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SISTEMA NACIONAL DE ESPORTE E LAZER:

UM ESTUDO SOBRE O TEMA DO FINANCIAMENTO

Alessandra Matos Terra. Graduando em Educação Física/Licenciatura UFG.


Ananda Alves de Azevedo. Graduando em Educação Física/Licenciatura UFG.
Fernanda Cruvinel Pimentel. Graduando em Educação Física/Licenciatura UFG.
Valleria Araujo de Oliveira. Graduando em Educação Física/Licenciatura UFG.
Projeto de pesquisa financiado pela rede Cedes do Ministério do Esporte.

RESUMO: Este projeto tem o intuito de abordar a relação do financiamento junto ao esporte.
Dedicando-se a estudos em meio as tensões e contradições envolvendo o tema do financiamento
na dinâmica da Conferência Nacional do Esporte, cotejando-o com a análise da política pública
de esporte e lazer organizada a partir do Ministério do Esporte, e apontando limites e
possibilidades para a ampliação do interesse público no processo de construção do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer.

INTRODUÇÃO

As análises acerca das políticas públicas de esporte e lazer em curso nos últimos anos – mais
especificamente, iniciados a partir do primeiro mandato do Governo Lula, em 2003 –,
obrigatoriamente, devem envolver a criação do Ministério do Esporte e a realização da I
Conferência Nacional do Esporte, em 2004, e da II Conferência Nacional do Esporte, em 2006,
processos decisivos para a formulação da Política Nacional do Esporte e de princípios e diretrizes
para a construção do Sistema Nacional do Esporte e Lazer, marcos estruturantes da política pública
para o setor que buscam balizar uma organização sistêmica para o conjunto dos agentes e das ações
que guardam interlocução com o esporte e o lazer.
Nesse sentido, a produção de conhecimento acerca do processo e dinâmica das Conferências
é uma demanda expressiva para o campo de pesquisa e estudos sobre o esporte e lazer, em especial,
para a temática das políticas públicas para o setor. As Conferências constituem uma importante
iniciativa do Governo Federal que, segundo documentos oficiais do Ministério do Esporte,
mobilizou em torno de 83 mil participantes na primeira edição e mais de 40 mil na segunda. Na
primeira foi aprovada resolução que previa a criação do Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Já a
segunda buscou debater e criar mecanismos que garantissem a sua concretização.
Os debates, as discussões, o diálogo, as negociações, os conflitos, os consensos, as
permanências e as descontinuidades revelam algumas das tendências no âmbito das políticas
púbicas de esporte e lazer em curso no Brasil, o que se evidencia pelas deliberações e
encaminhamentos sistematizadas a partir de quatro eixos: estrutura, organização, agentes e
competências; recursos humanos e formação; gestão e controle social; e financiamento. Para os fins
desta pesquisa, dedicar-nos-emos ao estudo sobre o tema do financiamento, enfoque que nos
permitirá melhor avaliar como os interesses privados contraditam com os interesses públicos no
âmbito da formulação das políticas públicas para o setor.
Como resultado dos avanços do neoliberalismo, a desobrigação do Estado no que se refere à
garantia dos direitos sociais foi se tornando patente. Transmutados em serviços sociais
competitivos, e com o recuo das ações governamentais, as experiências em torno do esporte e do
lazer passaram a ser cada vez mais vivenciadas segundo a lógica do consumo, subordinando-se à
forma mercadoria. Nesse sentido, as Conferências constituem palco de disputa privilegiado para a
observação da tensão entre interesses privatistas e públicos no setor, tendo em vista que muitas de
suas deliberações e encaminhamentos ganharam força normatizadora e estabeleceram princípios e
diretrizes de orientação política para a construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
A partir do projeto de pesquisa UMA ANÁLISE CRÍTICO-COMPREENSIVA DA
CONFERÊNCIA NACIONAL DO ESPORTE, desenvolvido sob o encargo do GEPELC/UFG ao
longo de 2007, diante da análise dos documentos produzidos para e pelas Conferências, observamos
que, na disputa pela formulação das políticas de esporte e lazer, a participação do setor privado
ocupa um espaço privilegiado. Por mais que esteja presente o discurso em torno da necessidade da
presença do Estado na organização de programas e projetos destinados ao bem-estar social e ao
desenvolvimento humano, os interesses privatistas, aparecem de forma mais elaborada e objetiva,
em sua maioria, como interesses econômico- coorporativos vinculados ao esporte de rendimento e
espetáculo, corroborando com a sua mercantilização.
Em termos gerais, concluímos que as tensões e consensos construídos no processo das
Conferências entre as esferas pública e privada, em certa medida, dão continuidade às formas e
padrões de relacionamento estabelecidos ao longo da história entre o Estado e a sociedade esportiva
organizada, apontando para a subordinação ao mercado das políticas públicas do setor. Na mesma
direção, pode-se perceber também uma inflexão quanto aos objetivos de universalização do direito
ao esporte e lazer, sendo mais presente o discurso em torno da democratização, porém, com
orientações claramente voltadas à legitimação e legalização do uso do fundo público para o
financiamento do esporte de rendimento e espetáculo.
Ainda que se percebam tais orientações, é verdade que o discurso em torno do esporte e
lazer como direitos sociais, como prática promotora de inclusão e cidadania, está muito presente no
debate envolvendo as Conferências. Mas se as deliberações que tem se desdobrado em marcos
legais para o setor são favorecedoras do desenvolvimento do esporte como negócio, em que medida
o processo de participação decisória aberto pelas Conferências tem concretamente avançado na
ampliação de políticas públicas asseguradoras do direito ao esporte e lazer com qualidade social?
Tal avaliação demanda uma investigação para além dos documentos produzidos para e pelas
Conferências, portanto, estabelece a necessidade de uma análise dos gastos do Ministério do
Esporte que permita a avaliação comparada das orientações emanadas das Conferências com os
investimentos realizados pelo governo federal no setor.
Enfim o problema de pesquisa proposto por este projeto circunscreve-se à análise dos gastos
públicos do governo federal originados e geridos a partir do Ministério do Esporte, buscando
compreender as contradições e tensões que perpassam as relações de hegemonia estabelecidas entre
os interesses público e privado no que diz respeito ao financiamento das políticas para o setor, bem
como confrontar os gastos públicos realizados com as deliberações das Conferências Nacionais do
Esporte a fim de identificarmos as tendências que se afirmam no processo de construção do Sistema
Nacional de Esporte e Lazer.

