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ACÓRDÃO Nº 473/2022

Processo n.º 187/2022


1.ª Secção
Relatora: Conselheira Maria Benedita Urbano

Acordam, em Conferência, na 1.ª Secção do Tribunal Constitucional

I – RELATÓRIO

1. No processo n.º 139/20.6GCPBL, a correr então os seus termos processuais no Juízo de Instrução Criminal de Leiria do Tribunal Judicial da Comarca de Leiria, a ali assistente, e
aqui reclamante, A., na sequência da decisão judicial que rejeitou, por inadmissibilidade legal, o requerimento de abertura de instrução apresentado pela assistente, recorreu dessa decisão para
o Tribunal da Relação de Coimbra (TRC), que rejeitou esse recurso, por decisão sumária, confirmada, após reclamação da assistente para a conferência, por acórdão.

2. A assistente recorreu dessa decisão para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), não tendo esse recurso sido admitido no TRC, após o que reclamou para o STJ dessa decisão de não
admissão do seu recurso, concluindo essa reclamação pela seguinte forma:

“[…]
«VI. 1- Da questão prévia do recurso:
I- Recorre-se para o STJ, no âmbito do acórdão:
Processo n.º 1002/14
1.º Secção
Relator: Conselheira Maria de Fátima Mata-Mouros
Acordam, em Plenário, no Tribunal Constitucional
Julgar inconstitucional a norma que estabelece a, irrecorribilidade do acórdão da Relação que, inovatoriamente face à absolvição ocorrida em 1.º instância, condena os arguidos em pena de
prisão efetiva não superior a cinco anos, constante do artigo 400.º n.º 1, alínea e), do Código de Processo Penal, na redação da Lei n.º 20/2013, de 21 de fevereiro, por violação do direito ao
recurso enquanto garantia de defesa em- processo criminal, consagrado no artigo 32.º, nº 1 da Constituição.
2- O recorrente faz o presente recurso por entender para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade
e prioridade, de modo a obter tutela efetiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos, previstos na Constituição da República Portuguesa.
3- O recorrente cumpriu as formalidades do art. 287º do CPP, havendo fatos para acusação, independentemente da narrativa ser na primeira ou terceira pessoa.
4- O despacho é nulo, sem fundamentação, legal, violando o art. 287.º do CPP.
5- O despacho é inconstitucional, por violar, o art, 32º da CRP e art. 12º, 13º, 16º, 17º, 18º, 20º,
21º, 25º, 26º, 27º, 29º, 30º, 32º, 51º, 52º, da CRP.
6- A assistente A. como homo eticus, na sociedade, sendo que foi vítima étiticidade absoluta.
7-A A. é um exemplo como homo sociallis, na sociedade, pelo que foi vítima na dimensão da família.
8- A requerida A. é um exemplo como homo faber, na sociedade, revelando a assistente, ter sido vítima.
9- A A. é um exemplo como homo religiosus, quanto ao sacramento canónico, cumprindo todos os deveres, dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana, Sendo que ambos os cônjuges, são
de acordo, quando à educação e religião das menores, e, seguindo os ensinamentos teológicos,
sociológicos da ética e moral, do lugar onde vivem, concelho de Pombal, tradicionalmente católico, em que a mãe tem uma ligação especial com a família, tendo sido vítima,
10- A A. é uma mãe do ensinamento de mãe católica e com formação antropológica cultural e social, em ética absoluta, para com a família: com sete categorias de deveres a) A questão da
vida: b) O cuidado com a família: c) O zelo pelo Lar: d) Espelhando-se em Maria e em seu modelo de santidade de esposa: e) O dever na oração:
11 Uma esposa atenciosa:
12-Um colo e aconchego para toda a família:
13-Tendo a denunciado violado o tipo previsto estatuído no art. 152º do CP, crime de violência doméstica, o atuar do modo descrito o arguido cometeu o crime, de violência doméstica,
revisto e punido pelo 1524 nº 1, al. a) 2,4, 5, 6, do Código Penal.
14- O tribunal violou os artigos 3º e 32 nº 2 da CRP, nº 1 do art. 355º do CPP, art. 128º nº 1 do
CPP, art. 129 nº 1 e nº 2 do CPP, nº 2 do art. 374º do CPP, art. 11 da Declaração Universal dos Direitos do Homem, art. 6 nº 2 da Convenção Europeia para a protecção dos Direitos e
Liberdades Fundamentais e art. 14 nº 2 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, art. 348º do CP.
[…]»”.

