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Desde que o futebol e suas regras passaram a existir, a atuação dos operadores do direito
passou a ser indispensável para regular as práticas desportivas e proteger as relações jurídicas
entre atletas, clubes e intermediários. Os contratos são um ato jurídico que se dá através do
interesse de ao menos duas partes, para originar, modificar ou extinguir direitos e deveres
inerentes aos interessados. Destaca-se que existem diversas particularidades nos contratos que
versam sobre as relações desportivas e que devem ser observadas pelo operador do direito
lembrando que o Direito Desportivo é uma área totalmente volátil devido às constantes
transformações e evoluções dentro do desporto. A própria nomenclatura distingue o Contrato
Especial de Trabalho Desportivo e evidencia que não se trata de um contrato de trabalho
comum tal qual aqueles regidos pela CLT mas sim um contrato distinto com cláusulas
singulares. Os contratos de trabalho de atletas profissionais detêm algumas peculiaridades que
precisam ser analisadas. Os instrumentos contratuais desportivos não se relacionam com os
contratos regidos especificamente pelo Direito Civil ou ainda, pelo Direito do Trabalho. As
características especificas do esporte fazem com que os contratos desportivos devam ser
elaborados segundo as normas desportivas nacionais e internacionais.
ABSTRACT
Since football and its rules came into existence, the role of legal operators has become
indispensable to regulate sports practices and protect legal relationships between athletes,
clubs and intermediaries. Contracts are a legal act that takes place through the interest of at
least two parties, to originate, modify or extinguish rights and duties inherent to the interested
parties. It is noteworthy that there are several particularities in the contracts that deal with
sports relationships and that must be observed by the legal operator, remembering that Sports
Law is a totally volatile area due to the constant transformations and evolutions within the
sport. The nomenclature itself distinguishes the Special Sports Employment Contract and
shows that it is not a common employment contract such as those governed by the CLT, but a
separate contract with singular clauses. The employment contracts of professional athletes
have some peculiarities that need to be analyzed. Sports contractual instruments are not
related to contracts specifically governed by Civil Law or even by Labor Law. The specific
characteristics of sport mean that sports contracts must be drawn up in accordance with
national and international sporting standards.
Keywords: Sports Contracts, Sports Law, Special Sports Employment Contract, Pelé Law.
1
CONTRATOS DESPORTIVOS
1) Introdução:
O presente artigo tem como objetivo discorrer a respeito das particularidades dos
Contratos Desportivos em consonância com a teoria geral dos contratos, abrangendo ainda
casos concretos de atletas profissionais de futebol.
2) Evolução Histórica:
Desde que o futebol passou a existir foram criadas regras especificas para regulamentar
o esporte, a fim de garantir a maior organização do jogo que viria a ser o mais popular do
mundo.
Com a criação das regras do jogo, entre elas: o surgimento dos árbitros de futebol, a lei
do impedimento e as substituições dos atletas, a atuação dos operadores do direito passou a
ser indispensável para regular as práticas desportivas, proteger as relações jurídicas entre
atletas, clubes e intermediários e solucionar quaisquer conflitos existentes na esfera
desportiva.
1
André Galdeano Simões, advogado atuando desde 2010 como Gerente Jurídico de Futebol
do C.R. Flamengo, Mestrando em Direito Desportivo pela Pontifícia Universidade Católica
(PUC/SP). Pós-Graduado em Direito Desportivo – Centro Universitário da Cidade/RJ e em
Gestão Esportiva pelo Programa FGV/FIFA/CIES. Membro da Comissão de Direito
Desportivo da OAB/RJ. Árbitro Desportivo do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem
(CBMA).
2
obedecido como se fosse um direito codificado e sancionado pelo
Estado. Quero me referir ao direito que chamo esportivo e que só
agora começa a ser “anexado” pelo Estado e reconhecido por lei. Este
direito, cuja Charta (para empregar uma expressão de Malinowski) se
estende pelo Brasil inteiro, é de autêntica realização popular e é
aplicado com um rigor que muito Direito escrito não possui.
