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Avenida Marcos Konder, 1207, 62, Centro, Itajaí, SC.

AO JUÍZO FEDERAL DA 1ª VARA DE MAFRA/SC.

PROCESSO: 5003174-81.2023.4.04.7208

MARIA DO CARMO ORMAY MOLAS, já devidamente qualificada nos autos


do processo em epígrafe, vem, por seu procurador abaixo assinado, apresentar
IMPUGNAÇÃO AO LAUDO PERICIAL, pelos fatos e motivos que passa a expor:
I. DA AVALIAÇÃO PERICIAL:
A Autora sofre de extensa lesão incapacitante na sua coluna lombar, sendo
diagnosticada com Lombocitalgia decorrente de degeneração discal e instabilidade em
listese de L2 até S1, associado com a Estenose Foramidal, em todos os níveis (CID
X=M545). Em decorrência dessa moléstia, em fevereiro de 2020, necessitou realizar
uma cirurgia em decorrência de uma hérnia de disco e desde então seu caso somente
tem se agravado, percebendo o benefício por incapacidade temporária desde então,
sendo indevidamente cessado em 18/05/2021.
A Autora realiza acompanhamento médico frequente desde o agravamento de sua
condição física, com médico especialista em ortopedia, realizando diversos exames de
imagem que comprovam que a condição da Autora é grave. Havendo indicação
expressa de agravamento nos quadros de saúde caso não tome os cuidados necessários.
O médico especialista em ortopedia informou a Autora que as moléstias que a
acometeram trariam a ela a incapacidade para o trabalho de forma permanente, tudo
com base nos exames juntados aos presentes autos. Indicou, portanto, afastamento
definitivo do trabalho, devido a extensão das lesões em L2 e S1 e da estabilidade
neurológica do quadro, decorrentes do período em que se encontra afastada.
Todavia, diferentemente da avaliação realizada por médicos especializados,
conforme laudos em anexo, a perícia judicial apresentou conclusões incompatíveis com
a realidade.

ITAJAÍ FLORIANÓPOLIS SÃO PAULO


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A conclusão do perito judicial foi que a Autora não possui incapacidade atual.
Ocorre que se trata de uma conclusão incoerente, uma vez que a Autora foi
diagnosticada com Lombalgia (CID M54.5), incapacitada para o trabalho de forma
permanente, ou seja, o que evidentemente a impede de exercer qualquer atividade
laborativa, vejamos:
O que é Lombalgia? É dor lombar baixa, ela acontece na região mais baixa da
coluna vertebral, podendo causar dores súbitas e intensas nessa parte das costas. Na
maioria das vezes, é causada por má postura ou esforço físico excessivo e causa
incapacidade permanente para o trabalho, já que não tem cura e é agravada se não
tratada adequadamente.
Ou seja, a conclusão do perito é totalmente incompatível com a real situação da
Autora, uma vez que é uma doença que não possui cura, apenas tratamento paliativo. E,
como a Autora já recebeu benefício por incapacidade permanente devido a essa doença,
contraditório é dizer que atualmente ela não possui incapacidade, já que esta é uma
doença que não tem cura, apenas tratamento para aliviar as dores.
Verifica-se que a perícia não foi realizada com a minuciosidade necessária para
identificar tais limitadores.
Ademais, a conclusão do perito se deve ao fato de uma análise superficial ao vasto
material probatório juntados aos autos, assim como pela incompatibilidade
incompreensível do Laudo Pericial deste processo com o Laudo do médico que
confirmou de forma categoria a relação entre as patologias e a incapacidade da
Autora.
Ou seja, pela manifesta incompatibilidade da conclusão pericial com a vasta
produção probatória dos exames e laudos juntados no processo, requer a
desconsideração da conclusão pericial.

ITAJAÍ FLORIANÓPOLIS SÃO PAULO


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Trata-se, portanto, de avaliação pericial contraditória que não pode embasar uma
decisão, sob pena de nulidade, conforme precedentes sobre o tema:
“Ação acidentária. A sentença julgou a ação improcedente
com base na conclusão da perícia oficial. Todavia, revela-se
bem delineada, nos autos, a contradição do laudo pericial que
embasou a sentença. A perícia em diversas passagens
corrobora e chancela os argumentos e fatos discorridos pela
autora em suas peças processuais (inicial e recursal) no sentido
de fortes dores e não apresentar condições de desempenhar
atividade laboral remunerada, tampouco atividades ordinárias
da vida cotidiana. (...) A sentença, dessarte, deve ser anulada,
pois lastreada em prova pericial contraditória. Os autos devem
retornar à origem para que nova perícia seja produzida para a
apuração do quadro de saúde da autora. Assim, tem-se que a
prestação jurisdicional será aperfeiçoada e amparada por
subsídios probatórios sólidos e consistentes, em deferência ao
devido processo legal e aos interesses de ambas as partes em
disputa. Defere-se o pleito liminar recursal de concessão do
auxílio-doença do artigo 71 da Lei 8.213/91, pois verificada a
presença dos requisitos e aspectos que o ensejam e dá-se
parcial provimento ao recurso nos termos do acórdão”. (TJ-SP
103623210205158260053 SP 1036232-10.2015.8.26.0053,
Relator: Beatriz Braga, Data de Julgamento: 06/06/2018, 12ª
Câmara Extraordinária de Direito Público, Data de
Publicação: 06/06/2018) – Grifo nosso.

“PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO POR


INCAPACIDADE. PRIVA PERICIAL CONTRADITÓRIA E
IMCOMPLETA. REFAZIMENTO. Apresentando-se a perícia
em contradição com o conjunto probatório, além de necessitar
ser esclarecida acerca de aspectos importantes para eventual
concessão de benefício, e sendo a prova pericial nos processos
em que se discute a existência ou persistência da incapacidade
para o trabalho, deve ser refeita, anulando-se a sentença”.
(TRF4 – AC: 50720957120174049999 / 572095-
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71.2017.4.04.9999, Relator: Osni Cardoso Filho, Data de


julgamento: 19/06/2018, Quinta Turma) – grifo nosso.

A Autora junta, nesse momento, novo exame e laudo médico atual, datado em
27/07/2023, solicitando novamente o médico especialista o afastamento definitivo da
Autora ao trabalho.

Motivos que devem conduzir à nulidade da conclusão pericial.

DA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO
Por fim, insta destacar as respostas do perito não foram esclarecedoras, limitando-
se a responder “Não” nos quesitos seguintes sem realizar qualquer teste físico ou avaliar
minuciosamente os laudos e exames apresentados:

Considerando que o perito no âmbito judicial assume um cargo público, tem-se


por indisponível a sua submissão aos princípios do direito administrativo, dentre os
quais o Princípio da Motivação disposto no art. 50, da Lei nº 9.784/99:

“Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com


indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;”.

Ocorre que, diferentemente do previsto, o perito limitou-se a responder SIM/NÃO


sem qualquer motivação, deixando de indicar os elementos que amparam sua resposta.
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O princípio da motivação do ato administrativo exige especial cautela


especialmente naqueles atos que afetam diretamente a vida do administrado, conforme
assevera Maria Sylvia Zanella di Pietro:

“O princípio da motivação exige que a Administração Pública


indique os fundamentos de fato e de direito de suas decisões.
(...) A sua obrigatoriedade se justifica em qualquer tipo de ato,
porque se trata de formalidade necessária para permitir o
controle de legalidade dos atos administrativos1” – Grifo
nosso.

Nesse sentido, Celso Antônio Bandeira de Mello traz uma abordagem mais
analítica:

“Dito princípio [motivação] implica a Administração o dever


de justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de
direito e de fato, assim como a correlação lógica entre os
eventos e situações que deu por existentes e a providência
tomada, nos casos em que este último aclaramento seja
necessário para aferir-se a consonância da conduta
administrativa como a lei lhe serviu de arrimo2” – Grifo nosso.

Trata-se de provimento necessário à presente impugnação conforme precedentes


sobre o tema:

“RECURSO ORDINÁRIO. ADICIONAL DE


PERICULOSIDADE. PERÍCIA ESSENCIAL DESPROVIDA DE
ELEMENTOS BÁSICOS A CONFERIR SEGURANÇA AO
JULGADO. NULIDADE PROCESSUAL. Impõe-se declarar a
nulidade de decisão que se funda em laudo pericial deficiente,
à vista da falta de fundamentos capazes de produzir a
segurança jurídica requerida da prova técnica essencial e, por
conseguinte, determinar o retorno dos autos para fins de
1
Di Pietro, Maria Sylvia Zanella. In Direito Administrativo, 24ª ed., Editora Atlas, p. 82.
2
Mello, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 27ª ed., ver. Atual. São Paulo:
Malheiros, 2010, p. 112.
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elaboração de nova perícia a respeito do pedido de adicional de


periculosidade e seus efeitos, seguindo-se julgamento conforme
entendido de direito pelo magistrado sentenciante”. (Processo:
RO – 0000315-69.2013.5.06.0005, Relator: Mayard de França
Saboya Albuquerque, data de julgamento: 28/06/2017) – Grifo
nosso.

Diferentemente disso, as respostas do perito, que imbuído de uma


responsabilidade pública, não se encontram devidamente motivadas, em manifesta
nulidade.

NÃO VINCULAÇÃO DO JUÍZO À CONCLUSÃO PERICIAL

O Novo CPC trouxe expressamente sobre a desvinculação do Magistrado ao teor


conclusivo da perícia:
“Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos,
independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará
na decisão as razões da formação de seu convencimento”.

“Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o


disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o
levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões
do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito”.

