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Nome do estudante: Rui Lágrima Inácio Ezequiel Chichango

Código: 706230189

Curso de Mestrado em Direito Civil

Tema: PRAZOS DOS RECURSOS

Docente: Prof. Doutor David Ucama

Pemba, 22 de Junho de 2023

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Introdução

O presente trabalho constitui uma avaliação na cadeira de Recursos em Processo Civil, no curso
de mestrado em Direito Civil pela Faculdade de Gestão e Informática da Universidade Católica

de Moçambique, orientada pelo Professor Doutor David Ucama, cujo objectivo é elaborar um
texto de 10 páginas para falar dos prazos dos recursos, usando o Código de Processo Civil
Anotado e Comentado de Carlos Pedro Mondlane.

Na sua abordagem, o trabalho iniciará com uma introdução, seguindo-se o conceito de recurso,
seu objecto, suas espécies, prazos, que é o tema principal, e, por fim, a conclusão.

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Capítulo I
RECURSOS

1. Conceito de Recursos

Iniciar-se-á o presente texto apresentando-se, em primeiro lugar, o conceito de recursos. Nos


termos do número 1 do artigo 676 do CPC, estabelece-se que as decisões judiciais podem ser
impugnadas por meio de recursos.

Portanto, pode se entender que o recurso é um meio específico e principal de impugnação de


decisões judiciais, pois também existe a reclamação que só pode ser usada nos casos
especialmente previstos na lei, e, geralmente, esta é dirigida ao órgão tomou a decisão ou tenha
praticado o acto, ver o número 2 do artigo 123 do CPC. Para que seja impugnada uma decisão
judicial por meio de recurso pressupõe-se que:

a) Tenha sido proferida uma decisão judicial;


b) A decisão judicial tenha sido desfavorável;
c) A parte não se conforme com a decisão desfavorável, e
d) A existência de um juiz hierarquicamente superior que possa alterar a decisão.

Entendido o conceito de recurso nesta perspectiva, pode-se dizer que os recursos constituem uma
forma de tutela jurisdicional efetiva, uma faculdade processual concretizadora do direito à tutela
jurisdicional efetiva, ou seja, são uma garantia que se concede ao cidadão de poder ver uma
decisão judicial que lhe seja desfavorável ser reavaliada pelos tribunais de patamares superiores.
A decisão proferida em primeira instância é suscetível de ser controlada ou alterada por juízes
mais experientes e com maior qualificação. Isto é, por juízes que se encontram num patamar
superior na hierarquia dos tribunais (artigo 88 do CPC) e que, por isso, presume-se terem mais
experiência.

2. Objecto de recursos

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O recurso tem como objecto a legalidade da decisão recorrida, o que significa que não se podem
apreciar questões novas que não tenham sido suscitadas ou discutidas em primeira instância.
Portanto, trata-se de apreciar a valoração do juízo de facto e de direito emitidos e não de
conhecer novos factos ou novas questões de direito.

3. Espécies de recursos

Nos termos do número 2 do artigo 676 do CPC, existem duas espécies de recursos, os ordinários
e os extraordinários, cuja diferença reside fundamentalmente em poderem ser interpostos antes
ou depois do trânsito em julgado das decisões a que se recorre, ver o artigo 677 do CPC.

Os recursos ordinários são: a apelação (artigo 691 do CPC), a revista (artigo 721 do CPC), o
agravo (artigo 733 do CPC) e o recurso para o plenário do Tribunal Supremo (artigo 763 do
CPC). E os recursos extraordinários são: a revisão (artigo 771 do CPC), a oposição de terceiros
(artigo 778 do CPC) e a suspensão da execução e anulação de sentenças manifestamente injustas
e ilegais (artigo 782 do CPC).

Cápitulo II
PRAZOS DOS RECURSOS

4. Recursos ordinários

Os prazos para a interposição dos recursos estão previstos nos artigos 685 e 686 do CPC. Nos
termos do número 1 do artigo artigo 685, o prazo é de 8 dias, contados da a partir da data da
notificação da decisão. Sendo a parte revel, conforme estatui-se no número 2 do artigo 255 do
CPC, o referido prazo corre desde a publicação aí referida.