3. O STJ decidiu indeferir essa reclamação em 31.01.2022, tendo a assistente, na sequência, apresentado recurso dessa decisão para o Tribunal Constitucional (TC), referindo que “vem
fazer recurso para o Venerando Tribunal Constitucional”, com as conclusões já reproduzidas supra.

4. O recurso para o TC não foi admitido por decisão do STJ de 04.02.2022, em que se escreveu: “A decisão que recaiu sobre a reclamação não se pronunciou sobre qualquer
inconstitucionalidade nem tinha de se pronunciar porque não foi suscitada a inconstitucionalidade de qualquer norma das alíneas do n.º 1 do artigo 400.º do CPP, Por esta razão não é admissível o recurso
interposto para o Tribunal Constitucional (artigo 72º, n.º 2, da LTC), nem tão pouco pode ser admitido com fundamento na inconstitucionalidade de despachos proferidos pelo juiz da 1.º instância por não
estar no âmbito dos poderes de cognição do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça admitir ou não admitir recursos incidentes sobre decisões de 1.º instância (artigo 76.º, n.º 1, da LTC)”. Na
sequência desta decisão, a assistente apresentou requerimento em que refere que “vem fazer reclamação para o Presidente do Tribunal Constitucional”, terminando essa reclamação com as
conclusões já reproduzidas supra.

5. Já no TC, o Ministério Público pronunciou-se no sentido de ser indeferida a presente reclamação em alegações com o seguinte teor:

“[…]
9. Apreciando os termos da reclamação apresentada pela assistente, afigura-se-nos assistir razão ao Ex.mo Senhor Juiz Conselheiro Vice-Presidente do STJ, no despacho reclamado, no
sentido de rejeitar o recebimento do seu recurso (para este Tribunal Constitucional), aqui se aderindo aos fundamentos do mesmo, para cujo teor se remete, para todos os efeitos legais.
10. Além da fundamentação ali expressa, pode observar-se que, em rigor, o “recurso” interposto não contém os pressupostos de admissibilidade do recurso de constitucionalidade, previstos
nos artigos 70.º, n.º 1, al. b) e 72.º, n.º 2, da LTC
11. Caracterizando-se o sistema de fiscalização concreta de constitucionalidade pela normatividade, o objeto normativo constitui a condição essencial do recurso de constitucionalidade
previsto na alínea b) do n.º 1 do artigo 70.º da LTC, o que manifestamente se omite no “recurso” interposto.
13. Não se trata, porém, da única condição. Neste tipo de recursos, exige-se ainda (e exige-se cumulativamente): (i) a prévia suscitação da questão de inconstitucionalidade normativa (com o
específico sentido atrás apontado), “durante o processo” e “de modo processualmente adequado perante o tribunal que proferiu a decisão recorrida, em termos de este estar obrigado a dela
conhecer” (n.º 2 do artigo 72.º da LTC); e, enfim, (ii) a aplicação, na decisão recorrida, como ratio decidendi, da norma tida por inconstitucional pelo recorrente, na concreta interpretação
correspondente à dimensão normativa delimitada no requerimento de recurso, pois “[…] só assim um eventual juízo de inconstitucionalidade poderá determinar uma reformulação dessa decisão”
(Ac. TC n.º 372/2015).
