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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4

1 O INÍCIO DO DIREITO ESPORTIVO NO BRASIL ..................................... 5

2 CONCEITO DE DIREITO DESPORTIVO ................................................. 11

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO ESPORTIVA BRASILEIRA:


DO ESTADO NOVO AO SÉCULO XXI ..................................................................... 14

3.1 Do Brasil Colônia ao Estado Novo ..................................................... 16

3.2 Decreto-lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941 ...................................... 16

3.3 Lei nº 6.251 de 8 de outubro de 1975 ................................................ 18

3.4 Lei 8.672 de 06 de julho de 1993 (Lei Zico) ....................................... 20

3.5 Lei 9.615 de 24 de março de 1998 (Lei Pelé) ..................................... 22

3.6 Lei nº 9.981 de 14 de julho de 2000 (Lei Maguito Vilela). .................. 24

3.7 Outras legislações importantes .......................................................... 24

4 JUSTIÇA DESPORTIVA ........................................................................... 26

4.1 Organização e estrutura da Justiça Desportiva .................................. 28

4.1.1 Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD .......................... 30

4.1.2 Os Tribunais De Justiça Desportiva – TJD ................................... 32

4.1.3 Jurisdição e competência da Justiça Desportiva .......................... 33

4.2 Funções na justiça desportiva: presidente e vice-presidente do TJD e


STJD 34

4.2.1 Auditores ...................................................................................... 35

4.2.2 Procuradores ................................................................................ 36

4.2.3 Secretaria ..................................................................................... 37

4.2.4 Defensores ................................................................................... 37

4.3 A justiça desportiva no âmbito internacional ...................................... 38

4.4 Punições............................................................................................. 39

5 DOPAGEM E O ORDENAMENTO JURÍDICO ......................................... 41

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5.1 O que é “doping” ................................................................................ 42

5.2 A WADA ............................................................................................. 43

5.3 A regulamentação no Brasil ............................................................... 44

5.4 Da responsabilidade do atleta ............................................................ 45

5.5 Os direitos do atleta............................................................................ 46

5.6 A Justiça Desportiva Antidopagem - JAD ........................................... 47

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 49

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INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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1 O INÍCIO DO DIREITO ESPORTIVO NO BRASIL

Fonte:www.direitodesportivo.com.br

A primeira norma editada no Brasil com o intuito de regulamentar as práticas


físicas e esportivas foi o Decreto-Lei nº 3199/41, que criou o Conselho Nacional de
Desportos. Este aparelho administrativo, vinculado ao Ministério da Educação (no
último mandato de Getúlio Vargas pelo Estado Novo), priorizava a educação física
escolar como principal medida fomentadora para as práticas desportivas no Brasil. O
embrião deste Conselho foi concebido por teorias totalitaristas típicas da década de
1940, de caráter fascista. Estas teorias se utilizavam da educação física escolar como
um mecanismo para a formação de futuros cidadãos, comprometidos com as causas
patrióticas defendidas pelo poder vigente. Além do caráter de conscientização política,
o Poder carismático exercido por Getúlio Vargas funcionaria como um reforço positivo
para criar esta repercussão sobre o emprego dessa disciplina curricular.
Além da criação da referida disciplina como matéria curricular obrigatória,
outras medidas públicas foram tomadas com fulcro em expandir e disseminar sua
aplicação como ferramenta de formação física, social e ideológica das crianças e
adolescentes. A Portaria n° 7, de 9 de janeiro de 1940, do Diretor do Departamento
Nacional de Educação, aprovou instruções para a realização de exames práticos de
Educação Física nos estabelecimentos de ensino secundário. Já a Portaria Ministerial
nº 14, de 26 de janeiro de 1940, estabeleceu a exigência mínima de 3/4 de frequência
dos alunos nas aulas de Educação Física para poder submeter-se aos exames finais

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das outras disciplinas da grade curricular. Ainda no ano de 1940, o Decreto nº 5.723,
de 28 de maio, reconheceu oficialmente o Curso Superior da Escola de Educação
Física de São Paulo, realizado pela Universidade de São Paulo.
Outra medida importante realizada no final do Estado Novo foi a determinação
legal para que técnicos amadores de esportes fossem habilitados e reconhecidos
como profissionais, para poder exercer suas funções. O Decreto-Lei nº 2.975, de 23
janeiro de 1941, além da citada regulamentação, determinava que as instituições
desportivas tinham a obrigação de contratar pessoal legalmente habilitado em
Educação Física (com formação em nível superior ou com a habilitação de técnico
desportivo em determinada modalidade).
Entretanto, a medida legal de maior importância no período histórico que
antecedeu o Nacional Desenvolvimentismo foi aquela que criou o Conselho Nacional
do Desporto (CND). O Decreto Lei Nº 3.199, de 14 de abril de 1941 foi o primeiro
arcabouço legal que vislumbrou a necessidade de se observar a atividade física (no
caso específico, as modalidades desportivas) com um olhar mais profundo e
complexo. Os objetivos propostos nesta legislação possuíam um forte ensejo
ideológico, reconhecendo a necessidade presente de profissionalização do esporte,
sem desmerecer os benefícios de sua prática de caráter amadorística, como aponta
o artigo 3º, alíneas a e b:

Art. 3º Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Desportos:


a) estudar e promover medidas que tenham por objetivo assegurar uma
conveniente e constante disciplina à organização e à administração das
associações e demais entidades desportivas do país, bem como tornar os
desportos, cada vez mais, um eficiente processo de educação física e
espiritual da juventude e uma alta expressão da cultura e da energia
nacionais;
b) incentivar, por todos os meios, o desenvolvimento do amadorismo, como
prática de desportos educativa por excelência, e ao mesmo tempo exercer
rigorosa vigilância sobre o profissionalismo, com o objetivo de mantê-lo
dentro de princípios de estrita moralidade;

A letra legal que institui o CND evidenciou o teor nacionalista e moralista que
permeava os objetivos de criação daquele Conselho. O caráter ideológico das ações
daquela instituição era uma forma de propaganda governamental que propagava não
apenas os benefícios do movimento com a finalidade esportiva e lúdica. Ensejavam
finalisticamente a formação social e cultural da população, alinhada a propósitos
políticos, exteriorizando uma estratégia de gestão que iniciou-se no Estado Novo e se
consolidou no Nacional-Desenvolvimentismo.

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Com a criação do CND, a regulamentação sobre as apurações disciplinares
(bem como sobre a aplicação de penalidades para as Confederações e os atletas que
não cumprissem os mandamentos do Conselho) tornou-se uma ação legal necessária.
A Portaria Ministerial n° 254, de 1 de outubro de 1941 veio a preencher esta lacuna
exegética, aumentando ainda mais a interferência do CND sobre as Confederações
e, sobretudo, nos atletas a ela subordinados.
Além disto, toda e qualquer entidade desportiva passou a ter uma
responsabilidade administrativa de gerir com eficiência seus gastos e atividades. O
Decreto-Lei n° 7.674, de 25 de setembro de 1945 determinou que todas as entidades
desportivas públicas (como, por exemplo, as Confederações subordinadas ao CND)
prestassem contas sobre a forma de utilização de seu capital financeiro, bem como
estabeleceu medidas para a proteção do patrimônio dessas instituições.
A fiscalização das Entidades Desportivas foi facilitada pela regionalização do
Conselho, materializada na criação das chamadas “Inspetorias Seccionais de
Educação Física” (Decreto nº 49.639, de 30 de dezembro de 1960). Com esta divisão
de responsabilidades, tanto o esporte como a educação física escolar passaram a ser
observados pelo governo federal com maior proximidade, auxiliando a futura edição
de leis que permitiriam, de forma concreta, a aplicação dos serviços que envolveriam
a atividade física gerindo não apenas a qualidade de suas atividades, como também
uma maior proximidade às demandas apresentadas pelo público.
Desta forma, o final do Estado Novo constitui o marco inicial da participação da
Administração Pública no controle (de forma direta e/ou indireta) e no fomento de
políticas de intervenção nos esportes brasileiros, tanto nos amadores como os
profissionalizados. O Decreto-Lei n° 8458, de 26 de dezembro de 1945, dispunha
sobre o registro dos estatutos das sociedades esportivas, bem como a necessidade
do governo ter ciência de todas as medidas tomadas por essas instituições.
O final do Estado Novo também marcou a criação e a regulamentação de
diversos Cursos de Graduação em Educação Física, indicando uma embrionária
mudança de paradigma no tocante à profissionalização desses educadores,
ensejando um maior conhecimento técnico científico para o exercício de suas funções,
seja no esporte, na educação física escolar e também no lazer. Na década de 1940
foram criados os Cursos Superiores de Educação Física nas Universidades do Rio
Grande do Sul (Decreto n° 7.219, de 27 de maio de 1941), Piauí (Decreto n° 7.365,
de 10 de junho de 1941), Santa Catarina (Decreto n° 7.366, de 10 de junho de 1941),

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Espírito Santo (Decreto-Lei nº 3.384, de 3 de julho de 1941), Rio de Janeiro (Escola
Nacional de Educação Física / Decreto-Lei nº 4.029, de 19 de janeiro de 1942),
Pernambuco (Decreto n° 8.919, de 4 de março de 1942), Pará (Decreto n° 9.890, de
7 de julho de 1942), Rio Grande do Sul (Decreto n° 15.582, de 16 de junho de 1944),
Bauru/SP (Decreto nº 47.174, de 6 de novembro de 1959) entre outros.

Fonte: juristas.com.br

A multiplicação e polarização dos Cursos Superiores, em contrapartida, gerou


uma preocupação: organizar e sistematizar os esportes praticados por esses
universitários durante a realização de sua graduação. Para preencher esta lacuna, foi
editado o Decreto-Lei nº 3.617, de 15 de setembro de 1941, que estabelecendo as
bases de organização dos desportos universitários. Desta forma, foi instituída a
Confederação Brasileira dos Desportos Universitários (CBDU), que regulamentou
oficialmente a realização dos Jogos Universitários Brasileiros (JUB), comumente
praticados desde o final do Século XIX (com participação exclusiva de algumas
entidades localizadas no eixo Rio de Janeiro – São Paulo). Porém, até a criação das
citadas instituições, essas competições careciam de visibilidade social, minimizando
os seus benéficos efeitos no tocante à identificação e formação de atletas de alto
rendimento (principal mecanismo de seleção de competidores em modalidades
esportivas individuais e coletivas no Brasil durante o Nacional-Desenvolvimentismo).

