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Miguel Furtado 1
1. Introdução
O Sistema Desportivo, demasiado assistémico, tem vivido mergulhado em entropias que ele próprio gera.
Daí o desbaratar de recursos, o descontrolo operacional, e quantas vezes, o circunstancialismo
inconsequente e sem nexo das acções.
1
Professor Universitário e investigador. Especialista em direito do desporto e políticas públicas desportivas
2
Oliveira, José Alípio de, Política de Financiamento do Sistema Desportivo, Congresso do Desporto, Porto,
Fevereiro 2006.
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Sendo a mais importante actualmente a Lei de Bases da Actividade Física do Desporto - Lei nº 5/2007,
de 16 de Janeiro.
1
República, ou de algum decreto-lei provindo do órgão de soberania executivo,
conforme dispõe o artigo 112º da CRP.
Existiram vários diplomas quadro que foram alvo da normal evolução histórica do sector,
marcando algumas das principais fases do mesmo e que contribuíram significativamente
para a regulação actual e para as leis aqui agora analisadas.
4Não nos esqueçamos do Decreto-Lei nº 164/85, de 15 de Maio relativo às Normas que regem as Relações
entre o Estado e os Agentes Desportivos. Este diploma antecipou esta primeira Lei de Base de regulação
do sistema desportivo em Portugal (na prática na nossa opinião, era como que um primeiro e verdadeiro
acto legislativo dessa natureza) e veio, consoante nele preconizado, estabelecer os princípios fundamentais
e as normas que regem as relações entre o Estado e os agentes desportivos, tendo como objectivo
fundamental o desenvolvimento do desporto
2
2. Lei de Bases do Sistema Desportivo (Lei nº 1/90 de 13 de Janeiro)
Neste caso, esta coordenação envolve também o pilar fundamental Educação, ao incluir
a colaboração com as escolas e, bem assim, o “elevado conteúdo formativo” subjacente
à prática desportiva. Não podíamos concordar mais com esta disposição, nela se
explicitando a importância do desporto no âmbito da Educação. Também a coordenação
com o movimento associativo é aqui focado, assumindo este uma importância fulcral
porquanto se apresenta como o principal agente promotor pela promoção da cultura
desportiva junto das populações.
No artigo 4º, nº1 estatui-se que “A formação dos agentes desportivos é promovida pelo
Estado e pelas entidades públicas e privadas com atribuições na área do desporto”.
Considerando que nesta altura as autarquias locais detinham já atribuições na área do
desporto, esta disposição vinha estender essas atribuições à formação dos agentes
desportivos genericamente alargando a competência para formação daqueles, a todas as
entidade com atribuições na área do desporto, onde se incluem as autarquias locais.
3
O artigo 6º, nº3 desta disposição diz-nos também que: “O Governo, com vista a assegurar
o princípio da descentralização, promove a definição, com as autarquias locais, das
medidas adequadas a estimular e a apoiar a intervenção destas na organização das
actividades referidas no número anterior que se desenvolvam no respectivo âmbito
territorial.”
Esta definição de medidas de incentivo à prática desportiva por parte das autarquias locais
com o apoio do governo pressuporá, à semelhança da disposição anterior, novamente uma
coordenação entre a Administração Central do Estado e as Autarquias Locais.
Também no artigo 10º, nº1 se prevê, como sendo competência das regiões autónomas e
das autarquias locais, a promoção de jogos tradicionais não obstante a contribuição dos
diversos departamentos governamentais nesta matéria. Pretende-se com esta disposição
assegurar a posição das autarquias locais e bem assim, a coordenação entre as acções
desenvolvidas por elas e o governo.
Note-se ainda a referência expressa que é feita a estes enquanto: “(…) parte integrante
do património cultural.” Os jogos tradicionais são assim entendidos como matéria que
deve ser incluída no âmbito desportivo e que se traduz numa expressão de cultura.
Encontramos pois, no âmbito dos jogos tradicionais, a relação entre desporto e cultura.
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Finalmente no artigo 42º, nº2 ordena-se, a título de disposição transitória, a colaboração
entre o governo e as autarquias no sentido de dotar as escolas carenciadas dos diversos
níveis de infra-estruturas adequadas, para que se consiga possibilitar a todas as crianças
e jovens o acesso efetivo ao desporto. Temos deste modo, mais uma acção que exige uma
coordenação entre diversos órgãos da Administração Central e Local do Estado, “in
casu”, no âmbito do pilar fundamental, educação.
