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▪ Direito CONSTITUCIONAL ▪ Caderno de Wantuil Luiz Cândido Holz ▪ ▪ Página 21 ▪

CONTEÚDO: Conceitos de constituição. Classificação MATERIAL


das constituições. DE APOIO

03
CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO

▪ INTRODUÇÃO

▪ Constituição é uma palavra plurívoca.


▪ Em sentido comum: é a particular maneira de ser de um Estado (o
simples modo de ser do Estado).
▪ Em sentido jurídico: é a lei fundamental de um Estado (o estatuto jurídico
da política).

▪ Para José Afonso da Silva, a Constituição é algo que tem:


a) Como forma, um complexo de normas.
b) Como conteúdo, a conduta humana motivada pelas relações sociais.
c) Como fim, a realização dos valores.
d) Como causa criadora e recriadora, o poder que emana do povo.

▪ CONCEITO: Constituição é o “sistema de normas jurídicas, escritas ou


costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo
de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os
limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas
garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os
elementos constitutivos do Estado” (José Afonso da Silva).

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO

Elemento humano ▪ Povo


– EX.: Nacionalidade.

Elemento físico ou geográfico ▪ Território


– EX.: Federação.

Elemento político ▪ Soberania


– EX.: Direitos fundamentais.

▪ Uma minoria inclui o elemento finalidade. A maioria inclui a finalidade


dentro do elemento político.
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▪ A compreensão sobre o que é uma constituição, contudo, depende da


concepção adotada pela pessoa.

▪ CONCEITOS DE CONSTITUIÇÃO

(A) Sentido sociológico.


(B) Sentido político.
(C) Sentido jurídico / formal.
(i) Sentido jurídico positivo.
(ii) Sentido lógico jurídico.
(D) Sentido culturalista
(E) Força normativa da Constituição.
(F) Constituição aberta.
(G) Constituição dirigente.
(H) Constituição simbólica.

(A) SENTIDO SOCIOLÓGICO: (FERDINAND LASSALLE)


▪ Ferdinand Lassalle. Seu livro (“O que é Constituição?” / “A Essência da
Constituição”) é o registro de um discurso feito numa universidade.
▪ A Constituição é mera folha de papel, não é um documento nem uma
lei.

CONSTITUIÇÃO ESCRITA CONSTITUIÇÃO REAL

Se não representar os reais fatores É a soma dos fatores reais de


de poder, a Constituição escrita poder (econômico, religioso,
será mera “folha de papel”. político etc.). Todo Estado possui
uma constituição real.

▪ Constituição é a soma dos fatores reais de poder que emanam da


população.
▪ Em toda sociedade, o poder é dividido entre vários atores, com
interesses conflitantes. Após lutas e disputas na arena social, chega-se
a acomodações, que são a soma dos fatores reais de poder. Há em
todo agrupamento de pessoas, ainda que não organizado, um grupo
de pessoas que se subordina a outro grupo de pessoas (relações de
Poder). Essas relações de poder são a Constituição.
▪ A constituição escrita é boa apenas quando ela corresponde aos
fatores reais de poder. Quando aquela não corresponde à
constituição real, a escrita sucumbirá aos fatores reais de poder.
– EX.: A redação original do art. 192, §3º, CF, que limitava a taxa
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de juros ao máximo de 12% ao ano, sob pena de considerar


crime de usura, era uma “mera folha de papel”, tendo em vista
que os fatores reais de poder tornavam essa norma sem eficácia
(o STF entendia que o dispositivo era não auto aplicável).
Posteriormente, o dispositivo foi revogado pela EC 40/03.

(B) SENTIDO POLÍTICO: (CARL SCHMITT)


▪ Carl Schmitt também entende que Constituição não é uma lei. Analisa a
Constituição com base nas relações políticas.
▪ Constituição é uma decisão política fundamental tomada pelo titular do
poder constituinte (posição decisionista). Trata-se de decisão política
desvinculada de qualquer critério racional ou de justiça, fixando
democracia ou ditadura.
▪ A concepção política diferencia normas materialmente constitucionais e
formalmente constitucionais. Constituição é apenas a que modela a
substância do regime.