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A regulamentação dos Cursos na área de Educação Física permitiu a
maximização e disseminação de Simpósios e Congressos envolvendo a temática da
atividade física, com enfoque na educação física escolar e no esporte. A Portaria
Ministerial n° 310, de 16 de abril de 1942 aprovou o Regimento do I Congresso Pan-
Americano de Educação Física, realizado na Escola Nacional de Educação Física, no
Rio de Janeiro.
Já, no transcorrer do Nacional-Desenvolvimentismo, técnicas e métodos de
treinamento esportivo passaram a ser pesquisados e concebidos no Brasil
(principalmente nos bancos acadêmicos), possibilitando a formação de uma base
científica na área de atividade física com o objetivo de tentar atender aos anseios e
necessidades dos atletas brasileiros. A Portaria nº 170, de 1 de outubro de 1959,
aprovou a realização de instruções mínimas sobre treinamento esportivo nas
faculdades de Educação Física, simbolizando o expressivo aumento de importância
desta área de especialização na graduação. Esse dispositivo legal simbolizava a já
presente preocupação do Estado em formar profissionais na área de Educação Física
como treinadores desportivos para atletas de alto rendimento, além de propiciar a
descoberta de talentos durante esse processo, dentro da própria Academia.
Entretanto, a incorporação de disciplinas típicas na área de fisiologia e de
anatomia para a formação do Educador Físico foi um fenômeno que se iniciou no
transcurso do Estado Novo. O primeiro passo foi dado em 4 de março de 1942, com
a promulgação do Decreto nº 8.923, autorizando o funcionamento do Curso de
Especialização de Médicos em Educação Física da Escola Superior do Estado de São
Paulo. Desta forma, estava engendrada uma crescente aproximação da área da
Educação Física com as ciências biológicas, claramente reflexiva e perceptível até os
dias atuais.
Apesar da evidente finalidade ideológica na elaboração de políticas públicas,
bem como do natural e crescente interesse que brasileiro manifestava pela atividade
física e pelo lazer; a garantia e o respaldo para essas práticas ainda não haviam sido
contempladas na legislação de maior referência durante o Nacional-
Desenvolvimentismo. A Constituição da República Federativa do Brasil, publicada em
18 de setembro de 1946, não contemplava o direito a práticas de atividades físicas
nos artigos que preconizavam os direitos individuais do cidadão brasileiro.
O forte apelo ideológico e de formação da consciência política que podem
ocorrer pela prática de atividade física, entretanto, não foram fatos suficientes para

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que o governo o alçasse a uma gestão administrativa específica. Não havia um
ministério específico para tratar sobre a atividade física durante o Nacional-
Desenvolvimentismo. A constante mudança de pastas ministeriais responsáveis pelo
o gerenciamento de assuntos destinados ao esporte e à educação física escolar
evidenciam esse fato, como ilustra a tabela abaixo:

Tabela 1. Alternância das Pastas Ministeriais responsáveis pela atividade


Física durante o Nacional Desenvolvimentismo

Fonte: www.planalto.gov.br

Esta dificuldade em encontrar um órgão gestor competente para administrar e


promover a atividade física no Brasil, durante o Nacional-Desenvolvimentismo,
resultou num pífio fomento de políticas públicas. O esporte competitivo, sobretudo o
coletivo, constituía uma exceção ao cenário, já que visibilidade olímpica positiva
poderia alterar a percepção externa do País, favorecendo estreitamento com outras
Nações no próprio relacionamento econômico, motor propulsor desse período.

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2 CONCEITO DE DIREITO DESPORTIVO

Fonte: cursodireitodesportivo.com.br

O Direito Desportivo é o ramo do direito que trata exclusivamente das relações


advindas do desporto em todas suas esferas, reunindo diversas normas e princípios
sobre o tema de forma a abarcar uma gama de atividades.
Muitas são as definições do Direito Desportivo, apresentadas por diferentes
autores em momentos diversos. Em 1981, por exemplo, Valed Perry o conceituou
como sendo “complexo de normas e regras que regem o desporto no mundo inteiro e
cuja inobservância pode acarretar a marginalização total de uma associação nacional
do concerto mundial esportivo”. Em 2002, Marcílio Krieger assim o definiu:

É a parte ou ramo do direito positivo que regula as relações desportivas,


assim entendidas aquelas formadas pelas regras e normas internacionais e
nacionais estabelecidas para cada modalidade, bem como as disposições
relativas ao regulamento e à disciplina das competições.

Fato é que, conforme preceituou o espanhol Eduardo Blanco, direito e esporte


são inseparáveis, uma vez que não há esporte sem regras de jogo. Além de suas
regras próprias, os esportes têm, desta maneira, um Direito específico que os regula
para a manutenção da ordem e bom desenvolvimento.
Sendo assim, o objeto do Direito Desportivo atrela-se à questão do esporte em
geral, regulando o dever do Estado quanto ao fomento de práticas desportivas, à
organização das entidades de prática e das competições, à prática em si de
determinada modalidade, às questões disciplinares relativas a cada uma, às relações
entre os envolvidos, entre outras matérias. Como ensina Álvaro Melo Filho:

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(...) o desporto é, sobretudo, antes de tudo, uma criatura da lei, pois, sem o
direito, o desporto carece de sentido, porquanto nenhuma atividade humana
é mais regulamentada que o desporto. Com efeito, “regras do jogo”, “Códigos
de Justiça Desportivas”, “regulamentos técnicos de competição”, “leis de
transferências de atletas”, “estatutos e regulamentos de entes desportivos”,
“regulamentação de dopping”, atestam que, sem regras e normatização, o
desporto torna-se caótico e desordenado, à falta de regras jurídicas para dizer
quem ganha e quem perde.

Em suma, consiste o Direito Desportivo em instrumento fundamental para o


desenvolvimento e manutenção do desporto em suas diversas manifestações e,
portanto, essencial à sua constante evolução para a manutenção do esporte
organizado.
Neste sentido, o aumento da visibilidade alcançada pelo esporte ao longo dos
anos fez com que se tornasse um fenômeno de massa envolvendo interesses
diversos, atraindo milhões de pessoas e grandes investidores, que passaram a
perceber nessa atividade uma excepcional perspectiva de lucro. Portanto, revelou-se
necessário uma maior atenção à regulamentação jurídica sobre essa prática, surgindo
então um aprimoramento do Direito Desportivo.
Importa ressaltar da análise acima que o Direito Desportivo não se compõe
exclusivamente de normas legais editadas pelo Estado, mas também se vale de
normas próprias, regulamentadas pelas Entidades de Administração do Desporto –
EAD, com o objetivo de organizar as competições desportivas.
A esta faculdade infralegislativa dá-se o nome de autonomia legislativa
desportiva, indicada de maneira expressa na Constituição Federal em seu artigo 217,
inciso I, que determina o respeito “a autonomia das entidades desportivas dirigentes
e associações, quanto a sua organização e funcionamento”. (BRASIL, 1988).
Nessa esteira, o Direito Desportivo torna-se imprescindível para regulamentar
juridicamente as demandas que possam surgir por conta dessa complexidade de leis,
normas e regulamentos.
Souza (2014, p.3) indica que a existência do direito desportivo foi proclamada
em 1930 pelo Professor da Faculdade de Direito e advogado da Corte de Toulouse,
na França, Jean Loup, em Les Sports et Le Droit.
Oliveira Vianna (1999) em sua obra Instituições Políticas Brasileiras, datada de
1950, ao comentar sobre o Direito Desportivo asseverou:

Há, por exemplo, um largo setor do nosso direito privado que é inteiramente
costumeiro, de pura criação popular, mas que é obedecido como se fosse um
direito codificado e sancionado pelo Estado. Quero me referir ao direito que

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chamo esportivo e que só agora começa a ser “anexado” pelo Estado e
reconhecido por lei. Este direito, cuja Charta (para empregar uma expressão
de Malinowski) se estende pelo Brasil inteiro, é de autêntica realização
popular e é aplicado com um rigor que muito Direito escrito não possui.
Organizou instituições suas, peculiares, que velam pela regularidade e
exação dos seus preceitos.
Tem uma organização também própria – de clubes, sindicatos, federações,
confederações, cada qual com administração regular, de tipo eletivo e
democrático; e um Código Penal seu, com a sua justiça vigilante e os seus
recursos, agravos e apelações, obedecidos uns e outros, na sua atividade
legislativa ou repressiva, como se tivessem ao seu lado o poder do Estado.
Direito vivo, pois.
Dominados pela preocupação do direito escrito e não vendo nada mais além
da lei, os nossos juristas esquecem este vasto submundo do direito
costumeiro do nosso povo, de cuja capacidade criadora o direito esportivo é
um dos mais belos exemplos. (p. 44).

Assim, o Direito Desportivo foi se aperfeiçoando e atualmente vigora o pacífico


entendimento de que consiste em um ramo do Direito, conforme a lição de Souza
(2014):

...constitui um ramo do Direito, com princípios, normas, institutos, fontes e


instituições próprias, conforme sinaliza a própria Constituição Federal de
1988 em seu artigo 217, onde estabelece a competência constitucional da
Justiça Desportiva. (p. 3).

Uma vez considerado um ramo do Direito, tem-se as seguintes definições, na


visão de alguns importantes autores:

Álvaro Melo Filho (1986, p. 12): “o conjunto de técnicas, regras instrumentos


jurídicos sistematizados que tenham por fim disciplinar os comportamentos
exigíveis na prática dos desportos em suas diversas modalidades”.
Pedro Trengrouse (2005, p. 7-8): “conjunto de normas e regras oriundas da
coletividade desportiva organizada, com a finalidade de regular o desporto e
que instituem mecanismos coercitivos capazes de garantir a harmonia e
uniformidade necessárias à prática desportiva”.
Gustavo Souza (2014, p. 4): “o conjunto de normas e regras que regem o
desporto e cuja inobservância pode acarretar penalizações, constituindo-se
de normas escritas ou consuetudinárias que regulam a organização e a
prática do desporto e, em geral, de quantas disciplinas e questionamentos
jurídicos situam a existência do desporto como fenômeno da vida social”.

Assim, conforme dispõe Rafael Fachada (2017, p.1), tem-se pelo nome de
Direito Desportivo a parte da Ciência jurídica dedicada a tutelar as relações entre os
sujeitos de Direito, pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, ocorridas no
âmbito do esporte e do jogo institucionalizado, sabendo desde já que estas serão as
mais variadas e complexas possíveis, uma vez que a disciplina em tela deverá tratar
desde a existência do desporto enquanto direito fundamental do cidadão, até a

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normalização que dará respaldo aos certames de grande visibilidade, a exemplo do
que ocorre nos Jogos Olímpicos.

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LEGISLAÇÃO ESPORTIVA BRASILEIRA: DO


ESTADO NOVO AO SÉCULO XXI

Fonte: www.morad.com.br

Nos regimes democráticos, como é o caso da República Federativa do Brasil,


três poderes apresentam-se bem definidos e atuantes: o Poder Executivo, o Poder
Legislativo e o Poder Judiciário.
Ao Poder Executivo compete exercer o comando da nação, conforme aos
limites estabelecidos pela Constituição ou Carta Magna do país. O Poder Judiciário
tem a incumbência de aplicar a lei em casos concretos, para assegurar a justiça e a
realização dos direitos individuais e coletivos no processo das relações sociais, além
de velar pelo respeito e cumprimento do ordenamento constitucional. Quanto ao Poder
Legislativo, a ele compete produzir e manter o sistema normativo, ou seja, o conjunto
de leis que asseguram a soberania da justiça para todos - cidadãos, instituições
públicas e empresas privadas (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2007).

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Lei, por sua vez é segundo Ferreira (1993) uma regra de direito, obrigação,
norma, elaborada e votada pelo poder legislativo e tornada obrigatória para se manter
a ordem e o progresso numa comunidade.
A lei, em seu processo de formulação, passa por várias etapas estabelecidas
na Constituição. Nesse processo temos a iniciativa da lei, discussão, votação,
aprovação, sanção, promulgação, publicação e vigência da lei. A iniciativa da lei
normalmente compete ao Executivo ou ao Legislativo, mas há casos em que a própria
Constituição determina que a iniciativa cabe ao Judiciário. Proposta a lei, segue-se a
sua discussão no Congresso Nacional, se federal, ou nas Assembleias Legislativas,
se estadual; em seguida, vem sua votação, que é a manifestação da opinião dos
parlamentares favorável ou contrária ao projeto de lei. Se favorável ao projeto for a
maioria dos votos, a lei estará aprovada pelo Legislativo. Então, a lei é encaminhada
ao Presidente da República (lei federal) ou ao governador de estado (lei estadual) que
poderá sancioná-la ou vetá-la.
Em resumo, a legislação de um estado democrático de direito é originária de
processo legislativo que constrói, a partir de uma sucessão de atos, fatos e decisões
políticas, econômicas e sociais, um conjunto de leis com valor jurídico, nos planos
nacionais e internacionais, para assegurar estabilidade governamental e segurança
jurídica às relações sociais entre cidadãos, instituições e empresas (CÂMARA DOS
DEPUTADOS, 2007).
O esporte, por sua vez é algo que fanatiza e envolve milhões de pessoas e
interesses. Não mais é tratado como uma simples prática corporal e cultural, mas sim
como algo que move e mexe com centenas de pessoas e cifras monetárias. Tubino
(1993) comenta que o esporte nada mais é do que um dos fenômenos socioculturais
mais importantes do mundo, pois movimenta milhões de dólares no mundo todo e
ganha espaço no terreno das discussões científicas.
Assim sendo, um fenômeno desta natureza necessita de Leis que
regulamentem seu funcionamento, sua administração e sua ordem. Embora perpasse
por muitos interesses políticos, sociais e econômicos, a Legislação Esportiva Brasileira
evoluiu de maneira significativa em relação a décadas atrás.