A Lei nº1/90, de 13 de Janeiro viria a ser revogada pela Lei nº30/2004, de 21 de Julho.
Imbuída de um espírito análogo, esta Lei de Bases do Desporto viria desenvolver de forma
razoavelmente mais precisa a actividade desportiva, mormente, aquilo que nos cumpre
agora analisar, os modos de promoção da actividade desportiva e a coordenação entre os
vários agentes encarregues da prossecução de atribuições neste âmbito. Veio, portanto,
reforçar as competências das autarquias locais em matéria desportiva e explicitar
determinados princípios com o objectivo de evidenciar o seu papel mais interventivo na
definição da política desportiva.
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A disposição análoga a este artigo na legislação anterior (Lei 1/90 de 13 de Janeiro) era o art 3º que
estipulava que: “O Governo assegura a direcção e a coordenação permanentes e efectivas dos
departamentos e sectores da administração central com intervenção da área do desporto.”
5
O artigo 9º, nº2 prende-se com a descentralização de competências. Prevê-se assim uma
intervenção coordenada e concertada entre a Administração Central do Estado e as
Autarquias Locais em diversas áreas. Desta forma, serão de competência comum:
6
associativo desportivo estudantil;” – Esta medida, à semelhança da anterior,
desenvolve-se no âmbito do pilar fundamental Educação e exactamente com as
mesmas premissas da anterior. Note-se porém, a coordenação que nesta alínea se
prevê com o movimento associativo local.
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a Administração Central do Estado na propagação de políticas desportivas. O
desenvolvimento expresso deste princípio é também uma novidade relativamente ao
anterior diploma.
6
Assim dispõe a parte final do artigo 11º, nº1 da Lei nº30/2004 de 21 de Julho.
7
Artigo 10º da Lei nº1/90 de 13 de Janeiro.
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No âmbito do desporto e juventude, determina-se no artigo 79º, nº3 deste diploma que:
“O Estado, com vista a assegurar o princípio da descentralização, promove a definição,
com as autarquias locais, das medidas adequadas a estimular e a apoiar a intervenção
destas na organização das actividades referidas no número anterior que se desenvolvam
no respectivo âmbito territorial.” Pretende-se garantir uma participação efectiva das
autarquias locais nas “…actividades promovidas ou desenvolvidas por associações ou
agrupamentos juvenis.”, de acordo com o previsto no nº2 deste artigo.
4.1. Introdução
A mesma, como demarca de imediato o seu artigo 1º, define presentemente “as
bases das políticas de desenvolvimento da actividade física e do desporto”. É
portanto aqui que encontramos globalmente como as entidades públicas devem
8
Artigo 2º, nº2, alínea a) da Lei nº1/90 de 13 de Janeiro.
9
actuar para que seja realmente possível o desenvolvimento do desporto, com
relevância, como já aliás realçado na Constituição da República Portuguesa, no
intitulado “Desporto para Todos”.
4.2. Princípios
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próximo, inexistência de discriminação entre outros elementos próprios de
humanidade.
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Como regula o artigo 4º da LBAFD, outros dois princípios fundamentais são o
da coesão e da continuidade territorial. O seu número 1 afirma que “o
desenvolvimento da actividade física e do desporto é realizado de forma
harmoniosa e integrada, com vista a combater as assimetrias regionais e a
contribuir para a inserção social e a coesão nacional”, acrescentando o
número 2 que “o princípio da continuidade territorial assenta na necessidade
de corrigir os desequilíbrios originados pelo afastamento e pela insularidade,
de forma a garantir a participação dos praticantes e dos clubes das Regiões
Autónomas nas competições desportivas de âmbito nacional”.
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ocupando os organismos descentralizados, devido aos seus contactos mais próximos à
população (Regiões Autónomas e Autarquias Locais), um papel proeminente, assumindo-
se pois, já uma separação efectiva de competências ao invés de uma simples partilha de
competências.
Mais uma vez, tais princípios são idênticos aos diversos sectores, mas no
anterior diploma surgiam dispersos por várias normas, defendendo o artigo
267º, números 1 e 2 da CRP, o aproximar dos serviços públicos às populações,
o evitar da burocratização e o estabelecimento de adequadas formas de
descentralização e desconcentração administrativas.
O mesmo artigo 267 da CRP, pelo seu número 2, ainda acrescenta que deverá
ser assegurada a participação dos interessados na gestão efectiva da
Administração Pública.
13
da actividade física, enquanto instrumento essencial para a melhoria da
condição física, da qualidade de vida e da saúde dos cidadãos”.