Organizou instituições suas, peculiares, que velam pela regularidade e
exação dos seus preceitos.
(...)
O saudoso Professor Álvaro Melo Filho (2002) com destreza discorre sobre a desordem
que seria o desporto sem a devida regulamentação ao declarar que:
2
VIANNA, O. Instituições Políticas Brasileiras (Primeiro e Segundo Volume). Brasília:
Conselho Editorial do Senado Federal, 1999. Disponível em: <
https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/1028>. Acessado em: 08/11/2021.
3
“Desporto é, sobretudo, e antes de tudo, uma criatura da lei. Na
verdade, não há nenhuma atividade humana que congregue tanto o
Direito como o desporto: os códigos de justiça desportiva, as regras de
jogo, regulamentos de competições, as leis de transferências de atletas,
os estatutos e regimentos das entidades desportivas, as
regulamentações do doping, as normas de prevenção e punição da
violência associada ao desporto, enfim, sem essa normatização, o
desporto seria caótico e desordenado, à falta de uma regulamentação e
de regras para definir quem ganha e quem perde.”3
Entretanto, a Lei Zico sofreu significativas alterações antes de sua aprovação, tendo sido
retirado inclusive o artigo que tratava da Lei do Passe5.
O fim do passe ocorreu apenas com a publicação da Lei nº 9.615/1998 (Lei Pelé), que
criou a cláusula penal obrigatória nos contratos desportivos.
A Lei Pelé, portanto, trouxe mudanças expressivas para os contratos dos atletas
profissionais bem como para as relações jurídicas desportivas provenientes de outras espécies
de contratos.
3
MELO FILHO, A. Diretrizes para a nova legislação desportiva. Revista Brasileira de
Direito Desportivo, São Paulo. 2002. P.01.
4
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-3199-14-abril-1941-
413238-publicacaooriginal-1-pe.html
5
https://universidadedofutebol.com.br/2021/04/10/o-que-preciso-saber-sobre-a-legislacao-
desportiva-no-brasil/
4
Por fim, em 2.003 foi publicada a Lei nº 10.671/2003 6 - o Estatuto do Torcedor –
responsável pelas relações consumeristas desportivas, instituindo direitos e deveres de todas
as partes envolvidas nos espetáculos esportivos.
No Direito Civil, o livro das Obrigações é o responsável por discorrer sobre a teoria
geral dos contratos. E no Direito Desportivo, o Direito Civil é utilizado como importante
fonte, em especial em casos cuja Lei Pelé for omissa.
É certo que os contratos existem desde que as pessoas passaram a viver em sociedade, e
com o passar dos anos foi se desenvolvendo para se adequar a realidade da coletividade.
6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.671.htm
7
GOMES, Luiz Flavio (org.). Estatuto do Torcedor Comentado. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2011.
8
SOUZA, Gustavo Lopes Pires de. Direito Desportivo. Belo Horizonte: Arraes Editores.
2014.
5
“A feição atual do instituto vem sendo moldada desde a época romana
sempre baseada na realidade social. Com as recentes inovações
legislativas e com a sensível evolução da sociedade brasileira, não há
como desvincular o contrato da atual realidade nacional, surgindo a
necessidade de dirigir os pactos para a consecução de finalidades que
atendam os interesses da coletividade.”9
Além do mútuo consenso, para que um contrato seja considerado válido, é necessário
que seja firmado por indivíduos com capacidade jurídica para celebrar aquele negócio; ter o
objeto lícito, possível, determinado ou determinável, haja vista que os direitos das partes
devem estar regulados no contrato; e, finalmente deve observar a forma específica imputada
pela lei.
Esse princípio é denominado de pacta sunt servanda, sinalizando que o contrato faz lei
entre as partes.
(...)
9
TARTUCE, Flávio. Manual do Direito Civil – Volume Único.2. ed. rev., atual. e ampl. –
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2012.