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3.1 Do Brasil Colônia ao Estado Novo

Estas Legislações buscam em si a normatização do esporte, contudo, será que


o esporte não era normatizado antes destas leis? A literatura demonstra que não. O
que acontecia de fato no período compreendido entre o Brasil-Colônia e o Estado
Novo eram práticas informais de esporte. No Brasil Colônia nenhum tipo de
normatização havia para o esporte. E isto é justificado como vários livros de História
do Brasil mostram (VICENTINO, 1997). O que aconteciam de fato eram práticas
corporais ou práticas esportivas utilitárias realizadas pelos índios e os colonizadores.
Práticas estas, como o arco e flecha, a canoagem, equitação, pesca, corridas,
relacionadas de fato a sobrevivência dos seus praticantes.
No Brasil-Império, Tubino (2002) coloca que a novidade nas práticas esportivas
foi na verdade um conjunto de decretos específicos para as escolas militares, os quais
estabeleceram a obrigatoriedade de algumas práticas esportivas. Como os Decretos
nº 2.116, de 11/03/1858, o de nº 3.705 de 22/09/1866, o de nº 4.720, de 22/04/1871,
o de nº 5.529 de 17/01/1874, o de nº 9.251 de 16/06/1884 e o de nº 1.0202 de
09/03/1889.
Estes decretos aumentaram a realização das práticas esportivas inclusive em
colégios civis oficiais, como o Pedro II. Tubino (2002) coloca que o esporte e a
Educação Física eram considerados concomitantemente, porém as competições
esportivas já estavam acontecendo isoladamente das sessões de Educação Física.
No período da República até antes do Estado Novo as regulamentações para
o esporte só vieram em formas de decreto para enfatizar tais práticas nas instituições
militares. Contudo a partir de 1920 o Brasil começara a competir a nível internacional.

3.2 Decreto-lei nº 3.199, de 14 de abril de 1941

Conforme já exposto inicialmente, tal decreto-lei foi a primeira legislação


esportiva oficial do Brasil, sendo responsável por estabelecer as bases de
organização dos desportos em todo país.
De acordo com disposto em seu artigo 1º, o Conselho Nacional de Desportos
(CND) tem a obrigação de orientar, fiscalizar e incentivar a prática dos desportos em
todo país (BRASIL, 1941). Para esta orientação ou fiscalização do CND o então
decreto-lei colocou as confederações, federações, ligas e associações desportivas

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sob a tutela do CND, assim como os desportos universitários e os da Juventude, e
também os da Marinha, Exército e os das forças policiais (artigos 9º, 10 e 11).
Da Costa (1996 apud ALVES e PIERANTI, 2007) comenta que essa legislação
era uma adaptação bastante próxima da legislação fascista italiana para o esporte.
Visto que todos os níveis do desporto brasileiro se encontravam sob a chancela de
um órgão maior que era o CND, regido pelo governo da época.
Durante décadas o Estado no Brasil reservou timidamente ao esporte
departamentos e secretarias dentro de ministérios já consolidados. Em 1937, o tema
começou a ganhar relevância no âmbito federal com a criação da Divisão de Educação
Física, vinculada ao Ministério da Educação e Saúde, posteriormente reorganizado
como Ministério de Educação e Cultura. A divisão era administrada por cinco militares
e um civil. Não havia qualquer referência à regulação do esporte de alto rendimento
(ALVES e PIERANTI, 2007).
A primeira legislação esportiva brasileira determina deveres, direitos e
obrigações das confederações desportivas que teriam que ser especializadas e
ecléticas (art.13), e que estas mesmas instituições teriam que ser formadas com no
mínimo três federações estaduais do mesmo desporto. Já as Federações desportivas,
(só poderia existir uma de cada esporte em cada estado) só poderiam ser formadas
com no mínimo três associações ou ligas desportivas que tratem do mesmo desporto.
Já as ligas do Distrito Federal e das capitais do território nacional poderiam se filiar
direto com as federações, contudo, nos demais municípios estas associações teriam
que se juntar em duas ou mais para se filiar a uma liga, para aí sim vincular-se as
federações.
Em relação às competições, tal legislação deixa claro que a participação de
qualquer entidade desportiva em competições internacionais tem que ser aprovada
pelo CND (art.27).
O fato de destaque nessa legislação era que o CND, órgão regido pelo governo,
tinha a intenção clara de gerenciar, de acordo com os moldes do governo todo o
desporto brasileiro, mostrando como cita Tubino (2002) a intenção do Estado em
controlar e estabelecer uma tutela no esporte nacional. Evidenciando uma
dependência das entidades esportivas ao Estado, lançando base de uma tutela e de
um paternalismo estatal no esporte.
Assim, Melo Filho (1995, p.26) analisa esta legislação da seguinte maneira:

17
O Decreto-lei 3199/1941, nos seus 61 dispositivos, cuidou dos mais variados
aspectos, traçando o plano de sua estruturação, regulamentando as
competições desportivas, adotando medidas de proteção, consagrando o
princípio de que as associações desportivas exerciam atividades de caráter
cívico, dispondo sobre a adoção de regras internacionais, proibindo o
emprego de capitais com o objetivo de auferir lucros, impondo a
obrigatoriedade da atenção dos desportos amadores às associações que
mantivessem o profissionalismo, de modo a evitar o efeito desportivo
predatório.

3.3 Lei nº 6.251 de 8 de outubro de 1975

A referida lei institui normas gerais sobre desportos, e dá outras providências.


Um fato a se destacar nesta lei é que ela faz referência à política nacional de Educação
Física e desporto em seu artigo 5º, apontando que:

Art. 5º O Poder Executivo definirá a Política Nacional de Educação Física e


Desportos, com os seguintes objetivos básicos:
I - Aprimoramento da aptidão física da população.
II - Elevação do nível dos desportos em todas as áreas;
III - Implantação e intensificação da prática dos desportos de massa;
IV - Elevação do nível técnico-desportivo das representações nacionais;
V - Difusão dos desportos como forma de utilização do tempo de lazer.

Alves e Piarenti (2007) comentam em relação a esta lei que em 1975, o


Conselho Nacional de Desportos teve sua força ampliada, tornando-se os poderes
Legislativo, Executivo e Judiciário do esporte no Brasil - em resumo, o CND - passava
a ter o poder absoluto sobre o setor. Aconteceram, nessa época, intervenções
governamentais em várias instituições esportivas, como, por exemplo, o afastamento,
engendrado pelo Presidente da República Ernesto Geisel, do Presidente da
Confederação Brasileira de Desportos (CBD, atual Confederação Brasileira de
Futebol) João Havelange, substituído pelo coronel Heleno Nunes, membro, à época,
do Diretório Nacional da ARENA, partido governista.
Este comentário evidencia uma real força do poder da ditadura militar em todos
os âmbitos da sociedade brasileira. Tubino (2002) relata que a legislação esportiva
tivera uma modernização com este decreto-lei, contudo, a ação tuteladora do Estado
prosseguia.
Isto fica evidenciado no artigo 7º da referida lei, quando trata dos recursos para
os desportos:

Art. 7º O apoio financeiro da União aos desportos, orientado para os objetivos


fixados na Política Nacional de Educação Física e Desportos, será realizado

18
à conta das dotações orçamentárias destinadas a programas, projetos e
atividades desportivas e de recursos provenientes:
I - do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação;
II - do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social;
III - do reembolso de financiamento de programas ou projetos desportivos;
IV - de receitas patrimoniais;
V - de doações e legados; e
VI - de outras fontes.

explicitando que toda a renda e recurso serão gerenciados pelo Estado, e que o
desporto só receberá tal verba se estiver de acordo com o governo.
Este decreto-lei de 1975 abordou também o Comitê Olímpico Brasileiro em seus
artigos 23, 24 e 25, relatando que o mesmo é uma associação civil constituída, de
acordo com a lei e em conformidade com as disposições estatutárias e regulamentares
do Comitê Olímpico Internacional, com independência e autonomia para organizar e
dirigir, com a colaboração das confederações desportivas nacionais dirigentes do
desporto amador, a participação do Brasil nos Jogos Olímpicos, Pan-Americanos e em
outros de igual natureza, além de promover torneios de âmbito nacional e
internacional; adotar as providências cabíveis para a organização e realização dos
Jogos Olímpicos, Pan-Americanos e outros de igual natureza, quando o Brasil for
escolhido para sua sede dentre outras coisas.
Na verdade, esta lei deveria ser para levantar o desporto nacional, porém
acabou por fortalecer ainda mais o CND e continuar com o governo ditatorial em todos
os aspectos esportivos da nação. Fato este que fica claro no artigo 43 desta lei que
trata da estrutura administrativa do CND: onde o Conselho Nacional de Desportos era
composto por 11 (onze) membros, sendo 8 (oito) de livre escolha do Presidente da
República, dentre pessoas de elevada expressão cívica e de notórios conhecimentos
e experiência sobre desporto, com mandato de 4 (quatro) anos, permitida a
recondução por uma só vez; um representante do Comitê Olímpico Brasileiro, por este
indicado; um representante das confederações desportivas, por estas eleito em
reunião convocada e presidida pelo Presidente do Conselho Nacional de Desportos;
o dirigente do órgão do Ministério da Educação e Cultura responsável pela
administração e coordenação das atividades de educação física e desportos, que
integrará o Conselho como membro nato.

19
3.4 Lei 8.672 de 06 de julho de 1993 (Lei Zico)

Fonte: app.interagir.me

A partir de 1985, com a chegada da Nova República, um período de ruptura do


status quo ocorreu na ordem jurídica esportiva nacional, abrindo-se novas
oportunidades, até então inibidas pela legislação anterior (TUBINO, 2002, p.91).
Sendo que a partir da Constituição de 1988, o esporte foi contemplado no artigo 217
da Carta Magna, numa visão atualizada e de grande alcance social:
Por sua vez, a Lei 8672, de 1993, chamada de Lei Zico, instituiu normas gerais
sobre o esporte brasileiro e abriu espaço para que a legislação discutisse a relação
entre atletas e clubes, como também deu uma visão mais detalhada do que venha a
ser desporto. Em seu artigo 3º, dispunha que o desporto como atividade
predominantemente física e intelectual pode ser reconhecido em qualquer das
seguintes manifestações:

I - Desporto educacional, através dos sistemas de ensino e formas


assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a
hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o
desenvolvimento integral e a formação para a cidadania e o lazer;
II - Desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as
modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a
integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde
e da educação e na preservação do meio ambiente;
III - O desporto de rendimento, praticado segundo normas e regras nacionais
e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e
comunidades do País e estas com outras nações.
Parágrafo único. O desporto de rendimento pode ser organizado e praticado:

20
I - De modo profissional, caracterizado por remuneração pactuada por
contrato de trabalho ou demais formas contratuais pertinentes;
II - De modo não profissional, compreendendo o desporto
a) Semiprofissional, expresso pela existência de incentivos materiais que
não caracterizem remuneração derivada de contrato de trabalho.
b) Amador, identificado pela inexistência de qualquer forma de remuneração
ou de incentivos materiais.

