06/05/2023.

13
alguma modalidade de maior grau de dificuldade em seu desenvolvimento ou que seja menos
rentável, ela necessitará do incentivo governamental integral.

Princípio do tratamento diferenciado entre desporto profissional e não profissional


Pelo facto dos dois modelos possuírem realidades totalmente distintas, a Constituição Federal,
por intermédio do artigo 217, inciso III, bem como a Lei Geral sobre Desportos, em seu artigo 3º,
e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD, através do seu artigo 1º, 2º, defendem o
tratamento diferenciado entre a prática desportiva profissional e não profissional. É importante
destacar que, no desporto não profissional não há finalidade de lucro e muito menos objecto de
enormes financiamentos por parte da iniciativa privada.

Em razão disso, as actividades desportivas não profissionais devem receber incentivos de forma
predominante em relação às actividades desportivas profissionais, pois, a primeira modalidade,
não é objecto de exorbitantes financiamentos por parte da iniciativa privada, já que a sua
finalidade não é o lucro.

Princípio do esgotamento de instância desportiva/administrativa


Para que o Poder Judiciário possa apreciar matérias desportivas relacionadas à disciplina e
competição desportiva, é necessário o esgotamento da instância desportiva/administrativa,
conforme preceitua o  1º, do artigo 217, da Constituição Federal. É importante destacar que a
decisão final deverá ser proferida pela instância desportiva/administrativa no prazo máximo de
60 (sessenta) dias, com termo inicial a partir da instauração do processo, conforme leciona o § 2º,
também do artigo 127, da Constituição Federal.7

7
DA SILVA, Lhuan Gaspar. Direito Desportivo: conceito e princípios. Artigo disponível em
https://www.jusbrasil.com.br/artigos/direito-desportivo-conceito-e-principios/695229898 . Acesso em: 06/05/2023.

14
Princípios infra-constitucionais
LEI Nº 9615/98

A Lei nº 9615/98, em seu art. 2º, arrola doze princípios dispondo sobre suas principais
características e conceitos, sendo desnecessário maiores comentários acerca de tais proposições
directoras da citada lei.

Os princípios infra-constitucionais são aqueles extraídos da experiência e práticas desportivas,


bem como da doutrina e das decisões judiciais, representado ideias gerais sobre determinado
tema.

No entanto, é imperioso trazer à colação as anotações de Marcílio Krieger quando aduz que tais
“princípios fundamentais dão viabilidade prática tanto à garantia constitucional do desporto
como direito fundamental, quanto ao da autonomia das entidades práticas e dirigentes -
autonomia que pressupõe o respeito às normas constitucionais quanto às normas e regras
internacionais e nacionais da respectiva modalidade”.

Vejamos cada qual, na forma como se encontram transpostos no ordenamento jurídico

pátrio:

Princípio da soberania
Pevisto no artigo 2º, inciso I, da Lei nº 9.615/98, o princípio da soberania indica que o Estado
brasileiro é autoridade suprema na questão da organização desportiva em seu território, sempre
levando em consideração as normas internacionais relacionadas ao desporto, e, principalmente, o
que determina a Constituição Federal e os princípios nela contidos.

Princípio da democratização
O princípio da democratização, previsto no artigo 2º, inciso III, da Lei nº 9.615/98, e partindo da
premissa de que o desporto é um “direito de cada um”, objectiva garantir acesso às actividades
desportivas, sem que haja qualquer tipo de discriminação e/ou distinção.

Um exemplo prático do princípio da democratização é o investimento no desporto brasileiro para


pessoas com necessidades especiais, o que vem causando o aumento expressivo do número de

15
participações de atletas brasileiros em competições desportivas voltadas para o público portador
de necessidades especiais e uma melhoria, também expressiva, em termos estruturais.