10
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria das Obrigações
Contratuais e Extracontratuais. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p.57.
6
Todavia, não é exagerado afirmar que o princípio da força obrigatória
do contrato tende a desaparecer. Por certo, outro princípio o
substituirá no futuro, talvez o princípio da conservação do contrato ou
mesmo a boa-fé objetiva, em uma feição de tutela de confiança.”
Por conseguinte, o princípio da boa-fé objetiva está disposto no artigo 422 do Código
Civil e prevê que “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,
como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. A boa-fé objetiva é a base para
qualquer relação jurídica íntegra. É o dever das partes de agir com honestidade, razoabilidade
e respeito nas relações contratuais.
Por fim, o princípio da função social do contrato leva em consideração que o conteúdo
pactuado pelas partes deve refletir sobre a realidade social em derredor. É o que doutrinam
TEPEDINO, KONDER e BANDEIRA (2020, p. 49):
4) Os Contratos Desportivos:
Destaca-se que existem diversas particularidades nos contratos que versam sobre as
relações desportivas e que devem ser observadas pelo operador do direito desportivo, sendo a
primeira delas a própria nomenclatura utilizada pelo legislador.
13
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/3566. Acesso em: 14 nov.
2021. doi:https://doi.org/10.18256/2238-0604.2019.v15i2.3566.
14
RODRIGUES, Manuel Cândido. “Contratos de Trabalho. Contratos Afins. Contratos de
Atividade”. In: BARROS, Alice Monteiro de (coord.). Curso de direito do trabalho: estudos
em memória de Célio Goyatá. 3ª ed. v. I. São Paulo: LTr, 1997, p. 439.
8
“Aspectos desportivos: (treinos, concentração, preparo físico,
disciplina tática em campo);
Aspectos pessoais: (alimentação balanceada, peso, horas de sono,
limites à ingestão de álcool);
Aspectos íntimos: (uso de medicamentos dopantes; comportamento
sexual);
Aspectos convencionais: (uso de brincos, vestimenta apropriada);
Aspectos disciplinares: (ofensas físicas e verbais a árbitros, dirigentes,
colegas, adversários e torcedores, ou recusa em participação em
entrevistas após o jogo).”15
Domingos Sávio Zainaghi (1998, p. 60) afirma que “tendo em vista a excepcionalidade
da relação de emprego entre atleta e clube, é que a lei exige os demais elementos que devem
constar do contrato”16.
Posteriormente à Lei do Passe, a Lei Pelé instituiu de forma expressa a cláusula penal
desportiva consoante o artigo 28.
15
MELO FILHO, Álvaro. Balizamentos jus-laboral-desportivos. In Atualidades sobre Direito
Esportivo no Brasil e no Mundo, tomo II/ BASTOS, Guilherme Augusto Caputo
(coordenador), Brasília – DF – P. 22/23.
16
ZAINAGHI, Domingos Sávio. Os atletas profissionais de futebol no direito do trabalho.
São Paulo: LTr, 1998.
9
§ 2º O vínculo desportivo do atleta com a entidade desportiva
contratante tem natureza acessória ao respectivo vínculo trabalhista,
dissolvendo-se, para todos os efeitos legais:
O Passe assegurava aos clubes o vínculo contratual com o jogador profissional, mesmo
após o término do contrato de trabalho celebrado entre eles. Sendo assim, o atleta de futebol
somente poderia ser transferido para uma entidade desportiva distinta se houvesse o
pagamento de uma indenização ao primeiro clube.
O mestre Rafael Teixeira Ramos tratou de definir o passe e justamente o que ele
representava da seguinte maneira:
Com isso, o atleta profissional não era capaz de se desvencilhar do clube a quem
prestava serviços e ainda poderia sofrer um revés em sua carreira caso não aceitassem as
condições de permanência na entidade desportiva. Foi devido ao instituto do passe que o
contexto do jogador de futebol foi considerado como análogo à escravidão.
