Você está na página 1de 9

AO JUÍZO DA 1ª VARA DA COMARCA DE CACHOEIRAS DE MACACU – RJ.

Processo nº: 0001235-05.2016.8.19.0012

ALTINEA DA CONCEIÇÃO CARDOSO, já devidamente qualificada nos autos


do processo em epigrafe que move em face do INSTITUTO NACIONAL DA SEGURIDADE
SOCIAL, vem, através da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, tendo em vista a
r. sentença de fls. 201/202, que julgou improcedente o pedido autoral, com fincas na
legislação Civil e Processual Civil vigente, interpor

RECURSO DE APELAÇÃO,

apresentando suas razões em anexo, requerendo, após o devido processamento, sejam os


autos encaminhados ao órgão julgador ad quem, como de Direito.

Cachoeiras de Macacu, 18 de maio de 2023

FRANCISCO JOSSIEL OLIVEIRA BOM


Defensor Público
Matrícula: 969.584-2

1
– RAZÕES DE APELAÇÃO –

APELANTE: ALTINEA DA CONCEIÇÃO CARDOSO


APELADO: INSTITUTO NACIONAL DA SEGURIDADE SOCIAL
PROCESSO: 0001235-05.2016.8.19.0012
ORIGEM: 1ª VARA DA COMARCA DE CACHOEIRAS DE MACACU

Egrégio Tribunal,
Colenda Câmara.

I – BREVE SÍNTESE DOS FATOS.

Trata-se de ação de concessão de benefício previdenciário onde o apelante


relata possuir doenças degenerativas que a tornaram incapaz de exercer atividade
laborativa, frisando ter o apelado concedido administrativamente o auxílio-doença,
inicialmente, até 08 de agosto de 2014, tendo sido prorrogado por duas vezes, uma até o dia
15 de outubro de 2014 e outra até o dia 12 de agosto de 2015.

Contudo, o benefício foi cessado sob a alegação de que, em exame realizado


pela perícia médica do INSS, não foi constatado incapacidade para o trabalho ou para a
atividade habitual da apelante, frisando ser a parte portadora de discopatia degenerativa de
coluna cervical, tendinopatia cálcarea, bursite no ombro direito, sinovite do tornozelo, fascite
planta do pé direito e esquerdo e coxartrose bilateral, requerendo, ao final, o
restabelecimento do auxílio-doença em caso de incapacidade temporária ou do benefício de
aposentadoria por invalidez, caso a incapacidade permanente.

Às fls. 40/40v decisão que deferiu a tutela de urgência e concedeu à autora o


restabelecimento do benefício auxílio-doença.

Às fls. 42/48 contestação apresentada pelo apelado.

Às fls. 81 manifestação do Ministério Público pela sua não intervenção no feito.

2
Às fls. 89/91 laudo pericial que concluiu pela inexistência de incapacidade
laborativa.

Às fls. 92/ impugnação da apelante ao laudo pericial supramencionado, dando


conta de que o perito é clínico geral e, por tal razão, requereu a nomeação de novo perito
com especialidade em ortopedia ou reumatologia, o que foi indeferido pela decisão de fls.
103.

Às fls. 114/116 sentença que julgou improcedente o pedido da apelante.

Às fls. 117/121 recurso de apelação interposto pela apelante requerendo a


anulação da sentença por cerceamento de defesa pela negativa do juízo na produção de
nova prova pericial.

Às fls. 123/124 contrarrazões do apelado pugnando pela manutenção da


sentença.

Ao índice 144 encontra-se o acórdão que deu provimento à apelação e declarou


nula a sentença, determinando o retorno dos autos à vara de origem para que seja realizado
a nova perícia com médico especialista em ortopedia ou reumatologia.

Às fls. 147/148 decisão nomeado novo perito ortopedista.

Às fls. 179/185 o novo laudo pericial, que concluiu pela incapacidade parcial e
permanente.

Posteriormente, foi proferida a r. sentença combatida de fls. 201/202, que julgou


improcedente o pedido. Contudo, merece reforma a sentença, conforme será demonstrado a
seguir.

II – DAS RAZÕES PARA O PEDIDO DE REFORMA.

a) DA DIFERENÇA ENTRE AUXÍLIO-DOENÇA PREVIDENCIÁRIO E AUXÍLIO-


DOENÇA ACIDENTÁRIO.

3
Da leitura atenta da r. sentença aqui combatida, percebe-se que o magistrado
entendeu que “para a concessão de benefício de auxílio-doença impõe-se a demonstração
de que o acidente ocorreu no exercício de atividade laborativa”. Contudo, há diferença entre
o auxílio-doença acidentário e o auxílio-doença previdenciário, que é o que a apelante
requer.

O auxílio-doença acidentário é o benefício liberado no momento em que o


indivíduo está incapacitado para o trabalho por conta de acidente que sofreu no trabalho,
sendo parecido com auxílio-doença “comum”, mas tendo como motivo que o afastamento
tenha ocorrido em razão de doença ocupacional ou acidente do trabalho, valendo pontuar
aqui que a apelante sofre de patologias que poderiam sim ser causadas pela sua atividade
laboral.