OBJETIVOS PROPOSTOS

O presente trabalho tem por objetivo:

• Identificar e analisar as contradições e tensões que perpassam as relações de hegemonia


estabelecidas entre os interesses público e privado no que diz respeito ao financiamento das
políticas públicas de esporte e lazer organizadas a partir do Ministério do Esporte.

• Descrever, associar e discutir as deliberações e os marcos legais emanados das Conferências


Nacionais do Esporte relativas ao tema do financiamento; Correlacionar as principais
deliberações das Conferências Nacionais de Esporte com a análise dos gastos públicos do
governo federal originados e geridos a partir do Ministério do Esporte.

• Identificar tendências, apontar desafios e propor diretrizes de ação política para a construção
do Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
METODOLOGIA

A abordagem metodológica a ser desenvolvida levará em consideração as características


próprias do estudo em foco. Trata-se de um estudo que implicará em pesquisa bibliográfica e no
levantamento de dados a partir de pesquisa documental.
Tomando o Sistema de Esporte e Lazer como objeto de investigação, em especial, o tema do
financiamento, realizaremos: (i) pesquisa bibliográfica sobre o as relações entre o publico e o
privado na formulação e implementação de políticas públicas de esporte e lazer; (ii) investigação
documental, a partir dos documentos produzidos para e pela Conferência Nacional do Esporte, do
Plano Plurianual de Investimentos – PPA, referente aos períodos 2004-2007 e 2008-2011, da Lei de
Diretrizes Orçamentárias – LDO, desde o ano de 2004, e da Lei Orçamentária Anual – LOA, desde
o ano de 2004; e (iii) análise de conteúdo, que compreende pré-análise, descrição analítica e
interpretação referencial dos dados orientada por categorias que servirão de parâmetro para o
processo de seleção, classificação, organização, conexão, generalização e sistematização dos dados.
Tais procedimentos metodológicos contribuirão para a elaboração de uma monografia que
servirá de base para redação de um relatório técnico, 3 artigos científicos e a edição de um livro
referente ao tema da pesquisa.
As informações levantadas permitir-nos-ão reconhecer os avanços e entraves do processo e
apresentar sínteses, e propostas, acerca da construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer.