Esta lei também fazia com que o Estado tivesse uma redução drástica de
interferência no esporte, passando para a iniciativa privada uma grande parte deste
poder. Tornando este um dos avanços mais importantes da legislação esportiva, como
também o gerenciamento do esporte através de empresas, como trazia o artigo 11, que
é facultado às entidades de prática e às entidades federais de administração de
modalidade profissional, manter a gestão de suas atividades sob a responsabilidade
de sociedade com fins lucrativos, desde que adotada uma das seguintes formas:
transformar-se em sociedade comercial com finalidade desportiva; constituir
sociedade comercial com finalidade desportiva, controlando a maioria de seu capital
com direito a voto; contratar sociedade comercial para gerir suas atividades
desportivas. E no seu parágrafo único, abordava que as entidades a que se refere este
artigo não poderiam utilizar seus bens patrimoniais, desportivos ou sociais para
integralizar sua parcela de capital ou oferecê-los como garantia, salvo com a
concordância da maioria absoluta na assembleia geral dos associados e na
conformidade dos respectivos estatutos.
Tubino (2002) coloca que esta perspectiva leva o Brasil a um novo modelo de
gerência esportiva em todos os níveis de atuação.
A Lei Zico também fazia uma descentralização federativa através dos sistemas
estaduais, como colocado na Seção IV, Capítulo IV. Criou também uma nova ética
quanto à utilização dos recursos públicos para o Esporte através do Conselho Superior
de Desportos, onde este foi composto por um colegiado de representantes da
sociedade, passando a ter o direito de estabelecer as prioridades da utilização dos
recursos públicos financeiros para o campo social do esporte.
Tubino (2002) comenta que o artigo 22 caracterizou quem é profissional ou não
e estabeleceu novas e saudáveis perspectivas de relações entre entidades e atletas,
sendo o atleta o foco de referência.
A Lei Zico extinguiu o CND e criou o CSD, que deveria constituir-se em mais
uma agência de desenvolvimento do esporte e não mais autoritária como era o CND,
como mostra em seu artigo 5º: onde o Conselho Superior de Desportos era um órgão

21
colegiado de caráter consultivo e normativo, representativo da comunidade desportiva
brasileira, cabendo-lhe dentre outras coisas fazer cumprir e preservar os princípios e
preceitos desta Lei; oferecer subsídios técnicos à elaboração do Plano Nacional do
Desporto; dirimir os conflitos de superposição de autonomias; emitir pareceres e
recomendações sobre questões desportivas nacionais; estabelecer normas, sob a
forma de resoluções, que garantam os direitos e impeçam a utilização de meios ilícitos
nas práticas desportivas; aprovar os Códigos de Justiça Desportiva e suas alterações;
propor prioridades para o plano de aplicação de recursos do Fundo Nacional de
Desenvolvimento Desportivo - FUNDESP, elaborado pelo Ministério da Educação e do
Desporto, por meio de sua Secretaria de Desportos; outorgar o Certificado de Mérito
Desportivo; exercer outras atribuições constantes da legislação desportiva (BRASIL,
1993).
De fato a Lei Zico esboça uma preocupação social na relação do homem e o
mundo esportivo (TUBINO, 2002).

3.5 Lei 9.615 de 24 de março de 1998 (Lei Pelé)

Tubino (2002) destaca um fato interessante que ocorreu no período entre a Lei
Zico e a Lei Pelé, que foram várias discussões acerca da tentativa dos atletas
conseguirem passe livre.
Contudo, as duas leis não diferiram muito, sobretudo na parte inicial que tratava
dos conceitos, princípios e definições de referência. Entretanto, a Lei 9.615, mais
conhecida como Lei Pelé ou Lei do passe livre, trouxe novamente à tona o debate
sobre a relação entre clubes e jogadores, determinando a extinção do passe dos
atletas, norma segundo a qual esses tinham seu direito de exercer a profissão atrelada
aos seus clubes, revogando assim a chamada Lei Zico.
A Lei Pelé trouxe uma novidade, que foi a legitimidade em meio a lei esportiva
do Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto (INDESP), como mostrado no
Capítulo IV, Seção II. O INDESP tinha como responsabilidade propor o Plano Nacional
do Desporto e cumprir o artigo 217 da Constituição Federal.
A referida lei cria ainda um Conselho de Desenvolvimento do Desporto que em
seu artigo 11 preconiza que este Conselho é um órgão colegiado de deliberação e
assessoramento, diretamente vinculado ao Ministro de Estado do Esporte, cabendo-
lhe:

22
I - Zelar pela aplicação dos princípios e preceitos desta Lei;
II - Oferecer subsídios técnicos à elaboração do Plano Nacional do Desporto;
III - Emitir pareceres e recomendações sobre questões desportivas nacionais;
IV - Propor prioridades para o plano de aplicação de recursos do Ministério do
Esporte;
V - Exercer outras atribuições previstas na legislação em vigor, relativas a
questões de natureza desportiva;
VI - aprovar os Códigos de Justiça Desportiva e suas alterações, com as
peculiaridades de cada modalidade;
VII - aprovar o Código Brasileiro Antidopagem - CBA e suas alterações, no
qual serão estabelecidos, entre outros:
a) as regras antidopagem e as suas sanções;
b) os critérios para a dosimetria das sanções; e
c) o procedimento a ser seguido para processamento e julgamento das
violações às regras antidopagem; e
VIII - estabelecer diretrizes sobre os procedimentos relativos ao controle de
dopagem exercidos pela Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem -
ABCD.

Criou também um Sistema Nacional do Desporto, substituindo o antigo Sistema


Federal do Desporto. No Sistema da Lei Pelé é reconhecido um subsistema
compreendendo o Comitê Olímpico Brasileiro e o Paraolímpico (BRASIL, 1998).
Outra inovação da Lei Pelé, é reportada por Tubino (2002), o qual relata que a
lei abriu espaço para a autonomia das Ligas, respeitando assim a Constituição de 1988.
Nesta legislação são oferecidas garantias profissionais aos atletas quanto ao
não cumprimento de obrigações trabalhistas, trata também da liberdade do atleta
profissional ao terminar o contrato, de ele assumir qualquer outra entidade esportiva,
acabando assim o passe.
A Lei Pelé coloca restrições quanto a prática esportiva profissional, como está
reportado em seus artigos 43 e 44 em que preconiza que é vedada a participação em
competições desportivas profissionais de atletas amadores de qualquer idade e de
semiprofissionais com idade superior a vinte anos; e que é vedada a prática do
profissionalismo, em qualquer modalidade, quando se tratar de desporto educacional,
seja nos estabelecimentos escolares de 1º e 2º graus ou superiores; desporto militar;
menores até a idade de dezesseis anos completos.
Em relação ao Ministério do Esporte, a Lei nº 9.615 prevê, em seu art. 6o, que
“constituem recursos do Ministério do Esporte:
I - receitas oriundas de exploração de loteria destinadas ao cumprimento do
disposto no art. 7º desta Lei;
II - (revogado);
III - (revogado);
IV - (revogado);

23
V - Outras fontes.
Finalmente, a Lei nº 12.395 de 2011 modificou a Lei nº 9.615 e incluiu a
Confederação Brasileira de Clubes (CBC) no Sistema Nacional do Desporto, que
congrega “as pessoas físicas e jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos,
encarregadas da coordenação, administração, normatização, apoio e prática do
desporto, bem como as incumbidas da Justiça Desportiva”.

3.6 Lei nº 9.981 de 14 de julho de 2000 (Lei Maguito Vilela).

A Lei Maguito Vilela começa de certa forma realizando atualizações esportivas,


pois cria o Ministério do Esporte e Turismo, acrescendo a função de normatização ao
Conselho de Desenvolvimento do Desporto Brasileiro (CDDB), dando mais força
política ao Ministério e ao Conselho.
No artigo 27 da Lei Maguito Vilela fica evidente que é facultativa a entidade de
prática desportiva tornar-se empresa, o que pela Lei Pelé era obrigatório.
Esta lei também deixa claro que o atleta tem que ter um maior profissionalismo,
contudo, não deixa explícita as obrigações das instituições empregadoras. Além disso,
ressalta a extinção da impossibilidade da cobrança de taxas de transferência de
atletas profissionais.
Aumentou ainda para cinco o número de membros das comissões disciplinares,
vinculando-as aos Tribunais de Justiça desportiva, alterando também a correlação da
representação do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e dos Tribunais (TUBINO,
2002).
Fato interessante de se ressaltar nesta lei é que como assegura o artigo 84, foi
estendida a licença de atletas para o treinamento, além das competições (BRASIL,
2000). O que de certa forma é um ponto positivo para os atletas que muitas vezes são
obrigados a jogar e treinar sem intervalos consideráveis de descanso ou férias.
Em relação à questão do passe, o artigo 93 amplia por um tempo maior os
contratos que estavam em vigência, e como coloca Tubino (2002) o grande problema
da liberação do passe era a transição, o que de fato agora poderia ser amenizada.

3.7 Outras legislações importantes

Decreto nº 5.139, de 12 de julho de 2004 - Regulamentação da Lei Agnelo/Piva;

24
Lei nº 11.438, de 29 de dezembro de 2006 - Lei de Incentivo Fiscal ao Esporte;
Medida Provisória nº 342, de 29 de dezembro de 2006 - Dispõe sobre a Lei
11.438;
Lei nº 11.345, de 14 de setembro de 2006 - Versa sobre a TIMEMANIA (Dispõe
sobre a instituição de concurso de prognóstico destinado ao desenvolvimento da
prática desportiva, a participação de entidades desportivas da modalidade futebol
nesse concurso e o parcelamento de débitos tributários e para com o Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - FGTS; altera as Leis nos 8.212, de 24 de julho de
1991, e 10.522, de 19 de julho de 2002; e dá outras providências.)
Lei nº 10.891, de 09 de julho de 2004 - Institui a Bolsa-Atleta;
Decreto nº 6.795 de 16 de março de 2009 - Regulamenta o art. 23 da Lei nº
10.671, de 15 de maio de 2003, que dispõe sobre o controle das condições de
segurança dos estádios desportivos;
Portaria nº 238, de 09 de Dezembro de 2010 - Consolida os requisitos mínimos
a serem contemplados nos laudos técnicos previstos no Decreto nº 6.795/2009. Ficam
revogadas as Portarias n.º (s) 124, de 17 de junho de 2009, 185 de 19 de outubro de
2009 e 28 de 18 de fevereiro de 2010 do Ministério do Esporte.
Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003 - Dispõe sobre o Estatuto de Defesa do
Torcedor e dá outras providências;
Lei nº 10.672, de 15 de maio de 2003 - Altera dispositivos da Lei nº 9.615, de
24 de março de 1998, e dá outras providências;
Portaria nº 183, de 05 de outubro de 2006 - Dispõe sobre a uniformização dos
procedimentos de descentralização de recursos entre órgãos e entidades integrantes
do Orçamento Geral da união - administração federal;
Portaria nº 91, de 20 de junho de 2006 - Diretrizes gerais para a
operacionalização dos Programas;

25
4 JUSTIÇA DESPORTIVA

Fonte: 4.bp.blogspot.com

Aqui serão abordados alguns aspectos fundamentais relativos à Justiça


Desportiva, que se encontra prevista na Constituição da República Federativa do
Brasil em seu artigo 217, na Lei Ordinária Federal n° 9.615/98 – Lei Pelé, elencadas
nos artigos 49 ao 55, e no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, e, ainda, como
esse sistema administrativo aplica as regras concernentes às competições
desportivas e à disciplina.
Inicialmente, há de ressaltar que a Justiça Desportiva não faz parte do chamado
Poder Judiciário, mas compõe parte especial da justiça, dotada de “interesse público”.
Neste mister o Código Brasileiro de Justiça Desportiva em seu artigo 1º delimita quem
está submetido à matéria por ele prevista:

Art. 1º A organização, o funcionamento, as atribuições da Justiça Desportiva


brasileira e o processo desportivo, bem como a previsão das infrações
disciplinares desportivas e de suas respectivas sanções, no que se referem
ao desporto de prática formal, regulam-se por lei e por este Código.