14. A assistente/reclamante inobservou o ónus de suscitação prévia das pretensas questões de constitucionalidade trazidas ao recurso interposto para o Tribunal Constitucional (art. 75.º-A, n.º
2 da LTC).
15. Por outro lado, é sabido que o sistema de fiscalização concreta da constitucionalidade incide sobre normas, e não é um “contencioso de decisões” seja qual for a sua natureza (cfr.,
CARLOS LOPES DO REGO, Os Recursos de Fiscalização Concreta na Lei e na Jurisprudência do Tribunal Constitucional, Almedina, Coimbra, 2010, pp. 26, 98; JORGE REIS NOVAIS,
Sistema Português de Fiscalização da Constitucionalidade. Avaliação Crítica, AAFDL Editora, Lisboa, 2019, p. 51), característica de que o requerimento de recurso apresentado é desprovido.
16. Mas também não observa os requisitos formais impostos pelo art. 75.º-A, n.ºs 1 e 2 da LTC, assemelhando-se mais a uma peça recursiva de jurisdição penal – em que além do
requerimento de interposição, junta logo as alegações e conclusões –, défices esses insuscetíveis de ser supridos pelo cumprimento de um eventual convite ao aperfeiçoamento, nos termos do art.
75.º-A, n.º 5 da LTC.
17. Como refere CARLOS LOPES DO REGO, «A jurisprudência do Tribunal Constitucional tem operado uma clara diferenciação entre os planos deste juízo liminar sobre a atendibilidade e
razoabilidade do recurso e da apreciação de mérito – não devendo fundar-se o referido juízo liminar numa averiguação tendente a apurar da procedência do recurso ou mesmo do grau de
probabilidade dessa procedência, mas tão-somente na verificação sobre se os fundamentos do recurso são – de um ponto de vista jurídico-constitucional – manifesta ou notoriamente
inatendíveis» (Os Recursos de Fiscalização Concreta na Lei e na Jurisprudência do Tribunal Constitucional, Almedina, Coimbra, 2010, p. 221), e ainda,
18. «Tal como importa distinguir claramente os planos dos pressupostos do recurso de constitucionalidade – enunciados e especificados nas várias alíneas do n.º 1 do artigo 70.º e no artigo
72.º da Lei n.º 28/82 – e os requisitos formais do requerimento de interposição do recurso de fiscalização concreta, enumerados neste artigo 75.º-A – sendo manifesto que o convite ao
aperfeiçoamento só tem sentido e utilidade quando – verificando-se plausivelmente os pressupostos do recurso – faltam apenas alguns requisitos formais do respectivo requerimento de
interposição» (Os Recursos de Fiscalização Concreta na Lei e na Jurisprudência do Tribunal Constitucional, cit., p. 217)
19. Afigura-se-nos, por isso, não haver razões para discordar do despacho ora sob escrutínio, uma vez que a reclamante continua a pretender controverter, em sede de recurso de
constitucionalidade – como se se tratasse de um último grau de jurisdição comum –, a decisão de rejeição do requerimento de abertura de instrução por si apresentado na 1.ª instância.
20. Tais circunstâncias – que se reconduzem à falta de normatividade do objeto do recurso interposto e de legitimidade da recorrente –, obstam a nosso ver, a que o recurso possa, por isso, ser
admitido.
21. Pelo exposto, afigura-se ao Ministério Público que não se divisam razões para invalidar o douto despacho de rejeição do recurso, ora reclamado, devendo indeferir-se a reclamação
apresentada.
[…]”.

