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5 de Junho de 2023

Consórcios públicos
intermunicipais: apontamentos
relevantes
Diante da relevância e complexidade temática,
destacamos alguns aspectos sobre os consórcios
públicos intermunicipais, importante instrumento
para a Gestão Pública Municipal.
Publicado por Jamilly Barbosa de Freitas Magalhães Ehbrecht há 5 anos  850 visualizações

No âmbito da Administração Pública Municipal, é bem verdade


que os gestores municipais precisam estar atentos e cumprir o
previsto nas legislações pátrias, bem como orientar-se pelo dis-
posto em notas técnicas que visam subsidiar a atuação no âm-
bito público.
Nesse esteio, diante das demandas cotidianas da gestão pública
que objetivam o benefício de toda sociedade civil, apresentamos
algumas peculiaridades sobre os consórcios públicos, ferramen-
tas de ampla relevância para a gestão pública municipal.

- Conceitos relevantes e aspectos históricos

Ao longo do processo histórico brasileiro, a doutrina afirma que


a ideia de consórcio público existe desde a primeira Constitui-
ção Federal em 1891. Nesse contexto Prates (2010, p. 5), expõe
que na citada Constituição "os consórcios se constituíam como
contratos, que, caso fossem realizados entre municípios necessi-
tava-se da aprovação do governo do Estado, e se, entre Estados,
necessitava-se da aprovação da União".

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi possí-


vel o fortalecimento da Federação ao atribuir aos Municípios o
status de ente federativo detentor de obrigações e prerrogativas.

No entanto, somente a partir com a Emenda Constitucional n.º


19 de 4 de junho de 1998, foi permitida a alteração do artigo 241
da Constituição Federal da República Federativa do Brasil de
1988, in verbis:

Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convê-
nios de cooperação entre os entes federados, autorizando a ges-
tão associada de serviços públicos, bem como a transferência to-
tal ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à
continuidade dos serviços transferidos.

Diante da citada alteração, o governo federal iniciou discussão


sobre a regulamentação do artigo supramencionado, visando
conferir segurança jurídica e administrativa as parcerias entre
os entes consorciados. Após o envio do Projeto de Lei de regula-
mentação para o Congresso Nacional em 30 de junho de 2004,
em 06 de abril de 2005, a Lei dos Consórcios Públicos –
11.107/2005 que dispõe sobre normas gerais de contratação de
consórcio públicos e dá outras providências, foi sancionada.

Empós, com base no Decreto n.º 6.017, de 17 de janeiro de


2007, que regulamenta a Lei n.º 11.107/2005 e dispõe sobre
normas gerais de contratação de consórcios públicos, anali-
sando o artigo 2º, inciso I, verifica-se a conceituação de consór-
cio público como:

(...)

I - consórcio público: pessoa jurídica formada exclusivamente


por entes da Federação, na forma da Lei no 11.107, de 2005,
para estabelecer relações de cooperação federativa, inclusive a
realização de objetivos de interesse comum, constituída como
associação pública, com personalidade jurídica de direito pú-
blico e natureza autárquica, ou como pessoa jurídica de direito
privado sem fins econômicos;

(...)

Corroborando com o artigo destacado, a conceituação exposta


por Maria Raquel Machado de Aguiar Jardim de Amorim,
acrescenta:

Os consórcios públicos são parcerias formadas por dois ou mais


entes da federação, para a realização de objetivos de interesse
comum, em qualquer área. Os consócios podem discutir formas
de promover o desenvolvimento regional, gerir o tratamento de
lixo, saneamento básico da região, saúde, abastecimento e ali-
mentação ou ainda execução de projetos urbanos. Eles têm ori-
gem nas associações dos municípios, que já eram previstas na
Constituição de 1937.
Atentando-se ao exposto, visando a cooperação entre os Entes
federativos, a doutrina pátria, apresenta que pode se concretizar
de forma horizontal (entes de mesma qualificação) ou vertical
(entes distintos), possibilitando diversas conjugações.

Sobre o analisado, Ângelo Marcos Queiróz Prates (2010, p. 10),


expõe:

No caso de arranjos verticais, trata-se do consorciamento entre


entes federados, mas não de mesma hierarquia, ou seja, trata-se
da cooperação entre Município – Estado, Município – União e
Estado – União; já no que tange aos arranjos horizontais trata-
se da ocorrência de cooperação entre entes federados de mesma
hierarquia, isto é, Município – Município, Estado – Estado; e
por fim temos os chamados arranjos mistos no qual pode ocor-
rer cooperação conjunta entre as duas anteriores, por exemplo,
uma cooperação do tipo União – Estado – Município.

É bem verdade que a temática envolve muitas peculiaridades,


demanda conhecimento e capacitação para aqueles que com-
põem os entes envolvidos, sendo que no caso de consórcios pú-
blicos intermunicipais, em análise aos dados colhidos e organi-
zados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estática – IBGE e
citados por Linhares, Messenberg e Ferreira (2017, p. 67), atual-
mente, mais de 3.100 municípios brasileiros escolheram realizar
ações de uma ou mesmo de várias políticas públicas pelas quais
são responsáveis, em cooperação com outras prefeituras.

Esse número é crescente e já representa mais da metade dos


municípios brasileiros, tendo se concentrado nas áreas da
saúde, educação, serviços públicos, obras, meio ambiente e de-
senvolvimento urbano. A explicação do fenômeno torna-se es-
pecialmente relevante quando se considera o fato de esta ter
sido uma prática muito pouco frequente antes da Constituição
de 1988.
Desse modo, é inegável a relevância do consórcio público inter-
municipal para a Administração Pública, sendo utilizado como
uma alternativa que visa o fortalecimento e integração dos go-
vernos, tendo por fundamento a colaboração recíproca visando
a execução de atividades com maior eficiência, agilidade, trans-
parência e economia de recursos públicos.