A Justiça Comum possui o funcionamento distinto da Justiça Desportiva, e por


óbvio, muito mais complexo. Pelo seu nível de especificidade, a Justiça Desportiva
possui um funcionamento mais simples, dividido pelas modalidades das práticas
desportivas, enquanto na Justiça Comum se divide pela matéria que se quer obter o
pronunciamento do direito.
26
Neste prisma, Cesar Augusto Cavazzola (2014, p. 142) argumenta que “A
Justiça Desportiva, portanto, é uma forma de dar tratamento especializado e eficaz a
demandas que demorariam excessivamente para serem julgados pela Justiça
Comum”.
Os personagens e órgãos também mudam entre as Justiças Comum e
Desportiva, com a primeira observação feita para o fato de que quem julga, em
primeira instância, na justiça comum é um juiz togado, e não um auditor; em segunda
instância, é um órgão colegiado, composto por desembargadores – juízes com mais
experiência, guardando similitude com o Tribunal Pleno.
Embora compartilhem de muitos princípios, inclusive, a judiciariformidade, a
Justiça Desportiva é autônoma e independente, e tem seu custeio e funcionamento
sob a responsabilidade das Entidades de Administração do Desporto.
Importa referir que os Tribunais Desportivos julgam com base na Súmula ou
Relatórios de cada partida e nos atos que foram praticados pontualmente em
desconformidade com o regulamento da competição ou do CBJD. No âmbito da
Justiça Comum, os juízes julgam de acordo com a legislação pertinente a cada
matéria, seja ela trabalhista, de direito de família, empresarial, entre outras.
Um dos princípios que norteiam o sistema é o “Esgotamento da Justiça
Desportiva”, que tem como preceito que os assuntos atinentes à matéria
jusdesportiva, devem primeiro ser submetido ao julgamento dos órgãos da Justiça
Desportiva e suas respectivas instâncias para que, em caso de insucesso, recorram
à Justiça Comum.
Sinteticamente, conclui-se que:

O Poder Judiciário admitirá analisar o processo desportivo no que toca aos


princípios gerais do Direito, assim como na análise de observância de
cumprimento do regular processo desportivo, exposto nos códigos
pertinentes, observando assim a parte formal do processo e não o mérito,
salvo na hipótese de o fato extrapolar os sessenta dias previstos quando
então estará toda a matéria passível de análise. (FACHADA, 2017, p. 106).

No caso da Justiça Desportiva nacional, a última instância, que esgota a sua


competência, é o STJD, que, dentro do âmbito desportivo, tem o último voto e por
isso, irrecorrível.
Há uma hipótese em que se pode buscar dirimir a controvérsia de questão
jusdesportiva diretamente no Poder Judiciário, qual seja, quando não é respeitado o
Limite de Temporalidade, estabelecido pelo art. 217, § 2º da Constituição da República

27
Federativa do Brasil. Este dispositivo prevê o limite máximo de 60 dias para que a
Justiça Desportiva analise denúncia levada a julgamento. Em caso de extrapolação
desse limite, pode o requerente obter julgamento diretamente na justiça comum.
Neste desdobramento, a Justiça Desportiva tem a sua organização, o
funcionamento e as atribuições elencadas no Código Brasileiro de Justiça Desportiva
– CBJD.
No tocante à competência, a Justiça Desportiva somente apreciará e julgará
ações referentes à competição, à disciplina desportiva, de maneira que se submetem
ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva as entidades nacionais e regionais de
administração do desporto; as ligas nacionais e regionais; as entidades de prática
desportiva filiadas às entidades de administração mencionadas anteriormente; atletas,
profissionais e não profissionais; os árbitros, assistentes e demais membros de equipe
de arbitragem; pessoas naturais que exerçam quaisquer empregos, cargos ou
funções, diretivos ou não, relacionados a alguma modalidade esportiva, em entidades
aqui mencionadas, como, entre outros, dirigentes, administradores, treinadores,
médicos ou membros de comissão técnica; todas as demais entidades compreendidas
pelo Sistema Nacional do Desporto, bem como as pessoas naturais e jurídicas que
lhes forem direta ou indiretamente vinculadas, filiadas, controladas ou coligadas.
(ROSIGNOLI; RODRIGUES, 2015).

4.1 Organização e estrutura da Justiça Desportiva

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD, em seu artigo 3º, bem como
no artigo 52 da Lei n. 9.615/98 (Lei Pelé), determina como a Justiça Desportiva deve
ser organizada, instruindo aos órgãos que a compõem, sendo autônomos e
independentes para julgar as infrações disciplinares ocorridas nas competições
desportivas:

Art. 52. Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva são autônomos e


independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema,
compondo-se do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, funcionando junto
às entidades nacionais de administração do desporto; dos Tribunais de
Justiça Desportiva, funcionando junto às entidades regionais da
administração do desporto, e das Comissões Disciplinares, com competência
para processar e julgar as questões previstas nos Códigos de Justiça
Desportiva, sempre assegurados a ampla defesa e o contraditório. (BRASIL,
1998).

28
Importa ressaltar que os órgãos são mantidos financeiramente pelas entidades
de administração desportiva com o único fim de promover o custeio de seu
funcionamento, conforme prevê o §4º do artigo 50 da Lei n. 9.615/98.

Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça


Desportiva, limitadas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e
às competições desportivas, serão definidos nos Códigos de Justiça
Desportiva, facultando-se às ligas constituir seus próprios órgãos judicantes
desportivos, com atuação restrita às suas competições.
§ 4.º Compete às entidades de administração do desporto promover o custeio
do funcionamento dos órgãos da justiça desportiva que funcionem junto a si.
(BRASIL, 1998).

Contudo, devemos entender que essa dependência financeira dos órgãos


judicantes, não intervém em sua absoluta independência decisória, como ensina
Paulo Marco Schmitt:

Como se vê, a independência da Justiça Desportiva está relacionada à


estruturação dos órgãos judicantes desportivos e, ainda, à absoluta
independência decisória, blindando os Tribunais de toda e qualquer
intervenção ou influência que se pretenda perpetrar por meio de atos
emanados das entidades diretivas públicas ou privadas. (SCHMITT, 2015, p.
34).

Assim, a Justiça Desportiva é composta pelos seguintes órgãos: o Superior


Tribunal de Justiça Desportiva – STJD, o Tribunal de Justiça Desportiva – TJD e seus
Tribunais Plenos e Comissões Disciplinares, conforme estabelece o artigo 3º e incisos
do Código Brasileiro de Justiça Desportiva:

Art. 3.º São órgãos da Justiça Desportiva, autônomos e independentes das


entidades de administração do desporto, com o custeio de seu funcionamento
promovido na forma da Lei:
I - o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), com jurisdição
desportiva correspondente à abrangência territorial da entidade nacional de
administração do desporto;
II - os Tribunais de Justiça Desportiva (TJD), com jurisdição desportiva
correspondente à abrangência territorial da entidade regional de
administração do desporto;
III - as Comissões Disciplinares constituídas perante os órgãos judicantes
mencionados nos incisos I e II deste artigo. (BRASIL, 2009).

Para melhor compreensão de sua organização, observemos o esquema


abaixo:

29
Fonte: Direito e legislação desportiva: uma abordagem no universo dos profissionais de educação
física superior tribunal de justiça desportiva – STJD, Angelo Vargas (2017)

4.1.1 Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD

Inicialmente, destaca-se que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD


está previsto no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, em seu artigo 3º, inciso I,
onde estipula sua existência, sendo a ele competido apreciar causas de competência
originária e em grau de recurso as matérias julgadas pelos Tribunais de Justiça
Desportiva.
Conforme mencionado acima a respeito dos órgãos que compõem a Justiça
Desportiva, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva é composto por Comissões
Disciplinares e pelo Pleno.
A Comissão Disciplinar é órgão de primeira instância, cabendo a ela processar
e julgar as infrações disciplinares cometidas por pessoas físicas e jurídicas que
estejam submetidas ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva. (DECAT, 2014).
Sua composição se dá por 5 (cinco) auditores, que são escolhidos e nomeados
por meio de indicação e votação pelos auditores do Tribunal Pleno, tendo como
requisito notório saber jurídico desportivo, reputação ilibada e não fazer parte do
Tribunal Pleno.
A sua competência é definida pelo artigo 26 do Código Brasileiro de Justiça
Desportiva – CBJD:

30
Art. 26. Compete às Comissões Disciplinares junto ao STJD:
I - processar e julgar as ocorrências em competições interestaduais pro-
movidas, organizadas ou autorizadas por entidade nacional de administração
do desporto e em competições internacionais amistosas;
II - processar e julgar o descumprimento de resoluções, decisões ou
deliberações do STJD ou infrações praticadas contra seus membros;
III - declarar os impedimentos de seus auditores. (BRASIL, 2009).

De igual forma, o Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD, é


formado por 9 (nove) auditores, que serão escolhidos e nomeados por confederação,
clubes, OAB federal, representante de árbitros, representante de atletas, tendo 4
(quatro) anos a duração do mandato dos membros dos Tribunais de Justiça
Desportiva, de acordo com o previsto no artigo 55 da Lei n. 9.615/98:

Art. 55. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e os Tribunais de Justiça


Desportiva serão compostos por nove membros, sendo:
I - dois indicados pela entidade de administração do desporto;
II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem de
competições oficiais de divisão principal;
III - dois advogados com notório saber jurídico desportivo, indicados pela
Ordem dos Advogados do Brasil;
IV - um representante dos árbitros, por estes indicados;
V - dois representantes dos atletas, por estes indicados;
§2º O mandato dos membros dos Tribunais de Justiça Desportiva terá
duração máxima de quatro anos, permitida apenas uma recondução.
(BRASIL, 1998).

O Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva – STJD tem sua


competência estabelecida no artigo 25 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva:

Art. 25. Compete ao Tribunal Pleno do STJD:


I - processar e julgar, originariamente:
a) - seus auditores, os das Comissões Disciplinares do STJD e os
procuradores que atuam perante o STJD;
b) - os litígios entre entidades regionais de administração do desporto;
c) - os membros de poderes e órgãos da entidade nacional de administração
do desporto;
d) - os mandados de garantia contra atos ou omissões de dirigentes ou
administradores das entidades nacionais de administração do desporto, de
Presidente de TJD e de outras autoridades desportivas;
e) - a revisão de suas próprias decisões e as de suas Comissões
Disciplinares;
f) - os pedidos de reabilitação;
g) - os conflitos de competência entre Tribunais de Justiça Desportiva;
h) - os pedidos de impugnação de partida, prova ou equivalente referentes a
competições que estejam sob sua jurisdição;
i) - as medidas inominadas previstas no art. 119, quando a matéria for de
competência do STJD;
j) - as ocorrências em partidas ou competições internacionais amistosas
disputadas pelas seleções representantes da entidade nacional de
administração do desporto, exceto se procedimento diverso for previsto em
norma internacional aceita pela respectiva modalidade;
II - julgar, em grau de recurso:

31
a) - as decisões de suas Comissões Disciplinares e dos Tribunais de Justiça
Desportiva;
b) - os atos e despachos do Presidente do STJD;
c) - as penalidades aplicadas pela entidade nacional de administração do
desporto, ou pelas entidades de prática desportiva que lhe sejam filiadas, que
imponham sanção administrativa de suspensão, desfiliação ou
desvinculação;
III - declarar os impedimentos e incompatibilidades de seus auditores e dos
procuradores que atuam perante o STJD;
IV - criar Comissões Disciplinares, indicar seus auditores, destituí-los e
declarar sua incompatibilidade;
V - instaurar inquéritos;
VI - uniformizar a interpretação deste Código e da legislação desportiva a ele
correlata, mediante o estabelecimento de súmulas de jurisprudência
predominante, vinculantes ou não, editadas na forma do art. 119-A;
VII - requisitar ou solicitar informações para esclarecimento de matéria
submetida à sua apreciação;
VIII - expedir instruções às Comissões Disciplinares do STJD e aos Tribunais
de Justiça Desportiva;
IX - elaborar e aprovar o seu regimento interno;
X - declarar a vacância do cargo de seus auditores e procuradores;
XI - deliberar sobre casos omissos;
XII - avocar, processar e julgar, de ofício ou a requerimento da Procuradoria,
em situações excepcionais de morosidade injustificada, quaisquer medidas
que tramitem nas instâncias da Justiça Desportiva, para evitar negativa ou
descontinuidade de prestação jurisdicional desportiva. (BRASIL, 2009).