Segundo Mondlane (2020, p. 640), os prazos para a interposição de recurso são


indiscutivelmente prazos de caducidade, com todas as consequências que daí adveêm, no
sentido de que a caducidade não se suspende nem se interrompe, a não ser nos casos

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especialmente previstos na lei. Diz que, se a parte for revel e não tiver sido notificado da decisão
nos termos do artigo 255, o prazo para a interposição do recurso desde a publicação da decisão,
ou melhor, desde o dia seguinte àquele em que os autos com sentença tiveram dado entrada na
secretaria, exceptuando os casos em que a revelia da parte tenha cessado antes de decorrido o
prazo, caso em que a sentença ou despacho tem de ser notificado e prazo conta-se desde a
notificação.

O prazo de 8 dias referido no artigo 685 do CPC é peremptório, no sentido de que extingue o
direito de praticar o acto, ou seja, extingue o direito de recorrer, e como tal, improrrogável,
começando a correr a partir do dia seguinte em que ocorreu a notificação e quando o referido
prazo termine num sábado transfere-se para o primeiro dia útil seguinte, como se pode
depreender da alínea b) do artigo 279 do CC e do número 3 do artigo 144 do CPC.

Pelo facto do prazo de 8 dias ser peremptório e improrrogável, a interposição do recurso fora do
mesmo não deverá ser atendida, ou seja, o pedido da interposição do recurso será indeferido,
conforme o número 3 do artigo 687 do CPC.

Como refere Mondlane, no caso de réu revel, o prazo para a interposição do recurso começa a
correr a partir da entrada do processo na secretaria judicial, vindo do gabinete do juiz, como reza
o número 1 do artigo 685 do CPC e nos casos de revelia absoluta do réu, o prazo para a
interposição do recurso corre desde a publicação da sentença, acontecendo com a entrada dos
autos no cartório judicial, conforme o número 2 do artigo 255 do CC e número 1 do artigo 685
do CPC.

Nos termos do artigo 687 do CPC, entende-se que os recursos são interpostos por meio de
requerimento, que o recorrente submete à secretaria do tribunal que proferiu a decisão recorrida
e no qual indica a espécie de recurso interposto, conforme as espécies de recursos previstas no
número 2 do artigo 676 do CPC e a partir da data da entrada do referido requerimento na
secretaria do tribunal, fixa-se a data da interposição do recurso, conforme estatui o número 2 do
mesmo artigo.

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4.1. Recurso de apelação, artigo 691 do CPC

Conforme se disse anteriormente, o prazo para submeter o rquerimento de interposição do


recurso de apelação na secretaria do tribunal é de 8 dias, contados, em regra, a partir da data da
notificação da decisão.

Sucede que, após a submissão desse requerimento, o recorrente deve aguardar pelo seu
deferimento, através do despacho do juiz de admita o recurso. Quando isso acontece, o
recorrente tem o prazo de 20 dias para apresentar as suas alegações escritas, contados a partir da
data da notificação do despacho que admita o recurso, o mesmo prazo assiste ao recorrido para
apresentar a sua resposta, conforme se pode depreender do número 1 do artigo 698 do CPC.
Caso tenham recorrido ambas as partes, o primeiro apelante tem ainda o prazo de mais 10 dias,
contados a partir da data da notificação da apresentação da alegação do segundo, querendo,
apresentar nova alegação para atacar os fundamentos apresentados pela segunda alegação, nos
termos do número 3 do artigo supracitado.

4.2. Recurso de revista, artigo 721 do CPC

Nos termos dos números 3 e 4 comentados do artigo 721 do CPC, a impugnação da decisão de
mérito proferida pelo Tribunal Superior de Recurso deve ser feita através do recurso de revista
nos casos de cumulação de fundamentos substantivos e processuais, em atenção ao disposto na
alínea b) do artigo 754 do CPC.

Por isso, refere que para os sistemas que admitem dois tipos de recurso, a importância reside no
vício de forma e no vício de fundo, situando o recurso de revista no âmbito do vício de fundo e
diz-se ainda, que a vantagem de manter a referida dualidade, permite que as questões para as
quais se conserva o recurso de revista (direito substancial) são, por via de regra, mais delicadas e
complexas, pelo que se justificam prazos mais longos para a discussão e julgamento e a

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intervencão de maior número de juízes, por seu turno as questões a que cabe recurso de agravo
(questões de direito processual) não demandam prazos muito largos e não precisam do mesmo
número de juízes.