Princípio da liberdade
Previsto no artigo 2º, inciso IV, da Lei nº 9.615/98, o princípio da liberdade lecciona que,
considerando a capacidade e interesse de cada um, todos possuem liberdade à prática desportiva,
com a opção de vincular-se, ou não, a uma entidade de organização de determinada categoria.

Princípio do direito social


O princípio do direito social, elencado no artigo 2º, inciso V, da Lei nº 9.615/98, prevê que o
Estado tem o dever de estimular todas e quaisquer práticas desportivas formais e não formais.

Princípio da identidade nacional


Previsto no artigo 2º, inciso VII, da Lei nº 9.615/98, o princípio da identidade nacional define
que deve haver, por parte do Estado, incentivo e protecção às manifestações desportivas de
criação ou organização nacional, tais como, competições, eventos, festas e solenidades
esportivas.

Princípio da educação
O princípio da educação, descrito no artigo 2º, inciso VIII, da Lei nº 9.615/98, lecciona que o
Estado tem o dever de priorizar recursos públicos à promoção do desporto educacional voltado
ao desenvolvimento integral do homem como ser participativo e autónomo, sem que haja
selectividade e hipercompetitividade de seus participantes.

16
Princípio da qualidade
Elencado no artigo 2º, inciso IX, da Lei nº 9.615/98, o princípio da qualidade trata da prática,
bem como da valorização dos resultados desportivos, educacionais e dos relacionados à
cidadania, bem como ao desenvolvimento físico e moral do cidadão.

Princípio da descentralização
O princípio da descentralização, previsto no artigo 2º, inciso X, da Lei nº 9.615/98, prevê que o
poder deve ser repartido, visando à organização e o funcionamento harmônicos dos sistemas
desportivos diferenciados e autônomos, seja federal, estadual, distrital e/ou municipal.

Princípio da segurança
Descrito no artigo 2º, inciso XI, da Lei nº 9.615/98, o princípio da segurança prevê que, as
integridades física, mental e sensorial dos praticantes de qualquer modalidade desportiva, devem
ser protegidas, sendo vedada, pelo ordenamento jurídico desportivo pátrio, a exigência
desmedida por resultado. É importante mencionar que a vedação à exigência desmedida por
resultados ocorre pelo fato do seu poder de causar eventuais prejuízos ao praticante do desporto
em razão da utilização de substâncias e medicamentos prejudiciais à saúde, como é o caso
do doping.

Princípio da eficiência
O princípio da eficiência, elencado no artigo 2º, inciso XII, da Lei nº 9.615/98 e obtido por meio
de estímulo à competência desportiva e administrativa, leciona que o Estado e/ou a iniciativa
privada, responsável pela organização da prática desportiva, devem agir com rendimento,
presteza e rapidez.

Princípio da transparência financeira e administrativa


Previsto no § 1º, inciso I, do artigo 2º, da Lei nº 9.615/98, o princípio da transparência financeira
garante o acesso às informações e a possibilidade de contestá-las.

17
Um exemplo prático do princípio da transparência financeira e administrativa é a possibilidade
dos sócios dos clubes, dos clubes membros de uma Federação e das Federações integrantes de
uma Confederação Desportiva de livre acesso à respectiva administração e contabilidade.

Princípio da moralidade na gestão desportiva


O princípio da moralidade na gestão desportiva, elencado no § 1º, inciso II, do artigo 2º, da Lei
nº 9.615/98, prevê que os membros da organização devem promover, ordinariamente e nas
Assembleias Gerais, bem como nas Eleições periódicas e, se for o caso, no Poder Judiciário, o
julgamento moral de suas respectivas administrações. É importante destacar que o princípio da
moralidade na gestão desportiva é oriundo das teorias contemporâneas de Administração
Pública, mas há diferença na aplicação deles, pois, no ramo do direito desportivo, ele se refere ao
seu quadro social, os sócios dos clubes, os clubes membros da federação e assim por diante; já
no ramo da Administração Pública, ele se refere a toda sociedade.