6. Ainda no Tribunal Constitucional, a relatora proferiu o seguinte despacho:

“Compulsados os autos, verifica-se que a recorrente não identificou a alínea do artigo 70º da LOTC ao abrigo da qual interpõe o presente recurso para o Tribunal Constitucional. Por assim
ser, convida-se a recorrente a aperfeiçoar o requerimento do recurso apresentado, nos termos do artigo 75.º-A, n.º 6, da LOTC. Para o efeito, deverá identificar a alínea do artigo 70.º da LOTC
ao abrigo da qual interpõe o presente recurso e, em função disso, verificar se se encontram respeitados os restantes requisitos formais pertinentes e que constam do mesmo artigo 75.º-A da
LOTC”,

Este despacho não mereceu qualquer resposta por parte da recorrente/reclamante.

7. Face a essa não resposta da recorrente/reclamante, a relatora proferiu despacho em que, a final, se decidiu:

“Julgar deserto e extinto o recurso de constitucionalidade a que dizia respeito a presente reclamação, bem como extinta, em consequência e por inutilidade superveniente da mesma, essa
mesma reclamação”.

8. Notificada dessa decisão, a recorrente/reclamante apresentou novo requerimento, com as seguintes conclusões:

“I-Questão prévia do recurso:


1-Recorre-se para o STJ, no âmbito do acórdão:
Processo n.º 1002/14
1.ª Secção
Relator: Conselheira Maria de Fátima Mata-Mouros
Acordam, em Plenário, no Tribunal Constitucional
Julgar inconstitucional a norma que estabelece a irrecorribilidade do acórdão da Relação que, inovatoriamente face à absolvição ocorrida em 1.ª instância, condena os arguidos em pena de
prisão efetiva não superior a cinco anos, constante do artigo 400.º, n.º 1, alínea e), do Código de Processo Penal, na redação da Lei n.º 20/2013, de 21 de fevereiro, por violação do direito ao
recurso enquanto garantia de defesa em processo criminal, consagrado no artigo 32.º, n.º 1 da Constituição
2- O recorrente faz o persente recurso por entender para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade
e prioridade, de modo a obter tutela efetiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos, previstos na Constituição da República Portuguesa.
3- E entender que os artigos 432º, nº 1 al. b) e 400 nº 1 al. c) do CPP, são inconstitucionais.
4- O recorrente cumpriu as formalidades do art. 287º do CPP, havendo fatos para acusação, independentemente da narrativa ser na primeira ou terceira pessoa.
5- O despacho é nulo, sem fundamentação, legal, violando o art. 287 do CPP.
6- O despacho é inconstitucional, por violar, o art. 32º da CRP e art. 12º, 13º, 16º, 17º, 18º, 20º, 21º, 25º, 26º, 27º, 29º, 30º, 32º, 51º, 52º da CRP.
7- A assistente A.como homo eticus, na sociedade, sendo que foi vítima etiticidade absoluta.
8- A A. é um exemplo como homo sociallis, na sociedade, pelo que foi vítima na dimensão da família.
9- A requerida A. é um exemplo como homo faber, na sociedade, revelando a asssistente, ter sido vítima.
10- A A. é um exemplo como homo religiosus, quanto ao sacramento canónico, cumprindo todos os deveres, dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana, Sendo que ambos os cônjuges,
são de acordo, quando à educação e religião das menores, e, seguindo os ensinamentos teológicos, sociológicos da ética e moral, do lugar onde vivem, concelho de Pombal, tradicionalmente
católico, em que a mãe tem uma ligação especial com a família, tendo sido vítima.
11- A A. é uma mãe do ensinamento de mãe católica e com formação antropológica cultural e social, em ética absoluta, para com a família: com sete categorias de deveres:
a) A questão da vida:
b) O cuidado com a família:
c) O zelo pelo Lar:
d) Espelhando-se em Maria e em seu modelo de santidade de esposa:
e) O dever na oração:
12- Uma esposa atenciosa:
13- Um colo e aconchego para toda a família:
14- Tendo a denunciado violado o tipo previsto estatuído no art. 152º do CP, crime de violência doméstica, o atuar do modo descrito o arguido cometeu o crime, de violência doméstica,
revisto e punido pelo 152º, nº 1, al. a) 2, 4, 5, 6, do Código Penal.
15- O tribunal violou os artigos 3º e 32 nº 2 da CRP, nº 1 do art. 355º do CPP, art. 128º nº 1 do CPP, art. 129 nº 1 e nº 2 do CPP, nº 2 do art. 374º do CPP, art. 11 da Declaração Universal dos
Direitos do Homem, art. 6 nº 2 da Convenção Europeia para a proteção dos Direitos e Liberdades Fundamentais e art. 14 nº 2 do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, art. 348º do
CP”.

9. O Ministério Público, na sequência desse requerimento, pronunciou-se pela forma que segue:

“[…]
4.º Ora, perante o decidido no mencionado Despacho da Relatora, vem, agora, a reclamante A. (fls. 46 a 82 v.º) manifestar a sua vontade de reclamar daquela decisão, afirmando que “(…)
não se conformando com a douta decisão sumária da Meritíssima Relatora, nos termos do art. 78-A, nº 3 da LTC, vem reclamar para a conferência”.
5.º
Desvalorizando a equívoca referência ao n.º 3 do artigo 78.º-A, da Lei do Tribunal Constitucional e à alusão a uma decisão sumária, uma vez que não foi proferida uma decisão sumária mas
sim o despacho previsto no n.º 5, do artigo 75.º-A, da LTC, por remissão do n.º 6 do mesmo normativo, caberia à reclamante justificar a falta de resposta ao convite endereçado pela Conselheira
relatora para vir aos autos - sob pena de o recurso ser logo julgado deserto – identificar a alínea do artigo 70.º da LTC ao abrigo da qual interpunha o recurso.
6.º
Confrontada com a decisão de julgar deserto o recurso por falta da sua resposta ao convite formulado, nada adita a reclamante sobre tal questão fulcral, objeto do despacho que pretende
impugnar, limitando-se a congregar, de forma inconsequente, uma peça processual anteriormente junta ao processo, dirigida ao Juiz de Instrução do Tribunal da Comarca de Leiria.
7.º
Ora, perante argumentação totalmente estranha ao objeto da decisão cuja impugnação pretendia obter, apenas podemos concluir que a reclamante não logrou abalar os fundamentos da douta
decisão prolatada pela Conselheira relatora e que, consequentemente, esta deverá manter-se.
8.º
Por força do acabado de expor, deve a presente reclamação ser, em nosso entender, indeferida”.