Por outro lado, o auxílio-doença previdenciário é devido aos segurados quando a


incapacidade para o trabalho não possuir nexo causal direto com a função exercida.

No caso em tela, todas as patologias sofridas pela apelante podem ter sido
causadas pela atividade laboral, mas o que se requer é a concessão do auxílio-doença
previdenciário, não necessitando que tenha ocorrido qualquer acidente no local do trabalho,
razão pela qual requer a reforma da r. sentença para conceder à apelante o benefício
solicitado.

b) INCAPACIDADE PARCIAL E PERMANENTE.

Inicialmente, pontua-se que, satisfeitos os requisitos legais previstos no artigo 42


da Lei nº 8.213/91, quais sejam, a qualidade de segurado, incapacidade parcial e
permanente e cumprimento da carência por 12 meses, é de rigor a concessão de auxílio-
doença.

Considerando que a apelante foi beneficiária do auxílio-doença no período


compreendido entre 12/07/2014 e 12/08/2015, depreendem-se comprovados os requisitos
do período mínimo de carência e a qualidade de segurado, de modo que não há razão para
entrar no mérito sobre tal questão.

4
Contudo, deve-se discutir em relação ao requisito da incapacidade, haja vista
que, em suas razões de decidir, o magistrado a quo pontuou que o expert delineou de
maneira precisa que a incapacidade foi apenas parcial e temporária. Porém, tal afirmação
é totalmente contrária ao disposto no laudo pericial de fls. 179/185, eis que a perita, ao
responder o item 04, respondeu tratar-se de incapacidade PARCIAL E PERMANENTE,
pontuando que à apelante é cabível a reabilitação.

Desse modo, em havendo a conclusão pela incapacidade parcial e permanente,


deveria a apelante ter seu pedido julgado procedente, vejamos:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. INCAPACIDADE PARCIAL E


PERMANENTE. AUXÍLIO-DOENÇA. TERMO INICIAL. 1. Havendo
incapacidade parcial e permanente para o trabalho, é o caso de
concessão do benefício de auxílio-doença até a reabilitação para
atividade compatível. 2. Comprovada nos autos a existência de
incapacidade na data do requerimento administrativo este deve ser o
termo inicial do benefício. (TRF4, AC 5005788-33.2020.4.04.9999,
NONA TURMA, Relator JAIRO GILBERTO SCHAFER, juntado aos
autos em 09/10/2020)

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-DOENÇA E
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. DORES LOMBARES E
TRANSTORNO DO DISCO CERVICAL. COMPROVAÇÃO. Tendo o
laudo pericial concluído pela incapacidade laboral parcial e
permanente da parte autora, confirmando a existência das
moléstias incapacitantes referidas na exordial (dores lombares e
transtorno do disco cervical - CID M54.5 e M50.1) que a impedem de
executar suas tarefas cotidianas, tudo isso associado às suas
condições pessoais - habilitação profissional (empregada doméstica),
baixa escolaridade e idade atual (58 anos), demonstra a efetiva
incapacidade para o exercício da atividade profissional, o que enseja,
indubitavelmente, a concessão de auxílio-doença desde a DER,
benefício a ser convertido em aposentadoria por invalidez a contar da
data do presente julgamento. (TRF4, AC 5016533-

5
09.2019.4.04.9999, NONA TURMA, Relator PAULO AFONSO BRUM
VAZ, juntado aos autos em 12/03/2020)

Ante o exposto, conclui-se que o magistrado errou quando especificou na r.


sentença que o laudo pericial relatou ter a apelante incapacidade parcial e temporária, de
modo que, em verdade, há incapacidade parcial e PERMANENTE, fazendo jus à concessão
do benefício, conforme relatado acima, requerendo a reforma da r. sentença para tanto.

c) LAUDO PERICIAL QUE NÃO TEM VALOR ABSOLUTO. AUSÊNCIA DE


VINCULAÇÃO DO MAGISTRADO À CONCLUSÃO DO PERITO. PROVAS
ROBUSTAS EM SENTIDO CONTRÁRIO.

Da leitura atenta de todos os documentos juntados aos autos, conclui-se que o


laudo pericial vai contra todos os laudos médicos já juntados pela autora aos autos,
conforme fls. 16/19, 25, 31, 34, 37, 45, 50, 94/97, 100/101, que dão conta que a apelante
não possui condições de exercer suas atividades laborativas, frisando-se que os laudos
foram confeccionados em datas diferentes por profissionais médicos distintos.

Importante mencionar, neste momento, que a apelante obteve a concessão do


benefício dentre o período de 08 de agosto de 2014 até 12 de agosto de 2015, o que
comprova, por si só, o cumprimento dos requisitos necessários. Além disso, vislumbra-se
que o laudo pericial é totalmente desconexo dos demais laudos e declarações médicas
apresentadas pela apelante, que, repita-se, foram emitidas em datas distintas e por
profissionais médicos diversos.