A título ilustrativo, um caso que gerou um grande impacto no período do extinto passe
foi, em 1989, a transferência do jogador de futebol Bebeto para o Club de Regatas Vasco da
Gama. À época, o atleta atuava pelo Clube de Regatas do Flamengo e não houve consenso
para a renovação contratual. Com isso, foi necessário que o arquirival Vasco da Gama
efetuasse o depósito do valor do passe do jogador, viabilizando a transferência para o novo
clube. Caso o pagamento não fosse realizado, Bebeto estaria impedido de atuar por outro
clube.
Com o advento da Lei Pelé, a figura do passe foi totalmente extinta do ordenamento
jurídico, cedendo espaço à cláusula penal desportiva, que tratava da compensação pecuniária
em caso de descumprimento contratual que resultasse no término do contrato de trabalho
desportivo.
17
RAMOS, Rafael Teixeira. Curso de Direito do Trabalho Desportivo: As Relações Especiais
de Trabalho do Esporte. Salvador: Editora JusPodivm, 2021, p. 250.
18
RAMOS, Rafael Teixeira. Curso de Direito do Trabalho Desportivo: As Relações Especiais
de Trabalho do Esporte. Salvador: Editora JusPodivm, 2021.
11
Diferentemente do passe, a cláusula penal desportiva era acessória ao contrato de
trabalho desportivo, assim como o vínculo desportivo. Com o término regular do contrato de
trabalho, a multa descrita na clausula penal cessava e o jogador de futebol ficava livre para
negociar novos contratos com outros clubes.
Além disso, houve o entendimento do TST de que a cláusula penal desportiva não era
devida apenas ao atleta profissional que tivesse o contrato rescindido como também ao clube
de futebol em caso de rescisão por vontade do jogador.
Por conta da divergência causada pela cláusula penal desportiva no tocante a sua
aplicação e a quem a cláusula era devida, o legislador buscou eliminar todas as dubiedades ao
aperfeiçoá-la com a formação de duas novas instituições obrigatórias no contrato de trabalho
desportivo: as cláusulas indenizatória e compensatória desportivas, cujas disposições estão
contidas no artigo 28 da Lei Pelé.
14
I - Cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à
entidade de prática desportiva à qual está vinculado o atleta (...);
Entretanto, alguns meses após o anúncio, em 2.009, o atleta decidiu retornar aos
gramados pelo Clube de Regatas do Flamengo. Tendo em vista que esse acontecimento se deu
antes da regulamentação pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) não foi devida
nenhuma indenização ao clube italiano.
Se, contudo, o fato tivesse ocorrido após a regulamentação e entre clubes de âmbito
nacional, seriam solidários no pagamento da cláusula indenizatória desportiva o novo time de
futebol e o atleta.
Cabe ressaltar que o objetivo nos contratos de Direito Civil é justamente submeter as
partes ao cumprimento do contrato em sua integralidade, sendo que não há qualquer interesse
do contratante ou do contratado no distrato. O intuito é sempre finalizar o contrato conforme o
acordado.
O locador não se interessa pelo desfazimento do instrumento, haja vista que não há
vantagens na percepção da penalidade. Inclusive o transtorno pode ser ainda maior, pois o
proprietário ficará na expectativa de obter um novo inquilino, necessitando de um novo
contrato de locação e com possíveis novos contratempos. Da mesma forma, o locatário não
pretende proceder com o distrato, tendo em vista que precisará dispor de recursos financeiros
para executar os reparos necessários no imóvel, a fim de devolvê-lo nas condições originais.
Além disso, encerrado o contrato de aluguel, o locatário se dará ao trabalho de buscar um
novo local para residir com sua família.
Portanto, o não cumprimento dos contratos regidos pelo Direito Civil, é exceção aos
contratantes, que de forma pontual exigem o instrumento particular guarnecido da multa
justamente para evitar que a obrigação inerente a ele seja descumprida.