4.1.2 Os Tribunais De Justiça Desportiva – TJD

Os Tribunais de Justiça Desportiva detêm a competência para processar e


julgar originariamente infrações disciplinares e aspectos formais das competições
desportivas em âmbito regional e municipal junto às Federações, e estão amparados
em razão da pessoa (foro privilegiado) ou em face da matéria.
Os auditores funcionam como os juízes, aqueles dotados de conhecimento
suficiente para julgar o caso em questão.
A fim de manter a imparcialidade, os membros do tribunal não podem pertencer
aos quadros estatutários ou celetistas de qualquer entidade desportiva, além de se
exigir pessoas com notório saber jurídico na área desportiva e com reputação ilibada.
Sua composição conta com 9 (nove) auditores escolhidos entre bacharéis em
Direito ou pessoas reconhecidas por possuir notório saber jurídico desportivo e de
reputação ilibada.
A indicação dos auditores é feita na proporção a que se refere o artigo 55 da
Lei 9.615/98 – Lei Pelé, já atado.
Os auditores exercerão mandatos de duração máxima de 4 (quatro) anos,
sendo permitida apenas uma recondução.

32
A Comissão Disciplinar dos Tribunais de Justiça Desportiva, assim como no
Superior Tribunal de Justiça Desportivo, é órgão de primeira instância, composta por
5(cinco) auditores e são constituídas tantas quantas forem necessárias, conforme
leitura do artigo 6º do CBJD:

Art. 6º. Junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, para apreciação de


questões envolvendo competições interestaduais ou nacionais, e junto aos
Tribunais de Justiça Desportiva, funcionarão tantas Comissões Disciplinares
quantas se fizerem necessárias, compostas cada uma por cinco auditores
que não pertençam aos referidos órgãos judicantes e que por estes sejam
indicados. (BRASIL, 2009).

O Tribunal Pleno correspondente à segunda instância dos TJDs, assim como


no STJD, tem sua competência formalizada pelo art. 27 do CBJD:

Art. 27. Compete ao Tribunal Pleno de cada TJD:


I - processar e julgar, originariamente:
a) - os seus auditores, os das Comissões Disciplinares do TJD e os pro-
curadores que atuam perante o TJD;
b) - os mandados de garantia contra atos ou omissões de dirigentes ou
administradores dos poderes das entidades regionais de administração do
desporto;
c) - os dirigentes da entidade regional de administração do desporto;
d) - a revisão de suas próprias decisões e as de suas Comissões
Disciplinares;
e) - os pedidos de reabilitação;
f) - os pedidos de impugnação de partida, prova ou equivalente referentes a
competições que estejam sob sua jurisdição;
g) - as medidas inominadas previstas no art. 119, quando a matéria for de
competência do TJD;
II - julgar, em grau de recurso:
a) - as decisões de suas Comissões Disciplinares;
b) - os atos e despachos do Presidente do TJD;
c) - as penalidades aplicadas pela entidade regional de administração do
desporto, ou pelas entidades de prática desportiva que lhe sejam filiadas, que
imponham sanção administrativa de suspensão, desfiliação ou
desvinculação;
III - declarar os impedimentos e incompatibilidades de seus auditores e dos
procuradores que atuam perante o TJD;
IV - criar Comissões Disciplinares e indicar os auditores, podendo instituí-las
para que funcionem junto às ligas constituídas na forma da legis- lação em
vigor;
V - destituir e declarar a incompatibilidade dos auditores das Comissões
Disciplinares;
VI - instaurar inquéritos;
VII - requisitar ou solicitar informações para esclarecimento de matéria
submetida a sua apreciação;
VIII - elaborar e aprovar o seu Regimento Interno;
IX - declarar vacância do cargo de seus auditores e procuradores;
X - deliberar sobre casos omissos. (BRASIL, 2009).

4.1.3 Jurisdição e competência da Justiça Desportiva

33
Acerca da competência e jurisdição para julgar matérias referentes às
competições desportivas e às infrações disciplinares, o Código Brasileiro de Justiça
Desportiva – CBJD, em seu artigo 24, demarca o limite territorial e modalidade que
compete ao Tribunal de Justiça Desportivo e Superior Tribunal de Justiça Desportiva:

Art. 24. Os órgãos da Justiça Desportiva, nos limites da jurisdição territorial


de cada entidade de administração do desporto e da respectiva modalidade,
têm competência para processar e julgar matérias referentes às competições
desportivas disputadas e às infrações disciplinares cometidas pelas pessoas
naturais ou jurídicas mencionadas no art.1º, § 1º. (BRASIL, 2009).

Deste modo, caberá ao Tribunal de Justiça Desportiva apreciar e julgar os


litígios de competições que forem organizadas pela entidade regional de
administração da modalidade.
No que concerne ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, lhe caberá
apreciar e julgar litígios das competições organizadas pela entidade nacional de
administração da modalidade.

4.2 Funções na justiça desportiva: presidente e vice-presidente do TJD e STJD

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o Tribunal de Justiça Desportiva,


assim como as Comissões Disciplinares, são dirigidos por presidente e vice-
presidente, eleitos por maioria dos votos de seus membros, para um mandato de dois
anos.
Ao presidente ficam incumbidas as atribuições legais pautadas no art. 9º do
Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD:

Art. 9º São atribuições do Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), além das


que lhe forem conferidas pela lei, por este Código ou regimento interno:
I - zelar pelo perfeito funcionamento do Tribunal e fazer cumprir suas
decisões;
II - ordenar a restauração de autos;
III - dar imediata ciência, por escrito, das vagas verificadas no Tribunal ao
Presidente da entidade indicante;
IV - determinar sindicâncias e aplicar sanções aos funcionários do Tribunal,
conforme disposto no regimento interno;
V - sortear os relatores dos processos de competência do Tribunal Pleno;
VI - dar publicidade às decisões prolatadas;
VII - representar o Tribunal nas solenidades e atos oficiais, podendo delegar
essa função a qualquer dos auditores;
VIII - designar dia e hora para as sessões ordinárias e extraordinárias e dirigir
os trabalhos;
IX - dar posse aos auditores do Tribunal Pleno e das Comissões Disciplinares,
bem como aos secretários;

34
X - exigir da entidade de administração o ressarcimento das despesas
correntes e dos custos de funcionamento do Tribunal e prestar-lhe contas;
XI - receber, processar e examinar os requisitos de admissibilidade dos
recursos provenientes da instância imediatamente inferior;
XII - (Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009).
XIII - conceder licença do exercício de suas funções aos auditores, inclusive
aos das Comissões Disciplinares, secretários e demais auxiliares;
XIV - exercer outras atribuições quando delegadas pelo Tribunal;
XV - determinar períodos de recesso do Tribunal;
XVI - criar comissões especiais e designar auditores para o cumprimento de
funções específicas de interesse do Tribunal. (BRASIL, 2009).

No tocante ao vice-presidente, este tem o encargo de substituir o presidente


em caso de ausência ou impedimentos, ademais, a função de corregedor, conforme
o artigo 10 do CBJD:

Art. 10. Compete ao Vice-Presidente:


I - substituir o Presidente nas ausências ou impedimentos eventuais e
definitivamente quando da vacância da Presidência;
II - exercer as funções de Corregedor, na forma do regimento interno III -
(Revogado pela Resolução CNE nº 29 de 2009). (BRASIL, 2009).

Faz-se necessário ressaltar que os Presidente e Vice-presidente das


comissões disciplinares possuem número reduzido de atribuições.
Neste seguimento, os presidentes das Comissões Disciplinares terão as
seguintes competências: zelar pelo perfeito funcionamento do Tribunal e fazer cumprir
suas decisões; sortear os relatores dos processos de competência do Tribunal Pleno,
dar publicidade às decisões prolatadas; representar o tribunal nas solenidades e atos
oficiais, podendo delegar essa função a qualquer dos auditores; designar dia e hora
para as sessões ordinárias e extraordinárias e dirigir os trabalhos; exercer outras
atribuições quando delegadas pelo Tribunal. (SOUZA, 2015).

4.2.1 Auditores

Os Tribunais de Justiça Desportiva como os Superiores Tribunais de Justiça


Desportiva, de acordo com Krieger (2015, p. 38), são constituídos por auditores que
possuem a finalidade de: “julgar questões de descumprimento de normas relativas à
disciplina e às competições desportivas e constantes das súmulas e documentos
similares do árbitro ou, ainda, decorrentes da infringência ao regulamento da
respectiva competição (...)”, e ainda segundo o artigo 19 do Código Brasileiro de
Justiça Desportiva:

35
Art. 19. Compete ao auditor, além das atribuições conferidas por este Código
e pelo respectivo regimento interno:
I - comparecer, obrigatoriamente, às sessões e audiências com antecedência
mínima de vinte minutos, quando regularmente convocado;
II - empenhar-se no sentido da estrita observância das leis, do contido neste
Código e zelar pelo prestigio das instituições desportivas;
III - manifestar-se rigorosamente dentro dos prazos processuais;
IV - representar contra qualquer irregularidade, infração disciplinar ou sobre
fatos ocorridos nas competições dos quais tenha tido conhecimento;
V - apreciar, livremente, a prova dos autos, tendo em vista, sobretudo, o
interesse do desporto, fundamentado, obrigatoriamente a sua decisão.
(BRASIL, 2009).

O auditor terá mandato de 4 (quatro) anos, sendo empossado pelo Presidente


do Tribunal na primeira sessão, tanto no Tribunal Pleno como nas Comissões
Disciplinares, conforme elencado no art. 55, parágrafo 2º da Lei 9.615/ 98.
Entretanto, será vedado ao auditor integrar a mesma Comissão Disciplinar ou
Tribunal Pleno, caso possua grau de parentesco com algum integrante.