4.3. Recurso de agravo, artigo 733 do CPC

Tal como se disse para a apelação, o prazo para submeter o rquerimento de interposição do
recurso de agravo em primeira instância é de 8 dias e a partir da data da notificação do despacho
do juiz que admita o recurso, dentro de 24 horas (conforme estabelece o número 1 do artiago 742
do CPC), o recorrente ou o agravante tem o prazo de 8 dias para apresentar a sua alegação e o
mesmo prazo para responder à alegação do agravante assiste ao agravado, mas sendo contado a
partir da data do termo do primeiro, ou seja, a partir da data em que termina o prazo da
submissão da alegação do agravante, nos termos do artigo 743 do CPC.

Se o recurso tiver que subir imediatamente e em separado com o processo, as partes têm o prazo
de 48 horas, depois de notificadas do despacho do juiz que admita o recurso, para indicar por
meio de requerimento as certidões das peças processuais que pretendam juntar para instruir o
recurso, ver número 2 do artigo 742 do CPC.

Quanto ao recurso de agravo interposto em segunda instância, que tiver de subir imediatamente e
em separado ou nos próprios autos, segue o mesmo regime relativamente aos prazos, conforme
explicado acima, no agravo interposto em primeira instância, com a excepção daquele prazo de
48 horas para requer as certidões das peças processuais que devem instruir o recurso, que não se
aplica aos agravos que sobem nos próprios autos, conforme estabelece o artigo 760 do CPC.

Quando o recurso de agravo não suba imediatamente, o artigo 761 do CPC remete ao regime
estabelecido nos artigos 747 e 748 do mesmo diploma legal. Daqui pode-se distinguir o regime
dos prazos para o agravo que não suba logo, mas que se ofereça logo a alegação e o agravo que
não suba imediatamente quando a alegação não seja logo oferecida.

A) Quando o agravo não suba logo, mas se ofereça logo a alegação, artigo 747 do CPC.

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Quando o agravo não suba logo, mas se ofereça logo a alegação, o prazo para submeter o
rquerimento de interposição do recurso com a respectiva alegação é de 8 dias, contados a partir
da data da notificação do despacho do juiz que admita o recurso, dentro de 24 horas da sua
exaração (conforme estabelece o número 1 do artiago 742 do CPC), exceptuando-se o prazo das
48 horas para a junção das certidões das peças processuais que devem instruir o processo, prazo
que só poderá ser observado no momento em que o agravo deva subir, através da notificação das
partes pelo tribunal, altura em que o referido prazo começa a correr.

B) Agravo que não suba imediatamente quando a alegação não seja logo oferecida

Quando o agravo não suba imediatamente e a alegação não seja logo oferecida, o prazo para
submeter o rquerimento de interposição do recurso é de 8 dias, contados a partir da data da
notificação do despacho do juiz que admita o recurso, dentro de 24 horas da sua exaração
(conforme estabelece o número 1 do artiago 742 do CPC), tendo o agravdo o mesmo prazo de 8
dias para responder à alegação do agravante, contados a partir da data do termo do prazo da
alegação do agravante.

4.4. Recurso para o plenário do Tribunal Supremo, artigos 763 e 764 do CPC

Segundo afirma Mondlane tem se o recurso para o plenário do Tribunal Supremo como um
recurso ordinário, nos termos do número 2 do artigo 676 do CPC, na medida em que tem lugar
antes do trânsito em julgado do acordão de que se recorre, exceptuando-se o caso do recurso do
Ministério Público, que pode ser interposto depois do trânsito em julgado, nos termos do artigo
770 do CPC.

O prazo para que o recorrente apresente a alegação, com vista a demonstrar que entre os dois
acórdãos existe oposição com fundamentos nos artigos 763 ou 764 do CPC é de 5 dias, contados
a partir da data da notificação do despacho que admita o recurso, nos termos do número 3 do
artigo 765 do CPC.