CONSTITUIÇÃO LEI CONSTITUCIONAL


(Materialmente Constitucional) (Formalmente Constitucional)

▪ A decisão política fundamental ▪ Lei formulada pelo Governo,


tomada pelo Poder Constituinte dotada de supralegalidade. NÃO
modelando a substância do é decisão política fundamental,
regime adotado. na essência é uma lei e apenas
na forma é constituição.

▪ Núcleo estrutural e ideológico ▪ Outros assuntos.


do Estado. Organização do – EX.: Art. 242, §2°, CF.
Estado e direitos fundamentais.
– EX.: art. 1º, CF

▪ STF não aceita essa teoria, considerando todo o conjunto da


Constituição Federal como norma constitucional.

(C) SENTIDO JURÍDICO / FORMAL: (HANS KELSEN)


▪ Hans kelsen (Obra: “Teoria Pura do Direito”).
▪ Até o Séc. XIX, vivia-se o constitucionalismo liberal, de modo que a
constituição limitava-se a apresentar direitos individuais e políticos,
organizar o Estado e limitar os poderes dos governantes. A partir do início
do Séc. XX, surge o constitucionalismo social, inaugurado pela
Constituição Mexicana (1917) e pela Alemã de Weimer (1919), que
trouxeram em seu bojo o estado de bem-estar social.
▪ A partir do constitucionalismo social, outros temas passaram a ser
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incluídos na constituição. Portanto, o conteúdo material da constituição


liberal foi ampliado, passando a tratar temas como a economia, trabalho,
propriedade, família etc. Assim, a constituição não poderia mais ser
definida a partir de seu conteúdo material (que tornou-se muito
diversificado), de modo que os autores, especialmente Kelsen, passaram a
adotar um parâmetro formal, ou seja, conceituando-se constituição não
sob o ponto de vista do conteúdo e sim de sua forma. Surge, então, o
positivismo jurídico de Kelsen.
▪ Para a concepção jurídica de Kelsen, a constituição possui supremacia
hierárquica formal, sendo o fundamento de validade das demais normas
jurídicas inferiores, sendo, aliás, norma pura (puro dever-ser), dissociada de
qualquer fundamento sociológico, político ou filosófico.

▪ (i) Sentido Jurídico Positivo: (SUPREMACIA HIERÁRQUICA FORMAL). É a


ideia de constituição formal, localizada no ápice do ordenamento jurídico
posto. A constituição é a LEI mais importante de todo o ordenamento
jurídico. Não se discute se ela é justa ou injusta, pois um juízo de valor
levaria a uma subjetividade que não seria científica.
▪ O ordenamento jurídico de um país é representado por uma figura
geométrica: pirâmide de Kelsen.
▪ A constituição é o pressuposto de validade de todo o ordenamento
jurídico (para que uma lei seja válida, precisa ser compatível com a
Constituição). Relação de compatibilidade vertical. A validade segue
critérios estritamente jurídicos.
▪ A constituição deve prescrever as competências, os poderes e as
formas procedimentais pelas quais as normas jurídicas inferiores
devem ser elaboradas. O conteúdo material da constituição é essa
prescrição para elaboração de normas inferiores. A constituição,
portanto, traz o fundamento de criação de todas as demais normas.
As leis existem porque a constituição a prescreve.
▪ A constituição formal, para Kelsen, é o documento que contém
essas normas materiais de prescrição de normas inferiores e os demais
conteúdos que eventualmente estejam nesse documento.
▪ Não importa o resultado prático da constituição, estando na
constituição deve estar acima de todas as demais normas.

