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Acórdãos TRL Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa

Processo: 2/13.7TBOER-A-1

Relator: AFONSO HENRIQUE

Descritores: APOIO JUDICIÁRIO


NOMEAÇÃO DE PATRONO
INTERRUPÇÃO DO PRAZO

Nº do Documento: RL

Data do Acordão: 18-06-2013

Votação: UNANIMIDADE

Texto Integral: S

Texto Parcial: N

Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: PROCEDÊNCIA

Sumário: - Tendo sido requerido pelo executado o apoio judiciário na


modalidade de nomeação de patrono fica interrompido o prazo que
a lei lhe confere para deduzir oposição à execução começando a
contar um novo prazo imediatamente após a efectiva designação
do(a) novo(a) patrono(a).
(Sumário do Relator)

Decisão Texto Parcial:

Decisão Texto Integral: ACORDAM NESTE TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA


Nos presentes autos em que o executado, C. R… (identificado a
fls.2), deduziu oposição à execução intentada contra si pelo
exequente, Banco …, SA (igualmente com os sinais completos a
fls.2), foi exarado o seguinte despacho liminar:
“-…-
Pelos elementos invocados e existentes nos autos, a oposição à
execução não foi deduzida tempestivamente.
Com efeito, o executado foi pessoalmente citado em 30.01.2013,
pelo que o prazo de 20 dias para deduzir oposição findaria em
19.02.2013 (fls.36).
O executado juntou aos autos em 18.02.2013, com carimbo de
entrada nos serviços do ISSIP requerimento de pedido de apoio
judiciário datado de 05.02.2013 (fls.39).
A nomeação de defensor juntamente com o deferimento do pedido
de apoio judiciário teve lugar em 25.02.2013 (fls.42) e deferimento
foi comunicado aos autos em 04.03.2013 (fls.43).
A oposição deu entrada via citius, em 18.03.2013 (fls.13).
Nos termos do preceito citado na própria oposição da executada, o
art. 24º, nºs. 4 e 5 da Lei nº 34/2004, de 29 de Julho, o prazo só se
interrompe com a junção aos autos do comprovativo do pedido de
apoio, e a interrupção não implica a contagem de um novo prazo,
mas o recomeço do prazo na parte em que ficou interrompido
quanto é nomeado o defensor.
Ora, atento a data de junção do requerimento, o executado já só
dispunha de mais um dia de prazo quando ocorre a interrupção
provocada pela junção do requerimento, ou mais três se contarmos
com a possibilidade de praticar o acto com multa, recomeçando
novamente a 04.03.2013 numa contagem benigna para o executado,
pelo que a entrada da oposição a 18.03.2013, excede
manifestamente esse prazo, sendo a oposição, por conseguinte,
extemporânea.
Pelo supra exposto, nos termos do art. 817º, nº 1, alínea a) CPC,
indefiro liminarmente a presente oposição à execução por
extemporaneidade. Custas pela oponente, sem prejuízo do apoio
judiciário.
-…-”
Desta decisão veio o executado e oponente recorrer, recurso esse
que foi admitido como sendo de apelação, a subir nos próprios
autos e com efeito meramente devolutivo.
E fundamentou o respectivo recurso, formulando as seguintes
CONCLUSÕES:
- Em 18.03.2013, com beneficio de apoio judiciário no qual se inclui a
nomeação de patrono oficioso, e nos termos do disposto nos nºs 4 e
5 do artigo 24º da Lei nº 34/2004, de 29 de Julho, o ora Recorrente
deu entrada de requerimento de oposição à execução, por apenso
aos autos principais;
- Em consequência, foi proferido o despacho liminar de que ora se
recorre e no qual foi indeferida a oposição à execução apresentada,
com fundamento na sua extemporaneidade, considerando, em
suma, o Tribunal a quo que a interrupção do prazo prevista no nº 4
do artigo 24º da referida Lei nº 34/2004 «não implica a contagem de
novo prazo mas [tão só] o recomeço do prazo na parte em que ficou
interrompido quando é nomeado o defensor».
- Ora, entende o recorrente que tal decisão viola manifestamente o
disposto nos nºs. 4 e 5 do artigo 24º da Lei nº 34/2007, de 29 de
Julho (com as alterações introduzidas pela Lei nº 47/2007, de 28 de
Agosto) e bem assim o disposto no artigo 326º do Código Civil e o
disposto no nº 1 do artigo 813º do Código de Processo Civil.
- Porquanto e ao contrário da suspensão (que apenas faz suspender
um prazo em curso, retomando-se a contagem desse prazo após o
termo do motivo que motivou a suspensão), a interrupção inutiliza
todo o tempo decorrido anteriormente, começando a correr novo
prazo a partir do acto interruptivo (cfr. nº 1 do artigo 326º do Código
Civil).
- Os nºs. 4 e 5 do artigo 24º da Lei nº 34/2004, de 29 de Julho,
determinam precisamente que: «Quando o pedido de apoio
judiciário é apresentado na pendência de acção judicial e o
requerente pretende a nomeação de patrono, o prazo que estiver
em curso interrompe-se com a junção aos autos do documento
comprovativo da apresentação do requerimento com que é
promovido o procedimento administrativo» e «O prazo
interrompido por aplicação do disposto no número anterior inicia-se,
conforme os casos: a) A partir da notificação ao patrono nomeado
da sua designação; b) A partir da notificação ao requerente da
decisão de indeferimento do pedido de nomeação do patrono».
- Assim, o prazo de que o executado dispunha para apresentação à
execução interrompeu-se em 18.02.2013, com a junção aos autos do
comprovativo do pedido de apoio judiciário e nomeação de patrono
oficioso.
- Em virtude da nomeação da patrona oficiosa, que foi notificada a
esta em 25.02.2013, iniciou-se então, em 26.02.2013, novo prazo de
20 dias para apresentação da oposição à execução, prazo este que
só terminaria precisamente no dia 18.03.2013, data em que o ora
recorrente, apresentou a sua oposição à execução.
- Pelo exposto, a interpretação plasmada na douta sentença de que
ora se recorre e na qual se considera que o executado, ora
recorrente, só dispunha de mais 1 dia (!) de prazo após a nomeação
da sua patrona oficiosa é absolutamente contrária ao disposto nos
nºs. 4 e 5 do artigo 24º da Lei nº 34/2004 de 29 de Julho e bem ainda
ao disposto nos artigos 326º do Código Civil e nº 1 do artigo 813º do
Código de Processo Civil.
- Tal questão foi já por diversas vezes decidida por este douto
Tribunal da Relação de Lisboa e é pacífica na doutrina e
jurisprudência.
- Pelo exposto, estava o ora recorrente, então dentro do prazo de 20
dias para apresentação da sua oposição à execução (cfr. nº 1 do
artigo 813º do CPC), pelo que mal andou o douto Tribunal a quo ao
considerar que tal oposição à execução era extemporânea com o
fundamento supra citado.
Conclui pela revogação da decisão que indeferiu liminarmente a
oposição a qual deve ser substituída por outra que a admita, por
tempestiva.