É deste modo uma função de interesse público, logo devendo ser prosseguida pela
Administração Pública, nos termos do número 1 do artigo 266º da CRP, através do
incessante e globalizado incentivo à prática desportiva por parte de todos os cidadãos,
não devendo a actividade física ser considerada como apenas uma mera garantia do
cidadão, como tal preceituada no número 2 do artigo 266º da CRP.
Que dispõe de consentimento público para a operar, por respeito dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos, mas sim como algo muito mais importante e que é
indispensável para, como conjecturado, melhorar o seu bem-estar físico e psicológico,
actuando também para manter a sua saúde, como constitucionalmente estabelecido pelo
64 da CRP.
Está aliás estipulado que o desporto é um instrumento essencial para alcançar tais
objectivos, indicando ainda o número 2 do nº 6 da LBAFD os meios principais para que
a promoção e a generalização venham a ser possíveis, estabelecendo-se medidas
concretas a serem adoptadas com vista ao cumprimento desta finalidade. Esta disposição,
além de prever expressamente o dever que recai sobre os órgãos da administração de
promoverem o desporto, vem ainda prever que esta promoção tem por objectivo a
melhoria das condições de saúde dos cidadãos. O fomento do desporto surge assim
enquanto instrumento de propagação do pilar fundamental, Saúde.
Ora, esta componente, não deverá deixar portanto de ser expandida, devendo ser
incrementada por todos os órgãos da administração central ou local. Naturalmente este
desenvolvimento comum por partes dos diversos órgãos da administração, exigirá
coordenação de modo a assegurar uma coerência no desenvolvimento da política
desportiva.
Não existia na legislação anterior preceito que se possa considerar análogo a este, o que
não significa que no anterior diploma não fosse previsto directamente o dever das
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autarquias locais se preocuparem directamente com o desporto. Este documento vem,
porém, expressamente estatuir que tal aconteça nos termos do nº 1 do artigo 6º.
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se tornar um ónus que será mais cedo ou mais tarde abandonado e dificilmente
posteriormente restabelecido.
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desporto”, que as medidas agora analisadas serão analogamente extensíveis a
este.
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locais convencionados, há que verificar a melhor zona, salvaguardando a
natureza e o melhor modo de aproveitamento dos solos, bem como a autónoma
autogestão com consequente viabilidade de funcionamento e ocupação.
Os critérios aludidos devem ainda visar que o parque desportivo criado seja
diversificado, possibilitando o desenvolvimento das mais variadas modalidades
desportivas, permitindo que os cidadãos pratiquem aquelas que realmente os
motivam e incentivando até a prática de algumas que não sejam no momento as
mais solicitadas, levando-se em consideração as relacionadas com o território
português, com base em algumas valências, como por exemplo a cultura, a
história, o clima ou a geografia.
Não se deve assim pura e simplesmente construir apenas o básico, como que
seleccionando as opções possíveis para a prática desportiva, nomeadamente a
edificação por exemplo de um campo de futebol de 5 e uma pista de atletismo
em todas os espaços desportivos.
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Outro factor essencial e indissociável é a qualidade dos mesmos, pois não basta
a criação sem as condições elementares da prática adequada, quer de
segurança, medidas correctas, equipamentos efectivos ou áreas idênticas às
existentes no Alto Rendimento. Não pode haver desporto de primeira,
praticado pelo desporto de Alto Rendimento e o de segunda para os restantes.
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Conforme estipulado pelo número 3, “o Estado”, agora em sentido “stricto
sensu”, considerado como apenas o Governo e a Administração Central
respectiva visto ser o principal Órgão executivo e regulador do país, “com o
objectivo de incrementar e requalificar o parque das infra-estruturas
desportivas ao serviço da população, deverá assegurar” pela alínea a), “a
realização de planos, programas e outros instrumentos directores que regulem
o acesso a financiamentos públicos e que diagnostiquem as necessidades e
estabeleçam as estratégias, as prioridades e os critérios de desenvolvimento
sustentado da oferta de infra-estruturas e equipamentos desportivos”;
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Ora, o número 5 do artigo 8º da LBAFD preceitua, em prol das entidades
privadas, que “as comparticipações financeiras públicas para construção ou
melhoramento de infra-estruturas desportivas propriedade de entidades
privadas, quando a natureza do investimento o justifique, e, bem assim, os
actos de cedência gratuita do uso ou da gestão de património desportivo
público às mesmas, são condicionados à assunção por estas de contrapartidas
de interesse público”.