▪ (ii) Sentido Lógico Jurídico: (NORMA HIPOTÉTICA FUNDAMENTAL). Esse


segundo sentido, lógico-jurídico, foi desenvolvido por Kelsen para
apresentar uma resposta jurídica à indagação sobre a origem da
Constituição, posto que ele não queria se socorrer à nenhuma outra
ciência para justificar a existência da Constituição. Não queria uma
resposta como contrato social, vontade do povo ou algo assim, por
considerar o Direito uma “ciência pura”. Serve apenas para “fechar” o
ordenamento jurídico.
▪ O sentido lógico-jurídico diz que acima da Constituição há uma
norma fundamental hipotética não escrita e cujo único mandamento
é “obedeça à Constituição”. É hipotética porque não existe, não está
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no direito posto. É fundamental porque é o fundamento último das


normas. É um pressuposto lógico, e não posto no direito positivo.
▪ Em sentido lógico-jurídico, constituição é a norma hipotética
fundamental.

(D) SENTIDO CULTURALISTA: (J. H. MEIRELLES TEIXEIRA)


▪ A “constituição total” é um objeto cultural que, em uma perspectiva
unitária, abrange aspectos sociológicos, jurídicos, políticos, filosóficos e
econômicos. A constituição, como invenção humana, é resultado da
cultura, e, ao mesmo tempo, nela interfere.
▪ Para a concepção culturalista, os sentidos sociológico, político e jurídico,
não são antagônicas. O sentido culturalista buscar unificar os conceitos
anteriores, criando um conceito de constituição total, que abrange todos
aqueles aspectos.

(E) FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO (KONRAD HESSE):


▪ “A constituição jurídica não configura apenas a expressão de uma dada
realidade. Graças ao elemento normativo, ela ordena e conforma a
realidade política e social”. (Konrad Hesse)
▪ É uma crítica à concepção sociológica de Ferdinand Lassalle.
▪ Para Konrad Hesse, num conflito entre a constituição escrita e os fatores
reais de poder, a constituição escrita pode mudar a realidade. Esse poder
dependerá da “vontade de constituição”, ou seja, o empenho da
sociedade em mudar a realidade.

(F) CONSTITUIÇÃO ABERTA (PETER HÄBERLE):


▪ Obras: “Constituição como processo público”. “A sociedade aberta dos
intérpretes da constituição”.
▪ A verdadeira constituição é o resultado (sempre temporário) de um
processo aberto de interpretação, historicamente condicionado e
conduzido à luz da publicidade.
▪ A norma constitucional não é a decisão política do passado e sim o
resultado diário da interpretação conduzida num processo público. A
constituição possui um conteúdo sempre aberto ao processo
interpretativo, que capta as experiências do passado e se interessa pelas
mudanças atuais.
▪ O processo interpretativo não é feito por uma sociedade fechada de
juízes e tribunais, mas pela sociedade aberta de toda a coletividade
(decorre da democracia). A constituição, portanto, é o resultado de um
processo cultural, público, aberto, plural, contínuo, de atualização
cotidiana do texto constitucional. Ela pode variar conforme o contexto
histórico e as novas necessidades da sociedade.
▪ A mudança constitucional pode se dar:
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(i) de maneira formal (Emendas à Constituição).


(ii) de maneira informal (mutação constitucional).
(iii) por meio de conceitos jurídicos indeterminados.
– EX.: Meio ambiente ecologicamente equilibrado.
(iv) por ausência de monopólio interpretativo.

(G) CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE (J. J. GOMES CANOTILHO):


▪ A constituição dirige a atuação do Estado e de seus agentes, por meio
de programas de ação, para concretizar determinados objetivos e
finalidades. Ela vincula o legislador.
▪ A constituição não é apenas uma constituição garantia de direitos, a
constituição prevê também finalidades, objetivos e campos de atuação,
projetando uma situação ideal que o poder público deverá concretizar no
futuro.
▪ É uma constituição típica de um modelo de Estado social, que prevê a
intervenção do Estado no domínio econômico.
▪ Para Canotilho, a vinculação do legislador aos comandos constitucionais
NÃO deve ser controlada pelo judiciário e sim por mecanismos de
participação popular.
▪ O próprio Canotilho tem revisto sua tese, tendo em vista a globalização,
o comunitarismo etc. que retiraram esse dirigismo no âmbito de Portugal.