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Para vista e julgamento da questão preliminar, os juízes do plenário tem o prazo de 48 horas e ao
relator o prazo de 5 dias para, na sessão seguinte, o plenário determinar se existe oposição que
serve de fundamento para o recurso, conforme estabelece o número 1 do artigo 766 do CPC,
existindo, cada uma das partes, incluindo o Ministério Público, que deverá propor uma solução a
dar ao coflito de jurisprudência, têm o prazo de 10 dias para examinar o processo e apresentar as
suas alegações sobre o objecto do recurso, conforme a previsão do número 2 do artigo 767 do
CPC.

5. Recursos extraordinários

5.1. Recurso de revisão, artigo 771 do CPC

Nos termos do número 1 comentado do artigo 771 do CPC, o recurso extraordinário de revisão a
alteração de uma decisão já transitada em julgado e só é admissível em situações limite de tal
modo graves, considerando que a subsistência da decisão em causa seria susceptível de abalar
clamorosamente o princípio da almejada justiça material, que visa assegurar o primado da justiça
sobre a segurança.

O recurso de revisão não pode ser interposto se tiverem decorridos mais de 5 anos sobre o
trânsito em julgado da decisão, podendo ser interposto no prazo de 30 dias desde o trânsito em
julgado da sentença em que se funda a revisão e no prazo de 90 dias se o recurso for interposto
pelo Ministério Público, conforme estabelecem os números 2 e 3 do artigo 772 do CPC. E sendo
o recurso admitido, a parte contrária tem no prazo de 10 dias a prerrogativa de responder, depois
de notificada pessoalmente, de acordo com o número 3 do artigo 774 do CPC.

5.2. Recurso de oposição de terceiros, artigo 778 do CPC

Este recurso fundamenta-se essencialmente em 3 requisitos:

a) Que a sentença que se impugna tenha já transitado em julgado;


b) Que haja simulação processual, e

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c) Que haja nexo de causalidade entre a simulação e o prejuízo para o terceiro, embora a
simulação tenha sido praticada com o objectivo específico de o prejudicar.

O prazo para a interposição deste recurso é de 3 meses seguintes ao trânsito em julgado da


decisão final da acção de simulação. Sendo que a acção de simulação deve ser intendada dentro
do prazo de 5 anos seguintes ao trânsito em julgado da sentença recorrida e se o terceiro legítimo
tiver sido um incapaz que tenha intervindo no processo como parte por intermédio de
representante legal, o prazo para intentar a acção de simulação não terminará se não tiver
decorrido um ano após a aquisição da capacidade ou sobre a mudança do seu representante legal,
conforme pode-se aferir da interpretação do artigo 780 do CPC.

5.3. Recurso para suspensão da execução e anulação de sentenças manisfestamente


injustas e ilegais, artigo 782 do CPC

Esta espécie de recurso assiste a quem tenha ficado vencido num processo já transitado em
julgado, a faculdade de solicitar a sua reabertura, mediante a invocação de razões que
demonstrem a injustiça da decisão ou a sua ilegalidade, ou seja, a decisão recorrida deve estar em
extrema oposição com a lei aplicável ou ofender gravemente os princípios normativos em que
assenta a ordem pública e os bons costumes, ver artigo 782/A do CPC.

O prazo para a interposição deste recurso é de 2 anos, contados a partir da data do trânsito em
julgado da sentença recorrida, sendo interposto no Tribunal Supremo pelo Procurador Geral da
República ou, na sua ausência, pelo Vice-Procurador Geral da República, sob o ponto de vista de
legitimidade para este tipo de recurso, de acordo com o estabelecido no artigo 782/B do CPC.

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Conclusão

O trabalho realizado pelo estudante sobre o tema proposto, serviu para conhecer e aprofundar o
estudo sobre os recursos em processo civil, dominar as espécies de recurso, bem como conhecer
os respectivos regimes de prazos para a sua interposição, nos termos abordados de forma
discriminada e detalhada para cada tipo ou espécie de recurso.

O trabalho constitui realmente um momento de grande aprendizagem para o estudante, que


espera que assim seja até a conclusão da disciplina.

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Referências Bibliográficas

MONDLANE, Carlos Pedro. Código de Processo Civil: Anotado e Comentado. Escolar Editora.
3ª Edição. 2020.

SANTO, Luís Filipe Espírito. Recursos Civis. Faculdade de Direito – Universidade Nova de
Lisboa: Mestrado em Direito Forense e Arbitragem. 2018 – 2019.

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