9
Roche, Fernando Paris, Planificacion y Dirección Estratégica en Entidades e Centros Deportivos: Manual
del Aluno, Lisboa – Portugal, 2002 e Roche, Fernando Paris, La Planificacion Estratégica en Las
Organizaciones Deportivas, Editorial Paidotribo, Barcelona-Espanha, 2002.
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desenvolvimento desportivo, tendo em vista o conhecimento da situação
desportiva nacional”, que se encontram divididos por alíneas.
Carta Desportiva Nacional esta que infelizmente até ao momento, não passa de letra morta
na Lei, mas que segundo Emídio Guerreiro10, “será criada até final de 2015”, vindo
“finalmente Portugal ter um instrumento de gestão importantíssimo, que devia existir há
muito tempo no nosso país”, sendo que para o governante referido, com o surgimento
deste importante documento, “vão terminar as decisões políticas sem qualquer lógica de
sustentabilidade e de racionalidade” 11, e portanto existir um tão necessário e tardio
planeamento estratégico.
10
Segundo Secretário de Estado do Desporto e Juventude do XIX Governo Constitucional, que substituiu
Alexandre Mestre na respectiva pasta.
11
Jornal “O Jogo”, de 26 de Junho de 2013.
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medidas já indicadas, através dos estudos realizados, onde este trabalho se
encontra inserido e “definem ainda os princípios reguladores da prática
desportiva das respectivas comunidades”, nos termos do artigo 28º, nº 3, 1ª
parte da LBAFD.
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nomeadamente por exemplo de uma boa alimentação, omissão do consumo de
estupefacientes ou bebidas alcoólicas ou a não frequência habitual de locais
prejudiciais.
O novo artigo 30º tem, com correspondência ao artigo 72º nº3 da anterior legislação,
continuando o fomento dos jogos tradicionais a cargo dos vários níveis da Administração,
mantendo-se praticamente inalterada a redação desta disposição. O legislador entendeu,
no entanto, dever autonomizar esta matéria dedicando-lhe assim um artigo específico.
O número 2 do artigo 28º da LBAFD estatui que “as actividades desportivas escolares
devem valorizar a participação e o envolvimento dos jovens, dos pais e encarregados de
educação e das autarquias locais na sua organização, desenvolvimento e avaliação”.
Relevante é mais uma vez a intervenção do Estado, aqui com mais ênfase nas
Autarquias Locais, que se encontram em contacto imediato com os municípios
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e que portanto melhor conhecem as finalidades a atingir e os métodos a
eficientemente empregar.
O artigo 28º da nova lei vem condensar num único artigo aquilo que, no texto transacto,
se encontrava dividido pelos artigos 9º, 53º e 54º, isto é, o desporto escolar. O
desenvolvimento do desporto escolar deve ser empreendido por todos os organismos e
indivíduo que apresentam uma proximidade razoável do fenómeno educacional. Deste
modo, pela já amiúde referida proximidade que apresentam dos cidadãos, também as
autarquias locais devem ser incluídas no desenvolvimento do fenómeno desportivo no
âmbito do pilar fundamental, Educação.
Na legislação anterior, a disposição que a esta se equiparava seria o art.º 9º, nº2, alínea
c), em que se previa a intervenção das autarquias locais no desenvolvimento do desporto
escolar. Esta disposição não assumia porém um cariz autónomo, como acontece no novo
diploma, encontrando-se antes integrada no desenvolvimento do princípio da
descentralização.
Outros destinatários, que tal como as crianças e jovens, devido à sua situação
de debilidade e utilidade do direito em causa, dispõem de uma norma
autónoma na Lei de Bases e igualmente constitucional e que deverão devido às
suas especificidades, ter a actividade física e prática desportiva fortemente
promovida e fomentada pelo Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais
são as pessoas possuidoras de deficiência.
25
como Administração Central do Estado, mas também na Administração local
ou autónoma, ou seja, sobre as autarquias locais.
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A actividade física e o desporto têm outra atribuição capital, designadamente a
do ensino do valor substancial que a natureza dispõe para a qualidade de vida e
bem-estar do cidadão, do respeito que se deve deter por esta e do gozo que se
adquire por usufruir dela, sendo motivador promover e fomentar a actividade
física e prática desportiva em contacto com os recursos naturais, ocupando esta
relação um papel primário no aproveitamento turístico, contribuindo em
sentido inverso o próprio turismo para a expansão da conexão referida bem
como para o acréscimo de motivação pela prática do desporto.