4.2.2 Procuradores

A Procuradoria é dirigida por um Procurador-Geral, que é escolhido por votação


da maioria absoluta do Tribunal Pleno, dentre os três nomes indicados pela entidade
de administração do desporto, sendo seu mandato de dois anos e permitida à
reeleição. (SOUZA, et., 2014).
Após a eleição do Procurador Geral, este deverá escolher procuradores para
formação da sua equipe de trabalho.
A Procuradoria da Justiça Desportiva exerce um papel fundamental, pois o
processo jusdesportivo só tem início quando a Procuradoria promove a denúncia das
pessoas naturais ou jurídicas que violarem as regras elencadas no Código Brasileiro
de Justiça Desportiva.
Além de promover o oferecimento da denúncia descrita acima, compete
também à Procuradoria o seguimento previsto no art. 21 do CBJD:

II - dar parecer nos processos de competência do órgão judicante aos quais


estejam vinculados, conforme atribuição funcional definida em regimento
interno;
III - formalizar as providências legais e processuais e acompanhá-las em seus
trâmites;
IV - requerer vistas dos autos;
V - interpor recursos nos casos previstos em lei ou neste Código ou propor
medidas que visem à preservação dos princípios que regem a Justiça
Desportiva;
VI - requerer a instauração de inquérito;

36
VII - exercer outras atribuições que lhe forem conferidas por lei, por este
Código ou regimento interno.

Para que ocorra destituição do Procurador Geral, é necessário que no mínimo


quatro auditores do Tribunal Pleno se manifestem fundamentadamente por sua
destituição e, por conseguinte, a maioria absoluta do Tribunal Pleno vote a favor
(BRASIL, 2009).

4.2.3 Secretaria

A secretaria tem por finalidade auxiliar-administrativamente os Tribunais


Desportivos, tendo suas atribuições elencadas pelo art. 23 do CBJD:

Art. 23. São atribuições da Secretaria, além das estabelecidas neste Código
e no regi- mento interno do respectivo Tribunal (STJD ou TJD):
I - receber, registrar, protocolar e autuar os termos da denúncia e outros
documentos enviados aos órgãos judicantes, e encaminhá-los,
imediatamente, ao Presidente do Tribunal (STJD ou TJD), para determinação
procedimental;
II - convocar os auditores para as sessões designadas, bem como cumprir os
atos de citações e intimações das partes, testemunhas e outros, quando
determinados;
III - atender a todos os expedientes dos órgãos judicantes;
IV - prestar às partes interessadas as informações relativas ao andamento
dos processos;
V - ter em boa guarda todo o arquivo da Secretaria constante de livros, papéis
e processos;
VI - expedir certidões por determinação dos Presidentes dos órgãos
judicantes;
VII - receber, protocolar e registrar os recursos interpostos. (BRASIL, 2009).

Além das atribuições elencadas no artigo supracitado, podem ser previstas


outras atribuições pelo Regimento Interno de cada Tribunal Desportivo.

4.2.4 Defensores

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva estabelece, em seu artigo 19, que


qualquer pessoa maior de idade pode postular em causa própria ou ser representada
por advogado regularmente inscrito na Ordem de Advogados do Brasil, embora não
seja imprescindível a presença de advogado.
Ainda, caso a parte menor de dezoito anos ou alguma parte requeira um
defensor, o Tribunal de Justiça Desportiva e Superior Tribunal de Justiça Desportiva

37
nomearão defensores dativos para efetuarem a defesa técnica do denuncio que a
requereu.

4.3 A justiça desportiva no âmbito internacional

Diante do cenário globalizado pós-revolução industrial, em que as competições


desportivas são cada vez mais divulgadas e conhecidas em todo o planeta, surgiu a
necessidade da criação de entidades competentes para organização e gerenciamento
desses eventos em nível internacional.
A responsabilidade pela criação de regras e os procedimentos a serem
seguidos pelos atletas e entidades nacionais em diversos países é da Federação
Internacional da respectiva modalidade. A exemplo do futebol, temos a Fédération
Internationale de Football Association – FIFA, responsável pela edição das normas,
documentos oficiais, regulamentos, etc. relacionados à modalidade do futebol em
âmbito internacional.
A chamada Corte Arbitral do Esporte, conhecida como CAS, do inglês “Court
of Arbitration for Sport” ou mesmo TAS, do francês “Tribunal Arbitral du Sport”, é uma
instituição independente das federações e entidades da administração de esportes,
que detém a competência internacional para julgar, por meio da mediação e
arbitragem, os litígios causados pelo embate de regras específicas do desporto.
Dentre os casos mais comuns julgados pelo CAS, temos as hipóteses de dopping e
transferências internacionais de atletas.
Para que as partes tenham seus litígios dirimidos pelo CAS, no entanto, devem
prever anteriormente a cláusula arbitral em seus estatutos, dispositivo esse que
permite que se busque solução para os casos através de consenso entre as entidades.
De modo que, o CAS poderá ser acionado pelas partes para exercer a função
de órgão judicante ordinário e assim aprecie o litígio existente.
Como também poderá exercer a função de órgão recursal de decisões
proferidas pelos Tribunais de Justiça Desportivos tanto de âmbito nacional como
internacional, por meio de cláusula compromissória estabelecida no respectivo
estatuto das federações.
Além das funções como órgão julgador, a mencionada Corte funciona como
órgão consultivo prestando pareceres relacionados a questões jurídicas ligadas ao
esporte. (ANDREOTTI, s.d.)

38
Ademais, a própria Lei n. 9.615/98 (Lei Pelé) preceitua que a prática desportiva
profissional será regida por normas nacionais e internacionais, como mostra o artigo
primeiro:

Art. 1º. O desporto brasileiro abrange práticas formais e não formais e


obedece às normas gerais desta Lei, inspirado nos fundamentos
constitucionais do Estado Democrático de Direito.
§ 1º. A prática desportiva formal é regulada por normas nacionais e
internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade,
aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto.
(BRASIL, 1998).

As regras internacionais a que se refere a Lei não devem ser confundidas com
os regulamentos próprios de cada competição. Essas normas internacionais têm
caráter administrativo e regem transferências de atletas, por exemplo, entre outras
peculiaridades específicas de cada modalidade.

4.4 Punições

Fonte: universobh.files.wordpress.com

Como visto anteriormente, as Comissões Disciplinares são as responsáveis por


processar e julgar as infrações disciplinares cometidas pelos agentes do cenário
desportivo, com base no que está previsto no Código Brasileiro de Justiça Desportiva.
Isso impende que qualquer atitude infrativa cometida dentro de campo por
atletas, técnicos, árbitros, juiz ou participantes do departamento desportivo, no tocante
à disciplina ou à competição vinculada ao jogo, seja julgada pelas Comissões

39
Disciplinares, salvo em caso de competência originária dos Tribunais, conforme os
arts. 25 e 27 do CBJD.
Com auxílio da Procuradoria, a partir da Súmula ou Relatório de cada jogo,
verificar-se-á a existência de qualquer conduta que infrinja uma das previsões do
Código Brasileiro de Justiça Desportiva, para que então se faça a denúncia, contendo
as informações necessárias para ser levado a julgamento nas Comissões.
Uma vez levado a julgamento, o atleta, representado por seu clube, pode- rá
oferecer provas que contraponham os fatos narrados na denúncia com a
apresentação de imagens, por exemplo.
Importante lembrar que os atletas menores de 14 (quatorze) anos não sofrem
pena, e que as punições são diferentes entre as equipes não profissionais e as
equipes profissionais, isso porque, muitas vezes, a pena tem natureza pecuniária e
não se pode exigir, por força de lei, a mesma capacidade de crédito entre as duas.
No Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD estão previstas as
modalidades de penalidades a serem aplicadas, conforme decisão dos auditores, em
caso de inobservância dos regulamentos das competições ou do próprio código, quais
sejam:
Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva,
limitadas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições
desportivas, serão definidas em códigos desportivos, facultando-se às ligas constituir
seus próprios órgãos judicantes desportivos, com atuação restrita às suas
competições.

§ 1º As transgressões relativas à disciplina e às competições desportivas


sujeitam o infrator a:
I - advertência;
II - eliminação;
III - exclusão de campeonato ou torneio;
IV - indenização;
V - interdição de praça de desportos;
VI - multa;
VII - perda do mando do campo;
VIII - perda de pontos;
IX - perda de renda;
X - suspensão por partida;
XI - suspensão por prazo. (BRASIL, 2009).

No que se refere às punições propriamente ditas a serem aplicadas a depender


do caso concreto narrado pelo árbitro em súmula, estão previstas a partir do art. 191,

40
que narra a conduta infrativa e, sequencialmente, a pena a ser aplicada em caso de
seu cometimento, como no exemplo do art. 214, abaixo transcrito:

Art. 214. Incluir na equipe, ou fazer constar da súmula ou documento


equivalente, atleta em situação irregular para participar de partida, prova ou
equivalente.
PENA: perda do número máximo de pontos atribuídos a uma vitória no
regulamento da competição, independentemente do resultado da partida,
prova ou equivalente, e multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem
mil reais)
§ 1º Para os fins deste artigo, não serão computados os pontos
eventualmente obtidos pelo infrator.
§ 2º O resultado da partida, prova ou equivalente será mantido, mas à
entidade infratora não serão computados eventuais critérios de desempate
que lhe beneficiem, constantes do regulamento da competição, como, entre
outros, o registro da vitória ou de pontos marcados.
§ 3º A entidade de prática desportiva que ainda não tiver obtido pontos
suficientes ficará com pontos negativos.
§ 4º Não sendo possível aplicar-se a regra prevista neste artigo em face da
forma de disputa da competição, o infrator será excluído da competição.
(BRASIL, 2009).

5 DOPAGEM E O ORDENAMENTO JURÍDICO

Nesta oportunidade será abordado o tema “doping”, elucidando as


responsabilidades de diversos sujeitos do meio esportivo, dentre os quais,
profissionais de Educação Física e atletas. Para tanto, será realizada uma
interpretação sistêmica das codificações nacional e transnacional, aqui
representadas, por exemplo, pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva - CBJD, Lei
9.615/98, Código Mundial Antidopagem - CMAD e Convenção Internacional contra o
Doping nos Esportes. Serão levantadas, ainda, possíveis incongruências na aplicação
da regulamentação transnacional dentro do ordenamento jurídico nacional.
Uma das incongruências existentes reside no rol de punições previstas pelo
Código Mundial Antidopagem. As sanções disciplinares podem ir desde uma
advertência até o banimento do atleta, o que denota um caráter perpétuo, proibido
pela Constituição Federal de 1988.
Os profissionais e estudantes de Educação Física, assim como os atletas, são
personagens principais deste cenário, sendo responsáveis por agregar o
conhecimento técnico ao cotidiano desportivo. Mais do que difundir o conhecimento
quanto às normas e regras pertinentes, é importante também desenvolver uma
formação cidadã, conscientizando tais profissionais da necessidade de se banir a
dopagem do desporto.

41
5.1 O que é “doping”

A palavra “doping” é de origem inglesa, usada no turfe, significa injeção ilícita


de uma droga estimulante aplicada no animal de corrida a fim de assegurar-lhe a
vitória. O “doping”, ou “dopagem”, que esta exposição referencia é o uso de drogas
ou de métodos específicos que visam aumentar o desempenho de um atleta durante
uma competição.
A primeira definição de dopagem surgiu em 1952, na Confederação Alemã de
Desportos. Assim, pode-se conceituar dopagem como:

(...) a tentativa de aumento não fisiológico da capacidade de desempenho do


esportista, por meio da utilização (ingestão, injeção ou aplicação) de
substâncias pelo próprio esportista ou por auxiliar (líder da equipe, treinador,
acompanhante, médico ou massagista), antes ou durante a competição, e,
no caso de esteroides anabólicos, também no treinamento. (SANTOS, 2007,
p. 132).