Princípio da responsabilidade social dos dirigentes da administração desportiva


Descrito no § 1º, inciso III, do artigo 2º, da Lei nº 9.615/98, o princípio da responsabilidade
social dos dirigentes da administração desportiva prevê que o administrador de uma associação,
empresa ou o que quer que seja, tem a responsabilidade de promover a melhor gestão possível de
sua organização. É importante mencionar que, pelo facto do desporto ser uma excelente
ferramenta para o desenvolvimento integral da pessoa humana, bem como à promoção da paz, os
dirigentes da administração desportiva têm de assumir a responsabilidade social e, além do
aspecto financeiro, devem aproveitar suas actividades e parte de seus recursos para promover
mensagens e programas de interesses sociais.

Princípio do tratamento diferenciado em relação ao desporto não profissional


O princípio do tratamento diferenciado em relação ao desporto não profissional, previsto
no artigo 1º, inciso IV, do artigo 2º, da Lei nº 9.615/98, lecciona que o Estado deve considerar o
desporto como um Direito Fundamental da Pessoa Humana e um instrumento eficaz à promoção

18
da paz e do desenvolvimento econômico, social e humano, oferecendo, ao desporto não
profissional, um tratamento diferenciado.

Princípio da participação na organização desportiva do País


Descrito no artigo 1º, inciso V, do artigo 2º, da Lei nº 9.615/98, o princípio da participação na
organização desportiva do País prevê que o Estado, visando sempre à promoção de competições
esportivas classistas e escolares, reintegração da educação física ao currículo escolar, bem como
o suporte não-intervencionista à iniciativa privada esportiva, deve ser participativo na
organização desportiva nacional.8

8
Ibidem.

19
Conclusão
A legislação desportiva moçambicana é muito fraca, e assim sendo, cingimo-mos nas legislações
brasileiras, que é um dos pioneiros desta cadeira de Direito do Desporto, quem apesar disso
passa por um período complicado, pois é totalmente cheia de lacunas e totalmente desprovida de
sistematização e coerência.

A existência de uma disciplina autónoma está condicionada a um conjunto sistematizado de


princípios e normas, identificadoras e peculiares de uma realidade, distintas de demais
ramificações do Direito. O reconhecimento do Direito Desportivo passa, portanto, pela formação
de uma unidade sistemática de princípios e normas.

Ainda ao longo do trabalho falamos acerca dos Princípios Fundamentais do Direito Desportivo,
que dividem-se em princípios constitucionais e infra-constitucionais. O principio constitucional
como o nome em si já sugere, são os princípios que encontram-se dispostos na Constituição de
um Estado. E os princípios infra-constitucionais são aqueles extraídos da experiência e práticas
desportivas, bem como da doutrina e das decisões judiciais, representado ideias gerais sobre
determinado tema pois, através deles, será possível obter uma legislação sistêmica e coerente,
sempre em sintonia com a legislação e constantes mudanças do Direito Desportivo internacional.

20
Bibliografia
Carlos Ari Sunfeld, Fundamentos de Direito Público,1998.

DA SILVA, Lhuan Gaspar. Direito Desportivo: conceito e princípios. Artigo disponível em


https://www.jusbrasil.com.br/artigos/direito-desportivo-conceito-e-principios/695229898.
Acesso em: 06/05/2023.

Diretrizes para a nova legislação desportiva: Revista Brasileira de Direito Desportivo, IBDD e
editora da OAB/Sp, segundo semestre/2002.

Geraldo Ataliba, Sistema Constitucional Tributário Brasileiro, 1996.

SCHMITT, Paulo Marcos. REGIME JURÍDICO E PRINCÍPIOS DO DIREITO DESPORTIVO.


Artigo disponível em https://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/regime_juridico.pdf. Acessado
à 06/05/2023.

SILVA, João Bosco e SCHMITT, Paulo M. Entenda o Projeto Pelé: ed. Lido, Londrina/Pr, 1997.

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