Trata-se de raciocínio adequado ao livre convencimento do Juiz, caso contrário


teríamos a inconcebível situação de termos processos julgados por peritos médicos.
Confere ao Magistrado a responsabilidade indelegável de realizar o único juízo de
valores e ponderações necessárias ao julgamento do processo, conforme entendimento
consolidado no Superior Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS


DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. MORTE DE
MENOR. NÃO VINCULAÇÃO DO JULGADOR À
CONCLUSÃO DA PERÍCIA. PRECEDENTES. NEXO
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CAUSAL. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.


(...). 1. Esta Corte possui entendimento consolidado segundo o
qual as conclusões da perícia não vinculam o juiz, que pode
formar sua convicção a partir dos demais elementos do
processo. Precedentes: AgRg no AREsp 784.770/SP, Rel. Min.
Ferman Benjamin, Segunda Turma, DJe 31/05/2016; (...). 2.
(...). 3. Agravo interno não provido”. (AgInt nos EDcl no AREsp
784.545/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira
Turma, Julgado em 20/02/2018, DJe 06/03/2018) – Grifo nosso.

“PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO


POR INCAPACIDADE. REVISÃO DO CONTEXTO FÁTICO-
PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIADADE. SÚMULA 7/STJ. NÃO
VINCULAÇÃO DO JUIZ A LAUDO PERICIAL. LIVRE
CONVENCIMENTO.
1. O Tribunal a quo consignou que, ainda que o laudo pericial
tenha concluído pela aptidão laboral da parte autora, as provas
dos autos demonstram a efetiva incapacidade definitiva para o
exercício da atividade profissional (fl. 152, e-STJ).
2. Para modificar o entendimento firmado no acórdão
recorrido, seria necessário exceder as razões colacionadas no
acórdão vergastado, o que demanda incursão no contexto
fático-probatório dos autos, vedada em Recurso Especial,
conforme Súmula 7 desta Corte: “A pretensão de simples
reexame de prova não enseja Recurso Especial”.
3. Cabe ressaltar que, quanto à vinculação do Magistrado à
conclusão da perícia técnica, o STJ possui jurisprudência
consolidada de que, com base no livre convencimento
motivado, pode o juiz ir contra o laudo pericial, se houver nos
autos outras provas em sentido contrário que deem
sustentação à sua decisão.
4. recurso Especial não conhecido”. (STJ, REsp 1651073/SC,
Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em
14/03/2017, DJe 20/04/2017) – Grifo nosso.

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Este posicionamento é reiterado pela jurisprudência:

“PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ.


REQUISITOS. INCAPACIDADE. COMPROVAÇÃO.
VINCULAÇÃO AO LAUDO. INOCORRÊNCIA. PROVA
INDICIÁRIA.
1. Quatro são os requisitos para a concessão do benefício em
tela: (a) qualidade de segurado do requerente; (b) cumprimento
da carência de 12 contribuições mensais; (c) superveniência de
moléstia incapacitante para o desenvolvimento de qualquer
atividade que garanta a subsistência; e (d) caráter definitivo da
incapacidade.
2. Hipótese em que restou comprovada a incapacidade
laborativa.
3. O juízo não está adstrito às conclusões do laudo médico
pericial, nos termos do artigo 479 do NCPC (o juiz apreciará a
prova pericial de acordo com o disposto no art. 371, indicando
na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar
de considerar as conclusões do laudo, levando em conta o
método utilizado pelo perito), podendo discordar,
fundamentadamente, das conclusões do perito em razão dos
demais elementos probatórios coligido aos autos”. (TRF4, AC
5022927-03.2017.4.04.9999, Relator (a) Paulo Afonso Brum
Vaz, Turma Regional Suplementar de SC, Julgado em
21/09/2017) – Grifo nosso.

A doutrina, nesse sentido, reforça este entendimento:

“O juiz não está adstrito ao laudo pericial (art. 479, CPC). (...)
Isso quer dizer que, se existem outros elementos probatórios
técnicos nos autos, pode o juiz afastar-se das conclusões do
laudo pericial, no todo ou em parte. Se não os há, o juiz deve

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requerer esclarecimentos do perito, ordenar nova perícia ou


valer-se dos laudos dos assistentes técnicos. (...)”3.

Assim, diante todo o exposto, vem a Autora impugnar o Laudo Pericial


apresentado, requerendo que seja afastada a conclusão pericial, devendo ser considerado
o conjunto fático-probatório dos autos, em especial os atestados, laudos e exames
médicos acostados, que demonstram a incapacidade laborativa da Autora.
Alternativamente, requer a realização de nova perícia judicial.
Nestes Termos, pede deferimento!

Datado eletronicamente.

Sílvia Thayanna Garcia Pereira


OAB/SC 68.003

3
Mitidiero, Daniel. Arenhart, Sérgio Cruz. Marinoni, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo Civil
Comentado – Ed. RT, 2017. Versão e-book, Art. 371.
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