“As políticas públicas”, pelo item 50º e mais uma vez por motivos
específicos, “promovem e incentivam” ainda a actividade física e desportiva
nos estabelecimentos que acolhem cidadãos privados de liberdade, incluindo
os destinados a menores e jovens sujeitos ao cumprimento de medidas e
decisões aplicadas no âmbito do processo tutelar educativo”, não perdendo as
pessoas mencionadas os direitos fundamentais aplicáveis a um normal cidadão,
com excepção dos enunciados constitucionalmente e que deverão ser
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proporcionais aos delitos cometidos, com especial cuidado pelos menores e
jovens detidos.
Deixamos para o fim outra matéria que o legislador entendeu, na nossa visão,
bem, desenvolver no actual diploma, nomeadamente a que concerne aos apoios
financeiros. No âmbito da anterior legislação, só as federações desportivas
dotadas do estatuto de utilidade pública desportiva poderiam ser, formalmente,
objecto de subsídios, comparticipações financeiras e empréstimos públicos,
preceito este resultante do artigo 65º da legislação anterior. Ora, no actual
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texto, prevê-se o alargamento das comparticipações financeiras a certos
eventos desportivos e especifica-se taxativamente quais órgãos da
Administração Pública que podem subsidiar os clubes e eventos.
Ora, nos demais números deste artigo, legislam-se as formalidades a que deve obedecer
este apoio, nomeadamente à celebração dos contratos programa, os quais são previstos
no nº3 e desenvolvidos na disposição subsquente. Uma mudança relevante do ponto de
vista legislativo, que importa referir, é a alteração do modo de como podem ocorrer estas
comparticipações.
O nº3 do artigo 46º da actual lei não tinha disposição equiparada na legislação anterior,
não se prevendo, especificamente, de que modo deveriam ser tituladas as
comparticipações financeiras, ou, tão pouco, se deveriam ser tituladas! Não se tratava
contudo para nós verdadeiramente de uma lacuna, já que o legislador na anterior
legislação, ao deixar em aberto o modo e a forma que poderiam revestir estas
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comparticipações financeiras, fê-lo exactamente pela natureza diversa que as mesmas
poderiam assumir, consequência da especificidade deste tipo de subsidiação.
Mas esta margem de discricionariedade veio, porém, permitir todo a espécie de abusos e
subversões da finalidade a que se destinavam estes subsídios, chegando-se a assistir à
atribuição de ‘subsídios de natal aos clubes´. De modo a colmatar este tipo de abusos, o
legislador entendeu, a nossa ver acertadamente, subordinar a subsidiação à celebração dos
ditos contratos-programa de desenvolvimento desportivo, onde detalhadamente se define
a finalidade e as contrapartidas destes subsídios.
Outra novidade introduzida por este novo diploma foi o já mencionado nº2 do artigo 46º,
não existindo igualmente em diploma transacto qualquer espécie de disposição análoga a
esta, dando origem a uma lacuna em termos interpretativos da Lei. A potencial lacuna,
que poderia aqui estar presente, prendia-se pois com aquilo que se deveria entender por
‘interesse público’.
Nesta continuidade, eis a questão que se colocava em termos práticos: Até que ponto é
que a concessão de um apoio financeiro a um clube profissional prossegue o interesse
público?!, vindo o legislador por tal motivo, eliminar quaisquer dúvidas quanto àquilo
que se deveria entender por satisfação do interesse público, no âmbito da concessão de
subsídios aos clubes, consoante o já indicado na regulação do nº2 do artigo 46º.
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A Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto, em complementação e
pormenorização do definido na Constituição, goza de uma amplíssima
dimensão, atribuindo à Administração Pública no seu conjunto, um poder-
dever fundamental, na propagação da qualidade de vida e bem-estar da
população, pois a prática da actividade física e o desporto é um direito
indispensável de todo o cidadão, que lhe permite o aperfeiçoamento integral
das suas capacidades físicas, intelectuais e sociais, ocupando a actividade física
um papel essencial na obtenção de várias valias fulcrais para a qualidade de
vida e bem-estar do povo.
Contudo, dado o seu relevo, actua igualmente como meio para alcançar outras
prioridades relevantes e que se não existir a real possibilidade de o praticar ou
de com ele estar relacionado, os outros benefícios são utópicos ou
condicionados. Se por exemplo uma criança não usufruir do desporto no
período do seu crescimento, certamente não desenvolverá a sua integral
12
Baseado num artigo escrito por Fernando Gaspar sobre as externalidades posítivas no desporto, publicado
em Dezembro de 2009 na Revista “Economia Pura” e fundamentado em estudos e conclusões realizados
pelo Conselho da Europa.