DELINEAMENTO DO ESTUDO

Afim de enriquecer esta pesquisa, obteve-se como elemento inicial, a investigação de


bibliografias ligadas ao tema, levantando assim, leituras e discussões coletivas por meio de estudos
dirigidos, de textos e obras relativos às problemáticas do projeto entre os pesquisadores e estudantes
bolsistas, com a intensão de obter incremento na fundamentação teórica dos participantes. E para o
amadurecimento dos estudantes ligados ao projeto, estima-se também a realização de cursos e
seminários juntamente a pesquisadores.
Esta pesquisa baseia-se em elementos preliminares de dossiê das principais legislações
esportivas do país e deliberações das Conferencias Nacionais de Esporte relativas ao tema do
financiamento, visando também a obtenção e análise de dados sobre programas implementados e
gastos realizados pelo Ministério do Esporte, tendo como atividades principais a compilação,
classificação e sistematização dos dados qualitativos e quantitativos institucionais do Ministério do
Esporte constantes do Plano Plurianual de Investimentos – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias –
LDO e Lei Orçamentária Anual - LOA.
Com relação à avaliação do progresso dos componentes do grupo desta pesquisa, são feitos
compilações, distribuições, classificação e organização do acervo textual produzido pelos
participantes, estimando assim, a produção de cerca de três artigos para apresentação em congressos
e publicação em periódicos científicos de âmbito nacional internacional das áreas de Educação
Física e afins, realização de eventos acadêmicos, cursos e seminários abertos ao público e realização
de encontros sistemáticos de estudos, destinando assim certificados de realização de tais atividades,
e após tamanha dedicação a esta pesquisa, seus participantes seguiram para uma etapa de edição e
publicação de um livro com os resultados da pesquisa.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS

Considerando o conhecimento, os saberes e os dados que serão sistematizados no presente


trabalho, espera-se contribuir com a formação inicial e continuada de professores, educadores
sociais e gestores envolvidos com a temática do esporte e lazer. Buscaremos construir referências
críticas para o entendimento e explicação das contradições, tensões e tendências que envolvem o
tema do financiamento no cenário das políticas públicas de esporte e lazer no Brasil.
Além disso, o presente trabalho apresentará análises relevantes sobre as tendências que
orientam a construção do Sistema Nacional de Esporte e Lazer, fornecendo importantes elementos
de crítica social ao curso das políticas para o setor e propondo novas pautas para o incipiente debate
inerente ao processo de participação decisória aberto pelas Conferências Nacionais de Esporte.
Assim, os resultados da pesquisa intitulada SISTEMA NACIONAL DE ESPORTE E
LAZER: UM ESTUDO SOBRE O TEMA DO FINANCIAMENTO contarão com diferentes
mecanismos de divulgação: páginas dos grupos de pesquisa das universidades envolvidas, pôsteres
e comunicações orais em eventos acadêmicos e culturais. A comunicação dos resultados do projeto
prevê ainda veiculação da produção do conhecimento em periódicos e livros e distribuição gratuita
para as bibliotecas das universidades e dos órgãos de gestão de esporte e lazer dos governos federal,
estaduais e municipais.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Ricardo. A desertificação neoliberal no Brasil: Collor, FHC e Lula. São Paulo:
Autores Associados, 2004.
AZEVEDO, Aldo; SUASSUNA, Dulce. (Org.). Lazer e política: interfaces e perspectivas. Brasília -
Distrito Federal: Editora Thesaurus, 2007.
BEHRING, Elaine Rossetti. Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e perda dos
direitos. São Paulo: Cortez, 2003
BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 2. ed. Ijui: Editora Unijui, 2003.
BRACHT, V.; ALMEIDA, F. Q. A política de esporte escolar no Brasil: a pseudovalorização da
Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 24, n. 3, p. 87-101, 2003.
BRASIL. Lei n.º 10.264, de 16 de julho de 2001 (Lei Piva). Brasília, 2001. Disponível em:
<http://www6.senado.gov.br/sicon/>. Acesso em: 12 nov. 2007.
CORREIA, M. V. C. Que controle social? Os conselhos de saúde como instrumento. Rio de
Janeiro: Editora Fiocruz, 2000.
TEIXEIRA, S. F. Reforma sanitária em busca de uma teoria. São Paulo: Cortez/ABRASCO, 1989.
p. 47-60.
FRANCO, M. L. P. B. Análise de Conteúdo. Brasília, 2º edição: Líber Livro Editora, 2005.

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