Foram dispensados os vistos pelos Exmos. Adjuntos.

APRECIANDO E DECIDINDO
Thema decidendum
- Em função das conclusões do recurso, temos que:
O executado e recorrente questiona o despacho recorrido que julgou
intempestiva a sua oposição à execução.

A) - Os factos são os constantes do relatório que antecede.

B) - O Direito
Segundo o artº24º nº4 da Lei nº 34/2004, de 29 de Julho (Regime de
Acesso ao Direito e aos Tribunais) e caso o pedido de apoio
judiciário seja apresentado na pendência de acção judicial e o
requerente pretenda a nomeação de patrono, “o prazo que estiver
em curso interrompe-se com a junção aos autos do documento
comprovativo da apresentação do requerimento com que é
promovido o procedimento administrativo”.
Por sua vez, o nº 5 da mesma lei estipula que, “o prazo interrompido
por aplicação do disposto no número anterior inicia-se, conforme o
caso: a) A partir da notificação ao patrono nomeado da sua
designação; b) A partir da notificação ao requerente da decisão de
indeferimento do pedido de nomeação de patrono”.
Acresce que, o artº31º nº1, do mesmo diploma legal manda notificar
ao requerente e ao patrono nomeado a designação deste, sendo
este último com expressa advertência do reinício do prazo judicial.
O Legislador nos regimes sobre esta mesma matéria que sucederam
ao DL nº 387B/87, de 29-12 (redacção dada pela Lei nº 46/96, de
3/9) deixou de prever a suspensão de tal prazo, passando a prever a
interrupção do prazo em análise.
Como sabemos, a suspensão está associada à ideia de soma do
prazo decorrido antes dela com o decorrido depois, enquanto a
interrupção implica a inutilização de todo o tempo decorrido
anteriormente, começando a correr novo prazo – veja-se também
neste sentido, a solução consagrada no artº326º nº1 do CC para
efeito da interrupção do prazo prescricional.
In casu, o pedido de apoio judiciário, precisamente, na modalidade
de nomeação de patrono foi feito em 18-2-2013 e o(a) patrono(a)
oficioso(a) teve conhecimento da sua nomeação para o efeito em
25-2-2013.
Destarte e como alega o recorrente só em 26-2-2013 começou a
correr o novo prazo para apresentação da oposição com o seu
terminus previsto para o dia 18.03.2013, data em que o ora
recorrente, apresentou a sua oposição à execução.
Tudo visto deve a apelação ser atendida.
Concluindo e sumariando:
- Tendo sido requerido pelo executado o apoio judiciário na
modalidade de nomeação de patrono fica interrompido o prazo que
a lei lhe confere para deduzir oposição à execução começando a
contar um novo prazo imediatamente após a efectiva designação
do(a) novo(a) patrono(a).
DECISÃO
- Assim e pelos fundamentos expostos, os Juízes desta Relação
acordam em julgar procedente o recurso e consequentemente
revogam a decisão recorrida, a qual deve ser substituída por outra
que admita a oposição deduzida pelo executado tempestivamente.
- Sem custas.

Lisboa, 18-6-2013
Relator: Afonso Henrique Cabral Ferreira
1º Adjunto: Rui Torres Vouga
2º Adjunto: Maria do Rosário Barbosa

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