10. Devidamente notificada para se pronunciar sobre o parecer do MP, a recorrente/reclamante nada disse.

11. Cumpre apreciar e decidir.

II – FUNDAMENTAÇÃO

12. Após esta breve e sintética descrição dos diversos trâmites processuais pertinentes para o efeito, cumpre referir, prima facie, que a recorrente/reclamante não identificou, no
requerimento de interposição de recurso de constitucionalidade para o TC, e como o impunha o artigo 75.º-A, n.º 1, da Lei de Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal
Constitucional (Lei n.º 28/82, de 15.11, na redação que lhe foi dada, por último, pela Lei Orgânica n.º 4/2019, de 13.09 - LTC), a “alínea do n.º 1 do artigo 70.º ao abrigo da qual o recurso é
interposto”, pelo que, já no TC, se lançou mão do disposto no n.º 5, aplicável por remissão do n.º 6, deste mesmo normativo (respetivamente, “Se o requerimento de interposição do recurso não
indicar algum dos elementos previstos no presente artigo, o juiz convidará o requerente a prestar essa indicação no prazo de 10 dias” e “O disposto nos números anteriores é aplicável pelo relator no
Tribunal Constitucional, quando o juiz ou o relator que admitiu o recurso de constitucionalidade não tiver feito o convite referido no n.º 5.”), convidando a recorrente a vir “identificar a alínea do artigo
70.º da LOTC ao abrigo da qual interpõe o presente recurso”, convite que não obteve qualquer resposta por parte da recorrente/reclamante.
Ora, face a essa ausência de resposta, a relatora lançou mão do disposto do artigo 75.º-A, n.º 7, da LTC (“Se o requerente não responder ao convite efetuado pelo relator no Tribunal
Constitucional, o recurso é logo julgado deserto”), julgando “deserto e extinto o recurso de constitucionalidade a que dizia respeito a presente reclamação, bem como extinta, em consequência e por
inutilidade superveniente da mesma, essa mesma reclamação”.
De facto, o artigo 78.º-B, n.º 1, da LTC, dispõe que “Compete ainda aos relatores julgar desertos os recursos (…)”, sendo que, nos termos do n.º 2 desse mesmo normativo, “Das decisões
dos relatores pode reclamar-se para a conferência, nos termos do n.º 3 do artigo 78.º-A, aplicando-se igualmente o n.º 4 da mesma disposição”, devendo entender-se este último requerimento da
recorrente/reclamante, deste modo, como uma reclamação para a conferência dessa mesma decisão da relatora.
Todavia, como bem refere o Ministério Público, a recorrente/reclamante, em vez de vir invocar argumentos que coloquem em causa e possam afastar essa decisão (mostrando, por
exemplo, que não respondeu a esse despacho por alguma razão ponderosa e que lhe seja perfeitamente alheia, integrando, verbi gratia, a figura do justo impedimento), vem, no fundo, reiterar
e repetir, uma vez mais, as suas anteriores alegações de recurso, nada aduzindo que seja minimamente suficiente para ser revogada a decisão da relatora.
Em suma, não se vê por que motivo a reclamante/recorrente não respondeu atempadamente ao convite formulado neste processo, o que só é imputável à mesma e conduziu
inelutavelmente, nos termos dos preceitos legais supramencionados, à deserção do seu recurso e à inutilidade da posterior reclamação, sem que tenham sido violados os múltiplos normativos
agora novamente referidos pela mesma, devendo manter-se integralmente, em consequência, a decisão da relatora agora reclamada.

III – DECISÃO

Em face do exposto, decide-se:


a) Indeferir a presente reclamação, confirmando a decisão da relatora reclamada;
b) Condenar a reclamante em custas, fixando-se a taxa de justiça em 20 (vinte) UC, nos termos do n.º 2 do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 303/98, de 7 de outubro, ponderados os critérios
definidos no artigo 9.º, n.º 1, do mesmo diploma, sem prejuízo do benefício de proteção jurídica que lhe foi conferido.

Lisboa, 5 de julho de 2022 - Maria Benedita Urbano - Pedro Machete - João Pedro Caupers

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