Partindo da premissa que no Brasil existe uma vasta legislação a


ser observada pelos gestores municipais, destacamos algumas
normas jurídicas que poderão subsidiar o estudo da viabilidade
e concretização do consórcio público:

Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988;

Lei n.º 11.107, de 6 de abril de 2005, que dispõe sobre normas


gerais de contratação de consórcio públicos e dá outras
providências;

Decreto n.º 6.017, de 17 de janeiro de 2007 que regula a Lei


anterior;

Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, que regulamenta o art. 37, in-


ciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licita-
ções e contratos da Administração Pública e dá outras
providências;

Portaria 72/2012 do Ministério da Fazenda – Secretaria do Te-


souro Nacional (STN), que estabelece normas gerais de consoli-
dação das contas dos consórcios públicos a serem observadas na
gestão orçamentária, financeira e contábil, em conformidade
com os pressupostos da responsabilidade fiscal;

Portaria 163/2001 Interministerial STN/SOF, dispõe sobre nor-


mas gerais de consolidação das Contas Públicas no âmbito da
União, Estados, Distrito Federal e Municípios, e dá outras
providências;

Manual de Receitas Públicas da Secretaria do Tesouro Nacional


(STN), editado pela Portaria Conjunta STN/SOF 2/2007, que
estabelece os Consórcios Públicos como entidade multigoverna-
mental e disciplina as transferências a esses Entes.

Notas Técnicas, neste caso destaco a de n.º 23/2017 da Confe-


deração Nacional de Municípios, que aborda orientações sobre
as aquisições de bens e serviços no âmbito dos consórcios
públicos.

Nesse esteio, partindo do pressuposto de que o consórcio pú-


blico integra uma agenda de políticas de desenvolvimento regio-
nal, aponta Barros (1995) apud Prates (2010), que:

(...) os consórcios intermunicipais podem ser instrumentos efi-


cazes de desenvolvimento regional em qualquer dos quadrantes
econômicos do estado, sob a condição de que sejam concebidos,
estruturados e conduzidos em consonância com as peculiarida-
des de cada realidade territorial distinta; e mais, que se reflita
profundamente sobre as características dos consórcios intermu-
nicipais inativos, segundo seus níveis de debilidade e em suas
correlações com os projetos a título de identidade e significado
social.

Assim, os gestores públicos municipais podem utilizar desse


mecanismo, consórcio público intermunicipal, para pleitear
avanços concretos para a sociedade visto que vendo sendo uma
realidade em vários outros municípios, desencadeando no de-
senvolvimento regional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem acima delineada buscou analisar e destacar, sucin-
tamente, como se apresenta o consórcio público na atualidade,
principalmente em sua forma intermunicipal, enfatizando os
conceitos primordiais e necessários para fácil compreensão.

Para isso, viu-se que o consórcio público está previsto especifi-


camente no artigo 241 da Constituição Federal de1988, dis-
pondo ainda de leis e decretos sobre a temática, e na contempo-
raneidade é amplamente discutido.

É bem verdade que esse assunto, abrange uma série de peculia-


ridades e legislações a serem observadas. Como também, possui
considerável relevância para a gestão pública, para que os atos e
realizações sejam eficientes, céleres e com economia dos recur-
sos públicos, de modo a promover o bem comum, sem necessa-
riamente encharcar a máquina pública, objetivando um movi-
mento colaborativo e eficaz no desenvolvimento dos entes
envolvidos.

Referências

AMORIM, M. R. M. A. J. Consórcios Públicos – O Poder de diá-


logo das prefeituras junto aos governos estadual e federal. Dis-
ponível em:
<http://www.imb.go.gov.br/pub/conj/conj8/10.htm>. Acesso
em: 25 agost. 2018.

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da República Fede-


rativa do Brasil, Brasília, DF, 05 out. 1988, p. 1. Disponível em:
<http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Constituição/Constituição.htm>. Acesso em:
10 agos. 2018.
______. Lei Complementar 101, de 04 de maio de 2000. Esta-
belece normas de finanças públicas voltadas para a responsabi-
lidade na gestão fiscal e dá outras providências. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, p. 1, 05 mai.
2000. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm>.
Acesso em: 20 agos. 2018.

______. Decreto n.º 6.017, de 17 de janeiro de 2007. Regula-


menta a Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005, que dispõe sobre
normas gerais de contratação de consórcios públicos. Disponí-
vel em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2007/decreto/d6017.htm>. Acesso em: 22 agos. 2018.

LINHARES, P. T.; MESSENBERG, R. P.; FERREIRA, A. P. L.


Boletim de Análise Político-Institucional / Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada. – n.1 (2011). Brasília - Ipea, 2011-. Dispo-
nível em:
<file:///C:/Users/Admin/Downloads/BAPI_n12.pdf>. Acesso
em: 28 agost. 2018.

PRATES, Â. M. Q. Os consórcios públicos municipais no Brasil e


a experiência Européia: alguns apontamentos para o desenvol-
vimento local. Disponível em:
<http://www.escoladegestao.pr.gov.br/arquivos/File/Material_
%20CONSAD/paineis_III_congresso_consad/pa.... Acesso em:
25 agost. 2018.

Artigo elaborado por:

Jamilly Barbosa de Freitas

Rainier Magalhães Ehbrecht, advogado inscrito na OAB/CE


32.353, especialista em Gestão Pública Municipal, pós-graduado
em Direito e Processo do Trabalho e Direito Previdenciário, pro-
fessor universitário.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/consorcios-publicos-intermunicipais-


apontamentos-relevantes/627584821

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