(H) CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA (MARCELO NEVES):


▪ Obra: “A constitucionalização simbólica”.
▪ A atividade legislativa, inclusive a constituinte, pode possuir uma natureza
eminentemente simbólica, visando atender objetivos políticos diversos da
produção de normas jurídicas, dando origem a uma legislação simbólica
ou a uma constituição simbólica.
▪ Luís Roberto Barroso chama de fenômeno da “insinceridade normativa”.
▪ Os objetivos possíveis para uma constitucionalização simbólica:
(i) Confirmar determinados valores sociais defendidos por um grupo,
por meio de vitória normativa. Trata-se apenas da confirmação de
uma vitória, independente da eficácia daquela lei. A lei é um símbolo
de confirmação dos valores sociais de um grupo majoritário.
– EX.: Criminalização do aborto da Alemanha. Ninguém é punido
por aborto na Alemanha, mas a criminalização é um símbolo
que confirma os valores de um grupo.
(ii) Fortalecer a confiança da população no governo. “Legislação
álibi”. O legislador legisla com o objetivo de esvaziar a pressão
política, apresentando o Estado como sensível a determinadas
demandas do cidadão. Forma de manipulação ou de ilusão.
– EX.: Várias ditaduras possuem constituições com direitos
fundamentais.
(iii) Adiar a solução de certos conflitos sociais através de
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compromissos dilatórios.

▪ PÓS-POSITIVISMO

▪ No pós II Grande Guerra o positivismo jurídico entrou em crise, pois os nazistas


utilizaram do Direito como instrumento da barbárie.
▪ OBS.: Muitas das ideias positivistas foram desprezadas pelos nazistas,
como a ideia da legalidade estrita.
▪ De início, foram levantadas concepções jusnaturalistas para oposição ao
positivismo, entretanto, como elas possuem base metafísica não tiveram força
para tal. Várias doutrinas buscaram alternativas ao positivismo.
▪ Principais características do pós-positivismo:
(i) Surgiu após a II Guerra Mundial.
(ii) Prega a reconstrução da relação entre o Direito e a Moral.
(iii) Há rejeição ao formalismo legalista e ao positivismo puro.
(iv) A argumentação jurídica é aberta, dotando o intérprete de
discricionariedade. O juiz não é mais apenas a boca que pronuncia a lei,
num papel passivo, o juiz torna-se ativo.
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CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

▪ Em todos os lugares e épocas, cada sociedade possuiu ou possui uma


Constituição, que é “o modo de ser de uma sociedade”.

▪ QUANTO AO CONTEÚDO:

▪ Material / Real: Possui apenas matéria constitucional, estando em um ou


vários documentos. É conjunto de fatores reais constitutivos do Estado.
▪ Parte da concepção sociológica de Constituição (Ferdinand Lassale), no
sentido de que toda sociedade, em qualquer época e lugar, tem uma
constituição (núcleo constitutivo do Estado).
▪ Para Carl Scimitt, é o conjunto de decisões fundamentais.

▪ Formal (CF/88): É o conjunto de normas escritas contidas no documento


formalmente constitucional. Além de possuir matéria constitucional, possui
outros assuntos. Pouco importa o conteúdo, importa estar no Pacto
Constitutivo.
– EX.: art. 242, §2º, CF/88 (Colégio Pedro II, RJ).
▪ Pacto constitutivo de Estado, com documento escrito solene.
▪ Decorre do movimento do constitucionalismo.
▪ Só é constitucional o que está no documento escrito “Constituição”.
Com isso, existem assuntos secundários com caráter constitucional, como
o Colégio Pedro II (formalmente constitucional) e existem assuntos de
relevância material que não tem caráter constitucional, como o ECA e o
Estatuto do Idoso (materialmente constitucional por constituírem direitos
fundamentais mas não formalmente constitucional, ou seja, desprovidos
de supremacia).
▪ A Constituição Formal é sempre rígida (depende de procedimentos mais
difíceis de alteração). Também é dotada de supremacia.