No âmbito do Comitê Olímpico Internacional - COI, a definição somente foi


publicada durante os Jogos Olímpicos do México de 1968, discorrendo que dopagem
consiste na administração ou uso de agentes estranhos ao organismo ou de
substâncias fisiológicas em quantidade anormal, capazes de provocar no atleta, no
momento da competição, um comportamento anormal, positivo ou negativo, sem
correspondência com a sua real capacidade orgânica e funcional. Na época, o COI
queria, por meio da definição, algo que abrangesse aspectos farmacológicos,
toxicológicos e clínicos, não se esquecendo dos aspectos éticos, educativos e de
costumes regionais (FERRO, 2014).
Em conceito mais restrito, a WADA (World Anti-Doping Agency - Agência
Mundial Antidoping) trata a dopagem como sendo “uma ou várias violações das regras
anti-doping anunciadas no Código Mundial Antidopagem” (TUBINO, 2017, p. 722).
Estaremos diante de um caso de dopagem, portanto, quando for verificado que
um atleta utilizou, antes ou durante uma competição, uma substância proibida pelas
instituições de controle.
O “doping” é proibido nos esportes porque, além de prejudicar a saúde, trata-
se de uma conduta antiética do atleta ao proporcionar uma vantagem competitiva
desleal em relação aos outros competidores. Mais do que uma violação ao
regramento, é uma violação também a princípios básicos do esporte, como o fair play
e a isonomia.

42
5.2 A WADA

Fonte: fernandespalladino.com.br

Após os escândalos ocorridos no Tour de France e no Campeonato Mundial de


Natação, ambos de 1998, o COI, demandando prestígio e protagonismo na luta contra
a dopagem organizou em fevereiro de 1999 a Conferência Mundial Antidopagem, da
qual participaram, além de representantes do próprio Comitê, representantes de
governos, comitês olímpicos nacionais e federações internacionais. O objetivo do
evento era discutir e adotar medidas para evitar que novos casos manchassem o
esporte. (CABALLERO, 2003)
Neste cenário, em 10 de novembro de 1999, é fundada a Agência Mundial
Antidopagem (WADA, na sigla em inglês, ou AMA em francês e português), uma
fundação privada baseada no Direito Civil suíço e de organização independente,
sediada em Lausanne, na Suíça, com o objetivo coordenar a luta contra a dopagem.
Em 2001, a instituição transferiu sua sede para a cidade de Montreal, no
Canadá. Há em funcionamento, ainda, gabinetes na África (Cidade do Cabo – África
do Sul), na Europa (Lausanne - Suíça), na Ásia (Tóquio - Japão) e na América do Sul
(Montevidéu - Uruguai).
Em termos orçamentários, a WADA é mantida por um financiamento
colaborativo, sendo 50% (cinquenta por cento) advindo do COI e os outros 50%
(cinquenta por cento) de vários governos do mundo. Em contrapartida, sua atuação

43
ajuda Federações Esportivas Internacionais a realizarem ações nas áreas de
educação e pesquisa, além de elaborar a lista de substâncias que os atletas não
podem consumir. (PAIVA in SOUZA, 2017)
Conforme a Declaração de Copenhagen, de 2003, a parte do orçamento que
cabe aos entes públicos se divide conforme as regiões olímpicas da seguinte forma:

África: 0,5%
Américas: 29%
Ásia: 20,46%
Europa: 46,5%
Oceania: 2,54%

Cada região possui um órgão reconhecido e incumbido de viabilizar acordos


para o cumprimento destes percentuais. No caso das Américas, por exemplo, os
Estados Unidos arcam com metade do valor devido pelo continente, enquanto o
Canadá, com um quarto. O restante é dividido entre os demais países.
Principal instrumento legal de combate à dopagem, o Código Mundial
Antidopagem, elaborado pela WADA, tem por finalidade a promoção da prevenção e
repressão contra a dopagem no desporto, definindo padrões transnacionais e
coordenando a atuação das mais variadas instituições envolvidas.
Graças a todo o trabalho de cooperação entre os mais diversos atores do
movimento olímpico, atualmente a WADA é a instituição de maior relevância
internacional no combate à dopagem.

5.3 A regulamentação no Brasil

Para que as entidades desportivas brasileiras possam participar de eventos


internacionais direta ou indiretamente ligados ao movimento olímpico, é imperioso que
acatem as normas da WADA, respeitando a uniformização dos procedimentos de
controle e punição da dopagem no mundo esportivo.
O Código Mundial Antidopagem possui aplicação em todo o território brasileiro,
vez que o Brasil promulgou, sem ressalvas, através do Decreto n.º 6.653/08, a
Convenção Internacional contra Doping nos Esportes (UNESCO), celebrada em Paris,
em 19 de outubro de 2005.

44
A partir desta recepção, foi realizada consistente alteração no Código Brasileiro
de Justiça Desportiva, excluindo-se as previsões constantes à época quanto à
dopagem e incluindo-se o art. 244-A, que dispõe que “as infrações por dopagem são
reguladas pela lei, pelas normas internacionais pertinentes e, de forma complementar,
pela legislação internacional referente à respectiva modalidade esportiva”.
Três anos depois, através do Decreto nº 7.630/11, foi criada a Autoridade
Brasileira de Controle de Dopagem - ABCD, entidade vinculada ao Ministério do
Esporte e custeada com dinheiro público.
Atualmente, a ABCD encontra-se prevista na Lei 9.615/98 e possui entre suas
competências:
 Estabelecer a política nacional de prevenção e de combate à dopagem;
 Coordenar o combate à dopagem no esporte nacional;
 Conduzir os testes de controle de dopagem e a gestão de resultados;
 Expedir autorizações de uso terapêutico;
 Certificar e identificar profissionais, órgãos e entidades para atuar no controle
de dopagem;
 Editar resoluções sobre os procedimentos técnicos;
 Manter interlocução com os organismos internacionais envolvidos com
matérias relacionadas à antidopagem;
 Divulgar e adotar as normas técnicas internacionais relacionadas ao controle
de dopagem e a lista de substâncias e métodos proibidos no esporte; e
 Informar à Justiça Desportiva Antidopagem as violações às regras de
dopagem, participando do processo na qualidade de fiscal da legislação
antidopagem.

5.4 Da responsabilidade do atleta

Conforme previsto expressamente no CMAD, o atleta é considerado o principal


responsável por qualquer substância encontrada em seu corpo. Assim, cabe a ele
preocupar-se e manter-se informado acerca de tudo o que consome em seu cotidiano.
Não se pode esquecer o compromisso e a responsabilidade dos profissionais
que atuam em benefício do atleta com objetivo de zelar pelo seu bem estar, por
exemplo: médicos, fisioterapeutas, massagistas, treinadores, dirigentes e até mesmo

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os clubes. Poderá haver responsabilização destes profissionais e entidades caso fique
configurada negligência, imprudência, imperícia ou omissão, no que tange a
assegurar aos atletas o uso adequado de medicamentos que possuam substâncias
proibidas.
No entanto, o atleta ainda é o principal responsável por sua própria integridade,
devendo zelar pelas substâncias que ingere, pelos tratamentos que faz e pela sua
saúde de um modo geral (FARAH, 2005).
A caracterização da dopagem ocorre a partir do simples diagnóstico de
existência de substância proibida no corpo do atleta ou da verificação da prática de
método proibido, sendo mitigados argumentos acerca da existência, ou não, de culpa
ou dolo do atleta.
A partir do momento em que um teste positivo é identificado em competição, os
resultados do atleta são automaticamente anulados, conforme dispõe o Código
Mundial Antidopagem.
Os atletas são responsáveis não apenas por qualquer substância proibida
encontrada em seu corpo, como também pelos seus metabólitos ou marcadores.
Igualmente, não é necessário fazer prova da intenção, culpa, negligência ou da
utilização consciente de quaisquer destes elementos de forma a determinar a
existência de uma violação de normas antidopagem nos termos do artigo 21 do
mencionado Código.
Portanto, quando um atleta for flagrado positivamente em um exame de
dopagem, aplica-se o princípio da responsabilidade objetiva, o que denota certa
incongruência com algumas normas consagradas em nosso ordenamento jurídico
pátrio, dentre elas em relação ao princípio da presunção de inocência. Haverá alguns
casos excepcionais em que o atleta poderá comprovar a inexistência de sua culpa ou
negligência, podendo, consequentemente, ser aplicada uma pena mais branda.

5.5 Os direitos do atleta

A utilização das normas antidopagem dentro do território brasileiro deve


respeitar e se adequar às leis pátrias no momento da aplicação das punições, o que
certamente impede a ocorrência de sanções desproporcionais aos atletas,
principalmente àqueles que usufruem do desporto com profissão.

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Além da observância geral da lei, é importante que o atleta conheça seus
direitos quando da realização dos exames, os quais destacamos:
 Verificar as credenciais dos Agentes de Controle de Dopagem;
 Ser informado sobre todas as etapas do controle e o andamento da coleta de
amostra, incluindo as consequências em caso de recusa;
 Contar com um acompanhamento e, se for preciso, com um intérprete;
 Escolher um kit de coleta entre, no mínimo, três que lhe são apresentados;
 Solicitar prazo maior para apresentar-se ao Controle de Dopagem, desde que
possua justificativas válidas e comprovadas;
 Com o consentimento do Oficial de Controle de Dopagem e sempre
acompanhado por uma escolta, o atleta pode: receber sua premiação antes de
realização do controle; fazer exercício de relaxamento; receber atenção
médica; atender compromissos com a imprensa; competir em outros eventos
no mesmo dia;
 Solicitar adaptações no processo de coleta da amostra se for deficiente físico
ou menor de idade;
 Ser observado por alguém do mesmo sexo durante o processo de coleta da
amostra;
 Receber uma cópia assinada do Formulário de Controle.

5.6 A Justiça Desportiva Antidopagem - JAD

Paralelo ao sistema da Justiça Desportiva, construído ao longo de décadas por


especialistas, desde 2016 existe no Brasil a Justiça Desportiva Antidopagem - JAD,
criada pela Lei nº 13.322.
A Justiça Desportiva Antidopagem (JAD) tem competência para julgar apenas
os casos referentes às infrações contra as regras de dopagem, tendo sido criada, na
visão de Hostins (in SOUZA et al., 2017, p. 421-422), em razão da insatisfação da
WADA com as decisões prolatadas no Brasil, o que caracteriza “verdadeiro ‘tribunal
de exceção’, quadrando-se perfeitamente na definição clássica deste instituto que é
objeto de governos totalitários e dados a fazer ‘justiçamento’”.
Conforme o Dec. 8.692/2016, submetem-se à JAD:
Art. 2º : [...]

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I - atleta - qualquer pessoa, vinculada às entidades de que trata o inciso II,
que participe de competições esportivas na condição de competidor em
qualquer modalidade esportiva;
II - entidade - aquelas listadas no parágrafo único do art. 13 da Lei nº 9.615,
de 1998 e suas congêneres internacionais; e
III - terceiro - qualquer técnico, treinador, funcionário, preparador físico,
dirigente, empresário, agente, pessoal médico ou paramédico trabalhando
com, ou tratando de, atletas, participando ou preparando-o para competição
esportiva ou fora dela.

Assim como a Justiça Desportiva comum, há uma Procuradoria da JAD,


responsável por elaborar as denúncias por infração aos regramentos antidopagem.
Tais denúncias serão julgadas primeiramente em solo brasileiro, cabendo recurso ao
Tribunal Arbitral do Esporte.

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BIBLIOGRAFIA

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BRASIL, Lei n. 10264 de Julho de 2001. Acrescenta inciso e parágrafos ao artigo 56


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BRASIL, Lei n. 8672, de 06 de Julho de 1993. Institui normas gerais sobre desportos
e dá outras providências.

BRASIL, Lei n. 9615 de 24 de Março de 1998. Institui normas gerais sobre desportos
e dá outras providências.

BRASIL, Lei n. 9981 de 14 de Julho de 2000. Altera dispositivos da Lei n. 9615 de


24 de Março de 1998 e dá outras providências.

BRASIL. Decreto n. 3199 de 14 de abril de 1941. Estabelece as bases de


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BRASIL. Lei n. 6251, de 8 de outubro de 1975 - Institui normas gerais sobre


desportos, e dá outras providências.

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