13
Tal como as Leis de Base supra discriminadas.
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personalidade, pois não disporá na totalidade da inter-relação de uma
mobilidade corporal satisfatória, da aquisição de certas capacidades e normas
psíquicas, onde se incorpora o respeito pelo outro e pela verdade, nem a
facilidade de convívio ou do trabalho em grupo, e ainda a normalidade leal da
competitividade e concorrência.
32
5.2. Valores do Desporto
Guimarãres, Mário, Apontamentos das Pós Graduações de Direito do Desporto e Gestão Desportiva,
14
33
exigência na utilização de novas tecnologias reduz o impacto ambiental nas novas
instalações desportivas.
15
COI, Declaração de Quebec City, Canadá, 2000.
34
O investimento primacial deverá incidir sobre infra-estruturas apropriadas
(construção, manutenção, melhor utilização) que permitam o fácil acesso à
prática desportiva e com qualidade aos cidadãos, provocando motivação e
vontade de a efectuar regularmente e de desenvolver as suas aptidões, com a
oportunidade posterior dos que se destacarem, de ingressarem no “Alto
Rendimento”.
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5.4.1. Política Associativa
Pois como nos afirma Tenreiro, Fernando José Santos (2004)16, “para a
execução de uma política económica bem sucedida no domínio desportivo é
decisivo que o consenso sobre a crise, nas suas diferentes facetas, se estenda
16Tenreiro, Fernando José Santos, Políticas Públicas no Desporto – a abordagem económica [Artigo] // Povos e
Culturas nº9. – 2004, pp. 67-80.
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às soluções que uma reforma do sistema conteria. As falhas económicas do
sistema são encontradas na ineficácia dos programas das instituições públicas
que actuam no sistema desportivo, na ineficácia e ineficiência económica dos
instrumentos e medidas de política e na ausência de equidade do acesso ao
bem desportivo pela população e pela sociedade”.
É fulcral desta forma, permitir que todos os cidadãos consigam praticar o que
querem em infra-estruturas proporcionais e não em imitações, não devendo o
acesso da conjuntura a qualquer interessado na prática desportiva ser distante
37
da realidade. Aliás, quantos mais cidadãos aprofundarem uma actividade física
na matriz exacta, maior será a oportunidade de excederem os limites e maior
será a oportunidade de se descobrirem novos valores.
Uma das formas de atrair pessoas para a prática desportiva é sem dúvida, além
de uma boa organização, o equipamento social adequado de fácil acesso a
quem dele queira usufruir. Todavia, é necessário motivar os cidadãos e
especialmente as crianças e os jovens, demonstrando que o desenvolvimento
do desporto é um modo de diversão, lazer, experiência lúdica e um meio de
convívio onde se estreitam relações e onde se liberta a tensão do dia a dia.
38
Será inclusivamente indispensável a diversidade de acesso aos mais variados
desportos, desde os tradicionais como outros mais radicais ou relacionados
com a natureza e a facilidade de conciliação com as outras actividades,
profissionais, familiares, pessoais e até de descanso ou entretenimento, onde é
salutar o uso das situações usuais do dia a dia para introduzir o desporto e
enquadrar o mesmo como um hábito corrente como comer, respirar ou dormir,
mas onde se perceba que o bem-estar e a qualidade de vida depende em boa
parte da sua rotina.
Por fim e após a respectiva evolução das anteriores políticas, aqueles que
demonstrarem capacidades superiores deverão poder usufruir de oportunidades
para desenvolverem as suas aptidões, sendo prioritárias políticas públicas que
incentivem as entidades que se dediquem ao desporto de Alto Rendimento a
apostar nos novos talentos, em desprimor de estrangeiros com qualidade
duvidosa.
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afirmação, com perdas de confiança não só deles mas consequentes a possíveis
candidatos que nem se dedicam ao incremento das faculdades inatas porque tal
dedicação à partida não trará proveitos futuros, com desperdícios de atletas de
topo que muito antes de tempo desistem deste ensejo.
40
futebol pelo mediatismo que este possui e ainda mais carismático, o de Usain
Bolt, o atleta jamaicano. Aliás, Bolt fez muito pelo atletismo ao tornar-se uma
pop star (Álvaro Costa, 2012) 17.
Bibliografia
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