▪ QUANTO À FUNÇÃO / FINALIDADE:

▪ Garantia / Quadro / Negativa: fixa os direitos e garantias fundamentais. É


declaratória. É “voltada para o passado” (registrar as conquistas liberais).
▪ Fruto das revoluções liberais.
▪ Estado de Direito liberal.
▪ Tem o indivíduo como o centro da proteção estatal.

▪ Dirigente / transformadora / Programática (CF/88): além de fixar direitos e


garantias fundamentais, fixa metas estatais. É “voltada para o futuro”
(programas a serem implementados). É uma constituição extensa, analítica.
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– EX.: Art. 3º, CF/88.


▪ Após as revoluções industriais. Marcos históricos: Constituição do México
(1917) e Weimer (1919).
▪ Estado de Direito social. Consagração de direitos sociais prestacionais.
▪ Primeira Constituição Brasileira: 1934 (Vargas).
▪ Tem a coletividade como centro da proteção estatal.
▪ Canotilho: Possui diversas normas programáticas, que são de caráter
obrigatório para todos os poderes, delimitando metas e programas.

▪ Balanço: Descreve e registra a organização política atual, estabelecida.


Apenas faz um balanço das coisas como são, sem garantir nada e sem dirigir
nada.
– EX.: Constituições soviéticas.

▪ QUANTO À FORMA:

▪ Escrita (CF/88): um documento solene.


▪ A constituição escrita pode ser:
(i) Codificada (reduzida, unitária, orgânica): contida num único texto.
(ii) Não codificada (legal, variada, inorgânica): contida em mais de
um texto.
▪ Originariamente, a CF/88 era codificada num texto único. Com o tempo,
ela passa por um processo de descodificação. Hoje, se encontram normas
escritas de natureza constitucional em documentos esparsos.
– EX.: Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York em
30 de março de 2007.
– EX.: Normas elaboradas pelo poder de reforma que não se integram
ao texto principal da CF/88, permanecendo no bojo de emendas de
forma autônoma. É o caso do art. 2º da EC 32/01: “As medidas
provisórias editadas em data anterior à da publicação desta
emenda continuam em vigor até que medida provisória ulterior as
revogue explicitamente ou até deliberação definitiva do Congresso
Nacional”.
▪ Há elementos NÃO escritos na constituição escrita, conforme art. 5º, §2º,
CF.

▪ Não escrita / costumeira / consuetudinária: é fruto dos costumes de um país.


– EX.: Constituição inglesa.
▪ OBS.: Há elementos escritos na constituição NÃO escrita. A constituição
inglesa é composta de quatro elementos:
(i) “Statute Law”. São estatutos, leis escritas do parlamento sobre
matéria constitucional.
(ii) Decisões judiciais que incorporam costumes (“common law”),
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inclusive o parlamentar (“parliamentary custom”), ou que interpretam


leis do parlamento (“cases law”).
(iii) Convenções constitucionais (“constitutional conventions”). São
acordos parlamentares políticos não escritos, que cuida de matéria
constitucional. São obrigatórios, tradicionais e sua alteração é muito
difícil. Não há possibilidade de controle judicial.
(iv) Tratados internacionais incorporados.

▪ QUANTO À SISTEMÁTICA:

▪ Unitária (CF/88)*: é composta de um só documento.


– *Particularidade na CF/88: A jurisprudência incorporou a teoria francesa
do “BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE”: a constituição não se resume ao
seu texto escrito; também são normas constitucionais os princípios nela
implícitos (ex.: proporcionalidade e razoabilidade), emendas
constitucionais não incorporadas ao texto (ex.: art. 2º da EC 8/95, art. 2º da
EC 32/01, EC 91/16 e EC 103/19), bem como os tratados internacionais
sobre direitos humanos do art. 5º, §3º, CF. (STF, Informativo 499)
▪ A doutrina italiana chama de “normas de eficácia reforçada”:
quando a Constituição, em caso determinado, em hipótese
determinada, dá a determinado ato uma eficácia mais forte, ou seja,
o ato está fora da Constituição mas possui eficácia constitucional.
Nossa Constituição traz uma única hipótese: art. 5º, §3º, CF.
- Decreto 6.949/09, que incorpora o Tratado de Nova York sobre
direitos de pessoas portadoras de deficiência.