Ressalte-se que os laudos médicos atualizados explicitam a incapacidade


laborativa da apelante, que na qualidade de segurada, deve ter garantida a percepção do
benefício do auxílio doença, visando cobrir a situação de doença e incapacidade que a
acomete.

Além disso, deve-se considerar que o laudo pericial não possui valor absoluto e
deve ser analisado juntamente com as demais provas existentes nos autos, não devendo o
magistrado ficar vinculado estritamente a ele.

6
Neste sentido:

EMENTA: ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. NÃO VINCULAÇÃO


DO JUIZ AO LAUDO PERICIAL. O perito judicial desempenha o
trabalho como auxiliar do Juízo, na elucidação da matéria que exige
conhecimentos técnicos especiais. Mas, segundo os princípios da
persuasão racional ou do livre convencimento fundamentado (artigos
479 e 480 do CPC/2015), o juiz não está adstrito ao laudo pericial,
pois pode formar a sua convicção com base em outros elementos ou
fatos provados nos autos. (TRT da 3ª Região; Processo nº 0011806-
82.2015.5.03.0163 (RO) – Disponibilizado em: 14/11/2018. Órgão
Julgador: Primeira Turma. Relator: Emerson José Alves Lage).

E mais:

EMENTA: PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE


LABORAL. PROVA PERICIAL. AUSÊNCIA DE VALOR ABSOLUTO.
FORMAÇÃO DE CONVICÇÃO EM SENTIDO DIVERSO
DO EXPERT. POSSIBILIDADE SE EXISTENTE PROVA
CONSISTENTE EM SENTIDO CONTRÁRIO OU SE O PRÓPRIO
LAUDO CONTIVER ELEMENTOS QUE CONTRADIGAM A
CONCLUSÃO DO PERITO. SITUAÇÃO PRESENTE NO CASO
CONCRETO. JUÍZO DE PROCEDÊNCIA. CURA
POR CIRURGIA. SENTENÇA MANTIDA.  1. A perícia médica
judicial, nas ações que envolvem a pretensão de concessão de
benefício por incapacidade para o trabalho, exerce importante
influência na formação do convencimento do magistrado. Todavia, tal
prova não se reveste de valor absoluto, sendo possível afastá-la,
fundamentadamente, se uma das partes apresentar elementos
probatórios consistentes que conduzam a juízo de convicção diverso
da conclusão do perito judicial, ou se, apesar da conclusão final
deste, a própria perícia trouxer elementos que a contradigam. 2.
Considerando as conclusões extraídas da análise do conjunto
probatório, percebe-se que a parte autora está incapacitada para o
trabalho, bem como necessita realizar tratamento cirúrgico. Contudo,
7
não está o demandante obrigado a sua realização, conforme consta
no art. 101, caput, da Lei 8.213/91 e no art. 15 do Código Civil
Brasileiro. 3. O fato de a parte autora, porventura, vir a
realizar cirurgia e, em consequência desta, recuperar-se, não
constitui óbice à concessão do benefício de aposentadoria por
invalidez, já que tal benefício pode ser cancelado, conforme o
disposto no artigo 47 da LBPS. 4. Tendo as provas dos autos
apontado a existência da incapacidade laboral desde a época do
cancelamento administrativo, o benefício é devido desde então.
(TRF4, AC 5015369-38.2021.4.04.9999, NONA TURMA, Relator
JAIRO GILBERTO SCHAFER, juntado aos autos em 24/10/2022)

No caso em tela, tem-se que os documentos atualizados são capazes de


desconstituir a conclusão exarada no laudo pericial, restando evidente que as limitações
físicas da apelante a impossibilita de exercer suas atividades habituais e sua função,
restando evidente sua incapacidade laborativa.

Destarte, consoante o exposto, merece reforma a sentença, para que seja


restabelecido o auxílio doença da apelante, benefício a que sempre fez jus, haja vista
estarem satisfeitos todos os requisitos para a concessão.

IV – DO PREQUESTIONAMENTO

Admitir o contrário do anteriormente exposto significa afronta direta às normas e


princípios retro mencionados, razão pela qual requer que este Egrégio Tribunal manifeste-se
expressamente acerca da possível violação legal ou principiológica, sobretudo quanto ao
princípio do contraditório, ampla defesa, vedação à decisão surpresa, a fim de se
possibilitar a eventual e improvável interposição de Recurso Especial e/ou Extraordinário.

V – DO PEDIDO

Ante o exposto, requer a Vs. Exas. que seja conhecido e dado provimento ao
presente recurso para reformar a r. sentença aqui combatida, julgando-se procedente o
pedido, na forma requerida na exordial.

8
Cachoeiras de Macacu, 18 de maio de 2023

FRANCISCO JOSSIEL OLIVEIRA BOM


Defensor Público
Matrícula: 969.584-2

Você também pode gostar