20
KONDER, Carlos Nelson; BANDEIRA, Paula Greco; TEPEDINO, Gustavo. Contratos. 1.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
16
Leciona Paulo Lôbo (2020):
LÔBO, Paulo. Contratos – Coleção Direito Civil Volume 3 – 6. Ed. – São Paulo: Saraiva
21
Para os clubes de futebol que detém o contrato de trabalho desportivo com o atleta, a
quebra de contrato em caso de transferências não simboliza um problema, haja vista que o
clube interessado no jogador terá que arcar com uma multa de valor bastante relevante,
resultando em benefícios financeiros para o clube.
18
Em razão da existência de direitos econômicos pode haver um outro contrato denominado
“Compartilhamento de Direitos Econômicos” onde um clube ao ceder o atleta para um novo clube
pode resguardar a titularidade de percentual de direitos econômicos. Ou seja, caso este atleta seja
novamente cedido o clube anterior pode receber percentual em função da nova cessão do vínculo
federativo do atleta.
É o caso do atleta Frederico Chaves Guedes, que ingressou com ação judicial em face
do Cruzeiro Esporte Clube exigindo a cláusula compensatória desportiva em virtude do
constante atraso salarial22.
Nessa sequência, um dos pontos mais importantes a ser discutido no tocante ao contrato
especial de trabalho desportivo é a remuneração do atleta profissional.
Isso porque há ampla discussão acerca dos elementos que englobam o salário de um
atleta, tendo como exemplo as luvas, bichos, direito de arena e o direito de imagem.
O direito de imagem, por sua vez, deve ser tratado em um contrato à parte do contrato
de trabalho desportivo, sendo que possui natureza civil. podendo ser transacionado civil e
comercialmente, consoante a previsão dos incisos X e XXVIII do artigo 5º da Constituição
Federal.
https://www.mg.superesportes.com.br/app/noticias/futebol/cruzeiro/2020/07/16/
22
noticia_cruzeiro,3854907 /clausula-compensatoria-de-fred-supera-receitas-de-um-ano-do-
cruzeiro.shtml
19
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação;
Nesse contrato o atleta cede ao clube de futebol a que está vinculado o exercício do
direito de exploração de sua imagem e outros atributos para uso em acessórios e eventos
oficiais da entidade desportiva, bem como nas demais formas pactuadas em instrumento
particular.
23
SOARES, Jorge Miguel Acosta. Direito de Imagem e Direito de Arena no Contrato de
Trabalho do Atleta Profissional. São Paulo: LTr, 2008, p.72.
20
No direito de imagem se parte sempre da individualização da imagem
desatrelada da obra desportiva coletiva, embora admita-se contratar
uma coletividade de atletas para propaganda comercial ou divulgação
de marcas. Porém, não existirá conexão direta com os eventos
desportivos, tendo-se sempre que segmentar de maneira individual a
retribuição pela imagem, pois a exploração econômica se manifesta de
maneira personalíssima, individualizada.”24
Ainda, deve haver equilíbrio entre os valores auferidos pelo uso econômico da imagem
e a compensação financeira devida ao jogador.
“Art. 87-A. O direito ao uso da imagem do atleta pode ser por ele
cedido ou explorado, mediante ajuste contratual de natureza civil e
com fixação de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o
contrato especial de trabalho desportivo. (Incluído pela Lei nº 12.395,
de 2011).
24
RAMOS, Rafael Teixeira. Curso de Direito do Trabalho Desportivo: As Relações Especiais
de Trabalho do Esporte. Salvador: Editora JusPodivm, 2021.
21
Parágrafo único. Quando houver, por parte do atleta, a cessão de
direitos ao uso de sua imagem para a entidade de prática desportiva
detentora do contrato especial de trabalho desportivo, o valor
correspondente ao uso da imagem não poderá ultrapassar 40%
(quarenta por cento) da remuneração total paga ao atleta, composta
pela soma do salário e dos valores pagos pelo direito ao uso da
imagem. (Incluído pela Lei nº 13.155, de 2015).”