▪ Variada: é composta de vários documentos esparsos.

▪ QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO:

▪ Dogmática (CF/88): é fruto de um trabalho legislativo específico, num


determinado momento da história. Reflete os dogmas: os pensamentos, de um
momento da história. Uma fotografia da época.
– EX.: Art. 5º, III, CF. A tortura tem especial atenção da CF/88 porque
naquele momento era importante constar.

▪ Histórica: fruto de lenta evolução histórica.

▪ QUANTO A ORIGEM:

▪ Promulgada / Popular / Democrática (CF/88): é a constituição que tem


origem democrática, feita pelos representantes do povo em assembleia
nacional constituinte. Possui participação popular.
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– CF: 1891, 1934, 1946, 1988.

▪ Outorgada: que tem origem imposta ao povo pelos governantes. São


chamadas de “Cartas Constitucionais”.
– CF: 1824 (outorga de D. Pedro I), 1937 (outorga de Getúlio Vargas), 1967
(outorga do Governo Militar no Ato Institucional nº 4, com aprovação do
Congresso Nacional), 1969 (outorga do Governo Militar no Ato Institucional
nº 12).

▪ Cesarista / “Plebiscitária” / Referendária / Bonapartista: feita pelo governante


de forma unilateral e submetida à apreciação do povo, mediante referendo. É
a confirmação da vontade de quem a impôs. É um modelo especial de
outorga.
– EX.: Plebiscitos napoleônicos. Na verdade, não é um plebiscito e sim um
referendo.
– EX.: Plebiscito de Pinochet. Na verdade, não é um plebiscito e sim um
referendo.

▪ Pactuada / dualista: fruto do acordo entre duas forças políticas rivais.


– EX.: Constituição francesa de 1791.
– EX.: Carta Magna de 1215 (Rei João I x Barões). Esse exemplo é
tecnicamente errado, pois se trata de um pacto medieval e não de uma
constituição.

▪ QUANTO À DOGMÁTICA:

▪ Ortodoxa: Influenciada por uma única ideologia.


– EX.: Constituição Soviética de 1977.

▪ Eclética / Compromissória (CF/88): Influenciada por várias ideologias,


normalmente em uma linha conciliatória de compromisso entre várias forças
políticas.

▪ QUANTO À EXTENSÃO:

▪ Sintética: Resumida, concisa, que trata apenas dos temais principais.


– EX.: Constituição EUA de 1787. Constituição brasileira de 1891.

▪ Analítica / Prolixa (CF/88): Extensa, prolixa. Para alguns autores, tende a se


tornar uma constituição total, que é aquela que se estende por todos os
domínios do Estado.
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▪ QUANTO AO SISTEMA: CF/88: está a meio caminho.

▪ Principiológica (CF/88): preponderam os princípios (existem mais princípios


que regras).

▪ Preceitual (CF/88): preponderam as regras (existem mais regras que


princípios).

PRINCÍPIOS REGRAS

▪ Normas mais amplas. ▪ Normas mais específicas, mais


restritas.

▪ Robert Alexy: “mandamentos de ▪ Exigem total cumprimento, na


otimização”, ou seja, devem ser íntegra.
cumpridos da maior maneira possível.

▪ Havendo conflito entre princípios, os ▪ Havendo conflito entre regras, uma


dois coexistirão, fazendo a revogará a outra. Ou tudo ou nada,
ponderação no caso concreto. as duas não coexistirão.

▪ QUANTO À ESSÊNCIA / ONTOLOGIA:


(Karl Loewenstein)

▪ Semântica / instrumentalista: é aquela que esconde a triste realidade de um


país, maquia. Seria um mero simulacro de Constituição, pois figuram como
instrumento para estabilizar e eternizar a intervenção dos dominadores do
poder. Constituições que são simples reflexo da realidade política, servindo
como mero instrumento dos donos do poder e das elites políticas, sem
limitação do seu conteúdo. Comum em regimes ditatoriais.
– Ex.: CF/1824 falava da liberdade escondendo a escravidão.

▪ Nominal (CF/88): é aquela que não reflete a realidade do país, pois se


preocupa com o futuro.
– Ex.: art. 7º, IV, CF/88. Art. 186, CF/88.
– A CF/88 é nominal e tende a ser normativa.

▪ Normativa: é aquela que reflete a realidade atual do país, conformando o


Poder Público às suas disposições.

▪ CLASSIFICAÇÕES DE Raul Machado Horta:

▪ Constituição Expansiva (CF/88): Prevê novos temas e amplia temas antes


tratados.
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– Ex.: CF/88 ampliou o rol de direitos e garantias fundamentais.

▪ Constituição Plástica (CF/88): Requer muita complementação pela legislação


infraconstitucional.
– CF/88: “Nos termos da lei”, “na forma da lei” etc. Normas de eficácia
limitada.

▪ CLASSIFICAÇÃO DE Marcelo Neves:

▪ Constituição Simbólica (CF/88): aquela cujo simbolismo é mais forte que seus
efeitos práticos. Aspecto ideológico maior que o prático.

▪ CLASSIFICAÇÃO DE Jorge Miranda:

▪ Heteroconstituição é a constituição feita por um país para vigorar em outro


país.
– EX: Constituição do Chipre, que é um acordo entre Grécia e Turquia.
– Seria uma possível constituição europeia.

▪ QUANTO À ESTABILIDADE / RIGIDEZ:

▪ Imutável (granítica / fixa / silenciosa): Não pode ser alterada. Pode ocorrer
de ser silente, nada dispondo sobre sua mudança formal, de modo que
apenas o poder constituinte originário pode alterá-la.
– EX.: CF/1824, nos primeiros quatro anos (alguns autores classificam a
CF/1824 como “transitoriamente imutável”).
– EX.: Estatuto do Reino da Sardenha de 1848 e a Carta Espanhola de
1876.

▪ Flexível: A alteração da norma constitucional possui o mesmo processo de


alteração das outras leis. A consequência é que na prática não há hierarquia
entre a constituição e as leis comuns.
– EX.: Constituição inglesa (Statute Law); Estatuto do Império da Itália
(1848) e a Constituição Soviética de 1924.

▪ Transitoriamente flexível: É flexível por algum tempo, findo o qual se torna


rígida.
– EX.: Constituição de Baden de 1947 e da Irlanda de 1937, flexível durante
os três primeiros anos de vigência.

▪ Semirrígida / semiflexível: Parte dela é rígida e parte é flexível.


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– EX.: CF/1824 (art. 178: “ E' só Constitucional o que diz respeito aos limites, e
attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos
Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades
referidas, pelas Legislaturas ordinarias. ”), após o quarto ano (alguns autores
classificam a CF/1824 como “transitoriamente imutável”).

▪ Rígida (CF/88): Possui um processo de alteração mais rigoroso que o


destinado às outras leis. Toda constituição formal é rígida. Surge com o
constitucionalismo. À exceção da CF/1824, todas as constituições brasileiras
foram rígidas.
– CF/88:
- (Art. 60, §2º, CF/88) Emenda Constitucional: quórum de 3/5 dos
membros.
- (Art. 69, CF/88) Lei Complementar: maioria absoluta (mais da
metade de todos os membros).
- (Art. 47, CF/88) Lei Ordinária: maioria simples (mais da metade dos
presentes).
▪ Alexandre de Morais entende que A constituição brasileira é super-rígida:
além de possuir um procedimento rigoroso de alteração, possui um núcleo
imutável, que constitui um conjunto de matérias que não poder ser
suprimidas: cláusulas pétreas (art. 60, §4º, CF).
▪ Prevalece que a CF/88 é rígida.

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