Se, eventualmente, o valor recebido pelo atleta profissional foi superior a 40%, então o
que ultrapassar será considerado como salário desvirtuado para fins de rescisão. Em
contrapartida, se evidenciada a fraude no Contrato de Imagem com o único objetivo de
mascarar as parcelas salariais, torna-se nulo o instrumento particular com a consequente
caracterização dos valores pagos como verbas de natureza salarial, incluindo os reflexos das
principais verbas trabalhistas.
Por esse ângulo, frisa-se que determinadas contratações são muito mais valiosas aos
clubes de futebol por conta da repercussão midiática e da imagem propriamente dita do atleta
do que pela força de trabalho.
Em caso ainda mais recente, a contratação de Cristiano Ronaldo pelo time inglês
Manchester United rendeu ao clube um salto de quase 6% em suas ações na bolsa de Nova
York26. Além disso, em apenas 12 horas o clube vendeu mais de 406 mil unidades da camisa
estampada com o número do atacante27.
25
RAMOS, Rafael Teixeira., op. cit., 2021, p. 319.
22
Parece razoável considerar que em casos como estes, o valor pago à título de direito de
imagem pudesse ser superior à porcentagem imposta pela legislação.
Cabe destacar que muitos contratos dizem respeito ao universo esportivo, tais como
patrocínio, televisionamento,
Vale dizer que ainda há muito a se estudar e modificar no âmbito do Direito Desportivo,
sendo uma área totalmente volátil devido às constantes transformações e evoluções dentro do
desporto.
5) Conclusão:
27
JOGADA10. United bate recorde com venda das novas camisas de Cristiano Ronaldo.
2021. Disponível em: <https://jogada10.com.br/futebol-internacional/united-bate-recorde-
com-venda-das-novas-camisas-de-cristiano-ronaldo/>. Acesso em: 15 nov. 2021.
28
RAMOS, Rafael Teixeira., op. cit., 2021, p. 323.
23
entre clubes de futebol e atletas profissionais, como por exemplo as cláusulas indenizatória e
compensatória desportivas.
Ademais, foi possível perceber que diferentemente dos contratos regidos pelo Direito
Civil, há uma expectativa de quebra de contrato no tocante ao contrato de trabalho desportivo
e a cláusula indenizatória desportiva, produzindo impactos financeiros positivos para os
clubes em caso de transferências – principalmente as de caráter internacionais.
Vale ressaltar ainda, que o desporto é um tema de extrema relevância, não apenas de
forma social como também por se tratar de atividade de grande giro econômico. Por esse
motivo é que os reflexos jurídicos causados pelas atividades desportivas devem ser
observados com muita cautela, haja vista os cuidados específicos que demandam.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria das Obrigações Contratuais
e Extracontratuais. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
24
DINIZ, Maria Helena; LACERDA PENA SAKAHIDA, Marinilce. A substituição do passe
pela cláusula penal desportiva. Revista Brasileira de Direito, Passo Fundo, v. 15, n. 2, p. 79-
108, ago. 2019. ISSN 2238-0604. Disponível em:
https://seer.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/3566. Acesso em: 14 nov.
2021. doi:https://doi.org/10.18256/2238-0604.2019.v15i2.3566.
JOGADA10. United bate recorde com venda das novas camisas de Cristiano Ronaldo.
2021. Disponível em: <https://jogada10.com.br/futebol-internacional/united-bate-recorde-
com-venda-das-novas-camisas-de-cristiano-ronaldo/>. Acesso em: 15 nov. 2021.
J.M. de Carvalho Santos, Código civil brasileiro interpretado, vol. XV, Rio de Janeiro: Freitas
Bastos, 1975, 8ª ed., p. 22.
LÔBO, Paulo. Contratos – Coleção Direito Civil Volume 3 – 6. Ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.
SOUZA, Gustavo Lopes Pires de. Direito Desportivo. Belo Horizonte: Arraes Editores.
2014.
TARTUCE, Flávio. Manual do Direito Civil – Volume Único.2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio
de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2012.
26